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FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA
INTRODUÇÃO
A realização de um exame físico geral ou de rotina é necessária por
inúmeras razões, dentre as quais pode-se destacar:
ESTADO NUTRICIONAL
Ao examinar o estado nutricional do animal deve-
se levar em conta sua espécie, raça e utilidade ou Figura 4.2 - Equino com emagrecimento acentuado (caquexia).
Exame Físico Geral ou de Rotina 79
ESTADO NUTRICIONAL
Ao examinar o estado nutricional do animal deve-
se levar em conta sua espécie, raça e utilidade ou Figura 4.2 - Equino com emagrecimento acentuado (caquexia).
80 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
PC = Peso corporal.
Vale a pena ressaltar que a Tabela 4.1 serve de normalidade e a evolução correspondente (para
apenas como orientação para se estimar o grau de melhor ou pior) daqueles já existentes. A altera-
desidratação nas diferentes espécies, já que exis- ção deve, então, ser adequadamente descrita
te uma ampla variação da intensidade e do nú- (taquipnéia, taquicardia, febre) e os valores
mero de sintomas observados de animal para animal criteriosamente anotados. Após o exame físico
de uma mesma espécie e do quadro mórbido geral, realiza-se uma avaliação pormenorizada do(s)
envolvido. sistema(s) que aprescntou(aram) alteração no
exame físico geral preliminar.
AVALIAÇÃO DOS
PARÂMETROS VITAIS
Tabela 4.2 - Valores norm ais da
O conhecimento dos parâmetros vitais (frequên-
corporal em animai temperatura
cias cardíaca, respiratória, do rúmen e do ceco, s
além da temperatura corporal) é de fundamental Espécie Idade Temperatura retal (
lia -------------------- , ------------
•c.
Cães Jovens
importância na fase que antecede o exame físico Adultos + 38,5 37,5
específico, pois pode sugerir o comprometimen- a 39,2
to de outro sistema que não tenha sido abordado Gatos 37,8 a 39,2
ou mencionado pelo proprietário, como também
Equinos Jovens 37,2 a 38,9
ajuda a determinar, de forma generalista, a situa- Adultos 37,5 a 38,5
ção orgânica do paciente naquele momento. Os
Bovinos Jovens 38,5 a 39,5
parâmetros devem ser aferidos e monitorados ro-
Adultos 37,8 a 39,2
tineiramente, se possível, duas vezes ao dia, uma
pela manhã e outra ao final da tarde. Nessa fase Caprinos Jovens 38,8 a 40,2
Adultos 38,6 a 40
do exame, é importante observar se está havendo
ou não alguma alteração nos valores indicativos Ovinos Jovens 39 a 40
Adultos 38,5 a 40
82 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
Tabela 4.3 - Valores normais da frequência indicar o estado de saúde atual do animal. Esse
cardíaca em animais adultos. simples exame revela a presença de enfermidades
próprias (inflamação, tumores, edema), como também
auxilia a inferir conclusões acerca da possibilidade
Cães 60 a 1 60 de alterações que reflitam comprometimento do
Gatos 120 a 240
sistema circulatório ou a existência de doenças em
Equinos 28 a 40
outras partes do corpo (icterícia em virtude de dano
Bovinos 60 a 80
Caprinos 95 a 120
hepático ou da ocorrência de hemólise).
O exame das mucosas deve ser realizado
Ovinos 90 a 1 1 5
sempre em locais bem iluminados, de preferên-
cia sob a luz do sol. Caso isso não seja possível,
utiliza-se luz artificial de coloração branca.
Tabela 4.4 - Valores normais da frequência As mucosas visíveis que costumamos exami-
respiratória em animais adultos. nar são as oculopalpebrais (Fig. 4.3) (conjuntiva
Espécie/Adultos Movimentos respiratonos/mm palpebral superior, conjuntiva palpebral inferior,
Cães 18 a 36 3a pálpebra ou membrana nictitante e conjuntiva
Gatos 20 a 40 bulbar ou esclerótica), mucosas nasal, bucal, vulvar,
Equinos 8 a 16 prepudal e, raramente, anal. Deve-se dar especial
Bovinos 10 a 30 atenção às alterações de coloração, como também
Caprinos 20a 30 à presença de ulcerações, hemorragias e secreções
Ovinos 20 a 30 durante o exame visual.
As mucosas oculopalpebrais possuem a mem-
brana nictitante eu terceira pálpebra, que é uma
Os valores prega da conjuntiva que apresenta, em sua por-
descritos nas Tabelas 4.2,4.3 e 4.4 são válidos ção interna, uma glândula denominada glândula
para animais mantidos em repouso e em da terceira pálpebra (Fig. 4.5) ou de Hardcr, (exceto
temperatura ambiente moderada. nos equinos), que pode facilmente ser confundida
com tecido linfóide, responsável pela produção
de 30% do filme lacrimal. Ela se torna evidente
no tétano, na síndrome de Horner (perda da iner-
EXAME DAS MUCOSAS vação simpática do globo ocular) e em algumas
Inicialmente deve-se proceder ao exame das mucosas intoxicações (nicotina e estricnina). Nos bovinos,
aparentes, que é de real importância em semiologia, os vasos episclerais apresentam-se bem delinea-
pois as mucosas, em virtude da delgada espessura dos e, nos equinos, a coloração da esclerótica
da pele e grande vascularização, podem, muitas vezes,
tm i • -
Figura 4.6 - Mucosa nasal de um equino com crescimento Figura 4.8 - Avaliação do tempo de preenchimento capi-
neoplásico (carcinoma). lar em equinos.
