Você está na página 1de 9

As metamorfoses

do mal em
Lispector
Clarice
o
Mal habita a literatura desde os tempos
“Nós somos
homéricos. Após a cólera de Aquiles ter en-
gendrado A Ilíada e o pecado original inau-
canibais, é gurar a história do homem na Bíblia, o sécu-
lo XIV visitou o império do Mal pelo Infer-
no de Dante. As expressões universais do Mal se alastram
preciso não
desde as tragédias da Grécia antiga, passando por várias
peças de Shakespeare, pelas obras de Sade e de Baudelaire,
esquecer” ou ainda por todo o horror que Robert Louis Stevenson re-
velou na perversão do duplo em Dr. Jekill e Mr. Hyde e
Joseph Conrad n’O Coração das Trevas. Antes de todos,
(Clarice
Heródoto, o primeiro dos historiadores, elegeu as guerras
como sua matéria discursiva.
Lispector). Na tradição brasileira, por sua vez, muitos foram os
autores que deram voz à negatividade humana, aos impulsos,
afetos e desejos mais sombrios, rebeldes aos apelos da civili-
zação: Gregório de Matos, o “boca do inferno”; Machado de
Assis, que descortinou a perversa estrutura da sociedade bra-
sileira de seu tempo; Guimarães Rosa, reencenando em terre-
no de jagunços o antológico pacto fáustico goethiano entre o
homem e o diabo, que por sua vez já havia sido revisitado no
YUDITH ROSENBAUM
Romantismo pelo Macário, de Álvares de Azevedo.
é psicóloga e autora do
livro Manuel Bandeira: Dentre essa vasta série literária de escritores nada ino-
uma Poesia da Ausência
(Edusp/lmago). centes, pretendo focalizar a autora Clarice Lispector (1), judia

198 REVISTA USP, São Paulo, n.41, p. 198-206, março/maio 1999


russa nascida em 1920, que veio para o Nordeste aos dois Este ensaio é uma condensação
YUDITH ROSENBAUM meses de idade e migrou para o Rio de Janeiro aos dezessete
de alguns trechos modificados de
minha tese de doutorado, As Meta-
morfoses do Mal: uma Leitura de
Clarice Lispector, defendida em
anos. Talvez fosse interessante, para a proposta deste ensaio, outubro de 1997 pelo Departamen-
to de Teoria Literária e Literatura
colocá-la ao lado de outros desmascaradores da intimidade Comparada da USP.

humana, como Schopenhauer, Nietzsche e o próprio Freud,


espécie incômoda de escritores que denunciam a face suja e
reversa da polidez social. Sob um cotidiano alienante e cor-
reto, surpreendemos o lodo que é recoberto pela florada
cabotina, para usar expressão de Mário de Andrade no conto
“Frederico Paciência”. Dizia, então, o narrador protagonista:
“Positivamente não valia a pena sacrificar perfeição tamanha
e varrer a florada que cobria o lodo (e seria o lodo mais neces-
sário, mais ‘real’ que a florada?)” (2).
Para Clarice, o compromisso com a verdade, sempre
esquiva e cambiante, acaba por sacrificar a perfeição e desnu-
dar o lodo. O mal se mostra passagem inequívoca nessa tra-
jetória existencial, que encontra na linguagem instrumento
poderoso e penetrante, como até então não havia acontecido
na história da literatura. O romance brasileiro de 1930, mar-
cado pelo neonaturalismo, seja de José Lins do Rêgo, seja de
Graciliano Ramos, renovou a tradição, mas ainda mantinha o
tema acima da linguagem. Com Clarice e Guimarães Rosa,
Antonio Candido mostrou que a ordem se inverte e a palavra
tem o poder de criar o mundo e não apenas imitá-lo (3).
O que pretendo perseguir aqui é a construção do que
passo a chamar de um “estilo sádico” de narrar, ou seja, um 1 As edições utilizadas para as
citações dos textos de Clarice
modo de representação que desloca o leitor de seu anestesiado Lispector são as seguintes: A
Legião Estrangeira (1964), 10a
repouso a partir de um incômodo estranhamento. Desauto- ed., São Paulo, Siciliano,
1992; A Paixão Segundo G.
H. (1964), 10a ed., Rio de Ja-
matizado em sua visão de mundo, o leitor se frustra em sua neiro, Nova Fronteira, 1986;
Água Viva, (1973), 5a ed., Rio
expectativa de um encontro apaziguador, até mesmo quando é de Janeiro, Nova Fronteira,
1980.
levado a se identificar com a alienação de personagens várias, 2 Contos Novos , São Paulo,
Martins Fontes, 1976, pp. 125-
caminhando com elas até o âmago de suas crises. Nem sempre 6.

o sopro da autora o liberta de tão turbulenta parceria. Quando 3 Antonio Candido, “No Come-
ço Era de Fato o Verbo”, in
Clarice Lispector, A Paixão
o faz, acaba por lançá-lo em novas inquietudes, marca incorri- Segundo G. H., Edicción Críti-
ca, coord. Benedito Nunes,
gível de uma narrativa essencialmente transgressora dos pa- Madrid; Paris; México; Buenos
Aires; São Paulo; Rio de Janei-
drões estéticos estabelecidos. ro; Lima, Allca, 1996, p. XVIII.

