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2009 Uem Arte MD Erotides Montini PDF
2009 Uem Arte MD Erotides Montini PDF
Cadernos PDE
VOLUME I I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica
2009
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA
COLÉGIO ESTADUAL UNIDADE PÓLO
NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE MARINGÁ
ARTE INDÍGENA:
ARTE INDÍGENA NO PARANÁ
PDE
PROGRAMA DE
DESENVOLVIMENTO
Orientadora:
Prof. Drª. Rosangela Célia Faustino
DTP
EDUCACIONAL
Formação Continuada em Rede
APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO
O presente Material Didático traz uma abordagem sobre a Arte Indígena no Brasil,
focalizando alguns grupos indígenas e suas expressões artísticas. Apresento um pouco da arte
desde a fase marajoara, os primeiros contatos com os europeus até expressões mais recentes.
É necessário esta abordagem, pois há um pensamento equivocado sobre os índios, de
que todos têm as mesmas referências com relação à cultura e a arte. Apesar de ser comum entre os
indígenas algumas expressões artísticas e de ter certas semelhanças com relação à cultura, cada
Xetá. Suas histórias de contato com o não índio, os problemas sociais acarretados pela sociedade
Bom trabalho!
Erotides M. da Silveira
03
SUMÁRIO
SUMÁRIO
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
O que é o índio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Algumas definições: cultura material, arqueologia, cultura e arte. . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Arqueologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
Arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
Arte Indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Kaingang. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Xokleng . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Guarani . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Xetá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Site de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
05
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Para entender a Arte dos índios do Paraná é preciso que voltemos um pouco no tempo e
na história destes povos que foram uns dos primeiros a colonizar o Paraná. É preciso conhecer
alguns de seus costumes, os mitos, a organização social, o artesanato, e assim tentar compreender
o significado da arte na vida destes povos indígenas.
07
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
homem produziu e produz para auxiliar no social, nas atividades compartilhadas, na arte,
seu cotidiano, nas necessidades, no trabalho, na produção material, no trabalho. Pode ser
etc. definida como estilo de vida, as tradições, os
Através da cultura material arqueó- rituais, as festas, tudo que envolve a organiza-
logos conseguem fazer o reconhecimento, ção social e a identificação de determinada
pelas marcas e símbolos deixados no objeto, é sociedade.
possível identificar a sociedade a que Os fatores ambientais também
pertence. exercem influência sobre a cultura de um
povo, como a maneira de se vestir e os hábitos
alimentares, a religião e a forma de produção
ARQUEOLOGIA econômica.
Marta Chaves
08
CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA
CONTRIBUIÇÕES
CONTRIBUIÇÕES
DA CULTURA INDÍGENA
DA CULTURA INDÍGENA
Desde os primeiros contatos dos O uso da erva-mate ou chimarrão,
índios com os não índios na história da coloniza- produtos medicinais e cosméticos, redes de
ção portuguesa e espanhola no Brasil, as influen- dormir, as gamelas em cerâmica do litoral
cias de ambos com relação à cultura foram e grande parte de nomes dos maiores rios
inevitáveis. A idéia equivocada que os índios e cidades paranaenses vieram dos indígenas.
não eram civilizados e não tinham cultura ficou No nome do nosso Estado, Paraná
camuflada pela sociedade majoritária e há veio da língua Tupi-Guarani que significa rio
pouco reconhecimento desta contribuição pelo como um mar.
povo brasileiro, por falta de conhecimento.
Temos alimentos básicos como a
mandioca, o milho, as plantas medicinais, Veja outras traduções da língua
hábitos e costumes, enfeites e artesanato que Tupi-Guarani:
usamos no nosso dia a dia, sem falar nos nomes
e expressões indígenas que usamos no nosso Curitiba = muitos pinhões ou pinheiros
vocabulário. Rio Iguaçu = rio grande
No Paraná a grande quantidade de Rio Ivaí = rio das frutas ou rio das flores
pinheiros araucária, palmeiras e árvores que Rio Tibagi = rio do pouso
fornecem frutas, como a pitanga, jabuticaba, Piraquara = esconderijo de peixes
guabiroba e araçá, foi originada pelo manejo Guaíra = cachoeira
ambiental dos índios e ainda existe grande
diversidade de plantas medicinais. Muitas
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
09
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
O ÍNDIO E A NATUREZA
A natureza é reverenciada nos harmonia. Conhecem as plantas, os
rituais indígenas, desta forma, a relação animais e os ciclos da natureza são
dos índios com a natureza vai além da respeitados, como o tempo certo de pescar,
subsistência, ela é fonte de equilíbrio e caçar, plantar e colher.
AILTON KRENAK
Alguns anos atrás, quando eu vi o quanto que a ciência dos brancos estava desenvolvida, com seus
aviões, máquinas, computadores, mísseis, eu fiquei um pouco assustado. Eu comecei a duvidar que a
tradição do meu povo, que a memória ancestral do meu povo, pudesse subsistir num mundo dominado pela
tecnologia pesada, concreta. E que talvez a gente fosse um povo como a folha que cai. E que nossa cultura,
os nossos valores, fossem muito frágeis para subsistir num mundo preciso, prático, onde os homens
organizam seu poder e submetem a natureza, derrubam as montanhas. Onde um homem olha uma
montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro ali pode ter. Enquanto meu
avô, meus primos, olham aquela montanha e vêem o humor da montanha e vêem se ela está triste, feliz ou
ameaçadora, e fazem cerimônia para a montanha, cantam com ela, cantam para o rio... Mas o cientista olha o
rio e calcula quantos megawats ele vai produzir construindo uma hidrelétrica, uma barragem. Nós
acampamos no mato, e ficamos esperando o vento nas folhas das árvores, para ver se ele ensina uma cantiga
nova, um canto cerimonial novo, se ele ensina, e você ouve, você repete muitas vezes esse canto, até você
aprender. E depois você mostra esse canto para os seus parentes, para ver se ele é reconhecido, se ele é
verdadeiro. Se ele é verdadeiro ele passa a fazer parte do acervo de nossos cantos. Mas um engenheiro
florestal olha a floresta e calcula quantos milhares de metros cúbicos de madeira ele pode ter. Ali não tem
música, a montanha não tem humor e o rio não tem nome. É tudo coisa.
(Citado por Nelson Tomazi. Tese de Doutorado: “Norte do Paraná: história e fantasmagoria”. UFPR, 1997)
ATIVIDADES
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
1) Faça uma pesquisa em casa com os pais e avós, amigos e vizinhos, sobre alguns costumes de
origem indígena que conhecem, como: alimentação, remédios, nomes de pessoas e de
cidades.
