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Universidade do Sul de Santa Catarina

Disciplina na modalidade a distância

Noções de Direito Constitucional,


Penal e Administrativo

Palhoça
UnisulVirtual
2007
Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Noções de Direito


Constitucional, Penal e Administrativo.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma,


abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma
linguagem que facilite seu estudo a distância.

Por falar em distância, isso não significa que você estará sozinho.

Não esqueça que sua caminhada nesta disciplina também


será acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da
UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade,
seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Ambiente Virtual
de Aprendizagem. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-
lo, pois sua aprendizagem é nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.
Paulo Calgaro de Carvalho

Noções de Direito Constitucional,


Penal e Administrativo
Livro didático

2ª edição revista e atualizada

Design instrucional
Carmen Maria Cipriani Pandini

Palhoça
UnisulVirtual
2007
Copyright © UnisulVirtual 2007
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

340
C32 Carvalho, Paulo Calgaro de
Noções de direito constitucional, penal e administrativo: livro didático /
Paulo Calgaro de Carvalho; design instrucional Carmen Maria Cipriani
Pandini. - 2. ed. rev. e atual - Palhoça: UnisulVirtual, 2007.
172 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-047-9

1. Direito. 2. Direito constitucional. 3. Direito penal. 4. Direito


administrativo. I. Pandini, Carmen Maria Cipriani. II. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

Créditos
Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina
UnisulVirtual - Educação Superior a Distância
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Ana Paula Reusing Pacheco Vanessa Francine Corrêa Grasiela Martins
Cátia Melissa S. Rodrigues (Auxiliar) Viviane Bastos James Marcel Silva Ribeiro
Charles Cesconetto Viviani Poyer Lamuniê Souza
Diva Marília Flemming Liana Pamplona
Itamar Pedro Bevilaqua Marcelo Pereira
Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Palavras do professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 – Noções de Direito Constitucional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17


UNIDADE 2 – Noções de Direito Penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
UNIDADE 3 – Noções de Direito Administrativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161


Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
Sobre o professor conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Respostas e comentários das atividades de auto-avaliação . . . . . . . . . . . . 169
Palavras do professor

Caros alunos,

na disciplina Noções de Direito Constitucional, Penal


e Administrativo você encontrará algumas informações
sobre o ordenamento jurídico brasileiro relacionadas
à segurança pública no Brasil. Inicialmente, alguns
conceitos serão necessários para compreender o Direito
Constitucional, base dos demais direitos (Penal e
Administrativo) que compõem um complexo sistema
jurídico, do qual se ditam as regras de convivência social.

Assim, você irá estudar no Direito Constitucional os


direitos e garantias fundamentais, essenciais no Estado
Democrático de Direito, pois são tais direitos e garantias
constitucionais que orientam o legislador (aqueles que
fazem as leis) na realização de normas condizentes com
uma sociedade justa e solidária, além de assegurar a
dignidade da pessoa e garantir a segurança pública.

Em seguida, você terá oportunidade de estudar os


principais crimes e as contravenções penais existentes
na sociedade e que desafiam a segurança pública no
Brasil. Para tanto, a Unidade 2 será dedicada a noções de
Direito Penal, cujas principais regras são de imposição
por meio de sanções (penas) àqueles que não preservam a
segurança pública e nem observam as leis existentes.

A segurança pública é um assunto recorrente nos dias de


hoje e o direito de alguns não pode prejudicar o direito
de outros, servindo as leis para limitar as condutas das
pessoas e possibilitar a vida em comum. O Direito
Constitucional e o Direito Penal são importantes para tal
convivência harmônica, tendo a administração pública
como a responsável pela aplicação das leis e as medidas
necessárias para tornar realidade o conjunto de normas,
denominado de ordenamento jurídico.
Por fim, para entender administração pública, no Direito
Administrativo você irá se deparar com os conceitos e a estrutura
existente para tornar realidade a segurança pública.

Conhecer um pouco mais detalhadamente a configuração desse


assunto é fundamental para o estudante deste curso. Você terá
ainda a oportunidade de expor suas idéias, realizar pesquisas,
socializar e interagir com seus colegas e participar desta
importante caminhada.

Então, caro aluno, ingresse em mais uma etapa com entusiasmo


na busca de novos horizontes do conhecimento.

Bom estudo!
Plano de estudo

O plano de estudo visa a orientar você no


desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos
que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a
organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual


leva em conta instrumentos que se articulam e se
complementam, portanto, a construção de competências
se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das
diversas formas de ação/mediação.

São elementos desse processo:

 o livro didático;
 o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem);
 As atividades de avaliação (complementares, a
distância e presenciais).

Ementa
Noções de Direito Constitucional. Noções de Direito
Penal: o Direito Penal, a infração penal, o conceito de
crime e a definição das atribuições das polícias estaduais
a partir do crime. Principais crimes previstos no Código
Penal

Noções de Direito Administrativo: fundamento do


Direito Administrativo na Constituição Federal. Os
princípios e a organização da administração pública. As
funções públicas e os poderes administrativos. Os atos e
os contratos administrativos e a licitação.
Carga horária
 60 horas aula

Objetivos da disciplina

Geral
Identificar os principais conceitos e definições do ordenamento
jurídico brasileiro, constantes na Constituição Federal, Código
Penal, na administração pública, relacionados à segurança pública
no Brasil.

Específicos
Proporcionar o aprendizado do conteúdo proposto, evoluindo
gradativamente ao longo do curso, de forma que o aluno possua
uma base de conceitos jurídicos a fim de aplicá-los na vida
prática e capacitá-lo a interpretar algumas normas especialmente
previstas na Constituição Federal e Código Penal, além de outras
leis relacionadas à administração pública, buscando a reflexão
sobre a segurança pública no Brasil.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Esses se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

12
Unidades de estudo: 3

Unidade 1: Noções de Direito Constitucional


A Unidade 1 tem por finalidade abordar a organização do
Estado, dos poderes e as constituições brasileiras e discutir os
principais direitos fundamentais, previstos na Constituição
Federal de 1988 e suas as cláusulas pétreas. Aborda também
o controle da constitucionalidade e o processo legislativo com
o intuito de dar a conhecer um pouco de como funciona o
legislativo.

Unidade 2: Noções de Direito Penal


A Unidade 2 tem por objetivo abordar definições de infração
penal e crime, com as atribuições das polícias estaduais e com os
crimes previstos no Código Penal, que mais ocorrem no dia-a-
dia.

Unidade 3: Noções de Direito Administrativo


A Unidade 3 tem por finalidade analisar os princípios e as
normas que se destinam a ordenar a estrutura, o pessoal (órgãos
e agentes), os atos e as atividades da administração pública,
entendendo essa como o conjunto de órgãos instituídos para a
consecução dos objetivos do Governo, quais sejam o bem comum
da coletividade.

13
Agenda de atividades/ cronograma

 Verifique com atenção o “AVA”, organize-se para


acessar periodicamente o espaço da disciplina. O
sucesso nos seus estudos depende da priorização
do tempo para a leitura, da realização de análises e
sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas
e tutor.
 Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço
a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no AVA.
 Use o quadro para agendar e programar as atividades
relativas ao desenvolvimento da disciplina.

14
Atividades

Avaliação a Distância 1

Avaliação Presencial - 1ª Chamada

Avaliação Presencial - 2ª Chamada

Avaliação Final (caso necessário)

Demais atividades (registro pessoal)

15
1
UNIDADE 1

Noções de Direito
Constitucional

Objetivos de aprendizagem
 Conhecer a organização do Estado, dos poderes e as
constituições brasileiras.
 Identificar os principais direitos fundamentais, previstos
na Constituição Federal de 1988 e suas cláusulas pétreas.

 Conhecer o controle da constitucionalidade e o processo


legislativo nacional.

Seções de estudo
Seção 1 Contextualizando o tema.
Seção 2 As constituições brasileiras.
Seção 3 As constituições e suas classificações.
Seção 4 O poder constituinte.
Seção 5 O processo legislativo.
Seção 6 As cláusulas pétreas.
Seção 7 O controle da constitucionalidade.
Seção 8 Os direitos e os deveres individuais.
Seção 9 As garantias constitucionais.
Seção 10 Os direitos sociais ou coletivos.
Seção 11 Da nacionalidade.
Seção 12 Os direitos políticos.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Caro aluno,

a Unidade 1 trata de noções de Direito Constitucional que tem


o objetivo de abrir as portas do conhecimento jurídico, com a
compreensão da principal norma do Estado que é a Constituição
Federal, conhecida como a lei das leis, ou Carta Magna. A partir
dos preceitos constitucionais são moldadas as normas jurídicas de
uma sociedade, isto é, as leis somente têm validade quando estão
em conformidade com a Constituição Federal. Contextualizando
o tema, você encontrará os conceitos principais e necessários para
compreensão da unidade, seguindo pelo processo legislativo,
controle da constitucionalidade e, finalmente, os direitos
individuais, coletivos e políticos.

Para tanto você verá que a compreensão do poder constituinte


e do processo legislativo será imprescindível para entender o
controle da constitucionalidade das normas jurídicas.

Desse modo, você perceberá que a Constituição Federal é a


representação do contrato social, no qual cedemos parte de nossas
liberdades para possibilitar a convivência na sociedade com o
outro, eis que ninguém conseguiria viver em comunidade na
mais absoluta liberdade. Por isso, será uma breve caminhada no
conhecimento dos direitos e deveres fundamentais da pessoa.

Boa sorte e conheça a nossa Carta Magna.

18
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

SEÇÃO 1 -Contextualizando o tema


Comecemos pela Constituição do Estado. Podemos defini-la
sob os mesmos princípios da Constituição do Brasil? O que você
acha? Qual a sua importância no conjunto de leis? Você conhece
a Constituição do Brasil? Você já precisou utilizá-la para defender
algum direito? Tema interessante, não é? Vamos estudá-lo,
então?

Bem, primeiramente, podemos dizer que a Constituição é um


sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a
forma de Estado, a forma de seu Governo, o modo de aquisição e
o exercício do poder, estabelece os seus órgãos e os limites de sua
ação. A Constituição compõe-se no nascimento de um país por
meio de alguns elementos importantes. Analise a figura a seguir,
pois é sobre ela que discutiremos algumas questões importantes.

Fig. 1. Organização Constitucional

Unidade 1 19
Universidade do Sul de Santa Catarina

Vejam que as duas pirâmides representam a importância de


uma Constituição Federal para nossas vidas, porque ela é a lei
das leis, ou seja, é a concretização do contrato social em que as
pessoas fazem, em comum acordo, para possibilitar a convivência
em sociedade. Ora, ninguém conseguiria viver em sociedade na
mais absoluta liberdade. Você concorda não é? Assim, a vida em
comum obriga o respeito ao direito de outrem, sendo tal direito e
obrigação fundamentados na Constituição Federal. Se não fosse
assim, todos iriam querer descansar, só haveria domingos, não
precisariam trabalhar, o furto seria rotineiro, as mortes seriam
comuns, etc. Enfim, um verdadeiro caos.

Dessa forma, para iniciarmos a presente caminhada de estudo no


Direito Constitucional, alguns conceitos são necessários, serão a
fase para entender a matéria. Vamos ver quais são?

ESTADO
Vamos ver o que esse elemento significa na contextualização do
tema?

Estado é uma sociedade organizada política e juridicamente


destinada a alcançar o bem comum (é uma criação humana que
possibilita o controle da sociedade). Dessa definição surgem os
elementos constitutivos, quais sejam: a população, o território, o
ordenamento jurídico, o poder e o bem comum.
População compreende o conjunto
de pessoas que compõem o Estado. É interessante que você perceba que a atual Constituição Federal
Território é a área onde o Estado de 1988 estabelece a organização desse Estado, conforme
exerce sua soberania. preceitua o seu artigo 1º: “A República Federativa do Brasil,
Ordenamento jurídico é o formada pela união indissolúvel dos Estados e municípios e do
conjunto de leis e normas jurídicas
de um Estado. Poder é a imposição
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito
de força que o Estado utiliza para e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania;
alcançar o bem comum (FÜHRER, III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do
2005. p. 14). trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Parágrafo
único – Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.”

20
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

O Brasil é uma República Federativa, formada pela ligação


indissolúvel dos Estados, municípios, do Distrito Federal e da
União (artigo 18, da Constituição Federal). A União detém a
soberania nacional.
Os Estados e os municípios
detêm autonomia local.
Pela Constituição Federal
de 1988, vê-se que o
República é a forma de governo do povo, Brasil é uma República e
presumivelmente para o povo, cujo chefe do Poder também uma Federação.
Executivo e os integrantes do Legislativo têm
investidura temporária, por meio de eleições. Ao
contrário da Monarquia que é outra forma de governo
que se caracteriza pela vitaliciedade do rei, rainha,
imperador ou príncipe no poder.
Federação é a forma de Estado composto por
Estados-Membros (a exemplo de Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul) submissos a uma
Constituição Federal, que institui a União Federal.
Unitário é outra forma de Estado que é centralizado
não existindo Estados-Membros com autonomia
político-administrativa. Essa forma de Estado foi
adotada pela Constituição do Império de 1824.

Analise, a seguir, o segundo elemento.

NACIONALIDADE
A nacionalidade é o vínculo que pessoa tem com o seu país,
que pode ser de modo originário quando ela nasce (ius soli
– onde nasceu, como por exemplo: brasileiro nato é quem
nasce no Brasil) ou de modo adquirido com a adoção de outra
nacionalidade (ius sanguinis – origem de sangue, independente do
local de nascimento, como por exemplo o italiano), com ou sem
renúncia à nacionalidade originária).

O terceiro elemento da pirâmide, o que significa?

Unidade 1 21
Universidade do Sul de Santa Catarina

ORGANIZAÇÃO DOS PODERES


A organização dos poderes vem definida no artigo 2º da
Constituição Federal: “São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo (que faz as leis), o Executivo
(executa as leis) e o Judiciário (fiscaliza o cumprimento das leis).”

Além desses conceitos que envolvem o Estado, há conceitos


voltados às pessoas que vivem nele, quais sejam: os direitos e as
garantias.

DIREITOS E GARANTIAS
Esse é um elemento importante no conjunto da estrutura da
pirâmide. Vamos analisá-lo conceitualmente.

São os direitos e garantias fundamentais previstos na


Constituição Federal de 1988 e buscam assegurar às pessoas uma
vida em paz e harmonia, ou seja, o bem comum. Os direitos e
garantias são os seguintes:

 direitos e deveres individuais e coletivos (tem por


finalidade assegurar a vida, a liberdade, a igualdade, a
segurança e a propriedade);
 direitos sociais (são os deveres do Estado em promover
o bem-estar social);
 nacionalidade (o vínculo que a pessoa tem com suas
origens);
 direitos políticos (os direitos de participar da vida
política do país).

PROCESSO LEGISLATIVO
É a previsão na Constituição Federal de como as leis são feitas.
Todos obedecem às leis, porque elas representam a vontade do
povo. É a Constituição Federal que regula o nascimento das leis e
a forma de participação do povo na sua elaboração.

Veja, a seguir, o controle de constitucionalidade. Por que você


acha que é um elemento importante e necessário?
22
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE
É interessante lembrar que a Constituição Federal deve ser
observada e, por isso, há o controle da constitucionalidade
realizado, principalmente, pelo Poder Judiciário.

Conseguiu visualizar os conceitos iniciais por meio dos conceitos


apresentados? Nesta caminhada você terá a oportunidade de
aprofundar esses elementos.

Passaremos agora às constituições brasileiras.

SEÇÃO 2 - As constituições brasileiras


Não deve ser novidade para você que o Brasil teve, até hoje,
as seguintes constituições federais: de 1824, de 1891, de 1934,
de 1937, de 1946, de 1967 (emenda nº 1, de 1969) e de 1988.
Mas consideramos importante abordar cada uma delas para dar
uma visão geral da história das constituições. O que você acha?
Melhor para compreender o contexto não é? Então vamos lá.
Comecemos com a Constituição de 1924.

 A Constituição do Império do Brasil, de 25 de


março de 1824, foi outorgada por D. Pedro I, sendo
a primeira Constituição Brasileira. Nela estavam
previstos quatro poderes, quais sejam: o Legislativo, o
Executivo, o Judiciário e o Moderador, esse exercido
pelo imperador. As eleições eram indiretas e havia
previsão de poucos direitos fundamentais.
 A Constituição da República dos Estados Unidos do
Brasil, de 24 de fevereiro de 1891, nasceu em virtude
da Proclamação da República e estabeleceu três
poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
 A Constituição de 16 de julho de 1934, a segunda
Constituição Republicana, teve como ênfase os
direitos sociais, com a inclusão de direitos trabalhistas,
de previdência social, de educação e cultura. Manteve-
se também a tripartição dos poderes.

Unidade 1 23
Universidade do Sul de Santa Catarina

 A Constituição de 10 de novembro de 1937 foi


outorgada por Getúlio Vargas que dissolveu a Câmara
dos Deputados e o Senado. Ela instituiu o Estado
Novo. O Poder Executivo foi fortalecido e passou a
legislar por decretos-leis. Houve nacionalização das
indústrias básicas (siderurgias) e proteção ao trabalho
nacional.

Você sabia?
Que a Câmara dos Deputados possui os
representantes do povo, enquanto o Senado Federal
contém os representantes dos Estados-Membros?
E que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal
formam o Congresso Nacional? E que o Congresso
Nacional tem sua sede em Brasília, Distrito Federal?

 A Constituição de 18 de setembro de 1946 foi


conseqüência do término da II Guerra Mundial e
a deposição de Getúlio Vargas. Ela prestigiou os
princípios democráticos, a separação dos poderes e os
direitos e garantias fundamentais foram ampliados.
Instituiu-se o parlamentarismo, com a emenda
constitucional nº 04, de 02 de setembro de 1961, o
qual foi abolido após um plebiscito, com a emenda
constitucional nº 06, de 23 de janeiro de 1963,
voltando a vigorar o presidencialismo.

Você sabia?
que o plebiscito é uma consulta prévia feita
à população sobre projeto de lei ou medida
administrativa?
O parlamentarismo é o sistema de governo em
que a chefia do Estado é exercida pelo Presidente da
República, mas o governo é exercido por um gabinete
de ministros, liderado por um primeiro Ministro. O
Presidente da República é mera peça decorativa e
representa o país no exterior?
E o presidencialismo é o sistema de governo em
que a chefia do Estado e do Governo está reunida nas
mãos do Presidente da República?

24
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

 A Constituição de 24 de janeiro de 1967 e a emenda


constitucional nº 01, de 17 de outubro de 1969, foram
outorgadas após o Golpe Militar de 31 de março de
1964 e a deposição do Presidente João Goulart. A
Constituição Federal de 1967 foi adequada à nova
ordem política do país. A referida Constituição sofreu
uma grande alteração com a emenda constitucional nº
01/1969 e vários atos institucionais passaram, então, a
estabelecer as normas do país.
 A Constituição da República Federativa do Brasil,
de 05 de outubro de 1988, é a atual Constituição do
Brasil, foi promulgada pela Assembléia Constituinte e
é chamada de “Constituição-Cidadã”, sobre a qual será
dedicada a presente unidade.

Você sabia?
que o nome do Brasil mudou conforme as
constituições federais?
O nome do Brasil na Constituição Federal durante
o Império era Império do Brasil, conforme a
Constituição de 1824. Depois o nome passou para
República dos Estados Unidos do Brasil, nas
constituições federais de 1891, 1934, 1937 e 1946.
E, finalmente, República Federativa do Brasil,
nas constituições federais de 1967, com a emenda
constitucional nº 01/1969 e a Constituição Federal de
1988 (FÜHRER, 2005. p. 60).

Unidade 1 25
Universidade do Sul de Santa Catarina

SEÇÃO 3 - As constituições e suas classificações

Como podemos classificar as constituições?

As constituições podem ser classificadas de cinco formas.

a) Quanto à origem
 Promulgada ou votada, essa é fruto de um processo
democrático (portanto, democrática). Exemplo: as
constituições brasileiras de 1891, 1934,1946 e 1988.
 Outorgada, essa é fruto do autoritarismo. Exemplo: as
constituições brasileiras de 1824, 1937 e a de 1967.

b) Quanto à mutabilidade
 Flexível: não exige para sua alteração qualquer
processo mais solene.
 Rígida: exige para sua alteração um critério mais
solene e difícil do que o processo de elaboração da lei
ordinária (comum).
 Semi-rígida ou semiflexível: apresenta uma parte que
exige mutação por processo mais difícil e solene do que
o da lei ordinária.

c) Quanto à forma
 Escrita ou dogmática: é aquela que está representada
por um texto completo e organizado.
 Costumeira ou histórica: é aquela formada por textos
esparsos.

d) Quanto ao conteúdo
 Material: são as Constituições que identificam a forma
e a estrutura do Estado e o sistema de governo.
 Formal: são aquelas colocadas no texto constitucional,
sem fazer parte da estrutura mínima e essencial de
qualquer Estado.
26
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

e) Quanto à sistemática
 Reduzida: é representada por um código único.
 Variada: os textos estão espalhados em diversos
diplomas legais.

E você? Saberia situar a Constituição Brasileira na sua


respectiva classificação? Use o espaço a seguir para
fazer seus registros.

Se você respondeu que a Constituição de 1988 é escrita (é


redigida), legal (pois tem força normativa), rígida (é mutável,
desde que observado o processo legislativo especial), democrática
(promulgada, uma vez que decorreu da manifestação popular),
material (traz em seu texto a forma e estrutura do Estado
e o sistema de Governo) e reduzida (a um único texto
constitucional) acertou na classificação. Parabéns!

Unidade 1 27
Universidade do Sul de Santa Catarina

SEÇÃO 4 - O poder constituinte


O que é o poder constituinte. Você já teve oportunidade de ler ou
estudar sobre isso? Perceba como ele é importante na organização
social de um país.

O poder constituinte é a manifestação soberana da suprema


vontade popular, de um povo social e juridicamente organizado.
Seu titular é o povo, que deve manifestar sua vontade de
constituir um país. Modernamente, quem exerce o poder são os
representantes do povo. É o poder constituinte que dá origem à
Constituição Federal.

Além do poder originário que dá origem à Constituição Federal,


existe também o poder derivado (ou reformador) que é o poder
dos representantes do povo de modificar a Constituição Federal,
por meio de emendas constitucionais, naquilo que a própria
Constituição Federal autoriza.

Veja a representação a seguir:

Fig. 2. Classificação do poder constituinte

28
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

SEÇÃO 5 - O processo legislativo


O processo legislativo está previsto na Constituição Federal de
1988, nos artigos 59 a 69, e consiste na seqüência de atos para
elaboração de normas jurídicas.

Espécies de normas jurídicas


 Emendas à Constituição Federal.
 Leis complementares.
 Leis ordinárias.
 Medidas provisórias.
 Leis delegadas.
 Decretos legislativos.
 Resoluções.
Agora vamos ver o que cada uma significa?

 Emendas constitucionais – são manifestações do


poder constituinte derivado (ou reformador) e, como
tal, estão limitadas, condicionadas e subordinadas às
regras da própria Constituição Federal. As emendas
têm a mesma hierarquia constitucional das normas
constitucionais originárias, porém podem ser objeto
de controle da constitucionalidade, na medida em que
devem respeitar as cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, I a
IV, da Constituição Federal).
 As leis complementares são normas jurídicas
intermediárias entre as leis ordinárias e as emendas
constitucionais. Há duas justificativas para sua
existência:
a) uma que diz respeito à importância constitucional,
cuja relevância impediria a possibilidade de sua
constante alteração por meio de leis ordinárias; e

Unidade 1 29
Universidade do Sul de Santa Catarina

b) outra para assegurar poucas alterações diante da


alta mutabilidade política, social e econômica, o
que, apesar da relevância, impediria sua mudança
constante e também impediria seu engessamento no
texto constitucional. Exemplos: Sistema Financeiro
Habitacional (art. 192, caput); Ministério Público (art.
128, § 5º); art. 22, parágrafo único; etc.
 As leis ordinárias são as leis comuns que são aprovadas
por maioria simples de cada casa legislativa (isto é, a
Câmara dos Deputados e o Senado Federal).

Você sabia?
Que a diferença entre a lei complementar e a lei
ordinária está no quorum de votação, pois o da lei
complementar depende de maioria absoluta (art.
69) das casas legislativas (Câmara dos Deputados e
Senado Federal), enquanto o quorum da lei ordinária
é maioria simples (art. 47). Se for lei estadual,
maioria absoluta da Assembléia Legislativa para
complementar, ou maioria simples para a lei ordinária.
O mesmo ocorre no caso das Câmaras de Vereadores
dos municípios.

 As medidas provisórias são uma novidade


constitucional. Surgiram na Constituição Federal de
1988 e vieram para substituir os antigos decretos-
leis. A idéia inicial era limitar o poder presidencial
que existia em razão desses decretos-leis. Porém,
como se sabe, houve total desvirtuamento dessa idéia,
em face do grande número de medidas provisórias
editadas até hoje (quase duas mil desde a criação
pela Constituição Federal de 1988). É pacífico da
necessidade de existir uma espécie normativa que seja
editada pelo chefe de Governo (no Brasil é também
o chefe de Estado – sistema presidencialista), pois o
Parlamento (Congresso Nacional) é muito moroso,
podendo existir uma situação de urgência que precise
ser disciplinada, daí a criação das medidas provisórias.
São características das medidas provisórias:

30
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

CARACTERÍSTICAS DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS:


I) só podem ser editadas em situações emergenciais, pois a
função legislativa é do Parlamento;
II) são sempre temporárias, pois quem pode fazer uma norma
jurídica definitiva é o Congresso Nacional;
III) responsabilidade política dessa norma jurídica é do chefe
do Poder Executivo.

“É importante que você perceba que as medidas provisórias têm


força de lei imediatamente, isto é, assim que são editadas pelo
Presidente da República, têm vigência pelo prazo de 60 (sessenta)
dias, sendo uma norma jurídica temporária. A reedição é possível,
pois passado o prazo citado, edita-se outra medida provisória
(outro número) com a mesma matéria. Justamente por isso é
que algumas vêm com a seguinte numeração: nº 375-6 (o dígito
corresponde ao número de vezes que a matéria foi reeditada)”.

Deve ser remetida ao Presidente do Congresso Nacional, o qual


terá o prazo de 48 horas para formar uma comissão temporária
mista (7 senadores e 7 deputados) para analisá-la. A cada nova
medida provisória editada será formada uma nova comissão,
que emite um parecer, o qual é levado ao plenário do Congresso
Nacional.

A sessão é conjunta (fisicamente), mas bicameral, e o plenário


do Congresso Nacional pode tomar quatro posturas: duas
pela aprovação e duas pela rejeição. Tal procedimento é
regulamentado pelas resoluções nº 01 e 02/89, do Congresso
Nacional.

Veja, a seguir, quais os passos para a conversão de uma medida


provisória em lei.

Unidade 1 31
Universidade do Sul de Santa Catarina

Conversão da medida provisória em lei ordinária

1) Aprovação integral da medida provisória: o Congresso Nacional converte a medida provisória


em lei, por maioria simples na Câmara e no Senado (sessão fisicamente conjunta, mas
bicameral). Após, vai para a promulgação pelo Presidente do Senado, que determinará sua
publicação.

