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Data: 19/04/2021

Disciplina: Metodologia da Pesquisa e do Ensino em Direito

Trabalho: Fichamento Modelo Resumo ou Conteúdo

Referência: BASTOS, Aurélio Wander. O Ensino Jurídico no Brasil. 2. ed. Rio de


Janeiro: Lumen Juris, 2000. P. 311-342.
A tradição de pesquisa jurídica e formação de docentes no Brasil é
relativamente recente. Segundo o professor Aurélio Wander Bastos, por muito
tempo se evitou a formação docente devido ao seu potencial de transformar-se em
crítica e questionamento acerca das instituições e, como consequência, o incentivo
a pesquisa jurídica por muito tempo não foi prioridade dentro das políticas públicas.

Os primeiros ensaios de ensino de alta qualificação jurídica são de 1827


quando, com a criação dos cursos jurídicos, estabeleceu-se que haveria também
um grau de doutor conferido aos que se habilitassem com os requisitos que estavam
dispostos no Estatuto.

Já em 1931 com a reforma Francisco Campos, observou-se uma


remodelação do modelo educacional de forma geral. Esta que foi a primeira reforma
educacional de caráter nacional, realizada pelo então Ministro da Educação e
Saúde, deu uma estrutura orgânica ao ensino secundário e superior. Estabeleceu
definitivamente o currículo seriado, a frequência obrigatória, o ensino em dois ciclos:
um fundamental, e outro complementar, e ainda a exigência de habilitação neles
para o ingresso no ensino superior.

Essa reforma também definiu o doutorado como um sistema de estudos de


disciplinas predefinidas, duração determinada e com a necessidade de
apresentação de tese. Por outro lado, o doutorado não estava expressamente
vinculado a carreira de docência. Esta reforma estimulou o aparecimento de
docentes doutores dentro das faculdades de Direito da época, mas não foi suficiente
para que se exigissem este “grau” para o ofício já que não havia grande oferta de
vagas para esses estudos nem de pessoas habilitadas ou dispostas. Ressaltasse
aqui que como muitos alunos não estavam aptos ao doutorado, o modelo acabou
evoluindo para os cursos de especialização com grande número de alunos.

Posteriormente, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei


nº 4.024/61) combinada com a Lei da Reforma Universitária (Lei nº 5.540/68),
estabelece-se de forma explicita que nas universidades e demais estabelecimentos
de ensino superior poderão ser ministrados os cursos de pós-graduação, aberto à
matrícula de candidatos diplomados em curso de graduação; cursos de
especialização e aperfeiçoamento; e de extensão e outros. Aqui, segundo
estabelece a lei, o Conselho Federal de Educação poderia conferir o título de Doutor
diretamente por defesa de tese a candidatos de alta qualificação. Destaco que as
mencionadas reformas em nada mencionaram sobre a livre docência, muito
provavelmente com o intuito de definir o acesso a carreira de docente por meio dos
cursos de pós-graduação.

De forma mais recente, à docência foi abordada de forma brilhante pelos


pareceres nº 977 de 1965 e nº 269 de 1967, ambos do Conselho Federal de
Educação produzidos por Newton Sucupira. Estes dois pareceres se preocupavam
em impedir que houvesse a expansão do ensino jurídico sem que houvesse uma
política eficaz de formação de mestres e doutores.

O parecer nº 977, além de estabelecer a diferença entre pós-graduação lato


senso e strico senso, traz importantes conclusões que viraram princípios indicativos.
As conclusões do parecer se mostram como princípios indicativos da forma
como deve ser regulamentada a implantação da pós-graduação no Brasil. Este é o
marco inicial da institucionalização da pós-graduação no Brasil. Mas a
regulamentação propriamente dita ocorreu com o parecer do Conselho Federal de
Educação de nº 77 de 1969 que estabeleceu as normas do credenciamento dos
cursos de pós-graduação. O parecer 77 se preocupou, por exemplo, em indicar as
condições de edificações destes lugares, a capacidade financeira, a exigência de
qualificação do corpo docente entre outras coisas.
O que se observa é que ao passo que o Parecer 977 conceituou a pós-
graduação, o parecer 77 regulamentou a implantação desta. A partir deste marco e
ao longo da década de 1970 desencadeou-se o processo de abertura e expansão
dos programas de pós-graduação no Brasil.

Nesse contexto, então, começam a se instalar os cursos de Mestrado e


Doutorado no Brasil. Como observa José Ribas Vieira, as pós-graduações em
Direito cresceram sem estar organicamente articuladas a uma demanda de
investigação científica.

O catálogo de Cursos Capes de 1976 demonstra que naquele ano existiam


761 cursos em funcionamento dos quais 222 eram da área de Ciências Humanas e
Sociais dentre os quais, 10 estavam na área de Direito, demonstrando que apesar
de toda evolução, até aquele momento ainda não havia tanto incentivo à formação
de mestres e doutores na área jurídica. Prova disso é o relatório de Joaquim de
Arruda Falcão Neto relativo aos anos de 1973 e 1974. O relatório apontava que,
dentre outras coisas, inexistia pesquisa na área jurídica no Brasil e nem
disponibilidade de professores para essa atividade.

Nesse contexto, o curso de Direito da Puc-RJ inovou ao estabelecer, com a


ajuda de outras instituições, um sistema de bolsas e remuneração para professores
convidados e alunos do Brasil inteiro. Esse sistema se tornou padrão sendo seguido
por diversas universidades nos anos posteriores. Até dezembro de 1994 já se
contava com 1.669 alunos em cursos de mestrado, 346 em doutorado, 153 mestres
e 32 doutores.

Em 1983 a resolução nº5 o CFE que tomou por base o parecer nº 600 de
1982 fixou as normas para o credenciamento dos cursos de pós-graduação,
alterando algumas diretrizes do parecer nº 77. Destaca-se que esta nova resolução
determinou que o objetivo da pós-graduação seria a formação de pessoal
qualificado para o exercício de atividades de pesquisa e magistério superior nos
campos das ciências, filosofia, artes e tecnologia. Definia-se assim a base da pós-
graduação: a pesquisa.
A pesquisa jurídica, no entanto, ainda era algo novo e não tão usual. Duras
críticas foram feitas às pós-graduações jurídicas no documento “avaliação e
Perspectiva (área de Direito) de 1982” afirmando que as faculdades de direito ainda
estavam fechadas à pesquisa jurídica. Para se ter ideia, em 1986 havia 16 cursos
de pós-graduação em Direito, mas nem todos desenvolviam atividades de pesquisa.

Naquela época os estudos do Direito se voltavam para reprodução de


institutos já consolidados e não para sua crítica a partir de novos fatos sociais ou
posicionamento de tribunais, por exemplo. Uma das razões para tanto era a pouca
interdisciplinaridade. Até aquele momento poucas universidades buscavam essa
associação com outras disciplinas e por isso, em geral, as pós-graduações em
direito não colaboravam de maneira concreta com pesquisas e teses para o
desenvolvimento jurídico do país.

Aurélio Wambier Bastos afirma que o grande problema da pós-graduação em


Direito é convencer que ela se destina à formação de professores doutores ou
mestres e não a suprir deficiência de mercado de juízes, promotores e advogados.
Há de se superar essa ideia para que se possa superar a ideia de que na academia
jurídica só se reproduz, não se crítica e não se apontam novos caminhos. As pós-
graduações de Direito não podem ser meras reproduções de conhecimento jurídico.
Deve haver produção de conhecimento jurídico.

Há aí, então, uma crise que, além de tudo, ainda tem que conviver com
carência de professores, de bolsas de estudos, bibliotecas insuficientes etc.

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