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TRAUMATOLOGIA FORENSE

PROFESSOR ROBERTO BLANCO

AULA 1

Conceito de traumatologia

Estudo dos traumas. Trauma nada mais é do que a ação da energia que é
capaz de produzir lesão. Essa energia que fere é chamada de energia
vulnerante. Assim, trauma é da a ação da energia vulnerante. Se a energia
fere, o resultado dessa energia é a lesão. Assim, lesão é o resultado do
trauma. Os traumas e as lesões vão ser estudados na traumatologia.

Para que o trauma possa transferir essa energia para o corpo deve haver um
objeto que o faça. Objeto é qualquer material que nós tenhamos de perceber
com nossos sentidos, seja ou não manufaturado pelo homem. Os que foram
manufaturados para desempenhar determinado trabalho leva o nome de
instrumento. Assim, todo instrumento é um objeto, mas nem todo objeto é
um instrumento.

Os objetos e instrumentos são os meios com os quais a energia vulnerante


será transferida para o organismo.

Agentes vulnerantes:

1) Física

1.1) Mecânica – exige o movimento do agente vulnerante, sendo o


movimento do agente (ativo), da vítima (passiva) ou de ambos
(misto).

1.2) Elétrica

1.3) Térmica

1.4) Sonora

1.5) Barométrica

1.6) Luminosa

1.7) Radiante

2) Química

2.1) Ácidos

2.2) Bases

2.3) Tóxicos
3) Biológica

3.1) Vírus

3.2) Bactérias

3.3) Protozoário

3.4) Vegetais

3.5) Animais

4) Mista

4.1) Físico-química

4.2) Biomecânica

Agentes vulnerantes físico mecânicos:

- Contundentes

- Perfurante

- Cortante

- Misto

• pérfuro-cortante

• pérfuro-contunde

• corto-contundente

Aspecto da lesão e mecanismo de ação:

Contundente – a lesão tem superfície plana ou romba, daí a lesão é plana


(aspecto) e age predominantemente por pressão (mecanismo). A superfície
de contato com o alvo é sem aresta ou ponta.

Perfurante – o aspecto da lesão é em ponto, já que tem ponta, mas não


tem gume, e o agente age por pressão. A superfície de contato com o alvo
é em com uma ponta.

Cortante – a lesão é em linha e o mecanismo de ação é


predominantemente por deslizamento, mas também tem um pouco de
pressão. A superfície de contato com o alvo é o gume do instrumento
cortante.

Quando se fala em lesão cortante se fala em lesão em arco de violino, já


que é como se fosse um arco de violino passando sobre as cordas.
Lesões e morte das ações contundentes.

Nada impede que um instrumento cortante ou pérfuro-cortante, como a


faca, faça uma lesão contundente, desde que eu bata com o cabo, mas isso
não a torna um instrumento contundente, ele continua um instrumento
pérfuro-cortante. Instrumento contundente não pode ter nem ponta nem
gume. A característica dos instrumentos contundentes é o peso.

Mas, de qualquer forma, o instrumento leva o nome relacionado às lesões


que ele habitualmente gera, mas ele pode agir de forma anômala sem que
isso mude sua natureza. Uma espada, que seria um instrumento corto-
contundente, se bater de lado na pessoa fará uma lesão contundente, mas
isso não muda o tipo de instrumento que ela é.

A pele tem como camada superficial a epiderme, logo em baixo, fica a


camada basal, que fabrica, renova, as células da epiderme e também
separa a epiderme da derme. Na derme é que ficam os vasos sanguíneos, os
nervos. A epiderme não tem vasos.

Essa camada basal tem reentrâncias, como se fosse uma montanha-russa,


da a derme pode avançar pra dentro da epiderme, e vice-versa, não há uma
distância regular. Fala-se em estrutura de colchão ou travesseiro de casca
de ovo. Essas reentrâncias levam o nome de papilas dérmicas, que são
relevantes para a impressão digital.

Quando um individuo vivo recebe uma pancada, esse vasos que estão
embaixo da epiderme sofrem vaso dilatação, daí fica a pele fica quente e
avermelhada. Quando os vasos sanguíneos recebem essa pressão, o plasma
do sangue sai dos vasos através dos seus pequenos orifício. É o
extravasamento de plasma. Isso é o que se chama de rubefação ou
eritema. Só ocorre em vivos porque exige a vaso dilatação. Some em 30 a
50 minutos. A rubefação é uma conseqüência de uma lesão corporal, que
pode decorrer de um crime de lesão corporal ou mesmo da contravenção de
vias de fato.

Agora, se a pressão for um pouco maior, além de o vaso se dilatar, ele


rompe, daí o sangue extravasa e derrama em baixo da pele, na hora que a
gente olha a pele, no lugar onde houve a pancada, aparece uma mancha.
Essa mancha leva o nome de equimose. Essa tanto pode acontecer no vivo
como no cadáver.

Tipos se equimose:

1) Petéquias – palavra que vem de peste, porque a vítimas da peste


apresentavam hemorragias puntiformes, parecendo uma picada de
pulga. Daí hoje chama-se essas pequenas hemorragias puntiformes de
petéquias. Antigamente, quando se viam petéquias, dizia-se que se
tinha morrido por asfixia, mas hoje sabe-se na asfixia existem
petéquias, mas em outras mortes que nada tem a ver com asfixia elas
também aparecem. Em qualquer hipótese em que a pressão dentro
dos vasos aumenta, a tendência do sangue é extravasar na forma de
petéquias. As vezes o que acontece é um aumento de pressão. Essa
pressão pode ser de dentro empurrando pra fora (compressão) ou de
fora puxando pra fora (sucção). Seja uma ou outra, quando esse
sangue começar a sair, ele vai sair na forma de petéquia.

2) Sugilação – é um conjunto de petéquias numa área de maior


pressão, seja decorrente de um chupão ou de uma ventosa. Quando a
pessoa está morta, o sangue desce para as partes mais baixas do
corpo, daí a pressão de dentro para fora cria sugilações post mortem.

3) Víbices - duas equimoses lineares (víbices) paralelas com centro livre,


como no caso de lesão com instrumento cônico (cassetete).

4) Manchas de Tardieu – petéquias um pouco maiores do tamanho de


ervilha. Antigamente, essas manchas eras diagnosticadas como
asfixia. Hoje sabemos que essas manchas aparecem em vários tipos
de morte (envenenamento, infarto do miocárdio, qualquer morte que
não haja extravasamento de sangue pode aparecer manchas de
Tardieu).

5) Manchas de Paltauf – quando se morre por afogamento, a água


entra nos alvéolos, rompendo os capilares e, por conseqüência, vasos
sanguíneos, ocorrendo hemorragia dentro do pulmão. Daí nós vemos
algumas equimoses no pulmão do afogado. Essa equimoses recebem o
nome de manchas Paltauf. Podem ter petéquias e manchas de Tardieu
no pulmão do afogado, mas tem que ter mancha de Paltauf. Já uma
pessoa que morrer por eletroplessão, infarto ou envenenamento pode
ter petéquia, mancha de Tardieu, mas não terá mancha de Paltauf.
Esta mancha é patognomônica de afogamento. Se você acha um cara
morto na água sem essas manchas, você pode procurar outra causa
de morte, porque não foi afogamento. O que de comum entre todas
elas, é que são todas espécies de equimoses.

6) Máscara equimótica de Morestin – para que uma pessoa respire, a


pessoa faz movimentos de tórax, se um peso age em cima do tórax,
dificulta o movimento do tórax. Quando há uma compressão do tórax
o esterno fica comprimindo o coração contra a coluna, daí ele não
consegue se expandir normalmente. Ele consegue mandar o sangue,
mas não consegue recebê-lo porque está comprimido, daí o sangue
começa a se acumular na cabeça. Nesse momento, ele em gotículas
começa a extravasar em forma de petéquias. Daí, dependendo do
tempo em que ele ficar submetido a essa compressão, já que o sangue
não consegue voltar, depois de um tempo, aquelas petéquias viram
sugilações. De repente, a face e o pescoço estão totalmente tomadas
por uma máscara, como se fosse uma equimose única, mas não é
isso, é como se fosse milhares e milhares de petéquias resultantes do
extravasamento de sangue. Essa é a máscara de Morestin.
7) Equimose cérvico-facial de Le Dentu – é sinônimo de máscara de
Morestin. A presença dessas máscaras significa compressão do tórax,
porque coração consegue fazer a sístole, ou seja, bombear o sangue,
mas não consegue fazer a diástole, ou seja, ele não consegue captar o
sangue que ele acabou de enviar. São formas de asfixia indireta por
compressão do tórax.

8) Bossa serosa – é uma lesão em cima de um osso. Este não permite


que o sangue se expanda para baixo, daí aparece um saliência na
pele. É o famoso “galo”. Se o material que tem é soro, linfa, não é
sangue, nos temos uma bossa serosa.

9) Bossa sanguínea – quando tivermos uma bossa com sangue.


Podemos diferenciar esta da de cima é pela cor, a sanguínea é
avermelhada, roxa, azulada. A serosa não tem cor.

10)Hematoma – as vezes os vasos rompem e um pouco de sangue


extravasa e se acumula naquela área. Se for uma área corporal que
não tem osso, o sangue se espalha para cima e para baixo, formando
um hematoma (seria um tumor de sangue, etimologicamente). É uma
bolsa de sangue que se acumula em uma cavidade que não existia, é o
próprio sangue que criou essa cavidade, por isso se fala que o
hematoma é uma coleção de sangue numa cavidade neo-formada.
Assim, se o sangue se acumular uma das cavidades já
existentes(cavidade peritonial, pleural, pericárdica) ele não é um
hematoma, você tem uma coleção de sangue formando uma
hemorragia interna. O hematoma tem que criar a cavidade. O
hematoma não é tão visível, o que é visível é a equimose. Ele não tem
representação externa, se tiver a representação externa é a bossa, se
for só a cor, é uma equimose. O hematoma só é visto de por exame
cadavérico ou na cirurgia.

11) Sufusão hemorrágica – é uma equimose extensa, que se espalha


pela superfície do corpo, comum quando a vítima é atingida por uma
superfície plana e larga, quando ela cai sobre o solo.

É indispensável que o perito faça, no exame cadavérico, mesmo na ausência


de lesões externas, um exame da cavidade craniana, independentemente de
sinais externos de prováveis lesões internas. Não raro, não há lesões
externas, mas há gravíssimas lesões internas.

Dura-máter – membrana espessa que reveste o encéfalo. Uma coleção de


sangue que fica dentro do osso do crânio, mas fora da dura-máter, é
chamada de hematoma extra-dural. Na medida que esse hematoma vai
aumentando, ela comprime o cérebro, ocasionando lesões principalmente no
bulbo e na ponte.

Quando há esse hematoma, nas primeiras horas, a vítima não sente nada.
Daí 6 horas depois, ela começa a ter dor de cabeça, visão dupla, tonteira,
vômitos em jato, começa a ficar desorientada, fica agressiva. Daí, quando
isso acontece com alguém que está bebendo álcool, as pessoas pensam que
aquele comportamento é produto de embriaguez, mas não é, ele está sendo
vítima de um hematoma que está comprimindo o cérebro dele. Não raro,
essas pessoas entram no hospital e são tratadas de embriaguez. Só se
descobre a causa da morte no exame cadavérico. Agora, excepcionalmente,
esse hematoma aparece em uma cadáver, quando ele está numa fogueira,
sendo queimado, e o calor do fogo começa a fazer o encurtamento da
musculatura, daí o sangue começa a ser empurrado e começa a extravasar
no cérebro. Então, não é raro encontrar o hematoma extra-dural em
cadáveres carbonizados.

Através da forma da lesão, podemos saber qual foi o agente vulnerante que
produziu aquela lesão.

Já a tonalidade da lesão, nos temos uma idéia de há quanto tempo aquela


lesão aconteceu. Já nas escoriações a crosta é o elemento importante. Na
ferida, a cicatriz, na fratura, o calo ósseo. Ou seja, a descrição de
determinados elementos da lesão, permitira ao operador de direito dizer
qual foi o nexo temporal daquela lesão.

Outro aspecto muito importante é a precisa localização da lesão. Essa


localização fornecera ao operador de direito uma idéia de qual foi o dolo do
agente. Se a equimose estiverem no pescoço, eu penso em esganadura, no
rosto, penso em lesão, se estiverem próximas às áreas genitais, eu penso
em crimes contra os costumes.

No momento em que ocorre uma lesão, o vaso sanguíneo dilata e permite o


extravasamento do sangue, e a visão desse sangue derramado permite
identificar a equimose. Mas essa equimose tem uma forma. Imagine uma
pessoa agredida com um cassetete, um tubo de PVC, fio, mangueira, bastão
de basebol, daí com a pressão, o sangue extravasa, e se alinha na lateral da
superfície atingida. Assim, o sangue não fica no exato local em que o objeto
acertou, ele fica nas áreas adjacentes, já que é empurrado pela pressão
para longe do local em que o agente vulnerante acertou. Assim, no caso
desses agentes, vamos ter faixas paralelas de equimose, com um centro
pálido. A espessura entre as faixas arroxeadas da uma idéia da espessura do
instrumento, o tamanho da lesão da uma idéia do tamanho mínimo do
instrumento. As faixas não são exatamente paralelas, porque a ponta do
instrumentos bate com mais forca que a base, se a forca é maior, o sangue
se espalha para mais longe na área referente à ponta do instrumento.
Assim, essas manchas não são paralelas, elas são convergentes para a base,
empunhadura do objeto. Ou divergentes em direção à ponta do instrumento.

Esse aumento de sangue causado pelo aumento da pressão é chamado de


sugilação. É muito comum se alegar que essas manchas são decorrentes de
uma queda para fugir das agressões, mas se há vários grupos de faixas, em
direções diferentes, de mesma espessura, isso indica agressão.

Esse sangue que extravasa não recebe mais oxigênio. Daí a hemoglobina
começa a se decompor, dando origem a outras substancias de outras
tonalidades.

Assim, no 1º dia, a equimose é avermelhada. No que o tempo vai passando,


o avermelhado vai virando arroxeado (1 ou 2 dias). Passados mais alguns
dias, nós verificamos que a região vai ficando azulada (3 a 5 dias). Mais
algum tempo, a região fica esverdeado (1 semana). Depois fica amarelado
(10 a 15 dias). Depois disso, a equimose desaparece (18 a 20 dias). Assim,
pela evolução da tonalidade da equimose, o perito tem uma idéia se a
equimose é recente ou mais antiga.

Assim um cara chamado Legrand Du Saulle, viu isso e comparou com o


espectro da luz solar. Assim, criou o espectro equimótico de Legrand Du
Saulle.

Quem faz essa limpeza das hemoglobinas são os glóbulos brancos, daí
quanto maior a área, mais demorará para tirar tudo, se tem pouco, os
prazos são menores.

Assim, se alguém chega pro perito e fala que foi espancado ontem e está
com uma equimose esverdeada, dá pra saber que não foi espancado ontem.
Ao contrário, se chega com uma equimose avermelhada dizendo que foi
espanado há 15 dias, ele não foi espancado há tanto tempo.

Há determinadas regiões do corpo que são muito oxigenadas, como o olho e


a bolsa escrotal, daí quando o sangue extravasa na parte branca, chamada
de esclerótica, nós temos uma equimose que fica em baixo de uma
membrana que cobre essa parte que é a conjuntiva, daí nos temos uma
equimose subconjuntival. Mas como o olho é muito oxigenado, a
hemoglobina recebe oxigênio e demora mais a se decompor, assim nessas
equimoses não há o espectro equimótico de Legand Du Saulle, ela pode ter
15 dias e ser vermelha. Ela pode ir sumindo ainda vermelha. Assim, ao olho
não se aplica a relação coloração/tempo da lesão. Não há como auferir o
nexo temporal quando há equimose subconjuntival.

A hemorragia subconjuntival pode surgir, por exemplo, de asfixia, em razão


da sugilação do sangue que não consegue voltar ao coração, não conseguem
sair da cabeça.

A forma da equimose pode indicar o que aconteceu, como, por exemplo, se


tivermos estigmas ungueais ou digitais no pescoço, que são marcas de
dedos ou unhas, que indicam esganadura.

Equimose periórbitaria, famoso olho roxo, pode ser resultado de impacto


direto ou de fratura na base do crânio. Ou seja, não é certo que um olho
roxo tenha sido decorrente de um soco no olho, podendo ter outras origens.
Quando se dá nos dois olhos, chama-se de sinal do Zorro ou do
guaxinim.

O perito não diz o que aconteceu, ele diz os vestígios. Ele não trabalha com
indícios, isso quem faz é o delegado, juiz, promotor, etc.. É aplicação do
brocardo visum et repertum (ver e referir), olhar e descrever aquilo que está
vendo, como uma máquina fotográfica. Só vai dar opinião se for chamado a
opinar em juízo para dar parecer, mas na hora de fazer o laudo, ele só diz os
vestígios da lesão, descrevendo a forma, a tonalidade e o local da lesão.

A forma, o aspecto e a tonalidade da equimose serão utilizadas para todos


os demais tipos de lesão, na medidas das suas características.

Perceba que até agora a pele não rompeu.

Vamos agora à escoriação. A etimologia da palavra é arrancar (ex) o


revestimento (corio) do corpo, que nada mais é do que a pele.

Na escoriação há o arrancamento da epiderme em razão de ação


contundente. Não sangra, quando muito aparece um pouco de plasma. Esse
plasma evapora, daí no lugar aparece uma crosta, e como o plasma é
incolor, branco amarelado, assim, essa crosta é branco amarelada. Essa
crosta leva o nome de crosta serosa, ou seja, só há plasma, linfa.

Só que as vezes a crosta aprofunda um pouco mais e atinge a o alto da


camada basal, onde já temos alguns vasos. Assim, a escoriação vai ter soro
e sangue, daí fica avermelhado e não branco amarelado. Daí essa crosta
será sero-hemática.

Só que as vezes ela vai ainda mais fundo, e ultrapassa a derme papilar (que
fica logo abaixo da camada basal, indo até a derme reticular. Aqui já há
vasos sanguíneos maiores, sangra mais, daí eu vou ter uma crosta
hemática.

Mas a escoriação nunca passa da derme, se ultrapassar a derme, a lesão


deixa de ser escoriação e vira ferida. A diferença entre ferida e escoriação
não é extensão, mas a profundidade. A mais profunda das escoriações é
mais superficial que a mais superficial das feridas.

É interessante que na escoriação, a camada basal que sobra substitui a pele.


Daí nos primeiros dias, temos a casquinha vermelha, três dias depois, ela
fica castanha, depois de 5 dias, ela começa a ficar preta, mas 3 a 5 dias, ela
começa a soltar em volta, mais 3 a 5 dias ela se solta inteira, da periferia
pro meio. De baixo da casca há uma epiderme rosada. Uns 10 dias depois a
pele esta completamente regenerada. Assim, a escoriação regenera
totalmente, sem deixar vestígios.

No entanto, na ferida, ela, por mais superficial que seja, ela atinge os planos
inferiores, então não tem como ela regenerar. Então a evolução de uma
ferida é através de uma cicatriz, que fica pra sempre.

A escoriação regenera e a ferida cicatriza.

A vítima da escoriação não pode demorar a ir ao legista, porque os vestígios


podem sumir. Já a vítima da ferida pode ir muito tempo depois, já que a
cicatriz não vai sumir.

Através da crosta da escoriação eu posso estabelecer o nexo temporal,


analisando a cor, a consistência, se ela está fixa ou se soltando. A data não
é precisa, é aproximada.

Através do estudo da forma da escoriação, eu vou poder saber qual foi a


forma que a lesão foi feita, como a marca dos dedos ou das unhas no
pescoço no caso de esganadura. Dá pra saber se foi a mão direita ou a
esquerda, se foi pela frente ou por trás. Assim, dá para estabelecer o nexo
causal. Essas lesões típicas das unhas e dos dedos leva o de estigmas
ungueais ou digitais, respectivamente. Estigma é marca.

Feridas contusas

Vamos transpor agora a barreira da pele, ultrapassando a derme, estudando


as feridas.

Vamos falar só de ferida contusa, pois estamos estudando as ações


contundentes. Mas termos que compará-la com a ferida incisa, que decorre
da ação cortante. A ferida incisa faz uma incisão, ela corta, a ferida contusa
resulta de uma contusão, ou seja, o agente contundente não corta, ele
rasga.

Aspecto a observar Feridas incisas Feridas contusa

Bordas Regulares, sem Irregulares, escoriadas


escoriações

Cauda de escoriação Pode estar presente Extremamente rara

Vertentes (paredes) Regulares, em bisel ou Irregulares,


verticais anfractuosas

Traves de tecido Em geral, ausentes Em geral, presentes


entre as vertentes (traves de tecido
segurando uma vertente
na outra)

Fundo Em geral, regular Em geral, muito


irregular

Vasos Em geral, sangram mais Em geral, sangram


(já que são cortados) menos (ficam
esmagados)

Cicatrização Mais estética, linear Menos estética, irregular


O instrumento cortante com o gume cego pode agir como se fosse um
instrumento contundente. Se eu tenho uma ferida com bordas regulares e
me apresentam um instrumento cego, provavelmente esse agente não fez
essa ferida.

