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Pedagogia . Módulo 5 .

Volume 3

METODOLOGIA DO
ENSINO DA MATEMÁTICA
Irene Mauricio Cazorla (Org.)

Ilhéus . 2012
Universidade Estadual de
Santa Cruz

Reitora
Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro

Vice-reitor
Prof. Evandro Sena Freire

Pró-reitor de Graduação
Prof. Elias Lins Guimarães

Diretora do Departamento de Ciências da Educação


Profª. Emilia Peixoto Vieira

Ministério da
Educação
Pedagogia | Módulo 5 | Volume 3 - Metodologia do Ensino da Matemática

1ª edição | Julho de 2012 | 476 exemplares


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Obra desenvolvida para os cursos de Educação a
Distância da Universidade Estadual de Santa Cruz -
UESC (Ilhéus-BA)

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Projeto Gráfico e Diagramação


Jamile Azevedo de Mattos Chagouri Ocké
João Luiz Cardeal Craveiro
Saul Edgardo Mendez Sanchez Filho

Capa
Saul Edgardo Mendez Sanchez Filho

Impressão e acabamento
JM Gráfica e Editora

Ficha Catalográfica

593 Metodologia do ensino da matemática / Elaboração de


conteúdo: Aida Carvalho Vita ... [et al.]. – Ilhéus,
BA: Editus, 2012.
175 p. : il. (Pedagogia – módulo 5 – volume 3 – EAD)

ISBN: 978-85-7455-295-8

1. Matemática – Estudo e ensino. 2. Matemática –


Metodologia. I. Vita, Aida Carvalho. II. Série.

CDD 510.7
EAD . UAB|UESC
Coordenação UAB – UESC
Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado

Coordenação Adjunta UAB – UESC


Profª. Dr.ª Marta Magda Dornelles

Coordenação do Curso de Pedagogia (EAD)


Profª. Drª. Maria Elizabete Souza Couto

Elaboração de Conteúdo
Profª. Drª. Aida Carvalho Vita
Profª. Drª. Eurivalda Ribeiro dos Santos Santana
Profª. Ma. Genigleide Santos da Hora
Profª. Drª. Irene Mauricio Cazorla
Profª. Ma. Jurema Lindote Botelho Peixoto
Prof. Dr. Marcos Rogério Neves

Instrucional Design
Profª. Ma. Marileide dos Santos de Oliveira
Profª. Ma. Cibele Cristina Barbosa Costa
Profª. Drª. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes

Revisão
Prof. Me. Roberto Santos de Carvalho

Coordenação Fluxo Editorial


Me. Saul Edgardo Mendez Sanchez Filho
DISCIPLINA

METODOLOGIA DO ENSINO
DA MATEMÁTICA

EMENTA
Fundamentos teórico-epistemológicos do ensino da Matemática. Estudo de
conteúdos matemáticos direcionados para a aquisição de competências básicas
necessárias à vivência no cotidiano: conteúdos, percursos metodológicos, uso das
tecnologias e avaliação. O raciocínio lógico-matemático e situações problemas
- geometria, cálculo mental e operações fundamentais. A Matemática: estudos,
pesquisas e diferentes usos sociais e o significado matemático.

Carga horária: 75 horas, sendo 60 h para estudos e discussão teórico-práticos,


e mais 15 h para elaboração e apresentação de oficinas. Em seguida, as refle-
xões e aprendizagens das oficinas serão socializadas entre os colegas.

OBJETIVO
A partir do estudo sobre os conteúdos deste módulo, você poderá ser capaz
de:
• explicar e utilizar conceitos e métodos matemáticos para propor e
resolver situações-problema junto com seus estudantes;
• planejar atividades de ensino favoráveis ao desenvolvimento de
competências do raciocínio lógico-matemático;
• aperfeiçoar sua habilidade de registro escrito e domínio de estratégias
de cálculo mental para resolução de problemas envolvendo aritmética;
• aperfeiçoar sua habilidade de registro e uso de estratégias para
modelagem e resolução de problemas geométricos;
• analisar e discutir de maneira crítica os diferentes usos sociais e
significados do conhecimento matemático;
• contribuir para a compreensão da Matemática como uma linguagem
que ajuda a compreender o mundo em que o estudante está inserido;
• criar condições para que seus estudantes compreendam a importância
da Matemática na formação para a cidadania.
OS AUTORES
Profª. Drª. Aida Carvalho Vita
Doutora em Educação Matemática pela PUC-SP. Professora
Adjunta da UESC. Pesquisa na área de Educação Matemática
Inclusiva.
E-mail: aida2009vita@gmail.com

Profª. Drª. Eurivalda Ribeiro dos Santos Santana


Doutora em Educação Matemática pela PUC-SP. Professora
Adjunta da UESC. Pesquisa na área de Educação Matemática.
E-mail: eurivalda@hotmail.com

Profª. Ma. Genigleide Santos da Hora


Mestre em Educação pela UFBA. Professora Assistente da UESC.
Pesquisa na área de Educação Inclusiva.
E-mail: gshora@terra.com.br

Profª. Drª. Irene Mauricio Cazorla


Doutora em Educação Matemática pela UNICAMP. Professora
Titular da UESC. Pesquisa na área de Educação Estatística.
E-mail: icazorla@uol.com.br

Profª. Ma. Jurema Lindote Botelho Peixoto


Doutoranda em Difusão do Conhecimento pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Matemática pela UFBA.
Professora Assistente da UESC. Realiza pesquisa na área de
Educação Inclusiva e Divulgação e Popularização da Ciência.
E-mail: jurema@uesc.br

Prof. Dr. Marcos Rogério Neves


Doutor em Educação Matemática pela UFSCar. Professor Adjunto
da UESC. Pesquisa na área de Educação Matemática.
E-mail: marcos_neves2001@yahoo.com.br
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Visando dar uma visão panorâmica do ensino da Matemática nos


anos iniciais do Ensino Fundamental, recorremos às recomendações dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997).
Assim, estruturamos a disciplina em três blocos de conteúdos conceituais
e procedimentais da Matemática, a saber: Números e Operações, Espaço e
Forma (Geometria) e Tratamento da Informação (Estatística), apresentados
em quatro unidades, com atividades que integram os conteúdos na solução
de problemas situados no contexto escolar, nos quais os estudantes tenham
uma participação ativa na construção de seus conhecimentos.
SUMÁRIO
1ªunidade

NÚMERO
E OPERAÇÕES

OBJETIVOS

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• elaborar situações nas quais seus estudantes utilizem o pensamento


aritmético, bem como utilizar esquemas para a resolução de situa-
ções pertencentes aos campos conceituais das estruturas aditivas;
• explorar ideias sobre os campos conceituais das estruturas aditivas,
bem como os aspectos históricos sobre os números naturais e formas
de calcular para fins de planejamento de aulas;
• discutir sobre a importância pedagógica da análise dos erros dos
estudantes ao resolverem situações-problema;
• explorar a análise de erros como estratégia pedagógica para au-
xiliar o planejamento, ação e avaliação de aulas e atividades que
promovam o desenvolvimento do pensamento aritmético.
Número e Operações

1
Unidade
1 INTRODUÇÃO: VIVEMOS EM UM MUNDO DE NÚMEROS

Muitas pessoas dizem não gostar de discutir quando o assunto é


Matemática e isso acontece, entre tantos motivos, por lembrarem-se de
certas aprendizagens escolares, em situações nas quais, via de regra, não
conseguiram perceber as aplicações possíveis desses conhecimentos
e sua utilidade para a vida, ligando tudo isso a uma percepção de
complexidade dessa ciência.
Esta primeira percepção da complexidade da Matemática muitas
vezes nos faz perder de vista o fato de que suas ideias e formas de
pensamento mais elementares surgiram da reflexão sobre as atividades
humanas comuns do dia a dia que envolvem contagem, medição e
cálculo.
Enquanto ciência, a Matemática acumulou conhecimentos
bastante sofisticados que são estudados por cientistas; mas, se
observamos o dia a dia das pessoas a nossa volta, perceberemos que este
está repleto de ideias e formas de raciocínio que compõem a base desta
ciência. O pedreiro, a cozinheira, o vendedor, a costureira e outros
profissionais necessitam interpretar e utilizar quantidades, valores
e medidas, mesmo sem dominar os registros escritos associados aos
números.
Nesse sentido, podemos observar que, quando crianças,
nascemos em um meio onde já se elaboraram ideias sobre números
e suas funções. As residências das pessoas costumam ser numeradas;
calçados e vestimentas também; telefones e correspondências utilizam
números; as coisas têm preço; os relógios e calendários controlam
o tempo; em brincadeiras infantis são feitas contagens; enfim, antes
mesmo de alcançarmos a idade escolar, vivemos em um mundo repleto
de números e o mesmo ocorre com as ideias matemáticas sobre espaço
e forma, que são a base da geometria.
A reflexão sobre estas experiências é fundamental para uma boa
aproximação do estudante com os conteúdos da matemática escolar, de

UESC Módulo 5 I Volume 3 15


Metodologia do Ensino da Matemática

maneira significativa. Assim, o professor dos anos (séries) iniciais pode


favorecer tais aprendizagens, buscando a ampliação e consolidação
desses saberes cotidianos relacionados à Matemática. O ato de lidar
com a noção de quantidade exige do sujeito certas competências e
habilidades, formas de raciocínio lógico, as quais são interconectadas
com o desenvolvimento do conceito de número, das relações entre os
números e suas operações.

2 A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE NÚMERO

A aprendizagem do conceito de número natural começa a


ocorrer desde os primeiros anos de vida, quando nossa mente começa
a diferenciar os objetos no mundo. Uma das habilidades mais básicas
que desenvolvemos nesta etapa é observar regularidades (padrões) em
coleções de objetos, de modo a perceber e agrupar aqueles que têm a
mesma cor ou mesmo formato.
Conforme a criança se desenvolve, outras habilidades vão
se desenvolvendo como as capacidades de contagem, seriação,
classificação, entre outras. Estas capacidades vão se aperfeiçoando e
se articulando de modo a constituir as condições necessárias para que
as habilidades de quantificação e operação numéricas se consolidem.
Assim, aquelas atividades de classificação e seriação que
realizamos com as crianças desde a educação infantil são fundamentais
para estimular as condições necessárias à construção do conceito de
número nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Vejamos alguns exemplos de atividades baseadas em imagens
do software livre Sistema Tutorial Inteligente (ITS), desenvolvido pela
equipe do Prof. Lorenzo Moreno Ruiz, da Universidad de La Laguna,
Espanha (PEIXOTO; CAZORLA; VITA, 2011).

a) Seriação: consiste em ordenar ou seriar uma coleção de objetos,


segundo uma determinada relação. Por exemplo, na Figura 1, a
criança deve analisar qual é a constituição da série e escolher
qual será o próximo elemento:

16 Pedagogia EAD
Número e Operações

1
Unidade
Figura 1 – Exemplo de atividade de seriação com o software ITS.

b) Classificação: é uma operação lógica que organiza a realidade


que nos cerca, é o momento no qual a criança separa objetos
em classes. Nesse processo estão as relações de pertinência e de
inclusão de classes. Na Figura 2 solicita-se que as crianças formem
dois grupos, um composto por pássaros e outro por comida.

Figura 2 - Exemplo de atividade de classificação com o software ITS.

UESC Módulo 5 I Volume 3 17


Metodologia do Ensino da Matemática

c) Quantificadores: expressam relação de quantidade de objetos,


identificando onde há mais ou menos objetos, associam elementos
e os representam com seus indicadores. Por exemplo, na Figura
3, solicitar à criança que assinale em qual dos dois conjuntos há
menos borboletas.

Figura 3 - Exemplo de atividade com quantificadores com o software ITS.

Outra forma de quantificação faz referência à aplicação de


quantificadores básicos de uma coleção de objetos (todos, nenhum,
alguns, nada, pouco, [...]), como no exemplo da Figura 4.

Figura 4 - Exemplo de atividade de quantificação com o software ITS

18 Pedagogia EAD
Número e Operações

d) Contagem: é importante que a criança adquira o senso numérico

1
e a capacidade para distinguir pequenas quantidades, como no

Unidade
exemplo da Figura 5.

Figura 5 - Exemplo de atividade com contagem com o software ITS.

e) Correspondência termo a termo: é o processo no qual são


relacionados os objetos com o que lhes é correspondente, como
no exemplo da Figura 6.

Figura 6 - Exemplo de uma atividade de correspondência com o software ITS.

UESC Módulo 5 I Volume 3 19


Metodologia do Ensino da Matemática

f) Reconhecimento: significa reconhecer as diversas representações


associadas ao número. Na Figura 7, a criança deve reconhecer a
escrita numérica e a escrita na língua materna, neste caso, em
português.

Figura 7 - Exemplo de atividade de reconhecimento com o software ITS.

g) Ordinalidade: é a capacidade de definir um conjunto de valores


no qual cada valor, exceto o primeiro, tem um único antecessor,
e cada valor, exceto o último, tem um único sucessor, conforme
Figura 8.

Figura 8 - Exemplo de atividade com ordenação com o software ITS.

20 Pedagogia EAD
Número e Operações

h) Cardinalidade: é o reconhecimento do número de elementos que

1
compõem o conjunto, isto é, a identificação da quantidade.

Unidade
Figura 9 - Exemplo de atividade com cardinalidade com o software ITS.

Quando a criança, espontaneamente ou estimulada pelo professor,


brinca de contar, de agrupar objetos pelas semelhanças, elaborando um
sistema de classificação, de comparar tamanho, largura ou altura dos
objetos, ela está construindo o conceito de número, bem como de suas
representações.
Daí, o professor dos anos (séries) iniciais deve proporcionar
situações diversificadas com materiais variados para trabalhar as relações
matemáticas, fazendo com que os alunos progridam em seu conhecimento
matemático.
Assim, a criança interage com o meio ambiente através da sua
inteligência, da sua noção de quantidade e da sua representação dos
sistemas de numeração. Inicialmente explora o local, manipulando
objetos, materiais e brinquedos, depois passa a organizá-los e, finalmente,
consegue trabalhar mentalmente com as ideias numéricas, elaborando
seu conhecimento.
É por volta dos sete anos que a criança chega à ideia operatória
do número, mas apoiando-se em duas capacidades lógicas do raciocínio:
classificação e seriação. Essas capacidades colaboram para percepção
dos agrupamentos de base dez que estruturam o Sistema de Numeração

UESC Módulo 5 I Volume 3 21


Metodologia do Ensino da Matemática

Decimal e constituição do conceito de número natural.


A esse respeito, o número pode ser considerado a síntese
coordenada e reversível das estruturas cognitivas que percebem e operam
a classificação (com inclusão hierárquica) e a seriação, num sistema único
(PIAGET, 1978).

Figura 10 – Ordem e inclusão de classe. Fonte: Elaborado pelos autores.

A partir desta síntese, a criança pode tanto focalizar mentalmente


agrupamentos como a dezena e a centena, quanto decompor mentalmente
esses agrupamentos para considerar uma a uma as unidades que os
constituem.
A partir da abstração das quantidades, ocorre uma fusão dos
dois sistemas de classes e de relações num único sistema - o chamado
sistema dos números naturais - o qual elimina as limitações próprias dos
procedentes. As investigações a respeito da construção do número pela
criança mostram que a gênese do número engendra ao mesmo tempo os
números cardinais e os números ordinais.
Portanto o número não é um dado primitivo correspondente a
uma intuição inicial, mas constrói-se na interação com o mundo, com as

22 Pedagogia EAD
Número e Operações

coisas, com as situações-problema, com a cultura, de modo operatório a

1
partir de estruturas cognitivas mais simples que se aperfeiçoam, articulam

Unidade
e coordenam, num processo gradativo que se desenvolve ao longo de
todos os anos iniciais. A Figura 11 organiza alguns elementos importantes
neste processo.

Figura 11 – Mapa conceitual da formação do conceito de número. Fonte: Elaborado pelos autores com base nas
ideias de Kamii (1995) e Zunino (1995).


Para a construção do conceito de número nos anos iniciais,
com toda sua operacionalidade, são necessárias ainda aprendizagens de

UESC Módulo 5 I Volume 3 23


Metodologia do Ensino da Matemática

dimensões qualitativas relacionadas ao processo de quantificação.


Quando a criança está diante de um conjunto de elementos de igual
forma, tamanho e cor, como, por exemplo, uma coleção de tampinhas
de garrafas plásticas, ela procede automaticamente para contagem,
agrupamento, separação entre outros. Através desses movimentos, ela
pode conferir a dualidade, cardinalidade e ordinalidade, correspondência
um a um etc. Contudo, o que acontece quando precisamos quantificar
grandezas contínuas, como, por exemplo: comprimento, área, volume,
tempo? Neste caso, a criança recorre à comparação, mas a inclusão
hierárquica, por exemplo, não fica mais evidente.
Portanto é importante explicitar as nuances da formação do
conceito de número, quando estamos diante de conjuntos ou grandezas
não enumeráveis. Estas tensões entre qualidade versus quantidade e entre
o discreto (aquilo que podemos contar ou enumerar) e o contínuo (aquilo
que medimos) podem ser encontradas no trabalho de Brolezzi (1997).
A Figura 12 ilustra a diferença entre o número discreto, aquilo
que resulta do processo de contagem, e o número contínuo, aquilo que
resulta das medidas. No caso das grandezas como comprimento, área,
massa etc., é necessária a criação de unidades de referência, que permitem
ao homem tratar essas quantidades da mesma forma.

Figura 12 – Tensões entre quantidade/qualidade, contínuo/discreto. Fonte: Elaborado pelos autores.

24 Pedagogia EAD
Número e Operações

Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN

1
(BRASIL, 2000) enfatizam que, no ensino fundamental, o conhecimento

Unidade
de números é construído pelo aluno quando ele trabalha com situações
em que o número aparece como instrumento na resolução de problemas
e também como objeto de estudo em si mesmo, quando observam
suas propriedades, relações e o modo como o conceito de número foi
historicamente construído.
Assim, o aluno perceberá a existência de diversas representações
de números em função dos diferentes problemas que a humanidade teve
que enfrentar: números naturais, inteiros positivos e negativos, números
racionais e irracionais. Também quando se deparar com situações–
problema, envolvendo adição, subtração, multiplicação e divisão, ele irá
ampliar seu conceito de número.
O trabalho com as operações deve se concentrar na compreensão
dos diferentes significados de cada uma delas, nas relações existentes
entre elas e no estudo reflexivo do cálculo, contemplando os diferentes
tipos: exato e aproximado, mental e escrito.
Na próxima seção, apresentaremos uma visão histórica da invenção
do número pelo homem e do surgimento dos sistemas de numeração, em
especial do sistema de numeração decimal e as operações fundamentais.

3 A INVENÇÃO DOS NÚMEROS, SISTEMAS DE


NUMERAÇÃO E OPERAÇÕES FUNDAMENTAIS

A necessidade de contar, possivelmente, começou com o


desenvolvimento das atividades humanas. Quando o homem deixou
de ser nômade para se fixar na terra, desenvolvendo a agricultura e o
pastoreio, era necessário o conhecimento do tempo, das estações do ano
e das fases da Lua e assim começaram a surgir as primeiras representações
de quantidades, como os entalhes nas pedras, desenhos, formas de
calendário etc.
No mundo atual, convivemos com muitos números. Para que
nossa sociedade se desenvolva, precisamos lidar com números muito
grandes, como o número de estrelas do universo (70.000.000.000.000.00

UESC Módulo 5 I Volume 3 25


Metodologia do Ensino da Matemática

0.000.000, 70 sextilhões) e muito pequenos, como a massa de um próton


(0,00000000000000000000000000167 gramas). Por isso precisamos de
um sistema de numeração que seja adequado nos dias de hoje, como o
sistema de numeração que usamos. Esse sistema de numeração é chamado
indo-arábico ou Sistema de Numeração Decimal. Ele foi criado no século
III a.C. e é utilizado até hoje.
Para falar sobre o sistema de numeração, temos dois focos: um
deles é compreender sua formação, fazendo um breve histórico da
contagem, passando pela importância dos ábacos e outro é descrever suas
características e como trabalhar com os alunos suas operações e o cálculo
mental.

3.1 O homem aprendeu a contar

Registros históricos revelam que o homem contava utilizando a


correspondência um a um (biunívoca) recorrendo a diversos artefatos,
como pedrinhas, talhes em ossos, desenhos nas cavernas e outros tipos
de marcação.

Os livros didáticos sempre ilustram a correspondência


um a um com a história de pastores contando o seu
rebanho, associando uma pedrinha a cada ovelha a ser
contada. A palavra que usamos hoje, cálculo, é deriva-
da da palavra latina calculus, que significa pedrinha.
Fonte: http://matematica.no.sapo.pt/nconcreto.htm

Mas como surgiram os símbolos numéricos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8,


9, 0, usados hoje? Segundo Duarte (2001), a origem da base decimal do
atual sistema de numeração está na utilização dos dedos da mão (Figura
13), através do estabelecimento de uma relação de correspondência um
a um entre cada dedo e cada elemento da coleção a ser contada (Figura
14).

26 Pedagogia EAD
Número e Operações

1
Unidade
Figura 13 – Os dedos das mãos como origem do Sistema de Numeração Decimal. Fonte: UAB/UESC

Figura 14 – Correspondência um a um ou biunívoca


Fonte: Ideia elaborada pelos autores baseado em Imenes (1988) / UAB-UESC.

Além dos dedos, o homem também utilizou as falanges e


articulações para contar. Segundo Ifrah (2000), uma técnica comum
praticada na China, Índia e Indochina era contar usando cada falange
como uma unidade, começando numa das mãos pela falange inferior do
dedo mindinho e terminando na falange superior do polegar (pode-se
também começar pela falange superior do anular e terminar na falange
do polegar). É possível contar de 1 a 28 com as duas mãos (Figura 15).

UESC Módulo 5 I Volume 3 27


Metodologia do Ensino da Matemática

Na China, algumas mulheres calculavam o seu ciclo menstrual atando,


sucessivamente, a cada dia um pequeno cordão nas vinte e oito falanges
de suas mãos.

Figura 15 – Técnica de contagem utilizando as falanges das duas mãos.


Fonte: modelo Ifrah (2000) - UAB/UESC.

Uma prática também muito antiga (o mais antigo método para


memorizar quantidades) e utilizada em diversas partes do mundo foi a
do entalhe. Tratava-se de pegar pedaços de madeira ou ossos, e nesses
eram feitos riscos para representar quantidades.

Figura 16 – Modelos de entalhe utilizados para registrar quantidades.Fonte: Ifrah (2000).

28 Pedagogia EAD
Número e Operações

Outras práticas de contagem e registro utilizavam

1
cordas.

Unidade
A civilização Inca nasceu aproximadamente no
início do século XII e surpreendeu a muitos por seu alto
grau de conhecimento e prosperidade, pois embora não
tivesse conhecimento da roda, nem da tração animal e nem
mesmo da escrita como é conhecida hoje, desenvolveu um
método muito prático e eficiente para contar: o cordão com
nós, denominado quipu (palavra inca que significava nó).
Este dispositivo consistia numa corda principal onde eram
atados vários cordões de diferentes cores e mais finos do
que a corda e, dessa forma, eram feitos nós nesses cordões
de diferentes tipos e a intervalos regulares para representar
os números. Os homens que cuidavam desses registros eram
chamados de quipucamayocs, que quer dizer “guardiães de
nós” (Figura 17).

Figura 17 – Quipus e quipucamayocs da civilização Inca.Fonte: Ifrah (2000).

Por exemplo, para representar o número 3.643,


faziam-se três nós na parte superior do cordão, dava-se um
intervalo e faziam-se seis nós, dava-se então outro intervalo
e faziam-se quatro nós e, finalmente, três nós na parte
inferior da corda. Era dessa forma que os incas registravam
as quantidades.

UESC Módulo 5 I Volume 3 29


Metodologia do Ensino da Matemática

Os quipus também serviam de representações de calendários,


fatos religiosos, estatísticos e para a transmissão de mensagens. A cor de
uma cordinha podia significar uma ideia abstrata, por exemplo, o branco
expressava a pureza, a paz ou o dinheiro; o amarelo, o ouro, o sol ou
a eternidade; o vermelho, o sangue, o fogo e a guerra. Mas a utilidade
principal era a contagem e os incas usavam a base decimal nesse processo.
O uso de cordões com nós não foi exclusivo dos incas. Em
diferentes regiões, outros povos utilizavam sistemas análogos desde a
Antiguidade.

3.2 Aperfeiçoando a contagem e o


cálculo

À medida que os cálculos foram se tornando


cada vez mais complexos, ocupar a mão ou qualquer
outro recurso não era tarefa prática e possível, em
algumas regiões. A saída para este problema, ao que
tudo indica, foi a criação do ábaco (do grego abax,
tabuleiro de areia).
Sua forma variou durante o tempo e com os
povos. Os primeiros ábacos eram pequenas bandejas
cheias de areia, nas quais se faziam os cálculos ou
desenhos de figura. Antes e durante o Império
Romano, usaram-se frequentemente estes tabuleiros.
Com o tempo, as bandejas de areia foram substituídas
por um painel de madeira, pedra ou metal contendo
sulcos, nos quais deslizavam pequenas pedras que
representavam números. As mais antigas tábuas de
contar foram perdidas devido aos materiais perecíveis
usados na sua construção. Assim, os antigos foram
Figura 18 - Ábaco de bolso romano,
ábaco chinês (suan-pan) e ábaco japonês observando a necessidade de se criar tábuas portáteis
(soroban).
Fontes:
1: http://andria-unisc-abaco.blogspot. e mais duráveis do que as mais antigas. A Figura 18
com/2009_09_01_archive.html;
2: http://www.topolewski.de/pascal/
jufo2003/image/chinesischer-abakus.gif;
apresenta alguns exemplos de ábacos utilizados por
3: http://www.cs.nott.ac.uk/~ef/
ComputerXHistory/EarlyHistory/1956- romanos, chineses e japoneses. Mais detalhes podem
Soroban1170.htm

30 Pedagogia EAD
Número e Operações

ser encontrados em Peixoto, Santana e Cazorla (2006) e em

1
Nunes, Soledade e Reis (1998).

Unidade
3.3 Do ábaco aos algoritmos

O surgimento do ábaco constituiu uma etapa você sabia?


Em 1949, Joaquim Lima de
intermediária antes do sistema de numeração decimal Moraes, deficiente visual,
utilizado hoje; pois, por muitos anos, o homem fez seus adaptou o Soroban para
uso de cegos, após apren-
cálculos utilizando o ábaco e os símbolos numéricos serviam der a técnica ensinada
por imigrantes japoneses,
apenas como forma de registro e não eram utilizados para abrasileirando o termo para
realização de cálculos. Sorobã. O soroban adap-
tado é composto por uma
Segundo Ifrah (2000), da queda do Império Romano moldura dividida por uma

ao final da Idade Média, a prática das operações aritméticas, linha horizontal e vinte e
um eixos verticais. É re-
mesmo as mais elementares, não estava ao alcance de vestido internamente por
uma borracha compresso-
qualquer um. Apenas uma casta muito privilegiada de ra, cuja função é deixar as

especialistas, através de longos estudos, tinha o domínio contas fixas; além disso,
foram adicionados pontos e
do uso complicado dos velhos ábacos romanos. Uma traços com a função de se-
parar as ordens, classes e
multiplicação que hoje uma criança faz com facilidade facilitar a leitura tátil.
podia exigir destes especialistas várias horas de um trabalho
delicado. Um comerciante desta época que quisesse saber o
montante de suas receitas e despesas era obrigado a recorrer
aos serviços de um destes especialistas do cálculo.
Mas o sistema de numeração indo-arábico, criado
pelos hindus e difundido pelos árabes, não visava apenas
registrar quantidades como os sistemas dos romanos e Figura 19 – Soroban adaptado
comercializado pela Bengala
Branca Importação e Comér-
dos gregos, mas também suprir as necessidades do cálculo. cio Ltda.
Fonte: Peixoto, Santana e Ca-
Além disso, uma característica fundamental deste sistema é zorla (2006).

a noção de valor posicional, que já estava presente no ábaco,


pois apenas com dez algarismos podem-se representar
infinitas quantidades. Eles criaram também um símbolo
para representar a coluna vazia do ábaco, símbolo este que
gerou o que hoje se conhece como zero.
Neste sistema, ao combinarmos a escrita dos
algarismos, podemos escrever diferentes números com um

UESC Módulo 5 I Volume 3 31


Metodologia do Ensino da Matemática

você sabia? algarismo, dois algarismos, três algarismos, ou com quantos


Al Khawarizmi, matemático algarismos desejarmos. Exemplo: 3; 45; 367; 2.489; 256.387.
muçulmano do século IX,
foi um dos responsáveis
Este sistema proporcionou um grande avanço no
pela divulgação do sistema desenvolvimento dos cálculos, pois facilitou operar sem
de numeração indo-arábico
na Europa. Seus trabalhos o uso do ábaco. O sistema de numeração adotado hoje
de aritmética, álgebra e
geometria influenciaram o
descende dele.
Ocidente e deles surgiram Mas deixar de lado o ábaco e operar com os
termos como algoritmo e
algarismo. Leonardo de algoritmos não foi algo fácil, nem aconteceu da noite para o
Pisa, matemático italiano
dia. Foi um longo processo que encontrou forte resistência
conhecido como Fibonac-
ci, também exerceu forte na Europa onde os símbolos arábicos eram conhecidos
influência para a aceitação
destes novos métodos de como “pagãos”. A contenda entre os abacistas (defensores
cálculo quando escreveu,
ferrenhos dos números romanos e dos cálculos com fichas)
em 1202, um tratado cha-
mado Líber Abaci (Tratado e os “algoristas” (defensores do cálculo por algarismo de
do ábaco), que contradito-
riamente ao título ensinava
origem hindu) durou vários séculos. Apesar da vitória dos
métodos e processos de novos métodos de cálculo, o uso do ábaco ainda era ensinado
cálculo através dos nume-
rais indo-arábicos. no século XVIII, e as pessoas ainda conferiam os cálculos
Fonte: Ifrah (2000).
feitos por escrito na tábua de fichas (ábaco romano). Só
leitura recomendada
após a Revolução Francesa (1.789), final do século XVIII, os
Maiores detalhes recomen-
algarismos indo-arábicos se estabeleceram, ficando evidente
damos a leitura de Ifrah o triunfo do cálculo moderno na Europa ocidental.
(2000) e Boyer (1996).

