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26/01/2019 Balduíno IV de Jerusalém – Wikipédia, a enciclopédia livre

Balduíno IV de Jerusalém
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Balduíno IV de Jerusalém (Jerusalém, 1161 – Jerusalém, Balduíno IV
16 de Março de 1185[1]), cognominado o Leproso, foi rei de
Jerusalém de 1174 até à sua morte. Era filho do rei Amalrico I
com a sua primeira esposa, Inês de Courtenay, irmão da rainha
Sibila de Anjou, tio do seu sucessor Balduíno de Montferrat e
Rei de Jerusalém
meio-irmão da rainha Isabel I de Jerusalém.

Índice
Infância
Regência de Milão de Plancy
Regência de Raimundo III de Trípoli
Questão sucessória
Conflito com Saladino
Regência de Guy de Lusignan e morte
Representações na arte e na literatura
Literatura
Ilustrações
Cinema
Referências e notas
Bibliografia

Representação da coroação de Balduíno IV


(iluminura do século XIV da História de Guilherme de Tiro)

Infância Reinado 15 de Julho de 1174 a


16 de Março de 1185
Apesar de o seu nascimento não ser mencionado em qualquer (a partir de 1183 servindo com
documento ou história contemporânea, as crónicas permitem Balduíno V)

estimar o ano do seu nascimento em 1161[2]. Aquando do seu Coroação 15 de Julho de 1174
nascimento, o seu pai, então conde de Jafa e Ascalão, pediu ao Antecessor(a) Amalrico I
irmão, o rei Balduíno III de Jerusalém, para ser o padrinho do Sucessor(a) Balduíno V
seu filho. Uma vez que este aceitou, a criança foi baptizada com Casa Anjou
o prenome de Balduíno. Nascimento 1161
Balduíno III morreu no ano seguinte, sendo sucedido por Jerusalém Reino de
Amalrico. Para subir ao trono, este foi forçado pela nobreza Jerusalém
cruzada a anular o seu casamento com Inês de Courtenay, Morte 16 de março de
1185 (24 anos)
julgada de personalidade demasiado volátil e propensa a
Jerusalém
intrigas para se tornar rainha da Cidade Santa[3][4].
Enterro Igreja do Santo Sepulcro
Inês manteve o título de condessa de Jafa e Ascalão Pai Amalrico I de Jerusalém
(posteriormente seria também senhora de Sidom) e continuou Mãe Inês de Courtenay
a receber uma pensão pelo rendimento desse feudo; e a Igreja
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declarou Balduíno IV e Sibila filhos legítimos do rei, preservando o seu


lugar na ordem de sucessão[5]. Amalrico voltaria a casar-se em 1167 com
Maria Comnena, de quem nasceria Isabel I de Jerusalém[6].

Enquanto Sibila foi enviada para ser educada com a sua tia-avó Ioveta,
abadessa do convento de Betânia, Amalrico manteve o seu filho na corte de
Jerusalém, tendo pouco contacto com a mãe. Aos nove anos de idade, a
educação do herdeiro foi confiada ao historiador Guilherme de Tiro. Na
sua Historia não poupou elogios ao falar da educação do seu jovem pupilo
e, apesar do viés natural do autor, este rei ficaria na história com uma
imagem de inteligência e cultura[7].

Foi também Guilherme quem descobriu que o jovem sofria de lepra, apesar
de o diagnóstico só ter sido confirmado quando atingiu a puberdade: ao
observar o seu pupilo a brincar com jovens da sua idade, tentando magoar-
se uns aos outros com beliscões nos braços, o cronista reparou que
O Oriente Próximo em 1165 Balduíno não parecia sentir dor, ao contrário das restantes crianças.

Esta condição foi imediatamente reconhecida como indício de uma doença


grave, que seria identificada conclusivamente como lepra com a chegada puberdade, quando os sintomas se
agravaram. Amalrico procurou a ajuda de vários médicos, inclusivamente muçulmanos, e recorreu a imersões no rio
Jordão, uma cura realizada pelo profeta Eliseu de acordo com o Segundo Livro dos Reis da Bíblia[8], mas nenhum
método seria eficaz[9].

