Você está na página 1de 17

Monitoramento e avaliação de políticas públicas

Uma breve introdução


O tema do monitoramento e avaliação de políticas públicas é amplo,
constituindo um campo bastante explorado pelos especialistas dessa
área, com vasta produção bibliográfica sobre os conceitos de
monitoramento e avaliação, tipos, processos, técnicas e indicadores.
Entretanto, as ferramentas e monitoramento e avaliação é são pouco
utilizadas no âmbito mesmo das políticas públicas, em sua
implementação e gestão, especialmente nos países em
desenvolvimento, como o Brasil.

Para começar, é importante situar o que é uma política pública.


Existem muitas definições sobre o conceito, mas no geral todas
apontam para o mesmo conjunto de questões: trata-se de um

sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas a
manter ou modificar a realidade de um ou vários setores da vida social, por meio da definição de
objetivos e estratégias de atuação e da alocação dos recursos necessários para atingir os objetivos
estabelecidos (SARAIVA, 2006, p. 29).

Toda política pública tem um ciclo de vida, que começa com a


entrada de um problema ou questão na agenda pública, a formulação
de proposições para enfrentá-lo, a implementação das ações
desenhadas e a avaliação final dos resultados. Uma das possíveis
representações do ciclo pode ser a ilustrada na figura abaixo:

O Ciclo de Políticas e Programas Públicos

Fonte: Januzzi et al (2009)


Em todo esse processo tem-se a presença do enfoque avaliativo, que
contempla tanto o monitoramento quanto a avaliação. Essa presença
do enfoque avaliativo em todo o ciclo da política dá origem aos
distintos tipos de avaliação, como será visto adiante neste texto e
também na videoaula do curso.

As políticas públicas são operacionalizadas em programas, que, por


sua vez, se desmembra em projetos. Política refere-se ao nível dos
grandes objetivos e eixos estratégicos de atuação, expressando os
compromissos em longo prazo em uma determinada área ou setor
social. Uma política é composta de vários programas. Programas
referem-se ao conjunto mais ou menos harmônico de ações e
projetos, configurando-se como instrumento mais básico de
implantação de uma política pública. Projetos consistem na tradução
operacional dos programas, colocando em prática as políticas e os
programas na forma de unidades de intervenção concretas. Explicitam
problemas, finalidades, objetivos, metas, prazos, meios, forma e área
de atuação, e referem-se a ações mais especificas dentro de um
programa.

Na figura a seguir, explicitamos a relação entre Políticas, Programas e


Projetos:

Um projeto social deve ser entendido como o nível mais específico de


ações articuladas dirigidas ao social. Tem sempre por objetivo
produzir alterações nas condições de vida de indivíduos, grupos,
famílias e regiões, buscando satisfazer necessidades insatisfeitas,
construir capacidades, modificar condições de vida ou promover
alterações nos comportamentos e atitudes de grupos sociais
(NOGUEIRA, 1998). Os projetos são as traduções de intenções, ideias
e concepções políticas em ações com consequências diretas sobre a
realidade.

Ao se identificar a mudança que se deseja alcançar com uma


intervenção social é apontado o valor social que se busca criar com o
projeto e os benefícios que ele se propõe a gerar para a sociedade. O
foco nas mudanças que se pretende alcançar é o coração da ação
estratégica dos projetos e podem impedir que ele considere as ações
e atividades desenvolvidas como um fim em si mesmas.

Não é fácil atuar no campo social. Os problemas com os quais os


projetos sociais lidam são multifacetados, tem causas múltiplas, que
interagem e se reforçam mutuamente. São problemas permeados por
dimensões subjetivas, por matrizes sociais, culturais, econômicas,
políticas, históricas e institucionais próprias e específicas, o que
confere um grau de complexidade e incerteza bastante elevado no
campo das ações sociais.

Por isso também é tão importante conhecer o problema, destrinchá-


lo, construí-lo, de certa forma. Isso significa estruturá-lo em uma
cadeia de causas e efeitos, para uma visão mais abrangente do
problema e para identificar onde o projeto pretende atuar, nesse
grande emaranhado de problemas entrelaçados. É isso que a
Metodologia do Marco Lógico, na fase do desenho ou formulação de
um programa ou projeto, permite: estruturar um problema em suas
relações e causa e efeito e identificar, a partir daí, os meios para o
alcance dos resultados ou dos fins pretendidos.