3.4 Consolidação do Sistema de Numeração


Decimal (SND)

O grande avanço dado com a criação do sistema


decimal com algarismos arábicos foi a transposição de um
contexto concreto, e necessariamente finito, representado
pelo ábaco, para uma representação com símbolos escritos.
Foi, sem dúvida, um passo importante que possibilitou
representar e operar com quantidades quaisquer, mas que
só foi possível depois de séculos de emprego difundido do
ábaco pelos homens (CARDOSO, 1992).
Assim, podemos observar que o sistema de
numeração que hoje utilizamos surgiu por meio de um

32 Pedagogia EAD
Número e Operações

longo processo de constituição do homem na sua relação com o meio

1
onde vive. E concluímos que o surgimento do ábaco constituiu uma etapa

Unidade
intermediária antes de surgir o SND utilizado hoje, pois, por muitos anos,
o homem fez seus cálculos utilizando o ábaco e os símbolos numéricos
serviam apenas como forma de registro, mas esses não eram utilizados
para a realização de cálculos.

4 O SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL (SND)

Um sistema de numeração é um conjunto de símbolos e de regras


utilizado para escrever números (CENTURION, 1994). Essas normas
permitem operar quantidades de forma organizada, chegando a resultados
consistentes. O SND usado atualmente tem características peculiares:

• é posicional, um mesmo algarismo, em diferentes posições,


assume diferentes valores: 123 é diferente de 321;
• as trocas são feitas a cada agrupamento de dez (por isso
dizemos que a base é dez), dez unidades formam uma dezena,
dez dezenas formam uma centena e assim por diante;
• o símbolo zero representa a ausência de quantidade;
• é multiplicativo: para representar o valor de cada algarismo em
564, recorremos a uma multiplicação 5 x 100, 6 x 10 e 4 x 1;
• é aditivo: a quantidade representada por 564 é 500 + 60 + 4;
usa dez símbolos para representar qualquer quantidade.

4.1 O valor posicional, ordens e classes

No SND, utilizamos os símbolos 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9,


denominados de algarismos, para representar as quantidades. Também
agrupamos de 10 em 10 para fazer contagens. O princípio posicional
permite representar diversas quantidades, utilizando apenas 10 símbolos.
Para compreender melhor o conceito de número e facilitar
sua leitura, eles são separados em ordens e classes. A cada algarismo

UESC Módulo 5 I Volume 3 33


Metodologia do Ensino da Matemática

corresponde uma ordem. Por exemplo, o número 1.223.456 possui 7


ordens e 3 classes.
1.223.456 (um milhão, duzentos e vinte e três mil, quatrocentos e
cinquenta e seis unidades).

1 2 2 3 4 5 6

1ª ordem: 6 unidades
2ª ordem: 5 dezenas
3ª ordem: 4 centenas
4ª ordem: 3 unidades de milhar = 3000 unidades
5ª ordem: 2 dezenas de milhar = 20 000 unidades
6ª ordem: 2 centenas de milhar = 200 000 unidades
7ª ordem: 1 unidade de milhão = 1 000 000 unidades

O quadro a seguir apresenta a decomposição do número 1.223.456


e a organização das ordens e classes, até a 3ª classe.

3ª classe: milhões 2ª classe: milhares 1ª classe: unidades simples

9ª 8ª 6ª 5ª 4ª 3ª 2ª 1ª
7ª ordem:
ordem: ordem: ordem: ordem ordem: ordem: ordem: ordem:

centena dezena centena dezena unidade


unidade centena dezena unidade
de de de de de
de milhão simples simples simples
milhão milhão milhar milhar milhar

1 2 2 3 4 5 6

1.000.000 200.000 20.000 3.000 400 50 6

4.2 Valor relativo e valor absoluto

A característica de valor posicional no nosso sistema de numeração


está relacionada com o que chamamos de valor relativo ou valor absoluto
dos algarismos em um número. No número 777, por exemplo, o algarismo
7 ocupa três posições distintas, portanto três valores relativos: 7, 70 e
700.

34 Pedagogia EAD
Número e Operações

1
Centena Dezena Unidade

Unidade
Número 7 7 7
Valor relativo do 7 700 70 7

7 7 unidades 7 unidades
7 0 7 dezenas 70 unidades
7 0 0 7 centenas 700 unidades
7 7 7

você sabia?

O quadro a seguir é conheci-


do pelos professores das séries
iniciais do Ensino Fundamen-
tal como QVL (Quadro Valor de
Lugar). Geralmente, utilizam as
quatro primeiras ordens: unida-
de, dezena, centena e unidade
de milhar, o que possibilita ex-
plorar os agrupamentos e trocas
Figura 20 – Quadro Valor de Lugar (QVL).
de uma ordem para outra. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_7HGlxI3gfRk/SMUj1sdtysI/
AAAAAAAAAdk/-e1VfhoX_Ic/s1600-h/1.JPG

4.3 Por que ensinar o sistema de numeração às crianças?

Para Nunes et al. (2005), a resposta está no fato de que sem


um sistema de numeração é impossível trabalhar com quantidades.
Os sistemas de numeração permitem registrar quantidades de maneira
mais exata do que a percepção, bem como permite lembrar quantidades
quando necessário. Os sistemas de numeração ampliam a capacidade de
raciocinar sobre quantidades, logo são necessários para que os alunos
venham desenvolver sua inteligência no âmbito da matemática, usando
instrumentos que a sociedade lhes oferece.
Entretanto as autoras enfatizam que ensinar os sistemas de
numeração tem apresentado vários obstáculos, principalmente na relação
entre o desenvolvimento da criança e a complexidade da representação
numérica usando um sistema de numeração, pois há uma ideia

UESC Módulo 5 I Volume 3 35


Metodologia do Ensino da Matemática

especialmente complexa, a da composição aditiva, que a


criança precisa compreender.
As atividades de contagem mais comuns entre
crianças consistem em contar objetos, estabelecendo uma
correspondência um a um entre um objeto e um rótulo
numérico que o designa. A compreensão do sistema
numérico decimal requer mais do que a simples contagem
de elementos; requer lidar simultaneamente com o valor
absoluto e o valor relativo dos números. Essa habilidade está
atenção
ausente na contagem de objetos (SPINILLO, 1994).
Ou seja, os números não são apenas uma sequência
Embora crianças menores
sejam capazes de contar de palavras, como uma lista de compras, na qual um item
objetos usando a sequên-
não tem relação com o outro. Na sequência de números,
cia numérica, é a partir dos
6 anos que a maioria das cada item é igual ao anterior mais 1; 2 = 1 + 1, 3 = 2 + 1,
crianças resolve problemas
de contagem de dinheiro
4 = 3 + 1 etc. E cada número pode ser composto através
no mercadinho; porém, da soma de dois números que o precedem: 7 = 6 + 1 ou
mesmo em crianças de 7
anos, podem-se observar 5 + 2 ou 4 + 3. Portanto a sequência numérica supõe uma
dificuldades na compreen-
são da composição aditiva
organização, denominada composição aditiva.
(NUNES et al, 2005). Além disso, este sistema tem uma organização de
Neste contexto, o papel
do professor é promover natureza multiplicativa: 20 indica 2 dezenas ou 2 x 10; 30 =
a aprendizagem das ideias
3 x 10; 40 = 4 x 10. Essa organização multiplicativa significa
matemáticas envolvidas
no SND, propondo ativida- que as unidades contadas podem ter valores diferentes:
des diversas (com material
concreto, fichas, gudes, podem ser unidades simples, dezenas, centenas, unidades
com dinheiro em situações
de milhar etc. Assim, para que uma criança compreenda
de compras etc.)
Exemplo: a contagem de o SND, ela precisa compreender a ideia de que existem
dinheiro com notas de di-
ferentes valores promove a
unidades de valores diferentes no sistema e que as unidades
compreensão da composi- podem ser somadas formando uma quantia única (NUNES
ção aditiva.
et al, 2005).

5 COMO OPERAMOS COM ALGORITMOS?

Algoritmo, segundo Pais (2006), é um dispositivo


utilizado para a resolução de situações-problema com
a intenção de simplificar o cálculo. Ou, simplesmente,

36 Pedagogia EAD
Número e Operações

um algoritmo é uma norma executável, um conjunto de

1
instruções, para obter uma solução para certo tipo de

Unidade
Algoritmo
problema.
Por exemplo, quando queremos fazer um bolo, é o processo de cálculo, ou
de resolução de um grupo
seguimos uma receita com uma série de etapas, tais como: de problemas semelhan-

primeiro bata bem o açúcar, a manteiga e os ovos, em seguida tes, em que se estipulam,
com generalidades e sem
acrescente a farinha, o leite e o fermento e coloque no forno restrições, regras formais
para obtenção do resulta-
por 30 minutos. Esta sequência de etapas, que faz parte de do ou da solução de um
uma instrução a ser seguida, é um algoritmo. problema (Novo dicionário
Aurélio, 1ª edição, Editora
Na aritmética, você conhece os algoritmos (contas) Nova Fronteira).

usuais das quatro operações fundamentais.

5.1 Cálculo mental e algoritmos

Muitas vezes nos deparamos com pessoas que fazem


conta de cabeça, sendo que algumas delas não foram sequer
escolarizadas. Essas pessoas aprenderam na vida prática,
como por exemplo, no comércio, nas transações bancárias
etc., propriedades e estratégias matemáticas, devido às
necessidades impostas pelas atividades que desempenham.
Assim, devem realizar cálculos rapidamente e tomar
decisões.
Estas experiências são importantes e devem ser
levadas em consideração na sala de aula; pois, quando isto
acontece, aproveita-se a oportunidade para fazer a interação
entre o conhecimento matemático informal e o formal
organizado, explicitar conhecimentos implícitos, desvelar
propriedades e relações.
Alguns alunos fazem cálculos de cabeça porque
foram estimulados de alguma forma para isso, outros têm
mais dificuldade. Mas o professor deve prover os meios
para que seu aluno utilize o cálculo mental, utilizando as
propriedades das operações.

UESC Módulo 5 I Volume 3 37


Metodologia do Ensino da Matemática

Algumas propriedades das operações que auxiliam no cálculo mental:

1) Comutativa:
Na adição, a ordem das parcelas não altera a soma
3 + 9 = 9 + 3 = 12
Na multiplicação, a ordem dos fatores não altera o produto:
3 x 4 = 4 x 3 = 12
Genericamente: se a e b representam números naturais, então:
a+b=b+a e axb=bxa
2) Associativa:
Na adição, associando de maneiras diferentes as parcelas a
soma não se altera
(1 + 3) + 6 = 4 + 6 = 10
1 + (3 + 6) = 1 + 9 = 10,
logo (1 + 3) + 6 = 1 + (3 + 6)
Na multiplicação, associando de maneiras diferentes os
fatores, o produto não se altera
(3 x 4) x 5 = 12 x 5 = 60
3 x (4 x 5) = 3 x 20 = 60
Genericamente: se a, b e c representam quaisquer números
naturais, então
(a + b) + c = a + (b + c)
(a x b) x c = a x (b x c)
3) Propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição
e à subtração
3 x (4 + 3) = 3 x 4 + 3 x 3
3 x (4 – 3) = 3 x 4 – 3 x 3
Genericamente: se a, b e c são números naturais, vale:
a x (b + c) = a x b + a x c
a x (b – c) = a x b – a x c
4) Distributiva da adição em relação à divisão
(70 + 5) : 5 = 70 : 5 + 5 : 5 = 24 + 1 = 25
Genericamente: se a, b e c são números naturais com c ≠ 0 vale:
(a+b) : c = a:c + b:c

38 Pedagogia EAD
Número e Operações

5.2 Algumas estratégias de cálculo mental

1
Unidade
Na soma, podemos:

34 + 25=
Resolver uma soma: 34 + 25:

a) Primeiro decompomos o 34 = 30 + 4
(30 + 4) + (20 + 5) =
e o 25 = 20 + 5;

b) Depois comutamos;
(30 + 20) + (4 + 5) =
c) Em seguida associamos;
50 + 9 =
d) Por fim somamos, obtendo o resultado 59.
59

Na subtração, podemos:

a) Resolver uma subtração fazendo uma adição. 25 para 30 = 5


Por exemplo: 34 – 25 30 para 34 = 4

5+4=9

62 – 38 =
b) Arredondar e fazer a compensação. Por
(62 – 40) + 2 =
exemplo: 62-38
2 + 2 = 24

23 – 18=

c) Decompor o subtraendo (valor que será

subtraído). Por exemplo: 23 – 18 (23–10) – 8=

13 – 8 = 5

500 – 365
d) Alterar o minuendo para evitar o “empresta
(499 – 365) + 1 =
um”. Por exemplo: 500 - 365
134 + 1 = 135

29 – 15 =

e) Agrupar as parcelas em unidades, dezenas e

centenas. Por exemplo: 29 - 15 (20 – 10) + (9 – 5) =

10 + 4 = 14

UESC Módulo 5 I Volume 3 39


Metodologia do Ensino da Matemática

Na multiplicação, podemos:

7 x 15 =

a) Decompor um dos fatores e usar a

propriedade distributiva. Por exemplo: 7 x 15 (7 x 10) + (7 x 5) =


70 + 35 = 105

b) Utilizar a propriedade distributiva da (30 + 2) x 5 =

multiplicação em relação a soma. Por 30 x 5 + 2 x 5 =

exemplo: 32 x 5 150 + 10 = 160

Na divisão, podemos:
512 : 32 =
:2
256 : 16 =
:2
a) Fazer simplificações sucessivas. Por exemplo: 128 : 8=
:2
512 : 32 64 : 4=
:2
32 : 2=

16

75 : 5 = (70 + 5) : 5 =
b) Decompor e utilizar a propriedade distributiva.
70 : 5 + 5 : 5 =
Por exemplo: 75 : 5
24 + 1 = 25

As habilidades para fazer estimativas e cálculo mental dão


autoconfiança aos alunos e os tornam mais autônomos, permitindo que
avaliem as situações e tomem decisões quanto à importância do cálculo
exato. Os PCN (BRASIL, 2000), em relação aos procedimentos sobre
números e operações no primeiro ciclo, enfatizam a necessidade da

[...] utilização da decomposição das escritas numéricas


para a realização do cálculo mental exato e aproxima-
do. Cálculos de adição e subtração por meio de estra-
tégias pessoais e algumas técnicas convencionais. Cál-

40 Pedagogia EAD
Número e Operações

culos de multiplicação e divisão por meio

1
de estratégias pessoais. Utilização de es-

Unidade
timativas para avaliar a adequação de um
resultado e uso de calculadora para desen-
volvimento de estratégias de verificação e leitura recomendada
controle de cálculos (BRASIL, 2000, p. 72,
Recomendamos ler
grifo nosso). os livros de Carraher;
Carraher; Schliemann
(2003) e Kamii; Declark
E, no segundo ciclo, reforçam a ênfase no cálculo (1995), constantes nas

mental, acrescentando operações com racionais na forma referências.

decimal.

5.3 Algoritmos e operações: um olhar


diferenciado

Nosso objetivo, nesta etapa, é o de mostrar maneiras


diferentes de realizar as operações, sempre que possível,
relacionando os algoritmos com o sistema de numeração
decimal.

a) Adição
A técnica operatória ou algoritmo da adição sugere
que se escrevam as parcelas uma abaixo da outra e que se
adicione da direita para a esquerda. Vocês já pensaram por
que se faz isto? Será que poderíamos começar da esquerda
para a direita?

Algoritmo Operações Realizadas

2 5 3 1 = 2000 + 500 + 30 + 1

+ 4 2 6 7 = 4000 + 200 + 60 + 7

6 7 9 8 2000 + 500 + 30 + 1

A técnica do “vai um” (Adição com reserva)

Esta técnica é utilizada com o objetivo de facilitar a

UESC Módulo 5 I Volume 3 41


Metodologia do Ensino da Matemática

interpretação e resolução do algoritmo da adição pelos nossos alunos. Vamos


exemplificar esta técnica utilizando a soma das parcelas 3.456 e 1.795.

3 4 5 6 6 + 5 = 11 = 10 + 1,fica uma unidade, vai uma dezena


+ 7 9 5 1 + 5 + 9 = 15 dezenas = 1 centena e 5 dezenas, vai uma centena
1 + 4 + 7 = 12 centenas = 1 milhar e 2 centenas, vai um milhar
1
1 + 3 + 1 = 5 milhares
5 2 5 1

A compreensão desta técnica usual de fazer adição exige a


compreensão do sistema de numeração decimal. Sem compreender o que
significa os símbolos 3456 e 1795 é impossível entender o processo do “vai
um”. Ele se apoia na ideia de agrupamento.

É comum na adição com reserva (ou transporte) dizermos “vai


um”. Na verdade, o transporte é de uma dezena, uma centena etc. Para
compreender melhor a técnica do “vai um”, vamos efetuar a adição de 1.345
+ 1.487 (CENTURION, 1994, p. 157).

Algoritmo Operações realizadas

1000 + 300 + 40 + 5
1 1
1000 + 400 + 80 + 7
1 3 4 5
2000 + 700 + 120 + 12 Agrupamos uma dezena
+1 4 8 7 e uma centena

8 2 3 2
10 + 2

100 + 20

2000 + 700 + 100 + 20 + 10 + 2 Aplicamos a proprie-


dade associativa da
adição.

800 30

2000 + 800 + 30 + 2
Escrevemos o número
no sistema posicional de
numeração, onde valem
2832 os princípios aditivo e
multiplicativo.

42 Pedagogia EAD
Número e Operações

b) Subtração

1
Além de identificar os problemas que podem ser resolvidos com

Unidade
a subtração, é preciso também que a criança aprenda a subtrair. Vamos
compreender o processo da subtração utilizando o ábaco. Começamos por
um exemplo simples, subtraindo 142 de 563:
Representamos o número 563 no ábaco. A seguir, das três unidades
subtraímos 2, das 6 dezenas subtraímos 4 e das 5 centenas subtraímos 1. É
importante perceber a relação existente entre o que fazemos com o ábaco e
o que fazemos com os símbolos do nosso sistema de numeração.

1 4 2 No algoritmo

5 6 3
-1 4 2
4 2 1

5 6 3 5 6 3

A compreensão desta técnica apóia-se na compreensão do nosso


sistema numérico. Agora vamos subtrair 431 de 725:

a) Representamos o 725 no ábaco: b) A seguir, das 5 unidades subtraímos 1:

7 2 5 7 2 5
- -
4 3 1 4 3 1

c) Na casa das dezenas, onde temos 2 bolinhas, não podemos retirar 3 por
isso desagrupamos uma centena, convertendo-a em dez dezenas:

6
1
7 2 5
-
4 3 1

UESC Módulo 5 I Volume 3 43


Metodologia do Ensino da Matemática

d) Agora, na casa das dezenas, temos e) Finalmente, das 6 centenas


12 bolinhas e podemos retirar 3; retiramos 4 e obtemos 294.

6 6
1 1
7 2 5 7 2 5
- -
4 3 1 4 3 1

9 4 2 9 4

6 O CAMPO CONCEITUAL ADITIVO

Geralmente, trabalhamos na escola com as operações de adição,


subtração, multiplicação e divisão sem fazer maiores relações com os
problemas matemáticos que envolvem tais operações. O pesquisador
francês Gérard Vergnaud estudou essas operações de modo a trabalhar os
conceitos envolvidos nos problemas matemáticos e relacionados com tais
operações.
Esse pesquisador desenvolveu a Teoria dos Campos Conceituais
(TCC) que é uma “teoria cognitivista que [...] tem uma forte herança
da teoria de Piaget e, também, alguns pontos da teoria de Vygotsky”
(SANTANA, 2010, p. 24).
Para Vergnaud (1982, 1996), o Campo Conceitual das Estruturas
Aditivas, ou de maneira mais simples, o Campo Aditivo é, ao mesmo tempo,
o conjunto das situações cujo tratamento implica uma ou várias adições ou
subtrações, e o conjunto dos conceitos e teoremas que permite analisar essas
situações como tarefas matemáticas. O Campo Conceitual das Estruturas
Multiplicativas ou o Campo Multiplicativo é definido no mesmo sentido do
aditivo sendo que as operações são as de multiplicação e divisão.

sugestão de atividade

Antes de estudar sobre a classificação das situações-problema de aditivas, elabore seis situa-
ções-problema de adição e/ou subtração. Siga o estilo dos que geralmente você trabalha em
sua sala de aula. Essa atividade deverá ser postada.

A atividade tem por objetivo mapear as categorias que você utiliza na sua prática pedagógi-
ca. Ao final desta unidade, retome as situações-problema que você elaborou e verifique se
trabalha com todas as categorias.

44 Pedagogia EAD
Número e Operações

Muitas vezes trabalhamos com as operações de adição e de

1
subtração como sendo operações inversas ou contrárias. Na verdade, elas

Unidade
fazem parte de um mesmo Campo Conceitual, o das Estruturas Aditivas,
ou seja, essas operações apresentam relações, propriedades, dificuldades
e contextos que as fazem pertencer a um mesmo universo de estudo.
Nós, enquanto pesquisadores, procuramos caracterizar esse
Campo Conceitual, tecendo considerações a respeito dos diferentes
tipos de situações-problema que envolvem, especificamente, a adição
e a subtração. Neste texto, adotamos os termos situação-problema e
situação como sinônimos. Usamos as duas formas para nos referirmos
aos problemas matemáticos em questão.
Como colocamos anteriormente, para a Teoria dos Campos
Conceituais (TCC), o Campo Aditivo é compreendido como o conjunto
das situações-problema cujo tratamento implica uma ou várias adições
ou subtrações, bem como o conjunto dos conceitos e teoremas que
permitem analisar essas situações como tarefas matemáticas. Além disso,
as situações são classificadas em seis categorias. De acordo com Magina
(2001), tal classificação foi feita baseada em relações matemáticas e
nas relações psicológicas que a criança precisa fazer para compreender
as situações. Colocamos a seguir seis categorias de situação-problema
aditiva, que foram inicialmente definidas por Vergnaud (1982), e que
foram redefinidas por Santana (2010). Tal classificação consiste nas
seguintes categorias:

a) composição;
b) transformação;

c) comparação;

d) composição de várias transformações;

e) transformação de uma relação; e

f) composição de relações.

Para que você possa entender a que estamos nos referindo,


na sequência apresentamos as definições e exemplos de cada uma das
categorias.

UESC Módulo 5 I Volume 3 45


Metodologia do Ensino da Matemática

a) Composição: são situações que apresentam partes e um todo.


Exemplo 1: Lia tem duas caixas de bombons. Na primeira tem bombons
de chocolate e na segunda tem bombons de morango. Veja, abaixo, um
desenho das caixas de bombons de Lia.

Primeira caixa Segunda caixa


Bombons de chocolate Bombons de morango

Quantos bombons Lia tem ao todo?

Segundo a TCC, podemos trabalhar com diagramas que facilitam


a compreensão da situação. Observe como fica o diagrama para o exemplo
1:

Composição

Parte 6

+ ? Todo

Parte 4

O diagrama indica as partes que se juntam para determinar o todo.


Neste exemplo, as partes são os seis bombons de chocolate e quatro de
morango, que vão compor ao todo dez bombons.

b) Transformação: nessa categoria são classificadas as situações que têm


um estado inicial, uma transformação e um estado final.

46 Pedagogia EAD
Número e Operações

Exemplo 2: Maria tinha R$ 12,00 e comprou uma boneca por R$ 4,00.

1
Com quantos reais Maria ficou?

Unidade
Para a categoria transformação, o diagrama tem o formato que
aparece a seguir, colocado no contexto do exemplo 2:

Transformação

-4

12 ?
Estado inicial Estado final

Observe que o diagrama evidencia um estado inicial que passa por


uma transformação para chegar a outro estado que chamamos de final. Na
categoria transformação, sempre ocorre uma mudança num determinado
tempo. No exemplo 2, o estado inicial é R$ 12,00, e a transformação
negativa é R$ 4,00, e o estado final (quantidade de reais que Maria ficou)
será R$ 8,00.

c) Comparação: nessa categoria, são classificadas as situações nas quais


é estabelecida uma relação entre duas quantidades, uma denominada
de referente e a outra de referido.
Exemplo 3: Observe o desenho abaixo e responda: Quantos anos tem
Carlos?

UESC Módulo 5 I Volume 3 47


Metodologia do Ensino da Matemática

Veja a seguir como fica o diagrama da comparação colocado no


contexto do exemplo 3:

Comparação

Referente 6

+7 Relação

Referido ?

Observe que o diagrama da comparação indica uma relação entre


referente e referido. Na categoria comparação, sempre é feita uma relação
entre duas quantidades. Neste exemplo, a idade de Taís é de 5 anos
(referente), Carlos tem 7 anos a mais que Tais (relação), dessa forma,
Carlos tem 12 anos (referido).

d) Composição de várias transformações: são situações nas quais são


dadas transformações e se busca uma nova transformação a partir da
composição das transformações dadas.
Exemplo 4: Marta saiu de casa, gastou R$ 7,00 para almoçar e depois
gastou R$ 5,00 para jantar. Quanto Marta gastou ao todo?
Para a categoria composição de várias transformações, o diagrama
fica no formato apresentado a seguir. Para fazer esse diagrama, usamos o
exemplo 4:

Composição de várias transformações

Transformação -7

+ ? Transformação

Transformação -5

48 Pedagogia EAD
Número e Operações

Neste exemplo têm-se duas transformações que vão se juntar para

1
dar lugar a uma única transformação, sendo que a transformação é o gasto

Unidade
de R$ 7,00, a outra transformação é o gasto de R$ 5,00 e a transformação
resultante ou única é de R$ 12,00.

e) Transformação de uma relação: são situações nas quais é dada uma


relação, e se busca uma nova, que é gerada a partir da transformação
da relação dada.
Exemplo 5: Saulo devia R$ 8,00 a Glebson, pagou R$ 5,00. Quanto ele
deve agora?
Para a categoria transformação de uma relação, o diagrama fica no
formato apresentado a seguir. Para fazer esse diagrama usamos o exemplo
5:

Transformação de uma relação

+5

-8 ?
Relação Relação

Neste exemplo, é dada uma relação e uma transformação que


ocorreu nessa relação gerando uma nova relação. A primeira relação
estabelecida entre Saulo e Glebson é um débito de R$ 8,00, ocorrendo
uma transformação com o pagamento de R$ 5,00, ficando a nova relação
de débito no valor de R$ 3,00.

f) Composição de relações: duas ou mais relações se compõem para dar


lugar a outra relação.
Exemplo 6: Observe a imagem a seguir e responda: Quantas figurinhas
Ana deve ao todo?

UESC Módulo 5 I Volume 3 49


Metodologia do Ensino da Matemática

Para a categoria composição de relações, o diagrama fica no


formato apresentado a seguir, para fazer esse diagrama usamos o exemplo
6:

Composição de relações

Relação -4

Relação -3 ? Relação

Relação -6

Neste exemplo, são dadas três relações que se compõem para dar
lugar a uma outra relação. A primeira relação é um débito de 4 figurinhas,
a segunda relação é um débito de 3 figurinhas e a terceira, um débito de
6 figurinhas. Ao compor essas relações tem-se no total um débito de 12
figurinhas.
É possível observar que, nessas seis categorias, podem ser
trabalhadas as operações de adição e/ou subtração, bem como conceitos

50 Pedagogia EAD
Número e Operações

inerentes ao Campo Aditivo. O Quadro 1, a seguir, indica alguns deles

1
em cada tipo de situação.

Unidade
Quadro 1 - Alguns conceitos envolvidos nas categorias de situações-problema

Categorias de situações Conceitos

Composição Compor, juntar, parcela, total

Transformação de medida,
Transformação
transformação temporal

Comparação Comparar, relação entre medidas

Composição de várias Composição de medidas,


transformações transformação total

Transformação de uma relação Transformação de relação

Composição de relações Composição de relações

Fonte: construção dos autores.

Fique por dentro.


Análise da qualidade das aprendizagens relacionadas ao campo aditivo
No ano de 2009, realizamos, no estado da Bahia, um estudo diagnóstico com 5807
estudantes do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Pesquisamos sobre o Campo
Aditivo, com a finalidade de repensar as condições de ensino, de maneira que se
torne mais acessível à compreensão da criança. Assim, desenvolvemos uma pesquisa
que denominamos de PEA (Pesquisa das Estruturas Aditivas) e trabalhamos em oito
regiões distintas do Estado. Os resultados gerais revelam um quadro preocupante,
em relação ao domínio desse Campo Conceitual pelos estudantes. Vejam os gráficos
a seguir que indicam o desempenho geral dos estudantes de cada ano escolar em
cinco categorias.

Observe, na Figura 21, que os estudantes de todos os anos escolares apresentam


melhores desempenhos nas situações de composição (C) e transformação de uma
relação (TR), seguida pela transformação (T). Uma possível explicação para esse de-
sempenho pode ser encontrado em Santos (2006). Essa autora realizou uma análise
de livros didáticos utilizados nos anos iniciais do Ensino Fundamental de escolas pú-
blicas de municípios do Sul da Bahia. Dentre seus principais resultados concluiu que
as situações-problema mais abordadas pelos livros didáticos são as de composição,
sendo que a maior parte dos livros adotados nem chegam a abordar as situações
de transformação e de comparação. Acreditamos que o livro seja o maior apoio do
professor e dessa forma tem influência direta em seu trabalho, o que justificaria o
melhor desempenho dos estudantes na categoria composição. Contudo, outros es-
tudos podem ser realizados para se identificar os reais fatores que influenciam esse
desempenho dos estudantes.

UESC Módulo 5 I Volume 3 51


Metodologia do Ensino da Matemática

Figura 21 – Desempenho geral dos estudantes baianos.


Legenda: C= composição; T= transformação; CP = comparação; TR = transformação de uma relação; CT
= composição de várias transformações.

Na Região Sul da Bahia, coletamos dados em nove municípios envolvendo 969 es-
tudantes, sendo 212 do 2º ano; 233 do 3º ano; 263 do 4º ano e 261 do 5º ano. A
Figura 22 mostra o desempenho geral por ano escolar. Observa-se que nenhum dos
anos escolares alcançou a média 50% de acerto.

52 Pedagogia EAD
Número e Operações

1
Unidade
Figura 22 - Desempenho geral por ano escolar dos estudantes do Sul da Bahia.

Esses resultados se referem às respostas dadas pelos estudantes num teste compos-
to por 18 situações-problemas de adição e de subtração que envolvem as categorias
apresentadas acima, e essas situações são similares às que colocamos como exemplo
para cada uma das categorias.

