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Uma Aplicação do Cálculo Integral ao Estudo de

Fluxo de Sangue através de Vasos Sanguíneos


Valdecir de Oliveira Teixeira1 , André Vicente2

1
Acadêmico do Curso de Matemática - Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná

2
Professor do Curso de Matemática - Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Caixa Postal 711 - 85819-110 - Cascavel - PR - Brasil

valdecirdeoliveirateixeira@hotmail.com, andre.vicente@unioeste.br

Resumo.O objetivo principal deste artigo é aplicar os conceitos matemáticos estuda-


dos em cálculo como a integral de Riemann, em outras áreas das ciências como à física
e a biologia. Primeiro será estudado o movimento de fluidos de onde derivaremos a Lei
de Poiseuille usando os conhecimentos de física e matemática. A Lei de Poiseuille nos
permite calcular o caudal que atravessa uma secção reta de um tubo e sua derivação
é surpreendentemente simples, mas requer um entendimento sobre viscosidade. Por fim,
utilizando a integral de Riemann, encontraremos a expressão para calcular o volume total
do fluxo através de um tubo e de posse dessas ferramentas iremos aplicar o formalismo
de fluidos a circulação sanguínea, que é o objetivo desse trabalho.

Palavras chaves.Fluxo Sanguíneo, Lei de Poiseuille, integral de Riemann.

1 Introdução
A circulação sanguínea é responsável pelo transporte de oxigênio, nutrientes e outros
produtos essenciais a vida das células e retira destas dióxido de carbono e diversos detritos
resultantes do seu metabolismo. Lembremos que as artérias são vasos que levam o sangue
do coração para os órgãos e tecidos do corpo. Os capilares sanguíneos são vasos muito
finos que ligam as arteríolas (artérias finíssimas, que se encontra nos órgãos e tecidos) as
vénulas (vasos muito finos que se conectam, no lado oposto as arteríolas, aos capilares
sanguíneos, que se unem para formar veias progressivamente maiores). As veias são
vasos que levam o sangue dos órgãos e tecidos de volta ao coração. Nas veias encontram-
se válvulas que impedem o refluxo do sangue, o que garante a circulação em um único
sentido.
A circulação sanguínea pode ser descrita de uma forma simples do seguinte modo: o
sangue, após ser oxigenado nos pulmões dirige-se para a aurícula esquerda do coração
passando pelas veias pulmonares. Em seguida, é transferido para o ventrículo esquerdo
através da válvula mitral e deste é bombeado para todo o corpo. A saída do ventrículo
esquerdo, passa pela válvula aórtica, que dá passagem para a artéria aorta e é conduzido
através de uma rede complexa de artérias cada vez mais pequenas, indo alimentar todas
as células. Após as trocas gasosas, de nutrientes e de detritos existentes ao nível celular, o
sangue regressa ao coração através de veias cada vez de maior dimensão, até entrarem no
coração através da veia cava em direção a aurícula direita. A passagem da aurícula direita
para o ventrículo direito é feita através da válvula tricuspide e, a partir do ventrículo
direito, o sangue passa ainda na válvula pulmonar que dá acesso a artéria pulmonar que o
conduz no sentido sentido dos pulmões onde será oxigenado.

Figura 1: Esquema de um coração humano.

Figura 2: Esquema do sistema circulatório.


A capacidade cardíaca do coração é o volume de sangue bombeado pelo coração por
unidade de tempo, isto é, a taxa de fluxo na aorta. Nossos objetivos neste trabalho são:

• Obter uma fórmula que descreve a capacidade cardíaca do coração quando é inse-
rido um contraste;

• Calcular a capacidade cardíaca de um coração mediante algumas medições;

• Analisar o que ocorre com a pressão sanguínea quando há uma obstrução parcial de
um vaso;

• Calcular o fluxo sanguíneo através da aorta;

• Comentários sobre um corpo em repouso/exercício.

