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Autor Desconhecido
Alquimia
Conta a lenda que o filósofo e alquimista árabe Averróis enterrou um raio de sol sob a primeira coluna
à esquerda da mesquita de Córdoba, acreditando que, transcorridos oito mil anos, ele se converteria
em ouro.
A alquimia foi uma atividade pré-científica que visava alcançar uma melhor compreensão do
cosmo, da matéria e do homem. Em particular, através do conhecimento da natureza da matéria, os
alquimistas visavam transformá-la e transmutar metais de pouco valor em ouro e prata.
Características da alquimia. Segundo os alquimistas, através de certas técnicas, que envolviam ciência,
arte e religião, seria possível conseguir a transmutação de uma substância em outra. Por haverem
desenvolvido e utilizado diversos procedimentos de laboratório, a alquimia foi uma atividade
precursora da química, que lhe deve a descoberta de inúmeras substâncias e a invenção de grande
variedade de instrumentos, que mais tarde desempenhariam papel de destaque no domínio da
metodologia científica.
A teoria da transmutação baseava-se na interpretação dada pela filosofia clássica grega à
composição da matéria. Na época de Aristóteles, acreditava-se que toda substância compunha-se de
diferentes proporções dos quatro elementos fundamentais: água, ar, fogo e terra. A partir desse
princípio, os alquimistas desenvolveram seu postulado fundamental: "A matéria é única e pode sofrer
transmutações mediante a variação das proporções entre seus componentes." Os alquimistas
acreditavam também na existência de uma substância capaz de provocar essa transmutação,
denominada elixir (do árabe al-iksir, "pó seco") ou pedra filosofal. A essa substância eram atribuídas
outras propriedades, tais como o poder curativo e de rejuvenescimento, razão pela qual recebia
também o nome de "elixir da vida" ou "panacéia universal".
Entretanto, os alquimistas medievais tinham mais interesse nos poderes de transmutação da
matéria atribuídos à pedra filosofal, uma vez que, se alcançada, essa técnica possibilitaria o fácil
acesso à riqueza. Nicolas Flamel, tabelião e alquimista francês do século XIV, acumulou tamanha
riqueza que seus contemporâneos imaginaram que ele houvesse finalmente descoberto o princípio do
elixir da vida. Segundo a lenda, Flamel teria sonhado com um livro oculto, que revelava os segredos
da "grande arte". O alquimista teria se dedicado à busca desse livro e, depois de encontrá-lo, o
decifrara com a ajuda de um erudito judeu, conseguindo assim a transmutação de substâncias de
pouco valor em ouro.
O empenho com que se dedicaram à busca do ouro fez com que alguns alquimistas obtivessem
muito poder; outros, porém, foram perseguidos. Na segunda metade do século XVI e no começo do
XVII, Praga transformou-se no principal centro da prática da alquimia. Os imperadores Maximiliano
II e Rodolfo II deram respaldo à obra de alguns alquimistas, e este último chegou a conceder título de
nobreza ao alquimista alemão Michael Maier. Menos sorte teve o inglês Edward Kelly, encarcerado
por ordem do próprio Rodolfo II.
De maneira geral, o cristianismo se opôs à prática da alquimia, que considerava pagã. O
próprio arcebispo de Praga foi perseguido pelo Concílio de Constance no século XV, e em 1530 foi
promulgado em Veneza um decreto que condenava à morte os alquimistas. Devido a essas
perseguições e a fim de manter em segredo suas descobertas, os alquimistas passaram a utilizar uma
linguagem rica em símbolos e metáforas, só acessível aos iniciados. Era comum publicarem obras
com pseudônimos ou atribuírem-nas a pessoas de reconhecido prestígio, como santo Alberto Magno,
santo Tomás de Aquino ou Roger Bacon.
Ao lado dos alquimistas que se empenharam honestamente em alcançar a pedra filosofal,
houve aqueles que recorreram a fraudes como meio de obter dinheiro, fama e poder. Não era incomum
construírem caixas de fundo falso, onde o ouro era escondido, aparecendo no momento oportuno, ou
branqueá-lo com mercúrio, recuperando depois seu brilho por meio de calcinação.
