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Juventude, tempo e movimentos sociais

Alberto Melucci
Universidade degli Studi di Milano

Tradução de Angelina Teixeira Peralva


Publicado em: Revista Young. Estocolmo: v. 4, nº 2, 1996, p. 3-14.

As atuais tendências emergentes no âmbito da na definição do eu, afetando as estruturas biológi-


cultura e da ação juvenil têm que ser entendidas a ca e motivacional da ação humana. Ao mesmo tem-
partir de uma perspectiva macro-sociológica e, si- po, existe uma crescente possibilidade, para os ato-
multaneamente, através da consideração de expe- res sociais, de controlarem as condições de forma-
riências individuais na vida diária. Neste ensaio, ção e as orientações de suas ações. A experiência é
tentarei integrar esses dois níveis de análise e pro- cada vez mais construída por meio de investimen-
porei que: tos cognitivos, culturais e materiais. Tais processos,
1) conflitos e movimentos sociais em socieda- de caráter sistêmico, são diretamente vinculados às
des complexas mudam do plano material para o transformações, pela produção de recursos que tor-
plano simbólico; nam possível a sistemas de informação de alta den-
2) a experiência do tempo é um problema cen- sidade manterem-se e modificarem-se.
tral, um dilema central; A tarefa não é somente da ordem da domina-
3) pessoas jovens, e particularmente adolescen- ção da natureza e da transformação de matéria-
tes, são atores-chaves do ponto de vista da questão prima em mercadoria, mas sim do desenvolvimen-
do tempo em sociedades complexas. to da capacidade reflexiva do eu de produzir infor-
mação, comunicação, sociabilidade, com um au-
Da ação efetiva ao desafio simbólico mento progressivo na intervenção do sistema na sua
própria ação e na maneira de percebê-la e repre-
Vivemos em uma sociedade que concebe a si sentá-la. Podemos mesmo falar de produção da
mesma como construída pela ação humana. Em sis- reprodução.
temas contemporâneos, a produção material é trans- Tome-se o exemplo dos processos de sociali-
formada em produção de signos e de relações sociais. zação: o que foi considerado no passado como trans-
Uma codificação socialmente produzida intervém missão básica de regras e valores da sociedade é

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agora visto como possibilidade de redefinição e in- conformidade. Os atores nesses conflitos são aque-
venção das capacidades “formais” de aprendizado, les grupos sociais mais diretamente expostos aos
habilidades cognitivas, criatividade. Do ponto de processos que indiquei; eles são cada vez mais tem-
vista do planejamento demográfico e da biogenética porários e sua ação serve de indicador, como se
o que era considerado reprodução de aspectos na- fosse uma mensagem enviada à sociedade, a respeito
turais de um sistema tornou-se um campo de inter- de seus problemas cruciais.
venção social. A ciência desenvolve a capacidade A maneira pela qual os conflitos se expressam
auto reflexiva de modificação da “natureza inter- não é, de qualquer forma, a da ação ‘efetiva’. De-
na”, das raízes biológicas, cognitivas e motivacio- safios manifestam-se através de uma reversão de
nais da ação humana. códigos culturais, tendo então basicamente um “ca-
Isto revela os dois lados da mudança na nos- ráter formal”. Nos sistemas comtemporâneos os
sa sociedade. Por um lado, existe um aumento da signos tornaram-se intercambiáveis: o poder apoia-
capacidade social de ação e de intervenção na ação se de forma crecente nos códigos que regulam o flu-
enquanto tal, nas suas pré-condições e raízes; e por xo de informação. A ação coletiva de tipo antago-
outro, a produção de significados está marcada pela nista é uma forma, a qual, pela sua própria existên-
necessidade de controle e regulação sistêmica. cia, com seus próprios modelos de organização e ex-
Os indivíduos percebem uma extensão do po- pressão, transmite uma mensagem para o resto da
tencial de ação orientada e significativa de que dis- sociedade. Os objetivos instrumentais típicos de ação
põem, mas também se dão conta de que tal possi- política não desaparecem, mas tornam-se pontuais,
bilidade lhes escapa, graças a uma regulação capi- e em certa medida, substituíveis. Eu chamo essas
lar de suas capacidades de ação, que afeta suas raí- formas de ação desafios simbólicos. Elas afetam as
zes motivacionais e suas formas de comunicação. instituições políticas, porque modernizam a cultu-
Os sistemas complexos nos quais vivemos consti- ra e a organização dessas instituições, e influenciam
tuem redes de informação de alta densidade e têm a seleção de novas elites. Mas ao mesmo tempo le-
que contar com um certo grau de autonomia de seus vantam questões obscurecidas pela lógica dominan-
elementos. Sem o desenvolvimento das capacidades te da eficiência. Trata-se de uma lógica de meios:
formais de aprender e agir (aprendendo a aprender), requer aplicação e operacionalização de decisões
indivíduos e grupos não poderiam funcionar como tomadas em nível de aparelhos anônimos e impes-
terminais de redes de informação, as quais têm que soais. Mais uma vez os atores através dos conflitos
ser confiáveis e capazes de auto-regulação. Ao mes- colocam na ordem do dia a questão dos fins e do
mo tempo, seja como for, uma diferenciação pro- significado.
nunciada demanda maior integração e intensifica- Mas pode-se continuar a falar de “movimen-
ção do controle, que se desloca do conteúdo para tos” quando a ação se refere a significados, a desa-
o código, do comportamento para a pré-condição fios face aos códigos dominantes que dão forma à
da ação. experiência humana? Mais apropriado seria falar
O que eu quero dizer é que sociedade não é a de redes conflituosas que são formas de produção
tradução monolítica de um poder dominante e de cultural.
regras culturais na vida das pessoas, ela lembra um
campo interdependente constituído por conflitos e Experiência de tempo
continuamente preenchido por significados cultu-
rais opostos. Os conflitos se desenvolvem naquelas Em uma sociedade que está quase que inteira-
áreas do sistema mais diretamente expostas aos mente construída por nossos investimentos cultu-
maiores investimentos simbólicos e informacionais, rais simbólicos, tempo é uma das categorias bási-
ao mesmo tempo sujeitas às maiores pressões por cas através da qual nós construímos nossa experiên-

