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É bom esclarecer desde logo que o ritual do Ipadê, e o padê de Exu são duas coisas diferentes.
“Despachar Exu”, como se diz usualmente, também não se confunde com o Ipadê. O ato de
despachar Exu, na verdade, atende ao princípio de que esta divindade deve ser a primeira a ser
agradada. Assim, antes do início do xirê, ou mesmo antes dos demais Orixás serem
reverenciados, Exu deve ser o primeiro a receber seus agrados. Caso contrário, os praticantes
podem ser punidos com as artimanhas dele.
Feitas as distinções necessárias, vamos então falar diretamente sobre o Ipadê. Esse ritual é
necessário em 3 situações: quando são sacrificados animais de 4 patas para Exu; nas Águas de
Oxalá e no axexê.
O Ipadê só é realizado durante o dia, pois necessita da claridade natural. Portanto, seu melhor
horário gira em torno de 14 às 16hs. Só é feito à noite, durante o axexê.
Os elementos necessários ao Ipadê, são: uma cuia feita de cabaça (representando a cabeça de
todos), a acaçá (simbolizando o corpo da comunidade), a cachaça (oti), omi (a água, capaz de
acalmar e fertilizar), a farinha de mesa crua (iyefún, significando a fecundidade) e finalmente o
dendê ou o limo da costa (conforme o caso).
Quando o Ipadê é realizado nos trabalhos fúnebres de axexê, não são usados os atabaques,
mas instrumentos especiais feitos de cabaça.
Todos aqueles que participarem do Ipadê devem ter as cabeças cobertas. Os mais velhos,
ficam sentados, e os mais novos, ajoelhados em esteiras.
Ninguém fica parado durante o Ipadê. Todos devem balançar levemente o corpo,
demonstrando que enfrentam vivos aqueles rituais.
A sequência das músicas é repetida durante o preparo e despacho das oferendas, sempre por
três vezes. A ordem de reverência é: Exu, egun, esás (alguns fundadores dos primeiros
Candomblés, como Obitikô, Oburô, Akesan, Adiro, Ajadi e Akayiodê); os Orixás afinizados
(Exu,Ogu, Odé, Omolu, Oxum, Oya, Yemonja, Xangô, Lufan e Guian); as iyá mi oxorongá e
finalmente os próprios membros da comunidade participantes.
É um ritual lindíssimo, mas que requer atenção total, meticulosa concentração e extremo
respeito.
Pena que o Ipadê esteja sendo renegado ao esquecimento. O requinte desse preceito litúrgico
exige que o egbé (a comunidade) possua elementos com tempo de Santo e preparo suficiente
para esse ofício.
A riqueza dessa tradição, antes de mais nada, nos indica um ensinamento básico da matriz
africana: respeito aos mais velhos. E reverenciar os mais velhos (ancestrais masculinos e
femininos) consiste nisso! Agradecer, agradar, ofertar àqueles que vieram antes de nós, e que,
por isso, construíram parte do caminho que hoje seguimos. Devemos a eles! Pedimos então
sua proteção, sua licença para trabalhar.
O respeito aos mais velhos é tudo. É a razão de acatar à ordem hierárquica, o motivo de
aprender a obedecer, nos talhando para posteriormente saber mandar.
Respeitar os mais velhos é aprender com a sabedoria e com a experiência dos que viveram
mais do que nós. É também a garantia de que no futuro seremos nós próprios respeitados e
prestigiados com carinho e solidariedade.