Histórico. A prática da alquimia teve início em tempos remotos na Índia, na China e na Europa. Certas
características comuns parecem apontar uma mútua influência entre os antigos alquimistas chineses e
hindus. Em ambas as culturas, o objetivo fundamental da alquimia não era a obtenção de ouro, mas
sim o prolongamento da vida. Por conseguinte, nas civilizações orientais, a alquimia estava ligada
mais de perto à medicina que à química.
Ainda se discute a origem das idéias alquímicas. Enquanto alguns estudiosos defendem o
desenvolvimento independente da alquimia na Índia e na China, outros consideram a possibilidade da
transmissão de conhecimentos de uma dessas culturas para a outra. Os Vedas, textos sagrados hindus,
fazem referência a uma provável relação entre o ouro e a longevidade. Os chineses, por sua vez, um
século antes de Cristo, acreditavam ser possível alcançar a imortalidade através da ingestão de uma
bebida de ouro, devido à resistência desse metal à corrosão.
A alquimia européia baseou-se na astrologia (a palavra "alquimia" foi empregada pela primeira
vez no tratado astrológico de Julius Maternus Firmicus, do século IV) e nas técnicas metalúrgicas dos
sumérios e egípcios, que já obtinham o cobre a partir da malaquita, quatro mil anos antes da era cristã.
Uma das primeiras obras sobre alquimia de que se tem notícia é o tratado Physica et mystica, atribuído
ao egípcio, naturalizado grego, Bolos de Mende, que viveu na região do delta do Nilo por volta do ano
200 a.C. Nele se encontravam receitas para converter metais em ouro e prata, numa época em que
eram divulgadas as idéias platônicas sobre a composição da matéria. Apesar da confusão provocada
pelas falsas atribuições de livros e tratados a este ou aquele autor, parece ter existido, nessa época,
numerosos praticantes da alquimia, tais como Ostan o Mago, Sofar o Persa e os egípcios Petesis e
Chiuses. O tratado Physica et mystica é parte de uma compilação de textos realizada no século VIII, e
inclui obras de cerca de quarenta autores, entre os quais Zózimo, que viveu no início da era cristã e
exerceu grande influência sobre os alquimistas posteriores. Em suas obras, ele descreveu toda uma
série de instrumentos, cuja invenção foi atribuída a Maria a Judia, uma das mais famosas mulheres
que praticaram a alquimia.
Após a conquista de Alexandria, em 642 da era cristã, os árabes incorporaram a seu saber as
teorias dos alquimistas gregos e egípcios. Entretanto, alguns especialistas consideram que a alquimia
árabe não teve como origem a Grécia, mas sim a escola asiática, provavelmente centrada na cidade
turca de Harran. Entre os mais destacados alquimistas árabes cabe mencionar: Jabir (em latim, Geber),
al-Razi, que no século X lançou os fundamentos para a descoberta dos ácidos minerais, e Avicena,
responsável pela compilação, cem anos depois, dos conhecimentos dos alquimistas árabes.
No século XII cresceu na Europa o interesse pela alquimia. A partir de traduções das obras dos
alquimistas árabes, foram descobertas substâncias que constituiriam a base da ciência química: os
ácidos minerais, o álcool (cuja descoberta é atribuída ao alquimista catalão Arnau de Vilanova, no
século XIII) e elementos químicos como o antimônio, estudado por Basílio Valentín.
Já no século XIII, o inglês Roger Bacon defendia a utilização do método científico, afirmando que
"nada se pode conhecer com certeza, salvo através da experiência". No século XIV, Paracelso, para
quem o objetivo da alquimia não era a obtenção de ouro, e sim de remédios, deu um importante
impulso a essa disciplina, embora se jactasse de ter encontrado o elixir da vida.
Durante esse período, a alquimia oscilou entre a ciência e o misticismo. Assim, enquanto o
respeitado cientista inglês Isaac Newton se dedicava, no século XVII, a investigações sobre a
obtenção de ouro, o alquimista holandês Jan Baptiste van Helmont estudava o dióxido de carbono,
criando a palavra "gás".
Com a publicação dos trabalhos de Lavoisier, no século XVIII, teve início a era da química,
embora certos aspectos filosóficos da atividade alquímica tivessem sido preservados por seitas
místicas, como a irmandade dos Rosacruzes.