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cia. Hoje, o tempo se torna uma questão-chave nos diferenciação das nossas experiências do tempo está
conflitos sociais e na mudança social. A juventude aumentando. Os tempos que nós experimentamos
que se situa, biológica e culturalmente, em uma ín- são muito diferentes uns dos outros e às vezes pa-
tima relação com o tempo, representa um ator cru- recem até opostos. Há tempos muito difíceis de me-
cial, interpretando e traduzindo para o resto da so- dir — tempos diluídos e tempos extremamente con-
ciedade um dos seus dilemas conflituais básicos. centrados. Pense na multiplicidade de tempos que
Viemos de um modelo de sociedade, o capita- imagens (televisão, gráficos, propaganda) introdu-
lismo industrial, no qual o tempo era considerado zem na nossa vida diária. Isto também significa se-
em termos de duas referências fundamentais. A pri- parações, interrupções mais definidas que no pas-
meira é a máquina. O tempo que a sociedade mo- sado — muito mais perceptíveis do que em estru-
derna conhece é medido por máquinas: relógios são turas sociais relativamente homogêneas — entre os
máquinas por excelência. A máquina cria uma nova diferentes tempos em que nós vivemos.
dimensão do tempo: não mais “natural” (isto é, Existe particularmente uma clara separação
marcado somente pelos ciclos do dia e noite, as es- entre tempos interiores (tempos que cada indivíduo
tações, nascimento e morte) e não mais “subjeti- vive sua experiência interna, afeições, emoções) e
vo”(isto é, ligado à percepção e experiência dos ato- tempos exteriores marcados por ritmos diferentes
res humanos). O tempo da máquina é um produto e regulado pelas múltiplas esferas de pertencimento
artificial que tem a objetividade de uma coisa. É de cada indivíduo. A presença dessas diferentes ex-
também uma medida universal que permite compa- periências temporais não é novidade, mas certamen-
ração e troca de desempenhos e recompensas, atra- te em uma sociedade rural ou mesmo na sociedade
vés do dinheiro e do mercado. Tempo é uma medi- industrial do século XIX, existiu uma certa integra-
da de quantidade: nos ritmos diários de trabalho ção, uma certa proximidade entre experiências sub-
como nos balancetes anuais das empresas. Aliás, em jetivas e tempos sociais, e entre os vários níveis dos
qualquer cálculo pautado na racionalidade instru- tempos sociais. Em sistemas mais altamente diferen-
mental, a máquina estabelece uma continuidade en- ciados, a descontinuidade tornou-se uma experiên-
tre tempo individual e tempo social. cia comum.
A segunda característica da experiência moder- Tais mudanças refletem tendências amplas no
na de tempo é uma orientação finalista: tempo tem sentido de uma extensão artificial das dimensões
direção e o seu significado só se torna inteligível a subjetivas do tempo por meio de estímulos parti-
partir de um ponto final, o fim da história. A pró- culares ou de situações construídas. Uma experiên-
pria idéia de um curso da história, a ênfase com que cia comum de dilatação forçada do tempo interno
a sociedade industrial tratou a história, deriva de é produzida por drogas. Drogas ocupam um lugar
um modelo de tempo que pressupõe uma orienta- importante em sociedades tradicionais, mas nos li-
ção para um fim: progresso, revolução, riqueza das mites de uma ordem que lhes atribui uma função
nações ou a salvação da humanidade (um tempo específica. Não há separação entre a droga ritual
linear que se move em direção a um fim é a última dos índios americanos e seu papel na vida social e
herança dessacralizada de um tempo cristão). Existe na vida interior dos indivíduos. Essa “fratura” ri-
então uma unidade e uma orientação linear do tem- tual permitida, essa dilatação do tempo subjetivo
po; e o que ocorre nele, o que o indivíduo experi- induzida pela droga, é parte de uma ordem sagra-
menta, adquire sentido em relação ao ponto final: da e contribui para a reafirmação de um equilíbrio
todas as passagens intermediárias são medidas em entre a vida social e o espaço assegurado ao indiví-
relação com o final do tempo. duo no grupo.
Na situação presente, podemos perceber nos- Nas nossas sociedades, no entanto, o extremo
sa distância com respeito a esse modelo porque a exemplo das drogas representa um sinal dramáti-