Diante desse contexto é possível afirmar que os resultados trazem indícios de que
se faz necessário planejar ações que visem sanar possíveis dificuldades que estejam
ocorrendo no ensino e também na aprendizagem do Campo Aditivo. Baseados nesses
e em outros estudos, bem como no trabalho que estamos desenvolvendo com profes-
sores dos anos iniciais da Região Sul da Bahia, colocamos a seguir algumas sugestões
para o trabalho com essas operações.

Fonte: Santana (2010).

7 OS ERROS COMO PONTO DE PARTIDA PARA A


APRENDIZAGEM

7.1 O papel do erro no processo de aprendizagem

Muitas vezes, abordamos o erro do estudante, numa certa atividade,


como um fator de punição, ou seja, se o estudante erra, apontamos como
aquele que não aprende, não tem atenção, tem dificuldades, não tem
base. Contudo precisamos analisar os erros e usá-los como ferramenta de
aprendizagem. Cury (2007) defende a ideia de que a análise de erros pode
ser uma metodologia de ensino. Para a autora isso pode acontecer quando
essa análise leva os estudantes a questionarem as suas próprias soluções

UESC Módulo 5 I Volume 3 53


Metodologia do Ensino da Matemática

e, mais do que isso, conduzi-los a uma aprendizagem. Defendemos a


mesma ideia da autora.
Santana (2010) aponta erros cometidos pelos estudantes dos anos
iniciais ao resolver situações-problema aditivas. A autora coloca que
dentre os possíveis erros cometidos por esses estudantes, podemos ter:
alguns ligados ao cálculo numérico que são os relacionados às operações
a serem realizadas; e os erros ligados ao cálculo relacional que são aqueles
atrelados às relações de pensamento que os estudantes precisam fazer
para a compreensão da situação-problema. Vejamos alguns exemplos.

7.2 Erro no cálculo numérico

A Figura 23 a seguir traz um exemplo de erro ao armar a operação.

Problema 13. Roger tem R$ 9,00. Everton tem R$ 13,00. Quem tem menos reais? Quantos reais a
menos?

Resolução
- 9 Resposta

13
Ele tem 8 reais
8

Figura 23 - Exemplo de erro ao armar a operação. Fonte: acervo de pesquisa dos autores.

Observe que o estudante escolheu a operação correta, o que nos


leva a pensar que ele compreende as relações que compõem a estrutura
da situação apresentada. Contudo ele ainda não compreende as regras
do sistema de numeração decimal e as do algoritmo da subtração. O
professor, enquanto mediador, poderá conduzir o estudante a refletir
sobre a maneira como ele registrou a operação e sobre as impossibilidades
de retirar 13 de 9, ou seja, o valor maior (13) ser retirado do menor (9),
além de a unidade ter sido colocada como dezena.
A Figura 24 a seguir apresenta a resolução feita por outro estudante
para a mesma situação (mudança apenas nos nomes).

54 Pedagogia EAD
Número e Operações

1
Problema 13. Leila tem R$ 9,00. Cláudio tem R$ 13,00. Quem tem menos reais? Quantos reais a menos?

Unidade
Resolução Resposta
13
1
3
Leila tem menos
- 9 que Claudio 5 reais
05

Figura 24 - Exemplo de erro ao efetuar a operação.

Observe que o estudante parece compreender as relações que


compõem o problema, mas ele erra ao efetuar a operação. O professor
pode trabalhar o erro com esse estudante, levando-o a refletir sobre o
resultado apresentado. Uma maneira de levar o estudante a uma reflexão
é pedir a ele que adicione R$5,00 a R$9,00. Fazendo isso, o estudante
poderá encontrar o valor que Cláudio possui. Contudo, se o estudante
faz tal operação, pode perceber que a sua subtração está incorreta.

7.3 Erro no cálculo relacional

A Figura 25 traz um exemplo de erro no cálculo relacional. O


estudante trocou a operação, isto é, ao invés de adicionar ele subtraiu.

Problema 5. Bruna e Igor têm balões. Veja o desenho abaixo.

Os balões de Bruna.

Igor tem 4 balões a mais que ela. Quantos balões tem Igor?

Resolução Resposta
9
-4 Igor tem 5 baloes
5

Figura 25 – Exemplo de erro no cálculo relacional.

Observe que o estudante não compreende que Igor tem mais

UESC Módulo 5 I Volume 3 55


Metodologia do Ensino da Matemática

balões que Bruna. Num exemplo como esse, o professor pode conduzir o
estudante à reflexão através da interpretação da situação-problema. Se o
estudante compreende que Igor tem mais balões, ele poderá compreender
que 5 balões são menos que 9, e assim poderá verificar que a operação
correta é a adição.
Outro procedimento com o uso da operação inversa, que ocorre
com frequência, é quando esse uso vem atrelado ao uso de palavras-dica
que fazem parte do enunciado da situação. Os estudantes costumam
fazer associações como: se tem “ganhar” é de mais; se tem “perder” é de
menos.
A Figura 26 a seguir apresenta um exemplo do possível uso da
palavra-dica. Observe que o estudante adicionou ao invés de subtrair.
Acreditamos que o estudante possa ter escolhido a operação inversa
influenciado pela presença da palavra “mais”. Essa nossa afirmativa é
decorrente das entrevistas realizadas com os estudantes.

3º) Mário e Pedro têm carrinhos de brinquedo.

Veja na ilustração os carrinhos de Mário.

Carrinhos de Mário

Mário tem 5 carrinhos a mais que Pedro.


Quantos carrinhos tem Pedro?

Resolução Resposta
8
+5 Pedro tem
13 13 carrinhos.

Figura 26 - Exemplo de erro no cálculo relacional com a operação inversa.

A Figura 27, a seguir, apresenta outro procedimento com erro


no cálculo relacional. Observe que o estudante não registrou nenhuma

56 Pedagogia EAD
Número e Operações

operação. Ele colocou o total de gudes de Artur como resposta. Esse tipo

1
de procedimento inviabiliza uma análise mais profunda das relações que

Unidade
o estudante possa ter feito para colocar essa resposta. Diante desse tipo
de procedimento, o professor precisa questionar o estudante para que ele
possa expor a compreensão que teve da situação e só assim o professor
poderá intervir de maneira a alcançar a aprendizagem do estudante.

Problema 8. Artur e Everton participaram de um jogo de gudes. No final do jogo, Artur ficou com as
gudes que estão desenhadas abaixo.

As gudes que ficaram com Artur

Sabendo que Artur tem 6 gudes a mais que Everton. Com quantas gudes ficou Everton?

Resolução Resposta

14

Figura 27 - Erro no cálculo relacional com repetição do enunciado.

Por fim, deixamos para o professor alguns pontos para a sua


reflexão:

• precisamos analisar o ensino dos conceitos aditivos, pois eles


ultrapassam o algoritmo da adição e da subtração e chegam
a conceitos como compor, transformar, comparar, dentre
outros;

• o ensino de resolução de situações-problema precisa ser


iniciado com a interpretação das mesmas. O papel do
professor tangencia a mediação entre a situação colocada e a
interpretação que o estudante deve fazer. Com a compreensão
da situação fica mais fácil escolher a operação a ser realizada;

• o uso de situações desafiadoras e que sejam ligadas ao cotidiano


do estudante o faz ter maior interesse em interpretar e resolver,
isto é, o estudante se envolve e se concentra mais quando a
situação desperta o seu interesse.

UESC Módulo 5 I Volume 3 57


Metodologia do Ensino da Matemática

7.4 Sugestões para o trabalho com adição e subtração

• Ajude o estudante a entender a situação antes de buscar a operação


a ser realizada. Evite responder ou incentivar a colocação de
perguntas como: “é de mais ou de menos?”; “é para somar ou para
diminuir?”. Ao fazer essa pergunta, o estudante busca apenas fazer
uma “conta” sem entender o contexto da situação apresentada.
• Incentive o estudante a responder a situação e compreender se a
resposta dada é coerente com o que foi solicitado na situação.

• Diversifique as situações apresentadas para os estudantes, usando


situações que tenham, por exemplo: opções de escolha; contextos
diferentes; figuras, e que as informações que essas figuras trazem
precisem ser utilizadas dentro da resolução; e que as situações
sejam próximas da realidade do estudante.

• Busque trabalhar com as seis categorias de situações-problema


aditivas. Esse tipo de trabalho favorece o desenvolvimento das
habilidades do estudante no que se refere às operações de adição
e subtração.

Finalmente, disponibilizamos os nossos endereços eletrônicos


para que o professor possa entrar em contato com nossa equipe, seja
para esclarecer suas dúvidas, nos apresentar sugestões, discutirmos sobre
pontos apresentados aqui, ou ainda para se integrar a equipe do PEA.
Também, nos colocamos à disposição para discutirmos pontos sobre o
ensino e a aprendizagem de outros conteúdos matemáticos.

58 Pedagogia EAD
Número e Operações

ATIVIDADES

1
ATIVIDADES

Unidade
1) O Brasil tem uma extensão territorial de 8.547.403 km2 (quilômetros
quadrados).

a) Quantos algarismos tem esse número? ________________


b) Quantas classes tem esse número? ____________________
c) Qual o algarismo da centena simples? ____________________
d) Qual o algarismo da unidade de milhar? ___________________
e) Qual o algarismo da centena de milhar?___________________
f) Qual o valor posicional do algarismo da dezena de milhar?
_________________________
g) Qual o valor absoluto do algarismo de dezena simples?
_________________________
h) Escreva este número por extenso: ______________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

2) Pesquise os sistemas de numeração das civilizações egípcia, romana


e mesopotâmica. Depois, descreva suas características, comparando
suas semelhanças e diferenças.

3) Quais dos aspectos históricos abordados sobre os números naturais


você levaria para a sala de aula dos anos iniciais do Ensino Fundamental?
Que abordagem metodológica você utilizaria para trabalhá-los com
os alunos?

4) Observe as figuras a seguir que corresponde a resposta dada por um


estudante do 3º ano do Ensino Fundamental ao resolver uma situação
aditiva que envolve conceitos de transformação.

UESC Módulo 5 I Volume 3 59


Metodologia do Ensino da Matemática

Problema 3. Carine tinha sorvetes em seu isopor. Sua prima tomou alguns dos sorvetes de Carine.
Veja o desenho.

Sorvetes que Carine tinha. Sorvetes que Carine tem agora.

Carine quer saber quantos sorvetes dela sua prima tomou.

Resolução
8
Resposta

+5 Carine tinha
13 13 sorvetes

Figura 28 - Exemplo de erro no cálculo relacional com a operação inversa.

a) Como você trabalharia esse erro com seu aluno?

b) Você diria que o estudante respondeu corretamente a situação


abaixo? Como você trabalharia com o estudante as diferenças
entre o algoritmo e a resposta dada?

Problema 10. No final do jogo de gude, Paulo ficou com 14 gudes. Sabendo que Paulo tem 6 gudes
a mais que Jonas. Com quantas gudes ficou Jonas?

Resolução
3
Resposta

+5 8 gudes Jonas ficou.


8

Figura 29 - Exemplo de erro lógico.

5) Classifique as situações a seguir conforme a Teoria dos Campos


Conceituais e resolva-as, utilizando os diagramas de Vergnaud.
a) Geovana recebeu, na 1ª quinzena de janeiro, 478 mensagens no
Orkut e na 2ª quinzena, 699. Qual o total de mensagens recebidas
por Geovana durante todo o mês de janeiro?
b) Josivan tinha 118 cadernos. Ganhou alguns e agora tem 205.
Quantos cadernos ele ganhou?

60 Pedagogia EAD
Número e Operações

c) Vivian tem R$ 67,00 e Cláudio tem R$ 12,00 a menos que ela.

1
Quantos reais tem Cláudio?

Unidade
d) Telma e Marilene arrecadaram uma quantia de dinheiro para
comprar bandeirolas para enfeitarem suas ruas. Cada quilo de
bandeirolas custa R$ 20,00. Veja os valores que elas já têm:
Telma: R$ 160,00 Marilene: R$ 80,00
i. Quem pode comprar mais bandeirolas?
ii. Quantos quilos de bandeirolas a mais ela pode comprar?
e) Ana e Bete têm dinheiro para comprar sorvete. Bete tem R$ 4,00
a menos que Ana. Sabendo-se que Bete tem R$ 8,00, quantos
reais tem Ana?
f) Bianca guardou uma certa quantia do seu salário na caderneta
de poupança. No mês seguinte, quando recebeu o salário de R$
510,00, ela ficou com R$ 830,00. Quantos reais ela conseguiu
guardar no mês anterior?
g) Silvana devia R$150,00 a Alda. Pagou R$ 70,00. Quanto Silvana
ficou devendo a Alda?
h) Vivian saiu de casa com certa quantia, gastou R$ 6,00 em lanches,
depois gastou R$ 3,00 em refrigerante. Quanto Vivian gastou ao
todo?

RESUMINDO
RESUMINDO

Nesta unidade, abordamos a construção do conceito de número


pela criança, alguns aspectos históricos relacionados com o surgimento
do nosso sistema de numeração decimal e suas operações. Entendendo
a Aritmética como a parte da Matemática que lida com números e suas
propriedades, encontramos nas situações-problema uma forma acessível
para a construção dos fatos básicos das operações, para a constituição
de um repertório a ser utilizado no cálculo como bem explicita os PCN
(BRASIL, 2000, p.72).
Vimos também que as situações-problema aditivas podem ser
classificadas segundo o seu grau de complexidade e os conceitos nelas

UESC Módulo 5 I Volume 3 61


Metodologia do Ensino da Matemática

envolvidos. Seguindo a classificação dada por Vergnaud (1982), podemos


ter situações de: composição, transformação, comparação, composição
de várias transformações, transformação de uma relação e composição
de relações.
Em geral trabalhamos com as situações-problema aditivas sem
nos atentar que os conceitos e grau de complexidade nelas envolvidos
vão além da resolução do algoritmo da adição ou da subtração. Faz-se
necessário trabalhar os algoritmos, mas precisamos conduzir o aluno
para a compreensão da situação e depois de compreender é que será
definida qual operação será utilizada para a resolução. Além disso, o
professor precisar auxiliar no desenvolvimento do senso crítico do aluno
e, ao se tratar de resolução de situações-problema não é interessante
apenas resolver, mas refletir sobre os resultados encontrados: o valor
que estou colocando como resposta é coerente com o contexto e o que
foi solicitado na situação? Questões como esta devem fazer parte das
reflexões finais de resolução.

REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS

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1996.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática (1a a 4a
série): Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental, 2. ed. Brasília, 2000.

BROLEZZI, A. C. A Tensão entre o Discreto e o Contínuo na História


da Matemática e no Ensino de Matemática. Tese de Doutorado. São
Paulo: FEUSP, 1997.

CARDOSO, V. C. Materiais didáticos para as quatro operações. São


Paulo: CAEM-IME/USP, 1992.

CARRAHER, T.; CARRAHER, D.; SCHLIEMANN, A. Na Vida


Dez, na Escola Zero. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

62 Pedagogia EAD
Número e Operações

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1
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Unidade
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DUARTE, N. O ensino de matemática na educação de adultos. 8. ed.


São Paulo: Cortez, 2001.

IFRAH, G. Os números: a história de uma grande invenção. São Paulo:


Globo, 2000.

IMENES, L. M. A numeração indo-arábica. Coleção Vivendo a


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KAMII, C.; DECLARK, G. Reinventando a aritmética: implicações da
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KAMII, C.; LIVINGSTON, S. J. Desvendando a aritmética: implicações


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MAGINA, S. et al. Repensando adição e subtração: contribuições da


Teoria dos Campos Conceituais. São Paulo: PROEM, 2001.

NUNES et al. Educação Matemática: números e operações numéricas.


São Paulo: Cortez, 2005.

NUNES, A. F. V. B.; SOLEDADE C. B.; REIS, S. M. B. dos. Sorobã


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Salvador-BA: SUD/SEC, 1998.

PAIS, L. C. Ensinar e aprender matemática. Belo Horizonte: Autêntica,


2006.

PEIXOTO, J. L. B.; SANTANA, E. R. dos S.; CAZORLA, I. M.


Soroban uma ferramenta para a compreensão das quatro operações.
Itabuna: Via Litterarum, 2006.

PEIXOTO, J. L. B.; CAZORLA, I. M.; VITA, A. C. Inclusão na


Escola: um bate-papo com os professores. Ilhéus: Editus; Itabuna: Via
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PIAGET, J. Introdução a la Epistemologia Genética. Volumen I: El


Pensamiento Matemático. Buenos Aires: Paidos, 1978.

SANTANA, E. R. S. Estruturas Aditivas: o suporte didático influencia a

UESC Módulo 5 I Volume 3 63


Metodologia do Ensino da Matemática

aprendizagem do estudante? Tese (doutorado em Educação Matemática).


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010.

SANTOS, M. S. Estruturas Aditivas: um olhar em livros didáticos do 2º


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Santa Cruz. Ilhéus: UESC, 2006.

SPINILLO, A. G. “O conhecimento matemático antes do ensino da


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Thought Involved in Addition and Subtraction Problems. In. Addition
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______. A Teoria dos Campos conceituais. In. BRUN, J. Didáctica das


matemáticas. Lisboa: Instituto Piaget, 1996, p. 155-191.

ZUNINO, D. L. de. A Matemática na escola: aqui e agora. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1995.

64 Pedagogia EAD
Número e Operações

Suas anotações

1
Unidade
.........................................................................................................................
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UESC Módulo 5 I Volume 3 65


2ªunidade

ESPAÇO E
FORMA

OBJETIVOS

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

yy analisar e discutir situações nas quais seus estudantes utilizem o


pensamento geométrico, explicando e resolvendo situações-
problema;
yy elaborar e reelaborar estratégias baseadas em aprendizagens
sobre a forma e a posição dos objetos no espaço (e no plano), bem
como suas transformações;
yy explorar os conceitos de intuição e representação, para fins de
desenhar caminhos metodológicos;
yy planejar, implementar e avaliar atividades e aulas que estimulem o
desenvolvimento do pensamento geométrico.
Espaço e forma

1 INTRODUÇÃO: VIVEMOS EM UM MUNDO DE FORMAS

Examinando a maneira como o ser humano realiza suas tarefas


no dia a dia encontramos vários desafios que exigem raciocínios sobre
as formas dos objetos e coisas. Até mesmo tarefas simples como decidir
o melhor trajeto a ser percorrido com o carro, dispor os móveis em um

2
cômodo, dispor roupas ou objetos em uma gaveta, ou mesmo escolher

Unidade
um recipiente adequado para acomodar um determinado volume, podem
exigir escolhas que definirão o melhor aproveitamento do espaço em
questão. Da mesma maneira, as atividades profissionais do pedreiro, da
confeiteira, da costureira e muitas profissões necessitam interpretação e
transformação das formas dos objetos para produzir formas novas, como
por exemplo: projetar e executar as ações necessárias sobre os materiais
disponíveis e construir uma casa, um bolo de aniversário decorado, um
vestido.
Cada campo da Matemática possui conhecimentos cujo estudo
pode contribuir para desenvolvermos ainda mais modalidades específicas
do nosso raciocínio que aprendemos com as tarefas do dia a dia. O
raciocínio sobre o espaço, a forma e a posição das coisas é necessário
para a maioria de nossas ações e na Matemática a organização desses
conhecimentos corresponde ao campo das Geometrias.
Quando falamos em pensamento geométrico (ou raciocínio
geométrico) nos referimos aos modos e estratégias de pensar que têm
como características essenciais as competências/capacidades de analisar
objetos no espaço (e no plano) de modo a:

• reconhecer e detalhar as características gerais (tipos) e


específicas das formas (composição), bem como descrever
os procedimentos/processos para construção/obtenção
destas;

• realizar e reconhecer os resultados de transformações na


forma e na posição de objetos, bem como descrever os

UESC Módulo 5 I Volume 3 69


Metodologia do Ensino da Matemática

procedimentos/processos para efetuá-las e


revertê-las;

• comparar as formas e posições dos objetos,


a fim de estabelecer as relações necessárias
para compreensão/explicação de fenômenos
e resolução de problemas.

Outros aspectos do pensamento geométrico estão


relacionados ao bloco de conteúdos ‘Grandezas e Medidas’,
mas é necessário que o professor compreenda muito bem as
características essenciais deste tipo de pensamento para não
incorrer no erro comum de trabalhar apenas com números
atenção
e medidas e deixar de lado as dimensões mais importantes
Atividades envolvendo
cálculos e medidas nem
do raciocínio sobre o espaço e a forma. Na prática, estas
sempre estimulam o habilidades são estimuladas com mais vigor quando o
desenvolvimento das
habilidades essenciais do professor constrói e analisa com seus estudantes situações-
pensamento geométrico!
problema sobre a forma e a posição dos objetos, sem recorrer
a medidas e cálculos numéricos.
A capacidade de transformar o espaço
intencionalmente começa a ser desenvolvida desde o
nascimento e se potencializa nas atividades culturais das
quais as crianças participam. Nas brincadeiras infantis como
amarelinha, pula-corda e jogos de roda, por exemplo, são
estimuladas percepções fundamentais sobre o espaço como
as noções de lateralidade, direção, sentido, distância, trajeto,
contorno, superfície, volume etc.
A maneira como a cultura contribui para o
desenvolvimento do raciocínio a partir das nossas
experiências de exploração do mundo nos leva a perceber
que a geometria da exploração do espaço é mais familiar
para as crianças no início da escolaridade do que a geometria
das formas geométricas planas. Desta maneira, mesmo não
sendo formas idealmente planas, a fôrma usada para assar
pizzas e a roda da bicicleta tornam-se modelos para a criança
compreender o círculo, desenhado com o compasso, porque

70 Pedagogia EAD
Espaço e forma

são mais conhecidas, experimentadas.


Nos anos iniciais, todas estas experiências passam a ser
exploradas intencionalmente pelo professor, com auxílio de
várias formas de registro como desenhos, esquemas, mapas,
maquetes com o objetivo de ampliar a capacidade das crianças
identificarem as características dos objetos e do espaço que
estão relacionadas a situações-problema do dia a dia e projetar
as transformações na forma e na posição que forem necessárias
para encontrar soluções.

2
Unidade
Figura 30 - Crianças em brincadeira de roda.
Fonte: http://0.tqn.com/d/houston/1/0/g/H/-/-/friendship-
circle-clip-art.jpg

Assim, num primeiro momento, a cultura escolar pode


Nos Parâmetros Cur-
interagir com as culturas dos estudantes e contribuir para riculares Nacionais os
conteúdos essenciais
prepará-los para suas atividades cotidianas. Num segundo da aprendizagem
momento, o professor pode apoiar-se nas formas do pensamento da Geometria estão
organizados no bloco
geométrico desenvolvidas para avançar nos estudos, rumo ao “Espaço e forma”. Vale
a pena conhecer!
estudo da geometria mais sistemática e dedutiva – formação Brasil (1997, 1998,
que se intensifica nos anos finais do Ensino Fundamental. 2002).

2 CONCEITOS BÁSICOS PARA CONSTRUÇÃO


METODOLÓGICA

Muitos pesquisadores conhecidos, como Jean Piaget,


criaram modelos para explicar como nosso raciocínio se

UESC Módulo 5 I Volume 3 71


Metodologia do Ensino da Matemática

desenvolve a ponto de nos permitir perceber as características das formas


que habitam o espaço e transformá-las de modo intencional. Estas
teorias organizam conhecimentos muito úteis para o professor, uma
vez que ajudam a compreender as características dos conhecimentos
matemáticos e a planejar atividades que potencializem as aprendizagens
mais significativas.
Neste curso, a título de introdução, estudaremos a forma, a
partir do pressuposto de que a mente lida com o espaço utilizando dois
conceitos centrais: representação e intuição. Estes conceitos constituem
uma síntese de ideias presentes nos modelos piagetiano, vygotskyano
e na Teoria dos Registros de Representação Semiótica e serão aqui
introduzidos para nos permitir uma primeira aproximação didática com
os fenômenos ligados a aprendizagem da geometria.
O objetivo de discutirmos esses conceitos é nos preparar para uma
ação mais imediata em nossas aulas, criando esquemas metodológicos
que nos auxiliem a problematizar situações de exploração do espaço e
da forma. A partir dos conceitos de intuição e representação também
podemos situar melhor algumas questões relativas ao significado e ao
sentido e às noções de concreto e abstrato em Matemática.

2.1 Representação e intuição

Definimos representação como a capacidade de produzir


registros sobre coisas que percebemos através de nossos sentidos. Esses
registros podem ser imagens formadas apenas nas nossas mentes ou
serem concretizadas em registros feitos de várias formas, utilizando
nossa língua materna (descrições orais ou escritas) ou formas gráficas
tridimensionais (esculturas, maquetes, modelos geométricos) e planas
(desenhos, esquemas, mapas etc.).
Utilizamos as representações para nos referirmos aos conceitos
e ideias matemáticas, de modo a registrar as características que
consideramos importante para poder manipular o objeto ou lidar com
ele em nossa mente, raciocinar sobre ele, tirar conclusões. Por isso, é uma
aprendizagem escolar importante saber selecionar a representação mais

72 Pedagogia EAD
Espaço e forma

adequada para explorar/investigar uma situação. Por exemplo, para saber


quantas pirâmides podem ser construídas com uma folha de cartolina
pode ser mais interessante utilizar sua planificação do que a figura sólida.
Nossa intuição é uma mistura de percepção e entendimento,
formada por um conjunto de conhecimentos que ajuda a dar significado
às nossas percepções de modo mais ou menos imediato e consciente.
Exemplos:

• Quando cai um objeto no chão, longe da nossa vista,

2
ouvimos o barulho e, às vezes, identificamos imediatamente

Unidade
o que caiu. O que ouvimos evoca em nossa mente algum
conhecimento que temos e que está ligado à audição.

• Quando tentamos adivinhar (sem olhar) qual objeto está


escondido dentro de uma sacola, nossas mãos tocam o
objeto e nossas mentes evocam imagens e conhecimentos
ligados ao nosso tato.

Nos dois casos é fácil perceber que nossa intuição mobiliza


rapidamente conhecimentos ligados às nossas experiências sensoriais e,
quando não encontra conhecimentos que ajudam a compreender o que
estamos percebendo, fica difícil até formar alguma imagem ou entender o
que está acontecendo. Então, num segundo momento, conscientemente,
nos esforçamos para procurar em nossas mentes algo que ajude na
compreensão.
Quanto mais ricas (em variedade e detalhes) são as nossas
experiências sensoriais e quanto mais as evocamos e utilizamos de modo
consciente, mais se desenvolve nossa intuição. Intuição e representação
são competências que devem ser estimuladas no trabalho com todos os
conteúdos de Matemática em qualquer nível de ensino.
No início deste capítulo, falamos em “pensamento geométrico”
e com estes novos conceitos que estamos abordando podemos falar em
“intuição geométrica” e em “representação do espaço”. Agora também
podemos destrinchar as competências gerais do pensamento geométrico
em habilidades (mais específicas). Desta forma, o pensamento é
caracterizado em vários níveis, pelas habilidades de intuir e representar

UESC Módulo 5 I Volume 3 73


Metodologia do Ensino da Matemática

as formas e suas posições no espaço, bem como utilizá-las


de modo consciente para:

• posicionar e localizar objetos;


• analisar movimentos de pessoas e objetos;
• orientar-se, utilizando como referência as
posições dos objetos;
• planejar e realizar transformações na forma e
na posição dos objetos;
• para dimensionar (mensurar) o espaço e
objetos;
• perceber e utilizar com criatividade as
regularidades da forma e posição;
• criar modelos para interpretar fenômenos e
resolver situações-problema;
• comunicar suas ideias geométricas, utilizando
diversas linguagens.

Da mesma forma em que falamos em “intuição e


representação geométrica”, podemos falar em “intuição
e representação numérica” ou “intuição e representação
aritmética” como competências que caracterizam o
raciocínio numérico/aritmético. Discutiremos melhor a
extensão dos conceitos básicos de intuição e representação
para outras áreas da Matemática nos encontros presenciais.
Por ora, vamos nos concentrar em entender como os
conhecimentos matemáticos adquirem significado e sentido
para nós e porque temos dificuldades em aprender certas
coisas.

Significado:
2.2 Significado e sentido
1) Expressão ou palavra
conhecida que é equiva-
lente ou substitui o ter- Quando mostramos o significado de uma operação
mo; 2) Sinônimo conheci-
do; 3) Noção ou conceito.
para a criança, fazemos como o dicionário faz com palavras.

74 Pedagogia EAD
Espaço e forma

Exemplo 1: dizemos: seu lado esquerdo é o lado onde


está situado seu coração.
Exemplo 2: também dizemos que a corda dá a volta
em torno da criança.

2
Unidade
Figura 31 - Crianças em brincadeira de corda.
Fonte: http://blogs.elpais.com/.a/6a00d8341bfb1653ef0162f
e4b3314970d-800wi
saiba mais
Exemplo 3: Dizemos: Três vezes um é a mesma coisa Quanto mais ricas (em va-
riedade e detalhes) são as
que somar um mais um, mais um. nossas experiências sen-
soriais e quanto mais as
evocamos e utilizamos de
Representamos: 3 x 1 = 1 + 1 + 1 modo consciente, mais se
desenvolve nossa intuição
e, a partir dela amplia-se
Para um conhecimento fazer sentido, além do nossa capacidade de atri-
buir sentido ao que apren-
indivíduo compreender seu significado é preciso que ele demos.

aceite que sua lógica é válida (não é absurda) e reconheça


os contextos de validade e aplicação dos conhecimentos.
Inicialmente, tudo que contraria a intuição não faz muito
Sentido
sentido. Isto é, tudo que nossa percepção capta, mas que não
Valor pessoal que o indi-
conseguimos compreender, dificilmente vai fazer sentido víduo atribui a um conhe-
para nós. Para dar sentido as coisas, fazemos uso de nossas cimento. Se é pessoal, as
motivações e todas as vi-
capacidades de intuir e representar. vências e aprendizagens
influenciam esse processo
de valoração.

2.3 Concreto e abstrato

Concreto
Essa definição de concreto nos indica que a
Diz-se de coisa ou de re-
característica fundamental do que é concreto é apresentar- presentação que se apre-

se tal como na realidade, ou seja, para ser concreto não é senta de modo comple-
to, tal como lhe é próprio
preciso ser palpável, mas sim evocar ou representar o objeto apresentar-se na sua rea-
lidade existencial.

