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Generos Na Linguistica e Literatura PDF
Generos Na Linguistica e Literatura PDF
percebidas de enunciados.
Os enunciados são delimitados,
têm começo e fim, ocupam lugar
definido no tempo e no espaço e
são percebidos como portadores
de algum sentido.”
Gêneros
NA LINGUÍSTICA NA LIteratura
Charles Bazerman, 10 anos de incentivo à pesquisa no BRASIL
D592
410 CDD
81 CDU
c.pc:08/15ajns
Comissão Editorial EDUFPE
Presidente: Lourival Holanda
Titulares:
Alberto Galvão de Moura Filho, Allene Carvalho Lage, Anjolina
Grisi de Oliveira, Dilma Tavares Luciano, Eliane Maria Monteiro
da Fonte, Emanuel Souto da Mota Silveira, Flávio Henrique
Albert Brayner, Luciana Grassano de Gouvêa Melo, Otacílio
Antunes de Santana, Rosa Maria Cortês de Lima, Sonia Souza
Melo Cavalcanti de Albuquerque.
Suplentes:
Charles Ulises de Montreuil Carmona, Edigleide Maria
Figueiroa Barretto, Ester Calland de Souza Rosa, Felipe
Pimentel Lopes de Melo, Gorki Mariano, Luiz Gonçalves de
Freitas, Madalena de Fátima Pekala Zacarra, Mário de Faria
Carvalho, Sérgio Francisco Serafim Monteiro da Silva, Silvia
Helena Lima Schwanborn, Tereza Cristina Tarragô Souza
Rodrigues.
Editores executivos:
Augusto Noronha e Karla Vidal
Conselho Editorial:
Alex Sandro Gomes; Angela Paiva Dionisio; Carmi Ferraz
Santos; Cláudio Clécio Vidal Eufrausino; Cláudio Pedrosa;
Clecio dos Santos Bunzen Júnior; Leila Ribeiro; Leonardo
Pinheiro Mozdzenski; Pedro Francisco Guedes do Nascimento;
Regina Lúcia Péret Dell’Isola; Ubirajara de Lucena Pereira;
Wagner Rodrigues Silva; Washington Ribeiro.
Prefácio
Previsões, Desafios,
Agradecimentos
Previsões...
2. Bazerman, C. Escrita, Gênero e Interação Social. São Paulo: Cortez, 2007, p.80
3. Bazerman, C. Gênero, Agência e Escrita. São Paulo: Cortez, 2006.
4. Bazerman, C. Retórica da Ação Letrada. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
8
Angela Paiva Dionisio
5. Bazerman, C. Uma teoria da ação letrada. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
6. Bazerman, C. Uma teoria da ação letrada. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
9
Prefácio
10
Angela Paiva Dionisio
11
SUMÁRIO
PARTE 1 - Linguística
81
Linguística dos Gêneros e Textualidade
François Rastier (CNRS, Paris/FRA)
97
Algumas ideias para ensinar novos gêneros a partir
de velhos gêneros
Amy Devitt (KU/USA) & Heather Bastian (CSS/USA)
123
Memórias Literárias: reflexões sobre práticas
de escrita
Beth Marcuschi (UFPE)
159
Gêneros e a construção do discurso ambiental de
campanha de Conscientização
Maria Clara Catanho Cavalcanti (IFPE)
177
A relativa estabilidade dos textos de divulgação
científica: um caso de hibridismo
Regina L. Péret Dell’Isola (UFMG)
Parte 2 - Literatura
203
Apresentando - O arquipélago dos gêneros:
uma viagem intelectual
Peron Rios (Colégio de Aplicação/UPFE)
245
Os dois Teodoros: mutações do gótico de Horace
Walpole e E.T.A. Hoffmann
André de Sena (UFPE)
265
Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
285
Poesia, Oralidade e Ensino
Hélder Pinheiro (UFCG)
303
Literatura dos anos iniciais ao ensino superior:
contribuições do gênero entrevista à pesquisa e à
formação docente
Maria Amélia Dalvi (UFES)
APRESENTANDO
O tecer de fios para a rede dos
Estudos sobre Gêneros
Clecio Bunzen (UFPE)
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Apresentando - O tecer de fios para a rede dos estudos sobre Gêneros
16
Clecio Bunzen (UPFE)
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Apresentando - O tecer de fios para a rede dos estudos sobre Gêneros
a lado termos advindos de fontes diferentes (...), mas que geram uma
contradição teórica ou não equivalência de sentido entre os termos”
(RAFAEL, 2001, p.165). Os equívocos discutidos por Bezerra demons-
tram um movimento de redução dos conceitos e sinalizam “modos
de apropriação” das Teorias de gêneros pelos sujeitos. Sua reflexão
provoca pesquisadores, formadores de professores e agentes respon-
sáveis por políticas públicas a refletirem sobre aspectos epistemo-
lógicos que são deixados em “segundo plano” no imediatismo das
formas de produção de conhecimento na escola ou na universidade.
Linguística dos Gêneros e Textualidade é o terceiro capítulo do
bloco. Escrito por François Rastier (CNRS, Paris), as provocações so-
bre “gêneros”, “discurso” e “tipologia dos textos” polemizam aberta-
mente (BAKTHIN, 1981) com algumas reflexões filosóficas e literárias.
Ao defender a importância de uma “linguística dos gêneros”, Rastier
chama-nos atenção para diferentes níveis de classificação dos textos
e suas implicações para as pesquisas de base semiótica. Ele retoma
implicitamente aspectos das Teorias de Gêneros discutidos anterior-
mente por Miller e Bezerra, apresentando para o leitor aspectos de
suas pesquisas no campo da Linguística de Corpus, com ênfase para
o fato de que: (i) podemos repensar a afirmação que “um texto per-
tence a um gênero”, invertendo-a para “o gênero pertence ao texto”;
(ii) “o gênero e o texto, de certa forma, interpretam-se mutuamente” e
(iii) “nenhum texto é escrito ‘em uma língua’ apenas, ele é escrito em
um gênero, levando-se em conta as regras de uma língua”. Partindo
de tais afirmações, é possível (re)pensar novos modos de compreen-
der a língua(gem) e a textualidade nas inter-relações entre discursos,
campos genéricos e gêneros.
Após o conjunto de temáticas elencadas por Miller, Bezerra e
Rastier, o artigo Algumas ideias para ensinar novos gêneros a partir de
velhos gêneros, escrito por Amy Devitt (KU) e Heather Bastian (CSS),
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Clecio Bunzen (UPFE)
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Apresentando - O tecer de fios para a rede dos estudos sobre Gêneros
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Clecio Bunzen (UPFE)
Referências
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PARTE 1
Linguística
1
GÊNEROS EVOLUEM?1
DEVERÍAMOS DIZER QUE SIM?2
CAROLYN R. MILLER (NCSU/USA)3
Prólogo
1. Texto publicado com a permissão da Canadian Association for the Study of Language and Learning.
Há um acordo para publicação da versão original “Genre Change and Evolution,” no livro Genre Studies
around the Globe: Beyond the Three Traditions, editado por Natasha Artemeva e Aviva Freedman.
Edmonton, Alberta: Inkshed Publications, no prelo.
2. Tradução de Larissa de Pinho Cavalcanti (UFRPE), revisão de Rodrigo Farias de Araújo (UFPE), revisão
e coordenação de tradução Judith Hoffnagel (UFPE).
3. crmiller@ncsu.edu
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
4. Ver também Kirk et al., que sugerem que “a unidade do rio como um todo é dependente da regularidade
do fluxo de suas águas constituintes”; que “um todo complexo...pode permanecer ‘o mesmo’ enquanto
suas partes estão sempre mudando (KIRK, G. S. et al., 1983).
