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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM


DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PREVENÇÃO DO CCU: INTERPRETAÇÃO


DE LAUDOS E DIRETRIZES BRASILEIRAS
PARA O RASTREAMENTO

Enfª Vívien Alves


Mestranda em Enfermagem
Orientadora: Drª Ana Karina Bezerra Pinheiro
Objetivos
 Conhecer o método de rastreamento do Câncer de Colo do
Útero (CCU);

 Interpretar os laudos citopatólogicos e quais condutas devem


ser tomadas;

 Identificar a população-alvo do rastreamento e a periodicidade


correta do exame;
QUAL O
MÉTODO/EXAME QUEM DEVE SER
PARA RASTREAR SUBMETIDO A
O CÂNCER DE ESSE EXAME?
COLO UTERINO?

QUAL A
PERIODICIDADE
QUE ESSA
POPULAÇÃO DEVE
FAZER O EXAME?
História
• A nomenclatura brasileira utilizada para laudos
citopatológicos tem sofrido constantes alterações. A
adoção do Sistema de Bethesda, ainda que adaptado
ao Brasil, facilita a comparação de resultados
nacionais com os encontrados em publicações
estrangeiras.

O Sistema Bethesda foi criado em 1988, em


uma oficina de trabalho promovida pelo
Instituto Nacional de Câncer, em Bethesda,
no estado de Maryland – Estados Unidos,
com o objetivo de fornecer informações a
partir da nomenclatura, simplificar e
uniformizar a terminologia entre
profissionais e laboratórios.
Dr. Geórgios Papanicolau

• Médico grego;
• Pioneiro no estudo da citologia e
na detecção precoce do câncer
de colo do útero;
• “Teste de Papanicolau”;
• Criou uma nomenclatura que
procurava expressar se as
células observadas eram
normais ou não, atribuindo-lhes
uma classificação.
CLASSE I Ausência de células atípicas ou
anormais

CLASSE II Citologia atípica sem evidência de


malignidade

CLASSE III Citologia sugestiva de malignidade

CLASSE IV Citologia muito suspeita de malignidade

CLASSE V Citologia conclusiva de malignidade


A partir de então, novas nomenclaturas surgiram...

O termo “Displasia” foi introduzido na classificação, pela


OMS, levando em conta alterações histológicas
correspondentes, identificando displasias leves, moderadas e
severas. Todos os graus de displasias eram grosseiramente
referentes à classe III de Papanicolaou.

CLASSE I Ausência de células atípicas ou


anormais

CLASSE II Citologia atípica sem evidência


de malignidade
CLASSE III Citologia sugestiva de
malignidade
CLASSE IV Citologia muito suspeita de
malignidade
CLASSE V Citologia conclusiva de
malignidade
CLASSIFICAÇÃO DE RICHART (1967):

Posteriormente, estabeleceu-se o conceito de neoplasia intra-


epitelial cervical (NIC), subdivida em três graus:

NIC I
NIC II
NIC III
Adenocarcinoma invasor
Sistema Bethesda

• Classificação citológica mais atual do esfregaço cervical;


• O diagnóstico citológico deve ser diferenciado para as células
escamosas e glandulares;
• Divide as lesões intra-epiteliais de baixo e alto graus,
ressaltando o conceito de possibilidade de evolução para
neoplasia invasora;
• Introdução da análise da qualidade do esfregaço.

Lesão Escamosa Intra-epithelial de baixo grau– LSIL


Lesão Escamosa Intra-epithelial de alto grau– HSIL

Adenocarcinoma in situ
Carcinoma Invasor
POR QUE É
IMPORTANTE QUE
OS ENFERMEIROS
ENTENDAM OS
DIAGNÓSTICOS
CITOPATOLÓGICOS?

ESTABELECIMENTO DE CONDUTAS

ORIENTAÇÃO À PACIENTE, FAMÍLIA E COMUNIDADE

PROMOÇÃO DA SAÚDE DA MULHER


Procedimentos médicos de acordo
com os laudos
BIÓPSIA
Retirada de um ou mais fragmentos de área alterada do colo do útero no
exame clínico ou na colposcopia, para exame histopatológico.

COLPOSCOPIA
SATISFATÓRIA
Situação em que toda a zona de transformação é vista.
A colposcopia é um exame realizado com o objetivo de avaliar a vulva,
vagina e colo do útero de maneira detalhada. É utilizado o colposcópio, uma
espécie de binóculo que ilumina e amplia a visão da região.
Esse exame é solicitado após o profissional achar necessário uma avaliação
mais profunda do aparelho genital: lesões suspeitas na vagina ou no colo do
útero.
CONIZAÇÃO
Remoção de parte da zona de
transformação e parte do canal
endocervical. Realizada com bisturi
convencional ou por eletrocirurgia,
recomendada para o diagnóstico e
tratamento de lesões pré-invasivas.