Regência de Milão de Plancy


Amalrico I morreu a 11 de Julho de 1174, depois de tentar impedir o domínio
dos zengidas sobre o califado egípcio, mas sem sucesso. Mas este domínio não
seria completo porque, com a morte em 1171 do conquistador Xircu, o
território passou para o controlo do seu sobrinho Saladino, que adoptou uma
política dúbia, não totalmente submissa a Noradine. Os estados cruzados
tinham agora de enfrentar a sul o poder emergente dos aiúbidas, em vez do
poder decadente dos fatímidas[10].

Balduíno IV foi imediatamente coroado, pelo patriarca latino de Jerusalém


Amalrico de Nesle a 15 de Julho, com a idade de treze anos. Uma vez que a
maioridade estava definida para o quinze anos, o reino foi colocado sob Morte de Amalrico I de
regência, inicialmente exercida informalmente pelo senescal Milão de Plancy, Jerusalém e coroação de
guerreiro de renome mas que se revelaria um falho político. Balduíno IV (Historia de
Guilherme de Tiro e
Duas semanas depois da coroação, a 28 de Julho, o rei Guilherme II da Sicília continuação, São João de Acre,
desembarcou em Alexandria e pôs cerco à cidade, mas seria derrotado por século XIII, Biblioteca Nacional
Saladino a 31 de Julho. Se Milão de Plancy tivesse lançado um ataque de França)

simultâneo, é provável que Saladino, ainda em situação precária no poder do


Egito, tivesse ficado em uma posição muito desfavorável.

Por ser leproso, não se esperava que Balduíno reinasse por muito tempo ou produzisse um herdeiro, pelo que os
nobres do reino posicionaram-se de modo a influenciar os herdeiros de Balduíno: a sua irmã Sibila, na companhia da
tia-avó Ioveta no convento de Betânia; e a sua meia-irmã Isabel, na corte da sua mãe Maria Comnena em Nablus
(actual Cisjordânia) e na companhia da poderosa família Ibelin.

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Entretanto Raimundo III de Trípoli chegou a Jerusalém, exigindo a sua nomeação como bailio e regente, uma vez que
era o parente varão mais próximo (primo direito) de Amalrico. Foi apoiado pela maioria da nobreza do reino,
incluindo Onofre II de Toron, Balião de Ibelin e Reginaldo de Sidom.

Regência de Raimundo III de Trípoli


Milão de Plancy foi acusado de abusar da sua posição de regente, pelo que os
nobres do reino exigiram a sua renúncia. Perante a sua recusa, foi assassinado
no final do ano durante uma viagem de inspecção a São João de Acre e
Raimundo foi nomeado bailio pela Haute Cour (corte de Jerusalém)[11].

A sul, Saladino planeava tomar as cidades-estado de Alepo, Homs e Damasco,


na posse dos herdeiros de Noradine, para dominar a Síria e cercar os estados
cruzados, objectivo principal da jiade. Em resposta, Raimundo III de Trípoli
apoiou os zengidas contra o sultão do Egito.

Em 1175 Balduíno acompanhou o seu regente a Homs, em uma operação que


forçou Saladino a levantar o cerco a Alepo. Em agradecimento, o emir desta
Saladino incendeia uma cidade cidade libertou os seus prisioneiros cristãos, entre os quais Reinaldo de
(iluminura da Historia de Châtillon e Joscelino III de Edessa[12], apesar de também ser relatado que o
Guilherme de Tiro e
segundo só foi libertado quando a sua irmã pagou um resgate de 50 000
continuação, século XV,
dinares, provavelmente com uma ajuda do tesouro real. Depois, Raimundo
Biblioteca Nacional de França)
iniciou várias incursões a territórios muçulmanos com o objectivo de
enfraquecer o aiúbida[13].

