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RBRH — Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 12 n.

2 Abr/Jun 2007, 157-168

Metodologia Generalizada para Pré-Dimensionamento de Dispositivos


de Controle Pluvial na Fonte

André Luiz Lopes da Silveira e Joel Avruch Goldenfum


Instituto de Pesquisas Hidráulicas — UFRGS - Porto Alegre — RS
andre@iph.ufrgs.br; joel@iph.ufrgs.br

Recebido: 05/07/05 - Revisado: 13/07/06 - Aceito: 02/04/07

RESUMO

O presente trabalho busca desenvolver uma metodologia generalizada, de fácil aplicação, para pré-
dimensionamento de dispositivos de controle pluvial na fonte, a partir da proposição de fórmulas explícitas e gerais. Uma
solução explícita de pré-dimensionamento hidrológico é apresentada, aplicável a grande parte dos dispositivos de controle na
fonte que possuem alguma capacidade de armazenamento, incluindo pavimentos permeáveis, dispositivos de infiltração
(trincheiras, poços e valas) e bacias de detenção e retenção. A chuva de projeto é obtida de uma equação IDF com a formula-
ção de Talbot, o método racional fornece as vazões de entrada e os volumes de saída nominais dos dispositivos, por infiltra-
ção no solo ou lançamento na rede pluvial, obedecem a taxas máximas constantes. Com estas simplificações, as equações de
balanço são construídas para fornecer explicitamente dimensões de projeto das estruturas de controle pluvial na fonte.

Palavras-chave: controle pluvial na fonte, pré-dimensionamento hidrológico, dispositivos de infiltração, dispositivos de ar-
mazenamento.

INTRODUÇÃO onde os parâmetros podem ser adaptados localmen-


te em função de características da chuva e do solo.

A prática de projeto de obras pluviais de


pequeno porte exige métodos simples e confiáveis MÉTODO DA CURVA ENVELOPE
de dimensionamento para não tornar complexo um
estudo de alternativas que, muitas vezes, pode en-
volver um arranjo com diversos dispositivos ou me- O método da “curva envelope” ou “método
didas de controle na fonte (pavimentos permeáveis, das chuvas” é bastante utilizado no dimensionamen-
trincheiras de infiltração, bacias de detenção, entre to expedito de bacias de detenção (DAEE/CETESB,
outros, doravante chamadas de MCs). Uma impor- 1980). Por esse método, a curva de massa, no tem-
tante componente destes métodos é o pré- po, dos volumes afluentes ao dispositivo é compara-
dimensionamento hidrológico, entendido aqui co- da com a curva de massa dos volumes dele efluentes,
mo a etapa que associa uma chuva de projeto a um e a máxima diferença entre as duas curvas é o volu-
balanço hídrico simplificado, com vistas ao cálculo me de dimensionamento. O método pode ser adap-
de volumes de armazenamento necessários e, em tado para qualquer MC com algum volume de arma-
conseqüência, das dimensões mínimas dos dispositi- zenamento.
vos de controle na fonte. Ao pré-dimensionamento Para efeito de cálculo, os volumes podem
hidrológico devem superpor-se outras exigências, ser expressos em lâminas de água equivalentes sobre
como as requeridas, por exemplo, pelo dimensio- a área em planta do dispositivo. A curva afluente é
namento estrutural. Assim as soluções obtidas não dada pela curva HDF (altura-duração-frequência das
devem ser utilizadas para dimensionamentos defini- chuvas) afetada por coeficientes de escoamento e de
tivos sem um julgamento adequado por parte do relação de áreas enquanto que a curva efluente
projetista. normalmente é uma reta, pois admite-se, por simpli-
O objetivo deste trabalho é desenvolver uma cidade, uma vazão de saída constante do dispositivo.
metodologia para o pré-dimensionamento hidroló- Definem-se, inicialmente, as seguintes variáveis de
gico de MCs, a partir de fórmulas explícitas e gerais, massa (função do tempo):

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Metodologia Generalizada para Pré-Dimensionamento de Dispositivos de Controle Pluvial na Fonte

HE = lâmina d’água de entrada acumulada medida


sobre a área em planta da MC; kT m
HS = lâmina d’água de saída acumulada, também i= (4)
medida sobre a área em planta da MC
(t + d )n

A função HE é construída pela IDF multipli- A partir de simulações numéricas as seguin-


cada pelo tempo (o que vem a ser uma HDF) e por tes expressões de conversão puderam ser estabeleci-
fatores de escoamento e relações de área. das :
A expressão de Talbot permite solução ex-
plícita do volume máximo, conforme mostrado adi- (
a = 0,68k exp 0,06n −0 , 26 d 1,13 )
ante. Parte-se, portanto, de relações IDF com a ex- b=m
pressão geral análoga à de Talbot (Azzout et al, c = 1,32n −2 , 28 d 0 ,89
1994) :
Elas valem como uma primeira aproximação
aT b para um caso específico, sendo provavelmente ne-
i= (1)
t +c cessário aplicar um coeficiente de ajuste adicional
ao coeficiente “a”.
onde : Como exemplo, utilizamos uma IDF estabe-
i = intensidade da chuva (mm.h-1) lecida para Porto Alegre (Bemfica et al, 2000):
T = período de retorno (anos)
t = duração da chuva (min) 1297,9.T 0 ,171
a, b, c são os parâmetros da equação i= (5)
(t + 11,6)0,85
Desta forma, a expressão de HE, em mm, fica:
Os valores dos parâmetros para uma expres-
aT b t são do tipo de Talbot, obtidos a partir das expres-
HE = β (2)
t + c 60 sões anteriores são:

