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Trabalho: Fichamento Modelo Resumo ou Conteúdo

Referência: SIQUEIRA, Dirceu Pereira; LARA, Fernanda Correia Pavesi; LIMA,


Henriqueta Fernanda C.A.F. Acesso à justiça em tempos de pandemia e os reflexos
nos direitos da personalidade. Revista da Faculdade de Direito da UERJ, Rio de
Janeiro, n. 38, dezembro, 2020.

Este trabalho buscou explorar como tem se dado a aplicação do princípio


constitucional do acesso à justiça nos tempos de pandemia do Covid 19. Explora
também os impactos deste contexto nos direitos da personalidade voltando o olhar
para os vulneráveis ou grupos considerados minorias.

O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DO ACESSO À JUSTIÇA

Tradicionalmente, quando se fala em acesso à justiça tem-se como


referência os estudos de Mauro Cappelletti e Bryan Garth. Para esses autores, a
expressão “acesso à justiça”:
“é reconhecidamente de difícil definição, mas serve para determinar
duas finalidades básicas do sistema jurídico – o sistema pelo qual
as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios
sob os auspícios do Estado. Primeiro, o sistema deve ser igualmente
acessível a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam
individual e socialmente justos (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 8).

Ainda segundo os autores, o acesso à justiça, quando promovido, resulta em


dois aspectos: o da efetividade dos direitos sociais e em busca de formas e métodos
novos e alternativos ante os já existentes. Continuam propondo três ondas
renovatórias deste principio que, somadas, implicariam na universalização do
acesso.
A primeira onda trouxe à tona a assistência judiciaria para os pobres como
meio de garantir que a falta de recursos financeiros não obstruísse o acesso destes
à justiça. A segunda onda, por sua vez, se manifestou com os interesses difusos e
os mecanismos de tutela. Por fim, a terceira onda seria mais ampla, um “conjunto
geral de instituições e mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados para
processar e mesmo prevenir disputas nas sociedades modernas”.

No Brasil, destaca-se o princípio do acesso à justiça trazido pela Constituição


Federal em seu art. 5º, XXXV, segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Apesar do grande avanço legislativo,
não é segredo que há grande discrepância entre as ideias dos autores, o texto
legislativo e a realidade social do país.

Gabbay, Costa e Asperti afirmam que “a redistribuição do acesso à justiça


deixou de estar presente nas escolhas político legislativas feitas no Brasil” e que “a
questão do acesso à justiça às camadas mais vulneráveis da população brasileira
e a escolha pela transformação da realidade “deixaram de ter centralidade, sendo
substituídas por outras pautas como do acesso à justiça eficiente e gerencial. Cega-
se, portanto, quanto aos que não tem acesso à justiça no país.

Pode-se concluir que o acesso à justiça, ante essa busca por eficiência, está
se voltando cada vez mais para os que já possuíam um acesso fácil a esta e
excluindo mais aqueles que já se sentiam excluídos.

OS IMPACTOS DA PANDEMIA DA COVID-19 NO ACESSO À JUSTIÇA

Ante o cenário trazido pelo Corona Vírus, a recomendação da OMS foi de


que a prática do isolamento social seria imprescindível para controlar a
disseminação do vírus. Desta recomendação, originaram-se atos normativos
buscando o enfrentamento da crise. Um dos primeiros movimentos legislativos
deste contexto foi a Lei nº 13.979 de fevereiro de 2020 que dispunha sobre medidas
para enfretamento da crise de saúde pública e, entre outras coisas, previa a
autorização para determinação de isolamento e quarentena.
O CNJ também editou algumas medidas. Em março de 2019, a Resolução
nº 313 estabeleceu o regime de plantão extraordinário no âmbito do Poder Judiciário
e a suspensão do trabalho presencial de magistrados, servidores, estagiários e
colaboradores desde que assegurado serviços essenciais em cada tribunal.
Estabeleceu-se ainda que os atendimentos seriam feitos, prioritariamente, de forma
remota.

Desta resolução, originou-se a portaria nº 61 que “instituiu a plataforma


emergencial de vídeo conferência para realização de audiências e sessões de
julgamento nos órgãos do Poder Judiciário”. Para padronizar o serviço prestados,
posteriormente a Resolução nº 105 de 06 de abril de 2020 trouxe regras para
inquirição de testemunhas, interrogatórios dentre outros procedimentos.

Destaca-se ainda a Lei nº 13.994 de abril de 2020 que trouxe a possibilidade


de conciliação não presencial. Aduz: “se o demandado não comparecer ou recusar-
se a participar da tentativa de conciliação não presencial, o Juiz togado proferirá
sentença”.

De todas as mudanças ocorridas em decorrência da pandemia, pode-se


afirmar que houve um avanço tecnológico positivo que findou por oferecer
continuidade às atividades jurisdicionais. Por outro lado, pode-se questionar se
esses mesmos avanços afastaram ainda mais os vulneráveis e minorias do acesso
à justiça.

O ACESSO À JUSTIÇA PELA PERSPECTIVA DE GRUPOS VULNERÁVEIS


EM TEMPOS DE PANDEMIA E REFLEXOS NOS DIREITOS DA
PERSONALIDADE

Primeiramente o autor do artigo estabelece as diferenças entre “grupos


vulneráveis” e “minorias”. Em síntese:

Tem-se que para os “grupos vulneráveis não há uma identidade, um


traço em comum entre os indivíduos como fator que os atraem; são
grupos compostos pela sociedade de uma maneira geral”.
Diferentemente as minorias possuem “traço cultural comum
presente em todos os indivíduos, originando grupos específicos, são
sujeitos ligados entre si, daí a denominação “minoria”” (SIQUEIRA;
CASTRO, 2017, p. 110).

Diferenciados grupos vulneráveis minorias, independente do pertencimento,


resta claro que as pessoas pertencentes à estes grupos tiveram sua vulnerabilidade
ainda mais acentuada em decorrência da presente pandemia. É fato que, se por um
lado houve comoção mundial em decorrência da pandemia, por outro a invisibilidade
de certos grupos foi ainda mais notória.

Denota-se, então, que apesar dos avanços tecnológicos e dos benefícios


advindos destes, há necessidade de suporte aos grupos vulneráveis e, em especial,
aos analfabetos digitais. Como afirma o autor, “na corrida tecnológica é preciso
ponderar estratégias inclusivas, que não deixem ninguém para trás, na medida em
que se reconhece que há muito mais questões que precisam ser ponderadas para
garantia de acesso à justiça”.

Conclui-se, portanto, que as vulnerabilidades sociais foram acentuadas com


a pandemia. A tecnologia advinda da necessidade frente ao enfrentamento do
Corona vírus escancarou o impacto nos vulneráveis, seja em decorrência da própria
crise de saúde pública, seja pelas dificuldades de manuseio das ferramentas virtuais
de acesso à justiça.

Sendo assim, muitas questões ainda precisam ser ponderadas quando se


pensa em uma justiça totalmente digital, que será célere e eficiente mas não
alcançara todos que lhe pedem socorro.

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