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Susana António

Susana António nasceu em Lisboa, em 1979. Frequentou a Escola de Ensino Artístico António
Arroio e licenciou-se em Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa.
Experienciou um ano de Erasmus no Politécnico di Milano, em Itália, e quando retornou a
Portugal para entrar no mercado de trabalho, passou por um momento de indecisão quanto
ao caminho a seguir. No seu tempo livre fazia voluntariado num centro de dia/lar no Beato e a
partir daí começa a perceber a sua sensibilidade para trabalhar com a comunidade idosa.

Envolve-se no design social, trabalhando com a comunidade idosa, criando objetos de


forte identidade emocional, tradicional e inovativa.

Tem trabalhado como freelancer nas áreas de design gráfico e design industrial, mas o que
mais a ocupa e apaixona é o design social. Em 2005 realizou o seu primeiro projeto para a
exposição “My World, New Crafts” da Experimenta Design, exercendo a função de diretora
artística com uma equipa de seniores. A partir daí, envereda no âmbito do co-design,
desenvolvendo produtos com entidades seniores, doentes ou com dificuldades psicomotoras
em lares e centros de convívio, através de marcas próprias como a “Pick-it”, para exposições
ou em parcerias. Realiza a coordenação de alguns projetos como “Action For Age” para a
EXD09 e o Programa “Entre Gerações” da Fundação Gulbenkian.

+ cronologicamente + projetos

O primeiro projecto foi para a Experimenta Design de 2005, no âmbito da Exposição “My
World, New Crafts”. A partir desta data, sob o conceito da sua marca Pick-it começa a
trabalhar em diferentes lares e Centros de Dia, desenvolvendo produtos sob o conceito
de co-design.
Em 2006 participa na Exposição Design for Future com um projecto de co-design com
pescadores de Setúbal. Em 2007/2008 inicia uma parceria com a Câmara de Cascais
onde desenvolve projectos com os centros de convívio do concelho. Em 2008 abre um
atelier no Chiado. Em 2009 colabora com a Eastpack. Ainda nesse ano é coordenadora
do projecto Action For Age no âmbito da EXD09 e apresenta a exposição Ligths Up no
metro da Baixa Chiado com o Centro de Apoio Social da Segurança Social de Lisboa.Em
2010 junta-se à equipa dos Thinkpublic. Coordena também o Programa Entre Gerações,
de projectos intergeracionais da Fundação Gulbenkian em Portugal. Nova parceria é
também assumida com a Câmara de Cascais e o CPD (Centro para a Deficiência) para
desenvover uma marca de empreendedorismo social junto de 8 instituições do Concelho.
A marca Cerne inicia uma parceria com a Pick-it, de texteis para a casa.

No ano de 2013, em conjunto com o psicólogo Ângelo Campota cria a Fermenta – uma
organização não governamental que tem como objetivo promover a valorização social e
cultural, sensibilizando para o envolvimento da comunidade em ações sociais. Concebe e
implementa projetos integrados de desenvolvimento cultural, social e humano dirigidos a
comunidade, instituições e organizações.

O design atua como potencial para a mudança na vivência de pessoas com dificuldades.
A Avó veio trabalhar

No âmbito dos projetos próprios da Fermenta e partindo do trabalho que a organização já


fazia com a junta de freguesia de S. Paulo, surgiu “A Avó veio trabalhar” em 2014. Esta
iniciativa é dedicada a pessoas com mais de 60 anos e pretende romper com a solidão na
terceira idade, dignificar os idosos que por vezes são as pessoas com quem mais aprendemos –
os nossos avós. Para quebrar com as retaliações das pessoas que quando chegam a uma certa
idade sentem-se incapacitados de fazer mais, seja pela desculpa da idade e por consequência
de isso não possuírem capacidades fisiológicas para tal. Este projeto promete dar-lhes
autoconfiança ao reavivar as suas competências. Com este intuito propõem desafios criativos,
aliando o design e as tendências modernas aos saberes tradicionais e que eles sabem melhor
como a costura e o crochet.