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Carolyn Miller (NCSU)
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
5. Berkenkotter sugere que o modelo revolucionário de Kuhn de mudanças de paradigma é mais descritivo,
pelo menos para o estudo de caso psiquiátrico. E um importante estudo novo de Wells oferece um sistema
metafórico espacial ou geográfico para compreender os gêneros, sendo especialmente útil para textos
mistos ou duvidosos, como a Anatomy of Melancholy de Richard Burton (WELLS, 2014).
6. Embora não apareça na primeira edição de Origin, Darwin a adotou e atribuiu a Spencer em seu
trabalho de 1868, The Variation of Animals and Plants under Domestication: “Essa apresentação, durante
a batalha pela vida, das variedades que possuem quaisquer vantagens em estrutura, constituição ou
instinto, tenho chamado Seleção Natural; e o Sr. Herbert Spencer tem expressado a mesma ideia em
Sobrevivência do mais Adaptado” (6). http://darwin-online.org.uk/content/frameset?itemID=F877.1&v
iewtype=text&pageseq=1.
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Carolyn Miller (NCSU)
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
Acredito que essas duas formas de pensamento estão ambas vivas nos
estudos de gênero, hoje.
O Essencialismo é bem representado pela teoria platônica das
formas: a eide fixa, imutável, e distinta ou essências que existem in-
dependente do mundo fenomenal, o qual é meramente sua mani-
festação imperfeita. Para a perspectiva da eide, variações são desin-
teressantes, meros sinais de imperfeições do mundo empírico. De
acordo com Mayr, o essencialismo “dominou o pensamento do mun-
do ocidental” a ponto tal que é agora difícil para nós compreender
(1982). O pensamento populacional, ao contrário, o qual Mayr chama
de “um conceito peculiarmente biológico, alheio ao pensamento do
cientista físico” (1982), toma o indivíduo único como ponto de parti-
da da análise, não o tipo, valorizando diversidade e variação, em de-
trimento de abstrações estáveis. É mais empírico e indutivo, menos
matemático e abstrato. “Ao introduzir o pensamento populacional”,
diz Mayr, “Darwin produziu uma das revoluções mais fundamentais
no pensamento biológico” (1982).
O pensamento evolucionário na biologia tem raízes nos esforços
do Iluminismo para compreender o mundo natural. Os filósofos na-
turalistas como Lineu, Buffon, LaMettrie, Lamarck, Diderot, Cuvier,
e outros incluindo o próprio avô de Darwin, Erasmus (BOWLER,
1989), lutaram para entender o grande plano harmônico pressuposto
por ambos teólogos e mecânicos racionais para ordenar o universo.
O trabalho de décadas de Lineu para criar uma taxonomia do mundo
natural é um dos primeiros e mais importantes de tais esforços. Lineu
pretendia representar o plano racional da criação divina dentro de
seu sistema de classificação, uma ambição revelada pelo título de seu
trabalho: Systema Naturae, publicado em 1735. Ele começou com pre-
missas do século XVIII: as espécies são invariantes, as relações entre
as mesmas refletem um sistema único ordenado, e esse sistema possui
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Carolyn Miller (NCSU)
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
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Carolyn Miller (NCSU)
7. Ver o modelo básico de Dennett da evolução (“maximamente abstrato”) (1995) e o resumo similar de
Steven Jay Gould (1977).
8. O esboço do caderno de Darwin pode ser visto em uma exibição online no Museu de História Natural
Americano (http://www.amnh.org/exhibitions/past-exhibitions/darwin/the-idea-takes-shape/i-think).
Gross (2007) discute a função retórico-conceptual de seu esboço bem como o diagrama publicado em
Origem.
9. A importância do esquema-árvore é enfatizada na discussão de Robert O’Hara do “pensamento
árvore”, após o pensamento populacional de Mayr; pensar em árvore muda questões de estados para
questões de mudança (1988).
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
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Carolyn Miller (NCSU)
10. O diagrama é reproduzido em Richards (2002). Se Schleicher manteve uma visão evolucionista
da espécie humana antes da Origem de Darwin (algo sobre o qual se especula), ele claramente a
manteve após ler a tradução em alemão (RICHARDS, 2002). De fato, ele defendeu em um comentário
em 1863 sobre a Origem que o estudo histórico das línguas poderia ajudar a substanciar hipóteses
sobre a evolução orgânica: em particular, que a linguística fornecesse evidências sobre a competição,
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
Todavia, o século XVIII era mais que uma reação ao século XVII.
Por volta da metade do século, de acordo com René Welleck, “a espe-
culação biológica e sociológica... estimulava pensamentos análogos
sobre literatura” (WELLEK, 1963). E a autoridade dos modelos clás-
sicos foi testada pelo que Michael Prince chama de “fatores especifi-
camente modernos”:
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
lek pôde alegar que “cinquenta e seis anos atrás o conceito de evolu-
ção dominou a história literária; hoje...parece ter desaparecido quase
completamente” (WELLEK, 1963). Como mostra Fishelov, muito da
insatisfação literária com a teoria evolucionista derivava de sua falsa
aplicação ou de erros de compreensão (particularmente com relação
ao determinismo, um tópico abordado adiante) (FISHELOV, 1993).
À medida que o interesse no pensamento evolucionista diminuía,
também diminuíam os interesses no gênero, em parte em decorrên-
cia da contínua oposição romântica à convenção e ao compromisso
com a criatividade radical (DUFF, 2000), e, em ambas, literatura e
linguística, os estudos de gênero caíram em desgraça durante muito
do século XX.
Penso que há uma história complexa e interessante a ser conta-
da sobre a revitalização de uma teoria evolucionista de gênero nas
décadas seguintes à declaração de Wellek. Não conheço essa his-
tória ainda, mas suspeito que ela envolva um número de correntes
nas ciências humanas, tais como teoria Gestalt, teoria dos esquemas,
teoria de categorias, da psicologia cognitiva; teorias de tipificação e
estruturação da sociologia; o interesse de Langer nos “padrões”, e
possivelmente a filosofia da linguagem comum, da filosofia; e inclui
confluentes, como a noção de Kuhn de “paradigma” e a “teoria de
frames”, da psicologia social e pesquisa de mídia.
A história paralela a ser contada é aquela dos modelos evolucio-
nistas e seu apelo contínuo aos historiadores no intuito de esclarecer
a mudança cultural e intelectual. Thomas Kuhn, por exemplo, ainda
que seu modelo para mudanças científicas seja geralmente posto em
termos diferentes (aqueles das revoluções políticas), invoca a analo-
gia com a evolução biológica em diversos pontos de seu argumento,
notando que o processo que tem descrito é “a seleção por conflito
na comunidade científica do modo mais adequado de se praticar a
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Carolyn Miller (NCSU)
12. O modelo de Hull foi adaptado por Gross e seus colegas para explicar o gênero do artigo de pesquisa
científica (GROSS et al., 2002). Arthur tem aplicado uma versão modificada de evolução à mudança
tecnológica (2009).
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Taxonomia
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Carolyn Miller (NCSU)
animal
bípede quadrúpede
inclusão,
abstração
segmentação, Variação
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
observa que Darwin abriu mão de definir espécie, alegando ser mais
prudente considerar tal um termo de conveniência mais que um de
princípio (DENNETT, 1995); ele acrescenta que “mais de um sécu-
lo após Darwin, ainda há sérios debates entre biólogos...sobre como
definir espécie” (1995). De modo similar, Mayr alega que “provavel-
mente não há outro conceito em biologia que tenha permanecido tão
consistentemente controverso como o conceito de espécie” (MAYR,
1982).
Endopterygota
segmentação, Variação
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Carolyn Miller (NCSU)
13. Mayr sugere que o nominalismo medieval influenciou os primeiros empíricos, tais como Francis
Bacon, e pode ter sido uma antecipação do pensamento populacional (1982).
