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NOTAS DE AULA
Compilação: Cristina
Revisão:deProf.
Hollanda Cavalcanti Tsuha
Cintra
AULA N.º 04: Capacidade de Carga de fundações isoladas
19/03/2003
h
q=γh
σ
1
Na notação srcinal de Terzaghi (1943), a largura da sapata é representada por 2 B.
2
Justifica-se assim a denominação mais apropriada de capacidade de carga do sistema
sapata-solo. Entretanto, na grande maioria dos casos os autores se referem à capacidade de
carga da sapata ou capacidade de carga do solo.
Considerando que o elemento estrutural sapata seja suficientemente resistente, a
capacidade de carga de um sistema sapata-solo é a tensão que provoca a ruptura do maciço de
solo em que a sapata está embutida (ou apoiada).
Terzaghi (1943) definiu dois modos de ruptura do maciço de solo, ilustrados através
de curvas típicas, C1 e C2, da relação tensão x recalque (Fig. 2).
σ’r σr Tensão
0,2 B
o C1
v
it
a
l
e
R
e 0,4 B
u
q
l
a C2
c
e
R
0,6 B
0,8 B
relação à horizontal.
P
c, φ, γ II
R S
σr
B
O O’
α
Ca Ca
W
φ φ
R
Ep Ep
Fazendo-se o equilíbrio das forças verticais, para uma cunha de comprimento unitário,
tem-se:
σ r B + W − 2 E p − 2 Ca senφ = 0 (1)
B/ 2
com Ca = c
cos α
γ
W= B 2 tg α
4
α= variando entre φ e (45º + φ / 2)
que representa a solução do problema se Ep for conhecido. Entretanto, não há solução geral
que leve em conta o peso do solo e a influência da sobrecarga, principalmente. Por isso,
Terzaghi (1943) adotou a metodologia de considerar casos particulares, às vezes hipotéticos.
Essa metodologia é apresentada a seguir, na versão de Terzaghi e Peck (1967).
A zona I da Figura 3, que permanece em estado elástico, atua como se fosse parte da
sapata e penetra o solo como uma cunha, deslocando lateralmente a zona II, que por sua vez
empurra para cima a zona III, no estado passivo da Rankine. O ângulo atinge o valor de 45º
+ φ/2.
Esse caso já havia sido resolvido por Prandtl (1921) apud Terzaghi e Peck (1967), que
encontrou para a capacidade de carga a expressão:
σr = c Nc
π tg φ 2
N c = cotgφ e tg (45º + φ / 2) − 1 (3)
σ r = q Nq
N c = ( N q − 1) cot g φ (5)
1
σr = γ B Nγ
2
4 Ep
Nγ = cos (α − φ )
γ B2
1.4.Superposição de Efeitos
No caso real de uma sapata corrida, embutida em um maciço de solo que exibe coesão e
atrito, a capacidade de carga consiste de três componentes que representam, respectivamente,
as contribuições de:
1
σ r = c Nc + q Nq + γ B Nγ (6)
2
40º
N
q
N’c N’γ
Nγ
N
c
N’q
φ 30º
o
ti
tr
a
e
d
o
l 20º
u
g
n
Â
10º
0º
60 50 40 30 20 10 0 20 40 60 80
N , N , N’ e N’ 5.14 1.00 Nγ e N’γ
c qc q
1.5.Ruptura Local
Solos fofos ou moles não apresentam ruptura conforme o esquema da Fig. 3. Além
disso, a sapata penetra significativamente no terreno antes do estado de equilíbrio plástico ser
atingido ao longo de toda a superfície de ruptura e a correspondente curva tensão x recalque
não tem uma ruptura bem definida (curva C2 da Fig. 2).
Para o caso de sapata corrida em tais solos, Terzaghi (1943) propõe a utilização de
valores reduzidos (c´ e φ´) nos parâmetros de resistência do solo, de modo que:
2
c' = c
3
e
8
2
tg φ' = tg φ
3
1
σ ' r = c' N ' c + q N ' q + γ B N 'γ (7)
2
Os valores de N’c, N’q e N’γ também podem ser obtidos diretamente do ângulo de
atrito φ, por meio das curvas tracejadas da Figura 5.
Para calcular a capacidade de carga de sapatas com base quadrada ou circular, apenas
alguns poucos casos especiais foram resolvidos rigorosamente, pois as soluções requerem o
uso de procedimentos numéricos. Com bases nesses resultados e em experimentos, Terzaghi e
Peck (1967) apresentam uma equação semi-empírica para sapata circular com diâmetro B
embutida em um solo compacto ou rijo:
γ
σ r = 1,2 c N c + q N q + 0,6 B Nγ (8)
2
γ
σ r = 1,2 c N c + q N q + 0,8 B Nγ (9)
2
O fator 1,2 de ambas essas equações era considerado como 1,3 por Terzaghi (1943).