2 Lei do Fluxo Laminar e Lei de Poiseuille


A hidrodinâmica é a área da dinâmica dos fluidos que estuda o seu movimento. Exis-
tem essencialmente dois tipos de fluidos, um que é considerado ideal, ou seja, que não
tem viscosidade e os fluidos viscosos, aqueles que apresentam viscosidade, como, por
exemplo, o sangue.
A conseqüência mais visível de se considerar a viscosidade de um fluido num escoa-
mento é o seu perfil de velocidade. Também relacionado com a viscosidade do fluido está
o tipo de escoamento que este apresenta. Em fluidos com viscosidade não nula, verifica-se
que para valores de velocidade do fluido abaixo de certo valor, o escoamento é conside-
rado laminar, isto é, todas as partículas do líquido se movem paralelamente ao tubo e a
velocidade aumenta uniformemente a partir de zero na parede, em direção ao centro. No
entanto, quando esse valor é ultrapassado, o escoamento passa a ser turbulento.
Podemos modelar a forma de um vaso sanguíneo (como veia ou artéria) por um tubo
cilíndrico de raio R e comprimento l.
Como há atrito nas paredes do tubo, então a velocidade do sangue é maior no centro
do cilindro e decresce a medida que a distância r do centro do tubo se distancia do eixo
central.

Figura 3: Representação do perfil de velocidades num fluido viscoso que circula num tubo
cilíndrico.

Com essa característica e levando em consideração que a velocidade é inversamente


proporcional ao comprimento do tubo e também ao coeficiente de viscosidade, podemos
supor que o escoamento é laminar e assim temos a seguinte fórmula, devida à Jean-Louis-
Marie Poiseuille,
∆P 2
v(r) = (R − r2 ).
4ηl
onde v é a velocidade do fluido a uma distância r do centro do tubo, R é o raio do tubo,
η é o coeficiente de viscosidade do fluido, l é o comprimento do tubo e ∆P é a diferença
de pressão entre as duas extremidades do tubo. Em razão do atrito nas paredes do tubo, a
velocidade v do sangue é maior ao longo do eixo central e decresce à medida que r, que
é a distância do eixo central até a parede, cresce até que v torna-se 0 na parede. A relação
entre v e r é dada pela equação acima, chamada lei do fluxo laminar, descoberta em 1840
por Poiseuille. Se ∆P e l, forem constantes, então v é uma função de r com domínio
[0, R].
A taxa da variação da velocidade média quando movemos de r = r1 , para r = r2 é
dada por
∆v v(r2 ) − v(r1 )
=
∆r r2 − r1
e se fizermos ∆r → 0, obteremos o gradiente da velocidade, isto é, a taxa instantânea de
variação da velocidade em relação a r:
∆v dv
lim = .
∆r→0∆r dr
Usando a lei do fluxo laminar e sabendo que a velocidade do fluxo é máxima em
r = 0, obtemos
dv ∆P ∆P r
= (0 − 2r) = − .
dr 4ηl 2ηl
Podemos calcular a velocidade de uma artéria menor tomando, por exemplo, a cons-
tante de viscosidade η = 0, 027, R = 0, 008cm, l = 2cm e ∆P = 4.000dinas/cm2 , o
que nos fornece
4.000
v= (0, 000064 − r2 )
4(0, 027)2
≈ 1, 85 × 104 (6, 4 × 10−5 − r2 ).
Em r = 0, 002cm o sangue está fluindo a uma velocidade de
v(0, 002) ≈ 1, 85 × 104 (64 × 10−6 − 4 × 10−6 ) = 1, 11cm/s
e o gradiente da velocidade nesse ponto é

dv 4.000(0, 002)
=− ≈ −74(cm/s)/cm.
dr 2(0, 027)2

0,002

Para ter uma idéia do que isso significa, se nós mudarmos nossas unidades de centí-
metros para micrômetros (1cm = 10.000µm), então o raio dessa artéria mede 80µm e
a velocidade no eixo central é 11.850µm/s, que decresce para 11.110µm/s a uma dis-
tância de r = 20µm. O fato de que dv/dr = −74(µm/s)/µm quer dizer que quando
r = 20µm, a velocidade está decrescendo a uma taxa de cerca de 74µm/s para cada
micrômetro afastado do centro.
A partir da expressão da lei do fluxo laminar é possível deduzir a Lei de Poiseuille,
que é aquela que fornece o caudal que atravessa uma secção reta do tubo em função das
variáveis anteriormente descritas. Com isso, a seguinte lei definida por Poiseuille é que o
fluxo ϕ de um tubo cilíndrico transportando um líquido viscoso com raio R, comprimento
l, pressão ∆P e coeficiente de viscosidade η:
π∆P R4
ϕ= .
8ηl
A dependência com o inverso da viscosidade e do comprimento do tubo é natural:
quanto mais comprido for o tubo, para uma mesma diferença de pressão, menor deverá
ser o fluxo. O mesmo se aplica à dependência com a viscosidade: quanto mais viscoso
for o fluido, menor deverá ser o fluxo. Curiosa é a dependência do fluxo sanguíneo com o
raio da seção reta ser com a quarta potência de R.
Esta lei tem extrema importância para o estudo do fluxo sanguíneo, e será usada mais
adiante. Antes disso, precisamos definir um conceito muito importante em matemática
que é a Integral de Riemann.

