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FACULDADE AUTÔNOMA DE

DIREITO-FADISP

Mestrado em Função Social do Direito


Disciplina: METODOLOGIA DE PESQUISA E DO ENSINO DO DIREITO
Professor Dr.: Lauro Ishikawa
Mestranda: Circe Maria Lima Gandra Baptista
A PESQUISA JURÍDICA E A
PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL
Introdução
Pesquisar é quase que sinônimo de estudar, significando quando muito, uma forma
especial de fazer estudo. O advogado que melhor estuda para fundamentar sua
argumentação no processo faz pesquisa, sem dúvida. Indubitavelmente o trabalho de
pesquisa é mais ambicioso, apresentando-se de forma sistemática, com pretensões
de racionalidade e aplicação generalizada. ⁸

Estudos mostram a implementação da pesquisa jurídica no Brasil, vindo a reboque


de uma política de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) implantada
entre os anos 1960 e 1970, da quais o Parecer/CFE no 977/1965 é um dos marcos
referenciais mais importantes. A grande verdade é que nas Ciências Jurídicas a pós-
graduação cresceu sem estar organicamente articulada com a investigação científica
e com o ensino jurídico em nível de graduação. ⁹
A pós-graduação strictu sensu é uma etapa da educação formal e está
diretamente ligada aos demais níveis de ensino, uma vez que seus alunos são
oriundos das etapas de ensino anteriores. Em 40 anos, a pós-graduação
brasileira passou de 699 cursos em 1976, para cerca de 6131 em 2016, um
crescimento de mais de 800%. ¹⁰

Este trabalho tem por objetivo principal relatar os marcos da pesquisa jurídica e
a pós-graduação no Brasil. Para tanto, foi dividido em etapas: o capítulo 1 trata
das fases vivenciadas para a formação de professores para o ensino superior de
Direito no Brasil; o capítulo 2 trata das instalações do curso de pós-graduação
no Brasil; o capítulo 3 trata das pesquisas jurídicas no Brasil; por fim, o capítulo
4 trata da Constituição da República de 1988.
1. Fases vivenciadas para a formação de professores para o ensino
superior de Direito no Brasil ¹

 A que sucede à implantação dos cursos jurídicos no Brasil (1827);

 A que sucede à Reforma Francisco Campos (1931);

 A subsequente à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1961, combinada com a


Reforma Universitária de 1968/1969.

Com a lei de 11 de agosto de 1827 houve a criação dos cursos jurídicos, a qual em seu art.
9º estabeleceu: “Os que frequentarem os cincos anos de qualquer dos cursos (Olinda ou
Recife), com aprovação, conseguirão o grau de bacharéis formados. [...]” As reformas
sucessivas não modificaram substancialmente esse quadro. Esta orientação prevaleceu até a
República, cujas leis ou decretos sobre o ensino jurídico não destacaram a questão docente
ou do doutorado. ¹
A segunda fase, que sucede à Reforma de Francisco Campos (1931), sistematizou e
definiu o doutorado como um sistema de estudos de disciplinas predefinidas, com
duração determinada e com defesa de tese real, valor técnico ou puramente científico.
Ressalte-se que esse curso de doutorado não estava explicitamente vinculado ao acesso
à carreira docente, só em 1935 tornou-se uma disposição opcional para as faculdades,
pela enorme falta de professores e de novos docentes. ¹

Próxima e terceira fase, a qual se inaugura com a publicação da Lei nº 4.024 de 20 de


dezembro de 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 69
dispôs: “Nas universidades e nos estabelecimentos isolados de ensino superior poderão
ser ministradas as seguintes modalidades de curso: a) de graduação; b) de pós-
graduação, [...]; c) de especialização e aperfeiçoamento [...]; d) de extensão e outros
[...].” ¹
 A Reforma de Francisco Campos reconheceu o papel da livre-docência no
ensino superior brasileiro.

 O Parecer CFE nº 977 de 1965 (sobre o conceito de pós-graduação) ² e o


Parecer CFE nº 269 de 1967 (sobre a livre docência) ³, do Conselheiro
Newton Sucupira, tornaram-se o marco da educação de pós-graduação no
Brasil moderno.
2. Das instalações do curso de pós-graduação no Brasil

 1972 – Curso de pós-graduação da Universidade de Pernambuco e da Universidade de São Paulo. ¹

 Parecer nº 600 de 30 de novembro de 1982 – avaliou a situação geral da pós-graduação no Brasil,


sendo o último nesse gênero até os dias de hoje. ¹

Quando e como surgiu a pós-graduação no Brasil?

