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PARECER HOMOLOGADO

Despacho do Ministro, publicado no D.O.U. de 6/4/2018, Seção 1, Pág. 120.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

INTERESSADO: Ministério da Educação UF: DF


ASSUNTO: Reexame do Parecer CNE/CES nº 245/2016, que trata das Diretrizes Nacionais
dos Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu.
RELATOR: Gilberto Gonçalves Garcia
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32
PARECER CNE/CES Nº: COLEGIADO: APROVADO EM:
146/2018 CES 8/3/2018

I – RELATÓRIO

1. Introdução

Trata-se de reexame do Parecer CNE/CES nº 245/2016 e de seu respectivo projeto de


resolução, que estabelece novas Diretrizes Nacionais dos Cursos de Pós-Graduação Lato
Sensu.
Segundo se depreende dos autos, em 21/2/2013, editou-se a Indicação CNE/CES nº
3/2013, que teve por objetivo a organização de comissão no âmbito da Câmara de Educação
Superior (CES), do Conselho Nacional de Educação (CNE), para estudar as condições e a
viabilidade de procedimentos regulatórios prévios destinados a subsidiar alterações na
Resolução CNE/CES nº 7/2011, que dispõe sobre a revogação das normas para o
credenciamento especial de instituições não educacionais, na modalidade presencial e a
distância.
Em atendimento à referida indicação, em 20/3/2013, a Câmara de Educação Superior
emitiu a Portaria CNE/CES nº 3/2013, constituindo comissão para analisar e estudar o marco
regulatório da pós-graduação lato sensu em vigor, visando à proposição de nova Resolução.
A comissão da CES que elaborou o respectivo texto normativo, agora em reexame,
fora constituída no início de 2013 para atualizar e consolidar as normas vigentes sobre os
cursos de pós-graduação lato sensu em um corpus normativo mais abrangente, portanto, em
Diretrizes Nacionais dos Cursos de Especialização. Na ocasião, fora composta pelos
Conselheiros Erasto Fortes Mendonça, Presidente da comissão, José Eustáquio Romão,
relator, tendo ainda os Conselheiros Benno Sander, Luiz Fernandes Dourado, Luiz Roberto
Liza Curi, e Sérgio Roberto Kieling Franco como membros.
Como parte dos estudos empreendidos pela comissão então formada, e frente a
necessidade e a pertinência da obtenção de informações cadastrais que permitam a
construção de um panorama nacional sobre a oferta de cursos de especialização no país,
com fulcro nas normas em vigor, por meio do Parecer CNE/CES nº 266/2013, os membros
votaram pela instituição do cadastro nacional de oferta de cursos de pós-graduação lato sensu
das instituições credenciadas no Sistema Federal de Ensino, na forma do projeto de resolução
que elaboraram, o qual foi aprovado por unanimidade pela Câmara de Educação Superior, em
7/11/2013.
Após manifestação favorável da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação
Superior (SERES), por meio da Nota Técnica nº 42, emitida aos 23 de janeiro de 2014, o
Parecer CNE/CES nº 266/2013, com o respectivo projeto de resolução, foi devidamente

Gilberto Garcia – 0023 Documento assinado eletronicamente nos termos da legislação vigente
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

homologado, em 30 de janeiro de 2014, pelo então Ministro de Estado da Educação, dando


ensejo à Resolução CNE/CES nº 2/2014, de 12 de fevereiro de 2014, publicada no Diário
Oficial da União (DOU) em 13 de fevereiro de 2014, seção l, página 41.
Visando ultimar os trabalhos para os quais fora designada, a Comissão, por meio do
Parecer CNE/CES nº 245/2016, apresentou minudente a trajetória da pós-graduação lato
sensu no país e, ao final, o Projeto de Resolução que estabelece Diretrizes Nacionais dos
Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu, o qual, juntamente com o respectivo parecer, foi
aprovado pela Câmara de Educação Superior, em 4/5/2016.
Um dado extremamente importante trazido pelo texto do referido Parecer foi o
exaustivo levantamento sobre a trajetória histórica do conjunto de normas a respeito da
matéria, bem como sobre os dispositivos legais, em vigor, relativos aos cursos desse nível de
ensino. Considerando, pois, a relevância do trabalho elaborado pela Comissão supracitada,
conservo nesse novo Parecer, em sede de reexame, grande parte da reconstituição histórica e
do detalhamento das normas vigentes sobre o tema, com o mesmo intuito, conforme ressalta o
relator do referido texto, de:

[...]facilitar [...] os trabalhos do plenário da Câmara de Educação Superior, “a partir


da verificação das intenções e dos encaminhamentos dos(as) legisladores(as), que
antecederam os atuais conselheiros, de modo que se detectem os problemas que se
apresentaram no percurso da Pós-Graduação Lato Sensu, desde sua criação e implantação
nos sistemas educacionais brasileiros até os dias de hoje.

2. A pós graduação lato sensu e seu curso histórico no Brasil

Inicio com a transcrição da trajetória histórica da pós-graduação no Brasil, conforme


apresentado no texto do Parecer CNE/CES nº 245/2016:

No Brasil, poder-se-ia ainda considerar como antecedentes do que seria


denominado pelo Parecer CFE 977, de 1965, como “curso de pós-graduação lato
sensu” as experiências das décadas de 20 e 30 do século XX.
No contexto da denominada Reforma Rocha Vaz (13/1/1925), por meio do
Decreto nº 16.782-A, criou-se o Curso Especial de Higiene e Saúde Pública, para
portadores do título de graduação em Medicina, a ser coordenado pelo diretor do
Instituto Oswaldo Cruz.
Cursos de mesma natureza aparecem, explicitamente, na reforma Francisco
Campos de 1931. O Decreto nº 19.851, de 11 de abril de 1931, relaciona, em seu art.
35, entre os cursos a serem oferecidos pelos estabelecimentos de ensino superior “c)
cursos de aperfeiçoamento que se destinam a ampliar os conhecimentos de qualquer
disciplina ou de determinados domínios da mesma” e “d) cursos de especialização,
destinados a aprofundar, em ensino intensivo e sistematizado, os conhecimentos
necessários a finalidades profissionais ou científicas”. Este mesmo diploma legal
criou o que se poderia denominar “Mandato de Especialização”, autorizando
instituições não universitárias, dentre as quais o Instituto Oswaldo Cruz, o Museu
Nacional e o Jardim Botânico, a ministrar esses cursos. Entretanto, os cursos ali
oferecidos não eram obrigatoriamente de pós-graduação, porque admitia-se, em
alguns deles, além dos portadores de diploma de Medicina, estudantes ainda fazendo
a graduação do mesmo curso (art. 70).
No entanto, até a década de 50 do século XX, a graduação constituiu,
praticamente, o último grau da formação de profissionais de nível superior no Brasil.
E, embora a Pós-Graduação Stricto Sensu tenha se iniciado somente nas primeiras
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décadas dos anos 60 do mesmo século, por meio de cursos de mestrado e doutorado,
os cursos de especialização e aperfeiçoamento já vinham se insinuando nas
instituições universitárias e, principalmente, nos institutos de pesquisa, criados após a
II Guerra Mundial.
A diversificação horizontal da graduação passou a ser simultaneamente
acompanhada pela diversificação vertical, com o incentivo à pós-graduação, seja
pelas necessidades da burocracia estatal, seja pelas demandas de um mercado
produtivo e de prestação de serviços cada vez mais reconvertido do ponto de vista
tecnológico. Assim, os cursos de pós-graduação foram se convertendo, de
complementação da formação generalista em formação especializada, visando a
formar profissionais altamente qualificados, seja ele pesquisador, seja ele cientista e
até mesmo professor de nível superior.
Na maioria das vezes, esses cursos eram patrocinados pelo Conselho Nacional
de Pesquisas, autarquia criada pela Lei nº 1.310, de 15 de janeiro de 1951,
sancionada pelo presidente Eurico Gaspar Dutra e vinculada à Presidência da
República.
Eram também promovidos pela Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior, criada pelo Decreto nº 29.741, de 11 de julho de 1951.
Ambas as instituições conferiram institucionalidade governamental às incipientes
pesquisas brasileiras. O primeiro – futuro Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) – tinha por finalidade promover e estimular a
investigação científica e tecnológica. A segunda – futura Coordenação para o
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – visava à capacitação e ao
aperfeiçoamento de recursos humanos de nível superior para o País.
A Lei nº 4.533, de 8 de dezembro de 1964, alterou a lei de criação do
Conselho, tornando-o responsável pela formulação da política científico-tecnológica
nacional. Somente em 1974, por meio da Lei nº 6.129, de 6 de novembro, foi que o
CNPq passou a ter a denominação atual, mantendo-se a mesma sigla. Em 1985, com
a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (Decreto nº 91.146, de 15 de março
de 1985), o CNPq passou a vincular-se àquela pasta, então concebida como o think
tank da ciência e da tecnologia no Brasil.
Já a Capes, iniciada como “campanha”, apresentou grande grau de
informalidade nos seus primórdios, e seu pioneiro secretário-geral, Anísio Teixeira,
logo estimulou o Programa Universitário (1953) junto às poucas universidades e
institutos de pesquisa, concitando-os ao intercâmbio e à cooperação com instituições
estrangeiras congêneres e com maior experiência no campo da pesquisa.
As bolsas de aperfeiçoamento já apareceram expressivamente nas concessões
voltadas para a implementação do Programa: 23 das 79 oferecidas em 1953 e 51 das
155 concedidas em 1954.
Em 1961, a Capes vinculou-se à Presidência da República, para retornar, em
1964, à estrutura do então Ministério da Educação e Cultura (MEC).
O ano de 1965 é um marco na história da pós-graduação do País: convocou-
se o Conselho de Ensino Superior para regulamentá-la. Dentre os notáveis
educadores que compunham o mencionado colegiado, destacaram-se Alceu de
Amoroso Lima, Anísio Spinola Teixeira, Antonio Ferreira de Almeida Júnior, Clovis
Salgado, Durmeval Trigueiro e Newton Sucupira. Este último foi o relator do que
pode ser considerada como a verdadeira certidão de nascimento normativa da pós-
graduação nacional: o Parecer CFE nº 977, de 3 de dezembro de 1965, que tratou da
pós-graduação stricto sensu.

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PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

Entendeu o relator que os cursos de especialização e de aperfeiçoamento não


deveriam ser regulamentados, dentre outras razões, “em consideração à autonomia
didático-científica das instituições de ensino superior” (SUCUPIRA, Newton.
Prefácio à obra Pós-graduação: educação e mercado de trabalho, Campinas SP:
Papirus, 1995, p. 11).
Cabe registrar que esta posição do relator já induzia um primeiro princípio a
ser considerado em qualquer normatização da pós-graduação lato sensu: o respeito à
autonomia universitária. À época, o relator mencionava a distinção que, na tipologia
das matrizes institucionais de hoje, está estabelecida no universo das instituições de
ensino superior (IES): universidade, centro universitário e faculdade ou instituto.
Informava ainda o relator que a Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, ratificou “a
doutrina do [então] Conselho Federal de Educação, instituiu o credenciamento dos
cursos de pós-graduação stricto sensu pelo mesmo Conselho [e] assentou a carreira
do magistério [superior] sobre os graus de mestre e de doutor” (id., ib.).

A partir da década de 70 do século passado, no entanto, os cursos de pós-graduação


lato sensu tiveram um crescimento exponencial de oferta, o que levou o Conselho Federal de
Educação (CFE) a destacá-lo como tema importante do “IX Seminário de Assuntos
Universitários” (1976). No ano seguinte foi criada uma comissão, presidida por Newton
Sucupira, encarregada de definir as modalidades de cursos de especialização e de
aperfeiçoamento, cujos títulos seriam reconhecidos pelo CFE como válidos nos processos de
reconhecimento de Instituições de Educação Superior (IES).
Na sequência prossigo com a transcrição do Parecer CNE/CES nº 245/2016:

O Parecer CFE nº 2.288, de 2 de setembro de 1977, voltado para a


“regulamentação dos cursos de aperfeiçoamento e especialização para o magistério
superior do sistema federal de ensino” acabou dando origem à Resolução CFE nº 14,
de 1977. No ano seguinte, o Parecer CFE nº 2.120, de 4 de julho de 1978, de que
resultou a Resolução CFE nº 2, de 27 de abril de 1979, alterou o parágrafo único do
art. 3º da Resolução CFE nº 14, definitivamente substituída pela Resolução CFE nº
12, de 6 de outubro de 1983 que, resultante do Parecer nº 432, de 1º de setembro de
1983, estabeleceu, dentre outras, as seguintes disposições:

a) carga horária mínima de 360 (trezentas e sessenta) horas, excluído o tempo


dedicado as estudos individuais ou coletivos;
b) corpo docente constituído de, no mínimo, mestres titulados em IES
credenciadas, admitindo-se 1/3 (um terço) de não portadores do título de mestre,
credenciados pelos conselhos competentes;
c) IES com cursos de graduação ou de mestrado reconhecidos pelo menos há 5
(cinco) anos na mesma área do curso de pós-graduação lato sensu pretendido;
d) frequência mínima de 85% da carga horária e 70% de aproveitamento
mínimo na escala de notas.