Exérese da Zona
de transformação
Retirada da zona de transformação por
meio da cirurgia de alta frequência, com
objetivo terapêutico. É realizada sob
anestesia local, sob visão colposcópica
em nível ambulatorial.
Interpretando os laudos
Adequabilidade da amostra
Adequabilidade da amostra
• Sistema binário: satisfatória ou insatisfatória;
INSATISFATÓRIA PARA AVALIAÇÃO ONCÓTICA

• Material acelular ou hipocelular (menos de 10% do esfregaço);


• Leitura prejudicada (mais de 75% do esfregado contendo):
a) Sangue
b) Piócitos
c) Artefatos de dessecamento
d) Contaminantes externos
e) Intensa superposição celular
f) outros (especificar)
O que fazer?
Conduta Clínica:
A paciente deverá ser
convocada para repetir o
exame de imediato, devendo
ser explicado à mesma que o
motivo é técnico e não por
alteração patológica.
SATISFATÓRIA PARA AVALIAÇÃO ONCÓTICA

 Designa amostra que apresente células em


quantidade suficiente, bem distribuídas, fixadas e
coradas, de tal modo que sua visualização permita
uma conclusão diagnóstica.
EPITÉLIOS REPRESENTADOS NA AMOSTRA

• Glandular;
A presença de células metaplásicas ou células
endocervicais, representativas da junção
• Metaplásico escamo-colunar (JEC), tem sido considerada
como indicador da qualidade do exame, pelo
• Escamoso fato de as mesmas se originarem do local
onde se situa a quase totalidade dos cânceres
do colo do útero.
Recomendações
• Esfregaços normais somente com células escamosas
devem ser repetidos com 12 meses, e, com dois exames
normais anuais consecutivos, o intervalo poderá ser de três
anos;

• Para garantir boa representação celular do epitélio do colo


do útero, o exame citopatológico deve conter amostra do
canal cervical, preferencialmente, coletada com escova
apropriada, e da ectocérvice, coletada com espátula tipo
ponta longa (espátula de Ayre).
Diagnósticos descritivos
“Resultado normal”
• Dentro dos limites da normalidade no material
examinado;
• Recomendação: seguir a rotina de rastreamento
citológico.
A partir de 25 anos para as mulheres que já iniciaram a vida
Início da coleta
sexual;

Intervalo entre os exames é de até 3 anos, após 2 exames anuais


Periodicidade
consecutivos negativos

O exame deve seguir até os 64 anos de idade da mulher e serem interrompidos


quando elas tiverem 2 exames consecutivos negativos nos últimos 5 anos
“Alterações celulares benignas (reativas ou
reparativas)”
Caracterizada pela presença de alterações celulares epiteliais, geralmente
determinadas pela ação de agentes físicos, os quais podem ser radioativos,
mecânicos ou térmicos e químicos como medicamentos abrasivos ou
cáusticos (podem causar alergia), quimioterápicos e acidez vaginal ou
sobre o epitélio glandular. Ocasionalmente, podem-se observar alterações,
em decorrência do uso do dispositivo intra-uterino (DIU), em células
endometriais.

Conduta Clínica:
Havendo queixa clínica de leucorreia, a paciente deverá ser encaminhada para
exame ginecológico. Os achados comuns são ectopias, vaginites e cervicites. O
tratamento deve seguir recomendação específica.
Seguir a rotina de rastreamento citológico.
“Metaplasia Escamosa Imatura”
A palavra “imatura”, em metaplasia escamosa, foi incluída na
Nomenclatura Brasileira buscando caracterizar que esta
apresentação é considerada como do tipo inflamatório,
entretanto, o epitélio nessa fase está vulnerável à ação de
agentes microbianos e em especial do HPV.

Conduta Clínica:
Seguir a rotina de rastreamento citológico
Orientações
“Reparação”
• Decorre de lesões da mucosa com exposição do
estroma e pode ser determinado por quaisquer dos
agentes que indicam inflamação. É, geralmente, a fase
final do processo inflamatório, momento em que o
epitélio está vulnerável à ação de agentes microbianos
e, em especial, do HPV.

Conduta Clínica:
Seguir a rotina de rastreamento citológico.
“Atrofia com inflamação”
Na ausência de atipias, é um achado normal do período
climatérico e somente demanda atenção ginecológica caso
esteja associado a sintomas como secura vaginal e
dispareunia.

Conduta Clínica:
Seguir a rotina de rastreamento citológico.
Na eventualidade do laudo do exame citopatológico, mencionar dificuldade
diagnóstica decorrente da atrofia, deve ser prescrito um preparo estrogênico
utilizado para tratamento da colpite atrófica, e a nova citologia será coletada sete
dias após a parada do uso.
O tratamento da colpite atrófica pode ser realizado pela administração vaginal de
creme de estrogênios conjugados ou de creme de estriol (CARDOZO et al., 1998).
Ambas as drogas devem ser utilizadas, de preferência à noite, por um a três
meses, em dois esquemas alternativos: durante 21 dias, com intervalo de sete dias,
ou duas vezes por semana, sempre nos mesmos dias.

