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Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7

Cadernos PDE

VOLUME I I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica
2009
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA
COLÉGIO ESTADUAL UNIDADE PÓLO
NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE MARINGÁ

MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO


UNIDADE DIDÁTICA

ARTE INDÍGENA:
ARTE INDÍGENA NO PARANÁ

IES – UEM/Universidade Estadual de Maringá


MARINGÁ
2010
Capa: Imagem Xetá

PDE
PROGRAMA DE
DESENVOLVIMENTO
Orientadora:
Prof. Drª. Rosangela Célia Faustino
DTP
EDUCACIONAL
Formação Continuada em Rede
APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO

O presente Material Didático traz uma abordagem sobre a Arte Indígena no Brasil,
focalizando alguns grupos indígenas e suas expressões artísticas. Apresento um pouco da arte
desde a fase marajoara, os primeiros contatos com os europeus até expressões mais recentes.
É necessário esta abordagem, pois há um pensamento equivocado sobre os índios, de
que todos têm as mesmas referências com relação à cultura e a arte. Apesar de ser comum entre os

indígenas algumas expressões artísticas e de ter certas semelhanças com relação à cultura, cada

povo tem suas singularidades que difere e distingue cada etnia.

Mais profundamente trato sobre os índios no Paraná, os Kaingang, Xokleng, Guarani e

Xetá. Suas histórias de contato com o não índio, os problemas sociais acarretados pela sociedade

envolvente, os mitos, os costumes, a subsistência, a cultura material e a arte principalmente.

Ficarão evidentes nas imagens e abordagens as mudanças culturais ocorridas através da

história de contato e de sobrevivências dos povos indígenas no Paraná.

No final de cada capítulo, constam sugestões de pesquisas e atividades.

Bom trabalho!

Erotides M. da Silveira

03
SUMÁRIO
SUMÁRIO
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
O que é o índio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Algumas definições: cultura material, arqueologia, cultura e arte. . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Arqueologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
Arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08

Contribuições da cultura indígena nos nossos costumes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09

Arte Indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Povos Indígenas no Paraná . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25


Arte Rupestre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Povos agricultores e ceramistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Histórico de contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Kaingang. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Xokleng . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Guarani . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

Xetá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

Site das Imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

Site de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

05
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO

Para entender a Arte dos índios do Paraná é preciso que voltemos um pouco no tempo e
na história destes povos que foram uns dos primeiros a colonizar o Paraná. É preciso conhecer
alguns de seus costumes, os mitos, a organização social, o artesanato, e assim tentar compreender
o significado da arte na vida destes povos indígenas.

O QUE É O ÍNDIO mecanismos para garantir o sustento, como


criação de animais, as roças, alguns trabalhos
O termo “índio” foi dado quando os como assalariados e a confecção e venda de
europeus chegaram à costa Atlântica do artesanato nas cidades mais próximas das
Brasil pensando ser a Índia, por isso aldeias.
chamaram de índios os povos em que tiveram Ainda hoje vemos o índio sendo
os primeiros contatos aqui no Brasil. aquele que corresponde a uma imagem
O envolvimento dos índios com os tradicional e idealizada, pela falta de
não índios foi traumático em todos os conhecimento sobre realidade do índio na
sentidos. Os grupos caçadores coletores sociedade. São vistos como gente que precisa
sofreram grande impacto com a perda de seus ser civilizada! Chamados de selvagens, pri-
territórios de origem; com as doenças trazidas mitivos, atrasados, maneiras preconcebidas e
pelos europeus; com as transformações preconceituosas. Porém o avanço das
culturais ocorridas pelas fugas; pelo trabalho sociedades sobre as comunidades indígenas e
e escravidão; e, pelos comportamentos e suas terras não foram e não são consideradas
costumes impostos pelos europeus. Ainda selvagerias.
assim preservam algumas tradições culturais. Os índios, “mostraram sua capacida-
Alguns grupos perderam totalmente de secular de resistência e de reformulação,
a língua que falavam, pois estão em contato ajustamento, adaptação a situações sempre
com a sociedade, há grupos que falam duas novas, causadas pelo fato de serem povos
línguas, a materna e o português, em virtude eternamente perseguidos, desrespeitados,
da situação de sobrevivência e ainda os espoliados” (SILVA, 1987, p.144), apesar de
grupos que vivem isolados e que falam serem cidadãos brasileiros, conforme a
somente a sua língua materna, pois se Constituição Brasileira de 1988.
recusam a manter contato com o não índio.
Estes povos isolados ainda mantêm suas
tradições porque são pouco conhecidos pela ALGUMAS DEFINIÇÕES:
sociedade. CULTURA MATERIAL
Os índios vivem hoje em aldeias,
territórios demarcados pelos governos, Entende-se por cultura material todo
insuficientes para a sobrevivência do grupo. tipo de vestígios, utensílios, artefatos,
Sendo necessário à busca de outros objetos, instrumentos, ferramentas que o

07
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

homem produziu e produz para auxiliar no social, nas atividades compartilhadas, na arte,
seu cotidiano, nas necessidades, no trabalho, na produção material, no trabalho. Pode ser
etc. definida como estilo de vida, as tradições, os
Através da cultura material arqueó- rituais, as festas, tudo que envolve a organiza-
logos conseguem fazer o reconhecimento, ção social e a identificação de determinada
pelas marcas e símbolos deixados no objeto, é sociedade.
possível identificar a sociedade a que Os fatores ambientais também
pertence. exercem influência sobre a cultura de um
povo, como a maneira de se vestir e os hábitos
alimentares, a religião e a forma de produção
ARQUEOLOGIA econômica.

É a ciência que estuda os vestígios


dos povos antigos e busca construir as ARTE
relações sociais culturais por meio da cultura
material produzida, como: ossadas, cerâmica, A arte é uma criação humana.
trilhas abertas na mata, fogueiras, objetos, Compreende conhecimentos, um conjunto de
enfim tudo que era produzido e transformado procedimentos técnicos, as emoções, bem
cotidianamente. como valores estéticos próprios a uma época
ou cultura.
A Arte expressa e movimenta o
CULTURA desenvolvimento do homem que a cria e, com
ela, estabelece alguma relação. Cria objetos e
A cultura é elaborada pelas situações para satisfazer necessidades e que
sociedades através da história, pelos padrões são meios de expressão e de registro de suas
de comportamento, valores e crenças e idéias, emoções e sentimentos.
envolve toda a prática humana de construir e A Arte é uma das formas de revelar o
de dar significação a coisas. ser social, ela representa a realização que vai
A cultura está presente no meio além das necessidades imediatas.

Sonia Mari Shima Barroco


EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Marta Chaves

08
CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA

CONTRIBUIÇÕES
CONTRIBUIÇÕES
DA CULTURA INDÍGENA
DA CULTURA INDÍGENA
Desde os primeiros contatos dos O uso da erva-mate ou chimarrão,
índios com os não índios na história da coloniza- produtos medicinais e cosméticos, redes de
ção portuguesa e espanhola no Brasil, as influen- dormir, as gamelas em cerâmica do litoral
cias de ambos com relação à cultura foram e grande parte de nomes dos maiores rios
inevitáveis. A idéia equivocada que os índios e cidades paranaenses vieram dos indígenas.
não eram civilizados e não tinham cultura ficou No nome do nosso Estado, Paraná
camuflada pela sociedade majoritária e há veio da língua Tupi-Guarani que significa rio
pouco reconhecimento desta contribuição pelo como um mar.
povo brasileiro, por falta de conhecimento.
Temos alimentos básicos como a
mandioca, o milho, as plantas medicinais, Veja outras traduções da língua
hábitos e costumes, enfeites e artesanato que Tupi-Guarani:
usamos no nosso dia a dia, sem falar nos nomes
e expressões indígenas que usamos no nosso Curitiba = muitos pinhões ou pinheiros
vocabulário. Rio Iguaçu = rio grande
No Paraná a grande quantidade de Rio Ivaí = rio das frutas ou rio das flores
pinheiros araucária, palmeiras e árvores que Rio Tibagi = rio do pouso
fornecem frutas, como a pitanga, jabuticaba, Piraquara = esconderijo de peixes
guabiroba e araçá, foi originada pelo manejo Guaíra = cachoeira
ambiental dos índios e ainda existe grande
diversidade de plantas medicinais. Muitas
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

variedades de milho, feijão, abóbora, man- Da língua kaingang:


dioca e amendoim já eram cultivados pelos
povos nativos. Alimentos como a farinha de Goioerê = água limpa.
milho e mandioca, incluindo bolos e min- Candói = eu tenho a arma
gaus,e a pipoca (milho arrebentado em Tupi) Curitiba = corra, vamos depressa...
fazem parte da alimentação atual dos
Fonte: Vida Indígena no Paraná: memória, presença,
paranaenses. horizontes. PROVOPAR, 2006.

09
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

O ÍNDIO E A NATUREZA
A natureza é reverenciada nos harmonia. Conhecem as plantas, os
rituais indígenas, desta forma, a relação animais e os ciclos da natureza são
dos índios com a natureza vai além da respeitados, como o tempo certo de pescar,
subsistência, ela é fonte de equilíbrio e caçar, plantar e colher.

LEIA O DEPOIMENTO DE AILTON KRENAK

AILTON KRENAK
Alguns anos atrás, quando eu vi o quanto que a ciência dos brancos estava desenvolvida, com seus
aviões, máquinas, computadores, mísseis, eu fiquei um pouco assustado. Eu comecei a duvidar que a
tradição do meu povo, que a memória ancestral do meu povo, pudesse subsistir num mundo dominado pela
tecnologia pesada, concreta. E que talvez a gente fosse um povo como a folha que cai. E que nossa cultura,
os nossos valores, fossem muito frágeis para subsistir num mundo preciso, prático, onde os homens
organizam seu poder e submetem a natureza, derrubam as montanhas. Onde um homem olha uma
montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro ali pode ter. Enquanto meu
avô, meus primos, olham aquela montanha e vêem o humor da montanha e vêem se ela está triste, feliz ou
ameaçadora, e fazem cerimônia para a montanha, cantam com ela, cantam para o rio... Mas o cientista olha o
rio e calcula quantos megawats ele vai produzir construindo uma hidrelétrica, uma barragem. Nós
acampamos no mato, e ficamos esperando o vento nas folhas das árvores, para ver se ele ensina uma cantiga
nova, um canto cerimonial novo, se ele ensina, e você ouve, você repete muitas vezes esse canto, até você
aprender. E depois você mostra esse canto para os seus parentes, para ver se ele é reconhecido, se ele é
verdadeiro. Se ele é verdadeiro ele passa a fazer parte do acervo de nossos cantos. Mas um engenheiro
florestal olha a floresta e calcula quantos milhares de metros cúbicos de madeira ele pode ter. Ali não tem
música, a montanha não tem humor e o rio não tem nome. É tudo coisa.
(Citado por Nelson Tomazi. Tese de Doutorado: “Norte do Paraná: história e fantasmagoria”. UFPR, 1997)

ATIVIDADES
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

1) Faça uma pesquisa em casa com os pais e avós, amigos e vizinhos, sobre alguns costumes de
origem indígena que conhecem, como: alimentação, remédios, nomes de pessoas e de
cidades.

2) Produza folhetos com receitas de comidas, chás e palavras típicas de origem indígenas. Não
se esqueça das ilustrações.

3) Para aprofundar um pouco mais, pesquise nomes de cidades paranaenses de origem indígena
em site da internet: http://filologia.org.br/vcnl/anais%20v/civ8_10.htm

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

ARTE
ARTE
INDÍGENA
INDÍGENA
EXPRESSÃO DE VIDA
EM COMUNIDADE.

EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Ritual
Grupo Guarani Nhandewa, Posto Velho - Paraná, 2007. Fotografia acervo PIESP-LAEE/CCH-UEM
Nhandewa

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

ARTE INDÍGENA
ARTE INDÍGENA
COMO DISTINGUIR A ARTE NA tradição, tem relação com o grupo, com quem
SOCIEDADE INDÍGENA produz, com outros seres, plantas animais ou
entes sobrenaturais. O aspecto artístico
Em todas as tribos indígenas do Brasil mostra a preocupação em agradar, ultrapassa
existem manifestações de arte que tomam a técnica e atinge padrões de excelência e de
formas e sentidos diversos. É provável que nas expressão de valores simbólicos.
sociedades indígenas sejam poucos os Se levarmos em conta que a pintura
artefatos, os cânticos, as danças, que são corporal indica a metade do clã ou grupo que
elaboradas com o fim único de serem objetos o indivíduo pertence na sociedade, ela
de arte. Geralmente a arte está destinada antes constitui um rito, mesmo assim ela pode ser
de tudo aos rituais. bem acabada e elaborada, o que a caracteriza
Podemos distinguir na produção de como sendo artística. A dança, por exemplo,
objetos os aspectos técnicos, os rituais ou pode ser executada com maior ou menor
simbólicos e talvez seja possível distinguir o habilidade e também pode ser julgado do
artístico. Na produção com relação ao aspecto ponto de vista artístico.
técnico leva-se em conta o material utilizado,
a maneira e o tempo de preparo; o aspecto
Fonte: MELATTI, Júlio Cezar. ìndios do Brasil. Brasília.
ritual se caracteriza por ser simbólico, segue a Coordenada - Ed. de Brasilia, 1970.

ONDE ENCONTRAR A ARTE INDÍGENA


Podemos encontrar a arte indígena na inserida nos rituais, nas festas e nas atividades
pintura corporal, na cerâmica, nos artefatos, na comuns do dia-a-dia.
arte plumária, nos trançados, na tecelagem, nos As populações indígenas no Brasil
desenhos com estilos geométricos, nos cânticos diferem entre si, apesar de terem certas
e nas danças que estão presentes nas semelhanças com relação à organização do
manifestações sociais. modo de vida. Possuem características
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

A arte indígena não é vista pelos índios próprias nos costumes, na sociedade, nas
como beleza estética, feito somente para habitações, na religiosidade, na língua e nas
apreciação. A arte faz parte da vida da comuni- artes. Portanto, cada comunidade tem sua
dade e não está separada da realidade do grupo. maneira de ver e perceber a arte dentro do
Todos compartilham da arte, pois ela está seu contexto social.

VAMOS CONHECER A ARTE INDÍGENA?!


A pintura corporal pode ter diversas corpo a alegria das cores vivas e intensas.
interpretações como o de definir papéis e A pintura corporal aparece em vários
valores sociais, criar noção de pessoa e grupos indígenas como vestimenta para o
exprimir os padrões de identidade étnica, como contato com os seres sobrenaturais em seus
adorno corporal em rituais e para transmitir ao rituais cosmológicos.

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

Os materiais empregados na pintura


corporal entre a maior parte dos povos
indígenas são: o urucu (urucum) para o
vermelho, o calcário e a tabatinga para o
branco, o jenipapo para o azul marinho ou
negro esverdeado que representam as florestas
e o pó do carvão utilizado no corpo sobre uma
camada de suco de pau-de-leite ou gorduras
animais.
Atualmente são usadas tintas
Urucum. Foto: Erotides M. da Silveira 03/02/10
industrializadas, pela escassez de matérias
primas e pela diversidade das cores produzidas
artificialmente.
Os Kadiwéu (MS) são conhecidos por
sua pintura corporal bem elaborada e que
impressionou colonizadores e europeus em
1560. São desenhos minuciosos simétricos
com linhas e pontos, traçados com tinta obtida
com a mistura do suco do jenipapo com o pó de
carvão aplicada com uma fina lasca de madeira
ou taquara. No passado, a pintura corporal
Pintura corporal dos Kadiwéu. marcava a diferença entre nobres, guerreiros e
Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935.
cativos.
http://img.socioambiental.org/.../arte_kadiweu_2.jpg

SAIBA MAIS ENTENDA UM POUCO MAIS


De acordo com Lévi-Strauss, “as SOBRE A PINTURA CORPORAL
pinturas do rosto conferem, de início, ao
A pintura de corpo indígena utiliza como
indivíduo, sua dignidade de ser humano;
tintas o vermelho do urucu e o azul escuro
elas operam a passagem da natureza à
quase negro do genipapo. O urucu é fixado no
cultura, do animal 'estúpido' ao homem
corpo com a ajuda de alguma substância
civilizado. Em seguida, diferentes quanto
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

gordurosa, tal como o suco de babaçu. As


ao estilo e à composição segundo as
sementes do urucu são fervidas em água até que
castas, elas exprimem, numa sociedade
formem uma pasta, a qual é endurecida e
complexa, a
guardada em forma de pães. O genipapo,
hierarquia
quando aplicado ao corpo, é completamente
dos 'status'.
transparente e sem cor, tal como água. Vai
Foto: Vladimir Kozak-Museu Paranaense/s.d.