2) Aprovação com alterações: a medida provisória é aprovada com alterações (supressivas ou


aditivas). É a hipótese que se verificou no Plano Real. Nesse caso, a medida provisória não
se converte em lei, mas sim em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional. A partir
daí, segue-se o processo legislativo ordinário (lei ordinária), com a deliberação executiva e
posterior promulgação pelo Presidente da República, caso seja sancionada.

3) Rejeição expressa: ocorre quando o plenário não aprova a medida provisória. Essa rejeição
tem efeitos “ex tunc”, retroagindo até a data da edição, como se essa medida provisória
nunca tivesse existido. No caso de rejeição expressa, a medida provisória só poderá ser
reeditada na próxima sessão legislativa (art. 67 da CF).

4) Inércia do Congresso Nacional: rejeição tácita. Se em 60 dias (prazo de vigência de uma


medida provisória) o Congresso Nacional não converter a medida provisória em lei, há
rejeição tácita. Baseia-se na idéia de que não pode haver uma espécie normativa, com
vigência por muito tempo, editada por uma só pessoa (Presidente da República) e, assim, a
medida provisória se não for reeditada perde sua vigência.

Registre no espaço a seguir um exemplo concreto


do que foi abordado. Você conhece uma medida
provisória que foi convertida em lei ou que está em
discussão? Discuta esta questão com seus colegas na
ferramenta Fórum.

32
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

 As leis delegadas estão previstas no artigo 68, da


Constituição Federal, e são utilizadas mais no
sistema parlamentarista do que no presidencialista,
justamente por isso que de 1988 (com a promulgação
da Constituição Federal) até hoje foi editada apenas
uma lei delegada. É norma jurídica editada pelo
Presidente da República mediante solicitação ao
Congresso Nacional (iniciativa solicitadora exclusiva
do Presidente) e autorização desse. Algumas matérias
são insuscetíveis de delegação:

a) de competência exclusiva do Congresso Nacional


(art. 49 – por meio de decretos legislativos);

b) de competência privativa da Câmara e do Senado


(arts. 51 e 52 – por meio de resoluções);

c) de lei complementar (previstas taxativamente na


Constituição Federal);

d) relacionadas à organização do Poder Judiciário e do


Ministério Público, à nacionalidade, à cidadania e aos
direitos individuais, políticos e eleitorais;

e) referentes ao orçamento (são três as espécies de leis Legislatura compreende


o mandato do
orçamentárias, quais sejam: a lei do plano plurianual; parlamentar. Assim, o
a lei de diretrizes orçamentárias e as próprias leis mandato dos deputados
orçamentárias). – quatro anos – tem uma
legislatura e a Câmara
se renova integralmente
Note que o Congresso Nacional só pode delegar uma matéria de quatro em quatro
que, em princípio, pode ser disciplinada por lei ordinária, anos. Já o mandato dos
respeitadas as limitações anteriores. O instrumento formal que senadores, por sua vez,
tem duas legislaturas
concede a delegação é resolução aprovada por maioria simples – oito anos – e o Senado
dos votos das casas do Congresso Nacional. Nesta resolução vai renova um terço e dois
constar a própria delegação, os limites de conteúdo dela e os terços de seus membros,
limites de exercício (prazo para edição da lei pelo Presidente). respectivamente, de
O prazo máximo para delegação é o término da legislatura. quatro em quatro anos.

Unidade 1 33
Universidade do Sul de Santa Catarina

 O decreto legislativo é uma norma jurídica utilizada


para regulamentar as competências exclusivas do
Congresso Nacional. O Presidente da República não
participa de sua elaboração (art. 49, da Constituição
Federal). A rejeição de uma medida provisória implica
em regulamentação das relações jurídicas decorrentes
por meio de decreto legislativo (artigo 62, parágrafo
único, da Constituição Federal).
 As resoluções (art. 49, VII, da Constituição Federal)
são espécies normativas utilizadas para regulamentar
os assuntos de competência do Congresso Nacional,
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
O processo legislativo da resolução do Congresso
Nacional é idêntico ao processo legislativo de feitura
do decreto legislativo. Só utiliza o decreto legislativo se
for matéria do art. 49 ou do art. 62, parágrafo único,
da Constituição Federal. Qualquer outra matéria que
o Congresso Nacional queira regulamentar (que não
esteja no art. 49 e também não no art. 62, parágrafo
único, da Constituição Federal) será por meio de
resolução do Congresso Nacional. Há as resoluções
da Câmara (artigo 51) e do Senado (artigo 52) nos
assuntos de competência privativa de cada uma dessas
casas. Portanto, há espécie normativa unicameral, que
são as resoluções da Câmara e do Senado Federal. A
primeira é promulgada pelo Presidente da Câmara e a
segunda pelo Presidente do Senado.

Como se classifica o processo legislativo?

O processo legislativo ordinário (ou comum) se destina à feitura


de uma lei ordinária; mais completo, com maior número de fases
Além dele, há também outros processos legislativos, que podem
ser:

34
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

 sumário (regime de urgência) – único processo com


prazo certo para terminar. Próprio para leis ordinárias
e complementares. É a hipótese do artigo 64, § 1º,
da Constituição Federal, em que o Presidente da
República pode solicitar urgência para apreciação de
projeto de sua iniciativa;
 especial – é o processo legislativo diferenciado da lei
ordinária, como por exemplo, emenda constitucional,
leis complementares, medidas provisórias, leis
delegadas, resoluções e decretos legislativos.

A elaboração das leis também compreende fases. Vamos conhecer


as fases de elaboração da lei ordinária?

1) Iniciativa – é a apresentação do projeto à casa


legislativa. Na esfera federal, cabe aos membros ou
às comissões do Poder Legislativo, ao Presidente
da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao procurador-geral da
República e também aos cidadãos (Art. 61, da
Constituição Federal).
2) Aprovação – consiste nos estudos, debates, redações,
emendas e votação do projeto. A aprovação final dá-
se por maioria simples ou relativa, abrangendo apenas
os parlamentares presentes à votação. Não há prazo
para a aprovação ou rejeição do projeto de lei. Mas o
Presidente da República poderá solicitar urgência nos
projetos enviados por ele, conforme art. 64, § 1º, da
Constituição Federal.
3) Sanção – é o ato pelo qual o chefe do Executivo
manifesta sua concordância com o projeto de lei
aprovado pelo Legislativo. Pode ser expressa ou tácita.
Será tácita quando não houver manifestação no prazo
de 15 dias, contados do recebimento do projeto.
4) Veto – quando manifesta sua discordância. Pode
ser total ou parcial. O veto pode ser derrubado pelo
Congresso em voto da maioria absoluta dos deputados
e senadores, conforme art. 66, § 4º, da Constituição
Federal.

Unidade 1 35
Universidade do Sul de Santa Catarina

5) Promulgação – decorre da sanção e tem o significado


de proclamação. A sanção e a promulgação se dão
ao mesmo tempo, com a assinatura do Presidente da
República.
6) Publicação – é a última fase. Com a publicação a lei se
presume conhecida de todos, tornando-se obrigatória
na data indicada para sua vigência. Se for omitida a
data para sua vigência, a lei se torna obrigatória em 45
dias após a publicação, dentro do território nacional e
três meses fora dele (art. 1º, da Lei de Introdução ao
Código Civil).

Veja a seqüência da elaboração de forma esquemática.

FASES DE ELABORAÇÃO DA LEI ORDINÁRIA


- Iniciativa
- Aprovação
- Sanção
- Promulgação
- Publicação

Atente-se à idéia de recepção, desconstitucionalização,


repristinação. Vamos ver o que é isso?

Além desses conceitos acima, há necessidade de compreender os


efeitos jurídicos decorrentes da substituição de uma Constituição
Federal por outra, como por exemplo, da substituição da
Constituição Federal de 1967 (com sua emenda constitucional
nº 01/1969) pela Constituição Federal de 1988. Nesses casos
teremos basicamente três efeitos no mundo das leis, quais sejam:
a recepção, a desconstitucionalização e a repristinação, a saber:

36
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

 recepção é o recebimento de todo ordenamento


jurídico (ou seja, de todas as leis existentes) editado
na vigência das constituições anteriores e que ainda
estiver em vigor pela nova Constituição Federal, desde
que presente um único requisito: a compatibilidade
com as novas normas constitucionais. Exemplo disso
é o Código Penal que é uma norma jurídica de 1940
e que ainda continua em vigor, apesar da vigência da
Constituição Federal de 1988. Isso quer dizer que
o Código Penal existe porque foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988;
 desconstitucionalização é a recepção da Constituição
anterior por parte da nova ordem constitucional,
porém com força de lei, desde que apresente o requisito
da compatibilidade (sentido técnico-jurídico). Não
é adotada no Brasil, pois uma nova Constituição
significa o rompimento com a anterior, mantendo-se
apenas as normas infraconstitucionais compatíveis com
a nova Constituição (ou seja, no Brasil há a recepção
e não há a desconstitucionalização, conforme acima
relatado);
 repristinação “significa a revalidação de norma
revogada pela Constituição anterior, mas que
viesse a apresentar compatibilidade com a atual.
Figure-se a hipótese de norma editada sob a égide
da Constituição de 1946, que tenha sido revogada,
por incompatibilidade, pela Constituição de 1967.
Admitir a repristinação significaria que, caso essa
fosse compatível com a atual Constituição, ela
estaria automaticamente revalidada, o que, como se
disse, não é possível, pois essa norma já desapareceu,
não podendo, assim, ser ressuscitada sem previsão
expressa.” (ARAUJO; NUNES JÚNIOR, 2005. p.
17-18).

Unidade 1 37
Universidade do Sul de Santa Catarina

SEÇÃO 6 - As cláusulas pétreas


Você sabe o que são cláusulas pétreas? Já ouviu falar?

Bem, as cláusulas pétreas previstas na Constituição Federal


São cláusulas pétreas e por isso são aqueles artigos da Constituição Federal que não podem ser
não podem ser modificadas por modificados por emendas constitucionais
emendas constitucionais.

Emendas à Constituição Federal


Analise o seguinte:

A Constituição Federal prevê, nos artigos 59, I e 60, a permissão


de emendas constitucionais, ou seja, ela é mutável. Uma
Constituição Federal mutável divide-se em:

I) rígida – atual Constituição Federal, posto que exige um


processo legislativo especial mais dificultoso para sua alteração.
Apesar disso, ela possui um núcleo imodificável (art. 60, § 4º)
que são as cláusulas pétreas;

II) semi-rígida ou semiflexível – a Constituição Federal de


1824 é um exemplo, as normas têm mesma hierarquia, porém o
legislador confere a algumas maior importância, determinando a
essas um processo legislativo especial para alteração;

III) flexível – é aquela que pode ser modificada a qualquer


momento. Exemplo: a Constituição Inglesa.

Uma emenda constitucional é a manifestação do


poder constituinte derivado (ou reformador) e,
como tal, está limitada, condicionada e subordinada
às regras da Constituição Federal. As emendas
constitucionais têm a mesma hierarquia constitucional
das normas constitucionais originárias, porém podem
ser objeto de controle de constitucionalidade, à
medida que devem respeitar as cláusulas pétreas,
como previsto no artigo 60, § 4º, I a IV, da Constituição
Federal.

38
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Isso porque o artigo 60, § 4º, I a IV, da Constituição Federal,


descreve as cláusulas pétreas e impede que as emendas
constitucionais venham modificar os artigos da Constituição
Federal de 1988, relacionados os temas seguintes.

 Forma federativa do Estado – a forma federativa é


a estrutura política do Brasil em União, Estados-
Membros e municípios e que não pode ser modificada
por emendas constitucionais.
 Voto direto, secreto, universal e periódico – significa
que o regime democrático no Brasil é cláusula
pétrea. Em face dessa cláusula, não seriam possíveis
mandatos vitalícios. Todos os mandatos devem ser
periódicos no regime democrático, isto é, de tempos
em tempos o povo deve ser chamado para escolher
seus representantes. O voto direto tem seu substrato
no artigo 1º, da Constituição Federal (princípio da
soberania popular), e significa que o representado deve
votar no seu representante. Na ausência do Presidente
da República, assume o Vice-Presidente; depois o
Presidente da Câmara dos Deputados (“casa do povo”)
seguido do Presidente do Senado (“casa dos Estados-
Membros”) que é sempre o Presidente do Congresso
Nacional; por fim, o Presidente do Supremo Tribunal
Federal. Todos assumem, mas apenas o Vice-
Presidente pode assumir o cargo de forma definitiva, já
que foi eleito juntamente com o Presidente.
 Separação dos poderes – é a separação da estrutura
consagrada no artigo 2º, da Constituição Federal.
Os poderes da República são independentes (Teoria
da Separação dos Poderes) e harmônicos (Teoria dos
Freios e Contrapesos norte-americana, que prega
controles recíprocos de um poder por outro).
 Direitos e garantias fundamentais – os direitos
individuais são espécie do gênero direito e garantias
fundamentais.

Unidade 1 39
Universidade do Sul de Santa Catarina

Como os direitos fundamentais são classificados?

Os direitos fundamentais podem ser de cinco espécies:

1. direitos e garantias individuais e coletivos (art. 5º);


2. direitos sociais (arts. 6º a 11);
3. direitos de nacionalidade (art. 12);
4. direitos políticos (art. 14); e
5. relacionados com a criação, organização e participação
em partidos políticos (art. 17).

Os direitos e garantias fundamentais são cláusulas


pétreas. Cite um exemplo de cláusula pétrea. Use a
Constituição e descreva uma situação concreta, até
mesmo da área em que você atua. Use o espaço a
seguir para registrar suas considerações.

Vamos em frente? Agora vamos analisar como nasce uma emenda


constitucional. Você sabe?

40
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Você viu o que significa uma emenda constitucional; que são


manifestações do poder constituinte derivado e, como tal, está
limitado, condicionado e subordinado às regras da própria
Constituição Federal. Você se lembra, não é? Bem, agora veja
como nasce uma emenda constitucional. Analise como se dá esse As Assembléias
processo. Legislativas são os
poderes legislativos dos
Estados-Membros. As
Iniciativa Câmaras de Vereadores
são os poderes legislativos
A iniciativa de uma proposta de emenda constitucional (PEC) dos municípios. Ambas
pode ser de iniciativa do Presidente da República, ou de um terço as casas legislativas têm
dos Deputados Federais, ou de mais da metade das Assembléias por função a edição de leis
Legislativas, ou de um terço dos Senadores da República. estaduais e municipais.

Art. 60, § 5º: a matéria constante em proposta de


emenda constitucional rejeitada só pode ser objeto
de deliberação na próxima sessão legislativa, sem
exceção.

É importante que você perceba, neste contexto, que as leis não


podem nascer de uma vontade ou de um interesse individual,
portanto, é necessário que se exerça um controle efetivo, com o
intuito de garantir os princípios e preceitos constitucionais e as
garantias individuais e coletivas, ou seja, os direitos e deveres do
cidadão e das instituições para a manutenção do equilíbrio social,
exercido por meio do contrato social. Você concorda?

Então, vejamos, agora, o que significa o controle de


constitucionalidade.

Unidade 1 41
Universidade do Sul de Santa Catarina

SEÇÃO 7 - O controle da constitucionalidade


O controle da constitucionalidade consiste no exame de leis com
o fim de excluir aquelas leis que são contrárias ao disposto na
Constituição Federal de 1988. O controle pode ser preventivo ou
repressivo.

a) Controle da constitucionalidade preventivo é aquele


feito pelo Poder Legislativo e Executivo em não editar
e não aplicar as leis claramente inconstitucionais. Já
imaginou se fosse editada uma lei de cortar as mãos de
todo ladrão?? Tal lei seria claramente inconstitucional,
pois são proibidas pela Constituição Federal as torturas
e as penas degradantes.
b) Controle da constitucionalidade repressivo é aquele
feito pelo Poder Judiciário que pode ser por defesa
(difuso), aquele discutido em processo judicial
e o feito por ação, neste caso, por ação direta de
inconstitucionalidade.

Assim temos:

Fig. 3. Controle de constitucionalidade

O controle da constitucionalidade é aplicável


nos sistemas jurídicos que se caracterizam pela
supremacia das normas constitucionais, como o Brasil.
Logo, no mínimo deve ser para uma Constituição
rígida ou semi-rígida. Nos países onde a Constituição
é flexível e não escrita, como a Inglaterra, não há que
se falar em controle de constitucionalidade, já que não
existe hierarquia entre a Constituição e as leis.

42
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Perceba que uma das formas do controle da constitucionalidade


realizado pelo Poder Judiciário é a ação direta de
inconstitucionalidade, que consiste numa ação que pode
ser proposta no Supremo Tribunal Federal para a obtenção
de declaração de inconstitucionalidade de uma lei ou
de ato administrativo normativo. Com a ação direta de
inconstitucionalidade busca-se retirar de vigência uma lei
inconstitucional. Só pode ser proposta no Poder Judiciário por
algumas autoridades, como o procurador-geral da República
ou partido político entre outros, conforme o artigo 103, da
Constituição Federal.

O que você está achando da matéria até aqui? Está conseguindo


acompanhar? Não esqueça de marcar as partes mais importantes,
fazer anotações dos pontos-chaves, isso ajudará você a
compreender melhor os conteúdos mais complexos.

SEÇÃO 8 - Os direitos e os deveres individuais


O artigo 5º, da Constituição Federal, arrola os direitos e deveres
individuais e coletivos. Os direitos são as faculdades atribuídas
aos indivíduos e as garantias são as disposições que asseguram
tais direitos.

A Constituição Federal de 1988 classifica os direitos e as


garantias como sendo os referentes à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, conforme se vê do artigo
5º:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

Unidade 1 43
Universidade do Sul de Santa Catarina

Veja que a Constituição buscou garantir uma igualdade jurídica.


Dessa forma, clama-se pela igualdade substancial (iguais
oportunidades para todos, a serem propiciadas pelo Estado),
a qual significa, em síntese, TRATAR DE MANEIRA
IGUAL OS IGUAIS E DE MANEIRA DESIGUAL OS
DESIGUAIS, NA MEDIDA DE SUA DESIGUALDADE. A
aparente quebra do princípio da isonomia (igualdade das partes),
no ordenamento jurídico (por exemplo: vagas reservadas para
deficientes físicos nos estacionamentos de veículos), obedece
exatamente ao princípio da igualdade real e proporcional, que
impõe tratamento desigual aos desiguais, justamente para que,
supridas as diferenças, se atinja a igualdade substancial. O artigo
5º possui vários incisos, os quais podemos destacar:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos


termos desta Constituição;

Homens e mulheres são tratados com igualdade, mas por


natureza são desiguais. Assim, a legislação deve adequar tais
diferenças naturais para estabelecer a igualdade material. Veja um
exemplo:

O prazo de licença maternidade de 120 dias e


licença paternidade de cincodias. O que no primeiro
momento parece um tratamento desigual, na verdade
se dá devido à natureza de cada um. As mulheres,
pela natureza, dedicam-se mais ao recém-nascido que
carece mais da mãe.

O próximo inciso obriga o respeito à lei. As pessoas estão


obrigadas a fazer ou deixar de fazer alguma coisa somente por
meio de leis estabelecidas pelo legislador.

44
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma


coisa senão em virtude de lei;

O que ele quer dizer é que qualquer ordem do Poder Estatal


em suas funções executivas, por meio de decretos, de portarias
ou de qualquer forma de direito administrativo, só terá valor se
estiver amparada e de acordo com a lei. Tem-se por lei, a regra, o
modelo, o paradigma, a convenção para servir como um padrão
de comportamento.

III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento


desumano ou degradante;

O dispositivo tem endereço certo: as autoridades públicas e seus


agentes. A lei 9.455/1997 define os crimes de tortura. Qualquer
prática de tortura é crime e deve ser punido pelo Poder Judiciário.

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o


anonimato;

Exteriorizar o pensamento por meio de palavras, imagens,


símbolos, gestos, fotografias e desenhos é garantido pela
Constituição Federal. Porém não é admitido o anonimato. A
livre manifestação do pensamento não é um direito absoluto,
pois é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem
(art. 5º, V, CF). Dessa forma, a manifestação do pensamento
não pode violar a lei, como por exemplo o ato obsceno (como se
apresentar nu na praça pública ou numa janela, ou urinar na via
pública) que não pode ser considerado como livre manifestação
do pensamento, pois é crime previsto no artigo 233, do Código
Penal.

Unidade 1 45
Universidade do Sul de Santa Catarina

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

A inviolabilidade da liberdade de consciência e crença também


não é absoluta. Tal liberdade não pode violar outros direitos
fundamentais como a vida, eis que sob o manto de inviolabilidade
de crença não há como legitimar sacrifícios humanos (por
exemplo) em adoração a deuses.

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e


a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação;

As pessoas possuem intimidade, honra e vida privada que são


invioláveis e asseguradas pela Constituição Federal. Constituem
crimes a divulgação de segredo (artigo 153, do Código Penal) e a
violação da honra (calúnia, difamação e injúria).

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela


podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial;

Conforme a Constituição Federal dispõe, a casa é asilo inviolável


do indivíduo e ninguém pode penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de prisão de flagrante delito ou desastre,
para prestar socorro, ou durante o dia por determinação judicial.
Portanto, há duas situações distintas para violação da casa:
durante a noite e durante o dia.

Durante a noite, somente se pode entrar no domicílio


alheio em quatro hipóteses: com consentimento do
morador; em caso de flagrante delito; desastre; e, para
prestar socorro;
Durante o dia, cinco são as hipóteses: consentimento
do morador; flagrante delito; desastre; para prestar
socorro; mediante mandado judicial de prisão ou de
busca e apreensão.

46
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Havendo mandado de prisão, a captura, no interior da casa,


somente pode ser efetuada durante o dia (do amanhecer até
o anoitecer), dispensando-se, nesse caso, o consentimento do
morador. Durante a noite, na oposição do morador ou da pessoa
a ser presa, o executor do mandado de prisão não poderá invadir
a casa, devendo aguardar até o amanhecer, e, então arrombar
a porta e cumprir o mandado. A violação do domicílio à noite,
para cumprir o mandado, sujeita o violador a crime de abuso
de autoridade, consistente em “executar medida privativa de
liberdade individual sem as formalidades legais ou com abuso de
poder” (lei 4898/65, art. 4º, a).

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das


comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

Sigilo é o segredo. Assim, ninguém pode abrir a correspondência


para conhecer o seu conteúdo. A inviolabilidade do sigilo impede
que o receptor o divulgue, ocasionando dano a outrem. Constitui
crime previsto nos artigos 151 e 152, do Código Penal, violar
correspondência alheia.

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou


profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer;

Quer dizer que qualquer pessoa pode exercer a profissão que


quiser. Porém a liberdade profissional está limitada aos requisitos
que a lei ordinária estabelecer.

Advocacia, medicina e policial, cujas profissões


exigem cursos de capacitação, provas, concursos etc.

Unidade 1 47
Universidade do Sul de Santa Catarina

O artigo 47, da Lei de Contravenções Penais, trata do exercício


ilegal de profissão ou atividade que consiste em exercer, realizar,
desempenhar ato próprio de profissão, ou atividade econômica
ou anunciar, dar notícias, publicar, revelar tal mister, sem ter a
devida qualificação profissional.

XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a


permanecer associado;

A criação de associações independe de autorização do Poder


Público e o texto constitucional assegura a não-interferência do
Estado. Assim, não pode haver obrigatoriedade de associação.
A pessoa é livre em associar-se ou não a alguma entidade, clube,
associação, igreja, etc.

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos


informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

Todos têm direito de receber informações dos órgãos públicos,


quer sejam de interesse particular, quer sejam de interesse
coletivo. O prazo de resposta da administração pública é de
15 dias contado do registro do pedido no órgão expedidor, nos
termos da Lei Federal nº 9.051, de 18 de maio de 1995, que
dispõe sobre a expedição de certidões para a defesa de direitos e
esclarecimentos. Contudo, há informações de caráter reservado
que não podem ser divulgadas a terceiros, como por exemplo, o
CPF, o número de carteira de identidade, etc.

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do


pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos
em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b)
a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de
direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

48
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

É assegurado a todos o direito de petição, que é o direito


de demandar, de apresentar sua pretensão à administração
pública. A administração não pode recusar o fornecimento
de informações, salvo se forem consideradas sigilosas por lei
ordinária. A Lei Federal nº 8.159, de 8 de janeiro de 1999,
dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados, e
estabelece no § 1º do artigo 23: “Os documentos cuja divulgação
ponha em risco a segurança da sociedade e do Estado, bem
como aqueles necessários ao resguardo da inviolabilidade da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas
são originariamente sigilosos.”

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário


lesão ou ameaça a direito;

Basta qualquer indivíduo invocar uma lesão ou ameaça para


contar com o pronunciamento do Judiciário, o qual, por sua vez,
garante sempre o acesso à justiça. Nenhuma norma jurídica pode
impedir a pessoa de ter acesso ao Poder Judiciário para resolver
seus conflitos, isto é, seus litígios.

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato


jurídico perfeito e a coisa julgada;

 Direito adquirido é o direito de qualquer natureza


que já se incorporou ao patrimônio da pessoa. O
que foi realizado de acordo com a lei antiga não será
modificado pela lei nova.
 Ato jurídico perfeito é a manifestação da vontade
do agente segundo as prescrições de direito. A lei
também assegura, em sua plenitude, o ato jurídico
perfeito, ou seja, a lei nova não pode atingir
situações já consolidadas sob o império da lei antiga,
resguardando-se o ato jurídico perfeito.
 Coisa julgada é a situação decorrente da sentença
judicial contra a qual não caiba recurso. Não se
permite, portanto, que a lei nova venha interferir no
direito adquirido, no ato jurídico perfeito e na coisa
julgada.

Unidade 1 49
Universidade do Sul de Santa Catarina

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem


pena sem prévia cominação legal;

O princípio da legalidade já existia no artigo 1º, do Código


Penal, que foi elevado à categoria constitucional e quer dizer que
somente existe crime se houver previsão legal anterior à conduta
criminosa.

Só existe crime de furto porque já existe lei anterior


fazendo a previsão. E, ainda, somente existe
cominação de pena porque já tem previsão legal.

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

A lei só pode retroagir para beneficiar o réu. Tal preceito já vinha


definido no artigo 2º, do Código Penal. Por exemplo, se alguém
foi preso por crime de sedução (artigo 217, do Código Penal)
deverá ser posto em liberdade a partir da lei nº 11.106, de 28
de março de 2005, que revogou o artigo 217, do Código Penal,
deixando de considerar a sedução como crime. Aquele que tinha
praticado o crime de sedução deixa de ser criminoso, pois a lei
nova retroage no tempo para abranger as situações passadas.

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos


direitos e liberdades fundamentais;

A lei nº 8.081/90 estabeleceu os crimes e as penas aplicáveis aos


atos discriminatórios ou de preconceito de raça, cor, religião,
etnia ou procedência nacional praticados pelos meios de
comunicação ou por publicação de qualquer natureza.

