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Neste texto vamos fazer uma resenha de 1984, um livro escrito por George Orwell e
publicado em 1949, que se tornou um dos clássicos da literatura moderna. A história
se passa em um futuro distópico no qual o mundo é dividido em três superpotências
em constante guerra, sendo elas Oceânia, Eurásia e Lestásia.
A obra 1984, de George Orwell, é uma mescla de ficção científica distópica com um
ensaio político primoroso, tendo se tornado referência desde sua publicação, em
1949. Traz também um relato amargo da vida em uma sociedade totalitária e as
dificuldades enfrentadas por quem deseja combater essa sociedade por dentro do
sistema. Durante a obra, o leitor se questiona várias vezes sobre a própria atualidade
de um mundo em que o duplopensar se mostra cada vez mais possível (vamos
destrinchar esse conceito mais adiante da resenha de 1984. Outro conceito para se
ter em mente que também iremos abordar no fim do livro é o da novilíngua ou
novofalar).
Essa é uma obra essencial para 2023, afinal, estamos em uma época da pós-
verdade, em que figuras públicas negam cinicamente o que comunicaram ao vivo
em pronunciamentos oficiais, em que somos bombardeados diariamente por
propagandas e notícias falsas bizarras, além de notícias verdadeiras igualmente
malucas, trazendo um mundo em que, muitas vezes, a retórica é tão ou mais
importante que os próprios fatos.
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Resenha de 1984
O Que Fala o Livro 1984?
O Diário de Winston
Como Winston Conhece Júlia?
Quem é O'Brien em 1984?
Quem Traiu Winston Smith?
Quem São os Inimigos da Oceânia?
Alusões ao Regime Soviético
Quem são os Proletas?
Como George Orwell Chama Duas Crenças Contraditórias?
O Que é o Novofalar?
Conclusão da Resenha de 1984
Sua crença no partido começa a diminuir drasticamente quando ele tem acesso a
um recorte de jornal que provava a inocência de três antigos membros do partido
(chamados Jones, Aaronson e Rutherford), que estavam sendo falsamente
condenados por traição.
Winston escrevia sempre que podia em seu diário diário, mas precisava escondê-lo
pois o conteúdo que continha ali poderia ser categorizado como crime de
pensamento (na trama, a polícia do pensamento perseguia aqueles que desafiavam o
partido). Neste diário, ele escreveu diversos pensamentos que contrariavam as
ideias centrais do partido, podendo ser considerado que a manutenção dele era o
seu ato de rebeldia contra o Grande Irmão.
Entre as frases que ele escrevia repetidamente estavam: “Abaixo o Grande Irmão”,
“Se há esperança, está nos Proletas” e “Liberdade é o direito de dizer que dois mais
dois são quatro” (essa é uma alusão ao fato do partido, em determinado momento,
obrigar as pessoas a consentirem que dois mais dois seria igual a 5 (2+2=5).
No mesmo diário, Winston reflete sobre seu casamento fracassado com Katharine,
uma ortodoxa do Partido, com a qual se separara havia 11 anos. Reflete sobre se o
líder da Irmandade (opositora ao regime) Emmanuel Goldstein de fato existia, e jura
entender como o regime falsificava a verdade, mas não conseguia entender o porquê
– dúvida que vai lhe atormentar durante toda a sua jornada de descoberta.
Como Winston Conhece Júlia?
Em uma de suas andanças pelos bairros Proletas (cidadãos comuns com poucos
recursos que não fazem parte do Partido), nosso protagonista esbarra com Júlia e
passa a ter certeza que ela seria da Polícia do Pensamento e seu objetivo era arranjar
provas para prendê-lo.
Os dois iniciam um romance escondido proibido pelo partido e, juntos, decidem que
iriam se unir à resistência.
Outro personagem central para ser citado em nossa resenha de 1984 é O’Brien.
Exercendo uma função administrativa no Ministério da Verdade, o mesmo em que
Winston trabalha, ele irá eventualmente soltar frases dúbias para Winston em
relação à distopia em que vivem.
Os sinais sempre são apenas dúbios, mas Winston passa a ter certeza que O’Brien se
opõe secretamente ao Partido. Em determinado dia, ele aborda Winston com
algumas observações importantes e um convite para ir à sua casa e tudo isso
confirma a teoria de Winston: O’Brien seria parte da resistência.
À convite de Winston, Júlia também vai ao encontro para protagonizar uma das
mais clássicas cenas do livro. Os dois ficam impressionados com a residência e dos
luxos que o cercam (no melhor estilo “todos são iguais, mas alguns são mais iguais
que outros”).
Lá, O’Brien lhes convida para que participem da Irmandade, diz que fará contato em
breve e extrai uma promessa do casal: a de que eles estariam dispostos a tudo pela
Irmandade.
Dias depois, logo após ler 2 dos capítulos do livro, Winston e Júlia são surpreendidos
pela Polícia do Pensamento que os prende e os leva para o Ministério do Amor.
Isso fica claro para Winston somente quando ele está no Ministério do Amor e
O’Brien é visto entrando na cela. Winston, então, fala uma das mais famosas frases
do livro: “Eles pegaram você também!”, e é respondido: “Eles me pegaram há muito
tempo”. Essa seria a traição que nosso personagem principal não previra.
