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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

MEDICINA VETERINÁRIA
CURITIBA – PARANÁ - BRASIL

ISSN 1517-784X

ARCHIVES OF VETERINARY SCIENCE

Arch. Vet. Sci., v. 18 Suplemento2 p.1-753 2013


Curitiba

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Comissão Organizadora do II CONGRESSO
BRASILEIRO DE PATOLOGIA VETERINÁRIA/ XVI
ENCONTRO NACIONAL DE PATOLOGIA VETERINÁRIA
(ENAPAVE) realizado de 14 a 18 de Outubro de 2013.

PRESIDENTE:

Aline de Marco Viott – UFPR Setor Palotina

COMISSÃO ORGANIZADORA:

Renée Laufer Amorim – Presidente da ABPV/ FMVZ-Unesp

Renato Lima Santos – Diretor Cientifico da ABPV/UFMG

Antonio Waldir Cunha da Silva – UFPR SCA

Raimundo Alberto Tostes – UFPR Setor Palotina

Renato Silva de Sousa – UFPR SCA

Aline Souza Sornas – UFPR SCA

REALIZAÇÃO
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Associação
Brasileira de Patologia Veterinária (ABPV).

2
EDITORIAL
No ano de 2013 o periódico Archives of Veterinary Science – AVS cumpriu, mais uma
vez, com o seu objetivo de divulgação da ciência, proporcionando a publicação
eletrônica dos trabalhos apresentados no XVI Encontro Nacional de Patologia
Veterinária (ENAPAVE), Curitiba-Paraná. Neste ano, o AVS atuou como um facilitador
da difusão dos conhecimentos sumarizados nos trabalhos científicos submetidos ao
XVI ENAPAVE. A comissão científica não economizou esforços para que os resumos
aqui apresentados representassem uma fração significativa dos resultados de
pesquisas em medicina veterinária. Assim, os resumos serão indexados em bases de
dados científicos e, com a certeza de contribuir positivamente para o progresso da
patologia veterinária. A todos que contribuíram para o sucesso do evento
apresentamos nossos sinceros agradecimentos. Informamos, adicionalmente, que o
AVS esta à disposição para submissão ―on line‖ de artigos inéditos. Sucesso a todos!

Prof. Antônio Waldir Cunha da Silva


Editor Chefe do Archives of Veterinary Science

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMOs , 2013

ÍNDICE ARTIGOS
ANIMAIS DE GRANDE PORTE E PRODUÇÃO 023. EURITREMATOSE EM BOVINOS DE LEITE E
001. ABSCESSO CEREBRAL POR CORTE NO SUDOESTE E OESTE DO PARANÁ .. 71
CORYNEBACTERIUM PSEUDOTUBERCULOSIS 024. EXPRESSÃO DE α-SMA EM CÉLULAS
EM UM CAPRINO .................................................. 11 ESTRELADAS HEPÁTICAS NA AVALIAÇÃO DA
002. ACHADOS CLÍNICOS E PATOLÓGICOS DE SEVERIDADE DA FIBROSE EM FÍGADOS COM
ESTREPTOCOCOSE EM SUÍNOS ........................ 14 FASCIOLOSE ......................................................... 74
003. ACHADOS MACROSCÓPICOS EM ORGÃOS 025. FIBROSE PULMONAR MULTINODULAR EM
DE CABRAS ACIDENTALMETNE INTOXICADAS UM EQUINO NO SUL DO BRASIL ......................... 77
COM TRICLORFON ............................................... 16 026. FREQUÊNCIA DE DOENÇAS
004. AMORPHUS GLOBOSUS NA ESPÉCIE RESPIRATÓRIAS SUÍNAS DIAGNOSTICADAS NA
BOVINA .................................................................. 19 ROTINA DO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA
VETERINÁRIA DA ESCOLA DE VETERINÁRIA DA
005. ASPECTOS CLÍNICOS E PATOLÓGICOS DE UFMG ..................................................................... 79
UM SURTO DE SALMONELOSE EM BEZERROS 21
027. FREQUÊNCIA DE ENTEROPATÓGENOS
006. ASPECTOS PATOLÓGICOS DA DIAGNOSTICADOS EM AMOSTRAS DE SUÍNOS
VASCULATURA VESICAL NA HEMATÚRIA SUBMETIDAS AO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA
ENZOÓTICA BOVINA ............................................ 23 ANIMAL DA ESCOLA DE VETERINÁRIA DA UFMG
007. AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA E ................................................................................ 82
MACROSCÓPICA DO ESTÔMAGO DE EQUINOS 028. GLOMERULONEFRITE
DESTINADOS AO ABATE...................................... 26 MEMBRANOPROLIFERATIVA ESCLEROSANTE
008. BIOMETRIA MICROSCÓPICA DA MUCOSA EM SUÍNO .............................................................. 85
VESICAL DE ANIMAIS COM HEMATÚRIA 029. HEMATÚRIA ENZOÓTICA EM BOVINOS NA
ENZOÓTICA BOVINA ............................................ 29 REGIÃO AMAZÔNICA DE MATO GROSSO .......... 87
009.BÓCIO HIPERPLÁSICO DIFUSO EM CAPRINO 030. HIPERTROFIA MUSCULAR DE ESÔFAGO
RECÉM-NASCIDO – RELATO DE CASO .............. 32 ASSOCIADA A MEGAESÔFAGO E PNEUMONIA
010. CARCINOMA ADRENOCORTICAL EM UM GANGRENOSA EM EQUINO. RELATO DE CASO 90
CAVALO CRIOULO ................................................ 34 031. INDIGESTÃO VAGAL ASSOCIADA À
011. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS TIMPANISMO RECIDIVANTE CRÔNICO POR
VULVAR METASTÁTICO EM UMA ÉGUA: INGESTÃO DE Trifolium repens EM UM BOVINO . 93
ASPECTOS CLÍNICOS, ANATOMOPATOLÓGICOS 032. INFESTAÇÃO POR ÁCARO DE SACO AÉREO
E IMUNO-HISTOQUÍMICOS .................................. 37 (Cytodites nudus) EM GALINHAS DE
012. CENUROSE CEREBRAL EM BOVINO .......... 40 SUBSISTÊNCIA – RELATO DE CASO .................. 96
013. COLANGIOCARCINOMA COM METÁSTASE 033. INTOXICAÇÃO ESPONTÂNEA POR
PULMONAR EM UMA VACA HOLANDESA .......... 42 NITRATO/NITRITO EM OVINOS ............................ 98
014. COMPROVAÇÃO DA INFECTIVIDADE DE 034. INTOXICAÇÃO POR CHUMBO EM BOVINOS
Toxoplasma gondii NO SÊMEN DE CARNEIRO EM SANTA CATARINA ......................................... 101
PELA BIOPROVA E HISTOPATOLOGIA ............... 45 035. LESÕES CAUSADAS PELA INGESTÃO DE
015. DETECÇÃO DE Mycoplasma bovis POR Brachiaria spp. EM FÍGADOS BOVINOS
IMUNO-HISTOQUÍMICA NO TECIDO PULMONAR CONDENADOS POR FASCIOLOSE: ESTUDO
DE BOVINOS CONFINADOS. PRIMEIROS CASOS RETROSPECTIVO ............................................... 104
DE PNEUMONIA MICOPLÁSMICA NA ARGENTINA 036. LESÕES HISTOPATOLÓGICAS DE
................................................................................ 48 ESTRESSE HÍDRICO 1 E ALIMENTAR EM
016. DOENÇAS NEUROLÓGICAS DE EQUINOS DO BOVINOS DESTINADOS AO ABATE DE
DISTRITO FEDERAL E GOIÁS (2003-2013) ......... 51 EMERGÊNCIA ...................................................... 107
017. EIMERIOSE EM CODORNAS (COTURNIX 037. LESÕES PLACENTÁRIAS ASSOCIADAS AO
JAPONICA): RELATO DE CASO ........................... 54 Neospora caninum EM CABRAS NATURALMENTE
INFECTADAS ....................................................... 110
018. ENCARCERAMENTO INTESTINAL NO
FORAME DE WINSLOWEM EQUINO ................... 57 038. LEUCOSE ESPORÁDICA JUVENIL BOVINA –
RELATO DE CASO ............................................... 113
019. ENDOCARDITE MURAL ESQUERDA
ASSOCIADA À RETÍCULO PERICARDITE 039. LEUCOSE ESPORÁDICA JUVENIL EM
TRAUMÁTICA EM BOVINO ................................... 59 BEZERRO – RELATO DE CASO ......................... 115
020. ENTEROPATIA PROLIFERATIVA EM EQUINO 040. MALFORMAÇÃO CONGÊNITA DO SISTEMA
................................................................................ 62 NERVOSO CENTRAL ASSOCIADA AO VÍRUS DA
DIARREIA VIRAL BOVINA ................................... 118
021. EPENDIMOMA EM MUAR ............................. 65
041. MANEJO INADEQUADO PROVOCA MIELITE
022. ESTUDO RETROSPECTIVO DAS DOENÇAS
SUPURATIVA PÓS-CAUDECTOMIA EM OVINOS
HEPÁTICAS DE BOVINOS NA68 PROVÍNCIA DE .............................................................................. 121
SANTA FE, ARGENTINA EM 2011 Y 2012 ............ 68

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMOs , 2013

042. METRITE PUERPERAL POR Staphylococcus NERVOSO CENTRAL DE UMA NOVILHA


aureus EM BOVINO ASSOCIADO À ABSCESSOS HOLANDESA ........................................................ 185
DISSEMINADOS – RELATO DE CASO ............... 124
068. URETROLITÍASE OBSTRUTIVA EM EQUINO
043. MICROFTALMIA BILATERAL EM UM POTRO - .............................................................................. 188
RELATO DE CASO .............................................. 126
PATOLOGIA EXPERIMENTAL E COMPARADA
044. MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQUINA 069. ACHADOS HISTOPATOLOGICOS E
POR Sarcocystis neurona..................................... 129 HISTOQUIMICOS EM CEBERELO DE COBAIAS
045. MORFOLOGIA DO TECIDO LAMINAR DO EXPERIMENTALMENTE INTOXICADOS PELO
CASCO DE CAVALOS COM CÓLICA ................. 132 Astrágalos pehuenches ......................................... 190

046. NECROSE HEPÁTICA AGUDA NA 070. ALTERAÇÃO PROTEICA DE MMP9 E SEU


INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL POR Senna INIBIDOR TIMP1 RELACIONADA COM
obtusifolia EM BOVINOS ...................................... 135 PROGRESSÃO TUMORAL DA PRÓSTATA CANINA
.............................................................................. 193
047. NEOPLASIAS DE ADRENAL EM BOVINOS
ABATIDOS EM FRIGORÍFICO EM MATO GROSSO: 071. ALTERAÇÕES GENÔMICAS DE PTEN-MDM2-
25 CASOS ............................................................ 137 TP53 ESTÃO ASSOCIADAS COM O PROCESSO
CARCINOGÊNICO DA PRÓSTATA CANINA ....... 196
048. NEOPLASIAS HEPATOBILIARES EM
BOVINOS: 11 CASOS .......................................... 139 072. ALTERAÇÕES MORFOLOGICAS EM
EXPLANTES INTESTINAIS SUÍNOS EXPOSTOS À
049. Neospora caninum NO SISTEMA NERVOSO FUMONISINA E DESOXINIVALENOL .................. 199
CENTRAL DE CAPRINOS MACHOS JOVENS E
ADULTOS ............................................................. 141 073. ANEXINA A1: PERSPECTIVAS DE UM NOVO
BIOMARCADOR EM NEOPLASIA MAMÁRIA DE
050. OCORRÊNCIA DO PARASITISMO POR CADELA ................................................................ 202
OESTRUS OVIS (DIPTERA: OSTRIDAE) EM
OVINOS DA MICRORREGIÃO DE UMUARAMA-PR, 074. AUMENTO DA EXPRESSÃO DE
BRASIL ................................................................. 143 CICLOOXIGENASE-2 (COX-2) RELACIONADO
COM A PROGRESSÃO E AGRESSIVIDADE DE
051. OSTEOMA PARANASAL EM EQUÍNO ........ 146 TUMORES MAMÁRIOS EM CADELAS ................ 205
052. OSTEOSSARCOMA CONDROBLÁSTICO 075. AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO DE
MANDIBULAR EM BOVINO ................................. 148 MARCADORES EPITELIEAIS E MESENQUIMAIS
053. PADRÕES DE LESÕES DA EPIDERMITE EM CARCINOMA EM TUMOR MISTO MAMÁRIO
EXSUDATIVA EM SUÍNOS .................................. 151 CANINO ................................................................ 208

054. PITIOSE EQUINA NO DISTRITO FEDERAL 153 076. AVALIAÇÃO DAS CÉLULAS BASAIS EM
LESÕES PROSTÁTICAS CANINAS: O CÃO SERIA
055. PREVALÊNCIA DE ALTERAÇÕES HEPÁTICAS UM IMPORTANTE MODELO PARA AS AFECÇÕES
DETECTADAS EM BOVINOS ABATIDOS EM PROSTÁTICAS HUMANAS? ................................ 210
MATADOURO-FRIGORÍFICO DO MUNICÍPIO DE
PRESIDENTE PRUDENTE, ESTADO DE SÃO 077. AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DE
PAULO.................................................................. 156 AMOSTRAS DE RATAS WISTAR ........................ 213

056. PREVALÊNCIA DE BABESIOSE EQUINA NA TRATADAS COM O EXTRATO BRUTO DE


MICRORREGIÃO DE TERESINA, PIAUÍ, BRASIL159 BUCHENAVIA TOMENTOSA ............................... 213

057. RABDOMIOSSARCOMA PLEOMÓRFICO EM 078. AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DE RATOS


BOVINO ................................................................ 161 WISTAR TRATADOS COM EXTRATO BRUTO DE
Siparuna guianensis .............................................. 215
058. RAIVA EM SUINOS ...................................... 163
079. AVALIAÇÃO IN VITRO DA CITOTOXIDADE DE
059. RELATO DE CASO: CARCINOMA EXTRATOS DE Euphorbia tirucalli EM CÉLULAS DE
HEPATOCELULAR EM GALLUS GALLUS .......... 166 CARCINOMA COLORRETAL ............................... 218
060. RETINOPATIA DEGENERATIVA TÓXICA EM 080. CARACTERIZAÇÃO DA EXPRESSÃO DO
FRANGOS DE CORTE......................................... 168 RECEPTOR CAR E SUA ASSOCIAÇÃO INVERSA
061. SURTO DE BABESIOSE CEREBRAL EM COM A PROLIFERAÇÃO CELULAR EM
BOVINOS NA FRONTEIRA OESTE DO RIO NEOPLASIAS EPITELAIS (Characterization of the
GRANDE DO SUL ................................................ 171 CAR receptor expression and its inverse association
with cell proliferation in epithelial neoplasms) ....... 221
062. SURTO DE DERMATOFILOSE EM OVINOS174
081. CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DO TUMOR
063. SURTO DE DIARREIA EM REBANHOS VENÉREO TRANSMISSÍVEL CANINO AOS
SUÍNOS POR Brachyspira hyodysenteriae .......... 176 EXAMES CITOPATOLÓGICO E
064. SURTO DE HEMONCOSE EM BOVINOS DE HISTOPATOLÓGICO E RESPOSTA À
CORTE NO SUDOESTE PARANAENSE ............. 178 QUIMIOTERAPIA .................................................. 223

065. SURTO DE INTOXICAÇÃO POR SORO DE 082. EFEITO DO ÁCIDO FÍTICO EM EXPLANTES
LEITE EM BOVINOS EM SANTA CATARINA ...... 181 INTESTINAIS DE SUÍNOS EXPOSTOS AO
DESOXINIVALENOL (DON): PROLIFERAÇÃO
066. SURTOS DE COCCIDIOSE EM TERNEIROS CELULAR E APOPTOSE...................................... 226
DE CORTE POR Eimeria sp. NO ESTADO DE
SANTA CATARINA, BRASIL ................................ 183 083. EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO
DESOXINIVALENOL E NIVALENOL ISOLADOS OU
067. TUBERCULOSE MENINGEANA E NA FORMA EM ASSOCIAÇÃO EM EXPLANTES INTESTINAIS
DE TUBÉRCULOS ISOLADOS NO SISTEMA DE SUÍNOS .......................................................... 228
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084. EFEITOS DO ÁCIDO FÍTICO EM EXPLANTES 102. CARACTERIZAÇÃO DA EXPRESSÃO DO


INTESTINAIS DE SUÍNOS EXPOSTOS AO RECEPTOR CAR E SUA ASSOCIAÇÃO INVERSA
DESOXINIVALENOL (DON) E À FUMONISINA COM A PROLIFERAÇÃO CELULAR EM
B1(FB1): AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA ................. 231 NEOPLASIAS EPITELAIS .................................... 283
085. ERROS MÉDICOS VETERINÁRIOS: 103. CITOLOGIA E HISTOPATOLOGIA NA
CARACTERIZAÇÃO DA CASUÍSTICA E PESQUISA DE HELICOBACTER SPP EM MUCOSA
CIRCUNSTÂNCIAS DE OCORRÊNCIA EM ANIMAIS GÁSTRICA DE FELINOS DOMÉSTICOS ............ 286
SUBMETIDOS À NECROPSIA ............................. 233
104. CITOPATOLOGIA: UMA TÉCNICA ÚTIL PARA
086. EXPRESSÃO GÊNICA E PROTEICA DO VEGF O DIAGNÓSTICO DE TUMORES DA CAVIDADE
EM GLÂNDULAS MAMÁRIAS NORMAIS E ORAL DE CÃES? .................................................. 288
NEOPLÁSICAS DE CADELAS ............................. 236
105. CORRELAÇÃO DA IMUNOEXPRESSÃO DE
087. IDENTIFICAÇÃO DE HELICOBACTER spp. EM TIMP-1 EM MASTOCITOMAS CUTÂNEOS
MUCOSA GÁSTRICA DE MACACO CYNOMOLGUS CANINOS COM O GRAU HISTOPATOLÓGICO .. 290
(MACACA FASCICULARIS) UTILIZANDO O
106. DIAGNÓSTICO NECROSCÓPICO DE
MÉTODO DE IMPREGNAÇÃO PELA PRATA
DOENÇAS EM BOVINOS NO SUDOESTE DO
(TÉCNICA DE WARTHIN-STARRY) .................... 239
PARANÁ ............................................................... 293
088. INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL COM
107. EMBLOCADO CELULAR: UMA NOVA
Palicourea Marcgravii EM OVINOS COM DOSE
ABORDAGEM PARA O DIAGNÓSTICO E
TOXICA LETAL E DOSE LETAL FRACIONADA .. 242
IMUNOFENOTIPAGEM DO LINFOMA CANINO .. 296
089. LESÕES GENITAIS EM CARNEIROS
108. ESTUDO DA EXPRESSÃO DE TNF-α e IL-10
EXPERIMENTALMENTE INFECTADOS COM
A TRAVÉS DE IMUNOHISTOQUÍMICA EM PULMÃO
HISTOPHILUS SOMNI ......................................... 245
DE PORCOS INOCULADOS
090. MODELO EXPERIMENTAL DE HERPESVÍRUS EXPERIMENTALMENTE COM Actinobacillus
EQUINO TIPO 1 EM HAMSTERS (MESOCRICETUS pleuropneumoniae NO CHILE............................... 299
AURATUS): ACHADOS CLÍNICOS E
109. ESTUDO HISTOLÓGICO E IMUNO-
HISTOPATOLÓGICOS ......................................... 248
HISTOQUÍMICO DE SEIS CASOS DE
091. MORFOLGIA DAS CÉLULAS GIGANTES MENINGIOMA CANINO ........................................ 301
TROFOBLÁSTICAS DA PLACENTA DE EMBRIÕES
110. HERPESVÍRUS BOVINO 5 NO SISTEMA
CLONADOS - DADOS PRELIMINARES .............. 251
NERVOSO CENTRAL: ASPECTOS
092. PATOGENICIDADE DA AMOSTRA ATCC25840 MORFOLÓGICOS E IMUNO-HISTOQUÍMICOS .. 304
DE BRUCELLA OVIS EM CAMUNDONGOS
111. IMUNO-HISTOQUÍMICA DE TECIDOS FORA
EXPERIMENTALMENTE INFECTADOS ............. 254
DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL NA RAIVA
093. PROLIFERAÇÃO CELULAR, APOPTOSE, BOVINA................................................................. 307
EXPRESSÃO DA CICLINA A E DO P21 NO TUMOR
112. IMUNO-HISTOQUÍMICA PARA O
DE EHRLICH SOB EFEITO DO HIPOTIREOIDISMO
DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE CANINA ..... 310
ASSOCIADO OU NÃO À CASTRAÇÃO ............... 257
113. IMUNOMARACAÇÃO DE p53 NA PRÓSTATA
094. QUANTIFICAÇÃO DE T-BET POR RT-qPCR
CANINA COM LESÕES PROLIFERATIVAS ........ 313
EM LINFONODO POPLITEO DE CÃES COM
LEISHMANIOSE VISCERAL ................................ 260 114. IMUNORREATIVIDADE E RELAÇÃO ENTRE
AS PROTEÍNAS C-MYC E P53 NOS DIFERENTES
095. QUANTIFICAÇÃO DOS CENTROS
PADRÕES CITOMORFOLÓGICOS DO TUMOR
GERMINAIS NO BAÇO E DUODENO DE FRANGOS
VENÉREO............................................................. 316
DE CORTES SUBMETIDOS AO ESTRESSE POR
CALOR EM UM MODELO EXPERIMENTAL DE TRANSMISSÍVEL CANINO................................... 316
ENTERITE NECRÓTICA AVIÁRIA ....................... 262
115. INSERÇÃO DO ELEMENTO LINE-1 NO GENE
096. TALIDOMIDA PROMOVE LEUCOCITOSE EM C-MYC E EXPRESSÃO IMUNOISTOQUÍMICA DA
CAMUNDONGOS INOCULADOS COM O PROTEÍNA C-MYC NOS DIFERENTES PADRÕES
CARCINOMA MAMÁRIO MURINO 4T1 ............... 265 CITOMORFOLÓGICOS DO TUMOR VENÉREO
TRANSMISSÍVEL CANINO................................... 319
MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO
097. ABORTO POR Neospora caninum EM 116. LAVADO VESICAL DE BOVINOS COM HEB:
BOVINOS DO SUL DE MINAS GERAIS .............. 268 PADRONIZAÇÃO DE TÉCNICA DE COLHEITA,
OBTENÇÃO DE AMOSTRAS E AVALIAÇÃO
098. AGENTES BACTERIANOS E VIRAIS CITOPATOLÓGICA .............................................. 322
CAUSADORES DE ABORTO EM BOVINOS DE
MINAS GERAIS .................................................... 271 117. PERFIL DOS EXAMES CITOLÓGICOS
REALIZADOS NO SETOR DE PATOLOGIA ANIMAL
099. ANÁLISE COMPARATIVA DO DIAGNÓSTICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ ........... 325
CITOPATOLÓGICO E HISTOPATOLÓGICO DE
NEOPLASIAS MAMÁRIAS DE CADELAS ........... 274 118. RESPOSTA DE FASE AGUDA DEPOIS DA
INFECÇÃO POR Actinobacillus pleuropneumoniae
100. AVALIAÇÃO DA TÉCNICA TISSUE EM PORCOS: VALORAÇÃO DA SUA UTILIZAÇÃO
MICROARRAY PARA USO NA ANÁLISE DO PARA DIAGNÓSTICO TEMPRANO DA INFECÇÃO
TUMOR MAMÁRIO CANINO – RESULTADOS .............................................................................. 328
PRELIMINARES ................................................... 277
OUTROS
101. AVALIAÇÃO HISTOQUÍMICA DE LIPÍDEOS
119. ADENOCARCINOMA PULMONAR EM
EPIDÉRMICOS POR ANÁLISE DE IMAGEM
BOVINO: RELATO DE CASO ............................... 330
DIGITAL ................................................................ 280
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120. AVALIAÇÃO HISTOQUÍMICA DE FIBRAS 139. ACHADOS HISTOPATOLÓGICOS EM


COLÁGENAS E ELÁSTICAS EM ......................... 333 PULMÕES DE TARTARUGAS MARINHAS ......... 388
FERIDAS EXPERIMENTAIS DE COELHOS 140. DENOMA PANCREÁTICO EM Pseudalopex
TRATADOS ORALMENTE COM ÁGUA-DE-COCO E vetulus – RELATO DE CASO ............................... 390
ÁGUA MAGNETIZADA ......................................... 333
141. AGENESIA RENAL UNILATERAL EM Saimiri
121. A EFICÁCIA DO MÉTODO DE EUTANÁSIA sciureus: RELATO DE CASO ............................... 392
POR ARMA DE FOGO EM EQUÍDEOS COM BASE
142. AMILOIDOSE SISTÊMICA EM AVES
NAS LESÕES EM TECIDO ÓSSEO E ENCEFÁLICO
AQUÁTICAS CRIADAS EM CATIVEIRO .............. 394
.............................................................................. 336
143. ASPERGILOSE SISTÊMICA EM GAVIÃO-
122. "CAFÉ CORONARY" SÍNDROME (ENGASGO
POMBO-PEQUENO (Leucopternis lacernulatus).. 397
FATAL) EM UM BULLDOG .................................. 339
144. ATIVIDADE PROLIFERATIVA E
123. CIRROSE HEPÁTICA EM JABUTI (Geochelone
DIAGNÓSTICO EM TUMORES
carbonaria): SEGUNDO CASO DESCRITO NO
ADRENOCORTICAIS DE FURÕES ..................... 399
BRASIL ................................................................. 342
145. AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DE
124. DETECÇÃO DE CITOCINA POR PCR EM
FIBROPAPILOMAS EM TARTARUGAS MARINHAS
TEMPO REAL NO TECIDO RENAL DE
NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ ............. 401
CAMUNDONGO INFECTADO COM LEISHMANIA
(L) CHAGASI ........................................................ 345 146. BALANTIDÍASE FATAL COM ENVOLVIMENTO
OCULAR, PULMONAR E CEREBRAL EM RATÃO
125. EFEITO DO ACETATO DE CARVACROL NA
DO BANHADO (MYOCASTOR COYPUS)............ 404
IMUNOPATOGENIA DA NEFROPATIA NA
LEISHMANIOSE VISCERAL EXPERIMENTAL .... 347 147. CARCINÓIDE HEPÁTICO EM FURÃO (Galictis
cuja) ...................................................................... 407
126. ESTUDO DA FAUNA CADAVÉRICA NO
MUNICÍPIO DE PALOTINA, PARANÁ –DESCRIÇÃO 148. CARCINOMA DE CÉLULAS DE TRANSIÇÃO
DAS CARACTERÍSTICAS DA DECOMPOSIÇÃO DA BEXIGA COM METÁSTASE LOMBAR EM UMA
CADAVÉRICA ...................................................... 349 JAGUATIRICA (Leopardus pardalis)..................... 409
127. ESTUDO RETROSPECTIVO DE NEOPLASIAS 149. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS
EM GLOBO OCULAR DE CÃES .......................... 352 METASTÁTICO EM LEÃO (PANTHERA LEO) ..... 412
128. HIPERINFECÇÃO POR DOENÇA 150. CARCINOMA HEPATOCELULAR EM UM
EPITELIOCISTICA EM MATRIZES DE MATRINCHÃ MICO-LEÃO-DE-CARA-DOURADA
.............................................................................. 355 (LEONTOPITHECUS CHRYSOMELAS) .............. 415
129. INTOXICAÇÃO POR Cestrum axillare 151. CISTOADENOMA DE DUCTO BILIAR EM UMA
(SOLANACEAE) EM CAPRINOS NO AGRESTE DE EMA (Rhea americana alba) ................................. 418
PERNAMBUCO .................................................... 358
152. CISTOMATOSE DE GLÂNDULA APÓCRINA
130. LESÕES NÃO-ACIDENTAIS EM GATOS: EM ONÇA PINTADA (PHANTERA ONCA) –
ESTUDO DE 90 NECROPSIAS RELATIVAS A RELATO DE CASO ............................................... 420
TRAUMAS PRODUZIDOS POR ENERGIA DE
153. COLITE NECRO-HEMORRÁGICA CAUSADA
ORDEM MECÂNICA ............................................ 361
POR ENTAMOEBA SP. EM PRIMATAS NÃO
131. MORTES SÚBITAS EM CAPRINOS HUMANOS ............................................................ 423
ASSOCIADAS À INTOXICAÇÃO POR Palicourea
154. Cryptococcus sp. INTESTINAL EM UM
aeneofusca (RUBIACEA) NO AGRESTE DE
EXEMPLAR DE Chinchilla lanigera (CHINCHILA) 426
PERNAMBUCO .................................................... 364
155. DIAGNÓSTICO IMUNO-HISTOQUÍMICO DA
132. NECROPSIAS DOCUMENTADAS COM FINS
RAIVA EM MORCEGOS DA REGIÃO SUL DE
PERICIAIS EM ANIMAIS: ESTUDO DE 207 CASOS MINAS GERAIS .................................................... 429
ENTRE 2009 E 2013 ............................................ 367
156. DOENÇA RENAL POLICÍSTICA EM CUTIA
133. O PAPEL DE IMUNOGLOBULINAS NA (Dasyprocta azarae) –RELATO DE CASO ........... 432
NEFROPATIA DA LEPTOSPIROSE EM SUÍNOS 370
157. ENDOMETRITE PURULENTA EM TAMANDUÁ-
134. PARAGANGLIOMA EM CÃO ASSOCIADO A
MIRIM (TAMANDUA TETRADACTYLA) E
FALÊNCIA CARDÍACA: RELATO DE CASO ....... 373
TAMANDUÁ-BANDEIRA (MYRMECOPHAGA
135. REPARAÇÃO DE FERIDAS EXPERIMENTAIS TRIDACTYLA)....................................................... 435
EM COELHOS TRATADOS ORALMENTE COM
158. FECALOMA EM SPILOTES PULLATUS,
ÁGUA-DE-COCO E ÁGUA MAGNETIZADA ........ 376
EPICRATES CENCHRIA CENCHRIA E ANILUS
136. TÉCNICAS HISTOLÓGICAS EM BULBO SCYLATE - DIAGNÓSTICO RADIOGRÁFICO:
OCULAR DE SUÍNO ............................................ 379 RELATO TRÊS DE CASOS .................................. 438
137. ESTUDO OBSERVACIONAL MICROSCÓPICO 159. FIBROSSARCOMA COM DIFERENCIAÇÃO
DO EFEITO DO FIPRONIL SOBRE O COLÁGENO MIOFIBROBLÁSTICA EM LEOA (PANTHERA LEO) -
DA PELE DE GALINÁCEOS: ESTUDOS RELATO DE CASO ............................................... 441
PRELIMINARES ................................................... 382
160. GLOMERULOPATIA EM FELÍNOS
ANIMAIS SELVAGENS E EXÓTICOS SELVAGENS EM CATIVEIRO .............................. 444
138. ACHADOS DE NECROPSIA EM PINGUINS- 161. GOTA ÚRICA VISCERAL EM PERIQUITO
DE-MAGALHÃES NO LITORAL DO ESPÍRITO ESPLÊNDIDO (Neophema splendida) – RELATO DE
SANTO ................................................................. 385 CASO .................................................................... 447

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMOs , 2013

162. HEMANGIOSSARCOMA EM SABIÁ- ANIMAIS DE PEQUENO PORTE


LARANJEIRA [TURDUS RUFIVENTRIS] - RELATO 186. A RELAÇÃO ENTRE OS LINFÓCITOS T, OS
DE CASO.............................................................. 449 MASTÓCITOS E AS CÉLULAS DENDRÍTICAS NO
163. HIPERESPLENISMO IDIOPÁTICO EM TUMOR DE MAMA EM CADELAS ....................... 511
FERRET ............................................................... 451 187. ACHADOS PATOLÓGICOS E MOLECULARES
164. INSUFICIÊNCIARENAL CRÔNICA EM DA ERLIQUIOSE EM CÃES NATURALMENTE
PORQUINHO-DA-ÍNDIA (Cavia porcellus) ........... 453 INFECTADOS ....................................................... 514

165. INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM 188. ADENOCARCINOMA ACINAR PULMONAR EM


TAMANDUÁ-MIRIM (TAMANDUA TETRADACTYLA) UM CÃO - RELATO DE CASO ............................. 517
.............................................................................. 456 189. ADENOCARCINOMA DE GLÂNDULA
166. INTOXICAÇÃO CRIMINAL POR CARBAMATO SUDORÍPARA APÓCRINA EM UMA GATA (FELIS
EM AVES DA FAUNA SILVESTRE ...................... 459 CATUS) ................................................................. 520

167. LEIOMIOSSARCOMA INTESTINAL EM UMA 190. ADENOMA IRIDOCILIAR EM CÃO - RELATO


TIGRESA (PANTHERA TIGRIS) .......................... 462 DE CASO .............................................................. 523

168. LESÕES TEGUMENTARES EM 191. ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS ESPLÊNICAS


TARTARUGAS MARINHAS ................................. 465 ASSOCIADAS A INFECÇÃO POR Leishmania
infantum ................................................................ 526
169. LINFOMA MULTICÊNTRICO EM COELHO -
RELATO DE CASO .............................................. 467 192. ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS OCULARES
ASSOCIADAS A LEISHMANIOSE VISCERAL
170. LIPIDOSE CORNEAL EM Leptodactylus vastus CANINA................................................................. 528
(LUTZ, 1930 AMPHIBIA – ANURA:
LEPTODACTYLIDAE) .......................................... 470 193. ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS OCULARES
EM CÃES COM LEPTOSPIROSE ........................ 530
171. MORTES DE VERTEBRADOS SILVESTRES
POR ATROPELAMENTO NA MESORREGIÃO 194. ANEXINA A1: PERSPECTIVAS DE UM NOVO
SUDOESTE RIO-GRANDENSE ........................... 473 BIOMARCADOR EM NEOPLASIA MAMÁRIA DE
CADELA ................................................................ 533
172. MYCOBACTERIUM GENAVENSE EM
AMAZONA AESTIVA – RELATO DE CASO......... 476 195. ASPECTOS MORFOLÓGICOS E
EPIDEMIOLÓGICOS DE ALTERAÇÕES
173. NEMATODO PULMONAR EM GAMBÁ DE TESTICULARES EM CÃES .................................. 536
ORELHA BRANCA (DIDELPHIS ALBIVENTRIS). 479
196. ASPERGILOSE SISTÊMICA EM UM GATO 539
174. OCORRÊNCIA DE DIPETALONEMA GRACILE
EM BUGIOS RUIVOS (ALOUATTA GUARIBA) NO 197. ASTROCITOMA EM CÃO: Relato de caso ... 542
ESTADO DE SANTA CATARINA ......................... 482 198. ATIVIDADE DE LINFÓCITOS INFILTRANTES
175. PROTOTECOSE CUTÂNEA DISSEMINADA EM TUMORES DE MAMA EM CADELAS ............ 544
EM UM TAMANDUÁ-MIRIM (Tamandua tetradactyla) 199. AVALIAÇÃO CITOLÓGICA DA MEDULA
.............................................................................. 484 ÓSSEA DE CÃES COM LEISHMANIOSE VISCERAL
176. RELATO DE CASO: DISGERMINOMA EM .............................................................................. 546
LOBO-GUARÁ (Chrysocyon brachyurus) ............. 487 200. AVALIAÇÃO RETROSPECTIVA DE TUMORES
177. SPIRURIDEOS ASSOCIADOS A MAMÁRIOS CANINOS ENCAMINHADOS AO
PROVENTRICULITE E VENTRICULITE EM SETOR DE PATOLOGIA ANIMAL /EVZ-UFG NO
GALINHA DE SUBSISTÊNCIA ............................. 489 PERÍODO DE JANEIRO DE 2007 ATÉ ABRIL DE
2013 ...................................................................... 548
178. SURTO DE MENINGOENCEFALITE NÃO
SUPURATIVA PROVAVELMENTE CAUSADA POR 201. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E
HERPESVÍRUS, EM PRIMATAS DO GÊNERO HISTOLÓGICAS DE RINS DE CÃES ................... 551
CALLITHRIX ......................................................... 492 INTOXICADOS EXPERIMENTALMENTE COM
179. TERATOMA EM UM VEADO CAMPEIRO FOLHAS VERDES DE Nerium oleander ............... 551
(Ozotoceros bezoarticus) ...................................... 494 202. CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS DA
180. TOXOCARA CATI EM JAGUATIRICA DOENÇA PERIODONTAL INDUZIDA EM CÃES . 554
(LEOPARDUS TIGRINUS) –RELATO DE CASO . 496 203. CARACTERIZAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA
181. TOXOPLASMOSE E SALMONELOSE DO CARCINOMA APÓCRINO DE GLÂNDULA
CEREBRAL EM UM Cervus elaphus JOVEM ..... 499 SUDORÍPARA CANINO COM METAPLASIA
ESCAMOSA .......................................................... 557
182. TOXOPLASMOSE EM CUXIÚ-DE-NARIZ-
BRANCO (Chiropotes albinasus): RELATO DE 204. CARCINOMA BRONQUÍOLO-ALVEOLAR EM
CASO ................................................................... 502 FELINO – RELATO DE CASO .............................. 559

183. TOXOPLASMOSE EM CUXIÚS (CHIROPOTES 205. CARCINOMA DE CÉLULAS β PANCREÁTICAS


SATANAS): RELATO DE CASO .......................... 504 EM CÃES: QUATRO CASOS (2005-2013) ........... 562

184. TUMOR MALIGNO DE BAINHA DE NERVO 206. CARCINOMA DE CÉLULAS DE TRANSIÇÃO


PERIFÉRICO RECORRENTE EM OURIÇO PIGMEU DA BEXIGA EM FÊMEA CANINA (Transition cell
AFRICANO (Atelerix albiventris) ........................... 506 carcinoma of bladder in female dog) ..................... 565

185. VÔLVULO INTESTINAL EM AVESTRUZ 207. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM


(Struthio camelus): RELATO DE CASO ............... 509 ESÔFAGO DISTAL DE UM FELINO DOMÉSTICO
(Felis catus)........................................................... 568

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMOs , 2013

208. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS 230. HETEROTOPIA PANCREÁTICA EM CÃO:


PRIMÁRIO DE MAMA EM CADELA: RELATO DE RELATO DE CASO ............................................... 630
CASO ................................................................... 571
231. IMUNOMARCAÇÃO DE CÉLULAS-TRONCO
209. CARCINOMA DUCTAL IN SITU ASSOCIADO À TUMORAIS EM CÉLULAS METASTÁTICAS DE
LESÕES PRÉ-NEOPLÁSICAS EM UM FELINO DE 5 NEOPLASIAS MAMÁRIAS CANINAS .................. 632
MESES: RELATO DE CASO ................................ 574
232. INFECÇÃO POR ACINETOBACTER EM UM
210. CARCINOMA FOLICULAR-COMPACTO DE CÃO: relato de um caso ........................................ 635
TIREOIDE COM METÁSTASE EPIDURAL
233. INFECÇÃO POR Rangelia vitalii EM UM CÃO
ESPINHAL EM UM CÃO ...................................... 577
EM MINAS GERAIS .............................................. 637
211. CARCINOMA PROSTÁTICO EM CÃO –
234. INTOXICAÇÃO CRIMINOSA DE CÃES POR
RELATO DE CASO .............................................. 579
DICUMARÍNICO – RELATO DE CASO ................ 640
212. CASO DE INTOXICAÇÃO POR ACETURATO
235. LEIOMIOSSARCOMA MAMÁRIO EM CÃO –
DE DIMINAZENO EM CÃO .................................. 581
RELATO DE CASO ............................................... 642
213. CISTO EPIDERMÓIDE INTRAÓSSEO EM
236. LEISHMANIOSE CANINA NO SUL DE MINAS
DEDO DE CÃO: RELATO DE CASO ................... 584
GERAIS................................................................. 644
214. CITOLOGIA E HISTOPATOLOGIA NA
237. LINFANGIECTASIA INTESTINAL EM UM CÃO -
PESQUISA DE HELICOBACTER SPP EM MUCOSA
RELATO DE CASO ............................................... 646
GÁSTRICA DE FELINOS DOMÉSTICOS ............ 586
238. LINFOMA DE CÉLULAS-T PRIMÁRIO
215. CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DE TUMOR
CARDÍACO EM CÃO COM LEISHMANIOSE
VENÉREO TRANSMISSÍVEL NA REGIÃO DE
VISCERAL ............................................................ 649
UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS ........................... 588
DE CASO .............................................................. 652
216. CLINICAL AND ANATOMO
HISTOPATHOLOGIC FINDINGS OF FEMALE DOGS 240. LOCALIZAÇÕES ECTÓPICAS DE
WITH INFLAMMATORY MAMMARY CARCINOMA DioctophymarenaleEM CÃES, GATOS E QUATIS
.............................................................................. 591 EM SANTA CATARINA ......................................... 655
217. Cryptococcus sp. INTESTINAL EM UM 241. MACRÓFAGOS E LINFÓCITOS T NO
EXEMPLAR DE Chinchilla lanigera (CHINCHILA) 594 MICROAMBIENTE TUMORAL DE CARCINOMAS
MAMÁRIOS CANINOS ......................................... 657
218. CYTOKINE PROFILE IN SERUM OF FEMALE
DOGS WITH MAMMARY CARCINOMA AND ITS 242. MALFORMAÇÃO DE LARINGE EM CÃO –
ASSOCIATION WITH CLINICAL AND RELATO DE CASO ............................................... 660
PATHOLOGICAL FEATURES .............................. 597
243. MENINGIOMA RETROBULBAR EM UM CÃO:
219. DERMATITE GRANULOMATOSA RELATO DE CASO ............................................... 663
XANTOMATOSA EM UM CANINO: RELATO DE
244. MESOTELIOMA EM TÚNICA VAGINAL
CASO ................................................................... 600
TESTICULAR EM CÃO: RELATO DE CASO ....... 666
220. DERMATITE NECROLÍTICA SUPERFICIAL EM
245. METAPLASIA ESCAMOSA DO ENDOMÉTRIO
CÃES, RELATO DE 20 CASOS (2009-2013) ....... 603
EM CADELA ......................................................... 668
221. DISPLASIA FOLICULAR DO PÊLO PRETO EM
246. METAPLASIA ÓSSEA ENDOMETRIAL EM
CANINO ................................................................ 606
UMA CADELA: RELATO DE CASO ..................... 670
222. DOENÇA DO RIM POLICISTICO EM CÃO:
247. METÁSTASE DE MELANOMA EM CÃO ..... 673
RELATO DE CASO .............................................. 609
248. MIELOMA MÚLTIPLO EM CÃO .................... 676
223. ENTERITE PIOGRANULOMATOSA CAUSADA
POR PYTHIUM INSIDIOSUM EM CÃO................ 611 249. O PAPEL DA INTERLEUCINA-10 NOS
CARCINOMAS MAMÁRIOS CANINOS ................ 678
224. ESTUDO RETROSPECTIVO
ANATOMOPATOLÓGICO DOS CASOS DE 250. O SIGNIFICADO DOS ACHADOS
LINFOMA CANINO ATENDIDOS PELO HOSPITAL HISTOPATOLÓGICOS CUTÂNEOS NO
VETERINÁRIO DA UNESP, CAMPUS BOTUCATU DIAGNÓSTICO DO HIPOTIREOIDISMO EM CÃES,
.............................................................................. 614 COM ÊNFASE NAS ALTERAÇÕES DOS
MÚSCULOS PILOERETORES ............................. 680
225. FASCEÍTE NECROSANTE SEVERA FATAL EM
FELINO DOMÉSTICO .......................................... 616 251. OCORRÊNCIA DE INSULINOMA EM UM CÃO
– RELATO DE CASO ............................................ 682
226. FEOHIFOMICOSE NO CÉREBRO E NEFRITE
EM CÃO INFECTADO PELO VÍRUS DA CINOMOSE 252. OSTEOSSARCOMA OSTEOBLÁSTICO NA
CANINA ................................................................ 619 COSTELA DE UM CÃO DA RAÇA BOXER .......... 685
227. GASTROPATIA PILÓRICA HIPERTRÓFICA 253. PANESTEATITE FELINA - RELATO DE CASO
CRÔNICA EM CÃO – RELATO DE CASO ........... 622 .............................................................................. 687
228. GRANULOMA POR CORPO ESTRANHO 254. PAPILOMA DE PLEXO COROIDE EM BOXER:
CAUSANDO ESTENOSE INTESTINAL RELATO DE CASO ............................................... 690
MULTIFOCAL EM UM CÃO – RELATO DE CASO 255. PARAGANGLIOMA EM CÃO ASSOCIADO A
.............................................................................. 625 FALÊNCIA CARDÍACA: RELATO DE CASO ........ 692
229. HEMANGIOMA PRIMÁRIO EM CÉREBRO DE
CÃO ...................................................................... 627

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMOs , 2013

256. PECTUS EXCAVATUM E INSUFICIÊNCIA 272. TUMOR TESTICULAR DE CÉLULAS


CARDIORRESPIRATÓRIA NEONATAL EM INTERSTICIAIS COM METÁSTASE CUTÂNEA
CANINOS DA RAÇA BULDOGUE FRANCÊS ..... 695 DISSEMINADA EM UM CÃO ................................ 737
257. PERFIL CELULAR EM DIFERENTES ÓRGÃOS 273. TUMOR VENÉREO TRANSMISSIVEL
DE CÃES COM LEISHMANIOSE VISCERAL ...... 698 CUTÂNEO E MUCOCUTÂNEO EM CANINO –
RELATO DE CASO ............................................... 739
258. PERICARDITE PURULENTA EM FELINO
JOVEM ................................................................. 700 274. TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL
EXTRAGENITAL E METASTÁTICO EM CANINO
259. PERSISTÊNCIA DO QUARTO ARCO
PRÉ-PÚBERE ....................................................... 742
AÓRTICO DIREITO EM UM CÃO ........................ 703
275. ÚLCERA PERFURADA EM GATO ASSOCIADA
260. QUIMIOTERAPIA CONVENCIONAL E
AO USO DE NIMESULIDA ................................... 745
METRONÔMICA NO TRATAMENTO DE CADELA
COM CARCINOMA EM TUMOR MISTO EM 276. UTILIZAÇÃO DE UMA MEMBRANA DE
ESTADIO AVANÇADO ......................................... 705 HIDROXIAPATITA E POLICAPROLACTONA NO
TRATAMENTO DA DOENÇA PERIODONTAL
261. RABDOMIOSSARCOMA CARDÍACO EM CÃO:
INDUZIDA EM CÃES: ASPECTOS HISTOLÓGICOS
RELATO DE CASO .............................................. 708
.............................................................................. 748
262. REAÇÃO MIOEPITELIAL PERIVASCULAR EM
277. VÍRUS DA CINOMOSE CANINA NA REGIÃO
CARCINOSSARCOMAS NA GLÂNDULA MAMÁRIA
CENTRO OESTE DO BRASIL .............................. 751
CANINA: RELATO DE CASOS ............................ 710
263. RELAÇÃO DAS CÉLULAS INFLAMATÓRIAS
NO GRAU DE MALIGNIDADE DO CARCINOMA
ESPINOCELULAR CANINO ................................. 713
264. SURTO DE ESPOROTRICOSE EM GATOS
DOMÉSTICOS NO ESTADO DO PARANÁ.......... 716
265. TERATOMA MALIGNO EXTRAGONADAL EM
UM CÃO ............................................................... 719
266. TERATOMA OVARIANO EM CADELAS ...... 721
267. TRAQUEOPATIA OSTEOCONDROPLÁSTICA
EM CÃES.............................................................. 724
268. TRICOLEMOMA EM CÃO – RELATO DE CASO
.............................................................................. 727
269. TROMBOEMBOLISMO PULMONAR EM UM
CANINO ASSOCIADO À DIROFILARIOSE.......... 729
270. TUMOR DE BAINHA DE NERVO PERIFÉRICO
MALIGNO DO PLANO NASAL EM UM FELINO:
RELATO DE CASO .............................................. 731
271. TUMOR FILODES DA GLÂNDULA MAMÁRIA
CANINA: RELATO DE CINCO CASOS ................ 734

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 001, 2013

ANIMAIS DE GRANDE PORTE E PRODUÇÃO

001. ABSCESSO CEREBRAL POR CORYNEBACTERIUM


PSEUDOTUBERCULOSIS EM UM CAPRINO
(Corynebacterium pseudotuberculosis causing brain abscess in a caprine)

Alcides Branco da Silva Junior¹, Caroline Rodenbusch Destro¹, Geane Maciel


Pagliosa², Aline de Marco Viott², Fernando França Giraldes³, Raimundo Alberto Tostes²

1. Médico veterinário residente, UFPR Setor Palotina, Palotina - PR;


2. Docente do curso de Medicina Veterinária, UFPR- Setor Palotina, Palotina – PR;
3. Técnico do laboratório de patologia UFPR – Setor Palotina, Palotina – PR.

RESUMO: A linfadenite caseosa (LC) é uma enfermidade abscedante causada pela


bactéria gram. positiva Corynebacterium pseudotuberculosis afetando principalmente
os gânglios linfáticos. A principal via de acesso deste microrganismo ao hospedeiro é o
contato direto de lesões de continuidade em fômites contaminados. Eventualmente o
agente causal cai na circulação sanguínea e atinge outros órgãos como fígado, baço,
glândula mamária e pulmões principalmente. Entretanto não há relatos na literatura de
disseminação para as regiões do tecido nervoso central. Este trabalho vem relatar a
ocorrência de abscesso em região cerebral abrangendo ponte até o córtex temporal
comprimindo severamente o mesencéfalo. Mediante os achados necroscópicos
suspeitou-se de LC o que se confirmou no exame bacteriológico positivo para o agente
etiológico supracitado.
Palavras-chave: Boer; linfadenite, cérebro
ABSTRACT: Caseous lymphadenitis (CL) is a abscedant disease of lymph nodes
usually caused by the gram positive Corynebacterium pseudotuberculosis. The main
gateway is contact of wounds in contaminated fomites. Eventually the causal agent falls
into the bloodstream and reaches other organs such as liver, spleen, mammary gland
and lungs mainly. However there are no reports in the literature of spread to the regions
of the central nervous tissue. This work reports the occurrence of brain abscess in the
spanning bridge to the temporal cortex severely compressing the midbrain. Upon
necropsy findings was suspected LC confirmed on bacteriological examination positive
for the etiologic agent above cited.
Key-words: Boer, lymphadenitis, brain
INTRODUÇÃO
Corynebacterium pseudotuberculosis é uma bactéria gram positiva de replicação
intracelular facultativa comumente relatada como a causa de uma doença crônica
conhecida como linfadenite caseosa (LC) comum em caprinos e ovinos (Dorella et al,
2006). A infecção inicia-se principalmente a partir do contato direto de lesões de
continuidade com fômites contaminados, porém a porta de entrada pode-se dar por via
oral ou respiratória. Uma vez no hospedeiro, é rapidamente captada por macrófagos e
drenada para linfonodos locais onde inicia a formação de abscessos (Baird e Fontaine,
2007; Burrel, 1981). Eventualmente o microorganismo atinge a via sanguínea ou
linfática estabelecendo novas lesões em diferentes órgãos, comumente pulmões e
outros linfonodos distais à lesão inicial (Valli e Gentry, 2007). Entretanto não há relatos
de distribuição para o tecido nervoso central. Este trabalho tem por objetivo relatar a
ocorrência de abscesso cerebral por Corynebacterium pseudotuberculosis em um
Caprino da raça Boer atendido no Hospital Veterinário da UFPR, Setor- Palotina.
MATERIAIS E MÉTODOS
Um Caprino, Boer, macho, de aproximadamente 3 anos foi encaminhado ao HV- UFPR
Palotina com histórico de emagrecimento progressivo, dispneia ataxia e apatia. Durante
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 001, 2013

o internamento os sinais clínicos neurológicos se agravaram e o animal foi


eutanasiado. Fragmentos de órgãos foram acondicionados em formol a 10% e
processados rotineiramente para a coloração de hematoxilina e eosina. Fragmentos de
encéfalo refrigerado foram encaminhados ao laboratório Marcos Enrietti em Curitiba-
PR para análise microbiológica.
RESULTADOS
Ao exame clínico do caprino evidenciou-se aumento de linfonodos pré-escapulares e
mandibulares, déficit proprioceptivo em membros pélvicos e hipermetria. Após 14 dias
de antibioticoterapia houve intensificação dos sinais neurológicos com andar em
círculos, ptose palpebral e labial esquerda, convulsões e midríase unilateral. Devido ao
quadro grave foi realizada a eutanásia. No exame esterno contatava-se caquexia
intensa e aumento de linfonodo cervical e submandibular que ao corte apresentava-se
repleto de material caseoso. Aspecto semelhante era observado nos linfonodos
mediastínicos Na face ventral esquerda do encéfalo havia um abscesso de
aproximadamente 5 centímetros de diâmetro com conteúdo purulento esbranquiçado
que se estendia desde a ponte até o córtex temporal e comprimia severamente o
mesencéfalo.
Microscopicamente o abscesso, consistia de grande quantidade de restos celulares
levemente mineralizados entremeados a neutrofilos. Essa massa caseosa estava
envolta por abundante tecido conjuntivo fibroso associado a macrófagos, macrófagos
epitelioides, linfócitos e raras células gigantes multinucleadas tipo corpo estranho. No
neuropilo adjacente havia manguitos linfohistiocitarios multifocais acentuados, malácea
acentuada da substancia branca, astrogliose e a congestão difusa da microvasculatura.
O exame microbiológico do material retirado do abscesso cerebral foi positivo para C.
pseudotuberculosis.
DISCUSSÃO
A infecção por C. pseudotuberculosis dá-se pelo contato de feridas ou mucosas com
fômites contaminados ou mesmo com o contato direto com outros animais afetados
(Burrel, 1981). Uma vez no hospedeiro, o microorganismo é atacado por células
defensoras, mas a exotoxina fosfolipase D produzida pelo mesmo é capaz de lesionar
a membrana celular facilitando assim sua disseminação (Dorella, 2006). A
disseminação pode ocorrer por duas vias: cutânea e visceral. A disseminação cutânea
com o envolvimento dos linfonodos parotídeos, retrofaringeos e submaxilares é bem
característica da LC em caprinos e inicia-se com a contaminação de lesões
tegumentares ulceradas (Batey e Speed, 1986).
A forma visceral ocorre pela contaminação das mucosas respiratórias e digestórias
passando pelo linfonodo retrofaríngeo medial atingindo a circulação sanguínea com
posterior distribuição de órgão distantes da porta de entrada. Os lobos pulmonares são
os mais acometidos, entretanto há raros relatos na literatura de ocorrência de
abscessos em fígado, rins, baço e glândula mamária, sendo neste causador de mastite
(Valli e Gentry, 2007; Rosa et al. , 1989, Sprarke e Gold, 2012). Todavia não há relatos
de envolvimento do sistema nervoso central. Acredita-se neste caso que a
disseminação hematógena foi a principal via de acesso para o tecido nervoso. A
localização da lesão próxima a região pontinho cerebelar, indica possivelmente o plexo
coroide como porta de entrada do agente.
Abscessos múltiplos ou extensos podem causar evolução clinica rápida e fatal, mas em
geral o curso clínico é longo e o tipo de manifestação clínica depende da localização do
abscesso. A compressão unilateral do SNC pode resultar em sinais clínicos mais
pronunciados de um lado do que no outro, como o observado no animal em questão.
CONCLUSÃO
O C. pseudotuberculosis é capaz de causar abscessos cerebrais em caprinos, com
severos sinais clínicos. A patogenia da doença associada ao local da lesão no encéfalo
sugere possível disseminação hematógena do agente.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 001, 2013

AGRADECIMENTOS
Ao corpo técnico do Centro de Diagnóstico Marcos Enrietti – CDME, localizado na
cidade de Curitiba – PR pelo auxílio diagnóstico.
REFERENCIAS
BAIRD, G. J.; FONTAINE, M. C. Corynebacterium pseudotuberculosis and its role in ovine caseous
lymphadenitis. Journal of comparative pathology v 137 p. 179 – 210, 2007;
BATEY, R. G.; SPEED, C. M.; KOBES, C. J. Prevalence and distribution of caseous lymphadenitis in
feral goats. Australian veterinary journal v. 63, n. 2, p. 33 – 36, 1986
BURREL, D. H. Caseous Lymphadenitis in goats. Australian Veterinary Journal v. 57, p. 105 – 110,
1981;
DORELLA, F. A.; PACHECO, L. G. C.; OLIVEIRA, S. C. et al. Corynebacterium pseudotuberculosis:
microbiology, biochemical properties, pathogenesis and molecular studies of virulence. Veterinary
Research v.37 p. 201 – 218, 2006;
ROSA, J. S.; JOHNSON, E. H.; ALVES, F. S. F. et al. Ocorrência de abscesso hepático em caprinos.
Pesquisa agropecuária brasileira, v. 24, n. 1, p. 63 – 68, 1989;
VALLI, V. E. O.; GENTRY, P. A. Hematopoietic system. In: JUBB, KENNEDY, PALMER Pathology of
domestic animals. 5 ed. Philadelphia: Saunders Elsevier, 2007, Cap. II p. 292 – 294.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 002, 2013

002. ACHADOS CLÍNICOS E PATOLÓGICOS DE ESTREPTOCOCOSE EM SUÍNOS


(Clinical and Pathological Findings in Pig of Streptococose)

Ana Maria de Souza Almeida¹; Rômulo Santos Adjuto Eloi²; Helvécio Leal Santos
Júnior¹

1. União Pioneira de Integração Social (UPIS), Escola de Medicina Veterinária, Brasília, DF


2. Médico Veterinário, HistoPato-Análise Anatomopatológica Veterinária.
anamariaveterinaria@gmail.com

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo descrever os achados clínicos e


patológicos de um surto de Streptococcus suis tipo 2 em suínos de uma granja de ciclo
completo, com aproximadamente 50 matrizes, no entorno de Brasília. Os animais
apresentaram ataxia, depressão, pedalagem com as mortes ocorrendo em menos de
24 horas após o inicio dos sinais. Três suínos pertencentes à granja foram
necropsiados. Os achados de necropsia incluíam meningoencefalite, broncopneumonia
abscedativa e poliserosite.
Palavras- chave: surto, forma hiperaguda, meningoencefalite
ABSTRACT: This paper aims to describe the clinical and pathological findings of an
outbreak of Streptococcus suis type 2 in pigs on a farm full cycle, with about 50 cows at
around Brasília. The animals showed ataxia, depression pedal with deaths occurring
within 24 hours of the onset of signs. Three pigs belonging to the farm were necropsied.
Necropsy findings included meningoencephalitis, pneumonia and abscedativa
polyserositis.
Keywords: hyperacute form, meningoencephalitis, outbreak
INTRODUÇÃO
A estreptococose é uma importante enfermidade responsável por prejuízos econômicos
na suinocultura (Faria et al., 2010). Existem mais de 35 sorotipos distintos de
Streptococcus suis (S.suis), sendo os sorotipos 1 e 2 frequentemente isolados nos
surtos da enfermidade (Heidt et al., 2005). A patogenia do deste agente não está
completamente elucidada, porém sabe-se que esta bactéria pertence à microbiota da
tonsila e cavidade nasal de suínos (Riva et al., 2008), tornando-se patogênica em
animais imunodeprimidos (Tao et al., 2011). Quando há acometimento do Sistema
Nervoso central (SNC) são relatados sinais clínicos como ataxia, decúbito, opistótono e
movimentos de pedalagem são comumente relatados nos casos de infecções pelo S.
suis tipo 2 (Ecco et al., 2003). Em alguns surtos pneumonia, endocardite, pericardite,
poliserosite e artrite também podem ser encontradas (Reams et al., 1994). Este
trabalho tem como objetivo descrever os achados clínicos e patológicos da infecção
pelo S. suis tipo 2 em um surto que ocorreu em uma granja no entorno de Brasília.
MATERIAL E MÉTODOS
Três suínos de uma granja situada no entorno de Brasília foram encaminhados ao setor
de anatomia patológica da UPIS para necropsia. Além dos três animais, o proprietário
relatou outras mortes anteriores com quadro clínico semelhante. A granja possuia 50
matrizes sendo ciclo completo o sistema de criação adotado. Os suínos necropsiados
possuíam 42, 45 e 50 dias de idade e apresentaram depressão, tremores difusos,
decúbito e pedalagem, evoluindo a óbito em até 12 horas após o início dos sinais
clínicos. Amostras dos órgãos foram fixadas em formol 10%, processadas
rotineiramente e coradas com hematoxilina e eosina. Foram enviadas amostras do
SNC para a análise bacteriológica.
RESULTADOS
Á necropsia observou-se nos três animais secreção viscosa e branco amarelada no
terço final da traqueia. Na superfície de corte do pulmão notou-se conteúdo viscoso
fluindo de brônquios e bronquíolos. Em um dos animais (suíno com 42 dias de idade)
havia pleurite fibrinosa difusa com aderências interlobar. No sistema nervoso dos três
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 002, 2013

animais observou-se discreta a moderada hiperemia leptomeningeana. Os achados


microscópicos dos animais incluiram moderado a acentuado infiltrado composto por
linfócitos, macrófagos e neutrófilos em permeio a fibrina na meninge e parênquima do
encéfalo. No pulmão observou-se broncopneumonia supurativa moderada associada à
microabscessos. Foi identificado Streptococcus suis tipo 2 do material (sistema nervoso
e pulmão) encaminhado a bacteriologia.
DISCUSSÃO
De acordo com os achados clínicos e patológicos obtidos neste surto, caracterizou-se a
forma hiperaguda da enfermidade (Ecco et al. 2003). Os animais podem ser portadores
assintomáticos do Streptococcus suis e em situações de estresse ocorre à
disseminação do agente pelo organismo (Salles et al. 2002). Fatores estressantes
como a mudança de temperatura observada nesta granja tem como consequência a
depleção do sistema imunológico, possibilitando a disseminação do agente para
diversos órgãos (Tao et al., 2011). Neste surto foram relatado pelo produtor mudança
súbita e acentuada de temperatura na noite e dia anterior as mortes. Sinais clínicos
como os observados nos suínos corroboram com Domínguez-Punaro et al. (2007)
Zheng et al. (2009). Os achados macroscópicos e microscópicos observados nos três
casos assemelham-se aos relatados por Reams et al. (1994) ; Vanier et al. (2007). A
avaliação bacteriológica classificou o agente como Streptococcus suis tipo 2. Apesar
dos tipos 1 e 2 serem comumente isolados em surtos, o tipo 2 é o mais frequentemente
relacionado com os casos de meningites (Heidt et al. 2005).
CONCLUSÃO
Conhecimentos a respeito dos achados clínicos e patológicos proporcionam um
diagnóstico precoce de estreptococose pelo Médico Veterinário, minimizando, assim,
seu impacto na produção desta espécie.
REFERÊNCIAS
DOMÍNGUEZ-PUNARO, M. C.; SEGURA, M.; PLANTE, M. et al. Streptococcus suis Serotype 2, an
important swine and human pathogen, induces strong systemic and cerebral inflammatory responses in a
mouse model of infection. The Journal of Immunology. v.179, n.3, p.1842 -1854, 2007.
ECCO, R.; FLORES, L.A.S.; TÚRY, E. et al. Aspectos clínicos e patológicos da infecção hiperaguda por
Streptococcus suis tipo 2 em suínos na fase de creche – relato de casos. A hora Veterinária. v.134, p.
35-37. 2003.
FARIA, A.C.S.; SILVA, M.C.; OLIVEIRA FILHO, X. et al. Prevalência de Streptococcus suis tipo 2 por
meio da técnica de reação em cadeia da polimerase em suínos abatidos no Estado do Mato Grosso.
Ciência Rural. v. 40, n.1, p. 130-134; 2010.
HEIDT, M.C.; MOHAMED, W.; HAIN, T. et al. Human Infective Endocarditis caused by Streptococcus
suis Serotype 2. Journal of Clinical Microbiology. v. 43, n. 9, p.4898-4901; 2005.
REAMS, R.Y.; GLICKMAN, L.T.; HARRINGTON, D.D. et al. Streptoccocus suis infection is swine: a
retrospective study of 256 cases. Part II. Clinical signs, gross and microscopic lesions, and coexisting
microorganisms. Jounal of Veterinary Diagnostic Investigation. v.6; n.3, p.326-334; 1994.
RIVA, E.; LIMA, C.B.L.; MARTINI, K.C. et al. Infecção por Streptococcus suis: uma revisão. Arq. Ciên.
Vet. Zool., v.11; n.2; p. 167-170; 2008.
SALLES, M.W.; PEREZ CASAL, J.; WILLSON, P. et al. Changes in the leucocytes subpopulations of the
palatine tonsillar crypt epithelium of pigs in response to Streptococcus suis type 2 infection. Vet. Imuno.
v. 87, n.1-2, p. 51-63, 2002.
TAO, W.; ZHANQIN, Z.; LIN, Z. et al. Trigger factor of Streptococcus suis is involved in stress tolerance
and virulence. Microbial Pathogenesis, v.51, p. 69-76; 2011.
VANIER, G.; SEGURA, M.; GOTTSCHALK, M. Characterization of the invasion of porcine endothelial
cells by Streptococcus suis serotype 2. Canadian Jounal of Veterinary Research. v.71, n.2, p.81-89.
2007.
ZHENG, P.; ZHAO, Y.X.; ZHANG, A.D. et al. Pathologic Analysis of the Brain from Streptococcus suis
Type 2 Experimentally Infected Pigs. Veterinary Pathology. v.46, n. 3, p. 531–535, 2009.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 003, 2013

003. ACHADOS MACROSCÓPICOS EM ORGÃOS DE CABRAS ACIDENTALMETNE


INTOXICADAS COM TRICLORFON
(Macroscopic findings in goats accidental intoxicated by trichlorfon)

Rafael Silveira Carvalho, Leonardo Cortarelli, Renato Augusto Paiola, Valdomiro


Pereira, Welber Daniel Zanetti Lopes, Barbara Cristina Mazzucatto

Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Campus Regional de


Umuarama.

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo descrever as alterações


macroscópicas observadas em órgãos e tecidos de cabras que sofreram intoxicação
aguda por triclorfon. Após a administração por via oral de 100mg/kg três cabras
morreram e foram imediatamente necropsiadas observando-se alterações vasculares.
Apesar de inespecíficos estes achados são descritos em outros surtos de intoxicação
por organofosforados em ruminantes.
Palavras-chave: intoxicação; inseticida; organofosforados; caprinos
ABSTRACT: This study aimed to describe the macroscopic changes observed in
organs and tissues of goats who suffered acute poisoning trichlorfon (100mg/kg). At
necropsy of the three goats that died, it was possible to observe changes related mainly
to nops vascular tissues and/or organs. Although these findings are nonspecific, these
have been described in other outbreaks of organophosphate poisoning in ruminants.
Key words: poisoning; insecticide; organophosphate; goats
INTRODUÇÃO
Os nematódeos gastrintestinais são reconhecidos como um dos maiores entraves na
criação de pequenos ruminantes pela elevada perda econômica que podem causar
nestes animais (Ejlertsen et al., 2006). A fim de se minimizar os prejuízos ocasionados
por estes parasitas, produtores e/ou proprietários destes animais, muitas vezes são
obrigados a realizar a administração de formulações químicas de ação contra
nematódeos. Dentre os diferentes grupos químicos de ação anti-helmíntica, indicado
para pequenos ruminantes, tem-se os organofosforados, representado principalmente
pelo triclorfon, que é administrado pela via oral (Mendonça et al., 2009). Apesar do
número de relatos de intoxicação de animais por organofosforados estar aumentando
em função do incorreto uso na dosagem destes princípios ativos, ou serem
administrados em categorias de animais não indicadas (animais jovens), ou mesmo,
ainda, por questões de negligência, o presente trabalho tem como objetivo notificar as
alterações macroscópicas encontradas em órgãos e tecidos de cabras adultas,
clinicamente saudáveis, que sofreram intoxicação aguda por triclorfon, tratadas com a
dosagem terapêutica do princípio ativo em questão (100mg/kg).
MATERIAL E MÉTODOS
O surto ocorreu no mês de Agosto de 2012, no setor de ovinos e caprinos da fazenda
experimental da Universidade Estadual de Maringá, Campus de Umuarama-PR.
Contagens de ovos por grama de fezes (OPG) foram realizadas de todos os caprinos, a
fim de se constatar a carga parasitária dos animais para ovos do tipo estrongilídeos.
Com base nestes resultados, optou-se em tratar 20 cabras, todas criadas em regime de
pastagem. Como tratamento, administrou-se o triclorfon, por vial oral, na dose de
100mg/kg em todos estes animais. Dois dias anteriores ao tratamento, os animais
foram pesados a fim de calcular a dose exata do medicamento. No dia do tratamento,
os caprinos tinham bom escore corporal e foram adequadamente mantidos em
repouso.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 003, 2013

RESULTADOS
Por outro lado, cerca de 40 minutos após a administração do triclofon nas cabras, oito
das 20 apresentaram sinais clínicos sugestivos de intoxicação pelo princípio ativo
triclorfon, os quais foram caracterizados por ataxia, alguns ficaram em decúbito
externo-lateral, apresentaram sialorreia, tremores, contrição das pupilas, dispnéia com
ruídos, micção e defecação involuntária, paresia espástica, timpanismo e
lacrimejamento. Logo após a detecção de tais sinais clínicos (cerca de cinco minutos
após o início dos sinais de intoxicação), foi administrado, nos oito animais, via
endovenosa sulfato de atropina 1% na dose de 0,5mg/kg mais fluidoterapia como
tratamento suporte. Duas cabras (número 91 e 110) e outra (número 123) vieram a
obtido 48 e 72 horas após a administração do triclorfon, respectivamente. Na necropsia
notou-se mucosas cianóticas, congestão de fígado, baço e rins, vasos mesentéricos
congestos, vesícula biliar repleta, enfisema pulmonar, parênquima pulmonar
avermelhado (Tabela 1).

DISCUSSÃO
O diagnóstico de intoxicação por triclorfon foi realizado com base no histórico,
epidemiologia, resposta do animai ao tratamento com sulfato de atropina 1%, sinais
clínicos característicos e as alterações anatomo-patológicas encontradas nos animais.
De acordo com Oliveira-Filho et al. (2010) o diagnóstico de intoxicação de animais aos
organofosforados por ser confirmado com base nos critérios descritos acima, além de
exames toxicológicos, dependendo da situação ou falta de histórico do caso. De acordo
com a literatura, a porcentagem média de mortalidade de animais intoxicados por este
agente é em torno de 31% a 53,8% dos acometidos (Castro et al. 2007). Os resultados
encontrados no presente trabalho estão de acordo com os descritos na literatura, uma
vez que, 37,5% dos animais que foram intoxicados pelo triclorfon vieram a óbito em até
72 horas após a administração do princípio ativo em questão, mesmo recebendo duas
doses de sulfato de atropina 1%, mais fluidoterapia como tratamento suporte, quase
que imediatamente após a detecção dos sinais clínicos sugestivos de intoxicação. Os
achados clínicos e anatomo-patolológicos descritos por estes autores (Mendonça et al.,
2010) estão em concordância com os encontrados no presente estudo. De acordo com
Bakima et al. (1989), a congestão pulmonar acompanhada de edema é um achado
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 003, 2013

importante nessas intoxicações, mas não necessariamente constante. Barret et al.


(1985) descrevem que os efeitos muscarínicos da acetilcolina se manifestam por
respostas viscerais do sistema respiratório, que consistem em dificuldade respiratória
acentuada em virtude de um decréscimo na capacidade dinâmica pulmonar e da
pressão do oxigênio arterial, promovendo edema pulmonar, constrição bronquial e
aumento da secreção de muco pelas glândulas bronquiolares, responsáveis pela
angústia respiratória.
CONCLUSÕES
As lesões macroscópicas, observadas nas cabras intoxicadas descritas neste trabalho,
caracterizadas principalmente por alterações vasculares nos diferentes tecidos, apesar
de serem inespecíficas, têm sido descritas em outros surtos de intoxicação por
organofosforados em ruminantes.
REFERÊNCIAS
BAKIMA, M.; SURUET, A. P.; CULLER, K. K. 1989. Organophophorus and carbamate insecticide
poisoning. Research in Veterinary Science. 13, 127-130.
BARRETT, D. S.; WILL, A. P.; SMITH, D. J. 1985. A review of organophosphorus ester-induced delayed
neurotoxicity. Veterinary and Human Toxicology. 27, 22-37.
CASTRO, M.B.; MOSCARDINI, A.R.C.; REIS, J.L.; NOVAES, E.P.F.; BORGES, J.R.J. 2007. Intoxicação
aguda por diazinos em bovinos. Ciência Rural. 37,1498-1501.
EJLERTSEN, M.; GITHIGIA, S.M.; OTINEO, R.O.; THAMSBORG, S.M. 2006. Accuracy of na anemia
scoring chart applied on goats in sub-humid Kenya ans its potential for control of Haemonchus contortus
infection. Veterinary Parasitology. 141, 291-301.
MENDONÇA, F.S.; FREITAS, A.H.; DÓRIA, R.G.S.; CAMARGO, L.M.; NETO, J.E. 2010. Intoxicação por
diclorvós e cipermetrina em bovinos em Mato Grosso: relato de caso. Ciência Animal Brasileira. 11, 743-
749.
OLIVEIRA-FILHO, J.C.; CARMO, P.M.S.; PEIREZAN, F.; TOCHETTO, C.; LUCENA, R.B.; RISSI, D.R.;
BARROS, C.S.L. 2010. Intoxicação por organofosforado em bovinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa
Veterinária Brasileira. 30, 803-806.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 004, 2013

004. AMORPHUS GLOBOSUS NA ESPÉCIE BOVINA


(Amorphous globosus in bovine)

Lismara C. Nascimento¹, Karen Y. R. Nakagaki², Debora R. Orlando², Fernando de O.


Scarpa¹, Rafael C. Costa², Mary S. Varaschin³

1. Aluno de Graduação do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras (UFLA),


Lavras, MG, 37200-000, Brasil.
2. Aluno do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, UFLA, Lavras, MG.
3. Professora Doutora do curso de Med. Veterinária, Setor de Patologia Veterinária, UFLA, Lavras, MG.
msvaraschin@dmv.ufla.br

RESUMO: O Amorphus globosus é uma anomalia fetal que ocorre em gestações


gemelares, onde o segundo feto com anomalia é visualizado como uma estrutura
esférica recoberta por pelos. Foi encaminhado ao Setor de Patologia Veterinária da
UFLA um feto amorphus globosus, proveniente de uma gestação gemelar, onde o outro
feto era uma fêmea freemartin. No exame histopatológico do amorphous globosus
foram identificados tecidos do sistema nervoso, intestino, músculo esquelético, osso e
testículo. A gônada masculina observada no amorphous globosus pode explicar a
ocorrência da gêmea freemartin. Estes achados são raramente descritos.
Palavras-chave: distocia; monstro acárdico; freemartin; gestação gemelar
ABSTRACT: The Amorphous globosus is a fetal anomaly occurring in twins, where the
anomalous second fetus is seen as a spherical structure covered in hair. It was
submitted for necropsy to the Setor de Patologia Veterinária da UFLA an Amorphous
globosus fetus coming from a twin pregnancy where the other fetus was a freemartin
female. Histopathologically in the amorphous globosus fetus tissues of the nervous
system, intestine, skeletal muscle, bones and testis were identified. The male gonad
observed in the amorphous globosus could explain the freemartin female twin. This
finding is rarely reported.
Key words: acardiac monster; dystocia; freemartin; twin pregnancy
INTRODUÇÃO
Amorphous globosus é uma anomalia fetal rara e incidental que se enquadra nas
doenças denominadas como distúrbio do desenvolvimento. Em geral, caracteriza-se
por uma massa de tecido conjuntivo e gordura coberta por pele e pelo e conectado à
placenta através de um cordão. Eventualmente pode-se encontrar cartilagem e osso na
sua constituição (Czarnecki, 1976; Anwar, 2009; Foster, 2009). Alguns autores
acreditam na possibilidade da ocorrência do Amorphus globosus estar relacionado a
genes autossômicos recessivos, por não estarem associados a agentes etiológicos
(Pavarini et al., 2008). Porém sua etiologia ainda é incerta, sabe-se que só ocorre em
gestações múltiplas ou gemelares, tendo em vista que o feto anômalo não possui
coração e o feto normal que se encarrega de promover o fluxo sanguíneo ao acárdio,
garantindo assim sua sobrevivência (Santos et al., 2008). Segundo Pavarini (2008) e
colaboradores, de 307 fetos bovinos abortados no sul do Brasil, apenas 10
apresentaram anomalias (3,25%), e dentre estes, somente 2 casos caracterizavam o
Amorphus globosus, demonstrando a raridade de ocorrência desta anomalia.
Este estudo tem como objetivo relatar o caso de nascimento de um Amorphus globosus
proveniente de uma gestação gemelar em que o co-gêmeo era uma fêmea freemartin.
MATERIAL E MÉTODOS
O feto amorfo foi encaminhado ao o Setor de Patologia Veterinária da Universidade
Federal de Lavras, para a identificação do tipo de anomalia fetal. Foi realizado o exame
externo, exame radiográfico e feitos cortes longitudinais para identificação das
estruturas. Foram coletados alguns fragmentos em formol a 10% tamponado, os quais
foram processados rotineiramente para histopatologia.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 004, 2013

RESULTADOS
Uma vaca receptora, 7/8 de holandês e 1/8 de Jersey, recebeu um embrião da raça
holandesa através da técnica de transferência de embriões. O parto ocorreu no tempo
certo, porém houve problemas de distocia. Nasceu primeiramente uma fêmea
freemartin e logo em seguida a anomalia fetal. A vaca teve, além do parto distócico,
retenção de placenta e hipocalcemia e acabou morrendo 2 dias após o parto.
O feto consistia em uma massa amorfa medindo 17 cm X 8 cm X 6 cm, coberta por
pele e pelos. Aderido a ele, observou-se, além de uma estrutura que se assemelhava
ao omento, a formação de alças intestinais bem diferenciadas, com criptas,
microvilosidades e células caliciformes, visualizadas na histopatologia. Em uma
extremidade havia uma formação óssea semelhante a uma cauda que foi também
visualizada no exame radiográfico. Na outra extremidade observaram-se duas
estruturas em lados opostos que eram morfologicamente semelhantes a orelhas. Ao
corte notou-se a presença de osso e um tecido brancacento e homogêneo que na
microscopia correspondia a tecido nervoso bem formado e estruturas não identificáveis
macroscopicamente que na histopatologia eram compostas por tecido muscular,
adiposo e ósseo, assim como, presença de um tecido organizado, com túbulos bem
formados, e com células na luz, semelhantes ao tecido testicular.
DISCUSSÃO
A ocorrência de Amorphus globosus é raramente descrita na literatura. Alguns
profissionais da área acreditam que a incidência desta anomalia é maior do que
geralmente é relatada (Czarnecki, 1976).
O tamanho, formato e a presença de pelos com pigmentação característica da raça
holandesa foram achados semelhantes aos descrito por Czarnecki (1976), que também
observou histologicamente a formação de tecido muscular e adiposo. Porém elementos
gastrointestinais, reprodutivos e nervosos não foram observados, o que difere do
presente estudo.
O tecido compatível com testículo possui grande chance de realmente corresponder a
gônada masculina já que sabe-se que o co-gêmeo era freemartin e isto ocorre somente
quando há uma gestação gemelar de um casal (Foster, 2009).
CONCLUSÃO
A ocorrência de Amorphus globosus é raramente observada e ainda menos comum
associada a um co-gêmeo freemartin. No presente caso, o exame histopatológico foi
essencial na identificação das estruturas e auxiliar no entendimento do animal
freemartin.
Agradecimento
Á FAPEMIG pelo auxílio financeiro.
REFERÊNCIAS
ANWAR, M. T. et al. A rare case of globosus amorphus in a goat. The Canadian Veterinary Journal, v.50,
p.854-856, 2009.
CZARNECKI, C. M. Bovine Holoacardius Amorphus Monster. The Canadian Veterinary Journal, p.109-
110, 1976.
FOSTER, R. A. Sistema Reprodutivo da fêmea. In: MCGAVIN, M.D.; ZACHARY J.F. Bases da Patologia
Veterinária. Tradução da 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p. 1263-1316.
PAVARINI, S. P.; SONNE, L.; ANTONIASSI, N. A. B. et al. Anomalias congênitas em fetos bovinos
abortados no sul do Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.28, n.3, 2008.
SANTOS, L. M.; ROCHA, J. R.; RODRIGUES, C. Feto acardio amorfo na raça bovina. Revista Científica
Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 11, p.1-7, 2008.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 005, 2013

005. ASPECTOS CLÍNICOS E PATOLÓGICOS DE UM SURTO DE SALMONELOSE


EM BEZERROS
(Pathological and Clinical Aspects of an Outbreak in Calves Salmonellosis)

Ana Maria de Souza Almeida; Gustavo Peixoto Braga; Guilherme Freitas Montezuma;
Lúcio Zeidan de Oliveira; Helvécio Leal Santos Júnior

União Pioneira de Integração Social (UPIS), Escola de Medicina Veterinária, Brasília, DF


anamariaveterinaria@gmail.com

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo relatar um surto de salmonelose em bezerros.
Os animais apresentavam diarreia, febre, desidratação e prostração. Três bezerros
foram necropsiados. Os animais tinham entre 1 a 2 meses de idade e morreram 48
horas após o início dos sinais clínicos. À necropsia observou-se mucosa recoberta por
exsudato branco acinzentado e ulceras multifocal no cólon. Na microscopia foram
visualizado colite fibrinonecrótica e no fígado de um dos animais havia infiltrado
linfocítico associado à necrose (nódulos paratíficos).
Palavra chave: Enterocolite; necropsia; Typhimurium
ABSTRAT: This paper aims to report an outbreak of salomonelose in calves. The
animals exhibit clinical signs such as diarrhea, fever, dehydration and exhaustion. Three
animals were necropsied. The animals were between 1 to 2 months and died 48 hours
after clinical signs presented. At necropsy was observed in the colon mucosa covered
with grayish white exudate and multifocal ulcers. Microscopy were viewed
fibrinonecrotic colitis and liver of an animal lymphocytic infiltrates associated with
necrosis (paratíficos nodules).
Keyword: enterocolitis; necropsy; Typhimurium
INTRODUÇÃO
Em bovinos a salmonelose é uma importante enfermidade, pois promove elevada
morbidade e mortalidade em diversas espécies (Silva et al., 2008). É uma doença
comumente relatada em bovinos de leite jovens, sendo a Salmonella entérica
subespécie entérica, sorovares Dublin e Typhimurium frequentemente isoladas (Barros,
2007). Animais doentes ou mesmo portadores assintomáticos podem disseminar a
enfermidade pelo rebanho (Guedes et al., 2010). Sinais clínicos como diarréia,
prostração, febre e desidratação podem ser observados em bezerros (Silva et al.,
2009). As lesões incluem enterocolite e em casos septicêmicos podem ser observadas
hemorragias em serosas. Pneumonia, nódulos paratíficos no fígado, focos de necrose
no rim e esplenomegalia também são relatados (Guedes et al., 2010).
MATERIAL E MÉTODOS
Três bezerros da raça Girolando, com um, um e meio e dois meses de idade,
provenientes de uma propriedade situada no entorno de Brasília, apresentaram como
sinais clínicos diarréia, emagrecimento e desidratação. Os animais vieram a óbito e
foram necropsiados. Fragmentos de tecidos foram coletados, fixados em formol a 10%,
processados rotineiramente e corados com Hematoxilina & Eosina. Foram
encaminhados fragmentos do intestino para bacteriologia.
RESULTADOS
Na necropsia, os três animais apresentaram estado corporal ruim e o perineo sujo por
fezes. Observaram-se placas branco acinzentadas recobrindo a mucosa do cólon. A
parede cecal estava espessada e com úlceras recobertas por exsudato fibrinoso
mutifocal. Notaram-se os linfonodos mesentéricos aumentados de volume e ao corte
havia pontos esbranquiçados no córtex. O fígado apresentava-se aumentado de
volume, com os bordos arredondados e áreas esbranquiçadas multifocais
subcapsulares e no parênquima. Na avaliação microscópica dos animais havia necrose
de enterócitos, infiltrado inflamatório composto predominantemente por neutrófilos e
fibrina. Os linfonodos mesentéricos apresentavam-se com infiltrado por macrófagos nos
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 005, 2013

seios e folículos com centro germinativo evidente. No fígado de um nos animais (animal
com 2 meses de vida) notou-se infiltrado inflamatório histiocítico associado à necrose
multifocal. Os exames bacteriológicos isolaram e identificaram Salmonella entérica
subespécie entérica sorovar Typhimurium das amostras analisadas.
DISCUSSÃO
A salmonelose é classificada nas formas de enterocolite e septicêmica de acordo com
o quadro clínico patológico (Guedes et al., 2011). Esta enfermidade é uma zoonose,
acomete bovinos jovens e os sorovares Dublin e Typhimurium são frequentemente
isolados nesta espécie (Barros, 2007). De acordo com os achados clínicos e
patológicos dos animais aqui relatados, estes foram classificados com a forma de
enterocolite. O sorovar Typhimurium foi isolado dos fragmentos de órgãos de todos os
animais necropsiados. Os sinais clínicos observados nos bezerros, como a diarréia,
prostração, febre e desidratação corroboram com a literatura consultada (Silva et al.,
2009). Os achados macroscópicos e microscópicos de enterocolite fibrinonecrótica
foram observados nos três animais e correspondem aos achados descritos por Silva et
al. (2008) e Guedes et al. (2011) nos casos de salmonelose. Nódulos tifóides
correspondem a áreas necrose associado a infiltrado inflamatório no fígado, também
relatados nesta enfermidade (Guedes et al., 2011). Em um dos animais necropsiado
(animal com 2 meses de vida) na avaliação histológica visualizou-se nódulos tifóides no
fígado.
CONCLUSÃO
A salmonelose é uma enfermidade que resulta em elevada taxa de morbidade e
mortalidade. O conhecimento do quadro clínico e patológico desta doença é
fundamental para o diagnóstico precoce, promovendo controle e assim evitando
maiores perdas na produção.
REFERÊNCIAS
BARROS, C.S.L. salmonelose. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A; BORGES, J.R.J..
Doença de ruminantes e equídeos. 3. Ed., Santa Maria: Pallotti, 2007, v.1, p. 416-425.
GUEDES, R.M.C.; BROWN, C.C.; SEQUEIRA, J.L. Sistema digestório. In: SANTOS, R.L. e ALESSI,
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SILVA, D.G.; ÁVILA, L.G.; SILVA, PRL. et al. Estudo comparativo da infecção experimental de bezerros
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com Salmonella Dublin. Arquivo Brasileiro de veterinária e Zootecnia, v.60, n. 1. p.251-255, 2008.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 006, 2013

006. ASPECTOS PATOLÓGICOS DA VASCULATURA VESICAL NA HEMATÚRIA


ENZOÓTICA BOVINA
(Pathological aspects in bladder vasculature bovine enzootic hematuria)

Archanjo, A.B; Souza, D.R; Silva. M.A; Nunes. L.C.

Universidade Federal do Espírito Santo

RESUMO: A hematúria enzoótica bovina (HEB) é uma doença crônica e não infecciosa
caracterizada pelo desenvolvimento de neoplasmas na bexiga. Objetivou-se verificar os
aspectos patológicos da vasculatura vesical na HEB e correlacioná-los com as
alterações neoplásicas. Foram utilizadas 40 bexigas, coletadas em matadouro
frigorífico, fixadas em formol a 10% e processadas histologicamente. Das 40 bexigas
analisadas, 60,00% apresentaram neoplasias, sendo estas: hemangioma, mixoma,
carcinoma urotelial, adenocarcinoma, carcinoma in situ e hemangiossarcoma. A
vasculatura vesical das bexigas revelou proliferação, ectasia, dilatação e
espessamento vascular. A fibroelastose foi classificada como Grau I em 57,50% das
amostras, 10,00% Grau II e 2,50% Grau III. A densidade dos microvasos foi maior nos
hemangiossarcomas, seguidos dos hemangiomas, carcinomas uroteliais,
adenocarcinomas, mixomas e carcinomas in situ. É possível afirmar que a avaliação da
vasculatura vesical em animais com HEB pode auxiliar estudos de progressão tumoral.
Palavras-chave: bexiga; fibroelastose; microvasos; neoplasias
ABSTRACT: The bovine enzootic hematuria (BEH) is a chronic, non-infectious
characterized by the development of neoplasms in the bladder. The objective was
evaluate the pathological vasculature in bladder HEB and correlate them with neoplastic
changes. Forty bladders were used, collected in slaughterhouse, fixed in 10% formalin
and processed histologically. Bladders analyzed, 60.00% had tumors, these being:
hemangioma, myxoma, urothelial carcinoma, adenocarcinoma, carcinoma in situ and
hemangiosarcoma. The vasculature of the urinary bladders revealed proliferation,
ectasia, vascular dilatation and thickening. The fibroelastosis was classified as Grade I
in 57.50% of the samples, 10.00% in Grade II and 2.50% Grade III. The density of
microvessels was higher in haemangiosarcomas, followed by hemangiomas, urothelial
carcinomas, adenocarcinomas, myxomas and carcinomas in situ. It is possible that the
assessment of the vasculature in animals with bladder HEB can aid studies of tumor
progression.
Key-words: bladder; fibroelastosis; microvessels; neoplasms
INTRODUÇÃO
A hematúria enzoótica bovina (HEB) é uma doença crônica e não infecciosa
ocasionada pela ingestão espontânea de Pteridium aquilinium, conhecida como
samambaia. Esta doença se caracteriza pelo desenvolvimento de neoplasmas na
mucosa da bexiga (Radostitis et al., 2007).
Segundo Carvalho, Pinto e Peleteiro (2006) há coexistência de neoplasmas diversos,
epiteliais ou mesenquimais, benignos ou malignos, no entanto raramente são
encontrados metástases, dentre os mais frequentes destacam-se os papilomas,
carcinomas de células transicionais, adenocarcinoma, carcinomas de células
escamosas e hemangiomas.
Muitas vezes, estes tumores vasculares são confundidos com alterações vasculares
hiperplásicas (Peixoto et al., 2003) e há necessidade de distinção destes processos.
Em muitos casos, havia proliferação de pequenos capilares caracteristicamente
perpendiculares à orientação de grandes áreas de fibrose que se estendiam ao longo
da lâmina própria, mas em geral, as proliferações vasculares não exibiam qualquer
padrão organizacional e eram constituídas por capilares, arteríolas e vênulas.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 006, 2013

Objetivou-se verificar os aspectos patológicos da vasculatura vesical na hematúria


enzoótica bovina e correlacioná-los com as alterações neoplásicas encontradas em
animais na região Sul do Espírito Santo.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram coletadas 40 bexigas, com lesões macroscópicas e hematúria, no matadouro
frigorífico de Muniz Freire, ES. As bexigas foram seccionadas pela superfície ventral no
sentido caudo-cranial. Cada bexiga foi conservada em formalina a 10% e dividida em
quatro quadrantes. Coletou-se um fragmento de cada quadrante. Quando em um
quadrante foram detectadas mais de uma massa tumoral, foi coletado um fragmento de
cada massa. As amostras foram submetidas ao processamento histológico de rotina e
coradas por Hematoxilina-Eosina (HE) para uma avaliação geral das alterações
morfológicas e classificação das lesões segundo Peixoto et al. (2003). Todos os dados
obtidos durante o decorrer do experimento foram compilados e submetidos à análise
estatística descritiva. Para cada variável estudada será aplicado o teste estatístico não
paramétrico de Mann-Whitney, adotando-se nível de 5% de significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a avaliação microscópica das bexigas foi possível caracterizar os tipos
neoplásicos presentes nas amostras. Sendo que das 40 bexigas analisadas, 60,00%
(24/40) apresentaram neoplasias. Das 24 bexigas neoplásicas foram classificadas as
seguintes neoplasias: hemangioma 54,17% (13/24), mixoma 41,67% (10/24),
carcinoma urotelial 37,50% (9/24), adenocarcinoma 16,67% (4/24), carcinoma in situ
29,17% (7/24) e hemangiossarcoma 4,17% (1/24).
Dentre as lesões não neoplásicas foram encontradas displasia e metaplasia de células
claras no epitélio, cistite cística, hemorragias, ninhos de Brunn. Resultados
semelhantes foram encontrados por Peixoto et al. (2003) e Oliveira (2009). Somvanshi
et al. (2012) verificaram predomínio de cistite, hiperplasia e hemorragia em animais
oriundos de áreas endêmicas para HEB.
Na avaliação da vasculatura vesical das bexigas sem neoplasias foram encontradas
100% (14/14) das amostras com proliferação vascular, 57,14% (8/14) com ectasia,
92,86% (13/14) com dilatação e 50,00% (7/14) com espessamento vascular. Nas
bexigas com neoplasia observaram-se 100% (24/24) das amostras com proliferação
vascular, 33,33% (8/24) com ectasia, 91,67% (22/24) com dilatação e 83,33% (20/24)
com espessamento vascular.
Na aplicação do teste de Mann-Whitney, para a verificação de correlação entres os
tipos de alterações vasculares com as bexigas neoplásicas e não neoplásicas. Nas
bexigas não neoplásicas a proliferação vascular (P<0,05) e o espessamento vascular
(P<0,05) foram menores que nas neoplásicas. Nos parâmetros dilatação (P>0,05) e
ectasia vascular (P>0,05) não houve diferença significativa.
A análise dos graus de fibroelastose revelou que 57,50% (23/40) apresentavam-se com
Grau I, 10,00% (4/40) com Grau II, 2,50% (1/40) com Grau III e nenhuma amostra com
Grau IV. Em 30,00% (12/40) das bexigas não foi observado nenhum tipo de
fibroelastose. Ao se correlacionar os graus de fibroelastose entre as bexigas
neoplásicas e não neoplásicas, obteve-se diferença significativa (P<0,05), ou seja, nas
bexigas com neoplasias os graus de fibroelastose foram maiores dos que nas não
neoplásicas.
A determinação da densidade dos microvasos intratumorais revelou que houve maior
número de microvasos nos hemangiossarcomas em que a DMV foi de 239, seguidos
dos hemangiomas com 92, dos carcinomas uroteliais com 53, dos adenocarcinomas
com 26, dos mixomas com 16 e dos carcinomas in situ com nove microvasos
intratumorais.
CONCLUSÃO
Os dados obtidos neste estudo permitem concluir que os aspectos patológicos da
vasculatura vesical de proliferação, dilatação, ectasia e espessamento vasculares são
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 006, 2013

frequentes em animais com hematúria enzoótica. A proliferação, o espessamento


vascular e a fibroelastose são mais graves nos animais que apresentam neoplasias. A
densidade dos microvasos intratumorais é maior nos tumores mesenquimais
vasculares. As alterações vasculares observadas nas bexigas de animais com
hematúria representam importantes indicadores de progressão tumoral.
Agradecimento à Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo pelo apoio
financeiro.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, T.; PINTO, C.; PELETEIRO, M. C. Urinary bladder lesions in bovine enzootic haematuria.
Journal of Comparative Pathology, Bristol, v.134, p.336-346, 2006.
OLIVEIRA, L. G. P. Novos aspectos patológicos e patogenéticos da hematúria enzoótica bovina. 2009.
Rio de Janeiro. 133f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Programa de Pós-graduação em
Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
PEIXOTO, P.V.; FRANÇA, T.N.; BARROS, C.S.L. et al. Histopathological aspects of bovine enzootic
hematuria in Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.23, p.65-81, 2003.
RADOSTITIS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C.; Hinchcliff, K.W. Veterinary medicine. A textbook of the
diseases of cattle, horses, sheep, pigs and goats. 10.ed. London: Saunders, 2007. 2065p.
SOMVANSHI, R.; PATHANIA, S.; NAGARAJAN, N. et al. Pathological study of non-neoplastic urinary
bladder lesions in cattle and buffaloes: a preliminary report. Tropical Animal Health and Production, v.44,
n.4, p.855-861, 2012.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 007, 2013

007. AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA E MACROSCÓPICA DO ESTÔMAGO


DE EQUINOS DESTINADOS AO ABATE
(Ultrassonographic and macroscopic evaluation of the horses’ stomach in the
slaughterhouse)

Cristiano Chaves Pessoa da Veiga¹; Lucas Santos de Melo Braga²; Livia Yumi Suzuki²;
Bruno Gonçalves de Sousa¹; Juliana da Silva Leite³; Ana Maria Reis Ferreira³

1. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária (Clínica e


Reprodução Animal), Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói/RJ.
2. Aluno de Graduação em Medicina Veterinária, Bolsista PIBIC, Faculdade de Medicina
Veterinária, UFF, Niterói/RJ.
3. Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária,
UFF, Niterói/RJ.

RESUMO: Este estudo teve como objetivo descrever os achados ultrassonográficos e


macroscópicos do estômago de cavalos destinados ao abate. Foram avaliados 39
cavalos machos e fêmeas de idades variadas. No exame ultrassonográfico foi avaliada
a arquitetura, a espessura e a ecogenicidade da parede, regularidade da superfície da
mucosa e tipo de conteúdo. Na macroscopia foram avaliadas lesões como úlceras,
erosões, hiperemia e hemorragias. A ultrassonografia revelou uma arquitetura
preservada (39 animais), espessuras variadas, ecogenicidade aumentada (1 animal),
superfície regular (39 animais) e conteúdo gasoso (35 animais) e mucoso (4 animais).
A macroscopia revelou hemorragia (2 animais) e granularidade (38 animais). Todos os
equinos apresentaram alguma lesão, tendo como maior prevalência a região glandular,
porém as lesões mais graves se apresentaram na região aglandular da margem
pregueada.
Palavras-chave: cavalo; diagnóstico por imagem; gastrite; matadouro
ABSTRACT:The aim of the study was to describe the ultrassonographic and
macroscopic findings of the horses‘ stomach. Thirty nine horses destined to slaughter,
males and females, were evaluated. At the ultrassonography exam the architecture,
thickness and echogenicity of the stomach‘s wall, as well as regularity of the mucosa‘s
surface and the kind of the content were evaluated. Ulcers, erosions, hyperemia and
hemorrhages were analyzed during macroscopic evaluation. Ultrassonography revealed
preserved architecture (39 animals), different thicknesses, high echogenicity (1 animal),
regular surface (39 animais) and gas content (35 animals) and mucous (4 animals).
Hemorrhage (2 animals) and granularity (38 animals) were found during macroscopic
evaluation. Lesions were find in all horses, the glandular region was the most prevalent,
but the worse injuries were at the aglandular region of the margo plicatus.
Key-words: horse; imaging; gastritis; slaughter
INTRODUÇÃO
A Síndrome da Úlcera Gástrica Equina (EGUS) (ANDREWS & NADEAU, 1999), é uma
síndrome prevalente em potros e equinos adultos, tendo um impacto econômico
significativo (MURRAY, 1994). A patogenia, o tratamento e a prevenção são
específicos para lesões de cada porção do estômago dos equinos, portanto, a úlcera
gástrica equina não deve ser considerada como uma enfermidade homogênea
(MURRAY, 1994). O exame ultrassonográfico permite a avaliação da arquitetura do
estômago de maneira não invasiva e é indicado em casos de doenças gástricas
(PENNINCK, 2005). O objetivo do presente trabalho é o de descrever a avaliação
ultrassonográfica e macroscópica do estômago de cavalos destinados ao abate.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliados 39 cavalos destinados ao abate, entre machos e fêmeas, com idade
variando de 3 a 20 anos, com média de 14 anos, escolhidos aleatoriamente. Os
animais foram submetidos a jejum hídrico e alimentar prévio de 12 horas antes da
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 007, 2013

realização do exame ultrassonográfico. Avaliou-se a manutenção da arquitetura da


parede, espessura da parede, regularidade da superfície mucosa, ecogenicidade da
parede e o tipo de conteúdo. Também foram avaliados os números de contrações a
cada 30 segundos. Para realização da avaliação macroscópica, após o abate, o
estômago foi coletado na área da triparia do abatedouro frigorífico. O estudo da gastrite
seguiu o mesmo método utilizado por Leite (2009), utilizando os conceitos e
classificações morfológicas das divisões endoscópica e histopatológica do Sistema
Sydney. A mucosa dos estômagos avaliados foi classificada em quatro graus, que
variaram de 0 a 3 para cada região do estômago (região glandular, aglandular e
margem pregueada). Os estômagos também foram classificados de acordo com o
sistema de graduação da mucosa adaptado do proposto pelo conselho SUGE
(Andrews et al., 1999) e usada por Leite (2009) variando do grau 0 (mucosa intacta) ao
grau 4 (úlceras extensas).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A estratificação da parede do estômago apresentou aspecto ultrassonográfico descrito
para as paredes do trato gastrointestinal (FRANK & MAHAFFEY, 2010). O tipo do
conteúdo presente no interior do estômago dos animais estudados variou entre o tipo
gasoso, 35 animais (89,7%) e mucoso, 4 (10,3%), contrariando os achados de Mitchell
et al. (2005) onde todos os animais apresentaram conteúdo gasoso. O achado do tipo
mucoso observado neste estudo, pode estar relacionado ao período de jejum em que
permaneceram os animais, suficiente para que ocorresse o completo esvaziamento do
estômago. Neste estudo, devido ao jejum, as paredes dos estômagos avaliados
apresentavam espessuras diferentes, devido as rugas ou pregas da parede. Fora da
prega obteve-se média de 0.62cm e na prega de 1.16cm, o valor máximo obtido no
segmento fora da prega foi de 1,30 cm, valor considerado superior ao descrito para a
espessura da parede que foi de 0,75 cm segundo REFF, 1998. O espessamento de
mucosa foi observado em 13 animais (33,4%). O conteúdo predominante no estômago
dos cavalos avaliados neste estudo foi o muco (100% dos animais), achado idêntico ao
encontrado por Leite (2009) na avaliação do estômago de cavalos de corrida. O
edema, o eritema e a hiperqueratose puderam ser observadas em pelo menos uma das
três regiões do estômago de todos os cavalos avaliados, achados semelhantes aos
achados por Leite (2009) que em seu estudo encontrou taxas de 93,33 % e 86,67%
para edema e eritema respectivamente. Apenas em dois animais foi observada
hemorragia (5,1%), achados que diferiram de Leite (2009) que observou hemorragia
em 80% dos animais avaliados. Granularidade foi observada em 38 dos 39 animais
(94,7%), resultado superior ao de Leite (2009) que observou esta alteração em 53,33%
dos animais avaliados. Tanto na escala de avaliação proposta por Orsini et al. (2009),
quanto pelo conselho da SUGE (LEITE, 2009), todos os 39 animais avaliados tiveram
pelo menos uma das três regiões graduadas acima de 0 indicando lesão da mucosa
gástrica, o que representa 100 % dos animais avaliados, assim como observado por
Leite (2009); O grupo de animais estudados era destinado ao abate, o que pode
favorecer o aumento da ocorrência de lesões na mucosa gástrica, sobretudo porque
em animais adultos o estresse parece ter um importante papel nas úlceras gástricas
(MURRAY, 1994). A região glandular foi a que apresentou alterações em todos os
animais avaliados, achado contrário aos da literatura consultada (ANDREWS &
NADEAU, 1999). As alterações foram: 19 animais (48,7 %) apresentaram hiperemia,
em 16 animais (41,0 %) foram observadas além da hiperemia áreas de hiperqueratose
e nos outros quatro animais (10,3 %) além da hiperemia e da hiperqueratose foram
observadas erosões e/ou áreas de hemorragia; na avaliação da região aglandular oito
animais receberam grau 0 e nove receberam grau 2, os demais reberam grau 3 tanto
na escala proposta por Orsini et al. (2009) quanto na escala do conselho da SUGE
(LEITE, 2009). A forma das lesões, sobretudo na região aglandular da margem
pregueada, neste estudo, foi semelhante em 84,6 % dos animais avaliados (33
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 007, 2013

animais), sendo observadas ulcerações extensas, profundas e ativas, na curvatura


menor e com dimensões variando de 1,0 a mais de 7,0 cm de extensão, contrariando o
descrito por Murray (1992), que encontrou ulcerações semelhantes apenas na
curvatura maior.
CONCLUSÃO
A região do estômago mais acometida por lesões foi a glandular, embora as lesões
mais graves ocorreram na margem pregueada, na região aglandular. Não foram
encontradas diferenças nas métodologias empregadas para graduação da mucosa,
mas devido a maior facilidade em graduar a mucosa pela metodologia proposta pelo
Conselho da Síndrome da Úlcera Gástrica Equina, este método é o mais apropriado na
graduação da mucosa gástrica dos cavalos. Apesar do exame ultrassonográfico não
detectar lesões na margem pregueada ou na região aglandular a avaliação
ultrassonográfica em cavalos deve ser realizada, na suspeita de doença gástrica.
REFERÊNCIAS
ANDREWS, F. M.; NADEAU, J. A. Clinical syndromes of gastric ulceration in foals and
mature horses. Equine Veterinary Journal, v.29, p.30-33. 1999.
CAMPBELL-THOMPSON, M. L.; MERRIT, A. M. Diagnosis and trearment of gastroduodenal ulceration
and gastric outflow obstruction in foals and adult horses. In: ANNUAL CONVENTION OF THE
AMERICAN ASSOCIATlON OF EQUlNE PRACTITIONERS, Boston. Proceedings, v.35, p. 57-69, 1990.
DEARO, A. C. O.; LOPES, M. A. F. Úlcera gastroduodenal em potros. Ciência Rural, v.
25, n. 2, p. 323-330, 1995.
LEITE, J.S. Avaliação da resposta inflamatória gastroduodenal pela imuno-histoquímica associada a
investigação de Helicobacter spp. em cavalos de corrida. Tese de Doutorado. UFF-Niterói, f.186, 2009.
MURRAY, M. J. Gastric ulcers in adult horses. Compendiurn on Continuing Education
for the Practicing Veterinarian, v. 16, n. 6, p. 792-794, 1994.
MURRAY, M. J. Gastroduodenal ulceration. In: ROBINSON, N.E. Current therapy in equine medicine. 3.
ed. Philadelphia: W. B. Saunders, p. 184-190,1992.
PENNINCK, D. Trato Gastrintestinal. In: NYLAND, T.G.; MATOON, J. S. Ultra-som diagnóstico em
pequenos animais. São Paulo. Roca, 2005.
REEF, V.B. Equine Diagnostic Ultrasound. Philadelphia Saunders, p. 580, 1998.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 008, 2013

008. BIOMETRIA MICROSCÓPICA DA MUCOSA VESICAL DE ANIMAIS COM


HEMATÚRIA ENZOÓTICA BOVINA
(Microscopic biometry of bladder mucous in animals with bovine enzootic
hematuria)

Tamiasso, N. V.; Silva, M. A.; Trivilin, L. O.; Nunes, L. C.

