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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS – CECH


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROJETO DE PESQUISA
VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE: ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS E
HOMICÍDIOS NA REGIÃO METROPOLITANA DA CAPITAL SERGIPANA

PLANO DE TRABALHO
As organizações criminosas e a interferência nas taxas de homicídios na região
metropolitana de Aracaju

Projeto de pesquisa para ser


apresentado Disciplina Métodos e
Técnicas em Pesquisa em Ciências
Sociais II, orientado Prof. Dr. Frank
Marcon.

Everton Passos dos Santos

São Cristóvão, julho de 2018.


1. PROJETO: Organizações criminosas e homicídios na região metropolitana da capital
sergipana

1 Introdução

Esta pesquisa é uma proposta de responder as questões de como e quando as


organizações envolvidas com o tráfico ilícito de entorpecentes passaram a interagir nos índices
de homicídios na região metropolitana de Aracaju. O objetivo é identificar como a ação de
organizações criminosas e sua atividade principal, o tráfico ilícito de entorpecentes, passam a
interferir no índice de homicídios na região de maior taxa habitacional de Sergipe, a região
metropolitana de Aracaju. Inicialmente o interesse pelo tema começou a surgir há cerca de
aproximadamente cinco anos, época que observei um aumento das notícias relacionados a
mortes violentas em Aracaju e cidade circunvizinhas, além de ir in loco para locais onde eram
localizados corpos de jovens e que havia a suspeita de suas mortes terem relação com a
atividade de organizações criminosas, principalmente em Nossa Senhora do Socorro, município
em que desenvolvo minha atividade profissional. Responder a essas questões direcionam a
pesquisa que propomos fazer.

Durante a graduação em Ciências Sociais a temática criminalidade e violência sempre


por mim foi buscada na antropologia e na sociologia e desta forma as duas áreas contribuíram
para a escolha do tema. Inicialmente, observando e analisando os municípios de Aracaju, Nossa
Senhora do Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros, me chamou a atenção como os
números de mortes relacionadas a mortes violentas por arma própria, como armas de fogo ou
qualquer outro instrumento de defesa ou ataque como punhal e espada, principalmente
homicídios de jovens, negros e do sexo masculino, muitos egressos do sistema prisional
sergipano, estavam crescendo em Sergipe, principalmente na região metropolitana de Aracaju.
Por isso percebi a necessidade da realização de estudos que respondessem a essa questão.

A Região Metropolitana de Aracaju, criada pela Lei Complementar Estadual nº 25, de


29 de dezembro de 1995, é composta pelos Municípios de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa
Senhora do Socorro e São Cristóvão, tendo como sede o município de Aracaju. Possui
população estimada de 912.647 habitantes. A região compreende os mesmos municípios que a
Microrregião de Aracaju.

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2. Justificativa

De norte ao sul do país a questão da violência desencadeada pela guerra de facções de


criminosas pode ter ligação direta com o número de homicídios registrados em todos os estados
do Brasil, principalmente no Nordeste. O número de homicídios por armas de fogo tem crescido
anos após anos como é demonstrado pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, diretor de pesquisa
do Instituto Sangari e também coordenador da Área de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-
americana de Ciências Sociais e coordenador do Mapa da Violência. Em Sergipe, a atual taxa de
homicídios chega a 64 pessoas por 100 mil habitantes.

Mesmo com o dito combate ao tráfico ilícito de entorpecentes e prisões constantes da SSPSE,
aliada ao Estatuto do Desarmamento, os índices de homicídios foram crescendo entre 2011 a 2016,
tendo leve queda no período de 2017 ao início de 2018, como relatou a própria SSPSE a imprensa
sergipana.

Diante das informações e através da observação participante (o autor deste texto é membro
da Polícia Militar do Estado de Sergipe) achamos necessário descobrir como procedeu esse aumento
considerável na taxa de homicídios e se a atuação de facções (organizações) criminosas conhecidas
no sistema prisional sergipano tem influência direta ou não nos registros de mortes violentas por
arma de fogo ou por qualquer outro tipo de instrumento, por questões ligadas propriamente ao tráfico
e consumo ilícito de entorpecentes e a disputa de espaços na região metropolitana de Aracaju, além
de analisar dados dos indivíduos envolvidos, em sua maioria jovens negros de periferias.