Sobre os escombros do velho doutorado proveniente da Reforma Francisco


Campos/Gustavo Capanema (1931/1936), que começaram a se instalar os cursos de
pós-graduação (mestrado e doutorado) em Direito. ¹²

Sobrepondo-se ao antigo modelo de doutorado vieram, também, por volta de 1972, o


curso de pós-graduação da Universidade do Pernambuco e da Universidade de São
Paulo, que se implantou em 1971, como desmembramento do antigo curso de
doutorado, juntamente com o da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ¹
Em 1975, com base nos PNDs e nos PBDCTs o I PNPG, objetivou a institucionalização,
qualificação e planejamento de Pós-Graduação, pela formação de mestres e doutores,
bolsas de estudos, capacitação de docentes e obtenção de recursos via MEC, FINEP, CNPq
e CAPES.
ANOS 70 ANOS 80/85 PÓS 85

     
     
I Plano Nacional de Pós- II Plano Nacional de Pós-graduação III Plano Nacional de Pós-graduação
graduação
(II PNPG 1982/85) (III PNPG 1986/89)
(I PNPG 1975/79)
   
 
Programa de Apoio ao Plano de Capacitação
 
Desenvolvimento Científico e Tecnológica
 
Tecnológico (PCT 1990)
(PADCT 1980/85)  
  Criação das Fundações de Amparo à
Pesquisa Estaduais
(FAP´s 1990)

Fonte: MOROSINI, M. C. (1995)


3. As pesquisas jurídicas no Brasil

 O desenvolvimento das pesquisas jurídicas no Brasil, bem como os programas de pós-


graduação estão indissoluvelmente vinculados ao processo de modernização institucional e
democratização da nossa vida política. ¹

 O Relatório CNPq/1978 – a teoria jurídica precisa acompanhar o desenvolvimento


socioeconômico. ¹

 Vieira ⁴ – "a pesquisa jurídica foi, de uma certa forma, compreendida como se
pudéssemos realizar investigação científica com metodologias e técnicas de pesquisa
diferente das adotadas tradicionalmente na área de ciências sociais."

 A pesquisa jurídica nas sociedades politicamente autoritárias não consegue classificar-


se como pesquisa jurídica, mas arremedo de investigação: o seu pleno
desenvolvimento só é possível com o funcionamento democrático estável, abertas as
possibilidades de verificação aleatória do conhecimento e seus resultados. ¹
Pesquisar juridicamente significa identificar nos fenômenos sociais emergentes as vertentes
suscetíveis de proteção legal e as formas e vias de se instrumentalizar a sua aplicação no
contexto geral da ordem jurídica, bem como significa identificar na ordem jurídica consolidada
e nos seus instrumentos de viabilização as fraturas, vazamentos e calcificações que impedem
a sua intercomunicação com a sociedade.

Quando e como surgiu a pesquisa jurídica no Brasil?

ANO REFERENCIAL ALCANCE


     
A pesquisa jurídica pleiteou uma
1960 / 1970 Parecer/CFE no 977/1965
autonomia científico-metodológica
absolutamente insustentável, e
somente explicada pela expressão
política e social inerente à própria
história do ensino jurídico no País.
 

1970/ 1990 Ciência Jurídica Operar metodologias e técnicas de


pesquisas absolutamente diferentes
daquelas desenvolvidas no campo
mais amplo das Ciências Sociais.

Fonte: FERREIRA, 2015.


4. A Constituição Brasileira de 1988

Significativos espaços foram abertos com a promulgação da CF/88, para repensarmos


as normas e as instituições e, principalmente, as conexões entre as instituições políticas
e jurídicas tradicionais e autoritárias e os modelos democráticos de decisão, o que,
necessariamente, permitirá rediscutir os parâmetros jurídicos e sociológicos que
presidiram a própria formulação constitucional.

 A pesquisa jurídica nas faculdades de Direito deveria ser a instância crítica da


produção cotidiana dos tribunais, a fórmula possível de se identificarem os
mecanismos de transformação da ordem dentro da própria ordem jurídica,
significativamente ampliados com os novos instrumentos processuais introduzidos
pela Constituição brasileira de 1988.
Discussão
Pouco a pouco a legislação educacional registrou o esforço por transformar o modelo de transmissão de
conhecimento em um modelo de produção e transmissão do saber científico, aliando pesquisa e ensino,
como decorrência das pressões por democratização do acesso às universidades. ⁵

Santos e Puga ⁶ ressaltam que para a área do Direito, o desafio está em tornar compreensível e até
mesmo natural, questões afetas à pesquisa e extensão jurídicas, em um curso apegado ao tradicionalismo
e, por vezes voltado apenas para uma compreensão de que o direito restringir-se-ia às leis e ao
ordenamento jurídico.