O regente nomeou Guilherme de Tiro chanceler em 1174 e arcebispo de Tiro em 1175; no Verão de 1175 acordou
tréguas com Saladino, necessárias a ambos os campos - os latinos ainda não possuíam a liderança forte de um rei nos
seus plenos poderes, e o muçulmano ainda estava a tentar consolidar o seu poder, precisando de subjugar a Ordem
dos Assassinos e os emires independentes da Síria.

Raimundo também negociou o casamento da irmã do rei com Guilherme de Montferrat, primo direito de Luís VII de
França e de Frederico Barbarossa. Guilherme chegou no início de Outubro, tornou-se conde de Jafa e Ascalão jure
uxoris, e esperava-se que subisse ao trono com Sibila assim que Balduíno ficasse incapacitado; mas morreria em
Ascalão em Junho de 1177[14] após várias semanas de doença, ainda durante a gravidez de Sibila de Jerusalém, da qual
nasceria o futuro rei Balduíno V. A regência terminou no segundo aniversário da coroação de Balduíno IV em 1176,
data em que o jovem rei atingiu a maioridade e o conde de Trípoli abandonou o cargo de bailio[13].

Questão sucessória
Devido à sua doença, desde o início do seu reinado Balduíno IV teve de se preocupar com os problemas da sua
sucessão. O seu pai casara-se duas vezes: com Inês de Courtenay, que contraíra novo matrimónio com Reginaldo de
Sidom; e com Maria Comnena, casada em 1177 com Balião de Ibelin. Sibila, a filha de Inês, já tinha atingido a
maioridade e tido um filho, pelo que estava em uma boa posição para suceder ao irmão, mas Isabel, a filha de Maria,
tinha o apoio dos Ibelin, a família do seu padrasto.

A posição de Raimundo III de Trípoli era difícil e controversa. Como parente mais próximo do rei por via varonil,
poderia reivindicar o trono. No entanto não tinha produzido descendentes que pudessem ser seus herdeiros
inequívocos, o que terá sido o motivo de evitar colocar-se na posição de pretendente. Em vez disso, usou a sua
influência para colaborar com os Ibelin na tentativa de influenciar os casamentos das princesas.

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Entretanto, o rei depositava a sua confiança principalmente em quem não o


pressionava politicamente no assunto da sucessão: a sua mãe e o irmão desta,
Joscelino III de Edessa, que não tinha possibilidades de se assumir como
pretendente. Assim, depois do seu resgate das prisões de Alepo, em 1176 o
conde titular de Edessa foi nomeado senescal do reino[5]. Em 1179 Balduíno
começou a planear o casamento de Sibila com Hugo III da Borgonha, mas na
primavera de 1180 ainda não tinha feito uma decisão.

Aliado a Boemundo III de Antioquia, Raimundo marchou então sobre


Jerusalém para tentar forçar o rei a casar a irmã com um favorito seu,
Noivado e casamento de Sibila
provavelmente Balduíno de Ibelin, irmão mais velho de Balião. Em resposta,
de Jerusalém com Guido de
Balduíno apressou-se a casá-la com Guy de Lusignan, irmão mais novo do Lusignan (Historia de Guilherme
condestável Amalrico, e Raimundo voltou a Trípoli sem entrar no reino. de Tiro e continuação,
século XIII)
Este casamento com um europeu era essencial para atrair ajuda militar
externa ao Reino de Jerusalém. Filipe II de França ainda estava na
menoridade, pelo que não se poderia esperar ajuda imediata deste reino; Guy era vassalo do rei Henrique II da
Inglaterra, primo direito de Sibila que se obrigara perante o papado a peregrinação perpétua devido ao assassinato de
Thomas Becket - havia a possibilidade de o monarca plantageneta fazer a penitência em cruzada.

