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Tecnico Citopatologia Caderno Referencia 1 PDF
Tecnico Citopatologia Caderno Referencia 1 PDF
Caderno de referência 1: Citopatologia Ginecológica/ André Luiz de Souza Barros, Daisy Nunes de Oliveira Lima,
Michelle Dantas Azevedo, Micheline de Lucena Oliveira – Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: CEPESC, 2012.
ISBN 978-85-324-0033-8
1. Citopatologia. 2. Educação em Saúde. 3. Ensino profissional . 4. Ensino técnico. 5. Aparelho genital feminino. I. Barros, André
Luiz de Souza. II- Lima, Daisy Nunes de Oliveira. III- Azevedo, Michelle Dantas. IV. Oliveira, Micheline de Lucena. V. Programa
de Formação de Profissionais de Nível Médio para a Saúde.
CDU 576.385:37
μm Micrômetro
AGC Células glandulares atípicas
Anvisa Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ASC Atipia de células escamosas
ASC-H Células escamosas atípicas que não permitem excluir uma lesão de
alto grau
ASCUS Células escamosas atípicas de significância indeterminada
Carbowax Etanol e polietileno glicol
CC Citologia convencional
CDC Centro de controle de doenças (EUA)
Citosprays Álcool isopropílico e glicol
CK 17 Citoqueratina 17
DEGES Departamento de Gestão da Saúde
DIU Dispositivo intrauterino
DNA Ácido desoxiribonucleico
E1 Gene de codificação da proteína viral precoce 1
E2 Gene de codificação da proteína viral precoce 2
E2F Fator ativador da transcrição em eucariontes
E4 Gene de codificação da proteína viral precoce 4
E5 Gene de codificação da proteína viral precoce 5
E6 Gene de codificação da proteína viral precoce 6
E7 Gene de codificação da proteína viral precoce 7
EA Eosina, verde luz ou verde brilhante e pardo de Bismarck
FSH Hormônio folículo estimulante
HE Hematoxilina-Eosina
HPV Papiloma vírus humano
HSV-1 Herpes simplex tipo 1
HVC-2 Herpes simplex tipo 2
IM Índice de maturação
Inca Instituto Nacional do Câncer
IP Índice picnótico
JEC Junção escamocolunar
L1 Gene de codificação da proteína estrutural 1
L2 Gene de codificação da proteína estrutural 2
LBC Citologia em meio liquido
LCR Região de controle de locus
LH Hormônio luteinizante
Liqui-Prep Método de processamento de citologia em base líquida
MS Ministério da Saúde
NIC 1 Neoplasia intraepitelial cervical grau 1 (displasia leve/Lesão de baixo grau)
NIC 2 Neoplasia intraepitelial cervical grau 2 (displasia moderada)
NIC 3 Neoplasia intraepitelial cervical grau 3 (lesões intraepiteliais escamosas
de alto grau)
NIC Neoplasia intraepitelial cervical
NTpase Nucleotídeo trifosfatase
OMS Organização Mundial de Saúde
ORFs Fases abertas de leitura
P16 Proteína de 16kDa inibidora de CDK (CDKI) da família Ink
P53 Proteína de 53kDa ou proteína tumoral 53, conhecida como supressora
tumoral
PCR Reação em cadeia da polimerase
PDGF Fator de crescimento derivado das plaquetas
pH Potencial hidrogeniônico
pRB Proteína do retinoblastoma
Profaps Programa de Formação de Profissionais de Nível Médio Para a Saúde
RNA Ácido ribonucleico
SGTES Secretaria de Gestão da Educação na Saúde
SIDA Síndrome da imunodeficiência adquirida
sp Espécie
SurePath Método automatizado de preparação das amostras citopatológicas em
monocamada
SUS Sistema Único de Saúde
ThinPrep Método automatizado que permite a deposição do material coletado em
única camada
Unicamp Universidade Estadual de Campinas
URR Upstream regulatory region
ZT Zona de transformação
SUMÁRIO
Apresentação................................................................................................................................. 7
1 Introdução a citopatologia.......................................................................................................... 9
2 Procedimentos técnicos e laboratoriais...................................................................................... 19
3 Características citológicas nos processos patológicos gerais..................................................... 35
4 Características citológicas nos esfregaços cervicovaginais normais.......................................... 55
5 Citologia inflamatória................................................................................................................. 79
6 Alterações reativas...................................................................................................................... 93
7 Células escamosas atípicas......................................................................................................... 105
8 Lesões pré-cancerosas e carcinoma escamoso do colo uterino.................................................. 119
9 Anormalidades epiteliais glandulares endocervicais e endometriais /
neoplasias malignas metastáticas no colo uterino......................................................................... 149
10 Novas tecnologias em citopatologia......................................................................................... 175
Referências.................................................................................................................................... 187
Apêndices...................................................................................................................................... 191
Apoiar o desenvolvimento do curso é o objetivo específico, contudo tem-se como propósito con-
solidar e ampliar a articulação das Escolas Técnicas com as Redes de Atenção à Saúde do SUS e, a partir
dessa base, consolidar as Escolas como rede de excelência na formação profissional e na qualificação
técnica do nível médio na área da saúde.
Nessa perspectiva, fundamentada nos princípios das políticas de saúde, de educação e da regula-
ção do trabalho, o SUS desenvolve a ordenação dos recursos humanos para a saúde.
1.2 Histórico
É creditado a Sir Julius Vogel (1843) o primeiro relato quanto à aplicação da citologia como
meio diagnóstico. Ele identificou células malignas em líquido de uma fístula drenando um grande tumor
mandibular.
Em 1845, Henri Lebert registrou o aspecto morfológico de células aspiradas de tumores. Donaldson
em 1853, num reporte sobre a aplicação prática do microscópio para o diagnóstico de câncer, descreveu as
características citológicas de amostras obtidas da superfície de corte de tumores. O prof. Lionel S. Beale
(1850) e o Dr. Lambl de Praga descreveram células malignas em escarro e urina, respectivamente.
Apesar desses relatos iniciais promissores, a citopatologia não progrediu como ciência. Provavelmente os
avanços técnicos superiores no processamento e na coloração das secções histológicas dissipou a atenção
pela citologia, superdimensionando as suas limitações, sendo encarada durante muito tempo como mera
curiosidade pela maioria dos patologistas.
Foi somente na segunda metade do século XX que a citopatologia se firmou como ciência,
graças especialmente ao trabalho do Dr. George Papanicolaou (1883-1962). Este nasceu em Kyme, na
Grécia, estudou em Atenas, diplomando-se em medicina. Decidiu devotar a sua vida à pesquisa em vez
de atuar profissionalmente como médico “de família”. Assim, foi para a Alemanha, obtendo um ph.D.
na Universidade de Munique, em 1910. A sua carreira profissional foi interrompida quando em 1912 foi
convocado para prestar serviço no exército grego na guerra dos Balcãs contra a Turquia. Neste período,
conviveu com soldados greco-americanos que descreviam a América como uma terra de oportunidades.
Entusiasmado com esses relatos, imigrou juntamente com a sua esposa para os Estados Unidos em 1913,
sem qualquer plano definitivo de como concretizar as suas ambições de pesquisa em biologia e medicina.
Em 1914 obteve o cargo de assistente do departamento de anatomia na Cornell Medical School,
em Nova Iorque, onde desenvolveu a maior parte do seu trabalho até 1949. A partir daí atuou como
diretor do Instituto de Câncer de Miami, renomeado posteriormente Instituto de Pesquisa de Câncer
Papanicolaou. Os estudos iniciais de Papanicolaou tinham como alvo esfregaços vaginais de animais de
laboratório e posteriormente de mulheres, objetivando conhecer os efeitos hormonais sobre a mucosa
vaginal. No decorrer das suas pesquisas, o encontro acidental de células malignas despertou-lhe a atenção,
antevendo a possibilidade de a mesma técnica ser empregada na rotina do diagnóstico precoce do câncer
cervical. Em 1928, Papanicolaou publicou um artigo sobre os resultados do seu trabalho, intitulado “Novo
diagnóstico de câncer”. No final desse artigo, ele previu: “Uma compreensão melhor e uma análise mais
precisa do problema do câncer com certeza resultarão da aplicação deste método. É possível que sejam
desenvolvidas técnicas análogas para o reconhecimento de câncer em outros órgãos”. Na ocasião o seu
trabalho não sensibilizou o meio acadêmico, em parte devido a falta de dados estatísticos na pesquisa.
Interessante observar que, neste mesmo ano de 1928, Aurel Babes, um patologista romeno,
de modo independente e desconhecendo as pesquisas de Papanicolaou, publicou um trabalho similar,
“Diagnóstico do câncer do colo uterino por esfregaços”, na revista especializada francesa La Presse
11
Médicale. O mesmo estudo havia sido apresentado anteriormente em 23 de janeiro de 1927, durante uma
conferência da Sociedade de Ginecologia de Bucareste. Babes estabeleceu claramente que o método era
aplicável no diagnóstico de cânceres precoces, que ainda não tinham invadido o estroma. Ele descreveu
as alterações citológicas no câncer cervical de modo tão detalhado que as suas informações são válidas
ainda hoje, mais de 80 anos depois.
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gerou um grande impacto, modificando o perfil dessa situação. Já na década de 1970, a incidência e a
mortalidade por câncer de colo no Estados Unidos diminuiu para quase metade dos casos em relação
às taxas de 1930. Apesar do grande sucesso do teste de Papanicolaou nesse e em outros países ricos,
infelizmente o procedimento ainda não é aplicado rotineiramente, de forma sistemática, em muitos países
em desenvolvimento. Prova disso é que 500 mil mulheres são diagnosticadas com câncer de colo no
mundo, com aproximadamente 200 mil mortes pela doença a cada ano. Análises estatísticas mostram que
85% desses casos ocorrem nos países em desenvolvimento. No Brasil, no ano de 2010, a incidência de
câncer de colo foi de 49.240, e a mortalidade chegou a 18.430 casos. Já nos Estados Unidos, em 2010 a
incidência de câncer de colo foi de 12.200, e a mortalidade de 4.210 casos. Esses dados comprovam que o
exame de Papanicolaou ainda é a estratégia mais eficaz na detecção de câncer e dos seus precursores, não
existindo na atualidade nenhum teste superior na erradicação do câncer cervical.
A citopatologia foi incorporada à prática médica da contemporaneidade no diagnóstico de doenças
em vários órgãos e sistemas, sendo uma disciplina bem estabelecida.
a b c d
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Por se tratar de um procedimento diagnóstico não invasivo sem complicações para a paciente,
além do seu baixo custo e eficácia diagnóstica, a citopatologia é considerada o método de eleição no
rastreamento do câncer cervical.
Contudo, limitações são comuns a todos os métodos diagnósticos. Com relação à citopatologia,
os seus aspectos negativos compreendem o tempo excessivamente longo na interpretação das amostras, a
natureza algo subjetiva da interpretação e a impossibilidade de assegurar a invasão ou extensão da invasão
no caso de lesão maligna. Deve ser realçado que a avaliação histopatológica é essencial no diagnóstico
definitivo das lesões pré-cancerosas e malignas do colo uterino, detectadas pelo exame citológico.
A genitália externa contém um conjunto de formações que protegem o orifício externo da vagina e
o meato uretral ou urinário. Pode ser dividido nas seguintes partes: clitóris, vestíbulo, pequenos e grandes
lábios.
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Tuba uterina
Baixo estoque
(2) de folículos
(1)
diminuição do FSH
As mulheres já nascem com seu total de folículos definidos, já na fase embrionária. Ao chegar à
menarca apresentam cerca de 400 mil folículos nos dois ovários, porém com o decorrer do tempo eles vão
entrando em um processo de morte celular programada (apoptose), denominada de atresia folicular.
A cada ciclo menstrual, cerca de 1.000 folículos são recrutados para amadurecimento, porém, em
geral, apenas um ovócito é liberado a cada ciclo, e os outros demais se degeneram. Com o decorrer da
idade ocorre um esgotamento progressivo dos folículos ovarianos.
Na mulher com ciclo menstrual normal de 28 dias, a ovulação acontece no 14° dia após o início da
menstruação, caracterizando o período fértil. Depois da ovulação o folículo se transforma em corpo-lúteo,
o que impede que ocorra uma nova ovulação.
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Caderno de Referência 1
•••••••••••••••••••
a b
As tubas uterinas são as estruturas que ligam o útero aos ovários, através das fímbrias. Podem ser
divididas em quatro partes: a intramural, o istmo, a ampola e o infundíbulo. Suas paredes são constituídas
por três camadas — a mucosa, a muscular e a serosa —, que irão promover sua função de captar o ovócito
liberado pelo ovário e conduzi-lo na direção do útero.
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Internamente, o útero é um órgão oco, fibromuscular, e suas dimensões variam de acordo com a
idade, estimulação hormonal e o número de gestações. É dividido em:
• Corpo do útero, região que demonstra maior volume e apresenta forma triangular.
• Colo do útero, região mais estreita, em forma de canal, conhecida como canal cervical, ou cérvice.
• Istmo do útero, que é a região que se encontra na parte inferior do corpo do útero.
• Fundo do útero, região que fica acima do eixo que liga as duas implantações das tubas uterinas.
Tuba uterina
Colo do Útero
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Caderno de Referência 1
•••••••••••••••••••
a b
A parede do colo do útero é formada por duas camadas, sendo elas: a endocérvice e a ectocérvice.
A endocérvice é uma camada mucosa, constituída por um epitélio colunar simples mucossecretor, que
é responsável pela produção do muco cervical; e a ectocérvice é constituída por um epitélio escamoso
estratificado não queratinizado, que se assemelha ao da vagina. A ligação da ectocérvice e da endocérvice
recebe o nome de junção escamocolunar (JEC), podendo ter sua localização modificada de acordo com o
estado hormonal, gestacional, parto vaginal e/ou trauma.
a b
A vagina é um órgão tubular musculomembranoso, que se estende do óstio externo do útero até
o vestíbulo da genitália externa, com comprimento que varia de 7 a 9 cm. Tem como funções permitir a
passagem do feto durante o parto, a descamação do sangue do fluxo menstrual mensal e a penetração do
pênis na relação sexual.
Estruturalmente é constituída por uma parede formada por três camadas: a mucosa, a muscular e
a adventícia.
O clitóris, bulbo do vestíbulo e as glândulas anexas são estruturas acessórias que compõem o
sistema genital feminino e são de fundamental importância na sexualidade feminina e na produção das
secreções mucocervicais.
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2 Procedimentos técnicos e
laboratoriais
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Deve ser assinalado que os esfregaços citológicos encaminhados por outros serviços devem ser
acompanhados pela ficha de solicitação do exame. No laboratório, ainda na recepção, as amostras devem
ser rejeitadas e devidamente notificadas em casos de: ausência ou erro na identificação da lâmina e/ou do
frasco, identificação da lâmina e/ou do frasco não coincidente com a do formulário, lâmina danificada ou
ausente.
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O espéculo vaginal sem lubrificante (para evitar contaminação da amostra) é introduzido para a
visualização do colo. Depois de remover com algodão o excesso de muco, secreção ou sangue, a espátula
de Ayre é apoiada no canal endocervical, sendo executado um raspado na junção escamocolunar (JEC)
através de movimento de rotação de 360º. A amostra do fundo de saco posterior da vagina também é
obtida através de raspado, com a extremidade romba da espátula de Ayre. A espátula é deixada em repouso
sobre o espéculo e imediatamente é realizada a colheita do material endocervical. A escovinha designada
especialmente para essa finalidade é inserida através do orifício cervical externo, sendo executada uma
rotação completa no canal que pode ser finalizada com um movimento de vai e vem, com cuidado para
não traumatizar a mucosa, evitando sangramento.
a b c
a b
23
a b
É muito importante no momento da colheita e da confecção dos esfregaços ter precaução para não
contaminar as lâminas com fios de algodão da gaze ou talco contido nas luvas utilizadas durante o proce-
dimento.
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a b
c d
Figura 16 - Contaminação da lâmina por material estranho e artefatos, por falhas na colheita das amostras
e confecção dos esfregaços.
a; b - Contaminação por talco. Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 100x e 400x. O talco contido nas
luvas utilizadas pelo médico no momento da colheita ou durante a confecção dos esfregaços pode conta-
minar a amostra. Representam cristais birrefringentes, com aparência de cruz de malta (setas).
c - “Fundo” hemorrágico. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Hemácias bem conservadas na
amostra, como observado nesta figura, geralmente ocorrem por trauma na colheita.
d - Esmagamento das células. Esfregaço cervicovaginal, 100x. A compressão excessiva do material sobre a
lâmina no momento da confecção do esfregaço resulta em distorção e lise das células com o aparecimento
de filamentos basofílicos correspondendo a restos dos núcleos.
