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RPESQUISA

Experiências dos pais com um modelo

integrado de cuidados maternos e neonatais
projetado para capacitar os pais
Mireille Stelwagen, Anne van Kempen, Alvin Westmaas, Erica Vet e Fedde Scheele

Correspondência ABSTRATO
Mireille A. Stelwagen, RN,
Objetivo:Explorar as experiências dos pais com uma maternidade integrada e uma enfermaria neonatal concebida para
MSN, Ensino
Departamento, OLVG capacitar os pais, fornecendo cuidados integrados à família (FICare) a casais mãe-recém-nascido em quartos unifamiliares.
Hospital, Oosterpark 9, 1091
Projeto:Uma análise qualitativa com abordagem construtivista contextual.
AC, Amsterdã, o
Holanda. Contexto:Uma enfermaria integrada de maternidade e neonatal de nível 2 projetada para capacitar os pais em um hospital universitário
mastelwagen@olvg.nl em Amsterdã, na Holanda. Os cuidados maternos e neonatais, incluindo cuidados de alta complexidade, são prestados a casais mãe-
recém-nascido em quartos unifamiliares, de acordo com os princípios do FICare.
Palavras-chave
enfermagem familiar Participantes:Vinte e sete mães e nove pais de recém-nascidos internados há pelo menos 7 dias.
projeto hospitalar e
Métodos:Realizamos quatro discussões em grupos focais e oito entrevistas semiestruturadas 1 a 3 meses após a alta do
construção
integrado recém-nascido para explorar quais experiências (mecanismos) facilitaram ou impediram aspectos do empoderamento dos pais
enfermagem materno-infantil (resultados) sob quais condições específicas da infraestrutura integrada (contextos). Utilizamos o modelo de avaliação realista
neonatal para analisar os dados.
paternidade
cuidado centrado no paciente
Resultados:Nossa análise revelou cinco temas de empoderamento dos pais (resultados):Sentir-se respeitado, obter ferramentas de
participação do paciente autogestão, insights sobre a condição do recém-nascido, controle percebido,eAuto-eficácia.Para cada tema, os participantes relataram
período pós-parto experiências facilitadoras e impeditivas (mecanismos) que foram iniciadas e influenciadas pela combinação de quartos unifamiliares,
alojamento conjunto
cuidados de casal, alojamento conjunto e FICare (contextos). A proximidade física irrestrita com os seus recém-nascidos, 24 horas por dia,
num ambiente privado e seguro, proporcionou aos pais experiências de aprendizagem intensiva através da participação activa nos
cuidados. Ajudou-os a alcançar a paternidade independente no momento da alta, mas também gerou desafios como conflitos de poder
com o pessoal; priorizar o cuidado de si, dos irmãos ou do recém-nascido; sentimentos de isolamento; e falta de sono.

Conclusão:Fornecer FICare a casais mãe-recém-nascido em quartos unifamiliares oferece aos pais um contexto de
aprendizagem intensivo para uma paternidade independente no momento da alta. Os profissionais de saúde devem estar
conscientes dos desafios e facilitadores vividos pelos pais no contexto da proximidade física dos seus recém-nascidos, 24 horas
por dia, em quartos unifamiliares. Esta consciência permitir-lhes-á apoiar melhor os pais no seu processo de capacitação rumo
à parentalidade independente no momento da alta.

JOGNN, 50, 181–192; 2021.https://doi.org/10.1016/j.jogn.2020.11.001

Aceito em novembro de 2020

Mireille A. Stelwagen, RN, MSN,
é enfermeira educadora e
estudante de doutorado no
Departamento de Ensino,
Hospital OLVG,
Amsterdã, o
Holanda.
(Contínuo)
Os autores não relatam nenhum
conflito de interesses ou relações
financeiras relevantes.
P O empoderamento atual no contexto da saúde é
definido pelaOrganização Mundial da Saúde (1998)
como “um processo através do qual as pessoas ganham
maior controle sobre as decisões e ações que afetam a
sua saúde” (p. 6). No contexto dos cuidados de saúde
neonatal, as pessoas a serem capacitadas são os pais. Os
pais são parceiros importantes que podem ajudar os
profissionais de saúde a melhorar a qualidade dos
cuidados e os resultados de saúde dos recém-nascidos
doentes (Celenza et al., 2017; Craig et al., 2015;Franck e
O'Brien, 2019).
Além disso, os pais capacitados são mais capazes
de gerir os seus papéis parentais (Ashcraft et al.,
2018). Os pais muitas vezes não estão
suficientemente preparados e ficam inseguros
em relação a cuidar dos seus filhos em casa após
a alta hospitalar (Berman et al., 2019;Van der Pal
et al., 2014). Com base na literatura revisada e em
um modelo de empoderamento do paciente (
Bravo et al., 2015), definimos o empoderamento
dos pais para o nosso estudo como “paternidade
independente no momento da alta”.