O contrário também se aplica, se vem uma ferida com bordas irregulares e


apresentam um instrumento cortante afiado, essa ferida não foi feita por
esse instrumento.

Só que as vezes a força do agente contundente é maior, podendo alcançar o


osso e gerar uma fratura interna ou exposta.

O esmagamento o tecido é esmagado, ficando amorfo. Mas quando o


esmagamento é tão intenso que uma parte o corpo é separada da restante,
chama-se de amputação traumática.

Cuidado que o termo amputação é reservado para atos médicos, o termo


para ação lesiva é mutilação, sendo mais correto se falar em mutilação
traumática.

Mecanismos de ação:

1) Pressão;

2) Tração;

3) Torção;

4) Deslizamento;

Lesões mais comuns:

1) Rubefação;

2) Equimose;

3) Bossa;

4) Hematoma;

5) Entorse/luxação;

6) Fratura fechada;

7) Escoriação;

8) Ferida contusa ou incisa;

9) Fratura exposta;

10) Amputação;

11) Mutilação;
12) Esmagamento.

AULA 2

Lesões e morte provocadas por instrumento perfurante

Instrumento perfurante é aquele que tem a forma cilíndrica com a


extremidade cônica, portanto ele é cilíndrico-cônico. Ele tem a extremidade
cônica para entrar mais fácil na pele, já que a pressão vai ser maior, já que
a superfície vai ser menor (Pressão = força/superfície).

Exemplo de instrumentos perfurantes temos a agulha de seringa, por


exemplo. Esses são os instrumentos perfurantes de pequeno calibre. Mas
temos também os de médio calibre, como os picadores de gelo, espetos de
churrasco, vergalhões com ponta. A diferença entre os calibre é a lesão que
eles vão fazer.

Agora os instrumentos perfurantes de grande calibre não existem porque


eles passam para outra categoria, que seriam os pérfuro-contundentes.

A pele tem, na derme, uma grande quantidade de fibras elásticas, elas que
conferem a elasticidade que a pele tem. Quando o instrumento perfurante
penetra na derme, como ele não corta, não tem gume, ele simplesmente
afasta as fibras.

Se ele é de pequeno calibre, as fibras se afastam momentaneamente, o


instrumento passa e quando sai, as fibras voltam para o lugar, ficando uma
lesão puntiforme ou punctória. Essa lesões são feridas, eis que
ultrapassam o limite da derme. Na maioria das vezes não sangram, porque,
mesmo que atinjam um vaso, quando saem as fibras dos vasos fecham. Mas
elas podem ser mortais porque o instrumento pode estar infectado.

Essas feridas que inflamam se chamam flebites. Se elas foram crônicas, os


vasos começam a endurecer, daí nós temos a flebosclerose. A presença de
flebites ou flebosclerose me indicam que essa pessoa que usa com muita
freqüência introduzidas por meio de instrumentos perfurantes de pequeno
calibre, podendo se tratar de um usuário de drogas, mas não podendo
excluir pessoas que realmente precisem de medicamentos.

Feridas punctórias na barriga de gestantes podem indicar que ela fez


exames do feto, como na amniocentese, para saber o sexo do neném, se
existe algum problema, etc. Mas, as vezes, o que é introduzido no útero é
uma substancia tóxica para provocar o aborto, sendo que o único vestígio
que o delito deixará será essa ferida puntiforme na ponta da barriga.

Vamos agora aos instrumentos perfurantes de médio calibre.

Esse instrumento não corta, ele só perfura. Daí no que ele entra no corpo,
ele atravessas as fibras elásticas do corpo, mas como ele tem um calibre
significativo, ele afastas as fibras. Só que ele as afasta muito, de tal maneira
que quando ele esta introduzido no corpo ele fica com um orifício circular.
No momento em que o instrumento sair, as fibras vão tentar voltar ao
aspecto natural. Mas sendo um instrumento de médio calibre, essas fitas
foram esgarçadas e esticadas além de um certo limite. Então, na hora que o
instrumento sair, as fibras tentam fichar o buraco, mas não conseguem. Daí
a forma da ferida é de um circulo esticado, uma fenda, uma casa de botão,
uma bucetinha.

O problema é que a ferida feita pelo instrumento perfurante de médio calibre


parece muito com a ferida feita pelo instrumento pérfuro-cortante de dois
gumes. Só que se o perito usar uma lupa, os ângulos são agudos e cortados
no pérfuro-cortante, no perfurante são agudo e repuxados.

Como a pele é elástica, cada região do corpo tem uma linha de força que
puxa a pele em um sentido. Daí, as feridas feitas pelos instrumentos
perfurantes em locais próximos têm a mesma direção, já que a pele repuxa
a todas da mesma forma.

Daí criou-se as leis de Filhós:

1) lei do paralelismo: as feridas perfurantes feitas por um instrumento


de médio calibre, em uma mesma região, serão paralelas entre si.

2) lei da semelhança: as feridas são semelhantes às feridas pérfuro-


cortantes de dois gumes.

Anos depois, um cara chamado Langer criou a lei do Polimorfismo, que


diz que as feridas perfurantes quando são feitas em uma área de
entrecruzamento e superposição de fibras elásticas, como na conexão do
peito com o ombro, mostrarão aspecto estrelado, anômalo, ou seja,
polimorfo. Eu não terei a forma definida da ferida. Daí a leis de Filhós não se
aplicarão.

O estomago é formado por músculos, sendo que as fibras estão em mais de


uma direção, em camadas superpostas. Daí se você introduzir um
instrumento perfurante no estomago e observar cuidadosamente essa lesão
você repara que na camada superficial a ferida tem uma forma, tracionado
uma direção, numa camada mais profunda a ferida vai estar em outra
direção. Quanto mais camadas superpostas você tiver, maior o numero de
direções você vai ter.

Agora, se eu tiver um instrumento pérfuro-cortante de dois gumes, as


feridas vão ter direções diferentes, de acordo com a incidência na qual o
instrumento entrou, não tendo qualquer relação com a direção que as fibras
elásticas puxam. Não se aplicarão nem a lei de Filhós e de Langer.

Estoque é um instrumento perfurante feito com um vergalhão apontado.

A tesoura fechada é um instrumento perfurante de médio calibre. Quando


você abre a tesoura cada lado será um instrumento pérfuro-cortante de um
gume. Agora, se a tesoura for de calibre maior, ela não funcionará mais
como instrumento perfurante, mas pérfuro-contundente. Mas aberta,
funcionará da mesma forma como um instrumento pérfuro-cortante de um
gume.

Lesões e morte por instrumentos cortantes-

É aquele instrumento que tem uma lâmina, que tem uma das extremidades
afiadas, chamada de gume. Quanto mais afiado for o gume, menor vai ser a
força que eu vou ter que aplicar, já que a superfície vai ser menor. Mas será
mais fácil ainda se eu deslizar o gume, daí ele vai afastar, cortando as fibras
que unem a pele.

A ferida não será mais puntiforme, mas sim em linha, já que a extensão vai
ser maior que a profundidade. Quando eu olhar as bordas dessa ferida, as
bordas serão regulares, sem escoriação, os vasos na parede da ferida estão
cortados, daí eles sangram muito. Essa ferida é chamada de ferida incisa.

Uma das características dessa ferida incisa é que na hora que o agressor
atinge a pele, ele está utilizando um força maior, daí ele desliza e tira. Daí
se nota que a ferida é mais profunda no inicio, e vai se superficializando no
final. Assim, o ponto mais profundo marca o inicio do golpe e o mais
superficial a saída. As vezes o final é tão superficial que atinge apenas a
derme e a epiderme, não sendo mais ferida nesse ponto, mas sim uma
escoriação. Daí um cara chamado Romanese disse que essa escoriação que
marca o final da ferida é chamada de cauda de escoriação. Só que pode
acontecer que antes de o instrumento entrar, ele atinja apenas a superfície,
e aparece uma escoriação no inicio, mas não posso chamar de cauda no
inicio, porque ela fica no final. Resolveu-se chamando de escoriação de
entrada e escoriação de saída. A escoriação que fica mais próxima da
maior profundidade é a de entrada, e a que fica mais próxima da menor
profundidade é a de saída.

Analisando-se a ferida, podemos saber o sentido que o golpe foi dado.

O ato de deslizar chama-se de ação em arco de violino, porque é como se


o instrumento cortante fosse o arco e a pele as cordas do violino. A lesão
não parece um arco de violino, o movimento é que parece.

Mas como diferenciar uma ferida incisa feita com o objetivo de lesionar e a
ferida com a finalidade médica, chamada de ferida cirúrgica, sendo essa
feita pelo bisturi, que é um instrumento cortante. As características básicas
das duas feridas são as mesmas. Mas o agente que visa atingir a vítima
causa uma ferida com o fundo côncavo, variável. Na ferida cirúrgica, o
bisturi entra, corre e sai, não tendo escoriação de entrada ou de saída, e a
profundidade na entrada é igual a profundidade de saída. Além disso, o
fundo é plano e não côncavo.
Mas deve-se levar em conta também a localização da ferida, já que incisões
médicas não são feitas em qualquer lugar, mas em lugares específicos, a
depender do intuito do médico.

Mas guarda-se o nome ferida incisa para lesões criminosas.

Há um grupo de feridas incisas que atingem a vítima exatamente no nível do


pescoço. Se o agente cortante passa na parte anterior (da frente) ou lateral
do pescoço, dá-se o nome de esgorjamento.-

Nome da ferida Esgorjamento Degolamento Decapitação

Localização no Antero-lateral Posterior (atrás) Independe


pescoço

Agente Mais comum: Mais comum: Mais apropriado:


vulnerante cortante, pode cortante, pode corto-
ser pérfuro- ser pérfuro- contundente. O
cortante e corto- cortante e corto- simplesmente
contundente contundente cortante não é
suficiente, em
tese

Causa jurídica Predomina o Predomina o Comuns: suicídio


da lesão suicídio homicídio e lesão post
mortem

Causa da morte Anemia aguda, Anemia aguda, Descerebração e


médica hemorragia hemorragia anemia aguda por
externa. Pode externa. Pode hemorragia
haver haver externa
broncoaspiração broncoaspiração
e embolia gasosa e embolia gasosa

Quando você passa um agente cortante no pescoço, você pode cortar a


parte respiratória (cartilagens respiratórias), a parte circulatória (veia
jugular ou artéria carótida) ou a parte neurológica (nervo vago que vai para
o coração). A causa da morte no esgorjamento vai depender de qual foi o
elemento lesionado pelo agente vulnerante. Você pode, por exemplo, morrer
“afogado” por ter aspirado seu próprio sangue (haverá um aspecto de
mosaico hemorrágico nos pulmões, indicando que a pessoa estava viva
quando aspirou o sangue), você pode morrer de embolia gasosa porque
entrou ar na veia jugular, já que o coração faz sucção, se você atingir o
nervo vago, você morre de parada cardíaca porque é ele quem dá a ordem
pro coração bater, pode morrer pela perda excessiva de sangue (anemia
aguda), que pode atingir um ponto tal que chegue a um choque
hipovolêmico (choque em que o volume de sangue diminui), sendo a morte
iminente, etc.

Mas para saber se foi suicídio ou homicídio temos que analisar outros
aspectos.

Como a entrada é mais profunda que a saída, se a vítima for destra, ela vai
fazer um corte no lado esquerdo, de cima pra baixo e de trás para frente.
Assim, eu devo encontrar uma ferida na parte posterior e mais superficial na
parte anterior. O lance é que a pessoa está confusa, daí ela não tem muita
certeza do golpe que vai dar. Por isso é comum encontrar na vítima lesões
de hesitação no punho, sendo feridas superficiais, não mortais, indicando
que a vítima está tomando coragem para dar o golpe mortal, está hesitando.
Mas como ela corta alguma vezes no punho e não morre, ela vai pro
pescoço. Quando ela chega no pescoço, ela não dá um golpe decisivo, mas
pequenas feridas pouco profundas e aos poucos ela vai aprofundando, daí,
aos poucos, você nota uma ferida que tem entalhes está dizendo para o
observado que o golpe veio e parou, veio de novo e parou, indicando que a
vítima esta hesitando, que ela não está convicta, falando em favor do
suicídio. O agressor não da golpe aos poucos, dá um golpe só. Mas não é
patognomônico, essas lesões falam em favor daquelas hipóteses.

A pessoa quando é atacada, ela para se defender de golpe usa as mãos, daí
é muito comum que apareçam lesões na região palmar, na borda ulnar (osso
ulna) parte de fora do antebraço. Essas lesões são as lesões de defesa.
Assim, se tivermos lesões de defesa e golpe único no pescoço, não terei
dúvida que estou diante de um homicídio.

As lesões de hesitação não são mortais, porque ai não seriam de hesitação.


E normalmente são agrupadas em áreas comuns de suicídio, pulso, cotovelo,
área do coração e pescoço.

O degolamento é na parte posterior do pescoço, de trás, mas, de resto, se


aplica tudo o que se disse acima.

Na decapitação, não importa de onde veio o golpe, desde que se tenha


cortado a cabeça, separado do corpo. Normalmente, utiliza-se um objeto
mais pesado, corto-contundente. Exemplo é a guilhotina.

Quando o agente cortante atinge o corpo através de uma prega de pele, ele
vai fazer duas feridas incisas, mas um só golpe. É o caso do golpe que pega
no braço e depois no tórax, o golpe que pega na duas mamas da mulher,
mas não chega no peito em baixo. Ou o caso de um gordão que emagrece e
fica com as pelancas, daí pode ser que um só golpe pegue varias pregas de
pele. Assim, nesses casos, um só golpe dado em uma prega de pele, vai
produzir inúmeras lesões.

Portanto, nem sempre o número de feridas vai ser igual ao numero de


golpes.
Quanto mais enrugada for a pele, maior o número de feridas que aquele
golpe único vai ocasionar.

Isso acontece muito também com tiro, que vai atravessando o corpo,
passando por braços e tórax, por exemplo. Assim, você pode ter varias
entradas e saídas, mas um tiro só.

Assim, as vezes uma lesão culposa pode produzir múltiplas lesões.

Outro aspecto interessante é quando a pessoa recebe um corte horizontal e


vertical no mesmo lugar, como uma cruz, ou duas diagonais, como um X.
Assim, a ferida vai ficar em forma de estrela.

Se a vítima estava viva, uma das características da vítima viva, é a


retratibilidade. Isso quer dizer que quando a pele é cortada com a pessoa
viva, a pela retrai, ela repuxa. Não fica fechada, linear, só fica assim, se o
corpo já estiver morto. Se estiver vivo, ao receber um corte no pescoço, por
exemplo, a retratibilidade da pele faria abrir uma enorme breca no pescoço.
Uma pessoa que perde a mão para uma guilhotina, no lugar em que ela foi
cortada, a pele retrai, deixando a parte em baixo da pele exposta. A mesma
coisa com a decapitação, se a pessoa tava morta quando foi decapitada, não
haverá uma retração da pele.

Assim, voltando aos dois cortes no mesmo ponto. Quando ele recebeu o
primeiro corte, a pele abriu, quando recebeu o segundo golpe, a pele já
estava aberta. Daí faz-se o seguinte, escolhe-se uma das feridas e fecha-se
ela. Daí quando for fechar a outra, se essa segunda a ser fechada foi a
segunda a ser feita, ela não fechará em uma linha continua, mas sim
quebrada. Isso que dizer que você fechou na ordem certa, ou seja, fechou
primeiro a que foi primeiramente feita e em segunda a que foi feita em
segundo lugar pelo agressor.

Se você não tiver feito na ordem certa, haverá uma sobra de pele, você não
consegue fechar. Daí você tem que desfazer e começar pela outra para ver
se acontece o que foi dito acima.

Lesões e morte pelos agentes mistos

Vamos começar pelos pérfuro-cortantes. Ele tem que ter uma ponta para
poder furar e pelo menos um gume para poder cortar, mas ele pode ter
inúmeros gumes. Dois gumes – punhal. Três gumes – lima do serralheiro, a
lesão é em forma de triângulo. Quatro gumes – estrelinha ninja (shuriken),
daí a lesão vai ter forma estrelada.

Na pérfuro-cortante de um gume, a ferida vai ser em forma de gota, tendo


um ângulo agudo e um ângulo arredondado, rombo. O ângulo fechado
demonstra que ali agiu o gume, no ângulo rombo sabe-se que ali entrou o
dorso do objeto. Quanto mais rombo o ângulo, mais grosso o dorso, e
quanto mais agudo o ângulo, mais afiado era o instrumento.
Mas isso é para o caso de a faca entrar na vertical. Se ela entrar inclinada,
ela vai ter as duas bordas agudas, como se tivesse dois gumes, apesar de
ser um instrumento pérfuro-cortante de um gume.

Agora, se ele tem dois gumes, ele vai fazer uma ferida em fenda, lembrando
que pode ser também um instrumento perfurante de médio calibre. Assim,
tenho que olhar as bordas, se elas estiverem cortadas, pérfuro-cortante de
dois gumes, se estiverem repuxadas, sem cortes, o instrumento é
perfurante de médio calibre.

A medida de gumes que o instrumento tem, mais ângulos ele terá. Assim,
poderíamos imaginar um instrumento pérfuro-cortante com um sem numero
de gumes, podendo fazer parecer com a ferida de um instrumento
perfurante. Mas isso só em exemplo de laboratório mesmo, na prática esse
instrumento não existe.

Como o instrumento é pérfuro-cortante, se ele agir por pressão, a ferida vai


ser mais profunda do que extensa. Porque se eu pegar o instrumento
pérfuro-cortante e deslizá-lo, terei uma ferida incisa, mas o instrumento
continuara sendo pérfuro-cortante. Não se confunde a lesão com o nome do
instrumento.

Se for de dois gumes, terá ferida em casa de botão.

Imagine que uma faca tenha certa largura e certa profundidade. Só que a
ferida é muito mais larga e profunda que a faca que a ocasionou. Isso ocorre
porque quando ela penetra o agente arrasta a faca na direção do gume. A
extensão da ferida será maior do que a largura da face, é o que ocorre no
haraquiri japonês. Quando você corta a barriga, os intestinos pulam, daí
fala-se que houve evisceração.

Agora imagine um gordão que tem de distância da pele até a aorta tem 70
centímetros (profundidade), e eu sei isso com a minha régua, que é o
instrumento indispensável do perito, sendo que tem que ser de papel, não
pode ser chique, porque o Blanco é roots. Sabe-se também que por trás da
aorta passa a coluna vertebral.

Só que a faca que fez a ferida tem 30 centímetros. Mas como pode? Um
perito Frances chamado Lacassagne disse que em áreas capaz de sofrerem
compressão, se você usar uma pressão muito grande naquela região, você
pode fazer com que a pele se aprofunde e fazer com que um instrumento de
30 centímetros alcance um órgão que está a 70 cm da pele. A pele foi
comprimida, daí como, as vezes, a arma tem uma guarda, essa guarda fica
marcada na pele, deixando sua assinatura. Daí você vê uma ferida em casa
de botão com uma equimose de cada lado. Isso demonstra que foi aplicada
grande pressão na pele.

Esse tipo de lesão, o Lacassagne chamou esse tipo de lesão em lesão de


sanfona ou de acordeón.
Uma ferida que passe por baixo da pele, mas que não entre na cavidade
abaixo da pele, seja na cabeça, não entrando na caixa craniana, ou no peito,
não entrando na cavidade torácica, atingindo só a pele mesmo, essa ferida
leva o nome de ferida em sedenho. Por baixo da pele e fora das
cavidades.

Já quando um ferimento tem entrada e saída, ele é um ferimento


transfixante. Já quando tem entrada, mas não tem saída, ele é um
ferimento penetrante. Daí esse ferimento acaba em algum lugar, esse
lugar é chamado de lesão em fundo de saco, outros chamam de ferida
cega. É cega porque você não vê o outro lado.

Quando for transfixante ou penetrante, ele pode ser não cavitário, ai ele é
sedenho. Mas ele pode ser também cavitário, sendo normalmente mais
graves porque corre muito mais risco, já que ele pode acertar órgãos
internos.

Quando o ferimento arranca parte do couro cabeludo, o nome que se dá é


lesão em escalpe. Só arranca a pele, não quebra nada.