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co, o mais significativo e ambíguo sintoma de dife- poral. Como medir o tempo? Quando será encon-
rença entre tempo externo e tempo interno. Mas trado o significado ‘certo’ para o tempo individual
existe também, embora em uma escala menos dra- e coletivo? Como podemos preservar nosso passa-
mática, um aumento de oportunidades artificial- do e preparar o nosso futuro em sociedades com-
mente construídas para viver e experimentar emo- plexas? Tais questões sem respostas são alguns dos
ções livres dos limites do tempo social: desde o tu- dilemas básicos com os quais se confronta a vida
rismo exótico ou experiências de “liberação” do humana em sociedades complexas.
corpo até os paraísos totalitários das seitas neo- A juventude, por causa de suas condições cul-
místicas. A ambivalência desses fenômenos deve ser turais e biológicas, é o grupo social mais diretamen-
sublinhada. Eles são sinais de uma tensão não re- te exposto a estes dilemas, o grupo que os torna
solvida entre os múltiplos tempos da experiência visíveis para a sociedade como um todo.
cotidiana.
A diferenciação do tempo produz alguns pro- Adolescência e tempo
blemas novos. Aumenta, em primeiro lugar, a difi-
culdade em reduzir tempos diferentes para a homo- Adolescência é a idade na vida em que se co-
geneidade de uma medida geral. Mas existe também meça a enfrentar o tempo como uma dimensão sig-
uma acentuação da necessidade de integrar essas nificativa e contraditória da identidade. A adoles-
diferenças, tanto em um nível coletivo, quanto, cência, na qual a infância é deixada para trás e os
acima de tudo, dentro da unidade de uma biogra- primeiros passos são dados em direção à fase adulta,
fia individual e de um “sujeito” da ação dotado de inaugura a juventude e constitui sua fase inicial. Esta
identidade (Melucci, 1996a; Csikzentmihalyi, 1988 elementar observação é suficiente para ilustrar o
e 1991). entrelaçamento de planos temporais e a importân-
Além disso, um tempo diferenciado é cada vez cia da dimensão do tempo nesta fase da vida (Le-
mais um tempo sem uma história, ou melhor, um vinson, 1978; Coleman, 1987; Hopkins, 1983;
tempo de muitas histórias relativamente indepen- Montagnar, 1983; Savin Williams, 1987; Schave,
dentes. Então é também um tempo sem um final 1989). Não há dúvida que, se a experiência do en-
definitivo, o que faz do presente uma medida ines- velhecimento está sempre relacionada com o tem-
timável do significado da experiência de cada um po, é durante a adolescência que essa relação se
de nós. Por último, um tempo múltiplo e descontí- torna consciente e assume conotações emocionais.
nuo indubitavelmente revela seu caráter ‘construí- Pesquisas psicológicas e psico-sociológicas têm tido
do’ de produto cultural. A fábrica industrial já can- uma atenção toda especial durante os últimos anos
celou o ciclo natural de dia e noite. Agora todos os para com a perspectiva temporal do adolescente
outros tempos da natureza estão perdendo sua con- (Tromsdorff et al., 1979; Palmonari, 1979; Nuttin,
sistência. A experiência das estações se dissolve nas 1980; Ricolfi & Sciolla, 1980 e 1990; Offer, 1981
mesas de nossas salas de jantar, onde a comida per- e 1988; Cavalli, 1985; Ricci Bitti et al., 1985; Ana-
de qualquer referência a ciclos sazonais, ou em nos- trlla, 1988; Fabbrini & Melucci, 1991).
sas férias, que nos oferecem um sol tropical ou neve Uma análise em termos de perspectiva tempo-
durante todo o ano. Até o nascimento ou a morte, ral considera o tempo como um horizonte no qual
eventos por excelência do tempo natural estão per- o indivíduo ordena suas escolhas e comportamen-
dendo sua natureza de necessidade biológica, tor- to, construindo um complexo de pontos de referên-
nando-se produtos de intervenção médica e social. cia para suas ações. A maneira como a experiência
A definição de tempo torna-se uma questão do tempo é vivenciada vai depender de fatores cog-
social, um campo cultural e conflitivo no qual está nitivos, emocionais e motivacionais os quais gover-
em jogo o próprio significado da experiência tem- nam o modo como o indivíduo organiza o seu “es-