MATERIAL COMPLEMENTAR 1
Texto de Maria das Graças Rua

Se, de um lado, existe um conhecimento limitado do problema


devido à multicausalidade e à complexidade intrínseca dos
problemas sociais, têm-se ainda um conhecimento precário das
alternativas de intervenção. O que fazer para enfrentar o problema?
Sem um conhecimento adequado do problema, têm-se chances
menos seguras para identificar alternativas de enfrentamento.

Isso nos leva a uma importante constatação: todo projeto social, todo
programa ou mesmo toda política pública tem um modelo causal,
uma teoria, geralmente implícita, sobre o problema e sua solução.
Todo projeto tem em si uma hipótese ou conjunto de hipóteses
vinculadas que orientam a intervenção. Uma certa concepção sobre
um problema, suas causas e conseqüências, justificam a escolha de
determinadas estratégias de ação.
Por exemplo, no caso dos idosos. Qual o problema que justifica a existência de
um projeto ou programa ou política pública dirigida a esse público? Supondo
que se queira desenvolver um programa para redução da vulnerabilidade da
pessoa idosa, o que se entende por vulnerabilidade? Quais as dimensões da
vulnerabilidade? Quais as causas dessas vulnerabilidades? E o que se pode
fazer para superá-las ou amenizar seus efeitos em determinada população?

Consideremos a seguinte situação:

A Comunidade dos Cedros, a mais antiga do Município de Jabutinópolis, “onde


essa terrinha aqui começou”, segundo dizem eles próprios tem 300 famílias, das
quais, cerca de 75% têm idosos. A comunidade está localizada a quase 50km da
Sede do Município e o deslocamento é precário (as vias não são completamente
pavimentadas, apesar do Governo Municipal ter iniciado obras no local há dois
anos, que foram interrompidas por restrições orçamentárias). Além disso, as
possibilidades de inserção produtiva e profissional são praticamente
inexistentes na região, apenas meia dúzia de famílias desenvolvem práticas de
agricultura familiar. Esses dois problemas (o acesso precário à sede do
município e as falta de oportunidades profissionais) tem como consequência o
grande número de idosos sem situação de negligência, uma vez que os
membros das famílias em idade ativa passam a semana fora do Distrito para
trabalhar deixando os idosos sozinhos nas residências. As equipes de
Assistência Social que acompanham essas famílias relataram em uma reunião
do Conselho Municipal do Idoso, os seguintes casos de negligência:

 Idosos em situação de subnutrição, pois alguns não conseguem sequer


esquentar a comida deixada pela família e acabam se alimentando mal ou
em comendo);
 Idosos que se encontram em péssimas condições de higiene, principalmente
aqueles com limitações motoras;
 Idosos maltratados por adolescentes, já que eles permanecem sem os pais
nas residências durante a semana, porque estudam na única escola
municipal do distrito.
 Idosos em situação de abandono completo pela família, membros de
famílias cujos responsáveis passam de 4 a 6 meses fora para o trabalho
sazonal do corte de cana.

Todas essas situações foram levadas pelos conselheiros ao Prefeito da Cidade e


aos secretários municipais de saúde, educação e assistência social. A decisão
tomada pelos governantes foi propor um programa para redução da
vulnerabilidade da pessoa idosa no distrito.

O enfoque avaliativo pode auxiliar na proposição desse projeto. Mas desde já,
é importante observar o seguinte: a vulnerabilidade social vivencidada por
esses idosos, conforme descirto na situação acima, enquadra a percepção do
problema a ser enfrentado e, como consequência, enquadra tambem as
possiveis linhas de intervenção nesse problema, isto é, a solução dele.
Voltemos a discussão sobre o modelo causal dos projetos.
Geralmente, os critérios de escolha e os pressupostos “teóricos” não
são explicitados, o que fragiliza o planejamento das ações e
compromete os resultados: se não se tem clareza suficiente do
problema, de suas causas e conseqüências, ou dos meios a serem
viabilizados para sua superação, os projetos encontram-se em uma
situação de grande incerteza e risco, comprometendo a eficácia nos
resultados e a eficiência no uso dos recursos, e, no final das contas,
não contribuindo para reverter a situação que deu origem ao projeto.

