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ANOTAÇÕES

DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO


(Marcos Seixas)

Elaborado por Helson


DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 2
Anotações da 1ª avaliação [ Helson ]

ÍNDICE

AULA 1 ● O Direito Medieval e o Reino de Portugal


Antecedentes: Cenário do Império Romano na Antiguidade
A transição para a idade média
Formação dos idiomas
Contextualização do Direito Romano
Império Romano do Oriente
O Renascimento do Direito Romano
O Reino de Portugal e da Espanha
O Direito no Brasil
Principais Ordenações.
Ordenações Afonsinas
Ordenações Manuelinas
Ordenações Filipinas
AULA 2 ● Sistema Senhorial, Municípios e Jurisdição em Portugal e nas Colônias
Sistema senhorial
Contrato de Doação
Carta de Foral
Hierarquia da justiça em Portugal nas colônias.
Justiça Municipal
Justiça Senhorial
Justiça Régia
Instâncias Especiais de Julgamento
AULA 3 ● Iluminismo e Direito Português
Iluminismo
Fontes de Direito
“Lei da Boa Razão” (Lei de 1769)
Principais alterações da reforma educacional:
Principais alterações nas fontes de direito
Referências Bibliográficas ● Livros, filmes e séries
História do Direito Brasileiro – Rui de Figueiredo Marcos
O Direito na História. Lições Introdutórias – José Reinaldo de Lima Lopes
A aventura das Línguas – Hans Joachim Storig
Asterix e Obelix
O Mercador de Veneza
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AULA 1 ● O Direito Medieval e o Reino de Portugal

Antecedentes: Cenário do Império Romano na Antiguidade

Roma era o maior império do mundo, mas possuía problemas para governar tantos povos em
uma vasta extensão territorial, razão pela qual, inclusive, surgem o Império Ocidental (Roma) e
o Império Oriental (Constantinopla).
Ao leste do império viviam os Povos Germânicos que em determinado momento passaram a
ser pressionados pelos Hunos.

A transição para a idade média


A única alternativa de sobrevivência dos Reinos Germânicos foi fugir dos Hunos em direção ao
ocidente, onde invadiram o Império Romano, promovendo uma destruição quase completa dos
estabelecimentos e do precioso acervo do que era uma civilização considerada bem avançada
para a época.

O fim do Império Romano marca a transição para a idade média.

Formação dos idiomas

A convivência, ainda que forçada, entre os povos invadidos e os invasores proporcionou o


surgimento dos idiomas modernos pela fusão dos idiomas originais.
Dica de leitura: A aventura das línguas.

Contextualização do Direito Romano


Roma | civilização desenvolvida. Havia leis escritas, e diversos professores e juristas
propagavam a doutrina em faculdades e livros.
Reinos Germânicos | prevaleciam os costumes e tradições. Nada estava escrito (normas eram
difundidas oralmente).
Após a invasão do Império Romano, surge o Direito Romano Vulgarizado12, resultado da
fusão do antigo direito romano (lei das 12 tábuas) e dos costumes e tradições dos reinos
germânicos.

Esse Direito Romano Vulgarizado servia para tutelar as relações jurídicas na alta idade média,
inclusive do sistema feudal enraizado na civilização da época.
Dica de filme: O Mercador de Veneza

Império Romano do Oriente


O Imperador Justiniano tinha um projeto de unificar e expandir o Império Bizantino.

O Império do Oriente detinha um exército muito bem preparado que conseguiu reconquistar as
terras que correspondem hoje à parte da África, toda a península Itálica e parte da península
Ibérica.

1
Avaliação 2015.2 | Em que consistiu o Direito Romano Vulgarizado utilizado com fonte de direito na Europa Ocidental
durante a idade média?
2
Avaliação 2016.2 | Que causas deram origem ao surgimento do Direito Romano Vulgarizado?
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Além da reconquista do território, Justiniano objetivava compilar o direito romano, tendo em


vista ser indispensável ter uma legislação congruente para atender às demandas e litígios da
época.

Para tanto contou com o ministro da justiça, professor e jurisconsulto de grande mérito –
Triboniano, que nomeou uma comissão para ajudá-lo na compilação do Corpus Juris Civilis,
distribuindo-o por todo o território romano.
Após o assassinato de Justiniano, o Império vivenciou um conflito de duas décadas que
exauriu os seus recursos e contribuiu para grandes perdas territoriais durante as invasões
muçulmanas do século VII. Com isso, o Corpus Juris Civilis foi deixado para trás, ficando
diversos exemplares abandonados nas estantes das bibliotecas.

O Renascimento do Direito Romano


A redescoberta ocorreu por volta do ano de 1110 durante o renascimento comercial na Itália, e
este fato mudou a história do direito em diversos países do mundo, já que o Direito Romano se
tornou a referência para todos eles, não sendo diferente com Portugal. É nesse contexto que o
direito do Brasil tem suas raízes no direito romano, já que Portugal mantinha um único
ordenando jurídico na sede e nas colônias.

O Reino de Portugal e da Espanha


A transição do Direito Romano Vulgarizado para o direito do Corpus Juris Civilis não se deu de
forma natural na península Ibérica, muito em decorrência das invasões dos árabes na região.
Na península Ibérica o direito que vigorava era a da Lex Romana Visigothorum e del Fuero
Juzgo, que teve influência dos Visigodos, povo germânico que se instalou na região à época
das invasões que culminaram no fim do Império Romano.

Portugal foi formado pelo crescimento do condado portucalense, em contexto de intensificação


das cruzadas cristãs que objetivavam expulsar os árabes (mouros) nas denominadas guerras
de reconquista.

A autoridade do rei não era absoluta, dada que a transição do sistema feudal para a monarquia
tinha se dado há pouco tempo. Dessa forma, as fontes do direito eram:
a) Costumes – considerados mais influentes e importantes inicialmente;
b) Lei – era a fonte preferida pela coroa.
c) Direito Romano (Corpus Juris Civilis)
A reunião do rei com a nobreza (marqueses, condes, viscondes, etc...) era conhecida como
corte. Não confundir com as cortes atuais formadas por magistrados.

O rei não tinha autoridade para criar leis sem a aprovação da corte.

Fato curioso é que em Portugal existiam dois ordenamentos ao mesmo tempo:


a) Direito próprio – jus proprium
b) Direito comum - jus commune - aplicado subsidiariamente ao direito próprio. Era
composto pelo direito romano mais o direito canônico (originado da igreja católica).

 Pluralismo Jurídico – quando mais de uma ordem jurídica coexistem em um mesmo


período em um país; O inverso seria o Monismo Jurídico (apenas um ordenamento).

 É comum se ouvir falar do Direito Romano-Germânico – combinação das leis e costumes


dos reinos germânicos com o Corpus Juris Civilis.
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Com o passar dos anos, o rei de Portugal que já era forte militarmente por conta das guerras
de reconquista, foi se tornando mais forte politicamente também, a ponto de produzir mais e
mais leis (por volta de 1350).
Ainda assim, a Ius Commune era muito maior e mais avançada, de modo que regulava
praticamente tudo, em detrimento do próprio ordenamento do país.
À medida que as leis próprias foram aumentando, o direito romano deixou de regular
preponderantemente, mas passou a ser a fonte inspiradora, razão pela qual o Corpus Juris
Civilis chegou até o direito atual brasileiro.

Momento inicial: Costume (); Leis (); Direito Romano ()


Após fortalecimento do poder do Rei: Costume (); Leis(); Direito Romano ()
(manteve-se forte).

Entretanto, ainda existia o direito canônico (Igreja) que se aplicava a todos os cristãos (regia
questões como o casamento, os sacrilégios e os pecados) e tinha muito força, estando incluído
no ius commune.

O Direito no Brasil

Para entender o direito aplicado no Brasil no período colonial, precisamos entender o direito
português, pois o direito aplicado aqui era o mesmo de Portugal, diferentemente da
colonização espanhola, que possuía regramentos jurídicos específicos.

Os espanhóis partiam do pressuposto de que a vida na colônia era diferente da vida na


metrópole, dividindo, assim, suas colônias em vice-reinos.

Por seu turno, Portugal não criou ordenamentos jurídicos separados, aplicando no Brasil suas
ordenações.

Principais Ordenações.
O aumento no número de leis criou uma situação embaraçosa: Como dar publicidade a todas
elas?
Essa missão ficava no encargo dos emissários que liam as leis em voz alta no pelourinho,
local onde havia um poste que simbolizava o poder do rei.
Os populares requereram que as leis fossem compiladas em uma única obra – Ordenações,
que eram nada mais que conjuntos de leis promulgadas pelos reis portugueses.
Principais Ordenações:
 Afonsinas (1446) – primeira compilação feita em Portugal, iniciada no reinado de D.
João I e concluída após sua morte.
 Manuelinas (1513) - revisão das Ordenações Afonsinas.
 Filipinas (1613) – surgiu à época da União Ibérica e foi a ordenação que mais
perdurou no momento histórico do Brasil, mantendo-se até a Constituição de 1824,
logo após a independência do país.
Nos países protestantes as leis canônicas deixaram de ter valor. Já em Portugal e Espanha, a
Igreja reconheceu a soberania do rei.

Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho
Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 1517, na porta da Igreja do Castelo de
Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma
no catolicismo.

O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e
os reformados ou protestantes, originando o protestantismo.
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Anotações da 1ª avaliação [ Helson ]

A Companhia das Índias Orientais (Holanda) contratou o jurista Hugo Grotius (Grócio), que
teve papel fundamental para os países protestantes, na medida em que os argumentos
jurídicos elaborados por ele desvinculou-os das orientações da Igreja Católica.

Assim, até mesmo o tratado da divisão da América, firmado entre Portugal e Espanha, deixou
de ter validade nos países protestantes.
Direito Jurídico Laico - criado após o trabalho de Hugo Grotius (Grócio).

Ordenações Afonsinas

O objetivo era sistematizar e atualizar o direito vigente.


Dificuldades: reprodução manuscrita não era tarefa fácil; preparação desigual entre
magistrados e juristas que laboravam na capital e aqueles que lidavam com direito em meios
não urbanos.
As penas cominadas nas ordenações apresentavam-se desproporcionais, cruéis,
desiguais e transmissíveis.

Ordenações Manuelinas

D. Manuel ordenou que homens doutos revisassem as ordenações Afonsinas.


A evolução da impressão fez com que as dificuldades das ordenações afonsinas fossem
superadas.

Diferenças substanciais em relação às Ordenações Afonsinas

 Desaparecimento de normas aplicáveis a mouros e judeus, a exemplo da obrigação


de conversão ao catolicismo;
 Abandonado o estilo compilatório para se legislar no formato de normas novas.
 Interpretação da lei, conforme assentos da Casa de Suplicação.
 Mudanças no capítulo do direito subsidiário que durou até a Lei da Boa Razão.

