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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde


Curso de Medicina Veterinária

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO


(T.C.C.)

Curitiba
2010
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
(T.C.C.)

CURITIBA
2010
Daniele Jacuboski Esmaniotto

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO


(T.C.C.)

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de


Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas
e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como
requisito parcial para obtenção do título de Médica
Veterinária.
Professora Orientadora: Prof.ª Elza Ciffoni
Orientadora Profissional: Rika Yamane

CURITIBA
2010
Reitor
Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró - reitor administrativo


Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró - reitoria acadêmica


Prof.ª Carmem Luiza da Silva

Pró - Reitor de Planejamento e Avaliação


Sr. Afonso Celso Rangel Santos

Pró - reitoria de Pós- graduação, Pesquisa e Extensão


Prof.ª Elizabeth Teresa Brunini Sbardelini

Secretario Geral
Prof. João Henrique Faryniuk

Coordenadora do curso de Medicina Veterinária


Prof.ª Ana Laura Angeli

Coordenadora de estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária


Prof.ª Ana Laura Angeli

Metodologia Científica
Prof. Jair Mendes Marques

CAMPUS PROF. SIDNEY LIMA SANTOS


Rua Sidney A. Rangel Santos, 238 – Santo Inácio
CEP: 82010-330- Curitiba- Paraná
Telefone: 3331-7700
TERMO DE APROVAÇÃO
DANIELE JACUBOSKI ESMANIOTTO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.)

Este trabalho de conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção de titulo de
Medica Veterinária por uma banca examinadora do Curso de Medicina Veterinária da
Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 21 de Junho de 2010.

________________________
Medicina Veterinária
Universidade Tuiuti do Paraná

________________________
Orientadora: Profª. Elza Maria Galvão Ciffoni
Universidade Tuiuti do Paraná

_______________________
Profª.Dra. Ana Laura Angeli
Universidade Tuiuti do Paraná

________________________
Profª. Dirnei Seli Ferreira Baroni
Universidade Tuiuti do Paraná
APRESENTAÇÃO

Este trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao curso de


Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da
Universidade Tuiuti do Paraná, Campus Barigui, pela universitária Daniele
Jacuboski Esmaniotto, como requisito parcial para a obtenção de título de
Médica Veterinária, sendo composta de relatório de estágio, no qual são
descritas as atividades realizadas durante o período de 8 de fevereiro à 16 de
abril de 2010, na rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, 3847 localizado no município
de Curitiba – PR, revisão bibliográfica de acupuntura veterinária de cães e
gatos, um relato de um caso clínico de miosite mastigatória e um artigo sobre
o perfil de proprietários e médicos veterinários de pacientes que fazem uso da
acupuntura.
Dedico este trabalho a todos os cães e gatos, que
sempre fizeram parte da minha vida e a todas as
pessoas que me apoiaram e acreditaram em mim.
.
AGRADECIMENTOS

A minha querida mãe Terezinha, que tanto admiro por sempre me


ensinar a ser perseverante, e pelo apóio e confiança, amor e amizade, e
companheirismo que foram fundamentais na minha vida.
Agradeço ao meu pai Renir, pelos bons ensinamentos, encorajamento,
dedicação, amor e amizade.
Agradeço ao meu amor Eugênio, que tanto me apóia, me ensina, me
fortalece, por toda sua dedicação e amor.
Agradeço a todos os bons amigos que me conquistaram, pela confiança
dedicação, respeito, amor e amizade.
Aos professores que tanto me ensinaram, pela paciência dedicação e
amizade, e por transferir seus conhecimentos.
RESUMO

Relatório com das atividades do estágio curricular obrigatório realizadas

por Daniele Jacuboski Esmaniotto, na área de acupuntura veterinária de cães e

gatos. Os atendimentos foram realizados com hora marcada nas clínicas e no

domícilio dos pacientes, sob a supervisão da médica veterinária acupunturista

Rika Yamane e orientação acadêmica da professora médica veterinária Elza

Maria Galvão Ciffoni. Neste trabalho um breve histórico da acupuntura

veterinária, a abordagem da avaliação oriental, energia yin e yang e relato de

caso clínico. E um artigo mostrando o perfil de proprietários e médicos

veterinários que fazem uso da acupuntura como terapêutica.

Palavras chaves: acupuntura, miosite mastigatória, perfil dos proprietários e

médicos veterinários.
LISTA DE ABREVIATURAS

a. C antes de Cristo

ABRAVET associação brasileira de acupuntura veterinária

AP acupuntura

AVC acidente vascular cerebral

B bexiga

BP baço/pâncreas

C coração

CFMV conselho federal de medicina veterinária

CRMV conselho regional de medicina veterinária

d. C depois de Cristo

E estômago

mg/kg miligramas por quilo

MTC medicina tradicional chinesa

OMS Organização Mundial da Saúde

p. ex. por exemplo


VC vaso da concepção

VG vaso governador
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. REPRESENTAÇÃO DO YIN E YANG................................ 19


FIGURA 2. GRAUS DE DISTÚRBIO ENERGÉTICOS......................... 20
FIGURA 3. POLARIDADE YIN E YANG............................................... 21
FIGURA 4. CICLO KO.......................................................................... 24
FIGURA 5. LÍNGUA E OS ORGÃOS.................................................... 26
FIGURA 6. LÍNGUA NORMAL.............................................................. 27
FIGURA 7. LÍNGUA DEFICIÊNTE........................................................ 27
FIGURA 8. AGULHAS DE ACUPUNTURA........................................... 30
FIGURA 9. MOXA ARTEMISIA SINENSIS........................................... 30
FIGURA 10. APARELHO DE ELETROACUPUNTURA........................ 31
FIGURA 11. LASER.............................................................................. 32
FIGURA 12. PONTOS DA BEXIGA 40 E 60......................................... 34
FIGURA 13. PACIENTE COM IMPOSSIBILIDADE DE ABRIR A
BOCA.................................................................................................... 40
FIGURA 14. PONTOS DO VASO GOVERNADOR.............................. 42
FIGURA 15. PONTOS DORSAIS DA BEXIGA..................................... 44
FIGURA 16. PONTOS DO MERIDIANO BEXIGA................................ 45
FIGURA 17. PONTOS DO MERIDIANO DO FÍGADO.......................... 45
FIGURA 18. PONTOS DO MERIANO BAÇO/ PÂNCREAS.................. 46
FIGURA 19. PONTOS DO MERIANO DO INTESTINO GROSSO....... 48
FIGURA 20. PONTOS DO MERIANO DO RIM..................................... 49
FIGURA 21. GRÁFICO DAS ENFERMIDADES TRATADAS COM
ACUPUNTURA...................................................................................... 54
FIGURA 22. QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROPRIETÁRIOS.... 55
FIGURA 23. QUESTIONÁRIO APLICADO AOS MÉDICOS
VETERINÁRIOS.................................................................................... 55
FIGURA 24. GRÁFICO DE AVALIAÇÃO DOS PROPRIETÁRIOS...... 57
FIGURA 25. GRÁFICO DE AVALIAÇÃO DOS MÉDICOS
VETERINÁRIOS.................................................................................... 58
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – CASOS CLÍNICOS TRATADOS COM ACUPUNTURA..... 17