UESC Módulo 5 I Volume 3 75


Metodologia do Ensino da Matemática

sem perder sua totalidade. A imagem mental que fazemos


de um lugar que conhecemos bem na infância e que traz à
lembrança experiências positivas pode ser bastante concreta,
mesmo que este lugar já nem exista mais. Podemos lembrar
propriedades como cheiro, cor, temperatura, textura e até
sabores.
Estamos mais acostumados a traduzir a palavra
“concreto” como sendo sempre algo em sua forma material,
palpável, o que, aliás, não está errado porque é um dos
significados que a palavra possui e que está presente nos
dicionários. Contudo, para o ensino de Matemática, esta
definição é limitada porque não deixa clara a relação com o
Abstrato
processo de abstrair, que em muitos dicionários é descrito
Que designa ideias, quali- como o processo de separar mentalmente para tomar em
dades, estados, ações, que
isolamos do que é concre-
consideração uma propriedade que não pode ter existência
to e utilizamos para operar fora do todo concreto ou intuitivo em que aparece (por
mentalmente ou através de
registros e linguagens. exemplo, abstrair a cor ou a forma de um objeto).
A operação de abstrair implica lidar mentalmente
com as propriedades do objeto sem a necessidade de que
ele esteja presente. A imagem do lugar da infância que
demos como exemplo pode ser examinada mentalmente e
podemos realizar várias tarefas cognitivas sobre ela, sem a
necessidade de ir até o lugar. Podemos nos concentrar, por
exemplo, em tentar comparar as dimensões daquele lugar
com as da nossa sala de aula ou podemos tentar focalizar a
forma como nos movíamos naquele espaço. Essas operações
constituem abstrações e estão muito ligadas às imagens que
somos capazes de formar e ao grau de concretude que elas
assumem para nós.
Estes conceitos nos ajudam a avançar em relação a
um mito muito comum na educação hoje em dia: o mito
de que no ensino de matemática sempre deve estar presente
o “concreto” material. A partir dos conceitos de intuição
e representação, podemos ampliar essa ideia do concreto
de modo a abranger as representações do espaço que são

76 Pedagogia EAD
Espaço e forma

intuitivas para nossos alunos. E a partir delas estimular a identificação


de propriedades do espaço e forma que permitem ao estudante construir
ideias matemáticas e conceitos mais abstratos.
Assim, na contextualização das ideias exploradas em sala de aula,
é fundamental o apelo às vivências dos alunos e ao uso de representações
que sejam intuitivas para eles. Podemos utilizar vários materiais
“concretos”, mas nosso objetivo é ampliar a capacidade de abstração do
aluno para que ele lide com o concreto como referência, dentro da sua
mente.

2
Lembrar de uma brincadeira como amarelinha e desenhá-la pode

Unidade
ser tão concreto para a criança quanto estar pulando sobre o desenho
riscado no chão. Podemos perceber que algumas crianças em situações
espontâneas de resolução de problemas aritméticos representam as
operações da forma que é para elas mais intuitiva, porque faz mais sentido.

Figura 32 - Criança e os montinhos de gude.

A mesma criança que fez o desenho anterior, mais tarde representa


a operação da seguinte forma:

Figura 33 - Criança e os montinhos de gude.

UESC Módulo 5 I Volume 3 77


Metodologia do Ensino da Matemática

Ainda não é uma representação convencional, mas sem dúvida ela


sabia o que estava fazendo ao escrever. Mais tarde, ele vai ser capaz de
usar o sinal “+” de modo significativo.
Em vários momentos da aprendizagem da Matemática, os
estudantes vão recorrer às representações que tornam o problema mais
fácil de compreender. Observando as representações mais intuitivas
para eles e o uso que fazem, podemos ter indícios da qualidade das
aprendizagens e oferecer meios para que eles avancem e sejam capazes
de construir e utilizar representações diversas com qualidade cada vez
maior.

2.4 A importância da experimentação e da


problematização

Com base nos conceitos que vimos, o professor pode perceber a


importância de promovermos na escola a reflexão sobre o espaço vivido/
experimentado pelo estudante. Quando estimulamos a exploração
consciente sobre o espaço e a experimentação de movimentos, disposição
de objetos e transformações da forma, favorecemos a ligação entre
experiência e os conhecimentos sistematizados, desenvolvendo melhor a
intuição e o pensamento geométrico.
Para dar suporte às reflexões, o professor pode questionar as
características do espaço e da forma. A esse processo de elaborar perguntas
que motivem o estudante a explorar seus conhecimentos chamamos
de problematização. Ela pode ser feita mesmo antes de o estudante
experimentar o espaço, serve para atiçar sua intuição e verificar como
ela antecipa a experiência. Também pode ser feita após a exploração do
espaço, de modo a provocar a reflexão sobre aspectos tanto percebidos,
quanto os pouco evidentes.
Ainda como suporte ao processo de aprendizagem, o professor
pode recorrer às várias formas de representação possíveis em nossa língua
materna (descrições orais ou escritas) ou formas gráficas tridimensionais
(esculturas, maquetes, modelos geométricos) e planas (desenhos,
esquemas, mapas etc.).

78 Pedagogia EAD
Espaço e forma

Para discutirmos um pouco mais, tomemos como


exemplo duas situações:
• Situação 1: uma turma de 2º ano acaba de
voltar da aula de Educação Física, na qual
os estudantes fizeram atividades com corda
(pulando, passando por baixo);
• Situação 2: uma turma do 4º ano é convidada
a sugerir locais adequados, dentro dos limites
da escola, para dispor as atividades da Feira de

2
Ciências das turmas do Ensino Fundamental

Unidade
I.

Na situação 1, após o retorno dos estudantes à sala


de aula, o professor pode problematizar com a turma o lugar
onde ocorreram as atividades, o espaço que foi ocupado, a
disposição das crianças, o movimento delas no espaço em
cada situação da brincadeira. Ele pode também solicitar
aos estudantes que desenhem suas percepções para que
depois sejam discutidas e a partir delas provocar as crianças
a lembrarem/recriarem elementos ausentes nos desenhos
ou redimensionarem elementos que elas posteriormente
avaliem que poderiam estar de outra forma.
Na situação 2, o professor pode começar explorando
as experiências que os estudantes já possuem sobre a escola,
provocando-os a utilizar representações do espaço escolar
e fazer análise com base no que já souber. Os estudantes
saiba mais
podem utilizar inicialmente, por exemplo, um desenho
Nesse jogo de provocar a
do tipo planta baixa, sem precisão nas proporções, para antecipação da experiên-
cia e depois sua reavalia-
permitir uma primeira discussão sobre o espaço. Nesse
ção após o vivido, o pro-
processo estarão evocando os conhecimentos que possuem fessor estimula as duas
dimensões que compõem
e reorganizando-os. Num segundo momento, o professor a intuição (percepção

pode permitir a visita organizada aos espaços que foram mais entendimento).

analisados para permitir ajustes na planta baixa (medidas),


o registro de detalhes (como posição das janelas, portas,
tomadas, torneiras) e também a percepção das informações

UESC Módulo 5 I Volume 3 79


Metodologia do Ensino da Matemática

espaciais que não foram evidenciadas por este tipo de representação, como,
por exemplo, luminosidade, ventilação e acústica dos ambientes. Observe
que em ambas as situações é sempre possível revisitar o espaço e trabalhar
melhor as representações a partir das necessidades problematizadas.

2.5 Síntese dos conceitos e da metodologia

As ideias de concreto e abstrato apresentadas têm uma relação


muito íntima com os conceitos de representação e intuição, com a
questão do significado e sentido e, consequentemente, com a maioria
das aprendizagens em Matemática. Ao trabalhar, por exemplo, com os
conhecimentos sobre espaço e forma na sala de aula, podemos desenhar
estratégias que visem ao uso de representações para desenvolver a
intuição de nossos alunos. Como sugestões, sistematizamos aqui alguns
caminhos. Nos exemplos apresentados, tratamos como exemplo de
experimentação a exploração do espaço da escola, estando nele ou
recorrendo à memória.
Combinando os três momentos: exploração (Figura 34),
problematização (Figura 35) e representação (Figura 36), o professor
pode desenhar caminhos para estimular o pensamento geométrico do
estudante.

Re-significa
o problema

PROBLEMATIZAÇÃO REPRESENTAÇÃO EXPLORAÇÃO


SOBRE O ESPAÇO DO ESPAÇO DO ESPAÇO

Direciona a percepção Provoca o exercício da Permite o confronto


para uma determinada intuição, recuperando, entre o real e o que a
forma de exploração significando e dando percepção apreendeu,
do espaço sentido às percepções ampliando a intuição
já construídas

Figura 34 – Partindo da problematização do espaço e da forma. Fonte: elaborado pelos autores.

80 Pedagogia EAD
Espaço e forma

Direciona a percepção
para uma determinada
forma de exploração
do espaço

EXPLORAÇÃO PROBLEMATIZAÇÃO REPRESENTAÇÃO


DO ESPAÇO SOBRE O ESPAÇO DO ESPAÇO

Permite o reconhecimento Direciona a percepção Provoca o exercício da


livre do espaço para uma determinada intuição, recuperando,
através da percepção forma de exploração significando e dando

2
do espaço sentido às percepções
já construídas

Unidade
Figura 35 – Partindo da exploração do espaço e da forma. Fonte: elaborado pelos autores.

Re-significa

REPRESENTAÇÃO PROBLEMATIZAÇÃO EXPLORAÇÃO


DO ESPAÇO SOBRE O ESPAÇO DO ESPAÇO

Provoca o exercício da Direciona a percepção Permite o confronto


intuição, recuperando, para uma determinada entre o real e o que a
significando e dando forma de exploração percepção apreendeu,
sentido às percepções do espaço ampliando a intuição
já construídas

Figura 36 – Partindo da representação do espaço e da forma. Fonte: elaborado pelos autores.

UESC Módulo 5 I Volume 3 81


Metodologia do Ensino da Matemática

ATIVIDADES

ATIVIDADES

Vamos explorar algumas situações em sala de aula.


Exploração do espaço (localização, orientação, posição) a partir da
representação

Atividade 1: um cliente descreve a casa dos seus sonhos para um arquiteto


que a representa conforme a planta a seguir:

Figura 37 – Planta baixa da casa.

Essa planta representa a casa a ser construída. Problematize e


proponha aos alunos que explorem:

a) a casa desenhada pelo arquiteto pode ser diferente da casa


sonhada pelo cliente?

b) descreva a casa desenhada;

c) quantos quartos há na casa?

d) qual o maior e o menor cômodo da casa? Explique como


encontrou sua resposta;

e) Quantas portas e janelas há na casa?

82 Pedagogia EAD
Espaço e forma

Com esse exemplo, podemos levar o aluno a uma


experimentação pelo caminho da representação, partindo
da planta, ou seja, representação da casa, passando pela
problematização, chegando à exploração do espaço. A
exploração do espaço permite que o aluno tenha, cada vez
mais, compreensão sobre ele.

Atividade 2: podemos pedir ao aluno que descreva e


desenhe a planta da sua sala de aula. Esse exemplo parte da

2
percepção que o aluno tem da realidade conhecida. Acontece

Unidade
uma problematização em sua mente, buscando as formas
geométricas planas conhecidas para construir o desenho, ou
seja, a representação da sala.

Trabalho com formas ideais: montando e desmontando


caixas

Atividade 1: observe a figura a seguir. Professor, peça para lembrar!

a seus alunos que construam uma redação que trate das Professor, o contexto his-
tórico pode ser uma im-
figuras geométricas utilizadas pelos amigos na brincadeira. portante fonte de inspira-
ção, resgate informações
Socialize os textos e as informações. Discuta sobre os sólidos sobre os Sólidos Platôni-
geométricos (sólidos de revolução, pirâmides e prismas), cos.

detalhando suas características.

Figura 38 – Formas geométricas.

UESC Módulo 5 I Volume 3 83


Metodologia do Ensino da Matemática

Atividade 2: distribua a seus alunos a planificação de 2


sólidos geométricos. Peça-lhes que os dobrem, determinem
quais são os sólidos, desenhando-os em folhas de ofício,
utilizando os instrumentos do desenho geométrico
e escrevam um pequeno texto, descrevendo sobre as
características, a planificação e detalhes geométricos dos
sólidos recebidos. Cole as folhas em um painel e exponha na
sala de aula. Crie um momento de socialização e discussão
dos resultados com todos.

Jogos e recreações são Atividade 3: distribua a seus alunos do 1o ou 2o ano,


estratégias para o desen-
volvimento de ambientes organizados em grupo ou individualmente, vários sólidos
de aprendizagem que pro-
piciam a criatividade. Para
diferentes ou repetidos. Deixe que manuseiem, montem
saber mais consulte Flem- cenários, animais ou coisas e criem histórias. Em folha de
ming, Luz e Coelho (2012).
Não esqueça! Essas estra- ofício, peça que escrevam a história e ilustrem, desenhando,
tégias sozinhas não garan-
o que montaram. Socialize as histórias, expondo em um
tem a aprendizagem! Após
a brincadeira proponha ati- varal ou em um painel e peça que contem sua história ou
vidades que aproveitem as
aprendizagens e estimule falem de sua criação. Em um segundo momento, com toda
as duas dimensões da in-
a turma, discuta sobre os sólidos geométricos presentes nas
tuição, a percepção e o en-
tendimento. composições.

Atividade 4: em uma turma do 1o ao 4o ano, o professor


propõe o Jogo “Descubra quem sou eu?” Sobre a mesa estão
expostos diversos sólidos geométricos (conforme a figura).
Uma caixa contendo fichas com os comandos para serem
sorteados. O professor chama um aluno para sortear uma
ficha, faz a leitura em voz alta da ficha sorteada e, com o
auxílio de todos os coleguinhas, descobre qual sólido satisfaz
as exigências contidas na ficha. (Procure utilizar o maior
número de sólidos possíveis independentemente da série;
no entanto, suas exigências quanto ao conhecimento dos
estudantes devem ser adaptadas à cada série). Essa atividade
também poderá ser feita com figuras planas.

84 Pedagogia EAD
Espaço e forma

um conselho

Caro professor, faça essa


brincadeira anterior ape-
nas utilizando o sorteio
das cartas sem a presença
dos sólidos. Não esqueça
que esta nova forma mo-
difica a atividade por exi-
gir dos alunos um maior
domínio mental das infor-
mações sobre os sólidos.
Utilize essa modalidade
quando eles já apresenta-

2
rem uma boa relação com
Figura 39 - Sólidos geométricos.
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-7IEyWlbS0Pw/TkxoZ9JU5HI/AAAAAAAABd8/ os sólidos.

Unidade
zOzOxRGkKjY/s1600/s%C3%B3lidos+geom%C3%A9tricos+3.jpg

Formas planas: investigando seus contornos

Atividade 1: professor, com o auxílio de um Geoplano


Professor!
ou papel pontilhado represente os contornos das figuras O Geoplano é um recurso
geométricas conforme figura a seguir. Inicialmente, discuta que pode auxiliar o traba-
lho de Geometria desen-
com seus alunos sobre as formas e contornos apresentados. volvendo atividades com
figuras e formas geomé-
Investigue em quais dessas formas a simetria está presente. tricas planas, investigando
Trate sobre a relação da simetria e o equilíbrio nos corpos suas características e pro-
priedades (vértices, ares-
e nas coisas. Fale de pipas, aviões, pássaros, da estrutura tas, lados), ampliação e
redução de figuras, sime-
humana e etc. Peça ao seu estudante que escolha uma
tria, área e perímetro.
das formas expostas no Geoplano e construa uma pipa,
explicando sua construção.

Figura 40 - Geoplano.
Fonte: elaborado pelos autores.

UESC Módulo 5 I Volume 3 85


Metodologia do Ensino da Matemática

Atividades envolvendo arte e a questão estética

Atividade 1: professor, apresente a seus alunos a gravura


da borboleta. Discuta sobre a importância da simetria
no equilíbrio, harmonia e no belo presente nas formas da
natureza, como flores e animais. Peça aos estudantes que
pesquisem uma outra forma que também contenha simetria,
distribua folha de papel pontilhado e contas plásticas
em cores variadas para que eles possam construir suas
representações. Exponha em um painel as produções e crie
um momento de socialização.

Professor! Investigando
obras artísticas ou suas
representações incenti-
ve seu aluno perceber a
presença de princípios
geométricos em suas
construções ou conhecer
ideias matemáticas que
estão por trás da pintura,
escultura, tapetes, mosai-
cos etc.

Figura 41 - Gravura de Borboleta.


Fonte: elaborado pelos autores.

Atividade 2: professor, apresente aos alunos obras artísticas.


Peça a eles que discutam em duplas sobre as formas
geométricas planas presentes nelas. Que façam anotações
e descrevam suas características. Discuta com eles sobre as
formas geométricas encontradas. Por fim, proponha que,
individualmente, desenvolvam uma composição com as
formas geométricas discutidas. Exponha em um painel as
obras artísticas dos alunos.

86 Pedagogia EAD
Espaço e forma

2
Unidade
Figura 42 - Obras artísticas.

UESC Módulo 5 I Volume 3 87


Metodologia do Ensino da Matemática

RESUMINDO
RESUMINDO

Nesta unidade analisamos e discutimos situações-problema que


envolvem a utilização do pensamento geométrico. Desenhamos caminhos
metodológicos, visando estimular o desenvolvimento deste pensamento
a partir dos conceitos de intuição e representação e combinando os
três momentos de exploração do espaço vivido e experimentado pelo
estudante: exploração, problematização e representação.
Partimos a nossa discussão examinando o mundo de formas em
que vivemos e, assim, sugerimos ao professor que explore situações-
problema envolvendo a forma e a posição dos objetos, trabalhando com
números e medidas, bem como com as dimensões do raciocínio sobre o
espaço e a forma.

REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática. Brasília: Ministério da
Educação/Secretaria de Educação Fundamental, 1997.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática. Brasília: Ministério da
Educação/Secretaria de Educação Fundamental, 1998.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média


e Tecnológica. (PCN Ensino Médio: Orientações Educacionais
complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências
da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da
Educação, 2002.

CARVALHO, D. L. de. Metodologia do Ensino de Matemática. São


Paulo: Cortez, 2009.

FLEMMING, D. M.; LUZ, F. E.; COELHO, C. Desenvolvimento de

88 Pedagogia EAD
Espaço e forma

material didático para educação a distância no contexto da educação


matemática. Disponível nos textos da Biblioteca da Associação
Brasileira de Educação a Distância (ABED): www.abed.org.br/
congresso2000/texto12.doc, acesso em 12 fev. 2012.

FONSECA, M. da C. F. R.; et al. O ensino de Geometria na Escola


Fundamental: três questões para a formação do professor dos ciclos
iniciais. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

NACARATO, A. M.; MENGALI, B. L. S.; PASSOS, C. L. B. A

2
Matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: tecendo fios do

Unidade
ensinar e do aprender. 1. ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

NACARATO, A. M.; PASSOS, C. L. B. A Geometria nas séries iniciais:


Uma análise sob a perspectiva da prática pedagógica e da formação de
professores. São Carlos: EdUFSCar, 2003.

PASSOS, C. L. B.; ROMANATTO, M. C. A matemática na formação


de professores dos anos iniciais: aspectos teóricos e metodológicos. São
Carlos: EdUFSCar, 2010.

PIAGET, J. ; INHELDER, B. A representação do espaço pela criança.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

SMOLE, K. C. S.; DINIZ, M. I.; CÂNDIDO, P. T. Figuras e formas.


Porto Alegre: ArtMed, 2003.

SMOLE, K. C. S; DINIZ, M. I. Ler, escrever e resolver problemas:


habilidades básicas para aprender Matemática. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2001.

SMOLE, Kátia C. S. (Org.). Brincadeiras infantis nas aulas de


Matemática. Coleção Matemática de 0 a 6. Porto Alegre: Artes Médicas,
2000.

SMOLE, K. C. S.; DINIZ, M. I.; CÂNDIDO, P. O brincar e a


Matemática (vídeo/DVD). São Paulo, ATTA Mídia e Educação, 2000.

UESC Módulo 5 I Volume 3 89


Suas anotações

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unidade

TRATAMENTO
DA INFORMAÇÃO -
TABELAS E GRÁFICOS

OBJETIVOS

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

yy reconhecer a importância da Estatística no desenvolvimento do


pensamento científico do estudante;
yy conhecer as fases da investigação científica e o papel da
Estatística na observação e sistematização de fenômenos em
estudo;
yy construir procedimentos para coletar, organizar e comunicar
dados;
yy construir tabelas e gráficos de acordo com a natureza dos
dados.
Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

1 INTRODUÇÃO: VIVEMOS EM UM MUNDO DE


INFORMAÇÃO

A inserção do ensino de conceitos básicos de Estatística desde


os anos iniciais da Educação Básica, por meio do bloco Tratamento
da Informação, merece um destaque especial, uma vez que por sua
própria natureza, a Estatística possibilita trabalhar a Matemática com
as outras áreas do conhecimento (interdisciplinaridade) e com os Temas
Transversais (BRASIL, 1997), como sintetiza o Quadro 2.

Quadro 2 – Conteúdos conceituais e procedimentais de Probabilidade e Estatística (Tratamen-


to da Informação) para os primeiros anos do Ensino Fundamental

1º ciclo (1ª e 2ª série) / 2º ciclo (3ª e 4ª série) /


(2º e 3º ano) (4º e 5º ano)

3
Leitura e interpretação de dados
apresentados de maneira organi-
Leitura e interpretação de informa-

Unidade
zada (por meio de listas, tabelas,
ções contidas em imagens.
diagramas e gráficos), construção
dessas representações.

Coleta e organização de informa- Coleta, organização e descrição de


ções. dados.

Exploração da função do número


como código na organização de
informações (linhas de ônibus, te-
lefones, placas de carros, registros
Estatística

de identidades, roupas, calçados).

Interpretação de dados apresenta-


Interpretação e elaboração de lis-
dos por meio de tabelas e gráficos,
tas, tabelas simples, de dupla en-
para identificação de caracterís-
trada e gráficos de barra para co-
ticas previsíveis ou aleatórias de
municar a informação obtida.
acontecimentos.
Produção de textos escritos, a par-
Criação de registros pessoais para
tir da interpretação de gráficos e
comunicação das informações cole-
tabelas, construção de gráficos e
tadas. Produção de textos escritos
tabelas com base em informações
a partir da interpretação de gráfi-
contidas em textos jornalísticos,
cos e tabelas.
científicos ou outros.

Obtenção e interpretação da média


aritmética.

UESC Módulo 5 I Volume 3 93


Metodologia do Ensino da Matemática

• Exploração da ideia de probabi-


lidade em situações-problema
simples, identificando sucessos

Probabilidade
possíveis, sucessos seguros e
as situações de “sorte”. Utiliza-
ção de informações dadas para
avaliar probabilidades. Identi-
ficação das possíveis maneiras
de combinar elementos de uma
coleção e de contabilizá-las,
usando estratégias pessoais.

O pensamento estatístico amplia as formas de pensar, valorizando


o mundo das incertezas. Muitas vezes, o aluno, acostumado a um
pensamento determinístico, tende a aceitar como certa a previsão de um
resultado a partir da maior frequência de um evento. Por exemplo, ao
perceber que todos os seus colegas têm medo do escuro, conclue como
certeza que um novo colega terá também medo do escuro. O trabalho
com o pensamento estatístico auxiliará o aluno a perceber que sua previsão
não ocorrerá necessariamente.
Como a Estatística é parte do método científico, é natural
que o trabalho com a mesma parta de problemas de outras áreas do
conhecimento e das práticas sociais, viabilizando a interdisciplinaridade e
a inserção de temas transversais. Ao se trabalhar com projetos em sala de
aula, o professor pode partir do levantamento de temas vivenciados pelos
alunos, como, por exemplo, a observação do número de dias ensolarados,
o número de alunos que faltam as aulas durante um mês, o maior medo das
crianças, a germinação das sementes, dentre outros.
Nesse sentido, sugerimos que quando realizarem projetos escolares,
coletando dados, não se limitem a coletá-los, mas os realizem nos moldes
da pesquisa científica.

2 AS FASES DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

Na sala de aula, podemos ter duas situações em pequena escala:


reprodução do conhecimento científico (experimento da refração da luz, a

94 Pedagogia EAD
Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

germinação das sementes etc.) ou da tomada de decisões (investigar o medo


das crianças com fins pedagógicos).
Em ambos os casos, o arcabouço metodológico é o mesmo.
Conforme Cazorla e Santana (2010), as fases de uma investigação científica
podem ser descritas como segue:

2.1 Problematização da pesquisa

Nesta fase, a escolha do tema é crucial para contextualizar o problema


a ser investigado, possibilitar que este faça sentido para o aluno e propiciar
o desenvolvimento de uma postura investigativa, incentivando os alunos
à observação sistemática dos fenômenos que ocorrem ao seu redor, sejam
sociais, culturais ou da natureza, formulando perguntas de pesquisa.
A escolha do tema deve possibilitar um trabalho interdisciplinar,
envolvendo aspectos e conteúdos escolares de outras áreas de conhecimento
e da Estatística, utilizando seus conceitos e procedimentos que ajudam no

3
planejamento e execução da pesquisa.

Unidade
Esse tema também deve possibilitar a participação ativa dos alunos,
a postura ética, o respeito à opinião do outro, o uso racional dos recursos
ambientais etc.

2.2 Planejamento da pesquisa

Escolhido o tema e as perguntas de pesquisa, colocamos em pauta


a importância da definição da população a ser investigada, que pode ser
por censo (quando se investiga todos os elementos da população, ou por
amostragem (quando se investiga uma parte dela).
As perguntas de pesquisa, por sua vez, precisam da escolha
adequada das variáveis (características da população) que permitirão
sua operacionalização, sendo crucial uma definição clara e precisa dessas
variáveis, bem como sua caracterização, o que determina o tipo de tratamento
estatístico a ser utilizado.
Após essa etapa, podemos elaborar os instrumentos de coleta de
dados, já pensando em responder as perguntas de pesquisa que norteiam o

UESC Módulo 5 I Volume 3 95


Metodologia do Ensino da Matemática

levantamento de dados.

2.3 Execução da pesquisa

Uma vez definida a população a ser investigada e o instrumento para


coleta dos dados, o próximo passo é coletar os dados. Nesta etapa, é preciso
uniformizar os procedimentos a fim de que todos os alunos façam a coleta
da mesma forma.
Uma vez coletados os dados, iniciamos o seu tratamento. Nesta fase,
aproveitamos para apresentar os diversos conceitos e procedimentos que
nos ajudam a organizar os dados e extrair as informações mais relevantes.
Isto implica discutir como escolher o procedimento mais adequado para
analisar as variáveis envolvidas.
A interpretação e a comunicação de resultados não se restringem a
repetir as informações já contidas nas próprias medidas, mas busca incentivar
a retomada das perguntas de pesquisa que nortearam o levantamento de
dados, fechando, assim, o ciclo da investigação científica, como descrevemos
na Figura 43.
Problematização

Contextualização da
da pesquisa

situação problema

Formulação de
questões de pesquisa

Definição da popula- Identificação e caracte-


ção a ser investigada rização das variáveis

Elaboração dos
Amostra Censo
Planejamento
da pesquisa

instrumentos

Planejamento amostral

Planejamento da Planejamento do
coleta dos dados tratamento dos dados
da pesquisa
Execução

Análise e interpreta- Comunicação


Coleta dos dados Tratamento dos dados
ção dos resultados dos resultados

Figura 43 - As fases da pesquisa científica. Fonte: Cazorla e Santana (2010, p. 15).

96 Pedagogia EAD
Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Cazorla e Utsumi (2010) defendem que os alunos devam ter uma


participação ativa no processo de construção de seus conhecimentos,
ajudando escolher o tema, as perguntas de pesquisa e as variáveis envolvidas;
coletando dados, que podem ser dos próprios alunos, de suas famílias,
ou que eles “tomaram conta”; assumindo vários papéis: informando ou
indagando dados, “medindo” ou “sendo medidos”; semeando e regando
as sementes; tratando e analisando os dados, ora de forma individual, ora
em grupos ou com a turma; interpretando e comunicando resultados,
defendendo suas ideias perante a classe, desenvolvendo a capacidade de
arguição, aprendendo a ouvir as críticas de seus colegas e, o que é mais
importante, aprendendo a respeitar a opinião do outro, dentre outros
papéis.

3 PROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA

3
Todo o trabalho parte da identificação do problema e, então,

Unidade
são levantadas questões a serem respondidas para solução do mesmo,
identificando os fatores envolvidos. Aqui vamos nos inspirar no trabalho
de Cazorla et al (2011).
Devemos lembrar que as crianças, por meio de suas observações,
buscam entender o mundo que as rodeia, levantando perguntas do tipo:
por que o céu é azul? Quando vai ser amanhã? Rosa é cor de menina?
Menino é mais forte que menina? As meninas sentem medos diferentes
dos meninos? O Brasil vai ser campeão da Copa do Mundo de 2014?
Por meio de sua curiosidade, a criança é levada a questionar,
investigar e descobrir coisas novas. A criança age de forma similar à
investigação científica ao levantar questionamentos a partir de suas
observações. Cabe a nós, professores da escola, aproveitar a curiosidade
infantil como um primeiro elemento na condução de uma pesquisa
estatística, a qual pode ajudar na compreensão de aspectos do mundo
que a cerca. Aguçar a identificação das dúvidas tem, portanto, um papel
fundamental no desenvolvimento do pensamento estatístico das crianças.
Uma investigação estatística parte da observação dos fenômenos

UESC Módulo 5 I Volume 3 97


Metodologia do Ensino da Matemática

e a identificação de um problema. Portanto este é o primeiro


elemento a ser construído numa pesquisa. É a partir dele que
identificamos as perguntas que queremos responder. Assim,
o problema, também chamado de questão de pesquisa, é o
motivo pelo qual resolvemos fazer uma investigação, é o
ponto inicial e motivador.
O problema, do ponto de vista formal, é um
enunciado e, do ponto de vista semântico, uma dificuldade
ainda não resolvida, uma pergunta ainda não respondida.
Ser ou não respondida precisa ser considerada em relação
ao contexto da investigação. O fato de uma questão já ter
resposta científica não implica em sua inviabilidade de uso
em sala de aula. Essas investigações são feitas para que o
aluno observe ou reconstrua o conhecimento, ou parte dele,
Fenômenos a partir de experimentos ou de observação dos fenômenos.
Por exemplo, o fenômeno da refração da luz, o arco-
Entendemos por fenô-
menos todos os aconteci- íris, é um fenômeno natural que pode ser observado na
mentos observáveis, algo
que pode ser visto. Estes
natureza, num dia de sol, após uma chuva ou reproduzido
podem ser observados (de forma experimental), utilizando o prisma de Newton
em condições naturais ou
experimentais. Os expe- ou, ainda, direcionando um jato de água contra o Sol.
rimentos são réplicas dos
fenômenos naturais, em
condições controladas pelo
experimentador.