2) Produza folhetos com receitas de comidas, chás e palavras típicas de origem indígenas. Não
se esqueça das ilustrações.
3) Para aprofundar um pouco mais, pesquise nomes de cidades paranaenses de origem indígena
em site da internet: http://filologia.org.br/vcnl/anais%20v/civ8_10.htm
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
ARTE
ARTE
INDÍGENA
INDÍGENA
EXPRESSÃO DE VIDA
EM COMUNIDADE.
Ritual
Grupo Guarani Nhandewa, Posto Velho - Paraná, 2007. Fotografia acervo PIESP-LAEE/CCH-UEM
Nhandewa
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
ARTE INDÍGENA
ARTE INDÍGENA
COMO DISTINGUIR A ARTE NA tradição, tem relação com o grupo, com quem
SOCIEDADE INDÍGENA produz, com outros seres, plantas animais ou
entes sobrenaturais. O aspecto artístico
Em todas as tribos indígenas do Brasil mostra a preocupação em agradar, ultrapassa
existem manifestações de arte que tomam a técnica e atinge padrões de excelência e de
formas e sentidos diversos. É provável que nas expressão de valores simbólicos.
sociedades indígenas sejam poucos os Se levarmos em conta que a pintura
artefatos, os cânticos, as danças, que são corporal indica a metade do clã ou grupo que
elaboradas com o fim único de serem objetos o indivíduo pertence na sociedade, ela
de arte. Geralmente a arte está destinada antes constitui um rito, mesmo assim ela pode ser
de tudo aos rituais. bem acabada e elaborada, o que a caracteriza
Podemos distinguir na produção de como sendo artística. A dança, por exemplo,
objetos os aspectos técnicos, os rituais ou pode ser executada com maior ou menor
simbólicos e talvez seja possível distinguir o habilidade e também pode ser julgado do
artístico. Na produção com relação ao aspecto ponto de vista artístico.
técnico leva-se em conta o material utilizado,
a maneira e o tempo de preparo; o aspecto
Fonte: MELATTI, Júlio Cezar. ìndios do Brasil. Brasília.
ritual se caracteriza por ser simbólico, segue a Coordenada - Ed. de Brasilia, 1970.
A arte indígena não é vista pelos índios próprias nos costumes, na sociedade, nas
como beleza estética, feito somente para habitações, na religiosidade, na língua e nas
apreciação. A arte faz parte da vida da comuni- artes. Portanto, cada comunidade tem sua
dade e não está separada da realidade do grupo. maneira de ver e perceber a arte dentro do
Todos compartilham da arte, pois ela está seu contexto social.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Elas possuem
escurecendo aos poucos, de modo que, de um
assim uma
dia para outro, se torna quase negro. Dura
função
muitos dias e a água não o dissolve. Somente o
sociológica”.
suor o ataca. Além do urucu e do genipapo, há o
Esta tatuagem facial faz parte
do segundo ritual de iniciação
suco de pau-de-leite, que funciona como
Fonte: PROENÇA, Graça.
dos Karajá (MT/ TO), que se História das Arte.
Editora Ática, SP. 1990.
fixador. Após aplicado o carvão sobre o pau-de-
dá quando a menina está por
volta dos 11 anos. leite, o indivíduo pintado toma um banho de rio,
http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/karaja/karaja_11.jpg.html
para retirar aquele pó de carvão que ultrapassou
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
OS GRAFISMOS
Os grafismos são representados por cação étnica, pois cada etnia indígena tem
desenhos abstratos e geométricos e aparecem suas singularidades culturais representando
na decoração da cerâmica, dos trançados, das grafismos bem diferenciados. É possível
máscaras e na pintura corporal. reconhecer a qual etnia pertence o objeto a
O grafismo dos povos indígenas partir da decoração do mesmo.
ultrapassa a beleza, está relacionado com suas
origens, com a organização social e
cosmologia. Exprime a concepção que um
grupo indígena tem sobre o indivíduo e suas
relações com os outros índios, os rituais, sua
ecologia e economia. É um código de
comunicação complexo que exprime as
concepções do grupo.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
Objetos de índios do Xingu, em sentido horário: espátula de madeira usada para preparar alimentos,
cerâmica para assar beiju, panela em forma de tartaruga.
http://www.iande.art.br/boletim010.htm
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
A ARTE EM MADEIRA
A ARTE PLUMÁRIA
do corpo, não são usados cotidianamente, confeccionados e decorados com penas, são
mas apenas em ocasiões especiais como nos flechas, máscaras, colares, pulseiras, cocares,
rituais. diademas e braceletes.
As plumas são coladas no corpo como Alguns artefatos são construídos com
ornamento e complemento da pintura plumas em grandes armações trançadas de
corporal, o que é muito comum entre os índios palhas e varetas. Em peças pequenas, as penas
Timbira em cerimônia de iniciação. Colam as são associadas aos tecidos, caracterizando-se
penas menores tiradas dos pássaros, da pela flexibilidade, acabamento e procura de
penugem, que são fixados no corpo da pessoa efeitos de cor.
sobre uma camada de resina de Almécega. Há tribos que conhecem um processo
Geralmente o tronco, os membros superiores de transformar a cor das penas dos pássaros,
até um pouco acima dos pulsos, os inferiores especialmente do papagaio. Tal processo (...)
até pouco abaixo dos joelhos, são cobertos de recebe o nome tapiragem. Arrancam as penas
penas. do pássaro vivo e esfregam em sua pele o
16
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
sangue de certa rã ou a gordura de certos invés de verde, apresenta uma cor amarelo-
peixes. A plumagem torna a nascer, mas, ao alaranjada (MELATTI, 1970, p.151).
Crianças Xikrin preparadas para festa de nominação; fotos de Isabelle Vidal Giannini,
do livro "Grafismo Indígena", de Lux Vidal
www.iande.art.br/boletim/xikrin%20crian%E7as.jpg
SAIBA MAIS
ARTE PLUMÁRIA
Plumária é um termo que designa artefatos confeccionados a partir de penas de aves
e utilizadas sobretudo como adorno corporal pelos índios brasileiros. Os produtos da
atividade plumária (...) foram os que mais impressionáram os europeus que aqui aportaram
na época do Descobrimento. De fato, a arte plumária é uma das manifestações artísticas
mais expressivas dos índios brasileiros (...) [Existem] trabalhos específicos sobre a arte
plumária referentes aos índios Urubu-Kaapor, Bororo, Tukano, Kayapó, Wayana, Kayabi,
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
(Fotos do catálogo: Exposição Arte Plumária do Brasil - 17ª Bienal de São Paulo) Wai-Wai e do Alto Xingu, que abor-
dam aspectos técnicos, estísticos e
de significados sócio-cultural.
