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O Mito

O mito de Eros e Psiqué chegou até nós por meio do romance Metamorfoses, do
escritor latino Apuleio. Psiqué era a mais nova filha de um rei de certa cidade, possuidora
de uma beleza arrebatadora. Por conta disso, Psiqué passou a ser adorada como se fosse
a própria Afrodite, cujos templos estavam sendo abandonados. Isso irritou a deusa do
amor, que planejou sua vingança. Afrodite encarrega seu filho Eros de gerar em Psiqué
uma paixão pelo mais horrendo dos homens. Eros, porém, acaba ferido por sua própria
flecha, apaixona-se pela moça e a torna sua mulher. Psiqué nunca consegue ver o rosto
dele, pois ela o recebe à noite, e, antes do amanhecer, ele vai embora.
Eros pressente a ameaça sobre a felicidade do casal, representada pelas irmãs de
Psiqué, que iam ao rochedo chorar o seu destino. A jovem mortal sente-se prisioneira de
sua própria felicidade, pois não podia ver nem consolar suas irmãs. Após muita
insistência, Psiqué consegue autorização para se encontrar com suas irmãs. Estas alertam
Psiqué do perigo que corria por não ver o rosto do marido, que poderia ser o monstro com
quem o oráculo previu a sua união. Segundo Junito Brandão (1987, v.2, p. 212), elas
retornam algumas vezes ao palácio, semeando a desconfiança em Psiqué e orientando-a
sobre a cilada para matar o “marido serpente”. Envolvida neste dilema, Psiqué decide
desvendar o mistério e ver o rosto do amado, mesmo tendo ele advertido-a de que não o
fizesse.
Ao desvendar o rosto de seu amado - o qual pensava ser um monstro, que estava
prestes a matar -, Psiqué se apaixona perdidamente. Psiqué, “inflamada de amor, inclina-
se sobre ele e começa a beijá-lo como louca. Esquecida do candeeiro, deixa-o curvar-se
em demasia e uma gota de óleo fervente cai no ombro do deus adormecido.” (Brandão,
v.2, p. 214). Sentindo-se traído, Eros foge. Essa dor não é só física, representa a
descoberta do outro que se dá de forma dolorida para os dois. Psiqué decide conquistá-lo
novamente, agora consciente ela mesma da busca por seu amado. A jovem mortal inicia
uma peregrinação pela cidade à procura de Eros. Vendo que sua busca era em vão, Psiqué
decide ir ao encontro de Afrodite. A deusa do amor designa quatro difíceis tarefas para a
jovem mortal, que significariam a reconquista de Eros.
Afrodite encaminha Psiqué até uma sala e mostra-lhe um monte enorme de
sementes misturadas: milho, cevada, papoula, ervilha e feijão. Diz, então, que ela deve
selecionar cada espécie de semente em montes distintos, até o anoitecer. Psiqué cumpre
a primeira tarefa, ajudada por formigas. Em seguida, Afrodite ordena a Psiqué que
adquira amostras de lã dourada que deveriam ser retiradas dos terríveis carneiros do sol.
Eram animais enormes, agressivos, providos de chifres, que ficavam no campo. Por isso,
se Psiqué tivesse que andar entre eles certamente seria esmagada ou morta. Uma vez mais
a tarefa parece impossível, até que um verde junco vem em sua ajuda e a aconselha a
esperar até o pôr-do-sol, quando os carneiros se recolhem e se dispersam. Nesse
momento, ela poderá apanhar com segurança fios do velo de ouro das amoreiras, contra
as quais os carneiros tinham se raspado.
Para a terceira tarefa, Afrodite põe uma jarra de cristal na mão de Psiqué e manda-
a encher com a água de um regato proibido. O tal regato cai em forma de cascata de uma
fonte no pico do mais alto rochedo íngreme até a mais ínfima profundeza do mundo
subterrâneo, antes de ser levado para cima através da terra para emergir uma vez mais da
fonte. O regato gelado também é guardado por dragões, o que torna a tarefa de encher a
jarra quase impossível. Desta vez, quem vem ajudar Psiqué é uma águia. “Balanceando
as asas, a ave predileta de Zeus passou rápida por entre os dentes ferozes dos dragões,
encheu o vaso e o entregou a Psiqué.” (Brandão, v.2, p. 217). Mais uma tarefa cumprida.
Na última tarefa, Afrodite deseja que Psiqué enfrente o mundo dos mortos (Hades) a fim
de ir a Perséfone – deusa do inferno – para que fosse colocado em uma caixinha um pouco
da beleza imortal. Psiqué é informada de que encontrará pessoas que lhe pedirão ajuda e
por três vezes deverá endurecer seu coração e se negar a atender aos apelos, “não deveria
deixar-se vencer pela piedade ilícita” (Brandão, v.2, p. 218) para poder continuar.
Psiqué consegue cumprir tudo, mas não resiste, abre a caixinha que continha o
pedido de Afrodite e cai em sono profundo. Eros enfrenta sua mãe aliando-se a Zeus e
acorda Psiqué do sono. Zeus intercede por Psiqué e Afrodite reconcilia-se com ela.
Finalmente, o casamento de Eros e Psiqué é realizado e ela torna-se imortal.

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