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Os processos por meio dos quais conhecemos o mundo habitado, assim como os
processos neurológicos dos quais eles constituem um aspecto, são igualmente
autopoiéticos, caracterizados por contínua diferenciação em virtude de seu
funcionamento. Compreendido isso, torna-se óbvio que os modelos da mente como
modelos de processamento de informações (ou modelos representacionais) não
podem captar sua dinâmica intrínseca. Tome-se, por exemplo, a teoria dos
esquemas tal como se en-contra em diversas formas na antropologia cognitiva. A
ideia do esquema como representação mental estabeleceu-se na antropologia
cognitiva nos anos de 1980 e, na década seguinte, foi incorporada aos modelos de
funcionamento psicológico de tipo "rede neural". Os modelos conexionistas da
mente tentam tornar a teoria computacional consistente com o que conhecemos
sobre as operações do cérebro humano; eles utilizam uma ideia de processamento
distribuído em paralelo que possibilita um esquema cognitivo nunca completamente
estabelecido (fixed), sempre emergente, proporcionando assim um modelo de
como os processos cognitivos respondem a seu próprio ambiente e são modificados
por ele. Não obstante, como representação e como componente do "modelo
cultural" mais complexamente configurado, o esquema que figura nos trabalhos de
holland, D'Andrade e Shore (para to-mar alguns exemplos bem conhecidos) é
caracteristicamente estático.4 A tentativa de Shore no sentido de distinguir entre
modelos convencionais e modelos pessoais manifesta claramente o problema
decorrente da ideia de esquema como representação dos processos mentais. Em
virtude de os esquemas que compõem os modelos culturais serem concebidos como
espelhando representações mentais do mundo no interior da mente humana, o
modelo cultural de Shore não pode dar conta do fato de que, na medida em que
entendemos e adotamos o que é convencional, o fazemos como pessoas
específicas, com histórias pessoais singulares. Do que se segue que, para cada um
de nós, o convencional e o pessoal estão determinados como aspectos recíprocos
(artefato de um único e mesmo processo), e que a continuidade ao longo do tempo
é igualmente um aspecto de transformação.5