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ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA
ANALITICA: TEORIA E PRÁTICA.
VITÓRIA 2017
AISLLAN DE PAULA CALADO
VITÓRIA
2017
TERMO DE APROVAÇÃO
Conceito: _________
___________________, ________ de _______________ de 2015
Assinatura:
“Há tempo, há muito tempo,
Perguntou-lhe.
O menino disse:
Fragmento de um conto da
floresta negra dos tártaros.
1- INTRODUÇÃO
2- MÉTODO
3- DESENVOLVIMENTO
4- CONCLUSÃO
5- BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO.
Entre estes dois aspectos, o pessoal no Puer de Von Franz e o impessoal no de Hillman
e auxiliado por outras referências que permitam o diálogo entre ambas perspectivas, este
estudo procura elaborar a construção de um conceito nos moldes da perspectiva
simbólica, considerando ambos aspectos e relacionando-os apesar de sua aparente
oposição.
Marie-Louise Von Franz abre sua obra sobre o Puer Aeternus afirmando que o homem
que se identifica com o arquétipo do puer aeternus permanece durante muito tempo como
adolescente” (2011, p. 9).
Esta descrição inicial de Von Franz é de grande utilidade, pois nela encontramos a
perspectiva sob a qual trabalha no decorrer de sua obra, nos direcionando em relação ao
fator determinante em suas descrições; a identificação com o arquétipo.
Whitmont define a identidade como um sinônimo da inconsciência, neste caso, o autor
se refere, desde à perspectiva de Jung; a inconsciência como um estado a priori (1991,
p. 59).
O indivíduo identificado com este aspecto apresenta comportamentos que podem ser
vistos como os traços infantis no adolescente. Tais traços como o estado de
alheiamento1, a sonolência, falta de disciplina e a tendência a ficar à toa, com a mente
vagando (FRANZ, 2011, p. 21). Estes traços representam apenas uma face do Puer, cuja
aparente negatividade é constelada na presença da identificação.
Von Franz descreve o problema do Puer Aeternus de maneira extensiva utilizando como
exemplos a vida de obra de Saint Exupery, o Pequeno Príncipe, Werther de Goethe e
Das Reich Ohne Raum (O reino sem espaço) de Bruno Goetz. A partir de suas descrições
sobre a identificação com este arquétipo é possivel sugerir que o problema do Puer
Aeternus seja sua insistencia em permanecer indiferenciado em oposição à tendencia
natural do desenvolvimento da personalidade.
A descrição que melhor se encaixa ao problema do Puer seria esta:
O Puer, ao não entrar por completo na vida nunca passa completamente pelas
experiencias que se esperam de um individuo, porém como bem se sabe, o
desenvolvimento e a vida continuam em movimento, isto significa que a Identificação com
o Puer o coloca na posição onde os outros aspectos de sua personalidade têm seu
desenvolvimento alterado por sua atitude.
“Se você recusar o crescimento ele o arrastará, o que significa que a pessoa
permanecerá completamente infantil e não terá outras possibilidades o que
certamente acarretará um empobrecimento em sua vida” (FRANZ, 2011, p. 70).
James Hillman (2008), utiliza as imagens do aleijo, das mãos mutiladas e do sangramento
ao explicar algumas características problemáticas do Puer.
“O pé ferido, diz algo básico acerca da condição do puer. Sua postura, sua posição
está marcada de tal forma que sua conexão com a rex extensa é atrapalhada,
heróica e mágica. O Espírito não alcança totalmente para baixo em direção a este
mundo, uma vez que naquele lugar de contato com o mundo a figura puer é
mortalmente fraca” (2008, p. 120).
O aleijo reflete a atitude vetical que o Puer tem com a vida, a facilidade de fugir à
imaginação e a dificuldade de tocar e se deslocar horizontalmente. O sujeito identificado
com o Puer assimila tudo a través deste principio (FRANZ, 2011, p. 55), isto se relaciona
ao problema do Puer de entrar no tempo-espaço, o andar horizontal pode ser visto como
o caminhar histórico que deixa marcas e se afirma, porém os pés feridos do Puer,
segundo Hillman, dificultam a ação.
Não entrar na história também aponta para a relação do Puer com a sua realidade de
forma adequada, pois parte suas experiencias pessoais não se encontra totalmente
consciente. Esta dissociação do Puer com a História refere-se a sombra do individuo.
Whitmont (1991, p. 160) se refere à sombra como parte da personalidade que foi
reprimida pelo bem do ego, e que em sonhos e fantasias representa os aspectos pessoais
que permanecem inconscientes.
“Aqui a ferida concerne ao nosso agarrar das coisas e nosso lidar com o mundo
com ferramentas. Com o despertar da anima a través do sofrimento da palma de
nossas mãos [...], essa mesma mão ferida revela a alma da mão, tornando-a
dolorosamente conscia do dar e do receber” (HILLMAN, 2008, p. 130).
