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“Guerra é Paz

Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força”
(George Orwell)

• O escritor, que na verdade chamava-se Eric Arthur Blair, nasceu em 1903 na Índia Britânica e teve seu es-
tilo marcado por estilo bem-humorado, contrário ao totalitarismo e atento às injustiças sociais. Suas principais
obras, além de 1984, são “A revolução dos bichos”, “Dias na Birmânia” e “A Flor da Inglaterra”.
• A história se passa no ano de 1984, em um futuro distópico onde o Estado impõe um regime extremamente
totalitário para a sociedade, através da vigilância do Grande Irmão, imposta pelo partido (Ingsoc), onde ninguém
escapa do seu poder.
• O local do romance, Oceania, é dominado pelo medo e pela repressão, pois quem pensava contra o regime era
acusado de cometer um crime (no livro, crimideia, ou crime de ideia, na tradução de novilíngua, idioma do futuro).
• No romance, o persongem principal, que representa o contraponto ao regime, é Winston Smith. Logo ele
começa a questionar o modo como age o Estado. Winston faz parte do Ministério da Verdade, tendo como
função alterar dados para que toda a história, comunicado e documento estivesse de acordo com o que o par-
tido pregava.
• A crimideia acontecia justamente quando alguma pessoa era denunciada por questionar esses documen-
tos. A punição era aplicada pela Polícia do Pensamento, que eliminava a pessoa.

“Crimideia não acarreta a morte: crimideia é a morte.”

• Winston é responsável pela propaganda e pela reescrita do passado, em que ele reescrevia jornais e do-
cumentos antigos em prol do partido. E o que não era reescrito era destruído, essa era a forma do governo se
manter no poder.
• Winston é da classe média, membro do Partido Externo, mas detesta o governo e seu trabalho. Ele vive
pressionado a aceitar o sistema vigente, até que se apaixona por Júlia, colega de trabalho que secretamente
detesta o governo, e juntos se revoltam contra o Partido.
• Com relação ao Partido Dominante, a sociedade de Oceania é dividida em três classes: a maioria repre-
sentada pelos membros do núcleo do Partido, era a classe privilegiada; a classe média, membros externos do
Partido; e os proletas, os que constituem o restante da população que suportam altíssimas cargas de trabalho
e sofrem as maiores desvantagens sociais.
• O Partido é liderado pelo “Big Brother”, um líder ditador. O Grande Irmão, apesar de nunca ter sido visto
pessoalmente, controla e vê tudo e todos. Esse controle é feito por meio das “teletelas” que tinham em todas
as casas e microfones escondidos nas ruas e pequenos helicópteros (drones) que filmam dentro das casas.
• A “teletela” é como um televisor bidirecional embutido na parede, em que permitia tanto ver quanto ser
visto. E quando nenhum programa estava sendo exibido, mostrava a figura inanimada do “Big Brother”.
• Oceania é um Estado que não tinha leis, e a única ordem era que todos deviam obedecer ao Partido. E
aqueles que não obedeciam, poderiam ser denunciados a “Polícia do Pensamento”.
• O papel da Polícia do Pensamento era fiscalizar o comportamento dos cidadãos, repreendê-los
e puni-los, caso eles tivessem pensamento próprio e fossem contra o “Big Brother”.
• Após algumas atitudes de rebeldia contra o Partido, Júlia e Winston são desmascarados e presos. Winston
é torturado por O’Brien, e com o tempo ele começa a aceitar o mundo autoritário do governo.
• Winston passa pelo tenebroso “Quarto 101”, considerado o pior lugar do mundo. Os torturadores colocavam
uma máscara no rosto do torturado com uma pequena abertura para uma gaiola cheia de roedores famintos.
• Winston renega o perigo maior ao Partido e passa a aceitar e a amar o Grande Irmão. Contudo, ele foi re-
baixado para um trabalho ordinário num sub-comitê, enquanto Júlia conseguiu fugir do Quarto 101.
• Por fim, o Partido conseguiu separar os dois que só se encontram ocasionalmente. Entretanto, não eram
mais os mesmos e finalmente se adaptaram ao mundo comandado pelo “Big Brother”.