Mas se estivermos de posse de uma haste de grande calibre, instrumento


perfuro contunde, se ele penetrar na região do ânus, atrás da bolsa escrotal
ou da vagina, teremos uma ferida específica. Essa região em volta do ânus
se chama períneo. O nome dessa lesão é empalamento. A estaca
pontiaguda entra pelo períneo. Agora, se o instrumento de haste entrar por
qualquer outra parte do corpo, encravamento. A diferença é que o
empalamento tem uma localização específica.

O dente pode causar lesões diferentes a depender de qual dente se analise.


Os dentes da frente são cortantes, os caninos, pérfuro-contundentes, e os
molares, contundentes. Mas, de um modo geral, a arcada humana, exerce
uma ação corto-contundente, sendo que ele pode arrancar pedaços, daí se
dá o nome de lesão em saca-bocado. A importância para a pericia é que
através da marca da dentada você pode identificar o autor da dentada. A
dentada é uma lesão com assinatura. Ela é uma lesão patognomônica – essa
lesão, esse instrumento, é uma associação com grau de certeza.

Esquartejamento é diferente de espostejamento. Aquele é dividir em


quatro. Este é cortar a pessoa em pedaços para, talvez, dificultar a
identificação ou para ocultar o cadáver. Antigamente se espostejava a vítima
para fazer publicidade de mortes.

AULA 3

Balística:

Arma: Qualquer instrumento (aparelho manufaturado pelo homem) com


objetivo primordial de atacar ou defender. Arma imprópria é aquela que não
foi criada para atacar, para outra finalidade, mas que podem servir para
ataque.

Da próprias, temos as de arremesso, como a zarabatana (Curare, capaz de


causar paralisia no corpo), arco e flecha.

Arma de pressão: não chegam a ser arma, usada para esportes e diversão,
disparando chumbinho, que não pode passar de 6mm de diâmetro e projeto
podem atingir 160 m/s. Pode ser por mola ou por pressão. Não se incluem
nas armas de fogo proibidas.

Arma de fogo, o nome, decorre do fato, porque para que o projétil seja
lançado, a carga do propelente, ao queimar, produza gás, que ao se
expandir, saia o tiro.

Arma brancas levam esse nome porque tradicionalmente são confeccionadas


em metal, que dão a impressão ao sol de serem brancas. São utilizadas pela
força muscular.

Nas armas de fogo, o projétil é disparado pela queima do gás que


normalmente é pólvora. Quanto maior a quantidade de gás, maior a força do
projétil.

O projétil normalmente é de chumbo, que fica no estojo, local que contém a


pólvora. O projétil é colocado tampando o estojo. Para queimar a pólvora,
coloca-se um espoleta na base da bala. Na hora que a espoleta recebe
pressão, ela solta uma faísca, dai a pólvora vai liberando gás até o momento
que a pressão fica tão grande que é expelida.

O cano da arma serve para direcionar o projétil em direção ao alvo. O


projétil deve passar bem justo com o cano, sem espaço. Por isso que se usa
chumbo, que é mais mole, dai pode sofrer deformações ainda dentro do
cano, não deixando escapar gases. Saindo do cano, não há mais aceleração,
sendo a velocidade máxima do projétil na boca da arma. Dai pra frente ele
sofre desaceleração com o ar.

O cartucho nada mais é do que o conjunto formado pelo estojo, projétil,


pólvora e pela cápsula de espoletamento (espoleta).

O cão é o que bate na espoleta. Na ponta do cão fica o percussor.

Arma carregada é a que tem uma bala pronta para ser disparada. Arma
alimentada é a que tem balas no carregador.

O nome pistola vem de pistão, já que o cano da arma parece um pistão ao


ser acionada ejetando a cápsula.

O fabricante para otimizar a carga de gás, aumenta o tamanho do cano, que


empurra o gás mais tempo, ganhando mais velocidade e alcance. O
problema é que o atrito com o cano é maior, dai se aumenta o estojo para
caber mais pólvora dentro dele. O lance também é que o atrito com o cano,
poderia deformar demais o chumbo, dai ele blindou o núcleo de chumbo com
uma jaqueta de metal, que tem a função de diminuir o atrito da arma com o
núcleo de chumbo.

Metralhadora é construída para dar rajada, o sub-metralhadora é feita para


dar tiro intermitente, mas pode dar rajada.

Pressão é igual a forca sobre superfície. P = F/S

Energia cinética é igual a massa vezes a velocidade ao quadrado, sobre dois.

EC = mV2/2

Projétil de baixa velocidade é aquele que viaja abaixo da velocidade do som


(340m/s = mach 1)

Quando viaja acima de mach 2, é de alta velocidade. Entre mach 1 e 2,


média velocidade.

A velocidade é importante para saber a energia cinética. O projétil com mais


velocidade transfere mais energia que o lento, nas mesmas condições,
causando lesões muito mais graves. A lesão depende muito mais da
velocidade do que do peso do projétil, já que ele pode transferir mais
energia, causando mais lesões.

Coeficiente balístico – capacidade de penetração no alvo.

Coeficiente balístico = massa/fator de ponta x calibre2

Quando aumentar a massa, aumenta o coeficiente, um tiro mais pesado


entra mais que o mais leve. A ponta é fundamental porque, quanto mais
pontudo o projétil, mais ele penetra. Quanto mais bicuda a ponta, diminui o
fato de ponta, aumentando o coeficiente balístico. O ultimo elemento é o
calibre, que é o diâmetro do projétil. Quanto mais grosso foi o projétil, maior
o calibre, mais difícil para ele entrar. Mais fino, menor o calibre, ele entra
mais.

Quanto mais grosso e maior fator de ponta, mais energia é liberada na hora
que se choca com o corpo, mas ela penetra menos.

O objetivo do projétil é transferir a energia que ele tem ao alvo. Se o alvo é


de baixa densidade, macio, elástico, que não opõe grande resistência ao PAF
(projétil de arma de fogo), ele vai atravessar.

O ferimento quem tem entrada e saída, ele é chamado de transfixante. Ele


sai do corpo levando ainda energia, não transferindo toda sua energia.

Já se o PAF atinge alvo de alta densidade, duro, rígido, o alvo vai opor
grande resistência ao PAF, que tem entrada, trajeto e saída.

O ferimento nesse caso é penetrante, entra e não sai, fica dentro do corpo.
Nesse caso ele deixou toda a energia que ele trazia dentro do alvo. Portanto
ferimento transfixante transfere menos energia ao alvo, já que ele atravessa
o alvo, mantendo energia ao sair.

A extremidade do projétil cônico é mais leve que sua traseira, dai com o
arrasto ele tende a levantar, virar ao contrário, dar cambalhotas, etc.

Dai, para evitar isso, faz-se saliências e reentrâncias em forma de espiral,


chamadas de raias, dai essas armas diz-se que tem alma raiada (ou
estriada, mas essa nomenclatura não é tão correta), em contraposição
àquelas que tem almas lisas.

Com essas raias, o projétil é obrigado a girar em seu próprio eixo, num
movimento de rotação. Com essa rotação ele evita as cambalhotas,
mantendo sua estabilidade na trajetória.

A lesão de entrada depende muito da estabilidade com que o projétil entrou


no corpo, pois se bater de ponta, o buraco de entrada vai ser menor, se
bater de lado, vai entrar com um buraco maior. Mas o que entrou de ponta,
entra mais do que o que entrou desestabilizado.

Soma-se a isso a densidade do órgão, um menor (pulmão) vai deixar a bala


passar com mais facilidade que um órgão de alta densidade (fígado).

O projétil quando sai do cano não vem perfeitamente reto, mas vem fazendo
pequenos círculos (“com formato de nuvem”), do mesmo jeito que um peão
rodando que vai perdendo velocidade. Quanto maior a velocidade, menor é o
movimento lateral.

O grande movimento é chamado de movimento de precessão.

Os pequenos movimentos, círculos internos, movimento de nutação.

Dai quanto maior a velocidade do movimento de rotação, maior a


estabilidade, porque menor a precessão e a nutação, dai é maior a
penetração, com uma lesão menor, de ponta.

Quanto menor o movimento de rotação, a nutação e a precessão aumentam,


aumenta a dificuldade cresce, dai a transferência de energia aumenta, dai a
extensão da lesão é maior.

O movimento do ponto A ao ponto B, chama-se de movimento de


translação.

Cano liso não tem rotação, e se tiver, é ao acaso. Armas de cano liso são
feitas para tiro de curto alcance, como as espingardas, que tem cano longo e
liso. Escopeta é espingarda em castelhano.

Essas armas disparam um tipo especial de cartucho. Até agora estudamos


cartuchos de projeteis únicos. Mas existem cartuchos que não tem só um
projétil, mas varias bolinhas de chumbo, chamadas de balim, e encher o
cartucho. Como os balins não são compactos, a bala leva um bucha que não
deixa que o gás passe pelos balins. Por cima, para não deixar os balins
caírem, coloca outra bucha.

Esse é o cartucho de projeteis múltiplos. A bucha também sai, na frente e


atrás.

Não precisa da raia porque não vai haver o contato do balim com o cano.

As buchas caem rápido, mas os balins seguem e começam a se afastar, se


espalhar. Quanto mais longe, menos balins penetram. E como a massa é
pequena, tem pouca capacidade de penetração. Assim, a grandes distâncias,
ela não é muito efetiva contra grandes animais, como o homem.

Quanto menor o balim, cabem mais balins estojo, a depender do objetivo. O


cartucho é para a espingarda, a depender do calibre (.12, por exemplo),
mas o número de balins pode variar.

Pode se colocar um projétil só também, bem grande, chamado de balote.


Esse balote tem as ranhuras nas laterais, já que a arma tem cano liso. Mas
como o projétil é raiado, ele tem movimento de rotação, dado pelas raias.

Se calcula o calibre de uma espingarda não pelo balim, mas sim de acordo
com o diâmetro do cano. Você faz uma esfera de chumbo do diâmetro do
cano, pesa ela e vê quantas são necessárias para pesar uma libra. Na 12
você precisa de 12 esferas pra completar uma libra. Quanto maior o valor
numérico do calibre aumenta, o tamanho da esfera (e, por conseguinte o
diâmetro do cano) diminui.

A bucha normalmente é de papelão. Mas pode ser uma bucha pneumática,


que é como se fosse um copo cheio de balins que é disparado junto com os
balins, que no ar abre suas aletas laterais. Dai, durante alguns metros, os
balins são mantidos dentro da bucha, que só após abre como se fosse pára-
quedas. Isso faz com que as balas fiquem juntas mais tempo e mais longo.

Quanto mais curto o cano, maior é a dispersão dos balins.

Com a bucha pneumática, a dispersão dos balins só vai ocorrer após uma
determinada distancia do cano.

A espingarda pode ter um “choque” na ponta do cano, que serve para


diminuir a dispersão dos balins.

Assim, não é só porque os balins entraram juntos no corpo que o tiro foi de
perto. Temos que avaliar a bucha utilizada, o tamanho do cano, bem como a
existência do cano.

Em projeteis únicos, o calibre pode ser medido em centésimo de polegadas


(USA - .38), em milésimo de polegadas (UK - .380) e em milímetros (ALE –
7.62mm, 5,56mm). Isso gera muita confusão.
Na proporção que o calibre aumenta aqui, o diâmetro aumenta, ao contrário
da espingarda, que quanto maior, menor o calibre.

O calibre também pode ser real, que é quando se mede a boca da arma. O
calibre da caixa de munição é o nominal.

O projétil ao passar pelo cano com raias ganha estrais. Cada arma tem um
número de raias, para direita ou para a esquerda.

Todos os projéteis que saem de determinada arma tem o mesmo número de


estrias e para o mesmo lado.

Mas cada arma, mesmo que iguais, vem com defeitos microscópicos, que
fazem com que seja possível identificar de qual arma o tiro saiu.

Assim, se batiza de estrias primárias, as feitas pela arma, e secundárias, as


feitas pelos defeitos.

Existem ainda as estrias terciárias, que são as estrias provocas pelo uso da
arma, de acordo com o desgaste da arma. Essas podem ser alteradas com o
uso e a idade da arma.

Há armas que o cano são escamoteáveis, ou seja, podem ser substituídos. O


lance é que a identidade tem a ver com o cano e não com a arma. Se mudar
o cano, não dá para identificar mais, confundindo a perícia.

Mas ai tem outro recurso. Cada pino de percussor, que bate na espoleta,
tem sua marca própria também. Assim, se a policia encontrar o estojo
deflagrado e a arma, mesmo com o cano trocado, pode se comparar essa
marca do percussor nos estojos.

Outra coisa é verificar a localização dos estojos, que se estiverem um perto


do outro, o cara tava atirando parado. Se tiverem separados, o cara tava em
movimento.

Esse foi o estudo de balística, estudo do deslocamento do projétil. Se for


dentro da arma, balística interna, se do lado de fora, externa. Se for dentro
do alvo, balística terminal.

O projétil é um agente pérfuro-contundente.

Se é um projétil de guerra, o objetivo é transfixar, pois saída, ele tem


potencialidade de atingir outro alvo. O tiro policial não tem objetivo de
transfixar, pois tem alvo definido, eis que só pode atirar em legítima defesa
própria ou de terceiro. Por isso a policia deve usar projeteis de ponta romba
e de chumbo mole, não revestidos por metal.

Isso tudo dificulta a penetração. Na hora que o projétil bater no alvo, ele se
deforma, parecendo um cogumelo, tendo muita dificuldade continuar
atravessando o alvo, dispersando toda sua energia. Seu stopping power é
maior. É normal também se fazer um orifício na ponta do projétil, com o
objetivo de criar um ponto fraco, facilitando a deformação. O nome dessa
cavidade é hollowpoint. “Isso é só uma curiosidade”, velho filho da puta.

Outra curiosidade...

Tiro pro alto: tem menos lesividade que o tiro direto, porque tem muita
resistência do ar. A tese que a velocidade do tiro pro alto é igual na subida e
descida só funciona no vácuo. Quando ela desce na atmosfera, tem menos
potencialidade lesiva. Se tiver trajetória de parábola, ela continua tendo
muita potencialidade lesiva.

E mais uma...

Dizem que a bala queima, mas não é verdade. Na boca da arma, há uma
língua de fogo. Mas a variação térmica do projétil é muito pequena. O
projétil entra cheio de bactéria, devendo-se tomar antibiótico.

Agora, pra fechar.

Há possibilidade de entoxicação pelo chumbo. Assim, deve-se retirar o


projétil do corpo. Mas se ele estiver em um lugar que não esteja em contato
com nada, o organismo vai envolve-lo e ele vai ficar isolado. O problema é
quando ele fica na articulação e não é retirado. O líquido da articulação
ataca o chumbo, que se dissemina pelo organismo e pode entoxicar.

Aula 4

Lesões por instrumentos pérfuro-contundentes – PAF – Lesões de entrada

A função do projétil é perfurar, mas com calibre alto e ponta rombuda, ele
além de perfurar, contunde.

O mecanismo de lesão da PAF é a pressão que exerce sobre a superfície. O


grau de contusão é maior ou menor de acordo com a ponta do projétil.

Trajeto é diferente de trajetória. O primeiro é o percurso que o PAF faz


dentro do alvo. Trajetória é o percurso que o PAF da boca da arma até o
alvo.

A epiderme é destruída no ponto de contato do PAF, pois é mais rígida. A


derme, que é mais elástica, ela sofre uma envaginação, e o projétil tenta
atravessar, como se fosse um dedo de luva. O PAF vem sujo de diversas
coisas, ele ao passar na derme, praticamente se limpa desses resíduos. A
derme, após o PAF passar, volta ao seu tamanho normal. Por isso o orifício
de entrada é menor que o calibre da arma.

Por isso o desenho ficaria com a epiderme com um buraco maior, a derme
com um buraco um pouco menor e suja desses resíduos, desse sarro. Essa
parede suja leva o nome de orla de enxugo,(ou orla de resíduos). Como
escoriação é o arrancamento da epiderme com exposição da derme, essa
área limítrofe, chama-se também de orla de escoriação, que fica por fora
da orla de enxugo.

Quando aparecerem esses indícios, há evidência de lesão por PAF.

O conjunto dessas duas orlas, a doutrina chama de anel de fisch.

Quando o PAF passa, os vasos da derme sangram e o tecido gorduroso fica


sujo de sangue. Dai forma-se uma orla de equimose, em volta da orla de
escoriação.

Essas características são de disparos feitos à distância.

Agora veremos a incidência do tiro.

Se o PAF atinge a pele a 90º, ele vai lesionar a pele de uma maneira
uniforme por todos os lados. A orla de escoriação terá uma forma
concêntrica. Isso não quer dizer que eles estejam frente a frente, o que
importa é o ângulo de incidência do tiro.

Se o angulo de incidência é oblíquo, quando o PAF bater no corpo, o atrito


dele com a parte mais próxima da pele vai ser maior, dai nesse lado vai
haver mais detritos e escoriações. A orla de escoriação não será concêntrica,
terá formato de uma meia lua crescente.

A orla de escoriação vai ser importante para saber de onde veio o projétil.
Quanto mais espessa a orla de escoriação em relação ao outro lado, maior
será o ângulo de entrada.

No momento do disparo, o PAF parte, mas atrás dele fica a nuvem de gás
proveniente da pólvora. O gás se espalha em forma de cone, conhecido
como cone de dispersão.

A primeira camada seriam os gases superaquecidos, que são como uma


língua de fogo, que pode até denunciar a sua localização. Por isso algumas
armas tem um supressor de luminosidade.

Um pouco mais adiante, esse gás já não chega mais, mas a pólvora que
virou fumaça chega em forma de pequenos grãos, mas como são muito
pequenos, são logo detidos pelo ar. Não alcançam uma distancia maior.

Mas grãos de pólvora que não queimou tem uma massa maior, que vão um
pouco mais longe.

O PAF faz atrito com o cano, dai saem pequenos pedaços do cano, do
projétil e da mistura iniciadora da espoleta.

Quando encontramos uma lesão provocada exclusivamente pelo PAF, sem os


elementos do cone de dispersão, temos o tiro à distancia. Mas os elementos
do cone tem que naturalmente não ter alcançado. Porque se o autor usou
um travesseiro, casaco, etc. Entre a arma e a vítima, esse anteparo pode ser
usado como um filtro. Assim, tem-se a impressão que ele foi feito à
distância, mas foi feito à curta distância.

As vezes esse anteparo gera resíduos, como um vidro ou madeira. Assim,


tem que saber que tipo de resíduo está engastado em volta do ferimento.

Tiro à curta distância ou à queima roupa é aquele que, além do dano do


projétil, tem também as alterações provocadas pelos elementos
constituintes do cone de dispersão.

O nome é “à queima roupa” porque a pólvora de fato pode vir a queimar a


roupa, principalmente a pólvora antiga, pólvora negra. Hoje a pólvora
produz muito menos fumaça, por isso chamam de pólvora branca, em
oposição à negra.

De acordo com os elementos do cone que alcançam a pele, podemos saber a


distância do tiro. P. Ex.: se houver a queimadura, é porque o tiro foi dado de
muito perto.

Se houver uma fumaça no ferimento, se você limpar a fumaça vai ver as


pequenas partículas presas na pele.

O tiro de muito perto deixa a queimadura, que é chamada de orla de


queimadura ou orla de chamuscamento.

Esse esfumaçamento que fica em volta também é chamado de orla de


esfumaçamento ou orla de tisnado (que significa sujo).

Aquelas granulações abaixo da orla de esfumaçamento ficam na derme,


fazendo uma verdadeira tatuagem, por isso são chamados de orla de
tatuagem.

Uma vez que o cone vai abrindo, tem-se maior distância da boca do cano.
Você pode medir o tamanho dessas orlas, e, fazendo experiências em
laboratório, você pode saber a distância em que o tiro foi disparado.

Quanto mais pólvora tiver, mais longe vai o cone. O cone não costuma
passar de 70 centímetros. Dai, se não fizerem os testes, só da pra afirmar
que foi há menos de 1 metro.

Tiro a curta distância com incidência oblíqua:

Não se olvide que a área mais afastada do ângulo menor escoria menos. Só
que no tiro à curta distância, além da orla de fisch, o material pulverolento
que sair da boca da arma vai se espalhar em área mais extensa para o lado
oposto do ângulo pequeno, ficando com menor intensidade de pólvora
menor, e será menor a área e mais concentrada a pólvora no ângulo que
vier a bala. É o oposto da orla de escoriação que é maior na ângulo que vier
a bala.
O lance é que se o ângulo for muito pequeno, essa área de resíduos pode
parecer maior no lado em que a bala for disparada.

Pode haver lesão de entrada sem enxugo, desde que haja um anteparo
antes que filtre, limpe a bala. Assim, se tiver enxugo, é lesão de
entrada. Se não tiver enxugo, não quer dizer que não é lesão de
entrada. Pode ocorrer inclusive que um mesmo PAF entre duas vezes no
mesmo corpo. Na segunda entrada não vai haver orla de enxugo porque o
PAF foi limpo na primeira entrada. O enxugo quando presente, garante a
primeira entrada, isso é certo.