QUADRO 2 – OS CINCO ELEMENTOS.................................................. 23
QUANDO 3 – RELAÇÃO DO PULSO COM OS ORGÃOS...................... 27
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................... 15
2. LOCAL DE ESTÁGIO........................................................................ 16
3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS...................................................... 16
4. CASUÍSTICA..................................................................................... 17
5. CAPITULO I...................................................................................... 18
5.1. ACUPUNTURA EM CÃES E GATOS............................................. 18
5.2. Revisão Bibliográfica....................................................................... 18
5.3. Introdução....................................................................................... 18
5.4. Energia Yin e Yang......................................................................... 18
5.5. Os distúrbios energéticos................................................................ 19
5.6. Os cinco elementos da natureza..................................................... 21
5.7. Ciclo Ko.......................................................................................... 23
5.8. A prática da acupuntura.................................................................. 24
5.9. Exame da língua na MTC............................................................... 24
5.10. A avaliação do pulso..................................................................... 27
5.11. Diagnóstico................................................................................... 28
5.12. Definição do protocolo de tratamento........................................... 28
5.13. Métodos de estimulação dos pontos............................................. 29
5.14. Agulhamento de animais .............................................................. 33
5.15. Os acupontos................................................................................ 33
5.16. Canais de acupuntura................................................................... 34
5.17. Indicações contra indicações e reações adversas da AP............. 35
5.18. Outras aplicações......................................................................... 36
6. CAPÍTULO II...................................................................................... 38
6.1. TRATAMENTO DE MIOSITE MASTIGATÓRIA COM
ACUPUNTURA...................................................................................... 38
6.2. Revisão bibliográfica....................................................................... 38
6.3. Introdução....................................................................................... 38
6.4. Relato de caso................................................................................ 40
6.5. Discussão........................................................................................ 41
6.6. Conclusão....................................................................................... 50
7. CAPÍTULO III..................................................................................... 51
7.1. PERFIL DOS PROPRIETÁRIOS E MÉDICOS VETERINÁRIOS
DE PACIENTES SUBMETIDOS À ACUPUNTUTA............................... 51
7.2. Revisão.......................................................................................... 51
7.3. Materiais e Métodos........................................................................ 53
7.4. Resultados...................................................................................... 56
7.5. Discussão........................................................................................ 58
7.6. Conclusão....................................................................................... 59
8. CONCLUSÃO DO T.C.C................................................................... 60
9. REFERÊNCIAS................................................................................. 61
15

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho relata as atividades na área de acupuntura veterinária de

cães e gatos acompanhadas pela acadêmica Daniele Jacuboski Esmaniotto do

curso de Medicina Veterinária da Faculdade Tuiuti do Paraná, sob supervisão da

médica veterinária acupunturista Rika Yamane, CRMV-PR 5010 e orientação

acadêmica da professora médica veterinária Elza Maria Galvão Ciffoni, CRMV-

PR1673.

Este trabalho é requisito parcial para conclusão do curso e obtenção do titulo

de médica veterinária, perfazendo carga horária de 360 horas, totalizadas do dia

08/02/2010 a 16/04/2010.

O termo acupuntura, utilizado no século XVII por jesuítas, deriva dos radicais

latinos acus e pungere, que significam agulha e puncionar. Originalmente, o

vocábulo chinês que a define - Zhenjiu - possui sentido mais abrangente:

literalmente “agulha-moxabustão”, que inclui outras técnicas de estímulo do ponto

(SCHIPPERS, 1993; SCHOEN, 2006; MACIOCIA, 2007; XIE & PREAST, 2007).

A avaliação clínica baseia-se na medicina Oriental, sendo feita por meio da

observação, auscultação, olfação, anamnese e palpação. Observar aspectos da

pelagem, secreções (ocular e nasal), compleição física e exame da língua fazem

parte do protocolo (SCHOEN, 2006).

Coloração e textura da pele abdômen, axila, focinho, pina e esclera, podem

apresentar palidez, vermelhidão, descamação, sendo estas características dos

elementos naturais (fogo, terra, madeira, metal e água), secreções nos olhos,

focinho e orelha, podem apresentar características de distúrbios internos, yin versos

yang (WEN, 1989).


16

Compreender a complexidade destes sinais é um novo paradigma da

medicina veterinária.

2. LOCAL DE ESTÁGIO

O estágio foi realizado no domicílio dos pacientes, clínicas e hospitais

veterinários de Curitiba-PR com hora marcada. Dentre os estabelecimentos:

• Clínica Arca de Nóe localizada na rua Gal. Mario Tourinho,1285 Campina do

Siqueira;

• Hospital Veterinário Santa Monica, localizado na Rua Brigadeiro Franco, 4029

Rebouças;

• Clínica veterinária Gross e pet shop, localizada na Avenida Nossa Senhora da

Luz, 1036 Seminário;

• Clínica veterinária Viapiana, localizada na Rua Waldemar Loureiro

Campos,4388 Xaxim;

• Hospital veterinário Ecoville, localizada na Rua Parigot de Souza , 4665

Mossunguê.

3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades realizadas durante o período de estágio foram:

acompanhamento da médica veterinária nos atendimentos, auxílio na contenção dos

animais, acompanhamento da avaliação clínica do paciente e resultados obtidos

com o tratamento.
17

Durante o período de estágio foi realizado um projeto de pesquisa com

objetivo de conhecer o perfil do proprietário e dos médicos veterinários que utilizam

acupuntura, em clínicas e em uma instituição de ensino.

A partir desse levantamento foi possível redigir um artigo e um relato de caso,

que serão apresentados nos capítulos I, II III:

- Miosite Mastigatória em cão tratado com acupuntura- relato de caso

- Perfil dos proprietários e médicos veterinários de pacientes submetidos à

acupuntura - artigo.

4. CASUÍSTICA

Durante o período de estágio foram realizados 41 atendimentos clínicos

(quadro 1), incluindo casos novos e retorno, sendo 93% (n=38) em cães e 7% (n=3)

em gatos.

QUADRO 1. CASOS CLÍNICOS TRATADOS COM ACUPUNTURA

ESPECIALIDADE NÚMERO DE CASOS NÚMERO DE CASOS %

Cardiologia 2 4,88

Dermatologia 1 2,44

Infectologia 6 14,63

Neurologia 15 36,58

Oftalmologia 1 2,44

Oncologia 2 4,88

Ortopedia 11 26,83

Urologia 3 7,32

Total 41 100

Durante o período de 8 de fevereiro a 16 de abril, Curitiba 2010.


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5. CAPÍTULO I

5.1.- ACUPUNTURA VETERINÁRIA EM CÃES E GATOS

5.2. REVISÃO BIBBLIOGRÁFICA

5.3. Introdução

A acupuntura é técnica terapêutica empírica desenvolvida na cultura oriental;

é uma terapia reflexa que utiliza a estimulação de pontos específicos do corpo com

objetivo de atingir um efeito terapêutico ou homeostático. A acupuntura preconiza

que a saúde é dependente das funções psico-neuro-endócrinas, sob influência do

código genético e de fatores extrínsecos como nutrição, hábitos de vida, clima,

qualidade do ambiente, entre outros (SCOGNAMILLO-SZABO & BECHARA, 2001).

5.4. Energia Yin e Yang

O conceito Yin/Yang é o conceito fundamental de todas as ciências orientais

que corresponde à condição primordial e essencial para a origem de todos os

fenômenos naturais, como o dia e a noite, o princípio da energia e da matéria. O

homem está colocado entre o Céu e a Terra recebendo intensamente as Energias

originárias destas duas forças que se combinam em seu interior numa pulsação

contínua. As energias do Céu são Yang que correspondem à função, e as energias

emanadas pela Terra, são Yin correspondente a estrutura. Estas energias estão

presentes em tudo o que existe, tudo o que é manifestado (MACIOCIA,1996).

Yin e Yang estão em constante mudança e transformação, são opostos, mas

complementares (figura1). e interdependentes. Se auto-consomem

(MACIOCIA,1996).
19

FIGURA 1. REPRESENTAÇÃO DO YIN E YANG

FONTE: WIKIPEDIA,2010

5.5. Os distúrbios energéticos

Ao equilíbrio dinâmico entre as forças yin e yang chama-se TAO. Quando o

yin é máximo ele se transmuta para yang. Quando o yang é máximo ele se

transmuta para yin (WEN, 1989).

Nos distúrbios de 1o. grau da energia: a pessoa fica indisposta e com

sintomas que não são identificados em exames clínicos ou laboratoriais. Muitas

vezes a orientação alimentar e de exercícios podem ser suficientes para normalizar

o fluxo energético. E quando há necessidade da aplicação de agulhas e/ou moxa

são utilizadas em técnicas para normalizar os meridianos (WEN, 1989).