Avaliação da Coloração
A coloração das mucosas depende de vários
fatores, dentre os quais: quantidade e qualidade
do sangue circulante, sua qualidade, das trocas
gasosas, da presença ou não de hemoparasitos, da
função hepática adequada, da medula óssea e
outros. As mucosas normalmente se apresentam
Figura 4.7 - Mucosa nasal de um equino com secreção úmidas e brilhantes. A tonalidade, de maneira geral,
purulenta unilateral. é rósea clara com ligeiras variações de matiz, vendo-
Exame Físico Geral ou de Rotina 85
se pequenos vasos com suas ramificações. As Quando se avalia um paciente com palidez
mucosas do animal recém-nascido apresentam co- de mucosa, deve ficar estabelecido se a mudança
loração rósea menos intensa. Em fêmeas no cio, de coloração é causada por hipoperfusão ou por
a mucosa vulvar pode se encontrar avermelhada. anemia. A abordagem mais simples para resolver
Em determinadas raças de algumas espécies do- esse problema é avaliar o volume globular (VG)
mésticas, a coloração das mucosas tende a ser mais ou hematócrito (Ht) e o tempo de preenchimento ou
avermelhada (cães: fila brasileiro, cocker spaniel, perfusão capilar'(TPC), já que a palidez de mucosa
bulldog, boxer; bovinos: Simental; equinos: pode resultar de anemia ou de vasoconstrição
Apaloosa, por exemplo), não devendo ser confun- periférica. O TPC pode ser difícil de avaliar em
dida com processo inflamatório ou irritativo da cães e gatos em virtude da falta de contraste
referida mucosa. (resultante da palidez). Basicamente, o TPG reflete
Não é tão preciso o limite entre a coloração o estado circulatório do animal (volemia) e é
normal e a patológica, e o seu adequado reconhe- medido junto à mucosa bucal, próximo aos dentes
cimento requer experiência profissional e acura- incisivos. Para tanto, faz-se a eversão do lábio
do exame do animal. Quando uma coloração anor- superior ou inferior e compressão digital com o
mal for vista em uma determinada mucosa, as dedo polegar, observando-se, após a retirada do
demais também devem ser observadas para ver dedo, o tempo que leva para que ocorra novamente
se tal alteração está, também, presente. Se uma o preenchimento dos capilares, ou seja, para que
única mucosa estiver alterada, pode ser um pro- a palidez provocada pela impressão digital seja
blema localizado ou uma peculiaridade particu- substituída, novamente, pela cor observada antes
lar do animal, enquanto o envolvimento de vá- da compressão ter sido realizada (Fig. 4.8 e
rias mucosas pode ser um indício de comprome- Quadro 4.1). A coloração normal deve voltar dentro
timento sistémico. Existem várias tonalidades ou de dois segundos. Um maior tempo para que ocorra
gradações de uma mesma cor que, na maioria das o preenchimento desses pequenos vasos indica,
vezes, refletem, proporcionalmente, a intensida- na maioria das vezes, desidratação ou vasocons-
de do processo mórbido em evolução. Por exem- trição periférica, associada a baixo débito cardía-
plo, a palidez pode variar desde branco-rósea até co. Um tempo maior que dez segundos significa,
branco-porcelana ou perlácea (Fig. 4.11)- consi- geralmente, uma falha circulatória potencialmente
derada o grau máximo de palidez; a congestão varia fatal. Contudo, vale a pena ressaltar que este tipo
desde um vermelho discreto (irritação) até ver- de avaliação não é tão sensível, já que um TPC
— elho-tijolo (endotoxemia). normal pode ser observado cm animais com doença
Figura 4.10 - Mucosa bucal amarelada em um c ão Figura 4.11 - Mucosa oculopalpebral pálida (perlácea) em
com TOtospirose. um caprino com verminose.
86 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
cardíaca grave. A palidez de mucosa pode ser A cianose é uma coloração azulada da pele e
observada, também, em animais com algia abdo- das mucosas, causada pelo aumento da quantida-
minal grave, em virtude do estímulo do sistema de absoluta de hemoglobina reduzida no sangue.
nervoso simpático e, consequentemente, de alfa- A coloração azulada das mucosas, portanto, indi-
receptores, que induzem a uma diminuição da luz ca um distúrbio da hematose (troca gasosa que
vascular. O tempo de preenchimento é normal ocorre nos alvéolos) e que depende mais dos
em animais com anemia, a menos que esteja pulmões que do coração, porém, este órgão po-
havendo hipoperfusão. Um tempo maior que seis derá levar à cianose caso não consiga proporcio-
segundos indica um comprometimento circula- nar ao organismo circulação sanguínea adequada,
tório grave, levando, pelas alterações isquêmicas, quer seja por problemas cardíacos ou vasculares.