Universidade Federal do Espírito Santo

RESUMO: Pteridium aquilinum é responsável pela hematúria enzoótica bovina (HEB) e


pode causar neoplasias na bexiga. Objetivou-se estabelecer medidas de espessura
urotelial para realização de diagnóstico clínico usando técnicas pouco invasivas. Foram
utilizadas 40 bexigas, processadas histologicamente e avaliadas por análise de
imagem. Utilizou-se a ANOVA seguida do teste t a 5% de probabilidade. A média de
espessura do urotélio dos quadrantes de uma mesma bexiga foi semelhante tanto nas
bexigas sem neoplasia quanto nas com neoplasia (P>0,05). A comparação entre as
médias de espessura epitelial por quadrante entre as bexigas revelou que houve
diferença entre a espessura do urotélio com neoplasia e sem neoplasia (P<0,05). No
entanto, quando avaliada a diferença entre a espessura de epitélio de uma bexiga
neoplásica com uma não neoplásica, sem levar em consideração os quadrantes, houve
diferença significativa (P<0,05). Métodos de diagnóstico menos invasivos podem ser
utilizados em casos de HEB.
Palavras-chave: intoxicação; morfometria; neoplasia; urotélio
ABSTRACT: Pteridium aquilinum is responsable for bovine enzootic haematuria (BEH)
and it may cause bladder neoplasia. The objective was to establish morphological
features and measures of urothelio thickness to achieve clinical diagnosis using less
invasive techniques. It has been used 40 bladders, histologically processed and
evaluated by image analysis. It has been done ANOVA followed by t-test with
probability level of 5%. The average urothelio thickness in the quadrants of one same
bladder was similar as much in bladder without neoplasia as in bladder with neoplasia
(P>0,05). The comparison between average epithelium thickness per quadrant among
the bladders revealed that there were difference between neoplastic and non-neoplastic
urothelio thickness (P<0,05). Despite this, when evaluated the difference between
epithelium thickness from a neoplastic bladder with a non-neoplastic, not even
considering the quadrants, there was significant difference (P<0,05). Less invasive
methods of diagnosis can be used in cases of BEH.
Key words: morphometry; neoplasia; poisoning; urothelio
INTRODUÇÃO
Pteridium aquilinum é considerada uma das plantas tóxicas mais importantes do mundo
(Tokarnia et al., 2000). A intoxicação se deve aos componentes tóxicos da planta,
dentre eles o ptaquilosídeo, glicosídeo de ação mutagênica e carcinogênica (Carvalho
et al., 2006). No curso da doença ocorre inflamação da bexiga, reação hiperplástica da
mucosa e metaplasia córnea ou mucípara. O epitélio pode ainda desenvolver processo
proliferativo, surgindo carcinomas (Santos, 1975).
A biópsia, técnica que permite diagnóstico preciso da HEB, é um procedimento invasivo
e por este motivo a utilização do exame ultrassonográfico pode vir a ser mais
adequada. O diagnóstico de HEB pode ser feito antes do aparecimento dos sinais
clínicos pela análise das delimitações e das medidas de espessura do urotélio por meio
de ultrassom (Hoque, 2002). Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi estabelecer
medidas de espessura do urotélio de bovinos com HEB visando à realização do
diagnóstico clínico precoce.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 008, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletadas 40 bexigas, com lesões macroscópicas e hematúria, no matadouro
frigorífico de Muniz Freire, ES. As bexigas foram seccionadas pela superfície ventral no
sentido caudo-cranial. Cada bexiga foi conservada em formalina a 10% e dividida em
quatro quadrantes. Coletou-se um fragmento de cada quadrante. Quando em um
quadrante foram detectadas mais de uma massa tumoral, foi coletado um fragmento de
cada massa. As amostras foram submetidas ao processamento histológico de rotina e
coradas por Hematoxilina-Eosina (HE) para uma avaliação geral das alterações
morfológicas e classificação das lesões segundo Peixoto et al. (2003).
A análise morfométrica foi feita utilizando-se microscópio acoplado à câmera de
captura tipo Dino Lite & Dino Eye e programa de análise de imagem DinoCapture 2.0.
Foi medida a espessura do urotélio, expresso em micrômetros, desde a membrana
basal até o ápice do epitélio. Foram realizadas 10 mensurações ao longo da amostra e
a espessura final foi estabelecida pela média. Após a compilação dos dados foi
aplicada análise de variância (ANOVA) seguida do teste t a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todas as 40 amostras apresentavam lesões macroscópicas classificadas em
petéquias, lesões papilomatosas, lesões hemangiomatosas, lesões sobrelevadas em
placa e lesões deprimidas brancacentas. Souto et al. (2006) em seu estudo
constataram que bovinos com HEB apresentam macroscopicamente formações
polipóides e lesões sobrelevadas. Espessamento de parede, lesões papilomatosas e
petéquias foram achados descritos por Falbo et al. (2005).
Das 40 bexigas avaliadas, 22 eram neoplásicas e 18 não neoplásicas.
Microscopicamente, as lesões não neoplásicas de urotélio foram metaplasia de células
claras, displasia, hiperplasia, hemorragia, cistite cística e ninhos de Brunn. Peixoto et
al. (2003) também verificaram resultados semelhantes em seu estudo. Cistite,
hiperplasia e hemorragia foram encontrados em bexigas de animais provenientes de
áreas com potencial para presença de HEB por Somvanshi et al. (2012). Os tipos
tumorais encontrados foram classificados como carcinoma de células de transição,
carcinoma in situ e adenocarcinoma (origem epitelial); hemangioma, mixoma e
hemangiossarcoma (origem mesenquimal). Estes dados corroboram o que foi descrito
por Peixoto et al. (2003).
A análise estatística revelou que em relação a espessura do urotélio em cada bexiga as
médias da espessura epitelial dos quadrantes A, B, C e D de uma mesma bexiga são
semelhantes. Isto foi observado tanto nas bexigas sem neoplasia (P>0,05) quanto nas
bexigas com neoplasia (P>0,05). Neste estudo foi obtida uma média da espessura,
portanto, este valor não expressa a medida exata da área acometida por neoplasia. Em
várias amostras foram encontradas neoplasias em mais de um quadrante e, talvez por
isto, tenha-se observado maior homogeneidade dos valores encontrados.
A comparação entre as médias de espessura epitelial por quadrante entre as bexigas
revelou que houve diferença entre a espessura do urotélio das bexigas com neoplasia
e sem neoplasia (P<0,05). Embora as bexigas sem alterações neoplásicas
apresentassem outros tipos de lesões, a proliferação celular observada nas bexigas
com neoplasia permitiu que o epitélio ficasse mais espesso nestas amostras. Isto pode
ser explicado pelo fato do crescimento celular nos processos neoplásicos ocorrer de
forma mais rápida (Meuten, 2002).
Quando avaliada a diferença entre a espessura de epitélio de uma bexiga neoplásica
com uma bexiga não neoplásica, sem levar em consideração os quadrantes, constatou-
se que existe diferença significativa (P<0,05). Assim sendo, é possível afirmar que o
crescimento celular anormal presente nas amostras neoplásicas permite que haja
diferenciação deste para um tecido não neoplásico por meio da análise morfométrica.
Embora não se possa dar um diagnóstico definitivo, a alteração na espessura urotelial
representa um indicativo do tipo de lesão observada (neoplásica ou não). Estes dados
30
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 008, 2013

permitem sugerir que com a utilização de técnicas de diagnóstico por imagem seja
possível realizar precocemente o diagnóstico da HEB por meio da identificação da
alteração da espessura do urotélio. Estes dados corroboram com Hoque et al. (2002).
CONCLUSÕES
A mensuração do urotélio revelou que a média da espessura epitelial dos quadrantes
A, B, C e D de uma mesma bexiga são semelhantes, entretanto, há diferença entre a
espessura de epitélio de uma bexiga neoplásica com o de uma bexiga não neoplásica.
Desta forma, torna-se possível a utilização de métodos auxiliares de diagnóstico menos
invasivos em casos de HEB.
Agradecimento à Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo pelo apoio
financeiro.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, T.; PINTO, C.; PELETEIRO, M. C. Urinary bladder lesions in bovine enzootic haematuria.
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31
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 009, 2013

009.BÓCIO HIPERPLÁSICO DIFUSO EM CAPRINO RECÉM-NASCIDO – RELATO


DE CASO
(Diffuse Hyperplastic Goiter in a Newborn Caprine – Case Report)

Ana Carolina Ortegal Almeida¹; Alexandre A. Arenales Torres¹; Ismael Lira Borges²;
Fabianna de Simone Souza³; Maria Cecília Rui Luvizotto¹; Daniela Bernadete Rozza¹

1- Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ (UNESP) – FMVA, Brasil.


2- Universidade Estadual do Ceará (UECE), Brasil.
3- Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium (UNISALESIANO), Brasil.

RESUMO: A tireóide é uma glândula endócrina localizada na região cervical e seus


hormônios influenciam ativamente vários aspectos do metabolismo. A hiperplasia da
tireóide, também conhecida como bócio, tem sido observada em casos esporádicos
desde a adição de sal iodado na dieta dos animais. Este relato tem como objetivo
descrever um caso de bócio, em um caprino, recém-nascido, que foi encaminhado ao
Serviço de Patologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba
da Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ (FMVA – UNESP). As
alterações macro e microscópicas associadas ao histórico relatado pelo proprietário
foram conclusivas de bócio hiperplásico difuso.
Palavras-chave: glândula tireóide; hiperplasia; caprino
ABSTRACT: The thyroid is as endocrine gland localized in the neck, and its hormones
actively influence many aspects of metabolism. The thyroid hyperplasia, also known as
goiter, had been sporadically observed since the addition of iodized salt to animal diets.
This report aims to describe the case of goiter in a newborn caprine submitted to the
Veterinary Pathology Service of the Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba
da Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ (FMVA – UNESP). The
macro and microscopic alterations associated at the history reported by the owner was
conclusive of diffuse hyperplastic goiter.
Keywords: thyroid gland; hyperplasia; caprine
INTRODUÇÃO
A tireóide é uma glândula endócrina localizada na região cervical e seus hormônios
influenciam ativamente vários aspectos do metabolismo. A tireóide é composta por
folículos de tamanhos variados, que contêm colóide produzido pelas células foliculares.
Estas têm formato cúbico a colunar e são orientadas de modo que seu polo secretor
fique direcionado para o lúmen do folículo. A síntese dos hormônios tireoidianos é
única entre as glândulas endócrinas porque a sua fase final é processada fora das
células, no lúmen do folículo. No lúmen, a tireoglobulina sintetizada pelas células
foliculares é incorporada ao aminoácido tirosina. O iodo se liga à tirosina e forma a
monoiodotirosina (MIT) e a diiodotirosina (DIT). A MID e a DIT se combinam então para
formar as duas iodotironinas ativas, T4 e T3, que são secretadas pela glândula tireóide
(Mcgavin e Zachary, 2009).
Dentre as patologias observadas na tireóide está a hiperplasia das células foliculares,
também conhecida como bócio. A maioria dos mecanismos patogênicos responsáveis
por esta alteração são as dietas deficientes em iodo, componentes bociogênicos que
interferem na produção de tiroxina, excesso de iodo na dieta, e, defeitos enzimáticos
genéticos na biossíntese dos hormônios. Todos estes fatores resultam em síntese
inadequada de tiroxina, e a níveis circulantes baixos de T3 e T4. A hipófise e o
hipotálamo detectam os baixos níveis circulantes destes hormônios e aumentam a
secreção de tireotropina, o que resulta na hipertrofia e hiperplasia das células
foliculares (Jubb et al., 1993).
Dietas alimentares deficientes em iodo, que causam o bócio hiperplásico difuso, eram
comuns antes da adição generalizada de sal iodado na dieta dos animais. Este tipo de
bócio ainda ocorre nos animais domésticos, mas os casos são esporádicos e poucos
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 009, 2013

animais são afetados. A prole de fêmeas alimentadas com dietas pobres em iodo tem
maior probabilidade de desenvolver uma hiperplasia severa das células foliculares da
tireóide, e apresentar sinais clínicos de hipotireoidismo (Mcgavin e Zachary, 2009).
Este trabalho tem como objetivo, relatar o caso de um caprino, recém-nascido com
bócio hiperplásico difuso.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi encaminhado ao Serviço de Patologia da FMVA – UNESP, um caprino, recém-
nascido com aumento de volume bilateral simétrico na região cervical ventral cranial.
Segundo histórico do proprietário, o animal morreu logo após o nascimento. A genitora
teve parto gemelar, e o outro filhote nasceu normal. Outra cabra da propriedade teve
prole semelhante, na qual um filhote nasceu normal e o outro nasceu com o referido
aumento de volume cervical. Ambas as genitoras eram pluríparas e nunca haviam
apresentado problemas semelhantes em proles anteriores. Os animais eram
alimentados a pasto e suplementados com sal mineral que era misturado com sal
comum, na proporção de meio a meio. O proprietário relatou que havia sido
aconselhado a eliminar as duas genitoras do rebanho a fim de evitar problemas
posteriores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na necropsia, notou-se aumento de volume bilateral simétrico na região cervical ventral
cranial, com cada antímero medindo aproximadamente 7,0 cm X 3,0 cm. À remoção da
pele, a massa era avermelhada, de superfície irregular, firme, não cística e bem
vascularizada. Não foram observadas outras alterações no cadáver.
O exame histopatológico da massa revelou tecido glandular semelhante à tireóide,
porém com alterações histológicas significativas. Os folículos apresentavam tamanho e
formato irregulares, com quantidade variável de colóide discretamente eosinofílico.
Alguns folículos encontravam-se colapsados devido à ausência de colóide no lúmen.
As células foliculares estavam arranjadas em camadas únicas ou múltiplas, por vezes
formando papilas que se projetavam para o lúmen do folículo. Estas apresentavam
citoplasma eosinofílico e núcleos hipercromáticos e excêntricos.
Os achados macroscópicos e microscópicos aliados ao histórico do animal levaram a
um diagnóstico de bócio hiperplásico difuso. O desenvolvimento desta patologia
provavelmente ocorreu devido a deficiência de iodo na dieta das genitoras. Caso
tivessem sobrevivido, os animais acometidos poderiam vir a desenvolver bócio coloide
à medida que fossem suplementados com iodo. Da mesma forma, a suplementação
das genitoras e dos demais animais da propriedade provavelmente evitaria a
ocorrência de novos casos. Portanto, o proprietário foi instruído a monitorar as
concentrações de iodo presente na dieta dos animais. Também foi informado de que
não havia necessidade de eliminar as referidas genitoras, uma vez que o bócio
hiperplásico difuso não possui caráter genético ou infeccioso.
CONCLUSÃO
Atualmente a incidência de bócio hiperplásico difuso é esporádica, porém a ocorrência
desta enfermidade deve ser considerada como diagnóstico diferencial em animais com
aumento de volume cervical. É de suma importância a inspeção das concentrações de
iodo na dieta dos animais domésticos, a fim de evitar patologias relacionadas a esse
distúrbio.
REFERÊNCIAS
CAPEN, C. C. The Endocrine Glands. In: JUBB, K. V. F.; KENNEDY, P. C.; PALMER, N. Pathology of
Domestic Animals. 4. ed. San Diego : Academic Press, 1993, Vol. 3, Cap. 3, p.306-316.
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Patologia em Veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro : Eslsevier, 2009, Cap. 12, p. 698-725.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 010, 2013

010. CARCINOMA ADRENOCORTICAL EM UM CAVALO CRIOULO


(Adrenocortical carcinoma in a Crioulo horse)

Maiara Aline Gonçalves¹; Ricardo Pozzobon¹; João Paulo da Exaltação Pascon¹;


Renato Duarte Icar²; Mauro Pereira Soares³; Bruno Leite dos Anjos¹

1 Fundação Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Brasil


2 Médico veterinário autônomo, Brasil
3 Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Brasil

RESUMO: Este trabalho objetivou relatar um caso raro de carcinoma adrenocortical em


um cavalo Crioulo. Os sinais clínicos consistiram em eventos de cólica e alterações
cardíacas. O animal foi eutanasiado e encaminhado para avaliação patológica. Na
necropsia observou-se massa na região da glândula adrenal direita com aderência e
hemorragias adjacentes, além de áreas brancacentas no coração. Microscopicamente,
a massa era formada por células epiteliais neoplásicas em cordões e áreas com
pleomorfismo mais acentuado. Ultraestruturalmente foram observadas células tumorais
com grande quantidade de mitocôndrias e vacúolos de colesterol, confirmando origem
epitelial. Achados foram compatíveis com carcinoma adrenocortical e distúrbios
cardíacos decorrentes do processo neoplásico.
Palavras-chave: glândula adrenal; neoplasia; patologia
ABSTRACT: This study aims to report an unusual case of adrenocortical carcinoma in
a Crioulo horse. Clinical signs consisted of colic episodes and heart disturbances. The
animal was euthanized and sent for pathologic evaluation. At necropsy was observed a
mass in the region of the right adrenal gland with adjacent adherence and hemorrhage
in the colon, and whitish areas in the heart. Microscopically, the mass was composed of
neoplastic epithelial cells arranged in cords and pleomorphic areas. Ultrastructurally,
tumor cells were observed with a large number of mitochondria and vacuoles
cholesterol, confirming epithelial origin. Findings were compatible with the
adrenocortical carcinoma and cardiac disorders resulting from the neoplastic process.
Key words: adrenal gland; neoplasia; pathology
INTRODUÇÃO
Tumores da glândula adrenal são pouco relatados em animais domésticos e os de
maior ocorrência são os adenomas e feocromocitomas (Capen, 2002). Carcinomas
adrenocorticais são menos frequentes e, com exceção dos bovinos e cães idosos,
raramente ocorrem (Fix e Miller, 1987; Capen, 2002; Grossi et al., 2013). Em equinos,
ainda que raros, são relatados adenomas, carcinomas e feocromocitomas (Yovich et
al., 1984; Fix e Miller, 1987; Capen, 2002). Os carcinomas são caracterizados por uma
grande massa amarelada, friável ao corte e intercalada por áreas de mineralização e
podem promover compressão de tecidos adjacentes, hemorragia, peritonite e dor
abdominal (Fix e Miller, 1987; Capen, 2002). Microscopicamente, são compostos por
trabéculas, cordões ou ninhos de células epiteliais neoplásicas do córtex adrenal,
entremeadas por estroma fibrovascular (Kelly et al., 1971; Labelle et al., 2004; Grossi et
al., 2013). Áreas de hemorragia e intensa necrose são observadas com frequência.
Este trabalho objetiva relatar um caso raro de carcinoma adrenocortical em um cavalo
Crioulo com ênfase em suas características clinicopatológicas e ultraestruturais.
MATERIAL E MÉTODOS
Um equino, macho, adulto, Crioulo, foi encaminhado ao Laboratório de Patologia
Veterinária da Universidade Federal do Pampa (LPV- Unipampa) para necropsia após
eutanásia, devido piora do quadro clínico. Fragmentos foram coletados em formol a
10% para processamento histopatológico e microscopia eletrônica de transmissão
(MET). Para esta, amostras foram submersas em solução de lavagem, embebidas em
tetróxido de ósmio a 1% (tampão cacodilato 0.4 M), desidratadas em etanol e
embebidas em Epon 812. Cortes semifinos foram corados com azul de metileno e
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 010, 2013

secções ultrafinas foram coradas com acetato de uranila e citrato de chumbo e


avaliadas com microscópio eletrônico de transmissão.
RESULTADOS
O animal apresentou emagrecimento progressivo, cólica e anterior à eutanásia,
anemia, sinais de endotoxemia e alterações cardíacas caracterizadas por sopro
diastólico em foco aórtico de grau III/VI e taquicardia ventricular multifocal esquerda e
direita, observada por eletrocardiograma. Na necropsia observou-se uma massa com
20 cm de diâmetro, encapsulada, na glândula adrenal direita, macia ao corte,
amarelada, entremeada por pontos enegrecidos e áreas com mineralização. A adrenal
esquerda não foi encontrada. No coração observaram-se hemorragias multifocais e
áreas mais pálidas na musculatura dos ventrículos, e no intestino grosso edema e
hiperemia focal com leve hemorragia na serosa aderida ao tumor. Histologicamente, a
massa era constituída por células neoplásicas dispostas em cordões ou ninhos, com
citoplasma finamente granular, núcleo central ou lateralizado, cromatina vacuolizada e
nucléolos conspícuos. Algumas áreas de maior pleomorfismo com núcleos menores ou
mais alongados e a cromatina densa. O estroma era formado por finos feixes de tecido
conjuntivo e intensa proliferação vascular. Observou-se hemorragia e necrose
multifocal, áreas de invasão da cápsula e células neoplásicas no lúmen de alguns
vasos. No coração, havia leve infiltrado inflamatório linfoplasmocitário e neutrofílico
multifocal e necrose hialina de cardiomiócitos. Ultraestruturalmente foram vistas células
epiteliais neoplásicas do córtex adrenal com grande quantidade de mitocôndrias,
vacúolos de colesterol e junções celulares semelhantes a desmossomos.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de carcinoma adrenocortical foi baseado nos achados patológicos e
ultraestruturais. Os sinais clínicos observados foram semelhantes aos descritos por Fix
e Miller (1987). Distúrbios cardíacos somente são relatados em casos de
feocromocitomas (Yovich et al., 1984), entretanto, as alterações cardíacas observadas
podem estar relacionadas a hipersecreção de cortisol, sugerindo uma atividade
endócrina do neoplasma. Em humanos, a elevação do cortisol sérico está associada a
distúrbios cardiovasculares (Whitworth et al., 2005). O quadro de endotoxemia e cólica,
possivelmente decorreram de enterite causada por compressão e aderência da massa
tumoral ao intestino. A diferenciação entre carcinomas e adenomas na ausência de
metástases é desafiadora, por suas características microscópicas semelhantes. Para
auxiliar na distinção tem-se utilizado a marcação imuno-histoquímica com Ki-67
(Terzolo et al., 2001; Labelle et al., 2004) associado à avaliação histopatológica. Como
critérios de malignidade neste estudo, foram considerados os igualmente utilizados por
Grossi et al. (2013) como morfologia celular, pleomorfismo nuclear, necrose,
hemorragia, invasão capsular e células tumorais no lúmen vascular. A avaliação
ultraestrutural pode ser utilizada (Fix e Miller, 1987; Grossi et al., 2013) e nesse caso
revelou junções celulares semelhantes a desmossomos, igualmente observados por
Fix e Miller (1987), e grânulos neurosecretórios não foram visualizados, confirmando a
origem cortical do tumor.
CONCLUSÃO
Os carcinomas adrenocorticais são raros em equinos e devem ser diferenciados de
outros tumores adrenais, especialmente feocromocitomas, considerando que os sinais
clínicos, principalmente alterações cardíacas, decorrentes do processo neoplásico, são
semelhantes em ambos os casos.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 010, 2013

REFERÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 011, 2013

011. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS VULVAR METASTÁTICO EM UMA


ÉGUA: ASPECTOS CLÍNICOS, ANATOMOPATOLÓGICOS E
IMUNO-HISTOQUÍMICOS
(Vulvar squamous cell carcinoma metastatic in a mare: clinical, pathologic and
immunohistochemical aspects)

Stéfano Leite Dau¹, Ezequiel Davi dos Santos², Tanise Policarpo Machado³, Leonardo
Porto Alves4, Adriana Costa da Motta4

1.Médico Veterinário Residente em Clínica Médica de Equinos, Universidade de Passo Fundo (UPF),
Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.
2.Acadêmico de Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, Rio Grande
do Sul, Brasil.
3.Médica Veterinária Residente em Patologia Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo
Fundo, RS, Brasil
4.Professores do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, Brasil. acmotta@upf.br

RESUMO: Carcinoma de células escamosas (CCE) com metástases distantes é


raramente encontrado em equinos. O objetivo do presente trabalho é descrever uma
forma incomum de CCE em uma égua de 17 anos, o qual se apresentou destrutivo,
invasivo e com metástases disseminadas. O animal apresentava massa anormal de
tecido na vulva, que se expandiu à região perineal, inguinal e glândula mamária,
anorexia, perda progressiva de peso, episódios de cólica e decúbito. Devido ao mau
prognóstico e o custo do tratamento, o proprietário consentiu com a eutanásia. À
necropsia foram observadas massas tumorais disseminadas. O exame histopatológico
constatou CCE Grau II. O exame imuno-histoquímico revelou marcação positiva para
AE1/AE3. A expressão de PCNA demonstrou elevada fração de crescimento tumoral.
Assim, foi evidenciada a origem epitelial e atividade proliferativa do neoplasma.
Palavras-chave: equino; neoplasma; imuno-histoquímica; diagnóstico
ABSTRACT: Squamous cell carcinoma (SCC) with distant metastases is rarely found in
horses. The aim of this paper is to describe an unusual form of CCE in a mare of 17
years, which showed destructive, invasive and metastatic spread. The animal showed
abnormal mass of tissue in the vulva, which expanded the perineal and inguinal
mammary gland, anorexia, progressive weight loss, episodes of colic and recumbency.
Due to the poor prognosis and cost of treatment, the owner consented to euthanasia. At
necropsy were observed disseminated tumor masses. Histopathological examination
showed CCE Grade II. The immunohistochemical analysis revealed positive staining for
AE1/AE3. The expression of PCNA showed high tumor growth fraction. Thus showed
the epithelial origin and activity proliferative neoplasm.
Key words: equine; neoplasm; immunohistochemistry; diagnosis
INTRODUÇÃO
O carcinoma de células escamosas (CCE) é o segundo tumor mais comum na genitália
externa de equinos. Alguns fatores predisponentes associados com o desenvolvimento
de CCE são a exposição a níveis elevados de radiação ultravioleta, a presença de
áreas não pigmentadas da pele ou das membranas mucosas, a presença de regiões
calvas e infecção com o vírus do papiloma (Ramos et al., 2007; Smith, 2009). As
regiões mais comuns de ocorrência são a ocular, o pênis e/ou prepúcio, a vulva, região
perianal e pele (Valentim, 2006). Metástase abdominal pode causar sinais clínicos
inespecíficos, como anemia, anorexia, apatia e episódios leves e intermitentes de
cólica, tornando o diagnóstico mais difícil de ser alcançado (Pizzigatti et al., 2011). O
presente trabalho tem como objetivo descrever uma forma incomum de CCE equino
diagnosticado no Laboratório de Patologia Animal (LPA) da Universidade de Passo
Fundo (UPF), caracterizando seus aspectos clínicos, anatomopatológicos e imuno-
histoquímicos.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 011, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
O animal foi atendido no Hospital Veterinário (HV) da UPF, onde foi realizado exame
clínico, hemograma, biópsia da vulva e, posteriormente, necropsia. Foram coletadas
amostras de todos os órgãos e fixadas em formalina tamponada 10% e processadas
por métodos histoquímicos convencionais e corados com hematoxilina e eosina (HE).
Amostras do neoplasma obtidos por biópsia e, durante a necropsia (vulva, linfonodos e
costela), foram submetidas à análise imuno-histoquímica com recuperação antigênica
em calor úmido e com solução de recuperação antigênica (Dako) empregando-se a
técnica streptavidina-biotina. Foram utilizados os anticorpos anti-citoqueratina
(AE1/AE3, Dako) e PCNA (PC10-Zeta) com controles positivos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Uma égua de 17 anos de idade, sem raça definida, utilizada para tração no município
de Passo Fundo, foi encaminhada para atendimento no HV apresentando massa
anormal de tecido na região da vulva e perianal, sugestiva de neoplasma. Além da
lesão, que apresentou crescimento rápido no último mês, o animal exibia, ainda,
anorexia, depressão, desidratação, mau estado corporal, palidez das mucosas, perda
de peso progressiva, episódios de cólica e decúbito. A evolução clínica foi de 2 meses.
O exame de sangue revelou anemia. A massa era ulcerada e hemorrágica, envolvendo
todas as margens da vulva e estendia-se à região inguinal, invadindo a glândula
mamária. A biópsia revelou a presença de células escamosas malignas, redondas a
ovais, por vezes poliédricas, com núcleos grandes e hipercromáticos, apresentando
numerosas mitoses, rara queratinização central, distribuídas em padrão trabecular
intercaladas por estroma fibroso consistindo de CCE moderadamente diferenciado.
Assim, o proprietário consentiu a eutanásia e o animal foi necropsiado. Os achados de
necropsia consistiram de massas tumorais presentes na vulva, períneo e glândulas
mamárias, de cor branco-acinzentadas, de consistência firme a endurecida, por vezes
com áreas friáveis amareladas, invasivas, ulceradas e com formação de abscessos.
Havia massas sugestivas de metástases em diversos órgãos, tais como adrenais,
linfonodos mesentéricos, renais e mediastínicos, pulmão, saco pericárdico, músculos
intercostais com invasão e destruição da 15ª costela direita, bem como presença de
massa tumoral ao redor da veia ázigo. Os achados histopatológicos foram
caracterizados pela desorganização da arquitetura tecidual da vulva e dos órgãos
mencionados anteriormente e, eram similares aos da biópisa, com a adição de áreas
com arranjo sólido apresentando focos de necrose tumoral, além de pleomorfismo
nuclear e mitoses atípicas abundantes. Assim, confirmou tratar-se de CCE
moderadamente diferenciado de origem vulvar, agressivo e metastático. Para verificar
a origem do neoplasma e sua atividade proliferativa foi realizado estudo imuno-
histoquímico através da avaliação da expressão de citoqueratinas e do PCNA em
amostras da vulva, linfonodos e costela. O exame imuno-histoquímico revelou
marcação citoplasmática positiva para citoqueratinas (AE1/AE3) e expressão nuclear
do PCNA. E, portanto, foi confirmada a origem epitelial e elevada atividade proliferativa.
A égua do presente relato apresentava idade avançada e a região da vulva não era
pigmentada, caracteristicas predisponentes ao desenvolvimento de CCE (Foy et al.,
2002). O desenvolvimento das metástases ocorreu, provavelmente, devido ao longo
período entre o aparecimento do neoplasma e o diagnóstico. O CCE costuma
apresentar crescimento lento e, normalmente, apresentar um baixo potencial
metastático (Goldshmidt e Hendrick, 2002). Muitos autores descrevem a metástase do
CCE envolvendo apenas os linfonodos regionais (Monteiro et al., 2009; Perrier et al.,
2010), especialmente aqueles de origem da genitália externa. Contudo, há relatos de
CCE com metástase para outros órgãos, como pulmão, fígado e peritônio. Até o
presente, casos de CCE vulvar destrutivos, invasivos e com metástases disseminadas
não têm sido descritos. A marcação nuclear das células neoplásicas da vulva com o
PCNA demonstrou o elevado índice mitótico e a agressividade do neoplasma.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 011, 2013

CONCLUSÃO
Os achados anatomopatológicos e imuno-histoquímicos permitiram o diagnóstico
definitivo de CCE vulvar de Grau II invasivo e metastático. Neoplasmas abdominais
devem ser considerados em equinos com idade avançada que apresentam tumor na
genitália externa apresentando sinais inespecíficos de desconforto abdominal.
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39
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 012, 2013

012. CENUROSE CEREBRAL EM BOVINO


(Cerebral coenurosis in cattle)

Paula Roberta Giaretta, Juliana Sperotto Brum, Glauco José Nogueira de Galiza,
Guilherme Konradt, Ronaldo Michel Bianchi, Claudio Severo Lombardo de Barros

Departamento de Patologia Veterinária, Universidade Federal de Santa Maria


paula_giaretta@hotmail.com

RESUMO: Os aspectos clínicos e morfológicos da ocorrência de cenurose cerebral em


um bovino são relatados. O bovino apresentou incoordenação, cabeça elevada e
opistótono. Na necropsia, observou-se um cisto que ocupava o terceiro ventrículo e
distendia o lado esquerdo do encéfalo, comprimindo a substância branca e o
hipocampo. O cisto continha numerosos escólices aderidos à face interna da
membrana. O diagnóstico de cenurose cerebral neste caso foi baseado nos achados
morfológicos.
Palavras-chave: metacestoides, coenurus cerebralis; multiceps multiceps
ABSTRACT: Clinical and pathological aspects of cerebral coenurosis in an ox are
reported. The ox had incoordination, head held up high and opisthotonos. At necropsy a
cyst was observed occupying the third ventricle distending the left encephalic
hemisphere, compressing the white matter and the hippocampus. The cyst contained
several scolices attached to the internal aspect of the membrane of the cyst. The
diagnosis o cerebral coenurosis in this case was based the morphological findings.
Key words: metacestoids,coenurus cerebralis; multiceps multiceps
INTRODUÇÃO
A cenurose é uma doença parasitária causada pelo Coenurus cerebralis, a forma larval
da tênia Taenia multiceps, que habita o intestino de cães e outros carnívoros silvestres,
que são os hospedeiros definitivos (Scharma e Chauhan 2005). A doença acomete
principalmente ovinos (Rissi et al., 2008) sendo raramente relatada em caprinos
(Nourani e Kheirabadi, 2009) e bovinos (Greig, 1977; Yoshino e Momotani, 1987;
Ferreira et al., 1992; Giadinis et al., 2007; Avcioglu et al., 2012).
Os hospedeiros definitivos liberam os ovos nas fezes, que contêm as oncosferas. Os
hospedeiros intermediários ingerem os ovos, liberando as oncosferas no intestino.
Estas penetram a mucosa intestinal e através da corrente sanguínea chegam até o
encéfalo e medula espinhal, onde a larva se desenvolve. O ciclo se completa quando o
hospedeiro definitivo ingere as formas larvais maduras nas carcaças (Gardiner e
Poyinton, 1999). O objetivo deste trabalho é relatar os sinais clínicos, achados de
necropsia e histopatológicos de um caso de cenurose cerebral em um bovino no Rio
Grande do Sul.
MATERIAIS E MÉTODOS
A equipe do Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Santa
Maria realizou uma visita à propriedade no sudoeste do Rio Grande do Sul. Procedeu-
se a anamnese e o exame clínico do animal e devido ao seu estado debilitado,
realizou-se a eutanásia, seguida da necropsia. Fragmentos de vários órgãos e o
encéfalo inteiro foram coletados e fixados em formol a 10%. A descrição macroscópica
foi realizada a partir de cortes seriados de 1 cm do encéfalo. O material foi processado
rotineiramente para histopatologia e as lâminas foram coradas pela técnica de
hematoxilina-eosina (H&E).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um bovino, macho castrado, SRD, de 2 anos de idade, foi observado apresentando
incoordenação, cegueira e elevação da cabeça por 10 dias. O quadro evoluiu para
apatia e decúbito por dois dias, observando-se opistótono e nistagmo. Esse bovino
pertencia a um lote de aproximadamente 600 bovinos com 6-36 meses, criados em

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 012, 2013

sistema extensivo. Os bovinos pernoitavam em uma área de 2 hectares, em lotes de


250 animais, sem acesso a alimentação.
No exame do encéfalo observou-se o prolongamento de um cisto através da fissura
transversa para a região dorsal cranial dos corpos quadrigêmeos. Ao corte do encéfalo,
verificou-se um cisto translúcido, localizado no terceiro ventrículo, com 3,3 x 3,5 x 3 cm
e revestido por uma fina membrana transparente. No interior do cisto havia numerosas
estruturas brancas e levemente alongadas, de aproximadamente 1 mm (escólices), que
estavam aderidas à face interna da membrana. O cisto comprimia a substância branca,
causando atrofia do hipocampo no lado esquerdo do encéfalo.
No exame histopatológico, o cisto era composto por duas membranas eosinofílicas
(interna e externa). Havia invaginações da membrana interna, das quais se originavam
múltiplos escólices ovais de aproximadamente 1 mm de diâmetro. Os escólices
possuíam parênquima acelomado, envolto por tegumento e sem trato digestivo. O
parênquima continha múltiplos agregados granulares, basofílicos e ovais (corpúsculos
calcáreos). Em algumas seções dos escólices, observou-se o aparelho sugador e o
rostelo com ganchos. Os sinais clínicos, os achados macroscópicos e histopatológicos
neste caso confirmam o diagnóstico de cenurose cerebral neste bovino. A cenurose é
uma doença incomum nesta espécie, havendo somente um relato no Brasil (Ferreira et
al 1992).
As características histológicas dos escólices acelomados caracterizam o parasita nas
classes Cestoda ou Trematoda. Pelo fato de apresentar corpos calcáreos no
parênquima e pela ausência de trato digestivo, este foi classificado como um cestódeo.
Os ganchos visualizados o caracteriza como membro da família Taeniidae. Dentre os
tipos de cistos larvais desta família, o Coenurus é o que possui inúmeros escólices e
não apresenta cápsula prolígera, o que o diferencia do cisto hidático. A localização no
sistema nervoso e os aspectos morfológicos são característicos das larvas de T.
multiceps. O fato dos bovinos ficarem em lotes com alta lotação durante a noite pode
ter contribuído epidemiologicamente para a infecção, pois esse piquete ficava próximo
à habitação dos cães, e estes tinham livre acesso por toda a propriedade.
CONCLUSÃO
O presente trabalho demonstra que a cenurose cerebral em bovinos, embora incomum,
deve ser incluída como diagnóstico diferencial em doenças do sistema nervoso nesta
espécie.
REFERÊNCIAS
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features of bovine coenurosis: case reports. Revue de Medecine Veterinaire, v.163, n.6., p.295-298,
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GARDINER, C.H; POYINTON, S.L. An atlas of metazoan parasites in animal tissues. Washington :
Armed Forces Institute Pathology, 1999. 64 p.
GIADINIS, N.D.; BRELLOU, G.; POURLIOTIS, K. et al., Coenurosis in a beef cattle herd in Greece. The
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Rural, v.38, n.4, p.1044-1049, 2008.
SHARMA, D.K.; CHAUHAN, P.P.S. Coenurosis status in Afro-Asian region: A review. Small Ruminant
Research, v.64, n.1, p.197-202, 2006.
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41
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 013, 2013

013. COLANGIOCARCINOMA COM METÁSTASE PULMONAR EM UMA VACA


HOLANDESA
(Cholangiocarcinoma with lung metastasis in a Holstein cow)

Edismair Carvalho Garcia¹, Rafaela Perini², Leonardo Gruchouskei³, Geane Maciel


Pagliosa4, Fernando França Giraldes5, Aline de Marco Viott4

1. Mestrando em Ciência Animal, UFPR – Setor Palotina, Palotina - PR;


2.Graduação em Medicina Veterinária, UFPR – Setor Palotina, Palotina - PR;
3.Técnico de Laboratório, médico veterinário, UFFS, Realeza-PR;
4.Docente, UFPR- Setor Palotina, Palotina - PR;
5.Técnico de Laboratório, Biólogo, UFPR – Setor Palotina, Palotina - PR

RESUMO: Um colangiocarcinoma (CCA) com metástase para o pulmão e omento foi


avaliado sob o âmbito clínico, macroscópico e histopatológico em uma vaca Holandesa.
Embora a inespecificidade dos sinais clínicos observados, o tumor foi caracterizado
pela proliferação de células epiteliais que formavam ácinos irregulares. Esse padrão foi
observado nos nódulos encontrados no fígado e em metástases observadas no pulmão
e omento. Os achados macroscópicos e microscópicos foram compatíveis com CCA
metastático.
Palavras-chave: neoplasia, fígado, bovino
ABSTRACT: A cholangiocarcinoma (CCA) with metastasis to the lung and omentum in
a Holstein cow was evaluated under clinical, macroscopic and histopathological
methods. Although the lack of specific clinical signs, the tumor was characterized by the
proliferation of epithelial cells forming irregular acini. This pattern was observed in
nodules found in the liver and in the lung and omentum metastasis. Macroscopic and
microscopic characteristics were consistent with metastatic CCA.
Key words: tumours, liver, cattle
INTRODUÇÃO
Neoplasias hepáticas em bovinos são raras, não apresentam sinais clínicos específicos
e geralmente constituem achados incidentais no exame necroscópico (Braun et al.,
2005). Tumores primários do fígado em grandes animais são predominantemente de
origem epitelial e ainda que tenham características histológicas de malignidade,
dificilmente desenvolvem metástases (Bettini e Marcato, 1992). Colangiocarcinomas
(CCA) são neoplasias malignas que se originam das células epiteliais dos ductos
biliares intra ou extra-hepáticos (Cullen e Poop, 2002) e já foram descritas em várias
espécies animais incluindo cães, gatos, ovinos, caprinos, bovinos e equinos (Stalker e
Hayes, 2007). Este trabalho tem por objetivo descrever os achados clínicos,
macroscópicos e histopatológicos de um caso de CCA metastático em um bovino.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma vaca Holandesa, com oito anos de idade foi avaliada clinicamente devido a um
histórico de perda excessiva de peso e demasiada redução na produção leiteira.
Devido ao mau prognóstico optou-se pela eutanásia e realização da necropsia.
Fragmentos de diversos órgãos foram imediatamente fixados em solução de formol a
10%, processados rotineiramente e embebidos em parafina. Os tecidos foram cortados
com 5 μm de espessura e corados através da coloração de hematoxilina e eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A evolução clínica iniciou-se com a informação de que há seis meses o bovino havia
ingerido uma grande quantidade de grãos com posterior desenvolvimento de um
quadro grave de acidose ruminal. Este episódio culminou com inflamação severa da
mucosa ruminal, que era perceptível devido às intensas cicatrizes ruminais que
apresentavam em alguns focos lesão de continuidade com o fígado. Embora a
extensão inflamatória não pôde ser comprovada com clareza neste caso, a relação
entre os processos inflamatórios e a oncogênese parece estar cada vez mais clara,
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 013, 2013

revelando danos citotóxicos e mutagênicos no DNA celular causados por metabólitos


oxidativos provenientes da inflamação (Nguyen et al. 1992; Sripa et al. 2007).
Clinicamente, notou-se emaciação e intensa dificuldade respiratória com estertores
pulmonares graves e bilaterais. O animal ainda apresentava tosse com expectoração
de coágulos sanguíneos entremeados a muco e já havia sido tratado para
broncopneumonia por um mês, mas sem melhora no estado clínico. O exame de
tuberculina resultou inconclusivo. Braun et al. (2005), estudando achados clínicos e
ultrassonográficos de bovinos com neoplasias hepáticas, relataram semelhante
evolução clínica com apresentação de sinais clínicos inespecíficos, como anorexia e
perda de peso, presentes de modo mais evidente nos últimos dois meses de vida do
animal do presente relato.
Durante a necropsia, havia na superfície do fígado diversas massas nodulares firmes,
de coloração branca a amarelada, difusas, moderadas a acentuadas, medindo entre 1
e 3 cm de diâmetro, visualizadas também no parênquima. No omento notou-se grande
quantidade de nódulos firmes, de coloração branca a amarelada e medindo entre 0,3 a
2 cm de diâmetro. Tais achados macroscópicos são comuns a alguns estudos com
tumores hepáticos (Bettini e Marcato, 1992; Braun et al., 2005; Jeong et al., 2005; Conti
et al., 2008), variando apenas nas dimensões das lesões e espécie animal acometida.
Nos pulmões observou-se enfisema difuso acentuado e presença de nódulos
multifocais a coalescentes acentuados, firmes, de coloração branca a amarelada e
medindo entre 1 e 6 cm de diâmetro. Os linfonodos mediastínicos e hepáticos estavam
acentuadamente aumentados e, ao corte, o tecido linfóide estava parcialmente
substituído por uma massa branca firme, semelhante à observada no fígado e no
omento. Embora seja uma neoplasia rara e dificilmente causadora de metástases
(Bettini e Marcato, 1992), o comportamento de crescimento altamente invasivo do CCA
parece colaborar para que a disseminação das células neoplásicas não seja tão
incomum, sobretudo para os pulmões e linfonodos regionais, incluindo os hepáticos e
mediastínicos (Cullen et al., 2002; Braun et al., 2005; Stalker e Hayes, 2007; Conti et
al., 2008), como observado no bovino deste trabalho.
Na avaliação histológica do fígado, entremeado a fibrose multifocal a coalescente
acentuada, notou-se proliferação de células epiteliais que se arranjavam na forma de
ácinos tubulares irregulares, ora apresentando lúmen, ora não. As células neoplásicas
possuíam núcleo basofílico arredondado com cromatina frouxa e com um a cinco
nucléolos evidentes. O citoplasma era eosinofílico, moderado e indistinto. O
pleomorfismo celular era acentuado. Havia anisocitose severa com a formação de
núcleos atípicos. As figuras de mitose eram moderadas, de três a cinco por campo de
grande aumento. Em meio à neoplasia observavam-se áreas de necrose multifocal do
tecido hepático remanescente e poucas células inflamatórias, constituídas
principalmente por linfócitos, histiócitos e plasmócitos. No pulmão foi revelada
metástase multifocal da neoplasia presente no fígado. Os achados microscópicos das
lesões neoplásicas encontradas no presente caso são característicos de CCA, já
relatado por outros autores (Cullen e Poop, 2002; Stalker e Hayes, 2007).
CONCLUSÕES
Com base nos achados clínicos, macro e microscópicos, firmou-se o diagnóstico de
CCA metastático bovino.

43
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 013, 2013

REFERÊNCIAS
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cholangiocellular carcinoma in a horse. Veterinary Research Communications, vol. 32 (Supplement 1), p.
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CULLEN, J.M., POOP, J.A. Tumor of the liver and gallbladder. In: MEUTEN, D.J. Tumors in Domestic
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STALKER, M.J., HAYES, M.A. Liver and biliary system. In: MAXIE, M.G., Jubb, Kennedy and Palmer‘s
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44
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 014, 2013

014. COMPROVAÇÃO DA INFECTIVIDADE DE Toxoplasma gondii NO SÊMEN DE


CARNEIRO PELA BIOPROVA E HISTOPATOLOGIA
(Evidence of infectivity Toxoplasma gondii in the ram semen by bioassay and
histopathology)

Andressa Ferreira da Silva¹; Luis Fonseca Matos², Edwards Frazão-Teixeira²;


Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira²; Franciele Basso Fernandes Silva³; Ana
Maria Reis Ferreira4

1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Curso de Medicina Veterinária.


2 Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Curso de Med. Vet.
3 Universidade Federal Fluminense, Pós-graduação em Patologia
4Universidade Federal Fluminense, Curso de Medicina Veterinária
mvandressa@yahoo.com.br

RESUMO: Com este estudo pretendemos testar pela primeira vez a capacidade do T.
gondii em continuar infectante após o processo de congelação do sêmen
experimentalmente infectado pelo parasito, por meio da brioprova e histopatologia em
camundongos. Amostras seminais de carneiro foram infectadas experimentalmente
com taquizoítos de T. gondii e congeladas em nitrogênio líquido, após este processo,
foram descongeladas e inoculadas via intra-peritoneal em camundongos para
realização da bioprova e histopatologia. No exame histopatológico do estômago e
fígado dos camundongos, observou-se inúmeros taquizoítos e pseudocistos de T.
gondii. O tecido pulmonar apresentou congestão e infiltrado inflamatório mononuclear
focal, além de áreas de congestão e edema.
Esses achados são semelhantes às lesões descritas por outros pesquisadores. A
bioprova e a histopatologia comprovaram que o agente toxoplásmico possui
capacidade de continuar infectante no sêmen de carneiro, após a criopreservação e
descongelação do sêmen, o que pode representar um risco para a inseminação
artificial.
Palavras-chave: congelação, sêmen, toxoplasmose, bioprova, ovino
ABSTRACT: In this study, we tested for the first time the capacity of T. gondii infecting
continue after the process of freezing semen experimentally contaminated by the
parasite by bioassay and histopathology in mice. Ram semen samples were
experimentally contaminated with tachyzoites of T. gondii and frozen in liquid nitrogen,
after this process, were thawed and inoculated intraperitoneally into mice to perform the
bioassay and histopathology. Histopathology of the stomach and liver of mice, we
observed numerous tachyzoites and pseudocysts. The lung tissue showed congestion
and focal mononuclear cell infiltration, and areas of congestion and edema. These
findings are similar to the lesions described by other researchers. The bioassay and
histopathology confirmed that the T. gondii, has the capacity to continue infecting sheep
semen after cryopreservation and thawing semen, which may represent a risk for
artificial insemination.
Keywords: freezing, semen, toxoplasmosis, bioassay, ram
INTRODUÇÃO
A detecção de T. gondii no sêmen já foi comprovada em pesquisas realizadas em
espécies animais (Dubey e Sharma 1980, Lopes et al., 2009, Arantes et al., 2009).
Entretanto, todas estas espécies foram experimentalmente infectadas por via oral e/ou
subcutânea (SC) com o parasito. Apesar dos dados publicados quanto ao isolamento
de T. gondii em amostras seminais de ovinos, sugerirem a possibilidade deste coccídeo
ser transmitido sexualmente, inexiste na literatura consultada estudos que comprovem
a capacidade de infectividade do T. gondii no sêmen após o processo de congelação.
Com o presente estudo, pretendemos testar pela primeira vez a capacidade do T.
gondii em continuar infectante após o processo de congelação do sêmen
45
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 014, 2013

experimentalmente infectado pelo parasito, por meio da bioprova e histopatologia em


camundongos.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado em etapas que compreenderam a coleta de sêmen de
carneiro, infecção experimental no sêmen com taquizoítos de T. gondii e congelação do
sêmen infectado e grupo controle (sem adição dos taquizoítos), além da bioprova e
histopatologia para comprovação da infectividade. O sêmen de um carneiro
soronegativo para T. gondii foi coletado por eletroestimulação e o volume final foi
dividido para adição dos taquizoítos (15x106/taquizoítos/palheta) e outra destinada ao
grupo controle. Posteriormente foi realizado a congelação do sêmen em nitrogênio
líquido. Para comprovação da infectividade de T. gondii no sêmen congelado, amostras
seminais foram descongeladas e inoculadas via intra-peritoneal em camundongos
(bioprova). Para tanto, foram usados oito camundongos, quatro inoculados com sêmen
infectado e quatro com sêmen não infectado. Após a morte espontânea dos
camundongos infectados, foram coletados tecidos de pulmão, coração, fígado e
estômago para a realização da histopatologia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No exame histopatológico dos tecidos dos camundongos observou-se lesões
caracterizadas por congestão no tecido, pulmonar, cardíaco e hepático. O intestino e
fígado dos camundongos apresentaram inúmeros taquizoítos e pseudocistos. O tecido
pulmonar apresentou congestão e infiltrado inflamatório mononuclear focal, além de
áreas de congestão e edema. Esses achados são semelhantes às lesões descritas por
outros pesquisadores (Buxton 1990; Motta et al., 2008; Mattos et al., 2009; Silva et al.,
2013).
No presente estudo não foram observadas lesões acentuadas nos órgãos avaliados.
Mattos et al., (2009) também não evidenciaram alterações graves nos tecidos de
camundongos infectados por T. gondii. Os taquizoítos e pseudocistos encontrados nos
tecidos gástrico e hepático, confirmam a infecção aguda toxoplásmica nos animais
examinados. Outros pesquisadores relatam que estas estruturas são difíceis de serem
visualizados nos tecidos de animais pela histopatologia (Cremers et al., 1991, Silva e
Langoni 2001, Oliveira et al., 2001). De acordo com Esteban-Redondo et al., (1999) a
detecção do T. gondii em amostra de tecido animal é limitada e difícil porque o parasito
pode estar presente na amostra que não foi examinada do mesmo animal.
A bioprova realizada com os camundongos inoculados com sêmen infectado com
taquizoítos vieram a óbito em até duas semanas pós-inoculação, enquanto que o grupo
controle não adoeceu, o que confirma a infectividade do parasito.
O sêmen infectado experimentalmente com taquizoítos de T. gondii neste estudo
apresentou infectividade após a criopreservação. Lopes et al., (2009) também
obtiveram resultados satisfatórios com a bioprova, contudo o sêmen utilizado por eles
provinha de inoculação SC e oral nos carneiros e posterior coleta de sêmen, diferente
deste estudo no qual a infecção ocorreu diretamente no sêmen. Estudos de infecção
experimental de T. gondii diretamente no sêmen e congelação do mesmo após a
infecção, são inexistentes em ovinos na literatura consultada. A presente pesquisa
relata pela primeira vez, a capacidade de criopreservação do parasito no sêmen,
demonstrando que após a congelação o parasito continua infectante. Estes dados
chamam a atenção principalmente quando se utiliza sêmen congelado contaminado por
T. gondii, pois pode haver a possibilidade de infecção na fêmea submetida a
inseminação artificial.
CONCLUSÃO
O agente toxoplásmico possui capacidade de continuar infectante no sêmen de
carneiro, após a criopreservação e descongelação, comprovada pela histopatologia e
bioprova.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 014, 2013

NOTA INFORMATIVA: Aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) -


260/2012. Este estudo fez parte da tese doutoral da primeira autora, realizada na UFF.
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SILVA, A.V., LANGONI, H. The detection of Toxoplasma gondii by comparing
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of Toxoplasma gondii in tissues from Modified Agglutination Test positive sheep.
Veterinary Parasitology, v.191, p.347-352, 2013.

47
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 015, 2013

015. DETECÇÃO DE Mycoplasma bovis POR IMUNO-HISTOQUÍMICA NO TECIDO


PULMONAR DE BOVINOS CONFINADOS. PRIMEIROS CASOS DE PNEUMONIA
MICOPLÁSMICA NA ARGENTINA
(Detection of Mycoplasma bovis by immunohistochemistry in lung tissue of
feedlot cattle)

Carlos Margineda¹, Fernando Bessone², Hernán Piscitelli¹, Edgardo Nicolino², Gustavo


Zielinski¹, Alfonso López³

1 Grupo de Sanidad Animal, EEA Marcos Juárez, Instituto Nacional de Tecnología


Agropecuaria, Marcos Juárez, Cordoba, Argentina.
2Cátedra de Enfermedades Infecciosas, Facultad de Ciencias Veterinarias, Universidad
Nacional de Rosario, Casilda, Santa Fé, Argentina.
3Department of Pathology and Microbiology, Atlantic Veterinary College, University of
Prince Edward Island, Charlottetown, PEI, Canada.

RESUMO: Mycoplasma bovis surgiu em vários países como uma importante causa de
pneumonia em bovinos confinados. O objetivo deste artigo é descrever os achados
clínicos e patológicos de dois casos de pneumonia em bovinos que ocorreram em
diferentes confinamentos na Argentina. Necropsias animais, histopatologia,
bacteriologia e imunohistoquímica foram realizadas nos pulmões dos dois animais que
apresentavam sintomas respiratórios. No exame patológico houve broncopneumonia
grave, com múltiplos focos de necrose caseosa, que correspondeu ao microscópio para
inflamação piogranulomatosa com centros ovais necróticos. Imuno-histoquímica
realizada nestes dois pulmões foi positiva para Mycoplasma bovis. Na Argentina,
Mycoplasma bovis foi isolado em 2001 a partir de um caso de mastite, mas não há
casos de pneumonia em bovinos. De acordo com a informação de que dispomos, este
é um dos primeiros casos deste tipo de pneumonia descrito na Argentina.
Palavras-chave: bovinos confinados-Mycoplasma bovis-relato de caso-pneumonia
ABSTRACT: Mycoplasma bovis has emerged in several countries as an important
cause of pneumonia in feedlot cattle. The aim of this paper is to describe the clinical
and pathological findings of 2 cases of pneumonia in cattle occurred at different feedlots
in Argentina. We performed necropsies, histopathology, bacteriology and
immunohistochemistry in two animals with respiratory signs. Gross examination
revealed severe bronchopneumonia with multiple foci of caseous necrosis that
corresponded microscopically to pyogranulomatous inflammation with necrotic oval
centers. Immunohistochemistry on these lung lesions tested positive for Mycoplasma
bovis. In Argentina Mycoplasma bovis was isolated in 2001 from a case of mastitis but
there are no reports of pneumonia in cattle. To our knowledge these are the first cases
of this type of pneumonia described in Argentina.
Key words: case report-feedlot cattle-Mycoplasma bovis-pneumonia
INTRODUCTION
During the last two decades Mycoplasma bovis (M. bovis) has emerged as one of the
most important bovine respiratory pathogens in North America. Although M. bovis can
be found in the nasopharynx of healthy cattle, this pathogen can also cause a variety of
diseases such as pneumonia, arthritis, synovitis, keratoconjunctivitis, mastitis, metritis,
abortion, infertility, otitis and decubital abscesses (Nicholas and Ayling 2003).
Epidemiological studies revealed that the incidence of M. bovis pneumonia has
increased notably in the US and Canada (Fulton et al. 2009, Nicholas and Ayling,
2003), and most recently it was also reported in Mexican feedlots (Ramirez el al.
2011).The aim of this paper is to describe two outbreaks of M. bovis pneumonia in
feedlot cattle in Argentina, which we think is the first report of this type of pneumonia for
this country.

48
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 015, 2013

MATERIALS AND METHODS


These outbreaks occurred in two different feedlots (case A and case B) in Argentina.
Case A occurred in April 2013, in a feedlot with 1800 animals, located near the town of
Chañar Ladeado (33°20'19.42 "S, 61° 56'9 .35" W) Santa Fe. Case B occurred in June
2012, in a feedlot with 7500 animals, located near the town of Carcarañá (32°50'47.36
"S, 61° 10'13.68" W), Santa Fe. In both outbreaks affected steers were typically 6-8
months of age after staying 40 (case A) and 77 days (case B) in the fattening feedlot.
Clinical signs included chronic cough and dyspnea, and some affected animals also
developed severe locomotion difficulties. Morbidity for respiratory disease in the
affected troop was 16% (case A) and 6 % (case B) while mortality reached 6% and 1,6
%, respectively. During routine necropsy, samples of lung were fixed in 10% buffered
formalin for histological studies while other samples were submitted for bacteriological
culture. Formalin tissues were dehydrated, embedded in paraffin, sectioned at 4-5
microns and stained with hematoxylineosin. Selected paraffin-embedded tissues taken
from pneumonic lungs were submitted for M. bovis immunohistochemistry. Tissues
were stained with avidin-biotin and diaminobenzidine chromogen, and counterstained
with haematoxylin following standard procedures for the detection of M. bovis (Haines
and Chelack, 1991). Duplicate sections for each paraffin block were tested for M. bovis
using a monoclonal antibody at 1: 400 and 1: 800 dilutions. Positive and negative
controls were used for this study. No other Mycoplasma species were tested.
Lung samples for bacterial culture were inoculated onto 6% equine blood agar plates
and incubated at 37°C in a candle jarfor 48 hours. Mycoplasma spp. culture was not
attempted for these samples.
RESULTS
Postmortem examination of both animals revealed bilateral cranioventral consolidation,
affecting up to 60-70% of the total lung parenchyma. Consolidated lungs had firm
texture and showed nodular appearance (bosselated). On the cut surface, the
pulmonary parenchyma exhibited numerous white nodules ranging from 2 to 10 mm in
diameter which were composed of caseous necrotic material. Some of these nodules
were coalescing and forming larger necrotic areas. The elbow, stifle and hock joints of
some animals also showed abundant cloudy synovial fluid containing fibrin tags.
Microscopically, consolidated lung consisted on extended areas of
bronchiocentricnecrosis characterized by a large center of a hypereosinophilic granular
material which was surrounded by a band of fibroblasts, macrophages, lymphocytes
and plasma cells. The walls of many bronchi were necrotic and distended, while the
surrounding bronchoalveolar spaces were filled with neutrophils and alveolar
macrophages. M. bovis antigen was strongly positive by immunohistochemistry in the
periphery of the necrotic lesions. Bacterial cultures tested negative for Mannheimia,
Pasteurella and Histophilus.
DISCUSSION
Postmortem and microscopic pneumonic findings were highly suggestive of M.
bovis pneumonia. The nodular or bosselated appearance of consolidated lungs, along
with the presence of caseo-necrotic nodules is the typical gross lesion produced by M.
bovis in the lung. This bosselated appearance results from chronic bronchiectasis
caused by chronic bronchitis due to M. bovis lung infection. Microscopic evidence of a
hypereosinophilc granular material surrounded by a rim of fibroblasts is also typical
lesion produced by M. bovis pneumonia. However, final or confirmative diagnosis
always requires the demonstration of intralesional mycoplasmal antigen by
immunohistochemistry or by culture isolation and identification of the etiological agent in
special culture media supporting mycoplasmal growth. Since we did not have available
such technology, paraffin-embedded blocks were sent to a specialized laboratory in
Canada for immunohistochemistry.
49
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 015, 2013

CONCLUSION
To our knowledge these are the first confirmed and documented cases of M. bovis
pneumonia in Argentina, although M bovis was isolated and identified from a case of
mastitis in dairy cows in 2001 (Cerdá et al. 2001).
REFERENCES
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50
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 016, 2013

016. DOENÇAS NEUROLÓGICAS DE EQUINOS DO DISTRITO FEDERAL E GOIÁS


(2003-2013)
(Neurological diseases of horses from Distrito Federal and Goiás State, Brazil
[2003-2013])

Susy H. Sousa, Saulo P. Cardoso, Rachel L. A. Teixeira, Claudio H. G. Barbosa,


Fabiano J. F. de Sant‘Ana, Janildo L. Reis Junior

Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Brasília (UnB)

RESUMO: O estudo e a caracterização das doenças neurológicas em equídeos são


necessários para estabelecer medidas eficazes na prevenção e controle das mesmas.
O presente trabalho objetivou determinar as doenças neurológicas de equinos
diagnosticadas pelo Laboratório de Patologia Veterinária (LPV) da Universidade de
Brasília (UnB), que ocorreram entre janeiro de 2003 a junho de 2013. Neste período
foram encontrados 77 casos com histórico clínico de afecção neurológica. As
alterações mais frequentes foram traumatismo encefálico ou medular com 9 (11,69%)
casos, seguida de 5 (6,49%) casos de raiva, 5 (6,49%) de encefalomielite equina do
leste e 5 (6,49%) de leucoencefalomalácia. Adicionalmente, foram diagnosticados 18
casos de meningoencefalite linfoplasmocítica. Este trabalho demonstra que as doenças
neurológicas de equinos são comumente encontradas no Distrito Federal e em Goiás.
Palavras-chave: doenças de equinos, neuropatologia, raiva
ABSTRACT: The study and characterization of neurological diseases in horses are
needed to establish effective measures of prevention and control. The objective of this
work was to perform a retrospective study of the neurological diseases of horses
diagnosed in the Laboratory of Veterinary Pathology (LPV) at the University of Brasilia
(UnB). The diagnoses were done between January 2003 and June 2013. During this
period, 77 cases with clinical history of neurological disease were selected. The most
frequent finding was spinal cord and brain trauma with 9 (11.69%) cases, followed by 5
(6.49%) cases of rabies, 5 (6.49%) of eastern equine encephalomyelitis and 5 (6.49%)
of leukoencephalomalacia. In addition, 18 cases of lymphoplasmacytic
meningoencephalitis were diagnosed. This study demonstrates neurological diseases of
horses are common in Distrito Federal and Goiás State.
Key words: diseases of horses, neuropathology, rabies
INTRODUÇÃO
Apesar da equinocultura ser uma atividade de importância econômica crescente no
Distrito Federal e em Goiás, há poucos estudos abordando os aspectos
epidemiológicos e clinico-patológicos das doenças neurológicas de equinos da região
central do Brasil. Os escassos trabalhos encontrados na literatura brasileira descrevem
as doenças neurológicas de equinos das Regiões Sul (Pierezan et al., 2009) e
Nordeste (Pimentel et al., 2009). Enquanto no Rio Grande do Sul, as
meningoencefalites não-supurativas, leucoencefalomalacia e tripanossomíase são as
doenças mais frequentes (Pierezan et al., 2009), encefalopatia hepática associada à
intoxicação por Crotalaria retusa, tétano e raiva são as enfermidades mais prevalentes
no semi-árido nordestino (Nobre et al 2004; Pimentel et al., 2009). Esses dados
demonstram que as prevalências e as características epidemiológicas das
enfermidades neurológicas de equinos podem variar amplamente de acordo com a
região geográfica analisada. Assim, o presente trabalho objetiva determinar as doenças
neurológicas de equinos do Distrito Federal e de Goiás diagnosticadas no Laboratório
de Patologia Veterinária (LPV) da Universidade de Brasília (UnB).
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram revisados nos arquivos do Laboratório de Patologia Veterinária da UnB todos os
casos de necropsia e de histopatologia de equinos com quadro clínico neurológico,

51
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 016, 2013

recebidos entre janeiro de 2003 a junho de 2013. Os dados coletados foram referentes
ao histórico, sinais clínicos condizentes com suspeita neurológica, achados de
necropsias e alterações histológicas.
Do material revisado foram separadas as lâminas histológicas com coloração de
hematoxilina e eosina (HE) para observação e caracterização das alterações
encontradas e, quando necessário, foram confeccionadas novas lâminas a partir dos
blocos de parafina ou do material acondicionado em formol. Nos casos suspeitos de
raiva, herpesvírus equino tipo 1 (EHV-1) e encefalomielite equina do leste, exames
complementeraes (virologia, sorologia) foram realizados para confirmação dos
diagnósticos.
RESULTADOS
No período estudado foram encontrados 77 casos com histórico clínico de afecção
neurológica (73 do Distrito Federal e quatro de Goiás). As lesões traumáticas (fraturas
de vértebras, coágulos ou edemas no canal medular) foram as alterações mais
frequentes, com nove (11,69%) casos diagnosticados, seguidas de cinco (6,49%) de
raiva, cinco (6,49%) de encefalite equina do leste e cinco (6,49%) de
leucoencefalomalacia. Tétano e encefalite granulomatosa por Halicephalobus gingivalis
representaram três (3,90%) casos cada, bem como dois (2,60%) casos de
mieloencefalite equina por protozoário (EPM), outros dois (2,60%) casos sugestivos de
EPM, seguido de dois (2,60%) de meningite/meningoencefalite supurativa bacteriana,
um (1,30%) de encefalomielite por herpesvírus equino tipo 1, um (1,30%) de
hidrocefalia e outro inconclusivo (1,30%).
Foram encaminhados ao LPV-UnB 20 (25,97%) casos com histórico de alteração
nervosa, entretanto após a análise histológica não houve identificação de alteração
macroscópica ou microscópica que justificasse o quadro neurológico. Dezoito (23,38%)
casos foram caracterizados por meningoencefalite linfoplasmocítica, onde não foi
possível a identificação da etiologia precisa, embora as características histopatológicas
e epidemiológicas desses casos sejam compatíveis com etiologia viral.
DISCUSSÃO
As doenças mais frequentes observadas nesse estudo foram lesões de natureza
traumáticas (geralmente associadas à compressão medular por fragmentos de
vértebras, coágulos ou edema), raiva, encefalite equina do leste e
leucoencefalomalacia, tétano e encefalite por H. gingivalis. Raiva e tétano também são
enfermidades neurológicas comuns em equinos no Nordeste brasileiro (Pimentel et al.,
2009), enquanto que muitos casos de leucoencefalomalacia já foram diagnosticados no
Sul do Brasil (Pierezan et al. 2009).
No presente estudo, foram notados cinco casos de raiva e 18 de meningoencefalite
linfoplasmocítica. É possível que ocorram mais casos de raiva e/ou de outras viroses
que afetam o sistema nervoso central, visto que o diagnóstico não pode ser definido
nesses 18 casos. Técnicas complementares como imuno-histoquímica e/ou PCR
poderiam ser úteis para definir possíveis agentes etiológicos envolvidos. Nesses casos,
o diagnóstico diferencial foi feito especialmente com raiva, encefalomielites virais
(oeste, Venezuela), herpesvírus equino (EHV-1 ou EHV-4) e doença do oeste do Nilo
(Zachary, 2009). Meningoencefalites linfoplasmocíticas também são neuropatias
comuns de equinos do Rio Grande do Sul (Pierezan et al. 2009).
Os resultados do presente trabalho demonstram que enfermidades neurológicas são
causas importantes de mortalidade em equinos na Região Central do Brasil. Esses
dados são úteis para que medidas de cunho profilático e preventivo possam ser
adotadas pelos produtores e autoridades sanitárias e de vigilância epidemiológica
locais.

52
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 016, 2013

CONCLUSÕES
As doenças neurológicas de equinos mais frequentes do Distrito Federal e de Goiás
são traumatismo encefálico e medular, raiva, encefalite equina do leste e
leucoencefalomalacia.

REFERÊNCIAS
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(Fabaceae) em eqüídeos no semi-árido da Paraíba. Pesq. Vet. Bras. v. 24, n.3, p.132-143, 2004.
PIEREZAN, F.; RISSI, D.R.; RECH, R.R. et al. Achados de necropsia relacionados com a morte de 335
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semi-árido. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.29, n.7, p.589-597, 2009.
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Veterinária. 4ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p. 882-898.

53
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 017, 2013

017. EIMERIOSE EM CODORNAS (COTURNIX JAPONICA): RELATO DE CASO


(Coccidiosis in quails- COTURNIX JAPONICA- A report)

Leíse H. Parizotto¹, Claudia P. Biffi¹,Natalha Biondo¹, Maria C. Camargo¹, Aldo Gava²,


Hellen N. L. Spíndolla³
1 Alunos da pós-graduação em Ciência Animal, Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC.
2 Professor do curso de Medicina Veterinária, da Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC.
3 Medica Veterinária, Prefeitura Municipal de Lontras, SC.

RESUMO: Pouco se tem estudado em relação à produção intensiva de codornas


principalmente relacionado a sua sanidade. Relatos de codornas acometidas pela
eimeriose não são frequentes. No entanto esta tem papel importante na avicultura
mundial em função das perdas de desempenho e mortalidades ocasionadas. O objetivo
deste resumo é relatar doissurtos de eimeriose em codornas no estado de Santa
Catarina, e através deste mostrar a importância que esta enfermidade desempenha na
criação dessa espécie. Foram necropsiadas cinco codornas decada propriedade e
coletado amostras de vísceras, incluindo intestino. Essas foram processadas e coradas
pela técnica de hematoxilina-eosina e posteriormente observadas em microscopia de
luz. Foram observadas oocistos de Eimeriasp.em vários estágios de desenvolvimento
no intestino delgado. De acordo com as lesões macroscópicas e microscópicas, foi
possível concluir o diagnóstico para eimeriose, no entanto não foi identificada a espécie
envolvida.
Palavras-chave:histopatologia; lesões; mortalidade; sanidade
ABSTRACT:Little has beenstudied about intensive productionof quailmainlyrelated
totheir sanity. Reports ofquailaffectedbyeimeriosesare notfrequent,howeverthishas an
important rolein poultry industryon the basis ofperformance lossesand
mortalitiescaused. The objectiveof this summaryis to reporttwo outbreaks ofeimeriosisin
quailsin the state ofSantaCatarina, andthrough thisshowthe importance of
thisdiseaseplays in the creationof this species. Were necropsiedfivequailseach
propertyand collectedsamplesof viscera, includingintestine. These were processed and
stained by hematoxylin-eosin and then observed under light microscopy. Were
observed oocysts of Eimeria sp. in various stages of development in the small intestine.
According to the macroscopic and microscopic lesions, it was possible to confirm the
diagnosis eimeriosis however was not identified to the species involved.
Keywords: histopathology; lesions;mortality;sanity
INTRODUÇÃO
Entre as doenças que acometem e interferem no desenvolvimento das aves de
produção, encontra-se a coccidiose. No entanto há poucos relatos dessa enfermidade
em codornas no país (Teixeiraet al., 2004).
A coccidiose é ocasionada por parasitas intracelulares do gênero Eimeria, esses são
espécies-específicos.As Eimerias que acometem as galinhas (Gallusgallus) não são as
mesmas que acometem as codornas(Back, 2004).
De acordo com Teixeira e Lopes (2002) quatro espécies foram relatadas em codornas
no Brasil, sendo elas Eimeriatsunodai, Eimeriauzura, Eimeriabateri e
Eimeriafluminensis. No entanto nada foi relatado quanto à patogenicidade e seus
efeitos na produção das codornas.
MATERIAL E MÉTODOS
As informações sobre as propriedades foram obtidas com os produtores. Cinco
codornas de cada propriedade foram necropsiadas e coletado amostras de coração,
pulmão, rim, SNC, baço, peito, intestino delgado, intestino grosso, fígado e moela.
Essas foram fixadas em formalina tamponada a 10%, desidratadas em álcool,
diafanizadas em xilol, incluídas em parafina e posteriormente, seccionadas no

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 017, 2013

micrótomo em cortes de 5 μ de espessura, coradas por hematoxilina e eosina (H&E) e


observadas em microscopia de luz, segundo descrito por Prophet et al. (1992).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As aves tinham idade em torno de 15 dias e estavam localizadas na região do Vale do
Itajaí no estado de Santa Catarina. Essas eram criadas em sistema intensivo de
confinamento, sendo alojadas sobre cama de palha de arroz. De acordo com relatos do
médico veterinário responsável, as aves passaram por situação de estresse em função
de erros no manejo da temperatura dentro do aviário.O mesmo relatou que em uma
das propriedades das 7.000 codornas alojadas, 5.200 morreram (74,3 %), no entanto
na segunda propriedade 300 aves de 4.000 alojadas morreram (7,5%), nesse caso a
mortalidade foi menor, pois as codornas foram medicadas com coccidiostático.Os
principais sinais clínicos foram incoordenação, prostração e andar cambaleante e
morte. Não foram observadas lesões macroscópicas que sinalizassem alguma
enfermidade, a não ser uma leve hiperemia da mucosa do intestino delgado. Teixeira e
Lopes(2002) relatam que durante a primeira semana algumas codornas jovens podem
apresentar diarreia, além disso, possível aumento de volume do ceco.Estas
observações são importantes na construção do diagnóstico de eimeriose, uma vez que
diferem das alterações frequentemente encontradas em outras aves, tais como
galinhas de corte e postura. Nessa espécie as lesões causadas pelos coccídios são
mais intensas, e podem ser vistas a partir da superfície do intestino delgado(Mcdougald
e Reid, 1997). De acordo com Cardozo (2010) e Teixeira et al. (2004), as espécies que
parasitam o intestino delgado são principalmente a Eimeriabateri e Eimeriauzura, já a
Eimeriatsunodai parasita principalmente os cecos.
Nas codornas, as lesões histológicas encontradas foram grande número de
Eimeriasp.nocitoplasma de enterócitos, em diferentes estágios de evolução.Não foram
observadas lesões em outros órgãos. Existem poucos relatos de Eimeriose em
codornas, portanto, a apresentação clínica e patológica é pouco conhecida dos
veterinários, possibilitando a ocorrência de um número subestimado de diagnósticos
nesta espécie. Como os sinais clínicos observados foram brandos, com uma alta
mortalidade e à ausência de diarreia, não houve a suspeita inicial de eimeriose.Devido
a isso, outros métodos de diagnóstico tais como esfregaços de fezes, identificação e
classificação dos oocistos não foram possíveis de serem realizados, uma vez que a
fixação em formalina altera as características morfológicas dos oocistos.
A classificação das espécies de Eimeirasp.podem ser feitas através de análise em
microscopia de luz e através da análise morfométrica dos oocistos presentes nas fezes
(Back, 2004).
CONCLUSÃO
A Eimeriose pode ser responsabilizada por produzir perdas econômicas na criação de
codornas. Seu diagnóstico pode ser realizado através de exame de fezes e também
pela observação do parasita no interior de células epiteliais do intestino utilizando a
análise histopatológica.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 017, 2013

REFERÊNCIAS
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56
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 018, 2013

018. ENCARCERAMENTO INTESTINAL NO FORAME DE WINSLOWEM EQUINO


(intestinalentrapment in Winslow’s foramen in equine)

Silva, Estela Vieira de Souza; Moura, Léa Resende; Faleiro, Mariana Batista Rodrigues;
Santos, Adriana da Silva; Matos, Moema Pacheco Chediak; de Moura, Veridiana Maria
Brianezi Dignani

Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás

RESUMO: Encarceramentos intestinais intra-abdominais são alterações graves que


comumente acometem a espécie equina, sendo responsáveis por quadros clínicos
agudos de cólica e índice elevado de óbito. Dentre esses encarceramentos, destaca-se
a hérnia de Winslow, onde alças do intestino delgado passam através do forame de
Winslow (epiploico) para a cavidade peritoneal junto ao espaço porta-cava. Este relato
refere-se ao caso de um equino encaminhado para exame anatomopatológico,
constatando-se como enfermidade principal hérnia de Winslow com evolução ao óbito.
Palavras-chave: cavalo; choque; cólica; forame epiploico; hérnia
ABSTRACT: Intra-abdominals intestine entrapments are serious conditions that
commonly affect equine species, being responsible for the acute colic and high death
rate. Among these entrapments, the Winslow‘s hernia stands out, where the small
bowel loops passing through the Winslow‘s foramen (epiploic) to the peritoneal cavity
next the porto-caval space. This work relates to the case of an equine sent to a post
mortem examination, evidencing the primary disease as Winslow‘s Hernia with
evolution to death.
Key words: choke; colic; epiploic; foramen horse; hernia
INTRODUÇÃO
O forame epiploico, que é delimitado pela superfície visceral do lobo caudado do
fígado, pela veia porta, pela veia cava caudal e pelo pâncreas, se abre dentro da
bursaomental (Jones e Smith, 2009).
A hérnia de Winslow é um tipo de hérnia intra-abdominal relativamente rara entre os
equinos jovens, sendo mais comum em animais adultos e idosos (Vachone Fischer,
1995). Sua ocorrência está associada a fatores predisponentes como estresse,
ansiedade, aerofagia (Archer et al., 2011) e atrofia do lobo caudado do fígado
consequente ao envelhecimento(Santos, 1975). Estas situações promovem o
alargamento do forame de Winslow favorecendo a passagem da porção inicial do
intestino delgado através do forame e seu encarceramento na cavidade peritoneal,
junto ao espaço onde tem passagem a veia porta, artéria hepática, ducto colédoco e
veia cava caudal, ocasionando bloqueio do lúmen intestinal e comprometimento
circulatório do segmento envolvido, podendo evoluir para um quadro de infarto.
Este trabalho relata o caso de um equino encaminhado ao Setor de Patologia
Veterinária (SPV) da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de
Goiás (EVZ-UFG), cujo diagnóstico principal foi hérnia de Winslow, alteração que
ocasionou óbito do animal.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi recebido para exame anatomopatológico no SPV da EVZ-UFG, um equino, sem
raça definida, fêmea, de aproximadamente oito anos. Dados a respeito do histórico
clínico foram obtidos junto ao proprietário.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo informações do proprietário o animal apresentou sinais de cólica 24 horas
antes do óbito. À abertura da cavidade abdominal constataram-se aproximadamente
dez litros de conteúdo de coloração avermelhada. O intestino delgado apresentava
extenso segmento de cor vermelho escuro, característico de necrose hemorrágica,
encarcerado no forame de Winslow junto ao espaço porta-cava. Os achados de
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 018, 2013

necropsia confirmaram a ocorrência da hérnia de Winslow como enfermidade principal


e causa da cólica apresentada pelo animal. O encarceramento de parte do intestino
delgado resultou em estrangulamento das alças intestinais envolvidas, bloqueio
circulatório, isquemia, congestão, edema e infarto intestinal.
O animal do presente relato era um equino de oito anos de idade. De acordo com
Gelberg (2009), a hérnia de Winslow é um dos exemplos de herniações internas mais
observadas em equinos, principalmente adultos e idosos, com idade superior a sete
anos (Vachone Fischer, 1995). É proposto que a atrofia do lobo caudado do fígado,
consequente ao envelhecimento, promova o aumento do forame e permita a passagem
de alças intestinais através da abertura (Gelberg, 2009). Nessa circunstância, o forame
de Winslow pode atingir 5-6 cm de largura e 1,5 cm de comprimento, facilitando o
encarceramento (Santos,1975). No entanto, nada impede que animais jovens, sob
determinadas condições de manejo e comportamento, desenvolvam a enfermidade
(Archer et al., 2011).
Com relação ao sexo, o animal do presente relato refere-se a uma fêmea. Porém,
pesquisas sugerem que machos, sendo estes garanhões ou castrados (White, 2009),
possuem maior chance de acometimento pela enfermidade.
Houve encarceramento intestinal através do forame de Winslow que culminou em
infarto intestinal. Segundo Smith (2002) e Gelberg (2009), esse encarceramento
compromete a circulação arteriovenosa da porção envolvida, determinando isquemia
tecidual, que culmina em infarto hemorrágico e resposta inflamatória, o que acelera a
evolução do choque hipovolêmico para seu estágio irreversível, ocasionando a morte
do animal por endotoxemia e falência múltipla dos órgãos, conforme observado neste
caso.
CONCLUSÃO
A hérnia de Winslow é uma alteração grave, subdiagnosticada e significativamente
observada como causa da síndrome cólica em equinos. Com maior ocorrência em
animais adultos e idosos, consequente ao alargamento do forame de Winslow e ao
encarceramento intestinal através deste, resulta em estrangulamento e
comprometimento circulatório acentuado que pode evoluir para choque hipovolêmico e
morte do animal.
REFERÊNCIAS
ARCHER, D. C.; PINCHBECK, G. L.; FRENCH, N. P. et al. [2008]. Risk factors for epiploic foramen
entrapment colic: An international study. Equine Veterinary Journal, v.40, n.03, p.224–230, 2008.
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22/06/2013.
ARCHER, D. C.; PINCHBECK, G. L.;PROUDMAN, C. J. [2011].Factors associated with survival of
epiploic foramen entrapment colic: A multicentre, international study. Equine Veterinary Journal, v.43,
n.39, p.56-62, 2011. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.2042-
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SANTOS, J.A., Patologia Especial dos Animais Domésticos: mamíferos e aves. 1.ed. Rio de Janeiro:
Editorial IICA, 1975, Cap.10, p.471-475.
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VACHON, A. M.; FISCHER, A. T. [1995]. Small intestinal herniation through the epiploic foramen: 53
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<http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.2042-3306.1995.tb04073.x/abstract> Acesso em:
22/06/2013.
WITHERS, J. M.; MAIR, T. S. [2008].Internal (intra-abdominal) herniation in the horse.Equine Veterinary
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WHITE, N.A. [2009]. Colic prevalence, risk and prevention. Advances in Equine Nutrition, Kentucky
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22/06/2013.
JONES, S.L.; SMITH, B,P. Diseases of the alimentary tract. In: SMITH, B.P. Large Animal Internal
Medicine. 4 ed. St.Louis: Mosby Elsevier, 2009 , Cap. 32, p.667-892.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 019, 2013

019. ENDOCARDITE MURAL ESQUERDA ASSOCIADA À RETÍCULO


PERICARDITE TRAUMÁTICA EM BOVINO
(Mural left endocarditis associated with reticulum traumatic pericarditis reticulum
in a bovine)

Mayane Faccin, Juliano Menegoto, Doglas Lunardi, Claudemir Weber, Leonardo


Gruchouskei, Fabiana Elias

Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Rodovia PR


mayanefaccin@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo relatar a ocorrência de um caso de


endocardite associada de retículo pericardite traumática em um bovino de leite. O
animal apresentava febre, decúbito lateral e opistótono. Encontraram-se pequenos
nódulos esbranquiçados com conteúdo caseoso em vários órgãos, uma massa friável
amarelada aderida à parede cardíaca e pericardite fibrinosa provocada por um arame.
Na histopatologia, a massa friável consistia em um agregado de colônias bacterianas,
fibroplasia e infiltrado monocitário. Concluiu-se que a retículo pericardite traumática foi
a responsável pela bacteremia que levou à endocardite e posterior disseminação dos
êmbolos sépticos.
Palavras-chave: agricultura familiar; êmbolos sépticos; necropsia
ABSTRACT: This paper aims to report the occurrence of a case of endocarditis
associated with reticulum traumatic pericarditis in dairy cattle. The animal had fever,
lateral decubitus and opisthotonos. It found little whitish nodules with caseous content in
various organs, a friable yellowish mass adhered to the wall heart and fibrinous
pericarditis caused by a wire. In the histopathology, the friable mass consisted of a
aggregate of bacterial colonies, fibroplasia and monocytic infiltration. It was concluded
that reticulum traumatic pericarditis was the responsible for bacteremia leading to
endocarditis and later dissemination from septic emboli.
Key words:family farming; septics embolus; necropsy
INTRODUÇÃO
A endocardite é uma inflamação do endocárdio provocada principalmente por lesões
bacterianas (Van Vleet et al., 2013). Pode ser classificada em valvar ou mural,
dependendo da localização das lesões (Albarello et al., 2012). Para a ocorrência da
doença são necessários dois fatores: bacteremia e lesão prévia no endocárdio
(Pacheco, 2011).
A retículo pericardite traumática (RPT) é uma doença comumente encontrada em
bovinos leiteiros (Radostits et al., 2002), especialmente devido a baixa sensibilidade e
discriminação dos órgãos de preensão, tais como língua e lábios (Misra e Anelo, 2000),
facilitando a ingestão de corpos estranhos. Após a ingestão do corpo estranho, quando
suficientemente pontiagudo e de tamanho considerável, pode ser conduzido contra a
parede cranial do retículo, devido às contrações do órgão para a digestão, levando a
perfuração do órgão, e de outras vísceras, (Braun, 2008). Caso haja a perfuração da
parede reticular, pode haver o desenvolvimento de peritonite ou a perfuração do
diafragma e pericárdio, provocando pericardite traumática (Borges e Afonso, 2007).
Na região Sudoeste do Paraná a característica predominante é a bovinocultura de leite
vinculada à agricultura familiar, caracterizado por um número pequeno de animais,
sendo que a perda de um animal gera prejuízos econômicos consideráveis. Destarte, o
objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência de um caso de endocardite mural no
ventrículo esquerdo associado à retículo pericardite traumática e com disseminação de
êmbolos sépticos por vários tecidos.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 019, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Fora realizada a necropsia de um bovino, fêmea da raça Jersey com cinco anos, não
gestante e em boa condição corporal, cujo quadro clínico evoluía há dez dias, não
responsivo a tratamentos. O animal pertencia a uma propriedade produtora de leite
ligada à agricultura familiar no município de Salto do Lontra, Sudoeste do Paraná. O
histórico do animal foi fornecido pelo médico veterinário responsável. Realizou-se o
exame macroscópico das cavidades e órgãos in situ e isoladamente. De cada órgão
analisado, coletaram-se fragmentos que foram devidamente fixados em formalina
tamponada a 10% e processados rotineiramente e corados por HE.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o veterinário, o animal apresentou emagrecimento, picos febris e
decúbito lateral com opistótono, movimentos de pedalagem e nistagmo. À necropsia,
encontrou-se no retículo um objeto perfuro-cortante de aproximadamente 7 cm de
comprimento, que perfurava o órgão até o saco pericárdico, resultando em pericardite
fibrinosa. As alterações clínicas e patológicas são características, conforme descritas
por Albarello et al. (2012) e Roth e King (1991) sobre a endocardite e RPT,
respectivamente.
Conforme explicado por Van Vleet et al. (2013), a endocardite necessita de uma
infecção preexistente e de lesões nas válvulas e parede cardíacas para ocorrer. No
caso descrito, observa-se que a RPT foi o foco principal de infecção, originando
bacteremia. Ao exame das câmaras cardíacas, especificamente no ventrículo
esquerdo, notaram-se massas esbranquiçadas friáveis aderidas ao endocárdio mural.
Conforme explica o mesmo autor, devido o turbilhonamento cardíaco, o endocárdio
esquerdo frequentemente encontra-se lesado, o que permitiu a adesão das bactérias,
agregação plaquetária e, em consequência ao processo inflamatório, deposição de
fibrina, formando o trombo vegetante.
Segundo Zachary (2013), quando uma bactéria penetra ao SNC e se instala,
desencadeia resposta inflamatória. Isto explica os sinais neurológicos demonstrados
pelo animal estudado, uma vez que no encéfalo deste, foram encontrados
microabscessos multifocais produzidos pela disseminação dos êmbolos sépticos
provindos, via hematógeno, da endocardite (Pacheco, 2011).
A principal consequência da endocardite é o desprendimento de êmbolos sépticos, que
ganham a corrente sanguínea e ficam retidos na microvasculatura de diversos órgãos
(Waschburger, 2012). O resultado é o desencadeamento de resposta inflamatória em
vários órgãos e formação de abscessos (Van Vleet et al., 2013). No presente relato
foram observados pequenos abscessos multifocais em diversos órgãos, tais como
tecido subcutâneo, musculatura esquelética, intestino, baço, rins, pâncreas, miocárdio
e encéfalo.
À microscopia, o coração apresentava endocardite abscedante, assim como os demais
órgãos afetados, com áreas multifocais de necrose de liquefação entremeadas de
miríades bacterianas basofílicas e acentuado infiltrado inflamatório composto de
linfócitos, macrófagos, plasmócitos e raros macrófagos epitelióides, sustentados por
uma intensa fibroplasia, assim como descrito por Van Vleet et al. (2013).
CONCLUSÕES
A RTP foi responsável pela bacteremia ocasionando a endocardite mural e posterior
disseminação dos êmbolos sépticos. As afecções citadas acima trazem inúmeros
prejuízos aos produtores familiares da região. No caso da produção leiteira na
agricultura familiar, onde os rebanhos bovinos são pequenos, a redução das perdas
com morte e reposição do rebanho é fundamental para a permanência e rentabilidade
do agricultor na atividade. Este trabalho mostra a importância da necropsia como
ferramenta de diagnóstico de enfermidades, cujo manejo é o principal fator envolvido.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 019, 2013

REFERÊNCIAS
ALBARELLO, M.C.; ARBOITTE, T.; DIEDRICH, S.M.; et al. Endocardite e Endocardiose: Conceito,
Diferenças E Consequências – Revisão Bibliográfica. In: Seminário Interinstitucional De Ensino,
Pesquisa E Extensão, Xvii.,2012, Cruz Alta. Anais... Cruz Alta: Universidade de Cruz Alta, 2012, S/P.
BRAUN, U. Traumatic pericarditis in cattle: Clinical, radiographic and ultrasonographic findings. The
Veterinary Journal. v. 182, n. 2, p. 176–186, 2009. MISRA, S.S.; ANELO, S.J. Sistema Digetório. In:
JONES, T.C.; HUNT, R.D.; KING. N.W. PatologiaVeterinária. 6.ed. São Paulo: Manole, 2000, cap. 23,
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Monografia (Especialização em Clínica médica de Pequenos Animais) – Curso de especialização em
clínica pequenos animais, Universidade Federal Rural do Semi-Árido. 2011. RADOSTITS, O.T.; GAY,
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Pallotti, 2007, cap.5, p. 295-380. ROTH, L.; KING, J.M. Traumatic Reticulitis in cattle: a review of 60 fatal
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da Patologia Veterinária. 5.ed. Rio do Janeiro: Elsevier, 2013, cap. 10, p. 542- 591. WASCHBURGER,
D.J.; GONÇALVES, M.A.; KRABBE, A.; et al. Endocardite e arterite valvular estafilocócica em um ovino.
Arquivos de Pesquisa Animal, v.1, n.1, p. 1-7, 2012. ZACHARY, J.F. Sistema nervoso. In: MCGAVIN,
M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia Veterinária. 5.ed. Rio do Janeiro: Elsevier, 2013, cap.14, p.
774- 872.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 020, 2013

020. ENTEROPATIA PROLIFERATIVA EM EQUINO


(Proliferative enteropathy in horses)

Michelle de Paula Gabardo, José Paulo Sato & Roberto M. C. Guedes

Setor de Patologia do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Escola de Veterinária da


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil

RESUMO: Relata-se um caso de infecção pela Lawsonia intracellularis em uma


propriedade na região Oeste do Brasil. De um rebanho de 300 equinos, 39 potros com
poucos dias até 21 meses apresentaram diarreia de características e severidade
variáveis, com perda de peso e desidratação. Fragmentos intestinais de um potro de 7
meses, foram enviados ao laboratório de patologia animal da UFMG. Na macroscopia
foi observado hiperemia de serosa e moderado espessamento de parede intestinal e na
histologia do intestino delgado hiperplasia de enterócitos de criptas difusa intensa com
redução marcante de células caliciformes e marcação positiva na imunohistoquimica
para L. intracellularis. Com base nos sinais clínicos e nos demais achados confirmou-
se o diagnóstico de enteropatia proliferativa equina.
Palavras chaves: diagnóstico; Lawsonia intracellularis; potro; sinais clínicos
ABSTRACT: We report a case of infection by Lawsonia intracellularis on a farm in
western Brazil. A herd of 300 horses, 39 foals with few days up to 21 months had
diarrhea of varying severity and characteristics, with weight loss and dehydration.
Intestinal fragments of a foal 7 months, were sent to the animal laboratory pathology
UFMG. In the macroscopic was observed hyperemia of serosa and moderate thickening
of the intestinal wall and the in the histology of small intestine enterocytes crypt
hyperplasia diffuse intense with a marked reduction of goblet cells and stained positive
for L. intracellularis in a immunohistochemistry. Based on clinical sing and other findings
confirmed the diagnosis of proliferative enteropathy.
Key words: diagnosis; clinical signs; foals; Lawsonia intracellularis
INTRODUÇÃO
A enteropatia proliferativa equina (EPE) é uma doença emergente em potros causada
pela L. intracellularis (Lawson and Gebhart, 2000). A suspeita de EPE é baseada pela
idade, 4-7 meses, sinais clínicos, como letargia, perda de peso, edema subcutâneo,
dores abdominais, cólicas e diarreia, com morte súbita, diarréia hemorrágica e alta
mortalidade em casos agudos. Os diagnósticos definitivos são através da PCR nas
fezes e achados de necropsia, histopatológico com achados característicos e
imunohistoquimica como diagnóstico complementar. A sorologia é uma ferramenta
utilizada para a determinação da prevalência do agente no rebanho (Guedes, 2002).
Há um crescente número de casos da EPE descrito na literatura (Loynachan, 2010),
mas apenas um estudo no Brasil (Guimarães-Ladeira et al., 2009). A PEP é
negligenciada no diagnóstico diferencial de diarreia em potros desmamados, por esse
motivo descrevesse um caso de enteropatia proliferativa equina em uma propriedade
na região Oeste do Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Em maio de 2013 foi encaminhado ao Setor de Patologia Veterinária da UFMG,
fragmentos de intestino, fixados em formol a 10%, de um equino de 7 meses de idade.
Essas amostras foram processadas por métodos histológicos rotineiros, e corados por
hematoxilina-eosina, e cortes histológicos não corados foram submetidos ao teste
imuno-histoquímico, método de estreptavidina-marcada, com anticorpo policlonal anti-
L. intracellularis. Como controle positivo foi utilizado intestino de suíno positivo para o
agente. Os dados epidemiológicos foram adquiridos junto a médico veterinário
responsável pela propriedade.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 020, 2013

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A submissão dos fragmentos de intestino foi justificada pela ocorrência de problemas
entéricos em uma propriedade na região Oeste do Brasil. Na propriedade há um
rebanho de aproximadamente 300 equinos de diferentes idades e sexos, com
desmame entre quarto a sete meses. Trinta e nove potros, com poucos dias de vida até
21 meses de idade, 9 da geração 2011 e 30 da geração 2012 apresentaram sinais
clínicos. Os sinais clínicos variavam de animal para animal e eram de diarréia pastosa
evoluindo a aquosa, temperatura entre 39,5 a 41,0°C, nas primeiras 48 horas,
inapetência, desidratação, hipoproteinemia associadas a edema submandibular. Sete
dos 39 animais que apresentaram os sinais morreram. O animal do qual foram
enviados os fragmentos de intestinos morreu cerca de 4 dias após o aparecimento
sinais clínicos. Na necropsia os achados foram de grande quantidade de líquido sero-
sanguinolento na cavidade peritoneal, parede do intestino delgado espessa com
diminuição do lúmen intestinal. Histologicamente observou lesão característica de EP
(Wuersch et al., 2006) nos fragmentos de duodeno e jejuno, com hiperplasia de
enterócitos de criptas difusa intensa associada à diminuição marcante de células
caliciformes e abcessos de criptas isolados. Na imuno-histoquimica foram observadas
marcações positivas para L. intracellularis em enterócidos de criptas. Os sinais clínicos
e achados de necropsia, condizentes com a literatura (Lavoie, 2000) com microscopia
associada à marcação positiva para L. intracellularis na imuno-histoquimica nos
permitiu chegar ao diagnóstico de EPE. Apesar da ocorrência da doença na
propriedade, estudos indicam que potros infectados não sofrem efeitos na saúde em
longo prazo, o que não afeta o desempenho atlético e consequente aporte financeiro
pelos prêmios ganhos (Loynachan, 2010).
Assim como os suínos, equinos parecem ser mais susceptíveis à infecção a L.
intracelulares logo após o desmame, sendo que a faixa etária de potros afetados pode
variar de três a nove meses (Wuersch et al., 2006). A transmissão ocorre através da
ingestão de alimento ou água contaminados com fezes de animais domésticos ou de
vida livre (Lawson e Gebhart, 2000), em nosso caso pode ter ocorrido através de fezes
de outros equinos positivos devido à utilização diária das mesmas instalações para
todas as idades ou a introdução de novos animais como éguas prenhas, vazias ou com
potros ao pé, potros recém-desmamados, em exame prévio para identificação do
agente. Porém, segundo relato nenhum dos animais introduzidos na propriedade
durante o último ano apresentou sinais clínicos de EPE, entretanto animais sem sinais
clínicos podem eliminar o agente nas fezes (Guimarães-Ladeira et al. 2009). Animais
silvestres e domésticos como cães, gatos, gambás (Didelphis sp), cachorros do mato
(Canis thous) avistados na propriedade podem ser fontes de contaminação (Pusterla et
al., 2012).
Amostras de sangue e fezes de 11 potros, da mesma propriedade, foram
recebidas anteriormente para analisa sorológica, através de imunoperoxidase em mono
camada e PCR, respectivamente, e demostrou três 3 animais positivos na sorologia e
todos negativos na PCR. O que demonstra que o agente circula nela propriedade
(Guimarães-Ladeira, 2009), colaborando com os achados patológicos. Segundo o
médico veterinário foram enviadas amostras de fezes para a realização de PCR para
Clostridium sp, C. perfringens, Salmonella sp e microscopia eletrônica de varredura
para Corona vírus, agentes que devem ser incluídos no diagnóstico diferencial para
EPE (de Macêdo, 2008), os quais foram negativos. Além de todos os
animais são vermifugados cinco a seis vezes por ano, o que exclui a possibilidade das
diarreias serem causadas por parasitas intestinais.
CONCLUSÃO
A EPE está presente em rebanhos brasileiros na região oeste do Brasil e deve ser
considerada no diagnóstico diferencial a outras doenças com sinais clínicos de diarreia
em potros.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 020, 2013

Agradecimentos
A CAPES e FAPEMIG pelo auxílio financeiro para execução.
REFERÊNCIAS
DE MACÊDO N.R.; AL-GHAMDI G.; GEBHART C.J.; et al. Enteropatia proliferativa em
equinos. Ciência Rural, v.38, n.3, p.889-897, 2008.
GUEDES, R.M. C., GEBHART, C.J., WINKELMAN, N.L., et al. Comparison of different
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Veterinary Research, v.107, p.66-99, 2002.
GUIMARÃES-LADEIRA, C.V.; PALHARES, M.S.; OLIVEIRA, J.S.; et al. Shedding and
serological cross-sectional study of Lawsonia intracellularis in horses in the state of
Minas Gerais, Brazil. Equine Veterinary Journal, v.41, n.6, p.593-6, 2009.
LAWSON, G.H.; GEBHART, C.J. Proliferative enteropathy. Journal of Comparative
Pathology, v.122, n.2-3, p.77–100, 2000.
LAVOIE, J.P.; DROLET, R.; PARSONS, D.; et al. Equine proliferative enteropathy: A cause
of weight loss, colic, diarrhea and hypoproteinaemia in foals on three breeding farms.
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PUSTERLA, N.; MAPES, S.; GEBHART, C. Further investigation of exposure to Lawsonia
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WUERSCH K., HUESSY D., Koch C.,et al. Lawsonia intracellularis Proliferative
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64
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 021, 2013

021. EPENDIMOMA EM MUAR


(Ependymoma in an mule)

Leonardo Vaz Burns¹, Fabiano Mendes de Cordova¹, Adriano Tony Ramos², Michel
José Sales Abdalla Helayel¹, Marco Augusto Giannoccaro Silva¹, Clarissa Amorim
Silva de Cordova¹
1 Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Araguaína-TO
2 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Campus Curitibanos,Curitibanos – SC

RESUMO: Foi atendido no Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal


do Tocantins um equídeo (mula) de aproximadamente 12 anos com cegueira, disfagia,
incoordenação, decúbito esternal, depressão e apatia. Após avaliação clínica, o animal
foi eutanasiado. Na necropsia, foi observado um nódulo ovóide no ventrícul lateral
direito, firme e pardacento, com 1,0 cm x 0,5 cm. A histopatologia revelou uma massa
densamente celular, com células arranjadas em ninhos, por vezes emcordões e
depósito perivascular de material fibrilar eosinofílico, com presença de alguns linfócitos.
As células apresentavam núcleo arredondado e moderadamente hipercromático,
cromatina punctiforme, nucléolo evidente e citoplasma indistinto. Com base nesses
dados diagnosticou-se um ependimoma, um tumor raro, mas que pode ocorrer em
diferentes espécies, incluindo equideos.
Palavras-chave: neoplasma, sistema nervoso central, equídeos
ABSTRACT: A mule of approximately 12 years old was admitted to the Hospital
Veterinário Universitário da Universidade Federal do Tocantins, presenting acute signs
of bilateral blindness, dysphagia, incoordination, prostration (sternal recumbence),
depression and apathy. Following clinical evaluation, the animal was euthanized. At
necropsy, an ovoid nodule, firm and brownish in coloration, with approximately 1.0 cm x
0.5 cm was noticed in the right lateral ventricle. Histopathology of the nodule revealed
dense cellularity, with the majority of the cells arranged in nests, and eventually in cord
shape. Perivascular deposition of eosinophilic fibrillar substance was also observed
alongside with the cells, as well as a small number of scattered lymphocytes. Neoplastic
cells presented with a rounded and moderately hyperchromatic nuclei, and punctuate
chromatin. A prominent nucleoli and indistinct cytoplasm were also noticed. Based on
these observations, the animal was diagnosed with an ependymoma, a tumor of rare
occurrence that may be observed in a great variety of species, including equines.
Key words: neoplasm, central nervous system, equine
INTRODUÇÃO
O ependimoma é um tumor espontâneo congênito (Misdorp, 2002), considerado raro
nas espécies animais, porém é mais frequente em bovinos, cães e gatos (Koestner e
Jones, 2000). O tumor também foi descrito em equinos (Carrigan et al., 1996, Huxtable
et al., 2000), ovinos (Bosschere et al., 2003), bovinos (Sanches et al., 2000) e em ratos
(Dagle et al., 1979). Os sinais clínicos são variáveis e irão depender da localização do
ependimoma no sistema nervoso central (SNC), podendo ocorrer alterações
comportamentais, ataxia, paresia, convulsões, andar em círculos, distúrbios dos nervos
craniais e nos reflexos de propriocepção (Zachary, 2009). No presente trabalho
relatamos um caso de uma mula que foi atendida no Hospital Veterinário Universitário-
HVU da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia-EMVZ da Universidade Federal do
Tocantins-UFT, campus de Araguaína.
MATERIAL E MÉTODOS
Deu entrada no HVU da UFT, campus de Araguaína, uma mula de aproximadamente
12 anos, com procedência de uma propriedade rural em Guaraí- TO. O animal
apresentou sinais neurológicos como cegueira, disfagia, incoordenação, decúbito
esternal, estágio acentuado de depressão e apatia. Após a avaliação clínica, optou-se
pela eutanásia. O animal foi encaminhado à necropsia para avaliação macroscópica e

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 021, 2013

coleta de material para análise microscópica. Foram coletados fragmentos de diversos


tecidos, acondicionados em frasco identificado contendo formol a 10% para fixação por
48 horas e encaminhado ao Laboratório de Patologia Veterinária-LPV da Escola de
Medicina Veterinária e Zootecnia-EMVZ da UFT, onde foram processados
rotineiramente (hematoxilina-eosina).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As alterações macroscópicas relevantes foram restritas ao SNC. Foi observada uma
área de malácia subcortical na região frontoparietal direita (lesão unilateral) e um
nódulo ovóide de superfície discretamente rugosa, 1 firme à palpação e pardacento,
com aproximadamente 1,0 cm x 0,5 cm, localizado no ventrículo lateral.
Microscopicamente, caracterizou-se uma massa de alta densidade celular bem
vascularizada, com células arranjadas em ninhos, por vezes em cordões, com
formações de depósitos perivasculares de material fibrilar eosinofílico (aspectos
semelhantes à formação de pseudorrosetas), onde podiam ser encontrados alguns
linfócitos. As células neoplásicas apresentavam núcleo arredondado e moderadamente
hipercromático, cromatina punctiforme e nucléolo evidente, com citoplasma indistinto,
por vezes vacuolizado. Tanto as lesões macro quanto microscópicas evidenciam
ependimoma, contudo, estas podem ser variáveis quanto aos aspectos nas diferentes
espécies, principalmente as características microscópicas. Carrigan et al., (1996)
descrevem um ependimoma papilar em equino como um nódulo ovóide de 2,5 cm x 1,0
cm, vermelho escuro, ligado ao hipotálamo pela superfície ventral, ao quiasma ótico
pela face rostral e à glândula hipófise pela face caudal. Histologicamente, a massa
apresentava pseudorrosetas com quantidade moderada de colágeno perivascular,
células com núcleos ovalados e alongados de diferentes tamanhos, cromatina
punctiforme e inclusões eosinofílicas intracitoplasmáticas. Por outro lado, Huxtable et
al. (2000) encontraram num equino uma massa grande, vermelha e macia, com
aproximadamente 5 cm x 3 cm x 2,5 cm, no lado esquerdo do ângulo cerebelo-pontino,
com alterações histológicas caracterizadas por células fusiformes com núcleos
arredondados a ovóides, cromatina granular densa, citoplasma com vacúolos
eosinofílicos indistintos e abundantes e vasos envolvidos por material extracelular
eosinofílico e amorfo, classificada como um ependimoma mixopapilar. Vernau et al.
(2001) relataram ependimomas papilares em 2 cães e em 1 gato, histologicamente
caracterizados por vasos sanguíneos proeminentes, espessados pelo depósito de
células tumorais ependimais formando pseudorrosetas, citoplasma eosinofílico, núcleos
arredondados, ovoides ou alongados e cromatina cribriforme com pequenos nucléolos.
Em ovino foi identificada uma massa de 5 mm macia, cinza, bem delimitada e não
encapsulada no terceiro ventrículo, histologicamente com aglomerados de células
arredondadas ou cubóides formando túbulos, cordões e rosetas, com estroma escasso
e bem vascularizado, abundante citoplasma granular eosinofílico e núcleos
hipercromáticos (Bosschere et al., 2003).
CONCLUSÃO
Apesar de o ependimoma ser considerado raro na maioria das espécies animais, e de
poder apresentar variações morfológicas, muitas das características microscópicas são
semelhantes na maioria dos casos encontrados. Além disso, pela variabilidade de
sinais clínicos dos animais afetados, o ependimoma pode ser considerado como
diagnóstico diferencial em casos de doença neurológica.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 021, 2013

REFERÊNCIAS
MISDORP, W. General considerations. In: MOULTON, J.E. Tumors in domestic animals. 3.ed.
Berkeley: University of California, 1990. Cap.1, p.1-22.
KOESTNER, A.; JONES, T.C. Sistema nervoso. In: JONES, T.C. et al. Patologia veterinária. 6.ed. São
Paulo: Manole, 2000. Cap.27, p.1281-1320.
CARRIGAN, M. J.; HIGGINS, R. J.; CARLSO, G. P. et al. Equine papillary ependymoma. Veterinary
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HUXTABLE, C. R.; LAHUNTA, A.; SUMMERS, B. A. et al. Marginal siderosis and degenerative
myelopathy: a manifestation of chronic subarachnoid hemorrhage in a horse with a myxopapillary
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BOSSCHERE, H.; ROELS, S.; VANOPDENBOSCH. Ependymoma in a sheep.Vlaams
Diergeneeskundig Tijdschrift, v.72, p.364-365, 2003.
DAGLE, G. E.; ZWICKER, G. M.; RENNE, R. A. Morphology of spontaneousbrain tumors in the rat.
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ZACHARY, J.F. Sistema nervoso. In: McGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Basesda Patologia em
Veterinária. 4.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Cap.14, p.833-972.
VERNAU, K. M.; HIGGINS, R. J.; BOLLEN, A. W. et al. Primary canine andfeline nervous system tumors:
intraoperative diagnosis using the smear technique.Veterinary Pathology, v.38, p.47-57, 2001.
SANCHES, A.W.D.; LANGOHR, I.M.; STIGGER, A.L. et al. Doenças dosistema nervoso central em
bovinos no Sul do Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.20, n.3, p.113-118, 2000.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 022, 2013

022. ESTUDO RETROSPECTIVO DAS DOENÇAS HEPÁTICAS DE BOVINOS NA


PROVÍNCIA DE SANTA FE, ARGENTINA EM 2011 Y 2012
(Retrospective study of liver pathology in cattle in Santa Fe, Argentina in 2011
and 2012)
Sánchez, A.¹ ²; Sacco, S. ¹ ²; Marini, M. R. ¹ ²; Belotti, M.¹; Céparo, M.¹; Canal,
AM.¹ ²
1 Cátedra de Patología Básica;
2 Laboratorio de Anatomía Patológica. Facultad de Ciencias Veterinarias de Esperanza (FCV),
Universidad Nacional del Litoral. patología@fcv.unl.edu.ar

RESUMO: O objetivo deste estudo foi analisar a freqüência de ocorrência de doenças


patológicas do fígado, através da observação de lesões microscópicas em casos
clínicos de bovinos das diferentes raças, sexo e idades, na província de Santa Fe,
Argentina, no período compreendido entre Fevereiro de 2011 e Dezembro de 2012.
Foram analisadas 321 amostras, e 201 (62,62%) observaram lesões histopatológicas
sugeriu o diagnóstico de várias doenças bacteriana, viral, parasitária, tóxica e
metabólica, destacando a importância da coleta e envio de amostras para análise
microscópico. As doenças hepáticas patológicas mais comuns foram observadas nos
bezerros até 1 ano, com 50% deles nos primeiros 15 dias de vida, idade de alta
suscetibilidade aos patógenos.
Palavras-chave: bovino, o fígado, a histopatologia, Santa Fé
ABSTRACT: The aim of this study was to analyze the frequency of occurrence of liver
diseases, through the observation of microscopic lesions in clinical cases of cattle of
different breeds, gender and ages, in the province of Santa Fe, Argentina, in the period
between February 2011 and December 2012. 321 samples were analyzed, and in 201
(62.62%) the histopathological lesions suggested the diagnosis of various bacterial,
viral, parasitic, toxic and metabolic diseases, highlighting the importance of the
collection and submission of samples for microscopic analysis. The most common liver
diseases were observed in calves until 1 year, with 50% of them in the first 15 days of
life, age of high susceptibility to pathogens.
Key words: cattle; histopathology; liver; Santa Fe
INTRODUÇÃO
O fígado tem um papel importante na manutenção da homeostase metabólica do
organismo. Independentemente da causa, pode-se observar cinco respostas gerais a
lesão: degeneração, acumulação no meio intracelular e necrose e apoptose,
inflamação, regeneração e fibrose. Lesões hepáticas em bovinos são muito mais
comuns do que a evidência de insuficiência hepática. É comum na apresentação clínica
diária de casos suspeitosos de doenças hepáticas, por isso a detecção de lesões por
diagnóstico histopatológico representa uma ferramenta valiosa na atividade veterinária.
A mortalidade é variável e a necropsia desempenhado pelo veterinários é um
procedimento médico comum para determinar a causa da morte, colher amostras e
chegar a um diagnóstico. A província de Santa Fe, Argentina, tem quase 7 milhões de
bovinos, com grandes áreas leitera e de criação e sistemas de invernada. O objetivo
deste estudo foi analisar a freqüência de ocorrência de doenças patológicas do fígado,
através da observação de lesões microscópicas em casos clínicos de bovinos das
diferentes raças, sexo e idades, na província de Santa Fe, Argentina.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizado um estudo retrospectivo de lesões hepáticas histopatológicas detectadas
no período compreendido entre fevereiro de 2011 e dezembro de 2012. As amostras
fixadas em formol tamponado 10% foram remetidas por Medicos Veterinários ao
Laboratório de Anatomo-Patologia da Faculdade de Ciências Veterinárias para o
exame histopatológico. Foram processadas por técnicas de rotina e corados com
hematoxilina-eosina, complementado-se com colorações especiais.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 022, 2013

As doenças hepáticas foram descritos de acordo com Jubb et ai. (2007)A análise dos
dados foi realizada em planilha Excel.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período do estudo foram recebidos 321 fígados, dos quais 221 eram da raça
Holando-Argentina (68,8%), 14 de Bradford (4,4%), 5 de Hereford (1,6%), 24 de
mestiços (7,5%), 2 de Aberdeen Angus (0,6%), de 1 de Jersey (0,3%), de 1 de Brangus
(0,3%) e 53 amostras sem dados sobre a raça (16,5%). 125 eram de machos (38,9%),
121 de fêmeas (37,7%), 1 freemartin (0,3%) e 74 fígados sem dados sexuais (23,1%).
Foram analisados, 62 (19,3%) fígados correspondentes a fetos, 168 bovinos de 0 até 1
ano (52,3%), 31 de 1 aos 5 anos (9,7%), 24 maiores de 5 anos (7,5%) e 36 sem dados
de idade (11,2%). Dos 168 animais da faixa etária situada entre 0 e 1 ano, 84 tinham
entre 0 e 15 dias (50%), 32 entre 15 e 30 dias (19%), 40 entre 1 e 6 meses (24%) e 12
entre 6 e 12 meses (7%). Observaram-se as seguintes lesões: degeneração hidrópica
(266; 82,87%), esteatose (52; 16,20%), necrose multifocal random (23; 7,17%),
necrose centrolobular (22; 6,85%), estase biliar (16; 4,98%), atrofia (13; 4,05%),
hepatite necrótica multifocal (34; 10,59%), hepatite supurativa (20; 6,23%), hepatite
linfoplasmocitaria (103; 32,09%), hepatite granulomatosa com necrose caseosa (4;
1,25%), fibrose (49; 15,26%), hiperplasia do canal biliar (46; 14,33%), megalocitose
(11; 3,43%) hiperplasia das células de Kupffer (36; 11,21%), telangiectasia (3; 0,93%),
metaplasia mielóide (36; 11,21%) não apresentaram lesões (1; 0,31%) e autólise (24;
7,48%). Muitas das lesões observadas poderam-se relacionar com as seguintes
doenças: Salmonella (30), leptospirose (7), infecções por Fusobacterium necrophorum
(2) TB (4), outras doenças infecciosas bacterianas (77), micotoxicose (19), intoxicação
por planta (14), IBR (13), outros agentes infecciosos virais (28), cetose (5) neosporose
(2). O fígado é um órgão que intervém em grande quantidade de processos
metabólicos, e mostra uma variedade de mudanças estruturais e citológicos (noxas),
por isso é frequentamente mostrado durante as necropsia que realizam os veterinários
clínicos. Foram descritos numerosos trabalhos sobre lesão hepáticas em bovinos
detectadas em matadouros, no entanto não encontramos estudos analíticos de lesões
hepáticas encontradas durante as necropsias. Se pode evidenciar que a autólisis se
observou em 7,48%, valorizando desta maneira a rápida intervenção do profissional
para realizar a necropsia. A degeneração hidrópica foi a lesão mais frequente, e é
considerada inespescífica, a diferença da esteatosis que tem informação sobre o
estado funcional do órgão. Se observaram fígados com telangiectasia e hepatites
supurativas, as quais (hallazgos) frequentes descritos em matadouros. As lesões que
puderam sugerir doenças estão perfeitamente descritas em Jubb et al (2007). Os
diagnósticos provenientes de Salmonelosis foram geralmente em terneros, muitos dos
quais se confirmaram com estudo bacteriológico. As lesões de órgãos fetais tem
importante informação quando não apresentam autólisis avançada ; se detectaram
lesões similares às descritas por Lértora et al (2010) vinculadas à açãodeNeospora spp
CONCLUSÕES
As doenças do fígado mais comuns foram observados nos bezerros de até 1 ano,
sendo 50% deles, nos primeiros 15 dias de vida. Lesões histopatológicas sugeriu o
diagnóstico da doença em 62,62% dos casos estudados e permitiu que o profissional a
realizar tratamentos ou medidas necessárias adequadas.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 022, 2013

REFERENCIAS
JUBB, K.V.F; KENNEDY, P.C.; PALMER‘S, N. (2007). Pathologic of Domestic Animals. 5th Ed.
SAUNDERS Elsevier
LÉRTORA, WJ.; MOHR, B.; MOSQUEDA, MG.; SÁNCHEZ NEGRETE, M. (2010). Detección de
Neospora caninum en fetos bovinos abortados espontáneamente en el nordeste argentino. InVet. 12(2):
173-182.
MC GAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. (2007). Pathologic basis of veterinary disease. 4th.Ed. Mosby Ed
Elsevier.
MENDES, RE.; PILATIN, C.(2007). Estudo morfológico de fígado de bovinos abatidos em frigoríficos
industriais sob inspeção estadual no Oeste e no Planalto de Santa Catarina, Brasil. Ciência Rural, Santa
Maria, v.37, n.6, p.1728-1734.
WEST, HJ. (1997) Clinical and pathological studies in cattle with hepatic disease. Veterinary Research
Communications. 21, 169-185.

