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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CURSO TÉCNICO EM INFORMÁTICA PARA INTERNET

GABRIEL FERREIRA
HYGOR SALGADO

RESENHA CRÍTICA DE 1984

Colatina
2021
Lançado na metade do século passado, 1984, de George Orwell, se tornou um grande
clássico, não só da literatura como também da cultura pop em geral. O então autor do
renomado Revolução dos Bichos, não satisfeito, decidiu lançar seu magnum opus em forma
de uma distopia política, exalando a tensão de guerra e o autoritarismo contemporâneos a ele.
O livro se passa num futuro distópico, onde o mundo é dividido em três nações
absurdamente autoritárias. Nosso protagonista é Winston Smith, um trabalhador do Partido
(Socing) morador de Londres, que agora é uma das províncias da Oceania, liderada pela
figura austera e quase mítica do Grande Irmão.
Ao decorrer da história, acompanhamos Winston por conflitos internos, vivendo um
período de questionamento e auto-descobrimento. Vemos nele o florescer do pensamento
revolucionário, contra o Partido; o amadurecimento de suas relações interpessoais e também
intrapessoais. Vemos um homem frágil, num mundo que reafirma isso de todas as formas
possíveis, enxergar em si próprio a força e confiança da qual ele necessitava para pôr em
prática suas insatisfações contra esse mesmo mundo.
Orwell consegue nos passar muito bem o clima do desespero em sua forma pura, num
mundo onde até pensar é perigoso. Esse clima melancólico toma lugar do bem-estar do qual
falei logo acima durante a segunda metade do livro. Na verdade, ele não só toma, como chega
a níveis hiperbólicos. Vemos a desintegração progressiva do que um dia foi um homem
esperançoso, e que no fim vira nada menos que um fantoche.
Um ponto que incomodou bastante na história foi Julia, o amor de Winston. Serviu
apenas como ferramenta do autor para demonstrar o lado afetivo do protagonista. É uma
personagem sem profundidade nenhuma, cujo relacionamento com Winston custou uma boa
parte do livro.
A obra é boa, apesar dos pesares, mas ainda assim perdeu seu glamour com o passar
dos tempos. Vivemos em um mundo caótico, como sempre foi, mas hoje temos a internet,
que nos permite saber de tudo que acontece no mundo no exato instante de seu
acontecimento. Como Dave Chappelle disse em seu show The Age of Spin: “é como se um
ônibus espacial explodisse todos os dias.” (se referindo à tragédia televisionada do ônibus
espacial Challenger, em 1986). Acabamos nos tornando apáticos, dada a sucessão diária de
tragédias que vivemos. Por isso, uma história que provavelmente deu crises de ansiedade a
diversos leitores em 1949, hoje já nos atinge como uma mídia qualquer, cotidiana. A ideia
desse mundo bucólico e catastrófico já não soa mais tão utópica nos dias atuais. A obra acaba
por perder seu poder de choque, e deixa de ser um clássico para se tornar um simples livro
bom, uma leitura de fim-de-semana.

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