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• Aspecto opacificado, turvo, dando a impressão de que a amostra está fora do campo de visão.
• Aumento da eosinofilia citoplasmática.
• Aumento nuclear (de quatro a seis vezes maior ao verificado nas amostras fixadas imediatamente)
e perda dos detalhes da estrutura cromatínica.
Outros fixadores utilizados menos comumente são o Carbowax (etanol e polietileno glicol) e
sprays (álcool isopropílico e glicol). A vantagem desses fixadores de cobertura em relação ao etanol é
a facilidade de transporte das amostras quando são obtidas à distância do laboratório. Com a aplicação
desses fixadores, os esfregaços podem ser acondicionados em caixas de papelão, evitando os possíveis
transtornos pelo vazamento do etanol durante o transporte e consequente dano às preparações citológicas.
a b
c d
26
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a b
c d
e f
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a b
c d
• Satisfatória
A amostra que apresenta células em quantidade representativa (estimativa mínima de aproxima-
damente 8.000-12.000 células escamosas) bem distribuídas, fixadas e coradas, de tal modo que a
sua visualização permita uma conclusão diagnóstica.
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• Insatisfatória
Esfregaço acelular ou obscurecido em mais de 75% da sua totalidade pelos mesmos fatores dis-
cutidos acima. Quando um exame citológico é categorizado como satisfatório, mas limitado ou
insatisfatório para a avaliação, deve ser repetido o mais breve possível, uma vez que o estudo
oncológico foi comprometido ou não foi possível, respectivamente.
a b
c d
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É importante observar que a ausência dos componentes da zona de transformação (células glan-
dulares endocervicais e/ou metaplásicas escamosas) não interfere na classificação do esfregaço quanto a
sua adequacidade. Contudo, deve ser registrada como uma observação à parte, para que o ginecologista
interprete esse dado no contexto clínico da paciente.
A avaliação inicial com a objetiva de 4x é seguida pela utilização da objetiva de 10x, realizando-se
a leitura sistemática de todos os campos microscópicos. A objetiva de 40x é usada quando é necessário um
maior detalhamento das estruturas celulares.
Para evitar a fadiga visual, é recomendado que a leitura dos esfregaços citológicos seja iniciada
pela parte mais alta da preparação à esquerda, correndo a lâmina no sentido vertical, sobrepondo uma
parte de cada área previamente examinada.
Figura 24 - Modelo recomendado para o rastreamento citológico. A avaliação microscópica se faz através de
movimento em zigue-zague, com sobreposição de campos microscópicos.
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2.12 Arquivo
De acordo com a resolução do Conselho Federal de Medicina número 1472/97, as lâminas de exa-
mes citopatológicos (negativas ou positivas para malignidade) devem ser mantidas em arquivo por cinco
anos no próprio laboratório ou entregues à paciente ou a seu responsável legal devidamente orientados
quanto a sua conservação e mediante comprovante que deverá ser arquivado durante o período acima
mencionado. Quanto aos laudos diagnósticos, estes poderão ser arquivados indefinidamente em arquivo
informatizado.
As lâminas devem ser arquivadas em ordem numérica, sendo aconselhável um arquivo indepen-
dente para lâminas positivas e negativas respectivamente, para facilitar a sua pesquisa e resgate quando
solicitada pela paciente.
Para a segurança do arquivo é necessário o acesso restrito a esse setor, com protocolo de entrada e
saída das lâminas.
A solicitação das lâminas pela paciente deve ser atendida e registrada em documento específico,
onde deve constar de modo claro a transferência e a responsabilidade pela guarda da lâmina.
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Vários fatores interferem na aparência geral dos esfregaços ginecológicos, entre eles a função
celular, a atividade geral da célula, o estado hormonal da paciente e aqueles relativos às técnicas de
colheita, confecção, fixação e coloração dos esfregaços.
3.1.1 Euplasia
Representa o estado normal ou saudável de determinado tipo de célula.
Estrutura nuclear
Baseada principalmente no material cromatínico, nas características da membrana nuclear e na
intensidade da coloração nuclear.
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3.1.2 Retroplasia
Caracteriza-se pela atividade celular diminuída. Compreende as alterações celulares regressivas
cuja aparência morfológica depende de vários fatores, como o tipo de estímulo, a sua intensidade e
duração.
Estrutura Nuclear
• Cromatina – Os grânulos são redondos com limites mal definidos, borrados.
• Cariopicnose – O núcleo pode se retrair, tornando-se escuro, não podendo se distinguir os grânu-
los de cromatina. Um exemplo característico é o que acontece nas células escamosas superficiais
da ectocérvice que exibem picnose nuclear devido à degeneração associada ao envelhecimento
fisiológico da célula. Na degeneração aguda o contorno nuclear é borrado, enquanto se apresenta
bem definido na degeneração crônica.
• Edema Nuclear – Na tumefação turva (acúmulo de água), o núcleo se torna maior, e o seu
conteúdo é diluído, dando a impressão de hipocromasia.
• Cariorrexe – O núcleo se condensa e depois se fragmenta em massas redondas ou ovais, de
tamanhos variados, espalhadas no citoplasma ainda íntegro. Essa alteração geralmente é associada
à degeneração rápida, como aquela que se segue à morte celular na radioterapia.
• Cariólise – Com o resultado da tumefação turva ou hiperqueratose o núcleo pode desaparecer,
às vezes persistindo como uma sombra (núcleo fantasma).
• Vacuolização Nuclear – Geralmente é relacionada à degeneração rápida, como a que ocorre na
radioterapia. Apresenta-se sob a forma de vacúolos redondos, pequenos, isolados ou múltiplos.
• Núcleos Desnudos – Células que apresentam citoplasma delicado podem ser muito sensíveis
a traumas, mesmo pequenos, como acontece durante a confecção dos esfregaços. Ocorre ruptura
do citoplasma das células, com o aparecimento de numerosos núcleos desnudos que preservam
a estrutura finamente granular da cromatina e a membrana nuclear bem definida e regular. Na
atrofia pós-menopausa, esse padrão citológico é bastante comum.
Citoplasma
Há desnaturação das proteínas e outros constituintes com consequente modificação das
características citoplasmáticas. Os lipídeos se acumulam tornando o citoplasma granular, floculento, turvo,
espumoso ou vacuolizado. O citoplasma degenerado também pode aparecer condensado difusamente ou
focalmente sob a forma de um anel periférico que apresenta coloração diferente da área mais interna
perinuclear.
Quando ocorre acúmulo de água intracelular devido à falha no seu transporte através da membrana
citoplasmática, as células aumentam de tamanho, e o citoplasma se torna pálido. Às vezes, a membrana
se rompe com extravasamento do conteúdo citoplasmático, e o núcleo pode assumir uma aparência
alarmante, podendo lembrar aquele das células malignas.
3.1.3 Proplasia
Representa o estado da célula ou tecido com aumento da atividade biológica e inclui a preparação
para a divisão celular, aumento da atividade secretória, resposta a estímulos externos e reparação.
Estrutura Nuclear
• Hipercromasia e Estrutura da Cromatina – A cromatina se torna hipercromática (mais escura)
com o aumento da atividade celular. Diferindo da cromatina de aspecto borrado encontrada na
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euplasia, a cromatina pode ser proeminente, com limites bem marcados. Os seus grânulos aumentam
de tamanho proporcionalmente ao aumento da atividade biológica, mas a sua distribuição é
uniforme, similar ao aspecto visto na euplasia. Enquanto a cromatina se torna hipercromática, a
paracromatina tende a apresentar menor afinidade pela hematoxilina, conferindo-lhe um aspecto
claro.
• Membrana Nuclear – O núcleo é geralmente arredondado e vesicular. A membrana nuclear tem
espessura uniforme e pode ser ondulada.
• Cariomegalia – O aumento nuclear (cariomegalia) é comum na proplasia.
• Multinucleação – Pode ocorrer na proplasia, com núcleos similares entre si.
• Nucléolo – É indicativo de produção de proteínas para o uso da própria célula ou com fins de
secreção pela célula. Assim, o nucléolo é característico da proplasia e se apresenta redondo.
a b
39
3.2.1 Fundo
O fundo pode ser entendido como a área do esfregaço entre as células. Caracteristicamente no
espécime ginecológico, apresenta-se preenchido por substância mucoide, purulenta, hemorrágica ou
fibrinoide (necrótica). O esfregaço autolítico corresponde àquele onde se identificam restos citoplasmáticos
e núcleos desnudos, encontrados na atrofia. A substância de fundo pode fornecer informações úteis para
a interpretação da doença. Assim, a evidência de necrose sob a forma de fibrina e detritos celulares
associada ao encontro de células anormais confirma o diagnóstico de câncer invasivo.
a b
c d
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a b
Em monocamada
Conjunto organizado de células que mostram espaçamento regular entre si e apresentam limites
citoplasmáticos bem definidos. Diz-se neste caso que a polaridade celular é conservada, sendo tal aspecto
geralmente associado às condições benignas.
41
a b
42
43
a b
44
c d
45
A função celular pode ser traduzida por especializações da membrana citoplasmática, como
os cílios, comuns nas células da endocérvice. Os cílios são ancorados sobre uma superfície densa do
citoplasma, a placa terminal, representada pelos corpúsculos basais no microscópio eletrônico. Às vezes
os cílios são perdidos por ocasião da colheita da amostra, mas devido à persistência da placa terminal, tais
células são reconhecidas. O citoplasma das células cora em azul, enquanto a placa terminal e os cílios são
habitualmente corados em rosa. Quando os processos citoplasmáticos são longos e em menor número, são
conhecidos como flagelos. Os espermatozoides e Trichomonas vaginalis, este um protozoário que pode
parasitar o trato genital feminino, possuem flagelos.
a b
Figura 38 - Especializações da membrana citoplasmática.
a - Papanicolaou, 400x. Células endocervicais ciliadas. Observar a placa terminal
(área mais densa) onde são inseridos os cílios (setas).
b - Papanicolaou, 400x. Espermatozoides. Correspondem a células com flagelos.
a b
Figura 39 - Limites celulares.
a - Papanicolaou, 100x. Células escamosas maduras. Estas células são bem diferenciadas,
com bordas citoplasmáticas bem definidas.
b - Papanicolaou, 400x. Células escamosas indiferenciadas, malignas. Observar os limites
citoplasmáticos mal definidos.
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A coloração e a textura citoplasmática resultam do estado metabólico da célula, assim como dos
métodos de fixação e coloração da amostra. Com a fixação em etanol e a coloração pelo Papanicolaou,
habitualmente o citoplasma das células epiteliais escamosas apresenta cor rosa (eosinofílico) ou azul-
-esverdeado (cianofílico). Nas células metabolicamente ativas com grande síntese de RNA, o citoplasma
é cianofílico, como nas células intermediárias e parabasais do epitélio da ectocérvice. É interessante
observar que as células parabasais, que são as mais ativas, mostram tonalidade mais intensa que as inter-
mediárias. Como foi referido anteriormente, devido a processos degenerativos (retroplasia) pode ocorrer
acúmulo de água no interior da célula, resultando em distensão, vacuolização e palidez citoplasmática,
neste último caso decorrente da menor concentração de proteínas. As alterações da estrutura proteica que
também podem ocorrer na retroplasia modificam por sua vez a cor do citoplasma, que às vezes se apresen-
ta anfofílico (cor indeterminada ou corado simultaneamente em azul e rosa) ou avermelhado (pseudoeo-
sinofilia). As células com citoplasma laranja-brilhante (orangeofilia) são queratinizadas ou com tendência
à queratinização, muitas vezes associadas às lesões pré-cancerosas ou malignas do colo uterino.
a b
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a b
A posição do núcleo pode ser central, retratando geralmente uma célula em equilíbrio, ou excên-
trico, desviado para a periferia, pelo acúmulo de substâncias contidas no citoplasma.
a b
49
Geralmente as células apresentam um único núcleo, mas podem ser observadas células binuclea-
das ou multinucleadas. Histiócitos multinucleados são comuns em esfregaços atróficos de mulheres pós-
-menopausadas sem causa aparente. Células epiteliais também podem ser multinucleadas, como acontece
na infecção pelo herpes-vírus ou em condições malignas onde os núcleos assumem forma, tamanho e
estrutura cromatínica diferentes, variando de núcleo a núcleo.
a b
Figura 44 - Multinucleação.
a - Esfregaço cervicovaginal Papanicolaou, 400x. Histiócito multinucleado.
b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Células epiteliais multinucleadas.
Estas células epiteliais multinucleadas com amoldamento nuclear são características
da infecção pelo herpes-vírus.
A forma do núcleo geralmente acompanha a forma da célula, ou seja, células arredondadas apre-
sentam núcleo arredondado; células cilíndricas ou colunares exibem núcleo oval; células fusiformes reve-
lam núcleo alongado. Em células malignas, o núcleo nem sempre acompanha a forma da célula.
a b
Figura 45 - Forma dos núcleos.
a - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou 400x. Fibroblasto (seta) exibindo núcleo alongado,
acompanhando a forma da célula.
b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Pleomorfismo nuclear. Estas células malignas exi-
bem núcleos com variação de tamanho e forma, nem sempre acompanhando a forma da célula
(seta).
50
O núcleo é limitado pela membrana nuclear não visível à microscopia óptica. Porém, quando ocor-
re depósito de cromatina (DNA e proteínas associadas ao DNA) no folheto interno da membrana nuclear,
tem-se a falsa impressão de membrana nuclear espessada, conhecida como membrana cromatínica. Por
outro lado, o acúmulo de cromatina pode ser irregular, conferindo áreas mais espessas e mais finas à borda
nuclear, um padrão muitas vezes associado às células malignas.
a b
Figura 46 - Característi-
c d cas das bordas nucleares.
a - Esfregaço cervicovagi-
nal, Papanicolaou, 400x.
Células de reparação com
membrana cromatínica
lisa, delicada.
b - Esfregaço cervicovagi-
nal, Papanicolaou, 400x.
Células escamosas com
membrana cromatínica
espessa, lisa. Alterações
reativas.
Com a saída de água do
c - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Célula com leve irregularidade da borda nuclear.
núcleo, este pode apresentar leve ondulação (seta). Representa alteração degenerativa.
d - Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x. Células malignas de origem escamosa com membrana cromatínica
irregularmente espessa (setas). Carcinoma escamoso.
51
a b
c d
52
a b
c d
Figura 49 - Mitoses.
a - Células exibindo mitose típica (seta). Esfregaço cervicovaginal. Papanicolaou, 400x.
b - Célula maligna glandular revelando mitose atípica (seta). Esfregaço cervicovaginal. Papani-
colaou, 400x.
53
55
O colo uterino é representado pela ectocérvice e pela endocérvice. A ectocérvice é revestida por
epitélio escamoso estratificado não queratinizado e a endocérvice, pelo epitélio colunar simples mucosse-
cretor. O ponto de ligação entre os dois tipos de epitélio é chamado junção escamocolunar (JEC). A vagina
é revestida por epitélio escamoso estratificado não queratinizado, similar àquele da ectocérvice.
Junção escamocolunar
(JEC) Ectocérvice
Corpo
uterino
Endocérvice
[
Colo
uterino
Vagina
b
Epitélio colunar simples
Endocérvice
Ectocérvice
57
58
superficial
intermediária
parabasal
basal
59
60
a b c
d e f
61
variação do tamanho, cromatina finamente granular com cromocentros ou nucléolo. Devido à fragilidade
do citoplasma das células endocervicais, às vezes ocorre a sua ruptura no momento da confecção dos es-
fregaços com o aparecimento de núcleos desnudos com alterações degenerativas, imersos em muco.
a b c
d e f
As células endocervicais devem ser diferenciadas dos histiócitos, já que estes também exibem
citoplasma vacuolizado. A forma cilíndrica e a ausência de partículas fagocitadas apontam a origem endo-
cervical. As células endocervicais também devem ser distinguidas das células glandulares endometriais.
As primeiras apresentam maior tamanho, e o citoplasma é mais abundante.