Por ser um fenômeno social pouco ou quase não explorado em pesquisas sobre violência e
criminalidade, principalmente em Aracaju, achei necessário realizar uma pesquisa em que o foco
seria organizações criminosas na região metropolitana de Aracaju justamente para responder as
questões elencadas, além demonstrar o perfil social das vítimas das interferências destas facções.

3. Objetivos da Pesquisa

3.1 Objetivo Geral

Estudar o fenômeno da violência e da criminalidade na região metropolitana de Aracaju


e responder como e quando especificamente as organizações criminosas chamadas facções e
que atuam no tráfico ilícito de entorpecentes além de outras modalidades criminosas, passaram
a interagir nos índices de homicídios na região metropolitana de Aracaju.

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3.2 Objetivos Específicos

 Levantar junto a literatura das Ciências Sociais, seja nas áreas de Sociologia,
Antropologia e Direito, embasamento teórico que contribuam para a pesquisa;
 Compreender o fenômeno a partir dos inquéritos policiais e das entrevistas;
 Realizar entrevistas com autoridades da Segurança Pública do Estado de Sergipe que
possam esclarecer como atuam as organizações criminosas que atuam com o uso ilegítimo da
força, dentro e fora dos presídios;
 Abrir fórum na internet relacionado a temática desenvolvida;
 Caracterizar os sujeitos vítimas dos homicídios: faixa etária, escolaridade, cor da pele,
origem social, grupos sociais e etc.;
 Descobrir como atuam as organizações criminosas no tocante a sua maior fonte de
capital financeiro, o tráfico ilícito de entorpecentes;
 Identificar algumas destas organizações criminosas, principalmente as que mais detém
poder, seja no aumento ou no controle da violência;
 Analisar as taxas anuais de mortes violentas na região estudada;
 Preparar relatórios dos trabalhos, entrevistas e pesquisas de campo;
 Realizar entrevistas e visitas no Sistema Prisional sergipano;
 Identificar as áreas em que houve maior aumento de homicídios relacionados a disputa
de poder entre facções;
 Debater a temática violência e juventude;
 Analisar através dos inquéritos policiais as circunstâncias de determinados homicídios
que podem ter ligação com disputa de poder entre facções criminosas;
 Discutir a temática Estado versus Crime Organizado.
 Analisar dados de fontes oficiais (DESIPE; SSPSE)

4. Fundamentação Teórica

Não se pode negar que a violência e a criminalidade nos grandes centros urbanos
tornaram-se fenômenos sociais de grande visibilidade, ainda mais sendo divulgados pela
imprensa e compartilhado nas redes socias. Um dos crimes que mais repercutem são os
homicídios causados por instrumentos próprios de defesa ou ataque como punhal e espada, mas

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principalmente por arma de fogo, crimes estes muitas das vezes podem ter sido ocasionados por
disputas de poder e controle dos espaços por organizações criminosas.

Como diz Arendt:

Se nos voltarmos para os debates sobre o fenômeno do poder, descobriremos logo


que existe um consenso entre os teóricos políticos da esquerda e da direita de que a violência
nada mais é do que a mais flagrante manifestação de poder. “Toda política é uma luta pelo
poder; tipo o poder mais definitivo é a violência” (ARENDT, Hannah 1970).

Nossa hipótese parte do pressuposto do que diz Arendt onde “Violência” e “Poder” sempre
andam juntos. Desta forma queremos demonstrar nesta pesquisa, como a interferência do tráfico
ilícito de drogas na região metropolitana de Aracaju, promovidos pelas facções (organizações)
criminosas, influenciam no aumento das taxas de homicídios ou na diminuição, quando áreas
são controladas pelos “chefes”. Como esse fenômeno social se dá na região metropolitana da
capital sergipana, se tem origem exterior ao estado de Sergipe? A influência de organizações
criminosas como o PCC e CV pode ser resposta ao nosso problema de pesquisa.