Na intenção do legislador da época, títulos obtidos nos cursos de


especialização e aperfeiçoamento, realizados de acordo com “o modelo estabelecido
pelo Conselho Federal de Educação” (id., ib., p. 12), seriam suficientes para a
qualificação dos corpos docentes das IES autorizadas e reconhecidas, conforme os
conceitos da época. Portanto, esses títulos qualificavam o docente para o ingresso,
inclusive, na “carreira do magistério federal em grau inicial” (id., ib.), para lecionar
nos cursos de graduação.
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O relator fundador da regulação, referente à pós-graduação brasileira e


presidente da comissão, que tratou das primeiras normas de autorização e
funcionamento de estabelecimentos de ensino superior, manifestou-se, entretanto, por
mais de uma vez, hesitante em relação à identidade distintiva da especialização e do
aperfeiçoamento. São suas palavras textuais: “[...] discute-se ainda a natureza da
especialização e do aperfeiçoamento, a distinção entre ambos bem como sua relação
com os cursos de mestrado” (id., ib.).
Apesar das dificuldades para se identificar a singularidade de cada uma
dessas modalidades, o relator descartava qualquer possibilidade de ser a pós-
graduação lato sensu adstrita exclusivamente à formação profissionalizante, já que
ela pode ser a educação permanente, ou “continuada”, como se diz nos dias de hoje,
seja para a complementação da formação superior profissional inicial, seja, na área
acadêmica, até mesmo em complemento aos cursos de mestrado e doutorado.
Do Parecer CFE nº 977, de 1965, pode-se inferir que é a área de
conhecimento que define a natureza do curso de pós-graduação lato sensu,
conferindo-lhe um estatuto mais teórico ou profissionalizante.
Na sua trajetória histórica, cabem ainda algumas considerações sumárias
sobre a presença da pós-graduação lato sensu nos Planos Nacionais de Pós-
Graduação (PNPGs).
Pouco antes da promulgação da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, que
instituiu a reforma do Ensino Superior, os militares haviam criado, pelo Decreto nº
63.343, de 1º de outubro de 1968, os Centros Regionais de Pós-Graduação, que não
chegaram a ganhar efetividade prática. O então ministro da Educação, Coronel
Jarbas Passarinho, criou uma comissão especial (professores Heitor Gurgulino,
Newton Sucupira e Roberto Santos, mais o Coronel Confúcio Pamplona), que se
encarregou de iniciar o processo de formulação de uma política nacional de pós-
graduação para o País. A comissão propôs, então, a criação do Conselho Nacional de
Pós-Graduação, instituído pelo Decreto nº 73.411, de 4 de janeiro de 1974. A criação
e implantação desse Conselho revogou a norma que criara os Centros Regionais de
Pós-Graduação e encarregou-se, então, da formulação do Plano Nacional de Pós-
Graduação (I PNPG), aprovado pelo Decreto nº 76.058, de 30 de julho de 1975, para
o período de 1975 a 1979. Os diagnósticos da época demonstravam que a ausência de
cursos de pós-graduação lato sensu provocavam distorções na pós-graduação stricto
sensu, como o fato de muitos mestrandos – sem dissertação defendida – orientarem-se
para o mercado de trabalho que exigia formação especializada. Embora seu foco
fosse a pós-graduação stricto sensu, voltada para a “formação de pessoal qualificado
para a Educação Superior e a Pesquisa” (DOU, 4/8/1975, p. 96), o I PNPG
estimulava a “pós-graduação no sentido lato – aperfeiçoamento e especialização –,
através (sic) de programas específicos, para que possam atender de maneira mais
eficiente e flexível às necessidades conjunturais do mercado de trabalho” (id., ib.). O
mencionado Plano não deixava qualquer margem de dúvida quanto ao caráter de pós-
graduação dos cursos de aperfeiçoamento e especialização, nem quanto às
responsabilidades da Capes em relação a eles.
Cabe salientar, ainda que, se o Programa Institucional de Capacitação de
Docentes (PICD) voltava-se para a formação de professores das IES brasileiras em
cursos de mestrado e de doutorado, o Programa Nacional de Capacitação de
Professores de Instituições de Ensino Superior (Procapies) voltava-se para a
formação de docentes, para atuação no mesmo grau de ensino, em cursos de
aperfeiçoamento e especialização. Aí, claramente se estabeleceu a diferença entre
cursos de aperfeiçoamento – “cursos ou atividade teórico-prática com finalidade de
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ampliação e desenvolvimento de conhecimentos de metodologia do ensino superior,


de metodologia científica, de conteúdos específicos, com duração mínima de 180
horas-aula” – e cursos de especialização – “curso ou atividade com finalidade de
aprofundamento de conhecimentos teóricos e práticos, em setores específicos do
saber, de capacitação em metodologia do ensino e em metodologia científica, com
duração mínima de 300 horas-aula” [MEC/CAPES. Plano Nacional de Pós-
Graduação. Brasília: Departamento de Documentação e Divulgação, 1975, p. 72].
Aparentemente, a diferença entre cursos de aperfeiçoamento e de
especialização se estabelecia apenas pelo maior aprofundamento e, portanto, pela
maior carga horária dos últimos. Os primeiros apareciam, claramente, como uma
primeira etapa dos segundos que, configurando uma espécie de terminalidade
intermediária, conducente, quando articulados com os segundos, à terminalidade
definitiva neste nível de ensino. Cabe ressaltar que a articulação poderia se
estabelecer “para cima”, com a previsão, inclusive, de aproveitamento de créditos de
especialização nos cursos de mestrado.
[...]
No Governo do General Figueiredo (1979-1984), o último do regime militar,
foi instituído o II PNPG, por meio do Decreto nº 87.814, de 16 de novembro de 1982,
publicado dois dias depois no Diário Oficial da União, para vigorar de 1982 a 1985.
Já se percebe, na transição do I para ao II PNPG um vácuo de 2 (dois) anos, pois o
primeiro terminou em 1979 e o segundo só foi iniciado em 1982. Esses vácuos vão
aumentar, como se verá mais adiante, especialmente entre o III (1986-1989) e o IV
PNPG (2005-2010), sendo que este último não saiu do papel.
[...]
Se quisermos estabelecer uma diferença entre os três primeiros PNPGs em
relação à pós-graduação, poder-se-ia dizer que o primeiro estava mais preocupado
com a formação para a docência superior; o segundo com a formação profissional
para o mercado que exige formação superior; e o terceiro com a formação de
pesquisadores e com a articulação da pós-graduação com a ciência e com a
tecnologia.
Como foi mencionado, houve não apenas um grande vácuo entre o III e o IV
PNPG, mas uma verdadeira desarticulação geral, pois o III terminou em 1989 e,
somente em 1996, a Capes constituiu uma comissão para realizar um seminário, com
vistas a dar início à elaboração do IV Plano Nacional de Pós-Graduação. Além disso,
como informou essa coordenação, nos antecedentes do V PNPG, apesar de todo seu
esforço, a autarquia não conseguiu implantá-lo:

Uma série de circunstâncias, envolvendo restrições orçamentárias e falta de


articulação entre as agências de fomento nacional, impediu que o Documento
Final se concretizasse num efetivo Plano Pós-Graduação. No entanto, diversas
recomendações que subsidiaram as discussões foram implantadas pela
Diretoria da CAPES, ao longo do período, tais como: expansão do sistema,
diversificação do modelo de pós-graduação, mudanças no processo de
avaliação e inserção internacional da pós-graduação [CAPES. Plano
Nacional de Pós-Graduação (PNPG) – 2011-2020. Brasília: CAPES, p. 29, v.
I].

[...]
O V PNPG não apresenta qualquer item relativo pós-graduação lato sensu,
como tampouco o Plano Nacional de Educação proposto para a primeira década do
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século XXI.

Já na legislação atual, a fundamentação da pós-graduação lato sensu tem por base a


Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), que assim estabeleceu, ipsis verbis:

Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas:


I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência,
abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições
de ensino, desde que tenham concluído o ensino médio ou equivalente
(Redação dada pela Lei nº 11.632, de 2007);
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio
ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo;
III - de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado,
cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos
diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das
instituições de ensino;
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos
em cada caso pelas instituições de ensino.

Ainda de acordo com o Parecer CNE/CES nº 245/2016,

No mesmo ano de promulgação da LDB, o Conselho Nacional de


Educação/Câmara de Educação Superior, pela Resolução nº 2, de 20 de setembro de
1996, publicada no DOU, no dia 17 do mês subsequente, regulamentara os cursos
pós-graduação lato sensu presenciais, a serem desenvolvidos fora da sede e voltados
para a qualificação de corpo docente.

A partir da Resolução CNE/CES nº 1, de 3 de abril de 2001, a pós-graduação lato


sensu foi regulamentada em seu artigo 6º, que, conforme afirma o referido parecer,

[...] determinava que os cursos independiam de autorização, de


reconhecimento e de renovação de reconhecimento, atendendo apenas ao que
dispunha essa norma. Ratificou, mais uma vez, explicitamente, a natureza de pós-
graduação dos cursos regulamentados, dada sua destinação a portadores de diplomas
de curso de graduação. Sua supervisão ficou vinculada ao processo de
recredenciamento da instituição. [...] Cabe salientar que foi esta Resolução que
enquadrou os cursos de Master Business Administration (MBA) como de pós-
graduação lato sensu.
[...]
A Resolução CNE/CES nº 1, de 8 de junho de 2007, que atualizou as normas
relativas aos cursos de pós-graduação lato sensu, merece uma análise mais destacada
pois ainda está em vigor. Ela apresenta-se, em sua ementa, com uma restrição:
“Estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação lato sensu, em
nível de especialização”, ou seja, restringe-se à normatização da especialização,
como é o caso da finalidade da norma que se pretende fixar com este Parecer.
Contudo, como veremos, pelo modo como está redigida, ultrapassa esses limites,
estendendo-se a outros campos da pós-graduação lato sensu.
Em primeiro lugar, essa norma estabeleceu que os cursos de pós-graduação
lato sensu, oferecidos por instituições credenciadas, independem de reconhecimento
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ou de renovação de reconhecimento (art. 1º). Por uma manobra redacional que


combina significantes, no mínimo ambíguos, de dois parágrafos, a Resolução
CNE/CES nº 1, de 2007, excluiu os cursos de aperfeiçoamento e outros, que sempre
figuraram em resoluções congêneres, no universo dos cursos de pós-graduação lato
sensu. Vejamos o que rezam, literalmente, os parágrafos mencionados:

§ 1º - Incluem-se na categoria de curso de pós-graduação lato sensu aqueles


cuja equivalência se ajuste aos termos desta Resolução.
§ 2º - Excluem-se desta Resolução os cursos de pós-graduação denominados
de aperfeiçoamento e outros.

O texto do § 1º inclui, na pós-graduação lato sensu, apenas os cursos “cuja


equivalência se ajuste aos termos desta norma”, o que significa dizer que os que não
se ajustem aos termos da Resolução não podem ser considerados como de pós-
graduação lato sensu. O § 2º exclui, in limine, da Resolução, os cursos de
aperfeiçoamento e outros. Pode-se então deduzir que, seja pelo critério do não ajuste
da equivalência aos termos da norma, seja por outro critério, apenas os cursos de
especialização passam a ser considerados como de pós-graduação lato sensu. Esta
exclusão contraria norma superior, pois, como já foi destacado neste Parecer, o
inciso III, do art. 44 da LDB, é cristalino quanto à natureza pós-graduada que podem
ter os cursos de aperfeiçoamento e outros:

Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas:


[...]
III - de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado,
cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos
diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das
instituições de ensino.

