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Paula Caetano
Rio de Janeiro
Novembro/2014
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A partir desse momento, pode-se traçar um paralelo do filme com três temas
amplamente abordados pelo filósofo Michel Foucault: loucura, vigilância e punição.
O que fez com que o Sr. Wilson considerasse seu filho como um louco viciado?
Segundo Foucault em seu livro História da Loucura, a noção de loucura é construída a
partir de valores implementados através de relações de poder, que contam com uma
série de variáveis como ideologia, política, religião, etc. Por isso, esse conceito muda
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com o passar do tempo e de uma sociedade para outra. Logo, no século XXI, o usuário
de maconha é considerado como louco porque é um viciado. O pai de Neto, ao longo do
filme, tem como verdade que maconha vicia devido ao que leu em jornais. Nesse
aspecto, a verdade, segundo Foucault, é relativa. As verdades são geradas pelos grupos
mais poderosos da sociedade e, por isso, são legitimadas socialmente. Nesse sentido,
verdades científicas não são verdadeiras em si e por si até que sejam legitimadas pelos
detentores do poder.
Depois de sair da prisão, Neto não volta a ser quem era antes. Agora apresenta,
ao mesmo tempo, um comportamento apático e explosivo que faz com que ele volte
para o hospício. Lá, tem-se a impressão de que Neto está feliz por estar novamente em
uma clínica psiquiatra. Seu comportamento da segunda vez no manicômio é diferente
do comportamento da primeira internação. Neto torna-se sociável com os outros
pacientes e ainda mais rebelde com os enfermeiros. A cada rebeldia, ele é aprisionado
em um quarto escuro e pequeno, até que ao cumprir uma dessas punições, ele incendeia
o lugar em que está.
(...) mas interna-se num mundo onde o que está em jogo é o mal e a
punição, a libertinagem e a imoralidade, a penitência e a correção.
Todo um mundo onde, sob essas sombras, ronda a liberdade. (...) É
preciso que seja bem esse o paradoxo dessa liberdade constitutiva:
aquilo pelo que o louco torna-se louco, isto é, também aquilo pelo
que, a loucura não sendo ainda dada, ele pode se comunicar com a
não-loucura. Desde o começo, ele escapa a simesmo e à sua verdade
de louco, reunindo-se numa região que não é nem verdade nem
inocência, com o risco da falta, do crime ou da comédia.
(FOUCAULT, 2000, p.557).
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BIBIOGRAFIA
BODANZKY, Laís. Bicho de sete cabeças. São Paulo, SP, 2000. Buriti Filmes;
Gullane Filmes; Dezenove Som e Imagem e Fabrica Cinema – Itália.