62
Endocérvice: epitélio
colunar simples
Orifício cervical
externo (JEC)
b c c1
b1
c2
b2
63
a b c
células
endocervicais
64
a b
a b c d
Figura 59 - As diversas localizações da JEC nas diferentes fases da vida e o desenvolvimento da zona de transformação
(ZT).
a - Localização da JEC na endocérvice antes da puberdade. 1. Epitélio escamoso original; 2. Epitélio colunar endocervical;
3. Junção escamocolunar (JEC).
b - Eversão do epitélio endocervical na puberdade e na primeira gravidez. 2. Epitélio colunar endocervical; 4. Eversão do
epitélio endocervical.
c - Alteração metaplásica do epitélio endocervical na zona de transformação. 5. Metaplasia escamosa na zona de
transformação.
d - Mudança da localização da JEC para o nível do orifício cervical esterno. 1. Epitélio escamoso; 2. Epitélio colunar
endocervical; 3. Junção escamocolunar (JEC).
65
Células metaplásicas
As células metaplásicas escamosas imaturas são do tamanho aproximado das células parabasais
e são redondas a ovais, com discreto aumento da relação nucleocitoplasmática devido à relativa imaturi-
dade celular. Elas apresentam citoplasma delicado ou denso, às vezes com vacúolos. Os núcleos são um
pouco maiores que aqueles das células intermediárias, redondos ou ovais, paracentrais ou centrais, com
cromatina finamente granular regularmente distribuída e às vezes nucléolo. Essas células se dispõem fre-
quentemente em agrupamentos frouxos, lembrando um calçamento de pedras.
As células metaplásicas maduras são do tamanho aproximado das células intermediárias, porém as pri-
meiras apresentam citoplasma levemente mais denso e bordas citoplasmáticas mais arredondadas. As
células metaplásicas maduras também podem se distribuir em conjuntos frouxos.
Às vezes as células metaplásicas tanto imaturas como maduras revelam prolongamentos citoplasmáticos
assumindo um aspecto estrelado. Outra característica é a presença de uma coloração dupla citoplasmática
sob a aparência de um citoplasma dividido em duas zonas, uma mais externa densa (ectoplasma) e uma
mais interna perinuclear, relativamente pálida.
a b
66
a b
c d
67
4.4 Endométrio
O endométrio corresponde à camada mais interna do copo do útero e é constituído por epitélio
cilíndrico simples e lâmina própria (estroma) que contém inúmeras glândulas tubulares simples (glândulas
endometriais). Sob a ação dos hormônios ovarianos (estrógeno e progesterona), o endométrio sofre
modificações cíclicas, representando o ciclo menstrual.O primeiro dia do ciclo corresponde ao primeiro
dia do sangramento menstrual.
Nos esfregaços cervicovaginais em condições normais, as células endometriais são observadas
até o 12º dia do ciclo menstrual, no início da gravidez quando ocorre implantação do ovo, durante aborto
e no período de pós-parto imediato. Em mulheres usuárias de DIU pode ocorrer descamação de células
endometriais às vezes atípicas, em qualquer fase do ciclo menstrual. Em mulheres pós-menopausadas
que fazem reposição hormonal, células endometriais também podem ser encontradas. Em qualquer outra
ocasião, a presença destas células pode indicar lesão endometrial, como pólipo, endometrite, endometriose,
hiperplasia endometrial ou mesmo neoplasia maligna (adenocarcinoma).
68
69
a b c
Figura 63 - Células do segmento uterino inferior.
a - Células glandulares. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou 100x. Agrupamento celular contendo abertura glandular
(seta). Na periferia, há células do estroma (seta vermelha).
b - Abertura glandular. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. As células são uniformes, com núcleos redondos,
exibindo cromatina granular. Não há estratificação nuclear no revestimento da abertura glandular (seta).
c - Células glandulares e estromais. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. As células glandulares representam ar-
ranjo tubular. As células estromais são vistas na periferia (setas).
70
a b c
4.6.1 Hemácias
São células redondas, medindo de 6 a 7 micrômetros, anucleadas, alaranjadas pela ação do orange
usado no método de coloração de Papanicolaou. Têm pouco significado clínico, podendo indicar trauma
na colheita da amostra cervicovaginal. Por outro lado, o encontro de hemácias degeneradas, lisadas, deve
alertar o examinador, uma vez que podem se associar a carcinomas invasivos.
71
a b
Figura 65 - Neutrófilos.
a - “Fundo” purulento. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Há incontáveis neutrófilos e piócitos reco-
brindo amplamente as células epiteliais. Em tal situação, a amostra é considerada insatisfatória para a avaliação,
já que o principal objetivo do exame é a investigação das lesões pré-cancerosas que comprometem as células
epiteliais.
b - Neutrófilos e piócitos. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Observar os limites citoplasmáticos indis-
tintos e os núcleos multilobulados.
4.6.3 Linfócitos
O linfócito maduro é levemente maior que uma hemácia. O seu núcleo é circundado por escasso
citoplasma basofílico. A presença de linfócitos em diferentes estágios de maturação traduz o diagnóstico
de cervicite crônica folicular.
a b
72
4.6.4 Plasmócitos
São incomuns nos esfregaços cervicovaginais e exibem núcleo excêntrico, redondo ou oval, com
cromatina arranjada em grumos no padrão de roda de leme. Quando presentes são geralmente associados
a linfócitos, caracterizando processo inflamatório crônico.
4.6.5 Histiócitos
Os histiócitos são geralmente redondos ou ovais, mas podem ser alongados, poligonais, fusifor-
mes ou triangulares. Exibem citoplasma escasso ou abundante, semitransparente, espumoso, podendo
conter múltiplos vacúolos pequenos ou grandes, com ou sem partículas estranhas fagocitadas. As bordas
citoplasmáticas são geralmente indistintas e delicadas. O núcleo é excêntrico e pode ser reniforme, redon-
do, triangular ou irregular; mitoses podem ser evidenciadas. A cromatina é finamente granular, dispersa
uniformemente, mas em alguns casos pode se apresentar irregularmente distribuída, confundindo-se com
a cromatina anormal das células malignas. Devido as suas características incomuns, os histiócitos podem
representar uma fonte importante de diagnósticos falso-positivos.
Os histiócitos mononucleados e multinucleados podem se associar a menopausa, radioterapia,
corpos estranhos, processos inflamatórios e às vezes não são relacionados a nenhuma causa aparente.
a b
c d
Figura 67 - Características dos histiócitos
a - Histiócitos pequenos. Esfregaço cervicovaginal. 400x. Observar o citoplasma escasso, deli-
cado, às vezes espumoso.
b - Histiócitos, um deles apresentando mitose. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x.
Vários histiócitos, um deles exibindo mitose (seta).
c - Histiócitos. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. O citoplasma dessas células é de-
licado, de aspecto espumoso, e os núcleos exibem formas variadas, podendo ser excêntricos.
d - Histiócito multinucleado. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. O citoplasma é
espumoso, e os núcleos são uniformes com padrão de cromatina similar entre eles.
73
a b
74
4 Características Citológicas nos Esfregaços Cervicovaginais Normais
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
1º ao 6º dia
Deve ser lembrado que o 1º dia do ciclo menstrual corresponde ao 1º dia do sangramento menstru-
al. Nesse período o esfregaço é dominado pelas células escamosas intermediárias. É comum o encontro de
células endometriais, tanto glandulares como estromais. O fundo contém hemácias, bactérias e leucócitos.
6º ao 14º dia
Há a substituição progressiva das células intermediárias por células superficiais sob a ação do
estrógeno em ascensão. Essas células superficiais se apresentam isoladas ou agrupadas frouxamente. O
esfregaço é limpo, com poucos leucócitos e bactérias.
a b
Figura 69 - Padrões citológicos as-
sociados às diferentes fases do ciclo
menstrual.
a; b - Fase proliferativa do ciclo
menstrual. Citologia de meio líqui-
do, Papanicolaou, 100x e 400x. Es-
fregaço limpo, com predomínio de
células superficiais distribuídas em
agrupamentos frouxos.
c - Fase secretória do ciclo mens-
trual. Esfregaço cervicovaginal, Pa-
c d
panicolaou, 100x. Células interme-
diárias com bordas citoplasmáticas
pregueadas distribuídas em agru-
pamento compacto.
d - Fase secretória, citologia de
meio líquido, Papanicolaou, 400x.
Agrupamento de células interme-
diárias, algumas delas contendo
depósitos de glicogênio e bordas
citoplasmáticas espessas.
75
4.7.3 Atrofia
Em determinadas fases da vida da mulher não há produção de estrógenos, e consequentemente
o esfregaço é representado pelo predomínio de células escamosas parabasais. Esses esfregaços são
chamados atróficos e ocorrem na infância, no pós-parto imediato, na lactação e na pós-menopausa. Outras
condições associadas a esfregaços atróficos são a castração cirúrgica (remoção dos ovários), radio e/ou
quimioterapia.
Habitualmente os esfregaços atróficos da menopausa exibem predomínio de células parabasais, que
podem ser isoladas ou se agrupar em arranjos que lembram sincícios (limites citoplasmáticos indistintos
e sobreposição nuclear). São comuns as alterações inflamatórias, uma vez que o epitélio fino se torna
mais suscetível às agressões externas. Outra característica dos esfregaços atróficos é o frequente encontro
de núcleos desnudos devido à fragilidade do citoplasma das células parabasais. Por causa da falta de
lubrificação da vagina e do colo pela menor produção de secreções glandulares, é comum o aparecimento
de artefatos celulares de dessecação. Os núcleos podem se apresentar aumentados de volume, com aspecto
borrado. Essas alterações podem dificultar o estudo oncológico.
Em caso de incerteza quanto à origem das modificações celulares, é indicada a administração local
de estrógeno por curto período de tempo. Após o término da aplicação do hormônio, um novo esfregaço
obtido mostrará de forma inequívoca a natureza das alterações, com o desaparecimento das mesmas
quando representarem artefato de dessecação. Outra dificuldade na interpretação dos esfregaços atróficos
é a eventual escassez de células epiteliais, resultando em amostras insatisfatórias para avaliação. Também
nesse caso, a aplicação do estrógeno local trará benefícios, e um novo esfregaço habitualmente contém
maior celularidade. Em algumas mulheres pós-menopausadas, mesmo há longo tempo, não se estabelece
o padrão atrófico típico dessa fase e os esfregaços mantêm o predomínio de células intermediárias,
provavelmente devido à produção hormonal pelas suprarrenais. No entanto, quando as células superficiais
são dominantes no esfregaço de mulheres pós-menopausadas sem reposição hormonal, pode ter relação
com outras causas, entre elas tumor de ovário produtor de estrógeno, o uso de digitálicos por mais de dois
anos ou o tratamento com tamoxifeno para câncer de mama.
76
a b c
d e f
Figura 70 - Atrofia. Características citológicas.
a - Agrupamento pseudossincial de células parabasais. Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 400x.
b - Agrupamentos pseudossinciais de células parabasais. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x.
c - Células escamosas parabasais exibindo modificações inflamatórias. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x.
d - Predomínio de células parabasais com modificações inflamatórias. Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papani-
colaou, 400x.
e - Glóbulos azuis. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Observar os detritos no fundo do esfregaço, comuns na
atrofia. Há uma condensação azul-escura (seta) conhecida como glóbulo azul de natureza indeterminada. Os glóbulos
azuis podem ocorrer na atrofia acentuada e não devem ser confundidos com núcleos desnudos de células malignas. Nos
primeiros, não há estrutura cromatínica.
f - Dessecação do esfregaço. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Devido à dessecação, o citoplasma assume
uma coloração rósea intensa, e os núcleos se mostram aumentados de volume, claros, com cromatina mal definida (setas).
Raramente, no esfregaço atrófico pós-menopausa as células parabasais evidenciam abundante
glicogênio, o que pode ser causado pela produção de andrógeno pelas suprarrenais. Essa condição é
referida como atrofia androgênica.
a b
Figura 71 - Atrofia.
a; b - Amostras cervicais,
citologia de meio líquido,
Papanicolaou, 400x. Predo-
mínio de células parabasais
com abundante depósito de
glicogênio, mais evidente na
figura b. Esse padrão é co-
nhecido como atrofia andro-
gênica.
77
No pós-parto e na lactação, o esfregaço é atrófico e permanece assim por algumas semanas, ape-
sar de não ser incomum a permanência desse padrão citológico durante vários meses. Nos esfregaços as
células parabasais geralmente contêm abundante glicogênio.
a b
Figura 72 - Atrofia na lactação.
a; b - Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 100x e 400x. Padrão citológico na lactação com pre-
domínio de células parabasais ricas em glicogênio. O glicogênio assume uma coloração acastanhada,
e as bordas celulares são espessas.
a b
78
79
5.1 Introdução
O trato genital feminino está em contato direto através da vagina com o ambiente externo,
propiciando a instalação de infecções. Os seguintes sintomas podem ser associados às infecções: secreção
vaginal anormal, prurido, dor e sangramento.
O objetivo primordial da citologia cervicovaginal é a detecção de lesões pré-cancerosas do colo
uterino, embora o método possibilite o reconhecimento e a avaliação da intensidade dos processos
inflamatórios. Em muitas dessas condições é possível ainda estabelecer o agente causal.
Para o estudo da microflora vaginal, é recomendada a colheita de amostras do fundo de saco
posterior da vagina. Essa é uma das razões da opção pela colheita tríplice, que representa material da
ectocérvice, endocérvice e também da vagina.
A princípio, deve-se considerar que a simples presença de micro-organismos no esfregaço
não sinaliza para infecção. Na vagina, são comuns bactérias tanto aeróbicas como anaeróbicas, como
lactobacilos, Staphilococcus epidermidis, Streptococcus viridans, sem provocar necessariamente doença.
Até mesmo a Gardnerella vaginalis, que habitualmente provoca sintomatologia, pode eventualmente não
despertar nenhuma reação.
Vários fatores influenciam a microflora vaginal, entre eles: fisiológicos (parto, gravidez,
menopausa), patológicos (insuficiência hepática, distúrbios hormonais, distúrbios metabólicos como
diabete) e locais (DIU, diafragma, exposição sexual).
5.2.2 Hemácias
As hemácias bem e mal conservadas às vezes são encontradas nos esfregaços, particularmente nas
infecções por Trichomonas vaginalis. As pacientes idosas são mais suscetíveis a sangramento devido à
atrofia do epitélio.
81
As manifestações celulares que indicam necrose ou morte celular compreendem picnose, cariorre-
xe e cariólise.
Os processos inflamatórios também podem ser associados a alterações reativas, que incluem hi-
percromasia, espessamento uniforme da borda nuclear, cromatina com granulação mais grosseira, nuclé-
olo às vezes proeminente especialmente nas células endocervicais e bi ou multinucleação, também mais
comuns nas células endocervicais.
82
a b c
d e f
g h i
Figura 75 - Alterações inflamatórias nos esfregaços citológicos cervicovaginais.
a - Fundo purulento. Papanicolaou, 400x. Numerosos neutrófilos são comuns nos processos inflamatórios agudos. Quando
se sobrepõem às células epiteliais em mais de 75% do esfregaço, a amostra é considerada insatisfatória para a avaliação.
b - Cervicite crônica folicular. Papanicolaou, 400x. Numerosos linfócitos em diferentes estágios de maturação.
c - Vacuolização citoplasmática. Papanicolaou, 400x. Célula parabasal com vacúolos citoplasmáticos, provavelmente pelo
acúmulo anormal de água. Trata-se de alteração degenerativa que pode se associar a processos inflamatórios.
d - Anfofilia e pseudoeosinofilia citoplasmática. Papanicolaou, 400x. O citoplasma das células se apresenta corado em duas
cores (anfofilia) ou assumindo cor rósea intensa (pseudoeosinofilia) devido a alterações na estrutura proteica nos proces-
sos inflamatórios.
e - Halos perinucleares e cariólise. Papanicolaou, 400x. Na cariólise (seta), há a dissolução nuclear, restando uma área clara
em substituição do núcleo.
f - Núcleos tumefeitos com pregueamento das bordas nucleares (setas). Papanicolaou, 400x. A tumefação nuclear se deve
ao acúmulo de água nos núcleos. Nesta figura também se observa hipocromasia nuclear devido à desnaturação das pro-
teínas nucleares, alterando a sua afinidade pela hematoxilina.
g - Cariorrexe. Papanicolaou, 400x. Na cariorrexe há a fragmentação dos núcleos (setas), indicando morte celular.
h - Alterações reativas e degenerativas. Papanicolaou, 400x. A célula assinalada exibe núcleo volumoso com cromocentros
e borda nuclear espessada, representando alterações reativas. As outras células na vizinhança mostram alterações dege-
nerativas (cariólise, halos perinucleares).
i - Células endocervicais com aumento nuclear e binucleação. Papanicolaou, 400x. Essas alterações reativas são associadas
às vezes a processos inflamatórios.
