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Pré-Dimensionamento de Dispositivos de Infiltração
Pré-Dimensionamento de Dispositivos de Infiltração
RESUMO
O presente trabalho busca desenvolver uma metodologia generalizada, de fácil aplicação, para pré-
dimensionamento de dispositivos de controle pluvial na fonte, a partir da proposição de fórmulas explícitas e gerais. Uma
solução explícita de pré-dimensionamento hidrológico é apresentada, aplicável a grande parte dos dispositivos de controle na
fonte que possuem alguma capacidade de armazenamento, incluindo pavimentos permeáveis, dispositivos de infiltração
(trincheiras, poços e valas) e bacias de detenção e retenção. A chuva de projeto é obtida de uma equação IDF com a formula-
ção de Talbot, o método racional fornece as vazões de entrada e os volumes de saída nominais dos dispositivos, por infiltra-
ção no solo ou lançamento na rede pluvial, obedecem a taxas máximas constantes. Com estas simplificações, as equações de
balanço são construídas para fornecer explicitamente dimensões de projeto das estruturas de controle pluvial na fonte.
Palavras-chave: controle pluvial na fonte, pré-dimensionamento hidrológico, dispositivos de infiltração, dispositivos de ar-
mazenamento.
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2 Pavimento Permeável
a b c
V max = βT 2 − γ H q S (11)
60 60
O pavimento permeável é admitido aqui
como tendo uma camada suporte porosa (geralmen-
A partir desta expressão geral, podem-se ob- te brita) abaixo do pavimento (revestimento) pro-
ter os parâmetros de dimensionamento para dife- priamente dito. O que é pré-dimensionado é a es-
rentes MCs. A tabela 1 apresenta as MCs analisadas pessura dessa camada reservatório.
neste trabalho e as respectivas equações de pré- Para o pavimento permeável tem-se a área
dimensionamento obtidas, conforme demonstrado de percolação coincidente com a área do dispositivo
nos próximos itens. em planta. Deste modo
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2
Pavimento V max a b c
H= V max = βT 2 − qS
permeável η 60 60
a b
k1 = βT 2
Trincheira k k − η
H= 1 2 2
( ) 2
60
β=
C .A
γ =
2.L 2
=
de Infiltração η − k 2 c B. L L.B B
k2 = γ qS
60
2
Vala de a b c C .A
H = V max = βT 2 − qS β=
Infiltração 60 60 B. L
a b
k1 = βT 2
Poço de k k − η
H= 1 2 2
( ) 2
60
γ =
4
β=
4.C . A
Infiltração η − k 2 c D π .D 2
k2 = γ qS
60
2
a b c C .A
V max = βT 2 − γ H q S β=
60 60 B. L
a b
k1 = βT 2
Micror-
reservatório Infiltrante: H =
(
k1 k 2 − η
) 2
60
γ =
2(L + B )
2
η − k 2 k2 =
c
γ qS
L .B
60
Estanque: H = V max γ H =1
2
a b c
H = V max = CT 2 − qS q S = q pre + αK sat
60 60
Bacia de
Detenção
Leito impermeável: q S = q pre ; Bacia de infiltração: q S = αK sat
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Trincheira de Infiltração
(
ηH = k 1 − k 2 H ) 2
(16)
É uma MC linear de infiltração com volume
de reservação em material poroso (geralmente de onde :
brita). Uma trincheira de infiltração é um dispositi-
vo de controle de escoamento gerado em pequenas ηH = V max (17)
áreas contribuintes. É um dispositivo linear que
coloca-se bem na borda ou num canteiro interno da a b
área contribuinte. A trincheira é dimensionada para k1 = βT 2
60
infiltrar toda a água de escoamento superficial da (18)
área contribuinte, com determinado período de c
k2 = γ qS
retorno. 60
Pode-se fixar seu comprimento com base no
traçado arquitetônico (por exemplo, comprimento sendo η a porosidade do material de enchimento da
coincidente com a largura de um estacionamento). trincheira.
A largura da trincheira, por sua vez, não deve ser A solução, para a profundidade H da trin-
muito estreita, de modo que dificulte sua própria cheira (em mm) é :
execução, nem muito larga, para não exigir muito
espaço no terreno (larguras de 80 cm a 1 m são
normalmente utilizadas). Fixando-se o comprimento
k k − η
H= 1 2 2
( ) 2
(19)
e a largura, a profundidade da trincheira é definida η − k 2
basicamente pelo dimensionamento da profundida-
de de brita. O que se procura é o cálculo da profun- Vala de Infiltração
didade da trincheira, ou seja, o valor de H.