Mas, continua a Resolução nº 1, de 2007, determinando que somente os


diplomados em cursos de graduação, ou demais cursos superiores, e que atendam às
exigências das instituições de ensino, podem ter acesso aos cursos de pós-graduação
lato sensu. Mesmo que as IES credenciadas possam oferecer esses cursos por sua
própria iniciativa, só podem fazê-lo na área do saber e no endereço definidos no ato
de seu credenciamento, ficando “sujeitos à avaliação dos órgãos competentes a ser
efetuada por ocasião do recredenciamento da instituição” (art. 2º).
São exigidos 50% (cinquenta por cento) de titulados em mestrado e doutorado
de programa de pós-graduação stricto sensu reconhecido; deverão ter duração de
360 (trezentas e sessenta) horas, não estando nelas computadas o tempo reservado
para estudo individual ou em grupo, nem o destinado à “elaboração individual de
monografia ou trabalho de conclusão de curso” (art. 4º e 5º).
Reservam-se às instituições credenciadas, de acordo com o disposto no § 1º do
art. 80 da Lei nº 9.394, de 1996, a prerrogativa da oferta de cursos de pós-graduação
lato sensu à distância e, ainda assim, com verificação da aprendizagem (provas) e
defesa de trabalho final na modalidade presencial. Os critérios de avaliação da
aprendizagem estabelecidos pelos planos dos cursos devem respeitar o mínimo de
75% (setenta e cinco por cento) de frequência dos estudantes nos cursos e nas
atividades presenciais. Finalmente, os demais dispositivos da Resolução 1, de 2007,
tratam da certificação, acompanhada do histórico escolar com os devidos registros
(disciplinas, carga horária, nota ou conceito obtido pelo aluno, nome e qualificação
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dos professores, período de realização, duração total em horas de efetivo trabalho


acadêmico, título da monografia ou do trabalho de conclusão, nota ou conceito
obtido, ato legal de credenciamento da IES, além de declaração da instituição de que
o curso cumpriu todas as disposições da Resolução). A Resolução nº 1, de 2007,
revogou os arts. 6º, 7º, 8º, 9º, 10, 11 e 12 da Resolução CNE/CES nº 1, de 3 de abril
de 2001, e demais disposições em contrário.
Posteriormente, em 25 de setembro de 2008, com base no Parecer nº 82, de
2008, foi publicada a Resolução nº 5, que estabeleceu o credenciamento especial para
instituições não educacionais para a oferta de cursos de especialização (presenciais).
A Resolução nº 4, de 16 de fevereiro de 2011, completou-a, estabelecendo normas
transitórias sobre o credenciamento especial de instituições não educacionais para
oferta de cursos de especialização (presenciais e à distância).
Finalmente, a Resolução nº 7, de 8 de setembro de 2011, revogou a Resolução
nº 5, de 2008, o § 4º do art. 1º da Resolução CNE/CES nº 1, de 2007, e a Resolução nº
4 de 2011, além de tornar sem efeito os pareceres CNE/CES nº 82, de 2008, e
CNE/CES nº 908 de 1998, revogando, consequentemente, o credenciamento especial
para a oferta de cursos de especialização.

A reconstituição histórica das normas a respeito da pós-graduação lato sensu, trazidas


pelo Parecer CNE/CES nº 245/2016 nos permite observar que a Resolução CNE/CES nº 1, de
2007, em especial, define o que, de fato, seja curso de pós-graduação lato sensu, não deixando
dúvidas quanto ao propósito de regular apenas a especialização como caráter de pós-
graduação lato sensu. De fato, a especialização, ao longo da história das normas e das
práticas, foi se tornando a pós-graduação lato sensu por excelência.
A carga horária de 360 (trezentas e sessenta) horas da especialização de efetivo
contato entre professores e estudante é um aspecto recorrente em todas as normativas,
apresentado pequenas variações. Da mesma forma, a exigência de titulados stricto sensu na
composição do corpo docente dos cursos de especialização nunca foi inferior a 50%
(cinquenta por cento) do total de professores de cada curso.
É curioso notar como, ao longo dos anos, as normas fixaram diferentes finalidades da
pós-graduação, segundo as diversas necessidades, conforme o momento histórico da educação
superior do Brasil. Em um determinado período, o acento foi para a formação de docentes
para o Ensino Superior. Em outro, focou-se a preparação de pesquisadores e cientistas nas
várias áreas do conhecimento. Adiante, apresentou-se voltada para a qualificação de
profissionais de formação superior para a ocupação das funções estratégicas nos quadros do
Estado e da sociedade brasileira. Mais recentemente, foi entendida com o objetivo de
complementar a formação inicial, atualizar, incorporar competências e desenvolver perfis
profissionais, tendo em vista o aprimoramento para a atuação no mundo do trabalho.
Dentro desse universo, percebe-se que, conforme afirma o Parecer CNE/CES nº
254/2016, a pós-graduação lato sensu exerce um papel importante, de médio e curto prazo,
para atender às demandas públicas e privadas mais imediatas por recursos humanos, seja
para a docência superior, [...] seja para suprir os postos estratégicos da administração
pública ou para o aprimoramento na atuação profissional no mundo do trabalho.
Dessa forma, entende-se que as funções da pós-graduação lato sensu, nas atuais
circunstâncias da educação superior brasileira, estão voltadas para os aspectos da atualização,
do aperfeiçoamento e, propriamente dizendo, da especialização, que sugerem aquisição,
desenvolvimento continuado e consolidação de expertises adicionais em um determinado
setor de uma área de conhecimentos ou de atuação profissional.
Este relator, pois, entende que a oferta de cursos de pós-graduação lato sensu pode ser
praticada por instituições para além daquelas credenciadas nos sistemas de ensino para a
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Gilberto Garcia – 0023
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oferta inicial de cursos de graduação. Toma-se, por exemplo, instituição de qualquer natureza
que ofereça curso de Mestrado ou Doutorado recomendado pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Outro exemplo pode ser encontrado
em instituição de pesquisa científica ou tecnológica, pública ou privada, de comprovada
qualidade. Por fim, a oferta de cursos de pós-graduação lato sensu deve também alcançar as
instituições relacionadas ao mundo do trabalho, cujo desempenho formativo seja de
reconhecida qualidade e de grande relevância na formação de profissionais dentro de sua
determinada área de conhecimento ou campo do saber. Aliás, quanto a estas, a própria Lei nº
9.394/1996, nos artigos 39 e 40, estabeleceu expressamente o campo de atuação que abrange
também a pós graduação lato sensu.
Dessa forma, as Escolas de Governo, voltadas para a formação dos quadros da
Administração Pública, conforme consta no Parecer CNE/CES nº 245/2016, também devem
merecer destaque. Vale ressaltar que:

[...] por meio do Ofício nº 1.091, de 24 de julho de 2013, o presidente da Escola


Nacional de Administração Pública, na condição de coordenadora do Sistema
Nacional de Escolas de Governo da União (SEGU), no termos do Decreto 5.707, de
23 de fevereiro de 2006, que instituiu a Política e as Diretrizes para o
Desenvolvimento de Pessoal da Administração Pública federal direta, autárquica e
fundacional, especialmente em seu art. 3º, inciso XIII, e no parágrafo único do art. 6º,
emitiu a Nota Técnica nº 29, de 2013.

Acerca do conteúdo da referida Nota Técnica, registrou-se no Parecer CNE/CES nº


245/206 o seguinte:

Nessa Nota, reconstitui historicamente a trajetória dos cursos de pós-


graduação lato sensu (especialização) nas Escolas de Governo, fazendo
considerações sobre a natureza dessas instituições, modalidades e finalidades dos
cursos etc., concluindo pela sugestão, ao Conselho Nacional de Educação,
relativamente aos cursos de especialização, de observar as “especificidades [dessas
escolas] no desempenho de sua função de gerar o desenvolvimento permanente de
competências dos servidores [...]” (p. 20).
Sugere, ainda, “a aplicação de regras de transição relativas ao
credenciamento e à avaliação dos cursos de pós-graduação lato sensu, em nível de
especialização, no período de ausência de norma específica a serem aplicadas às
Escolas de Governo [...]” (id., ib.).

Feito esse destaque especial, prossigo com a transcrição do texto do Parecer CNE/CES
nº 245/2016:

[...]
Cabe, também, nestas Diretrizes, um tópico específico sobre a Residência
Médica, cuja tradição amparada em norma legal, até a atualidade, é a da
equivalência ao título de especialista, portanto, à conclusão da pós-graduação lato
sensu nesta modalidade.
Considerando a Medida Provisória nº 621, de 9 de julho de 2013, convertida
na Lei nº 12.871, de 22 de outubro de 2013, a residência médica, regulada pela Lei nº
6.932, de 7 de julho de 1981, passará por alterações profundas, a começar pela meta
de universalizar as vagas para todos os egressos da graduação em Medicina até 31 de
dezembro de 2018 (art. 5º e 6º), em (i) Programas de Residência em Medicina Geral
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Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

de Família e Comunidade, com duração mínima de dois anos e obrigatória para


ingresso nos programas de residência médica de Medicina Interna (Clínica Geral),
Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Cirurgia Geral, Psiquiatria e Medicina
Preventiva e Social, e, em (ii) Programas de Residência Médica de acesso direto, nas
especialidades Genética Médica, Medicina do Tráfego, Medicina do Trabalho,
Medicina Esportiva, Medicina Física e Reabilitação, Medicina Legal, Medicina
Nuclear, Patologia e Radioterapia. Excetuando os de acesso direto, os programas de
Residência em Medicina Geral de Família e Comunidade será pré-requisito, durante
1 (um) ou 2 (dois) anos de duração, para os demais programas de Residência Médica,
a partir da universalização das vagas de Residência Médica mencionada.
Neste Parecer, e na Resolução a ele integrada, faz-se a distinção entre a
Especialidade e a Especialização. A primeira diz respeito à formação em serviço,
após a graduação, obtida em programas de Residência Médica ou Multiprofissional,
enquanto a especialização é o título de pós-graduação lato sensu obtido em cursos
que seguem as normas contidas na mencionada Resolução.
De forma alguma, o título de Especialização certifica o titulado ao automático
exercício de Especialidade, ainda que a Especialidade possa equivaler à
Especialização, desde que aprovada no processo de avaliação prevista no § 1º do art.
9º da Lei nº 12.871, de 2013, como, por exemplo, à titulação dos professores e
preceptores envolvidos na Residência Médica.
O problema dessa equivalência, ainda que resolvido na Medicina, não está
devidamente resolvido na área mais ampla da saúde, cujas especialidades não estão
regulamentadas como residência médica. Dessa forma, a título de exemplo, um curso
de pós-graduação lato sensu no campo das especialidades odontológicas, que exigem
maior carga horária em função de suas especificidades, dentre as quais se destacam
as expertises práticas, não poderia ensejar a especialização lato sensu ao exercício da
especialidade, que é, muito mais um problema de regulamentação do campo do
exercício profissional.

3. Da solicitação de reexame do Parecer CNE/CES nº 245/2016.

Após a deliberação do Parecer CNE/CES nº 245/2016 por parte do Câmara de


Educação Superior do CNE, o texto seguiu seu fluxo instrucional ao Ministério da Educação
para homologação. No entanto, devido ao ambiente de incertezas que acompanhou o ano
político nacional de em 2016, um período de crise com mudança no comando do executivo
federal, o referido parecer permaneceu não homologado.
A liderança do Ministério da Educação que assume finalmente a pasta do executivo,
herda um passivo homologatório de pareceres do CNE, que é encaminhado à Consultoria
Jurídica do MEC para subsidiar a decisão ministerial. No caso específico, o Parecer CNE/CES
nº 245/2016 foi submetido pela CONJUR à SERES, que emitiu a Nota Técnica nº 282/2016,
texto que orientou a manifestação final da Consultoria Jurídica e a decisão do Ministro pela
devolução do processo ao Colegiado, para reexame.
A Secretaria então, por meio da referida Nota Técnica, se manifestou no seguinte
sentido:

[...]
II2 - Da Resolução apresentada pelo Parecer CNE/CES nº 245/2016
16. Esta Coordenação, ao proceder a análise das Diretrizes Nacionais indicadas na
Resolução, deparou-se com vários questionamentos relacionados a possíveis
contradições entre o texto proposto e a legislação educacional em vigor.
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17. Para melhor compreensão, crível se faz salientar alguns tópicos, como no caso
do inciso II do artigo 2º que estabelece:

Art. 2º O Curso de Especialização poderá ser oferecido por:


(...)
III - Escola de Governo (EG) criada e mantida por instituição pública, no
âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na forma
do art. 39, § 2º da Constituição Federal de 1988, e do art. 4º do Decreto nº
5.707, de 23 de fevereiro de 2006, precipuamente para a formação continuada
de servidores públicos, mediante credenciamento especial concedido por ato
do Ministério da Educação (MEC), por meio de avaliação do Instituto
Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e de deliberação
do CNE, ou concedido por ato dos órgãos normativos dos respectivos sistemas
de ensino;
(...)