Na confecção de artefatos
plumários, a matéria-prima é basica-
mente a mesma para todos os grupos
tribais brasileiros. Contudo, muitas
tribos desenvolveram estilos pró-
prios, caracterizados por atributos
peculiares como forma, associação
de materiais, combinações de cores,
Arte Plumária dos índios Urubu-Kaapor, do alto à esquerda, em
sentido horário: cocar Akangatar, colar-apito masculino procedimento técnico, o que nos
Awa-Tukaniwar, labrete masculino Rembé-Pipó e
testeira Akang-Putir permite identificar a sua pro-
http://www.iande.art.br/boletim016.htm
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
CERÂMICA
Dois estilos marcaram a historia da considerados da fase Marajoara chegaram à
cerâmica no Brasil: a cerâmica Marajoara e a ilha por volta do ano 400 da nossa era e a
cerâmica de Santarém. A Marajoara e a produção de cerâmica desses povos era
Santarém foram fabricadas por povos tipicamente antropomorfa, sendo dividida
indígenas que desapareceram antes da em vasos de uso doméstico, vasos
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
de desenhos feitos com incisões na cerâmica figuras de seres humanos ou animais. O que
e de desenhos em relevo. chama mais atenção na cerâmica santarena é
A cerâmica santarena apresenta a presença das cariátides (figuras humanas)
uma decoração bastante complexa, pois que apóiam a parte superior do vaso.
além da pintura dos desenhos, as peças
apresentam ornamentos em relevo com Fonte: PROENÇA, Graça. Historia da Arte, 1990.
CERÂMICA HOJE
A cerâmica é importante material confeccionada pelas mulheres. Para produzir
arqueológico, pois trazem gravadas as marcas e pintar as cerâmicas, atualmente algumas
da cultura do povo a que pertence. Panelas de artesãs já utilizam tintas e instrumentos
barro, tigelas, potes para armazenar água, industrializados. Alguns povos indígenas
urnas funerárias e bonecas, representam o não produzem mais a cerâmica por falta de
acervo de objetos utilitários que os índios matéria prima e pelo contato com o não índio.
brasileiros constroem. Entre as sociedades Hoje em algumas comunidades indígenas já
indígenas a cerâmica é geralmente passaram a utilizar as vasilhas de metal.
CERÂMICA KADIWÉU-MS
A cerâmica Kadiwéu são produzidas pelas mu-
lheres, vasos de diversos formatos, pratos de diversos
tamanhos e profundidades, animais, enfeites de
http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/kadiweu/kadiweu_6.jpg.html
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kadiweu/266
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
SAIBA MAIS
Berta Ribeiro.
in Arte Indígena, Linguagem Visual, 1989.(p.387-389).
TRANÇADO
A arte dos trançados é uma das categorias artesanais mais diversificadas entre os povos
indígenas. Representada por uma infinidade de utensílios com finalidades domésticas, de transporte
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=11895
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
http://pt.wikipedia.org/wiki/História_pré-colonial...
talos ou palhas vai sendo disposto em forma de
espiral a partir de seu centro, de modo que cada
volta mais externa é ligada, com a ajuda de outro
talo ou palha de menor espessura, à volta mais
interna.
• Tipo teia - uma série de talos ou palhas, colocados
paralelamente, servem de urdidura, enquanto uma
outra série forma a trama.
Estes dois tipos permitem uma série de
variações. As variações tornam-se mais numerosas
quando se lança mão da cor, entremeando palhas
claras e palhas tingidas.
Fonte: MELATTI, Julio Cezar, 1970, p.153-154.
A TECELAGEM
http:// www.riobranco.org.br/.../Isa/arteindigena.html
denso e organizados.
AS MÁSCARAS
Peça representa o espírito “Quapan”
21
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
http://www.riobranco.org.br/arquivos/sites_2009/1c/Site_Marco/Isa/arteindigena.html
22
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
http://pt.wikipedia.org/wiki/História_pré-colonial...
ATIVIDADES
1) Observe as imagens dos índios e faça uma comparação, aponte as mudanças e as causas das
mesmas. Escreva e depois discuta com a turma.
“Família de
um chefe
Camacã se
preparando
para a festa”,
por
Jean-Baptiste
Debret,
1820-1830.
Um grupo de
índios Xavante,
impediu os
funcionários
da Fundação
Nacional do
Índio (Funai) de
entrar no prédio
para trabalhar.
Eles pedem a
reabertura do
posto da Funai
em Xavantina,
MT.
Foto: Roosewelt Pinheiro, 2007. Brasília. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/43/Xavante07032007.jpg
23
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
2) Com as mudanças culturais ocorridas desde os primeiros contatos dos índios com os
europeus, ainda há povos que preservam suas tradições. Para entender melhor, em grupo,
pesquise sobre uma etnia indígena. Observem em sua pesquisa alguns fatores que
contribuíram para a mudança de alguns costumes, como alimentação, vestimentas, rituais. É
importante constar em sua pesquisa os seguintes tópicos:
- História de contado
- Mitologia e rituais
- Música e dança
- Arte e cultura material
Apresentem o trabalho para a sala. Para facilitar a apresentação, produzam cartazes e tragam
imagens para melhor compreensão da turma.
3) Pesquise grafismos indígenas, seja na pintura corporal, na cerâmica ou em outro objeto.
- Copie alguns no seu caderno e marque de qual etnia pertence o grafismo.
Observe nos grafismos o ritmo da cores, das linhas e das figuras geométricas repetidas.
- Com base nos grafismos pesquisados, crie faixa-decorativa ou composição trabalhando o
ritmo das cores e formas. Use materiais diversos para o acabamento: lápis 6B, caneta
hidrocor, lápis de cor, etc.
Site de pesquisa:
- Funai – (Fundação Nacional do índio).http:// www.funai.gov.br
- ISA – (Instituto Socioambiental). http://www.pib.socioambiental.org
- Youtube – http://www.youtube.com.br
- Iandé – Casa das Culturas Indígenas. www.iande.art.br
http://www.youtube.com/watch?v=y1Hwf3KXKIc&feature=related
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CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA
POVOS INDÍGENAS
POVOS INDÍGENAS NO PARANÁ
NO PARANÁ
ARTE RUPESTRE NO PARANÁ
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=177&evento=10
25
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
26
CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA
inorgânico, como óxido de ferro moído aldeias e a cerâmica era decorada, com
diluído em água e aplicado sobre a superfície pinturas geométricas, vermelhas e pretas
do vasilhame, antes ou depois da queima o sobre engobo branco, ou incisões ou
que diminui a durabilidade da cor e da marcações com as unhas e a polpa dos dedos;
impermeabilidade. eram comuns os cachimbos cerâmicos. As
Os ancestrais dos índios Tupi e Guara- técnicas de manufatura da cerâmica incluem
ni, provavelmente vindos da Amazônia, o roletado e o modelado.
chegaram ao Paraná, há 2.000 anos atrás. Os
Guarani, também agricultores, viviam em
HISTÓRICO DE CONTATO
27
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Travaram inúmeras batalhas contra os atingidos por suas flechas. Apesar dos
invasores de seus territórios, muitos índios conflitos e extermínio as comunidades
foram mortos pelas armas de fogo dos indígenas sobreviventes permaneceram
brancos, mas, muitos conquistadores foram indígenas.