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e


imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

A lei nº 7.716/89, alterada pela lei nº 9.459/97, estabelece


os crimes resultantes de raça ou cor, constituindo tal crime
inafiançável e imprescritível. Inafiançável quer dizer que se
a pessoa for presa em flagrante não poderá pagar fiança para
responder pelo crime em liberdade. Imprescritível quer dizer que

50
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

o crime jamais será prescrito. Podem passar 20, 30 ou 40 anos


da prática delituosa que o criminoso estará sujeito a responder
a processo de crime de racismo e à cominação das penas. Por
exemplo, supondo que alguém pratique crime de racismo e
resolva passar 20 anos (escondido) no país vizinho do Uruguai
para fugir do processo criminal. Ora, mesmo passado tanto
tempo quando pisar no Brasil estará sujeito às penas de crime de
racismo, pois tal crime é imprescritível.

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará,


entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de


guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter
perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;

Pena é uma sanção aplicada pelo Estado ao infrator penal como


retribuição de seu ato ilícito e para prevenir a prática de novos A pena de morte
delitos. Também serve como aviso às pessoas para não praticarem só é permitida pela
infrações penais, pois estarão sujeitas às penas previstas nas Constituição Federal, em
caso de guerra declarada,
leis penais. A Constituição Federal prevê penas permitidas e e sua execução será feita
proibidas. por fuzilamento, conforme
o Código Penal Militar.

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos,


de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do
apenado;

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e


moral;

L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam


permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;

Unidade 1 51
Universidade do Sul de Santa Catarina

A pena poderá ser cumprida na penitenciária, ou na colônia


agrícola, industrial ou semelhante, ou em casa de albergue,
conforme o condenado e a natureza do crime praticado. Ao preso
deve ser garantida a sua integridade física e moral. Afinal, o
preso mantém todos os direitos, exceto a liberdade. As mulheres
não cumprem pena privativa de liberdade junto com homens.
Para as mulheres há condições especiais, conforme a Lei de
Execuções Penais.

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela


autoridade competente;

O presente inciso trata do princípio do juiz natural, quer


dizer que só pode exercer a jurisdição aquele órgão a que a
Constituição atribui o Poder Jurisdicional. Só da Constituição
Federal de 1988 pode emanar o Poder Jurisdicional (de julgar),
de modo que não é dado ao legislador ordinário criar juízes ou
tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII, da Constituição Federal).

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem


o devido processo legal;

Processo legal é o instrumento de que se serve o Estado para, no


exercício da sua função jurisdicional, com participação das partes
e obedecendo ao estabelecido na legislação processual, resolver os
conflitos, solucionando-os.

O processo, como conhecemos atualmente, teve sua origem na


arbitragem compulsória do período clássico do Império Romano,
em que o Pretor escolhia o árbitro para dar solução aos conflitos
(litígios).

O processo será penal ou civil, conforme a pretensão sobre a qual


incide, uma vez que o Processo penal é aquele em que existe
uma pretensão punitiva do Estado. E civil é o processo que não
é penal (ou seja, o resto) e por meio do qual se resolvem conflitos
do Direito Privado, Direito Constitucional, Administrativo,
Tributário, Trabalhista. Disciplinando um e outro processo,
temos respectivamente o Direito Processual Civil e o Direito
Processual Penal.

52
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e


aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

A ampla defesa se caracteriza principalmente pela oportunidade


do acusado, ou do litigante, de apresentar a sua defesa, por si
ou por seu procurador constituído (artigo 133, da Constituição Artigo 9º, da lei 9.099/99,
Federal e artigo 38, do Código de Processo Civil) de solicitar e artigo 36, in fine, do
qualquer meio de prova, de ser ouvido, de ter vistas ao processo Código de Processo Civil.

antes da decisão final da autoridade judiciária, de participar de


todos os atos: mediante perguntas às testemunhas, de quesitos na
perícia, enfim, de estar presente no processo.

Por sua vez, o contraditório tem por escopo a oportunidade do


acusado, ou do litigante, em rebater as alegações da acusação, ou
da parte contrária, de apresentar todos os elementos probatórios,
manifestar-se e ser ouvido sobre todos os elementos que
constituem a acusação e/ou processo, antes da decisão final da
autoridade judiciária.

Os princípios do contraditório e da ampla defesa são garantias


constitucionais aos acusados em geral e aos litigantes em processo
judicial e administrativo.

Por tudo isso, a ampla defesa e o contraditório são aplicados em


todos os processos judiciais e administrativos. Cabe lembrar,
que no inquérito policial (art. 5º, CPP), no inquérito policial
militar (art. 9º, do Código de Processo Penal Militar) e na prisão
em flagrante (art. 301, do CPP e 243, do Código de Processo
Penal Militar) não há contraditório e ampla defesa, pois tais
procedimentos administrativos visam a colher indícios de prova,
para possibilitar o exercício da ação penal pelo Ministério
Público.

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por


meios ilícitos;

A regra é a da inadmissibilidade das provas ilícitas ou das


ilegítimas, sob pena de infirmar, de nulidade do processo. São
consideradas provas ilícitas, por exemplo, obter confissão de
crime com o uso da tortura ou interceptação telefônica sem
autorização judicial.

Unidade 1 53
Universidade do Sul de Santa Catarina

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em


julgado de sentença penal condenatória;

Até o trânsito em julgado o acusado é considerado inocente. Isto


é, o acusado de um crime deve ser considerado inocente até que
a sentença condenatória transite em julgado (ou seja, até que não
caiba mais discussão da causa por meio recurso).

LVIII - o civilmente identificado não será submetido à


identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;

A Constituição Federal proíbe a identificação datiloscópica


(que consiste em borrar os dedos com tinta escura e colocar as
digitais em papéis como forma de identificação), desde que a
pessoa esteja identificada para os efeitos da vida civil, por meio
de carteira de identidade, CIC, carteira do trabalho entre outros
documentos de identidade. A lei nº 10.054, de 07 de dezembro
de 2000, que dispõe sobre a identificação criminal, prevê as
hipóteses de identificação datiloscópica (criminal), por exemplo,
quando houver fundada suspeita de falsificação ou adulteração
do documento de identidade, ou houver registro de extrativo do
documento de identidade.

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por


ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei;

Prisão é a privação da liberdade de locomoção determinada por


ordem escrita da autoridade competente ou em caso de flagrante
delito.

54
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Conheça as espécies de prisão.

a) Prisão-pena ou prisão penal – é a decorrente do


trânsito em julgado da sentença condenatória em que
se impôs pena privativa de liberdade. Tem finalidade
repressiva. A prisão-pena é, em regra, executada na
penitenciária, ou colônia agrícola ou industrial, ou
casa de albergue, conforme a natureza do crime e a
quantidade da pena aplic ada.
b) Prisão sem pena ou prisão processual – é a prisão
cautelar, também conhecida como prisão provisória,
que possui a seguinte classificação: prisão em flagrante
(arts. 301 a 310, do Código de Processo Penal - CPP);
prisão preventiva (arts. 311 a 316, do CPP); prisão
resultante da pronúncia (arts. 282 e 408, § 1º, do
CPP); prisão resultante de sentença penal condenatória
não transitada em julgado (arts. 393, I, do CPP);
prisão temporária (lei nº 7.960, de 21 de dezembro
de 1989). A prisão processual, em regra, é executada
nas cadeias públicas (também chamadas de presídios)
e nas delegacias de polícia (essas últimas quando não
existem vagas nas cadeias públicas). Cabe lembrar,
ainda, que algumas pessoas têm prisões especiais e que
ficam em salas separadas ou em quartéis.
c) Prisão civil – é a decretada em casos de devedor de
alimentos e depositário infiel (art. 5º, LXVII, da
Constituição Federal de 1988).
d) Prisão disciplinar – permitida pela Constituição para
o caso de transgressões militares e crimes militares
(art. 5º, LXI, da Constituição Federal de 1988).
e) Prisão administrativa – é aquela decretada pela
autoridade administrativa. Essa modalidade foi
abolida pela nova ordem constitucional. A partir da
promulgação da Constituição Federal de 1988, deixou
de ser permitida, em nosso sistema jurídico, a prisão
administrativa (CF 1988, art. 5º, LXI) – (Diário
da Justiça da União de 31-3-1989, p. 4329 – RHC
66.730-9, DF, 2ª T, 2-2-1989).

Unidade 1 55
Universidade do Sul de Santa Catarina

f) Prisão para averiguações – é a privação momentânea


da liberdade fora das hipóteses de flagrante e sem
ordem escrita da autoridade competente, com
a finalidade de investigação. TAL PRISÃO É
ILEGAL, pois além de ser inconstitucional, configura
crime de abuso de autoridade, nos termos do art. 3º, a
e i, da lei nº 4.898/65.
“É ilegal e inconstitucional a prisão para averiguações,
constituindo abuso de autoridade, por mais que se
queira justificar a sua aplicabilidade na repressão
preventiva ao crime (RT 425/325).”

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre


serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à
família do preso ou à pessoa por ele indicada;

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais


o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
família e de advogado;

LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por


sua prisão ou por seu interrogatório policial;

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela


autoridade judiciária;

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,


quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança;

Os incisos acima tratam dos direitos dos presos no momento


da prisão. Por exemplo, comunicar à família do preso da prisão
realizada, permanecer calado, identificação dos responsáveis pela
prisão, entre outros.

56
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do


responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Respondem pelas dívidas da pessoa o seu patrimônio. Tal


patrimônio é posto para leilão pelo Poder Judiciário, caso não
queira pagar a dívida por livre espontânea vontade. Somente em
dois casos a pessoa pode ser presa por dívida:

1ª) prestação alimentar (quando deixa de prestar alimentos a


dependente por ordem judicial); e 2ª) no caso de depositário
infiel (quando o Poder Judiciário determina que a pessoa
cuide de objetos vinculados a processos) e ela demonstra
irresponsabilidade, como por exemplo: vendendo os objetos,
destruindo-os, utilizando-se de má-fé, etc.

Por tudo isso temos o seguinte quadro:

QUADRO GERAL DOS DIREITOS INDIVIDUAIS


Liberdade: de fazer ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei (inciso II), de pensamento
(inciso IV), de crença, consciência e de culto religioso (inciso VI), de trabalho, ofício e profissão
(inciso XIII), de associação (inciso XX) e de ir e vir (incisos LXI e LXVII).

Invioláveis: a liberdade, a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (inciso
X), a casa (inciso XI), o sigilo de correspondência (inciso XII) e a previsão legal de condutas
criminosas (XXXIX).

Assegurados: a igualdade de homens e mulheres (inciso I), a não-submissão à tortura (inciso


III), o direito de receber informações dos órgãos públicos (inciso XXXIII), o direito de petição aos
órgãos públicos (inciso XXXIV), o direito de acesso ao Poder Judiciário (inciso XXXV), o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (inciso XXXVI), o direito a uma pena justa,
proporcional à conduta criminal (incisos XLVI e XLVII), o direito de ser considerado inocente
(inciso LVII), os direitos da pessoa no momento da prisão (incisos LXII, LXIII, LXIV, LXV, LXVI),
os direitos do preso (XLVIII, XLIX, L), o direito de ser julgado por autoridade competente (inciso
LIII), o direito de ter um processo legal, com o contraditório e a ampla defesa (incisos LIV e LV),
e o direito de identificar-se civilmente (inciso LVIII), o direito da retroatividade da lei penal para
beneficiar o réu acusado de crime (inciso XL), o direito da não-discriminação (incisos XLI e XLII) e
o direito da não-utilização de provas ilícitas (inciso LVI).

Fonte: FÜHRER, 2005. p. 67

Unidade 1 57
Universidade do Sul de Santa Catarina

SEÇÃO 9 - As garantias constitucionais


As garantias constitucionais são traduzidas como remédios
constitucionais para a defesa de direitos fundamentais previstos
na Constituição Federal de 1988. Você concorda com essa
afirmação?

Caso a pessoa venha ser presa de forma ilegal (por exemplo,


prisão para averiguações) e acabe sendo lesada no seu direito de
liberdade de locomoção, poderá buscar o restabelecimento do
estado anterior ou sanar a violação, por meio do habeas corpus
(quer dizer, corpo livre).

E quais são os remédios constitucionais?

A pessoa que se sente lesada nos seus direitos poderá usar os


seguintes instrumentos de defesa: o mandado de segurança
(mandado de segurança coletivo); o habeas corpus; a ação popular;
o mandado de injunção; o habeas data.

GARANTIAS CONSTITUCIONAIS

LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora


torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania;

LXXII - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à


pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou
de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência;

58
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Você viu quais são as ferramentas previstas na Constituição


Federal de 1988 para a defesa dos direitos constitucionais??
Agora vamos estudar alguns direitos sociais e coletivos, que se
traduzem nos deveres do Estado para com a população.

SEÇÃO 10 -Os direitos sociais ou coletivos

O que são os direitos sociais?

Os direitos sociais compreendem as obrigações do Estado,


como a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a providência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, conforme o artigo 6º, da
Constituição Federal:

“Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a


moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição.”

Também estão compreendidos entre os direitos sociais os direitos


trabalhistas, previstos no artigo 7º da Constituição Federal.

Afora tais obrigações do Poder Público para com a comunidade,


como postos de saúde, colégios gratuitos, saneamento básico,
obrigações essas previstas na Constituição Federal de 1988, há
ainda os direitos de nacionalidade, que vamos ver a seguir.

Unidade 1 59
Universidade do Sul de Santa Catarina

SEÇÃO 11 - Da nacionalidade
A Constituição Federal de 1988 colocou a nacionalidade como
espécie dos direitos fundamentais. Nacionalidade é o vínculo
jurídico-político que liga o indivíduo a um determinado Estado,
tornando-o componente do mesmo. A nacionalidade pode ser:

 primária (originária) – deriva de um fato natural


(nascimento), sem a interferência de qualquer vontade;
 secundária (derivada) – deriva de um ato voluntário
(manifestação de vontade), por meio da naturalização.
Não há possibilidade de o Estado naturalizar o
indivíduo sem que ele queira.
Na nacionalidade originária há dois critérios clássicos para
a sua aquisição, o ius soli (direito territorial) e o ius sanguinis
(direito de sangue). Pelo primeiro, é nacional quem nasce no solo
nacional (ligado ao território onde nasceu), independentemente
da nacionalidade dos pais. Esse critério é adotado nos países
do Novo Mundo (Brasil, p.ex.), que foram colônias e sofreram
o ingresso de imigrantes. Os países do Velho Mundo (Europa
e Ásia) adotam, tradicionalmente, o ius sanguinis. É nacional
o descendente do nacional, independentemente do local onde
nasceu (a graduação do parentesco varia de país para país).

O Brasil, como regra, adota o ius soli e,


excepcionalmente, o ius sanguinis com certos
requisitos (nunca o ius sanguinis puro).

São brasileiros natos

 Os nascidos na República Federativa do Brasil:


território brasileiro; espaço aéreo (nascimento dentro
de avião, p.ex.); subsolo (nascimento no metrô, p.ex.);
mar territorial (navios e aeronaves oficiais e das forças
armadas). Embaixada brasileira no exterior não é
considerada território brasileiro, e as embaixadas
estrangeiras no Brasil são território brasileiro (regra
internacional).

60
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

 Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe


brasileira (ius sanguinis), desde que um deles esteja a
serviço do Brasil (a serviço de qualquer dos entes, dos
órgãos da administração direta ou indireta da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios).
 Além do brasileiro nato há também o brasileiro
naturalizado, quando escolhe a nacionalidade brasileira
por vontade própria.

SEÇÃO 12 - Os direitos políticos


Os direitos políticos são aqueles que conferem ao cidadão a
possibilidade de participar do Poder Estatal, pois é por meio do
voto que são escolhidos os representantes do povo.

Você sabia?
que a nacionalidade e a cidadania são termos
distintos? Enquanto a nacionalidade é adquirida
por fatores relacionados ao nascimento ou pela
naturalização, a cidadania adquire-se formalmente
pelo alistamento eleitoral, dentro de requisitos legais.

Os direitos políticos são classificados em:

a) direito político ativo, que consiste no direito de votar; e


b) direito político passivo, que é o direito de ser votado
para um cargo público.

Quanto ao direito político ativo, o alistamento


eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de
18 anos. Porém facultativos para os analfabetos, os
maiores de 70 anos e os maiores de 16 e menores de
18 anos. Não podem votar aqueles que não podem
alistar-se como eleitores, como os estrangeiros, e
durante o período de serviço militar obrigatório e
os conscritos (neste último são aqueles que foram
alistados, os recrutados).

Unidade 1 61
Universidade do Sul de Santa Catarina

Já sobre o direito político passivo, compreende


as condições de elegibilidade (isto é, as condições
de ser votado): a nacionalidade brasileira; o pleno
exercício dos direitos políticos; o alistamento
eleitoral; o domicílio eleitoral na circunscrição; a
filiação partidária; a idade mínima de: a) trinta e
cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da
República e Senador; b) trinta anos para governador
e vice-governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para deputado federal, deputado
Estadual ou distrital, prefeito, vice-prefeito e juiz de
paz; d) dezoito anos para vereador. São inelegíveis os
inalistáveis e os analfabetos.

Nesse contexto, cabe destacar que os partidos políticos têm


por finaldade a militância dos candidatos a cargos políticos. Os
partidos devem ter caráter nacional e resguardar as cláusulas
pétreas da Constituição Federal de 1988. Não podem ter caráter
paramilitar.

Com esta seção concluimos a Unidade 1. O que você achou?


Percebeu que é necessário consultar a Contituição, não é?
Também é necessário que se faça relações com a prática. São
muitas questões e não podemos apresentá-las da forma como
gostaríamos. Cabe a você ser um estudante proativo. Buscar
aprofundamentos com leituras e consultas a websites.

Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de auto-


avaliação e consulte as indicações do Saiba Mais. A nidade 2 vai
dar Noções de Direito Penal.

62
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Atividades de auto-avaliação

1) Pela Constituição Federal de 1988, o nome do nosso país é:


a) ( ) República Monarquista do Brasil;
b) ( ) Terra de Santa Cruz;
c) ( ) República Presidencialista do Brasil;
d) ( ) República Federativa do Brasil;
e) ( ) Ilha do Desterro.

2) Conforme a Constituição Federal:


a) ( ) homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos da Constituição;
b) ( ) os homens são mais fortes que as mulheres;
c) ( ) qualquer pessoa pode ser submetida à tortura, pois é um
direito do Estado;
d) ( ) a casa é um asilo para velhinhos e, portanto, violável;
e) ( ) ninguém é igual perante a lei.

3) Qual a sua opinião?


Pela Constituição Federal de 1988, a intimidade e a vida privada são
violáveis, pois a imagem da pessoa é pública. Tanto assim, que já
existem câmaras de vídeo da Polícia Militar instaladas nas ruas de
algumas cidades do Brasil, destinadas a preservar a ordem pública e
evitar a ocorrência de crimes.

Unidade 1 63
Universidade do Sul de Santa Catarina

4) O que você acha?


Todo acusado é culpado, afinal, quando há notícias de jornal sobre um
crime, já se expõem a imagem e o nome da pessoa acusada do crime
como se já fosse a culpada. Então, não precisa do contraditório e da
ampla defesa, pois caiu nas mãos da polícia e da imprensa, com certeza
já será culpado.

Síntese

Você acabou de estudar um pouco sobre a Constituição


Brasileira, os principais direitos e garantias constitucionais,
assuntos importantes para entender a elaboração das normas,
preparando você, aluno, para a próxima unidade sobre Noções de
Direito Penal.

Tal unidade envolveu, principalmente, a limitação da liberdade


de ir e vir da pessoa, por imposição de sanções penais àqueles que
cometeram condutas criminosas. Não obstante a preocupação
constante de segurança pública, por meio dos órgãos oficiais, que
aplicam a lei, cabe destacar que todos são seres humanos e, como
tais, têm direitos assegurados pela
Constituição Federal.

64
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Assim, segurança pública se faz com a observância da


Constituição Federal e das leis infraconstitucionais, pois em
última análise a LEI corresponde à vontade do povo, pois foi
elaborada e editada por representantes eleitos pelo povo e para o
povo.

Vamos ingressar na Unidade 2 que tem por fundamento de


validade o preceito constitucional da legalidade e dos direitos
fundamentais.

Saiba mais

GASPARI, E. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia


das Letras. 2002. p. 123.

LOCKE, J. Segundo tratado sobre o Governo. Tradução: Alex


Martins. São Paulo: Martin Claret, 2002.

ROCHA, L. S. Epistemologia jurídica e democracia. Rio


Grande do Sul: Unisinos, 1998.

<http://www.suigeneris.pro.br/direito_dc.htm>

<http://www.abdconst.com.br/>

<http://www.mundojuridico.adv.br/html/artigos/direito_
constitucional.htm>

<http://www.drheart.com.br/apostilas_e_resumos_de_direito_
c.htm>

<http://professores.unirp.edu.br/azor/site/constitu.htm>

Unidade 1 65
2
UNIDADE 2

Noções de Direito Penal

Objetivos de aprendizagem
 Conhecer os conceitos de crime e contravenção penal.

 Entender a forma de aplicação do Código Penal na


segurança pública.

 Saber identificar os crimes mais comuns, previstos no


Código Penal, que ocorrem no dia-a-dia.

Seções de estudo
Seção 1 O Direito Penal.
Seção 2 A infração penal e as Polícias Civil e Militar.
Seção 3 Dos crimes contra a pessoa.
Seção 4 Dos crimes contra o patrimônio.
Seção 5 Dos crimes contra o sentimento religioso e
contra respeito aos mortos.
Seção 6 Dos crimes contra os costumes.
Seção 7 Dos crimes contra o casamento.
Seção 8 Dos crimes contra a paz pública.
Seção 9 Dos crimes contra a fé pública.
Seção 10 Dos crimes contra a administração pública.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Caro aluno, você está iniciando a Unidade 2, que trata de Noções
de Direito Penal, que possibilitará a análise dos principais
crimes previstos no Código Penal que acontecem diariamente
na sociedade brasileira e põem em risco a segurança pública,
necessitando da intervenção do Estado, por meio da polícia, do
Poder Judiciário, do Ministério Público, entre outros órgãos
públicos, com a finalidade de preservar a ordem pública e evitar
a reincidência daqueles que já praticaram crimes, por meio da
aplicação das penas.

Assim, a próxima unidade é uma viagem ao mundo das leis


penais, com destaque ao Código Penal, principal instrumento
utilizado pela polícia e pelo Poder Judiciário para evitar que as
pessoas venham a praticar condutas criminosas, e coloquem em
risco a paz e a harmonia social.

SEÇÃO 1 - O Direito Penal

O que é Direito Penal? O que lhe vem à mente quanto


você ouve falar em Direito Penal? Tente defini-lo com
suas palavras no espaço abaixo.

68
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Em que você se baseou para registrar seu conceito? Todos


nós temos impressões das coisas e somos capazes de defini-las
com base nas experiências prévias – profissionais e pessoais –,
podemos também chamar isso de senso comum. Mas vamos
agora fazer uma caracterização mais científica?

Falar em Direito Penal é falar de lei, de regra, de modelo,


de paradigma, de convenção que determina um padrão de
comportamento. Concorda?

Por isso que se diz que o Direito Penal é normativo, pois se


limita a descrever as condutas proibidas e suas respectivas penas.
É, o Direito Penal, um segmento do ordenamento jurídico que
detém a função de selecionar os comportamentos humanos
mais graves e perniciosos à coletividade, capazes de colocar em
risco valores fundamentais para a convivência social, e descrevê-
los como infrações penais, cominando-lhes, em conseqüência,
as respectivas sanções, além de estabelecer todas as regras
complementares e gerais necessárias à sua correta justa aplicação
(CAPEZ, 2004, p.01).

O Direito Penal tem como fundamento principal o Código


Penal, que está dividido em duas partes: uma parte geral que
prevê as linhas gerais de aplicação, e outra parte que descreve as
condutas criminosas.

O Código Penal está dividido em duas partes: uma geral e outra especial.

Na parte geral, o Código Penal prevê as Na parte especial, o Código Penal descreve as
linhas gerais de sua aplicação. condutas criminosas e suas penas.

Por isso, o direito penal tem por missão manter a vida harmônica
em sociedade. Para tanto, utiliza-se da punição para realizar o
controle social.

Mas o que é controle social? Quem o exerce?

Unidade 2 69
Universidade do Sul de Santa Catarina

Controle social é a forma como a sociedade responde, formal


ou informalmente, a comportamentos e a pessoas consideradas
como desviantes, problemáticas, ameaçantes ou indesejáveis.
Assim, há um controle social informal e outro controle social
formal ou institucionalizado. O primeiro vem representado pela
família, escola, mídia, religião, moral etc; e, o segundo, pelo
controle institucionalizado no sistema penal como a Constituição
Federal, as leis penais, processuais penais, penitenciárias, polícia,
Ministério Público, Judiciário, etc. Em suma, o controle social
é dado por um princípio binário de seleção de controle formal e
informal, com a finalidade de selecionar entre os bons e os maus,
os incluídos e os excluídos, quem fica dentro, quem fica fora do
universo em questão (ANDRADE, 1999. p. 23).

SEÇÃO 2 - A infração penal e as Polícias Civil e Militar

O que é infração penal? Certamente você sabe, não


é? Use o espaço para descrever uma infração penal.
Dê um exemplo de algo que tenha acontecido no seu
trabalho ou que você teve acesso pelos jornais ou
outra fonte.

70
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Vamos às definições agora? Faça as relações com o que você


escreveu, isso possibilita uma compreensão contextualizada.

Infração penal é aquela conduta humana prevista na lei como


crime ou como contravenção penal. A diferença básica entre
ambas é que no crime a pena prevista é mais grave do que na
contravenção penal. Essa é considerada como um pequeno crime.

Alguns crimes que podemos destacar são: lesão corporal (art.


129 do CP), homicídio (art. 121 do CP), furto (art. 155 do
CP), roubo (art. 157 do CP), estelionato (art. 171 do CP),
constrangimento ilegal (art. 146 do CP), ameaça (art. 147 do
CP), seqüestro e cárcere privado (art. 148 do CP), violação de
domicílio (art. 150 do CP) e estupro (art. 213 do CP). Entre
as contravenções mais conhecidas temos: as vias de fato (art.
21 da LCP), perturbação do trabalho ou sossego alheios (art.
42 da LCP), vadiagem e mendicância (arts. 59 e 60 da LCP),
importunação ofensiva ao pudor (art. 61 da LCP) e embriaguez
(art. 62 da LCP).

Das excludentes de crime


Apesar da previsão legal das condutas criminosas na lei, existem
situações em que o fato criminoso realizado por uma pessoa
deixa de ser considerado como crime. Essas situações fáticas são
chamadas de excludente de ilicitude, ou situações jurídicas.

No Código Penal encontramos excludentes de ilicitude (ou


situações jurídicas) na parte geral e também na parte especial
do Código. Como excludentes de ilicitude da parte geral do
Código Penal, o artigo 23 traz as seguintes:

Art. 23 - Não há crime quando o agente


pratica o fato: I - em estado de necessidade;
legítima defesa; II - em legítima defesa; III - em estrito
estado de necessidade; cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito. Excesso punível.
estrito cumprimento do dever legal;
exercício regular do direito. Parágrafo único - O agente, em qualquer
das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo.