OBSERVAÇÕES:
As impressões incumbidas por George Orwell, durante o século XX em meio às devastações ocasionadas
a partir das 1ª e 2ª Guerras Mundiais, formularam um senso crítico acerca dos sistemas políticos vigentes na
época e das represálias sofridas, como forma de denunciar as atrocidades que poderiam acontecer se o estado
conseguisse se manter por mais tempo no poder.

Segundo o professor Evanir Pavloski ,“Em sua representação da sociedade distópica, Orwell potencializa os
mecanismos totalitaristas, contrapondo-os à realidade do pós-guerra e oferecendo um alerta contra a disse-
minação dos princípios stalinistas e nazistas. Assim sendo, 1984 não constitui um refúgio para aqueles que se
mostram desgostosos com o mundo real, mas uma representação aterrorizante de um futuro possível funda-
mentado sobre aspectos concretos do panorama sociopolítico do final da década de 40”.

A conscientização de que a sociedade estava passando por profundas transformações e pelas constantes
intercessões dos regimes totalitários, Orwell se incumbiu de expor todos os seus receios pelo futuro da socieda-
de em sua obra, se opondo aos meios de opressão social. O autor estabelece uma distopia literária, que desmi-
tifica por inteiro a estrutura da sociedade coletiva, e insere uma linha de reflexões acerca da influência dos regi-
mes de controle social, discriminando qualquer tipo de manipulação que estimule qualquer tipo de submissão.
É nessa perspectiva de controle uniformizado da individualidade social que a distopia é delineada com o
intuito direto de criticar as imposições totalitárias, que supriam todo e qualquer traço de espontaneidade a fim
de alcançar a tão pregada sociedade estável mesmo que, para alcançar esse objetivo, significasse alguns sa-
crifícios em prol da organização.
QUE TAL UMAS DICAS DE ARGUMENTOS “BEM CORINGAS” PARA 1984?

“As origens do totalitarismo”


Hannah Arendt

O livro tem base nas atitudes de Hitler e Stalin como representantes do totalitarismo, a manipulação da
massa e o uso do terror para a autopromoção do regime. O terror e o medo são usados para propagar as
ideias de um governo totalitário, mas depois de concluído e tomado o poder, esses dois instrumentos serão
substituídos pela doutrinação e “educação” dentro dos moldes que o regime vê como adequado. O ditador se
apresentava em público e no seu alto escalão como uma figura imbatível, com poder da fala e linguagem cor-
poral, instrumentos também importantes para a propaganda: a comunicação visual. Especialmente quando se
almeja uma tomada de poder, não se pode demonstrar fraqueza ou titubear diante da massa.

“...somente num mundo sob seu controle pode o governante totalitário dar realidade prática às suas mentiras e
tornar verdadeiras todas as suas profecias” (p.399).