Os historiadores da química tendem a distinguir entre os aspectos positivos da alquimia e
aqueles que consideram nocivos. Entre os primeiros cabe citar o descobrimento de novas substâncias e
a invenção de novos instrumentos de trabalho, enquanto o principal caráter negativo apontado no
procedimento alquimista refere-se ao descrédito do método científico.
Magia
Incluem-se entre os fenômenos mágicos uma ampla variedade de práticas e crenças rituais, que
constituem o núcleo de vários sistemas religiosos, atos de exorcismo e mesmo prestidigitação com
fins de entretenimento. No primeiro sentido, a magia se entende como fenômeno social e cultural,
presente em todas as civilizações, em algumas das quais convive com o pensamento crítico da era
científica e tecnológica.
Magia é essencialmente um conjunto de representações ou atividades rituais supostamente
capazes de influenciar os atos humanos ou o curso dos acontecimentos, por ação de forças místicas
transcendentais. O animismo, ou seja, a convicção de que não existem diferenças essenciais entre
seres animados e inanimados, costuma estar na base do pensamento mágico. As práticas mágicas
incluem, assim, o uso de objetos especiais e a recitação de fórmulas mágicas. A natureza da magia,
bem como sua função social e psicológica, é freqüentemente mal compreendida em virtude das
múltiplas formas que ela assume e de sua relação com outros comportamentos religiosos. As
incertezas decorrem em grande parte das idéias sobre evolução cultural e histórica do século XIX, que
distinguem a magia de outros fenômenos religiosos e identificam-na com sociedades arcaicas e
primitivas, ou como simples superstição sem significado cultural.
Em virtude dessa concepção, a magia foi tida como diversa de outros ritos e crenças religiosas.
Sua semelhança e conexão essencial com eles -- uma vez que tanto as religiões organizadas quanto as
crenças mágicas apelam para a influência das forças místicas externas sobre a existência humana --
passaram, portanto, despercebidas. Para dificultar a compreensão da magia, disseminou-se a idéia
segundo a qual os atos mágicos carecem da natureza intrinsecamente espiritual própria dos atos
religiosos, pois se fundamentam muito mais na manipulação externa do que na oração e constituem,
portanto, um tipo mais simples e inferior de religiosidade.
Desse ponto de vista, existe uma diferença relevante entre magia e religião: enquanto esta se
associa ao relacionamento entre os homens e as forças espirituais, em que o compromisso pessoal é
básico, o procedimento mágico é visto principalmente como um ato técnico, em que o vínculo pessoal
não é tão importante ou está ausente, embora a força que está por trás dos atos mágicos e religiosos
seja a mesma.
A magia é freqüentemente confundida com a feitiçaria, especialmente na história das religiões
européias. Os antropólogos modernos, no entanto, distinguem entre magia, que é a manipulação de
poderes externos por meios mecânicos ou comportamentais para afetar outras pessoas, e feitiçaria,
qualidade inerente ao indivíduo que apresenta, no entanto, os mesmos objetivos.
A adivinhação, ou capacidade de entender os agentes místicos que afetam os indivíduos e o curso dos
acontecimentos, difere da magia porque seu objetivo não é interferir nos acontecimentos, mas
compreendê-los. O poder místico dos adivinhos e o poder que governa as forças mágicas são, no
entanto, de mesma espécie.
História. A magia, em suas diferentes formas, parece integrar todos os sistemas religiosos
conhecidos. O conhecimento sobre a magia pré-histórica é limitado, em função da falta de dados
confiáveis. Muitas pinturas e gravações em cavernas são tidas como representações de figuras
entregues à prática da magia orientada para favorecer a caça e as atividades do feiticeiro. As
informações sobre os fenômenos mágicos das antigas culturas orientais, greco-romanas, cristãs
européias e das sociedades primitivas contemporâneas são muito mais completas.
A maioria dos relatos sobre a cultura mesopotâmica e a egípcia chama de magia, ou formas de
pensamento mágico ou mitopoético (relativo à criação dos mitos) todos os rituais registrados. Os
faraós do Egito, por exemplo, reis divinizados, eram por isso mesmo venerados e tidos como capazes
de controlar a natureza e a fertilidade. Seus poderes como mágicos, no entender dos estudiosos, eram
expressão da onipotência real.