onde β é produto do coeficiente de escoamento a = 2395,4 ; b = 0,171 ; c = 16,9


pela razão entre a área contribuinte e a área do
dispositivo. Comparando-se as intensidades de chuva de
A função HS (em mm) é obtida pela multi- ambas IDF, verificou-se, neste caso de Porto Alegre,
plicação pelo tempo da vazão de saída constante, que o coeficiente “a” deveria ser ainda majorado
conforme segue : com 1,09. Assim a versão Talbot final da IDF acima
passa a ser:
t
H S = γ .H .q s (3)
60 2611.T 0 ,171
i= (6)
t + 16,9
onde :
qs = vazão de saída constante do dispositivo (mm.h-1)
Evidentemente há outras formas de estabe-
γ = razão entre a área de percolação e volume do lecer, direta ou indiretamente IDFs Talbot necessá-
dispositivo (mm-1) rias ao método, mas isto não será tratado aqui.
H = profundidade média do volume de acumulação
do dispositivo (mm);
t = duração da chuva (min)
EXPRESSÃO DO VOLUME MÁXIMO

CONVERSÃO PARA UMA IDF DO TIPO TALBOT


O volume máximo, ou de dimensionamento
(equivalente à lâmina d’água armazenável), é obtido
através da maximização da diferença entre HE e HS,
A expressão de Talbot para a IDF não é
no tempo :
muito comum no Brasil, onde predomina a equação
∂V ∂ (H E − H S )
potencial : = =0 (7)
∂t ∂t

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máximo equivalente a uma vazão de restrição em l/s por


Utilizando-se as expressões anteriores, ob- hectare, (portanto, as áreas por ela controladas terão
tém-se : escoamento superficial de projeto igual a essa vazão
de restrição, para o período de retorno de projeto).
aT b  t  Por fim, as MCs de armazenamento com in-
β 1− − γ .H .q S = 0 (8)
(t + c )  t + c 
 filtração no solo (bacias de detenção e retenção com
leitos considerados permeáveis) serão dimensiona-
das para liberar o escoamento máximo equivalente à
Desenvolvendo-se , fica :
b
referida vazão de restrição, sendo a infiltração no
caT solo usada para diminuir as dimensões da MC (por-
β − γ .H .q S = 0 (9)
(t + c )2 tanto, mesmo com esta infiltração, as áreas por ela
controladas terão escoamento superficial de projeto
Explicitando o tempo, tem-se : igual à vazão de restrição, para o período de retorno
de projeto).
β .c .a .T b Em resumo, na análise do escoamento ge-
t= −c (10)
γ .H .q S rado por um empreendimento onde há áreas con-
troladas por MCs e áreas não controladas, é preciso
Este é o tempo da máxima diferença de vo- verificar se o conjunto do empreendimento gera, no
lumes, ou seja, o tempo através do qual pode-se máximo, a vazão de restrição local. Pode haver áreas
calcular o volume de dimensionamento ou volume não controladas que gerem mais do que a vazão de
máximo. Esse volume Vmax (em mm) fica expresso restrição, mas isto deve ser contrabalançado pelas
por: áreas controladas pelas MCs.

2 Pavimento Permeável
 a b c 
V max = βT 2 − γ H q S  (11)
 60 60
  O pavimento permeável é admitido aqui
como tendo uma camada suporte porosa (geralmen-
A partir desta expressão geral, podem-se ob- te brita) abaixo do pavimento (revestimento) pro-
ter os parâmetros de dimensionamento para dife- priamente dito. O que é pré-dimensionado é a es-
rentes MCs. A tabela 1 apresenta as MCs analisadas pessura dessa camada reservatório.
neste trabalho e as respectivas equações de pré- Para o pavimento permeável tem-se a área
dimensionamento obtidas, conforme demonstrado de percolação coincidente com a área do dispositivo
nos próximos itens. em planta. Deste modo

PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA O γ H =1


PRÉ-DIMENSIONAMENTO
Logo :
Considera-se somente o aspecto quantitativo
de retenção e/ou redução do escoamento superfici- 2
 a b c 
al, sem abordar controle de poluição. Não serão V max =  β T 2− qS  (12)
 60 60 
analisados também aspectos relevantes de localiza-  
ção, incluindo condições de solo suporte.
Admite-se que as MCs de infiltração (pavi- A partir de Vmax, o cálculo da espessura da
mentos porosos, microrreservatórios infiltrantes, e camada reservatório do pavimento é obtido facil-
trincheiras, valas, poços e bacias de infiltração) mente por :
promovem infiltração no solo de todo o excesso
pluvial a elas destinado (portanto, as áreas por elas V max
controladas terão escoamento superficial nulo, para H= (13)
η
o período de retorno de projeto).
As MCs de armazenamento sem infiltração
no solo (incluindo bacias de detenção e retenção onde η é a porosidade do material de enchimento
com leitos considerados impermeáveis) serão di- da camada porosa.
mensionadas, por sua vez para liberar o escoamento

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Metodologia Generalizada para Pré-Dimensionamento de Dispositivos de Controle Pluvial na Fonte

Tabela 1 — Equações de pré-dimensionamento de dispositivos de controle pluvial na fonte


Dispositivo Representação esquemática Fórmulas para pré-dimensionamento

2
Pavimento V max  a b c 
H= V max = βT 2 − qS 
permeável η  60 60 
 

a b
k1 = βT 2
Trincheira k k − η
H= 1 2 2
( ) 2
60
β=
C .A
γ =
2.L 2
=
de Infiltração  η − k 2  c B. L L.B B
k2 = γ qS
60