REVISTA USP, São Paulo, n.41, p. 198-206, março/maio 1999 199


quilo que desajeitadamente tenta um pe-
A BELEZA DAS TREVAS queno vôo e cai sem graça no chão”.

Para acompanhar esse caráter rebelde e Estamos imersos na atmosfera da dis-


demoníaco de uma escrita voltada para o sonância, da ruptura, do fragmento, da ru-
desmantelamento impiedoso de referên- ína benjaminiana. O que a arte pode expri-
cias e moldes preconcebidos, é preciso criar mir, como bem mostrou Adorno ao tratar
também um novo leitor – um leitor que não do romance moderno, explode os limites
resista ao tremendum fascinorum de sua do Belo artístico, uma vez que a
obra, testemunho do desabamento das ca- modernidade do pós-guerra mutilou a inte-
tegorias racionais como modo de ordenar o gridade de qualquer experiência. Trata-se,
real. A realidade deixa de ser um mundo agora, de uma nova estética, inclinada ao
explicado pela consciência artística, que não que se ilumina no escuro, ao que seria o
mais se autoriza a ser visão absoluta de coisa recalcado da história. No caso clariciano, o
alguma (4). No universo de precariedade e recalcado de cinco histórias…
rupturas, construído por uma linguagem No conto “A Quinta História”, de gêne-
igualmente fragmentada e reiterativa, que ro literário impreciso, meio conto, meio
titubeia ao avançar, é o Mal que cintila como crônica, meio receita de bolo, constroem-
potência mobilizadora dos enredos, provo- se variações sobre um mesmo tema, como
cando movimento e transformação. o “Samba de Uma Nota Só”. Seguindo um
Trabalhando na intersecção da psicaná- receituário de como matar baratas, o narra-
lise e da estilística, pretendo abordar a ques- dor/personagem adota pelo menos cinco di-
tão do Mal e do sadismo na prosa clariciana, ferentes posições frente ao mesmo objeto
cotejando dois textos principais: o conto narrado, o que estabelece um jogo entre o
“A Quinta História”, do livro A Legião mesmo e o outro, o diferente. O conto reto-
Estrangeira, e o romance A Paixão Segun- ma o seu ponto de origem para desdobrá-lo
do G. H., ambos de 1964 e narrados em como uma espiral, onde as voltas delinei-
primeira pessoa. As duas narrativas tratam am novas curvas. São cinco histórias que
do enfrentamento de pessoas com um dos relatam uma queixa de baratas na casa e
seres mais abjetos da natureza: a barata. ensinam, qual receita culinária, a matá-las.
Como se vê, a literatura de Clarice não re- Diríamos que são seis e não cinco narrati-
jeita o grotesco, ao contrário, acolhe o que vas no total, se considerássemos a história
normalmente é monstruoso e obsceno, ge- do conto ela mesma se contando… A fonte
rando horror, espanto e nojo. O leitor estre- desse texto é provavelmente uma matéria
mece e se desnorteia, frente a textos de tão de jornal que Clarice escreveu sob pseudô-
crua realidade. Aliás, ela explicitou esse nimo de Tereza Quadros no jornal Comí-
gosto pelo que desequilibra a idéia de bele- cio, em 1952 – uma página feminina
za clássica, de totalidade harmônica, recu- intitulada “Entre Mulheres”. Em meio aos
sando toda representação literária organi- conselhos, sugestões e dicas dirigidos com
zada e arrumada. Ela diz no romance Água “inocente naturalidade” ao público femini-
Viva (1973): “A feiúra é o meu estandarte no, encontraremos um artigo que é uma ver-
de guerra. Eu amo o feio com um amor de dadeira “receita de matar”. As mulheres
igual para igual” (p. 40). Ou então na intro- passavam os olhos distraídas por textos
dução de seu “Fundo de Gaveta”, segunda inofensivos misturados a outros cruelmen-
parte do livro A Legião Estrangeira (5): te perversos como esse e eram fisgadas pelo
jogo ficcional da narradora:
4 Cf. Anatol Rosenfeld, “Refle- “Por que publicar o que não presta? Porque
xões sobre o Romance Moder-
no”, in Texto/Contexto, Pers- o que presta também não presta. Além do “Meio cômico, mas eficaz…
pectiva, São Paulo, 1976. mais, o que obviamente não presta sempre De que modo matar baratas? Deixe todas
5 Clarice Lispector, A Legião Es- me interessou muito. Gosto de um modo as noites, nos lugares preferidos por esses
trangeira, Rio de Janeiro, Edi-
tora do Autor, 1964, p. 127. carinhoso do inacabado, do malfeito, da- bichinhos nojentos, a seguinte receita: açú-