a um comprometimento renal e hepático grave e, Mas não se deve esquecer de averiguar se o ani-
muitas vezes, irreversível. mal apresenta ou não anemia, a qual tornará as
trocas gasosas e o transporte de oxigénio deficiente,
tornando-o hipercapnéico (com excesso de dió-
Quadro 4.1 - Avaliação do tempo de preenchi- xido de carbono) ou, ainda, de se avaliar se o animal
mento capilar. está desidratado ou em choque, o que levará a
Animal sadio: 1-2 segundos uma menor pressão sanguínea, acarretando uma
Animal desidratado: 2-4 segundos diminuição da perfusão tecidual e acúmulo de
Animal gravemente desidratado: > 5 segundos dióxido de carbono nos tecidos periféricos, den-
tre os quais, os das mucosas passíveis de serem
inspecionadas clinicamente. Ou seja, muitas são
As manifestações clínicas de anemia nos ani- as causas de cianose, algumas de origem circula-
mais domésticos incluem palidez das mucosas, tória, outras por processos respiratórios ou sisté-
intolerância ao exercício, aumento da frequência micos. Por isso, deve-se sempre realizar um com-
(taquicardia) e da intensidade (hiperfonese) de pleto exame clínico, não apenas examinar os sis-
bulha cardíaca e apatia. Esses sintomas podem temas que, a princípio, julga-se estarem prima-
ser agudos ou crónicos e de intensidade variável. riamente envolvidos no processo patológico em
Deve ser enfatizado que a anemia não constitui questão. Porém vale uma ressalva: para que a
um diagnóstico primário e que todo o esforço deve alteração na coloração da mucosa seja percebida,
ser feito para identificar a sua causa em um pa- o quadro patológico do animal deverá estar bas-
ciente anêmico. Algumas perguntas são cruciais tante avançado, caso contrário, pouca ou nenhu-
para o esclarecimento da causa da anemia: ma alteração será observada - como em casos de
cianose. Geralmente a cianose não é observada
1. O paciente está sendo medicado? em pacientes com hemorragia, haja vista que há,
2. Qual a medicação e a dose utilizadas? também, perda de hemoglobina.
3. Observou alteração na consistência e na co A icterícia é o resultado da retenção de bilir-
loração das fezes (diarreia, melena, hema- rubina nos tecidos, e ocorre devido ao aumento
toquezia)? da bilirrubina sérica acima dos níveis de referên-
4. Apresentou alteração de coloração na urina cia. É sabido que outras substâncias podem de-
(hematúria, hemoglobinúria)? terminar coloração amarelada semelhante, como
5. Quando e com o quê foi feita a última ver- o fornecimento de uma alimentação rica em caro-
mifugação? teno. Entretanto, nesse caso, não cora a mucosa
e a determinação da bilirrubina sérica esclarece o
A congestão de mucosas ocorre devido a um diagnóstico. Deve-se lembrar que a icterícia é uma
ingurgitamento de vasos sanguíneos, por proces- alteração clínica que aparece com frequência não
so infeccioso ou inflamatório, local ou sistémico só nas doenças hepáticas e do sistema biliar, mas
(congestão pulmonar, conjuntivite, estomatite). também em afecções hemolíticas. Contudo, cons-
É de grande valia como indicador do estado cir- titui um achado importante, pois dificilmente uma
culatório do animal. A hiperemia pode ser, ainda, doença hepática grave apresenta-se sem icterícia,
difusa ou ramiforme. É difusa quando a tonalida- ainda que transitória (Fig. 4.10).
de avermelhada é uniforme (intoxicação) e rami- Cerca de 80% da bilirrubina produzida origi-
forme quando se nota os vasos mais salientes, com na-se da degradação da hemoglobina a partir da
maior volume sanguíneo (dispnéias). remoção dos eritrócitos da circulação e os 20%
Exame Físico Geral ou de Rotina 87
Anemia hemolítica
- anaplasmose
- babesiose
- hemobartonelose
Hepática
i r
Hepatite -
bacteriana
- virai
- tóxica
' 1
* Alteração inicial **
Alteração final
restantes são originados na medula pela eritro- no e, no íleo e no cólon, é transformada em uro-
poiese. Uma vez na circulação, a maior parte da bilinogênio. A maior parte do urobilinogênio for-
bilirrubina liga-se à albumina, soltando-se da mada é eliminada pelas fezes e o restante retorna
mesma no sinusóide hepático, sendo transporta- para a circulação sistémica, sendo grande parte
da até o retículo endoplasmático liso, onde é con- eliminada pelos rins. Uma parte do urobilinogê-
jugada ao ácido glicurônico, transformada em nio fecal volta ao fígado pela circulação êntero-
bilirrubina direta, também denominada de con- hepática.
jugada. Esta é eliminada pela bile, vai ao intesti- Em caso de icterícia resultante da hiper-
bilirrubinemia pela forma conjugada ou direta intensa em casos de icterícia obstrutiva e hepato-
(hidrossolúvel), os tecidos mais facilmente impreg- celular que na icterícia hemolítica. A icterícia
nados são os tecidos superficiais, pela maior afi- pode ser causada por:
nidade desta com áreas de alta concentração de
fibras elásticas, como a conjuntiva bulbar. Já a forma • Doenças hemolíticas (aumento da produção
não conjugada apresenta maior afinidade por te- por hemólise): quando o fígado não tem con
cido adiposo, pois, por ser lipossolúvel, penetra dições de excretar e/ou conjugar toda a bilir
mais facilmente. As mucosas oral e bulbar costu- rubina formada (babesiose).
mam ser os primeiros locais em que se detecta • Lesões hepáticas (infecções bacterianas: lep-
icterícia. Da mesma forma, a coloração é mais tospirose; substâncias hepatotóxicas: afla-
toxina, fenol "creolina").