Unidade 2 71
Universidade do Sul de Santa Catarina

Já na parte especial do Código Penal, há vários dispositivos que


apontam essas excludentes de ilicitude (ou situações jurídicas):

– coação para impedir suicídio (art. 146, § 3º, II do


Código Penal);
– ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa (art.
142, I, do Código Penal);
– aborto para salvar a vida de gestante (art. 128, do
Código Penal);
– violação de domicílio, quando um crime está ali
sendo praticado (art. 150, § 3º, II, do Código Penal).

Estado de necessidade
Considera-se em estado de necessidade aquele que pratica o
fato previsto como crime para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não
era razoável exigir-se. Ou seja, estado de necessidade é a situação
fática em que a pessoa realiza uma conduta descrita na lei como
crime, mas diante das circunstâncias não é considerada ilícita.

São requisitos do estado de necessidade: perigo a direito próprio


ou alheio; perigo atual ou iminente; perigo não-evitável de outro
modo; perigo não causado dolosamente pelo agente; intenção de
salvar o bem em perigo; inexistência de dever legal de enfrentar o
perigo; bem sacrificado inferior ou igual ao bem preservado.

Legítima defesa
Não há crime quando o agente pratica o fato em legítima defesa,
cujos requisitos são: reação a uma agressão humana; agressão
injusta, atual ou iminente; defesa de direito próprio ou alheio; uso
moderado dos meios necessários; intenção de defender.

Estrito cumprimento do dever legal


Não há crime quando o agente pratica o fato em estrito
cumprimento do dever legal, como no caso do policial que efetua
prisão em flagrante de um criminoso.

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Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Exercício regular de direito


Não há crime quando o agente pratica o fato no exercício regular
de direito, como na intervenção cirúrgica (lesões corporais), ou na Crime é todo fato típico
violência esportiva, desde que respeitadas as regras da atividade e antijurídico. Típico,
porque qualquer crime
ou profissão.
vem previsto na lei
(tipicidade). Antijurídico,
Missões das polícias civis e militares estaduais porque existem situações
previstas na lei que são
Como já foi estudado, no Sistema de Segurança Pública jurídicas.
Brasileiro, entre as polícias existentes, há a Polícia Civil e a
Polícia Militar, de âmbito Estadual. Assim, a partir do conceito
de crime acima exposto, podemos estabelecer as missões dessas
duas polícias de forma mais simples, além daquelas atribuições
constantes nas Constituições Federal e Estadual, conforme
quadro a seguir.

Missões das polícias civis e militares na segurança pública dos Estados

Antes da ocorrência da Após a ocorrência da


Durante a ocorrência da infração penal.
infração penal. infração penal.

Polícia Militar – preservação Atuação conjunta da Polícia Civil e da Polícia Polícia Civil – preservação
da ordem pública, por meio do Militar – Art. 5º, LXI, da Constituição Federal e Art. da ordem pública, por meio da
policiamento ostensivo, fardado e 282, do Código de Processo Penal: “Art. 5º [...] LXI investigação das infrações penais,
armado, como força de dissuasão - ninguém será preso senão em flagrante delito ou excetos as militares. Atua na
do poder de polícia. Tem por por ordem escrita e fundamentada de autoridade repressão da infração penal. É
missão principal a prevenção da judiciária competente [...]” e “Art. 282 - À exceção conhecida como Polícia Judiciária.
infração penal. É conhecida como do flagrante delito, a prisão não poderá efetuar-
Polícia Administrativa. se senão em virtude de pronúncia ou nos casos
determinados em lei, e mediante ordem escrita da
autoridade competente.”

Da denominação da Polícia Civil e da Polícia Militar


Diante da infração penal cometida no dia-a-dia, as polícias
estaduais são denominadas.

A Polícia Civil é chamada de Polícia Judiciária, pois faz as


investigações necessárias para esclarecimento dos crimes e das
contravenções penais, encaminhando tais investigações para o
Poder Judiciário.

Unidade 2 73
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A Polícia Militar é chamada de Polícia Administrativa, pois


realiza o policiamento ostensivo, fardado e armado, como força
de dissuasão do poder de polícia e tem por missão principal a
prevenção da não-ocorrência da infração penal.

Chegamos ao final da Seção 2, cujas orientações básicas para


entendimento do Direito Penal foram delineadas, inclusive com
a descrição das missões das polícias estaduais (Civil e Militar).
Você viu também que o Direito penal é o ramo do Direito que
faz a previsão dos crimes e das contravenções penais. E que nem
todas as condutas humanas previstas na lei são consideradas
ilícitas, pois há situações denominadas de excludentes de ilicitude
que tornam tais condutas lícitas.

Afinal, você já pensou o dentista responder por crime de lesão


corporal quando vai arrancar um dente do paciente que está
morrendo de dor na cadeira do dentista? Ou do médico por
fazer uma cirurgia na barriga de extrema necessidade? Ora, se
não houvesse as excludentes de ilicitude, como nos exemplos,
tais profissionais, o dentista e o médico, seriam criminosos, não
obstante terem ajudado os seus pacientes. Por isso da existência
das excludentes de ilicitude.

E agora? Vamos ingressar nas condutas consideradas criminosas


pela lei?

Cabe dizer antecipadamente que o Código Penal, o legislador


brasileiro faz a previsão das condutas criminosas (os tipos penais),
classificando-as conforme natureza e importância em crimes
contra a pessoa, contra o patrimônio, contra a propriedade
imaterial, contra a organização do trabalho, contra o sentimento
religioso e o respeito aos mortos, contra os costumes, contra a
família, contra a incolumidade pública, contra a paz pública,
contra a fé pública e contra a administração pública.

- A seguir, as principais condutas criminosas previstas no Código


Penal serão analisadas, o que possibilitará a você uma visão geral sobre
os crimes existentes e as penas aplicadas aos criminosos.

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Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

SEÇÃO 3 - Dos crimes contra a pessoa


Quando o legilador prevê condutas criminosas contra a pessoa,
ele tem por finalidade proteger a pessoa desde a sua formação até
a morte.

Os crimes contra a pessoa são classificados no Código


Penal de: Crimes contra a Vida; Lesões Corporais;
Periclitação da Vida e da Saúde; Rixa; Contra a Honra e
Contra a Liberdade Individual.

Crimes contra a vida


Os crimes contra a vida são aqueles que têm como finalidade
proteger a vida. São crimes contra a vida os seguintes: homicídio
(art. 121, do Código Penal), induzimento, instigação ou auxílio
a suicídio (art. 122, do Código Penal), infanticídio (art. 123, do
Código Penal) e aborto (arts. 124 a 126, do Código Penal).

Veja, a seguir, a definição e a contextualização de cada termo.

Homicídio
É a morte de um homem injustamente praticada por outro.
Ocorre com a morte, ou seja, com a cessação do funcionamento
cerebral, circulatório e respiratório da vítima. Pode ser executado
tanto por ação (desfecho de tiros, facadas) ou omissão (babá
que deixa de alimentar criança) quando o agente tem o dever
jurídico de impedir a morte. No homicídio o criminoso tem que
ter o dolo, isto é, a vontade de praticar o crime, ou assumir o
risco da morte. O homicídio além de ser simples, pode ser ainda:
privilegiado (art. 121, § 1º), qualificado (art. 121, § 2º) e culposo
(art. 121 §§ 3º e 4º).

Unidade 2 75
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Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio


A lei pune o criminoso que induz (cria idéia), instiga (reforça a
idéia) ou presta auxílio ao suicida (vítima). O crime consuma-se
com a morte da vítima ou com a produção de lesões corporais de
natureza grave. Tal crime pode ser resumido da seguinte forma:

Fig. 4. Classificação do crime

O induzir ocorre quando o agente cria na mente da vítima a idéia


de autodestruição (RT, 410:88). No instigar a vítima já pensava
em se suicidar e essa idéia é incentivada pelo agente (RT 410:88).
E no auxílio quando o agente criminoso tem ciência que a vítima
quer se matar e lhe entrega o punhal, o revólver, ou indicando a
cadeira, ou entregando a corda etc.

Com relação à participação em suicídio as penas são as seguintes:

1º) se a vítima tenta suicidar-se e vem a falecer – pune-se


o agente com pena de reclusão, de dois a seis anos;
2º) se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal
de natureza grave – pune-se o agente com pena de
reclusão, de um a três anos. Contudo, se a vítima tenta
suicídio mas não tem lesões, ou tem lesões leves, o
fato não tem tipicidade (ou seja, não tem previsão
como crime).

Infanticídio
É o crime que ocorre quando a mãe mata o próprio filho durante
o parto ou logo após, em estado puerperal. Estado puerperal é
o conjunto de perturbações psicológicas e físicas sofridas pela
mulher em face do fenômeno do parto (RT 548:348). É o estado

76
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

conseqüente às dores do parto, ou de excitação e angústia da mãe


que contribui no ato voluntário de matar o próprio filho(a).
O parto começa com o período de expulsão, mais precisamente
com o rompimento da membrana amniótica, antes de tal
rompimento qualquer ato contra o feto constitui crime de aborto.

Aborto
É a interrupção da gravidez com a conseqüente morte do feto
(RJTJSP, 37:234). É a expulsão prematura do feto por vontade da
mãe (dolo), ou por vontade de terceiros (dolo), que realiza um ato
contra o feto (p. ex: utilização de agulhas, substâncias abortivas,
pancadas, choques elétricos, etc.). Qualquer que seja a fase da
gravidez (desde a concepção até o rompimento da membrana
amniótica). Depois de iniciado o processo do parto é infanticídio,
e não aborto criminoso. Além do aborto provocado pela gestante,
há também o aborto provocado por terceiro sem consentimento
da gestante (artigo 125, do Código Penal) e o aborto com o
consentimento da gestante (artigo 126, do Código Penal).
Apesar da existência de crime, o aborto é permitido para salvar a
vida da mãe, ou para retirar o feto, cuja gravidez foi decorrente de
estupro.

Lesão corporal
Lesão corporal compreende toda e qualquer ofensa ocasionada
à normalidade funcional do corpo ou organismo humano, seja
do ponto de vista anatômico, seja do ponto de vista fisiológico
ou psíquico. Nesse último caso (psíquico) temos, por exemplo, a
provocação de um susto, sem qualquer ação física sobre a vítima
como uma conturbação psíquica ou choque nervoso. A conduta
consiste em atingir a integridade corporal ou a saúde física ou
mental de outrem. A lesão física é a modificação do organismo
humano por intermédio de ferimentos, mutilações, equimoses,
hematoma, etc.

Unidade 2 77
Universidade do Sul de Santa Catarina

Além da lesão corporal leve (artigo 129, caput) existe


também a lesão corporal privilegiada (art. 129, §§ 4º e
5º), a lesão corporal qualificada (art. 129, § 1º 2º 3º) e a
lesão corporal culposa (art. 129, § 6º e § 7º).

A violência doméstica (art. 129, § 9º) ocorre quando a lesão


corporal é praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, cuja pena é de
detenção, de seis meses a um ano.

Antes de passar aos itens seguintes, proponho que


contextualizemos um dos termos destacados até aqui.

Vamos lá?

Você saberia dar o conceito de crime de lesão


corporal? E se, por exemplo, um sujeito em legítima
defesa acaba machucando outro, ele responderia por
algum crime? O que você acha? Vamos debater no
Fórum de Estudos?

Depois de refletir sobre a problematização, vamos adiante, ainda


temos alguns termos para caracterizar e compreender.

78
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Periclitação da vida e da saúde


Os crimes de periclitação da vida e da saúde são denominados
de crimes de perigo individual. Isso porque periclitação vem
do latim periclitatio (correr risco, perigar, tentar contra a vida).
Perigo é o estado que nos faz esperar e recear como provável
uma lesão a um interesse juridicamente protegido. Entres os
crimes de periclitação, temos: perigo de contágio venéreo, perigo
de contágio de moléstia grave, perigo para a vida ou a saúde de
outrem e omissão de socorro.

a) Perigo de contágio Venéreo


O crime é expor, arriscar, colocar em perigo alguém
a contágio de doença venérea por meio de relações
sexuais ou qualquer ato sexual. Para que ocorra o
crime basta a comprovação da prática de relações
sexuais ou de ato libidinoso qualquer do agente com
a vítima que já se presume o perigo. Por isso, não é
necessário o efetivo contágio, pois basta o enfermo
venéreo, praticando o ato sexual ou seus equivalentes,
exponha outrem a contrair o mal. É a simples criação
do perigo de contágio, pouco importando se esse
contágio sobrevenha ou não.
Moléstia venérea é de conceituação médica (sífilis,
blenorragia, ulcus molle e o linfogranuloma inguinal).
A AIDS (síndrome de deficiência imunológica
adquirida) não é considerada moléstia venérea, pois
pode ser transmitida por transfusão sanguínea.

b) Perigo de contágio de moléstia grave


Esse ocorre mediante qualquer ato praticado pelo
agente que possa transmitir à vítima a moléstia. São
requisitos: a) a existência, no agente, de moléstia grave
infectuosa ou transmissível; b) atos idôneos a ocasionar

Unidade 2 79
Universidade do Sul de Santa Catarina

o perigo de contágio (pode ser por contato corporal


direto, como aperto de mão, mordidas, aleitamento,
beijo, etc.; ou indireto, por meio de objetos ou
instrumento, como copos, talheres,alimentos, bebidas,
injeções, roupas, etc.); e c) a intenção específica de
transmitir a moléstia.
Moléstia grave é a moléstia que provoca séria
perturbação da saúde. Pode ser aguda ou crônica, mas
não necessariamente incurável, porém transmissível
por contágio, como a tuberculose, varíola, difteria, etc.
c) Perigo para a vida ou a saúde de outrem
A conduta consiste em colocar (expor) em perigo
direto e imediato a vida ou a saúde de outrem. São
exemplos desse crime: quem agride o motorista
de ônibus em movimento, pondo em perigo os
passageiros (TACrSP, RT 540:311); a avó e a mãe
materna que por motivos religiosos não autorizam
urgente transfusão de sangue prescrito em caso de
anemia (RT, 647:302); no interromper cortejo fúnebre,
abalroando um dos veículos que acompanha o enterro
(RT 327:389); no fechar veículo automotor, forçando
subir na calçada; o empreiteiro que omite, para
evitar despesa, a colocação habitual de aparelhos ou
dispositivos de segurança ou proteção de operários na
construção de um arranha-céu (HUNGRIA, 1958,
p. 418); o dono do circo que promove espetáculos ou
exercícios insolitamente perigosos para atrair clientela
(HUNGRIA, 1958, p. 418); fazer com que um
ébrio ou uma pessoa inábil monte um cavalo chucro
(HUNGRIA, 1958, p. 418).

d) Omissão de socorro
É o crime em que o agente deixa de prestar assistência
à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa
inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo, sem risco pessoal; ou não pedir,
nesses casos, o socorro da autoridade pública. O
crime tem como requisitos: a) o encontro de criança

80
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

abandonada ou extraviada, ou pessoa inválida


ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; b) a omissão de assistência ao periclitante
ou de solicitação de assistência à autoridade pública;
c) a possibilidade dessa conduta alternativa sem
risco pessoal; d) e a vontade (desejo) de se omitir.
Exemplos: recusa de transporte de pessoa gravemente
ferida em veículo – há crime (RT, 522:397). A pressa
não aproveita (RT529:369). Nem alegação de que
tinha outra corrida ou que a vítima, sangrando, iria
sujar-lhe o carro (TJRS, RJTJRS, 128:103).

Da rixa
Rixa é a briga entre mais de duas pessoas, acompanhadas de vias
de fato ou violências físicas recíprocas. Para caracterizar o crime
de rixa há necessidade de um número mínimo de três pessoas
ainda que tenha morrido (RT,584:420). Pouco importa se um
deles é inimputável (como menor de 18 de anos ou pessoa com
problemas mentais), ou se o rixoso não é identificado.

Ora, é indispensável à configuração da rixa que haja vias


de fato, atos de militante hostilidade (socos, empurrões,
engalfinhamentos, pontapés, safanões, arremesso de objetos,
eventualmente disparos de arma de fogo, etc.).

É preciso que os cotendores venham às mãos,


formando-se o entrevero, embora sem o contato dos
brigadores, esses se acometam reciprocamente, por
exemplo, com pedradas ou disparos de arma de fogo”
(HUNGRIA, 1958, v. VI, p. 20).

Dos crimes contra a honra


Pela Constituição Federal, são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação (art. 5º, inciso X). A honra é um bem precioso, pois

Unidade 2 81
Universidade do Sul de Santa Catarina

ela está necessariamente vinculada à tranqüila participação do


indivíduo nas vantagens da vida em sociedade. Se alguém adquire
má fama, dele se afastam os conhecidos e amigos e não é mais
tolerado nas boas rodas.

A honra pode ser subjetiva ou objetiva. Na subjetiva a honra é o


sentimento que cada um tem a respeito de seus atributos físicos,
intelectuais, morais e demais dotes da pessoa. É aquilo que a
pessoa pensa de si mesma.

Os crimes de injúria atingem a honra subjetiva.

Na objetiva a honra é a reputação, aquilo que os outros pensam


a respeito do cidadão no tocante a seus atributos físicos,
intelectuais, morais. Nos crimes de calúnia e de difamação é
atingida a honra objetiva.

São crimes contra a honra: a calúnia, a difamação e a


injúria.

Calúnia
Na calúnia o crime é atribuir falsamente um crime a alguém.
Assim, atribuir fato real não constitui calúnia. A falsidade
da imputação pode recair sobre o fato e/ou autoria do fato
criminoso. No primeiro caso, o fato atribuído à vítima não
ocorreu, no segundo, o fato criminoso é verdadeiro, sendo falsa
a imputação de autoria. Se a imputação falsa for de contravenção
penal não será crime calúnia, mas crime de difamação. São
formas de calúniar:

a) explícita

Fulano de tal é o sujeito que a polícia está procurando


pela prática de vários estupros.

82
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

b) implícita

Não fui eu que me agasalhei nos cofres públicos.

c) reflexa

Dizer que um promotor público deixou de denunciar


um indiciado porque foi subornado. Na última
hipótese, o indiciado também é vítima de calúnia
(JESUS, 1996, p.413), ou ainda, se diz que um juiz que
decidiu certa causa em tal ou qual sentido porque foi
subornado, é também caluniado o litigante vencedor
(HUNGRIA, 1958, p. 67).

Difamação
A difamação consiste na atribuição de fato ofensivo à reputação
do sujeito passivo. Ora, enquanto no crime de calúnia exige-
se a imputação falsa que verse sobre crime, na difamação
o fato atribuído pelo agente à vítima não é criminoso, mas
simplesmente ofensivo a seu apreço social. São os seguintes
requisitos para o crime de difamação:

a) imputação de fato determinado e ofensivo à reputação


alheia, seja falso ou verdadeiro;
b) comunicação a uma só pessoa que seja;
c) vontade de atingir a honra da vítima.

Afirmar que viu a vítima em determinado dia


exercendo comércio carnal.

Injúria
É a manifestação, por qualquer meio, de um conceito ou
pensamento que importe ultraje, menoscabo ou vilipêndio contra
alguém. É a palavra insultosa, o xingamento, o impropério,
o gesto ultrajante, todo e qualquer ato que exprima desprezo,

Unidade 2 83
Universidade do Sul de Santa Catarina

escárnio, ludíbrio. Existem formas que configuram a injuria. Veja


quais são:

a) expressões que configuram injúria – ladrão


(JATCrmSP, 30:54), farsante (RT, 531:363),
vagabundo (RT,497:360), comerciante incapaz
(JTACrimSP, 24:267), incompetente para o cargo
(JTACrimSP, 59:203), incapaz (JTACrimSP, 24:267),
ignorante (RT, 497:360), cornudo (RT,553:378),
caloteiro (JTACrimSP, 24:267), incompetente
(RT497:360), que freqüenta casa suspeita (RT,
422:408), professoria vagabunda (JTACrimSP,
33:398), desoucupado, não vale nada, corno manso,
sem-vergonha, leviano (RT:570,336), tendencioso
(RT, 682:304), moleque, bajulador barato, pessoa
chata, imbecil;
b) atitudes que configuram injúria – despejar saco de
lixo na porta do apartamento da vítima (RT, 516,346),
afixar papel com expressões ofensivas na porta da loja
da vítima (RT, 535:359).

Crimes contra a liberdade individual


Os crimes contra a liberdade individual atentam contra a
liberdade de escolha do indivíduo, ou seja, contra a faculdade
da pessoa em realizar suas condutas de acordo com a própria
vontade. Entre os crimes existentes no Código Penal, podem ser
destacados:

1) constrangimento ilegal;
2) ameaça;
3) seqüestro ou cárcere privado;
4) redução à condição análoga de escravo;
5) violação de domicílio.

84
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Constrangimento ilegal
“Pela Constituição Federal “ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (art.
5º, inciso II). Assim, obrigar alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa fora
dos casos previstos em lei, constitui crime de constrangimento
ilegal. É indispensável que a vítma possua capacidade de
autodeterminação, que significa liberdade de vontade, no
sentido de fazer o que bem entenda. Para que ocorra o crime são
necessários os seguintes requisitos:

a) imposição de fazer ou não fazer alguma coisa;


b) emprego da violência, ameaça grave ou outro meio
apto a reduzir a capacidade de resistência do sujeito
passivo (vítima);
c) ilegitimidade da imposição;
d) efetiva consecução do fim do agente;
e) vontade de constranger a vítima.

Ameaça
Ameaçar é prometer a alguém um mal injusto e grave (relevane).
Na ameaça, o criminoso pretende somente atemorizar a vítima
A ameaça deve ser séria idônea à intimidação. Ou seja, um mal
grave. Pode ser futura ou atual e iminente. São forma de ameaça:

a) direta – quando endereçada diretamente à vítima;


b) indireta – quando dirigida a uma terceira pessoa,
ligada à vítima. Por exemplo, intimidar a mãe por um
mal ao filho;
c) explícita – quando manifestada às claras;
d) implícita – exemplo “para solucionar esse problema,
não temo ir para a cadeia”;
e) condicional – exemplo, “vai apanhar se repetir o que
disse”.

Unidade 2 85
Universidade do Sul de Santa Catarina

São requisitos do crime de ameaça:

a) manifestação do propósito de fazer a alguém um mal


futuro (pode ser oral, escrita, real ou simbólica como
colocar um caixão à porta de alguém, enviar uma
caveira ou desenho com um punhal atravessando um
corpo);
b) injustiça e gravidade desse mal;
c) conhecimento da ameaça por parte do sujeito passivo;
d) vontade de ameaçar a vítima. O crime de ameaça
não se confunde com a praga ou esconjuro, como por
exemplo: “vá pro inferno”, “que o diabo o carregue”,
“que um raio te parta”, “a geada há de exterminar
teu cafezal”, “farei a lua cair sobre tua cabeça”, “Deus
suplico que faça cair a tua língua.”

Seqüestro e cárcere privado


O crime ocorre no instante em que a vítima se vê privada da
liberdade de locomoção. Cuidando-se de delito permanente,
perdura a consumação enquanto o ofendido estiver submetido à
privação de sua liberdade de locomoção. No seqüestro, embora
a vítima seja submetida à privação da faculdade de locomoção,
tem maior liberdade de ir e vir. No cárcere privado, a vítima
vê-se submetida à privação de liberdade em recinto fechado.
O seqüestro é o gênero e o cárcere privado a espécie, ou, por
outras palavras, o seqüestro (arbitrária privação ou compressão
da liberdade de movimento no espaço) toma o nome tradicional
de cárcere privado quando exercido em qualquer recinto fechado,
não destinado à prisão pública.

Tanto no seqüestro quanto no cárcere privado, é detida ou retida


a pessoa em determinado lugar, mas, no cárcere privado, há
a circunstância de clausura ou encerramento. Abstraída essa
acidentalidade, não há que distinguir entre as duas modalidades
criminais, de modo que não se justificaria uma diferença de
tratamento penal. Formas de execução: 1º) detenção, por
exemplo, levar a vítima num automóvel e prendê-la num quarto,
Amarrar a vítima em local ignorado, prender a vítima em porta-
malas de veículo; 2º) retenção: por exemplo, impedir que a vítima
saia de determinada casa.

86
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Que tal refletir um pouco sobre o que você estudou


até aqui?
Vamos realizar uma atividade para dar significado
à teoria estudada? Descreva uma situação em que
aparece o crime de “constrangimento ilegal” ou
“ameaça”. Esses crimes são comuns no Brasil? Cite um
exemplo, se puder, e discuta essa questão no Fórum
com seus colegas de turma.

Redução à condição análoga à de escravo


Condição análoga de escravo consiste no fato de o sujeito
(criminoso) transformar a vítima em pessoa totalmente submissa
à sua vontade, como se fosse escravo. É a completa sujeição de
uma pessoa ao poder de outra. O consentimento do ofendido
é irrevelante (pouco importa para caracterização do crime).
São exemplos: “proibição de trabalhadores deixarem o local
de trabalho sem antes saldar as suas dívidas” (RT, 482:280); e
“redução à condição análoga à de escravo – Artigo 149 do Código
Penal – Caracterização mesmo sem a restrição espacial – Mão-
de-obra rural – Péssimas condições de higiene e manutenção
– Má qualidade da alimentação – Deduções de até 50% dos
salários – Condenação mantida – Recurso não provido” (TJ
– Acrim 212.309-3-Itatiba – 3ª Câmara Criminal Extraordinária
– Rel. Cerqueira Leite – 4-3-1998).

Unidade 2 87
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Entende-se por condição análoga:

a) a sujeição da vítima a trabalhos forçados ou a jornadas


exaustivas;
b) a sujeição da vítima a condições degradantes de
trabalho;
c) a restrição, por qualquer meio, da locomoção
da vítima, em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto.

São figuras equiparadas:

 o de cercear o uso de qualquer meio de transporte por


parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho;
 o de manter vigilância ostensiva no local de trabalho,
com o fim de lá reter o trabalhador;
 o de apoderar-se de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

Violação de domicílio
Conforme a Constituição Federal, “a casa é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”
(art. 5º, inciso XI). Assim, constitui crime a conduta de o agente
ingressar na casa alheia (inclusive pátio) sem a permissão de
quem de direito. O objetivo do artigo é assegurar a tranqüilidade
doméstica. Para o Código Penal, domicílio é a moradia (casa,
barraca, maloca, gruta, apartamento, vagão, trailer, etc.).

88
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

SEÇÃO 4 - Dos crimes contra o patrimônio


Além dos crimes contra a pessoa, a parte especial do Código
Penal abrange os crimes contra o patrimônio, com a finalidade
de proteger o patrimônio da pessoa física e jurídica. São crimes
contra o patrimônio: o furto; o roubo e a extorsão; a usurpação; o
dano; a apropriação indébita; o estelionato e a receptação.

Furto (art. 155 do Código Penal)


Furto é a subtração, para si ou para outrem, de coisa alheia
móvel.

a) simples - 155, caput

b) noturno – 155, § 1º;

c) privilegiado – 155, § 2º
ESPÉCIES DE FURTO
d) de energia – 155, § 3º Subtrair significa tirar,
retirar de outrem
e) qualificado – 155, § 4º bem móvel, sem a sua
permissão, com o fim
f) furto de veículo automotor – 155, § 5º de assenhoramento
definitivo. Implica na
retirada do bem sem
O furto simples vem previsto no artigo 155, caput, do Código o consentimento do
possuidor ou proprietário.
Penal, e consiste em “subtrair, para si ou para outrem, coisa
alheia móvel”, cuja pena é de “reclusão, de um a quatro anos e
multa.” São meios de execução:

a) os diretos, como na retirada do objeto pelo agente;


b) os indiretos, quando se utiliza de um animal ou de
uma criança para retirar mercadorias de uma loja, por
exemplo.