28
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
KAINGANG
KAINGANG
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
OS KAINGANG
OS KAINGANG
KAINGANG: HISTÓRIA DE CONTATO
Os Kaingang fazem parte do tronco pertencentes aos vários grupos indígenas –
Macro-Jê, da família Jê e falam a língua Kaingang, Guarani, Xokleng, Xetá –
Kaingang e ocupam áreas dos Estados da provocando as primeiras tentativas de
região Sul: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa ocupação não indígenas nas terras do interior
Catarina e São Paulo. Também conhecidos das províncias do sul.
como Jê do Sul. No início do século XIX, a estrada da
A denominação kaingang só foi Mata foi o eixo inicial de ocupação dos
introduzida no final do século XIX por territórios indígenas do Sul, intensificada com
Telêmaco Borba. Inicialmente , os Kaingang e o comércio de rebanho muares e bovinos
os Xokleng foram classificados como uma só trazidos do Rio Grande do Sul para Sorocaba e
etnia com dialetos diferentes, sendo o Xokleng passando pelos Campos Gerais no Paraná, não
denominado Aweikoma- Kaingang apenas em direção ao sul, mas também a oeste e
No século XVI teve início a história de a norte. A expansão paulista é a ponta de lança
contato dos Kaingang com os colonizadores para a conquista das terras indígenas do Paraná,
europeus, quando alguns grupos viviam Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
próximos ao litoral atlântico. O caminho das tropas é que vai
Nos séculos XVI e XVII grande parte consubstanciar uma frente de ocupação e
dos índios foram reduzidos e alguns grupos exploração nacional nas terras indígenas, com
ancestrais dos Kaingang foram reduzidos em a implantação de sesmarias a partir dos
Conceição dos Gualachos, às margens do rio Campos Gerais no Paraná.
Piquiri, e em Encarnación , às margens do Apesar de todas as guerras dos Kaingang
Tibagi. Após terem fugido dos ataques dos para expulsar os brancos, os caciques foram
bandeirantes paulistas, os jesuítas fundaram vencidos um a um e aceitaram fixar-se nos
novas reduções na Província de Tape, entre aldeamentos definidos pelo governo, sob pena
1632 e 1636 (atual Rio Grande do Sul). de serem exterminados, como de fato alguns
Muitas populações indígenas reduzidas foram. Simultaneamente ao aldeamento, os
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
foram atingidas por diversas epidemias e territórios foram sendo ocupados pelas
houve grande prejuízo demográfico. fazendas e a colonização nacional foi se
Como foram poucos que aceitaram viver consolidando nas décadas seguintes.
sob o comando dos jesuítas, os Kaingang, No final do século XIX, pode-se dizer
viveram livres nas regiões de campos e que todos os grupos tinham sido
florestas do sul do país até o século XIX, conquistados, a exceção dos Kaingang da
quando foram conquistados. bacia do Tietê-SP e os grupos que viviam nos
Na segunda metade do século XVIII, as territórios entre os rios Laranjinha e Cinzas
primeiras tentativas de conquista e ocupação no Paraná que foram conquistados nas
efetiva dos campos e florestas pertencentes aos primeiras décadas do século XX. Os de São
Kaingang, iniciou-se na província do Paraná Paulo foram conquistados em 1912 e os dos
(que incluía a maior parte do Estado de Santa Paraná em 1930.
Catarina). Nesse período as expedições
exploradoras localizaram vários territóriosFoto: acervo Museu do índio, década de 1950
Fonte: Kimiye Tommasino.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
MITOLOGIA KAINGANG
fizeram todas as plantas e animais, e que povoaram a terra com seus descendentes, não
há nada neste mundo fora da terra, dos céus, da água e do fogo, que não pertença ou ao
clã de Kañeru ou ao de Kamé. Todos ainda manifestam a sua descendência ou pelo seu
temperamento ou pelos traços físicos ou pela pinta. O que pertence ao clã Kañeru é
malhado, o que pertence ao clã ao Kamé é riscado. O Kaingang reconhece estas pintas
tanto no couro dos animais como nas penas dos passarinhos, como também na casca, nas
folhas, ou na madeira das plantas. Das duas qualidades da onça pintada, o acanguçu é
Kañerú, o fagnereté é Kamé. A piava é Kañerú, e por isso ela vai também adiante da
piracema. O dourado é Kamé. O pinheiro é Kañerú, o cedro é Kamé, etc.
Fonte: Kimiye Tommasino. Novas contribuições
aos estudos interdisciplinares dos Kaingang.
Londrina Eduel, 2004. Capítulo 5, p. 146-159.
“Os primeiros Kaingáng foram Filtón e o “iambrê” (cunhado) dele. Viveram muito,
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
muito tempo antes da grande chuva que provocou a inundação de todo o mundo. Filtón
era o chefe dos Kanherú e o outro o dos Kamé. Vieram do interior da terra. O chão
tremeu e houve um estouro. Enxergaram a claridade e saíram de dentro da terra. A
princípio eram dois grupos sómente, mas ao chegarem à superfície da terra fizeram a
subdivisão em Votôro e Venhiky, por causa das festas que iam realizar”.
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
O Kiki, ou o ritual do Kikikoi (comer O terceiro fogo: São seis fogos acesos
kiki), consiste em reunir dois grupos paralelamente ao konkéi, três para cada
formados por pessoas pertencentes a cada metade clânica. Acontece dois meses após a
uma das metades clânicas, Kamé e Kairu. colocação da bebida no Konkéi.
A realização do ritual do Kikikoi Durante a noite os rezadores com ou-
depende do pedido dos parentes de alguém tros integrantes permanecem entoando cantos
que veio a falecer nos anos anteriores e deve e rezas para os mortos da metade oposta.
ter mortos das duas metades. Nesta etapa as mulheres, as péin,
O Kikikoi pode ser definido como o realizam pinturas faciais cuja finalidade é a
esforço da sociedade em ratificar o poder do proteção dos participantes contra os espíritos
mundo dos vivos sobre os perigos associados dos mortos de sua metade.
com a proximidade dos mortos. É um ritual Ao amanhecer os grupos se deslocam
para afastar o morto de seus entes queridos, para a praça de dança, onde os grupos se
que correm perigo de serem levados pelo fundem ao redor dos fogos e o ritual é
morto, pois não conseguem se libertar do concluído com o consumo do kiki.
mundo dos vivos pela falta que sentem da
esposa ou esposo e dos filhos.
