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A IMPORTÂNCIA DO BUMBA MEU BOI PARA OS MARANHENSES

Prof.ª. Me Cinthia Andrea T. dos Santos

Keliane dos Santos Caldas

Resumo

O Bumba meu boi é uma festa brasileira predominante do Norte e Nordeste,


recebendo diferentes nomes e contém características específicas conforme o
estado onde é praticado. No Maranhão, é um símbolo da cultura maranhense, que
simboliza a identidade do povo como forma de combate ao preconceito e a
repressão dos colonizadores europeus. Por isso escolhi esse tema para esse artigo
sobre cultura popular, porque o bumba meu boi do Maranhão é uma importante
manifestação, pois contribui para a economia de muitos maranhenses que esperam
ansiosamente por essa época do ano. Esse trabalho apresenta uma trajetória do
bumba meu boi desde a sua origem, mesmo não sabendo a sua origem ao certo,
com perseguições por parte da elite e das autoridades da época até atingir o
patamar que conhecemos hoje elevando o nível da capital maranhense, São Luís,
em Capital Cultural. Então o objetivo deste artigo é mostrar a importância do Bumba
Meu Boi, para a cultura, para a economia maranhense, para a religião, para os
maranhenses, a partir de uma pesquisa explicativa e descritiva, quanto aos fins.

Palavras chaves: Bumba meu boi. Perseguições. Folclore. Sotaque. Economia.


Patrimônio Cultural
Abstract

Bumba meu boi is a Brazilian festival that predominates in the North and Northeast,
receiving different names and having specific characteristics depending on the state
where it is practiced. In Maranhão, it is a symbol of Maranhão culture, which
symbolizes the identity of the people as a way of combating prejudice and the
repression of European colonizers. That's why I chose this theme for this article on
popular culture, because the bumba meu boi from Maranhão is an important
manifestation, as it contributes to the economy of many people from Maranhão who
wait anxiously for this time of year. This work presents a trajectory of bumba meu boi
since its origin, even though its origin is not known for sure, with persecution by the
elite and authorities of the time until it reached the level we know today, raising the
level of the capital of Maranhão, São Luís, in Cultural Capital. So the objective of this
article is to show the importance of Bumba Meu Boi, for the culture, for the economy
of Maranhão, for religion, for the people of Maranhão, based on an explanatory and
descriptive research, regarding the purposes.

Keywords: Bumba meu boi. Persecutions. Folklore. Accent. Economy. Cultural


heritage

1. INTRODUÇÃO

Escolhi esse tema porque moro no João Paulo onde acontece todos os anos
a festa de São Marçal, é a reunião dos bois de matraca, e sempre me questionei
qual seria a história do Bumba meu boi, porque os bois se reúnem no João Paulo e
qual a importância do Bumba meu boi para os maranhenses. Então esse foi o
motivo da escolha desse tema.
Quando se estabeleceu que esse seria o tema, a importância do Bumba meu
boi para os maranhenses, o primeiro passo foi a busca por fontes documentais e foi
possível observar a escassez de tais fontes sobre a temática escolhida. Mas,
tiveram alguns folcloristas que deixaram os seus escritos e serviram como fontes
para esse artigo.

No primeiro tópico iremos discutir sobre a origem do Bumba meu boi, os


folcloristas Câmara Cascudo, Mário de Andrade e Renato de Almeida, tiveram
opiniões divergentes a respeito de qual seria a origem do Bumba meu boi, se foi
trazido pelos portugueses ou se foi algo que surgiu no Brasil já colonizado. Com
essa divergência nunca se soube ao certo a origem do folguedo, mas uma coisa é
certa trata-se de uma “festa negra”.

Em seguida entraremos na discussão sobre a perseguição que os brincantes


sofreram por parte das autoridades e pela elite na época, pois eles tinham uma
visão preconceituosa sobre a festa e por causa disso tiveram que ir para locais
distante do centro da cidade, visto que era a região onde morava as pessoas mais
ricas de São Luís na época, migrando para lugares considerados “periféricos” e foi
assim que surge a reunião dos bois na avenida São Marçal no João Paulo que
marcava o limite de até onde eles podiam ir.

Contudo essa perspectiva vai ser mudada com os avanços dos estudos sobre
o folclore e em seguida do Bumba meu boi. Essa elite que anteriormente perseguia
os grupos de boi agora vai começar a ter interesse pelo folguedo e isso ajudou na
valorização da brincadeira, pois criou-se uma Subcomissão Maranhense de
Folclore, que tinha o objetivo de lutar para que essa manifestação cultural tivesse o
seu tamanho respeito.

Depois disso, entraremos no debate acerca da lenda, dos personagens que


compõem o bumba meu boi e os sotaques. Segundo a lenda, essa manifestação se
originou a partir de um casal de escravos que viviam em uma fazenda, Pai
Francisco e Mãe Catirina, quando a mulher fica grávida deseja comer a língua do
boi favorito do dono da fazenda, Pai Francisco, também conhecido como Chico,
para satisfazer a vontade de sua esposa, corta a língua do boi. O seu senhor
descobre e manda caçar Chico que foge para uma tribo indígena, lá ele fala com o
pajé da tribo e pede que ele ressuscite o boi, fazendo isso, o povo se anima e faz
uma festança para comemorar tal feito. Os personagens que compõem a
brincadeira derivam dessa história: o emo, que é o dono da fazenda; Pai Francisco
e Mãe Catirina, representa os escravos; os vaqueiros, seriam os guardas do emo e
os índios e indígenas, que simboliza as tribos indígenas.