Ordenações Filipinas

Embora Portugal tenha sido incorporado pela Espanha na União Ibérica, os assuntos de
Portugal eram tratados separadamente. Para tanto, foi instituída uma corte.
Livro I – estrutura dos órgãos da justiça, da administração fazendário-tributária, administração
pública em geral, Casa Militar e a Polícia.
Livro II – as relações entre o Estado Português e a Igreja (Imunidade tributária, dízimos e
outras taxas, direitos dos bispos, etc.; também algumas regras sobre o direito feudal)
Livro III – Direito Processual Civil;

Livro IV – Direito Civil – conjunto de direitos referentes a obrigações, à propriedade, à família,


a contratos, à responsabilidade civil e a sucessões.
Livro V – Direito Criminal.
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Anotações da 1ª avaliação [ Helson ]

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Ordenações Filipinas – Livro V (Direito Criminal)

 Os cinco primeiros títulos tinham por objetivo proteger os dogmas da Igreja Católica,
demonstrando clara segregação religiosa.
o Crime de heresia;
o Crime para quem não crê em Deus;
o Crime para quem benze cães e bichos sem ter autoridade;
o Crime para quem dorme com parentas;
 Não há um tratamento igualitário a todas as pessoas (pessoalidade). Há
passagens no Título III – Da Feitiçaria onde a ordenação previa que o cometimento de
um crime devia ser informado ao rei para que ele pudesse avaliar a qualidade do réu
e pudesse dar a punição com base nessa avaliação.
 Titulo VI – Lesa Magestade – Crime de traição contra o rei.
o Era tão abominável que os antigos sábios o comparavam à doença da lepra.
o Era tão condenável que afetava a toda linha da família (não poderão ser
nobres, nem ter dignidade ou qualquer cargo, nem poderão receber herança),
independentemente destes serem culpados ou não.
o Atingia inclusive o patrimônio do traidor. O terreno onde ficava a casa era
salgada para que nada se produzisse nele.
o O crime de Lesa Magestade era cheio de simbolismo e nuances.
 A linguagem utilizada era técnica discursiva (narrativa)
o O rei em muitas vezes se valia de justificativas para produzir a lei, como
se estivesse prestando esclarecimentos aos súditos sobre a criminalização do
ato.
 Outra característica é que a pena poderia afetar outras pessoas não ligadas ao
crime, como se pode observar nos crimes de Lesa Magestade.
 Vários outros títulos estabeleciam crimes como forma de proteção à Coroa Portuguesa.

Ordenações Filipinas – Livro III – Título LXIV

Qual a ordem de precedência das fontes do direito45 que deve observada na aplicação das
leis? Como serão julgados os crimes que não estão tipificados no ordenamento?

 Quando o crime se enquadrasse na lei ou um estilo


Ius Proprium
(jurisprudência) ou um costume – Ius Proprium6, o
Direito pertinente a cada povo. Formado
julgamento deveria ser realizado com base nessas fontes, pelos costumes, estilos e leis próprias.
não observando o Ius Commune.
Ius Commune
 Não se enquadrando nas fontes do Ius Proprium, haveria
Era formado pelo direito romano (corpus
duas possibilidades: se fosse matéria de casamento, iuris civilis) + direito canônico (corpus
sacrilégio ou pecado, utilizava-se o direito canônico - iuris canonici) + direito feudal
Corpus Iuris Canonici, caso contrário utilizava-se o direito
romano - Corpus Iuris Civilis, ainda que os cânones
sagrados tratassem do tema.

 Após isso, permanecendo sem solução, se recorria às glosas de Acúrsio e as opiniões


de Bártolo.
 Se ainda assim o caso não fosse resolvido, o Rei deveria ser notificado para
decidir definitivamente a questão, decisão essa que se tornaria um precedente
vinculante para os casos futuros.

3
Avaliação 2015.2 | Cite ao menos três características do Livro V das ordenações Filipinas sobre o direito criminal.
4
Avaliação 2015.2 | Quais eram as fontes do direito português de acordo com as ordenações filipinas?
5
Avaliação 2016.2 | Enumere as fontes do direito português, de acordo com as Ordenações Filipinas.
6
Avaliação 2016.2 | Em que consiste o ius proprium no Direito Medieval Europeu?
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Anotações da 1ª avaliação [ Helson ]

Precedência das fontes de direito na aplicação das leis

Conceitos utilizados:
Precedente – é a decisão judicial tomada em um caso concreto, que pode servir como
exemplo para outros julgamentos similares.

Jurisprudência – conjunto de decisões reiteradas dos tribunais, ou as súmulas de


jurisprudência, que são as orientações resultantes de um conjunto de decisões proferidas com
mesmo entendimento sobre determinada matéria.

Ordenações Filipinas – Livro I (Estrutura da Justiça)

O Título I trata do Regedor da Casa da Suplicação – mais alto tribunal da Justiça da Coroa. Os
juízes eram conhecidos como ministros e eram escolhidos entre pessoas com indiscutível
conhecimento jurídico. Eles possuíam atribuições diversas (administrativas, por exemplo), além
de serem responsáveis pelos julgamentos.
A justiça era conhecida como Justiça do Rei - Rei-Juiz ou Rex Judex, onde os juízes estavam
subordinados ao Rei, implicando que ele era soberano para modificar qualquer decisão. Os
juízes eram a mão do Rei.

Outros conceitos:

Anacronismo - enxergar com olhos novos as coisas do passado.


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Anotações da 1ª avaliação [ Helson ]

AULA 2 ● Sistema Senhorial, Municípios e Jurisdição em


Portugal e nas Colônias

Sistema senhorial

Portugal passou por um período de feudalismo um pouco diferente do restante da Europa,


conhecido como Sistema Senhorial. Apesar de haver a relação de suserano (Rei de Portugal) e
vassalos (Nobres), alguns nobres tinham o consentimento do rei de aplicar a jurisdição em
seus feudos, porém, caso o suserano considerasse que estava ocorrendo algum abuso ou
decisão que não o agradasse, o Contrato de Doação Régia permitia que o rei retirasse tanto a
jurisdição quanto o feudo do Nobre.

No Brasil, houve a reprodução desse sistema de suserania/vassalagem, mediante a divisão do


país em feudos chamados de Capitanias Hereditárias. Os donatários (vassalos) recebiam a
concessão das capitanias mediante a assinatura de dois contratos: a Carta de Foral e o
Contrato de Doação, que correspondem à bula papal praticada nos países católicos da
Europa7.

Contrato de Doação
O Contrato de Doação estabelecia o sucessor do donatário, os limites da capitania e
assim como na doação régia, a previsão de que a posse da capitania poderia ser revertida
(reversibilidade da posse), caso houvesse necessidade militar de ocupação ou ficasse
abandonada ou economicamente inviável.
 O contrato de Enfeudação/Diffidatio era o contrato entre o vassalo e o suserano que
existia em toda a Europa menos Portugal. Apenas o Papa poderia anular tal união.

Carta de Foral

Regulava os direitos e deveres da colônia com a capital. Ela estipulava os tributos a serem
coletados pelo donatário, se haveria ou não jurisdição e a possiblidade de concessão de
sesmarias (algumas sesmarias se fundiram devido a relações pessoais e se tornaram
latifúndios, contrariando a ideia inicial da coroa).

Hierarquia da justiça em Portugal nas colônias8.

 Não existia o poder judiciário, e, sim, a justiça do rei – Justiça Régia;


o Era um dever do rei a promoção da justiça entre os súditos
 O rei era a mais alta instância de uma estrutura de justiça, onde todos lhe deviam
obediência.
o Dizia-se que o rei era um rei-juiz ou rex judex.
o Detinha a prerrogativa de modificar decisões dos juízes e, ainda, julgar o quê e
quem ele bem entendesse.
 Não existia uma separação funcional entre os servidores do Estado.

7
Avaliação 2015.2 | Que formalidades jurídicas eram adotadas para conferir aos capitães / donatários o controle sobre
as capitanias?
8
Avaliação 2015.2 | A Justiça em Portugal e nas colônias era composta por várias jurisdições hierarquicamente
sobrepostas: a municipal, a senhorial e a real. Indique que magistrados exerciam estas jurisdições; os requisitos para a
ocupação destes cargos; e a atribuição de cada jurisdição.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 10
Anotações da 1ª avaliação [ Helson ]

o Os juízes se prestavam a afazeres políticos e administrativos. Eram


conhecidos por “A mão do rei”.

Níveis hierárquicos da justiça régia

o Justiça da Coroa ou Justiça Régia


o Justiça Senhorial
o Justiça Municipal
 As duas últimas existiam por uma concessão real, já que cabia
somente ao rei originalmente julgar.

Justiça Municipal

 Os municípios eram ocupações urbanas que surgiam naturalmente a partir de arraiais,


que ao se desenvolverem tornavam-se vilas, evoluindo até se tornarem cidades.

Arraial Vila Cidade

 A principal vantagem em se tornar um município era a obtenção de alguns privilégios:


o Alguns impostos eram aliviados;
o Instituição da Câmara Municipal;
o Possibilidade de instituição da Alfândega;
o Criação de uma estrutura judiciária.

 Carta de foral9 era o documento jurídico que regulamentava os direitos e


deveres que o arraial ou a vila tinha para com a coroa, de modo que pudesse se
transformar em município.
o Estabelecia os direitos e deveres / privilégios e obrigações.
o Uma vila ou arraial se tornava um município a partir da aprovação da carta de
foral.
o Adquiria o direito de ter uma Câmara Municipal, órgão mais importante para o
município, com funções diversas.
 Justiça municipal;
 Criava regras de convivência;
 Determinava medidas econômicas;
 Realizava atividades administrativas;
o Somente os homens bons podiam pleitear vagas para a assembleia.
 Tornavam-se vereadores.
 Chefes de família com situação de nobreza ou ricos – fator de
destaque social.
 Não poderiam ter sangue sujo – não ter nenhum antepassado judeu
em linha reta nas últimas três gerações.
 Os vereadores elegiam entre eles os juízes municipais – juízes
ordinários.
 Podiam ser leigos – não havia necessidade de serem
bacharéis em direito;
 Máximo de um ano no cargo;
 Julgamento de processos mais simples, de valor econômico
pouco expressivo;
 Na área criminal, os crimes de menor potencial ofensivo;
 Jurisdição restrita ao município, evidentemente;

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Avaliação 2015.2 | Em que consistiam a carta foral e a carta de doação?
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 11
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Justiça Senhorial

 Justiça doada do rei para os senhores das capitanias hereditárias.


 A maioria dos casos se encerrava nessa instância de justiça, pois o custo de se
recorrer era altíssimo.
 Justiça dos senhores feudais
o O Brasil não tinha senhores feudais, mas possuía os donatários - proprietários
das capitanias hereditárias.
o No Brasil seria a justiça dos capitães das capitanias
o O capitão era considerado um vassalo do rei.
o Carta de foral – direitos, deveres, privilégios, obrigações.
o Carta de doação
 Definia os limites geográficos das capitanias (limites da doação)
 Definia a sucessão (herdeiros)
 Doava a jurisdição (poder de julgar).
 Os juízes
o Próprio senhor (Capitão) recebe a jurisdição por meio da carta de doação.
 Não desempenhavam a função para cuidar das questões militares, por
exemplo.
o Ouvidor
 Obrigatoriamente tinha que ser bacharel em direito.
 Mandato de no máximo três anos, devendo ser substituído.
 Era muito comum essa regra ser desobedecida.
 Julgavam em três situações:
 Recurso contra decisão do juiz ordinário em 2ª instância;
 Causas de menor complexidade ocorridas fora do município -
1ª instância;
 Causas de maior complexidade ou de maior potencial
econômico – 1ª instância;

Justiça Régia

 Não era acessível em 1ª instância, salvo por iniciativa do próprio rei.


o O julgador era chamado de Ouvidor Geral.
 Em Portugal era chamado de Corregedor.
 Tarefa inviável, já que era um só homem para julgar todos os recursos,
além de acompanhar o trabalho dos ouvidores da justiça senhorial.
 Houve extinção do Ouvidor Geral, criando-se as Relações ou
Tribunais.
 Desembargadores escolhidos pelo rei.
o Bacharéis em direito.
o Cargo Vitalício.
 Relação de Porto em Portugal
 Relação de Goa no Oriente
 Relação da Bahia (Tribunal da Bahia), que julgava todos os
recursos provenientes das justiças senhoriais no Brasil.
o Ficava onde hoje está o elevador Lacerda.
o Criada em 1609.
 Relação do Rio de Janeiro
o Criada em 1752
o Houve divisão de julgamento dos recursos com a
Relação da Bahia: Rio de Janeiro (Sul); Bahia (Norte)
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 12
Anotações da 1ª avaliação [ Helson ]

Instâncias Especiais de Julgamento

 Casa de Suplicação
o Mais alto tribunal de Portugal
o Ficava acima de qualquer outra Relação (Tribunal).
o Julgava o recurso de súplica
o Composta por desembargadores escolhidos pelo rei, que se tornavam
Ministros.
 Necessariamente bacharéis em direito.

