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, UMA
DOGMATICA
KARLBARTH
..
2006
Capa: Tradução:
Eduardo de Proença Paulo Zacarias
Revisão: Diagramação:
A lceu Lourenço Z-PwblisJl!lJ
ISBN: 85-86671-69-X
- ~- - J - , ,J
14 - Esboço de llma Dogm;Ítica
para ele, então sinto que tudo vai melhor para mim.
"Creio em ...", credo in ... , significa: não estou mais só.
Nós, os homens, em nosso esplendor e nossa miséria, não
estamos mais sós. Deus vem ao nosso encontro e ele vem
a nós como nosso Senhor e nosso Mestre. Nos bons e nos
maus dias, em nosso desregramento ou nossa honesti-
dade, vivemos, agimos e sofremos nessa posição de reen-
contro. Eu não estou só. Deus vem ao meu encontro. Em
todas as circunstâncias, eu estou com ele. Eis o que signi-
fica creio em Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
qual eu sei que Deus não se deixa conhecer a não ser por
ele mesmo.
E se posso repetir isto com fé, isso significa que eu
louvo e agradeço pelo fato de que Deus o Pai, o Filho e o
Espírito Santo é o que é e faz que ele faz, e revelou-se para
mim, destinou-se para mim e me destinou para ele. Eu
dou graças por ter sido chamado e escolhido, por ter um
Senhor que me libertou para ele. É daí que parte a minha
fé. O que quer que eu faça, no momento em que eu creio,
não tem a menor importância. Mas, o essencial é saber
para o que eu fui convidado, e em vista do que fui liber-
tado por aquele que pode realizar isso que eu não posso
nem iniciar e nem terminar. Estou fazendo uso do dom
através do qual o próprio Deus se deu a mim. Respiro; e
doravante respiro feliz e livre dentro da liberdade que eu
nem conquistei, nem procurei, nem encontrei dentro de
mim, mas que me foi dada por Deus quando ele veio a
mim. Trata-se da liberdade de escutar a Palavra da graça
de maneira tal que o homem possa se ater a essa Palavra e
que a considere como digna de fé.
O mundo de hoje está repleto de palavras e sabemos
o que significa uma inflação de palavras, quando elas per-
dem o seu '-alor e cessam de ser reconhecidas. Mas
quando se crê no Evangelho, a Palavra reencontra seu
crédito e se faz ouvir de tal maneira que aquele que a es-
cutar não mais lhe possa escapar. Pelo Evangelho, a Pala-
vra recebe seu sentido e se impõe como Palavra. Essa
Palavra maravilhosa, na qual crê a fé, é a Palavra de Deus,
Jesus Cristo, em quem Deus anunciou aos homens a sua
Palavra, de uma vez por todas.
É assim que crer significa ter confiança. A confiança
é o,ato pelo qual um homem se abandona à fidelidade de
um outro, de quem conhece a aquiescência e do qual
aceita as exigências. "Eu creio" significa "tenho confi-
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Crer Significa Conhecer - 29
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Crer ÉConfessar a Sua Fé
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Crer É Confessar a Sua Fé - 37
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Deus Nos Lugares Airíssimos - 49
Mesmo sem a criação, Deus não está só. Ele não ne-
cessita dela e contudo ele a ama. Esse amor não pode ser
concebido senão dentro do absoluto da liberdade divina.
O amor de Deus consiste nisso: que Deus o Pai ama o Fi-
lho que é, ele mesmo, Deus. Sua obra não é mais do que a
manifestação do mistério do seu ser íntimo onde tudo é
amor e liberdade.
Quem sabe agora possamos compreender melhor o
sentido do nosso título: Deus nos lugares altíssimos. É
porque Deus é o Pai, o Filho e o Espírito Santo na obra
que ele realizou em Jesus Cristo, que ele está precisa-
mente nos lugares altíssimos. Ele, cuja natureza consiste
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Deus Nos Lugares Alríssimos - 51
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Deus O Pai
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eles, isso não pode significar outra coisa que: ele quer nos
fazer participar de sua vida, "a fim de que nos tornemos
participantes da natureza divina" (2Pe 1.4). Ao chamar-
mos Deus de nosso Pai, nós não dizemos outra coisa. A
nós é permitido dar-lhe o nome que ele se dá a si mesmo
em seu Filho. Em si mesmo, o homem não é um filho,
mas uma criatura de Deus,jactus et non genitus! Essa cri-
atura, o homem, está sob todos os aspectos em revolta
aberta contra ele, um sem -Deus e, contudo, Deus o
chama de seu filho. Se podemos, nós mesmos, nos cha-
mar de seus filhos, é unicamente por causa do ato de sua
livre graça, por causa de seu aviltamento e de sua miseri-
córdia, apesar de nós, por que ele é o Pai e nos dá o poder
de participar de sua vida. Nós somos seus filhos em seu
Filho e pelo Espírito Santo e, portanto, não porque haja
uma relação direta entre Deus e nós, mas porque Deus
nos faz participar, a partir de seu próprio movimento, de
sua natureza, de sua vida e de seu ser. É assim que o bom
grado e a vontade de Deus, o próprio mistério da sua es-
sência divina, o mistério da sua relação com seu Filho,
contêm, de fato, a chave da sua relação conosco; e que
nele, seu Filho, podemos nos chamar seus filhos pelo Es-
pírito Santo, quer dizer, pelo mesmo vínculo de caridade
que une o Pai e o Filho. É nessa terceira maneira de ser de
Deus, o Espírito Santo, que se acha contida nossa vocação
segundo a mesma e eternal decisão do Pai. O que Deus é e
faz em seu Filho, concerne diretamente a você, vale para
você e lhe beneficia. O que é verdadeiro na eternidade, no
próprio Deus, torna-se verdadeiro aqui e agora no tempo.
