Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EQUIPE EDITORIAL
Roberto Parreira. Jayme Frejat e Magda Maciel
Montenegro.
Projeto da coleção: Afonso Henriques Neto.
Eudoro Augusto Macieira e Vera Bernardes.
Preparação de texto e legendas: Afonso Henriques
Neto.
Projeto gráfico: Sulamita Danowski e Vera Bernardes.
Produção gráfica: Sérgio de Garcia.
LYGIACLARK
O " objeto relacional " não tem especificidade em si. Como 8 .. escritora. veio à minha casa muito
seu próprio nome indica é na relação estabelecida com a fan- cansada. Começou por pegar na ··almo-
fada leve-pesada·· (2) colocando-a
tasia do sujeito que ele se define. O mesmo objeto pode ex- sobre a perna . senti ndo-a como um
pressar significados diferentes para diferentes sujeitos ou bicho quente e vivo amoldado sobre
seu joelho. Pegou as " almofadas leves"
para um mesmo sujeito em diferentes momentos. Ele é alvo (3) , pr ession o u -as com as mãos e .
da carga afetiva agressiva e passional do sujeito, na med ida passando-as sobre seu corpo, teve uma
sensação de euforia como se as boli-
em que o sujeito lhe empresta significado, perdendo a condi- nhas fossem células vivas pululando
ção de simples objeto para, impregnado, ser vivido como por todo seu corpo. Ao sair de minha
parte viva do sujeito. A sensação corpórea propiciada pelo casa, teve a sensação de que faz ia
parte de um todo harmonioso e ao
objeto é o ponto de partida para a produção fantasmática. O mesmo tempo sentia sua individual i-
"objeto relacional " tem especificidades físicas. Formalmente dade. Parecia-lhe que poderia ter uma
comunicação sem barrei ras com qual-
ele não tem analogia com o corpo (não é ilustrativo), mas cria quer pessoa. As bolinhas a massagea-
com ele relações através de textura, peso, tamanho, tempera- vam por dentro de seu corpo como se
outras pessoas a apalpassem . A sensa-
tura, sonoridade e movimento (deslocamento do material di- ção de bem-estar e de euforia prolon-
versificado que os preenche): gou-se por uma semana.
V., analista, passou sobre seu co"rpo o
" Ele cria formas cujas texturas e metamorfoses contínuas en- ·"grande colchão" (4), sentindo-se ime-
gendram ritmos corolários aos ritmos sensuais que experi- diatamente relaxado. Ao terminar disse:
" Meu corpo é uma massa densa e to-
mentamos na vida" (1). No momento em que o sujeito o ma- ,tal". Depois l)lanipulou as " almofadas
nipula, criando relações de cheios e vaz ios, através .de mas- pesadas" (5) que lhe deram uma sensa-
ção muito desagradável: peso, cercea-
sas que fluem num processo incessante, a identidade com mento, bloqueio, comprometimento de
seu núcleo psicótico desencadeia-se na identidade proces- liberdade. Precisou utilizando o termo
" aranhação" (mãe aranha) , localizando
sual do plasmar-se. Citarei curiosos exemplos de pessoas a percepção no registro pré-natal : per-
amigas que vivenciaram os " objetos relacionais" . manecera no ventre da mãe 1O meses.
Há dois anos venho fazendo experiência de uti- acting-out pelo sujeito que o manipula: ele vi-
lização dos " objetos relacionais" para fins tera- vencia no concreto suas tendências agressivas
pêuticos. No início utilizava-os aplicando o mé- ou amorosas em relação ao objeto. Por exem-
todo de Sapir pelo qual passara em Paris: rela- plo: ao destruir o " objeto relacional " no ac-
xação baseada em indução verbal; uma sessão ting-out , o sujeito percebe que, mesmo des-
por semana. Pouco a pouco abandonei a indu- truindo , o mediador está presente para negar
ção passando a utilizar unicamente meus mate- esta destruição. O oposto se dá, o sujeito pode
riais, aumentando o número de sessões para destruir o " objeto internalizado" mediador,
três por semana com duração de uma hora. O mantendo nas mãos o "objeto relacional " como
processo se torna terapêutico pela regularidade garantia de que não perdeu substãncia vital.
das sessões, que possibilita a elaboração pro- Através disto o sujeito capta a medida do real,
gressiva da fantasmática provocada pelas po- focando a destruição como pertencente ao
tencialidades dos " objetos relacionais" . Ao ma- mundo de sua fantasia. Simultaneamente pois o
nipular o " objeto relacional " o sujeito vive uma objeto descostura (descompensa) e costura
linguagem pré-verbal. O " objeto relacional" toca (compensa). O processo parte do núcleo psicó-
diretamente o núcleo psicótico do sujeito, con- tico para a periferia criando a membrana num
tribuindo para a formação do ego, este digerido, arremate final. Os textos que se seguem
metabolizado e transformado em equação sim- referem-se à prática terapêutica com os "obje-
bólica (6). O "objeto relacional" se torna alvo de tos relacionais" .