 Poder de Graça do Rei


o Em casos excepcionais as decisões proferidas pela Casa da Suplicação
poderiam ser alteradas pelo rei.
 Raríssimo.

 A novidade no Brasil foi a chegada dos Juízes de Fora10 a partir do século XVII
o Originalmente surgiram em Portugal.
o O rei começou a perceber que a câmara municipal atendia aos interesses
próprios em detrimento aos interesses do Rei.
o Funções
 Função política: Fiscalizava as decisões da câmara municipal (presidia
a câmara)
 Função jurisdicional: Substituía os juízes ordinários, em situações em
que o povo questionava as decisões absurdas dos juízes ordinários
(eram leigos).
o Requisitos
 Bacharel em direito;
 Não podiam casar com mulheres locais;
 Serviam por tempo indeterminado.
o O recurso contra uma decisão de um Juiz de Fora seguia para as Relações, já
que não cabia uma decisão de um juiz do rei ser julgada por Ouvidores, que
eram juízes vinculados aos senhores.
o A primeira cidade a receber Juízes de Fora foi Salvador.

10
Avaliação 2016.2 | Sobre os juízes de fora: a) Quais era suas atribuições no Brasil Colônia? b) Por quais motivos os
Reis criaram esse cargo, originalmente em Portugal, e, séculos depois no Brasil? Apresentar um motivo político e outro
jurídico?
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 13
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AULA 3 ● Iluminismo e Direito Português

Iluminismo
O iluminismo, também conhecido como Século das Luzes e como Ilustração foi um
movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII que procurou mobilizar o poder
da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval.

O iluminismo em Portugal causou impacto nas fontes do direito e na reforma da educação.

Capitaneado em Portugal pelo Marquês de Pombal, ministro de D. José.

O Marquês de Pombal tinha por objetivo promover um choque de gestão, mediante uma
centralização da administração das leis.

Fontes de Direito
A revolução pombalina pretendia aumentar a importância das leis da coroa, mediante a
diminuição da importância e da influência das demais fontes do direito.

“Lei da Boa Razão” (Lei de 1769)


Normas jurídicas baseadas no jusnaturalismo – direito natural do homem - que teriam
abrangência universal.
Podemos afirmar que as demais fontes de direitos deveriam manter compatibilidade
material com a Lei da Boa Razão.

Por outro lado, adotando o direito natural, não se conseguiu resolver o problema da incerteza
da aplicação da lei, já que a subjetividade acabou substituindo os problemas gerados pela
diversidade das fontes do sistema antigo.
Reforma educacional surgiu para preparar os novos bacharéis para o novo direito com
base na Lei da Boa razão.

Principais alterações da reforma educacional11:

 Mudança na grade do curso de direito da Universidade de Coimbra, que passava a


contemplar o direito português, em detrimento do direito romano, que passou a
ser apenas uma disciplina.
 Houve proibição de se utilizar as postilas – anotações de alunos antigos.
 Os livros deveriam sistematizar o conteúdo de estudo das aulas. Eram chamados de
compêndios ou manuais.
 Os livros deveriam ser carregados pelos alunos em todas as aulas – vade me cum
(vem comigo).
 Criação de disciplina sobre a História do Direito.
 Criação de disciplina sobre o Direito Natural.

11
Os livros destacam uma verdadeira batalha com os jesuítas.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 14
Anotações da 1ª avaliação [ Helson ]

Acesso à Universidade de Coimbra (antes da reforma pombalina)


 As taxas eram altíssimas, quase proibitivas (chamadas de propinas)
 Os candidatos só poderiam fazer o teste de admissão se fosse recomendado por alguém
influente (alguém de classe mais nobre).
o Era cobrado latim, retórica, matemática e outros conhecimentos clássicos.
o Eram realizados nos vestíbulos, que dá origem ao termo vestibular.
 A rotina de estudo era razoavelmente tranquila no que diz respeito à carga horária (4 ou 5
horas por dia), mas os alunos eram submetidos a cobranças diárias, semanais, mensais e de
final de disciplina, em regime muito rigoroso.
 Os exames eram realizados aos sábados e em formato oral para toda a turma, de onde surge
o termo sabatinas.
 Os estudantes que fossem reprovados nos exames semanais precisavam pagar multa aos
professores a título de indenização. Se não fossem aprovados nos exames anuais eram
sumariamente expulsos do curso.
 Os alunos tinham que possuir a cópia dos livros, mas tinham que possuir os livros de vários
professores renomados, para conhecer opiniões e argumentos diversos.

Principais alterações nas fontes de direito


Contra os costumes:

 Os juízes ordinários teriam que provar que o costume tinha mais de 100 anos. Além
disso, teria que existir compatibilidade do costume com a Lei da Boa Razão.
o Era comum que os juízes ordinários aplicassem costumes da localidade,
deixando de aplicar normas de interesse da coroa.
o Isso porque não havia prevalência entre leis, costumes e estilos.

Contra os estilos:

 Foram simplesmente proibidos.


o Não havia qualquer hipótese de aplicação.

Contra o direito canônico:

 Não houve qualquer alteração.


o O direito canônico possuía aplicação restrita que não conflitava com a reforma
proposta por Pombal.

Contra o direito romano:

 Pombal acabou com o privilégio das glosas de Accursio e da opinião de Bártolo.


o A opinião de todos os professores passou a ter o mesmo peso e só tinha
validade quando observado os limites materiais da Lei da Boa Razão.
o Para Pombal o direito romano causava mais controvérsias que benefícios, já
que foi concebido para uma época bem remota, necessitando muitas
interpretações. Por isso, havia divergências entre a aplicação.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 15
Anotações da 1ª avaliação [ Helson ]

Referências Bibliográficas ● Livros, filmes e séries

História do Direito Brasileiro – Rui de Figueiredo Marcos

O Direito na História. Lições Introdutórias – José Reinaldo de Lima Lopes

A aventura das Línguas – Hans Joachim Storig

Asterix e Obelix

Série de história em quadrinhos baseado no povo gaulês em grande parte no tempo do grande
chefe guerreiro Vercingetorix.

O Mercador de Veneza
Filme baseado na obra homônima de William Shakespeare que relata uma história passada em
Veneza no século XV de um nobre e um empréstimo de dinheiro a um judeu.
ANOTAÇÕES
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO
(Marcos Seixas)

Elaborado por Helson


DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 2
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

ÍNDICE

1 ● Período Joanino e Liberdades no antigo regime


CJC – Os livros que compõem o CJC
Liberdade no antigo regime
2 ● Constituição do Império de 1824
3 ● Particularidades do Império
Conselho de Estado
Código Criminal do Império
Código Comercial de 1850
Ato Adicional de 1834
4 ● Do Império à República
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 3
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

1 ● Período Joanino e Liberdades no antigo regime

CJC – Os livros que compõem o CJC

 Institutas
o Livro escrito por três compiladores, inclusive Triboniano.
o Simples e talvez por isso alcançou enorme difusão.
 Digesto
o Compilação de todas as opiniões dos jurisconsultos romanos até o CJC.
o O principal livro do direito romano. É a obra mais complexa e que ofereceu as
maiores dificuldades de elaboração.
 Codex (código)
o Conjunto de todas as leis de imperadores romanos até Justiniano
 Novelas
o Novas leis, aquelas efetivamente criadas por Justiniano.

Características

 Tratam os assuntos casuisticamente e não abstratamente como as normas atuais.


 Linguagem narrativa, que busca contemplar todas as hipóteses.
 Além do direito puro, havia a opinião dos professores que interpretavam o código, pois
inevitavelmente existiam as lacunas.
o Muitas divergências entre as opiniões, que propiciam uma insegurança jurídica.
 As divergências foram a razão pela qual mais à frente Marquês de
Pombal decidiu fazer a Reforma Pombalina, com reflexo nas fontes do
direito e no sistema educacional.
 Opiniões mais fidedignas ao texto (literais), outras mais liberais.

Exemplo de Código

Liberdade no antigo regime

Pessoas ingênuas x pessoas libertas

 Pessoas ingênuas
o São pessoas livres desde sempre, pois já nasceram livres.
 Nasceram do matrimônio de dois ingênuos;
 Nasceram do matrimônio de dois libertos;
 Nasceram do matrimônio de um ingênuo e um liberto;
 Nasceram de uma mãe livre, ainda que o pai tenha sido escravo.
 O status de mãe era fundamental para a definição da liberdade
dos filhos. Em alguns casos de nascimentos com pai que não
fosse livre.
 Bastava que a mãe tivesse sido livre em algum momento entre
a concepção e o nascimento para que a criança fosse livre.
 Pessoas libertas
o São pessoas que adquiriram a liberdade ao longo da vida – já foram escravos.
 Considerações acerca da liberdade
o  Libertos possuíam limitações nos seus direitos públicos.
o Libertos tinham o mesmo tratamento que ingênuos no direito privado.
o Escravos, mesmo que nascidos no Brasil, não eram considerados cidadãos.

Sobre nacionalidade na Colônia

 Portugueses que nasciam no Brasil eram considerados portugueses


DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 4
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

 Contudo, quem estava residindo no Brasil estava submetido a algumas restrições.

Limitações no período colonial

 Limitadas geograficamente ao Brasil.


o Não eram decorrentes da nacionalidade, mas sim de onde se estava residindo.
 Intelectuais
o Ex. Proibição de instalação de universidades no Brasil.
 Portugal adotava o modelo de centralização do ensino superior -
Universidade de Coimbra.
 O objetivo era controlar quem tinha acesso à faculdade para controlar
quem iria acessar cargos públicos na Coroa.
 A Espanha descentralizava, então nas Colônias havia muitas
faculdades de direito.
o Não era permitido fazer a impressão de documentos aqui no Brasil.
 A mera posse de equipamentos já era considerada crime de Lesa
Magestade – crime de traição.
 Mesmo em Portugal, havia uma censura muito forte sobre aquilo que
seria ser impresso.
 Obrigado obter as seguintes licenças.
 Licença do Santo Ofício
 Licença do representante da Coroa
 Prelado especial – nomeado em conjunto entre a Coroa e o
Santo Ofício.
 Havia um forte controle político sobre as impressões.
o Proibição de entrada de livros constantes no INDEX – Índice de livros
proibidos de entrar.
 Criação inicialmente pelo Santo Ofício, para controlar livros que
ofendiam os preceitos da religião.
 Sediciosos – aqueles que poderiam incitar movimentos de
independência entre os colonos.
 Dentre eles, Montesquieu, enciclopédias, etc.
 Industriais
o Proibição de produção de qualquer tipo de
riqueza que não fosse extrativista (animal,
vegetal ou mineral).
 Mineral (MG e Chapada Diamantina –
BA)
 As riquezas do Brasil foram responsáveis pela construção de palácios
nababescos em Portugal.
 Mosteiro dos Jerônimos.
 Comerciais
o Impedimento da livre relação comercial (importação e exportação) com
outros países que não a metrópole.
 Exceções dependiam de autorização da Coroa ou dos governadores
gerais.
 Tráfico de escravos com a África (Guiné, Angola)

Pacto Colonial

 Limitações geográficas impostas ao Brasil, no que diz respeito às relações


comerciais entre a metrópole e a colônia.
o A metrópole estava extremamente temerosa do Brasil se tornar independente.
 Dica de filme: Django Livre (Leonardo Dicáprio)
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 5
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

