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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE AGRONOMIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS


SETOR DE ENGENHARIA RURAL

Prof. Adão Wagner Pêgo Evangelista

3 –CONDUÇÃO DE ÁGUA

3.1 – CONDUTOS LIVRES OU CANAIS

Denominam-se condutos livres ou canais, os condutos onde o escoamento é


caracterizado por apresentar uma superfície livre na qual reina a pressão atmosférica. Neste
contexto, os cursos d’água naturais constituem o melhor exemplo de condutos livres. Além
dos rios, funcionam como condutos livres os canais artificiais de irrigação e drenagem, os
aquedutos abertos, e de um modo geral, as canalizações onde o líquido não preenche
totalmente a seção do canal.
Os escoamentos em condutos livres diferem dos que ocorrem em condutos forçados
porque o gradiente de pressão não é relevante. Nesses condutos, os escoamentos são mais
complexos e com resolução mais sofisticada, pois as variáveis são interdependentes com
variação no tempo e espaço.
Uma importante característica da hidráulica dos canais além da superfície livre, é a
deformidade desta. Nos condutos livres, ao contrário do que ocorre nos forçados, a veia
líquido tem liberdade de se modificar para que seja mantido o equilíbrio dinâmico. Dessa
forma a a deformidade da superfície livre dá origem a fenômenos desconhecidos nos
condutos forçados, como o ressalto hidráulico, o remanso etc...

3.1.1 Forma Geométrica dos canais

Os canais são projetados usualmente em uma das quatro formas geométricas


seguintes: Retangular, trapezoidal, triangular e semi-circular, sendo a forma trapezoidal a
mais utilizada (Figura 3.1).

Figura 3.1 – Seção transversal de um canal trapezoidal.


3.1.2 Elementos característicos da seção de um canal

Área (A) – é a seção plana do canal, normal a direção geral da corrente líquída;

Seção molhada (A) - parte da seção transversal que é ocupada pelo líquido (Tabela 3.1). Os
elementos geométricos da seção molhada são:

- Profundidade (h) - altura do líquido acima do fundo do canal;

- Área molhada (Am): é a área da seção molhada;

- Perímetro molhado (P) - comprimento relativo ao contato do líquido com o conduto;

- Largura Superficial (B) - largura da superfície em contato com a atmosfera;

- Raio hidráulico (R) - relação entre a área molhada e perímetro molhado;

- Profundidade Hidráulica - relação entre a área molhada e a largura superficial.

Tabela 3.1 – Elementos de geométricos de canais.

Obs.: 2.arccos (12.h/D) , onde deve ser calculado em radianos.


3.1.3 Borda Livre do canal

Em canais abertos e fechados, deve-se prever uma folga de 20 a 30% de sua altura,
acima do nível d’água máximo do projeto (Figura 3.2). Este acréscimo representa uma
margem de segurança contra possíveis elevações do nível dá água acima do calculado, o que
poderia causar trasbordamento.

Figura 3.2 – Borda livre em canais.

3.1.4 - Declividade recomendas para taludes de Canais

Para obter estabilidade das paredes laterais dos canais não-revestidos, a declividade
dos taludes deve ser determinada em função da estabilidade do material com o qual se
construirá o canal. Na Tabela 3.2 estão relacionadas as declividades de taludes mais usuais
para canais não revestidos, de diversos materiais.

Tabela 3.2 - Inclinação de taludes para canais não revestidos (valores de m):

3.1.4 Velocidade da água nos canais

Nos canais o atrito entre a superfície livre e o ar e a resistência oferecida pelas


paredes e pelo fundo originam diferenças de velocidades, tendo um valor mínimo, junto ao
fundo do canal, e máximo, próximo à superfície livre da água, conforme Figura 3.3. Devido
essa variação da velocidade com a profundidade, trabalha-se com a velocidade média.
Figura 3.3 – Distribuição da velocidade da água em um canal

Na Tabela 2.3 encontram-se os valores máximos recomendáveis da velocidade nos


canais, os quais foram determinados em funçao da erodibilidade do canal. Entretanto, outro
problema é a sedimentação nos canais. Nesse caso, são recomendados os seguintes valores
mínimos para velocidade nos canais (Tabela 2.3)

Tabela 3.2 – Valores máximos recomendáveis para velocidade média no canal.

