preço
dos
para partos
emagecer
Quanto custa nascer
O nosso estudo
Contactámos 21 entidades privadas
• Para saber o custo de um parto nos serviços de saúde
privados, no início de outubro, enviámos questionários a
21 instituições de saúde privadas. Além do preço – para
parto normal com dois dias de internamento e anestesia
epidural, parto distócico com dois dias de internamento
e todas as intervenções (forceps ou ventosas), e cesaria-
teste saúde 107 fevereiro/março 2014
na com três dias de internamento – as instituições fo-
ram ainda questionadas sobre a existência de cuidados
intensivos de neonatologia.
• Até meados de novembro, só obtivemos quatro respos-
tas. Por isso, fizemos uma nova tentativa: colocámo-nos
no papel de uma grávida e telefonámos para as mesmas
instituições, pedindo informações e o envio dos preços
por e-mail. Responderam 18.
• Foram ainda constituídos dois focus group com mu-
lheres do distrito de Lisboa, para entender as razões que
suportam a escolha de instituições públicas ou privadas.
18
O nascimento de um filho é um
momento especial para a mulher.
Quer se trate do primeiro filho ou
de uma mãe já experiente, o mo-
mento do parto é sempre prepara-
do com antecedência. Atualmen-
te, a maioria dos partos realizados
em Portugal tem lugar em unida-
des do Serviço Nacional de Saúde
(SNS). Uma das menores taxas
de mortalidade fetal, neonatal e
infantil da Europa e um serviço
público de qualidade justificam a
escolha. Mas a verdade é que, de
acordo com os dados do Institu-
to Nacional de Estatística (INE),
a procura de hospitais e clínicas
privados tem vindo a crescer.
No ano de 2011, dos 95 149 par-
tos realizados, 82 mil (87%) tive-
ram lugar em hospitais públicos.
Cada vez mais
mulheres escolhem
hospitais privados
para ter os filhos.
Os preços variam
consoante
as regiões e, em
Lisboa,
uma cesariana
pode custar
até 6000 euros
De acordo com um estudo da
União Europeia, uma boa parte é
realizada por cesariana – prática
que envolve riscos para a saúde da
mãe e do bebé. Entre 2004 e 2010,
a prevalência de cesarianas foi de
36%, um valor muito acima da
meta traçada pelo Plano Nacional
de Saúde para 2010. De referir que,
no privado, esta percentagem dis-
para.
Tendo em conta o aumento da op-
ção pelos serviços privados, qui-
semos saber quanto custa nascer
nestes serviços. Sendo esta uma
escolha muito pessoal, realizámos
também dois focus group – um
com mães que escolheram o pri-
vado, outro com mães que opta-
ram pelo SNS – para saber o que
motiva as escolhas.
Aposta no conforto
■ A garantia de que seria o obste-
tra que acompanhou a gravidez a
realizar o parto, a privacidade e os
níveis de conforto foram aspetos
considerados pelas mulheres que
optaram por ter os seus bebés no
setor privado. "Eu queria ir para
um sítio onde tivesse uma casa de
banho só para mim," admitiu uma
das participantes. Já outra valori-
zou a autonomia e a participação
no processo de decisão: "Poder es-
colher foi essencial. Ser eu a dona
do parto e não mais uma partu-
riente que vai fazer tudo aquilo
que é expectado, sem espírito
crítico e sem contestar." Entre as
mães que optaram pelo privado, a
presença constante de um acom-
panhante também foi valorizada.
■ Quem optou pelo serviço públi-
co teve como principais preocu-
pações a segurança, a existência
de um serviço de cuidados inten-
sivos e o preço. "Quer eu, quer o
meu companheiro sempre acre-
ditámos no SNS. De certa forma,
tranquilizou-me ter um conjunto
de pessoas que pertenciam ao
hospital público. É uma referência
de qualidade e prestígio que tran-
quiliza", explicou uma das mães.
■ Na escolha pelo privado tam-
bém pesa a questão da seguran-
ça e a ocorrência de imprevistos.
Aliás, como neste grupo a decisão
sobre o local de nascimento do
bebé foi tomada com antecedên-
cia (no início ou mesmo antes da
gravidez), a escolha do local teve
em conta critérios como a exis-
tência de equipamentos especia-
lizados, a existência de urgência
ENTREVISTA
SNS fez cair mortalidade
Lisa Vicente, da Direção-Geral de Saúde, explica
as vantagens e desvantagens dos diferentes tipos
de partos disponíveis em Portugal
O que explica as baixas taxas de mor-
talidade fetal e neonatal em Portugal?
Um conjunto de recursos, humanos e
técnicos, no Serviço Nacional de Saúde,
na saúde da mulher, no apoio ao parto,
ao recém-nascido, que se concretizam
nesta diminuição. Desde a vacinação aos
melhores cuidados de higiene, passan-
do pela aposta no planeamento familiar,
que permite espaçar gravidezes, diminuir
o número de filhos e de gravidezes em
mulheres mais velhas. E a evolução dos
cuidados neonatais, com a ventilação ou
a aplicação de corticoides.
Há vantagens no parto programado?
É importante salientar que o parto pode
ser programado por razões médicas, Lisa Vicente,
como a hipertensão da mãe ou restrições Responsável do Departamento
de crescimento do bebé. Nestes casos, os de Saúde Reprodutiva da DGS
riscos de um parto programado são so-
brepostos pelos riscos de deixar avançar Há que referir que uma das grandes cau-
a gravidez. No entanto, esta opção não ex- sas do decréscimo da mortalidade neona-
clui riscos, como o aumento da taxa de ce- tal e materna foram os cuidados médicos
sarianas, de prematuridade e consequen- durante o parto, em meio hospitalar.
te aumento de dificuldades respiratórias
na criança. Quando o parto não é progra- Que profissionais fazem este trabalho?
mado por indicação médica, muitas ve- De acordo com os dados indiretos que te-
zes, não estão assegurados os ganhos em mos, são sobretudo enfermeiras.
relação aos riscos de complicações.
Em Portugal é possível ter um parto na
Os partos em casa aumentaram. Esta é água?
uma opção a considerar? O único hospital que os realiza é o hospi-
teste saúde 107 fevereiro/março 2014

