Você está na página 1de 15

Julia Kristeva – “Poderes do Horror:

Ensaio sobre a Abjeção”

Cristiano Passos
Eduavison Cardoso
Luciane Bradbury
Julia Kristeva – “Poderes do Horror:
Ensaio sobre a Abjeção”
Nascida em 24 de junho de 1941, na Bulgária,
Kristeva se naturalizou francesa na década de
1960. Seu trabalho como pensadora abrange a
teoria e a crítica literária, bem como a
psicanálise, semiótica, linguística e análise do
discurso, além de ter uma forte atuação política.
É feminista e também herdeira do estruturalismo
e, junto com Barthes, Foucault, Derrida,
Deleuze, entre outros, é um dos principais
nomes do pós-estruturalismo. Entre suas obras
mais conhecidas, estão "Introdução à
semanálise", "História da linguagem", "Gênio
feminino", "Revolução da linguagem poética" e
"Poderes do horror: Ensaios sobre a abjeção".
Abjeto – etimologia e definição

Abjeto - do latim abiectus, particípio perfeito passivo do verbo abicio,


junção de ab (para longe, distante, para baixo) e iacio (jogar, lançar,
arremessar): "jogar, lançar, arremessar, ejetar, expelir, expulsar para
longe", "deixar de lado", "abandonar", "colocar para baixo", "afastar",
"retirar", "derrubar", "cuspir".

Abjeção: "emaranhado feito de afetos e de pensamentos" - une, ao


mesmo tempo, sentimento e sensação, corpo e mente, atração e
repulsa. Opõe-se ao "eu", mas não como o OBJETO, que se
contrapõe a mim e me define, me dá sentido. O ABJETO é
radicalmente um excluído e me lança lá onde o sentido desmorona".
Sensação arcaica de algo que um dia me foi familiar, mas que hoje se
apresenta como repugnante.
"Há, na abjeção, uma dessas
violentas e obscuras revoltas do ser
contra aquilo que o ameaça e lhe
parece vir de um fora ou um dentro
exorbitante". (p. 1)
José Gil: "Qualquer coisa em nós, no
mais íntimo de nós - no nosso
corpo, na nossa alma, no nosso ser
- nos ameaça de dissolução e caos
(...) A fronteira para além da qual se
desintegra a nossa identidade
humana está traçada dentro de nós,
e não sabemos onde." (p. 176/177)
Literatura: "O pequeno monstro"
PUNGENT STENCH: Been Caught Buttering
(1991) - Foto de Joel-Peter Witkin.
(Caio F. Abreu)
• Inspira nojo: nojo de comida, de sujeira, de dejeto, de
lixo. Repulsa, espasmos e ânsia de vômito que me
protegem de uma ameaça iminente, que mantêm o
homem distante da animalidade, do devir-animal,
conforme também sublinha Gil (p. 177). O animal
parece não ter nojo, não ter aversão a nada. O abjeto
recupera a identidade humana e compõe a minha
subjetividade.

• Eu me encontro nos meus limites e meus


excrementos são meus limites. Tudo que cai para que
eu possa continuar vivo, até que eu enfim deva cair
para a morte. Cair "para além do limite, cadere,
cadáver, (...) o mais repugnante dos dejetos".
• O cadáver - visto sem deus e fora da ciência
- é o cúmulo da abjeção. É a morte
infestando a vida. Abjeto. Ele é um
rejeitado do qual não dá para se separar, do
qual não dá para se proteger como se faria
com um objeto. Estranheza imaginária e
ameaça real, ele nos chama e acaba por
nos devorar.

• O abjeto perturba a ordem, viola as leis,


não respeita os limites. É também abjeto o
traidor, o criminoso em sã consciência, pois
a abjeção é imoral, oscilante e suspeita.
Mais abjeto ainda é o crime quando
CARCASS - Reek of putrefaction (1988)
praticado por alguém ou algo que nos devia
proteger ou nos salvar da morte.
Abjeção e as funções maternas

Abjeção como operação psíquica pela qual a identidade


subjetiva ou de grupo se constituí por excluir qualquer
ameaça às fronteiras sociais e singulares.

Para Freud Para Kristeva


A ameaça está na castração A ameaça está na dependência do
corpo
Paterna Materno
Matricídio – abjetar o corpo materno
Alimentação recusada e expelida pela
criança
(forma mais arcaica de abjeção)
Os limites do eu
Segundo Kristeva, não é a repulsa física, “falta de limpeza ou
saúde que causa a abjeção, mas o que perturba a identidade, o
sistema, a ordem”, “é algo que simultaneamente fascina e
repele, aflige e alivia. Não existe fora do ser e mesmo assim o
ameaça.”

Ao se estabelecer nos espaços entre o indivíduo e o Outro, a


abjeção nos faz pensar sobre os objetos limítrofes de nosso
corpo como os que reconhecemos sua origem em nosso ser,
mas que habitam o Outro.
A menstruação como formadora da subjtividade
feminina

Galaxy Crossing, Vanessa Tiegs


Ummeli, Zaneli Muholi
Rupi Kauer Moi(s), Julie Balagué
O abjeto e as artes

O abjeto está relacionado com a perversão.


O sentimento de abjeção que eu
experimento está ancorado no super-eu.
(KRISTEVA, p. 09).
IMAGEM ABJETA

•O corpo
humano
limitado,
doente,
obsoleto,
deficiente,
fragmentado
e mutilado.
Andrés Serrano, “O necrotério” (Jane
Doe morta pela polícia) (1995).
Os procedimentos de incorporação do abjeto na arte
contemporânea
1) Obsceno 2) Reflexão da abjeção

Robert Gober - (Escultura) Homem saindo da


mulher (1993-1994) Andrés Serrano – Cristo de mijo
FILME ABJETO

Divine – “A pessoa mais repugnante do mundo”, no filme Pink Flamingos (1972), de John
Waters
MÚSICA ABJETA

Mão Morta, banda portuguesa, musicou Os cantos de Maldoror, do


Conde de Lautréamont

Você também pode gostar