98 Pedagogia EAD
Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Um outro exemplo, bastante intuitivo, é a queda dos


corpos, como conta a lenda da maçã que caiu na cabeça de
Isaac Newton. Observar a queda das maçãs (cocos, jenipapo
ou qualquer outra fruta da região) diretamente na natureza
levaria muito tempo e poderia ser inviável. Contudo isso não
é um problema, pois podemos reproduzir este fenômeno
em condições experimentais, controlando os fatores que
interferem na queda dos corpos, como, por exemplo,
tamanho, formato, peso (massa) etc.
Estes são dois exemplos de fenômenos
determinísticos, pois há uma garantia de certeza do arco-
íris ter sempre sete cores numa mesma ordem, assim como
podemos afirmar que todos os corpos ao serem soltos cairão.
Esses fenômenos são denominados de determinísticos, pois
conhecemos os resultados a priori.
Contudo existem fenômenos que não são
determinísticos, pois não sabemos qual será o resultado

3
de sua realização. Um exemplo é a germinação de uma

Unidade
semente, que pode ou não germinar e só saberemos após
plantá-la. Outro exemplo é o clima de nossa cidade no dia
seguinte, esse pode ser ensolarado, nublado ou chuvoso.
Dependendo da região e da estação do ano, a chance de haver Chance

uma mudança de clima de um dia para o outro pode ser alta


é a possibilidade de ocor-
ou muito pequena. Por exemplo, no verão, no período do rer um evento, probabi-
lidade é a medida dessa
fenômeno “El niño”, a chance de chuva em São Paulo será possibilidade.

altíssima; já no sertão nordestino, será pequeníssima. Aliás,


este é um tema interessante para ser trabalhado na sala de
aula, pois desenvolve a capacidade de prever o resultado de
eventos aleatórios.
Esses fenômenos são denominados de aleatórios
e alguns deles podem ser replicados via experimentação.
No caso da germinação das sementes, ao invés de esperar
as sementes caírem na natureza, podemos reproduzir o
fenômeno em sala de aula. Neste caso, plantamos as sementes
em vasos e, se quisermos ainda, podemos controlar fatores

UESC Módulo 5 I Volume 3 99


Metodologia do Ensino da Matemática

que interferem no resultado, tais com: luz (com ou sem luz),


a adubação (com ou sem adubo), a irrigação (controlando a
quantidade de água por dia), dentre outras possibilidades.
um conselho
Em geral, utilizamos os experimentos para conhecer
Professor, aproveite este
momento para realizar melhor os fenômenos e, muitas vezes, para controlá-los,
pesquisas com as crian-
ças de projetos como o
otimizando os seus resultados. Por exemplo, em condições
TAMAR que visa salvar as naturais, a chance de uma semente germinar pode ser muito
tartarugas marinhas, cui-
dando e controlando os baixa, pois pode cair em um terreno infértil, os animais
locais de reprodução, vi-
sando o aumento da taxa
podem comê-la, pode não chover e morrer por falta de água
de sobrevida das tartaru- etc. Já em uma situação experimental essa chance poderá ser
gas.
bastante alta.
No caso do clima, será impossível recriá-lo de forma
experimental. O máximo que podemos fazer é estudar seu
comportamento ao longo do tempo, bem como utilizar
aparelhos cada vez mais sofisticados para a compreensão
deste fenômeno. No Quadro 3, apresentamos exemplos
de fenômenos determinísticos e aleatórios e formas de
investigações naturais e experimentais.

Quadro 3 - Os tipos de fenômenos e as formas de investigá-los

FORMA DE INVESTIGAÇÃO
FENÔMENO/
TIPO
QUESTÃO OBSERVAÇÃO
EXPERIMENTAÇÃO
NATURAL

Observar a formação
Refração da
do arco-íris utilizando
luz: o arco-íris Observar o
diferentes instrumentos
Determi- tem sempre as arco-íris em
como o prisma de
nístico mesmas cores diferentes dias,
Newton e um jato
na mesma locais etc.
de água em um dia
ordem?
ensolarado.

Observar
Germinação de se todas as Plantar sementes em
sementes: todas sementes diferentes vasos e
Aleatório
as sementes que caem de verificar se todas elas
germinam? uma árvore germinam.
germinam.

100 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Outro aspecto ligado aos fenômenos é sua qualidade de observável.


Os fenômenos provenientes das ciências exatas, naturais e biológicas, em
geral, são de natureza observável e envolvem grandezas que podem ser
medidas sem muitas controvérsias.
Por exemplo, a quantidade de sementes que germinam pode ser
contada. A altura de uma criança, o espectro da luz, a intensidade de um
terremoto podem ser medidos, mas precisam de instrumentos. Em geral,
os instrumentos de medida e as unidade são padronizados e respeitam
convenções internacionais.
Ao contrário, os fenômenos ligados às ciências humanas não são
diretamente observáveis, são inferidos pela manifestação das pessoas
envolvidas, como por exemplo, o medo que uma pessoa sente, a capacidade
de memória, o conhecimento aprendido, o gosto pela Matemática, dentre
outros. Alguns pesquisadores denominam essas situações de pseudo
fenômenos, no entanto, para os autores deste material, essas situações
serão também chamadas de fenômenos.
Nestes casos, enfrentamos dois problemas cruciais: como definir

3
e como medir o fenômeno em estudo. Por exemplo: o que é “medo” e

Unidade
como medi-lo? Para os adultos pode ser uma coisa, já para as crianças,
outra. Para saber do que as crianças têm mais medo é preciso decidir
a partir do quê será inferido os medos delas. Não podemos criar
situações experimentais, por exemplo, situações que levassem as mesmas
a sentirem medos, pois seríamos antiéticos. Neste caso, podemos
perguntar diretamente à criança do que ela tem mais medo ou mostrar
um rol de situações e pedir que ela marque de qual tem mais medo; ou,
ainda, perguntar ao pai do que seu filho(a) tem mais medo.
Já para investigar quem tem mais memória, as crianças ou os
adultos, podemos criar uma situação experimental, a partir de uma
investigação interessante e fácil de ser realizada pelas próprias crianças.
Esse é o caso, por exemplo, de “medir” a memória das pessoas por meio
do “Jogo da Memória”.
No momento, interessa-nos apenas levantar problemas possíveis
de serem investigados na sala de aula. Esses problemas poderiam ser:
• Qual é a fruta favorita das crianças?
• Do que as crianças têm mais medo?

UESC Módulo 5 I Volume 3 101


Metodologia do Ensino da Matemática

• Será que os adultos têm melhor memória do que


as crianças?
• Todas as sementes germinam quando plantadas?
• Os meninos são sempre mais altos do que as
meninas?

É natural que toda criança tenha uma resposta para


cada um dos problemas que foram levantados. Umas acham
que os meninos sempre são mais altos enquanto outros
acham o contrário. Essas respostas das crianças podem ser
aproveitadas pelos professores para estimular a explicitação
de suas afirmações. Essas, acompanhadas de uma explicação,
Hipótese
são denominadas de hipóteses.
é uma afirmativa elaborada As hipóteses, quando testadas, transformam-se
e que será colocada à pro-
va, de maneira que poderá nas conclusões da pesquisa. Nesse sentido, a geração de
ser rejeitada ou não. Nas
hipóteses com os alunos é uma etapa fundamental para a
pesquisas exploratórias, as
hipóteses podem tornar- Educação Estatística. A criança pode afirmar que os meninos
se perguntas de pesquisa.
Essas questões, pela sua são mais altos que as meninas, por observar que os homens
especificidade, devem dar
adultos são mais altos do que as mulheres adultas. Isso é
testemunho do trabalho
conceitual efetuado pelo uma hipótese, porque ela afirma e justifica a afirmação.
pesquisador e, pela sua
clareza, permitir uma res-
Entretanto, a hipótese pode não ser verdadeira e é por isso
posta interpretável. que se realiza a pesquisa.
Observamos que existem pesquisas de cunho
descritivo ou exploratório, as quais não partem de hipóteses.
O mesmo exemplo dos medos das crianças pode ser um
estudo exploratório se o objetivo for fazer um mapeamento
dos principais medos dos alunos. Neste caso, não faz
sentido levantar que certos medos são mais frequentes do
que outros, pois é justamente isso que ele quer saber.
A hipótese, em geral, relaciona pelo menos duas
variáveis. No exemplo da altura dos meninos, relacionamos
gênero, altura e idade. A altura é chamada de variável
dependente, pois é ela que sofre a interferência das
variáveis gênero e idade, sendo que estas duas últimas são
denominadas de variáveis independentes por serem os

102 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

fatores que modificam a variável dependente.


O diagrama a seguir apresenta uma síntese das variáveis envolvidas
nessa hipótese:

Gênero

Altura

Idade

Variáveis independentes Variável dependente

3.1 Questões didáticas da escolha do problema

A escolha do problema ou da questão a ser investigada pode ser


uma proposição do professor, de um aluno ou de um grupo de alunos.
O que importa é que todos estejam motivados em pesquisar sobre o
mesmo. Um trabalho de pesquisa em sala de aula pode ser realizado em

3
uma aula ou em várias, perpassando todo um bimestre letivo. Para que os

Unidade
alunos não desistam da pesquisa no meio do caminho é fundamental que
o problema seja, de fato, interessante e desafiador para todos.
Quando falamos “desafiador”, estamos enfatizando que o
professor precisa refletir se a pesquisa que será realizada permitirá a
produção de um conhecimento novo para esses alunos, para o qual eles
devem estar efetivamente interessados em saber.
Uma pesquisa científica requer a produção de um conhecimento
novo; mas, na escola, também é realizada a replicação de uma pesquisa, a
qual vai permitir que os alunos compreendam um determinado fenômeno
e suas variações. Na construção do conhecimento é preciso que a criança,
por meio de suas ações, construa, mesmo que apenas em parte, esse
conhecimento. Só dessa maneira ela se apropria dele.
É importante ressaltar que, algumas vezes, confunde-se pesquisa
com estudo. Entretanto, a diferença entre os dois está exatamente na
produção de um conhecimento e não na apropriação por alguém de
um conhecimento já produzido. Uma pessoa que não conheça a teoria
de Piaget poderá estudá-la por meio de seus livros ou de autores que
escrevem sobre ela para aprender sobre a teoria. Entretanto, para saber

UESC Módulo 5 I Volume 3 103


Metodologia do Ensino da Matemática

se um aspecto da teoria de Piaget é válido, essa pessoa terá


que elaborar uma pesquisa para confirmar ou não o que
atenção
Piaget está argumentando. Da mesma forma, um aluno
Questionar sobre a ade-
pode não saber sobre o comportamento da germinação de
quação de uma pesqui- uma semente e estudar nos livros sobre isso, ou planejar um
sa à faixa etária dos
nossos alunos é um fator experimento que lhe permita compreender esse fenômeno.
determinante para o inte-
Ao escolhermos o problema, precisamos, também,
resse e sucesso da mes-
ma. considerar o tempo que temos para solucioná-lo. Se um
professor, por exemplo, quiser implementar o experimento
da germinação das sementes, bastará organizar a classe de tal
forma que todos os alunos plantem as sementes e, após um
dia ou dois, proceder à contagem daquelas que germinaram.
Mas se esse professor quiser, também, acompanhar o
crescimento das plantinhas, então isso levará mais tempo e
envolverá outros procedimentos.
Dessa forma, desde o início, é preciso saber quanto
tempo se tem para a realização da pesquisa, bem como a
adequação das tarefas à idade e aos conhecimentos prévios
das crianças sobre o tema a ser investigado.

4 DE ONDE SE OBTÊM OS DADOS?

Na seção anterior, refletimos sobre a definição do


problema de uma pesquisa, o levantamento de hipóteses
e as questões de pesquisa. Agora é preciso determinar a
população que será investigada.
Ao se questionar do que as crianças têm mais medo,
primeiro devemos definir o que entendemos por “crianças”.
Podemos definir “crianças” pelo critério idade, por exemplo,
“todas as pessoas de 6 a 11 anos” (ou qualquer outra faixa
etária similar). Também podemos definir “crianças” como
“todos os alunos matriculados do 1º ao 5º ano do Ensino
Fundamental”.
Analisemos cada uma dessas definições. A primeira

104 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

leva em consideração um critério bastante claro, a idade,


contudo, sua operacionalização será muito trabalhosa, pois
implica investigar as crianças nos diversos ambientes em que
elas se encontram (residências, escolas etc.). Já a segunda
definição é muito mais simples de ser investigada, pois as
crianças estão nas escolas. Todavia, devemos lembrar que
esta definição se refere a um subconjunto da população de
crianças; pois, a depender do local ou país, muitas crianças,
em geral, as mais pobres, ainda se encontram fora da escola,
portanto o estudo poderá estar refletindo apenas os medos
das crianças que frequentam as escolas e não o medo
das crianças. Além disso, esta definição inclui os alunos
matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA), cuja
faixa etária envolve pessoas com 16 anos ou mais. Assim,
precisaríamos explicitar melhor esta definição, por exemplo,
“todos os alunos matriculados do 1º ao 5º ano do Ensino
Fundamental Regular”.

3
Além disso, podemos pensar em todas as crianças do

Unidade
mundo, nas crianças brasileiras, nas crianças de nossa cidade,
nas crianças de nossa escola ou, ainda, nas crianças de nossa
sala de aula. Isto é, precisamos definir a abrangência em
termos espaciais de nossa investigação. Também devemos
ter em mente o tempo, pois as crianças de 2010 podem
não ser as mesmas de 2011, por exemplo. Assim, é preciso
definir também a abrangência temporal.
População
Cada um desses grupos se constitui em um tipo
de população. Assim, temos diferentes populações para em Estatística, é o conjun-
to de elementos (unidades
responder a uma mesma questão de pesquisa, o que muda é populacionais), objetos da

a abrangência espacial e temporal da investigação. pesquisa, que tem pelo


menos uma característica
Além de definir a população, devemos definir em comum, que define,
claramente, se um ele-
também como vamos obter a informação, isto é, quem mento pertence ou não a
serão os sujeitos de pesquisa: podem ser as próprias crianças população.
Unidade populacional:
falando de seus medos ou o responsável pela criança falando é de onde obtemos os da-
dos. Pode ser uma pessoa,
dos medos dela. Tudo vai depender do objetivo da pesquisa. animal ou coisa, pode ser
Se investigarmos os medos a partir do depoimento individual ou coletivo (pes-
soa, família, a classe).

UESC Módulo 5 I Volume 3 105


Metodologia do Ensino da Matemática

das próprias crianças então estaremos respondendo a questão


“quais são os maiores medos das crianças?”. Se investigarmos
esses medos a partir do depoimento do responsável pela
criança, então estaremos respondendo a questão “quais são
atenção os maiores medos das crianças a partir da opinião de seus
Assim, a definição dos responsáveis?”. Obviamente, são duas pesquisas diferentes,
sujeitos da pesquisa é
fundamental para que a
pois os adultos sentem outros medos que as crianças ainda
investigação atinja o ob- podem nem conhecer, portanto esses resultados poderão
jetivo desejado.
nos dar uma visão não fidedigna do medo das crianças.
Da mesma forma, no caso da pesquisa sobre a
germinação de sementes, não é possível que cada aluno traga
um tipo de semente; pois, nesse caso, a germinação também
dependerá do tipo de semente utilizado. Assim, a semente
precisa ser de uma variedade de planta e de preferência de
uma mesma procedência, a fim de evitar que fatores alheios
interfiram na germinação delas.
Uma outra questão que devemos chamar a atenção
é que a Estatística é a ciência do significado e uso dos dados.
Sua grande missão é a compreensão dos fenômenos a partir
da análise dos dados, desvendando os padrões subjacentes
deles. Portanto, precisa-se de uma quantidade de dados
que possa representar o comportamento do fenômeno em
estudo.
Por exemplo, não podemos inferir o comportamento
da germinação das sementes a partir da observação de apenas
uma ou duas sementes. É preciso ter uma quantidade maior.
Entretanto, é preciso cuidado para que uma quantidade
muito grande não deixe as crianças perdidas entre os dados.
Em geral, sugere-se que, para conduzir uma pesquisa em
sala de aula, cada aluno seja responsável por uma quantidade
pequena e fixa de sementes e que os dados de todos os
alunos formem o conjunto necessário à pesquisa estatística.

106 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

4.1 Censo ou amostra

Censo: quando investiga-


Além da delimitação da população, é preciso definir mos todos os elementos
da população.
se coletamos os dados com todos os sujeitos que compõem a Amostra: quando investi-
população (censo) ou escolhemos uma parte representativa gamos uma parte da po-
pulação.
da população (amostra). Amostragem: métodos e
processos para coletar a
No caso da pesquisa sobre o medo das crianças,
amostra.
podemos escolher pesquisar o medo das crianças de nossa
sala de aula. Neste caso, a realização do censo é viável, mas
a abrangência dos resultados é limitada àquela turma, pois
trata-se de um estudo de caso.
No entanto, podemos querer investigar o medo
de todas as crianças da escola. Se a escola for de pequeno
porte, ainda podemos pensar em realizar um censo; mas, se
a escola for maior, o censo pode se tornar inviável ou muito
trabalhoso. Neste caso, é mais viável utilizar uma amostra
dos alunos da escola.

3
Contudo, definir a amostra não é tão simples, ela

Unidade
precisa levar em consideração as hipóteses. Se o gênero, por
exemplo, for importante, não adianta ter uma amostra só de
meninas. Da mesma forma, se a idade for importante, não
adianta selecionar só crianças de seis anos ou só as de onze
anos. Por essa razão, a seleção da amostra deverá levar em
consideração as características essenciais da população.
Agora devemos responder as seguintes perguntas:
• Quantos alunos devemos entrevistar? Isto é,
definir o tamanho da amostra.
leitura recomendada
• Como vamos selecionar a amostra? Sugerimos ler a disserta-

• Como levar em consideração as duas variáveis: ção de mestrado de Sou-


za (2007), que organizou
gênero e idade? uma pesquisa com seus 17
alunos da Educação Infan-
til, de 5 e 6 anos. As crian-
ças entrevistaram todos os
Por uma questão de viabilidade, decidimos que cada
colegas da escola e o pes-
aluno deve entrevistar dois colegas. Como temos 30 alunos, quisador, além de relatar
todas as fases da pesqui-
então o tamanho da amostra será de 60. sa, relata, também, as di-

Professor, observe que a ideia é apenas discutir as ficuldades encontradas no


processo.

UESC Módulo 5 I Volume 3 107


Metodologia do Ensino da Matemática

diversas formas de selecionar a amostra, refletindo junto com as crianças


o que pode acontecer com um ou outro procedimento; ou, pelo menos,
fazer ver a elas que há diferentes formas de selecionar as amostras. Essa
discussão é fundamental; pois, de um lado, não podemos deixar que
os alunos acreditem que qualquer amostra serve para generalizar os
resultados para toda a população e, de outro, é esse tipo de indagação
que ajuda a desenvolver o pensamento estatístico.

4.2 A fonte de dados

A fonte dos dados é composta pelos sujeitos da pesquisa ou


elementos da população que fornecem os dados, que pode ser uma
pessoa, como no caso da pesquisa sobre o medo; a semente, no caso da
pesquisa da germinação etc.
Observamos que, dependendo da pesquisa, a fonte de dados pode
ser o próprio aluno, seus colegas, os professores, a semente, os livros da
biblioteca, as pedras do pátio, a conta de água etc.

• Fonte primária. Quando coletamos os dados diretamente da fonte


são denominados de dados primários. Por exemplo, na pesquisa
sobre o medo, os dados obtidos a partir das respostas dos alunos ou
de seus responsáveis são dados primários, o mesmo ocorre quando
registramos os dados da observação da germinação das sementes.

• Fonte secundária. Quando os dados foram coletados por outras


pessoas e nós trabalhamos em cima deles, são denominados de dados
secundários. Por exemplo, se quisermos investigar o padrão do
consumo de água ou energia elétrica das famílias de nossos alunos, a
fonte de dados será a conta de água ou de energia.

Vejamos um exemplo. Suponhamos que queremos investigar qual


é o desempenho de um estudante em Matemática. Podemos aplicar uma
prova e dar uma nota. Essa prova é uma fonte primária. Mas também

108 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

podemos recorrer ao boletim, às atas finais da escola e fazer esse


levantamento a partir desses dados. Assim, o aluno é a fonte primária,
o boletim e a ata são fontes secundárias. Observe que o boletim ou a
caderneta de notas da sala contém as notas de todos os alunos nos quatro
bimestres em todas as disciplinas, estas fontes de dados são secundárias.

Aluno Boletim do aluno Ata das notas


Prova (individual) (da classe)
Nota do aluno Nota do aluno

Fonte primária Fonte secundária Fonte secundária

4.3 O que é coletar os dados?

Após a definição dos sujeitos e a definição da fonte de dados,

3
é preciso decidir como os dados serão coletados, ou seja, buscar as

Unidade
informações que respondam à questão da pesquisa, que são denominadas
de variáveis. Essa é uma oportunidade de solicitar que a turma levante
ideias de como a coleta pode ser realizada.
No caso da pesquisa sobre o medo das crianças, como dissemos
anteriormente, precisamos definir a partir do que será inferido que a
criança tem mais medo. Partindo do pressuposto que vamos coletar os
dados das próprias crianças, a pergunta agora é: como vamos coletar esses
dados? Isto é, qual será o procedimento para coletar os dados:
Analisemos alguns procedimentos, elencando suas vantagens e
desvantagens:
a) Realizar uma entrevista, os alunos da nossa turma fazem as
perguntas e anotam os dados.
b) Aplicar um questionário de autopreenchimento, isto é, o
próprio aluno registra sua opinião.
c) Solicitar à criança que faça um desenho, como fez, por exemplo,
a professora Roberta Buehring (2006) com seus alunos de 2º
ano. Esta pesquisadora optou por este procedimento, pois
seus alunos ainda não estavam completamente alfabetizados

UESC Módulo 5 I Volume 3 109


Metodologia do Ensino da Matemática

para registrar de forma escrita seus sentimentos.


d) Chamar aluno por aluno, solicitar que eles digam
em voz alta qual é seu maior medo e vamos
anotando no quadro. Este procedimento pode
induzir as crianças a imitar os colegas, ou algumas,
por constrangimento, não manifestarem sua
opinião.
e) Fazer uma lista dos medos no quadro, perguntar
aos alunos se existe algum outro tipo de medo para
ser listado e depois solicitar a eles que levantem
a mão à medida que vamos fazendo a leitura
dos tipos de medos. Este tipo de procedimento
também pode induzir as crianças a optarem por
um tipo de medo que a maioria opta.
Esses questionários, desenhos, áudio, filmes ou
outras formas de registro dos dados são denominados de
instrumentos, que coletam os dados das variáveis que vamos
estudar.

4.4 Variáveis, seus tipos e sua


operacionalização

A todo momento, estamos falando de variáveis


e esse é um conceito chave na Estatística. Por essa razão,
Variável, em Estatística,
é uma característica da vamos nos deter um pouco na sua definição, características
população que assume
e a forma como vamos coletá-las.
diferentes valores ou ca-
tegorias. Vejamos alguns exemplos. Na pesquisa sobre o
medo, a população é formada pelos alunos de nossa classe.
Então, nossos sujeitos da pesquisa são os nossos alunos.
Que características importantes dos sujeitos vamos coletar
para poder responder nossa questão de pesquisa? Neste
exemplo, a idade, o gênero e o medo.
Mas, se estivéssemos investigando o desenvolvimento
físico dessas crianças, as variáveis seriam: idade, sexo, altura,

110 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

peso etc. Ou, se estivéssemos investigando o desempenho escolar, as


variáveis seriam: notas nas disciplinas, disciplina favorita etc. Ainda
podemos ter outras variáveis a depender do tema de investigação.

Gênero: Feminino, Masculino.


Idade: 9, 10, 11, 12 (anos completos).
Medo: barata, mula sem cabeça, ...
...

Altura (em centímetros, de 120 a 160, por exemplo).


Peso (em quilogramas, de 30 a 60, por exemplo).
Perímetro cefálico (em centímetros, de 30 a 45, por
exemplo)...
Sujeito
...
(pessoa)
Nota em Matemática (escala de zero a dez).
Nota em Português, Nota em Matemática, ...
Disciplina favorita (Matemática, Português, ...).
...

Número de irmãos (0, 1, 2,...).

3
Número de letras de seu nome (2, 3, ...).

Unidade
...

Vejamos outros exemplos:

Germina: sim ou não.


O tempo é uma variável que não é da semente, mas que
objeto
interfere na ocorrência da germinação, pois algumas
(semente)
sementes demoram mais do que outras para germinar,
assim esta variável deve ser coletada.

Coleção de
objetos
(várias 7 sementes germinaram das 10 plantadas.
sementes) Nº de sementes que germinaram (0, 1, 2, ...).

UESC Módulo 5 I Volume 3 111


Metodologia do Ensino da Matemática

Número de pessoas da família que moram com o aluno.


Quantidade de metros cúbicos de água que consomem
Coleção de
por mês.
objetos
Renda familiar (em reais R$).
(família do
Classe social (Baixa, Média, Alta).
aluno)
Religião predominante (Católica, Evangélica, ...).
...

a) Tipos de variáveis
As variáveis se classificam em qualitativas e quantitativas (Figura
32). Uma variável qualitativa é aquela cujos resultados se enquadram
em categorias. Se as categorias assumem algum tipo de ordenação, elas
são denominadas de ordinais, por exemplo, classe social (Baixa, Média
e Alta), gosto pela Matemática (Pouco, Regular e Muito) e, assim por
diante. Caso contrário, são denominadas de nominais, como, por
exemplo, gênero, tipos de medo, entre outros.
Uma variável quantitativa (também denominada de numérica) é
aquela cujos resultados assumem valores numéricos. Se essa for passível
de contagem, é chamada de discreta, como, por exemplo, número de
irmãos ou número de sementes que germinam. Se a variável é resultante de
mensuração, tomando qualquer valor, então são chamadas de contínuas,
como, por exemplo: peso (kg), altura dos alunos (cm), renda familiar
(R$), entre outras.

Variáveis

Qualitativa (categorias) Quantitativa (números)

Nominal (não Ordinal (existe Contínua (resul-


Discreta (resulta-
existe ordem nas ordem nas cate- tado de mensu-
do de contagem)
categorias) gorias) ração)

Nº de irmãos
Classe social (Baixa,
Gênero (F, M) Nº de letras do
Média, Alta) Tempo que gasta
Germina (Sim, Não) nome
Gosto pela para completar o
Cor favorita (Azul, Nº de sementes
Matemática (Pouco, jogo da memória
Verde, Amarelo,..) que germinam
Regular, Muito) Altura
Tipo de medo Nº de alunos que
Intensidade do Peso (massa)
(Barata, Mula sem faltaram à aula
medo (Pouco, Mais Renda familiar
cabeça,...) durante o mês de
ou menos, Muito)
abril
Figura 44. Classificação das variáveis estatísticas de acordo com sua natureza.

112 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

b) Operacionalização das variáveis


Além de aprendermos a reconhecer os tipos de variáveis, é
importante saber que elas podem ser coletadas (operacionalizadas) de
diferentes maneiras.

Como coletar uma variável qualitativa?


Quando as categorias das variáveis já estão definidas a priori,
como por exemplo, gênero (masculino, feminino), classe social (Baixa,
Média, Alta), a coleta de dados é simples.
Já, quando a variável não possui naturalmente as categorias
predefinidas, sua coleta se torna mais complexa e é preciso trabalhar a
“classificação” da variável, que pode ser a priori ou a posteriori. Vejamos
um exemplo com a pesquisa sobre o medo.

a) Pergunta aberta. Neste caso, formulamos a pergunta de tal


maneira que damos completa liberdade ao respondente para
expressar seu sentimento:

3
“Do que você tem mais medo?” ________________________

Unidade
Consequentemente, podemos ter qualquer tipo de resposta,
inclusive respostas que não têm nada a ver com a pergunta, ou,
o que é pior, vir em branco. Contudo, podemos ter respostas
mais fidedignas, isto é, mais próximas do sentimento dos
alunos.
Este tipo de coleta de dado vai implicar em criar categorias
a posteriori, isto é, a partir das respostas dos alunos, criamos
as categorias. Observamos que, quando estamos fazendo
pesquisa científica, a categorização, em geral, é realizada a
partir do arcabouço teórico que dá suporte à investigação.
b) Pergunta fechada. Neste caso, formulamos a pergunta e
damos opções para o aluno responder, isto é, o respondente
não tem tanta liberdade, mas podemos deixar a opção para ele
ampliar o leque de opções. Entretanto, como somos nós os que
criamos as categorias, podemos estar induzindo as respostas
ou distorcendo completamente a natureza da pesquisa:

UESC Módulo 5 I Volume 3 113


Metodologia do Ensino da Matemática

i) Exemplo de pergunta com uma única escolha (categorias


mutuamente excludentes):
Marque com X a alternativa que você considera lhe dá mais
medo:
( ) animais (cachorros, jacarés, insetos,...)
( ) fantasmas, espíritos, alma penada, ...
( ) altura, escuro, não saber as respostas, falar em público,..
( ) pessoas más, bandido, o homem do saco, ...
( ) outro, explique: _______________________________
ii) Exemplo de pergunta com múltipla escolha (categorias
complementares). Por exemplo, suponhamos que estamos
fazendo uma pesquisa com os professores da escola para
identificar os seus principais problemas:
Na sua opinião, quais são os maiores problemas que impedem
sua escola de atingir as metas traçadas pelo governo em relação
ao IDEB?
( ) baixos salários dos professores
( ) professores com formação inadequada para o ensino
( ) a omissão dos pais dos alunos no processo educativo
( ) a política educacional
( ) a infraestrutura da escola
( ) outro, explicite: _______________________________
Neste caso, o respondente pode marcar com X todas aquelas
alternativas que ele acredita serem os maiores problemas,
que pode ser uma, duas, até todas. Com este tipo de opção,
corremos o risco de não podermos discriminar quais são os
maiores problemas.
Uma forma de evitar isso é solicitar ao respondente que, de
todas as alternativas, escolha apenas três e que coloque 1º
(ao maior problema), 2º (ao segundo maior) e 3º (ao terceiro
maior).
Ainda, há uma terceira opção. Podemos solicitar ao respondente
que coloque V (Verdadeiro) ou F (Falso) a cada uma das
alternativas. Neste caso, teremos a indicação da gravidade do
problema, resultante da frequência das alternativas.