• Obstrução dos duetos biliares, quando a bi
lirrubina, ao invés de ser excretada pela bile,
atinge a circulação sistémica.
PRESENÇA DE CORRIMENTOS
Quando presentes nas respectivas mucosas, de-
vemos, inicialmente, verificar se são uni ou bila-
terais, sua quantidade e aspecto. Os corrimentos,
segundo as características macroscópicas, são clas-
sificados ernr
Fluido. Líquido, aquoso, pouco viscoso e trans-
parente (corrimento nasal normal em bovinos).
Seroso. Mais denso que o fluido, mas ainda
transparente (processos virais, alérgicos e prece-
de a secreção de infecções ou inflamações). -
^— Catarral. Mais viscoso, mais pegajoso, esbran-
quiçado.
- Purulento. Mais denso e com coloração variá-
Figura 4.13 - Mucosa bucal cianótica, com formação de vel (amarelo-esbranquiçado, amarelo-esverdeado).
halos endotoxêmicos marginando os dentes em um equi- É, na verdade, um produto de necrose em um
no com peritonite séptica difusa. exsudato rico em neutrófílos, indicando, por exem-
plo, a ocorrência de processos infecciosos, corpos
estranhos).
dúvidas com relação ao seu verdadeiro signifi- Sanguinolento. Vermclho-vivo ou enegrecido.
cado. É interessante que se observe, além da co- Pode resultar de traumas, distúrbios hemor-
loração, a presença de petéquias e de hemorra- rágicos sistémicos, processos patológicos agres-
gias equimóticas na esclera ou nas mucosas oral, sivos, etc.
Tabela 4.5 - Alterações de coloração das mucosas com seus principais significados e causas.
ímm
" \ ... ! ""
Denominação Coloração Significado Principais causas
Pálida Esbranquiçada Anemia Ecto e endoparasitose
Hemorragias/Choque hipovolêmico
Aplasia medular
Insuficiência renal
Falência circulatória periférica
Congesta ou Avermelhada T Permeabilidade Inflamação e/ou infecção local
Hiperêmica vascular Septicemia/Bacteremia
Febre
Congestão pulmonar
Endocardite
Pericardite traumática
Cianótica Azulada Transtorno na Anafilaxia
hematose Obstrução das vias respiratórias
Edema pulmonar
Insuficiência cardíaca congestiva
Pneumopatias
Exposição ao frio
Ictérica Amarelada Hiperbilirrubinemia Estase biliar (obstrução)
Anemia hemolítica imune
Isoeritrólise neonatal
Anemia hemolítica microangiopática
- Babesiose
- Anaplasmose
- Hemobartonelose
Hepatite tóxica e/ou infecciosa
Exame Físico Geral ou de Rotina 89
Figura 4.14 - Linfoadenopatia (linfonodo mandibular) em Figura 4.15- Fistulizaçãode linfonodo mandibular em eqiii-
eqiiino. no com adenite.
Tabela 4.6 - Grau de dificuldade à palpação dos principais linfonodos examináveis nas
cisão ou por aspiração. Na biópsia por excisão, faz- os aminoácidos, determina a queima destes, com
se a remoção cirúrgica de uma parte ou de todo o consequente produção de calor. Quando o ani-
linfonodo para futuro exame histopatológico. Na mal está em repouso, os principais órgãos gera-
biópsia por aspiração (Fig. 4.18), faz-se punção dores de calor são o fígado e o coração, mas du-
com uma agulha apropriada e, após ser acoplada rante o exercício, os músculos esqueléticos cons-
em uma seringa, aspira-se o material proveniente tituem o maior local de calor, contribuindo com
do linfonodo, ejetando-o sobre uma lâmina de vidro cerca de 80% do calor total produzido.
para posterior exame. A biópsia é empregada nas
linfoadenopatias localizadas e generalizadas, de
etiologia desconhecida, e em suspeitas de metás- FISIQPATOLOGIA DA
tases tumorais. Antes da realização da biópsia, deve-
se, em ambas as técnicas, fazer tricotomia e as- TERMORREGULACÃO
sepsia do local sobre o nódulo linfático.