70
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 023, 2013

023. EURITREMATOSE EM BOVINOS DE LEITE E CORTE NO SUDOESTE E


OESTE DO PARANÁ
(Eurytrematosis in cattle in the southwest and west Paraná)

Márcia Regina Hossa, Thiago Henrique Bellé, Carla Sordi Furlanetto, Joice Rychcik da
Silva, Fagner Luiz da Costa Freitas, Fabiana Elias

Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, Realeza, PR, Brasil

RESUMO: O presente estudo objetiva conhecer a ocorrência de euritrematose nas


regiões Sudoeste e Oeste Paranaense. O trabalho foi divido em duas etapas: na
primeira foram realizadas 29 necropsias em bovinos de leite de propriedades
pertencentes à agricultura familiar no Sudoeste do Paraná, onde foram coletados e
analisados todos os pâncreas, observando-se a presença das estruturas parasitárias
em vinte e um animais. Na segunda etapa foram coletados sessenta e dois pâncreas
de bovinos de corte provindos de um abatedouro no Oeste do estado. Dos sessenta e
dois pâncreas coletados, trinta e quatro se mostraram positivos para a presença do
parasito. Em ambas as etapas, os pâncreas foram classificados de acordo com o grau
de acometimento destes. Desta forma, constatou-se que, apesar do número pequeno
de amostras, tanto a bovinocultura de leite quanto a de corte apresentam ocorrência
relativamente alta da doença em ambas as regiões, sendo classificadas como
endêmicas.
Palavras-chave: bovinos de corte; bovinos de leite; pâncreas; parasito
ABSTRACT: The present study aimed to evaluate the occurrence of eurytrematosis
Southwest and West regions of Paraná. The work was divided into two stages: the first
29 autopsies were performed in dairy properties belonging to the family farm in Paraná,
where they were collected and analyzed all of the pancreas, noting the presence of the
parasitic structures at twenty-one animals. In the second stage were collected sixty-two
pancreatic beef cattle coming from an abattoir in Western state. Of the pancreas
collected thirty four were positive for the presence of the parasite. In both stages, the
pancreas were ranked according to the degree of involvement of these. Thus, it was
found that, despite the small number of samples, both dairy cattle as cutting show
relatively high occurrence of the disease in both regions, classified as endemic.
Key words: beef cattle; dairy cattle, pancreas; parasite
INTRODUÇÃO
A euritrematose é uma doença causada por trematódeos pertencentes ao gênero
Eurytrema (Bassani et al., 2007), tendo grande importância clínica e econômica,
tornando o pâncreas bovino impróprio para comercialização pela indústria extrativista
de insulina, além da redução na produção de carne e de leite dos animais (Bossaert et
al., 1989).
O trematódeo parasita ductos pancreáticos, sendo ocasional o acometimento dos
ductos biliares e raro o acometimento do intestino delgado (Bassani et al., 2007). A
infecção em bovinos ocorre através da ingestão acidental das esperanças, um
artrópode do gênero Conocephalus, contendo metacercárias juntamente com a
pastagem, ou das metacercárias eliminadas pelas esperanças sobre as pastagens
(Mattos Jr e Vianna, 1987).
No Paraná, a prevalência de euritrematose em bovinos varia de acordo com cada
região, podendo estar relacionada ao ciclo biológico do trematódeo, a fatores
ambientais e particularidades de cada região (Azevedo et al., 2004). Devido à carência
de dados sobre a enfermidade em bovinos da região Sudoeste e Oeste do Paraná, o
presente trabalho objetivou avaliar a ocorrência de euritrematose e as principais
alterações patológicas em animais infectados naturalmente.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 023, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida no período compreendido entre abril de 2012 e junho de
2013, sendo necropsiados vinte e nove bovinos com aptidão leiteira, oriundos de
propriedades vinculadas à agricultura familiar do Sudoeste do Paraná e a coleta de
sessenta e dois pâncreas de bovinos de corte procedentes de um abatedouro,
localizado no município de Capitão Leônidas Marques, situado na região Oeste
paranaense. Os pâncreas dos animais foram avaliados quanto à presença de parasitos
e alterações macroscópicas. O grau de infecção dos pâncreas foi classificado em:
ausente, leve, moderado, grave e, muito grave ou severo. Caracterização das espécies
de Eurytrema e fatores de risco associados à severidade das lesões macroscópicas
são partes de estudo complementar relacionado a esse trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 29 bovinos de leite necropsiados, 21 pâncreas apresentaram estruturas
parasitárias na análise macroscópica (72,41%). Na análise dos 62 pâncreas coletados
no abatedouro, 34 tinham trematódeos (54,84%), 28 pâncreas não apresentaram o
parasito (45,16%) e, conforme o grau de infecção, cinco estavam com infecção leve
(8,06%), dez com moderada (16,13%), 12 grave (19,36%) e sete severamente
acometidos (11,29%), o que revela os diferentes graus de acometimento do órgão,
influenciado por diversos fatores, os quais deverão ser futuras linhas de estudo. Deste
modo, a pesquisa evidenciou 60,44% de positividade parasitária, sendo 23,08% dos
animais oriundos da região Sudoeste e 37,36% dos animais oriundos da região Oeste
do Paraná.
Embora, a ação do E. coelomaticum, resulta em lesões macroscópicas e microscópicas
no pâncreas de bovinos infectados (Torres e Pinto, 1936), e que estas lesões podem
levar a inibição da secreção de enzimas pancreáticas para o intestino, dificultando a
digestão entérica (Mattos Jr e Vianna, 1987), no presente estudo, nenhum bovino
apresentou sinais clínicos correspondentes.
Macroscopicamente, além das estruturas parasitárias, havia no pâncreas áreas firmes
multifocais, estando de acordo com Graydon et al., (1992), que relatou ainda a palidez
e a diminuição de tamanho como achados comuns. Na histologia visualizou-se a
presença do trematódeo ocasionando a obstrução de ductos pancreáticos, pelo hábito
destes parasitos de se alojarem no ducto pancreático, levando à ocorrência da
pancreatite que também estava presente. A hiperplasia do epitélio de ductos, áreas
com parênquima destruído e substituído por tecido conjuntivo fibroso, também foram
visualizadas, sendo que a substituição por tecido fibroso induz a destruição dos ácinos
glandulares, conservando as ilhotas de Langerhans (Headley, 2000).
A coprologia é indicada como uma das principais técnicas de diagnóstico desta
parasitose (Bassani et al., 2007). Contudo, bovinos com infecções severas podem não
eliminar os ovos nas fezes, devido à obstrução dos ductos pancreáticos pela
inflamação crônica e fibrose (Riet-Correa et al., 2007). Assim, pode-se considerar que a
ausência de ovos do parasito durante o exame de fezes não significa que o animal não
esteja infectado (Ilha et al., 2005).
CONCLUSÃO
Os dados apresentados revelam que a euritrematose está presente tanto na
bovinocultura de leite como na de corte, sendo estes dados importantes para a
obtenção do conhecimento da ocorrência da euritrematose nas regiões de estudo, a
qual demonstrou-se alta. É possível evidenciar, como já descrito por outros autores,
que o exame coprológico não é diagnóstico para a presença de Eurytrema spp. Desta
forma, nestes casos, a única forma de diagnóstico definitivo é a necropsia.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 023, 2013

REFERÊNCIAS
AZEVEDO, J.R.; MANNIGEL, R.C.; AGULHON, A.Z. et al. Prevalence and geographical distribution of
bovine eurytrematosis in cattle slaughtered in northern Paraná, Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira,
v.24, n.1, p.23-26, 2004.
BASSANI, C.A.; SANGIONI, L.A.; SAUT, J.P.E. et al. Euritrematose bovina. Semina: Ciências Agrárias,
Londrina, v.28, n.2, p.299-316, 2007.
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in South Brazil. Annales de la Societe belge de Medicine tropicale, v.69, p.263–268, 1989.
GRAYDON, R.J.; CARMICHAEL, I.H.; SANCHES, M.D. et al. Mortalities and wasting in Indonesian
sheep associated with the trematoda Eurytrema pancreaticum. Veterinary Record, London, v.131, n.19,
p.443, 1992.
HEADLEY, S.A. Bovine eurytrematosis: life cycle, pathologic manifestations and public health
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ILHA, M.R.S.; LORETTI, A.P.; REIS, A.C.F. Wasting and mortality in beef cattle parasitized by Eurytrema
coelomaticum in the state of Paraná, southern Brazil. Veterinary Parasitology, v.133, p.49-60, 2005.
MATTOS JÚNIOR, D.G.; VIANNA, S.S. O Eurytrema coelomaticum (Trematoda: Dicrocoeliidae) no
Brasil. Arquivos Fluminenses de Medicina Veterinaria, Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.3-7, 1987.
RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A. et al. Doenças de Ruminantes e Equídeos, 3.ed., v.1,
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TORRES, C.M.; PINTO, C. Processos pathogênicos determinados pelos trematoides Eurytrema
fastosum e E. coelomaticum. Memorias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v.31, n.4, p.731-746,
1936.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 024, 2013

024. EXPRESSÃO DE α-SMA EM CÉLULAS ESTRELADAS HEPÁTICAS NA


AVALIAÇÃO DA SEVERIDADE DA FIBROSE EM FÍGADOS COM FASCIOLOSE
(Alpha-SMA expression in hepatic stellate cells na assessment of severity of liver
fibrosis in witth fascioliasis)

Dyeime R. de Sousa¹, Leonardo O. Trivilin¹, Maria Aparecida da Silva², Isabella V. F.


Martins¹, Ana Paula Madureira³, Louisiane de C. Nunes¹

1Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).


2 Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Campos, RJ, Brasil.
3 Universidade Federal de São João Del Rei, São João Del Rei, Minas Gerais, Brasil.

RESUMO: Objetivo foi correlacionar o grau de fibrosede fígados bovinos infectados por
Fasciola hepatica, com a porcentagem de células estreladas hepáticas (CEHs). Foram
coletados 74 fígados, sendo que coletou um fragmento de cada lobo, que foi fixado em
formalina 10%, submetido ao processamento histológico de rotina e colorações de
hematoxilina e eosina e tricrômico de Masson, para classificação da fibrose hepática. A
imunoistoquímica foi realizada para quantificar as CEHs. Verificou-se que 90,5% em
fígados foram classificados como grau I, 8,1% como grau II e apenas 1,4% como grau
III, no lobo hepático direito. No lobo hepático esquerdo, 55,4% dos fígados foram
classificados como grau I, 28,4% como grau II e 16,2% como grau III. As porcentagens
de CEHs imunomarcadas foram 15,0% no grau I, 15,4% no grau II e 19,20% grau III,
no lobo hepático direito e 14,0% no grau I, 17,91% no grau II e 20,9% no grau III no
lobo esquerdo, não apresentando diferença significativa (P>0,05%). Conclui-se que
houve expressão de α-SMA em CEHs, mas não houve correlação com o grau de
fibrose.
Palavras-chave: alpha actina de músculo liso;Fasciola hepatica; imunoistoquímica
ABSTRACT: Objective was correlate the degree of fibrosis, liver chronically infected by
Fasciola hepatica, with the percentage of hepatic stellate cells (HSCs). We collected 74
bovine livers, of each lobe was collected a fragment, which were fixed in 10% formalin,
subjected to routine histological processing and staining with hematoxylin and eosin and
Masson's trichrome for classification of liver fibrosis. Immunohistochemistry was
performed to quantify HSCs. It was found that 90.5% of livers in the right hepatic lobe
were classified as grade I, 8.1% grade II and only 1.4% as grade III. In the left hepatic
lobe, 55.4% of livers were classified as grade I, 28.4% as grade II and 16.2% as grade
III. The percentages were immunostained HSCs 15.0% grade I, 15.4% grade II and
grade III 19.20%, the right hepatic lobe and 14,0% grade I, 17.91% in grade II and
20.9% in grade III, no significant difference (P>0.05%). It was concluded that there was
expression of α-SMA in HSCs, but there was no correlation with the degree of liver
fibrosis.
Key words: alpha smooth muscle actin; Fasciola hepatica; immunohistochemistry
INTRODUÇÃO
A fibrose hepática é a manifestação comum de diversas doenças crônicas do fígado,
resultado do acúmulo de matriz extracelular que pode levar a cirrose (Friedman, 2000).
Estudos têm descrito que as CEHs desempenham papel central na patogênese da
fibrose (Cassiman et al., 2002).
Em infecções por F. hepatica além da hiperplasia do canal biliar, há aumento dos níveis
de colágeno tipo I e III no fígado, os quais são similares às condições observadas na
cirrose e outras condições patológicas incluindo a fibrose e a cicatrização de feridas
(Arthur, 2000).
Pelo fato da fibrose ser severa em fígados de bovinos com fasciolose (Riet-Correa et
al., 2001), buscou-se avaliar a expressão de α-SMA em células estreladas hepáticas e
correlacioná-las ao grau de fibrose em fígados bovinos com F. hepatica.

74
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 024, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletados 74 fígados bovinos condenados por fasciolose, no matadouro
frigorífico de Atílio Vivacqua – ES. De cada fígado foi coletado um fragmento por lobo
hepático, que foi fixado em formalina 10%, submetido ao processamento histológico de
rotina, coloração pelos métodos de hematoxilina e eosina (HE) e tricrômico de Masson
para avaliação histopatológica e classificação da fibrose hepática, seguindo os critérios
estabelecidos por Oliveira et al. (2004).
A imunoistoquímica utilizou o anticorpo anti α-SMA (smooth muscle actin -Dako1A4),
para avaliar a distribuição das CEHs. A quantificação das CEHs positivas foi em cinco
campos aleatórios, sob microscópio de luz no aumento de 40x, considerando apenas
as células com núcleos. A porcentagem de CEHs positivas foi então calculada para
cada grau de classificação da fibrose. Utilizou-se correlação de Spearman, no nível de
5% de significância, para verificar a associação entre as CEHs e o grau de fibrose.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
A classificação histológica revelou que, no lobo hepático direito, 90,5% dos fígados
foram classificados como grau I, 8,1% como grau II e apenas 1,4% como grau III. No
lobo hepático esquerdo, 55,4% dos fígados foram classificados como grau I, 28,4%
como grau II e 16,2% como grau III. No presente estudo observou-se que a fibrose
classificada como grau I foi a mais prevalente, diferindo do observado por Trivilin et al.
(2010) que avaliando animais da mesma região, observou a maior frequência de
fibrose grau II. Essa diferença pode está relacionada à resposta imune de cada
hospedeiro (Meeusen e Piedrafita, 2003) ou às infecções repetidas. De acordo com
Dias-Silveira e Schofield (2002) infecções repetidas são importantes no agravamento
das doenças parasitárias, principalmente, para aumento da fibrose.
Marcos et al. (2007), utilizando a mesma classificação proposta por Oliveira et al.
(2004), observaram maior prevalência de fígados com fibrose grau III, além disso,
verificaram que quantidades de parasitos tem relação com a progressão da lesão
hepática.
Considerando a classificação do grau de fibrose, as porcentagens de CEHs α-SMA
positivas no lobo hepático direito, foram 15,0% no grau I, 15,4% no grau II e 19,20%
grau III. No lobo hepático esquerdo foram 14, 0% no grau I, 17,91% no grau II e 20,9%
no grau III. Não houve diferença na porcentagem de CEHs por lobo hepático, como
também não houve correlação com o grau de fibrose, em ambos os lobos hepáticos.
Devido à ausência de informações disponíveis sobre o papel das CEHs na fibrose
hepática induzida por F. hepatica, foi necessário extrapolar a discussão para outras
doenças hepáticas crônicas que abordam essas células. Chang et al. (2006)
compararam as populações de CEHs na fibrose periportal causada por
esquistossomose e pelo virus da hepatite C, e observaram que pacientes com
esquistossomose apresentam mais fibrose que os pacientes com fígado normal e
menos que os pacientes com hepatite C e expressão de células α-SMA em ambas as
doenças.
Carpino et al. (2005) avaliaram a porcetagem de CEHs em figados normais e em
fígados com hepatite viral B, hepatite viral C e hepatite pós transplante e observaram
que a medida que aumenta o número de CEHs aumenta-se a deposição de tecido
conjutivo fibroso, tal fato não foi observado neste estudo.
CONCLUSÃO
Conclui-se que houve expressão de α-SMA em CEHs, mas não houve correlação com
o grau de fibrose em fígados bovinos com F. hepatica.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES) e a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - PROCAD pelo apoio financeiro.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 024, 2013

REFERÊNCIAS
ARTHUR, M.J.P. Fibrogenesis II. Metalloproteinases and their inhibitors in liver fibrosis. American
Journal of Physiology Gastrointestinal and Liver Physiology, v.279, n.2, p.245-249, 2000.
CARPINO, G.; MORINI, S.; GINANNI-CORRADINI, S. et al. Alpha-SMA expression in hepatic stellate
cells and quantitative analysis of hepatic fibrosis in cirrhosis and in recurrent chronic hepatitis after liver
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CASSIMAN, D.; LIBBRECHT, L.; DESMET, V. et al. Hepatic stellate cell/myofibroblast subpopulations in
fibrotic human and rat livers. Journal of Hepatology, v. 36, n.2, p.200–209, 2002.
CHANG, D.; RAMALHO, L.N.Z.; RAMALHO, F.S. et al. Hepatic stellate cells in human schistosomiasis
mansoni: A comparative immunohistochemical study with liver cirrhosis. Acta Tropica, v.97, n.3, p.318–
323, 2006.
DIAS, J.C.; SILVEIRA, A.C.; SCHOFIELD. C.J. The impact of Chagas‘ disease control in Latin America –
A Review. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz v.97, p.603-612, 2002.
FRIEDMAN, S.L. Molecular regulation of hepatic fibrosis, an integrated celular response to tissue injury.
The Journal of Biological Chemistry. v.275, n.4, p.2247-2250, 2000.
MARCOS, L.A.; MACHICADO, A.; ANDRADE, R. et al. Hepatic fibrosis and Fasciola hepatica infection in
cattle. Journal of Helminthology, v.81, n.4, p.381-386, 2007.
MEEUSEN, E.N.T.; PIEDRAFITA, D. Exploiting natural immunity to helminth parasites for the
development of veterinary vaccines. International Jouranl for Parasitology, v.33, p.1285-1290, 2003.
OLIVEIRA, L.; SOUZA, M.M.; ANDRADE, Z. Capillaria hepatica-induced hepatic fibrosis in rats:
paradoxical effect of repeated infections. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.37,
n.2, p.123-127, 2004.
RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; MÉNDEZ, M. C. ET AL. Doenças de Ruminantes e Eqüinos. 2ª ed.
Varela. São Paulo. 2001, 658p.
TRIVILIN, L.O.; SOUSA, D.R.; NUNES, L.C. et al. Avaliação microscópica comparativa de fígados de
bovinos e ovinos infectados por Fasciola hepatica: estudos preliminares. In: Congresso Brasileiro de
Parasitologia Veterinária, 15.; Seminário de Parasitologia Veterinária dos Países do Mercosul, 2., 2008,
Curitiba. Anais... Curitiba: CBPV, 2008. 1CD. Resumos_Apresentação ORAL.doc.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 025, 2013

025. FIBROSE PULMONAR MULTINODULAR EM UM EQUINO NO SUL DO BRASIL


(Multinodular pulmonary fibrosis in a horse in southern Brazil)

Welden Panziera, Bianca Tessele, Andréia Vielmo, Carlos Horácio Bastos Borges,
Rafael Almeida Fighera & Claudio Severo Lombardo de Barros

Laboratório de Patologia Veterinária (LPV), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),


claudioslbarros@uol.com.br

RESUMO: Descreve-se um caso de fibrose pulmonar multinodular equina (EMPF) em


uma égua Puro Sangue de Corrida com sinais clínicos de grave insuficiência
respiratória. O diagnóstico de EMPF foi confirmado pelas alterações de necropsia,
histopatologia e pela detecção de herpesvírus equino tipo 5 (EHV-5) pela técnica da
reação em cadeia de polimerase (PCR).
Palavras-chave: doenças de equinos; EHV-5; fibrose intersticial; patologia; pulmão
ABSTRACT: A case of equine multinodular pulmonary fibrosis (EMPF) is reported in a
thoroughbred mare with clinical signs of severe respiratory distress The diagnosis of
EMPF was confirmed by necropsy findings, histopathology and by detection of equine
herpesvirus type 5 (EHV-5) DNA by the polymerase chain reaction (PCR).
Key words: diseases of horses; EHV-5; interstitial fibrosis; lung; pathology
INTRODUÇÃO
Fibrose pulmonar multinodular equina (EMPF) é uma doença pulmonar crônica,
caracterizada por proliferação de tecido fibroso no interstício do parênquima pulmonar
(Williams et al., 2007; Ainsworth, 2012; Dunkel, 2012). Foi descrita pela primeira vez
nos Estados Unidos (Williams et al., 2007) e recentemente relatada na Europa
(Verryken et al., 2010; Soare et al., 2011; Back et al., 2012). Sua etiologia está
associada à infecção por herpesvírus equino tipo 5 (EHV-5) e afeta equinos entre 4-26
anos (média de 14 anos) de idade (Williams et al., 2007). Os principais sinais clínicos
observados são apatia, perda de peso, dificuldade respiratória e febre (Williams et al.,
2007; Wong et al., 2008). O objetivo deste trabalho é descrever um caso de fibrose
pulmonar multinodular em um equino na região sul do Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma égua Puro Sangue de Corrida com 7 anos de idade, pertencente a um haras do
município de Bagé do estado do Rio Grande do Sul, morreu e foi necropsiada após
apresentar emagrecimento e sinais clínicos respiratórios. Fragmentos de pulmão foram
fixados em formol a 10% e processados rotineiramente para histopatologia. Uma
amostra de pulmão incluído em parafina foi enviada para o Diagnostic Center for
Population & Animal Health (DCPAH) da Michigan State University (MSU), para a
detecção de EHV-5 por meio da técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR).
RESULTADOS
No haras há aproximadamente 250 equinos e este foi o único caso da doença
observado. O animal morreu após apresentar um quadro de severa falência
respiratória, sem secreção nasal e com tosse ocasional. A dificuldade respiratória
resultou em severa anóxia. Na auscultação percebia-se que a entrada de ar no
parênquima pulmonar estava severamente diminuída. Nas duas últimas semanas de
vida o animal perdeu cerca de 100 kg de peso corporal. A temperatura corporal se
mantinha normal na maior parte do dia, mas apresentava picos de febre entre à
tardinha e as primeiras horas da noite. As principais alterações hematológicas incluíam
leve neutrofilia (10.648 neutrófilos/mm3; normal 2.260-8.580/mm3) com desvio à
esquerda (605 bastonetes/mm3; normal 0-100/mm3), linfopenia (726 linfócitos/mm3;
normal 1.500-7.700/ mm3) e hiperfibrinogenemia (1.600 mg/dL; normal 100-400
mg/dL). O tratamento a base de antibióticos e anti-inflamatórios esteroidais e não
esteroidais não resultou em qualquer melhora.

77
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 025, 2013

Na necropsia havia extrema caquexia. O pulmão não colapsou e tinha a superfície


pleural irregular. Distribuídos por todos os lobos havia numerosos nódulos brancos ou
beges, multifocais a coalescentes, com tamanhos variando de 2 a 8 cm de diâmetro.
Ao corte os nódulos eram firmes, pouco delimitados e não encapsulados. Separando
os nódulos entre si havia escasso tecido pulmonar normal remanescente.
Histologicamente, as lesões pulmonares consistiam de nódulos formados por marcada
expansão intersticial de colágeno maduro e bem organizado, que substituía o
parênquima pulmonar normal. No interstício havia moderado infiltrado inflamatório
misto, constituído por linfócitos, plasmócitos, macrófagos espumosos e neutrófilos. Os
alvéolos dessas áreas envoltas por fibrose eram revestidos por epitélio cuboidal e
lúmen preenchido por neutrófilos e numerosos macrófagos espumosos. Alguns
macrófagos do interior dos espaços alveolares continham inclusão intranuclear
anfofílica, oval, que deslocava a cromatina para a periferia. As inclusões eram
compatíveis com inclusões virais de herpesvírus. Isso foi confirmado pela detecção de
DNA do EHV-5 por PCR.
DISCUSSÃO
Os sinais clínicos, os achados macroscópicos, histopatológicos e a detecção de EHV-5
na PCR do caso aqui relatado, são idênticos aos descritos previamente para EMPF
(Williams et al., 2007; Wong et al., 2008; Verryken et al., 2010; Soare et al., 2011; Back
et al., 2012) e constituem evidências que permitem confirmar o diagnóstico desta
doença no Brasil. As lesões observadas no pulmão desse equino diferem
significativamente de pneumonias fúngicas e bacterianas, assim como de outras
doenças pulmonares intersticiais crônicas e proliferativas, como pneumoconiose por
sílica (Williams et al., 2007) e uma condição proliferativa idiopática do pulmão de
equinos (Buergelt et al., 1986). Associada às lesões, foi possível detectar EHV-5 neste
caso por meio da PCR. A participação de EVH-5 na patogênese da EMPF foi
recentemente confirmada (Williams et al., 2007).
CONCLUSÕES
Este é o primeiro relato de EMPF no Brasil e trata-se de uma doença ainda pouco
conhecida. É importante que o médico veterinário que trabalha com a espécie equina
em nosso país, considere EMPF como um diagnóstico diferencial em equinos adultos
com suspeita de pneumonia, e reconheça as manifestações clínicas e
anatomopatológicas dessa doença, pois casos esporádicos poderão ocorrer.
REFERÊNCIAS
AINSWORTH, D.A. Infectious pneumonia in adults, newer approaches and equine multinodular
pulmonary fibrosis. Proceedings of the 18th Annual Meeting of the Italian Association of Equine
Veterinarians SIVE, Bologna, Italy, 2012.
BACK, H.; KENDALL, A.; GRANDÓN, R. et al. Equine Multinodular Pulmonary Fibrosis in association
with asinine herpesvirus type 5 and equine herpesvirus type 5: a case report. Acta Veterinaria
Scandinavica, v.54, n.57, p.1-5, 2012.
BUERGELT, C.D.; HINES, S.A.; CANTOR, G. et al. A Retrospective study of proliferative interstitial lung
disease of horses in Florida. Veterinary Pathology, v.23, n.6, p.750-756, 1986.
DUNKEL, B. Pulmonary fibrosis and gammaherpesvirus infection in horses. Equine Veterinary
Education, v.24, n.4, p.200-205, 2012.
SOARE, T.; LEEMING, G.; MORGAN, R. et al. Equine multinodular pulmonary fibrosis in horses in the
UK. Veterinary Record, v.169, n.12, p.313-315, 2011.
VERRYKEN, K.; SAEY, V.; MAES, S. et al. First report of multinodular pulmonary fibrosis associated with
equine herpesvirus 5 in Belgium. Vlaams Diergeneeskundig Tijdschrift, v.79, p.297-301, 2010.
WILLIANS, K.J.; MAES, R.; DEL PIERO, F. et al. Equine multinodular pulmonary fibrosis: a newly
recognized Herpesvirus-associated fibrotic lung disease. Veterinary Pathology, v.44, n.6, p.849-862,
2007.
WONG, D.M.; BELGRAVE, R.L.; WILLIAMS, K.J. et al. Multinodular pulmonary fibrosis in five horses.
Journal of American Veterinary Medicine Association, v.232, n.6, p.898-905, 2008.

78
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 026, 2013

026. FREQUÊNCIA DE DOENÇAS RESPIRATÓRIAS SUÍNAS DIAGNOSTICADAS


NA ROTINA DO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA VETERINÁRIA DA ESCOLA DE
VETERINÁRIA DA UFMG
(Frequency of respiratory diseases diagnosed on routine Laboratory of Veterinary
Pathology, Veterinary School, UFMG)

Talita Pilar Resende, José Paulo H. Sato, Amanda Gabrielle de S. Daniel,


Gabriella Borba N. Assis, Michelle de Paula Gabardo, Roberto Maurício Carvalho
Guedes
Setor Patologia Veterinária do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, UFMG.

RESUMO: Dados de rotina, obtidos de submissões de amostras suínas para


diagnóstico no Laboratório de Patologia Veterinária da Escola de Veterinária da UFMG,
entre janeiro de 2010 e junho de 2013, foram analisados para determinar a frequência
de casos de patologias respiratórias e, quando possível, determinar o agente etiológico.
Cada submissão gerava um laudo, que poderia ser representado por um ou vários
animais e diferentes órgãos, sendo considerados como representativos do rebanho.
Dentre os 306 laudos por submissões de amostras suínas gerados no período, 170
foram relacionados com doenças respiratórias (55,56%) e a principal patologia relatada
foi broncopneumonia (76/170). Os agentes mais frequentes foram Mycoplasma
hyopneumoniae (21,26% dos laudos de doenças respiratórias) e vírus da Influenza
(10,59%).
Palavras chave: diagnóstico; histopatologia; pneumonia; suínos
ABSTRACT: Routine data obtained from samples of swine submissions to the
diagnostic laboratory of Veterinary Pathology, Veterinary School, UFMG, from January
2010 to June 2013 were analyzed to determine the frequency of respiratory diseases ,
the etiologic agent (when possible) and their frequency in relation to other swine
diseases . Each submission generated a report, which may be represented by one or
more animals and different organs, considered as representative of the problem in the
herd. Among the 306 swine reports, 170 were related to respiratory diseases (55.56%)
and the main pathology reported was bronchopneumonia (76/170). Mycoplasma
hyopneumoniae and Influenza vírus were the pathogens most frequently related,
21,26% and 10,59% of total of respiratory diseases reports,
respectively.
Key words: diagnosis; histopathology; pneumonia; swine
INTRODUÇÃO
As pneumonias estão entre os principais problemas sanitários da suinocultura
tecnificada, causando baixos índices zootécnicos, gastos com medicamentos e
condenações de carcaças (Alberton e Mores, 2008). As patologias mais comumente
encontradas no trato respiratório dos suínos são as pneumonias (Sobestiansky et al.,
2001; Alberton e Mores, 2008), sendo causadas por diferentes agentes infecciosos
(Hansen et al., 2010). Este estudo teve como objetivo a realização de um levantamento
de casos de doenças respiratórias a partir das amostras suínas encaminhadas ao
Laboratório do Patologia Veterinária da Escola de Veterinária da Universidade Federal
de Minas Gerais, no período de janeiro de 2010 a junho de 2013.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados foram compilados do sistema de banco de dados (Patvet) do setor de
Patologia Veterinária da Escola de Veterinária da UFMG, relacionados a submissões
de amostras suínas, entre os janeiro 2010 e junho de 2013. Cada submissão gerou um
laudo, podendo este conter resultados de mais de um animal e diferentes órgãos,
considerados representativos do rebanho. Cada caso foi destinado a uma determinada
conduta diagnóstica, a depender do histórico da propriedade de origem, da idade dos
animais, do modo como a amostra foi recebida (animal vivo, amostras frescas

79
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 026, 2013

resfriadas ou fixadas em formol). As amostras foram analisadas por exame


macroscópico, histopatológico e outros exames complementares como virologia,
isolamento bacteriano, reação em cadeia polimerase e imunohistoquímica, com o
objetivo de se determinar, sempre que possível, a etiologia da patologia. Para o
presente estudo, considerou-se cada laudo como um caso, e um mesmo laudo poderia
apresentar diferentes diagnósticos morfológicos e etiológicos.
RESULTADOS
No período compreendido entre janeiro de 2010 e junho de 2013 foram gerados 306
laudos de diagnóstico de patologias suínas. As doenças respiratórias foram as mais
frequentes, aparecendo em 55,56% dos laudos. As patologias mais diagnosticadas no
período analisado estão relacionadas da tabela 1.

Em 2010 houve um caso confirmado de PCV2 na imunohistoquímica, dois casos em


2012 e em 2011 e 2013 não houve nenhum resultado positivo. O vírus da influenza foi
detectado em 13 laudos de 2011 e em cinco de 2012. Dentre as causas bacterianas, as
mais apontadas foram Mycoplasma hyopneumoniae (37/170 laudos), Pasteurella
multocida (6/170) e Actinobacillus pleuropneumoniae (4/170). Salmonelose septicêmica
foi confirmada em dois casos no ano de 2012.
DISCUSSÃO
As doenças respiratórias em suínos tem etiologia complexa (Barcellos et al., 2008) e
portanto, o histórico e identificação corretos das amostras submetidas ao diagnóstico
são necessários para estabelecimento da causa das lesões encontradas (Alberton e
Rocha, 2010). Pneumonia e rinite foram as lesões mais diagnosticadas por
Sobestiansky et al. (2001) em animais abatidos nos estados do Sul do Brasil. Na rotina
de diagnóstico do laboratório de Patologia Veterinária, as pneumonias foram as
doenças mais frequentes, mas a rinite apareceu esporadicamente ao longo do período
analisado. Assim como relatado por Hansen et al.(2010), os agentes primários mais
importantes na indução de problemas respiratórios entre as amostras suínas
analisadas neste estudo são o Mycoplasma hyopneumoniae e o vírus Influenza. Os
resultados ilustram o aumento da importância do vírus da influenza em 2011 e 2012,
relacionada a circulação da cepa pandêmica, e um quase desaparecimento das lesões
pulmonares causadas pelo PCV2. Este último achado se justifica pela ampla
disponibilidade e uso de vacinas comerciais efetivas.
Finalmente, um grande alerta são os dois casos de pneumonia intersticial associados a
isolamento de culturas puras de Salmonella sp, a muito tempo não relatados no Brasil.
CONCLUSÃO
Dentre os 306 laudos gerados pelas submissão de amostras suínas ao Laboratório do
Departamento de Patologia da Escola de Veterinária da UFMG, 170 estavam
relacionados a doenças respiratórias (55,56%). Pneumonia intersticial foi a patologia
mais diagnosticada e os principais agentes etiológicos apontados foram Mycoplasma

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 026, 2013

hyopneumoniae e vírus Influenza. Alerta-se para os casos de Pneumonias intersticiais


por salmonelose septicêmica.
Agradecimento: CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro para execução da pesquisa.
REFERÊNCIAS
ALBERTON, G.C. e MORES, M.A.Z. Interpretação de leões no abate como ferramentas de diagnóstico
das doenças respiratórias dos suínos. Acta Scientiae Veterinariae. 36 (Sulp 1), p. 95-99, 2008.
ALBERTON, G.C. e ROCHA, D.L. Como diagnosticar corretamente doenças respiratórias em suínos nas
fases de crescimento e terminação. Acta Scientiae Veterinariae. 38 (Supl 1): s29-s35, 2010.
BARCELLOS, D.E.S.N.; BOROWSKI, S.M.; SANTI, M.; MORES, T.J. Relação entre ambiente, manejo e
doenças respiratórias em suínos. Acta Scientiae Veterinariae, 36 (Supl 1): s87:s93, 2008.
HANSEN, M.S.; PORS, S.E.; JENSEN, H.E.; BILLE-HANSEN, V.; BISGAARD, M.;
FLACHS, E.M.; NIELSEN, O.L. An Investigation of the Pathology and Pathogens Associated with Porcine
Respiratory Disease Complex in Denmark. Journal of Comparative Pathology, v.143, p.120-131, 2010.
SOBESTIANSKY, J.; DALLA COSTA, O.A.; MORES, N.; BARIONI JR., W.; PIFFER, I.A.; GUZZO, R.
Estudos ecopatológicos das doenças respiratórias dos suínos: prevalência e impacto econômico em
sistemas de produção dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. EMBRAPA Suínos e
aves, Comunicado Técnico, p.1-6, 2001.

81
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 027, 2013

027. FREQUÊNCIA DE ENTEROPATÓGENOS DIAGNOSTICADOS EM AMOSTRAS


DE SUÍNOS SUBMETIDAS AO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA ANIMAL DA
ESCOLA DE VETERINÁRIA DA UFMG
(Frequency of enteropathogens diagnosed in swine samples submitted to the
Animal Pathology Laboratory of Veterinary School - UFMG)

José Paulo Hiroji Sato, Talita Pilar Resende, Amanda Gabrielle S. Daniel, Michelle
de Paula Gabardo, Bruno Henrique A. Paiva, Roberto Maurício Carvalho Guedes

Setor Patologia Veterinária do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária,UFMG.


RESUMO: O banco de dados do Laboratório de Patologia animal da UFMG entre os
anos de 2010 e 2013 foi compilado para determinar a casuística de enteropatias em
suínos. Durante o período analisado foram recebidas 306 amostras de suínos, das
quais 87 (28,4%) eram de casos de afecções entéricas. Foram realizados exames de
Poli- Acrilaminada Gel Eletroforese (PAGE), Reação em Cadeia da Polimerase (PCR),
exames parasitológicos, isolamento bacteriano e análise histopatológica. Os agentes
identificados foram Brachyspira sp (21,3%), Rotavírus (17,0%), E. coli (13.8%),
Isospora suis (12,8%), Lawsonia intracellularis (10.6%) e Clostridium sp (7,4%). A
maior frequência de detecção de Brachyspira sp está provavelmente relacionada aos
surtos recentes de enfermidades espiroquetais no Brasil.
Palavras-chave: afecções entéricas; diagnóstico; suínos
ABSTRACT: In order to determine the frequency of swine enteric disorders diagnosed
from 2010 to 2013 at the Animal Pathology Laboratory of UFMG the electronic data
base was evaluated. During the studied period, 306 samples were received, and 87
(28.4%) were cases of enteric disorders. Examinations of Poly-Acrilaminade Gel
Electrophoresis (PAGE), Polymerase Chain Reaction (PCR), parasitological, bacterial
isolation and histopathology were performed. The frequency of detected
enteropathogens was the following: Brachyspira sp (21.3%), Rotavirus (17.0%), E. coli
(13.8%), Isospora suis (12.8%), Lawsonia intracellularis (10.6%) and Clostridium sp
(7.4%). The highest detection rate of Brachyspira sp was probably related to recent
outbreaks of swine dysentery that have been detected in Brazil.
Key words: enteric affections; diagnostic; swine
INTRODUÇÃO
As doenças entéricas na suinocultura representam um problema complexo, em função
da diversidade de agentes etiológicos envolvidos, multiplicidade de fatores
predisponentes e dificuldades associadas com seu diagnóstico e controle (Barcellos et
al., 1980). Essas enfermidades estão presentes nas criações de suínos de todo mundo,
observadas em animais de diferentes faixas etárias, sendo responsáveis por
expressivas perdas econômicas (Ewing e Cole, 1994). Nos suínos, a maioria das
diarreias tem origem infecciosa, representadas pelos seguintes agentes: Clostridium
sp., Escherichia (E.) coli, Rotavirus, Isospora (I.) suis, circovírus suíno tipo 2, Lawsonia
intracellularis, Brachyspira sp e Salmonella sp (Barcellos et al., 2011). O presente
estudo teve como objetivo, o levantamento de agentes envolvidos em casos de diarreia
em suínos, a partir de amostras encaminhadas ao Laboratório de Patologia Animal da
Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, no período de
janeiro de 2010 a junho de 2013.
MATERIAL E MÉTODOS
Na presente avaliação do banco de dados, foram consideradas amostras de suínos do
período de janeiro de 2010 a junho de 2013 que tinham a diarreia como suspeita clínica
e/ou presença de lesões intestinais. Amostras de fezes e fragmentos intestinais frescos
e fixados em formalina a 10%, assim que recebidos, eram identificados e processados.
Informações como, a espécie animal, procedência, idade, amostras recebidas e
suspeita clínica eram anotados. Os agentes rotineiramente pesquisados foram
82
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 027, 2013

Rotavirus, através da técnica de Eletroforese em Gel de Poli-Acrilaminada (PAGE),


Clostridium difficile usando um ELISA de captura para detecção de toxinas A e B,
Clostridium perfringens através de isolamento e tipificação pela PCR Multiplex (cpa,
cpb, cpb2, etx, ia, cpe), E. coli pelo isolamento e tipificação de cepas pela PCR
Multiplex para detecção de fímbrias (F4, F5, F6, F18 e F41) e toxinas (Lt, STa, STb e
STx2e), Salmonella sp pelo isolamento e sorotipagem, L. intracellularis pela PCR e/ou
imuno-histoquímica, Brachyspira hyodysenteriae e Brachyspira pilosicoli pela PCR,
histologia e hibridização fluorescente in situ (FISH) e I. suis através do teste de
flutuação de Willis, para detecção de oocistos de amostras fecais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período analisado, foram recebidas 306 amostras de suínos, dos quais, 87 (28,4%)
eram de casos relacionados com alguma enteropatia. A distribuição do dos patógenos
diagnosticados por período estão apresentadas na Tabela 1. Resultados inconclusivos
representavam os casos negativos nas técnicas de isolamento bacteriano, PCR,
exames parasitológicos e exame histológico. O exame histológico foi utilizado em
associação à identificação de agentes, e nos casos em que haviam somente tecido
fixado. A idade dos animais era determinante no direcionamento e solicitação de testes
diagnósticos específicos. Lesões compatíveis com Rotavirus ou I. suis eram baseadas
na marcante atrofia de vilosidades em leitões das fases de maternidade e creche (0 a
75 dias de idade) (Straw et al., 1999). Proliferação marcante de células epiteliais
imaturas das criptas intestinais (McOrist e Gebhart, 1999) e colites superficiais com
hiperplasia de células caliciformes, principalmente em animais das fases de
crescimento e terminação (a partir de 75 dias de idade) eram consideradas compatíveis
com as causadas por L. intracellularis e Brachyspira sp., respectivamente.
Levantamentos de casuística de enteropatógenos têm grande importância para
orientação sobre as medidas de controle a serem adotadas frente a problemas
entéricos em rebanhos suínos comerciais. De acordo com o trabalho de Katsuda et al.
(2006), em leitões lactentes e desmamados, Rotavirus, E. coli e I. suis, foram os
agentes com maior frequência em casos de enteropatias, corroborando com os dados
do presente estudo. Apesar da L. intracellularis estar frequentemente presente nos
rebanhos, doenças causadas por Brachyspiras sp, particularmente, B. hyodysenteriae,
assumiu posição primária devido aos graves surtos recentes em animais de
crescimento e terminação observados no Brasil (Daniel et al., 2013).
Algumas amostras não foram acondicionadas adequadamente e enviadas de forma
incorreta, consequentemente, apresentavam autólise avançada, sendo consideradas
inapropriadas para a realização de exames, gerando resultados inconclusivos.

CONCLUSÃO
Da análise dos 87 casos de enterites em suínos, a maior frequência observada foi para
Brachyspira sp., em animais de recria e terminação. Os agentes em leitões lactentes e
desmamados com maior frequência foram Rotavirus, ETEC e I. suis.
Agradecimento: CAPES e FAPEMIG pelo apoio financeiro.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 027, 2013

REFERÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 028, 2013

028. GLOMERULONEFRITE MEMBRANOPROLIFERATIVA ESCLEROSANTE


EM SUÍNO
(Sclerosant membraneproliferative glomerulonephritis in swine)

Roberta da Rocha Braga¹ ²; Francisco Valdeci de Almeida Ferreira²

1 Serviço de Inspeção Estadual do Ceará (SIE-CE)


2 Universidade Federal do Ceará (UFC)

RESUMO: As glomerulonefrites representam uma importante categoria de doenças em


animais e, nos últimos anos, sua frequência tem aumentado em suínos. O objetivo
deste trabalho foi relatar a ocorrência de uma glomerulonefrite esclerosante
membranoproliferativa em suíno, detectada ao abate. Os rins estavam aumentados,
com coloração pálida e cápsula espessada e aderida. A microscopia óptica revelou
esclerose glomerular, necrose e dilatação tubular global, vasculite e fibrose intersticial.
Deposição segmentar de IgA no mesângio foi observada à imunohistoquímica.
Palavras-Chave: IgA; Imunocomplexos; glomerulosclerose; nefropatia; Sus scrofa
ABSTRACT: Glomerulonephritis represents an important class of animal‘s diseases.
Recent years, its frequency is increasing in pigs. The objective of this paper was
report a sclerosant membraneproliferative glomerulonephritis in swine, which was
detected at the slaughtering. Kidneys were abnormally enlarged, pale, and its
capsules were fine granular, thickened and adhered to the parenchyma. Light
microscopy showed glomerulosclerosis, necrosis and global distension of tubules,
vasculitis and interstitial fibrosis. At the immunohistochemical analysis, segmental
deposition of IgA was observed.
Keywords: IgA; immunocomplexes; glomerulosclerosis; nephropathy; Sus scrofa
INTRODUÇÃO
As glomerulonefrites representam uma importante categoria de doenças em animais e,
nos últimos anos, sua frequência tem aumentado em suínos (Drolet e Dee, 2006). Em
animais domésticos, ocorrem com mais frequência em cães e gatos, associada com
infecções persistentes (Confer e Panciera, 1990). Ocasionalmente, são detectadas em
exames pós-morte, mas seu diagnóstico clínico raramente é feito (Shirota et al., 1986).
O objetivo deste trabalho foi relatar a ocorrência de uma glomerulonefrite esclerosante
membranoproliferativa em suíno, detectada à inspeção pós-abate, descrevendo as
lesões macro e microscópicas e levantando as possíveis etiologias.
MATERIAIS E MÉTODOS
Coleta de material: No mês de março de 2009, por ocasião da inspeção pósmorte em
um matadouro-frigorífico no município de Maracanaú, Ceará, foi coletado um par de
rins de suínos mostrando intensas alterações macroscópicas, dentre as condenações
renais mais comuns. Os rins foram examinados, medidos e fotografados. Foram
coletadas amostras de 1,0 x 1,0 cm, fixadas em formol a 10% e enviadas para análise
histopatológica.
Processamento histológico e microscopia: seções de 5 μm foram cortadas e coradas
em hematoxilina-eosina (HE), periódico ácido-Schiff (PAS), tricrômico de Masson e
vermelho Congo. As lâminas foram examinadas à microscopia óptica. Imuno-
histoquímica: seções de 5 μm foram tratadas com anticorpos policlonais de coelho anti-
IgM, anti-IgG, anti-IgA e anti-C3 humanos, obtidas da DAKO-USA, originalmente com
adição de corante e modificada pelo fornecedor para detecção do sinal corado em
material fixado-parafinizado, após recuperação antigênica por calor úmido (micro-
ondas).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O suíno afetado era um macho da raça Landrace, com idade aproximada de 150 dias,
pesando cerca de 95 kg. O animal apresentara condições clínicas e nutricionais
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 028, 2013

aparentemente normais ao exame ante-morte. À inspeção pós-morte, os rins estavam


aumentados, medindo o esquerdo 7,3 x 3,4 x 3,0 cm e o direito 6,6 x 2,8 x 2,7 cm, com
coloração castanho-pálida. A cápsula tinha uma fina textura granular e estava
espessada, opacificada e aderida à superfície do parênquima.
Os achados foram compatíveis com glomerulonefrite membranoproliferativa
crônica. À microscopia óptica foram observadas esclerose glomerular, intersticial e
vascular. Os glomérulos apresentaram espessamento e hipercelularidade no mesângio,
além de dilatação do espaço capsular. As membranas capilares e os túbulos
mostraram-se hialinizados. O interstício revelou crescentes fibrosas periglomerulares. À
imuno-histoquímica foram observados depósitos segmentares densos de IgA no
mesângio glomerular.
Vários autores relatam glomerulonefrites proliferativas e membranoproliferativas
associadas às pestes suínas, clássica e africana (Maurer et al., 1958; Cheville et
al.,1970; Hervas et al., 1996; Choi e Chae, 2003). Lesões semelhantes foram descritas
por Saoulidis et al.(2002) na síndrome de nefropatia e dermatite porcina (SNDP). A
nefropatia por IgA é a principal causa de glomerulonefrite primária em humanos, sendo
importante causa de doença renal (Graterol et al., 2013). As glomerulonefrites em
suínos geralmente mostram coloração forte de C3 e mais fraca de IgM à
imunofluorescência, mas ocasionalmente podem apresentar depósitos de IgG ou de
IgA (Tizard,1998).
CONCLUSÕES
A glomerulonefrite membranoproliferativa imunomediada em suínos está
frequentemente associada a doenças infecciosas crônicas com antigenemia
persistente. As lesões encontradas levantaram a possibilidade de sequelas de peste
suína clássica ou de viroses suínas concomitantes, produzindo a SNDP. Como
perspectiva futura, mais trabalhos devem ser realizados a fim de se confirmar a
etiologia dessas lesões. Estudos epidemiológicos são necessários para aperfeiçoar os
programas de sanidade em granjas suínas.
Agradecimentos
Daniel de Araújo Viana, patologista veterinário e amigo, pelo diagnóstico preliminar;
João Fabrício Mota Rodrigues, parceiro de pesquisa e amigo, pela revisão do texto, e
aos colegas do Serviço de Inspeção Estadual do Ceará (SIE-CE), pelo apoio e
incentivo.
REFERÊNCIAS
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glomerulonephritis in chronic hog cholera. Laboratory Investigation, v.22, p.458-467, 1970]
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TIZARD, I. Imunologia Veterinária. 5a. Edição. São Paulo: Editora Roca, 1998,
Cap.XXVIII, p. 384-396.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 029, 2013

029. HEMATÚRIA ENZOÓTICA EM BOVINOS NA REGIÃO AMAZÔNICA


DE MATO GROSSO
(Enzootic Hematuria Cattle In The Amazon Region Mato Grosso)

Everson dos Santos Damasceno¹, Thays Couto Barbosa¹, Diego Montagner


Schenkel¹, Silvio César Soares Torres Junior¹, Flávio Lisbôa da Costa², Fernando
Henrique Furlan³

1 Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso – campus Sinop.


2 M.V. Prefeitura Municipal de Sinop.
3 Laboratório de Patologia Animal – Universidade Federal de Mato Grosso
fhfurlan@gmail.com

RESUMO: A intoxicação por Pteridium spp. é de grande importância em muitas regiões


do Brasil, porém na região Centro Oeste não existem dados sobre a ocorrência desta
doença. Este estudo teve como objetivo descrever os aspectos epidemiológicos,
clínicos e patológicos de 3 surtos de hematúria enzoótica bovina (HEB) na região
amazônica de Mato Grosso. HEB ocorreu em propriedades leiteiras que possuíam a
pastagem altamente infestada pela planta após a realização de queimadas.
Clinicamente observou-se apatia, queda na produção de leite. Durante a necropsia
havia na bexiga nódulos de tamanhos variados que histologicamente consistia em
neoplasias. Os aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos da HEB foram
discutidos.
Palavras-chave: Pteridium spp, plantas tóxicas, neoplasia
ABSTRACT: Intoxication Pteridium spp. is of great importance in many regions of
Brazil, but in the Midwest there are no data on the occurrence of this disease. This
study aimed to describe the epidemiological, clinical and pathological 3 outbreaks of
bovine enzootic haematuria (BEH) in the Amazon region of Mato Grosso. BEH occurred
in dairy farms that had a pasture heavily infested by the plant after the burning.
Clinically there was apathy, decreased milk production. During necropsy bladder
nodules of varying sizes that histologically consisted of neoplasms. The
epidemiological, clinical and pathologic BEH were discussed.
Key-words: Pteridium spp, poisonous plants, neoplasms
INTRODUÇÃO
A intoxicação por Pteridium spp. (samambaia) se manifesta sob três formas distintas.
Duas crônicas onde uma é caracterizada por neoplasias no trato digestivo e outra em
que ocorrem lesões na bexiga e é denominada hematúria enzoótica bovina (HEB)
(Peixoto et al., 2003; Tokarnia et al. 2012). Há ainda a forma aguda que é associada à
síndrome hemorrágica (Tokarnia et al. 2012). A intoxicação por samambaia é de
grande importância em muitos estados do país. Pteridium arachnoideum é a principal
causa de intoxicação por plantas em bovinos no estado de Santa Catarina (Borelli et al.
2008) e a segunda principal no Rio Grande do Sul (Rissi et al. 2007). Na região
amazônica, todavia, não existem relatos sobre a ocorrência desta doença. O objetivo
deste trabalho é descrever os aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos de 3
surtos de hematúria enzoótica em bovinos na região amazônica de Mato Grosso.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os históricos e dados clínicos foram obtidos em visitas a 3 propriedades onde
ocorreu a doença (propriedades A, B e C), localizadas na gleba Mercedes 5, zona
rural do município de Sinop, MT. Uma vaca da propriedade A que morreu foi
necropsiada. Amostras de tecidos foram coletadas em formalina 10% e preparadas
rotineiramente para confecção de lâminas histológicas. Cortes de cinco micrômetros
de espessura foram corados com hematoxilina e eosina e observados em
microscópio optico.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 029, 2013

RESULTADOS
Na Propriedade A ocorre há 5 anos, haviam 58 vacas leiteiras e 2 estavam doentes e
uma morreu. A doença iniciou há 13 anos na propriedade B e deixou de ocorrer, pois o
proprietário abandonou a atividade leiteira há 5 anos devidos às perdas econômicas.
No período de 8 anos morreram 6 vacas com hematúria. Na propriedade C a doença
ocorre há 7 anos. De um total de 23 vacas leiteiras, 2 apresentavam os sinais clínicos
da doença durante a visita.
Em todas as propriedades os animais eram mantidos em piquete formado por
Brachiaria brizantha altamente invadido por Pteridium spp. Os proprietários relataram
que quando iniciaram a atividade leiteira na região havia pequena quantidade da planta
nos piquetes e após a utilização de queimada nestes piquetes a planta se alastrou e
não pode mais ser controlada. A HEB ocorre geralmente em Mato Grosso há vários
anos de forma intermitente. São queixas frequentes, sangue na urina, queda na
produção de leite entre 50 e 60%, apatia, palidez e morte. Os sinais clínicos se
agravam durante o período de produção de leite e amenizam ou até desaparecem no
período em que as vacas estão secas.
À necropsia do bovino que morreu na propriedade A observou-se palidez de mucosas e
órgãos, bexiga repleta de sangue e coágulos, a mucosa estava espessa e continha
vários nódulos multifocais de coloração vermelho escuro com tamanhos variáveis e
uma área focal de 4 cm de diâmetro com bordos elevados e área central ulcerada.
Histologicamente observou-se na bexiga 3 tipos diferentes de neoplasia: Na mucosa
haviam áreas caracterizadas por carcinoma in situ; na submucosa e formando nódulos
vermelho escuros na mucosa haviam hemangiomas e/ou hemangiossarcomas. Além
das neoplasias havia ainda displasia da mucosa e proliferação de tecido mixomatoso
na submucosa com áreas multifocais a focalmente extensas de infiltrado
linfoplasmocitário de intensidade moderada a acentuada e ainda proliferação moderada
difusa de vasos sanguíneos.
DISCUSSÃO
A utilização de queimadas mostrou-se um fator importante para a infestação da
pastagem por Pteridium spp. em Mato Grosso, fato observado também por Gava et al.
(2002) em Santa Catarina. O fogo elimina as espécies de plantas concorrentes,
enquanto Pteridium spp. possui rizomas profundos que não são atingidos pelas altas
temperaturas ou, quando superficiais, são resistentes às mesmas (Crane 1990, Roos et
al. 2010). Além disso, Pteridium spp. exerce um efeito inibidor sobre a germinação de
sementes e a morfologia de algumas plântulas (Silva Matos e Belinato 2010).
As perdas econômicas foram queixas frequentes dos proprietários principalmente
referentes à diminuição na produção leiteira, emagrecimento e morte de animais. O
produtor da propriedade B substituiu a atividade leiteira pela pecuária de corte para
diminuir as perdas, uma vez que bovinos de corte em engorda permanecem menor
tempo nas propriedades e consequentemente, não chegam a desenvolver a doença.
As perdas econômicas relacionadas à atividade leiteira foram bem retratadas também
por Galvão et al. (2012). Os sinais clínicos e lesões observadas neste estudo são
achados frequentemente descritos em casos de HEB (Peixoto et al., 2003; Tokarnia et
al. 2012).
CONCLUSÃO
A Hematúria Enzoótica Bovina ocorre no estado de Mato Grosso e a utilização
de queimadas é um fator de risco importante para infestação de pastagens pela
planta.

88
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 029, 2013

REFERENCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 030, 2013

030. HIPERTROFIA MUSCULAR DE ESÔFAGO ASSOCIADA A MEGAESÔFAGO E


PNEUMONIA GANGRENOSA EM EQUINO. RELATO DE CASO
(Oesophagus muscular hypertrophy associated with megaesophagus and
gangrenous pneumonia in equine. Case report)

Carlos Eduardo Real Pereira¹; Paulo César Amorim e Amorim²; João Carlos Pereira da
Silva²; Roberto Maurício Carvalho Guedes¹
1 Departamento de Clínica e Cirurgias Veterinárias da Universidade Federal de Minas Gerais
2 Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa
RESUMO: Descreve-se um caso de espessamento da parede esofágica com estenose
e megaesôfago secundário em um equino de 30 meses. O animal apresentava
hiporexia, disfagia, descarga nasal fétida e persistente. A endoscopia revelou estenose
da porção próxima à cárdia acompanhada de ectasia do segmento esofágico
imediatamente anterior. A necropsia revelou além das citadas alterações, pronunciado
espessamento da parede na região final do esôfago. A região anterior à estenose,
correspondente a dilatação do lúmen esofágico. Foram ainda observados restos
alimentares no lúmen traqueal e bronquial, acompanhado de pneumonia gangrenosa
difusa. A histopatologia de fragmentos esofágicos, corados pela H-E e Tricrômico de
Masson, revelou marcante hipertrofia da camada muscular. Depreende-se que a
hipertrofia muscular do esôfago pode determinar o aparecimento de manifestações
clínicas súbitas e graves.
Palavras-chave: hipertrofia muscular esofágica; megaesôfago; pneumonia gangrenosa
ABSTRACT: This report describes a case of esophageal wall thickening with stenosis
and secondary megaesophagus in a 30 months old horse. The animal had appetite
loss, dysphagia, and persistent fetid nasal discharge. Endoscopic examination revealed
stenosis of the aboral portion of the esophagus, close the cardia, associated to
oesophageal segment ectasia. Necropsy revealed, in addition to the afore mentioned
alterations, pronounced wall thickening of the distal end of the esophagus. Non digested
food was also observed in the lumen of the traquea and primary bronchi associated with
gangrenous pneumonia. Microscopic examination of esophageal fragments stained by
HE and Masson trichrome revealed marked hypertrophy of the muscular layer. From the
foregoing, it appears that the muscular hypertrophy of the esophagus may determine
the onset of sudden and severe clinical manifestations.
Key words: muscular hypertrophy of the oesophagus; megaesophagus; gangrenous
pneumonia
INTRODUÇÃO
A hipertrofia muscular idiopática do esôfago (IMHO, do inglês idiopathic muscular
hypertrophy of the oesophagus) é uma patologia pouco frequente, melhor descrita em
equinos e no homem (Benders et al., 2004; Legius et al., 1990). Nos equinos a principal
região afetada é o terço final do esôfago (Gelberg, 2013). Ocasionalmente,
manifestações semelhantes envolvendo a camada muscular podem ser observadas em
outros sítios do trato gastrointestinal, principalmente o íleo (Benders et al., 2004).
Os achados histológicos se caracterizam por hipertrofia da camada circular interna sem
associação com processos degenerativos (Shimada et al., 2003). A IMHO, apesar de
sua exuberante característica macroscópica, é considerada um processo patológico de
pouco significado clinico. Benders e colaboradores (2004) fizeram um estudo
retrospectivo de 31 casos de IMHO em equinos, desses apenas dois apresentavam
sinais clínicos associados à disfunção esofagiana.
Esse trabalho tem como objetivo relatar um caso de hipertrofia muscular idiopática do
esôfago de um equino com sérias repercussões clínicas decorrentes de complicações
esofagianas e extra-esofagiana.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 030, 2013

RELATO DO CASO
Um equino da raça mangalarga marchador de pelagem pampa com 30 meses de
idade, pesando 220 kg foi recebido no hospital veterinário da UFV apresentando
hiporexia e descarga nasal mucopurulenta persistente por vinte dias. A aludida
secreção acentuava-se quando o animal se alimentava. O exame físico do animal
revelou baixo escore corporal, apatia e descarga nasal bilateral, mucopurulenta e de
odor fétido. O leucograma revelou neutropenia (1752/mm³), com desvio a esquerda
(2555/mm³), linfopenia (1825/mm³) e fibrinogênio aumentado (0,8 g/dL). A endoscopia
do esôfago demonstrou presença de grande quantidade de conteúdo alimentar em seu
interior e uma região de estenose da luz próximo ao cárdia. Não havia alterações
aparentes na região da laringe. A secreção nasal fétida, associada à presença de
refluxo esofágico e de restos alimentares na traqueia e brônquios sugeria a aspiração
desse conteúdo e o desenvolvimento de uma pneumonia gangrenosa. Devido à
gravidade do quadro e a ausência de um tratamento eficaz para a resolução do
problema, o proprietário optou pela eutanásia do animal que foi prontamente
necropsiado. À necropsia foi observado espessamento da parede esofagiana no terço
final com estenose do lúmen, em consequência da hipertrofia da camada muscular. A
porção imediatamente anterior à hipertrófica exibia dilatação luminal, com
adelgaçamento da parede caracterizando o megaesôfago. Outros segmentos do
sistema digestivo não apresentavam alterações macroscópicas. O pulmão direito exibia
acentuada exsudação fibrinosa na superfície pleural dos lobos anteriores e porção
ventral do lobo caudal, conferindo aos mesmos um mosaico de cores alternando áreas
enegrecidas, avermelhadas e amareladas. Os brônquios revelavam presença de
secreção espessa, amarelada e fétida na sua luz. O pulmão esquerdo menos
comprometido exibia nódulos amarelados salientes com um a cinco centímetros de
diâmetro, sobretudo em sua porção mais ventral.
DISCUSSÃO
Apesar da hipertrofia muscular do esôfago não possuir, na maioria dos casos,
consequências clinicas, já foram descritos disfagia, carcinoma superficial e perfuração
da parede esofágica associados a esta alteração (Benders et al., 2004; Shimada et al.,
2003). Entre as causas que leva ao megaesôfago tanto a estenose do lúmen, posterior
a área acometida, quanto a miopatia podem estar relacionadas com essa
manifestação. A regurgitação do alimento é um achado clinico comum em animais com
megaesôfago, e, em decorrência disso, os animais podem apresentar pneumonia por
aspiração (Gelberg, 2013). A pneumonia por aspiração, de uma forma geral, é
consequência de enfermidades em que há disfagia (Lopez, 2013). Em processos
necrosantes, como nas pneumonias gangrenosas, pode ser notado o odor expiratório
pútrido (Rebhun et al., 1995).
CONCLUSÕES
Portanto, a IMHO foi a causa de patologias graves no animal por suas complicações
esofagianas e extra-esofagiana.
Agradecimentos: A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(FAPEMIG) pelo apoio financeiro.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 030, 2013

REFERÊNCIAS
BENDERS N.A.; VELDHUIS KROEZE, E.J.B.; VAN DER KOLK, J.H. Idiopathic muscular hypertrophy of
the oesophagus in the horse: a retrospective study of 31 cases. Equine Veterinary Journal, v. 36, n.1,
p.46-50, 2004.
GELBERG, H. B. Sistema Alimentar, Peritônio, Omento, Mesentério, e Cavidade Peritonial. In.
ZACHARY, J. F.; McGAVIN, M. D. [tradução OLIVEIRA, R.S et al.]. Bases da Patologia Veterinária. 5 ed.
Elsevier, 2013, Cap. 7, p. 324-406.
LEGIUS, E.; PROESMANS, W.; Van DAMME, B. et al. Muscular hypertrophy of the oesophagus and
―Alport-like‖ glomerular lesions in a boy. European Journal of Pediatrics, v. 149, p.623-627, 1990.
LOPEZ, A. Sistema Respiratório, Mediastino e Pleuras. In. ZACHARY, J. F.; McGAVIN, M. D. [tradução
OLIVEIRA, R.S et al.]. Bases da Patologia Veterinária. 5 ed. Elsevier, 2013, Cap. 9, p. 461-541.
REBHUN, W.C.; GUARD, C.; RICHARDS, C.M. The clinical examination. In: Willians & Wilkins Diseases
of dairy cattle. Baltimore : Willians & Wilkins, 1995. The clinical examination: p.1-10.
SHIMADA, H.; KISE, Y.; CHINO, O. et al. A Case of Superficial Esophageal Cancer Complicated with
Idiopathic MuscularHypertrophy of the Esophagus. Tokai journal of Experimental and Clinical Medecine,
v. 28, n. 3, p. 103-108, 2003.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 031, 2013

031. INDIGESTÃO VAGAL ASSOCIADA À TIMPANISMO RECIDIVANTE CRÔNICO


POR INGESTÃO DE Trifolium repens EM UM BOVINO
(Vagal indigestion associated to chronic bloat relapsing by Trifolium repens
intake in a catle)

Ricardo Almeida da Costa; Tiago Schreiner; Adriano Alexandre Krabbe; Maiara Aline
Gonçalves; Bruno Leite dos Anjos

Fundação Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Brasil

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de indigestão vagal associada
à timpanismo recidivante crônico por ingestão de Trifolium repens. Em uma
propriedade rural de Uruguaiana foi realizada necropsia de um bovino da raça
Hereford. O bovino apresentava quadro de timpanismo decorrente da alta ingestão da
leguminosa. Houve falha na eructação por compressão do nervo vago devido a
repetidas distensões ruminais, levando a lesão vagal seguida de ruminite, atonia
ruminal, e consequentemente peritonite. A morte foi decorrente de choque séptico.
Palavras-chave: lesão vagal; ruminite; trevo-branco
ABSTRACT: The aim of this study was to report a case of vagal indigestion associated
to chronic bloat relapsing by Trifolium repens intake. In a farm from Uruguaiana, a
necropsy of a bovine Hereford breed was performed. The animal showed clinical sign of
bloat due to the high intake of Trifolium repens. There was failure belching by vagus
nerve compression because of repeated distensions of the rumen, leading to vagal
injury followed by ruminite, ruminal atony, and consequently peritonitis. The death was
due to septic shock.
Key-words: vagal lesion; ruminite; white-clover
INTRODUÇÃO
A indigestão vagal é um distúrbio gástrico decorrente do dano ao nervo vago, que pode
apresentar-se em qualquer local ao longo de sua extensão e está frequentemente
associado a processos inflamatórios e compressivos (Amorim et al., 2011; Gelberg,
2009). Em razão da perda ou diminuição da função do nervo, a ingesta não é
transportada adequadamente e há acúmulo de gases que provocam distensão do
rúmen (Eddy, 2008). O timpanismo é, por definição, a distensão exacerbada do rúmen
e do retículo por gases produzidos durante a fermentação (Gelberg, 2009), e em sua
forma espumosa é uma patologia essencialmente nutricional e resultante de falha na
eructação (Guedes et al., 2011). A forma clínica caracterizada por timpanismo
recidivante crônico corresponde a um distúrbio ruminal decorrente de episódios de
distensão abdominal que se repetem de intermitente por longos períodos. O principal
fator desencadeante da alteração é o consumo de mais de 50% da composição total de
dieta composta por leguminosas (Riet-Correa, 2007). O objetivo deste trabalho é relatar
um caso de indigestão vagal associado à timpanismo recidivante crônico por ingestão
de Trifolium repens em um bovino.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada necropsia de um bovino, macho, com 2 anos de idade da raça Hereford
em uma propriedade rural no município de Uruguaiana-RS, no mês de julho de 2013.
Durante a necropsia foram coletadas amostras de diversos órgãos para avaliação
histopatológica. Os tecidos coletados foram fixados em formol 10% por um período de
48h, processados rotineiramente, corados por hematoxilina-eosina. Amostras de
abscessos foram encaminhadas para exame bacteriológico.
RESULTADOS
O bovino era pertencente a um rebanho alimentado com trevo branco irrigado por pivô
com pastejo superior a 2 horas por dia. Segundo o proprietário o bovino apresentava
emagrecimento progressivo, episódios de timpanismo, diarreia, apatia e dificuldade

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 031, 2013

respiratória com morte em 12 horas após o início dos sinais clínicos. No último ano
esse bovino foi submetido à diversas trocaterizações do rúmen. Macroscopicamente, o
bovino apresentou mucosas arroxeadas, indicando cianose. Na cavidade abdominal
havia grande quantidade de exsudato amarelado e filamentos de fibrina, com
aderências do omento ao rúmen e à parede abdominal. Foi observada hiperemia dos
vasos das alças intestinais, principalmente no duodeno e jejuno. No saco ventral do
rúmen havia áreas de necrose e hiperemia com úlceras multifocais. Uma dessas
úlceras media aproximadamente 25 cm de diâmetro com laceração da borda e
conteúdo extravasado para o interior da cavidade abdominal. A mucosa do abomaso
estava hiperêmica e edemaciada. O fígado continha múltiplos abscessos.
Ao exame histopatológico observou-se ruminite ulcerativa mista focalmente extensa
acentuada com vacuolização e necrose de ceratinócitos e no fígado e leve infiltrado
inflamatórios linfoplasmocitário subcapsulares pela peritonite, infiltrado multifocal em
espaços periportais e leucocitostase neutrofílica difusa moderada. No baço havia
congestão difusa moderada e nos rins observou-se material proteináceo no espaço
glomerular e múltiplos cilindros hialinos na luz de túbulos renais. Também foram
observados focos de infiltrado linfoistioplasmocitário com raros neutrófilos na região
cortical. A avaliação microbiológica do abscesso foi positiva para Enterobacter
aerogenes.
DISCUSSÃO
Os dados epidemiológicos e os achados clinicopatológicos observados especialmente
no rúmen permitiram estabelecer o diagnóstico de indigestão vagal por timpanismo
recidivante crônico associado a ingestão excessiva de Trifolium repens. A peritonite
grave causada pela bactéria Enterobacter aerogenes e as lesões inflamatórias
observadas nos demais sugerem que a morte do bovino foi decorrente de choque
séptico.
No caso em estudo, as evidências apontam para uma lesão vagal gerada a partir da
acentuada e repetida distensão do rúmen em decorrência da ingestão de quantidades
excessivas de proteína espumogênica e carboidratos solúveis contidos no Trifolium
repens (Dalto et al., 2009). Dessa forma ocorre atonia ruminal resultando em
timpanismo recidivante crônico (Amorim et al., 2011). O timpanismo recorrente do
bovino, ao longo do tempo, agravou a lesão no nervo vago, provocando atonia ruminal
mais severa e consequente lesão transmural com morte por peritonite e choque
séptico. A indigestão vagal, também conhecida como síndrome de Hoflund, pode ser
dividida em quatro distúrbios funcionais com obstrução da ingesta em dois diferentes
locais, (1) atonia retículo-ruminal e (2) motilidade ruminal aumentada, ambas
decorrentes de estenose funcional anterior e (3 e 4) falha do esvaziamento pilórico do
tipo contínuo ou com padrão intermitente, essas duas ultimas formas por estenose
funcional posterior. A atonia retículo-ruminal, com frequência, é observada em casos de
timpanismo recidivante crônico com diminuição da motilidade da porção anterior do
estômago (Garry, 2006). Esse achado caracteriza o quadro apresentado pelo bovino
deste estudo.
CONCLUSÃO
A ingestão acentuada e repetida de Trifolium repens pode induzir timpanismo
recidivante crônico em bovinos. Essa condição pode desencadear lesão grave no nervo
vago e consequente indigestão vagal.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 031, 2013

REFERÊNCIAS
AMORIM, R.M.; SANTAROSA, B.P.; DANTAS, G.N. et al. Indigestão vagal em seis mini-bovinos
atendidos na clínica de grandes animais FMVZ-UNESP/Botucatu. In: Congresso Brasileiro de
Medicina Veterinária, XXXVIII., 2011, Florianópolis. Anais do XXXVIII Congresso Brasileiro de Medicina
Veterinária. Florianópolis: Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, 2011, p.1-3
DALTO, A.G.C.; BADARRA, P.M.; PEDROSO, P.M.O. et al. Timpanismo espumoso em bovinos leiteiros
em pastagens de Trifolium spp. (Leg. Caesalpinoidae). Pesquisa Vet. Bras., v.29, n.5, p.401-403, 2009.
EDDY, R.G. Doenças do sistema digestório. In: ANDREWS, A.H.; BLOWEY, H.; BOYD, H. et al.
Medicina Bovina: Doenças e Criação de Bovinos. 2.ed. Roca, 2008. Cap.48, p.737-738.
GARRY, F.B. Indigestão em ruminantes. In: SMITH, B.P. Medicina Interna de Grandes Animais. 3.ed.
Manole, 2006. Cap.30, p.726-729.
GELBERG, H.B. Sistema digestório. In: MCGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia em
Veterinária. 4.ed. Elsiever, 2009. Cap.7, p.327-330.
GUEDES, R.M.C.; BROWN, C.C.; SEQUEIRA, J.L. Sistema digestório. In: SANTOS, R.L.; ALESSI, A.C.
Patologia Veterinária. Roca, 2010. Cap.3, p.107-111.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 032, 2013

032. INFESTAÇÃO POR ÁCARO DE SACO AÉREO (Cytodites nudus) EM


GALINHAS DE SUBSISTÊNCIA – RELATO DE CASO
(Infestation by air sac mite (Cytodites nudus) subsistence in chickens - case
report)

Bruna Domeneghetti Smaniotto¹; Adriano Sakai Okamoto²; Tarcísio Macedo Silva¹;


Raphael Lucio Andreatti Filho²

1 Pós- graduandos do Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu


2 Docentes do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu
sakai@fmvz.unesp.br

RESUMO: O ácaro Cytodites nudus, cuja ocorrência é pouca descrita na literatura


científica brasileira, é responsável por causar pneumonia granulomatosa nas aves
acometidas, ocasionando sinais respiratórios caracterizados por tosse, emaciação,
perda de peso, peritonite, fraqueza, perda de equilíbrio, obstrução das vias aéreas,
aerossaculite, diarreia e morte. O diagnóstico é realizado através dos achados de
necropsia, exame histopatológico dos pulmões, visualização e identificação do ácaro.
Este trabalho teve como objetivo relatar um caso de infestação por Cytodites nudus em
galinhas de subsistência atendidas no Laboratório de Ornitopatologia da Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (FMVZ – UNESP),
Botucatu – SP, Brasil.
Palavras-chave: aves; pneumonia granulomatosa; sinais respiratórios
ABSTRACT: The mite Cytodites nudus, whose occurrence is little described in the
scientific literature of Brazil is responsible for causing granulomatous pneumonia in
birds affected, causing respiratory signs characterized by cough, wasting, weight loss,
peritonitis, weakness, loss of balance, airway obstruction , airsacculitis, diarrhea and
death. Diagnosis is made through necropsy, histopathology of the lungs, visualization
and identification of the mite. This work aims to report a case of infestation by Cytodites
nudus in subsistence chickens evaluated in Avian Pathology Laboratory college of
Veterinary Medicine and Animal Science of the São Paulo State University (FMVZ -
UNESP), Botucatu - SP, Brazil.
Key words: birds; granulomatous pneumonia; respiratory signs
INTRODUÇÃO
O ácaro Cytodites nudus acomete os sacos aéreos, ossos pneumáticos, brônquios e
pulmões das aves, causando pneumonia granulomatosa (Ayroud e Dies, 1992; Arends,
1997; Herpich et al., 2012), aerossaculite, tosse, dificuldade respiratória (Taylor et al.,
2010), emaciação, peritonite, obstrução das vias aéreas, além de serem observados
quadros de fraqueza e diarréia (Ayroud e Dies, 1992; Arends, 1997; Herpich et al.,
2012;). Possui forma ovalada com tamanho aproximado de 0,6 X 0,4 mm, pernas
robustas e não modificadas as quais terminam em um par de garras pequenas
(Soulsby, 1969).
Não há testes que possibilitam o diagnóstico ante – mortem das aves com infestação
por Cytodites nudus, já que a visualização dos pontos branco amarelados nos sacos
aéreos, os quais representam o parasita, só será possível através do exame
necroscópico (Ayroud e Dies, 1992; McOrist, 1986), assim como, a posterior
visualização e identificação do Cytodites nudus através da microscopia optica com
objetiva de 40 X. A pneumonia granulomatosa em associação com a presença do
ácaro no exame histopatológico do pulmão auxiliará no diagnostico, além de servir de
diferencial para outras patologias respiratórias que apresentam sinais clínicos
semelhantes (Ayroud e Dies, 1992).
Em virtude da baixa incidência e da escassez de relatos sobre a ocorrência deste ácaro
no Brasil, o presente trabalho objetivou relatar um caso de infestação por Cytodites
nudus em galinhas de subsistência.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 032, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Foram encaminhadas ao Laboratório de Ornitopatologia do Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista
(FMVZ/UNESP), Campus Botucatu-SP, duas galinhas (Gallus gallus domesticus)
provenientes de criação doméstica, com histórico de óbito após apresentar decúbito
esternal, prostração, cabeça caída com bico apoiado no chão, dificuldade respiratória,
perda de peso acentuada e diarreia de coloração amarronzada de odor fétido. As aves
foram submetidas ao exame necroscópico e foram coletados fragmentos de pulmão
para posterior realização do exame histopatológico.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Durante a necropsia pôde-se observar sacos aéreos opacos e repletos de pontos
branco amarelados não aderidos de aproximadamente 0,5 mm de diâmetro, pulmões
congestos e hepatomegalia. Foi coletada com o auxílio de lamínula uma porção desses
pontos, sendo possível a visualização e identificação de ácaros ovoides
morfologicamente semelhantes à descrição de Cytodites nudus encontrados na
literatura.
O exame histopatológico dos pulmões evidenciou pneumonia granulomatosa composta
por macrófagos, eosinófilos e infiltrado linfocitário, além de extensa área de congestão,
edema e interstício parabronquial expandido. Presença de grande quantidade de cortes
transversais e tangenciais de ácaros em lúmen parabronquial e parênquima pulmonar.
Algumas seções dos ácaros encontraram-se rodeadas por macrófagos, linfócitos e
heterófilos.
Os achados de necropsia e as alterações histopatológicas do pulmão foram similares
às descritas por McOrist (1986) e Ayrould e Dies (1992).
Para o tratamento da enfermidade, McOrist (1986) recomenda a utilização de Malation
aerosol. Já Ayrould e Dies (1992), recomendam a aplicação intramuscular de
ivermectina na dose de 0,16 mg/kg. No caso em questão, utilizou-se ivermectina 6 mg
via água de bebida, uma vez ao dia durante 2 dias, repetindo após 15 dias nas aves
restantes. O índice de mortalidade cessou e houve recuperação no ganho de peso das
aves.
CONCLUSÃO
Por se tratar de um ácaro pouco relatado na literatura brasileira ressaltamos que novos
estudos e casos devem ser explorados a fim de compreender melhor a existência e
modo de transmissão, assim como o ciclo de vida deste ácaro. O diagnóstico correto é
imprescindível para o sucesso no tratamento das aves restantes na criação.
REFERÊNCIAS
ARENDS, J.J. External parasites and poultry pests. In: CALNEK, B.W. Diseases of Poultry. 10. ed.
Iowa: Iowa University Press, 1997, Cap. 32., p. 807.
AYROUD, M.; DIES, K.H. [1992]. Cytodites nudus – induced granulomatous pneumonia in chickens.
Canadian Veterinary Journal, v.33, 1992. Disponível em: <
http://europepmc.org/articles/PMC1481428/pdf/canvetj00060-0068.pdf>. Acesso em: 02/06/2013.
HERPICH, J.I.; BORGES, K.A.; CESCO, M.A.O. et al. [2012]. Infestação simultânea por Cytodites nudus
e Laminosioptes cysticola e seus aspectos patológicos em galinhas de subsistência. Ciência Rural, v.42,
n.5, 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cr/v42n5/a12812cr5682.pdf>. Acesso em:
10/06/2013.
McOrist, S. [1983]. Cytodites nudus infestation of chickens. Avian Pathology, v.12, 1983. Disponível em:
<http://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/03079458308436158>. Acesso em: 15/06/2013.
SOULSBY, E.J.L. Arthropod Parasites. In:__. Helminths, arthropods & protozoa of Domesticated
Animals. 6.ed. London: English Language Book Society and Baillieri, 1969, p. 515.
TAYLOR, M.A.; COOP, R.L.; WALL, R.L.. Parasitas de aves de granja e caça. In:__. Parasitologia
Veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010, Cap.7., p. 430.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 033, 2013

033. INTOXICAÇÃO ESPONTÂNEA POR NITRATO/NITRITO EM OVINOS


(Spontaneous poisoning by nitrate/nitrite in sheep)

Camila Mariellen Evangelista¹, Fernanda Jönck², Aldo Gava³, Nathalia Biondo¹, Thalita
Cardoso¹, Elaine Melchioretto4

1. Alunas de pós-graduação em Ciência Animal, Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC


2. Aluna de pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.
3. Professor Doutor da Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC, Brasil.
4. Aluna de graduação em Medicina Veterinária, Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC
Kmivet89@hotmail.com

RESUMO: Descrevem-se três surtos de intoxicação espontânea por nitrato/nitrito em


ovinos. Dois deles ocorreram em animais adultos, os quais foram encontrados mortos,
em pastagem de aveia. O terceiro surto foi observado em pastagem de azevém, em
ovelhas na fase final de gestação, caracterizando-se por partos com cordeiros
natimortos, ou nascimento de cordeiros fracos, com anorexia e morte nos primeiros
dias de vida. Na necropsia de uma ovelha, a carcaça tinha aspecto levemente marrom
e o sangue era escuro e não coagulável. Oito cordeiros foram necropsiados e não
foram encontradas lesões macro e microscópicas. Amostras das pastagens do local
onde ocorreram os surtos foram submetidas ao teste da difenilamina, as quais foram
positivas.
Palavras-chaves: aveia, azevém, cordeiro fraco; difenilamina
ABSTRACT: Three outbreaks of poisoning by nitrate / nitrite in sheep are described.
Two of them occurred in adult animals, which were found dead in oat pasture. The third
outbreak was observed in ryegrass pasture, in sheep in late pregnancy, characterized
by delivery with stillborn lambs, or birth of weak lambs, with anorexia and death in the
first days of life. At necropsy of a sheep, the carcass had aspect lightly brown and the
blood was dark and not coagulable. Eight lambs were necropsied and found no gross
lesions and microscopic. Samples of the pasture where the outbreaks occurred were
subjected to the test of diphenylamine, which were positive.
Keys Words: oats, ryegrass, poor lamb; diphenylamine
INTRODUÇÃO
A intoxicação por nitrato/nitrito em bovinos ocorre com frequência na região Sul do
Brasil. A enfermidade é observada principalmente quando as pastagens de aveia e
azevém são super-adubadas e paralelamente ocorre período de seca seguido de
chuvas (Jönck, 2010). O princípio tóxico existente nas plantas é sempre o nitrato,
geralmente na forma de nitrato de potássio (KNO3) (Radostits et al., 2002). O nitrato se
acumula e persiste nas plantas em condições que limitam o metabolismo vegetal:
secas, baixa umidade e o uso de herbicidas (Wright e Davison, 1964), matéria orgânica
principalmente de origem animal (Rosenberger, 1975; Radostits et al., 2002), rápido
crescimento das plantas quando ocorrem chuvas após períodos de seca (Riet-Alvariza,
1993; Cheeke, 1998; Radostits et al., 2002). O nitrato ingerido é reduzido a nitrito no
rúmen e posteriormente em amônia (Wang et al., 1961; Kozloski, 2009). Dependendo
de diversos fatores, incluindo a concentração inicial de nitrato, a flora ruminal, e a dieta
do animal, a conversão de nitrito em amônia é inadequada, causando absorção de
nitrito pela corrente sanguínea (Riet-Alvariza, 1993; Radostits et al., 2002; Tokarnia et
al., 2000). O nitrito oxida a molécula heme da hemoglobina para metemoglobina, que
não carreia oxigênio, resultando nos sinais clínicos característicos de hipóxia e anóxia
tecidual (Rosenberger, 1975; Radostits, 2002). Os suínos são os animais mais
suceptíveis, seguidos pelos bovinos, ovinos e equinos (Radostits et al., 2002). O
objetivo deste trabalho é relatar a intoxicação por nitrato/nitrito em ovinos, uma vez que
na região sul essa enfermidade não é relatada em ovinos.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 033, 2013

MATERIAIS E MÉTODOS
Foram realizadas visitas as propriedades onde ocorreram os surtos, para obtenção dos
dados epidemiológicos e realização do teste da difenilamina nas pastagens utilizadas
para pastejo. Foi realizado necropsia de 9 ovinos e coletado amostras de vísceras em
formol 10% para posteriormente exame histológico.
RESULTADOS
O Surto 1 ocorreu no município de Lages, SC. Uma ovelha pariu pela manhã, ficou
fechada na baia e recebeu grande quantidade de aveia no cocho. Morreu a noite, sem
observação de sinais clínicos prévios. Na necropsia os principais achados foram o
sangue não coagulável e escuro e a carcaça levemente marrom. O surto 2, ocorreu no
município de Bom retiro, SC; um lote de 60 ovinos foi transferido de piquete com
azevém para outro piquete, também de azevém, mas que anteriormente havia sido
cultivado soja. No primeiro dia, 5 ovinos foram encontrados mortos no fim da tarde. No
dia seguinte não foram colocados na mesma área e não houve mortes. No terceiro dia,
os ovinos retornaram e mais dois morreram. Foram removidos novamente, para outra
área com azevém e aveia e não ocorreram mais mortes. O surto 3, também no
município de Lages, ovelhas próximo ao parto foram colocadas em uma área de aveia
com boa adubação química. As ovelhas ao parirem, não apresentaram sinais clínicos
evidentes. Em visita a propriedade observou-se que estas estavam um pouco apáticas,
mas não houve morte de ovelha adulta. No entanto, de 60 ovelhas que pariram 20 dos
cordeiros eram natimortos, ou, nasceram fracos, não demostrando apetite e morreram
até 3 dias após o nascimento. Destes cordeiros 8 foram necropsiados e não foi
encontrado lesões macro e microscópicas. O teste de difenilamina resultou positivo nos
piquetes onde ocorreu a enfermidade e negativo nos demais piquetes.
DISCUSSÃO
Nos surtos 1 e 2 a quantidade de nitrato foi suficientes para causar a morte dos ovinos.
No surto 3 provavelmente a quantidade de nitrato na pastagem era menor que a
observada nos demais surtos. Isto pode ser explicado pelo fato de que as ovelhas
manifestaram apenas evidências de letargia em quanto que os cordeiros eram paridos
mortos, ou morriam em um curto período. Abortos e mortalidade alta de bezerros
ocorre quando as vacas ingerem doses subletais de nitrato (Rosenberger, 1975;
Radostits et al., 2002). O sangue fetal parece ter maior afinidade nitritos, (Rosenberger,
1975). Acredita-se que no surto com mortalidade de cordeiros, a concentração de
nitrato na pastagem foi menor, que os outros dois surtos e, como descrito para bovinos,
isto também ocorra para com os ovinos.
CONCLUSÃO
A intoxicação por nitrato/nitrito em ovinos em pastagens de aveia e azevém é um
problema importante, uma vez que estes também são susceptíveis a intoxicação,
quando são alimentados com pastagens com quantidades tóxicas de nitrato, causando
a morte ou morte elevada de cordeiros.

99
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 033, 2013

REFERÊNCIAS
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100
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 034, 2013

034. INTOXICAÇÃO POR CHUMBO EM BOVINOS EM SANTA CATARINA


(Lead poisoning in cattle in Santa Catarina)

Vanessa Borelli¹, Claudia Salete Wisser¹, Tiffany Emmerich¹, Mateus C. Maturana¹,


Aldo Gava², Sandra Davi Traverso²

1. Alunos do programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Universidade do Estado de Santa


Catarina, Lages, Santa Catarina, Brasil e-mail: vaneborellivet@hotmail.com
2. Professor do curso de medicina Veterinária da Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages,
Santa Catarina, Brasil

RESUMO: Descreve-se um surto que ocorreu no município de Água Doce/SC, onde 19


bovinos morreram após permanecerem em piquetes contaminados por chumbo. Quatro
bovinos foram necropsiados e amostras de tecidos foram coletadas para exame
histológico. Também foram coletadas amostras de fígado, rim e conteúdo ruminal para
determinação da concentração de chumbo. O período de evolução da doença variou
entre 24 horas a cinco dias. Os principais sinais clínicos foram cegueira, pressão da
cabeça contra objetos, andar em círculos tremores musculares e convulsões. Não
foram observadas lesões macroscópicas e microscópicas significativas. No entanto
foram encontrados resíduos de placas de bateria no conteúdo dos pré-estômagos. A
concentração de chumbo nos tecidos foi elevada em todas as amostras analisadas.
Palavras-chave: Saturnism; baterias; sinais neurológicos
ABSTRACT: An outbreak that occurred in the city of Agua Doce / SC was described,
where 19 cattle died after remaining in paddocks contaminated by lead. Four animals
were necropsied and tissue samples were collected for histological examination. It was
also colected samples of liver, kidney and rumen for determination of the concentration
by lead. The evolution by the disease was ranged from 24 hours to five days. The main
clinical signs were head pressing objects, circling and muscle shaking. There were no
significant gross and microscopic lesions. However residues of the battery were found
in the content of the pre-stomachs. The lead concentration in the tissues was high in all
samples.
Key words: Saturnism; batteries; neurological signs
INTRODUÇÃO
A intoxicação por chumbo (saturnismo) ocorre quando os animais ingerem
acidentalmente produtos que contêm chumbo ou pastagem contaminada pelo
elemento. As principais fontes são baterias descartadas, tintas, produtos industriais,
pastos próximos a rodovias e fundições (Radostits et al., 2000). Os sinais clínicos em
bovinos podem ser agudos ou subagudos. Na forma aguda a evolução da doença é de
12 a 24 horas e na subaguda a evolução é de 4 a 5 dias. Os sinais clínicos são
tremores musculares, cegueira, incoordenação, agressividade ou depressão, pressão
da cabeça contra obstáculos, torneio e convulsões (Gava, 2001; Radostits et al., 2000).
Na macroscopia, geralmente não são observadas lesões e, quando presentes, variam
de discreto amolecimento a cavitações no córtex cerebral. Na microscopia do cérebro
pode-se observar espongiose do córtex telencefálico, proeminência de capilares e
intumescência de células endoteliais (Summers, 1995). Nos rins, corpúsculos de
inclusão podem ser encontrados nas células epiteliais dos túbulos (Traverso et al.,
2004). O objetivo deste trabalho foi relatar um surto de intoxicação por chumbo em
bovinos.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados epidemiológicos e clínicos da enfermidade foram obtidos através de visita a
propriedade. Três bovinos foram avaliados clinicamente e quatro foram necropsiados.
Amostras de tecidos foram coletadas, fixadas em formol a 10% e processadas para
exame histológico. Também foram coletadas amostras de fígado, rim e conteúdo

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 034, 2013

ruminal para determinação da concentração de chumbo, conforme metodologia


descrita por Nomura e Oliveira (2006).
RESULTADOS
O surto ocorreu em setembro de 2012, em uma propriedade com criação de bovinos de
leite da raça Holandesa, no município de Água Doce/SC. 19 animais morreram após
permanecerem em piquetes com pastagem recentemente contaminada por chumbo. A
contaminação ocorreu através de um trator de esteira que após executar trabalho de
remoção de resíduos de fabrica de baterias foi deslocado diretamente para a
propriedade para construção de aterro para açude. A máquina passou em dois
piquetes na propriedade, onde 32 animais tiveram acesso, dentre elas vacas e
novilhas. O período de evolução da doença variou entre 24 horas a cinco dias. Os
bovinos apresentaram anorexia, diarreia escura, cegueira pressão da cabeça contra
objetos, andar cambaleante e em círculos e tremores musculares e convulsões. Nos
animais necropsiados não foram observadas lesões macroscópicas, no entanto foram
encontrados resíduos de bateria junto ao conteúdo do retículo e rumem. Na
microscopia foi observada congestão acentuada no sistema nervoso central. As
concentrações de chumbo nos tecidos dos bovinos necropsiados encontram-se na
Tabela 1.

DISCUSSÃO
O diagnóstico de intoxicação por chumbo foi realizado através da epidemiologia, sinais
clínicos, evidenciação de restos de baterias junto ao conteúdo dos pré-estômagos
associados a concentração de chumbo nos tecidos. No Brasil, surtos de intoxicação por
chumbo em bovinos foram descritos no Rio Grande do Sul, onde a fonte de
contaminação eram latas de tintas velhas presentes no potreiro (Traverso et al., 2004),
e em Santa Catariana por Gava et al.(1992) e no Mato Grosso do Sul por Lemos et al.
(2004), em vacas que pastavam em área próxima a uma fábrica de reciclagem de
baterias. No presente relato, a fonte de contaminação foi uma máquina agrícola que
continha placas de bateria aderida as suas esteiras. Os sinais clínicos predominantes
foram neurológicos conforme descritos na literatura (Gava, 2001; Radostits et al.,
2000). Neste relato não foram observadas alterações macro e microscópicas
importantes. Este fato deve-se ao curso agudo e subagudo da doença. A verificação de
restos de bateria junto ao conteúdo dos pré-estômagos contribuiu para a realização do
diagnóstico. Além das mortes nos animais, a alta concentração de chumbo nos tecidos
analisados é um indicativo do potencial de contaminação ambiental, visto que o mesmo
é bioacumulativo e possui riscos a saúde humana (MUNHOZ et al., 2009).
CONCLUSÃO
O surto de intoxicação por chumbo nos bovinos ocorreu pela contaminação da
pastagem causada por uma máquina agrícola, a qual estava com resíduos de bateria
aderida as suas esteiras. A determinação da concentração de chumbo em fígado, rim e
conteúdo ruminal são fundamentais para a confirmação do diagnóstico.

102
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 034, 2013

REFERÊNCIAS
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103
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 035, 2013

035. LESÕES CAUSADAS PELA INGESTÃO DE Brachiaria spp. EM FÍGADOS


BOVINOS CONDENADOS POR FASCIOLOSE: ESTUDO RETROSPECTIVO
(Lesions caused by ingestion of Brachiaria spp. in bovine livers condemned for
fasciolosis: retrospective study)

Tamiasso, N. V.; Martins, I. V.F.; Nunes, L. C.

Universidade Federal do Espírito Santo

RESUMO A condenação de fígados por fasciolose é baseada no aspecto


macroscópico de fibrose, entretanto, intoxicação por Brachiaria spp. também causa
fibrose. Objetivou-se avaliar aspectos microscópicos de fígados condenados por
fasciolose para verificar ocorrência de lesões de ingestão de Brachiaria spp. Foi feita
recuperação de arquivo entre 2008 e 2012 em registros do Laboratório de Patologia
Animal da Universidade Federal do Espírito Santo. Cem amostras foram recuperadas e
avaliadas. Utilizou-se teste de Mann-Whitney a 5% de probabilidade. Todas as
amostras revelaram fibrose periductal e colangite. Os macrófagos espumosos contendo
cristais foram verificados em 17 amostras, mas não houve diferença significativa em
relação a estas células e fibrose periductal ou colangite (P>0,05). Os macrófagos
espumosos e cristais indicativos de intoxicação por Brachiaria spp. foram observados
nos fígados condenados por fasciolose indicando que não apenas a lesão
macroscópica de fibrose deveria ser utilizada para determinar a causa da condenação.
Palavras-chave: cristais; fibrose; macrófagos espumosos
ABSTRACT Liver condemnation for fasciolosis is based on macroscopic aspect of
fibrosis, however, Brachiaria spp. poisoning also causes fibrosis. The objective was to
evaluate microscopic aspects of liver condemned for fasciolosis to verify the occurrence
of lesions from ingestion of Brachiaria spp. It has been done a recovery of archive
between 2008 and 2012 from registers of Laboratório de Patologia Animal from
Universidade Federal do Espírito Santo. A hundred samples were recovered and
evaluated. Mann-Whitney test was used with probability level of 5%. All samples
revealed periductal fibrosis and cholangitis. Foamy macrophages containing crystals
were verified in 17 samples, but there was no significant difference related to these cells
and periductal fibrosis or cholangitis (P>0,05). Foamy macrophages and crystals
indicatives of Brachiaria spp. poisoning were observed in livers condemned for
fasciolosis indicating that it‘s not only the macroscopic lesion of fibrosis that should be
used to determine the cause of condemnation.
Key words: crystals; fibrosis; foamy macrophages
INTRODUÇÃO
No Espírito Santo, a maior causa de condenação de fígados bovinos é atribuída à
fasciolose. Contudo, acredita-se que possa haver influência nesses dados, pois fígados
que apresentam alguma lesão associada à presença do parasito são condenados por
fasciolose, negligenciando outra alteração existente (Baptista, 2008). Entretanto, outros
fatores estão associados ao desenvolvimento de fibrose hepática, tal como intoxicação
por plantas (Gomar, 2002).
Entre as plantas tóxicas de interesse para a pecuária, encontram-se as forrageiras do
gênero Brachiaria (Haraguchi, 2003; Spinosa et al., 2008). O consumo desta planta por
ruminantes ocasiona lesões hepáticas que levam posteriormente a um quadro de
fotossensibilização e fibrose (Gomar, 2002; Spinosa et al., 2008). As lesões mais
importantes para confirmar o diagnóstico da intoxicação por Brachiaria spp. são
presença de colangiopatia associada a cristais e presença de macrófagos espumosos
(Brum et al., 2007).

104
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 035, 2013

Com base nisto, objetivou-se realizar um estudo retrospectivo de casos com avaliação
microscópica de fígados condenados por fasciolose para verificar a ocorrência
concomitante de lesões causadas por ingestão crônica de Brachiaria spp.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram recuperadas lâminas histológicas de fígados condenados por fasciolose entre os
anos de 2008 e 2012 coletados de matadouros frigoríficos da região Sul do Espírito
Santo do arquivo do Laboratório de Patologia Animal da Universidade Federal do
Espírito Santo. As lâminas foram avaliadas microscopicamente em aumentos de 100x
ou de 200x para identificar a presença de fibrose periductal, colangite e macrófagos
espumosos/cristais e, ainda, a associação destas lesões com o número de parasitos. A
análise estatística foi feita pelo método descritivo com valores expressos em
percentuais e pelo teste de Mann-Whitney com nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cem amostras foram recuperadas e em 73 destas havia o registro do número de
parasitos. Considerando-se que a lesão macroscópica que levou os fígados à
condenação foi a existência de fibrose e/ou a presença de F. hepatica, esperava-se
encontrar proliferação de tecido conjuntivo periportal em todas as amostras. A
microscopia foi capaz de confirmar esta suspeita. No entanto, observa-se este tipo de
alteração tanto em animais com intoxicação pelas saponinas esteróides quanto em
animais acometidos pela fasciolose (Bostelmann et al., 2002; Gomar, 2002; Mustafa,
2009). O fígado apresentou ainda lesões de colangite em todas as amostras. Estes
dados estão de acordo com os descritos por Gomar (2002). Mustafa (2009) também
verificou infiltrado inflamatório periportal associado ao consumo de Brachiaria spp.
Entretanto, esta alteração microscópica é um achado frequente em fígados parasitados
por F. hepatica (Bostelmann et al., 2000). Estes dados confirmam que embora a
colangite seja uma alteração importante em fígados com lesões de ductos biliares, não
deve ser, isoladamente, associada ao diagnóstico de nenhuma doença específica.
Outro aspecto avaliado foi a presença dos macrófagos espumosos. Dentre as lâminas
avaliadas, 17% apresentavam este tipo celular. Estas células são descritas como
achado frequente em fígados de animais intoxicados pela ingestão da Brachiaria spp.
(Gomar, 2002), não tendo relatos de associação com F. hepatica. Em alguns casos foi
possível verificar imagens de cristais no interior dos macrófagos espumosos. Alguns
autores sugerem que a aparência espumosa pode ser resultado da fagocitose dos
cristais gerados a partir da conjugação dos produtos da metabolização das saponinas
(Brum et al., 2007).
Não houve diferença significativa (P>0,05) em relação à presença dos macrófagos
espumosos, colangite e fibrose periportal. Estes dados sugerem que as alterações
hepáticas observadas em fígados com fasciolose bem como por intoxicação por
saponinas esteroidais sejam independentes.
Das 17 amostras em que foram encontrados macrófagos espumosos, 10 casos
apresentavam parasitos. Em relação ao número de parasitos Marcos et al. (2007)
citaram que infecções hepáticas com mais de 38 espécimes causam cirrose hepática
grave. Por outro lado, a presença de macrófagos espumosos também é responsável
por quadros de fibrose hepática. Neste estudo, observou-se que os macrófagos
espumosos estavam presentes nos fígados com 32 parasitos ou menos apontando
para o fato de que a fibrose periportal encontrada poderia estar associada às
saponinas esteroidais e não ao parasitismo.
Considerando estes achados, nota-se que os critérios utilizados em matadouros
frigoríficos para a condenação de órgãos são questionáveis, sabendo-se que órgãos
que não possuem lesões macroscópicas podem apresentar lesões microscópicas, bem
como órgãos condenados podem estar normais histologicamente (Mendes e Pilati,
2007). Desta forma, existe a preocupação de que esteja havendo classificação
incorreta de lesões, conduzindo ao falso diagnóstico e consequentemente à geração de
105
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 035, 2013

estatísticas imprecisas sobre as principais causas de condenação em matadouros


frigoríficos.
Diante disto observa-se que não apenas a lesão macroscópica de fibrose deveria ser
considerada. Acredita-se que a obtenção de outros dados como avaliação
macroscópica mais detalhada do órgão, a presença de parasitos, bem como, a análise
microscópica poderiam minimizar os dados equivocados.
CONCLUSÃO
Os macrófagos espumosos e cristais indicativos de intoxicação por Brachiaria spp.
foram observados nos fígados condenados por fasciolose indicando que não apenas a
lesão macroscópica de fibrose deveria ser utilizada para determinar a condenação.
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106
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 036, 2013

036. LESÕES HISTOPATOLÓGICAS DE ESTRESSE HÍDRICO 1 E ALIMENTAR EM


BOVINOS DESTINADOS AO ABATE DE EMERGÊNCIA
(Histopathological lesions of hydric and feed stress in 12 cattle of slaughter
emergency)

Leonardo Vaz Burns¹, Adriano Tony Ramos², Fabiano Mendes de Cordova¹,


Clarissa Amorim Silva de Cordova¹, Karla Moraes Rocha Guedes¹, Gilzelle Maria da
Luz Silva¹

1 Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Araguaína-TO


2 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Campus Curitibanos, Curitibanos-SC

RESUMO
Foram coletados fragmentos de tecidos para análise histopatológica de 12 vacas
encaminhadas ao abate de emergência em frigorífico de Araguaína-TO, entre janeiro e
junho de 2013 e encaminhados ao Laboratório de Patologia Veterinária da
Universidade Federal do Tocantins. As alterações mais significativas foram a
vacuolização fina dos hepatócitos por redução do glicogênio (83,3%), congestão
pulmonar (75%), edema pulmonar (16,66%), pneumonia (16,66%), congestão renal
(58,33%) e cilindros granulosos (25%). O estresse, tempo de transporte, restrição
alimentar e hídrica causam alterações fisiológicas aos animais, com recomendação
para abate de emergência e condenação ou aproveitamento condicional da carcaça. As
lesões teciduais encontradas reforçam que a diretriz do RIISPOA está correta.
Palavras-chave: frigorífico, histopatologia, estresse, transporte
ABSTRACT
Tissue fragments for histopathological analysis from 12 cows that were submitted to
emergency slaughter under federal inspection, in a slaughterhouse in the region of
Araguaína-TO, between january and june 2013, were sent to the Laboratório de
Patologia Veterinária da Universidade Federal do Tocantins. The most significant
changes were fine vacuolization of hepatocytes by reducing glycogen (83.3%),
pulmonary congestion (75%), pulmonary edema (16.66%), pneumonia (16.66%), renal
congestion (58, 33%) and granular cylinders (25%). The stress, duration of transport,
water and food restriction cause physiological changes to the animals, which result in
recommendation for emergency 1 slaughter and condemnation or conditional use of
carcass. Tissue lesions founded reinforce that the guideline based on RIISPOA is
correct.
Key words: histopathology, stress, slaughterhouse, transport.
INTRODUÇÃO
O abate de emergência é o sacrifício imediato de animais doentes, agonizantes, com
decúbito forçado, fraturas, entre outros (RIISPOA). Vecerek et al., (2003) referem que
as razões para esse tipo de abate podem estar relacionadas ao estresse e que o maior
número de abates de emergência ocorrem em vacas. Segundo Vecerek et al.(2003) e
Pisteková et al.(2004), a principal causa são danos no aparelho locomotor. O presente
trabalho teve como objetivo a avaliação histopatológica de diferentes tecidos em 12
vacas destinadas ao abate de emergência em frigorífico sob inspeção federal na região
de Araguaína-TO, entre janeiro e junho de 2013.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletadas de janeiro a junho de 2013 amostras de diferentes tecidos (coração,
pulmão, fígado, baço, rim, intestino delgado) de 12 animais destinadas ao abate de
emergência em um frigorífico na região de Araguaína-TO, que encontra-se sob
inspeção federal. Os animais eram oriundos de fazendas localizadas em Vila Rica-MT
e foram transportados ao frigorífico em caminhões ―truck‖ ou carreta obedecendo a
capacidade de lotação, em viagens com duração de aproximadamente 10 horas, sendo

107
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 036, 2013

percorridos cerca de 652 Km. Os fragmento foram fixados por 48 horas em frascos
contendo formol a 10%, identificados e encaminhados ao Laboratório de Patologia
Veterinária da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia-EMVZ da Universidade
Federal do Tocantins-UFT, processados rotineiramente, preparados em lâminas e
corados com hematoxilina eosina para observação em microscópio óptico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As alterações histopatológicas mais significativas ocorreram no fígado, pulmões e rins.
Das 12 vacas encaminhadas ao abate de emergência, 83,3% (10 vacas) apresentaram
hepatócitos com citoplasma turvo e com vacuolização fina (aspecto rendilhado)
moderada ou acentuada, possivelmente 1 por redução do glicogênio. Myers e McGavin
(2009) informam que a quantidade de glicogênio nos hepatócitos de animais com
restrição alimentar é reduzido. No mesmo enfoque, Shaw e Tume (1992) descrevem
que o estresse do transporte eleva as concentrações de catecolaminas e
glicocorticoides estimulando a glicogenólise, aumentando a glicose plasmática. O
aumento significativo das concentrações de glicose é esperado entre 3 e 16 horas de
transporte (Tadich et al., 2005), corroborando com a duração do deslocamento e
período de jejum dos animais usados nesse estudo, podendo ter sido a causa das
alterações hepáticas. Os pulmões apresentavam congestão alveolar em 75% dos
animais (9 vacas), foco discreto de infiltrado linfocitário e neutrofílico na pleura e
exsudato neutrofílico multifocal discreto a moderado na luz de bronquíolos em 16,66%
(2 vacas) e substância eosinofílica irregular na luz de alvéolos (edema) em 16,66% dos
animais (2 vacas). Os animais não ingeriram água por cerca de 10 horas e a
desidratação causa hipovolemia, hemoconcentração com inadequada perfusão tecidual
(Gelberg, 2009). López (2009) relata que a queda na perfusão sanguínea pelos
pulmões causa congestão pulmonar com estagnação de sangue tecidual e edema. A
desidratação durante o transporte é comum e relatada por diversos autores. Tadich et
al. (2005) observaram desidratação em novilhos transportados por 16 horas, já Tarrant
et al. (1992) verificaram desidratação após 24 horas de transporte. Lima et al. (2007)
referem congestão pulmonar em 16,7% dos bovinos abatidos. As pneumonias
diagnosticadas podem se relacionar à distância e ao estresse durante o transporte.
Stanger et al. (2005) e Gupta et al. (2007) sugerem que o transporte pode causar
estresse nos animais, com alterações fisiológicas transitórias. Estas situações
favorecem a ocorrência de doença respiratória bovina (DRB) (White et al., 2009).
Vecerek et al. (2003) avaliando as causas de abate de emergência em diferentes
categorias obtiveram 1,05% de causas de origem respiratória em vacas, 16,33% em
novilhas, 16,71% em touros e 47,43% em vitelos. Os rins estavam congestos em
58,33% dos casos (7 vacas), com substância eosinofílica irregular e granular na luz de
túbulos (cilindro granuloso) e no espaço urinário glomerular em 25% (3 vacas).
Congestão renal pode ter surgido secundariamente à hipovolemia e a presença de
cilindros granulosos nos túbulos e glomérulos indicam um quadro de insuficiência renal
aguda e necrose tubular aguda (Newman et al., 2009), possivelmente pela
desidratação.
CONCLUSÃO
O estresse e a duração do transporte de bovinos, associados à restrição alimentar e
hídrica, provocam lesões teciduais importantes e, os animais que são encaminhados
ao abate de emergência possuem uma carcaça imprópria para consumo ou liberada ao
mercado após aproveitamento condicional. As lesões encontradas corroboram com as
diretrizes determinadas pelo RIISPOA.

