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1984: O Ensaio Político Distópico


De George Orwell [Resenha]
Por Rafael Hertel

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Neste texto vamos fazer uma resenha de 1984, um livro escrito por George Orwell e
publicado em 1949, que se tornou um dos clássicos da literatura moderna. A história
se passa em um futuro distópico no qual o mundo é dividido em três superpotências
em constante guerra, sendo elas Oceânia, Eurásia e Lestásia.

A trama principal do livro segue a vida de Winston Smith, um funcionário do


governo da Oceânia que começa a questionar a realidade que o cerca, e se rebela
contra o Partido, que controla tudo e todos através da manipulação da informação e
da intimidação.

A sociedade retratada no livro é caracterizada pela totalitarismo e controle absoluto


da vida dos cidadãos, inclusive seus pensamentos e emoções. O governo é liderado
pelo misterioso “Grande Irmão” e pela elite do Partido, que utilizam a vigilância em
massa e a propaganda como instrumentos para manter a população sob controle.

Ao longo da história, Winston se envolve em um relacionamento proibido com Julia,


e juntos buscam a liberdade e a verdade em meio ao mundo opressivo que os cerca.
Porém, o Partido está sempre observando, e a jornada de Winston e Julia acaba por
ter um final sombrio e desolador.

Em resumo, 1984 é uma obra que alerta sobre os perigos do totalitarismo, da


manipulação da informação e da falta de liberdade individual. Através de sua
história impactante e perturbadora, o livro ainda é considerado uma das obras mais
importantes da literatura moderna, e serve como um aviso sobre os riscos da falta
de privacidade e do controle excessivo do Estado.

A obra 1984, de George Orwell, é uma mescla de ficção científica distópica com um
ensaio político primoroso, tendo se tornado referência desde sua publicação, em
1949. Traz também um relato amargo da vida em uma sociedade totalitária e as
dificuldades enfrentadas por quem deseja combater essa sociedade por dentro do
sistema. Durante a obra, o leitor se questiona várias vezes sobre a própria atualidade
de um mundo em que o duplopensar se mostra cada vez mais possível (vamos
destrinchar esse conceito mais adiante da resenha de 1984. Outro conceito para se
ter em mente que também iremos abordar no fim do livro é o da novilíngua ou
novofalar).

Essa é uma obra essencial para 2023, afinal, estamos em uma época da pós-
verdade, em que figuras públicas negam cinicamente o que comunicaram ao vivo
em pronunciamentos oficiais, em que somos bombardeados diariamente por
propagandas e notícias falsas bizarras, além de notícias verdadeiras igualmente
malucas, trazendo um mundo em que, muitas vezes, a retórica é tão ou mais
importante que os próprios fatos.

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Resenha de 1984
O Que Fala o Livro 1984?
O Diário de Winston
Como Winston Conhece Júlia?
Quem é O'Brien em 1984?
Quem Traiu Winston Smith?
Quem São os Inimigos da Oceânia?
Alusões ao Regime Soviético
Quem são os Proletas?
Como George Orwell Chama Duas Crenças Contraditórias?
O Que é o Novofalar?
Conclusão da Resenha de 1984

O Que Fala o Livro 1984?

Começamos nossa resenha de 1984 contextualizando um pouco da obra. O país em


que se passa o livro é chamado de Oceânia e, na realidade, trata-se de um super
estado totalitário que engloba as Américas, as ilhas do Atlântico, incluindo as Ilhas
Britânicas, a Australásia e a parte sul da África.

Nele acompanhamos a rotina severa e os pensamentos cada vez mais divergentes de


Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade. O governo de Oceânia, na
realidade, é dividido em quatro ministérios:

Ministério da Verdade (responsável pela falsificação de documentos);


Ministério da Paz (responsável pela guerra);
Ministro da Fartura (responsável pela economia);
Ministério do Amor (responsável pela espionagem da população, controle
social, torturas e lavagem-cerebral)
Assim, o trabalho de Winston é adaptar artigos jornalísticos para que eles sempre
se encaixem com o discurso do partido naquele momento, muitas vezes inventando
números, criando notícias totalmente inverídicas, falsificando dados e, até mesmo,
alterando o passado.

Nesse mundo, até mesmo o pensamento é um crime, as teletelas (uma espécie de


TVs com câmeras) vigiam a todos, e o Grande Irmão vê tudo.