200 REVISTA USP, São Paulo, n.41, p. 198-206, março/maio 1999


car, farinha e gesso, misturados em partes da, pois o desenrolar se dá de trás para fren-
iguais. Essa iguaria atrai as baratas que as te, começando por “Como Matar Baratas”,
comerão radiantes. Passado algum tempo, burlando a expectativa já anunciada. Avan-
insidiosamente o gesso endurecerá dentro çar, parece, é recuar em direção às origens,
das mesmas, o que lhes causará morte certa. buscando um núcleo primordial. Ironica-
Na manhã seguinte, você encontrará deze- mente, porém, esse começo nada desvenda
nas de baratinhas duras, transformadas em e se oculta de novo em eterno retorno.
estátuas. O projeto do crime choca pelo tom ba-
Há ainda outros processos. Ponha, por exem- nal com que é descrito:
plo, terebentina nos lugares freqüentados
pelas baratas: elas fugirão. Mas para onde? “A primeira, ‘Como Matar Baratas’, co-
O melhor, como se vê, é mesmo engessá-las meça assim: queixei-me de baratas. Uma
em inúmeros monumentozinhos, pois ‘para senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a re-
onde’ pode ser outro aposento da casa, o que ceita de como matá-las. Que misturasse em
não resolve o problema”. partes iguais açúcar, farinha e gesso. A
farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso
O que vemos aqui é a técnica de dissi- esturricaria o de-dentro delas. Assim fiz.
mulação do horror de uma receita de morte Morreram” (p. 101).
sob a capa ingênua de um simples receitu-
ário. Uma moldura inocente para um enre- Simulando os termos de uma poção de
do terrificante. Seria o que a biógrafa de bruxaria ou alquimia, chama atenção a es-
Clarice chamou de “fingimento ficcional” tratégia maquiavélica de atrair para matar
(6). O leitor ingere um conteúdo terrível e matar por dentro, matar o “de-dentro” da
sem se dar conta e, como as baratas do conto, barata. A frieza do plano criminoso é
também é engessado pela narrativa que o marcada pela pontuação definitiva: “As-
atrai por uma doce sedução. Não seria de- sim fiz. Morreram”. A repetição desdobra-
mais dizer que a autora exerce com o leitor da dessa estrutura imprime um caráter qua-
o mesmo sadismo que executará com as se religioso ao texto, lembrando a articula-
baratas. ção entre o sagrado e a violência feita por
O primeiro parágrafo nos remete às mil René Girard, cujo estudo A Violência e o
e uma noites, tradição na qual Scherazade Sagrado (7) pode abrir vertentes interes-
vence a morte através da palavra, adiando o santes para a análise desse conto. Importa
final da história para o sultão a cada noite: aqui apenas marcar que, para Girard, a vio-
pura ironia, pois aqui a protagonista é uma lência é a matriz de todas as instituições
assassina de baratas e não mais vítima delas. sociais, impulsionando a transição do es-
A moldura do conto nos remete à infinitude tado de natureza ao estado de cultura. A
das narrativas e o teor do enredo, ao contrá- violência seria inevitável e interminável
rio, nos envia à morte – o que instaura o porque o homem possuiria, segundo
primeiro campo tensional do texto: Girard, um instinto mimético que o leva-
ria a reduplicar ad infinitum os mesmos
“Essa história poderia chamar-se ‘As Está- gestos. Tal seqüência violenta só seria
tuas’. Outro nome possível é ‘O Assassina- interrompida por um elemento externo à
to’. E também ‘Como Matar Baratas’. Fa- área de conflito, ou seja, uma vítima
rei então pelo menos três histórias, verda- expiatória entregue em sacrifício ritual.
deiras porque nenhuma delas mente à ou- Desse ato social, ritualístico e sagrado,
6 Nadia Gotlib, Clarice. Uma
tra. Embora uma única, seriam mil e uma, emergiria a cultura e suas instituições. Vida que se Conta, 2a ed.,
se mil e uma noites me dessem” (p. 101). Tal religiosidade, no entanto, adquire São Paulo, Ática, p. 281. (O
texto citado anteriormente está
no conto outra configuração. O mal conti- nessa mesma obra à p. 279.)
O uno e o infinito se encontram no nove- nua a se repetir ainda que a “vítima 7 René Girard, A Violência e o
lo da literatura. E como o uno se multiplica? sacrificial’’ morra em cada história. Seria Sagrado, trad. Martha Concei-
ção Gambini, São Paulo, Paz
Pelo avesso. A ordem narrativa está inverti- a natureza flagrada em sua resistência à e Terra/Unesp, 1990.