Atualmente, as equações (6), (8) e (9) são agrupadas em única equação geral que
considera a forma da sapata:
1
σ r = c Nc Sc + q Nq Sq + γ B N γ Sγ (10)
2
9
1
σ ' = c' N ' S + q N ' S + 2 γ B N 'γ S γ
r c c q q
(11)
1.7.Solos particulares
Portanto, para solos puramente coesivos (φ= 0), a capacidade de carga independe da
dimensão da sapata, enquanto que, para areias puras (c = 0), a capacidade de carga é
linearmente crescente com B.
2.PROPOSIÇÃO DE VESIC
2.1.Modos de Ruptura
Carga
e
u
q
l
a
a) Ruptura Geral c
e
R
Carga
e
u
q
l
a
b) Ruptura Local c
e
R
Carga
e
u
q
l
a
c
e
c) Ruptura por R
Puncionamento
B* = 2 B L / (B + L)
Compacidade Relativa
0,2 0,4 0.6
, 0,8 1,0
0
* 1 ruptura
B
/ geral
h
o
v
til 2
a ruptura
e
R local
o
t
n
e
im
3
t
u
b puncionamento
m
E
4
2.2.Capacidade de Carga
1
σr = c N c S c + q N q Sq + γ B N γ Sγ
2
N γ ≅ 2 ( N q + 1) tg φ (12)
Portanto, os fatores Nq, Nc e N γ, obtidos das equações (4), (5) e (12), respectivamente,
podem ser tabelados em função do ângulo (φ) de atrito interno do solo (Tabela 1).
Tabela 1 – Fatores de capacidade de carga (Vesic, 1975)
(º) Nc Nq N Nq/Nc tg
0 5,14 1,00 0,00 0,20 0,00
1 5,38 1,09 0,07 0,20 0,02
2 5,63 1,20 0,15 0,21 0,03
3 5,90 1,31 0,24 0,22 0,05
4 6,19 1,43 0,34 0,23 0,07
5 6,49 1,57 0,45 0,24 0,09
6 6,81 1,72 0,57 0,25 0,11
7 7,16 1,88 0,71 0,26 0,12
8 7,53 2,06 0,86 0,27 0,14
9 7,92 2,25 1,03 0,28 0,16
10 8,35 2,47 1,22 0,30 0,18
11 8,80 2,71 1,44 0,31 0,19
12 9,28 2,97 1,69 0,32 0,21
13 9,81 3,26 1,97 0,33 0,23
14 10,37 3,59 2,29 0,35 0,25
15 10,98 3,94 2,65 0,36 0,27
16 11,63 4,34 3,06 0,37 0,29
17 12,34 4,77 3,53 0,39 0,31
18 13,10 5,26 4,07 0,40 0,32
19 13,93 5,80 4,68 0,42 0,34
20 14,83 6,40 5,39 0,43 0,36
21 15,82 7,07 6,20 0,45 0,38
22 16,88 7,82 7,13 0,46 0,40
23 18,05 8,66 8,20 0,48 0,42
24 19,32 9,60 9,44 0,50 0,45
25 20,72 10,66 10,88 0,51 0,47
26 22,25 11,85 12,54 0,53 0,49
27 23,94 13,20 14,47 0,55 0,51
28 25,80 14,72 16,72 0,57 0,53
29 27,86 16,44 19,34 0,59 0,55
30 30,14 18,40 22,40 0,61 0,58
31 32,67 20,63 25,99 0,63 0,60
32 35,49 23,18 30,22 0,65 0,62
33
34 38,64
42,16 26,09
29,44 35,19
41,06 0,68
0,70 0,65
0,67
35 46,12 33,30 48,03 0,72 0,70
36 50,59 37,75 56,31 0,75 0,73
37 55,63 42,92 66,19 0,77 0,75
38 61,35 48,93 78,03 0,80 0,78
13
(º) Nc Nq N Nq/Nc tg
39 67,87 55,96 92,25 0,82 0,81
40 75,31 64,20 109,41 0,85 0,84
41 83,86 73,90 130,22 0,88 0,87
42 93,71 85,38 155,55 0,91 0,90
43 105,11 99,02 186,54 0,94 0,93
44 118,37 115,31 224,64 0,97 0,97
45
46 133,88
152,10 134,88
158,51 271,76
330,35 1,01
1,04 1,00
1,04
47 173,64 187,21 403,67 1,08 1,07
48 199,26 222,31 496,01 1,12 1,11
49 229,93 265,51 613,16 1,15 1,15
50 266,89 319,07 762,89 1,20 1,19
N γ ≅ ( N q − 1) tg (1,4 φ )
e
N γ ≅ 1,5 ( N q − 1) tg φ
De acordo com De Beer (1967), apud Vesic (1975), os fatores de forma dependem não
somente da geometria da sapata mas também do ângulo de atrito interno do solo ( φ ). Na
Tabela 2, apresentam-se os fatores de forma de De Beer, modificados por Vesic (1975).