De que se trata? Nem mais nem menos que de uma repeti-
ção da vida divina, repetição que nós não podemos nem
provocar, nem suprimir, que o próprio Deus suscita no
mundo que ele criou, vale dizer, fora dele. Glória a Deus
nos lugares altíssimos! É isso que estamos dizendo
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Ele quis dizer com isso: caso se queira uma prova absolu-
tamente visível, evidente para todos e irrefutável da exis-
tência de Deus, é para os judeus que se deve olhar. Pois, é
um fato, os Judeus existem ainda hoje. Às centenas, as pe-
quenas nações do Oriente Próximo desapareceram da
cena histórica, todas as antigas tribos de origem semítica
se dispersaram ou desapareceram na massa dos outros
povos; só, dentre todos, esse pequeno povo subsistiu. E
quando se fala de semitismo ou de anti-semitismo, é
nesse pequeno povo que se pensa, miraculosamente pre-
servado, com as particularidades físicas e intelectuais que
o fazem reconhecido e nas quais se baseia para afirmar de
qualquer um: "É um não-ariano, um meio, um quarto de
não-ariano"! Sim, caso se deseje absolutamente uma
prova da existência de Deus, não se deve buscar mais
longe! Pois, na pessoa de um judeu é um testemunho que
nós encontramos, o testemunho da aliança de Deus com
Abraão, Isaac e Jacó e, pois, com nós todos! Mesmo quem
não compreenda a Bíblia pode aqui literalmente ver uma
lembrança.
E não vêem vocês no que reside todo o verdadeiro
alcance teológico, toda a significação intelectual e espiri-
tual disso que foi o movimento do Nacional-socialismo?
Não é no fato de que ele foi, desde o começo, violenta-
mente anti-semita, não é precisamente dentro da nitidez
demoníaca com a qual afirmou sem cessar: o Judeu, eis o
inimigo? Sim, sem nenhuma dúvida, o inimigo de uma tal
empresa não poderia ser outro que não o judeu. Pois é no
seio do povo judeu que se conservou, viva e real, até este
dia, a revelação de Deus no que ele tem de único e escan-
daloso para a razão.
Foi Jesus, o Cristo, o Salvador e o Servo de Deus,
quem cumpriu e tornou manifesta a missão do povo de
Israel, foi ele quem realizou a aliança selada entre Deus e
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coisa final: tudo o que somos terá ido e terá sido corrom-
pido. Talvez a memória permanecerá, enquanto houver
homens que gostem de lembrar-se de nós. Mas algum dia
eles também morrerão e a memória deles também se ex-
tinguirá. Não há um grande nome na história humana
que num dia ou outro não será esquecido. Este é o signifi-
cado de ser "sepultado"; e este é o julgamento sobre o ho-
mem, que no túmulo ele é deixado ao esquecimento. Esta
é a resposta de Deus para o pecado: não há nada mais
para ser feito com o homem pecador, exceto enterrá-lo e
esquecê-lo.
Desceu ao inferno. No Antigo Testamento a imagem
de inferno é algo diferente do que se desenvolveu posteri-
0rmente. Inferno, o lugar do inferi, Hades no sentido do
Antigo Testamento, é, na verdade, o lugar de tormento, o
lugar de completa separação, onde o homem continua a
existir apenas como um não-ser, como uma sombra. Os
israelitas pensavam neste lugar como um lugar onde os
homens se perpetuavam suspensos a rodear como som-
bras furtivas. E a parte ruim sobre estar no inferno no
sentido do Antigo Testamento é que na morte não po-
diam mais louvar a Deus, não podiam mais ver sua face,
não podiam mais cumprir as regras do Sabath de Israel. É
um estado de exclusão de Deus, o que torna a morte tão
temerosa, e que faz do inferno o que ele é. O homem estar
separado de Deus significa estar num lugar de tormento.
"Choro e ranger de dentes" - nossa imaginação não está
adequada para esta realidade, esta existência sem Deus. O
ateu não está consciente do que é a não-existência de
Deus. A não-existência de Deus é a existência no inferno.
O que mais além disto é oferecido como resultado do pe-
cado? O homem não se separou de Deus por seu próprio
ato? "Desceu ao inferno" é simplesmente a confirmação
disto. O julgamento de Deus é justo - isto é, ele oferece ao
168 - Esboço de uma Dogmitica
15. () alemão Karl Heussi (1877-1961), historiador da igreja, cuja obra era
bastante crítica.
A Vinda de Jesus Cristo, O Juiz - 193