REVISTA USP, São Paulo, n.41, p. 198-206, março/maio 1999 201


cultura? Vejamos a segunda história. Fo- do lixo indesejável, acena para o inconsci-
caliza-se, agora, a assassina, já que antes ente enquanto espaço do que é desprezado
falou-se do crime propriamente dito. Aban- e deixado à margem da consciência. A vi-
donando a frieza anterior, a narradora/cri- gília da censura poderia ser “essa toalha
minosa é invadida pela crescente excitação alerta no varal”, cuja força repressora tenta
assassina, como as baratas o são pelo vene- ainda manter-se ativa durante o sono, em-
no letal. O tom erótico ganha espaço narra- bora enfraquecida. A barata traz o que re-
tivo e o desejo sádico emerge imbuído de jeitamos ou desconhecemos de nós mes-
sua inerente sexualidade: “Um medo exci- mos e que queremos expulsar, exterminar,
tado e meu próprio mal secreto me guia- de nossa consciência.
vam. Agora eu só queria gelidamente uma Inevitável procurarmos na obra de
coisa: matar cada barata que existe” (p. 102). Clarice a emblemática aparição da barata
A pacata dona de casa se descobre uma no quarto de empregada do luxuoso aparta-
assassina em potencial. Seu amor pela mento de G. H. É na área menos nobre da
perversão, bem como a evidente excitação casa que se dá o confronto com esse outro
do mal, parecem ser seu próprio mal secre- anônimo e impessoal, potência pré-huma-
to, do qual, a partir de agora, a narradora será na de que todos nós somos feitos:
incapaz de se livrar. Legitimada pela neces-
8 A posição da personagem e sidade higiênica de eliminar as baratas – que “Foi então que a barata começou a emergir
do leitor nesse conto faz ecoa-
rem alguns aspectos do estilo encarnam esse “mal secreto que roía casa do fundo […] Sem nenhum pudor, como-
machadiano, em especial no
texto “A Causa Secreta”, em tão tranqüila” – a narradora transforma seu vida com a minha entrega ao que é o mal
que o médico Fortunato exerce crime em gozo sádico, estético e sexual, […]: levantei a mão como para um jura-
fria tortura sobre um rato. Ao
lado do seu sadismo, temos o confundindo perfidamente o leitor (8). mento, e num só golpe fechei a porta sobre
voyeurismo do amigo Garcia,
que assiste a tudo sem interfe-
o corpo meio emergido da barata […]” (9).
rir. Afinal, Garcia “possuía, em
gérmen, a faculdade de deci-
Essa “entrega ao que é o mal” se repre-
frar os homens, de decompor
os caracteres, tinha o amor da A CASA TOMADA senta duplamente: tanto pela barata – em-
análise, e sentia o regalo, que
dizia ser supremo, de penetrar blema do que é quase inassimilável pelo
muitas camadas morais, até
apalpar o segredo do organis- O cálculo meticuloso e ordenado do humano – quanto pelo ato de matar. A ba-
mo” (grifos meus). Ou seja, crime convive harmoniosamente com a rata em G. H. é a mediação para o mundo
Garcia também exerce com
Fortunato a mesma dissecação ardência erótica e sádica, envolvendo o infernal e caótico do qual emergimos e
que esse aplica aos ratos… A
estrutura em mis en abîme faz
leitor numa narração condensada, que es- fomos nos distanciando, distância conquis-
com que a atitude sádica se conde o seu teor destrutivo. Parece que o tada em nome de uma nova organização
desdobre do narrador Macha-
do às personagens e dessas ao mal que se quer eliminar – ou seja, essas egóica. O contato com a matéria bruta da
leitor. O gozo sádico n’“A baratas que “sobem pelos canos enquanto barata restitui-nos àquela vivência primor-
Quinta História” parece ser da
mesma natureza (Machado de a gente, cansada, sonha” – pede uma inter- dial, e agora terrorífica, desse nada que “era
Assis, Obra Completa, V, II, Rio
de Janeiro, Nova Aguilar, pretação. A imagem de algo que invade vivo e úmido” (p. 57). O que era familiar
1994, p. 514). nossos sonhos e nos remete à parte sombria torna-se estranho e perturbador. Aqui vale
9 Clarice Lispector, A Paixão Se- de nós mesmos é símbolo da vida instintual a pena lembrar o texto de Freud, escrito em
gundo G. H., op. cit., pp. 48-
9. sob repressão no inconsciente. Perturbam 1919, “O Estranho”, que trata justamente
10 Nesse estudo, Freud investiga a nossa tranqüilidade e se mostram à noite do sentimento de inquietante estranheza
a categoria do unheimliche e quando a vigília relaxa. O texto estabelece produzido pelo retorno de algo familiar que
afirma: “[…] pode-se compre-
ender por que o uso lingüístico identidades entre o edifício com seus canos deveria ter ficado oculto, reprimido, mas
estendeu ‘ das heimliche ’
[‘homely’, doméstico, familiar] e a psique humana: “De minha cama no vem à luz (10).
para o seu oposto, ‘ das silêncio do apartamento, eu as imaginava Essa experiência é vivida de formas
Unhelimliche’; pois esse estra-
nho não é nada novo ou alheio, subindo uma a uma até a área de serviço muito diferentes nos dois textos aqui co-
porém algo que é familiar e há
muito estabelecido na mente, e
onde o escuro dormia, só uma toalha alerta mentados. No romance, G. H. se lança numa
que somente se alienou desta no varal” (p. 102). viagem alucinada, entre a sanidade e a lou-
através do processo de repres-
são”. “O Estranho” (1919), in O apartamento e seus compartimentos cura, de onde renasce transformada; já n’“A
Obras Completas, Rio de Ja- são a própria casa psíquica. A área de ser- Quinta História”, a personagem evita ser
neiro, Imago, 1976, vol. XVII,
pp. 273-314. viço, parte marginal do apartamento, lugar tocada pela desordem interna, projetando o