Conflito com Saladino


Depois de assumir o trono, Balduíno IV não ratificara a paz de Raimundo
III de Trípoli com Saladino. Deste modo, invadiu a região de Damasco e do
vale do Beca, e planejou um ataque ao Egito, a fonte do poder do sultão. O
anterior príncipe de Antioquia, Reinaldo de Châtillon, foi libertado de
Alepo em 1176 por um filho de Noradine, através de uma troca de
prisioneiros ou do pagamento do seu resgate por Manuel I Comneno.
Balduíno enviou-o a Constantinopla em embaixada ao imperador bizantino
a fim de obter o apoio naval para esta expedição.

Reinaldo voltou ao Reino de Jerusalém no início de 1177, sendo


recompensado com um casamento com Estefânia de Milly, a abastada
viúva de Onofre III de Toron e Milão de Plancy, e herdeira do Senhorio de
Transjordânia, incluindo os castelos de Kerak e Montreal, a sudoeste do
mar Morto. Estas fortalezas controlavam as rotas de comércio entre o Egito
e Damasco, e davam acesso ao mar Vermelho. Balduíno tentou assegurar a
Saladino vitorioso (ilustração de
cooperação do seu cunhado Guilherme de Montferrat com Reinaldo na
Gustave Doré, século XIX)
defesa do sul do reino, mas o conde de Jafa e Ascalão morreria em
Junho[14].

Em Agosto, o conde da Flandres Filipe da Alsácia chegou em cruzada à Terra Santa, pretendendo casar as irmãs de
Balduíno IV com vassalos seus. Advogava para isto que tinha mais direitos do que o regente Raimundo III de Trípoli,
por ser o parente mais próximo do rei por via paterna: Filipe era neto de Fulque de Jerusalém, e por isso primo direito
de Balduíno; Raimundo era sobrinho de Melisende de Jerusalém, e assim primo direito do pai de Balduíno. Mas a
Haute Cour recusou-lhe este direito, com Balduíno de Ibelin chegando a insultá-lo publicamente - os Ibelin eram os
partidários da rainha Maria Comnena, pelo que possivelmente terão usado a sua influência para assim tentar casar
uma das irmãs do rei com o próprio Balduíno de Ibelin. Ofendido, o flamengo abandonou o reino, preferindo então
lutar nas campanhas do Principado de Antioquia.

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Aproveitando então a ausência de um grande número de soldados e cavaleiros de Jerusalém, Saladino decidiu invadir
o reino pelo sul. Com poucas forças, o Leproso acorreu para tentar travar os egípcios em Ascalão. Não teve sucesso,
mas persistindo em perseguição ao exército inimigo, obteria uma surpreendente vitória na batalha de Montgisard a 25
de Novembro, com o auxílio de Reinaldo de Châtillon e dos Cavaleiros Templários[15][16].

Ainda no mesmo ano, Balduíno permitiu o


casamento da sua madrasta com Balião de Ibelin, em
uma acção conciliatória entre o monarca e esta
ambiciosa família. A união acarretava riscos: com o
apoio de Maria Comnena, os Ibelin passariam
também a tentar casar as princesas Sibila e Isabel
com o seu clã.

No ano seguinte continuaram as acções militares de


cruzados e muçulmanos, e Balduíno decidiu
construir novas fortalezas para proteger os seus
Pintura da batalha de Montgisard por Charles-Philippe
territórios. Uma destas foi Chastelet, no vau de Larivière, c.1842 (Salas das Cruzadas, Palácio de
Jacob, um ponto fulcral de passagem entre São João Versailles)
de Acre, a Palestina e Damasco[17]. Iniciada a
construção em Outubro de 1178, foi confiada aos
Templários[18].

Em 1179 Balduíno sofreu algumas derrotas militares a norte. A 10 de Março liderou uma incursão para capturar gado
em Banias, mas foi surpreendido por Farrukh Shah, sobrinho de Saladino. O seu cavalo assustou-se e o rei quase foi
capturado. Ao proteger a sua fuga, o condestável Onofre II de Toron foi mortalmente ferido[19].