Admite-se que já estão definidos o compri- É também uma MC linear de infiltração mas
mento L e a largura B da trincheira. Portanto, a área seu volume de armazenamento temporário, antes da
de captação do dispositivo é BL. Assim é possível infiltração, ocorre a céu aberto. A vala de infiltração
calcular β, que é adimensional, como : também é dimensionada para eliminar, por infiltra-
ção, todo o escoamento superficial da sua área con-
C .A tribuinte, para o período de retorno adotado.
β= (14)
B. L O pré-dimensionamento de uma vala de in-
filtração pode ser simplesmente volumétrico, por
onde: metro linear de comprimento de vala. Esse volume é
redistribuído transversalmente em função da geo-
A = área contribuinte à trincheira; metria da seção adotada.
C = coeficiente de escoamento da área de contribui- O pré-dimensionamento pode, então, base-
ção ar-se no cálculo da profundidade média de
B = largura da trincheira armazenamento máximo na vala de infiltração.
L = comprimento da trincheira Considera-se como superfície de infiltração a
superfície em planta (largura multiplicada pelo
A área de percolação, ou seja, de passagem comprimento). Admite-se conhecidos o
da água da trincheira para o solo, corresponde à comprimento L e a largura B do espelho d’água.
área das paredes laterais (a área de fundo não é Como a área do dispositivo é igual à superfí-
considerada pois admite-se colmatação rápida). cie de infiltração, tem-se :
Desta forma tem-se:
γ H =1
2.L 2
γ = = (15)
L.B B Logo, usa-se a mesma equação de Vmax apre-
sentada o para o pavimento permeável (equação
sendo B em mm. 12).
A expressão de γ , independente de H, in- A expressão de β é, por sua vez, análoga à
troduzida na de Vmax, estabelece uma equação do da trincheira (equação 14), apenas considerando:
tipo : B = largura da vala
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A seguir, são apresentados exemplos numé- Esta vazão equivale a 154 l/s, portanto mai-
ricos de aplicação da metodologia descrita, visando or que a vazão máxima permitida de 20,8 l/s/ha ou
demonstrar o bom emprego das expressões, bem 25 l/s.
como verificar o grau de facilidade dos cálculos Assim é preciso tomar alguma medida de
necessários. controle na fonte para respeitar este limite. A opção
escolhida foi a de um pavimento permeável com
Exemplo 1 — Pavimento Permeável: revestimento de asfalto poroso e camada porosa
Considere-se um empreendimento implantado em (reservatório) de brita sobre solo suporte permeá-
Porto Alegre sobre uma área total de 12.000 m2 (1,2 vel, para infiltração total da água da chuva com o
hectares), que vai ocupar 2.000 m2 com edificações, período de retorno adotado de 2 anos. Isto equivale
reservar 4.000 m2 para estacionamento pavimentado a admitir como escoamento superficial no empre-
e preservar 6.000 m2 como área verde com bosque. endimento apenas aquele gerado na área de bos-
Admita-se que a vazão máxima que este empreen- que, assim o coeficiente de escoamento médio su-
dimento pode produzir como escoamento superfici- perficial ponderado para toda a área do empreen-
al destinado à rede pluvial pública local seja 20,8 dimento, resume-se a :
l/(s.ha). E que a municipalidade exija que se avalie
a situação para um período de retorno de 2 (dois) C = (0,10.6000)/12000 = 0,05
anos. Se nenhum controle na fonte for realizado, via
de regra toda área edificada e de estacionamento Com este C a nova vazão máxima gerada pe-
constituem áreas com grande taxa de impermeabili- lo empreendimento será, por efeito do pavimento
zação. Neste caso a vazão máxima pode ser calculada permeável, igual a :
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A seguir, define-se qs que é o produto da
H=
(
1 24 ,14 0,1124 − 0,38 ) permeabilidade Ksat do solo suporte e de um fator
10 0,38 − 0,1124 2 redutor α devido à colmatação. Admita-se que um
ensaio de campo indicou uma permeabilidade de 30
mm/h e uma análise das condições locais permitiu
H ≅ 110cm usar α = 0,25. Assim qs fica igual a 7,5 mm/h.