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segmentação, Variação
14. Veja a conexão entre categorias e conceitos em Margolis & Laurence (2011).
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15. Rosch cita trabalhos corroborantes mostrando que “categorias de nível básico são codificadas mais
frequentemente por signos únicos”: por exemplo, etnobotãnicos podem mostrar tal para nomes de
plantas em várias culturas, e outros confirmaram o padrão com a linguagem de sinais (1978).
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Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim?
16. Para uma breve explicação do tema em Wittgenstein, ver Biletzki e Matar (2009).
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propósito
(meios) (fim)
Teleologia
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17. N.doT.: avant la letter,expressão francesa que significa “antes do termo existir”, nesse sentido, Miller
enfatiza o aspecto antecipatório da relação entre propósito e objetivo.
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instituições
tecnologias FUNçÃO
tradições (fim)
pessoas
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Carolyn Miller (NCSU)
18. Para mim a teoria dos memes, sugerida por Richard Dawkins como uma maneira de pesar sobre a
mudança cultural em termos evolucionistas leva a analogia longe demais, procurando análogos dos
mecanismos de reprodução e seleção. Mas isso é tema para outra ocasião.
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Referências
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Carolyn Miller (NCSU)
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“Se eu acho que é
educacionalmente apropriado
que eles [os alunos] cheguem
a um lugar ainda não familiar,
posso tentar levá-los até
esse lugar por um caminho
que eles possam entender e
negociar, em vez de ensinar
coisas distantes e estranhas
em termos de gênero, esperando
que, por acaso, eles
compreendam.”
Primeiras considerações
1. Usarei aqui o termo “discurso” em um sentido menos técnico, como dizem definições não
especializadas, de “exposição metódica sobre certo assunto” ou “um conjunto de ideias organizadas
por meio da linguagem” ou ainda como “raciocínio” sobre certo tema. Ou seja, o que certas pessoas,
especialistas ou não, dizem sobre os gêneros quando falam sobre gêneros.
2.*E-mail: beneditobezerra@gmail.com
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Equívocos no discurso sobre gêneros
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
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Equívocos no discurso sobre gêneros
Gênero e texto
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
3. É conveniente ressaltar que os termos “material”, “materialidade” e “materializar” são empregados aqui
sem nenhuma conotação filosófica especial, mas apenas no sentido de que o texto, ao contrário do
gênero, tem sempre um componente material, visível na escrita e audível na fala, ao ser atualizado a
partir de recursos disponíveis no sistema linguístico e noutros sistemas semióticos.
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Equívocos no discurso sobre gêneros
Gênero e suporte
Eis aqui uma questão importante, mas que raramente foi tratada
com a seriedade devida, constituindo uma exceção honrosa o ensaio
de Marcuschi intitulado “A questão do suporte dos gêneros textuais”
(2003)4. A propósito da temática, convém evocar aqui a constatação
de Fraenkel (2004): enquanto a área de história desenvolveu disci-
plinas inteiramente voltadas para o suporte como objeto de estudo
(epigrafia, papirologia, codicologia, paleografia)5, as ciências da lin-
guagem paradoxalmente têm ignorado quase por completo o papel
do suporte na comunicação escrita. Consequentemente, a confusão
entre gênero e suporte será um equívoco relativamente frequente no
discurso sobre gênero, inclusive no discurso científico na área dos
estudos da linguagem. Vejam-se os exemplos:
4. Também dignas de nota são repercussões do trabalho seminal de Marcuschi, como ocorre em Costa
(2008), com suas “contribuições ao debate sobre a relação entre gêneros textuais e suporte”.
5. Em parte com base nessas disciplinas de natureza histórica, desenvolvi todo um capítulo de minha
tese de doutoramento (BEZERRA, 2006) caracterizando e discutindo o livro como suporte de variados
gêneros.
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
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Equívocos no discurso sobre gêneros
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
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Equívocos no discurso sobre gêneros
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
Gênero e forma/estrutura
Carta pessoal
[...] As características desse tipo de gênero textual são simples, ou
seja, não possuem muitas regras e estrutura para serem seguidas.
[...] O tamanho varia entre médio e grande. Quando é pequeno, é
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Equívocos no discurso sobre gêneros
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
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Equívocos no discurso sobre gêneros
Considerações finais
7. É certo ainda que “discurso”, neste caso, remete a linguagens de especialidade, como o discurso
jornalístico, o discurso jurídico, o discurso científico, e poderia também ser tratado na relação com o
conceito de registro na terminologia da Linguística Sistêmico-Funcional.
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Equívocos no discurso sobre gêneros
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
Referências
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“Concordo que muitos usos da
linguagem não são deliberados,
e sim, espontâneos. Contudo,
eu também vejo a retórica
levantando a possibilidade
de alguém se tornar mais
consciente e, consequentemente,
mais reflexivo na escolha do
que dizer.”
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3
LINGUÍSTICA DOS GÊNEROS
E TEXTUALIDADE1
François R astier 2 (CNRS, Paris)
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Equívocos no discurso sobre gêneros
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4. Um campo genérico é um grupo de gêneros que constrasta entre si, ou melhor, apresenta rivalidade
em um campo prático: por exemplo, no âmbito do discurso literário, na época clássica, o campo genérico
do teatro se dividia em farsa, comédia, comédia heróica e tragédia.
83
Equívocos no discurso sobre gêneros
Campos
Discursos Gêneros Subgêneros
genéricos
Comédia
Teatro Tragédia
Drama
Literário Poesia
Policial
Romance por cartas
Relatos
de formação
Novela
Jurídico
Político
Responsabilidade da linguística
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
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Equívocos no discurso sobre gêneros
O gênero determina/condiciona a
semiose textual
7. Filósofo e ensaista, Bakhtin não pensou em propor critérios linguísticos para a descrição dos gêneros.
Sua contribuição permanece ainda mais enigmática pelo fato de sua reputação ter vindo a ser assegurada
por obras de outros autores (Voloshinov e Medvedev, notavelmente) e de textos presumidamente de
sua autoria terem vindo a ser crivados de citações não assinaladas, de Cassirer a Husserl.
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
8. Mais especificamente, a temática dá conta dos temas, descritos como formas semânticas (moléculas
sêmicas); a dialética estuda a sucessão dos intervalos no tempo textual, como os estados que se
posicionam neste e os processos que aí acontecem; a dialética, as relações modais entre universo e
mundo, leva em conta a enunciação representada; a tática considera a linearidade do significado e a
disposição das unidades textuais. Este modelo modular não-hierárquico foi retomado em seu princípio
por diversos gramáticos do texto (Adam, 1992; Roulet e coll, 2001).
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Equívocos no discurso sobre gêneros
9. O sistema da língua, tal qual o concebem geralmente os linguistas, não determina a semiose textual
e só estabelece coerções à semiose ao nível de complexidade mais elementar, o dos morfemas: ao nível
dos morfemas, a língua propõe, ou melhor, impõe emparelhamentos entre significante e significado (ex.
re- é iterativo); mas os morfemas não têm neles mesmos uma significação definida, isto porque o (falso)
problema da referência nunca foi posto a respeito. Ao nível imediatamente superior, o do léxico (o dos
lexemas), as palavras já são unidades “de discurso”, pois a relação estabelecida entre seus morfemas é
regulada por uma sintaxe interna: a sua significação e a sua forma de semiose já dependem das relações
contextuais entre os morfemas que as compõem.
10. Assim, no romance, amor tem como antônimo casamento ou dinheiro. Na poesia, não é nem
casamento, nem dinheiro. Para uma análise em corpus no banco de dados Frantext, cf. Bourion, 2001,
pp. 42-45.
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
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Equívocos no discurso sobre gêneros
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
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Equívocos no discurso sobre gêneros
12. Não é surpreendente, pois o romance tradicionalmente é um gênero muito diversificado, rapsódico
e heterogêneo, como já o observa o “pároco” no capítulo 47 de Don Quichotte.
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13. Cf. Os Miseráveis, romance que alterna capítulos romanescos e capítulos ensaísticos.