83
a b
84
5.3.4 Cocos
As bactérias cocoides presentes nos esfregaços podem ser gram-positivas ou diplococos gram-
-negativos. Os estreptococos representam mais de 30% das bactérias cocoides encontradas, desenvolvem-
-se em pH alcalino e frequentemente se associam a Trichomonas vaginalis. Em esfregaços atróficos, como
na infância e na menopausa, as bactérias cocoides são mais comuns. Nos esfregaços citológicos não é
possível a sua classificação, sendo necessária a cultura microbiológica para esse fim.
85
a b
Figura 79 - Bactérias cocoides.
a - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Nesta figura, os cocos se dispõem em cadeias
(seta).
b - Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 400x. Cocos se sobrepõem às células
escamosas. Não há alterações inflamatórias.
5.3.5 Actinomyces
É habitante comum da cavidade oral e do trato gastrointestinal. É uma bactéria gram-positiva,
anaeróbica, que ocorre sob a forma filamentosa. No trato genital feminino, o Actinomyces é relacionado
frequentemente ao uso de dispositivo intrauterino (DIU), especialmente por tempo prolongado. Em raros
casos a bactéria pode ascender e se disseminar, ocasionando abscesso tubo-ovariano e até mesmo doença
inflamatória pélvica.
Nos esfregaços citológicos, Actinomyces aparecem como estruturas filamentosas não septadas, em
forma de aranha ou ouriço-do-mar. Os filamentos se irradiam a partir de um centro denso e escuro. Esses
micro-organismos são às vezes envolvidos por células inflamatórias. Em algumas ocasiões as bactérias
cocoides podem se apresentar em acúmulos simulando Actinomyces, mas falta o aspecto filamentoso
próprio deste último.
É tão rara a ocorrência de complicações associadas ao Actinomyces que a sua identificação no
esfregaço citológico não é indicação de remoção do DIU ou de tratamento da paciente se a mesma for
assintomática.
a b
Figura 80 - Actinomyces sp.
a - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. As bactérias se irradiam a partir de um centro
escuro.
b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Nesta figura, uma coroa de neutrófilos circunda
a colônia de bactérias (Actinomyces).
86
87
a b
c d
a b
88
a b
Figura 83 - Candida sp.
a; b - Esfregaços cervicovagi-
nais, Papanicoloau, 400x. Em a as
pseudohifas. apresentam aspecto
segmentado lembrando bambu,
às vezes com brotamento (seta).
Em b, são vistos esporos ovalados
(seta).
b - Esporos. Os esporos (setas) são
ovalados nesta figura.
c
d c
- Esporos. Amostra cervical, cito-
logia de meio líquido, Papanico-
laou, 400x. Os esporos são muito
pequenos e agrupados (setas).
Segundo algumas referências, tal
aspecto é associado a Candida gla-
brata.
d - Pseudo-hifas de Candida sp.
Amostra cervical, citologia de meio
líquido, Papanicolaou. Há numero-
sas pseudo-hifas.
89
corpo parabasal
membrana ondulante
núcleo
axostilo
flagelo posterior
Apenas o núcleo e, raramente, o axostilo são vistos no esfregaço cervicovaginal corado pela téc-
nica de Papanicolaou.
a b
90
Na infecção por Trichomonas vaginalis, o fundo dos esfregaços geralmente é purulento, às vezes
sob a forma de acúmulos focais de neutrófilos, que são conhecidos como balas de canhão. Há pseudo-
eosinofilia citoplasmática pronunciada, e são comuns os halos perinucleares. Os núcleos podem ser vo-
lumosos, e pode haver cariólise e cariorrexe. É frequente a associação de Trichomonas com Leptothrix
vaginalis.
a b
revestimento com
glicoproteína
nucleocapsídeo
tegumento
Figura 86 - Herpes-vírus.
a - Desenho representando a ultraestrutura do herpes-vírus.
b - Desenho mostrando as alterações citopáticas do herpes-vírus. A célula maior exibe citomegalia e
cariomegalia. Há multinucleação, rarefação da cromatina e inclusões (setas).
91
a b
Figura 87 - Alterações citopáticas pelo herpes vírus.
a; b - Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x. Na figura a, célula multinucleada, com
amoldamento nuclear, rarefação da cromatina e marginação periférica da cromatina, conferindo
espessamento às bordas nucleares. Em b, células multinucleadas, com amoldamento nuclear,
rarefação da cromatina e algumas inclusões (setas).
92
93
6. 1 Processo de reparação
95
a b c d
Lesão tecidual
Tecido fibroconjuntivo
Capitares Histologia - Células de Histologia - Células de
reparação epiteliais reparação mesenquimais
[
d - As células epiteliais se multiplicam e se diferenciam, reconstituindo o epitélio que é idêntico ao original. Os fibroblastos
também proliferam e produzem fibras colágenas progressivamente em maior número, ao mesmo tempo em que ocorre a
regressão dos capilares. Finalmente, há a formação de cicatriz (fibrose).
Células Inflamatórias
Neutrófilos
Macrófagos
Linfócitos
[ Capilares
Fibroblastos
Tecido de
Granulação
Figura 89 - Elementos inflama-
tórios que preenchem inicial-
mente a área de perda de tecido
e o desenvolvimento posterior
do tecido de granulação.
96
a b c
Figura 90 - Células de reparação.
a - Células de reparação de origem epitelial. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Agrupamentos monoestratifi-
cados de células com citoplasma abundante (seta).
b - Células de reparação de origem epitelial. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. As células são coesas, com cito-
plasma abundante, mal delimitado, núcleos volumosos, às vezes múltiplos, e frequentes nucléolos proeminentes.
c - Células de reparação de origem epitelial. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Há uma figura de mitose (seta)
e infiltração neutrofílica (seta vermelha).
97
a b c
Figura 91 - Células de reparação.
a - Células de reparação de origem epitelial provavelmente de origem endocervical. Esfregaço cervicovaginal, Papanico-
laou, 400x. As células exibem núcleos volumosos, com bordas nucleares lisas, cromatina finamente granular e nucleólos
proeminentes.
b - Células de reparação de provável origem mesenquimal. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Essas células são
alongadas, com núcleos volumosos exibindo frequente nucléolo.
c - Células de reparação de origem mesenquimal. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Correspondem a fibroblas-
tos reativos comuns no tecido de granulação.
Em algumas situações, as células de reparação podem exibir anisocariose mais marcada, croma-
tina mais grosseira, hipercromasia, nucléolo atípico (em tamanho, número e/ou forma), além de se apre-
sentarem mais frequentemente isoladas ou em conjuntos mais desorganizados. É o que se conhece como
reparação atípica e que é incluída na categoria ASC (atipia de células escamosas) no Sistema Bethesda,
versão 2001. O diagnóstico diferencial, nesse caso, compreende carcinoma escamoso não queratinizante
e adenocarcinoma endocervical. Os seguintes dados favorecem reparação:
Figura 92 - Células de reparação atípicas.
a;b - Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x. Agrupamentos de células com citoplasma
abundante, núcleos volumosos com variação significativa do tamanho, cromatina granular e
nucléolos às vezes múltiplos e de forma anormal.
98
6.2 Radioterapia
A irradiação é frequentemente utilizada no tratamento do câncer, sendo particularmente eficaz na
destruição do carcinoma escamoso do colo uterino. As alterações celulares submicroscópicas induzidas
pela radioterapia incluem: destruição ou lesão do DNA nuclear, inibição da síntese de proteínas e desnatu-
ração/coagulação das proteínas. As células normais também são comprometidas, resultando na sua morte
ou em alterações nucleares e citoplasmáticas que podem permanecer durante longos anos.
O exame do esfregaço cervical é considerado um excelente método no seguimento das pacientes
submetidas à radioterapia por câncer de colo. O encontro de células malignas que persistem após o tra-
tamento ou que reaparecem tempos depois possibilita a imediata intervenção clinica e/ou cirúrgica antes
mesmo da manifestação de qualquer sintoma.
É importante ressaltar que após o início da radioterapia, durante um período entre quatro e oito
semanas, o esfregaço cervical mostra abundante material necrótico, com muitas células inflamatórias e
ainda podem ser vistas células malignas. O exame citológico, portanto, não é indicado nessa fase para a
avaliação quanto à persistência da neoplasia.
Após esse período, há o desaparecimento das células malignas, estabelecendo-se um padrão cito-
lógico atrófico. As alterações celulares são relacionadas à fase aguda e à fase crônica que se segue à radio-
terapia. Nem sempre é fácil a sua diferenciação com as células malignas. Por outro lado, o citopatologista
com pouca experiência nessa área pode subestimar as alterações, perdendo a oportunidade de detectar
precocemente câncer persistente ou recidivante.
Fase aguda
Após dois ou seis meses do início da radioterapia, o esfregaço citológico se apresenta mais “lim-
po”, mas ainda contém restos celulares e inflamação, sendo comum o aparecimento de vários histiócitos,
muitos deles multinucleados.
Uma das características mais comuns induzidas pela irradiação é a citomegalia (macrócitos).
Essas células exibem aumento concomitante do citoplasma e do núcleo, de modo que não há alteração
ou a alteração da relação nucleocitoplasmática é mínima. As células podem assumir uma forma anormal
e o citoplasma geralmente mostra uma coloração bifásica (rosa e azul). Os vacúolos citoplasmáticos
são frequentes e podem conter neutrófilos degenerados ou outras células. Há frequentes alterações
degenerativas nucleares sob a forma de cromatina de aspecto “borrado”, cromatólise ou vacuolização.
Células de reparação também são comuns e apresentam alterações radiógenas concomitantes, como
coloração citoplasmática bifásica e multinucleação.
As células glandulares endocervicais e endometriais também são sensíveis à radioterapia,
evidenciando-se células de forma anormal, com aumento do citoplasma e do núcleo, além de frequente
nucléolo.
A falta de alterações celulares associadas à irradiação indica, geralmente, resposta insatisfatória ao
tratamento, podendo representar um sinal de mau prognóstico para a paciente.
99
Cariorrexe, picnose
Fase Crônica
São as alterações que persistem seis meses depois da exposição à irradiação. Essas alterações
podem permanecer durante anos e às vezes por toda a vida. É comum o encontro de macrócitos, células
pleomórficas e células com citoplasma anfofílico ou policromático. A multinucleação e a vacuolização
citoplasmática são menos proeminentes. O esfregaço apresenta um padrão atrófico, desaparecendo geral-
mente a inflamação e as células de reparação.
100
a b
101
das alterações celulares decorrerem da deficiência de ácido fólico, com a recomendação de suplementação
vitamínica e reavaliação citológica dentro de seis meses. Geralmente há o desaparecimento das alterações
citológicas, comprovando-se a sua relação com a deficiência de ácido fólico.
a b
d
c
102
103
105
7.1 Introdução
Em 1991 foi introduzida pelo Sistema Bethesda a categoria Atipia de células escamosas de signifi-
cado indeterminado (ASCUS), devido à necessidade de padronizar nomenclaturas antigas e pouco escla-
recedoras e de se aplicar uma terminologia uniforme àqueles casos onde se encontravam células anormais,
porém com características insuficientes para um diagnóstico definitivo de lesão intraepitelial escamosa.
O uso dessa categoria resultou na diminuição das taxas de resultados citológicos falso-positivos e falso-
-negativos registrados anteriormente e que refletiam a falta de uma nomenclatura específica que traduzisse
a incerteza, a dúvida na interpretação diagnóstica de alguns casos. A categoria ASCUS foi dirigida na
ocasião às células que mostravam alterações mais significativas que aquelas encontradas nos processos
reativos, porém menos acentuadas com relação às lesões intraepiteliais escamosas (NIC/displasias). Re-
comendava-se ainda qualificar ASCUS em dois subgrupos: favorecendo processo reativo ou favorecendo
processo pré-neoplásico. Mas sempre pareceu duvidosa essa dicotomização, pois não havia sentido em
subclassificar uma categoria que foi introduzida para designar a incerteza no diagnóstico citológico.
7.2 Frequência
O Sistema Bethesda estipulou a taxa máxima de 5% para ASCUS do total de espécimes citológi-
cos avaliados, representando no máximo duas a três vezes o número de lesões intraepiteliais escamosas de
baixo grau de um determinado laboratório. Em 1993, uma pesquisa do Colégio Americano de Patologis-
tas registrou 3,5 milhões de casos por ano diagnosticados citologicamente como ASCUS, com uma taxa
variando entre 0,2% a 9% e uma média de 2,8% entre os laboratórios nos EUA. Essa ampla variação dos
percentuais traduz a falta de reprodutibilidade na adoção dos critérios diagnósticos, com citopatologistas
mais flexíveis ou mais rígidos na aplicação da terminologia, o que também é relacionado ao grau de ex-
periência desses profissionais.
Quanto à associação entre ASCUS e lesões pré-cancerosas diagnosticadas no exame histopatoló-
gico, foi posteriormente comprovado que o risco era significativamente maior quando as anormalidades
citológicas comprometiam células metaplásicas imaturas, 32% representando lesões pré-cancerosas, 60%
delas correspondendo a lesões de alto grau.
Com a introdução da categoria ASCUS, triplicou o número de esfregaços anormais nos EUA, com
grande impacto econômico, considerando que mulheres com esse diagnóstico são consideradas de risco
para lesões pré-cancerosas e assim submetidas a condutas clínicas diferenciadas e mais onerosas em rela-
ção ao restante da população. Diante da baixa reprodutibilidade diagnóstica de ASCUS, questionou-se a
sua validade como categoria e a consequente relação custo-benefício. No final, optou-se pela permanência
da categoria com modificações nos critérios citológicos para o seu diagnóstico, tendo em vista que a sua
remoção poderia levar à redução da sensibilidade e do valor preditivo do teste de Papanicolaou.
7.3 Classificação
Como uma resposta a essas questões, em 2001 na nova versão do Sistema Bethesda foi introduzi-
da a nomenclatura Atipia de células escamosas (ASC), em substituição à Atipia de células escamosas de
significado indeterminado (ASCUS). Os critérios para a categoria ASC foram refinados, e atualmente se
referem às alterações citológicas sugestivas de lesão intraepitelial escamosa, que são quantitativamente ou
qualitativamente insuficientes para o seu diagnóstico definitivo. Foi eliminado da versão atual do Sistema
Bethesda a qualificação favorecendo reativa ou sem outra especificação. Atualmente ASC é subdividido
em dois grupos: ASC-US – atipia de células escamosas de significado indeterminado e ASC-H – atipia
de células escamosas não se pode excluir lesão de alto grau. Essa subclassificação é baseada no tipo de
células comprometidas (células escamosas maduras versus células escamosas imaturas), já que se mos-
trou um bom indicador de previsão das lesões pré-cancerosas. Na detecção e gradação das anormalidades
107
• Núcleos com aproximadamente 2,5 a 3 vezes a área do núcleo de uma célula intermediária
normal.
• Relação nucleocitoplasmática discretamente aumentada.
• Mínima hipercromasia nuclear, leves irregularidades da distribuição da cromatina ou da forma
nuclear.
• Anormalidades nucleares associadas a células com citoplasma denso, orangeofílico (paraqueratose
atípica).
Células da categoria ASC-US têm o tamanho das células escamosas superficiais e intermediá-
rias. Também são incluídas nessa subcategoria, células redondas ou ovais com aproximadamente 1/3 do
tamanho das células superficiais, lembrando células metaplásicas grandes ou células intermediárias das
camadas mais profundas. As células escamosas exibindo alterações sugestivas porém não definitivas de
infecção pelo HPV pertencem à condição ASC-US.
a b c
Figura 97 - Comparação entre células escamosas maduras normais, ASC-US e lesão intraepitelial escamosa de baixo grau
(NIC 1 / displasia Leve) em esfregaço cervical.
a - Células escamoss normais. A seta aponta uma célula intermediária. Papanicolaou, 400x.
b - ASC-US. Uma das células intermediárias (seta) apresenta núcleo hipercromático, aproximadamente 2,5 vezes maior que
o núcleo da célula intermediária normal vizinha. Papanicolaou, 400x.
c - Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (NIC 1/ displasia leve). Nessa figura, uma das células intermediárias (seta)
exibe núcleo significativamente aumentado de tamanho (três vezes o tamanho do núcleo da célula normal ao lado), hiper-
cromasia e irregularidades da borda nuclear.
108
a b
c d
Figura 98 - ASC-US: características citomorfológicas.
a - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Célula escamosai ntermediária exibindo dis-
creto aumento nuclear e hipercromasia (seta). Comparar com as demais células normais.
b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Célula escamosa madura (intermediária) com
núcleo discretamente aumentado de tamanho. O núcleo da célula assinalada é levemente hi-
percromático e exibe aproximadamente 2,5 vezes o tamanho dos núcleos de células intermedi-
árias normais.
c - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Célula escamosa intermediária com discreto
aumento nuclear, hipercromasia e leve irregularidade da borda nuclear (seta).
d - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Células metaplásicas escamosas em fase final
de maturação, exibindo discreto aumento nuclear e hipercromasia (seta).