A manutenção da temperatura corporal normal
depende do centro termorregulador, que alguns
denominam de "termostato", localizado no hipo-
AVALIAÇÃO DA tálamo, o qual é sensível tanto às variações da tem-
TEMPERATURA CORPORAL peratura corporal interna como da superfície cu-
tânea. Existem receptores térmicos, nas vísceras
O estudo da variação térmica (termometria) é de e na pele, que informam ao centro termorregulador
fundamental importância para se avaliar o estado hipotalâmico as respectivas variações existentes.
geral do paciente e nunca deve ser desprezado O termostato atua tanto na produção de calor quan-
pelo veterinário, pois apresenta algumas caracte- to na perda do mesmo. Assim, quando a tempe-
rísticas desejáveis: ratura ambiente diminui há, além de um incre-
mento do metabolismo para a produção de calor,
1. Pouco invasivo. vasoconstricção periférica e piloereção, para evi-
2. Baixo risco de dano à saúde do animal. tar a perda de calor nos membros periféricos, bem
3. Rápida obtenção do resultado. como diminuição da frequência respiratória. Em
4. Baixíssimo custo financeiro. situação inversa, quando a temperatura ambiente
se eleva, observa-se vasodilatação periférica e
As espécies domésticas (mamíferos e aves) aumento relativo da frequência respiratória, pro-
são classificadas como homeotermas, ou seja, são piciando maior dissipação de calor.
capazes de, em condições de perfeita saúde, manter O exame de um paciente febril deve ser com-
a temperatura corporal dentro de certos limites, pleto, com especial atenção para os órgãos que
independente da variação da temperatura ambien- indicam a localização da doença. Deve-se, para
te. Por esse motivo, são chamados de "animais esse fim, levar em consideração, principalmente,
de sangue quente". Já nos répteis, anfíbios e pei- a idade e a espécie animal. O exame físico deve
xes, os mecanismos de ajuste da temperatura são ser minucioso, principalmente naqueles pacien-
rudimentares e, por isso, essas espécies são cha- tes que apresentam sintomas inespecíficos (per-
madas "animais de sangue frio", ou pecilotérmicos, da parcial de apetite, apatia) e/ou com episódios
tendo em vista que a temperatura interna desses febris prolongados. Como foi descrito anteriormen-
animais apresenta uma grande variação, já que está te, a maioria dos processos febris nas espécies
à mercê da variação ambiental. domésticas é causada por doenças infecciosas, que
A temperatura corporal dos animais é deter- são diagnosticadas com relativa facilidade através
minada pelo balanço entre o ganho de calor e sua da obtenção e avaliação cuidadosa da história clí-
respectiva perda, pelo equilíbrio entre dois meca- nica, juntamente com o exame físico do pacien-
nismos distintos chamados de termogênese (me- te. É importante, no momento da obtenção da
canismo químico que aumenta a produção de ca- anamnese, estar atento à duração e periodicida-
lor) e termólise (mecanismo físico que incrementa de do processo febril (se remitente ou intermi-
a perda de calor). A principal fonte de calor é de- tente, por exemplo); quando começou e, caso
rivada de processos metabólicos oxidativos, ou seja, possível, as variações observadas; a hora do dia
por meio de reações nas quais o oxigénio, utili- em que aparece; se houve contato com animais
zando como substrato os carboidratos, lipídios e doentes; se fez uso de vacinas ou outros produtos
Exame Físico Geral ou de Rotina 95
É necessário que alguns procedimentos se- duzir um terço do termómetro, sendo reali-
jam obedecidos para que se tenha uma aferição zada, de preferência, através de movimentos
adequada da temperatura retal: giratórios no esfíncter anal, deslocando-o
depois, lateralmente, para que o mesmo se
• Deve-se realizar a contenção adequada do ani mantenha em contato com a mucosa retal,
mal. É necessária maior atenção para animais caso contrário, o termómetro ficará contido
inquietos e hostis, já que os termómetros de dentro da massa fecal, o que elevará a tem-
mercúrio podem se quebrar dentro da muco peratura, devido à intensa atividade bacte-
sa retal durante um movimento abrupto ou riana. Se .houver um movimento peristáltico
uma tentativa de defesa. expulsivo, deve-se aguardar um pouco após
• Verificar se a coluna de mercúrio está em a defecação ter sido finalizada para nova afe-
seu nível inferior, antes da introdução do rição. O tempo para a medição varia entre
termómetro. Caso contrário, deve-se baixá- um e dois minutos. Para melhor segurança,
la. Os termómetros clínicos de mercúrio (Fig. execute duas medições no mesmo animal e,
4.20) são caracterizados como termómetros quando houver dúvida na temperatura obti-
de máxima, pois possuem, pouco acima do da, verifique a temperatura de outros ani-
bulbo, uma constricção na sua coluna que mais do mesmo porte que se apresentem cli-
impede, a não ser propositadamente, o re nicamente normais, para uma melhor com-
torno do mercúrio ao bulbo. Hoje os ter paração.
mómetros de mercúrio estão pouco a pou • É importante lembrar que a temperatura
co sendo substituídos pelos digitais, mais interna pode ser aferida em várias regiões
sensíveis à aferição, porém, de maior cus do corpo. A temperatura retal é a mais re-
to. Os termómetros digitais, quando intro alizada, mas se o animal apresentar um tumor
duzidos adequadamente no reto, conseguem ou uma inflamação no reto (proctite), por
indicar, em poucos segundos, por meio de exemplo, a vulva pode ser o local preferen-
um aviso sonoro, quando a temperatura cial. Em machos, o prepúcio é uma outra
atingiu o seu ponto máximo. Uma outra van opção para se aferir a temperatura. No en-
tagem é qu e não apresentam r isco d e tanto, deve-se lembrar que em ambos os
quebrarem dentro do reto e causarem da locais os valores serão inferiores àqueles
nos à sua mucosa. No entanto, a preocupa obtidos no reto.
