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Jaime Cubero - Vontade Anárquica de Saber
Jaime Cubero - Vontade Anárquica de Saber
Prefácio
1
M. Foucault. A hermenêutica do sujeito. Curso no Collège de France
(1981-1982). Trad. Márcio Fonseca e Salma Muchail. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
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ser dado nem limitado por ninguém, por que sua ação é ética:
um indivíduo pode ter suas pernas amarradas, e mesmo
amputadas, sem que seja destruída sua vontade de movimento.
Aqui reside a autêntica liberdade: “Essa liberdade, diz Jaime, é
inimiga dos poderosos. E eles sabem disso, por isso a anulam.
[...] Liberdade não é ausência de restrições”. Foi, portanto, uma
falsa liberdade que a democracia legou aos homens quando,
concedendo-lhes liberdade de ação, anulou neles a vontade para
agir. Contudo, a liberdade é inseparável do querer.
Jaime conferiu à ética uma importância prática e teórica
fundamental no interior do seu anarquismo; para aqueles que o
conheceram, essa foi, sem dúvida, a particularidade que mais
distinguia seu caráter pessoal. Mas é também um dos traços que
torna sua reflexão hoje bastante atual. Em nossa atualidade a
ética anarquista torna-se um problema político urgente e
fundamental na medida em que hoje vivemos imersos em
relações de poder que são exercidas, sobretudo, no plano da
subjetividade, fazendo com que a dominação política assegure
seus efeitos pelo fato de estar ancorada na nossa própria
maneira de ser e de sentir, em nossos desejos e afetos.
Durante muito tempo o marxismo induziu a pensar o
capitalismo exclusivamente como modo de produção e a
perceber a luta contra a exploração econômica como a mais
importante. Mesmo entre os anarquistas a força retórica do
marxismo ofuscou o que havia dito Malatesta, e antes dele
Proudhon: bem mais do que exploração econômica, o
capitalismo produz, sobretudo, uma sujeição política de fundo
moral: produz também uma maneira de ser e de existir no
mundo. Consequentemente, o capitalismo não é simplesmente
um modo de produzir coisas, produz igualmente padrões de
vida nos quais os indivíduos são levados a transformar seu
tempo em tempo de trabalho e sua força em força de trabalho.
Assim, mais do que uma economia de mercado dotada de modo
de produção de riquezas materiais, o capitalismo estabeleceu
também uma economia subjetiva munida de instituições
destinadas à produção de subjetividades.
Toda mercadoria produzida exige também a produção de
certas maneiras de existir e de sentir que deverão ser
assimiladas pela subjetividade dos indivíduos: antes de produzir
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2
Félix Guattari; Suely Rolnik. Micropolítica, cartografias do desejo. 4ª ed.,
Petrópolis: Vozes, 1996.
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3
George Orwell. Lutando na Espanha e Recordando a guerra civil. 2ª ed.,
trad. Affonso Blacheyre. Rio de Janeiro: Globo, 1987.
4
Henry Pachter. España, crisol político. Buenos Aires: Editorial Proyección,
1966.
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5
Todd May. The Political Philosophy of Poststructuralist Anarchism.
Pennsylvania: The Pennsylvania State University Press, 1994.
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Nildo Avelino
Manhattan/New York City, outono de 2015