2
Vala de  a b c  C .A
H = V max =  βT 2 − qS  β=
Infiltração  60 60  B. L
 

a b
k1 = βT 2
Poço de k k − η
H= 1 2 2
( ) 2
60
γ =
4
β=
4.C . A
Infiltração  η − k 2  c D π .D 2
k2 = γ qS
60
2
 a b c  C .A
V max = βT 2 − γ H q S  β=
 60 60 B. L
 
a b
k1 = βT 2
Micror-
reservatório Infiltrante: H = 
(
 k1 k 2 − η 

) 2
60
γ =
2(L + B )
2
 η − k 2  k2 =
c
γ qS
L .B
60
Estanque: H = V max γ H =1
2
 a b c 
H = V max = CT 2 − qS  q S = q pre + αK sat
 60 60 
Bacia de  
Detenção
Leito impermeável: q S = q pre ; Bacia de infiltração: q S = αK sat

Vmax = volume de dimensionamento (mm) η = porosidade do material de enchimento do dispositivo


T= período de retorno (anos) H = profund. média do volume de acumulação do dispositivo (mm)
a, b, c = parâmetros da equação IDF de γ = razão entre área de percolação e volume do dispositivo (mm-1)
Talbot β = produto do coef. de escoam. pela razão entre a área contribuinte e a
qs = vazão de saída constante do dispositivo área do dispositivo
(mm.h-1) Ksat = condutividade hidráulica saturada do solo ((mm.h-1)
A = área contribuinte ao dispositivo (m2) α = coeficiente redutor devido à colmatação.
C = coeficiente de escoamento da área de qpre = vazão de restrição ou de pré-desenvolvimento (mm.h-1)
contribuição
L, B, D = dimensões do dispositivo (m)

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Trincheira de Infiltração
(
ηH = k 1 − k 2 H ) 2
(16)
É uma MC linear de infiltração com volume
de reservação em material poroso (geralmente de onde :
brita). Uma trincheira de infiltração é um dispositi-
vo de controle de escoamento gerado em pequenas ηH = V max (17)
áreas contribuintes. É um dispositivo linear que
coloca-se bem na borda ou num canteiro interno da a b
área contribuinte. A trincheira é dimensionada para k1 = βT 2
60
infiltrar toda a água de escoamento superficial da (18)
área contribuinte, com determinado período de c
k2 = γ qS
retorno. 60
Pode-se fixar seu comprimento com base no
traçado arquitetônico (por exemplo, comprimento sendo η a porosidade do material de enchimento da
coincidente com a largura de um estacionamento). trincheira.
A largura da trincheira, por sua vez, não deve ser A solução, para a profundidade H da trin-
muito estreita, de modo que dificulte sua própria cheira (em mm) é :
execução, nem muito larga, para não exigir muito
espaço no terreno (larguras de 80 cm a 1 m são
normalmente utilizadas). Fixando-se o comprimento
k k − η 
H= 1 2 2 
( ) 2

(19)
e a largura, a profundidade da trincheira é definida  η − k 2 
basicamente pelo dimensionamento da profundida-
de de brita. O que se procura é o cálculo da profun- Vala de Infiltração
didade da trincheira, ou seja, o valor de H.
Admite-se que já estão definidos o compri- É também uma MC linear de infiltração mas
mento L e a largura B da trincheira. Portanto, a área seu volume de armazenamento temporário, antes da
de captação do dispositivo é BL. Assim é possível infiltração, ocorre a céu aberto. A vala de infiltração
calcular β, que é adimensional, como : também é dimensionada para eliminar, por infiltra-
ção, todo o escoamento superficial da sua área con-
C .A tribuinte, para o período de retorno adotado.
β= (14)
B. L O pré-dimensionamento de uma vala de in-
filtração pode ser simplesmente volumétrico, por
onde: metro linear de comprimento de vala. Esse volume é
redistribuído transversalmente em função da geo-
A = área contribuinte à trincheira; metria da seção adotada.
C = coeficiente de escoamento da área de contribui- O pré-dimensionamento pode, então, base-
ção ar-se no cálculo da profundidade média de
B = largura da trincheira armazenamento máximo na vala de infiltração.
L = comprimento da trincheira Considera-se como superfície de infiltração a
superfície em planta (largura multiplicada pelo
A área de percolação, ou seja, de passagem comprimento). Admite-se conhecidos o
da água da trincheira para o solo, corresponde à comprimento L e a largura B do espelho d’água.
área das paredes laterais (a área de fundo não é Como a área do dispositivo é igual à superfí-
considerada pois admite-se colmatação rápida). cie de infiltração, tem-se :
Desta forma tem-se:
γ H =1
2.L 2
γ = = (15)
L.B B Logo, usa-se a mesma equação de Vmax apre-
sentada o para o pavimento permeável (equação
sendo B em mm. 12).
A expressão de γ , independente de H, in- A expressão de β é, por sua vez, análoga à
troduzida na de Vmax, estabelece uma equação do da trincheira (equação 14), apenas considerando:
tipo : B = largura da vala

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Metodologia Generalizada para Pré-Dimensionamento de Dispositivos de Controle Pluvial na Fonte