Elas possuem
escurecendo aos poucos, de modo que, de um
assim uma
dia para outro, se torna quase negro. Dura
função
muitos dias e a água não o dissolve. Somente o
sociológica”.
suor o ataca. Além do urucu e do genipapo, há o
Esta tatuagem facial faz parte
do segundo ritual de iniciação
suco de pau-de-leite, que funciona como
Fonte: PROENÇA, Graça.
dos Karajá (MT/ TO), que se História das Arte.
Editora Ática, SP. 1990.
fixador. Após aplicado o carvão sobre o pau-de-
dá quando a menina está por
volta dos 11 anos. leite, o indivíduo pintado toma um banho de rio,
http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/karaja/karaja_11.jpg.html
para retirar aquele pó de carvão que ultrapassou

14
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

as linhas do desenho, não tendo se fixado no


suco. Para a obtenção da cor branca é utilizado
o calcáreo.
A pintura de corpo pode ser feita com
a ajuda de mãos e dedos; os traços mais finos se
fazem com pequenos estiletes de palha ou
madeira. É comum a utilização de carimbos, tal
como um côco babaçu cortado no meio, o que
produz um círculo que inclui quatro círculos
menores. Este tipo de carimbo é usado pelos
Karajá e os Timbira. Estes últimos também Carimbos cerâmicos guarani. Usados para pintura corporal
talham carimbos no talo da palmeira buriti, ou de tecidos, redução Jesuítica do Guairá, Século XVII,
Vale do rio Ivaí. Acervo Museu Paranaense.
obtendo diversos padrões.
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=2
Fonte: Mellati, Julio César, 1938. Índios do Brasil. Brasília. Ed. Brasília, 1970. 0&evento

OS GRAFISMOS
Os grafismos são representados por cação étnica, pois cada etnia indígena tem
desenhos abstratos e geométricos e aparecem suas singularidades culturais representando
na decoração da cerâmica, dos trançados, das grafismos bem diferenciados. É possível
máscaras e na pintura corporal. reconhecer a qual etnia pertence o objeto a
O grafismo dos povos indígenas partir da decoração do mesmo.
ultrapassa a beleza, está relacionado com suas
origens, com a organização social e
cosmologia. Exprime a concepção que um
grupo indígena tem sobre o indivíduo e suas
relações com os outros índios, os rituais, sua
ecologia e economia. É um código de
comunicação complexo que exprime as
concepções do grupo.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Os grafismos para o índio tem a


função de diferenciar-se de outros seres da
natureza e quando pinta seu próprio corpo,
cesto Wayana-Apalay, com desenho representando
demarca seu lugar no mundo e na sociedade o lagarto de duas cabeças
que pertence. Também servem como identifi- http://www.iande.art.br/trancado/cesto/wayanaruto020901.htm

Objetos de índios do Xingu, em sentido horário: espátula de madeira usada para preparar alimentos,
cerâmica para assar beiju, panela em forma de tartaruga.
http://www.iande.art.br/boletim010.htm

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

Na comunidade Assurini do Xingu elementos simbólicos como Anhynga


os grafismos representam diferentes sistemas Kwasiat (ser mítico que deu origem aos
de significação. Esses desenhos são homens)
estilizações de elementos da natureza ou http://pib.socioambiental.org/pt/povo/asurini-do-xingu/print

A ARTE EM MADEIRA

A arte em madeira está presente em senta os rostos das máscaras e banquinhos


várias tribos indígenas. Esculpem máscaras, esculpidos em forma de animais; os índios
aves, animais, bonecos e armas. Entre os índios Karajá fazem esculturas de forma humana,
do alto Xingu o trabalho em madeira repre- seguindo o mesmo estilo da cerâmica litxoko.

Boneca (litxoco) Bordunha (ko) Banco em forma de escorpião (Xepi)


Feito por índios: Karajá Feito por índios: Kaiapó Feito por índios: Mehinaku (MT)
http://www.iande.art.br/loja/ http://www.iande.art.br/loja/armas/
http://www.iande.art.br/loja/bancos/mehinakubancoescorpiao1324.htm
artefigurativa/karajaboneca2333b.htm kayapoborduna1100a.htm

A ARTE PLUMÁRIA

A arte plumária está associada à beleza Encontramos também artefatos


EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

do corpo, não são usados cotidianamente, confeccionados e decorados com penas, são
mas apenas em ocasiões especiais como nos flechas, máscaras, colares, pulseiras, cocares,
rituais. diademas e braceletes.
As plumas são coladas no corpo como Alguns artefatos são construídos com
ornamento e complemento da pintura plumas em grandes armações trançadas de
corporal, o que é muito comum entre os índios palhas e varetas. Em peças pequenas, as penas
Timbira em cerimônia de iniciação. Colam as são associadas aos tecidos, caracterizando-se
penas menores tiradas dos pássaros, da pela flexibilidade, acabamento e procura de
penugem, que são fixados no corpo da pessoa efeitos de cor.
sobre uma camada de resina de Almécega. Há tribos que conhecem um processo
Geralmente o tronco, os membros superiores de transformar a cor das penas dos pássaros,
até um pouco acima dos pulsos, os inferiores especialmente do papagaio. Tal processo (...)
até pouco abaixo dos joelhos, são cobertos de recebe o nome tapiragem. Arrancam as penas
penas. do pássaro vivo e esfregam em sua pele o

16
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

sangue de certa rã ou a gordura de certos invés de verde, apresenta uma cor amarelo-
peixes. A plumagem torna a nascer, mas, ao alaranjada (MELATTI, 1970, p.151).

Crianças Xikrin preparadas para festa de nominação; fotos de Isabelle Vidal Giannini,
do livro "Grafismo Indígena", de Lux Vidal
www.iande.art.br/boletim/xikrin%20crian%E7as.jpg

SAIBA MAIS

ARTE PLUMÁRIA
Plumária é um termo que designa artefatos confeccionados a partir de penas de aves
e utilizadas sobretudo como adorno corporal pelos índios brasileiros. Os produtos da
atividade plumária (...) foram os que mais impressionáram os europeus que aqui aportaram
na época do Descobrimento. De fato, a arte plumária é uma das manifestações artísticas
mais expressivas dos índios brasileiros (...) [Existem] trabalhos específicos sobre a arte
plumária referentes aos índios Urubu-Kaapor, Bororo, Tukano, Kayapó, Wayana, Kayabi,
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

(Fotos do catálogo: Exposição Arte Plumária do Brasil - 17ª Bienal de São Paulo) Wai-Wai e do Alto Xingu, que abor-
dam aspectos técnicos, estísticos e
de significados sócio-cultural.
Na confecção de artefatos
plumários, a matéria-prima é basica-
mente a mesma para todos os grupos
tribais brasileiros. Contudo, muitas
tribos desenvolveram estilos pró-
prios, caracterizados por atributos
peculiares como forma, associação
de materiais, combinações de cores,
Arte Plumária dos índios Urubu-Kaapor, do alto à esquerda, em
sentido horário: cocar Akangatar, colar-apito masculino procedimento técnico, o que nos
Awa-Tukaniwar, labrete masculino Rembé-Pipó e
testeira Akang-Putir permite identificar a sua pro-
http://www.iande.art.br/boletim016.htm

17
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

veniência com bastante precisão (...)


No Brasil indígena verificam-se pelo menos dois grandes estilos plumários. O
primeiro congrega penas longas associados a suporte rígidos que conferem um aspecto
grandioso e monumental ao artefato. Neste grupo estão incluídos os Bororo, Karajá,
Tapirapé, Kayapó, Tiriyó, Aparai e Wai-Wai, entre outros.O segundo caracteriza-se por
diminutas penas dispostas com requinte em suportes flexíveis de aspecto primoroso e
delicado. Seus legítimos representantes são os Munduruku, os Urubu-Kaapor e outros
grupos Tupi. Ainda alguns grupos comporiam um terceiro estilo, como os Tukano, já que
seus adornos são dotados de qualidades das duas grandes divisões.
Os adornos plumários não servem apenas para enfeitar o corpo, e o elemento
plumário aplicado a outras superfícies, como armas, instrumentos musicais, máscaras, não
pode ser visto como atributo meramente decorativo. Eles podem ser considerados
verdadeiros códigos, que transmitem, numa linguagem não verbal, mensagens sobre sexo,
idade, filiação clânica, posição social, importância cerimonial, cargo político e grau de
prestigio de seus portadores. Além de enfeites, portanto, são símbolos e, por isso, usados
nos ritos e cerimônias, campo simbólico por excelência das culturas humanas. Entre os
Kaxináwa, por exemplo, há uma ligação entre liderança política e excelência estética e
entre os Bororo há uma íntima associação entre certos artefatos plumários e a morte: um
tipo de diadema de cabeça e um tipo de instrumento musical de sopro são especialmente
feitos para representar os mortos.

Sonia Dorta e Lúcia van Velthem


in Arte Plumária do Brasil, 1982.

CERÂMICA
Dois estilos marcaram a historia da considerados da fase Marajoara chegaram à
cerâmica no Brasil: a cerâmica Marajoara e a ilha por volta do ano 400 da nossa era e a
cerâmica de Santarém. A Marajoara e a produção de cerâmica desses povos era
Santarém foram fabricadas por povos tipicamente antropomorfa, sendo dividida
indígenas que desapareceram antes da em vasos de uso doméstico, vasos
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

chegada dos europeus no Brasil. cerimoniais e funerários. Os vasos


A ilha de Marajó foi habitada por cerimoniais eram os mais decorados com
vários povos a 1100 a.C. Os povos uma pintura bicromática ou policromática
Foto: Wagner Souza e Silva (MAE/USP)

Urna Funerária Marajoara Vaso Cariátides Tapajônico


http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/pibmirim/antes-de-cabral/Urna+funer__ria+
Vasilhame decorado com motivos antropomorfos e
Marajoara.jpg.html zoomorfos. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Brasil.
Exemplar de cerâmica produzida pelas sociedades
complexas do Pará em Santarém. Este vaso Tapajó é
denominado “Vaso de Cariátides
18 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vaso-santar%C3%A9m.JPG
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

de desenhos feitos com incisões na cerâmica figuras de seres humanos ou animais. O que
e de desenhos em relevo. chama mais atenção na cerâmica santarena é
A cerâmica santarena apresenta a presença das cariátides (figuras humanas)
uma decoração bastante complexa, pois que apóiam a parte superior do vaso.
além da pintura dos desenhos, as peças
apresentam ornamentos em relevo com Fonte: PROENÇA, Graça. Historia da Arte, 1990.

CERÂMICA HOJE
A cerâmica é importante material confeccionada pelas mulheres. Para produzir
arqueológico, pois trazem gravadas as marcas e pintar as cerâmicas, atualmente algumas
da cultura do povo a que pertence. Panelas de artesãs já utilizam tintas e instrumentos
barro, tigelas, potes para armazenar água, industrializados. Alguns povos indígenas
urnas funerárias e bonecas, representam o não produzem mais a cerâmica por falta de
acervo de objetos utilitários que os índios matéria prima e pelo contato com o não índio.
brasileiros constroem. Entre as sociedades Hoje em algumas comunidades indígenas já
indígenas a cerâmica é geralmente passaram a utilizar as vasilhas de metal.

CERÂMICA KADIWÉU-MS
A cerâmica Kadiwéu são produzidas pelas mu-
lheres, vasos de diversos formatos, pratos de diversos
tamanhos e profundidades, animais, enfeites de
http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/kadiweu/kadiweu_6.jpg.html

paredes, etc. decorados com padrões que lhes são


distintos representam a expressão de sua arte e
identidade.
Para a fabricação da cerâmica utiliza-se barro
vermelho e preto misturado com terra de cerâmica tri-
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

turada ou cinza, até alcançar a consistência ideal.


A matéria-prima de seu trabalho encontram-na em
barreiros especiais, que contêm o barro da consistência
e tonalidade ideais para a cerâmica durável. Os
pigmentos para sua pintura são conseguidos de areias
dos mais variados tons, alguns dos detalhes sendo
envernizados com a resina do pau-santo.
Coleção FFLCH/USP, 1987 A decoração das peças com desenhos
minuciosos e simétricos, traçados com tinta obtida da
mistura de suco de jenipapo com carvão em pó é aplicada com uma fina lasca de madeira,
taquara ou linha de caraguatá para demarcar o desenho.

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kadiweu/266

19
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

SAIBA MAIS

A modelagem do barro se faz universalmente, entre os


índios brasileiros, pela superposição de roletes de argila à mão
livres. O tratamento interno e externo requer a ajuda de um
implemento simples – pedaço de cuia, seixo rolado ou noz, para
Bonecas Carajás (litxokó)

alisar as paredes. Com essa técnica elementar constroem potes,


panelas, tigelas, urnas, com ou sem apêndices modeladas, de uma
harmonia admirável. (...)
O polimento da superfície ajuda a unir os roletes e dar um
acabamento perfeito. A solidificação da argila exige que a peça
seja submetida à cocção sob alta temperatura. Havendo um bom
controle do fogo obtém-se um esfumaçado que produz um negro
uniforme: ou uma oxidação que confere ao barro cor ocre de
várias tonalidades. (...)
A cerâmica indígena mais conhecida atualmente no Brasil é a das oleiras Karajá,
principalmente suas famosas “bonecas” ou Litxokó, antigamente simples brinquedo de
criança. Modeladas em barro cru representam, principalmente, a figura humana Karajá com
seus atributos culturais típicos: a tatuagem de um círculo de baixo dos olhos, os brincos de
rosetas de plumas, labrete masculino e a tanga embira feminina.

Berta Ribeiro.
in Arte Indígena, Linguagem Visual, 1989.(p.387-389).

Bonecas Carajás (litxokó)


http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1365

TRANÇADO
A arte dos trançados é uma das categorias artesanais mais diversificadas entre os povos
indígenas. Representada por uma infinidade de utensílios com finalidades domésticas, de transporte
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

de alimentos, objetos de adorno e


instrumentos musicais, são: cestos,
balaios, bolsas, chapéus, peneiras,
redes, máscaras, cocares, tangas,
pulseiras e abanos.
A elaboração dos trançados
resulta de grande habilidade e técnicas
de entrelaçamento e empregam-se
grande variedade de matérias primas de
origem vegetal, como folhas, palhas,
palmas, cipós, talas e fibras.

Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=11895

20
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

CESTO COM TAMPA A cestaria indígena pode ser classificada em


Xavante (MT) dois tipos:
Trançado em espiral • Tipo espiral - um talo, uma palha ou um feixe de

http://pt.wikipedia.org/wiki/História_pré-colonial...
talos ou palhas vai sendo disposto em forma de
espiral a partir de seu centro, de modo que cada
volta mais externa é ligada, com a ajuda de outro
talo ou palha de menor espessura, à volta mais
interna.
• Tipo teia - uma série de talos ou palhas, colocados
paralelamente, servem de urdidura, enquanto uma
outra série forma a trama.
Estes dois tipos permitem uma série de
variações. As variações tornam-se mais numerosas
quando se lança mão da cor, entremeando palhas
claras e palhas tingidas.
Fonte: MELATTI, Julio Cezar, 1970, p.153-154.

A TECELAGEM
http:// www.riobranco.org.br/.../Isa/arteindigena.html

A tecelagem é usada para a


confecção de tecidos para o vestuário,
adornos e redes. Na confecção da
tecelagem, ela pode ser dividida em
trabalhos em malhas e tramas. Nos
trabalhos em malha, é usado um único
fio, feito com agulhas ou com as mãos
Rede feita com fibra vegetal: a “cama” como crochê e tricô. Nos trabalhos em
de boa parte das tribos indígenas do Brasil.
trama se utiliza o tear, que mantém os fios
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

denso e organizados.

AS MÁSCARAS
Peça representa o espírito “Quapan”

Para os índios, as máscaras têm um caráter duplo: ao mesmo


tempo em que é um artefato produzido pelo homem comum, são a
figura viva do ser sobrenatural que representam. Elas são feitas com
troncos de árvores, cabaças e palhas de buriti e são usadas
geralmente em danças cerimoniais, como, por exemplo, na dança do
Aruanã, entre os Karajá, quando representam heróis que mantêm a
ordem do Mundo (PROENÇA, 1990, p.194).
Máscara de madeira e fibras de
buriti feitas por índios Mehinaku,
http://www.iande.art.br/mascara/madeira/mehinakuquapan060512.htm
Parque do Xingu-MT.