Nos distúrbios de 2o. grau da energia: a pessoa apresenta uma complicação

do contexto anterior, e passam a apresentar sintomas que são justificados

clinicamente e por exames laboratoriais . A função dos Zang Fu (órgãos e vísceras)

está comprometida. O tratamento exige a eleição de pontos e ervas através de

técnicas que equilibrem o interior.

Nos distúrbios de 3o. grau da energia: - a pessoa apresenta graves problemas

orgânicos onde os órgãos já apresentam desfiguração anatômica (ulcerações,


20

tumores, graves deficiências imunológicas), que requerem tratamentos

convencionais e até cirúrgicos. Nesse contexto a acupuntura é um importante

coadjuvante para promover alívio de tensão, o que viabiliza o sistema imunológico,

bem como colaborar com a sustentação energética dos órgãos nos efeitos colaterais

que geralmente são causados pelos medicamentos utilizados (WEN, 1989). Na

figura 2 pode-se ver os distúrbios energéticos.

FIGURA 2. GRAUS DE DISTÚRBIOS ENERGÉTICOS

FONTE: Wikipédia, 2010.

Os distúrbios e doenças ocorrem pela falta de circulação energética em

regular os meridianos ou canais (vias de energia) e pela inabilidade dos órgãos

produzirem e distribuírem energias específicas polarizadas nas propriedades ou

características yin e yang representado pela figura 3 (WEN, 1989).


21

FIGURA 3. POLARIDADES YIN E YANG

FONTE:WIKIPÉDIA, 2010

5.6. Os cinco elementos da natureza

Esses elementos não só controlam e mapeiam todas as funções anatômicas

e fisiológicas do organismo, como integram em uma unidade energética contínua,

corpo e mente. Servem para entender como grupos distintos de influências ou

energias se relacionam ora produzindo estímulo, ou inibindo a ação. A teoria dos

Cinco Elementos faz parte da Medicina Chinesa há milênios e divide a experiência

humana em cinco grupos distintos (WEN,1989):

• Madeira (fígado e vesícula-biliar)- Quando o fígado não vai bem produz

sentimentos de raiva, estresse, inquietude, sentimento de injustiça,

depressão, vontade de brigar e irritação extrema. Um bom funcionamento

conduz a expressão alegre, feliz e relaxada.

• Fogo (coração, intestino delgado)- Quando não esta bem, causa sentimento

de solidão, falta de amor ou incapacidade de amar. O espírito fica contrariado

por não conseguir se relacionar com amigos ou familiares.

• Terra (baço/pâncreas e estômago)- No seu aspecto negativo, é regido pela

introspecção exagerada, sentimento de isolamento social e auto-compaixão.


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A ação é demorada e sempre acompanhada de sentimentos negativos. O

bom funcionamento leva á força emocional construtiva e extremamente

positiva. Produz sensação de otimismo com projetos, criações. Gera atitudes

harmoniosas com a família e amigos.

• Metal (pulmão e intestino grosso)- É fonte de tristeza, sentimento de perda e

dependência emocional à outra pessoa, quando não está bem. Pode também

causar vazio espiritual, falta de crença em tudo e desilusão. Um bom pulmão,

ao contrário, gera sentimento de liberdade, liderança, força espiritual e mente

brilhante.

• Água (Rim e bexiga)- Regido pelos Rins, é responsável pelo sentimento de

sobrevivência, pelo medo, inclusive pelo medo da morte e do desconhecido.

Quando não esta bem os rins podem gerar ansiedade, medo de tudo, pânico.

Um bom funcionamento dos rins conduz a um comportamento de coragem e

segurança com a vida.

No quadro 2 observam-se a relação dos cinco elementos com os aspectos do

clima, sabores, sistema Yin e Yang, órgãos do sentido,tecidos e emoções.


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QUADRO 2- OS CINCO ELEMENTOS:


Madeira Fogo Terra Metal Água

Sabores azedo Amargo Doce picante salgado

Clima vento Calor umidade Secura frio

Sistema fígado coração baço pulmão rim


Yin

Sistema Vesícula Intestino estômago Intestino bexiga


Yang biliar delgado grosso

Órgãos olhos língua boca nariz ouvido


dos
Sentido

Tecido tendões vasos músculos pele ossos

Emoções fúria alegria preocupação tristeza medo

FONTE: WIKIPÉDIA,2010

5.7. Ciclo de Controle (Ciclo Ko)

O ciclo de controle também conhecido como ciclo de dominação é a maneira

pela qual a manifestação (energia) é contida. Se houvesse apenas geração, a

energia (manifestação) poderia chegar a níveis incontroláveis, impossíveis de serem

sustentados. A sequência de controle assegura que um equilíbrio seja mantido entre

os Cinco Elementos, corresponde ao mecanismo de Feedback. Assim temos

Madeira controla a Terra que controla a Água que controla o Fogo que controla o

Metal que controla a Madeira fechando o ciclo. Abaixo observa-se o ciclo de controle

(Ko) (figura 4).


24

FIGURA 4. CICLO KO

FONTE: WIKIPEDIA,2010

5.8. A prática da acupuntura

Segundo a MTC (Medicina Tradicional Chinesa), a doença é a interação entre

o agente causal e o indivíduo, resultando em desequilíbrio nos componentes Yin e

Yang do organismo. Essa desarmonia determina o curso da doença e está

relacionada à oposição dos dois fatores citados: Energia Correta (Zheng Qi), fator

intrínseco que traduz a resistência à doença, e Energia Perversa (Xie Qi), o fator

patogênico propriamente dito (MACIOCIA, 2006).

5.9. Exame da língua na MTC

A língua expressa a condição energética (Yin ou Yang) dos órgãos e vísceras.

Um dos principais meios de diagnóstico é a inspeção da língua, cuja aparência pode

revelar muito sobre a saúde do paciente. O exame da língua, que deve ser feito sob

luz natural e cuja duração não pode exceder 15 segundos, para que a tensão não
25

altere seu formato e cor, consistência na observação de sua cor, forma e

revestimento (saburra). Certas partes da língua refletem a saúde de outras partes do

corpo, ou de certos órgãos internos. Fisiologicamente, o estômago é o órgão que

está mais intimamente relacionado a ela. Entre as alterações examinadas na língua

estão (WEN,1989):

Cor - é o aspecto individual mais importante do diagnóstico pela língua. A cor

do corpo da língua é normalmente vermelho-claro, o que indica que a energia vital

(Qi) é forte. Ela reflete a verdadeira condição do corpo, reflete a saúde dos órgãos

internos e circulação sanguínea. Alterações na cor da língua geralmente indicam

doenças crônicas.

Formato - a forma significa não só os contornos físicos da língua, mas

também sua consistência, textura e mobilidade. Normalmente a língua não é nem

muito fina, nem muito grossa, com o corpo liso e sem fendas. É mole e flexível, sem

ser flácida. Sua forma se afunila em direção à ponta. A língua normal pode ser

estirada facilmente e não treme, nem estremece incontrolavelmente, nem fica rígida

ou imóvel voluntariamente.

Revestimento (saburra) - do ponto de vista da medicina chinesa, a saburra da

língua é um subproduto fisiológico da digestão dos alimentos e ou fluidos realizada

pelo estômago. A saburra normal da língua é fina, branca e levemente úmida (o que

indica um estado saudável dos fluidos do estômago). Ela reflete a saúde do

estômago e do humor (estresse, depressão). Se a saburra for desmedidamente

espessa, indica funcionamento impróprio do sistema digestivo. Quanto mais

espessa, maior a intensidade do fator patogênico. A saburra também fornece um

bom indicativo de doenças agudas como resfriados (WEN,2008). Na figura 5 mostra

a correlação com os órgãos.