Na Roma antiga, muita importância foi dada à feitiçaria. Esse fenômeno parece ter resultado
do desenvolvimento de novas classes urbanas, cujos membros dependiam de seus próprios esforços,
tanto em termos materiais como mágicos, para derrotar os adversários e alcançar o sucesso. Há
registro de fórmulas mágicas na cultura romana para obter sucesso no amor, nos negócios, nos jogos e
também proferir discursos persuasivos.
Há muitos registros históricos da Idade Média e de períodos posteriores sobre a magia.
Conforme se sabe a partir de estudos históricos e antropológicos recentes sobre feitiçaria, magia e
sincretismo religioso, a magia é especialmente dominante em períodos de rápida mudança e
mobilidade social, quando novas relações e conflitos pessoais assumem importância maior do que as
relações familiares tradicionais, típicas de tempos de estabilidade. A Europa parece não ter sido
exceção, especialmente quando a igreja, lutando para assegurar sua hegemonia, dirigiu acusações de
prática de magia contra seus adversários.
Um dos aspectos mais conhecidos da magia européia, divulgado e combatido pela Igreja
Católica, é a prática herética de fazer pactos com os espíritos malévolos. Característico da história da
magia européia foi também o uso que se fez dela como parte da tradição hermética. Seguidores dessa
tradição, mais identificada na verdade com a alquimia que com a magia, eram às vezes considerados
magos diabólicos, cujos conhecimentos proviriam de um pacto com o demônio. A sociedade tolerava
a maioria deles, no entanto, porque suas práticas, embora estranhas, eram tidas como parte da tradição
hermética judaica e cristã.
Grande parte do que se sabe sobre a magia nas sociedades ágrafas contemporâneas deriva de
relatos antropológicos feitos por pessoas do mundo não-ocidental que acreditam na magia. Foram
feitas descrições detalhadas, por exemplo, sobre as sociedades da Oceania e da África e de muitas
sociedades muçulmanas em que persistem crenças pré-islâmicas, como na Malásia e na Indonésia.
Esses relatos, porém, raramente distinguem magia de feitiçaria e adivinhação, encontradas em
praticamente todas as sociedades orientais conhecidas.
Estrutura e funções. As pessoas podem executar atos mágicos sozinhas ou procurar os
préstimos de um mago, alguém que sabe como executar os procedimentos rituais e pode ser
recompensado por isso. Segundo se acredita, essa habilidade pode ser transmitida por herança,
comprada por outros magos, ou ainda inventada pelo mago para ser executada por ele mesmo. Os
magos podem ser consultados para fins nefastos, para proteger um cliente da magia prejudicial feita
por terceiros ou por razões puramente benévolas. O caráter moralmente neutro da magia parece
universal, embora, em qualquer sociedade, se discuta seu emprego para fins benignos ou malignos.
Há normalmente três elementos principais na magia: a fórmula mágica, o ritual e a condição
ritual do executante. Os objetos rituais se incluem entre as fórmulas mágicas. Essa distinção foi feita
pioneiramente pelo antropólogo Bronislaw Malinowski em seus estudos sobre os habitantes das ilhas
Trobriand, na Melanésia. Freqüentemente as fórmulas mágicas empregam vocabulário arcaico ou
esotérico. Entre os habitantes das ilhas Trobriand, a fórmula é especialmente importante: usar as
palavras certas, da maneira certa, é considerado essencial para a eficácia do ritual. Para os maori, da
Nova Zelândia, esse elemento é tão importante que um erro na recitação da fórmula pode levar à
morte do mago.
Bastante difundido é também o uso de objetos materiais, de natureza muito variada. Em alguns
casos, os elementos que visam a causar dano são realmente venenosos, mas em geral não provocam
efeitos práticos, apenas os representam. É uma prática comum entre os magos, por exemplo, tentar
prejudicar uma pessoa destruindo algum elemento de seu corpo (como aparas de unhas e cabelos) ou
algo que tenha estado em contato com ela (uma roupa ou outro objeto pessoal).