Descobrir como as facções criminosas agem, quando elas surgiram, quem são os agentes
sociais envolvidos e como se processa esse fenômeno social moderno ligado a violência, pode
ter uma enorme relevância no meio acadêmico, haja vista escassez de estudos ligados a esse
tema relacionados ao estado Sergipe, justamente no campo das Ciências Sociais e no estudo da
violência e criminalidade visto e pesquisado por quem trabalha no combate a violência não
estatal. É necessário também procurar no sistema prisional algumas das causas que expliquem
o surgimento e fortalecimento das facções criminosas, como diz Alves (2010):

No Brasil as principais organizações criminosas foram criadas e tomaram forças


nos presídios, pelo acumulo de presos nas celas e pela falta de fiscalização e corrupção
dos agentes, marcadas por um forte código de honra e de repressão aos integrantes que
o descumprem, e auto poder de intimação nas comunidades que atuam.

No campo jurídico o tema organizações criminosas levanta debates sobre os temas


crime, violência, Estado democrático de direito como afirma Nucci (2015):

O conceito de organização criminosa é complexo e controverso, tal como a


própria atividade do crime nesse cenário. Não se pretende obter uma definição tão
abrangente quanto pacífica, mas um horizonte a perseguir, com bases seguras para

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identificar a atuação da delinquência estruturada, que visa ao combate de bens
jurídicos fundamentais para o Estado Democrático de direito

Ao analisarmos os espaços disputados pelas organizações criminosas que agem com o


uso ilegítimo da força, se opondo e muitas vezes concorrendo com o próprio Estado. Ao nos
debruçarmos na investigação destas ações e como elas podem intervir no aumento das
ocorrências de homicídios, poderemos estar diante de grupos que não estão disponíveis para
serem analisados, investigados por aqueles que não sejam da área da Segurança Pública. Até a
presença das facções em presídios é ocultada pelas forças do Estado, seja para não as fortalecer,
seja para não alarmar e criar pânico na população. Em Sergipe um dos autores que debatem
com a temática é o próprio secretário de Segurança Pública, João Eloy de Menezes, com a
monografia Inteligência Policial e Combate ao Crime Organizado, apresentado a UFS.

Pesquisadoras como a antropóloga Karina Biondi em seu trabalho - Junto e misturado:


imanência e transcendência no PCC já começa a pesquisa in loco utilizando-se de etnografia e
demonstrando a influência dentro e fora da cadeia de organizações criminosas como o PCC,
como também sua Etnografia no Movimento: Território, Hierarquia e Lei no PCC. Suas
pesquisas sobre o primeiro comando da capital – PCC – são estudos que refletem importantes
meios de debate com o tema que escolhi, pois mostram parte da engrenagem que movem as
interferências das organizações criminosas na sociedade brasileira e elas podem ser utilizadas
como descoberta das estruturas de análise e discrição para falarmos dos homicídios ocasionados
pelas interferências das organizações criminosas na região metropolitana de Aracaju.

Acima de tudo é perceptível que o debate sobre crime e violência toma conta do nosso
cotidiano, seja pela imprensa ou outros meios de comunicação. Mas falar sobre crime não é
novidade nas ciências sociais e também poderemos utilizar pensadores clássicos para debater
com nossa temática como Durkheim com a classificação de anomia social ou mesmo Weber
(1970) “ diz que a violência é o aspecto em que se funda o Estado, apesar de não ser sua única
atividade”, porém como as organizações criminosas conseguem criar um “Estado” paralelo e
exercer uma espécie de “força” legítima para eles devido à ausência ou ao não alcance do
Estado em seus domínios?