Tiro com o cano encostado sem osso embaixo:

Se a boca esta apoiada na pele, todo o material que sai da boca da arma,
não tem pra onde se expandir, dai todo ele vai entrar na pele. Dai vai haver
a orla de fisch com uma orla de queimadura. Não vai haver orla de
esfumaçamento ou de tatuagem, porque tudo entrou na pele. O tiro com
cano encostado não tem material pulverolento por fora, está tudo por
dentro. A pele, por se muito elástica, num exame de microscópio, as bordas
dessa lesão tem fissuras, que estão querendo romper, que só não se
rompem porque a pele é elástica.

Essas fissuras na pele podem aparecer também em disparos a distância


quando a bala vem com muita forca.

Disparo com o cano encostado com osso embaixo:

A bala passa direto pelo osso, mas quando os gases vêm, eles batem no
osso e voltam, mas voltam com uma pressão muito grande e o buraco de
entrada que seria proporcional ao calibre do projétil, faz um buraco muito
grande. Mas o que faz esse buraco são os gases. É o fenômeno da casca da
banana. A parte de dentro vira pra fora como se fosse casca de banana. Um
perito chamado Hoffmann, chamou essa lesão em boca de mina, porque
parecia uma boca de mina de carvão, porque ela fica toda preta em volta.
Também chamou de lesão em câmara de mina.

O buraco de entrada nesse caso é muito maior que a lesão de saída.

Quando a bala transfixa o crânio, no buraco de entrada, ele fica sujo de


pólvora, já que os gases entraram junto do crânio. Esse resíduo de pólvora
no osso do crânio, chama-se sinal de Benassi, normalmente, em baixo da
câmara de mina de Hoffmann, temos um sinal de Benassi.

Só que o osso do crânio é duplo, entre as duas camadas do osso, tem uma
membrana, que fica cheio de pedaços de osso. E essa bala quando bate no
osso, ela fica desestabilizada, dai o buraco na parte de dentro do osso do
crânio é maior do que a de fora, como se fosse a metade de um cone, que
leva o nome de tronco de cone, em ângulo divergente, crescente, em bisel.

Esse aspecto de funil leva o nome de sinal de Bonnet.


Na saída, o sinal de Bonnet fica invertido, menor na parte de dentro e maior
perto da saída.

O sinal de Benassi indica que foi encostado o tiro, o sinal de Bonnet tem em
qualquer entrada e saída de bala na cabeça.

As vezes, no local em que o tiro foi dado, a boca da arma fica desenhada no
local onde foi disparado o tiro, indicando que aquele é o buraco de entrada.
Esse desenho também indica que não há osso por baixo, porque senão
haveria uma boca de mina de Hoffmann. A esse desenho da arma na pele,
dá-se o nome de sinal de Puppe-Werkgartner.

É possível que haja um tiro com o cano encostado e com pólvora por fora,
desde que haja algum dispositivo que disperse o gás proveniente do cano da
arma antes do final da boca. Assim, nesses casos há a lesão de entrada e
queimadura por pólvora em cima do cano.

Se a arma não tiver encostada com firmeza, pode ser também que ela recue
um pouco e não entre tudo, ficando queimado em volta da entrada.

Lesão de saída:

Quando a bala sai, ele começa empurrando a derme, que é mais elástica,
que, por sua vez, empurra a epiderme. Dai a bala sai. Quando ela sai, a
derme e epiderme voltam para posição normal. Só que nesse caso não há a
orla de escoriação. Também não há orla de enxugo, porque os resíduos já
ficaram pelo corpo.

Assim, podemos dizer que a lesão de saída é, normalmente, maior que a


lesão de entrada, normalmente, não tem escoriação e nem enxugo. A
irregularidade da saída, dependerá da estabilidade do PAF. As vezes as
lesões de saída são tão atípicas que não se consegue saber se elas são
lesões de saída.

O mesmo acontece com a lesão de entrada, se elas forem atípicas. Dai o


perito tem que ficar ligado no trajeto, já que não dá pra saber pela entrada
ou saída. Ele deverá olhar lascas de osso, por exemplo.

O lance é que a vítima esta deitada, encostada no muro, com uma carteira,
o PAF não vai sair normalmente, dificultando a saída. Dai a derme empurra a
epiderme até o anteparo onde o PAF sairia, ai a derme se atrita com o
anteparo, nisso, a derme não tem como esticar, dai a derme não vai, dai o
atrito da epiderme com o anteparo faz com que eu veja uma orla de
escoriação na saída do projétil.

Orla de escoriação normalmente não tem na saída, mas nesses casos de


anteparo, a saída terá também a tal orla.
Trajeto:

Trajeto é o percurso que a bala corre dentro do corpo humano.

Avalia-se dentro do corpo a densidade do tecido que o PAF atingiu. Se


atingir um osso, por exemplo, ele vai liberar mais energia do que se
atingisse o pulmão. Neste ela passa com facilidade, despendendo menos
energia pra atravessar. A lesão do pulmão tem menos “exuberância” do que
uma igual no fígado, por exemplo.

Densidade = massa/volume (do órgão)

Quanto mais macio, menor duro, mais elástico, menos denso, e vice-versa.

Túnel permanente e cavidades temporárias:

Túnel permanente é quando a PAF passa e deixa um rastro, mesmo após a


morte eu posso saber qual foi o trajeto do PAF, em um tiro transfixante.

Quando o PAF vem, ele vem com uma velocidade, que pode de alta ou baixa
velocidade. Se ele é de alta velocidade, tem mais energia.

O projétil entra nos tecidos como se fosse uma lancha na água empurrando
a água ao passar, quanto maior a velocidade, mais ele vai empurrar os
tecidos pro lado.

O PAF de alta velocidade, além de fazer o túnel permanente, ele ao passar


pelo corpo, ele pode gerar lesões pela onda de pressão produzida por sua
passagem. De acordo com a resistência maior menor dos tecidos, teremos
lesões maiores ou menores.

Nisso que o PAF vai passando, forma-se uma cavidade, que só existe
enquanto o projétil ta passando, que, por isso, é chamada de cavidade
temporária. Essa lesão paralela vai depender dos tecidos pelos quais ela
vai passar. Depois que ele passa, a cavidade temporária tende a voltar ao
normal.

O PAF quando entra no corpo se desestabiliza, não tendo uma trajetória


retilínea, em regra. No túnel permanente ele fica em pé, vai virando, etc. No
que ele fica em pé, ele libera mais energia. Nisso, a cavidade temporária fica
maior. Ao longo da trajetória, o PAF vai virando cambalhota e assim vai
formando cavidades diferente. Além disso, a densidade do órgão que a bala
atravessar também vai interferir.

No PAF de baixa velocidade, a onda de pressão deles é muito pequenas, dai


não tem força suficiente pra gerar grandes lesões de cavidade temporária.
Não é que não tenha cavidade temporária, o lance é que elas são fracas.

PAF de ponta fina passam mais facilmente, liberam menos energia, fazem
cavidades temporárias menores. Quanto mais grossa a ponta, maior a
cavidade temporária. PAF blindado não se deforma, causa menos cavidade
temporária.

O trajeto é muito importante para você entender a incidência do disparo.


Você parte do pressuposto que o PAF seguiu uma trajetória retilínea. Mas ele
pode bater num osso e mudar o ângulo de incidência, por exemplo, dai ele
serve pra ter uma idéia.

Experiência com blocos de gelatina:

Quem vê mythbusters, pode avançar o tape...

Quanto mais deformável for o PAF, mais cavidade temporária ele faz.

Lesões por arma de fogo de disparo de cartuchos múltiplos:

O número de projéteis dependerá do número de balins que haja dentro do


estojo.

A ferida aqui dependerá da distância do alvo.

Aqui, você não vê uma ferida, mas um conjunto de feridas. A esse conjunto
de lesões dá-se o nome de rosa de tiro de Cevidalli.

Quanto maior o diâmetro da rosa, nas mesmas condições, o tiro foi menos
concentrado, mostrando que o tiro foi dado de mais longe.

Mas não pode se olvidar do choque, que serve para retardar a dispersão
dos balins. Dai isso pode fazer com que varie o diâmetro mesmo que na
mesma distância. O cano serrado, ao contrario, permite a dispersão mais
precoce dos balins. Há a possibilidade da bucha pneumática, que retardam
a dispersão também, já que esse copinho só se abre com s balins dentro
depois de estar do lado de fora do cano.

O perito não pode se basear exclusivamente na rosa de tiro de Cevidalli, já


que existem variações. Ele tem que conhecer a armar e o projétil.

As vezes dentro da pele você encontra a bucha pneumática. Bem como as


vezes do lado do buraco você vê escoriações das aletas da bucha, como no
sinal de Puppe-Werkgartner, indicando que a bucha deve estar de baixo da
pele.

É muito importante analisar as vestes da vítima, pois elas podem ser


capazes de filtrar os elementos do cone de dispersão. As vezes a bala passa
pelas vestes e leva um pedaço pra dentro do corpo.

Residuografia é o estudo dos gases expelidos pela arma. É possível que a


mão com resíduos da pólvora. Pode estar na mão da vítima, desde que ele
tenha tentado segurar a arma.

Já não se aceita mais a pesquisa de nitritos e de nitratos para identificar a


presença de pólvora, porque muitos outros produtos tem essas substâncias.
O que se busca hoje são micro partículas de metal, principalmente presentes
na cápsula de espoletamento, que podem ser metais variados, mas se
estiverem em quantidades compatíveis com a quantidade da cápsula, podem
indicar a autoria.

AULA 5

Respiração orgânica e respiração celular

Lesões e mortes causadas por asfixia

Conceito de asfixias – mecânicas

Chama-se asfixiologia forense. Asfixia significa falta de pulso e não falta de


ar.

Quimicamente, só dizemos que há asfixia em nível celular se houver falta de


oxigênio – hipoxia – e excesso de gás carbônico - hipercapnia ou
hipercarbia. Só um dos dois não é asfixia, deve haver a combinação dos
dois.

Para morrer, não é preciso que haja anoxia, que é a ausência de oxigênio,
mas só a hipoxia, dês que em níveis muito baixos.

Estudaremos a asfixia mecânica, que é tratada como uma energia


vulnerante físico-quimica, porque age-se inicialmente através de um
agente físico, mecânico, e, ao final, provoca uma alteração química no
organismo.

Sufocação direta pode ser a obstrução dos orifícios respiratórios. Se


eu usar toalhas, a sufocação não vai deixar vestígios, se eu usar as mãos,
provavelmente, vão ficar marcas dos dedos e das unhas na pele.

Outra forma de sufocação direta pode se dar pela obstrução das vias
aéreas superiores, que é a obstrução por balas, brinquedos, comida, etc.,
das vias respiratórias. O que acontecia com a bala Soft.

Nos dois casos, o problema é exclusivamente respiratório.

Outras vezes o problema é de sufocação indireta. Essa se dá quando


alguém coloca um peso em cima do tórax, por exemplo. Se ela for
comprimida de um modo que não consiga respirar, em 3 a 5 minutos ela
morre. O nome que se dá a essa forma de sufocação indireta é compressão
torácica ou do tórax.

Quando você observa a cabeça da pessoa que estava com compressão do


tórax, você percebe que começa a aparecer um pontilhado hemorrágico.
Esse pontilhado diz que há uma compressão, mas que não esta comprimindo
completamente, mas só o suficiente para que o tórax não se expanda. Dai o
sangue começa a acumular na cabeça, depois a extravasar graças a pressão
de forma progressiva.

Depois de um tempo parece que o cara está com uma mascara arroxeada. A
essa máscara se dá o nome de máscara de Morestin.

Essa máscara diz que um peso comprimiu o tórax de forma que o coração
não conseguisse receber todo o sangue de volta, deixando o sangue se
acumular nos vasos que deveriam levar o sangue de volta ao coração.

A intensidade da máscara de Morestin diz pro perito quanto tempo o cara


ficou com o peso no peito.

Outra forma de asfixia indireta é a crucificação. Como o cara ta preso na


cruz, o peso começa a forçar o corpo pra baixo, forçando a musculatura
respiratória, deixando ela exausta. Dai, aos poucos, ele ia se asfixiando.

Em se tratando de asfixia, não há sinais gerais que identifiquem-na –


patognomônico.

Petéquias são pequenas marcas de sangue, como mordidas de mosquito ou


pulga. Uma petéquias um pouco maior leva o nome de mancha de
Tardieu. O Tardieu quando via essas manchas tinha certeza que o cara
morreu por sufocação. Mas isso já foi superado.

Essas duas manchas indicam que na hora que ocorre um asfixia ou morte
rápida, o sangue se acumula nos vasos, esses se dilatam, dai o sangue
começa a extravasar, dando azo às petéquias ou manchas de Tardieu.

Um lugar que as petéquias são bem notáveis é o globo ocular na parte


esclerótica do olho, ou parte branca, que se chamam de petéquias
subconjutivais. Esse é um sinal sugestivo, e não afirmativo, de asfixia.

Asfixia por modificação do meio ambiente respirável:

Aterramento, soterramento, confinamento são modificações qualitativas e


quantitativas do ar que respiramos.

Até 6% de oxigênio em nível celular, o ser humano suporta. Abaixo disso o


cérebro começa a reclamar, tonteira, desmaio, visão turva, etc.

Se você trocar o ambiente respirável por líquido teremos afogamento.

Se você trocar o ambiente respirável por sólido em pó, sólido pulverolento,


granuloso, há soterramento.

Se você substituir o ambiente respirável por gases irrespiráveis ou não


tóxicos, haverá confinamento. Se for gás tóxico, termos envenenamento
ou entoxicação. É o caso do CO2, por exemplo.
Afogamento

É possível o afogamento sem que o corpo esteja completamente submerso,


desde que a boca e o nariz estejam.

O afogamento pode ser com água doce ou salgada. Na prática, não faz
diferença de qual o modo.

A água salgada é mais concentrada de partículas do que a água doce. O


sangue é menos concentrado do que a água salgada e mas concentrado do
que a água doce.

No momento é que há afogamento em água doce, como o sangue é mais


concentrado, o glóbulo vermelho começa a receber muita água a ponto de
estourar. No que ele estoura ele libera potássio (K) que é tóxico para os
músculos do coração, ocorrendo o fenômeno da fibrilação ventricular, que é
uma alteração do ritmo cardíaco. Assim, o coração não consegue bombear o
sangue.

Na água salgada, acontece o contrário, o sangue sai das hemácias, ficando


ela murcha.

Voltando à água doce, quando ela entra no alvéolo, faz osmose com a água
do sangue, como essa é mais concentrada, ela puxa a água do alvéolo
enchendo. (O afogamento em água doce leva em média 4 a 7 minutos). No
afogamento em água doce o sangue fica mais diluído, menos concentrado,
menos denso.

O sangue sai do pulmão e vai para o átrio direito, descendo para o ventrículo
direito, circulando o corpo e voltando para o coração, só que agora no átrio
esquerdo, indo para o ventrículo esquerdo, voltando para o pulmão e
recomeçando o ciclo.

Assim, no afogamento por água doce, o sangue no átrio direito (primeiro)


esta mais diluído, menos concentrado, do que no átrio esquerdo. Isso
porque muita água entrou no pulmão. Assim analisando a densidade do
sangue dos átrios ou ventrículos direitos e esquerdos, posso saber se foi
com água doce se a densidade do lado esquerdo for menor do que a do lado
direito.

Em se tratando de água salgada, o raciocínio é invertido, o sangue perde


água pro alvéolo. Assim, no exame cadavérico, vê-se a grande presença de
líquido no pulmão, ocorrendo o fenômeno do edema de pulmão. É tão
grande a quantidade de líquido que ele começa a voltar para a boca e
narina, ocorrendo o fenômeno do cogumelo de espuma.

Assim, o sangue fica mais concentrado no átrio esquerdo do que no átrio


direito.

Se a densidade dos átrios é idêntica, o boneco não morreu afogado,


podendo ter sido jogado no mar/rio depois.
Um tal de Carrara percebeu um fenômeno interessante. Quando você
coloca sal na água, a temperatura de congelamento cai. Quanto mais sal
você coloca, mais baixo fica o ponto de congelamento. Assim, você pode
estudar o ponto de congelamento dos sangues dos átrios esquerdo e direito
para ver qual estava com mais sal e, por conseguinte, saber se morreu em
água doce ou salgada.

Afogado Branco de Parrot: necropsia branca, pericia branca, morte


branca. Toda vez que você procura algo e não acha nada como causa da
morte, você fala de pericia branca. A causa da morte é indeterminada.

Dai, para solucionar isso, alguns caras vieram com a tese de que quando
alguém pula numa água muito fria, haveria o choque térmico, ocasionando o
grande refluxo de sangue pro coração repentinamente de modo que o
coração não agüente. Poderia ocorrer também que a pessoa engoliu
pequenas quantidades de água na laringe ocasionando os espasmos da
glote, fechando a passagem de ar. Nesses dois casos a pessoa morre dentro
d’água sem água nos pulmões.

Portanto, o afogado branco de Parrot, na verdade não é afogado, ele morreu


por problemas neurológicos, reflexos, sem deixar qualquer vestígios, mas
dentro d’água.

Outro modo de saber se a pessoa morreu afogada, é analisando se uma


algas microscópicas, chamadas diatomáceas, entraram na corrente
sanguínea, sendo espalhadas pelo corpo todo.

Assim, as vezes o cara morre dentro d’água e os peixes comeram tudo, dai
não dá para saber o que aconteceu. Dai se analisam os ossos para ver se ele
tem algas diatomáceas na medula óssea, se tiver é porque ele aspirou água
com algas, que foram parar dentro dos ossos.

De acordo com as algas encontradas dentro dos ossos, da pra saber mais ou
menos o local em que ocara morreu, porque essas algas são diferentes de
região para região. Assim, mesmo que o cara tenho sido levado pela
correnteza, da pra saber aonde ele morreu, pelo menos mais ou menos. Isso
só no CSI Miami.

Agora vamos estudar as lesões post mortem e intra vitam.

Há 5 fases de afogamento, a primeira fase, ela se agita, luta contra o


afogamento. Na 2ª fase ela faz uma apnéia voluntaria, segurando o ar. Só
que como o gás carbônico vai aumentando dentro do sangue, esse excesso
vai estimulando o bulbo, que faz a pessoa respirar, ai entramos da terceira
fase, que é a hipernéia involuntária. O que mata o cara em baixo d’água
não é a falta de oxigênio, é o excesso de gás carbônico. A seguir o cara
entra em coma asfíxico – 4ª fase, morrendo em seguida, 5ª fase.

Quando você olha um pulmão de um afogado, a água rompe os alvéolos,


causando uma equimose. Assim, teremos as petéquias, pequenas, as
manchas de Tardieu, um pouco maiores, e agora sim, exclusiva do
afogamento, as manchas de Paltauf, que são ainda maiores que as de
Tardieu.

Não há afogado sem mancha de Paultauf.

Soterramento

Há soterramento no sentido estrito e amplo. No amplo é aquele caso você


encontra o cara literalmente em baixa da terra, mas pode ser que ele não
tenha resíduos nas vias aéreas. Se ele estiver com resíduos nas vias aéreas,
há o soterramento em sentido estrito.

O material só entra no pulmão se o cara foi soterrado vivo.

Confinamento

O individuo fica preso num ambiente que não permite a renovação com o ar
atmosférico. Por exemplo, o caso do submarino russo Kursk.

No que a quantidade de CO2 aumenta no ambiente e cai o O2, o corpo


apresenta um quadro de hipertermia, aumenta a temperatura do corpo.
Assim o cara sua muito, evaporando esse suor, o ambiente fica úmido, por
conta disso, o suor começa a demorar mais pra evaporar. Assim, se
tivermos um quadro de suor, umidade, hipoxia e hipercapnia, esse cara
morreu por confinamento em ambiente fechado.

Mas existe confinamento em ambiente aberto, como em fossos que são


estreitos e fundos. Assim, como o ar não circula lá em baixo, pode ser que a
concentração de oxigênio lá chegue a 5%. Assim, após algum tempo a
pessoa pode desfalecer. Ai lá no fundo tem um palmo de água, mas como o
cara desfaleceu, ele se afoga em um palmo de água.

Asfixias por constrição do pescoço

São asfixias mecânicas.

No momento em que o pescoço é apertado, nós podemos ter problemas em


nível circulatório, arterial ou venoso; podemos ter problemas ainda na área
neurológica, como no nervo vago que passa pelo pescoço, como também no
seio carotídeo. Podemos ter ainda problemas respiratórios, na traquéia,
laringe e no osso hióide. Podemos ter também problemas raquemedulares,
quando a constrição afetar a coluna vertebral. O mais raro é o
raquemedular. O mais comum é o problema circulatório, como no mata leão.