A 10 de Junho, em resposta a incursões de cavalaria muçulmana perto de Sidom, Balduíno organizou uma expedição,
com Raimundo III de Trípoli e o grão-mestre dos Templários Odo de Saint Amand[20]. Em Cesareia de Filipe
derrotaram o destacamento que atravessava o rio Litani, mas depois foram surpreendidos e derrotados pela hoste de
Saladino. Incapaz de montar sem ajuda, o rei escapou por pouco, retirado do campo no cavalo de outro cavaleiro
enquanto a sua guarda abria o caminho. Raimundo III de Trípoli fugiu para Tiro e Reginaldo de Sidom resgatou um
grande número de fugitivos, mas neste confronto foram aprisionados o grão-mestre Templário, Balduíno de Ibelin e
Hugo de Tiberíades, um dos enteados de Raimundo de Trípoli[21].

Por fim, a 29 de Agosto o castelo interminado no vau de Jacob foi cercado, vencido e arrasado por Saladino na batalha
de Vadum Iacob[22]. Metade da sua guarnição de Templários foi morta e os restantes foram aprisionados[23]. Em
1180, os recursos humanos dos latinos e dos muçulmanos estavam esgotados, pelo que Balduíno e Saladino acordaram
umas tréguas de dois anos[24][25]. Durante este período o imperador germânico Frederico Barbarossa envolveu-se em
um conflito contra os Guelfos; Luís VII de França e Manuel I Comneno morreram, e os seus sucessores tinham outras
prioridades que não o domínio da Terra Santa.

Regência de Guy de Lusignan e morte


Sob pressões da sua corte e cada vez mais doente, em 1180 Balduíno IV acabaria por permitir várias decisões que
teriam consequências desastrosas: a eleição do patriarca latino de Jerusalém Heráclio de Auvérnia, os casamentos de
Sibila com Guy de Lusignan e de Estefânia de Milly com Reinaldo de Châtillon[26], e o noivado da sua meia-irmã
Isabel com Onofre IV de Toron.

Com base na Historia de Guilherme de Tiro, as primeira decisões têm sido atribuídas pelos historiadores à influência
de Inês de Courtenay sobre o filho, mas recentemente esta versão dos acontecimentos tem sido posta em dúvida,
levando em conta a inimizade pessoal do cronista pelo partido dos Ibelin[27]. Por outro lado, o noivado de Isabel pode

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ser explicado por uma dívida de gratidão que o rei sentiria pelo avô do noivo, Onofre II
de Toron, que perdeu a vida para o salvar em 1179. Uma herdeira ficava assim ligada ao
partido oposto aos Ibelin, em um contexto de equilíbrio de poderes.

Guy de Lusignan aliara-se previamente com Reinaldo de Châtillon, que aproveitou a


posição estratégica dos seus domínios para proceder à pilhagem das caravanas
muçulmanas que atravessavam a região. O senhor de Transjordânia chegou a organizar
uma expedição com o objectivo de saquear Meca e Medina, duas das cidades mais
santas do Islão[28].

Multiplicavam-se as provocações a Saladino, que cercaria o castelo de Kerak várias


vezes, sempre sendo oposto pelos exércitos de Balduíno em defesa do irascível
Pintura de Guy de
Reinaldo. Em Agosto de 1182 a hoste real repeliu a ameaça de Saladino a Beirute e Lusignan por François-
depois realizou uma incursão nas proximidades de Damasco; mas pouco depois Édouard Picot, c. 1843
Balduíno ficaria fisicamente incapacitado pela doença - cego e sem poder andar - pelo (Salas das Cruzadas,
que nomeou Guy seu regente. Palácio de Versailles)