O monitoramento e a avaliação são dimensões fundamentais nas


políticas públicas e em seus programas e projetos porque permitem
verificar se existe uma coerência entre as ações propostas pelo
projeto e os objetivos que ele se propõe alcançar; se as ações estão
sendo desenvolvidas conforme o planejado, atendendo ao público
destinatário previsto, da forma esperada; e se os objetivos
pretendidos estão sendo alcançados e se, ao final, estes produziram
mudanças nas condições de vida do público atendido pela
intervenção.

Monitorar e avaliar são, portanto, práticas centrais quando se busca o compromisso com a
eficiência dos gastos públicos e com a efetividade das ações desenvolvidas.

No enfoque da gestão por resultados, as iniciativas são julgadas em


função da mudança que inserem no modo e nas condições de vida
das pessoas, e nesse caso as informações geradas pelo
monitoramento e avaliação são aliadas importantes do processo
de gestão. Sem esse enfoque, a gestão fica centrada nos meios, nos
processos e nas atividades, deixando de lado ou em segundo plano
os resultados pretendidos, o valor público a ser criado.

Portanto, esse tema (do M&A) é estratégico para o exercício do


controle e accountability sobre a ação governamental, para identificar
se a ação governamental tem sido capaz de alterar, de forma
substantiva, os problemas e necessidades da população. O enfoque
avaliativo coaduna-se, intrinsecamente, com as questões de
accountability, ou controle público da ação governamental e da
participação qualificada de diferentes atores envolvidos na gestão
social, com a democratização e com um maior compromisso com a
efetividade da ação pública.
1 - E o monitoramento e avaliação no ciclo de vida de um projeto ou programa?

1.1 - O ponto de partida: o problema e o diagnóstico

Uma etapa fundamental na formulação de um projeto e da qual


dependerá, em grande parte, seu sucesso, é a identificação de um
problema e, consequentemente, do valor social que se espera criar
com a intervenção. É a partir do problema e da análise de suas causas
que se projeta sua solução. Um problema, ponto de partida para o
desenho de um projeto, não existe independente da construção que
se faz sobre ele. Não é algo externo, objetivo, algo em si. Somente
existe como problema na medida em que sua existência implica uma
tensão, gera um incômodo. Quer dizer, ao se definir um problema,
não estamos simplesmente “vendo” algo externo, mas construímos
um problema a partir da seleção de determinados elementos
valorativos e cognitivos. Isso significa que selecionamos aspectos da
realidade que passam a se constituir como um problema que exija
intervenção. E é a partir da compreensão e interpretação do problema
que são apontadas as alternativas para seu enfrentamento.

Para conhecer um problema é necessária a elaboração de um


diagnóstico, o que implica a coleta e análise de dados e informações,
de natureza quantitativa e qualitativa. Para construir um bom
diagnóstico, é necessário revisar a bibliografia sobre o tema, consultar
documentos, buscar e analisar dados secundários e agregados,
realizar entrevistas com os agentes envolvidos, visitas a campo e
consultar fontes diversas.

É importante identificar os atores envolvidos no problema, os


indivíduos, os grupos e as instituições que têm algo a ganhar ou a
perder com o projeto, ou que atuam no mesmo contexto do projeto e
podem ser afetados, positiva ou negativamente, pelo mesmo. Mapear
tais atores significa identificar os riscos e conflitos, potenciais ou
presentes, que interferem no êxito de uma intervenção, na
perspectiva de estabelecer consensos e pactos que viabilizem sua
eficácia.

Outra ferramenta para o diagnóstico é a árvore de problemas, cuja


construção consiste em identificar o problema central e estabelecer as
relações de causalidade envolvidas. Trata-se, em síntese, de
estabelecer as causas e consequências de determinado problema,
colocando as causas como raízes, o problema como tronco e as
folhas como consequências do problema. Elaborada idealmente com
a participação dos diferentes atores envolvidos, essa ferramenta
permite a estruturação de um problema de maneira interativa,
possibilitando “desempacotá-lo”, percebê-lo por dentro, explicitar a
lógica causal que lhe é subjacente.
Vídeo Marco lógico e árvore de problemas (a partir do minuto 4:30)