O significado do rito mágico quase nunca é percebido por aqueles que acreditam que a magia
difere essencialmente da religião. Parece universal, porém, que a magia seja praticada apenas em
situações rituais formais e cuidadosamente definidas. O rito pode ser simbólico, como ocorre com o
ato de borrifar o solo com água para fazer chover, ou com a ação de destruir uma imagem em cera
para prejudicar uma pessoa. Tanto o mago quanto o rito devem observar certos tabus. Ao mago são
impostas restrições alimentares e sexuais e a não-observação desses cuidados anula a magia. O
respeito às interdições indica aos demais a importância do rito e dos objetivos desejados.
São muitas as funções da magia, mas há dois aspectos principais: o instrumental e o expressivo. Uma
característica básica dos ritos e crenças mágicas é que os praticantes acreditam que eles são
instrumentais, ou seja, eficientes, projetados para alcançar certas finalidades na natureza ou no
comportamento de pessoas. O aspecto simbólico ou expressivo está sempre presente e é por causa dele
que a magia pode ser melhor compreendida como parte de um sistema religioso.
Teorias sobre a magia. Os primeiros estudos sobre magia foram elaborados pelos sábios judeus e
cristãos, preocupados em relacioná-la com suas crenças, identificando-a como um vestígio de
paganismo e como heresia. Durante o final do século XIX, antropólogos começaram a estudar a magia
e sua influência na evolução das religiões mundiais.
Os primeiros estudos antropológicos sobre a magia foram realizados por Edward Tylor, que no
livro Primitive Culture (1871; Cultura primitiva) definiu magia como uma pseudociência, em que o
"selvagem" incorretamente afirma uma relação direta de causa e efeito entre o ato mágico e o
acontecimento desejado. Em The Golden Bough (1890; O ramo de ouro), James Frazer redefiniu as
concepções de Tylor sobre o pensamento mágico, discutiu o relacionamento da magia com a religião e
a ciência e situou-as num quadro evolutivo. Frazer aceitou a teoria de Tylor sobre a falsa relação de
causa e efeito entre a magia e os efeitos naturais e analisou os princípios que governam essa falsa
relação.
Esses autores e seus seguidores, como Ranulph Marett, entenderam magia como uma questão
essencialmente individual e intelectual, uma das formas como o indivíduo reflete sobre o mundo.
Outros autores ampliaram a discussão e abordaram a questão do ponto de vista da função social da
magia, como fizeram os sociólogos franceses Marcel Mauss e Émile Durkheim. Em Les Formes
élémentaires de la vie religieuse (1912; As formas elementares da vida religiosa), Durkheim afirmou
que os ritos mágicos envolvem a manipulação de objetos sagrados em nome de indivíduos. O
significado socialmente coesivo dos ritos religiosos propriamente ditos não estava presente. As idéias
do sociólogo francês foram seguidas por Radcliffe-Brown, autor de The Andaman Islanders (1922; Os
habitantes das ilhas Andaman) e, em menor medida, por Malinowski, influenciado mais por Frazer e
pelos primeiros psicanalistas.
Radcliffe-Brown sustentava que a função social da magia era manifestar a importância que o
acontecimento desejado reveste para a comunidade. Malinowski considerava a magia um fenômeno
oposto à religião, além de direta e essencialmente relacionado às necessidades psicológicas do
indivíduo.
Os estudos mais recentes sobre os sistemas mágicos se fizeram tomando como objeto a magia
de povos da África e da Oceania. Basearam-se essencialmente nas idéias de Malinowski e Radcliffe-
Brown e no mais importante trabalho sobre o tema que surgiu depois desses autores: Witchcraft,
Oracles and Magic Among the Azande (1937; Feitiçaria, oráculos e magia entre os azandes), de
Edward Pritchard.
Freud, autor de Totem e tabu (1918), exerceu, durante algum tempo, grande influência sobre
os estudiosos do pensamento mágico com a idéia segundo a qual a magia, a primeira fase no
desenvolvimento do pensamento religioso, era similar, em seus processos essenciais, ao pensamento
de crianças e neuróticos. Essa concepção pressupõe que selvagens, crianças e neuróticos acreditam
que desejo e intenção levam automaticamente a atingir o objetivo desejado. Essa idéia foi abandonada
pelos especialistas, não só por que revela incompreensão da natureza expressiva do ritual mágico,
como também porque estabelece equivocadas semelhanças de comportamento entre os grupos
humanos comparados.
Bruxaria