18. No caso em tela, entra-se na discussão de competência e autonomia dos


Conselhos Estaduais que afirmam:

A inflação normativa no Direito Educacional, sobretudo nos últimos anos,


advindas dos diversos órgãos do Ministério e do Conselho Nacional de
Educação, desnorteiam até mesmo as mentes mais lúcidas e conhecedoras das
autonomias de competência dos Entes federados, e, no caso, dos Sistemas de
Ensino Federal, Estadual e Municipal.
Compreende-se que são complexas as relações que se estabelecem na área da
Educação Superior entre a União e os Estados federados, e entre a União e as
Instituições de educação superior', porém é descabido e ilegal o constante
controle do sistema federal, expresso por meio de medidas normativas
impróprias e deliberações que aparentemente legitimam a garantia de
qualidade, mas ferem a autonomia dos Sistemas Estaduais e Municipais de
Ensino, revelando desconhecimento dos propositores das regras sobre a
Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Observa-se uma avalanche de regras que tentam controlar ou cercear a
possibilidade de autonomia dos Sistemas de Ensino e das instituições.

19. É oportuno lembrar um renomado Conselheiro do Conselho Estadual de


Educação de Santa Catarina, professor Osvaldo Ferreira de Melo que afirmou:

(...) na organização de uma Federação, depreende-se que os órgãos centrais


da União deveriam reservar para si apenas o poder indispensável para o
exercício de suas próprias atividades, na indeclinável função de coordenação
de metas nacionais e para assegurar a Soberania do Estado. [...] Em vez disso,
encontra-se uma pletora de decretos, portarias, resoluções, instruções
normativas, notas técnicas, com objetivos centralizadores como se precisassem
os Estados-membros da permanente tutela de uma tecnoburocracia instalada
na esfera federal.

20. Preliminarmente, necessário se faz invocar a Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988, que em seu Título III, Capítulos I a VII, artigos 18 a

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Gilberto Garcia – 0023
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43, que tratam da Organização Político-Administrativa do Estado, pontualmente,


traz disposições que interessam ao assunto.
21. O art. 18 da Constituição prescreve que a Organização Político- Administrativa
do Brasil "compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
todos autônomos, nos termos desta Constituição". Assim, como um Estado Federal, a
organização federativa contém competências da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios estabelecidas na Magna Carta brasileira. Sobre as
competências privativas da União, art. 22, XXIV estão aquelas para legislar sobre
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e assim fez promulgando a Lei n°
9.394/96, que discriminou as competências dos Sistemas de Ensino e das
Instituições. Ademais, outras competências sobre Educação são sempre
concorrentes.
22. Para o cumprimento das competências federativas, em matéria de educação, a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 211 criou os
Sistemas de Ensino, sem hierarquia entre si.
23. Em atendimento ao princípio federativo, a Lei n° 9.394/96 disciplinou as
competências dos Entes federados, em matéria de educação, por meio dos seus
Sistemas de Ensino. Assim sendo, com meridiana clareza, a Lei citada estabelece que
esses sistemas atuem, preferencialmente, em regime de colaboração.
24. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em seus artigos 9°, 10
e 11 prescreve, respectivamente, as competências dos Sistemas de Ensino Federal,
Estadual e Municipal, como se pode ler:

Art. 9º A União incumbir-se-á de:


I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do sistema
federal de ensino e o dos Territórios;
(...)
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação
superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre
este nível de ensino;
(…)
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,
respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e seus
estabelecimentos do seu sistema de ensino (grifei).
(...)

Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:


I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus
sistemas de ensino;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino
fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das
responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos
financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;
III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com
as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as
suas ações e as dos seus Municípios;

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IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,


respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os
estabelecimentos do seu sistema de ensino;
V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino
médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
(Redação dada pela Lei nº 12.061. de 2009)
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. (Incluído pela
Lei n° 10.709. de 31.7.20031
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competências referentes
aos Estados e aos Municípios.

25. Já o artigo 11 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional fixa as


competências, em matéria educacional, dos municípios.

Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:


I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus
sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União
e dos Estados;
(...)
III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema
de ensino;
(...)

26. Mas a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não se limitou a fixar as
competências da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ela
também determinou quais seriam as instituições que compõem cada um desses
sistemas, sem obediência a qualquer hierarquia entre eles, mas autônomos desde que
respeitando a norma geral. Assim sendo, a Lei n° 9.394/96, em seus artigos 16, 17,
18 define a composição dos Sistemas de Ensino.

Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:


I - as instituições de ensino mantidas pela União;
II - as instituições de educação superior criadas e mantidas pela iniciativa
privada;
III - os órgãos federais de educação.

Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal


compreendem:
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder Público
estadual e pelo Distrito Federai; (grifei)
II - as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público
Municipal;
III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela
iniciativa privada;
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, respectivamente.
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de educação infantil,
criadas e mantidas pela iniciativa privada, integram seu sistema de ensino.

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Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:


I - as instituições do ensino fundamental, médio e de educação infantil
mantidas pelo Poder Público municipal;
II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa
privada;
III - os órgãos municipais de educação.

27. Os Sistemas de Ensino da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos


Municípios devem organizar-se de forma autônoma e suas normas se dirigem às
instituições a eles pertencentes.
28. Nesse mesmo sentido, convém citar que, em relação à autonomia dos Sistemas de
Ensino dos Estados, o Conselho Estadual de São Paulo, já há anos, por meio de
circunstanciado Parecer nº 061, de 31 de março de 2004, reafirmou a autonomia do
Sistema Estadual daquele Estado no que se refere ás competências expressas no
artigo 10, IV da LDB (autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionara avaliar,
respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os
estabelecimentos do seu sistema de ensino).
29. Alerta ainda, o Conselho Estadual de São Paulo, que as competências não estão
restritas aos cursos de graduação, mas a todos os níveis dispostos no artigo 44 da
LDB, incluindo as Escolas de Governo e a Pós-Graduação Stricto Sensu.
30. Algumas decisões dos Tribunais apontam para a validade das decisões dos
Conselhos Estaduais de Educação, como órgãos normativos dos Estados e dos
Municípios. A primeira: Acórdão do Egrégio Superior Tribunal de Justiça (MS n°
7801-DF/2001/0094880-1, publicado na edição nº 36, de 25/02/2002 - DJ) cuja
relatora foi a eminente Ministra Eliana Calmon. Tal acórdão é decisão em Mandado
de Segurança impetrado pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA), do
Estado do Ceará, e o impetrado o Ministério da Educação. A decisão enaltece os
Conselhos de Educação dos Sistemas de Ensino como órgãos de Estado. Diz, in
verbis:

O termo "sistema de ensino" deve ser entendido em seu significado de conjunto


de instituições, recursos e procedimentos, organizados de forma integrada
pelo poder público, com o propósito de atingir objetivos voltados para a
manutenção e o desenvolvimento do ensino.
[..] Por meio da liberdade de organização, cada sistema deve procurar a
forma mais adequada para atingir seus propósitos. Neste sentido de
"nacional" não deve ser confundido com o de "centralizado". Ê fato que
patogenia da corrupção está na centralização e na falta de transparência. Daí
que, entre os ímpetos da centralização, de um lado, e o clamor pela
autonomia, de outro, deve prevalecer a proposta de um trabalho conjunto
realizado sob o signo da colaboração e da transparência.

31. Em se tratando do controle e fiscalização do seu sistema de ensino, em


julgamento de Recurso de Agravo, sendo relator o Ministro Marco Aurélio Mello,
assim decidiu:

O artigo 211 da Constituição Federal determina que "a União, os Estados, o


Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus
sistemas de ensino".

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Desse modo, a determinação judicial tem por escopo a efetiva concretização


da norma constitucional, sem implicações com o princípio da separação dos
Poderes. (Supremo Tribunal Federal. ARE 858084 AgR/MA – Maranhão).

32. Outras decisões poderiam ser buscadas e elucidam, cristalinamente, a


competência dos Conselhos Estaduais de Educação em estabelecer as normas,
credenciar instituições, reconhecer cursos do seu sistema de ensino, guardada a
observância da norma geral.
33. Diante do exposto, não resta dúvida em confirmar a possibilidade de
interferência e desrespeito a autonomia estadual, enfraquecendo o pacto federativo e
ferindo a própria Constituição Federal.
34. Ainda em análise as referidas Diretrizes Nacionais, verifica-se que a inclusão do
inciso IV e V do artigo 2º apresenta contradição com as discussões emanadas pelo
próprio CNE no que diz respeito as “especialmente credenciadas, in verbis:

Artigo 2º: (...)


IV- instituição de pesquisa científica ou tecnológica, pública ou privada, de
comprovada qualidade, mediante credenciamento especial concedido por ato
do MEC, por meio de avaliação do Inep e deliberação do CNE, para oferta de
Curso de Especialização na(s) grande(s) área(s) de conhecimento das
pesquisas que desenvolve, ou concedido por a todos órgãos normativos dos
respectivos sistemas de ensino;
V - instituição relacionada ao mundo do trabalho, pública ou privada, de
comprovada qualidade, mediante credenciamento especial concedido por ato
do MEC, por meio de avaliação do Inep e deliberação do CNE, para oferta de
cursos de especialização na(s) área(s) de sua atuação e nos termos desta
Resolução.

35. Há de se ressaltar que as entidades que não se enquadravam na categoria de


Instituição de Ensino Superior - IES podiam obter o então denominado
“credenciamento especial” para ofertar cursos de Pós-Graduação Lato Sensu,
conforme previsto na Resolução CNE/CES nº 1/2007 e disciplinada pela Resolução
CNE/CES nº 5/2008. No entanto, com o advento da Resolução CNE/CES nº 4/2011 e
CNE/CES nº7/2011, tal possibilidade foi revogada.
36. A oferta de cursos de Pós-Graduação Lato Sensu por instituições não
educacionais sempre foi considerada pelo Conselho Nacional de Educação como
“uma exceção à regra geral de que as atividades formais de ensino, credenciadas
pelo CNE/MEC, constituem prerrogativa monopólica das Instituições de Educação
Superior” (Parecer CNE/CES nº 238/2009).
37. Se atentarmos para este assunto à vista dos comandos da LDB, é imperioso que
se observem os termos finais do inciso III, do seu art. 44, abaixo incorporados e
destacados, em que se conclui que o credenciamento especial, concedido a
instituições não-educacionais, constituiu exceção ao regramento legal,
caracterizando-se como uma permissão especial que precisava ser extinta, razão
pela qual procedem os argumentos desenvolvidos no Parecer CNE/CES nº 238, de
7/8/2009, para que seja obedecido, em sua integridade, o seguinte comando dessa
Lei.

Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas: III -


de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado,
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cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos


diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das
instituições de ensino;

38. À luz dessa realidade e das sucessivas normas que desde 1998 autorizavam esses
credenciamentos, infringiam a própria LDB (art. 9º, § 1º). O aparato regulatório da
LDB se destina à educação regular, formal, em ambientes devidamente estruturados
e credenciados academicamente como IES. Por outro ângulo, mesmo que essa Lei
tenha previsto situações experimentais em seu art. 819, o que poderia ser aplicado
ao caso, ainda que por analogia, esse tipo de credenciamento não se mostrou
adequado e, por isso, os relatores estão convencidos de que tais deliberações não
encontram respaldo na LDB, além de confrontarem diretamente com o art. 44 da
LDB.
39. Segundo o Parecer CNE/CES nº 18/2010 que apresenta o mesmo debate, “Para
a Administração, trata-se de inconveniência; para a organização não-educacional
(Não-IES) que oferta cursos de especialização, a única diferença entre ser ou não
ser “credenciada especialmente” é o benefício chamado por muitos de “chancela”
oficial do MEC.”
40. Melhor sorte não ampare o §4º do artigo 2º ao se permitir convênio ou termo de
parceria entre IES e não IES, in verbis:

Artigo 2º: (...)