Hoje o Kikikoi é realizado apenas pelos KUIÃ
Kaingang da Terra Indígena Xapecó em Santa
Catarina. Os jovens consideram o Kiki como O Kuiã (xamã) se ocupa das curas e tem
sistema dos antigos e associam o Kiki a capacidade de ver o que irá acontecer com
tradição indígena. aqueles que vivem no grupo.
O poder do kuiã é adquirido através de
seu guia animal (jangrê), que será seu
RITUAL DO KIKIKOI companheiro e guia, e ensina ao kuiã o
tratamento com remédios do mato. O guia
Na realização do Kikikoi, as metades animal pode ser o tigre que é considerado o
clânicas, Kamé e Kairu atuam separada- mais forte dos guias.
mente. O processo ritual é marcado pela O aspirante a kuiã, deverá ir ao mato
reunião dos rezadores em três fogos acesos virgem, cortar folhas de palmeira e
em dias diferentes, no terreno do organizador, confeccionar recipientes com água para atrair
que é chamado de praça da dança ou praça o animal. O animal que beber a água
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
ORGANIZAÇÃO SOCIAL
O aspecto da organização social Kaingang é a divisão nas metades exôganicas Kamé e
Kairu que se opõem e se complementam.
KAINRU KAMÉ
Gêmeo ancestral denominado Kainru, Gênero ancestral denominado Kamé;
conforme o mito, saiu primeiro do chão; conforme o mito, saiu depois do chão; sol,
lua, um ex-sol; noite; corpo fino, peludo, símbolo de força e poder; dia; corpo
pés pequenos; frágil, menos forte; grosso, pés grandes; mais forte; masculino;
feminino; ligeiro em movimentos e vagaroso em movimentos e resoluções;
resoluções; menos persistentes; leste; baixo persistentes; temperamento feroz; oeste;
(parte de baixo); pintura corporal redonda, alto (parte de cima); pintura corporal em
fechada; orvalho, umidade; mudança; faixas, linhas, “abertas”; dureza;
agilidade; lugares altos; seres/objetos permanência; lugares baixos; seres/objetos
redondos/fechados; seres/objetos compridos/riscados mais pesados ou
malhados/manchados, leves ou delgados; grossos; pinheiro (Araucária angustifólia).
sete sangrias (Simplocus parviflora). Fonte: Sergio Baptista da Silva
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
http://www.scielo.br/pdf/ha/v8n18/19062.pdf
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
macaco é Kairu, assim por diante, conforme velhos, seus filhos e filhas solteiras, suas
Telêmaco Borba (1882). filhas casadas, seus genros e netos. Este grupo
Os princípios sociocosmológicos doméstico não ocupa, necessariamente, uma
dualistas tradicionais kaingang operam sobre mesma habitação, mas um mesmo território.
uma estrutura social baseada na articulação de Ser Kaingang na atualidade, significa
unidades sociais territorialmente localizadas, ser filho de pai kaingang. Nas terras indígenas
formadas por famílias entrelaçadas que kaingang há um número significativo de
dividem responsabilidades cerimoniais, indivíduos classificados como mestiços
sociais, educacionais, econômicas e políticas. (filhos de casamentos entre kaingang e
A morfologia social kaingang segue branco), misturados (filhos de pais de duas
princípios complementares e assimétricos etnias indígenas, como de Kaingang com
com relação aos princípios dualistas. A Guarani ou Kaingang com Xokleng), india-
unidade social mínima kaingang é o grupo nos (brancos casados com mulheres kaingang
familiar formado por uma família nuclear que vivem incorporados como membros da
(pais e filhos). Estes grupos familiares fazem comunidade da esposa), ou cruzados (estes,
parte de unidades sociais maiores que segundo os próprios Kaingang, são definidos
podemos chamar de grupos domésticos, como aqueles filhos de mãe índia e pai branco
formados, idealmente, por um casal de e que não falam a língua nativa).
Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang/288.
Kimyie Tommasino.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
PINTURA CORPORAL
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
facas bem afiadas e depois tingidas com ornamentados com taquara e penas de galinha
anilina (produto industrializado), antes da que também são tingidas com anilina, como
confecção dos cestos e dos outros artefatos. também os arcos e flechas e cocares. Os
Os chocalhos são feitos de cabaça e colares são feitos de sementes.
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Depois do dilúvio
Povo kaigang (Mito Kaigang)
Os velhos do povo Kaigang contam aos seus netos que, nos tempos criadores, a terra
viveu um grande dilúvio. Choveu tanto, mas tanto, que ficou para fora apenas o pico da
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
serra Crinjijimbê. Por isso todos os seres humanos daquela época tentaram alcançar o
topo para sobreviver. Muitos tentaram, mas alguns não conseguiram e morreram
afogados. Seus espíritos, conforme contam os antigos, foram para o centro da terra onde
fizeram sua morada.
As pessoas que sobreviveram eram tantas que o pico da serra não comportava todo
mundo. Alguns, então, tiveram que viver nos galhos das árvores, enquanto outros
viveram na terra.
Passaram-se muitos dias e todos já estavam desanimados com a chuva que não
parava, e a água que não baixava, algumas pessoas já passavam mal de fome, pois nada
mais tinham para comer.
Quando tudo parecia perdido, os homens ouviram bem ao longe um canto
conhecido por eles: era o canto das saracuras que traziam, dentro de seus papos, terra
para aterrar o dilúvio. Imediatamente todos passaram a gritar pedindo socorro às aves
que, compadecidas, atenderam ao pedido dos humanos. Com a ajuda de outras aves, as
saracuras fizeram um grande dique por onde atravessaram os homens. Infelizmente,
como houve demora no atendimento, os homens que estavam sobre as árvores acabaram
virando macacos e saíram pulando de galho em galho.
Contam os antigos que, como as saracuras vinham de onde o sol nasce, as águas
acabaram todas correndo para o poente, indo em direção ao grande rio Paraná.
Com o passar dos dias as águas secaram e os sobreviventes se estabeleceram nas
imediações do pico Crinjijimbê. Aí aconteceu um fato inusitado para todos: os que
haviam morrido e ido morar no centro da serra, começaram a abrir caminho para fora e
chegaram a sair por duas veredas. Os da metade Kaiurucré saíram num lugar plano e
cristalino e por isso tinham os pés bem pequenos; os da metade Kamé saíram por outra
vereda. Esta era pedregosa e cheia de espinhos. Por isso ficaram com pés grandes.