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Equívocos no discurso sobre gêneros
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Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP)
LÍNGUA
discurso
campos genéricos
paradigmático
gêneros
FALA
sintagmático
14. É por isso que o léxico, ao menos o dos lexemas, não pertence à língua.
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Equívocos no discurso sobre gêneros
Referências
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4
ALGUMAS IDEIAS PARA ENSINAR
NOVOS GÊNEROS A PARTIR DE
VELHOS GÊNEROS1
Amy J. Devitt2 (KU/USA)
Heather Bastian3 (CSS/USA)
Introdução4
1. Tradução de Larissa de Pinho Cavalcanti (UFRPE), revisão de Rodrigo Farias de Araújo (UFPE), revisão
e coordenação de tradução Judith Hoffnagel (UFPE).
2. devitt@ku.edu
3. bastianhm@gmail.com
4. O texto desta conferência permanece em grande parte fiel ao produzido em 2009. Claro, muito de
nossa pesquisa sobre transferência e conhecimento de gêneros já foi publicada desde então.
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Algumas ideias para ensinar novos gêneros a partir de velhos gêneros
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Amy Devitt (KU) & Heather Bastian (CSS)
res, podemos querer interferir no processo tal como ele ocorre para
possibilitar aos alunos o melhor uso de seus conhecimentos prévios.
Mas o que podemos descobrir sobre o conhecimento prévio sobre
gêneros que nossos alunos trazem para a sala de aula? E como po-
demos ajudar os alunos a aprenderem a fazer melhor uso de seus
conhecimentos prévios com o que descobrirmos?
Para melhor compreender o uso de conhecimentos prévios sobre
gêneros pelos alunos em uma aula de escrita de nível universitário,
estudamos um grupo de alunos de nível superior numa universida-
de dos Estados Unidos, investigando o que eles relataram conhecer
sobre gêneros antes de entrar na universidade e como aquele conhe-
cimento era ou não era visível em sua escrita para o curso universitá-
rio. Esse estudo inicial, exploratório, foi sucedido por pesquisas mais
elaboradas por Mary Jo Reiff e Anis Bawarshi [desde a publicação
em 2011] em diferentes universidades. Aqueles estudos têm feito des-
cobertas instigantes sobre transferências entre diferentes domínios,
dentre outras. Em nosso estudo, mais reduzido, nos concentramos
em casos individuais, na natureza de seus conhecimentos prévios
relatados e nos traços textuais do conhecimento de gêneros visíveis
no material escrito para as aulas. Neste trabalho, reportaremos o que
temos descoberto acerca da natureza do conhecimento prévio des-
ses estudantes e suas potenciais consequências para ensinar novos
gêneros. Embora nosso relato parta de uma pequena amostra de alu-
nos universitários dos Estados Unidos, esses resultados podem ser
aplicados mais geralmente por nós professores enquanto tentamos
usar mais eficientemente os conhecimentos prévios sobre gêneros
dos nossos alunos para ajudá-los a desenvolver novos conhecimentos
de gêneros.
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Algumas ideias para ensinar novos gêneros a partir de velhos gêneros
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Amy Devitt (KU) & Heather Bastian (CSS)
5. O termo “boundary crossers” se refere a pessoas que têm o hábito de ultrapassar os limites
conhecidos
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Métodos
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Algumas ideias para ensinar novos gêneros a partir de velhos gêneros
6. Originalmente, dezenove dos vinte e dois estudantes matriculados no curso (86%) concordaram em
participar do estudo; todavia, o curso passou por reduções (três alunos). Esses três estudantes foram
levados em consideração apenas quando examinando a informação relatada no primeiro questionário,
mas não nas demais análises.
7. Os estudantes também representaram a universidade tipicamente com todos à exceção de um sendo
caucasianos. Não coletamos dados demográficos.
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Amy Devitt (KU) & Heather Bastian (CSS)
exemplar de sua escrita, por favor, use o tempo restante da aula para
escrever sobre o ensino médio (você poderá escolher o escolher qual-
quer abordagem ao tema que desejar)”. Tais trabalhos, escritos em
uma única aula, deram um vislumbre de qual gênero cada estudante
poderia escolher para escrever no domínio acadêmico dentre todos
os gêneros de seu conhecimento – acrescido, claro, das expectativas
dos estudantes sobre a universidade, cursos de escrita universitários
e o professor.
109
Algumas ideias para ensinar novos gêneros a partir de velhos gêneros
Textos persuasivos/Ensaios 6
Pesquisas 5
Comparar e constrastar 7
Ensaios 4
Poemas/Poesia 4
Trabalhos informativos 3
Trabalhos comparatives 2
Estórias não ficcionais 2
Trabalhos opinativos 2
Trabalhos de conclusão 2
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Textos persuasivos/Ensaios 7
Pesquisas 7
Comparar e constrastar 6
Ensaios 5
Poemas/Poesia 4
Trabalhos informativos 3
Trabalhos comparatives 2
Estórias ficcionais 2
Estórias não ficcionais 2
Textos persuasivos/Ensaios 2
Contos 2
Trabalhos narrativos/ narrativas 2
Trabalhos opinativos 2
Trabalhos de conclusão 2
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Algumas ideias para ensinar novos gêneros a partir de velhos gêneros
Poemas/Poesia 4
Currículo 3
Informativo 2
Cartas 2
Contos 2
Diários 2
Estórias cômicas 1
Cartas oficiais 1
Persuasivo 1
Pesquisas 1
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Referências
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“Penso que toda a minha
pedagogia de alguma forma foi
moldada por uma consciência
de gênero. Como fui me
tornando cada vez mais
consciente dos gêneros,
essa consciência teve um
efeito cada vez maior em
moldar meu pensamento sobre
o ensino.”
Introdução
1. Essa é uma versão revista do artigo “A escrita do gênero memórias literárias no espaço escolar: desafios
e possibilidades”, publicado nos Cadernos Cenpec. São Paulo, v.2, n.1, p.47-73, julho 2012.
2. E-mail para contato: bethmufpe@gmail.com.
3. Apesar de não trazer a palavra gênero no título, que aparece somente numa das seções da obra
publicada em português, não podemos deixar de citar, por sua relevância na área, o texto “Os gêneros
do discurso”, em Estética da criação verbal, de Bakhtin/ Voloshinov (1997).
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Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
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Beth Marcuschi (UFPE)
5. Os textos analisados no presente trabalho foram escritos em 2010. Detalhes sobre o corpus analisado
são apresentados na seção 3 deste artigo.
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Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
6. Diario de Pernambuco, Recife, 29 de agosto de 1842. Anúncio reproduzido na coluna “Os pequenos
anúncios curiosos do Diário”, do mesmo jornal, em 16 de março de 2011, página A3.
7. Os costumes e necessidades do período precisariam ser melhor aprofundados e pesquisados, o que
não é nosso objetivo aqui, mas é possível supor que ‘cartas’ eram escritas e distribuídas em quantidade
razoável por certas instâncias (comércio, escritórios, judiciário, por exemplo), daí a ajuda que uma
máquina poderia oferecer. Também é possível inferir que objetos valiosos eram cuidadosamente
armazenados, por isso a expectativa de que uma ‘burra’ (caixa ger. de madeira em que se guardavam e/
ou transportavam coisas diversas, esp. valores, dinheiro etc.; cofre, dentre outros significados, segundo
o Houaiss, Grande Dicionário da Língua Portuguesa) encontrasse compradores.
8. Sabe-se que os jornais, à época, tinham circulação restrita, mas também que o DP gozava de
grande prestígio na Região. Portanto, pode-se inferir que o anúncio se dirigia a pessoas com razoável
proficiência em leitura, conhecimento da linguagem quase cifrada da publicidade, algum poder
aquisitivo etc.; percebe-se ainda, pela expressão “tudo em bom estado”, que o anúncio cuidava de
destacar as qualidades que poderiam valorizar os produtos.
