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CONSCIÊNCIA E A JORNADA DO HERÓI

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Francisco Fialho Ermelinda Ganem


Federal University of Santa Catarina IJBA
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FIALHO, Francisco Antônio Pereira; SILVEIRA, Ermelinda Ganem
Fernandes. Consciência e a jornada do herói. In: SIMPÓSIO NACIONAL
SOBRE CONSCIÊNCIA, 2., 2007, Salvador. Anais... Salvador: Fundação
Ocidemnte, 2007. 1 CD-ROM.

CONSCIÊNCIA E A JORNADA DO HERÓI

Francisco Antonio Pereira Fialho, Dr1


Ermelinda Ganem Fernandes Silveira, Ms2

Quem é esse homem que se esforça por derreter o silêncio unicamente por
meio do seu movimento? Esse homem é o mimo. A dança é filha da
3
música. A pantomima é filha do silêncio [ETIENNE DECROUX] .

RESUMO: Neste artigo, com base em conceitos da Psicologia Profunda de


Gustav Jung, pretendemos apresentar alguns fundamentos para uma
Psicologia da Individualização a qual consiste, basicamente, em suportar a
jornada daqueles que se propõem a atender a demanda do Oráculo de
Delphos: Conhecer a si mesmo. Em linguagem moderna, conhecer a si
mesmo consiste em desenvolver nossa inteligência intrapessoal.

Palavras-Chave: Consciência, Anima, Jornada do Herói.

ABSTRACT: Our goal in this article is to develop a Individualization


Psychology based in concepts by Carl Gustav Jung´s Deep Psychology.
Basically we aim to support de journey of everyone wanting to answer
Delphos Oracle request to Sochrates: “Know yourself”. Talking in modern
language in order to know yourself you must develop the so called
intrapersonal intelligence.

Keywords: Consciousness, Anima, Hero Journey

1
Professor do Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal
de Santa Catarina
2
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade
Federal de Santa Catarina.
3
BONFANTI, Jean-Claude. Para saudar Etienne Decroux. Transcrição e tradução do roteiro do filme de Bonfanti
por José Ronaldo Faleiro; p. 3 da tradução. [texto manuscrito].
FIALHO, Francisco Antônio Pereira; SILVEIRA, Ermelinda Ganem
Fernandes. Consciência e a jornada do herói. In: SIMPÓSIO NACIONAL
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SOBRE CONSCIÊNCIA, 2., 2007, Salvador. Anais... Salvador: Fundação
Ocidemnte, 2007. 1 CD-ROM.

INTRODUÇÃO

“Não tenho ensinamentos a transmitir. Apenas aponto algo, indico algo na realidade, algo não
visto ou escassamente avistado. Tomo quem me ouve pela mão e o encaminho à janela.
Escancaro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas lidero um diálogo”
(Buber).

Somos seres vivos. Isto significa que sentimos, pensamos e agimos. Ao sentir
associamos a imagem arquetípica de Eros. O arquétipo, por detrás do pensar é
Atena e do agir é Hermes. Freud em o “Mal estar na Civilização” defende que toda
cultura é fundada sobre a repressão dos instintos dos indivíduos, a impossibilidade
de toda e qualquer erotização que leve ao prazer. Hermes impede Eros (princípio do
prazer), subordinando-o a Atena (princípio da realidade). A satisfação objetiva de
necessidades vinculadas à auto-preservação implica na necessidade do trabalho
(princípio da realidade) e em abstenção do prazer.

Para Marcuse (1978) o argumento de Atena é que o estado de carência e


distribuição da escassez conduz à uma lógica da dominação (“forma histórica do
princípio da realidade”) mediante a qual um pequeno grupo de indivíduos consolida
sua posição privilegiada e, concomitantemente, o progresso tecnológico, material e
intelectual. O que a civilização impõe sobre a vida instintiva é a passagem:

DE PARA
Satisfação imediata Satisfação adiada
Prazer Restrição ao prazer
Júbilo (atividade Lúdica) Esforço (trabalho)
Receptividade Produtividade
Ausência de repressão Segurança
(Fonte: Herbert Marcuse, in Eros e Civilização p.34)

Marcuse considera que a teoria psicanalítica freudiana impossibilita qualquer


utopia no sentido de integrar Eros a Logos4, a emoção com a razão, pois a

4
O Logos (STUVW, palavra) é um um conceito filosófico. A capacidade de racionalização individual ou o princípio
da Ordem e da Beleza. "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com o Deus, e a Palavra era [um] deus"
João 1:1
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Fernandes. Consciência e a jornada do herói. In: SIMPÓSIO NACIONAL
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civilização é Logos impondo suas leis a Eros, a repressão dos instintos, condição
“sine qua non” para a co-existência pacífica em sociedade. Busca, no entanto, na
própria teoria freudiana, elementos que apontem para outras alternativas: uma
organização social sem a necessidade de repressão dos instintos. Alguma forma de
se libertar a Bela (a emoção) da Fera (a razão), de resgatar o singular sem
subordiná-lo a uma lógica em que este deva se submeter ao todo.