L = comprimento da vala. Microrreservatório


Após o cálculo de Vmax (em mm) faz-se :
O pré-dimensionamento de um microrre-
H = V max (20) servatório depende se ele é estanque ou poroso (de
infiltração).
onde H é a profundidade média, em cm, do volume No caso do microrreservatório estanque o
máximo acumulado na vala. Esta profundidade H pré-dimensionamento estima o volume de reserva-
deve ser compatibilizada com a forma da seção ção necessário. Usa-se a fórmula geral de Vmax dada
transversal da vala. pela equação 11.
Evidentemente, os dispositivos de saída (ori-
Poço de Infiltração fícios ou condutos) devem ser dimensionados hi-
draulicamente para esgotar o equivalente à vazão de
É uma MC de infiltração pontual que usa as restrição.
superfícies laterais do cilindro escavado para elimi- No caso de microrreservatório poroso, ele
nar, por infiltração, todo o escoamento superficial pode ser dimensionado fixando-se primeiramente
da sua área contribuinte, para o período de retorno seu comprimento e largura em planta, com base no
adotado. Um poço de infiltração é uma medida de espaço disponível no lote. A localização deve ser
controle de escoamento superficial de pequenas feita a cerca de 3 m de qualquer edificação impor-
áreas contribuintes. tante no lote. O que se procura é calcular a profun-
Uma alternativa de dimensionamento é fi- didade do dispositivo, o que equivale ao dimensio-
xar o diâmetro D do poço e determinar sua profun- namento da profundidade de brita.
didade H. A vazão de saída de projeto, por metro Neste caso, as fórmulas de dimensionamen-
linear de poço, é dada pela capacidade de absorção to são análogas às da trincheira de infiltração. O que
do solo multiplicada pela área interna do poço. muda é a consideração da infiltração pelas quatro
O valor de γ, para o poço, é dado por : paredes verticais do microrreservatório, desprezan-
do-se apenas o fundo como área de infiltração. As-
4.π .D 4 sim, em relação à trincheira de infiltração, a expres-
γ = = (21) são de β não muda (equação 14), considerando :
π .D 2 D
B = largura do microrreservatório;
sendo D em mm.
L = comprimento do microrreservatório;
Entretanto, a expressão de γ é peculiar ao micro-
O valor de β é dado por :
reservatório infiltrante :
4.C . A
β= (22) 2(L + B )
π .D 2 γ = (23)
L .B

sendo L e B expressos na unidade de mm.


onde :
A = área contribuinte ao poço; A capacidade de infiltração, como em outras
C = coeficiente de escoamento ponderado da área MCs, é elemento básico de projeto. É preciso calcu-
contribuinte; lar qs, a vazão que percola pelas paredes do micror-
D = diâmetro do poço. reservatório. Esta vazão é dada pelo produto da
condutividade hidráulica saturada Ksat do solo por
A expressão de γ, independente de H, in- um coeficiente redutor α devido à colmatação.
troduzida na de Vmax, estabelece o mesmo equacio- Para microrreservatórios, valores recomen-
namento da trincheira de infiltração para H (equa- dados de α situam-se entre 0,1 e 0,5. É recomendá-
ções 16 a 19), só que com H significando a profun- vel que o solo tenha Ksat da ordem de 15 a 60 mm.h-1.
didade do poço. O pré-dimensionamento propriamente dito
A profundidade H refere-se apenas ao hori- é então realizado pela mesmo equacionamento da
zonte permeável. A profundidade real do poço pode trincheira de infiltração, sendo que H é a profun-
ser maior pela presença de camada superficial im- didade requerida pelo microrreservatório infiltran-
permeável. te.

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A profundidade total do dispositivo é a pro- Há basicamente três possibilidades de pré-


funfidade H somada às das camadas de fundo (filtro dimensionamento :
de areia, se houver) e de superfície (recobrimento).
A estrutura, com membrana geotêxtil permeável • Bacia de detenção com leito impermeável
isolando a brita do solo, é semelhante à da trinchei- (esgotamento por tubulação)
ra de infiltração. • Bacia de detenção com leito permeável e
esgotamento por infiltração (bacia de
Bacia de Detenção infiltração)
• Bacia de detenção com leito permeável e
A bacia de detenção, também conhecida esgotamento simultâneo por infiltração no
como bacia seca, tem aplicação em espaços abertos solo e por tubulação (bacia de deten-
de condomínios privados ou espaços públicos (par- ção/infiltração).
ques e praças). Isto corresponde a um uso que pode
ser chamado de aplicação em loteamento ou off-line Para a bacia de detenção com leito imper-
(Tucci e Genz, 1995). meável, ou com leito considerado impermeável, é
Outra aplicação corresponde à sua implan- conveniente dimensionar o tubo de saída com a
tação diretamente no leito de arroios da vazão de saída qs igual à vazão de restrição ou de
macrodrenagem da cidade, o que implica em um pré-desenvolvimento (qpre).
porte maior (Silveira et al, 2001).
No âmbito dos loteamentos a bacia de de- q S = q pre
tenção visa resolver ou prevenir problemas de gera-
ção de escoamento superficial restritos a estes,
Para uma bacia (preferencialmente) de in-
mesmo que alivie a macrodrenagem a jusante.
filtração, a capacidade de infiltração do solo co-
Bacias de detenção no leito dos arroios vi-
manda o esgotamento da água. Assim, a vazão de
sam normalmente resolver problemas globais da
saída qs é, a exemplo das MCs de infiltração vistas
bacia dentro de um planejamento da bacia como
antes, dada pelo produto de da condutividade hi-
um todo. Portanto, podem exigir estudos de simula-
dráulica saturada Ksat (mm.h-1) do solo com um coe-
ção hidráulico-hidrológica mais amplos, mesmo em
nível de pré-dimensionamento, em relação a uma ficiente redutor α devido à colmatação.
bacia de detenção em loteamento.
O pré-dimensionamento da bacia de deten- q S = αK sat
ção pode ser feito por uma variante da equação 12
onde β = C, significando nesse caso que Vmax é o A condutividade hidráulica saturada deve
volume a reservar em equivalente de lâmina sobre ser determinada através de ensaios de infiltração.
toda bacia contribuinte : Para bacias de infiltração, valores recomendados de
α situam-se próximos a 0,5.
2 Para a bacia de detenção com ajuda por in-
 a b c 
V max = CT 2 − qS  (27) filtração (bacia de detenção/infiltração) o valor de
 60 60 
  qs deve ser a soma da vazão de restrição ou pré-
desenvolvimento com a vazão de infiltração :
onde :
V = volume de acumulação, em mm; q S = q pre + αK sat
C = coeficiente de escoamento;
T = período de retorno em anos; É importante ressaltar que :
qs = vazão de saída em mm.h-1
A bacia de detenção com leito considerado
O resultado de Vmax é em mm, mas basta impermeável tem seu volume pré-dimensionado
multiplicar por 10 para se obter o equivalente em para liberar o escoamento máximo equivalente à
m3/ha. vazão de pré-desenvolvimento, portanto a área por
Obtido o volume por unidade de área de ela controlada terá seu escoamento superficial limi-
bacia hidrográfica, pode-se estimar com as informa- tado a esta vazão, para o período de retorno consi-
ções topográficas e de área da bacia hidrográfica, a derado.
área inundada e o volume absoluto necessário. A bacia de infiltração tem seu volume pré-