http://jognn.org ª2020 AWHONN, Associação de Enfermeiras de Saúde da Mulher, Obstétricas e Neonatais. 181
Publicado pela Elsevier Inc. Este é um artigo de acesso aberto sob a licença CC BY-NC-ND (http://
creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
RPESQUISA
Anne AMW van Kempen,
MD, PhD, é neonatologista
no Departamento de
Pediatria, Hospital OLVG,
Amsterdã,
Holanda.
Alvin Westmaas, MSc, PhD,
é professor associado no
Departamento de Psicologia
Social, Maastricht
University, Maastricht, Holanda,
e professor da Faculdade de
Saúde da Universidade de
Ciências Aplicadas
Ciências Leiden, Leiden,
Holanda.
Erica Vet, RN, aposentada, foi
treinadora no Departamento
de Ensino do Hospital OLVG,
Amsterdã, o
Holanda.
Fedde Scheele, MD, PhD, é
professor de inovação e
educação em sistemas de
saúde na Universidade VU
Amsterdam e Amsterdam
UMC, ginecologista do
Departamento de
Ginecologia e reitor do
Departamento de Ensino do
Hospital OLVG,
Amsterdã, o
Holanda.
182
Experiências de Empoderamento dos Pais
Dois aspectos são considerados essenciais para o
empoderamento do paciente: uma abordagem centrada no
paciente para compreender melhor as necessidades de cada
paciente e a participação do paciente nos cuidados para
permitir que o paciente adote um papel responsável o mais
rápido possível.Castro et al., 2016;Feeley et al., 2016). Nos
cuidados neonatais e de maternidade, vários modelos
centram-se na adopção de papéis responsáveis pelos pais,
permitindo uma proximidade física irrestrita da família ao
bebé hospitalizado. Esses modelos incluem quartos
unifamiliares (Stevens et al., 2015), cuidado integrado à
família (FICare;Franck e O'Brien, 2019;Patel et al., 2018) e
cuidados com dísticos (De Salaberry et al., 2019).
Figura 1. Um quarto unifamiliar para maternidades de alta complexidade
Individualmente, estes três modelos afectaram
e cuidados neonatais de nível 2. As mulheres e seus recém-nascidos
positivamente os resultados de saúde dos pais e dos recém-
permanecerão nesta suíte enquanto ambos necessitarem de cuidados
nascidos. Por exemplo, os quartos unifamiliares foram
especializados ou pelo menos por 7 dias se o recém-nascido necessitar
associados a uma incidência reduzida de sepse neonatal;
de cuidados especializados. Se após 7 dias e um deles não necessitar
melhores taxas de amamentação exclusiva (van Veenendaal
mais de cuidados especializados, a mulher e o recém-nascido são
et al., 2019); menores níveis de estresse dos pais; e níveis
transferidos para um quarto unifamiliar menor, para uma sala de
mais elevados de presença, envolvimento, cuidados pele a
maternidade de alta complexidade e cuidados neonatais de nível 1, ou
pele, empoderamento e cuidados centrados na família (van
para uma sala de cuidados neonatais de nível 2 . Todos os quartos
Veenendaal et al., 2020). O FICare melhorou o ganho de peso
unifamiliares oferecem alojamento conjunto para um dos pais/parceiro.
neonatal, diminuiu o estresse e a ansiedade dos pais e
Impresso com permissão do departamento audiovisual do OLVG
aumentou a alimentação exclusiva com leite materno na alta.
Hospital, Amsterdã, Holanda, junho de 2020.
O'Brien et al., 2018). Os cuidados com os dísticos reduziram
significativamente os níveis de estresse das mães,
especificamente os sentimentos de incompetência (Flacking
enfermaria neonatal de nível 2, fornecendo cuidados
et al., 2013).
de casal padrão e altamente complexos de acordo
com os princípios do FICare em quartos
unifamiliares. Em um artigo anterior (Stelwagen et
No entanto, nenhum dos estudos sobre cuidados com casais
al.,2020), descrevemos como a nova infraestrutura
incluiu mulheres e recém-nascidos que necessitavam de
foi implantada principalmente a partir das
cuidados altamente complexos (Brockman, 2015; De
perspectivas do sistema de saúde e dos profissionais
Salaberry et al., 2019). Além disso, a maioria dos estudos
de saúde e concluímos que a avaliação dos pais era
sobre as experiências dos pais com cuidados centrados na
necessária para aprender como co-criar mudanças
família foram realizados em unidades neonatais separadas
adicionais para capacitar os pais.
de nível 3 (Al Maghaireh et al., 2016; Finlayson et al., 2014;
Vetcho et al., 2020), enquanto a maioria dos recém-nascidos
Explorar as experiências dos pais numa maternidade
doentes são admitidos em unidades de nível 2
integrada e numa enfermaria neonatal de nível 2 que
imediatamente após o nascimento ou para convalescença
proporciona uma combinação de modelos de cuidados
após cuidados intensivos (Academia Americana de Pediatria,
conhecidos por promoverem o empoderamento dos
2012). Em ambientes neonatais de nível 2, os pais podem e
pais pode ajudar a colmatar a lacuna entre a prática
devem desenvolver papéis parentais na preparação para a
profissional atual e as necessidades dos pais à medida
alta (Jones e outros, 2015). Nenhum desses pesquisadores
que evoluem para uma parentalidade independente no
anteriores avaliou os efeitos de uma combinação de quartos
momento da alta. (Nygardh et al., 2012). O objetivo
unifamiliares, cuidados com dísticos e FICare no
deste estudo foi explorar as experiências dos pais com
empoderamento dos pais em ambientes neonatais de nível
uma maternidade integrada e uma enfermaria neonatal
2.
projetada para capacitar os pais, fornecendo FICare para
casais mãe-recém-nascido em quartos unifamiliares.
Em outubro de 2014, implementámos quartos
unifamiliares, cuidados de dísticos e FICare num grande
hospital universitário nos Países Baixos. O objectivo Métodos
geral desta infra-estrutura integrada de cuidados Projeto
maternos e neonatais concebida para capacitar os pais Utilizamos um desenho de pesquisa qualitativa com
(infra-estrutura integrada) era manter as famílias unidas abordagem construtivista contextual. Usamos um
numa maternidade integrada e procedimento descrito como avaliação realista
JOGNN, 50, 181–192; 2021.https://doi.org/10.1016/j.jogn.2020.11.001 http://jognn.org
Stelwagen, M., van Kempen, A., Westmaas, A., Vet, E., e Scheele, F.
Tabela 1: Guia de Tópicos para as Discussões dos
Grupos Focais e as Entrevistas
Tópicos: Experiências com
Tomada de decisão compartilhada
Sendo o principal cuidador de
a criança
Coaching e aconselhamento
Colaboração e comunicação com a saúde
profissionais de saúde
Estar no controle
Cuidados com os dísticos
Alojamento conjunto
Quarto individual
Questões
Até que ponto você tem conseguido cuidar do seu
criança?
Até que ponto você se sentiu fortalecido, apoiado por
O time?
Até que ponto você se sentiu respeitado e equivalente a
O time?
Até que ponto você se sentiu no controle?
Complementado com a pergunta: O que fez ou não
contribuir para isso?
Complementado com a pergunta em caso de aprofundamento
entrevista: Você pode nos contar mais sobre suas experiências
com. . .
método (Powson, 2013) construir configurações
de mecanismos de contexto-resultados para
explorar quais experiências (mecanismos)