108
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 036, 2013

REFERÊNCIAS
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Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal). Brasília, 1950. (Aprovado pelo decreto no 30691
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2009.

109
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 037, 2013

037. LESÕES PLACENTÁRIAS ASSOCIADAS AO Neospora caninum EM CABRAS


NATURALMENTE INFECTADAS
(Placental lesions associated with Neospora caninum in naturally infected goats)

Leonardo P. Mesquita¹, Rafael C. Costa², Camila C. Abreu², Ivan J. Ascari², Ana


Paula Peconick², Mary S. Varaschin²

1 Departamento de Patologia, FMVZ, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo – SP.
2 Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras – MG

RESUMO: Neospora caninum é um protozoário responsável por causar abortos em


caprinos. Entretanto, a importância da infecção em cabras ainda é desconhecida. O
objetivo deste estudo foi descrever os aspectos patológicos, imuno-histoquímicos e
moleculares em 13 placentas de cabras naturalmente infectadas por N. caninum. As
placentas de uma cabra que abortou e de outra que originou natimortos apresentaram
necrose acentuada. O DNA do N. caninum foi detectado nestas placentas, no entanto
as mesmas foram negativas na imuno-histoquímica para N. caninum. Das 11 placentas
de cabras que pariram conceptos saudáveis, cinco apresentaram lesões
histopatológicas, sendo que em sete o DNA de N. caninum foi detectado. Destas, em
apenas uma, detectou-se o N. caninum por meio de imunohistoquímica. Este estudo
demonstra que o N. caninum pode estar associado a lesões placentárias em caprinos
naturalmente infectados.
Palavras-chave: caprinos, imuno-histoquímica, infecção transplacentária, neosporose,
PCR.
ABSTRACT: Neospora caninum is a protozoan responsible for causing abortion in
caprines. However, the importance of infection is still unknown. The purpose of this
study was to describe the pathological, immunohistochemical and molecular aspects of
13 placentas of goats naturally infected with N. caninum. The placentas from a goat that
aborted and from another that originated stillbirths showed marked necrosis. N.
caninum DNA was detected in these placentas, but the same were negative in N.
caninum immunohistochemistry. Of the 11 placentas of goats that gave birth to healthy
conceptuses, five presented histopathological lesions, and in seven the N. caninum
DNA was detected. Of these seven placentas, only one was positive in
immunohistochemistry. This study demonstrates that N. caninum may be associated
with placental lesions in naturally infected caprines.
Key words: caprine; immunohistochemistry; transplacental infection; neosporosis;
PCR.
INTRODUÇÃO
N. caninum é um protozoário intracelular obrigatório, com características estruturais e
ciclo de vida semelhantes aos de Toxoplasma gondii. Mundialmente, este parasito é
reconhecido como uma das principais causas de aborto em bovinos, sendo também
responsável pela ocorrência de abortos e natimortos em caprinos (Mesquita et al.,
2013). Em caprinos são raras as descrições de lesões placentárias associadas ao N.
caninum. Nas placentas de caprinos naturalmente infectados pelo protozoário são
descritas somente lesões inflamatórias, e por vezes leves (Barr et al., 1992). Diante do
exposto, o objetivo do presente estudo é descrever as lesões placentárias em caprinos
naturalmente infectados por N. caninum, bem como correlacioná-las aos achados
imuno-histoquímicos e moleculares.
MATERIAIS E MÉTODOS
As amostras são provenientes de um rebanho caprino composto por 15 animais, dos
quais 13 são naturalmente infectados por N. caninum e dois soronegativos foram
utilizados como controles. Uma cabra abortou quatro fetos aos 87 dias de gestação
(Cabra 1), ao passo que outro caprino (Cabra 2) gerou dois natimortos, expelidos aos
148 dias de gestação. Todas as placentas foram coletadas no momento do parto
110
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 037, 2013

e/ouaborto e fragmentos das mesmas foram fixados em formalina 10% tamponada


para a análise histopatológica e imuno-histoquímica para N. caninum e T. gondii como
diagnóstico diferencial. Para detecção molecular de N. caninum e T. gondiiI, este como
diagnóstico diferencial, fragmentos das placentas das 15 cabras foram congelados e
armazenados a -20ºC. Para a detecção de N. caninum e T. gondii, a região ITS-1 do
rDNA foi utilizada como alvo para amplificação (Mesquita et al., 2013). Para realizar a
diferenciação entre N. caninum e T. gondii, os ―amplicons‖ foram submetidos ao
sequenciamento genético através da técnica de dideóxi.
RESULTADOS
A placenta da Cabra 1, nos cotilédones, foram visualizadas áreas multifocais, por vezes
focalmente extensas, de necrose acentuada, localizada principalmente nas regiões dos
vilos cório-alantóicos, envolvendo as células trofoblásticas e o mesênquima. Foi
observado também um infiltrado inflamatório multifocal, composto principalmente por
plasmócitos, linfócitos, macrófagos e raros neutrófilos. Na placenta da Cabra 2 foi
visualizada áreas de necrose semelhantes àquelas descritas para Cabra 1. Nestas
duas placentas o DNA do N. caninum foi detectado, no entanto, na análise imuno-
histoquímica, não foram observadas estruturas parasitárias marcadas para N. caninum.
Das 11 placentas oriundas das cabras soropositivas que geraram conceptos saudáveis,
em sete o DNA do N. caninum foi detectado. Destas sete, as lesões, caracterizadas por
infiltrado inflamatório mononuclear, foram observadas em cinco delas. Em uma, havia
um infiltrado inflamatório composto por linfócitos, plasmócitos e macrófagos multifocal
moderado. Nesta placenta observaram-se grupos de taquizoítos, localizados no
interstício, os quais foram fortemente marcados na imuno-histoquímica para N.
caninum. Nas demais placentas das cabras soropositivas e soronegativas não foram
visualizadas lesões histopatológicas significativas.
DISCUSSÃO
Nas placentas de caprinos naturalmente infectados por N. caninum, são descritas
somente lesões inflamatórias discretas (Barr et al., 1992). Diferentemente, no presente
estudo, nas placentas da Cabra 1 e 2 foram visualizadas lesões acentuadas. Além das
áreas de inflamação observadas principalmente na Cabra 1, as lesões consistiam
predominantemente de áreas de necrose, multifocais, por vezes focalmente extensas.
Lesões necróticas e inflamatórias na placenta e no feto estão correlacionadas com a
morte fetal em bovinos (Gibney et al., 2008). No presente estudo, a necrose e
inflamação observadas na placenta da Cabra 1 muito provavelmente contribuíram para
a ocorrência do aborto. Apesar de terem sido visualizadas lesões nas placentas de
outras cinco cabras, os conceptos oriundos destas cabras nasceram clinicamente
normais.
O DNA de N. caninum foi detectado nas placentas da Cabra 1 e 2, entretanto não se
observou marcação imuno-histoquímica para N. caninum nas mesmas. Em uma cabra
do presente estudo, naturalmente infectada por N. caninum e que gerou um concepto
saudável, porém congenitamente infectado, grupos de taquizoítos puderam ser
identificados tanto nas secções de HE como na análise imunohistoquímica.
Por meio da análise imuno-histoquímica, em bovinos experimentalmente infectados, foi
possível detectar a presença de estruturas compatíveis com taquizoítos (Macaldowie et
al., 2004), fato este até então não demonstrado em placenta de cabra naturalmente
infectada. Sete, das onze placentas das cabras naturalmente infectadas e que geraram
conceptos saudáveis foram positivas para o DNA de N. caninum. Destas sete cabras
em que o DNA de N. caninum foi detectado, todas geraram conceptos infectados.
CONCLUSÕES
O presente estudo demonstra que a infecção transplacentária do N. caninum ocorre em
caprinos, cursando com lesões severas nas placentas. A utilização conjunta de PCR e
imuno-histoquímica mostrou-se eficiente na detecção do N. caninum nas placentas de
cabras naturalmente infectadas.
111
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 037, 2013

Agradecimentos
Os autores agradecem à FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
Minas Gerais) pelo auxílio financeiro e à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo) pela bolsa de doutorado.
REFERÊNCIAS
BARR, B.C.; ANDERSON, M.L.; WOODS, L.W. et al. Neospora-like protozoal
infections associated with abortion in goats. Journal of Veterinary Diagnostic
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GIBNEY, E.H.; KIPAR, A.; ROSBOTTOM, A. et al. The extent of parasiteassociated
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caninum infection in early and late gestation correlates with foetal death. International
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MACALDOWIE, C.; MALEY, S.W.; WRIGHT, S. et al. Placental pathology
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different routes in early pregnancy. Journal of Comparative Pathology, v. 131, p. 142-
156, 2004.
MESQUITA, L.P.; NOGUEIRA, C.I.; COSTA, R.C. et al. Antibody kinetics in goats
and conceptuses naturally infected with Neospora caninum. Veterinary Parasitology,
in press, 2013.

112
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 038, 2013

038. LEUCOSE ESPORÁDICA JUVENIL BOVINA – RELATO DE CASO


(Sporadic Juvenile Bovine Leukosis – A case report)

Claudia Martins Galindo¹, Luciane Orbem Veronezi², Beatriz Pavei Bez Batti³, Nathalia
dos Santos Wicpolt¹, Ana Paula Mori³, Camila Mariellen Evangelista1

1. Alunas do programa de pós-graduação em Ciência Animal, Universidade do Estado de Santa


Catarina, Lages, Santa Catarina, Brasil, email:clau.diem@uol.com.br
2. Aluna do programa de pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.
3. Alunas de graduação do curso de Medicina Veterinária da Universidade do Estado de Santa Catarina,
Lages, Santa Catarina, Brasil.
RESUMO. A leucose esporádica é uma doença neoplásica que acomete bovinos
jovens e apresenta-se de 3 formas: juvenil, tímica e cutânea. Em março de 2013,
realizou-se a necropsia de uma bezerra mestiça de 6 meses de idade com sinais de
timpanismo e dificuldade locomotora há 15 dias. Na macroscopia evidenciaram-se
palidez de mucosas e massas tumorais, de coloração branco-amarelada e consistência
friável em linfonodos submandibulares, mediastínicos, mesentéricos e no canal
espinhal. Microscopicamente, observou-se nas amostras infiltrado de linfócitos atípicos,
com citoplasma escasso, núcleos pleomórficos e mitoses frequentes. O diagnóstico
baseou-se nas alterações macroscópicas e microscópicas.
Palavras-chave: bezerro; linfossarcoma; neoplasia
ABSTRACT. Sporadic bovine leukosis is a neoplastic disease affect young cattle, and
there are three forms: juvenile, thymic and cutaneos form. In March 2013, necropsy was
done a mixed heifer with six months old with bloat and limited mobility there are 15
days. Macroscopically observed pale mucous, tumor masses with yellowish-white color
and friable in mediastinal, submandibular and mesenteric lymph nodes and spinal
canal. Microscopically observed atypical lymphocytes of scant cytoplasm, pleomorphic
nucleus and frequent mitoses. The diagnostic was based on macroscopy and
microscopy alterations.
Key words: heifer; lymphosarcoma; tumors
INTRODUÇÃO
A leucose bovina é classificada, segundo aspectos etiológicos e epidemiológicos, em
leucose enzoótica e leucose esporádica. Ao passo que aquela é típica de bovinos
adultos, esta é observada em animais jovens e ambas são causadas pelo vírus da
leucemia bovina, apesar de ainda não esclarecidos os mecanismos neste ultimo caso
(Jacobs et al., 1992; Duncan et al., 2005). A leucose esporádica possui 3
apresentações: a juvenil é multicêntrica e observada em bezerros com idade entre 1 e
6 meses; a tímica entre 6 e 24 meses e a cutânea, não específica quanto a idade, é
caracterizada pelo desenvolvimento de múltiplas nodulações na pele. (Barros, 2007;
Jones et al., 2000). Ocorre uma proliferação anormal de linfócitos e a expressão clínica
reflete a localização de tais neoformações, normalmente com curso fatal (Barros, 2007;
Carlton e McGavin, 1998). Há aumento de volume dos linfonodos, que pode ser
generalizado, ou pode ficar restrito a certos nodos, e o desenvolvimento de massas
pode causar compressão dos órgãos levando a edema e dificuldades respiratórias e
digestivas. A infiltração de linfócitos atípicos em articulações e canal espinhal pode
resultar em ataxia e paresia (Barros, 2007; Jones et al., 2000).Tendo em vista sua rara
ocorrência, este trabalho objetiva descrever os aspectos clínico-patológicos da leucose
esporádica multicêntrica juvenil., de um caso em uma bezerra.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma bezerra mestiça, de seis meses de idade foi encaminhada ao laboratório de
Patologia Animal CAV/UDESC, para realização de necropsia, em março de 2013. Na
necropsia, fragmentos de tecidos foram coletados, fixados em formalina a 10%,

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 038, 2013

processados rotineiramente para exame histopatológico e coradas pela técnica de


Hematoxilina e eosina (H.E).
RESULTADOS
O histórico consta, por relato do proprietário, que 15 dias antes a bezerra teria deixado
de acompanhar o rebanho e passou a demonstrar dificuldade para manterse em
estação e, por fim, decúbito esternal e timpanismo. Ao exame externo, o animal
apresentava mucosas pálidas. Os linfonodos submandibulares, mediastínicos e
mesentéricos apresentavam aumento de volume e ao corte se tornavam protuberantes,
com superfície branco-amarelada, sem distinção entre as zonas cortical e medular.
Massas tumorais de coloração semelhante foram observadas na cavidade torácica e no
canal espinhal da região lombar. O exame histopatológico revelou alteração da
arquitetura habitual dos linfonodos, que foi substituída por um infiltrado de linfócitos
morfologicamente atípicos, com citoplasma escasso, bordos irregulares, núcleos
pleomórficos e mitoses frequentes.
DISCUSSÃO
Assim como relatado por outros autores, o animal deste estudo tinha 6 meses de idade,
com progressão da doença para a morte em 15 dias, período este que pode se
estender de 2 a 8 semanas (Barros, 2007; Carlton e McGavin, 1998). A leucose
esporádica juvenil se caracteriza macroscopicamente por um crescimento generalizado
dos linfonodos, especialmente os superficiais (Oliver-Espinosa et al., 1994; Peixoto et
al., 2010), o que não foi observado neste caso, em que as alterações se restringiam
aos linfonodos profundos. Portanto, o padrão de aumento dos linfonodos é variável,
mas normalmente seguem um padrão simétrico (Jones et al., 2000, Bundza et al.,
1980). O sinal clínico mais importante foi a ataxia, com evolução para paralisia dos
membros posteriores, quadro este frequentemente relacionado a casos de traumas e
abscessos espinhais nesta faixa etária (Barros, 2007). Todavia, além dos linfonodos,
pode haver infiltração de tecido neoplásico no canal espinhal e articulações (Oliver-
Espinosa et al., 1994), rins (Bundza et al., 1980; Peixoto et al., 2010), fígado, pulmão e
baço (Peixoto et al., 2010), além de coração, abomaso e útero (Barros, 2007), o que
propicia a grande variedade de sinais clínicos decorrentes da doença (Carlton e
McGavin, 1998).
CONCLUSÃO
Embora não seja uma doença comum na rotina clínica de bovinos, a leucose
esporádica deve ser levada em consideração como diagnóstico diferencial em animais
de até 2 anos. A necropsia e o exame histopatológico são de fundamental importância
para o diagnostico desses casos.
REFERÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 039, 2013

039. LEUCOSE ESPORÁDICA JUVENIL EM BEZERRO – RELATO DE CASO


(Enzootic sporadic youth in calf - case report)

Lucas de Freitas Pereira¹, Fernanda Gosuen Gonçalves Dias¹, Priscila Pavini Cintra²,
Amanda Chítero³, Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Dias4, Geórgia Modé Magalhães4

1 Doutorando em Ciências, Programa de Pós-Graduação Unifran


2 Mestranda no Programa de Medicina Veterinária em pequenos animais Unifran
3 Graduanda em Medicina Veterinária Unifran
4 Docente do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária da Unifran

RESUMO: A leucose bovina é uma doença de ocorrência mundial, podendo


apresentar-se de duas formas distintas, esporádica ou enzoótica. A primeira é uma
afecção neoplásica e não transmissível, de etiologia indeterminada, curso progressivo
e de ocorrência rara em bovinos jovens. A leucose esporádica juvenil multicêntrica
afeta especificamente animais com idade inferior a seis meses e dentre os sinais
clínicos destaca-se a presença evidente de aumento de linfonodos externos devido ao
comprometimento neoplásico difuso. Os exames complementares de diagnóstico são
importantes para diferenciá-la de outras afecções sistêmicas que possam acometer os
bovinos. Não existe tratamento eficaz e, na maioria das vezes, o quadro evolui para
óbito do paciente. Diante dessa afecção incomum na espécie bovina, o presente
trabalho teve como objetivo relatar um caso de leucose esporádica multicêntrica juvenil
em bezerro com dois meses de idade.
Palavras-chave: bovinos; leucose multicêntrica; linfadenopatia; neoplasia
ABSTRACT: The bovine leukosis is a disease of worldwide occurrence, which can be
presented in two ways, sporadic or enzootic. The first is a neoplastic disease, non-
transferable, of undetermined etiology, progressive course and rare occurrence in
young cattle. A sporadic juvenile multicentric enzootic specifically affects animals aged
less than six months and clinical signs among highlights the obvious presence of lymph
node enlargement due to external diffuse neoplastic involvement. The diagnostic exams
are important to differentiate it from other systemic diseases that can affect cattle. There
is no effective treatment, and in most cases, the clinical signs progresses to death of the
patient. This uncommon condition in cattle, the present study aimed to report a case of
multicentric enzootic sporadic juvenile calf with two months old.
Keywords: cattle; lymphadenopathy; multicentric enzootic; neoplasia
INTRODUÇÃO
A leucose bovina pode ser classificada em forma enzoótica ou esporádica, dependendo
dos sinais clínicos, fatores etiológicos e epidemiológicos envolvidos (OLIVER-
ESPINOSA et al., 1994; DIVERS et al., 1995). Possui como sinonímias linfossarcoma
bovino, linfoma maligno, linfomatose e leucemia bovina (DIVERS et al., 1995;
PEIXOTO et al., 2010).
A forma esporádica é uma afecção neoplásica, que se origina no tecido linfoide de
bovinos jovens (VALE-ECHETO et al., 2009) no entanto, não é transmissível.
Apresenta etiologia desconhecida, curso clínico rápido (DIVERS et al., 1995; VALE-
ECHETO et al., 2009) e três distintas classificações (juvenil multicêntrica, tímica e
cutânea) baseadas na idade do paciente e localização neoplásica, porém todas são de
ocorrência rara (OLIVER-ESPINOSA et al., 1994; PEIXOTO et al., 2010; BOABAID,
2011).
Na forma esporádica juvenil multicêntrica, que normalmente acomete bezerros antes
dos seis meses de idade, pode-se observar linfadenopatia generalizada (OLIVER-
ESPINOSA et al., 1994; BOABAID, 2011), fraqueza, anemia hipocrômica microcítica,
perda de peso e comprometimento da medula óssea e outros órgãos por tecido
neoplásico. Não há relatos enfatizando a predisposição racial (PEIXOTO et al., 2010).

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 039, 2013

O diagnóstico deve ser baseado no histórico do animal, sintomatologia clínica, punção


biopsia aspirativa e histopatológico dos linfonodos acometidos, além dos achados pós-
mortem (REBHUN, 2000).
Não há nenhum tratamento de eleição para a leucose esporádica juvenil multicêntrica
(PEIXOTO et al., 2010). De acordo com Rebhun (2000), a administração de corticoides
pode diminuir o tamanho dos linfonodos ou causar remissão em curto prazo, porém os
animais poderão sofrer complicações decorrentes desses fármacos.
O propósito deste trabalho é relatar um caso de leucose esporádica juvenil
multicêntrica, devido à baixa incidência dessa afecção em bezerros, assim como ode
salientar a importância de diferenciá-la de outras linfadenopatias que acometem essa
espécie.
RELATO DE CASO
Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade de Franca (Unifran-SP), um
bezerro macho, mestiço, com dois meses de idade e 80Kg, apresentando apatia,
anorexia, perda de peso, mucosas hipocoradas, inchaço nas articulações dos membros
anteriores, dificuldade de locomoção e aumento bilateral significativo de linfonodos
submandibulares, parotídeos e pré-escapulare. À palpação, os linfonodos
apresentavam-se firmes, bem delimitados, indolores e não aderidos à musculatura. Foi
realizado punção biopsia aspirativa desses linfonodos, porém o diagnóstico foi
inconclusivo. Ato contínuo foi feito exame histopatológico dos pré-escapulares, o qual
evidenciou leucose esporádica juvenil.
Diante desse diagnóstico, o proprietário optou pela eutanásia do animal. Ao exame de
necropsia, observou-se aumento generalizado de linfonodos internos. Nos demais
órgãos não foram observados alterações significativas.
DISCUSSÃO
A leucose esporádica é rara em bovinos (OLIVER-ESPINOSA et al., 1994) sendo
escassos os casos relatados na literatura, visto que a maioria enfocam a forma
enzoótica, a qual é causada por um vírus que acomete pacientes entre três e sete anos
de idade (PEIXOTO et al., 2007), não havendo indícios de associação entre tais formas
(REBHUN, 2000). Dos poucos casos descritos da forma esporádica, destaca-se os
bovinos de leite (VALE-ECHETO et al., 2009), provavelmente pela fácil visualização
dos sinais clínicos devido ao manejo constante e intensivo a que são submetidos.
A raridade da leucose esporádica juvenil em bezerros (PEIXOTO et al., 2007) dificulta a
definição de alguns parâmetros da doença como a incidência, etiologia, comportamento
biológico, predisposição racial e sexual, assim como possíveis formas de tratamento
que possam prolongar o tempo de vida do paciente.
O curso clínico da leucose esporádica é extremamente rápido (PEIXOTO et al., 2007) e
independente da forma, é na maioria das vezes fatal (BOABAID, 2011), o que justificou
a decisão do proprietário pela eutanásia.
Os sinais clínicos apresentados pelo bezerro e os achados de necropsia condizem
exatamente com a literatura (OLIVER-ESPINOSA et al., 1994; PEIXOTO et al., 2007;
BOABAID, 2011) e não havia nenhum bovino contactante na propriedade com a
mesma sintomatologia, pois de acordo com Boabaid (2011), a leucose esporádica
dificilmente ocorre em mais de um animal por rebanho, por não ser transmissível.
Os exames complementares realizados no bezerro foram imprescindíveis para o
diagnóstico diferencial de outras afecções com sintomatologia semelhante à leucose
esporádica juvenil como a leucose enzoótica, urticária, demais neoplasias cutâneas e
afecções inflamatórias e infecciosas (REBHUN, 2000).
O exame histopatológico confirmou o diagnóstico apresentando linfócitos com
citoplasma escasso, fracamente eosinofílico, com contornos irregulares e núcleos
pleomórficos, sendo a maioria hipercromáticos e frequentes figuras de mitoses.
Concordando com a literatura que observa alteração da arquitetura normal do linfonodo
e ocasionais áreas de necrose (PEIXOTO et al., 2007).
116
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 039, 2013

CONCLUSÃO
A etiologia dessa afecção ainda não está totalmente estabelecida, sendo necessários
estudos voltados para a elucidação de seus fatores predisponentes e agravantes.
Mesmo sendo de ocorrência rara, a leucose esporádica juvenil deve ser incluída no
diagnóstico diferencial de linfadenopatias que acometem os bovinos.
REFERÊNCIAS
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Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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OLIVER-ESPINOSA, O.; PHYSICK-SHEARD, P. W.; WOLLENBERG, G. K et al. Sporadic bovine
leukosis associated with ataxia and tibiotarsal joint swelling: a case report. Canadian Veterinay Journal, v.
35, n. 1, p. 777-779, 1994.
PEIXOTO, T. C.; MARTINI-SANTOS, B. J.; YAMASAKI, E. M et al. Leucose juvenil multicêntrica bovina –
relato de caso. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 32, n. 1, p. 58-62, 2010.
REBHUN, W. C. Doenças do gado leiteiro. São Paulo: Roca, 2000. 642p.
VALE-ECHETO, O. E.; MONTIEL-URDANETA, N.; SIMOES, D et al. Linfoma multicéntrico o
linfosarcoma multicéntrico em búfalo de água (Bubalus buballs): Estudio anatomopatológico. Reporte de
um caso. Revista Científica FCV-LUZ, v. 19, n. 3, p. 257-263, 2009.

117
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 040, 2013

040. MALFORMAÇÃO CONGÊNITA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL


ASSOCIADA AO VÍRUS DA DIARREIA VIRAL BOVINA
(Congenital malformation of the central nervous system associated with Bovine
viral diarrhea vírus)

Nadia Aline Bobbi Antoniassi - naassi@gmail.com (Antoniassi, N.A.B.) (Apresentador) Universidade


Federal de Mato Grosso (UFMT), Brasil Flávio Henrique Bravim Caldeira - flaviobcaldeira@gmail.com
(Caldeira, F.H.B.) Henrique Bomfim Vieira - henry55@gmail.com (Vieira, H.B.) Jean Henrique da Silva -
jeannhs@hotmail.com (Silva, J.H.) Fernando Ribeiro da Silva - oodnan@live.com (Silva, F.R) Leilane
Aparecida da Silva - leilane_go@hotmail.com (Silva, L.A.)Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
Brasil
RESUMO - Anomalias congênitas apresentam distribuição mundial e podem levar à
perdas reprodutivas consideráveis, pela causa de abortos e morte de neonatos. Este
trabalho descreve os achados anatomo-patológicos de um caso de malformação
encefálica em um bezerro, associado ao vírus da Diarréia Viral Bovina. Em
acompanhamento clínico os principais sinais observados foram ataxia, dismetria,
torneio e colisão contra obstáculos. Na necropsia, hipoplasia cerebral e cerebelar foram
os principais achados. Microscopicamente não foram observadas alterações e o
diagnóstico foi realizado pela marcação positiva no encéfalo, baço e linfonodo para o
vírus da Diarréia Viral Bovina.
Palavras-chave: bovinos, BVDV, encéfalo, perdas reprodutivas
ABSTRACT - Congenital anomalies have worldwide distribution and may cause
considerable reproductive losses, causing abortions and death of newborns. This paper
describes the anatomic-pathologic findings of a case of brain malformation in a calf.
Clinical analyses was conducted by five days, where the main clinical signs were ataxia,
dysmetria, walking in circles and collision against obstacles. At necropsy the main
finding was cerebral and cerebellar hypoplasia. The method of immunohistochemistry
showed positive staining for bovine viral diarrhea virus in the sample.
Key words: BVDV, brain, cattle, reproductive losses.
INTRODUÇÃO
Anomalias congênitas apresentam distribuição mundial e podem levar à perdas
reprodutivas consideráveis, pela causa de abortos e morte de neonatos (Jolly, 2002).
Normalmente estes problemas são observados de forma esporádica, podendo envolver
causas infecciosas ou não, mas também podem ocorrer em forma de surtos (Kirkbride,
1992).
Em animais domésticos os principais agentes causadores de malformações congênitas
encefálicas são o vírus da Doença das fronteiras em ovinos, o vírus da Febre suína
clássica em suínos e em bovinos o vírus da Diarréia viral bovina (BVDV) (Maxie e
Youssef, 2007). A infecção intra-uterina pelo BVDV tem sido frequentemente associada
à lesões no Sistema Nervoso Central (SNC), entre as principais a hipoplasia cerebelar,
hidrocefalia e porencefalia (Roeder et al., 1986).
Diarreia Viral Bovina (BVD) é causada por um vírus envelopado, da família Flaviridae,
gênero Pestivirus, possui uma grande variabilidade de mutações e recombinações
genéticas (Bolin e Grooms, 2004). Sendo que as características filogenéticas são
fatores importantes na determinação de diferentes quadros clínicos, assim como o
status imune do animal, a categoria afetada e o manejo adotado nas propriedades
(Ridpath e Flores, 2007).
As principais causas de perdas econômicas relativas à doença são a ocorrência de
abortos e malformações congênitas (Moennig, 1995; Baker, 1995), sendo que as
perdas reprodutivas e mortalidade de animais jovens são atribuídos à infecção primária
pelo vírus da Diarreia Viral Bovina (BVDV) tipo 1b (Laureyns et al., 2011).
Este trabalho descreve os achados anatomo-patológicos de um caso de malformação
encefálica em um bezerro associado a infecção pelo BVDV.

118
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 040, 2013

MATERIAIS E MÉTODOS
Foi encaminhado ao Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de
Mato Grosso (LPV) um bezerro macho, Brahma, com 45 dias de idade, com histórico
de sinais clínicos neurológicos desde o nascimento. Foi realizado acompanhamento
clínico deste animal por 5 dias a fim de determinar as alterações clínicas e em seguida
foi realizada a eutanásia e necropsia. Fragmentos de órgãos foram coletados, fixados
em formalina 10%, processados para exame histopatológico e corados com
hematoxilina e eosina. A técnica de imuno-histoquimica foi realizada utilizando o
anticorpo monoclonal MAb (gp55) anti- BVDV em amostras de encéfalo, Baço e
linfonodo.
RESULTADOS
Durante os cinco dias de acompanhamento não houve evolução dos sinais clínicos. No
exame clínico detalhado não foi detectado alterações nosnervos cranianos, com
exceção à capacidade de desviar de obstáculos que estava levemente alterada. No
exame de postura e marcha observou-se colisão contra obstáculos, ataxia, hipermetria
leve, perda de equilíbrio e torneio. Por vezes o animal permanecia com os membros
abertos, cambaleava e caia.
Na necropsia não se observaram alterações nos ossos e na calota craniana, à abertura
da caixa craniana os hemisférios cerebrais estavam reduzidos em relação a calota
craniana com circunvoluções pouco definidas (hipoplasia cerebral). Ao corte observou-
se no diencéfalo, subdesenvolvimento do tálamo. Também estavam evidentemente
subdesenvolvidos o hipocampo, ventrículos laterais e corpos quadrigêmeos. Apenas
um resquício do quiasma óptico era observado e o bulbo olfatório se apresentava como
uma estrutura não bulbar, em uma forma cilíndrica. Associado a estas alterações havia
também hipoplasia cerebelar.
Microscopicamente não observou-se alterações patológicas significativas, porém a
técnica de imuno-histoquímica revelou marcação positiva para BVDV no encéfalo, baço
e linfonodo.
DISCUSSÃO
Os exames clínicos revelaram se tratar de uma enfermidade que afetava o sistema
nervoso central, sendo que a deficiência visual que, associada a ausência de lesões
oculares e presença de reflexos pupilares indicam uma origem central (Schild et al
2002). As alterações de dismetria, caracterizada pela hipermetria, assim como a ataxia
e perda de equilíbrio estão frequentemente relacionadas à alterações cerebelares,
como a hipoplasia cerebelar, achado comum em fetos bovinos infectados pelo vírus da
Diarreia viral bovina (Maxie e Youssef, 2007; Schild et al., 2002).
As alterações teratogênicas associadas à infecção por BVDV incluem hipoplasia
cerebelar, desmielinização da medula espinhal, hidranecefalia, porencefalia e
hidroencefalia (Bielefeldt-Ohmann, 1995). Este caso, além da hipoplasia cerebelar,
observa-se hipoplasia cerebral.
CONCLUSÃO
As malformações do SNC deste bezerro associada à marcação positiva na IHQ sugere
que as alterações sejam causadas pela infecção pelo BVDV.

119
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 040, 2013

REFERÊNCIAS
BOLIN, S.R.; GROOMS, D.L. Origination and consequences of bovine viral diarrhea virus diversity.
Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, v.20, n.1, p.51-68, 2004.
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KIRKBRIDE, C. A. Etiologic agents detected in a 10-year study of bovine abortions and stillbirths. Journal
of VeterinaryDiagnostic Investigation, Columbia, v. 4, n. 2, p. 175-180, 1992.
LAUREYNS, J.; PARDON, B.; LETELLIER, C. e DEPREZ, P. Periparturient infection with bovine viral
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MAXIE M.G. and YOUSSEF S. Nervous system, p.281-458. In: Maxie M.G. (Ed.), Jubb, Kennedy, and
Palmer‘s Pathology of Domestic Animals. Vol.1. 5th ed. Saunders Elsevier, Philadelphia. 2007.
MOENNIG V.; LIESS B. Pathogenesis of intrauterine infections with bovine viral diarrhea virus. Vet Clin
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RIDPATH, J. F.; FLORES, E. F. Flaviviridae. In: FLORES, E. F. Virologia Veterinária. 1.ed. Santa Maria:
Editora da UFSM, p.563-591, 2007.
RIET-CORREA, F.; RIET-CORREA, G. SCHILD, A.L. Importância do exame clínico para o diagnóstico
das enfermidades do sistema nervoso em ruminantes e equídeos. Pesq. Vet. Bras. 22(4):161-168,
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ROEDER R.L.; JEFFREY M. e CRANWELL M.P. Pestivirus feto-pathogenicity in cattle: Changing
sequelae with fetal maturation. Vet. Rec. 118(2):44-48. 1986.

120
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 041, 2013

041. MANEJO INADEQUADO PROVOCA MIELITE SUPURATIVA PÓS-


CAUDECTOMIA EM OVINOS
(Inappropriate management causes post-caudectomy suppurative myelitis in
sheep)
Juliano Pereira Terra¹, Jair Alves Ferreira Junior², Cecília Nunes Moreira³, Rogério Elias
Rabelo³, Ana Paula Alves Gouveia4, Marina Pacheco Miguel5

1Residente em Patologia Veterinária, (UFG) -Med Veterinária/CAJ, Brasil, pereiraterra20@hotmail.com


2Graduando,Universidade Federal de Goiás (UFG) -Medicina Veterinária/CAJ, Brasil
3Docentes, Universidade Federal de Goiás (UFG) –Medicina Veterinária/CAJ, Brasil
4Graduanda, Universidade Federal de Goiás (UFG) -Biomedicina/CAJ, Brasil
5Docente de Patologia Veterinária, Universidade Federal de Goiás (UFG) -Medicina Veterinária/CAJ

RESUMO: A caudectomia é uma prática de manejo bastante frequente na ovinocultura,


mas o emprego de métodos não aceitáveis e sem preparo cirúrgico são responsáveis
por graves consequências. O objetivo do trabalho é relatar um quadro de mielite
supurativa pós-caudectomia devido ao uso de práticas de manejo inadequadas. Um
ovino SRD, semi-lanado, fêmea, três meses de idade apresentou paresia dos membros
pélvicos progressiva. Realizou-se o exame anatomopatológico do animal e foi possível
verificar exsudação purulenta no canal medular da região sacral à lombar e malácia da
porção sacral. À microscopia observou-se infiltração neutrofílica acentuada no espaço
aracnoide e na medula espinhal medular. Os achados anatamopatológicos
confirmaram o quadro de mielite supurativa pós-caudectomia por uso de anel de
borracha.
Palavras chave: amputação, cauda, manejo, paresia de membros posteriores
ABSTRACT:The caudectomy is a very common management technique in sheep-
raising, but the use of non-acceptable methods and with no surgical preparation are
responsible for serious consequences. The goal of this work is to relate a picture of
post-caudectomy suppurative myelitis due to the use of inappropriate management
techniques. A crossbred sheep, semi-launched, female, three months old showed
progressive paresis of the hinder members. An anomatopathological exam was
conducted and it was possible to detect purulent exudation in the medullary canal from
the lumbar to the sacral region and malacia of the sacral portion. The microscopy
showed a pronounced eutrophilic infiltration in the arachnoid space and medular spinal
cord. The anomatopathologic data confirmed the post-caudectomy suppurative myelitis
by using rubber ring.
Key Words: amputation, tail, management, paresis of the hinder members
INTRODUÇÃO
A ovinocultura no Brasil é uma atividade amplamente difundida por todo território
nacional (MAPA, 2011). Com o aumento da demanda por carne ovina no país, a
produção de animais para abate tornou-se uma atividade bastante visada, envolvendo
grandes e pequenas propriedades (Aro et al., 2006).
Uma atividade de manejo frequente na ovinocultura é a caudectomia, com objetivos
principais relacionados à higiene e saúde dos animais (Grahan et al., 1997). No
entanto, a partir da aprovação da RESOLUÇÃO Nº 877, de 15 de fevereiro de 2008,
este procedimento foi proibido em ruminantes, exceto em fêmeas ovinas lanadas,
desde que realizado previamente anestesia e analgesia (CRMV, 2008). Portanto,
técnicas que eram corriqueiramente empregadas, como o uso do anel de borracha,
ferro quente, emasculador, burdizo, corte com faca estão proibidas sem anestesia e
analgesia (Peres, 2011).
Apesar da determinação do Conselho Federal de Medicina Veterinária, métodos não
aceitáveis e sem preparo cirúrgico ainda são realizados, o que ainda causa morbidade
e mortalidade de animais pelas consequências do procedimento inadequado. As
principais complicações observadas pós-caudectomia são aumento da incidência de
121
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 041, 2013

prolapso retal (Kopinits et al., 2009), infecções medulares ascendentes e abscessos


epidurais da medula (Radostits, 2002). Assim, o objetivo deste trabalho é relatar um
caso de mielite supurativa em um ovino, fêmea, SRD, 4 meses, relacionada a
complicações pós-caudectomia realizada com métodos não indicados.
MATERIAIS E MÉTODOS
Um ovino SRD, semi-lanado, fêmea, aproximadamente três meses de idade
apresentou dificuldade de locomoção, evolução para ataxia e paresia dos membros
pélvicos (posição de ―cão sentado‖). Segundo relato do proprietário, na propriedade
havia 60 ovinos e este era o sexto animal da mesma faixa etária a apresentar os sinais
clínicos idênticos. Os animais eram alimentados com milho e milheto, além de capim
tifton. Não recebiam sal mineral com frequência, e quando recebiam era a mesma
formulação fornecida aos bovinos.
Realizou-se o exame clínico completo, coleta de sangue e líquor e tratamento
antibioticoterápico por quatro dias, como não houve melhora do quadro clínico, optou-
se pela eutanásia do animal. Após a eutanásia, realizou-se a necropsia e fragmentos
de tecidos foram fixados em solução de formalina tamponada a 10% e processado de
acordo com a técnica de rotina do laboratório para realização de exame histológico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao exame clínico, o animal apresentou reflexos normais nos membros anteriores,
estava alerta, tinha apetite normal, mas apresentava ausência de reflexos nos
membros posteriores e paresia (posição de cão sentado), retenção de fezes e ausência
de reflexo anal. De acordo com Riet-Correa et al. (2000), tais sinais clínicos são
relacionados a lesões medulares presentes nas vértebras dorsais e lombares. Na
avaliação citológica do liquor verificou-se acentuada quantidade de neutrófilos. A coleta
do liquor é de grande importância para auxiliar no diagnóstico das doenças do sistema
nervoso central e este achado é indicativo de uma lesão supurativa provocada por
bactérias piogênicas. De acordo com Radostitis (2002), esses agentes podem alcançar
o canal medular por extensão direta ou por via hematogênica.
Durante a necropsia, ao exame externo, observou-se na região da cauda edema e
hiperemia acentuados, além de exsudato purulento e fétido. Ao exame interno da
cavidade abdominal, verificou-se exsudato fibrinoso próximo à porção cranial da
bexiga, que estava repleta, acentuadamente distendida e com área de necrose
focalmente extensa em sua porção cranial. Área extensa de pneumonia hipostática foi
verificada no lobo caudal direito. Ao exame do sistema nervoso central, grande
quantidade de exsudato purulento preenchia o canal medular da região sacral até a
lombar e havia extensa malácia da medula espinhal na região sacral. Ao exame
microscópico da medula espinhal verificou-se infiltração neutrofílica acentuada espaço
aracnoide e no tecido nervoso da região medular, além de células gitter, tumefação
axonal e gliose. As lesões macro e microscópicas encontradas são semelhantes às
relatadas por Rissi et al. (2010). Os achados anatomopatológicos confirmaram o
quadro de mielite supurativa pós-caudectomia.
Neste caso, o proprietário relatou que a amputação da cauda foi realizada com o
método de anel de borracha. De acordo com Peres (2011), tal método é o mais
empregado no campo. Kent et al. (2004) relatam que trata-se de um método
extremamente doloroso devido a isquemia local, o que levando a necrose e queda da
cauda. Além disso, muitos produtores esperam a queda da porção da gangrena seca
da cauda, propiciando a infecção secundária por bactérias anaeróbicas local e
ascensão pelo canal medular, como diagnosticado neste caso.
CONCLUSÃO
Os sinais clínicos e os achados anatomopatológicos são característicos da mielite
supurativa pós-caudectomia, uma consequência grave pós-cirúrgica relacionada ao
emprego de técnicas de manejo inadequadas.

122
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 041, 2013

REFERÊNCIAS
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MEDICINA VETERINÁRIA –CRMV. Resolução n° 877, de 15 de fevereiro de 2008. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 19 mar. 2008, Se-ção 1, p. 173 -174. .
GRAHAN, M.; KENT, J.; MOLONY, V. Effects of four analgesic treatments on the behavioural and cortisol
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KENT, J.E.; THRUSFIELD, MV.; MOLONY, V. et al. Randomised, controlled field trial of two new
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Araçatuba, 56f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) –Curso de Pós-graduação em Ciência
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RADOSTITS, O.M., GAY, C.C., BLOOD, D.C. & HINCHCLIFF, K.W. Clínica Veterinária. Um Tratado de
Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Eqüinos. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
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RIET-CORREA, F.; RIET-CORREA, G.; SCHILD, A.L. Importância do exame clínico para o diagnóstico
das enfermidades do sistema nervoso em ruminantes e equinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.22,
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RISSI, D.R.; FIGHERA, R.A.; IRIGOYEN, L.F. et al. Doenças neurológicas de ovinos na região central do
Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.30, n.3, p.222-228, 2010.

123
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 042, 2013

042. METRITE PUERPERAL POR Staphylococcus aureus EM BOVINO


ASSOCIADO À ABSCESSOS DISSEMINADOS – RELATO DE CASO
(Puerperal metritis by Staphylococcus aureus in cattle associated with
disseminated abscesses – Case report)

Natália dos S. C. Oliveira, Rafael Carneiro Costa, Camila Costa Abreu,Débora


Ribeiro Orlando,Lívian Otávio Lecca, Mary Suzan Varaschin

Universidade Federal de Lavras, Departamento de Medicina Veterinária, Setor de Patologia Veterinária


natalia_sco@hotmail.com

RESUMO: O presente trabalho relata a ocorrência de um caso de metrite puerperal por


Staphylococcus aureus, levando a quadro septicêmico e acometimento de vários
órgãos, como sistema nervoso central, trato gastrointestinal, baço, rins, pulmões e
musculatura esquelética de todo o corpo. Apesar do S. aureus não ser um agente
comum na ocorrência de metrite, este não pode ser descartado como um potencial
causador dessa enfermidade.
Palavras-chave: infecção bacteriana; septicemia
ABSTRACT: This paper reports the occurrence of a case of puerperal metritis caused
by Staphylococcus aureus, leading to septicemic framework and involvement of various
organs such as the central nervous system, gastrointestinal tract, spleen, kidneys, lungs
and skeletal muscles throughout the body. Although S. aureus is not a common agent in
the occurrence of metritis, this cannot be ruled out as a potential cause of this disease.
Keys words: bacterial infection; septicemy
INTRODUÇÃO
O gênero Staphylococcus compreende diversas espécies e subespécies de bactérias,
que se encontram amplamente distribuídas na natureza, sendo principalmente isolados
na pele e membranas mucosas de aves e mamíferos (KLOOS & BANNERMAN, 1999).
Em bovinos o Staplylococcus aureus destaca-se como microrganismo causador de
mastites contagiosas de maior importância e
ocorrência nos rebanhos mundiais. Além disto pode estar associado também a
diversas outras infecções que vão desde lesões superficiais à septicemias fatais
(CHARLIER et al., 2009). S. aureus faz parte das bactérias patogênicas oportunistas
que podem ser isoladas da microbiota vaginal de bovinos sadios e pode ser isolada do
útero de vacas sadias até 14 dias pós parto, porém não causando complicações (Otero
et al., 2006). A complicação dos casos de metrite se devem principalmente a fatores
relacionados como a retenção de placenta (Sandals et al., 1979) e a virulência das
cepas bacterianas (TAKEUCHI et al., 2001). O objetivo de nosso trabalho é relatar a
ocorrência de um caso de metrite puerperal em um bovino associado à infecção por
Staphylococcus aureus.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada a necropsia de uma vaca mestiça, recém-parida, com 4 anos de idade. O
proprietário relatou que a mesma foi comprada de outra propriedade já prenha, e
eutanasiada 1 semana após o parto; foram coletados amostras de todos os órgãos em
formol à 10% e processado para exame histológico de rotina. As lâminas foram
coradas pela técnica de hematoxilina e eosina e Gram. Amostras de vários órgãos
foram coletadas para exame bacteriológico.
RESULTADOS Na propriedade, o animal encontrava-se em decúbito lateral, com
ataxia, opstótomo e alheio ao ambiente. Foi eutanasiado com injeção intravenosa de
thiopental, seguido de solução saturada de sulfato de magnésio. Na necropsia foram
encontrados múltiplos abscessos com cerca de 1,5 a 2 cm de diâmetro espalhados
profundamente por toda a musculatura esquelética, serosas de órgãos abdominais,
rins, baço, fígado e pulmão. O útero apresentava exsudato purulento,acastanhado e
fétido em meio a restos placentários. Após fixação do encéfalo por 24 horas em
124
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 042, 2013

formalina tamponada foram encontrados múltiplos abscessos no cerebelo, córtex e


tronco encefálico.
A microscopia evidenciou inflamação abscedativa com necrose e infiltrado de
neutrófilos em serosas e mucosas do estômago e intestinos, rins e baço sempre
associados à colônias bacterianas de cocos gram positivos. No útero, foi encontrado
uma pan-metrite purulenta com necrose multifocal com grande quantidade de
colônia bacteriana gram positivas. A cultura bacteriológica foi positiva para
Staphylococcus aureus, sensível aos seguintes antibióticos testados: Amoxacilina,
Amoxacilina/Clavulanato, Ceftiofur, Cloranfenicol, Enrofloxacina, Estreptomicina,
Norfloxacina, Oxacilina, Oxitetraciclina, Penicilina,Sulfametoxazol, Tilosina.
DISCUSSÃO
Bactérias do gênero Staphylococcus são normalmente encontradas no sistema
reprodutor feminino de 10 a 14 dias após o parto em 90% de vacas sadias, geralmente
não causando complicações clínicas (Wiliams, et al., 2005). Entretanto, nosso caso
demonstra um distúrbio fatal causado por Staphylococcus aureus. O complexo metrite
surge em 54,8% dos casos de retenção de placenta, pois ela sozinha não causa
maiores complicações para a reprodução, sendo assim, o principal fator agravante do
quadro a contaminação (Sandals et al., 1979). O tratamento é mais difícil devido à
elevada resistência aos antimicrobianos, porém, nesse caso, foi comprovada
sensibilidade a vários antibióticos testados na cultura bacteriana. Em um estudo
necrophorum e secreção purulenta foi relacionado com Arcanobacterium pyogenes e
Proteusspecies sp., enquanto um odor fétido foi associado com um maior carga de
Arcanobacterium pyogenes, Escherichia coli, Streptococcus sp., e Mannheimia
haemolytica. No nosso estudo, a descarga muco-purulenta, a secreção purulenta e o
odor fétido estavam relacionados à infecção por a Staphylococcus aureus.
Conclusão
Nesse caso, pode-se concluir que a metrite, pode ser causada por Staphylocuccus
aureus, sendo também porta de entrada para infecções de acordo com o estado de
saúde do animal. Tais infecções podem ser sistêmicas, causando abscessos na
maioria dos órgãos, como vimos nesse relato de caso ou causando somente mestrite
e/ou mastite.
Agradecimentos: À FAPEMIG pelo auxílio financeiro e bolsa de iniciação científica
e à Capes pela bolsa de mestrado
Referências
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of Persistent Infections. Science., v.284, p. 1318-1322, 1999.
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suas implicações em saúde pública. Ciência Rural., v.34, n.4, p.1315-1320, 2004.
KLOOS, W.E.; BANNERMAN, T. L. Staphylococcus and Micrococcus In: MURRAY, P. R.; BARON, E.J.;
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D.C.: ASM Press, p. 264, 1999.
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prevent metritis in cattle. Lett. Appl. Microbiol. v. 43, p. 91–97 2006.
SANDALS, W.C.; CURTIS, R.A.; COTE, J.F.; MARTIN, S.W.; The effect of retained placenta and metritis
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Williams, E.J.; Fischer, D.P.; England, G.C.W.; Dobson, H.; Pfeiffer, D.U.; Sheldon, I.M.; Clinical
evaluation of postpartum vaginal mucus reflects uterine bacterial infection and the inflammatory response
to endometritis in cattle. Theriogenology v.63, p.102–17, 2005.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 043, 2013

043. MICROFTALMIA BILATERAL EM UM POTRO - RELATO DE CASO


(Bilateral microphthalmia in a foal - case report)

Letícia Batelli de Oliveira¹, Cláudio Henrique Gonçalves Barbosa¹, Lorena Ferreira


Silva¹, Sarah Raphaela Torquato Seidel², Antônio Raphael Teixeira Neto², Janildo
Ludolf Reis Júnior¹

1. Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF.


2. Hospital Veterinário de Grandes Animais (HVet), Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF.

RESUMO: Microftalmia caracteriza-se por globo ocular menor em órbita de tamanho


normal. Ocorre em várias espécies, pode ser uni ou bilateral e a etiologia não é
conhecida. O potro do presente relato apresentava globos oculares pequenos, os
cristalinos ocupavam grande parte das câmaras posterior e vítrea. A íris estava
hipoplásica e o corpo ciliar proliferado, formando papilas irregulares e estruturas
císticas. Havia descolamento de retina e glóbulos de Morgagni no cristalino. Este
trabalho descreve os achados anatomopatológicos de um potro com microftalmia.
Palavras-chave: anomalia; cegueira; globo ocular
ABSTRACT: Microphthalmia is characterized by small eyeball size within a normal size
orbit. It is described in many species and can be unilateral or bilateral. Its etiology is not
completely known. The foal of this report showed small eyeballs. The lens occupied
most of the posterior and vitreous chamber. The iris was hypoplastic and the ciliary
body was proliferated with papilllar projections and large irregular cystic structures.
There was retinal detachment and Morgagni globules in the lens. This report describes
the anatomic pathology findings from a foal with microphthalmia.
Keywords: anomaly; blindness; eyeball
INTRODUÇÃO
A microftalmia é uma alteração do desenvolvimento que resulta em diminuição e
desorganização do globo ocular que está disposto em uma órbita de tamanho
aparentemente normal (Witcock e Njaa, 2013). Pode surgir no início da formação do
globo ocular devido a evolução anormal do mesmo, ou mais tarde, durante seu
desenvolvimento, em decorrência da incapacidade de estabelecer uma pressão
intraocular (Dubielzig et al., 2010). Sua etiologia não está bem esclarecida, mas
acredita-se que a maioria dos casos não seja decorrente a alteração primária, mas sim
de uma involução após uma lesão exógena, como trauma, lesão isquêmica e infecção
in útero (Dubielzig et al., 2010; Witcock e Njaa, 2013). A microftalmia acomete várias
espécies e, em equinos, não há predileção por uma raça. Essa anomalia pode ser
unilateral ou, mais comumente, bilateral, sendo esta não necessariamente simétrica
(Dubielzig et al., 2010).
Macroscopicamente, observa-se uma pequena massa irregular e pigmentada no meio
de uma grande quantidade de gordura e músculos no interior da órbita, sendo que
estruturas como a córnea ou o nervo óptico são, no geral, reconhecíveis (Witcock,
2007; Witcock e Njaa, 2013). As pálpebras, os músculos extraoculares, a glândula
lacrimal e a órbita são formados independentemente do globo ocular, portanto, não são
afetados neste tipo de anomalia (Witcock e Njaa, 2013). Entretanto, em alguns casos
os músculos extraoculares podem ser vestigiais (Witcock, 2007).
Na microscopia, as alterações visualizadas vão depender do estágio de evolução do
globo ocular. Quando pouco desenvolvidos, frequentemente são vistos na região do
limbo uma diferenciação epitelial e/ou de folículo piloso (dermóide), pode haver
ausência do cristalino (afacia) ou diminição do tamanho do mesmo (microfacia),
câmara anterior diminuída com ausência da membrana de Descemet e epitélio iridal e
ciliar podem estar presentes, porém desorganizados ou císticos. Também pode ser
observado proliferação de tecido bem diferenciado que não condiz com a histologia
normal do olho, como epitélio estratificado escamoso, que pode ser cístico, tecido
126
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 043, 2013

glandular e cartilaginoso (Dubielzig et al., 2010). Quando o globo ocular alcançou um


estágio de desenvolvimento razoavelmente avançado e depois entrou em regressão
geralmente as reminiscências são os processos ciliares pigmentados, diferenciação da
retina e um resquício da lente (Witcock, 2007; Witcock e Njaa, 2013).
O presente trabalho tem como objetivo descrever os achados anatomopatológicos de
um potro com cegueira e microftalmia bilateral.
MATERIAL E MÉTODOS
Um potro, sem raça definida, macho, de 2 meses de idade foi atendido no Hospital
Veterinário (HVet) da Universidade de Brasília (UnB) com histórico de cegueira e andar
em círculos. Devido ao prognóstico desfavorável o animal foi eutanasiado e
encaminhado ao Laboratório de Patologia Veterinária (LPV) da UnB para necropsia. Os
globos oculares foram acondicionados em solução de Davidson por 48 horas e
processados rotineiramente para histopatologia (hematoxilina e eosina).
RESULTADOS
Macroscopicamente, os globos oculares apresentavam-se visivelmente pequenos (2,5
cm de diâmetro), não preenchiam toda a órbita ocular e estavam circundados por
grande quantidade de tecido adiposo. As córneas estavam opacas, enegrecidas com
uma área circular central esbranquiçada de 0,5 cm de diâmetro. Ao corte, os cristalinos
ocupavam grande parte das câmaras posterior e vítrea. Microscopicamente, as
câmaras anterior, posterior e vítrea estão severamente reduzidas de tamanho. A íris
está moderadamente diminuída (hipoplasia) e o corpo ciliar apresenta-se
acentuadamente proliferado, formando papilas irregulares e grandes estruturas
císticas. A retina apresentava displasia e descolamento, sendo este caracterizado por
hipertrofia do epitélio pigmentado da retina (células em forma de lápide). Na parte
anterior e, principalmente, na posterior do cristalino as fibras estão desorganizadas e
agregadas em massas esféricas com material eosinofílico e amorfo (glóbulos de
Morgagni). O epitélio anterior da córnea está levemente proliferado e irregular.
DISCUSSÂO
Os achados de microftalmia observados neste relato são semelhantes aos já descritos
na literatura (Garner e Griffiths, 1969; Dziezyc et al., 1983; Schutte e Van Den Ingh,
1997). Microftalmia pode ser causada por uso de gliseofulvina ou sulfadimetoxina
durante a gestação (Dziezyc et al., 1983; Schutte e Van Den Ingh, 1997) ou por
infecção intrauterina (Witcock e Njaa, 2013). No presente caso não há histórico de
administração de fármacos ou se houve alguma doença infecciosa na égua durante a
gestação ou em outros animais do rebanho. Entretanto exames mais aprofundados
para agentes infecciosos devem ser realizados na égua ou no rebanho para que esta
hipótese possa ou não ser descartada. É importante saber reconhecer microftalmia,
pois esta lesão sinaliza a necessidade de investigação do envolvimento de possíveis
agentes infecciosos ou da aplicação de medidas para corrigir falhas de manejo de
fêmeas em gestação.
CONCLUSÃO
O diagnóstico de microftalmia bilateral deste potro foi baseado nos achados macro e
microscópicos. A microftalmia pode levar a alterações morfológicas importantes em
várias estruturas do globo ocular e, desta forma, precisa ser melhor reconhecida na
prática de diagnóstico anatomopatológico.

127
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 043, 2013

REFERÊNCIAS
DUBIELZIG, R.R.; KETRING, K.L.; MCLELLAN G.J.; ALBERT, D.M. Congenital, developmental, or
hereditary abnormalities in animals. In:___. Veterinary Ocular Pathology: A Comparative Review.
1.ed. London: Saunders Elsevier, 2010, Cap.3, p.50.
DZIEZYC, J.; KERN, T.J.; WOLF, E.D. Microphthalmia in a foal. Equine Veterinary Journal, v.15, n.2,
p.15–17, 1983.
GARNER, A.; GRIFFITHS, P. Bilateral congenital ocular defects in a foal. British Journal of
Ophthalmology, v.53, n.8, p.513-517, 1969.
SCHUTTE, J.G.; VAN DEN INGH, T.S.G.A.M. Microphthalmia, brachygnathia superior, and
palatocheiloschisis in a foal associated with griseofulvin administration to the mare during early
pregnancy. Veterinary Quarterly, v.19, n.2, p.58-60, 1997.
WITCOCK, B.P. Eye and ear. In: JUBB K.V.E.; KENNEDY P.C.; PALMER N.C. Pathology of Domestic
Animals. 5.ed. Philadelphia: M.G. Maxie, 2007, Vol.1, Cap.4, p.462.
WITCOCK, B.P.; NJAA B.L. Orelha e olhos. In: MCGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia
em Veterinária. 5.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013, Cap.20, p.1216.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 044, 2013

044. MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQUINA POR Sarcocystis neurona


(Equine protozoal encephalomyelitis by Sarcocystis neurona)

Amanda Moreira Cézar Junqueira¹, Gabriela Fredo¹, Marcele Bettim Bandinelli¹,


Caroline Argenta Pescador² , Luciana Sonne¹

1Setor de Patologia Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
2Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade Federal do Mato Grosso
lusonne@yahoo.com.br

RESUMO: A Mieloencefalite protozoária equina (MEP) é uma doença que acomete


equinos, causando sinais neurológicos. Um equino, macho, sem raça definida com
histórico de dificuldade locomotora foi encaminhado para exame de necropsia ao SPV
da UFRGS. Além de exame histopatológico foi realizada imuno-histoquímica para
Sarcocystis neurona, confirmando a suspeita de MEP. O objetivo do trabalho é relatar
um caso de Mieloencefalite protozoária equina utilizando método diagnóstico a imuno-
histoquímica.
Palavras-chave: equino, mieloencefalite protozoária equina, Sarcocystis neurona
ABSTRACT: The Equine protozoal myeloencephalitis (MEP) is a disease that affects
horses, causing neurological symptoms. A male mongrel horse, with history of
incoordination was sent for necropsy examination to the SPV of UFRGS. Besides
histopathology was performed immunohistochemistry for Sarcocystis neurona,
confirming the suspicion MEP. The objective is to report a case of equine protozoal
Mieloencefalite diagnostic method using immunohistochemistry.
Key words: Equine protozoal myeloencephalitis, Equine, Sarcocystis neurona
INTRODUÇÃO
A Mieloencefalite equina por protozoário (MEP) é uma doença neurológica, não
contagiosa e endêmica nas Américas, causada por Sarcocystis neurona (Saville, 2006),
protozoário que tem que como hospedeiros definitivos os gambás (Didelphis virginiana
e Didelphis albiventris). Estes eliminam o agente causador em suas fezes e urina,
infectando a água e alimentos dos equinos, tornando-se assim hospedeiros acidentais
(Barros, 2003).
Os sinais clínicos mais frequentes são ataxia, incoordenação motora, fraqueza
muscular, espasticidade, paralisia do nervo facial, disfagia e balançar compulsivo da
cabeça (Thomassian, 2005).
O diagnóstico definitivo é realizado mediante a identificação do parasita no sistema
nervoso central por visualização direta em histopatologia ou por meio de exames
específicos, como imuno-histoquímica e PCR (Paixão et al., 2007). Como diagnóstico
diferencial incluem-se outras patologia neurológicas, como, mielite por herpesvírus,
polineurite equina, raiva e leucoencefalomalacia (Barros, 2003), além de doenças
osteomusculares. Na histopatologia do SNC, as lesões observadas compreendem
tráfego leucocítico com ativação parasitária focal e replicação, intensa inflamação,
edema e intensa destruição tecidual afetando as substâncias cinzenta e branca
(Barros, 2003).
O objetivo do presente trabalho foi descrever os achados clínico-patológicos e imuno-
histoquímicos de um caso natural de encefalomielite protozoária equina por Sarcocystis
neurona.
MATERIAL E MÉTODOS
Um equino, macho, SRD com histórico de dificuldade locomotora, ataxia e decúbito
lateral, com evolução progressiva e sem melhora após tratamento terapêutico; foi
encaminhado após óbito, para exame de necropsia ao SPV da UFRGS. Durante a
necropsia, foram colhidas amostras de tecidos e órgãos, fixadas em formalina
tamponada a 10%, processadas rotineiramente para exame histológico e corados pela
técnica Hematoxilina-Eosina (HE).
129
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 044, 2013

Os segmentos de medula espinhal e encéfalo foram submetidos à técnica de IHQ para


identificação de Sarcocystis neurona (DAKO 1:500), anti-raiva (DAKO 1:1000) e anti-
herpes vírus tipo 1 (1:250), pelo método estreptavidina-biotina-peroxidase. Para a
recuperação antigênica utilizou-se tripsina e após tampão citrato pH 6 por três minutos
a 125ºC (S. neurona), e calor com tampão citrato por 40 minutos a 96ºC (anti-raiva) em
panela de pressão DakoCytomation. Na IHQ de anti-BHV 1 utilizou-se recuperação
antigênica em tampão citrato pH 6 por 2 minutos em potencia máxima no micro-ondas.
As lâminas foram incubadas com o anticorpo primário em câmara úmida overnigth a
4°C e, posteriormente, utilizou-se anticorpo secundário biotinalado conjugado a
estreptavidina (kit HRP-LSAB, Dako). Nos testes de imuno-histoquímica para
Sarcocystis neurona e BHV-1 utilizou-se para a revelação o cromógeno DAB (Dako).
Na IHQ anti-Raiva as lâminas foram incubadas com o anticorpo primário em câmara
úmida overnigth a 4°C e, posteriormente, utilizou-se anticorpo secundário biotinalado
conjugado a estreptavidina (kit HRP-LSAB, Dako) e a revelação com Permanent Red
(Dako) e como contracoloração Hematoxilina de Harris. Para todos os testes foram
utilizados controles positivos.
RESULTADOS
Durante a necropsia, à inspeção do canal medular havia pequena área focal dorsal de
hemorragia na região cervical. Ao corte observou-se nos segmentos medulares
torácicos e lombares, áreas avermelhadas na substância cinzenta. Ao exame
histológico, havia manguito perivascular e edema perivascular discreto no encéfalo
(córtex, tálamo, pedúnculo cerebelar), além de infiltrado multifocal discreto de linfócitos
no óbex. Na medula espinhal (segmentos torácico, lombar e sacral) observou-se
manguitos perivasculares com infiltrado de linfócitos, raros neutrófilos, histiócitos,
células Mott e células gigantes multinucleadas na substância cinzenta e branca,
havendo também necrose, hemorragia moderada na substância cinzenta, além de
esferoides axonais e edema perivascular na substância branca. Ainda, raras estruturas
parasitárias arredondadas, medindo cerca de 50 μm compatíveis com Sarcocystis
neurona no corte histológico de segmento medular torácico (T5).
Na avaliação imuno-histoquímica, houve marcação positiva para Sarcocystis neurona,
e marcação negativa nos testes de IHQ anti-raiva e anti-herpesvírus tipo 1.
DISCUSSÃO
O histórico apresentado pelo equino é frequentemente relatado em casos semelhantes,
onde o animal apresenta incoordenação motora, paresia e decúbito lateral (Paixão,
2007).
O diagnóstico de Encefalomielite protozoária equina foi baseado nos achados clínicos,
macroscópicos, microscópicos e IHQ. Alguns autores ainda citam que o diagnóstico
etiológico não é realizado, e devido ao fato da doença possuir sinais clínicos variáveis
diretamente ligados ao local do sistema nervoso onde ocorre a lesão (Paixão, 2007).
Os achados de necropsia não revelaram alterações significativas, concordando com
Zanatto (2006), que em seu estudo concluiu que as lesões nestes casos podem ser
ausentes ou discretas, sendo observadas apenas áreas de hemorragia no SNC.
As lesões microscópicas do relato condizem com as alterações observadas por Barros
(2003), aonde sua localização prevalece na medula e tronco encefálico. Em relação ao
tipo de lesão presente, há áreas de malacia, hemorragia e infiltrado inflamatório não
supurativo. No presente caso somente no segmento de medula torácica (T5) foi
possível visualizar o parasita, corroborando com Zanatto (2006) ao afirmar que
parasitas não são comumente visto em cortes histológicos.
Os diagnósticos diferenciais foram realizados através da diferenciação histológica em
coloração de Hematoxilina-Eosina(HE) e pela técnica de IHQ.
CONCLUSÕES
O presente trabalho relata um caso de mieloencefalite protozoária em um equino
causando sinais locomotores graves. A imuno-histoquímica mostrou-se como uma
130
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 044, 2013

importante ferramenta para visualização do agente etiológico, além de distinguir este


tipo de lesão de outras patologias que afetam o Sistema Nervoso em equinos.
REFERÊNCIAS
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Animais. Manole. 3 ed., p. 908-913, 2006.
PAIXÃO, T.A.; REGOLI, I.O.P.; SANTOS, R.L. Imunomarcação de Sarcocystis neurona associada com
um caso de Mieloencefalite protozoária equina no Brasil. Ciência Rural, S anta Maria, v.37, n.6,nov-dez.
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BARROS, C.S.L. Meningoencefalite equina parasitária. In: Riet-Correa et al. Doenças de Ruminantes e
Equinos. 1. Ed. Pelotas (Reimpressão): Ed. Varela, V2, 2003, 570 p.
DUBEY, J.P. Recente developments in the biology of Sarcocystis neurona and equine protozoal
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ZANATTO, R.M.; OLIVEIRA FILHO, J.P.; FILADELPHO, A.L. Mieloencefalite Protozoária Equina. Revista
Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Garça, ano III, n. 06, jan.2006.

131
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 045, 2013

045. MORFOLOGIA DO TECIDO LAMINAR DO CASCO DE CAVALOS COM


CÓLICA
(Morphological hoof laminae tissue in horses with colic)

Renato Silva de Sousa - renatosousavet@yahoo.com.br (UFPR), Luciane Maria Laskoski (UFPR), Carlos
Augusto Araújo Valadão (UNESP), Rosangela Locatelli (UFPR)

RESUMO: Foram utilizadas amostras de tecido laminar do casco de 25 cavalos para a


avaliação da morfologia laminar, divididos em quatro grupos: Grupo controle (Gc),
contendo sete cavalos hígidos; Grupo enterotomia experimental (Ge), contendo cinco
equinos submetidos a enterotomia jejunal; Grupo obstrução experimental (Go),
contendo oito cavalos submetidos a obstrução jejunal; Grupo cólica natural (Gn),
contendo cinco cinco cavalos que morreram com síndrome cólica natural. Obteve-se
alterações mais severas nos cavalos dos grupos Go e Gn. A avaliação histopatológica
do tecido laminar do casco é de fácil execução e alterações neste tecido estão
associadas ao desenvolvimento de laminite, a qual ocorre secundariamente a doenças
de envolvimento sistêmico. Sugere-se que a avaliação rotineira deste tecido em
cavalos que vierem à óbito por cólica pode contribuir para a estimativa do
comprometimento orgânico presente antes do óbito do paciente.
Palavras-chave: afecções gastrintestinais; histopatologia; tecido laminar do casco
ABSTRACT: Twenty five samples of hoof laminar tissue of horses were evaluated
histopalogically. The animals were divided in four groups: Control group (Gc), with
seven healthy horses; Experimental enterotomy group (Ge), with five horses submitted
to jejunal enterotomy; Experimental obstruction group (Go), with eight horses submitted
to jejunal obstruction; natural colic group (Gn), with five horses that died after natural
colic disease. The horses belonging to groups Go and Gn showed the most severe
changes. Histopathologic evaluation of hoof laminar tissue is easy to perform and
changes in this tissue are associated to laminitis development, which occur after
diseases with systemic involvement. We suggest that routine evaluation of this tissue in
horses that died of colic can contribute for estimate organic impairment presented
before death.
Key words: gastrintestinal disease; histopathology; hoof laminar tissue
INTRODUÇÃO
A laminite é uma grave afecção podal que acomete equinos, cujo aparecimento
comumento ocorre após doenças que cursam com sepse, principalmente aquelas do
trato gastrintestinal (Eades et al., 2002). A fisiopatogenia da laminite está relacionada à
degradação da membrana basal, a qual faz a união das lâminas
dérmicas e epidérmicas, responsáveis pela fixação da falange distal ao casco (French
e Pollitt, 2004)
A histopatologia do tecido laminar é realizada por pesquisadores que têm como
objetivo obter informações a respeito da fisiopatogenia da laminite, mas não é feita
como rotina em exames necroscópicos. Assim, existem classificações, com base na
morfologia do tecido laminar do casco, para identificar graus variados de lesão, que
podem estar associados aos sinais clínicos da doença podal (Pollitt, 1996; Laskoski et
al. 2009).
Considerando as alterações do tecido laminar do casco em cavalos que morrem com
síndrome cólica como secundárias a um quadro inflamatório sistêmico, o objetivo deste
trabalho foi caracterizar a morfologia do tecido laminar do casco em equinos
relacionados ao agravamento sistêmico ocasionado por complicações gastrintestinais.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas amostras de tecido laminar do casco de 25 cavalos, divididos nos
seguintes grupos: Grupo controle (Gc), contendo sete cavalos hígidos, obtidos de
abatidos em abatedouro comercial de equinos1; Grupo cólica natural (Gn), contendo

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 045, 2013

cinco equinos com síndrome cólica de origem natural, de causas diversas, que vieram
à óbito; Grupo enterotomia experimental (Ge), contendo cinco cavalos submetidos a
enterotomia experimental do jejuno e sacrificados após 18 horas do procedimento2;
Grupo obstrução experimental (Go), contendo oito cavalos submetidos a obstrução
experimental do jejuno pela distensão de balão de gás por quatro horas, e sacrificados
após 18 horas do procedimento2.
A coleta das amostras de tecido laminar do casco foi realizada após a desarticulação
metacarpo-falangeana dos membros torácicos nos grupos Ge e Go e também dos
pélvicos no Gn. Após a secção sagital do casco, removeu-se o tecido na porção média
da pinça do casco (Pollitt, 1996), sendo posteriormente fixado em formaldeído a 10%
tamponado por 48 horas e emblocado em parafina, com a superfície de corte mantendo
as interdigitações das lâminas dérmicas e epidérmicas do tecido laminar. As amostras
foram cortadas a 5μm de espessura e coradas pela hematoxilina e eosina (HE), para
visualização das alterações morfológicas do tecido laminar. A técnica de coloração por
ácido periódico de Schiff (PAS) foi utilizada para verificar a integridade da membrana
basal.
A avaliação das alterações morfológicas do casco foi realizada por meio da utilização
dos escores de alterações (Tabela 1).

Os resultados foram avaliados pelo método de Kruskal-Wallis e com o teste de


comparações múltiplas para verificar diferenças entre grupos, considerando p<0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os grupos, com exceção do grupo controle apresentaram alterações do tecido
laminar do casco acima do escore 1. Todas as alterações descritas na tabela de
escores foram observadas nestes animais, pois no grupo cólica natural três cavalos
apresentaram escore 3. As medianas e comparações entre grupos estão apresentadas
na tabela 2.

A anatomopatologia do casco afetado pela laminite está pautada nas alterações


morfológicas características da laminite; sendo macroscopicamente visualizadas pela
deformação do casco e rotação da falange distal na fase crônica e, microscopicamente,
pelas mudanças morfológicas do tecido laminar, sendo que estas últimas podem
ocorrer em qualquer fase da laminite. A classificação utilizada atualmente considera,
principalmente, as alterações presentes nas células basais (CB), o formato da lâmina
epidérmica secundária (LES) e a presença da membrana basal (MB) (Pollitt, 1996,
Croser e Pollitt, 2006).

133
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 045, 2013

Sugere-se que o aumento de alterações morfológicas observadas nos animais que


foram submetidos à obstrução jejunal experimental e nos animais com síndrome cólica
natural seja devido à resposta inflamatória sistêmica, provavelmente despertada pela
presença de bactérias na circulação sanguínea (Reddy et al., 2006). Nos casos de
injúria intestinal, com isquemia-reperfusão sanguínea (Eades et al., 2002; Bianco-
Blatlles et al., 2008), ocorre liberação contínua de endotoxinas e ativação inflamatória
sustentada (Benjamin, 2001). Três cavalos do grupo cólica natural apresentaram
escore 3 e caso sobrevivessem desenvolveriam a sintomatologia clínica da laminite.
Segundo Pollitt (1996), alterações morfológicas com escore superior a 1 podem estar
associadas à sintomatologia clínica de laminite. Sabe-se que 25% dos cavalos com
síndrome cólica sobreviventes (Cohen et al., 1994) desenvolvem a doença podal. Mas
os resultados demonstram que as alterações ocorrem também em menor intensidade,
não resultando, provavelmente, em sintomatologia clínica, mas que refletem o
acometimento sistêmico gerado pela afecção gastrintestinal.
A coleta do tecido laminar é de fácil execução, e a avaliação deve ser feita com base
nos escores pré-estabelecidos e utilizados atualmente. Neste estudo, foram coletados
apenas os membros torácicos nos grupos Ge e Go. No entanto, indica-se sempre a
avaliação dos quatro membros do equino, considerando que a laminite pode ocorrer
em qualquer casco, e também o achado observado neste estudo em um cavalo com
cólica natural, que apresentou alterações morfológicas de escore 3 somente nos
membros pélvicos.
CONCLUSÃO
Equinos com síndrome cólica têm alterações morfológicas laminares com gravidades
relacionadas ao grau de lesão gastrintestinal. A avaliação morfológica do tecido laminar
do casco pode contribuir para estimar o grau de acometimento sistêmico resultante da
lesão gastrintestinal. Sugere-se a sua realização rotineira nos casos de abdômen
agudo em cavalos.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, C. F. Atualização sobre mediadores e modelos experimentais de sepse. Medicina, Ribeirão
Preto, v. 34, p. 18-26, 2001.
BIANCO-BLATLLES, M. D.; SOSUNOV, A.; POLIN, R. A.; et al. Systemic inflammation following hind-
limb ischemia- ieperfusion affects brain in neonatal mice. Developmental Neuroscience, v.30, n.6, p.367-
373, 2008.
COHEN, N. D.; PARSON, E. M.; SEAHORN, T. L.; et al. Prevalence and factors associated with
development of laminitis in horses with duodenitis/proximal jejunitis: 33 cases. Journal of the American
Veterinary Medical Association, v.204, p.250-254, 1994.
CROSER, E. L.; POLLITT, C. C. Acute laminitis: descriptive evaluation of serial hoof biopsies. American
Association of Equine Pratitioners, 2006. Disponível em
<http://www.ivis.org/proceedings/aaep/2006/croser/chapter.asp?LA=1> Acesso em: 29/07/2013.
EADES, S. C.; HOLM, A. M. S.; MOORE, R. M. A Review of the pathophysiology and treatment of acute
laminitis: phatophysiologic and therapeutic implications of endothelin 1. American Association of Equine
Pratitioners Proceedings, v. 48, p. 353-361, 2002.
FRENCH, R. K.; POLLITT, C. Equine laminitis: loss of hemidesmosomes in hoof secondary epidermal
lamellae correlates to dose in an oligofructose induction model: a ultrastructural study. Equine Veterinary
Journal, v. 36, n. 3, p. 230-236, 2004.
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POLLITT, C. C. Basement membrane pathology: a feature of acute equine laminitis. Equine Veterinary
Journal, v. 28, n. 1, p. 38-46, 1996.
POLLITT, C. C.; DARADKA, M. Equine laminitis basement membrane pathology: loss of type IV collagen,
type VII collagen and laminin immunostaining. Equine Veterinary Journal, suppl 26, p. 139-144, 1998.
REDDY, B. S.; GATT, M.; SOWDI, R.; MaCFIE, J. Surgical manipulation of the large intestine increases
bacterial translocation in patients undergoing elective colorectal surgery. Colorectal Disease, v. 8, p. 596-
600, 2006.

134
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 046, 2013

046. NECROSE HEPÁTICA AGUDA NA INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL POR


Senna obtusifolia EM BOVINOS
(Acute hepatic necrosis in experimental intoxication by Senna
obtusifolia in cattle)
Everson dos Santos Damasceno¹, Flávio Luiz Kerber¹, Diego Montagner Schenkel¹,
Silvio César Soares Torres Junior¹, Kassia Renostro Ducatti¹, Fernando Henrique
Furlan²
1 Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso – campus Sinop.
2 Laboratório de Patologia Animal – Universidade Federal de Mato Grosso. fhfurlan@gmail.com
RESUMO: Um surto de uma doença caracterizada por necrose muscular aguda
ocorreu em bovinos no estado de Mato Grosso. Os bovinos eram mantidos em
pastagem infestada por Senna obtusifolia. Um dos bovinos afetados, além da necrose
muscular, apresentou também necrose hepática aguda. Para reprodução de necrose
hepática aguda e necrose muscular, dois bovinos foram alimentados com S. obtusifolia
nas doses de 30 g/kg/Peso Vivo (PV) por 5 e 7 dias. Os bovinos apresentaram fezes
pastosas, letargia, fraqueza muscular, permanência em decúbito e foram, então,
eutanasiados. Os dois bovinos apresentaram necrose muscular e apenas um
apresentou necrose hepática aguda. Aspectos relacionados à intoxicação espontânea
e experimental por S. ocidentalis e S. obtusifolia em bovinos e outras espécies foram
discutidos.
Palavras-chave: doenças de bovinos, necrose muscular, plantas tóxicas
ABSTRACT: An outbreak of a disease characterized by acute muscle necrosis
occurred in cattle in the state of Mato Grosso. The cattle were kept on pasture infested
Senna obtusifolia. One of the affected cattle, and muscle necrosis, acute hepatic
necrosis also presented. For playback of acute hepatic necrosis and muscle necrosis,
two cattle were fed S. obtusifolia at doses of 30 g / kg / Live Weight (LW) for 5 to 7
days. The cattle have loose stools, lethargy, muscle weakness, recumbence and were
then euthanized. The two animals showed muscle necrosis and only one had acute
hepatic necrosis. Aspects related to the spontaneous and experimental S. ocidentalis
and S. obtusifolia in bovine and other species were discussed.
Keys-word: diseases of bovine, muscular necrosis, poisonous plants
INTRODUÇÃO
Um surto de uma doença caracterizada por necrose muscular aguda ocorreu em
bovinos no estado de Mato Grosso. Os bovinos eram mantidos em pastagem infestada
por Senna obtusifolia. Um dos bovinos afetados, além da necrose muscular,
apresentou também necrose hepática aguda. S. obtusifolia é uma planta daninha de
que está distribuída por todo território nacional e causa necrose muscular aguda em
bovinos, quando ingerida espontaneamente (Froehlich, 2010, Oliveira et al., 2011,
Queiroz et al. 2012) e pode, experimentalmente, causar necrose hepática aguda
(Froehlich, 2010). Em um estudo realizado com folhas e vagens verdes de S.
obtusifolia colhidas em Mato grosso e fornecidas a 2 bovinos nas doses de 15 g/kg/PV
por 4 e 6 dias não reproduziu necrose hepática aguda (Zanatta et al, 2012) como
observado por Floehlich et al. (2010). O objetivo deste estudo foi reproduzir necrose
muscular e hepática aguda em bovinos através da administração de folhas e vagens
verdes de S. obtusifolia.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a reprodução experimental da doença foram utilizados dois bovinos, jersey,
machos, pesando 100 e 120 Kg (Bovinos 1 e 2 respectivamente), oriundos de
propriedade em que não havia a planta. Esses animais foram alimentados com folhas,
vagens e caules verdes de S. obtusifolia nas doses de 30 g/kg/Peso Vivo (PV) por 5 e 7
dias, respectivamente, com plantas da mesma propriedade utilizada onde foram
realizadas as coletas de Zanatta et al. (2012). Adicionalmente os bovinos tinham
acesso à água e Brachiaria brizantha à vontade. Ao final do período experimental os

135
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 046, 2013

bovinos foram eutanasiados. Os animais foram necropsiados e coletaram-se amostras


de órgãos e grupos musculares que foram fixadas em formalina 10% e preparadas
rotineiramente para confecção de lâminas histológicas. Cortes de cinco micrometros
foram corados por hematoxilina e eosina e observados em microscópio óptico.
RESULTADOS
Os animais experimentalmente intoxicados apresentaram clinicamente quadros de
fezes pastosas, letargia, fraqueza muscular e permanência em decúbito. O Bovino 1
começou a apresentar os sinais clínicos a partir do 2° dia após o início da ingestão da
planta e foi eutanasiado ―in extremis” no quinto dia. O Bovino 2 apresentou os sintomas
a partir do 3° dia de ingestão da planta e foi eutanasiado ―in extremis” no 7° dia.
Na necropsia, o Bovino 1 apresentou fígado com padrão lobular evidente na superfície
capsular e de corte e não foram observadas, macroscopicamente, lesões musculares.
O Bovino 2 apresentava áreas de coloração esbranquiçada nos músculos posteriores.
Histologicamente pode se observar em vários grupos musculares dos dois bovinos
áreas de necrose segmentar de fibras musculares associadas a infiltrado macrófagos
que era difuso e acentuado no bovino 1 e discreto no Bovino 2. As lesões musculares
eram mais acentuadas nos grupos musculares do membro posterior. Adicionalmente,
no fígado do Bovino 1 havia necrose massiva de hepatócitos associada a hemorragia.
DISCUSSÃO
No Brasil, duas espécies do gênero Senna causam intoxicação em Bovinos: Senna
ocidentalis e Senna obtusifolia (Froehlich, 2010; Tokarnia et al., 2012). Apesar da
doença espontânea causada por essas duas plantas serem iguais, em bovinos, na
intoxicação experimental, nesta espécie, apenas S. obtusifolia é capaz de causar
necrose hepática aguda (NHA) (Floehlich et al., 2010), como observado neste estudo.
Senna ocidentalis causou NHA apenas em equinos (Tokarnia et al., 2012). Para
produzir necrose hepática aguda em bovinos, Froehlich (2010) forneceu 10g/kg/PV por
5 dias de vagens e folhas verdes (VFV) da planta coletadas em Santa Catarina. Com
VFV de S. obtusifolia coletadas em Mato Grosso, fornecidas nas doses de 15 g/kg/PV,
Zanatta et al (2012) não produziu necrose hepática aguda em bovinos. A lesão só foi
reproduzida, com plantas coletadas em Mato Grosso, quando utilizou-se a dose de 30
g/kg/PV por 5 dias (Bovino 1), embora, o Bovino 2, que recebeu a mesma dose, porém
por 7 dias, não tenha adoecido. Essas variações podem ser devido a diferença na
toxicidade de S. obtusifolia de uma região para outra, bem como por variação na
susceptibilidade de cada animal à intoxicação. No Bovino 1 não foram observadas
lesões macroscópicas musculares, porém, microscopicamente, estas puderam ser
evidenciadas. Em muitos casos de intoxicação por Senna spp as lesões não podem ser
observadas macroscopicamente, embora, microscopicamente elas estejam presentes
(Tokarnia et al., 2012).
CONCLUSÃO
Senna obtusifolia causa necrose muscular e hepática em bovinos quando fornecida na
dose de 30g/kg/PV por 5 dias. Existe diferença na susceptibilidade à intoxicação por
esta planta em animais da mesma espécie.
REFERENCIAS
FLOELICH, D.L. Intoxicação espontânea e experimental por folhas e vagens da planta Senna obtusifolia
em bovinos. 2010. 38f. Dissertação (mestrado em Ciência Animal) – Departamento de clínica e
Patologia, Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2010.
OLIVEIRA L.P., SILVA M.I.V., CRUZ R.A.S. et al. Intoxicação natural por Senna obtusifolia em bovinos
no estado de Mato Grosso. Anais do XV ENAPAVE, Goiânia. 2011.
QUEIROZ, G.R.; RIBEIRO, R.C.L.; ROMÃO, F.T.N.M.A. et al. Intoxicação espontânea de bovinos por
Senna obtusifolia no Estado do Paraná. REVISTA PESQUISA VETERINARIA BRASILEIRA. Edição
32(12). p.1263-1271. Dezembro 2012.
TOKARNIA, C. H.; BRITO, M. F.; BARBOSA, J, D. et al.Plantas Tóxicas do Brasil. Rio de Janeiro.
Editora Helianthus, 2012. p. 295-304.
ZANATTA, C., DAMASCENO, E.S, CAVALCANTE, M.K.M. et al. Intoxicação espontânea e experimental
por Senna obtusifolia em bovinos em Mato Grosso. ANAIS DO VII ENDIVET. Porto Alegre. 2012. p.128.
136
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 047, 2013

047. NEOPLASIAS DE ADRENAL EM BOVINOS ABATIDOS EM FRIGORÍFICO EM


MATO GROSSO: 25 CASOS
(Neoplasms of adrenal in cattle in cattle: 25 cases)

Regina Tose Kemper¹, Mayda Karine Mendes Cavalcante¹, Everson dos Santos
Damasceno¹, Juliana Aparecida de Souza Pachemshy²,Crhistian Pachemshy²,
Fernando Henrique Furlan Gouvêa³

1 Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso – campus Sinop.


2 Médico Veterinário do MAPA ( Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento).
3 Laboratório de Patologia Animal – Universidade Federal de Mato Grosso. fhfurlan@gmail.com

RESUMO: As neoplasias de adrenal podem se originar da região cortical ou medular.


Embora alguns desses neoplasmas sejam relativamente comuns em animais, existem
poucos estudos sobre a frequência dessas neoplasias em bovinos no Brasil. Este
estudo teve por objetivo verificar a frequência de neoplasias de adrenais em bovinos
abatidos em frigorífico no município de Sinop, MT bem como caracterizá-las
microscopicamente. De um total de 186405 bovinos abatidos, 98 possuiam neoplasias,
das quais 25 localizavam-se nas adrenais. Histologicamente as 25 neoplasias foram
classificadas como feocromocitomas. Aspectos relacionados aos aspectos
epidemiológicos e histopatológicos dos feocromocitomas em bovinos foram discutidos.
Palavras chave: benigno; feocromocitoma; frigorífico; maligno
ABSTRACT: The adrenal neoplasms may originate from the cortical or medullary
region of the adrena gland. While some of these neoplasms are relatively common in
animals, there are few studies on the frequency of these neoplasms in cattle in Brazil.
This study aimed to determine the frequency of adrenal neoplasms in cattle abattoir in
the city of Sinop, MT and characterize them microscopically. Of a total of 186,405 cattle
slaughtered, 98 of them possessed neoplasms, of which 25 were located in the adrenal.
Histologically all of them were classified as pheochromocytomas. Aspects related to the
epidemiologic and pathologic features of pheochromocytomas in cattle were discussed.
Key words: benign; fheochromocytoma; malignant; slaughterhouse
INTRODUÇÃO
As neoplasias de adrenal podem se originar da região cortical (adenoma e carcinoma)
ou medular (feocromocitoma, neuroblastoma e ganglioneuroma) (Capen, 2002).
Embora alguns esses neoplasmas sejam relativamente comuns em animais (Wright e
Conner, 1968, Dukes et al. 1982), existem poucos estudos sobre a frequência dessas
neoplasias em bovinos no Brasil.Este estudo tem por objetivo verificar a frequência de
neoplasias de adrenais em bovinos abatidos em frigorífico no município de Sinop, MT
bem como caracterizá-las microscopicamente.
MATERIAIS E METÓDOS
No período entre julho de 2011 e junho de 2012, em um frigorífico com inspeção
federal de Sinop-MT foram obtidas 98 amostras macroscopicamente compatíveis com
neoplasia, em uma população de 186.405 bovinos abatidos. As amostras foram fixadas
em formalina 10% e processados rotineiramente para confecção de laminas
histológicas. Cortes de 5 micrometros foram corados por hematoxilina e eosina e
observados em microscópio óptico. A caracterização de feocromocitomas em benigno
e maligno baseou-se nas observações de Linnoila et al. (1990).
RESULTADOS
Vinte e cinco amostras foram classificadas como neoplasias, todas originadas da
região medular. Deste total 8 foram classificadas como feocromocitoma maligno e 17
como feocromocitoma benigno. A prevalência de feocromocitoma na população
estudada foi de 0,013% e a distribuição entre sexo e idade ocorreu como segue: 1
macho com mais de 48 meses, 22 fêmeas com mais de 48 meses e em dois animais
não foi possível avaliar a idade.
137
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 047, 2013

Os feocromocitomas considerados benignos constituíam-se de uma massa composta


por células neoplásicas em arranjo alveolar ou trabecular separados por estroma
fibrovascular delicado. Em alguma áreas haviam capilares distendidos e repletos de
hemácias que davam à região um aspecto cavernoso. Algumas vezes a massa
neoplásica comprimia e invadia a região cortical muitas vezes substituindo-a. As
células que formavam a neoplasia eram alongadas a cubóides, com citoplasma
levemente eosinofílico e finamente granular, sem distinção de bordos celulares. Muitas
vezes observava-se, no citoplasma, gotas hialina únicas ou múltiplas. Os núcleos eram
arredondados a ovalados com cromatina moderadamente condensada e núcleolos
pouco evidentes. Externamente se observa uma cápsula de tecido fibroso espessa.
Poucas figuras mitóticas eram observadas. Adicionalmente, em 4 amostras, observou-
se tireoidização caracterizada por formações semelhantes à ácinos que apresentavam
material fortemente hialino na luz. Essas formações eram predominantes em duas das
amostras. Em uma outra amostra prodominavam áreas multifocais a coalescentes de
calcificação e formação de células gigantes que ás vezes possuíam cristais de cálcio
em seu interior.
Nas amostras classificadas como feocromocitoma maligno além das características
descritas acima, havia ainda células neoplásicas que podiam ser vistas invadindo a
cápsula e o interior dos vasos linfáticos. Áreas focalmente extensas ou multifocais a
coalescentes de necrose eram vistas frequentemente, às vezes acompanhada de
hemorragia.
DISCUSSÃO
Feocromocitoma foi o único tipo de neoplasia de adrenal verificada. Embora o
feocromocitoma seja uma neoplasia bastante frequente em bovinos, em outros estudos
houve também grande número de neoplasias adrenocorticais (Wright e Conner, 1968,
Dukes et al. 1982). Essa discrepância pode estar relacionada ao tipo de raça bovina
predominante no estudo, bem como aos diferentes meios onde esses animais viviam.
A classificação morfológica do feocromocitomas como maligno e benigno é bastante
dificultosa (Linnoila et al. 1990) e não existem estudos específicos em medicina
veterinária. Neste estudo, essa classificação baseou-se principalmente na invasão de
tecidos adjascentes, vasos, presença de áreas de necrose e ausência de gotas hialinas
no citoplasma. A neoplasia foi considerada maligna quando possuía duas ou mais
dessas características. A pesagem das amostras não foi realizada, como preconizada
por (Linnoila et al. 1990) devido a dificuldade de realiza-la na linha de abate.
Os aspectos histológicos observados na maioria dos feocromocitomas descritos neste
estudo se assemelham aos descritos na literatura veterinária (Capen, 2002) e humana
(Linnoila et al.,1990). Neste estudo, em 4 amostras, foram observadas áreas de
tireoidização assim como descrito em feocromocitomas em humanos (Linnoila et al.
1990). Esse aspecto não é descrito na literatura veterinária para esta neoplasia (Wright
e Conner, 1968; Capen, 2002).
CONCLUSÃO
Feocromocitoma é encontrado com frequência em animais abatidos com idade acima
de 48 meses em frigoríficos no Brasil. Existem variações desta neoplasia que ainda
não são descritas em animais.
REFERÊNCIAS
CAPEN, C.C. Tumors of the endocrine glands. In: MEUTEN, D.J. Tumors in domestic animals. 5. ed.
Iowa: Blackwell Publishing, 2002, Cap. 13, p.607-696.
DUKES ,T.W.; BUNDZA, A.; CORNER, A.H. Bovine Neoplasms Encountered in Canadian
Slaughterhouses: A Summary. The Canadian Veterinary Journal, vol. 23, p. 28-30,1982.
LINNOILA, R.I; KEISER, H.R.; STEINBERG, S.M; LACK, E.E.Histopathology of Benign Versus Malignant
Sympathoadrenal Paragangliomas: Clinicopathologic Study of 120 Cases Including Unusual Histologic
Features. Human pathology, v. 21, n°1, p.1168-1180, 1990.
WRIGHT, B.J.; CONNER, G.H. Adrenal neoplasms in slaughtered cattle. Cancer Research, vol. 28,
p.251-263, 1968.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 048, 2013

048. NEOPLASIAS HEPATOBILIARES EM BOVINOS: 11 CASOS


(Histological description of hepatobiliary neoplasms in cattle)

Thays Couto Barbosa¹, Mayda Karine Mendes Cavalcante¹, Everson dos Santos
Damasceno¹, Juliana Aparecida de Souza Pachemshy¹, Crhistian Pachemshy²,
Fernando Henrique Furlan Gouvêa³

1 Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso – campus Sinop.


2 MAPA
3 Laboratório de Patologia Animal – Universidade Federal de Mato Grosso. fhfurlan@gmail.com

RESUMO: As neoplasias hepatobiliares podem afetar uma diversidade de animais


domésticos, inclusive os bovinos. Noventa e oito amostras macroscopicamente
compatíveis com neoplasia foram avaliadas histologicamente de uma população de
186.405 bovinos abatidos em frigorífico. Sessenta e três amostras foram classificadas
como neoplasia e destas 11 caracterizavam neoplasias hepatobiliares. Aspectos
epidemiológicos sobre as neoplasias diagnosticadas foram discutidos.
Palavras chave: adenoma hepatocelular; carcinoma hepatocelular; colangiocarcinoma;
macroscópico
ABSTRACT: Hepatobiliary neoplasms can affect a variety of domestic animals,
including cattle. Ninety-eight samples macroscopically compatible with neoplasia were
evaluated histologically a population of 186,405 cattle slaughtered in a slaughterhouse.
Sixty-three samples were classified as cancer and hepatobiliary malignancies
characterized these 11. Epidemiological aspects of neoplasms diagnosed were
discussed.
Key words: adenoma hepatocellular; carcinoma hepatocellular; cholangiocarcinoma;
macroscopic
INTRODUÇÃO
Neoplasias primárias no sistema hepatobiliar podem surgir tanto de elementos epiteliais
incluindo hepatocitos e epitelio biliar como elementos mesenquimatosos como tecido
conjuntivo, Anderson e Sandison (1968); Bettini e Marcato (1992). Embora elas
ocorram com certa frequência em bovinos abatidos na europa, Anderson e Sandison
(1968) são escassos os dados em abatedouros nacionais. Este estudo tem por objetivo
verificar a frequência de neoplasias hepatobiliares em bovinos abatidos em frigorífico
no município de Sinop, MT bem como caracterizá-las microscopicamente.
MATERIAIS E METÓDOS
No período entre julho de 2011 e junho de 2012, em um frigorífico com inspeção
federal de Sinop-MT foram obtidas 98 amostras macroscopicamente compatíveis com
neoplasia, em uma população de 186.405 bovinos abatidos. As amostras foram fixadas
em formalina 10% e enviadas ao Laboratório de Patologia Animal UFMT-Sinop.
Fragmentos das amostras foram processados rotineiramente para confecção de
laminas histológicas e cortes de 5 micrometros foram corados por hematoxilina e
eosina e observados em microscópio óptico.
RESULTADOS
Sessenta e três amostars foram classificadas como neoplasias. Deste total, 11 foram
classificadas como neoplasias hepatobiliares como segue: um adenoma hepatocelular,
nove carcinomas hepatocelular e um colangiocarcinoma. A prevalência de neoplasias
hepatobiliares na população estimada foi 0,00006% (60 neoplasias para cada
1.000.000 de bovinos abatidos) e todas ocorreram em fêmeas com idade acima de 48
meses.
Nas amostras de neoplasia hepatocelular observou-se células em arranjo acinar (9
carcinomas hepatocelular tipo adenoide) ou trabecular (1 adenoma hepatocelular tipo
trabecular) separados por estroma de tecido fibrovascular delicado. Os núcleos se se
apresentavam arredondados a ovalados e com núcleolos proeminentes. Externamente
139
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 048, 2013

havia uma cápsula de conjuntivo fibroso que as vezes se estendiam-se para o interior
do parênquima neoplásico e nas adjacências da neoplasia a cápsula comprimia os
hepatócitos que nessas áreas eram vacuolizados e diminuídos de tamanho. Nas
neoplasias malignas havia ainda ácinos dilatados com material eosinofilico e hemácias
na luz. Os núcleos exibiam marcada anisocariose e muitas vezes apresentavam
nucléolos duplos. Áreas extensas de necrose e hemorragia às vezes eram observadas.
No caso de colangiocarcinoma observou-se no fígado uma massa neoplásica em
formações tubulares separadas por tecido conjuntivo fibroso de expessura variável. Os
túbulos possuiam entre 1 e 2 fileiras de células cúbicas com pequena quantidade de
citoplasma levemente eosinofílico e sem delimitação citoplasmática. Na luz dos túbulos
havia quantidade variada de material mucinoso. Os núcleos eram arredondados a
ovalados com a cromatina dispersa e nucléolo único e evidente.
DISCUSSÃO
Neste estudo verificou-se uma prevalência duas vezes maior de neoplasias
hepatobiliares em bovinos abatidos em frigorífico quando comparado a dados
europeus, Anderson e Sandison, (1968). Isso pode ser reflexo da diferença entre
ambientes e clima onde os animais são criados ou da susceptibilidade de cada raça.
Verificou-se ainda que a idade foi uma determinante, uma vez que todas as neoplasias
ocorreram em fêmeas de descarte com idade acima de 48 meses, e dentre 11
neoplasias diagnosticadas, 10 tinham característica maligna. Animais mais velhos
apresentam maior predisposição para neoplasias, bem como para a malignidade
destas, Ramos et al., (2008). Quanto ao sexo, acredita-se que as fêmeas foram as
mais acometidas por serem em sua maioria matrizes de descarte, que possuem idade
elevada quando comparadas aos animais destinados a atividade de corte.
A arquitetura histológica das neoplasias hepatobiliares descritas neste estudo são
semelhantes ás descritas na literatura, Anderson e Sandison (1968), Bettini e Marcato
(1992), Cullen e Popp (2002). A neoplasia mais frequentemente diagnosticada foi o
carcinoma hepatocelular. Entre as neoplasias hepáticas o carcinoma hepatocelular e o
colangiocarcinoma são as neoplasias mais observadas, Anderson e Sandison (1968),
Bettini e Marcato (1992). Os carcinomas hepatocelulares podem ser divididos em 3
tipos: Sólido, trabecular e adenoide, Cullen e Popp (2002). Neste estudo a única
variante observada nos casos de carcinoma hepatocelular foi o tipo adenóide. Num
outro estudo, com bovinos abatidos em frigorífico, Bettini e Marcato (1992) encontraram
maior frequência do tipo trabecular.
CONCLUSÃO
Neoplasias hepatobiliares são frequentes em bovinos abatidos em frigorífico e dentre
elas a mais frequente é o carcinoma hepatoceular tipo adenoide. Animais com idade
acima de 48 meses tem maiores chances de desenvolver este tipo de neoplasia.
REFERÊNCIAS
ANDERSON, L.J.; A.T. SANDISON. Tumors of the liver in cattle, sheep and pigs. Cancer, v. 21, n.2 p.
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animais de produção. CIÊNCIA RURAL, v.38, n.1, p.148-1.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 049, 2013

049. Neospora caninum NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL DE CAPRINOS


MACHOS JOVENS E ADULTOS
(Neospora caninum in the central nervous sistem of adult and young male goats)
Rafael Carneiro Costa, Natália S. C. Oliveira, Camila Costa Abreu, Karen Y. R.
Nakagaki, Lismara Castro Nascimento, Mary Suzan Varaschin.
Universidade Federal de Lavras, Departamento de Medicina Veterinária, Setor de Patologia Veterinária
rafaelccosta3@gmail.com
RESUMO: O presente trabalho descreve resultados parciais de um estudo sobre a
ocorrência de lesões, resposta imunológica e locais de latência de Neospora caninum
em machos, uma vez que,são raros os trabalhos descrevendo a ação deste parasito
nos mesmos. Até o presente momento cistos parasitários foram visualizados somente
no sistema nervoso central, associados ou não a lesões, de gliose sugerindo ser um
importante local de latência deste parasito em machos.
Palavras chave: cistos teciduais; imunoistoquímica; pcr; protozoário
ABSTRACT : This paper describes partial results of a study on the occurrence of injury,
immunologic response and sites of latency of Neospora caninum in male goats, since,
there are few studies describing the action of this parasite in males. To date parasitic
cysts were seen only in the central nervous system, associated or not with gliosis,
suggesting a major site of latency of this parasite in males.
keywords: immunohistochemistry; pcr; protozoan; tissue cysts
INTRODUÇÂO
Neospora caninum é um parasita intracelular conhecido por ser o principal causador de
abortos em gado leiteiro e de corte em todo o mundo. Os fetos que sofreram aborto por
N. caninum apresentam lesões de infiltrado inflamatório mononuclear em vários órgãos,
entretanto as lesões mais significantes se encontram no sistema nervoso (Varaschin et
al., 2012). Os relatos de encefalite geralmente incluem lesões como múltiplos focos de
necrose acompanhada de gliose geralmente adjacentes a capilares com endotélio
reativo e manguitos perivasculares de células mononucleares e focos de necrose
circundados por gliose (Barr et al., 1990, Varaschin et al., 2012). Lesões semelhantes,
mas não tão acentuadas que as encontradas nos fetos foram relatadas em uma vaca
adulta (Sawada 2000). Até então não há descrições em caprinos adultos e em machos
pouco se sabe sobre o comportamento e lesões causadas por este parasito. O objetivo
do presente trabalho é de descrever lesões encontradas no sistema nervoso central de
caprinos machos jovens e adultos positivos para Neospora caninum, representando
resultados parciais de um projeto de pesquisa em andamento no Setor de Patologia
Veterinária da Universidade Federal de Lavras (UFLA), sobre o comportamento e
resposta imunológica deste parasito em caprinos machos.
MATERIAL E MÉTODOS
Os animais são provenientes de estudos anteriores realizados na UFLA (Mesquita et
al., 2013) e constituem de dois caprinos machos jovens com idade de 6 meses e três
caprinos adultos com um ano (numerados respectivamente de 1 a 5). Os dois primeiros
jovens (1 e 2) eram animais que mesmo sobre cuidados intensivos não se
desenvolveram bem e vieram à óbito ambos com quadros de eimeriose aguda. Os
animais restantes (3 a 5) foram eutanasiados sob anestesia profunda com thiopental
seguida de injeção intravenosa de solução de sulfato de magnésio saturada. À
necropsia foram coletados tecidos em formalina tamponada à 10% para exame
histopatológico e imunoistoquímico, fixados por 48h e processados rotineiramente. A
imunohistoquímica foi realizada em cortes abrangendo todas as regiões do sistema
nervoso central, seguindo protocolo descrito por Varaschin et al., 2012. Amostras
congeladas de todos os órgãos, músculos, e sistema nervoso central foram coletadas
para PCR, objetivando identificação da presença do DNA de N. caninum. A técnica de
PCR foi realizada conforme protocolo de Santos et al (2011). Para o presente estudo
foram utilizados primers específicos (forward CTGTTAGAAGGTGCGGCGAA e reverse

141
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 049, 2013

TCTCTTGCTGCGGTGGAAAT) tendo como base o cromossomo XII de Neospora


caninum amplificando uma região de 168 pares de bases e com comprovada não
reatividade com outros protozoários (Toxoplasma gondii, Sarcocystis spp.), usando a
ferramenta BLAST do banco de dados do NCBI.
RESULTADOS
À necropsia os caprinos 1 e 2 apresentavam apenas nodulações esbranquiçadas na
mucosa do intestino delgado. Os outros animais não apresentavam lesões
macroscópicas. Somente o animal 3 (Jovem adulto) apresentou alterações
neurológicas ao nascimento, que consistiam de paresia moderada dos membros
posteriores, com dificuldade de manter-se erguido por estes, tais sinais desapareceram
com uma semana de idade e o animal desenvolveu-se normalmente até os 12 meses.
No exame histopatológico os animais 1 e 2 apresentavam lesões típicas de eimeriose.
No animal dois foi encontrado um cisto de parede espessa contendo bradizoítos porém
sem reação aparente no SNC. O animal três apresentava lesões de manguitos
perivasculares, por todo o SNC, com infiltrado acentuado de linfócitos e também lesões
de gliose em córtex, tálamo, e óbex, às vezes associada à presença de células
gigantes. Os animais 4 e 5 apresentavam as mesmas alterações do animal 3, porém
foram identificados cistos teciduais de parede espessa no óbex do animal 4 e em várias
regiões de córtex, ponte, colículo rostral, tálamo e medulas cervical, torácica e lombar
do animal 5. A imunohistoquímica para N. caninum foi positiva, demonstrando
imunomarcação forte nos cistos apresentados pelos animais 2, 4 e 5. A PCR até o
momento foi realizada em fragmentos de córtex frontal tálamo e cerebelo dos animais
1,2 e 3, sendo positiva no córtex dos animais 1 e 2 e no tálamo do animal 3.
DISCUSSÃO
As lesões encontradas no sistema nervoso central dos caprinos deste estudo são
compatíveis com as lesões encontradas em fetos abortados (Barr et al., 1990,
Varaschin et al., 2012). Em consonância com o trabalho de Sawada (2000) as lesões
de manguitos perivarsculares e gliose estão presentes em animais adultos e neste
caso também em animais ainda jovens. Sawada (2000) também não conseguiu
demonstrar a presença do parasita em cortes histológicos e imunoistoquímica, porém,
em seu caso, o parasita foi isolado por inoculação em camundongos imunossuprimidos
demonstrando a importância do uso de métodos complementares, em nosso estudo
suprido pela PCR. A quantidade e extensão das lesões parecem não ser tão
determinantes da morte fetal pois estas estavam muitas vezes bem acentuadas nos
animais 3 e 5 do presente trabalho.
CONCLUSÃO
O presente trabalho nos mostra a importância de novos estudos quanto à patogenia do
Neospora caninum em machos caprinos, a fim de caracterizar os eventos patológicos e
imunológicos que culminarão com a morte fetal ou sucesso da gestação.
AGRADECIMENTOS: À FAPEMIG pelo auxílio financeiro e bolsa de iniciação científica
e à Capes pela bolsa de mestrado.
REFERÊNCIAS
Barr BC, Anderson ML, Blanchard PC. et al. (1990) Bovine fetal encephalitis and Myocarditis associated
with protozoal infections. Veterinary pathology, v. 27, p. 354-361.
Dubey JP, Schares G (2011) Neosporosis in animals-The last five years. Vet. Parasito.,v.180, p.90 -108.
Mesquita LP, Nogueira CI, Costa RC et al. (2013) Antibody Kinetics in goats and conceptuses naturally
infected with Neospora caninum. Veterinary Parasitology
SANTOS, D.S.; ANDRADE, M.P.; VARASCHIN, M.S. et al. Neospora caninum in bovine fetuses of Minas
Gerais, Brazil: genetic characteristics of Rdna. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.20,
n.4, p.281-288, 2011.
Sawada M, Kondo H, Tomioka Y, Park CH, Morita T, Shimada A, Umemura T (2000) Isolation of
Neospora caninum from the brain of a naturally infected cow. Veterinary Parasitology, v.90, p 247-252.
Varaschin MS, Hirsch C, Wouters F, Nakagaki KY, Guimarães AM, Santos DS, Bezerra PS Jr, Costa RC,
Peconick AP, Langohr IM (2012) Congenital neosporosis in goats from the state of Minas Gerais, Brazil.
The Korean J. of Parasitology, v. 50, n. 1, p. 63-67.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 050, 2013

050. OCORRÊNCIA DO PARASITISMO POR OESTRUS OVIS (DIPTERA:


OSTRIDAE) EM OVINOS DA MICRORREGIÃO DE UMUARAMA-PR, BRASIL
(Occurrence of Oestrus ovis parasitism (Diptera: ostridae) in sheep from the
microregion Umuarama-PR, Brazil)

Rafael Silveira Carvalho, Renato Augusto Paiola, Leonardo Cortarelli, Valdomiro


Pereira, Welber Daniel Zanetti Lopes, Barbara Cristina Mazzucatto

Departamento de Med Veterinária, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Campus Umuarama

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo de relatar a ocorrência do


parasitismo por Oestrus ovis de ovinos provenientes de propriedades rurais da
microrregião de Umuarama-PR, necropsiádos durante período de janeiro de 2007 a
junho de 2013. Dos 66 cadáveres analisados, 18,18% encontraram-se positivas para o
referido parasita. O parasitismo médio dos animais foi de duas larvas por animal,
resultados estes moderados, em comparação a outros estudos conduzidos em
diferentes regiões do Brasil.
Palavras-chave: bicho da cabeça; oestrose; Paraná
ABSTRACT: This study aimed to report the occurrence of parasitism by Oestrus ovis in
sheep from farms of the region of Umuarama-PR, autopsied during the period from
January 2007 to June 2013. Of the 66 carcasses examined, 18.18% were found
positive for this parasite. The mean parasitism of sheep was two larvae per animal,
these level of infection are moderate, compared to other studies conducted in different
regions of Brazil.
Keywords: silkworm head; oestrose; Paraná
INTRODUÇÃO
Oestrus ovis L. (Diptera: Oestridae) é um parasita cosmopolita causador de míiase
cavitária e suas larvas são parasitas obrigatórios da cavidade nasal e seios paranasais
principalmente de ovinos e em menor proporção de caprinos (Zumpt, 1965). A oestrose
ou ―bicho da cabeça‖, como a enfermidade é comumente conhecida, afeta o bem estar
e o desempenho produtivo dos animais parasitados, resultando em significativas
perdas econômicas (Alcaide et al., 2003).
Apesar de este parasita provocar danos aos animais, poucos estudos sobre sua
ocorrência em rebanhos ovinos no Brasil estão disponíveis na literatura. Deste modo, o
presente trabalho teve como objetivo, descrever a ocorrência do parasitismo por O.
ovis em ovinos provenientes de propriedades rurais do município de Umuarama/PR,
necrópsiados na Universidade Estadual de Maringá, de janeiro de 2007 a junho de
2013.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado no Departamento de Patologia Animal, da Faculdade
de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Maringá, Campus de Umuarama
(23° 45‘ 51‖ S, 53° 19‘ 6‖ O; altitude de 430 m), localizado na região noroeste do estado
do Paraná.
Durante o período de janeiro de 2007 a junho de 2013, foram avaliados 66 cadáveres
de ovinos, provenientes da microrregião de Umuarama-PR, para a prática de necropsia
a fim de se diagnosticar a ―causa mortis” de cada animal. Como procedimento padrão,
durante a necropsia, a cabeça de todos os ovinos foram abertas, com auxílio de uma
serra elétrica, e inspecionadas quanto à presença de larvas (L1 a L3) de O. ovis. A
quantidade de larvas por animal parasitado, o local em que estas se encontravam nos
ovinos, foram anotadas e posteriormente preservadas em formol a 10%, e identificadas
seguindo os critérios descritos por Zumpt (1965) e Guimarães e Papavero (1999).