A coisa móvel (coisa é toda substância material, corpórea,


passível de subtração e que tenha valor econômico). As coisas
de uso comum, como a luz, o ar, a água do mar ou dos rios, em
princípio, não podem ser objeto material desse delito, salvo se
houver a possibilidade de seu destacamento e aproveitamento de
forma individual.

Unidade 2 89
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Água encanada para uso exclusivo de alguém.

 No furto noturno a pena é aumentada, se praticado


durante o repouso noturno. Não se trata de noite,
Segundo Magalhães de Noronha,
mas o período em que a cidade se aquieta e as pessoas
o período de sossego noturno “é o repousam. Funda-se no maior perigo a que é exposto
tempo em que a vida das cidades a coisa alheia móvel em virtude da diminuição da
e dos campos desaparece, em que vigilância e dos meios de defesa. Por isso, o repouso
seus habitantes se retiram, e as noturno não se confunde com noite. Enquanto essa
ruas e as estradas se despovoam,
é a ausência de luz, aquele é o período de tempo que
facilitando essas circunstâncias
a prática do crime. Seja ou não se modifica conforme os costumes locais, em que as
habitada a casa, estejam ou não pessoas dormem.
seus moradores dormindo, cabe
a majoração se o delito ocorreu  O furto privilegiado ou de pequeno valor tem como
naquele período” (1994. p. 226). condição a primariedade do réu e pequeno o valor da
coisa furtada, que segundo as decisões do tribunal é
o valor até um salário mínimo vigente na época dos
fatos. No furto privilegiado aplica-se uma pena mais
branda.
 No furto de energia, o legislador equiparou à coisa
móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha
valor econômico. Por exemplo, a captação da energia
elétrica antes da sua passagem pelo aparelho medidor.
Já a utilização da fraude pode constituir estelionato,
por exemplo, fazer retroceder o ponteiro do medidor,
para diminuir o quantum já assinalado. Pode ainda ser
subtraída as energias atômica, térmica, solar, etc., pois
têm valor econômico.
 O furto qualificado tem a pena aumentada (de um a
quatro anos para dois a oito anos). O futo qualificado
ocorre nas seguintes hipóteses:
a) quando há destruição ou rompimento de obstáculo
à subtração da coisa, que se constitui na violência
empregada contra o obstáculo. Esse, destinado
a proteger a propriedade como janelas, portas,
fechaduras, vidros, cadeados, alarmes. O agente
destrói ou rompe quebra o obstáculo, Ou seja, o
agente busca ter acesso ao objeto a ser furtado;

90
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

b) quando há abuso de confiança, ou mediante fraude,


escalada ou destreza. Abuso de confiança é
aquele que decorre de
certas relações (que pode
ser a empregatícia, de
amizade ou parentesco)
O que é fraude?
estabelecida entre o
agente e o proprietário
do objeto. O agente
Fraude é o ardil, artifício, meio enganoso empregado pelo agente aproveita-se da confiança
para diminuir, iludir a vigilância da vítima e realizar a subtração. nele depositada para
Ex: agente que se disfarça de empregado de empresa telefônica e praticar o furto. Ou
seja, o agente aproveita
logra entrar em residência alheia para furtar. Ou seja, pela fraude a diminuição da
o agente aproveita a diminuição da vigilância da vítma. vigilância da vítma,
diante da confiança
depositada.

O que vem a ser escalada?

Na escalada o criminoso deseja ter acesso a um lugar, residência,


etc., por via anormal. Nesse caso, há o uso de instrumento para
adentrar no local, como escada, corda ou emprego de esforço
incomum, como saltar muro de dois metros de altura, entrar
pelo telhado, mediante retirada de telhas, passar por um túnel
subterrâneo. Ou seja, o agente busca ter acesso ao lugar onde está
o objeto.

E destreza, o que significa?

A destreza consiste na habilitação física ou manual do agente que


lhe permite o apoderamento do bem sem que a vítima perceba.
Ou seja, o criminoso aproveita a ausência de vigilância da vítima,
quando:

Unidade 2 91
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a) há emprego de chave falsa (inciso III), que compreende


qualquer instrumento utilizado pelo agente para abrir
fechadura. Exemplo: imitação da chave verdadeira,
gancho, grampo, etc. Assim, é a chave diversa da
verdadeira, mas alterada de modo a poder abrir a
fechadura. É a gazua, isto é, qualquer dispositivo
(gancho, grampo, chave de efeito especial que abre
fechaduras). O emprego da chave verdadeira subtraída
ou obtida mediante fraude constitui a qualificadora do
meio fraudulento;
b) é realizado mediante concurso de duas ou mais
pessoas.

Finalmente, se a subtração for de veículo automotor que venha a


ser transportado para outro Estado ou para o exterior, trata-se
de o furto qualificado.

São os veículos automotores: automóveis, ônibus,


caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, jet-skies,
porém partes de veículos não é abrangido pelo tipo
penal.

Roubo (art. 157, do Código Penal)


O roubo é composto por fatos que individualmente constituem
crimes. São eles: furto + constrangimento ilegal, ou furto + lesão
corporal leve, ou grave, ou morte quando houver.

a) roubo próprio, no artigo 157 caput;

b) roubo impróprio, no artigo 157, § 1º;

ESPÉCIES DE ROUBO c) causa de aumento de pena, no artigo. 157, § 2º;

d) roubo qualificado pelo resultado lesão corporal


grave, no artigo157, § 3º;
e) roubo qualificado pelo resultado morte
(latrocício), no artigo 157, § 3º.

92
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

No roubo próprio, o constrangimento e/ou violência é


empregado no início ou concomitantemente à subtração da coisa,
ou seja, antes ou durante a retirada do bem. Ao contrário do
próprio, no roubo impróprio o agente primeiro subtrai a coisa,
sem empregar qualquer constrangimento contra a pessoa, e
somente após efetuá-la emprega violência ou grave ameaça com o
fim de garantir a sua posse ou assegurar a impunidade do crime,
isto é, evitar a prisão em flagrante ou sua identificação.

Quando a pena pode ser agravada no caso de roubo?

A pena é agravada se o roubo for cometido:

a) mediante emprego de arma (arma própria: revólver; ou


arma imprópria: navalha, barra de ferro, etc.);
b) se há concurso de duas ou mais pessoas;
c) se a vítima está em transporte de valores e o agente
conhece tal situação;
d) se a subtração for de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado e o agente mantém
a vítima em seu poder, restringindo a sua liberdade.
Ou seja, o sequestro-relâmpago.

O roubo qualificado pela lesão corporal grave e/ou pela a morte


ocorre quando do emprego da violência física contra a pessoa,
com o fim de subtrair a coisa móvel alheia, de assegurar a sua
posse ou de garantir a impunidade do crime, que decorram lesões
corporais graves ou morte.

O agente desfere um soco na vítima para subtrair-


lhe a carteira, vindo ela cair e bater com a cabeça,
causando-lhe a morte.

Unidade 2 93
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Extorsão (art. 158, do Código Penal)


É um crime de constrangimento ilegal, acrescida de uma
finalidade especial do agente, consubstanciada na vontade
de auferir vantagem econômica. A ofensa à pessoa é o meio
executório para auferimento da vantagem patrimonial. Não é
apenas a coisa móvel que está amparada, mas a coisa imóvel, pois
o agente pode obrigar a vítima a assinar uma escritura pública,
por meio da qual ela lhe transfere uma propriedade imóvel.
Outro exemplo, obrigar a vítima a não propor uma ação judicial
contra o agente.

A diferença entre a extorsão e o contrangimento ilegal está em


que a extorsão é uma espécie do gênero “constrangimento ilegal”
(art. 146, do Código Penal). Se a vantagem almejada for apenas
moral, haverá constrangimento ilegal. Caso o intuito do agente
seja auferir vantagem econômica, haverá crime de extorsão.

Formas de extorsão: simples, no art. 158, caput; aumento de


pena, no art. 158, § 1º; e qualificada, no art. 158, § 2º.

Na extorsão simples a vítima é constrangida, mediante violência


ou grave ameaça, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, a fim
de que o criminoso obtenha para si ou para outrem indevida
vantagem econômica. Aumenta-se a pena do crime, se for
praticado por duas ou mais pessoas, ou se há emprego de arma.
A extorsão qualificada, se resultar lesão corporal grave ou morte,
cuja pena será de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa,
se da violência resultar lesão corporal grave; e se resultar morte,
a reclusão é de 20 a 30 anos, sem prejuízo da multa.

Extorsão mediante seqüestro (artigo 159, do Código Penal)


Extorsão mediante sequestro consiste na privação da liberdade
da vítima tendo por fim a obtenção de vantagem, como condição
ou preço do resgate. Consuma-se com o seqüestro, ou seja,
com a privação da liberdade da vítima, independentemente da
obtenção da vantagem econômica. Basta comprovar a intenção
do criminoso em obter a vantagem como condição ou preço de
resgate, o que se faz mediante as negociações entre o seqüestrador
e os parentes da vítima. Não comprovada essa intenção, o crime
poderá ser outro (seqüestro ou cárcere privado, etc.). A extorsão

94
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

pode ser simples (art. 159, caput); qualificada (art.. 159, §§ 1º,
2º e 3º), que são crimes hediondos. E ainda(art. 159, § 4º) há a
delação premiada.

Na extorsão qualificada a pena será de 12 a 20 anos se o


seqüestro for mais de 24 horas; se o seqüestro for de menor de 18
anos; ou se o seqüestro praticado por bando e quadrilha. Se do
sequestro resultar lesão corporal grave a pena ser de 16 a 24 anos
e se resultar morte a pena será de 24 a 30 anos.

A delação premiada é uma causa de diminuição de pena criada


pelo legislador com o intuito de estimular um dos comparsas a
entregar seus companheiros, facilitando a elucidação e punição
dos crimes praticados em concurso de agentes.

Dano (art. 163, do Código Penal)


O dano consiste na destruição, inutilização ou deterioração de
coisa alheia, de modo a prejudicar a utilidade, ou o valor, ou a
substância. Exemplos: matar um porco, romper a vidraça, cortar
uma árvore, quebrar um revólver, alterar uma obra-de-arte, tirar
os ponteiros de um relógio, etc.

O crime de dano pode ser simples ou qualificado, nesse último,


quando for praticado com violência ou grave ameaça à pessoa,
ou com uso de substância inflamável ou explosiva; ou quando
praticado contra o patrimônio da União, do Estado, do município
e da empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de
economia mista. No dano simples a pena será de detenção, de
um a seis meses, ou multa, enquanto no qualificado, detenção,
de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.

Apropriação indébita (art. 168, do Código Penal)

Apropriar-se significa fazer sua a coisa de outrem. Inversão


de posse. O agente tem legitimamente a posse ou a detenção
da coisa, a qual é transferida pelo proprietário de forma livre
e consciente, mas, no momento posterior, inverte esse título,
passando a agir como se fosse dono. Não há emprego de fraude.
Exemplos: a) “A” entrega a “B” prato de alimento para levar a
“C”, e “B” ingere-o no caminho; b) o ourives que funde um tipo

Unidade 2 95
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de ouro de menor valia do que aquele que lhe foi entregue para
confecção da jóia; c) o agente não devolve o objeto ou não lhe dá
o destino conveniente, para o qual recebeu; d) o agente afirma
que não recebeu a coisa; e) reconhece-se a apropriação indébita
na atitude do motorista que, trabalhando com veículo alheio
e devendo diariamente entregar os ganhos, desaparece com o
veículo, sendo detido em flagrante dias após, tendo alterado o
prefi xo identificador do carro e se apoderado das férias recebida”
(TACrim – JTACrim, 21/340); f) funcionário de despachante
que, recebendo dinheiro do cliente para licenciamento do veículo,
falsifica as guias de recolhimento para utilizá-las em proveito
próprio (TJPR – RTJE, 120/221).

Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da


natureza (art. 169, do Código Penal)

Se no artigo 168, acima, a posse ou detenção do bem pelo agente


decorre da voluntária e consciente transferência pelo proprietário,
no presente artigo o bem é havido por erro, caso fortuito ou força
da natureza.

a) Erro (é a representação falsa de algo):

Tício manda pelo Caio entregar dinheiro a Clóvis, que


é entregue a um homônimo que se apropria; b) uma
pessoa vende um imóvel que no seu interior havia
dinheiro de que o comprador se apropria; c) o agente
compra da vítima jornais velhos, porém, juntamente
com eles, vem a seu poder um título de valor
econômico; d) uma pessoa manda sua roupa a lavar
no tintureiro, mas em um dos bolsos acha-se dinheiro,
do qual se apropria; e) quando alguém entrega a
outrem quantidade maior do que a devida.

96
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

b) Caso fortuito ou força da natureza:

a) roupas levadas pelo vento ao terreno vizinho,


os objetos arrastados pela correnteza da chuva, os
quais são apropriados; b) “quem encontra em sua
propriedade animais que sabe serem do vizinho e, ao
invés de devolvê-los, vende-os como seus, comete o
delito do art. 169 do CP (TACrim – JTACrim, 57/288);
c) “desde o momento em que o titular de conta
bancária teve ciência de que o dinheiro nela
depositado não lhe pertencia, não passando
de engano, mas mesmo assim sacando-o e não
o restituindo, configurado se acha o delito de
apropriação de coisa havida por erro previsto no art.
169 do CP” (TACrim – RT, 585/331).

Estelionato (art. 171, do Código Penal)


O estelionato é o uso de meio fraudulento para enganar a vítima,
ou mantê-la sob engano existente, visando a vantagem ilícita que
pode ser para si ou para outrem:

a) no conto premiado, enganando a vítima, e o


criminoso recebe o dinheiro; b) “tipifica estelionato
pedido e recebimento de vantagem como
contraprestação de serviços de macumba para
neutralizar trabalho que teria sido providenciado por
desafeto com o objetivo de ser a vítima atropelada”
(TACrim – JTACrim, 56/339); c) “o estelionato é crime
material e de dano, que se consuma com a vantagem
ilícita patrimonial, fim visado pelo agente. A fraude, o
engano, é apenas o meio de que se serve o meliante
para alcançar o ilícito objetivo” (TACrim – JTACrim,
32/141).

Entre as fraudes existente, há a emissão de cheque sem fundos,


que pode ser cometido por intermédio de duas condutas:

1º) emitir cheque sem suficiente provisão de fundos em


poder do estabelecimento bancário sacado (ou seja,
o agente coloca em circulação cheque para efeito
de pronto pagamento, não tendo suficiente saldo
bancário);

Unidade 2 97
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2º) frustrar o seu pagamento (possui provisão de fundos.


Entretanto, agindo fradudulentamente, retira a quantia
antes do saque ou dá contra-ordem de pagamento).
Emitir significa por o cheque em circulação. A
conduta de preencher o título não integra o verbo
emitir. Frustrar é enganar ou iludir. O cheque é
emitido para pagamento à vista. Não se trata de título
como a nota promissória, em que o pagamento não é
de pronto, mas a prazo. Em face disso, não é crime
quando o cheque é dado como garantia de dívida, ou
quando é pré-datado.
Nos crimes de estelionato e de outras fraudes a pena será de
reclusão, de um a cinco anos e multa.

Receptação (art. 180, do Código Penal)


O crime de receptação acontece quando o agente adquire, recebe,
oculta, transporta, etc., em proveito próprio ou alheio, coisa
produto do crime. Pressupõe a prática de um crime anterior. Se
for contravenção o fato é atípico. A receptação pode ser:

a) simples, no artigo 180, caput;


b) no exercício da atividade comercial, no artigo 180, §
1º e § 2º;
c) culposa, no artigo 180, § 3º;
d) privilegiada, no artigo 180, § 5º, 2º parte;
e) finalmente, qualificada, no artigo 180, § 6º.

A receptação é crime autônomo, que se caracteriza ainda que


desconhecido ou isento de pena o autor do crime antecedente ou
pressuposto, de que veio a coisa. Não há necessidade que exista
inquérito ou procedimento judicial anterior, mas é necessário que
se identifique o delito antecedente, com prova segura da origem
criminosa do objeto.

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Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

SEÇÃO 5 - Dos crimes contra o sentimento religioso e


contra o respeito aos mortos
A parte especial do Código Penal prevê também crimes,e tem
por finalidade assegurar o respeito aos mortos. Nesse sentido,
há o crime de ultraje a culto ou impedimento de ato religioso e
destruição e subtração de cadáver.

Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato religioso (art.


208, do Código Penal)
O artigo 208, do Código Penal, contém três modalidades de
crimes:

a) o escárnio de alguém publicamente por motivo de


crença ou função religiosa (escarnecer é zombar, Impedir é não permitir o
ridicularizar, de forma a ofender alguém, em virtude início ou prosseguimento
de crença ou função religiosa); da cerimônia ou prática
de culto religioso, por
b) o impedimento ou perturbação de cerimônia ou exemplo: pregar as portas
prática de culto religioso; da igreja. Perturbar é
atrapalhar, tumultuar
c) vilipêzndio público de ato ou objeto de culto religioso a cerimônia ou culto
(vilipendiar é desprezar, de modo ultrajante, o ato religioso, por exemplo,
ou objeto de culto religioso. Pode ser por escrito, por proferir palavrões durante
a cerimônia religiosa,
palavras, por gestos).
fazer barulho para que o
sermão do padre não seja
Proferir palavrões contra a imagem de Santo, atirar ouvido pelos fiéis. Ou da
papéis contra ele, dar pontapés. Deve ser realizado mulher nua que ingressa
publicamente, na presença de várias pessoas. no interior do templo
para levantar protestos ou
intervenção da autoridade
Note que o escarnecer deve ser público por diversas formas: oral, eclesiástica (NORONHA,
escrita, simbólica, etc. Se for somente entre o agente e a vítima é 1994, p. 78). Cerimônia
é o ato religioso solene,
injúria. como missa, casamento,
procissão, batizado.
Ato religioso – sem
solenidade como novena,
oração, sermão, etc.
Crença é a fé em uma
doutrina religiosa, ao
passo que função é o
ministério, como o pastor,
rabino, padre, frade,
freira, etc

Unidade 2 99
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Destruição, subtração ou ocultação de cadáver


(art. 211, do Código Penal)
Destruir é atentar contra a coisa, como queimar, esmagar, o
cadáver ou parte dele. Subtrair é tirar o cadáver ou parte dele
da esfera de proteção ou guarda da família, amigos, vigias
do cemitério. Ocultar é esconder. Exemplo: o agente após o
atropelamento esconde a vítima no interior de uma mata ou a
joga em um rio ou a esconde em sua residência. A ocultação
somente pode ocorrer antes do sepultamento (HUNGRIA,
1979, v. VIII, p. 1973), ao passo que a subtração pode dar-se
antes ou depois do sepultamento, por exemplo, haverá subtração
se, durante o velório, pessoas tiram o corpo do ataúde e fogem
com ele (NORONHA, 1994, p. 89).

SEÇÃO 6 - Dos crimes contra os costumes


Estupro (art. 213, do Código Penal)
O crime consiste em obrigar mulher à conjunção carnal,
mediante violência ou grave ameaça. O criminoso só pode ser
Ameaça é obrigar, forçar, mediante homem (o marido também pode ser sujeito ativo contra a esposa).
dissenso da vítima. Não bastam A mulher somente pode ser sujeito ativo no caso de participação
negativas tímidas (quando os (instigação, induzimento ou auxílio). Para a caracterização exige-
gestos são de assentimento), nem se a conjunção carnal. Ou seja, para sua consumação deve haver
a resistência passiva ou inerte.
cópula (pênis e vagina da vítima) – completa ou incompleta. A
Também não se exige o heroísmo.
violência se traduz a vias de fato, lesão corporal ou morte e grave
ameaça.

Atentado violento ao pudor (art. 214, do Código Penal)


O crime de atentado violento ao pudor pune o criminoso que
impõe de forma forçada atos libidinosos diversos da conjunção
carnal, como o coito oral, anal, toques lascivos, entre outros.

100
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Posse sexual mediante fraude (art. 215, do Código Penal)


O crime consiste em manter conjunção carnal com a vítima
mediante fraude, ou seja, o engodo, o artifício, que leva a
mulher à convicção da legitimidade do ato ou faz com que ela se
engane sobre sua identidade. Exemplos: o criminoso, no escuro,
simulando ser o marido, ingressa no leito e mantém relações
sexuais; o criminoso simula um casamento com a vítima; um
homem que a pretexto fazer curas milagrosas, ao receber espíritos
mantém relações com as vítimas; o criminoso que simula ser o
marido num baile de máscaras.

Atentado ao pudor mediante fraude (art. 216, do Código Penal)


O crime é induzir alguém, mediante a fraude, a praticar ou
submeter-se à prática de ato libidinoso diverso da conjunção
carnal. Induzir é levar a, mover a, persuadir, incitar, instigar. É
preciso que a vítima seja lubridiada, mediante fraude. Na prática
há participação ativa da vítima. E a permissão é a autrorização da
vítima.

O enfermeiro a pretexto de aplicar injeção na doente


submete-a a atos de libidinagem. Ou o médico a
pretexto de examinar, entre outros.

Assédio sexual
Configura-se assédio sexual quando se vislumbram atos de
insinuação sexual que atingem o bem-estar de uma mulher
ou um homem, constituindo-se esses no meio pelo qual o
assediador constrange o sujeito, objeto de seu desejo, a prestar
favores sexuais sob a condição de com isso preservar ou adquirir
direitos. É crime o comportamento que inclui comentários,
olhares, submissão a contatos físicos repetidos, não-recíprocos e
não-desejados, suscetíveis de ameaçar a segurança do emprego
de uma pessoa ou criar um ambiente de trabalho angustiante
ou intimidante. Basta que o assediador proponha enfática e
definitivamente a prestação de favores sexuais, valendo-se de
sua posição hierárquica, em troca da manutenção de direitos da
vítima, para que esse se configure.

Unidade 2 101
Universidade do Sul de Santa Catarina

Casa de prostituição (art. 229, do Código Penal)


O crime é manter casa de prostituição ou lugar destinado a
encontros para fim libidinoso. Manter é conservar, permanecer,
sustentar, prover. Casa de prostituição é o lugar destinado a
encontros para fins libidinosos mantidos por conta própria ou
de terceiro. Instalada a casa, se houver um só ato sexual, haverá
crime. É o local onde as prostitutas exercem o comércio carnal.
O lugar destinado a encontros para fins libidinosos. Diferente dos
prostíbulos NÃO configura o crime, os motéis e hotéis de alta
rotatividade.

Ato obsceno (art. 233, do Código Penal)


O crime ocorre quando alguém pratica ato obsceno em lugar
público, ou em lugar aberto ao público, ou exposto ao público.
Ato obsceno é a manifestação corpórea, de cunho sexual, que
ofende o pudor público. As palavras obscenas não caracterizam
o delito, embora possam configurar a contravenção penal de
importunação ofensiva ao pudor, previsto no art. 61, da Lei
de Contravenções Penais. Exemplos de atos obscenos: cópula
praticada no jardim público, urinar em logradouro público,
exibindo aos passantes órgão sexual. Lugar público é o local
acessível a número indeterminado de pessoas. Ex: praça pública.
Lugar aberto ao público é o local acessível a pessoas, ainda que
neles só possam entrar determinadas pessoas, como cinemas
e bares. E exposto ao público é o local que pode ser visto pelo
público, como jardim de certa residência, janelas.

SEÇÃO 7 - Dos crimes contra o casamento


Bigamia (art. 235, do Código Penal)
O crime é contrair novo casamento quando já casado. O
crime ocorre no momento em que os nubentes manifestam
seu assentimento à vontade de casar. Ou seja, com o SIM. É
dispensável a lavratura do termo de casamento, configurando
como simples prova.

102
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

SEÇÃO 8 - Dos crimes contra a paz pública


Os crimes contra a paz pública são aqueles que atentam contra
a sensação de segurança e tranqüilidade da população. O objeto
jurídico é a paz pública. São crimes de perigo.

Incitação ao crime (art. 286, do Código Penal)


A conduta punível é incitar (estimular, excitar, instigar, açular,
assanhar), publicamente (ou seja, de modo a ser percebida por um
número indefinido de pessoas), a prática de crime determinado
(seja de ação pública ou privada). Pouco importa que a instigação
vise a pessoa específica; basta que seja compreendida por número
indeterminado de pessoas (publicidade). Por isso, a incitação
feita em ambiente familiar não caracteriza o delito. Admite-
se qualquer meio de execução: palavras, gestos, escritos, etc. A
incitação deve ser de crime determinado. O agente deve incitar,
por exemplo, à prática de roubos, estupros, etc.

Apologia de crime ou criminoso (art. 287, do Código Penal)


Incrimina o Código Penal fazer apologia (defender ardentemente,
louvar, elogiar), publicamente (com conhecimento de número
indeterminado de pessoas), de crime (efetivamente ocorrido) ou
criminoso (não se exige a condenação do elogiado). É necessário
que a apologia seja feita em condições tais que possa ser percebida
por um número indefinido de pessoas. A simples defesa, ou
manifestação de solidariedade não constitui delito. Consuma-se
com a percepção, por indefinido número de pessoas, dos elogios
endereçados a crime determinado e anteriormente praticado
ou a autor de crime. Embora crime formal, admite tentativa
(Exemplo: foi preso quando tentava distribuir folhetos com a
apologia).

Unidade 2 103
Universidade do Sul de Santa Catarina

Quadrilha ou bando (art. 288, do Código Penal)


Incrimina-se a associação (aliarem-se) mais de três pessoas (no
mínimo quatro), de forma estável e permanente, para o fim (dolo
específico) de cometer vários crimes. Consuma-se no momento
em que o criminoso se associa, mesmo que nenhum crime seja
praticado pelo bando.

SEÇÃO 9 - Dos crimes contra a fé pública


Fé pública é a confiança que todos depositam na autenticidade
ou legitimidade de certos documentos, sinais e objetos que o
Estado, por meio de legislação pública e privada, atribuiu valor
probatório. Daí a aceitação geral de que certos documentos, sinais
e objetos protegidos pelo Estado, até prova em contrário, são
autênticos. O Código Penal prevê nos seus arts. 289 a 311.

Moeda falsa (art. 289, do Código Penal)


O crime é falsificar (imitar ou alterar) moeda metálica ou papel-
moeda de curso legal no país ou no estrangeiro, seja fabricando
ou alterando dinheiro verdadeiro. O crime consuma-se com a
fabricação ou alteração da moeda. Não se exige que seja posta
em circulação, nem que venha a causar dano a outrem, basta a
fabricação ou alteração da moeda.

Crimes de falsidade documental


Os crimes de falsidade documental como espécies dos delitos
contra a fé pública envolvem os de falsidade material – Arts. 296,
297, caput, 298, 301, § 1º, 303 e 305, todos do Código Penal, e
os de falsidade ideológica – Arts. 297, §§ 3º e 4º, 299, 300, 301 e
302, todos do Código Penal.