facilitam ou impedem aspectos de
empoderamento dos pais (resultados) sob quais
condições específicas da infraestrutura integrada
(contexto;Linsley et al., 2014). O desenho e a ética
do estudo foram aprovados pelo conselho de
revisão de ética médica local (comitê de ética
médica número WO.14.018).
Contexto
Conduzimos o estudo em um novo centro materno-
infantil que foi projetado para estimular o
empoderamento dos pais, integrando os conceitos de
quartos unifamiliares, cuidados com casais e FICare (
Stelwagen et al., 2020). O centro consiste em uma
enfermaria com 53 quartos unifamiliares (ver figura 1) e
está localizado em um hospital universitário na Holanda,
com aproximadamente 3.000 nascimentos anuais.
Aproximadamente 400 recém-nascidos necessitam
JOGNN 2021; Vol. 50, Edição 2
RPESQUISA
cuidados neonatais de nível 2, incluindo aproximadamente 70
recém-nascidos que necessitam de cuidados pós-intensivos
anualmente. A equipa de enfermagem integrada é composta por
enfermeiras especializadas em maternidades, enfermeiras
neonatais especializadas e enfermeiras especializadas em mães e
recém-nascidos, que são formadas para prestar diferentes níveis
de cuidados, desde cuidados padrão até cuidados altamente
complexos para dísticos mãe-recém-nascido. Como resultado da
formação das equipas de enfermagem, os cuidados à maioria dos
casais de mães e recém-nascidos podem ser prestados por uma
única enfermeira. Somente se a mãe e o recém-nascido
precisarem de cuidados médicos altamente complexos é que duas
enfermeiras serão designadas para um quarto unifamiliar (ou
seja, uma enfermeira de maternidade especializada para a mãe e
uma enfermeira neonatal especializada para o recém-nascido). O
objetivo de manter pais e recém-nascidos juntos é apoiado pela
oferta de serviço de quarto e alojamento conjunto para parceiros.
Se a mãe se recuperar antes de o recém-nascido estar pronto
para receber alta, os pais podem se revezar para garantir que
pelo menos um deles fique com o recém-nascido 24 horas por dia.
No entanto, os pais não são obrigados a ficar.
Participantes
Pretendíamos obter as opiniões dos pais que ganharam
experiência no desenvolvimento da paternidade
independente no momento da alta do nosso hospital,
por meio de discussões em grupos focais e entrevistas
semiestruturadas. Portanto, foram incluídos os pais que
tivessem estado hospitalizados na nossa maternidade
integrada e enfermaria de cuidados neonatais com os
seus recém-nascidos durante pelo menos 7 dias,
pudessem falar holandês e tivessem mais de 21 anos.
Foram excluídos os pais cujos recém-nascidos faleceram
e os pais sob supervisão do serviço social.
Um a três meses após a alta, os pais elegíveis receberam
uma carta-convite que incluía informações sobre o
estudo, regulamentos de privacidade e detalhes de
contato. Uma semana depois, os pais foram abordados
por telefone e questionados se desejavam participar. Se
os pais não quisessem ou não pudessem participar, os
motivos eram anotados. Os pais que se dispuseram a
participar receberam uma carta de confirmação com
detalhes sobre os temas a serem discutidos. Antes de
iniciar as discussões dos grupos focais ou as entrevistas,
os participantes assinaram um formulário de
consentimento e preencheram um breve inquérito sobre
detalhes demográficos, como idade e antecedentes
culturais. Continuamos a recrutar participantes para as
discussões dos grupos focais e entrevistas
semiestruturadas usando uma abordagem de
amostragem proposital até experimentarmos saturação
de dados (ou seja, não percebemos mais novos insights
durante a análise das discussões dos grupos focais e
informações das entrevistas posteriores
183
RPESQUISA
Não é claramente compreendido como os pais experimentam infra-
estruturas integradas concebidas para capacitá-los através de
prestação de cuidados integrados à família à mãe-recém-nascido
dísticos em quartos unifamiliares.
informações verificadas das entrevistas iniciais;
Saunders et al., 2018).
Fontes de dados e procedimentos
Entre dezembro de 2015 e janeiro de 2017,
realizamos diferentes tipos de entrevistas que
utilizamos para triangulação de dados (Carter et al.,
2014), incluindo discussões em grupos focais com
seis a oito participantes, entrevistas em grupo com
três participantes, entrevistas em duplas e
entrevistas individuais com pais ou mães. O primeiro
(MS) e o quarto autor (EV) e um líder de discussão
independente que não esteve envolvido como autor,
todos líderes de discussão e entrevistadores
treinados e experientes, lideraram as discussões dos
grupos focais, e MS conduziu as entrevistas
semiestruturadas. O objectivo das discussões dos
grupos focais foi gerar dados sobre as experiências
dos pais com a infra-estrutura integrada.
Formulamos um guia temático baseado nos
princípios do FICare e no objetivo principal da
pesquisa (vertabela 1). O objectivo de alternar
discussões em grupos focais com entrevistas foi
explorar mais profundamente os mecanismos que
conduzem ao resultado da parentalidade
independente nos contextos que emergiram das
discussões em grupos focais e verificar se aspectos
específicos foram correctamente compreendidos. As
entrevistas também nos permitiram obter uma visão
mais profunda das semelhanças e diferenças entre
as opiniões e experiências dos pais. Utilizamos as
últimas entrevistas para verificar a saturação dos
dados. Conduzimos todas as entrevistas com o
mesmo guia de tópicos das discussões do grupo
focal, complementadas com perguntas adicionais
aprofundadas e realizadas na casa do participante
ou no hospital, conforme a preferência do
participante (Dempsey et al., 2016). Todas as
discussões em grupo focal e entrevistas foram
gravadas em áudio e transcritas literalmente.
Enviamos resumos de cada discussão de grupo focal
e entrevista a todos os participantes para verificação
dos membros.
Análise
Usamos uma abordagem de codificação indutiva e
dedutiva dentro do método de contexto (C),
mecanismo (M) e resultado (O) (Linsley et al., 2014).
184 JOGNN, 50, 181–192; 2021.https://doi.org/10.1016/j.jogn.2020.11.001
Experiências de Empoderamento dos Pais
Este método enfatiza como os mecanismos causais
são moldados e restringidos em diferentes
contextos, levando a determinados resultados.
Analisamos as transcrições buscando todas as frases
que se referissem a um elemento específico do
contexto da infraestrutura integrada (cuidados de
casais, alojamento conjunto, quartos unifamiliares
ou FICare; C) que desencadearam uma experiência
(mecanismo [M]) que facilitou ou dificultou os pais na
obtenção de um resultado (O) que se enquadra na
paternidade independente. Essas frases de texto
foram chamadas de strings CMO. A detecção foi um
processo indutivo que levou a um grande número de
cadeias de CMO com experiências positivas ou
negativas dos participantes.
O procedimento de análise pode ser dividido em três
etapas principais: coleta de dados, alternância da