Esta ferida, como o autor chama, se refere especialmente aos aspectos sentimentais do
Puer. Para Von Franz (2011, p. 222) o problema do Puer sempre está ligado à relação
com uma anima fraca.
A anima lida com as emoções e afetos (JUNG, 2009, p. 102), quando esta função se
constela em maior grau afeta o humor e a personalidade do individuo. Quando projetada,
assume a forma de um ideal que ao cair ante a realidade leva consigo o interesse do
Puer, pois a realidade significa conflitos.
Sobre o Sangramento, Hillman propõe quatro características que podem ser observadas:
Para que exista uma identificação com o Puer Aeternus há outros fatores que podem
propiciar tal situação. Nos aspectos pessoais e relacionado ao problema da história e da
sombra, encontram-se os complexos. Na Psicologia Analítica, os complexos são
formações autônomas que interferem na consciência de alguma forma. Surgem a través
das vivencias durante o desenvolvimento da personalidade, e possuem uma forte carga
afetiva, podendo-se dizer que são o acumulo de associações de fundo emocional. O
complexo é a personalização de aspectos impessoais, ou coletivos, que Jung nomeou
de arquétipo (GRINBERG, 2006, p. 100). Pode-se entender que no centro ou núcleo de
cada complexo encontra-se um aspecto arquetípico o qual será descrito brevemente
neste momento, e em maior extensão mais adiante. Sobre o aspecto arquetípico de um
complexo pode-se afirmar que representa de forma imediata a experiência filogenética e
como tal é um elemento fundante da estrutura psíquica.
Graças ao vínculo com o complexo materno o indivíduo identificado com o Puer se coloca
na posição do filho de maneira inconsciente, que pode ser visto como o não se
responsabilizar por sua vida (FRANZ, 2011, p. 19). O complexo materno deixa o mal-
humorado e deprimido, distante em suas relações (ibid, p. 102). Pois o Puer é o filho de
sua mãe, e na identificação o individuo sente-se infantilizado pelo ambiente que ainda lhe
proporciona tudo o que necessita para continuar vivendo sem as dificuldades que tanto
odeia.
Com uma figura materna forte encontramos uma situação oposta ao pai, sendo este
também ausente ou uma figura excessivamente forte. Em seu aspecto dinâmico, o
paterno fala da imposição de limites, expressão de amor e cuidado (MONTEIRO, 2008,
p. 37). Em sua expressão negativa o paterno uma figura raivosa, que pune com culpa e
ameaça com o exilio, o pai retira do filho a capacidade de desenvolver suas
características masculinas. Com isso o filho fica infantilizado, preso ao mundo da mãe e
identificado unilateralmente com o arquétipo do Puer (ibid, p. 115). Desta relação surge
também o Eros ferido, pois há um afastamento da vida criativa, e um sufocamento das
forças inconscientes da individualidade (ibid).
Como foi mencionado anteriormente, nas quatro imagens do puer ferido. O vazar e conter
mencionado por Hillman coloca-se em sua relação com seus complexos materno e
paterno, pois um proporciona a qualidade da vitalidade excessiva que jorra de sua
personalidade, porém o outro em seu aspecto positivo envolve a contenção desse
sangramento, ou continente psíquico para refrear, reter, estancar o momento de reflexão
(HILLMAN, 2008, p. 141), e proporcionar meios para a administração correta dos
recursos de sua personalidade.
Pode-se dizer que ao Puer faltou amor, seja pela sobre proteção que impediu a
diferenciação da personalidade, ou por uma relação negativa com a realidade objetiva,
pode-se apenas afirmar que o Puer carrega consigo uma imagem materna que o coloca
em um estado de proximidade com os conteúdos do inconsciente, mas que carecem da
forma necessária e produto da experiência concreta.
Ao iniciar sua descrição do arquétipo da Criança Divina, Jung inicia com a pergunta “qual
é a finalidade biológica deste arquétipo?” para responde a esta pergunta, Jung propõe
duas respostas:
Neste caso, Jung se refere ás fantasias e outro tipo de representações inconscientes que
podem remeter ao passado do individuo, isto é à uma situação pessoal que deve ser
atendida. A criaça como uma figura que representa a infancia e suas experiencias, porém
ainda proxima da pessoa.
Com esta proposta, Jung nos aproxima à função do arquétipo ao traçar uma comparação
entre o homem primitivo, que é considerado mais próximo do instinto (Ibid, 2011, p. 125),
desta forma também caracterizado por ser regressivo. Esse mesmo estado de regressão
pode ser encontrado no homem moderno como forma de compensação à sua atitude
unilateral, ou que se afasta do inconsciente.
Outra característica que deve ser considerada é seu carater invencivel, que descreve o
motivo da Criança Divina que aparenta insignificancia e fraqueza, mas em realidade
encontra-se o oposto, a criança, pois representa a personificação das forças vitais
fundamentais para a existencia, que escapam à percepção consciente. A Criança Divina
representa o mais forte e inelutavel impulso do ser (ibid, p. 135).