de neonatologia ou a proximidade
de um hospital público com esta
valência.
O que é obrigatório
no setor privado
■ De referir que, por lei, existem
requisitos mínimos para as uni-
dades privadas prestarem servi-
ços médicos e de enfermagem em
obstetrícia e neonatoligia. Assim,
consoante a existência, ou não,
Houve, de facto, um aumento, mas os
últimos números apontam para uma es-
tabilização. Há países, como a Holanda,
em que é possível fazer partos em casa
porque há condições para o fazer: há
equipas inteiras que se deslocam a casa e
há a possibilidade de transporte de mãe e
filho para o hospital quando necessário.
Em Portugal não temos estas condições.
tal de Setúbal. É um meio de alívio da dor
sem recurso a meios farmacológicos, em
grávidas com idade gestacional superior a
37 semanas, em fase ativa de trabalho de
parto e gravidez de baixo risco. Fazer o tra-
balho de parto na água gera um maior re-
laxamento, que reduz a dor, e a descontra-
ção da musculatura do períneo. A expulsão
do bebé na água gera mais discussão.

19
 preÇOS DOs partos
>
de urgência obstétrica aberta ao
Preço de partos, a particulares, no setor privado exterior, as unidades são conside-
radas de neonatologia ou obste-

de internamento (€)