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Metodologia Generalizada para Pré-Dimensionamento de Dispositivos de Controle Pluvial na Fonte

dimensionado para infiltrar no solo todo o excesso pelo método racional :


pluvial a elas destinado, portanto a área por ela
controlada terá, para o período de retorno conside- Q = 0,278CiA (14)
rado, escoamento superficial nulo.
A bacia de detenção/infiltração tem seu vo- onde:
lume pré-dimensionado para liberar o escoamento
máximo equivalente à vazão de pré-desenvol- Q = vazão máxima em m3/s;
vimento, portanto a área por ela controlada terá seu C = coeficiente de escoamento médio superficial
escoamento superficial limitado a esta vazão, mas ao ponderado;
favorecer também a infiltração, o volume armazena- i = máxima intensidade da precipitação (em
do será menor, para o período de retorno conside- mm/h);
rado. A = área da bacia contribuinte em km2.
Em qualquer das alternativas acima é preci-
so prever um descarregador de cheias com períodos O tempo de concentração da área total do
de retorno maiores que o de projeto. empreendimento, sem controle na fonte, foi avalia-
do em 15 minutos, assim a intensidade de chuva
Bacia de Retenção correspondente pela equação 6, para T=2 anos, é
92,1 mm/h.
A bacia de retenção é um lago com volume O coeficiente de escoamento médio super-
de espera para contenção de excessos pluviais. A ficial é ponderado entre as áreas de edificação, esta-
exemplo da bacia seca, tem aplicação em espaços cionamento e a área verde. Para a área edificada,
abertos de condomínios privados ou espaços públi- que comporta alguns jardins internos, definiu-se um
cos. Cedif = 0,80. Para o estacionamento impermeável,
O pré-dimensionamento da bacia de reten- considerou-se Cpav = 0,95. Para a área verde com
ção pode ser realizada com a mesma formulação da bosque, Cver = 0,10 é adequado. Assim o coeficiente
bacia seca estanque, pois não se admite saída por de escoamento médio superficial ponderado fica em
infiltração, apenas por vertimento. 0,50. Sabendo-se que a área total do empreendi-
O volume calculado é adicionado ao volume mento é de 12.000 m2 ou 0,012 km2, o valor da vazão
correspondente ao nível d’água mínimo perene máxima é de :
projetado para a bacia de retenção.
Q = 0, 278.0,50.92,1.0,012 = 0,154 m 3 s
Exemplos de Aplicação

A seguir, são apresentados exemplos numé- Esta vazão equivale a 154 l/s, portanto mai-
ricos de aplicação da metodologia descrita, visando or que a vazão máxima permitida de 20,8 l/s/ha ou
demonstrar o bom emprego das expressões, bem 25 l/s.
como verificar o grau de facilidade dos cálculos Assim é preciso tomar alguma medida de
necessários. controle na fonte para respeitar este limite. A opção
escolhida foi a de um pavimento permeável com
Exemplo 1 — Pavimento Permeável: revestimento de asfalto poroso e camada porosa
Considere-se um empreendimento implantado em (reservatório) de brita sobre solo suporte permeá-
Porto Alegre sobre uma área total de 12.000 m2 (1,2 vel, para infiltração total da água da chuva com o
hectares), que vai ocupar 2.000 m2 com edificações, período de retorno adotado de 2 anos. Isto equivale
reservar 4.000 m2 para estacionamento pavimentado a admitir como escoamento superficial no empre-
e preservar 6.000 m2 como área verde com bosque. endimento apenas aquele gerado na área de bos-
Admita-se que a vazão máxima que este empreen- que, assim o coeficiente de escoamento médio su-
dimento pode produzir como escoamento superfici- perficial ponderado para toda a área do empreen-
al destinado à rede pluvial pública local seja 20,8 dimento, resume-se a :
l/(s.ha). E que a municipalidade exija que se avalie
a situação para um período de retorno de 2 (dois) C = (0,10.6000)/12000 = 0,05
anos. Se nenhum controle na fonte for realizado, via
de regra toda área edificada e de estacionamento Com este C a nova vazão máxima gerada pe-
constituem áreas com grande taxa de impermeabili- lo empreendimento será, por efeito do pavimento
zação. Neste caso a vazão máxima pode ser calculada permeável, igual a :