Segundo o próprio Freud o trabalho pode ser erotizado, criando entre as


pessoas que o desempenham laços que superam o mero ganho material. A partir
daí, Marcuse chega à conclusão de que, com a eliminação da alienação produzida
pela dominação, há possibilidade de que os indivíduos deixem de viver sobre o
Princípio do Desempenho, em uma nova ordem social, onde a escassez não exista;
o prazer é vivido como erotização do corpo como um todo e, a realização do
trabalho como um jogo.

Freud afirmara que a natureza dos instintos é “historicamente” adquirida,


concordando com Nieztsche de que a cultura é inscritora de símbolos e que tal
inscrição é um processo sangrento. Marcuse acredita que, mudando o quadro de
escassez e dominação, os instintos sexuais e de agressão tornam-se passíveis de
alteração. Desta forma, a mudança qualitativa no desenvolvimento da sexualidade
deve alterar necessariamente o instinto de morte. Eros pode subjugar Thanatos.

O Eros de Marcuse é distinto do Eros freudiano (sexualidade/sublimação da


sexualidade), pois, nele, a sublimação não ocorreria como resultado da repressão.
Ela, a sublimação, seria correlata ao próprio prazer porque está fundamentada na
ordem sensorial e não, sexual.

Apresentando uma nova interpretação para os mitos de Orfeu e Narciso,


admite a possibilidade de realização desta nova ordem social a ser movida pela
brandura, contemplação da Beleza e negação do princípio do desempenho.

Para sustentar sua tese, Marcuse cita a antropóloga Margareth Mead que,
estudando os Arapexes, observou, nesta cultura, o respeito ao meio ambiente e o
trato dele como a um Jardim, porque ele favorece a criação das demais espécies
vivas. Igualmente, remete-se a Kant e, em especial à Crítica do Juízo (“Da beleza
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como símbolo da Moralidade”) e a Schiller em Cartas sobre a Educação Estética do


Homem (função estética como um novo princípio de realidade) para reforçar sua
tese.

A Civilização preconizada por Marcuse é aquela que, ao contrário daquela


predita por Freud, desconhece o Mal Estar ou o Descontentamento. Ela possibilita:

• a gratificação indolor das necessidades pela inexistência de interferência, da


dominação, sobre as gratificações. A condição para que isto ocorra é a
eliminação da escassez e a existência de “condições ótimas de riqueza
material e intelectual”. Nestas condições, Eros estaria liberto (e fortificado
para vencer Thanatos), pois a energia desviada para o trabalho seria
mínima;

• Eliminação da mais–repressão eliminaria a organização da existência


humana tendo como fim exclusivo o trabalho alienado. O trabalho não seria
abolido, mas modificado pelo Princípio de Realidade não-repressivo e ao
qual Eros emprestaria nova face. Esta modificação culminaria com a
vivência do trabalho como jogo, pois, entre ambos, a diferença é quanto ao
propósito e não ao conteúdo.

• Razão e instinto podem unir-se resultando na existência plena e significativa


do indivíduo e, em decorrência as manifestações destrutivas seriam
reduzidas ao mínimo;

• A fantasia, como função cognitiva;

• A própria morte resultaria no símbolo de liberdade através da racionalidade.


Ao invés de ser temida como ameaça ou glorificada como sacrifício.

Como construir este mundo novo que pode existir fora de nós, mas que só pode
ser espelho do que existe dentro de nós?
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Fernandes. Consciência e a jornada do herói. In: SIMPÓSIO NACIONAL
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SABER, QUERER, OUSAR, CALAR

Todo fazer é um conhecer, todo conhecer é


um criar e todo criar é um (re) criar-se. Fazer,
conhecer, criar ... ciclos que se repetem na
não linearidade do mundo, na eternidade
quântica do aqui e agora.

Se as Personas5 são as máscaras que


usamos para nos comunicar com o mundo
exterior, as Animas6 pertencem ao mundo
interior. Segundo Jung quem nos guia em nossa jornada rumo ao Self7 é nossa
Anima. Na estrada em direção a Oz não caminhamos sozinhos.8

Figura 1: Doroyhy, a criança mágica e suas animas, a caminho de Oz


Fonte: www.semicolonblog.com/?cat=85.