Parede vaginal
elástica, Elasticidade
Lubrificação vaginal reduzida,
vaginal presente secura vaginal,
encurtamento do
canal vaginal.
“Radiação”
Este achado pode ocorrer nos casos de mulheres tratadas
por meio de radioterapia para câncer do colo uterino. O
tratamento radioterápico prévio deve ser mencionado na
requisição do exame.

Conduta Clínica:
Seguir a rotina de rastreamento citológico.
Achados microbiológicos
- Lactobacillus sp.
São considerados achados normais. Fazem
parte da flora vaginal e não caracterizam

- Cocos.
infecções que necessitem de tratamento. Na
ausência de sinais e sintomas, sua presença
- Outros bacilos. não caracteriza infecção.

Conduta Clínica:
Seguir a rotina de rastreamento citológico. A paciente com sintomatologia, como
corrimento, prurido ou odor genital, deve ser encaminhada para avaliação
ginecológica.
Mas...
Bacilos supracitoplasmáticos
(Gardnerella /Mobiluncus);
Candida sp;
Trichomonas vaginalis;
Sugestivo de Chlamydia sp;
Efeito citopático compatível com vírus do grupo
herpes;

Conduta Clínica:
Seguir tratamento de acordo com cada IST citada.
Alterações pré-malignas ou malignas
no exame citopatológico/exame
citopatológico anormal
Atipias de significado
indeterminado em células
escamosas
Atipias possivelmente não Atipias onde não se pode
neoplásicas (ASC-US de afastar lesão de alto grau
Bethesda) (ASC-H de Bethesda)

Pode-se dizer que as atipias de significado indeterminado


não representam uma entidade biológica, mas sim uma
mistura de diagnósticos diferenciais e dificuldades
diagnósticas, não sendo consideradas anormalidades e sim
ambiguidades citopatológicas
Atipias possivelmente não
neoplásicas (ASC-US de Bethesda)

Cerca de 5% a 17% das mulheres com esta atipia apresentam


diagnóstico de neoplasia intra-epitelial II e III e 0,1% a 0,2% de
carcinoma invasor no exame histopatológico, demonstrando
assim baixo risco de lesões mais avançadas;

Conduta Clínica:
Mulheres com 30 anos ou mais: repetir o exame citopatológico em um intervalo
de 6 meses, precedida, quando necessário, do tratamento de processos
infecciosos e de melhora do trofismo genital, com preparo estrogênico após a
menopausa, na Unidade da Atenção Primária.
Para as mulheres com idade inferior a 30 anos: repetir o exame no intervalo de
12 meses
Atipias onde não se pode afastar
lesão de alto grau (ASC-H de
Bethesda)

O risco dessa lesão ser de alto grau (NIC II e NIC III) é alto (24% a
94%);
Caso a colposcopia mostre lesão, uma biopsia deve ser realizada;
Duas citologias consecutivas negativas permitem que a paciente seja
reencaminhada à Unidade da Atenção Básica para a rotina de
rastreamento citológico

Conduta Clínica:
Todas as pacientes com esse laudo na Unidade da Atenção Básica devem ser
encaminhadas à Unidade de Referência de Média Complexidade para colposcopia
imediata.
Atipias de significado
indeterminado em células glandulares
(ACG)
Adenocarcinoma in situ Adenocarcinoma invasor

A conduta preconizada é encaminhar a paciente à


Unidade de Referência de Média Complexidade para a
colposcopia imediata.
Lesão Escamosa Intraepitelial de Baixo
Grau (LSIL)
A interpretação citológica de lesão intra-epitelial de baixo grau é mais
reprodutível do que a de células escamosas atípicas de significado
indeterminado possivelmente não-neoplásica.
Conduta Clínica:
A conduta preconizada é a repetição do exame citopatológico em 6 meses na
Unidade de Atenção Básica, já que os estudos demonstram que na maioria das
pacientes portadoras de lesão de baixo grau há regressão espontânea.
Lesão Escamosa Intraepitelial de
Alto Grau (HSIL)
Cerca de 70% a 75% das pacientes com laudo citológico de lesão
escamosa intra-epitelial de alto grau apresentam confirmação diagnóstica
histopatológica e 1% a 2% terão diagnóstico de carcinoma invasor.
Conduta Clínica:
Encaminhar para a colposcopia e, se o exame confirmar, a conduta recomendada
é a exérese ampla da zona de transformação do colo do útero, por Cirurgia de Alta
Freqüência (CAF). Procedimento “Ver e Tratar” já que todo o procedimento é
realizado em uma única consulta.
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de
Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Nomenclatura brasileira para laudos
cervicais e condutas preconizadas: recomendações para profi ssionais de saúde. 2.
ed. – Rio de Janeiro: INCA, 2006.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama / Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília :
Editora do Ministério da Saúde, 2013.

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