164
RBRH — Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 12 n.2 Abr/Jun 2007, 157-168

Q = 0, 278.0,05.92,1.0,012 = 0,015 m 3 s 0,35, a profundidade da camada porosa é :


H = 123 0,35 = 351mm
Portanto, o pavimento permeável propicia o
atendimento da restrição de vazão, já que 15 l/s é Portanto 2000 m2 de pavimento permeável,
menor que a vazão limite que é de 25 l/s (20,8 com camada porosa (reservatório) de 35 cm de brita
l/s/ha em 1,2 ha). Note-se que manteve-se o mesmo com porosidade 0,35, propicia que o empreendi-
tempo de concentração e, portanto, a mesma inten- mento como um todo gere apenas 15 l/s, respeitan-
sidade de chuva, mas evidentemente o tempo de do o limite de 20,8 l/s/ha ou 25 l/s.
concentração poderia ser reavaliado para a nova Para chuvas maiores que a chuva de projeto
situação, mas para uma fase de pré- (períodos de retorno maiores), o pavimento perme-
dimensionamento é aceitável o que foi feito. ável naturalmente deve contar com dispositivos de
Parte-se a seguir para o pré- deságue para um exutório (um córrego ou uma
dimensionamento efetivo do pavimento permeável. rede pluvial do bairro, por exemplo).
Há possibilidade de utilização de 50% da área de
estacionamento como pavimento poroso (boxes Exemplo 2 — Trincheira de Infiltração:
para os carros). Outro exemplo é o de uma trincheira de infiltração
O pré-dimensionamento é feito com a e- para drenar um trecho de rua, com pavimento im-
quação de β que exige o cálculo dos parâmetros permeável com 100 m de comprimento com 10 m
abaixo : de largura de pista, em Porto Alegre. A trincheira é
colocada na lateral da rua e, portanto, seu compri-
A pav + CA mento também será de 100 m. Define-se também, a
β= priori, a largura, resumindo o dimensionamento no
A pav
(26) cálculo da profundidade do reservatório de brita.
No presente exemplo, optou-se por dimensionar
Apav = 2000 m2 (área do pavimento permeável ou uma trincheira com 0,80 m de largura para um pe-
50% da área de estacionamento) ; ríodo de retorno de 2 anos.
A = 4000 m2 (área de edificação, 2000 m2, mais 50% O pré-dimensionamento inicia-se com o cál-
do estacionamento, outros 2000 m2, com pavimento culo de β que exige a definição dos parâmetros a-
comum cujo escoamento deve ser absorvido pelo baixo :
pavimento permeável);
A = 1000 m2 (área da pista que é a área cujo escoa-
No cálculo do coeficiente C de escoamento mento, direcionado para a trincheira, deve ser por
ponderado da área A acima, considerou-se o valor ela controlado);
de 0,85 para a parcela edificada e de 0,95 para a C = 0,95 (coeficiente de escoamento da área A aci-
parcela com pavimento comum), chegando a um ma, ou seja da pista);
valor ponderado de 0,90. Com os valores acima, B = 0,80 m (largura da trincheira);
obtém-se o parâmetro β = 2,8. O solo teve sua per- L = 100 m (comprimento da trincheira).
meabilidade Ksat avaliada em 15 mm/h, mas por Calculando-se obtém-se :
medida de precaução usou-se um redutor α = 0,1 β = 11,875
(colmatação) para obtenção de qs que ficou com o
valor de 1,5 mm/h. No cálculo de γ a largura B deve estar com a
A equação de Vmax para Porto Alegre, com unidade de mm, assim :
base na equação 12 é :
γ = 2/800 = 0,0025 mm-1
(
V max = 6,60 β T 0 , 086
− 0,53 q S )
2
(27)
O passo seguinte é a definição de qs que é o
produto da permeabilidade Ksat do solo suporte
Com os valores de β =2,8 e qs=1,5 mm/h,
(avaliada por ensaio de campo em 36 mm/h) e de
sendo T=2 anos, obtém-se :
um fator redutor α por colmatação. O projetista,
avaliando as condições locais, achou razoável consi-
V max = 123mm
derar α = 0,5 assim qs fica em 18 mm/h.
Para a IDF considerada de Porto Alegre, os
Usando-se brita com permeabilidade η = fatores k1 e k2 são:

165
Metodologia Generalizada para Pré-Dimensionamento de Dispositivos de Controle Pluvial na Fonte

k1 = 6,60 β T 0 ,086 Para o coeficiente C de escoamento


ponderado da área A acima, considerou-se o valor
de 0,95 para a parcela impermeabilizada da praça
k 2 = 0,53 γ q S (40% da área, ou seja 200 m2) e 0,20 para a parcela
com grama (60% da área ou seja 300 m2).
Portanto, substituindo-se as variáveis pelos
seus valores no problema, obtém-se : 0,95 ⋅ 200 + 0, 20 ⋅ 300
C= = 0,50
500
k1 = 6,60. 11,875. 2 0 , 086 = 24 ,14
E para D inicia-se com 3,0 m.
k 2 = 0,53 0,0025 18 = 0,1124
Com os valores acima, obtém-se o parâme-
tro β = 35,36.
A brita selecionada para execução da trin-
No cálculo de γ o diâmetro D deve estar
cheira tem porosidade η = 0,38, desta forma o cálcu-
com a unidade de mm, assim :
lo da espessura H da camada reservatório, em cm,
pode finalmente completar-se, através da equação
γ = 4/3000 = 0,00133 mm-1
19, e o resultado fornecido é :