As vezes, a pessoa para separar um briga, pega no pescoço da outra e


estimula o nervo vago, que é quem manda o coração bater. Dai da uma
sobrecarga nele e, em pessoas com predisposição, pode gerar uma parada
cardíaca, mesmo sem querer, matando a pessoa.

Bradicardia – oposto da taquicardia, ou seja, poucos batimentos do


coração.

Asfixia mecânica do pescoço com as mãos é chamada de esganadura.


Encontram-se marcas de dedos e de unhas no pescoço. Estigamas
unguiais marca de unha, estigmas digitais, marca de dedos.

Asfixia mecânica por meio de laço leva o nome de estrangulamento ou


enforcamento.

A diferença é que se a força que apertar o laço for o peso do corpo, termos
enforcamento. Se qualquer outra força que não seja o corpo da vítima
apertar o pescoço, termos estrangulamento.

Há sinais especiais no enforcamento e estrangulamento.

A marca deixada pela corda chama-se de sulco, analisando o sulco, podemos


saber qual foi o tipo de asfixia.

Quanto menor a superfície, o calibre da corda, precisaremos de menos força,


fazendo um sulco bem visível. Se usarmos um medidor de pressão, não
haverá nenhuma marca. Corda de sisal arranha o pescoço. O sulco vai
depender do material utilizado, as vezes fica até um decalque do
instrumento utilizado, como os elos de uma corrente.

Quando o sulco aparece, eu posso saber se foi enforcamento ou


estrangulamento.

Se ele tava pendurado, o sulco vai ser obliquo, ascendente e vai apertar
mais de um lado do que do outro, tendo profundidade variada.

Diferentemente do estrangulamento, em que o sulco é horizontal, a


profundidade do sulco é mais uniforme e ele é contínuo.

No enforcamento, normalmente o sulco é alto, acima da laringe, acima do


osso hióideo. No estrangulamento o sulco costuma ser baixo.

Só que esses indícios são apenas sugestões, porque nada impede que a
vítima estivesse ajoelhada e o agressor mais alto. Assim, seria um
estrangulamento com indícios de enforcamento. Principalmente se depois da
morte, o agressor pendurasse a vítima pelo pescoço. A posição e a forma do
sulco são apenas sugestivos, não são patognomônicos, afirmativos.

Enforcamento completo é aquele que não tem nenhuma parte do corpo no


chão. O incompleto é aquele que a vítima tem alguma coisa apoiada no
chão.

Isso porque só o peso da cabeça já é suficiente para enforcar.

O perito não diz se foi suicídio, homicídio ou acidente, ele só diz que foi
enforcamento.

Se o nó esta na parte de trás, posterior do pescoço, chamamos de


enforcamento típico. Se o no esta em qualquer outra parte do pescoço,
chamamos de atípico.

A parte que aperta o pescoço chama-se alça, que é sustentada pelo nó. Esse
nó pode ser fixo ou corrediço. Normalmente quando ele é corrediço, ele
encosta no corpo, quando é fixo ele normalmente não encosta no pescoço.
Assim, se ele aparece, provavelmente teremos um nó corrediço.

A alça pode passar mais de uma vez ao redor do pescoço, criando sulcos
múltiplos ou simples.

Na hora que o pescoço começa a ser apertado, o organismo entra em vaso


dilatação, dai esses vasos podem se romper, principalmente no olho,
chamada subconjuntival.

Quando há enforcamento, há um estiramento do pescoço por conta do peso


do corpo.

A artéria carótida do pescoço, tem três divisões, interna, externa e média,


chamada túnicas interna, média, etc. Quando o pescoço é esticado no
enforcamento, vasos sanguíneos da carótida se rompem, causando uma
equimose na túnica externa, conhecido como sinal de Friedberg.

Mas quando esticou, a túnica interna também se rompeu, esse rasgão é


conhecido como sinal de Amussat.

Outro sinal muito importante é o que fica também na carótida quando


alguém esgana com tanta força que o sinal da unha fica marcado em meia
lua na carótida, conhecido como sinal de França.

O nervo vago é protegido por uma bainha, e quando há o estiramento, há


uma ruptura dessa bainha, conhecido como sinal de Dotto.

A presença desses sinais é sugestiva e não patognomônica.

Como no enforcamento há a vaso dilatação, as vezes você encontra o pênis


do enforcado com ereção, até mesmo ejaculação. Assim, criou-se a lenda de
que enforcamento é prazeroso. Chama-se de asfixia auto-erótica.

Aula 6

Lesões e morte causadas pela energia térmica


Calor é a variação na quantidade de energia térmica transferida de um
sistema para o outro.

Há conceitos básicos para estudar essa matéria, que são a) insolação: as


lesões térmicas são causadas pelo sol; b) intermação: qualquer outra fonte
de calor que não seja o sol.

O nosso mecanismo interno de controle de calor fica na base do bulbo,


denominado hipotálamo, onde funciona o centro termorregulador. É lá que
saem as ordens para que o organismo se adapte a variações de
temperatura.

Atualmente sabemos que se o problema resulta de alterações no


hipotálamo, as lesões são chamada de insolação. Mas se a responsabilidade
não é do hipotálamo, podendo ser do sistema cardiovascular, por exemplo,
então nos temos uma alteração que recebe o nome de intermação.

Esse é o conceito moderno desses conceitos.

Outra classificação vai depender do contato direto ou não da fonte térmica


com o corpo. Se a ação do calor age no corpo de forma difusa (não há
contato), então nos temos uma alteração que recebe o nome de
termonose. Se há o contato, nos temos a queimadura.

Não há queimadura do sol, há, na realidade termonose. O mesmo se eu


receber o calor de uma fogueira, mas estiver distante dela.

Os agente vulnerantes mais comuns para provocar queimaduras: a) fogo, b)


liquido fervente, c) líquidos ferventes, d) gases superaquecidos, e) sólidos
incandescentes, f) substancias cáusticas, g) alguns fármacos e h) vegetais.

Os fármacos dentro do corpo sob determinadas fontes térmicas ou químicas


podem gerar farmacodermites. Já a ação térmica sobe vegetais em
contato com o corpo leva o nome de fotofitodermites.

Fogo

A proporção que o fogo vai se aproximando, o corpo tenta se defender. A


primeira reação é uma vaso dilatação periférica, não conseguindo, os
líquidos começam a extravasar, dai começa a haver uma elevação da
epiderme. Depois a epiderme começa a se romper.

Se notarmos tão somente a vaso dilatação na pele, avermelhada, termos o


eritema, ou queimadura de 1º grau.

Quando começa a aparecer extravasamento de líquidos vasculares, elevação


e ruptura da epiderme, nos já temos o aparecimento das flictemas ou
bolhas, que são as queimaduras de 2º grau.

No momento em que a derme começa a ser agredida, essas lesões já


caracterizam a escarificação da derme ou queimadura de 3º grau.
Após o fogo romper a derme, escarificar, a ação térmica é tão intensa que
ocorre o fenômeno da carbonização ou 4º grau.

Lussena classificou esses sinais e numerou-os em graus.

Quanto mais profunda é a lesão, significa que a lesão foi maior. Entretanto a
carbonização não foi tão profunda, sendo superficial. Ela nem sempre é
mortal, podendo ser superficial, parcial ou geral.

Cauterizar verruga nada mais é do que carbonizar a região.

A carbonização, mesmo quando total ou profunda isto não significa que a


pessoa morreu carbonizada. A carbonização total ocorre normalmente em
organismo que já morreu de uma outra causa qualquer, ficando o corpo em
contato com o fogo e sendo carbonizado.

Não se atesta diante de um cadáver carbonizado que ele morreu de


carbonização, devendo se fazer um exame profundo para saber a real razão.

Mas como caracterizar que as lesões foram feitas pelo fogo no exame
cadavérico?

É preciso observar as características das lesões deitas pelo fogo.

Uma forma é analisar o pelo do corpo. O pelo ao ser queimado, queima e


encolhe, ficando esturricado, crestados.

Outro jeito é: o fogo queima aonde ele encostar, podendo causar


carbonização, em qualquer parte do corpo, aonde quer que ele atinja
(diferentemente do líquido fervente), sendo a gravidade homogênea com o
contato.

As vestes podem influenciar também, protegendo ou amplificando a ação do


fogo.

“Onde há fogo, há fumaça”. Na fumaça há óxidos. Quando esses óxidos


entram em contato com a água e com o muco da arvore respiratória,
formam substancias ácidas, que reagem de forma exotérmicas, causando
queimaduras internas, chamadas lesão de inalação. Se existe essa lesão, a
vítima estava viva dentro do incêndio. Essa lesão pode causar o fechamento
da glote, causando asfixia. Pode ser que ocorram lesões na mucosa da
arvore respiratória, que pode infeccionar e levar à morte.

Assim, se o cara foi encontrado carbonizado, mas não haviam lesões de


inalação, é porque, provavelmente, ela já estava morta quando o fogo a
atingiu.

A fuligem da fumaça se deposita sobre a mucosa da árvore respiratória, nós


vemos o sinal de Montalti, que nada mais é do que a fuligem na mucosa
da árvore respiratória.

Se não tem sinal de Montalti, pode ser que já estivesse morto. Se tem o
sinal, é porque tava vivo na hora do incêndio.

Características das lesões causadas por líquido fervente

A transferência de calor depende da superfície de contato, transferindo-se o


calor do mais quente pro mais frio.

Aqui as fases são exatamente iguais às do fogo com exceção do 4º grau.

Aqui os pelos também não serão crestados.

Pela gravidade, o líquido escorre, nisso ele vai esfriando, dai o ponto de
contato tem uma queimadura mais intensa do que as áreas subjacente, dai
dizer-se que a gravidade é decrescente a medida que o líquido escorre ao
longo do corpo.

Pode acontecer que ao esfriar o líquido junto à pele, ele se resfrie, passando
a ter um aspecto sólido, deixando vestígios no corpo (pixe, cera, lacre).

Características das lesões por sólidos incandescentes

A ação vai ser muito parecida com a do fogo, havendo pelos crestados,
carbonização, mas só onde o ferro encostar. Ficará marcada uma cicatriz
capaz de representar a forma do sólido.

Estigmatizar outrem pode configurar lesão corporal gravíssima tendo em


vista a deformidade permanente.

Lesões por vapores superaquecidos

Pode ser vapor em uma caldeira, que, ao atingir o corpo, transfere a energia
térmica para o corpo. Nesse caso também não há queimadura de 4º grau ou
pelos crestados. A lesão vai ser homogênea, ao contrário dos líquidos.
Assim, podemos diferenciar um do outro. Quando há grandes pressões, o
vapor pode até arrancar as roupas da vítima, gerando lesões generalizadas.

Lesões causadas por agentes cáusticos

Serão tratados juntamente com agentes químicos. Mas já sabemos que eles
causam queimaduras porque causam uma reação exotérmica, que pode
queimaduras de até 4º grau. Mas não utilizamos o termo carbonização, mas
sim necrose de coagulação.

Fotofitodermite

Normalmente é causado por limão quando exposto aos raios solares. Há


uma reação com o líquido, queimando a pele. Gera lesões no máximo de 2º
grau.

Pode ocorrer com bronzeadores caseiros usando folhas de figo. Assim, tudo
o que não estava protegido por roupas sofreu queimaduras.

Lesões bolhosas que se confundem com queimaduras


Há uma quantidade muito grande de lesões bolhosas que se confundem com
queimaduras de 2º grau.

É o caso, por exemplo, das farmacodermites, reações anômalas a um


determinado agente químico (remédio) que, normalmente, não produz
aquele efeito. Isso é uma idiossincrasia.

Tem que ter cuidado com a afirmativa de que a lesão bolhosa é decorrente
de queimadura

Dentro do líquido de queimadura há uma grande concentração de proteínas.


Essa característica é só de queimaduras em pessoas vivas. Isso se chama
sinal de Chambert.

Em queimaduras em pessoas mortas, há o líquido, mas não há proteínas.


Pode ser post mortem ou por causa da putrefação.

Aspecto médico-legais do cadáver carbonizado

Grave problema é identificar o carbonizado quando há uma carbonização


generalizada, porque não tem mais pele, olhos, cabelo, etc.

O cadáver carbonizado fica com os braços totalmente flexionados, como se


fosse um lutador de boxe. A flexão dos músculos é tão forte que pode
quebrar ossos. Isso ocorre apenas após a morte. Essa posição se dá o nome
de sinal de Devergie ou do boxeur, esgrimista, saltimbanco, lutador.

A mesma coisa se dá nos músculos inferiores.

Para poder identificar você pode usar as digitais se elas estiverem


preservadas, ou uma dobra, prega, se apresenta preservada e nessa parte
dobrada tem uma tatuagem ou uma cicatriz.

Mas se carbonizou completamente temos que procurar outras formas de


identificação.

É impressionante, mas a carbonização funciona como um isolante térmico.


No momento que a superfície é carbonizada, protege-se os órgãos internos.
As vezes, só.

Nesse interior podemos encontrar elementos importantes para a


identificação.

Hoje em dia, qualquer pedaço desprezível de material preservado poderá ser


utilizado para fins de exame de DNA. O problema são as regiões onde não
há DNA.

Assim, a arcada dentária funciona como identificador, se ela tiver sido


preservada.

Procura-se por eventuais cirurgias, como apendicite, ligadura de trompas,


etc. Pode resolver a identidade também.
O cadáver carbonizado tem que ser aberto para averiguação.

Fasciotomia – você corta a cobertura tendinosa do músculo quando a


retração da pele após uma queimadura pode impedir o fluxo sanguíneo,
causando uma isquemia.

Dai quando isso vai pro legista, esses cortes podem ser interpretados
erradamente, confundindo a fasciotomia com lesão criminosa.

A causa mais comum de pessoas queimadas é a destruição da pele, dai a


pessoa perde água e sais minerais, não sendo possível repor. Quanto maior
a área queimada, maior a chance de desidratação.

Dai Wallace criou a regras do 9 O esquema é o seguinte, você pega o


corpo e divide em cabeça (9%), braços(9% x 2), pernas(9% x 2), tronco
(18 %) e dorso (18%). A soma é 99%, 1 % é a área genital. Ao entrar a
pessoa queimada no hospital, o medico faz o somatório das áreas
queimadas para saber a área queimada. De acordo com o percentual e a
profundidade modifica-se o procedimento médico. A partir de 50% o negócio
começa a ficar preto.

A segunda causa de morte é a infecção, porque sumindo a epiderme, a


derme fica exposta à atuação do micróbios.

Pode ocorrer também a já citada lesão de inalação, gerando infecções


internas.

As pessoas nos hospitais podem apresentar a úlcera de estresse de


Curling. Isso não é uma úlcera, são pequenas ulcerações na mucosa
gástrica, gerando uma hemorragia digestiva, podendo levar a uma anemia
aguda, matando o cara.

Modernamente, a graduação em graus foi substituída pela classificação de


Krisek, agora se fala em queimaduras superficiais (1º grau), parcial -
superficial ou profunda (2º grau) – essas regeneram - e totais (3º grau) –
essas cicatrizam.

Ele não fez menção à carbonização.

Mecanismos de transferência de energia térmica

1) condução – contato entre os sistemas.

2) Irradiação – a onda térmica alcança o sistema receptor estando a


fonte distante.

3) Convexão/convecção – sucessivas camadas de ar ou líquido fazem a


comunicação (cachoeira, ventilador).

4) Transpiração – perda de calor graças à evaporação do suor liberado na


pele.
Quem avisa pro corpo que ele tem que suar é o hipotálamo (lembra ainda?).

A primeira ordem é vaso dilatação periférica, ao mesmo tempo os pelos são


abaixados. Depois produz-se e elimina-se o suor.

O problema é que as vezes o hipotálamo para de funcionar. Dai não se


perde mais calor pela transpiração, e a temperatura interna começa a subir
hipertermia. Dai fica com o corpo quente e a pele seca – sinais de
insolação.

Se perder muita água, entra em sincope térmica, desmaiando, porque o


primeiro órgão principal a ficar sem água é o cérebro.

O problema que esse pessoal de síncope morre com necropsia branca, ou


seja, sem sinais.

Agora, se o ambiente for frio, ao invés de fazer vaso dilatação, vai fazer a
vaso constrição, pra não levar o frio pra dentro. O problema e que se estiver
muito frio, ele fecha muito os vasos, podendo gerar uma isquemia das
extremidades. Isso pode gerar a necrose dos tecidos se demorar muito, já
que não chega oxigênio nos tecidos. Isso pode chegar ao extremo de
amputação dos tecidos necrosados.

Os pelos aqui ficam eriçados.

Aqui há inibição da sudorese. Por outro lado aumenta-se o metabolismo, dai


a pessoa começa a tremer para aumentar a temperatura interna.

Há também o aumento do apetite. No calor extremo há a redução do


apetite.

OBS: encontrei a pessoa caída, o corpo quente e a pele úmida, o problema é


de intermação, não é do hipotálamo. Agora, encontrei a pessoa caída, o
corpo ta quente e a pele seca, temos insolação, problema no hipotálamo.

O lance é que a intermação com o tempo acaba afetando o hipotálamo.

Lesões causadas pelo frio

Não são muito comuns aqui, mas temos que saber.

Normalmente nós estamos perdendo calor constantemente para o ambiente,


Só que em ambiente muito frio essa perda é muito exagerada.

Quando estamos em muito frio, também podemos ter lesões de 1º a 3º


grau.

O 1º grau é a mesma coisa. Eritema. O 2º grau também, flictemas.

Só que no 3º grau muda. No calor quente o que ocorre é a escarificação,


aqui ocorre a granguena ou a necrose, em primeiro lugar nas
extremidades.
A amputação é o resultado final da área necrosada.

Uma outra complicação é que o corpo todo sofre com o frio. No calor quente
aparece a úlcera de Curling, aqui vão aparecer a úlcera de estresse de
Wischneswski. Do mesmo jeito que a de Curling não é causada pelo calor,
mas sim do estresse que a vítima apresentava por estar internada no
hospital, a mesma coisa no frio, são inúmeras pequenas úlceras que causam
sangramento no estomago.

O frio impede a putrefação.

Em algumas cirurgias pára-se o coração, dai precisa-se diminuir o


metabolismo. Para isso diminui-se a temperatura do corpo para 22º para
operar e depois volta a temperatura.

Algumas pessoas caem na água fria, parecem que estão mortas, o


metabolismo pára, mas fazendo-se a ressuscitação, essas pessoas voltam a
vida sem seqüela. Ou seja, não dar o paciente como morto após cair na
água gelada sem ele apresentar outros indícios de morte que não a parada
cardiorrespiratória.

Lesões e morte causada pela energia radiante

É a radiação ionizante. Podem causar lesões extremamente parecidas com


queimaduras. Os eritemas e flictemas são iguais. Mas ao invés de
escarificação, temos a ulceração – nada mais é do que a lesão da derme,
mas é de difícil cicatrização – que pode chegar à necrose.

São queimaduras, mas são mais complexas.

OBS: corpo carbonizado com marcas de arame ao redor, circundados, sinal


de utilização do “microondas” do tráfico.

OBS: só da pra andar sobre as brasas porque há uma fina camada de cinzas
cobrindo as brasas, isolando o calor. Por isso que só se anda sobre brasas a
noite, porque não é perceptível o uso das cinzas.

Aula 7

Lesões e morte causadas pela ação elétrica

É uma forma vulnerante de ordem física. Temos as seguintes fontes de


energia elétrica: Natural, cósmica ou meteórica, bem como a industrial,
fabril ou doméstica.

Primeiro vamos analisar a energia elétrica natural.

O nome que se dá é eletrofulguração (ou só fulguração)– lesão causada


pela energia elétrica natural. Entretanto, alguns autores dividem em
eletrofulguração quando a lesão não é mortal e eletrofulminação(ou só
fulminação), quando a lesão elétrica causa a morte.

Efeito Joule – transformação da corrente elétrica em calor.

Esse calor é tão grande que pode gerar carbonização. A transferência de


energia é tão abrupta que é normal as roupas serem arrancadas do corpo,
rasgadas e, as vezes, queimadas. Daí a vítima fica pelada.

As vezes a vítima é atingida pelo raio e não há qualquer efeito, ou


queimaduras de primeiro grau. Mas não se sabe porque ao certo. Além
disso, o raio pode gerar lesões de 1º ao 4º grau, cataratas, lesões auditivas,
lesões psicológicas permanentes ou temporárias. Ou seja, nas lesões
causadas por eletrofulguração tem um leque enorme, desde nada até a
morte – com ou sem carbonização.

As vezes, quando a pessoa é atingida pela energia elétrica aparece um sinal


característico, chamado de sinal de Lichtenberg – Licht é luz em alemão.
Esse sinal não é obrigatório. Ele parece uma ramificação, como se fosse uma
folhagem. Isso não mais é do que a vaso dilatação dos vasos sanguíneos
que da pra ver através da pele. Ele é temporário.