Uma característica que diferencia o Bumba meu boi do Maranhão dos outros
grupos de boi são os sotaques, ou seja, cada grupo tem uma característica diferente
seja a forma como toca os instrumentos ou as indumentárias que eles usam. Os
sotaques são: Sotaque de zabumba, o mais antigo e originário do município de
Guimarães; Sotaque de orquestra, é o mais novo entre os sotaques e com o maior
crescimento numérico no Maranhão; Sotaque costa de mão, tem esse nome porque
os escravos com as mãos feridas tocavam os instrumentos com a costa da mão;
Sotaque da Baixada, são grupos menores e com batida mais lenta e o personagem
mais característico é o Cazumbá; Sotaque de matraca, também conhecido como
sotaque da ilha, pois são originário da ilha de São Luís, os principais grupos são:
Boi de Maracanã, Boi da Maioba, Boi de Ribamar, Boi da Pindoba, entre outros.

Depois dessa trajetória toda, atualmente o bumba meu boi é a principal


manifestação do estado, pois ele auxilia e movimenta a economia de muitos
maranhenses que utilizam dessa data como meio para ganhar dinheiro, através da
venda de produtos e serviços. Como por exemplo, a venda de artesanato, de
comidas, assim como, muitos vendem a sua mão de obra para a construção de
estruturas nos arraiais e as costureiras que confeccionam as indumentárias
utilizadas pelos brincantes.

Com isso, nesse trabalho procurei tocar nos pontos que considero com mais
relevância para entender a importância do Bumba meu boi para os maranhenses, a
partir da história do Bumba meu boi. Espero que com esse estudo eu possa passar
o conhecimento necessário para a compreensão do tema proposto.

2. A origem do Bumba-meu-boi

A busca pela origem rendeu vários estudos de folcloristas, pois segundo


alguns sites e livros citam que o bumba-meu-boi tem sua origem no século XVI,
quando chegou no território brasileiro trazido pelos colonizadores europeus, quando
chegou em território brasileiro a história foi se modificando e incorporou aspectos da
cultura africana e indígena. Porém alguns estudiosos como Câmara Cascudo, Mário
de Andrade e Renato de Almeida, tinham opiniões divergentes relacionadas a
origem do bumba-meu-boi. Em seguida, irei apresentar as sínteses sobre as
principais ideias desses folcloristas.

Câmara Cascudo em sua obra Literatura Oral do Brasil, escrita entre os anos
de 1945 e 1949 e publicada em 1952, relata em um dos seus capítulos que o
bumba-meu-boi é um auto popular mestiço, ou seja, a mistura da cultura
portuguesas, dos colonizadores e dos negros escravizados. Para ele, os três grupos
étnicos (brancos, negros e indígenas) contribuíram para a construção da cultura
popular brasileira. Conclui-se com essa afirmação de Cascudo, que para ele o
bumba-meu-boi é uma mistura de aspectos culturais de diferentes grupos que
viviam nas fazendas de gado e engenhos de açúcar, como as índias, os vaqueiros,
que representam os negros e o dono das fazendas que eram os colonizadores.

Dentre os grandes folcloristas está Mário de Andrade, que foi poeta,


professor, crítico literário, pesquisador e um excelente folclorista. Em suas obras
relatou sobre o bumba-meu-boi e sua possível origem. Para Andrade, o boi não é
nativamente brasileiro, mas possui origem ibérica e europeia, como sendo algo
mestiço. Segundo o autor, o bumba-meu-boi vai se fixar quando o Brasil, no final do
século XVII, vai se delineando musicalmente com a chegada de diversas danças,
entre elas o bumba-meu-boi. Para o folclorista, essa dança é a “mais complexa,
estranha, original de todas as nossas danças dramáticas”, (ANDRADE, Mário.
Danças Dramáticas do Brasil.1982. P.53)

Já Renato Almeida em seu artigo O Folclore Negro no Brasil, publicado em


1968, afirma que o bumba-meu-boi é efetivamente brasileiro e destaca a influência
dos negros na formação dos folguedos. Para o folclorista, o boi seria uma forma de
expressão de rebeldia, uma forma das classes mais baixas expressar sua
indignação e descontentamentos com as injustiças sociais. Deduz então que a
dança, a encenação e as toadas seria uma forma de colocar para fora todo esse
descontentamento que eles tinham. Essa afirmação de Almeida, tem um pouco de
sentido, pois nos remota a capoeira que é uma luta que permitia eles se
defendessem dos capitães do mato, porém como era proibido qualquer tipo de
esporte entre eles, os capoeiristas adaptaram movimentos a elementos
coreográficos e musicais, camuflando assim o seu real significado. Então assim,
como a capoeira, o bumba-meu-boi poderia ter esse significado também,
contrariando assim, a afirmação de Cascudo e Andrade, que afirmam que seria a
mistura dos grupos étnicos do Brasil no período colonial.

Com essas afirmações, mostra que não se sabe ao certo a origem étnicas
para o folguedo, pois casa folcloristas têm pensamentos diferentes. Porém, pode
considerar que se trata de uma “festa negra”, pois a maioria dos seus brincantes
são negros.

3. Entre perseguições e resistência

“A noite caía no silêncio; ouvia-se um ou outro


busca-pé retardado. Na rua, grupos de
pândegos passavam em troça para o banho de
São João; do Alto da Carneira vinha um
sussurro longínquo de “Bumba-meu-boi”.
Cantaram os primeiros galos; cães uivavam
distante, prolongadamente; no céu, azul e
tranquilo, uma talhada de lua, triste, sonolenta,
mostrava-se como por honra da firma, e,
todavia, um homem, de escada ao ombro, ia
apagando os lampiões da rua.” (Aluísio de
Azevedo em O mulato. P.160)

Nesse trecho retirado do livro O Mulato de Aluísio de Azevedo, publicado em


1881. Este romance se passa em São Luís, no tempo ainda da escravidão. Nessa
passagem citada acima, descreve uma noite de São João, na qual os grupos
caminhavam em direção ao rio Cutim para o banho de São João, um costume que
eles tinham da qual tomavam banho para se purificarem. Segundo Maria da Glória
Correia em Nos fios da trama: quem é essa mulher? p.129, afirma que essa era
uma continuação de costumes portugueses em terras maranhenses. Nessa época
os grupos de bumba-meu-boi não podiam adentrar a área urbana da cidade, era
apenas possível ouvir os batuques bem distantes pelas ruas de São Luís.