Vigiar e punir
Michael Foucault

Vigiar e Punir é uma obra que traz um tratado histórico sobre a pena enquanto meio de coerção e suplício,
meio de disciplina e aprisionamento do ser humano, revelando a face social e política desta forma de controle
social aplicado ao direito e às sociedades de outrora, especialmente naquelas em que perdurou por muitos
séculos o regime monárquico. A obra se torna atual e inteiramente próxima a 1984, de Orwell, à medida que
se pode observar o poder de submissão do Estado sobre as massas de populações e a franca estratégia das
classes dominantes em dar continuidade ao processo de ideologia da submissão além de outros elementos
sociais. Assim, encontra na prisão um meio de tornar o indivíduo apto à absorção do poder das classes so-
ciais superiores.
Foucault identifica a disciplina mantida nas prisões como algo a moldar os corpos dos indivíduos, enquan-
to processo de “docilização” para sujeição da vontade e controle da produção de energia individual voltado ao
capitalismo. “Vigiar e Punir” apresenta o jogo e manutenção do poder constituído sobre a sociedade de um
modo geral, que nos faz refletir sobre a proteção que este importante meio de controle social pôde, e ainda pode
oferecer enquanto poderoso instrumento garantidor dos interesses dominantes.
INTERTEXTUALIDADES
“O Show de Truman”, do diretor Peter Weir, que conta a história de Truman (Jim Carrey), o sujeito do tal
show, que é um inocente, cuja vida tem sido transmitida ao vivo e em cores para os Estados Unidos inteiro em
canal de TV paga. Desde o seu nascimento, até o momento em que a história se desenvolve, tudo o que se re-
fere ao personagem de Carrey aparece na TV 24 horas por dia.
Numa época como a atual, em que a discussão acerca dos direitos das pessoas é uma constante nos ce-
nários nacional e internacional, a questão da privacidade sendo invadida por câmeras de televisão se torna algo
cada vez mais preocupante: perde-se a essência, a individualidade.

Reality show: é um gênero de programa de televisão baseado na vida real. Os acontecimentos nele
retratados podem ser fruto da realidade, pautado em pessoas, teoricamente reais. Atualmente, com a chegada
dos realitys (BBB, A fazenda...), somado ao interesse da sociedade pela vida do outro, a televisão tende a ser um
grande instrumento de influenciar padrões, comportamentos, e até o poder de mudar culturas que antes eram
“mais enraizadas e inquestionáveis.
A sociedade se entrega a programas do gênero reality show, em que a privacidade das pessoas praticamen-
te não existe. O público atual demonstra claramente essa ambiguidade de desejos, pois ao mesmo tempo em
que se sente na necessidade de guardar e cuidar de sua própria privacidade, essas pessoas se satisfazem ao
invadir e explorar a vida alheia, ou seja, o desejo da sociedade é exatamente o da metáfora do Grande Irmão/
Big Brother, a diferença é que no lugar de um ser único, todos querem ser invisíveis e ter acesso a visibilidade
dos outros.
REDAÇÕES MODELO
Aluna Foco Medicina: Julia Barreto
Nota: 20- Vestibular 2020

Tema: O que leva pessoas, em condições semelhantes às de Fabiano, a se considerarem inferiores às demais?

Vidas e cercas

“Eu perguntei a Deus do céu, ai, porque tamanha judiação”. A música “Asa branca”, composta por Luiz Gon-
zaga, explicita as dificuldades encontradas por indivíduos marginalizados do Sertão nordestino na busca por
uma vida digna. Malgrado sua inserção no âmbito artístico, a obra não se restringe somente a esse, haja vista
a elucidação do contexto depreciativo responsável por incentivar o sentimento de inferioridade por diversos
cidadãos brasileiros, seja por razões socioeconômicas, seja por obstáculos linguísticos.
É fulcral pontuar que o grande abismo entre as classes sociais ratifica a sensação de subordinação. Na obra
modernista “Vidas secas”, no capítulo denominado “festa”, o grande incômodo sentido por Fabiano ao utilizar
calçados explicita sua posição alheia a “essa gente da cidade”. Analogamente ao livro, um contexto de profundas
desigualdades entre a qualidade de vida dos sujeitos à margem da sociedade e as benesses acessadas pelos
grupos de maior prestígio, limita-se a capacidade de identificação e, por conseguinte, desabilita-se a instauração
de uma relação de igualdade entre sujeitos desses estratos. Nessa perspectiva, vários cidadãos, assim como
Fabiano, sentem-se apartados e ínfimos diante das assimetrias sociais.
Deve-se destacar, ademais, a influência do desconhecimento do processo argumentativo à manutenção da
inferioridade sentida por certos grupos. Consoante ao filósofo Habermas, a linguagem apresenta-se como a
principal ferramenta na reinvindicação de direitos. Desse modo, a desigualdade no acesso à educação viabiliza
que coletividades possuam a dignidade agredida, visto a incapacidade de aclamar suas condições básicas pela
ausência de recursos linguísticos que atendam a essa necessidade. Assim, os cidadãos são subjugados a um
sistema que ameaça sonegar-lhes seus próprios direitos, fomentando a perpetuação de uma péssima qualida-
de de vida e do sentimento de subordinação.
Torna-se claro, portanto, que as discrepâncias entre classes sociais e a falta de conhecimento sobre
retórica viabilizam severos impactos na autoestima e inclusão de certos indivíduos, danificando seu bem-estar
e fomentando a convivência com a sensação de subalternidade. Resta saber se, tornar-se-ia possível destruir o
muro invisível que segrega as realidades cívicas e garantir que o cenário cantado em “ Asa branca” transforme-
se, finalmente, em ficcional.
POSSÍVEL TEMA 2021
Aluno Foco Medicina: Íris Almada