Sua crença no partido começa a diminuir drasticamente quando ele tem acesso a
um recorte de jornal que provava a inocência de três antigos membros do partido
(chamados Jones, Aaronson e Rutherford), que estavam sendo falsamente
condenados por traição.

A partir desse momento, Winston passa a cultivar um diário com informações e


pensamentos contra o regime totalitário.

Outro aspecto para se frisar em nossa resenha de 1984 é a figura de Emmanuel


Goldstein, líder da Irmandade que quer destruir o regime (em determinados
momentos lembra um pouco a figura do porco Bola-de-neve de A Revolução dos
Bichos, ou seja, uma alusão clara à Trótski).
O Diário de Winston

Winston escrevia sempre que podia em seu diário diário, mas precisava escondê-lo
pois o conteúdo que continha ali poderia ser categorizado como crime de
pensamento (na trama, a polícia do pensamento perseguia aqueles que desafiavam o
partido). Neste diário, ele escreveu diversos pensamentos que contrariavam as
ideias centrais do partido, podendo ser considerado que a manutenção dele era o
seu ato de rebeldia contra o Grande Irmão.

Entre as frases que ele escrevia repetidamente estavam: “Abaixo o Grande Irmão”,
“Se há esperança, está nos Proletas” e “Liberdade é o direito de dizer que dois mais
dois são quatro” (essa é uma alusão ao fato do partido, em determinado momento,
obrigar as pessoas a consentirem que dois mais dois seria igual a 5 (2+2=5).

No mesmo diário, Winston reflete sobre seu casamento fracassado com Katharine,
uma ortodoxa do Partido, com a qual se separara havia 11 anos. Reflete sobre se o
líder da Irmandade (opositora ao regime) Emmanuel Goldstein de fato existia, e jura
entender como o regime falsificava a verdade, mas não conseguia entender o porquê
– dúvida que vai lhe atormentar durante toda a sua jornada de descoberta.
Como Winston Conhece Júlia?

Esse é um ponto muito importante para nossa resenha de 1984.

Com a manutenção do seu diário, Winston Smith começa a ficar paranóico em


relação a tudo e a todos, principalmente com uma mulher que parece estar sempre o
vigiando.

Em uma de suas andanças pelos bairros Proletas (cidadãos comuns com poucos
recursos que não fazem parte do Partido), nosso protagonista esbarra com Júlia e
passa a ter certeza que ela seria da Polícia do Pensamento e seu objetivo era arranjar
provas para prendê-lo.

No entanto, ele não poderia estar mais enganado, pois, eventualmente, em um


episódio em que Júlia esbarra propositalmente em Winston, ela lhe envia um bilhete
se declarando e combinando um local longe da cidade para lhe encontrar.

Os dois iniciam um romance escondido proibido pelo partido e, juntos, decidem que
iriam se unir à resistência.

Quem é O’Brien em 1984?

Outro personagem central para ser citado em nossa resenha de 1984 é O’Brien.
Exercendo uma função administrativa no Ministério da Verdade, o mesmo em que
Winston trabalha, ele irá eventualmente soltar frases dúbias para Winston em
relação à distopia em que vivem.

Os sinais sempre são apenas dúbios, mas Winston passa a ter certeza que O’Brien se
opõe secretamente ao Partido. Em determinado dia, ele aborda Winston com
algumas observações importantes e um convite para ir à sua casa e tudo isso
confirma a teoria de Winston: O’Brien seria parte da resistência.
À convite de Winston, Júlia também vai ao encontro para protagonizar uma das
mais clássicas cenas do livro. Os dois ficam impressionados com a residência e dos
luxos que o cercam (no melhor estilo “todos são iguais, mas alguns são mais iguais
que outros”).

Lá, O’Brien lhes convida para que participem da Irmandade, diz que fará contato em
breve e extrai uma promessa do casal: a de que eles estariam dispostos a tudo pela
Irmandade.

Por fim, lhes presenteia com um exemplar de Teoria e Prática do Coletivismo


Oligárquico, um ensaio político supostamente escrito por Emmanuel Goldstein no
qual explica como o Partido está travando uma guerra perpétua para manter toda a
população faminta, assustada e ignorante e, portanto, incapaz de se revoltar. Nesse
livro terá algumas respostas para a sua indagação: “Eu entendo como, mas não
entendo o porquê”.

Dias depois, logo após ler 2 dos capítulos do livro, Winston e Júlia são surpreendidos
pela Polícia do Pensamento que os prende e os leva para o Ministério do Amor.