A equipa com que iniciaram possuía apenas 12 membros no Centro Social e Paroquial de São
Paulo e o financiamento derivado de um prémio-vencedor do programa “BipZip”, apoiado pela
câmara de Lisboa, proporcionou o crescimento do projeto. Os participantes começaram a
convidar vizinhos e amigos, aumentando o grupo que atualmente ronda os 70. A ampliação do
pessoal exigiu o arrendamento de um espaço próprio e abriram um atelier-loja na Rua do Poço
dos Negros. Assim podem apresentar-se à comunidade local a fim de angariar potenciais
interessados e possibilitar a comercialização dos produtos.

Como organização não governamental, os financiamentos por parte de outrem são o que
mantêm o funcionamento do projeto.

Todos os anos prometem novas coleções de acessórios de moda e/ou peças


decorativas/homewear produzidos à mão em técnicas como costura, crochet, serigrafia, tear e
outros. A primeira consistia numa coletânea de luvas que aliavam o bordado tradicional à
energética da tatuagem, em tons intensos com formas de caveiras mexicanas e flores. Os
produtos são vendidos no próprio ateliê, no n.º 124 da Rua do Poço dos Negros, em Lisboa,
mas também nas lojas da marca "A Vida Portuguesa" e na loja da Fundação Serralves, no
Porto.

É de salientar que cada peça é acompanhada de uma etiqueta com foto e a história da avó que
a produziu e além disso, as próprias produtoras dão o rosto para as campanhas promocionais,
o que sublinha a ideia de dignificação do seu trabalho.

A magnitude deste projeto permitiu a interligação das gerações e o rompimento das


mentalidades fechadas, sendo que já desenvolvem muito mais que objetos. Cooperam em
diversos projetos da cidade como o festival de cinema DOC Lisboa, o Festival Silêncio, e
marcha LGBT e realizam workshops para partilhar ensinamentos.

Porque é possível continuar o desenvolvimento pessoal aos 70, 80, 90 ou mais anos. E a
criatividade é a matéria prima principal, porque não tem regras, nem certos nem
errados, tem apenas desafios, aventuras e experimentações.

Exposição “Tanto Mar” – Peça “Mátria” dois poemas bordados sobre linho, com letras azul-
cobalto decoradas a dourado.
“Desenhei uma obra sobre a relação, e a actualização dessa relação, entre Brasil e
Portugal. A única coisa que trouxe foi [a ideia de] que seria uma espiral de poesia.” O
objectivo: “potencializar o desenvolvimento autoral das avós e da nossa relação”. Susana
António prossegue: “As palavras e a poesia vieram das histórias de vida destas
mulheres – bordar é um acto social, tecem-se relações e esta peça é o conjunto destas 26
mulheres”, avós dos 50 aos 92 anos. “A espiral é o início e o fim de tudo”, diz Mana
Bernardes. Nela vive uma forma que casa com o espaço, com a arquitectura moderna
brasileira (Mana é filha do arquitecto Sérgio Bernardes), com a visão da artista sobre
Portugal – e com a “visão muito mundana que estas avós têm do Brasil, que vem da
televisão, da Carmen Miranda”, completa Susana António. Usaram cinco mil metros de fio e
500 mil horas de trabalho só a bordar, num “processo muito feminista que dá palco e voz
às mulheres de várias gerações”, explica Susana António. Mátria é também uma
performance, gravada em vídeo, que no futuro deve viajar com a escultura pelo mundo.
Encomenda do Mude, a peça “humanizou o processo artístico, para o democratizar” sem
“elites” ou “linguagens”, remata Susana António.

Bibliografia:

https://www.dinheirovivo.pt/fazedores/a-avo-veio-trabalhar-os-60-sao-os-novos-30/

https://vimeo.com/album/4230931/video/164301303

https://www.publico.pt/2017/09/30/local/noticia/a-avo-veio-trabalhar-1787174

https://observador.pt/especiais/a-avo-veio-trabalhar-os-70-podem-mesmo-ser-os-novos-20/

http://designadvancedresources.org/104-a-avo-vem-trabalhar-conversa-com-susana-antonio-
fermenta/ - fala mais sobre si

http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/12171/2/ULFBA_TES%20718.pdf – design social


estado da arte

https://www.almostlocals.com/a-avo-veio-trabalhar/

http://www.experimentadesign.pt/actionforage/pt/AFA-02-0107.html

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