Com essa obra torna-se possível perceber a discriminação com os grupos de


bumba, pois a elite os via como segmentos violentos, que, portanto, deveriam ser
afastados da cidade dita civilizada, pois a cidade era dívida em centro, onde viviam
a classes dominantes e a periferia, onde viviam a classes subalternas. “Há mesmo
uma pressão paras o confinamento de cerimônias populares tradicionais em áreas
isoladas do centro, para evitar o contato entre duas sociedades que ninguém
admitia mais ver juntas, embora fosse uma e a mesma. “(SEVCENKO, 1995, p.34).

Para a elite daquela época a brincadeira era vista como no passado colonial,
por seus brincantes serem majoritariamente negros, por isso já eram alvo de
perseguições pelas autoridades governamentais e policiais por residirem nas áreas
marginalizadas. Quando não eram perseguidos pelas instituições do Governo eram
pela própria população, que não gostavam dos barulhos feitos por eles até tarde da
noite. Como podemos observar nessa citação de Michol Carvalho:

O boi também é reprimido pela imprensa e


pelos órgãos estaduais. Os órgãos possuem
todos os meios repressivos a seu dispor,
utilizando-se principalmente da força física. A
repressão chega ao ponto de tal proibição do
boi de apresentar. Ainda com alusão às
perseguições do poder oficial ao Bumba-meu-
boi, cumpre ressaltar o que ocorria nesta época
no Maranhão. De jeito, há registros de uma
forte campanha contra o funcionamento da
brincadeira, resultando na sua proibição pelas
autoridades policiais. Os dados levam a crer a
vigência dessa maneira pelos menos no
período de 1861 a 1867, pois, no ano de 1968,
João Pereira do Sacramento, cronista do
“Seminário Maranhense”, surpreendentemente
saúda com entusiasmo à volta dessa antiga
usança. (CARVALHO, 1995, p.37)

As danças dos negros eram chamadas de batuques, que ficavam longe do


centro da cidade, mais especificamente da Praça João Lisboa, o ponto mais bem
cuidado de São Luís, qualquer irregularidade nesse local era denunciado. Então as
danças eram situadas no Anil e no João Paulo, atuais bairros de São Luís que
permanecem com os mesmos nomes e também nas zonas rurais, no Iguaíba e
Maioba. A festa de São Marçal que acontece todos os anos no dia 30 de junho, no
bairro do João Paulo, é uma marca desse período, pois tinha o sentido de desafiar
os limites espaciais e simbólicos ao se apresentar como zona de fronteira.

Todavia, as brincadeiras de bumba-meu-boi até nessas áreas afastadas,


precisavam porta um documento constando as licenças, era uma forma das
autoridades manter o controle sobre as brincadeiras.

Na passagem do século XIX para o século XX, qualquer brincadeira popular


para saírem nas ruas, precisavam ser legitimadas. O solicitante deveria ser o dono
de bumba-meu-boi, firmando manter a ordem da brincadeira. “Virgínia Maria da
Conceição vem mui respeitosamente solicitar de V.Excia a permissão para durante
seis meses ter lugar a brincadeira do tambor das Minas, à rua da Madre de Deus
desta cidade.” (APEMA. Caixa Chefe de Polícia Requerimento (1891-1900).
Envelope Requerimentos de 1896-1900. licenças, 18 maio.1900).

Com essa postura, as autoridades buscavam meios de manter controle sobre


as brincadeiras, já que não poderiam barrá-las por completo. Sendo assim, delegou-
se poderes à Polícia para monitorar e reprimir quaisquer transgressões às ordens
públicas que viessem a acontecer. Inclusive, em alguns jornais deste período que
saiam as listas de divulgações de pessoas que haviam obtido as suas licenças,
como podemos observar a seguir:” tiveram licença do Dr. Delegado geral para
brincar Bumba-meu-boi: Sabino Conceição, do Desterro; Cláudio Antônio dos
Santos, doTotorema; José Lessa Ribeiro, do Turu; Aprígio Antero de Souza, do
Boqueirão[...].” (O JORNAL,1916, p.2).

Com isso, os brincantes de “bumba” conviviam diariamente com essas


perseguições. Durante muito tempo as danças de bumba-meu-boi ficaram restritas a
essas áreas “periféricas”, pelo fato de serem consideradas danças de “negros”.
Porém essa visão começa a ser mudada, com o avanço do estudo do bumba-meu-
boi e do folclore, assunto esse que será abordado no próximo tema.
4. A trajetória dos estudos sobre o folclore e o bumba meu boi no
Maranhão.

Segundo o artigo de Victor Hugo, O folclore e a escrita da História: a cultura


popular como fonte, as discussões sobre a origem do Bumba-meu-boi surgem com
o interesse sobre o folclore no século XIX, com o Renascimento e os Gabinetes de
Curiosidades do século XV e XVI. Os estudos folclóricos no Maranhão só tiveram
avanço a partir da criação da Subcomissão Maranhense de Folclore, na década de
1940, por causa do crescente interesse da elite maranhense pelo Bumba-meu-boi
para a consolidação da cultura maranhense em razão da brincadeira envolver um
número considerado de pessoas engajadas numa mesma prática cultural. Isso se
deu por intermédio do escritor maranhense Celso Magalhães, pioneiro no estudo do
folclore e do romance naturalista no Brasil, suas produções incluíam poesias e
teatro, como também colaborou em jornais de São Luís.