§ 4º Fica permitido convênio ou termo de parceria congênere entre instituições
credenciadas e entre credenciadas e não credenciadas para a oferta de Curso
de Especialização, desde que a instituição certificadora se responsabilize e
assuma a realização do curso.

41. No que tange à oferta fora da sede da IES de cursos de Pós-Graduação Lato
Sensu em nível de especialização, o CNE entende que as instituições regularmente
credenciadas possuem liberdade para ofertar os referidos cursos, de maneira
presencial, em qualquer área do saber e em localidade/município diverso daquele
constante na Portaria que a credenciou, conforme disposto no Parecer CNE/CES
nº 263/2006.
42. Observa-se, porém, que somente será regular a oferta pela IES de curso de Pós-
Graduação Lato Sensu em nível de especialização em município diverso da
abrangência geográfica do ato de credenciamento em vigor se for feita de forma
direta. Ou seja, a IES credenciada deverá se responsabilizar diretamente pela
contratação e definição do perfil do corpo docente, organização didático-
pedagógica do curso ofertado, integralização do mesmo, relação das disciplinas,
carga horária oferecida e demais requisitos que demonstrem a presença de
qualidade inerente à sua atuação em sua sede e pela qual obteve autorização do
MEC para funcionamento.
43. É necessário esclarecer que a legislação educacional vigente já prevê a
possibilidade de oferta de cursos superiores na modalidade de Ensino a Distância -
EaD por meio de parceria de Instituição de Educação Superior- IES credenciadas
com entidades consideradas como não-IES, porém não contempla em sua estrutura
esta informação, caso que se repete nesta nova resolução. Ressalta-se que são
constantes as demandas encaminhadas por autoridades judiciais questionando a
regularidade de convênios e termos de parcerias.
44. O artigo 7º determina:
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Art. 7º O corpo docente de Curso de Especialização será constituído


preferencialmente por, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) de portadores
do título de pós-graduação stricto sensu, obtido em programa devidamente
reconhecido pelo poder público, ou revalidado no caso de diploma obtido no
exterior, da mesma grande área, de área correlata, interdisciplinar ou
profissional do curso em que vai ministrar aulas ou orientar monografia.
§ 1º Os demais membros do corpo docente serão portadores, no mínimo, de
certificado obtido em Curso de Especialização da mesma área, área correlata,
interdisciplinar ou profissional do curso em que lecionará.
§ 2º Para fins de cumprimento do art. 66 da Lei nº 9.394, de 1996, para o
exercício do magistério superior, a formação mínima recomendável será a
obtida em Curso de Especialização, organizado e desenvolvido nos termos
desta Resolução, cuja matriz curricular conterá, no mínimo, 120 (cento e
vinte) horas que serão dedicadas a disciplinas ou atividades de conteúdo
pedagógico.
§ 3º Cada membro do corpo docente, observada a expertise de sua
qualificação, poderá lecionar apenas 1/3 (um terço) das disciplinas previstas
na matriz curricular do curso por turma.

45. Neste caso, verifica-se que o índice mínimo de 50% (cinquenta por cento) de
docentes portadores de diploma stricto sensu poderia exceder o número de
profissionais disponíveis no mercado de trabalho. Para que seja definido um índice
mínimo torna-se imperioso a realização de estudos sobre o tema, comprovando a
existência de profissionais titulados com diplomas Stricto Sensu disponíveis para
pertencer aos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu ofertado a nível regional e
nacional por IES e não-IES.
46. No que concerne ao artigo 11, in verbis:

Art. 11. As IES que oferecerem cursos de mestrado ou de doutorado poderão


conceder certificado de Especialização a estudante que não concluir a
dissertação ou a tese, nas seguintes condições:
a) integralização dos créditos das disciplinas prevista para o curso de pós-
graduação stricto sensu respectivo;
b) aprovação em exame de qualificação do respectivo curso de pós-graduação
stricto sensu;
c) previsão desta prerrogativa no regulamento do curso de pós-graduação
stricto sensu.

47.Neste caso, ressalta-se que temas vinculados a cursos de Pós-Graduação Stricto


Sensu são de competência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), fundação do Ministério da Educação (MEC), que desempenha
papel fundamental na expansão e consolidação da pós-graduação em todos os
estados da Federação. Neste caso, devem ser observadas as competências e
diretrizes estabelecidas pelo Decreto nº 7692 de 02/03/2012, principalmente nas
questões de avaliação destes cursos.
48. Outro tema que envolve este artigo perpassa pela obrigatoriedade da inscrição
dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu no Cadastro Nacional de Cursos de Pós
Graduação Lato Sensu para que as mesmas sejam consideradas regulares, in verbis:

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Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

Art. 1º Decorrido o prazo previsto no Art. 1º da Instrução Normativa nº 4, de


28 de agosto de 2014, da SERES, serão considerados irregulares os cursos de
pós-graduação lato sensu não inscritos, de forma tempestiva, no Cadastro
Nacional de Cursos de Especialização que apresentarem, cumulativamente, as
seguintes características:
I. ofertados, na modalidade presencial ou à distância, por instituições de
educação superior (IES) credenciadas no Sistema Federal Ensino; e
II. ofertados a partir de janeiro de 2012 e vigentes até 2 de março de 2015.
Art. 2º As IES do Sistema Federal de Ensino deverão, a partir da publicação
desta Instrução Normativa, inscrever, no Cadastro Nacional de Cursos de
Especialização, os cursos de pós-graduação lato sensu (especialização)
ofertados a partir de 2 de março de 2015.
§ 1º As IES deverão inscrever os novos cursos de pós- graduação lato sensu
(especialização) no Cadastro Nacional de Cursos de Especialização em até 60
(sessenta) dias a contar do início da oferta, definido esse pelo início efetivo
das aulas, e dentro do ano corrente

49. Portanto, estamos diante de uma possível antinomia visto que as regras
apresentadas estão aparentemente em conflito. No mínimo, podemos observar que há
uma aparente falta de clareza na norma sobre qual a conduta a ser seguida no caso.
50. Já o artigo 12 estabelece que estas Diretrizes Nacionais deverão ser aplicadas
ao Sistema de Ensino Militar quando da oferta de cursos de Pós-Graduação, in
verbis:

Art. 12. Os estudos realizados no sistema de ensino militar, exclusivos para


membros da corporação respectiva, poderão ser considerados equivalentes a
Curso de Especialização, desde que atendam aos requisitos previstos nos
dispositivos desta Resolução.

51. A LDB estabelece, em seu artigo 83 que o ensino militar é regulado por lei
específica, admitida a equivalência de estudos de acordo com as normas fixadas
pelos sistemas de ensino. Infere-se do dispositivo legal que o legislador ordinário
tão-somente permitiu a equivalência do ensino militar com o ensino ministrado pelo
sistemas de ensino, desde que observadas as normas de cada sistema.
52. No caso, a lei apenas autoriza a possibilidade da equivalência de estudos
militares com o estudo civil, e confere a cada sistema de ensino, individualmente, a
competência para estabelecer o procedimento para tanto.
53. Portanto, depreende-se que o ordenamento jurídico reconhece a equivalência do
ensino superior ao nível de educação superior, de acordo com as normas fixadas por
cada sistema de ensino. No caso específico do exército brasileiro, com a Lei nº 9786
de 08/02/1999, foi instituído o Sistema de Ensino Militar, com características
próprias, com a finalidade de qualificar recursos humanos, desempenho e funções e
organizações e como tal elaboração de regulamentação própria de equivalência de
estudos.

III. Conclusão
54. [...] considerando o disposto no Parecer CNE/CES nº 245/2016, esta
Coordenação entende que há possíveis pontos de conflito com o ordenamento
jurídico hoje vigente, razão pela qual sugere o encaminhamento desta Nota ao
Conselho Nacional de Educação a título de consulta, antes de emitir
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Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

posicionamento definitivo sobre o tema no regular trâmite de homologação do


multicitado Parecer.

Paralelamente, o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), por


meio do Ofício nº 097/2016 – P, emitiu as seguintes considerações:

[...] consideramos pertinente a reavaliação do Parecer CNE/CES Nº 245/2016 [...],


bem como a reabertura de um diálogo profícuo junto ao CNE, especialmente junto à
Câmara de Educação Superior, para que se construa um documento que reflita a
importância estratégica da pós-graduação Lato Sensu para o desenvolvimento da
educação no Brasil.

Na sequência, manifestou-se novamente a SERES, afirmando, por meio da Nota


Técnica nº 352/2016, que:

[...] em análise das Diretrizes Nacionais indicadas na Resolução, verificou a


necessidade de que o texto pudesse esclarecer e detalhar questões que têm sido objeto
de questionamentos de instituições de ensino superiores públicas e particulares, como,
por exemplo, relativas à: tipologia de instituições aptas a ofertar cursos de pós-
graduação Lato Sensu; divisão das competências e autonomia dos Sistemas de Ensino
dos Estados; oferta de cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em nível de
especialização fora da sede da IES; critérios relativos à composição do corpo
docente; obrigatoriedade da inscrição dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu no
Cadastro Nacional de Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu para que as mesmas
sejam consideradas regulares. [...] Considerando a importância da matéria e o
impacto no Sistema de Educação Superior, esta Coordenação devolve o presente
processo à CONJUR/MEC com a sugestão de que seja solicitado reexame do Parecer
CNE/CES nº 245/2016 pelo CNE, a juízo do Gabinete do Senhor Ministro da
Educação.

Em 3/11/2016, a CONJUR/MEC emitiu o Parecer nº 01375/2016/CONJUR-


MEC/CGU/AGU, em que sugeriu:

[...] a restituição dos autos ao Gabinete do Ministro, via Secretaria Executiva,


para que proceda à devolução do processo ao Conselho Nacional de Educação, a fim
de que aquele colegiado proceda ao reexame do Parecer CNE/CES nº 245/2016, haja
vista as considerações apontadas pela Secretaria de Regulação e Supervisão da
Educação Superior [...].

O Ministro de Estado da Educação, por meio do Ofício nº 294/2016-GM/MEC,


encaminhou os autos em apreço ao CNE, para que o Colegiado promovesse o reexame do
Parecer CNE/CES nº 245/2016.
Pelos motivos acima expostos, o referido Parecer juntamente com o respectivo projeto
de resolução, retornou ao CNE, sendo distribuído a este Relator em 8/12/2016 para a devida
apreciação.
Eis a síntese do necessário. Passo, então, às minhas considerações.

20
Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

3. Considerações do relator

Como se extrai do relatório destes autos, o Parecer CNE/CES nº 245/2016 retornou a


esta Câmara para reexame, por meio do Ofício nº 294/2016-GM/MEC, em virtude do Parecer
nº 01375/2016/CONJUR-MEC/CGU/AGU, fundamentado nos destaques apontados,
inicialmente, pela Nota Técnica nº 282/2016 e, posteriormente, pela Nota Técnica nº
352/2016, ambas emanadas pela SERES.
As análises feitas tanto pela Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação
Superior quanto pela Consultoria Jurídica do MEC, apresentam eventuais “pontos
conflitantes” entre o ordenamento jurídico, então vigente, e o Projeto de Resolução do Parecer
CNE/CES nº 245/2016.
Os assim denominados “pontos conflitantes” são apresentados na Nota Técnica nº
282/2016 em forma de questionamentos relacionados a possíveis contradições entre o texto
proposto e a legislação educacional em vigor.
Desse modo, para melhor compreensão, passo a destacar sete tópicos, objeto de
questionamentos diversos e que ensejaram a devolução para reexame do parecer em tela.

Tópico 1o: Possível interferência em competências dos sistemas estaduais, Distrito


Federal e municipais de ensino – art. 2º, inciso III, do Projeto de Resolução.

