Você está na página 1de 6

DISCURSO DIRECTO

Sandra Baptista: "Tenciono um dia realizar os muitos


sonhos que tenho, em prol dos animais!"
2008-03-10
Desde sempre ligada à música, encara-a hoje como um hobby.
Actualmente trabalha em vídeo/imagem.
Tem muito interesse em comportamento animal (humano e não humano), e
tenta aprofundar o conhecimento nesta área através de cursos e palestras.
Quando o assunto é “animais” tenta ajudar sempre que pode.
É vegetariana/vegan desde 2002.

Desde miúda que gosto de animais, sempre tive cães e gatos e na presença deles o
meu mundo parava… Fazia tudo para o bem-estar deles, vivia com eles, vivia para
eles, até hoje é assim…

Hoje em dia tenho o privilégio de ter realizado o meu sonho: vivo numa zona rural,
com espaço e condições para os ter, não só cães mas outras espécies de animais
como é o caso do Balú (o bode), das galinhas (Jacinta, Magda, Magali, Zulmira e o
galo Baltazar) e dos cães Mogli, Meggy, Minni, Chacky, Endy e a mais nova
P.J.(P.J.Harvey) que preenchem o meu agregado familiar.
Cada animal é dotado da sua individualidade, que torna cada um deles único, tal como
os seres humanos podem ter personalidades tão distintas entre si.

Têm uma importância intrínseca e não meramente instrumental, como tantos da minha
espécie fazem crer. Respeito-os como eles são.

As histórias de cada um deles e de como chegaram até mim, são todas elas bem
diferentes embora tenham em comum um pedido, um apelo. Ou estavam
abandonados, ou estavam muito doentes, ou simplesmente se cruzaram no meu
caminho, na altura e momento certos; digamos que a adopção foi mútua.

Como convivo com tantos e tão diferentes animais

No dia-a-dia as galinhas encontram-se num espaço próprio para elas, separadas dos
cães, com tudo aquilo a que têm direito, fundamental para a felicidade delas. A
hierarquia é comandada pelo Baltazar (o galo), elas dividem-se em grupos, umas mais
chegadas, outras mais distantes, mas quando me vêem tentam, numa correria, chegar
o mais depressa possível, pois sabem que lhes levo sempre alguma coisa.
A Jacinta é a mais rápida, tão rápida que por vezes até me assusta.

Noutro dia estava a tirar o milho do saco, quando de repente me salta pelas costas
ficando no meu ombro, e ali ficou por uns instantes. Quando este tipo de coisas me
acontece, sinto que já ganhei o dia…

O Balú fica com as galinhas durante a noite, de manhã e, quando quer sair, vem
comigo. Os cães que entretanto ficam à espera que eu saia, cumprimentam o Balú
com o rabo a abanar demonstram contentamento e ele retribui com o seu ar castiço e
bem disposto, lá vai à procura de umas ervas ou de outra coisa qualquer que lhe
apareça à frente, come de tudo.
Se eu ficar no campo, andamos todos juntos: cães a brincar, o Balú a comer… Se vier
para dentro de casa o Balú fica à porta e os cães entram calmamente, cada um tem o
seu espaço para ficar, respeitam-se, não há brigas.

Já sabem que as regras são para cumprir, não ladram, não estragam e não partem
nada. Em contrapartida levam muito carinho, muita brincadeira, muita atenção.

Às refeições (duas por dia), cada um recebe a sua comida, comem todos ao mesmo
tempo, o primeiro a sentar-se é aquele que recebe primeiro e assim sucessivamente,
por vezes quando venho com a ração tenho os seis cães sentados.

Tenho orgulho nos «meus» cães.

Rituais Caninos :

Ao final do dia, escovo todos os cães um a um, vejo-lhes as orelhas, dentes, patas,
para ver se estão todos bem. Eles adoram, por vezes fazem fila e a primeira a ser
escovada tenta entrar novamente para a fila. Esperta! Sabem que este tempo que
reservo a cada um deles é especial e único e tem que ser muito bem aproveitado,
pois, só amanhã haverá mais…

Como os portugueses tratam os seus animais:

De uma forma geral custa-me muito a aceitar a forma como as pessoas tratam os
animais, no meio rural os cães chegam a ficar presos com correntes uma vida inteira,
em situações miseráveis (sem água, sem abrigo…), estão completamente apáticos,
em cidades fechados o dia inteiro, numa casa onde não existe rigorosamente nada
para os entreter, ou pior ainda, em varandas… É triste.

Depois temos aquelas pessoas que tratam os «seus» cães como se fossem humanos,
quando ouvimos histórias de que o cão era muito amigo daquela criança e depois
mordeu-a, ou já não posso dormir com o meu marido porque o meu cão tem ciúmes
ficamos muito admirados. São tantas as histórias que, por vezes, custa a acreditar.
Mas isto existe pelo próprio desequilíbrio do ser humano, a compensação exagerada,
em troca do seu sentimento de culpa… Não há cães agressivos… Há pessoas
irresponsáveis.

Existe muita falta de informação de comportamento animal, acredito que muitas falhas
que cometemos é por ignorância. Deveria haver nas escolas informação sobre leis de
protecção e direitos dos animais.

Cabe a cada um de nós mudar o que está mal, denunciar às autoridades competentes
actos de crueldade, apoiar associações, para que estas consigam defender com mais
força os direitos dos animais (Associação Animal para mim a única credível em
Portugal). Talvez assim melhoremos a qualidade de vida dos «nossos» animais.

O que mudava em Portugal:

Acabaria com todos os espectáculos que tenham animais : touradas, circos, certas
tradições que ainda duram. É uma vergonha usar elefantes, leões, primatas, ursos…
qualquer animal para entretenimento. Para os animais é contra-natura e a existência
deles não passa por nos «agradar», não temos o direito de os obrigar a fazer coisas
que achamos muito engraçadas… E eles fazem-no por medo… Porque são
obrigados… É uma aberração !

Acabaria com muitos dos abrigos para animais, não têm condições nem pessoal
qualificado para os manter.

Acabaria com muita coisa…

A vida de um animal senciente* é tão importante para ele, como a minha vida é tão
importante para mim.
*(capacidade neurofisiológica de experienciar o sofrimento e o prazer.)

Temos um compromisso perante o animal: respeitá-lo!

Sandra Baptista
libertacao@sapo.pt

Galeria de imagens

Você também pode gostar