Como já citado acima, a elite maranhense teve um papel fundamental para o


estudo e valorização do bumba-meu-boi no Maranhão, então isso mostra que não
houve total resistência por parte deles nas primeiras décadas do século XX. Como
afirma Corrêa no seu estudo sobre a formação da identidade cultural maranhense

Destarte, o Bumba meu boi, com sua


força agregadora, cooptava um
contingente significativo de
admiradores, que não se restringia
somente aos setores excluídos. Ao
chegar aos salões tradicionais de São
Luís com aval dos intelectuais, as
resistências, progressivamente, se
foram desfazendo. O valor social
conferido ao bumba-meu-boi por parte
de segmentos dominantes, já dava
demonstrações de que esta era uma
prática cultural coletiva que merecia
acurada atenção.

Ao longo do século XX, houve um processo de valorização do bumba-meu-


boi do Maranhão. Em 1948, houve a união das cantigas de bumba-meu-boi, pois era
um trabalho que ainda não havia sido realizado. Helidacy Corrêa, assegura que, a
partir desse momento aumentava a preocupação dos folcloristas com a tradição e o
folguedo do boi, que são formas rituais populares, comportamento simbólico por
excelência a exigir intensa atividade corporal, com o uso de fantasias, muita música
e dança.

Na década de 50 houve uma preocupação por parte dos intelectuais,


principalmente de Domingos Vieira que assumiu a Subcomissão Maranhense de
Folclore, por motivos de uma suposta transformação no folguedo. Vale lembrar que
os estudos do folclore no país tinham como objetivo a preservação das tradições
então qualquer modificação não era bem-vista.

Além da atuação da elite no processo de valorização do bumba-meu-boi, é


preciso considerar o papel dos brincantes também nessa trajetória. As novas
adaptações nos cordões de bumba foram vistas pelos integrantes dos bois como
necessárias nesse novo contexto. Antônio Barros, em O Parthenon encantado:
culturas e heranças étnicas na formação de identidade maranhense, afirma que,
umas das características do boi era a “sua capacidade de adaptação e
transformação” (P.149). Com essa afirmação de Barros, pode-se concluir que os
bois se renovam a cada ano, pois nele asseguravam a permanência da tradição o
que se nota, através das narrativas das descrições de folcloristas.

Um exemplo dessa transformação é a realização dos concursos de bumba-


meu-boi promovido, inicialmente, pela Prefeitura de São Luiz, na década de 50. A
concorrência e o desejo de vitória exigiam que os grupos realizassem inovações nos
cordões, seja nas fantasias ou na adoção de novos instrumentos, como no caso do
boi de Viana, que adotou as matracas como forma de se destacar dos bois da
capital.

Com essa valorização do bumba-meu-boi, contribui no combate a


preconceitos e discriminações que os brincantes enfrentavam. Por ser uma dança
que começou com os negros escravizados. Porém, essa perspectiva logo mudou
com os estudos aprofundados sobre cultura e do folclore. Vendo o bumba meu boi
não mais apenas como uma festa qualquer e sim como um enorme peso para
cultura e economia do Maranhão e do país.
5. Lenda e os personagens do Bumba meu boi

A história do Bumba-meu-boi foi inspirada na lenda da Mãe Catirina e do Pai


Francisco. Nessa versão, Mãe Catirina e Pai Francisco, também conhecido como
Chico, são um casal de negros trabalhadores de uma fazenda. Com isso, Mãe
Catirina fica grávida e tem o desejo de comer a língua do boi do dono da fazenda.

Porém, esse boi era o preferido do dono da fazenda, nem todo mundo podia
cuidar desse boi, apenas um empregado cuidava dele, que era o Pai Francisco. No
início Chico relutou por ser o boi preferido do seu patrão, mas logo acabou cedendo
e cortou a língua do boi em consequência disso acabou ficando doente, em outras
versões o boi já está morto.

Com isso, o fazendeiro percebe que o boi está doente, descobre que foi Pai
Francisco que fez isso com o seu boi manda chamá-lo e ordena que ele trate do seu
boi. Chico chama um médico, porém o boi não fica bom, só quando o pajé vem o boi
ressuscita. Dessa forma, todos se alegram e fazem uma festa para comemorar a
ressurreição do boi.

Com essa lenda, podemos observar aspectos dos três grupos étnicos que
compõem o Brasil: o fazendeiro que representa os colonizadores, o pajé que seria
elemento da cultura indígena e o Pai Francisco e Mãe Catirina que representam os
africanos. Além da presença do catolicismo, que está representada pelo conceito de
ressurreição e do milagre do boi. E é por causa dessa lenda que é celebrada a festa
do Bumba meu boi.

5.1 Personagens do bumba meu boi


Os personagens mais importantes da brincadeira do Bumba meu boi são: o
Amo, que seria o dono da fazenda; os Rajados, que representa os vaqueiros; Pai
Francisco e Mãe Catirina, os africanos; os índios (guerreiros) e o boi, figura
principal, que ganha vida através do miolo, dançarino oculto sob a armação que cria
o improviso de uma rica e animada coreografia.

Amo: o contador, aquele que comanda a apresentação, tem sempre na sua


mão um maracá, e um apito com os quais dirige a encenação, sempre vestido de
roupas luxuosas, por ser o dono da fazenda.