ção que se tem com a utilização dos termó
metros digitais é que alguns, por serem As temperaturas das espécies assim relacio-
muito flexíveis em sua extremidade, impe nadas são válidas apenas para animais cm repou-
dem, eventualmente, um adequado conta- so e mantidos em ambientes com boa ventilação,
to entre o bulbo e a mucosa retal, mesmo temperatura e umidade moderadas (verificar va-
quando corretamente desviados em senti lores no início desse capítulo, em parâmetros vitais).
do lateral, o que leva à obtenção de uma Como regra geral, quanto menor a espécie ani-
temperatura irreal. O termómetro, quando mal, maior será sua temperatura em função da
não estiver sendo utilizado, deve, de pre variação da taxa metabólica. Fêmeas gestantes
ferência, ser conservado em solução anti-sép- também apresentam temperaturas maiores que
tica (álcool absoluto ou álcool iodado) e lim os animais não prenhes.
po, antes de se iniciar a medição. Guarde-
o em ambiente fresco, pois, se mantido em Características de um Bom Termómetro
temperatura ambiental elevada, o bulbo se Sensibilidade. Os de mercúrio apresentam
romperá, eliminando o mercúrio e conta coluna capilar delgada o que, algumas vezes, di-
minando, subsequentemente, o local de
ficulta a leitura. Os termómetros digitais são mais
sensíveis.
exame.
Precisão. Determinar a temperatura real com
• Antes da introdução do termómetro, lubrifi pequena margem de erro.
ca-se a extremidade (bulbo) com vaselina ou Rapidez. Atingir a temperatura real em pou-
similar (óleo mineral, pomadas hidratantes), co tempo (máximo de 2 minutos). Os termóme-
principalmente, quando a aferição vai ser rea tros digitais determinam a temperatura em me-
lizada em pequenos animais. Deve-se intro- nor tempo.
Exame Físico Geral ou de Rotina 97
: :
:.•. ---- •
alteração no termostato hipotalâmico^) Ocorre um
Quadro 4.3 - Principais causas de hipertermia.
aumento na produção de calor, sem que haja au-
mento correspondente em sua perda (Quadro 4.3). • Temperatura ambiente e umidade do ar elevada
O termo hipertermia é usado com frequência para • Exercício
• Convulsões
caracterizar alterações de origem não inflamató- • Desidratação
ria. Assim, se administrarmos antipirético ao • Pêlos ou lã em excesso
paciente, o mesmo não terá qualquer efeito sobre • Obesidade
a hipertermia, já que o termostato não se encon- • Confinamento e/ou transporte sem ventilação adequada
tra alterado. Devemos ter em mente que a
hipertermia é um sinal de febre, mas não indica,
necessariamente, febre ou algum estado patológico. promove aumento mais acentuado de calor, sem
De todos os animais domésticos, bovinos e ovinos que haja, naquele^ momento, uma perda
parecem ser os que melhor se adaptam às elevadas correspondente. A hipertermia mista é observada
temperaturas ambientais. A abertura da cavidade quando as hipertermias de retenção e de esforço
bucal e a sudorese fazem com que esses animais ocorrem ao mesmo tempo. Se a termogênese
consigam suportar temperaturas de até 43°C. Os
(produção de calor) aumenta e a termólise (perda
cães, em virtude de sua efetiva ofegação, suportam
de calor) permanece normal, haverá hipertermia
melhor as temperaturas elevadas que os gatos, mas
por produção de calor, se a termogênese permanece
correm risco de colapso quando a temperatura retal
constante ou inalterada e a termólise é insuficiente,
alcança 41°C. Vale a pena lembrar que os animais
desidratados são mais propensos à hipertermia, haverá hipertermia por retenção de calor.
porque a perda dos fluidos teciduais por transpi- O corpo utiliza-se de vários mecanismos para
ração ou sudorese, encontrar-se-á reduzida. dissipar o excesso de calor produzido e armaze-
A hipertermia pode ser: a) de retenção de calor; nado. A perda de calor se faz principalmente no
b) de esforço; c) mista. nível dos pulmões e da pele, ambos extremamente
A hipertermia por retenção de calor dá-se quan- irrigados pelo sangue. No sistema respiratório, tem
do a irradiação e a condução de calor estão redu- importância o mecanismo de evaporação, dado que
zidas em relação à sua produção. Verifica-se, ge- o ar expirado, além de aquecido, c eliminado com
ralmente, em ambientes quentes e sem ventila- um alto teor de umidade. Na pele, a perda de calor
ção (transporte de animais em caminhões fecha- é obtida por meio de quatro mecanismos:
dos, animais estabulados). E extremamente difí-
cil para um animal perder calor quando mantido • Irradiação: resulta na transferência direta de
em clima quente e úmido, porque não ocorre res- calor por ondas cletromagnéticas (raios tér
friamento corpóreo por evaporação com eficácia. micos) para o meio ambiente mais frio.