identificação indutiva de cadeias de CMO com análise
intermediária e agrupamento de mecanismos e
resultados, e agrupamento final dos resultados. Para
recolher dados, MS e EV utilizaram de forma
independente codificação indutiva para identificar
frases-chave de texto e classificar contextos,
mecanismos e resultados. As diferenças na codificação
foram discutidas até que o consenso fosse alcançado.
Caso não fosse possível chegar a um consenso,
solicitava-se a opinião do segundo (AK) ou terceiro autor
(AW). MS fez uma visão geral de todas as frases de texto
identificadas que descreviam mecanismos (M) que foram
ativados em um determinado contexto (C) e que
facilitaram ou dificultaram o empoderamento dos pais
(O). As visões gerais dessas primeiras sequências de
CMO foram verificadas e discutidas com o quinto
pesquisador (FS) e um pesquisador independente que
não estava envolvido como autor.
Como segunda etapa, alternamos o processo
indutivo de detecção de strings de CMO com análise
intermediária e agrupamento de mecanismos e
resultados. Durante as reuniões com todos os
autores, exceto EV, processamos iterativamente os
mecanismos (M) e os resultados (O) detectados nos
contextos investigados (C). Agrupámos mecanismos
e resultados identificados, verificámo-los
iterativamente durante as entrevistas seguintes e
complementámo-los com dados adicionais de
entrevistas. Quando a saturação dos dados se
tornou evidente e nenhuma nova sequência de CMO
relevante emergiu das entrevistas, demos a etapa
dedutiva final.
Para o agrupamento final dos resultados, utilizamos os
temas dos resultados como formato para a descrição
dos resultados. Usamos o empoderamento do paciente
http://jognn.org
Stelwagen, M., van Kempen, A., Westmaas, A., Vet, E., e Scheele, F.
Modelo deBravo et al. (2015)orientar a equipe de
autores na identificação de quais resultados seriam
considerados valiosos para o empoderamento dos pais.
Finalmente, para cada resultado, escrevemos visões
gerais das sequências combinadas de CMO identificadas
nas quais as experiências (mecanismos) facilitadoras e
dificultadoras foram diferenciadas.
Resultados
Realizamos quatro discussões em grupos focais e oito
entrevistas com um total de nove pais e 27 mães. Um dos
cinco pais que receberam uma carta-convite acabou
participando. O motivo mais comum para os pais não
participarem foi a falta de tempo. A idade média das mães
era de 35 anos e a idade média dos pais era de 39 anos.
Quase todos os participantes estavam empregados e tinham
alto nível de escolaridade (vermesa 2). A internação dos
participantes com seus recém-nascidos nos quartos
unifamiliares variou de 7 dias a 3,5 semanas. Dezoito
participantes permaneceram em nosso hospital com seus
recém-nascidos desde o nascimento, e os demais
permaneceram em nosso hospital após seus recém-nascidos
terem sido transferidos de outros hospitais, principalmente
acadêmicos. Os participantes indicaram que permaneciam
no quarto unifamiliar em média 17,14 horas por dia, com
variação de 4 a 24 horas. Todos os recém-nascidos dos
participantes receberam alta hospitalar.
Identificamos cinco temas relacionados com o
empoderamento dos pais (resultados), bem como os
seus mecanismos e contextos subjacentes:Sentir-se
respeitado, obter ferramentas de autogestão,
percepção da condição do recém-nascido, controle
percebido,eAuto-eficácia.A maioria dos participantes
iniciou dizendo o quanto se sentiam respeitados
como uma família real e completa ao poderem
permanecer juntos durante a internação. Este
sentimento de respeito parece ter criado uma base
para os participantes adquirirem ferramentas de
autogestão e obterem conhecimentos sobre as
condições dos seus recém-nascidos. Isto, por sua
vez, contribuiu positivamente para os sentimentos
de controle e autoeficácia dos participantes.
Sentindo-se respeitado
Nós definimosSentindo-se respeitadocomo pais que se
sentem respeitados como pais responsáveis e
autónomos do recém-nascido doente e como membros
plenos e iguais da equipa de cuidados; sentem que eles
e os seus recém-nascidos são vistos e abordados como
parte de uma família. Segundo os participantes, os
contextos quarto unifamiliar, cuidado de dísticos e
alojamento conjunto contribuíram para o sentimento de
serem respeitados como uma família completa.
JOGNN 2021; Vol. 50, Edição 2
RPESQUISA
Identificamos cinco temas/resultados relacionados às experiências
de empoderamento dos pais:Sentindo-se respeitado, ganhando
Ferramentas de autogestão, insights sobre o recém-nascido
Condição, Controle Percebido,eAuto-eficácia.
Os participantes ficaram muito satisfeitos com a
oportunidade de permanecerem juntos como uma
família, perto dos seus recém-nascidos nos seus quartos
unifamiliares; ter privacidade; e criar suas próprias
atmosferas seguras e caseiras. Uma mãe disse: “Fomos
colocados em uma suíte grande e muito bonita e
ficamos lá por quase duas semanas. De certa forma,
reconhecemos aquela suíte como nossa própria casa. . .
era realmente meu ambiente seguro.” Os participantes
relataram que por terem seus próprios quartos
unifamiliares, sentiam-se mais membros plenos e iguais
da equipe de saúde, pois não eram mais aqueles que
vinham visitar seus recém-nascidos algumas vezes por
dia. Em vez disso, a equipe veio visitá-los em seus
quartos unifamiliares.
As comodidades dos quartos unifamiliares e do
alojamento conjunto foram úteis, mas, segundo os
participantes, a experiência de serem respeitados foi
determinada pelo comportamento e atitude dos
funcionários em relação aos princípios do FICare.
Eles se sentiram mais respeitados pelos pequenos
gestos da equipe durante o contato, o que tornou a
equipe muito acessível a eles. A sensação de ser
respeitado como pai responsável e autónomo
aumentava se a equipa abordasse os participantes
como cuidadores primários, o que é um dos
princípios fundamentais do conceito de cuidados
familiares integrados. As principais experiências que
ajudaram as próprias participantes a cuidar dos
recém-nascidos foram o coaching e o incentivo das
enfermeiras nos momentos diários de cuidado. Uma
mãe disse: “É tão bom quando eles [enfermeiras e
médicos] pedem a sua opinião e para segurar e
sentir o seu filho você mesmo, e nunca ter que
entregá-lo a alguém para cuidar”. Ao participarem
automaticamente nas rondas médicas diárias e ao
serem incentivados pelos funcionários, os
participantes sentiram-se convidados a dar a sua
opinião sobre o progresso da saúde dos seus recém-
nascidos e a envolver-se nas decisões médicas.
Por outro lado, certas abordagens podem prejudicar
diretamente a sensação de ser respeitado. Em particular,
alguns pais parecem ter lutado com experiências de
comportamento desrespeitoso dos funcionários. “Uma vez
me senti realmente excluído enquanto estava presente. A
enfermeira . . . falava muito com minha esposa e pouco
comigo. . . Ela deveria ter envolvido os dois
185
RPESQUISA Experiências de Empoderamento dos Pais

