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As figuras de estilo estão presentes, de modo mais

restrito ou mais incisivo, em todas as esferas da


comunicação humana.

As figuras de estilo, ao imprimirem “cor” e “força” aos


enunciados, constituem um meio de expressão necessário
e inevitável, funcionando como a única possibilidade
expressiva adequada a determinados propósitos e a
determinadas situações.

Toda classificação das figuras de estilo é discutível, mais


constitui uma comodidade pedagógica.
Entendimento de que a língua é um jogo de regras em
número limitado e de possibilidades combinatórias
infinitas.

Entendimento de que todos os torneios expressivos estão


virtualmente contidos na língua.

Entendimento de que, na escolha e na descoberta dessas


virtualidades, reside a atividade estilística.
Na tradição retórica, as figuras de estilo são enfocadas
como “os traços, as formas ou os torneios mais ou menos
notáveis e de um efeito mais ou menos feliz, pelos quais o
discurso, na expressão das ideias, dos pensamentos e dos
sentimentos, se afasta mais ou menos do que teria sido a
expressão simples e comum”. (FONTANIER apud
BUFFARD-MORET, 2012, p. 86).

Nas discussões estilísticas contemporâneas, as figuras


de estilo são muitas vezes enfocadas como uma norma
codificada recuperável por ela mesma (FROUMILHAGUE,
2010).
Surgirem e se limitarem a uma única aparição.

Tornarem-se clichês.

Serem integradas definitivamente ao léxico.


FIGURAS DE DICÇÃO

Associam-se à forma das palavras nas esferas gráfica,


fônica, etimológica e morfológica.

FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Associam-se à distribuição das palavras na cadeia
sintagmática.

FIGURAS DE SENTIDO (OU TROPOS)


Associam-se à significação das palavras.
FIGURAS DE PENSAMENTO

Desenvolvem-se sobre um maior espaço e não dependem de


processos formais e semânticos mais precisos.
ALITERAÇÃO / ASSONÂNCIA

ANAGRAMA

HOMEOTELEUTO

METAPLASMO

ONOMATOPEIA

PARONOMÁSIA
ALITERAÇÃO ⁄ ASSONÂNCIA

Consiste na reiteração de fonemas idênticos ou congêneres


(consonânticos ou vocálicos, respectivamente)

“O vento varria as folhas,


O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.” (MANUEL BANDEIRA)

“Tíbios flautins finíssimos gritavam.” (OLAVO BILAC)


ANAGRAMA

Consiste na alteração na ordem dos fonemas entre duas ou


mais palavras.

“Eu não tinha este rosto de hoje,


assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.” (CECÍLIA MEIRELES)
HOMEOTELEUTO

Consiste na repetição (regular ou não) de terminações


semelhantes em palavras próximas.

“Os de cá, achar-vos-ei com mais paço; os de lá, com mais


passos.” (ANTÔNIO VIEIRA)

“Cassiano pensou, fumou, imaginou, trotou, cismou, e, já a


duas léguas do arraial, na grande estrada do norte, os seus
cálculos acharam conclusão.” (GUIMARÃES ROSA)

“La vai, sem qualquer palavra


Seguindo o pranto,
Pequeno arado que lavra
Tão grande campo.” (CECÍLIA MEIRELES)
METAPLASMO (OU METAGRAMA)

Consiste no acréscimo, na supressão, na permutação ou na


transposição de fonemas ou de letras nas palavras.

“Uma cigarra sissibila.” (GUIMARÃES ROSA)

“Erguido em negro mármor luzidio,


Portas fechadas, num mistério enorme,
Numa terra de reis, mudo e sombrio,
Sono de lendas um palácio dorme.” (ALBERTO DE OLIVEIRA)

“Esse estava atirado pelas queixadas, má bala que lhe


partira o osso, o vermelho brabotava e
pingava.” (GUIMARÃES ROSA)
ONOMATOPEIA

Consiste no emprego da palavra cuja sonoridade imita o


som específico (ou associado) da coisa significada.