Existem outros efeitos danosos aos animais recém- • Evaporação: consiste na transformação da água
nascidos submetidos a uma temperatura ambien- do estado líquido para o estado gasoso pela
te elevada. Como os animais neonatos produzem, superfície cutânea, vias aéreas superiores e
proporcionalmente, mais suor por quilo de peso mucosas. A importância relativa dos diferen
do que os adultos, isso pode fazer com que fiquem tes modos de perda de calor por evaporação
desidratados, tornando-os apáticos e desinteressa- nos animais domésticos varia. Nos equinos e
dos cm mamar. Um ambiente ventilado e com baixa bovinos, a sudorese é a principal forma de
umidade pode auxiliar a perda de calor corporal; perda de calor por evaporação. Os equinos,
ao passo que um ambiente com pouca ventilação por exemplo, podem perder, quando subme
e com umidade relativa elevada, pode fazer com tidos a um exercício árduo (enduro/corrida),
que a perda de calor pela sudorese se torne mais cerca de 10 a 15 litros de suor por hora. Os
difícil. Exercícios físicos extenuantes realizados ovinos e os cães dependem muito do ofego
nessas condições também podem resultar em para liberarem calor. No animal ofegante, o
aumento perigoso na temperatura corporal. Da ingurgitamento das mucosas respiratória e oral
mesma forma, quando os cães ficam fechados em e o aumento da salivação acentuam a perda
carros mantidos ao sol, sua ofegação satura o de calor pela evaporação. Mesmo nos animais
ambiente com vapor de água, impossibilitando a que não ofegam, como os equinos, a perda
perda adicional de calor. A hipertermia de esforço é de calor evaporativo pelo sistema respirató
gerada por trabalho muscular exaustivo, que rio provavelmente aumenta durante o exer
cício prolongado.
Exame Físico Geral ou de Rotina 99
Condução: a perda de calor se faz por contato liberados pelos leucócitos, macrófagos, monóci-
direto com o ambiente como pisos, paredes tos e células de Kupffer, da medula óssea, pul-
e equipamentos. Como os animais habitual- mão, fígado e baço, os quais alteram o ponto fixo
mente não permanecem em superfícies frias do centro termorregulador no hipotálamo. O
por longos períodos, a condução em geral não pirógeno endógeno parece induzir a liberação de
é uma forma significativa de perda de calor. algumas substâncias intermediárias (prostaglan-
Convecção: c o processo de perda de calor para dina E2 e monoaminas) que, então, agiriam dire-
o ar ou a água junto à superfície cutânea. Os tamente na área pré-óptica do hipotálamo, alte-
animais jovens ou pequenos deixados em um rando o termostato e aumentando seu ponto fixo
lugar frio podem perder calor rapidamente por de temperatura. Duas hipóteses são apontadas para
esse processo e devem ser protegidos de tais o envolvimento da prostaglandina E : 1. o piró-
situações. geno endógeno ^estimula a liberação do ácido
aracdônico com subsequente síntese de prosta-
glandina, alterando o ponto de equilíbrio do centro
Síndrome Febre termorregulador; 2. o efeito da aspirina e a flu-
nixina, por exemplo, que são drogas bloqueado-
\A febre (ou pirexia) é a elevação da tempe- ras da cicloxigenase, é exercido diretamente so-
ratura corporal acima de um ponto críticoí e ocor- bre o hipotálamo, inibindo a liberação de prosta-
re em decorrência do aparecimento de algumas glandina e/ou de seus precursores.
joenças, sendo, talvez, o mais antigo e o mais A febre pode originar-se de várias causas, dentre
universalmente conhecido sinal de doença. Para as quais destacam-se: a) a febre de origem séptica;
js leigos, ela é considerada como uma doença e, b) a febre asséptica; e c) a febre neurogênica.
antigamente, era o principal fator a ser tratado. Febre séptica. Gomo o próprio nome sugere,
Hoje em dia, considera-se a febre como indicati- está relacionada com um processo infeccioso. É
vo de alguma doença subjacente que, por ter várias produzida por substâncias pirogênicas de origem
origens, deve ser interpretada juntamente com microbiana. O processo infeccioso pode ser loca-
outros resultados obtidos no exame do paciente. lizado (abscesso, empiema - pus em uma cavida-
E óbvio que a febre é benéfica na maioria das de, um órgão oco ou em algum espaço do orga-
doenças, visto que a temperatura corporal eleva- nismo), ou generalizado como nos casos de sep-
da estimula a formação de anticorpos e outras ticemia. As doenças infecciosas constituem a causa
reações de defesa e impede, de certa forma, a mais frequente de elevação da temperatura, em
multiplicação excessiva de alguns microor- todas as faixas etárias. Geralmente, pensa-se logo
ganismos. Entretanto, na maioria das vezes, os seus em infecção quando o paciente está febril. Km-
efeitos são mais nocivos que benéficos, já que, bora esse tipo de pensamento seja, até certo pon-
por exemplo, a maior velocidade de todos os pro- to, correto, na grande maioria das vezes, deve-se
cessos metabólicos (em até 50%) causa rápida ter em mente que inúmeras doenças não infeccio-
depleção do glicogênio hepático e um aumento sas também podem produzir febre, ao passo que,
da utilização da proteína endógena como ener- em algumas doenças infecciosas, a febre pode não
gia, acentuando a perda de peso, além da sudore- estar presente ou ser de pouca intensidade (botu-
se agravar a perda de líquidos e de eletrólitos, oca- lismo, tétano).