os participantes desenvolveram seus próprios métodos.

Tabela 2: Características da linha de base
dos participantes (N [36)
Característica do Participante
Idade, anos mães (n¼27)
Idade, anos pais (n¼9)
Nacionalidade
Uma mãe que teve que defender seu método de
trabalho disse: “Aceite que os pais assumam o controle”.
Além disso, durante o dia e a noite, os participantes
Mediana (intervalo) ou
sofreram muitas violações de privacidade quando os
Frequência (%)
funcionários entraram nos quartos unifamiliares sem
35 (29–42) aviso prévio, o que também resultou na privação de
37 (34–48) sono. A sensação de ser desrespeitado parece afetar
negativamente os demais temas.

Holandês 33 (92) Obtendo ferramentas de autogestão

hindu 1 (3) Nós definimosObtendo ferramentas de autogestãocomo pais
desenvolvendo conhecimentos, habilidades e atitudes que
Belga 1 (3)
necessitam para adaptar seu comportamento para otimizar
Espanhol 1 (3)
sua própria saúde e a saúde de seus recém-nascidos. Os
Educação contextos que ajudaram os participantes a obter

Universidade (pós-graduação 24 (67) ferramentas de autogestão foram cuidados em pares,

alojamento conjunto, quartos unifamiliares e FICare,
Faculdade/escola profissional 12 (33)
incluindo tomada de decisão partilhada. O ambiente privado
Trabalho no hospital e seguro dos quartos unifamiliares parece ser um bom

OLVG 18 (50) cenário para o treino prático diário de competências

parentais. Os cuidados em casal e o alojamento conjunto
Acadêmico 16 (44)
permitem que ambos os pais fiquem perto do recém-nascido
Outro 2 (6) 24 horas por dia e compreendam e participem em todas as
Aniversário intervenções necessárias ao longo de todo o processo de
cuidado do recém-nascido. A abordagem FICare ajudou os
Cesariana 16 (44)
participantes a aprender com todos os membros do pessoal
Vaginal 17 (47)
como cuidar dos seus recém-nascidos e como tomar
Não conhecido 3 (8) decisões sobre cuidados de saúde com orientação
abrangente e intensiva do pessoal. Um pai de gêmeos disse
Irmãos <12 anos
o seguinte:
Nenhum 23 (64)

Um 5 (14) Acho que fomos bem supervisionados lá. . .

Dois 7 (19) Algumas habilidades acho que aprendemos muito
bem no hospital. Faltámos aos cuidados de
Três 1 (3)
maternidade em casa [Na Holanda, os pais/recém-
Admissão mãe OLVG nascidos geralmente recebem cuidados
Não 12 (44) domiciliários após a alta hospitalar] porque já
sabíamos de tudo. Boa evidência de que
Sim 15 (56)
aprendemos muito no hospital.
Em dias,M (faixa) 8 (2–14)

Parceiro de admissão dos pais OLVG Os participantes indicaram que poderiam aprender com os
enfermeiros através de exemplos e instruções. Primeiro cuidaram
Não 4 (44)
dos seus recém-nascidos com enfermeiras e, eventualmente,
Sim 5 (56)
cuidaram elas próprias dos seus recém-nascidos, sob a supervisão
Em dias,M (faixa) 5 (1–9) de enfermeiras. Para os treinadores sobre os seus novos papéis

Duração da internação recém-nascido (semana)
Horas de presença no hospital por dia
MãesM (faixa)
1 (1–8) como pais, os participantes preferiram enfermeiros com formação
em cuidados maternos e neonatais, em vez de enfermeiros
especializados em qualquer uma das áreas, porque os
24 (4–24) enfermeiros especializados por vezes davam conselhos

PaisM (faixa) 6 (4–24) contraditórios. “As enfermeiras da maternidade estavam lá para

pais, não apenas a mãe.” Às vezes, os participantes
sentiam-se desrespeitados quando o pessoal insistia em
impor os seus métodos de trabalho, mesmo que o
mim. As enfermeiras da neonatologia estavam ao lado do recém-
nascido com mensagens contraditórias: faça você mesmo [cuide
do recém-nascido], mas também descanse um pouco”. Nos
quartos unifamiliares, os participantes também aprenderam com