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tar na terra”. Nesse sentido, atitudes relacionadas Tais resultados de pesquisas sugeririam que a
com várias fases temporais podem ser levadas em perspectiva temporal do adolescente constitui um
consideração (ex. satisfação ou frustração, abertu- ponto de observação favorável para o estudo da
ra ou fechamento com respeito ao passado, presente maneira pela qual nossa cultura está organizando
ou futuro); ou a direção que cada pessoa atribui a experiência do tempo. Na sociedade contempo-
para a sua própria experiência do tempo (ex. pre- rânea, de fato, a juventude não é mais somente uma
ferência por uma orientação direcionada para uma condição biológica mas uma definição cultural. In-
ou outras fases temporais); ou o grau de extensão certeza, mobilidade, transitoriedade, abertura para
assumido pelo horizonte temporal para cada indi- mudança todos os atributos tradicionais da adoles-
víduo (ex. perspectiva ampla ou limitada, contínua cência como fase de transição, parecem ter se des-
ou fragmentada). A organização de eventos e sua locado bem além dos limites biológicos para torna-
seqüência, a relação entre eventos externos e inter- rem-se conotações culturais de amplo significado
nos, o grau de investimento emocional em várias que os indivíduos assumem como parte de sua per-
situações — tudo se torna meio de organizar a pró- sonalidade em muitos estágios da vida (Mitterauer,
pria biografia e definir a própria identidade. 1986; Ziehe, 1991). Nesse sentido, a adolescência
A perspectiva temporal do adolescente tornou- parece estender-se acima das definições em termos
se um tema interessante de pesquisa, porque a bio- de idade e começa a coincidir com a suspensão de
grafia dos dia de hoje tornou-se menos previsível, um compromisso estável, com um tipo de aproxima-
e os projetos de vida passaram mais do que nunca ção nômade em relação ao tempo, espaço e cultura.
a depender da escolha autônoma do indivíduo. Nas Estilos de roupas, gêneros musicais, participação em
sociedades do passado, a incerteza quanto ao futuro grupos, funcionam como linguagens temporárias e
podia ser o resultado de eventos aleatórios e in- provisórias com as quais o indivíduo se identifica
controláveis (epidemia, guerra, colapso econômico), e manda sinais de reconhecimento para outros.
mas raramente envolvia a posição de cada um na Na opinião que prevalece nos dias de hoje, ser
vida, a qual era determinada pelo nascimento e se jovem parece significar plenitude como o oposto de
tornava previsível pela história da família e o con- vazio, possibilidades amplas, saturação de presen-
texto social. Para o adolescente moderno, por ou- ça. A vida social é hoje dividida em múltiplas zo-
tro lado, a relativa incerteza da idade é multiplicada nas de experiência, cada qual caracterizada por for-
por outros tipos de incerteza que derivam simples- mas específicas de relacionamento, linguagem e re-
mente dessa ampliação de perspectivas: a disponi- gras. Complexidade e diferenciação parecem abrir
bilidade de possibilidades sociais, a variedade de o campo do possível a tal ponto que a capacidade
cenários nos quais as escolhas podem ser situadas. individual para empreender ações não se mostra à
A pesquisa indica várias tendências. A adoles- altura das potencialidades da situação. Esse exces-
cência é a idade em que a orientação para o futuro so de possibilidades, que nossa cultura engendra,
prevalece e o futuro é percebido como apresentan- amplia o limite do imaginário e incorpora ao hori-
do um maior número de possibilidades. Uma pers- zonte simbólico regiões inteiras de experiência que
pectiva temporal aberta corresponde a uma forte foram previamente determinadas por fatores bio-
orientação para a auto-realização, resistência con- lógicos, físicos ou materiais. Nesse sentido, a expe-
tra qualquer determinação externa dos projetos de riência é cada vez menos uma realidade transmiti-
vida e desejo de uma certa variabilidade e rever- da e cada vez mais uma realidade construída com
sibilidade de escolha. Em comparação com o pas- representações e relacionamentos: menos algo para
sado, a tendência aponta no sentido de uma redu- se “ter” e mais algo para se “fazer”.
ção dos limites da memória e de se considerar o O adolescente percebe os efeitos dessa amplia-
passado como um fator limitativo, acima de tudo. ção de possibilidades da maneira mais direta atra-

