Você está na página 1de 2

OS ARQUÉTIPOS DO HERÓI E DA HEROÍNA

(O Pai e a Psique)

Na obra “O Pai e a Psique” da editora Paulus foi escrito por Alberto Pereira Lima Filho
em 2002, no qual o capítulo seis “Os arquétipos do herói e da heroína” como texto para análise
nessa resenha.

O capítulo descreve as contribuições estruturantes dos arquétipos do herói e da heroína


como auxiliares do arquétipo do Pai. Além de discutir a atuação paterna na construção do eu-
ideal e ideal-de-eu, conceitos psicanalíticos, que são reinterpretados pelo pensamento
junguiano.

O texto traz a influência arquetípica das imagens de heróis e heroínas na dinâmica


patriarcal da psique. E foi estruturado em dois subcapítulos: os arquétipos do herói e da heroína,
suas trajetórias e expressões na experiência humana, e eu-ideal e ideal-do-eu. No primeiro
subcapítulo, o autor apresenta o lugar do herói no cosmo e na psique, no qual divide nas
seguintes sessões: o nascimento do herói, debatendo sua origem divina e humana; herói e eu,
reforçando sua dinâmica na psique; o lugar do herói no pensamento junguiano e de seus
seguidores, explana como Jung, Neumann, Von Franz, entre outros, reeditam e organizam o
arquétipo e os mistérios simbólicos entorno dos seus obstáculos; tarefas e morte do herói,
ressalta o simbolismo por trás da morte heroica, assim como, a importância do regresso do herói
ao mundo comum; questões de gênero, debate a jornada de Campbell como sendo uma jornada
masculina, além de apresentar uma jornada alternativa ao feminino; a trajetória feminina,
discute a evolução da jornada da heroína à transformação da mulher; a trajetória masculina,
apresenta o paradigma de Campbell; a sombra do herói, argumenta o lado a bipolaridade e
onipotência do arquétipo; o perigo da inflação, aborda as diferenças entre a inspiração e
identificação com a imagem arquetípica. No subcapítulo eu-ideal e ideal-do-eu, Alberto examina
o conceito psicanalítico e associa à ideia de transição do dinamismo matriarcal ao patriarcal na
psique.

O capítulo foi estruturado de maneira didática, em que o autor detalha o herói e/ou
heroína à cultura, e traça possibilidades simbólicas do arquétipo. É reforçado as ideias de
Neumann, Von Franz, Campbell, Jung, Storr e Junito, sobre o arquétipo como uma dinâmica
daimonica, nem divina e nem humana, que conecta o ego ao Si-mesmo. A dinâmica estaria
relacionada ao rito de separação-iniciação-retorno, com isso, proporciona à psique um processo
de transformação à consciência. Entretanto, o arquétipo não seria um mediador apenas na
transição matriarcal do ego à patriarcal, sendo uma imagem arquetípica mediadora, associada
em um processo de decida do ego ao inconsciente, a ideia de outros heróis: matriarcal,
patriarcal, da alteridade e da sabedoria, são possibilidades psíquicas para inspiração do ego no
contato com Si-mesmo.

Outro ponto de relevância no texto está na relação do arquétipo com ego, na função de
representar aspectos do Si-mesmo envolvidos na construção do Eu, sendo um efeito do
inconsciente. Pois segundo a explicação de Neumann, a finalidade simbólica da descida da
consciência ao inconsciente, é o trabalho heroico na busca por um tesouro que estaria
enterrado.

A jornada da heroína é um tema de relevância no capítulo, pois é uma crítica ao suposta


unilateralidade masculina que estaria implícita no paradigma de Campbell. É traçado um
paralelo entre a jornada masculina e feminina, no qual existe uma tendência na peregrinação
da mulher de dissociar do masculino para reintegrá-lo na sua dinâmica. Entretanto, Alberto
ressalta o olhar de Campbell sobre a versatilidade tanto masculina quanto feminina do seu
paradigma.

Por fim, são correlacionas a visão psicanalista de narcisismo primário e secundário como
processos do superego, id e ego na construção do eu-ideal e ideal-do-eu. Para o autor é possível
traçar um paralelo na transição da dinâmica matriarcal à patriarcal, em que o narcisismo
primário e seu eu-ideal poderiam representar o período matriarcal da psique, assim como, a
passagem ao narcisismo secundário na construção do ideal-do-eu, teria a mesma incumbência
do período patriarcal de desenvolvimento.

Portanto, o conteúdo do capítulo se torna uma leitura obrigatória para compreender o


arquétipo do herói/heroína na mediação, não só do período matriarcal ao patriarcal, mas em
todas as etapas do desenvolvimento. Contudo, no auxílio ao estágio patriarcal, o arquétipo é a
possibilidade de dissociação do ego da mãe, justamente para começar a diferenciação do outro,
na construção da moral espiritual, leis, na necessidade do outro. Uma vez que, segundo o autor,
se o ego não fizer a luta, de rompimento com o materno, pode se manter indiferenciado na
relação com outro. Isto é, o herói na jornada precisa enfrentar o seu dragão, deixar morrer a
velha forma, para abrir espaço ao novo, ao seu renascimento e voltar transformado.

Alberto Pereira Lima Filho é musico, psicoterapeuta de orientação junguiana e


especialista em Gestalt-Terapia pelo Instituto Sedes Sapientiae de SP. Mestre em Psicologia
Clínica pela PUC/SP, também e autor de outros livros: Gestalt e sonhos, editora Summus, e Alma,
gênero e grau, editora Devir. Assim como, é co-autor da obra “Clínica, a relação psicoterapêutica
e o manejo em Gestalt-Terapia”, editora Summus.

Resenha organizada por Felipe Guerra, psicólogo, especialista em Orientação


Vocacional/Profissional pela Colmeia e Acadêmico do Curso de Pós-Graduação em Psicoterapia
Junguiana da Universidade Paulista.

Você também pode gostar