Art. 2º O Curso de Especialização poderá ser oferecido por:


(...)
III - Escola de Governo (EG) criada e mantida por instituição pública, no
âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na forma do art.
39, § 2º da Constituição Federal de 1988, e do art. 4º do Decreto nº 5.707, de 23 de
fevereiro de 2006, precipuamente para a formação continuada de servidores públicos,
mediante credenciamento especial concedido por ato do Ministério da Educação
(MEC), por meio de avaliação do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep) e de deliberação do CNE, ou concedido por ato dos órgãos
normativos dos respectivos sistemas de ensino;

Sobre esse ponto a SERES consignou: Os Sistemas de Ensino da União, do Distrito


Federal, dos Estados e dos Municípios devem organizar-se de forma autônoma e suas normas
se dirigem às instituições a eles pertencentes. Portanto, não cabe ao Conselho Nacional de
Educação, alcançar em sua norma os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Comentário do Relator: A observação apontada pela nota técnica, de fato, procede,


mas apenas parcialmente. Isto porque para os casos de oferta de pós-graduação lato sensu a
distância, entendo sim que a norma deve alcançar todos os sistemas de ensino, conforme o
disposto no Decreto nº 9.057/2017 e pela Portaria Normativa MEC nº 11/2017. Se
entendermos que as duas normas legais ora citadas, por si, sejam suficientes para a
interpretação da oferta a distância de cursos de pós-graduação lato sensu, a referência aos
demais sistemas de ensino no texto da Resolução, à exceção do sistema federal, de fato, se
torna desnecessária. De qualquer forma, para evitar o estabelecimento de qualquer polêmica
estéril em torno do tema debatido, proponho a retirada da referência aos demais sistemas,
restando mantida a menção apenas ao sistema federal de educação.

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Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

Tópico 2o: Referência ao Credenciamento Especial – art. 2º, incisos IV e V, do


Projeto de Resolução.

Artigo 2º: (...)


IV- instituição de pesquisa científica ou tecnológica, pública ou privada, de
comprovada qualidade, mediante credenciamento especial concedido por ato
do MEC, por meio de avaliação do Inep e deliberação do CNE, para oferta de
Curso de Especialização na(s) grande(s) área(s) de conhecimento das
pesquisas que desenvolve, ou concedido por a todos órgãos normativos dos
respectivos sistemas de ensino;
V - instituição relacionada ao mundo do trabalho, pública ou privada, de
comprovada qualidade, mediante credenciamento especial concedido por ato
do MEC, por meio de avaliação do Inep e deliberação do CNE, para oferta de
cursos de especialização na(s) área(s) de sua atuação e nos termos desta
Resolução.

Sobre esses pontos a SERES consignou: Ainda em análise as referidas Diretrizes


Nacionais, verifica-se que a inclusão do inciso IV e V do artigo 2º apresenta contradição
com as discussões emanadas pelo próprio CNE no que diz respeito as “especialmente
credenciadas [...] Há de se ressaltar que as entidades que não se enquadravam na categoria
de Instituição de Ensino Superior - IES podiam obter o então denominado “credenciamento
especial” para ofertar cursos de Pós-Graduação Lato Sensu, conforme previsto na
Resolução CNE/CES nº 1/2007 e disciplinada pela Resolução CNE/CES nº 5/2008. No
entanto, com o advento da Resolução CNE/CES nº 4/2011 e CNE/CES nº7/2011, tal
possibilidade foi revogada.

Comentário do Relator: De fato, a oferta de cursos de pós-graduação lato sensu por


instituições não educacionais sempre foi considerada pelo Conselho Nacional de Educação
como uma exceção à regra geral de que as atividades formais de ensino, credenciadas pelo
CNE/MEC, constituem prerrogativa monopólica das Instituições de Educação Superior
conforme afirma o Parecer CNE/CES nº 238/2009, o que foi totalmente extinto a partir da
Resolução CNE/CES nº 7/2011.
No entanto, a excepcionalidade de credenciamento conferida às chamadas Escolas de
Governo não encontra, no texto da referida Resolução, nenhuma denominação específica de
credenciamento, seja especial, seja exclusivo. A pergunta que restaria à Resolução CNE/CES
nº 7/2011, referida na contestação da nota técnica, seria: “qual a tipologia do credenciamento
das Escolas de Governo, uma vez que estas não se constituem como Instituições de Ensino?”
Esse vazio semântico, a meu ver, além de legitimar a atuação do CNE no exercício de sua
atribuição normativa, conforme dispõe o artigo 7º da Lei nº 4.024/1961, com redação mantida
pela Lei nº 9.131/1995, abre oportunidade para outras excepcionalidades de credenciamento
lato sensu, para além de instituições credenciadas para graduação: os institutos de pesquisa e
as instituições ligadas ao mundo do trabalho, ambas inscritas nos incisos IV e V do artigo 2º
da proposta de resolução do Parecer CNE/CES nº 245/2016.
O Decreto nº 9.235/2017, aparentemente, amplia a complexidade que envolve o tema,
uma vez que no artigo 29 permite a oferta de pós-graduação lato sensu às instituições de
ensino credenciadas para oferta de graduação e às instituições ofertantes de programas de pós-
graduação stricto sensu. O caput do artigo 29 permite a oferta de pós-graduação lato sensu às
IES credenciadas para oferta de cursos de graduação. Os parágrafos do mencionado artigo
ampliam o escopo para também permitir a oferta de pós-graduação lato sensu por instituições
que ofertem pós-graduação stricto sensu, conforme seu § 1º. Na sequência o § 2º explicita o
22
Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

caput para dizer que a oferta de pós-graduação lato sensu, por IES, está condicionada à oferta
de pelo menos um curso de graduação.
Assim, o Decreto nº 9.235/2017 não exclui nem veda expressamente a possibilidade
de oferta de pós-graduação lato sensu por outras instituições, até porque essas outras
instituições podem ser destinatárias de normas específicas que permitam a elas essa oferta,
que é exatamente o que ocorre com as instituições especializadas e com as instituições do
mundo do trabalho.
Rigorosamente, quando se trata de instituições especializadas (a exemplo dos
institutos de pesquisa) e de instituições ligadas ao mundo do trabalho, não há sequer o que
falar em excepcionalidade, pois a regra extraída dos artigos 39 e 40 da Lei nº 9.394/1996
assegura a elas atuação e oferta regular de cursos de pós-graduação lato sensu.
Isso porque o Decreto nº 9.235/2017 possui natureza de norma regulamentadora, e ao
dispor sobre a regulação e a supervisão da educação superior não pode inviabilizar condição
ou garantia inserta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Primeiro, em razão de sua estatura jurídica inferior. Não pode o decreto restringir ou
ampliar o que está estabelecido na lei.
Segundo, porque não podem existir no marco regulatório garantias incompatíveis, ou
seja, segundo as regras de hermenêutica, na interpretação das normas cabe ao intérprete
estabelecer um ponto de equilíbrio de modo a compatibilizá-las. Isso significa, por exemplo,
que o exercício de uma garantia constitucional não pode inviabilizar ou tornar inócua outra
garantia também assentada na Carta Magna.
Desse modo, a atuação de institutos de pesquisa e de instituições ligadas ao mundo do
trabalho na oferta de pós-graduação lato sensu não pode ser restringida por vedação contida
no Decreto nº 9.235/2017, posto que se trata de atuação assegurada pelo artigo 40 da LDB.
Ao contrário, essa atuação deve ser regulamentada, como está a fazer esse Colegiado, no
exercício de sua competência normativa, por meio do Projeto de Resolução anexo ao Parecer
CNE/CES nº 245/206.

Tópico 3o: Convênios ou termos de parceria – art. 2º, § 4º do Projeto de


Resolução.

Artigo 2º: (...)


§ 4º Fica permitido convênio ou termo de parceria congênere entre
instituições credenciadas e entre credenciadas e não credenciadas para a
oferta de Curso de Especialização, desde que a instituição certificadora se
responsabilize e assuma a realização do curso.

Sobre esse ponto a SERES consignou: Melhor sorte não ampare o §4º do artigo 2º
ao se permitir convênio ou termo de parceria entre IES e não IES.

Comentário do Relator: De fato, a redação do texto dá margem a interpretações


errôneas. O que se quis permitir eram os convênios entre instituições credenciadas e empresas
ou organismos, para que cursos pudessem ser exclusivos, os chamados cursos in company. O
texto do artigo foi ajustado conforme esse comentário.

Tópico 4o: Titulação do Corpo Docente – art. 7º do Projeto de Resolução.

Art. 7º O corpo docente de Curso de Especialização será constituído


preferencialmente por, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) de portadores
do título de pós-graduação stricto sensu, obtido em programa devidamente
23
Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

reconhecido pelo poder público, ou revalidado no caso de diploma obtido no


exterior, da mesma grande área, de área correlata, interdisciplinar ou
profissional do curso em que vai ministrar aulas ou orientar monografia.
§ 1º Os demais membros do corpo docente serão portadores, no mínimo, de
certificado obtido em Curso de Especialização da mesma área, área correlata,
interdisciplinar ou profissional do curso em que lecionará.

Sobre esse ponto a SERES consignou: Neste caso, verifica-se que o índice mínimo
de 50% (cinquenta por cento) de docentes portadores de diploma stricto sensu poderia
exceder o número de profissionais disponíveis no mercado de trabalho. Para que seja
definido um índice mínimo torna-se imperioso a realização de estudos sobre o tema,
comprovando a existência de profissionais titulados com diplomas Stricto Sensu disponíveis
para pertencer aos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu ofertado a (sic) nível regional e
nacional por IES e não - IES.

Comentário do Relator: Entendo que qualquer índice relativo à titulação docente


para definição do perfil do docente de cursos de pós-graduação lato sensu seja uma questão,
de fato, extremamente complexa. A complexidade passa por discussões, por exemplo, sobre
o perfil do professor de cursos ligados ao mundo do trabalho e de serviços; e sobre o caráter
de pós-graduação desses cursos e sua correlação com titulação stricto sensu. Por outro lado,
é também uma característica comum desses cursos o valor da experiência profissional, acima
da titulação e, em muitos casos, do notório saber dos professores. Entendo que esse índice
deve ser revisto.

Tópico 5o: Aproveitamento de créditos de cursos stricto sensu para cursos lato
sensu – art. 11 do Projeto de Resolução.

Art. 11. As IES que oferecerem cursos de mestrado ou de doutorado poderão


conceder certificado de Especialização a estudante que não concluir a
dissertação ou a tese, nas seguintes condições:
a) integralização dos créditos das disciplinas prevista para o curso de pós-
graduação stricto sensu respectivo;
b) aprovação em exame de qualificação do respectivo curso de pós-graduação
stricto sensu;
c) previsão desta prerrogativa no regulamento do curso de pós-graduação
stricto sensu.

Sobre esse ponto a SERES consignou: Neste caso, ressalta-se que temas
vinculados a cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu são de competência da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação do Ministério da
Educação (MEC), que desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da pós-
graduação em todos os estados da Federação. Neste caso, devem ser observadas as
competências e diretrizes estabelecidas pelo Decreto nº 7692 de 02/03/2012, principalmente
nas questões de avaliação destes cursos.

Comentário: Entendo haver grande equívoco no destaque apontado na Nota Técnica


nº 282/2016 da SERES. O artigo 11 da proposta de resolução só se refere ao stricto sensu de
forma indireta, não direta. Muito menos estabelece conflito de competências, até porque é
competência do CNE credenciar programas stricto sensu e autorizar seus cursos. A Capes é
órgão, sobretudo, de avaliação.
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Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

Os créditos de cursos não concluídos por discentes em programas de stricto sensu


também não são da competência avaliativa da Capes. Perante esse órgão eles são
simplesmente créditos inexistentes. Vale ressaltar que a competência para apreciação e
possível aproveitamento de créditos cursados em disciplinas de cursos stricto sensu é
exclusiva da instituição ofertante no âmbito de sua autonomia acadêmica.
O que o texto do artigo 11 da proposta de resolução destaca é justamente a
possibilidade de aproveitamento de créditos de curso stricto sensu em forma de concessão de
certificado de curso lato sensu, mediante critérios regimentais próprios. Portanto, a meu ver,
não procedem os argumentos a esse respeito constantes na referida nota técnica.