O que chama muita atenção no local em que houve a lesão é que ao lado do
cadáver, junto às roupas espalhadas, é comum que as peças de metal do
ambiente fiquem imantadas – é o fenômeno da imantação. Pode, ser
cintos, relógios, cordões, anéis, etc.

A vítima é jogada no chão quando bate o raio, daí pode ser que ele tenha a
marca de Lichtenberg, mas o que lhe causou a morte foi a ação contundente
da queda. O sinal de Lichtenberg não é patognomônico, nem obrigatório,
mas na ausência de outras lesões mais a imantação, vai permitir que o
perito indique a ocorrência da eletrofulguração.

Morte causada pela ação elétrica industrial

Aqui a terminologia não é mais eletrofulguração, mas eletroplessão (com L


mesmo, já que plessein significa ferir em grego – assim a palavra é ferir
com eletricidade).

A pele tem uma grande resistência elétrica, não havendo concordância da


exata medida, variando de 5 mil a 30 mil ohms. Agora, nos pontos em que a
pele é mais fina, lisa, a resistência é menor. Aonde a pele é mais espessa,,
áspera, grossa, a resistência é maior. A resistência também varia se a pele
estiver suada, molhada, com cremes hidratantes, descendo a resistência até
mil ohms.

Não se esqueça da fórmula de física de V= R x i. Se a resistência é maior, a


corrente (i) é menor.

Normalmente uma corrente de 100 mA(mili-ampere) é suficiente para


matar. Mas pode ser que o cara seja atingido pela corrente maior do que
esta e não morra. Isso vai depender de onde ele foi atingido.

A corrente elétrica só entra quando ela possa sair, devendo haver um ponto
de escoamento, que, normalmente, é a terra. Se não der pra fechar o
circuito, a corrente nem mesmo entra.

A corrente elétrica interfere nos batimentos do coração, podendo causar


fibrilação ventricular (que é um tipo de arritmia, daí o coração perde força),
ou até parada cardíaca.

A corrente procura sempre o percurso mais curto em com menor resistência.

No lugar aonde a pessoa encosta no fio condutor aparece uma marca,


conhecida como marca elétrica de Jellinek, mas ela não é obrigatória,
nem sempre ela aparece. E quando aparece, não quer dizer que a pessoa
morreu de eletroplessão, significa que a pessoa foi atingida por uma
corrente elétrica. Pode ter morrido pela queda após levar o choque.

Autopsia branca é aquela que não mostra qualquer sinal de lesão, que
justifique a morte.

Essa marca de Jellinek pode reproduzir a forma do ponto de contrato na


pele.

Os sinais internos são aqueles de qualquer morte súbita, rápida, sem perda
sanguínea, que são sangue fluido e escuro, petéquias disseminadas,
congestão polivisceral e livores cadavéricos escuros.

A lesão de entrada é dura, é seca, áspera, se a pessoa sobrevive é indolor,


ela é escavada no centro e elevada nas margens. No exame sob o
microscópio da marca de Jellinek os núcleos e citoplasma das células estão
alongadas, como se fossem uma cerca de toras. Além disso, a lesão de
entrada é acida e seca. A lesão de saída é alcalina e úmida. Isso deveria ser
verdade, teoricamente – puta merda.

Isso por isso acontece quando estamos diante de uma corrente continua,
onde os fluxos dos elétrons vão sempre em uma direção. A corrente
continua também é chamada de corrente galvânica.

Já na corrente alternada ou farádica, o fluxo de elétrons oscila, ora é em


um sentido, ora é em outro. As oscilações ocorrem de 50 a 60 vezes por
segundo. Assim a corrente é de 50 ou 60 Hz. Nesses casos, não há as
características acima citadas, pois ambas as lesões de entrada e saída tem
as mesmas características, não havendo aquela diferença de básico e acido,
seco e úmido.

A corrente elétrica quando passa pelo coração muda de sentido 60vezes por
segundo, daí o coração que bate umas 70 vezes por minuto fica
descontrolado. Daí o movimento do coração que é ritmado, se transforma
num movimento descontrolado. Isso é a fibrilação ventricular.
Daí vem o desfibrilador, que é uma corrente continua que da uma ordem de
parar tudo, gerando uma parada cárdica. Essa parada pára aquele batimento
desordenado, daí o organismo recupera o ritmo natural. O lance é que ele
pode não voltar a trabalhar, daí tem que fazer CPR(sigla em inglês).

Isso vale para as correntes de baixa intensidade. Vermos agora as de média


e baixa intensidade.

As vezes a pessoa pega num fio condutor com média ou alta amperagem
que nem passa pelo coração, mas ela ao passar faz com que a musculatura
periférica responsável pela respiração sofra um espasmo, que é uma
contração que não se interrompe, que se mantém. Pode ocorrer no braço e
na mão que ta segurando esteja sofrendo espasmo, daí você não consegue
soltar. Daí a pessoa morre asfixiada com o coração batendo.

A corrente pode passar pelo bulbo, que tem os centro cardiorrespiratórios,


podendo bloqueá-lo, daí você vai morrer de parada cardiorrespiratória, mas
não mais de origem periférica, mas de origem central.

No que aumenta a corrente, o efeito Joule também aumenta, aumentando a


temperatura do corpo, podendo a hipertermia colaborar para a morte
também (50º a 60º).

A corrente quando é forte ao ponto de causar a carbonização causa a


desidratação, podendo gerar um isolamento, impedindo a passagem da
corrente. Dois caras perderam as mãos, mas não morreram.

O motivo de a corrente elétrica matar é o seguinte. A membrana


citoplasmática escolhe o que vai entrar e sair da célula, tendo uma diferença
de polaridade o interior e exterior da célula. Além disso há uns poros que
deixam, ou não as coisas entrarem e saírem. Só que ao passar a corrente,
há um alargamento dos poros. Esse alargamento recebe o nome de
eletroperfuração. Ela não perfura, mas alarga os buracos, alterando a
capacidade seletiva da membrana. Daí, a depender da importância da célula,
podem surgir lesões desde desprezíveis até a morte.

Fisiopatologia da corrente elétrica no corpo humano

Taser – autopsia em vítimas de corrente elétrica.

O corpo humano é um condutor elétrico.

Mas se você se pendurar em um fio “vivo”, não fechará o circuito, o


problema é quando você encosta em outro fio ou no chão. Quando você
encosta no chão você fica numa rede em paralelo, você não recebe a
corrente toda, mas apenas uma parte. A força da corrente depende da
resistência que a vítima oferecer. A corrente prefere sempre escoar do ponto
de menor resistência.

Se o fio arrebentar e não encosta no chão, o cara que pegar na corrente,


receberá toda a corrente, estando ligada em série. Se ele encostar no chão,
volta a ser em paralelo.

A depender da força da energia elétrica, não é necessário nem mesmo que


você encoste no fio, formando-se o arco elétrico e pegando você à distância,
correndo pelo ar. São aquelas faíscas entre esferas de metal. A quantidade
de energia elétrica é tão grande que salta pelo ar. Quanto maior a voltagem,
mais distância o arco alcança.

A energia elétrica também é usada pelo taser como arma menos que letal
(less than letal weapon), na linguagem mais moderna (antigas não letais).
Esse aparelho pode ser de contato ou disparado (voador), ele tem baixa
amperagem corrente, mas alta voltagem. Esse sinal quando entra no corpo
confunde as ordens dos sistema nervoso central, daí a vítima não consegue
gritar ou reagir, instantaneamente caindo no solo. Nos 15 segundos
seguintes a pessoa fica sem reação. A arma é paralisante em conseqüência
da grande voltagem. Ocorre que o taser pode matar. O taser é uma arma
controlada, não podendo ser livremente utilizada no Brasil.

O taser transmite a eletricidade até mesmo pela roupa.

O que pode ser disparado (voador), ao ser acionado, lança ao ar inúmeros


confetes que podem identificar a arma.

O taser impede que o neurotransmissor passe as mensagens ao músculo,


confundindo, entrando em flacidez, perdendo a vítima o controle e
desabando.

No sinal de Lichtenberg, repare que ele aparece na pele, mas a lesão ocorre
não na pele, mas nos vasos sanguíneos superficiais.

A morte na corrente elétrica de baixa amperagem geralmente ocorre por


fibrilação ventricular. Mas o legista não vê a fibrilação ventricular, porque ela
só pode ser vista em vida com um monitor cardíaco. O que ele pode ver é o
sinal de Jellinek ou o sinal de Piacentino, - que são hemorragias
puntiformes na parede do quarto ventrículo encefálico.

Mas se ele tem elementos que a vítima estava sofrendo fibrilação e depois
morreu sem deixar vestígios, ele pode sugerir que a morte ocorreu pela
energia de baixa voltagem.

No exame cadavérico nas mortes de eletroplessão ou eletrofulguração deve


se abrir tudo (cavidade craniana, torácica, abdominal e raquena – nas
costas), sendo os órgãos analisados minuciosamente. Macroscopicamente,
as vezes encontramos o dito sinal de Piacentino, que é super raro, que é
uma hemorragia petequial. Esse sinal pode aparecer, mas é mais raro que
comum. Esse sinal só diz que a vítima foi atingida por corrente elétrica, mas
não que morreu disso.

Só pode ter cerca eletrificada se ela estiver identificada e a corrente não seja
idônea de matar. Mas pode ser que essa corrente mesmo baixa pode matar
se o local estiver molhado, porque, mesmo sendo a voltagem baixa, se a
resistência cai, a intensidade aumenta. São conhecidas como ofendículas
(cercas eletrificas, cacos de vidro, etc.).

AULA 9 (não existe a aula 8)

Exame de corpo de delito que apresente lesões corporais

É necessário que se entenda que nem sempre que hajam lesões corporais
não significa que tenham ocorrido crime de lesões corporais.

O exame de corpo de delito é de lesões corporais, mas isso não significa que
o crime seja esse. Por exemplo, numa tentativa de homicídio nos podemos
ter lesões corporais, num crime de transito, maus tratos, torturas, podem
haver lesões corporais apresentadas pela vítima. O crime deixa vestígios que
são lesões corporais. O exame de corpo de delito numa tentativa de
latrocínio não é exame de corpo de delito de latrocínio, mas sim de lesões
corporais.

O perito não analisa o dolo ou culpa do agente, ele analisa as lesões em si.
No caso do crime de lesões corporais ele não vai olhar para o caput, mas
sim para as causas qualificadoras do crime.

Só há crime de lesões corporais se a vida já for extra-uterina.

Lesões corporais leves

Ocorre quando não estão presentes nenhum dos incisos dos §§1º e 2º, 129,
CP, mas há a lesão.

Lesões graves e gravíssimas

Se da lesão resulta incapacidade ocupações habituais para mais de 30 dias –


o perito não pode fazer um prognostico no 1º exame de que essas lesões
vão gerar incapacidade para mais de 30 dias, por mais experiente que ele
seja e por piores que sejam as lesões. É indispensável o segundo exame,
chamado exame complementar e deve ser feito após 30 dias da lesão.
(doutrinariamente, no Direito Penal, se as lesões forem tão graves que seja
óbvio que ele vai ficar incapacitado por mais de 30 dias, não é necessário
que a vítima volte – exemplo, quebrou o fêmur e a bacia em 4 lugares
diferentes).

Já no caso de incapacidade permanente para o trabalho o problema é saber


se tal incapacidade é para o trabalho da vítima ou se é qualquer trabalho
disponível. O Blanco acha que é para qualquer trabalho, não é bem assim.
Você não pode obrigar o Pitangui (?) ser secretário, lixeiro ou ascensorista.
O outro problema é saber se é pra vida toda. Em regra, sim, mas o perito
tem que marcar uma data para reavaliar a lesão. O permanente deve ser
visto como duradoura, já que no exame complementar 180 dias depois, por
exemplo, o cara ainda estiver machucado, pode colocar no permanente.

Debilidade permanente de membro, sentido ou função. A permanência aqui


tem a mesma lógica do parágrafo acima. Debilidade é enfraquecimento.
Quando você perde um dedo você não perde a função de pinça ou de puxar,
daí você não perdeu totalmente a função do membro. Na verdade ele ficou
debilitado. Veja que nesse caso é desnecessário o exame permanente. Mas
se o dedo foi implantado, vai precisar fazer o segundo exame.

Agora, se a pessoa perde a mão, a conseqüência é outra, é a perda ou


inutilização de membro, sentido ou função. Mas veja que não é perda do
membro, porque o membro é o superior, que permanece. Nesse caso é
inutilização da função.

A mesma sistemática se apresenta aos sentidos (os 5 – se sobrar um olho é


debilidade, se perder a audição em um ouvido, debilidade - salvo se o cara
já era cego ou surdo do outro ouvido) e à função (cardíaca, renal, pulmonar,
reprodutora, hepática – se você perde só um testículo é debilidade, salvo se
já não tivesse o outro).

A lei não fala em perda de órgão, então se a pessoa tem dois órgãos, perde
um mas o outro continua desempenhando sua função normal, houve apenas
sua debilidade.

Vamos ver agora a aceleração de parto e o aborto. Cuidado que esse aborto
aqui não é um aborto doloso, é culposo. Se houver dolo, o crime é de
aborto. Mas o legista não esta preocupado com o dolo do agente, ele só diz
que houve aceleração de parto por causa da lesão ou então o aborto.

Acelerar o parto é errado, o que há é a antecipação do parto. E ele tem que


saber que ela tava grávida para poder ser previsível. E o feto nasce e
continua vivo. Se a surra na mulher matar o neném, e for possível provar
que ele morreu por causa das lesões que ela tava grávida, mas sem o
animus de fazer o aborto, além de saber que ela tava grávida.

O problema é quando ele nasce vivo e morre depois. O problema agora é


“morreu de que”? Se as lesões de dentro do útero acabaram por matá-lo, é
como se ele tivesse morrido dentro do útero, mudando e aceleração de parto
para lesão corporal que causou aborto.

Temos ainda a figura médico-legais do perigo de vida. Para configurar, em


primeiro lugar, não poder haver a intenção de matar, senão era homicídio.
Daí temos que ter uma indefinição médica se a vítima vai morrer ou viver.
Daí termos o perigo de vida. Não basta haver um ferimento grave, como
uma perfuração do tórax ou rompimento de uma artéria de maior calibre. Se
não houve infecção generalizada – septicemia, se a vítima não entrou em
estado de choque, se ela não pegou tétano, se ela não entrou em estado de
coma, não teria havido perigo de vida.

Vamos ver agora a enfermidade incurável – tem que se ter em mente que o
Código é de 1940, hoje não há muitas doenças incuráveis. Agora, para sua
caracterização não é necessário que o paciente se submeta a uma cirurgia
para “diminuir o dolo do agressor”, assim uma simples hérnia seria uma
enfermidade incurável (cara, isso não tem nenhum respaldo em direito
penal, se o cara não procurou o médico ele mesmo que deu causa a
enfermidade incurável e não o agressor).

Vamos ver agora deformidade permanente – não é para sempre, é visto de


acordo com o exame completar (180, 270, 365 dias), é duradouro. Deformar
é tirar a forma, uma cicatriz, que quando a pessoa é vista em público as
pessoas se espantam ou causa grande vergonha à vítima, afeta a
observação, causa aversão. Hoje em dia a deformidade pode ser em
qualquer parte do corpo, inclusive nas partes intimas.

Vitriolagem – o acido sulfúrico tem o nome vulgar de óleo de vitríolo. Daí


se o cara jogar acido sulfúrico na cara da pessoa para deformá-la, dá-se o
nome de vitriolagem. Depois generalizou-se chamar de vitriolagem jogar
uma substancia cáustica, ácida, com dolo de causar deformidade
permanente.

O perito, em caso de membro engessado, costuma utilizar o laudo médico


para dar seu parecer, mas ele deve ressalvar que deu tal opinião com base
unicamente no atestado médico.

Dor – não há equipamento para avariar a dor, daí se o periciado só reclama


de dor, mesmo que a dor seja real, o perito não pode afirmar que aquela dor
seja uma lesão corporal, sem que haja uma equimose, edema, escoriação,
ferida, fratura.

Daí foram criados certos sinais indicativos de presença ou ausência de dor.


Ele usa esses sinais para ver se o periciado está simulando a dor. São eles:

- sinais de Imbert: ele não diz o que é.

- sinais de Mankoff: você toma o pulso do paciente, daí de repente aperta


o local dolorido. Se você faz isso, deve haver uma reação de taquicardia
momentânea. Se o pulso não alterar, ele ta simulando.

- sinais de Levi: olhar para o olho da vítima e subitamente apertar o local


dolorido, se houver uma reação pupilar, realmente há dor. Caso contrario,
se a pupila se mantém inalterada, ele está simulando.

- sinais de Muller (ou Miller): marca um círculo no lugar onde o paciente


diz que ta doendo e outros círculos nas proximidades, daí vendo o paciente
ou manda ele olhar para o outro lado e o perito começa a apertar e começa
a notar se o paciente esta sendo coerente ou não com os pontos de dor
indicados.

Repare que não faz diferença ou não ter dor, o que importa é a lesão.
Roupas sujas de sangue também não fazem prova de lesão.

A dissimulação é o contrário da simulação. Nessa você diz que esta sentido


algo que não existe, e naquela você diz que não esta sentindo algo que
existe.

Metassimulação é o exagero da dor, com nos casos de futebol. Neuróticos


costumam dramatizar o que estão sentindo. Mas isso é inconscientemente,
ele não mente, ele realmente acredita.

Lesão corporal seguida de morte

O laudo não é mais de lesão corporal, mas sim auto de exame cadavérico.

OBS: a lesão no crime de tortura deve vir acompanhada de um especial fim


de agir, que é causar dor extrema à vítima. O perito não analisa o especial
fim de agir, mas só as lesões. No laudo onde está o quesito “tortura” ele não
pode afirmar nem negar, ele deve dizer “quesito prejudicado”.

SEXOLOGIA FORENSE

AULA 1

Estupro (pré-reforma da Lei. 12.015/2009)

A vagina é só aquilo que fica do hímen para cima, do hímen para baixo, é
vulva ou vestíbulo vaginal (cópula vestibular ou vulvar é quando o pênis não
passa do hímen). Se não ultrapassar o hímen, não houve conjunção carnal,
mas ele passar, mesmo que incompletamente, já é conjunção carnal.

Mulher virgem é aquela que nunca praticou conjunção carnal. O perito


averigua isso vendo a estrutura do hímen, vulgo cabaço. Ele é uma
membrana mucosa, com uma face vestibular e outra vaginal. Ele apresenta
um orifício que recebe o nome de óstio, a membrana em si recebe o nome
de orla. Se o óstio é amplo de forma que o pênis entre sem romper o
hímen, chama-se de hímen complacente. O de óstio pequeno é o não
complacente, se o pênis passar a orla vai se romper. Se o perito constatar a
ruptura, houve conjunção carnal. O problema é o hímen complacente, que
não dá vestígios no hímen, devendo o perito buscar outros vestígios.

Existem hímens com uns perfuração, outros com várias, os aspectos dos
óstios são diferentes e em números diferentes.

O hímen pode romper em qualquer lado, em cima, em baixo, de um lado.


Mas o lance é que quando rompe cria uma ferida, ficando a borda
sanguinolenta, equimosada e dolorida. Isso quer dizer que a rotura recente.
Daí ele cicatriza, mas é diferentemente das cicatrizes comuns porque a
ferida não fecha, ele cicatriza em cada borda da ruptura.

O problema é que não podemos afirmar quanto tempo o hímen leva para
cicatrizar, variando de 3 a 30 dias. O perito só diz rotura recente ou
cicatrizada. Além disso, ela pode ter a conjunção mesmo sem a ruptura.

Relógio de Lacassagne divide-se a perseguida na posição ginecológica


como se fosse um relógio para indicar mais ou menos em que quadrante foi
a ferida, dando um ponto de referência.

Oscar freire criou os quadrantes de Oscar Freire, dividindo em quadrante


direito e esquerdo e anterior e posterior.

Tudo isso é para localizar a rotura no hímen. Mas para o operador é mais
importante se houve ou não a ruptura.

O problema é que a mulher pode apresentar soluções de continuidade no


hímen, que são chamadas de entalhe.

Quando há uma rotura, a lesão vai até a borda de inserção do hímen, já os


entalhes não vai até a borda, por isso se diz que a rotura é completa e os
entalhes incompletos. A rotura podem ocorrer em qualquer lugar no hímen,
uma não tem relação com a outra, por isso dizemos que as roturas são
assimétricas. Já os entalhes, quando aparecem, normalmente, são
simétricos, um fica na outra extremidade do outro. As roturas cicatrizam, os
entalhes como são naturais, não cicatrizam. As roturas são adquiridas, os
entalhes nascem com a pessoa, são congênitos. Na rotura as bordas podem
ser unidas, elas coaptam, já nos entalhes, como não há material sobrando,
eles não coaptam (podem haver exceções).