As células paraqueratóticas atípicas representam células escamosas queratinizadas em miniatura,
com citoplasma denso, habitualmente orangiofílico, com pleomorfismo (formas caudadas ou alongadas)
e/ou exibindo aumento ou hipercromasia nuclear. As células paraqueratóticas atípicas são consideradas
por alguns autores como pequenos disqueratócitos. Às vezes células escamosas anormalmente queratini-
zadas são do tamanho padrão e revelam aumento nuclear, hipercromasia, cromatina condensada e leves ir-
regularidades da borda nuclear. No último caso, essas células (disqueratócitos), dependendo da intensida-
de das alterações nucleares, podem representar ASC-US ou lesão intraepitelial escamosa. Especialmente
nos esfregaços atróficos, as células parabasais com alterações degenerativas podem apresentar citoplasma
alaranjado e núcleos parecendo anormais, às vezes sendo difícil a sua diferenciação com células paraque-
ratóticas atípicas (ASC-US). Contudo, na atrofia há outras características citológicas que possibilitam o
seu reconhecimento.
109
a b
Em algumas ocasiões, são vistas células escamosas com atipias nucleares maiores que aquelas
atribuídas a ASC-US, porém associadas a alterações degenerativas significativas devido à dessecação
da amostra, “esmagamento” das células durante a confecção do esfregaço ou falhas no processamento
laboratorial dos espécimes especialmente na coloração. É recomendada a inclusão desses casos na
categoria ASC-US. Porém essa não é uma matéria de consenso, alguns autores preferindo adotar a
terminologia displasia não graduada.
a b
110
• Alterações reativas ou degenerativas - Nesses casos, as alterações nucleares são geralmente difusas.
Compreendem: tumefação/retração nuclear; hipercromasia ou hipocromasia nuclear; cromatina
com grumos arredondados e com limites borrados; alterações citoplasmáticas (pseudoeosinofilia,
vacuolização citoplasmática, halos perinucleares entre outras).
• Deficiência de ácido fólico/vitamina B12 (citomegalia, discreto aumento do volume nuclear,
núcleos dobrados).
• Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (NIC1/displasia leve). Caracterizado por células
escamosas superficiais e intermediárias com núcleos maiores que três vezes o tamanho dos
núcleos das células intermediárias normais, exibindo ainda irregularidades das bordas nucleares e
hipercromasia mais intensa.
a b
c d
Figura 101 - Condições que podem simular ASC-US.
a - Alterações reativas associadas a processo inflamatório. Esfregaço cervicovaginal,
Papanicolaou, 100x. Células com núcleos aumentados de tamanho, de aspecto “borrado”.
O citoplasma de uma das células exibe anfofilia e clareamento perinuclear, lembrando
coilocitose. Nesse caso em particular, o aumento difuso nuclear e a presença de Candida sp.
favorece alteração reativa, assim, não deve ser categorizado como ASC-US. É aconselhável
uma nova citologia após tratamento da infecção, para avaliação oncológica confiável.
b - Alterações citológicas sugestivas de deficiência de ácido fólico/vitamina B12. Esfregaço
cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Apesar do aumento nuclear em algumas células
escamosas intermediárias, há citomegalia concomitante (setas), não se incluindo na categoria
ASC-US. Nessa situação, sugere-se suplementação vitamínica e reavaliação citológica dentro
de seis meses.
c; d - Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (NIC 1/displasia leve). Esfregaços
cervicovaginais, Papanicolaou, 400x. Comparar o tamanho dos núcleos das células assinaladas,
com o tamanho de outros núcleos (circulados) de células normais também intermediárias. Os
núcleos das células assinaladas têm mais de três vezes o tamanho dos núcleos das células
normais. Além do aumento nuclear há hipercromasia. A célula assinalada na figura b mostra
binucleação.
111
7.5 Atipia de células escamosas não podendo excluir lesão de alto grau - ASC-H
Compreende as alterações citológicas sugestivas mas não definitivas para o diagnóstico de lesão
intraepitelial escamosa de alto grau. Anteriormente, a maioria desses casos era conhecida como metaplasia
escamosa imatura atípica. Compreendem aproximadamente 5% a 10% dos casos incluídos na categoria
geral ASC. Mulheres com esfregaços classificados como ASC-H apresentam taxas bem mais elevadas de
lesões pré-cancerosas, especialmente lesões de alto grau no exame histopatológico, em relação àquelas
com esfregaços citológicos subtipados como ASC-US. Foi registrado para o ASC-H uma associação de
77% com lesões intraepiteliais escamosas, 88% delas correspondendo a lesões de alto grau.
Considerando ainda a categoria ASC-H, devem ser abordadas duas condições pouco conhecidas,
especialmente pelos citopatologistas: a metaplasia papilar imatura e a metaplasia imatura atípica. As
duas lesões são diagnosticadas apenas pelo exame histopatológico e a citologia tem papel limitado
na sua caracterização. A metaplasia papilar imatura atípica, ou condiloma imaturo, é uma lesão rara,
representada histologicamente pela proliferação de células escamosas imaturas com atipia citológica, que
assume arquitetura papilar. É associada à infecção pelo HPV, habitualmente os tipos de baixo risco, 6 e
11. É considerada uma lesão intraepitelial escamosa de baixo grau que envolve a zona de transformação.
Contudo, devido à imaturidade celular e à ausência de coilocitose, é muito difícil a sua diferenciação com
as lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (NIC 3).
Com relação à metaplasia imatura atípica, corresponde histologicamente a uma proliferação
escamosa da zona de transformação e glândulas endocervicais associada a esfregaços citológicos e
exame colposcópico anormais. É uma lesão de significado clínico e biológico incertos, mas de um modo
geral é considerada uma infecção de células metaplásicas escamosas imaturas pelo HPV, com um perfil
semelhante à lesão de baixo grau. O seu diagnóstico histológico é difícil devido a sua semelhança com
NIC 3. Essas lesões devem ser lembradas pelo citopatologista e reforçam a necessidade de ser cauteloso
quanto à detecção de células metaplásicas atípicas nos esfregaços cervicovaginais. Assim, quando os
critérios citomorfológicos são sutis, mal definidos, a aplicação da terminologia ASC-H é preferível à lesão
intraepitelial escamosa de alto grau. A definição diagnóstica da metaplasia papilar imatura atípica é dada
pelo estudo histopatológico, muitas vezes sendo necessária a complementação com a imunohistoquímica
para o p16 e CK 17.
112
a b c
d e f
113
a b
Figura 103 - Condições que podem simular ASC-H.
a - Células de reserva. Esfregaço citológico cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Não
há anormalidades nucleares. Contudo a raridade dessas células nos esfregaços e a sua
imaturidade confirmada pelo aumento da relação nucleocitoplasmática podem induzir a
falsa interpretação de ASC-H ou até mesmo de lesão de alto grau.
b - Células metaplásicas reativas. Esfregaço citológico cervicovaginal, Papanicolaou, 400x.
A imaturidade celular sempre preocupa o citopatologista, e quando se associa a alterações
reativas, como mostrado nessa figura, pode levar a sua inclusão na categoria ASC-H. É
importante observar que, diferentemente do ASC-H, não há hipercromasia nuclear.
7.6 Outras condições incluídas na categoria de células escamosas atípicas - ASC
Há outras condições incluídas na categoria células escamosas atípicas – ASC, com enquadramento
difícil em um dos subgrupos.
7.6.1 Reparo atípico
As células envolvidas são de origem mal definida (metaplásicas escamosas ou glandulares) e
apresentam alterações que excedem àquelas relacionadas ao processo de reparação padrão.
Características citológicas
• Variação significativa do tamanho nuclear.
• Cromatina de distribuição irregular ou grosseiramente granular.
• Nucléolo às vezes múltiplo, variando de tamanho e forma.
• Tendência à dissociação celular.
• Discreta perda da polaridade nuclear, com sobreposição celular.
De acordo com o Sistema Bethesda (2001), a reparação atípica pode ser subclassificada como ASC-
US ou ASC-H, dependendo da intensidade das alterações nucleares. Na verdade, é difícil o enquadramento
dessa condição até mesmo como atipia de células escamosas - ASC, já que nem sempre é possível
determinar a origem, escamosa ou glandular, das células envolvidas. Por outro lado, na reparação atípica
a dificuldade de diferenciação não é com lesão intraepitelial escamosa de baixo grau ou lesão intraepitelial
escamosa de alto grau como acontece em relação ao ASC-US e ASC-H, respectivamente. Na reparação
atípica a diferenciação citológica deve ser feita especialmente com carcinoma escamoso de grandes
células não queratinizante e adenocarcinoma. Diante dessas considerações parece pouco esclarecedor
aplicar a terminologia ASC-US ou ASC-H considerando o reparo atípico. Talvez a melhor alternativa
seja designar esses casos apenas como reparação atípica. É aconselhável um comentário adicional no
laudo, assinalando a dificuldade no diagnóstico diferencial com neoplasias malignas e uma orientação no
sentido de se realizar exame colposcópico e biópsia se for identificada lesão significativa. Caso não se
encontrem anormalidades colposcópicas, é indicada repetição do exame citológico dentro de três meses
para acompanhar a evolução do processo.
114
a b
• Aumento nuclear no mínimo duas vezes o tamanho de um núcleo de uma célula parabasal normal.
• Hipercromasia nuclear, irregularidades do contorno ou na distribuição da cromatina.
• Pleomorfismo celular (células em ¨raquete¨ ou fusiformes).
Parece que a hipercromasia e a irregularidade da borda nuclear representam as alterações de maior
risco para o diagnóstico de lesão subsequente.
Essa condição é diagnosticada como ASC-US pela maioria dos autores, provavelmente devido a
sua baixa frequência de associação com lesão significativa no exame histopatológico. Contudo, aqui há
uma aparente discrepância na terminologia, uma vez que as células com alterações nucleares são imaturas
devido à atrofia e portanto seria mais apropriado incluir esse quadro citológico no sub-grupo ASC-H. Para
evitar discussões nesse sentido, esse quadro citológico pode ser chamado “Atipia de células escamosas
associada à atrofia - ASC”, não subclassificando-a, ou seja, não incluindo-a na categoria ASC-US ou ASC-
-H. Em caso de dúvida é recomendado o teste estrogênico de proliferação celular. A repetição do exame
citológico poucos dias depois da aplicação do estrógeno local possibilita a confirmação ou exclusão das
anomalidades citológicas prévias, uma vez que tais alterações persistem nas lesões pré-cancerososas ou
malignas.
115
a b
c d
116
7.8 Conduta clínica diante dos esfregaços citológicos incluídos na categoria atipia de células
escamosas – ASC
A Nomenclatura Brasileira para laudos cervicais e condutas preconizadas recomenda que as
pacientes com esfregaços incluídos nessa categoria sejam abordadas de acordo com o subtipo da atipia de
células escamosas – ASC.
Abaixo, o esquema proposto pelo Ministério da Saúde do Brasil – Inca (2006) quanto à conduta
clínica dirigida às mulheres com esfregaços incluídos na subcategoria ASC-US.
Repetir citologia em
seis meses
Positiva
Negativa sugestiva de lesão
igual ou mais grave
Positiva
Negativa sugestiva de lesão Sem lesão Com lesão
igual ou mais grave
Repetir citologia em
Rotina Biópsia
seis meses
117
A seguir, o esquema proposto pelo Ministério da Saúde do Brasil – INCA (2006), quanto à conduta
clínica dirigida às mulheres com esfregaços incluídos na subcategoria ASC-H.
Colposcopia
Biópsia Possibilidade de
revisão da lâmina
118
119
121
desaparecimento do vírus após a lesão celular ou pela participação de outro tipo de HPV não identificado
pelos testes moleculares de rotina.
122
implica no aumento da produção de E6/E7, que por sua vez tem a capacidade de produzir a transformação
celular. A expressão do ORF E4 é mais comum nas células diferenciadas, codificando uma proteína que se
liga e interrompe a rede de queratina, com a formação da célula coilocitótica típica da infecção pelo HPV.
O E5 parece estar envolvido na transformação celular. Codifica uma pequena proteína que se liga a uma
variedade de proteínas de membrana do hospedeiro, incluindo receptores do fator de crescimento. Como
a expressão do E5 é frequentemente perdida durante a integração viral, o seu papel na carcinogênese
humana é controverso. O E6 e E7 codificam proteínas que são capazes de induzir a proliferação celular e
transformação.
O HPV assim como outros vírus é incapaz de replicar independentemente o seu próprio DNA.
Assim, para completar o seu ciclo de vida, o HPV depende do metabolismo das células hospedeiras
infectadas. Durante o contato sexual e através de microerosões da mucosa, o vírus penetra na zona de
transformação do colo, infectando inicialmente as células basais ou as células de reserva (que podem se
diferenciar em epitélio escamoso ou glandular). O vírus, ao penetrar na célula, perde o seu capsídeo e
é transportado para o núcleo onde permanece inicialmente no estado epissomal (na forma circular, não
integrado ao genoma da célula hospedeira). A replicação do DNA epissomal é restrita nessa fase a uma
replicação por ciclo celular. As células imaturas infectadas são conhecidas como não permissivas, e, como
nenhuma alteração histológica específica ocorre nesse estágio, a infecção é chamada latente.
123
124
125
Figura 114 - A evolução da infecção pelo HPV no colo uterino. As células basais do epitélio cervical repousam sobre a
membrana basal. O HPV penetra nas células basais através de microerosões do epitélio cervical. Com a evolução da infec-
ção, os genes precoces do HPV, E1, E2, E4, E5, E6 e E7 são expressados e o DNA viral epissomal é replicado (núcleos roxos).
Nas camadas superiores do epitélio (a zona intermediária e superficial) o genoma viral é replicado e a seguir os genes
tardios L1 e L2 se expressam com o desenvolvimento do capsídeo e a formação dos vírions progenitores no núcleo. Os
vírions liberados podem daí iniciar uma nova infecção. Lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau são relacionadas à
replicação viral produtiva. Um número desconhecido de infecções por HPVs de alto risco progridem para lesões intraepite-
liais escamosas de alto grau. As lesões não tratadas podem progredir para carcinoma microinvasivo e carcinoma invasivo
e são associadas com a integração do genoma viral aos cromossomos das células hospedeiras (núcleos vermelhos) com
perda ou interrupção do E2 e subsequente expressão desregulada dos oncogenes E6 e E7.
126
Além de aspectos relacionados ao próprio HPV (tipo e carga viral, infecção única ou múltipla),
os estudos epidemiológicos enfatizam a importância dos cofatores na história natural das infecções pelo
HPV e das lesões associadas. Entre os cofatores são incluídos a multiparidade, o uso prolongado de
contraceptivos orais, o tabagismo e outras doenças de transmissão sexual particularmente a síndrome da
imunodeficiência adquirida (SIDA). Dependendo da inter-relação entre esses vários fatores, a infecção
pelo HPV pode ser transitória com regressão em aproximadamente 90% dos casos dentro de 1 a 2 anos ou
persistente, nesse último caso associada a um maior risco de desenvolvimento de lesão pré-cancerosa de
alto grau e câncer invasivo.
8.2.5 Manifestações clínicas da infecção pelo HPV
As manifestações clínicas da infecção pelo HPV são documentadas em 30% dos casos, sob a for-
ma de condiloma acuminado (verrugas) visíveis macroscopicamente, geralmente observadas na vulva e
no períneo. A infecção latente não é detectada pelas técnicas convencionais de diagnóstico como colpos-
copia, citologia e histopatologia, sendo demonstrada pelo encontro de DNA do HPV através de métodos
de biologia molecular, em epitélios aparentemente normais. A infecção subclínica, ou condiloma plano,
corresponde a aproximadamente 70% das infecções pelo HPV, com a aplicação de diferentes critérios
para o seu diagnóstico. De um modo geral, é aceito que as lesões são evidenciadas apenas ao exame col-
poscópico após a aplicação do ácido acético, sendo também detectadas através das alterações celulares
nos esfregaços citológicos e na histologia.
8.2.6 Características citológicas da infecção pelo HPV
A infecção pelo HPV é incluída no Sistema Bethesda como lesão intraepitelial escamosa de baixo
grau. A prevalência da infecção pelo HPV diagnosticada citologicamente varia entre 0,5 a 3% em mulhe-
res da população geral, com ascensão desses percentuais para 8 a 13% das pacientes atendidas em clínicas
de doenças sexualmente transmissíveis.