Quem Traiu Winston Smith?


Para surpresa do casal, O’Brien era um agente infiltrado da Polícia do Pensamento e
irá conduzir momentos de tortura dentro do Ministério do Amor que irão fazer com
que os dois se arrependam de ter pensando em se juntar à Irmandade. Era também
uma espécie de burocrata ou líder do partido, no sentido que é possível perceber que
ele estava próximo à autoridade máxima do poder da Oceânia.

Isso fica claro para Winston somente quando ele está no Ministério do Amor e
O’Brien é visto entrando na cela. Winston, então, fala uma das mais famosas frases
do livro: “Eles pegaram você também!”, e é respondido: “Eles me pegaram há muito
tempo”. Essa seria a traição que nosso personagem principal não previra.

Esse ângulo de abordagem de Orwell é bem curioso: antes de conhecer Júlia, o


tempo todo Winston desconfia que ela seria secretamente uma agente da polícia do
pensamento, quando, na realidade, o que ela queria era um relacionamento
amoroso. Ao mesmo tempo, nosso protagonista desconfia sempre que O’Brien fosse
alguém que ele poderia confiar, mesmo sem nunca ter tido uma atitude concreta
que comprovasse isso. Essas duas situações foram totalmente criadas na cabeça de
Winston e ele acaba pagando o preço por isso.

Durante semanas a fio, Winston passará por torturas na sala 101 feitas pelo
burocrata a fim de curá-lo de sua insanidade, para retirar dele a ideia de que o
partido mente e demonstrar que a realidade que ele enxerga só existe dentro da sua
própria mente porque fora dela quem controla a realidade é o Partido.

Há uma honestidade cínica junto da tortura cometida por O’Brien que admite a
busca pelo poder não como uma maneira de enriquecer, por uma pauta específica
ou qualquer outro objetivo da natureza humana que vemos em políticos hoje, mas
sim como um fim em si – o poder pelo poder.

A resignação total vem ao fim da tortura quando Wiston abraça totalmente a


filosofia do partido e termina concordando que 2 mais 2 era igual 2 5 (2+2=5).
Quem São os Inimigos da Oceânia?

No mundo de 1984 há apenas 3 super estados, todos totalitários. Além das fronteiras
da Oceânia, já delineadas acima, temos a Eurásia, “composta por toda a porção
norte dos continentes europeu e asiático” e a Lestásia, composta por uma fronteira
que inclui “a China e outros países ao sul de seus limites, as ilhas japonesas e uma
parte volumosa dos territórios da Manchúria, da Mongólia e do Tibete”.

Esses estados estão em guerra permanente durante os últimos 25 anos, com o


objetivo principal de “manter o mecanismo da indústria funcionando sem aumentar
a riqueza do mundo. Os bens de consumo precisavam ser produzidos, mas não
poderiam ser distribuídos. E na prática a única forma de conseguir isso era através
da guerra contínua”.

Isso porque a classe dominante desse mundo percebera que “um incremento
generalizado da riqueza ameaçava destruir a sociedade hierarquizada. (…) Era
possível, sem dúvida, imaginar uma sociedade em que a riqueza, no sentido e bens
de consumo e conforto, pudesse ser distribuída de forma igualitária, mas o poder
permanecesse nas mãos de uma pequena casta privilegiada. Mas na prática uma
sociedade como essa não teria como se manter estável por muito tempo”. Pois, se a
grande massa de seres humanos se livrasse da pobreza e “aprendesse a pensar por si
só, mais cedo ou mais tarde perceberia que a minoria privilegiada não tinha função
nenhuma, o que levaria a sua eliminação”.
Alusões ao Regime Soviético

Mais uma vez há uma crítica em 1984 aos regimes opressores, notadamente o
soviético, assim como George Orwell também fez em A Revolução Dos Bichos.
Nessa argumentação teórica, por exemplo, fica evidente a dificuldade extrema de
uma sociedade igualitária de eliminar líderes privilegiados, os quais deveriam deixar
de existir em uma sociedade planificada.

O próprio Romeu Martins, que faz o prefácio da obra, ressalta que “foram práticas
de Stalin, nos doze anos em que ele passou à frente da URSS, que inspiraram os atos
do Ministério da Verdade que vimos em 1984. O exemplo mais óbvio está no
pequeno objeto que inspirou em Winston Smith um momento de dúvida a respeito
do regimento a que servia: o recorte de jornal que mostrava um trio de antigos
membros do Partido caídos em desgraça, Jones, Aaronson e Rutherford”.