104
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Falsificação de documento público (art. 297, do Código Penal)


O crime é falsificar, no todo ou em parte, qualquer documento
público, ou alterar documento público verdadeiro. Falsificar
indica a contrafação, isto é, a formação total ou parcial do
documento. O criminoso forma o documento por inteiro
(contrafação total) ou acresce dizeres, letras ou números ao
documento verdadeiro (contrafação parcial). Alterar é modificar
o conteúdo do documento (modificar dizeres, signos, números,
letras, etc.). Não deve haver supressão de palavras, números,
letras, etc. Se isso ocorrer, incide a norma do art. 305 do Código
Penal (supressão de documento). Nos dois casos, a falsificação
há de ser idônea a iludir terceiro. Se for grosseira, perceptível
à primeira vista, inexiste o delito em face de ausência da
potencialidade lesiva do comportamento.

O fato deve ser potencialmente danoso capaz de


produzir dano. O falso inofensivo não constitui delito

O documento público é aquele elaborado por funcionário público,


no exercício de sua função e de acordo com a legislação. O escrito
deve ser feito sobre coisa móvel, que possa ser transportada e
transmitida, mas não é indispensável que se trate de papel e pode
a inscrição ser realizada em pergaminho, etc.

São equiparados a documentos públicos (art. 297, § 2º):

1) documento emitido por entidade paraestatal


– empresas públicas, sociedades de economia mista,
serviços sociais autônomos. São pessoas jurídicas
de direito privado, cuja criação é autorizada por lei,
com patrimônio público ou misto, para realização de
atividade, obras ou serviços de interesse coletivo;
2) títulos ao portador ou transmissível por endosso
– notas promissórias, cheques, duplicatas, letras de
câmbio, conhecimento de depósito, etc.;
3) ações de sociedade comercial – sociedade anônima
e sociedade em comandita por ações, preferenciais,
ordinárias, etc.;

Unidade 2 105
Universidade do Sul de Santa Catarina

4) livros mercantis – obrigatórios ou facultativos;


5) testamento particular.

A consumação acontece com a falsificação ou alteração do


documento.

Falsidade de documento particular (art. 298, do Código Penal)


O crime é falsificar, no todo ou em parte, documento particular
ou alterar documento particular verdadeiro. Documento é o
escrito elaborado por um autor certo, que manifesta a narração
de fato ou a exposição de vontade, possuindo importância
jurídica. Requisitos do documento: forma escrita – não abrange
fotografias, cópias não-autenticadas, pinturas, gravuras. Escrito
aposto em coisa móvel; autor determinado – escrito anônimo
(sem autoria certa, sem assinatura) não configura documento;
conter manifestação de vontade ou exposição de fato; relevância
jurídica.

Falsificação ideológica (art. 299, do Código Penal)


O crime é omitir, em documento público ou particular,
declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim
de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante. São as seguintes condutas: omitir
declaração que deveria constar; inserir nele declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita; fazer inserir nele declaração falsa
ou diversa da que devia ser escrita. Na primeira, há omissão, o
sujeito não menciona. Na segunda, o sujeito insere declaração
inverídica (pessoalmente) – falsidade imediata. Na terceira,
o sujeito atua por meio de terceiro, induzindo-o a inserir no
documento – falsidade mediata.

106
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

São exemplos de falsidade ideológica: inserção em


escritura pública de falso pagamento de imposto;
troca de provas realizadas em concurso público das
acusadas, de modo que se fizesse passar uma pela
outra; na certidão, em mandado, de falsa citação do
réu; dizer-se o agente solteiro quando era casado,
em processo de habilitação de casamento; falsa
declaração de parentesco a fim de que o interessado
na aquisição de imóvel pelo Sistema Financeiro de
Habitação atingisse a renda exigida.

Falsidade de atestado médico (art. 302, do Código Penal)


A conduta criminosa é a do médico, que no exercício da sua
profissão, dá atestado falso. Assim, o crime é fornecer o médico
atestado falso. Atestado por escrito, e de modo geral, cuida-se
de atestado de saúde ou de constatação de uma doença. Pode ser
também referente a fatos diversos como a morte, causa de uma
moléstia, causa de morte, os efeitos de uma doença ou lesão física,
etc.;

SEÇÃO 10 - Dos crimes contra a administração pública


Os crimes contra a administração pública envolvem os crimes
praticados por funcionário público contra a administração em
geral ( arts. 312 a 327), os crimes praticados por particular
contra a administração em geral (arts. 328 a 337-A), os
crimes praticados por particular contra a administração
pública estrangeira (art.337-B a 337-D), os crimes contra a
administração da justiça (arts. 338 a 359) e os crimes contra as
finanças públicas (arts. 359-A a 359-H).

Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração


em geral
Crimes funcionais são os que só podem ser cometidos por
pessoas que exercem funções públicas. Classificam-se em:
delitos funcionais próprios e delitos funcionais impróprios. No
primeiro, a qualidade do funcionário atua como elementar do

Unidade 2 107
Universidade do Sul de Santa Catarina

tipo, e sem ela, o fato é atípico. Exemplo: prevaricação (art. 319,


do Código Penal). Assim, provado que o agente na época não
era funcionário público, desaparece o delito. Nos impróprios,
excluída a qualidade de funcionário público, há dois efeitos:
desaparece o crime de que se trata e opera-se a desclassificação
para outro delito. Exemplo, peculato (art. 312, do Código
Penal), excluída a elementar “funcionário público”, desaparece,
por atipicidade relativa, o crime de peculato, subsistindo a
apropriação indébita (art. 168, do Código Penal). Os delitos
funcionais são aqueles que o Código Penal denomina de crimes
praticados por funcionário público contra a administração
pública.

Peculato (art. 312, do Código Penal)


Protege-se a administração pública, preservação do erário
público. O crime é a apropriação realizada pelo funcionário
público de bens e valores da administração pública, ou que
estejam sob sua responsabilidade.

Figuras típicas:

Fig. 5. Tipos de peculato

Veja que o crime só pode ser cometido por funcionário público.


Nesse caso, o Estado é a vítima, ou sendo o bem particular
sob responsabilidade da administração pública (Ex: veículo
apreendido), também o proprietário ou possuidor. O objeto
material é a coisa sobre que recai a conduta do funcionário
público: dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel de natureza
pública ou privada. Assim, o objeto material é o mesmo do
furto, do roubo e da apropriação indébita. É necessário que a
coisa seja pública ou que, sendo particular, esteja sob guarda da
administração pública.

108
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Dessa forma, a prestação de serviço, não coisa, não integra


a figura típica. Por isso, não constitui peculato o fato de o
funcionário público utilizar-se de outrem, também funcionário
público, para a realização de atividade em proveito próprio
(chamado peculato-uso).

Peculato-apropriação

Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor


ou outro bem da administração pública, que está sob
a responsabilidade desse funcionário, em razão do
exercício da função, como o chefe do almoxarifado,
ou tesoureiro de uma repartição entre outros. E ainda,
o policial ou carcereiro que se apropria de bens do
preso. Nesse caso, é necessário que a coisa esteja sob
guarda da administração pública, senão ocorrerá
outro delito, como por exemplo, o policial que subtrai
toca-fitas de automóvel que perseguira e que fora
abandonado na via pública.

Peculato-desvio

O funcionário que empresta dinheiro da


administração pública de que tem guarda
(mesmo que seja devolvido posteriormente com
juros e correção monetária). Ou, funcionário
que conscientemente efetua pagamentos pela
administração pública (dinheiro público) por serviço
não-efetuado, ou mercadoria não-entregue, ou em
valor a maior, apropriando-se do recurso ou da verba
que era destinada para tais pagamentos.

Peculato-desvio

Funcionário público aproveitando-se da qualidade


de servidor público, ingressa no almoxarifado da
repartição pública e subtrai para si pneus novos
destinados a ambulâncias.

Unidade 2 109
Universidade do Sul de Santa Catarina

Peculato-culposo

Funcionário público que deixa serventia de cartório


por conta de outrem, sem conhecimento oficial de
autoridade superior, criando culposamente condições
favoráveis à prática de ilícitos administrativos e
criminais.

Concussão (art. 316, do Código Penal)


Ocorre o crime de concussão quando o funcionário exige
de outrem, indevidamente, uma vantagem econômica ou
patrimonial. A vantagem pode ser patrimonial ou econômica,
presente ou futura, beneficiando o próprio agente ou terceiro.
Exemplo: policial, incurso no art. 316, caput, do Código
Penal, que exige dinheiro para permitir o funcionamento de
prostíbulos. Ou quantia exigida por policial para liberação de
preso em flagrante.

Corrupção passiva (art. 317, do Código Penal)


É crime de corrupção passiva quando o funcionário público
solicita ou aceita vantagem indevida, em razão da função pública.
É indispensável que o ato tenha relação com a função do
funcionário. A consumação do crime acontece com a solicitação,
ou recebimento, ou a promessa é aceita para a prática de ato
regular ou ato ilícito

Prevaricação (art. 319, do Código Penal)


Ocorre quando o funcionário se abstém da realização da conduta
que está obrigado, ou retarda ou a concretiza contra a lei, com
destinação específica para atender a sentimento ou interesse
próprio. Ou seja, o funcionário público pratica a conduta
delituosa ao retardar ato de ofício, ou ao deixar de realizar ato de
ofício; ou realizar ato de ofício, mas de forma contrária da lei.

110
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Secretário da Câmara Municipal que se omitiu em ato


que devia praticar para atender interesse de amigos
políticos” (RT 223/379).
“Funcionário que por sua tolerância permite que seus
amigos pesquem em local proibido” (RT 412/296).
“Funcionário público que por comodismo (e raiva)
se recusa a atender durante o horário normal de
expediente os contribuintes que desejavam recolher,
tempestivamente, seus débitos fiscais” (RT 397/286).
“Médico, chefe do centro de saúde, que retarda
expedição de atestado de óbito em face da
animosidade com autoridade policial” (RT 520/367).
Militar que deixa de tomar providências para
beneficiar superior hierárquico.

Dos crimes praticados por particulares contra a administração em


geral
São aqueles crimes praticados por particulares contra a
administração pública.

Resistência (art. 329, do Código Penal)


O crime de resistência consiste na oposição ativa à realização de
ato legal de funcionário público competente, mediante violência
ou grave ameaça. O artigo do Código Penal busca resguardar o
agente do poder público de quem, mediante violência física ou
ameaça, tenta impedir a execução de ato legítimo.

Desacato (art. 331, do Código Penal)


Desacatar significa ofender, humilhar, agredir, deprestigiar o
funcionário público. Pode ser por vários meios: palavras, gestos,
gritos, vias de fato, agressões físicas, etc. Qualquer ato que
signifique menosprezo ou deprestígio. É necessário que a ofensa
seja realizada contra o funcionário público:

Unidade 2 111
Universidade do Sul de Santa Catarina

 no exercício da função pública. Ou seja, ocasional


– na ocasição (momento) do exercício da função. Ex:
xingamentos contra o delegado de polícia que está
na Delegacia de Polícia no exercício de sua função
pública; ou
 em virtude da função. Ou seja, causal – por causa
da função pública. Ex: o mesmo delegado de polícia
que está no restaurante e é xingado por terceiro que
esbrajeva a prisão do irmão ocorrida anteriormente.

Corrupção ativa (art. 333, do Código Penal)


Pune-se o particular que oferece ou promete vantagem indevida
a funcionário público para que pratique, omita ou retarde ato da
sua competência. Ou seja, o crime consiste em oferecer, prometer
vantagem a funcionário público com o fim de determiná-lo a
realizar, omitir, ou deixar de praticar ato de ofício. Oferecer é
expor à aceitação. Prometer é dizer que obriga-se, compromete-
se, garantir a entrega de algo. Pode ser por palavras, gestos,
escritos, etc., contudo, inexiste na ausência de oferta ou promessa
de vantagem.

“Pede-lhe que dê um jeitinho”. Se no caso houver


exigência de funcionário, tipifica a concussão (art.
316, do Código Penal). A vantagem indevida deve
endereçar ao funcionário, não a terceiro como parente
e amigo. O o delito pode ser realizado por interposta
pessoa. Mesmo que o funcionário venha a repelir a
oferta há crime.

Não há crime se o sujeito der ao funcionário pequenas


gratificações ou doações em agradecimento a comportamento
funcional seu. E ainda, não se trata de qualquer funcionário,
mas àquele que tem o dever de ofício de realizar ou não o ato.
Também, não há corrupção ativa se a vantagem for oferecida ou
prometida ao funcionário depois de sua conduta funcional. Pois,
o comportamento deve ser realizado no futuro para que se faça,
não porque se fez.

112
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

A vantagem deve ser indevida. E a promessa possível de se


realizar. Exemplo: não há crime se a promessa for uma viagem
ao sol, ao céu, ao inferno. Neste caso, pode haver prevaricação do
funcionário público.

Contrabando ou descaminho (art. 334, do Código Penal)


Contrabando é a importação ou exportação de mercadorias
ou gêneros cuja entrada é proibida no país. Descaminho é a
fraude no pagamento de impostos ou taxas. O crime consiste
em importar (trazer para dentro do país) ou exportar (fazer
sair) mercadorias (coisas móveis) proibidas. Exemplo: produtos
falsificados. Ou em iludir, no todo ou em parte, o pagamento de
direito ou imposto devido pela entrada, saída ou pelo consumo de
mercadoria. Exemplo: Imposto de Importação

Para configuração da atividade comercial e/ou industrial, exige-


se reiterada prática delituosa, com destinação comercial ou
industrial.

Para a consumação do delito é necessário verificar se a entrada ou


a saída da mercadoria aconteceu:

a) pela alfândega – nesse caso, no momento em que


é liberada. Se interronpida antes da liberação, há
tentativa;
b) por outro local que não pela aduana – no momento
em que entra ou sai do território nacional. Tentativa
possível.

Dos crimes contra a administração da justiça


Vistos até agora os crime praticados por funcionários públicos e
por particulares contra a administração pública, vamos ingressar
agora nos crimes contra a adminsitração da justiça. Ora, já
imaginaram se as testemunhas pudessem mentir, ou se o juiz de
direito fosse ameaçado? Com certeza existem certas condutas
humanas que são consideradas crimes pelo Código Penal para
assegurar a aplicação da justiça. Assim, vamos ingressar nos
principais crimes, a exemplo da denunciação caluniosa.

Unidade 2 113
Universidade do Sul de Santa Catarina

Denunciação caluniosa (art. 339, do Código Penal)


O crime de denunciação caluniosa consiste em dar causa a
instauração de investigação policial ou processo judicial contra
alguém, imputando-lhe prática de crime. Dar causa é provocar,
que pode ser:

 direta – o próprio agente apresenta a notícia crime à


autoridade policial ou judiciária: verbalmente ou por
escrito; ou
 indireta – por outro meio, como carta, telefonema
anônimo, gestos, rádio, telegrama, televisão, colocação
de entorpecente ou objeto furtado na bolsa de alguém,
recado à autoridade;

A ação da autoridade pública deve ter sido causada por


conduta espontânea do agente, não por terceiro. Assim, não há
denunciação caluniosa no caso do réu ou de testemuha acusar
alguém da prática de infração penal durante o interrogatório ou o
depoimento. Nesse caso, há calúnia (art. 138, do Código Penal)
por parte do réu e falso testemunho (art. 342, do Código Penal)
por parte da testemunha. A imputação pode ser sobre:

 o fato infracional verdadeiro, dirigido a quem não o


realizou ou dele participou;
 o fato que não aconteceu.

Se a imputação diz respeito a crime – caput do art.339, do


Código Penal. Se a imputação diz respeito à contravenção – §
2º do Art. 339, do Código Penal. Havendo emprego de nome
suposto ou de anonimato, a pena é agravada – § 1º do art. 339,
do Código Penal.

114
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Comunicação falsa de crime ou de contravenção (art. 340, do Código


Penal)
O crime é provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a
ocorrência de crime ou contravenção. A comunicação pode ser
verbal ou escrita, anônima ou com nome imaginário. Não basta
a simples comunicação, é necessário diligências da autoridade
pública (ouvindo pessoas, colhendo dados), não é preciso que seja
instaurado inquérito policial. Se a infração realmente ocorreu a
comunicação é atípica. É possível que o sujeito aponte um furto,
quando realmente ocorreu um roubo. Nesse caso, não há delito.
Existe delito quando o fato é essencialmente diferente.

Estupro ao invés de roubo.

Auto-acusação falsa (art. 341, do Código Penal)

Nesse crime, o sujeito atribui-se a prática de um crime inexistente


ou que foi cometido por terceiro. O objeto da auto-acusação
deve ser crime. Se for contravenção penal o fato é atípico. A
auto-acusação deve ser realizada perante a autoridade judicial
ou policial. Se realizada perante funcionário público que não
seja autoridade não há crime.O mesmo se for a particular. Não
é necessário que seja cometido diante da autoridade, como a
princípio leva a entender a expressão “perante”. O conhecimento
pode ser levado à autoridade por escrito, de forma verbal, etc.

Falso testemunho ou falsa perícia (art. 342, do Código Penal)


O crime é fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade
como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em
processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em
juízo arbitral. Testemunha é pessoa chamada a depor. Perito é
a pessoa com conhecimento técnico chamada a auxiliar o juiz.
Contador é o perito que faz cálculo. Tradutor é a pessoa chamada
para verter um texto de uma língua para outra. Intérprete é a
pessoa chamada para auxiliar o juiz na tomada de depoimento
daquele que não fala a língua nacional, ou não pode, por outro
meio expressá-la, como os surdos-mudos.

Unidade 2 115
Universidade do Sul de Santa Catarina

A conduta criminosa deve ser realizada em processo


judicial (criminal, civil ou trabalhista), em inquérito
policial, em processo administrativo, juízo arbitral
(lei nº 9.307/96) ou em inquérito parlamentar (lei nº
1.579/52).

Inexiste delito se a testemunha nega a verdade para não se


incriminar. É irrelevante para existência do crime, que o falso
testemunho tenha influído na decisão da causa.

Se o sujeito, em fases sucessivas, depõe falsamente há um só


delito. Exemplo: a testemunha vem a faltar com a verdade no
inquérito policial, em juízo e no Tribunal de Júri.

Fuga de pessoa presa ou submetida à medida de segurança (art. 351,


do Código Penal)
Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou
submetida à medida de segurança detentiva. Promover é realizar,
executar a fuga. E facilitar consiste em prestar meios. O preso
é aquele que está na cadeia pública (provisório) ou no sistema
penal, em cumprimento de pena (definitivo). A medida de
segurança é aplicada a inimputáveis e semi-imputáveis, como por
exemplo os doentes mentais, ou com desenvolvimento mental
incompleto. O crime pode ser cometido com:

 violência física contra pessoa;


 violência moral (grave ameaça);
 violência contra coisa;
 fraude. Ex: engano do carcereiro com apresentação de
alvará de soltura.

116
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Evasão mediante violência contra a pessoa (art. 352, do Código Penal)


O crime é evadir ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo
submetido à medida de segurança, mediante violência contra
a pessoa. Evadir é fugir, libertar-se, escapar. A simples fuga
sem violência não constitui o crime. A violência contra a coisa
e a grave ameaça não constitui o crime em pauta. A violência
é a empregada contra carcereiro, guarda, ou outro detento ou
internado, que pode constituir-se em vias de fato (um tapa), lesão
corporal (um hematoma) ou morte.

Arrebatamento de preso (art. 353, do Código Penal)


O crime é arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de
quem o tenha sob custódia ou guarda. Arrebatar é tirar, arrancar,
tomar o preso de quem o detém, à força, com a finalidade de
maltratá-lo. Exemplo: arrancar o preso da delegacia para linchá-
lo. O fato de tirar o preso da delegacia com a finalidade de
linchá-lo (maltratá-lo), por si só, já é o crime de arrebatamento de
preso.

Chegamos ao final de mais uma unidade. O objetivo era abordar


os conceitos de crime e contravenção penal e as formas de
aplicação do Código Penal na segurança pública. O importante
é que você saiba identificar os crimes mais comuns, previstos
no Código Penal, que ocorrem no dia-a-dia. Mas é necessário
que faça leituras complementares e consulte o Código para
aprofundar seus conhecimentos.

A Unidade 3 abordará Noções de Direito Administrativo, mas


antes de passar para unidade seguinte, leia a síntese e desenvolva
as atividades de auto-avaliação. Confira no final do livro os
comentários. Não esqueça também de consultar os livros e acessar
os sites indicados.

Unidade 2 117
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de auto-avaliação

1) Num naufrágio distante da praia, havia um único bote salva-vidas.


Para poder salvar a vida daqueles que já estavam embarcados e evitar
a superlotação do bote e, por conseqüência, o seu afundamento,
as pessoas embarcadas começaram a impedir a subida de mais
pessoas que estavam na água, colocando em sério risco a vida de
terceiros e, inclusive, alguns vieram a falecer por afogamento. Essa
conduta de impedir a subida das pessoas que estavam na água que
também pretendiam subir no bote e, assim, evitar a superlotação e o
afundamento do único bote salva-vidas constitui crime? Sim? Não? Por
quê?

2) Qual das condutas listadas é crime?


a) ( ) Não cumprimentar o vizinho com um bom-dia.
b) ( ) Deixar de dar o lugar no ônibus a pessoas mais idosas.
c) ( ) Tirar a vida de alguém por causa de um jogo de baralho.
d) ( ) Cuspir no chão.
e) ( ) Olhar atravessado o irmão.

118
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

3) Qual a diferença entre o furto e o roubo?

4) Uma mulher, grávida de oito meses, entrou em trabalho de parto


dando à luz a uma menina. Algum tempo após, sob a influência do
estado puerperal, resolve matar a recém-nascida. Qual o crime que a
mulher cometeu?

Síntese

Esta unidade abordou noções de Direito Penal, que traz o


aspecto da legalidade como base, pois só há crime se houver lei
que defina a conduta como crime e somente há pena se houver
uma lei estabelecendo a sanção penal.

Assim, viver em sociedade é realizar diversas condutas como


trabalhar, comer, correr, comprar, pagar, cumprimentar, ajudar,
entre tantas outras, e algumas prejudicam a vida em sociedade
e põem em risco a segurança pública, como por exemplo, matar
alguém, que é crime de homicídio, ou subtrair coisa alheia móvel
para si ou para outrem, que é furto.

Unidade 2 119
Universidade do Sul de Santa Catarina

Você estudou, também, os principais crimes que acontecem


no dia-a-dia e que são previstos no Código Penal, aprendeu os
conceitos de crime e de infração penal, além de analisar de perto
os comportamentos perigosos e que violam a lei penal.

A bagagem do Direito Penal permitirá a você (aluno) ingressar


na Unidade 3, pois é a partir da quebra da ordem pública que
atuam os órgãos públicos, entre eles a polícia, que tem por
finalidade manter e garantir o bem-estar social, objetivo final do
Estado.

Boa sorte na próxima unidade! Ao estudar as Noções de Direito


Administrativo você encontrará a administração pública, ela que
é a responsável pela execução da vontade popular.

Saiba mais

ANDRADE, V. R. Introdução crítica ao estudo do sistema


penal: elementos para compreensão da atividade repressiva do
Estado. Florianópolis: Diploma Legal, 1999.

ROSA, A. J. Dos crimes. Brasília: Revista Jurídica Consulex, n.


190, 15 de dez. de 2004. p. 46

SILVA, E. L. História das penas. Revista Jurídica Consulex,


ano V, n. 104, 15 de maio de 2001, p. 12-13.

<http://www.direitopenal.adv.br/>

<http://www.dji.com.br/dicionario/direito_penal.htm>

<http://www.suigeneris.pro.br/direito_dp.htm>

<http://www.drheart.com.br/resumos_e_apostilas_de_
direito_p.htm>

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/areas.asp?sub0=18>

120
3
UNIDADE 3

Noções de Direito
Administrativo

Objetivos de aprendizagem
 Conhecer a estruturação do sistema formal da
administração pública.

 Identificar a legislação que regula a administração


pública.

 Analisar como funciona os contratos e as licitações da


administração pública.

Seções de estudo
Seção 1 A Constituição Federal com enfoque no
Direito Administrativo.
Seção 2 Os princípios da administração pública.
Seção 3 A Organização da administração pública.
Seção 4 As funções administrativas e os poderes
administrativos.
Seção 5 Os atos administrativos.
Seção 6 Os contratos administrativos.
Seção 7 A licitação.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Caro aluno,

você está iniciando a Unidade 3, que irá tratar sobre as Noções de


Direito Administrativo, imprescindíveis para entender a natureza
dos órgãos da segurança pública em todas as suas esferas, além
dos instrumentos utilizados pelo Estado para manter uma
sociedade em paz e em harmonia.

Nesta unidade você será informado sobre a administração


pública, suas formas e estruturas, responsável pela efetivação
da segurança pública. Você verá como a Constituição Federal
concebe a administração pública e como se busca efetivar as suas
funções junto à sociedade que para tanto, utiliza-se dos atos
administrativos e dos poderes públicos.

Siga, então, para a Seção 1 e explore a Constituição Federal


com enfoque no Direito Administrativo, cujo destaque é a
administração pública.

Por isso, para contextualização do tema, utilizamos a formação


lógica do Direito Administrativo centrado nos artigos 1º e 2º, da
Constituição Federal de 1988, que lhe dão alicerce.

122
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

SEÇÃO 1 - A Constituição Federal com enfoque no


Direito Administrativo
Para iniciar os seus estudos, analise o texto que segue.

O artigo 1º, da Constituição Federal de 1988, estabelece que “A


República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamento:

I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – pluralismo político.
Parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição”.

O que lhe parece? Importante não é? Como você pode ver, é


pelo artigo 1º, da Constituição Federal, que se dá o enfoque
de República no sentido de res publicae, ou seja, coisa pública,
interesse comum.

No Direito Administrativo estuda-se, portanto, a coisa


pública, algo que não é de ninguém, mas que é de
todos e, por isso, merece ser protegido (republicano).

Vamos adiante, atente para o seguinte:


A coisa pública, por ser de todos, tem os seguintes fundamentos:

FUNDAMENTOS: soberania; cidadania; dignidade da pessoa;


valores sociais do Trabalho; livre iniciativa; pluralismo político.

Unidade 3 123
Universidade do Sul de Santa Catarina

Note o que temos na seqüência o artigo 3º, da Constituição


Federal, que versa sobre os direitos fundamentais, ou seja, aquilo
que a res publicae tem que garantir a cada cidadão. Veja o que diz
o artigo:

“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da


República Federativa do Brasil: I – construir uma
sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o
desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza
e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais; IV – promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer
outra forma de discriminação”.

Da fusão dos artigos 1º e 3º, ambos da Constituição Federal,


gira o Direito Administrativo, destacando-se o bem comum, a
solidariedade e a dignidade da pessoa.

Percebeu como o Direito Constitucional está contribuindo para o


entendimento do Direito Administrativo?

Veja agora o que é relevante para uma organização social que


atenda aos interesses coletivos. Vamos ver o que significa Estado
Democrático de Direito?

O Estado Democrático de Direito (art. 1º da CF)


O Estado Democrático de Direito é a característica principal
da organização administrativa do Brasil e possui estes quatro
pontos:

124
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Interessante notar que o Estado Democrático de Direito tem


como premissa o poder do povo, pois: “Todo o poder emana
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição” (Parágrafo único do
art. 1º, da Constituição Federal).