Tema: É preciso controle para viver em sociedade?

A dicotomia da proibição

A música “É proibido proibir”, escrita por Caetano Veloso durante a Ditadura Militar brasileira, demonstra
um lado sombrio do abuso de controle social pelo Estado; entretanto, quando usada de maneira coibida, essa
gestão faz-se fundamental. A dicotomia presente ao pensarmos em uma população controlada torna-se visível
quando alguns associam essa realidade a regimes totalitários, enquanto outros remetem a ideia de harmonia.
Nesse contexto, entende-se que a monitoração dos indivíduos pode apresentar uma face positiva, buscando
viabilizar o bem-estar geral, ou um aspecto ditatorial, marcado por um cenário excessivamente coercitivo.
O controle social, usado como poder de regulação da sociedade, é essencial para assegurar que os
indivíduos se comportem de acordo com os valores coletivos, morais e éticos prevalecentes. Nesse sentido,
a monitorização possibilita o bom funcionamento dos vínculos de interdependência firmados entre os
cidadãos, garantindo relações mais harmônicas. Isso permite que o pensamento do filósofo Émile Durkheim,
segundo o qual a sociedade funciona como um organismo vivo, no qual todos os seus componentes devem
estar conciliados para que seja possível conquistar o bem-estar geral, seja efetivado. Desse modo, nota-se a
importância da supervisão como forma de certificar a existência de um corpo social coeso.
No entanto, quando administrado de maneira demasiadamente intensa, esse controle pode ser usado para
repressão. Por meio do medo, esse domínio excessivo sobre a população serve para inibir condutas contrárias
aos interesses de seus gerenciadores, configurando, pois, um regime totalitário. Sob esse viés, a regulação da
sociedade torna-se tirana e, como consequência, infringe as liberdades inviduais. Na obra “1984” do escritor
George Orwell, esse arbítrio é evidenciado por intermédio da “Polícia do Pensamento”, cuja função é fiscalizar
o comportamento dos cidadãos, repreendê-los e puní-los, caso eles tivessem pensamento próprio e fossem
contra o “Big Brother” – como quando Júlia e Winston, após algumas atitudes de rebeldia contra o Partido,
foram desmascarados e presos. Sendo assim, pode-se inferir que uma regulação desmesurada pode implicar
em abuso de autoridade ao invés de garantir o funcionamento adequado da sociedade.
Em suma, o controle social apresenta efeitos díspares: pode ser usado de maneira conciliadora, propiciando
a manutenção de uma comunidade integrada e coesa ou de forma agressiva, ameaçando a democracia. Nessa
perspectiva, a direção apontada pelos órgãos detentores desse comando identifica se a função exercida por
eles é apenas de auxílio ou de domínio excessivo. Resta saber se, tornar-se-ia possível extinguir essa dualidade
e, assim, acabar por completo com o contexto radical da música de Caetano Veloso, passando a usar o controle
apenas para assegurar a harmonia e a ordem.

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