21
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

A MÚSICA, A DANÇA E OS INSTRUMENTOS MUSICAIS

A música é considerada pelos índios e dançam os pés fixos no chão” (MELATTI,


parte fundamental de sua vida, está associada 1970, p.159).
à dança e aos instrumentos musicais. A Existem grandes variedades de
música vocal constitui provavelmente, a instrumentos musicais que inclui os de
produção mais comum de música indígena. A percussão e sopro e podem ser feitos com
música é uma faceta importante na vida social sementes, madeiras, fibras, pedras, objetos
principalmente nos rituais, acreditam que cerâmicos, ossos chifres e cascos de animais.
com a música possam se comunicar com os Os instrumentos de sopro são as flautas,
seus antepassados e espíritos. apitos e buzinas; os de percussão são os
Os instrumentos musicais são partes bastões, fragmentos de tábuas, os chocalhos
importantes da cultura material e portadores (maracás), guizos, cabaças cheias de
de múltiplos significados, como o Maracá que pedrinhas ou sementes.
é usado em rituais xamanísticos e cerimônias. A dança é um ritual que envolve a
“O maracá entre os Timbira, é usado pelo arte de pintura corporal e de máscaras,
cantador para marcar o ritmo, quando puxa o normalmente marcados com passos fortes e
cântico junto a um grupo de mulheres. Essas ritmados. A dança pode ter vários
mulheres se colocam em fila, ombro a ombro, significados e intenções para os indígenas
pés unidos, e balançam os braços para frente e como a dança da chuva, em homenagem aos
para trás, os cotovelos como vértices de um ancestrais, para afastar os maus espíritos. Ela
ângulo reto, e dobrando e retesando os é também comemorativa ou uma diversão
joelhos. As mulheres, por conseguinte cantam para o grupo.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

http://www.riobranco.org.br/arquivos/sites_2009/1c/Site_Marco/Isa/arteindigena.html

22
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

http://pt.wikipedia.org/wiki/História_pré-colonial...
ATIVIDADES
1) Observe as imagens dos índios e faça uma comparação, aponte as mudanças e as causas das
mesmas. Escreva e depois discuta com a turma.

“Família de
um chefe
Camacã se
preparando
para a festa”,
por
Jean-Baptiste
Debret,
1820-1830.

HOJE EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Um grupo de
índios Xavante,
impediu os
funcionários
da Fundação
Nacional do
Índio (Funai) de
entrar no prédio
para trabalhar.
Eles pedem a
reabertura do
posto da Funai
em Xavantina,
MT.
Foto: Roosewelt Pinheiro, 2007. Brasília. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/43/Xavante07032007.jpg

23
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

2) Com as mudanças culturais ocorridas desde os primeiros contatos dos índios com os
europeus, ainda há povos que preservam suas tradições. Para entender melhor, em grupo,
pesquise sobre uma etnia indígena. Observem em sua pesquisa alguns fatores que
contribuíram para a mudança de alguns costumes, como alimentação, vestimentas, rituais. É
importante constar em sua pesquisa os seguintes tópicos:
- História de contado
- Mitologia e rituais
- Música e dança
- Arte e cultura material
Apresentem o trabalho para a sala. Para facilitar a apresentação, produzam cartazes e tragam
imagens para melhor compreensão da turma.
3) Pesquise grafismos indígenas, seja na pintura corporal, na cerâmica ou em outro objeto.
- Copie alguns no seu caderno e marque de qual etnia pertence o grafismo.
Observe nos grafismos o ritmo da cores, das linhas e das figuras geométricas repetidas.
- Com base nos grafismos pesquisados, crie faixa-decorativa ou composição trabalhando o
ritmo das cores e formas. Use materiais diversos para o acabamento: lápis 6B, caneta
hidrocor, lápis de cor, etc.

Site de pesquisa:
- Funai – (Fundação Nacional do índio).http:// www.funai.gov.br
- ISA – (Instituto Socioambiental). http://www.pib.socioambiental.org
- Youtube – http://www.youtube.com.br
- Iandé – Casa das Culturas Indígenas. www.iande.art.br

Sugestões de vídeos do Youtube:


- Ritual da imagem: Arte Asurini do Xingu - Pintura corporal
http://www.youtube.com/watch?v=JgmuTQIuGH4&feature=related
- Ritual da imagem: Arte Asurini do Xingu – cerâmica
http://www.youtube.com/watch?v=_RqPlomJF-4&feature=related
- Pajerama
http://www.youtube.com/watch?v=BFzv0UhHcS0&feature=related
- Jorge Bem – Curumim Chama Cunhatã.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

http://www.youtube.com/watch?v=y1Hwf3KXKIc&feature=related

24
CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA

POVOS INDÍGENAS
POVOS INDÍGENAS NO PARANÁ
NO PARANÁ
ARTE RUPESTRE NO PARANÁ

Os primeiros povos paleoíndios, rupestres no Paraná foram encontradas em


habitantes do Paraná eram povos nômades abrigos, cavernas e arenitos dos Campos
caçadores-coletores, sendo caracterizados Gerais. As representações são divididas em três
pelos diferentes materiais lascados que categorias, as figuras humanas, as figuras de
produziam, como pontas e projéteis. Supõe- animais e os sinais. As figuras de animais e
se que já estavam nos territórios paranaenses seres humanos são associadas a representações
entre 12.000 a 15.000 anos atrás, vindos das geométricas, em tons vermelhos, marrons e
terras altas do centro e oeste sul-americano: pretos, raramente em amarelo. Em vários
áreas andinas e amazônicas. abrigos existem pinturas geométricas
Há dez mil anos, com o clima tornando- abstratas, os sinais, como pontos, círculos e
se cada vez mais quente e úmido, outros grupos linhas, que sobrepõem figuras de animais,
caçadores e coletores migram para o Paraná, geralmente em vermelho e marrom. Parte
ocupando em momentos diversos tanto o vale dessas pinturas e gravuras rupestres, no Paraná,
de grandes rios, tais como o Iguaçu, o Ivaí, o com datação entre quatro mil e trezentos anos
Tibagi e o Paraná, como nos topos de atrás, parecem estar relacionadas a grupos Jê.
montanhas, inclusive abrigos rochosos, e o As representações rupestres refletem
litoral. aspectos simbólicos e espelham a identidade
As primeiras pinturas e gravuras cultural da sociedade que a produziu.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Pintura rupestre no Estado do Paraná Pontas de flechas


Foto: acervo Museu paranaense Foto: acervo Museu Paranaense

Fonte: Arqueóloga Dra.Cláudia Inês Prellada. Museu Paranaense.

http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=177&evento=10

25
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

POVOS AGRICULTORES CERAMISTAS


Os primeiros povos agricultores e como por exemplo, os cachimbos com
ceramistas chegaram ao Paraná há 4.000 fornilho redondo e haste cerâmica. Usavam
anos, vindos do planalto central brasileiro, também porongos, frutos ocos, como moldes
ocupando as terras altas do sul brasileiro. Ao internos de pequenas vasilhas. Esses frutos
longo do tempo dispersaram-se por todo o eram queimados com a argila aderida na
território paranaense, sendo ancestrais de superfície, desaparecendo com as altas
índios da família lingüística Jê. temperaturas, mas deixando impressões no
Os Jê meridionais, atualmente interior dos vasilhames.
representados pelos Kaingang e Xokleng, Na cerâmica arqueológica Itararé-
teriam se separado e iniciado a migração em Taquara (Kaingang e Xokleng) usavam os
direção ao Sul, há cerca de 3.000 anos. métodos de manufatura pelo modelado,
Viviam em aldeias, com até 300 pessoas, e os roletado e paleteado.
territórios eram marcados através da Na técnica do roletado, usado tanto por
gravação de símbolos clânicos em abrigos grupos Tupi-Guarani como Jê, os vasos eram
rochosos e em tronco de pinheiro de confeccionados através de roletes ou cordéis
araucária. Cremavam seus mortos, faziam de argila, sucessivamente ligados e apoiados
cemitérios em danceiros (lugares de reuniões uns sobre os outros, secos a sombra, e depois
sociais) ou abrigos rochosos, onde realiza- havia a sucessão de polimento da superfície
vam pinturas e gravuras. Os artefatos em externa através de pequenos seixos arredon-
pedra eram polidos e/ ou lascados. dados, principalmente em silexito (rocha),
A cerâmica relacionada aos ancestrais folhas de palmito ou espátulas de madeira ou
de índios Jê no Paraná caracteriza-se pelo concha.
pequeno volume de espessura fina, com even- No paleteado confeccionava-se o
tual engobo negro ou vermelho, e em alguns vasilhame inicialmente através de um cone
casos marcada com impressão de tecido ou feito de argila apoiado em um seixo arredon-
malha, ou ao mesmo tempo carimbada e dado de pedra, que era batido sucessivamente
incisa, na face externa do vasilhame. com uma paleta de madeira ou outro seixo,
A confecção dos vasilhames era feito fazendo as peças de diferentes formas e
por diferentes técnicas, como o modelado tamanhos.
onde a argila era modelada com as mãos, O engobo é uma fina camada de
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

pigmentos aplicados na vasilha, antes e


depois da queima; pode modificar ou
aumentar a impermeabilidade da peça. Os
Itararé-Taquara usavam o engobo negro ou
vermelho. O engobo negro consegue-se
através do esfumaramento: na queima do
vasilhame, quando se torna rubro devido a
temperatura, é colocado sobre a palha de
milho seca, e assim ocorre a reação da
combustão, onde o carbono adere intensa-
mente à superfície do vasilhame que fica
Vasilhame cerâmico da Tradição Arqueológica Itararé.
com uma película negra assemelhada ao
Relacionada aos ancestrais de grupos do Tronco Lingüístico Jê, verniz.
e encontrado em roncador –Pr. Acervo: Museu Paranaense.
O engobo vermelho, geralmente é

26
CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA

inorgânico, como óxido de ferro moído aldeias e a cerâmica era decorada, com
diluído em água e aplicado sobre a superfície pinturas geométricas, vermelhas e pretas
do vasilhame, antes ou depois da queima o sobre engobo branco, ou incisões ou
que diminui a durabilidade da cor e da marcações com as unhas e a polpa dos dedos;
impermeabilidade. eram comuns os cachimbos cerâmicos. As
Os ancestrais dos índios Tupi e Guara- técnicas de manufatura da cerâmica incluem
ni, provavelmente vindos da Amazônia, o roletado e o modelado.
chegaram ao Paraná, há 2.000 anos atrás. Os
Guarani, também agricultores, viviam em

Fonte: PARELLADA, Cláudia Inês. Estética Jê no Paraná: Tradição e Mudança no


Acervo do Museu Paranaense. R.cient./FAP, Curitiba, v.3, p. 219-222, jan/dez. 2008.

HISTÓRICO DE CONTATO

No Estado do Paraná temos quatro Foram devastados ricos territórios em


grupos indígenas que lutaram e lutam pela florestas ervais e madeiras, principalmente de
sobrevivência de sua etnia e cultura, os araucárias, territórios de campos de caças e de
Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá. Pode-se coleta de pinhão, fonte de alimento dos
dizer que chegaram ao Paraná à 2000 anos indígenas, para a ocupação e implantação de
atrás, com exceção dos Xetá que ainda não fazendas de criação nos campos de
existe informação a respeito. Os territórios Guarapuava (Koran-bang-rê) e Palmas
localizados entre os rios Paranapanema, (Kreie-bang-rê). Em meados deste século, as
Tibagi e Ivaí, hoje norte e noroeste do Paraná terras roxas do norte no Paraná foram
já eram ocupados pela população indígena. ocupadas com o plantio de café, e as terras do
A história de contato desses povos com sudoeste e oeste transformadas em campos de
os europeus no Estado do Paraná, data do agricultura pelos fazendeiros, expandindo
início do século XVI, com as primeiras seus domínios.
expedições portuguesas e espanholas que No século XX, a guerra de conquista
cruzavam pelo interior do Paraná rumo ao continuou em nome do progresso, pelas
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Paraguai e ao Peru, em busca de metais, de companhias de terras que lotearam e


escravos e terras indígenas. venderam os territórios indígenas com o aval
Continuou no século XVII com a institucional do Estado do Paraná.
implantação das Reduções Jesuísticas no A ocupação das últimas matas nativas
Guairá e com as bandeiras Paulistas que das áreas indígenas no vale do rio Tibagi, conti-
invadiram a região capturando os índios. nuou no limiar do século XXI, com a constru-
O século XVIII foi marcado com a ção de barragens para a geração de energia.
descoberta de ouro e diamantes no rio Tibagi, Todos esses territórios, pertencentes às
e com expedições militares que construíram comunidades indígenas Kaingang, Xokleng,
fortificações e transitavam pelo território Xetá e Guarani, foram espaços submetidos à
rumo ao Mato Grosso. conquista e à ocupação. Os índios lutaram
Já no século XIX, as comunidades pela manutenção desses espaços e de seu
indígenas sofreram um acelerado processo modo de vida. Foram séculos de resistência e
para se integrarem à sociedade envolvente. lutas contra a política de integração.

27
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

Travaram inúmeras batalhas contra os atingidos por suas flechas. Apesar dos
invasores de seus territórios, muitos índios conflitos e extermínio as comunidades
foram mortos pelas armas de fogo dos indígenas sobreviventes permaneceram
brancos, mas, muitos conquistadores foram indígenas.

Fonte: MOTA, Lúcio Tadeu.


EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

28
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

Kaingang do PR (desenho de João Henrique Elliot 1809-1888)

KAINGANG
KAINGANG
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

VIVIAM LIVRES NAS REGIÕES DE


CAMPOS E FLORESTAS DO SUL DO BRASIL

29
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

OS KAINGANG
OS KAINGANG
KAINGANG: HISTÓRIA DE CONTATO
Os Kaingang fazem parte do tronco pertencentes aos vários grupos indígenas –
Macro-Jê, da família Jê e falam a língua Kaingang, Guarani, Xokleng, Xetá –
Kaingang e ocupam áreas dos Estados da provocando as primeiras tentativas de
região Sul: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa ocupação não indígenas nas terras do interior
Catarina e São Paulo. Também conhecidos das províncias do sul.
como Jê do Sul. No início do século XIX, a estrada da
A denominação kaingang só foi Mata foi o eixo inicial de ocupação dos
introduzida no final do século XIX por territórios indígenas do Sul, intensificada com
Telêmaco Borba. Inicialmente , os Kaingang e o comércio de rebanho muares e bovinos
os Xokleng foram classificados como uma só trazidos do Rio Grande do Sul para Sorocaba e
etnia com dialetos diferentes, sendo o Xokleng passando pelos Campos Gerais no Paraná, não
denominado Aweikoma- Kaingang apenas em direção ao sul, mas também a oeste e
No século XVI teve início a história de a norte. A expansão paulista é a ponta de lança
contato dos Kaingang com os colonizadores para a conquista das terras indígenas do Paraná,
europeus, quando alguns grupos viviam Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
próximos ao litoral atlântico. O caminho das tropas é que vai
Nos séculos XVI e XVII grande parte consubstanciar uma frente de ocupação e
dos índios foram reduzidos e alguns grupos exploração nacional nas terras indígenas, com
ancestrais dos Kaingang foram reduzidos em a implantação de sesmarias a partir dos
Conceição dos Gualachos, às margens do rio Campos Gerais no Paraná.
Piquiri, e em Encarnación , às margens do Apesar de todas as guerras dos Kaingang
Tibagi. Após terem fugido dos ataques dos para expulsar os brancos, os caciques foram
bandeirantes paulistas, os jesuítas fundaram vencidos um a um e aceitaram fixar-se nos
novas reduções na Província de Tape, entre aldeamentos definidos pelo governo, sob pena
1632 e 1636 (atual Rio Grande do Sul). de serem exterminados, como de fato alguns
Muitas populações indígenas reduzidas foram. Simultaneamente ao aldeamento, os
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

foram atingidas por diversas epidemias e territórios foram sendo ocupados pelas
houve grande prejuízo demográfico. fazendas e a colonização nacional foi se
Como foram poucos que aceitaram viver consolidando nas décadas seguintes.
sob o comando dos jesuítas, os Kaingang, No final do século XIX, pode-se dizer
viveram livres nas regiões de campos e que todos os grupos tinham sido
florestas do sul do país até o século XIX, conquistados, a exceção dos Kaingang da
quando foram conquistados. bacia do Tietê-SP e os grupos que viviam nos
Na segunda metade do século XVIII, as territórios entre os rios Laranjinha e Cinzas
primeiras tentativas de conquista e ocupação no Paraná que foram conquistados nas
efetiva dos campos e florestas pertencentes aos primeiras décadas do século XX. Os de São
Kaingang, iniciou-se na província do Paraná Paulo foram conquistados em 1912 e os dos
(que incluía a maior parte do Estado de Santa Paraná em 1930.
Catarina). Nesse período as expedições
exploradoras localizaram vários territóriosFoto: acervo Museu do índio, década de 1950
Fonte: Kimiye Tommasino.

31
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

MITOLOGIA KAINGANG

A origem dos Kaingang tem ligação sobrevivência, de atividade econômica, de


com a Terra-mãe e constitui-se como o produção e reprodução da cultura. “Da Terra
princípio da vida, da sociedade e da saíram e a Terra voltarão”.
cultura. Na mitologia Kaingang os primeiros
A relação se dá desde o nascimento até humanos saíram de um buraco na terra, são:
a morte, com seus umbigos enterrados na Kamé e Kairu, metades que deram origem a
terra e a vida que se constitui pelo contato sociedade e que produzem a divisão entre os
com a natureza. Rios e matas são espaços de homens e os seres da natureza.