sionando desidratação e desequilíbrio eletrolítico Febre asséptica. Não está relacionada com a
graves. Quando a temperatura corporal ultrapas- ocorrência de infecções e c causada por agentes
sa 42,5°C, a função celular fica seriamente preju- físicos (queimaduras), mecânicos (traumas) ou
dicada e há perda de consciência. químicos (vacinação, alergia, anafilaxia de origem
medicamentosa). A febre induzida por drogas é
relativamente comum, mas tardiamente pensada,
Patogènese da Febre principalmente nos casos de antibioticoterapia
Vários microorganismos - vírus, bactérias, fun- prolongada (anfotericina B, ampicilina). Entretanto,
gos, protozoários - e antígenos podem produzir antes de se pensar no envolvimento de uma de-
febre, são chamados de pirógenos exógenos. O terminada droga medicamentosa, deve-se pensar
pirógeno exógeno causa febre por precipitar a se está havendo resistência do agente microbiano
liberação de citocinas ou de pirógenos endóge- ao medicamento utilizado ou se o mesmo está sendo
nos (interleucina I e VI) que são armazenados e administrado em sub-dosagem. A febre por drogas
100 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
ocorre mais frequentemente por hipersensibilidade te pode ser observada em animais com tem-
mediada por anticorpos. Nesse caso, os leucócitos, peratura variando entre 41,5 e 42,5°C.
após fagocitose do complexo anticorpo-droga, li- • Sistema digestório: defecação reduzida, desde
beram os pirógenos endógenos. A utilização de an- que a causa da febre não tenha origem diges
tibióticos nos processos febris deve ser feita após tiva. Polidipsia compensatória.
um exame detalhado do paciente e a localização • Sistema urinário: oligúria.
do processo patológico ou o reconhecimento do pro- • Sistema nervoso: animal deprimido.
cesso mórbido, para que não venha a interferir no
estabelecimento do diagnóstico. O episódio da febre pode ser dividido em três
Febre neurogênica. Geralmente ocorre como fases:
resultado de convulsões e contrações musculares
(epilepsia, compressão do hipotálamo por neopla- 1. Ascensão ou de aparecimento (stadium incre-
sias). O traumatismo da medula espinhal, espe- menti): a fase inicial do aumento progres
cialmente no nível de região cervical, produz febre sivo da temperatura. Corresponde, na maio
de origem irregular, porafetar, provavelmente, as ria das vezes, ao período de invasão do agen
vias sensitivas e efetoras do hipotálamo. te mórbido. Quando o ponto fixo do centro
termorregulador aumenta e atinge um nível
Por que a Febre é Considerada uma Síndrome? acima do normal, todos os mecanismos para
a elevação da temperatura corporal são ati-
Apresenta, além da elevação da temperatu- vados, incluindo a conservação de calor e
ra, as seguintes alterações: o aumento de sua pr odução. O corpo se
ajusta como se aquela fosse a sua verdadeira
• Mucosas: congestão de mucosas (vasodilatação). temperatura. Com isso, ocorre vasoconstrição
Mucosas secas, sem brilho, em uma tentati periférica e o animal demonstra frio e tre
va de reter água. mores.
• Pele e focinhos: pele seca e sem brilho, foci 2. Acme("fastígio"): quando a temperatura atinge
nho seco. o seu limite máximo, determinando, até cer
• Sistema circulatório: taquicardia; aumento de to ponto, uma estabilização térmica. Os tre
10 a 15 batimentos cardíacos/min, para cada mores desaparecem.
grau elevado. Pode-se ouvir sopros cardíacos 3. Defervescência (stadium decrementi): quando
funcionais em virtude da rápida passagem do ocorre o declínio da temperatura. Pode-se
sangue pelas válvulas. observar um decréscimo por lise (queda len
• Sistema respiratório: taquipnéia. É a resposta ta e progressiva da temperatura/pode demo
do organismo com um duplo objetivo: l. perda rar alguns dias) ou por crise (a temperatura
de calor pela respiração; e 2. oferta de maior retorna ao normal em poucas horas).
volume de oxigénio às células e aos tecidos,
agora mais necessitados, em virtude das com
bustões orgânicas e eliminação de CO 2, pelo Tipos de Febre
aumento do metabolismo. Na maioria das es Existem vários tipos de febre descritos em
pécies, quando a temperatura retal atinge 41°C medicina humana, mas grande parte não se en-
a dispneia é acentuada, acompanhada de caixa nos perfis febris dos animais domésticos. De
convulsões e, posteriormente, coma. A mor- maneira geral, ocorrem os seguintes tipos:
Tipo
Febrícula Febre 38 a 39°C 39,5 a 40°C 39,3 a 40°C
mediana Febre 39,1 a 40°C 40,1 a 41 °C 40,1 a 41 °C
alta Febre muito 40,1 a 41°C > 41,1 a 42°C 41 a 41,5°C
alta 41 °C >42°C > 41,5°C
Exame Físico Geral ou de Rotina 101
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