A vinda da Família Real – 1808

 Afastou a rejeição das pessoas que residiam no Brasil à realeza, que estava distante
na Colônia até então, e adiou, certamente, a independência do Brasil.
 As limitações foram extintas1:
o As limitações intelectuais foram extintas de imediato, com a assinatura
de uma carta pelo rei, onde é hoje a Faculdade de Medicina da Bahia no
Terreiro de Jesus em Salvador – Antiga Escola dos Jesuítas.
 Criação do ensino superior no Brasil.
 Criação da Escola Real de Guerra (RJ)
o Permissão à livre publicação no Brasil, mas submetida à censura local.
o Acabou a proibição de se imprimir no Brasil.
o Criação da Imprensa Régia
 Imprensa oficial (Diários Oficiais)
 A primeira gráfica foi criada no recôncavo baiano, perto de Cachoeira.
o Abertura dos portos para as nações amigas. À época, somente a Inglaterra,
que bancou a vinda e deu proteção à família real.
o Estímulos à produção de algumas fábricas.
 Na base do privilégio, pois a Coroa dava a autorização apenas a um
fábrica por seguimento para não haver concorrência.
 No geral, a produção era de produtos de menor qualidade, que
não tinham como concorrer com os produtos da Inglaterra.
 Investimentos em melhorias, concentrados na cidade do
O trecho que vai da Associação
Rio de Janeiro.
Comercial (Comércio) até o
o Somente após a vinda da Família Real, houve
Caminho de Areia em Salvador
preocupação da Coroa para patrocinar melhorias
foi todo aterrado.
na Colônia.
o Jardim Botânico, Biblioteca Nacional, iluminação
pública, iniciativa para saneamento público, calçadas, etc...
 Houve um aumento impressionante no crescimento da população do Rio de Janeiro.
 Consequência das mudanças:
o O direito terá que construir um conjunto de normas modernizadoras para
transformar esse novo país que surgiu após a chegada da Família Real.
o Novas regras comerciais.
o Novas regras empresariais.
o Avançar em questões Diplomáticas.
o Atualizar leis antigas
o Pensar o modelo de posse das terras.
o Pensar em um novo modelo de Justiça

1
Avaliação 2015.2 | Aponte dois aspectos das limitações às liberdades coloniais que foram
superadas no curso do período Joanino no Brasil.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 6
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

2 ● Constituição do Império de 1824

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E OBSERVAÇÕES

 Criada com dois objetivos: i) atender aos interesses de partidos políticos, de viés
normalmente liberal, que se formaram após a vinda da Família Real em 1808 e exigiam
uma descentralização, mediante a separação dos poderes e ii) manter privilégios para
o Imperador e a Família Real.

DOM PEDRO PRIMEIRO, POR GRAÇA DE DEOS, e Unanime Acclamação dos Povos, Imperador
Constitucional, e Defensor Perpetuo do Brazil : Fazemos saber a todos os Nossos Subditos, que tendo-
Nos requeridos o Povos deste Imperio, juntos em Camaras, que Nós quanto antes jurassemos e
fizessemos jurar o Projecto de Constituição, que haviamos offerecido ás suas observações para serem
depois presentes á nova Assembléa Constituinte mostrando o grande desejo, que tinham, de que elle se
observasse já como Constituição do Imperio, por lhes merecer a mais plena approvação, e delle
esperarem a sua individual, e geral felicidade Politica : Nós Jurámos o sobredito Projecto para o
observarmos e fazermos observar, como Constituição, que dora em diante fica sendo deste Imperio a
qual é do theor seguinte:

 Preâmbulo passa a ideia que a Constituição foi fruto do clamor popular, o que se configura
uma farsa, já que Pedro dissolveu a Assembleia Constituinte e OUTORGOU a Constituição
de 1824.
o Antes da Constituição de 1824, institui-se uma Assembleia Constituinte de 1823,
mas D. Pedro não gostou do resultado do projeto, razão pela qual a dissolveu e
outorgou a Constituição.

TITULO 1º
Do Imperio do Brazil, seu Territorio, Governo, Dynastia, e Religião.

Art. 1. O IMPERIO do Brazil é a associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma
Nação livre, e independente, que não admitte com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que
se opponha á sua Independencia.

 Artigo 1º tinha por objetivo consolidar juridicamente a independência do Brasil e


impedir quaisquer tentativas de interferências externas.
o Uma forma de assegurar e blindar a independência do Brasil das tentativas,
principalmente, de Portugal de retomar o modelo metrópole-colônia.
o Havia uma desconfiança por parte da população em relação a D. Pedro I, já que
ele era o príncipe herdeiro do trono de Portugal, o que suscitava conflito de
interesses e dava margens a que a situação metrópole-colônia retornasse.

Art. 2. O seu territorio é dividido em Provincias na fórma em que actualmente se acha, as


quaes poderão ser subdivididas, como pedir o bem do Estado.

Art. 3. O seu Governo é Monarchico Hereditario, Constitucional, e Representativo.

 O Artigo 3º trata da forma de governo: monárquico, hereditário, constitucional e


representativo.
o Monarquia hereditária que passa de pai para filho “varão” mais velho.
 Monarquias eletivas são raras, a exemplo da monarquia dos visigodos.
o Monarquia constitucional implica que o soberano está sujeito a limites, que são as
regras instituídas por esta constituição.
 Diz-se que é o oposto da monarquia absolutista.
 Atende aos anseios dos liberais.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 7
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

o Monarquia representativa, na medida em que o povo se faz representar por meio


de órgãos políticos que possuem poderes políticos.
 Assembleia Geral: Câmara dos Deputados e de Senado Federal.
 O soberano não tinha absolutamente nenhum poder de legislar
 Nenhum instrumento que se assemelhasse a uma Medida
Provisória dos tempos atuais.
 No entanto, existia a previsão da sanção das leis pelo
Imperador (art. 13).
o O Poder Moderador estava longe de ser um superpoder.
 Prerrogativas bem limitadas dentro do contexto da monarquia brasileira

Art. 4. A Dynastia Imperante é a do Senhor Dom Pedro I actual Imperador, e Defensor Perpetuo do Brazil.

 Estabelece qual família manterá a dinastia no Brasil.


 Previa a instalação da Regência no Brasil até que o príncipe se tornasse adulto.
 No caso de morte de toda a Família Real, a Assembleia Geral elegeria uma nova família
para governar o Brasil.

Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as outras
Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem
fórma alguma exterior do Templo.

 Inovou ao permitir o convívio entre a religião católica (oficial) e outras religiões e cultos.
o Possibilitou a liberdade de escolha da religião ou, até, de não ter uma religião.
 Manteve a religião católica como religião oficial no Brasil.
 A liberdade religiosa era mitigada e bem limitada23
o Aspecto “Manifestação Religiosa”
 Para as demais religiões, havia restrições com respeito à sua prática
ostensiva. Deveria ser contida, com culto doméstico ou particular dentro de
casas próprias e sem nenhuma identificação externa (sem ostentar
símbolos como minarete, estrela de Davi, fitinhas do Candomblé).
 Não se confundia com liberdade de manifestação religiosa, pois não
havia permissão para sair às ruas vestindo, muito menos procedendo a
rituais ou pregando a religião (sem exteriorização).
o Aspecto “Político”
 Proibição de assumir determinados cargos no Estado, a exemplo de se
tornarem deputados ou senadores, pois, para tanto, obrigatoriamente
deveriam praticar a religião oficial – a Católica.
 Havia proibição até mesmo para se tornarem Eleitores de Província,
cidadãos que poderiam votar nos representantes da Assembleia Geral.
o Proibição socialmente seletiva
 Com os Ingleses era tolerável.
 Em Salvador, havia a Catedral Anglicana, localizada próximo à ladeira que
hoje dá acesso ao Vale do Canela (Britany Anchor).

2
Avaliação 2015.2 | Aponte duas limitações à liberdade religiosa na Constituição de 1824, uma
relacionada aos direitos políticos e outra à liberdade de manifestação religiosa.
3
Avaliação 2015.1 | Aponte duas limitações à liberdade religiosa na Constituição de 1824.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 8
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

TITULO 2º
Dos Cidadãos Brazileiros.

Art. 6. São Cidadãos Brazileiros


I. Os que no Brazil tiverem nascido, quer sejam ingenuos, ou libertos, ainda que o pai seja
estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua Nação.

 Cria a nacionalidade brasileira, que não existia até


então. Critérios de definição da nacionalidade.
o Quem nascia no Brasil possuía a nacionalidade Jus sanguinis
portuguesa até a CF1824.  Direito de sangue hereditário.
Direito territorial
 Critérios de nacionalidade  Comumente em países que foram
o Jus sanguinis colônias, havendo uma distinção
 Direito de sangue hereditário. muito grande entre as pessoas que
 A nacionalidade é herdada com o viviam no país.
sangue dos antepassados.
 Ex. Itália
o Direito territorial
 Critério utilizado era o territorial.
 Decorre do local de nascimento.
 Em países que foram ex-colônias, a exemplo do Brasil, E.U.A e Austrália,
onde existiram muitas migrações, com matriz demográfica de várias
origens, nunca se adota o critério jus sanguinis, mas é possível adotar os
dois critérios.
 Desde 1824, o Brasil mantém os dois critérios.
 Territorial – “Os que no Brazil tiverem nascido” (art. 6º, inciso I)
 Jus sanguinis – art. 6º, incisos II e III
 Pelo inciso I, pessoas livres (ingênuos ou libertos), nascidos no Brasil, poderiam
assumir a nacionalidade brasileira, desde que o pai não fosse estrangeiro residindo no
país a serviço de sua Nação.
o Escravos, mesmo que nascidos no Brasil, não eram considerados cidadãos
brasileiros.
 O escravo em alguns aspectos nem gente era considerado.
 Mas para outros aspectos, como o direito criminal, o escravo era
considerado gente para que pudesse ser julgado.

Art. 6. São Cidadãos Brazileiros

II. Os filhos de pai Brazileiro, e Os illegitimos de mãi Brazileira, nascidos em paiz estrangeiro, que
vierem estabelecer domicilio no Imperio.

 Exemplo de tratamento desigual entre gêneros, pois frisa com o termo “ilegítimo”
quando se refere a filhos de mães brasileiras.

Art. 6. São Cidadãos Brazileiros

III. Os filhos de pai Brazileiro, que estivesse em paiz estrangeiro em sorviço do Imperio, embora
elles não venham estabelecer domicilio no Brazil.

 Apenas leu o inciso, mas não adicionou nenhum comentário importante.


DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 9
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

Art. 6. São Cidadãos Brazileiros

IV. Todos os nascidos em Portugal, e suas Possessões, que sendo já residentes no Brazil na
época, em que se proclamou a Independencia nas Provincias, onde habitavam, adheriram á esta
expressa, ou tacitamente pela continuação da sua residencia.

 Todos os que lutaram pelo Brasil e que já residiam aqui no momento da


independência terão direito a se naturalizar brasileiros.
 Quem lutou contra a independência não poderá se naturalizar brasileiro.

Resumo da Cidadania Brasileira

 Nascidos livres no Brasil, desde que os pais não fossem estrangeiros a serviço aqui.
 Filhos de brasileiros nascidos no exterior, desde que os pais estivessem a serviço lá.
 Filhos de brasileiros nascidos no exterior, desde que estabelecessem residência no
Brasil.
 Nascidos em Portugal ou Possessões, que residiam no Brasil à época da
independência e que tenham aderido expressamente ou tacitamente pela
continuação da residência no Brasil
 Atenção às hipóteses de naturalidade citadas nos comentários do art. 6º, IV.

TITULO 3º
Dos Poderes, e Representação Nacional.

Art. 9. A Divisão, e harmonia dos Poderes Politicos é o principio conservador dos Direitos
dos Cidadãos, e o mais seguro meio de fazer effectivas as garantias, que a Constituição
offerece.

 Atende aos anseios dos liberais.

Art. 10. Os Poderes Politicos reconhecidos pela Constituição do Imperio do Brazil são quatro: o
Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo, e o Poder Judicial.

 O Poder Moderador não foi uma inovação da Constituição de 1824.


o Benjamin Constant (Suíço) pensou em um Poder Real, exercido pela Realeza, que
teria por objetivo equilibrar as disputas entre os demais poderes (harmonizar).
 Serve para intervir nos demais poderes em casos expressos. São nove hipóteses.
o Legislativo (5); Judiciário (3); Executivo (1) – Art. 101

Art. 11. Os Representantes da Nação Brazileira são o Imperador, e a Assembléa Geral.