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 050, 2013

RESULTADOS
Durante os anos de 2007 a junho de 2013, foram necropsiados, junto ao departamento
de patologia da Universidade Estadual de Maringá-Campus de Umuarama, um total de
66 ovinos. Dentre estes, 12 animais (18,18%) encontravam-se infectados por larvas (L1
a L3) de O. ovis. O parasitismo médio dos animais foi de duas larvas por animal. Estas
foram localizadas ou no seio nasal ou no seio frontal dos ovinos. Em apenas um
animal, que estava parasitado por sete larvas no seio frontal, foi possível visualizar
corrimento nasal mucopurulento e epistaxe durante a necropsia. Nos demais ovinos
positivos para o referido parasita, não foram encontradas quaisquer alterações
macroscópicas dignas de nota.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de parasitismo por Oestrus ovis no presente estudo, foi confirmado com
base na presença do parasito no seio nasal e/ou frontal dos ovinos durante a
necropsia, sendo que 18,18% dos animais encontravam-se parasitados por larvas do
parasita supracitado. No Brasil, apesar da crescente observação de animais com sinais
clínicos de oestrose, há poucos estudos epidemiológicos sobre esta enfermidade
(Ribeiro et al., 1990; Ramos et al., 2006). Em Bagé – RS, das 144 cabeças de ovinos
examinadas durante o período de um ano, 85,4% estavam parasitadas e 1639 larvas
foram recuperadas, sendo que destas 68,6% eram L1, 12,3% L2 e 18,9% L3 (Ribeiro et
al., 1990). Em Encruzilhada do Sul, a prevalência foi de 100% em animais abatidos
com sinais clínicos de oestrose, com intensidade média de infestação de 23,8
larvas/animal e a prevalência de L1, L2 e L3 foi respectivamente de 78,9%, 14,5% e
6,6% (Oliveira et al., 1999). Já em estudo realizado em Santa Catarina, quando as
temperaturas médias foram inferiores a 9,8 ºC, não foram constatadas larvas de O. ovis
nos animais (Ramos et al., 2006). Um recente trabalho realizado por Schenkel et al.
(2012), relata a presença deste parasita no estado do Mato Grosso, sendo
diagnosticado em três propriedades rurais.
Apesar da ostreose poder desencadear sinais clínicos nos animais parasitados, a
mortalidade de nenhum dos ovinos foi desencadeada pelo O. ovis. A causa mortis dos
12 animais positivos para O. ovis foram outras, como o elevado parasitismo por
helmintos gastrintestinais, ou mesmo ainda, pneumonia. De acordo com Ribeiro (2007),
apesar de um determinado rebanho poder apresentar elevada prevalência de
parasitismo por este parasita, a mortalidade é rara, sendo que esta geralmente ocorre
por fatores secundários.
As lesões causadas por O. ovis são de modo geral brandas, como diagnosticado neste
estudo (corrimento nasal mucopurulento). O epistaxe observado em um dos ovinos,
provavelmente se deve em resposta ao estímulo do movimento da larva na cavidade e
não ao fato de as larvas alimentarem-se do muco secretado e de tecido da mucosa.
Ângulo-Valadez et al. (2011) ressaltam, ainda, que as larvas, aderem-se à mucosa
utilizando ganchos orais e, principalmente ocasionam reação de hipersensibilidade
desencadeada por moléculas secretadas/excretadas por estas, das quais os antígenos
salivares são os mais importantes frente ao sistema imune do hospedeiro.
CONCLUSÕES
Apesar do parasitismo por Oestrus ovis ter sido relatada pela primeira vez na região
estudada, a prevalência (18,18%) e a intensidade média de parasitismo por animal
desta enfermidade em ovinos pode ser considerada moderada (duas larvas/ovino), em
comparação a outros estudos conduzidos em diferentes regiões do Brasil.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 050, 2013

REFERÊNCIAS
Alcaide, M.; Reina, D.; Sánchez, J.; Frontera, E.; Navarrete, I. 2003. Seasonal variations in the larval
burden distribution of Oestrus ovis in sheep in the southwest of Spain. Vet. Parasitol. 118, 235-241.
Angulo-Valadez, C.E.; Ascencio, F.; Jacquiet, P.; Dorchies, P.; Cepeda-Palacios, R. 2011. Sheep and
goat immune responses to nose bot infestation: a review. Med. Vet. Entomol. 25, 117-125.
Guimarães J.H.; Papavero N. 1999. Myiasis in man and animals in the Neotropical Region. Bibliographic
database. Editora Plêiade/Fapesp, São Paulo. 308p.
Ribeiro P.B. 2007. Miíases, p.551-564. In: Riet-Correa F., Schild A.L., Lemos R.A.A. Borges J.R.J. (Eds),
Doenças dos Ruminantes e Eqüinos. 3ª ed. Palloti, Santa Maria.
Oliveira, C.M.B.; Oliveira, L.O.; Torres, J.R., 1999. Oestrus ovis larvae distribution in the head of naturally
infested sheep. Arq. Fac. Vet. UFRGS 27, 87-92.
Ramos, C.I.; Bellato, V.; Souza, A.P.; Avila, V.S.; Coutinho, G.C.; Dalagnol, C.A. 2006. Epidemiologia de
Oestrus ovis (Diptera: Oestridae) em ovinos no Planalto Catarinense. Ciência Rural 36, 173-178.
Ribeiro, V.L.S.; Oliveira, C.M.B.; Branco, F.P.J.A. 1990. Prevalência e variações mensais das larvas de
Oestrus ovis (Linneus, 1761) em ovinos no município de Bagé, RS, Brasil. Arquivo Brasileiro de Medicina
Veterinaria e Zootecnia 42, 211-221.
Schenkel, D.M.; Cavalvante, M.K.M.; Damasceno, E.S.; Campos, A.K.; Furlan, F.H. 2012. Surto de
Oestrus ovis em ovinos em Mato Grosso.. Pesquisa Veterinária Brasileira 32, 754-756.
Zumpt F. 1965. Myiasis in Man and Animals in the Old World. Butterworts, London. 267p.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 051, 2013

051. OSTEOMA PARANASAL EM EQUÍNO


(Paranasal osteoma horse)

Thiago Vaz Lopez¹; Sandro de Vargas Schons²; Poliana Souza²; Gisele da Silva
Glomba²; Bruno Peduzzi Rodrigues3³ e Samir Caram4

1 Universidade Federal de Pelotas/UFPel


2 Universidade Federal de Rondônia/UNIR
3 Universidade da Região da Campanha/URCAMP
4 Centro Universitário de Ji-paraná/CEULJI-ULBRA

RESUMO: Os osteomas dos seios paranasais são tumores benignos, incomuns, de


crescimento lento, encontrados frequentemente ossos da cabeça, mandíbula e seios
nasais de equinos. Este trabalho tem por objetivo relatar um caso e osteoma paranasal
oclusivo em equinos. Fragmentos do tumor foram colhidos, fixada em formalina
tamponada a 10% e posteriormente descalcificada em solução salina de EDTA a 5%,
por 48 horas. O diagnóstico da neoplasia foi realizado através dos achados
microscópicos caracterizado por formação de osso trabecular, delineado por
osteoblastos e osteoclastos bem-diferenciados.
Palavras chaves: equídeos; obstrução; tumor; sistema respiratório
ABSTRACT: The paranasal sinuses are benign, uncommon, slow-growing, often found
bones of the head, jaw and sinuses of horses. This paper aims to report a case and
paranasal osteoma occlusive in equines. Fragments of tumor were harvested, fixed in
10% buffered formalin and subsequently decalcified in EDTA saline and 5% for 48
hours. The diagnosis of tumoures was accomplished via microscopic lesions
characterized by trabecular bone formation, osteoblasts and osteoclasts delineated by
well-differentiated.
Key words: horses; obstruction; tumor; equine respiratory system
INTRODUÇÃO: Patologias que afetam a cavidade nasal e os seios paranasais são
comuns na clínica veterinária, e quando causam obstrução, necessitam de
intervenções cirúrgicas imediatas, especialmente nos casos dos equinos que respiram
obrigatoriamente pelas fossas nasais. Neoplasias na cavidade nasal e nas conchas
nasais são raras em equinos, porem quando ocorrem podem causar graves obstruções
das vias respiratórias (Robinson et al.; 1978). Estudo retrospectivo com 28 equinos
com tumores na cavidade nasal e seios paranais demonstram maior prevalência do
carcinoma espinocelular (7), seguindo dos adenocarcinoma (5), tumores de origem
óssea (5), carcinomas indiferenciados (3), adenomas (2), ameloblastoma (1), fibroma
(1) e fibrossarcoma (Dixon et al., 1999), embora, também tem sido relatados
hemangiossarcomas, linfossarcomas e mastocitomas (Boulton., 1985). Não foram
observadas correlações com sexo ou raça e a idade de maior ocorrência foi de 4 a 14
anos . Os sinais clínicos observados, independente da sua etiologia foram inchaço ou
anormalidade do osso nasal, corrimento nasal seroso a purulento unilateral, epistaxe,
dispneia (Dixon et al., 1999). O diagnóstico pode se realizado através da inspeção
visual, radiografia, endoscopia e sinocentese, entretanto o exame histopatológico é
essencial para diagnostico definitivo. Os tumores ósseos observados na cavidade nasal
e nos seios paranasais tem em muitos casos a origem incerta e prognostico reservado
após a remoção cirúrgica, especialmente por complicações do trato respiratório inferior
(Robinson et al.; 1978). Tais tumores são pouco frequentes na clínica médica de
equinos, por este motivo este trabalho tem por objetivo relatar um caso de osteoma
oclusivo localizado nos seios paranasais de um equino.
MATERIAL E MÉTODOS Um equino, sem raça definida, com idade aproximada de 12
anos foi encaminhado ao laboratório de histopatologia após ter sido atropelado em via
pública. O animal foi imediatamente necropsiado e fragmentos de vísceras colhidas e
fixadas em formalina tamponada a 10%. Após a remoção do cérebro foi realizado um
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 051, 2013

corte longitudinal com o uso de uma serra fita para visualização dos seios paranasais e
fossas nasais. Amostra do tumor removido dos seios paranasais foi fixada em formalina
tamponada a 10% e após três dias descalcificado com o uso da solução salina de
EDTA a 5% (5 g de EDTA em 100 ml de solução salina) por 48 horas. Posteriormente
desidratado, parafinizado, microtomizado em 4 micrômetros de espessura e corados
com hematoxilina e eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Na necropsia foi observado uma elevação tumoral, de
consistência dura no osso nasal, do lado esquerdo da face, com secreção purulenta
pelas fossas nasais. Na abertura da cavidade nasal e das conchas nasais foi
observada uma massa tumoral, de consistência dura, esbranquiçada, de tamanho 4 por
3 cm, inserida no meato nasal médio. Ao corte a massa tumoral apresentava aspecto
crepitante e conteúdo gelatinoso de coloração amarelada, mais acentuada nos bordos
do tumor. No centro eram observados cavidades conteúdo material amorfo, não
calcificado e uma perfuração central. Uma capsula de tecido conjuntivo denso envolvia
toda a massa neoplásica com exceção da região próxima do osso nasal, em que se
encontrava aderida. Na histologia a massa tumoral era composta por osso trabecular,
delineado por osteoblastos e osteoclastos bem-diferenciados. No interior dos espaços
intratrabecular eram observados um delicado tecido conjuntivo frouxo associado a
adipócitos e tecido hematopoiético. Através dos achados macroscópicos e histológicos
foi realizado o diagnóstico de osteoma. Os osteomas são tumores benignos, não
invasivos, de crescimento lento progressivo, mas não necessariamente continuo, que
afetam particularmente os ossos da cabeça, mandíbula e seios nasais de bovinos e
equinos (Blood., et al. 1990). A etiologia do osteoma ainda é controversa e
desconhecida, sendo as mais aceitas as teorias embriológica, traumática e a infecciosa
(Louzeiro., et al. 2002). Infecções crônicas por Streptococcus equi podem estar
envolvidos na etiologia dos osteomas, por produzirem estímulos osteogênicos
secundários ao processo infeccioso (Blood., et al. 1990). Os osteomas devem ser
diferenciados dos osteomas fibrosos, displasia fibrosa, fibroma ossificante,
osteoblastomas, tumor de células gigantes, osteosarcoma, mucoceles, meningioma
intrasinusal calcificado, hematomas ou pólipos (Noyek., et al. 1989).
CONCLUSÃO Os osteomas dos seios paranasais são tumores benignos, de
crescimento lento e ocasionalmente podem ser encontrados em equinos sem alteração
clínica e observados acidentalmente em exames radiológicos por outros motivos.
Devido às possíveis complicações decorrentes do crescimento e da localização é
indicada a remoção cirúrgica.
REFERÊNCIAS
BLOOD, D. C.; RADOSTITS, O. M. Clínica Veterinária. 7ª ed, Editora Guanabara-Koogan São Paulo,
1990, p. 1263.
BOULTON, C. H. (1985). Equine nasal cavity and paranasal sinus disease: A review of 85 cases. Journal
of Equine Veterinary Science, v.5, p. 268–75, 1985.
DIXON, P. M.; HEAD, K. W. Equine nasal and paranasal sinus tumours: Part 2: 28 case reports. The
Veterinary Journal, v.157, p. 279–294, 1999.
NOYEK, A.M.; CHAPNIK, J.S.; KIRSH, J.C. Radionuclide bone scan in frontal sinus osteoma. Autralian
and newzealand journal of surgery, v. 59, p. 127-131, 1989.
ROBINSON, N.E.; SORENSON, P.R. Pathophysiology of airway obstruction in horses: a review. Journal
of the American Veterinary Medical Association, v. 172, p. 299-302, 1978.

147
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 052, 2013

052. OSTEOSSARCOMA CONDROBLÁSTICO MANDIBULAR EM BOVINO


(Mandibular chondroblastic osteosarcoma in a bovine)

Danielle Nascimento Silva¹, Karina Medici Madureira², Soraya Santos Farias³,


Luciano Guimarães Tanajura Requião4, Nara Araújo Nascimento¹,
Tiago da Cunha Peixoto²
1 Res em Patologia Veterinária - Prog de Residência Multiprofissional em Área de Saúde, (UFBA)
2 Prof. Adjunto do Depto de Anatomia, Patologias e Clínicas Veterinárias, UFBA.
3 Médica Veterinária Autônoma, Santo Antônio de Jesus, BA.
4 Graduando em Med. Veterinária, UFBA.
tiagocpeixoto@yahoo.com.br e sanches.dnsilva@gmail.com
RESUMO: Este relato descreve um raro caso de osteossarcoma condroblástico em
touro. O diagnóstico foi estabelecido com base nos achados clinicopatológicos,
radiográficos e confirmado pelo exame histopatológico.
Palavras-chave: neoplasias; osteocondrossarcoma; patologia
ABSTRACT: This report describes an uncommon case of osteosarcoma in a bull. The
laboratory, radiographic and clinicopathological findings are described. Necropsy, gross
pathology and histological findings confirmed the mass as a mandibular chondroblastic
osteosarcoma.
Key words: neoplasms; osteocondrosarcoma; pathology
INTRODUÇÃO
O osteossarcoma é um tumor ósseo primário maligno, caracterizado pela produção de
osteóide, osso imaturo ou ambos. Apesar de ser a neoplasia mais frequente em cães e
gatos, sua ocorrência é rara em bovinos, equinos e ovinos; nestas espécies,
ocasionalmente, acomete a região da cabeça, sobretudo, a mandíbula (Thompson e
Pool, 2002). Recentemente foi descrito na Escócia um caso de osteossarcoma maxilar
em um bovino da raça Limousin (Prins et al., 2012), entretanto, na literatura consultada
osteossarcomas mandibulares em bovinos. Este trabalho tem por objetivo relatar e
descrever os aspectos clínicopatológicos de um osteossarcoma condroblástico
mandibular primário em bovino.
MATERIAL E MÉTODOS
Em dezembro de 2012, um touro, com cinco anos de idade, mestiço, criado em regime
extensivo em uma propriedade no município de Tucano, BA, apresentava grave lesão
facial crônica unilateral, cujo ―diagnóstico presuntivo‖ havia sido de fratura mandibular
(sic). Segundo o proprietário, o animal apresentava aumento de volume progressivo no
lado esquerdo da mandíbula há cerca de 10 meses, bem como sialorreia, dificuldade
na apreensão de alimentos, constante hemorragia oral pós-prandial e emagrecimento
progressivo. Fragmentos da massa foram enviados para análise histopatológica. Após
o diagnóstico histopatológico da biópsia, cujo prognóstico foi desfavorável e, devido ao
agravamento do quadro clínico, o proprietário optou pela eutanásia. Durante a
necropsia, fragmentos de diversos órgãos foram coletados, fixados em formol a 10% e
processados pela técnica rotineira para histopatologia e corados pela hematoxilina-
eosina. Além disso, após a necropsia realizou-se exame radiográfico da mandíbula.
RESULTADOS
Ao exame físico, verificaram-se leve apatia, evidente assimetria facial devido a grande
massa localizada no corpo mandibular esquerdo de consistência extremamente dura
(óssea), desidratação, enoftalmia, mucosas hipocoradas, dispnéia inspiratória,
acentuada halitose, sialorreia e diarreia (fezes amolecidas amarronzadas). O
hemograma revelou intensa anemia arregenerativa normocítica normocrômica. À
necropsia, observou-se que a proliferação neoplásica acometia grande parte do corpo
esquerdo da mandíbula, em especial, a região dos dentes pré-molares e media
24x19,5x13cm, invadia a cavidade oral, o que resultou em marcada assimetria
mandibular, exibia superfície irregular com diversos nódulos exofíticos de coloração
rósea e tamanhos variados, bem como grande área central de ulceração profunda e
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 052, 2013

perda dos três pré-molares. Adicionalmente havia grande acúmulo de alimento aderido
ao tumor, além de marcada linfadenomegalia submandibular. Ao corte, apresentava
superfície compacta, coloração esbranquiçada, consistência óssea e área central de
necrose intratumoral. O exame radiográfico revelou em terço médio e caudal do corpo
da mandíbula, lesão óssea expansiva de característica mista, lítica e proliferativa,
porém predominantemente proliferativa, de grande dimensão e contornos irregulares,
sendo evidenciada a destruição da cortical óssea ventral da mandíbula por pelo menos
20 cm de extensão. A análise histopatológica, da biópsia e dos fragmentos colhidos
durante a necropsia, evidenciou proliferação neoplásica de células mesenquimais
atípicas, fusiformes ou arredondas, com citoplasma eosinofílico, em parte pálido,
núcleos ovóides a alongados, vesiculares, intensamente pleomórficos e
moderadamente cromáticos, com nucléolos conspícuos. Em diversas áreas havia
evidente matriz osteóide e condróide, bem como focos de mineralização. Figuras de
mitose eram muito frequentes e neoplasia apresentava carácter infiltrativo, além de
áreas de ulceração associadas a intenso infiltrado
inflamatório, predominantemente, neutrofílico.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de osteossarcoma condroblástico foi estabelecido com base nos
achados clinicopatológicos, radiográficos e confirmado pelo exame histopatológico.
Este tumor é infrequente em bovinos, porém, quando ocorre provoca inchaços,
deformidades faciais e corrimento nasal (Prins et al., 2012), o que foi verificado no
presente caso. Os osteossarcomas tipicamente resultam em destruição e
neoformações ósseas, invadem os tecidos adjacentes e metastatizam com frequência
(Mauldin et al., 1988). Entretanto, no caso em questão, assim como em outros dois
casos relatados em bovinos (Plumlee et al., 1993; Prins et al., 2012) não foram
encontradas quaisquer evidências macro e microscópicas de metástases, embora o
tumor exibisse acentuado pleomorfismo e invasividade local. De fato, segundo
Serakides (2010), osteossarcomas originados do esqueleto axial apresentam baixo
índice metastático pulmonar, apesar de serem localmente invasivos e agressivos.
A classificação dos osteossarcomas pode ser feita pelo tipo celular predominante
(osteoblásticos, condroblásticos, fibroblásticos, pobremente diferenciado ou
telangectásico) (Daleck et al., 2008); pela aparência radiográfica (osteolíticos ou
osteoplásticos) (Serakides et al., 2006; Weisbrode, 2009); pela origem (centrais,
justacorticais ou periosteais) ou por sua composição (simples, compostos ou
pleomórficos) (Weisbrode, 2009).
O diagnóstico diferencial deve ser realizado, sobretudo, com actinomicose pois, nestes
casos, há formação de uma massa óssea dura, envolvendo raízes dentárias com dor à
mastigação e emagrecimento. Por outro lado, nesta doença geralmente a lesão é
fistulada e são observados típicos "grânulos de enxofre" e, a histopatologia revela
reação de Splendore-Hoeppli com bacilos gram-positivos, (McGavin e Zachary, 2009),
tais alterações não foram verificadas no caso aqui descrito.
CONCLUSÃO
Ao que tudo indica, este é o primeiro relato de osteossarcoma condroblástico
primário mandibular em bovino.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 052, 2013

REFERÊNCIAS
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MAULDIN, G.N.; MATUS, R.E.; WITHROW, S.J. et al. Canine osteosarcoma: treatment by amputation
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McGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia em Veterinária. 4.ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
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PLUMLEE, K.H.; HAYNES, J.S.; KERSTING, K.W. Osteosarcoma in a cow. Journal of the American
Veterinary Medical Association. v. 202, n.1, p. 95-96, 1993.
PRINS, D.G.J.; WITTEK, T.; BARRETT, D.C. Maxillary osteosarcoma in a beef suckler cow: Case report.
Irish Veterinary Journal. v.15, n. 65, p.1-4, 2012.
SERAKIDES, R.; NUNES, V.A.; OCARINO, N.M. Patologias do Sistema Locomotor. In: SERAKIDES, R.;
SANTOS, R.L.; GUEDES, R.M.C. et al. Cadernos Didáticos Patologia Veterinária. Belo Horizonte:
FEPMVZ, 2006. p. 3-59.
SERAKIDES, R. Ossos e Articulações. In: SANTOS, R.L.; ALESSI, A.C. Patologia Veterinária. São
Paulo: Roca, 2010. Cap. 11, p. 645 - 696.
THOMPSON, K.G.; POOL, R.R. Tumors of Bones In: MEUTEN, D.J. Tumors in Domestic Animals.
4.ed. Califórnia: Iowa State Press, 2002. p. 245-317.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 053, 2013

053. PADRÕES DE LESÕES DA EPIDERMITE EXSUDATIVA EM SUÍNOS


(Lesions patterns of exudative epidermitis in swine)

Juliana Sperotto Brum¹, Paula Roberta Giaretta¹, Claudio Severo Lombardo Barros¹,
Giancarlo Santini de Souza², César Brack³
1 Laboratório de Patologia Veterinária - UFSM;
2 Prefeitura Municipal de Cerro Branco-Secretaria de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente;
3 Cooperativa Agrícola Mista Agudo Ltda. E-mail: julianasbrum@yahoo.com.br
RESUMO: Epidermite exsudativa apresenta dois padrões macroscópicos: um
generalizado e outro localizado. Desta maneira, achou-se necessário descrever as
duas formas da doença. Os aspectos morfológicos macroscópicos e microscópicos de
dois leitões com epidermite exsudativa foram avaliados. A descrição dos casos auxilia
aos clínicos e patologistas na formação de uma lista de diagnósticos diferenciais. O
correto e rápido diagnóstico é importante para que se evitem perdas significativas na
produção quando há um rebanho afetado.
Palavras-chave: dermatite seborreica; doenças de suínos; Sthaphylococcus hyicus
ABSTRACT:Exudative epidermitis occurs in one of two gross morphological patterns:
one generalized and one localized. It was deem necessary briefly describes both forms
of the disease. The macroscopic and microscopic morphological features two piglets
with exudative epidermitis were evaluated. Lesions compatible with exudative
epidermitis were observed in both piglets. The description of these cases should help
clinicians and pathologists alike in building a list of differentials diagnosis. The faqst and
accurate diagnosis is crucial to avoid significant losses in production when there is an
affected herd.
Key words: diseases of swine; seborrheic dermatitis; Sthaphylococcus hyicus
INTRODUÇÃO
Epidermite exsudativa é uma forma de dermatite seborreica infecciosa descrita em
1842 (Wegener e Skov-Jensen, 2006). O principal agente etiológico é um coco Gram-
positivo comensal da pele dos suínos, classificado como Sthaphylococcus hyicus,
subsp hyicus (Foster, 2012). O leitão se infecta logo ao nascimento e o
desenvolvimento da doença requer uma escoriação para porta de entrada do agente
(Wegener et al., 1993). Infecções secundárias, baixa imunidade ou condições
ambientais péssimas favorecem o desenvolvimento da doença (Ramos et al, 2012).
São descritos dois padrões macroscópicos: um generalizado e outro localizado, sendo
o segundo pouco observado na rotina (Wegener e Skov-Jensen, 2006; Barcellos et al.
2012). Desta maneira, achou-se necessário descrever dois casos da doença, cada um
retratando uma forma diferente de apresentação macroscópica.
MATERIAL E MÉTODOS
Dois leitões foram encaminhados para necropsia em diferentes situações. Ambos eram
provenientes de municípios da região de abrangência do laboratório e pertenciam a
pequenas criações de subsistência. Em uma ocasião (Surto 1), foi remetida uma leitoa,
SRD (sem raça definida), com nove dias de idade. Pertencia a uma leitegada de 10
suínos. Sete animais foram encontrados mortos, sem a observação de sinais clínicos
prévios, apenas havia lesões de pele generalizadas. Em outra oportunidade (Surto 2)
um leitão recentemente desmamado, com aproximadamente 40 dias de idade, SRD,
proveniente de uma leitegada de sete suínos, foi encaminhado para inspeção clínica,
eutanásia e necropsia, pois toda a leitegada apresentava lesões de pele localizadas de
intensidade variada em cada suíno. Após a realização das necropsias, fragmentos de
pele foram coletados, fixados em formalina a 10% e processados rotineiramente para
análise histológica. Ainda do surto 1, fragmentos de pele foram coletados,
acondicionados em frascos estéreis e encaminhados para estudo microbiológico.
RESULTADOS
Macroscopicamente no leitão do Surto 1, observou-se difusamente na pele grande
quantidade de crostas úmidas, marrons, aglutinadas e fissuradas. A pele estava
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 053, 2013

marcadamente espessada e com aspecto gorduroso. Nas áreas de lesão mais


acentuada havia alopecia e ulceração. O leitão pertencente ao Surto 2 apresentava
lesões macroscópicas acentuadas e restritas nas orelhas, ao redor dos olhos e no
focinho. Caracterizavam-se por áreas bem circunscritas e recobertas por uma espessa
crosta escamosa, que por vezes coalesciam. Histologicamente, em todas as seções
examinadas de ambos os leitões a lesão era semelhante. Havia epidermite hiperplásica
acentuada com formação de crostas sero-celulares com agregados bacterianos e
dermatite perivascular a intersticial mista acentuada. Ainda do Surto 1 foi isolado de
Staphylococcus hyicus de fragmentos da pele.
DISCUSSÃO
Baseado nos achados macroscópicos e microscópicos, concluiu-se que ambos os
casos tratavam-se de epidermite exsudativa (Olivry e Linder, 2009; Barcellos et al.,
2012). Em ambos os surtos, os leitões vivam em condições pobres de higiene o que
se acredita que esteja associado com o desenvolvimento da doença. A morbidade dos
surtos aqui estudados foi de 70% e 100%. É descrito valores amplos e casos de
leitegadas inteiras afetadas são bem relatados. Já com relação à mortalidade, as taxas
ficam em torno dos 70% (Wegener e Skov-Jensen, 2006), o que vai de acordo com o
observado no Surto 1. No Surto 2 nenhum leitão morreu espontaneamente. Acredita-se
que isso se deve a menor intensidade das lesões. A forma generalizada da doença tem
sido observada mais frequentemente em letões de maternidade, com idade entre
quatro e 10 dias de vida, como observado no Surto 1. Os animais tornam-se abatidos,
anoréxicos e desidratados (Barcellos et al., 2012). O exsudato escuro e de aspecto
gorduroso observado é proveniente do rompimento de vesículas e aumento da
secreção das glândulas cutâneas. Geralmente a morte ocorre por desidratação e
emagrecimento. Já a forma localizada é mais comumente observada em animais de
creche, como no Surto 2. Nesses casos a localização das lesões predomina na cabeça
(Barcellos et al., 2012). Mesmo raramente fatal, as lesões podem se tornar crônicas e
as perdas na produção chegam a 35% (Barcellos et al., 2012).
Os sinais clínicos são geralmente suficientes para o estabelecimento do diagnóstico em
leitões jovens e com lesões generalizadas (Barcellos et al., 2012). Suínos com lesões
localizadas o diagnóstico é mais difícil. Para esta apresentação clínica da doença é
importante listar entre os possíveis diagnósticos diferenciais a varíola suína, sarna,
dermatofitose, pitiríase rósea, deficiência de zinco e dermatose vegetans (Wegener e
Skov-Jensen, 2006).
CONCLUSÕES
A descrição dos casos de epidermite exsusativa com padrões diferentes auxilia aos
clínicos e patologistas na formação de uma lista de diagnósticos diferenciais. A forma
localizada é menos comumente observada e, muitas vezes, necessita de apoio
laboratorial. O correto e rápido diagnóstico é importante para que se evitem perdas
significativas na produção quando se há um rebanho afetado.
REFERÊNCIAS
BARCELLOS, D.; ALBERTON, G.C.; SOBESTIANSKY, J. et al. Doenças da Pele. In: SOBESTIANSKY
J.; BARCELLOS D. (Eds), Doenças dos Suínos. 2.ed. Goiânia: Cânone Editorial, 2012, p.475-479.
FOSTER, A.P. Staphylococcal skin disease in livestock. Vet. Dermatology, v.23, p.342-363, 2012.
OLIVRY, T.; LINDER, K.E. Dermatoses affecting desmosomes in animals: a mechanistic review of
acantolytic blistering skin diseases. Veterinary Dermatology, v.29, p.313-326, 2009.
RAMOS, N.; MIRAZO, S.; CASTRO, G; ARBIZA J. Detection and molecular characterization of porcine
circovirus type 2 (PCV2) from piglets with exudative epidermitis in Uruguay. Research in Veterinary
Science, v.93, p.1042-1045, 2012.
WEGENER, H.C.; ANDRESEN, L.O.; BILLE-HANSEN, V. Staphylococcus hyicus Virulence in Relation to
Exudative Epidermitis in Pigs. The Canadian Journal of Veterinary Research, v.57. p.119-125, 1993.
WEGENER, H.C.; SKOV-JENSEN, E.W. Exudative Epidermitis In: STRAW, B.E.; ZIMMERMAN, J.J.;
D‘ALLAIRE, S.; TAYLOR, D.J. (Eds), Diseases of Swine. 9.ed. Ames: Blackwell Publishing, 2006,
Cap.39, p.675-679.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 054, 2013

054. PITIOSE EQUINA NO DISTRITO FEDERAL


(Equine pythiosis in Distrito Federal, Brazil)

Guilherme Reis Blume¹, Meryonne Moreira², Jerusa Palauro Spasiani², Jennifer Baldez
da Costa², Letícia Batelli de Oliveira¹, Fabiano José Ferreira de Sant'Ana¹

1 Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF.


2 1º Reg. de Cavalaria de Guarda (RCG) Dragões da Independência, Exército Brasileiro, Brasília, DF.

RESUMO: Este trabalho objetiva descrever um caso de pitiose equina no Distrito


Federal. Um equino adulto, recentemente comprado no Rio Grande do Sul, apresentou
aumento de volume progressivo na extremidade do membro pélvico direito.
Macroscopicamente, notou-se uma massa ulcerada, irregular, firme e alopécica,
medindo 20 X 8 cm. Ao corte, havia secreção sanguinolenta e numerosas estruturas
irregulares e brancas (kunkers). Histopatologia revelou dermatite granulomatosa e
eosinofílica difusa acentuada com numerosas hifas GMS-positivas de 4-9 μm de
espessura, paredes não paralelas, pobremente septadas e com brotações não
dicotômicas. O diagnóstico de pitiose foi confirmado pela imuno-histoquímica.
Palavras-chave:dermatopatologia; doenças de equinos; oomicose; Pythium insidiosum
ABSTRACT: This report describes one case of equine pythiosis in Distrito Federal,
Brazil. One adult horse, recently acquired from Rio Grande do Sul State, Brazil,
presented progressive swelling mass in the distal right pelvic limb. Grossly, the mass
was 20 X 8 cm, alopecic, ulcerated, irregular and firm. At cut surface, there were
cavitations filled with serohemorrhagic secretion and numerous irregular, white
concretions (kunkers). Microscopically, there was severe difuse eosinophilic
granulomatous dermatitis with numerous GMS-positive 4-9 μm wide, unparalled walls,
poorly septated, non-dichotomous branching hyphae. Pythiosis was confirmed by
immunohistochemistry.
Key words: dermatopathology; diseases of horses; oomicosis; Pythium insidiosum
INTRODUÇÃO
Pitiose é uma enfermidade caracterizada por lesões proliferativas e granulomatosas,
que afeta animais domésticos, sendo comumente fatal (Reis Júnior e Nogueira, 2002;
Pereira e Meireles, 2007). A doença é mais comumente diagnosticada em equinos,
mas também pode afetar bovinos, ovinos, cães, gatos e humanos. É causada pelo
oomiceto Pythium insidiosum, que habita ambientes aquáticos, se multiplicando e
formando zoósporos biflagelados móveis que penetram na pele submersa de qualquer
animal com uma ferida pré-existente, causando a doença (Sallis et al., 2001). No Brasil,
acomete várias regiões, principalmente as regiões alagadas do sul do país, pantanal
matogrossense, Paraíba e Rio de Janeiro (Leal et al., 2001; Pereira e Meireles, 2007).
Em equinos, as lesões cutâneas consistem de grandes massas ulcerativas com
numerosas estruturas necróticas denominadas ―kunkers‖. Essas lesões são comuns
nas porções distais dos membros e região ventral do tórax e abdômen de equinos (Leal
et al., 2001; Pedroso et al., 2009). Microscopicamente, é caracterizada por lesão
granulomatosa constituída de áreas extensas de necrose, infiltrado marcado de
eosinófilos, imagens negativas das hifas e mais externamente macrófagos, intensa
proliferação de tecido fibrovascular e, ocasionalmente, células gigantes e reação de
―Splendore-Hoeppli‖ (Reis Júnior e Nogueira, 2002; Sallis et al., 2003). O diagnóstico
deve ser confirmado com a identificação do agente etiológico por PCR, imuno-
histoquímica ou isolamento (Reis Júnior e Nogueira, 2002; Pereira e Meireles, 2007;
Pedroso et al., 2009).
Este trabalho objetiva descrever os achados epidemiológicos, patológicos e imuno-
histoquímicos de um caso de pitiose equina no Distrito Federal. Esse parece ser o
primeiro caso da doença descrito no Distrito Federal.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 054, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Uma égua Crioula, adulta, era utilizada para polo e tinha histórico de permanência
frequente em áreas alagadas. Lesões cutâneas foram observadas. Tratamentos
tópicos e vacinação com Pythium-Vac® foram realizadas, sem sucesso. Diante da
suspeita clínica de pitiose e do prognóstico reservado, foi realizada eutanásia e
necropsia. Fragmentos da lesão cutânea e de outros órgãos foram coletados e fixados
em formol a 10%, processados rotineiramente e corados por HE e GMS. Cortes
adicionais foram submetidas à imuno-histoquímica para P. insidiosum no Laboratório
de Patologia Veterinária da UFMT (Ubiali et al., 2013).
RESULTADOS
A égua foi adquirida de um haras de Uruguaiana/RS. Após a chegada à propriedade
em Brasília/DF, o proprietário percebeu uma úlcera milimétrica no membro pélvico
direito (altura do metatarso) que aumentou progressivamente em um mês. No exame
físico, notou-se claudicação, prurido e dificuldade para apoiar o membro afetado devido
à lesão cutânea exuberante, que consistia de uma massa focalmente extensa,
alopécica, firme, irregular, com úlceras múltiplas e irregulares, medindo 20 x 8 cm e
que afetava as regiões tarso-metatársica e metatarso-falangeana. Na necropsia, ao
corte da massa esbranquiçada, havia secreção viscosa, sanguinolenta e fétida e
numerosas estruturas irregulares (aspecto de coral), brancas e firmes variando de 0,3-
0,8 cm de diâmetro (kunkers).
Na microscopia visualizou-se se na derme superficial, profunda e no subcutâneo, áreas
focalmente extensas de infiltrado inflamatório moderado a acentuado composto por
eosinófilos, macrófagos (alguns epitelióides), neutrófilos e piócitos. Em meio à
inflamação, havia numerosas áreas irregulares, multifocais a coalescentes contendo
material amorfo, eosinofílico e restos celulares (necrose), fibrose irregular moderada e
seções transversais e longitudinais de hifas não coradas (imagens negativas). GMS
revelou numerosas hifas, cortadas transversalmente e longitudinalmente, que
possuíam aproximadamente 4-9 μm de espessura, paredes não paralelas, pobremente
septadas e com brotações não dicotômicas. A IHQ foi positiva para a marcação de
Pythium insidiosum.
DISCUSSÃO
O equino do presente trabalho foi adquirido no Rio Grande do Sul, que é um estado
onde a pitiose é comumente diagnosticada em equinos (Sallis et al., 2003),
provavelmente em função das características epidemiológicas favoráveis a
manutenção do P. insidiosum, como regiões alagadas e pantanosas e temperaturas
elevadas (Pedroso et al., 2009). Essas condições não são observadas frequentemente
no Distrito Federal. Esse é o provável motivo pelo qual a pitiose não é comum nessa
região do Brasil. Os sinais clínicos, bem como local e o tipo da lesão estão de acordo
com as descrições de outros autores (Leal et al., 2001; Sallis et al., 2003; Pereira e
Meireles, 2007). Eventualmente, pode haver acometimento de outros órgãos, como
intestinos, pulmão, osso e linfonodo, porém a forma cutânea é mais comumente
encontrada em equinos (Leal et al., 2001; Reis Júnior e Nogueira, 2002; Sallis, Pereira
e Raffi, 2003). No presente caso, as lesões foram restritas a pele. Os achados macro e
microscópicos observados no presente equino são muito semelhantes aos de outros
trabalhos (Sallis et al., 2003; Pereira e Meireles, 2007). Os exames histopatológicos e
complementares (PCR, cultura, sorologia e imunohistoquímica) são fundamentais para
o diagnóstico e diferenciação de outras enfermidades granulomatosas que afetam
equinos, como habronemose, infecções por Conidiobolus coronatus, Basidiobolus
haptosporus, Lagenidium spp, linfangite epizoótica, sarcóide e carcinoma de células
escamosas (Reis Júnior e Nogueira, 2002; Pereira e Meireles, 2007).
CONCLUSÃO
Com base nos achados clínicos, patológicos e imuno-histoquímicos, firmou-se o
diagnóstico de pitiose equina, que ainda não havia sido descrita no Distrito Federal.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 054, 2013

REFERÊNCIAS
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patológicos de casos típicos e atípicos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.21, n.4, p151-154, 2001.
PEDROSO, P.M.O.; JÚNIOR P.S.B.; PESCADOR C.A. et al. Diagnóstico imuno-histoquímico de pitiose
cutânea em equinos. Acta Scientiae Veterinariae, v.37, n.1, p.49-52, 2009.
PEREIRA, D.B.; MEIRELES M.A. Pitiose. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A.;
BORGES, J.R.J. Doenças de ruminantes e equídeos. 3.ed. Santa Maria: Pallotti, 2007, Vol. 1., Cap. 4,
p 457-466.
REIS JÚNIOR, J.L.; NOGUEIRA, R.H.G. Estudo anatomopatológico e imunoistoquímico da pitiose em
equinos naturalmente infectados. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.54, n.4,
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SALLIS E.S.V.; PEREIRA D.I.B.; RAFFI M.B. Pitiose cutânea em eqüinos: 14 casos. Ciência Rural,
v.33, n.5, p.899-903, 2003.
UBIALI, D.G.; CRUZ, R.A.S.; DE PAULA, D.A.J. et al. Pathology of nasal infection caused by
Conidiobolus lamprauges and Pythium insidiosum in sheep. Journal of Comparative Pathology, v.149,
p.137-145, 2013.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 055, 2013

055. PREVALÊNCIA DE ALTERAÇÕES HEPÁTICAS DETECTADAS EM BOVINOS


ABATIDOS EM MATADOURO-FRIGORÍFICO DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE
PRUDENTE, ESTADO DE SÃO PAULO
(Prevalence of detected hepatic alterations in bovines slaughtered in a abattoir of
Presidente Prudente city, São Paulo state)

Raimundo Alberto Tostes¹; Jorge Minor Fernandes Inagaki²; Luciano dos Santos
Bersot³; Thiago Chiara Taveira4; Hemir Martins Quirilos Assis4

1 Professor Adjunto, Laboratório de Patologia Animal, Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina.
2 Médico Veterinário, Mestrando, Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina.
3 Professor Adjunto, Laboratório de Inspeção e Controle Microbiológico de Água e Alimentos, UFPR.
4 Médico Veterinário Autônomo.

RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de condenações de fígado


durante o abate. Foram avaliados 100.723 animais abatidos no período de 01 de abril
de 2010 a 31 de março de 2011 em um frigorífico na região de Presidente Prudente,
estado de São Paulo. De acordo com avaliações na linha de inspeção e análises
parasitológicas os fígados foram classificados de conforme o tipo de alteração
encontrada. Do total de animais, 5,17% apresentavam algum tipo de alteração hepática
e a maior prevalência encontrada foi de alterações de natureza inflamatória. Alterações
classificadas como extra-hepáticas foram a principal causa de condenação de fígados
no abate e a telangiectasia a principal causa individual. Em geral, as prevalências
encontradas condizem com a literatura e reforçam a importância do conhecimento e
identificação das alterações hepáticas no abate.
Palavras-chave: abatedouro; condenação; fígado; inspeção; lesões
ABSTRACT: The aim this study was evaluated the prevalence of livers condemnations
during slaughter. Were evaluated 100,723 animals slaughtered in the period from April
1, 2010 to March 31, 2011 in a abattoir in the region of Presidente Prudente, state of
São Paulo. According with evaluations in the line of inspection and parasitological
analysis, the livers were classified by the type of alterations encountered. Of the total,
5.17% had at least one type of hepatic alteration, from these the major prevalence
encountered were inflammatory alterations. The alterations classified as extra-hepatic
were the major cause of liver condemnations at slaughter and telangiectasis the major
individual cause. In general, the prevalences encountered were consistent with
literature and reinforce the importance of knowledge and identification of hepatic
alterations at slaughter.
Key words: condemnation; inspection; lesions; liver; slaughterhouse
INTRODUÇÃO
A identificação de lesões hepáticas nos matadouros é uma tarefa complexa ainda que
muitas delas possam ser prejudiciais à saúde humana se consumidas. Conforme Prata
e Fukuda (2001), as alterações de natureza inflamatória são as principais responsáveis
por condenações, caracterizadas geralmente por abscessos envolvendo bovinos de
engorda, e a tuberculose. Esteatose é a principal alteração degenerativa que acomete
o fígado dos bovinos levando a condenação do órgão (Raoofi, Bazargani e Tabatabayi,
2001). Já a telangiectasia aparece como uma importante causa de origem vascular e a
fasciolose seguida da hidatidose como as de origem parasitária (Atasever, Vural e
Berkin, 2002; Urquhart, 1998). Alterações neoplásicas são incomuns, mas podem ser
identificadas neoplasias metastáticas da cavidade abdominal além do carcinoma
hepatocelular, do colangiocarcinoma, do hemangioma e do hemangiossarcoma (Prata
e Fukuda, 2001). O objetivo deste trabalho foi avaliar a prevalência de alterações
hepáticas responsáveis por condenações no abate através de análises in situ por
fiscais do Serviço de Inspeção Federal e por análises laboratoriais.

156
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 055, 2013

MATERIAIS E MÉTODOS
Foram inspecionados 100.723 animais abatidos em um matadouro-frigorífico na região
oeste do Estado de São Paulo no período de 1º de abril de 2010 a 31 de março de
2011. As alterações encontradas nos fígados foram avaliadas macroscopicamente pela
equipe do SIF na linha de inspeção, no Departamento de Inspeção Final e submetidas
à análise parasitológica quando necessário. As alterações encontradas foram
classificadas como: degenerativas, vasculares, inflamatórias, extra-hepáticas,
parasitárias e neoplásicas. Hemorragias, lacerações, congestões foram agrupadas
como alterações vasculares e os processos inflamatórios que contaminam o fígado
classificados como alterações extrahepáticas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do total de animais, 5.204 (5,17%) exibiam algum tipo de alteração hepática. As lesões
de natureza inflamatória foram o grupo de maior prevalência (34,69%) seguido pelas
alterações vasculares (31,80%), extra-hepáticas (30,15%) e as demais com menor
ocorrência (3,36%). O predomínio das alterações hepáticas de natureza inflamatória é
concordante com Moreira (2001) e Mello et al. (2007).
As lesões extra-hepáticas foram responsáveis pela maior parte das condenações do
fígado principalmente por abranger maior variedade de alterações neste estudo. A
telangiectasia foi a alteração individual mais prevalente. As alterações diagnosticadas
encontram-se na tabela 1.

Quanto às lesões supurativas o espectro etiológico é bastante variável. Segundo


Nagaraja e Chengappa (1998), a dieta e o manejo alimentar estão frequentemente
associados ao surgimento de abscessos em bovinos de corte. Lauzer et al. (1979)
verificaram uma prevalência de 0,1% de tuberculose, mas existem chances de falhas
de até 47% na detecção (Corner et al., 1990).
Quanto às lesões parasitárias, mesmo em pequeno número (2,75%), ressaltam-se os
casos de fasciolose (0,56%). Tostes et al. (2004) diagnosticaram a ocorrência do
primeiro caso autóctone de Fasciola hepatica na região de Presidente Prudente, com
indícios da manutenção do ciclo do parasita na propriedade estudada.
Em geral, há uma concordância das prevalências encontradas neste estudo com a
literatura, ressaltando a importância de se estudar as alterações hepáticas ao abate
para melhorar o processo de inspeção e as condenações de forma eficaz.
CONCLUSÃO
As alterações de natureza inflamatória são as principais causas de condenações,
principalmente pela presença de abscessos. Devido ao alto envolvimento do fígado
com contaminações de processos inflamatórios provenientes outros órgãos, as
condenações classificadas como extrahepáticas são elevadas.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 055, 2013

REFERÊNCIAS
ATASEVER, A.; VURAL, S. A.; BERKIN, S. Incidence and pathologic studies on liver telangiectasis in
beef cattle. Turkish Journal of Veterinary and Animal Sciences, v. 26, p. 235-238, 2002.
CORNER, L. et al. Efficiency of inspection procedures for the detection of tuberculous lesions in cattle.
Australian Veterinary Journal, v. 67, n. 6, p. 389-392, 1990.
LAUZER, J. J. et al. Condenações de fígados de bovinos em Santa Maria, RS. Revista do Centro de
Ciências Rurais, v. 9, p. 251-256, 1979.
MELLO, F. A. M.; FREDERICO, F. R.; OLIVEIRA, A. J. Ocorrência de condenações de órgãos
comestíveis de bovinos em estabelecimentos de abate sob regimes de inspeção estadual e
federal no estado do Rio de Janeiro-RJ. Disponível em:
<http://www.crmvrj.com.br/IVCong/abate.htm>. Acesso em: 30 jun. 2009.
MOREIRA, E. C. Importância do controle da sanidade sobre produtos de origem animal. Disponível
em: <http://www.simcorte.com/index/Palestras/s_simcorte/10_elvio.PDF>. Acesso em: 27 mar. 2013.
NAGARAJA, T. G.; CHENGAPPA, M. M. Liver abscesses in feedlot cattle: a review. Journal of Animal
Science, v. 76, n. 1, p. 287-298, 1998.
PRATA, L. F.; FUKUDA, R. T. Fundamentos de Higiene e Inspeção de Carnes. 1. ed. Jaboticabal:
Funep, 2001.
RAOOFI, A.; BAZARGANI, T. T.; TABATABAYI, A. H. An abattoir survey on the frequency of fatty liver
syndrome in dairy cows from the suburbs of Tehran. Tropical Animal Health and Production, v. 33, n.
1, p. 15-19, 2001.
TOSTES, R. A. et al. Casos autóctones de Fasciola hepatica na região de Presidente Prudente, São
Paulo, Brasil. Ciência Rural, v. 34, p. 961-962, 2004. URQUHART, G. M. Parasitologia Veterinária. 2.
ed. Rio de Janeiro: Guanabara- Koogan, 1998.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 056, 2013

056. PREVALÊNCIA DE BABESIOSE EQUINA NA MICRORREGIÃO DE TERESINA,


PIAUÍ, BRASIL
(Prevalence of equine babesiosis in the microregion of Teresina, Piauí, Brazil)

Lidiany Viana Pires, Ariane Farias Leal, Francisco de Assis Leite Souza, Francisco
Humberto da Silva Ribeiro, Werner Rocha Albuquerque, Silvana Maria Medeiros de
Sousa Silva
Setor de Patologia Animal, DCCV, CCA, Universidade Federal do Piauí
RESUMO: A prevalência de babesiose equina (Babesia caballi) foi estudada na
microrregião de Teresina, Piauí, Brasil, por meio da Reação em Cadeia da Polimerase
(PCR). Utilizou-se 192 animais e as amostras de sangue foram coletadas para
determinação do volume globular (VG) e extração de DNA. Para a PCR usou-se
iniciadores de Babesia caballi descritos por Ikadai et al. (1999). Considerou-se positivas
as amostras de aproximadamente 430 pb. A Babesia caballi teve seu DNA amplificado
em 15,1% (29/192) das amostras. A visualização dos merozoítos e/ou trofozoítos de B.
caballi foram observadas em 5,2% (10/192) das amostras. O teste Kappa demonstrou
fraca (k= 0,027). Não houve diferença significativa no que se refere ao sexo dos
animais positivo e o VG foi de 31,6%. O estudo demonstrou que a babesiose causada
por B. caballi ocorre na microrregião de Teresina, Piauí com baixa prevalência.
Palavras-chave: Babesia caballi; pcr, diagnóstico, protozoário, nordeste
ABSTRACT: The prevalence of equine babesiosis (Babesia caballi) was studied in the
microregion of Teresina, Piauí, Brazil, by Polymerase Chain Reaction (PCR). We used
192 animals and blood samples were collected for determination of cell volume (PCV)
and DNA extraction. For PCR primers used to Babesia caballi described by Ikadai et al.
(1999). It was considered positive samples of approximately 430 bp. The Babesia
caballi had their DNA amplified in 15.1% (29/192) of samples. The visualization of
merozoites and/or trophozoites B. caballi were observed in 5.2% (10/192) of samples.
The test showed weak kappa (k = 0.027). There was no significant difference with
regard to the sex of the animals and positive VG was 31.6%. The study showed that
babesiosis caused by B. caballi occurs in the microregion of Teresina, Piauí with low
prevalence.
Keywords: Babesia caballi; pcr; diagnostic; protozoan; northeast
INTRODUÇÃO
A babesiose equina é uma enfermidade causada pelos protozoários Theileria equi
(anteriormente denominada Babesia equi) e Babesia caballi, hemoparasitas
intraeritrocitários transmitidos por carrapatos que acometem equinos, asininos, muares
e zebras (Redd e Bayly, 2000). Ambos os hemoprotozoarios são transmitidos por
carrapatos do gênero Dermacentor, Hyalomma e Rhipicephalus (De Waal, 1992). As
manifestações clínicas da babesiose equina incluem febre, icterícia, anemia,
hemoglobinúria, bilirrubinúria e ocasionalmente, morte (Knowles, 1996). A situação
epidemiológica da babesiose equina na microrregião de Teresina é desconhecida. Vem
ocorrendo suspeita da doença, porém sem diagnóstico definitivo. Portanto, o objetivo
deste estudo foi determinar a prevalência da babesiose eqüina nesta região.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se 192 equinos provenientes da microrregião de Teresina, Piauí, com idade
superior a nove meses, sem distinção de sexo e raça. Amostras de sangue colhidas
por punção da veia jugular em tubos com EDTA foram usadas para determinação do
volume globular (VG) por meio da técnica de microhematócrito e para a extração de
DNA. Para a Reação em Cadeia da Polimerase, o DNA foi extraído de amostras de
sangue pelo kit Illustra® Blood GenomicPrep Mini Spin Kit (GE Healthcare®). Os
primers utilizados para amplificação do DNA de Babesia caball foram descritos por
Ikadai et al. (1999), BC48-F11 e BC48-R31. Considerou-se positivos as amostras de
aproximadamente 430pb. A análise dos dados foi realizada utilizando o teste de
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 056, 2013

com nível de significância de 0,05. A comparação de média dos valores


de VG foi realizado pelo teste t de Student. O teste Kappa foi realizado para avaliar a
concordância entre o diagnóstico parasitológico em esfregaços sanguíneos e a PCR
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Prevalência de Babesia caballi determinada pela detecção de DNA em equinos da
microrregião de Teresina, situada na região meio norte do Brasil foi 15,1% (29/192).
Merozoítos e/ou trofozoítos de B. caballi foram visualizados nos esfregaços sanguíneos
periféricos foi de 5,2% (10/192). O teste Kappa demonstrou fraca concordância entre a
pesquisa de merozoítos de B. caballi e o resultado da PCR (k= 0,027). A técnica de
PCR tem sido amplamente utilizada sendo considerado método direto com maior
sensibilidade que a microscopia (Bashiruddin et al., 1999). Nesse estudo um sexto das
amostras tiveram o DNA amplificado para B. caballi, portanto, esses animais portavam
o protozoário no organismo, mesmo sem apresentarem nenhum sinal clínico da
doença. O percentual de positividade nos animais observados na presente pesquisa é
próximo aos observados por Heim et al., (2007) que pesquisou 482 equinos oriundos
da Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Goiás e em outros países como a Itália (Moretti et
al., 2010). O teste Kappa indicou fraca concordância entre a presença de merozoítos e
trofozoítos em esfregaços sanguíneos e a PCR. O esfregaço sanguíneo pode ser
bastante útil principalmente nos casos agudos da doença quando há alta parasitemia,
apesar de sua elevada especificidade, este método não tem sensibilidade,
especialmente no diagnóstico de infecções subclínicas quando se torna parasitemia
demasiado baixo para detectar os casos positivos (Bose et al., 1995). Quanto a variável
sexo, as fêmeas representaram 51,65 % e os machos 48,35% dos positivos e não
houve diferença significativa (p>0,05). O VG variou de 14% a 46% (31,6 ± 3,78%),
sendo que a média do VG de equinos infectados para B. caballi foram próximos a do
VG dos animais não infectados, não havendo diferença significativa (p>0,05). Estudo
realizado por Souza et al (2000) no Planalto Catarinense por meio da prova de RIFI,
também não houve diferença significativas entre os sexos, demonstrando que a
infecção é independente deste parâmetro. Durante a fase crônica em que não há
alteração significativa entre o hematócrito de equinos não infectados e de portadores
de T. equi (Hailat et al., 1997), isto sugere que esses animais do presente estudo
possam ser portadores e representam um papel importante na transmissão da doença.
Heim et al (2007) demonstraram que as duas infecções eram altamente prevalentes em
cavalos e que não houve correlações significativas entre o hematócrito, semelhante
aos achados apresentados acima.
CONCLUSÃO
O estudo demonstrou que a babesiose causada por Babesia caballi ocorre na região
meio-norte do Brasil mas com baixa prevalência.
REFERÊNCIAS
BAHIRUDDIN, J.B.; CAMMA, C.; REBELO, E. Molecular detection of Babesia equi and Babesia caballi in
horse blood by PCR amplification of part of the 16S rRNA gene. Vet. Parasitólogy, v.84, p.75–83, 1999.
BOSE, R.; JORGENSEN, W.K.; DALGLIESH, R.J. et al. Current state and future trends in the diagnosis
of Babesiosis. Veterinary Parasitology, v.57, p.61–74, 1995.
DE WALL, D. T. Equine Piroplasmosis: a review. British Veterinary Journal, v. 148, p.6-14, 1992.
HAILAT, N.Q.; LAFI, S.Q.; AL-DARRAJI, A.M. et al. Equine babesiosis associated with strenuous
exercise: clinical and pathological studies in Jordan. Veterinary Parasitology, v.69, p.1-8, 1997.
HEIM, A.; PASSOS, L.M.F.; RIBEIRO, M.F.B. et al. Detection and molecular characterization of Babesia
caballi and Theileria equi isolates from endemic areas of Brazil. Parasitology Res., v.102, p.63-68, 2007.
IKADAI, H. et al. Cloning and Expression of a 48-kilodalton Babesia caballi merozoite rhoptry protein and
potential use of the recombinant antigen in an enzyme-linked immunosorbent assay. Journal of Clinical
Microbiology, v.37, p.3475-3480, 1999.
KNOWLES DP. Control of Babesia equi parasitemia. Parasitology Today, v.12, p.195-198, 1996.
MORETTI, A.; MANGILI, V.; SALVATORI, R. et al. Prevalence and diagnosis of Babesia and Theileria
infections in horses in Italy: A preliminary study. The Veterinary Journal. v.184, p.346–350, 2010.
REED, S. M.; BAYLY, W. M. Medicina interna equina. R J: Guanabara Koogan, 2000. p. 490-491.

160
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 057, 2013

057. RABDOMIOSSARCOMA PLEOMÓRFICO EM BOVINO


(pleomorphic rhabdomyosarcoma in bovine)

Paula Lima Magalhães¹, Eric Saymom Andrade Brito¹, Marília Gomes Ismar¹,Regiani
Nascimento Gagno Pôrto¹, Olízio Claudino da Silva²

1 Setor de Patologia Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás


2 Setor de Clínica e Cirurgia, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás

RESUMO: Em uma vaca da raça Girolando, foi observado um aumento de volume


ovalado de 12 centímetros de diâmetro na paleta esquerda. Não se notou melhora
clínica após tratamento terapêutico de suporte, ocorreu acentuada piora clínica do
bovino optando-se pela realização da eutanásia. Após colheita de fragmento do tecido
e avalição da morfologia histopatológica, foi firmado o diagnóstico de
rabdomiossarcoma pleomórfico, neoplasia dotada de comportamento maligno e
invasivo.
Palavras-chave: diagnóstico; girolando; neoplasia
ABSTRACT: In a cow Girolando, was observed an increase in volume oval shaped with
12 inches in diameter at the left palette. Not noticed improvement after therapeutic
support, marked clinical worsening occurred in the bovine opting for performing
euthanasia. After harvesting the tissue fragment and report of histopathological
morphology , the diagnosis was confirmed as pleomorphic rhabdomyosarcoma,
neoplasia endowed with malignant behavior and invasive.
Keywords:diagnosis; girolando; neoplasia
INTRODUÇÃO
O rabdomissarcoma é incomum em bovinos. Pela sua morfologia histológica, ele pode
ser classificado como embrionário, botrióide, alveolar e pleomórfico (Copper e
Valentine, 2002). Em humanos, essa neoplasia foi descrita em locais como cabeça,
pescoço e extremidades (Kim et al., 1996), entretanto, foi também relatada em órgãos
que não possuem músculo estriado esquelético na sua constituição, como é o caso do
trato gênito-urinário.
As mais frequentes são aquelas que surgem de dentro do músculo ou de suas
estruturas de suporte ou que invadem o músculo a partir do tecido adjacente. Dentro da
pequena ocorrência da neoplasia, são mais comuns no cão, seguido pelo cavalo e pelo
gato, e são raros em bovinos (Copper e Valentine, 2002).
A relativa raridade desses tumores faz com que o diagnóstico, prognóstico clínico e
tratamento, sejam difíceis. A baixa prevalência dessas neoplasias citadas na literatura
pode ser em razão de uma falha no diagnóstico. Devido à variação extrema do
fenótipo, a idade do seu aparecimento, e a morfologia celular, tanto o diagnóstico
quanto a classificação se tornam um processo complexo (Caserto, 2013).
O objetivo do presente estudo é descrever os achados macroscópicos e microscópicos
de um rabdomiosarcoma em um bovino.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi observado um aumento de volume no membro torácico esquerdo, na região da
paleta em um bovino da raça Girolando, quatro anos de idade. Após um ano de
evolução, o membro afetado se encontrava difusamente edemaciado o que dificultava
o animal a se locomover. Houve intervenção de médico veterinário, todavia, devido ao
avançado grau de comprometimento do animal, optou-se pela realização da eutanásia.
Após a morte do animal colheu-se fragmentos do nódulo que em seguida foram
acondicionados em formol tamponado a 10% e enviados para o Setor de Patologia
Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás afim de
se realizar o exame histopatológico, sendo processados pela técnica rotineira de
inclusão em parafina e corados pela hematoxilina e eosina.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 057, 2013

RESULTADOS e DISCUSSÃO
Ao exame macroscópico, a massa tumoral apresentava-se localmente invasiva
associada a regiões de necrose. Consistia de um nódulo bem aderido de forma
redondo-ovalada e de aproximadamente cinco centímetros de diâmetro. A evolução
ocorreu durante um ano, quando a neoformação adquiriu 12 centímetros de diâmetro.
Foi verificado por Cooper e Valentine (2002) semelhanças na ocorrência e
comportamento com o presente caso, onde rabdomiossarcomas em pescoço, cabeça
ou membros, como é o caso desta descrição, aparecem como uma massa esférica,
densa e profunda no músculo. Essa massa cresce em tamanho, além disso,
hemorragias e necroses mudam sua coloração. Há vigorosa invasão local, e
metástases podem se tornar confluentes, mas conservam nodulação.
Observou-se no exame de histopatologia, uma massa constituída de agrupamentos
celulares multifocais, separados por tecido conectivo frouxo e edemaciado. As células
possuiam abundante citoplasma eosinofílico, núcleos arredondados e nucléolos
evidentes, semelhantes a rabdomioblastos. Por vezes, essas células possuiam
morfologia semelhante a raquetes, com borda superior ovalada e borda inferior
afunilada. Células fusiformes e arredondadas também faziam parte dos agrupamentos.
Notava-se células binucleadas e multinucleadas. Verificou-se moderada quantidade de
figuras de mitose, focos de infiltrado inflamatório neutrofílico e extensas áreas de
necrose associdas a hemorragia. Segundo Vleet e Valentine (2007) o
rabdomiosarcoma pleomórfico é caracterizado pela presença, na totalidade do tumor,
de arranjo acidental. Apresenta alto índice mitótico e clara invasão de músculo
adjacente, sendo dessa forma considerado maligno. Esses tumores são localmente
invasivos, com margens não bem definidas e células neoplásicas com infiltrações,
sendo estes achados análogos aos do presente caso.
CONCLUSÃO
Há poucas descrições de rabdmiossarcoma em bovino. Com base nos achados
macroscópicos e histopatológicos, firmou-se o diagnóstico de rabdomiossarcoma
pleomórfico sem metástases em bovino da raça Girolando.
REFERÊNCIAS
CASERTO, B. G. A Comparative Review of Canine and Human Rhabdomyosarcoma With
Emphasis on Classification and Pathogenesis.
2013.Disponívelem:<http://vet.sagepub.com/content/early/2013/02/25/0300985813476069>. Acesso
em:26/05/2013.
COOPER, B.J.; VALENTINE, B.A. Tumors of muscle. In: MEUTEN, D.J. Tumors in Domestic Animals.
4. ed. Iowa State Press, 2002, p. 341–363.
KIM, D. Y.; HODGIN, E. C.; CHO, D. Y. et al. E. Juvenile rhabdomyosarcomas in two dogs. Veterinary
Pathology, v. 33, p. 447–450.1996.
VLEET, J.F.V.; VALENTINE, B. A. Muscle and tendon. In: JUBB, K. V. F.; KENNEDY, P. C.; PALMER, N.
Pathology of Domestic Animals.5. ed. Edinburg: Saunders Elsevier, 2007,vol. 1, Cap. 2, p. 273-275.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 058, 2013

058. RAIVA EM SUINOS


(Rabies in pigs)

Claudia S. Wisser¹, Vanessa Borelli¹, Nathalia Wicpolt¹, Aldo Gava², Sandra


D.Traverso²,Helena E. Haverroth³

1 Alunos do programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Universidade do Estado de Santa Catarina,


Lages, Santa Catarina, Brasil e-mail: claudiawisser@hotmail.com
2 Professor do curso de medicina Veterinária da Universidade do Estado de Santa Catarina
3 Veterinário da Prefeitura municipal de Vidal Ramos/SC.

RESUMO: Amostras de sistema nervoso central de dois suínos provenientes dos


municípios de Veranópolis/RS e Vidal Ramos/SC foram recebidas no Laboratório de
patologia animal CAV/UDESC. Segundo histórico, os animais eram criados de forma
semiextensiva em regiões com registros de raiva bovina. Os sinais clínicos relatados
foram inapetência, anorexia, paralisia nos membros posteriores, decúbito lateral e
movimentos de pedalagem. As amostras foram processadas para exame
histopatológico e imuno-histoquímica (IHQ) para raiva. Na microscopia, observou-se
infiltrado mononuclear perivascular acentuado, infiltrado de eosinófilos perivascular leve
e gliose multifocal. A técnica de IHQ demostrou marcação do antígeno rábico no
pericário e axônios de neurônios.
Palavras-chave: imuno-histoquímica; diagnóstico; encefalite; saúde pública
ABSTRACT: Samples of the central nervous system of pigs from two municipalities
Veranopolis / RS and Vidal Ramos / SC were received in the laboratory animal
pathology CAV / UDESC. According to history, the animals were created so
semiextensiva in regions with records of bovine rabies. Reported clinical signs were
inappetence, anorexia, paralysis in the hind limbs, lateral recumbency and paddling.
The samples were processed for histopathology and immunohistochemistry (IHC) for
rabies. Microscopically, there was marked perivascular mononuclear infiltrate,
perivascular infiltration of eosinophils and mild multifocal gliosis. The
Immunohistochemistry demonstrated marking rabies antigen in the soma and axons of
neurons.
Key words: Immunohistochemistry; diagnosis; encephalitis; public health
INTRODUÇÃO
A raiva é uma doença infecciosa, de notificação obrigatória, causada por um RNA vírus
do gênero Lyssavirus que afeta o sistema nervoso central da maioria das espécies de
mamíferos (Barros et al., 2006). Apesar de ser conhecida desde a antiguidade, ainda
hoje é considerada problema de saúde publica, principalmente nos países em
desenvolvimento (Brasil, 2002). A doença se apresenta de duas formas clínicas, a
paralítica e a furiosa, sendo ambas fatais. Em suínos, embora os sinais clínicos sejam
extremamente variáveis, podem ser caracterizados por excitação, incoordenação
motora, salivação excessiva, convulsões, e na fase terminal, paralisia e morte, entre 12
a 48 horas após o inicio dos sinais clínicos (Radostits et al., 2000). Em suínos as
lesões são microscópicas e limitadas ao sistema nervoso central. São descritas
meningoencefalite mononuclear perivascular, múltiplos focos de gliose (Notici et al.
2009; Pessoa et al. 2011), além de áreas de malácia com infiltrado de macrófagos
(Notici et al. 2009) e neuroniofagia (Pessoa et al. 2011). A imunofluorescência direta é
o teste padrão ouro para o diagnóstico de raiva em animais e humanos por ser um
método rápido e sensível (WHO, 2004)
Todavia a imuno-histoquímica pode ser utilizada para demonstração do antígeno rábico
em tecidos que foram submetidos a fixação em formalina (Stein et al., 2010). Este
trabalho tem por objetivo relatar a ocorrência de dois casos de raiva em suínos,
diagnosticados através de imuno-histoquimica.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 058, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Amostras de sistema nervoso central de dois suínos, conservadas em formol a 10%,
foram recebidas no Laboratório de Patologia Animal LAPA-CAV/UDESC em fevereiro
de 2009 e janeiro de 2013. Os materiais eram oriundos dos municípios de
Veranópolis/RS (caso 1) e Vidal Ramos/SC (caso 2). As amostras foram processadas
rotineiramente e coradas com Hematoxilina e Eosina (H.E) para exame histopatológico.
O teste de imuno-histoquímica (IHQ) para raiva foi realizado conforme protocolo
descrito por Pedroso et al. (2008).
RESULTADOS
Os suínos eram criados de forma semiextensiva em áreas onde já haviam registros de
casos positivos de raiva bovina na mesma propriedade (caso1) e em propriedades
vizinhas (caso 2). Os sinais clínicos descritos foram inapetência, anorexia, paralisia nos
membros posteriores, decúbito lateral e movimentos de pedalagem. No exame
histopatológico dos dois casos foi observado infiltrado mononuclear perivascular
acentuado e gliose multifocal. No segundo caso ainda havia necrose de neurônios de
purkinge, infiltrado de eosinófilos e malácia multifocal. A técnica de imuno-histoquímica
apresentou marcação positiva para o antígeno rábico no pericário e axônios de
neurônios.
DISCUSSÃO
A infecção conjunta pelo vírus da raiva em suíno e bovino na mesma propriedade é
relata no Brasil, no estado do Mato Grosso (Notici et al., 2009). A presença de
morcegos hematófagos infectados na região, associado à ausência de vacinação pode
ser um fator importante para a ocorrência da doença em diferentes espécies. Os sinais
clínicos informados são compatíveis com os citados por Radostits et al., (2000) para
casos de raiva na forma paralítica em suínos. Os achados microscópicos, assim como
a não observação de corpúsculo de inclusão, são semelhantes aos descritos por Notici
et al. (2009) e Pessoa et al. (2011). A ausência do corpúsculo de Negri dificulta o
diagnóstico nessa espécie e ressalta a importância da utilização de métodos adicionais
de diagnóstico para diferenciar a raiva de outras encefalites em suínos. No segundo
caso, foi observado ainda infiltrado multifocal de eosinófilos. Esta lesão é comumente
observada na intoxicação por cloreto de sódio (Moreno et al. 2007). Este fato faz supor
que a dificuldade de ingestão de água que ocorre em casos de raiva, nos suínos pode
favorecer o aparecimento secundário de lesões compatíveis com a intoxicação por
cloreto de sódio. Devem ser incluídas no diagnóstico diferencial doenças que cursem
com quadro neurológio como Aujeski, doença do edema, encefalites de origem
bacteriana e intoxicação por cloreto de sódio (Roehe e Brito, 2007). O diagnóstico de
raiva em suínos foi concluído através do histórico, observação das lesões
microscópicas associada à marcação positiva na imuno-histoquímica.
CONCLUSÃO
A ausência de corpúsculo de inclusão nos casos de raiva em suínos dificulta o
diagnóstico histológico, sendo necessária a aplicação de métodos adicionais. A imuno-
histoquímica pode ser usada como ferramenta para diagnóstico definitivo.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 058, 2013

REFERÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 059, 2013

059. RELATO DE CASO: CARCINOMA HEPATOCELULAR EM GALLUS GALLUS


(Case report: Hepatocellular carcinoma in Gallus gallus)

Regina Tose Kemper¹, Thays Couto Barbosa¹, Kassia Renostro Ducatti¹, Diego
Montagner Schenkel¹, Fabricio Leonard Urmann¹, Fernando Henrique Furlan Gouvêa²

1 Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Sinop.


2 Laboratório de Patologia Animal – Universidade Federal de Mato Grosso. fhfurlan@gmail.com

RESUMO: A neoplasia é causada por uma alteração genética derivada de uma


diversidade de fatores e que pode acometer diversos animais domésticos. O carcinoma
hepatocelular se configura como um tumor maligno hepático que, embora já tenha sido
observado em várias espécies incluindo cães, gatos, bovinos, equinos, ovinos e suínos,
é raro em aves. Descreve-se os aspectos macroscópicos e histológicos do carcinoma
hepatocelular em uma galinha doméstica comparando-os com as descrições desta
neoplasia na literatura.
Palavras Chaves: aves; células; morfologia; neoplasia; tumor maligno
ABSTRACT: The neoplasia is caused by a genetic derivative of a variety of factors that
may involve many domestic animals. Hepatocellular carcinoma is configured as a
malignant liver tumor which, although it has been observed in several species including
dogs, cats, cattle, horses, sheep and pigs, is rare in birds. Describes the macroscopic
and histological hepatocellular carcinoma in a domestic chicken comparing them with
the descriptions of this tumor in the literature.
Key-words: birds; cells; morphology; neoplasm; malignant tumor
INTRODUÇÃO
A neoplasia é um crescimento anormal composto por células alteradas geneticamente,
incapazes de responder aos meios de controle do crescimento normal, levando a um
crescimento aberrante, além das barreiras anatômicas. (Cullen e Brown 2012).O
carcinoma hepatocelular é uma neoplasia maligna de hepatócitos que, embora já tenha
sido observado em várias espécies incluindo cães, gatos, bovinos, equinos, ovinos e
suínos, é raro em aves (Cullen e Popp 2002, Reece 2008).Este estudo tem por objetivo
descrever os aspectos macroscópicos e microscópicos de uma caso de carcinoma
hepatocelular em uma galinha doméstica (Gallus gallus).
MATERIAIS E METÓDOS
A doença ocorreu em uma propriedade localizada no município de Sinop-MT. A
propriedade possuía um total de 150 galinhas criadas para consumo doméstico.
Durante o abate de um dos animais o proprietário observou alterações hepáticas e
encaminhou o fígado do animal para o laboratório de patologia animal da Universidade
Federal de Mato Grosso Campus Sinop (LAPAN-Sinop). Fragmentos da amostra foram
fixados em fomalina 10% por 48 horas e processadas rotineiramente para confecção
de laminas histológicas. Cortes de 5 micrometros foram corados por hematoxilina e
eosina e observados em microscópio optico.
RESULTADOS
Macroscopicamente o fígado encontrava-se difusamente aumentado de tamanho 16
cm e com superfície capsular e de corte apresentando coloração marrom clara
intercaladas com áreas bracacentas.
Na histologia pode se observar uma massa formada por células neoplásicas em arranjo
acinar separadas entre si por tecido fibrovascular delicado . As células do parênquima
apresentavam formato cubóide com citoplasma eosinofílico abundante e delimitação
celular pouco evidente. Os núcleos eram arredondados com nucléolo evidente e
apresentavam poucas figuras mitóticas por campo de maior aumento
(aproximadamente 1 a 2 por campo). Observou-se ainda áreas multifocais de infiltrado
heterofílico acompanhado de proliferação de tecido conjuntivo fibroso.

166
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 059, 2013

DISCUSSÃO
Embora seja rara em aves de produção (Reece 2008), a ocorrência de casos
espontâneos de carcinoma hepatocelular já foi relatada em aves silvestres (Mendonça
et al. 2006, Shinhorini 2008, Freeman, 2010) e, em patos, pode ocorrer através da
alimentação contaminada por aflatoxina (Reece 2008). Experimentalmente, esta
neoplasia pode ser induzida em galos por dietilnitrosamina (Kawaguchi et al 1987).
Macroscopicamente os carcinomas hepatocelulares podem ser: massivos, uma massa
única que envolve um lóbulo ou lóbulos adjascentes; nodulares, quando formam
nódulos com distribuição multifocal pelos lóbulos hepáticos ou ainda difusos, quando
envolvem todo parênquima hepático, como observado neste caso (Cullen e Popp
2002). A forma massiva é a mais comum em cães (Cullen e Popp 2002), porém em
aves não existem dados suficientes para tal comparação.
Histologicamente, os carcinomas hepatocelulares podem ser classificados como tipo
trabecular, quando são formados por cordões celulares de espessura variada, ou tipo
adenóide quando suas células formam arranjos acinares com lumens bem delimitados
ou rudimentares (Cullen e Popp 2002, Cullen e Brown 2012). O diagnóstico diferencial
deve levar em conta principalmente os colangiocarcinomas que quando bem
diferenciados podem também apresentar arquitetura acinar, porém a presença de
mucina no lúmen dos túbulos, comumente observado nos colangiocarcinomas, e a
formação de plugs de bile, mais frequente nos carcinomas hepatocelulares, podem
auxiliar no diagnóstico. O arranjo celular observado aliado à ausência de mucina no
interior dos lúmens acinares foram os principais aspectos considerados para
caracterização da neoplasia estudada como um carcinoma hepatocelular do tipo
adenóide bem diferenciado.
CONCLUSÃO
O carcinoma hepatocelular ocorre esporadicamente em aves e seu aspecto
macroscópico e histológico assemelha-se ás descrições desta neoplasia para outras
espécies animais.
Agradecimentos
Agradecemos a todos que apoiaram este trabalho em especial à Karina Bettega que
nos cedeu às amostras deste estudo.
REFERÊNCIAS
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imunoistoquímica. 2008. São Paulo. Dissertação (Mestrado em Patologia experimental e comparada).
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.

167
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 060, 2013

060. RETINOPATIA DEGENERATIVA TÓXICA EM FRANGOS DE CORTE


(Toxic degenerative retinopathy in broiler)

Aparecida T. Fiúza¹, Rodrigo M. Couto¹, Nelson R. Martins², Roselene Ecco¹

1Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, Escola de Veterinária da UFMG


2Departamento de Preventiva, Escola de Veterinária da UFMG

RESUMO: Relata-se um surto de cegueira aguda em frangos de corte. Clinicamente as


aves apresentaram sinais de cegueira bilateral evidenciadas como desorientação, não
percepção de obstáculos e dificuldade em encontrar água e ração. No exame físico
observou-se midríase e leve exoftalmia. Na avaliação histopatológica foi observada
retinopatia degenerativa aguda multifocal a coalescente caracterizada por edema,
degeneração, necrose e perda dos neurônios da camada ganglionar e nuclear externa.
Os achados foram compativeis com um quadro de retionopatia tóxica possivelmente
causada por enrofloxacina.
Palavras-chave: degeneração da retina; enrofloxacina; frangos de corte; histopatologia
ABSTRACT: An outbreak of acute blindness in broilers is reported. Clinically, the birds
showed signs of bilateral blindness evidenced by disorientation, lack of perception of
obstacles and difficulty to find food and water. On physical examination there was mild
exophthalmos and mydriasis. Microscopic changes consisted in acute multifocal to
coalescing degenerative retinopathy characterized by edema, degeneration, necrosis
and loss of neurons in the outer nuclear and ganglionar layer. The findings were
compatible with toxic retinopathy possibly caused by enrofloxacin.
Key-words: broiler chicken; enrofloxacin; histopathology; intoxication; retinal
degeneration
INTRODUÇÃO
Em aves comerciais a cegueira tem sido relacionada a condições genéticas, tóxicas,
nutricionais e infecciosas. Entre as causas genéticas encontra-se a microftalmia, a
displasia de retina, a degeneração de retina e células fotorreceptoras, a catarata entre
outras. A maioria dessas patologias pode ser observada em aves de duas a três
semanas de idade ou mesmo em aves de quatro a seis meses de idade (Shivaprasad,
1999). As fluoroquinolonas como a enrofloxacina e a ofloxacina possuem um grande
espectro de ação e distribuição favorável, o que a faz ser um tratamento de escolha
para vários processos infecciosos (Vancutsem et al., 1990).
Entretanto, alguns efeitos adversos têm sido relatados com o uso dessas drogas em
diversas espécies. Em humanos, as fluoroquinolonas têm sido associadas a algumas
formas de toxicidade ocular como neuropatia óptica e hemorragias na retina (Etminan
et al, 2012). Em coelhos, a administração prolongada de ofloxacina resultou em
estresse oxidativo e dano na retina, particularmente no epitélio pigmentado (Rampal et
al., 2008). Já em gatos, o uso terapêutico de enrofloxacina tem sido associado a
degeneração de retina irreversível e cegueira (Gelatt et al., 2001). Objetiva-se relatar
um surto de intoxicação caracterizada por cegueira devido a retinopatia tóxica
degenerativa compatível com sobredose de enrofloxacina em frangos de corte.
RELATO DOS CASOS
Aves de um lote frangos de linhagem comercial com três semanas de idade
apresentaram cegueira bilateral. As aves pertenciam a uma granja do estado de Minas
Gerais. O lote tinha histórico de mortalidade acima do normal devido a doença
respiratória aguda e as aves apresentaram cegueira após tratamento com
enrofloxacina na granja. Quinze aves foram eutanaziadas, necropsiadas e após a
avaliação macroscópica, foram coletadas amostras de todos os órgãos e fixados em
formol tamponado a 10%. Para análise histopatológica, os tecidos foram processados

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 060, 2013

rotineiramente, corados pela hematoxilina e eosina e avaliados no microscópio de luz


clara.
RESULTADOS
Clinicamente as aves apresentaram sinais de cegueira bilateral evidenciadas como
desorientação, não percepção de obstáculos e dificuldade em encontrar a água e
ração. No exame físico observou-se midríase constante e leve projeção da córnea
(exoftalmia). Ao exame macroscópico, as principais alterações observadas foram no
globo ocular. Além da leve projeção da córnea com leve aumento do liquido nas
camaras, a retina apresentou áreas multifocais a coalescentes brancoacinzentadas.
Além disso, as aves apresentavam sinusite e traqueíte mucóide leve. Na avaliação
histopatológica observou-se retinopatia degenerativa aguda multifocal a coalescente
caracterizada por edema, degeneração, necrose e perda dos neurônios da camada
ganglionar. Vacuolização difusa também foi observada na camada dos fotoreceptores.
Não foram observadas alterações histológicas nos outros órgãos avaliados.
DISCUSSÃO
As alterações clínicas de cegueira bilateral aguda foram compatíveis com um quadro
de degeneração tóxica da retina detectada pela avaliação histopatológica. Nas
retinopatias tóxicas, a lesão pode ocorrer por efeito tóxico direto nas células da retina
causando perda de uma ou mais camadas, como descrita na intoxicação por algumas
plantas em ruminantes (Wilcok, 2007). Um segundo mecanismo poderia envolver o
nervo óptico, como acorre na intoxicação pelo closantel em caprinos. O edema no
nervo óptico resultaria em aumento de volume e compressão do nervo no interior do
canal ósseo, resultando em degeneração retrógada e necrose de células ganglionares
(van der Lugt e Venter, 2007). No presente estudo, as alterações histológicas
permitiram somente relacionar com uma causa tóxica exógena. O aparecimento súbito
da cegueira coincidente com o tratamento a base de enrofloxacina e a ausência de
outra possivel causa com efeito retinotóxico permitiram relacionar com o antibiotico em
questão. Não foram encontrados relatos de intoxicação por enrofloxacina em aves. No
entanto, a administração terapêutica por alguns dias tem causado quadros de cegueira
em gatos. As alterações são caracterizadas por degeneração aguda das células
fotoreceptoras e da camada nuclear externa da retina (Gellat et al., 2001). No presente
relato não haviam alterações no nervo óptico, indicando que possivelmente, a
degeneração da retina ocorreu devido a um efeito tóxico direto. O mecanismo de ação
das fluoroquinolonas relacionadas as lesões observadas ainda não são conhecidos.
Estas possuem alta afinidade pela melanina e a absorção de energia da luz ultravioleta
em sua estrutura é seguida da degradação de suas moléculas que por sua vez, gera
produtos tóxicos que parecem ser responsáveis pelo dano a retina (Wiebe e Hamilton,
2002).
Atualmente, as recomendações para administração de enrofloxacina em gatos são
para não exceder 5 mg/kg por dia (Sandmeyer e Grahn, 2008). Em frangos a
recomendação para o tratamento de um lote é de 10 mg/kg por dia. No lote de aves
deste relato, a medicação foi preparada pelo tratador seguindo as recomedações do
veterinário responsável, mas sobredosagem decorrente de erro na preparação não
pode ser descartada.
CONCLUSÃO
Embora relatos e/ou experimentos que comprovassem a ação tóxica da enrofloxacina
em aves não tenham sido encontrados, este medicamento deve ser considerado no
diagnóstico diferencial em casos de retinopatia degenerativa tóxica em aves.
Agradecimentos
À CAPES, CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro.

169
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 060, 2013

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170
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 061, 2013

061. SURTO DE BABESIOSE CEREBRAL EM BOVINOS NA FRONTEIRA OESTE


DO RIO GRANDE DO SUL
(Outbreak of cerebral babesiosis in cattle on the Western Border of the Rio
Grande do Sul State, Brazil)

Adriano Alexandre Krabbe; Caroline da Silva Silveira; Ricardo Almeida da Costa; Pedro
Araujo Damboriarena; Bruno Leite dos Anjos

Fundação Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Brasil

RESUMO: A babesiose cerebral é uma importante causa de morte em bovinos por


distúrbios neurológicos. Este trabalho objetivou relatar um surto de infecção natural por
Babesia bovis em bovinos na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. De um rebanho
com 159 bovinos, 13 animais apresentaram sinais clínicos neurológicos e morreram.
Três desses animais foram necropsiados e apresentaram palidez de mucosas, rins
enegrecidos, hemoglobinúria, esplenomegalia e encéfalo com coloração róseo-cereja.
Na histologia havia congestão e edema perivascular em sistema nervoso central, além
de grande sequestro de eritrócitos nos capilares encefálicos, associados a estruturas
com morfologia compatível com Babesia bovis, observadas em esfregaços e cortes
histológico da substância cinzenta do encéfalo.
Palavras-chave: babesiose cerebral; tristeza parasitária bovina
ABSTRACT: The cerebral babesiosis induces neurological signs and is an important
cause of death in cattle. This work describes an outbreak of natural infection by Babesia
bovis in cattle in the Western Frontier of Rio Grande do Sul State, Brazil. A flock with
159 cattle, 13 animals showed neurological clinical signs and died. Three of these
animals were necropsied and showed pale mucous membranes, dark-red kidneys,
hemoglobinuria, splenomegaly and brain with pink-cherry discoloring. Histologically,
may be seen blood congestion and perivascular edema in the nervous system, in
addition to large sequestration of erythrocytes in capillaries of de gray matter, caused by
organisms with morphology compatible with B. bovis.
Key words: cerebral babesiosis; cattle parasitic sadness
INTRODUÇÃO
A tristeza parasitária bovina é um complexo formado por três agentes diferentes,
Babesia bovis, Babesia bigemina e Anaplasma marginale (Farias, 2007). A babesiose
cerebral bovina é uma doença causada pelo protozoário Babesia bovis, parasita
intracelular que induz destruição eritrocitária, transmitido pelo carrapato Rhipicefhalus
microplus, sendo inoculada desde o primeiro dia de parasitismo (Farias, 2007). O
aparecimento da doença clínica depende dos aspectos epidemiológicos da região, e os
surtos são mais comumente observados em áreas de instabilidade enzoótica.
(Radostits et al., 2002; Rodrigues et al., 2005; Almeida et al., 2006). Todas as raças
bovinas podem ser acometidas, porém as europeias tem maior predisposição pelo fato
de serem menos resistentes ao vetor em relação às zebuínas (Carlson, 2006; Costa et
al.; 2011).
Na infecção por B. bovis em bovinos, são observados sinais clínicos neurológicos,
devido á anoxia cerebral e o bloqueio dos vasos capilares cerebrais pelas hemácias
parasitadas (Carlson, 2006), caracterizados por hiperexcitabilidade ou depressão,
convulsões, opistótono, movimentos de pedalagem, agressividade e coma (Rodrigues
et al., 2005; Almeida et al., 2006; Antoniassi et al., 2009). Podendo ser confundidos
com outras enfermidades que causem distúrbios em sistema nervoso central
(Rodrigues et al., 2005; Farias, 2007; Antoniassi et al., 2009).
O objetivo deste trabalho foi descrever um surto de babesiose cerebral bovina na
Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 061, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
No mês de maio de 2012 uma propriedade rural do município de Itaqui-RS apresentou
mortalidade de 13 bovinos da raça Hereford, adultos, de um rebanho de 159 animais
criados em sistema extensivo.
Três bovinos foram necropsiados e fragmentos de diversos órgãos foram coletados e
processados rotineiramente para avaliação histopatológica a partir de lâminas coradas
por hematoxilina e eosina (H&E). Esfregaço do córtex cerebral foi realizado e corado
pelo método panótico rápido.
RESULTADOS
O curso clínico apresentado pelos bovinos evolui entre 1-2 dias, e os animais antes da
morte, encontravam-se com sinais de depressão, ou em decúbito lateral com
movimentos de pedalagem até a morte. Alguns animais apresentam agressividade
quando estimulados a caminhar. Foram necropsiados três animais, que
macroscopicamente apresentaram mucosas ocular e oral acentuadamente pálidas,
sangue mais fluído, rins com coloração vermelho-escura, baço aumentado, bexiga
repleta por urina vermelho-escura e o encéfalo especialmente o córtex telencefálico e
cerebelo encontrava-se com coloração vermelho cereja.
Microscopicamente, o esfregaço da substância cinzenta do telencéfalo revelou
capilares distendidos e obliterados por eritrócitos contendo estruturas basofílicos e
esféricas, com aproximadamente 3μm compatíveis com B. bovis. Os rins apresentaram
grande quantidade de hemoglobina na luz de túbulos. O baço apresentou congestão
difusa acentuada.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de babesiose cerebral foi baseado nos achados epidemiológicos e
clinicopatológicos, e, segundo Rodrigues et al., (2005) estes dados confirmam a
infecção por B. bovis.
O surto ocorreu no outono, em animais acima de um ano de idade, numa área
epidêmica para a enfermidade, semelhante ao que descreve Almeida et al. (2005)
reforçando a importância da doença na região (Antoniassi et al., 2009). A babesiose
cerebral caracteriza-se por morte aguda (Radostits, 2002), sendo o que provavelmente
ocorreu no presente surto e os sinais neurológicos observados antes da morte dos
bovinos são os mais frequentemente observados (Carlson, 2006; Rodrigues et al.,
2005; Almeida et al., 2006; Antoniassi et al., 2009).
O achado macroscópico denominado encéfalo cor-de-cereja é uma característica
marcante da infecção por B. bovis, (Rodrigues et al., 2005), possibilitando o diagnóstico
presuntivo durante a necropsia. Microscopicamente as lesões encontradas são comuns
em várias enfermidades que decorram com anemia e hemólise intravascular (Farias,
2007). Todavia, a visualização do parasita em esfregaço da substância cinzenta do
cérebro, foi um indicador preciso para obter um diagnóstico definitivo.
CONCLUSÃO
A B. bovis é uma importante causa de morte de bovinos e deve ser considerada como
uma doença de grande importância econômica na Fronteira Oeste do Rio Grande do
Sul. O rápido diagnóstico é de suma importância a fim de evitar maior mortalidade do
rebanho.

172
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 061, 2013

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173
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 062, 2013

062. SURTO DE DERMATOFILOSE EM OVINOS


(An outbreak of dermatophilosis in sheep)

Bianca Tessele¹, Fabio Brum Rosa¹, Welden Panziera¹, Larissa Picada Brum², Claudio
Severo Lombardo de Barros¹

1 Laboratório de Patologia Veterinária (LPV), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),


2 UniPampa, Dom Pedrito, RS. E-mail: claudioslbarros@uol.com.br

RESUMO: Descreve-se um surto de dermatofilose em ovinos. De um rebanho de 400


ovinos, oitenta e cinco cordeiros adoeceram, dos quais morreram 40. Cinco ovelhas
adultas adoeceram com lesões na pele do lombo, mas não morreram. A doença
ocorreu após um mês bastante chuvoso. As lesões afetaram a pele do focinho, dos
lábios, das orelhas, do dorso e da porção distal dos membros e eram caracterizadas
por dermatite exsudativa com aglutinação e endurecimento da lã e dos pelos.
Palavras-chave: Doenças bacterianas; doenças de ovinos; doenças de pele; lã de pau
ABSTRACT: An outbreak of dermatophilosis in sheep is described. Out of a herd of
400 sheep, 185 lambs were affected and 40 died. Five adult affected sheep survived.
The disease occurred after a heavy rainy month. Lesions affected the skin of muzzle,
lips, ears, dorsum and distal portion of the limbs and were characterized by an
exudative dermatitis leading to matting and hardening of the wool and hair.
Keywords: Bacterial diseases; lumpy wool; sheep diseases; skin diseases
INTRODUÇÃO
Dermatofilose é uma doença bacteriana da pele causada por Dermatophilus
congolensis, um actinomiceto gram-positivo, filamentoso anaeróbico facultativo (QUINN
et al., 2011) que prolifera influenciado pela umidade (especialmente chuva) e associado
às lesões de pele (especialmente as produzidas por carrapatos, insetos,espinhos de
plantas e tosquia) (NORRIS et al., 2008). A infecção não se estabelece na pele intacta.
Há evidências que zoósporos do micro-organismo persistam em animais normais,
principalmente em áreas endêmicas (SCOTT, 1999) por três anos e possam ser
ativados pela umidade tornando-se infectantes (QUINN et al., 2011). Em ovinos, raças
de lã fina são mais susceptíveis. As lesões podem ocorrer em qualquer local do corpo,
principalmente na face, nas orelhas, no dorso e no flanco, na porção distal dos
membros e no escroto. Os quocientes morbidade, mortalidade e letalidade em ovinos
são variáveis, mas em municípios do extremo sul do Rio Grande do Sul foram relatados
surtos em cordeiros de cinco meses com 16% de morbidade, 15% de mortalidade e
90% de letalidade (PEREIRA; MEIRELLES, 2007).
O objetivo deste trabalho é descrever um surto de dermatofilose em ovinos Merino,
descrevendo a epidemiologia, os sinais clínicos, a patologia e os métodos de
diagnóstico e de tratamento. Espera-se com isso contribuir para o reconhecimento e
controle dessa doença em ovinos.
MATERIAL E MÉTODOS
O surto ocorreu numa propriedade rural do município de Dom Pedrito no Rio Grande do
Sul. Dom Pedrito (latitude: 30,98; longitude: 54,67; altura em relação ao nível do mar:
141 m) é um município localizado ao sul do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Na
propriedade havia 400 ovinos Merino de várias idades (165 ovelhas em parição). Foi
feita uma visita à propriedade onde foi necropsiado um cordeiro de 20 dias e observado
todo o lote de animais afetados. Um cordeiro de 20 dias foi tratado com uma dose
única de penicilina G procaínica (70.000U.I/kg) associada a 70mg/kg de estreptomicina
(PEREIRA; MEIRELLES, 2007).
RESULTADOS
Os cordeiros mais velhos tinham cerca de 30 dias e os mais novos 3-7 dias. A média
de precipitação pluviométrica tinha sido alta no mês anterior. Oitenta e cinco cordeiros
adoeceram, dos quais morreram 40. Cinco ovelhas adultas adoeceram com lesões na
174
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 062, 2013

pele do lombo, mas não morreram. As lesões nos cordeiros afetavam principalmente o
focinho, os lábios, a face e as orelhas, o dorso e as patas. Inicialmente um exsudato de
aspecto gorduroso acumulava-se na base da lã (ou dos pelos) levando à aglutinação
de feixes de lã por crostas duras e espessas. Os animais adultos apresentavam a lesão
no lombo com desprendimento da lã. Cordeiros apresentavam, nas partes internas e
externas das orelhas recobertas por pelos, o desenvolvimento de pápulas e pústulas
multifocais ou coalescentes que se tornavam crostas espessas (ceratinizadas) com a
base dos pelos aglutinadas que se desprendiam facilmente. As orelhas eram duras e
convexas, lembrando lesões de fotodermatite. A lã do dorso dos cordeiros era
endurecida (coriácea) devido à aglutinação de tufos de lã pelo exsudato.
Microscopicamente, observou-se hiperceratose ortoceratótica e acantose. Havia fibrose
e esclerose dérmica e infiltração da epiderme e papilas dérmicas por neutrófilos. As
crostas eram formadas por camadas de ceratina alternadas por densa população de
neutrófilos mortos e degenerados. Ocasionalmente na coloração de Gram podiam se
ver, em meio aos neutrófilos, estruturas cocoides que se alinhavam como pilhas de
moedas (micro-organismos de D. Congolensis). O cordeiro tratado teve remissão das
lesões.
DISCUSSÃO
O diagnóstico foi baseado na epidemiologia, nos sinais clínicos, na histopatologia e na
visualização do micro-organismo em seções coradas por Gram. Os dados
apresentados aqui sugerem que a dermatofilose é uma doença de importância
econômica em ovinos. O diagnóstico diferencial deve incluir ectima contagioso. Por
outro lado, as lesões das partes desprovidas de lã, principalmente orelhas, lembravam
as lesões de fotodermatite. A esse respeito um componente de fotossensibilização tem
sido sugerido nas lesões de dermatofilose (SCOTT; MILLER, 2011). A aglutinação e o
endurecimento da lã são a razão do nome ―lã de pau‖ (PEREIRA; MEIRELLES, 2007)
dado à doença. Deve ser enfatizado que a dermatofilose pode causar lesão na pele de
pessoas sendo considerada uma zoonose (ZARIA, 1993).
CONCLUSÕES
O surto ocorreu com uma morbidade de 22,5%, mortalidade de 10% e letalidade de
44,5%, indicando que a dermatofilose é uma doença de importância econômica em
ovinos.
REFERÊNCIAS
NORRIS, B.J.; COLDITZ, I.G.; TIXON, T.J. Fleece rot and dermatophilosis in sheep. Veterinary
Microbiology. v. 128, p. 217-230, 2008.
PEREIRA, D.B.; MEIRELES, M.C.A. Dermatofilose. In: RIET CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS,
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QUINN, P.J.; MARKEY, B.K., LEONARD, F.C.; FITZPATRICK, E.S. et al. Dermatophilosis. In: Ibid (Eds.)
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SCOTT, D. Color Atlas of Animal Dermatology. Ames, Blackwell Publishing.1999. p.152-154.
SCOTT, D.; MILLER, Jr., W., Equine Dermatology. St. Louis, Saunders -Elsevier, 2011, p. 152-158.
ZARIA, L.T. Dermatophilus congolensis infection (dermatophilosis) in animals and man. An update.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 063, 2013

063. SURTO DE DIARREIA EM REBANHOS SUÍNOS POR Brachyspira


hyodysenteriae
(Outbreak of diarrhea in pig herds by Brachyspira hyodysenteriae)

Amanda Gabrielle de Souza Daniel; Talita Pilar Resende; Michelle de Paula


Gabardo; José Paulo Hiroji Sato; Gabriella Borba Netto Assis; Roberto M. C. Guedes

Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas


Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil

RESUMO: Este estudo descreve surto de diarreia muco hemorrágica em granjas


suinícolas no Brasil em 2012 e 2013. Amostras de ceco e cólon, frescos e/ou fixados
em formol, foram submetidas ao Departamento de Patologia Veterinária da UFMG para
diagnóstico e encaminhadas para isolamento bacteriano, PCR, histopatologia e
hibridização in situ fluorescente (FISH) usando sondas específicas. As lesões variaram
de colite com hiperplasia de células caliciformes moderada multifocal a colite fibrino
necrohemorrágica difusa grave. As amostras submetidas ao isolamento bacteriano
foram todas positivas para B. hyodysenteriae. Houve ainda marcação positiva
fluorescente no FISH para o mesmo agente. Com base nos sinais clínicos e
diagnóstico laboratorial Disenteria Suína causada pela B. hyodysenteriae foi
confirmada.
Palavras chave: colite; disenteria suína; FISH; Histopatologia; PCR.
ABSTRACT: This study describes an outbreak of hemorrhagic diarrhea mucus in pig
farms in Brazil in 2012 and 2013. Fresh and/or formalin fixed cecum and colon samples
were submitted to the Department of Veterinary Pathology, UFMG for diagnostic.
Samples were, processed for bacterial isolation, PCR, histology and fluorescent in situ
hybridization (FISH) using specific probes. Lesions varied from moderate multifocal
colitis with goblet cell hyperplasia to severe diffuse fibrinecrotic hemorrhagic colitis.
Samples subjected to bacterial isolation were positive for B. hyodysenteriae. There also
positive by FISH. Based on clinical and laboratory diagnosis Swine Dysentery caused
by B. hyodysenteriae was confirmed.
Key words: colitis; swine dysentery; FISH; histopathology; PCR
INTRODUÇÃO
As doenças entéricas são, juntamente com os problemas respiratórios, os desafios
sanitários mais frequentes na fase de recria e terminação de suínos (Guedes, 2010).
Vários são os agentes causadores de diarreia, dentre os mais relevantes, encontram-
se as bactérias do gênero Brachyspira, sendo a Brachyspira hyodysenteriae e
Brachyspira pilosicoli as espécies patogênicas para suínos (Taylor e Alexander, 1971;
Taylor et al., 1980) descritas na América Latina. A B. hyodysenteriae é o agente
primário da Disenteria Suína, caracterizada por diarreia mucohemorrágica grave com
alta morbidade podendo ser fatal, mesmo em animais tratados (Taylor e Alexander,
1971). O objetivo deste trabalho é descrever a ocorrência de surtos de diarreia
causados pela B. hyodysenteriae em suínos em granjas localizadas principalmente no
sul do Brasil em 2012.
MATERIAL E MÉTODOS
De agosto de 2012 a junho de 2013 foram encaminhados ao Setor de Patologia
Veterinária da UFMG, fragmentos de ceco e cólon frescos e ou fixados em formalina
tamponada a 10% de suínos com sinais clínicos de diarreia Amostras frescas foram
submetidas ao isolamento bacteriano sendo semeadas em placas com meio seletivo
para Brachyspira sp. segundo Novotná e Skardová (2002) e incubadas em
anaerobiose. As amostras fixadas foram processadas por métodos histológicos
rotineiros, e corados por hematoxilina eosina. Os fragmentos de intestino grosso foram
processados pela técnica histológica rotineira para o procedimento de hibridização
fluorescente in situ, utilizando sonda específica para B. hyodysenteriae de acordo com
176
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 063, 2013

Jensen et al. (1998 e 2000). Para PCR foram utilizados raspados da mucosa fresco
utilizando a técnica de amplificação dupla para B. hyodysenteriae e B. pilosicoli, de
acordo com o protocolo de La et al. (2006).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As lesões microscópicas variaram de colites catarrais moderadas multifocais a casos
graves de colite fibrino necrohemorrágica difusa grave, acompanhadas de infiltrado
neutrofílico, hiperplasia marcante de células caliciformes com dilatação de criptas e
acúmulo de muco no lúmen e estruturas espiraladas consistentes com espiroquetas.
Foram isoladas 17 amostras de espiroquetas fortemente hemolíticas em ágar sangue,
positivas para B. hyodysenteriae na PCR e com marcação fluorescente positiva para
este agente no FISH. Anterior ao surto esses registros da doença eram comunicações
de casos individuais ou descrições de técnicas de diagnóstico ou controle (Barcellos et.
al., 2010). Entretanto, de 2010 até a presente data, foram detectados vários novos
surtos de disenteria suína. As amostras isoladas no período entre 2012 e 2013 são
referentes a surtos em Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em Minas
Gerais havia histórico de transferência de animais entre granja positiva e outra que se
contaminou. Os demais surtos parecem estar relacionados à contaminação de uma
granja multiplicadora terceirizada no oeste Catarinense, que forneceu fêmeas de
reposição clinicamente sadias, mas infectadas, para várias Unidades de Produção de
Leitões (UPLs) de diferentes empresas de integração. A manifestação clínica iniciou
nas marrãs entregues e, posteriormente, na granja de origem destas fêmeas. A
apresentação clínica foi caracterizada por diarréia mucóide a muco hemorrágica. A
fonte de infecção nesta granja multiplicadora ainda é desconhecida. Apesar das
empresas contaminadas não serem muito numerosas, estas representam parte
importante da cadeia de produção com grande número de animais. O isolamento bem
sucedido de espiroquetas com PCR e FISH positivos para B. hyodysenteriae associado
às lesões características confirmam o diagnóstico Disenteria Suína.
CONCLUSÃO
A associação dos sinais clínicos com os métodos diagnósticos foi fundamental para o
diagnóstico de B. hyodysenteriae como o agente etiológico do surto no país.
Agradecimentos, ao CNPQ, CAPES e FAPEMIG pelo auxílio financeiro para
execução do trabalho.
REFERÊNCIAS
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pela infecção com Brachyspira spp. em suínos. Acta Scientiae Veterinariae UFRGS. Impresso, 38, p.
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GUEDES, R. M. C. Controle racional das diarreias de recria e terminação. Acta Scientiae Veterinary., 38,
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JENSEN, T. K., MØLLER, K., BOYE, M., et al. Scanning electron microscopy and fluorescent in situ
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NOVOTNÁ, M.; ŠKARDOVÁ, O. Brachyspira hyodysenteriae: detection, identification and antibiotic
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TAYLOR, D., ALEXANDER, T.J.L. The production of dysentery in swine by feeding cultures containing a
spirochaete. British veterinary journal. 127(11):p. 58-61, 1971.
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pure cultures of a spirochaete differing from Treponema hyodysenteriae. Veterinary Record. 106: 326-
332, 1980.