Temos, ao nosso lado, a sabedoria de Atena - Espantalho, a paixão de Eros –


Leão Covarde e a intuição de Hermes – Homem de Lata.

Rubem Alves (2001) nos ensina que, em uma época onde as tecnologias, cada
vez mais sofisticadas, passam a executar e pensar pelos indivíduos, resta ao ser
humano o maior de todos os aprendizados:: Aprender a Viver.

Izquierdo (2002, p. 138) considera que: “...a chave da qualidade de vida é abrir
tempo e usá-lo fundamentalmente para amar, para ser quem somos e melhorá-lo

5
De acordo com Las Heras (2003), o termo Persona, cunhado por Jung na década de 20, refere-se à parte da
personalidade humana inata, porém modelada e influenciada pela sociedade, que tem como objetivo facilitar a
nossa comunicação com o mundo externo. É uma subpersonalidade que vai sendo configurada pelo ambiente
social.
6
Jung chamou de Anima a nossa interioridade pessoal, a nossa “imagem de alma”. A primeira noção de anima,
como o lado contrassexual, feminino, do homem, foi posteriormente ampliada. Utilizamos o conceito de anima
no sentido mais amplo usado por Hillman (1985). A anima, como arquétipo, transcende o gênero sexual,
referindo-se a uma estrutura psíquica mais complexa, presente tanto na psicologia do homem, quanto na psique
das mulheres.
7
Para Edinger (1992), o Self, também chamado de Si-mesmo, é o centro ordenador e unificador da psique total
(consciente e inconsciente), assim como o ego é o centro da personalidade consciente. O Self (Si-mesmo)
constitue, por conseguinte, a autoridade psíquica suprema, mantendo o ego submetido ao seu domínio. O Si-
mesmo é descrito de forma mais simples como a divindade empírica interna, e equivale à imago Dei.
8
A jornada rumo ao Self, que analogizamos com o caminho em direção à Oz, corresponde ao caminho da
individuação, definido por Jung. Para a Psicologia Junguiana, existe em nós uma tendência inata de orientação
do desenvolvimento da personalidade e a realização individual. O núcleo dessa tendência se localiza no interior
de cada ser humano, propiciando o desenvolvimento da sua integralidade. Os efeitos dessa autoformação, na
segunda metade da vida foi denominada por Jung de “individuação” (NEUMANN, 1995). Essa tendência inata
nos impele ao que Abraham Maslow chamava de capacidade de auto-realização.
FIALHO, Francisco Antônio Pereira; SILVEIRA, Ermelinda Ganem
Fernandes. Consciência e a jornada do herói. In: SIMPÓSIO NACIONAL
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através do amor. Para isso temos que enfrentar todas as circunstâncias e situações
que atentem contra nosso tempo”.

Qualias são os átomos do pensamento, os quais são definidos por analogia


com os átomos convencionais. Demócrito já fazia diferença entre os átomos de fogo,
da consciência, e aqueles associados à matéria.

Um átomo, livre ou ligado é definido como a união de um atrator9 e sua base


asssociada. Em um espaço de dimensão 3n, em que muitos neurônios, funcionando
como operadores quânticos booleanos (dispara, não dispara), estes fornecem o
substrato material para o cérebro. Podemos definir o átomo da consciência ou
“qualia” como a “união de um atrator e sua base associada”.

Temos todos os tipos de atratores possíveis em nosso cérebro, desde atratores


simples com apenas um pólo de atração até os mais complicados envolvendo tantos
pólos quanto seriam as possíveis reações a um determinado evento.

Em um espaço de infinitas possibilidades “Corpo-Mundo-Crença”, nosso


comportamento pode ser descrito como uma trajetória nesse espaço, a qual estará
sujeita ao “puxão” desses atratores. O que define um ser consciente, segundo
Hofstader (1979) é a existência de atratores caóticos estranhos Godelianos,
atratores, de atratores, de atratores os quais correspondem as representações de
segunda ordem preconizadas por Damásio (2001).

O que temos a cada instante é um cenário de infinitas possibilidades, as quais


são representadas pela função de onda quântica. Um determinado estado do
cérebro provoca o colapso da onda quântica, instanciando um ramo, o qual
encapsula e registra a informação contida em uma descrição clássica do complexo
Corpo Mundo Crença.

Observe que o conceito de arquétipo, enquanto energia psíquica se coloca ao


mesmo nível dos atratores de atratores de atratores.