9. O que ‘personaliza’ o anúncio é a indicação do endereço, mais precisamente, do “Trapiche” (espécie de
píer pequeno e de madeira associado a um armazém para embarque, desembarque e comercialização
de mercadorias) em que os produtos se encontravam à venda.
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Em seu estudo sobre Pedro Nava, Aguiar (1998, p. 17) nos revela
a postura de arquivista do escritor, que guardava “documentos de
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Beth Marcuschi (UFPE)
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Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
10. A Olimpíada é uma iniciativa do Centro de Estudos em Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária–CENPEC, Ministério da Educação e Fundação Itaú Social. A amostra, organizada pelo
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Beth Marcuschi (UFPE)
CENPEC, representa equitativamente os diferentes municípios, regiões e escolas do país envolvidos nas
atividades da Olimpíada de 2010.
11. As oficinas foram efetivadas com base em materiais pedagógicos sobre o gênero memórias literárias
elaborados e disponibilizados pelo CENPEC, a saber: “Caderno do Professor ‘Se bem me lembro...’”
(ANDRADE; ALTENFELDER; ALMEIDA, 2010), com orientações para o ensino da escrita do gênero em
pauta; “Coletânea: memórias literárias”, com os textos de memórias completos trabalhados nas oficinas;
e CD-ROM, contendo textos da coletânea e outros complementares em duas modalidades: áudio ou
para impressão/apresentação em Datashow.
12. O tema é estabelecido pelo concurso e deve ser desenvolvido por todos os participantes,
independentemente do gênero textual envolvido na escrita.
139
Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
13. Os nomes dos estudantes, das pessoas entrevistadas por eles e das localidades a que se referem
foram retirados. A estrutura e a organização formal dos textos foram mantidas tal como no original, mas,
por uma questão de espaço, não são reproduzidos na íntegra. Os cortes estão devidamente indicados
por sinais gráficos.
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Beth Marcuschi (UFPE)
Exemplo 1
Custo a acreditar que tudo aquilo que por nós, a molecada de mi-
nha infância, era tido como um paraíso, hoje já não o seja mais. É
a influência do progresso... Tenho saudades daqueles tempos em
que simplicidade das coisas e o valor a natureza, mesmo frente às
dificuldades da vida, prevaleciam sempre. O meu paraíso se en-
contrava em uma pacata localidade do interior do Paraná, [nome
do município], cidade que carrega em si traços bastante visíveis da
colonização dos imigrantes poloneses, alemães e ucranianos. Me
lembro bem de cada trilha que era percorrida por mim e por meus
amigos A. e M. ... Em cada folha de árvore, misturado ao cheiro da
mata, predominava o cheiro do poeirão. Toda vez era assim, e cada
uma delas parecia única, no meio da trilha sentíamos um “click”
que nos chamava para o mesmo lugar: a belíssima cachoeira [...],
rio que ficava próximo de minha casa. Lá brincávamos até o sol
nos abandonar. (...) Comparado, aos tempos de minha infância,
[nome do município] mudou muito. Hoje vivo com minha esposa
e filhos procurando passar a eles um pouco dos ensinamentos que
tive e do valor representado pelas coisas mais simples da vida (...).
Memórias do Sr. B. K por V.K., aluna-autora.
141
Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
Exemplo 2
142
Beth Marcuschi (UFPE)
mãos. Lembro que sempre íamos a igreja sem calçados, pois não
tínhamos condições de comprá-los. (...). Com 7 anos eu era obri-
gado a ir buscar leite na comunidade de 37 [nome da comunidade]
e depois ia para a escola. (...). Naquela época não existia telefone
e o meio de transporte era o cavalo. Depois surgiu um ônibus
velho movido a lenha. (...). Íamos aos bailes a pé, a uma distância
de 8 km. Mais tarde foi comprado um caminhão e íamos em todo
lugar com ele. Era uma felicidade só! (...)”. Hoje ele é feliz e adora
todos e eu me senti muito feliz por poder ser seu confidente nesta
história. Texto escrito por G.L.M., aluno-autor, com base no de-
poimento de B. C., 75 anos.
O aluno/autor inicia o texto apresentando seu entrevistado/
narrador/personagem, B.C. Em seguida, o aluno passa a palavra para
B.C. (estratégia adequadamente reforçada pelo uso das aspas), que
desenvolve então sua fala em primeira pessoa. Quase ao término do
texto, as aspas são fechadas e o aluno reassume sua voz. Mesmo com
alguns problemas na organização textual, o aluno faz uso de uma
estratégia discursiva bastante plausível no âmbito do gênero memó-
rias literárias, ou seja, demarca as vozes de quem fala no discurso e
garante que as reminiscências propriamente ditas sejam relatadas
em primeira pessoa. O estranhamento que fica para o leitor, no en-
tanto, é que o autor não é parte integrante das memórias, nem mes-
mo como um personagem coadjuvante. Ele está ali mais como um
espectador encarregado de registrar depoimentos, tal como aconte-
ce no texto do exemplo 1.
A caracterização do local feita por B.C., via contexto familiar
(éramos pobres; as famílias eram grandes), práticas sociais mais fre-
quentes (íamos a igreja; era obrigado a ir buscar leite; ia para a escola;
íamos aos bailes a pé) e serviços públicos disponíveis ou ausentes
(não existia telefone e o meio de transporte era o cavalo; ônibus mo-
vido a lenha; íamos em todo lugar com ele [caminhão]), ajuda o leitor
143
Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
Exemplo 3
Como sempre quis saber como era antigamente, talvez por curio-
sidade – tive o privilégio de poder participar deste maravilhoso
trabalho de pesquisa conhecimento e sabedoria entrevistando o
meu avô, então em uma determinada data peguei uma caderneta
e um lápis e me passei por jornalista perguntando ao meu avô
A.A.R., de 67 anos e sua companheira A.S.O. de 63 anos, algumas
perguntinhas da lista que fiz. Comecei questionando como era o
nosso município, disseram que a cidade era muito simples, estrada
de chão, poucas casas, uma igrejinha: Nossa Senhora Aparecida.
Meu avô disse até que ele tinha estudado em uma escolinha (...).
Perguntei se existia luz elétrica, segundo ele luz só tinha em casa
da antiga firma: [nome da firma] e quem não tinha só usavam lam-
piões, a água utilizada era de poços artesianos, da bica ou com-
pravam de carroceiros. Disseram que as moças só iam aos bailes
acompanhadas com os pais (...). Então perguntei se os tempos de
hoje são melhores do que antigamente. Responderam com a maior
certeza, de que hoje é muito melhor do que antes (...). Quando
parei de entrevistá-los fiquei muito feliz, pela sabedoria dos mais
velhos e pela incrível evolução que o município de [nome da cida-
de] preserva.
A proposta dos materiais da Olimpíada de realizar um conjunto
de atividades anteriores à produção das memórias literárias acabou
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Beth Marcuschi (UFPE)
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Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
14. De preferência, a entrevista deveria ser efetuada na escola, como indicado na p. 108 do “Se bem
me lembro... Caderno do professor”.
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Exemplo 4
Exemplo 5
“(...) Sou o filho mais velho de oito irmãos e meus pais, J.M.A. e
J.A.A., são nordestinos. (...) Nasci ali e cresci ajudando meu pai
na lida das lavouras. Aos 15 anos, saí à procura de uma nova vida,
pois ali não tínhamos opção de trabalho e eu queria muito cres-
cer profissionalmente. Saí pelos caminhos do sertão nordestino só
com algumas roupas na mala e dormindo pelas estradas”. (...). Esta
história é da vida do meu avô que viveu 83 anos já faz 10 anos que
ele veio a falecer. (...). Saudades vovô J.M.A., quantas saudades. J.P.
V.P. [aluno-autor].