Autoria Fundação João Pinheiro

Duração 07min07seg

Acesso https://youtu.be/nhxtuRIGRaM

O diagnóstico, em suas dimensões descritiva e explicativa, define a


linha de base, o ponto de partida da intervenção, ao fornecer um
retrato da realidade que permite identificar, com objetividade e da
forma mais completa possível, o problema central a ser enfrentado. A
dimensão descritiva permite uma fotografia da realidade, ao focar na
descrição do problema, ao olhar e dimensionar suas manifestações
mais evidentes. A dimensão explicativa vai um pouco além e se
parece mais com raios X do que com uma fotografia: não basta ver a
realidade com mais objetividade apenas, mas trata-se de buscar
explicações sobre as causas e consequências do problema, conhecê-
lo por dentro.
Para fazer um diagnóstico sobre a situação do idoso em condição de
vulnerabilidade, é preciso:

 definir a concepção e as dimensões da vulnerabilidade a que este público


pode estar sujeito (econômica? física? saúde? relacional? social?);
 buscar indicadores que expressem ou evidenciem essas vulnerabilidades;
 buscar conhecer os atores envolvidos com a ocorrência das situações de
vulnerabilidade, identificando aqueles que podem contribuir com a
superação dessas situações para contar com o apoio delas;
 buscar conhecer as causas e as consequências das vulnerabilidades;
Por exemplo, no caso dos idosos da Comunidade dos Cedros relatado no box
acima de uma política pública. O diagnóstico evidencia a situação de
vulnerabilidade relacional e de saúde da população idosa do local. Há casos de
abandono, violência física, fome e más condições de higiene. Indicadores sobre
as causas de morte da população idosa do município e registros de
atendimentos das equipes de agentes de sáude e técnicos dos serviços
socioassistenciais podem ser utilizados para expressar essas vulnerabilidades. O
Conselho da Pessoa Idosa, em conjunto com o de Saúde e o de Assistência
Social podem estudar quem são os atores envolvidos na ocorrência do
problema, bem como tentar construir a árvore de causas e efeitos para auxiliar
a compreensão sobre as situações vivenciadas pelos idosos. De posse desse
modelo lógico de diagnóstico, é possivel elaborar uma proposta de intervenção.

1.2 - Do problema às alternativas de solução

Uma vez identificado o problema e realizada a análise de suas causas


e efeitos, a etapa seguinte consiste em definir os objetivos da
intervenção. A corrente de problemas, causas e efeitos da árvore de
problemas se transforma em corrente de meios e fins na árvore de
objetivos, com a afirmação propositiva do que se quer com o projeto.
Trata-se, em suma, de transformar as condições negativas da árvore
de problema em condições positivas que são desejáveis e factíveis.
Nesse diagrama, o tronco representa o objetivo específico, as raízes
são os meios por meio dos quais se intervirá nas causas do problema
e os galhos e folhas são fins positivos que deverão ser provocados
com a execução do projeto. Ao se identificar os meios, estarão sendo
delimitadas as possíveis alternativas de intervenção.
Vídeo Marco lógico e árvore de objetivos

Autoria Fundação João Pinheiro

Duração 06min08seg

Acesso https://youtu.be/vz3AEl_l8Ds

O estabelecimento dos objetivos e dos meios para alcançá-los,


com base na construção anterior das causas e consequências do
problema, constitui, ainda que implicitamente, um marco conceitual,
uma certa concepção de como “as coisas funcionam” ou do que é
necessário fazer para solucionar um problema. O marco conceitual se
expressa como um conjunto de hipóteses vinculadas que sustenta a
intervenção e justifica as estratégias e as escolhas feitas.

Muita atenção deve ser dada à definição dos objetivos do projeto.


Esse objetivo consiste no propósito ou razão de ser do projeto e
expressa o efeito esperado da intervenção, depois de sua execução. O
projeto será avaliado pelo alcance desse objetivo. Para atuar como
um farol para a ação, ele deve ser plenamente alcançado pelo
conjunto de ações previstas no projeto e ser preciso, mensurável,
realista e possível de ser alcançado nos limites do projeto. Esse
objetivo principal deve contribuir para o alcance de um objetivo geral,
de maior alcance, também chamado de impacto.

Ao se definir o propósito do projeto, os efeitos que busca produzir


no público alvo – e os meios pelos quais se busca alcançá-lo, tem-se
o desenho da estratégia do projeto. Definido seu desenho, especifica-
se o que ele vai entregar de bens e serviços, as metas, as formas de
atuação.

Um aspecto central no processo de elaboração de uma intervenção


social consiste ainda em definir quem são os indivíduos, os grupos,
as famílias ou as regiões que serão alvo da ação do projeto. Quando
se busca identificar e extrair, do conjunto de população ou do
conjunto dos territórios, aqueles que serão alvo de uma intervenção,
tem-se um processo de focalização.

