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Teoria da Literatura II
Ana Santana Sousa
Ilane Ferreira Cavalcante
Outras narrativas
Aula 2
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
RIO GRANDE DO NORTE
Campus EaD
Ficha Catalográfica
Aula 2
Outras narrativas
Apresentação
Apresentação e
e Objetivos
Objetivos
Olá, esta segunda Aula dá continuidade a seu estudo sobre alguns gêneros
narrativos. Aqui, priorizaremos o conto e o cordel. Assim, você conhecerá um pouco
sobre a gênese e a evolução desses gêneros literários, assim como sobre sua estrutura.
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Para Começar
A RAPOSA E A CEGONHA
― Não pedirei desculpas pelo jantar, disse a cegonha, assim você sente no
próprio estomago o que senti ontem.
Moral da história: Quem com ferro fere com ferro será ferido.
A narrativa curta que você leu acima é uma fábula, como o próprio nome já informa.
A fábula é um gênero narrativo que, com certeza, você já deve ter lido ou escutado
em algum lugar. Ela, em geral, traz como personagens animais ou coisas inanimadas
que falam. Além disso, a fábula traz sempre uma “moral” ao final da narrativa, pois é
um gênero de natureza exemplar, ou seja, tem uma intenção moralizadora, ou melhor,
educadora, formativa, tem a intenção de ensinar algo.
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O termo fábula tanto é utilizado para indicar o gênero narrativo descrito
no início desta Aula, como também é utilizado para significar o “enredo” de um
determinado texto, a sua trama, ou seja, a forma como as ações estão enredadas.
Foi com essa última conotação, aliás, que os formalistas russos (lembra-se de
Teoria da Literatura I?) utilizaram o termo em seus textos. Essa utilização remonta
também a Aristóteles que, em sua Poética, utilizava o termo fábula para designar “a
composição dos atos” de uma determinada narrativa, ou seja, o enredo.
Assim é
Provérbio popular
O provérbio popular que abre essa seção demonstra o quanto contar histórias
faz parte da experiência humana. As fábulas fazem parte de um conjunto de gêneros
textuais mais curtos que sempre foram utilizados para dar exemplos, conselhos ou
passar informações, em geral, das pessoas mais velhas para as mais novas.
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As mil e uma noites, por exemplo, é um conjunto de narrativas conectadas por
uma narradora, Scheerazade, que conta histórias para salvar a sua vida e a de outras
mulheres. No livro, o rei Shariar transtornado com a traição de sua primeira esposa,
promete desposar uma jovem a cada dia e, passada a noite de núpcias, assassiná-
la, para que ele jamais seja vítima de nova traição. Para interromper esse assassínio
corrente de jovens, a filha do Grão Vizir, espécie de conselheiro do reino, se oferece
para casar com o rei e, logo na primeira noite, inicia a narrativa de uma história que,
antes de finalizar-se, já abre a perspectiva de uma nova história. Assim, o rei, aguçado
pela curiosidade, segue adiando a morte de sua esposa a cada novo dia até se passarem
mil e uma noites e ela ter assegurado, pelo rei, o fim de sua promessa.
Essas narrativas orais vão ganhar, pouco a pouco, o registro escrito. Enquanto
isso, outras narrativas surgem que, apesar de ainda trazerem traços de sua origem oral,
já fazem sucesso a partir de sua versão escrita. É o caso, no século XIV, das narrativas
que compõem o Decameron (1350), de Bocaccio. Um conjunto de narrativas que são
contadas por um grupo de pessoas refugiadas da peste que assolava a Itália medieval.
Entre esses contos há narrativas trágicas, dramáticas, cômicas e eróticas. No mesmo
formato, também surgem, na Inglaterra, os Canterbury Tales (1386), ou Contos de
Canterbury, de Chaucer, uma coletânea de contos narrados por viajantes em meio a
uma peregrinação religiosa.
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Ao longo dos séculos XVIII e XIX, ao mesmo tempo em que permanece a
influência dos contos maravilhosos na produção, por exemplo, dos irmãos Jacob e
Wilhelm Grimm, outras narrativas começam a se insinuar nesse universo. São textos
que, embora curtos, como essas narrativas maravilhosas, se debruçam sobre a realidade
contingente, sobre as pessoas e seus conflitos mundanos, urbanos, sentimentais, enfim,
sobre a realidade que nos rodeia e sobre o próprio mundo interior, psicológico dos
seres humanos. É o momento em que surge o conto moderno.