As alterações citopáticas associadas à infecção pelo vírus incluem:
Coilocitose
Apesar de específica da infecção produtiva do HPV, é observada nos esfregaços citológicos em
apenas 20% a 33% dos casos. Ocorre em células escamosas superficiais e intermediárias que exibem
cavitação perinuclear bem demarcada com condensação periférica do citoplasma, acompanhada de
aumento do tamanho e hipercromasia nuclear, às vezes bi e multinucleação, além de cromatina de
aspecto “borrado” ou granular. É importante distinguir o coilócito de células naviculares, células com
halos inflamatórios e células metaplásicas com citoplasma diferenciado em endo e ectoplasma. Apesar
de grosseiramente apresentarem semelhanças com o coilócito, neste último o clareamento perinuclear é
maior, bem demarcado e associado a núcleo anormal.
Disqueratose
Na infecção pelo HPV, disqueratócitos podem ocorre na superfície do epitélio. Contudo, tais cé-
lulas não são específicas da infecção. Disqueratócitos correspondem a células escamosas em miniatura
ou do tamanho padrão com queratinização anormal revelando aumento nuclear, hipercromasia, cromatina
condensada e leves irregularidades da borda nuclear. O termo disqueratose é alvo de discussão; para al-
guns autores pode representar células anormalmente queratinizadas sem atipia nuclear.
Macrócitos
Correspondem a células muito grandes, com citoplasma eosinofílico, cianofílico ou policromáti-
co, contendo às vezes neutrófilos ou outras células escamosas. Os núcleos são geralmente múltiplos, au-
127
mentados de volume, hipercromáticos. Não há alteração da relação nucleocitoplasmática. Tais células não
são específicas da infecção pelo HPV, podendo ser encontradas também na deficiência de ácido fólico/
vitamina B12, e como efeito da radio e quimioterapia.
a b c
d e
128
129
invasão
Figura 116 - Desenho esquemático representando a evolução das lesões pré-cancerosas. Observar
que o epitélio é substituído por células indiferenciadas que ocupam diferentes níveis, dependendo da
gravidade da lesão.
130
ASC-US
131
Durante muitas décadas se acreditou que as lesões cervicais progrediam na sequência obrigatória
de NIC 1 para NIC 2 e finalmente para NIC 3 e câncer invasivo. Hoje, há evidências de que essa evolução
não é a regra, o que é demonstrado em muitos casos de NIC 3 que não foram precedidos por lesão de baixo
grau (NIC 1). Por outro lado, a maioria das lesões de baixo grau é transitória e regride espontaneamente,
enquanto que as lesões de alto grau (NIC 2 / NIC 3) apresentam taxas significativamente mais elevadas de
persistência e progressão para câncer.
8.3.4 Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (alterações citopáticas pelo HPV, displasia leve/
NIC 1)
Com o melhor conhecimento da história natural do câncer de colo, entendeu-se que as alterações
citopáticas pelo HPV são parte das lesões precursoras, justificando-se a sua inclusão pelo Sistema
Bethesda no grupo das lesões de baixo grau. Essa visão é corroborada pela sobreposição de características
citomorfológicas entre a displasia leve e as alterações citopáticas pelo HPV, o encontro de um perfil
genético do HPV idêntico nas duas lesões, assim como a evolução clínica de ambas, caracterizada pela
baixa taxa de progressão.
Características histológicas
A neoplasia intraepitelial cervical grau 1 (NIC 1)/ displasia leve ou lesão intraepitelial escamosa
de baixo grau é definida histologicamente pelo encontro de células indiferenciadas limitadas às camadas
mais profundas do epitélio (terço inferior), sendo comum a associação com as alterações citopáticas pelo
HPV. Nessa lesão há boa maturação celular, as anormalidades nucleares são discretas e há poucas figuras
de mitose.
Características citológicas
Como foi comentado anteriormente, nos esfregaços cervicais as células encontradas correspondem
àquelas das camadas mais superficiais do epitélio. Dessa forma, como na lesão intraepitelial escamosa
de baixo grau ainda há boa maturação celular, as células vistas nos esfregaços apresentam citoplasma
abundante apesar das atipias nucleares. De forma objetiva, a lesão intraepitelial escamosa de baixo grau é
caracterizada nos esfregaços pelo encontro de:
• Células do tipo superficial e intermediário, com citoplasma abundante, bem definido, isoladas ou
dispostas em pequenos agrupamentos monoestratificados.
• Núcleos com mais de três vezes o tamanho do núcleo de células intermediárias normais.
• Relação nucleocitoplasmática conservada ou levemente alterada.
132
a b
Citólise
Uma das maiores dificuldades na identificação das células displásicas acontece nos esfregaços
citolíticos. Isso se deve à fragmentação extensa do citoplasma pelos lactobacilos, comprometendo a
avaliação da quantidade real de citoplasma e da relação nucleocitoplasmática das células. Por outro lado,
a detecção confiável de núcleos desnudos anormais é difícil devido às frequentes alterações degenerativas
133
concomitantes. Dessa forma, o diagnóstico e a gradação de uma lesão baseada apenas no encontro
esporádico de núcleos anormais é um exercício frustrante. Nessa situação é recomendada a repetição da
colheita citológica nas proximidades ou no período ovulatório, resultando em esfregaços habitualmente
livres de citólise.
ASC-US
Na diferenciação com a lesão intraepitelial escamosa de baixo grau, é incluída a categoria ASC-
US. Nesta última, os núcleos das células escamosas intermediárias são aumentados de volume 2,5 a 3
vezes o tamanho do núcleo de uma célula normal correspondente. Na displasia leve esse aumento nuclear
é maior, acima de três vezes o tamanho do núcleo de uma célula intermediária normal. As outras alterações
nucleares como hipercromasia e irregularidades das bordas nucleares são muito mais significativas na
displasia leve, onde também podem ser encontrados coilócitos, ausentes no ASC-US.
a b
134
8.3.5 Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (displasia moderada/ NIC 2 e carcinoma in situ/ NIC 3)
No Sistema Bethesda, as lesões conhecidas anteriormente como displasia moderada/NIC 2 e
carcinoma in situ/ NIC 3 são incluídas na mesma categoria, as chamadas lesões intraepiteliais escamosas
de alto grau. Essa mudança foi implantada devido ao consenso quanto à falta de reprodutibilidade no
diagnóstico citológico de NIC 2 e NIC 3, com sobreposição das características citomorfológicas. É
importante ressaltar, que mesmo simplificando a classificação citológica das lesões intraepiteliais escamosas
nos dois grupos de baixo e alto grau, ainda há uma significativa discrepância na sua interpretação entre os
patologistas, estimada entre 10% e 15%.
A ênfase do rastreamento citológico é a detecção das lesões intraepiteliais escamosas de alto
grau, que reconhecidamente têm um comportamento mais agressivo que as lesões de baixo grau, ou seja,
evoluem mais frequentemente e mais rapidamente para o câncer. Ao contrário da NIC 1, quase todos as
neoplasias intraepiteliais escamosas graus 2 e 3 são proliferações monoclonais que mostram evidência de
instabilidade genética. A maioria dessas lesões são aneuploides. Diferentemente das lesões de baixo grau,
nas lesões de alto grau há menor heterogeneidade dos tipos de HPV associados, com os tipos de alto risco
(16,18, 31, 33 e 58) ocorrendo em 75% das lesões de alto grau.
Características histológicas
Histologicamente, NIC 2 (displasia moderada) é definida pela presença de células escamosas
displásicas nos 2/3 basais do epitélio; o terço superior do epitélio mostra alguma diferenciação e
maturação, e como na NIC 1 há persistência de atipia nuclear na superfície. As anormalidades nucleares
são mais marcadas que na NIC 1. O diagnóstico de NIC 2 mesmo na histologia apresenta uma menor
reprodutibilidade em relação às outras lesões.
Na neoplasia intraepitelial cervical grau III (NIC 3/carcinoma in situ), os cortes histológicos
mostram células displásicas com atipia nuclear significativa comprometendo toda a espessura do epitélio.
Geralmente figuras mitóticas são encontradas em todos os níveis do epitélio e podem ser numerosas e de
configurações anormais.
135
136
137
ASC-H
O diagnóstico de atipia de células escamosas de significado indeterminado não exclui a
possibilidade de lesão intraepitelial de alto grau (ASC-H), é aplicado ao quadro de células imaturas com
algumas das características da lesão intraepitelial escamosa de alto grau, sendo porém mais sutis ou
focais. Essas alterações são duvidosas para estabelecer o diagnóstico definitivo de lesão de alto grau e
podem representar células de outras origens com alterações degenerativas sobrepostas, como células de
reserva e células metaplásicas imaturas.
Tipos de células e condições simuladoras de lesão intraepitelial escamosa de alto grau
Tipos de células Características úteis na diferenciação
138
8.3.6 Lesão intraepitelial escamosa de alto grau com características suspeitas de invasão (lesão
intraepitelial escamosa de alto grau não excluindo microinvasão)
As lesões intraepiteliais escamosas queratinizantes são difíceis de graduar e até mesmo de
diferenciar do carcinoma escamoso invasor. Acontece que a imaturidade celular não é uma característica
dessas lesões e assim não pode ser utilizada como parâmetro para a sua classificação. As células anormais
da displasia queratinizante geralmente apresentam citoplasma abundante e podem exibir alteração discreta
da relação nucleocitoplasmática, quando comparadas às células imaturas da lesão intraepitelial escamosa
de alto grau do tipo habitual. O sinal indicador da gravidade da lesão é dado pelo pleomorfismo das células
queratinizadas (caudadas, fusiformes, em “raquete”) e pela marcada variação do tamanho e da forma
nuclear. De fato, o pleomorfismo celular pode ser mais aparente que a queratinização citoplasmática
(orangeofilia). Nos casos em que a diferenciação com carcinoma invasor é difícil ou mesmo impossível,
a lesão pode ser qualificada como lesão intraepitelial escamosa de alto grau com características suspeitas
de invasão.
Em alguns casos de lesão intraepitelial escamosa de alto grau, os esfregaços podem mostrar
focalmente células com nucléolo ou exibindo cromatina de distribuição irregular, sem evidência de
necrose. Em outras situações, há necrose focal questionável (hemácias lisadas, mas sem restos de células
epiteliais) e ausência de pleomorfismo nuclear. O diagnóstico de lesão intraepitelial escamosa de alto grau
com características suspeitas de invasão (lesão intraepitelial escamosa de alto grau, não podendo excluir
microinvasão) é recomendado.
139
a b
Figura 126 - Lesão intraepitelial escamosa de alto grau com características suspeitas de inva-
são (lesão intraepitelial escamosa de alto grau, não excluindo microinvasão).
a - Esfregaço cervicovaginal. Papanicolaou, 400x. Células queratinizadas com acentuado pleo-
morfismo e núcleos hipercromáticos, com bordas irregulares e cromatina condensada. A dife-
renciação entre NIC 3 e carcinoma escamoso queratinizante é extremamente difícil.
b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Células imaturas, algumas com vacúolos ci-
toplasmáticos degenerativos. Os núcleos são redondos ou ovalados, tocando a margem cito-
plasmática em vários pontos. A cromatina é finamente granular com ocasionais nucléolos. A
presença de nucléolos pode indicar NIC 3 com extensão glandular ou microinvasão.
b e
140
141
a b
c d
Figura 129 - Representação dos tipos histológicos do carcinoma escamoso do colo uterino.
a - Carcinoma escamoso bem diferenciado queratinizante. Histopatológico, HE, 100x. Presença de pérolas córneas (arran-
jos concêntricos de células queratinizadas anormais) invadindo o estroma.
b - Carcinoma escamoso moderadamente diferenciado, não queratinizante de grandes células. Histopatológico, HE, 100x.
Infiltração do estroma por células epiteliais com citoplasma amplo e eosinófilo.
c - Carcinoma indiferenciado de pequenas células. Histopatológico, HE, 400x. A infiltração do estroma se dá através de
células arredondadas, com relação nucleocitoplasmática muito elevada. O diagnóstico diferencial compreende carcinoma
escamoso não queratinizante de pequenas células e carcinoma de origem neuroendócrina. A avaliação imunocitoquímica
é requerida nesse contexto.
d - Desenho representando células malignas de carcinoma escamoso queratinizante. Observar o pleomorfismo celular
(células “em fibra”, “em girino”), pseudocanibalismo e pérola córnea maligna.
Microfotografias a, b e c cedidas por Dra. Liliana Andrade, Unicamp.
Carcinoma escamoso queratinizante
O carcinoma escamoso queratinizante é representado histologicamente por massas com margens
bem demarcadas e irregulares de células anormais. Ninhos celulares com bordas arredondadas são
menos comuns. Fibrose pode ser acentuada e infiltrado linfocítico é moderado. Características desse
tumor compreendem pérolas córneas (arranjos concêntricos de células queratinizadas malignas) e
queratinização de células individuais. Hiperqueratose e paraqueratose atípica são comuns, e necrose focal
pode ser observada. Células pleomórficas (bizarras, fusiformes, caudadas) são encontradas. Os núcleos
são frequentemente aumentados, pleomórficos acompanhando a forma das células, e a cromatina pode se
apresentar condensada, com nucléolos não evidentes ou raros. A atividade mitótica é relativamente baixa.
142
Pode ocorrer queratinização focal de células isoladas, mas pérolas córneas não são vistas. Os núcleos são
aumentados, centralmente localizados, redondos ou ovais, exibindo cromatina irregularmente distribuída e
ocasionais nucléolos, além de figuras de mitose.
Carcinoma escamoso não queratinizante de pequenas células
O carcinoma escamoso não queratinizante de pequenas células é alvo frequente de discussão,
considerando-se atualmente que a grande maioria desses tumores é na realidade de origem neuroendócrina
e não escamosa. Assim sendo, parece mais adequado nominá-lo carcinoma de pequenas células, sendo
necessária a realização de estudos imuno-histoquímicos para estabelecer a sua histogênese. Histologicamente
essa neoplasia cresce em um padrão difuso, como massas sinciciais de células com limites mal definidos. Há
tecido fibroconjuntivo delicado, separando os ninhos de células neoplásicas. Estas são pequenas, uniformes,
com citoplasma escasso, com bordas mal definidas e elevada relação nucleocitoplasmática. Os núcleos são
redondos, ovais ou alongados, com cromatina grosseiramente granular e há frequentes figuras de mitose.
8.4.3 Características citológicas – diferenciação com carcinoma in situ
Nos esfregaços as células anormais geralmente exibem maior quantidade de citoplasma (com exceção
do carcinoma de pequenas células) que as células das lesões de alto grau. A cromatina irregularmente
distribuída e o frequente nucléolo de tamanho e forma variada são comuns nas células do carcinoma escamoso
e não evidenciados nas lesões pré-cancerosas. A diátese tumoral (sangue, fibrina, células inflamatórias, restos
celulares, material proteináceo) também é próprio do carcinoma invasivo, não sendo uma característica das
lesões pré-cancerosas.
Diferenças entre carcinoma in situ e carcinoma escamoso invasivo
Características Carcinoma in situ Carcinoma escamoso
Citoplasma mais escasso mais abundante
Núcleo aumentado+ aumentado++
Cromatina regular irregular
Nucléolo ausente proeminente
Diátese ausente presente
a b
Figura 130 - Características citológicas diferenciais entre carcinoma in situ e carcinoma escamoso.
a - A distribuição da cromatina é um dos critérios mais importantes na diferenciação entre carcinoma in situ e carcinoma
escamoso invasivo. Uma forma prática de avaliar a distribuição da cromatina é dividir mentalmente o núcleo em qua-
drantes. No carcinoma invasivo cada quadrante revela padrão de cromatina distinto, com áreas mais escuras e mais claras
dependendo da maior e menor concentração da cromatina.
b - Outro critério importante na diferenciação entre carcinoma in situ e carcinoma invasivo é o pleomorfismo celular (va-
riação do tamanho e da forma das células). O padrão celular pleomórfico é associado geralmente a carcinoma invasivo
enquanto o aspecto relativamente monótono das células é comum nas lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (NIC
3/carcinoma in situ).
143
144
a b c
d e f
145
Processo de reparação
Atrofia
• Multinucleação.
• Amoldamento nuclear e rarefação da cromatina em outras células.
Efeito de radioterapia/quimioterapia
• Macrocitose.
• Policromasia.
• Vacuolização citoplasmática.
• Cromatina de aspecto “borrado”.