186 JOGNN, 50, 181–192; 2021.https://doi.org/10.1016/j.jogn.2020.11.001 http://jognn.org

Stelwagen, M., van Kempen, A., Westmaas, A., Vet, E., e Scheele, F.
uns aos outros. “Meu marido perguntou: 'Para que serve
esse alarme?' Eu poderia explicar isso para ele.
Ao mesmo tempo, os quartos unifamiliares pareciam
impedir a aquisição de certos conhecimentos que os pais
poderiam adquirir numa enfermaria aberta. Alguns
participantes que foram internados com crianças
anteriores em enfermarias abertas com incubadoras e
berços disseram que acharam útil poder observar os
pais de outros recém-nascidos nas enfermarias abertas,
para ver até que ponto outros pais participaram nos
cuidados e para ver quando outros recém-nascidos
estavam prontos para receber alta. Alguns pais disseram
que sentiam falta de serem treinados sobre como cuidar
de si mesmos, dos seus parceiros doentes e, às vezes,
até dos irmãos em casa.
Informações sobre a condição do recém-nascido
Nós definimosInformações sobre a condição do recém-
nascido como pais que têm uma compreensão realista e
consistente do estado de saúde dos seus recém-nascidos. Os
contextos que contribuíram para que os participantes
obtivessem insights sobre a condição de saúde de seus
recém-nascidos foram quartos unifamiliares, alojamento
conjunto, cuidados de dísticos e FICare. Durante as visitas
médicas diárias, os participantes sentiram que as
informações recebidas e a oportunidade de fazer perguntas
lhes deram uma visão sobre as condições dos seus recém-
nascidos. Caso o diagnóstico ainda não estivesse claro, a
equipe explicava passo a passo o processo diagnóstico e os
participantes sentiam-se envolvidos nos processos de
raciocínio clínico. Um quadro branco na suíte foi útil para os
participantes manterem uma visão geral da evolução do
estado de saúde dos recém-nascidos e de todo o progresso
que os seus recém-nascidos tiveram que fazer antes de
receberem alta.
Controle percebido
Nós definimosControle percebidopois os pais sentem que
estão e podem estar no controlo, podem decidir, têm poder,
podem supervisionar os seus recém-nascidos, são iguais aos
profissionais de saúde na tomada de decisões e são
responsáveis pelos cuidados de saúde dos seus recém-
nascidos e de si próprios. A sensação de controle dos
participantes foi reforçada pelo contexto do cuidado dos
casais nos quartos unifamiliares, incluindo instalações de
alojamento conjunto, o que permitiu que os pais
permanecessem próximos e apoiassem uns aos outros. Os
participantes tiveram controle sobre o descanso e a
segurança de seus recém-nascidos, pois o quarto unifamiliar
proporcionava privacidade e tranquilidade. Os participantes
acharam muito confortável zelar eles próprios pela
segurança dos seus recém-nascidos e não serem
incomodados por outras famílias ou por alarmes de
monitores ou situações angustiantes de outros recém-
nascidos. As mães experimentaram os benefícios de serem
JOGNN 2021; Vol. 50, Edição 2
RPESQUISA
perto dos seus parceiros para apoio no cuidado dos
seus recém-nascidos e de si próprios. “Gostei que ele
(marido) também dormisse lá porque. . . foi o
momento mais intenso e ansioso que vivi na minha
vida. . . Ele me fez sentir que cuidaria de nós dois e
eu poderia dormir. Para os pais, o alojamento
conjunto permitiu assumir o controle do apoio às
companheiras e aos recém-nascidos, permanecendo
perto deles durante a internação. Isto
aparentemente estimulou a percepção de controle.
“Nunca abandonei minha esposa durante o parto e
no período da maternidade. Sempre estive perto
dela e da minha filha. Estar lá e compartilhar todas
as experiências com eles foi maravilhoso.” Os
participantes experimentaram sentimentos de
controlo sobre os cuidados durante as rondas
médicas na unidade porque se sentiram bem
informados, aprenderam rapidamente, participaram
na tomada de decisões e sentiram que as suas
opiniões realmente importavam. Os participantes
gostaram de poder dar as suas opiniões diretamente
durante as rondas médicas. “Pude participar
diretamente das discussões e fornecer sugestões.”
Os participantes descreveram diversas situações em que
perceberam menos controle. Nem sempre se sentiam
competentes o suficiente para tomar decisões
partilhadas, especialmente em situações médicas mais
complexas e logo após o nascimento. Nessas
circunstâncias, os participantes geralmente deixavam as
decisões para os médicos ou enfermeiros. Algumas
mães relataram que se sentiam sobrecarregadas
quando confrontadas com perguntas como: “Qual é a
sua opinião sobre o estado do seu filho?” Nestas
situações, os participantes vivenciaram uma enorme
responsabilidade para a qual não estavam preparados.
Os participantes também disseram que conselhos
conflitantes de diferentes membros da equipe
perturbavam a percepção de seu controle. As mães
mencionaram sentimentos de perda de controle nos
momentos em que não conseguiam cuidar de seus
recém-nascidos porque elas mesmas precisavam de
cuidados. Uma mãe disse que estava tão envolvida no
cuidado de seu gêmeo que ficou ao lado das
incubadoras na primeira noite após a cesariana com um
cateter nas mãos para confortar seu gêmeo. Ela não
sabia como garantir seu próprio sono e descanso. Os
participantes também perderam o controle por terem
dúvidas sobre a divisão de tarefas e responsabilidades
entre eles e os profissionais. O mesmo aconteceu
quando os funcionários não comunicaram claramente as
suas dúvidas sobre o diagnóstico ou os tratamentos
médicos. Nestas circunstâncias, os participantes
apreciaram a comunicação aberta.
187
RPESQUISA
Alguns participantes disseram que acharam difícil que nos
quartos unifamiliares não pudessem literalmente distanciar-
se dos tratamentos invasivos para os seus recém-nascidos.
Ao serem deixados sozinhos na suíte com seus recém-
nascidos pela primeira vez, os participantes literalmente se
sentiram isolados da equipe, especialmente após a
transferência das unidades abertas de nível 3. “O bebê
estava no berço, a enfermeira saiu da suíte, fechou a porta e
depois fez-se silêncio. Nesse momento você pensa: 'O que
aconteceu com minha rotina diária?' . . . Não sabíamos mais
o que fazer.”
Alguns participantes sentiram-se obrigados a
permanecer nos seus quartos unifamiliares porque não
tinham a certeza se os seus recém-nascidos seriam
devidamente supervisionados e, assim, perderam o
controlo das suas vidas fora do hospital. As mães, em
particular, relataram sentirem-se culpadas e
considerarem-se más mães quando voltavam para casa
e tinham a oportunidade privilegiada de ficar com os
seus recém-nascidos.
No início fiquei muito feliz e sempre pernoitava,
tentando alternar isso com meu marido. Também
tínhamos um filho de dois anos que não conseguia
compreender a situação. Então, a enfermeira me disse:
“Em última análise, você também é mãe do seu filho