3 Integral de Riemann
Nesta seção introduziremos o conceito de integral de Riemann. A integral tem muitas
aplicações tanto na geometria (cálculo de áreas, comprimento de arco etc.) como na física
(cálculo de trabalho, de massa etc.).

3.1 Partição de um Intervalo


Uma partição P de um intervalo [a, b] é um conjunto finito P = {x0 , x1 , x2 , ..., xn }
onde a = x0 < x1 < x2 < ... < xn = b. Uma partição P de [a, b] divide [a, b] em n
intervalos [xi−1 , xi ], i = 1, 2, ..., n.

Figura 4: partição do intervalo [a, b]

A amplitude do intervalo [xi−1 − xi ] será indicada por ∆xi = xi − xi−1 . Assim:


∆x1 = x1 − x0 , ∆x2 = x2 − x1 etc.
Os números ∆x1 , ∆x2 , ∆xn não são necessariamente iguais; o maior deles denomina-
se amplitude da partição P e indica-se por máx∆xi .
Uma partição P = {x0 , x1 , x2 , ..., xn } de [a, b] será indicada simplesmente por
P : a = x0 < xi < x2 < ... < xn = b.

3.2 Soma de Riemann


Sejam f uma função definida em [a, b] e P : a = x0 < xi < x2 < ... < xn = b uma
partição de [a, b]. Para cada índice i(i = 1, 2, ..., n) seja ci um número em [xi−1 − xi ]
escolhido arbitrariamente.

O número
n
X
f (ci )∆xi = f (c1 )∆x1 + f (c2 )∆x2 + ... + f (cn )∆xn
i=1
denomina-se soma de Riemann de f , relativa à partição P e aos números ci .
Observe que, se f (ci ) > 0, f (ci )∆xi será então a área do retângulo Ri determinado
pelas retas x = xi−1 , x = xi , y = 0 e y = f (ci ); se f (ci ) < 0, a área de tal retângulo será
−f (ci )∆xi .

3.3 Integral de Riemann: Definição


Pn
Sejam f uma função definida em [a, b] e L um número real. Dizemos que i=1 f (ci )∆xi
tende a L, quando máx∆xi → 0, e escrevemos
n
X
lim f (ci )∆xi = L
max∆xi →0
i=1

se, para todo ε > 0 dado, existir um δ > 0 que só dependa de ε mas não da particular
escolha dos ci , tal que
n
X
| f (ci )∆xi − L| < ε
i=1

para toda partição P de [a, b], com máx∆xi < δ.


Tal número L, que quando
Rb existe é único, denomina-se integral (de Riemann) de f
em [a, b] e indica-se por a f (x)dx. Então, por definição,
Z b n
X
f (x)dx = f (ci )∆xi .
a i=1

Rb
Se a
f (x)dx existe, então diremos que f é integrável (segundo Riemann) em [a, b].

4 Regra de Simpson
A regra de Simpson serve para aproximar os resultados de integração e consiste no
uso de parábolas em vez de segmentos de reta para aproximar uma curva. Como anterior-
mente, dividimos [a, b] em n subintervalos de iguais comprimento, h = ∆x = (b − a)/n,
e assumimos que n é um número par. Então, a cada par consecutivos de intervalos, apro-
ximamos a curva y = f (x) ≥ 0 por uma parábola, como mostrado na figura abaixo. Se
yi = f (xi ), então Pi (xi , yi ) é o ponto da curva acima de xi . Uma parábola típica passa
por três pontos consecutivos Pi , Pi+1 e Pi+2 .
Para simplificar os nosso cálculos, primeiro consideramos o caso onde x0 = −h,
x1 = 0 e x2 = h (veja figura). Sabemos que a equação da parábola que passa por P0 , P1 e
P2 tem a forma y = Ax2 + Bx + C, e assim a área sob a parábola de x = −h até x = h é
Z h Z h
2
(Ax + Bx + C)dx = 2 (Ax2 + C)dx
−h 0
h
x3