202 REVISTA USP, São Paulo, n.41, p. 198-206, março/maio 1999


mal que constitui cada ser no outro/barata, das histórias Mas há um outro plano textual
processo característico da paranóia. Mas a importante: a escrita, ela também, sofre a
terrível descoberta da narradora se dá no ameaça constante de um extermínio, a pro-
reconhecimento de que ali está representa- ximidade perigosa de seu silêncio. Seguem-
da a sua própria alma, cuja tentativa de se alguns índices dessa metáfora da palavra
extermínio não a livrará de si mesma. As- engessada em pleno movimento:
sim como as histórias retornam, também as
baratas voltam a escalar os canos do apar- “[…] – essas de súbito cristalizam, assim
tamento, como o mal que elas simbolizam. como a palavra é cortada da boca: eu te…”
A questão é que eliminar o mal execu- (p. 103).
tando o próprio mal constitui um paradoxo “[…] é que olhei demais para dentro de
fundamental do enredo. Fazer o mal visan- mim! É que olhei demais para dentro de…”
do destruí-lo cria o ciclo vicioso do conto (p. 103).
e do gesto ritualístico que o configura. A
narração é a própria arma de combate, Mas a principal inscrição desse assassi-
engessando o instante através das múlti- nato da palavra se dá na quinta e última
plas repetições. No entanto, trata-se de uma história que, embora seja o título do conto,
“repetição diferencial”, pois o retorno pa- é a única que não se conta. Ela “finaliza” o
rece carregar em si o germe do que se reno- texto deixando em suspenso apenas uma
va, se pudermos validar aqui a posição de queixa: “‘A Quinta História’ chama-se
G. H.: “A repetição me é agradável, e repe- ‘Leibnitz e a Transcendência do Amor na
tição acontecendo no mesmo lugar termina Polinésia’. Começa assim: queixei-me de
cavando pouco a pouco, cantilena enjoada baratas” (p. 103).
diz alguma coisa”. O fio da história interrompe-se antes de
A cada retomada de seu início, a histó- seu desenvolvimento, restando um vazio de
ria resgata o mesmo acrescentando sempre sentidos não simbolizados pela escrita. Ali-
novos elementos. Nosso olhar reconhece, ás, está aí uma outra e fundamental marca da
portanto, a familiaridade e a estranheza das escrita clariciana: a impossibilidade de nar-
narrativas. Após a apresentação do crime e rar. O que se narra, no limite, é uma impo-
da assassina, a terceira história focaliza as tência de representar a totalidade; narra-se
vítimas sendo contempladas pelo quase uma mudez, uma paralisação do pen-
“voyeurismo” sádico da narradora, que se samento. O caminho do emudecimento
sente poderosa: “de minha fria altura de como desistência da narrativa acena para o
gente olho a derrocada de um mundo” (p. alerta de Walter Benjamin, que anteviu a
103). Testemunhando o “alvorecer em extinção da arte de narrar (11). Clarice tam-
Pompéia” (p. 102), a morte das baratas vira bém: “A vida não é relatável”, diz a autora
espetáculo estético, uma verdadeira arte do em sua busca do mínimo a dizer, como se as
crime, e também filosófico pois a cada modo palavras antes encobrissem do que revelas-
de viver das baratas equivaleria um estilo sem a realidade:
de morrer. A estetização do mal invade o
texto instaurando a desordem de uma “es- “O que não sei dizer é mais importante do
tética do negativo”. O recalcamento se me- que o que digo. […] Cada vez mais escrevo
taforiza na imagem do enrijecimento e en- com menos palavras. Meu livro melhor
gessamento – repressão dos impulsos acontecerá quando eu de todo não escre- 11 Cf. “O Narrador. Considera-
ções sobre a Obra de Nikolai
associais indesejáveis. ver. Eu tenho uma falta de assunto funda- Leskov”, in Obras Escolhidas,
tradução de Sérgio Paulo
Em meio ao enredo perverso, faz-se tam- mental” (12). Rouanet e prefácio de Jeanne
bém uma reflexão metaficcional (como, de Marie Gagnebin, vol. 1, 2a
ed., São Paulo, Brasiliense,
resto, toda a obra clariciana). Já vimos que Também nesse aspecto, os dois textos 1996.
o eterno retorno das baratas, em sua dimen- diferem significativamente. Enquanto G. 12 Apud Olga Borelli, Clarice
são simbólica do próprio mal que habitaria H. vive o paradoxo da expressão do indizí- Lispector. Esboço para um Pos-
sível Retrato, Rio de Janeiro,
a alma humana, é representado nas voltas vel – como formatar a vivência que implica Nova Fronteira, 1981, p. 85.