Por ultimo, é importante ressaltar o caráter integrador da Criança Divina. Sendo esta um
estado de potencialidade psíquica e anterior a separação dos opostos, este aquétipo
também representa a unificação dos mesmos, sendo um propiciador da completitude
(ibid, p. 127), pois possui dentro de si a imagem da totalidade, como foi mencionado
anteriormente.
Pode-se supor que a identificação ocorra durante os estagios iniciais da infancia onde
existem os sentimentos de abandono e incompreensão (JUNG e KERENYI, 2011, p.
148), acompanhado por fatores externos com relação as figuras parentais.
3.3) O Senex como equilibrio.
Edinger afirma que os opostos constituem a anatomia mais básica da psique, o fluxo da
energia psíquica é gerado pela polarização destes (EDINGER, 2008, p. 12).
“O ser humano reage arquetipicamente a alguém ou a algo quando se defronta com uma
situação típica e recorrente. A mãe e o pai reagem arquetipicamente ao filho ou filha, o
homem reage arquetipicamente à mulher etc. Nesse sentido certos arquétipos tem dois
polos, por assim dizer. Sua situação básica contém uma polaridade” (GUGGENBÜL-
CRAIG, 2008, p. 84).
Considerando este princípio, é possível propor um olhar ao Puer Aeternus não pelo
caminho do “Puer-Filho”; que preso em seu complexo materno investe seus recursos
nessa relação, mas um que possibilite o desenvolvimento da personalidade e o uso
adequado de sua potencialidade, pois quando existe a identificação, seu oposto surge
em outro lugar.
Como oposto, o Senex possui características que se contrapõe as do Puer, sobre isto
Moneiro afirma que o Senex está ligado a alma, traz consigo a história, está ligado à
reflexão, à ponderação, aos limites fixos e ao ensaio humano, ele coagula a experiência,
e ligado aos primórdios da vivencia humana, é testemunho de nossa falibilidade” (2008,
p. 102).
O Senex representa aquilo que o Puer não é capaz de fazer por si só, o encontro com
seu passado e a contenção de si mesmo e da experiência. Como função, o Senex
encontra-se ao lado do Puer nas raízes para a formação do Ego (HILLMAN, 2008, p. 32).
Quando visto unilateralmente, o Senex, é o impulso ao desenvolvimento realizado, é a
perpetuação das coisas a través do hábito, memória, repetição e tempo (ibid), por isso
pode ser representado em seu aspecto negativo em figuras tirânicas, assim como em
estados anímicos como na depressão e melancólica (MONTEIRO, 2008, p. 39).
Quando existe identificação, o Puer e o Senex são “tipicamente iguais” (HILLMAN, 2008,
p. 50), pois ao considera-los opostos entendemos que ambos são aspectos distintos da
mesma coisa, perder esta noção de vista propicia a identificação, e com ela a imobilidade
ou estancamento do desenvolvimento.
O Senex tem um papel disciplinador e administrativo para o Ego, isto nos retorna ao vazar
e conter de Hillman. Quando Puer e Senex se comunicam de forma ideal, permitem o
estancamento do sangramento do puer, ou seja, a perda de energia desnecessária
(MONTEIRO, 2008, p. 45) e a contenção, ou retenção da experiência.
Onde o Puer sofre e manca ao andar, o Senex encontra sua realização; na rotina e na
impossibilidade de se isolar na fantasia (ibid, p. 31) ele é capaz de se adaptar à realidade.
CONCLUSÃO
C.WHITMONT, E. The Symbolic Quest- Basic Conceptsof Analytical Psychology. 7. ed. New Jersey:
Princeton University Press, 1991.
EDINGER, E. F. O mistério da coniuctio: Imagem alquímica da individuação. São Paulo: Paulus, 2008.
EISENDRATH, P. Y. Manual de Cambridge Para Estudos Junguianos. Porto Alegre: Artmed, 2002.
FRANZ, M.-L. V. Puer Aeternus- A luta do adulto contra o paraìso da infância. 4. ed. São Paulo: Paulus, v.
1, 2011.
FRANZ, M.-L. V. Puer Aeternus: A luta do adulto contra o paraíso da infância. São Paulo: Paulus, 2011.
GRINBERG, L. P. Jung e os arquétipos: arqueologia de um conceito. In: CALLIA, M.; FLEURY DE OLIVEIRA,
M. Terra Brasilis: Pré-história e arqueologia da psique. São Paulo: Paulus, 2006. p. 99-123.
HILLMAN, J. O livro do Puer: ensaios sobre o Arquétipo do Puer Aeternus. São Paulo: Paulus, 2008.
NEUMANN, E. The Origins and History of Consciousness. New York: Princeton Classics, 2014.