“Sino de Belém, pelos que inda vêm!


Sino de Belém bate bem-bem-bem.

Sino da Paixão, pelos que lá vão!


Sino da Paixão bate bão-bão-bão.
Sino do Bonfim, por quem chora assim?...”
(MANUEL BANDEIRA)
PARONOMÁSIA

Consiste na relação entre palavras de sentido diferente e de


forma (sonora, gráfica ou mórfica) semelhante.

“Há um pinheiro estático e extático”. (RUBEM BRAGA)

“A arte de versejar rende pouco: baladas não são boladas.”


(AGRIPINO GRIECO)
ANACOLUTO
ANADIPLOSE / EPANADIPLOSE
ANÁFORA / EPÍFORA
ANTÍTESE / OXÍMORO
ELIPSE / ZEUGMA
GRADAÇÃO
HIPÁLAGE
HIPÉRBATO / ANÁSTROFE / SÍNQUISE
POLIPTOTO
POLISSÍNDETO / ASSÍNDETO
SILEPSE
QUIASMO
ANACOLUTO

Consiste na mudança abrupta da construção frasal.

“O forte, o covarde
Seus feitos inveja [...].” (GONÇALVES DIAS)

“Eu não importa a desonra do mundo.” (CAMILO CASTELO


BRANCO)
ANADIPLOSE / EPANADIPLOSE
ANADLIPOSE
Consiste na repetição de palavras do fim de um período
(oração, frase ou verso) no princípio do período (oração,
frase ou verso) seguinte.

“O futuro trouxe-a ao presente, o presente levou-a ao


passado.” (MACHADO DE ASSIS)

EPANADIPLOSE
Consiste na repetição de palavras no começo e no fim de
um verso ou de uma frase.

“Vozes veladas, veludosas vozes,


Volúpia dos violões, vozes veladas.” (CRUZ E SOUSA)
ANÁFORA / EPÍFORA
ANÁFORA
Consiste na repetição da mesma palavra ou expressão no
início de frases, orações ou versos.

“Aqui estou, aqui vivo, aqui morrerei.” (MACHADO DE ASSIS)


“Depois o areal extenso...
Depois o oceano de pó...
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...” (CASTRO ALVES)

EPÍFORA (OU EPÍSTROFE)


Consiste na repetição da mesma palavra (ou expressões) no
no fim de frases, orações ou versos.
“Quando íamos à missa, dizia-me sempre que era para
aprender a ser padre, e que reparasse no padre, não tirasse
os olhos do padre.” (MACHADO DE ASSIS)
ANTÍTESE / OXÍMORO
ANTÍTESE
Consiste na oposição de dois pensamentos (ou de duas
expressões) que se relacionam para evidenciar o contraste.

“Como era possível beleza e horror, vida e morte


harmonizarem-se assim no mesmo quadro?” (ÉRICO
VERÍSSIMO)

OXÍMORO
Consiste na união de duas palavras (ou de duas expressões)
cujos sentidos são tidos como incompatíveis.
“Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.” (CAMÕES)
ELIPSE / ZEUGMA

ELIPSE
Consiste na supressão, em uma frase, de elemento (ou
elementos) que não se encontra(m) explicitado(s) no
cotexto.
“Minha mãe amanheceu tão transtornada que ordenou me
mandassem buscar ao seminário.” (MACHADO DE ASSIS)
“Repito, [Sofia] comia bem, dormia largo e fofo.” (MACHADO
DE ASSIS)

ZEUGMA
Consiste na não enunciação de palavra (ou grupos de
palavras) já explicitada(s) no cotexto.
“Rubião tinha nos pés um par de chinelas de damasco,
bordadas a ouro; na cabeça, um gorro com borla de seda
preta. Na boca, um riso azul claro.” (MACHADO DE ASSIS)
GRADAÇÃO

Consiste na sucessão de palavras (ou de expressões) de


força crescente (CLÍMAX) ou decrescente (ANTICLÍMAX).