Também saíram em lugar muito árido, sem água para beber. Mais uma vez, tiveram que
pedir aos kaiurucré permissão para beber de sua água. Assim estes dois grupos foram
convivendo até abandonarem a serra. (...)
As duas metades Kaigang continuaram seu caminho até chegarem num local onde
decidiram unir suas forças através do casamento entre os seus jovens. Moços Kaiurucré
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
casariam com moças Kamé, e moços Kamé casariam com moças Kaiurucré. Assim
aconteceu. Mas foi tudo sem festa porque eles ainda não sabiam cantar ou dançar.
A música e a dança apareceu entre eles quando um grupo de caçadores Kaiurucré
chegou num bosque todo limpinho e percebeu que havia, ali, um pequeno roçado.
Aproximaram-se para observar melhor e notaram duas varinhas com suas folhas
carregando uma pequena cabaça. Acharam estranho e voltaram para a aldeia onde
contaram tudo o que viram.
O chefe da aldeia decidiu que voltaria ao local com toda aldeia para certificar-se
daquilo. Lá chegando ouviram canções belíssimas. Foram decorando cada uma das
canções. Depois pegaram a varinha e levaram para a aldeia onde fizeram cópias delas e
distribuíram entre todos. O Chefe Kaiurucré, que havia presenciado a dança das
varinhas, reproduziu a mesma dança chacoalhando-as. Todo mundo viu e gostou. Foi o
início de uma grande festa. (...)
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Glossário
Kaigang – Povo originário do sul do Brasil. È do tronco lingüístico Macro-Jê e da família lingüística Jê. Está
hoje presente nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sua população foi
estimada em 20.000 pessoas (dados de 1994).
Saracura – Galináceo que habita pântanos, lagoas e rios. Anuncia com o seu cantar, a aproximação das
chuvas.
Kaiurucré – Metade familiar entre os Kaigang. Os membros desta metade podem casar-se apenas com a sua
metade oposta, os Kamé.
Kamé – Outra metade familiar Kaigang. Os membros deste grupo só podem casar com os Kaiurucré.
Fonte: MUNDURUKU, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. 2ª ed. – São Paulo : Global, 2005, p. 43 – 50.
ETNO CONHECIMENTO
A ORIGEM DO MILHO
A
ntigamente nossos antepassados se alimentavam de frutos e mel,
quando estes faltavam eles passavam fome. Um velho de cabelos
brancos de nome Gâr, ficou com pena deles; um dia disse a seus
filhos, netos e noras, que pegassem um pedaço de pau e com ele fizessem uma
roçada nos taquarais e queimassem. Feito isso disse aos filhos que os
conduzissem ao meio do roçado. Quando lá chegaram sentou-se e pediu que
trouxessem cipó grosso. Quando já haviam trazido bastante cipó o velho disse:
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
ATIVIDADES
1) Em grupo faça uma pesquisa sobre os Kaingang. É importante seguir os seguintes tópicos na
pesquisa:
- História de contato
- Mitologia e rituais
- Subsistência
- Arte e cultura material
- Artesanato
- Mudanças ocorridas na arte e cultura.
4) Copie em seu caderno alguns grafimos encontrados nas cestarias Kaingang. Procure repetir
os grafismos de maneira que criem ritmos. Use papel A4, utilize a folha inteira e faça
acabamento com lápis de cor, caneta hidrocor, lápis 6B...
5) Recorte tiras de papel cartão de várias cores e faça trançados a partir dos grafismos
indígenas.
6) A partir do conto indígena: Depois do Dilúvio, selecione ou faça uma síntese das partes mais
significativas e depois ilustre cada uma delas, criando um livreto.
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
XOKLENG
XOKLENG
SOBREVIVENTES DE UM PROCESSO
BRUTAL DE COLONIZAÇÃO
http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/Xokleng/xokleng_1.jpg.html
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
OS XOKLENG
OS XOKLENG
XOKLENG: HISTÓRIA DE CONTATO
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
SAIBA MAIS
na medida em que estes iam conquistando dos Xokleng devem ter sido empurrados
os vales e rios, os Kaingang foram sendo para fora do oeste paranaense na época da
empurrados para o centro-sul do Estado chegada das primeiras expansões
e/ou sendo confinados nos territórios Guarani, ao redor de 2.000 anos atrás
interfluviais e os Xokleng foram sendo (DIAS e GONÇALVES 1999, p.15-16-18).
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Acervo Museu Paranaense (Foto:Vladimir Kozák). Fonte: Vida indígena no Paraná. Provopar.
ATIVIDADES
1) Em grupo faça uma pesquisa sobre os Xokleng. É importante constar em sua pesquisa os
seguintes tópicos:
- História de contato
- Mitologia e rituais
- Subsistência
- Arte e cultura Material
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
GUARANI
GUARANI
OS MAIS CONHECIDOS
EM TERMOS ARQUEOLÓGICOS,
HISTÓRICOS, ANTROPOLÓGICOS
E LINGUÍSTICOS.
http://upload.wikimédia.org/wikipedia/commons/a/aa/triunfo-25.jpg
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
OS GUARANI
OS GUARANI
GUARANI: HISTÓRIA DE CONTATO
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
A Terra sem Mal: YVY MARÃ EY e as seus frutos em abundância, Yvy Marã Ey é
Belas Palavras: AYVU PORÃ. também a terra da imortalidade, onde não
Os Guarani dispõem-se a grandes chega a doença nem a morte.
deslocamentos em grupo com o objetivo de A cosmologia Guarani diz que no
buscar Yvy Mara Ey, a mítica Terra Sem Mal. princípio do mundo houve a criação da
Deste a conquista européia tem-se registro primeira terra, onde os homens viviam na
destas migrações onde eles abandonam mesma condição dos deuses. Para que isto
qualquer possível segurança de uma terra acontecesse, regras deveriam ser seguidas.
delimitada, deixando tudo para ir em busca da As leis foram quebradas pelo incesto
visão desta terra prometida por Nhanderu. entre um sobrinho (Karai Jeupié) e sua tia.
Terra ideal, que produz por si mesma os Houve então um grande dilúvio, na qual
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Fonte: SOUZA, Ana Maria Alves de Souza. Orientadora: Prof. Ms. Cleidi
M. Albuquerque. BICHINHOS RA'NGÃ i. Uma distribuição ao estudo das
esculturas zoomórficas Guarani Mbyá. Florianópolis, julho de 1999.
UDESC. CEART.