Adenocarcinoma metastático
146
a b c
d e f
Figura 132 - Condições que podem simular carcinoma escamoso invasivo: características citológicas.
a; b; c; d; e; f. Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x.
a - Lesão intraepitelial escamosa queratinizante. O acentuado pleomorfismo (células fusiformes) torna difícl a diferencia-
ção com carcinoma escamoso. A ausência de diátese tumoral e a ausência de irregularidade na distribuição da cromatina
favorece lesão de alto grau. Em caso de incerteza, recomenda-se o diagnóstico de lesão intraepitelial escamosa de alto
grau, com características suspeitas de invasão.
b - Processo de reparação. Observar o aumento nuclear, a anisocariose significativa e os nucléolos proeminentes. As bor-
das nucleares lisas e a cromatina uniformemente distribuída apontam para o diagnóstico de reparação.
c - Atrofia. Observar o “fundo” granular, assemelhando-se à diátese tumoral. As células orangeofílicas (pseudoparaque-
ratose) devido à fenômenos degenerativos podem simular células queratinizadas. Ainda na figura, glóbulos azuis (seta),
comuns na menopausa avançada e que podem ser confundidos com núcleos desnudos anormais. A ausência de irregula-
ridade das bordas nucleares e núcleos com cromatina “borrada” auxiliam na exclusão de carcinoma escamoso.
d - Alterações citopáticas pelo herpes-vírus. A célula é gigante, de forma anormal. Quando se examina rapidamente essa
célula, a mesma parece ter um núcleo enorme, multilobulado além de hipercromasia e áreas aparentando clareamento
cromatínico. Tal aspecto pode levar a um falso diagnóstico de malignidade. Atenção maior à célula, evidencia a multinu-
cleação, o amoldamento nuclear e a rarefação da cromatina. Em caso de dúvida, prosseguir na pesquisa por outras células
que certamente apresentarão características mais bem definidas orientando a interpretação.
e - Adenocarcinoma endocervical pouco diferenciado. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. As células exibem
citoplasma delicado, microvacuolizado, núcleos com cromatina irregularmente distribuída e frequente nucléolo. O tipo de
agrupamento celular (glanduliforme) é fundamental para definir a origem da neoplasia.
f - Adenocarcinoma endocervical. Nesta figura, as células são grandes, com citoplasma mal delimitado, núcleos hipercro-
máticos, exibindo cromatina grosseiramente granular. Observar a tendência das células a representarem arranjo em “rose-
ta” (glandular) (seta verde) e a presença de núcleos se soltando do agrupamento (“plumagem”) (seta preta), característicos
do adenocarcinoma endocervical.
147
149
151
recomendação em notificar essas células, a sua ausência ou escassez não interfere no item considerando
a adequabilidade do espécime citológico. Essa visão sofreu uma mudança com relação às versões
anteriores do Sistema Bethesda onde a ausência dos componentes da zona de transformação determinava
a categorização da amostra citológica como satisfatória mas limitada para a avaliação. A modificação na
abordagem desse tema se deve a falta de consenso entre os estudiosos quanto à importância da presença
das células da zona de transformação nos esfregaços na detecção das lesões pré-cancerosas e malignas do
colo. Muitos artigos científicos demonstram que a ausência dessas células não interfere nos percentuais
relativos à frequência das lesões significativas do colo.
9.3 Aspectos gerais das células endocervicais nos esfregaços
A precisão do diagnóstico citológico das lesões glandulares significativas pressupõe o conhecimento
da ampla variação das características morfológicas e arquiteturais das células endocervicais normais e
dos seus conjuntos, respectivamente. Elas apresentam citoplasma delicado, claro devido ao conteúdo
de mucina, núcleos redondos ou ovalados com cromatina finamente granular, evidenciando-se um ou
dois nucléolos. Tais células se distribuem em agrupamentos monoestratificados com citoplasma de
limites geralmente bem definidos e núcleos centrais, uniformes. Esse tipo de conjunto é conhecido como
“favo de mel” ou “favo de colmeia”. Quando as células endocervicais são vistas lateralmente mostram
a sua forma colunar típica. Estas células podem se agrupar, representando conjuntos “em paliçada” ou
formando “tiras”, onde os núcleos caracteristicamente assumem a localização basal. Considerando esses
dados, é possível diferenciar as células endocervicais das endometriais, estas últimas menores, com
citoplasma escasso, núcleos com cromatina mais grosseira, nucléolo indistinto. As células endometriais
descamam em pequenos conjuntos esféricos com sobreposição nuclear. Citopatologistas e citotécnicos
devem ainda se familiarizar com os diferentes quadros citológicos relacionados a condições patológicas
benignas incluindo a metaplasia tubária, hiperplasia microglandular, entre outras. O desconhecimento
desses padrões citomorfológicos incomuns pode resultar em falsos diagnósticos de malignidade.
a b Figura 133 - Características das células
glandulares endocervicais normais.
a - Epitélio endocervical colunar sim-
ples mucossecretante. Histologia, HE,
100x. O epitélio de revestimento forma
pregueamentos que se aprofundam no
estroma, simulando glândulas.
b - Epitélio endocervical colunar sim-
ples mucossecretante. Histologia, HE,
400x. Observar a forma colunar das
células, o citoplasma claro devido ao
acúmulo de mucina e os núcleos loca-
lizados na região basal.
c d c - Conjunto em monocamada de cé-
lulas endocervicais típicas. Esfregaço
cervicovaginal, Papanicolaou, 100x.
Observar o tamanho das células endo-
cervicais em relação às células escamo-
sas.
d - Conjuntos com visão lateral das
células endocervicais. Esfregaço cer-
vicovaginal, Papanicolaou, 100x. Se
identifica a forma colunar das células
assim como o citoplasma claro devido
ao acúmulo de muco (setas).
152
a b c
d e f
153
• Células glandulares endocervicais atípicas sem outra especificação (Células epiteliais glandula-
res endocervicais atípicas de significado indeterminado provavelmente não neoplásicas - Nomen-
clatura Brasileira para Laudos Cervicais - 2006).
• Células glandulares endocervicais atípicas provavelmente neoplásicas (Células epiteliais glan-
dulares endocervicais atípicas de significado indeterminado possivelmente neoplásicas - Nomen-
clatura Brasileira para Laudos Cervicais de 2006).
• Adenocarcinoma endocervical in situ.
• Adenocarcinoma endocervical invasivo.
154
9.6.1 Células glandulares endocervicais atípicas sem outra especificação (células epiteliais glandu-
lares endocervicais atípicas de significado indeterminado provavelmente não neoplásicas - Nomen-
clatura Brasileira para Laudos Cervicais, 2006)
Características Citológicas
Essa categoria citológica apresenta taxas de associação com lesões pré-cancerosas ou malignas
em 9% a 41% dos casos. Essas anormalidades glandulares endocervicais correspondem no exame his-
topatológico mais frequentemente às lesões pré-cancerosas de origem escamosa que ao adenocarcinoma
endocervical.
a b
c d
155
9.6.2 Células glandulares endocervicais atípicas provavelmente neoplásicas (células epiteliais glan-
dulares endocervicais atípicas de significado indeterminado possivelmente neoplásicas - Nomencla-
tura Brasileira para Laudos Cervicais de 2006)
Características citológicas
c d
Figura 136 - células glandulares endocervicais atípicas, provavelmente neoplásicas.
a; b; c; d - Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x.
a - Agrupamento desorganizado de células endocervicais atípicas. Os núcleos são aumentados de volume, com discreta
variação do tamanho, hipercromasia e nucléolos. Há sobreposição nuclear com perda da polaridade nuclear.
b - “Tira” de células endocervicais atípicas. Os núcleos são aumentados de volume, alongados. Há pseudoestratificação
nuclear de leve a moderada.
c - Conjunto desorganizado de células endocervicais atípicas. As células revelam núcleos aumentados de volume, hiper-
cromáticos com eventuais nucléolos. Há esboço de arranjo glandular (seta).
d - Conjunto glanduliforme de células endocervicais atípicas. As células exibem núcleos aumentados de volume, com va-
riação do tamanho, hipercromáticos, com algumas irregularidades das bordas nucleares e às vezes nucléolos.
156
Características citológicas
• “Fundo” limpo
• Celularidade moderada a abundante (células endocervicais)
• Algumas das células anormais mostrando aparência colunar
• Perda do padrão em “favo de mel”, com sobreposição dos núcleos
• Tiras ou arranjos em “paliçada” com pseudoestratificação nuclear
• Aspecto de “plumagem” (feathering) com relação às bordas do agrupamento (protrusão nuclear)
• Arranjos glandulares ou em “roseta”. ”Rosetas” ou arranjos glandulares correspondem a
conjuntos circulares de células com núcleos periféricos e citoplasma voltado em direção ao centro.
• Alongamento dos núcleos
• Núcleos aumentados de volume com variação do tamanho
• Aumento da relação nucleocitoplasmática
• Hipercromasia nuclear
• Cromatina grosseiramente granular
• Nucléolo pequeno ou não evidente
• Mitoses
• Apoptose. A apoptose, ou corpos apoptóticos, representam núcleos homogêneos, condensados,
com ou sem fragmentação nuclear e citoplasma densamente eosionofílico.
No diagnóstico citológico das lesões glandulares endocervicais, as anormalidades arquiteturais
dos agrupamentos epiteliais são tão importantes quanto o estudo das características citomorfológicas. No
adenocarcinoma in situ identifica-se sob a objetiva de pequeno aumento um aumento da celularidade na
forma de amplos agrupamentos epiteliais onde o citoplasma das células é mal definido e os núcleos são
hipercromáticos. No estudo mais detalhado, as células exibem citoplasma delicado, mal delimitado, núcleos
volumosos, com variação do tamanho, hipercromáticos, muitas vezes com cromatina grosseiramente
granular e ocasional nucléolo, geralmente pequeno. Há sobreposição nuclear significativa com perda
da polaridade nuclear (perda da distância uniforme entre os núcleos). Nesses agrupamentos ou nas suas
extremidades podem ser identificadas “aberturas glandulares”.
157
a b
c d
e f
Figura 137 - Adenocarcinoma in situ.
a; b - Histopatológico, HE 100x e 400x. Em a, epitélio endocervical normal à esquerda e à direita (seta) exibindo perda do
conteúdo de mucina, pseudoestratificação e hipercromasia nuclear. Em b, epitélio endocervical com pseudoestratificação
nuclear, alongamento dos núcleos e hipercromasia nuclear.
c - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Agrupamento amplo de células endocervicais com núcleos sobrepostos
e perda da polaridade nuclear. Há aberturas glandulares (setas). Os núcleos são hipercromáticos.
d - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Agrupamento de células endocervicais com núcleos volumosos e so-
brepostos, com perda da polaridade nuclear. Os núcleos são hipercromáticos com cromatina grosseiramente granular. Há
uma figura de mitose atípica (seta).
e -Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Agrupamento de células endocervicais com núcleos volumosos e hiper-
cromáticos. Os núcleos são alongados na periferia, protrusos (feathering ou “plumagem”).
f - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Agrupamento de células endocervicais com núcleos volumosos, frequen-
temente alongados, hipercromáticos, com cromatina grosseiramente granular. Há feathering.
158
a b
c d
Figura 138 - Adenocarcinoma in situ.
a - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Arranjos em “tira” de células endocervicais com acentuada pseudoestra-
tificação e hipercromasia nuclear.
b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Arranjo “em tira” de células endocervicais com marcada pseudoestratifi-
cação nuclear. Há aumento nuclear e hipercromasia.
c - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Arranjo em “roseta”. Há aumento e variação do tamanho dos núcleos que
se mostram alongados, às vezes sobrepostos, hipercromáticos, com cromatina grosseiramente granular.
d - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Arranjo glandular de células endocervicais com núcleos volumosos, va-
riando de tamanho, hipercromáticos, com cromatina finamente ou grosseiramente granular e às vezes pequeno nucléolo.
Há pseudoestratificação nuclear em alguns setores.
9.8 Adenocarcinoma endocervical invasivo
Características histológicas
Na histologia, o adenocarcinoma invasivo mostra duas características fundamentais: 1. células
individuais ou glândulas incompletas revestidas por células parecendo morfologicamente malignas na in-
terface do estroma; 2. glândulas parecendo malignas circundadas por resposta desmoplásica. Muitos ade-
nocarcinomas invasivos não evidenciam as alterações supracitadas. Nessa situação outras características
devem ser avaliadas, embora não sejam totalmente específicas. São elas: 1. glândulas arquiteturalmente
complexas ramificadas, ou glândulas pequenas que crescem confluentemente ou num padrão simulando
um “labirinto”; 2. padrão de crescimento cribriforme de epitélio de origem glandular com aspecto cito-
morfológico maligno destituído de estroma; 3. presença de glândulas abaixo do limite profundo das glân-
dulas normais.
159
Características citológicas
• Diátese tumoral (em metade dos casos ou menos).
• Maior número de células anormais, com frequente configuração colunar.
• Alterações arquiteturais idênticas àquelas do adenocarcinoma in situ.
• Sincícios, papilas.
• Maior perda da coesão celular.
• Núcleos maiores, mais pleomórficos.
• Bordas nucleares espessas e irregulares.
• Nucléolos mais frequentes e mais proeminentes.
• Mitoses mais frequentes.
• Cromatina irregularmente distribuída (espaços claros).
a b c
d e f
160
c d
161
Metaplasia tubária
É a principal causa de diagnósticos falso-positivos de adenocarcinoma. Essa condição é encontrada
muito frequentemente na porção mais superior do canal endocervical, e pode se tratar de um evento
fisiológico. Histologicamente, a metaplasia tubária é definida pela presença dos três tipos de células
comuns no revestimento das trompas: ciliadas, não ciliadas e células intercalares. As células ciliadas
têm núcleos grandes, ovais, algumas vezes hipercromáticos, variável nucléolo, citoplasma eosinófilo e
abundantes cílios apicais. As células não ciliadas apresentam citoplasma eosinofílico denso ou cianofílico,
faltando os vacúolos de mucina. As células intercalares são provavelmente uma variante das células não
ciliadas com citoplasma delicado, núcleos alongados e citoplasma escasso. Na metaplasia tubária pode
ocorrer estratificação dos núcleos, hipercromasia e nucléolos, simulando assim adenocarcinoma in situ. A
identificação de cílios é a característica mais importante no diagnóstico diferencial com adenocarcinoma
in situ.
A colheita das amostras citológicas com a escovinha facilita a amostragem da região mais alta
do canal endocervical, facilitando a descamação das células colunares ciliadas com as características
descritas acima. A diferenciação com adenocarcinoma in situ é possível tendo em vista que nesta condição
o quadro citológico é mais exuberante, enquanto que na metaplasia tubária as alterações geralmente são
focais. Por outro lado, há uma maior variedade de alterações no adenocarcinoma in situ, evidenciando-se
o aspecto de “plumagem” e “rosetas”, incomuns na metaplasia tubária.
a b c
Figura 141 - Metaplasia tubária.
a - Histopatológico, HE, 400x. Epitélio endocervical contendo núcleos volumosos, com citoplasma claro ou denso,
eosinofílico. Há numerosos cílios no polo apical da maioria das células, caracterizando a metaplasia tubária.
b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. “Tira” de células endocervicais com núcleos típicos, contendo cílios bem
preservados, eosinofílicos, ancorados na placa terminal. Não há dificuldade no diagnóstico de metaplasia tubária nesse
caso.
c - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. “Tira” de células endocervicais com núcleos volumosos, hipercromáticos
com pseudoestratificação. É difícil a diferenciação com adenocarcinoma endocervical in situ. Contudo, a análise cuidadosa
mostra alguns cílios ou placa terminal (setas) nessas células, caracterizando a metaplasia tubária. Deve ser notado que nessa
condição as alterações são mais focais que no adenocarcinoma in situ, este último acompanhado de outras anormalidades
como arranjos glandulares e feathering.
162
a b c
Figura 142 - Metaplasia tubária.
a; b; c - Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x.
a - Agrupamento representado por células endocervicais com núcleos volumosos, hipercromáticos, sobrepostos em
algumas áreas. Algumas células da periferia apresentam placa terminal (seta), caracterizando a metaplasia tubária.
b - Conjuntos desorganizados de células endocervicais com núcleos discretamente aumentados de volume, ovalados,
com leve estratificação. O encontro de placa terminal e cílios em várias dessas células (setas), permite o diagnóstico de
metaplasia tubária.
c - Arranjo “em tira” de células endocervicais com núcleos alongados, hipercromáticos, com leve pseudoestratificação.
Há placa terminal e cílios em algumas células (seta) evitando a categorização desse quadro no subgrupo de células
endocervicais atípicas sem outra especificação.