2
A seguir, define-se qs que é o produto da

H= 
(
1  24 ,14 0,1124 − 0,38 ) permeabilidade Ksat do solo suporte e de um fator
10  0,38 − 0,1124 2  redutor α devido à colmatação. Admita-se que um
 ensaio de campo indicou uma permeabilidade de 30
mm/h e uma análise das condições locais permitiu
H ≅ 110cm usar α = 0,25. Assim qs fica igual a 7,5 mm/h.
Pode-se calcular agora os fatores k1 e k2 :
Como a trincheira de infiltração é dimensi-
onada para eliminar, por infiltração, todo o escoa- k1 = 6,60. 35,36. 2 0 , 086 = 41,66
mento superficial da sua área contribuinte (para o
período de retorno adotado), na prática, no contex-
to de uma área maior que deve respeitar a vazão k 2 = 0,53 0,00133 7,5 = 0,0529
limite local, a trincheira elimina sua área contribuin-
te da avaliação do escoamento desta área maior. Preenchendo-se o poço de infiltração com
brita de porosidade η = 0,30, o valor da altura H, em
Exemplo 3 — Poço de Infiltração: cm, é dado por :
Considere-se um poço de infiltração em Porto Ale-
gre para absorver o escoamento com dois anos de 2
período de retorno gerado em uma praça com 500 (
1  41,66 0,0529 − 0,30
H= 
)
m2 e parcela impermeabilizada de 40%. 10  0,30 − 0,0529 2 

O pré-dimensionamento é feito com a pré-
fixação do diâmetro D do poço e o cálculo subse-
O resultado fornecido é :
quente de sua profundidade H de infiltração (a
infiltração pelo fundo é desconsiderada, devido à
H ≅ 481cm
possibilidade de colmatação). A escolha do valor de
D é arbitrária, mas deve-se evitar poços muito pro-
Talvez esta profundidade seja excessiva, as-
fundos por questões de custo de escavação. Se o
sim seria conveniente utilizar um diâmetro D = 4,0
poço resultante for raso, ou seja com H pequeno em
m e refazer os cálculos. Abaixo, estão os resultados
relação a D, pode-se diminuir D e refazer os cálcu-
dos parâmetros intermediários que se modificam e o
los.
novo valor de H.
Para o cálculo de H, a exemplo de outros
casos, estima-se β em primeiro lugar, com base no
β = 19,89.
seguinte :
Para A (área contribuinte ao poço) tem-se o
γ = 0,001 mm-1
valor de 500 m2;

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RBRH — Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 12 n.2 Abr/Jun 2007, 157-168

k1 = 6,60. 19,89. 2 0 , 086 = 31, 24 O coeficiente de escoamento médio super-


ficial é ponderado entre as áreas de urbanização e
área verde. Para a área urbanizada, que é uma mes-
k 2 = 0,53 0,001 7,5 = 0,0459 cla de superfícies impermeáveis (edificações, ruas
pavimentadas) e permeáveis (jardins, canteiros gra-
Deles resulta : mados), uma avaliação criteriosa chegou a um
coeficiente de escoamento urbano de Curb = 0,85,
2
(
1  31, 24 0,0459 − 0,30
H= 
) devido à predominância das áreas impermeáveis.
Para a área verde estimou-se Cver = 0,15 como
10 
 0,30 − 0,0459 2  adequado. Assim o coeficiente de escoamento
médio superficial ponderado calcula-se como :
H ≅ 277cm
C = (0,85.25+0,15.15)/40 = 0,59
Este valor é mais razoável pois o poço não
fica nem muito raso nem muito profundo. O impor- Sabendo-se que a área total do empreendi-
tante é que a camada de solo na profundidade toda mento é de 40 ha ou 0,4 km2, o valor da vazão má-
H tenha a permeabilidade. xima é de :
Note-se que o poço com D = 4,0 m ocuparia
uma área de 12,57 m2, ou seja apenas 2,5% da área Qmax= 0,278.0,59.62,7.0,4 = 4,11 m3/s
da praça, com a vantagem de poder incorporar-se
paisagisticamente, sem o sentimento de perda de Esta vazão é maior que a vazão máxima
espaço. permitida de 0,83 m3/s, acima calculada, portanto a
bacia de detenção é realmente necessária.
Exemplo 4 — Bacia de Detenção: Este valor de vazão de restrição equivale a
Em uma área de 40 ha em Porto Alegre existe um 7,5 mm/h que corresponde aos 20,8 l/(s.ha).
núcleo urbano que abrange 25 ha e o restante é Para Porto Alegre a equação 27 torna-se :
área coberta com vegetação. Esta área é uma mi-
crobacia em cujo talvegue pretende-se construir (
V max = 6,60 C T 0 ,086 − 0,53 q S )
2