26

FIGURA 5. LINGUA EM RELAÇÃO AOS ORGÃOS

FONTE:WIKIPÉDIA, 2010

A inspeção consiste em observar:

1. forma da língua: fina, inchada, com marcas laterais dos dentes, fissuras;

2. cor da língua: pálida, vermelha, arroxeada, azulada;

3. saburra: quantidade, distribuição, cor (amarela, marrom, preta, branca,

cinza). Nas figuras 6 e 7 pode-se verificar a inspeção de uma língua normal e

uma língua deficiente.


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FIGURA 6. LÍNGUA NORMAL FIGURA 7. LÍNGUA DEFICIENTE

5.10. Avaliação do pulso:

A inspeção do pulso radial informa sobre o estudo energético dos meridianos

principais do corpo, evidenciando bloqueio e deficiência lateralizadas. Forma, força,

largura, freqüência, qualidade devem ser avaliados (WEN,1989). No quadro 3 é

apresentada a relação do pulso com diversos órgãos.

QUADRO 3. Relação do pulso com órgãos:

Esquerdo Esquerdo Direito superficial Direito profundo


superficial profundo

Intestino delgado Coração Intestino grosso Pulmão

Vesícula biliar Fígado Estomago Baco/pâncreas

Bexiga Rim Triplo aquecedor Yang R


28

FONTE: WIKIPÉDIA,2010

5.11. Diagnóstico

Na MTC, como em qualquer sistema médico, a definição do diagnóstico é pré-

requisito para a determinação do tratamento. O diagnóstico, visa à compreensão de

como o paciente se insere dentro do seu contexto de vida e como está interagindo

com os fatores que o cercam. Esta abordagem é a aplicação prática da filosofia

chinesa que vê o ser (microcosmo) em constante interação com o mundo

(macrocosmo). O padrão de resposta de cada indivíduo, em dado momento, é

categorizado em síndromes. A partir desse diagnóstico, é definido o plano de

tratamento (WEN, 1989; MACIOCIA, 2007; XIE & PREAST, 2007).

5.12. Definição do protocolo de tratamento

A escolha dos pontos de acupuntura (abreviado: AP) é baseada na

classificação do desequilíbrio apresentado. A estimulação de um determinado ponto

possui indicações específicas que são expressas em seu nome chinês original. A

estimulação simultânea de dois ou mais pontos de acupuntura pode ampliar suas

indicações específicas. Tradicionalmente, cada ponto de AP tem uma ou diversas

ações, quando estimulado. Quando usado em combinação com outros pontos de

AP, os resultados são modificados. A definição do tratamento também deve se

basear nas categorias nas quais os pontos de AP são divididos:

a) efeitos locais;

b) efeitos à distância;

c) efeitos sistêmicos (WEN, 1989;MACIOCIA, 2007; XIE & PREAST, 2007).


29

As diferenças entre as espécies também devem ser levadas em

consideração, já que existem variações na localização e função de alguns pontos. O

exemplo mais marcante é o Bai Hui que significa “Cem Encontros”. Em humanos,

esse ponto corresponde ao vaso governador (VG-20), localizado no ápice da

cabeça. É considerada uma “porta ou janela para o céu” e tem como indicações

cefaléia parietal, falta de memória, epilepsia. Em quadrúpedes, fica no espaço

lombossacral e seu estímulo é indicado para desordens lombares e dos membros

pélvicos, além de ser um tônico geral do Qi e da imunidade (BOTTECCHIA, 2000).

Por isso pode ser denominado YaoBai Hui: “Cem Encontros Lombar”.

5.13. Métodos de estimulação dos pontos

Tão relevante quanto à seleção dos pontos é a técnica de estímulo, cuja

definição vai variar em função da condição a ser tratada. Existem inúmeras

alternativas para o estímulo do ponto e, a cada dia, mais opções surgem em função

da incorporação de novas tecnologias à acupuntura. Os métodos tradicionais

persistem e se destacam como os mais utilizados:

a) Variação da pressão física: A massagem do ponto com aplicação da pressão

digital ou de massageadores de madeira, como no Shiatsu. Em animais, o uso de

ventosas é dificultado pela presença de pelos (SCOGNAMILLO-SZABÓ &

BECHARA, 2001).

b) Agulhamento: Existe uma grande variedade no tamanho das agulhas (figura

8), bem como no procedimento de inserção e de manipulação dessas. O material

mais utilizado é o aço inoxidável. Normalmente o agulhamento atravessa a derme

atingindo o tecido subcutâneo, podendo alcançar músculos ou ossos. Agulhas

intradérmicas são utilizadas principalmente em pontos de acupuntura no pavilhão


30

auricular. Após sua colocação, estas agulhas são fixadas com esparadrapo e retidas

por um período que pode variar de um dia a uma semana. Tal técnica é pouco

executada em animais. O uso de agulhas hipodérmicas em substituição às agulhas

de acupuntura é adotado com sucesso em eqüinos e bovinos (XIE & PREAST, 2007;

COLBERT et al., 2008).

FIGURA 8. AGULHAS DE ACUPUNTURA

FONTE: WIKIPÉDIA, 2010

c) Variação de temperatura: A técnica mais praticada é a moxabustão (figura 9)

indireta, com aquecimento do ponto com bastões incandescentes de Artemisia

sinensis. Para a moxabustão direta, a “lã” da erva é colocada sobre o ponto e acesa,

deixando-a queimar-se em direção à pele. Outra forma é o uso de luz infravermelha

ou ultravioleta. A aplicação de frio é também um meio efetivo para promoção da

analgesia, sendo utilizados gelo ou vaporização tópica de fluorimetano, cloreto de

etila, fluoretil ou diclorotetrafluoretano (SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001);

FIGURA 9 MOXA- Artemísia sinensis


31

FONTE: POLIVET-ITAPETININGA.VET.BR, 2010

d) Eletroacupuntura: Consiste na passagem de corrente elétrica através da

agulha. A escolha do formato da onda, freqüência e intensidade da descarga (figura

10) vão definir o tipo de efeito atingido. É, provavelmente, depois do agulhamento

simples, a técnica mais disseminada e melhor estudada de AP (SCOGNAMILLO-

SZABÓ & BECHARA, 2001);

FIGURA 10. APARELHO DE ELETRO ACIPUNTURA

FONTE: TERAPIACIA,2010

e) Implante: Trata-se de um procedimento cirúrgico-ambulatorial que objetiva

atingir uma estimulação prolongada ou mesmo permanente dos pontos. Fragmentos

especialmente preparados e confeccionados de diversos materiais podem ser

utilizados como categute, aço inoxidável, platina e ouro. O implante de fragmentos

de ouro para o tratamento de displasia coxofemoral em cães é prática comum entre

acupunturistas veterinários e testes clínicos mostram resultados positivos e


32

duradouros. É importante que essa técnica não seja confundida com implante de

agulhas permanentes, um procedimento que remete a várias complicações sendo,

infecções, migração de agulhas, septicemia (SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA,

2001);

f) Ultrassom, Laser, Indução Magnética: São todas técnicas não invasivas,

rápidas e indolores (figura 11). Necessitam de aparelhagem específica e são muito

utilizados em pacientes com baixa tolerância ao agulhamento (LIGNON et al., 2002);

FIGURA 11. LASSER

FONTE: TERAPIACIA,2010

g) Injeção: Segundo a teoria da MTC, é capaz de manter o estímulo por período

prolongado, além de potencializar o efeito da substância utilizada. Aquapuntura,

ozôniopuntura, fitopuntura, homeopuntura e hemopuntura são as formas mais

comuns. A fármacopuntura ou injeção de fármacos nos pontos tem sido usada com

sucesso em animais ;

Autores chineses afirmam que, em muitas situações, o uso de subdoses

produz um efeito longo e similar à dose convencional, com a vantagem de causar

menos efeitos colaterais (SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001).


33

h) Sangria: Permanece como um recurso bastante utilizado em Medicina

Veterinária, principalmente em quadros agudos dolorosos ou febris. O volume de

sangue retirado está ligado ao porte do animal e varia de algumas gotas a poucos

mL (SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001).