114 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Como coletar uma variável quantitativa?


Vejamos um exemplo de uma variável quantitativa contínua: idade
a) Data de nascimento ___/____/____
b) Quantos anos você tem? ____________
c) Idade ____________ em anos completos
d) Faixa etária (marque com x)
( ) de 16 a 17 anos
( ) de 18 a 30 anos
( ) de 31 a 50 anos
( ) de 51 a 70 anos
( ) de 71 anos ou mais

Cada forma de coletar o dado nos fornecerá informações


diferentes para a mesma variável. Analisemos os prós e contras de cada
forma de coleta:

a) A data de nascimento nos permite calcular com exatidão

3
a idade da pessoa, que poderá ser crucial se a pesquisa for

Unidade
sobre desnutrição infantil. Mas será uma informação inútil
e complexa no caso de uma pesquisa eleitoral, por exemplo,
pois neste caso só interessa a faixa etária.
b) Quando perguntamos “quantos anos você tem?”, estamos
dando liberdade ao respondente para fornecer dados
arredondados ou mais detalhados, assim poderemos ter
respostas tais como: 9 anos, ou 9 anos e 6 meses, ou 9 anos e
8 meses. Neste caso, não sabemos se o aluno que respondeu
9 anos é porque ele tem exatamente nove anos ou se ele
arredondou para anos completos.
c) Quando forçamos a idade para anos completos, estamos
correndo o risco de ter numa mesma idade crianças com 8
anos, 8 anos e 1 mês, 8 anos e 2 meses e assim por diante. Mas,
a depender do tipo de investigação, essa precisão é irrelevante
e assim os dados são mais fáceis de serem tratados.
d) Em alguns estudos, não temos interesse na idade específica,
apenas em faixas etárias. Por exemplo, nas pesquisas eleitorais,

UESC Módulo 5 I Volume 3 115


Metodologia do Ensino da Matemática

podemos querer saber se os mais jovens pensam e votam de


uma forma diferenciada dos mais velhos. Podemos pensar que
as pessoas mais velhas tendem a ser mais conservadoras.

Observe, ainda, que a variável idade pode ser trabalhada não como
os anos vividos por uma pessoa, mas pela percepção que esta tem em
relação a algum empreendimento na sua vida. Por exemplo, podemos
investigar como adultos analfabetos se sentem em relação a sua idade
para aprender a ler e escrever, ou seja, serem alfabetizados.
Com relação a sua idade, como o senhor(a) se sente diante da
possibilidade de aprender a ler e escrever:

( ) Muito jovem
( ) Jovem
( ) Velho
( ) Muito velho

Neste caso, podemos até coletar o dado real da idade e podemos


estudar se a idade cronológica é determinante na percepção de idade
para ser alfabetizado. Consequentemente, estamos trabalhando com
uma variável conceitual, que não há como medi-la, a não ser pelo
depoimento do respondente, diferente da idade cronológica que é uma
variável empírica, pois podemos “observá-la”. Mais detalhes podem ser
encontrados em Cazorla e Oliveira (2010).

4.5 Os instrumentos de coleta de dados

Como já mencionamos, há várias formas de coletar os dados.


Podemos realizar entrevistas, criar questionários e fichas de observação.
Podemos utilizar materiais concretos, fotografias, adesivos, desenhos etc.
Podemos ainda utilizar instrumentos de medida como réguas e balanças.

Exemplo de um questionário
No caso da pesquisa sobre o medo das crianças, podemos elaborar

116 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

um questionário, que deve contemplar as variáveis em estudo, já discutidas


anteriormente, que são a idade, o gênero e o tipo de medo (Figura 33).

Ficha da pesquisa: “Do que você tem mais medo?”

Nome do aluno: _______________________________________________


Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino
Idade: ______________ anos completos
Do que é que você tem mais medo? ________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

Figura 45 - Exemplo de uma ficha de coleta de dados com categorização a posteriori.

Caso a pesquisa seja feita na escola, isto é, incluindo os alunos do


1º ao 5º ano, será preciso incluir essa variável. Observamos que, como
a pergunta é aberta, a criança tratará de exprimir seu sentimento com

3
palavras que ela conhece e, certamente, vamos precisar criar categorias (a

Unidade
posteriori) a partir do registro delas.
Também poderíamos deixar as opções prontas (Figura 34), por
exemplo:

Ficha da pesquisa: “Do que você tem mais medo?”

Nome do aluno: ________________________________________________


Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino
Idade: ______________ anos completos
Do que é que você tem mais medo? Marque com X a opção que expresse seu
sentimento:
( ) Bandido, ladrão, homem do saco
( ) Fantasmas, espíritos, mula sem cabeça, lobisomem
( ) Animais (jacaré, hipopótamo, leão, cachorro, barata, aranha etc.)
( ) Altura, escuro, ficar de castigo, reprovar de ano
( ) Outro, qual?________________________________________________

Figura 46 - Exemplo de uma ficha de coleta de dados com categorização a priori.

UESC Módulo 5 I Volume 3 117


Metodologia do Ensino da Matemática

Na pesquisa que utiliza o jogo da memória com os alunos da


classe e seus responsáveis (dados emparelhados, Figura 47), as variáveis
envolvidas são: gênero, idade, autopercepção de capacidade de memória,
bem como o tempo gasto no jogo.

Ficha da pesquisa: “Quem tem mais memória?”

Nome da criança: _______________ Nome do responsável: ___________

Idade: ____________ anos completos Idade: ____________ anos completos


Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino

Você acha que a sua memória é: Você acha que a sua memória é:
( ) Muito Boa ( ) Muito Boa
( ) Boa ( ) Boa
( ) Regular ( ) Regular
( ) Fraca ( ) Fraca
( ) Muito Fraca ( ) Muito Fraca
Tempo que gastou no jogo: Tempo que gastou no jogo:
minutos: _______________ minutos: ________________
segundos: ______________ segundos: _______________

Conversão em segundos: _________ Conversão em segundos: __________

Figura 47 - Exemplo de ficha para coletar dados emparelhados.

Chamamos de dados emparelhados, quando eles se referem a


uma mesma unidade de dados. Assim, o dado se refere a uma criança e a
seu pai (responsável), os dois formam uma única unidade. Se quisermos
fazer os instrumentos separados, teríamos que adicionar o nome do pai
(responsável) na ficha da criança, e o nome da criança, na ficha do pai
(responsável).

Exemplo de fichas de observação


No caso da germinação de sementes, o dado será coletado pela
observação direta na natureza ou no experimento, portanto precisaremos
de uma ficha de observação. Notamos que a observação na natureza é
muito mais complexa. Nesse tipo de observação, muitas variáveis podem
interferir sem termos como controlá-las, como umidade do ar e da
terra, fertilidade do solo, época de germinação etc. Já, em uma situação

118 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

experimental, podemos controlar vários desses fatores e escolher os que


deixaremos variar.
Para registrar a germinação em uma situação experimental, em que
esteja garantida a mesma quantidade de água, o mesmo tipo de terra, a
mesma semente e a mesma exposição ao sol, entre outros, podemos elaborar
uma ficha (Figura 48) na qual cada criança irá registrar a germinação das
sementes sob sua responsabilidade do 1º ao 5º dia.

Ficha da pesquisa: “A germinação das sementes”

Nome do aluno:

Dia Número de sementes que germinaram

1 (24 h após plantadas)

2 (48 h após plantadas)

3 (72 h após plantadas)

4 (96 h após plantadas)

5 (120 h após plantadas)

3
Figura 48 - Exemplo de uma ficha de observação do fenômeno “a germinação das sementes”.

Unidade
Observamos que, a depender da idade das crianças, podemos
coletar o dado em um único dia, simplificando a coleta de dados. Contudo,
o acompanhamento ao longo dos dias possibilitará à criança perceber que
existe uma variação natural no tempo de germinação, pois nem todas as
sementes germinam ao mesmo tempo. Essa constatação levará a criança a
pensar em termos média, mediana ou moda, do tipo? Quantos dias demora
a semente de alpiste para germinar? E a semente de girassol? As crianças
perceberão que não dá para descrever todos os dados e que terão que
buscar um valor ou categoria que represente o maior volume dos dados.

4.6 A necessidade de trabalhar com a classificação

Classificar objetos “padronizados” que apenas têm duas


características é relativamente simples e, de alguma maneira, a escola já

UESC Módulo 5 I Volume 3 119


Metodologia do Ensino da Matemática

para conhecer trabalha esse tipo de classificação. O problema aparece


Classificar significa veri- quando os objetos não são padronizados. Portanto, o
ficar em um conjunto de
elementos os que têm a trabalho com classificação precisa de uma atenção especial.
mesma propriedade. As
Infelizmente, o que se tem observado é que o ensino tem
categorias devem apre-
sentar duas propriedades: se preocupado muito mais com que os alunos memorizem
exaustividade (representa
todos os fatos e ocorrên-
formas de classificar do que no desenvolvimento do
cias possíveis) e exclu- pensamento lógico que o permite classificar.
sividade (coerência para
que qualquer resultado só É importante que tenhamos clareza que o trabalho com
possa ser representado de
uma única maneira), ou
representações de dados implica também o conhecimento
seja, as categorias devem da simbologia específica desse tipo de representação.
ser capazes de exaurir to-
das as possibilidades e, ao Obviamente, a tarefa de classificação se torna mais
mesmo tempo, ser mutua-
mente excludentes.
complexa quando trabalhamos com variáveis conceituais,
isto é, aquelas que estão relacionadas aos sentimentos ou ao
comportamento das pessoas.
Como vimos no caso da variável “tipo de medo”,
qualitativa nominal, podemos deixá-la em aberto e
provavelmente teremos respostas muito variadas, ou
podemos criar categorias a priori para assim coletar os
dados. De qualquer forma, teremos a tarefa de classificação
a partir das respostas dadas pelos alunos.
Suponhamos que deixamos a pergunta em aberto “De
que você tem mais medo?” e que as respostas foram: barata,
mula sem cabeça, bandido, altura, rato, escuro, lobisomem.
Percebe-se que as respostas apresentam diferentes
tipos de medo. Podemos dizer que esses alunos têm medo
de coisas reais (barata, rato, altura e escuro) e coisas
imaginárias (mula sem cabeça e lobisomem). Podemos,
também, dizer que esses alunos têm medo de bichos (barata
e rato), de assombrações (mula sem cabeça e lobisomem) e
de situações (escuro e altura). Assim, os mesmos elementos
podem ser classificados de diferentes formas, que dependem
do objetivo de quem classifica.
Além disso, é importante que determinemos como
vamos registrar. Por exemplo, se classificarmos os medos
em duas classes, podemos registrar, apenas, sim e não, ou

120 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

podemos registrar real e imaginário (Figura 49).

Medo Ser real Medo Tipo


Barata sim Barata real
Mula sem cabeça não Mula sem cabeça imaginário
Lobisomem não Lobisomem imaginário
Rato sim Rato real
Escuro sim Escuro real
Altura sim Altura real
Figura 49 - Diversas formas de registrar uma classificação.

Não há, de fato, uma maneira melhor que a outra. Apenas é


preciso evitar a mistura das duas numa mesma anotação, como seria caso
se anotasse em uma mesma tabela para designar medo real, ora sim ora
real.

3
5 O TRATAMENTO DOS DADOS

Unidade
Lembramos que a Estatística tem como objetivo organizar
e resumir os dados brutos em poucas medidas ou representações que
mostrem de forma sintética o perfil dos dados, as tendências e as relações
entre as variáveis.
Para realizar essas tarefas, podemos contar com representações
em tabelas e gráficos e com as medidas estatísticas tais como: frequências
(absoluta e relativa), as medidas de tendência central (média, mediana e
moda), medidas de dispersão (amplitude, desvio padrão), entre outras.

5.1 A importância do reconhecimento da natureza da


variável para seu tratamento

Segundo Cazorla e Utsumi (2010), é importante aprender a


reconhecer quando uma variável é qualitativa e quando é quantitativa.
Aparentemente isto é óbvio, mas não é.
Trabalhos mostram que muitas crianças confundem a variável com

UESC Módulo 5 I Volume 3 121


Metodologia do Ensino da Matemática

sua frequência e acreditam que uma variável qualitativa é quantitativa


porque há números envolvidos em sua contagem. Por exemplo, suponha
que estamos trabalhando com a preferência dos alunos pelo “sabor de
balas”, logo trata-se de uma variável qualitativa nominal (sabor). Assim,
para saber o sabor preferido, contamos quantos alunos gostam daquele
sabor, como mostra a Figura 50.
Observe que o “número de alunos que gostam desses sabores” é a
frequência com que cada sabor é escolhido e não é a variável. Não existe
“sabor médio”. Este equívoco não é raro e alguns alunos chegam até a
calcular a média da frequência, somam: 8 + 10 + 2 + 0 + 5, que resulta
25 e dividem por 5, encontrando uma média de 5 alunos por sabor. Qual é
o significado deste número? Este número é a média de alunos por sabor.
Logo a variável não seria mais o sabor, e sim o “número de alunos por
sabor”, muito diferente da variável “sabor preferido”.

Preferência dos aluno

Sabor nº de alunos
Menta 8
Morango 10
Maçã 2
Pêssego 0
Hortelã 5
Total 25

Figura 50 - Exemplo de erro conceitual ao confundir a variável com sua frequência. Fonte: elaborado pelos autores.

122 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Outro erro conceitual, encontrado inclusive em


livros didáticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD), é colar as barras quando se trata de uma
variável qualitativa, como mostra a Figura 51.

Figura 51 - Exemplo de um erro conceitual ao colar as barras em uma variável qualitativa.

Cazorla e Utsumi (2010) apresentam dois

3
fluxogramas para o tratamento de variáveis qualitativas

Unidade
(Figura 52) e quantitativas (Figura 53), que reproduzimos
a seguir.

Variáveis qualitativas

Nominais Ordinais

Tabelas Gráficos Medidas

TDF em Gráfico de Moda


categorias setores

Pictogramas

Gráfico de
barras/colunas

Figura 52 - Tratamento univariado de variáveis qualitativas. Fonte: Cazorla e Utsumi (2010), p. 16.

UESC Módulo 5 I Volume 3 123


Metodologia do Ensino da Matemática

Variáveis quantitativas

Discretas Contínuas

Assumem Assumem
poucos valores muitos valores

Tabelas Gráficos Tabelas Gráficos

TDF em valores Gráfico de TDF em


pontuais bastão faixas

Diagrama de Diagrama de
pontos (dotplot) pontos (dotplot)

Histograma Histograma
(correção por (correção por
continuidade) continuidade)

Diagrama de Diagrama de
caixa (boxplot) caixa (boxplot)

Medidas de
Medidas de Medidas de Outras
tendência
dispersão posição medidas
central

Média, mediana Absoluta: Percentis, Assimetria


e moda amplitude, quartis e curtose
desvio médio,
variância,
desvio padrão.
Relativa:
coeficiente de
variação (CV)

Figura 53 – Tratamento univariado de variáveis quantitativas. Fonte: Cazorla e Utsumi (2010), p. 17.

124 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

5.2 Tabela versus tabela estatística saiba mais

Tabela: é qualquer orga-


nização matricial composta
Antes de iniciar o tratamento, torna-se necessário por linhas, colunas, cujas

esclarecer o que é uma tabela desde o ponto de vista interseções são denomi-
nadas de células, onde se
estatístico. Atualmente, utilizamos o termo “tabela” para encontram os dados, que
podem ser números, ca-
nomear várias coisas, tais como, uma lista de compras, um tegorias, palavras, frases
rol de dados, um quadro, uma planilha, um banco de dados. etc.

a) Lista, rol de dados, planilhas de dados, banco de dados

Suponha que estamos investigando a quantidade de


produtos que as famílias de nossos alunos compram para um
mês, a partir da lista de compras mensal. Essa lista de compras
é uma tabela, porém ela não é uma tabela estatística, pois os
dados são brutos, não receberam nenhum tratamento, como
podemos observar na Figura 54.

3
Lista de compras do mês da Lista de compras do mês da

Unidade
Família de Ana Família de Bruna

Item Unidade Quant. Item Unidade Quant.

Sacos de Sacos de
Açúcar 2 Açúcar 3
1 kg 1 kg

Sacos de Sacos de
Arroz 3 Arroz 4
1 kg 1 kg

Garrafas de Garrafas de
Óleo 1 Óleo 2
1 litro 1 litro

Pasta de Unidade de Pasta de Unidade de


1 1
dente 300 g dente 300 g

Figura 54 - Exemplos de listas de compras das famílias de dois alunos. Fonte: elaborado pelos autores.

Se sistematizássemos os dados dessas listas em uma


“tabela”, fazendo apenas a listagem da quantidade dos itens
consumidos pelas famílias dos alunos (Figura 55), essa
tabela também não seria estatística, pois ela é composta
apenas pelos dados brutos das famílias de nossos alunos.

UESC Módulo 5 I Volume 3 125


Metodologia do Ensino da Matemática

saiba mais Alguns livros chamam este arranjo de tabela, rol de dados,
Planilha de dados é uma planilha de dados, banco de dados. Neste módulo, optamos
tabela contendo dados bru-
tos ou originais, isto sem por chamar este tipo de tabela de planilha de dados, como
nenhum tratamento dos
veremos logo a seguir, pois apenas transcrevemos os dados
mesmos. Em geral, as li-
nhas são utilizadas para os brutos para uma lista conjunta, que não receberam nenhum
elementos de onde foram
extraídos os dados (unida-
tratamento estatístico.
des populacionais ou sujei-
tos da pesquisa) e as colu-
nas para as características Açúcar Arroz Óleo Pasta de dente
Família
observadas (variáveis). (Sacos de (Sacos de (Garrafas (Unidade
de
1 kg) 1 kg) de 1 litro) de 300 g)

Ana 2 3 1 1

Bruna 3 4 2 1
...
Vitor 1 2 1 1
Figura 55 - Exemplo de uma planilha de dados. Fonte: elaborado pelos autores.

b) Tabelas estatísticas

Uma tabela é estatística quando ela apresenta os


dados de forma resumida, isto é, após tratamento estatístico
dos mesmos. Basicamente existem duas classes de tabelas
saiba mais estatísticas: as Tabelas de Distribuição de Frequência (TDF)
Tabela de Distribuição e as tabelas resultantes do resumo de dados mais gerais.
de Frequência (TDF) é
um tipo de tabela estatís-
tica formada pelas catego-
rias (variável qualitativa),
valores pontuais (variá- i) Tabela de Distribuição de Frequência (TDF)
vel discreta) ou intervalos
(variável contínua) e sua
frequência absoluta ou re- A Tabela de Distribuição de Frequência – TDF
lativa.
Frequência absoluta, (Figura 56) é utilizada para verificar como se distribuem os
chamada apenas de frequ-
ência, é o número de vezes
dados nas categorias das variáveis qualitativas (a), nos valores
que ocorre cada uma das pontuais da variável discreta, que toma poucos valores (b)
categorias, valores ou fai-
xas da variável. ou nas faixas ou classes, para o caso de variáveis contínuas e
Frequência relativa é a
distribuição dos dados das
discretas que tomam muitos valores (c).
categorias (valores ou fai-
xas) em relação ao todo,
expresso em números deci-
mais ou em porcentagem.

126 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Distribuição de frequência Distribuição de Distribuição de frequência


por categorias (a) frequência por pontos (b) por intervalos (c)

Mascote Nº de Nº de Nº de Altura Nº de
em casa alunos filhos famílias (em cm) alunos

Cachorro 3 0 40 125 – 129 2


Pássaro 2 1 100 130 – 134 3
Gato 2 2 60 135 – 139 11
Outro 3 3 40 140 – 144 8
Nenhum 15 4 10 145 - 149 1
Total 25 Total 250 Total 24
Fonte: dados hipotéticos Fonte: dados hipotéticos Fonte: dados hipotéticos

Figura 56 - Exemplo de tabelas de distribuição de frequência. Fonte: elaborado pelos autores.

ii) Outras tabelas estatísticas

Existem outras tabelas estatísticas (Figura 57), como, por exemplo,


as séries temporais, cronológicas ou históricas (a), geográficas, espaciais

3
ou territoriais (b) e séries específicas ou qualitativas (c). Observem que
os números são resultantes da contagem ou da soma de quantidades, em

Unidade
valores absolutos ou em distribuição percentual.

Série temporal (a) Série geográfica (b) Série específica (c)

Nº de Água do Cereal Produção


Ano Região
alunos Brasil (%) (em grão) (em mil t)

2005 950 Norte 70,0 Soja 51,2

Centro
2006 1000 15,0 Milho 35,1
Oeste

2007 1050 Sudeste 6,0 Arroz 13,2

2008 1100 Sul 6,0 Trigo 4,7

2009 1150 Nordeste 3,0 Feijão 3,0

2010 1200 Total 100,0 Total 107,2


Fonte: dados fictícios Fonte: http://www.cpt.org.br Fonte: IBGE / t: toneladas

Figura 57. Exemplo de tabelas estatísticas.

Nesta unidade, vamos trabalhar com as TDF, pois elas nos ajudam
a sistematizar os dados que coletamos com nossos alunos. Quando

UESC Módulo 5 I Volume 3 127


Metodologia do Ensino da Matemática

atenção usarmos a palavra tabela, estaremos fazendo como sinônimo


Apenas a título de ilus- de tabela estatística.
tração, observamos que,
quando escrevemos um
trabalho científico, deve-
mos respeitar as normas 5.3 Do caos à organização de dados
estipuladas pela Associa-
ção Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) que nor-
matizam a apresentação
Uma vez que coletamos os dados, precisamos
das tabelas. Por essas nor- sistematizá-los. Para isso, contamos com várias estratégias
mas, a tabela só poderá ter
linhas no cabeçalho e no que devem ser avaliadas para verificar qual delas se adéqua
fechamento. Já os quadros
à natureza dos dados e à faixa etária dos alunos. A seguir,
podem utilizar livremente
linhas. vamos apresentar três formas de sistematização e que
Em trabalhos científicos
desenvolveremos, nas seções 5.5 (construção de tabelas)
distinguimos quadros de e 5.7 (construção de gráficos): a primeira, a partir da
tabelas. Em geral as tabe-
las são utilizadas para co- organização espacial e movimentação dos próprios alunos
municar dados estatísticos
e os quadros para orga-
(dotplot humano); a segunda, a partir da contagem direta dos
nizar a informação, qua- dados; a terceira, a contagem a partir da planilha construída
litativa e/ou quantitativa.
Lembrar que toda tabela é com base nos instrumentos de coleta de dados.
um quadro, mas nem todo
quadro é uma tabela.

a) A organização espacial e movimentação dos


alunos
Este tipo de configuração só é possível para
dados coletados do próprio aluno, na sala de aula,
que, em geral, é menor do que 50 alunos. Isto se
deve ao fato de que trabalharemos com a escala
unitária. A ideia é focar a relação biunívoca entre
o dado do aluno e sua representação.

b) A partir da contagem direta


Podemos sistematizar os dados em uma tabela,
fazendo uma contagem direta. Suponhamos
que estamos investigando o time de futebol
favorito dos alunos de nossa classe. Neste caso,
podemos solicitar às crianças para levantar a mão
à medida que vamos enunciando o time favorito.

128 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Por exemplo: “Levantem a mão todos os alunos cujo time


favorito é o Palmeiras”, fazemos a contagem e anotamos em
uma tabela, no quadro.

c) A partir da planilha de dados


As planilhas de dados, como vimos na seção 5.2, nos auxiliam na
organização dos dados brutos, a partir das variáveis observadas
em cada um dos sujeitos da pesquisa. Recomendamos seu uso
quando coletamos duas ou mais variáveis e quando precisamos
“cruzar” as variáveis, isto é, resumir uma variável em função
de outra, como veremos a seguir.

5.4 Construindo a planilha de dados

Devemos utilizar planilhas de dados quando levantamos duas ou


mais variáveis, pois o registro dos dados brutos nos garante a fidelidade

3
dos dados, sua organização em tabelas e gráficos, bem como a revisão dos

Unidade
mesmos, caso haja alguma dúvida.
A planilha de dados deverá ser construída em um cartaz grande,
pode ser em papel madeira ou cartolina. Sua construção deve estar de
acordo com o instrumento de pesquisa. Vejamos com o exemplo da
pesquisa sobre o maior medo das crianças.
Neste exemplo, nossa planilha terá 34 linhas. A primeira para o
cabeçalho e uma linha para cada um dos 33 alunos. Essa planilha terá
quatro colunas, a primeira para o nome do aluno, a segunda para o gênero,
a terceira para a idade e a quarta para o tipo de medo. A Figura 58 mostra
a passagem da ficha da pesquisa para a planilha e o Quadro 4 apresenta a
planilha de dados totalmente preenchida.
Lembramos que, quando construímos a planilha de dados,
utilizamos códigos que nos ajudam a simplificar o trabalho. Por exemplo,
ao invés de escrever por extenso “Feminino”, escrevemos apenas a letra
“F” maiúscula e, “M” maiúscula para “Masculino”.

UESC Módulo 5 I Volume 3 129


Metodologia do Ensino da Matemática

Arcabouço da planilha de dados

Ficha da pesquisa: Nome G I


Tipo de
medo
“Do que você tem mais medo?”
Ana
Nome do aluno: ______________________ Artur
Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino Bianca
Idade: __________ anos completos
Bruna
Do que é que você tem mais medo? ______
Beto

Planilha de dados preenchida

Ficha da pesquisa: Nome G I


Tipo de
medo
“Do que você tem mais medo?”
Ana F 8 Ladrão
Nome do aluno: Ana Artur
Gênero: ( ) Masculino (X) Feminino Bianca
Idade: 8 anos completos
Bruna
Do que é que você tem mais medo? Ladrão
Beto

Figura 58 - Exemplo de ficha de coleta de dados e arcabouço da planilha de dados em branco e preenchida. Fonte:
elaborado pelos autores.

A partir dessa planilha com os dados primários ou brutos,


podemos iniciar o tratamento dos mesmos categorizando os tipos
de medo em classes. Neste exemplo, utilizamos duas classes: real e
imaginário. Podemos, ainda, criar subclasses. Para a classe real, podemos
ter: “real-pessoa”, “real-bicho” e “real-situação” e para imaginários é
possível ter: “imaginário-folclore” e “imaginário-personagem”. Assim,
os tipos de medo: ladrão, bandido e marginal são dados primários e foram
classificados como “real-pessoa”. Dessa forma, os tipos de medo são
dados primários, ou seja, dados brutos, enquanto a classe “real-pessoa” é
um dado secundário, deriva-se da junção de três tipos de medo.
Da mesma forma, a variável “número de letras do nome” é um
dado secundário, pois as crianças apenas escreveram seus nomes (dado
bruto) e, a partir do nome, contamos e registramos a quantidade de
letras do nome na coluna correspondente. Ressaltamos que os dados
são fictícios. Aproveitamos e colocamos os dado secundários na mesma
planilha, como pode ser observado no Quadro 4.

130 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Quadro 4 - Planilha de dados da pesquisa: “do que você tem mais medo?”

Dados primários (brutos) Dados secundários

Nº de
Classe de letras
Nome G I Tipo de medo Subclasse de medo
medo do
nome
Ana F 8 Ladrão Real Real Pessoa 3
Artur M 8 Rato Real Real Bicho 5
Bianca F 8 Altura Real Real Situação 6
Bruna F 9 Leão Real Real Bicho 5

Mula sem
Beto M 9 Imaginário Imaginário Folclore 4
cabeça

Breno M 8 Bandido Real Real Pessoa 5


Mula sem
Carla F 7 Imaginário Imaginário Folclore 5
cabeça
Camila F 8 Bicho papão Imaginário Imaginário Folclore 6
Daniel M 9 Tiranossauro Imaginário Imaginário Personagem 6
Denise F 9 Lugar alto Real Real Situação 6
Deise F 8 Escuro Real Real Situação 5
Emilio M 8 Escuro Real Real Situação 6

3
Fabio M 7 Cobra Real Real Bicho 5
Felipe M 9 Marginal Real Real Pessoa 6

Unidade
Gilda F 8 Rato Real Real Bicho 5
Gabriela F 8 Coringa Imaginário Imaginário Personagem 8
Irene F 8 Altura Real Real Situação 5

Homem
José M 9 Real Real Pessoa 4
mascarado

Juliana F 9 Palhaço Real Real Pessoa 7


Luiz M 8 Dinossauro Imaginário Imaginário Personagem 4
Luciana F 7 Bandido Real Real Pessoa 7
Mariana F 8 Bruxa Imaginário Imaginário Personagem 7
Marcelo M 8 Saci Imaginário Imaginário Folclore 7
Milton M 8 Bicho papão Imaginário Imaginário Folclore 6
Paulo M 8 Tubarão Real Real Bicho 5
Pâmela F 9 Fantasma Imaginário Imaginário Personagem 6
Pedro M 7 Feiticeira Imaginário Imaginário Personagem 5
Rui M 7 Barata Real Real Bicho 3
Renata F 8 Rato Real Real Bicho 6
Sandra F 8 Tiranossauro Imaginário Imaginário Personagem 6
Saulo M 8 Ladrão Real Real Pessoa 5
Vera F 8 Cachorro Real Real Bicho 4

Vanessa F 9 Fantasma Imaginário Imaginário Personagem 7


Fonte: Dados fictícios de uma turma do 3º ano.

UESC Módulo 5 I Volume 3 131


Metodologia do Ensino da Matemática

atenção Observe que nem todo mundo pode concordar com


Professor, reforce a ob-
que Tiranossauro ou Dinossauro sejam categorizados como
servação da natureza das
variáveis. A idade é uma “imaginário personagem”, talvez alguém queira sugerir a
variável quantitativa, já o
gênero e os tipos de medo
criação de uma nova categoria “imaginário bicho”. Já com
são variáveis qualitativas a resposta “fantasma”, não sabemos se a criança se referiu
nominais; bem como, o
que é um dado primário ao personagem fantasma do filme ou ao fantasma de
(bruto) e o que é um dado
secundário.
assombração, neste caso, seria mais adequado classificá-lo
em “imaginário folclore”.
sugestão

Se sua escola tem labora-


tório de Informática, apro- 5.5 Construindo a Tabela de Distribuição de
veite esta oportunidade
Frequências (TDF) simples
para utilizar uma planilha
eletrônica, como o CALC
do Open Office, a planilha
compartilhada como a do a) Construindo TDF a partir da contagem direta
Google, ou do AVALE.
Como já mencionamos, esta estratégia é simples
e recomendamos utilizá-la quando estamos
para conhecer interessados em analisar variáveis de forma isolada,
O Ambiente Virtual de sem cruzá-las com outras variáveis. Basta solicitar
Apoio ao Letramento Es-
tatístico – AVALE (http://
às crianças para levantar a mão à medida que vamos
www.iat.educacao.ba.gov.br/ enunciando a categoria (time favorito, Figura 59)
avaleeb) pode ser utilizado,
de forma gratuita e on- ou o número (número de irmãos, Figura 60). Por
line, para tratar dados de
exemplo: “Levantem a mão todos os alunos que não
pesquisa.
têm irmãos”, fazemos a contagem e registramos no
quadro negro ou no cartaz.