= 2 A + Cx
3
 3 0
h h
= 2 A + Ch = (2Ah2 + 6C).
3 3

Mas, como a parábola passa por P0 (−h, y0 ), P1 (0, y1 ) e P2 (h, y2 ), temos

y0 = A(−h)2 + B(−h) + C = Ah2 − Bh + C


y1 = C
y2 = Ah2 + Bh + C

e, portanto,
y0 + 4y1 + y2 = 2Ah2 + 6C.
Por isso podemos reescrever a área sob a parábola como
h
(y0 + 4y1 + y2 ).
3
Agora, movendo essa parábola horizontalmente, não mudamos a área sob ela. Isso
significa que a área sob a parábola por P0 , P1 e P2 de x = x0 a x = x2 ainda é
h
(y0 + 4y1 + y2 ).
3
Analogamente, a área sob a parábola por P2 , P3 e P4 de x = x2 a x = x4 é
h
(y2 + 4y3 + y4 ).
3
Se calcularmos as áreas sob todas as parábolas dessa forma, e adicionarmos os resul-
tados, obteremos
Z b
h h h
f (x)dx ≈ (y0 + 4y1 + y2 ) + (y2 + 4y3 + y4 ) + ... + (yn−2 + 4yn−1 + yn )
a 3 3 3
h
= (y0 + 4y1 + 2y2 + 4y3 + 2y4 + ... + 2yn−2 + 4yn−1 + yn ).
3

Embora tenhamos deduzido essa aproximação no caso em que f (x) ≥ 0, essa é uma
aproximação razoável para qualquer função contínua f e é chamada Regra de Simpson.
Observe o padrão dos coeficientes: 1, 4, 2, 4, 2, 4, 2, ... , 4, 2, 4, 1. Assim
Z b
∆x
f (x)dx ≈ Sn = [f (x0 ) + 4f (x1 ) + 2f (x2 ) + 4f (x3 ) + 2f (x4 ) + ...
a 3
+2f (xn−2 ) + 4f (xn−1 ) + f (xn )].

onde n é par e ∆x = (b − a)/n.

5 Resultados Principais
Para aplicar à circulação sanguínea alguns dos dados resultados discutidos anterior-
mente é necessário analisar as propriedades do sangue do sangue e assumir algumas apro-
ximações. Antes de tudo, deve ter-se presente que o sangue, embora seja, em muitas si-
tuações, considerado como um fluido homogêneo, na verdade, é constituido por diversas
partículas em suspensão, o que, do ponto de vista de análise do seu escoamento, torna-se
a sua descrição particularmente difícil, nomeadamente, quando os vasos que o conduzem
são muito estreitos. Um segundo ponto, prende-se com a elasticidade dos vasos que con-
duzem o sangue. Apesar de se aceitar, nas abordagens mais simples, que o sangue circula
através de tubos rígidos, esta aproximação não é verdadeira, uma vez que, como se sabe,
as paredes dos vasos são extremamente elásticas, sendo, inclusivamente, um fator impor-
tante de regulação do fluxo sanguíneo como se discutirá adiante. Por fim, o sangue deverá
ser considerado um fluido viscoso. Agora podemos responder as questões que propomos
no início desse trabalho.

• Fórmula que descreve a capacidade cardíaca do coração quando é inserido um con-


traste:

Sabemos que a capacidade cardíaca do coração é o volume de sangue bombeado pelo


coração por unidade de tempo, isto é, a taxa de fluxo na aorta.
O método da diluição do contraste é usado para medir a capacidade cardíaca. O
contraste (corante) é injetado no átrio direito e flui através do coração na aorta. Uma
sonda inserida na aorta mede a concentração do contraste saindo do coração a intervalos
regulares de tempo durante um intervalo [0, T ] até que o contraste tenha terminado. Seja
c(t) a concentração do contraste no tempo t. Se dividirmos [0, T ] em subintervalos de
igual comprimento ∆t, então a quantidade de contraste que circula pelo ponto de medição
durante o subintervalo de t = ti−1 a t = ti é aproximadamente
(concentração)(volume) = c(ti )(F ∆t)
onde F é a taxa de circulação que estamos tentando determinar. Então a quantidade total
de contraste é aproximadamente
n
X n
X
c(ti )(F ∆t) = F c(ti )∆t
i=1 i=1