Os critérios de focalização podem ser diversos: geográficos ou


territoriais, socioeconômico (renda familiar ou individual), etário
(grupo de idade), institucional (indivíduos ou famílias que frequentam
determinada instituição), e por carências específicas (desnutridos ou
portadores de uma doença específica, por exemplo).

Ao definir a população objetivo, será definida também a cobertura do


projeto, ou seja, qual proporção da população afetada pelo problema
será atendida pelo projeto. É extremamente importante definir com
precisão os beneficiários do projeto, para evitar o perigo de incluir
quem não precisa e excluir quem precisa. Além desses erros de
inclusão e exclusão indevida, a escolha de determinados critérios de
focalização pode condicionar o êxito ou o fracasso de um programa
ou projeto.

Por exemplo, no caso do programa para os idosos da Comunidade dos Cedros.


Foi identificada grande incidência de idosos em isolamento social, conforme
descrito no Box 1. Qual poderia ser o objetivo principal do projeto ou programa
para resolver esse problema?

 Reduzir a vulnerabilidade relacional da população idosa da Comunidade dos


Cedros.
 Os componentes ou produtos para se atingir esse objetivo poderiam ser:
 Visitas domicilares às famílias dos idodos para mobilização para participação
no projeto;
 Atendimento socioassistencial às famílias com foco nas questões específicas
de cada núcleo familiar;
 Grupos de idosos criados e em funcionamento para desenvovlimento de
atividades de socialização, lazer e fortalecimento de vínculos.
Se o município já desenvolver o Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos (SCFV) da Proteção Social Básica da Política de Assistência social, pode-
se, como alternativa, desenvolver estratégias deinclusão a efetiva participação
dos idosos nas atividadesno serviço.

Para cada objetivo e componente devem ser especificadas as metas a serem


alcançadas, tais como: redução em X pontos percentuais a morbidade da
população idosa por causas relativas à isolamento social; redução em X% das
denúncias das situações de negligência e isolamento social do Conselho
Municipal da Pessoa Idosa; numero de idosos participantes dos grupos
comunitários; número de famílias atendidas pro mês; numero de visistas
domicilares por mês etc.
Com a definição da estratégia do projeto, isto é, com a definição de
que caminhos seguir ou de quais alternativas selecionar, fica ainda
mais evidente a hipótese causal que sustenta a intervenção. O
resultado esperado, o efeito ou o propósito do projeto é sempre,
como vimos, uma hipótese, uma aposta. Existe uma suposição de que
realizando determinadas atividades serão gerados determinados
produtos ou resultados e de que, por meio da produção e do uso
desses, serão alcançados os efeitos pretendidos. A lógica de um
projeto consiste, portanto, em uma série de hipóteses vinculadas: se
realizarmos as atividades previstas, produziremos componentes; se
forem produzidos os componentes, então se alcança o propósito, e
este, uma vez atingido, contribui para o fim.

O fato é que quando se fala de objetivos deve-se ter claro que isso
constitui uma declaração de intenção, uma alteração desejada, um
cenário futuro. O que está, de fato, sob a governabilidade ou sob a
responsabilidade direta da gerência dos gerentes e técnicos de linha
é a produção dos componentes que o projeto entrega, a partir da
mobilização de atividades e insumos diversos. Frequentemente, a
literatura utiliza o termo resultados (outputs) ou produtos, para
identificar tais bens e serviços (PFEIFFER, 2000). De toda forma, tais
resultados referem-se ao que deve ser produzido ou ofertado, como
obras, serviços, estudos e capacitação, que são produzidos pelo
executor com orçamento previsto. Cada um dos componentes deve
ser necessário (senão estariam sendo desperdiçados recursos) e todos
juntos devem ser suficientes para alcançar o propósito (senão a
estratégia não é efetiva para equacionar o problema).

Se todos os componentes são produzidos de maneira adequada, se


alcançará o propósito. Essa é a hipótese básica. Uma vez definidos os
produtos ou componentes, é necessário especificar as atividades e os
processos que deverão ser concretizados para que os produtos sejam
entregues e para que os objetivos sejam atingidos. As atividades
(activities) expressam as tarefas que devem ser realizadas para
concretizar os componentes ou produtos. A identificação das
atividades e dos processos constitui o ponto de partida para a
preparação do plano de execução (plano operacional ou calendário
do projeto). Para a realização das atividades, são requeridos insumos
(inputs), entendidos como recursos de natureza diversa (financeiros,
físicos, humanos, parcerias, conhecimento) necessários à sua
consecução.