uma bacia de detenção de modo que toda área não


produza uma vazão específica maior que 20,8
No caso de uma bacia de detenção com lei-
l/(s.ha), ou seja um total de 0,83 m3/s. A municipa-
to impermeável, tem-se qs = 7,5 mm/h, logo Vmax =
lidade exige que se avalie a situação, considerando
15,44 mm, ou seja, 154,4 m3/ha, ou um total de
um período de retorno de 2 (dois) anos.
6.176 m3.
O primeiro passo é calcular a vazão máxima
Uma avaliação local concluiu que o solo
(T = 2 anos) sem a bacia de detenção, com o méto-
possui Ksat = 36 mm/h, assim uma alternativa seria a
do racional :
bacia de infiltração. Considerando um fator redutor
por colmatação fixado em α = 0,5 , teríamos qs =
Qmax = 0,278 C I A
18,0 mm/h, portanto superior à restrição. Pela e-
quação acima, chegar-se-ia a Vmax = 9,81 mm, ou seja,
onde:
98,1 m3/ha, ou um total de 3.925 m3.
Uma alternativa que poderia ser avaliada, é
Qmax = vazão máxima (em m3/s);
propor uma bacia mista de detenção e infiltração
C = coeficiente de escoamento médio superficial
para reduzir ainda mais a necessidade de reservação,
ponderado;
pois escoaria para o sistema pluvial a vazão de restri-
I = intensidade da precipitação IDF (em mm/h);
ção mas haveria outra saída somada por infiltração.
A = área da bacia contribuinte (em km2).
Neste caso, o valor de qs é dado por :
O tempo de concentração da área foi avali-
ado em 30 minutos, assim a intensidade de chuva q S = 7,5 + 18,0 = 25,5mm / h
correspondente pela equação 6, para T=2 anos é :
Com a equação 27 e os parâmetros de Porto
I = 62,7 mm/h Alegre chega-se a Vmax = 7,31 mm, ou seja, 73,1
m3/ha, ou um total de 2.926 m3.

167
Metodologia Generalizada para Pré-Dimensionamento de Dispositivos de Controle Pluvial na Fonte

Com os dados do presente exemplo, pré- INSA Lyon, Certu, Agences de l’Eau, Lavoisier
dimensionar uma bacia de detenção/infiltração Technique et Documentation, Paris.
necessitaria menos da metade do volume avaliado BEMFICA, D. C., GOLDENFUM, J.A., SILVEIRA, A.L.L., 2000,
para uma bacia de detenção estanque. Verificação da Aplicabilidade de Padrões de Chuva
de Projeto a Porto Alegre, Revista Brasileira de Re-
CONCLUSÃO cursos Hídricos, Vol. 5, N.4, out/dez, pp 5-16.
DAEE/CETESB (1980), Drenagem Urbana, Manual de Projeto,
No presente trabalho, é demonstrado que é Departamento de Águas e Energia Elétrica e Com-
possível estabelecer equações explícitas para pré- panhia de Tecnologia de Saneamento, São Paulo.
dimensionamento hidrológico facilitado de disposi- TUCCI, C. E. M., GENZ, F., 1995, Controle do Impacto da
tivos de controle pluvial na fonte, adaptando-se a Urbanização, In : Tucci, C.E.M., Porto, R.L., Barros,
IDF de uma localidade para o formato da IDF de M.T. (org.), 1995, Drenagem Urbana, Editora da Uni-
Talbot versidade, ABRH.
As equações de pré-dimensionamento estão SILVEIRA, A L. L., GOLDENFUM, J.A., FENDRICH, R., 2001,
generalizadas para qualquer localidade, desde que Urban drainage control measures. In: Urban drainage
se disponha de parâmetros locais de chuvas intensas in humid tropics. Paris: Unesco, 2001. p.125-156.
(IDF tipo Talbot), solo (condutividade hidráulica
saturada) e condições limitantes de vazão (vazão de
pré-ocupação ou de restrição). As limitações são General Methodology To Design Runoff Source Con-
aquelas inerentes ao método da curva envelope, trol Devices
destacando-se a simplificação de uma vazão de saída
constante independente do volume armazenado no ABSTRACT
dispositivo.
Os equacionamentos obtidos abrangeram This paper intends to develop a generalized, easy-
seguintes dispositivos de controle pluvial na fonte: to-use method to design runoff source control devices, using
pavimento permeável, trincheira de infiltração, vala generalized, explicit formulations. An explicit hydrological
de infiltração, poço de infiltração, micro- design solution is presented, applicable to most of the source
reservatório estanque, micro-reservatório infiltrante, control devices presenting storage capacity, including per-
bacia de detenção, bacia de infiltração e bacia de vious pavements, infiltration devices (trenches, wells and
retenção. ditches) and retention basins. The design rainfall is ob-
Foram apresentados exemplos numéricos tained using a Talbot formulation IDF curve. The rational
com os quais pode-se verificar o grau de facilidade method provides the input flow, and the nominal output
dos cálculos. volumes of the devices are given by maximum constant
rates. The balance equations are built according to these
AGRADECIMENTOS simplifications, in order to explicitly establish design di-
mensions for runoff source control structures.
Key-words: runoff source control, hydrological design, infil-
Os dois autores agradecem o apoio obtido tration devices, storage devices.
através de bolsas de produtividade do CNPq, além
do apoio dos projetos REHIDRO e CT-HIDRO da
FINEP e do PRONEX (MCT/MEC), todos eles de-
senvolvidos no IPH/UFRGS. Agradecem, também,
ao bolsista de Mestrado do CNPq, Fernando Dornel-
les, pela confecção das figuras e apoio na elaboração
da Tabela 1.

REFERÊNCIAS

AZZOUT, Y.; BARRAUD, S.; CRES, F.N.; ALFAKIH, E., 1994,


Techniques Alternatives en Assainissement Pluvial :
Choix, Conception, Réalisation et Entretien, LCPC,

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