177
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 064, 2013

064. SURTO DE HEMONCOSE EM BOVINOS DE CORTE NO SUDOESTE


PARANAENSE
(Hemoncose outbreak in beef cattle in southwest paranaense)

Márcia Regina Hossa, Julia Morais Paim, Artur Bruzamarello, Juliana Geraldi, Juliano
Menegoto, Fabiana Elias

Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS

RESUMO: Hemoncose é uma doença parasitária que acomete ruminantes, e está


presente na maioria das regiões produtoras, principalmente as de clima tropical. A
ocorrência de quadros graves geralmente está associada a erros de manejo, fato que
favorece as infestações maciças. A doença cursa com um quadro de anemia profunda,
apatia e perda de peso. O presente trabalho tem por objetivo relatar um surto de
hemoncose acontecido em uma fazenda produtora de gado de corte, na cidade de
Santa Izabel do Oeste, região sudoeste do Paraná. Nesta fazenda quatro animais de
um lote de 50, apresentaram perda de peso, apatia e edemas submandibulares, sendo
que um, desenvolveu um quadro mais grave, o qual foi submetido à eutanásia para
realização da necropsia. O animal estava acentuadamente anêmico, com mucosas e
vísceras pálidas e acentuados edemas generalizados. O abomaso estava com mucosa
avermelhada e edemaciada, conteúdo vermelho escuro e inúmero exemplares do
parasita. O diagnóstico foi determinado mediante a observação das alterações
macroscópicas encontradas.
Palavras-chave: Anemia; hipoproteinemia; Haemoncus spp
ABSTRACT: Hemoncose is a parasitic disease that affects ruminants and is present in
most regions, especially the tropical climate. The occurrence of severe usually is
associated with inadequate management fact that favors massive infestations. The
disease cause profound anemia, lethargy and weight loss. This paper aims to report an
outbreak of hemoncose in a farm producing beef cattle in Santa Isabel do Oeste,
southwest region of Paraná. Four animals in the farm of a batch of 50, showed weight
loss, listlessness, and submandibular edema, and one developed a more severe, which
was euthanized to perform the autopsy. The animal was severely anemic, with pale
mucous membranes and viscera and marked edema widespread . The abomasal
mucosa was reddened and swollen, dark red contents and countless copies the
parasite. The diagnosis was determined by observation of the lesions presented.
Key-words: Anemia; hypoproteinemia; Haemonchus spp
INTRODUÇÃO
A hemoncose é uma doença parasitaria de grande importância para ruminantes,
principalmente caprinos e ovinos. Esta enfermidade é provocada por Haemonchus spp.
São endoparasitos da classe nematoda que acometem o abomaso (Climeni et al.,
2008). As gastroenterites em pequenos ruminantes provocadas por Haemonchus spp.
é bem documentada e tem patogenia associada a perda de peso e altas incidências de
mortes, principalmente em regiões de clima tropical o que favorece o ciclo do agente
(Amarante, 2011). Por outro lado, há poucos casos notificados de morte por
hemoncose em bovinos (Achi et al., 2003). O Heamonchus placei está descrito como a
principal espécie que acomete os bovinos, na qual é hematófago e provoca lesões no
abomaso, provocando grandes perdas de sangue, tendo alta patogenicidade quando
em infecções maciças, culminando com um quadro de hipoproteinemia e anemia (Nishi
et al., 2002). No Brasil, as endoparasitoses são julgadas como um dos principais
fatores limitantes na produção de carne, leite e demais produtos animais, interferindo
no crescimento, ganho de peso e acarretando gastos com tratamentos anti-helmínticos
(Meeusen et al., 2005; Araújo et al., 2004). Este trabalho visa descrever um surto de

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 064, 2013

hemoncose em bovinos de corte na cidade de Santa Izabel do Oeste, região sudoeste


do Paraná.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizada uma visita em uma propriedade produtora de bovinos de corte, localizada
na PR 281, município de Santa Izabel do Oeste, sudoeste paranaense. A queixa do
proprietário era que quatro animais, de um lote de 50, criados em pastagens para
produção de corte, estavam apresentando apatia, perda de peso e edema
submandibular. Segundo o proprietário estes animais não foram vermifugados. Foi
realizado exames clínico nos animais afetados e um bovino, macho, da raça nelore
com dois anos de idade foi submetido à eutanásia in extremis e necropsiado. O
diagnóstico foi baseado no exame clínico e achados macroscópicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao exame clínico observou-se face edemaciada, mucosas acentuadamente pálidas e
acentuado edema na região submandibular estendendo-se ao peito e membros.
Durante a necropsia, constataram-se acentuados edema de face e submandibular, o
que evidencia um quadro típico de hipoproteinemia (Wallace et al., 1996), pois o hábito
hematófago dos parasitos e as lesões hemorrágicas provocadas, provocam grande
perda de sangue, junto a macromoléculas proteicas, causando edemas pela diminuição
da pressão oncótica (Ruas e Berne, 2007; Williamson et al., 2003). No exame interno,
as vísceras estavam moderadamente pálidas, havia hidropercárdio e hidroperitônio. A
palidez das vísceras e mucosas externas evidenciam grave quadro anêmico
(Williamson et al., 2003; Fox e Jacobs, 1991). O abomaso apresentava aumento de
volume, ao corte, a mucosa estava avermelhada com dobras espessadas e
edemaciadas. O conteúdo era líquido vermelho amarronzado, as quais são descritas
nos casos de hemoncose ovina (Soulsby, 1987). Em meio a este material havia a
presença de parasitos vermelhos em forma de fio com comprimento de 2 a 3 cm
compatíveis com Haemoncus spp (Urquhart, 2001; Soulsby, 1987). É importante
salientar que o animal não apresentava diarreias, o que difere de parasitoses causadas
por outros nematódeos, que não Haemoncus spp (Ruas e Berne, 2007). Para os
demais animais, que se encontravam no estágio inicial de hemoncose, com sinais
clínicos menos graves, foi adotado tratamento terapêutico sendo que todos
apresentaram melhora após o tratamento.
CONCLUSÃO
A infecção por Haemoncus spp. tem como principais hospedeiros caprinos e ovinos, no
entanto, se mal manejados, bovinos também podem ser acometidos pelo parasito,
desenvolvendo o quadro clínico grave de hemoncose. O presente relato demonstrou,
por meio da necropsia, que tal enfermidade está presente na bovinocultura de corte,
destarte, o manejo adequado e diagnóstico precoce são importantes para desenvolver
estratégia de tratamento, controle e profilaxia eficazes.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 064, 2013

REFERÊNCIAS
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AMARANTE, A.F.T. Why is it important to correctly identify Haemonchus species. Revista Brasileira de
Parasitologia Veterinária. Jaboticabal, v.20, n.4, p.263-268, 2011.
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180
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 065, 2013

065. SURTO DE INTOXICAÇÃO POR SORO DE LEITE EM BOVINOS EM SANTA


CATARINA
(Outbreak of milk whey poisoning in cattle in Santa Catarina)

Thalita Carvalho Cardoso, Franciéli Adriane Molossi, Daiane Ogliari, Maria Cecília
Camargo, Sandra Davi Traverso, Aldo Gava
Departamento de Clínica e Patologia, Centro de Ciências Agroveterinárias, Universidade do Estado de
Santa Catarina, Lages, SC, Brasil.
RESUMO: Descreve-se a ocorrência de um surto de intoxicação por soro de leite em
bovinos, com 87 mortes. 6.000 litros de soro de leite foram fornecidos para 160 bovinos
de leite incluindo vacas, novilhas e terneiras. Um dia após o fornecimento do soro, a
grande maioria dos bovinos manifestou perda de apetite, andar cambaleante,
endoftalmia, deitavam e levantavam com frequência e diarreia aquosa de coloração
cinza e fétida. Na necropsia, a principal alteração foi o rúmen com distensão moderada
e repleto de conteúdo líquido acinzentado e fétido, mucosa de coloração levemente
avermelhada com junção das papilas formando pequenas massas de consistência
firme, e abomaso com a mucosa vermelha difusa. Pela histologia observou-se no
rúmen, degeneração vacuolar com formação de vesículas, às vezes com pequenos
focos de necrose, de intensidade leve a moderada, distribuída por toda a mucosa.
Palavras-chave: bovino, intoxicação por soro de leite, acidose
ABSTRACT: An outbreak of poisinig milk whey is reported in cattle, with 87 deaths.
6000 liters of whey were provided to 160 dairy cattle including cows, heifers and calves.
One day after receiving the whey, animals started getting sick and showed loss of
appetite, staggering gait, endophthalmitis, lay and raised frequently and gray and fetid
diarrhea. Gross lesions were observed in the rumen and consisted of moderate
distension containing gray and fetid liquid, red mucosa and junction of papillae, forming
small masses of firm consistency and red diffuse abomasal mucosa. Microscopically,
vacuolar degeneration with formation of vesicles, sometimes small focus of necrosis,
mild to moderate, distributed throughout the mucosa.
Key words: bovine, milk whey poisining, acidosis
INTRODUÇÃO
O soro de leite é um dos subprodutos resultantes da fabricação de queijo, cuja
composição vem sendo amplamente estudada no Brasil, a fim de identificar alternativas
para um aproveitamento adequado do mesmo, devido à sua alta qualidade nutricional,
do seu volume e de seu poder poluente (Reis, 1999). O soro do leite pode ser utilizado
na dieta de bovinos em níveis de até 44% de matéria seca, sem causar distúrbios
digestivos (Susmel et. al., 1995). Alimentos ricos em amido, sacarose, lactose e/ou
glicose, quando ingeridos em excesso pelos ruminantes, aceleram o processo
fermentativo ruminal, produzindo ácido lático com consequente diminuição do pH para
níveis fisiologicamente impróprios, podendo causar acidose ruminal e ruminites
(Radostits et al., 2002).O presente estudo tem por objetivo relatar a ocorrência de um
surto de acidose láctica ruminal em bovinos, causado pela ingestão de soro de leite em
quantidade e condições inadequadas para o consumo dos animais.
MATERIAL E MÉTODOS
O histórico, dados epidemiológicos e avaliação clínica foram efetuados em uma
propriedade de gado de leite localizada no Meio Oeste Catarinense. Seis bovinos foram
necropsiados e fragmentos de diversos órgãos foram coletados e fixados em formol
10% e processados rotineiramente para avaliação histológica.
RESULTADOS
A propriedade possuía 160 bovinos, incluindo vacas, novilhas e terneiras. Durante o
dia, os bovinos eram mantidos em pastagem e a noite em um piquete de
aproximadamente um hectare. Devido a escassez de alimentos, os animais passaram
a permanecer fechados no piquete e alimentados somente com silagem de milho e

181
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 065, 2013

soro de leite. Em um único dia foram oferecidos 6000 litros de soro, o qual estava
armazenado em um tanque com capacidade para 50.000 litros. No dia seguinte, a
maioria dos bovinos, manifestou perda de apetite, andar cambaleante, endoftalmia,
deitavam e levantavam com frequência, diarreia aquosa de coloração cinza e fétida,
totalizando 87 mortes, no decorrer de cinco dias após a administração do soro. Na
necropsia de seis bovinos observou-se rúmen com distensão moderada e repleto de
conteúdo liquido, acinzentado e fétido e na mucosa havia junção das papilas formando
pequenas massas de consistência firme. Ao raspar a mucosa do rúmem, essa soltava-
se facilmente deixando exposta a submucosa de coloração levemente avermelhada e
acentuado adelgaçamento da parede ruminal. No abomaso a mucosa também tinha
coloração avermelhada. O exame histopatológico revelou alterações apenas no rúmen,
que apresentava degeneração vacuolar das células epiteliais, com formação de
vesículas, às vezes, com pequenos focos de necrose, de intensidade leve a moderada,
distribuída por toda a mucosa.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de acidose láctica ruminal foi baseado nos sinais clínicos, epidemiologia,
achados de necropsia e confirmados pela histopatologia. O impacto de teores elevados
de gordura na dieta de bovinos ainda está longe de ser elucidado. Sabe-se que os
triglicerídeos da dieta são hidrolisados por lipases ruminais, resultando em glicerol e
ácidos graxos livres (Zinn e Jorquera, 2007). O soro deve ser introduzido
gradativamente na dieta, para que ocorra o ajuste da microbiota ruminal à nova fonte
de energia, principalmente devido a seus elevados teores de lactose (David et al.,
2010). A quantidade de soro requerida para substituir parte da proteína e da energia na
ração depende da composição do soro, métodos de manufatura, condições de
armazenamento, entre outros fatores (Mizubuti, 1994). No presente surto, em média, foi
fornecido aos animais 37, 5 L de soro com gordura misturado à silagem de milho,
quantidade altamente fermentável em um curto espaço de tempo. Além da excessiva
quantidade, a qualidade do soro também era insatisfatória. Foi observado que o soro
utilizado no dia anterior era o resíduo do fundo do tanque de armazenamento, o qual
era limpo apenas uma vez ao ano, ocorrendo a formação de depósito de gordura e
impurezas. Os sinais clínicos da acidose podem variar de leves a graves, sendo
caracterizados por prostração, andar cambaleante, anorexia e diarreia (Radosotits,
2002). A degeneração vacuolar com formação de vesículas, às vezes, com pequenos
focos de necrose encontrada na mucosa do rumem também foram observadas por
Costa et. al. (2008). .
CONCLUSÃO
Soro de leite quando acidificado e administrado em quantidades elevadas, pode
produzir acidose ruminal em bovinos e causar alta mortalidade.
REFERÊNCIAS
COSTA, S. F., PEREIRA, M. N., MELO, L. Q., et al. Alterações morfológicas induzidas por butirato,
propionato e lactato sobre a mucosa ruminal e epiderme de bezerros. II. Aspectos ultra-estruturais. Arq.
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DAVID, F.M., COLLAO- SAENZ E.A., PÉREZ, J. R. O., et al. Efeito da adição de soro de leite sobre a
digestibilidade aparente e os parâmetros sanguíneos de vacas secas. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. v.62
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KOSIKOWSKI, F. V. Our industry today.. J. Dairy Sci. v.62, p.1149—1160, 1979
MIZUBUTI, I. Y. Soro de leite: composição, processamento e utilização na alimentação. Semina: Ci. Agr.,
v. 15, n. 1, p. 80-94, 1994.
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REIS, G. L. Sistema de gestão ambiental em laticínios. Revista Cândido Tostes, v.54, p.35-47, 1999
SUSMEL, P., SPANGHERO, M., MILLS, C. R., et al. Rumen fermentation characteristics and digestibility
of cattle diets containing different whey: maize ratios. Animal Feed Science and Technology, v.53, p. 81-
89, 1995.
ZINN, R. A.; JORQUERA, A. P. Feed value of supplemental fats used in feedlot cattle diets. Veterinary
Clinics Food Animal Practice, v. 23, p. 247-268, 2007.
182
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 066, 2013

066. SURTOS DE COCCIDIOSE EM TERNEIROS DE CORTE POR Eimeria sp. NO


ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL
(Outbreaks coccidiose in beef calves eimeria sp, in Santa Catarina, Brazil)

Nathalia S. Wicpolt, Leise H.Parizotto, Claudia P.Biffi, Claudia S. Wisser, Tamiris


Decoragio, Aldo Gava
Depto Clínica e Patologia, Centro de Ciências Agroveterinárias, Universidade do Estado de SC,Lages
RESUMO: A coccidiose bovina é uma parasitose comum em animais jovens,
responsável por alterações gastrointestinais e morte. Este trabalho descreve seis
surtos de coccidiose em terneiros de corte, ocorridos no estado de Santa Catarina. O
quadro clínico era caracterizado por debilidade, letargia, anorexia, desidratação,
diarreia com muco e sangue. Seis terneiros foram necropsiados e amostras de intestino
foram encaminhadas em formalina a 10% para exame histológico. Como alterações
macroscópicas foram observadas, conteúdo aquoso esverdeado no intestino grosso e
mucosa com coloração vermelha. No ceco havia pontos branco-amarelados na
mucosa, variando de 0,5 a 1 mm de diâmetro. As lesões histológicas observadas
foram, formas evolutivas de Eimeria sp . no citoplasma de células e luz de criptas do
intestino grosso. No esfregaço de fezes e da mucosa intestinal, foi observado grande
quantidade de oocistos de Eimeria sp.
Palavras chave: bovino; eimeriose; histologia;necropsia
ABSTRACT: bovine Coccidiosis is a parasitic disease common in young animals,
responsible for gastrointestinal disorders and death. This paper describes six outbreaks
of coccidiosis in beef calves, occurring in the state of Santa Catarina. The clinical
picture was characterized by weakness, lethargy, anorexia, dehydration, diarrhea with
mucus and blood. Six calves were necropsied and samples of intestine were submitted
in 10% formalin for histological examination. How microscopic changes were observed,
greenish watery contents in the large intestine mucosa and red coloring. Cecum was
yellowish-white spots in the mucosa, ranging from 0.5 to 1 mm in diameter. The
histological lesions were observed, evolving forms of Eimeria sp. in the cytoplasm of
cells and light intestine crypts. In smear feces and intestinal mucosa was observed lots
of oocysts of Eimeria sp.
key words: catlle; eimeriosis; histology; necropsy
INTRODUÇÃO
A coccidiose ou eimeriose bovina é conhecida como diarréia de sangue ou, curso
vermelho e é causada por protozoários do gênero Eimeria que se multiplicam nas
células epiteliais do intestino delgado e grosso. Os bovinos podem ser parasitados por
aproximadamente 20 espécies de Eimeria, sendo E. zurnii e E. bovis as mais
importantes quanto á prevalência e patogenia (Berne e Vieira, 2001). A doença ocorre
com maior frequência em animais jovens, havendo incidência estacional que pode
estar associada à época do ano em que bezerros e cordeiros novos são apartados
para a desmama ou, transferidos para piquetes de engorda, ou ainda alimentados em
confinamento durante os meses de inverno (Radostits et al., 2002). Os principais sinais
clínicos da coccidiose em bovinos são diarreia, que pode ser hemorrágica,
desidratação, pelos arrepiados, perda de peso, anemia, debilidade, baixa conversão
alimentar e redução na produção de leite (Uhlinger, 1993). O diagnóstico é baseado no
histórico, sinais clínicos, exame parasitológico (oocisto por grama de fezes–OOPG),
necropsia e histologia (Noronha e Buzetti, 2002) .No Brasil os dados sobre coccidiose
em bovinos são inúmeros, no entanto o diagnóstico feito através da necropsia e
histologia é escasso. O objetivo deste trabalho é relatar seis surtos de coccidiose por
Eimeria sp em bovinos de corte, no Estado de Santa Catarina.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados epidemiológicos e clínicos foram obtidos com os produtores e com os
veterinários do local onde ocorreram os surtos. Seis terneiros, um de cada surto, foram
183
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 066, 2013

necropsiados e amostras de vísceras foram fixadas em formalina a 10%, processadas


rotineiramente, coradas pela técnica de hematoxilina-eosina (HE) e visualizadas em
microscopia óptica.
RESULTADOS
Os surtos ocorreram em 6 propriedades, localizadas nos municípios de Bom Retiro,
Lages, Otacílio Costa, Pouso Redondo e Urupema, no estado de Santa Catarina. Os
bovinos acometidos tinham idade entre 6-8 meses e eram mantidos em regime
extensivo. A doença teve curso clinico de uma semana e o aparecimento dos sinais
coincidiu com a época de seca, entre os meses de junho e julho nos anos de
2011/2012. Todos os terneiros doentes apresentaram sinais clínicos de debilidade,
letargia, perda de apetite, desidratação, diarreia com muco e sangue, mucosa oral e
vulvar pálida. Dois desses bovinos foram submetidos á eutanásia, os demais morreram
espontaneamente. Os achados de necropsia foram caracterizados por palidez das
vísceras e a mucosa do intestino grosso tinha coloração avermelhada intercalada por
pontos branco-amarelados, variando de 0,5 a 1 mm de diâmetro. As lesões histológicas
observadas foram inúmeras formas evolutivas de Eimeria sp. no citoplasma de células
epiteliais e luz de criptas do intestino delgado. Em esfregaços de fezes e da mucosa
intestinal foi observado grande quantidade de oocistos de Eimeria sp.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de coccidiose por Eimeria sp. em terneiros foi realizado com base no
histórico e achados clínico-patológicos. Os fatores que predispõem o aparecimento de
coccidiose estão relacionados á idade dos animais (Almeida et al., 2011), estado
imunitário e nutricional (Berne e Vieira., 2001), a um ambiente que estimula a
contaminação (Oliveira et al 2009) e a criações extensivas (Meireles et al., 2012) nos
períodos secos (Berne e Vieira., 2001). Neste relato em todos os surtos, a doença
iniciou após o desmame dos terneiros, nos meses de inverno e coincidiu com período
seco. Através da histologia, não foi possível identificar a espécie de Eimeria envolvida,
porém, devido á localização, na porção final do íleo, no ceco e no cólon, sugere-se
tratar-se de Eimeria bovis, já que as lesões observadas por Eimeria zurnii, ocorrem
principalmente no intestino delgado e grosso (Berne e Vieira, 2001). Pela macroscopia
as lesões de intestino devem ser diferenciadas de outras enfermidades intestinais e a
idade dos terneiros deve ser levada em consideração. No entanto, pela microscopia a
presença de diferentes formas evolutivas de Eimeria sp. no intestino, é definitiva para
diagnóstico.
CONCLUSÃO
Coccidiose é uma das enfermidades que cursam com diarréia, responsável por causar
morte em terneiros, no estado de Santa Catarina e frequentemente acomete terneiros
com idade entre 6 a 8 meses. Para o diagnóstico é fundamental, além do exame de
fezes, a coleta de amostras de intestino para avaliação histológica.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, V.A.; MAGALHÃES, V.C.S; MUNIZ NETA, E.S. et al. Frequency of species of the Genus
eimeriain naturally infected cattle in Southern Bahia, Northeast Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia
Veterinária, v.20, n.1, p. 78-81, 2011.
BERNE, M.E.A.; VIEIRA, L.S. Eimeriose bovina. In: RIET-CORREA, F. et al. Doenças de ruminantes e
equídeos. 2.ed. São Paulo: Varela, 2001. v. 2., Cap.1., p. 147-152.
MEIRELES, G.S.; SILVA, N.M.P.; GALVÃO, G.S. etal.Surto de coccidiose em bezerros búfalos
(bubalusbubalis)por eimeriabareillyigil et al., 1963 (apicomplexa: eimeriidae) - Relato de Casos. Revista
Brasileira de Medicina Veterinária. v.34, n.2, p. 116-120, 2012.
NORONHA,JR, A.C.F.; BUZETTI, W.A.S. Eimeriose em búfalos. Rev Agr e da Saúde,v.2,n.1,p.47-53.
OLIVEIRA, P.C.L.; SAMPAIO, R.L.; LACERDA, M.S. et al. Coccidiose entérica, associada à
encefalopatia, em vaca gir adulta (relato de caso). Ciência Animal Brasileira, v.10, n.1, p. 322-329, 2009.
RADOSTITS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C; HINCHCLIFF, K.W. Clínica Veterinária: um tratado de
doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e eqüinos,RJ: Guanabara Koogan, 2002. 1737p.
UHLINGER, C.A. Programas de controle parasitário. In: SMITH, B. P. Tratado De Medicina Interna de
Grandes Animais. São Paulo: Manole, 1993. p. 1501- 1528.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 067, 2013

067. TUBERCULOSE MENINGEANA E NA FORMA DE TUBÉRCULOS ISOLADOS


NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL DE UMA NOVILHA HOLANDESA
(Meningeana tuberculosis and form of tubers isolated central nervous system of
a Holsteins heifer)

Paula C. Borges¹, Karen Y. R. Nakagaki², Priscila R. F Lopes², Brisa Souza¹, Kiyoko


Utiumi², Djeison L. Raymundo³

1. Aluno de Graduação do Curso de Medicina Veterinária, UFLA, Lavras, MG.


2. Aluno do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, UFLA, Lavras, MG.
3. Professor do Curso de Medicina Veterinária, Setor de Patologia Veterinária, UFLA, Lavras, MG
djeison.raymundo@dmv.ufla.br

RESUMO: A tuberculose no sistema nervoso central é uma doença grave e que


esporadicamente acometem bovinos. Este relato descreve um caso de tuberculose no
sistema nervoso central de uma novilha da raça holandesa de 8 meses de idade.
Durante a necropsia foram observados granulomas em várias regiões do encéfalo e
principalmente na medula espinhal torácica. O diagnóstico da doença foi obtido pela
inflamação granulomatosa característica da tuberculose e pela coloração especial de
Ziehl Neelsen, que foi positiva para bacilos álcool-ácidos-resistentes.
Palavras-chave: bovino; inflamação granulomatosa; medula espinhal, Mycobacterium
sp.; neurológico
ABSTRACT: Tuberculosis is a serious disease that affecting cattle sporadically in the
central nervous system . This report describes a case of tuberculosis of the central
nervous system of a Holstein heifer with 8 months old. At the necropsy were observed
granulomas in several brain regions and especially in the thoracic spinal cord. The
diagnosis was obtained from characteristic granulomatous inflammation of tuberculosis
by special staining of Ziehl Neelsen, which was positive for acid-fast bacilli resistant.
Key words: Cattle; granulomatous inflammation; spinal cord; Mycobacterium sp.;
neurological.
INTRODUÇÃO
A tuberculose bovina é uma doença infecto-contagiosa, de cunho cosmopolita, que, no
Brasil, acarreta muitos prejuízos econômicos, pelos impactos na produtividade dos
animais e sanitários, além de ser uma importante zoonose (Riet- Correa et al., 2007).
É uma doença provocada principalmente pelo Mycobacterium bovis, sendo as
principais vias de infecção a respiratória, a digestiva pelo leite e água contaminados, e
outras menos comuns como a cutânea, congênita e genital (Riet- Correa et al., 2007).
Na fase inicial, a tuberculose pode se resolver caso o animal tenha boas condições
imunológicas. Quando o animal infectado não consegue debelar a infecção inicial, a
bactéria pode se disseminar para diferentes órgãos, inclusive para o sistema nervoso
central (Riet- Correa et al., 2007).
Os casos de tuberculose representam 1,3% das doenças de bovinos no Brasil, e este
índice cai para 0,35% a 0,53% quando o sistema nervoso central é acometido. (Barros
et al., 2006). Neste tecido a tuberculose pode se apresentar na forma meningeana,
como tubérculos isolados no encéfalo ou na medula espinhal, por compressão medular
por espondilite tuberculosa e na forma de neurite por contiguidade de lesões de outros
órgãos (Barros et al., 2006).
Este estudo tem como objetivo relatar um caso de tuberculose meningeana e na forma
de tubérculos isolados no encéfalo e medula espinhal de um bovino jovem.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi solicitado ao Setor de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Lavras a
realização da necropsia de uma novilha holandesa, de oito meses de idade,
proveniente de uma propriedade pertencente ao município de Três Corações- MG. O
animal foi eutanasiado e durante a necropsia,fragmentos de todos tecidos foram
185
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 067, 2013

coletados em formol a 10% tamponado e processados rotineiramente para


histopatologia. Além da coloração de hematoxilina eosina, realizou-se também a
coloração especial de Ziehl Neelsen.
RESULTADOS
O proprietário relatou que a novilha apresentou manifestações neurológicas por duas
semanas, permanecendo na última semana em decúbito esternal, com paralisia de
membros torácicos e pélvicos, mas sempre mantendo- se consciente, alimentando- se
e ingerindo água normalmente. Nos últimos cinco anos outros quatro animais da
mesma faixa etária já haviam morrido apresentando os mesmos sinais clínicos.
Segundo o proprietário, todos animais do rebanho eram negativos no teste de
tuberculina e somente animais adultos eram vacinados conta raiva.
Na necropsia observaram-se áreas granulomatosas focais, de coloração amareladas
na superfície da região temporal esquerda do córtex, na região frontal direita próximo
ao bulbo olfatório, sobre os colículos rostrais, na região cortical esquerda do cerebelo e
na superfície da meninge da medula espinhal na altura da intumescência torácica. No
momento da clivagem do material já fixado, observou-se ao corte que estas áreas se
aprofundavam no tecido nervoso formando nódulos granulomatosos de 0,1 a 0,2 cm,
apresentando-se firmes, amarelados e com áreas de calcificação no encéfalo e
colículos, enquanto que na medula estes nódulos mediam cerca de 0,5 cm.
Na microscopia visualizaram-se no córtex e no cerebelo áreas necróticas compostas
por restos celulares amorfos com regiões centrais de calcificação, associado a um
infiltrado inflamatório granulomatoso composto por macrófagos e células gigantes
multinucleadas. Na parede dos vasos havia infiltrado inflamatório mononuclear,
composto principalmente por macrófagos. Na medula torácica, medula cervical e
colículos rostrais, observou-se a presença de extensas áreas multifocais a coalescente
de necrose compostas por restos celulares amorfos, com áreas centrais de
calcificação, inflamação composta de macrófagos e células gigantes e meningite
granulomatosa acentuada. A coloração especial de Ziehl Neelsen evidenciou grande
quantidade de bacilos álcool-ácidos-resistentes dentro das células gigantes
multinucleadas e nas áreas de necrose.
DISCUSSÃO
A tuberculose é uma enfermidade de grande importância para a saúde pública, visto
que a presença da doença em rebanhos bovinos traduz em risco à saúde humana
(Salazar & Guimarães, 2006). No presente estudo não foi possível identificar qual foi a
via de infecção do animal, mas, segundo a literatura, em animais jovens, as infecções
do encéfalo são na maioria das vezes congênitas (Barros et al 2006), sendo também
frequente a infecção pelo leite (Lópes, 2009).
Quando o sistema nervoso está envolvido, as manifestações clínicas variam de acordo
com a localização da lesão. No presente relato os sinais de paralisia e dificuldade
locomotora foram condizentes com os locais e a gravidade das lesões encontradas
(Barros et al., 2006). Os achados de necropsia e a inflamação granulomatosa
específica, visualizada no exame histopatológico, foram importantes no diagnóstico da
enfermidade, porém a confirmação da doença só foi feita através da coloração especial
de Ziehl Neelsen, que demonstrou a presença de bacilos álcool-ácidos-resistentes
intralesionais, visualizados na cor vermelha no interior de macrófagos e nas áreas de
necrose (Barros et al., 2006; Caswett & Williams, 2007 ).
Segundo Barros et al (2006), no sistema nervoso central, as lesões de tuberculose
localizam-se principalmente nas meninges, diferindo deste caso, em que a lesão
principal encontrada foi granulomas no encéfalo e de forma mais acentuada na medula
espinhal.
CONCLUSÃO
Baseado nos achados anatomo-patológicos associados à coloração especial de Ziehl
Neelsen, foi possível confirmar o diagnóstico de tuberculose no sistema nervoso de
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 067, 2013

uma novilha. Este diagnóstico deve ser considerado como diferencial de outras
enfermidades que cursam com manifestações neurológicas em bovinos.
Agradecimentos:
À Universidade Federal de Lavras e ao apoio financeiro da FAPEMIG.
REFERÊNCIAS
BARROS, C. S. L.; DRIEMEIER, D.; DUTRA, I. S.; LEMOS, R. A. A. Doenças do sistema nervoso de
bovinos no Brasil. Montes Claros: Vallé, 2006. p. 81- 86.
CASWETT, J. L.; WILLIAMS, K. J.; Respiratory system. In: MAXIE, M. G. (Ed.). Jubb, kennedy, and
palmer‘s pathology of domestic animals. 5. Ed. Philadelphia: Saunders Elsevier, 2007. v. 2, p. 523- 653.
LÓPES, A. Sistema respiratório. In: McGAVIN, M.D; ZACHARY, J. F. Bases da Patologia Veterinária.
Tradução da 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p. 526- 527
RIET- CORREA, F; SCHILD, A. L; LEMOS, R. A. A; BORGES, J. R. J. Doenças de ruminantes e
equídeos. 3. Ed. Santa Maria: Palloti, 2007. v.1. p. 432- 441.
SANCHES, A. W. D; LANGOHR, I. M; STIGGER, A. L; BARROS; C. S. L. Doença do sistema nervoso
central em bovinos no Sul do Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 20, n.3, p.113-118, 2000.
SALAZAR, F.H.P. GUIMARÃES E.B. 2006. Tuberculose bovina. In: LEMOS, R.A.A. Brucelose Bovina,
Tuberculose Bovina. Série Qualificação Rural 4. ed. UFMS, Campo Grande, 2006. p. 59- 112.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 068, 2013

068. URETROLITÍASE OBSTRUTIVA EM EQUINO


(Obstructive urethrolithiasis in a horse)

Suélen Dias Silva dos Reis¹, Ricardo Santana de Oliveira², Emmanuel Emydio Gomes
Pinheiro³, Carmo Emanuel Almeida Biscarde4, Pedro Miguel Ocampos Pedroso5,
Juliana Targino Silva Almeida e Macêdo6
1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal da UFRB.suelendsdr@gmail.com;
2 discente de Medicina Veterinária, Laboratório de Patologia Veterinária da UFRB;
3 discente de Medicina Veterinária, Laboratório de Patologia Veterinária da UFRB;
4 Médico Veterinário, Msc. Setor Zootécnico da UFRB;
5 Prof. Adjunto do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da UFRB;
6 Profa Adjunta do Núcleo de Medicina Veterinária da UFS
RESUMO: É relatado um caso de uretrolitíase obstrutiva em um equino. Clinicamente o
animal apresentou histórico de tenesmo, estrangúria e disúria. Durante a necropsia,
havia uroperitonite associada à ruptura da vesícula urinária. Na uretra peniana havia
um urólito de aproximadamente 3,5 x 3,0 cm de superfície rugosa e porosa, castanho
claro e de consistência pétrea. Microscopicamente havia nefrite intersticial, vesícula
urinária e uretra peniana com necrose difusa do epitélio e infiltrado inflamatório. A
análise química do cálculo urinário demonstrou a presença de estruvita. Uretrolitíase é
pouco descrita em equinos e pode ser causada por cálculo de estruvita
Palavras-chave: concreção; estruvita; sistema urinário
ABSTRACT: One case of obstructive urethral lithiasis in a horse is described. Clinically
the animal had a history of tenesmus, strangury and dysuria. At necropsy uroperitonite
was associated with rupture of the bladder. The penile urethra there was a urolith of
approximately 3.5 x 3.0 cm rough, porous surface, light brown and rocklike consistency.
Microscopically, there was interstitial nephritis, penile urethra and bladder with diffuse
epithelial necrosis and inflammatory infiltrate. Chemical analysis of urinary calculus
showed the presence of struvite. Urethral lithiasis is rarely reported in horses and can
be caused by struvite calculus
Key words: concretion; struvite; urinary system
INTRODUÇÃO
A presença de concreções macroscópicas no sistema urinário é denominada urolitíase.
Nos equinos a ocorrência é rara (SAAM, 2001; DUESTERDIECK-ZELLMER, 2007). Em
um estudo retrospectivo em equinos, a urolitíase compreendeu 0,11% de todos os
diagnósticos e 7,8% das alterações no sistema urinário. Dos 325 equinos com
urolitíase, 59,7% apresentaram cálculo cístico, 24% cálculo uretral, 12,6% cálculo renal
e 3,7% cálculo ureteral. Em 10% dos casos os equinos tinham cálculos em múltiplos
locais (LAVERTY et al., 1992). Os cálculos geralmente são concreções espiculadas
grandes e únicas, compostas de cristais de carbonato de cálcio. Menos comumente, as
concreções são de cristais mistos de carbonato de cálcio e de fosfato de cálcio
(DIVERS, 2001). Descreve-se um caso de uretrolitíase obstrutiva em equino.
RELATO DE CASO
Um equino de um ano e cinco meses de idade, sem raça definida, macho não castrado,
apresentou tenesmo, estrangúria e disúria, sem história prévia de doença e/ou
tratamento. O animal veio a óbito sete dias após o início dos sinais clínicos, sendo
encaminhado para realização da necropsia. Na necropsia foram observados
macroscopicamente: mucosas oral e conjuntiva pálidas, a abertura da cavidade
abdominal notou-se grande quantidade de líquido citrino de odor urêmico, com
deposição de filamentos de fibrina sobre o peritônio, diafragma e órgãos abdominais. A
serosa intestinal mostrou-se difusamente hiperêmica. Os rins apresentavam múltiplas
áreas de tonalidade brancacenta levemente protrusas com diâmetro máximo de 3,0
milímetros; ao corte, estas áreas limitavam-se a região cortical. A vesícula urinária
apresentava-se rompida, desprovida de mucosa e com evidenciação de capilares, além
da deposição de fibrina e coágulos cruóricos. Foram evidenciados na abertura da
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 068, 2013

uretra peniana mucosa focos de necrose e hemorragia, acompanhados pela presença


de urólito medindo 3,5 x 3,0 centímetros, de superfície rugosa e porosa, coloração
castanho claro e de consistência pétrea. Durante a necropsia foram coletados
fragmentos de vísceras abdominais, torácicas, sistema nervoso central e pele para
realização de exame histopatológico. Os fragmentos foram fixados em formol neutro
10%, processados pela técnica rotineira de inclusão em parafina e corados pela
hematoxilina e eosina. O cálculo urinário coletado durante a necropsia foi enviado para
análise de composição química. Microscopicamente no rim havia na região cortical
intenso infiltrado inflamatório misto, predominantemente formado por macrófagos,
neutrófilos e plasmócitos, intersticial com distribuição multifocal; adjacente havia ainda,
necrose do epitélio tubular, por vezes com lise da membrana basal com focos de
mineralização, nas camadas cortical e medular. Na vesícula urinária e na uretra havia
necrose difusa do epitélio de revestimento e nas camadas submucosa e muscular
acentuado infiltrado inflamatório composto principalmente por neutrófilos, além da
deposição de fibrina e edema Na uretra peniana haviam alterações semelhantes as
descritas na vesícula urinária. A análise química do urólito demonstrou que este era
composto por oxalato de cálcio, fosfato triplo amoníaco magnesiano (estruvita) e
amônio.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de urolitíase obstrutiva uretral foi estabelecido a partir dos sinais clínico-
patológicos. A ocorrência de urolitíase em equinos é rara (SAAM, 2001,
DUESTERDIECK-ZELLMER, 2007), provavelmente devido à grande quantidade de
muco produzido por glândulas na pelve renal e no ureter proximal, que atua como
lubrificante para impedir a aderência dos cristais ao urotélio (DIVERS, 2006). A
ausência da flexura sigmóide e processo uretral vermiforme no equino também
influenciam na baixa ocorrência da doença em comparação aos ruminantes
(TROTTER, 1981). A manifestação clínica ocorre principalmente em machos castrados
e com idade entre 2 a 18 anos (EHNEN et al., 1990, DIAZ-ESPINERA et al., 1995,
SAAM, 2001), diferente do caso descrito, por ocorrer em um equino não castrado e
jovem (1,5 anos). Não foram relatados pelo médico veterinário e pelo proprietário
fatores que pudessem contribuir com o surgimento e desenvolvimento do urólito neste
equino. Entretanto, sabe-se que o desenvolvimento de urólitos em equinos não é bem
compreendido, mas células epiteliais descamadas, leucócitos, suturas não absorvíveis
e tecidos necróticos foram relatados como núcleos de cálculos císticos. A maioria dos
autores descreve a vesícula urinária e a uretra, como os principais locais para a
presença de urólitos (DIAZ-ESPINEIRA et al. 1995; HOLT, 1995), semelhante à
localização do presente caso em que o urólito estava situado na uretra causando
obstrução total. Os urólitos nos equinos são geralmente compostos por uma variedade
de sais de cálcio hidratado e sais de carbonato de cálcio, magnésio e fósforo. Os
compostos por estruvita são menos comuns (Laverty,1992; Diaz- Espineira et al., 1995)
CONCLUSÃO
Uretrolitíase é pouco descrita em equinos e pode ser causada por cálculo de estruvita.
REFERÊNCIAS
Diaz-Espinera M., Escolar E., Bellanato J. et al. Structure and composition of equine uroliths. Journal of
Equine Veterinary Science, v.15, n.1, p.27-34, 1995.
SMITH, B. P. Medicina interna de grandes animais. 3 ed. São Paulo : Manole, 2006. 1728 p.
Duesterdieck-Zellmer K.F. Equine Urolithiasis. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice,
v.23, n.3, p. 613-629, 2007.
Ehnen S.J., Divers T.J., Gillette D. et al. Obstrutive nephrolithiasis and ureterolithiasis associated with
chronic renal failure in horses: eight cases (1981-1987). Journal of the America Veterinary Medical
Association, v.197, n. 2, p.249-253,1990.
Laverty S., Pascoe J.R., Ling G.V. et al. Lavoie J.P. & Ruby A.L. Urolithiasis in 68 horses. Veterinary
Surgery, v.2, n.1, p.56-62, 1992.
Saam D. Urethrolithiasis and nephrolithiasis in a horse. The Canadian Vet. Jo., v.42, p.880-883, 2001.

189
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 069, 2013

PATOLOGIA EXPERIMENTAL E COMPARADA

069. ACHADOS HISTOPATOLOGICOS E HISTOQUIMICOS EM CEBERELO DE


COBAIAS EXPERIMENTALMENTE INTOXICADOS
PELO Astrágalos pehuenches
(Histopathology and histochemical finding in cerebellum of guinea pigs
experimental poisoned by Astragalus pehuenches)

Agustin Martinez - agmartinez@bariloche.inta.gov.ar (Apresentador) Instituto Nacional de Tecnologia


Agropecuaria (INTA), Argentina ; Lorena Cancelarich - cancelarich_ln@hotmail.comInstituto Nacional de
Tecnologia Agropecuaria (INTA), Argentina; Guadalupe Guidi - guadalupeguidilp@hotmail.com ; Paula
Rozenfeld - paurozen@biol.unlp.edu.ar; Eduardo Juan Gimeno - ejgimeno@fcv.unlp.edu.ar .Universidad
Nacional de la Plata (UNLP), Argentina; Carlos Robles - crobles@inta.gov.ar

RESUMO: As lesões foram estudadas em cerebelo de cobaios alimentados com


Astragalus pehuenches. Três grupos foram estudados: control (GC, n = 2), um grupo
tratado com 33% (GT33%, n = 3) e 50% do grupo tratado (GT50%, n = 3),
correspondente à percentagem de A. pehuenches na dieta. Após 54 dias de
tratamento, foram sacrificados por perfusão, os cerebelos foram seccionados
longitudinalmente e processados para HE, lectinhistoquímica (LHQ) e imuno-
histoquímica (IHQ) para astrogliosis, microgliose e presença de esteróides. Observou-
se vacuolização em grandes neurónios e células de Purkinje e núcleos de profundidade
e também a presença de esferóides axonais. As células afetadas apresentabam forte
marcação com Lens culinaris e succinil Triticum vulgaris em LHQ. IHC mostrou
astrogliose e microgliose na camada molecular e na matéria branca, respectivamente.
Os resultados sugerem que o cerebelo é afetado pelo depósito lisossômico de
oligossacarídeos de com abundante manose nos neurônios que poderiam afetar a sua
funcionalidade.
Palavras-chave: α-manosidose; degeneração; histoquímica; SNC
ABSTRACT: Cerebellum lesions in guinea pigs fed with Astragalus pehuenches were
determined. Control Group (CG, n=2), Treated Group 33% (TG33%, n=3) and Treated
Group 50% (TG50%, n=3) were established. The percentages correspond to the A.
pehuenches’s concentration in the diet. After 54 days of treatment they were perfused.
The cerebellum was sectioned longitudinally and processed for HE, lectin
histochemistry (LHC) and immunohistochemistry (IHC) for astrogliosis, microgliosis and
demonstration of spheroids. Poisoned guinea pigs showed vacuolation in large neurons
like Purkinje cells and cells from deep nuclei. Axonal spheroids were also observed. In
LHC, strongly stained neurons with Lens culinary and succinyl-Triticum vulgaris were
observed. IHC showed astrogliosis and microgliosis in the molecular layer and white
matter, respectively. The results 2 suggest neuronal injury in cerebellum due to the
lysosomal storage of high-mannose oligosaccharides, which could affect its
functionality.
Key words: α-mannosidosis; degeneration; histochemistry; CNS
INTRODUÇÃO
No mundo identificaram vários gêneros de plantas que possuem suainsonina:
Swainsona spp, Astragalus spp, Oxytropis spp, Ipomoea spp, Sida carpinifolia e
Turbina cordata (James et al 1970, Driemeier et al 2000, Dantas et al 2007, Armien et
al 2007). O consumo em longo prazo destas espécies pelos ruminantes origina sinais
nervosos, emagrecimento e falha reprodutiva (James et al 1979, Armien et al 2007). Os
sintomas neurológicos são ataxia, incoordenação motora, tremores musculares,
relacionam-se com as lesões neuronais encontradas no sistema nervoso central (SNC),
em geral, e no cerebelo, em particular (Stegelmeier et al 2005). A. pehuenches cresce
na Patagônia Argentina e foi identificado como responsável de intoxicação em ovinos
190
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 069, 2013

(Molyneux e Gomez-Sosa 1991, Robles et al, 2000). A fim de avaliar as principais


alterações estruturais e celulares no cerebelo, foi realizado um estudo histopatológico e
histoquímico em cobaias experimentalmente intoxicadas por A. pehuenches.
MATERIAIS E MÉTODOS
Planta. Amostras de A. pehuenches foram coletadas na província de Rio Negro,
Argentina. Folhas foram secas em estufa, e depois moídas para obter um pó fino. Uma
amostra representativa foi enviada para o Laboratório de Plantas Tóxicas Logan Utah,
para a determinação de swainsonina.
Preparação de peletes. Pó de A. pehuenches foi misturado com ração comercial, na
proporção 33% ou 50%. A mistura foi humedecida com água e a massa passada
através de um picador de carne. Os peletes foram secos por fluxo de ar natural.
Animais. Oito cobaias Hartley de 21 dias de idade com peso de 200 g, foram divididos
em três grupos: grupo controle (GC, n = 2), Grupo Tratado 33% (GT33%, n = 3) e
Grupo Tratado 50% (GT50%, n = 3).
Após 54 dias de tratamento os animais foram sacrificados por perfusão cardíaca com
paraformaldeído a 4%. O cerebelo foi dissecado e seccionado longitudinalmente ao
longo da linha do verme.
Laboratório. O hemisfério direito foi incluído em parafina e processado para HE
técnicas, lectinhistoquímica (LHQ) e imuno-histoquímica (IHQ). Foram avaliadas3
quatro lectinas e anticorpos monoclonais contra proteína glial fibrilar ácida (GFAP),
microglia (Iba1) e esferóides (ubiquitina). As diluições utilizadas foram 1:1000, 1:100 e
1:100, respectivamente.
RESULTADOS
A concentração de swainsonina foi de 0,07% mgSW/MS. Com HE foi observada
vacuolização citoplasmática, cromatólise e deslocamento dos núcleos para a periferia
em grandes neurónios e oligodendrócitos, nos animais tratados. Os neurônios mais
afetados foram as células de Purkinje e os neurônios dos núcleos de profundidade. Na
base do cerebelo apresentou estruturas circulares eosinófilas de tamanho variável,
reconhecidas como esferóides axonais.
As células de Purkinje e os neurônios de núcleos de profundos mostraram marcação
com LCA e sWGA. A marcação com WGA foi inconstante e Con-A mostraram um
aumento da coloração de fundo, sem diferenças entre os grupos. IHC revelou
astrogliose evidente na camada molecular nos grupos tratados. Microgliose foi
detectada em matéria branca na proximidade dos neurônios dos núcleos profundos do
cerebelo. A marcação dos esferóides axonais foi pouco evidente, identificando poucas
estruturas positivas na base do cerebelo.
DISCUSSÃO
As lesões observadas e a marcação lectinhistoquímica confirmam que o consumo
prolongado de A. pehuenches produziu uma doença de depósito lisossômico de
oligossacarídeos com abundante manose (Alroy et al 1985). Os resultados da IHC
sugerem que o cerebelo sofre uma série de danos neuronais que podem afectar a sua
funcionalidade. Na α-manosidose congénita Damme et al (2012) relataram lesões
semelhantes no cerebelo de ratos que mostrou correlação com os problemas motores.
Como foi evidenciado em células tumorais tratadas com swainsonina (Li et al (2012), a
acumulação de oligossacáridos em lisossomas pode originar a morte celular por
apoptose. No entanto, isto não tem sido confirmado em neurônios em animais
intoxicados com swainsonina.

191
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 069, 2013

Notas informativas
Os procedimentos deste estudo foram aprovados pelo ―Comité Institucional para el
Cuidado y Uso de Animales de Laboratorio (CICUAL)‖, FCV-UNLP (Protocolo N° 20-1-
11).
REFERENCIAS.
Alroy, J.; Orgad, U.; Ucci, A.; et al. Swainsonine toxicosis mimics lectin histochemistry of mannosidosis.
Veterinary Pathology. v.22, p.311-316, 1985.
Armien, A.; Tokarnia, C.; Vargas Peixoto, P.; et al. Spontaneous and experimental glycoprotein storage
disease of goats induced by Ipomoea carnea subsp fistulosa (Convolvulaceae). Veterinary Pathology.
v.44, p.170-184, 2007.
Damme, M.; Stroobants, S.; Walkley, S.; et al. Cerebellar alterations and gait defects as therapeutic
outcome measures for enzyme replacement therapy in α-mannosidosis. Journal of Neuropathology
Experimental Neurology. V.70, p.83–94, 2012.
Dantas, A.; Riet-Correa, F.; Gardner, D.; et al. Swainsonine-induced lysosomal storage disease in goats
caused by the ingestion of Turbina cordata in Northeastern Brazil. Toxicon. v.49, p.111-116, 2007.
Driemeier, D.; Colodel, E.; Gimeno, E.; et al. Lysosomal storage disease caused by Sida carpinifolia
poisoning in goats. Veterinary Pathology. v.37, p.153-159, 2000.
James, L.; van Kampen E.; Hartley W. Comparative pathology of Astragalus (Locoweed) and Swainsona
poisoning in sheep. Veterinary Pathology. v.7, p.116:125, 1970.
Li, Z; Huang, Y; Dong, F.; et al. Swainsonine promotes apoptosis in human oesophageal squamous cell
carcinoma cells in vitro and in vivo through activation of mitochondrial pathway. Journal Bioscience. v.37,
p.1005-1016, 2012.
Molyneux, R. y Gómez-Sosa, E. Presencia del alcaloide indolizidinico swainsonine en Astragalus
pehuenches (Leguminosae galegueae). Boletín Sociedad Argentina Botánica. v.27, p.59-64, 1991.
Robles, C.; Saber, C.; Jefrey, M. Intoxicación por Astragalus pehuenches (locoismo) en ovinos Merino de
la Patagonia Argentina. Revista de Medicina Veterinaria. v.81, p.380-384, 2000.
Stegelmeier, B.; James, L.; Gardner, D.; et al. Locoweed (Oxytropis sericea)–induced lesions in mule
deer (Odocoileius hemionus). Veterinary Pathology. v.42, p.566-578, 2005.

192
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 070, 2013

070. ALTERAÇÃO PROTEICA DE MMP9 E SEU INIBIDOR TIMP1 RELACIONADA


COM PROGRESSÃO TUMORAL DA PRÓSTATA CANINA
(Changes in MMP9 and TIMP1 protein expression related to tumor progression in
canine prostatic gland)

Rivera-Calderón, L. G.¹; Fonseca-Alves, C. E.²; Lino-Salvador, R.³; Raposo, T. M.³;


Rogatto, S. R.4; Laufer-Amorim, R.²

1 Departamento de Patologia Veterinária, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho".


2 Departamento de Clínica Veterinária, Universidade Estadual Paulista
3 Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Universidade Estadual Paulista
4 Departamento de Urologia, Universidade Estadual Paulista

RESUMO: Na próstata humana e canina surgem espontânea e naturalmente lesões


pré-malignas e malignas que compartilham as mesmas alterações gênicas. Em estudo
prévio do grupo foram analisadas as alterações genômicas da MMP9 e TIMP1 pela
técnica de hibridação genômica comparativa (CGHarray), observando-se ganhos de
MMP9 e perda de TIMP1. A validação dos resultados foi realizada numa lâmina de
TMA por Imuno-histoquímica (IHC) com os anticorpos MMP9 e TIMP1. A MMP9 teve
maior expressão no CaP (P=0,025) e na PIA (P=0,05) quando comparadas com o
tecido normal. Enquanto no TIMP1 observou-se perda da expressão no CaP ao ser
comparado com HPB (P=0,041) e tecido normal (P=0,036). A IHC confirmou os
resultados da CGHarray determinado a importância dos componentes da matriz
extracelular MMP9 e TIMP1 no processo de invasão tecidual e progressão tumoral das
desordens prostáticas caninas.
Palavras-chave: Cão, CHGarray, Imuno-histoquímica, MEC
ABSTRACT: In the human and canine prostate appear naturally and spontaneously
premalignant e malignant lesions that share the same genetic changes. In a previous
study we analyzed genetics changes of MMP9 and TIMP1 using comparative genomic
hybridization (CGHarray) technique. To validate the results immunohistochemistry
technique was applied in TMA slide for MMP9 and TIMP1. MMP9 had higher
expression in CaP (P= 0,025) and PIA (P=0,05) when compared to normal tissue
(P=0,036). In CaP we found lower TIMP1 expression when compared to BPH
(P=0,041). Immunohistochemistry technique confirmed the results of CGHarray
determined that extracellular components are important in the tissue invasion process
and tumor progression of canine prostatic disorders.
Keywords: CHGarray, Dog, Immunohistochemistry, ECM
INTRODUÇÃO
Na próstata canina e humana podem surgir de forma espontânea e naturalmente
lesões pré-neoplásicas e neoplásicas, influenciadas possivelmente por fatores
ambientais. O cão é um modelo potencial para o estudo das doenças prostáticas
associadas com o surgimento do câncer no homem: Atrofia Inflamatória Prostática
(PIA) e doenças prostáticas relacionadas com a influencia de hormônios e o
envelhecimento: Hiperplasia Prostática (HPB) e o Carcinoma Prostático (CaP) (LEROY
E NORTHUP, 2008). Atualmente são estudadas alterações numéricas e estruturais em
DNA isolado de células neoplásicas que permitam identificar as redes gênicas
envolvidas no processo carcinogênico, sendo a técnica de Hibridação Genômica
Comparativa (CGHarray) a principal forma em larga escala para detectar essas
alterações numéricas. Em estudos prévios do grupo, através de CGHarray foram
observadas alterações do número de cópias gênicas nas desordens proliferativas do
cão: HPB, PIA e CaP. Alguns genes alterados foram encontrados na matriz extracelular
(MEC) incluindo: as metaloproteinases (MMPs) e seus inibidores (TIMPs). Esses
componentes estão implicados no microambiente tumoral durante a progressão do CaP
humano (ZHONG, 2010). No entanto, existem poucos relatos do seu papel no CaP do
193
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 070, 2013

cão. Por esse motivo, o presente trabalho tem como objetivo validar por imuno-
histoquímica (IHC) as alterações genômicas da MMP9 e do seu inibidor TIMP1 em
lesões proliferativas a fim de compreender o papel destes no processo de
carcinogênese e validar os resultados encontrados na técnica de CGHarray.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se a técnica de CGHarray em 21 lesões prostáticas proliferativas incluindo: 14
CaPs, 3 HPBs, 4 PIAs e 5 próstatas histologicamente normais utilizadas como
controles, de tecidos fixados em formol e incluídos em parafina. O DNA genômico foi
extraído e os dados de alterações no número de cópias de DNA foram gerados
utilizando-se a plataforma Canine Genome CGH Microarray 4x44K (G2519F, Design
ID021193, Agilent). A análise dos dados foi realizada utilizando o programa Genomic
Workbench Standard Edition 5.0.14 (Agilent) e subsequentemente foram realizadas
análises de vias e redes gênicas, doenças relacionadas e função celular ou molecular
para as alterações encontradas nos CaPs, PIAs e HPBs, com o software Ingenuity
Pathways Analysis. Assim selecionamos os genes MMP9 e TIMP1 para validação por
apresentar um papel importante no desenvolvimento, progressão e processo
metastático de carcinomas prostáticos no homem. Para validação dos resultados uma
lâmina de microarranjo de tecido (TMA) foi construída com 66 lesões prostáticas
caninas. Foram selecionadas áreas representativas de tecido normal (n = 7) e das
lesões pré-malignas (BPH, n = 18) (PIA, n = 22) e malignas (CaP, n = 19). Realizou-se
a técnica de IHC para os anticorpos MMP9 e TIMP1. A marcação foi avaliada por
escore, de acordo com a distribuição de células positivas para (pontuação 1: <25% de
células positivas, 2: 26% a 50%, 3: sendo 51% e 75%, e 4:> 75%). Os testes de Qui-
quadrado ou teste exato de Fisher foram utilizados para determinar a associação entre
as variáveis categóricas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os CaPs apresentam um acúmulo de alterações no número de cópias genômicas
(CNVs) em comparação à HPB e a PIA. O gene TIMP1 teve perda do número de
cópias nos CaPs e PIAs, enquanto MMP9 observou-se diminuição do número de
cópias gênicas em 20% dos CaP caninos. Na PIA e no CaP a perda do gene TIMP1,
poderia colaborar para o aumento de expressão das MMP9, facilitando a invasão
estromal e desarranjo arquitetural. Por IHC foi comprovado que houve maior marcação
da MMP9 nos CaPs e PIAs quando comparados a tecido normal (P=0,025) e (P=0,05)
respetivamente. Em humanos foi demostrado que o aumentoda marcação na MMP9
esta relacionado com a progressão e metástase do CaP (ZHONG, 2010). FALEIRO et
al., (2013) observaram que a menor marcação das MMP2 e MMP9 na próstata normal
e na HPB indica seu envolvimento na remodelação da ECM, enquanto o aumento da
sua marcação na PIA e CaP sugere a ação dessa enzimas no processo de invasão
tecidual. Igualmente, encontramos menor marcação do TIMP1 no CaP ao ser
comparado com HPB (P=0,041) e tecido normal (P=0,036). No câncer o balanço entre
as MMPs e seus inibidores (TIMPs) se encontram alterados, o resultado dessa
alteração é a degradação da MEC, permitindo que as células se tornem invasivas e
com potencial metastático (CORONATO et al., 2012). No cão não se conhece
completamente o papel dos TIMPs nas desordens prostáticas, enquanto nos humanos
esses inibidores estão sendo intensamente estudados para a terapia antitumoral,
comprovando sua importância no bloqueio da invasão tumoral (GIALELI et al., 2010).
CONCLUSÃO
A imuno-histoquímica confirmou os resultados da técnica CGHarray, e a importância
dos componentes da MEC no processo de invasão tecidual e progressão do CaP
canino. Portanto, o essa espécie é um potencial modelo para estudo das lesões
proliferativas prostáticas humanas.

194
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 070, 2013

Agradecimentos
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela concessão
do auxílio à pesquisa. Processos FAPESP: 2008/57221-0 e 2012/16068-0.
REFERÊNCIAS
CORONATO, S.; LAGUENS, G.; DI GIROLAMO, V. Rol de las metaloproteinasas y sus inhibidores en
patología tumoral. Medicina. v. 72, n. 6, p. 495-502, 2012.
FALEIRO, M. B.; BRASIL, G.; TOLEDO, D. C. Matrix metalloproteinases 2 and 9 expression in canine
normal prostate and with proliferative disorders. Ciencia Rural, v. 43, n. 6. 2013.
GIALELI C, C.; THEOCHARIS A. D.; KARAMANOS N. K.; Roles of matrix metalloproteinases in cancer
progression and their pharmacological targeting. FEBS Journal. v. 278, p. 16-27, 2011.
LEROY, B. E.; NORTHRUP, N. Prostate cancer in dogs: Comparative and clinical aspects. The
Veterinary Journal. v. 180, p. 149-162, 2008.
ZHONG, W.; HAN, Z.; HE, H. et al. CD147, MMP-1, MMP-2 and MMP-9 Protein Expression as Significant
Prognostic Factors in Human Prostate Cancer. Oncology, v. 75, p. 230-236, 2008.

195
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 071, 2013

071. ALTERAÇÕES GENÔMICAS DE PTEN-MDM2-TP53 ESTÃO ASSOCIADAS


COM O PROCESSO CARCINOGÊNICO DA PRÓSTATA CANINA
(Genomic changes of PTEN-MDM2-TP53 associated with canine prostatic
carcinogenesis)

Rivera-Calderón, L. G.¹; Fonseca-Alves, C. E.²; Pellicciari, P.²; Raposo, T. M.²; Rogatto,


S. R.³; Laufer-Amorim, R.²

1 Departamento de Patologia Veterinária, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho".


2 Departamento de Clínica Veterinária, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho".
3 Departamento de Urología, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho".

RESUMO: Para identificar os genes associados ao desenvolvimento tumoral é


necessária a investigação das alterações numéricas e estruturais do DNA isolado de
células neoplásicas. Neste trabalho foram analisadas as alterações genômicas da rede
PTEN-MDM2-TP53 associadas com o processo carcinogênico da próstata canina pela
técnica de hibridação genômica comparativa (CGHarray). A validação dos resultados
foi realizada numa lâmina de TMA por Imuno-histoquímica (IHC). O PTEN apresentou
baixa marcação no Carcinoma Prostático (CaP) (P=0,021) e na Atrofia Inflamatória
Prostática (PIA) (P=0,013) quando comparado a tecido normal. Houve maior marcação
da MDM2 no CaP (P=0,03) e PIA (P=0,04) em comparação com tecido normal. P53
apresentou maior marcação no CaP comparado a tecido normal (P=0,041). Conclui-se
que a perda gênica de PTEN, e o ganho de expressão dos genes MDM2 e P53 nas
desordens proliferativas da próstata canina estão relacionados com o processo de
carcinogênico.
Palavras-chave: Câncer, Cão, CHGarray, PTEN, Imuno-histoquímica
ABSTRACT: DNA copy number variations (CNVs) have been used to identify genes
associated with cancer development. In this study we analyzed the genomic changes of
PTEN-MDM2-TP53 network associated with the carcinogenic process of canine
prostate using the technique of comparative genomic hybridization (CGHarray). To
validate the results immunohistochemistry technique was applied in TMA slide for
PTEN, MDM2 and P53. PTEN was weakly marked in Prostatic carcinoma (CaP)
(P=0,021) e Prostatic Inflammatory Atrophy (PIA) (P=0,013) compared with normal
prostate tissue. The MDM2 obtained higher expression in CaP (P=0,03) and (P=0,04)
when compared to normal tissue. Also, CaP samples had higher P53 imunolabeling
when compared to normal tissue (P=0,041). We conclude that the PTEN genic loss and
the gain de MDM2 and TP53 are associated with carcinogenesis process of canine
prostate, validating preview CGHarray results.
Keywords: Cancer, CGHarray, Dog, PTEN, Immunohistochemistry
INTRODUÇÃO
A via das Fosfatidilinositol-3 quinases (PI3Ks) é regulada negativamente por um gene
supressor tumoral (PTEN) que observa-se mutado em diferentes tumores do cão como:
câncer de mama, osteossarcoma, hemangiossarcoma e melanoma (QIU et al., 2008).
O PTEN permite que as PI3Ks possam traduzir sinais de vários fatores de crescimento
e citocinas em mensagens intracelulares que ativam a AKT (LIU et al., 2009). A AKT
fosforila a MDM2, uma oncoproteina que inibe a função da P53. Uma das neoplasias
que mais sofre alterações genômicas na via PI3K/PTEN/AKT é o carcinoma prostático
(CaP) do homem (UZOH et al., 2008). O modelo para o estudo desse câncer é o cão,
uma vez que seu surgimento é espontâneo e natural (SMITH, 2008). Uma das formas
de identificar os genes associados ao desenvolvimento tumoral é a investigação das
alterações numéricas e estruturais (CNVs) em DNA isolado de células neoplásicas. A
técnica de Hibridação Genômica Comparativa (CGHarray) é a principal forma para
detectar essas alterações. Em estudo prévio do grupo, através da técnica de CGHarray
foram observadas as CNVs nas desordens prostáticas: Hiperplasia Prostática Benigna
196
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 071, 2013

(HPB), Atrofia Inflamatória Prostática (PIA) e CaP do cão. Nós selecionamos a via
PTEN-MDM2-TP53 por apresentarem importante papel no desenvolvimento do CaP
em humano, e não existirem estudos nas bases de dados desses genes na espécie
canina. O presente trabalho tem como objetivo validar por imuno-histoquímica (IHC) as
alterações genômicas de PTEN, MDM2 e TP53 em lesões proliferativas a fim de
compreender o papel destes no processo de carcinogênese e validar os resultados
encontrados na técnica de CGHarray.
MATERIAL E MÉTODOS
A técnica de CGHarray foi utilizada em 14 CaPs, 3 HPBs, 4 PIAs e 5 próstatas
histologicamente normais utilizadas como controles, de tecidos fixados em formol e
incluídos em parafina. O DNA genômico foi extraído e os dados de CNVs foram
gerados utilizando-se a plataforma Canine Genome CGH Microarray 4x44K (G2519F,
Design ID021193, Agilent). A análise dos dados foi realizada utilizando o programa
Genomic Workbench Standard Edition 5.0.14 (Agilent) e subsequentemente foram
realizadas análises de redes gênicas, doenças relacionadas e função celular para as
alterações encontradas nos CaPs, PIAs e HPBs, com o software Ingenuity Pathways
Analysis. Para validação dos resultados uma lâmina de microarranjo de tecido (TMA)
foi construída com 66 lesões prostáticas caninas. Foram selecionadas áreas
representativas de tecido normal (n = 7), HPB (n = 18), PIA (n = 22) e CaP (n = 19). A
marcação dos anticorpos por IHC foi avaliada por escore, de acordo com a distribuição
de células positivas para (pontuação 1: <25% de células positivas, 2: 26% a 50%, 3:
sendo 51% e 75%, e 4:> 75%). Os testes de Qui-quadrado ou teste exato de Fisher
foram utilizados para determinar a associação entre as variáveis categóricas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O PTEN manifestou perda gênica em 20% dos CaP caninos. O MDM2 apresentou
ganhos de CNVs no CaP e PIA, enquanto no gene TP53 foram observados ganhos
genômicos nas amostras de CaP. Na IHC a marcação de PTEN no CaP e PIA foi
menor quando comparada a próstata normal (P=0,021) e (P= 0,013) respetivamente.
Houve maior marcação na HPB comparada ao CaP (P=0,03) e PIA (P=0,04). Por outro
lado, a marcação de MDM2 no CaP foi maior comparando com o tecido de próstata
normal (P=0,03). Quando comparadas a PIA com a próstata normal houve maior
expressão na PIA (P=0,04). A marcação de P53 foi maior nos CaPs quando
comparado a próstata normal (P=0,041). PTEN apresenta um importante papel no
desenvolvimento prostático normal em homens. Os CaP humanos apresentam forte
relação com a perda deste gene supressor tumoral. Nossos resultados mostraram uma
menor marcação nos CaP e na PIA, sugerindo assim que na lesão pré-neoplásica há
perda desta proteína e essa perda persista após formação do CaP. Observou-se
também maior expressão de P53 nos CaP, devido a mutação no gene TP53 e a
produção anômala desta proteína, que apesar da maior marcação, não apresenta sua
função biológica. Na MDM2 houve uma maior marcação por se tratar de uma
oncoproteína. Nos CaPs humanos positivos a marcação de MDM2 e P53 observa-se
em estados avançados da doença (LEITE et al., 2001), porém, de forma isolada o
ganho do MDM2 é um fator preditivo de alto grau tumoral, agressividade e metástase
refratária à quimioterapia nesses carcinomas (KHOR et al., 2005).
CONCLUSÃO
Os resultados imuno-histoquímicos confirmaram os resultados da técnica de CGHarray,
validando essa via como importante no desenvolvimento do CaP no cão, assim como
ocorre no homem. Portanto, o cão seria um importante modelo para estudo das lesões
prostáticas humanas.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela concessão
do auxílio à pesquisa. Processos FAPESP: 2008/57221-0 e 2012/16068-0.

197
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 071, 2013

REFERÊNCIAS
KHOR, L. Y.; DESILVIO, M.; AL-SALEEM, T. et al. MDM2 as a predictor of prostate carcinoma outcome:
an analysis of radiation therapy oncology group protocol8610. Cancer, v. 104, p. 962–967. 2005
LEITE, K. R.; FRANCO, M. F.; SROUGI, M. et al. Abnormal Expression of MDM2 in Prostate Carcinoma.
Modern Pathology, v. 14, n. 5, p. 428-436, 2001.
LIU, P.; CHENG, H.; ROBERTS, T. M. et al. Targeting the phosphoinositide 3-kinase pathway in cancer.
Nature Reviews Drug Discovery, v. 8, p. 627-644, 2009.
QIU, C. W; LIN, D. G.; WANG, J. et al. Expression and significance of PTEN and VEGF in canine
mammary gland tumours. Veterinary Research Comunication, v. 32, p. 463-472, 2008.
SMITH, J. Canine prostatic disease: A review of anatomy, pathology, diagnosis, and treatment.
Theriogenology, v. 70, n. 3, p. 375-383, 2008.
UZOH, C. C.; PERKS, C. M.; BAHL, A. et al. PTEN-mediated pathways and their association with
treatment-resistant prostate cancer. Journal BJUI, v. 104, p. 556-561, 2009.

198
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 072, 2013

072. ALTERAÇÕES MORFOLOGICAS EM EXPLANTES INTESTINAIS SUÍNOS


EXPOSTOS À FUMONISINA E DESOXINIVALENOL
(Morphological changes on swine intestinal explants exposed to fumonisin and
deoxynivalenol)

Fernando Cardoso Gomes¹, Karina Maria Basso¹, Elisângela Olegário da Silva¹ ²,


Thalisie do Carmo Drape¹, Ana Paula F.R.L. Bracarense¹

1 Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR, Brasil


2 Faculdade Integrado de Campo Mourão, Campo Mourão/PR, Brasil

RESUMO: Fumonisina B1 (FB1) e desoxinivalenol (DON) são micotoxinas produzidas


por fungos do gênero Fusarium que frequentemente contaminam cereais,
principalmente o milho e o trigo. São micotoxinas particularmente importantes devido a
sua toxicidade para suínos, o que torna esta espécie um modelo para a análise de
toxicidade destes compostos. O objetivo deste trabalho foi avaliar alterações
morfológicas em explantes intestinais expostos à FB1 e DON isoladamente ou em
associação. Suínos de 24 dias de idade foram utilizados para colheita de explantes
jejunais de 8mm que foram incubados durante 4 horas na presença de 100 μM de FB1
ou 10 μM de DON isoladamente e em associação (100 μM FB1+ 10 μM DON) .
Posteriormente, os explantes foram fixados e submetidos ao processamento histológico
e coloração por HE. Ocorreu redução significativa no escore morfológico nos explantes
expostos a FB1 (18,8%), DON (37%) e DON+FB1 (37,5%) em relação ao controle. A
exposição às micotoxinas induziu alterações significativas na morfologia intestinal, o
que pode afetar a absorção de nutrientes e a função de barreira do intestino.
Palavras-chave: ex-vivo; Fusarium; micotoxinas
ABSTRACT: Fumonisin B1 (FB1) and deoxynivalenol (DON) are mycotoxins produced
by fungi of the genus Fusarium which often contaminate cereals, mainly corn and
wheat. Mycotoxins are particularly important due to their toxicity for swine, leading this
species as an adequate model for the analysis of toxicity of these compounds. The aim
of this study was to evaluate the morphological changes on intestinal explants exposes
to FB1 and DON, alone or together. Pigs 24 days old were used to obtain 8mm jejunal
explants that were incubated for 4 hours in the presence of 100 μM of FB1 or 10 μM
DON alone and an association (100 μM FB1+10 μM DON). Subsequently, the explants
were fixed and subjected to HE processing. There was a significant reduction in the
morphological score of the explants exposed to FB1 (18,8%), DON (37%) and
DON+FB1 (37,5%) when compared to control. Mycotoxin exposure induced changes in
intestinal morphology which may affect nutrient absorption and the barrier function of
the intestine.
Keywords : ex-vivo; Fusarium; mycotoxin
INTRODUÇÃO
Micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por diversos gêneros de fungos,
encontradas em culturas de milho e outros alimentos. Fusarium spp. é um gênero
produtor de diversas toxinas, destacando-se a fumonisina B1 (FB1) e o desoxinivalenol
(DON) (Sinha et al., 1986).
Os efeitos da FB1 decorrem da sua estrutura química ser semelhante aos precursores
dos esfingolipídeos, que apresentam importante papel na regulação celular. A FB1
inibe de a enzima ceramida sintetase, enzima chave na biossíntese dos
esfingolipídeos, levando ao acúmulo intracelular de esfinganina e diminuição de
esfingosina. A redução dos esfingolipídeos complexos e o acúmulo de intermediários
bioativos têm importante papel também em alterações de outras funções celulares
como o controle e integridade da membrana, proliferação celular, diferenciação e
apoptose (Fink-Gremmels, 1999; Turner et al., 1999).

199
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 072, 2013

O DON liga-se à subunidade 60S dos ribossomos, bloqueando então a síntese de


proteínas. Além disso o DON leva a ativação de Mitogen-activated protein kinases
(MAPKs) que resulta em apoptose principalmente de tecido linfoide. O objetivo deste
trabalho foi avaliar as alterações morfológicas causadas por FB1 e DON isoladamente
ou em associação em explantes intestinais de suínos.
MATERIAL E MÉTODOS
As micotoxinas utilizadas foram a fumonisina B1 (Cayman, EUA) e o desoxinivalenol
(Sigma-Aldrich) nas suas formas liofilizadas, sendo então diluídas em meio de cultura
na concentração de 100 μM, no caso da fumonisina B1, e 10 μM, no caso do
desoxinivalenol.
Foram utilizados seis leitões de 24 dias de idade, provenientes da Fazenda Escola da
Universidade Estadual de Londrina. Os animais foram anestesiados com fenobarbital e
propofol e eutanasiados por sangria. Fragmentos de 5 cm de jejuno foram colhidos,
lavados abundantemente com solução salina tamponada e abertos longitudinalmente.
Posteriormente, com o auxílio de punch de 8 mm, foram colhidos os explantes que
foram incubados em placas de cultura de 6 poços, sobre uma camada de ágar,
contendo meio DMEM (Dulbecco‘s Modified Eagle Medium) acrescido de glicose
25mM, gentamicina 50 μg/mL, penicillina 100 U/mL, estreptomicina 100 μg/mL e 10%
de soro fetal bovino e FB1 e DON nas concentrações estabelecidas.
As placas com os explantes foram incubadas a 37°C durante 4 horas, sendo então
fixadas em solução de formalina tamponada a 10%. Para cada tratamento foram
utilizados seis repetições por animal. A análise morfológica foi feita através do sistema
de escore tecidual (adaptado de Kolf-Clauw et al, 2009). O escore máximo atinge 22
pontos, que indicaria um tecido sem nenhuma lesão. A altura de vilosidades foi
mensurada em 10 campos aleatórios com auxílio de programa de imagens.
Os dados referentes aos escores teciduais foram avaliados utilizando-se análise
exploratória, sendo então submetidos ao teste de Tukey.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos explantes expostos somente a FB1 os principais achados foram desnudamento
apical de vilosidades, fusão moderada e atrofia severa de vilosidades. Observou-se
uma redução significativa do escore tecidual em relação ao controle (19%). Os
explantes expostos ao DON apresentaram alterações histológicas semelhantes ao
tratamento com FB1, mas em intensidade acentuada, ocorrendo ainda diminuição no
número de vilosidades por explante. A redução do escore tecidual foi sigificativa em
relação ao controle (37%) e em relação aos explantes expostos à FB1 (23%). A
exposição dos explantes a ambas às micotoxinas induziu a lesões de intensidade
similar ao grupo exposto apenas ao DON. Redução significativa no escore tecidual
ocorreu em no grupo exposto à multi-contaminação em relação ao controle (37,5%) e
ao grupo exposto à FB1 (23%).
Observou-se diminuição significativa na altura de vilosidades nos explantes expostos
ao DON e DON+FB1 em relação ao controle. Não houve diferença na média de altura
em relação aos diferentes tratamentos com micotxinas.
As alterações mais severas foram observadas nos grupo contendo DON, em
associação ou não, sendo o principal achado microscópico a atrofia e fusão de
vilosidades. Aspectos histológicos semelhantes foram descritos em intoxicações
crônicas in vivo em suínos expostos à FB1 e DON (Bracarense et al., 2012). O DON
inibe a síntese de proteínas e ativa as MAPKs, induzindo um estresse ribotóxico e
ativação do mecanismo de apoptose. A exposição a ambas as micotoxinas não
aumentou as alterações histológicas, indicando que não há efeito aditivo na toxicidade
intestinal neste modelo. então a confiabilidade do modelo ex vivo quanto a ser um
modelo útil no estudo dos efeitos tóxicos das micotoxinas em questão.

200
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 072, 2013

CONCLUSÕES
A exposição às micotoxinas isoladamente e em associação leva a diminuição
significativa no escore tecidual intestinal. Os resultados indicam que a exposição a
fusariotoxinas induz toxicidade intestinal que pode afetar tanto a função de barreira
quanto a função de absorção de nutrientes.
Agradecimentos
CNPq Processo 474583/2010-3
Notas informativas
Projeto aprovado pelo Comitê de Ética da UEL, Processo 25/11.
REFERÊNCIAS
BRACARENSE, A.P.F.R.L.; LUCIOLI, J.; GRENIER, B. et al. Chronic ingestion of deoxynivalenol and
fumonisin, alone or in interaction, induces morphological and immunological changes in the intestine of
piglets, British Journal of Nutrition, vol. 107, n. 12, p. 1776-1786, 2012.
FINK-GREMMELS, J. H. Mycotoxins: Their implications for human and animal health. Veterinary
Quarterly, v.21, n.4, p.115-120, 1999.
KOLF-CLAUW, M.; CASTELLOTE, J.; JOLY, B. et al. Development of a pig jejunal explant culture for
studying the gastrointestinal toxicity of the mycotoxin deoxynivalenol: Histopathological analysis.
Toxicology in Vitro, v. 23, Issue 8, P. 1580-1584, 2009.
SINHA, R.N.; ABRAMSON, D.; MILLS, J.T. Interrelations among ecological variables in stored cereals
and associations with mycotoxin production in the climatic zones of western Canada. Journal of Food
Protection, v. 49, p.608-617, 1986.
TURNER, P. C.; NIKIEMA, P.; WILD, C. P. Fumonisin contamination of food: progress in development of
biomarkers to better assess human health risks. Mutation Research, v.443, p.81-93, 1999.

201
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 073, 2013

073. ANEXINA A1: PERSPECTIVAS DE UM NOVO BIOMARCADOR EM


NEOPLASIA MAMÁRIA DE CADELA
(Annexin A1: Perspectives for a new biomarker in canine mammary tumor)

Mayara de Cássia Luzzi¹, Andrigo Barboza de Nardi¹, Ana Paula Girol², Talita Mariana
Morata Raposo³, Renée Laufner Amorim³, Mirela Tinucci Costa¹

1 Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ – FCAV – UNESP Campus Jaboticabal
2Faculdades Integradas Padre Albino – FIPA, Catanduva, São Paulo/SP, Brasil
3 Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ – FMVZ – UNESP Campus Botucatu

RESUMO: Vários esforços têm sido direcionados para o melhor entendimento das
neoplasias mamárias, visando o sucesso terapêutico e aumento da sobrevida das
pacientes, o que inclui a determinação de biomarcadores. Investigações indicam que a
proteína anti-inflamatória anexina A1 (ANXA1) atua em diversas vias de sinalização no
câncer, relacionando-se com a regulação da apoptose, migração e invasão de células
neoplásicas. Assim, é importante a realização de estudos para a compreensão do
papel da ANXA1 na neoplasia mamária canina. Para tal, amostras de mama de 37
cadelas foram coletadas, classificadas histopatologicamente e submetidas à técnica de
imuno-histoquímica com o anticorpo anti-ANXA1. Os resultados mostram diminuição na
expressão da ANXA1 conforme piora o prognóstico do tumor, corroborando os dados
de literarura para neoplasia mamária humana. Este estudo sugere que a ANXA1 está
funcionalmente envolvida na progressão de tumores de mama de cadela, sendo um
possível biomarcador adicional na determinação do prognóstico destes tumores.
Palavras-chave: anexinas; cão; glândula mamária; tumor.
ABSTRACT: Several efforts have been directed towards a better understanding of
breast tumors, aiming to obtain a therapeutic success and an increased survival of
patients, which includes the determination of biomarkers. Previous studies indicate that
the anti-inflammatory protein annexin A1 (ANXA1) acts in different signaling pathways
in cancer, associated to the regulation of apoptosis, migration and invasion of cancer
cells. Thus, it is important to perform studies to understand the role of ANXA1 in canine
mammary neoplasia. For this purpose, 37 dog mammary tissue samples were collected,
histopathologically classified and submmited to immunohistochemistry with anti-ANXA1.
The results showed a decrease in the expression of ANXA1 associated to a worse
prognosis of the tumor, corroborating to previous findings in human breast cancer. This
study suggests that ANXA1 is functionally involved in the progression of canine
mammary tumors, and may play a role as an additional biomarker in determining the
prognosis of these tumors.
Keywords: annexins; dog; mammary gland; tumor
INTRODUÇÃO
A anexina A1 (ANXA1) é um membro da superfamília das anexinas, proteínas cálcio-
dependentes, e participa na regulação do trânsito na membrana plasmática das
células, sendo também relacionada com metástase e infiltração de células tumorais em
diversos tipos de neoplasias humanas (Deng et al., 2012). A ANXA1 tem se
expressado em níveis muito reduzidos em diversos tipos de tumores humanos com pior
prognóstico e metastáticos, como nas neoplasias mamária, prostática. esofagianas e
tumores de cabeça e pescoço (Lim e Pervaiz, 2007).
Além disso, o conhecido papel anti-inflamatório da ANXA1 por mediar a função de
glicocorticoides (Perretti e D‘Acquisto, 2009), promove a modulação da troca fenotípica
de células do tipo epitelial-para-mesenquimal (EMT) pela via de sinalização do fator de
transformação e crescimento celular beta (TGF-β) (Maschler et al., 2010). Ainda, uma
resposta de dano ao DNA é observada quando há depleção de ANXA1 em células
normais de mama (Swa et al., 2012). Deste modo, a não-expressão da ANXA1 em

202
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 073, 2013

tumores de mama humano tem sido relacionada com um prognóstico desfavorável,


pois a proteína parece atuar na supressão tumoral (Yom et al., 2011).
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi investigar a expressão da ANXA1 em
neoplasias mamárias de cadelas, avaliando sua importância como biomarcador, por
meio do estudo imuno-histoquímico.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostras de mama de 37 cadelas foram coletadas, classificadas histopatologicamente,
e divididas em 4 grupos gerais [(grupo um (G1): mamas normais, sem histórico de
neoplasia (n=8); grupo dois (G2): neoplasia mamária benigna (n=9); grupo três (G3):
neoplasias mamárias malignas sem evidência de metástase (n=10); grupo quatro (G4):
neoplasias mamárias malignas com a presença de lesões metastáticas (n=10)] e
processados pela técnica de imuno-histoquímica para o anticorpo anti-ANXA1 (1:2000).
A proteína foi quantificada por meio de densitometria, sendo analisados vinte pontos de
diferentes regiões das biópsias para a obtenção de uma média relacionada com a
intensidade de imunorreatividade. Os valores foram obtidos como unidades arbitrárias
(u.a.) e a densidade óptica média mostrou a intensidade de imunomarcação (Girol,
2013). As análises estatísticas das quantificações foram feitas pela ANOVA, seguida do
pós-teste de Bonferroni. Valores de P menores que 0,05 foram considerados
estatisticamente significantes.
RESULTADOS E DISCUSSÂO
As células epiteliais das glândulas mamárias normais (G1) mostraram intensa
expressão da ANXA1, confirmada pela análise densitométrica (228,5 u.a. ± 2,56).
Quanto ao grupo de neoplasias benignas (G2), a expressão da ANXA1 permaneceu
forte (209,9 u.a. ± 9,10) e não foram observadas diferenças no padrão de expressão da
proteína no estroma. Nas amostras de tumores malignos as análises imuno-
histoquímicas revelaram diminuição na expressão da ANXA1 nas células epitelias,
tanto no grupo G3, sem evidência de metástase (185,4 u.a. ± 11,55), quanto no grupo
G4, com tumores metastáticos (193,1 u.a. ± 8,48).
Na análise estatística, a quantificação de imunomarcação da ANXA1 em todos os
grupos diferiu estatisticamente do grupo G1 (em G1 vs G2, P<0,05; em G1 vs G3 e G1
vs G4, P<0,001). Os resultados também apontaram diferença estatística significante
entre os grupos 2, 3 e 4 (em G2 vs G3, P<0,001; em G2 vs G4, P<0,01).
Parece que a ANXA1 pode exercer alguma função supressora de tumor, pois níveis
ausentes ou reduzidos dessa proteína têm sido observados em vários tipos de
cânceres, incluindo linfomas de células B, carcinomas de esôfago, além de câncer de
mama humano (Lim e Pervaiz, 2007). Além desse fato, Maschler et al. (2010)
mostraram que em culturas de células de mama, que haviam sido mudadas
fenotipicamente do tipo epitelial para mesenquimal (EMT), a reexpressão da ANXA1
reverteu completamente mudança, suprimindo a metástase.
Uma investigação recente mostrou expressão elevada da ANXA1 no subtipo de câncer
de mama humano basal-like (BLBC), caracterizado por aumentada capacidade de
invasão, formação de metástases à distância e pior prognóstico. A depleção da ANXA1
nas células BLBC resultou na inversão da sua capacidade migratória, o que foi
associado com a reorganização de actina e redução no número de metástases
pulmonares espontâneas in vivo. Esses pesquisadores também mostraram que a
ANXA1 discrimina claramente pacientes BLBC daquelas acometidas por outros tipos
de câncer de mama como o carcinona luminal (de Graauw et al, 2010).
CONCLUSÕES
Este estudo é pioneiro na investigação da expressão da ANXA1 na Medicina
Veterinária e indica a redução na expressão da proteína nas células tumorais malignas
comparadas a tumores benignos e mamas normais, sugerindo que esta proteína possa
estar funcionalmente envolvida na progressão de tumores de mama de cadela para
graus mais altos de malignidade. Os resultados apontam que a ANXA1 é um
203
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 073, 2013

componente essencial na manutenção do fenótipo normal das células epiteliais nas


glândulas mamárias, o que nos permite sugerir a ANXA1 como potencial biomarcador
prognóstico para determinar tumores metastáticos, embora novos estudos devam ser
realizados para determinar melhor estes parâmetros.
NOTAS INFORMATIVAS
Aprovação no Comitê de Ética no Uso de Animais protocolo 8130, de 16/04/12.
Financiamento: CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico e FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
REFERÊNCIAS
DE GRAUUW, M.; VAN MILTENBURG, M.H.; SCHMIDT, M.K. ET AL. Annexin A1 regulates TGF-beta
signaling and promotes metastasis formation of basal-like breast cancer cells. Proceedings of the
National Academy of Sciences of the United States of America, v.14, n.107, p. 6340-6345, 2010.
DENG, S.; WANG, J.; HOU, L. et al. Annexin A1, A2, A4 and A5 play important roles in breast cancer,
pancreatic cancer and laryngeal carcinoma, alone and/or synergistically. Oncoloy Letters, v.5, p.107-112,
2013.
GIROL, A.P.; MIMURA, K.K.; DREWES, C.C. et al. Ac2-26 in models of ocular inflammation in Annexin
A1 protein and its mimetic peptide anti-inflammatory mechanisms of the vivo and in vitro. The Journal of
Immunology, v.190, p.5689-5701, 2013.
LIM, L.H.; PERVAIZ, S. Annexin 1: the new face of an old molecule. The FASEB Journal, v. 21, p. 968-
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MASCHLER, S.; GEBESHUBER, C.A.; WIEDEMANN, E. et al. Annexin A1 attenuates EMT and
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PERRETTI, M.; D'ACQUISTO, F. Annexin A1 and glucocorticoids as effectors of the resolution of
inflammation. Nature Reviews of Immunology, v.9, p.62-70, 2009.
SWA, H. L.; BLACKSTOCK, W. P.; LIM, L.H. et al. Quantitative Proteomics Profiling of Murine Mammary
Gland Cells Unravels Impact of Annexin-1 on DNA-Damage Response, Cell Adhesion and Migration.
Molecular and Cellular Proteomics, v.8, p.381-393, 2012.
YOM, C.K; HAM, W.; KIM, S. et al. Clinical Significance of Annexin A1 Expression in Breast Cancer.
Journal of Breast Cancer, v.4, n.14, p.262-268, 2011.

204
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 074, 2013

074. AUMENTO DA EXPRESSÃO DE CICLOOXIGENASE-2 (COX-2)


RELACIONADO COM A PROGRESSÃO E AGRESSIVIDADE DE TUMORES
MAMÁRIOS EM CADELAS
(Increased cycloxygenase-2 (COX-2) expression is associated with the
progression and aggression of canine mammary tumors)

Rosana da Cruz Lino Salvador¹, Erika Maria Terra¹, Talita Mariana Morata Raposo¹,
Carlos Eduardo Fonseca Alves², Mirela Tinucci Costa¹, Renée Laufer Amorim²

1 Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV, Unesp Jaboticabal, São Paulo, Brasil.
2 Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, Unesp Botucatu, São Paulo, Brasil.
correspondência: rosana_lino@yahoo.com.br

RESUMO: A COX-2 é uma enzima que interfere no desenvolvimento de tumores,


angiogênese, proliferação celular, apoptose e modulação do sistema imune. Nos
tumores mamários caninos, a alta expressão proteica de COX-2 está associada com
malignidade, porém poucos estudos avaliaram a expressão gênica dessa enzima.
Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a expressão gênica e proteica de COX-2 no
tecido mamário normal, em lesões benignas e em tumores mamários malignos, a fim
de investigar a sua importância como alvo terapêutico.
Palavras-chave: cão; carcinoma mamário; COX-2; terapia alvo
ABSTRACT: COX-2 is an inducible enzyme that interferes with tumor development,
angiogenesis, cellular proliferation, apoptosis and immune system modulation. In canine
mammary tumors, high COX-2 protein expression is associated with malignancy,
however few studies have assessed COX-2 gene expression. Thus, the aim of this
study was to evaluate COX-2 gene and protein expression in normal mammary tissue,
benign and malignant canine mammary tumors in order to investigate its role as a
predictive target.
Key-words: dog; mammary carcinoma; COX-2 and targeted therapy
INTRODUÇÃO
A ciclooxigenase-2 (COX-2) vem mostrando valor como fator preditivo e prognóstico na
carcinogênese mamária (Pereira et al., 2009). Vários mecanismos foram propostos
para explicar a relação entre a expressão de COX-2 e o processo de carcinogênese.
Dentre eles, podem ser citados a inibição da apoptose, a indução de angiogênese, o
estímulo à proliferação celular, o aumento na capacidade de invasão tumoral (Doré et
al., 2005).
Os trabalhos que avaliaram anteriormente a expressão deste marcador em tumores
mamários realizaram apenas marcação imuno-histoquímica, e devido às limitações da
técnica, os mesmos não apresentam evidências suficientes para indicar o uso dos
inibidores de COX-2 no protocolo terapêutico. Neste contexto, o presente trabalho
objetivou avaliar a expressão gênica e proteica da COX-2 em mamas normais e
neoplásicas de cadelas a fim de correlacionar a expressão desta proteína com o
processo tumoral.
MATERIAL E MÉTODOS
As amostras tumorais foram coletadas de cadelas com idade entre oito e 12 anos,
diagnosticadas e tratadas no Hospital Veterinário da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho – Campus Jaboticabal. Foram coletadas amostras em
duplicata, sendo uma delas fixada em formol a 10% e processada para inclusão em
parafina para diagnóstico patológico e realização da técnica de imuno-histoquímica e a
outra foi congelada a -70ºC para expressão gênica.
As amostras foram divididas em 4 grupos: carcinoma mamário não-metastático (n = 8),
carcinomas metastáticos (n = 8), lesões mamárias benignas (n = 5) e glândulas
mamarias normais (n = 5). A expressão gênica foi realizada pela técnica de RT-qPCR.
Para a imuno-histoquímica foi utilizada a técnica da peroxidase e diaminobenzidina
205
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 074, 2013

(DAB). A avaliação da expressão proteica da COX-2 foi realizada pela distribuição de


células tumorais positivamente imuno coradas na pontuação: 1 (≤ células 50% positivo)
e 2 (> 51% de células positivas).
RESULTADOS
Os dados de expressão gênica inicialmente foram agrupados os tumores metastáticos
e não metastáticos. Quando comparado esse grupo com as mamas normais,
encontrou-se maior expressão no grupo tumoral quando comparado à mama normal
(P=0,0057). Houve diferença estatística significativa quando comparado às mamas
normais com o os tumores não metastáticos (P=0,0295) e quando comparado aos
tumores metastáticos (P=0,0031). Não houve diferença significativa entre as mamas
normais e as lesões benignas (P=0,2222). Um resultado interessante foi a diferença de
expressão gênica entre os 4 grupos (P=0,0057), onde houve um aumento progressivo
da expressão gênica da COX-2 entre os grupos.
Avaliando os dados de imuno-histoquímica encontramos diferença significativa quando
comparamos a marcação da mama normal com tumores metastáticos (P=0,0034).
Houve diferença estatística significativa quando avaliado os tumores benignos com
tumores metastáticos (P=0,0034). Considerando que os carcinomas metastáticos são
mais agressivos foi realizada a comparação entre os grupos de carcinomas
metastáticos e não metastáticos observando-se uma maior expressão nos carcinomas
mestastáticos (P=0,0191).
Um interessante achado do estudo foi à diferença entre escores de marcação nos
diferentes grupos, onde todas as mamas normais e com lesões benignas apresentaram
baixo escore (pontuação 1). Diferindo desse grupo em 10% dos carcinomas não
metastáticos e em 60% dos carcinomas metastáticos (P=0,0007) foi encontrado um
alto escore de marcação (pontuação 2).
DISCUSSÃO
As associações constatadas neste trabalho traduzem uma relação entre o aumento da
expressão proteica e gênica da COX-2 em carcinomas metastáticos e não metastáticos
quando comparados com lesões benignas e mamas normais, tal como relatado em
estudos anteriores de expressão proteica de COX-2 em cadelas (Queiroga et al., 2007;
Pereira et al., 2009). Um achado importante do estudo foi o aumento da COX-2 no
grupo metastático em relação aos tumores não metastático. Esse achado indica que há
um aumento da expressão de COX-2 de acordo com a agressividade dos tumores.
Corroborando esses resultados encontramos um aumento progressivo da expressão
gênica de COX-2 nas diferentes lesões, onde a mama normal apresentou menor
expressão e os tumores metastáticos a maior expressão.
A avaliação dos níveis do RNA mensageiro complementa as análises de expressão
proteica além de fornecer resultados em valores numéricos (QR), um dado quantitativo
e mais preciso. Nas principais bases de dados internacionais não há descrição de
trabalhos científicos em tumores de mama de cadela que tenha avaliado a expressão
gênica e proteica de COX-2 simultaneamente e no mesmo grupo de tumores bem
como em lesões benignas.
A atividade antitumoral dos inibidores de COX-2 foi evidenciada in vitro, no entanto, sua
atividade in vivo não esta bem definida nos modelos animais e em humanos
(Subbaramaiah; Dannenberg, 2003). Os resultados do presente trabalho indicam a
possibilidade de utilização dos inibidores de COX-2, principalmente em tumores
metastáticos já que nesses casos observa-se menor sobrevida e menos opções de
tratamento disponíveis.
CONCLUSÕES
O tecido mamário normal apresenta menor expressão gênica e proteica de COX-2 e
durante o processo de progressão tumoral há um aumento desta expressão, onde, os
carcinomas metastáticos apresentam maior expressão. Os resultados observados
neste trabalho são estimuladores quanto ao uso da terapia alvo com inibidores de
206
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 074, 2013

COX-2, em vista do potencial terapêutico do bloqueio desta proteína, principalmente


em pacientes com carcinomas metastáticos.
Agradecimentos
Processo nº 2012/10293-2, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP).
REFERÊNCIAS
DORÉ, M. Cyclooxygenase-2 Expression in Animal Cancers. Veterinary Pathology , v. 48, n.1, p. 254-
265, 2011.HELLER, D. A. et al. Cyclooxygenase-2 expression is associated with histologic tumor type in
canine mammary carcinoma. Veterinary Patholology, v.42, p.776-780, 2005.
MILLANTA, F.; CITI, S.; DELLA SANTA, D. et al. COX-2 expression in canine and feline invasive
mammary carcinomas: correlation with clinicopathological features and prognostic molecular markers.
Breast Cancer Research and Treatment, n.98, p. 115–120, 2006.
PEREIRA, P. D; LOPES, C. C.; MATOS, A. J. F. et al. COX-2 expression in canine normal and neoplastic
mammary gland. Journal of Comparative Pathology, v. 140, p. 247-253, 2009.
QUEIROGA, F. L.; ALVES, A.; PIRES, I. Expression of Cox-1 and Cox-2 in canine mammary tumors.
Journal of Comparative Pathology. v. 136, p.177–185, 2007.
SUBBARAMAIAH, K.; DANNENBERG, J. A. Cyclooxygenase 2: a molecular target for cancer prevention
and treatment. TRENDS in Pharmacological Sciences. v. 24 n. 2, p.96-102, 2003.

207
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 075, 2013

075. AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO DE MARCADORES EPITELIEAIS E


MESENQUIMAIS EM CARCINOMA EM TUMOR MISTO MAMÁRIO CANINO
(Evaluation of expression of epithelial and mesenchymal stainer in mammary
canine carcinoma in mixed tumor)

Franciele Basso Fernandes Silva¹; Livia Yumi Suzuki²; Juliana da Silva Leite³; Marcela
Freire Vallim de Mello3; Maria de Lourdes Gonçalves Ferreira³, Ana Maria Reis
Ferreira³

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Patologia, Faculdade de Medicina, (UFF), Niterói/RJ.


2 Aluna de Graduação em Med. Vet., Bolsista PIBIC, Faculdade de Medicina Veterinária, UFF,
3 Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária, UFF, Niterói/RJ.

RESUMO: A estabilidade dos filamentos intermediários como vimentina e


citoqueratinas possibilitam a caracterização e o estudo da histogênese de diversos
tumores. O objetivo desse estudo foi avaliar o envolvimento de elementos epiteliais e
mesenquimais no carcinoma em tumor misto (CTM) mamário canino. Foram avaliados
o envolvimento de filamentos intermediários em 17 amostras de CTM por meio da
imuno-histoquímica utilizando anticorpos para vimentina e pancitoqueratina. Os CTM
apresentam maior envolvimento de células mioepiteliais e mesenquimais quando
comparadas com células epiteliais
Palavras-chave: imuno-histoquímica; neoplasia mamária; pancitoqueratina; vimentina
ABSTRACT: The stability of intermediate filaments such as cytokeratin and vimentin
enables the characterization and study of histogenesis of various tumors. The aim of
this study was to evaluate the involvement of epithelial and mesenchymal elements in
mammary canine carcinoma in mixed tumor (CTM). We evaluated the involvement of
intermediate filaments in 17 samples of CTM by immunohistochemistry using antibodies
against vimentin and pancitoqueratina. The CTM have greater involvement of
myoepithelial cells and mesenchymal compared with epithelial cells
Key words: immunohistochemical; mammary neoplasm; pancytoqueratin; vimentin
INTRODUÇÃO
O tumor mamário é a segunda neoplasia mais incidente em cães, sendo os tumores
cutâneos mais frequentes; e considerando apenas as fêmeas, é a neoplasia mais
comum (Motta, 2008).
O carcinoma em tumor misto é o tipo histológico mais comum, representando uma
porcentagem de 50%, seguido pelo adenocarcinoma, 40% (Zuccari et al., 2002).
Alguns autores relatam que a classificação dos tumores mamários em cadelas é mais
simples se forem utilizados os filamentos intermediários marcados com anticorpos
monoclonais pela técnica da imuno-histoquímica, sendo uma ferramenta poderosa na
caracterização do componente celular neoplásico e de sua histogênese (Destexhe et
al., 1993; Zuccari et al., 2002).
O objetivo desse estudo foi avaliar o envolvimento de elementos epiteliais e
mesenquimais nos CTM.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram selecionados para o estudo 17 casos de CTM por ser o tipo tumoral mais
heterogêneo e frequente dentre as neoplasias mamárias de cadelas. Amostras
provenientes do banco de dados do Setor de Anatomia Patológica Veterinária da
Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense. A
confirmação do diagnóstico foi realizada seguindo a classificação de tumores descrita
por Cassali et al. (2011).
Reações imuno-histoquímicas foram realizadas com anticorpos monoclonais anti-
vimentina e anti-pancitoqueratina com diluição 1:150, seguindo a técnica de
estreptavidina-biotina-peroxidase.

208
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 075, 2013

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A reação imuno-histoquimica com o anticorpo anti-vimentina marcou em marrom os
componente condroides e ósteóides dos CTM, assim como células mioepiteliais. Já a
reação com o anticorpo anti- pancitoqueratina evidenciou em marrom as células
epiteliais neoplásicas.
A média do percentual de células imunopositivas para vimentina nos CTM avaliados foi
de 56,74 ± 16,10 enquanto que a média para células imunopositivas para a
pancitoqueratina foi de 38,49 ± 21,12 (Gráfico 01).

A vimentina mostrou-se eficiente na marcação de células mioepiteliais tanto quanto de


células tumorais de origem mesenquimal, sendo estas os principais componentes
celulares do CTM, como mostrado por Zuccari et al. (2002). Seu estudo com 31
cadelas portadoras de TMC evidenciando que células mioepiteliais demonstraram
positividade para a vimentina que se intensificou nas metaplasias condróide e óssea
dos tumores mistos concordando com o presente estudo.
Dados semelhante foram encontrados por Destexhe et al. (1993) e Rabanal e Else
(1994) ao estudarem os principais tipos de células, epiteliais, mioepiteliais e conectivas,
identificaram que as células mioepiteliais representam o principal componente da
maioria dos TMC.
CONCLUSÃO
Através desse estudo foi possível concluir que em CTM os elementos mais
frequentemente encontrados são os mesenquimais, marcados pela Vimentina, embora
elementos epiteliais (pancitoqueratina), também sejam frequentes.
Agradecimentos
À Capes, CNPq e UFF pelo apoio financeiro.
Notas informativas
Aprovado pelo comitê de ética no uso de animais – UFF, protocolo 114/2011.
REFERÊNCIAS
CASSALI, G. D.; LAVALLE, G. E.; DE NARDI, A. B. et al. Consensus for the Diagnosis, Prognosis and
Treatment of Canine Mammary Tumors. Brazilian Journal of Veterinary Pathology, v.4, n.2, p.153-180,
2011.
DESTEXHE, E.; LESPAGNARD, L.; DEGEUTER, M. et al. Immunohistochemical identification of
myoepithelial, epithelial, and connective tissue cells in canine mammary tumors. Veterinary Pathology,
v.30, p.146-154, 1993.
MOTTA, A. C. Patologia molecular dos tumores mamários caninos: expressão dos marcadores
prognósticos e mioepiteliais. 2008. Rio Grande do Sul, 124f. (Doutorado em Ciências Médicas) –
Programa de Pós-graduação em Medicina: Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.
Zuccari, D. A. P. C.; Santana, A. E.; Rocha, N. S. Expressão dos filamentos intermediários no
diagnóstico dos tumores mamários de cadelas. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia,
v.54, n.6, Belo Horizonte, 2002.

209
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 076, 2013

076. AVALIAÇÃO DAS CÉLULAS BASAIS EM LESÕES PROSTÁTICAS CANINAS:


O CÃO SERIA UM IMPORTANTE MODELO PARA AS AFECÇÕES PROSTÁTICAS
HUMANAS?
(Evaluation of basal cells in canine prostatic lesions: would the dog be an
important model for human prostatic disease?)

Carlos Eduardo Fonseca Alves¹, Rosana da Cruz Lino Salvador¹, Igor Simões Tiagua
Vicente¹, Silvia Regina Rogatto², Flavia Karina Delella³, Renée Laufer Amorim¹

1. Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, UNESP Botucatu, São Paulo, Brasil.


2. Centro Internacional de Pesquisa (CIPE), Hospital AC Camargo, São Paulo, SP, Brasil.
3. Departamento de Morfologia, IBB, UNESP, Botucatu, São Paulo, Brasil.
carloseduardofa@hotmail.com

RESUMO: Devido à importância das células basais no processo carcinogênico, o


presente trabalho teve o objetivo de avaliar a marcação imuno-histoquímica de p63,
34βE12 e Ki67 em lesões proliferativas e neoplásicas da próstata canina. Em relação à
marcação da proteína p63 encontramos um maior número de células marcadas nos
carcinomas prostáticos (CaPs) e na atrofia inflmatória prostática (PIA) quando
comparado com as próstatas normais (P=0,002). A marcação de 34βE12 teve o maior
escore de marcação (75% de células positivas) nos CaPs e na PIA quando comparado
com a próstata normal (P=0,0002). Para o marcador Ki-67 houve diferença estatística
significativa quando comparado o CaP e a PIA com o tecido prostático normal
(P=0,0028). A alta expressão de p63, Ki67 e 34βE12 na PIA e no CaP indicam o
envolvimento das células basais nas lesões prostáticas em cães, diferente do homem.
Palavras-chave: camada basal; p63; próstata
ABSTRACT: Basal cells have an important role in the carcinogenic process and few
studies evaluate their role in animals cancer development. Due to this importance we
evaluated by immunohistochemistry the basal cells in prostatic proliferative
inflammatory atrophy (PIA) and prostatic carcinoma (PCa). We found higher number of
cases with more than 75% of positive basal cells in CaP and PIA when compared to
normal tissue. PCa and PIA showed 34βE12 protein expression when compared to
normal prostatic tissue. Ki67 showed higher proliferative index in PCa and PIA
compared to normal tissue. Higher p63, 34βE12 and Ki67 immunohistochemical
staining in PIA and PCa indicate the involvement of basal cells in these lesions in dogs,
different from humans.
Key-words: basal cell layer; p63; prostate
INTRODUÇÃO
O câncer prostático é classificado como a segunda causa de morte relacionada ao
câncer em homens com mais de 50 anos de idade (Rossignol et al., 2004). Este fato
relaciona-se principalmente as limitadas modalidades terapêuticas disponíveis. Apesar
dos inúmeros estudos envolvendo o CaP em humanos, não se obteve sucesso nos
testes clínicos de terapias alvo dirigidas. Este fato ocorre devido à dificuldade de
padronização de um modelo animal ideal para aplicação de testes clínicos (Dolores e
Zhang, 2005).
O uso dos cães como modelo para estudos clínicos de novas drogas pode trazer maior
acurácia na resposta dos tumores às respectivas drogas testadas, partindo do
pressuposto que o cão é um modelo natural da doença e divide o mesmo ambiente que
o homem (Leav et al., 2001). Em humanos muitos estudos têm avaliado o papel das
células basais no desenvolvimento do CaP e a possibilidade de desenvolvimento de
alvos terapêuticos, no entanto, há poucos estudos avaliando o papel dessas células em
modelos naturais da doença (Dolores e Zhang, 2005).