Time de futebol Nº de Número de Nº de


favorito alunos irmãos alunos

0 4
Palmeiras 6
1 10
Flamengo 10 2 5
3 4
Cruzeiro 5
4 0
Vasco 4 5 2
Total 25 Total 25
Figura 59 - A TDF a partir da contagem Figura 60 - TDF construída a partir da
direta de uma variável qualitativa. contagem direta de uma variável discreta.

132 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Contudo, nesse tipo de sistematização, podemos esquecer de


contar um aluno ou algum aluno distraído pode levantar a mão
duas vezes. Nesse caso, a quantidade de alunos da sala não será
igual à soma das frequências representadas na tabela. Perderemos,
assim, o controle da sistematização.

Para evitar essa confusão, podemos pegar a lista de chamada,


chamar aluno por aluno e solicitar que cada um diga o seu time
favorito ou número de irmãos e, a cada indicação, vamos fazendo
um risco na tabela. Ao final, realizamos a contagem e estamos
prontos para gerar a TDF, como mostramos na Figura 61.

Time de futebol favorito Contagem Time de futebol favorito Nº de alunos

Palmeiras ||||| | Palmeiras 6


Flamengo ||||| ||||| Flamengo 10
Cruzeiro ||||| Cruzeiro 5
Vasco |||| Vasco 4
Total Total 25

3
Figura 61 - Forma de registro utilizando a lista de chamada e gerando a TDF.

Unidade
b) Construindo TDF a partir da planilha de dados
Para construir a TDF, a partir da planilha de dados, basta contar o
número de vezes que se repete uma categoria (variável qualitativa)
ou o valor da variável em estudo (discreta).

Na Figura 62, apresentamos as fases da construção da TDF


para a variável qualitativa “gênero”. Este tipo de tabela contém
a frequência absoluta com que aparece cada categoria e sua
frequência relativa (expressa em porcentagem).

Nome Gênero Nº de
Gênero Contagem Gênero %
alunos
Ana F
||||| |||||
Artur M Feminino Feminino 18 54,5
||||| |||
Bianca F
Bruna F ||||| |||||
Masculino Masculino 15 45,5
|||||
Beto M
... Total Total 33 100,0

Figura 62 - Fases da construção da TDF. Fonte: elaborado pelos autores.

UESC Módulo 5 I Volume 3 133


Metodologia do Ensino da Matemática

Como se obtem a porcentagem?

Note que 18 do total de 33 alunos são meninas, portanto, teríamos uma fração de 18/33
do total de alunos. Precisamos, transformar para uma fração de base 100. A pergunta
seria então: se o total fosse 100 crianças, quantas seriam meninas? Logo, estamos
diante de um problema multiplicativo de proporcionalidade simples.

Meninas Alunos Meninas Alunos

? 100 ? 100
18 33 18 33

São várias as formas de calcular o valor desejado. Uma delas é calcular a fração 18/33
da quantidade 100. Portanto, basta calcular 18/33 x 100 = 54,5. Então teríamos que
54,5% dos alunos são meninas. Outra maneira é calcular a razão entre 33 e 100. Essa
razão deve ser a mesma entre 18 meninas e a quantidade de meninas procurada. Por-
tanto: ?/18 = 100/33, nesse caso também temos que: ? = 18 x 100 ÷ 33 = 54,5.
Professor, é importante salientar que você precisa estar atento para verificar se seus
alunos já são capazes de trabalhar com porcentagem.

Buscando compreender uma TDF, você, professor, pode


perguntar para a classe: o que significa o número 18 na coluna “número
de alunos”? Tal pergunta permite que o aluno estabeleça a relação entre
a coluna do número de alunos (frequência absoluta) com a categoria da
variável “gênero”. Assim, o número 18 significa que 18 alunos são do
gênero feminino. Podemos dizer, ainda, que 54,5% dos alunos são do
gênero feminino. Na Tabela 2, apresentamos a distribuição do medo por
subclasses e na Tabela 2 por classes de medo.

Tabela 1 Tabela 2
Distribuição das subclasses medo dos alunos Distribuição das classes de medo dos alunos

Nº de Classe de Nº de
Subclasse de medo % %
alunos medo alunos
Imaginário folclore 5 15,2 Imaginário 13 39,4
Imaginário Real 20 60,6
8 24,2
personagem
Total 33 100,0
Real bicho 8 24,2
Real pessoa 7 21,2
Real situação 5 15,2
Total 33 100,0

Neste módulo, optamos por apresentar as tabelas no formato


final, de uma tabela estatística, seguindo as recomendações da ABNT.
Nos outros casos, as colocamos como figuras ou quadros.

134 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Acreditamos que para trabalhar neste nível escolar não podemos


ser rigorosos com a construção das tabelas, até porque as grades (linhas
internas) nas tabelas ajudam na leitura e no acompanhamento da leitura
de dados, tanto por linha, quanto por coluna.

5.6 Construindo tabelas de dupla entrada

Apresentamos a seguir as fases da construção de uma tabela de


dupla entrada, a qual relaciona a variável gênero com a variável classe de
medo (Figura 63) e, na Tabela 3, apresentamos a variável classe de medo
por gênero.

Tipo de Classe de
Nome G I Contagem para uma tabela dupla
medo medo

Ana F 8 Ladrão Real Medo Feminino Masculino

3
Artur M 8 Rato Real Imaginário ||||| || ||||| |

Bianca F 8 Altura Real Real |||| ||||| | ||||| ||||

Unidade
Bruna F 9 Leão Real ||||| ||||| ||||| |||||
Total
Mula sem ||||| ||| |||||
Beto M 9 Imaginário
cabeça

Breno M 8 Bandido Real

Figura 63 - Fases da construção de uma tabela de dupla entrada.

Tabela 3 - Distribuição das classes de medos segundo o gênero

Classe de Feminino Masculino Total


medos Nº % Nº % Nº %
Imaginário 7 38,9 6 40,0 13 39,4
Real 11 61,1 9 60,0 20 60,6
Total 18 100,0 15 100,0 33 100,0

Observe que aqui estamos interessados em saber se as meninas


têm medos diferentes dos meninos e, para isso, só podemos realizar uma
comparação a partir do percentual, uma vez que temos mais meninas do
que meninos. A Tabela 3 mostra que a maioria dos meninos e das meninas

UESC Módulo 5 I Volume 3 135


Metodologia do Ensino da Matemática

tem mais medo de coisas reais, do que imaginárias. A tabela também


mostra que a diferença entre as classes de medos de meninas e meninos
é tão pequena (1,1%), que nos permite dizer que não há diferença. Isto
ficará mais evidente com o gráfico de barras duplas.
Como vimos até agora, uma análise realizada através da tabela
exige uma habilidade de leitura deste tipo de representação a qual nem
sempre é tão simples e intuitiva para a criança. Assim, é preciso um
trabalho sistematizado em sala de aula.
Além das tabelas, a Estatística disponibiliza diferentes formas
gráficas para representar as mesmas informações a qual é visualmente
mais fácil de ser compreendida.

5.7 Construindo gráficos

Os gráficos são representações poderosas, pois em um golpe de


vista podem propiciar a compreensão dos padrões subjacente aos dados.
Recomendamos que os alunos sejam solicitados a construir gráficos com
lápis e papel quadriculado ou milimetrado para que os mesmos possam se
apropriar melhor dos conceitos e representações envolvidos.
Se a escola tiver laboratório de informática, recomendamos utilizar
planilhas eletrônicas e o AVALE para construir as tabelas e os gráficos.
Estes recursos tecnológicos ajudam a aula ser mais lúdica e potencializa
a aprendizagem dos alunos.

a) Construindo o pictograma
Quando trabalhamos com variáveis qualitativas, podemos utilizar
o próprio corpo da criança para fazer a primeira representação dos dados,
depois podemos utilizar material concreto que represente o dado da
criança e, finalmente, chegamos aos pictogramas, onde utilizamos ícones
para representar os dados e, de forma mais geral, podemos utilizar o
gráfico de barras ou de setores, onde os dados se misturam desaparecendo
a relação biunívoca entre o dado e sua representação. Vejamos isso com
exemplos.
Para representar a variável “Time de futebol favorito”, solicitamos

136 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

aos alunos que formem filas de acordo com o time de sua preferência,
como podemos observar no esquema da Figura 64.

Time de
Nº de
futebol Formação de filas de crianças
alunos
favorito

Palmeiras 6

Flamengo 10

Cruzeiro 5

Vasco 4

Total 25

3
Unidade
Figura 64. Representação com o corpo do time de futebol favorito. Fonte: elaborado pelos autores.

Também podemos utilizar materiais concretos para representar o


dado da criança. Por exemplo, podemos solicitar que cada criança pegue
uma caixa de fósforo, escreva seu nome nela e a coloque na pilha de seu
time. Este recurso foi utilizado por Buehring (2006) para representar a
distribuição por gênero dos seus alunos, Figuras 65 e 66.

Figura 65 - Os alunos organizaram e contaram as caixinhas. Figura 66 - As caixinhas foram coladas desta maneira.

UESC Módulo 5 I Volume 3 137


Metodologia do Ensino da Matemática

Também podemos utilizar ícones, escudos ou


camisetas dos times, confeccionados com cartolina,
emborrachados ou com adesivos, de tamanhos padronizados.
Pictograma Na Figura 67, apresentamos um pictograma, construído
no quadro, utilizando camisetas dos times, confeccionadas
é uma representação grá-
fica em que utiliza ícones com emborrachado, medindo 5 cm x 5 cm.
para representar os da-
dos.
Neste caso, cada aluno pega a camiseta de seu time,
colando-a no quadro ou na cartolina. Nesse movimento, o
aluno percebe que aquela camiseta representa sua opinião e
isso é possível porque a construção é coletiva.
Quando os alunos constroem os pictogramas no
papel, em geral, se perde o movimento que faz com que
o aluno perceba a relação biunívoca entre o dado e sua
representação.
Observe que essa correspondência biunívoca entre
aluno e a caixa de fósforo, ou com o material emborrachado
ou com o desenho no papel é permitida pelo movimento do
aluno “vivenciar” a representação.
Como veremos mais adiante, quando tratamos os
dados diretamente da planilha esse movimento se perde e
Figura 67 - Pictograma construído
com material emborrachado para é mais difícil a criança perceber como os dados gerados por
o time favorito no quadro. Fonte:
Figura 12 de Cazorla e Santana
(2010), p. 30.
ela geram as tabelas e os gráficos.

b) Construindo o dotplot
O diagrama de pontos ou “dotplot” é um gráfico
estatístico, resultado de utilizarmos um ponto na escala
numérica para representar um dado. Portanto, é adequado
apenas para variáveis quantitativas.
Aparentemente, este gráfico é complexo, mas não
se iniciarmos seu ensino utilizando a distribuição espacial
da variável, utilizando o corpo do próprio aluno, que Silva,
Magina e Silva (2010) denominam de “dotplot humano”.
Recomendamos o uso do “dotplot humano” para
variáveis discretas que tomam poucos valores (número do
calçado, número de irmãos etc.) ou contínuas, como por

138 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

exemplo a altura, pois são variáveis visíveis e fáceis de trabalhar. Outras


variáveis podem atrapalhar ao invés de ajudar. Também, deve-se observar
a quantidade de dados (essa não pode ser muito grande, no máximo 50),
adequada para trabalhar com os alunos da sala.
Na Figura 68, mostramos uma fotografia com a configuração
do dotplot humano para a altura (esquerda) e do número de calçado de
alunos (direita) de duas escolas públicas da Bahia. Para isso, basta solicitar
aos alunos que formem fila segundo a altura ou segundo o número do
calçado. Observe que as meninas estão à esquerda, nos números menores
e os meninos, à direita, nos números maiores. Na Figura 69, mostramos
o dotplot no papel e na parte inferior o gráfico de barras, construídos com
uma planilha eletrônica. Professor, observe como no gráfico de barras se
perdeu a relação biunívoca entre o dado e sua representação.

3
Unidade
Figura 68 – Dotplot humano da altura (esquerda) e do número do calçado (direita).
Fonte: Figura 2 e Figura 3 de Cazorla e Kataoka (2011), p. 43.

Figura 69 - Dotplot no papel e gráfico de barras do número do calçado. Fonte: elaborado pelos autores.

UESC Módulo 5 I Volume 3 139


Metodologia do Ensino da Matemática

c) Construindo o gráfico de barras / colunas


O gráfico de barras é apropriado para representar as variáveis
qualitativas. Assim para cada categoria é levantada uma barra vertical (coluna)
ou barra horizontal. No gráfico de barras construído no papel quadriculado,
cada quadradinho equivale a um sujeito ou ícone do pictograma.
Essa relação um quadrado para cada dado (aluno) precisa ser bem
compreendida pelos alunos. Veja na Figura 70 o que um menino de 9 anos,
que cursava o 4º ano, fez para representar 28 pastores alemães e 22 dálmatas.

Observamos que o menino estabe-


leceu a relação um quadrado para
cada unidade, mas achou que se
os quadrados estivessem pintados,
estava construindo um gráfico de
barras, independente de se consti-
tuírem como uma coluna.

Figura 70 - Tentativa de representação em


gráfico de barras. Fonte: Guimarães (2002).

No gráfico de barras, a altura da barra indica o número de alunos.


Neste caso, para saber a frequência devemos contar quantos quadradinhos
tem cada barra, o que é fácil se tivermos uma malha por trás do gráfico (a),
ou se tivermos o número (rótulo) em cima da barra (b). A rigor, o gráfico
de barras é formado por barras contínuas (Figura 71).

a) Na malha quadriculada: Time de futebol b) Numa planilha eletrônica: Time de futebol


10
10
10
9
9
8
8
7
7 6
6
6 5
5
5 4
4
4
3
3
2
2
1
1
Palmeiras Flamengo Cruzeiro Vasco
Palmeiras Flamengo Cruzeiro Vasco

Figura 71 - Exemplo de construção de gráfico de barras com escala unitária. Fonte: elaborado pelos autores.

140 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

Na construção do gráfico no papel e lápis, lembramos ao professor


a necessidade das barras terem a mesma largura, o mesmo vale para o
espaçamento entre as barras. Por outro lado, as barras não podem ser
coladas umas às outras. Neste caso, o gráfico deixaria de ser gráfico de
barras e passaria a ser um histograma, próprio de variáveis contínuas ou
discretas que tomam muitos valores.
Assim como na tabela, aqui também é possível trabalhar com a
porcentagem. Nesse caso, estaríamos saindo da escala unitária para uma
escala proporcional, que precisará ser calibrada; sendo que, para isso, o aluno
precisaria conhecer proporcionalidade (por exemplo, um quadradinho
poderia representar 5 unidades, 10 unidades, ou qualquer outro número).
Todavia, precisamos ter muita atenção com esse ponto. Muitas
vezes os gráficos que nos são mostrados apresentam distorções. Cavalcanti,
Natrielli e Guimarães (2010) descobriram que 39% dos gráficos na mídia
impressa, por elas analisados, apresentavam erros de proporcionalidade na
escala. Assim, é fundamental que os alunos compreendam uma escala para
serem leitores críticos das informações, como é o desejado.

3
Observe que esse trabalho não é trivial, pois exige o domínio de

Unidade
proporcionalidade. Neste caso, avalie a possibilidade de seus alunos
compreenderem essa discussão. Por outro lado, o trabalho com a
proporcionalidade é fundamental desde os primeiros anos. A literatura
infantil apresenta algumas histórias que podem ser utilizadas para deflagrar
a discussão como a história dos ursos e a menina de cachinhos de ouro.
Neste ponto, é importante mostrar a relação entre os valores da
variável e sua frequência. Via de regra, os valores da variável vão no eixo
horizontal (abscissa) e sua frequência (número de alunos) no eixo vertical
(ordenada). Porém podemos apresentar os dados em um gráfico de barras
horizontal. Para isso basta trocar os eixos (Figura 72).

Figura 72 - Exemplo de gráfico de barras horizontal com escala proporcional

UESC Módulo 5 I Volume 3 141


Metodologia do Ensino da Matemática

A rigor o gráfico de barras de uma variável deve utilizar


apenas uma cor, não deveríamos utilizar duas cores ou mais.
Contudo, se representarmos esses dados em um gráfico
circular, cada setor teria cores diferentes para distingui-las.
Portanto, poderíamos seguir este raciocínio e colorir as barras.
Porém, devemos ter cuidado, pois o gráfico circular,
como veremos, mais adiante, é recomendado para representar
situações parte-todo, o que dá sentido colorir cada setor ou
cada barra.
Isso não será mais válido quando construímos um
gráfico de barras para uma série temporal, por exemplo, o
IDEB dos estados do Nordeste; ou quando comparamos duas
variáveis, como veremos a seguir.

a) Construindo o gráfico de barras duplas


A Tabela 3 mostra que a maioria dos meninos e das
meninas tem mais medo de coisas reais, do que imaginárias.
A tabela também mostra que a diferença entre os medos de
meninas e meninos é pequena (menos de 2%), o que nos
permite afirmar que não há diferença. Observe como isto fica
mais evidente com o gráfico de barras duplas, como podemos
ver na Figura 73.

atenção
Professor, observe que
quando os tamanhos
dos grupos forem mui-
to diferentes, o valor
absoluto pode nos in-
duzir ao erro. Por essa
razão, nesses casos,
aconselhamos traba-
lhar com a estrutura
percentual que elimina
esse problema.

Figura 73 - Exemplo de gráfico


de barras duplas. Fonte:
elaborado pelos autores.

142 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

b) Construindo o gráfico de setores


Esse tipo de gráfico é utilizado para representar variáveis
qualitativas, quando estamos interessados em observar a relação parte-
todo, em especial, as variáveis nominais; pois no caso das variáveis
ordinais, pode ser que exista algum padrão relacionado a ordem das
classes e, nesses casos, é melhor o gráficos de barras.
A interpretação desse tipo de gráfico pode ser trabalhada com
crianças pequenas, entretanto sua construção não é muito simples. Para
construirmos um gráfico de setor é preciso compreender a relação parte-
todo expressa nas frações, a divisão dos ângulos de uma circunferência e
a proporcionalidade entre frequência e ângulo das partes (categorias) em
relação ao todo.
Por outro lado, temos outras opções para abordarmos essa
representação. A primeira opção é iniciar um trabalho com frequência ou
percentuais mais facilmente desenhados como ½ e ¼ (Figura 74). Assim,
metade equivale a 50% do círculo, um quarto a 25% e assim por diante.

3
Unidade
não
12,5%
Nº de
Categoria Frações % não
alunos
muito 12,5%
Não 5 1/8 12,5
50,0%
Pouco 5 1/8 12,5
regular
Regular 10 1/4 25,0 25,5%
Muito 20 1/2 50,0
Total 40 1 100,0

Figura 74 - Exemplo de equivalência entre frações, porcentagem e setores do círculo. Fonte: elaborado pelos autores.

A segunda opção é disponibilizar uma malha circular, como mostra


a Figura 75, onde cada setor (fatia) corresponde a 5%. Outra opção é
construirmos o gráfico em uma planilha eletrônica como o do Excel da
Microsoft ou do CALC do Open Office, que é gratuito. Essas planilhas
realizam todos os cálculos e calibram as escalas automaticamente, como
mostra a Figura 76.

UESC Módulo 5 I Volume 3 143


Metodologia do Ensino da Matemática

Vasco
12,5%

Flamengo Cruzeiro
40,0% 12,5%

Palmeiras
25,5%

Figura 75 - Malha circular Figura 76 - Gráfico construído no Excel.

c) Construindo o gráfico de linhas


O gráfico de linhas normalmente é utilizado quando queremos
mostrar uma tendência nos nossos dados. Se quisermos, por exemplo,
o ritmo de crescimento das crianças, podemos pedir que tragam seu
“Cartão de Vacina”. Nesse cartão, além do controle das vacinas, existem
dois gráficos de linhas. Um para acompanhar o peso (massa) e o outro a
altura.
Os livros didáticos, os jornais e revistas têm muitos exemplos.
Peça às crianças para trazerem recortes de jornais e revistas com diversos
tipos de gráficos e aproveite para mostrar a elas a variedade de gráficos
que permeia os noticiários.

144 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

ATIVIDADES
ATIVIDADES

Só se aprende Estatística fazendo Estatística. Por essa razão


sugerimos que a cada aula se aplique o conhecimento aprendido com o
banco de dados da pesquisa da altura das crianças.
Nesse caso, havia sido questionado se os meninos são mais altos
do que as meninas, e levantou-se a hipótese que sim, pois em geral os
homens são mais altos que as mulheres. Como nessa faixa etária a altura
das crianças depende fortemente da idade e do gênero, estas serão as
variáveis a ser coletadas, conforme Ficha da Figura 77.

Ficha de pesquisa: “Os meninos são Ficha de pesquisa: “Os meninos são
mais altos do que as meninas?” mais altos do que as meninas?”

Nome do aluno: ________________ Nome do aluno: Alberto


Turma: ______ Ano: ___________ Turma: A Ano: 1º

3
Gênero: ( )M ( )F Gênero: ( X ) M ( )F

Unidade
Idade: _______________________ Idade: 5 anos e 7 meses
Altura: _______________________ Altura: 1,10 m

Figura 77 - Exemplo de ficha de coleta de dados em branco e preenchida.

Observar que os dados foram coletados em anos e meses e se


quisermos trabalhar essa variável, vamos ter que transformar esses dados,
ou para anos completos, ou transformar para a base 10. Lembrar que a idade
está em base 12, logo 8 anos e 6 meses, é igual a 8,5 no sistema decimal.
Assim, aproveite este tema para trabalhar a equivalência dos meses do ano
com o sistema de numeração decimal. Chamar a atenção dos alunos que 3
meses equivale a um quarto do ano (¼), 6 meses a metade do ano (½) etc.

Quadro 5 - Planilha de dados da pesquisa sobre a altura dos alunos

Dados originais Idade


Altura em anos
Nome Turma Gênero Idade completos
(m)
Alberto 1º ano A M 5 anos e 7 meses 1,10 5
João 1º ano A M 6 anos 1,00 6
Tereza 1º ano A F 5 anos e 10 meses 1,15 5

UESC Módulo 5 I Volume 3 145


Metodologia do Ensino da Matemática

Pedro 1º ano B M 6 anos e 1 mês 1,04 6


Ana 1º ano B F 5 anos e 2 meses 1,20 5
Telma 1º ano B F 6 anos e 5 meses 1,08 6
Valter 2º ano A M 6 anos 1,01 6
Marcos 2º ano A M 7 anos e 3 meses 1,10 7
Telma 2º ano A F 8 anos 1,20 8
Geisa 2º ano B F 6 anos e 11 meses 1,08 6
Gertrudes 2º ano B F 7 anos e 5 meses 1,35 7
Maurício 2º ano B M 8 anos e 6 meses 1,30 8
Manoel 3º ano A M 8 anos 1,10 8
José 3º ano A M 8 anos e 10 meses 1,20 8
Maria 3º ano A F 8 anos e 5 meses 1,30 8
Marta 3º ano B F 7 anos e 5 meses 1,10 7
Maria de Fátima 3º ano B F 7 anos e 10 meses 1,20 7
Miguel 3º ano B M 8 anos e 2 meses 1,13 8
Aída 4º ano A F 8 anos e 11 meses 1,36 8
Michelle 4º ano A F 9 anos e 10 meses 1,40 9
Severina 4º ano A F 10 anos 1,45 10
Severo 4º ano B M 10 anos e 2 meses 1,35 10
Michael 4º ano B M 9 anos e 2 meses 1,35 9
Arquimedes 4º ano B M 9 anos e 4 meses 1,43 9
João 5º ano A M 10 anos 1,15 10
Josué 5º ano A M 10 anos e 3 meses 1,34 10
Maria 5º ano A F 10 anos e 7 meses 1,46 10
Miriam 5º ano B F 11 anos 1,35 11
Tereza 5º ano B F 10 anos e 9 meses 1,48 10
Norberto 5º ano B M 11 anos e 3 meses 1,52 11
Soma 37,28
Fonte: dados fictícios.

Tomando com referência a planilha de dados:


a) Construa a TDF para as variáveis gênero e idade (anos completos).
b) Construa a tabela de dupla entrada do ano escolar (linha) e idade
em anos completos (coluna).
c) Construa a tabela de dupla entrada do gênero (linha) e idade em
anos completos (coluna).
d) Construa um gráfico de barras para a altura por idade.
e) Construa um gráfico de barras duplas para a altura por idade e
gênero.
f) Interprete os resultados. Há evidências de que os meninos são
mais altos do que as meninas?

146 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - tabelas e gráficos

RESUMINDO
RESUMINDO

Caro professor, como você deve ter percebido, a Estatística permeia


o nosso mundo, logo precisamos aprender seus conceitos básicos, pois
eles são extremamente úteis no nosso cotidiano. Não apenas para ler e
compreender as notícias veiculadas pelos meios de comunicação e tomar
decisões conscientes; mas para analisar nossas hipóteses, conjeturar a
partir das evidências de dados.
Para isso é preciso escolher um tema de pesquisa de interesse dos
alunos, algo que seja fácil de levantar os dados e trabalhar ao longo das
aulas. Lembre-se da importância de se ter questões de investigação e que
as mesmas deverão ser respondidas ao final do tratamento dos dados.
Uma vez escolhido o tema, discuta com seus estudantes as variáveis
a serem levantadas, como elas se relacionam e como elas respondem as
perguntas da investigação. Não levante dados desnecessários, a menos
que queira aproveitar a oportunidade, mas deixe isso muito claro.

3
A seguir construa o instrumento de coleta de dados, discutindo a

Unidade
natureza das variáveis, sua operacionalização e tratamento. Esta fase de
planejamento é crucial para o entendimento global da pesquisa. Colete
os dados.
Antes de iniciar o tratamento dos dados, analise qual é a melhor
maneira de apresentar os dados: tabelas, gráficos ou medidas resumidas
(que serão apresentadas na próxima unidade). Como um exercício de
aprimoramento e fixação, podemos calcular e construir tudo, mas para
fazer o relatório escolhemos as estatísticas que melhor respondem as
perguntas de pesquisa.
Na próxima unidade, vamos apresentar as estatísticas (medidas
resumo) que completam a análise de dados nesta etapa escolar; um
exemplo de como podemos apresentar os resultados em um relatório e
as referências, pois estas duas unidades tratam de Estatística.

UESC Módulo 5 I Volume 3 147


Suas anotações

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4ªunidade

TRATAMENTO
DA INFORMAÇÃO -
MEDIDAS ESTATÍSTICAS

OBJETIVOS

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:


yy calcular as medidas de tendência central: média,
mediana e moda;
yy interpretar o fenômeno em estudo a partir da leitura de
tabelas, gráficos e medidas de tendência central.
Tratamento da Informação - medidas estatísticas

1 VIVEMOS NUM MUNDO PERMEADO DE ESTATÍSTICAS

Quem não conhece a média aritmética, ou simplesmente média? A


maioria das pessoas lida com este conceito de forma bastante familiar e
intuitiva, mesmo aquelas que nunca tiveram acesso à escola. As pessoas
estão acostumadas a estimar o tempo médio que demoram para chegar ao
trabalho, que ficam na fila de banco, dentre outras estimativas.
Esse processo faz parte do cotidiano e está tão arraigado que, às vezes,
as pessoas nem percebem o grau apurado de suas estimativas. Para chegar
a essas estimativas, ninguém anotou sistematicamente o tempo gasto em
cada viagem, somou e dividiu pelo número de viagens; aliás, muitas dessas
pessoas nem conhecem o algoritmo da média, mas continuam a utilizar seu
conhecimento intuitivo no planejamento de suas atividades rotineiras.
Na escola, a média faz parte da vida escolar dos alunos. A maioria vive
calculando-a para analisar as chances de passar direto, de ir para recuperação
ou de reprovar de ano. Os aflitos ficam contando quantos pontos faltam
para aprovar, ou seja, sabem que a média é a relação entre o todo (soma de
pontos nas provas/unidades) e o número de provas/unidades constantes da
avaliação.
Além desse conhecimento intuitivo, a média também faz parte do
cotidiano dos cidadãos, pois, cada vez mais, a mídia a utiliza junto com
outras informações estatísticas. É comum ler nos jornais ou ouvir nas
reportagens frases do tipo: “a renda per capita do Nordeste é inferior à
do Sudeste”, “a expectativa de vida da mulher é maior que a do homem”, 4
Unidade

ou informações referentes à chuva média mensal, à escolaridade média, ao


número médio de filhos por casal etc.
Assim, constatamos que a média é amplamente conhecida, mesmo
que de forma intuitiva, e que esse bom conhecimento pode levar a ideia de
que essa medida é a única ou é a melhor.
Nesta unidade apresentaremos outras medidas, igualmente
importantes, principalmente, quando a natureza da variável traz consigo
diferenças entre grupos, como, por exemplo, a distribuição de renda no
nosso país. Intuitivamente sabemos que a maioria da população tem uma

UESC Módulo 5 I Volume 3 151


Metodologia do Ensino da Matemática

renda em torno de um a cinco salários mínimos e que poucas pessoas têm


renda muito alta. Neste caso a renda média sofrerá o impacto das rendas altas
e concluiremos que a renda per capita (por pessoa) é muito boa, quando na
realidade não é.
Assim, precisamos conhecer outras medidas, como a Mediana e a
Moda que podem representar de forma mais fidedigna o conjunto de dados.