Tabela 3.3 – Valores mínimos recomendáveis para velocidade média no canal.

Material Velocidades (m/s)


Água com suspensão fina 0,3 m/s
Água com areia fina 0,45 m/s
Água de esgoto 0,60 m/s
Água pluvial 0,75 m/s

a) Declividade de canais:
3.1.5 Movimento Uniforme nos canais

Em condições normais, ocorre nos canais um movimento uniforme, ou seja, a


velocidade média da água é constante ao longo do canal.
No caso da equação da continuidade:

Onde:
Q = Vazão ( m3/s );
A = Área da seção molhada (m2);
V = Velocidade de escoamento ( m/s );

A área é determinada geometricamente e a velocidade pode ser medida no local ou,


na maioria dos casos, determinada através de equações. Há varias equações para o calculo
da velocidade média da água em um canal, porém as mais usadas são as de Chezy, Strickler
e Manning.
As equações de Strickler e Manning podem ser escritas da seguinte forma:

Onde:
K = Coeficiente de rugosidade de Strickler;
R = Raio hidráulico ( m ) R = A / P ( P = Perímetro molhado );
J = Declividade do fundo ( m/m ); e
n = Coeficiente de rugosidade de Manning.

Coeficiente de Rugosidade de Strikler ( K )


3.1.5.1 DIMENSIONAMENTO DE CONDUTOS LIVRES (Canais)

a) Equação da Resistência

b) Equação da Continuidade

Onde:
Q = Vazão ( m3/s );
A = Área da seção molhada (m2);
K = Coeficiente de rugosidade de Strickler;
n = Coeficiente de rugosidade de Manning;
V = Velocidade de escoamento ( m/s );
R = Raio hidráulico ( m ) R = A / P ( P = Perímetro molhado );
J = Declividade do fundo ( m/m ).

Existem basicamente dois casos distintos para resolução de problemas


envolvendo condutos livres:

CASO I :

Dados: K, A, R , J => Deseja-se conhecer: Q ou V


Dados: K, A, R , Q => Deseja-se conhecer: J

Neste caso, combinado a equação da continuidade com a de a Strickler ou


com a equação de Manning a solução é encontrada com a aplicação direta da
equação:

Q=VA



CASO II :

Dados: Q, K, J => Deseja-se conhecer: a seção do canal ( A, R )

Neste caso, existem três maneiras de se solucionar o problema:



MÉTODO DA TENTATIVA (será utilizado em Hidráulica);

Algebricamente;
Graficamente.

MÉTODO DA TENTATIVA:

Existem diversas combinações de GEOMETRIA que satisfazem os dados


fornecidos.

SOLUÇÃO: Fixar b ou h.
EXERCÍCIO RESOLVIDO ( CANAIS)

1 - Um projeto de irrigação requer 1.500 litros/s de água, que deverá ser conduzida por
um canal de concreto, com bom acabamento (K = 80). A declividade do canal deverá ser
de 1 %0 e sua seção trapezoidal com talude de 1 : 0,5 ( V : H ). Qual deve ser a altura útil
do canal, se sua base for de 60 cm.

Dados:

Canal de seção trapezoidal


Q = 1.500 litros / s = 1,5 m3 / s
K = 80 ( coef. de rugosidade de
STRICKLER )
J = 1 %o = 0,1 % = 0,001 m/m
m = 0,5 ( talude da parede do canal )
b = 60 cm = 0,6 metros.
h=?

Q = A.V ( Eq. Continuidade) V = K.R2/3.J1/2 (Eq. de Strickler)

Portanto: Q = A.K.R2/3.J1/2

Solução: Resolvendo pelo Método da Tentativa, devemos encontrar um valor de h que


satisfaça a condição de: A.R2/3 0,593. Para isto, montamos a seguinte tabela auxiliar:
EXERCÍCIOS PROPOSTOS ( CANAIS)

1) - Calcular a Vazão transportada por um canal revestido de nata de cimento (n =


0,012 ou K = 83) tendo uma declividade de 0,3%o . As dimensões e forma estão na figura
abaixo.
Verificar o valor da velocidade média de escoamento.