Estudos feitos com macacos mostram notável fidelidade entre uma forma vista
(a) e a forma do padrão de atividade neural (b) em um dos estratos do córtex visual
primário.

9
Um atrator tem uma base de atração e um ou mais pólos de atração. Por exemplo, toda vez que nos lembrams
de alguém é porque caiu a ficha, ou seja, fui capaz de associar uma das infinitas possibilidades de cada um se
apresentar ao protótipo que guardo em meu cérebro.
FIALHO, Francisco Antônio Pereira; SILVEIRA, Ermelinda Ganem
Fernandes. Consciência e a jornada do herói. In: SIMPÓSIO NACIONAL
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Ocidemnte, 2007. 1 CD-ROM.

Talvez que o mito da caverna, de


Platão, seja mais do que um mito. As
neurociências nos ensinam que não vemos
com os olhos e nem ouvimos com os
ouvidos.

São as sombras das realidades


projetadas na caverna do mundo que, de
novo, projetadas nas paredes do cérebro,
formam o que chamamos de realidade.

Se a realidade é espelho das nossas


fantasias podemos acreditar que uma nova
ordem emergirá quando o indivíduo puder
alterar seu mundo interno fazendo-o eclodir
em uma primavera tornando a Terra em um
lugar onde o Homem não tenha o destino
Hobbesiano de ser lobo do homem.

Figura 2: A caverna de Platão

Fonte: Scientific American, 2006

Em Jung tudo brota do inconsciente coletivo. É nele que estão contidos os


arquétipos, que são a matéria prima com a qual construímos os mitos. Como energia
psíquica aglomerada que se condensa para formar estelas, constelações, galáxias.
Essas estrela nos constelam. A consciência veste o arquétipo com uma forma
plástica, material psíquico individual, criando imagens arquetípicas, o reflexo que
resulta da constelação de um indivíduo por um arquétipo.

Daí nascem ... os símbolos.

UNUS MUNDUS E EMOÇÃO

O númeno se refere aos objetos do pensamento, percepção ou cognição


humana. “Para Kant, o conhecimento sensível não nos revela as coisas como são,
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uma vez que ele se caracteriza por um certo nível de receptividade, representando
as coisas do mundo como aparecem para o sujeito e não como são em si (...) Assim,
o que conhecemos do mundo são fenômenos, não númenos. Conhecemos a
imagem das coisas para nossa consciência, não a essência daquilo que acreditamos
estar fora de nós: ‘fenômeno’, ordinariamente, significa ‘aparição’. Só conhecemos
os fenômenos do mundo, não a essência do mundo”. (CASTANÕN, 2007)

David Bohm (1980) falava de uma ordem implicada. O mundo que percebemos
seria o que denominou por Ordem Implícita. O mar de energia incomensurável, que
tanto incomoda os teóricos da Física Quântica, seria a Ordem Implícita e as
consciências (ou aparelhos de medida) seriam os habitantes de uma Ordem Super
Implícita capaz de provocar, com seu vento quântico, colapsos de funções de ondas,
em uma sincronicidade já prevista por Jung ao correlacionar eventos psicológicos
com eventos físicos.

Amit Goswami (2005) fala de uma mônada quântica que uniria e daria sentido
a nossos diversos corpos. Jung entendia essa Ordem Implícita, campo de união
entre soma e psique, como Unus Mundus.

“A idéia de unus mundus se baseia na hipótese de que a multiplicidade do


mundo empírico apóia-se em uma unidade subjacente, e não na coexistência ou
combinação de dois ou mais mundos fundamentalmente diferentes (...). A existência
de inegáveis conexões causais entre a psique e o corpo confirmam a natureza
unitária subjacente. (JUNG, apud SAIZ, 2006).

Bohm (1980) propõe um novo paradigma em que elabora a visão do universo


como um todo integrado por sistemas interdependentes. O próprio universo não é
uma máquina, mas um sistema vivo. A natureza não é constituída apenas em
termos de estruturas fundamentais, mas em função de processos dinâmicos
subjacentes.

Unus Mundus é o espaço místico em que se armazenam os padrões, as


roupas que vestimos nos diferentes mundos, assim como as formas que os habitam.
É o lugar em que os mitos se transformam em sonhos e esses nas fantasias que
chamamos de realidades e que não passam de sombras de sombras ... de sombras.
FIALHO, Francisco Antônio Pereira; SILVEIRA, Ermelinda Ganem
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Alfred Wheeler em o It e o Bit, afirma: “Quando comecei minha vida de Físico


tudo era matéria. Depois, tudo era Energia. Agora, tudo é informação”. Parodiando o
ditado podemos dizer: “No início era a informação e a informação era Deus”.