5.14. O agulhamento de animais

A prática clínica da AP em animais esbarra em dificuldades inerentes à

Medicina Veterinária, tais como variação estrutural e funcional entre as espécies,

necessidade de contenção em pacientes agressivos e manejo adequado de animais

agitados ou assustados, dentre outras. Porém, o encaminhamento de casos difíceis

ou crônicos é prática comum, fazendo a casuística da AP veterinária uma seleção de

pacientes complicados. O uso de suportes para manter os animais em posição

quadrupedal, assim como de aparelhos de fisioterapia (Vetcar Ltda)1, auxiliam o

tratamento de portadores de paresias e paralisias (SCOGNAMILLO-SZABÓ et al.,

2006).

5.15. Os acupontos (pontos de acupuntura)

São considerados portas de entrada e saída de energia de um organismo.

São áreas onde é possível a manipulação da energia para restaurar o equilíbrio do

organismo. Estão distribuídos através de canais de energia que se interligam

(ALTMAN, 1997) e por onde circula um fator principal responsável por associar,

regular e controlar as atividades funcionais do corpo denominado Qi. No transcorrer

de anos de prática médica, os pontos foram determinados empiricamente, sendo

que seu conhecimento foi transmitido inicialmente pela tradição e, posteriormente,

desenhado em papel ou em estátuas (SCOGNAMILLO-SZABÓ, BECHARA, 2001) .


1
VETCAR- www.vetcar.com.br Suporte Veterinário: (14) 9798-0123 Fone/Fax: (14) 3813-1245
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34

No Oriente os pontos têm nomes chineses tradicionais, que se referem a sua

localização e/ou função, mas no Ocidente são identificados por código que

especifica o canal sobre o qual está localizado, e o número do acuponto (p.ex., B40

refere-se ao quadragésimo ponto do canal da Bexiga figura 12), de certa forma este

sistema facilita o aprendizado e a comunicação, além de evitar confusões com a

tradução dos nomes orientais (MACIOCIA,2006).

FIGURA 12. BEXIGA 40 E 60

FONTE: DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997

5.16. Canais de acupuntura

Segundo a MTC, existem incontáveis canais de energia que interligam todo o

organismo. Dentre estes, doze são denominados Ordinários e ligam órgãos e

vísceras à superfície do corpo (pele). Os pontos de acupuntura estão localizados

sobre estes canais Ordinários e sobre dois canais Extraordinários (Du e Ren), canais

onde há circulação de energia (SCHOEN, 2006, MACIOCIA, 2007, XIE & PREAST,

2007).
35

Em termos morfológicos, canais de acupuntura podem formar linhas

adelgaçadas na camada córnea da epiderme. É possível evidenciar a trajetória com

injeção de marcador radioativo no ponto de acupuntura (KOVACS, 1992). Também,

por meio da mensuração da impedância e a percussão do som na pele fica evidente

que as linhas de baixa impedância e as linhas de alta percussão sonora coincidem

com o trajeto dos canais de acupuntura (YU et al.,1994).

Estes canais são vistos pela Medicina Tradicional Chinesa como uma forma

de conectar a superfície do corpo aos órgãos internos ligados em rede.

5.17. Indicações, contra-indicações e reações adversas da AP

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existe uma vasta gama de

desordens tratáveis pela AP: doenças musculares, ósseas e articulares, dores de

cabeça, ansiedade, depressão, asma, bronquite, mau posicionamento fetal, acidente

vascular cerebral, entre outras. Na Medicina Veterinária, disfunções reprodutivas,

neurológicas, musculoesqueléticas, dermatológicas, dor, emergências anestésicas e

discopatias, podem ser tratadas com sucesso com a AP. No Brasil, muitos casos

encaminhados consistem em quadros nervosos e/ou musculoesqueléticos,

consideradas as doenças com melhor índice de recuperação quando tratadas com

AP (SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001).

É contra-indicado o tratamento por AP antes de ter sido firmado um

diagnóstico adequado, ou antes, que tenha sido feita uma tentativa honesta e

diligente para determinação da etiologia da condição sob tratamento

(SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001).


36

Isso é contra-indicado porque a AP pode mascarar ou alterar os sinais

clínicos, de modo que será difícil, mais tarde, um diagnóstico mais acurado (p. ex.,

síndromes dolorosas e neurológicas) (SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001).

Em medicina veterinária, a acupuntura também é indicada para o tratamento

de diversas doenças, tais como: gastrites, enterites, colites, bronquite,

broncopneumonia, pleurisia, miocardites, arritmia cardíaca, nefrites, alterações na

micção, prostatite, cistite, hipotiroidismo, hipertiroidismo, diabetes Insipidus,

espondilopatia hipertrófica, paralisia facial, epilepsia, seqüelas da cinomose, mastite,

conjuntivite, otite média, entre outras (ALTMAN, 1997).

5.18. Outras aplicações da acupuntura

Tem sido demonstrado experimentalmente que a colocação de agulhas no

filtro nasal de gatos aumenta a resistência ao choque hipovolêmico e que,

acupuntura no acuponto VG-26 aumenta a oxigenação tecidual em cérebros de

ratos. A estimulação deste mesmo acuponto em cães levemente anestesiados com

halotano aumenta o débito cardíaco, freqüência cardíaca, pressão arterial média e

diminui a resistência periférica total (ALTMAN, 1997). A acupuntura também foi

avaliada em experimentos com estresse agudo por contenção.

Citado por (SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 200) GUIMARÃES et al.

(1997) avaliaram o efeito da acupuntura nos acupontos baço/pâncreas (BP06),

estômago (E36), vaso da concepção (VC7), coração (C06), VG20 durante um

período de imobilização de 60 minutos em ratos Wistar, utilizando como parâmetros

cardiovasculares pressão arterial e frequência cardíaca e análise de comportamento.

Os resultados obtidos sugerem que a acupuntura aplicada durante o estresse agudo


37

por contenção atenua alguns comportamentos envolvidos na reação de luta ou fuga

característica do estresse.

Citado por SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001 (ASAMOTO &

TAKESHIGE, 1992) estudaram o efeito da acupuntura sobre o apetite. Observaram

que a implantação de agulhas nos acupontos auriculares correspondentes ao piloro,

pulmão, traquéia, estômago, esôfago, sistema endócrino e coração, reduziu o ganho

de peso em ratos obesos.

Em pacientes vítimas de acidente vascular cerebral (AVC), a acupuntura é

capaz de promover uma melhora funcional mais intensa que os métodos usuais de

fisioterapia. Citado por SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001), JOHANSSON

et al. (1993) estudaram 78 pacientes com hemiparesia severa, tanto direita quanto

esquerda, e observaram que aqueles que receberam o estímulo sensitivo se

recuperaram mais rapidamente e de forma mais intensa que os controles, com uma

diferença significativa no equilíbrio, mobilidade, atividades da vida diária, qualidade

de vida e dias dispendidos no hospital ou com cuidados de enfermeiras no domicílio.


38

CAPITULO II

6.1. TRATAMENTO DEMIOSITE MASTIGATÓRIA COM ACUPUNTURA-RELATO

DE CASO

6.2. Revisão bibliográfica

6.3. Introdução

A miosite mastigatória é uma miopatia inflamatória focal que afeta

seletivamente os músculos da mastigação (músculo temporal e masseter), podendo

apresentar-se sob as formas aguda e crônica. Esse distúrbio também é conhecido

por miosite eosinofílica e miosite atrófica. É uma doença imunomediada

caracterizada pela produção de anticorpo humoral (linfócito B mediado) contra

miofibras tipo 2M. A etiologia está relacionada a um mecanismo imunomediado,

caracterizado pela produção humoral de anticorpos contra as células dos músculos

da mastigação. Essa distribuição seletiva pode ser atribuída a diferenças

histoquímicas e bioquímicas entre os músculos mastigatórios e dos membros

(FAGUNDES, 2008).