e fazendo n → ∞, calculamos que a quantidade total de contraste é


Z T
A=F c(t)dt.
0

Então, a capacidade cardíaca é dada por


A
F = RT (1)
0
c(t)dt
onde a quantidade de contraste A é conhecida e a integral pode ser aproximada pelas
leituras de concentração.
• Cálculo da capacidade cardíaca de um coração mediante algumas medições:
Uma quantidade de 5mg de contraste é injetada no átrio direito. A concentração de
contraste (em miligramas por litro) é medida na aorta em intervalos de 1 segundo, como
mostrado na tabela. Estime a capacidade cardíaca.

Solução: Aqui A = 5, ∆t = 1 e T = 10. Usamos a Regra de Simpson para aproximar


a integral de concentração:
Z 10
1
c(t)dt ≈ [0 + 4(0, 4) + 2(2, 8) + 4(6, 5) + 2(9, 8) + 4(8, 9)
0 3
+2(6, 1) + 4(4, 0) + 2(2, 3) + 4(1, 1) + 0]
≈ 41, 87.
Então, a fórmula (1) dá a capacidade cardíaca como
A 5
F = R 10 ≈ ≈ 0, 12L/s ≈ 7, 2L/min.
c(t)dt 41, 87
0
• Analisar o que ocorre com a pressão sanguínea quando há uma obstrução parcial de
um vaso:

A pressão alta resulta da constrição das artérias. Para manter uma taxa normal de
circulação (fluxo), o coração tem de bombear mais forte, aumentando assim a pressão
sanguínea. Use a Lei de Poiseuille para mostrar que se R0 e ∆P0 são valores normais
para o raio e a pressão em uma artéria, e R e ∆P , os valores para a artéria constrita,
então, para o fluxo permanecer constante, ∆P e R estão relacionados pela equação
 4
∆P R0
= .
∆P0 R

Deduza que se o raio de uma artéria é reduzido para três quartos de seu valor normal,
então a pressão é mais que triplicada.
Solução: Se o fluxo mantém-se constante, então pela Lei de Poiseuille
4
π∆P0 R04 π∆P R4

∆P R0
ϕ= = ⇒ ∆P0 R04 = ∆P R4 ⇒ = .
8ηl 8ηl ∆P0 R

Como o raio de uma artéria foi reduzido para três quartos de seu valor normal, então
 4  4
3 ∆P R0 4
R = R0 ⇒ = 3 ⇒ ∆P = ∆P0 ≈ 3.1605P0 > 3P0 .
4 ∆P0 R
4 0
3

Podemos concluir que a pressão sanguínea é mais que o triplo.

• Cálculo do fluxo sanguíneo através da aorta:

Vamos analisar o que se passa ao nível da artéria aorta, lembrando que a artéria aorta
é a mais importante artéria do sistema circulatório humano. Dela se derivam todas outras
artérias do organismo. A aorta se inicia no coração, na base do ventrículo esquerdo, e
termina à altura da quarta vértebra lombar, onde se divide nas artérias ilíacas comuns.
Assim, tendo em vista que o raio da artéria aorta é cerca de R = 1cm = 0, 01m,
admitindo que o seu comprimento é aproximadamente l = 40cm = 0, 4m e que a dife-
rença de pressão é ∆P = 32, 6P a (Pascal), sabendo que a viscosidade do sangue é de
aproximadamente η = 4 × 10−3 P a/s− 1, facilmente se calcula a velocidade do sangue
que nela circula no eixo central e o fluxo sanguíneo:
∆P 2 32, 6
v(r) = (R − r2 ) = −3
(0, 01)2 ⇒ v(0) = 0, 51(m/s),
4ηl 4 × 4 × 10 × 0, 4
e
π∆P R4 π × (10−2 )4 × 32, 6
ϕ= = −3
⇒ ϕ = 0, 00008(m3 /s).
8ηl 8 × 4 × 10 × 0, 4

• Comentários sobre um corpo em repouso/exercício:

Também relacionado com a viscosidade do fluido está o tipo de escoamento que este
apresenta. Na verdade, em fluidos reais, com viscosidade não nula, verifica-se que para
valores de velocidade do fluido abaixo de um certo valor, o escoamento é considerado la-
minar. No entanto, quando esse valor é ultrapassado, o escoamento passa a ser turbulento.
Geralmente, prevê-se o tipo de escoamento de um determinado fluido empiricamente atra-
vés da análise de um parâmetro. ao qual se dá o nome de Número de Reynolds. Este fator
que, como se poderá verificar é adimensional, é calculado, para o caso de um tubo cilín-
drico através da expressão:
2ρRv
R= ,
η
sendo v a velocidade média do fluido, ρ a densidade do fluido, R o raio do cilindro e η o
coeficiente de viscosidade.
Estabelece-se, então, que quando o número de Reynolds tem um valor inferior a 2000
o escoamento é laminar, enquanto que quando o número de Reynolds for superior a 3000
o escoamento é turbulento. A faixa entre 2000 e 3000 corresponde a uma situação inter-
média, instável, em que o fluxo oscila entre o laminar e o turbulento.
Sabendo que o sangue é caracterizado por uma viscosidade aproximada de η = 4 ×
10−3 P a/s−1 e uma densidade ρ = 1, 06 × 103 Kg/m3 , uma questão que se coloca é saber
se o escoamento do sangue nos vasos sanguíneos é laminar ou turbulento. Para responder
a este ponto é necessário conhecer qual a velocidade máxima do sangue circulante. Para
um determinado caudal (volume por unidade de tempo), quanto maior for a área da seção
dos vasos, menor será a velocidade do fluido. Como facilmente se compreende, a área
dos vasos através dos quais o sangue é conduzido aumenta com a distância do coração.
Ou seja, a velocidade do sangue é maior nas grandes artérias. Assim iremos analisar o
que se passa ao nível da artéria aorta.
Tendo que o caudal habitual do sangue que nós já calculamos é ϕ = 0, 00008m3 /s =
8 × 10−5 m3 /s e que o raio da artéria aorta é cerca de R = 1cm = 10−2 m, facilmente se
calcula a velocidade média do sangue que nela circula. Podemos escrever o caudal como:
ϕ = Av
onde A é a área da seção reta da artéria aorta e que é igual a πR2 e v é a velocidade média
que nós queremos obter. Assim
ϕ ϕ 8 × 10−5
v= ⇐⇒ v = ⇒ v = ≈ 0, 25m/s.
A πR2 π × (10−2 )2
Estamos, pois, em condições de calcular o número de Reynolds para está situação:
2 × 1, 06 × 103 × 10−2 × 0, 25
R= ≈ 1325.
4 × 10−3
Ou seja, o número de Reynolds é, em situações normais, menor do que o valor limite
de 2000. De onde se pode concluir que o fluxo é laminar. Deve, no entanto, realçar-se
que , em situações de maior caudal que ocorrem, por exemplo, durante o esforço físico, o
número de Reynolds pode exceder o valor de 2000 e, nesse caso, o fluxo na aorta, torna-
se turbulento. Porém, cálculos realizados para outros vasos levam a concluir que, em
situações normais, apenas ao nível da aorta existe a possibilidade de ocorrência de fluxos
turbulentos e, geralmente, associados a situações afastadas do repouso.

6 Conclusão
Neste trabalho estudamos uma aplicação da Integral de Riemann e da Regra de Simp-
son em um fenômeno biológico. Também aplicamos as fórmulas da Lei do Fluxo Laminar
e Lei de Poiseuille, no calculo da velocidade e fluxo da corrente sanguínea.
7 Referências
[1] Guidorizzi, Hamilton Luiz. Um curso de Cálculo V.1, Editora LTC, 5edição (2008);

[2] Jafelice, Rosana Sueli da Motta; Santos, Patrícia Borges dos; Villela, Mariana Fer-
nandes dos Santos. Fluxo Sanguíneo: Uma Aplicação da Integral de Riemann, FAMAT
em Revista - número 9 - outubro de 2007;

[3] Silva, Carla, Aplicação do formalismo de fluidos à circulação sanguínea, encontra-se


http : //w3.ualg.pt/ cmsilvadocumentos/AulaT P _1_F %C3%ADsica_M %C3%A9
dica.pdf disponível em 24/08/2015;

[4] Stewart, James. Cálculo V.1, Editora CENGAGE Learning, 7 edição (2014).

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