Figura 01: Brincante do boi tocando maracá.

Vaqueiro ou Rajado: homem de maior confiança do amo. É empregado da


fazenda, porém, ostenta com roupas luxuosas, todas trabalhadas em lantejoulas,
paetês, canutilhos e miçangas. Vale a pena lembrar, que cada sotaque tem a
indumentária do seu vaqueiro diferente.
Figura 02: Vaqueiro de fita, Boi de Axixá

Pai Francisco ou Negro Chico: é o responsável pela morte do boi, para


satisfazer o desejo se sua mulher, Mãe Catirina.

Mãe Catirina: mulher de Chico, obriga-o a tirar a língua do boi para satisfazer
seu desejo, já que estava grávida.

Figura 03: Pai Francisco e Mãe Catirina

As índias e índios: guerreiros(as) de uma tribo próxima, suas roupas também


variam de um sotaque para outro. À índia, fazem as coreografias quando está
cantando as toadas, ou seja, participam das apresentações que não realizam o
auto. Sobre isso Araújo diz:

Antigamente o Bumba meu boi era


uma brincadeira eminentemente
masculina. As mulheres que iam ao
boi eram só acompanhantes de seus
maridos, filhos ou amantes, eram as
chamadas “mutucas”. Hoje elas
fazem parte do cordão tapuia, tocam
matracas, só não participam como
cantador ou Amo do boi. (ARAÚJO,
1983, P.163)

Figura 04: imagem de índios e índias

O boi: figura central da brincadeira, o mais famoso e bonito da fazenda. Cada


grupo usa materiais diferentes na confecção do seu boi, como palha, barbante,
couro, veludo, entre outros.

Figura 05: imagem dos bois


Esses são os principais personagens que compõem o Bumba meu boi, vale
apenas lembrar que os personagens e indumentária variam de sotaque para
sotaque. A seguir irei apresentar sobre os sotaques para entendermos melhor os
diferentes estilos de bumba meu boi.

6. Sotaques do bumba meu boi do Maranhão

Os sotaques é algo característico do bumba meu boi do Maranhão. Os


sotaques do bumba meu boi seriam as diferentes formas de se apresentar o bumba
e de se relacionar com elementos com a tradição e a religião.

Cada sotaque apresenta uma característica própria como, por exemplo, a


indumentária, os instrumentos, a coreografia, a forma de tocar os instrumentos, etc.
Apesar dessas características próprias, eles apresentam elementos semelhantes
como, o boi, a Mãe Catirina e o Pai Francisco, o amo, às índias, vaqueiros, etc. É
difícil dizer precisamente quando a palavra sotaque foi utilizada pela primeira vez,
porém hoje foi amplamente adotada por todos os grupos de bumba meu boi.

Os folcloristas acreditam que os sotaques foram aparecendo quando as


pessoas de diferentes locais do estado foram formando seus cordões de bumba e
remetendo cada um ao modo específico de fazer boi de suas regiões. O historiador
Antônio Barros relata que os sotaques ficaram mais esclarecidos a partir dos
concursos de bumba meu boi na década de 1950, como já citado neste artigo,
promovidos pela prefeitura de São Luís. Segundo ainda Barros, os grupos de bois
eram divididos em dois grupos de acordo com o seu sotaque: os grupos
representantes do sotaque de Guimarães (zabumba) e os grupos representantes do
sotaque de matraca (ilha).

Em seguida, iremos destacar os principais sotaques mais conhecidos no


Maranhão: Zabumba, Orquestra, Cururupu, Matraca e da Baixada
6.1 Boi de Zabumba

De todos os sotaques de bumba meu boi, o de zabumba é o mais antigo e se


mantém com mais originalidade a influência africana. Seu principal instrumentos é a
zabumba, são feitas à mão, são rústicas e arrochadas na corda.

Originário do município de Guimarães, tem como principais grupos: Boi de


Leonardo, Boi de Vila Passos, Boi da Fé em Deus, Boi Unidos Venceremos, Boi de
Guimarães e Boi Brilho de São João.

O sotaque zabumba tem influências indígenas e africanas, como explica a


pesquisadora e professora da UFMA, Ester Marques.

"Não é à toa que a região de Guimarães


e da baixada, assim como no Muni, são
regiões povoadas pelos açorianos e não
pela Portugal continental. Quando você
vai aos açores, a primeira coisa que
você vê nas manifestações culturais é a
zabumba, não com o mesmo ritmo que
se tem aqui. No arquipélago dos açores
é muito comum. (...) E aqui no
Maranhão, a zabumba é tocada de
forma muito fortemente como alguns
instrumentos de percussão na África.
Por que isso? É porque a região da
baixada foi a que mais recebeu negros
da África para cá. Por isso temos tantos
quilombos por lá", explica.

No vestuário, destacam-se golas e saias de veludo bordado e chapéus com fitas


coloridas. Também são usados miçangas e canutilhos nas roupas. As
apresentações são feitas em formato semicircular, como fazem nas aldeias
indígenas.
Os brincantes do grupo de sotaque zabumba contam que as toadas lembram
um tormento dos escravos, que saíam de suas senzalas e cantavam para se divertir
e se distrair, mesmo machucados, no período colonial. Em outros casos, as músicas
podem explicitamente fazer algum tipo de ativismo relacionado aos negros. É o caso
da letra de uma das músicas do Boi de Guimarães, que critica o racismo.

"Pra não ficar se humilhando por


diferença de cor ... 'Seje' nego ou 'seje'
branco, tem que ser respeitado. Todos
nós temos o direito de viver sem ser
discriminado // Só que isso não é de
hoje, tá se tornando mundial // todo dia
a gente vê, tá passando no jornal //
Olha, quando eu vejo isso, eu juro que
me sinto mal // de ver o negro ser
chamado de mal o ou qualquer outro
animal // (...) se tu é racista, tu não tá
com nada... Se tu tem preconceito, tu
não vale nada...", diz alguns trechos da
música.