Cesariana eletiva -

acompanhante (€)
anestesia - 2 dias
trícia. São consideradas unidades

internamento (€)

internamento (€)
Parto distócico
com anestesia
Parto eutócico
com urgência aberta aquelas que

forceps), com
(ventosas ou
recebem grávidas com mais de 32

- 2 dias de
(normal),

Diária do
3 dias de
semanas de gestação. As unidades
sem urgência aberta recebem grá-
Estabelecimento
vidas referenciadas diretamente
Hospital da Cruz Vermelha Lisboa 1 900 2 100 2 900
por obstetra privado e, obrigato-
Hospital CUF Descobertas Lisboa 2 700 * 3 250 * 57 riamente, com mais de 34 sema-
Hospital da Luz Lisboa 3 250 - 3750 5 000 - 6 000 55 nas de gestação e uma gravidez de
Hospital dos Lusíadas Lisboa 4 500 4 500 5 500 45 - 50 baixo risco.
Clínica de Santo António Reboleira 3 500 3 500 5 000 ■ Caso venha a ser necessária a
Hospital da Boavista Porto 2 850 3 000 4 000 transferência do bebé para um
hospital público, esta tem sempre
Hospital Ordem da Trindade Porto cerca de 900 * 1 950 * de ser feita pelo serviço de Trans-
Casa de Saúde da Boavista Porto 880 * 1 320 * 40
porte Inter-Hospitalar Pediátrico,
Hospital CUF Porto Porto 2 850 3 480 4 400 60
também conhecido como INEM-
Hospital de N.ª Sr.ª da Lapa Porto 1 000 1 000 2 000 40,30
-Recém-Nascidos.
Hospital da Arrábida V. N. de Gaia 2 885 3 035 4 035 40 ■ Três das entidades privadas que
Clínica de Santa Tecla Braga 1 900 2 800 contactámos – Hospital da Ordem
Hospital Privado de Braga Braga 2 780 3 650 da Trindade, no Porto, Hospital
Hospital Privado de Guimarães Guimarães 1 950 3 500 35 Privado de Guimarães e Clínica
Hospital Privado da Boa Nova Matosinhos 2 505 2 604,1 3 622 Médico-Cirúrgica de Santa Tecla,
Hospital Privado da Trofa Trofa 2 780 3 650 55 em Braga –, não esclareceram se
Clínica da Santa Casa Espinho 3 300 cerca de 4 200
tinham neonatologia. O serviço
de cuidados intensivos na neo-
Hospital Privado de Alfena Alfena 2 780 3 650
natologia foi mencionado por 16
Clipóvoa Hospital Privado P. do Varzim 2 130 2 330 3 195 40
entidades.
Hospital Particular do Algarve Portimão 3 900 5 500
*Não inclui os honorários da equipa médica. Norte mais barato
■ A localização é outro aspeto va-
lorizado pelas mães. As unidades
parto em casa na proximidade da residência são
preferidas. Salvo em casos exce-
Conheça os riscos cionais, uma grávida de Lisboa
não terá o parto no Porto, ou vice-
Tendência ou moda? -versa.
O número de partos em casa tem vindo a aumentar em ■ Contudo, resultado do nosso
Portugal. A análise da natalidade e mortalidade infantil inquérito, é possível ver que é no
da Fundação Francisco Manuel dos Santos mostra que Norte que surgem os preços mais
passámos de 480 partos não hospitalares, em 2000, baratos. Um parto normal, com
para quase 900 em 2008. Mas, esta opção, que não ul- dois dias de internamento custa,
trapassa 1% do total dos partos, é controversa. no Hospital da Venerável Irman-
teste saúde 107 fevereiro/março 2014

dade de N.ª Sr.ª da Lapa, no Porto,

Riscos
1000 euros. Em Lisboa, o privado
Mesmo com o apoio de obstetras ou parteiras, o parto
mais barato é o Hospital da Cruz
em casa tem riscos. Exaustão da mãe, hemorragias,
Vermelha, onde o mesmo parto e
prolapso do cordão umbilical, hipertensão arterial da
com o mesmo tempo de interna-
mãe e até morte fetal ou materna são os maiores.
mento custa 1900 euros. Entre os
Quem fizer esta opção tem de estar a 30 minutos de Cada vez mais portuguesas
um hospital, ser saudável e ter tido uma gravidez sem escolhem ter os filhos em casa. estabelecimentos mais caros, a
risco. O bebé deve estar totalmente formado, em po- Mas esta é uma opção que capital continua a ter custos mais
sição cefálica e ter tido uma gestação sem problemas. acarreta riscos elevados: um parto normal no
Hospital dos Lusíadas, incluindo
internamento, pode chegar aos

20
 6
ponha na agenda

conselhos para escolha da maternidade

1 E m Portugal, a maioria dos bebés nasce em maternidades ou hospitais públicos (87%
dos partos realizados em 2011 teve lugar no sistema público). São instituições equi-
padas com unidades de cuidados neonatais, bem apetrechadas para fazer face a com-
plicações e bons recursos humanos.