Para Júlio Cortázar, autor e teórico argentino, a palavra conto pode abranger
três acepções:
1. relato de um acontecimento; 2. narração oral ou escrita de um acontec-
imento falso; 3. fábula que se conta às crianças para diverti-las.
(apud GOTLIB, 1985, p. 11).
O termo conto provêm do Latim computare, que significa contar. Mas o contar
não é apenas relatar os acontecimentos. O relatar implica em trazer o acontecimento
outra vez, ou seja, pressupõe algo que realmente aconteceu. O conto, por sua vez, não
tem nenhum compromisso com o real.
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Esses elementos constantes que ele ressalta e sobre os quais
reflete, são o limite, ou seja, o tamanho limitado de páginas; a
junção tempo e espaço e o tema, ligado à motivação do escritor.
Para Cortázar, um conto não deve ultrapassar 20 páginas. Acima
disso, ele já pode ser considerado uma novela. Nessas 20 páginas,
o autor deverá desenvolver um único tema, ou seja, não perder-
se em ideias ou situações intermediárias. O tema, aliás, precisa
levar a uma interpretação mais profunda. Cortázar compara o
romance ao cinema e o conto à fotografia e afirma:
Um conto é significativo quando quebra seus próprios limites com
essa explosão de energia espiritual que ilumina bruscamente algo que
vai muito além da pequena e às vezes miserável história que conta.
(2006, p. 153).
Fig. 05 Capa Valise Limite, intensidade de ação e tensão
de Cronópio.
interna são os aspectos principais que
organizam a estrutura do conto, mas que
dependem intimamente da motivação do contista, pois é a
motivação que vai levar o tema escolhido a transcender os limites
de sua significação.
Além disso, Poe também indica a necessidade de que o autor tenha um excelente
domínio de seus materiais narrativos, que devem ser utilizados de forma econômica. Ou
seja, com o mínimo de meios, o contista deve atingir o máximo de efeito. Resumindoa
teoria do conto de Poe, Nádia Batella Gotlib, indica que
cada conto traz um compromisso selado com a sua origem: a da estória. E
com o modo de se contar a estória: é uma forma breve. E com o modo pelo
qual se constrói este seu jeito de ser, economizando meios narrativos, medi-
ante contração de impulsos, condensação de recursos, tensão das fibras ao
narrar
(1985, p.82).
Agora que você já conhece mais teoricamente essa narrativa curta, que é o
conto, que tal conhecer outra narrativa mais popular ainda? Ela será o tema do próximo
tópico desta Aula. Antes disso, porém, faça um breve exercício.
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Mãos a obra
1. Faça um breve resumo dos elementos que você puder indicar que
se assemelham e que diferenciam a fábula, o conto maravilhoso e
o conto moderno.
Assim é
2. Outras narrativas
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A epígrafe a este tópico demonstra, apesar de ser um breve fragmento de um
texto maior, ser uma narrativa. Observe que há um narrador que se propõe a contar a
história de um herói (um rapaz corajoso), que consegue raptar uma condessa com a
ajuda de um pavão misterioso.
Desde a Aula anterior, você já percebeu que as narrativas mais tradicionais eram,
em geral, escritas em verso. Só aos poucos elas foram ganhando registro escrito ou
foram se transformando em outras. Os gêneros escritos, caso dos contos modernos
ou do romance, são oriundos das mudanças sociais, a vida urbana, o indivíduo e a
leitura silenciosa, a correria da sociedade industrial, entre outras. Mas alguns gêneros
permaneceram e permanecem preservando muito de seu formato. É o caso da literatura
de cordel.
Ora lírico, ora épico, ora narrativo de façanhas guerreiras, ora descritivo de
casos de amor, o corrido é encontrado com vários nomes: romance, tragédia,
narración, ejemplo, mahanitas, recuerdos, versos e coplas.
(SUASSUNA, 1986, p. 33).
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o texto que seria vendido em grande quantidade ao cantor ou artista ambulante que,
por sua vez, saía de cidade em cidade apresentando a estória e vendendo os folhetos.