Porém, o sotaque de zabumba vem diminuindo e perdendo espaço, porque os


outros sotaques mais dançantes e enfeitados, como o de orquestra, têm atraído
mais brincantes. Apesar disso, no ano de 1994, o mestre Basílio Durans criou o
Festival Bumba Meu Boi de Zabumba, com a proposta de resgatar as raízes do
sotaque Zabumba, que esteve em declínio e quase foi extinto.
Figura 06: Brincantes de boi de zabumba usando pandeiros.

Figura 07: Brincantes do Bumba meu boi Brilho da União tocando zabumba.

6.2 Boi de Orquestra

O sotaque de orquestra é o mais novo de todos os sotaques, o sotaque com


maior crescimento numérico no Maranhão. Dentre os principais grupos são: Boi de
Nina Rodrigues, Boi de Axixá, Boi de Morros, Boi Brilho da Ilha, Boi Novilho Branco,
Boi Upaon-Açu, Boi de Sonhos, Boi de São Simão, dentre outros.

Esse sotaque teria surgido na região de Munin, nos municípios de Rosário e


Axixá, nas décadas de 50 e 60. O cantor Chico Saldanha, em sua música chamada
Parabéns, Rosário, conta que foi em Rosário que os bois de orquestra começaram.

Parabéns, Rosário e o folclore do


Maranhão
Onde começou o boi de orquestra a
grande festa de São João
E foi espalhando para outras cidades e
interior
Mas pode ficar sabendo, Rosário que
inventou…
(Chico Saldanha, Parabéns, Rosário)

A base rítmica desse estilo é feita pelo bimbo, pelo tambor-onça e pelo banjo.
Os instrumentos de sopro não são os principais instrumentos na orquestra. Na
apresentação, é comum se apresentarem em formato semicircular com o boi no
centro, no entanto, hoje em dia, os grupos têm preferido a formação em fileiras, com
o boi dançando em torno dos brincantes.

Figura 08: Boi de Sonhos

6.3 Boi de Cururupu ou costa de mão

Originários da região de Cururupu, no litoral Noroeste do Maranhão, tem


raízes no período da escravidão e não tem a mesma fama dos outros sotaques.

A principal característica desse sotaque é a forma com que os brincantes


tocam os instrumentos, com a costa da mão. As vestimentas são com bordados em
calças e casacos, além de chapéus em formato de cone com fitas coloridas e
compridas.

Alguns pesquisadores consideram que esse sotaque variou do sotaque de


Zabumba, que também tem origem no período da escravidão. Segundo um dos
brincantes, seu Elésio, a origem desse sotaque seria que os escravos eram
castigados nas mãos pelos seus senhores, desse modo, por causa dos ferimentos
na palma das mãos, os negros, para não deixar de festejar, tocavam com as costas
das mãos.

Figura 09: Pandeiro no Boi Brilho da Sociedade, sotaque costa de mão.

6.4 Sotaque da Baixada ou sotaque de Pindaré

Originário da porção norte do estado do Maranhão, em São Bento, Cajari,


Monção e Viana, os brincantes utilizam matracas, pandeiros e maracás. Suas
vestes padronizadas, cheias de brilho, e os chapéus de pena cujo tamanho reflete a
imponência de um legado histórico. Um dos personagens característicos é o
Cazumbá, uma mistura de homem e bicho e vestido com uma bata comprida.
O fator religioso predominava esse estilo na década de 50. Como relata
Manoel Pinheiro dos Santos, cantor, compositor e presidente do Boi Linda Joia:

“A brincadeira de bumba-boi começava


23 e, no dia 30 (de junho), encerrava.
Ninguém podia passar do dia 30, porque
senão era castigado; tinha problema.
Era devoção, também, não era uma
atividade de shows […] o (boi) Linda
Joia era um desses”

6.5. Sotaque de Matraca

Com o som marcante, embalada pelo som das matracas, principalmente. O


sotaque é originário da Ilha de São Luís, por isso também é conhecido como
sotaque da ilha. Não é possível saber ao certo a sua origem, entretanto, boa parte
dos brincantes são descendentes de escravos. Entre os grupos mais conhecidos
são: Boi de Maracanã, Boi da Maioba, Boi de Ribamar e o Boi da Madre Deus.

As matracas são dois pedaços de madeira em formato retangular, de


diversos tamanhos, que quando se chocam ecoam um som agudo e forte. A
professora e pesquisadora ao g1, portal de notícias, explica que as matracas
entraram por acaso nas brincadeiras.

“Antigamente, haviam muitas disputas


entre os bois de matraca e por isso, as
matracas foram elementos que entraram
no boi por um acaso. Com isso, os bois
de matraca foram muito oprimidos e
chegaram a ser proibidos de dançar em
áreas mais nobres, por conta dessa
conotação das disputas”

Os bois de matracas também são conhecidos como “batalhões”, pois a grande


quantidade de brincantes. A pesquisadora Letícia Cardoso explica essa
denominação, na sua reportagem para o G1.

“A denominação ‘batalhão’ também


representa esse sentido de luta,
remonta o tempo das guerras e dos
conflitos armados. Mas, a gente pode
perceber que eles absorveram essa
denominação pela ideia de lutar, resistir,
de buscar uma interação com a
sociedade por meio do discurso da
toada. E a luta dos bois se dá por meio
dos seus símbolos, que têm tradições
centenárias”

As indumentárias dos bois de matracas possuem características únicas que as


diferenciam dos outros sotaques, por ser um boi originário da zona rural, utilizam de
materiais encontrados em animais, como de aves mais rústicas. Segundo ainda a
pesquisadora Letícia Cardoso, as indumentárias foram criadas a partir das
condições de vida e financeiras dos brincantes.