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
A cultura material era composta por talhas para prepará-lo eram normalmente
centenas - talvez milhares - de objetos pintados com desenhos geométricos
confeccionados para servirem a diversos vermelhos e pretos sobre fundo branco.
fins, sendo a maioria feita com materiais As vasilhas que iam ao fogo tinham as
perecíveis (ossos, madeiras, penas, palhas, suas superfícies alisadas ou corrugadas.
fibras vegetais, conchas etc.) e, em minoria, Secundariamente, as panelas e talhas
de não-perecíveis (vasilhas cerâmicas, poderiam servir como urna funerária.
ferramentas de pedra, corantes minerais). Dentre as ferramentas de pedra, pode-
As vasilhas (cerâmicas) eram confec- mos mencionar os machados de pedra polida,
cionadas para servirem como panelas de lascas usadas para rasgar, cortar, tornear, bem
cozinha, frigideiras, pratos, copos e talhas como ferramentas para polir, furar, amolar,
para armazenar água ou preparar cauim macerar, moer, pilar e ralar.
(bebida fermentada alcoólica) e para outras
funções. Os copos para beber o cauim e as Fonte: DIAS e GONÇALVES, 1999, p.15
CERÂMICA GUARANI
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
A MÚSICA
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
e outros distante. “Assim que o pajé, sentado acelerada e com forte marcação rítmica, para
face ao doente, constata que a morte o solene ñeengarai”, que soa solene e
sobreveio, muda o canto da melodia yvyraija, melodiosa.
Fonte: MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. Amúsica como “caminho” no
repertório do xamanismo guarani. Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 10,
voluma 17(1):115-134 (2006).
http://pt.wikipedia.org/wiki/musica_indígena-brasileira-
MBARAKA
Fonte: NIMBOPYRUÁ, Catarina Delfina dos Santos Kunhã...[et al.]. NHANDEWA-rupi nhande aywu ãgwa: para falarmos nossa língua: livro de leitura
nhandewa – guarani. Brasília:MEC, SEF, 2002.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
Nome popular: Macaco Nome Guarani: KA i Nome popular: Cobra Nome Guarani: MBOI
Nome popular: Tucano Nome Guarani: TUCAN Nome popular: Jacaré Nome Guarani: PA i
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
TRANÇADO
Os trançados Guarani são representa- A confecção dos cestos Guarani é
dos por cestos de taquara decorados com função exclusivamente das mulheres, deste a
tramas geométricas mais escuras em cipó coleta da taquara na mata, o preparo da tiras,
imbé. Ainda são confeccionados, mas até o trabalho final na construção do cesto.
algumas mudanças aconteceram, agora são
coloridos com anilina.
O ROUBO DO FOGO
Povo guarani ( mito Guarani )
E
m tempos antigos o povo Guarani não sabiam acender o fogo.(...) pois
o fofo estava em poder dos urubus.
O fogo estava com estas aves porque foram elas que primeiro
descobriram um jeito de se apossar das brasas da grande fogueira do
sol. Numa ocasião, quando o sol estava bem fraquinho e o dia não estava muito claro,
os urubus foram até lá e retiraram algumas brasas as quais tomavam conta com muito
cuidado e zelo. (...).
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
Todos queriam roubar o fogo dos urubus, mas ninguém se atrevia a desafiá-los.
Um dia o grande herói Apopocúva retornou de uma longa viagem que fizera. Seu
nome era Nhanderequeí. Guerreiro respeitado por todo o povo, decidiu que iria roubar o
fogo dos urubus. Reuniu todos os animais, aves e homens da floresta e contou o plano
que tinha para enfrentar os temidos urubus, guardiões do fogo. Até mesmo o pequeno
curucu, que não fora convidado, compareceu dizendo que também ele tinha muito
interesse no fogo.
Todos já reunidos, Nhanderequeí expôs seu plano:
- Todos vocês sabem que os urubus usam fogo para cozinhar. (...). Por isso vou me
fingir de morto bem debaixo do ninho deles. Todos vocês devem ficar escondidos e quando
eu der uma ordem, avancem para cima deles e os espantem daqui. Dessa forma,
poderemos pegar o fogo para nós. (...).
(...) Nhanderequeí deitou-se. Permaneceu imóvel por um dia inteiro.
Os urubus, lá do alto das árvores, observavam com desconfiança. (...).
O herói permaneceu o segundo dia do mesmo jeito. Sequer respirava direito para não
criar desconfianças nos urubus que continuavam rodeando seu corpo. Foi no fim do
terceiro dia, no entanto, que as aves baixaram as guardas. Ficavam imaginando que não
era possível uma pessoa fingir-se de morta por tanto tempo. Ficavam confabulando
entre si:
- Olhem, meus parentes urubus – dizia o chefe urubu – nenhum homem pode fingir-
se de morto assim. Já decidi: vamos comê-lo. Podem trazer as brasas para fazer-mos a
fogueira. (...).
Eles colocaram Nhanderequeí sobre o fogo, mas graças a uma resina que Le passara
pelo corpo, o fogo não o queimava. Num certo momento, o herói se levantou do meio das
brasas dando um grande susto nos urubus que, atônitos, voaram todos. Nhanderequeí
aproveitou-se da surpresa e gritou a todos os amigos que estavam escondidos para que
atacassem os urubus e salvassem alguma daquelas brasas ardentes. (...)
Quando tudo se acalmou, Nhanderequeí chamou a todos e perguntou quantas brasas
haviam conseguido. Uns olhavam para outros na tentativa de saber quem havia salvado
uma pedrinha sequer.(...).
Acontece que, por trás de todos, saiu o pequeno cururu, dizendo:
- Durante a luta os urubus se preocuparam apenas com os animais grandes e não
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
notaram que eu peguei uma brasinha e coloquei na minha boca. Espero que ainda esteja
acesa.(...)
Dê-me esta brasa imediatamente – disse Nhanderequeí, tomando a brasa em suas
mãos e a assoprando levemente. (...)
Pegou-o na mão e colocou um pouquinho de palha e o assoprou novamente. Com
isso ele conseguiu um pequeno riozinho de fumaça. (...)
Nhanderequeí soprou de novo. Ele o fazia com todo cuidado, aconteceu um cheiro de
queimado. Isso foi o bastante para que as aves se incomodassem e dissessem:
- Nós não gostamos desse cheiro que sai do fogo. Isso não é bom para as aves. Fiquem
vocês com este fogo. (...).