“Ninguém deve aproximar-se da jaula, o felino poderá


enfurecer-se, quebrar as grades, despedaçar meio mundo.”
(MURILO MENDES)

“Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (MONTEIRO


LOBATO)
HIPÁLAGE

Consiste na troca de lugar das palavras, estabelecendo,


geralmente, uma adjetivação inusitada.

“A noite veio, a menina recolheu-se pensativa e


melancólica, sem nada explicar à solícita curiosidade da
mãe.” (MACHADO DE ASSIS)

“Fumando um pensativo cigarro.” (EÇA DE QUEIROZ)

“[...] em cada olho um grito castanho de ódio.” (DALTON


TREVISAN)
HIPÉRBATO / ANÁSTROFE / SÍNQUISE

Consiste na inversão da ordem direta dos termos da oração


ou das orações no período.

Costuma-se nomear de ANÁSTROFE a inversão ocorrida


dentro de um mesmo sintagma e de SÍNQUISE a inversão
drástica que compromete o entendimento.

“Tão leve estou, que nem sombra tenho.” (MÁRIO


QUINTANA)

“Passeiam, à tarde, as belas na avenida.” (CARLOS


DRUMMOND)

“Tu de amante o teu fim hás encontrado.” (GREGÓRIO DE


MATOS)
POLIPTOTO
Consiste no emprego da mesma palavra com flexões
(nominais ou verbais) diferentes.

“Aquela cativa,
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.” (CAMÕES)

“Talvez esse discreto silêncio [do verme] sobre os textos


roídos fosse ainda um modo de roer o roído.” (MACHADO DE
ASSIS)
POLISSÍNDETO / ASSÍNDETO
POLISSÍNDETO
Consiste na repetição de conectores.

“Há dois dias meu telefone não fala nem ouve, nem toca
nem tuge, nem muge.” (RUBEM BRAGA)

“E lá foi, e lá andou, e lá descobriu o padre, dentro de uma


casinha – baixa.” (MACHADO DE ASSIS)

ASSÍNDETO
Consiste na apagamento de conectores.

“A tua raça quer partir


Guerrear, sofrer, vencer, voltar.” (CECÍLIA MEIRELES)
SILEPSE

Consiste no estabelecimento da concordância (nominal ou


verbal) alicerçado no sentido das palavras.

“Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.”


(GUIMARÃES ROSA)

“Os outros suspenderam o jogo, e todos falamos do


desastre e da viúva.” (MACHADO DE ASSIS)

“Se ainda estamos aberto é por honra da firma.” (JOSÉ J.


VEIGA)
QUIASMO

Consiste na repetição simétrica de dois sintagmas, com os


termos invertidos.

“Duas vezes lhe aconteceu dar uma resposta sem pergunta


e deixar uma pergunta sem resposta.” (MACHADO DE ASSIS)

“De certos homens, dizia Sócrates, que não comiam para


viver, mas só viviam para comer.” (ANTÔNIO VIEIRA)
COMPARAÇÃO (SÍMILE)

METÁFORA

METONÍMIA

SINESTESIA
COMPARAÇÃO (SÍMILE)

Consiste na aproximação de dois termos (que têm algo em


comum), por meio de um elemento linguístico de
comparação (conector, advérbio, adjetivo ou verbo).

“Meu coração tombou na vida


tal qual uma estrela ferida
pela flecha de um caçador.” (CECÍLIA MEIRELLES)

METÁFORA
Consiste na substituição de um termo por outro, em virtude
de relações de similaridade estabelecida entre eles.

“Sua boca é um cadeado


E seu corpo é uma fogueira.” (CHICO BUARQUE)
METONÍMIA
Consiste na substituição de um termo por outro, em virtude
de relações de contiguidade (ou de proximidade)
estabelecida entre eles.

“Trabalhava ao piano, não só Chopin como ainda os estudos


de Czerny.” (MURILO MENDES)

“A corte divertia-se, apesar dos recentes estragos do


cólera; bailava-se, cantava-se. Ia-se ao teatro.” (MACHADO
DE ASSIS)

SINESTESIA
Consiste na interpenetração de termos oriundos das áreas
sensoriais.