“Os brincantes vão criando de acordo


com suas condições de vida. Eles usam
muita pena de animais, principalmente
aqueles da zona rural, porque eles
tinham acesso a esse tipo de material.
Hoje em dia, claro, já é algo mais
sintético, mas no início, usavam-se
muitas penas de animais mesmo, já que
era o que podia ser extraído de forma
gratuita”

Humberto de Maracanã foi amo, cantor e compositor do Bumba meu boi de


Maracanã. Ele criou uns dos versos mais famosos do São João: “Maranhão, meu
tesouro, meu torrão. Fiz essa toada, para ti, Maranhão”. Verso esse que foi
regravado pela cantora maranhense Alcione.
Figura 10: Caboclos de pena do sotaque de matraca

Carlos de Lima, folclorista e historiador, escreveu um texto chamado Bumba


meu boi no ano de 1968, na qual ele cita os três estilos: matraca, orquestra e
zabumba. Caracterizando cada um como mostra abaixo:

Boi de matraca, se não é o mais


autêntico, é indiscutivelmente, o mais
bonito. Imagine-se duas, três, cinco
centenas de pares de tabuinhas,
espécie de tacos de assoalhos, batidas
freneticamente umas nas outras, num
delírio. [...] O boi de zabumba é mais
África. [..] O ritmo é diferente, mais
lento, chamado senzalas e mocambos,
num compasso soca-pilão [...] sem
dúvidas o boi de orquestra é o mais
recente. Muito embora também antigo
seja. A música é faceira, cabriolante,
panteísta.

Com essa descrição de Carlos de Lima, percebe-se que o autor foca em


diferenciar os sotaques a partir dos ritmos. Isso nos mostra que os sotaques são
mais antigos do que parece. Em 1980, a pesquisadora Maria Michol de Carvalho em
seu estudo já compreendia a existência de quatro sotaques: matraca, zabumba,
orquestra e Pindaré. A autora afirma que os sotaques surgiram da migração de
trabalhadores de diferentes municípios do interior maranhense para a capital.

O bumba meu boi é para os migrantes


maranhenses a expressão da vida que
se amplia, misturando as vivências do
interior e as vivências da cidade. É a
síntese da vida produzindo-se na
cultura, em que os sujeitos se
identificam e identificam a sua
produção. A “brincadeira” é, portanto,
uma forma de autoafirmação, através da
qual os “festejos” e brincantes dão
continuidade a uma experiência,
mantendo a sua referência cultural e
enriquecendo-a no seu novo ambiente.

7. A importância do Bumba meu boi para a economia do Maranhão

Estudos sobre a participação da cultura na economia são recentes, e


apontam que a junção de ativos criativos e culturais se transformam em produtos
que favorecem tanto a indústria como a sociedade como um todo. De acordo com o
relatório de Economia Criativa em 2010 (NAÇÕES UNIDAS, 2012, p.19), o estímulo
adequado à criatividade corrobora para o “desenvolvimento centrado no ser humano
e constitui o ingrediente chave para a criação de trabalho, inovação e comércio, ao
mesmo tempo em que contribui para a inclusão social, diversidade cultural e
sustentabilidade ambiental”.

A economia criativa, que é um termo criado para nomear modelos de negócio


que se originam em atividades, produtos ou serviços desenvolvidos a partir do
conhecimento, criatividade ou capital intelectual de indivíduos com vistas à geração
de trabalho e renda, esse termo foi criado na Austrália em 1990. No Maranhão, o
São João desperta esse lado criativo das pessoas, na produção de artesanato,
música, dança, culinária, etc.

São dezenas de grupos que movimentam a economia a partir do consumo de


produtos e serviços. Segundo ainda Nações Unidas (2012), o folclore está inserido
na indústria criativa, sendo assim possível analisar a participação do Boi na
economia criativa.

A criatividade é a base da economia criativa, pois ela potencializa o


empreendedorismo local. Na época do São João, as pessoas utilizam dessa data
para vender comidas típicas, artesanato como também a sua mão de obra, pois
muitos grupos que não recebem verbas para a produção de indumentárias e por
isso vão atrás de costureiras que possam fazer as suas roupas para as
apresentações.

No Maranhão, em todas as regiões, acontecem eventos, festivais, exposições


voltadas para a cultura maranhense, algumas com parceria com o Governo do
estado, como o São João do Maranhão.

Nessa época do ano o estado se torna o principal ponto de turismo,


justamente, por causa da festa junina, já que o São João do Maranhão é o mais
famoso e conhecido não somente no Brasil, mas também no mundo.

Por conta do COVID-19, não teve festa junina por dois anos, por conta disso
esse ano de 2023 será 60 dias de festas e essa retomada traz boas perspectivas
para a economia devido ao aumento das viagens com destino para a capital
maranhense. Projeções do Ministério do Turismo, revelam que as festas juninas
devem movimentar a economia dos principais destinos juninos do país em cerca de
R$2 bilhões.

Em São Luís, houve o aumento da taxa de ocupação hoteleira que alcançou


em junho 62,67% no geral, os dados são de levantamento feito pela prefeitura de
São Luís, por meio da Secretaria Municipal de Turismo. Além disso, também
movimenta o aeroporto, com perspectiva da passagem de cerca de 450 mil
visitantes até o final dos festejos.