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vés de uma expansão dos campos cognitivo e emo- outros, como reconhecimento daquilo que fomos e
cional (tudo pode ser conhecido, tudo pode ser ten- do que podemos nos tornar. Para os adolescentes
tado); a reversibilidade de escolhas e decisões (tudo de hoje a experiência de tempo como possibilida-
se pode mudar); a substituição de constructos sim- de, mas também como limitação, é uma maneira de
bólicos pelo conteúdo material da experiência (tudo salvaguardar a continuidade e a duração; uma ma-
pode ser imaginado). neira de evitar que o tempo seja destruído em uma
O que acontece com a experiência? Ultrapas- seqüência fragmentada de pontos, uma soma de
sada e invadida pelo apelo simbólico da possibili- momentos sem tempo.
dade, ela ameaça se perder em um presente ilimi-
tado, sem raízes, devido à uma memória pobre, com Continuidade através da mudança
pouca esperança para o futuro como todos os pro-
dutos do desencanto. A experiência se dissolve no Está agora claro que a maneira pela qual os
imaginário, mas o teste de realidade, na sua dure- adolescentes constróem sua experiência é mais e
za, produz frustração, tédio e perda de motivação. mais fragmentada. Adolescentes pertencem a uma
Os novos sofrimentos, as novas patologias dos pluralidade de redes e de grupos. Entrar e sair des-
adolescentes, estão relacionadas com o risco de uma sas diferentes formas de participação é mais rápi-
dissolução da perspectiva temporal (Laufer, 1975; do e mais freqüente do que antes e a quantidade de
Copley, 1976; Selvini Palazzoli, 1984; Lawton, 1985; tempo que os adolescentes investem em cada uma
Meredith,1986; Noonan,1989). Presenças como a delas é reduzida. A quantidade de informação que
capacidade de atribuir sentido às próprias ações e eles mandam e recebem está crescendo em um rit-
de povoar o horizonte temporal com conexões entre mo sem precedentes. Os meios de comunicação, o
tempos e planos de experiências diferentes, são frá- ambiente educacional ou de trabalho, relações inter-
geis e pouco sólidas. Exatamente ali onde a abundân- pessoais, lazer e tempo de consumo geram mensa-
cia, a plenitude e capacidade de realização parecem gens para os indivíduos que por sua vez são cha-
reinar, nós nos deparamos com o vazio, a repetição mados a recebê-las e a respondê-las com outras men-
e a perda do senso de realidade. Um tempo de pos- sagens. O passo da mudança, a pluralidade das par-
sibilidades excessivas torna-se possibilidade sem tem- ticipações, a abundância de possibilidades e men-
po, isto é, simplesmente um mero fantasma da dura- sagens oferecidas aos adolescentes contribuem to-
ção, uma chance fantasma. O tempo pode se tornar dos para debilitar os pontos de referência sobre os
um invólucro vazio, uma espera sem fim por Godot. quais a identidade era tradicionalmente construída.
Na experiência dos adolescentes de hoje, a ne- A possibilidade de definir uma biografia contínua
cessidade de testar limites tornou-se uma condição torna-se cada vez mais incerta.
de sobrevivência do sentido. Sem atingir-se o limi- Nesse sentido, o significado do presente não
te não pode haver experiência ou comunicação; sem se encontra no passado, nem em um destino final
a consciência da perda da existência do outro, como da história; o tempo perde sua finalidade linear e a
dimensões que compõem o estar-na-terra, não pode catástrofe (nuclear, ecológica) torna-se uma possi-
haver ação dotada de significado ou possibilidade bilidade. Mas esta des-linearização do tempo reve-
de manter uma relação com outros. la a singularidade da experiência individual. O tem-
Consciência do limite, o cansaço produzido po individual e cada momento dentro dele não se
pelo esforço para ultrapassá-lo, a percepção do que repete nunca. Não somente ele não retorna em um
está faltando — sentido de perda — criam raízes ciclo repetitivo sem fim, mas tampouco será porta-
para que se presencie como algo possível a aceita- dor de outro sentido, outra finalidade senão aque-
ção do presente e o planejamento do futuro: como la que os indivíduos e grupos são capazes de pro-
responsabilidade para consigo mesmo e para com duzir para si mesmos.