Segundo Nimuendajú (1993), na mitologia Kaingang foram os dois irmãos Kairu e


Kamé que criaram todas as coisas:

fizeram todas as plantas e animais, e que povoaram a terra com seus descendentes, não
há nada neste mundo fora da terra, dos céus, da água e do fogo, que não pertença ou ao
clã de Kañeru ou ao de Kamé. Todos ainda manifestam a sua descendência ou pelo seu
temperamento ou pelos traços físicos ou pela pinta. O que pertence ao clã Kañeru é
malhado, o que pertence ao clã ao Kamé é riscado. O Kaingang reconhece estas pintas
tanto no couro dos animais como nas penas dos passarinhos, como também na casca, nas
folhas, ou na madeira das plantas. Das duas qualidades da onça pintada, o acanguçu é
Kañerú, o fagnereté é Kamé. A piava é Kañerú, e por isso ela vai também adiante da
piracema. O dourado é Kamé. O pinheiro é Kañerú, o cedro é Kamé, etc.
Fonte: Kimiye Tommasino. Novas contribuições
aos estudos interdisciplinares dos Kaingang.
Londrina Eduel, 2004. Capítulo 5, p. 146-159.

O relato do velho Xê exemplifica como os mitos e as crenças desse povo estão


regidos profundamente por sua relação com a natureza e o mundo:

“Os primeiros Kaingáng foram Filtón e o “iambrê” (cunhado) dele. Viveram muito,
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

muito tempo antes da grande chuva que provocou a inundação de todo o mundo. Filtón
era o chefe dos Kanherú e o outro o dos Kamé. Vieram do interior da terra. O chão
tremeu e houve um estouro. Enxergaram a claridade e saíram de dentro da terra. A
princípio eram dois grupos sómente, mas ao chegarem à superfície da terra fizeram a
subdivisão em Votôro e Venhiky, por causa das festas que iam realizar”.

PEREIRA, Magali Cecili Surjus. Meninas e


meninos Kaingang: O processo de socialização.
Londrina. Ed. UEL, 1998. p.40

RITUAL E XAMANISMO mortos, as crenças e o apego às terras onde


estão enterrados seus umbigos, são
O kiki, culto aos mortos, é o ritual que expressões compartilhadas entre os Kaingang
ainda é reconhecido como sistema e de grande valor para a vida religiosa do
cosmológico. Ainda hoje o respeito aos grupo.

32
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

O Kiki, ou o ritual do Kikikoi (comer O terceiro fogo: São seis fogos acesos
kiki), consiste em reunir dois grupos paralelamente ao konkéi, três para cada
formados por pessoas pertencentes a cada metade clânica. Acontece dois meses após a
uma das metades clânicas, Kamé e Kairu. colocação da bebida no Konkéi.
A realização do ritual do Kikikoi Durante a noite os rezadores com ou-
depende do pedido dos parentes de alguém tros integrantes permanecem entoando cantos
que veio a falecer nos anos anteriores e deve e rezas para os mortos da metade oposta.
ter mortos das duas metades. Nesta etapa as mulheres, as péin,
O Kikikoi pode ser definido como o realizam pinturas faciais cuja finalidade é a
esforço da sociedade em ratificar o poder do proteção dos participantes contra os espíritos
mundo dos vivos sobre os perigos associados dos mortos de sua metade.
com a proximidade dos mortos. É um ritual Ao amanhecer os grupos se deslocam
para afastar o morto de seus entes queridos, para a praça de dança, onde os grupos se
que correm perigo de serem levados pelo fundem ao redor dos fogos e o ritual é
morto, pois não conseguem se libertar do concluído com o consumo do kiki.
mundo dos vivos pela falta que sentem da
esposa ou esposo e dos filhos.
Hoje o Kikikoi é realizado apenas pelos KUIÃ
Kaingang da Terra Indígena Xapecó em Santa
Catarina. Os jovens consideram o Kiki como O Kuiã (xamã) se ocupa das curas e tem
sistema dos antigos e associam o Kiki a capacidade de ver o que irá acontecer com
tradição indígena. aqueles que vivem no grupo.
O poder do kuiã é adquirido através de
seu guia animal (jangrê), que será seu
RITUAL DO KIKIKOI companheiro e guia, e ensina ao kuiã o
tratamento com remédios do mato. O guia
Na realização do Kikikoi, as metades animal pode ser o tigre que é considerado o
clânicas, Kamé e Kairu atuam separada- mais forte dos guias.
mente. O processo ritual é marcado pela O aspirante a kuiã, deverá ir ao mato
reunião dos rezadores em três fogos acesos virgem, cortar folhas de palmeira e
em dias diferentes, no terreno do organizador, confeccionar recipientes com água para atrair
que é chamado de praça da dança ou praça o animal. O animal que beber a água
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

dos fogos. preparada será seu companheiro e guia.


O ritual deve ser realizado entre os Com seu guia ou companheiro animal,
meses de janeiro e junho, durante a época de o kuiã ocupa posição importante na
milho verde. organização social e política das comuni-
O primeiro fogo: são dois fogos, um dades Kaingang.
para cada metade clânica. Antecede pelo
corte do pinheiro (araucária) para fazer o
cocho onde o “Kiki” (bebida feita de milho) é SUBSISTÊNCIA
colocado.
O segundo fogo: são quatro fogos, dois Os territórios Kaingang compreendiam
para cada metade clânica. Ocorre na noite extensas áreas de campos e florestas do Sul,
seguinte que antecede o início da preparação além das aldeias, onde acampavam em
do Konkei (cocho). períodos de caça, pesca e coleta. O pinhão,

33
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

fruto do pinheiro do Paraná (araucária


Angustifólia), era fonte alimentação nos
períodos de inverno. Usavam os pari,
armadilhas de pescas, forma tradicional, que
ainda é utilizada pelos Kaingang dos rios Ivaí
e Tibagi.
Hoje sobrevivem das roças adminis-
tradas pela FUNAI, das vendas de artesanato,
de aposentadorias e alguns empregos
públicos existentes nas aldeias.
Araucaria angustifolia (Araucária), o Pinheiro-do-Paraná
http://http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=19998

ORGANIZAÇÃO SOCIAL
O aspecto da organização social Kaingang é a divisão nas metades exôganicas Kamé e
Kairu que se opõem e se complementam.

KAINRU KAMÉ
Gêmeo ancestral denominado Kainru, Gênero ancestral denominado Kamé;
conforme o mito, saiu primeiro do chão; conforme o mito, saiu depois do chão; sol,
lua, um ex-sol; noite; corpo fino, peludo, símbolo de força e poder; dia; corpo
pés pequenos; frágil, menos forte; grosso, pés grandes; mais forte; masculino;
feminino; ligeiro em movimentos e vagaroso em movimentos e resoluções;
resoluções; menos persistentes; leste; baixo persistentes; temperamento feroz; oeste;
(parte de baixo); pintura corporal redonda, alto (parte de cima); pintura corporal em
fechada; orvalho, umidade; mudança; faixas, linhas, “abertas”; dureza;
agilidade; lugares altos; seres/objetos permanência; lugares baixos; seres/objetos
redondos/fechados; seres/objetos compridos/riscados mais pesados ou
malhados/manchados, leves ou delgados; grossos; pinheiro (Araucária angustifólia).
sete sangrias (Simplocus parviflora). Fonte: Sergio Baptista da Silva
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

http://www.scielo.br/pdf/ha/v8n18/19062.pdf

Os casamentos devem ser realizados ambos os sexos pertencem à metade do pai,


entre indivíduos das metades opostas. Kamé ou seja, se o pai é Kamé, os filhos de ambos os
não pode casar com Kamé, ou vise e versa, sexos são Kamé, se o pai é Kairu os filhos são
pois são irmãos. Kamé só pode casar com Kairu.
Kairú. Na tradição Kaingang, o Sol é Kamé e a
Os Kamé estão relacionados ao oeste e Lua é Kairú.
a pintura facial é feita de motivos compridos A cosmologia dualista dos Kaingang,
(rá teí) e os Kairu, ao leste, a pintura facial é os mitos Kamé e Kairú não apenas produzem
feita de motivos redondos (rã rôr). a divisão entre os homens, mas também na
A metade Kamé ou Kairu, a filiação, é natureza vegetal e animal: o pinheiro é Kamé
definida patrilateralmente. Os filhos de e o cedro é Kairu, o lagarto é Kamé e o

34
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

macaco é Kairu, assim por diante, conforme velhos, seus filhos e filhas solteiras, suas
Telêmaco Borba (1882). filhas casadas, seus genros e netos. Este grupo
Os princípios sociocosmológicos doméstico não ocupa, necessariamente, uma
dualistas tradicionais kaingang operam sobre mesma habitação, mas um mesmo território.
uma estrutura social baseada na articulação de Ser Kaingang na atualidade, significa
unidades sociais territorialmente localizadas, ser filho de pai kaingang. Nas terras indígenas
formadas por famílias entrelaçadas que kaingang há um número significativo de
dividem responsabilidades cerimoniais, indivíduos classificados como mestiços
sociais, educacionais, econômicas e políticas. (filhos de casamentos entre kaingang e
A morfologia social kaingang segue branco), misturados (filhos de pais de duas
princípios complementares e assimétricos etnias indígenas, como de Kaingang com
com relação aos princípios dualistas. A Guarani ou Kaingang com Xokleng), india-
unidade social mínima kaingang é o grupo nos (brancos casados com mulheres kaingang
familiar formado por uma família nuclear que vivem incorporados como membros da
(pais e filhos). Estes grupos familiares fazem comunidade da esposa), ou cruzados (estes,
parte de unidades sociais maiores que segundo os próprios Kaingang, são definidos
podemos chamar de grupos domésticos, como aqueles filhos de mãe índia e pai branco
formados, idealmente, por um casal de e que não falam a língua nativa).

Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang/288.
Kimyie Tommasino.

ARTE E CULTURA MATERIAL KAINGANG

Os kaingang fabricavam armas de instrumento de taquara fina encabada em uma


guerra e de caça, tecidos de fibras de urtiga cabaça furada nas extremidades (õtõrêrê).
brava, talas de caraguatá, cestos de taquara, A dança para os Kaingang está
enfeites e adornos e utensílios de cerâmica e relacionada ao culto aos mortos, que se realiza
porongos (cabaças). A cerâmica era anualmente na época em que o milho está verde
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

utilizada basicamente para preparar os e o pinhão amadurece. É acompanhada de


alimentos. cantos rituais e sons de chocalhos. Os
As armas de guerra constituíam-se de dançadores se distribuem de acordo com a
arcos, flechas e lanças. As pontas das flechas metade a que pertencem.
eram de osso de macaco bugio e mico. Os arcos Com relação aos grafismos, aparecem
eram feitos de pau d'arco (Tabebuia em uma grande variedade de suportes como
Chrysantha). Tempos depois, as lanças trançados, tecidos, armas, utensílios de cabaça,
passaram a ser de ferro que eram obtidos dos cerâmica, troncos de pinheiro e nos corpos dos
brancos. Atualmente os Kaingang fabricam Kaingang.
arcos e flechas apenas como enfeites. Os trançados revelam formas e
Entre os instrumentos musicais estão grafismos relacionados à cosmologia dualista,
segundo Borba (1908): buzina de chifre de boi evidenciando a organização simbólica dos
ou taquara (oaquire), flauta de taquara (coque), mundos social, natural e sobrenatural em
Maracás (xii: xik-xi), apitos de taquara e outro metades Kamé e Kairu.

35
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

PINTURA CORPORAL

RELATO DE ÍNDIA KAINGANG DO APUCARANINHA

Maria Va-Gánh que diz ter 120 anos de idade.

“Fazia pintura do rosto (redondo)


Com a tinta preta, no balaio
Fazia redondo
Fazia riscado
Lembra de tudo
Só do cipó-kó-mrur
Já existia o balaio
E fazia o desenho, a pintura.
O pai, o bisavô eles aprenderam
Sei faze chapéu, mais precisa de criciúma e é muito
Longe pra busca.
Mais até hoje sabe fazê..
Fazia panela, tigela, prato de barro porque naquele
Tempo, não existia de outro.
Mais pra faze panela, não é quarquê barro que serve.
O nome do barro é go-õr
Fazia tempo que não procura mais
Faiz tempo...
Hoje existe prato do branco
Vou mandar o fio procurar (o barro) e vou faze
Hoje faço peneira também
Tem pintura do rosto (rõr)(...)”
(inverno de 1996)
Fonte: OLIVEIRA, Marlene de.
Da taquara ao cesto:
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

a arte gráfica Kaingáng.


UEL, Londrina, 1996. (p.41).

A pintura corporal estava sempre com os colmos de taquara para a metade


presente no Kikikoi (culto dos mortos) e votor. Geralmente a pintura era feita na face
caracterizava o subgrupo ou clã ao qual o do indivíduo, mas, também eram realizadas
indivíduo pertencia. As pinturas corporais em toda a superfície do corpo, e cobertas por
eram pretas, feitas com carvão misturado com penas e plumas.
mel e água ou com a seiva pegajosa de uma A pintura está sempre associada aos
trepadeira. Algumas pinturas eram feitas nomes ou marcas, ror e téj. Ror representa a
através de um carimbo em madeira, inclusive metade Kairú (kanhru), baixo-redondo ou

36
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

grosso-compacto. Téj representa a metade manchas ou pontos é frágil, feminino, ligeiro,


Kamé, alto-comprido ou fino e difuso. A simboliza a Lua, a noite, a agilidade e leveza.
pintura corporal característica dos Kanhru Kamé é marcado pelas linhas retas ou curvas,
seriam manchas e a dos Kamé listras. representando o sol, que é o símbolo da força
Kanhru representado pela marca de e do poder, o dia, o masculino, o feroz.

ARTE E CULTURA MATERIAL KAINGANG – HOJE


EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Na arte indígena de hoje, já está kaingang confeccionam outros artefatos


incorporada o costume do não-índio, mas como: bolsas, peneiras, chapéus, colares,
ainda existe a tradição da pintura corporal, do pulseiras, arco e flecha e chocalhos. Também
uso de adornos e cocares em festas, como no utilizam na confecção de bolsas, a fibra de
dia do índio; nas festas religiosas como Nossa bananeira.
Senhora Aparecida e outros santos e em No artesanato, o grafismo dos cestos,
eventos e apresentações fora da aldeia. ou seja, o trançado é padronizado, mas o
artista é livre para criar outros motivos, estão
sempre inovando.
ARTESANATO A taquara é a matéria-prima utilizada na
confecção da cestaria e é retirado das matas
Além dos cestos de taquara, os longe da aldeia. São cortadas em fitas com

37
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

facas bem afiadas e depois tingidas com ornamentados com taquara e penas de galinha
anilina (produto industrializado), antes da que também são tingidas com anilina, como
confecção dos cestos e dos outros artefatos. também os arcos e flechas e cocares. Os
Os chocalhos são feitos de cabaça e colares são feitos de sementes.

A cestaria tornou-se ao longo do tempo atividade produtiva. Envolve


principalmente as mulheres e crianças menores que acompanham desde a coleta da
taquara no campo até o trabalho de trançar.
O comércio de cestarias é feito, principalmente, na cidade onde montam
acampamentos próximos a alguma água ou riacho.
Andam pelas ruas da cidade vendendo ou trocando seus balaios por roupa ou
comida.
Trecho do livro: Meninas e meninos Kaingang: O processo de socialização. Londrina Ed. UEL, 1998. Magali
Cecili Surjus Pereira.(P.90).

TRANÇADO KAINGANG – CESTARIAS

As cestarias Kaingang compõem a indicando a cobra (pyn), chamada de “Ti-rá-


grande riqueza material Kaingáng, pois reroio”.
trazem grande variedades de motivos Os desenhos dos trançados Kaingang
decorativos expressos nos seus trançados e mostram os padrões para a confecção de
que hoje representam a identidade cultural balaios, cestos e peneiras que devem ser
dos kaingáng. seguidos, conforme a estética de cada um. São
Os desenhos geométricos das cestarias três tipos de cestos: Key – os mais altos do que
tem relação com a organização social e amplos (paneiformes); Kre – mais largos do
representam suas metades clânicas. Cestos e que altos (ganeiformes) e Peñera – amplas e
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

peneiras em seus motivos geométricos, achatadas.


representam a pintura do rosto, as marcas das Hoje, com o processo de mudança por
patrimetades Kairú e Kamé que pertence o motivos de contato com a civilização
artesão, como forma indiscutível de majoritária e a necessidade de arrecadar
afirmação étnica e identidade do indivíduo fundos para a subsistência, muitas vezes as
na estrutura social. Algumas representações mulheres não seguem as regras de trançados
gráficas dos desenhos também tem relação estabelecidas pela tradição, usam diferentes
com animais que pertencem as metades, a motivos geométricos e com cores fortes,
onça (mig) era estampada nos desenhos como roxo, rosa, verde, amarelo e o vermelho,
das cestarias dos antigos Kaingang. pela necessidade de adequar a produção as
Atualmente encontramos alguns desenhos exigências dos consumidores.