REVISTA USP, São Paulo, n.41, p. 198-206, março/maio 1999 203


na perda da forma? –, n’“A Quinta Histó- poderia ser a continuação d’“A Quinta
ria” a narrativa é meticulosa, obsessiva, História” interrompida no último parágra-
repelindo o indiferenciado e controlando fo, mostrando o que teria acontecido a nos-
os excessos com receitas e medidas. Em G. sa “bem-sucedida” narradora se ela desis-
H. a linguagem se expande e se contorce tisse de sua empreitada épica e se deixasse
apaixonada; no conto, a narração se con- tocar pela inexpressividade do neutro. O
densa e se defende da invasão do ephos da paixão de G. H. é o avesso do
indeterminado. heroísmo anterior. Trata-se de perder o
Ainda que suspensa no limiar do silên- poder fálico sobre o outro, desaprender um
cio, a narrativa do conto adentra a quarta olhar viciado sobre as coisas, implodir um
história inaugurando “nova era no lar” e edifício bem arrumado e sucumbir ao do-
voltando ao cenário doméstico após o es- mínio do desconhecido. É a barata que
petáculo arqueológico de Pompéia. A fei- engessa G. H. em seu instante de torpor e
ticeira narradora nos alerta de que se trata horror, impedindo-a de avançar e movimen-
ainda da vida rotineira e cotidiana e que é tar-se de novo na busca de refúgio e como-
nela que devemos lidar com nossos males didade. A barata, na sua força nadificante,
mais secretos. No entanto, o sacrifício das quebra sadicamente o invólucro da persona
baratas equivale a um ritual de purificação G. H., inscrição inútil no couro da valise.
impossível, pois o humano está irremedia- Também G. H., como a assassina de baratas,
velmente maculado. Ao final, a narradora descobre-se sujeito de um gozo desconheci-
ilude-se escolhendo o caminho da do e nele se perde: “Eu me embriagava pela
dedetização desse caos pulsional que sobe primeira vez de um ódio tão límpido como
pelos canos da consciência: de uma fonte, eu me embriagava com o de-
sejo, justificado ou não, de matar” (p. 49).
“Áspero instante de escolha entre dois ca- Essa é a desaprendizagem de G. H. (e
minhos que, pensava eu, se dizem adeus, que demanda igual desmontagem do lei-
e certa de que qualquer escolha seria a do tor), que regride ao inumano, ao inanima-
sacrifício: eu ou minha alma. Escolhi. E do, identificando-se com a massa branca
hoje ostento secretamente no coração uma da barata e ingerindo-a para melhor se re-
placa de virtude: ‘Esta casa foi conhecer como ser humano. G. H., ao con-
dedetizada’” (p. 103). trário da personagem do conto, não renun-
cia ao mal; mergulha nele, bebe de seu
Tendo optado pela virtude da gosto, renunciando à forma humana para
higienização, álibi de quem evita o con- adentrar a neutralidade viva que é repre-
fronto consigo mesma, a narradora lança a sentada pela barata. Nessa viagem em dire-
história para bem longe: Leibnitz, ção às origens, G. H. deve passar antes pelo
Transcendência, Polinésia. Mas o mal é confronto com a alteridade social – a em-
parte ineludível da constituição do sujeito pregada Janair, ser de outra classe – para
e ressurge nas malhas do discurso de for- depois enfrentar o outro da espécie, a bara-
13 Todo o canto homérico, na lei-
tura que dele fazem Horkheimer mas sempre renovadas. ta. Ao contrário do processo formador da
e Adorno, representaria uma
“alegoria premonitória da dia- cultura, G. H. sai da civilização em direção
lética do iluminismo”. Os auto- à natureza primeira, fazendo o caminho in-
res mostram como a astúcia de
Ulisses prenuncia a renúncia verso ao de Ulisses na Odisséia de Homero,
burguesa e expressa “o entrela-
çamento entre mito, dominação
O SUJEITO NEGADO que sacrifica seus impulsos em nome do
e trabalho”. A racionalidade desenvolvimento da racionalidade huma-
homérica se forma, assim, sus-
tentada pela renúncia instintual, Numa última visada interpretativa des- na. Na contramão da viagem metafórica de
submetendo a natureza adver-
te pequeno ensaio, gostaria de abordar com- Ulisses, travessia paga do homem ociden-
sa à ratio dominadora através
do auto-sacrifício (T. Adorno, parativamente os dois textos sob o olhar tal na passagem do mithos ao logos (13), o
M. Horkheimer, “Conceito de
Iluminismo”, in Os Pensadores, psicanalítico, atenta para não engessar o mergulho primal de G. H. se dá nas pulsões
trad. Zeljko Loparic, São Pau- de morte, tal como Freud as concebeu.
lo, Abril, 1975, pp. 117 e
texto nessa moldura analítica. Antes é pre-
119, v. VLVIII). ciso notar que A Paixão Segundo G. H. O pathos de G. H. está justamente na