Art. 12. Todos estes Poderes no Imperio do Brazil são delegações da Nação.

 Pela primeira vez não só o Rei era detentor do poder absoluto.


o Suprime-se a ideia de que o poder do imperador vem de Deus.
o A Assembleia Geral também detinha poderes de representatividade.
 Combinado com o art. 12, estabelecia que o poder político era emanado pela Nação.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 10
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

TITULO 4º
Do Poder Legistativo.

CAPITULO I.

Do: Ramos do Poder Legislativo, e suas attribuições

Art. 13. O Poder Legislativo é delegado á Assembléa Geral com a Sancção do Imperador.

 A única participação política do Imperador no processo de criação das leis se dava


pela sanção.
 A sanção significa a confirmação do projeto de lei já aprovado pela Assembleia Geral.
o Pode vetar total ou parcialmente um projeto de lei.

Art. 14. A Assembléa Geral compõe-se de duas Camaras: Camara de Deputados, e


Camara de Senadores, ou Senado.

 Já comentado.

Art. 15. E' da attribuição da Assembléa Geral

VIII. Fazer Leis, interpretal-as, suspendel-as, e rovogal-as.

  A legislação, a interpretação, a suspensão e a revogação das leis deveriam ficar


4
ao encargo do legislador
o A interpretação das leis foi herdada da França. Decorre da escola exegese.
o Os juízes não poderiam interpretar a lei.
 Juízes autômatos, que apenas aplicavam a lei.
o Na prática, a Assembleia não interpretava nada. Houve espécie de delegação.
 Legislação – Utilizar-se da lei, de modo mais subjetivo, discutindo e interpretando-a.
 Jurisdição – Aplicação da lei, de modo objetivo.

CAPITULO II

Da Camara dos Deputados.

Art. 35. A Camara dos Deputados é electiva, e temporaria.

 Os membros da Câmara dos Deputados tinham mandato fixo de 4 anos, a despeito dos
membros do Senado que tinham vitaliciedade no cargo (art. 40).
o No Senado, os membros eram mais conservadores, muito provavelmente por não
terem pressa para fazer as reformas ou novas leis.
o Na Câmara, havia mais dinâmica, tendo em vista que o mandato era curto.

4
Avaliação 2015.1 | Q.2.a | A quem competia, nos termos da Constituição de 1824 a
interpretação das leis no Direito Imperial Brasileiro?
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 11
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

CAPITULO III.

Do Senado.

Art. 40. 0 Senado é composto de Membros vitalicios, e será organizado por eleição Provincial.

 Comentou

Art. 45. Para ser Senador requer-se

Obs.: Disse que não quer o decoreba (idade mínima, números, etc...). Apenas os fatores de
exclusão do processo político). Pulou para art. 90 e depois voltou para cá.

IMPORTANTE: Quem estava excluído do processo de votação?

 Escravos
o Não eram considerados cidadãos brasileiros (art. 6º, inciso I);
 Libertos
o Embora considerados cidadãos brasileiros (art. 6º, inciso I), não possuíam direitos
políticos plenos;
 Criminosos
 Estrangeiros
o Não eram cidadãos brasileiros;
o Os naturalizados podiam participar das eleições;
 Não católicos
o Limitação de direitos políticos (art. 5º);
 Quem não era patter família
o Mulheres;
o Filhos, pois somente o homem mais velho que concentrava a renda da família era
o patter família;
o Havia exceções
 Bacharéis formados, casados, oficiais militares;
 Pessoas sem condições financeiras;
o Exigência de rendimento mínimo anual a depender da fase da eleição e do cargo a
que se pretendia ser eleito.

I. Que seja Cidadão Brazileiro, e que esteja no gozo dos seus Direitos Politicos.

II. Que tenha de idade quarenta annos para cima.

III. Que seja pessoa de saber, capacidade, e virtudes, com preferencia os que tivirem feito
serviços á Patria.

IV. Que tenha de rendimento annual por bens, industria, commercio, ou Empregos, a
somma de oitocentos mil réis.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 12
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

CAPITULO VI.

Das Eleições.

Art. 90. As nomeações dos Deputados, e Senadores para a Assembléa Geral, e dos
Membros dos Conselhos Geraes das Provincias, serão feitas por Eleições indirectas,
elegendo a massa dos Cidadãos activos em Assembléas Parochiaes os Eleitores de Provincia,
e estes os Representantes da Nação, e Provincia.

 Eleições indiretas.
o O Povo (Massa dos Cidadãos Ativos) votava nos Eleitores de Província.
o Os Eleitores de Província é que votavam nos Deputados e Senadores, bem
como nos membros dos Conselhos Gerais das Províncias.
 Curiosidade
 Estavam ligados às Assembleias Paroquias, porque eram elas que
controlavam o registro de nascimento e os óbitos. Não havia título de
eleitor. Por isso, havia essa ligação com as Paróquias.

Art. 91. Têm voto nestas Eleições primarias

I. Os Cidadãos Brazileiros, que estão no gozo de seus direitos politicos.

o A Massa dos Cidadãos Ativos participava das Assembleias Paroquiais, também


conhecidas como Eleições Primárias.
 Evidente aqueles que tinham direito a voto.
 Patter famílias – o homem mais velho que concentra a riqueza,
bens, etc... e algumas exceções.
 Necessário possuir ao menos 100 mil réis.

II. Os Estrangeiros naturalisados.

Art. 92. São excluidos de votar nas Assembléas Parochiaes.

I. Os menores de vinte e cinco annos, nos quaes se não comprehendem os casados, e


Officiaes Militares, que forem maiores de vinte e um annos, os Bachares Formados, e Clerigos
de Ordens Sacras.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 13
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

II. Os filhos familias, que estiverem na companhia de seus pais, salvo se servirem
Officios publicos.

III. Os criados de servir, em cuja classe não entram os Guardalivros, e primeiros caixeiros
das casas de commercio, os Criados da Casa Imperial, que não forem de galão branco, e os
administradores das fazendas ruraes, e fabricas.

IV. Os Religiosos, e quaesquer, que vivam em Communidade claustral.

 V. Os que não tiverem de renda liquida annual cem mil réis por bens de raiz,
industria, commercio, ou Empregos.

Art. 93. Os que não podem votar nas Assembléas Primarias de Parochia, não podem ser
Membros, nem votar na nomeação de alguma Autoridade electiva Nacional, ou local.

Art. 94. Podem ser Eleitores, e votar na eleição dos Deputados, Senadores, e Membros
dos Conselhos de Provincia todos, os que podem votar na Assembléa Parochial. Exceptuam-
se

I. Os que não tiverem de renda liquida annual duzentos mil réis por bens de raiz, industria,
commercio, ou emprego.

II. Os Libertos.

III. Os criminosos pronunciados em queréla, ou devassa.

 Ações criminais
o Querela - contra uma única pessoa
o Devassa - Contra várias pessoas

Art. 95. Todos os que podem ser Eleitores, abeis para serem nomeados Deputados.
Exceptuam-se

I. Os que não tiverem quatrocentos mil réis de renda liquida, na fórma dos Arts. 92 e 94.

II. Os Estrangeiros naturalisados.

III. Os que não professarem a Religião do Estado.

Art. 96. Os Cidadãos Brazileiros em qualquer parte, que existam, são elegiveis em cada
Districto Eleitoral para Deputados, ou Senadores, ainda quando ahi não sejam nascidos,
residentes ou domiciliados.

Art. 97. Uma Lei regulamentar marcará o modo pratico das Eleições, e o numero dos
Deputados relativamente á população do Imperio.

Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organisação Politica, e é delegado


privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante,
para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independencia, equilibrio, e harmonia
dos mais Poderes Politicos.

 Manutenção da independência do país e harmonização dos demais poderes.


 Nota: Algumas observações sobre o poder moderador estão no art. 10
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 14
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

Art. 99. A Pessoa do Imperador é inviolavel, e Sagrada: Elle não está sujeito a
responsabilidade alguma.

 The king can do no wrong – pressupõe que nenhuma atitude do rei era errada.

Art. 100. Os seus Titulos são "Imperador Constitucional, e Defensor Perpetuo do Brazil" e
tem o Tratamento de Magestade Imperial.

Art. 101. O Imperador exerce o Poder Moderador

I. Nomeando os Senadores, na fórma do Art. 43.


o Interfere no poder legislativo.
o Além das eleições era necessário haver essa chancela pelo imperador.

II. Convocando a Assembléa Geral extraordinariamente nos intervallos das Sessões,


quando assim o pede o bem do Imperio.
o Interfere no poder legislativo.

III. Sanccionando os Decretos, e Resoluções da Assembléa Geral, para que tenham


força de Lei: Art. 62.
o Interfere no poder legislativo
o Prerrogativa que se mantém atualmente e compete aos chefes de executivo.

IV. Approvando, e suspendendo interinamente as Resoluções dos Conselhos


Provinciaes: Arts. 86, e 87. (Vide Lei de 12.10.1832)
o Interfere no legislativo

V. Prorogando, ou adiando a Assembléa Geral, e dissolvendo a Camara dos


Deputados, nos casos, em que o exigir a salvação do Estado; convocando
immediatamente outra, que a substitua.
o Interfere no legislativo

VI. Nomeando, e demittindo livremente os Ministros de Estado.


o Interfere no executivo.
o Deu origem ao parlamentarismo às avessas.
 Porque sempre dependia da aprovação do imperador, além de que ele
podia dissolver a Câmara.

VII. Suspendendo os Magistrados nos casos do Art. 154.


o Interfere no judiciário
o O art. 154 trata da suspensão de magistrados por abuso.
o O poder moderador não podia demitir os juízes, sequer modificar o teor das
decisões.
 A demissão de magistrados só ocorria por deliberação da própria justiça.

VIII. Perdoando, e moderando as penas impostas e os Réos condemnados por


Sentença.
o Interfere no Judiciário.

IX. Concedendo Amnistia em caso urgente, e que assim aconselhem a humanidade,


e bem do Estado.
o Interfere no Judiciário
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 15
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

CAPITULO II.

Do Poder Executivo.

Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de
Estado.

São suas principaes attribuições

I. Convocar a nova Assembléa Geral ordinaria no dia tres de Junho do terceiro anno da
Legislatura existente.

II. Nomear Bispos, e prover os Beneficios Ecclesiasticos.

o Aparelhamento da estrutura da igreja com a estrutura estatal, ao transformar o


clero em funcionários do Estado.
 Deixaram de responder ao papa para responder ao imperador.
 Por outro lado, eram concedidos benefícios eclesiásticos.
o O imperador tinha pretensões de controlar a igreja católica, em uma afronta direta
à própria Entidade a que prestigiaram atribuindo constitucionalmente a religião
oficial.
 Querela das Investiduras – guerras entre um imperador e o Sacro Império
Romano.
o Confusão das atribuições das funções religiosas com as funções estatais.
 Controle de nascimentos e óbitos.

III. Nomear Magistrados.

o Não existia a função do concurso público. Todos os servidores eram nomeados por
indicação política.
 No início só existiam a Faculdade de Direito de Olinda e de São Paulo.
 Curioso que para as faculdades havia concurso público.
o Muitos magistrados optavam posteriormente pela política.

IV. Prover os mais Empregos Civis, e Politicos.

o Não havia concurso público. Era na base da indicação.


o O servidor tomava posse (temporária) do cargo.
 Anteriormente, os cargos passavam a integrar o patrimônio do servidor que
o recebeu, mesmo que por indicação.
 A doação do cargo público se configurava uma espécie de doação
de bem ou patrimônio.
 Os filhos recebiam os cargos por herança.

V. Nomear os Commandantes da Força de Terra, e Mar, e removel-os, quando assim o


pedir o Serviço da Nação.