210
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 076, 2013

Devido à importância das células basais no processo carcinogênico, nosso trabalho


teve o objetivo de avaliar a marcação imuno-histoquímica de p63, 34βE12 e Ki67 em
lesões proliferativas e neoplásicas da próstata canina.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletadas amostras de próstata de cães provenientes do Centro de Controle de
Zoonoses (CCZ) da cidade de Goiânia-GO. De cada próstata foram obtidos fragmentos
dos segmentos cranial, médio e caudal. As amostras foram conservadas em solução
de formol tamponado por 24 horas e posteriormente foram mantidas no álcool 70% até
processamento histológico. A Partir desse material, uma lâmina de microarranjo de
tecido (TMA) foi construída com 66 diferentes lesões prostáticas. Foram selecionadas
áreas representativas de tecido normal (n = 7), hiperplasia prostática benigna (BPH, n =
18), atrofia inflamatória proliferativa (PIA, n= 22) e carcinoma da próstata (CaP, n = 19).
Realizamos a técnica de Imuno-histoquímica para os anticorpos Ki67 (MIB-1), P63 e
34βE12. A marcação foi avaliada por escore, de acordo com a distribuição de células
positivas para p63 e 34βE12 (pontuação 1: <25% de células positivas, 2: 26% a 50%,
3: sendo 51% e 75%, e 4:> 75%) e para o Ki67, os núcleos de células basais positivos
foram contados em cada lesão. Os testes de Qui-quadrado ou teste exato de Fisher
foram utilizados para determinar a associação entre as variáveis categóricas.
RESULTADOS
Em relação à marcação da proteína p63 encontramos um maior número de células
marcadas nos CaPs e nas PIAs quando comparado com as próstatas normais
(P=0,002). A marcação de 34βE12 teve o maior escore de marcação (75% de células
positivas) nos CaPs e na PIAs quando comparado com a próstata normal (P=0,0002).
Quando comparado a HPB com o tecido prostático normal e o CaP com a PIA não
foram encontradas diferenças estatísticas significativas. Para o marcador Ki-67 houve
diferença estatística significativa quando comparado o CaP e a PIA com o tecido
prostático normal (P=0,0028) e quando comparado o CaP com a HPB (P=0,001). As
demais variáveis não apresentaram diferenças estatísticas significativas.
DISCUSSÃO
No CaP em homens a perda da integridade da camada basal é um evento essencial na
progressão tumoral. Quando ocorre descontinuidade desta camada ocorre infiltração
do estroma local com possibilidade de metástases em outros órgãos. Apenas uma
pequena porcentagem de CaP em homens apresentam marcação de p63, e quando
esta proteína esta presente relaciona-se com um pior prognóstico (Rossignol et al.,
2004). Um dado interessante de presente estudo é que as amostras com lesões pré-
neoplásicas e neoplásicas apresentaram maior marcação de p63, 34βE12 e Ki67 do
que amostras de tecido normal e hiperplásicas, indicando que a células basais podem
ter papel importante no desenvolvimento do CaP no cão. Segundo Rossignol et al.
(2004) 94% dos CaPs em humanos são negativos para a marcação de p63. Na
literatura Veterinária não há trabalhos avaliando a imunomarcação de p63 em tumores
prostáticos. Alguns trabalhos avaliaram a integridade da camada basal pela marcação
imuno-histoquímica de citoceratinas de alto peso molecular (34βE12), no entanto, a
p63 apresenta uma marcação mais específica para avaliação de células basais. Leav
et al. (2001) realizaram avaliação da camada basal de amostras de carcinomas
prostáticos sugerindo que esta neoplasia poderia surgir a partir das células basais, no
entanto, devido a limitações metodológicas não conseguiram comprovar sua hipótese.
Nosso dados corroboram com os de Leav et al. (2001) demonstrando que
diferentemente do homem, no cão a camada basal esta presente nos paciente com
esta neoplasia. Um dado interessante de nosso estudo é que as amostras com lesões
pré-neoplásicas e neoplásicas apresentaram maior marcação de p63 do que amostras
de tecido normal e hiperplásicas, indicando que a células basais podem ter papel
importante no desenvolvimento do CaP. A avaliação proteica do Ki-67 indicou uma
maior marcação nos carcinomas quando comparados com as amostras normais, com
211
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 076, 2013

esses dados demonstramos que há uma maior proliferação das células basais nos
carcinomas quando comparado ao tecido normal.
CONCLUSÕES
Alta marcação de p63, Ki67 e 34βE12 na PIA e no CaP indicam o envolvimento das
células basais nas lesões prostáticas em cães, diferente do homem.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Processo
FAPESP: 2012/16068-0 e 2012/18426-1, respectivamente.
REFERÊNCIAS
ROSSIGNOL, P.; BOUTON, M.C.; JANDROT-PERRUS, M. et al. A paradoxical pro-apoptotic effect of
thrombin on smooth muscle cells. Experimental Cell Research, v.299, n.2, p. 279-278, 2004
LEAV, I.; SCHELLING, K.H.; ADAMS, J.Y. et al. Role of canine basal cells in prostatic post-natal
development, induction of hyperplasia, sex hormone-stimulated growth, and the ductal origin of
carcinoma. Prostate, v.47, p.149-163, 2001.
DOLORES, J.L.; ZHANG, L. Challenges in Prostate Cancer Research: Animal Models for Nutritional
Studies of Chemoprevention and Disease Progression. Journal of Nutrition, v.135, n.12, p.3009S-
3015S, 2005.

212
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 077, 2013

077. AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DE AMOSTRAS DE RATAS WISTAR


TRATADAS COM O EXTRATO BRUTO DE BUCHENAVIA TOMENTOSA
(Histopathological evaluation of samples from Wistar rats treated with crude
extract of Buchenavia tomentosa)

Daiene Isabel da Silva Lopes¹, Naysa Julyana Rodrigues Maia², Layla de Souza
Castro², Adriano Tony Ramos³, Joseilson Alves de Paiva4 , Viviane Mayumi Maruo4

1. Doutorando em Ciência Animal, Universidade Federal do Tocantins.


2. Graduando em Medicina Veterinária, Universidade Federal do Tocantins.
3. Professor, Universidade Federal de Santa Catarina.
4. Professor, Universidade Federal do Tocantins.

RESUMO: O objetivo do presente estudo foi avaliar a toxicidade do extrato bruto de


Buchenavia tomentosa, por meio da avaliação histopatológica, em ratas Wistar. Trinta
ratas (60 dias de idade) foram divididas em dois grupos: controle (n=15) e experimental
(n=15). O extrato bruto da planta foi administrado via gavagem antes do acasalamento
e durante a gestação. A dose do extrato bruto foi correspondente àquela consumida se
o fruto fresco fosse a única fonte de alimentação, para simular as condições naturais de
intoxicação. O grupo controle recebeu apenas veículo. Ao final do experimento os
animais foram eutanasiados e necropsiados para coleta e pesagem dos seguintes
órgãos: coração, pulmão, timo, baço, fígado, rins e encéfalo. Não foram detectadas
alterações no peso relativo dos órgãos e na avaliação histopatológica. Conclui-se que o
extrato de B. tomentosa não produz efeitos deletérios sobre a estrutura de órgãos de
ratas Wistar.
Palavras chave: planta tóxica; toxicidade; mirindiba
ABSTRACT: The aim of this study was to evaluate the toxicity of the crude extract of
Buchenavia tomentosa by histopathology in Wistar rats. Thirty rats (60 days old)
were divided into two groups: Control (n = 15) and experimental (n = 15). The crude
extract of the plant was administered by gavage prior to mating and throughout
gestation. The dose of the crude extract was corresponding to that is consumed fresh
fruit were the only source of power, to simulate the natural ingestion. The control group
received only vehicle. At the end of the experiment the animals were euthanized and
necropsied to collect and weigh the following organs: heart, lung, thymus, spleen, liver,
kidneys and brain. No changes were observed in organ weights and histopathology. It is
concluded that the extract of B. tomentosa does not produce deleterious effects on the
organs structure in Wistar rats.
Keywords: toxic plant; toxicity; mirindiba
INTRODUÇÃO
Buchenavia tomentosa (Combretaceae), conhecida popularmente como mirindiba, é
uma planta arbórea comumente encontrada em florestas neotropicais (MARQUETE;
VALENTE, 2005). Surtos de intoxicação espontânea pelos frutos de B. tomentosa já
foram descritos em caprinos, ovinos e bovinos. Os sinais clínicos observados nessas
intoxicações foram diarreia, focinho seco, fraqueza, perda de peso, nascimento de
animais fracos, abortamento e morte (COSTA et al., 2011; MELLO et al., 2010).
Experimentalmente a inclusão de 10% do fruto de mirindiba na ração de fêmeas no
período gestacional induziu diminuição do peso das fêmeas e efeitos deletérios, tais
como: diminuição do peso do útero gravídico, dos fetos e da placenta (NUNES et al.,
2010; MAZZINGHY; ADAMS; MARUO, 2009).
Considerando, os relatos frequentes de intoxicação espontânea pela B. tomentosa em
animais de produção e os achados em modelos experimentais, objetivou-se com o
estudo, avaliar a toxicidade do extrato bruto de Buchenavia tomentosa, por meio da
avaliação histopatológica em fêmeas tratadas antes e durante o período gestacional.

213
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 077, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Cascas e polpas dos frutos coletados, foram percoladas durante 2 semanas utilizando-
se 1 litro de solução etanólica (92%) para cada 1000 g de casca e polpa.
O material foi rotaevaporado sob pressão reduzida obtendo-se o extrato bruto (EB).
Trinta fêmeas Wistar, adultas, foram divididas de forma inteiramente casualizada em
dois grupos (15 animais experimentais e 15 controle), com acesso ad libitum à água e
ração para animais de laboratório. As fêmeas foram tratadas durante 30 dias, na fase
de coabitação (máximo 2 semanas) e nos dias de gestação (GD) 0 a 20, via gavagem
com o extrato bruto de B. tomentosa ou veículo (grupo controle). A dose do extrato
bruto foi correspondente àquela consumida se o fruto fresco fosse a única fonte de
alimentação, para simular as condições naturais de intoxicação. O consumo de ração e
água e o peso corporal foram avaliados diariamente. Ao final do experimento os
animais foram eutanasiados e necropsiados para coleta dos seguintes órgãos: coração,
pulmão, baço, fígado, rins e encéfalo. O peso relativo dos órgãos foi calculado a partir
da seguinte fórmula: Peso relativo do órgão = (peso do órgão / peso corporal) x 100.
Os órgãos foram acondicionados em formol tamponado a 10%, processados
rotineiramente em parafina, cortados a 5μm de espessura e corados com hematoxilina
e eosina (HE) para exame em microscopia de luz. Para a análise estatística foi utilizado
o teste t de Student para comparação entre as médias. O nível de significância crítico
considerado foi P<0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A administração do extrato bruto de B. tomentosa para ratas Wistar durante 30 dias, na
fase de coabitação e nos 20 dias no período gestacional não promoveu alteração no
peso relativo de órgãos. À análise histopatológica não foram detectadas alterações no
sistema nervoso central (hipocampo, cerebelo e ponte), no pulmão, coração, fígado,
rins e baço.
Tais resultados corroboram estudos anteriores que empregaram quantidades de
produtos ativos inferiores, com a administração de 10% do fruto de B. tomentosa
durante o período gestacional e durante 60 dias na ração de ratas, nos quais também
não foram observadas alterações histopatológicas e no peso relativo dosórgãos
(NUNES et al., 2010; MAZZINGHY; ADAMS; MARUO, 2009).
No presente estudo a administração subcrônica do extrato bruto de B. tomentosa em
ratas Wistar não produziu alteração nos pesos relativos e na morfologia de órgãos,
indicativo de baixa toxicidade da planta.
CONCLUSÃO
A administração de extrato bruto do fruto de B. tomentosa em ratas Wistar tratadas
antes e durante o período gestacional, não produz efeitos deletérios sobre a estrutura
de órgãos de ratas Wistar.
Agradecimentos: À CAPES pela bolsa de doutorado e financiamento via
PNPD/CAPES processo 23038007219/2011-79.
Notas Informativas: A presente pesquisa foi submetida e aprovada pela Comissão de
Ética no Uso de Animais com protocolo Nº 23101.0022901-2012-45.
REFERÊNCIAS
COSTA, A. M. D.; MARIANO DE SOUZA, D. P.; CAVALCANTE, T. V.; et al. Plantas tóxicas de interesse
pecuário em região de ecótono amazônia e cerrado . Parte II. Araguaína, Tocantins. Acta Veterinária
Brasilica, v.5, n.3, p.317-324, 2011.
MARQUETE, W. T.; VALENTE, M. C. Flora da Reserva Ducke, Amazonas, Brasil: Combretaceae.
Rodriguésia, v.56, n.8, p.1319-1332, 2005.
MAZZINGHY, C. L.; ADAMS, F. K.; MARUO, V. M. Toxicidade de Buchenavia tomentosa Eichler
sobre a fertilidade e parâmetros reprodutivos em ratos. In: V Seminário de iniciação Cientifica da
UFT, 2009. CD-ROM.
MELLO, G. W. S.; OLIVEIRA, D. M.; CARVALHO, C. J. S.; et al. Plantas tóxicas para ruminantes e
equídeos no Norte Piauiense, Pesquisa Veterinária Brasileira, v.30, n.1, p.1-9, 2010.
NUNES, H. M. M.; PAIVA, J. A.; RAMOS, A. T.; et al. Effects of Buchenavia tomentosa consumption on
female rats and their offspring, Acta Scientiarum, Biological Sciences, v.32, n.4, p.423-429, 2010.
214
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 078, 2013

078. AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DE RATOS WISTAR TRATADOS COM


EXTRATO BRUTO DE Siparuna guianensis
(Histopatological evaluation of Wistar rats treated with Siparuna guianensis crude
extract)

Nahuria Rosa Karajá Javaé¹, Camila Goloni², Adriano Tony Ramos³, Domenica
Palomaris Mariano de Sousa4, Joseilson Alves de Paiva4, Viviane Mayumi Maruo4

1. Doutoranda, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal do Tocantins (UFT),


2. Graduanda, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal do Tocantins (UFT),
3. Professor, Campus Curitibanos, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
4. Professor (a), Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal do Tocantins (UFT),
(nahuria@gmail.com)

RESUMO:Siparuna guianensis utilizada como analgésico e diurético, foi relatada por


pecuaristas do estado do Tocantins como tóxica e abortiva. O objetivo do estudo foi
verificar a toxicidade subcrônica das folhas do extrato bruto de Siparuna guianensis
(EBSG) em órgãos de ratos Wistar. Ratos machos foram divididos em grupos:
experimental (n=15) que recebeu EBSG a 10% em solução de dimetilsulfóxido (DMSO)
a 20%, e controle (n=15) tratados com o veículo, por 60 dias. A dose administrada foi
correspondente à que seria ingerida se a planta fosse o único alimento. Ao final do
experimento coletou-se: coração, pulmão, baço, fígado, rins, adrenais, timo, encéfalo,
testículo e epidídimo para análise histopatológica e peso relativo. Não se observou
alterações no peso relativo e na análise histopatológica. Conclui-se que o EBSG a 10%
não provoca toxicidade identificável ao exame histopatológico.
Palavras-chave: negramina; planta; rato
ABSTRACT:Siparuna guianensis is used for muscle pain and diuretic, was reported by
livestock producers from Tocantins state as toxic and abortifacient. The aim of this
study was to assess the subchronic toxicity of the crude extract of the leaves of
Siparuna guianensis (EBSG) in rats. Males rats were divided into groups: experimental
(n = 15) that received 10% EBSG in dimethylsulfoxide (DMSO) solution at 20% and the
control group that received only vehicle, for 60 days. The dose corresponded to that if
the plant was the only food. At the end of the experimental period heart, lung, spleen,
liver, kidneys, adrenals, thymus, brain, testis and epididymis were collected for
histopathological analysis and organ weights. It was concluded that the 10% EBSG did
not promote toxicity recognizable by histopathology examination.
Key words: negramina; plant, rat
INTRODUÇÃO
Siparuna guianensis pertencente à família Siparunaceae, conhecida popularmente
como negramina, é utilizada na medicina popular para dor de cabeça, gripes, auxiliar
do parto, dores musculares (Souza; Felfili, 2006; Rocha-Coelho; Silva, 2007; Alves et
al, 2008). Entretanto, no Tocantins, conforme relato dos produtores, a planta está
relacionada a casos de abortamentos e mortes em bovinos (Comunicação pessoal).
A S. guianensis é encontrada no Peru, Brasil, Colômbia e Costa Rica (Duke, 1962). No
Brasil é encontrada no Amazonas, Pará, Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Minas
Gerais, São Paulo, Mato grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Paraná (Souza;
Felfili, 2006; Valentini et al., 2010).
Nas folhas foram identificados flavonoides (Facundo, et al., 2012; Negri et al., 2012) e
saponinas, alcalóides, flavonas, flavanonóis, xantonas, taninos, fenóis, catequinas,
depsídeos, depsidonas, cumarinas, esteróides, triterpenóides e azulenos (Beserra et
al., 2011).
O objetivo do presente trabalho foi de verificar se a planta S. guianensis causa
toxicidade que possa prejudicar a saúde animal por provocar lesões em órgãos.

215
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 078, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
As folhas da planta foram coletadas em Babaçulândia – TO, secas em estufa a 50ºC,
percoladas em etanol e rotaevaporadas sob pressão reduzida para se obter o extrato
bruto de S. guianensis (EBSG).
Os animais foram divididos de forma inteiramente casualizada em dois grupos:
experimental (n=15), que recebeu EBSG a 10% em solução de dimetilsulfóxido
(DMSO) a 20%, e o grupo controle (n=15), que recebeu apenas o veículo durante 60
dias. A dose administrada foi correspondente à que seria ingerida se a planta fosse o
único alimento, para simular as condições naturais de intoxicação. Ao final do
experimento os animais foram eutanasiados e necropsiados para coleta e pesagem
dos seguintes órgãos: coração, pulmão, baço, fígado, rins, adrenais, timo, encéfalo,
testículo e epidídimo. Os órgãos foram acondicionados em formol a 10% para posterior
avaliação histopatológica. O peso relativo foi calculado a partir da seguinte fórmula:
Peso relativo do órgão = (peso do órgão / peso corporal) x 100.
Para a análise estatística foi utilizado o teste t de Student para a comparação entre as
médias. O nível de significância considerado foi de P>0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O consumo subcrônico de EBSG em ratos não promoveu alteração no peso relativo de
órgãos (Tabela 1). À análise histológica não foram identificadas alterações estruturais
na arquitetura dos tecidos resultantes da ingestão do EBSG.

Estudo fitoquímico preliminar do EBSG revelou a presença de 4,30% de flavonoides.


Alguns flavonoides quando consumidos podem agir como fitoestrógenos com atividade
endógena de forma agônica ou antagônica com os estrógenos endógenos. Desta
maneira afetam sistemas de importância vital como renal, nervoso e cardiovascular
(Whitten et al. 2002; Sanin et al. 2010). No entanto no presente trabalho não foram
observadas lesões ao exame histopatológico de animais tratados com EBSG a 10%,
bem como não houve diferenças entre os pesos relativos dos órgãos dos grupos.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o EBSG a 10% não provoca toxicidade identificável ao exame
histopatológico.
Agradecimento:
À CAPES pela bolsa de mestrado concedida à primeira autora e pelo financiamento via
PNPD processo 23038007219/2011-79.
Nota informativa:
O protocolo experimental foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética no Uso de
Animais - CEUA, sob o protocolo nº 23101.002908-2012-67.

216
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 078, 2013

REFERÊNCIAS
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plantas medicinais em fragmentos florestais de Dourados-MS. Ciencia Agrotecnica, Lavras v. 32, n. 2,
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BESERRA, F. P.; CARVALHO, R. H. A.; CAMPOS, S. L. et al. Prospecção fitoquímica das folhas de
Siparuna guianensis Aublet. (Siparunaceae) de uso popular medicinal em reassentamento rural,
Tocantins. In: VII Congresso Brasileiro de Agroecologia, 2011, Fortaleza. v. 6, n. 2, 2011.
DUKE, J. A. 1962. MISSOURI BOTANICAL GARDEN, 1962, Flora of Panama, Monimiaceae, Anais… ,
1962, p. 230.
FACUNDO, V. A.; AZEVEDO, M. S.; RODRIGUES, R. V. et al. Chemical constituents from three
medicinal plants: Piper renitens, Siparuna guianensis and Alternanthera brasiliana. Brazilian Journal of
Pharmacognosy, 2012.
NEGRI, G.; SANTI, D.; TABACH, R. Chemical composition of hydroethanolic extracts from S. guianensis,
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ROCHA-COELHO, F. B.; SANTOS, M. G. Plantas medicinais utilizadas pela comunidade mumbuca
Jalapão – TO: Um estudo etnofarmacológico. Universidade Federal do Tocantins, 2008.
SANIN, Y. Y. L.; GÓMEZ, M. T. G.; MORALES, A. M. T. Effectos de los fitoestrógenos em la repróducion
animal. Revista Facultad Nacional de Agronomía, Medellín, v. 63, n. 2, p. 5555-5565, 2010.
SILVA, C.S.P. As plantas medicinais no município de Ouro Verde no Goiás, GO, Brasil: uma
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2007.
SOUZA, C.D.; FELFILI, J.M. Uso de plantas medicinais na região de Alto Paraíso de Goiás, GO, Brasil.
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VALENTINI, C.M.A.; COELHO, M.F.B.; RODRÍGUEZ-ORTÍZ, C. E. Siparuna guianensis aublet
(negramina): uma revisão, Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v.12, n.1, p.96-104,
2010.
WHITTEN, P. L.; PATISAUL, H. B.; YOUNG, L. J. Neurobehavioral actions of coumestrol and related
isoflavonoids in rodents. Neurotoxicology and Teratology v. 24, n. 1, p. 47-54, 2002.

217
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 079, 2013

079. AVALIAÇÃO IN VITRO DA CITOTOXIDADE DE EXTRATOS DE Euphorbia


tirucalli EM CÉLULAS DE CARCINOMA COLORRETAL
(In vitro cytotoxicity evaluation of extracts of Euphorbia tirucalli in colorectal
carcinoma)

Archanjo, A.B; Costa, A.V; Careta, F.P; Nunes, L.C.


Universidade Federal do Espírito Santo

RESUMO: Euphorbia tirucalli é conhecida como aveloz, tem sido utilizada na terapia
anti-câncer com pouca comprovação científica. Objetivou-se avaliar a citotoxidade in
vitro de extratos de aveloz na linhagem HCT-116 de células de carcinoma colorretal.
Foram preparados os extratos orgânicos com os solventes hexano e álcool 70ºGL nas
concentrações de 62,5 μg/mL, 125 μg/mL, 250 μg/mL, 500 μg/mL e 1000 μg/mL. Após
96h foi verificada a viabilidade celular. Observou-se que as células expostas a ambos
os extratos apresentavam discreta a acentuada redução de volume e fragmentação
celular. Em relação à viabilidade celular, observou-se que o extrato hexânico teve
maior efeito citotóxico a partir da concentração de 125 μg/mL enquanto que o
hidroalcoólico a partir de 500 μg/mL. A CL50 foi de 60,2873 μg/mL e 100,6066 μg/mL,
para o extrato hexânico e hidroalcoólico, respectivamente. Os extratos hexânico e
hidroalcoólico de E. tirucalli revelaram efeitos citotóxicos em células de carcinoma
colorretal. O extrato hexânico se mostrou mais eficaz que o hidroalcoólico.
Palavras-chave: aveloz; efeito citotóxico; HCT-116; viabilidade
ABSTRACT: Euphorbia tirucalli is known as aveloz, has been used in anti-cancer
therapy with little scientific proof. This study aimed to evaluate the in vitro cytotoxicity of
extracts aveloz in line HCT-116 colorectal carcinoma cells. The organic extracts were
prepared with the solvents hexane and ethanol 70°GL in concentrations of 62.5 μg/mL,
125 μg/mL, 250 μg/mL, 500 μg/mL and 1000 μg/mL. After 96 hours cell viability was
observed. It was observed that cells exposed to both extracts showed mild to marked
reduction in volume and cellular fragmentation. With respect to cell viability, it was
observed that the hexane extract was more cytotoxic effect at the concentration of 125
μg/mL while the hydroalcoholic from 500 μg/mL. The LC50 was 60.2873 μg/mL and
100.6066 μg/mL for hexane extract and hydroalcoholic respectively. The hydroalcoholic
and hexane extracts of E. tirucalli showed cytotoxic effects on cells of colorectal
carcinoma. The hexane extract was more effective than hydroalcoholic.
Key words: availability; aveloz; cytotoxic effect; HCT-116
INTRODUÇÃO
Euphorbia tirucalli Linneau, conhecida popularmente como avelós ou aveloz, é uma
planta da família Euphorbiaceae (Avelar, 2010). Tem sido utilizada desde o início deste
século na terapia anti-câncer pela medicina popular e a prática homeopática, e
atualmente continua sendo empregado como terapia complementar no tratamento
desta enfermidade (Oliveira e Nepomuceno, 2004).
Os terpenos presentes no látex da planta são os ésteres de phorbol, euphol e ingenóis
e flavonóides. Os diterpenos com núcleo ingenano (ingenóis) presentes na constituição
do látex possuem ação anticancerígena, mostrando significativa inibição da proliferação
da proteína quinase C (PKC), resultando em efeito antiproliferativo e apoptótico em
varias células cancerígenas humanas (Sapiência, 2010).
Betancur-Galvis et al, (2002) avaliaram 47 extratos de 10 espécies do gênero
Euphorbia utilizadas por curadores em medicina tradicional que foram testadas in vitro
quanto aos seus potenciais antitumorais (antiproliferativo e citotóxico) e atividade anti-
herpética. Cinco dos 47 extratos (11%) representando três das 10 espécies (30%)
exibiram atividade anti-herpética. A maior atividade foi encontrada no extrato aquoso
metanólico de caule e de folha de e de E. cotinifolia e estes extratos não exibiram
citotoxicidade. Seis extratos (13%) representando quatro espécies (40%)

218
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 079, 2013

demonstraram atividade citotóxica. A maior citotoxicidade foi encontrada no extrato


diclorometano, obtido das folhas de E. cotinifolia.
Dessa forma, objetivou-se avaliar a citotoxidade in vitro de diferentes extratos de E.
tirucalli em linhagem de células de carcinoma colorretal.
MATERIAL E MÉTODOS
As partes aéreas de aveloz foram coletadas no município Alegre, estado do Espírito
Santo, que inicialmente, foram identificadas por análise botânica e depositadas no
Herbário VIES Setorial de Jerônimo Monteiro, sob registro VIES 31807. Foram
mantidas por 72 h a 40 ºC em estufa de ventilação forçada de ar e, depois, trituradas
em moinho de facas e armazenadas em recipientes plásticos.
Os extratos orgânicos foram preparados com os solventes hexano e álcool 70ºGL e em
seguida diluídos em dimetilsulfóxido (DMSO) em concentrações de 62,5 μg/mL, 125
μg/mL, 250 μg/mL, 500 μg/mL e 1000 μg/mL. Foi utilizada a linhagem celular HCT-116
(carcinoma colorretal). A linhagem foi rotineiramente cultivada em Dulbecco's Modified
Eagle's Medium (DMEM) com 10% de soro fetal bovino (SFB) em frascos de cultura 75
cm2 de polietileno na densidade média de 1x106 células/mL, a 37ºC, 5% de CO2 e
90% de umidade, até atingirem confluência. Após confluência, as células foram
tripsinizadas, plaqueadas em placa com 24 poços com densidade de 6x104 células/mL
e mantidas nas condições acima descritas. Os extratos foram aplicados em duplicatas
e utilizou-se DMSO como controle negativo. Após 96h, as células foram tripsinizadas e
foi verificada a viabilidade celular por contagem em câmara hematológica utilizando
azul de Tripan.
O cálculo do CL50 (concentração letal 50%) foi feito no programa BioStat 2009
Professional 5.8.4 utilizando análise de Probit.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação à morfologia celular observou-se que após 96h as células HCT-116
expostas aos extratos hexânico a 62,5 μ/mL e a 125 μ/mL apresentavam discreta a
moderada redução de volume e morfologia arredondada. Na diluição de 250 μ/mL
moderada a acentuada redução de volume e morfologia arredondada. Na concentração
de 500 μ/mL observou-se acentuada redução de volume e na de 1000 μ/mL
observaram-se apenas fragmentos celulares.
As células expostas aos extratos hidroalcoólicos de aveloz a 62,5 μ/mL e a 125 μ/mL
apresentavam discreta redução de volume e morfologia arredondada. Na diluição de
250 μ/mL moderada redução de volume e morfologia arredondada. Na concentração
de 500 μ/mL observou-se acentuada redução de volume e na de 1000 μ/mL
observaram-se apenas fragmentos celulares.
Os dados referentes à viabilidade celular estão apresentados na Tabela 1.

219
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 079, 2013

O valor de CL50 para o extrato hexânico foi de 60,2873 μg/mL com erro padrão de
39,4935 μg/mL, pelo método de Finney. Para o extrato hidroalcoólico o valor
encontrado foi de 100,6066 μg/mL sendo o erro padrão de 0,6023 μg/mL, de acordo
com o método dos mínimos quadrados.
Betancur-Galvis et al, (2002) encontraram CC50 (concentração citotóxica 50%)
222,4 mg/mL e valores maiores que 1000 mg/mL, utilizando etanol e metanol:água,
como solventes no preparo de extratos de E. tirucalli demonstrando que a
citotoxicidade observada por estes autores foi encontrada em dosagens superiores às
obtidas no presente estudo. Notou-se que com baixas concentrações de ambos os
extratos foi possível verificar alta mortalidade celular. Estas diferenças observadas
podem estar relacionadas aos tipos distintos de solventes utilizados no preparo dos
extratos.
CONCLUSÃO
Os extratos hexânico e hidroalcoólico de E. tirucalli revelaram efeitos citotóxicos em
linhagem de células de carcinoma colorretal. O extrato hexânico se mostrou mais eficaz
que o hidroalcoólico.
Agradecimento:
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo pelo apoio financeiro.
REFERÊNCIAS
AVELAR, B. A. Detecção in vitro de citocinas intracitoplasmáticas (interferon gama, fator de
necrose tumoral, interleucina 4 e interleucina 10) em leucócitos humanos tratados com extrato
bruto diluído de Euphorbia tirucalli. 2010. 79 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Fisiológicas) -
Programa Multicêntrico em Ciências Fisiológicas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri.
BETANCUR-GALVIS, L. A; MORALES, G. E; FORETO, J. E; ROLDAN, J. [2002] Cytotoxic and antiviral
activities of Colombian medicinal plant extracts of the Euphorbia genus. Memórias Instituto Oswaldo
Cruz, v. 97, n. 4, p. 541-546, Jun. 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0074-
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OLIVEIRA, A.P.; NEPOMUCENO, J.C. Evaluation of genotoxic and antigenotoxic effects of the avelos
(Euphorbia tirucalli) in Drosophila melanogaster. Bioscience Journal, v. 20, n. 2, p. 179 – 186. 2004.
Sapiência Jornal Informativo Científico da FAPEPI (2010). [Online]. N. 23, Ano VI. p. 04-09, Teresina-PI.
Disponível em: < http://www.fapepi.pi.gov.br/nova/sapiência/pdf/ sapiencia23.pdf.> Acesso em:
24/07/2013.

220
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 080, 2013

080. CARACTERIZAÇÃO DA EXPRESSÃO DO RECEPTOR CAR E SUA


ASSOCIAÇÃO INVERSA COM A PROLIFERAÇÃO CELULAR EM NEOPLASIAS
EPITELAIS
(Characterization of the CAR receptor expression and its inverse association with
cell proliferation in epithelial neoplasms)
Camila Neri Barra¹, Ricardo de Francisco Strefezzi², Arina Lázaro Rochetti², Heidge
Fukumasu²
1 Departamento de Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia (FMVZ-USP), São Paulo, SP.
2 Departamento de Medicina Veterinária da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA-
USP), Pirassununga, SP.
RESUMO: Objetivou-se caracterizar a expressão do receptor CAR e sua possível
associação com a proliferação celular em diferentes tipos histológicos de cânceres. Foi
realizada análise imunoistoquímica para o receptor CAR e o marcador de proliferação
celular ki67 em 60 diferentes tipos histológicos de neoplasias humanas, alocadas em
um microarranjo tecidual. A quantificação foi por porcentagem de células positivas,
considerando aquelas que continham o núcleo corado. Foi observada marcação do
receptor CAR em 54% dos tumores estudados. Quando analisados apenas os tumores
de origem epitelial, foi possível determinar correlação inversa entre a proliferação
celular e a marcação do receptor CAR (p=0.0101). Estes dados sugerem que a menor
presença do receptor CAR ocorre em tumores com maior índice de proliferação celular,
fator este conhecidamente associado à malignidade em cânceres.
Palavras-chave: fator prognóstico; Ki67; receptor androsterona constitutivo; tumores
ABSTRACT: This study aimed to characterize the CAR receptor expression and its
possible association with cell proliferation in different histological types of cancers.
Immunohistochemical analysis was performed for the CAR receptor and the cell
proliferation marker Ki67 in 60 different histological types of human malignancies,
allocated on a tissue microarray. Quantitation was by percentage of positive cells,
considering those ones containing the nuclei stained. The CAR receptor marking was
observed in 54% of the tumors studied. When analysed only the tumors of epithelial
origin, it was possible to determine inverse correlation between cell proliferation and the
CAR receptor marking (p = 0.0101). These data suggest that the reduced presence of
the CAR receptor occurs in tumors with higher cellular proliferation index, a factor
known associated with malignancy in cancers.
Key words: constitutive androstane receptor; Ki67; prognostic factor; tumors
INTRODUÇÃO
Um dos maiores problemas de saúde pública que acomete todo o mundo continua
sendo o câncer, onde uma em cada quatro mortes nos Estados Unidos é devido a essa
doença. Estimativas mostram que as neoplasias mais comumente diagnosticadas, e
que levam ao óbito são cânceres de pulmão e brônquios, próstata, mama e colorretal
(Siegel, 2013). Nesse contexto, é de extrema importância estudos que determinam
fatores prognósticos, os quais são essenciais no diagnóstico precoce, no
direcionamento de tratamentos e na compreensão da doença (Buccheri, Ferrigno,
2004). Além de indicadores prognósticos histopatológicos, marcadores moleculares
têm sido extensivamente estudados nas últimas duas décadas (Marzouk, Schofield
2011). Um importante biomarcador prognóstico presente nas células em proliferação é
a proteína ki67, que desenvolve papel na carcinogênese, progressão tumoral e está
frequentemente correlacionada com o curso clínico da doença (Scholzen et al., 2000;
Park et al., 2007; Ustymowiz 2009). Contudo, a busca por novos biomarcadores
moleculares que apresente correlação inversa de expressão com proliferação celular
no processo de carcinogênese e progressão tumoral poderia ser aplicado como novos
indicadores prognósticos e alvos terapêuticos. O Receptor Androsterona Constitutivo
(CAR) é um receptor membro da superfamília de receptores nucleares, codificado pelo
gene NR1I3, e conhecido como ―xeno-sensor‖, responsável pela metabolização e
221
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 080, 2013

excreção de drogas e xenobióticos (Gao; Xie, 2012). A estimulação desse receptor por
ativadores como fenobarbital pode provocar hepatomegalia aguda como forma de
adaptação em resposta ao estresse que as células do fígado sofrem na tentativa de
metabolizar essa substância. Em adição, tratamentos com exposição prolongada
desses ativadores de CAR causam neoplasias de fígado em camundongos (Huang et
al.2005). Em trabalhos prévios, demonstramos que células de câncer de pulmão de
camundongos e humanos, os agonistas específicos do receptor CAR aumentaram a
toxicidade do Paclitaxel (em revisão). Entretanto, acredita-se que o papel do receptor
CAR na carcinogênese não se restringe apenas na função que ele exerce sobre o
controle da exposição aos carcinógenos, sendo necessária uma melhor investigação.
O objetivo do presente estudo foi caracterizar a expressão do receptor CAR e sua
possível associação com a proliferação celular em diferentes tipos histológicos de
cânceres.
MATERIAL E MÉTODO
A análise realizada foi de imunohistoquímica utilizando micro arranjos de tecidos
contendo sessenta tipos de amostras tumorais malignas diferentes, e foram utilizados
para imunomarcação para receptor CAR e marcador de proliferação celular na diluição
1:750 e 1:100 respectivamente, de acordo com recomendações do fabricante.
O método preconizado para quantificação de CAR e ki67 foi por contagem de células
positivas, considerando como positivas aquelas que continham o núcleo corado em
marrom devido à deposição de DAB. Cerca de 100 células foram contadas por amostra
de tumor, e o índice positivo de Ki67 e CAR foi obtido através da divisão do número de
células com o núcleo corado em marrom pelo total de células contadas em cada
amostra de tumor e multiplicado por 100.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados sessenta tipos de neoplasias malignas diferentes de humanos,
sendo que 18 delas eram de origem mesenquimal, e 42 de origem epitelial. Não houve
diferença em relação ao padrão de proliferação celular quando comparado tumores
epiteliais e mesenquimais (p=0.9224). Em adição a este resultado, não foi encontrada
correlação entre os padrões de marcações de Ki67 e CAR ao analisar os tumores
epiteliais e mesenquimais juntos (p=0.5963). Entretanto, quando esses tumores foram
analisados separadamente, os tumores de origem epiteliais tiveram correlação inversa
no padrão de expressão de CAR e proliferação celular, sugerindo que a perda da
expressão do receptor CAR está associada com proliferação (p=0.0101).
CONCLUSÕES
Os dados do estudo sugerem que a menor presença do receptor CAR ocorre em
tumores com maior índice de proliferação celular, fator este conhecidamente associado
à malignidade em cânceres.
REFERÊNCIAS
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222
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 081, 2013

081. CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DO TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL


CANINO AOS EXAMES CITOPATOLÓGICO E HISTOPATOLÓGICO E RESPOSTA
À QUIMIOTERAPIA
(Morphological classification of canine transmissible venereal tumor in
cytopathological anda histopathological exams and response to chemotherapy)

Caroline Rocha de Oliveira Lima¹, Danilo Rezende e Silva², Helena Tavares Dutra³,
Thaynã Chaves e Santos4, Andressa Sabine Rabbers4, Veridiana Maria Brianezi
Dignani de Moura5

1 Médica Veterinária, Doutora em Ciência Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade


Federal de Goiás, Goiânia, GO, Fiscal Estadual Agropecuário, Jataí, GO, carolrochavet@hotmail.com
2 Médico Veterinário, Mestrando em Ciência Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade
Federal de Goiás, Goiânia, GO
3 Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiás/Campus Jataí,
4 Médicas Veterinárias, Residentes do Programa de Residência Médico Veterinária da Universidade
Federal de Goiás/Campus Jataí, Jataí, Goiás.
5 Professor Adjunto III, Setor de Patologia Animal, Departamento de Medicina Veterinária, Escola de
Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil.

RESUMO: Neste estudo objetivou-se identificar e classificar o tumor venéreo


transmissível canino (TVT) quanto ao padrão celular predominante em subtipos
linfocitoide, plasmocitoide e misto aos exames citopatológico e histopatológico, em 20
amostras de cães portadores da neoplasia genital primária. Em seguida, os animais
foram submetidos a quimioterapia com sulfato de vincristina e verificada a relação entre
estes subtipos e a resposta terapêutica. Microscopicamente, as amostras citológicas
permitiram melhor caracterização do tipo celular. Quanto à classificação do TVT, o tipo
plasmocitoide foi o de maior ocorrência, seguido pelo linfocitoide e misto. Quanto ao
tratamento, os animais necessitaram em média de quatro a cinco quimioterápicas para
remissão da massa neoplásica, à exceção de um cão portador de TVT plasmocitoide
que recebeu sete aplicações. Infere-se que o TVT do subtipo plasmocitoide apresente
maior resistência a terapia antineoplásica.
Palavras-chave: cão; linfocitoide; neoplasia; plasmocitoide; sulfato de vincristina
ABSTRACT: This study aimed to identify and classify the canine transmissible venereal
tumor (TVT) for the pattern predominant cellular subtypes in linfocitoide, plasmacytoid
and mixed by cytological and histopathological examinations in 20 samples of dogs with
primary genital neoplasia. Subsequently, the animals underwent chemotherapy with
vincristine sulphate and verified the relationship between these subtypes and
therapeutic response. Microscopic cytology samples allowed a better characterization of
the cell type. Regarding the classification of the TVT, the plasmacytoid type was the
most frequent, followed by linfocitoide and mixed. Regarding treatment, the animals
needed an average of four to five chemotherapy for remission of the neoplastic mass,
except for a dog carrier TVT plasmacytoid which received seven applications. It is
inferred that the TVT plasmacytoid subtype present greater resistance to anticancer
therapy.
Keywords: dog; linfocitoide; neoplasia; plasmacytoid; vincristine sulfate
INTRODUÇÃO
O tumor venéreo transmissível canino (TVT) é uma neoplasia indiferenciada de células
redondas, embora a origem histológica ainda seja controversa, comumente transmitida
a cães durante o coito (Murgia et al., 2006). Apesar da caracterização morfológica
peculiar, estudos demonstram diferenças morfológicas nos tipos celulares que
compõem a neoplasia. Dessa forma, Floréz et al. (2012) propuseram a classificação
morfológica do TVT em três tipos, de acordo com o padrão celular predominante,
sendo descritas as formas linfocitoide, plasmocitoide e mista.

223
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 081, 2013

Estudos abordam possíveis correlações entre o tipo morfológico predominante, o


potencial maligno e a resistência ao tratamento quimioterápico dessa neoplasia nos
cães (Gaspar et al., 2010). Diante do exposto, objetivou-se identificar e classificar o
TVT, aos exames citopatológico e histopatológico e verificar a relação entre estes
subtipos e a resposta a terapia quimioterápica com sulfato de vincristina.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida entre agosto a dezembro de 2012 no Hospital Veterinário,
Campus Jataí da UFG, Jataí, GO, e no Setor de Patologia Animal da Escola de
Veterinária e Zootecnia da UFG, Goiânia, GO. Foram utilizados 20 cães portadores de
TVT de localização genital primária, sem restrição quanto à raça, ao sexo e à idade, e
que não haviam sido submetidos à terapia antineoplásica prévia.
Para a identificação e classificação do padrão morfológico predominante do TVT o
protocolo experimental constou da colheita de dois espécimes clínicos do tumor de
cada cão, sendo o primeiro destinado à análise citopatológica, pela técnica de citologia
de impressão, corada com Giemsa, e o segundo à análise histopatológica corada com
hematoxilina eosina. A classificação do TVT nos subtipos linfocitoide, plasmocitoide e
misto seguiu os critérios de Floréz et al. (2012). Após confirmação, os animais foram
submetidos quimioterapia com sulfato de vincristina na dose de 0,025mg/kg, via
intravenosa, a cada sete dias até regressão da massa e exame confirmatório da
ausência de células neoplásicas. Para análise do padrão morfológico do TVT
empregou-se o teste de χ2, com nível de significância de 5%. Os dados terapêuticos
foram analisados descritivamente.
RESULTADOS
As amostras citológicas permitiram melhor caracterização do tipo celular do que às
histológicas. Dessa forma, os resultados basearam-se nesta primeira análise.
Quanto à classificação, apesar dos resultados não diferirem significativamente entre os
padrões morfológicos (p<0,05), verificou-se predominância do tipo plasmocitoide em
45% das amostras do estudo, seguido do tipo linfocitoide em 30% das massas e do
misto, presente em 25% dos tecidos neoplásicos.
Na relação entre o número de sessões quimioterápicas e o padrão morfológico
verificou-se que nove animais necessitaram de quatro sessões. Destes, três eram
portadores de TVT linfocitoide, quatro plasmocitoide e dois, misto. Três animais
necessitaram de cinco sessões, sendo um do tipo linfocitoide e dois do tipo
plasmocitoide. Apenas um animal, com TVT plasmocitoide, necessitou de sete
sessões. Em cinco casos os proprietários optaram pela não continuidade do tratamento
e dois cães morreram no período do estudo. Porém, os exames necroscópicos não
foram realizados devido a não autorização dos proprietários.
DISCUSSÃO
O exame citopatológico permitiu melhor visualização do tipo celular. Erunal-Maral et al.
(2000) apontaram que em muitos casos as características citológicas são definitivas
para o diagnóstico, o que também foi constatado nesta pesquisa. Neste estudo, o TVT
com padrão morfológico plasmocitoide foi observado em maior frequência e
corroboram com os achados de Amaral et al. (2007), que refere o TVT plasmocitoide
como o de maior ocorrência em amostras de TVT.
A quimioterapia foi eficaz para todos os animais, embora um cão, portador de TVT
plasmocitoide, tenha necessitado de sete sessões. Gaspar et al. (2010) relataram que,
o TVT plasmocitoide apresenta maior expressão da glicoproteína-p, responsável pela
resistência tumoral, e pode justificar o achado deste estudo.
CONCLUSÕES
O exame citopatológico permitiu uma melhor caracterização dos padrões morfológicos,
sendo possível identificar os tipos plasmocitoide, linfocitoide e misto. É possível que o
TVT plasmocitoide, tipo mais comum do estudo, apresente maior resistência à terapia
quimioterápica com sulfato de vincristina.
224
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 081, 2013

REFERENCIAS
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225
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 082, 2013

082. EFEITO DO ÁCIDO FÍTICO EM EXPLANTES INTESTINAIS DE SUÍNOS


EXPOSTOS AO DESOXINIVALENOL (DON): PROLIFERAÇÃO CELULAR E
APOPTOSE
(Effect of phytic acid on swine intestinal explants exposed to deoxynivalenol
(DON): cell proliferation and apoptosis)

Elisângela Olegário da Silva¹ ², Karina Maria Basso¹, Juliana Rubira Gerez¹, Thalisie do
Carmo Drape¹, Fernando Gomes Cardoso¹, Ana Paula F.R.L. Bracarense¹

1 Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR, Brasil


2 Faculdade Integrado de Campo Mourão, Campo Mourão/PR, Brasil

RESUMO: O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito do ácido fítico (IP6) na
proliferação celular e apoptose de explantes jejunais de suínos submetidos à exposição
ao DON por meio de exame imuno-histoquímico. Explantes de suínos com 24 dias de
idade foram submetidos aos seguintes tratamentos: controle, DON (10 μm), DON+IP6
(2,5 mM) e DON+IP6 (5 mM). O tratamento com IP6 5 mM diminuiu significativamente
as taxas de proliferação celular e apoptose no jejuno (P≤0,05) em relação aos
explantes submetidos apenas ao DON, tornando-os similares ao controle. A diminuição
da proliferação celular e apoptose por IP6 melhorou a viabilidade do tecido intestinal
exposto ao DON.
Palavras-chave: caspase 3, Ki-67, jejuno, suíno, técnica de explantes
ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate the effect of IP6 on cell
proliferation and apoptosis in jejunal explants from pigs submitted to DON exposure.
Explants from 24 days-old pigs were submitted to the following treatements: control,
DON (10 μm), DON+IP6 (2,5 mM) e DON+IP6 (5 mM). The presence of IP6 decreased
the cell proliferation and apoptosis in the jejunum (P≤0.05) compared with the explants
treated only with DON, making its similar to the control. The decrease in cell
proliferation and apoptosis by IP6 promoted the viability of the intestinal tissue
submitted to DON exposure.
Key words: caspase 3, ki-67, jejunum, pig, explants technique
INTRODUÇÃO
Desoxinivalenol (DON) é uma micotoxinas frequentemente encontrada em cereais em
todo o mundo, sendo considerada um fator de risco à saúde humana e animal. Os
suínos são animais altamente sensíveis à intoxicação por DON e apresentam sinais
clínicos similares aos humanos. Suínos com intoxicação aguda apresentam diarreia,
vômito, leucocitose e hemorragia. A exposição crônica leva ao desenvolvimento de
anorexia, redução do ganho de peso, alterações neuroendócrinas e imunes (PESTKA e
SMOLINSKI, 2005).
O ácido fítico (IP6) é um antioxidante natural amplamente encontrado em cereais e
legumes. Diversos estudos demonstraram a ação preventiva e terapêutica sobre
diversas condições patológicas, incluindo o câncer (SHAMSUDDIN et al., 1989). No
entanto, as interações e as sinalizações moduladas por IP6 e um possível efeito
benéfico sobre o trato gastrointestinal exposto a xenobióticos permanecem
desconhecidos. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito do IP6 na
proliferação celular e apoptose em explantes jejunais de suínos submetidos à
exposição por DON.
MATERIAL E MÉTODOS
Neste estudo foram utilizados seis suínos (Landrace X Large White X Duroc), com 24
dias de idade (7.9 Kg ± 0,72). Os suínos foram eutanasiados e os explantes jejunais
colhidos com punch de 8 mm de diâmetro. De cada animal foram colhidos 42 explantes
e distribuídos em placas de cultura com seis poços nos seguintes tratamentos: controle
(A e B)- somente meio de cultura (DMEM- Dulbecco‘s modified Eagle‘s medium); meio
de cultura com IP6 2,5 mM (C); meio de cultura com IP6 com 5 mM (D). Após uma hora
226
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 082, 2013

de incubação a 37 °C adicionou-se DON 10 μM nos tratamentos B, C e D, que foram


então incubados por mais três horas. A metodologia utilizada neste experimento foi
previamente utilizada por Kolf-Clauw et al. (2009).
A avaliação da proliferação celular e apoptose foi realizada utilizando-se anticorpos
anti-Ki-67 (7B11; 1:50) e anti-caspase-3 (Asp 175; 1:200) respectivamente. Protocolos,
controles positivos e negativos foram usados de acordo com as instruções do
fabricante. A imunoexpressão positiva do Ki-67 e caspase-3 foram estimadas pela
contagem de células com forte marcação em cinco campos aleatórios na região de
cripta/explante com objetiva de 40x. Os dados foram submetidos à ANOVA seguido do
teste de Tuckey. Valores de P≤0,05 foram considerados significativos.
RESULTADOS
Os explantes expostos ao DON apresentaram as seguintes médias de células em
proliferação celular: 52,7 (controle), 60,1 (DON), 49,6 (DON+IP6 2,5 mM) e 43,2
(DON+IP6 5 mM). A exposição a DON proporcionou um aumento de 14% na
proliferação celular comparado ao controle e a adição de IP6 5 mM diminuiu
significativamente esta proliferação celular em 28,6% (P<0,05). Observou-se média de
44,7 (controle), 81 (DON), 55,8 (DON+IP6 2,5 mM) e 45,4 (DON+5 mM) de células em
apoptose. A adição de IP6 5 mM dimiuiu significativamente a apoptose em 43,7 %
(P<0,05) em comparação aos explantes tratados somente com DON. A adição de IP6
2,5 mM apesar de ter diminuído a proliferação celular e a apoptose, não apresentou
diferença significativa (P>0,05) aos explantes tratados somente com DON.
DISCUSSÃO
Um importe mecanismo envolvido no desencadeamento da proliferação celular e
apoptose é a fosforilação de MAPKs (mitogen-activated protein kinases). Está bem
estabelecido que DON ativa as MAPKs ERK, JNK e p38 por indução de estresse
ribotóxico nas células com consequente aumento da proliferação celular e apoptose
(PESTKA, 2008). Neste trabalho, verificamos que a presença de IP6 na dose de 5mM
reduziu significativamente a proliferação celular e a apoptose. Nossa hipótese é que
esse efeito esteja relacionado a forte ação antioxidante do ácido fítico que inibe a
produção de radicais livres produzidos durante o estresse ribotóxico.
CONCLUSÕES
A diminuição da proliferação celular e apoptose promoveu um aumento da preservação
da viabilidade do tecido intestinal exposto ao desoxinivalenol. Portanto, a ingestão de
IP6 pode desenvolver um importante papel na defesa contra xenobióticos e contribuir
para a homeostase intestinal.
Agradecimentos
Processo CNPq n° 305274/2011-2.
Notas informativas
CEUA/UEL/Brazil-process n° 8022.2012.40.
REFERÊNCIAS
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studying the gastrointestinal toxicity of the mycotoxin deoxynivalenol: histopathological analysis.
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SHAMSUDDIN, A.M.; ELSAYED, A.M.; ULLAH, A. Suppression of large intestinal cancer in F344 rats by
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227
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 083, 2013

083. EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO DESOXINIVALENOL E NIVALENOL ISOLADOS


OU EM ASSOCIAÇÃO EM EXPLANTES INTESTINAIS DE SUÍNOS
(Effects of deoxynivalenol and nivalenol exposure alone or associated on pig
jejunal explants)

Jéssica Regina Moreira¹, Juliana Rubira Gerez¹, Ana Paula Loureiro Bracarense¹, Stela
Desto¹, Martine Kolf-Clauw²

1 Universidade Estadual, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Londrina, Brasil


2 Université de Toulouse, ENVT, INP, UMR 1331, Toxalim, F- 31076 Toulouse, França

RESUMO: Desoxinivalenol (DON) e nivalenol (NIV) são micotoxinas do grupo dos


tricotecenos produzidas pela espécie Fusarium que ocorrem naturalmente em
alimentos destinados ao homem e animais. O trato gastrointestinal representa a
primeira barreira, bem como o primeiro alvo para estas toxinas. O objetivo do presente
estudo foi caracterizar os efeitos de DON e NIV, isolados ou em combinação sobre o
intestino de suínos. Foram utilizados seis suínos de 24 dias de idade para a colheita
dos explantes de jejuno. Os explantes foram expostos a 0,1; 0,3; 1; 3; 10 e 30μM de
DON ou NIV isoladamente ou associados (1:1) durante 4 horas. O tratamento individual
com as micotoxinas DON e NIV induziu diminuição do escore histológico a partir das
doses de 10μM e 1μM, respectivamente. A combinação de DON+NIV demostrou efeito
sinérgico para a dose de IC50, entretanto, nas doses mais baixas apresentou efeito
antagônico. O trabalho apresentado indica que os efeitos da associação de micotoxinas
não são similares aos efeitos isolados, sendo necessário o estabelecimento de
parâmetros que considerem as multi-contaminações que são frequentes nas
contaminações naturais.
Palavra-chave: desoxinivalenol; efeito combinado; jejuno; morfologia; nivalenol;
ABSTRACT: Deoxynivalenol (DON) and nivalenol (NIV) are trichothecenes mycotoxins
produced by Fusarium species, naturally co-occuring in food and feed. The
gastrointestinal tract represents the first barrier as well as the first target for these
toxicants. The aim of the present study was to characterize the effects of DON and NIV,
alone or in combination, on the intestinal tissue of pig. Crossbreed weanling piglets of
24 days-old (n = 6) were used for explanting jejunal tissue. Explants were exposed to
0.1; 0.3; 1; 3 e 10 e 30μM of DON or NIV, or of the mixture DON+NIV (1:1) for 4 hours.
The individual treatment with the mycotoxins DON and NIV resulted in a significant
decrease of the histopathological score from doses of 10μM and 1μM, respectively. The
DON+NIV combination demonstrated synergism for IC50 whereas antagonism was
observed at the lower doses. The present results suggest that Fusarium toxins alone
may not predict their effects in environment where the combinations of toxins are
frequently observed. The present study indicates that the effects of the association of
mycotoxins are not similar to the isolated effects, parameters that consider multi-
contamination, which are common in natural contaminations, have to be established.
Keywords: deoxynivalenol; interaction effects; jejunum; morphology; nivalenol
INTRODUÇÃO
As micotoxinas são contaminantes frequentes nos cereais e estima-se que 25% das
colheitas mundiais são afetadas (Frinks-Gremmels, 1999). Zearalenona (ZEA),
fumonisina B1 (FB1) e tricotecenos em particular desoxinivalenol (DON) e nivalenol
(NIV) estão entre as micotoxinas de maior importância toxicológica (Minervini et al.,
2004). Estas micotoxinas são frequentemente encontradas em combinação em grãos
contaminados. Entretanto, os dados sobre o efeito tóxico interativo potencial são
escassos (Wan et al., 2013).
Como os outros tricotecenos, DON e NIV são potentes inibidores da síntese proteica,
interferindo em tecidos com alta taxa de divisão celular tais como baço, medula óssea,
timo e mucosa intestinal (Bony et al., 2007). Estas micotoxinas se ligam aos
228
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 083, 2013

ribossomos das células eucarióticas, bloqueando a translação e a elongação da cadeia


peptídica (Awad et al., 2008).
Considerando a escassez de informação sobre os efeitos combinados de micotoxinas e
a prevalência da co-contaminação em relação à presença de micotoxinas isoladas, o
presente trabalho teve como objetivo analisar o efeito tóxico das micotoxinas isoladas
DON e NIV e determinar o tipo de interação entre a combinação binária através do
método de isobolograma em explantes intestinais de suínos.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a colheita dos explantes de jejuno (6 mm de diâmetro) foram utilizados seis
suínos de 24 dias de idade. Os explantes foram incubados em placas de 6 poços, por 4
horas a 37ºC em estufa a 5% de CO2. Os explantes foram submetidos a 4 tratamentos.
No controle foi utilizado dose de 30μM DMSO. Nos explantes tratados com DON e NIV
foram utilizadas doses de 0,1; 0,3; 1; 3; 10 e 30μM de DON e NIV isoladamente ou em
associação. Para avaliação dos efeitos de interação das micotoxinas foram utilizadas
proporções de 1:1 das micotoxinas nas concentrações finais descritas a cima. Na
análise histopatológica foi avaliado o escore lesional (fusão de vilosidades, zona de
edema e desnudamento apical) e o escore morfológico (número de vilosidades e
morfologia das células epiteliais), sendo o escore máximo normal de 14 pontos. Para
determinar o tipo de interação existente entre as micotoxinas DON e NIV foi utilizado o
programa CompuSyn® 3.0.1 versão 1.0.1.
RESULTADOS
Os tratamentos individuais com as micotoxinas DON e NIV resultaram em diminuição
significativa do escore histopatológico a partir das doses de 10μM e 1μM,
respectivamente. As principais alterações morfológicas e lesionais foram achatamento
de células epiteliais, fusão e desnudamento apical de vilosidades, com a dose mais alta
de NIV, vilosidades com ausência de epitélio também foram observadas. A combinação
de DON+NIV demonstrou sinergismo para a dose IC50, porém antagonismo foi
observado nas doses mais baixas.
DISCUSSÃO
Alterações da barreira intestinal permitem a entrada de substâncias que são
potencialmente patogênicas e induzem lesões intestinais (Oswald, 2006). No presente
estudo demostramos que DON e NIV alteram a morfologia do epitélio intestinal em
explantes de suínos. As alterações observadas a partir das doses de 10μM de DON,
estão de acordo com Kolf-Claw et al. (2009). Estas alterações morfológicas e lesionais
observadas podem contribuir para o aumento da permeabilidade intestinal verificada
por Pinton et al. (2009) que constataram um aumento da passagem do FITC-dextran no
mesmo modelo biológico utiizado. Em relação à toxidade individual de cada micotoxina,
NIV apresentou-se mais tóxico que DON. Resultado semelhante a este foi observado
em fibroblastos 3T3 de camundongos (Sundstøl Eriksen et al., 2004) e em células
intestinais IPEC-2 (Wan et al., 2013).
Estudos de interação de micotoxinas são raros na literatura. Interação sinérgica foi
observada, para as associações contendo doses mais altas de DON e NIV. A interação
de DON e NIV no presente estudo está de acordo com alguns estudos in vitro
(Madhyastha et al., 1994; Tajima et al., 2002; Wan et al., 2013), embora alguns
trabalhos tenham observado efeito aditivo entre estes tricotecenos (Thuvander et al.,
1999). Em contraste aos demais trabalhos, foi demostrado que associações contendo
doses baixas de DON e NIV apresentam um efeito antagônico.
CONCLUSÃO
Em conclusão, o resultado apresentado com ambas as micotoxinas, sugere que as
toxinas de Fusarium isoladas podem não predizer seus efeitos no ambiente onde as
combinações de toxinas são frequentemente observadas.

229
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 083, 2013

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230
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 084, 2013

084. EFEITOS DO ÁCIDO FÍTICO EM EXPLANTES INTESTINAIS DE SUÍNOS


EXPOSTOS AO DESOXINIVALENOL (DON) E À FUMONISINA B1(FB1):
AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA
(Effect of phytic acid on swine intestinal explants exposed to deoxynivalenol
(DON) and fumonisin B1 (FB1 : histological evaluation)

Elisângela Olegário Silva, Karina Maria Basso, Ana Paula Loureiro Bracarense, Renata
Madureira, Thalisie do Carmo Drape, Fernando Cardoso Gomes
Laboratório de Patologia Animal; Departamento de Medicina Veterinária Preventiva;
Universidade Estadual de Londrina – UEL
RESUMO: O objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos do ácido fítico (IP6) sobre
explantes intestinais expostos ao DON e à FB1 por meio de analise histológica.
Explantes de suínos com 24 dias foram submetidos aos seguintes tratamentos:
controle; DON (10μm), FB1 (70μm), IP6 (2,5 mM)+DON (10μm); IP6 (5 mM)+DON
(10 μm); IP6(2,5 mM)+FB1 (70 μm); IP6 (5 mM)+FB1 (70 μm), sendo então
processados para histologia e corados em HE para determinação de escore lesional e
morfometria de vilosidades. A avaliação histológica demonstrou alterações severas
no grupo tratado com DON e moderadas quando os explantes foram tratados com FB1.
Observou-se diminuição significativa no escore lesional nos grupos tratados com IP6
em relação aos grupos expostos as micotoxinas. Aumento significativo na altura de
vilosidades e profundidade de criptas foi constatado nos grupos expostos ao IP6 em
relação ao grupo exposto ao DON e FB1. A adição de ácido fítico aos explantes
reduziu significativamente as alterações induzidas pelas micotoxinas, contribuindo com
a manutenção da função de barreira da mucosa e absorção de nutrientes.
Palavras-chaves: antioxidante; micotoxina; jejuno; suíno; técnica de explantes
ABSTRACT: The aim of this study was to evaluate the effects of phytic acid on
intestinal explants exposed to DON and FB1 by histological analysis. Explants of pigs
24 days-old were submitted to the following treatments: control, DON (10μm), FB1
(70μm), IP6 (2,5 mM)+DON (10μm); IP6 (5 mM)+DON (10 μm); IP6(2,5 mM)+FB1 (70
μm); IP6 (5 mM)+FB1 (70 μm), and then processed for histology and stained with
HE for determination of lesion score and morphometry. Histologic evaluation showed
severe changes in the group treated with DON and moderate when the explants were
treated with FB1. Significant reduction in lesional score was observed on explantes
exposed to IP6 compared to mycotoxins groups. Gnificant increase in villi height and
crypt depth occurred in IP6 groups compared to mycotoxin groups. Addition of phytic
acid significantly reduced the explant changes induced by mycotoxins, contributing to
the maintenance of the mucosal barrier function and nutrient absorption.
Key-words: antioxidant; mycotoxin; jejunum; pig; explants technique
INTRODUÇÃO
As micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por fungos, em particular os do
gênero Aspergillus, Fusarium e Penicillium. Vários componentes presentes na dieta são
capazes de interferir tanto na ecologia microbiana quanto na resposta imune do
intestino aos antígenos alimentares, como as micotoxinas. Portanto, substâncias como
os antioxidantes podem fortalecer o sistema imunológico contra as formas reativas de
oxigênio. Estudos in vitro indicam que o acido fítico atua como antioxidante, impedindo
a formação de radicais livres (Graf & Eaton, 1990).
Considerando que o IP6 e uma substancia abundante em produtos vegetais e que e
absorvido de modo eficiente e seguro no trato gastrointestinal, e interessante o
desenvolvimento de modelos experimentais que possam avaliar a ação do IP6 como
inibidor de alterações celulares induzidas por substâncias tóxicas como as micotoxinas.
O objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos do acido fítico (IP6) sobre explantes
intestinais expostos ao DON e a FB1 por meio de analise histológica.
MATERIAL E MÉTODOS

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 084, 2013

Foram utilizados seis suínos com 24 dias de idade (7.9 Kg + 0,72). Os animais foram
eutanasiados e os explantes jejunais colhidos com punch de 8 mm de diâmetro. De
cada animal foram colhidos 42 explantes que foram expostos aos seguintes
tratamentos: controle (A, B e C) - somente meio de cultura; IP6 2,5 mM (D e E); IP6 5
mM (F e G). Após uma hora de incubação a 37 °C adicionou-se DON 10 μM aos
tratamentos B, D e F; e, FB1 70 μM aos tratamentos C,E e G, incubou-se por mais três
horas. A metodologia utilizada neste experimento foi previamente utilizada (Kolf-Clauw
et al., 2009). Após o período de incubação, os explantes foram fixados em formalina
tamponada neutra 10%, desidratados em alcoóis e embebidos em parafina. Seções de
5m foram coradas com hematoxilina-eosina (HE) para avaliação histopatológica. Um
escore histológico intestinal anteriormente descrito (Bracarense et al., 2012) foi
adaptado para comparar as alterações histológicas entre os tratamentos. Altura das
vilosidades e profundidade das criptas foram medidas aleatoriamente em 10
vilosidades utilizando o sistema de análise de imagem 2.0 R ML (MOTIC). Os dados
foram submetidos à ANOVA seguido do teste de Tuckey. Valores de p≤0,05 foram
considerados significativos.
RESULTADOS
A avaliação histológica revelou alterações discretas no grupo controle, como edema de
lâmina própria e atrofia de vilosidades. O grupo exposto ao DON apresentou
desnudamento apical e debris celulares, fusão e atrofia de vilosidades severas,
enquanto os explantes expostos a FB1 apresentaram atrofia e fusão moderadas
quando comparados ao controle (p≤0,05). Na presença do acido fítico associadas às
micotoxinas, as alterações histológicas diminuíram significativamente em relação ao
grupo exposto ao DON e FB1. Observou-se aumento significativo da altura de
vilosidades e profundidade de criptas intestinais nos grupos tratados com IP6 em
relação aos tratados com as micotoxinas (p≤0,05). Os resultados obtidos nos grupos
tratados com acido fítico mostraram-se independentes da dose utilizada.
DISCUSSÃO
Neste estudo constatamos que a adição de acido fítico diminuiu os efeitos tóxicos
induzidos pela exposição ao desoxinivalenol e fumonisina em explantes de suínos.
Esses efeitos protetores foram avaliados por meio de escore morfológico e
morfométrico. Os efeitos deletérios de fusariotoxinas sobre o intestino foi relatado em
estudos in vivo em suínos (Bracarense et al., 2012), espécie altamente sensível as
micotoxinas. O incremento no escore histológico nos explantes tratados com o ácido
fítico provavelmente esta relacionado a ação anti-oxidante deste componente
(Shamsuddin et al., 1989) que inibe o estresse ribotóxico induzido pelas micotoxinas.
CONCLUSÕES
A adição de ácido fítico aos explantes reduziu significativamente as alterações
induzidas pelas micotoxinas, contribuindo com a manutenção da função de barreira da
mucosa e absorção de nutrientes.
Agradecimentos -Processo CNPq n° 305274/2011-2.
REFERÊNCIAS
BRACARENSE, A. P.; LUCIOLI, J.; GRENIER, B.; PACHECO, G. D.; MOLL, W. D.; SCHATZMAYR, G.;
OSWALD, I. P. Chronic ingestion of deoxynivalenol and fumonisin, alone or in interaction, induces
morphological and immunological changes in the intestine of piglets. The British Journal of
Nutrition,Cambridge, v. 107, n.12, p. 1776-1786, 2012.
KOLF-CLAUW, M.; CASTELLOTE, J.; JOLY, B. et al. Development of pig jejunal explant culture
forstudying the gastrointestinal toxicity of the mycotoxin deoxynivalenol: histopathological analysis.
Toxicology in vitro, v. 23, p. 1580-1584,2009.
GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Sistema digestivo: tubo digestivo. In: __. Tratado de histologia emcores.
Traducao de Debora Milagres Pereira. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 387-416.
GRAF, E.; EATON, J. W. Antioxidant functions of phytic acid. Free Radical Biology and Medicine, New
York, v. 8, n. 1, p. 61-69, 1990.
SHAMSUDDIN, A.M.; ELSAYED, A.M.; ULLAH, A. Suppression of large intestinal cancer in F344 rats by
inositol hexaphosphate. Carcinogenesis, v. 9, p. 577-580, 1989.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 085, 2013

085. ERROS MÉDICOS VETERINÁRIOS: CARACTERIZAÇÃO DA CASUÍSTICA E


CIRCUNSTÂNCIAS DE OCORRÊNCIA EM ANIMAIS SUBMETIDOS À NECROPSIA
(Veterinary malpractice: characterization of the casuistry and occurring
circumstances in animals submitted to necropsy)

Anna Carolina Barbosa Esteves Maria, Fernanda Auciello Salvagni, Adriana de


Siqueira, Leonardo Pereira Mesquita, Paulo César Maiorka

Departamento de Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina


Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo

RESUMO: O médico veterinário tem por obrigação agir com diligência e cuidado no
exercício de sua profissão, uma vez que a atuação de profissionais ineptos pode
culminar no erro médico. Deste modo, este trabalho tem por objetivo caracterizar os
erros médicos veterinários observados nas necropsias realizadas entre janeiro de 2008
a maio de 2013 no Serviço de Patologia Animal da FMVZ/USP, bem como as
circunstâncias de ocorrência dos mesmos. Dos 26 animais analisados, 57,7% eram
caninos domésticos, 38% vieram a óbito em decorrência de negligência e 69% dos
erros médicos estão associados ao diagnóstico de doenças. O médico veterinário tem
obrigação profissional, social e civil, de exercer com excelência a profissão, dado que
pode ser culpado tanto civil quanto criminalmente no caso de comprovação de erro
médico.
Palavras-chave: imperícia; imprudência; inépcia profissional; medicina veterinária
legal; negligência.
ABSTRACT: Veterinarians have the obligation of acting in a diligent and careful manner
throughout their professional conduct, since the work of inept professionals can
resulting in malpractice. Therefore, this paper aims to characterize veterinarian
malpractice observed in necropsies done between January 2008 and May 2013 at the
Animal Pathology Service of FMVZ/USP, as well as the circumstances in which they
took place. Of the 26 animals analyzed, 57,7% were household dogs, 38% died due to
negligence, 69% of veterinary malpractice was associated to the diagnosis of diseases.
The veterinarian has professional, social and civil obligation, to exercise the profession
with excellence, as they can be blamed both civil and criminally in case of proven
malpractice.
Key words: imprudence; incompetence; negligence; professional ineptitude; veterinary
forensics
INTRODUÇÃO
O médico veterinário tem como obrigação cumprir ao Código de Ética, devendo este
agir com diligência e cuidado no exercício de sua profissão. Em seu Art. 14, o código
de ética trata da responsabilidade profissional, podendo o médico veterinário responder
civil e penalmente ao praticar qualquer ato que evidencie inépcia profissional, levando
ao erro médico veterinário pela conduta negligente, imprudente e/ou eivada de
imperícia (Brasil, 2002). A conduta negligente é o ato omisso, falta de cuidado e
diligência; a conduta imprudente se dá por agir perigosamente, com falta de moderação
ou precaução e quando a assunção de riscos pelo médico ao paciente ocorre sem
base científica para seu procedimento; já a imperícia se dá pela incompetência,
inexperiência, desconhecimento, ignorância e falta de habilidade na profissão
(Menezes, 2010). Segundo Moares (2003), para a caracterização do erro médico é
preciso que estejam presentes: o dano ao doente, a ação do médico, o nexo causal e
uma das três condutas já citadas – imperícia, imprudência e negligência. A falta de
qualquer desses itens discriminados descaracteriza o erro médico. Com o avanço da
Medicina Veterinária Legal no Brasil, se faz necessário um estudo acerca da inépcia
profissional, uma vez que o erro médico veterinário ainda é um assunto polêmico,
controverso e pouco debatido, principalmente no cenário nacional. Frente a esse
233
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 085, 2013

quadro, este trabalho tem por objetivo caracterizar os erros médicos veterinários
observados nas necropsias realizadas entre janeiro de 2008 a maio de 2013 no Serviço
de Patologia Animal da FMVZ/USP, bem como as circunstâncias de ocorrência dos
mesmos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Dentre uma população de 1634 animais necropsiados entre janeiro de 2008 a maio de
2013 no Serviço de Patologia Animal da FMVZ/USP, 26 casos foram selecionados com
base em seus históricos e achados necroscópicos compatíveis com erro médico
veterinário. Os dados obtidos através dos históricos e exames necroscópicos foram
tabulados utilizando o software Microsoft Excel® e agrupados em espécie, raça, sexo,
idade, histórico, características e circunstâncias do erro médico e alterações
anatomopatológicas.
RESULTADOS
Dos 26 casos selecionados, 15 eram caninos domésticos (57,7%), 5 felinos domésticos
(19,2%), 3 equinos (11,5%), 1 bovino (3,8%), 1 ovino (3,8%) e 1 réptil (jabuti) (3,8%).
Animais sem raça definida somaram 14 (53,8%) e 12 com raça definida (46,2%). Em
relação ao sexo, 17 eram fêmeas (64,5%) e 9 machos (34,6%). Quanto à idade, 6
animais apresentam de 0 a 11 meses (23,1%), 6 entre 1 a 7 anos (23,1%), 11 acima de
8 anos (42,3%) e 3 animais não apresentaram registro.Desses 26 animais
necropsiados, apenas 2 foram encaminhados juntamente com o boletim de ocorrência.
gráfico 1 mostra a distribuição das modalidades dos erros médicos e sua freqüência. A
tabela 1 demonstra a ocasião em que se deu o erro médico.

DISCUSSÃO
Cerca de 2% dos 1634 animais necropsiados entre janeiro de 2008 a maio de 2013 no
Serviço de Patologia Animal da FMVZ/USP apresentaram históricos e achados
anatomopatológicos compatíveis com erro médico, corroborando com o estudo de
McEwen, 2012, no qual 1,06% das necropsias forenses pesquisadas eram compatíveis
com erro médico. Observamos também que a maior incidência de erro médico recai
sobre os cães (57,7%), fato também observado pelo mesmo estudo.Em relação às
modalidades de erro médico, a negligência é o ato ilícito com maior prática entre os
médicos veterinários, totalizando 38%. A negligência pode ser provocada por desânimo
ou desinteresse dos médicos e, por vezes, pode ser fruto do cansaço e da sobrecarga
de trabalho (Menezes, 2010). O levantamento também apontou que as ocasiões em
que mais se observou inépcia por parte dos médicos veterinários diz respeito ao
diagnóstico. Tais erros foram observados principalmente nos casos de ovário-salpingo-
histerectomia e orquiectomia, onde, muitas vezes, essas cirurgias são realizadas sem
os devidos exames pré-operatórios, podendo caracterizar a pratica de negligência e/ou
imprudência, dependendo das circunstâncias do fato. Para uma melhorar
caracterização do erro médico veterinário, é de extrema importância que uma
necropsia documentada com fins periciais seja realizada. Juntamente com a
determinação da causa de morte, o ponto principal deste tipo de necropsia é
estabelecer o tipo de morte (não acidental, acidental, natural, indeterminada) e
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 085, 2013

qualquer causa contributiva (Merck, 2007). Outro ponto tão importante quanto à
necropsia é a anamnese acerca dos acontecimentos prévios a morte do animal. A falta
de uma anamnese detalhada pode prejudicar a investigação e muitas vezes induzir ao
erro, podendo descaracterizar o erro médico, conforme dito anteriormente. Uma vez
caracterizado o erro médico veterinário, cabe indenização ao proprietário do animal
conforme Art. 951 do Código Civil Brasileiro.
CONCLUSÃO
Este estudo possibilita a constatação da ocorrência de inépcia profissional de médicos
veterinários no Brasil, principalmente na realização de exames préoperatórios.
A fiscalização pelos Conselhos Federal e Estadual mostra-se de extrema importância
para as boas práticas da profissão, ressaltando-se a relevância da introdução do tema
de segurança do paciente nos currículos de faculdades de Medicina Veterinária do
país, a fim de se prevenir e minimizar a ocorrência de erros médicos veterinários.
Agradecimentos
Os autores agradecem à CAPES, CNPq e FAPESP pelo auxílio financeiro em forma
de bolsas de doutorado.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução Nº 722, de 16 de agosto de 2002. Aprova
o Código de ética do Médico Veterinário. DOU de 16-12 2002, Seção 1, págs. 162 a 164. Disponível em:
www.cfmv.org.br
MCEWEN, B.J. Trends in domestic animal medico-legal pathology cases submitted to a veterinary
diagnostic laboratory 1998-2010. JournalofForensicSciences, Sep;57(5), p.1231-3, 2012
MENEZES, T.R.F. Erro médico e Iatrogenia: causa de exclusão da responsabilidade médica? 2010. Rio
de Janeiro, 32f. Artigo Científico (Curso de Pós- Graduação). Escola de Magistratura do Estado do Rio
de Janeiro.
MERCK M. CSI: the animal as evidence. In: Merck M, editor. Veterinary forensics: animal cruelty
investigations. Ames, IA: BlackwellPublishing, 2007;31–56. MORAES, I. N. Erro médico e a Justiça. 5.
ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p.426.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 086, 2013

086. EXPRESSÃO GÊNICA E PROTEICA DO VEGF EM GLÂNDULAS MAMÁRIAS


NORMAIS E NEOPLÁSICAS DE CADELAS
(VEGF gene and protein expression in normal and neoplastic mammary glands of
bitches)

Talita Mariana Morata Raposo¹, Carlos Eduardo Fonseca Alves², Renata Camargo
Bueno³, Mirela Tinucci Costa¹, Silvia Regina Rogatto4, Renée Laufer Amorim²

1Universidade Estadual Paulista, UNESP de Jaboticabal, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária


2Universidade Estadual Paulista, UNESP de Botucatu, Departamento de Clínica Veterinária
3Universidade Estadual Paulista, UNESP de Botucatu, Departamento de Genética
4Universidade Estadual Paulista, UNESP de Botucatu, Departamento de Urologia

RESUMO: O VEGF é um importante marcador de angiogênese relacionado com


tumores agressivos e com o desenvolvimento de metástases, inclusive em carcinomas
mamários invasivos de mulheres. Neste contexto, o presente estudo avaliou a
expressão gênica e proteica do VEGF em amostras de tecidos mamários de cadelas
divididas em quatro grupos: glândulas mamárias normais, tumores benignos,
carcinomas mamários metastáticos e não metastáticos. Na avaliação da expressão
gênica não foi observada diferença estatística entre os quatro grupos, enquanto a
proteína VEGF apresentou um aumento de sua expressão entre os carcinomas
mamários metastáticos e as amostras de tecidos normais. Assim, avaliação proteica do
VEGF pode auxiliar no estabelecimento do prognóstico de tumores mamários de
cadelas.
Palavras-chave: cão; carcinoma mamário; marcador prognóstico
ABSTRACT: VEGF is an important angiogenesis marker and is associated with more
aggressive tumors and development of metastasis, including women breast cancer.
Thus, the present study evaluated VEGF gene and protein expression in bitches
mammary samples divided into four groups: normal mammary gland, benign tumors,
metastatic and non-metastatic mammary carcinomas. The evaluation of gene
expression didn‘t show statistical difference among the four groups, whereas VEGF
protein showed an increase of expression in metastatic mammary carcinomas when
compared to normal tissue samples. Thus, the evaluation of VEGF protein may help to
establish the prognosis of bitches‘ mammary tumors.
Key words: dog; mammary carcinoma; prognostic marker and VEGF
INTRODUÇÃO
O gene Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGF) é um dos mais potentes e
específicos fatores angiogênicos (Adams et al., 2000), sendo induzido pela exposição
de baixa tensão de oxigênio sobre uma variedade de circunstâncias patofisiológicas
(Ferrara et al., 2003). Alguns estudos referem que a angiogênese é fundamental para a
disseminação do câncer de mama (Kinoshita et al., 2001). Em mulheres, altos níveis de
RNAm foram verificados em carcinomas mamários invasivos quando comparados com
glândulas mamárias normais ou tumores benignos (Adams et al., 2000), enquanto
estudos de tumores mamários de cadelas sugeriram uma associação do aumento da
expressão do VEGF com um prognóstico ruim, devido à associação deste aumento
com o desenvolvimento de metástases e baixo tempo de sobrevida (Al-Dissi et al.,
2007).
O presente trabalho objetivou avaliar a expressão gênica e proteica do VEGF em
glândulas mamárias normais, tumores mamários benignos, carcinomas mamários
metastáticos e não metastáticos de cadelas.
MATERIAL E MÉTODOS
As amostras tumorais foram obtidas de cadelas atendidas no Hospital Veterinário da
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), UNESP de Jaboticabal e
divididas em quatro grupos: glândulas mamárias normais (n = 12), tumores mamários
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 086, 2013

benignos (n = 11), carcinomas mamários não metastáticos (n = 19) e carcinomas


mamários metastáticos (n = 11).
Durante a coleta das amostras, um fragmento foi fixado em formol a 10% e processado
para inclusão em parafina para diagnóstico histopatológico e posteriormente, realização
de imuno-histoquímica, enquanto outros fragmentos com 1cm3 foram congelados a -
70ºC para avaliação da expressão gênica pela técnica de RT-qPCR. Para avaliação
imuno-histoquímica foi utilizada a técnica da peroxidase e diaminobenzidina (DAB) e a
expressão proteica do VEGF foi identificada pela distribuição de marcação
citoplasmática, por meio de escore: 1 – até 25% de células positivas, 2 – 26 a 50% de
células positivas, 3 – 51 a 75% de células positivas e 4 – acima de 75% de células
positivas, observadas em objetiva de 40x.
RESULTADOS
Na análise de expressão gênica do VEGF não foi verificada diferença estatística entre
os quatro grupos estudados (P=0,1786) e nem na análise entre mamas normais e
tumorais (carcinomas mamários metastáticos e não metastáticos) agrupados
(P=0,1977), avaliados pelo teste de Kruskal-Wallis e teste de Mann Whitney,
respectivamente.
No entanto, na análise imuno-histoquímica, apesar de não ter sido observada diferença
estatística entre os quatro grupos analisados (P=0,1588), foi identificado aumento da
expressão da proteína VEGF entre as amostras de carcinomas mamários metastáticos
e as glândulas mamárias normais (P=0,0431), sendo que 25% (3 de 12) amostras de
glândulas mamárias normais e 64% (7 de 11) amostras de carcinomas mamários
metastáticos apresentaram 75% de imunomarcação, enquanto 50% das glândulas
mamárias normais e 9% (1 de 11) apresentavam marcação positiva menor que 25%. A
avaliação estatística foi determinada pelo teste de Qui-quadrado.
DISCUSSÃO
Apesar de altos níveis de transcritos de VEGF terem sido associados com carcinomas
mamários agressivos em mulheres (Adams et al., 2000), neste estudo não foi verificada
diferença entre a expressão gênica do VEGF nas glândulas mamárias normais e
neoplásicas. Enquanto na análise de expressão proteica, foi observado um aumento de
sua proteína entre os carcinomas mamários metastáticos e as glândulas mamárias
normais corroborando com outros estudos (Santos et al., 2010), estando associado
com tumores de pior prognóstico, como descrito por Al-Dissi et al. (2007). Mecanismos
fisiológicos também podem acarretar no aumento desta proteína, podendo ser
dependente de fatores hormonais e variar dependendo da fase do ciclo estral da
paciente (Santos et al., 2010), podendo justificar a marcação nas glândulas mamárias
normais.Esta diferença verificada na expressão gênica e proteica do VEGF poderia
estar relacionada com outros mecanismos de controle de sua proteína, como por
mecanismos epigenéticos, assim como ocorre com outros marcadores (Rio et al.,
1998).
CONCLUSÕES
Marcadores de angiogênese como o VEGF têm sido considerados importantes
marcadores prognósticos para os tumores mamários de mulheres e cadelas, estando
associados com tumores de pior prognóstico e com o desenvolvimento de metástases.
Assim, a avaliação na rotina clínica deste marcador poderá fornecer informações
adicionais quanto a possibilidade de um comportamento mais agressivo do tumor.
Agradecimentos
Processo nº 2013/03940-4, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP).
Notas informativas
Nº Protocolo CEUA: 028.129-10

237
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 086, 2013

REFERÊNCIAS
ADAMS, J.; CARDER, P. J.; DOWNEY, S. et al. Vascular endothelial growth factor (VEGF) in breast
cancer: comparison of plasma, serum, and tissue VEGF and microvessel density and effects of
tamoxifen. Cancer Research, Chicago, v.60, p.2898–2905, 2000.
AL-DISSI, A. N.; HAINES, D. M.; SINGH, B. et al. Immunohistochemical expression of vascular
endothelial growth factor receptor associated with tumor cell proliferation in canine cutaneous squamous
cell carcinomas and trichoepitheliomas. Veterinary Pathology, New York, v.44, p.823–830, 2007.
FERRARA, N.; GERBER, H. P.; LECOUTER, J. The biology of VEGF and its receptors. Nature Medicine,
New York, v.9, n.6, p.669-673, 2003.
KINOSHITA, J.; KITAMURA, K.; KABASHIMA, A. et al. Clinical significance of vascular endothelial
growth factor-C (VEGF-C) in breast cancer. Breast Cancer Research and Treatment, Boston, v.66, n.2,
p.159–164, 2001.
RIO, P. G.; PERNIN, D.; BAY, J. O. et al. Loss of heterozygosity of BRCA1, BRCA2 and ATM genes in
sporadic invasive ductal breast carcinoma. International Journal of Oncology, Athens, v.13, n.4, p.849-
853, 1998.
SANTOS, A. A. F.; OLIVEIRA, J. T.; LOPES, C. C. C. et al. Immunohistochemical expression of vascular
endothelial growth factor in canine mammary tumours. Journal of Comparative Pathology, Liverpool,
v.143, p.268-275, 2010.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 087, 2013

087. IDENTIFICAÇÃO DE HELICOBACTER spp. EM MUCOSA GÁSTRICA DE


MACACO CYNOMOLGUS (MACACA FASCICULARIS) UTILIZANDO O MÉTODO DE
IMPREGNAÇÃO PELA PRATA (TÉCNICA DE WARTHIN-STARRY)
(Identification of Helicobacter spp. In Gastric Mucosa of Cynomolgus Monkey
(Macaca fascicularis) Using The Silver Impregnation Method (Warthin-Starry
Technique)

Cláudia Andréa de Araújo Lopes¹ ²; Livia Yumi Suzuki¹; Mariana Alves dos Reis¹;
Marcela Freire Vallim de Mello¹; Juliana da Silva Leite¹; Ana Maria Reis Ferreira¹

1 Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil.


2 Centro de Criação de animais de Laboratório (Cecal), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), RJ, Brasil.

RESUMO: Os primatas não humanos são importantes para estudos comparativos


incluindo as infecções por Helicobacter spp. e o macaco cynomolgus (Macaca
fascicularis) está entre os símios mais utilizados como modelo animal. O objetivo deste
trabalho foi identificar a presença de Helicobacter spp. no estômago de cynomolgus
mantidos em biotério, por meio de exame histopatológico de amostras coradas pelo
método de impregnação de prata (técnica de Warthin-Starry-WS). Amostras gástricas
de 8 cynomolgus foram coletadas das regiões cárdia, corpo, fundo, antro e piloro e
processadas para o exame histopatológico. Todos os 8 estômagos (100%) foram
positivos para Helicobacter spp. pelo exame adotado. O antro foi a região com maior
frequência de infecção identificada (8/8 amostras positivas - 100%), seguido do corpo
(7/8 - 88%), piloro (5/8 - 63%), fundo (4/8 - 50%) e cárdia (2/8 - 25%). Os dados
evidenciaram a presença de Helicobacter spp. na mucosa gástrica dos símios de
biotério e confirmaram a eficiência da coloração pelo método de WS para a detecção
de helicobactérias.
Palavra-chaves: Estômago; Helicobacter pylori; histopatologia; primatas não humanos
ABSTRACT: Nonhuman primates are important for comparative studies including
infection by Helicobacter spp. The cynomolgus monkey (Macaca fascicularis) is one of
the most used primate as animal models. The aim of this study was to identify the
presence of Helicobacter spp. by histolopathologic examination, using the silver
impregnation method (Warthin-Starry - WS technique). Gastric samples were collected
from cardia, body, fundus, antrum, and pylorus of 8 cynomolgus monkeys. The samples
were processed for histopathologic examination. All 8 stomachs (100%) were positive
for Helicobacter spp. in the test used. The antrum was the gastric region with the
highest frequency of infection identified (8/8 - 100% positive samples). Then came body
(7 - 88%), pyloric (5 - 63%), fundic (4 - 50%), and cardia regions (2 - 25%). The data
showed the presence of Helicobacter spp. in the gastric mucosa from laboratory
monkeys and also confirmed the efficiency of the Warthin-Starry staining method for
detection of gastric spiral bacteria.
Key words: Helicobacter pilory; histolopathology; nonhuman primate; stomach
INTRODUÇÃO
Helicobacter pylori é responsável por úlceras pépticas em humanos é o principal fator
associado com o desenvolvimento de câncer gástrico, (Dicken, et. al., 2005). O gênero
Helicobacter também já foi bastante descrito em símios, dentre eles o macaco
cynomolgus (Macaca fascicularis), que é um dos mais utilizados em experimentos
como modelo animal (Carlsson et al., 2004). O objetivo desse trabalho foi identificar a
presença de Helicobacter spp. no estômago de cynomolgus mantidos em biotério, por
meio de exame histopatológico de amostras coradas pelo método de impregnação de
prata (técnica de Warthin-Starry-WS).
MATERIAL E MÉTODOS
Foram estudados os estômagos de 8 macacos cynomolgus mantidos em biotério e que
vieram a óbito devido a causas alheias ao presente estudo. Os animais eram 7 machos
239
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 087, 2013

e 1 fêmea, com idades que variaram entre 2 a 17 anos. Foram coletados fragmentos
das diferentes regiões gástricas - cárdia, corpo, fundo, antro e piloro, para exame
histopatológico pela técnica de WS e análise por microscopia óptica.
RESULTADOS
Todos os 8 estômagos estudados foram positivos em pelo menos uma região gástrica
(Tabela 1). Foram evidenciados organismos semelhantes ao Helicobacter spp., com
forma bacilar discretamente espiralados, corados em preto na camada superficial de
muco e/ ou no interior das glândulas gástricas.

DISCUSSÃO
Os resultados deste trabalho estão de acordo com a literatura que descreve que o
macaco cynomolgus é susceptível à infecção por Helicobacter spp. (Masubuchi et al.,
1993; Takahashi et al., 1993; Reindel et al., 1999; Katsuta, 2001) e que a maior
densidade da bactéria é encontrada na região do antro (Blaser e Berg, 2001). A técnica
de WS demonstrou boa sensibilidade permitindo a identificação de bactérias delgadas
com formato discretamente espiralado. Essa técnica tem sido relatada como o método
de escolha para visualização das bactérias espirais em amostras de biópsia gástrica
(Strauss-AyalI e Simpson, 1999). No entanto, nenhum método de diagnóstico tem sido
universalmente aceito como padrão ouro na identificação de Helicobacter spp. (Al-Ali,
et al., 2010), e por isso, tem sido recomendado o uso de pelo menos dois métodos para
confirmação da presença desta bactéria (Ricci et al., 2007).
CONCLUSÃO
Esse estudo evidenciou a presença de bactérias semelhantes ao Helicobacter spp. na
mucosa gástrica dos símios de biotério e confirmou a eficiência da coloração
histológica pelo método de Warthin-Starry para a detecção de helicobactérias.
Notas informativas
O desenvolvimento do presente trabalho foi devidamente aprovado pela Comissão de
Ética no Uso de Animais (Ceua) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sob o número de
protocolo P-0453/08.

240
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 087, 2013

REFERÊNCIAS
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241
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 088, 2013

088. INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL COM Palicourea Marcgravii EM OVINOS


COM DOSE TOXICA LETAL E DOSE LETAL FRACIONADA
(intoxication with experimental palicourea marcgravii in sheep with toxic lethal
dose and lethal dose fractioned)

Thiago Vaz Lopez¹; Taciane Leticia de Melo4; Sandro de Vargas Schons²; Poliana
Souza²; Gisele da Silva Glomba²; Bruno Peduzzi Rodrigues³

1 Universidade Federal de Pelotas/UFPel


2 Universidade Federal de Rondônia/UNIR
3 Universidade da Região da Campanha/URCAMP
4 Centro Universitário Luterano de Ji-paraná/CEULJI/ULBRA

RESUMO: Palicourea marcgravii é um arbusto pertencente à família Rubiaceae


conhecido popularmente por gelol, cafezinho e erva de café, responsável por surtos de
morte súbita em bovinos e ovinos. Este trabalho tem por objetivo descrever a
intoxicação experimental por Palicourea marcgravii com dose letal única, de planta
verde e dessecada e dose letal fracionada em 20 administrações/dia. Para alcançar
tais objetivos foram utilizados seis ovinos. Três ovinos receberam a planta verde nas
doses de 2 g/kg, 0,5 g/kg e 0,4 g/kg de p.c. Outros três ovinos receberam a planta
dessecada nas doses de 0,5 g/kg em uma única aplicação, e 20 doses/dia de 0,17
g/kg. O quadro clínico observado na intoxicação por dose letal foi diferente quando
administrada a planta fracionada. Um ovino que recebeu a planta fracionada
apresentou paralisia do trem posterior. A menor dose capaz de provocar os sinais
clínicos e morte foi de 0,5 g/kg.
Palavras chaves: morte súbita; ovinos; planta tóxica; Rondônia
ABSTRACT: Palicourea marcgravii is a shrub belonging to the family Rubiaceae
popularly known by Gelol, coffee and herb coffee, responsible for outbreaks of sudden
death in cattle and sheep. This paper aims to describe the experimental poisoning by
Palicourea macgravii with a lethal dose of single plant and dried and fractionated in 20
lethal dose administrations / day. To achieve these goals we used six sheep. Three
sheep were fed the plant at doses of 2 g / kg 0.5 g / kg and 0.4 g / kg bwt Other three
sheep received the dried plant in doses of 0.5 g / kg in a single application, and 20
doses / day to 0.17 g / kg. The clinical picture observed in poisoning lethal dose was
different when administered fractionated plant. A sheep that received fractionated plant
showed paralysis of hind. The lowest dose capable of causing death and clinical signs
was 0.5 g / kg.
Key words sudden death; sheep; toxic plants; Rondônia,
INTRODUÇÃO
Palicourea marcgravii é uma planta pertencente à família Rubiaceae, conhecida
popularmente como cafezinho, café bravo, erva de café, erva de rato e vick (Tokarnia
et al., 2000). É a planta tóxica mais importante do Brasil, encontrada em quase todo o
território nacional, com exceção da região Sul e do Sertão Nordestino. Em condições
naturais, a intoxicação ocorre somente nos bovinos, e experimentalmente a foi
reproduzida em coelhos, cobaias caprinos e ovinos (Tokarnia et al., 2000). e ratos
(Pinto et al., 2008). A planta possui boa palatabilidade e as intoxicações podem ser
observadas em qualquer época do ano. Os animais intoxicados apresentam um quadro
de morte súbita após poucas horas da ingestão da planta e os sinais clínicos
observados são queda repentinas ao chão, desequilíbrio do trem posterior, tremores
musculares, respiração ofegante e morte. O quadro clínico da intoxicados pode ser
precipitada pela movimentação do animal (Tokarnia et al., 2000).. Em ovinos, a
intoxicação natural não ocorre ou é rara. A ausência de casos nesta espécie pode ser
devido ao hábito alimentar, já que os ovinos preferem campos limpos e não áreas de
mata. Experimentos com P. marcgravii demonstraram que os ovinos possuem a
242
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 088, 2013

mesma sensibilidade dos bovinos à intoxicação (Tokarnia et al.,1981; Tokarnia &


Döbereiner.,1986). Em intoxicações experimentais em ovinos com planta fresca, doses
acima de 1 g/kg causaram os sinais e a morte após 10 horas da administração. A
planta mantém a toxidade quando dessecada e possui efeito acumulativo quando
administrada fracionada nas doses de 1/5 a 1/10 da dose letal (Tokarnia & Döbereiner.,
1986). Os achados patológicos nos ovinos são semelhantes aos observados nos
bovinos tanto nos casos naturais como experimentalmente. Este trabalho tem por
objetivo descrever a intoxicação experimental por Palicourea marcgravii em ovinos,
com dose letal de planta verde e dessecada e dose letal fracionada 20
administrações/dia.
MATERIAL E MÉTODOS
Palicourea marcgravii foi coletada em uma propriedade localizada no município de
Nova Brasilandia/RO, durante o mês de fevereiro (floração). Posteriormente foi
desidratada a sombra por dois dias e dessecada em estufa por 72h a temperatura de
50° C. A planta seca foi triturada em moinho DELETEC e posteriormente armazenada
em temperatura ambiente. A planta verde recém-coletada foi administrada a três ovinos
e depois de dessecada a outros três animais da mesma especie. A planta verde foi
administrada nas doses de 2 g/kg de peso corporal (p.c) (ovino 1), 0,5 g/kg de p.c
(ovino 2)e 0,4 g/kg de p.c (ovino 3), por sonda orogastrica. Todos os animais do
experimento receberam água a vontade e passavam o dia na pastagem de Brachiaria
sp. e a cada hora eram exercitados por período de 10 minutos e realizado exame
clínico. A planta dessecada foi administrada misturada a ração comercial, em uma
única dose 0,5 g/kg de p.c (ovino 4) e fracionada em 20 doses/dia de 0,17 g/kg de p.c a
dois ovinos (ovino 5 e 6). Nos casos de recusa da ingestão pelos ovinos a planta era
administrada via sonda. Todos os ovinos passaram por exames clínicos antes e
durante o experimento. Os ovinos que morreram foram necropsiados e amostras de
vísceras colhidas, fixadas em formalina tamponada a 10% e posteriormente
processadas na rotina laboratorial. Dois ovinos foram utilizados como testemunha.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando a planta foi administrada verde nas doses de 2 g/kg e 0,5 g/kg de p.c os sinais
clínicos da intoxicação foram observados após os exercícios e se caracterizaram por
recusa ao movimento, dificuldade respiratória, cianose, tremores musculares, tosse,
queda lateral, movimentos de pedalagem, corrimento sanguinolento pelas cavidades
nasais e morte após 3 a 5 minutos. O ovino 4 que recebeu a planta dessecada em uma
única aplicação foi encontrado morto. Os ovinos 5 e 6 que receberam a planta
dessecada na dose de 0,17g/kg de p.c./dia, em 20 administrações, apresentaram no
décimo dia do experimento; anorexia, andar rígido com os membros posteriores
abertos e quando movimentados apresentavam tremores musculares, enrijecimento
dos membros, queda lateral, movimentos de pedalagem e opistótono. Após alguns
minutos em repouso os sinais clínicos desapareciam e somente eram observados
quando eram novamente estimulados. O ovino 6 apresentou paralisia do três posterior
por 48 horas. Ambos os ovinos que receberam a planta dessecada em doses
fracionadas, recusavam ingerir a planta misturada a ração após o inicio do
aparecimento dos sinais clínicos (11º dia do experimento). Após três dias, o ovino 5
retornou a ingerir a planta voluntariamente e não manifestou sinais clínicos. O ovino 6
recebeu a planta dessecada por sonda orogastrica até completar 20 doses e morreu
após o 23º dia de experimento. Os ovinos que receberam a dose toxica letal em uma
única aplicação (verde e dessecada) apresentaram na necropsia, edema, congestão,
hemorragia pulmonar e corrimento sanguinolento pela cavidade nasal. O ovino que
recebeu a planta dessecada em 20 administrações/dias não apresentou lesões de
necropsia. No exame histopatológico dos rins dos ovinos que morreram intoxicados
experimentalmente pela P. marcgravii (verde e dessecada) foram observados
degeneração hidrópica-vacuolar das células epiteliais dos túbulos uriníferos
243
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 088, 2013

contornados distais. O ovino que recebeu a planta na dose de 0,4g/kg de p.c de planta
fresca (ovino 3) não apresentou sinais clínicos da intoxicação durante os exercícios e
em repouso. Os sinais clínicos e as lesões patológicas observadas nos ovinos 1 e 2
foram semelhantes aos bovinos intoxicados experimentalmente por Palicourea
marcgravii e P. grandiflora(Tokarnia et al.,1981 e Tokarnia et al.,1986), com exceção do
corrimento nasal sanguinolento, observados somente nos ovinos que receberam dose
letal. A menor dose de planta verde capaz de provocar o quadro clínico e morte foi de
0,5 g/kg, semelhante às observadas nas intoxicações experimentais por Palicourea
marcgravii em ovinos e bovinos (Tokarnia et al.,1981 e Tokarnia et al.,1986). Sinal
clínico de paralisia do trem posterior ainda não tinha sido relatado em ovinos
intoxicados por Palicourea marcgravi, embora tenha ocorrido em único anima, sendo
necessários novos experimentos para comprovar tal sinal.
CONCLUSÃO
Embora o número de animais deste experimento seja pequeno, podemos verificar que
o quadro clínico da intoxicação por dose letal, em uma única aplicação e diferente do
observado na intoxicação por Palicourea marcgravii fracionada em 20 doses/dia e a
relação do exercício, sintomatologia e lesões patológicas são semelhantes às
observadas nas intoxicações por esta planta nos bovinos.
Notas informativas
Projeto aprovado no comitê de ética em experimentação em animais do Centro
Universitário Luterano de Ji-Paraná/CEULJI/ULBRA. Protocolo 04/2012
REFERÊNCIAS
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Tokarnia, C.H., Döbereiner, J., Peixoto, P.V.. Plantas Tóxicas do Brasil. Editora Helianthus, Rio de
Janeiro. 2000, 310p.

244
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 089, 2013

089. LESÕES GENITAIS EM CARNEIROS EXPERIMENTALMENTE INFECTADOS


COM HISTOPHILUS SOMNI
(Genital lesions in rams experimentally infected with Histophilus somni)

Larissa S. Santos¹ ², Teane M. A. Silva¹, Valéria S. Moustacas¹, Tatiane A. Paixão³,


Renato L. Santos¹

1 Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,MG.