3. OUTROS MÉTODOS
1
σ r = c N c S c d c ic + q N q S q d q i q + γ B N γ S γ d γ iγ (16)
2
B' = B − 2 e B (5)
e
L' = L − 2 e L (6)
B’
eB
L’
eL
σ r = c N c Sc + q (14)
Para sapatas corridas (Sc = 1), Nc é dado pela Figura 9 (linha cheia). Observa-se que os
valores de Nc são crescentes com a profundidade de embutimento h da sapata até o
embutimento relativo h/B = 4.
Para sapatas retangulares de dimensões B e L, utiliza-se o fator N c de sapata corrida e
calcula-se o fator de forma:
Sc = 1 + 0,2 (B / L)
Para sapatas quadradas ou circulares, pode-se tratar como um caso particular de sapata
retangular em que B = L, ou obter o valor de Nc já corrigido pelo fator de forma diretamente
da Fig. 9 (linha tracejada).
17
9 CULAR
OU CIR
Nc ADA
ADR
QU
8
SAPATA
CORRIDA
7
4
0123456
h/B
De acordo com Terzaghi e Peck (1967), o valor da coesão deve ser reduzido de 1/3 no
caso de ruptura local.
4. SOLO NÃO-HOMOGÊNEO
Não é raro ocorrer que a camada de apoio da sapata seja resistente (areia compacta,
por exemplo), mas abaixo dela haja um solo de resistência bem menor (argila mole, por
exemplo). Uma solução prática aproximada, para esse caso, consiste em determinar a
capacidade de carga considerando apenas a camada resistente ( σr1) e, em seguida, verificar se
a parcela propagada dessa tensão até o topo da segunda camada (∆σ) é menor que a
capacidade de carga de uma sapata fictícia apoiada no topo da camada de solo menos
resistente (σr2).
Para a propagação de tensões, além dos métodos que se vêem em Mecânica dos Solos,
pode-se, para um cálculo preliminar, admitir que a propagação de tensões se dá de uma forma
simplificada, mediante uma inclinação 2:1 (que corresponde a aproximadamente 27º com a
vertical), conformeo ilustrado pela Figura 10. Há autores que preferem a propagação mediante
a inclinação de 30 com a vertical.
18
P
L
B z
B
2 2 z
1 1
L+z
B+z B+z
Figura 10 - Propagação de tensões segundo uma inclinação 2:1 (Perloff e Baron, 1976)
Assim, se
σ r1 B L
∆σ ≅ ≤ σ r2
(B +()z L) + z
onde z é a distância da base da sapata ao topo da camada de solo menos resistente (Figura 11),
então, a capacidade de carga do sistema ( σr) é a própria capacidade de carga da camada mais
resistente (σr1):
σr = σr1
19
P
h
σ
σ
1 B 1 r1
z 2 2
∆σ
B +z
σr2
solo menos resistente
Caso a verificação não for satisfeita, basta reduzir o valor da capacidade de carga σr1
de modo que o valor propagado ∆σ não ultrapasse σr2. O fator de redução é dado pela
proporcionalidade entre σr2 e ∆σ. Assim, se
∆σ > σr2
σ B2 σ
∆σ = 2
= ≅ 10% σ
(B + 2 B ) 9
5.SOLOS SATURADOS
Exemplo resolvido 1
solução:
da Tabela 1, com φ = 0:
Nc = 5,14; Nq = 1,0; Nq/Nc = 0,20 e tg φ = 0
logo,
σr1 = 22 . 5,14 . 1,07 + 45 . 1,00 . 1,00 = 121 + 45 = 146 kPa ≅ 0,15 MPa
0
b) da Tabela 1, com φ = 23 :
Nc = 18,05; Nq = 8,66; Nγ = 8,20; Nq/Nc = 0,48 e tg φ = 0,42
logo,
σr2 = 4 . 18,05 . 1,16 + 45 . 8,66 . 1,14 + ½ . 6,8 . 8,50 . 8,20 . 0,87 = 84 + 444 + 206
σr2 = 734 kPa ≅ 0,73 MPa
22
Esses cálculos foram feitos com a hipótese de ruptura geral. Mas, como se trata de
argila mole, o autor procede à verificação da necessidade de redução de capacidade de carga
mediante a comparação do índice de rigidez com o índice de rigidez crítico (Cap. II.2.3) e
conclui que apenas na condição não-drenada ela é necessária. Como resultado, encontra-se:
6.SOLOS NÃO-SATURADOS
Solos que se encontram acima do nível d’água, quando porosos, geralmente são
colapsíveis. Esses solos, situados sob as bases de sapatas, se inundados por chuvas intensas,
pelo vazamento de tubulações enterradas, etc., podem exibir um recalque suplementar abrupto
e significativo, o chamado recalque de colapso (Cintra, 1998).