Tópico 6º: Inscrição de cursos no cadastro nacional de cursos de Pós Graduação


Lato Sensu

Sobre esse ponto a SERES consignou: Outro tema que envolve este artigo perpassa
pela obrigatoriedade da inscrição dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu no Cadastro
Nacional de Cursos de Pós Graduação Lato Sensu para que as mesmas sejam consideradas
regulares, in verbis:

Art. 1º Decorrido o prazo previsto no Art. 1º da Instrução Normativa nº 4, de


28 de agosto de 2014, da SERES, serão considerados irregulares os cursos de
pós-graduação lato sensu não inscritos, de forma tempestiva, no Cadastro
Nacional de Cursos de Especialização que apresentarem, cumulativamente, as
seguintes características:
I. ofertados, na modalidade presencial ou à distância, por instituições de
educação superior (IES) credenciadas no Sistema Federal Ensino; e
II. ofertados a partir de janeiro de 2012 e vigentes até 2 de março de 2015.
Art. 2º As IES do Sistema Federal de Ensino deverão, a partir da publicação
desta Instrução Normativa, inscrever, no Cadastro Nacional de Cursos de
Especialização, os cursos de pós-graduação lato sensu (especialização)
ofertados a partir de 2 de março de 2015.
§ 1º As IES deverão inscrever os novos cursos de pós- graduação lato sensu
(especialização) no Cadastro Nacional de Cursos de Especialização em até 60
(sessenta) dias a contar do início da oferta, definido esse pelo início efetivo
das aulas, e dentro do ano corrente

[...] Portanto, estamos diante de uma possível antinomia visto que as regras
apresentadas estão aparentemente em conflito. No mínimo, podemos observar que há
uma aparente falta de clareza na norma sobre qual a conduta a ser seguida no caso.

Comentário do Relator: Concordo com os argumentos trazidos pela Nota Técnica


nº 282/2016 da SERES. O artigo deve ser revisado segundo observações da Secretaria.

Tópico 7º: Equivalência entre estudos de pós graduação lato sensu e estudos
realizados nas instituições militares de ensino – art. 12 do Projeto de Resolução.

Art. 12. Os estudos realizados no sistema de ensino militar, exclusivos para


membros da corporação respectiva, poderão ser considerados equivalentes a
Curso de Especialização, desde que atendam aos requisitos previstos nos
dispositivos desta Resolução.

25
Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

Sobre esse ponto a SERES consignou: Já o artigo 12 estabelece que estas


Diretrizes Nacionais deverão ser aplicadas ao Sistema de Ensino Militar quando da oferta
de cursos de Pós-Graduação.
A LDB estabelece, em seu artigo 83 que o ensino militar é regulado por lei
específica, admitida a equivalência de estudos de acordo com as normas fixadas pelos
sistemas de ensino. Infere-se do dispositivo legal que o legislador ordinário tão-somente
permitiu a equivalência do ensino militar com o ensino ministrado pelo sistemas de ensino,
desde que observadas as normas de cada sistema.
[...]
Portanto, depreende-se que o ordenamento jurídico reconhece a equivalência do
ensino superior ao nível de educação superior, de acordo com as normas fixadas por cada
sistema de ensino. No caso específico do exército brasileiro, com a Lei nº 9786 de
08/02/1999, foi instituído o Sistema de Ensino Militar, com características próprias, com a
finalidade de qualificar recursos humanos, desempenho e funções e organizações e como tal
elaboração de regulamentação própria de equivalência de estudos.

Comentário do Relator: A menção ao ensino militar constante do artigo 12 do


Projeto de Resolução simplesmente se remete aos termos da Portaria Interministerial
MD/MEC nº. 1, de 26 de agosto de 2015, in verbis:

Art. 1o. Os cursos de pós-graduação lato sensu ministrados nas instituições militares
de ensino e na escola Superior de Guerra – ESG são equivalentes aos cursos de pós
graduação lato sensu definidos na Resolução no. 001/2001, alterada pela Resolução
no. 001/2007, as Câmara de educação Superior do Conselho Nacional de Educação,
[…]

Aliás, o relator do Parecer CNE/CES nº 245/2016, Conselheiro José Eustáquio


Romão, trouxe essa discussão de forma pormenorizada no texto do Parecer, como se
observa:

Este relator entende que prevalece o estabelecido na Portaria Normativa


Interministerial nº 18, de 2008, que, referenciada na Resolução nº 1, de 3 de abril de
2001 – ainda que alterada pela resolução nº 1, de 8 de junho de 2007 – trata de
equivalência de cursos nas instituições militares de ensino em nível de pós-graduação
e, neste sentido, nenhuma das normas mencionadas, nem qualquer outra, anulou os
efeitos da equivalência, sem falar que se trata de instituições militares de ensino.
É evidente que a equivalência, possível mediante o atendimento de
determinados dispositivos da Resolução CNE nº 1, de 2001, deverá atender, no que
couber, aos dispositivos correspondentes (exigência de título de graduação aos
cursistas, carga horária mínima, defesa obrigatória de monografia ou de trabalho de
conclusão de curso e composição de percentual de corpo com titulação de mestrado
e/ou doutorado).
Causa relativa espécie que, estando em vias de conclusão um Parecer que
contém uma minuta de Resolução que tenta atender à diversidade de interesses e
consolidar em uma única norma a especialização no País, a Comissão este relator
sejam surpreendidos pela nova Portaria Interministerial nº 1, de 26 de agosto de
2015, firmada entre o Ministério da Educação e o Ministério da Defesa que,
intempestivamente, s.m.j., estabeleceu a equivalência entre “os cursos de pós-
graduação lato sensu (sic) ministrados nas instituições militares de ensino e na Escola
Superior de Guerra – ESG aos cursos de pós-graduação lato sensu (sic) definidos na
26
Gilberto Garcia – 0023
PROCESSO Nº: 23001.000023/2013-32

Resolução nº 001/2001, alterada pela Resolução nº 001/2007, da Câmara de


Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, [...]”. Ora, as resoluções
mencionadas serão revogadas pela que se propõe neste Parecer, o que torna a
Portaria sem efeito. No entanto, depois de paciente e atenta audição aos reclamos e
demandas dos representantes das escolas militares, o relator destas DNs buscou
resolver definitivamente o problema da equivalência, sem a necessidade de periódicas
portarias interministeriais.

Entendo, pois, que independentemente dos termos da Lei nº 9.786 de 8 de fevereiro


de 1999, que instituiu o Sistema de Ensino Militar e que lhe atribui regulamentação própria
de equivalência de estudos, a referência ao ensino militar no artigo 12 do projeto de
resolução vai ao encontro da necessidade criada pela Portaria Interministerial MD/MEC nº
1/2015. Destaco que a citada Portaria Interministerial remete as condições da equivalência
do ensino militar aos termos definidos pela Resolução CNE/CES nº 1/2001, alterada pela
Resolução CNE/CES nº 1/2007. Agora, portanto, aos termos da nova Resolução.
Tendo concluído a análise de mérito dos, assim denominados, “eventuais pontos
conflitantes” citados na Nota Técnica nº 282/2016, bem como as possíveis contradições entre
o texto proposto e a legislação educacional em vigor, passo à conclusão de minhas
considerações.
Quero, ao finalizar este reexame, destacar e louvar o exaustivo e exemplar trabalho
dos conselheiros da comissão de 2013, cujo produto resultou no Parecer CNE/CES nº
245/2016, em especial a dedicação de seu relator, o Conselheiro José Eustáquio Romão,
brilhante historiador, cujo labor de pesquisa histórica sobre a matéria, tornou extremamente
leve e facilitador o trabalho de reexame do mesmo Parecer. Pude inserir devidamente a quase
totalidade de sua pesquisa na trajetória histórica do tema.
Atento, pois, à intensidade do caminho de construção do Parecer CNE/CES nº
245/2016, concluo, respeitosamente, esse reexame com os depoimentos celebrados pelos
membros da comissão original, incluídos no corpo do texto do Parecer, e que foram
submetidos, na ocasião, ao Plenário da Câmara de Educação Superior do CNE, antes de sua
aprovação final.
Segue o texto:

Depois da primeira reunião, a Comissão realizou mais de uma dezena de


reuniões, ora apenas com seus próprios membros, ora com convidados externos, como
foi o caso de representantes da Escola Superior de Administração Pública (Enap);
dos representantes das escolas das Forças Armadas; de representações das diversas
associações e instituições nacionais de categorias profissionais, que vêm
desenvolvendo cursos de pós-graduação lato sensu a partir das experiências do
mundo do trabalho; de institutos de pesquisa e congêneres, de renome nacional e
internacional, com larga experiência em universos específicos da pesquisa e que vêm
desenvolvendo, também, cursos de Especialização nas áreas de conhecimento das
pesquisas desenvolvidas.
Além dos segmentos mencionados, decidiu a Comissão convidar, para algumas
de suas reuniões, representantes do Ministério da Educação, de modo que se fosse
antecipando as possíveis interações entre as competências normativas do CNE com os
futuros procedimentos de avaliação, acreditação e supervisão, a cargo dos órgãos
responsáveis desse Ministério.
Em conclusão, esta relatoria chega à 28a versão deste Parecer e,
especialmente da minuta de resolução que vem elaborando, orientado pela disposição
de, na medida do possível, incorporar todas as contribuições pertinentes, que são
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originárias de todos os segmentos sociais do País, uma vez que se trata do esforço de
formular e estabelecer diretrizes nacionais para uma modalidade de formação de
recursos humanos importantes para toda a sociedade brasileira e que, portanto,
devem ter um horizonte mais lato na cobertura de todos os contextos nacionais, seja
na sua relação com a diversidade de interesses contemporâneos, seja na prospectiva
de seus compromissos com o presente mirando o futuro.
Inicialmente, a Comissão havia decidido não abranger a Residência Médica –
que sempre teve uma tradicional e específica relação com a Especialização. Ademais,
desenvolviam-se, simultaneamente, os trabalhos da Comissão encarregada da
elaboração das Diretrizes Nacionais dos Cursos de Graduação em Medicina que, por
força da Medida Provisória nº 621, de 8 de julho de 2013, transformada na Lei nº
12.871, de 22 de outubro de 2013, haveria implicações na Residência Médica e
alteraria vários dispositivos relativos às interfaces entre a pós-graduação lato sensu
e, mais especificamente, entre a Especialização, e as especialidades proporcionadas
pela Residência Médica. Não é, pois, prudente estabelecer, naquele momento, normas
sobre a Especialização e suas implicações com a Residência Médica, já que um novo
marco regulatório para os cursos de graduação em Medicina estava em elaboração.
Depois de ter reconsiderado sua posição inicial, considerando que o parecer
das Diretrizes Nacionais dos Cursos de Graduação em Medicina foi mais celeremente
concluído e aprovado na Câmara de Educação Superior (CES) do Conselho Nacional
de Educação (CNE), tornando possível verificar, naquela norma, quase todas as
características propostas para nova Residência Médica, a Comissão em tela pensou
em incluir neste Parecer, também, a Residência Médica no escopo de suas
determinações. Posteriormente, já no decorrer do ano de 2014, outros fatores vieram
a aconselhar o adiamento e o tratamento singular da área de saúde em geral, e a da
Medicina em especial, devendo a Comissão encarregada da elaboração das Diretrizes
Nacionais dos Cursos de Especialização pensar uma norma específica para a
Residência Médica e congêneres na área de saúde mais tarde.
Mantendo sempre o canal de comunicação com os vários segmentos do
Governo, especialmente com os dos Ministérios da Educação e da Saúde, bem como
com os da sociedade civil, especialmente com os da comunidade educacional
brasileira, o relator foi incorporando as sugestões que aperfeiçoavam a norma,
registrando, em cada nova versão, as contribuições que vinham de todos os lados,
evidentemente consolidando-as e descartando as que eram irreconciliáveis entre si e
com os interesses da maioria da população do País.
Novo apelo chegou à Comissão, no sentido de incorporar aspectos da
especialização na área de saúde, dada a publicação Decreto nº 8.497, de 4 de agosto
de 2015, que “Regulamenta a formação do Cadastro Nacional de Especialistas de que
tratam o § 4º e § 5º do art. 1º da Lei nº 6.932, de 7 de julho de 1981, e o art. 35 da Lei
nº. 12.871, de 22 de outubro de 2013”, revogado pelo Decreto nº 8.516, de 10 de
setembro de 2015, de ementa idêntica. Intenso intercâmbio foi estabelecido, então,
entre o relator desta norma e os “executivos” dos Ministérios da Educação e da
Saúde, no sentido de que estas DCNs cobrissem também os problemas mais
específicos decorrentes da relação entre a pós-graduação lato sensu e as residências
da área de saúde, especialmente as da Medicina. No entanto, dado o exame mais
detalhado que esta relação entre a Especialização e à Área de Saúde exige, a
Comissão deliberou, por unanimidade, retirar da minuta resultante deste Parecer
toda e qualquer regulamentação da matéria, deixando-a para norma específica.
Além das inúmeras reuniões específicas dos membros da Comissão, agentes
públicos e atores sociais, interessados no tema, representando todos os segmentos
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sociais de alguma maneira envolvidos na formação de especialistas pós-graduados


lato sensu, foram convidados os dirigentes dos diversos órgãos de ministérios,
particularmente os da Educação para a discussão das minutas elaboradas pelo
relator destas Diretrizes que, por meio de um diálogo profícuo, lhe aportaram ricas,
adequadas e oportunas contribuições. Basta dizer que esta é a vigésima oitava versão
do Parecer sobre as Diretrizes Nacionais para os Cursos de Pós-Graduação Lato
Sensu Especialização, a ser submetido à egrégia Câmara de Educação Superior do
Colendo Conselho Nacional de Educação, para, em sendo aprovado, seja submetido à
homologação do Exmº Sr. Ministro de Estado da Educação, com a minuta de
resolução anexada, que passa a integrá-lo.