Carnúnculas mirtiformes são restos de hímen aderidos à parede vaginal.


Surgem após o parto vaginal ou resultam de intensa e continua atividade
sexual.

Tem que tomar cuidado para não confundir entalhe com rotura, porque
pode-se achar que a mulher não é virgem, quando ela é.

Mas isso é quando o hímen não é complacente, se for as coisas mudam.

Nesse caso, o perito vai pesquisar a existência de esperma no canal vaginal,


lembre-se, do hímen para dentro. Se tiver para fora do hímen, terá ocorrido
ato libidinoso diverso da conjunção carnal.

Assim, se achar esperma do hímen para dentro o perito pode indicar que ela
não é mais virgem (mas pode inclusive ocorrer de que o cara tenha
ejaculado do lado de fora da vagina e o esperma tenha entrado, daí ela seria
virgem – não é absoluta essa conclusão, como é a rotura do hímen).

O esperma é um líquido biológico extremamente variado, tem de tudo. A


primeira coisa que você procura é o espermatozóide. Basta encontrar um.
Só que as vezes o homem é portador de azoospermia, ou seja, ele não
produz espermatozóide. Mesmo assim o perito poderá fazer o diagnostico de
conjunção carnal se ele encontrar líquido prostático, já que a mulher não
tem próstata. Um deles é o PSA (prostatic specific antigen), se houver PSA,
ele poderá afirmar que houve conjunção carnal ou ato libidinoso, a depender
de onde ele encontre. O PSA tem uma proteína P30, assim, se tiver o P30,
houve ejaculação.

No líquido prostático há uma grande quantidade da fosfatase ácida, mas o


lance é que na vaginal também há esse acido. Só que na mulher tem 5
unidades/ml, já no homem há 300 unid./ml. Assim, feito o exame
quantitativo e der perto de 300, é porque teve conjunção. Mas se se puder
afirmar que a fosfatase ácida for prostática, ela só pode ser masculina.

Mas as vezes não e encontra nada disso, mas a mulher esta grávida, daí
você pode dizer que houve conjunção carnal. Mas o lance é que há
vertilização in vitro. Em tese, isso não é absoluto.

Mas os 3 sinais de “certeza” da conjunção carnal são: 1) rotura do hímen,


2) presença de esperma no canal vaginal, 3) gravidez. Mas essas certezas
todas podem ser discutidas, contestadas.

Mas se eu tenho hímen não complacente e esperma no canal vaginal ou


gravidez, eu posso afirmar que não houve conjunção carnal, porque o hímen
não está rompido.

O perito não afirma que houve estupro, mas só conjunção carnal. O mesmo
com o atentado violento ao pudor, ele só demonstra que houve ato
libidinoso diverso da conjunção carnal.

O lance é saber se a lesão na genitália poder ser encarada como violência


para fins de caracterização do tipo penal. É difícil diferenciar a lesão para
obter a conjunção carnal e aquela utilizada no ato da conjunção carnal.

Antigo atentado violento ao pudor

Ato libidinoso é tudo aquilo que estimula a libido, que pode ser por
quaisquer um dos 5 sentidos. A libido em psiquiatria é para qualquer coisa
quede prazer, mas em direito penal a libido é voltada para o apetite sexual.

Para ser ato libidinoso, alguém tem que tocar em alguém, porque tem que
praticar. Fazer, ou deixar que se pratique, ou seja, que nela se faça. O
simples fato de ser presenciado o ato não enseja o ato libidinoso, sendo o
fato atípico.

O esperma no vestíbulo vaginal - tudo dá a crer que é ato libidinoso e não


conjunção carnal. O esperma em qualquer outra are do corpo que não seja a
área vaginal é ato libidinoso diverso da conjunção carnal.

O chupão (sugilação) é visto pelo Blanco como ato libidinoso diverso da


conjunção carnal.
No coito anal vão surgir lesões, que também são rupturas, só que são
chamadas fissuras anais, e tem as mesmas características das roturas
vaginais (feridas sanguinolentas, doloridas e equimóticas). O problema é o
mesmo da conjunção carnal, esses vestígios não são patognomônicos.
Diferentemente se achar esperma, que ai se tem certeza.

Muito dos autos de libidinagens não deixam vestígios. Daí o perito não vai
poder fazer nada, devendo a prova ser produzida de forma testemunhal.

Mas, tendo em vista que os vestígios são complicados, as vezes o perito põe
a lesão como compatível com ato libidinoso, é muito temerário isso, mas
ocorre.

AULA 2

Infanticídio e aborto

A gravidez começa, para o direito penal, com a nidação, e termina quando


começa o parto. Este ocorre, majoritariamente, quando o colo do útero
começa a dilatar. Esse é espaço de tempo em que há o aborto, após esse
termo, não há mais aborto, mas infanticídio ou homicídio, a depender do
caso.

Acontece que as vezes a manobra contra o feto ocorre durante a gravidez,


mas ele só morre depois do parto. Se a morte é decorrente das lesões que
sofreu enquanto estava dentro do útero, continua sendo aborto – o crime
ocorre no momento é que há a ação ou omissão, mesmo que outro
(momento) seja o da ocorrência do resultado.

Outra parte da doutrina entende se inicia o parto quando se rompe o saco


amniótico, daí essa doutrina entende que a partir desse momento o parto já
começou, mesmo que o colo do útero não esteja dilatado. Outros ainda
entendem que no momento que o tampão de muco cervical, espécie de
rolha, é que começa o parto.

Nesse momento, qualquer que se a doutrina, o feto ainda não nasceu, ele
ainda não respirou o ar ambiental, mas, mesmo assim, já seria homicídio ou
infanticídio. Ele é um feto nascente.

A segunda fase do parto é a expulsão do concepto, daí se corta o cordão


umbilical. Em seguida é expulsa a placenta. Esse é o momento em que o
parto termina.

Assim que sai a placenta, começa um novo período na vida da mulher, o


chamado puerpério. Essa palavra significa “parir criança”. Esse estado só
começa quando acaba o parto. Ela perde sangue através do canal vaginal,
entre outras coisas.

O puerpério pode se dividir em 4, imediato, recente, tardio e longínquo.


O imediato que é enquanto as secreções chamadas lóquios(??) forem
bastante hemorrágicas, sanguinolentas.

Em seguida, esse sangramento vai diminuindo, os lóquios vão ficando


amarelados. Daí a fase recente.

Depois disso, os lóquios vão ficando esbranquiçados, não há mais eliminação


de sangue, daí estamos no puerpério tardio.

Diz a medicina que o puerpério dura de 6 a 8 semanas. O povo chama de


resguardo. O puerpério terminaria quando a mulher voltasse às condições
fisiológicas naturais, o ovário voltasse a funcionar. Quando a mulher voltar a
ovular, ela sai do puerpério.

Mas se a mulher está amamentando, normalmente, o ovário não esta


funcionando, podendo durar muito mais do que 8 semanas, sendo o
puerpério tardio.

Qualquer coisa que eu faça com o embrião antes da nidação, hoje, é atípico.
O lance é que o embrião em laboratório, mesmo antes da nidação, tem
proteção de acordo com a lei 11.105/2005 – lei de biossegurança.

Aborto criminoso e aborto legal

Qualquer manobra feita com o intuito de matar o concepto, o nascituro, o


embrião, o feto, é manobra de aborto, tipificado nos art. 124 a 127, CP. O
128 é o aborto provocado legal. Em oposição dos outros, que são
criminosos.

Não se esqueça que no crime de aborto se mitiga a teoria monista dos


crimes, punindo co-autores (gestante e agente) por crimes diferentes.

Para haver o aborto não é necessário que o feto seja expelido. Ele pode ficar
lá morto até mesmo por um longo tempo. O nome a que se dá isso é feto
macerado. Isso porque como ele está morto, começa um processo da pele
de soltar do corpo, ficando a derme sanguinolenta, as articulações ficam
moles, com uma amplitude de movimento muito maior. A maceração é um
fenômeno cadavérico, destrutivo, que decorre do feto ficar mergulhado
naquele líquido estando morto.

Quando ele é expelido, é visualmente perceptível que ele está macerado, daí
podemos afirmar que eles está morto dentro do útero há mais de 24 horas.

Quando a maceração está com mais de 7 dias, pode ocorrer que os ossos do
crânio se acavalem, fiquem uns em cima dos outros. A isso se dá o nome de
sinal de Spalding.

As vezes o feto morre dentro do saco amniótico e o organismo absorve a


água da bolsa, daí ele fica mumificado, podendo ficar lá dessa forma por
anos. As vezes ele fica impregnado por cálcio, sódio ou potássio. Daí ele fica
como que calcificado, como se fosse um fóssil. Esse feto mumificado ou
calcificado, a doutrina chama de litopédio (lito - pedra; pédio – criança).

O aborto ocorre no momento que o feto morre, não no momento em que ele
é expelido.

Outro problema que ocorre é quando ocorre a nidação. As células que


envolvem o embrião dão depois origem à placenta, que é quem alimenta o
embrião. Essas células formam o trofoblasto do embrião, que o ligam no
endométrio. Só que as vezes o embrião morre, mas as células trofoblásticas
continuam se desenvolvendo. Da forma-se uma massa como se fosse um
cacho de uvas. Se ela fizer um exame hormonal vai parecer que ela está
grávida. Mas não há mais concepto, mas só essa massa. Essa massa recebe
o nome de mola hidatiforme.

O aborto só é legal se a única forma de salvar a vida for o aborto, e tem que
ser da mulher, quem tem que correr risco é a mulher. Gravidez de risco não
é motivo suficiente para tirar o feto. Também se admite o aborto
sentimental ou piedoso, que é o aborto de gravidez decorrente de aborto.

Infanticídio

Temos que saber qual dos estados do estado puerperal que é elementar do
tipo de infanticídio. Com certeza, durante o parto ela estaria sob o estado
puerperal. O problema é o logo após.

Toda mulher que tem um filho, assim que acaba o parto entra no puerpério,
é um estado natural, fisiológico. Só que o puerpério é aquele período pós-
parto, mas o infanticídio diz que até mesmo durante o parto ela já estaria no
estado puerperal. Alonga-se (para trás) a figura do puerpério no tipo.

Mas o que é que justifica que ela mate o filho com uma pena menor. Antes
era a desonra que justificava. Hoje não há mais. Daí se admite que no
estado puerperal a mulher poderia sofrer de depressão puerperal, psicose
puerperal, febre, infecção ou perturbação mental puerperal. O estado
puerperal do direito penal é uma ficção jurídica que entrou no direito penal
para substituir a desonra da gestante.

Não há perturbação da saúde mental, isso seria caso de inimputabilidade no


art. 26, CP. O estado puerperal é uma alteração no comportamento leve,
pois se ela for um pouco maior sai-se do infanticídio e vai para o homicídio
na forma do 26, CP. Então, o estado puerperal é uma influência mínima.

O exame de corpo de delito do infanticídio na mulher infanticida visa avaliar


se ela teve um filho recentemente, daí se procurar por aqueles lóquios,
cicatrizes uterinas. Se ele olhar no fundo da vagina ele vai olhar o colo do
útero e ver que a fenda é mais arrombada em quem já teve filho. Esse
buraco maior leva o nome de focinho de tenca.

O médico só fala que ela está no puerpério, não da pra dizer se ela estava
sob o estado puerperal, no máximo atestar uma daquelas doenças acima
citadas. Assim, independentemente de ela ter uma dessas doenças, se ela
está no puerpério, ela vai estar para o direito no estado puerperal.

Não importa mais que dia que foi, quantos dias depois, o “logo após” dura
enquanto durar o estado puerperal. Por isso é muito difícil a mulher cometer
homicídio contra o filho recém nascido.

Mas para mulher matar o próprio filho, ele deve estar vivo na hora da ação.
Para isso existe um grupo de testes chamados docimasias. Elas podem ser
respiratórias pulmonares. Mas elas podem ser circulatórias também (ele
poderia estar vivo mesmo antes de respirar). As respiratórias podem ser
pulmonares ou extrapulmonares.

A pulmonar mais famosa é a docimasia hidrostática pulmonar de


Galeno. Você pega, coloca o pulmão na água, se ele boiar, é porque o
nascituro respirou, os pulmões receberam ar. Daí posso afirmar que a
docimasia foi positiva, nasceu com vida.

Mas se afundar, eu pego com uma tesoura e corto tudo, só deixo os


pulmões. Se flutuar, é porque respirou, respirou menos, mas respirou.
Docimasia positiva.

Se mesmo assim afundar, eu pego a tesoura de novo e corto os pulmões em


pedacinhos, se um flutuar, respirou.

Se todos afundarem, eu pego um soquete e esmago os pedacinho de


pulmão. Se surgir bolhas de ar, respirou.

Mas se mesmo assim der negativo, estaria diante de um natimorto. Daí


estarei diante de um aborto.

Há também a docimasia radiológica pulmonar de Bordas. Nesse caso


você tira uma chapa de raio x dos pulmões. Se ele nunca tiver respirado, os
pulmões tem uma conformação como se fosse uma massa branca. Se ele
ficar escuro é porque tem ar.

Docimasia visual pulmonar de Bouchut – o pulmão que não respirou é


vermelho escuro, é muito denso, ele lembra o fígado, as bordas são agudas
e a superfície é lisa. No momento que o pulmão respira, as bordas são
arredondadas, ele fica mais claro, mais avermelhado, ele tem baixa
densidade, na superfície você vê um monte de mosaicos, que são os
alvéolos.

Docimasia microscópica pulmonar de Balthazard-Lebrun: esse é


patognomônico – se o microscópio mostrar que os alvéolos estiverem
distendidos, é porque o pulmão respirou, se eles estiverem compactos, é
porque não respirou. Esse é importante porque quando o feto nasce morto,
a equipe medica bombeia (insuflação de ar) ar para dentro para reanimá-lo.
Só que se ele estiver morto, não vai distender os alvéolos. Só se distendem
fisiologicamente.
Veja que se fizerem a insuflação o pulmão vai flutuar, mesmo assim ele teria
nascido morto.

Há também as docimasias extrapulmonares. A primeira é a de Breslau. Ele


pegou o esôfago, intestino delgado, grosso, estomago e amarrou tudo nas
duas pontas. Daí se o neném respirou pode ter entrado ar dentro do tubo
digestivo. Nesse caso, se boiar é porque respirou. Ele faz com o tubo
digestivo o que o Galeno fez com o pulmão. Cuidado, porque se o feto
estiver em putefração, o pulmão e aparelho gastrointestinal vão estar cheios
de ar.

Outra coisa que pode acontecer é o feto respirar o líquido amniótico, daí nos
exames vai dar negativo porque vai afundar. Mas é um falso negativo. Por
isso a importância do exame microscópico.

Mas se eu encontrar só a cabeça do feto, daí eu tenho a docimasia extra-


pulmonar auricular de Wendt-Wreden-Gellée, ele se mostra quando o ar
entra no ouvido médio, o que é normal. Daí eu mergulho a cabeça do feto
na água, retiro o pavilhão auditivo dele, perfuro o tímpano. Se sair bolha de
ar, ele respirou. Se o cadáver tiver em putrefação vai borbular.

A última é a docimasia alimentar. Se eu encontrar alimentos em qualquer


lugar, é porque ele se alimentou.

Tem caído em prova as docimasias circulatórias, que é feita quando o


feto morreu antes de respirar. O que acontece é o seguinte, quando o feto
sai do útero, ele vem de cabeça, só que o canal é estreito, daí a cabeça é
apertada pela musculatura do colo uterino. Se a mulher é nulípara (nunca
teve filhos) ou primípara (secundípara, multípara, etc.), ou seja, sua
abertura é pequena e sua musculatura uterina é forte, ela aperta a cabeça.
Daí o sangue que tava vindo do coração consegue vir pro cérebro, mas na
hora de voltar pelas veias, como está apertado, um pouco do sangue fica
contido na cabeça. Daí ele morre e para a circulação. Daí fica uma bossa
sanguínea (saliência sanguínea onde tem osso embaixo) no couro cabeludo.
Pode sair soro também, daí a bossa vão ser sero-sanguinolenta, ou só soro
(bossa serosa). Se eu encontrar uma dessas bossas é porque quando ele
passou pelo canal do parto, ele tava vivo. A isso se dá o nome de tumor do
parto ou caput sucedaneum ou ainda bossa encefálica.

Como o feto vem com o occipital (cacareco, coroa) pra frente, chama-se de
bossa cefálica occipital. Se ele tiver essa característica, é porque ele nasceu
vivo e se morreu depois é porque a mulher cometeu infanticídio e não
aborto.

Questões médico-legais do casamento

Começamos com himenologia, que é o estudo do hímen. Não confundir


com himeneologia que é o estudo das questões médico-legais sobre o
casamento.
O que veremos exatamente é a questão do erro essencial quanto a pessoa
do outro cônjuge. Para nos interessa o defeito físico irremediável.

A impotência tem varias espécies, 4 pra ser exato. Daí só algumas são
idôneas para anular o casamento.

Impotência concipiendi – incapacidade que a mulher tem de procriar por


um problema qualquer de saúde. Não gera anulação do casamento.

Impotência gerandi – incapacidade do homem de procriar, seja por


azoospermia, seja por outro motivo. Também não é idôneo a sustentar a
anulação do casamento.

Impotência coeundi – impotência sexual do homem propriamente dita,


brocha. Pode embasar uma anulação do casamento. Antes era pros dois
esse nome, depois criou-se um só para a mulher. Pode ser agenesia de
pênis, micropenia, mutilações.

Impotência acupulia – impotência coeundi na mulher, ela não tem


condições para manter relações carnais. Pode embasar também. Exemplos
são a agenesia vaginal (não ter a vagina), ou atresia vaginal
(estreitamento vaginal tão grande que não permite a penetração do pênis).
Pode ser também sinequias vaginais, que são cicatrizes que impedem a
conjunção carnal, pode ser que ela tenha sofrido queimaduras ou lesões lá
dentro.

Frigidez não é motivo de anulação de casamento.

Pseudo hermafrodita masculino é homem, mas tem corpo de mulher, mas é


homem, não pode casar com homem. Já o pseudo hermafrodita feminino é
mulher com corpo de homem, não pode casar com mulher. Esses
casamentos seriam inexistentes porque de pessoas do mesmo sexo.

AVALIAÇÃO DA IMPUTABILIDADE PENAL

PROFESSOR TALVANE MARTINS MORAES

AULA 1

Só que pode fazer a perícia forense é um psiquiátrica.

As condições que excluem a imputabilidade do agente estão no art. 26, CP e


são: o agente que por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato.

As expressões da lei não correspondem às expressões médicas. Por


exemplo, doença mental, na linguagem médica é um quadro de patologia
grave do ponto de vista mental. Do ponto de vista do legislador, aquilo é
um conjunto de transtornos, que podem passar pelas doenças mentais, mas
também incluiu circunstâncias que o psiquiatra não chama de doenças, por
exemplo um intoxicação grave, um estado pré-comatoso. Ou seja, qualquer
estado que haja um prejuízo nítido para p estado metal do individuo.

Legislador fala também em desenvolvimento mental incompleto ou


retardado. Essas duas são situação diferentes. O primeiro é aquele
desenvolvimento mental que não teria se completado, por situações
traumáticas ou de deficiente que possa ter ocorrido ao longo do
amadurecimento do indivíduo. Isso é diferente do desenvolvimento mental
retardado, no qual a pessoa já possui um retardamento de inteligência e que
não permite ele aprender valores éticos e morais.

E é preciso que esse problema mental seja grave, não basta ser leve.

A isso tem que se somar o fato de tais fatores gerarem um prejuízo no seu
discernimento, que é o juízo critico, capacidade de entender o que se passa,
ou então um prejuízo total da sua manifestação de vontade, capacidade de
escolha volitiva. Não basta ter um prejuízo, é necessário que esse prejuízo
prive totalmente o indivíduo de se manifestar ou compreender.

O legislador teria adotado a teoria bio-psicológica. O primeiro plano seria o


biológico, ou seja, a existência de uma doença grave. E o segundo plano que
seria o psicológico que seria a incapacidade de se entender ou se auto-
determinar. Os dois devem coexistir no momento do crime.

Mas como a pericia psiquiátrica pode saber essas circunstâncias no momento


do crime se o crime pode ter ocorrido há muitos anos.

Já o parágrafo único do art. 26 fala-se de redução de pena se houver


perturbação da saúde mental, ou seja, algo que envolva o funcionamento
psíquico, mas que não seja suficiente para retirar tal funcionamento.

Ou então o desenvolvimento incompleto ou retardado fazendo com que o


individuo não seja inteiramente capaz de entender o caráter ilícito ou se
auto-determinar. Ou seja, há uma diminuição, mas subsiste essa
capacidade.