VI. Nomear Embaixadores, e mais Agentes Diplomaticos, e Commerciaes.

VII. Dirigir as Negociações Politicas com as Nações estrangeiras.

VIII. Fazer Tratados de Alliança offensiva, e defensiva, de Subsidio, e Commercio,


levando-os depois de concluidos ao conhecimento da Assembléa Geral, quando o interesse, e
segurança do Estado permittirem. Se os Tratados concluidos em tempo de paz envolverem
cessão, ou troca de Torritorio do Imperio, ou de Possessões, a que o Imperio tenha direito, não
serão ratificados, sem terem sido approvados pela Assembléa Geral.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 16
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

IX. Declarar a guerra, e fazer a paz, participando á Assembléa as communicações, que


forem compativeis com os interesses, e segurança do Estado.

X. Conceder Cartas de Naturalisação na fórma da Lei.

XI. Conceder Titulos, Honras, Ordens Militares, e Distincções em recompensa de serviços


feitos ao Estado; dependendo as Mercês pecuniarias da approvação da Assembléa, quando
não estiverem já designadas, e taxadas por Lei.

XII. Expedir os Decretos, Instrucções, e Regulamentos adequados á boa execução das


Leis.

XIII. Decretar a applicação dos rendimentos destinados pela Assembléa aos varios ramos
da publica Administração.

XIV. Conceder, ou negar o Beneplacito aos Decretos dos Concilios, e Letras Apostolicas,
e quaesquer outras Constituições Ecclesiasticas que se não oppozerem á Constituição; e
precedendo approvação da Assembléa, se contiverem disposição geral.

o Beneplácito – espécie de autorização dado pelo executivo para que uma


regra canônica passasse a ter validade no Brasil.
o Com base nessa regra passou a existir dois direitos canônicos:
 O direito canônico original
 O direito canônico autorizado pelo Beneplácito, que deu origem à disciplina
DEB – Direito Eclesiástico Brasileiro.

XV. Prover a tudo, que fôr concernente á segurança interna, e externa do Estado, na
fórma da Constituição.

Art. 103. 0 Imperador antes do ser acclamado prestará nas mãos do Presidente do
Senado, reunidas as duas Camaras, o seguinte Juramento - Juro manter a Religião Catholica
Apostolica Romana, a integridade, e indivisibilidade do Imperio; observar, e fazer observar a
Constituição Politica da Nação Brazileira, e mais Leis do Imperio, e prover ao bem geral do
Brazil, quanto em mim couber.

Art. 104. O Imperador não poderá sahir do Imperio do Brazil, sem o consentimento da
Assembléa Geral; e se o fizer, se entenderá, que abdicou a Corôa.

TITULO 6º

Do Poder Judicial.

CAPITULO UNICO.

Dos Juizes, e Tribunaes de Justiça.

Art. 151. O Poder Judicial independente, e será composto de Juizes, e Jurados, os quaes
terão logar assim no Civel, como no Crime nos casos, e pelo modo, que os Codigos
determinarem.

 É independente porque as decisões dos juízes não podiam ser revistas por nenhum
outro poder.
 O jurado (civil e criminal) é uma inspiração do direito inglês e foi absorvida pela CF1824
com o fim de modernizar o direito. Entretanto o júri civil não se consolidou no período
imperial.
o Aplicava-se a qualquer crime.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 17
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

 Hoje só existe o júri nas causas criminais que envolvem o direito à vida.
 Homicídio, latrocínio, etc.
o O júri não atingiu o objetivo a que se propunha originalmente.
 O propósito era permitir que crimes fossem julgados por um júri composto
por pares do réu.
o Nos E.U.A ainda existe o júri civil.
 Os magistrados eram indicados pelo poder executivo.

Art. 152. Os Jurados pronunciam sobre o facto, e os Juizes applicam a Lei.

 Como não era um corpo técnico, o jurado só se manifestava em relação ao fato, nunca na
matéria de direito, que ficava ao encargo do juiz.
 Em sua maioria os crimes eram cometidos por escravos e libertos que viviam à margem da
sociedade (crimes de furto, por exemplo).
o Não havia paridade na composição do júri.
 A composição do jurado deveria ser pelos pares desses réus. Mas isso não
ocorria, porque escravos sequer tinham direito a documentação.
o O júri era formado por classes superiores que já prejulgavam o réu.
 Totalmente contrário à ideia original da formação de um júri.
 Aqui o júri era composto por “inimigos” dos réus.

Art. 153. Os Juizes de Direito serão perpetuos, o que todavia se não entende, que não
possam ser mudados de uns para outros Logares pelo tempo, e maneira, que a Lei determinar.

 Havia vitaliciedade, mas a administração poderia transferir de uma comarca para outra.

Art. 154. O Imperador poderá suspendel-os por queixas contra elles feitas, precedendo
audiencia dos mesmos Juizes, informação necessaria, e ouvido o Conselho de Estado. Os
papeis, que lhes são concernentes, serão remettidos á Relação do respectivo Districto, para
proceder na fórma da Lei.

Art. 155. Só por Sentença poderão estes Juizes perder o Logar.

 Os juízes só poderiam ser demitidos por sentença.


 Mas o Poder Moderador poderia aplicar suspensão, nas hipóteses do art. 154

Art. 156. Todos os Juizes de Direito, e os Officiaes de Justiça são responsaveis pelos
abusos de poder, e prevaricações, que commetterem no exercicio de seus Empregos; esta
responsabilidade se fará effectiva por Lei regulamentar.

Art. 157. Por suborno, peita, peculato, e concussão haverá contra elles acção popular, que
poderá ser intentada dentro de anno, e dia pelo proprio queixoso, ou por qualquer do Povo,
guardada a ordem do Processo estabelecida na Lei.

Art. 158. Para julgar as Causas em segunda, e ultima instancia haverá nas
Provincias do Imperio as Relações, que forem necessarias para commodidade dos
Povos.

 As relações se constituíam em segunda e última instância.


 Contrapor com o art. 163, que previa o Supremo Tribunal de Justiça, que existia na Capital,
mas não se constituía em um tribunal de vértice (não podia julgar)

Art. 159. Nas Causas crimes a Inquirição das Testemunhas, e todos os mais actos do
Processo, depois da pronuncia, serão publicos desde já.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 18
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

Art. 160. Nas civeis, e nas penaes civilmente intentadas, poderão as Partes nomear
Juizes Arbitros. Suas Sentenças serão executadas sem recurso, se assim o convencionarem
as mesmas Partes.

Art. 161. Sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, não se
começará Processo algum.

Art. 162. Para este fim haverá juizes de Paz, os quaes serão electivos pelo mesmo tempo,
e maneira, por que se elegem os Vereadores das Camaras. Suas attribuições, e Districtos
serão regulados por Lei.

Art. 163. Na Capital do Imperio, além da Relação, que deve existir, assim como nas
demais Provincias, haverá tambem um Tribunal com a denominação de - Supremo
Tribunal de Justiça - composto de Juizes Letrados, tirados das Relações por suas
antiguidades; e serão condecorados com o Titulo do Conselho. Na primeira organisação
poderão ser empregados neste Tribunal os Ministros daquelles, que se houverem de
abolir.

 O Supremo Tribunal de Justiça era um tribunal de cassação, com função de


garantir que as decisões das relações não fossem equivocadas5.
o Recurso de Revista – interposto contra as decisões das Relações
 Se houvesse a cassação, o processo era encaminhado para outra Relação, já que o
Supremo Tribunal de Justiça não era tribunal de vértice, que implica que não podia julgar.
 Hipóteses:
o Injustiça notória – erro na aplicação na norma jurídica.
 Deveria demonstrar que houve um erro crasso na aplicação da norma.
 Ex. Processo baseado no crime de furto, mas na hora de aplicar a pena o
juiz aplica a pena do crime de roubo.
o Nulidade manifesta – erro procedimental tão grave que ensejaria a revisão de
todo o processo.

Art. 164. A este Tribunal Compete:

 Seguir na próxima:

I. Conceder, ou denegar Revistas nas Causas, e pela maneira, que a Lei determinar.

II. Conhecer dos delictos, e erros do Officio, que commetterem os seus Ministros, os das
Relações, os Empregados no Corpo Diplomatico, e os Presidentes das Provincias.

III. Conhecer, e decidir sobre os conflictos de jurisdição, e competencia das Relações


Provinciaes.

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem
por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do
Imperio, pela maneira seguinte.

 Artigo muito importante no nosso direito, por abranger muitos direitos em seu bojo.
 Uma espécie de carta de direitos, por ter sido o primeiro elencar um rol de direitos – Bill of
Rights
o Muitos desses direitos serão repetidos nas constituições subsequentes,
configurando-se uma fonte de direito.
o Titularizado por Ingênuos e Libertos. Somente escravos estavam fora da
possibilidade dos direitos aqui elencados.

5
Avaliação 2015.1 | Indique qual é a atribuição do Supremo Tribunal de Justiça no julgamento
dos recursos de revista.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 19
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

I. Nenhum Cidadão póde ser obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma cousa, senão
em virtude da Lei.

o Redação originária do princípio da legalidade. Atualmente no art. 5º, II da CF88.

II. Nenhuma Lei será estabelecida sem utilidade publica.

III. A sua disposição não terá effeito retroactivo.

o Princípio da Irretroatividade

IV. Todos podem communicar os seus pensamentos, por palavras, escriptos, e publical-os
pela Imprensa, sem dependencia de censura; com tanto que hajam de responder pelos
abusos, que commetterem no exercicio deste Direito, nos casos, e pela fórma, que a Lei
determinar.

 Formalmente excluiu do direito brasileiro a censura


o Criando a regra de responsabilidade pessoal pelo que se publica (ofensa, etc.)
o No período Joanino, permitiu-se a livre publicação, mas submetida à censura.

V. Ninguem póde ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do
Estado, e não offenda a Moral Publica.

 Na prática, apenas a religião católica não tinha restrições.

VI. Qualquer póde conservar-se, ou sahir do Imperio, como Ihe convenha, levando
comsigo os seus bens, guardados os Regulamentos policiaes, e salvo o prejuizo de terceiro.

VII. Todo o Cidadão tem em sua casa um asylo inviolavel. De noite não se poderá entrar
nella, senão por seu consentimento, ou para o defender de incendio, ou inundação; e de dia só
será franqueada a sua entrada nos casos, e pela maneira, que a Lei determinar.

 Inviolabilidade da casa. Muito parecido como é hoje.

VIII. Ninguem poderá ser preso sem culpa formada, excepto nos casos declarados na Lei;
e nestes dentro de vinte e quatro horas contadas da entrada na prisão, sendo em Cidades,
Villas, ou outras Povoações proximas aos logares da residencia do Juiz; e nos logares remotos
dentro de um prazo razoavel, que a Lei marcará, attenta a extensão do territorio, o Juiz por
uma Nota, por elle assignada, fará constar ao Réo o motivo da prisão, os nomes do seu
accusador, e os das testermunhas, havendo-as.

IX. Ainda com culpa formada, ninguem será conduzido á prisão, ou nella conservado
estando já preso, se prestar fiança idonea, nos casos, que a Lei a admitte: e em geral nos
crimes, que não tiverem maior pena, do que a de seis mezes de prisão, ou desterro para fóra
da Comarca, poderá o Réo livrar-se solto.

X. A' excepção de flagrante delicto, a prisão não póde ser executada, senão por ordem
escripta da Autoridade legitima. Se esta fôr arbitraria, o Juiz, que a deu, e quem a tiver
requerido serão punidos com as penas, que a Lei determinar.

O que fica disposto acerca da prisão antes de culpa formada, não comprehende as
Ordenanças Militares, estabelecidas como necessarias á disciplina, e recrutamento do
Exercito; nem os casos, que não são puramente criminaes, e em que a Lei determina todavia a
prisão de alguma pessoa, por desobedecer aos mandados da justiça, ou não cumprir alguma
obrigação dentro do determinado prazo.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 20
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

XI. Ninguem será sentenciado, senão pela Autoridade competente, por virtude de Lei
anterior, e na fórma por ella prescripta.