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Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
Exemplo 6
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Beth Marcuschi (UFPE)
sido bem conduzidas, ou ainda que as pessoas não tenham sido ade-
quadamente selecionadas, em termos do subsídio que poderiam ofe-
recer para a escrita do aluno. No exemplo 4, a moradora tinha apenas
31 anos à época da entrevista, idade insuficiente para que ela pudesse
maturar e relatar casos mais interessantes sobre a cidade, para além
de suas vivências nos almoços em família e seu apego à boneca. No
exemplo 5, não houve propriamente entrevista, pois, segundo o au-
tor relata, as reminiscências são do avô, falecido há dez anos. No
exemplo 6, o aluno informa que o morador tem “uma história de vida
incrível”, mas esta narrativa não se expande para a caracterização de
peculiaridades da história cultural da comunidade na qual o entre-
vistado e o entrevistador estão inseridos.
15. Outros fenômenos, além dos aqui citados compõem a textualização. Preferimos, no entanto, nos
ater aos indicados, por serem os mais salientes nos textos dos alunos.
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Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
Exemplo 7
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Exemplo 8
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Exemplo 9
Eu, meus três irmãos, minha irmã e meus pais, vivíamos uma vida
simples, (...) eu e meus colegas adorávamos brincar de pular corda,
pega-pega. (...). Na escola, eu e minha irmã nem tínhamos muita
roupa para vestir, então vestíamos as roupas iguais e o povo da
escola ria muito, mas nada disso nos importava, pois nossa família
vivia unida e adorávamos ir ao sítio da minha avó afinal, o ar de lá
é muito puro, bebíamos leite de vaca, subíamos nos pés de frutas
e havia muita plantação de roça. O momento mais marcante foi
na minha formatura, onde todos nós, da nossa classe e os meus
professores fizemos uma viagem de navio e tivemos um almoço
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Beth Marcuschi (UFPE)
Reflexões finais
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Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
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Beth Marcuschi (UFPE)
Referências
AGUIAR, J. A. de. Espaços da memória: um estudo sobre Pedro Nava. São Paulo:
Edusp; Fapesp, 1998.
ANDRADE, R. C.; ALTENFELDER, A. H.; ALMEIDA, N. (equipe de produção). Se bem
me lembro... Caderno do Professor: Orientação para produção de textos. São
Paulo: CENPEC, 2010 (Coleção da Olimpíada).
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: ______. Estética da criação verbal. Trad.
do francês por M. E. G. PEREIRA. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 277-326.
BAWARSHI, A. S.; REIFF, M. J. Gênero: história, teoria, pesquisa e ensino. Trad. B. G.
BEZERRA. São Paulo: Parábola, 2013, 284 p.
BATISTA, A. A. G. A avaliação dos livros didáticos: para entender o Programa Nacional
do Livro Didático (PNLD). In: R. ROJO, R; A. A. G. BATISTA (Orgs.). Livro didático de
língua portuguesa, letramento e cultura da escrita. Campinas: Mercado de
Letras, 2003, p. 25-68.
155
Memórias Literárias: reflexões sobre práticas de escrita
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Beth Marcuschi (UFPE)
157
“Gênero pode ser aplicado a
qualquer tipo de artefato ou
qualquer tipo de declaração
que possa ser visto como
um enunciado significativo,
portanto, não está
imediatamente ligado a um
texto. Outra diferença é que
a delimitação do gênero o
torna diferente do texto,
a menos que se especifique
um texto único completo.”
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Gêneros e a construção do discurso ambiental de campanha de Conscientização
vemos hoje, envolvem reflexões tanto das empresas quanto dos con-
sumidores. Esse é um conflito típico da Alta Modernidade e envolve
o conceito de reflexividade, ou seja, é quando a Modernidade, longe
das certezas trazidas pela razão iluminista, avalia suas próprias ins-
tituições sociais.
Vejamos essas questões, e outras mais, a partir da análise de
dois textos. São duas propagandas em vídeo: uma, comercial; outra,
institucional (ou não!).
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Referências
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo: Hucitec,
2006 [1929].
______. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997 [1952; 1979].
BAZERMAN, C. Gêneros Textuais, Tipificação e Interação. 2. ed. São Paulo:
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DIAS, R. Marketing Ambiental: ética, responsabilidade social e competitividade
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GIACOMINI FILHO, G. Ecopropaganda. São Paulo: SENAC, 2004.
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______. As Consequências da Modernidade. São Paulo, UNESP, 1991.
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PORTILHO, F. Sustentabilidade ambiental, consumismo e cidadania. São
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SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
SANTOS, Gilmar. Princípios da publicidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
176
7
A relativa estabilidade dos
textos de divulgação científica:
um caso de hibridismo1
Regina L.Péret Dell´Isol a (UFMG)
Introdução
1. Este trabalho foi apresentado no NIG e o artigo é versão atualizada e modificada do texto publicado
em DELL´ISOLA, Regina L. P. Dos limites entre o estável e o instável em textos de divulgação científica.
In. SARAIVA, Maria Elizabeth e MARINHO, Janice. (Orgs.). Estudos da língua em uso: da gramática ao texto.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. p. 263 -287.
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A relativa estabilidade dos textos de divulgação científica: um caso de hibridismo
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Regina L. Péret Dell’Isola (UFMG)
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A relativa estabilidade dos textos de divulgação científica: um caso de hibridismo
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A intertextualidade no discurso da
esfera científica
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Metodologia de pesquisa
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Resultado geral.
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A relativa estabilidade dos textos de divulgação científica: um caso de hibridismo
3. Jarry expõe os princípios e os fins dessa “abordagem” no romance “Gestes et opinions du docteur
Faustrol”, definindo-a como “ciência do particular, ciência da exceção”. Durante todo o século XX, a
proposta de Jarry, aparentemente absurda, inspirou outros autores. Existe um Collège de Pataphysique,
fundado em 1948, que publica uma revista os “Carnets du Collège”. Nessa publicação, apareceram os
primeiros textos de Ionesco (o criador do “teatro do absurdo”, 1090-1994), muitos inéditos de Boris Vian
(1920-1959), Jarry ou Julien Torma (1902-1933) e os primeiros trabalhos do grupo OuLiPo.
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A relativa estabilidade dos textos de divulgação científica: um caso de hibridismo
Considerações finais
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Referências
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A relativa estabilidade dos textos de divulgação científica: um caso de hibridismo
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Regina L. Péret Dell’Isola (UFMG)
201
APRESENTANDO
O ARQUIPÉLAGO DOS GÊNEROS:
UMA VIAGEM INTELECTUAL
Peron Rios (Colégio de Aplicação/UPFE)
1. MONTAIGNE, Michel de. Os ensaios. Trad. Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Penguin Companhia, 2010.
203
Apresentando - O arquipélago dos gêneros: uma viagem intelectual
Provisão e aventura
204
Peron Rios (UPFE)
2. Roberto Acízelo organizou dois volumes essenciais a quem trabalha com a genealogia literária:
Uma ideia moderna de literatura. Chapecó, SC: Argos, 2011; Do mito das musas à razão das letras.
Chapecó, SC: Argos, 2014.
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Apresentando - O arquipélago dos gêneros: uma viagem intelectual
3 “Scott é um romancista sobre o qual haveremos de divergir violentamente. De minha parte, não
ligo muito para ele, e acho difícil entender por que sua reputação perdura. Por que ele teve uma boa
reputação na sua época, é fácil entender. Há importantes motivações históricas para isso, que devíamos
analisar se o nosso esquema fosse cronológico. Mas se o fisgamos para fora do rio do tempo, e o levamos
para escrever naquele salão circular, junto com os outros romancistas, sua figura não impressiona tanto.”