Em Novembro de 1183 Balduíno teve notícias


de mais um cerco de Saladino a Kerak, onde se celebravam as núpcias da sua
meia-irmã Isabel com Onofre IV de Toron. Carregado de maca e acompanhado
de Raimundo III de Trípoli, liderou imediatamente uma expedição para
levantar o cerco. Guy de Lusignan era um dos convidados dentro do castelo de
Reinaldo, mas recusou-se a sair para enfrentar o sultão aiúbida em batalha
quando os cruzados estavam em posição vantajosa para o atacar em duas
frentes. As forças muçulmanas acabariam simplesmente por retirar, mas o rei
reconheceu falta de sentido político no cunhado, resolvendo afastá-lo e à irmã
da sucessão.
Morte de Balduíno IV e coroação
de Balduíno V (Historia de De volta a Jerusalém, Balduíno decidiu associar o seu sobrinho Balduíno V ao
Guilherme de Tiro e trono, tornando-o seu herdeiro e sucessor e coroando-o a 20 de Novembro de
continuação, século XIII) 1183; nomeou novamente Raimundo III de Trípoli regente e bailio, durante o
seu reinado e o do seu sobrinho. Para isto contou com o apoio da sua mãe, do
seu padrasto e de um grande número de barões do reino. No entanto o rei ainda continuou a governar pessoalmente o
reino. No início de 1184 ainda tentou anular o casamento de Guy com Sibila, mas estes mantiveram-se nos seus
domínios de Ascalão e não compareceram às necessárias cerimónias de anulamento.

Baulduíno IV de Jerusalém morreu a 16 de Março de 1185, com 24 anos de


[A cidade de Tibnin]
idade, pouco depois da sua mãe — Saladino ficaria de luto em sinal de pertence à porca
respeito. Os seus esforços para assegurar a sucessão do reino seriam conhecida como
frustrados com a morte de Balduíno V no ano seguinte. Guy de Lusignan e Rainha, que é a mãe
Sibila ascenderiam então ao trono e precipitariam a perda de Jerusalém na do porco que é Senhor
batalha de Hattin.
de Acre - que Deus
destrua.
Apesar do cavalheirismo de Saladino, a atitude popular dos muçulmanos —Tradução livre de As Viagens de
quanto a Balduíno seria registada pelo viajante Ibn Jubair: o rei cristão era ibn Jubair
chamado al-khinzir (o porco, referência ao animal considerado impuro,
provavelmente relacionada com a sua doença e a sua fé cristã) e sua mãe Inês al-khinzira (a porca)[29].

Representações na arte e na literatura

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Literatura
Várias obras literárias basearam-se no personagem histórico do rei leproso, com
graus variáveis de imprecisão. Em geral é representado como um personagem
simpático. Algumas destas obras são:

Manuel Mujica Láinez (1965). El unicornio (em espanhol). [S.l.: s.n.] (fantasia)
Serge Dalens. L'Etoile de Pourpre (ou Baudouin IV de Jérusalem). col. Signe
de Piste (em francês). 1 - Les Prisonniers; 2 - Les Lépreux. [S.l.]: Fleurus
(também adaptado para banda desenhada(PE) - história em quadrinhos(PB))
Judith Tarr (1989). Alamut (em inglês). [S.l.]: Doubleday (fantasia) Guilherme de Tiro descobre
Judith Tarr (1991). The Dagger and the Cross (em inglês). [S.l.]: Doubleday os primeiros sintomas de
(fantasia) lepra de Balduíno
Cecelia Holland (1996). Jerusalem (em inglês). [S.l.: s.n.] Iluminura de c. 1250 de
Juliette Benzoni (2002). Thibaut ou la croix perdue (em francês). [S.l.]: Plon L'Estoire d'Eracles,
Laurence Walbrou-Mercier (2008). Baudouin IV de Jérusalem « ...C'est tradução para o francês
pourquoi je ne faiblirai pas » (em francês). [S.l.]: Téqui. ISBN 978-2-7403- antigo da Historia de
1424-1 (romance histórico) Guilherme de Tiro,
Georges Bordonove. Les lances de Jérusalem (em francês). [S.l.: s.n.] Biblioteca Britânica)
Dominique Baudis. La Conjuration (em francês). [S.l.: s.n.]
Zofia Kossak (1936). Król trędowaty (O Rei Leproso) (em polaco). [S.l.: s.n.]
Níkos Kazantzákis (1956). Ο Φτωχούλης του Θεού (São Francisco) (em grego). [S.l.: s.n.]
Michel Bom, Thierry Cayman. Sylvain de Rochefort. (série) (em francês). [S.l.: s.n.]