38
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

CESTARIAS, ARTEFATOS E COLARES KAINGANG

39
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

ADORNOS sementes de milho e feijão; também temos o


Antigamente, a natureza oferecia uma turú, que é feito da taquara e na ponta usa-se
infinidade de matérias primas que os um porongo ou garrafa plástica.
indígenas coletavam para confeccionar Esses instrumentos musicais antiga-
determinados adornos, que eram usados no mente eram usados durante as danças
dia a dia e durante as práticas festivas. culturais chamadas Kiki koj, e hoje são usadas
Para cada tipo de material extraído da nos grupos de dança das escolas indígenas.
natureza, existe tempo e estação própria. Fonte: NÖTZOLD, Ana, Lúcia Vulfe (org). Cipó Guambé,
Taquaruçú e Anilina: Conhecendo os Artesanatos Kaingáng.
Na confecção da pulseira utiliza-se os Caderno de Atividades. Gráfica Agnus. São José – SC, 2009.
seguintes materiais: cipó guambé, taquara
mansa, imbira, sementes, casca de guajuvira.
MÚSICA
No colar: usa-se sementes de várias
espécies, ariticum, uva japão, coquinho,
penas de animais silvestres e linha de imbira. Encontramos músicos Kaingang que
tocam violão, acordeão, guitarra elétrica e
O anel: é feito de coquinho, taquara
grupos que tocam em bailes e igrejas que
mansa e cipó guambé.
existem dentro das aldeias Kaingang.
Palito de cabelo: usa-se uma madeirinha
Segundo o professor indígena
extraída especialmente da guajuvira e como
Alcindo Curimba Cordeiro, da aldeia do
enfeite é inserido penas e casca de cipó
Ivaí em Manuel Ribas, Paraná, existe o
guambé.
Grupo de Música: OS INDIANOS, onde
O cocar: a sua base é feita com o cipó os músicos tocam gaita, violão guitarra,
guambé ou taquara mansa e para enfeita-lo é contra baixo e teclado. As músicas
inserido penas coloridas. preferidas são as gauchescas, sertanejas
Brinco: é feito de sementes, pequenos entre outros ritmos.
pedaços de madeira, nó de pinho e tiras de
cipó guambé.
DANÇA
Braçadeira: usa-se cipó guambé, taquara
mansa, penas e tinta de cipó.
Destaca-se o baile, pois reúne indivíduos
Atualmente, os Kaingáng utilizam
de todas as idades. O baile é frequentemente
materiais artificiais, como tinta, linhas e cola,
realizado pela comunidade em dias festivos
devido à escassez da matéria prima.
como festas juninas e julinas, dias santos, dia do
índio ou quando um grupo está com vontade de
INSTRUMENTOS MUSICAIS dançar.
Dançam todos na mesma direção
Entre os instrumentos musicais usados
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

formando um grande círculo ao redor do


pelos Kaingáng, temos os seguintes: a flauta, salão. Observa-se a formação dos pares assim
feita de gomo da taquara mansa e do porongo; que a música começa a ser tocada, esses pares
o chocalho também é um instrumento feito de se desfazem rapidamente, quando termina a
porongo contendo em seu interior algumas música (PEREIRA,1998).

CONTO INDÍGENA KAINGANG

Depois do dilúvio
Povo kaigang (Mito Kaigang)

Os velhos do povo Kaigang contam aos seus netos que, nos tempos criadores, a terra
viveu um grande dilúvio. Choveu tanto, mas tanto, que ficou para fora apenas o pico da

40
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

serra Crinjijimbê. Por isso todos os seres humanos daquela época tentaram alcançar o
topo para sobreviver. Muitos tentaram, mas alguns não conseguiram e morreram
afogados. Seus espíritos, conforme contam os antigos, foram para o centro da terra onde
fizeram sua morada.
As pessoas que sobreviveram eram tantas que o pico da serra não comportava todo
mundo. Alguns, então, tiveram que viver nos galhos das árvores, enquanto outros
viveram na terra.
Passaram-se muitos dias e todos já estavam desanimados com a chuva que não
parava, e a água que não baixava, algumas pessoas já passavam mal de fome, pois nada
mais tinham para comer.
Quando tudo parecia perdido, os homens ouviram bem ao longe um canto
conhecido por eles: era o canto das saracuras que traziam, dentro de seus papos, terra
para aterrar o dilúvio. Imediatamente todos passaram a gritar pedindo socorro às aves
que, compadecidas, atenderam ao pedido dos humanos. Com a ajuda de outras aves, as
saracuras fizeram um grande dique por onde atravessaram os homens. Infelizmente,
como houve demora no atendimento, os homens que estavam sobre as árvores acabaram
virando macacos e saíram pulando de galho em galho.
Contam os antigos que, como as saracuras vinham de onde o sol nasce, as águas
acabaram todas correndo para o poente, indo em direção ao grande rio Paraná.
Com o passar dos dias as águas secaram e os sobreviventes se estabeleceram nas
imediações do pico Crinjijimbê. Aí aconteceu um fato inusitado para todos: os que
haviam morrido e ido morar no centro da serra, começaram a abrir caminho para fora e
chegaram a sair por duas veredas. Os da metade Kaiurucré saíram num lugar plano e
cristalino e por isso tinham os pés bem pequenos; os da metade Kamé saíram por outra
vereda. Esta era pedregosa e cheia de espinhos. Por isso ficaram com pés grandes.
Também saíram em lugar muito árido, sem água para beber. Mais uma vez, tiveram que
pedir aos kaiurucré permissão para beber de sua água. Assim estes dois grupos foram
convivendo até abandonarem a serra. (...)
As duas metades Kaigang continuaram seu caminho até chegarem num local onde
decidiram unir suas forças através do casamento entre os seus jovens. Moços Kaiurucré
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

casariam com moças Kamé, e moços Kamé casariam com moças Kaiurucré. Assim
aconteceu. Mas foi tudo sem festa porque eles ainda não sabiam cantar ou dançar.
A música e a dança apareceu entre eles quando um grupo de caçadores Kaiurucré
chegou num bosque todo limpinho e percebeu que havia, ali, um pequeno roçado.
Aproximaram-se para observar melhor e notaram duas varinhas com suas folhas
carregando uma pequena cabaça. Acharam estranho e voltaram para a aldeia onde
contaram tudo o que viram.
O chefe da aldeia decidiu que voltaria ao local com toda aldeia para certificar-se
daquilo. Lá chegando ouviram canções belíssimas. Foram decorando cada uma das
canções. Depois pegaram a varinha e levaram para a aldeia onde fizeram cópias delas e
distribuíram entre todos. O Chefe Kaiurucré, que havia presenciado a dança das
varinhas, reproduziu a mesma dança chacoalhando-as. Todo mundo viu e gostou. Foi o
início de uma grande festa. (...)

41
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

Glossário
Kaigang – Povo originário do sul do Brasil. È do tronco lingüístico Macro-Jê e da família lingüística Jê. Está
hoje presente nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sua população foi
estimada em 20.000 pessoas (dados de 1994).

Saracura – Galináceo que habita pântanos, lagoas e rios. Anuncia com o seu cantar, a aproximação das
chuvas.

Kaiurucré – Metade familiar entre os Kaigang. Os membros desta metade podem casar-se apenas com a sua
metade oposta, os Kamé.

Kamé – Outra metade familiar Kaigang. Os membros deste grupo só podem casar com os Kaiurucré.

Fonte: MUNDURUKU, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. 2ª ed. – São Paulo : Global, 2005, p. 43 – 50.

ETNO CONHECIMENTO

A ORIGEM DO MILHO

A
ntigamente nossos antepassados se alimentavam de frutos e mel,
quando estes faltavam eles passavam fome. Um velho de cabelos
brancos de nome Gâr, ficou com pena deles; um dia disse a seus
filhos, netos e noras, que pegassem um pedaço de pau e com ele fizessem uma
roçada nos taquarais e queimassem. Feito isso disse aos filhos que os
conduzissem ao meio do roçado. Quando lá chegaram sentou-se e pediu que
trouxessem cipó grosso. Quando já haviam trazido bastante cipó o velho disse:

– Agora vocês amarrem no meu pescoço e arrastem-me pela roça em


EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

diferentes direções. Quando eu estiver morto enterrem-me no centro dela e vão


para a mata pelo espaço de três luas...

...Quando vocês voltarem, passado esse tempo acharão a roça de frutos


que, plantados todos os anos, livrarão vocês da fome. (...)

Fonte: Ana Lúcia Vulfe Nötzold/Ninarosa Mozzato da Silva Manfroi


Fonte: (organizadoras)
Ouvir Memórias e Lendas. Contar Histórias: Mitos e Lendas Kaingáng.
Ed. Pallotti, Santa Maria – RS, 2006.

42
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

ATIVIDADES

1) Em grupo faça uma pesquisa sobre os Kaingang. É importante seguir os seguintes tópicos na
pesquisa:
- História de contato
- Mitologia e rituais
- Subsistência
- Arte e cultura material
- Artesanato
- Mudanças ocorridas na arte e cultura.

2) Selecione imagens e confeccionem cartazes para facilitar a apresentação do trabalho e


discuta com a classe sobre a importância do artesanato na vida dos Kaingang.

3) Quais os significados da pintura corporal e dos grafismos encontrados nos trançados?

4) Copie em seu caderno alguns grafimos encontrados nas cestarias Kaingang. Procure repetir
os grafismos de maneira que criem ritmos. Use papel A4, utilize a folha inteira e faça
acabamento com lápis de cor, caneta hidrocor, lápis 6B...

5) Recorte tiras de papel cartão de várias cores e faça trançados a partir dos grafismos
indígenas.

6) A partir do conto indígena: Depois do Dilúvio, selecione ou faça uma síntese das partes mais
significativas e depois ilustre cada uma delas, criando um livreto.

7) A partir da lenda “A Origem do Milho”, crie uma história em quadrinhos. Desenhe os


personagens, use recursos gráficos, balões e onomatopéias para melhor expressar as
sensações e emoções. EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

43
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

XOKLENG
XOKLENG
SOBREVIVENTES DE UM PROCESSO
BRUTAL DE COLONIZAÇÃO

EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Mulher Xokleng fotografada por Silvio Coelho dos Santos, 1975.

http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/Xokleng/xokleng_1.jpg.html

45
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

OS XOKLENG
OS XOKLENG
XOKLENG: HISTÓRIA DE CONTATO

Os índios Xokleng, pertencentes ao colonização européia no Rio Grande do Sul, os


Tronco Macro-Jê, da Família Jê, Língua Xokleng foram expulsos para Santa Catarina.
Xokleng, também denominados: Bugres, O processo brutal de colonização, os assaltos e
Botocudos, Aweikoma, Xokleng, Xokrén, lutas aos colonos, as mortes epidemias de
Kaingang de Santa Catarina e Aweikoma- gripe, sarampo e febre amarela, quase que
Kaingang. Denominados assim, desde seus levou os Xokleng ao extermínio.
primeiros contatos com os funcionários do No início do século XX o Serviço de
Serviço de Proteção ao Índio (SPI) a partir de Proteção ao índio (SPI), estrutura postos para
1914. Essas denominações se devem á atrair os índios, mas os contatos são sempre
proximidade linguístico-cultural existente conflituosos, às vezes entre os funcionários
entre os Xokleng e os Kaingang. outras entre os brancos. Nesta época deixaram
Hoje a população Xokleng habita em de executar dois rituais importantes: a
territórios no Estado de Santa Catarina e perfuração dos lábios inferiores dos rapazes
algumas famílias vivem no Paraná. para introdução do botoque (ritual de
No século XVIII, mais precisamente iniciação mais importante para os homens,
em 1728 deu-se a abertura da estrada das chave para a sua socialização e construção de
tropas ligando o Rio Grande do Sul a São identidade); e o ritual de cremação.
Paulo, para melhorar o comércio da pecuária Apesar do extermínio de alguns
e da agricultura entre as duas regiões e abrir subgrupos Xokleng no Estado de Santa
novas fronteiras, correspondendo a áreas de Catarina, e do confinamento dos
enormes planaltos, tradicionalmente ocupado sobreviventes em área determinada, em 1914,
pelos índios Kaingang e Xokleng. o que garantiu a paz para os colonos e a
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Em 1777 com surgimento de Lages, consequente expansão e processo do vale do


houve a redução dos planaltos de araucária, rio Itajaí, os Xokleng continuaram lutando
diminuindo a coleta e a caça, que eram as fontes para sobreviver mesmo após a extinção quase
de alimento dos Kaingang e dos Xokleng. total dos recursos naturais de sua terra,
Em meados do século XIX, com a agravada pela construção da Barragem Norte.

47
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

SAIBA MAIS

O território Xokleng se distribui por todo o sul do Brasil, de Curitiba, no Paraná,


passando por toda a encosta de Santa Catarina, até a região de Viamão, no Rio Grande do
Sul. Inicialmente, os Xokleng teriam ocupado o Planalto, mas com a chegada dos
Kaingang, foram empurrados para a encosta, onde ficaram até o final do século XIX,
quando foram praticamente exterminados pelos colonizadores.
Este grupo utilizava a cremação como parte do ritual de sepultamento. Os artefatos
que eles produziam eram de madeira, fibras vegetais, taquaras e pedra. É possível
identificar cestos com tamanhos e funções diferenciados, cochos de madeira, pilão e mão
de pilão em pedra e madeira, tembetás, lanças, arcos e flechas, adornos e manta tecida com
fibra de urtiga brava.
Durante a primavera e o verão, os Xokleng consumiam palmito, cará, diversas frutas
(como goiaba, pitanga e jabuticaba), além de larvas de insetos. Aproveitavam a vegetação
local e, pela quantidade de carne e a relativa densidade da região, caçavam anta, cervídeos,
bugio, jacutinga, porco do mato e diversos tipos de aves. A caça era uma atividade
masculina, realizada em pequenos grupos de até oito homens. No outono e no inverno, os
Xokleng coletavam pinhão, os quais transportavam em grandes cestos cargueiros.
Fonte: Daniela Costa Claudino e Deise Scunderlick Eloy de Farias.
Arqueologia e preservação Sambaqui Morro do Peralta. Samec editora. Florianópolis, 2009.

PRESENÇA XOKLENG NO PARANÁ


É provável que os Kaingang e os impelidos para os contraforte da serra
Xokleng tenham chegado primeiro ao Geral, próximos do litoral. A partir do
Paraná, pois em quase todo o Estado os século XVII, quando as populações
sítios Guarani estão próximos ou sobre os Guarani tiveram uma drástica redução, os
sítios arqueológicos dos Kaingang e Kaingang voltaram a se expandir por todo
Xokleng. Com a chegada dos Guarani, e o centro do Paraná. (...) Os ascendentes
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

na medida em que estes iam conquistando dos Xokleng devem ter sido empurrados
os vales e rios, os Kaingang foram sendo para fora do oeste paranaense na época da
empurrados para o centro-sul do Estado chegada das primeiras expansões
e/ou sendo confinados nos territórios Guarani, ao redor de 2.000 anos atrás
interfluviais e os Xokleng foram sendo (DIAS e GONÇALVES 1999, p.15-16-18).

COSMOLOGIA E MITOLOGIA grandes. Encontrar os espíritos podia ser


perigoso; ou bom, se oferecessem ajuda na
Os Xokleng acreditavam em espíritos caça.
(ngaiun) e fantasmas (kupleng), que Acreditavam que os animais tem um
habitavam as árvores, montanhas, corren- espírito guia que os controla e protege,
tezas, ventos e todos os animais, pequenos ou permitindo ou não aos homens matá-los.