Pode-se calcular agora os fatores k1 e k2 :
Como a trincheira de infiltração é dimensi-
onada para eliminar, por infiltração, todo o escoa- k1 = 6,60. 35,36. 2 0 , 086 = 41,66
mento superficial da sua área contribuinte (para o
período de retorno adotado), na prática, no contex-
to de uma área maior que deve respeitar a vazão k 2 = 0,53 0,00133 7,5 = 0,0529
limite local, a trincheira elimina sua área contribuin-
te da avaliação do escoamento desta área maior. Preenchendo-se o poço de infiltração com
brita de porosidade η = 0,30, o valor da altura H, em
Exemplo 3 — Poço de Infiltração: cm, é dado por :
Considere-se um poço de infiltração em Porto Ale-
gre para absorver o escoamento com dois anos de 2
período de retorno gerado em uma praça com 500 (
1 41,66 0,0529 − 0,30
H=
)
m2 e parcela impermeabilizada de 40%. 10 0,30 − 0,0529 2
O pré-dimensionamento é feito com a pré-
fixação do diâmetro D do poço e o cálculo subse-
O resultado fornecido é :
quente de sua profundidade H de infiltração (a
infiltração pelo fundo é desconsiderada, devido à
H ≅ 481cm
possibilidade de colmatação). A escolha do valor de
D é arbitrária, mas deve-se evitar poços muito pro-
Talvez esta profundidade seja excessiva, as-
fundos por questões de custo de escavação. Se o
sim seria conveniente utilizar um diâmetro D = 4,0
poço resultante for raso, ou seja com H pequeno em
m e refazer os cálculos. Abaixo, estão os resultados
relação a D, pode-se diminuir D e refazer os cálcu-
dos parâmetros intermediários que se modificam e o
los.
novo valor de H.
Para o cálculo de H, a exemplo de outros
casos, estima-se β em primeiro lugar, com base no
β = 19,89.
seguinte :
Para A (área contribuinte ao poço) tem-se o
γ = 0,001 mm-1
valor de 500 m2;
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Com os dados do presente exemplo, pré- INSA Lyon, Certu, Agences de l’Eau, Lavoisier
dimensionar uma bacia de detenção/infiltração Technique et Documentation, Paris.
necessitaria menos da metade do volume avaliado BEMFICA, D. C., GOLDENFUM, J.A., SILVEIRA, A.L.L., 2000,
para uma bacia de detenção estanque. Verificação da Aplicabilidade de Padrões de Chuva
de Projeto a Porto Alegre, Revista Brasileira de Re-
CONCLUSÃO cursos Hídricos, Vol. 5, N.4, out/dez, pp 5-16.
DAEE/CETESB (1980), Drenagem Urbana, Manual de Projeto,
No presente trabalho, é demonstrado que é Departamento de Águas e Energia Elétrica e Com-
possível estabelecer equações explícitas para pré- panhia de Tecnologia de Saneamento, São Paulo.
dimensionamento hidrológico facilitado de disposi- TUCCI, C. E. M., GENZ, F., 1995, Controle do Impacto da
tivos de controle pluvial na fonte, adaptando-se a Urbanização, In : Tucci, C.E.M., Porto, R.L., Barros,
IDF de uma localidade para o formato da IDF de M.T. (org.), 1995, Drenagem Urbana, Editora da Uni-
Talbot versidade, ABRH.
As equações de pré-dimensionamento estão SILVEIRA, A L. L., GOLDENFUM, J.A., FENDRICH, R., 2001,
generalizadas para qualquer localidade, desde que Urban drainage control measures. In: Urban drainage
se disponha de parâmetros locais de chuvas intensas in humid tropics. Paris: Unesco, 2001. p.125-156.
(IDF tipo Talbot), solo (condutividade hidráulica
saturada) e condições limitantes de vazão (vazão de
pré-ocupação ou de restrição). As limitações são General Methodology To Design Runoff Source Con-
aquelas inerentes ao método da curva envelope, trol Devices
destacando-se a simplificação de uma vazão de saída
constante independente do volume armazenado no ABSTRACT
dispositivo.
Os equacionamentos obtidos abrangeram This paper intends to develop a generalized, easy-
seguintes dispositivos de controle pluvial na fonte: to-use method to design runoff source control devices, using
pavimento permeável, trincheira de infiltração, vala generalized, explicit formulations. An explicit hydrological
de infiltração, poço de infiltração, micro- design solution is presented, applicable to most of the source
reservatório estanque, micro-reservatório infiltrante, control devices presenting storage capacity, including per-
bacia de detenção, bacia de infiltração e bacia de vious pavements, infiltration devices (trenches, wells and
retenção. ditches) and retention basins. The design rainfall is ob-
Foram apresentados exemplos numéricos tained using a Talbot formulation IDF curve. The rational
com os quais pode-se verificar o grau de facilidade method provides the input flow, and the nominal output
dos cálculos. volumes of the devices are given by maximum constant
rates. The balance equations are built according to these
AGRADECIMENTOS simplifications, in order to explicitly establish design di-
mensions for runoff source control structures.
Key-words: runoff source control, hydrological design, infil-
Os dois autores agradecem o apoio obtido tration devices, storage devices.
através de bolsas de produtividade do CNPq, além
do apoio dos projetos REHIDRO e CT-HIDRO da
FINEP e do PRONEX (MCT/MEC), todos eles de-
senvolvidos no IPH/UFRGS. Agradecem, também,
ao bolsista de Mestrado do CNPq, Fernando Dornel-
les, pela confecção das figuras e apoio na elaboração
da Tabela 1.
REFERÊNCIAS
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