A forma aguda da doença, ou miosíte eosinofílica, caracteriza-se por dor e

edema dos músculos mastigatórios, particularmente o temporal e o masseter. Já a

forma crônica da miosíte mastigatória, também conhecida como miosíte atrófica ou

miodegeneração cranial, caracteriza-se por atrofia dos músculos mastigatórios e

pode ocorrer em cães de qualquer raça, sendo de menor incidência do que a forma

aguda. A mandíbula permanece parcialmente aberta, podendo progredir até a

impossibilidade de abertura. Os animais podem ainda apresentar disfagia, sialorréia,

e podem cursar com linfoadenopatia submandibular e pré-escapular e tonsilite. Pode


39

ocorrer exoftalmia pela pressão dos tecidos retrobulbares, devido ao aumento de

volume muscular. Um achado importante é a impossibilidade de abrir a boca após o

animal estar anestesiado. No tratamento da miosite mastigatória utilizam-se

corticóides em doses imunossupressoras (2mg/Kg) durante um período inicial de 14

a 21 dias, dosagem esta que vai sendo gradativamente reduzida em períodos de um

a dois meses (FAGUNDES, 2008).

Na medicina oriental, paralisia facial é decorrente de golpe de vento pois

origina-se do sistema nervoso central. A paralisia facial periférica ocorre sem golpe

de vento, é proveniente do prejuízo isolado dos nervos periféricos. Já na paralisia

facial com golpe de vento, os nervos acima do olho não são afetados os movimentos

das sobrancelhas e do sulco da cabeça são normais. Os dois sinais comumente

encontrados são paralisia do olho e da boca (MACIOCIA,1996).

Mesmo que a paralisia facial periférica e central seja diferente na medicina

tradicional chinesa, as duas são tratadas de forma similar. Sob a perspectiva da

Medicina Tradicional Chinesa, a paralisia facial após golpe de vento é proveniente

de vento interno, enquanto a paralisia periférica ocorre por vento externo

(MACIOCIA,1996).

As causas decorrem de fatores climáticos, vento frio, calor, umidade, secura,

fogo. Esses são chamados de “seis excessos”, e estão intimamente relacionados às

estações climáticas (MACIOCIA, 1996).

Sob condições normais o tempo não apresentará efeitos patológicos no

organismo, uma vez que pode se proteger contra esses fatores. O tempo só se torna

patológico quando a desequilíbrio entre o organismo e o meio, quando esses são

afetados (p. ex., quando faz muito frio no verão ou muito calor no interno). Pode-se
40

dizer que os fatores climáticos só se tornam patológicos quando o organismo esta

prejudicada em relação a eles (MACIOCIA, 1996).

Outras causas patológicas relacionadas podem ser debilidade, excesso de

exercício físico, dieta inadequada, trauma, parasitas e venenos (MACIOCIA,1996).

O tratamento da acupuntura consiste em elaborar um diagnostico e identificar

o padrão da lesão (aguda ou crônica), e correlacionar um tratamento adequado com

o diagnóstico encontrado (MACIOCIA,1996).

Os princípios do tratamento seguem logicamente, o princípio da desarmonia

de um padrão relevante, e o tratamento deve ser estipulado antes do início do

mesmo, através de um avaliação rigorosa das manifestações clínicas e de uma

síntese das condições do paciente e das necessidades terapêuticas naquele

momento (MACIOCIA,1996).

6.4. Relato do caso

Relata-se o caso de miosite mastigatória em cão sem raça definida, fêmea, de

3 anos atendido no domicílio do paciente. O paciente apresentava dificuldade para

abrir e fechar a mandíbula, atrofia do músculo elevador do ângulo medial do olho,

fáscia orbitária e músculo frontal (figura 13). Nenhuma outra anormalidade foi

encontrada nos demais músculos esqueléticos.

FIGURA 13. PACIENTE COM IMPOSSIBILIDADE DE ABRIR A BOCA


41

Após anamnese, o paciente foi tratado com prednisona, na dose de 2 mg/kg,

e recomendada dieta líquida. A medicação foi administrada durante 21dias,

observando-se melhora dos sinais clínicos. Após três meses o cão apresentou

recidiva da doença.

Foi então encaminhado para tratamento com acupuntura. Foram realizadas

treze sessões de acupuntura duas sessões por semana, com aplicação de agulhas,

moxaterapia em alguns pontos e pneumopuntura, os pontos utilizados foram do vaso

governador,bexiga,fígado, baço/pâncreas, intestino grosso e rim. As agulhas

permaneciam no paciente entre 10 a 15 minutos.

6.5. Discussão

Segundo MACIOCIA (1997) os princípios do tratamento seguem como padrão

relevante o princípio da desarmonia, e o tratamento deve ser estipulado antes do

início do mesmo, ou seja sem que haja uma avaliação acurada da doença não deve-

se iniciar o tratamento com acupuntura.

Os pontos utilizados para o tratamento de miosite mastigatória foram

condizentes com Ross (2003) na seguinte ordem:


42

VG (vaso governador)- Compõe-se de 28 pontos. Na figura 14 pode-se ver os

pontos do vaso governador.

VG 16 - Fengfu (Palácio do Vento):

Localiza-se abaixo da profundidade occiptal externa, na altura de VB 20, forame

atlantoocciptal. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).

Funções: Elimina o Vento, desobstrui a mente, beneficia o cérebro. (ROSS, 1994).

Indicações: Pescoço duro, síndrome cervical. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN,

1997).

VG 20 - Baihui (Cem Encontros):

Localiza-se partindo perpendicularmente à pele para cima da base posterior da

concha acústica para a linha central da abóbada do crânio. (DRAEHMPAEHL &

ZOHMANN, 1997).

Funções: Ponto de encontro de todos os Meridianos Yang. Elimina Vento Interno,

acalma o Fígado, o Yang e a mente. (ROSS, 1994).

Indicações: Epilepsia, inquietude geral e medo, afasia, paralisia, ataques de forma

epilética. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).

FIGURA 14. PONTOS DO VASO GOVERNADOR


43

FONTE: DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997

B (bexiga)- Compõe 67 pontos, nas figuras 15 e 16 pode-se ver os pontos.

B 47-Hunmen (Porta da Alma Etérea):

Localiza-se lateral à extremidade inferior do processo espinhoso da décima vértebra

torácica, em uma linha na margem caudal escapular à tuberosidade coxal do mesmo

lado, no nono espaço intercostal. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).

Funções e indicações: Regulariza o Qi do Fígado, trata alterações emocionais

relacionadas ao Fígado, elimina a estagnação do Qi do Fígado quando em

combinação com o B18. (ROSS, 1994).

B 18 – Ganshu (Buraco do Fígado):

Localiza-se lateralmente na borda inferior do processo espinhoso da nona vértebra

torácica, lateral ao décimo espaço intervertebral. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN,

1997).

Funções: Regula e tonifica o Fígado (especialmente Qi, Yang e Sangue). Domina o

Yang do Fígado. Clareia Fogo e Calor do Fígado. Acalma Calor do Sangue. Regula,

expande e controla fluxo de Qi do Fígado.


44

Indicações: Doenças do Fígado. Tetania muscular, síndrome atrófica, vertigens,

insanidade, desorientação e irritabilidade.

B 23 – Shenshu (Ponto de Associação do Rim):

Localiza-se lateralmente à depressão entre os processos espinhosos dorsais de L2-

L3, na ponta do processo transversal da vértebra L2, no sulco muscular situado

entre os músculos longo e iliocostal. (ETTINGER, 1997).

Função: Tonifica os rins (especialmente Qi e Yang), regula aquecedor inferior,

tonifica a fonte de Qi. Estabiliza Qi dos Rins e fortalece as costas e joelho.

Harmoniza via das águas.

Indicações: Distúrbios renais, problemas urogenitais, disfunção urinária

(incontinência e retenção urinária), lombalgias e fraqueza nos joelhos.

B 40 – Weizhong (Centro da Fossa):

Localiza-se no centro da fossa poplítea.

Funções e indicações: Dor nas costas e membro pélvico, distúrbios neurológicos

do membro pélvico, problemas motores na articulação do quadril e pernas, paralisia

dos membros pélvicos e atrofia muscular. (ETTINGER, 1997).