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Nomadismo e metamorfose parecem consti- definição e o reconhecimento de limites pessoais e


tutir respostas para essa necessidade de continuida- externos é a chave para se mover em qualquer dire-
de através da mudança. A unidade e continuidade ção: através da comunicação com o exterior e con-
da experiência individual não pode ser encontradas formidade com as regras do tempo social ou através
em uma identificação fixa com um modelo, grupo de uma voz interna que fala com cada pessoa em
ou cultura definidos. Deve ao invés disto ser basea- sua linguagem secreta. Somente assim um ciclo de
do na capacidade interior de “mudar a forma” de abertura e fechamento pode ser estabelecido, atra-
redefinir-se a si mesmo repetidas vezes no presen- vés de uma oscilação permanente entre os dois ní-
te, revertendo decisões e escolhas. Isso também sig- veis de experiência. Tais passagens marcam a evo-
nifica acalentar o presente como experiência única, lução dinâmica, as metamorfoses da vida pessoal.
que não pode ser reproduzida, e no interior da qual Aprendendo como empreender estas passagens
cada um se realiza. — um problema de escolha, incerteza e risco — os
adolescentes reativam no resto da sociedade a me-
Desafiando a definição dominante de tempo mória da experiência humana dos limites e da liber-
dade. Eles vivem para todos como receptores sen-
Para lidar com tantas flutuações e metamor- síveis e perceptivos da cultura contemporânea, os
foses, os adolescentes sentem que a identidade deve dilemas do tempo em uma sociedade complexa: o
ser enraizada no presente. Eles devem ser capazes tempo como medida de mudança para nossas so-
de abrir e fechar seus canais de comunicação com ciedades que necessitam prever e controlar seu de-
o mundo exterior para manter vivos seus relacio- senvolvimento; o tempo como definição pontual da
namentos, sem serem engolidos por uma vasta quan- identidade indivídual e coletiva; o tempo como uma
tidade de signos. Ainda mais, para abraçar um cam- flecha linear ou como campo de experiência rever-
po amplo de experiências que não pode ser confi- sível e multidirecional. Desafiando a definição do-
nado dentro dos rígidos limites de um pensamento minante do tempo, os adolescentes anunciam para
racional, eles precisam de novas capacidades para o resto da sociedade que outras dimensões da ex-
contatos imediatos e intuitivos com a realidade. periência humana são possíveis. E fazendo isto, eles
Essas exigências alteram os limites entre dentro e apelam à sociedade adulta para a sua responsabili-
fora e apontam para a necessidade de uma maior dade: a de reconhecer o tempo como uma constru-
consciência de si mesmo e responsabilidade para um ção social e de tornar visível o poder social exerci-
contato mais estreito com a experiência íntima de do sobre o tempo.
cada um. Tornar o poder visível é a mais importante
Novamente, como a cadeia de possibilidades tarefa na ordem dos conflitos em nossa sociedade.
torna-se muito ampla comparada com oportunida- Revertendo a definição adulta do tempo, os adoles-
des atuais de ação e experiência, o questionamen- centes simbolicamente contestam as variáveis do-
to sobre limites torna-se um problema fundamen- minantes de organização do tempo na sociedade.
tal para os adolescentes de hoje. Considerando o Eles revelam o poder escondido atrás da neutrali-
declínio dos ritos de passagem que outrora marca- dade técnica da regulação temporal da sociedade.
vam os limites entre infância e vida adulta (Van
Gennep, 1981; Kett, 1977) e sendo exposto a um Ação comunicativa
novo relacionamento com os adultos (McCormack,
1985; Herbert, 1987) eles próprios expostos a uma O antagonismo dos movimentos juvenis é emi-
pressão crescente da mudança, a juventude contem- nentemente comunicativo do ponto de vista de sua
porânea tem que encontrar novos caminhos para natureza (Melucci, 1989, 1996b). Nos últimos trin-
vivenciar a experiência fundamental dos limites. A ta anos a juventude tem sido um dos atores centrais