Os 60 dias de festa se espalham por todo o estado, somente a programação


organizada pela prefeitura de São Luís, apresenta-se por dia cerca de seis atrações
no Arraial da Cidade. Além dos festejos organizados pela iniciativa privada.

Portanto, o bumba meu boi atrai diversas pessoas, tanto maranhenses


quanto os turistas que vêm de diversos lugares e isso ajuda a movimentar a
economia maranhense, pois gera empregos, como por exemplo, a venda e
confecção de adereços, acessórios de decoração e indumentárias, na montagem e
desmontagem de estruturas para as festas; no comércio e serviços em geral.

8. O bumba meu boi como Patrimônio Cultural

O Bumba meu boi do Maranhão é o mais novo bem brasileiros a ser


consagrado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, dizem respeito àquelas
práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos
de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas;
e nos lugares. Foi reconhecida pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda
da Unesco, reunido em Bogotá, na Colômbia.

A brincadeira foi reconhecida pelo Iphan como Patrimônio Cultural do Brasil


em 2011, sendo considerado um “Complexo Cultura”, por agregar diversos bens
associados em uma única manifestação.

Com a entrada para a lista da Unesco trará mais valor para esta
manifestação mais visibilidade e proteção, como afirma o Iphan em nota, “no dossiê
construído para a candidatura estão previstas ações de salvaguarda que terão que
ser cumpridas para garantir que essa expressão cultural não se perca de sua
essência”.

Agora são seis bens culturais brasileiros na lista de Patrimônio Culturais


Imateriais da Humanidade na Unesco, a arte Kusiwa pintura corporal e arte gráfica
Wajãpi (2003), o Samba de Roda no Recôncavo Baiano (2005), o Frevo: expressão
artística do Carnaval de Recife (2012), o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2013),
Roda de Capoeira (2014) e o Bumba meu boi do Maranhão (2019).

9. Considerações finais
A cultura é algo importante para um povo e seus primeiros traços surgiram há
muito tempo. No século XXI, as pessoas continuam a consumir da indústria cultural,
como por exemplo, filmes, festivais, arraiais, gastronomia, artesanato, etc. E o
Bumba meu boi do Maranhão, contribui para que a cultura do povo maranhense não
seja esquecida.

O São João atrai milhares de pessoas para o Maranhão, movimentando


assim a economia e o estado. Com o aumento de passagem, de hospedagem, de
pessoas em arraias e pontos turísticos, devido a popularização dos grupos de
Bumba meu boi.

Porém, de acordo com o estudo feito neste trabalho, percebe-se que nem
sempre foi assim, já que os brincantes eram alvos de perseguições por parte da
elite e das autoridades, que achavam que era uma dança violenta e barulhento, por
causa disso tiveram que se afastar do centro da cidade, se deslocando para lugares
dito como “periféricos”, como por exemplo o bairro do João Paulo.

Todavia, o Bumba meu boi se tornou um Patrimônio Cultural Imaterial da


Humanidade, isso nos mostra que apesar das perseguições ele não deixou de
existir se tornando cada ano mais forte.

Por fim, vale lembrar da importância do Bumba meu boi para a cultura
maranhense, para que a cultura maranhense não seja esquecida pelas gerações
futuras e sempre quando estivermos olhando para uma apresentação de Boi não
esquecermos das lutas e perseguições dos povos que lutaram para manter essa
tradição viva. E sempre lutamos pela preservação da cultura maranhense, pois ela é
a porta para a economia de muitos maranhenses que utilizam dessa época como
ganha-pão.

10. Referências
CORRÊA, Helidacy. São Luís em festa: o bumba meu boi e a construção da
identidade cultural do Maranhão. São Luís: EDUEMA, 2013.P. 103

DE OLIVEIRA RIOS, João Tadeu. Observações sobre A Caminhada Brincante na


Festa de São Marçal em São Luís/Ma [Danielle de Jesus de Souza Fonsêca].
Repertório, p. 127-135, 2016.

AMADO, Dianne Annanda Borges Ferreira. Turismo, cultura e economia criativa:


Uma análise do Bumba Meu Boi da Pindoba em Paço do Lumiar-MA. 2021.

PAUSINI, Lohanne. A lenda do Bumba meu boi. Translúcido. Disponível em:


https://pausini.wordpress.com/2012/06/13/a-lenda-do-bumba-meu-boi/.13 de junho
de 2016. Acessado em 23 de junho de 2023.

CARDOSO, Rafael. Sotaque de Zabumba: Ancestralidade e resistência no Bumba


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CARDOSO, Rafael. Sotaque de Orquestra: O caçula dos sotaques que encanta e se


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https://g1.globo.com/ma/maranhao/sao-joao/2022/noticia/2022/06/12/bumba-meu-
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Acessado em 23 de junho de 2023.
CARDOSO, Rafael. Bumba meu boi de costa de mão: história, grupos e tradição no
Maranhão. G1. 29 de maio de 2022. Disponível em:
https://g1.globo.com/ma/maranhao/sao-joao/2022/noticia/2022/06/05/bumba-meu-
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23 de junho de 2023

CARDOSO, Rafael. Bumba meu boi da baixada: tradição, riqueza e diversidade na


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FRÓES, R. Bumba meu boi de matraca: história, personagens e a cadência


marcante de um dos sotaques mais populares do Maranhão. G1. Disponível em:
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Bumba meu boi do Maranhão é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.G1


Disponível em:<http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/5499/complexo-cultural-
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MARANHÃO, S. Retomada das festas juninas atrai turistas e impulsiona economia


no Maranhão.G1 Disponível em: <https://g1.globo.com/ma/maranhao/especial-
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juninas-atrai-turistas-e-impulsiona-economia-no-maranhao.ghtml>. . Acesso em: 23
jun. 2023.

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