B 60 – Kunlun (Montanha Kun Lun):

Localiza-se na depressão entre o maléolo lateral da fíbula e a ponta da tuberosidade

do calcâneo. (ETTINGER, 1997).

Função: Fortalece o Qi dos Rins, tonifica e regula o Sangue, favorece o fluxo de Qi

e Sangue. Dispersa Vento. Fortalece as costas e relaxa os tendões.

Indicações: Rigidez do pescoço; dor no quadril, membro pélvico, área lombar ou

lombosacra e paralisia dos membros pélvicos. (ETTINGER, 1997).

FIGURA 15. PONTOS DORSAIS DA BEXIGA


45

FONTE: DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997

FIGURA 16. PONTOS DA BEXIGA

FONTE: DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997

• F (fígado) Possui 14 pontos, figura 17 são mostrados os pontos utilizados.

F 3 - Taichong (Precipitação Maior):

Localiza-se medialmente na extremidade superior do osso metatársico II

(DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).


46

Funções e indicações: Acalma o Yang, o Fogo e o Vento do Fígado, forte efeito

calmante sobre a mente, acalma os espasmos, promove fluxo suave de Qi do

Fígado. (ROSS, 1994)

FIGURA 17. PONTOS DO FÍGADO

FONTE: DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997

• BP (baço pâncreas)- compõe 21 pontos. Na figura 18 localização dos pontos

do baço/pâncreas.

BP 6 - Sanyinjiao (Três Encontros Yin):

Localiza-se atrás da extremidade medial da tíbia. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN,

1997).

Funções e indicações: Sendo o ponto de encontro dos três Meridianos Yin dos

membros posteriores, age sobre os Meridianos do Fígado, do Rim e do

Baço/Pâncreas. Normaliza o Fígado e suaviza o fluxo de Qi do Fígado. Acalma a

mente e alivia a irritabilidade. Tonifica o Rim (Shen), e em particular o Yin do Rim.

Remove a estase do Sangue (Xue) e tonifica o Baço (Pi), nutrindo o Sangue (Xue).

(ROSS, 1994)

FIGURA 18. PONTOS DO BAÇO/ PÂNCREAS


47

FONTE: DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997

• IG (intestino grosso)- Esse meridiano é composto de 20 pontos, abaixo figura

19 indicando os pontos do intestino grosso.

IG 4 - Hegu (Vale da Junção):

Localiza-se na extremidade medial da articulação metacarpofalângeana II, na

cabeça do osso metacarpo II. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).

Funções e indicações: Dispersa o Vento, harmoniza a ascendência do Yang

e descendência do Yin, limpa o Coração (Xin), apresenta forte influência

sobre a mente e pode ser usado para reduzir a ansiedade. É o principal ponto

para expelir o Vento-Calor, possui grande ação calmante e anti-espasmódica.

Quando em combinação com o F3 expele Vento Interno e Externo da cabeça

e acalma a mente. (ROSS, 1994).

IG 11 - Quchi (Pequeno Lago Tortuoso):


48

Localiza-se no cotovelo levemente dobrado, no meio, entre o final da dobra

do cotovelo e o epicôndilo lateral do úmero. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN,

1997).

Funções: Elimina o Calor, expele Vento Externo, esfria o Sangue (Xue). Pode

ser usado nos padrões de Calor Interno, sendo muito utilizado no padrão de

Fogo do Fígado. (ROSS, 1994).

Indicações: Dores do ombro, cotovelo e antebraço, paralisia, ponto

importante para diminuir febre, imunoestimulante. (DRAEHMPAEHL &

ZOHMANN, 1997).
49

FIGURA 19. PONTOS DO INTESTINO GROSSO

FONTE: DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997

• R (rim)- Compõe de 27 pontos. Na figura 20 visualizamos os pontos do rim.

R 1-Yongquan (Fonte Borbulhante):

Localiza-se entre a terceira e quarta articulação metacarpofalangeana, no terço

superior plantar dos ossos metatársicos. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).

Funções: Domina o Vento, limpa o cérebro, restaura a consciência, acalma a

mente, reduz a ansiedade, diminui a rebelião do Qi ascendente, principalmente o

Yang ou Vento do Fígado. (ROSS, 1994).

Indicações:Problemas de micção, faringite, choques, paralisia dos membros

posteriores. (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).

R 7 – Fuliu (O Refluxo):

Localiza-se na extremidade anterior do tendão de aquiles, diretamente na altura da

passagem tendo muscular.


50

Funções e indicações: Problemas de micção, edemas na coxa inferior, dores na

extremidade posterior, fraqueza em geral, diarréia, fezes sanguinolentas.

(DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).

FIGURA 20. PONTOS DO RIM

FONTE: DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997

O uso dos pontos citados, obtiveram resultado positivo para o tratamento de

miosite mastigatória, após a 11° seção de acupuntur a o paciente já estava

conseguindo abrir a boca para bocejar, e se alimentando de comidas sólidas.


51

6.6. Conclusão

Após o tratamento com acupuntura considerou-se que o animal será capaz de

ter uma vida normal, com seqüelas mínimas. Infelizmente, ainda hoje muitos cães

são submetidos à eutanásia inutilmente por apresentarem alguma deficiência

neurológica ou locomotora. Isto se dá à falta de informação e conhecimento pelos

proprietários e médicos veterinários sobre tratamentos complementar de terapêutica

veterinária. Com certeza alguns destes animais poderiam ter uma chance de

recuperação com o uso de uma técnica alternativa como a acupuntura.


52

7.CAPÍTULO III

7.1. PERFIL DOS PROPRIETÁRIOS E MÉDICOS VETERINÁRIOS DE PACIENTES

SUBMETIDOS À ACUPUNTURA

7.2. Revisão bibliográfica

A acupuntura é utilizada à aproximadamente 3000 anos a. C. e hoje conta

com centenas de praticantes médicos e milhares de pacientes espalhados pelo

mundo. Ela é um ramo da Medicina Tradicional Chinesa que foi desenvolvida

através da observação das Leis da Natureza, que define saúde como um estado de

harmonia, de equilíbrio entre o corpo e o ambiente interno e externo.

Consequentemente a doença surge quando ocorre um determinado desequilíbrio. O

objetivo da acupuntura passa a ser a busca do equilíbrio perdido, tratando o doente

como um todo e não apenas a parte doente do seu corpo (SCHOEN, 2006; XIE &

PREAST, 2007).

A história da acupuntura veterinária remete a lendas antigas que relacionam o

Imperador Fusi, há cerca de 10.000 anos, à formação da civilização chinesa a partir

das sociedades primitivas, assim como à domesticação de animais, incluindo o

tratamento de animais doentes. A importância dos animais na sociedade agrária

ganha mais destaque no Período das Guerras durante a Dinastia Chou (475 a. C a

221 a. C) quando os exércitos necessitavam de médicos para seus cavalos (LIN et

al., 2003). Esse período coincide com a incorporação do Confucionismo e Taoísmo

ao pensamento chinês, impulsionando a acupuntura com a compilação do Nan Jing

(Clássico das Dificuldades) que discute a Teoria dos Cinco Movimentos (XIE &

PREAST, 2007). Durante a Dinastia Chou (1027 a 221 a. C) o general Sun-Yang

(também chamado Pao Lo, cerca de 659 a. C), considerado “pai” da Medicina
53

Veterinária na China e o primeiro praticante totalmente dedicado à acupuntura em

animais, escreveu o “Cânone da Medicina Veterinária”. Considerada registro

histórico marcante, uma escultura em rocha da Dinastia Han (206 a. C a 220 d. C)

mostra soldados fazendo acupuntura com flechas em seus cavalos para estimulá-los

antes das batalhas (SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007).