“O sol de outono caía com uma luz pálida e macia.” (MÁRIO


DE ANDRADE)
ALEGORIA

EUFEMISMO

HIPÉRBOLE

HIPOTPOSE

IRONIA

LÍTOTES

PERSONIFICAÇÃO

PRETERIÇÃO
ALEGORIA
Consiste na disposição de uma narrativa cujos elementos
concretos organizam um conteúdo geralmente abstrato.

“A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o


barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos
comprimários, quando não o soprano e o contralto que
lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos
mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos
bailados, e a orquestração é excelente...” (MACHADO DE
ASSIS)

EUFEMISMO
Consiste na atenuação de uma ideia ou coisa tida como
desagradável, por meio de circunlóquio suavizador.

“Os amigos que me restam são de data recente; todos os


antigos foram estudar a geologia dos campos santos.”
(MACHADO DE ASSIS)
HIPÉRBOLE
Consiste na exageração favorável ou desfavorável.
“Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (OLAVO BILAC)
“Desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer
duas tranças que pudessem envolver o infinito por um
número inominável de vezes.” (MACHADO DE ASSIS)

HIPOTPOSE
Consiste na apresentação vívida (sob forma de descrição
e/ou de narração) de algo, como se o que se diz estivesse
realmente diante dos olhos.
“As chamadas baianas não usavam de vestidos; traziam
somente umas poucas saias presas à cintura, e que
chegavam pouco abaixo do meio da perna, todas elas
ornadas de magníficas rendas; da cintura para cima apenas
traziam uma finíssima camisa, cuja gola e manga eram
também ornadas de renda; ao pescoço punham um cordão
de ouro, um colar de corais, os mais pobres eram de
miçangas.” (MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA)
IRONIA
Consiste no emprego de uma palavra, uma frase ou uma
locução em sentido contrário ao de uso habitual.

“Moça linda bem tratada,


três séculos de família,
burra como uma porta:
um amor!” (MÁRIO DE ANDRADE)

LÍTOTES
Consiste na afirmação de algo por meio da negação.

“Como bem e não durmo mal.” (MACHADO DE ASSIS)

“Cinquenta anos! Não é ainda a invalidez, mas já não é a


frescura” (MACHADO DE ASSIS)
PERSONIFICAÇÃO
Consiste na atribuição de propriedades dos seres vivos a
algo abstrato (ou concreto) e inanimado (ou na atribuição de
propriedades humanas a animais).

“A insônia, musa de olhos arregalados, não me deixou


dormir uma hora ou duas.” (MACHADO DE ASSIS)

PRETERIÇÃO
Consiste na afirmação de que se desconhece (ou não se
abordará) determinado tema, muito embora se acabe
fazendo exatamente o contrário.

“Deus me livre de contar a história do Quincas Borba, que


aliás ouvi toda naquela triste ocasião, uma história longa,
complicada, mas interessante.” (MACHADO DE ASSIS)
BIBLIOGRAFIA
BACRY, Patrick. Les figures de style. Paris: Belin Litterature et Revues,
2010.
BUFFARD-MORET, Brigitte. Introduction à la stylistique. 2. ed. Paris:
Armand Colin, 2012.
FROMILHAGUE, Catherine. Les figures de style. 2. ed. Paris: Armand
Colin, 2010.
MOLINIÉ, Georges. Dictionnaire de rhétorique. Paris: Le Livre de Poche,
1997.
RICALENS-POURCHOT, Nicole. Dictionaire des figures de style. 2. ed.
Paris: Armand Colin, 2011.
STOLZ, Claire. Initiation à la stylistique. Paris: Ellipses Éditions, 2006)
SUHAMY, Henri. Les figures de style. 12. ed. Paris: Presses
Universitaires de France, 2013.
TAMINE, Joëlle Gardes. Pour une nouvelle théorie des figures. Paris:
Presses Universitaires de France, 2011.

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