Um ponto importante a salientar é que a realização de tais atividades


e dos componentes é perfeitamente gerenciável pela equipe gestora
do projeto. Esta deve e pode garantir que as atividades sejam
realizadas para produzir cada componente, no tempo estabelecido e
da forma adequada. Existe assim um nível gerenciável (de insumos a
atividades e produtos) e um nível não totalmente gerenciável (de
produtos a objetivos principal e geral).

Quando se focaliza a questão do ponto de vista da avaliação, tal


distinção entre os níveis de controle e responsabilidade do gestor
permite reconhecer o êxito de um projeto em pelo menos duas
dimensões: uma que enfoca o processo do projeto, e nesse caso a
preocupação é com a eficiência no alcance de metas e com os
aspectos da implementação, e outra que focaliza os resultados,
mensurando a efetividade da intervenção. A figura a seguir ilustra a
relação entre a hierarquia de objetivos do projeto, os níveis de
governabilidade de cada elemento da cadeia lógica, e os tipos
distintos de avaliação de projetos.

Hierarquia de objetivos
Interno ao âmbito Externo ao âmbito
da gerência da gerência

Insumos Atividades Produtos Efeitos Impacto

HIPÓTESE
Objetivo Objetivo
específico geral
ou
central
Avaliação de
processos

Problema

Monitoramento Avaliação de
resultados

O processo de formular projetos, observando a hierarquia de


objetivos e a lógica causal da intervenção, articula-se diretamente
com a avaliação, entendida como a forma de se verificar se as
suposições estavam corretas, se o que foi previsto foi de fato
implementado, na forma, no prazo e no custo adequado, se o público
foi atingido, se os efeitos foram alcançados e se foram produzidos
impactos, dentre uma infinidade de questões relativas ao processo de
implementação e aos resultados da intervenção.

Esses resultados podem ser de diferentes tipos e aqui é importante


esclarecer a que se referem os termos eficácia, efetividade e impacto?
Não existe um consenso absoluto na literatura sobre o que se quer
dizer com esses termos. Algumas vezes, define-se eficácia como o
alcance de metas de produtos; e efetividade com o alcance do
objetivo do projeto (COHEN, 1993). Outras definições entendem que
eficácia tem a ver com alcance de objetivos, e nesse caso seu sentido
é o mesmo de efetividade, sendo que esses termos passam a ser
equivalentes (MOKATE, 2000; BUVINICH, 1999).

Quanto ao impacto, é útil considerá-lo de forma não ambígua como


o “resultado dos efeitos diretos do projeto mais os secundários por
ele induzidos, juntamente com os causados por eventos fora do
controle do projeto. São os resultados mais amplos relacionados com
os objetivos mais gerais daquele” (BUVINICH, 1999 P.17). Nesse
sentido, o impacto refere-se às consequências dos efeitos, referindo-
se às mudanças produzidas na população objetivo, que podem ou
não ser fruto do projeto. Consiste no resultado total final, na soma
dos efeitos diretos e indiretos. Quando se fala de avaliação de
impacto, busca-se a determinação dos efeitos líquidos de uma
intervenção social, estabelecendo a relação causal entre o programa e
os resultados. Tal perspectiva analisa os efeitos que podem ser
estritamente imputáveis ao programa, livres de elementos
contaminadores presentes na situação. Para realizar avaliações de
impacto, é necessário o apoio de métodos estatísticos mais
complexos e robustos, de tipo experimentais.

Vários resultados podem advir de uma intervenção, e eles são de


tipos muito variados: os resultados esperados foram produzidos;
produziram-se resultados inesperados (chamados de “efeitos
secundários”) que foram positivos ou negativos; os resultados podem
ser positivos no curto prazo, mas negativos no longo prazo, dentre
outras situações possíveis. Saber com exatidão e objetividade tudo o
que confluiu para a produção dos resultados é o que permite a
atribuição de causalidade entre projeto e resultados de forma mais
consistente.
Bibliografia

ADAUTO, Lúcio Cardoso, Indicadores sociais e políticas públicas:


algumas notas críticas. Revista Proposta, v.27, n.77, p.42-53, jun./ago.
1998.