Martins ainda conclui que “aquele flagrante parece remeter diretamente a um dos
vários documentos alterados a mando de Stálin, ora para retirar desafetos de cena,
ora para simular uma maior proximidade dele com Vladimir Lênin (1870-1924), o
líder da Revolução de Outubro de 1917. Em uma foto de 1926, o futuro primeiro-
ministro soviético aparecia ao lado de três outros membros do Partido Comunista
em Leningrado: Nikolai Antipov (1894-1941), Serguei Kirov (1886-1934) e Nikolai
Shvwenik (1888-1970). Conforme o decorrer dos jogos de interesse do líder soviético,
tanto Antipov quanto Kirov foram assassinados, e a foto do que era um quarteto
passou a ser impressa em publicações do país primeiro como um trio, depois como
uma dupla, até que só tenha restado uma pintura a óleo co Stálin sozinho naquele
mesmo cenário. Sua expressão era a de um entusiasta do lema do Grande Irmão:
Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o
passado”.

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Quem são os Proletas?

No livro, os proletas são como é chamada a população comum da Oceânia, a qual


não tem vínculo com o partido e vive em um regime quase que de subsistência.
Winston Smith admira a vida dos proletas, já que eles são quase que ignorados pelos
integrantes do Partido e, de certa forma, possuem mais liberdade por isso em suas
vidas. O protagonista também acredita que a revolução contra o regime virá dos
proletas, mas não há nada que corrobore a visão dele durante todo o livro.

Como George Orwell Chama Duas Crenças


Contraditórias?

Algo importante a ser ressaltado em nossa resenha de 1984 é que, durante o livro,
Orwell desenvolve o conceito de duplopensar como uma das filosofias essenciais do
Partido. Esse conceito significaria “a capacidade de manter duas crenças
contraditórias simultaneamente, e de aceitar ambas”.

E desenvolve que “todas as oligarquias do passado perderam poder porque se


tornaram rígidas ou maleáveis demais. ou se tornaram burras e arrogantes,
incapazes de se adaptar à mudança nas circunstâncias, e foram derrubadas; ou se
tornaram liberais e covardes, fazendo concessões quando deveriam ter se valido da
força bruta, e também foram derrubadas. Ou seja, caíram pela sua consciência ou
pela sua falta de consciência. O grande feito do Partido é ter produzido um sistema
no qual ambas as circunstâncias podem existir simultaneamente. E não existe
nenhuma outra base intelectual através da qual o domínio do Partido poderia se
tornar permanente. Para ser dominante e continuar sendo dominante, é preciso ser
capaz de manipular o senso de realidade. Pois o segredo da dominação é combinar a
crença em sua própria infalibilidade com a capacidade de aprender com os erros do
passado”.

O Que é o Novofalar?

Outro fato importante para citar na nossa resenha de 1984 é que nessa distopia há
uma tentativa do partido de implementar um novo idioma, o novofalar. A ideia
desse novo idioma seria o de atender ao Socialismo Inglês (Socing). Embora não
houvesse, ainda, ninguém que se comunicasse nessa língua, as principais matérias
do Times eram escritas nele, para que a população, aos poucos, fosse incorporando
essa nova linguagem no seu dia a dia.

O propósito final do novofalar seria “não só expressar a visão de mundo e os hábitos


mentais apropriados aos seguidores do Socing, mas também tornar todas as outras
formas de pensamento impossíveis. A intenção era que, quando o novofalar fosse
adotado de forma definitiva e o velhofalar fosse esquecido, um pensamento herético
fosse literalmente impossível”.

Conclusão da Resenha de 1984

Concluo minha resenha de 1984 lhe atribuindo nota máxima de 5 estrelas. Não é à
toa que esse livro consta nas mais variadas listas de melhores livros, pois de fato é
uma pancada.

Como Ítalo Calvino comentou, essa obra é um clássico que nunca esgota tudo que
se tem a dizer. Assim, embora esse livro tenha sido originalmente uma crítica ao
regime autoritário soviético, ele ganha uma nova tração novamente em que a pós-
verdade também ganha força no mundo. Assim, Make 1984 fiction again (torne 1984
ficção novamente) vira meme em redes sociais e dizeres de movimentos de rua que
se opõem a regimes que flertam com o ideal extremo oposto daquele que o livro
originalmente tratava (muitas vezes, os extremos se encontram).

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