Mas o que isso significa?


Que importância tem no âmbito da administração
pública?

No contexto dessa indagação, é importante salientar que o


Direito Administrativo nasce da função administrativa, sendo
que função administrativa é o conjunto de atividades que devem
ser desenvolvidas pelo Estado e, por conseqüência, tal Estado é
instrumento da sociedade, portanto, o poder que emana do povo
que escolhe seus representantes está diretamente ligado à função
administrativa. Concorda?

Por isso, o Estado jamais poderá ser senhor do cidadão, pelo


contrário, é o cidadão o senhor do Estado. A função instrumental
do Estado nada mais é do que a função administrativa desse.

Mas qual é o objeto de estudo do Direito


Administrativo?

O objeto de estudo do Direito Administrativo é a função


instrumental do Estado, sempre com foco voltado para o contexto
social, pois a administração pública tem fim social.

Conceito do Direito Administrativo


Do objeto de estudo do Direito Administrativo encontramos
seu conceito: “É o conjunto de normas jurídicas de direito público
que regula as atividades administrativas, necessárias à satisfação
dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal e à
organização e o funcionamento das estruturas estatais e não estatais
com a finalidade de satisfazer o bem comum da sociedade.”

Unidade 3 125
Universidade do Sul de Santa Catarina

Vamos entender melhor esse conceito? Veja como ele se estrutura,


dividindo-o em frases.

a) “É o conjunto de normas jurídicas (...)”, ou seja,


princípios, lei, decretos, portarias, atos normativos.
b) “(...) que regula as atividades administrativas (...)” isto
é, as atividades de cunho administrativo, executadas
pela administração pública.
c) “(...) necessárias à satisfação dos direitos fundamentais
previstos na Constituição Federal (...)” quais sejam os
direitos individuais, coletivos, sociais, de nacionalidade
e de direitos políticos.
d) “(...) e à organização e o funcionamento das estruturas
estatais e não estatais com a finalidade de satisfazer
o bem comum da sociedade”, isto é, estabelecer a
organização e o funcionamento das estruturas estatais
e não estatais encarregadas pelo desempenho das ações
governamentais em prol da sociedade com a finalidade
de satisfazer o bem comum.

Do regime jurídico do Direito Administrativo


Via de regra, as normas de Direito Administrativo são de direito
público. Para tanto, há duas premissas que definem o Direito
Administrativo como regime jurídico de direito público:

Supremacia do interesse público sobre


o interesse privado.
Indisponibilidades dos interesses públicos.

126
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

De tais premissas obtém-se o seguinte resultado:

A supremacia do interesse público sobre o interesse privado:


o interesse público deve sempre preponderar sobre o interesse
privado.

Assim, temos:

 interesse público – não é interesse privado, e sim,


aquele interesse que ultrapassa o que é meu e por ser
de todos, aquele que não pode ser individualizado,
ou seja, de um único indivíduo. O interesse público
se consubstancia, por exemplo, na desapropriação
de um terreno para construção de uma escola, ou na
desapropriação de terreno para construção de um
hospital;
 supremacia – toda decisão administrativa deve
privilegiar o interesse público.

A abertura de uma boate deverá respeitar a


supremacia do interesse público, ou seja, o interesse
público (coletivo) deverá preponderar sobre o
individual, muito embora a boate gere impostos e
empregos. Assim, antes da abertura de qualquer
boate, deve ser observada a Lei de Zoneamento
Urbano, em prol do interesse público, uma vez que
em área residencial não poderá surgir indústrias ou
atividades incompatíveis com a tranqüilidade de
uma área destinada somente a residências. Enfim, o
interesse público sempre deverá preponderar sob o
privado.

Indisponibilidade do interesse público


A indisponibilidade do interesse público surge da própria idéia de
Estado. O Estado é criação humana, a qual abre mão dos direitos
absolutos e passa a ser controlado pelo Estado.

Unidade 3 127
Universidade do Sul de Santa Catarina

O Estado diz até onde a pessoa pode ir no exercício


dos seus direitos em benefício da sociedade, isto é, até
onde ela pode dispor do direito de patrimônio sem
prejudicar o direito alheio.

Perceba que nesse contexto, o interesse público é indisponível,


pois o interesse pertence a todos, eis que, por exemplo, a venda de
um bem público (como uma praça pública, ou um prédio público,
ou um veículo público) só se dá com a aprovação legal, que nada
mais é que a representação da autorização do povo.

Por isso, as questões de Direito Administrativo são indisponíveis,


pois lidam com interesses públicos, de forma a serem limitadas a
partir da lei, que em última análise é a aprovação do povo. Desta
maneira, se o interesse público é indisponível, somente por meio
de disposição legal (uma outorga por meio de lei) é que esses
interesses serão “disponíveis”, ou seja, que se consegue uma “certa
liberdade” para administrar o interesse público, porém sempre em
benefício do Estado.

Os interesses públicos não podem ser entregues, reduzidos e


transacionados, por conseqüência, há uma certa outorga para
administrar toda gama de interesses públicos. A lei dará o limite
para que os interesses públicos sejam manejados, gerenciados,
administrados.

SEÇÃO 2 - Os princípios da administração pública


Princípios são orientações, diretrizes, preceitos que qualquer
gestor da administração pública, como, por exemplo, prefeitos
municipais, secretários, funcionários públicos em geral e a
população, deve observar quando lidar com o interesse público.
E, assim, passaremos à análise de tais princípios.

128
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

PRINCÍPIOS

a) Princípio da legalidade
Pelo princípio da legalidade a administração pública, em toda
a sua atividade, está presa aos mandamentos da lei, deles não se
podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilidade
de seu autor.

Isso quer dizer, que o administrador público está, em toda a


sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei, não se
podendo afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido
e expor-se à responsabilidade administrativa, civil e criminal.
Assim, qualquer ação estatal sem o correspondente calço legal, ou
que exceda ao âmbito demarcado pela lei, é injurídica e expõe-se
à anulação.

A administração pública só pode fazer o que a lei autoriza. Se a


lei nada dispuser, não pode a administração pública agir, salvo
em situações excepcionais (guerra, grave perturbação da ordem).
Já uma pessoa particular pode fazer tudo o que a lei permite e
tudo o que a lei não proíbe. Por exemplo, uma placa de proibido
estacionar, pois onde houver tal placa será proibido estacionar,
todavia, onde não houver será possível estacionar, pois tudo o que
não é proibido é permitido.

O artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal, traz


o princípio da legalidade com enfoque no direito
privado, dando a idéia de que tudo o que não é
proibido é permitido. Só que isso não satisfaz as
regras de direito público, ou seja, não é apropriado
para o Direito Administrativo, uma vez que passaria a
idéia de disponibilidade do interesse público.

Unidade 3 129
Universidade do Sul de Santa Catarina

Assim, temos o seguinte quadro:

DIREITO PRIVADO DIREITO PÚBLICO

Art. 37, caput, da Constituição Federal: “A


administração pública direta e indireta de
Art. 5º, II, da Constituição Federal: “ninguém qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
será obrigado a fazer ou deixar de fazer do DF e dos Municípios obedecerá aos
alguma coisa senão em virtude de lei”. princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte”...

Só posso fazer o que a lei determinar ou


Tudo o que não é proibido é permitido. permitir.

A ausência de lei indica a inércia da


administração pública, ou seja, não
há possibilidade de agir, pois não está
trabalhando com interesse do gestor, o qual é
mero detentor desse interesse (detentor: não
tem autonomia para gerenciar sem permissão
legal).

Observe o seguinte: o gestor da coisa pública precisa de total


autorização legal, não a tendo não poderá fazer nada. Só poderá
atuar dentro do limite da lei. Toda e qualquer gestão do Direito
Administrativo partirá do princípio da legalidade.

130
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Para refletir e discutir:


“Sem o princípio da legalidade não há possibilidade
de gestão da administração pública. A não
obediência ao princípio da legalidade importa
em nulidade do ato”. Use o espaço para registrar
seu ponto de vista sobre o princípio da legalidade,
mas faça com base em situações que você conhece.
Publique suas observações no AVA para gerar um
debate nesse sentido.

b) Princípio da impessoalidade ou princípio da finalidade (pública)


Todo ato (atividade) administrativo é voltado para um fim que é
público, que significa buscar o artigo 3º, da Constituição Federal,
ou seja, o bem comum e a garantia dos direitos fundamentais do
cidadão.

A melhoria da convivência, não de forma individualizada,


é a finalidade da administração pública, pois é por meio do
bem comum, do trabalho com a coletividade e da exclusão da
finalidade privada que se constrói a atividade administrativa.
Logo, a finalidade da administração é garantir o bem comum
(propiciar a melhoria da vida da sociedade).

Só sendo impessoal é que se atinge a finalidade


pública.

Não se pode tornar pessoal a atividade administrativa, porque


há uma finalidade que é pública. Não se pode dirigir a atividade
voltada a interesse particular, pois o princípio da impessoalidade
é a garantia de que a atividade administrativa atinge – alcança
– o fim público.

Unidade 3 131
Universidade do Sul de Santa Catarina

c) Princípio da moralidade
Esse deriva do princípio da legalidade e da impessoalidade.
Afastando-se da legalidade e da impessoalidade tem-se uma
conduta imoral por parte do gestor da coisa pública. A conduta
do administrador público tem que ser proba, pautada na fé
pública. Ele tem que agir dentro dos princípios e valores éticos,
trabalhando pautado no bem comum. Os atos administrativos
passam por um controle ético para averiguar a manifestação do
Estado (impessoalidade).

A Constituição Federal de 1988 estabelece, quanto à moralidade


do gestor da coisa pública, o seguinte:

“Os atos de improbidade administrativa importarão a


suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública,
a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na
forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal
cabível” (artigo 37, § 4º, da Constituição Federal). “Os atos de
improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos
bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal cabível” (artigo 37, § 4º, da
Constituição Federal).

A lei nº 8.429/82 regula a improbidade administrativa, tratando


de determinadas condutas que presumidamente são em desfavor
do erário público. Por exemplo: venda do bem público abaixo do
preço do mercado.

Por isso, não basta que os atos administrativos sejam pautados na


lei, têm que ser tratados de maneira ética, com moralidade, em
prol do bem comum. O princípio da moralidade traz a idéia de
proteção da boa administração pública, voltada para o bem, para
a questão ética.

132
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

d) Princípio da publicidade
Trabalhar com o princípio da publicidade é trabalhar em duas
frentes:

1) o princípio da publicidade é o direito do cidadão de


conhecer a atividade administrativa. Todo cidadão
tem direito de peticionar a administração pública para
conhecer os atos públicos. Todavia, há necessidade
de limitação da publicidade, em alguns casos, para
preservação da atividade administrativa. O princípio
da publicidade sempre comportará limitação para
preservação dos direitos individuais;
2) a publicidade como instrumento de controle da
administração pública e como requisito de validade
(eficácia) do ato administrativo, pois esse só é eficaz
após sua publicidade. A publicidade é condição de
eficácia do ato administrativo.

Além da publicidade, há o princípio da transparência, que é a


ampliação daquele princípio, ou seja, é o aprofundamento do
princípio da publicidade. Ora, se pelo princípio da publicidade
o cidadão requer a publicação de certos atos administrativos,
com o princípio da transparência, que é a ele oferecido pela
administração pública pela publicidade, o cidadão é incentivando
ao conhecimento da coisa pública. É levar ao encontro do povo a
administração pública. É instrumento de controle da res publicae.

e) Princípio da eficiência
A administração pública deve nas suas funções agir com
eficiência em prol do bem-estar social. Por isso, tem o dever
de atender o administrado da melhor maneira e suprir as
necessidades da sociedade nas mais diversas áreas como saúde,
segurança, educação, saneamento básico, entre outras. Trabalhar
com eficiência é trabalhar em três planos:

1) eficiência propriamente dita – internamente, dever de


eficiência do servidor público;

Unidade 3 133
Universidade do Sul de Santa Catarina

2) eficácia – busca por uma política de resultado. Pega o


princípio que era interno e passa a ser externo. Eficácia
é aquilo que dá resultado. A partir de 1998, começa-se
a trabalhar com a política de metas (implantada pela
lei de responsabilidade fiscal). A administração pública
precisa dar resultados Trabalhar com política de metas
para todos os campos da administração pública;
3) efetividade – A presença do Estado na sociedade. É a
comprovação do resultado da administração pública, o
cumprimento da função social.

Em suma, os cinco princípios estão, expressamente, contidos na


Constituição Federal de 1988, sendo que esses cinco princípios
são a base do Direito Administrativo. Todavia, há outros
princípios que não estão na Constituição Federal, porém estão
ligados ao Direito Administrativo.

A Constituição Federal não traz todos os princípios


administrativos, logo, o artigo 37, da Constituição
Federal, é apenas exemplificativo. Dessa feita, existem
outros princípios de Direito Administrativo, não
menos importantes que os contidos na Carta Magna,
que não estão listados no referido dispositivo legal.

Princípio da razoabilidade
Encontra-se na Constituição Estadual de São Paulo, embora
não esteja contido na Constituição Federal. Razoabilidade tem
haver com racionalidade. Deve desenvolver sua atividade com
positividade jurídica. Uma conduta administrativa plausível,
aceitável, racional. Alguns autores colocam o princípio da
razoabilidade ao lado do princípio da proporcionalidade.
Trabalhar com o princípio da razoabilidade é tentar adequar a
melhor conduta possível do administrador com o menor esforço
possível da administração pública.

134
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Princípio da proporcionalidade
Sempre são utilizados casados os princípios da razoabilidade
e da proporcionalidade, uma vez que se completam. A
administração pública não pode praticar atos desmedidos. A
medida administrativa é desmedida quando a conseqüência é
mais gravosa que o ato que lhe deu origem. A administração
pública só vai intervir quando de maneira necessária agindo com
medidas proporcionais. A administração pública só pode agir de
forma que sua conduta não seja maior que o ato que ela pretenda
combater, disciplinar. A conduta da administração pública deve
ser proporcional ao pedido da coletividade, da sociedade. Tudo o
que ultrapassar a medida social para buscar a função social será
ilegal.

“Proporcionalidade é a relação de congruência entre o


fato (motivo) e a atuação concreta da administração”.
(FIGUEIREDO, ano, p.?).

Tudo o que ultrapassar a proporcionalidade, que for desmedido,


será ilegítimo, ou seja, não poderá ser convalidado pela
administração pública.

Princípio da autotutela
Princípio que está baseado em três premissas:

Perceba que o interesse público deve ser tutelado constantemente,


pois a administração pública tem o poder e o dever de manter o
controle sobre os seus próprios atos, pois os interesses públicos
são supremos e indisponíveis.

A administração pública não precisa de intervenção do Poder


Judiciário para corrigir as condutas da administração pública. Os
atos da administração pública poderão ser convalidados de acordo
com o interesse público, como o bem comum.

Unidade 3 135
Universidade do Sul de Santa Catarina

A administração pública está obrigada a policiar, em relação


ao mérito e à legalidade, os atos administrativos que pratica.
Cabe a administração pública retirar os efeitos desses atos
administrativos por meio da REVOGAÇÃO, quando são
inconvenientes e inoportunos para a administração pública; e,
pela ANULAÇÃO, quando atos administrativos são ilegais. O
Supremo Tribunal Federal já se manifestou quanto ao assunto na
súmula 473:

“A Administração Pública pode anular seus próprios atos, quando


eivados dos vícios que os tornam ilegais, porque deles não se
originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvados,
em todos os casos, a apreciação judicial.”

SEÇÃO 3 - A organização da administração pública


A administração pública “é o conjunto de órgãos instituídos para
consecução dos objetivos do governo, quais sejam o bem comum
da coletividade” (MEIRELLES, 2002, p. 63). A administração
pública é o instrumento que o Estado se utiliza para exteriorizar
seu querer e seu agir.

Conceito de administração pública


O termo administração pública tem dois sentidos:

1) contexto subjetivo – tratando da estrutura de poder,


é um conjunto de órgãos entidades. A administração
pública é um conjunto de órgãos e de pessoas
jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função
administrativa do Estado.
2) contexto objetivo – atividade de administrar a coisa
pública.
A administração pública na Constituição Federal encontra-se no
artigo 37, caput, que assim estabelece:

136
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

“A administração pública direita e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte...”

Por administração pública direta


O decreto-lei nº 200/1967 estabeleceu a estrutura da
administração pública Federal. E, embora, referindo-se à
Administração Federal, tal decreto-lei tornou-se modelo para a
administração pública estadual e municipal. O decreto-lei forma
o modelo da estrutura da administração pública brasileira, tendo
vigência até hoje. A administração pública direta compreende
os serviços integrados na estrutura da administração pública
ligada ao chefe do Poder Executivo. Dentro da administração
pública direta há diversos órgãos, cada qual com sua atribuição,
todavia, sem personalidade jurídica. Exemplos de órgãos
dentro da administração pública direta: ministérios, secretarias,
procuradorias, controladorias, ouvidorias, conselhos, todos sem
personalidade jurídica própria.

A administração pública direta é manifestada


por meio de órgãos públicos e agentes públicos,
sendo os órgãos públicos centros de competências
despersonalizados e os agentes públicos os servidores
públicos.

Diferente disso tem-se a administração pública indireta, não


mais com a figura dos órgãos, mas da descentralização. Logo,
a descentralização está ligada à administração pública indireta.
Falar em descentralização é falar em criação de novas pessoas
jurídicas, com certa autonomia, prestando contas à administração
pública. A administração indireta compreende entidades que
possuem personalidade jurídica própria. Há quatro entidades
com personalidade jurídica própria, logo, para saber se é
administração direta ou indireta faz-se por eliminação, pois
se não estiver entre as quatro entidades destacadas a seguir, é
administração direta, se for uma das quatro entidades abaixo
será administração indireta. Estas são as quatro entidades que
possuem personalidade jurídica própria:

Unidade 3 137
Universidade do Sul de Santa Catarina

Portanto, qualquer que seja o nome, se não estiver no rol das


entidades (que são apenas quatro), será administração pública
direta.

A administração pública indireta é manifestada por quatro


entidades, quais sejam: autarquias, empresas públicas, sociedades
de economia mista e fundações públicas e seus agentes que são os
funcionários de tais entidades.

Estrutura da administração pública


Diante de tudo que foi falado, a estrutura da administração
pública pode ser assim representada:

Fonte - Führer, 2005, p. 31

138
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

 Administração centralizada – é a administração


direta, pois é a constituída pelos governos da União,
dos Estados e dos Municípios e seus ministérios e
secretarias.
 Administração descentralizada – abrange a
administração indireta e as concessionárias,
permissionárias, autorizatárias de serviços públicos e os
contratos de gestão. Nessa administração ocorre uma
transferência da execução de serviços públicos a outras
entidades não pertencentes à administração pública
direta.
 Administração indireta – é a constituída por
entidades autônomas com personalidade jurídica
própria e que exercem serviços públicos delegados
pelos governos da União, Estados e seus Municípios.
A administração pública indireta, como já foi visto,
é composta por autarquias, empresas públicas,
sociedades de economia mista e fundações. Veja como
cada uma delas é definida.

Autarquias – são uma personificação de um serviço público com


personalidade jurídica própria, pertencentes à administração
indireta. Elas têm patrimônio próprio e são criadas por lei e
destinadas à execução de atividades destacadas da administração
direta. Opera com autonomia e responde diretamente por seus
atos. As autarquias encontram definição legal no decreto-lei nº
200/1967, para o qual esdas se constituem em “serviço autônomo,
criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita
próprios, para executar atividades típicas da administração
pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão
administrativa e financeira descentralizada” (MEIRELLES,
2002, p. 338). Às autarquias são outorgados serviços públicos
típicos e não atividades industriais ou econômicas. Seu
patrimônio inicial é destacado do patrimônio público, bem como
suas rendas e demais bens são públicos com destinação específica
para atender os fins da autarquia, determinados em seus estatutos.
Por exemplo: Banco Central (lei nº 4.595/64), Universidade do
Estado de São Paulo, e Ordem dos Advogados do Brasil. Temos
agora no âmbito Federal, também, sob a forma de autarquias, as

Unidade 3 139
Universidade do Sul de Santa Catarina

Agências Reguladoras (ANEEL – Agência Nacional de Energia


Elétrica, ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações,
ANP – Agência Nacional do Petróleo).

Empresas públicas – são pessoas jurídicas de direito privado,


formadas por capital inteiramente público, dedicadas a atividades
industriais e econômicas. Exemplos de empresas públicas:
Caixa Econômica Federal, Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos, Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária
– INFRAERO (PESSOA, 2000, p. 139).

Sociedades de economia mista – são pessoas jurídicas de direito


privado, formadas por capital público e particular, com direção
estatal, para a realização de atividade econômica ou serviços de
interesse coletivo. Exemplos: Banco do Brasil, Petrobras, Rede
Ferroviária Federal, no plano federal, Sabesp, Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano, no Estado de São
Paulo (PESSOA, 2000, p.139).

Fundação – é um patrimônio destacado pelo fundador, ou


fundadores para uma finalidade específica, dirigida por
administradores, na conformidade de seus estatutos. O poder
público poderá instituir tanto fundações públicas quanto
fundações privadas. As fundações públicas submetem-se a um
regime predominantemente público, ao passo que as fundações
privadas a um regime privado derrogado parcialmente por
princípios e regras de direito público. Exemplo: Fundação
Nacional do Índio (FÜHRER, 2005, p. 29).

Serviços concessionários, permissionário, autorizatários de serviço


público e contratos de gestão
Na administração descentralizada, encontram-se também os
serviços concessionários, permissionário, autorizatários de
serviço público e contratos de gestão que são empresas privadas
ou particulares individualmente que prestam serviços públicos,
por sua conta e risco próprios, remunerado por tarifa, na forma
regulamentar prevista em lei.

140
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Serviços concedidos – são os decorrentes de delegação


contratual. Só há concessão de serviços públicos para pessoas
jurídicas (ou seja, empresas ou consórcio de empresas) e por prazo
determinado. Por exemplo, o serviço de transportes coletivos.

“Serviços concedidos - são todos aqueles que o


particular executa em seu nome, por sua conta e risco,
remunerados por tarifa” (MEIRELLES, 2002, p. 363).

a) Serviços permitidos – são todos aqueles que a


administração pública estabelece certos requisitos
para a sua prestação ao público, e, por ato unilateral
(permissão) comete a execução aos particulares
(pessoas físicas ou jurídicas) que demonstrarem
capacidade para o seu desempenho (MEIRELLES,
2002, p. 379). Exemplo: permissão para
funcionamento de ponto de táxi.
b) Serviços autorizados – “são aqueles que o poder
público, por ato unilateral, precário e discricionário,
consente na sua execução por particular, para atender
interesses coletivos instáveis ou emergência transitória”
(MEIRELLES, 2002, p. 381).

E finalmente, existe o contrato de gestão previsto no artigo


37, § 8º, da Constituição Federal, que reza: “a autonomia
gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da
administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante
contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder
público, que tenha por objeto a fi xação de metas de desempenho
para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:

I – o prazo de duração do contrato;


II – os controles e critérios de avaliação de desempenho,
direitos, obrigações e responsabilidades dos
dirigentes;
III – a remuneração do pessoal”.

Unidade 3 141
Universidade do Sul de Santa Catarina

Pode-se dizer que o contrato de gestão “representa um


compromisso, ou acordo de vontades, firmado entre o poder
público e administradores de órgãos e entidades públicas,
integrantes da administração direta ou indireta, em que são
definidos, em conjunto, objetivos, metas, estratégias e técnicas,
consubstanciadas em cláusulas contratuais, relativas à gestão do
órgão ou entidade em certo período” (PESSOA, 2000, p. 147).

SEÇÃO 4 - As funções administrativas e os poderes


administrativos
Função administrativa é o conjunto de atividades que o Estado
exerce, por meio:

 do poder de regular a vida em sociedade;


 do dever de prestar atividades (comodidades
materiais);
 da promoção do bem comum, conforme já visto nos
artigos 1º e 3º, da Constituição Federal.

Conceito de função administrativa


A função administrativa é o conjunto de atividades desenvolvidas
pela administração pública de forma variada segundo a finalidade
de cada atividade, que podem ser de direito público ou de direito
privado.
Todas essas atividades,
desenvolvidas pelo Estado, podem Segue três atividades que a administração pública pode
ter natureza pública ou privada, desenvolver.
como por exemplo, o poder de
polícia que é de natureza pública. 1) Do poder de regular a vida em sociedade, o Estado utiliza-se
do PODER DE POLÍCIA que consiste na limitação de direitos
que a administração pública estabelece para melhor convivência
entre os cidadãos. O poder de polícia de natureza administrativa
tem por fim limitar atividades lícitas. Já o poder de polícia de
natureza judiciária tem por escopo limitar atividades ilícitas. O
poder de polícia é realizado pelo Estado (por sua administração
pública), não podendo delegar, outorgar tal poder a terceiros.
Assim, só o Estado, por si, pode realizar o poder de polícia.

142
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

2) Do dever de prestar atividades (comodidades materiais), o


Estado utiliza-se dos SERVIÇOS PÚBLICOS que consiste
na entrega de comodidades materiais à população que por ela
serão fruídas diretamente, como exemplos: transportes coletivos,
serviços de telecomunicação, energia elétrica, etc. Tem-se o
aproveitamento de uma comodidade material. A comunidade
usufrui algo que é fornecido pelo Estado. Esse pode ser delegado
a terceiros.

3) Da promoção do bem comum, o Estado utiliza-se do


FOMENTO PÚBLICO que consiste no incentivo, na
participação do Estado na iniciativa privada. Ocorre quando
o Estado não exerce atividades por si, e, a empresa privada o
faz, então, o Estado tem o dever de incentivar. São atividades
desenvolvidas na área econômica, assistencial e cultural. É
a parceria do Estado com o poder privado. Como exemplos:
fomento econômico, assistencial e cultural.

Para alguns autores ainda se inserem mais.

4) Intervenção do Estado no domínio econômico

 Desenvolvimento per si (ex.: sociedade de economia


mista).
 Fomento.
 Atividade regulatória (agências reguladoras) –
limitação do caráter econômico.

Para alguns autores a “intervenção do Estado no domínio


econômico” é vista como a quarta atividade do Estado. Por
outros, é vista como uma mescla (natureza híbrida) das três
atividades, não sendo, assim, uma quarta atividade do Estado.

Para que o Estado desenvolva essas quatro atividades, ele,


naturalmente, precisa de poderes, pois se não tiver poder,
ninguém respeitará as suas imposições.

Unidade 3 143
Universidade do Sul de Santa Catarina

O que é poder e quais são os poderes do Estado?

Poder é a capacidade de agir. E nas relações pessoais, o poder


será predomínio de vontades. Para a administração o poder
decorre de uma finalidade pública. Todo poder administrativo
deve ser legítimo (vontade do povo). Legitimação democrática
– deve nascer do povo e voltar ao povo. O poder é decorrente
da supremacia do interesse público, para tanto, o poder tem
que ser legal (legítimo), e, por meio dos meios empregados, os
resultados obtidos deverão atingir a uma finalidade pública, e, em
decorrência, conterá o interesse público: vontade do povo.

O poder que a administração pública tem deve ser


constantemente regulado, policiado pelo povo por meio de
mandado de segurança, ação popular, Tribunal de Contas, etc.