Segundo Nietzsche, no entanto, a bíblia estaria errada. Antes do verbo havia a


emoção. Por causa da emoção Deus precisou do verbo. Primeiro a emoção ...
Depois o verbo-informação.

Como a água que move o moinho para gerar energia, a emoção é geradora, é
o substrato do conhecimento, este que ficará indelevelmente tatuado no córtex
cerebral e no coração do aprendiz; e que ocorre por ter sido significativo, por haver
emocionado.

A emoção representa, para o conhecimento, seu contexto mais insondável,


algo como o mar aberto em torno de uma ilha de idéias bem organizadas. Ou, no
máximo, de um arquipélago.

Segundo Kurzweil (2005), com base na teoria de que tudo é informação, é


possível se definir diferentes eras de acordo com a forma pela qual a mesma estaria
sendo codificada.

As Seis Épocas de Ray Kurzweil

SINGULARIDADE 6 Fusão entre matéria e


consciência
o universo “acorda”
NBIC 5
Fusão entre IA e IH
biologia se funde com a tecnologia
TECNOLOGIA 4
Tecnologia
informação digital
CÉREBRO 3
Cérebros
informações em redes neurais
DNA 2
Biologia
informação no código genético
1
Física e Química
informação nas estruturas atômicas

Figura 3: As 6 épocas
Fonte: The singularity is near (KURZWEIL, 2005)
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Na era 1, da Física e da Química, um Código Nuclear organiza e mantém a


energia/matéria. Na era 2, do DNA, temos um Código Genético, o qual organiza e
mantém a vida.

Na era 3, era dos homens com seus prodigiosos cérebros, temos um Código
Neural que organiza e mantém o cérebro/mente. Na era 4 da Tecnologia explodem
os códigos até convergirem, na Era 5 em um Código Holográfico capaz de organizar
e manter a consciência.

Estamos a caminho da era 6, em busca de um Código Cósmico capa de


organizar e manter o universo. Tudo o que sabemos hoje sobre este código é que
sua gramática é sábia e sua poética é bela. Estamos falando .... de Amor.

Os Budistas acreditam que a Realidade é composta por fluxos contínuos de


experiências, os quais Ken Herold (2005) chama de Momentaridade: “A
Momentaridade é uma estrutura informacional em que a metáfora dá forma à
experiência ... O Budismo rejeita o dualismo entre epistemologia e ontologia: o
conceitual e o não-conceitual não são fontes distintas de conhecimento. A cognição
e seu objeto estão em e são uma mesma unidade-momento”. (HEROLD, 2005)

Gandhi dizia10: “Constatei que a vida persiste mesmo em meio à destruição e


que deve, conseqüentemente, existir uma lei mais alta que a da destruição. Será
unicamente através de uma tal lei que a sociedade organizada poderá ser
compreendida e que a vida valerá a pena ser vivida. Ora, se tal é a lei da vida,
devemos aplicá-la em nossa existência diária. Onde houver conflito, onde houver
oposição, triunfe através do amor. Através de tal método rudimentar coloco em
minha vida esta lei. Isto não significa que todos os meus problemas encontrem
solução. Mas constatei que esta lei do amor se mostra tão eficaz que jamais tive em
mim a lei da destruição”.

Conhecer não é apenas percorrer terras planas e seguras. Conhecer é


também viajar por espaços delimitados pela ignorância e pelo risco do retrocesso.
"Somos as únicas criaturas na face da terra capazes de mudar nossa biologia pelo
que pensamos e sentimos! Nossas células estão constantemente bisbilhotando
nossos pensamentos e sendo modificados por eles. Um surto de depressão pode

10
http://www.paubrasil.com.br/livraria/scripts/pagina.web?124310257107623640007+e_gandhi.html
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arrasar seu sistema imunológico; apaixonar-se, ao contrário, pode fortificá-lo


tremendamente”. (Chopra)11

CONCEITO DE HOMEM

Jung descobre em 1902 a alma. Através de testes associativos demonstra que


cada pessoa responde, de forma única, ao experimento12. Isto que faz com que cada
um seja singular. Jung denominou esta singularidade, inicialmente, por alma. Mais
tarde, estas estruturas, os “complexos”, formariam a base do seu conceito de
inconsciente pessoal.