No Brasil, a instituição que regulariza a especialização é a Associação

Brasileira de Acupuntura Veterinária (ABRAVET) criada em 1999, e o Conselho

Federal de Medicina Veterinária pela resolução nº 935, de 10 de dezembro de 2009,

dispõe sobre o registro de título de especialista em áreas da medicina veterinária e

da Zootecnia, no âmbito do Sistema CFMV/CRMVs. Um dos principais precursores

da acupuntura em nosso país foi o Professor Dr. Tetsuo Inada, autor de vários livros

sobre o assunto, e que iniciou na década de 1980 o tratamento de animais de

companhia e de produção na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

(SCOGNAMILLO-SZABÓ et al., 2006).

O 1.º Simpósio Brasileiro de Acupuntura Veterinária ocorreu em 1994, com a

vinda do Professor Oswald Kothbauer da Faculdade de Veterinária, da Universidade

de Viena, Áustria, e do Professor Wang Qing Lan, Vice-Reitor da Faculdade de

Veterinária, da Universidade de Beijing, China. Em 1999, durante o 1.º Congresso

Brasileiro de Acupuntura Veterinária foi fundada a ABRAVET (SCOGNAMILLO-

SZABÓ et al., 2006).

As Faculdades de Medicina Veterinária e instituições de ensino de acupuntura

desenvolvem pesquisa e ensino na área. As teses já defendidas representam o

surgimento de novos núcleos, reforçando o desenvolvimento da acupuntura

veterinária que se baseia em evidências confirmando a busca constante do

aprimoramento e difusão da técnica por vários profissionais e pesquisadores


54

(SCOGNAMILLO-SZABÓ, 2003, SCOGNAMILLO-SZABÓ et al., 2004,

SCOGNAMILLO-SZABÓ, 2006).

Pode-se observar a importância e o crescimento desta especialidade no

Brasil. Nesses estudos, fica claro a ampla possibilidade do uso da acupuntura na

clínica de pequenos animais e também em rebanhos (LUNA et al., 2002) visando ao

aumento na produtividade e destacando sua importância econômica.

Em muitas situações, principalmente em distúrbios neuromusculares, a

acupuntura veterinária tem sido preconizada como uma das mais eficazes formas de

tratamento (LUNA et al., 2003).

Objetivo deste artigo é avaliar o perfil dos proprietários que fazem uso de

terapia complementar, e quais enfermidades são mais indicadas por médicos

veterinários para acupuntura, e aceitação e conhecimento dos mesmos para terapia.

7.3. Materiais e métodos

a) Proprietários- Foram entrevistados 38 proprietários de cães e três de gatos,

com várias enfermidades (figura 21), tratados em clínicas veterinárias e no domicíilio

do paciente no período de fevereiro a abril de 2010.


55

FIGURA 21- GRÁFICO DE ENFERMIDADES TRATADAS COM

ACUPUNTURA

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b) Médicos veterinários- foram entrevistados 26 médicos veterinários e

professores universitários da clínica médica e cirúrgica de cães e gatos, para saber

a aceitação dos mesmos sobre acupuntura veterinária.

Foram realizadas 9 perguntas para os proprietários (figura 22) e 8 perguntas

ao médicos veterinários (figura 23), sendo todas relacionadas a acupuntura

veterinária de cães e gatos.


56

Figura 22. QUESTIONÁRIO APLICADOS AOS PROPRIETÁRIOS

FIGURA 23. QUESTIONÁRIO APLICADO AOS MÉDICOS VETERINÁRIOS


57

7.4. Resultados

Foram entrevistados 41 proprietários, de cães e gatos, machos e fêmeas, de

diferentes raças e idades. A maior dos entrevistados 87,8% (n=36) são cristãos e

12,2% (n=5) não possuem religião, ou são de outras religiões; 78,05% (n=32) dos

entrevistados tiveram indicação do próprio veterinário para tratamento com

acupuntura; 90,24% (n=37) acreditam que acupuntura ajudará o paciente de alguma

forma.

Todos os casos citados foram tratados anteriormente com medicina

tradicional, apresentando 36,58% (n=15) de resultados positivos, contra 17,07%

(n=7) sem resultados. E o restante, 46,35% (n=19), informaram resultado parcial.

Dos casos clínicos analisados, que optaram pela acupuntura, 60,98% (n=25)

apresentaram melhora total de sua enfermidade, contra 29,27% (n=12) que não

apresentaram melhora, e 9,75% (n=4) com melhora parcial. Dos casos citados

14,63% (n=6) já haviam utilizado terapia complementar para os pacientes, contra

85,37% (n=35) que afirmaram não ter utilizado tratamento alternativo. Na figura 24

apresenta-se o gráfico do questionário.


58

FIGURA 24. GRÁFICO DE RESULTADOS COM OS PROPRIETÁRIOS

O resultado da pesquisa realizada com os 26 médicos veterinários de clínica

médica e cirúrgica mostrou que 76,92% (n=20) conhecem acupuntura e suas

finalidades, contra 23,08% (n=6) que desconhecem. E 76,92% (n=20) dos médicos

veterinários acreditam na sua eficácia contra 23,08% (n=6) que não acreditam como

terapia complementar.

Entre os médicos veterinários entrevistados 88,46% (n=23) recomendariam

ou apoiariam acupuntura para seus pacientes, contra 11,54% (n=3) que não apóiam

e não recomendariam.

Dos 26 entrevistados 61,54% (n=16) já fez acupuntura, onde 53,85% (n=14)

tiveram resultados positivos. Na figura 24 mostra o resultados.


59

FIGURA 25. GRÁFICO DE RESULTADOS COM MÉDICOS VETERINÁRIOS

7.5. Discussão

Com base nos dados da pesquisa apresentada, os proprietários de cães e

gatos, com enfermidades diversas, que tratavam apenas com a medicina tradicional

e fármacos, muitas vezes sem resultado no quadro clínico do paciente (21%),

observaram melhora com tratamento de acupuntura.

A acupuntura como terapia complementar, analisando os 40 casos clínicos,

proporcionou uma melhora de 60,98% (n=25) e 9,76% (n=4) obtiveram uma

resposta parcial ao tratamento.

As terapias complementares como, por exemplo: fitoterapia, homeopatia,

fisioterapia, já faziam parte do tratamento de 14,63% (n=6), contra 85,37% (n=35)

que afirmaram não ter utilizado tratamento alternativo.

A indicação de acupuntura está relacionada muitas vezes ao próprio médico

veterinário clínico ou cirurgião do paciente, esses médicos veterinários acreditam em


60

terapias complementares, para auxilio do tratamento estipulado e recomendam e

apóiam acupuntura como método de terapia complementar, mostrando a

importância do procedimento conforme citado por LUNA et. al (2002).

Os médicos veterinários que não aprovam a acupuntura como terapias

complementares talvez o façam por falta de conhecimento técnico sobre a mesma,

ou desconheçam suas finalidades e aplicações.

7.6. Conclusão

A acupuntura vem ganhando espaço dentro das clínicas e hospitais

veterinários de cães e gatos, como uma alternativa simples para o tratamento de

varias doenças. Os médicos veterinários utilizam como terapia complementar,

observando resultados positivos, no tratamento do paciente e uma mudança de

paradigma deve ocorrer a partir da divulgação dos resultados obtidos por clínicos

especializados nesta terapêutica.


61

8. CONCLUSÃO DO T.C.C.

O estágio curricular realizado com a profissional autônoma acupunturista me

proporcionou uma experiência muito valiosa sobre as terapias complementares e as

especialidades na medicina veterinária. Em cada caso apresentado tive a

oportunidade de aprender mais através da literatura sobre a medicina tradicional

chinesa, suas fundamentações, prática e suas aplicações.

Ainda são poucas as publicações científicas a respeito da avaliação do

tratamento e amostragem, de terapias complementares da sua eficácia no

tratamento de enfermidades que acometem animais.

Pude constatar neste estágio que muitos médicos veterinários estão

indicando terapias complementares e obtendo sucesso junto ao tratamento

estipulado, para melhorar a qualidade de vida de seus pacientes.


62

9. REFERÊNCIAS

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continuing education, v.19, p.1233- 45, 1997.

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2007, 376p.

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