Engelman ⁷ ressalta que uma parte dos critérios de reconhecimento da comunidade dos “juristas”,
“pesquisadores de direito”, “cientistas do direito”, “jus-acadêmicos” etc., vem de valores socialmente
vigentes, e que filtram, de maneira desigual e injusta aliás, quem pode ou não pode ostentar essa honraria.

O desenvolvimento da pesquisa jurídica no Brasil, bem como os programas de pós-graduação estão


indissoluvelmente vinculados ao processo de modernização institucional e democratização da nossa vida
política. ¹
Considerações Finais
Da esteira posta em desfile, observou-se que a pesquisa jurídica, como mecanismo de
percepção da realidade em que o estudante está imerso e forma de assimilação do conteúdo
desenvolvido durante o pilar do ensino, passou a ganhar formas e contornos de importância
apenas com a sua positivação na Constituição Federal de 1988.

Indubitavelmente, a pesquisa jurídica, de todo o exposto, é o mecanismo apto a fornecer um


intercâmbio científico de poder formativo inestimável, o qual se processa não só por
congressos e reuniões científicas de diversas naturezas, mas também por vários
mecanismos como estágios, professores visitantes, desenvolvimento de projetos
interinstitucionais, participações em redes de pesquisadores em temas correlatos,

participação em grupos de pesquisa, entre outros .


Referências Bibliográficas
1.BASTOS, Aurélio Wander. O ENSINO JURÍDICO NO BRASIL. Lumen Juris. 1998. Disponível em: < https://pdfcoffee.com/bastos-aurelio-
wander-o-ensino-juridico-no-brasil-pdf-free.html>. Acesso em: 11/09/2022.
2.CFE, Brasília (44): 67-85, dez. 1965;
3. CFE, Brasília. v. 73, p. 53., (julho) 1967;
4. VIEIRA, José Ribas. Contribuições à Pesquisa Jurídica, Seminário Nacional de Pós·-Graduação e Pesquisa Jurídica.
CONPEDI/lffSC, 1993.
5. SILVA, Maria das Graças. Universidade e sociedade: cenário da extensão universitária? In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 23.,
Caxambu, 2000. Anais... Caxambu: ANPEd, 2000.
6. SANTOS, Larissa Dias Puerta dos; PUGA, Bruna Azzari. A PESQUISA JURÍDICA BRASILEIRA E SUAS PECULIARIDADES NO
SÉCULO XXI: os atuais mecanismos de apuração da qualidade e os desvirtuamentos dos seus objetivos. 2019. Disponível em:
<https://core.ac.uk/download/ pdf/232939691.pdf>. Acesso em: 10/09/2022.
7. ENGELMAN, Fabiano. Globalização e poder de estado: circulação internacional de elites e hierarquias do campo jurídico
brasileiro. Dados, v. 55, pp. 487-516. 2012.
8. ADEODATO, João Maurício. BASES PARA UMA METODOLOGIA DA PESQUISA EM DIREITO. 2015. Disponível em:
http://191.252.194.60:8080/bits tream/fdv/1160/1/Ade_Bases%20para%20uma%20metodologia%20da%20pesquisa%20do%20direito2198-
1-10-20151014.pdf. Acesso em: 17/09/2022.
9. FERREIRA, Lier Pires. Reflexões sobre o ensino e a pesquisa jurídica no Brasil. 16 de setembro de 2015. Rev. Justiça & Cidadania.
Disponível em: <https://www.editorajc.com.br/reflexoes-sobre-o-ensino-e-a-pesquisa-juridica-no-brasil/>. Acesso em: 17/09/2022.
10. NOBRE, Lorena Neves; FREITAS, Rodrigo Randow. A EVOLUÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL:HISTÓRICO, POLÍTICAS
EAVALIAÇÃO. Brazilian Journal of Production Engineering, São Mateus, Vol. 3, N.º 2, p. 18-30. (2017). Disponível em:
<https://periodicos.ufes.br/bjpe/article/view/v3n2_3/pdf>. Acesso em: 18/09/2022.
11. MOROSINI, M. C. (1995). Universidade e Política Nacional de Ciência e Tecnologia pós 70. Porto Alegre: UFRGS, 1995. p. 192.
12. VIEIRA, José Ribas. Contribuições à Pesquisa Jurídica. In: Seminário Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa Jurídica.
Florianópolis: CONPEDI-UFSC, 1993.

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