2 CALCULANDO AS MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL

Assim como organizamos as variáveis em tabelas e gráficos, também


podemos sintetizar os dados em um único valor.
As medidas resumo, medidas estatísticas ou, simplesmente,
estatísticas, são medidas que resumem uma massa de dados em um único
dado. As tabelas e os gráficos resumem os dados; porém, às vezes, é preciso
ter um ou apenas dois dados que representem uma massa de dados, que nos
permita comparar grupos.
Por exemplo, a renda per capita é um único número que resume como
um país é desenvolvido ou não. Esse valor é calculado a partir da riqueza
gerada por todas as pessoas daquele país e dividido de forma “igualitária”
entre essas pessoas. Esse único número nos permite comparar quão rico ou
pobre é um país.
É claro que esse único número é incompleto e pode não representar
o grau de desenvolvimento desse país, mas o poder de resumir é necessário,
pois é a forma como podemos compreender os fenômenos.
Neste nível escolar, trabalhamos as medidas de tendência central,
sendo as mais conhecidas a moda, a média, a mediana. Essas medidas são
chamadas assim, pois indicam em que lugar a massa de dados tende a se
concentrar.

2.1 Calculando (encontrando) a moda

A moda é a medida mais intuitiva de todas as medidas de tendência


central, pois se refere à categoria da variável qualitativa ou ao valor da variável

152 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

quantitativa que se repete com maior frequência.


No caso do exemplo do medo, a moda é a classe de medo real, pois 20
alunos têm medo de coisas reais. Já, se quisermos saber qual é a idade mais
frequente, basta organizarmos os dados em uma TDF e depois examinar a
idade que se repete mais vezes. Neste caso a idade mais frequente foi 8 anos.
A moda também é o ponto máximo de um gráfico de barras, de uma
variável qualitativa ou discreta que toma poucos valores, resultantes de uma
TDF, como por exemplo, a mascote que as crianças têm em casa ou o número
de filhos por família (Figura 78).

Figura 78 - Extraindo a moda de um gráfico de barras. Fonte: elaborado pelos autores.

Assim, lendo o gráfico, podemos concluir em relação às mascotes que


o que está na moda é não ter nenhuma mascote. Já, em relação ao número de 4
Unidade
filhos, o que está na moda para essas famílias é ter um único filho.
Aqui devemos alertar os alunos que não podemos generalizar de
que o ponto máximo de um gráfico representa a moda. Por exemplo, nos
gráficos de barras que representam uma série temporal (que estão em função
do tempo), o ponto máximo do gráfico raramente poderá ser a moda. Na
Figura 79, apresentamos a evolução do consumo anual de açúcar per capita
(por pessoa), no Brasil. O ponto máximo é atingido em 1990, mas 1990 não
é a moda, nem é a variável em estudo. Alias, podemos observar que a moda
neste exemplo não existe, pois nenhum valor de consumo per capita se repete
ao longo do tempo.

UESC Módulo 5 I Volume 3 153


Metodologia do Ensino da Matemática

Figura 79 - Consumo anual per capita de açúcar no Brasil. * valor interpolado.


Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da Embrapa (http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-
acucar/arvore/CONTAG01_109_22122006154841.html)

2.2 Calculando a média aritmética

Como já mencionamos, aparentemente, as pessoas têm um bom


conhecimento desse conceito. Contudo, o que observamos é que esse
conhecimento refere-se, em geral, ao domínio do algoritmo: “soma dos
valores da variável dividida pelo número de dados envolvidos na soma”:

Média = Soma dos valores da variável = Soma

Número de elementos que compõem a soma n

Onde “n” é o número de elementos

Podemos observar que a média é a razão entre duas variáveis.


No numerador, temos a soma dos valores da variável em estudo e, no
denominador, o número de elementos que compõem essa soma.
Também podemos pensar a média desta forma: a reunião de todos
os valores em um único valor (somatório) e depois a distribuição em
partes iguais, dentre os elementos que compõem esse todo. Portanto, a
compreensão da média implica na compreensão da divisão, dos números
decimais e das propriedades da média.
Vejamos alguns exemplos. Suponha que as notas em Matemática

154 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

de Ana foram: 8 no primeiro bimestre; 6 no segundo; 7 no terceiro e 7


no quarto. Para calcular a nota média, primeiro temos que saber qual foi
o total de pontos obtidos nos quatro semestres, para isso basta somar as
quatro notas, o que resulta em 28 pontos (8 + 6 + 7 + 7) e, depois dividir
por quatro, resultando em 7 (28/4 = 7):

Nota média = Soma de pontos = 8 + 6 + 7 + 7 = 28 = 7 pontos por bimestre

Nº de bimestres 4 4

Assim, a nota média de Ana ao longo do ano escolar foi de 7 pontos


por bimestre. Mas o que teria acontecido se, ao invés de 8, tivesse obtido 6
no primeiro bimestre. Nesse caso, o total de pontos seria de 26 (6 + 6 + 7
+ 7), que dividido por 4 resulta 6,5 (26/4 = 6,5) ou seis e meio.

Nota média = Soma de pontos = 6 + 6 + 7 + 7 = 26 = 6,5 pontos por bimestre

Nº de bimestres 4 4

Neste caso, as crianças precisam conhecer os números decimais.


Voltaremos a este ponto logo mais. Se, ao invés de nota, esses números se
referissem à idade de 4 crianças; então, no numerador, teríamos a soma das
idades das quatro crianças e, no denominador, o número de crianças:

Idade média = Soma das idades = 6 + 6 + 7 + 7 = 26 = 6,5 anos por criança


4
Unidade
Nº de crianças 4 4

Logo, a média das idades das quatro crianças seria seis anos e meio.
Nestes dois exemplos, não há problema do resultado ser um número
decimal, pois esses valores existem por se tratar de variáveis contínuas
(podem tomar qualquer valor).
Vejamos um exemplo envolvendo dinheiro. Suponhamos que temos
quatro alunos, com a seguinte distribuição de dinheiro no bolso: Ana tem
10 reais, Maria tem 7, João tem 3 e Pedro tem 4 reais. Solicitamos aos

UESC Módulo 5 I Volume 3 155


Metodologia do Ensino da Matemática

quatro alunos que coloquem o dinheiro em cima da mesa e juntamos


tudo, a soma dará 24 reais (10 + 7 + 3 + 4). A seguir distribuímos esse
montante em quatro partes iguais (24/4 = 6) resultando seis reais. Esse
valor representa o valor médio de dinheiro por aluno.
Agora vamos devolver o dinheiro aos alunos, mas ao invés
de devolver o valor original, vamos devolver o valor da média. Nesse
caso, Ana perderá 4 reais e Maria 1 real, juntos perderão 5 reais. Em
compensação, João ganhará 3 reais e Pedro 2 reais, juntos ganharão 5
reais. Observe que o ganho recompensa a perda, zerando a diferença.
Esta é uma propriedade da média. A Figura 80 ilustra a distribuição:

Dinheiro que tem Devolução


Aluno Diferença Diferença
no bolso (R$) pela média
Ana 10 6 Perde 4 reais -4
Maria 7 6 Perde 1 real -1
João 3 6 Ganha 3 reais +3
Pedro 4 6 Ganha 2 reais +2
Total 24 24 Zero 0
Figura 80. Exemplo de perdas e ganhos devido à devolução do dinheiro pela média.

Observamos que, neste nível de ensino, ainda não se trabalha com


os números negativos, mas as crianças compreendem o conceito como
“estar devendo”. Logo, sua inserção no 5º ano já é possível.
Agora analisemos o que acontece quando trabalhamos com
variáveis discretas, resultante de contagens, isto é, seus valores tomam
números inteiros.
Suponha que temos quatro alunos: Alex, Ana, João e Tais. Alex
tem três (3) irmãos, Ana nenhum (0), João um (1) e Tais dois irmãos (2).
Para encontrar o número médio de irmãos por aluno somamos o número
de irmãos dos quatro alunos, o que resulta seis (3 + 0 + 1 + 2 = 6). A
seguir, dividimos por quatro, que é o número de alunos, resultando 1,5
(6/4 = 1,5), ver Figura 81. Assim, em média, esses quatro alunos têm 1,5
irmãos. Logo a média é a razão entre o número de irmãos e o número de
alunos.

156 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

Figura 81 - A média como a razão entre duas variáveis.

Média = Total de irmãos = 6 irmãos = 1,5 irmãos por aluno

Nº de alunos 4 alunos

Muitas crianças não conseguem compreender que a média pode


ter como resultado um valor não inteiro, em um caso como este que se
refere a pessoas. Muitos tendem a arredondar o número, ou para um
(1), ou para dois (2). Vejamos o que acontece em cada um desses casos.
Se cada aluno tem em média um irmão, então os quatro alunos terão 4
irmãos, dois a menos que o verdadeiro número. Se arredondarmos para
dois, então os quatro alunos terão oito irmãos, dois a mais do que o
verdadeiro número.
Por essa razão é importante que as crianças compreendam a 4
Unidade

relação inversa que estabelece entre o todo (soma dos valores), a média
e o número de elementos que compõem a média. Isto é, se conhecemos
a média e o número de elementos que a compõem, podemos conhecer a
soma de todos os valores da variável:

Média * Nº de elementos = soma dos valores

Assim, não é possível arredondar os dados de forma indiscriminada,


pois em alguns casos comprometemos os mesmos.
Neste nível escolar, as crianças já estão familiarizadas com a

UESC Módulo 5 I Volume 3 157


Metodologia do Ensino da Matemática

divisão exata e elas têm várias estratégias de distribuição, como mostra o


trabalho de Selva e Borba (2005). O problema aparece quando a divisão é
inexata ou quando o resultado não tem um referente na vida real.
Para melhor compreender a média, analisemos algumas situações.
Suponhamos que nossos quatro alunos: Alex, Ana, João e Tais têm ao
todo quatro balas. Mantendo fixo o todo (número de balas) e o número de
elementos (número de crianças), analisemos algumas situações:

a) Cada criança tem uma bala, logo, em média, uma criança tem uma
bala:

Alex Ana João Tais Soma Média

4 balas
1 bala por

4 crianças criança

b) Alex e João têm duas balas cada um e as meninas não têm balas.
Neste caso, a média continua a ser uma bala por criança:

Alex Ana João Tais Soma Média

4 balas 1 bala por

criança
4 crianças

c) Alex tem quatro balas e as outras três crianças não têm balas. Neste
caso, a média continua a ser uma bala por criança:

Alex Ana João Tais Soma Média

4 balas
1 bala por

criança

4 crianças

158 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

Discuta com os alunos esta situação. Pergunte a eles o que achariam,


se essa situação fosse verdadeira, se tomássemos todas as balas das quatro
crianças e as redistribuíssemos entre elas pela média.
No primeiro caso, todas as crianças concordarão que está tudo bem,
pois cada uma tinha uma bala e receberá uma bala. No segundo caso, algumas
crianças acharão a distribuição pela média mais justa, pois as meninas que
não tinham balas ganharão uma, sendo que todos terão balas de forma
igualitária. Mas outras crianças poderão achar essa distribuição injusta, pois
os meninos que tinham duas balas vão perder uma. Essa situação ficará mais
tensa no terceiro caso, pois apenas o Alex tem 4 balas e as outras crianças
não têm balas, logo Alex seria fortemente prejudicado.

Perde 3 Ganha 1 Ganha 1 Ganha 1

-3 +1 +1 +1

Observe que a composição do todo é a mesma, o que varia é a


distribuição dos dados entre os elementos que o compõem. Esta é uma 4
Unidade
característica importante da média. Quanto mais homogênea for a
distribuição dos dados (caso a), a média representará melhor esse conjunto
de dados, porém quanto mais dispersa for a distribuição, a média não será
uma medida adequada para representar os dados (caso c).
Outra característica da média é que os desvios (diferença entre o
valor da variável e a média) se anulam. Alex perdeu 3 balas, mas Ana, João
e Tais ganharam uma bala cada, isto é, a perda de um foi compensada pelo
ganho dos outros.
Analisemos outra situação, mantendo fixa a soma de quatro (4)
mascotes, variando agora o número de elementos (crianças):

UESC Módulo 5 I Volume 3 159


Metodologia do Ensino da Matemática

a) Quatro crianças, cada uma tem uma mascote, logo o número médio
de mascotes por criança é um.

Alex Ana João Tais Soma Média

4 mascotes
1 mascote por
criança
4 crianças

b) Alex tem três mascotes e Ana tem uma. Neste caso, a média é duas
mascotes por criança:

Alex Ana Soma Média

4 mascotes
2 mascotes
por criança
2 crianças

c) Alex tem três mascotes, Ana tem uma e João não tem mascote. Neste
caso, o número médio de mascotes por criança é 1,33 mascotes por
criança:

Alex Ana João Soma Média

4 mascotes 1,33
mascotes por
3 crianças criança

Veja que terrível seria pensar em distribuir as quatro mascotes


pelas 3 crianças. Isso implicaria em cortar uma mascote em três pedaços
iguais. Isto é um dos obstáculos que enfrentamos quando vamos ensinar
a média para crianças que ainda não compreendem que a média é um
número que representa um conjunto de dados.
Essa dificuldade foi investigada por Watson (1996), numa pesquisa
que envolveu estudantes da 3ª a 8ª séries do ensino fundamental e 1ª série
do ensino médio. A pesquisadora solicitou a interpretação da seguinte
afirmação: “Em média, os casais jovens têm 2,3 filhos”. Respostas típicas

160 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

incluíam as seguintes: “existem duas crianças mais velhas e uma mais


jovem”, “vírgula três significa que, mais tarde, a criança menor contará
como três”, “a mãe tem dois filhos e está grávida do terceiro”, dentre
outras do gênero.
Para a autora, esses estudantes estavam sofrendo conflito cognitivo,
pois para eles (0,3) estaria indicando que o filho ainda não nasceu ou
que é pequeno para ser contado como um número inteiro. Outro tipo
de resposta também apareceu: “a maioria das famílias tem dois filhos
(conceito de moda), “poucas famílias têm três filhos”, “mais famílias
têm dois filhos do que três”, “a maioria têm dois filhos, mas algumas
têm três ou cinco”, “somar todas as crianças e dividir pelo número de
famílias, porém o resultado não dá um número inteiro”. Essas expressões
denotam uma aproximação do conceito de média, mas, segundo a autora,
esse tipo de resposta não foi da maioria. Finalmente, poucos estudantes
se referiram ao resultado como um resultado estatístico: “2,3 é apenas
uma estatística, uma forma resumida dos dados”.
Outra dificuldade encontrada é que muitos alunos acreditam que
pelo fato de um elemento não apresentar a característica, esse não deve
fazer parte da média. Voltemos ao exemplo do número de irmãos. Nessa
lógica, Ana, por não ter irmãos, não deve fazer parte do cálculo da média
e, assim, somam os valores e dividem por três ao invés de dividir por
quatro, resultando uma média de dois (6/3 = 2).
Uma forma de evitar esse conflito é colocar os dados em uma lista,
como a que segue. Assim, os alunos podem ver que existem 4 alunos e
que esses quatro alunos têm ao todo 6 irmãos. Portanto, a média será o
resultado de dividir 6 (irmãos) por 4 (alunos), que resulta 1,5 irmãos por 4
Unidade

aluno.

Aluno Nº de irmãos
Alex 3
Ana 0
João 1
Tais 2
Total 6

A pesquisadora Watson (1996) também relata que após observar

UESC Módulo 5 I Volume 3 161


Metodologia do Ensino da Matemática

o número de pessoas em carros de passeio que passaram por uma ponte,


num período determinado, solicitou às crianças que calculassem a média
e que representassem com desenhos (a média foi 1,5 pessoas por carro).
A pesquisadora observou que crianças pequenas desenharam a ponte
com carros e em cima dos carros um boneco e metade de outro (Figura
82), apenas as crianças maiores conseguiram desenhar de forma adequada
(Figura 83).

Figura 82 - Exemplo fictício de representação inadequada baseado na pesquisa de Watson (1996).

Figura 83 - Exemplo fictício de representação adequada baseado na pesquisa de Watson (1996).

No Brasil, encontramos os trabalhos das pesquisadoras Selva


e Borba (2005) que apresentam resultados relevantes relativos à
compreensão da divisão inexata. Elas observaram como crianças comparam
os resultados de um mesmo problema de divisão com resto resolvido por
meio de diferentes representações (papel e lápis, calculadora versus papel
e material manipulativo). Essa análise nos permite compreender melhor
as razões pelas quais as crianças apresentam dificuldades no cálculo da
média.

162 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

2.3 Calculando (encontrando) a Mediana

Para apresentar a mediana, vamos nos reportar ao trabalho de Cazorla


e Oliveira (2010, p. 131-134). Esses autores apresentam e discutem este
conceito de forma mais detalhada. Aqui vamos nos concentrar apenas na ideia
intuitiva de mediana.
A mediana divide em duas partes iguais um conjunto ordenado de
dados. Para encontrar seu valor, primeiro devemos ordenar os dados, a seguir
localizamos o lugar que ela ocupa, para assim encontrar seu valor.
Um exemplo fácil e prático é encontrar a altura mediana dos alunos
de nossa sala, mas antes vamos fazer um exercício com um número pequeno
de dados. Para isso solicite aos alunos que anotem em um papel de tamanho
padronizado sua altura. Em seguida, solicite que cinco alunos da classe se
coloquem em pé na frente da sala, mostrando numa folha de papel sua estatura
(Figura 84):

Luiz (152) Ana (148) João (155) Bia (145) Caio (150)

Figura 84 - Exemplo utilizado para calcular a mediana da estatura de cinco alunos. Fonte: Figura 114 de Cazorla e Oliveira
(2010), p. 132.

Para encontrar a mediana, o primeiro passo é ordenar os dados. Para


isso, solicite aos cinco alunos que se posicionem em ordem crescente de 4
Unidade

estatura (Figura 85): do mais baixo ao mais alto (pode ser de forma decrescente
também).

Bia (145) Ana (148) Caio (150) Luiz (152) João (155)

1º lugar 2º lugar 3º lugar 4º lugar 5º lugar


Abaixo da mediana: dois dados Mediana Acima da mediana: dois dados
Figura 85 - Exemplo do cálculo da mediana da estatura de cinco alunos. Fonte: Figura 115 de Cazorla e Oliveira (2010), p. 132.

UESC Módulo 5 I Volume 3 163


Metodologia do Ensino da Matemática

Como existem cinco dados (n é ímpar), a posição que a mediana


ocupa será o terceiro lugar (3º), pois abaixo do terceiro lugar temos dois
dados e acima também temos dois dados; consequentemente, a estatura
mediana será a estatura de Caio, que é 150 cm.
Logo, o valor da mediana será a estatura do aluno que ocupa o 3º
lugar:

Mediana = 150

A interpretação da mediana é bastante intuitiva: no mínimo 50% dos


alunos têm estatura menores ou igual a 150 cm; e os outros 50% assumem
valores maiores ou igual a 150 cm.
Se o número de aluno for par, então precisaremos calcular a média
dos valores que ocupam as posições centrais. Suponhamos que Francisco,
que mede 180 cm, se unisse ao grupo. Agora, o número de alunos seria seis,
um número par. Logo, a mediana deveria estar entre o terceiro e o quarto
lugar, pois teríamos três dados abaixo e três acima desse valor.

Bia Ana Caio Luiz João Francisco


145 cm 148 cm 150 cm 152 cm 155 cm 180 cm
1º lugar 2º lugar 3º lugar 4º lugar 5º lugar 6º lugar

Abaixo da mediana: três alturas Acima da mediana: três alturas

Logo, o valor da mediana seria o ponto médio desses valores centrais:

Mediana = 150 + 152 = 151 cm


2

A tarefa de ordenar é bastante trabalhada nos anos iniciais, então


podemos aproveitar para ensinar o conceito de mediana, quando estivermos
trabalhando a ordenação. Assim, só precisaremos aprender a encontrar a
posição da mediana:
a. Se o número de dados for ímpar, adicionar um e dividir por
dois. Por exemplo 33. Nesse caso 33+ 1 = 34, que dividido
por 2 resulta 17. Logo a mediana de um conjunto que tiver 33
elementos será o décimo sétimo lugar.

164 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

b. Se o número de dados for par, dividir por dois e calcular a média


desse valor e de seu sucessor (dados ordenados). Por exemplo, se
o número de dados for 34, então 34/2 = 17, assim a mediana será
a média dos valores que ocupam o 17º e 18º lugares.

Neste ponto, quando os alunos já aprendem a trabalhar com a reta


numérica é importante utilizá-la, pois a ordenação nos tráz problemas
conceituais, uma vez que todos os alunos estão um ao lado do outro, dando
a falsa ideia de que a diferença entre dois alunos é a mesma, o que não é
verdade. Vejamos no nosso exemplo, colocando os dados na reta numérica:

+3 +2 +2 +3

145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155
Bia Ana Caio Luiz João

Média = 150
Mediana = 150

Como podemos ver, a distância entre os alunos não é a mesma e isso


piora quando colocamos a altura de Francisco no conjunto. Aproveitamos
esta representação para sinalizar onde se localiza a média e a mediana. Ambas
tomam o valor de 150:

Média = 145 + 148 + 150 + 152 + 155 = 750 = 150 4


Unidade
5 5

A diferença da mediana em relação à média é que a mediana não é


afetada pelos valores fora do padrão (outliers ou discrepantes). No exemplo
com os cinco alunos, a mediana e a média coincidem; logo, qualquer uma
delas representa bem o conjunto de dados, pois as estaturas não são muito
diferentes.
Todavia, quando Francisco, com 30 cm acima da média, junta-se ao
grupo, eleva o valor da média em cinco centímetros, pois aos 750 cm dos
cinco alunos, devemos adicionar 180 cm da altura de Francisco, totalizando

UESC Módulo 5 I Volume 3 165


Metodologia do Ensino da Matemática

930 cm, que dividido por seis resulta 155 cm. Isto é, cinco cm a mais,
enquanto que o impacto na mediana foi de apenas um centímetro.

Bia Ana Caio Luiz João Francisco

140 145 150 155 160 165 170 175 180

Mediana = 151 Média = 155

Neste exemplo, vemos como um valor “fora do padrão” eleva a média


e já a mediana não sofre tanto. Assim, a pergunta é qual das duas medidas
devemos usar? É o que discutiremos logo mais.
Agora, calculemos a mediana das idades dos 33 alunos. Neste caso,
a mediana ocupará a 17ª posição (33+1)/2, que será 8 anos, como podemos
ver no esquema a seguir:
10º
11º
12º
13º
14º
15º
16º
17º
18º
19º
20º
21º
22º
23º
24º
25º
26º
27º
28º
29º
30º
31º
32º
33º








7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9 9 9 9 9

16 dados abaixo 16 dados acima

A mediana também pode ser encontrada a partir dos dados agrupados


numa TDF. Para isso, basta utilizar a frequência absoluta acumulada, para
isso basta perguntar quantos alunos temos até aquela idade e somar as
frequências das idades anteriores, incluindo o valor da frequência da idade
em questão. Para encontrar a mediana basta examinar esses dados e encontrar
o número que contenha pela primeira vez 17. Assim, constatamos que o
número 24 contém o número 17 pela primeira vez, logo a idade mediana
será 8 anos.

166 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

Calculando a frequência absoluta Variável Frequência Frequência


acumulada:
Idade Nº de Nº de
• Quantos alunos temos com
idades até 7 anos? 5 alunos. 7 5 5
• Quantos alunos temos com
8 19 24
idades até 8 anos? 5 + 19 =
24 alunos.
9 9 33
• Quantos alunos temos com
idades até 9 anos? 5 + 19 + 9 Total 33
= 33 alunos.
Sendo que o último valor deve
coincidir com o número total de
alunos.

3 INTEGRANDO A LEITURA DE TABELAS, GRÁFICOS E


MEDIDAS ESTATÍSTICAS

A compreensão das propriedades das medidas de tendência central


(média, mediana, moda), assim como a configuração em tabelas e gráficos,
permite ao aluno aprimorar seu conhecimento sobre a natureza dos dados.
Vejamos, a média foi 8,1, a mediana e a moda igual a 8. Aparentemente
estamos diante de um conjunto de dados bastante homogêneo (Figura 86).
Porém temos um número significativo de crianças com 9 anos (27,2%), que
possuem uma defasagem de um ano. Lembramos que se trata de uma turma

4
do 3º ano, cuja idade recomendada é de 8 anos.
Unidade

Idade Nº de %

7 5 15,2

8 19 57,6

9 9 27,3

Total 33 100,0

Figura 86 - Distribuição das idades dos alunos da pesquisa sobre o medo.

UESC Módulo 5 I Volume 3 167


Metodologia do Ensino da Matemática

um conselho

Muitas vezes, podemos intuir o valor da média analisando visualmente os dados. Por
exemplo, suponha que desejamos, sem fazer cálculos, apenas analisar a tabela ou o grá-
fico, conhecer o valor da média de idade dos alunos.

O nosso primeiro palpite, neste exemplo, deveria ser a moda, 8 anos, pois a maioria dos
alunos tem essa idade. Agora, analisemos a idade 7 anos, que tem cinco alunos e, na
idade de 9 anos, temos 9 alunos, isto é, 4 alunos a mais, assim a média será um pouco
maior do que 8 anos. Porém, não poderá ser maior do que 8,5, pois para isso precisaría-
mos de mais alunos com 9 anos. Logo a média estará mais próxima a 8.

Assim, aconselhamos a fazer isso de forma rotineira. Esse exercício aguça a intuição e dá
sentido as medidas encontradas.

4 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Uma pesquisa não termina com a organização e tratamento dos


dados, ao final precisamos voltar às questões que deram origem à pesquisa
e buscar responder essas questões, e ainda, no caso de haver sido geradas
hipóteses, verificar a validade ou não delas.
Até aqui, aprendemos a traduzir em números nossas questões de
pesquisa. Escolhemos um tema para investigar, formulamos questões de
investigação, aprendemos a construir instrumentos para coletar os dados,
coletamos e tratamos os dados.
Agora já temos em mãos tabelas, gráficos e estatísticas resumos.
Chegou a hora de responder as questões de pesquisa e socialização dos
resultados, isto é, a construção da argumentação sobre os resultados,
o que implica na escolha da representação que melhor comunica os
argumentos, bem como a elaboração de um relatório.

A pesquisa sobre o medo das crianças


Na pesquisa sobre o maior medo das crianças, queríamos saber
quais eram os maiores medos das crianças de nossa sala e conjecturamos
que a idade e o gênero são dois fatores importantes. Então, agora
retomemos os dados e, a partir da leitura conjunta, vamos tentar
responder as perguntas.

168 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

Exemplo de relatório final de pesquisa

Foi realizada uma pesquisa com 33 alunos do 3º ano A, do Colégio


ABC, da cidade de Recife, dos quais 18 eram meninas (54,5%) e 15 eram
meninos (45,5%), conforme Tabela 1. Suas idades variaram de 7 a 9 anos
(Figura 86), sendo que a maioria tinha 8 anos e a idade média foi de 8,12
anos.
Embora a idade média estivesse próxima da idade recomendada
para este ano escolar, 27,3% dos alunos tinha 9 anos, isto é, estavam
defasados em um ano relativamente ao esperado.
A leitura geral da planilha de dados (Quadro 4) indica que o medo
mais frequente foi rato (3 alunos) e altura (3 alunos, considerando “lugar
alto” como altura), os outros medos só se repetiram duas vezes ou apenas
uma única vez.
Quando agrupamos os medos por classe de medo, observamos que
60,6% dos alunos têm medo de coisas reais e 39,4% de coisas imaginárias
(Tabela 2) e que isso não difere por gênero, pois a diferença entre gêneros
é de apenas 1,1% (Tabela 3).
Em relação à idade, também não parece haver interferência dessa
variável em relação à classe de medo, como podemos observar na Tabela 4.

Tabela 4 - Distribuição dos tipos de medo em relação à idade dos alunos

Classe de 7 anos 8 anos 9 anos Total


medo Nº % Nº % Nº % Nº %
Imaginário 2 40,0 7 36,8 4 44,4 13 39,4 4
Unidade
Real 3 60,0 12 63,2 5 55,6 20 60,6
Total 5 100,0 19 100,0 9 100,0 33 100,0

Contudo, quando analisamos dentro das subclasses de medo,


percebemos sutis diferenças. Por exemplo, as meninas tendem a ter mais
medo de personagens imaginários e os meninos de bichos e pessoas reais.
Quanto à idade, parece que quanto mais velho, vai diminuindo
o medo de bichos, mas aumenta o medo em relação aos personagens
imaginários e pessoas, como pode ser visto na Tabela 5. Essas diferenças
são mais visíveis na Figura 87.

UESC Módulo 5 I Volume 3 169


Metodologia do Ensino da Matemática

Tabela 5 - Distribuição dos tipos de medo por subclasse em relação ao gênero e idade (em
porcentagem)

Subclasses de Gênero Idade (em anos)


Total
medo Feminino Masculino 7 8 9
Imaginário Folclore 11,1 20,0 20,0 15,8 11,1 15,2
Imaginário
27,8 20,0 20,0 21,1 33,3 24,2
Personagem
Real Bicho 22,2 26,7 40,0 26,3 11,1 24,2
Real Pessoa 16,7 26,7 20,0 15,8 33,3 21,2
Real Situação 22,2 6,7 0,0 21,1 11,1 15,2
 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Figura 87 - Distribuição do medo por subclasses segundo gênero e idade.

170 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

ATIVIDADES
ATIVIDADES

Dando continuidade à análise de dados da pesquisa da altura das


crianças, iniciada na unidade III, e tomando com referência a planilha de
dados:

a) Calcule a média, mediana e moda das variáveis idade e altura de


todos os alunos.
b) Calcule a média da altura por ano escolar.
c) Calcule a média da altura por idade.
d) Calcule a média da altura por gênero.
e) Calcule a média da altura por gênero e idade.
f) Construa uma tabela de dupla entrada contendo a média por
gênero (linha) e idade (coluna).
g) Interprete os resultados. Há evidências de que os meninos são
mais altos do que as meninas?

RESUMINDO
RESUMINDO

Professor, novamente, enfatizamos a importância de que antes


de iniciar o tratamento dos dados, analise qual é a melhor maneira de
apresentá-los: tabelas, gráficos ou medidas resumidas.
Vimos a importância das medidas de tendência central e os cuidados 4
Unidade
que devemos ter para que nossos estudantes possam compreender suas
características e adequação aos dados trabalhados e, assim, escolher os
gráficos, as tabelas e as estatísticas que melhor respondem as perguntas
de pesquisa.
Esperamos tê-los ajudado e os encorajamos a que nos enviem suas
impressões e sugestões sobre este material, pois queremos aprimorá-
lo para, assim, chegarmos cada vez mais e melhor junto aos nossos
professores.

UESC Módulo 5 I Volume 3 171


Metodologia do Ensino da Matemática

REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS

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174 Pedagogia EAD


Tratamento da Informação - medidas estatísticas

Suas anotações

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Unidade
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UESC Módulo 5 I Volume 3 175

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