Enquanto isso, Nhanderequeí soprou ainda mais forte e, finalmente, as
chamas apareceram no meio da palha e do carvão que sustentaram o fogo acesso
para sempre.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Glossário
Apopocúiva-Guarani – O grande povo guarani está localizado em oito estados brasileiros. Sua língua,
subdividida em Nhandeva, M'Bia e Kaiowá, pertence ao tronco lingüístico Tupi. Sua população é a segunda
maior do Brasil. Segundo dados oficiais, chega a 35.000 pessoas. Os Guarani estão presentes ainda em
diversos países que fazem fronteira com o Brasil.
Nhanderequeí – Herói civilizador entre os Guarani. Aquele que cria e ensina este povo a manipular seus bens
culturais. Nesta história, ele é o herói que ajuda o povo a roubar o fogo e ensina a conservá-lo.
Fonte: Munduruku, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. 2ª ed. – São Paulo : Global, 2005, p. 13 – 19.
ATIVIDADES
1) Em grupo, pesquisem sobre os índios Guarani no Paraná, contemplando os seguintes
tópicos:
- História de Contato
- Como chegaram ao Paraná
- Mitologia
- Arte e cultura material
3) A partir da letra e da audição da música NHANDERUETE, crie uma ilustração. Use lápis de
cor e canetas coloridas para pintar.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
4) Vamos fazer esculturas com pedra de sabão? Que tal inspirar-se nos bichinhos RAN'CÃi.
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
3º A partir do fundo vá colocando camadas de rolinhos de argila até conseguir a altura que
deseja para o objeto. Conforme for chegando à borda, diminua o comprimento do
rolinho se quiser fechar um pouco a abertura do objeto.
4º Usando o dedo indicador una os rolinhos por dentro da peça e deixe a superfície lisa.
5º Por último, faça o acabamento da peça seguindo uma das técnicas apresentadas nos
fragmentos de cerâmica Guarani.
8) Confeccione carimbos usando batatinha a partir dos motivos gráficos dos carimbos
Guarani. Crie composições com as impressões dos carimbos usando tinta guache de várias
cores e folha do tamanho A4. Repita as impressões, intercale os diferentes motivos, para
obter ritmos de formas e cores.
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
XETÁ
XETÁ
Memória dos índios Xetá:
ARTE E CULTURA
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
OS OS
XETÁ
XETÁ
XETÁ: HISTÓRIA DE CONTATO
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Pilão Vertical.
Foto: Vladimir Kozák
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
ESPÁTULAS DE PALMEIRAS:
usavam como recipientes.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
ARTE XETÁ
A arte Xetá está presente no artesanato cantavam quando se queria chamar a chuva,
com as cestarias e esteiras, na tecelagem, na em época de festa e períodos de frutas quando
escultura de bichinhos de cera, na música, na era realizado o ritual da beberagem. A bebida
pintura e nos adornos corporais. era consumida acompanhada pelos cantos,
respeitando-se os horários para a exibição.
No ritual de iniciação masculina, os homens
PINTURA FACIAL E CORPORAL no interior da casa entoavam o canto da
jacutinga ao alvorecer; o canto do surucuá,
A pintura facial era feita por uma quando já era dia; e o canto do urubu, que era
mulher (parente) com fruta do jatobá no ritual cantado durante todo o dia. Os instrumentos
de iniciação masculina e a pintura corporal musicais eram apenas usados para a produção
também em ocasiões de rituais. de sons como apitar, alertar, assobiar: um
caramujo, o tembetá, a flauta, a flauta de Pã,
feita de três pedaços de bambu de diferentes
ESCULTURAS comprimentos.
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
A narrativa Xetá com seus diferentes temas, constitui um lugar de memória por
excelência da extinta sociedade. É como se esta se recusasse a desaparecer, impondo
sua presença espectral aos seus sobreviventes (SILVA, 2003, P.52).
Os narradores: Tuca, Kuein contando histórias Posto Indígena Rio das Cobras/PR. Março 2003
E
ntão o macaco, diz que vivia junto com os índios também, os bicho que
iam virar tudo macaco né. Mas diz que eles eram morto de fome, mas
diz que não tinha comida que chegasse. O bicho era arteiro mesmo
sabe.
Ai diz que um dia, o Sol e o Lua irmão dele andavam aqui na terra, daí o Sol
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
mandou eles, esses índios, buscar fruta para ele. Só que não era para ele comer
nenhuma, (...). Ele voltou e estava comendo. O sol achou que ele estava
demorando demais, o sol acalmou e foi lá. (...) Aí diz que ele, o Sol pegou e calcou
a flecha [atirou a flecha] diz que ele errou a flechada. Só que o índio sumiu, (...).
Desapareceu. Aí diz que em outro dia, passados três dias, aí viu aquela macacada,
que virou tudo bicho, virou tudo bicho, virou tudo bicho. Por isso que nossa gente
dizia que macaco era gente também. (Tikuein e Tuca, 20/06/200l).
ATIVIDADES
1) Em grupo faça uma pesquisa sobre os Xetá. Siga o roteiro para realizar o trabalho:
- História de contato
- Mitologia e rituais
- Subsistência
- Arte e cultura material
- Onde vivem os renascentes Xetá.
2) A partir da pesquisa confeccione cartazes com imagens e apresente o trabalho para a sala.
3) Pesquise sobre os animais que os Xetá modelavam com cera de abelha. Escolha um animal e
faça uma modelagem usando argila.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
4) Com base na narrativa: “Macaco era gente no tempo do Sol e da Lua”, em grupo transforme
a narrativa em diálogos e vamos dramatizar.
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/folclore-indigena-da-tribo-kaingang.html - Acesso em
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
14/06/2010.
SITE DE PESQUISA:
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
CAVALCANTE, Ana Luisa Boavista Lustosa/ PAGNOSSIM, Carla Maria Canalle. Estudo da Sintaxe da
Linguagem Visual na Cestaria Kaingáng. Artigo apresentado no 4º Congresso Internacional de Pesquisa e Design.
RJ. 09/07/2007.
CLAUDINO, Daniela Costa e FARIAS, Deisi Scunderlick Eloy de. Arqueologia e Preservação Sambaqui Morro
Peralta. Samec Editora. Florianópolis –SC, 2009.
DIAS, Reginaldo Benedito/GONÇALVES, José Henrique Rollo (org). Maringá e o Norte do Paraná: Estudos de
História Regional. Maringá: EDUEM, 1999.
FAUSTINO, Rosângela Célia, CHAVES, Marta, BARROCO, Sonia Mari Shima (org). Intervenções Pedagógicas
na educação escolar indígena: contribuições da Teoria Histórico-Cultural. Maringá: Eduem, 2008.
MELATTI, Julio Cezar, 1938. Índios do Brasil. Brasília. Coordenada. Ed. De Brasília, 1970.
MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. A música como “caminho” no repertório do xamanismo guarani. Revista
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