Os solos colapsíveis, em condições de baixo teor de umidade, apresentam uma espécie
de resistência “aparente” graças à pressão de sucção que se desenvolve nos seus vazios. Por
isso, em termos de fundações, quanto mais seco o solo colapsível, maior a sucção e,
conseqüentemente, maior a capacidade de carga. Ao contrário, quanto mais úmido, menor a
sucção e, em conseqüência, menor a capacidade de carga, até o extremo de solo inundado, ou
sucção nula, em que a capacidade de carga atinge o seu valor mínimo.
Para ilustrar a variação da capacidade de carga com a sucção apresenta-se a Figura 12,
que contém as curvas tensão x recalque de três provas de carga sobre placa à profundidade de
1,5 m, realizadas no Campo Experimental de Fundações da USP / São Carlos, onde o solo
superficial é colapsível. Dois ensaios foram realizados em épocas diferentes do ano, para
representar situações diferentes de sucção média do solo (ψ) sob a placa (sucção monitorada
por tensiômetros durante os ensaios), e uma terceira prova de carga foi realizada com
inundação do terreno, para reproduzir a condição de sucção nula.
23
Tensão (kPa)
0 40 80 120 160
0
) 20
m
(e
m
u
lq 40
a
c
e
R
60
Ψ=0 Ψ =15 kPa Ψ = 22 kPa
80
da sondagem.
Em princípio, devem ser evitadas as fundações por sapatas em solos colapsíveis, para
não se sujeitar às quase inevitáveis trincas e fissuras acentuadas, decorrentes dos recalques de
colapso.
Porém, uma solução que pode viabilizar o emprego de fundações por sapatas em solos
colapsíveis consiste na remoção da camada de apoio de cada sapata, na espessura
correspondente à largura da sapata, e sua reposição em subcamadas compactadas, conforme o
esquema da Figura 13. Esse procedimento, concebido por Vargas (1951) para aumentar a
tensão admissível de fundações diretas em solos porosos, foi comprovado como eficiente para
a quase eliminação do recalque de colapso e conseqüente emprego de fundações por sapatas
em solos colapsíveis (Cintra, 1998).
24
B/2 B/2
z=B compactado
Poderia se questionar por que não se procede à compactação dentro do bulbo todo (z =
2 B). Obviamente quanto mais espessa a camada compactada, melhor o efeito desejado. Mas a
justificativa para compactar o solo apenas até a metade do bulbo de tensões, além do aspecto
econômico, é que à profundidade z = B, a parcela propagada eqüivale a somente 25% da
tensão aplicada por uma sapata quadrada, de acordo com a propagação 2:1.
σr = 0,40 γ B Nγ
Para a estimativa do valor da coesão não drenada (cu), quando não se dispõem de
resultados de ensaios de laboratório, Teixeira e Godoy (1996) utilizam a seguinte relação
empírica com o índice de resistência à penetração ( N ) do SPT:
cu = 0,01 N (MPa)
Para a adoção do ângulo de atrito interno da areia, pode-se utilizar a Figura 14 (Mello,
1971), que mostra correlações estatísticas entre os pares de valores ( σv ; N ) e os prováveis
valores de .
70
AREIA FINA
AREIA GROSSA
CONJUNTO
50
º
º 0
0 5 º
5 = 45
φ
=
φ
) 50
m
c º
40
0
3
/
s 40
e
p
l
o 40º
g 45
º φ=
(
30
N
35º
5º
40º φ=3
20
φ = 30º
35º
10
30º 30 º φ = 25º
25º
25º
0
0 50 1 00 1 50 2 00 2 50 3 00
φ = 28o + 0,4 N
27
o
φ = 20 N +15
Para o peso específico do solo ( γ ), se não houver de ensaios de laboratório podem ser
adotados os valores aproximados das Tabelas 3 e 4 (Godoy, 1972), em função da consistência
da argila e da compacidade da areia, respectivamente. Os estados de consistência de solos
finos e de compacidade de solos grossos, por sua vez, são dados em função do índice de
resistência à penetração ( N ) do SPT, de acordo com a NBR 7250/82.