Como expressão visível das atividades de um ser, a parte visível dos


complexos, teríamos as tipologias, correspondendo às nossas atividades
conscientes e, na base, os arquétipos, estes já pertencentes a uma nova estrutura, o
inconsciente coletivo.

Os mitos do inconsciente coletivo são as fontes dos sonhos individuais que


determinam nossos comportamentos. Não há descontinuidade entre consciente e
inconsciente. Falamos aqui de uma totalidade.

No modelo psíquico Junguiano, a Ectopsique relaciona os conteúdos da


consciência com os fatos e dados externos, originários do meio ambiente. A
Endopsique relaciona os conteúdos da consciência com processos que ocorrem no
inconsciente (JUNG, 1999).

Anima vem de amenos, vento. Chawwa (Eva), aquela que pode ser fecundada;
Helena, um eros sexual; Maria, que eleva Eros ao sagrado; e Sofia, a

11
http://diversificado.blogspot.com/2006/11/ou-voc-abre-seu-corao-ou-algum.html
12
Em 1902, na Clínica Psiquiátrica da Universidade de Zuriche, Jung concebeu um projeto de pesquisa que tinha
como objetivo penetrar mais fundo no mundo subjetivo e explorar suas estruturas e operações. A pesquisa, cujos
resultados foram publicados em 1904-1910, no Journal fur Psychologie und Neurologie, deu origem ao
experimento denominado ‘’Teste de Associação de Palavras”. Nesta pesquisa, eram utilizadas palavras-
estímulos, lidas a um sujeito que tinha sido instruído previamente para responder com a primeira palavra que lhe
ocorresse à mente. As respostas geravam uma série de reações emotivas, verbais e fisiológicas, que eram
mensuradas e documentadas. A partir destes experimentos, Jung observou que haviam fatores que não eram
conscientes pelos indivíduos e que afetavam as respostas. Algumas palavras-estímulos despertavam
lembranças dolorosas que haviam sido enterradas no inconsciente, conteúdos que, por sua vez, se associavam
a outros conteúdos. Havia uma espécie de rede de material associado, formada por lembranças, fantasias,
imagens e pensamentos, que geravam uma perturbação na consciência. Esta rede foi chamada de complexo
(STEIN, 2000). Este método experimental foi logo abandonado por Jung, mas tanto lhe serviu de ponte para
iniciar o relacionamento com Freud, quanto para lançá-lo internacionalmente no mundo acadêmico (conferências
do bicentenário da Clark University, Estados Unidos, 1909) (GRINBERG, 2006).
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espiritualização de Helena, o feminino universal. O vento oeste frio e úmido; o sul,


quente e fogoso; o leste, da vida renovada, da força e do intelecto; e o vento norte, o
vento da morte, frio e seco, que elimina toda a negatividade

Nós somos
um UNIVERSO
ARQUÉTIPOS
Em Jung o conceito de homem se
CONSTELAÇÕES
amplia. Somos um universo. Nosso ego
não passa de um minúsculo planeta ,
palco em que representamos os papéis
designados por nossas personas.
EGO-PLANETINHA

Somos ao menos tempo criatura e


criador do Universo que somos, o qual
está em contínuo devir, na dança do
tempo em que, bailarinos, somos orquestra e platéia, artista e público, ao mesmo
tempo.
Figura 4: Conceito de homem.
Fonte: adaptada da figura, cuja fonte encontra-se em www.omnipotentuniverse.com

Conhecer a si mesmo é viajar, deixar que as animas nos conduzam em direção


ao self mítico. “Alma é coisa viva num homem, aquilo que vive por si só e que causa
a vida...Ela nos faz acreditar em coisas incríveis, que a vida pode ser vivida. Ela
arma diversas ciladas e armadilhas para que os homens caiam, alcancem a terra,
enredando-se com ela, fiquem presos...” (HILLMAN, 1985)

Anima não se refere às funções específicas da consciência (pensar, querer,


perceber, sentir, etc.) e nem ao registro das experiências (atenção), funções que
mais tarde tornaram-se ego.

“Tudo que a Anima toca torna-se Numinoso – Incondicional, Perigoso, Tabu,


Mágico”. “Todo o homem ‘contém Eva, sua esposa, escondida no seu corpo’”
(HILLMAN, 1985).
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CONSCIÊNCIA e ARTE (SER É SENTIR – A VIAGEM EM BUSCA DO SELF)

Se o encontro com a sombra é obra de aprendiz, o encontro com a Anima é nossa obra-prima
(Jung)

Para viajar precisamos estar preparados. É


necessário desenvolver nossa inteligência
intrapessoal, aquela capaz de nos guiar na noite
escura e de nos fazer encontrar abrigos na floresta
dos sonhos que vão se identificando aos mitos até se
perderem em pura informação, capaz de dar sentido
às emoções.