2)- Calcular a vazão transportada por um canal de terra dragada (n = 0,025), tendo
declividade de 0,4%o . As dimensões e formas estão na figura abaixo.

3)- Calcular a vazão transportada por um tubo de seção circular, diâmetro de 500 mm,
construido em concreto ( n = 0,013 ). O tubo está trabalhando à meia seção, em uma
declividade é de 0,7%.

4)- Um BUEIRO CIRCULAR de concreto (n = 0,015) deverá conduzir uma vazão máxima
prevista de 2,36 m3/s com declive de 0,02 %. Determine o DIÂMETRO do bueiro de
forma que a ALTURA da seção de escoamento atinja no máximo 90 % do diâmetro do
bueiro (h=0,9D).
3.1.6 Energia específica

A energia correspondente à uma seção transversal de um canal é dada pela soma de


três cargas: cinética, altimétrica e piezométrica.

Porém considerando a quantidade de energia medida à partir do fundo do canal,


obtém-se a expressão da Energia específica (E) que corresponde à soma das cargas cinética
e piezométrica:

como V = Q/A tem-se que:


2
Q
E y
2gA2
em que Q é a vazão.

3.1.6.1 Regimes de escoamento

Dado um escoamento permanente a energia específica é descrita pela equação 3.


Porém, tem-se que a área de escoamento é função da profundidade y, ou seja, A= f(y). Desta
forma, estudando a variação de energia específica, em função da profundidade, resultará num
gráfico típico.
A partir da Figura 1 verifica-se que há um valor de energia mínimo que corresponde ao
valor da energia crítica, EC e outros tramos recíprocos referentes às profundidades ys e yi, ou
seja, há dois regimes de escoamento. O escoamento com maior profundidade, ys, denomina-
se subcrítico e o escoamento com profundidade menor, yi, denomina-se supercrítico. O
escoamento que corresponde à profundidade única, yC, é denominado crítico.
Alterando o valor da declividade do fundo do conduto livre (i), obtém-se um dos regimes de
escoamento ( i = ic => crítico regime; i < ic => subcrítico; i > ic => regime supercrítico.

3.1.6.2 Número de Froude

A caracterização dos regimes de escoamento quanto a energia á efetuada através de


um número adimensional denominado Número de Froude (Fr). Esse número é estimado pela
seguinte equação:

V
Fr 
gyh

em que V é a velocidade do escoamento.

Assim, quando Fr < 1, tem-se o regime Subcrítico; para Fr > 1, tem-se o regime Supercrítico
e, finalmente, Fr = 1 implica no regime crítico de escoamento.

3.1.6.3 Ocorrência do escoamento crítico

A condição crítica de escoamento corresponde ao limite entre os regimes subcritico e


supercritico. Assim, quando ocorre a mudança do regime de escoamento, a profundidade
deve passar pelo valor crítico.
As situações práticas em que são observadas essas mudanças de regime são
diversas, podendo-se citar as seguintes: a) passagem de uma declividade subcrítica para
uma declividade supercrítica; b) queda livre, a partir de uma declividade subcritica a
montante; e c) escoamento junto à crista de vertedores.
A condição de profundidade crítica implica em uma relação unívoca entre os níveis
energéticos, a profundidade, a velocidade e a vazão, criando assim uma "seção de controle
critica", onde a vazão pode ser obtida através da medida da velocidade.

3.1.6.4 Transição em canais

Uma importante aplicação dos conceitos de energia em escoamentos livres diz


respeito às transições. Muitas vezes, o canal precisará passar sob uma estrada ou será
suspenso em algum trecho, outras vezes, o mesmo sofrerá redução ou alargamento de sua
seção, podendo causar variação na profundidade do escoamento. Para estas situações,
baseados no estudo de energia específica, são necessárias dimensionar e construir
estruturas hidráulicas no canal, afim de causar o mínimo de perda de carga e não modificar
as condições de escoamento à sua montante, evitando assim, o trasbordamento ou
represamentos de água no canal.

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