 Comentários dos incisos VIII a XI


o Garantias para o processo penal.
o Colocam alguns limites para a atuação do Estado. Antes era possível prender sem
critério algum.

XII. Será mantida a independencia do Poder Judicial. Nenhuma Autoridade poderá avocar
as Causas pendentes, sustal-as, ou fazer reviver os Processos findos.

XIII. A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, o recompensará em
proporção dos merecimentos de cada um.

XIV. Todo o cidadão pode ser admittido aos Cargos Publicos Civis, Politicos, ou Militares,
sem outra differença, que não seja dos seus talentos, e virtudes.

XV. Ninguem será exempto de contribuir pera as despezas do Estado em proporção dos
seus haveres.

XVI. Ficam abolidos todos os Privilegios, que não forem essencial, e inteiramente ligados
aos Cargos, por utilidade publica.

XVII. A' excepção das Causas, que por sua natureza pertencem a Juizos particulares, na
conformidade das Leis, não haverá Foro privilegiado, nem Commissões especiaes nas Causas
civeis, ou crimes.

XVIII. Organizar–se-ha quanto antes um Codigo Civil, e Criminal, fundado nas solidas
bases da Justiça, e Equidade.

 Determina que a assembleia geral crie o quanto antes o código civil e o código penal.
o O objetivo era atualizar os dispositivos que vinham das Ordenações Filipinas.
o Mesmo assim o Código Civil só veio a ser publicado na República, em 1916.

XIX. Desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais
penas crueis.

 As penas cruéis eram uma característica do Livro V das Ordenações Filipinas.

XX. Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente. Por tanto não haverá em caso
algum confiscação de bens, nem a infamia do Réo se transmittirá aos parentes em qualquer
gráo, que seja.

 Somente aqueles que cometeram os crimes vão sofrer as consequências, diferentemente


do Livro V que fazia as consequências se estenderem aos familiares.

XXI. As Cadêas serão seguras, limpas, o bem arejadas, havendo diversas casas para
separação dos Réos, conforme suas circumstancias, e natureza dos seus crimes.

 Pura ficção.

XXII. E'garantido o Direito de Propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem publico


legalmente verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade do Cidadão, será elle
préviamente indemnisado do valor della. A Lei marcará os casos, em que terá logar esta unica
excepção, e dará as regras para se determinar a indemnisação.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 21
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

 Regra importante que assegurava o direito de propriedade.


 Polêmica porque estava relacionada ao tema da escravidão.
 Foi o cerne das discussões públicas acerca do fim da escravidão.
 Por meio da desapropriação, o Estado pode tomar a propriedade, mediante indenização
prévia.

XXIII. Tambem fica garantida a Divida Publica.

XXIV. Nenhum genero de trabalho, de cultura, industria, ou commercio póde ser prohibido,
uma vez que não se opponha aos costumes publicos, á segurança, e saude dos Cidadãos.

XXV. Ficam abolidas as Corporações de Officios, seus Juizes, Escrivães, e Mestres.

XXVI. Os inventores terão a propriedade das suas descobertas, ou das suas producções.
A Lei lhes assegurará um privilegio exclusivo temporario, ou lhes remunerará em resarcimento
da perda, que hajam de soffrer pela vulgarisação.

XXVII. O Segredo das Cartas é inviolavel. A Administração do Correio fica rigorosamente


responsavel por qualquer infracção deste Artigo.

XXVIII. Ficam garantidas as recompensas conferidas pelos serviços feitos ao Estado, quer
Civis, quer Militares; assim como o direito adquirido a ellas na fórma das Leis.

XXIX. Os Empregados Publicos são strictamente responsaveis pelos abusos, e omissões


praticadas no exercicio das suas funcções, e por não fazerem effectivamente responsaveis aos
seus subalternos.

XXX.. Todo o Cidadão poderá apresentar por escripto ao Poder Legislativo, e ao


Executivo reclamações, queixas, ou petições, e até expôr qualquer infracção da Constituição,
requerendo perante a competente Auctoridade a effectiva responsabilidade dos infractores.

XXXI. A Constituição tambem garante os soccorros publicos.

XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos.

XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das Sciencias,


Bellas Letras, e Artes.

XXXIV. Os Poderes Constitucionaes não podem suspender a Constituição, no que diz


respeito aos direitos individuaes, salvo nos casos, e circumstancias especificadas no
paragrapho seguinte.

XXXV. Nos casos de rebellião, ou invasão de inimigos, pedindo a segurança do Estado,


que se dispensem por tempo determinado algumas das formalidades, que garantem a
liberdede individual, poder-se-ha fazer por acto especial do Poder Legislativo. Não se achando
porém a esse tempo reunida a Assembléa, e correndo a Patria perigo imminente, poderá o
Governo exercer esta mesma providencia, como medida provisoria, e indispensavel,
suspendendo-a immediatamente que cesse a necessidade urgente, que a motivou; devendo
num, e outro caso remetter á Assembléa, logo que reunida fôr, uma relação motivada das
prisões, e d'outras medidas de prevenção tomadas; e quaesquer Autoridades, que tiverem
mandado proceder a ellas, serão responsaveis pelos abusos, que tiverem praticado a esse
respeito. (Vide Lei nº 16, de 1834)
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 22
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

3 ● Particularidades do Império

Conselho de Estado6

 Instituição composta por notáveis


o Pessoas públicas, tais como ex-ministros do Supremo Tribunal de Justiça, ex-
deputados, ex-senadores, etc.
 Órgão de aconselhamento do imperador, tanto no exercício do poder
executivo, quanto do poder moderador.
 Possuía três atribuições.
o Aconselhamento do Imperador na utilização do poder moderador.
 O Imperador não era obrigado a seguir, mas era obrigado a ouvir.
o Atuar no processo de interpretação das leis.
 O poder legislativo, na figura da Assembleia Geral7 era competente
constitucionalmente para interpretar as leis.
 Como a Assembleia Geral não cumpria seu dever de interpretar a lei,
então aos poucos o executivo foi assumindo esse papel.

 Funcionamento do processo de interpretação das leis pelo


Conselho de Estado8:
 Dúvidas eram encaminhadas pelos consulentes ao Ministério
da Justiça, que fazia parte do Poder Executivo.
 O Ministério da Justiça encaminhava ao Conselho de Estado.
 O Conselho de Estado, então, produzia um parecer, que era
uma proposta de interpretação da lei.
 Após isso, o parecer era encaminhado ao Imperador (Sua
Magestade Imperial - S.M.I)
 O Imperador avaliava a proposta:
o Aceitando, a proposta se tornava uma interpretação
oficial.
 A interpretação oficial era devolvida ao
Ministério da Justiça
 O Ministério da Justiça AVISAVA aos
consulentes, que se tornavam vinculados à
interpretação.
o Não aceitando, a proposta era devolvida ao Conselho
de Estado para ajustes.

6
Avaliação 2015.2 | Apresente duas funções do Conselho de Estado durante o período do
Império.
7
Avaliação 2015.1 | Q.2.a | A quem competia, nos termos da Constituição de 1824 a
interpretação das leis no Direito Imperial Brasileiro?
8
Avaliação 2015.1 | Q.2.b | Que órgão de fato era responsável por interpretar as dúvidas de
compreensão das leis, e qual era o seu procedimento? Qual era a importância desse
procedimento para a segurança jurídica?
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 23
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

 O problema era que várias autoridades públicas faziam consultas


similares, sobrecarregando e inviabilizando o processo.
 Os AVISOS tornaram-se parte de uma COLEÇÃO DE LEIS
DO IMPÉRIO, documento anual, com a completa lista das leis
e avisos do ano, que se afiguravam a uma jurisprudência.
o Atuar no Contencioso Administrativo
 Até o Século XIX, a justiça só podia resolver as questões
COMUTATIVAS – entre particulares.
 Os Conflitos que envolviam o Estado (em face de particulares ou de
entes públicos) deveriam ser julgados pelo Conselho de Estado.
 Influência direta do Direito francês.
 O Direito americano permitiu que hoje esses conflitos
pudessem seguir para o judiciário (somente com a República).

Código Criminal do Império

 Seis anos depois da Constituição foi publicado o Código Criminal, que se tornou um
exemplo para muitos países, inclusive Espanha e outros países da Europa.
 Diverge bastante em relação ao livro V das Ordenações Filipinas.
 Características modernizadoras:
o Linguagem bastante objetiva (direta, racional).
 Livro V era subjetivo, narrativo.
 Linguagem semelhante ao Código Penal atual.
o As leis são gerais, alcançando a todos, ao menos formalmente.
 Não havia tratamento diferenciado.
 Livro V o rei tinha conhecimento antes para decidir e definir a punição.
 De toda sorte havia tipificação para crimes cometidos por classes
específicas.
 Crimes cometidos por escravos.
 Crime de Insurreição.
o Art. 113 – reunião de vinte ou mais escravos que
buscassem a liberdade por meio da força.
o A punição era muito mais pesada para os líderes –
pena de morte.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 24
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

o  Continuava a existir a pena de morte.


 Incluía hipóteses para cidadãos, além de escravos.
 Somente pela forca.
 Contou a história da Fera de Macabu
 Serial Killer na cidade de Macabu – estupro e assassinato.
 As autoridades policiais apontaram a pessoa errada – Manoel
Motta Coqueiro.
o Foi condenado à forca. Reafirmou que era inocente e
perdoou os homens, pois sabia que a lei dos homens
era falha.
o Descoberto o equívoco, Pedro passou a COMUTAR
todas as penas de morte contra pessoas livres (Crise
de consciência)
o Existência de bipartição normativa no Código Criminal
 Novidade implantada pela primeira vez no Código Criminal de 1832
 Parte Geral
 Regras que se combinam com as regras da parte especial
para impor sanções.
 Ex. Regras sobre tentativa.
o Combinam-se a qualquer tipo de crime.
 Ex. Arrependimento eficaz
o O autor comete o crime e, imediatamente após, tenta
desfazer os efeitos do crime.
 Parte Especial
 Estão elencados os crimes e suas respectivas penas
o Homicídio, furto, roubo, moeda falsa, etc.
o Habeas Corpus
 Remédio constitucional de formato livre (informal) que consiste
em um pedido ao juiz para que examine suposta violação de
direitos.
 Qualquer pessoa pode fazer um habeas corpus em nome de qualquer
pessoa.
 Não é necessário sequer conhecimento técnico para formalizá-lo.
 Caso do preso de Salvador que escreveu seu próprio habeas
corpus em um lençol e arremessou pela janela.
o Devassa e querela
 Abolição dos Processos Penais Inquisitoriais com o Código de
Processo Criminal de 1832.
 Querela
 Conduta criminosa individualizada
 Devassa
 Conduta criminosa coletiva
 Inconfidência Mineira, Conjura Baiana
o Processo Inquisitorial
 A pessoa que acusa e que julga são a mesma pessoa
 Índice de condenação altíssimo
 O Ouvidor
o Processo Acusatorial.
 Nosso processo de acusação moderno
 Distingue a pessoa que acusa (promotor) da pessoa que julga (juiz).
 Criou a figura do promotor.

Código Comercial de 1850

 Lei mais antiga que permanece vigente.


DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 25
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

 Novidades trazidas pelo Código Comercial


o Atos de Comércio
 O que chamamos hoje de Direito Empresarial
 Parte revogada pelo Código Civil de 2002.
 Unificação do Direito Civil e o Direito Empresarial – ou
unificação do Direito Privado.
o Direito Marítimo
 Principal meio de transporte, em período que o mundo alavancava os
negócios transnacionais.
 Permitiu que os negócios e as iniciativas empresariais saíssem do papel,
desenvolvendo o país, por meio de obras de infraestrutura, etc.
o Regulava os bancos, os créditos.
 Regulamento nº 737/1850
o Dependente do Código Comercial, pois regulamentava o Código Comercial
o Criou regras processuais para dirimir os conflitos entre comerciantes
o Aplicadas pelos juízes do comércio nos Tribunais do Comércio.
 Lei de Terras (1850)
o Não vinculado ao Código Comercial.
o Importante para modernizar os registros fundiários do país
 Havia insegurança jurídica em relação aos proprietários das terras.
 Alguns falam que foi a primeira reforma agrária do Brasil.
Questionável.
 A última norma que regulava era a antiga lei das sesmarias.
o Regulamentar as normas que tratam do registro das propriedades de
terras.