Um outro dispositivo interessante é o 28, CP. Nele não se exclui a


imputabilidade quando o agentes estiver acometido por emoção ou paixão.
Entretanto, no que tange à embriaguez por drogas ou álcool, diz-se que
isento de pena o agente que, por embriaguez completa e de origem fortuita
ou proveniente de força maior (a voluntária ou culposa não), ocasiona no
individuo a inteira incapacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de se
auto-determinar no momento da ação ou omissão. Aqui também fica bem
claro o critério bio-psicológico.

Quando a embriaguez é voluntaria ou culposa, não há que se falar em


inimputabilidade, porque quando o agente resolveu usar a droga ele era
livre, por isso se fala em actio libero in causa. Mas se ele não utilizou a sua
liberdade de tomar a droga ou álcool, ai sim caberá, em tese, a diminuição
ou isenção de pena, se juntamente com os demais requisitos.

A pena pode ser reduzida se a embriaguez não lhe retirar completamente a


auto-determinação ou capacidade de entender o caráter ilícito, se a
embriague for proveniente do caso fortuito ou força maior, poderá ter sua
pena reduzida, da mesma forma que o art. 26, CP.

O incidente de insanidade mental deve ser argüido pelo juiz, MP, defensor,
curador, ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, devendo o
juiz autorizar. Assim, não pode o delegado requerer esse exame. Só o juiz
poderá ordenar (art. 149, CPP).

Se for na fase de inquérito que alguém alegue a inimputabilidade, seria


importante já na fase de IP (inquérito policial) esclarecer. Mas, nesse caso,
deverá o delegado requerer que o juiz determine o exame (149, p.ú., CPP).

Esse exame é feito por instituições oficiais, como o IML, os hospitais de


custódias e tratamento psiquiátrico e, na ausência destes, será nomeado um
perito pelo juiz.

Esse exame é feito através de entrevista, observação e exame dos autos,


sendo importante para esclarecer as duvidas que a lei exige que sejam
esclarecidas, na forma dos art. 26 e 28, CP. Assim, há o lado técnico médico
e lado técnico criminal. O exame que se pede não é um exame psiquiátrico
comum, é um exame vinculado a prática de um delito. Assim, se ele sabe a
mecânica e motivos do crimes, ele pode averiguar melhor a imputabilidade.
O delito é marcado do prejuízo mental no momento da prática do delito,
como um selo. Os próprios leigos podem identificar sinais de distúrbio
psicológico. O próprio agente ao falar sobre o delito deixa transparecer o
selo da patologia.

Todas as informações podem ser cotejadas pelo perito. Em caso de


simulação, normalmente, conseguem perceber, pois o individuo tenta
justificar sua conduta, é um mecanismo de defesa, e ela vem sempre a
posteriori à prática do crime.

Existe uma previsão da chamada superveniência de doença mental, ou seja,


é a maluquice pós-crime. Nessa hipótese o art. 152, CPP dispõe que o
processo será suspenso até que o acusado se restabeleça. É feito também
um exame pericial para averiguar.

Modificadores patológicos da imputabilidade penal

As medidas de segurança
A doença mental tem a característica de desestruturar os suportes psíquicos
do individuo. É o não dizer coisa com coisa. A doença mental retira a lógica
do pensamento, é rompido o arco intencional do raciocínio.

Hoje, há grande probabilidade de cura de pessoas nesses estados, com o


crescimento dos tratamentos, até mesmo por medicamentos. Há grande
possibilidade de a pessoa ser reabilitada. Até pouco tempo não existiam
tratamentos. Esses começaram a ser criados a partir da década de 50.
Antes, essas pessoas eram isoladas em manicômios.

Esse avanço teve reflexos no âmbito do direito penal. Apesar de o cara ser
absolvido ele é remetido para medida de segurança, no qual ele é
compulsoriamente submetido a um tratamento que pode ser feito mediante
internação ou em regime ambulatorial.

O método de tratamento escolhido fica vinculado à pena atribuída ao delito.


Na realidade, o método deveria ser de acordo com a gravidade da doença,
mas não é. Só se interna quando o quadro é muito grave.

O critério médico não foi absorvido pelo legislador.

O prazo da internação ou do tratamento ambulatorial é indeterminado, mas


tem um prazo mínimo de um a 3 anos. Mas, após o prazo mínimo, pode ser
liberada a qualquer momento, desde que os peritos indiquem que encerrou-
se a periculosidade.

Os inimputáveis são presumidamente perigosos.

Na hipóteses do p.ú. do art. 26, a pena privativa de liberdade pode ser


substituída pela medida de segurança se houver indicação para esse tipo de
tratamento.

Anamnese

Levantamento histórico relativo aos antecedentes médicos do examinando,


bem como de seus familiares e pessoais.

Muitas patologias mentais estão ligadas à transmissão genética.

AULA 2

Se houver dúvida quanto a origem primeira da doença psíquica, você faz um


exame físico aprofundado para tentar descobri-la. É feito da mesma forma
como é feita numa pessoa normal.

Não há como obrigar o periciando a ser examinado.

O item discussão e conclusões é o item de ouro do laudo, ai está


exatamente contida toda a função pericial. Aqui é que vamos evidenciar
quais as condições técnicas que o agente tinha no momento da ação ou
omissão.
Etapas do exame pericial de sanidade mental:

- Identificação do periciado

- História : i) criminal; ii) da doença

- Exame psíquico

- Exame físico

- Diagnóstico médico

- Discussões e conclusões: i) fatores criminodinâmicos; ii) fatores


criminogênicos; iii) nexo causal, iii-a) crime e condições
contemporâneas e autodeterminação

- Resposta aos quesitos

Toda vez que se fala em “ao tempo do crime” pode parecer que o perito faz
um exame em exercício de especulação. Mas não é assim, eles conseguem
fazer um diagnóstico fidedigno, com firmeza cientifica e segurança técnica.

Fatores criminogênicos são os fatores que interferem na motivação do delito.


E essa motivação, quando não é patológica, quando ocorre em decorrência
de outras circunstâncias, ela é perfeitamente compreensível a nós, como,
por exemplo, precisar de um dinheiro, mesmo que isso seja desprezível.

Para ver isso analisamos vários elementos dos autos, como a denúncia, os
testemunhos, nos elementos contido em relatórios de autos (inquérito) e a
própria versão que o acusado oferece ao fato, porque ele fez aquilo. Daí vem
o primeiro sinal de patologia, pois quando o crime tem uma causa
patológica, o que nos vamos ver no ato é a falta de compreensividade, não é
compreensiva. Não tem qualquer motivo lógico, é uma motivação inusitada,
completamente esdrúxula.

Não é por ciúme, raiva, vingança, mas sem qualquer motivo plausível.

É ai que podemos afirmar que mesmo anos depois é possível se saber se ao


momento ele estava doente ou não. Isso porque podemos identificar o selo
da patologia. Mas não é só.

Analisa-se a criminodinâmica, que é a forma de atuar do individuo, para


verificar se a patologia está presente ou não. Quando o individuo está
inconsciente de seus atos ele não foge da policia, ele não participa da
elaboração do plano, na participa de reuniões para dividir o produto do
roubo. Então, na realidade, mostra-se que o individuo mantinha qualidade
de juízo critico, que é o que a lei questiona no art. 26, CP.

O crime do doente mental, quando não tem flagrante, normalmente não tem
autoria estabelecida. Isso porque a policia tenta estabelecer um nexo entre a
vítima e o possível autor, que inexiste nesse tipo de crime.
Ainda tem o perito que avaliar se há o nexo causal entre a doença e o delito
praticado, analisando o discernimento e auto-volição do agente. Na prática
eu vejo isso utilizando a criminogênese e dinâmica, para analisar a
motivação e a dinâmica do crime analisando profundamente os autos. O
momento do crime é nitidamente marcado por uma ação patológica quando
ele é praticado pelo maluco. O perito analisando esse selo é que vai poder
estabelecer o nexo, ele tem que saber ler as circunstâncias. Isso porque o
doidinho pode praticar o crime sem que haja influência da patologia,
podendo o doente mental cometer um crime que não tenha nenhuma
relação com a patologia, cometendo o crime mediante injusta provocação,
por exemplo.

Portanto, o perito tem que avaliar, além da existência da patologia, o nexo


entre ela e o crime cometido. CSI Miami mesmo, como já diria o Blanco.

Assim, em relação ao nexo, deve ser levado em consideração não só o crime


em si, mas também as condições contemporâneas de entendimento e
autodeterminação.

Em primeiro lugar, então, devemos analisar se existe doença mental com


desordem mental que deixe o individuo fora da realidade, não é qualquer
doença mental, ou sua diminuição no caso do p.ú. do art. 26, CP.

Responder os quesitos é o último passo, que normalmente dizem respeito ao


elementos do art. 26, CP.

O individuo quando está sob violenta paixão ou emoção pode ter uma reação
psicológica que realmente diminua a capacidade critica e de
autodeterminação. É o que se chamava de privação dos sentidos. Mas isso
mesmo que diminuindo a sua capacidade mental não é aceita pelo CP para
retirar a sua imputabilidade.

O juiz pode levar em conta a passionalidade do ato, mas no campo jurídico,


não no campo médico legal.

Classicamente se divide emoção e paixão no sentido de que esta é mais


demorada do que a emoção, que é mais efêmera.

Medidas de segurança e o exame da cessação da periculosidade

Se o juiz acatando a opinião dos peritos, absolve o boneco, aplicando


medida de segurança por um prazo mínimo, sendo por um prazo
indeterminado. Essas podem ser ambulatoriais ou internação.

Essa medida de segurança acaba quando os peritos determinarem que


cessou a periculosidade. Mas quem faz cessar não é o laudo, mas a ordem
do juiz.

Não se esqueça que há uma presunção de periculosidade do doido que foi


absolvido impropriamente.
Há um laudo próprio para isso. Esse laudo tem a finalidade de informar ao
juiz se há a necessidade de permanecer a medida de segurança.

Esse laudo começa com o preâmbulo, depois identificação, histórico do caso


(que não se preocupa mais com o ato do crime, mas sim do período da
internação até a época atual, como ele evoluiu). Fdp mudou de assunto...

Pode ser que a evolução da doença reduza a periculosidade do cara, isso


porque ele pode sair de uma fase alucinógena e ir para uma de completa
demência, na qual ele não tem mais qualquer iniciativa, nem mesmo para
cometer crimes.

Os caras do p.ú. do 26 pode ser submetido a tratamento ao invés de ser


condenado a uma pena qualquer. Quem indica o tratamento adequado
(especial tratamento curativo) são os peritos, ou seja, se deve internar o
cidadão, não para cumprir pena, mas para ser submetido a tratamento.

Assim, após analisarem ser o cara incidente no art. 26, p.ú., CP, os peritos
devem, ato continuo, indicar qual seria o tratamento adequado, o prisão ou
o especial tratamento curativo.

IMPUTABILIDADE PENAL NO USO E DEPENDÊNCIA DE DROGAS

Diferenças entre uso e dependência de drogas: quadros agudos e crônicos

Droga é toda substancia que introduzida no organismo altere as funções


deste.

Há drogas lícitas e ilícitas. Mas mesmo as drogas licitas podem gerar crimes,
como vender álcool a menores.

O estado de embriaguez não vai, por si só, eximir a imputabilidade penal, da


mesma forma que a emoção ou paixão.

Entretanto, há algumas exceções interessantes, como no caso do cara que


em estado de embriaguez completa, em caso de caso fortuito ou força
maior, era ao tempo do fato inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou se autodeterminar de acordo com esse entendimento.

Veja que parece muito com o art. 26, CP. O mesmo critério é utilizado nos
dois casos, o critério bio-psicológico. Não é só a embriaguez (fato biológico),
mas também a incapacidade de entender o caráter ilícito da conduta
(psicológico).

Aplica-se a teoria do actio libero in causa explica que aquele que tem
liberdade antes de se embriagar é responsável por seus atos. A culpabilidade
dessas pessoas é analisada de acordo com o momento anterior ao da
embriaguez voluntaria ou culposa.

O art. 28, CP, §2º, prevê uma redução de pena se o agente embriagado por
caso fortuito ou força maior, não possuía ao tempo da ação ou omissão a
plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou se determinar
de acordo com esse entendimento.

Veja que é praticamente uma cópia do p.ú. do art. 26, CP.

Mas o que é embriaguez completa? Quando ele inicia a ingestão do álcool,


tão logo ele alcance o estomago ele é rapidamente absorvido e ingressa no
sangue e vai ter ação sistêmica, mas, principalmente, no sistema nervoso
central. Daí ele ocasiona o abaixamento da autocensura (Freud chamava
essa autocensura de superego).

Assim, o individuo naturalmente tem os impulsos, inclusive os criminosos,


mas a autocensura adquirida com a vida em sociedade, o contém.

A conseqüência disso é uma sensação de bem estar, perda de inibições, etc.

Se o indivíduo continua com a intoxicação alcoólica, ele começa a ter


reações orgânicas, mais especificamente na atividades psíquicas e
neurológica (motora – é ela que da harmonia aos movimentos).
Normalmente esses sintomas são de marcha ebriosa (sinuosa, dificuldade de
caminhar em linha reta), a voz começa a ficar pastosa, arrastada. Para o
lado psíquico a coisa agrava, por exemplo, ele pode ter alterações do humor
para o pólo da euforia, irritação ou depressão (tristeza). Além disso, a
elaboração do pensamento se torna confuso. Os reflexos diminuem, os
movimentos ficam debilitados, perde o equilíbrio, perde noção de
profundidade.

Essa embriaguez não é completa. Se ela fosse decorrente de caso fortuito ou


força maior, estaria no §2º, do art. 28, CP.

O próximo estágio é a embriaguez completa. Do ponto de vista psicológica


há um perda total da continência dos impulsos, dos afetos, ele não consegue
mais expressar a sua fala. Do ponto de vista motor, as glândulas salivares
começam a fabricar saliva e ele não consegue mais segurar, é a hora que
começa a babar. Perde a noção do ridículo, o pensamento novelado,
enrolado se agrava. Ele também não consegue mais manter a posição
bípede estável, ele fica balançando. Pode haver incontinência estomacal e
urinária.

Isso não pode ser confundido com dependência, a embriaguez por si só não
quer dizer dependência. O dependente pode ficar em estado de embriaguez,
mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Dependência é um quadro
crônico porque ela se manifesta após um uso continuado e repetitivo que
ocasiona uma ligação patológica entre a droga e organismo do individuo,
chegando numa fase que ele não consegue ficar sem a droga, ele tem
compulsão ao uso da droga. A tendência também é sempre aumentar o uso
da droga.

Vamos agora analisar as drogas ilícitas.


Em razão da gravidade do uso e dependência de drogas ilícitas houve por
bem estabelecer parâmetros legais para limitar e proibir as drogas ilícitas.
Essas drogas tem uma maior potencialidade de diminuir a autocensura.

O crack, por exemplo, promove comportamentos de agitação, agressividade


e compulsividade que muitas vezes estão relacionadas com o aumento do
comportamento criminoso.

Avaliação médico-legal do uso e abuso de drogas

Exame de embriaguez pelo álcool e substancias de efeitos análogos

O uso das drogas é marcadamente sublinhado pela entoxicação aguda,


tendo uma alteração de comportamento que pode levar a criminalidade.

Por causa disso as drogas ilícitas foram colocadas sob uma legislação
especial. Mas com a lei 11343/2006 veio a despenalização do usuário de
drogas, só mantendo (e aumentando) a pena do traficante.

Para nós só interessam alguns artigos. Vamos começar pelo 45 da


11342/06.

É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito,


proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da
ação ou omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento.

Veja que o legislador colocou duas coisas distintas no art. Uma coisa é
dependência, que é um quadro crônico, que é formada ao longo de um
tempo. A outra hipótese é o uso da droga em caso fortuito ou força maior,
no mesmo sentido que as drogas licitas do CP. Assim, nesses casos fica
afastada a imputabilidade.

O parágrafo único do art. 45, diz que quando absolver o agente por força
pericial das condições referidas no caput, poderá o juiz determinar o
encaminhamento do drogado para tratamento médico adequado.

Mas repare que não há imposição de medida de segurança, diferentemente


da inimputabilidade, aqui o juiz poderá determinar. Assim, os peritos que
indicam ao juiz se é necessário o tratamento médico e qual é o adequado, se
ambulatória, se sob internação.

Agora se trata de reconhecer caminhos alternativos para solução daquele


que infringe a norma penal em virtude de uso ou dependência de drogas.

A mesma sistemática se aplica ao caso de condenação do agente,


juntamente com pena aplicada, poderá o juiz encaminhá-lo a tratamento.

O exame de dependência de drogas e o laudo de dependência de drogas

Nada mais é do que uma espécie de exame psiquiátrico de sanidade mental.


Neste avalia-se a sua sanidade mental, na dependência de drogas é
necessário que os peritos examinem aquele que está sendo processado
quando houver duvida que ataque sua sanidade mental no sentido de
dependência de drogas.

Pode ocorrer a coexistência das patologias clássicas de doenças mentais com


a dependência de drogas.

O laudo do exame de dependência de drogas:

- Preâmbulo (apresentação do documento – já é impresso no timbre da


folha nos institutos oficiais).

- Identificação do periciando.

- Histórico criminal, i) denúncia, ii) elementos dos autos, iii) versão do


periciando aos peritos.

O exame não é feito com dosagens de drogas no sangue ou urina, o simples


fato de haver esses resquícios não autoriza a imputar uma dependência.
Esses exames só constatam a presença da droga ou álcool no corpo, não
quer dizer que a pessoa é dependente.

Após fazer aquele relatório, passa-se à anamnese - histórico de médico do


periciando:

- anamnese, i) antecedentes familiares, ii) antecedentes pessoais (curva


de vida – ao longo da vida ele anexa valores, troca experiências com o
meio, se houve uso de drogas no decorrer da vida e como começou,
constrói sua singularidade, ninguém tem um sósia psicológico), iii)
histórico da doença, da dependência (saber por que etapas ele passou,
como se chegou ao estado de dependência, procurar sintomas do uso
da droga, principalmente drogas de uso injetável, mas também no
caso da cocaína, que deixa marcas no septo nasal), iv) exames
complementares (podem ou não ser solicitados, pode ser um exame
psicológico, encefalograma, de sangue, para identificar patologias
relacionadas à dependência, não para indicar a dependência).

- Exame psíquico: tradução de uma analise psicológico-psiquiátrica,


como a avaliação critica, o conteúdo do pensamento, a forma pelo
qual o pensamento se manifesta e, por ultimo, a característica afetivo-
conativa da doença, capacidade de conter os próprios impulsos e de se
ligar a valores, hierarquizando as diferenças entre as coisas
importantes e os aspectos secundários. Não é raro que o dependente
de droga coloque a droga em patamar mais elevado do que a família,
por exemplo. É normal também a pessoa cair de “classe social” por
conta da droga e do álcool

- Diagnóstico: deve ter características médico-legais, não é no terreno


clínico, não se busca o tratamento, serve para responder ao juiz se
existe quadro de dependência. Esse diagnóstico pode incluir também
uma doença mental (esquizofrenia, por exemplo).

- Discussão e conclusões: item mais longo e importante do laudo. Os


demais itens são mais médicos, analisam o quadro do examinando.
Aqui não. Primeiro separa-se os fatores criminogênicos (razão de
ser do delito, porque o delito se consumou – por exemplo, roubou para
conseguir dinheiro para a droga); fatores criminodinâmicos (como
se deu o delito, se tinha o selo da dependência); e elucidar o nexo
causal entre dependência e o ato criminoso, além disso se no
momento do crime ele estava em situação de dependência, se o delito
foi movido pela dependência.

- Por último, o perito responderá os quesitos feitos. O perito não pode


deixar de responder a quesitos, é dever dele responder todos os
quesitos, mesmo os que não tenham pertinência. Mas quesitos
genéricos não tem ligação com o direito, o direito analisa o caso
concreto. Assim, perguntar se a cocaína causa dependência não tem
nada a ver com o caso concreto, não acrescenta nada. Caberia ao
esclarecer que a cocaína é substância capaz de causar dependência
desde que se observem diversos fatores.

O exame de recuperação de dependência de droga e abordagem da Justiça


Terapêutica

Se assemelha muito ao exame de dependência, mas o objetivo não é o


mesmo, sendo o objetivo aqui, já tendo acatado o juiz o exame pericial que
determinava a inimputabilidade por dependência d droga, ele possa avaliar
após o tratamento, se o individuo está em condições de voltar à vida
normal, se ele está livre da dependência.

Tem-se utilizado a justiça terapêutica, ou seja, dá-se ao individuo a


possibilidade de ele mesmo se inserir em programas que ele
progressivamente saia da dependência das drogas. Vem do modelo
estadunidense, não está inserido na lei, mas é uma faculdade do juiz agir
dessa forma. Essa é a tendência dessa nova lei.

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