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em diferentes ondas de mobilização coletiva: refi- c) Representação: aqui a mensagem toma a


ro-me a formas de ação inteiramente compostas de forma de uma reprodução simbólica que separa os
jovens, assim como à participação de pessoas jovens códigos de seus conteúdos os quais habitualmente
em mobilizações que também envolveram outras os mascaram. Ela pode se combinar com as duas
categorias sociais. Começando pelo movimento estu- formas acima (movimentos contemporâneos de ju-
dantil dos anos 60 é possível traçar a participação ventude fazem grande uso das formas de represen-
juvenil em movimentos sociais através das formas tação como o teatro, o vídeo, a mídia).
‘sub-culturais’ de ação coletiva nos anos 70 como Nestes três casos, os movimentos funcionam
os punks, os movimentos de ocupação de imóveis, para o resto da sociedade como um tipo específi-
os centros sociais juvenis em diferentes países euro- co de veículo, cuja função principal é revelar o que
peus, através do papel central da juventude nas mo- um sistema não expressa por si mesmo: o âmago
bilizações pacifistas e ambientais dos anos 80, atra- do silêncio, da violência, do poder arbitrário que
vés de ondas curtas mas intensas de mobilização de os códigos dominantes sempre pressupõem. Mo-
estudantes secundaristas dos anos 80 e começo dos vimentos são meios que se expressam através de
90 (na França, Espanha e Itália, por exemplo) e, fi- ações. Não é que eles não falem palavras, que eles
nalmente, através das mobilizações cívicas nos anos não usem slogans ou mandem mensagens. Mas sua
90 como o anti-racismo no norte da Europa, França função enquanto intermediários entre os dilemas
e Alemanha ou o movimento da anti-máfia na Itá- do sistema e a vida diária das pessoas manifesta-
lia. Todas estas formas de ação envolvem pessoas se principalmente no que fazem: sua mensagem
jovens como atores centrais; mesmo se apresentam principal está no fato de existirem e agirem. Isto
diferenças históricas e geográficas com o passar das também significa afirmar que a solução para o
décadas, elas dividem características comuns que problema relativo à estrutura do poder não é a
indicam um padrão emergente de movimentos so- única possível e mais do que isso, oculta os inte-
ciais em sociedades complexas, pós-modernas. Nes- resses específicos de um núcleo de poder arbitrá-
ses sistemas cada vez mais baseados em informação, rio e opressor. Pelo que fazem e a maneira como
a ação coletiva particularmente aquela que envol- fazem, os movimentos anunciam que outros cami-
ve os jovens oferece outros códigos simbólicos ao nhos estão abertos, que existe sempre outra saída
resto da sociedade — códigos que subvertem a ló- para o dilema, que as necessidades dos indivíduos
gica dos códigos dominantes. É possível identificar ou grupos não podem ser reduzidas à definição
três modelos de ação comunicativa: dada pelo poder. A ação dos movimentos como
a) Profecia: portadora da mensagem de que o símbolo e como comunicação faz implodir a dis-
possível já é real na experiência direta dos que o pro- tinção entre o significado instrumental e expressi-
clamam. A batalha pela mudança já está encarnada vo da ação, posto que, nos movimentos contempo-
na vida e estrutura do grupo. A profecia é um exem- râneos, os resultados da ação e a experiência indi-
plo notável da contradição a que me referi. Profe- vídual de novos códigos tendem a coincidir. E, tam-
tas sempre falam em nome de terceiros, mas não po- bém, porque a ação, em lugar de produzir resulta-
dem deixar de apresentar-se a si mesmos como mo- dos calculáveis, muda as regras da comunicação.
delo da mensagem que proclamam. Nesse sentido,
como os movimentos juvenis se batem para subver- Novas redes
ter os códigos, eles difundem culturas e estilos de vida
que penetram no mercado ou são institucionalizados. Movimentos juvenis tomam a forma de uma
b) Paradoxo: aqui a autoridade do código do- rede de diferentes grupos, dispersos, fragmentados,
minante revela-se através do seu exagero ou da sua imersos na vida diária. Eles são um laboratório no
inversão. qual novos modelos culturais, formas de relaciona-