Figura 143 - Características das células endocervicais em pólipo cervical.
a; b - Amplos agrupamentos de células endocervicais em pólipo endocervical. Esfregaços
cervicovaginais, Papanicolaou, 100x. Às vezes os agrupamentos são dobrados (seta),
podendo dar a falsa impressão de perda da polaridade nuclear (a). Na figura b, as células
endocervicais são distribuídas em arranjos papilares (setas). Esse padrão de descamação
pode simular a arquitetura dos conjuntos celulares vistos no adenocarcinoma in situ. As
células que se originam dos pólipos endocervicais podem apresentar aumento nuclear e
nucléolo, porém não há outras atipias comuns no adenocarcinoma.
163
c
d
164
Artefato de “escova”
A utilização das “escovinhas” na colheita das amostras endocervicais pode resultar na descamação
maciça de células endocervicais, geralmente em grandes fragmentos que podem conter “aberturas glan-
dulares”. Por outro lado, esses agrupamentos celulares podem se dobrar, dando às vezes a falsa impressão
de amontoamento e perda da polaridade nuclear. Tal quadro citológico pode representar uma fonte de
diagnóstico falso-positivo de adenocarcinoma endocervical. A ausência de atipia nuclear, a falta de estra-
tificação nuclear no revestimento das glândulas e a ausência de outros padrões arquiteturais associados ao
adenocarcinoma endocervical, como feathering e “tiras” com pseudoestratificação nuclear, possibilitam o
reconhecimento da natureza benigna daquelas células.
a b
165
a b c
d e f
Figura 146 - Lesão intraepitelial escamosa de alto grau versus adenocarcinoma endocervical.
a - NIC 3 (carcinoma in situ) superficial e envolvendo parte da cripta endocervical. Histopatologia, HE, 100x. As células da
cripta envolvida (endocervicais e escamosas anormais) descamam lado a lado, o que pode levar a dificuldades na diferen-
ciação entre adenocarcinoma in situ e NIC 3 nos esfregaços cervicovaginais.
b - NIC 3. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Agrupamento sincicial de células anormais, imaturas, com hiper-
cromasia nuclear. A borda retilínea do conjunto (seta) caracteriza a sua origem escamosa.
c; d - NIC 3. Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x e 100x. Na imagem c, células de NIC 3 dispostas em arranjo
glanduliforme, tipo de agrupamento que pode levar ao falso diagnóstico de adenocarcinoma in situ. A pesquisa de outras
áreas no esfregaço (d) revela o típico aspecto dos agrupamentos celulares em NIC 3 (células com núcleos em posição ho-
rizontal, paralelos ao maior eixo do conjunto), como indica a seta.
e - NIC 3. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. As células anormais se distribuem em agrupamento sincicial, em
alguns setores simulando arranjos glandulares (seta). Além disso, os núcleos exibem frequente nucléolo, incomuns em NIC
3/ carcinoma in situ. Esses aspectos podem levar a dificuldade na diferenciação com adenocarcinoma in situ. Contudo, os
núcleos na periferia são paralelos ao agrupamento celular, caracterizando a lesão como NIC 3.
f - Adenocarcinoma in situ. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Agrupamento de células anormais exibindo so-
breposição nuclear. Na periferia do agrupamento, é evidente a disposição perpendicular dos núcleos alongados, proje-
tando-se para fora, em um aspecto conhecido como “plumagem”. Esse padrão é típico do adenocarcinoma endocervical,
diferente da disposição paralela dos núcleos em NIC 3 com extensão glandular.
166
167
c d
168
Características citológicas
O carcinoma papilar seroso do endométrio é idêntico àquele do ovário. Nos esfregaços cervicais
é mais comum a diátese tumoral e são identificados conjuntos papilares tridimensionais de células bem
maiores que aquelas do adenocarcinoma endometrial padrão. São frequentes os macronucléolos, às vezes
múltiplos. Podem ainda ser encontrados “corpos de psammoma”, estruturas calcificadas com lamelas
concêntricas.
169
a b
c d
e f
170
a b
171
Critérios Citológicos
Nos esfregaços cervicais é extremamente difícil ou mesmo impossível determinar se um adeno-
carcinoma é de origem primária ou metastática. Muitas publicações apontam que o encontro de células
malignas em um “fundo” limpo deve alertar para a possibilidade de um tumor metastático. Contudo, isso
não é a regra. Muitos carcinomas metastáticos são acompanhados de diátese tumoral especialmente quan-
do há invasão direta pelo tumor. O encontro de células estranhas ao colo como numerosos linfócitos de
aspecto monótono merece uma investigação de doença linfoproliferativa. A evidência de pigmento acas-
tanhado (melanina) em células malignas é indicativo de melanoma, que pode ser metastático. Estruturas
não celulares, como corpos de psammoma, apesar de mais frequentemente acompanhar o adenocarcinoma
papilar seroso de ovário, não são específicas deste tumor, podendo ser encontradas em adenocarcinoma de
endométrio e, mais raramente, de colo. Enfim, para fins práticos o dado mais importante para a identifica-
ção de neoplasia maligna metastática em esfregaços cervicais é sem dúvida a história clínica da paciente,
com referência à neoplasia prévia.
a b
Figura 152 - Carcinoma de células transicionais de alto grau, primário de bexiga.
a; b - Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x. Na imagem a, arranjo papilar de cé-
lulas com citoplasma escasso, núcleos volumosos exibindo variação do tamanho, aumen-
to da relação nucleocitoplasmática e cromatina irregularmente distribuída. Esse padrão é
idêntico àquele visto em adenocarcinomas. Em b, outro campo microscópico do mesmo
caso representando uma célula de grande tamanho, com multinucleação, núcleos excêntri-
cos, variando de tamanho, com hipercromasia, irregularidade da distribuição da cromatina
e nucléolos. Esse tipo de célula é mais característico do carcinoma de células transicionais,
mas não é específico.
172
a b
Figura 153 - Adenocarcinoma de cólon metastático.
a; b - Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x. Em a, arranjo em “roseta” de células
colunares altas, com núcleos ovalados, cromatina irregularmente distribuída e nucléolos.
Em b, imagem do mesmo caso, conjunto desorganizado de células com núcleos volumo-
sos, com cromatina finamente granular irregularmente distribuída e nucléolos proemi-
nentes. Padrão citológico se assemelha ao encontrado no adenocarcinoma endocervical.
a b
173
175
A Citopatologia é uma técnica bem conhecida e utilizada há mais de 50 anos, sendo empregada
com sucesso na prevenção e no diagnóstico do câncer de colo do útero, assim como de outras doenças não
ginecológicas.
Foi introduzida na década 1940, pelo médico grego Dr. George Papanicolaou, como uma ferramenta
para a detecção precoce do câncer do colo do útero, através da observação da morfologia das células pré-
neoplásicas e malignas. É considerado um método eficiente, rápido, de baixo custo, pois tem a habilidade
de identificar lesões precursoras do câncer do colo do útero, que neste momento são tratáveis, podendo
resultar em significante decréscimo da mortalidade por esse tipo de câncer.
O exame de Papanicolaou convencional é o teste para o diagnóstico das lesões pré-cancerosas e
neoplasias cervicais utilizada em toda a rede de saúde pública brasileira. Apesar da reconhecida efetividade
do método, este ainda apresenta altas taxas de resultados falso-negativos. A grande oscilação nas taxas de
sensibilidade, que podem variar de 2% a 90%, demonstra a vulnerabilidade do procedimento, suscetível
particularmente a falhas nas técnicas de colheita das amostras e preparação dos esfregaços, assim como
também à subjetividade na interpretação dos achados citológicos.
O grande desafio da Citologia de Papanicolaou é portanto a padronização dos processos, pois,
não havendo padrão, não existe qualidade. A dificuldade decorre da necessidade de intervenções manuais
e do envolvimento de diversos profissionais nas várias etapas da metodologia convencional. Apesar do
treinamento desses profissionais, eles são suscetíveis a inúmeras variáveis, além da rotatividade dos
mesmos nos setores-chave do processo.
177
Vantagens da LBC
Desvantagens da LBC
• Maior consumo de tempo no processamento técnico (em alguns métodos não automatizados).
• Maior custo.
• Necessidade de adaptação profissional à nova técnica.
178
Em amostras cervicouterinas e vaginais, a LBC tem sido referida como método de desempenho
superior por proporcionar melhor representação celular, com sensibilidade aumentada na detecção de lesões,
em comparação com o preparado convencional. Há vários autores que mostram uma maior sensibilidade
diagnóstica nos casos de ASC (alterações em células escamosas de significado indeterminado), enquanto
outros atribuem uma melhor efetividade no diagnóstico de lesões de alto grau e glandulares. Contudo, não
há consenso nessa matéria.
A citologia de meio líquido pode ser realizada através de métodos automatizados e não
automatizados. Entre os automatizados, os mais utilizados são o ThinPrep (Hologic, Inc., Marlborough,
MA) e o SurePath (Becton, Dickinson and Company, Franklin Lakes, NJ). Os métodos não automatizados
incluem o Liqui-Prep, Gel hidroalcoólico, entre outros.
A seguir, uma abordagem dos principais métodos comercialmente avaliáveis no mercado.
10.1.1 ThinPrep
Expressão que em português significa “preparado fino”. O método permite a deposição do material
coletado em uma única camada, tão fina quanto a própria espessura de uma célula. O material para o
procedimento inclui:
• Frasco com líquido conservante para receber as células coletadas do colo uterino.
• Espátula plástica com a superfície lisa, que impede a adesão das células, devido a tratamento
antiestático.
• Escova endocervical com ponta protegida para evitar sangramento no momento da colheita
celular.
• Lâmina de vidro especialmente transparente com área determinada para depósito das células,
garantindo uniformidade e regularidade.
• Processador computadorizado que prepara o material coletado, de modo a garantir que a amostra
que vai para a lâmina represente, de fato, o real estado celular do colo uterino de cada paciente
A colheita das amostras e à fixação das mesma, procedem-se através das seguintes etapas:
179
b
c
É importante enfatizar que o material colhido do colo uterino não é espalhado na lâmina, e sim
depositado em um frasco contendo meio líquido preservante. O tubo é então encaminhado para o labora-
tório, onde a amostra é processada eletronicamente (processador eletrônico de lâminas T2000 ou T5000),
passando pelas etapas de dispersão, coleta das células e transferência das células para a lâmina.
a b c
d f g
180
10 Novas Tecnologias em Citopatologia
••••••••••••••••••••••••••••••
a b
Figura 162 - Representações microscópicas das preparações citológicas.
a - Citologia de Papanicolaou convencional.
b - Citológica em meio líquido pelo método ThinPrep.
181
a b c
Vantagens do SurePath
182
Figura 165 - Representações esquemáticas dos equipamentos automatizados (BD PrepMate e BD PrepStain: processamen-
to e coloração) da citologia meio líquido SurePath.
Figura 166 a - Representação da lâmina da citologia em meio líquido SurePath™ Pap Test. Figura 166 b -Preparações citológicas
obtidas através do método “ThinPrep” e “BD SurePath”. Evidenciar a menor área de leitura (13mm) no método BD SurePath.
183
Caderno de Referência 1
•••••••••••••••••••
a b c
Figura 167 - Lâminas citopatológicas por diferentes metodologias em situação de processo inflamatório.
a - Citologia convencional , em que não é possível o diagnóstico (100x).
b; c - Citologia em meio líquido BD SurePath.
A leitura automatizada deste método ocorre devido aos equipamentos (BD FocalPoint™ GS
Imaging System e BD FocalPoint™ GS Review Station), onde as imagens das células são digitalizadas e
avaliadas com ampliação de 20x. A partir desta etapa são quantificadas em algorítimos que identificam
tanto alterações em células escamosas como em glandulares, atribuindo-se uma pontuação (0,0 a 1,0), de
acordo com a probabilidade de conter anormalidades.
Esta informação é usada para classificar as lâminas em grupos que necessitam de revisão e grupos
que não necessitam de revisão humana. No grupo que necessita de revisão, o equipamento disponibiliza
quantificação de menor risco e de maior risco, permitindo o citologista a compreender melhor a proba-
bilidade de anormalidades inerente a cada lâmina e ajudar, nestas situações, a reduzir casos de falsos-
-negativos e melhorar a capacidade de processamento do laboratório.
Os primeiros campos de observações (FOV) a serem revisados sempre seguem uma escala de
maior importância para o de menor importância, de acordo com a ordem de classificação e probabilidade
de anormalidades.
184
Deve ser ressaltado que, apesar do equipamento FocalPoint ajudar a selecionar os campos onde
há alterações celulares com maior chance de representar uma lesão cervical, a responsabilidade de inter-
pretação citológica é do observador, pois o sistema não faz o diagnóstico. Este tem o facilitador de reduzir
as diferenças de qualificação profissional devido à automação que oferece o mesmo padrão de rastreio
para todas as mulheres, porém não exime o conhecimento e experiência individual do observador.
10.3. Liqui-Prep
Corresponde a um método de processamento de citologia em base líquida, de forma não automa-
tizada. Pode ser aplicado às amostras cervicais e a líquidos como urina, LCR e outros.
Também tem a vantagem de trabalhar com 100% das células coletadas, não desperdiçando mate-
rial e não alterando a morfologia das células. O material pode ser encaminhado para Biologia Molecular
com boa reprodutibilidade dos resultados. Deve também se considerar a relação do custo-benefício bas-
tante favorável, uma vez que não é necessária a utilização de equipamentos especiais.
No sistema Liqui-Prep a totalidade da amostra também é colocada no tubo com preservativo lí-
quido, o que permite facilidade no seu transporte. A metodologia inclui ainda um líquido de limpeza e
finalmente um líquido adesivo.
185
• Preservativo das amostras – Trata-se de uma solução que evita o crescimento de bactérias no
transporte, estabiliza a amostra até 90 dias facilitando a sua chegada ao Laboratório, permite o
transporte e estocagem da amostra em temperatura ambiente e não desfaz a morfologia celular
clássica com a preservação das células.
• Liqui-Prep Cleaning Solution- Consiste de uma solução que tem a propriedade de separação fí-
sica, ou seja, as células são separadas pela densidade gradativa, o que mantém o sangue e o muco
na superfície.
• Liqui-Prep Cellular Base - Atua como adesivo especial entre as células e as lâminas de vidro
padrão usadas em laboratórios, não requerendo nenhum tratamento químico posterior ou lâminas
de vidro especiais.
Existem outros métodos que também têm como objetivo a confecção de preparados citológicos em
base líquida através do uso de centrífugas, pipetas e lâminas de vidro convencionais. Porém há a necessi-
dade de estudos mais detalhados para estabelecer a sua viabilidade na prática da citologia.
Apesar da introdução de diferentes tecnologias com propostas inovadoras visando à melhoria na
rotina do diagnóstico citológico, o teste de Papanicolaou convencional ainda é um método de excelência,
fato esse demonstrado em inúmeros trabalhos comparativos com a citologia em base líquida. Além da
efetividade diagnóstica, pesa muito a favor da citologia convencional o seu baixo custo, propiciando a sua
aplicação em larga escala nos programas de saúde pública nos países em desenvolvimento onde ocorrem
as maiores taxas de câncer do colo uterino.
186
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189
Capítulos 1 a 9
Daisy Nunes de Oliveira Lima
Médica, mestre em Anatomia Patológica, especialista em Citopatologia; professora adjunta do
Departamento de Patologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e citopatologista do Serviço de Patologia do Hospital das Clínicas da UFPE; citopatologista do
Laboratório Centro Integral.
Capítulo 2
André Luiz de Souza Barros
Biólogo, mestre em Inovação Terapêutica/Desenvolvimento Pré-clínico de Produtos Bio-ativos
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); doutorando em Ciências Biológicas/Química Medi-
cinal e Biomolecular na UFPE; atua nas áreas de oncologia experimental, citopatologia, quimioterapia e
radioterapia; professor na Escola de Saúde Pública de Pernambuco.
Capítulo 10
Micheline de Lucena Oliveira
Médica Ginecologista e Obstetra, especialista em Citopatologia Ginecológica, Colposcopia e Me-
dicina do Trabalho; mestre em Saúde Materno-Infantil ( IMIP-PE); doutoranda na área de Biologia Ce-
lular e Molecular no Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Coordenadora Técnica do Curso Técnico em Citopatologia da Escola de Saúde Pública do Estado de
Pernambuco (ESPPE) e Médica citopatologista do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-PE).
Capítulo 1
Michelle Dantas de Azevedo
Fisioterapeuta, especialista em dermatofuncional, Redução Postural Global (RPG) e motricidade
voluntária funcional.
193
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