48
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

No mito Xokleng da criação do homem, comunidade, cantam hinos evangélicos na


vários personagens heróicos surgem de língua Xokleng.
diferentes direções, reúnem-se para festejar e Hoje em dia, por serem crentes, os
criam animais a partir de árvores e troncos. homens Xokleng usam cabelos curtos, calças
Inspiradas nas formas e desenhos presentes e camisas, e as mulheres, cabelos longos,
na pele destes animais, surgiram as diferentes saias compridas e blusas.
"marcas", ou desenhos corporais dos grupos Os Xokleng só se encontram, além dos
exogâmicos. Entre outros mitos ou "lendas" cultos, para a comemoração do Dia do Índio
ainda lembrados, há o do dilúvio, que conta (19 de abril), quando cada aldeia faz sua festa
como uma chuva ininterrupta fez seus com discursos, hino nacional, recitação de
antepassados migrarem sucessivamente para versos em Xokleng e português pelas
o platô, para os cumes das montanhas e crianças.
finalmente para o topo das árvores, onde se
alimentavam de parasitas, folhas, larvas,
insetos e frutas. Passado o dilúvio, os homens SUBSISTÊNCIA
voltaram para as planícies e vales, mas muitos
lá ficaram por terem se acostumado. Por isso, No passado remoto os Xokleng
dizem, hoje existem os macacos, filhos dos praticavam a agricultura e a caça, vivendo em
homens que ficaram nas árvores. vilas permanentes. Entretanto, antes do
contato sistemático com os brancos, os
Xokleng eram nômades, vivendo da caça e da
OS RITUAIS DE HOJE coleta do pinhão (fruto da Araucaria
angustifolia), não tinham acampamentos
Desde 1950, os Xokleng foram se fixos. Dividiam e organizavam seu tempo em
convertendo à Assembléia de Deus, reformula- dois períodos, verão e inverno. Passavam o
ram suas antigas crenças e práticas religiosas, inverno no planalto, se alimentando do
à luz de uma nova realidade sócio-cultural. pinhão. No verão desciam para o vale e
Os rituais de hoje se resumem consumiam o palmito, cará e frutas como
praticamente aos cultos da Assembléia de goiaba, pitanga e jabuticaba, além de mel,
Deus, que mobilizam grande parte da larvas de insetos e caça.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

CULTURA E ARTE DOS XOKLENG


Os Xokleng construíam ranchos, em Os homens como as mulheres Xokleng
semi-círculos, voltado para uma praça central fabricavam panelas e talhas de barro cozido,
onde faziam seus rituais de iniciação, casa- apenas com riscos gravados por impressões
mento, ritos funerários, confraternizavam, digitais, de cor negra ou parda; usavam
caçavam e planejavam ataques aos inimigos. canoas de madeira de lei e jacás para
Os desenhos corporais são um símbolo transporte de mercadorias; faziam balaios
de identidade, os Xokleng os consideram pequenos, para guardar cinzas mortuárias;
"uh", isto é, bonitos, e se pintam em determi- cestos revestidos de cera virgem para
nadas ocasiões por razões estéticas, sem transporte de água; longas lanças de madeira,
tomarem em consideração a correspondência com aguçadas pontas de aço de dois gumes;
entre a pintura corporal e sua "marca". cordas finas de samambaia, para cintos de

49
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

suspensão do pênis; colares de coco e pequena produção de artefatos para o


miçangas; redes de pesca e tangas. Faziam comércio. As mantas de urtiga que as
grandes arcos de madeira de lei e flechas de mulheres teciam não são mais produzidas.
vários tipos, botoques de pedra e de Os únicos instrumentos musicais ainda
madeira, para o lábio inferior dos confeccionados e utilizados são os
homens. chocalhos, usados para cantar canções
Hoje a cultura material dos Xokleng é rituais de conteúdo quase que totalmente
produzida para uso imediato. Tangas e desconhecido para os mesmos.
colares se destinam somente às festas do Dia
Fonte: Flavio Braune Wiik
do Índio, sendo jogadas fora após o uso. Há Site: http:// pib.socioambiental.org/pt/povo/xokleng/print

Acervo Museu Paranaense (Foto:Vladimir Kozák). Fonte: Vida indígena no Paraná. Provopar.

Índia Xokleng tece manta com fibras de urtiga brava, 1950.


EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

ATIVIDADES
1) Em grupo faça uma pesquisa sobre os Xokleng. É importante constar em sua pesquisa os
seguintes tópicos:
- História de contato
- Mitologia e rituais
- Subsistência
- Arte e cultura Material

2) Confeccione cartazes contemplando os tópicos da pesquisa e os utilize na apresentação.

3) Use a imaginação e criatividade de faça dois desenhos figurativos. Um representando o


“Dilúvio” na mitologia dos Xokleng e o outro representando os rituais nos dias de hoje.

50
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

GUARANI
GUARANI
OS MAIS CONHECIDOS
EM TERMOS ARQUEOLÓGICOS,
HISTÓRICOS, ANTROPOLÓGICOS
E LINGUÍSTICOS.

Foto: Wilmar R. D'Angelis

EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Cerâmica indígena Guarani, Museu Farroupilha, em Triunfo, Rio Grande do Sul.

http://upload.wikimédia.org/wikipedia/commons/a/aa/triunfo-25.jpg

51
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

OS GUARANI
OS GUARANI
GUARANI: HISTÓRIA DE CONTATO

Os Guarani, grupo do Tronco Tupi, da que, haviam se formado nas bacias do


Família Tupi-Guarani, língua Guarani, Paranapanema, Tibagi, Ivaí, Piquiri e Iguaçu.
dividem-se em subgrupos Guarani-Ñandeva Entre 1628 e 1632, os jesuítas fundaram
ou (Ava-Chiripa), Guarani-Kaiowa e Guarani- a missão do Itatin, depois de verem destruídas
Mbya. Entre os subgrupos existem diferenças pelos bandeirantes as missões das Províncias
nas formas lingüísticas, costumes, rituais, do Guairá, Paraná e Tapes.
organização social e política. A presença bandeirante provocou um
Com a chegada dos portugueses e rearranjo na ocupação espacial da época,
espanhóis no século XVI e até o XVII a forçando índios e padres a fugas para o Sul,
história dos Guarani foi marcada pelos em lugares longe dos paulistas. A expulsão
Jesuítas que queriam catequizar os índios e dos Jesuítas pelos bandeirantes paulistas, foi
pelos “encomenderos” - espanhóis e importante para a população guarani porque
bandeirantes portugueses que pretendiam mobilizou os índios reduzidos, o que teria
escraviza-los. refletido também naqueles que não haviam
Com os europeus, os territórios guarani estado sob a orientação dos padres, provocan-
tornaram-se palcos de disputas; para os do redimensionamento na realidade colonial.
espanhóis eram via de acesso entre Assunção Em função de seus territórios atuais, os
e Europa; para os portugueses representava Guarani Kaiowa ou pai-tavyterã teriam seus
área de expansão ao interior da colônia e ascendentes nos antigos povos guarani do
acesso a riquezas minerais. A única riqueza Itatin, que na segunda metade do século XVII
nessa região era à força de trabalho trasladam para o sul, cruzando o rio Apa
indígena. (MS), passando a ocupar o atual sul do Mato
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Em 1603, o governador do Paraguai Grosso do Sul até os dias de hoje. Os Guarani


solicita que os padres da Companhia de Jesus Ñandeva atuais seriam oriundos dos povos
catequizem os índios e parte da população das Províncias do Paraná e Guairá e vieram a
guarani foi reduzida forçosamente nos assentar-se, a partir do século XVII, no atual
aldeamentos - “reduções” ou “missões”. Ação Mato Grosso do Sul.
pensada pelos colonizadores, para facilitar o Nos séculos XVIII e XIX, os grupos
acesso à força de trabalho indígena pelos Guarani que não se submeteram aos
encomenderos de Assunção. Os padres jesuítas encomenderos espanhóis nem às missões
contrariaram esse modelo econômico, pois jesuíticas, refugiam-se e vivem nos montes e
não permitiram que os seus catecúmenos nas matas subtropicais da região do Guairá
fossem escravizados. paraguaio e dos Sete Povos (aldeamentos
Padres e índios “reduzidos” tentaram em indígenas fundados pelos jesuítas no Rio
vão resistir aos ataques dos bandeirantes que Grande do Sul). Estes índios, os Guarani Mbya,
destruíram vilas paraguaias e atacaram são conhecidos como Caingua, Caaguá,
duramente as “reduções guarani”. Reduções Caaigua, Kaygua provém de Ka'aguygua ( que
53
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

significa “habitantes das matas), denomina- LOCALIZAÇÃO


ções dadas pela atitude de esconder-se nas
matas, distanciando-se dos brancos, evitando o Os territórios ocupados pelos Guarani
contato e conservando sua autonomia e seus estão situados no Mato Grosso do Sul, Rio
costumes antigos porque se estabeleceram Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São
num território que permaceneu inacessível Paulo, Argentina, Uruguai e Paraguai.
durante muito tempo. No Brasil, as aldeias Kaiowa
A partir da última década do século XIX concentram-se na região sul do Mato Grosso
e até as duas primeiras do século XX, grande do Sul e algumas famílias próximas às aldeias
parte do território dos Guarani será alvo de Mbya no litoral do Espírito Santo e Rio de
mobilização exploratória, da erva mate, Janeiro. Os Nãndeva vivem em aldeias no
bloqueando a entrada de colonizadores por Mato Grosso do Sul, no interior dos estados de
empresas detentoras do cultivo da erva. São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul e no
Na primeira década do século XX, litoral dos estados de São Paulo e Santa
devido a relações conflituosas entre índios e Catarina. Os Mbya se encontram em aldeias
brancos, há esforços por parte do Estado em situadas no interior e no litoral dos estados do
territorializar os índios, constrangendo-os a sul – Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul
espaços limitados e em fronteiras fixas. A – e em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito
imposição de regras de acesso e posse Santo em várias aldeias junto à Mata Atlântica.
territorial por parte do estado brasileiro,
alheias às especificidades da territorialidade
dos índios, teve conseqüências significativas TEKOHA
na organização espacial guarani, em suas
elaborações culturais e no gerenciamento das Até a chegada do branco, os índios
políticas de relacionamento interétnico. Guarani viviam com base no próprio
A colonização européia, atingiu costume, respeitava-se e fomentava as regras
profundamente a vida dos Guarani. Sofreram do “teko” (modo de ser guarani).
profundas transformações decorrentes de Como decorrência da presença do
práticas políticas impostas, entre as quais se colonizador, os Guarani passam fixar atenção
destacam a diminuição demográfica, a nas regras do branco e a considerar espaços
circunscrição territorial, o impacto sobre a com superfícies definida, o que é expresso
religião e a religiosidade dos índios. pela categoria tekoha.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

A partir de 1920 e mais intensamente a Os Guarani hoje em dia denominam os


partir dos anos de 1960, tem início uma lugares que ocupam de tekoha. O tekoha é
colonização sistemática e efetiva dos assim o lugar físico – terra, mato campo,
territórios Guarani, desencadeando-se um águas, animais, plantas, remédios, etc. – onde
processo de sistemática desapropriação de se realiza o teko, o “modo de ser”, o estado de
suas terras pelos colonos brancos. A vida guarani.
existência Guarani é materializada com a A relação entre os Guarani e a terra
derrubada de matas para a implantação de ganha significado, inscrito na tradição
empresas agropecuária. cosmológica e na historicidade. Enfatizando-
Com todas essas investidas, os Guarani se a noção de tekoha enquanto espaço que
ainda hoje desenvolvem estratégias de garantiria as condições ideais para efetuar
sobrevivência e a permanente recriação de essa relação, os índios procuram reconquistar
sua identidade. e reconstruir espaços territoriais étnica e

54
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

religiosamente exclusivos a partir da relação RITUAIS


umbilical que mantêm com a terra.
São assíduas e freqüentes as atividades
religiosas guarani, com práticas de cânticos,
rezas e danças que, dependendo da localida-
ORGANIZAÇÃO SOCIAL de, da situação ou das circunstâncias, são
realizados cotidianamente, iniciando-se ao cair
Os ava (homem Guarani) contem- da noite e prolongando-se por várias horas.
porâneos estão como sempre estiveram. Os rituais são conduzidos pelos
Assentados em núcleos comunitários ñanduru que são líderes e orientadores
constituídos – idealmente – por 3-5 religiosos; contemplam necessidades
grupamentos macro familiares que corriqueiras como colheita da roça, ausência
conformam divisões autônomas por eles ou excesso de chuva.
denominadas, hoje em dia, de tekoha. Há no
Brasil perto de 90 áreas guarani oficialmente ECONOMIA
reconhecidas.
Os Guarani têm como base de sua A agricultura é a principal atividade
organização social, econômica e política, a econômica guarani, mas apreciam a caça e a
família extensa, isto é, grupos macro pesca. Cabe às mulheres a tarefa de pilar o
familiares que detêm formas de milho e preparar a chicha, fazer a chipa, uma
organização da ocupação espacial dentro espécie de bolo de milho. Conhecimentos
dos tekoha determinada por relações de tradicionais dotam os Guarani de aguçada
afinidade e consangüinidade. É composta sapiência no trato dos espaços disponíveis para
pelo casal, filhos, genros, netos, irmãos e plantar. Combinam atividade de caça, pesca,
constitui uma unidade de produção e coleta e agricultura de forma interligada e
consumo. vinculada, para o descanso da terra.

Fonte: http:// pib.socioambiental.org/pt/povo/guarani-Nandeva/print

A TERRA SEM MAL E A COSMOLOGIA


EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

A Terra sem Mal: YVY MARÃ EY e as seus frutos em abundância, Yvy Marã Ey é
Belas Palavras: AYVU PORÃ. também a terra da imortalidade, onde não
Os Guarani dispõem-se a grandes chega a doença nem a morte.
deslocamentos em grupo com o objetivo de A cosmologia Guarani diz que no
buscar Yvy Mara Ey, a mítica Terra Sem Mal. princípio do mundo houve a criação da
Deste a conquista européia tem-se registro primeira terra, onde os homens viviam na
destas migrações onde eles abandonam mesma condição dos deuses. Para que isto
qualquer possível segurança de uma terra acontecesse, regras deveriam ser seguidas.
delimitada, deixando tudo para ir em busca da As leis foram quebradas pelo incesto
visão desta terra prometida por Nhanderu. entre um sobrinho (Karai Jeupié) e sua tia.
Terra ideal, que produz por si mesma os Houve então um grande dilúvio, na qual

55
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

poucos se salvaram. das montanhas”.


O dilúvio vem como castigo, estabele- Todo pensamento e prática religiosa dos
cendo o fim da primeira terra e com ele a Guarani está em torno da Terra Sem Mal. “o
separação entre o humano e o divino. Deste dia culto à Yvy Mara Ey, as orações noturnas e a
em diante a grande água, o mar, faz separação língua sagrada.”
entre a Terra sem Mal, terra divina da vida A língua sagrada, as belas palavras
eterna, e a terra imperfeita dos que (AYVU PORÃ), são as palavras verdadeiras
sobreviveram. que só os profetas, os xamãs, sabem proferir, é a
A (...) Terra Sem Mal, morada dos linguagem comum a homens e deuses;
ancestrais, é um local acessível aos vivos, com palavras que o profeta diz aos deuses ou que os
uma localização geográfica precisa: “para além deuses dirigem a quem sabe ouvi-los.

Fonte: SOUZA, Ana Maria Alves de Souza. Orientadora: Prof. Ms. Cleidi
M. Albuquerque. BICHINHOS RA'NGÃ i. Uma distribuição ao estudo das
esculturas zoomórficas Guarani Mbyá. Florianópolis, julho de 1999.
UDESC. CEART.

PRESENÇA DOS GUARANI NO PARANÁ


(...) Os Guarani possuíam um consecutivamente, com o passar do
padrão para ocupar novas áreas sem, tempo, as áreas banhados por rios cada
no entanto, abandonarem as antigas. vez menores. Por exemplo, após
Os grupos locais se dividiam com o dominar as terras próximas dos rios
crescimento demográfico ou por Ivaí e Pirapó, ocuparam trechos ao
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

problemas políticos, indo habitar longo de alguns dos ribeirões que


áreas próximas, previamente banham o divisor de águas onde está
preparadas através de manejo situada Maringá. Como havia uma
agroflorestal. Isto é, abriam várias série de entorno das aldeias, para ir às
clareiras para instalar a aldeia e as roças, às áreas de caça, pesca e coleta
plantações, inserindo seus objetos e etc., bem como para ir até as aldeias
plantas nos novos territórios. Assim vizinhas, é provável que a área de
como trouxeram suas casas, vasilhas Maringá fosse local de passagem ou
cerâmicas e outros objetos. contato entre as aldeias do Ivaí e do
Dessa maneira, iam ocupando Pirapó.
as várzeas dos grandes rios e, Fonte: DIAS e GONÇALVES, 1999, p.13-14.

56
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

ARTE E CULTURA MATERIAL

A cultura material era composta por talhas para prepará-lo eram normalmente
centenas - talvez milhares - de objetos pintados com desenhos geométricos
confeccionados para servirem a diversos vermelhos e pretos sobre fundo branco.
fins, sendo a maioria feita com materiais As vasilhas que iam ao fogo tinham as
perecíveis (ossos, madeiras, penas, palhas, suas superfícies alisadas ou corrugadas.
fibras vegetais, conchas etc.) e, em minoria, Secundariamente, as panelas e talhas
de não-perecíveis (vasilhas cerâmicas, poderiam servir como urna funerária.
ferramentas de pedra, corantes minerais). Dentre as ferramentas de pedra, pode-
As vasilhas (cerâmicas) eram confec- mos mencionar os machados de pedra polida,
cionadas para servirem como panelas de lascas usadas para rasgar, cortar, tornear, bem
cozinha, frigideiras, pratos, copos e talhas como ferramentas para polir, furar, amolar,
para armazenar água ou preparar cauim macerar, moer, pilar e ralar.
(bebida fermentada alcoólica) e para outras
funções. Os copos para beber o cauim e as Fonte: DIAS e GONÇALVES, 1999, p.15

CERÂMICA GUARANI

A Cerâmica Guarani é conhecida pela


resistência à decomposição, encontrada em
escavações e material rico para a arqueologia.
É considerada a grande manifestação da arte
Guarani e apresentam diversificada
decoração plástica e pintura, sendo atividade
exclusivamente feminina.
A decoração da cerâmica depende da
sua finalidade. Na cerâmica utilizada nas
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

cerimônias e ritos são as pintadas com


desenhos geométricos, em preto e vermelho
sobre um fundo branco (engobo), ou em
vermelho diretamente sobre a superfície dos
recipientes. São curvas sinuosas, linhas sabugo de milho seco, marcando a superfície
paralelas, motivos geométricos que se de recipientes com uma série de estrias
repetem harmoniosamente. paralelas. Outra técnica decorativa plástica
Nos recipientes cerâmicos para o manipula a argila ainda fresca alisando-a até o
cotidiano, a decoração era essencialmente polimento ou decorando-a com as unhas ou
plástica. Uma das técnicas utilizadas era o com pequenos artefatos ponteagudos.