Ilustrações
Balduíno figura em iluminuras das várias versões da Historia de Guilherme de Tiro dos séculos XIII e XIV,
inclusivamente na descoberta da sua doença pelo cronista.
O rei aparece em uma representação romântica de c. 1842 da batalha de Montgisard, por Charles-Philippe
Larivière, nas Salas das Cruzadas do Palácio de Versailles. Nesta obra é transportado em uma maca para a
batalha, mas com uma espada na mão direita e o rosto descoberto, sem as lesões típicas da lepra. Na realidade,
em Montgisard Balduíno ainda montava e lutava a cavalo, e empunhava a espada com a mão esquerda, uma
vez que a sua mão e o seu braço direitos tinham sido os primeiros afectados pela doença.

Cinema
No filme Kingdom of Heaven de Ridley Scott (2005), Balduíno é representado por Edward Norton. Esta ficção
reduz a gravidade da sua doença e apresenta-o como um rei pacífico ao contrário de um típico rei guerreiro da
Idade Média em geral e do contexto das Cruzadas em particular. A máscara com que surge é uma invenção do
argumentista do filme, sem base em relatos contemporâneos.

Referências e notas
L'équilibre (em francês). Paris: Perrin. ISBN 978-
1. Genealogia de Balduíno IV de Jerusalém, The 0521625661
Peerage (http://www.thepeerage.com/p823.htm#i822
6. Grousset 1935, pp. 481-82
8) (em inglês)
7. Pierre Aubé (1996) [1981]. Baudouin IV de
2. Genealogia de Balduíno IV de Jerusalém, Foundation
Jérusalem, le roi lépreux (em francês) col. «Pluriel»
for Medieval Genealogy (http://fmg.ac/Projects/MedL
ed. [S.l.]: Hachette. pp. 58 e 60–1. ISBN 2-01-
ands/JERUSALEM.htm#_Toc125537464) (em inglês)
278807-6
3. Régine Pernoud (1990). La femme au temps des
8. II Reis 5:10-14
croisades (em francês). Paris: Stock. pp. 139–140.
ISBN 2-234-02229-0 9. Aubé 1981, pp. 62-4
4. Grousset 1935, pp. 419-21 (esta obra refere esta 10. René Grousset (1979) [1949]. L'Empire du Levant:
exigência dos barões do reino, mas sem especificar Histoire de la Question d'Orient (em francês). Paris:
as objecções que estes tinham contra Inês de Payot. pp. 231–37. ISBN 2-228-12530-X
Courtenay) 11. Aubé 1981, pp. 90-97
5. René Grousset (2006) [1935]. Histoire des croisades 12. Genealogia dos condes de Edessa - Foundation for
et du royaume franc de Jérusalem. vol. II. 1131-1187 Medieval Genealogy (http://fmg.ac/Projects/MedLand

https://pt.wikipedia.org/wiki/Baldu%C3%ADno_IV_de_Jerusal%C3%A9m 7/8
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s/EDESSA.htm#JoscelinIII) (em inglês) 23. David B. Green (1998). A Plum Conquest Gone Bad.
13. Aubé 1981, pp. 104-112 The Jerusalem Report (em inglês). [S.l.: s.n.]
14. Aubé 1981, pp. 127-9 40 páginas. Online em LexisNexis (http://www.lexisne
xis.com/us/lnacademic/results/docview/docview.do?ri
15. Aubé 1981, pp. 147-175 sb=21_T3089215000&format=GNBFI&sort=RELEVA
16. Grousset 1935, pp. 617-627 NCE&startDocNo=1&resultsUrlKey=29_T308921500
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649 páginas 25. Antony Bridge (1982). The Crusades (em inglês)
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19. Aubé 1981, pp. 202-4 26. Aubé 1981, pp. 244-253
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Bibliografia
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Precedido por Sucedido por


Amalrico I Balduíno V
Rei de Jerusalém
1174–1185

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