(FORSTER, E.M. Aspectos do romance. Trad. Sérgio Alcides. São Paulo: Globo, 2005. p. 57). O problema da
hipótese do escritor inglês é que, justamente, não se pode sair desse rio temporal para valorar. Quando
Forster pretende isso, ele se esquece de que, na verdade, está pondo Scott não fora do rio, mas em outro
ponto de seu leito: aquele em que nos encontramos. E de que mais adiante o autor de Ivanhoé pode ser
novamente admirado, banhado por águas e futuras.
206
Peron Rios (UPFE)
207
Apresentando - O arquipélago dos gêneros: uma viagem intelectual
208
Peron Rios (UPFE)
4. Cf. http://on.ig.com.br/palavra/2015-04-27/ruth-rocha-comemora-50-anos-de-carreira-harry-potter-
nao-e-literatura.html (acesso em 10/08/2015).
5. Como se verá, à emissão explícita de juízo crítico prévio referente às sagas fantásticas, Barth e
Burlamaque preferem entabular análises dos procedimentos técnicos e das circunstâncias de recepção
das obras.
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Apresentando - O arquipélago dos gêneros: uma viagem intelectual
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Peron Rios (UPFE)
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Apresentando - O arquipélago dos gêneros: uma viagem intelectual
é certeiro quando nos lembra que o texto deve ganhar vida com
todos os recursos disponíveis da enunciação (gestos, olhar, tom
de voz, movimento). Entretanto, a performance vocal deve receber
primazia na realização do poema. É o que o saudoso Paul Zumthor,
convocado pelo ensaísta, nos afirma: “Melhor do que o olhar, a face,
a voz se sexualiza, constitui (mais do que transmite) uma mensa-
gem erótica”. Pinheiro insiste para que a proclamada multiplici-
dade de leitura comece no próprio ato de emprestar som ao texto:
vários alunos devem ler o mesmo poema, com variações melódicas,
pausas mais longas ou mais breves etc. O poema, como na música,
só ocorre com a vitalização pela voz (ainda que mental), do mesmo
modo que os instrumentos fazem as notas de uma partitura real-
mente acontecerem.
As considerações acerca do ensino, por sua vez, se ancoram em
dois pontos principais: a importância de não escolarizar excessiva-
mente a literatura (o que retira o potencial primevo da arte) e a ne-
cessidade de socializar a leitura sem que limitadoras hierarquias im-
ponham sua presença. Quanto ao primeiro quesito, Pinheiro adverte:
212
Peron Rios (UPFE)
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Apresentando - O arquipélago dos gêneros: uma viagem intelectual
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Peron Rios (UPFE)
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PARTE 2
Literatura
8
Um giro através da noção de
gênero em literatura
Lourival Hol anda (UFPE)1
1. lourivalholanda@yahoo.com.br
217
Um giro através da noção de gênero em literatura
218
Lourival Holanda (UFPE)
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Um giro através da noção de gênero em literatura
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Lourival Holanda (UFPE)
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Um giro através da noção de gênero em literatura
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Lourival Holanda (UFPE)
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Um giro através da noção de gênero em literatura
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Um giro através da noção de gênero em literatura
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Lourival Holanda (UFPE)
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Um giro através da noção de gênero em literatura
Referências
232
9
Literatura e Teatro:
a palavra no palco
Darío Gómez Sánchez 1 (UFPE)
Introdução
1. dajego@hotmail.com
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Literatura e Teatro: a palavra no palco
O teatro na literatura
234
Darío Sánchez (UFPE)
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Literatura e Teatro: a palavra no palco
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Darío Sánchez (UFPE)
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Literatura e Teatro: a palavra no palco
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Darío Sánchez (UFPE)
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Literatura e Teatro: a palavra no palco
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Darío Sánchez (UFPE)
241
Literatura e Teatro: a palavra no palco
Ainda que nos dois últimos séculos o teatro tenha tentado rom-
per definitivamente com a linguagem verbal e com a condição de
gênero literário, é fato que a palavra continua sendo a ferramenta
de trabalho do escritor de teatro. Mais ainda: existem estudos que
falam de um retorno ao autor nas décadas finais do século passa-
do, mas ao autor entendido como dramaturgo, no sentido originário
desse vocábulo.
Dramaturg, na sua acepção originária em alemão, refere-se ao
fazedor teatral que reúne e organiza diversos elementos teatrais, en-
242
Darío Sánchez (UFPE)
243
Literatura e Teatro: a palavra no palco
Referências
244
10
Os Dois Teodoros: mutações do
gótico de Horace Walpole a
E. T. A. Hoffmann1
André de Sena (UFPE)
1. As ideias que servem de substrato a este artigo foram inicialmente apresentadas e discutidas na palestra
intitulada “Mutações do gênero horror na literatura oitocentista”, durante o V Encontro Acadêmico
Gêneros na Linguística e na Literatura, evento do Núcleo de Investigações sobre Gêneros (NIG), no
Auditório do Centro de Artes e Comunicação da UFPE, no dia 19 de setembro de 2014. Posteriormente,
transformou-se em artigo escrito, que foi publicado na revista semestral Soletras, de número 27
(segundo semestre de 2014, págs. 11-31), do Departamento de Letras da Universidade Estadual do Rio
de Janeiro (UERJ). O artigo compõe um dossiê especial sobre a literatura gótica, organizado pelos Profs.
Drs. Fernando Monteiro de Barros Jr & Júlio César França Pereira. A revista possui ISSN 23168838, está
indexada em Qualis/CAPES (B4) e pode ser acessada no endereço eletrônico http://www.e-publicacoes.
uerj.br/index.php/soletras/article/view/11273. Esta é uma re-publicação, sem modificações, a pedido
do NIG/UFPE, do artigo original publicado na Revista Soletras.
245
Os dois Teodoros: mutações do gótico de Horace Walpole e E.T.A. Hoffmann
246
André de Sena (UFPE)
uma escrita que não seria unicamente pautada pelo estro mimético?
A pergunta é pertinente, pois, noutras passagens do mesmo “Prefá-
cio”, o autor revelará ânsias classicistas ao discutir o fim da obra e os
caracteres de seus personagens, descritos à semelhança dos elemen-
tos que configurariam uma típica tragédia:
247
Os dois Teodoros: mutações do gótico de Horace Walpole e E.T.A. Hoffmann
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André de Sena (UFPE)
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Os dois Teodoros: mutações do gótico de Horace Walpole e E.T.A. Hoffmann
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Os dois Teodoros: mutações do gótico de Horace Walpole e E.T.A. Hoffmann
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André de Sena (UFPE)
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Os dois Teodoros: mutações do gótico de Horace Walpole e E.T.A. Hoffmann
2. Lambert (1979, p. 303) avulta os aspectos intertextuais e as citações/alusões a obras de Kleist, Schiller,
Shakespeare, Jean-Paul Richter, Schnabel etc., presentes à narrativa de O morgadio, os quais dão “um
relevo especial” ao conto. Trata-se de um novo caminho ligado ao gótico, ou seja, a busca por uma
essência efetivamente literária e sem pretensões de associar a obra ficcional ao real empírico
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André de Sena (UFPE)
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Os dois Teodoros: mutações do gótico de Horace Walpole e E.T.A. Hoffmann
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André de Sena (UFPE)
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Os dois Teodoros: mutações do gótico de Horace Walpole e E.T.A. Hoffmann
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André de Sena (UFPE)
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Os dois Teodoros: mutações do gótico de Horace Walpole e E.T.A. Hoffmann
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André de Sena (UFPE)
Referências
263
“Gênero pode ser aplicado a
qualquer tipo de artefato ou
qualquer tipo de declaração
que possa ser visto como
um enunciado significativo,
portanto, não está
imediatamente ligado
a um texto.”