57
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

TIPOLOGIAS DE CERÂMICA GUARANI EXISTENTES NO


LABORATÓRIO DE ARQUEOLOGIA, ETNOLOGIA
E ETNO-HISTÓRIA DA UEM.

Fragmento de vaso cerâmico Fragmento de cerâmica corrugada Fragmento de cerâmica escovado.


produzido por técnica de Usa se sabugo de milho para
roletes sobrepostos um ao outro. escovar a cerâmica
Fotos: Aluízio A. Carsten

Fragmento de cerâmica pintada


Fragmento de cerâmica lisa Fragmento de cerâmica ungulada. (engobo branco) com desenho
Após receber tratamento que deixa a geométrico em vermelho.
cerâmica lisa, era decorada com incisões
feitas a unha pela artesã.

Fotos: Aluizio A. Carsten, Acervo do LAB-LAEE/CCH-UEM


EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

A MÚSICA

Os cantos e as danças guarani são percorrer o caminho de encontro aos deuses,


executados nos rituais xamanísticos. São embelezar o corpo e protege-los das doenças.
caminhos através dos quais os humanos vão As canções mais lentas têm um caráter de
ao encontro dos ancestrais criadores e outros invocação ou lamento (Nhandeva).
seres divinos. O canto e a dança são as Nimuendaju (1883-1945), antropólogo
linguagens com as quais os deuses se Alemão que veio para o Brasil estudar os
comunicam com os guarani. Nos rituais há índios, narrou um ritual apapocuva no qual se
uma sequência de canções, correspondentes a aguardava a morte de um moribundo,
cada noite de ritual, havendo dois gêneros cantavam vários pajés acompanhados das
musicais, um ligado à invocação, e outro ao mulheres. Em alguns momentos cantavam
combate. Os objetivos do ritual são de vários ao mesmo tempo, um perto do doente,

58
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

e outros distante. “Assim que o pajé, sentado acelerada e com forte marcação rítmica, para
face ao doente, constata que a morte o solene ñeengarai”, que soa solene e
sobreveio, muda o canto da melodia yvyraija, melodiosa.
Fonte: MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. Amúsica como “caminho” no
repertório do xamanismo guarani. Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 10,
voluma 17(1):115-134 (2006).
http://pt.wikipedia.org/wiki/musica_indígena-brasileira-

MBARAKA

Mbaraka: instrumento musical feito


de cabaça ou purunga, encabado com um
pau e enfeitado com penas de galinha
colorida. Os Nhandewa usam o maracá
até hoje para a dança indígena.
O mbaraka (maracá) além de ser
usado nas danças é instrumento
importante nos rituais xamanísticos.
Foto: Wilmar R. D'Angelis

Fonte: NIMBOPYRUÁ, Catarina Delfina dos Santos Kunhã...[et al.]. NHANDEWA-rupi nhande aywu ãgwa: para falarmos nossa língua: livro de leitura
nhandewa – guarani. Brasília:MEC, SEF, 2002.

Um maracá,(...) é um instrumento de ritmo; ganha além disso, uma significação


musical que pode simbolizar o centro do extra, sobreposta à primeira: este instrumento
universo e seu som, além de música, pode ser musical, usado neste contexto ritual e por
entendido, em uma dada sociedade indígena, pessoas com saberes e habilidades especiais
como a representação simbólica das vozes de comunicação com os deuses, passa a
das substâncias dos espíritos e divindades que significar, simbolicamente, a visita, a
chegam à aldeia em momentos especiais; as chegada dos espíritos ao mundo dos vivos.
cerimônias em que os pajés (e só eles) tocam o Seu som sacraliza o momento e o lugar onde
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

maracá. O uso do instrumento significa, esta experiência é vivida. (SILVA, 1995,


literalmente, um ato de produção de música, p.380-381)

MÚSICA GUARANI – HOJE


A música Guarani hoje está represen- do mundo de sua etnia e mantêm viva a sua
tada por vários grupos pertencentes às aldeias cultura através dos cânticos e das danças,
indígenas do Paraná, que conservam a visão chegando a produzir alguns Cds.

59
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

GRUPO TAPE VY'A


Aldeia Ocoí TRADUÇÃO
São Miguel do Iguaçu/PR

LETRA: Nosso Deus, nossa Mãe eterna


Quando lembramos do nosso altar sagrado
NHANDERUETE Vamos para nossa casa de reza
Nhanderuete nhandexy ete ambá'ire Para fortalecer o nosso espírito (bis)
Nhanema`endu` a mavy jaje` oi opy` ire Quando caminhamos pela estrada infinito
Nharoporandu nhaderete`i (bis) Para chegar a outro lado do oceano
Jaguata ma vy tape miri re Nhavae água E na terra sem mal seremos felizes (bis)
jaexa Terra sem mal
Aguã para rovai yvy ku`iju re Javy` a água Terra sem mal
(bis)
Fonte: CD- Provopar
Yvy ku`iju MBORA'i MARAE'? GUARANI
CÂNTICOS ETERNOS GUARANI
Yvy ku`iju

ESCULTURAS ZOOMÓRFICAS GUARANI M’BYÁ

As esculturas zoormóficas Guarani, Usam a técnica da pirogravura para


também conhecidas como “BICHINHOS decorar as esculturas. A pirogravura é
RA'NGÃi”, podem ser feitas em cedro ou considerada uma pintura permanente, feita
curticeira (como é conhecida no Rio Grande com diferentes pontas de ferro: achatadas,
do Sul) ou caxeta (como é denominada no estreitas e largas.
Paraná). Madeira mole e branca. Os elementos gráficos estampados nas
O formato da escultura é feito primeiro esculturas são elaborados seguindo o ritmo e
no facão, e depois com uma faquinha bem a simetria nos desenhos. Tais elementos
afiada para fazer pequenos detalhes. visuais estabelecem o estilo do artista, da à
As formas esculpidas são represen- identificação do bicho, e o reconhecimentos
tações de animais existentes na floresta (Mata do grupo indígena a que pertence o trabalho
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Atlântica), alguns hoje ameaçados de artístico.


extinção. São esculpidas
formas de onça, jaguati-
rica, jacaré, tamanduá,
tatu, macaco, cobra,
tucano, entre outros
bichos e pássaros.

60
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

Nome popular: Macaco Nome Guarani: KA i Nome popular: Cobra Nome Guarani: MBOI

Nome popular: Gato-do-mato-pequeno Nome popular: Tamanduá-mirim


Nome Guarani: TCHIVI Nome Guarani: KAGUARÉ

Nome popular: Tucano Nome Guarani: TUCAN Nome popular: Jacaré Nome Guarani: PA i
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Nome popular: Coruja Nome popular: Tatu


Nome Guarani: URUKURE'Á Nome Guarani: TAMBEJU'Á

Fotos: Acervo do CCH-UEM, Prof. Drª. Rosangela Célia Faustino.

61
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

TRANÇADO
Os trançados Guarani são representa- A confecção dos cestos Guarani é
dos por cestos de taquara decorados com função exclusivamente das mulheres, deste a
tramas geométricas mais escuras em cipó coleta da taquara na mata, o preparo da tiras,
imbé. Ainda são confeccionados, mas até o trabalho final na construção do cesto.
algumas mudanças aconteceram, agora são
coloridos com anilina.

Livro: Varai Para◊i Régua, de Lídia krexu


Rete Veríssimo

Fotos: Kathie Dooley, 200l

CONTO INDÍGENA GUARANI


EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

O ROUBO DO FOGO
Povo guarani ( mito Guarani )

E
m tempos antigos o povo Guarani não sabiam acender o fogo.(...) pois
o fofo estava em poder dos urubus.
O fogo estava com estas aves porque foram elas que primeiro
descobriram um jeito de se apossar das brasas da grande fogueira do
sol. Numa ocasião, quando o sol estava bem fraquinho e o dia não estava muito claro,
os urubus foram até lá e retiraram algumas brasas as quais tomavam conta com muito
cuidado e zelo. (...).

62
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

Todos queriam roubar o fogo dos urubus, mas ninguém se atrevia a desafiá-los.
Um dia o grande herói Apopocúva retornou de uma longa viagem que fizera. Seu
nome era Nhanderequeí. Guerreiro respeitado por todo o povo, decidiu que iria roubar o
fogo dos urubus. Reuniu todos os animais, aves e homens da floresta e contou o plano
que tinha para enfrentar os temidos urubus, guardiões do fogo. Até mesmo o pequeno
curucu, que não fora convidado, compareceu dizendo que também ele tinha muito
interesse no fogo.
Todos já reunidos, Nhanderequeí expôs seu plano:
- Todos vocês sabem que os urubus usam fogo para cozinhar. (...). Por isso vou me
fingir de morto bem debaixo do ninho deles. Todos vocês devem ficar escondidos e quando
eu der uma ordem, avancem para cima deles e os espantem daqui. Dessa forma,
poderemos pegar o fogo para nós. (...).
(...) Nhanderequeí deitou-se. Permaneceu imóvel por um dia inteiro.
Os urubus, lá do alto das árvores, observavam com desconfiança. (...).
O herói permaneceu o segundo dia do mesmo jeito. Sequer respirava direito para não
criar desconfianças nos urubus que continuavam rodeando seu corpo. Foi no fim do
terceiro dia, no entanto, que as aves baixaram as guardas. Ficavam imaginando que não
era possível uma pessoa fingir-se de morta por tanto tempo. Ficavam confabulando
entre si:
- Olhem, meus parentes urubus – dizia o chefe urubu – nenhum homem pode fingir-
se de morto assim. Já decidi: vamos comê-lo. Podem trazer as brasas para fazer-mos a
fogueira. (...).
Eles colocaram Nhanderequeí sobre o fogo, mas graças a uma resina que Le passara
pelo corpo, o fogo não o queimava. Num certo momento, o herói se levantou do meio das
brasas dando um grande susto nos urubus que, atônitos, voaram todos. Nhanderequeí
aproveitou-se da surpresa e gritou a todos os amigos que estavam escondidos para que
atacassem os urubus e salvassem alguma daquelas brasas ardentes. (...)
Quando tudo se acalmou, Nhanderequeí chamou a todos e perguntou quantas brasas
haviam conseguido. Uns olhavam para outros na tentativa de saber quem havia salvado
uma pedrinha sequer.(...).
Acontece que, por trás de todos, saiu o pequeno cururu, dizendo:
- Durante a luta os urubus se preocuparam apenas com os animais grandes e não
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

notaram que eu peguei uma brasinha e coloquei na minha boca. Espero que ainda esteja
acesa.(...)
Dê-me esta brasa imediatamente – disse Nhanderequeí, tomando a brasa em suas
mãos e a assoprando levemente. (...)
Pegou-o na mão e colocou um pouquinho de palha e o assoprou novamente. Com
isso ele conseguiu um pequeno riozinho de fumaça. (...)
Nhanderequeí soprou de novo. Ele o fazia com todo cuidado, aconteceu um cheiro de
queimado. Isso foi o bastante para que as aves se incomodassem e dissessem:
- Nós não gostamos desse cheiro que sai do fogo. Isso não é bom para as aves. Fiquem
vocês com este fogo. (...).
Enquanto isso, Nhanderequeí soprou ainda mais forte e, finalmente, as
chamas apareceram no meio da palha e do carvão que sustentaram o fogo acesso
para sempre.

63
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

Glossário
Apopocúiva-Guarani – O grande povo guarani está localizado em oito estados brasileiros. Sua língua,
subdividida em Nhandeva, M'Bia e Kaiowá, pertence ao tronco lingüístico Tupi. Sua população é a segunda
maior do Brasil. Segundo dados oficiais, chega a 35.000 pessoas. Os Guarani estão presentes ainda em
diversos países que fazem fronteira com o Brasil.

Nhanderequeí – Herói civilizador entre os Guarani. Aquele que cria e ensina este povo a manipular seus bens
culturais. Nesta história, ele é o herói que ajuda o povo a roubar o fogo e ensina a conservá-lo.

Cururu – Nome genérico dos sapos, em Tupi.

Fonte: Munduruku, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. 2ª ed. – São Paulo : Global, 2005, p. 13 – 19.

ATIVIDADES
1) Em grupo, pesquisem sobre os índios Guarani no Paraná, contemplando os seguintes
tópicos:
- História de Contato
- Como chegaram ao Paraná
- Mitologia
- Arte e cultura material

2) Confeccionem cartazes enfocando a pesquisa, para facilitar a apresentação e discussão com


a turma.

3) A partir da letra e da audição da música NHANDERUETE, crie uma ilustração. Use lápis de
cor e canetas coloridas para pintar.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

4) Vamos fazer esculturas com pedra de sabão? Que tal inspirar-se nos bichinhos RAN'CÃi.

5) Faça a leitura do conto indígena Guarani: “O roubo do fogo”, de Daniel Munduruku.


Selecione tópicos mais importantes e produza um livreto com ilustrações criadas por você?

6) Vamos fazer teatro?


Transforme o conto “O roubo do fogo” de Daniel Munduruku em texto teatral, com os
personagens e suas falas, depois é só dramatizar.

7) Vamos confeccionar objetos usando argila, seguindo a técnica do roletado da


cerâmica Guarani. Para o acabamento do objeto, observe os fragmentos cerâmicos, pode ser
roletado, ungulado, pintada e decorada com linhas geométricas, lisa, escovada e corrugada.

64
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

SIGAM OS PASSOS DA TÉCNICA DO ROLETADO:

1º Faça rolinho de argila na grossura do seu dedo.

2º Com o rolinho de argila, faça um espiral para o fundo.

3º A partir do fundo vá colocando camadas de rolinhos de argila até conseguir a altura que
deseja para o objeto. Conforme for chegando à borda, diminua o comprimento do
rolinho se quiser fechar um pouco a abertura do objeto.

4º Usando o dedo indicador una os rolinhos por dentro da peça e deixe a superfície lisa.

5º Por último, faça o acabamento da peça seguindo uma das técnicas apresentadas nos
fragmentos de cerâmica Guarani.

8) Confeccione carimbos usando batatinha a partir dos motivos gráficos dos carimbos
Guarani. Crie composições com as impressões dos carimbos usando tinta guache de várias
cores e folha do tamanho A4. Repita as impressões, intercale os diferentes motivos, para
obter ritmos de formas e cores.

EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

65
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

XETÁ
XETÁ
Memória dos índios Xetá:
ARTE E CULTURA

EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Homem usando tembetá de resina


Foto: Vladimir Kozák http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=117&evento=9

67
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

OS OS
XETÁ
XETÁ
XETÁ: HISTÓRIA DE CONTATO

Os índios Xetá pertencente à família fugas e frentes de colonização que


lingüística Tupi-Guarani, do tronco Tupi, avançavam sobre o seu território desde o final
língua Xetá. da década de 40 reduzindo-o drasticamente,
Em 1840 foram feitos os primeiros fez contato com o administrador da fazenda
contatos com os índios Xetá por Joaquim Santa Rosa e seus familiares, que havia se
Francisco Lopes e John H. Elliot, empre- instalado no local de caça e coleta do grupo
gados do Barão de Antonina, nas imediações desde 1952.
da foz do rio Corumbataí no Ivaí, onde estão Com a expansão da cafeicultura, a
hoje os municípios de São Pedro do Ivaí, criação de gado e agricultura; a colonização e
Fênix e São Jorge do Ivaí. Contatos estes o contato com o homem branco; os surtos de
esporádicos. gripe e sarampo, o povo Xetá foi quase
Em 1872, um pequeno grupo Xetá, foi extinto enquanto grupo étnico. Hoje são oito
capturado nas proximidades do Salto Ariranha sobreviventes: três mulheres e cinco homens,
no rio Ivaí, hoje Ivaiporã e Grandes Rios, pelo vivendo dispersos nos estados do Paraná,
engenheiro inglês Thomas Bigg-Whiter. Santa Catarina e São Paulo. Os descendentes
O Território tradicional dos Xetá é dos Xetá casaram-se com Kaingang, Guarani
conhecido como Serra dos Dourados, ao longo e não-índios. De caçadores e coletores, vivem
da margem esquerda do rio Ivaí e seus afluentes, hoje na condição de assalariados, servidores
o rio Indoivaí, o córrego Duzentos e Quinze, o públicos, empregados domésticos e bóias
rio das Antas, o do Veado, o Tiradentes e o frias. De herdeiros de um território de
córrego Maravilha; espaços onde hoje estão ocupação tradicional, vivem como agregados
localizados os municípios de Umuarama, Cru- em terras Kaingang, Guarani, ou como
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

zeiro do Oeste, Icaraíma, Douradina e outros. inquilinos no meio urbano-rural.