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Juventude, tempo e movimentos sociais

mento, pontos de vista alternativos são testados e teza existem, mas eles são esporádicos e até certo
colocados em prática. ponto substituíveis. Tais formas de ação exercem
Estas redes emergem somente de modo espo- efeitos sobre instituições, modernizando seu pensa-
rádico em resposta a problemas específicos. Trata- mento e organização, formando as novas elites. Mas
se de uma mudança morfológica que nos força a ao mesmo tempo, suscitam questões para as quais
redefinir as categorias analíticas de atores coletivos. não há espaço. Enquanto nós aplicamos e executamos
Se os conflitos se expressam em termos de recursos o que um poder anônimo decretou, os jovens pergun-
simbólicos, os atores considerados não podem ser tam para onde estamos indo e por quê. Sua voz é
estáveis. Primeiramente, porque os meios através ouvida com dificuldade porque fala pelo particular.
dos quais se criam e distribuem na sociedade pos- A natureza precária da juventude coloca para
sibilidades de identificação estão continuamente a sociedade a questão do tempo. A juventude dei-
mudando e operando em campos variados. Segun- xa de ser uma condição biológica e se torna uma
do, os atores vivem as exigências contraditórias do definição simbólica. As pessoas não são jovens ape-
sistema como fonte de conflitos, não o fazem du- nas pela idade, mas porque assumem culturalmen-
rante a vida inteira e não estão permanentemente te a característica juvenil através da mudança e da
enraizados em uma categoria social única. transitoriedade. Revela-se pelo modelo da condição
A hipótese de conflitos sistêmicos antagônicos juvenil um apelo mais geral: o direito de fazer re-
pode se manter se preservamos a idéia de um cam- troceder o relógio da vida, tornando provisórias
po sistêmico ou de um espaço no qual os atores decisões profissionais e existenciais, para dispor de
podem variar. O campo é definido pelos problemas um tempo que não se pode medir somente em ter-
e diferentes os atores que o ocupam expõem para mos de objetivos instrumentais.
toda a sociedade questões relacionadas com o sis- Se compararmos agora informações relativas
tema na sua totalidade e não só com um grupo ou a grupos de jovens em diferentes países europeus e
uma categoria social. Evidentemente, as formas em- as diferentes ondas de mobilização mencionadas
píricas de mobilização contêm, como vimos, nume- acima não é difícil encontrar elementos deste siste-
rosas dimensões. Mas através de certos aspectos da ma de ação. Os movimentos de jovens dividem-se
ação a juventude sinaliza um problema relaciona- entre o radicalismo político e a violência de alguns
do não somente com as suas próprias condições de grupos extremistas (às vezes grupos de direita, às
vida mas também com os meios de produção e dis- vezes revolucionários, anarquistas, etc) a expressi-
tribuição de recursos de significado. Os jovens se va marginalidade da contra-cultura, a tentativa de
mobilizam para retomar o controle sobre suas pró- controlar uma parte das organizações políticas e de
prias ações, exigindo o direito de definirem a si mes- transformar grupos juvenis em agências para polí-
mos contra aos critérios de identificação impostos ticas juvenis e uma orientação conflituosa, que to-
de fora, contra sistemas de regulação que penetram ma a forma de um desafio cultural aos códigos do-
na área da “natureza interna”. minantes. Em um ambiente que favorece a “pobre-
A maneira pela qual o conflito se manifesta, za” de recursos internos (desemprego, desintegra-
no entanto, não é a da ação “efetiva”. O desafio ção social, imigração) este último componente não
vem através da inversão de códigos culturais e é por pode ser bem sucedido na combinação com outros
isso eminentemente “formal“. Em sistemas onde os e o “movimento” juvenil se divide. Evapora-se na
signos tornam-se intercambiáveis o poder reside nos pura exibição de signos (variedade de tribos metro-
códigos, nos ordenadores dos fluxos de informação. politanas) produz a profissionalização pelo mercado
A ação coletiva antagonista é uma “forma” que, de recursos culturais inovadores e, de forma ainda
pela sua própria existência, pela maneira como se mais trágica, declina na marginalidade das drogas,
estrutura, envia sua mensagem. Objetivos com cer- da doença mental, do desabrigo. Quando a demo-

Revista Brasileira de Educação 13


Alberto Melucci

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