Durante semanas a fio, Winston passará por torturas na sala 101 feitas pelo
burocrata a fim de curá-lo de sua insanidade, para retirar dele a ideia de que o
partido mente e demonstrar que a realidade que ele enxerga só existe dentro da sua
própria mente porque fora dela quem controla a realidade é o Partido.
Há uma honestidade cínica junto da tortura cometida por O’Brien que admite a
busca pelo poder não como uma maneira de enriquecer, por uma pauta específica
ou qualquer outro objetivo da natureza humana que vemos em políticos hoje, mas
sim como um fim em si – o poder pelo poder.
No mundo de 1984 há apenas 3 super estados, todos totalitários. Além das fronteiras
da Oceânia, já delineadas acima, temos a Eurásia, “composta por toda a porção
norte dos continentes europeu e asiático” e a Lestásia, composta por uma fronteira
que inclui “a China e outros países ao sul de seus limites, as ilhas japonesas e uma
parte volumosa dos territórios da Manchúria, da Mongólia e do Tibete”.
Isso porque a classe dominante desse mundo percebera que “um incremento
generalizado da riqueza ameaçava destruir a sociedade hierarquizada. (…) Era
possível, sem dúvida, imaginar uma sociedade em que a riqueza, no sentido e bens
de consumo e conforto, pudesse ser distribuída de forma igualitária, mas o poder
permanecesse nas mãos de uma pequena casta privilegiada. Mas na prática uma
sociedade como essa não teria como se manter estável por muito tempo”. Pois, se a
grande massa de seres humanos se livrasse da pobreza e “aprendesse a pensar por si
só, mais cedo ou mais tarde perceberia que a minoria privilegiada não tinha função
nenhuma, o que levaria a sua eliminação”.
Alusões ao Regime Soviético
Mais uma vez há uma crítica em 1984 aos regimes opressores, notadamente o
soviético, assim como George Orwell também fez em A Revolução Dos Bichos.
Nessa argumentação teórica, por exemplo, fica evidente a dificuldade extrema de
uma sociedade igualitária de eliminar líderes privilegiados, os quais deveriam deixar
de existir em uma sociedade planificada.
O próprio Romeu Martins, que faz o prefácio da obra, ressalta que “foram práticas
de Stalin, nos doze anos em que ele passou à frente da URSS, que inspiraram os atos
do Ministério da Verdade que vimos em 1984. O exemplo mais óbvio está no
pequeno objeto que inspirou em Winston Smith um momento de dúvida a respeito
do regimento a que servia: o recorte de jornal que mostrava um trio de antigos
membros do Partido caídos em desgraça, Jones, Aaronson e Rutherford”.
Martins ainda conclui que “aquele flagrante parece remeter diretamente a um dos
vários documentos alterados a mando de Stálin, ora para retirar desafetos de cena,
ora para simular uma maior proximidade dele com Vladimir Lênin (1870-1924), o
líder da Revolução de Outubro de 1917. Em uma foto de 1926, o futuro primeiro-
ministro soviético aparecia ao lado de três outros membros do Partido Comunista
em Leningrado: Nikolai Antipov (1894-1941), Serguei Kirov (1886-1934) e Nikolai
Shvwenik (1888-1970). Conforme o decorrer dos jogos de interesse do líder soviético,
tanto Antipov quanto Kirov foram assassinados, e a foto do que era um quarteto
passou a ser impressa em publicações do país primeiro como um trio, depois como
uma dupla, até que só tenha restado uma pintura a óleo co Stálin sozinho naquele
mesmo cenário. Sua expressão era a de um entusiasta do lema do Grande Irmão:
Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o
passado”.
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Algo importante a ser ressaltado em nossa resenha de 1984 é que, durante o livro,
Orwell desenvolve o conceito de duplopensar como uma das filosofias essenciais do
Partido. Esse conceito significaria “a capacidade de manter duas crenças
contraditórias simultaneamente, e de aceitar ambas”.
O Que é o Novofalar?
Outro fato importante para citar na nossa resenha de 1984 é que nessa distopia há
uma tentativa do partido de implementar um novo idioma, o novofalar. A ideia
desse novo idioma seria o de atender ao Socialismo Inglês (Socing). Embora não
houvesse, ainda, ninguém que se comunicasse nessa língua, as principais matérias
do Times eram escritas nele, para que a população, aos poucos, fosse incorporando
essa nova linguagem no seu dia a dia.
Concluo minha resenha de 1984 lhe atribuindo nota máxima de 5 estrelas. Não é à
toa que esse livro consta nas mais variadas listas de melhores livros, pois de fato é
uma pancada.
Como Ítalo Calvino comentou, essa obra é um clássico que nunca esgota tudo que
se tem a dizer. Assim, embora esse livro tenha sido originalmente uma crítica ao
regime autoritário soviético, ele ganha uma nova tração novamente em que a pós-
verdade também ganha força no mundo. Assim, Make 1984 fiction again (torne 1984
ficção novamente) vira meme em redes sociais e dizeres de movimentos de rua que
se opõem a regimes que flertam com o ideal extremo oposto daquele que o livro
originalmente tratava (muitas vezes, os extremos se encontram).