Os Xetá foram à última etnia do Estado A língua Xetá nunca chegou a ser
do Paraná a entrar em contato com a grafada, escrita ou estudada em sua gramá-
sociedade nacional, na década de 50, através tica: praticamente desapareceu junto com o
do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), atual seu povo.
FUNAI. Em 1954, um grupo de seis pessoas
Fonte: DIAS e GONÇALVES (org), 1999, p. 19.
do sexo masculino, cansadas das constantes ISA - SILVA, Carmem Lúcia, 1999.

69
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

SUBSISTÊNCIA para servir de vasilhas e comiam as suas


sementes, comiam também o coquinho
Os Xetá eram nômades e tinham a base (jerivá). Alimentavam-se ainda de algumas
da subsistência a caça e a coleta (a pesca em larvas das palmeiras e aves. Caçavam anta,
menor escala). Não praticavam a agri- gambá, coelho, paca, gato do mato e rato
cultura, comiam frutos, tubérculos, insetos silvestre. As frutas apreciadas era a
(alguns), mel e o mate “Kukuay”, bebida do jabuticaba, jaracutiá, banana-de-mico,
dia-a-dia. Cultivavam somente o porungo gavirova, etc.

A LUTA DO POVO XETÁ PELA REORGANIZAÇÃO CULTURAL

Em agosto de 1997, o Instituto Socio- Por iniciativa da SEED – Departamento


ambiental (ISA) promoveu em Curitiba o da Diversidade e Coordenação da Educação
“Encontro Xetá: sobreviventes do extermínio”, Escolar Indígena, a UEM – Universidade
reunindo os Xetá que vivem dispersos, como Estadual de Maringá, em parceria com a UNB
inquilinos em diferentes aldeias, longe de seu – Universidade de Brasília, UFMT – Univer-
território e impedidos de compartilhar os sidade de Mato Grosso, Museu Paranaense,
códigos de sua cultura, língua e organização Povo Xetá e instituições parceiras, encami-
sociocultural. nhou projeto interinstitucional ao Ministério
Atualmente, só na Terra Indígena São da Cultura e CAPES tendo recebido financia-
Jerônimo, município de São Jerônimo da mento para reunir e publicar informações
Serra-PR, são 35 famílias Xetá, com mais de sobre os Xetá, bem como, material didático
cem pessoas. Eles iniciam processo judicial sobre língua e cultura deste povo.
para recuperar parte do território de onde O projeto compreende a realização de
foram excluídos, e poder viver em paz em sua
apoeng (casa grande). Além do território,
reivindicam o direito a uma escola diferenciada
e intercultural que lhes possibilite revitalizar
sua língua, ameaçada de extinção e
continuarem sendo Xetá.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Fotografia acervo LAB-LAEE/UEM Fotografia acervo LAB-LAEE/UEM


Oficina pedagógica – Produção de vocabulário ilustrado - realizada Oficina pedagógica realizada no dia 04/05/10 no Museu
na Terra Indígena São Jerônimo, entre os dias 13 a 16/04/10. Paranaense em Curitiba.
Confecção dos bichinhos “Mows” em argila.

70
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

diversas oficinas pedagógicas. No Museu técnica da modelagem em argila. Estas


Paranaense em Curitiba os Xetá confecciona- oficinas foram realizadas com a finalidade de
ram os mows, (animais que anteriormente revitalizar aspectos da tradição Xetá a partir
eram feitos de cera de abelhas) utilizando a da memória dos sobreviventes.

ARTE E CULTURA MATERIAL XETÁ

A cultura material dos Xetá está ACAMPAMENTOS (Oka'-kã, oka=


relacionado com a vida na aldeia, são lugar, kã=pequena): acampamentos temporá-
instrumentos, armadilhas, abrigos, objetos de rios, onde instalavam os tapuy-kã.
uso domésticos e adornos inseridos no
cotidiano e nos seus rituais.
Os Xetá, povo que era caçadores e
coletores atribuíam algumas atividades como
a construção de habitações, armadilhas e
alguns instrumentos aos homens e às
mulheres ficavam as funções do preparo e a
distribuição dos alimentos. A coleta, a
tecelagem e a cestaria é tarefa de ambos os Foto: Vladimir Kozák
sexos. Colocação Transversal dos galhos no tapuy
A arte do povo Xetá, como em outros
grupos indígenas, estava presente no dia-a-
C A S A P E Q U E N A ( Ta p u y - k ã ,
dia da comunidade: nos rituais, na música,
tapuy=casa, kã=pequeno): primeiro eram
nas histórias narradas, no cuidado com a
construídas em época de caçadas, depois por
beleza e acabamento das peças criadas, nos
causa das fugas dos brancos.
enfeites usados para adornar o corpo e os
instrumentos. Tudo isso revela a sensibilidade
e a expressividade desse povo com relação à
vida e a arte. EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

COMO CULTURA MATERIAL


PRODUZIAM: Foto: Vladimir Kozák

Tapuy com cobertura do teto ao solo


ALDEIA GRANDE (Oka-Waualchu,
oka=lugar, wauatchu= grande): onde os ARCO E FLECHA: confeccionavam
grupos familiares habitavam (famílias os arcos com o cerne de ipê duro (araraúte) e
nucleares). polido com folhas de embaúba. As hastes das
flechas eram confeccionadas com bambu e a
CASA GRANDE (Tapuy-apoeng): ponta entalhada com madeira de alecrim, com
residência ocupada pela família extensa, vários tipos de pontas, como virote, servilha,
construída na aldeia grande. Lugar onde unilateral e lanceolada. Tanto o arco quanto a
realizavam os rituais, inclusive o de iniciação flecha recebiam polimento com uma mistura
masculina. de ipê, cinza e água, dando uma coloração

71
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

ferrugem. A corda era confeccionada pelas Os colares eram confeccionados com


mulheres com fibras de caraguatá. sementes, varetas e pequenos dentes de
animais e os brincos com plumas de pequenos
pássaros. Eram usados por crianças e adultos.
Foto: Vladimir Kozák

Adornos confeccionados com ossos


de animais.

PILÕES: confeccionados com grandes


troncos de árvores, como a madeira de jerivá,
para processar alimentos, cocos, frutas,
Foto: Vladimir Kozák
carne. Outro pilão menor (aguakán) era
Homem (Eirakã) com arco e flecha adornada utilizado para a moagem de folhas de
erva-mate, para o preparo da bebida kukuay.

MACHADO de pedra com cabo de


madeira: utilizado nas atividades cotidianas,
como quebrar coco e lascar ossos de animais.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

Foto: Vladimir Kozák

Pilão Vertical.
Foto: Vladimir Kozák

Machado com cabo de madeira.

ARTEFATOS E ADORNOS: utilizavam


ossos e dentes de animais. Alguns artefatos
eram feitos de ossos da perna da onça
entalhados e afiados com uma pedra de amolar,
transformando-se em formão. Os objetos eram
alisados e polidos, os de madeira eram
coloridos com jatobá. A mandíbula de roedores Foto: Vladimir Kozák

para perfurar e escavar madeiras, couros etc. Pilão horizontal

72
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

MAÇA: confeccionada com madeira PENEIRAS: confeccionadas com a


de alecrim no formato de remo. Utilizada taquara.
como arma e como meio de comunicação,
pois quando batido contra o tronco de uma
árvore produzia som claro que podia ser
ouvido de longe, usado no ritual da chuva.

Foto: Vladimir Kozák

Mulher tecendo peneira

Foto: Vladimir Kozák CESTOS E ESTEIRAS: confeccio-


Inicio da confecção da maça com o machado nados com folhas de palmeiras.

TEMBETÁ (botoque labial): feito com


ossos, sílex, madeira e resina de jerivá.
Importante na identificação do indivíduo, na
iniciação masculina.

Foto: Vladimir Kozák


Cestos produzidos pelas mulheres

Foto: Vladimir Kozák


Tembetás com labretes

TECELAGEM: teciam suas tangas


(hami'a) de fibra de caraguatá, confeccionadas
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

em teares e usados pelos homens. O fio e o


cordão de fibra tecida eram colocados na
cintura dos meninos. Faixas de caraguatá eram
Foto: Vladimir Kozák
usados pelas mulheres nas pernas e nos pulsos.
Início do trançado da cestaria

ESPÁTULAS DE PALMEIRAS:
usavam como recipientes.

VASILHAS DE PORUNGO: usadas


para transportar e guardar mel, água e servir
bebida durante os rituais.
Foto: Vladimir Kozák

Textura da tanga com o auxílio da agulha

73
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

ARTE XETÁ

A arte Xetá está presente no artesanato cantavam quando se queria chamar a chuva,
com as cestarias e esteiras, na tecelagem, na em época de festa e períodos de frutas quando
escultura de bichinhos de cera, na música, na era realizado o ritual da beberagem. A bebida
pintura e nos adornos corporais. era consumida acompanhada pelos cantos,
respeitando-se os horários para a exibição.
No ritual de iniciação masculina, os homens
PINTURA FACIAL E CORPORAL no interior da casa entoavam o canto da
jacutinga ao alvorecer; o canto do surucuá,
A pintura facial era feita por uma quando já era dia; e o canto do urubu, que era
mulher (parente) com fruta do jatobá no ritual cantado durante todo o dia. Os instrumentos
de iniciação masculina e a pintura corporal musicais eram apenas usados para a produção
também em ocasiões de rituais. de sons como apitar, alertar, assobiar: um
caramujo, o tembetá, a flauta, a flauta de Pã,
feita de três pedaços de bambu de diferentes
ESCULTURAS comprimentos.

Esculpiam bichinhos (Mows), figuras


negras zoomórfas de cera de abelhas NARRATIVAS

As narrativas na sociedade Xetá estão


relacionadas com a “arte de contar histórias”,
de maneira expressiva através da entonação da
voz, dos gestos, dos sons de barulhos emitidos
pelo contador. E, com a participação da platéia
que sugere temas e participa com perguntas
sobre as histórias narradas.
As narrativas eram feitas a partir de
acontecimentos ou necessidades sobre
Foto: Vladimir Kozák determinado assunto, com temas variados:
uma caminhada de algum grupo ou
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

MOWS, BICHINHOS DE CERA DE ABELHA.


representando a fauna local, eram: cobras, antepassado, as façanhas e confrontos, as
veados, tatus, tamanduás, capivaras, etc. grandes caçadas, o mundo dos animais, a
Algumas tinham característica antropomórfas gênese do mundo, etc. Temas importantes
(cabeça de animal e corpo humano). Eram para a socialização entre os grupos, parentes e
produzidas pelos adultos para as crianças amigos.
brincarem.

A ARTE E O ATO DE NARRAR


MÚSICA
As narrativas acontecem somente à
O que se sabe sobre a música Xeta é que noite na aldeia. Existe o narrador principal e o
eram cantos que normalmente representavam narrador secundário, os dois se completam e
sons e movimentos dos animais. Os Xetá ambos devem ter domínio da história e do seu

74
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

contexto. Ao narrador principal cabia a O narrador principal faz uso de recursos


responsabilidade dos relatos e do desenvolvi- da onomatopéia e da prosopopéia, reproduz
mento dos temas. O narrador secundário acom- movimentos do corpo combinados com a voz:
panha o primeiro, dando a pauta a ser seguida, sussurra, arfa imitando o animal e muda o tom da
entra em cena de modo sutil no caso de pausa voz, enquanto o narrador secundário observa
ou de esquecimento, assume a fala rapidamente silencioso.
e que em seguida é retomada pelo narrador princi-
pal, partindo do ponto em que foi interrompido.

A narrativa Xetá com seus diferentes temas, constitui um lugar de memória por
excelência da extinta sociedade. É como se esta se recusasse a desaparecer, impondo
sua presença espectral aos seus sobreviventes (SILVA, 2003, P.52).

Foto: Carmen Lucia da Silva

Os narradores: Tuca, Kuein contando histórias Posto Indígena Rio das Cobras/PR. Março 2003

EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

HISTÓRIA DO POVO XETÁ

MACACO ERA GENTE NO TEMPO DO SOL E DA LUA


Narradores: Tuca e Tikuein

E
ntão o macaco, diz que vivia junto com os índios também, os bicho que
iam virar tudo macaco né. Mas diz que eles eram morto de fome, mas
diz que não tinha comida que chegasse. O bicho era arteiro mesmo
sabe.

Ai diz que um dia, o Sol e o Lua irmão dele andavam aqui na terra, daí o Sol

75
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

mandou eles, esses índios, buscar fruta para ele. Só que não era para ele comer
nenhuma, (...). Ele voltou e estava comendo. O sol achou que ele estava
demorando demais, o sol acalmou e foi lá. (...) Aí diz que ele, o Sol pegou e calcou
a flecha [atirou a flecha] diz que ele errou a flechada. Só que o índio sumiu, (...).
Desapareceu. Aí diz que em outro dia, passados três dias, aí viu aquela macacada,
que virou tudo bicho, virou tudo bicho, virou tudo bicho. Por isso que nossa gente
dizia que macaco era gente também. (Tikuein e Tuca, 20/06/200l).

Fonte: SILVA, Carmen Lucia. Em busca de uma sociedade perdida: O trabalho da


memória Xetá. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. Brasília, 2003. (p.127).

ATIVIDADES
1) Em grupo faça uma pesquisa sobre os Xetá. Siga o roteiro para realizar o trabalho:
- História de contato
- Mitologia e rituais
- Subsistência
- Arte e cultura material
- Onde vivem os renascentes Xetá.

2) A partir da pesquisa confeccione cartazes com imagens e apresente o trabalho para a sala.

3) Pesquise sobre os animais que os Xetá modelavam com cera de abelha. Escolha um animal e
faça uma modelagem usando argila.
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

4) Com base na narrativa: “Macaco era gente no tempo do Sol e da Lua”, em grupo transforme
a narrativa em diálogos e vamos dramatizar.

5) Utilize os recursos dos Quadrinhos: recursos gráficos, balões e onomatopéias, e transforme


a narrativa “Macaco era gente no tempo do Sol e da Lua” em história em quadrinhos.

Sites de pesquisa e imagens:


ISA – (Instituto Socioambiental). http://www.pib.socioambiental.org
MUSEU PARANAENSE. http://www.museupr.pr.gov.br

76
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

SITE DAS IMAGENS:

http://img.socioambiental.org/.../arte_kadiweu_2.jpg - Acesso em 10/01/2010.


http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/karaja/karaja_11.jpg.html - Acesso em 04/06/2010.
http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/kadiweu/kadiweu_6.jpg.html - Acesso 11/01/2010.
http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/pibmirim/antes-de-cabral/Urna+funer__ria+Marajoara.jpg.html
- Acesso em 09/06/2010.
http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/Xokleng/xokleng_1.jpg.html - Acesso em 23/02/2010.
http://www.iande.art.br/trancado/cesto/wayanaruto020901.htm - Acesso em 15/03/2010
http://www.iande.art.br/boletim010.htm - Acesso em 15/03/2010.
http://www.iande.art.br/boletim016.htm - Acesso 10/01/2010.
http://www.iande.art.br/loja/artefigurativa/karajaboneca2333b.htm - Acesso em 10/01/2010.
http://www.iande.art.br/loja/armas/kayapoborduna1100a.htm - Acesso em 10/01/2010.
http://www.iande.art.br/loja/bancos/mehinakubancoescorpiao1324.htm - Acesso em 10/01/2010.
http://www.iande.art.br/mascara/madeira/mehinakuquapan060512.htm - Acesso em 10/01/2010.
www.iande.art.br/boletim/xikrin%20crian%E7as.jpg – Acesso em 11/02/2010.
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=20&evento -
Acesso em 04/03/2010
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=177&evento=10 - Acesso em
07/03/2010
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=117&evento=9 - Acesso em
07/03/2010.
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=11895 - Acesso em 30/01/2010.
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1365 - Acesso em 30/01/2010.
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=19998 - Acesso em 30/01/2010.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vaso-santar%C3%A9m.JPG - Acesso em 10/06/2010
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http://upload.wikimédia.org/wikipedia/commons/a/aa/triunfo-25.jpg. Acesso em26/04/2010
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Xavante07032007.jpg Acesso em 20/07/2010.

http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/folclore-indigena-da-tribo-kaingang.html - Acesso em
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO

14/06/2010.

SITE DE PESQUISA:

http://img.socioambiental.org/v/publico/bakairi/bakairi_7.jpg.html Acesso em 29/06/2010.


http://www.scielo.br/pdf/ha/v8n18/19062.pdf - Acesso em 09/05/2010
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xetá/print - Acesso em 26/06/2009.


http://www.museuparanaense.pr.gov.br - Acesso em 23/02/2010.
http://www.riobranco.org.br/arquivos/sites_2009/1c/Site_Marco/Isa/arteindigena.html - Acesso em 10/11/2010.
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