Os poucos que crêem que as princesas existem,


escutam seus passos pelo bosque, seus contos, seus
anseios. E embora o caminho desde o castelo e até o
castelo possa estar cheio de dificuldades, vale a pena percorrê-lo. Foi uma princesa
que me disse. (Arias in Jerusalinsky)

Figura 5 – O encontro de Dante e Beatriz no paraíso, Dante Gabriel Rossetti, 1853-1854


Fonte: Art Renewal Center.

Desenvolver a inteligência intrapessoal demanda o domínio das quatro artes: O


autodomínio, o autoconhecimento, a amorosidade e a transcendência.
A criança exercita o Autodomínio. Para conquistarmos o autodomínio devemos
governar nossa violência, vigiar os vícios e respeitar os limites, nossos, e dos outros. Como
Hércules é preciso vencer o Leão da Neméia, derrotar a velha Hidra com suas cabeças
representando as diferentes sereias a nos atrair para lugares sombrios e capturar o javali
de Erimanto vencendo pelo cansaço a fera sem limites (SINZATO, 2008).
O adolescente busca o Autoconhecimento. O autoconhecimento demanda
descobrir nossos talentos, capturando a corça cerinita; manter limpos corpo e mente,
limpando os estábulos do Rei Augias; e desenvolver a intuição, matando os
pássaros de penas de bronze que habitavam o lago de Estínfalo. Hércules deveria
dominar a corça cerinita pelos chifres de ouro, sabedoria, e não pelos pés de bronze
(busca material) (SINZATO, 2008).
FIALHO, Francisco Antônio Pereira; SILVEIRA, Ermelinda Ganem
Fernandes. Consciência e a jornada do herói. In: SIMPÓSIO NACIONAL
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SOBRE CONSCIÊNCIA, 2., 2007, Salvador. Anais... Salvador: Fundação
Ocidemnte, 2007. 1 CD-ROM.

O adulto trabalha sua Amorosidade. A amorosidade insiste em que


governemos nossos instintos primitivos, capturando o touro de Creta; superemos o
amor ingênuo, conquistando as éguas antropófagas de Diomedes; e saibamos
seduzir nos mostrando verdadeiros, obtendo de livre vontade o cinto de Hipólita,
rainha das Amazonas (SINZATO, 2008).
O ancião busca, desesperadamente, a transcendência. A transcendência exige
o exercício do desapego, o conhecimento do bem e do mal e a superação da morte.
Os bois de Gerião, simbolizando a matéria, os pomos de ouro do jardim das
Hespérides, a velha árvore do conhecimento e a captura de Cérbero o que nos
permite ir e vir entre os diferentes mundos (SINZATO, 2008).
Os doze trabalhos de Hércules, segundo Sinzato (2008), assinalam a jornada
que o herói deve seguir para encontrar sua alma.
Rubem Alves (2001, p.103-108) diz que: “Primeiro amar, depois conhecer.
Conhecer para poder amar. Porque, quando se ama, os olhos e os pensamentos
envolvem o objeto, como se fossem mãos, para acolhê-lo. Pensamento a serviço do
corpo. Ciência como genitais do desejo, para penetrar no objeto, para se dar ao
objeto, para experimentar união, para o gozo. (...) conhecimento não é coisa de
cabeça, nem de pensamento.. é coisa do corpo inteiro, dos rins, do coração, dos
genitais (...) conhecimento é coisa erótica, que engravida. Mas é preciso que o
desejo faça o corpo se mover para o amor. Caso contrário permanecem os olhos
impotentes e inúteis. ....para conhecer é preciso primeiro amar. E é esta a pergunta
que estou fazendo: Que mágico dentre vós será capaz de conduzir o amor pela
ciência? Que estórias contamos para explicar nossa dedicação? Que mitos
celebramos que mostrem aos jovens o futuro que desejamos? (...) parece que as
utopias se foram, ciência e cientistas já não sabem mais falar sobre esperanças. Só
lhes resta mergulhar nos detalhes do projeto de pesquisa, financiamentos,
organização – porque as visões que despertam o amor e os símbolos que fazem
sonhar desapareceram no ar como bolhas de sabão. Especialistas que conhecem
cada vez mais de cada vez menos têm medo de falar sobre mundos que só existem
no desejo. Que me dêem uma boa razão para que os jovens se apaixonem pela
ciência. Sem isso, a parafernália educacional permanecerá flácida e impotente.
Porque sem uma grande paixão não existe conhecimento”.
FIALHO, Francisco Antônio Pereira; SILVEIRA, Ermelinda Ganem
Fernandes. Consciência e a jornada do herói. In: SIMPÓSIO NACIONAL
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SOBRE CONSCIÊNCIA, 2., 2007, Salvador. Anais... Salvador: Fundação
Ocidemnte, 2007. 1 CD-ROM.