Assim, levando-se em conta a necessidade de se eliminar ambiguidades atuais no


campo da prática de cursos de pós-graduação lato sensu, considerando o papel do Estado em
avaliar e supervisionar a oferta formal de cursos superiores e considerando a importância
estratégica dos cursos de pós-graduação lato sensu para o Estado e para a sociedade brasileira,
proponho aos pares da Câmara de Educação Superior do egrégio Conselho Nacional de
Educação este parecer, que examina o Parecer CNE/CES nº 245/2016, e seu respectivo
Projeto de Resolução.

II – VOTO DO RELATOR

Voto favoravelmente ao reexame do Parecer CNE/CES nº 245/2016 e de seu


respectivo Projeto de Resolução, e à aprovação das Diretrizes Nacionais dos Cursos de Pós-
Graduação Lato Sensu Especialização na forma deste Parecer e do Projeto de Resolução,
anexo, do qual é parte integrante.

Brasília (DF), em 8 de março de 2018.

Conselheiro Gilberto Gonçalves Garcia– Relator

III – DECISÃO DA CÂMARA

A Câmara de Educação Superior aprova, por maioria, o voto do Relator, com 1 (uma)
abstenção.
Sala das Sessões, em 8 de março de 2018.

Luiz Roberto Liza Curi – Presidente

Arthur Roquete de Macedo – Vice-Presidente

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR

PROJETO DE RESOLUÇÃO

Estabelece diretrizes e normas para a oferta dos


cursos de pós-graduação lato sensu denominados
cursos de especialização, no âmbito do Sistema
Federal de Educação Superior, conforme prevê o
Art. 39, § 3º, da Lei nº 9394/1996, e dá outras
providências.

O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação


(CNE), no uso de suas atribuições legais, com fundamento no art. 9º, § 2.º, alínea “h”, da Lei
nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 24 de
novembro de 1995, nos artigos 39, 40, 44 e 66 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
no Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017, e no Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro de
2017, e com fundamento no Parecer CNE/CES nº 146/2018, homologado por Despacho do
Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de xx de xxxx de 2018, resolve:

Art. 1º Cursos de pós-graduação lato sensu denominados cursos de especialização são


programas de nível superior, de educação continuada, com os objetivos de complementar a
formação acadêmica, atualizar, incorporar competências técnicas e desenvolver novos perfis
profissionais, com vistas ao aprimoramento da atuação no mundo do trabalho e ao
atendimento de demandas por profissionais tecnicamente mais qualificados para o setor
público, as empresas e as organizações do terceiro setor, tendo em vista o desenvolvimento do
país.
§ 1º Os cursos de especialização são abertos a candidatos diplomados em cursos de
graduação, que atendam às exigências das instituições ofertantes.
§ 2º Os cursos de especialização poderão ser oferecidos presencialmente ou a
distância, observadas a legislação, as normas e as demais condições aplicáveis à oferta, à
avaliação e à regulação de cada modalidade, bem como o Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI).
§ 3º Poderão ser incluídos na categoria de curso de pós-graduação lato sensu aqueles
cuja oferta se ajuste aos termos desta Resolução, mediante declaração de equivalência pela
Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.
Art. 2º Os cursos de especialização poderão ser oferecidos por:
I - Instituições de Educação Superior (IES) devidamente credenciadas para a oferta de
curso(s) de graduação nas modalidades presencial ou a distância reconhecido(s).
II - Instituição de qualquer natureza que ofereça curso de pós-graduação stricto sensu,
avaliado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),
autorizado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), na grande área de conhecimento do
curso stricto sensu recomendado e reconhecido, durante o período de validade dos respectivos
atos autorizativos.

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III - Escola de Governo (EG) criada e mantida por instituição pública, na forma do art.
39, § 2º da Constituição Federal de 1988, do art. 4º do Decreto nº 5.707, de 23 de fevereiro de
2006, credenciada pelo CNE, por meio de instrução processual do MEC e avaliação do
Instituto Nacional de Pesquisa Anísio Teixeira (Inep), observado o disposto na Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, no art. 30 do Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro de 2017, e no
Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017, no que se refere à oferta de educação a distância,
com atuação voltada precipuamente para a formação continuada de servidores públicos;
IV - Instituições que desenvolvam pesquisa científica ou tecnológica, de reconhecida
qualidade, mediante credenciamento exclusivo pelo CNE por meio de instrução processual do
MEC para oferta de cursos de especialização na(s) grande(s) área(s) de conhecimento das
pesquisas que desenvolve.
V - Instituições relacionadas ao mundo do trabalho de reconhecida qualidade,
mediante credenciamento exclusivo concedido pelo CNE por meio de instrução processual do
MEC para oferta de cursos de especialização na(s) área(s) de sua atuação profissional e nos
termos desta Resolução.
§ 1º Os cursos de especialização somente poderão ser oferecidos na modalidade a
distância por instituições credenciadas para esse fim, conforme o disposto no § 1º do art. 80
da Lei nº 9.394, de 1996, e o Decreto nº 9.057, de 2017.
§ 2º Fica permitido convênio ou termo de parceria congênere entre instituições
credenciadas para a oferta conjunta de curso(s) de especialização no âmbito do sistema federal
e dos demais sistemas de ensino.
Art. 3º O credenciamento de que tratam os incisos III, IV e V do artigo anterior para a
oferta de curso(s) de especialização lato sensu no âmbito do Sistema Federal de Educação
Superior será concedido pelo prazo máximo de 5 (cinco) anos, mediante deliberação do CNE
homologada pelo Ministro de Estado da Educação.
§ 1º A instituição credenciada poderá solicitar recredenciamento antes do vencimento
do prazo referido no caput.
§ 2º Os prazos de validade dos atos de recredenciamento serão fixados nas
deliberações do CNE, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos.
§ 3º O pedido de recredenciamento efetuado no prazo de validade do ato de
credenciamento, autoriza a continuidade das atividades da Instituição até deliberação final do
CNE sobre o pedido.
§ 4º Vencido o prazo do ato de credenciamento sem que a Instituição tenha solicitado
o recredenciamento, a oferta de novos cursos e a abertura de novas turmas devem ser
imediatamente suspensos.
§ 5º A avaliação e a deliberação sobre propostas de credenciamento e
recredenciamento exclusivo de Instituição para a oferta de cursos de especialização lato sensu
serão realizadas pelo CNE.
Art. 4º O credenciamento de que tratam os incisos III, IV e V do artigo 2º para a oferta
de cursos de especialização lato sensu na modalidade a distância observará o disposto na
legislação e normas vigentes, especialmente o Decreto nº 9.057/2017, bem como o prazo
previsto no caput do artigo 3º desta Resolução.
Art. 5º A oferta institucional de cursos de especialização fica sujeita, no seu conjunto,
à regulação, à avaliação e à supervisão dos órgãos competentes.
Art. 6º Os cursos de especialização serão registrados no Censo da Educação Superior e
no Cadastro de Instituições e Cursos do Sistema e-MEC, nos termos da Resolução CNE/CES
nº 2, de 2014, que instituiu o cadastro nacional de oferta de cursos de pós-graduação lato
sensu (especialização) das instituições credenciadas no Sistema Federal de Ensino.
Art. 7º Para cada curso de especialização será previsto Projeto Pedagógico de Curso
(PPC), constituído, dentre outros, pelos seguintes componentes:
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I - matriz curricular, com a carga mínima de 360 (trezentos e sessenta) horas, contendo
disciplinas ou atividades de aprendizagem com efetiva interação no processo educacional,
com o respectivo plano de curso, que contenha objetivos, programa, metodologias de ensino -
aprendizagem, previsão de trabalhos discentes, avaliação e bibliografia;
II - composição do corpo docente, devidamente qualificado;
III - processos de avaliação da aprendizagem dos estudantes;
Parágrafo único. Quando o curso de especialização tiver como objetivo a formação de
professores, observe-se o disposto na legislação específica.
Art. 8º Os certificados de conclusão de cursos de especialização devem ser
acompanhados dos respectivos históricos escolares, nos quais devem constar, obrigatória e
explicitamente:
I - ato legal de credenciamento da instituição, nos termos do art. 2º desta Resolução;
II - identificação do curso, período de realização, duração total, especificação da carga
horária de cada atividade acadêmica.
III - elenco do corpo docente que efetivamente ministrou o curso, com sua respectiva
titulação.
§ 1º Os certificados de conclusão de curso de especialização devem ser
obrigatoriamente registrados pelas instituições devidamente credenciadas e que efetivamente
ministraram o curso.
§ 2º Os certificados dos cursos ofertados por meio de convênio ou parceria entre
instituições credenciadas, serão registrados por ambas, com referência ao instrumento por elas
celebrado.
§ 3º Os certificados previstos neste artigo, observados os dispositivos desta Resolução,
terão validade nacional.
§ 4º Os certificados obtidos em cursos de especialização não equivalem a certificados
de especialidade.
Art. 9º O corpo docente do curso de especialização será constituído por, no mínimo,
30% (trinta por cento) de portadores de título de pós-graduação stricto sensu, cujos títulos
tenham sido obtidos em programas de pós-graduação stricto sensu devidamente reconhecidos
pelo poder público, ou revalidados, nos termos da legislação pertinente.
Art. 10 As instituições que mantêm cursos regulares em programas de stricto sensu
poderão converter em certificado de especialização os créditos de disciplinas cursadas aos
estudantes que não concluírem dissertação de mestrado ou tese de doutorado, desde que tal
previsão conste do regulamento dos respectivos programas institucionais e que sejam
observadas as exigências desta Resolução para a certificação.
Art. 11 Os estudos realizados no sistema de ensino militar, conforme a Portaria
Interministerial nº 1, de 26 de agosto de 2015, ministrados exclusivamente para integrantes da
respectiva corporação, serão considerados equivalentes a curso de especialização desde que
atendam, no que couber, aos requisitos previstos nos dispositivos desta Resolução.
Art. 12 Os cursos de especialização oferecidos com fundamento na Resolução
CNE/CES nº 1/2007 ou na Resolução CNE/CES nº 7/2011, iniciados ou cujos editais já
tenham sido publicados antes da vigência desta Resolução, poderão funcionar regularmente
até a conclusão das respectivas turmas, nos termos de seu PPC.
Art. 13 Os processos de credenciamento de que tratam os incisos III, IV e V do artigo
2º desta Resolução para a oferta de cursos de especialização lato sensu em tramitação nas
Secretarias do Ministério da Educação e no Conselho Nacional de Educação, ainda não
submetidos à avaliação in loco, observarão o disposto nesta Resolução.
Art. 14 Os atos autorizativos de credenciamento de que tratam os incisos III, IV e V
do artigo 2º desta Resolução para a oferta de cursos de especialização lato sensu com prazo

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determinado, ainda em vigor, permanecem válidos até o vencimento, podendo ser renovados,
nos termos desta Resolução.
Art. 15 Excluem-se desta Resolução:
I - os programas de residência médica ou congêneres, em qualquer área profissional da
saúde;
II - os cursos de pós-graduação denominados cursos de aperfeiçoamento, extensão e
outros.
Art. 16 Os casos omissos serão examinados pela Câmara de Educação Superior do
Conselho Nacional de Educação.
Art. 17 Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas
a Resolução CNE/CES nº 1, de 8 de junho de 2007, e a Resolução CNE/CES nº 7, de 8 de
setembro de 2011.

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