Outros autores que trabalham questões como classes sociais violência, poder e juventude
são Adorno (2011), Reguillo (2012), Valenzuela (2015) autores que tratam de temáticas
relacionadas ao nosso tema e que estudam fenômenos sociais ligados a crime e violência

A relevância da pesquisa pode liga a importância de entender esses fenômenos sociais -


homicídios ocasionados pela interferência das organizações criminosas na disputa de poder -
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haja vista a lacuna de estudos sobre crime, violência e organizações criminosas na região
metropolitana de Aracaju.

5. Metodologia
A delimitação da investigação gravitará em torno da interferência das organizações
criminosas no tocante à aos índices de homicídios da região metropolitana de Aracaju. Quem
são os sujeitos vítimas de homicídios e por que as facções usam tal prática criminosa como
forma de controle de indivíduos e espaços.

Para realizarmos esta pesquisa lançaremos mão de recursos metodológicos distintos:


pesquisa bibliográfica documental, pesquisa de documentos oficiais e entrevistas em
profundida, podendo ser em grupos focais ou entrevistas abertas ou mesmo questionários.

Os atores sociais pesquisados podem estar dentro do sistema presidiário sergipano ou


fora deles, principalmente ligados ao comando dos grupos e perfis sociais dos elementos de
execução de desafetos, além das próprias vítimas dos homicídios. Complementando os sujeitos
estudados, entrevistaremos os profissionais de Segurança Pública estritamente ligados a
investigação das organizações criminosas existentes na região metropolitana de Aracaju.

Faremos para coleta de dados, o uso de gravadores ou de câmeras de vídeo para


podermos fazer uma análise mais fidedigna dos dados colhidos. Ao fim disso, faremos uma
organização e análise qualitativa ou mesmo quantitativa dos dados por meio de uma análise dos
conteúdos colhidos na pesquisa, sejam as estatísticas, entrevistas ou observações de
documentos ligados a inquéritos policiais.

6. Referências

ADORNO, S. – “A banalidade da violência contemporânea: o problema da anestesia


moral” in Brephol, M. (org).Eichmann em Jerusalém 50 anos depois.
ADORNO, S. (2011;2016). “Violência e crime. Sob o domínio do medo na sociedade
brasileira” in Botelho, A. & Schwarz. L. M. orgs.(2012). Cidadania, um projeto em construção.
Minorias, justiça, direitos. São Paulo: Cloroenigma, pp. 0-81. (3ª reimp).
ARENDT, Hannah. Da Violência (On Violence) - 1969/1970.

BIONDI, Karina. Junto e misturado : imanência e transcendência no PCC. São Carlos:


UFSCar, 2009.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico I; tradução Paulo Neves; revisão da tradução
Eduardo Brandão. - 3ª ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2007. - (Coleção tópicos)

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WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva, Trad: Regis
Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. 4ª ed. – Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009.
MENEZES, João Eloy de. Inteligência Policial e Combate ao Crime Organizado. São Cristóvão:
(TCCP) 2004.

NUCCI, Guilherme de Souza. Organização criminosa. 2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense, 2015.
REGUILLO, Rossana. De las violencias: caligrafía y gramática del horror. Desacatos, núm.
40, septiembre-diciembre, 2012, pp. 33-46. Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en
Antropología Social Distrito Federal, México.
BIONDI, Karina. Etnografia no movimento: Território, hierarquia e lei no PCC. São Carlos:
UFSCar, 2014.

WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência IV: Os Jovens do Brasil-Juventude, Violência e


Cidadania, Brasília, UNESCO, 2004.
VALENZUELA, José Manuel coord. Juvenicidio : Ayotzinapa y las vidas precarias en
América Latina y España. Barcelona: Ned Ediciones; Guadalajara: ITESO; Tijuana:
El Colegio de la Frontera Norte, 2015.

7. Cronograma

ETAPAS
Levantamento
Bibliográfico
Fichamento de
Textos
Coleta de fontes
Análise de fontes
Organiza/Aplicação
Questionários
Tabulação de
Dados
Organização do
roteiro
Redação do
trabalho
Apresentação em
evento científico
Redação/Revisão
final/Entrega

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