204 REVISTA USP, São Paulo, n.41, p. 198-206, março/maio 1999


desconfiguração do sujeito para reunificá- E que lugar teria nessa leitura a pulsão
lo às forças míticas da natureza. G. H., nesse de morte, antes mencionada?
sentido, ingere a flor de lótus/barata para Vimos que tanto G. H. quanto a perso-
reencontrar-se com a unidade essencial dos nagem do conto são movidas pela força
seres naturais, fusão orgânica do homem imprevista do mal, potência tanática que,
com o mundo primário. É preciso perder a ao contrário de levar-nos à estagnação,
memória, suporte da subjetividade, para impele-nos à mudança, desagregando o que
adentrar o universo pastoso da totalidade, tende a se conservar. A jornada de G. H. dá
da neutralidade viva: “Com o desmorona- forma a essa vida no limite, pois almeja “a
mento de minha civilização e de minha hu- perda de tudo o que se possa perder e ainda
manidade – o que me era um sofrimento, eu assim ser” (p. 161). O que regeria esse pro-
passava orgiacamente a sentir o gosto da cesso, tão característico da obra de Clarice
identidade das coisas” (p. 99). Lispector, seria, a meu ver, as expressões
Ao abandonar sua organização humana, da pulsão de morte, mola propulsora dos
G. H. comunga com o demoníaco, que é enredos, que instauram a desordem em meio
antes do humano. G. H. mergulha no nada à vacuidade do cotidiano, mobilizando as
primordial, danação e alegre terror, personagens em suas odisséias insólitas e
fusionando, bem ao gosto moderno, o baixo particulares. Recorro, aqui, ao estudo do
(humilis) e o elevado (sublimis) – nos ter- filósofo da psicanálise Luis Alfredo Garcia-
mos de Auerbach (14). G. H. precisou atra- Rosa, cujas idéias inspiraram a tese da qual
vessar o paraíso infernal dos instintos e da esse ensaio é um pequeno recorte:
anarquia das pulsões de morte para vislum-
brar algum sentido da vida: “É que um mun- “Freud aponta a pulsão de morte como o
do vivo tem a força de um inferno” (p. 19). obstáculo maior à cultura, na medida em
Tal como no conto, também se desnuda que esta última tende a reunir indivíduos,
um ritual, agora canibalístico, no qual a famílias, nações, com vistas a uma grande
barata erige-se em animal totêmico devo- unidade que seria a humanidade. A cultura
rado em dramática celebração iniciática. estaria, portanto, a serviço de Eros. A pulsão
Aberta ao caos, ao acaso, à catástrofe da de morte, entendida como potência
própria subjetividade, G. H. caminha re- destrutiva, tem como alvo a disjunção des-
gressivamente à vida de grau zero, ao pon- sas unidades, a recusa da permanência. En-
to minimal onde tudo surge. A narrativa quanto a pulsão sexual é conservadora, pois
acaba por mimetizar tal retorno, hesitando além de constituir uniões tende a mantê-
em avançar no enredo – a frase que encerra las, a pulsão de morte é renovadora. Ao
o capítulo anterior é a mesma que abre o colocar em causa tudo o que existe, ela é
seguinte (recurso também conhecido como potência criadora. Enquanto Eros tende à
leixa-pren (15)). Esse processo de retarda- unificação, à indiferenciação, a pulsão de
mento parece distender ao máximo a emo- morte, como princípio disjuntivo, é produ-
14 Ver Auerbach, Mimesis (A Re-
ção adiando o seu clímax, como se assim tora de diferenças” (16). presentação da Realidade na
Literatura Ocidental), 2a ed.
nos fizesse refletir mais e mais fundo. A São Paulo, Perspectiva, 1976.
tensão dramática é intensificada por esse Freud só reconhece a autonomia da 15 “Designava, no lirismo galaico-
suspense sádico, cujas repetições, recuos, pulsão destrutiva, ou seja, sua independên- português, o expediente poe-
mático que consistia em repe-
questionamentos e comentários capturam cia em relação à sexualidade, em 1930 n’O tir, à entrada de uma estrofe, o
o leitor atônito, provocando náusea e mal- Mal-estar na Civilização; reconhece, por- último verso da anterior,
exclusive o refrão, inteiro ou
estar tão comuns no repertório clariciano. tanto, uma disposição pulsional originária em parte; uma estrofe pendia,
ou seja, tomava o que a prece-
Somos levados a “ter que ficar dentro do do ser humano, uma maldade fundamental dente deixava” (Massoud
que é” (p. 78), imersos na atualidade an- e irredutível: Moisés, Dicionário de Termos
Literários, São Paulo, Cultrix,
gustiante desse hic e nunc sem transcen- 1985, p. 304).
dência redentora possível. Transcender é “[…] Os homens não são criaturas gentis 16 Luis Alfredo Garcia-Rosa, O
uma transgressão nessa busca fenomeno- Mal Radical em Freud, Rio de
que desejam ser amadas e que, no máximo,
Janeiro, Jorge Zahar, 1900,
lógica do ser na própria coisa. podem defender-se quando atacadas; pelo p. 134.