2 Durante a gravidez informe-se junto das várias maternidades sobre os preparativos

necessários e as condições em que se realiza o parto.

3 Se preferir uma unidade privada – onde terá maior privacidade – informe-se sobre a
existência de equipas de urgência e cuidados intensivos neonatais. Na ausência de
urgência neonatal, saiba qual o hospital de referência da unidade escolhida e a que
distância se encontra.

4 Ao optar pelo privado, e caso tenha seguro, informe-se junto da sua companhia sobre a
cobertura de parto e internamento hospitalar. As características dos seguros são mui-
to variáveis e, por regra, os pacotes básicos incluem a hospitalização, mas não o parto.

5 Faça uma escolha racional tendo em conta as suas prioridades: custos, segurança,
experiência da equipa médica, obstetra escolhido, privacidade, conforto...
Os serviços de neonatologia
6 Esta é uma escolha muito pessoal, mas pode sempre trocar impressões com amigas são indispensáveis em
ou familiares que tenham passado pela experiência há pouco tempo. situações de partos prematuros

€ 6000 do Algarve, em Portimão, um par-

to normal com dois dias de inter- Teste saúde aconselha
é o valor máximo namento custa 3900 e uma cesa-

de uma cesariana
riana eletiva pode chegar aos 5500.
■ Além de toda a componente téc-
Conheça os seus direitos
em Lisboa nica é o internamento mais pro-

4500 euros. No Porto, no Hospital
longado que encarece a cesariana.
Seguro pensado
com antecedência
■ A maioria das mulheres que es-
colhe o privado fá-lo através de
´
Por vezes, em hospitais públicos, nomeada-
mente hospitais universitários, estudantes ou
médicos residentes poderão assistir ao parto.
É à grávida que cabe dar, ou não, o consentimen-
to para que tal aconteça.

da CUF, custa 2850 euros.
■ Quando há necessidade de uma
cesariana eletiva (realizada antes
do início do trabalho de parto),
´
A grávida tem direito a ser acompanhada
subsistemas ou seguros de saúde.
pelo companheiro, ou pessoa que designar, no
Entre as participan tes do focus
momento do parto. Mas deve tentar perceber
group, a cobertura do seguro foi,
se tal presença é benéfica ou fonte de stresse.
aliás, um fator chave na a escolha.
teste saúde 107 fevereiro/março 2014

os preços disparam. Em Lisboa, ■ Neste caso há que confirmar a

no Hospital da Cruz Vermelha, o
preço mais barato atinge os 2900
euros e o mais caro, no Hospital
da Luz, pode chegar aos 6000.
No Porto, o Hospital da Venerável
Irmandade de N.ª Sr.ª da Lapa co-
´
Ao longo do trabalho de parto, a equipa
cobertura, a sua representação na
médica realizará diversas vezes o exame vaginal
área de residência e o período de
(toque). Contudo, a realização do mesmo por vá-
carência que, no caso da cobertura
rias pessoas e demasiadas vezes pode ser ques-
do parto, pode chegar aos 18 me-
tionada pela grávida.
ses. Há também que ter em conta
as modalidades de pagamento.

bra 2000, custo que na CUF sobe
para os 4000 euros.
■ O Algarve também tem custos
elevados. No Hospital Particular
´
A grávida tem direito a contar com métodos
Alguns seguros são pagos contra
de alívio da dor, farmacológicos e não farmaco-
reembolso e o segurado tem de
lógicos, durante o trabalho de parto.
avançar inicialmente com o paga-
mento das despesas.

21