mais velho em casa, e ele também precisa de você”. Eu
realmente não consegui tomar essa decisão sozinho
naquele momento.
Auto-eficácia
Nós definimosAuto-eficáciacomo a confiança dos pais na
sua própria capacidade de influenciar com sucesso a
saúde dos seus recém-nascidos e a sua capacidade auto-
estimada de desempenharem de forma independente
como pais no momento da alta. De acordo com os
participantes, todos os contextos-chave contribuíram
para as suas experiências de autoeficácia – quartos
unifamiliares, cuidados de dísticos, alojamento conjunto
e FICare, incluindo as rondas médicas com participação
activa dos participantes. Poder comer, dormir e relaxar
juntos e ter um banheiro privativo em seus próprios
quartos unifamiliares deu aos participantes a
oportunidade de aprender 24 horas por dia a cuidar uns
dos outros e de seus recém-nascidos doentes e a se
preparar para a alta. O pai de um gêmeo disse: “Eu
estava pronto para cuidar dos filhos sozinho. Se eu
pudesse ter visitado apenas durante o horário de visita,
provavelmente só conseguiria trocar uma fralda.” A
abordagem FICare, na qual os enfermeiros orientam,
apoiam e incentivam os pais e oferecem-lhes a opção de
cuidarem sozinhos dos seus recém-nascidos, deu aos
participantes a confiança para realmente fazerem isto.
188 JOGNN, 50, 181–192; 2021.https://doi.org/10.1016/j.jogn.2020.11.001
Experiências de Empoderamento dos Pais
Eu me senti encorajado de uma forma positiva. . . . Eu
precisava exatamente daquele pouco de apoio e
incentivo. . . . Isso realmente me ajudou a me sentir
confiante. . . . Depois de uma semana, pensei: “Agora
estou pronto para ir para casa”.
Os participantes descreveram como surgiram os problemas
depois de alcançarem a autoeficácia. Eles vivenciaram lutas
de poder quando quiseram tomar iniciativas para gerir eles
próprios os cuidados de saúde dos seus recém-nascidos e
pensaram que poderiam fazer melhor do que os
profissionais de saúde. Nessas situações, eles tinham medo
de serem rotulados de “pais difíceis”.
Discussão
Os participantes do nosso estudo indicaram que a
infraestrutura integrada de cuidados maternos e
neonatais em quartos unifamiliares melhorou seus
processos de empoderamento por meio do FICare
oferecido aos casais mãe-recém-nascido em seus
quartos unifamiliares. Poder estar perto dos seus recém-
nascidos, poder acompanhar o estado clínico dos seus
recém-nascidos e estar envolvido nos cuidados e na
tomada de decisões médicas durante 24 horas por dia
contribuiu para um processo de aprendizagem muito
intenso, que levou a um sentido de competência em
paternidade independente e sentimentos de serem
membros plenos e respeitados da equipe de saúde. Os
participantes também enfrentaram desafios com o
cuidado de dísticos e FICare em seus próprios quartos
unifamiliares, como privação de sono, conflitos de poder
com a equipe, incertezas sobre quais prioridades
deveriam ser definidas ao cuidar de si mesmos ou de
seus recém-nascidos, e sentimentos de isolamento da
equipe e pais de outros recém-nascidos da enfermaria.
Feeley et al. (2016)descobriram que a proximidade física
entre pais e recém-nascidos é necessária para permitir
que os pais adotem os seus papéis como pais desde o
nascimento e desenvolvam esse papel posteriormente. A
infraestrutura que os participantes vivenciaram em
nosso estudo facilitou a proximidade física dos
participantes e de seus recém-nascidos, 24 horas por
dia, desde o nascimento, mesmo que a mãe e o recém-
nascido precisassem de cuidados especializados de alta
complexidade. Este é um dos aspectos que os nossos
participantes mais apreciaram. As recomendações
anteriores para apoiar os pais nas UCI neonatais incluem
a disponibilização de quartos unifamiliares nos quais os
pais possam praticar os cuidados aos seus recém-
nascidos alguns dias antes da alta, mas não
especificamente a partir do nascimento (Craig et al.,
2015). Acreditamos que o cuidado de dísticos em
quartos unifamiliares pode ser considerado o cenário
ideal; acima de tudo, estas salas são um catalisador para
http://jognn.org
Stelwagen, M., van Kempen, A., Westmaas, A., Vet, E., e Scheele, F.
proporcionando FICare e a conquista do
empoderamento dos pais. Sabemos que nem todas
as enfermarias poderão oferecer quartos
unifamiliares no curto prazo, mas a implementação
do modelo FICare não pode e não deve esperar até
que as enfermarias sejam remodeladas ou
construídas com esta configuração de atendimento
ao paciente. Na verdade, o modelo FICare já teve
sucesso em unidades open-bay (Bradford-Duarte &
Gbinigie, 2020;Hall et al., 2017;O'Brien et al., 2018).
Os processos de aprendizagem dos participantes em
suas salas unifamiliares mostram semelhanças com os
processos de aprendizagem baseados em competências
dos estudantes da área da saúde (Gervais, 2016). A
aprendizagem baseada em competências é focada no
aluno e envolve experiências práticas, bem como
autodeterminação, com os instrutores assumindo o
papel de facilitador e treinador. Este método de
aprendizagem permite que os alunos adquiram
competências individuais, incluindo aquelas que
consideram desafiadoras, ao seu próprio ritmo,
praticando-as e aperfeiçoando-as à vontade. Da mesma
forma, os nossos participantes pareciam aprender com
os profissionais de saúde (como instrutores e modelos) e
com os seus parceiros no contexto seguro e privado dos
seus próprios quartos unifamiliares (contexto de
aprendizagem), e ocasionalmente eram desafiados a
experimentar novas competências sob a orientação de
profissionais (coach). Os participantes parecem passar
por um processo de aprendizagem rumo à paternidade
independente para finalmente se tornarem
conscientemente competentes (autoeficácia). Nesse
processo de aprendizagem, os profissionais de saúde
atuam como professores no início e reduzem suas
influências durante o processo. Para um processo de
aprendizagem ideal, é necessário prestar atenção
contínua ao alinhamento das expectativas dos pais e dos
profissionais de saúde. Outro desafio para os
profissionais de saúde garantirem experiências de
aprendizagem ideais para os pais é evitar conselhos
conflitantes. A integração da equipe de enfermagem,
principalmente dos enfermeiros focados e capacitados
na assistência materna e neonatal (Stelwagen et al.,
2020), pode ajudar a reduzir conselhos conflitantes.
Harris (2014)descobriram que a tomada de decisão
compartilhada era uma intervenção importante para o
empoderamento dos pais. Em nosso estudo, os participantes
relataram efeitos contrastantes das rondas médicas diárias e
da tomada de decisão compartilhada em seus processos de
empoderamento. A maioria considerou as visitas médicas
diárias úteis para obter informações sobre as condições dos
seus recém-nascidos, políticas de tratamento e como base
para a tomada de decisões partilhadas. Por outro lado,
alguns participantes tiveram resultados negativos