REVISTA USP, São Paulo, n.41, p. 198-206, março/maio 1999 205


contrário, são criaturas entre cujos dotes da “positividade da negação”, marca
instintivos deve-se levar em conta uma po- inexorável da finitude humana . Em termos
derosa quota de agressividade. Em resulta- hegelianos, a transformação ou negação da
do disso, o seu próximo é, para eles, não natureza, ato de destruição por excelência,
apenas um ajudante potencial ou um objeto é o que determina a constituição do huma-
sexual, mas também alguém que os tenta a no, diferenciando-o dos seres naturais (19).
satisfazer sobre ele a sua agressividade, a Não se trata, igualmente, de uma apolo-
explorar sua capacidade de trabalho sem gia do mal, já que não se está valorando o
recompensá-lo, usá-lo sexualmente sem seu mal como categoria moral e sim como es-
consentimento, apoderar-se de suas posses, paço de uma negatividade que, desde os
humilhá-lo, causar-lhe sofrimento, torturá- primórdios da humanidade, de Caim ou da
lo e matá-lo. Homo homini lupus” (17). tentação da maçã aos nossos dias, faz girar
uma engrenagem ininterrupta. Ao lado da
A dimensão da destrutividade, inegá- luminosa epifania, tão estudada nos textos
vel no conto “A Quinta História” e na tra- de Clarice, vislumbramos sua face tene-
vessia infernal de G. H., constitui face ine- brosa e feroz, pondo em movimento o que
quívoca na obra de Clarice Lispector. Com- tende a manter-se inerte. Ao preço, muitas
bustível de uma narrativa transgressora, im- vezes, de atravessar a própria morte. Ou
pulsionada pelo movimento sádico como quer a autora no prefácio d’A Paixão
devorador do outro e muitas vezes da pró- Segundo G. H.: “[…] atravessando inclusi-
pria palavra, o mal arma e trama o novelo ve o oposto daquilo de que se vai aproxi-
dos enredos mais variados: da tentação pelo mar” (p. 5). Daí propor para a literatura de
“gosto do mal”, de Joana, protagonista do Clarice uma estética do negativo, que faz do
romance de estréia da autora, Perto do Co- mal e da morte ingredientes ineludíveis na
ração Selvagem (1944), passando pela alma receita da arte de viver. E, particularmente
atormentada e demoníaca da pré-adoles- no caso clariciano, na recita de narrar.
cente Sofia, do conto “Os Desastres de So-
fia” (A Legião Estrangeira, 1964) ou pelo “Não mato porque não quero perder minha
crime da cruel Ofélia em “A Legião Es- vida. Mas também porque quero me ba-
trangeira”, até o questionamento crucial da nhar na retida vontade de matar. Retida,
narradora do conto “O Búfalo” (Laços de sim, e por isso mesmo mais violenta – sou
17 S. Freud, O Mal-estar na Civi- Família, 1960): “Onde aprender a odiar para obrigada a ter como só meu o gosto supre-
lização, Rio de Janeiro, Imago,
p. 133. não morrer de amor?” (18) – em todas essas mo de querer matar e o gosto de viver sob
18 Clarice Lispector, Laços de Fa- narrativas o que está em jogo é algo muito a extrema tensão de arco-e-flecha retesa-
mília, 24a ed., Rio de Janeiro,
Francisco Alves, 1991, p. 163.
próximo da noção de “negatividade deter- dos. E que não disparam.
minada”, de Hegel. Não se trata de uma Mas disparam para dentro. E então –
19 Luis Alfredo Garcia-Rosa, op.
cit., pp. 157-8. negação absoluta ou do negativo puro, mas êxtase.”

206 REVISTA USP, São Paulo, n.41, p. 198-206, março/maio 1999

Você também pode gostar