PODER é atribuição, é competência de agir, mas


também é encargo de agir de modo a alcançar a
finalidade da atividade assumida pela administração
pública.

Na administração pública o poder não é faculdade, é


competência, é dever de agir ou de se abster de agir. Na
administração privada o poder é faculdade de agir. Dentro do
princípio da legalidade sempre se entendeu o poder como uma
faculdade de agir. Hodiernamente, no Estado Democrático de
Direito, não se pode mais entender o poder como faculdade de
agir, mas como uma obrigação de agir.

Poder-dever da administração pública


Todo poder da administração pública deve resultar em um
dever de agir por parte do detentor (agente público) desse poder.
Poder-dever é da administração pública já do agente público é
dever-poder. Para o Estado o poder-dever é uma prerrogativa
que resulta em dever de agir por parte de seu agente (FÜHRER,
2005, p. 20).

144
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Poder e suas espécies


São espécies de poderes da administração pública:

 poder discricionário;
 poder vinculado;
 poder hierárquico;
 poder de polícia.

Poder discricionário
Opção de escolha, diante de mais de uma opção que a lei dá,
para que o agente desenvolva sua atividade. Perceba que não é a
opção de fazer ou não fazer, mas sim a escolha da melhor opção
de agir (que atenda ao interesse público). É uma opção dentre
as propostas. Para Hely Lopes Meirelles (2002, p. 114) poder
discricionário “é o que o direito concede à administração de
modo explícito ou implícito para a prática de atos administrativos
com liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e
conteúdo”.

Poder vinculado
Está vinculado a uma determinação legal. Quando houver
na atuação do agente uma vinculação total na lei. Não há
possibilidade de escolha do agente. A lei dá os parâmetros e o
agente não pode fugir deles. Também para Hely Lopes Meirelles
(2002, p. 113) poder vinculado ou regrado “é aquele que a lei
confere à administração pública para a prática de atos de sua
competência, determinado os elementos e requisitos necessários à
sua formalização”.

Poder hierárquico
Tem-se um poder central, com escala, hierarquia com
manifestação de graduação de competências. Trabalha-se com
a idéia de subordinação das atividades administrativas. É a
idéia de graduação de competência. É o instrumento para que
as atividades de um órgão ou ente sejam realizadas de modo
coordenado, harmônico, eficiente, com observância da legalidade
e do interesse público. É o poder hierárquico que possibilita

Unidade 3 145
Universidade do Sul de Santa Catarina

a delegação de competência. Essa delegação de competência


costuma ser expressamente contida na lei. Delegação de
competência não é algo que se presume. (MEIRELLES, 2002,
p. 117).

Poder de polícia
É a limitação de direitos das pessoas que a administração
pública estabelece para melhor convivência entre os cidadãos.
Ou seja, “é a faculdade de que dispõe a administração pública
para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e
direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio
Estado.” (MEIRELLES, 2002, p. 127). O poder de polícia de
natureza administrativa tem por fim limitar atividades lícitas
e se difunde por toda a administração pública. Já o poder de
polícia de natureza judiciária tem por escopo limitar atividades
ilícitas. O poder de polícia é realizado pelo Estado (por sua
administração pública), não podendo delegar, outorgar tal poder
a terceiros.

SEÇÃO 5 - Os atos administrativos


Ato administrativo “é toda a manifestação unilateral de vontade
da administração pública que, agindo nessa qualidade, tenha por
fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir
e declarar direitos ou impor obrigações aos administrados ou a si
própria.” (MEIRELLES, 2002, p. 145). Os atos administrativos
bilaterais constituem os contratos administrativos.

Quais os requisitos do ato administrativo?

São os componentes que o ato deve reunir para ser perfeito e


válido.

146
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

O que é competência?

“É o poder atribuído ao agente público para que desempenhe


as suas funções.” (MEIRELLES, 2002, p. 147). Nulo é o ato
praticado por agente incompetente, conforme artigo 2º, da Lei
da Ação Popular. “A prática de um ato administrativo requer, por
parte do agente que o edita, competência, ou seja, poderes legais
para tanto. A competência não se presume, devendo constar
de norma legal expressa, não podendo, também, em razão do
princípio da indisponibilidade do interesse público, ser objeto de
pactuação ou prorrogação, salvo os casos de delegação e avocação
expressamente previstos em lei” (PESSOA, 2000, p. 171). Por
isso, o conteúdo do ato expedido precisa estar incluído no rol de
atribuições conferidas, por lei, ao agente que o tiver praticado,
uma vez que nos termos no art. 2º, § único, letra ‘a’ da lei nº
4.717/65, “a incompetência fica caracterizada quando o ato não se
incluir nas atribuições legais do agente que o praticou”.

Qual a finalidade do ato administrativo?

O ato administrativo tem por fim o interesse público, interesse da


coletividade. “Trata-se, aqui, do objetivo de interesse público a ser
atingido pelo ato administrativo, conforme disposição expressa
ou implícita prevista em lei. Noutras palavras, é aquele interesse
público específico cuja realização prática e efetiva a lei objetiva ao
conceder ao sujeito público certa autoridade, instrumentalizada
com poderes para agir. Assim, por exemplo, a finalidade do
ato que dissolve uma passeata é a proteção da ordem pública
comprometida por eventuais tumultos” (PESSOA, 2000, p. 171).

De que forma o ato pode surgir e se manifestar?

Unidade 3 147
Universidade do Sul de Santa Catarina

A forma é o revestimento do ato administrativo. É o modo


pelo qual o ato aparece, revela sua existência. A forma usual é a
escrita, em razão do princípio da publicidade e do formalismo
das relações públicas. Poderá ser exteriorizado mediante decreto,
portaria, resolução ou despacho.

Quais os motivos do surgimento de um ato? Mas o


que é um motivo?

Motivo é a circunstância de fato ou de direito que autoriza ou


impõe ao agente público a prática do ato administrativo. Só é
válido o ato se os motivos enunciados efetivamente acontecerem
(teoria dos motivos determinantes).

A teoria dos motivos determinantes pode ser assim sintetizada:


“os agentes públicos só estão obrigados a motivar seus atos por
exigência de lei; mesmo quando dispensados da motivação,
os motivos declarados pelos agentes serão, em princípio,
considerados determinantes do ato; em quaisquer casos, os
motivos alegados deverão ser materialmente exatos e lícitos;
sendo múltiplos os motivos, cumpre investigar se os lícitos e
verdadeiros são suficientes para legitimar o ato; a prova do motivo
determinante incumbe a quem o alega” (PESSOA, 2000, p. 167).

Desse modo, a menção de motivos falsos ou inexistentes vicia o


ato praticado, mesmo não exigido por lei. Por isso, a decisão que
for tomada sem motivação ou com motivação insuficiente é nula
de pleno direito.

Como identificar o objeto? O que é objeto?

É o conteúdo do ato, é o que o ato decide, enuncia, certifica,


opina ou modifica a ordem jurídica. Assim, o objeto de uma
nomeação é a investidura de uma pessoa como titular de
determinado cargo público. O objeto de uma desapropriação
é a retirada de um bem do domínio privado para integrá-lo no
domínio público.

148
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

O objeto de uma permissão é outorgar a um particular


o uso ou exploração de um serviço ou bem público.

Atributos dos atos administrativos


Atributos dos atos administrativos são as características dos
atos administrativos realizados pela administração pública
e que decorrem do princípio da legalidade, pois todos atos
administrativos devem ter por fundamento uma lei. Assim, a
presunção de legitimidade, a imperatividade, exigibilidade e a
auto-executoriedade são características próprias de todos atos
administrativos, veja!

a) Presunção de legitimidade
Todo ato administrativo tem presunção de legitimidade,
decorrente do princípio da legalidade. Até que se prove em
contrário, presumem-se legítimos os atos administrativos e
verdadeiros os fatos neles registrados. Exemplo, a notificação de
trânsito realizada pelo agente de trânsito, pois, até que se prove
ao contrário, a notificação realizada pelo agente de trânsito
presume-se verdadeira.
b) Imperatividade

O ato administrativo impõe “coercibilidade para seu


cumprimento e sua execução” (MEIRELLES, 2002, p. 156).
Os atos administrativos impõem-se a terceiros, independente
da concordância deles, desde que estejam de acordo com a
legalidade.

c) Exigibilidade
O poder público exige o cumprimento das obrigações induzindo
à obediência. Por isso, o ato administrativo manifesta uma
exigência da administração pública. Por exemplo, o fechamento
de um rua pela Guarda Municipal para a passagem de uma
procissão.

Unidade 3 149
Universidade do Sul de Santa Catarina

d) Auto-executoriedade
Consiste na possibilidade que certos atos administrativos ensejam
de imediato a direta execução pela própria administração,
independentemente de ordem judicial (MEIRELLES, 2002, p.
157).

Classificação dos atos administrativos


Os atos administrativos podem ser classificados, em:

 atos gerais – são expedidos sem destinatário


determinado, alcançando a todos. São exemplos: os
regulamentos, as instruções normativas, circulares,
etc.;
 atos individuais – são expedidos para destinatário
certo, para situações particulares. Exemplo:
autorizações para ambulantes para abertura de pontos
comerciais, etc.;
 atos internos – destinados a produzir efeitos dentro das
repartições;
 atos externos – destinados a produzir efeitos fora das
repartições;
 atos de império – são atos de coerção. “É o que ocorre
nas desapropriações, nas interdições de atividade”
(MEIRELLES, 2002, p. 161);
 atos de gestão – não exigem coerção, são atos de
administração de bens e serviços públicos. Exemplos:
contratação de serviços particulares, compra de bens
para atender as necessidades da administração pública;
 atos de expediente – são aqueles que se destinam a dar
andamento aos papéis das repartições públicas;
 atos vinculados – são atos regrados. A lei estabelece
condições de sua realização. O ato está vinculado
(preso) à lei. Exemplo: concessão da aposentadoria,
prevista no artigo 40, da Constituição Federal;

150
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

 atos discricionários – “são os atos que a administração


pública pode praticar com liberdade de escolha de seu
conteúdo, de seu destinatário, de sua conveniência,
da sua oportunidade e o modo da sua realização”
(MEIRELLES, 2002, p. 164). O ato é livre quanto à
escolha dos motivos e conteúdo. Exemplos: concessão
do porte de arma de fogo e permissão do uso de bem
público.

Por meio de que instrumento o ato administrativo


pode ser materializado?

O ato administrativo pode ser efetivado por meio de decretos,


portarias, alvarás, avisos, circulares, ordens de serviço, resoluções,
ofícios, instruções, despachos, pareceres, autos de infração, etc.

SEÇÃO 6 - Os contratos administrativos


Dentro da administração pública existe um relacionamento com
os particulares, sendo esse relacionamento realizado sob duas
formas:

a) imperativa (que envolve os poderes da administração


pública); e,
b) consensual (por meio dos contratos administrativos).

No contrato administrativo tem-se a única hipótese em que


a administração pública não impõe sua vontade em relação à
sociedade, pois a administração pública manifesta sua vontade de
contratar, e, para tanto, necessita da vontade da sociedade.

Unidade 3 151
Universidade do Sul de Santa Catarina

No contrato administrativo há junção de vontades


da sociedade e da administração pública que deseja
contratar uma prestação de serviço, obra, etc. “É o
ajuste que a administração pública, agindo nessa
qualidade, firma com o particular ou outra entidade
administrativa para a consecução de objetivos de
interesse público, nas condições estabelecidas pela
própria administração” (MEIRELLES, 2002, p. 205-06).

O alicerce para os contratos administrativos encontra-se na


Lei Federal nº 8.666/93 (Lei de Licitações), sendo o contrato
administrativo um acordo de vontades destinado a criar,
modificar ou extinguir direitos e obrigações.

Veja, a seguir, as doutrinas e teorias que embasam os contratos


administrativos ou que pressupõem práticas administrativas.

Doutrinas/teorias: pressupostos dos contratos administrativos


 A primeira teoria sobre o contrato administrativo
assevera que todo contrato estabelecido pela
administração pública é contrato administrativo,
devendo, portanto, se submeter integralmente às regras
do regime jurídico de direito público.
 A segunda teoria nega a existência de contratos
administrativos, uma vez que não se tem contrato
com a administração pública, justamente pela
supremacia da administração pública (que é derivada
da supremacia do interesse público).
 Finalmente para a terceira teoria existem contratos
administrativos e eles têm regime jurídico de direito
público. Essa é a teoria agraciada pela lei 8.666/93
(Lei de Licitações).

Veja, agora, as espécies de contratos.

152
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Espécies de contratos administrativos


Há três espécies contratuais no âmbito da administração pública:

Os contratos administrativos propriamente ditos são os ajustes,


os acordos, realizados com o particular para prestação de um
serviço ou aquisição de um bem. Dessa forma, se a administração
pública for contratar o fornecimento de papel à sua repartição, irá
realizá-lo por meio de um contrato administrativo propriamente
dito. Geralmente, um contrato administrativo é precedido por
LICITAÇÃO, que estudaremos mais à frente.

Os contratos de delegação de competência, também


denominados de contrato de concessão, são “o ajuste pelo qual
a administração delega ao particular a execução remunerada de
serviço ou de obra pública ou lhe cede uso de um bem público,
para que o explore por sua conta e risco, pelo prazo e nas
condições regulamentares e contratuais.” (MEIRELLES, 2002,
p. 251).

Contratos civis (não administrativos, porém praticados pela


administração pública) são os contratos predominantemente
privados, em posição de igualdade com o particular contratante
(MEIRELLES, 2002, p. 207). São os contratos de seguro, de
financiamento, de locação em que o poder público é locatário,
conforme o artigo 62, § 3º, inciso I, da Lei Federal nº 8.666/93
(Lei das Licitações).

Nesse contexto deve-se também fazer a distinção entre convênio


e contrato.

 Convênio – é o ajuste estabelecido entre o poder


público e as entidades públicas ou privadas para a
realização de objetos de interesse comum, mediante
mútua cooperação.

Unidade 3 153
Universidade do Sul de Santa Catarina

 Contrato administrativo – é o acordo de vontades


destinado a criar, modificar ou extinguir direitos e
obrigações, em que pelo menos uma das partes atua no
exercício da função administrativa.

Use o espaço a seguir para escrever um exemplo de


contrato administrativo e de convênio. Para realizar a
atividade leia as características a seguir.

Comentários
 No convênio tem-se natureza jurídica de verba e há
disposição de vontades das partes, com o mesmo
objetivo.
 Já no contrato por disposição expressa da lei deve-
se aplicar o princípio da isonomia e da contratação
benéfica. No convênio não, ele é estabelecido com o
intuito personae, não precisa ser por meio de licitação.
Sendo que no contrato há interesses contrapostos
(distintos) e no convênio há interesse comum.

154
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

SEÇÃO 7 - A licitação
Não é novidade para você que a licitação é um instrumento
importante no que se refere à administração pública, não é?
Uma vez que a administração pública não pode desenvolver
sozinha suas aptidões, assim precisa selecionar a melhor proposta
de contratação com o poder público, por meio da licitação.
A administração só utilizará o processo licitatório quando se
relacionar com particulares e tem por fundamento legal a lei
8.666/93, conhecida como Lei das Licitações.

Portanto, licitação “é o procedimento administrativo mediante o


qual a administração pública seleciona a proposta mais vantajosa
para o contrato de seu interesse” (MEIRELLES, 2002, p. 260-
261).

No processo licitatório também são aplicados todos os princípios


da administração pública, além de outros específicos, a saber:

a) princípio da isonomia – diz respeito à igualdade dos


participantes da licitação, uma vez que não pode
haver qualquer discriminação àqueles que pretendem
oferecer seus serviços ou produtos à administração
pública;
b) princípio da publicidade – todos os atos da licitação
devem ser públicos, às portas abertas, abrange avisos,
editais, abertura das propostas, etc.;
c) princípio da vinculação ao instrumento convocatório
(edital) – a licitação está vinculada ao edital. Isso
porque é pelo edital que a administração pública fixa
os bens ou serviços que deseja adquirir, a forma e o
modo de participação dos licitantes, os documentos e
as propostas, etc.;
d) princípio do julgamento objetivo – é o princípio
de toda a licitação que seu julgamento se apóie em
fatores concretos e prefixados em edital, para evitar a
pessoalidade do administrador público;

Unidade 3 155
Universidade do Sul de Santa Catarina

e) princípio do formalismo – a licitação deve seguir


os ditames legais. A Lei Federal nº 8.666/93 dispõe
sobre a licitação e, por isso, é denominada de Lei das
Licitações;
f) princípio da motivação – toda a licitação deve atender
o interesse público, da coletividade.

As contratações realizadas pela administração pública devem ser


feitas por meio de licitações, mas essa regra comporta exceções.
Existem hipóteses de contratação direta. Dessa forma, pode-se
deixar de lado a licitação em duas hipóteses:

 dispensa de licitação;
 inexigibilidade de licitação.

Ainda, assim, não pode fugir do processo de licitação, logo,


faz-se um processo simplificado: a motivação para a dispensa ou
inexigibilidade de licitação. A previsão legal para tal dispensa
de licitação está no artigo 24, da lei 8.666/93, e no artigo 25 da
referida lei> Esse último versa sobre a inexigibilidade da licitação.
O artigo 26 reza sobre o procedimento simplificado.

A falta de motivação, publicação e de outros elementos da pré-


licitação implica na sua nulidade.

Leia, agora, a síntese da unidade, realize as atividades de auto-


avaliação e aprofunde seus conhecimentos consultando o Saiba
mais.

156
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Atividades de auto-avaliação

1) Dê, pelo menos, cinco princípios da administração pública.

2) Qual o conceito de Direito Administrativo? Que importância ele tem no


contexto da administração pública?

Unidade 3 157
Universidade do Sul de Santa Catarina

3) A partir do conceito de administração pública, descreva uma situação


em que há necessidade do uso da licitação e discuta a importância
desse instrumento no contexto social.

4) Em que consiste o poder de polícia? Dê um exemplo de uso arbitrário


de poder de polícia.

158
Noções de Direito Constitucional, Penal e Administrativo

Síntese

Parabéns, com final desta unidade você concluiu mais uma


etapa do curso, fechando o ciclo de estudos voltados à segurança
pública, com ênfase ao ordenamento jurídico brasileiro.

Na Unidade 1 você ficou sabendo sobre a elaboração das leis,


os direitos e as garantias fundamentais e descobriu que todas
as normas jurídicas devem estar nos moldes da Constituição
Federal. Em seguida, ingressou na Unidade 2 e conheceu os
crimes e as sanções penais e, ao terminar, na Unidade 3 você
estudou a administração pública, que também é regida pelos
preceitos constitucionais.

A segurança pública envolve uma gama de atividades, entre elas


a execução da lei, a cargo da administração pública, que por meio
dos seus órgãos torna efetiva a lei criada pelo legislador. Por isso,
você viu que não basta apenas criar leis, pois são necessárias a
execução e a certeza do bem-estar de todos, finalidade precípua
do Estado.

Você conheceu ainda, nesta unidade, os contratos administrativos


e a licitação como atos bilaterais, além dos atos administrativos,
importantes para se familiarizar com a administração pública.

Unidade 3 159
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

FIGUEIREDO, L. V. Curso de Direito Administrativo. 7ª ed.


São Paulo: Malheiros, 2004.

<http://www.dji.com.br/dicionario/direito_administrativo.htm>

<http://www.suigeneris.pro.br/direito_dadm.htm>

<http://www.mundojuridico.adv.br/html/artigos/direito_
administrativo.htm>

<http://www.neofito.com.br/apost/apadm.htm>

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/areas.asp?sub0=13>

160
Para concluir o estudo

Caro aluno,

após esta jornada de estudos, espero que você tenha


obtido uma noção sobre o ordenamento jurídico
brasileiro, o que facilitará nas demais fases do curso.
A Constituição Federal como leis das leis, condição de
validade das normas jurídicas, permitiu o entendimento
do Direito Penal e do Direito Administrativo e, por
conseqüência, do sistema de segurança pública.

Neste caderno você viu que a lei representa a vontade


popular e que ela rege a vida em sociedade, organizando
o convívio social. Que a quebra da ordem pública atinge
a todos, pois envolve a vida e os bens de cada um.
Assim, como visto na Unidade 2, se alguém violar a
ordem estabelecida atingirá toda segurança, praticando,
inclusive, infração penal, desde que a conduta tenha
previsão legal e cominação de sanção. Por isso, o Direito
Penal faz previsão das condutas criminosas e as penas
que são impostas àqueles que praticam os crimes.

Aí, para preservar e restabelecer a segurança pública,


atuam os órgãos públicos tais como a polícia. E,
conforme visto na Unidade 3, o Direito Administrativo
estuda a administração pública que é responsável pela
execução das leis e que, em última análise, executa a
vontade do povo, estando a administração pública sujeita
aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade, da publicidade e da eficiência, constituída
por servidores públicos com poderes administrativos para
impor o desejo popular.
Por isso, o policial militar (ou guarda municipal) ao realizar uma
notificação de trânsito está no exercício do poder de polícia com
o propósito de garantir a circulação de veículos, em observância à
legislação de trânsito, e tal ato administrativo agrega uma gama
de conceitos que vão desde a competência do funcionário até a
publicidade do ato, condições necessárias à sua eficácia. Ciente
disso, você percebeu que a estrutura da administração pública é
voltada ao bem comum, objetivo final do Estado.

Ao final, você aprendeu que estar em sociedade é obedecer às leis


e preservar a ordem pública, eis que a liberdade é limitada pelo
direito de outrem, cuja obrigação e respeito têm por fundamento
a Constituição Federal uma vez que representa o nosso contrato
social que consiste em ceder parte da nossa liberdade individual
em prol do convívio social e que a adesão a esse contrato ocorre
pelo simples fato de nascermos em sociedade.

Um abraço e boa sorte nas próximas etapas do curso.

Espero que você tenha gostado de realizar esta caminhada....

162
Referências

DIREITO CONSTITUCIONAL
ARAÚJO, A. D.; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de Direito
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165
166
Sobre o professor conteudista

Paulo Calgaro de Carvalho é oficial da Polícia Militar


de Santa Catarina, professor de Direito Penal da Unisul
(Campus Pedra Branca e Norte da Ilha de Florianópolis)
e Univali (Campus Biguaçu), mestre em Direito
Constitucional pela Unisul, pós-graduado em Ciências
Criminais pelo Cesusc e especializando em segurança
pública pela Unisul.

Exerce a docência há mais de 10 anos, inclusive nos


Cursos de Segurança Pública na Academia de Polícia
Militar de Santa Catarina e no Curso Superior de Polícia
Militar de Santa Catarina.
168
Respostas e comentários das
atividades de auto-avaliação

Unidade 1 - Direito Constitucional


1. Letra “d”, “República Federativa do Brasil;”

2. Letra “a”, “homens e mulheres são iguais em direitos e


obrigações, nos termos da Constituição.”

3. Pela Constituição Federal de 1988, a intimidade e a vida


privada são invioláveis, conforme dispõe o artigo 5º, inciso
X, da Constituição Federal de 1988. As câmaras de vídeo
instaladas nas ruas de algumas cidades não violam a imagem
e a vida privada, eis que estão em local público e de acesso
a todos, cuja captação tem por finalidade a preservação da
ordem pública e da prevenção de prática delituosa. Não se
trata de exploração comercial, muito menos de invasão da
intimidade de cada um, mas do bem comum e da segurança
de todos.

4. Não obstante a liberdade de pensamento, prevista no


artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, o
contraditório e a ampla defesa são direitos fundamentais dos
acusados em geral, conforme preceitua o artigo 5º, inciso
LV, da Constituição Federal de 1988, e, portanto, devem ser
assegurados a todos os acusados, independentemente das
notícias dos jornais que têm por finalidade apenas informar
fatos ocorridos. O contraditório (que consiste em contraditar,
isto é dizer ao contrário da acusação) e a ampla defesa
(que significa apresentar todos os meios legais de defesa)
devem ser exercidos por qualquer acusado em busca da sua
inocência. Tudo isso, porque somente pode ser considerado
culpado quando da sentença condenatória do juiz de direito
não couber mais recurso (ou seja, transitado em julgado), nos
termos do artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal de
1988.
Unidade 2 - Direito Penal
1. A conduta de impedir que pessoas subam no bote salva-vidas para
evitar uma superlotação e o afundamento do barco não é crime, pois
está abrangida por estado de necessidade que consiste em praticar um
fato para salvar de perigo atual ou iminente (que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar) direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se, nos termos
do artigo 24, do Código Penal. Por isso, em que pese a conduta acima
referida ter previsão legal de crime de “homicídio” e ainda “omissão
de socorro”, contudo, a situação fática em que a pessoas realizaram tal
conduta reflete um estado de necessidade, pois se assim não o fizessem
correriam o risco de afogamento.

2. Letra “c”, “Tirar a vida de alguém por causa de um jogo de baralho.”

3. Furto é a subtração de coisa alheia móvel para si, ou para outrem.


No roubo, além da subtração da coisa alheia móvel, há emprego da
violência ou grave ameaça contra a vítima.

4. Infanticídio, previsto no artigo 123, do Código Penal.

Unidade 3 - Direito Administrativo


1. Princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência.

2. Direito Administrativo é o conjunto de normas jurídicas de direito


público que disciplinam atividades administrativas necessárias
à satisfação dos direitos fundamentais, à organização e ao
funcionamento das estruturas estatais e não-estatais encarregadas
de seu desempenho. Sua importância no contexto da administração
pública está na regulamentação das atividades administrativas que
devem ser voltadas ao interesse público.ajudará a construir uma
resposta. Assim, também será uma excelente oportunidade de
aprenderem juntos e trocarem experiências.

170
3. Inicialmente, cabe ressaltar que a administração pública “é o conjunto
de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do governo, quais
sejam o bem comum da coletividade” (MEIRELLES, 2002, p. 63) e a
licitação é uma ferramenta utilizada pela administração pública para
realizar compras e contratar serviços. Assim, por exemplo, quando um
município precisa comprar uma ambulância, ele utiliza a licitação, em
que os interessados apresentam suas propostas de venda e o município
escolhe a melhor oferta, levando-se em conta o preço e o tipo de
ambulância. Já imaginaram o município comprar uma ambulância
de brinquedo? Não daria certo. Ou até mesmo uma ambulância de
um ferro-velho? Por isso, a licitação tem sua importância no contexto
social, pois é a ferramenta que dá a todos os interessados a igualdade
de condições de oferecerem os seus produtos e serviços, tendo a
administração pública a faculdade de escolher a melhor oferta em prol
do interesse público. Afinal, não é isso que você faz quando contrata o
serviço de um encanador ou quando compra algo? Afinal, você vai atrás
dos três B(s): bom, bonito e barato. Da mesma forma, a administração
pública o faz por meio da licitação.

4. O Poder de polícia consiste na limitação de direitos individuais que


a Administração Pública estabelece para melhor convivência entre
os cidadãos. Por exemplo, a proibição de estacionar ao lado de um
hidrante ou na frente de uma garagem é um exemplo de poder
de polícia exercido pelo agente de trânsito que notifica e remove
o veículo. Ou ainda, quando os agentes da vigilância sanitária que
fecham um restaurante por falta de higiene, é outro exemplo, que tais
agentes estão no exercício de poder de polícia.

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