JOGNN 2021; Vol. 50, Edição 2
RPESQUISA
experiências se diferentes membros da equipe dessem
conselhos conflitantes e se lhes fossem feitas certas
perguntas que eles não pudessem responder. Estas
experiências conflitantes podem explicar as descobertas
de pesquisadores anteriores que não relataram redução
no estresse em pais que frequentavam consultas
médicas em UTINs (Abdel-Latif et al., 2015; Gustafson et
al., 2016).
Parece que os participantes do nosso estudo
vivenciaram lutas de poder, uma vez que se
consideraram mais qualificados para cuidar dos seus
recém-nascidos do que os profissionais.João (2015)
descreveram lutas de poder entre enfermeiros e pais
em infraestruturas que não foram especificamente
concebidas para o empoderamento dos pais. No
nosso estudo, os participantes experimentaram
problemas semelhantes, apesar ou talvez por causa
dos seus processos de empoderamento. Pais bem
qualificados que experimentam autoeficácia temem
ser rotulados como “pais difíceis” quando falam
abertamente. Os profissionais de saúde devem
reconhecer e gerir estas mudanças nas relações com
os pais para evitar lutas de poder (Finlayson et al.,
2014) e reconhecer e lidar com as preocupações dos
pais quanto à alta para casa (Van der Pal et al., 2014).
Isto requer ajustes e mudanças nos papéis das
equipes médicas e
melhoria de pai da equipe interações
(Provenzi & Santoro, 2015;Sisson et al., 2015), apesar
do desafio de aceitar os pais como membros iguais
da equipe e como especialistas respeitados e fatores
constantes na vida de seus recém-nascidos (Butt et
al., 2013).
Martinsen et al. (2018)identificaram a privação de
sono entre pais de bebês prematuros e sua relação
com resultados negativos de saúde para os pais. Eles
relataram privação de sono devido ao estresse e ao
comportamento de alerta extra dos pais em relação
aos recém-nascidos após a alta. Os participantes do
nosso estudo relataram principalmente problemas
de sono durante a internação hospitalar. Os
participantes não mencionaram problemas de sono
após a alta, talvez porque não focamos no período
pós-alta ou porque aprenderam habilidades para
dormir o suficiente durante a hospitalização e
ficaram menos estressados por estarem próximos
de seus recém-nascidos desde o nascimento.
Para melhorar ainda mais o processo de
aprendizagem e capacitação, pode ser útil
proporcionar sessões de educação aos pais e
reuniões com outros pais como potenciais modelos (
Bravo et al., 2015). Experiências dos participantes
189
RPESQUISA
Os pais vivenciaram um processo de aprendizagem intensivo na
infraestrutura integrada projetada para capacitá-los e necessitaram
de orientação baseada na aprendizagem baseada em competências
princípios.
sugerem que pode ser aconselhável organizar uma
enfermaria como se fosse uma escola para pais,
acrescentando momentos formais de ensino e coaching
e reuniões com outros pais e talvez até avaliações de
competências essenciais para o cuidado do recém-
nascido e autocuidado parental (Moisés, 2017).
Limitações e orientações para pesquisas
futuras
Nosso estudo concentrou-se nas opiniões de participantes
holandeses com alto nível de escolaridade, o que significa
que os participantes provavelmente tinham conhecimentos
gerais de saúde suficientes. Isto pode explicar por que razão,
ao analisar os dados, não conseguimos identificar
experiências evidentes relativas ao aumento da literacia em
saúde, que é um resultado importante de empoderamento
no modelo deBravo et al. (2015). Para uma melhor
compreensão deste aspecto, a investigação futura deverá
incluir pais com diferentes níveis de educação e/ou
diferentes estatutos socioeconómicos ou provenientes de
áreas urbanas e rurais.
O cenário único do nosso estudo é uma limitação
porque todos os participantes foram hospitalizados em
uma enfermaria neonatal de nível 2; portanto, nossas
descobertas não são generalizáveis para todos os
ambientes. Recomendamos explorar como os pais
vivenciam as infraestruturas projetadas para o
empoderamento dos pais em amostras mais diversas.
No entanto, alguns resultados podem ser generalizáveis
porque as questões de privação de sono e de energia
com os profissionais de saúde provavelmente serão
vivenciadas em todo o mundo pelos pais que passam
por um processo de empoderamento.
Não investigamos as perspectivas dos profissionais de
saúde. Pesquisas futuras podem revelar suas opiniões
sobre como melhorar o empoderamento dos pais. Uma
revisão integrativa sobre cuidado centrado na família em
UTIN (Vetcho et al., 2020) destacou recentemente
grandes lacunas na literatura ao considerar o foco na
dignidade e no respeito nas parcerias com os pais, que
identificamos como um tema de resultado para o
empoderamento dos pais. Além disso, as perspectivas
dos profissionais de saúde são necessárias para
aperfeiçoar os esforços para criar uma escola que
melhore o empoderamento dos pais num contexto
complexo de cuidados de saúde.
190 JOGNN, 50, 181–192; 2021.https://doi.org/10.1016/j.jogn.2020.11.001
Experiências de Empoderamento dos Pais
Conclusão
Fornecer FICare a casais mãe-recém-nascido em quartos
unifamiliares oferece aos pais um contexto de
aprendizagem intensivo para uma paternidade
independente no momento da alta. Os profissionais de
saúde devem estar conscientes dos desafios e
facilitadores vividos pelos pais no contexto da
proximidade física dos seus recém-nascidos, 24 horas
por dia, em quartos unifamiliares. Esta consciência
permitir-lhes-á apoiar melhor os pais nos seus processos
de empoderamento rumo à parentalidade independente
no momento da alta. As conclusões do presente estudo
têm implicações importantes para a concepção de infra-
estruturas para capacitar os pais de recém-nascidos na
maternidade e nos cuidados neonatais. Com base nas
evidências do nosso estudo, recomendamos que os
profissionais de saúde aceitem os pais como cuidadores
principais; abraçar os princípios de respeito e
comunicação aberta com os pais; organizar
oportunidades formais de ensino e reuniões com outros
pais que possam servir de modelo; respeitar o ritmo de
progresso dos pais e concentrar-se nos cuidados às
mães, parceiros e recém-nascidos; orientar e apoiar os
pais que testemunham seus recém-nascidos sendo
submetidos a procedimentos médicos invasivos; e
respeitar as necessidades dos pais em termos de
privacidade e sono. O próximo passo para determinar
como organizar uma enfermaria como uma escola para
capacitar os pais dos recém-nascidos para uma
paternidade independente no momento da alta é
investigar as perspectivas dos profissionais de saúde.
Reconhecimento
Os autores agradecem a Lisette van Hulst pela
assistência editorial; Nesibe Akdemir, MD, PhD, pela
assistência na análise; e Judith Cohn e Yvonne Blees
pela assistência na coleta de dados.
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