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O Grande irmão está de olho em você.

George Orwell, 1984, pág. 12.

1984 foi um dos romances mais influentes do século XX. Interpretado por
muitos como uma profecia escatológica de uma sociedade dominada por
um governo totalitário, esse livro marcou o imaginário social de uma
época em que o mundo havia sido abalado pelo horror de duas Grandes
Guerras, e a previsão de um terceiro conflito global aterrorizava a todos.

O romance 1984, escrito por Eric Arthur Blair, mais conhecido por seu
pseudônimo George Orwell, foi publicado em 1949, pouco tempo antes
do falecimento do autor. Considerada a obra-prima de
Orwell, 1984 alcançou um enorme sucesso de público e tornou-se a mais
icônica referência à personificação do poder absoluto. No Brasil, esse
romance teve sua publicação mais recente pela Companhia das Letras, em
2009. O mais interessante dessa edição é que ela traz três posfácios com
análises críticas de Erich Fromm, filósofo e sociólogo alemão, Bem
Pimlott, historiador britânico, e do romancista estadunidense Thomas
Pynchon.

O enredo da obra trata da história de Winston, um indivíduo que se vê


inconformado com o sistema social e político de Oceânia, uma das três
potências remanescentes da nova divisão mundial, na qual a sociedade é
governada por um Partido único que controla todos os aspectos da vida de
seus cidadãos. A sociedade de Oceânia é dividida em três classes distintas
com relação ao Partido dominante: Os membros do Núcleo do Partido,
que representam a minoria e compõem a classe privilegiada; os membros
externos do Partido, os quais constituem a classe média de Oceânia e
desfrutam de poucos benefícios, e os proletas, que constituem a maior
parte da população, suportam excessivas cargas de trabalho e sofrem as
maiores desvantagens sociais.

Trabalho físico pesado, cuidados com a casa e os filhos, disputas menores


com os vizinhos, filmes, futebol, cerveja e, antes de mais nada, jogos de
azar, preenchiam o horizonte de suas mentes. Não era difícil mantê-los
sob controle. Alguns representantes da Polícia das Ideias circulavam
entre eles, espalhando boatos falsos e identificando e eliminando os raros
indivíduos considerados capazes de vir a ser perigosos. (p.91)

Nesse aspecto da obra, é gritante a semelhança com nossa sociedade atual,


em que a estratificação da sociedade em classes configura uma realidade
imutável. A abordagem do tema da desigualdade social em 1984 é uma
das críticas que a obra promove, além de consolidar o caráter atemporal
desse último romance de Orwell. A classe dos proletas não tem
participação nas decisões políticas, pois não possui indivíduos capazes de
questionar o regime ditatorial em que vivem. Justamente por não
receberem uma educação de qualidade, essas pessoas ficam limitadas a
aceitar sua condição de escravos na sociedade, sem se dar conta de que
estão sendo explorados.

“Se é que há esperança, escreveu Winston, a esperança está nos proletas”,


Winston acredita (e deseja) que os proletas sejam capazes de algum dia
conscientizarem-se e rebelarem-se contra o poder tirânico de Oceânia. O
herói de 1984, Winston, pertence à classe dos membros externos do
Partido, e realiza um trabalho de falsificação de arquivos oficiais e notícias
no Ministério da Verdade a mando do governo. Os membros do Partido
são vigiados a todo o momento por meio da teletela, um aparelho
tecnológico que envia as mensagens do estado e capta todas as ações dos
cidadãos. Essa é a ferramenta pela qual o governo detém o controle total
da sociedade.

Uma das frases mais marcantes do romance; “Quem controla o passado


controla o futuro; quem controla o presente controla o passado”, lema do
partido, resume adequadamente a ação do Ministério da Verdade, em que
os documentos históricos devem ser alterados de acordo com os desejos
do Partido. As alterações dos registros históricos são necessárias porque o
cenário mundial é marcado por uma constante guerra entre as três
superpotências. Oceânia sempre está em guerra com a Lestásia ou a
Eurásia e em paz com a outra; quando uma guerra termina, trocam-se os
aliados e os inimigos, e outra guerra começa. Desse modo, todos os
registros de que a recente potência aliada já foi inimiga e vice-versa são
apagados e atualizados com os novos fatos.

O Núcleo do Partido, por sua vez, é composto pelos indivíduos


pertencentes aos mais altos cargos políticos e são os detentores do poder.
Todos os membros do Núcleo do Partido têm verdadeira devoção ao seu
líder: o Grande Irmão, que é quase uma entidade sobrenatural e
onipresente na Oceânia.

Até mesmo a gramática dessa sociedade é alvo do controle político, sendo


reformulada, ano após ano, a fim de sintetizar o máximo possível a
linguagem a ser utilizada pela população. A língua adotada pelo governo
é a Novafala, uma espécie de língua artificial derivada do inglês moderno,
que se caracteriza pela limitação vocabular e restrição dos significados das
palavras conforme as vontades do Partido.

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