264
11
Sagas fantásticas e o
novo perfil de leitor
Fabiane Verardi Burl amaque (UPF)
Pedro Afonso Barth (UPF)
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Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
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Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
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Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
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Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
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Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
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Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
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Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
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Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
273
Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
Uma das razões que atrai leitores para as sagas é o fato de que,
de alguma maneira, as sagas reelaboram estruturas míticas e ele-
mentos fantásticos. Ou seja, as narrativas de uma saga utilizam es-
truturas míticas reconhecíveis pelo leitor e as apresentam de uma
maneira inovadora. Ao mesmo tempo em que as sagas reproduzem
as questões contemporâneas, elas incorporam elementos do folclore
e da oralidade. Assim, Harry Potter utiliza todo o imaginário oci-
dental sobre magia e bruxaria, Crônicas de Gelo e Fogo mobilizam
dragões, magia, mortos-vivos. Os elementos mágicos e fantásticos
provocam fascínio nos jovens leitores e, dessa maneira, o mito é um
referente contínuo das sagas, que são construídas tendo como refe-
rências fontes míticas prévias que funcionam como um palimpsesto.
Sagas fantásticas, dessa maneira, reciclam e combinam muitos ma-
teriais, desmantelando códigos e valores obsoletos e atribuindo valor
a outros. Por exemplo, a presença da mulher como uma heroína ativa
(MARTOS GARCIA, 2009).
A gênese dos mundos criados em uma saga é um signo, sem dú-
vida, da pós-modernidade, com sua tendência à reciclagem e à hibri-
dação de fontes. Um exemplo é a trajetória da personagem Daenerys
Targaryen, no livro Guerra dos Tronos, que, apesar de reproduzir em
partes a jornada do herói de Joseph Campbell (2007), é uma mulher,
marginalizada em uma sociedade patriarcal, que precisa vencer os
desafios impostos ao seu gênero. Ou seja, há uma estrutura mítica
reconhecível – a jornada do herói – hibridizada com um novo ele-
mento – a discussão sobre o papel da mulher na sociedade. Segun-
do Martos Núñez e Martos García (2013, p. 91), “a pós-modernidade
supõe hibridação, reciclagem, e isso supõe, também, reescrever os
contos clássicos, os mitos, os super-heróis e seus mundos”.
274
Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
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Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
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Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
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Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
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Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
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Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
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Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
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Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
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Fabiane Burlamaque (UPF) & Pedro Barth (UPF)
REFERÊNCIAS
1. No texto original, Glória García Rivera (2013, p.556) utiliza o termo “nuevos alfabetismos” que
entendemos como sendo novos letramentos.
2. TRADUÇÃO NOSSA. “La lectura diversiva y de imaginación de um paracosmosesla antessala de
lalectura estática, hasta elpunto de que ayudarelalumno a construir mundos imaginarios completos y
revestirlos de características literariases um buenejercicio de creación de modelos narrativos”. (RIVERA,
2013, p. 556).
283
Sagas Fantásticas e o Novo Perfil de Leitor
284
12
Poesia, oralidade e ensino
Hélder Pinheiro (UFCG)
Introdução
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Poesia, Oralidade e Ensino
286
Hélder Pinheiro (UFCG)
287
Poesia, Oralidade e Ensino
Alimento
As margaridas
estão em toda parte.
Quarenta vezes por segundo
bateram as asas do beija-flor.
288
Hélder Pinheiro (UFCG)
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Poesia, Oralidade e Ensino
Oralidade
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Hélder Pinheiro (UFCG)
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Poesia, Oralidade e Ensino
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Hélder Pinheiro (UFCG)
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Poesia, Oralidade e Ensino
294
Hélder Pinheiro (UFCG)
1. Tomamos os dois conceitos do importante ensaio de Alfredo Bosi (2003), “A interpretação da obra
literária”.
295
Poesia, Oralidade e Ensino
Ensino
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Hélder Pinheiro (UFCG)
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Poesia, Oralidade e Ensino
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Hélder Pinheiro (UFCG)
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Hélder Pinheiro (UFCG)
Considerações finais
301
Poesia, Oralidade e Ensino
Momento
A poesia se aproxima
marca sua presença
REFERÊNCIAS
BAJAR, Elie. Ler e dizer: compreensão e comunicação do texto escrito. São Paulo:
Cortez, 1994.
BOSI, Alfredo. Céu, inferno: ensaios de crítica literária e ideológica. 2. ed. São
Paulo: Editora 34; Duas Cidades, 2003. (Col. Espírito Crítico)
COLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola. Trad. Laura
Sandroni. São Paulo: Global, 2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREITAS, Lenilde. Grãos na eira. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
JAKOBSON, Roman. O que é poesia. In: TOLEDO, Dionísio (org). Círculo linguístico
de Praga: estruturalismo e semiótica. Trad. Zênia de K., R. Toledo e Dionísio Toledo.
Porto Alegre: Ed. Globo, 1978.
MERQUIOR, José Guilherme. A astúcia da Mimese: ensaios sobre Lírica. 2ª. Ed Rio
de Janeiro: Topbooks, 1997.
PAZ, Octavio. O Arco e a lira. 2.ed. Trad. de Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1982.
VALÉRY, Paul. Variedades. Trad. de Maiza M. de Siqueiro. São Paulo: Iluminuras,
1991.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Trad. Ernani F. da F. Rosa.
Porto Alegre: Artmed, 2010.
ZUHTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Trad. Jerusa P. Ferreira. São Paulo:
Editora Hucitec, 1997.
302
13
Literatura dos Anos Iniciais
ao Ensino Superior: contribuições
do gênero entrevista à pesquisa
e à formação docente1
Maria Amélia Dalvi 2 (Ufes)
1. Este trabalho sintetiza resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Espírito
Santo, no contexto da formação de estudantes de graduação em Letras e Pedagogia no programa
institucional de Iniciação Científica. Desse modo, embora o texto aqui apresentado seja de minha
autoria e responsabilidade, é necessário destacar a participação direta, no delineamento da pesquisa, na
produção de dados e nas discussões, dos estudantes Ana Cíntia Alves Machado, Ana Cristina Alvarenga,
Daiani Francis Fernandes Ferreira e Josineia Sousa da Silva. Destaco, ainda, a contribuição do técnico de
audiovisual Guilherme dos Santos Neves Neto e de sua equipe, que foram fundamentais à produção dos
vídeos de subsidiaram nosso trabalho de pesquisa. O apoio institucional consistiu, além do fornecimento
de infraestrutura básica (salas, materiais de consumo, câmeras e gravadores), na cessão de carga horária
semanal para a supervisora do projeto e na concessão de bolsas para os estudantes envolvidos.
2. E-mail: mariaameliadalvi@gmail.com ou maria.dalvi@ufes.br.
3. A pesquisa foi registrada oficialmente, junto à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da
Universidade Federal do Espírito Santo, sob o número 4391/2013.
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
7. No procedimento de transcrição, adotamos convenções bem simples, haja vista que seria a primeira
experiência do tipo (realizar transcrição de material) dos pesquisadores em Iniciação Científica. Portanto,
para hesitações, utilizamos reticências; para trechos incompreensíveis, utilizamos, entre colchetes,
a expressão “trecho incompreensível”; e identificamos cada falante pelo primeiro nome, conforme
autorizado pelo termo de consentimento livre e esclarecido, assinado por cada sujeito, aprovado no
contexto institucional das orientações então vigentes para protocolos éticos de pesquisa com seres
humanos.
314
Maria Amélia Dalvi (UFES)
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
Ponderações teórico-metodológicas
que nortearam o trabalho
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
Os sujeitos da pesquisa
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
Os pesquisadores
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
Os entrevistados
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
Considerações gerais
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
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Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
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Maria Amélia Dalvi (UFES)
Considerações finais
335
Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
336
Maria Amélia Dalvi (UFES)
Referências
337
Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
338
Maria Amélia Dalvi (UFES)
339
Literatura dos anos iniciais ao ensino superior
340
Maria Amélia Dalvi (UFES)
341
Gêneros
NA LINGUÍSTICA & NA LIteratura
Charles Bazerman: 10 anos de incentivo à pesquisa no BRASIL