AGUILAR, Maria José, ANDER-EGG, Ezequiel. Avaliação de serviços e


programas sociais. Petrópolis, Vozes, 1994.

BUVINICH, Manuel Rojas. Ferramentas para o monitoramento e


avaliação de projetos. Brasília: Unicef, 1999. (Cadernos de Políticas
Sociais, 10).

CARNEIRO, Carla Bronzo L.; LAZZAROTTI, Bruno Projetos sociais:


elaboração e gerência. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1997.
(Cadernos de Textos, n.1).

CARNEIRO, Carla Bronzo. Formulação de projetos sociais. Texto


preparado para de Extensão em planejamento e gestão de projetos
de redução da pobreza, oferecido pela AVSI – Associazione Volontari
per il Servizio Internazionale, em novembro de 2003.

CEPAL. Manual de elaboração e análise de projetos sociais. 1996.


Mimeografado.

COHEN, E. & FRANCO, R.. Avaliação de políticas sociais. Petrópolis:


Vozes, 1993.

COHEN; E. Indicadores para la evaluacion de las políticas sociales.


Revista Paranaense para o Desenvolvimento, Curitiba, n.93, p.51-60,
jan./abr. 1998.

COSTA, Bruno Lazzarotti D.; CARNEIRO, Carla Bronzo L. Reflexões e


sugestões para uma política estadual de combate à pobreza
persistente. Diagnóstico BDMG. Minas no século XXI, 2002.

FILGUEIRAS, Cristina Almeida Cunha. Manual de projetos sociais. Belo


Horizonte: Fundação João Pinheiro, Escola de Governo, 1997.
Mimeografado.

KLIKSBERG, Bernardo. “Gerência social: dilemas gerenciais e


experiências inovadoras” In. KLIKSBERG, B (Org) Pobreza: uma
questão inadiável. Brasília: ENAP, 1994. p 127-146.

MOKATE, Karen Definicion de objetivos y prioridades. Marzo de 2004,


Disponível: www.iadb.org/lines. Acesso em: Acesso em: setembro de
2017.
MOKATE, Karen: Convertendo o monstro em aliado: a avaliação como
ferramenta de gerência social. 2000. Disponível: www.iadb.org/indes.
Acesso em: setembro de 2017.

NOGUEIRA, Roberto Martinez. Los proyectos sociales: de la certeza


omnipotente al comportamiento estrategico. Chile: CEPAL, 1998.
(Políticas Sociales, 24).

PFEIFFER, Peter. Quadro Lógico: um método para planejar e gerenciar


mudanças Revista do Serviço Público, v.51, n.1, p.81-124, jan./mar.
2000.

SULBRANDT, José. “A avaliação dos programas sociais: uma


perspectiva crítica dos modelos usuais” In. KLIKSBERG, B. Pobreza:
uma questão inadiável. Brasília: ENAP, 1994. p 365-408.

MOKATE, Karen. El monitoreo y la evaluación: herramientas


indispensables de la gerencia social. Washington D.C., INDES-BID,
agosto de 2000.
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Governador  Fernando Damata Pimentel
Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (SEDPAC )
Secretário  Nilmário Miranda
Subsecretária de Estado de Participação Social  Ana Amélia Penido Oliveira
Coordenadoria Especial de Políticas para o Idoso  Dilson José de Oliveira
Diretora de Políticas de Promoção em Direitos Humanos  Luisa De-Lazzari B. P. Resende

Diretoria de Políticas de Promoção em Direitos Humanos


Camila Felix Araujo
Fernanda Márcia de Lima Jales
Rosânia Mirtes de Freitas Verissimo

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO


Presidente Roberto do Nascimento Rodrigues
Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho
Diretora geral  Letícia Godinho de Souza
Diretora adjunta  Laura da Veiga

Núcleo de Educação a Distância


Ana Beatriz Mendes Bartoli
Marco Paulo Vianna Franco
Marconi Martins de Laia
Marcos Antônio Nunes
Max Melquíades da Silva

Expediente
Texto  Carla Bronzo Ladeira e Marcos Arcanjo Assis
Edição  Max Melquíades da Silva
Projeto gráfico  NEaD FJP

O conteúdo textual desta cartilha é de inteira responsabilidade de sua autora, e não reflete
necessariamente a opinião da Fundação João Pinheiro e da SEDPAC-MG.

Você também pode gostar