Nesses casos, o artista só era autor da performance. Com o tempo, a literatura de cordel
passou a ser veiculada em um formato impresso específico, capa de papel colorido,
com xilogravura, e corpo de papel e impressão simples. Alguns cordéis já apresentam,
em seu próprio texto, a intenção de voltar-se para um leitor e não mais apenas um
ouvinte. Leia o início, por exemplo, da História de Juvenal e o Dragão:
Morava um camponês
num subúrbio dum ducado
já faziam sete anos
que ele tinha enviuvado
só ficou com dois filhinhos
no que mais tinha cuidado.
(ATHAÍDE, 2013, p. 1)
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No Nordeste do Brasil, os cantadores, os repentistas, os contadores de estórias
podem ser considerados os herdeiros dos menestréis medievais. Eles formavam uma
classe à parte, vivendo muitas vezes da mendicância e, ao mesmo tempo, mantendo
vivas tradições seculares de literatura e de cultura. Pouco prestigiados pela elite
intelectual, eram cultuados pela população em geral.
E você, já leu ou ouviu alguma história em cordel? O Brasil possui alguns autores
clássicos desse tipo de narrativa, caso de Leandro Gomes de Barros, por exemplo. Leia
histórias desse e de outros autores no site <http://noticias.universia.com.br/tempo-
livre/noticia/2012/01/11/903959/40-livros-gratis-literatura-cordel-baixar-PRINTABLE.
html>.
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Certamente, você já percebeu que essa herança da literatura popular se expandiu
para outras áreas da cultura brasileira e nomes como Luis Gonzaga, Elomar, Xangai,
Lirinha, entre outros, continuam a manter viva essa herança medieval.
Agora que você conheceu também um pouco da história dessa narrativa tão
comum às terras brasileiras, pare um pouco para fazer mais um pequeno exercício.
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Já sei!
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Autoavaliação
1. Você conhece algum livro, cantor ou autor que tenha influência da literatura de
cordel? Pesquise sobre isso nas obras de Ariano Suassuna, por exemplo, de quem você
deve conhecer O auto da compadecida. Que outros exemplos de influência da literatura
de cordel na música, no cinema e em outras formas literárias você consegue encontrar?
Leitura complementar
Que tal conhecer melhor outros aspectos sobre o conto? Leia o livro Teoria do
conto, de Nádia Batella Gotlib. Nele você vai encontrar mais detalhes acerca da origem
e das transformações por que passou esse gênero literário. Ele está disponível em
<http://pt.scribd.com/doc/30890030/Nadia-Battella-Gotlib-Teoria-do-Conto>.
Referências
ATHAÍDE, João Martins de. História de Juvenal e o dragão. Disponível em: <http://
pt.scribd.com/doc/6884008/Literatura-de-Cordel-Historia-de-Juvenal-e-o-Dragao>.
Acesso em: 18 jan. 2013.
CORTÁZAR, Júlio. Alguns aspectos do conto. 2 ed. In: ______. Valise de Cronópio. Trad.
Davi Arrigucci Jr e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2006. Disponível
em: <http://pt.scribd.com/doc/62764130/CORTAZAR-Julio-Valise-de-Cronopio-L-O-
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alguns-aspectos-do-conto>. Acesso em: 15 jan. 2013.
GOTLIB, Nádia Batella. Teoria do conto. 2. ed. São Paulo: Ática, 1985.
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
Fig. 02 - http://www.skoob.com.br/livro/114878
Fig. 03 - http://2.bp.blogspot.com/-u_bNRak06kc/Tizdna52XSI/AAAAAAAAcxs/epRansikwIc/s1600/conto-de-fadas1.jpg
Fig. 04 - http://anidabar.files.wordpress.com/2012/01/julio-cortc3a1zar-06.jpg?w=400&h=400
Fig. 05 - http://skoob.s3.amazonaws.com/livros/21652/VALISE_DE_CRONOPIO_1238266650P.jpg
Fig. 06 - http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fb/Edgar_Allan_Poe_portrait_B.jpg/220px-Edgar_
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Fig. 07 - http://www.onordeste.com/administrador/personalidades/imagemPersonalidade/0027735ed09f432270a06a7
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Fig.11 - http://encantacantadores.blogspot.com.br/2012/06/festival-de-violas-na-casa-do-cantador.html
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