Ato Adicional de 1834

 Acordo político entre os liberais e os conservadores para emendar as regras da


Constituição que não eram consideradas materialmente constitucionais.
o O objetivo era atingir a governabilidade
 Conservador: Medida centralizadora do poder. Ex. De regência trina
para regência una.
 Liberal: Descentralização. Ex. Criação das assembleias legislativas
das províncias para deliberar sobre questões locais.
o Em regra, as Constituições não devem ser alteradas facilmente. Por isso,
regulamentam como elas próprias serão emendadas.
 A Constituição de 1824 não previa a possibilidade de emendas, mas
ainda assim ela não era rígida.
 Previa que nem todas as regras que estavam na Constituição eram
regras materialmente constitucionais.
 Algumas normas tinham hierarquia de leis.
 Só eram regras materialmente constitucionais aquelas que tratavam de:
o Eleições e Direitos políticos
o Poder Legislativo, Poder Judiciário, Poder Moderador e Poder Executivo.
o Direitos Individuais dos cidadãos
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 26
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

4 ● Do Império à República

Contexto histórico brasileiro

 Instabilidade geral do cenário político do Império.


o Partidos conservadores e liberais não conseguiam encontrar uma agenda
comum que ajudasse ao país a sair da péssima situação política em que se
encontrava.
 Houve repercussão imediata na ordem econômica
 O fim da escravidão em 1888, desestabilizou de vez a ordem econômica e social,
culminando na ruptura.
 Daí inicia-se a transição do Império para a República, em um movimento contínuo, mas
lento.
o Ressalte-se que não foi algo da noite para o dia. Havia lideranças engajadas
na proclamação da República há anos.
 Há uma discussão acerca do nome dado ao momento em que houve a proclamação da
República: Golpe ou Revolução?
o Apesar do golpe ter uma conotação mais negativa e a revolução ter uma
conotação mais positiva, essencialmente significam a mesma coisa: ruptura
total da Instituição, rasgar a constituição, dissolver o Estado.
 Interessante é que a Constituição do Império (1824), a mais duradoura até hoje, foi a
que propiciou o período de maior tranquilidade política para o Brasil.
o No período republicano, o país viveu frequentes rupturas, razão pela qual as
constituições foram bem mais curtas, havendo muitas alternâncias de poder,
inclusive, por meio de golpes seguidos.
 Dentre os entusiastas da Proclamação da República, existiam muitos idealistas que
queriam acabar com os privilégios do Imperador, que pretendiam instalar uma
democracia, baseada, principalmente, em ideais da democracia norte-americana.
o O Brasil deixou de se inspirar na França e passou a se inspirar nos E.U.A.
Por que os E.U.A chamavam atenção dos revolucionários?

 Os E.U.A eram um país continental, assim como o Brasil, e foi uma ex-colônia de um
país europeu considerado uma potência mundial, assim como o Brasil.
 Entretanto, os E.U.A se consolidaram como uma potência regional, diferentemente do
Brasil.
 Chamava atenção dos entusiastas republicanos brasileiros, a participação mais ampla
do povo norte-americano nas eleições, que caracterizava um modelo muito mais
democrático, e que deveria ser seguido no nosso país.
 E assim o foi. Tanto é que o nome dado à nossa primeira república pela Constituição
de 1891 foi “República Federativa dos Estados Unidos do Brazil”, com a letra “Z” no
lugar de “S”, já que ela foi concebida à imagem e semelhança dos E.U.A.
 Entre os principais revolucionários estava o baiano Rui Barbosa, um dos maiores
juristas brasileiros, profundo conhecedor do direito dos E.U.A.
 Rui Barbosa morou um tempo nos E.U.A. Quando retornou ao Brasil, se engajou no
movimento da proclamação da República e ficou incumbido de redigir a Constituição de
1891.
 Curiosidade: Na Fundação Casa de Rui Barbosa há o manuscrito do primeiro rascunho
da Constituição de 1891 com a caligrafia dele, com anotações, rabiscos e tudo mais.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 27
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

Dez influências do direito americano na Constituição Republicana do Brasil de 1891

1. Supremacia da Constituição

Desde a Constituição Imperial, as normas constitucionais já eram consideradas


normas jurídicas. Entretanto, somente na Constituição de 1891 é que se consolida a
ideia de supremacia. Essa ideia transcende à mera observação obrigatória de suas
normas. A Constituição passou a ser hierarquicamente superior a qualquer outra
norma do sistema jurídico. Toda norma, a partir de então, teria que ser
obrigatoriamente compatível com a Constituição.

2. Controle de Constitucionalidade

É uma prerrogativa que os magistrados possuem de avaliar se as normas (leis)


são compatíveis com a Constituição, pois as leis não podem violar a Constituição, caso
em que serão consideradas inconstitucionais.

O controle da validade das normas se dá de duas formas:


Controle concentrado abstrato de constitucionalidade

A Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIN tem por finalidade controlar a


constitucionalidade das leis, cujo julgamento é prerrogativa exclusiva do STF.
Controle difuso incidental de constitucionalidade

Pode ser feito por qualquer juiz. Nessas situações, a lei só é afastada no caso
concreto.

A forma difusa incidental de controle de constitucionalidade surgiu por


influência do direito americano. Lá é chamada de Judition Review of legislation ou
Revisão judicial da lei.

Já o Controle Concentrado Abstrato de Constitucionalidade inicialmente não


existia na Constituição da República, sendo incorporado duas ou três décadas depois
por influência do direito austríaco, principalmente na pessoa de Hans Kelsen.
3. Interpretação as leis
No Império as leis não podiam ser interpretadas pelos juízes, pois a própria
constituição previa que era prerrogativa do legislativo. Se bem que, na prática, o
Conselho de Estado é que passou a fazer durante bom tempo.
Por influência do direito americano, a interpretação das leis passou a ser de
competência dos juízes. Eles passaram a ser os intérpretes por excelência das leis.
Isso significa que o Supremo Tribunal Federal passou a ter a última palavra, no
que tange à interpretação das leis.

4. Desaparecimento do Conselho de Estado


No fim do império, o poder judiciário não podia julgar qualquer ação. Apenas
podia julgar conflitos que envolvessem exclusivamente particulares, sendo conhecida
como Justiça COMUTATIVA. As questões que envolviam o Estado eram julgadas pelo
Conselho de Estado.
Com a República e a influência do direito americano, surge o princípio da
Inafastabilidade da Jurisdição, que dispõe que o Poder Judiciário sempre poderá
analisar lesão ou ameaça de lesão de direito.
5. Federalismo
Causou a descentralização política e econômica, além do desenvolvimento
regional.
6. Presidencialismo e Freios e Contrapesos
Houve a implantação do presidencialismo (inspirado nos E.U.A) e do Sistema
de Freios e Contrapesos, onde os três poderes se restringem mutualmente.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 28
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

Cada poder interfere de certa forma no outro poder, gerando a extinção do


Poder Moderador.
7. Justiça Federal e o Processo Federal
Foram criadas as justiças especiais (jurisdições) federais, estaduais, dando a
competência para legislar sobre os processos, onde cada estado passa a ter
seu próprio Código Processual.
8. Separação da Igreja / Estado Laico
Na República, o Estado passou a não ter mais religião oficial e todas as
restrições legais que envolviam religião foram abolidas.
9. Funções civis
Tornou-se permitido o casamento civil. O Estado absorveu todas as funções
civis da Igreja, como o registro, alistamento eleitoral e o casamento.
10. Supremo Tribunal Federal
Substituiu o Supremo Tribunal de Justiça, passando a ser o órgão de mais alta
hierarquia, dando a última palavra. Julgava os casos extraordinários e
contribuiu para a criação da jurisprudência.

Resumo sobre a evolução do direito brasileiro

O direito brasileiro não brotou de uma semente nacional. Ele é decorrente da


influência de direitos internacionais, principalmente do legado obtido do direito português
(oriundo do direito romano), do francês (revolução iluminista) e Americano (que provém do
direito inglês).
O direito brasileiro se transformou com o advento da República, abandonando
características luso-romanas e francesas, substituindo-as por caracteres do direito americano
(federação, presidencialismo, controle de inconstitucionalidade, STF, impeachment, recurso
extraordinário, mandado de segurança, etc.).
De toda sorte, o nosso direito ainda mantém características do direito romano,
português, francês, inglês, americano.
Civil Law x Common Law

Sistema jurídico é o próprio direito do país. Por seu turno, a Tradição jurídica é
um conceito mais amplo, pois busca as raízes do direito, que unem vários Sistemas jurídicos.
O Civil Law é de raiz romano-germânica, que prioriza a legislação em
detrimento da jurisprudência. Já o Commom Law é de raiz anglo-saxônica, que prioriza a
jurisprudência e os costumes quando comparado com a legislação.
O direito do Brasil normalmente é considerado como pertencente ao Civil Law,
mas há correntes que creem que deveria se enquadrar como uma tradição jurídica autônoma,
que mistura caracteres do Civil Law e do Commom Law.
O professor não concorda com esse posicionamento, acreditando que nosso
direito deveria ser mesmo classificado com Civil Law, apresentando características primordiais
que justificam essa tese:
 Raciocínio jurídico
 Faculdade de direito com características pombalinas (alunos que estudam
por manuais, livros; Provas abstratas)
o No Commom Law o funcionamento é totalmente diferente.
DIR107 – HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO 29
Anotações da 2ª avaliação [ Helson ]

Períodos de Exceção do direito republicano

(copiado de um resumo do passeidireto.com.br)

 Momentos de forte repressão política e de manutenção do status quo

ESTADO NOVO

 Ditadura populista, culto ao líder, nacionalismo. Foi um período de necessidade


de atualização do ordenamento jurídico brasileiro, sendo um período de intensa
 legislação, com regras que aumentaram o poder do Estado, e a criação de novos
códigos.
 O Código Penal de 1940 substituiu o de 1890, a CLT foi responsável pela criação
do salário mínimo, do 13º e da criação da Justiça do Trabalho, havendo também
os Decretos de Intervenção do Estado na propriedade privada ( servidão
administrativa, ocupação temporária, desapropriação, etc).
 No Estado Novo houve o aumento do poder da polícia e a dissolução do Congresso
Nacional, onde Vargas governava por decreto-lei, criando leis na época, em vez de
apenas regulamentá-las. O poder legislativo estava acumulado na mão do presidente.
 Em 1937 foi outorgada e entrou em vigor a Constituição do Estado Novo, que
vigorou até 1946, onde a criação de 1946 marcou o fim do Estado Novo , a
reabertura do Congresso, fim da censura, volta de um Poder Legislativo atuante e
presente e a redemocratização.
DITADURA MILITAR (1964-1985)

 Marcada pela repressão física, no período da Guerra Fria, houve o Golpe de 1964
que tinha o intuito de garantir que o Brasil continuasse sendo uma “nação
capitalista” e combatesse a “ameaça comunista”.
 Foi outorgada a Constituição de 1967, além dos Atos Institucionais (posteriores à
Constituição de 67), que modificavam a Constituição mesmo não sendo emendas. As
medidas eram impostas à população, sem o devido processo legal, sem os projetos
passarem pelo Congresso.
 Baseado na Doutrina de Segurança Nacional (EUA) / Macarthismo / “Caça as
Bruxas e Comunistas), o Brasil criou o Sistema Nacional de Informações – SNI, atual
ABIN, que monitora assuntos de Estado e auxilia o presidente. Focava em espionar
inimigos e “subversivos”, na maioria das vezes estudantes, professores comunistas,
operando dentro das faculdades, escolas e sindicatos.

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