Primeiro amar para depois conhecer. Quem nos guia não é Atena a sabedoria
e nem Hermes, a intuição. O que nos move é Eros, a paixão. No início era a
emoção, alfa e ômega, princípio e fim em si mesmo. É preciso se deixar dominar
pelo arquétipo do amor para encontrar Sofia, o feminino universal que compreende e
transcende a fecundidade de Eva, a beleza de Helena e a espiritualidade de Maria

CONCLUSÃO

Sim, me leva para sempre, Beatriz


Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ah, diz quantos desastres tem na minha mão
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Diz se é perigoso a gente ser feliz

Figura 5 – Dante e Beatriz fitam o Céu Superior (o Empíreo). Ilustração de Gustave Doré para a
Divina Comédia.
Fonte: Wikipédia

“Senhor Narayana, és a testemunha, fazes a Lua caminhar em resplendor e as


estrelas se desvanecerem à luz do dia.

Querido Rama, Senhor dos Mundos .... Pensa e recorda que prometestes a
Indra matar-me para sempre. Nada é para sempre, senão tu mesmo. Se não
morresse por tua mão, de que outra maneira poderia eu fazer para me aceitares em
teu próprio Eu?

Eu era apenas um rakshasa, e tu eras muito difícil de abordar. Entretanto,


buscando a sabedoria, aprendi muita coisa. Não sabes de novo quem és. Eu o
soube durante todo o tempo, mas ainda assim não o sabes. Nada que fazes se
malogra, basta um olhar dos teus olhos para que o povo torne a cantar as boas e
velhas canções.

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Beatriz de Chico Buarque de Holanda
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SOBRE CONSCIÊNCIA, 2., 2007, Salvador. Anais... Salvador: Fundação
Ocidemnte, 2007. 1 CD-ROM.

Não pedi proteção contra os homens. Vais a toda parte e conheces todas as
coisas que já foram feitas ou que o serão um dia. Porque fui tão descuidado? Eu não
era descuidado em parte alguma! Ó Narayana, olha, eu olhei, maravilhei-me ... Os
Homens são minas, os Homens são minas preciosas. Ó Rama, julgaste que o
escuro era mau?

Vês tudo o que acontece e amparas todas as criaturas. Vi que o céu era
impermanente e que o próprio inferno não perdurava. Descobri que o tempo de cada
existência é apenas um dia cheio; e vi que todas as criaturas, separadas de ti, de
quando em quando renascem, sempre mudando. Não gostam das coisas que vêm e
vão, e passam com o tempo, e odeio o próprio Tempo. Adverti-o, quando nos
encontramos pela primeira vez, que eu o tomava por inimigo, eu mesmo lhe disse
isso.

Oh, tu, que és o Melhor dos Homens, existem muitas espécies de Amor, e
nunca a feri. Vali-me de Lakshmi a fim de atrair-te para cá. Ofereci-te minha vida e tu
a aceitaste.

És Narayana, que se move sobre as águas. Fluis através de todos nós. És


Rama e Sita nascida da Terra, e Ravana, o Rei dos Demônios; és Hanuman como o
vento, és Lakshmana como o espelho, és Indrajit e Indra, és o Poeta e os Atores e a
Peça. E, nascido como homem, tu te esqueces disso, perdes a memória, e enfrentas
de novo a ignorância do homem, como a enfrentarás sempre.

Portanto, acolhe de volta, com amor, a tua Sita. A guerra acabou, assim,
fechamos a nossa carta”. (Carta de pedra de Ravana, Lorde Demônio, para Rama,
após sua morte)

Como no Ramayana (BUCK, 1976) fechamos esse artigo, nossa carta de


pedra, declarando nosso amor incondicional pela beleza, pela trilha de luz que
outras consciências que também somos nós, deixaram e que, como faróis, guiam
nossa alma nessa jornada sem fim ... em direção a nós mesmos.
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Fernandes. Consciência e a jornada do herói. In: SIMPÓSIO NACIONAL
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SOBRE CONSCIÊNCIA, 2., 2007, Salvador. Anais... Salvador: Fundação
Ocidemnte, 2007. 1 CD-ROM.

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