2 Universidade Estadual do Maranhão, São Luís, MA.
3 Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.
rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: A epididimite infecciosa, considerada uma das maiores causas de prejuízos


econômicos na ovinocultura mundial, é causada principalmente por Brucella ovis,
Actinobacillus seminis e Histophilus somni. O objetivo deste trabalho foi investigar
alterações histopatológicas causadas pela infecçõe por H. somni em ovinos. Dez
carneiros entre 18 a 24 meses de idade foram infectados experimentalmente por
inoculação intra-epididimária com H. somni. Oito carneiros tornaram-se infectados e
cinco carneiros tiveram pelo menos um órgão positivo por bacteriologia.
Microscopicamente, as principais lesões observadas foram alterações inflamatórias no
trato genito-urinário e degeneração testicular. H. somni foi capaz de causar infecção
colonizando diferentes órgãos do trato genito-urinário. Contudo é importante o uso de
técnicas de diagnóstico direto para a confirmação do agente etiológico.
Palavras-chave: epididimite infecciosa ovina; histopatologia; ovino
ABSTRACT: Infectious epididymitis is considered a major cause of economic losses for
the sheep industry worldwide. It is caused mainly by Brucella ovis, Actinobacillus
seminis, and Histophilus somni. This study aimed to investigate histopathological
changes associated with experimental infection with H. somni in rams. Ten rams with 18
to 24 months, were infected by intra-epididymal inoculation with H. somni. Eight rams
inoculated with H. somni became infected. Five rams had at least one positive organ by
bacteriology. Microscopically, the main lesions were observed inflammatory changes in
the genitourinary tract and testicular degeneration. H. somni was able of causing
infection, colonizing several organs of the genitourinary tract, however, laboratorial
diagnostic techniques are required for direct confirmation of the etiologic agent.
Key words: histopathology; ovine infectious epidymitis; ovine
INTRODUÇÃO
A epididimite infecciosa, uma das principais causas de desordens reprodutivas em
ovinos (Carvalho Junior et al., 2010), impacta fortemente a produtividade dos rebanhos.
As perdas ocorrem devido à menor taxa de fertilidade, menor número de animais
produzidos e descarte precoce de animais (Burgess 1982). Os principais agentes
causadores de epididimite infecciosa ovina são Brucella ovis, Actinobacillus seminis e
Histophilus somni (Carvalho Junior et al., 2010). H. somni, considerado também um
patógeno oportunista, reside naturalmente na mucosa prepucial ovina e nas mucosas
reprodutivas e respiratórias de bovinos (Corbeil 2007), tem sido associado à epididimite
e orquite em carneiros jovens (Díaz- Aparicio et al. 2009). Há poucos estudos
relacionados à patologia das infecções por H. somni em ovinos (Díaz-Aparicio et al.
2009). O objetivo do presente estudo foi caracterizar as lesões em carneiros
experimentalmente infectados por H. somni.
MATERIAL E MÉTODOS
Dez carneiros, livres de epididimite por B. ovis, A. seminis e H. somni, foram inoculados
com 1 mL de suspensão contendo 1,0 x 109 UFC/mL de H. somni (cepa 3384Y),
injetada na cauda do epidídimo esquerdo. Sêmen, sangue, urina foram avaliados uma
vez antes da inoculação e a cada sete dias pós-infecção, durante seis semanas
(Moustacas et al., 2013). Após seis semanas de infecção, os carneiros
245
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 089, 2013

foram eutanasiados e fragmentos de cauda, corpo e cabeça de ambos os epidídimos,


testículos, ampolas dos ductos deferentes, vesículas seminais, glândulas bulbo
uretrais, linfonodos inguinais e ilíacos, prepúcio, glande, baço, fígado, rins e bexiga
foram coletados para análise microbiológica (Moustacas et al, 2013) e histopatológica
(Carvalho et al., 2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A inoculação por H. somni resultou em infecção de 80% (8/10) dos carneiros,
confirmada pela detecção do agente em amostras de sêmem e urina. Não houve
recuperação de H. somni em amostras de sangue. Cinco (5/10) carneiros infectados
com H somni tiveram pelo menos um órgão positivo por bacteriologia. Alterações
histopatológicas foram observadas em 28,7% (60/209) dos tecidos dos carneiros
infectados com H. somni. Nove dos dez carneiros apresentaram lesões na cauda do
epidídimo esquerda, caracterizadas por infiltrado linfo-histioplasmocitário intersticial
multifocal a difuso crônico, hiperplasia do epitélio ductal, cistos intra-epiteliais, infiltrado
neutrofílico (microabcessos) ou misto intra-epitelial e/ou intra-lumenal e piogranulomas
com área central de necrose contendo espermatozóides e/ou bactérias. No corpo do
epidídimo de 50% (5/10) dos carneiros havia infiltrado mononuclear multifocal
intersticial ou perivascular e pequenos granulomas espermáticos. As lesões testiculares
foram caracterizadas por degeneração, em 50% (5/10) dos carneiros infectados. Na
vesícula seminal esquerda, observou-se infiltrado linfo-histio-plasmocitário multifocal
intersticial, infiltrado neutrofílico intra-epitelial e infiltrado neutrofílico e histiocitário intra-
lumenal em 6/10 animais. Nas ampolas dos ductos deferentes foram observados
infiltrado inflamatório intraluminal e intersticial palsmocitário difuso, intraepitelial ou
intraluminal neutrofílico multifocal e hiperplasia glandular em 5/10 animais.
Adicionalmente, observou-se na mucosa prepucial de todos carneiros avaliados
infiltrado plasmocitário multifocal discreto a moderado na submucosa e microabscessos
intraepiteliais. Na bexiga havia infiltrado linfo-histiocitário multifocal discreto na mucosa
e infiltrado linfocítico perivascular multifocal discreto na submucosa em 40% (4/10) dos
carneiros. Hiperplasia linfóide foi a alteração mais frequente nos linfonodos inguinal e
ilíaco e no baço.
Este trabalho demonstrou que H. somni, mesmo presente na flora prepucial de
carneiros saudáveis (Burgess, 1982), é capaz de causar lesões no trato reprodutivo de
ovinos experimentalmente inoculados. H. somni, foi capaz de colonizar diferentes
órgãos do trato genito-urinário, entretanto, não houve disseminação hematógena, uma
vez que não ocorreu isolamento em amostras de sangue, baço, fígado, linfonodos
inguinais e ilíacos. As lesões microscópicas mais intensas foram encontradas no sítio
de inoculação (i.e. cauda do epididídimo esquerdo). Além dos epidídimos, os tecidos
com reações inflamatórias mais intensas foram as vesículas seminais esquerdas,
ampolas dos ductos deferentes. Os achados histopatológicos foram semelhantes aos
observados em casos de infecção natural por H. sommi (Low e Grahan, 1985) e por
infecções por A. seminis e B. ovis em carneiros (Al-katib e Dennis, 2007, Carvalho
Júnior et al., 2012).
CONCLUSÃO
H. somni causa infecção em ovinos, colonizando diferentes órgãos do trato genito-
urinário, sendo indistinguível por histopatologia de infecções causada por B. ovis ou A.
seminis, evidenciando a importância de técnicas complementares de diagnóstico para
confirmação do agente etiológico.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico de
Minas Gerais (FAPEMIG), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
Notas informativas
Protocolos experimentais: CETEA UFMG 285/2008 e 002/2010.
246
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 089, 2013

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247
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 090, 2013

090. MODELO EXPERIMENTAL DE HERPESVÍRUS EQUINO TIPO 1 EM


HAMSTERS (MESOCRICETUS AURATUS): ACHADOS CLÍNICOS E
HISTOPATOLÓGICOS
(Experimental model of Equine Herpesvirus type 1 in hamsters (Mesocricetus
auratus): clinical and histopathological findings)

Aline Aparecida da Silva - aline_ap_silva@ig.com.br.Instituto Biológico de São Paulo (IB),


Claudia Madalena Cabrera Mori.Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ-USP),
Enio Mori - eniomori@gmail.com . Instituto Pasteur (IP),
Maria Do Carmo Custódio De Souza Hunold Lara. Instituto Biológico de São Paulo (IB),
Elenice Maria Sequetin Cunha. Instituto Biológico de São Paulo (IB),
Claudia Del Fava .Instituto Biológico de São Paulo (IB)

RESUMO: A patogenia do Herpesvírus Equino-1 (HVE-1) foi avaliada em Hamsters


Sírios (Mesocricetus auratus) inoculados via intranasal para as estirpes Brasileiras
A4/72, A9/92, A3/97, ISO 72/10 e Argentina AR4. A evolução foi aguda, com perda de
peso no 3º dia pós-inoculação (3º d.p.i.), exceto a A9/92 (2º d.p.i.). Sintomas
neurológicos e respiratórios foram observados no 2º d.p.i. para A9/92 e no 3ºd.p.i para
as demais. A histopatologia revelou no SNC meninge congesta com infiltrado
mononuclear, no neurópilo, áreas focais hemorrágicas, necrose com infiltrado
mononuclear e inclusões intra-nucleares eosinofílicas em neurônios e células da glia;
nos pulmões infiltrado inflamatório misto, discreto e difuso, com predomínio de células
mononucleares; corpúsculos de inclusão intranuclear acidofílica e sincícios foram
observados nos hamsters inoculados com ISO 72/10 e AR4. Os animais inoculados
com a cepa A9/92 apresentaram sintomatologia clínica e lesões pulmonares e
neurológicas mais agudas e severas que as demais, sugerindo sua maior virulência.
Palavras-chave: isolados; inoculação; patogenia; pulmão; sistema nervoso central
ABSTRACT: The pathogenesis of Equine Herpesvirus type 1 (EHV-1) was valuated in
hamsters(Mesocricetus auratus) inoculated by intranasal way for Brazilian strains
A4/72,A9/92, A3/97, ISO 72/10 and Argentine AR4. There was acute evolution, with
weight loss in the 3rd day post-inoculation (3rd d.p.i.), except to A9/92 (2nd d.p.i.).
Neurological and respiratory symptoms were observed in the 2nd d.p.i. to A9/92 and in
the 3rd d.p.i in the others. The histopathology revealed in the CNS congested meninges
with mononuclear infiltrate, multifocal areas of hemorrhage in the neuropil, necrosis with
mononuclear infiltrate and intranuclear eosinophilic inclusions in neurons and glial cells;
in the lungs a discrete and diffuse infiltrate mainly mononuclear; intranuclear
eosinophilic inclusions in syncytia and epithelia were observed only in ISO 72/10 and
AR4. Hamsters inoculated with strain A9/922 presented more acute symptoms, and
more severe pulmonary and cerebral histopathological lesions, suggesting this strain to
be more virulent than the others.
Key words: strains; inoculation; pathogenesis; lung; central nervous system
INTRODUÇÃO
O Herpesvírus Equino tipo 1 (HVE-1) é um DNA-vírus da família Herpesviridae
associado a sintomas respiratórios, neurológicos, aborto e morte neonatal em equinos
(Minson et al., 2000; Ostlund, 1993). Desde a década de 50, modelos experimentais
com hamsters sírios e camundongos têm sido realizados para o isolamento viral e
estudos da patogenia da infecção causada pelo EHV-1. Inicialmente, o agente viral foi
replicado com êxito somente em hamsters neonatos inoculados por via intraperitoneal
com suspensões de fragmentos dos órgãos de fetos equinos abortados, sendo
observados corpúsculos de inclusão intranucleares acidofílicos nas células hepáticas
desses animais (Doll et al., 1953). O modelo de infecção pelo EHV-1 em hamster
também foi utilizado para o estudo da resposta imune contra o vírus (Stokes et al.,
1989). Pouco se conhece a respeito dos efeitos teciduais lesivos da infecção por
estirpes pneumotrópicas e neurotrópicas do HVE-1 em hamsters sírios. Tendo em
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 090, 2013

vista a necessidade de obterem-se modelos experimentais para o estudo da


patogenicidade do HVE-1 foi realizado o presente estudo que objetivou avaliar as
lesões histopatológicas em diversos órgãos infectados experimentalmente com
diferentes estirpes de HVE-1.
MATERIAL E MÉTODOS
Grupos de quatro hamsters (Mesocricetus auratus), machos, com três semanas de
idade, pesando entre 40 e 50 gramas, sob anestesia inalatória comsevofluorano, foram
inoculados por via intranasal com um volume de 50 L de meioEagle MEM contendo
suspensão do EHV-1 estirpes brasileiras A4/72, A9/92, A3/97,ISO/72 (Laboratório de
Raiva, do Instituto Biológico, SP/Brasil) e estirpe argentinaAR4 (Universidade de La
Plata, Argentina). O título de desafio foi de 104DICT50/25 L (dose infectante 50% em
cultura de tecidos). O grupo controle recebeu meio Eagle MEM não infectado. Os
animais foram colocados em micro-isolador conectado a um sistema com ventilação
individual para cada gaiola e filtros HEPA na entrada e saída do ar. Os hamsters foram
pesados e avaliados duas vezes ao dia 3 até o aparecimento dos sintomas graves,
quando foram então eutanasiados e necropsiados. Os diversos órgãos foram fixados
em solução de formol tamponado a 10%, por um período de 48 horas e realizada
histotécnica convencional para desidratação com soluções de álcool e diafanização
pelo xilol, seguindo-se embebição e emblocagem em parafina. O tecido emblocado foi
cortado em micrótomo (3 μm de espessura) e submetido a bateria de coloração pela
hematoxilina/eosina (HE).
RESULTADOS
Observou-se evolução aguda da doença com perda de peso no 2º d.p.i dos animais
inoculados com a estirpe A9/92 e no 3º d.p.i. nas demais estirpes e com o surgimento
de sintomas neurológicos como perda da propriocepção, andar em círculos, paralisia
espástica e convulsões no 2º d.p.i. para os animais inoculados com a cepa A9/92 e no
3ºd.p.i, para as cepas ISO 72/10, A4/72 indicando alto grau de neuroinvasividade e
neurotropismo destes agentes. A histopatologia (HE) destes animais revelou no SNC
meninge congesta com infiltrado mononuclear, no neurópilo, áreas focais
hemorrágicas, necrose com infiltrado mononuclear e inclusões intranucleares
eosinofílicas em neurônios e células da glia. As cepas A3/97 e AR4 apresentaram
sintomatologia predominantemente respiratória: apatia, dispnéia e descarga nasal
serosanguinolenta. As lesões microscópicas observadas nos pulmões foram: infiltrado
inflamatório misto, discreto e difuso, com predomínio de células mononucleares;
corpúsculos de inclusão intranuclear acidofílica e sincícios nas lâminas das cepas
ISO72/10 e AR4.
DISCUSSÃO
El Habashi et al. (2011), trabalhando com a inoculação de Herpesvírus equino tipo 9
(HVE-9), vírus de elevada identidade molecular com o HVE-1, observou que
dependendo da via de inoculação do HVE-9 os sinais clínicos podem variar; utilizando-
se das via intra-nasal, ocular, peritoneal e oral, foram observadas lesões
histopatológicas no SNC semelhantes às descritas neste trabalho, como
meningoencefalite linfocítica, necrose, agregação perivascular, degeneração neuronal
vacuolar, além de corpúsculos de inclusão, porém, não houve sintomatologia
respiratória, logo, o padrão lesional em pulmão não pôde ser comparado. Mori et al.
(2012) avaliaram os efeitos das cepas brasileiras de HVE-14 A4/72 e A9/92 e A3/97 por
inoculação intranasal em camundongos encontrando um padrão lesional semelhante
ao observado neste estudo em hamsters, porém, o desenvolvimento dos sinais
neurológicos e respiratórios observados em hamsters foram agudo e severo, com todos
os animais apresentando sintomas no 3º d.p.i., mesmo os inoculados com estirpe
A3/97, ao contrário dos camundongos, nos quais esta estirpe não se mostrou
neurovirulenta, apesar de haver sido recuperada no cérebro de camundongos BALB/c
nude. Em ambos os trabalhos, observou-se que a cepa A9/92 revelou um padrão
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 090, 2013

lesional mais severo, o que sugere sua maior virulência em relação às demais cepas
avaliadas.
CONCLUSÃO
A utilização de hamsters sírios no estudo das lesões histopatológicas do HVE-1 em
diversos órgãos mostrou-se de grande valor, tendo em vista a alta sensibilidade destes
ao agente e o desenvolvimento de lesões características de infecção herpética frente
ao desafio viral.
Agradecimento
À FAPESP pelo financiamento – Auxílio Pesquisa n. 2012-00277-0
Notas informativas
Comissão de Ética em Experimentação Animal – protocolo CETEA 106/2010
REFERÊNCIAS
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Syrian hamsters. Cornell Veterinarian, v.43, n.4, p.551-558, 1953.
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OSTLUND, E.N. The equine herpesviruses. Veterinary Clinics of North America. Equine Practice, v.9,
n.2, p.283-294, 1993.
MINSON, A.; DAVISON, A.; EBERLE, R. et al. Family Herpesviridae. In: VAN
REGENMORTEL, M.H.V.; FAUQUET, C.M.; BISHOP, D.H.L. et al. Virus taxonomy:the classification and
nomenclature of viruses: the seventh report of the internationalcommittee on taxonomy of viruses. San
Diego: Academic Press, 2000. p.203-225.
STOKES, A.; ALLEN, G.P.; PULLEN, L.A. et al. A hamster model of Equine
Herpesvirus Type 1 (EHV-1) infection; passive protection by monoclonal antibodiesto EHV-1
glycoproteins 13, 14 and 17/18. Journal of General Virology, v.70, p.1173-1183, 1989.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 091, 2013

091. MORFOLGIA DAS CÉLULAS GIGANTES TROFOBLÁSTICAS DA PLACENTA


DE EMBRIÕES CLONADOS - DADOS PRELIMINARES
(Morphology of placental trophoblastic giant cells from cloned embryos
preliminary data)

Rayane B. C. Jardim¹, Ana Patrícia C. Silva¹,Henrique X. Salgado Bayão³, Valentim


A. Gheller¹, Tatiane A. Paixão², Renato L. Santos¹

1 Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, MG.


2 Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, MG.
3 Cenatte embriões, Pedro Leopoldo, MG. rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: Há poucos relatos de alterações macroscópicas em placentas de vacas


receptoras de animais clonados. O objetivo este trabalho foi avaliar parâmetros
macroscópicos e histológicos em placentas de vacas que receberam embriões
clonados. Macroscopicamente, os placentomos dos clones eram maiores que o normal,
medindo aproximadamente 15 x 8 x 7 cm. A média do número de células gigantes
trofoblásticas observadas por campo microscópico nos fragmentos de placenta de
vacas gestantes por monta natural foi de 3,01 ± 1,36 apresentando núcleos bi e
trinucleados. Nos fragmentos de placenta de vacas receptoras de clones a média de
células gigantes trofoblásticas foi de 17,67 ± 4,95, sendo observada diferença
estatística significativa (p=0,0021).
Palavras-chave: clonagem; bovino; placentomo; trofoblasto
ABSTRACT: There are few reports of macroscopic changes in the placenta of cloned
embryos. The aim of this study was to evaluate macroscopic and histological
parameters in placentas of cows that received cloned embryos. Macroscopically,
placentomes from cloned fetuses were larger than normal, measuring approximately 15
x 8 x 7 cm. The average number of trophoblastic giant cells per microscopic field
observed in samples from normal placenta of was 3.01 ± 1.36 presenting two and three
nuclei, whereas cows that were recipient of cloned embryos had an average of 17.67 ±
4.95 trophoblast giant cells, with statistically significant difference (p = 0.0021).
Key words: cloning; bovine; placentome; trophoblast
INTRODUÇÃO
A placenta bovina é classificada como cotiledonária, vilosa, adecídua e epiteliocorial
(Santos e Marques Junior, 1996). A parte fetal apresenta vilosidades coriônicas
distribuídas em pequenos grupamentos, conhecidas como cotilédones, e a parte
materna se adapta aos cotilédones em áreas do endométrio conhecidas como
carúnculas (Garcia e Fernandés, 2003). As células trofoblásticas da placenta bovina
estão divididas em duas grandes populações: as mononucleadas e as trofoblásticas
gigantes, que localizam-se entre as células mononucleadas (Pinto et al., 2004), têm
atividade secretória e estão relacionadas ao reconhecimento materno-fetal e
impedimento do ataque de linfócitos a estruturas fetais (Wooding e Staples, 1981).
Há alguns relatos sobre alterações macroscópicas em placentas de vacas receptoras
de embriões clonados, como diminuição do número e hipertrofia dos placentomos;
hidroalantóide, hidrâmnio, vascularização insuficiente do epitélio alantoideano, aborto,
retenção de placenta (Hill et. al, 2001). Porém, o mecanismo dessas alterações é
desconhecido. Além disso, não há relatos de alterações microscópicas em células
gigantes trofoblásticas de placentas de vacas receptoras de embriões clonados. Este
trabalho tem como objetivo avaliar macro e microscopicamente placentas de vacas
receptoras de embriões clonados.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliadas oito placentas de vacas que conceberam por monta natural e tiveram
partos normais e dez placentas de vacas receptoras de embriões clonados, todas com
parto por cesariana, uma vez que não apresentavam sinais parto ao final do período
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 091, 2013

gestacional. Fragmentos de placentomos foram fixados em formalina a 10% e


processados para inclusão em parafina. Secções de 5 μm foram corados por HE. Por
microscopia óptica, em aumento de 400x, determinou-se o número de células gigantes
trofoblásticas por campo microscópico, tendo sido contados, aleatoriamente, 10
campos de cada lâmina.
RESULTADOS
Macroscopicamente os placentomos dos clones eram maiores que o normal, medindo
aproximadamente 15 x 8 x 7 cm. Apenas uma das vacas apresentou hidropsia, as
demais apresentavam volume normal de líquidos amniótico e alantoide. A média do
número de células gigantes trofoblásticas observadas por campo nos fragmentos de
placenta de vacas que conceberam por monta natural foi de 3,01 ± 1,36, sendo bi ou
trinucleadas. Nas placentas de vacas receptoras de clones, a média de células
gigantes trofoblásticas foi de 17,67 ± 4,95, sendo estatisticamente significativa diferente
entre os dois grupos (p=0,0021). As células gigantes trofoblásticas da placenta de
vacas receptoras de clones tinham de dois a nove núcleos.
DISCUSSÃO
Os achados macroscópicos deste estudo são semelhantes aos relatados por Hill et. al.
(2001). Em placentas de vacas normais a termo há de 70 a 120 placentomos, variando
de 5 a 8 cm de diâmetro (Kennedy e Miller, 1993). Fetos clonados têm deficiência no
desenvolvimento placentário, pois vacas receptoras de embriões clonados possuem
baixo desenvolvimento da placenta com poucos placentomos. O aparecimento de
cotilédones gigantes é um mecanismo compensatório para a placentação deficiente no
início da gestação (Pinto et al., 2004).
Os achados microscópicos sugerem que há maior quantidade de células gigantes
trofoblásticas na placenta de vacas receptoras de clones. Estes resultados expandem o
conhecimento prévio de que placentas de embriões de produção in vitro têm diminuição
da quantidade dos vilos coriônicos no placentomo (Farin et al., 2006 e Miles et al.,
2004). Como o desenvolvimento da placenta dentro das normalidades da gestação é
importante para a saúde do feto, tanto durante o seu desenvolvimento quanto na vida
pós-natal, torna-se necessário esclarecer o mecanismo de desenvolvimento destas
alterações.
CONCLUSÃO
Este estudo demonstrou que há maior quantidade de células gigantes trofoblásticas na
placenta de vacas receptoras de embriões clonados e que estas células apresentam
alterações morfológicas marcantes, com tendência a formação de células sinciciais
multinucleadas.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG),
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

252
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 091, 2013

REFERÊNCIAS
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Symposium on Cloning Mammals by Nuclear Transplantation. Colorado State University, 1992, pp.35 38.
FARIN, P.W.; PIEDRAHITA, J.A.; FARIN, C.E. Errors in development of fetuses and placentas fromin
vitro-produced bovine embryos. Theriogenology, v.65, p.178–191, 2006.
HILL, J.R.; EDWARDS, J.F.; SAWYER N. et al. Placental Anomalies in a Viable Cloned Calf Cloning, v.3,
n.2, p. 83-88, 2001.
KENNEDY, P.C.; MILLER, R.B. The female genital system. In Pathology of Domestic Animals. K.V.F.
Jubb, P.C. Kennedy, and N. Palmer, eds. (Harcourt, Brace, Jovanovich, San Diego), 1993, p.390–391.
SANTOS, R.L.; MARQUES JUNIOR, A. P. Morfofisiologia da Placenta Bovina. Cad. Téc. Esc. Vet.
UFMG, n.15, p.27-35, 1996.
GARCIA, S.M.L.; FERNANDÉZ, C.G. Embriologia. Porto Alegre : Artmed, 2ª ed, 2003, p.273-275.
MILES, J.R.; FARIN, C.E.; RODRIGUEZ, K.F. Angiogenesis and morphometry of bovine placentas in late
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p.259-267, 2004.
PINTO, L.M.; AMBRÓSIO, C. E; TEIXEIRA, D. G. et al. Comportamento das células trofoblásticas
gigantes na placenta de vacas Nelore (Bosindicus -Linnaeus, 1758) Revista Brasileira de Reprodução
Animal, v.32, n.2, p.110-121.
WOODING, F.B.P; STAPLES, L.D. Function of the trophoblast papillae and binucleate cells implantation
in the sheep. Journal of Anatomy, v.133, p.110-112, 1981.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 092, 2013

092. PATOGENICIDADE DA AMOSTRA ATCC25840 DE BRUCELLA OVIS EM


CAMUNDONGOS EXPERIMENTALMENTE INFECTADOS
(Pathogenesis of Brucella ovis strain ATCC25840 in experimentally infected mice)

Juliana P. S. Mol¹; Ana Patrícia C. Silva¹; Auricélio A. Macedo¹; Tayse D. Souza¹;


Tatiane A. Paixão²; Renato L. Santos¹

1 Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, MG.


2 Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, MG.
rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: A Brucella ovis é um dos principais agentes associados à epididimite em


ovinos, doença que tem grande importância econômica. O objetivo desse trabalho foi
verificar se a passagem da amostra ATCC25840 de B. ovis em camundongos altera a
sua patogenicidade. Quatro camundongos BALB/c, machos, de 6-7 semanas, foram
inoculados com 1x106 UFC/mL da amostra B. ovis ATCC25840 antes (P0, n=4) e após
passagem em camundongo BALB/c (P1, n=4). Microgranulomas, necrose e trombose
foram as alterações observadas nos camundongos infectados. A inflamação foi
semelhante nos dois grupos. Neste experimento piloto, a passagem da amostra B. ovis
em camundongo aumentou discretamente a patogenicidade.
Palavras-chave: BALB/C; infecção bacteriana; patogenicidade
ABSTRACT: Brucella ovis is one of the main agents associated with epididymitis, which
has great economic importance. The aim of this work was to verify if the passage of B.
ovis in animals alters its pathogenicity. Four BALB/c mice were inoculated with 1x106
CFU/mL of ATCC25840 B. ovis before (P0, n=4) and after (P1, n=4) passage in BALB/c
mice. Microgranulomas, necrosis and thrombosis were observed in mice infected.
Inflammation was similar in both groups. The passage of the ATCC25840 B. ovis in
mice increased very mildly its pathogenicity.
Key words: bacterial infection; BALB/C; pathogenicity
INTRODUÇÃO
Brucella ovis é considerada a principal causa de epididimite em carneiros sexualmente
maduros. As principais consequências da doença são infertilidade e subfertilidade,
ocasionando perdas econômicas na ovinocultura (Carvalho Junior et al., 2011). A
infecção em camundongos tem sido frequentemente usada como modelo experimental
no estudo de infecções causadas por Brucella (Silva et al., 2011). Para melhorar a
compreensão sobre a patogenicidade da B. ovis, diversos estudos realizam infecções
experimentais usando amostras preservadas a -80°C. Contudo, trabalhos também
mostram que a manutenção de culturas bacterianas congeladas por longos períodos e
que repiques sucessivos podem ocasionar a perda da viabilidade, alteração de
características fisiológica, morfológicas e de patogenicidade e desta forma, contribuir
para a atenuação das lesões observadas em infecções experimentais quando
comparadas às infecções naturais (Wesche et al., 2009). Um estudo recente, em que
carneiros foram infectados experimentalmente, apenas um animal apresentou lesões
nos tecidos avaliados Carvalho Júnior et al., 2012). Assim, o objetivo desse trabalho é
verificar se após a passagem da amostra ATCC25840 B. ovis em camundongos
BALB/c ocorre aumento da patogenicidade, avaliando para isso, parâmetros
relacionados a lesões teciduais associadas à infecção.
MATERIAL E MÉTODOS
A amostra de referência ATCC25840 de B. ovis mantida a -80ºC (parental, P0) e a
mesma amostra passada em camundongo C57/BL6 e reisolada (P1) foram utilizadas
neste estudo. Oito camundongos BALB/c machos, entre 6 e 7 semanas de idade foram
inoculados com 1x106 UFC/mL de B. ovis por via intraperitoneal sendo quatro com a
amostra P0 e outros quatro com a P1. Após sete dias, os animais foram submetidos à
eutanásia com sobredose de quetamina e xilazina e amostras de baço e fígado foram
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 092, 2013

coletadas. Para o isolamento bacteriológico, fragmentos de baço foram macerados em


PBS estéril, diluídos e plaqueados em placas de TSA com hemoglobina (5%) em estufa
a 37°C 5% de CO2 por 3 dias e unidades formadoras de colônias por grama de órgão
(UFC/g) estimada. Fragmentos de fígado foram processados para histopatologia e
submetidos à análise morfométrica. O número de microgranulomas, de focos de
necrose e de trombos foi contado em vinte campos em um fragmento de fígado por
animal. A imunoistoquímica foi realizada de acordo com Silva et al., (2011).
RESULTADOS
Após sete dias de infecção com aproximadamente 1x106 UFC/mL, não foram
observadas diferenças entre as médias de colonização esplênica (P0 = 7,60 Log
UFC/mL e P1 = 7,76 Log UFC/mL). As lesões inflamatórias observadas no fígado
caracterizam-se por microgranulomas multifocais e foram observadas em todos os
camundongos avaliados. Também foram observadas áreas de necrose em 75%
(P0=75%, P1=75%) dos animais e presença de trombos em 87,5% (P0=75%,
P1=100%) dos camundongos. Camundongos infectados pela amostra B. ovis P0
apresentaram uma média de 54,7 microgranulomas e os infectados por B. ovis P1, uma
média de 56,3 granulomas. Apesar de não ter sido observada diferença significativa
entre os grupos (P=0,82), o camundongo com o menor número de granulomas (n=77)
foi infectado com P0 e o camundongo com o maior número de granulomas (n=128)
infectado com P1. A média de focos de necrose nos camundongos infectados por P1
(Média=4,75) foi maior do que nos infectados por P0 (Média=2,75), porém a diferença
não foi significativa. Adicionalmente, a extensão desses focos foi maior nos
camundongos infectados por P1. Quanto ao número de trombos, também foi observada
maior média em animais infectados por P1 (Média= 2,5) do que em animais infectados
por P0 (Média=1,5). Imunomarcação de B. ovis no citoplasma de macrófagos dos
granulomas foi observada, demonstrando associação da bactéria com a lesão hepática.
DISCUSSÃO
As alterações histopatológicas observadas nesse estudo estão de acordo com
trabalhos anteriores que mostram que camundongos experimentalmente infectados por
B. ovis apresentam microgranulomas multifocais principalmente no fígado, além de alto
número de bactérias recuperadas no baço (Silva et al., 2011). É importante ressaltar
que a trombose ainda não havia sido descrita em camundongos infectados por
Brucella. Embora trombose no parênquima pulmonar de fetos abortados em
decorrência da infecção por Brucella abortus tenha sido descrita (Xavier et al., 2009),
esta lesão relativamente frequente em infecção aguda por Brucella sp. é geralmente
negligenciada. A necrose hepática observada é possivelmente isquêmica (infarto)
resultante da obstrução vascular pelos trombos. Os mecanismos relacionados à
formação dos trombos na infecção por Brucella ainda são desconhecidos. Por se tratar
de estudo piloto, ausência de diferenças significativas entre os camundongos
infectados por P0 e P1 pode estar relacionada às respostas individuais, já que os
parâmetros avaliados variaram muito entre animais do mesmo grupo, ou ainda, pela
necessidade de novas passagens para o aumento da patogenicidade (Stynen, 2009).
CONCLUSÕES
Houve aumento apenas discreto da patogenicidade de B. ovis em camundongos
BALB/C infectados com amostra recuperada de camundongo.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico de
Minas Gerais (FAPEMIG) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro.
Notas informativas
Protocolo experimental: CETEA/UFMG, 204/2012.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 092, 2013

REFERÊNCIAS
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bacteriological study of tissues and milk of cows and fetuses experimentally infected with Brucella
abortus. Journal of Comparative Pathology, v.140, p.149-157, 2009.
WESCHE, A.M.; GURTLER, J.B.; MARKS, B.P. et al. Stress, sublethal injury, resuscitation, and virulence
of bacterial foodborne pathogens. Journal of Food Protection, v.72, n.5, p.1121−1138, 2009.

256
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 093, 2013

093. PROLIFERAÇÃO CELULAR, APOPTOSE, EXPRESSÃO DA CICLINA A E DO


P21 NO TUMOR DE EHRLICH SOB EFEITO DO HIPOTIREOIDISMO ASSOCIADO
OU NÃO À CASTRAÇÃO
(Cell proliferation, apoptosis, expression of cyclin A and p21 in Ehrlich tumor in
hypothyroidismeffect associateor not to castration)

Carlos Humberto da Costa Vieira Filho¹; Alessandra Estrela da Silva Lima²; Eduardo
Luiz Trindade Moreira²; Rogéria Serakides³; Geovanni Cassali4; Enio Ferreira4

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal nos Trópicos –UFBA;


2 Prof.Dr. Departamento de Anatomia, Patologia e Clínicas Veterinárias (UFBA);
3. Profa. Dra. EV - UFMG;
4. Prof.Dr. ICB - UFMG. (chfilho@bol.com.br)

RESUMO: Buscando estudar o possível mecanismo de ação dos hormônios


tireoidianos e a inter-relação tireóide-gônadas sobre o câncer, investigou-se o efeito do
hipotireoidismo e da castração no tumor de Ehrlich. Foram analisados os índices de
proliferação celular, apoptose e expressões da ciclina A e da p21. Utilizaram-se 32
tumores inoculados no coxim plantar de camundongos fêmeas divididos em:
hipotireóideo e eutireóideos castrados ou não. Secções histológicas do tumor foram
submetidas à imunoistoquímica com marcadores de proliferação celular e proteínas
reguladoras do ciclo, e coloração de HE para determinação da apoptose. Observouse
significativa expressão da p21 e da proliferação nos animais hipotireóideos. Conclui-se
que a maior expressão da p21 nos hipotireóideos, provavelmente, promoveu o
prolongamento ou bloqueio do ciclo celular.
Palavras-chave: camundongos; gônadas; hormônios; tireóide
ABSTRACT: Seeking to study the possible mechanism of action of thyroid hormones
and the inter-relationship between thyroid-gonad on cancer, we investigated the effect
of hypothyroidism and castration in Ehrlich tumor. We analyzed the rates of cell
proliferation, apoptosis and expression of cyclin A and p21. We used 32 tumors
inoculated in the footpad of female mice divided into euthyroid and hypothyroid
castrated or not. Histological sections of the tumor were subjected to
immunohistochemistry with markers of cell proliferation and cycle regulatory proteins,
and HE staining to determine apoptosis. A significant expression of p21 and
proliferation in hypothyroid animals. It was concluded that increased expression of p21
in hypothyroid probably promoted extension or cell cycle arrest.
Keywords: gonads; hormones; mice; thyroid
INTRODUÇÃO
O Tumor de Ehrlich é uma neoplasia transplantável de origem epitelial maligna
correspondente ao adenocarcinoma mamário do camundongo fêmea, crescendo na
forma sólida, quando inoculado no subcutâneo (Ehrlich, 1906). Buscando esclarecer os
possíveis mecanismos de ação dos hormônios tireoidianos, bem como a interrelação
tireóide-gônadas sobre o câncer mamário, Silva (2003) verificou que o hipotireoidismo
retarda o crescimento do tumor de Ehrlich sólido, mas curiosamente não altera as
características celulares de malignidade. Ainda, verificou-se que a associação
hipotireoidismo-castração potencializa o retardo do crescimento. Dessa forma, como
explicar o crescimento tumoral significativamente menor nos animais hipotireóideos se
apresentavam células neoplásicas com características de malignidade e alto potencial
proliferativo? Estaria a deficiência dos hormônios tireoidianos prolongando fases do
ciclo celular com conseqüente diminuição da taxa de proliferação ou até mesmo
induzindo a apoptose das células neoplásicas? Neste contexto, o objetivo deste
trabalho foi determinar e quantificar os índices de proliferação celular, apoptótico e a
expressão da proteína p21 e da ciclina A, no tumor de Ehrlich sob o efeito do
hipotireoidismo associado ou não a castração, buscando elucidar o mecanismo pelo
257
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 093, 2013

qual o hipotireoidismo retarda o crescimento do tumor de Ehrlich sem alterar suas


características celulares de malignidade.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram analisados fragmentos histológicos de 32 tumores de Ehrlich, provenientes de
experimento anterior (Silva, 2003), subdivididos em quatro grupos (Hipotireóideo
castrado; Hipotireóideo inteiro; Eutireóideo castrado; Eutireóideo inteiro). Utilizaram-se
os anticorpos CDC-47, anti-ciclina A e anti-p21. As secções histológicas do tumor
foram cortadas a 4Mm colocadas em lâminas previamente tratadas com Poli-L-lisina e
posteriormente submetidas à reação imunoistoquímica utilizando-se a técnica da
estreptavidina-biotina-peroxidase. Somente a marcação presente no núcleo para CDC-
47, Ciclina A e p21, foi considerada. A identificação das células em apoptose foi
realizada em lâminas coradas pela HE. O delineamento experimental foi ao acaso com
quatro tratamentos e 8 repetições (animais) por tratamento. Para cada variável foram
determinados a média e o desvio padrão e os dados foram submetidos à análise de
variância com comparação das médias pelo teste SNK.
RESULTADOS
A tabela abaixo mostra as médias e desvios padrão dos índices de proliferação (IP-
CDC-47), de apoptose (IA), da expressão do p21 e da Ciclina A no Tumor de Ehrlich
sólido em camundongos fêmeas hipotireóideas e eutireóideas castradas e não
castradas.

DISCUSSÃO
No presente experimento, os animais hipotireoideos independentemente do estado
funcional de suas gônadas, apresentaram índice de proliferação celular maior do que o
do grupo eutireoideo inteiro, o que esta de acordo com Silva (2003). Este mesmo autor
relata que apesar do menor crescimento neoplásico na associação hipotireoidismo-
castração, as características celulares que apontam para uma maior taxa de
proliferação celular, foram significativamente maiores naquele grupo em relação aos
demais. No presente estudo, em primeira análise, o maior índice apoptótico observado
no grupo HC, responde em parte as indagações referentes ao estudo, fortalecendo
uma das hipóteses iniciais de aumento da taxa apoptótica, resultando em redução do
tamanho tumoral. Todavia, há de se considerar que a extensão do tecido neoplásico
viável, observada neste grupo.
Estudos observaram que a p21 poderia estar envolvida na inibição do crescimento de
células tumorais inibindo a progressão da fase G1 e na fase S. Outros experimentos
mostraram que a deficiência do p21 acelera o crescimento da neoplasia (Kawada et
al,2002; Trimis et al., 2008; Verma et al., 2009; Costa, et al., 2013; Teixeira e Reed,
2013). De acordo com esses estudos, os resultados obtidos no presente trabalho
sugerem que a maior expressão da proteína p21 nos hipotireóideos, estaria retardando
o crescimento tumoral.
CONCLUSÃO
Apesar das células neoplásicas no tumor de Ehrlich na sua forma sólida em
camundongos hipotiróideos, apresentarem alto índice proliferativo e características de
malignidade, a maior expressão da proteína p21 nesses animais, provavelmente,

258
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 093, 2013

promove o prolongamento ou o bloqueio no ciclo celular dessas células, justificando,


desta forma, o menor crescimento tumoral.
REFERÊNCIAS
COSTA, A; HOOD, I.V.; JAMES, M. Mechanisms for initiating cellular DNA replication. Annual Review of
Biochemistry, v.82, p.25-54, 2013.
EHRLICH, P. Experimentelle carcinoma studien an Mäusen. ArbInstExpTher Frankfurt, v.1, p.78-80,
1906.
KAWADA, M.; USAMI, I.; OHBA, S.I. et al. Hygrolidin induced p21 expression and abrogates cell cycle
progression at. g1 and s phase. Biochemical and Biophysical Research Communications, v.298,
p.178-183, 2002.
SILVA, A.E. O efeito do hipotireoidismo no tumor de Ehrlich na deficiência ou suficiência dos
esteróides sexuais femininos. 2003. 85f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) –
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
TEIXEIRA, L.K.; REED, S.I. Ubiquitin ligases and cell cycle control. Annual Review of Biochemistry,
v.82, p.387-414, 2013.
TRIMIS, G.; CHATZISTAMOU, I.; POLITI, K. et al. Expression of p21waf1/cip1 in stromal fibroblasts of
primary breast tumors. Human Molecular Genetics, v.17, n.22, p. 3596-3600, 2008.
VERMA, S.; TABB, M.M.; BLUMBERG, B. Activation of the steroid and xenobiotic receptor, SXR, induces
apoptosis in breast cancer cells. BMC Cancer, v.9, n.3, 19p., 2009.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 094, 2013

094. QUANTIFICAÇÃO DE T-BET POR RT-qPCR EM LINFONODO POPLITEO DE


CÃES COM LEISHMANIOSE VISCERAL
(t-bet quantification for rt-qpcr in popliteal lymph node dog leishmaniasis
visceral)

Márcio Barros Bandarra - mbandarra@yahoo.com.br. UNESP; Filipe Santos Fernando; Pamela;


Rodrigues Reina Moreira (FCAV/UNESP); Hélio José Montassier ; Rosemeri Oliveira Vasconcelos
(UNESP)

RESUMO: A resposta imune de cães com Leishmaniose Visceral Canina (LVC)


apresenta um perfil variado de citocinas, com predominância de citocinas pró-
inflamatórias (resistência) ou antiinflamatórias (susceptibilidade). Existe um
desequilíbrio entre as respostas Th1 e Th2 nos animais acometidos. A avaliação de
fatores de transcrição como o T-bet são essenciais para a compreensão do papel deste
desequilíbrio na LVC. Foram avaliados os linfonodos poplíteos de dezesseis cães
sintomáticos do município de Araçatuba, SP, área endêmica para LVC. O grupo
controle foi formado por cinco cães oriundos da rotina de necropsia do Departamento
de Patologia Animal da FCAV-UNESP, Jaboticabal, SP, área esta livre de LVC. A
avaliação da expressão relativa de T-bet foi realizada por RT-qPCR, e normalizada
com o gene β-actina. Os animais do grupo sintomático apresentaram maior expressão
deste fator de transcrição (p<0,05) quando comparados aos animais do grupo controle.
Este resultado demonstra que T-bet participa da diferenciação dos linfócitos CD4+.
Palavras-chave: fatores de transcrição, Leishmania (L.) chagasi, imunologia
ABSTRACT:. The immune response of dogs with Canine Visceral Leishmaniasis (CVL)
presents an altered cytokine profile, with a predominance of proinflammatory cytokines
(resistance) or antiinflammatory (susceptibility). There is an imbalance between Th1
and Th2 responses in affected animals. The evaluation of transcription factors such as
T-bet is essential for understanding the role of citokine imbalance in CVL. Popliteal
lymph nodes were evaluated in sixteen symptomatic dogs in the city of Araçatuba, SP,
CVL-endemic area. The control group was composed of five dogs from routine
necropsy of the Department of Pathology from FCAV-UNESP, SP, free area from CVL.
The evaluation of the relative expression of T-bet was performed by RT-qPCR and
normalized to β-actin gene. The animals in the symptomatic group showed higher
expression of this transcription factor (p <0.05) when compared to control animals. This
result demonstrates that T-bet participates in the differentiation of CD4 + lymphocytes.
INTRODUÇÃO
T-bet é um fator de transcrição que pertence a família T-box. É expresso em linfócitos T
e estão envolvidos na diferenciação da resposta de linfócitos T CD+ em Th1 ou Th2
(Lametschwandtner et al., 2004). Este fator de transcrição controla a linhagem celular T
CD4+, regulando a produção de citocinas Th1 principalmente INF-γ e mantendo a
função imune das células efetoras (GLIMCHER et al., 2004; PENG, 2006; SZABO et
al., 2002). A expressão do T-bet é resultado dos efeitos das citocinas IL-4 e IFN-γ
sobre a diferenciação Th1 e Th2 (SZABO et al., 2000). T-bet é necessário para o
desenvolvimento de células CD4+ efetoras Th1 (SZABO et al., 2002; PAI et al., 2004).
MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletados linfonodos poplíteos de dezesseis cães sintomáticos oriundos de
Araçatuba, SP, município endêmico para LVC. Os fragmentos foram acondicionados
em criotubos e imersos em nitrogênio liquído imediatamente após a eutanásia dos
animais. A extração do RNA total das amostras foi realizada com kit RNeasy, seguindo
as recomendações do fabricante. A integridade do RNA foi determinada por
espectrofotometria - 1000 NanoDrop e por eletroforese em gel de agarose. Em
seguida, o RNA foi submetido à reação de transcrição reversa (RT) com a enzima
SuperScript para síntese do cDNA. O método de PCR em tempo real foi realizado
utilizando-se o marcador SYBR Green I, sendo a reação conduzida em um aparelho
260
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 094, 2013

termociclador Chromo 4 - PTC – 200 Peltier Thermal Cycler. A reação foi constituída de
50ng de cDNA, ao qual acrescentou-se 10,0 μL da mistura KAPA SYBR® FAST qPCR
Kit Master Mix (2x) - 10 pmol de cada ―primer‖ e água tratada com dietil pirocarbonato
DEPC suficiente para um volume final de 20 μl. As reações foram realizadas em
microtubos especiais de 0,2 mL em duplicatas. A quantificação relativa da expressão
gênica de T-bet seguiu a metodologia descrita por LIVAK & SCHMITTGEN (2001),
sendo a expressão deste gene (RNAm) normalizada em relação ao gene β-actina,
utilizando-se como nível basal de expressão gênica as amostras provenientes dos cães
do grupo controle. Para a determinação das diferenças das medianas entre os grupos
foi utilizado o teste de Mann-Whitney. Os valores foram considerados estatisticamente
diferentes para p <0,05.
RESULTADO E DISCUSSÃO
A expressão de T-bet foi maior nos animais sintomáticos diferindo estatisticamente dos
animais controle, corroborando com os resultados descritos por Reis et. al. (2011), em
pele de cães naturalmente infectados com Leishmania (L.) chagasi. Vários estudos tem
demonstrado que T-bet exerce um papel essencial no controle de infecções causadas
por protozoários que são Th1 dependentes (Rosas, et. al.,2006, Szabo,et. al., 2000),
dados estes que podem sugerir que T-bet também esta envolvido na modulação do
sistema imune pelo parasita.
CONCLUSÃO - Estudos da participação de T-bet e de outros fatores de transcrição
são essenciais para o entendimento da modulação do sistema imune imposta pelo
protozoário no hospedeiro, tendo em vista a importância destes fatores de transcrição
em equilibrar as respostas Th1 e Th2.
Agradecimento
Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, Processo n. 16030-8
Protocolo da CEUA 024686/10.
REFERÊNCIAS:
GLIMCHER, L.H., TOWNSEND, M.J.; SULLIVAN, B.M.; LORD, G.M.; Recent developments in the
transcriptional regulation of cytolytic effector cells. Nat. Rev. Immunol. v.4, p. 900-911, 2004.
PENG, S.L.; The T-box transcription factor T-bet in immunity and autoimmunity. Cell. v. 3, p. 87-95, 2006.
ROSAS, L.E.; SNIDER, H.M.; BARBI, J.; SATOSKAR, A.A.; LUGO-VILLARINO, G.; KEISER, T.;
PAPENFUSS, T.; DURBIN, J.E.; RADZIOCH, D.; GLIMCHER, L.H.; SATOSKAR, A.R. State1 and T-bet
play distinct roles in determining outcome of visceral leishmaniasis caused by Leishmania donovani.
Journal Immunology, v. 177, p. 22-25, 2006.
SOUZA, D.M.; OLIVEIRA, R.C; GUERRA-SAC, R.; GIUNCHETTI, R.C.; CARVALHO, A.D.; MARTINS-
FILHO, O.A.; OLIVEIRA, G.C.;REIS, A.B. Cytokine and transcription fator profiles in the skin of dogs
naturally infected by Leishmania (Leishmania) chagasi
presenting distinct cutaneous parasite density and clinical status. Veterinary Parasitology, v. 177, p. 39-
49, 2011.

261
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 095, 2013

095. QUANTIFICAÇÃO DOS CENTROS GERMINAIS NO BAÇO E DUODENO DE


FRANGOS DE CORTES SUBMETIDOS AO ESTRESSE POR CALOR EM UM
MODELO EXPERIMENTAL DE ENTERITE NECRÓTICA AVIÁRIA
(Measurement of the germinal centers in the spleen and duodenum of broilers
subjected to an experimental model of avian necrotic enteritis)

Atilio Sersun Calefi, Lilian Bernadete Namazu, Bruno Takashi Bueno Honda, Carolina
Costola de Souza, Juliana Garcia da Silva Fonseca, João Palermo-Neto

Grupo de Neuroimunomodulação – Departamento de Patologia, FMVZ/USP

RESUMO: A remoção dos aditivos associada ao sistema de criação intensivo


acabaram por fazer que doenças, até então consideradas controladas, se tornassem
reemergentes. A enterite necrótica aviária (NE) é considerada um exemplo. De forma
geral, condições estressoras predispõem o desenvolvimento de doenças, sendo o calor
um dos estressores mais comuns que ocorrem em granjas aviárias. Objetivos:
Determinar o efeito do estresse térmico por calor (35±1ºC) sobre o desenvolvimento
dos centros germinais (GC) esplênicos e duodenais. Materiais e Métodos: 30 frangos
de corte foram submetidos a um modelo experimental de enterite necrótica aviária.
Multiplas secções dos baços e duodenos foram quantificados quanto a formação dos
GCs empregando coloração de HE e imunoistoquímica para linfócitos B (apenas
duodeno). Resultados e Conclusões: O estresse por calor foi capaz de modular a
formação dos GCs tanto no baço quanto no duodeno das aves. Reduzindo a formação
dos mesmos no intestino dos animais infectados e baço de todos os animais
estressados por calor.
Palavras-chave: Clostridium perfringens; Estresse; Neuroimunologia
ABSTRACT: The removal of additives associated with intensive farming system,
eventually, makes diseases hitherto considered controlled, became reemerging. The
avian necrotic enteritis (NE) is regarded as one example. Generally, stressful conditions
predispose to the development of diseases, the heat stress being one of the most
common stressors occurring in poultry farms. Objectives: To determine the effect of
heat stress (35 ± 1 º C) on the development of germinal centers (GC) in the spleen and
duodenum. Materials and Methods: 30 broilers were subjected to an experimental
model of avian necrotic enteritis. Multiple sections of spleens and duodenum were
quantified as the formation of GCs using HE staining and immunohistochemistry for B
lymphocytes (just in the duodenum). Results and Conclusions: The heat stress was
able to modulate the formation of GCs in the spleen and in the duodenum of broilers.
Reducing the formation of GCs in the intestine of infected animals and spleen of all
stressed animals by heat.
Keywords: Clostridium perfringens; Stress; Neuroimmunology
INTRODUÇÃO
Enterite necrótica aviária é uma doença que acomete aves de produção de 2 a 6
semanas de vida (Parish, 1961). Seu agente etiológico primário é o Clostridium
perfringens, uma bactéria gram positiva, toxigênica, formadora de esporos e de
crescimento anaeróbico (Dahiya et al., 2006).
O estresse é um dos principais fatores limitantes na produção de aves (HUMPHREY,
2006). Dessa forma, é preocupação não somente na NE, mas em toda cadeia de
produção animal, visto que comprovou-se sua relação com uma queda nos parâmetros
zootécnicos e modulação do sistema neuroimune com importante relação sobre o eixo
cérebro-intestino (Mashaly et al., 2004).
O presente trabalho avalia os efeitos do estresse por calor sobre o desenvolvimento
dos centro germinais no baço e intestino das aves, por ser um dos principais
componentes na imunidade de mucosa e contra a infecção por bactérias toxigênicas.

262
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 095, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Para realização dos experimentos foram utilizados 30 frangos de corte, Linhagem
Cobb®, machos, adquiridos de incubatório comercial com 1 dia de vida. Os animais
foram divididos em 6 grupos experimentais: 1 – Grupo Controle; 2 – Grupo Controle
Estressado (C/HS35); 3 – Grupo Tioglicolato (T); 4 – Grupo Tioglicolato Estressado
(T/HS35); 5 – Grupo Infectado (I); 6 – Grupo Infectado Estressado (I/HS35).
A infecção experimental com Clostridium perfringens tipo A foi feita por via oral, do 15º
ao 21º dia de vida nos grupos I e I/HS35. O estresse por calor (35±1ºC) foi realizado
por aumento da temperatura ambiente do 14º ao último dia experimental (21º dia de
vida). Os animais do grupo Tioglicolato receberam o meio de cultura sem bactérias.
Cortes transversais de 5 μm dos segmentos do baço foram corados por HE. Foram
avaliadas 6 secções por órgão com intervalo de 100μm (180 secções). Cada secção foi
fotografada e medida a área empregando estereoscópio, posteriormente foi realizada
contagem manual dos centros germinais maduros por microscopia óptica no aumento
de 100x. Para quantificação dos GCs no duodeno foi empregada contagem manual de
secções coradas por HE (140 secções) e repetições submetidas a marcação
imunoistoquímica para linfócitos B (80 secções). Foram avaliados 4 secções
transversais por duodeno com intervalo de aproximadamente 500μm.
Os resultados não paramétricos foram analisados pelo teste Kruskal-Wallis, e teste
post hoc de Dunn para correção das comparações múltiplas. Foram considerados
significantes as análises com P≤ 0,05.
RESULTADOS
O estresse por calor diminuiu a formação dos GCs nos animais do grupo T/HS35 e
I/HS35 em relação aos respectivos grupos não estressados. Os resultados são
estatisticamente significantes (P<0,0001).
Da mesma forma que no baço, o estresse por calor reduziu a formação dos GC
maduros e imaturos no duodeno dos animais infectados em relação ao respectivo
grupo não estressado por calor. Os resultados são estatisticamente significantes
(imunoistoquímica e HE: P<0,001).
Quando comparados os animais do grupo que receberam meio de cultura na
alimentação sem a bactéria (T e T/HS35), o estresse por calor aumentou a formação
dos GCs no duodeno destas aves em relação as não estressadas.
DISCUSSÂO
Os resultados refletem que o estresse associado a uma enterite discreta a grave
depleta a formação dos CGs esplênicos. A consequência seria a queda na imunidade
humoral contra patógenos, o que vem a se tornar um risco ao desenvolvimento da NE
nas aves. Poderíamos considerar uma possível migração celular com a formação dos
agregados linfoides no intestino, uma vez que é o órgão do qual está sendo realizado o
desafio antigênico no presente modelo experimental. Porém, quando observamos os
animais infectados submetidos ao estresse por calor, identificamos uma menor
distribuição de centros germinais, tanto maduros, quanto imaturos na mucosa intestinal,
ou seja, o estresse por calor compromete a formação dos GCs
De forma inesperada, foi observado um aumento na formação dos GCs nos animais
estressados que receberam somente o meio de cultura sem a bactéria, em relação
àqueles dos quais não estressados. Torna-se importante salientar que o meio de
cultura (tioglicolato) possui uma atividade quimiotática proeminente para células
inflamatórias, o que explicaria a maior distribuição e formação dos centros germinais.
CONCLUSÕES
O estresse por calor diminuí a formação dos centros germinais no baço e intestino dos
animais infectados pelo C. perfringens. Desta forma o animal possui uma redução na
interface da apresentação de antígenos aos linfócitos B, o que poderia por sua vez
favorecer o desenvolvimento de doenças de base toxigênica como a enterite necrótica
aviária.
263
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 095, 2013

Agradecimentos
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Projeto Temático - nº
2009/51886-3; Bolsa - n° 2012/03103-2) e ao CNPq (Projeto Universal - nº
470776/2009-9) pelo suporte financeiro, que permitiu a execução deste estudo.
Notas informativas
Projeto aprovado pelo comitê de bioética da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Universidade de São Paulo (# 2570/2012).
REFERÊNCIAS
DAHIYA, J. P. et al. Potential strategies for controlling necrotic enteritis in broiler chickens in post-
antibiotic era. Animal Feed Science and Technology, v. 129, n. 1-2, p. 60–88, ago. 2006.
MASHALY, M. M. et al. Effect of heat stress on production parameters and immune responses of
commercial laying hens. Poultry Science, v. 83, n. 6, p. 889–894, 2004.
PARISH, W. E. Necrotic enteritis in the fowl (Gallus gallus domesticus). I. Histopathology of the disease
ans isolation of a strain of Clostridium welchii. Journal of Comparative Pathology, v. 71, p. 377–393,
1961.

264
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 096, 2013

096. TALIDOMIDA PROMOVE LEUCOCITOSE EM CAMUNDONGOS INOCULADOS


COM O CARCINOMA MAMÁRIO MURINO 4T1
(Thalidomide promotes leukocytosis in mice inoculated with 4t1 mammary
carcinoma)

Diego Carlos dos Reis¹, Cristina Maria de Souza¹, Liliane Cunha Campos¹, Ana
Cândida Araújo e Silva, Mirian Tereza Paz Lopes², Ênio Ferreira¹, Geovanni Dantas
Cassali¹

1 Laboratório de Patologia Comparada, Depto. de Patologia Geral - ICB, UFMG


2 Laboratório de Substâncias Tumorais, Depto. Farmacologia - ICB, UFMG.
cassalig@icb.ufmg.br

RESUMO: O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito do tratamento com talidomida
no carcinoma mamário murino 4T1. Suspensão de células 4T1 foi inoculada em
camundongos Balb/c para obtenção de tumor sólido. Em seguida, os animais foram
divididos em dois grupos tratados por via oral com talidomida, na dose de 150mg/kg ou
solução salina. O tumor foi mensurado a cada 48horas e ao final do experimento.
Sangue total foi coletado para análise hematológica. Os resultados sugerem que a
terapêutica com talidomida aumenta o número de leucócitos circulantes no carcinoma
mamário murino 4T1 e essa resposta foi acompanhada de uma diminuição do
crescimento tumoral.
Palavras-chave: camundongo, neoplasia, 4T1, talidomida
ABSTRACT: The aim of the study was evaluate the therapy effect of thalidomide in the
4T1 mammary carcinoma. 4T1 cells suspension were injected in the posterior left flank
of all animals to obtain the solid tumor. After, the Balb/c mice were divided into two
groups of seven mice. After 5 days the treated group received, orally, 150mg/kg of
thalidomide for 7 days or solution saline. Tumors were measured every 48 hours until
the end of treatment. Blood was collected to hematology analyses. Our results suggest
that thalidomide therapy increase the number of circulating leukocytes and this
response is accompanied of the decrease in the tumor growth.
Keywords: mice, neoplasia, 4T1, thalidomide
INTRODUÇÃO
A talidomida é um derivado sintético do ácido glutâmico que possuí propriedades anti-
inflamatórias, imunomodulatórias e anti-angiogênicas (Eleutherakis-Papaiakovou;
Bamias; Dimopoulos, 2004). Ensaios clínicos e experimentais demonstraram que a
talidomida apresenta atividade no controle de diversas neoplasias. Apesar dos
resultados satisfatórios de sua utilização como agente antineoplásico, diversos efeitos
colaterais dosedependente contribuem em alguns casos para interrupção do
tratamento (Eleutherakis-Papaiakovou; Bamias; Dimopoulos, 2004). Modelos
experimentais in vivo podem auxiliar no esclarecimento dos efeitos dessa droga no
desenvolvimento neoplásico, sobretudo informações acerca de sua dose efetiva,
toxicidade e efeitos adversos. Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi avaliar o
efeito da talidomida no desenvolvimento do carcinoma mamário murino 4T1.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 14 camundongos Balb/c, fêmeas, com 45 dias de idade (±25g),
inoculados com 2,5x106 células do carcinoma mamário 4T1 no flanco esquerdo
(subcutâneo) (PULASKI, B. A.; OSTRAND-ROSENBERG, S., 2001). Os animais foram
divididos em dois grupos: tratados com 100μl de solução salina 0,9% e talidomida na
dose de 150 mg/Kg (3,5mg/100μL). Durante o período experimental foi avaliado o
crescimento tumoral (com uso de paquímetro) em intervalos de 48 horas. Amostras
sanguíneas foram coletadas no momento da eutanásia em tubos contendo EDTA 10%
para a realização do hemograma completo. Após coleta foram realizados esfregaços
sanguíneos corados pela técnica May-Grünwald-Giemsa para contagem diferencial de
265
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 096, 2013

leucócitos, expressa em percentagem, realizada em microscópio óptico Olympus BX50,


objetiva de 40x.
RESULTADOS
Observou-se um menor crescimento tumoral nos animais tratados com talidomida em
relação ao grupo controle ao longo do período experimental. A análise do volume do
tumor após a remoção cirúrgica mostrou que nos animais tratados com talidomida o
volume do tumor foi significativamente menor. No grupo controle o volume foi de 0,269
+/- 0,087 mm3 e no grupo tratado de 0,147 +/- 0,087 mm3. Análise do peso do tumor
mostrou uma redução significativa no grupo tratado (0,21 +/- 0,07g) em relação ao
grupo controle (0,29 +/- 0,04 g), confirmando o efeito da talidomida na redução do
volume tumoral. O perfil hematológico dos camundongos tratados com talidomida
evidenciou aumento significativo no número de leucócitos totais (leucocitose) e
plaquetas (trombocitose) em relação ao controle (p<0,05). O eritrograma (hemácias,
hemoglobina, VCM) e a diferencial de leucócitos não apresentaram diferenças
estatísticas nos valores entre os grupos estudados.
DISCUSSÃO
O efeito antitumoral da talidomida têm sido relacionado, sobretudo, a sua propriedade
antiangiogênica (D‘Amato et al., 1994) embora seja descrito também o efeito
imunomodulatório dessa droga no controle de algumas neoplasias (Davies et al, 2001;
Kawamata et al., 2006). A redução do crescimento neoplásico, observado nos nossos
resultados, aparentemente tem sido relacionado ao bloqueio de fatores angiogênicos
associado à modulação da resposta imune tumoral (Belo et al., 2001; Kawamata et al.,
2006). Dentre os efeitos imunomodulatórios da talidomida, a ativação de células
inflamatórias é demonstrada como um mecanismo de ação eficaz no controle de
neoplasias na clínica humana e em modelo experimental (Davies et al, 2001;
Kawamata et al., 2006). O aumento no número de leucócitos circulantes pode ser um
evento importante nessa resposta imunomodulatória da talidomida, devendo ser
considerado um parâmetro clínico relevante na instituição dessa terapêutica.
Além dos seus efeitos anti-tumorais, os efeitos colaterais relacionados a terapêutica
com talidomida são bem descritos, que incluem neuropatia periférica, constipação,
eventos trombóticos e neutropenia (Eleutherakis-Papaiakovou;Bamias; Dimopoulos,
2004). Nossos dados demonstraram um aumento significativo no número de plaquetas
e leucócitos totais no grupo tratado com talidomida. Embora a talidomida também
esteja correlacionada com a melhora nos quadros de citopenia, em condições
neoplásicas e não-neoplásicas, e sua toxicidade hematológica ser baixa (Bouscary et
al., 2005; Hattori et al., 2011), a utilização da talidomida deve ser empregada com
cautela na clínica oncológica afim de minimizar os efeitos secundários a sua utilização.
CONCLUSÃO
Nossos resultados sugerem que a terapêutica com talidomida aumenta o número de
leucócitos circulantes no carcinoma mamário murino 4T1 e essa resposta pode estar
associada a uma diminuição do crescimento tumoral.
Agradecimentos
Ao CNPq, CAPES e ao apoio financeiro da FAPEMIG.
Nota
Todos os procedimentos realizados foram aprovados pela Comissão de
Ética para Experimentação Animal (CETEA)-ICB/UFMG, sob protocolo de no 201/09.

266
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 096, 2013

REFERÊNCIAS
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Angiogenesis and Tumor Growth in Mice. Inflammation, v. 25, n.2, p. 91-96, 2001.
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thalidomide for the treatment of patients with low-risk myelodyplastic syndromes: the Thal-SMD-2000 trial
of the groupe Français des Myélodysplasies. British Journal of Haematology, v. 131, p. 609-618, 2005.
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natural killer cell cytoxicity in multiple myeloma. Blood, v. 98, n. 1, 2001.
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ELEUTHERAKIS-PAPAIAKOVOU, V.; BAMIAS, A.; DIMOPOULOS, M.A. Thalidomide in cancer
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HATTORI, Y.; MIYAKAWA, Y.; YOKOYAMA, K. et al. Prospective study of combination therapy with low-
dose thalidomide plus prednisolone ameliorating cytopenia in primary myelofibrosis. Int. J. Hematol., v. 93
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natural killer cells in mice. Oncology reports, v. 16, p. 1231- 1236, 2006.
PULASKI, B. A.; OSTRAND-ROSENBERG, S. Mouse 4T1 breast tumor model. Curr Protoc Immunol., v.
20, n. 2, 2001.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 097, 2013

MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO

097. ABORTO POR Neospora caninum EM BOVINOS DO SUL DE MINAS GERAIS


(Neospora caninum abortion in bovine from the southern of Minas Gerais Statel)

Débora Ribeiro Orlando, Rafael Carneiro Costa, Bruno Antunes Soares, Lismara Castro
do Nascimento, Natália dos Santos Caetano Oliveira, Mary Suzan Varaschin

RESUMO: O presente trabalho avalia o Neospora caninum como agente causador de


aborto em propriedades rurais do Sul de Minas Gerais por meio de análise
histopatológica, imuno-histoquímica e molecular. O material analisado foi obtido de um
estudo retrospectivo e prospectivo de casos de abortos recebidos pelo Setor de
Patologia Veterinária da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Trinta fetos
apresentaram lesões microscópicas. Destes, 19 apresentaram lesões compatíveis com
N. caninum. Em 14 houve confirmação do diagnóstico. Os achados demonstram que
este protozoário é o principal agente associado à abortos na região estudada e que a
associação de técnicas são essenciais para o diagnóstico.
Palavras-chave: feto; imuno-histoquímica; neosporose; PCR; protozoário
ABSTRACT: This paper evaluates Neospora caninum as an agent responsible for
bovine abortion in rural properties in the southern region of Minas Gerais State by
histopathology, immunohistochemistry and molecular analyses. The data was obtained
from retrospective and prospective study of abortions received by the Veterinary
Pathology Section of the Federal University of Lavras. From 30 fetuses that had
microscopic lesions, 19 had lesions consistent with N. caninum. In 14 the diagnoses
was confirmated. These findings demonstrate that N. caninum is the main agent
associated with bovine abortions in the studied region and that the combination of
diagnostic techniques was essential for final diagnosis.
Key words: fetus; immunohistochemistry; neosporosis; PCR; protozoan
INTRODUÇÃO
O N. caninum é considerado um importante agente causador de aborto em bovinos em
várias partes do mundo (Barr, 1991). A morte do feto pode ocorrer por lesões na
placenta, lesões no feto ou ambos (Dubey, 2006). Mais frequentemente são
encontradas áreas de necrose em vários tecidos, encefalite, miosite, miocardite
mononucleares e gliose no sistema nervoso central (Dubey & Lindsay 1996). O objetivo
do presente trabalho foi avaliar a participação do N. caninum como agente causador de
aborto em bovinos na região Sul do Estado de Minas Gerais. Assim como caracterizar
as principais lesões encontradas e comparar a eficiência da técnica de IHQ em relação
ao PCR para o diagnóstico.
MATERIAL E MÉTODOS
O material de estudo foi proveniente de fetos bovinos necropsiados entre 2011-2013 e
de um estudo retrospectivo de 10 anos de arquivo do Setor de Patologia Veterinária da
UFLA. Durante a necropsia, amostras de órgãos e de alguns músculos (occipital,
semitendinoso, semimembranoso, infraespinhal, diafragma, coração e língua) foram
coletados em formol tamponado a 10%. Para a PCR, ápice do coração e porção do
córtex foram armazenados em eppendorfs e mantidos a temperatura de -20°C.
Os tecidos foram processados rotineiramente para o exame histopatológico e
visualizados em microscopia óptica. Caso fossem observadas lesões compatíveis com
N. caninum, os tecidos eram encaminhado para imuno-histoquímica anti-Neospora
caninum e anti-Toxoplasma gondii seguindo o protocolo descrito por Varaschin et al.
(2012).
A técnica de PCR foi realizada conforme protocolo de Santos et al (2011). Para o
presente estudo foram desenhados primers para o agente (forwards
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 097, 2013

CTGTTAGAAGGTGCGGCGAA e reverse TCTCTTGCTGCGGTGGAAAT) tendo como


base o coromossomo XII do protozoário. Os fragmentos visualizados em gel de
agarose foram purificados e enviados ao Laboratório de Genética da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) para o sequenciamento. Após o recebimento das
sequencias, estas eram comparadas com sequencias de genes disponíveis no banco
de dados do NCBI.
RESULTADOS
Dos 30 fetos com lesões microscópicas, 19 possuíam lesões compatíveis com N.
caninum, onde, em 14 o diagnóstico foi confirmado e cinco forma considerados como
suspeitos. Destes, tecidos de 11 fetos foram submetidos tanto para o diagnóstico pela
técnica de PCR como imuno-histoquímica. Quatro fetos foram positivos em ambas as
técnicas, cinco somente pelo PCR e dois positivos somente pela imuno-histoquímica.
As lesões microscópicas, compatíveis com neosporose ocorreram em 16 fetos no
coração (84,21%) seguido de musculatura esquelética em 15 fetos (78,94%), no
encéfalo de 14 fetos (73,68%) e no fígado de 6 fetos (31,57%). A miosite, constituída
por infiltrado inflamatório mononuclear de linfócitos, plasmócitos e macrófagos, foi mais
freqüente no músculo semitendinoso (26,31% dos fetos). Estruturas compatíveis com o
protozoário foram observadas em quatro fetos.
DISCUSSÃO
Segundo a literatura, as lesões no Sistema Nervoso Central são as alterações mais
comuns na neosporose em bovinos (Benavides et al., 2012), o que difere do presente
estudo, onde a miosite em musculatura esquelética e miocardite foram os achados
mais freqüentes. Estes resultados são pertinentes com os achados de Pescador et al.
(2007)
Dentre os fetos com lesões de neosporose e que foram submetidos às duas técnicas
de diagnóstico, a técnica de PCR teve maior sensibilidade que a imuno-histoquímica,
conforme descrito por Payne &Ellis (1996) e Santos et al., (2011). É importante
ressaltar que os fetos considerados suspeitos (5), foram aqueles com lesões
compatíveis e acentuadas para neosporose, porém negativos na imuno-histoquímica e
por serem material de estudo retrospectivo, não havia tecido disponível para a
realização da técnica molecular. A menor sensibilidade da imuno-histoquímica em
relação a PCR pode ter ocorrido porque muitas vezes no tecido coletado não há
estruturas parasitárias e consequentemente não ocorre a imunomarcação.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o Neospora caninum, no momento é o principal agente causador de
aborto em bovinos do Sul de Minas Gerais e que nos fetos com neosporose as lesões
mais frequentemente encontradas foram miosite e miocardite mononuclear, encefalite
não supurativa e gliose (com ou sem necrose). Além disso, a associação de técnicas
foi primordial para a realização do diagnóstico. Somado a isso, é importante ressaltar a
eficiência das técnicas moleculares para o diagnóstico, principalmente quando se utiliza
primers específicos para o agente em questão.
Agradecimentos
FAPEMIG, CNP e a CAPES pelo auxílio financeiro.

269
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 097, 2013

REFERENCIAS
BARR, C.B.; ANDERSON, M. L.; DUBEY, J. P. et al. Neospora-like Protozoal Infections with Bovine
Abortion. Veterinary Pathology, v.28, n.2, p.110-16, 1991.
DUBEY, J.P.; BUXON, D.; WOUDA, W. Pathogenesis of Bovine Neosporosis. Journal of Comparative
Pathology, v.134, n.4, p.267-89, 2006.
DUBEY, J.P.; LINDSAY, D.S. A review of Neospora caninum and neosporosis.Veterinary Parasitology,
v.67, n.1-2, p.1-59, 1996.
PAYNE, S.; ELLIS, J. Direction of Neospora Caninum DNA by the Polymerase chain position.
International Journal for Parasitology, v.26, n.4, p.347-51, 1996.
PESCADOR, C.A.; CORBELLINI, L.G.; OLIVEIRA, E.C. et al. Histopathological and
immunohistochemical aspects of Neospora caninum diagnosis in bovine aborted fetuses. Veterinary
Parasitology, v.150, n.1-2, p.159-163, 2007.
SANTOS, D.S.; ANDRADE, M.P.; VARASCHIN, M.S. et al. Neospora caninum in bovine fetuses of Minas
Gerais, Brazil: genetic characteristics of Rdna. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.20, n.4,
p.281-288, 2011.
VARASCHIN, M.S.; HIRSCH, C.; WOUTERS, F. et al. Congenital Neosporosis in Goats from the State of
Minas Gerais, Brazil. Korean Journal of Parasitology, v.50, n.1, p.63-67, 2012.

270
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 098, 2013

098. AGENTES BACTERIANOS E VIRAIS CAUSADORES DE ABORTO EM


BOVINOS DE MINAS GERAIS
(Bacterial and viral agents causing abortion in cattle from Minas Gerais)

Débora R. Orlando, Natália S. C. Oliveira, Rafael V. S. Abreu, Matheus O. Reis, Camila


C. Abreu, Mary S. Varaschin

RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar a participação de agentes bacterianos e


virais em abortos de bovinos provenientes de propriedades rurais do Sul de Minas
Gerais, através de um estudo retrospectivo e prospectivo de casos de aborto recebidos
pelo Setor de Patologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), por meio de
exames histopatologicos, imuno-histoquímicos (IHQ) e microbiológicos. De 30 fetos
com lesão, oito foram compatíveis com aborto bacteriano e três viral. Os agentes
etiológicos diagnosticados foram Brucella sp, Leptospira sp, Staphylococcus sp. e
herpesvírus bovino (HVB).
Palavras-chave: Brucella sp, herpesvírus bovino, Leptospira sp
ABSTRACT: The purpose of this study was to evaluate the role of bacterial and viral
agents in cattle abortions from farms of the southern region of Minas Gerais State,
through a retrospective and prospective study of abortion cases received by the Setor
de Patologia, from the Universidade Federal de Lavras by histopathological,
immunohistochemical and microbiological exams. Of the 30 fetuses with microscopic
lesions, eight had lesions consistent with bacterial agents and three with viral agents.
The etiologic agents diagnosed were Brucella sp, Leptospira sp, Staphylococcus sp and
bovine herpesvirus.
Key-words: Brucella sp, bovine herpesvirus, Leptospira sp
INTRODUÇÃO
As doenças que cursam com aborto resultam em alto custo para o produtor. Entre os
abortos infecciosos encontram-se os de origem bacteriana (principalmente Brucela
abortus, Leptospira spp) e virais (Virus da BVD e HVB tipo I) (Varaschin & Wouters,
2006). Assim, o objetivo do presente trabalho foi identificar os agentes bacterianos e
virais associados a aborto em bovinos na região Sul de Minas Gerais
MATERIAL E MÉTODOS
O material de estudo foi proveniente de abortos bovinos necropsiados entre 2011 e
2013, juntamente com um estudo retrospectivo de 10 anos de arquivo do Setor de
Patologia Veterinária da UFLA. Amostras de tecidos foram coletadas em formol a 10%
e processados rotineiramente para histopatologia. Estes foram separados de acordo
com a lesão predominante em agentes virais e bacterianos e os tecidos foram
submetidos a marcação IHQ. Esta técnica seguiu o protocolo de Varaschin et al (2012),
com algumas modificações, sendo que, para os anticorpos anti-Brucella abortus e anti-
BVD, a recuperação antigênica foi realizado com tripsina por 10 minutos e irradiação
em forno microondas, e a incubação com o anticorpo primário ocorreu por 30 minutos e
2 horas respectivamente. Já na IHQ para herpesvírus bovino (anticorpo para HVB-5 e
com reação cruzada para HVB-1, produzido pelo Setor de Virologia da UFSM), a
recuperação antigênica foi realizada com proteinase K por 15 minutos em temperatura
ambiente e incubação com o anticorpo primário overnight à 4°C. Controles negativos e
positivos foram utilizados.
Amostras do pulmão e do conteúdo do abomaso foram encaminhadas para o cultivo
microbiológico em meios TSA e ágar sangue até a obtenção de uma cultura pura, as
quais passavam por testes microbiológicos básicos e eram armazenadas em meio de
congelamento. As suspeitas de aborto bacteriano com IHQ negativa para Brucella,
eram reativadas em caldo BHI, replicadas em placas de Petri contendo meio TSA e
enviadas ao Laboratório de Bacterioses da UFMG, para a identificação do agente.

271
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 098, 2013

RESULTADOS
Dos 30 fetos com lesões, oito foram compatíveis com agentes bacterianos e três virais.
Dos bacterianos, somente dois apresentaram lesões macroscópicas significativas.
Sendo que o feto1 apresentou líquido avermelhado em cavidades torácica e abdominal
além de espessa camada de fibrina recobrindo pulmão, omento e alças intestinais. O
feto 2 apresentava-se ictérico, com fígado amarelado e aumento de volume e petéquias
em pulmão e timo. Dos suspeitos de aborto viral, dois apresentaram bragnatia.
Microscopicamente os três fetos suspeitos de aborto viral apresentavam fragmentação
acentuada em células linfóides. Na IHQ em um feto ocorreu marcação para HVB e os
três foram negativos para BVD. A imunomarcação para HVB ocorreu em antígenos
virais presentes no citoplasma de células intactas no baço e linfonodos, no citoplasma
de neurônio e em células endoteliais de vasos sanguíneos do encéfalo. Já, as lesões
encontradas nos fetos suspeitos de aborto bacteriano foram pleurite e peritonite
fibrinosa acentuada e meningite mononuclear (feto 1), onde na imunomarcação para
Brucella sp evidenciou-se estruturas bacterianas no citoplasma de células inflamatórias
na pleura, peritônio e meninge. Num segundo feto positivo para Brucella sp e sem
lesões macroscópicas, lesões microscópicas de broncopneumonia necrotizante
multifocal foram observadas. Neste a imunomarcação ocorreu em meio a restos
celulares e em citoplasma de macrófagos no pulmão. Em três fetos provenientes do
estudo retrospectivo observou-se pneumonia purulenta difusa acentuada (em um feto)
e infiltrado inflamatório neutrofílico, de células mononucleares e fibrina em alvéolos e
brônquios (dois fetos). Em um feto necropsiado foi isolamento Staphylococcus sp. Este
apresentou grande quantidade de neutrófilos, macrófagos e fibrina em brônquios,
bronquíolos e alvéolos, associado a colônias bacterianas em forma de cocobacilos. Por
fim, no feto 2 observou-se nefrite intersticial mononuclear multifocal moderada,
vacuolização em epitélio tubular, dissociação de hepatócitos, infiltrado inflamatório
mononuclear periportal e acentuada biliestase. Essas lesões, juntamente com os
achados macroscópicos, permitiram o diagnóstico de leptospirose.
DISCUSSÃO
Nos abortos por HVB tipo 1 descreve-se como lesão necrose e infiltrado inflamatório
mononuclear periportal com necrose e depleção linfóide (Enright et al., 1984)
semelhante ao observado no presente estudo. Além disso, a imunomarcação para
herpesvírus ocorreu em citoplasma de células em tecido linfóide, em áreas focais do
citoplasma de neurônios e em algumas células endoteliais, semelhante aos achados de
Crook et al. (2012).
Nos fetos diagnosticados como Brucella sp, as lesões de pleurite fibrinosa ou
broncopneumonia purulenta foram semelhantes as descritas por Antoniassi et al.
(2013), assim como a meningite mononuclear e marcação IHQ em macrófagos
descritas por Hong et al., 1991. Já o diagnóstico de Leptospira sp baseou-se nos
achados macroscópicos e microscópicos relatados por Antoniassi et al. (2013). No feto
em que houve crescimento de Staphylococcus, as lesões microscópicas foram
compatíveis com as descritas por Coberllini et al. (2006).
CONCLUSÕES
Os resultados demonstram que agentes virais e bacterianos, apesar de menos
frequentes são responsáveis por abortos bovinos no sul de Minas Gerais. Além disso,
as técnicas de histologia e imuno-histoquímica são ferramentas imprescindíveis para o
diagnóstico.
Agradecimentos
Á FAPEMIG, CNPq e CAPES

272
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 098, 2013

REFERENCIAS
ANTONIASSI, N.A.B.; JUFFO, G.D.; SANTOS, A.S. et al. Causas de aborto bovino diagnosticadas no
Setor de Patologia Veterinária da UFRGS de 2003 a 2011. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.33, n.2,
p.155-160, 2013.
CORBELLINI, L.G.; PESCADOR, C.A.; FRANTZ, F.J. et al. Staphylococcus spp. Abortion: Skin Lesions
Caused by Staphylococcus aureus Infection in an Aborted Bovine-Fetus. Veterinary Research
Communications, v.30, n.7, p.717-721, 2006.
CROOK, T.; BENAVIDES, J.; RUSSELL, G. et al. Bovine herpesvirus 1 abortion: current prevalence in
the United Kingdom and evidence of hematogenous spread within the fetus in natural cases. Journal of
Veterinary Diagnostic Investigation, v. 24, n.4, p.662-670, 2012.
ENRIGHT, F. M.; WALKER, J.V.; JEFFERS, G. et al. Cellular and humoral resposes of Brucella abortus-
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HONG, C. B; DONAHUE, J.M.; GILES, R.C. JR. et al. Brucella abortus-associated meningitis in aborted
bovine fetuses. Veterinary Pathology, v. 28, n.6, p.429-496, 1991.
VARASCHIN M.S., WOUTERS F. Patologia Especial das Principais Doenças Transmissíveis na
reprodução de bovinos. Lavras: UFLA, 2006. 52p.
VARASCHIN, M.S.; HIRSCH, C.; WOUTERS, F. et al. Congenital Neosporosis in Goats from the State of
Minas Gerais, Brazil. Korean Journal of Parasitology, v.50, n.1, p.63-67, 2012.

273
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 099, 2013

099. ANÁLISE COMPARATIVA DO DIAGNÓSTICO CITOPATOLÓGICO E


HISTOPATOLÓGICO DE NEOPLASIAS MAMÁRIAS DE CADELAS
(Comparative analysis of cytopathological and histopathological diagnosis in
neoplasms of the mammary gland in bitches)

Daniela Farias da Nóbrega¹, Alexandre Augusto Arenales Torres², Ana Carolina Ortegal
de Almeida², Maria Cecília Rui Luvizotto³

1 Graduação em Medicina Veterinária, UNESP, Araçatuba-SP;


2 Residente em Patologia Veterinária, UNESP, Araçatuba-SP;
3 Docente, UNESP, Araçatuba-SP

RESUMO: Atualmente há uma grande casuística de neoplasias relacionadas à espécie


canina, sendo as mamárias as de maior incidência nas cadelas. Embora a biópsia seja
recomendada como diagnóstico definitivo, a citologia tem demonstrado bons níveis de
concordância cito-histopatológica. O estudo teve finalidade de verificar a acurácia do
exame citopatológico no diagnóstico de neoplasias mamárias em cadelas, cujo método
implica em procedimento mais seguro, pouco invasivo e de rápido resultado. Foi
analisado o diagnóstico histopatológico e citopatológico de 32 neoplasias mamárias.
Este último foi realizado aplicando-se o método de punção biópsia aspirativa (PBA) e
os resultados analisados usando o diagnóstico histopatológico como confirmatório.
Este estudo revelou a acurácia de 79,31% e sensibilidade de 96,4% do exame
citopatológico, cujos valores se assemelham aos trabalhos mais recentes. A
citopatologia aplicada como meio diagnóstico de neoplasias mamárias em cadelas,
particularmente no que se refere à determinação de malignidade, demonstrou ser
eficaz. No entanto, o exame citopatológico ainda requer uma padronização na análise
microscópica.
Palavras chave: cães; citologia; mama; punção biópsia aspirativa
ABSTRACT: Currently there are a large number of cases of neoplasms related in
canine species, and the breast of the higher incidence in bitches. Although biopsy is
recommended as definitive diagnosis, cytology has shown good agreement cyto-
histopathology. The purpose of this study was to determine the accuracy of the
cytopathological test in the diagnosis of mammary tumors, whose method involves
procedure safer, less invasive and faster results. We analyzed the histology and
cytology of 32 breast tumors. The cytopathology was carried out by applying the method
fine needle aspiration cytology and the results analyzed using the confirmatory
diagnostic histopathology. This study revealed accuracy of 79.31% and sensitivity of
96.4% of cytopathology test, whose values are similar to more recent works. The
cytopathology applied as a diagnostic means for mammary tumors in dogs, particularly
in relation to the determination of malignancy shown to be effective. However, the test
still requires a standardized microscopic analysis.
Key words: cytology; dogs; breast tumors; fine needle aspiration cytology
INTRODUÇÃO
A casuística de neoplasias relacionadas à espécie canina é relativamente grande nas
clínicas veterinárias, sendo as mamárias de maior incidência nas cadelas,
correspondendo a 40% dos tumores (DORN et al., 1968). As neoplasias mamárias
acometem fêmeas de meia idade a idosas sexualmente intactas ou castradas (DE
NARDI et al., 2009).
Em todo o mundo a tendência é a busca por métodos de diagnóstico mais rápid oe de
baixo custo (BHALLAet al., 2011). Embora a biópsia do tipo excisional seja
recomendada como diagnóstico definitivo para os tumores da glândula mamária da
cadela, o uso da citologia aspirativa tem aumentado e bons níveis de concordância
cito-histopatológica têm sido descritos (ZUCCARIet al.,2001; CASSALIet al.,2007).A

274
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 099, 2013

citologia apresenta-se como uma técnica pouco dolorosa, de fácil repetição, não
requerendo material sofisticado, tampoucoanestesia (BHALLAet al., 2011).
Acorrelação positiva entre os métodos diagnósticos citopatológico e histopatológico nos
trabalhos mais recentes realizados porCassali et al.(2007),Sá (2008), Simon et al.
(2009) eHaziroglu et al. (2010) resultaram respectivamente em 92,9%,91%, 81%
e88,5% de concordância.PorémSontas et al. (2012)e Simon et al. (2009)demonstraram
ainda a sensibilidade do exame citopatológicoem diagnosticaramalignidade das
neoplasias mamárias decadelas, sendo de96,2% e 88% respectivamente.
O presente estudo tevepor objetivoverificar a acuráciado examecitopatológicono
diagnóstico de neoplasias mamárias em cadelas, do Serviço de Patologia Veterinária
da Faculdade deMedicina Veterinária de Araçatuba (FMVA), UNESP, cujométodo
implica em procedimentoseguro, pouco invasivo e de rápido resultado.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi analisado o diagnóstico citopatológico comparativamente ao diagnóstico
histopatológico de 32 neoplasias mamárias provenientes de 31 cadelas, do Serviço de
Patologia Veterinária da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de
Araçatuba. Os exames citológicos foram realizados aplicando-se o método de punção
biópsia aspirativa (PBA) e submetidos à coloração de panótico rápido. Para a
realização dos exames histopatológicos foram utilizadas peças cirúrgicas, fixadas em
formol a 10% durante 24-48 horas, e processadas segundo a técnica de rotina para
inclusão em parafina e, corados por Hematoxilina-Eosina. Os cortes histológicos foram
submetidos à análise em microscopia óptica, e as neoplasias mamárias classificadas
de acordo com o método proposto por Misdorp et al. publicado em 1999.
A fim de analisar a acurácia do exame citopatológico, foram verificados os diagnósticos
coincidentes em ambos os exames, frente ao total de casos analisados. Também foi
determinada a sensibilidade do exame citopatológico no diagnóstico de malignidade
(Cassali et al., 2007).
RESULTADOSE DISCUSSÃO
O estudo realizado permitiu o conhecimento da eficácia diagnóstica do exame
citopatológico de neoplasiasmamárias, particularmente na espécie canina, resultando
em 79,31% de acurácia, desconsiderando os casos em que o diagnóstico da
citopatologia resultou em materialinsuficiente ou inadequado. Comparado aos estudos
mais recentes,este índice se assemelha ao de Simon et al. (2009) que obteve 81%, e
difere dosresultadosapresentados porHaziroglu et al. (2010), Sá (2008) e Cassali et al.
(2007) que obtiveram índices superiores de acurácia, respectivamente 88,5%, 91% e
92,9%. Tal diferença nos índices de concordância provavelmente se deve ao fato dos
estudos supracitados terem considerado no exame citopatológicoo caráter
maligno/benigno e a origem celular, não classificandoquanto ao tipo de
neoplasia.Quando esses critérios foram aplicados no presente estudo a acurácia
resultou em 93,1%, assemelhando-se aos estudos relacionados acima.
Foi possível realizar uma correlação dos critérios de classificação histopatológica com
os achados citopatológicos, baseados na morfologia e arranjo celular predominante,
que possibilitou identificar na citologia, em 57,4% dos exames, os tipos de neoplasias
mamárias.
A sensibilidade do exame citopatológico em diagnosticar malignidade nas neoplasias
mamárias caninas, neste estudo, resultou em 96,4%, portanto considerada alta e muito
semelhante aos valores assinalados por Sontas et al. (2012) que observou 96,5%, em
contra partida superior ao resultado de 88% obtido por Simon et al. (2009).
Houve três casos (9,68%) em que o diagnóstico citopatológico foi inconclusivo devido a
material insuficiente ou inadequado, dos quais um carcinoma tubulopapilífero
diagnosticado na histopatologia, que apresentou na morfologia macroscópica formação
cística, o que provavelmente interferiu na recuperação de células viáveis para a análise
citológica. Segundo Raskin e Meyer (2003) o diagnóstico definitivo de algumas
275
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 099, 2013

neoplasias pelo exame citopatológico nem sempre é possível, sendo que essas
dificuldades estão associadas à colheita de amostras e outras são simplesmente
inerentes à natureza das neoplasias mamárias, que devido a considerável
heterogeneidade tecidual torna importante a obtenção de amostras de múltiplas áreas
de um mesmo tumor.
A não concordância dos resultados diagnósticos em ambos os exames realizados pode
estar relacionada à qualidade da técnica utilizada para a coleta dos espécimes,
heterogeneidade do tecido, e até mesmo relacionada à análise microscópica, já que
esta foi realizada por diferentes indivíduos.
CONCLUSÃO
A citopatologia aplicada como meio diagnóstico de neoplasias mamárias em cadelas,
particularmente no que se refere à determinação de malignidade, demonstrou ser
eficaz. No entanto, o exame citopatológico ainda requer uma padronização na análise
microscópica, preferencialmente quando realizado por vários observadores, o que
poderá incrementar a acurácia do exame.
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Research and Animal Science, v.38, p.38-41, 2001.

276
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 100, 2013

100. AVALIAÇÃO DA TÉCNICA TISSUE MICROARRAY PARA USO NA ANÁLISE


DO TUMOR MAMÁRIO CANINO – RESULTADOS PRELIMINARES
(Evaluation of Tissue Microarray technique for use in the analysis of canine
mammary tumor - Preliminary results)

Franciele Basso Fernandes Silva¹; Juliana da Silva Leite²; Marcela Freire Vallim de
Mello²; Ana Maria Reis Ferreira²

1. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Patologia, Faculdade de Medicina (UFF), Niterói/ RJ.


2. Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, UFF, Niterói/ RJ.

RESUMO: Tissue microarray (TMA) é uma técnica com um conceito extremamente


simples, trata-se de agrupar um grande número de amostras em um único bloco de
parafina, permitindo um grande aproveitamento do material arquivado, do tempo e de
redução de custos. O objetivo deste estudo foi avaliar o uso e a aplicabilidade da
técnica de TMA para a análise de neoplasias mamárias caninas. Foram utilizadas 17
amostras de carcinoma em tumor misto, com seleção criteriosa da área tumoral para a
confecção do TMA. A construção do bloco de TMA seguiu o método alternativo manual
descrito por Pires et al. (2006). A análise comparativa de cortes histológicos
convencionais e do TMA permitiram a avaliação da aplicabilidade da técnica no estudo
de neoplasias mamárias caninas. A técnica de TMA é útil e aplicável na análise do
tumor de mama canino utilizando cilindros de 1mm de diâmetro.
Palavras-chave: cão; carcinoma; mama, neoplasia; TMA
ABSTRACT: Tissue microarray (TMA) is a technique with very simple concept, of
ordering hundreds of samples in just one paraffin block, allowing a great use of archival
material, time, and cost reduction. The aim of this study was to evaluate the use and
applicability of TMA technique for analysis of canine mammary neoplasms. We used 17
samples of carcinoma in mixed tumor, carefully selecting the tumor area which
constituted the TMA blocks. For the construction of the TMA block manual we use the
alternative method described by Pires et al. (2006). A comparative analysis of
conventional histological sections and TMA allowed the evaluation of the applicability of
the technique in the study of canine mammary neoplasms. The TMA technique is useful
and applicable in the analysis of canine mammary tumor using 1 mm diameter
cylinders.
Key words: breast; carcinoma; dog; neoplasm; TMA
INTRODUÇÃO
Os tumores mamários são as neoplasias mais comuns em cadelas e a segunda mais
comum na espécie canina, considerando machos e fêmeas (Dobson e Morris, 2001). A
técnica alternativa manual de TMA descrita por Pires et al. (2006) busca uma maneira
mais econômica na aplicabilidade da técnica utilizando a customização de agulhas
hipodérmicas para perfurar os blocos doadores retirando cilindros de tecido e
transferindo para o bloco receptor (Pires et al., 2006). Tendo em vista o grande número
de neoplasias mamárias em cadelas e a busca de estratégias que auxiliem e diminuam
os gastos nas pesquisas e diagnóstico, a técnica de TMA parece ser uma alternativa
econômica e eficaz. Assim, temos como objetivo avaliar o uso e a aplicabilidade da
técnica de TMA para a análise de neoplasias mamárias caninas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram selecionadas para o estudo 17 amostras de carcinoma em tumor misto (CTM)
mamário canino incluídas em parafina, obtidas por meio de seleção junto ao banco de
amostras do Setor de Anatomia Patológica Veterinária (SAPV) da Faculdade de
Veterinária da Universidade Federal Fluminense (Niterói, Rio de Janeiro, Brasil). Cortes
histológicos corados em HE foram utilizados para a confirmação do diagnóstico
histopatológico que seguiu a classificação descrita por Cassali et al. (2011) e a área
tumoral foi marcada para a confecção do TMA. A confecção dos blocos de TMA seguiu
277
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 100, 2013

a técnica descrita por Pires et al. (2006). Foram selecionados cinco cilindros de 1mm
de cada caso e confeccionado dois blocos de TMA, um com oito amostras e outro com
nove amostras. Em seguida foram confeccionados cortes histológicos corados em HE
para avaliação de cada cilindro e comparação com o corte histológico convencional.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste estudo, a investigação comparativa revelou que não havia diferenças
significativas nos parâmetros histológicos entre os cortes de tecido convencionais e os
cilindros de tecido do TMA. Mostrando que todos os cilindros de 1mm de diâmetro
selecionados a partir da área tumoral foram representativos, demonstrando as
características necessárias para a confirmação do diagnóstico. Dados semelhantes de
representatividade tumoral nos cilindros selecionados para o TMA foram registrados
em estudos realizados com tecidos neoplásicos humanos (Cunha et al., 2009;
Monnerat et al., 2010; Gonçalves et al., 2011). Em animais, o estudo de Wohlsein et al.
(2012) em tumores primários do sistema nervoso central de cães e gato, resultou em
95% dos cilindros avaliáveis. Para obter resultados mais representativos, uma seleção
cuidadosa das regiões de interesse foi realizada, pois uma escolha aleatória da região
que constituirá o TMA, não seria representativa devido à heterogeneidade intratumoral.
No presente estudo, foram detectados alguns problemas na confecção do TMA: três
cilindros foram perdidos (tombaram) durante o preenchimento do molde metálico com a
parafina líquida (3,53%); e na utilização do TMA: quatro cilindros foram mais
rapidamente desbastados durante a microtomia e nove apresentaram problemas
durante a confecção do corte histológico (dobras no tecido) (15,85%). Wohlsein et al.
(2012) observaram perda de aproximadamente 0,9% de cilindros durante o
processamento histológico e imuno-histoquímico. Paiva-Fonseca et al. (2013) ao
analisarem tumores de glândulas salivares estimaram em 3,7% os danos e perdas. Em
outros estudos as perdas de tecido, devido à presença do tecido tumoral limitado,
cortes de tecido com dobras ou com presença de áreas necróticas foram elevadas,
resultaram entre 5% e 33%, especialmente nos estudos com cilindros de 0,6 mm de
diâmetro ou menor (Gillett et al. 2000; Eguiluz et al. 2006; Cunha et al. 2009; Eckel-
Passow et al. 2010).
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos neste estudo, demonstraram que a técnica adaptada de TMA
descrita por Pires et al. (2006) é aplicável na análise da neoplasia mamária canina,
utilizando apenas um cilindro de 1 mm de diâmetro, reduzindo acentuadamente os
custos e o tempo da análise. Porém, a utilização de no mínimo três cilindros de cada
caso é recomendada para a construção do bloco de TMA, a fim de garantir que haja ao
menos um cilindro viável para a avaliação.
Agradecimentos
À CAPES e UFF pelo apoio financeiro.
Notas informativas
Comitê de ética no uso de animais (UFF), protocolo 114/2011

278
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 100, 2013

REFERÊNCIAS
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PIRES, A. R.; ANDREIUOLO, F. DA. M.; SOUZA, S. R DE. TMA for all: A new method for the
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WOHLSEIN, P.; RECKER, T.; ROHN, K. et al., Validation of Usefulness of Tissue Microarray Technology
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279
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 101, 2013

101. AVALIAÇÃO HISTOQUÍMICA DE LIPÍDEOS EPIDÉRMICOS POR ANÁLISE DE


IMAGEM DIGITAL
(Histochemical evaluation of epidermal lipids by digital image analysis)

Beatriz Rodrigues Berbel; Bianca Mariani Gonçalves; Tatiany Luiza Silveira; Marcela
Cazagrande Salvador; Helio Amante Miot; Luiz Henrique Araújo Machado

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Brasil

RESUMO: Devido a importância do estrato córneo da epiderme como barreira


protetora da pele este estudo comparou as colorações de Sudan Red e Oil Red, na
detecção de lipídeos intracelulares do estrato córneo de cães, com a técnica de análise
digital das imagens. Trinta biópsias de pele foram fotografadas e submetidas ao
método qualitativo de avaliação visual graduando as duas colorações (0 a 4+). Na
análise digital foi utilizado o ImageJ, analisando a largura, intensidade e área da
imagem selecionada. A significância estatística foi encontrada em: coeficiente de
correlação interclasses do Oil Red foi discretamente melhor que o Sudan Red na
concordância dos patologistas, a correlação do coeficiente de Spearman do Sudan Red
foi discretamente maior que o Oil Red. Os parâmetros aqui apresentados podem ser
aplicados em análises de rotina na mensuração de lipídeos no estrato córneo da
epiderme.
Palavras-chave: canino, dermatite atópica; mensuração; oil red; sudan red
ABSTRACT: Due to the importance of the stratum corneum as a protective barrier of
the skin this study compares the Sudan Red staining and Oil Red for detection of
intracellular lipids in the stratum corneum of dogs, with the technical analysis of digital
images. Thirty biopsies were photographed and subjected to qualitative method of
visual assessment graduating both colors (0 to 4+). In the digital analysis ImageJ was
used, analyzing the width, depth and area of the selected image. Statistical significance
was found in: interclass correlation coefficient of Oil Red was slightly better than Sudan
Red in the agreement of pathologists, the Spearman coefficient correlation of the Sudan
Red was slightly higher than the Oil Red. The parameters presented here can be
applied to routine analysis in the measurement of lipids in the stratum corneum of the
epidermis.
Key words: atopic dermatits; canine; measuring; oil red; sudan red
INTRODUÇÃO
O estrato córneo funciona como uma barreira protetora da pele, protegendo contra a
perda de água transepidérmica e a penetração de moléculas exógenas, como
alérgenos (Olivry, 2011). Um estudo demonstrou que a perda de água transepidérmica
e o consequente ressecamento de pele seria a responsável por causar reações de
hiperproliferação e diferenciação epidérmica (Kawamura, 2011). Essa disfunção da
barreira é definida como anormalidades na morfologia e nas lamelas lipídicas
intracelulares do estrato córneo (Olivry, 2011), e deficiências de ceramidas e na
expressão da filagrina em alguns cães (Marsella, 2013). Cães com dermatite atópica
possuem essa disfunção na barreira protetora da pele (Gimmler e Daigle, 2011).
As técnicas histoquímicas que permitem a detecção de lipídeos em amostras
histológicas são limitadas, visto não poderem ser aplicadas em material submetido ao
processamento habitual e a inclusão em parafina, pois as gorduras são extraídas pelo
xileno e outras soluções utilizadas, limitando a sua aplicação aos cortes por congelação
(Alves, 2002). Na coloração com hematoxilina e eosina os lipídios são perdidos durante
o processamento histológico e os vacúolos são identificados por um espaço em branco
no interior da célula (Robbins e Cotran).
Os corantes do tipo Sudan, são substâncias que detectam lipídeos celulares incluindo
gorduras neutras, fosfolípides e esteróis, pois são corantes provenientes de pigmentos
280
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 101, 2013

lipossolúveis. Eles são capazes de corar e identificar lipídios presentes em inúmeras


células, isto se deve à sua capacidade de dissociação de seu corante e penetração no
complexo lipoprotéico, emprestando-lhes uma coloração vermelho-alaranjado no caso
do Sudan Red. (Sonnenwirth et al., 1980). O Oil Red é um corante para lipídeos,
análogo ao Sudan Red, que se dissolve nos lipídeos neutro presente nas secções
histológicas. (Crockham et al., 2001).
O objetivo deste trabalho é padronizar a técnica de mensuração de lipídeos na
epiderme de cães hígidos, comparando as colorações de Sudan Red e Oil Red com a
análise de imagem digital.
MATERIAIS E MÉTODOS
Grupo composto por 30 cães, sem queixas dermatológicas ou que alterem a
composição gordurosa da pele, tais como hipotireoidismo e hiperadrenocorticismo. As
biópsias cutâneas realizadas através de punch de 6mm da região cervical dorsal e
axilar. Após a coleta, as amostras embebidas em crioprotetor O.C.T (Tissue Tek®),
congeladas a -80ºC e submetidas à secção por congelação em criostato modelo Leica
CM1850. As secções histológicas submetidas à coloração histoquímica com os
corantes Sudan Red e Oil Red segundo protocolo de Lillie (1954) e Crockham et al.
(2001), respectivamente.
As lâminas foram fotografadas e o percentual de lipídeos na epiderme graduadas por
dois patologistas independentes, pelo método de avaliação visual qualitativo (O a 4+).
O freeware ImageJ® foi utilizado na análise das imagens através da técnica de
segregação de conglomerados de cor baseado na quantidade de pixels (Miot HA et al.,
2010).
Após inserir a imagem no programa primeiro transformamos a escala de pixels para
micra e o contraste da imagem foi aumentado em 4%, através da opção Enhance
Contrast, e os histogramas equalizados. Em seguida analisamos a imagem através do
plugin Colour Deconvolution, escolhemos as três cores mais representativas (vermelho,
azul e branco). Como a primeira coloração selecionada sempre foi onde corou
positivamente pelos corantes Oil Red ou Sudan Red, a imagem obtida definida como
Colour_1 foi a de escolha para continuar a análise. Ao escolher a melhor área
representativa da imagem medimos a largura, a intensidade e a área da imagem
selecionada através do prot profile (Mior HA et al, 2013).
As avaliações visuais qualitativas dos dois patologistas foram comparadas pelo
coeficiente de correlação intraclasse (ICC) (Ludbrook J. 2002). A análise estatística foi
realizada pelo software IBM SPSS 20.0. As correlações entre largura, pico e área com
a análise qualitativa mediana dos dois avaliadores foi verificado pelo coeficiente de
Spearman (rs). Valores de P<0,01 foram considerados estatisticamente significantes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A marcação de lipídeos na epiderme mostrou-se eficaz tanto na coloração de Sudan
Red quanto no Oil Red. A coloração Oil Red apresentou o ICC - 0,986 e K=0,85 e o
Sudan Red ICC - 0,973 e K=0,75. O Oil Red foi discretamente melhor que o Sudan na
concordância dos patologistas, mas ambas as colorações apresentam excelente
concordância entre as avaliações subjetivas dos patologistas (Ludbrook J. 2002).
A análise dos dados feitas pelo ImageJ é baseado na largura, pico e área da imagem
selecionada. Os valores desses dados, quando comparados à graduação histológica
pelo coeficiente de Spermann, demonstraram que há correlação não linear entre a
largura do Oil Red e o patologista (rs = 0,843); há correlação não linear entre a largura
(rs = 0,855) e também a área (rs = 0,826) do Suddan Red e o patologista; sendo a
correlação do Sudan Red discretamente maior que o Oil Red. Validando assim a
técnica de análise digital para a estimativa dos lipídeos da camada córnea corados pelo
Oil Red e Sudan Red.
Com estudos que provaram a relação da perda de lipídeos da barreira protetora da
pele de cães com dermatite atópica (Gimmler e Daigle, 2011), as colorações de Sudan
281
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 101, 2013

Red e Oil Red tornam-se um poderoso diagnóstico complementar para os clínicos.


Mais estudos estão sendo feitos na caracterização do estrato córneo de cães hígidos e
diagnosticados com dermatite atópica.

CONCLUSÃO
Ambas as técnicas de coloração mostraram-se eficazes para análise qualitativa na
marcação de lipídeos na epiderme, dependo da experiência do patologista. Quando
comparadas as análises digitais das imagens, a coloração de Sudan Red apresenta
melhor correlação, utilizando a largura e a área da imagem para fazer a mensuração
lipídica da epiderme, diminuindo a subjetividade da análise.
Os parâmetros aqui apresentados podem ser aplicados em análises de rotina na
mensuração de lipídeos no estrato córneo da epiderme.
REFERÊNCIAS
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282
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 102, 2013

102. CARACTERIZAÇÃO DA EXPRESSÃO DO RECEPTOR CAR E SUA


ASSOCIAÇÃO INVERSA COM A PROLIFERAÇÃO CELULAR EM NEOPLASIAS
EPITELAIS
(Characterization of the CAR receptor expression and its inverse association with
cell proliferation in epithelial neoplasms)

Camila Neri Barra¹, Ricardo de Francisco Strefezzi², Arina Lázaro Rochetti², Heidge
Fukumasu²

1 Dep. de Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de Med. Vet. e Zootecnia (FMVZ-USP),


2 Dep. de Med. Vet. da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA-USP).

RESUMO: Objetivou-se caracterizar a expressão do receptor CAR e sua possível


associação com a proliferação celular em diferentes tipos histológicos de cânceres. Foi
realizada análise imunoistoquímica para o receptor CAR e o marcador de proliferação
celular ki67 em 60 diferentes tipos histológicos de neoplasias humanas, alocadas em
um microarranjo tecidual. A quantificação foi por porcentagem de células positivas,
considerando aquelas que continham o núcleo corado. Foi observada marcação do
receptor CAR em 54% dos tumores estudados. Quando analisados apenas os tumores
de origem epitelial, foi possível determinar correlação inversa entre a proliferação
celular e a marcação do receptor CAR (p=0.0101). Estes dados sugerem que a menor
presença do receptor CAR ocorre em tumores com maior índice de proliferação celular,
fator este conhecidamente associado à malignidade em cânceres.
Palavras-chave: fator prognóstico; Ki67; receptor androsterona constitutivo; tumores
ABSTRACT:This study aimed to characterize the CAR receptor expression and its
possible association with cell proliferation in different histological types of cancers.
Immunohistochemical analysis was performed for the CAR receptor and the cell
proliferation marker Ki67 in 60 different histological types of human malignancies,
allocated on a tissue microarray. Quantitation was by percentage of positive cells,
considering those ones containing the nuclei stained. The CAR receptor marking was
observed in 54% of the tumors studied. When analysed only the tumors of epithelial
origin, it was possible to determine inverse correlation between cell proliferation and the
CAR receptor marking (p = 0.0101). These data suggest that the reduced presence of
the CAR receptor occurs in tumors with higher cellular proliferation index, a factor
known associated with malignancy in cancers.
Key words: constitutive androstane receptor; Ki67; prognostic factor; tumors
INTRODUÇÃO
Um dos maiores problemas de saúde pública que acomete todo o mundo continua
sendo o câncer, onde uma em cada quatro mortes nos Estados Unidos é devido a essa
doença. Estimativas mostram que as neoplasias mais comumente diagnosticadas, e
que levam ao óbito são cânceres de pulmão e brônquios, próstata, mama e colorretal
(Siegel, 2013).
Nesse contexto, é de extrema importância estudos que determinam fatores
prognósticos, os quais são essenciais no diagnóstico precoce, no direcionamento de
tratamentos e na compreensão da doença (Buccheri, Ferrigno, 2004). Além de
indicadores prognósticos histopatológicos, marcadores moleculares têm sido
extensivamente estudados nas últimas duas décadas (Marzouk, Schofield 2011).
Um importante biomarcador prognóstico presente nas células em proliferação é a
proteína ki67, que desenvolve papel na carcinogênese, progressão tumoral e está
frequentemente correlacionada com o curso clínico da doença (Scholzen et al., 2000;
Park et al., 2007; Ustymowiz 2009). Contudo, a busca por novos biomarcadores
moleculares que apresente correlação inversa de expressão com proliferação celular

283
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 102, 2013

no processo de carcinogênese e progressão tumoral poderia ser aplicado como novos


indicadores prognósticos e alvos terapêuticos.
O Receptor Androsterona Constitutivo (CAR) é um receptor membro da superfamília de
receptores nucleares, codificado pelo gene NR1I3, e conhecido como ―xeno-sensor‖,
responsável pela metabolização e excreção de drogas e xenobióticos (Gao; Xie, 2012).
A estimulação desse receptor por ativadores como fenobarbital pode provocar
hepatomegalia aguda como forma de adaptação em resposta ao estresse que as
células do fígado sofrem na tentativa de metabolizar essa substância. Em adição,
tratamentos com exposição prolongada desses ativadores de CAR causam neoplasias
de fígado em camundongos (Huang et al.2005).
Em trabalhos prévios, demonstramos que células de câncer de pulmão de
camundongos e humanos, os agonistas específicos do receptor CAR aumentaram a
toxicidade do Paclitaxel (em revisão). Entretanto, acredita-se que o papel do receptor
CAR na carcinogênese não se restringe apenas na função que ele exerce sobre o
controle da exposição aos carcinógenos, sendo necessária uma melhor investigação.
O objetivo do presente estudo foi caracterizar a expressão do receptor CAR e sua
possível associação com a proliferação celular em diferentes tipos histológicos de
cânceres.
MATERIAIS E MÉTODOS
A análise realizada foi de imunohistoquímica utilizando micro arranjos de tecidos
contendo sessenta tipos de amostras tumorais malignas diferentes, e foram utilizados
para imunomarcação para receptor CAR e marcador de proliferação celular na diluição
1:750 e 1:100 respectivamente, de acordo com recomendações do fabricante.
O método preconizado para quantificação de CAR e ki67 foi por contagem de células
positivas, considerando como positivas aquelas que continham o núcleo corado em
marrom devido à deposição de DAB. Cerca de 100 células foram contadas por amostra
de tumor, e o índice positivo de Ki67 e CAR foi obtido através da divisão do número de
células com o núcleo corado em marrom pelo total de células contadas em cada
amostra de tumor e multiplicado por 100.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados sessenta tipos de neoplasias malignas diferentes de humanos,
sendo que 18 delas eram de origem mesenquimal, e 42 de origem epitelial. Não houve
diferença em relação ao padrão de proliferação celular quando comparado tumores
epiteliais e mesenquimais (p=0.9224).
Em adição a este resultado, não foi encontrada correlação entre os padrões de
marcações de Ki67 e CAR ao analisar os tumores epiteliais e mesenquimais juntos
(p=0.5963). Entretanto, quando esses tumores foram analisados separadamente, os
tumores de origem epiteliais tiveram correlação inversa no padrão de expressão de
CAR e proliferação celular, sugerindo que a perda da expressão do receptor CAR está
associada com proliferação (p=0.0101).
CONCLUSÕES
Os dados do estudo sugerem que a menor presença do receptor CAR ocorre em
tumores com maior índice de proliferação celular, fator este conhecidamente associado
à malignidade em cânceres.

284
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 102, 2013

REFERÊNCIAS
BUCCHERI, G.; FERRIGNO, D. Prognostic Factors. Hematology Oncology Clinics of North America v.18
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285
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 103, 2013

103. CITOLOGIA E HISTOPATOLOGIA NA PESQUISA DE HELICOBACTER SPP


EM MUCOSA GÁSTRICA DE FELINOS DOMÉSTICOS
(Cytology and histopathology in search of Helicobacter spp in gastric mucosa of
domestic cats)

Daniela Araujo de Sousa¹; Livia Yumi Suzuki²; Kássia Valéria Gomes Coelho da Silva³;
Juliana da Silva Leite4; Marcela Freire Vallim de Mello4; Ana Maria Reis Ferreira4

1. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Med. Vet. (Clínica e Reprodução Animal),(UFF),


2. Aluna de Graduação em Medicina Veterinária, Bolsista PIBIC, UFF,
3. Pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Med. Vet. (Clínica e Reprodução Animal),UFF,
4. Docentes do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, UFF.

RESUMO. Pesquisas envolvendo bactérias do gênero Helicobacter vêm crescendo e a


infecção já foi identificada em diversas espécies animais. O presente estudo teve como
objetivo analisar os métodos diagnósticos de coloração por fucsina fenicada em
amostras citológicas, e o método Warthin-Starry (WS) para amostras de histopatologia
coletadas da mucosa gástrica de gatos domésticos por endoscopia.
Treze animais foram submetidos à endoscopia para obtenção das amostras gástricas.
A pesquisa de Helicobacter spp foi feita em amostras coradas por fucsina fenicada e
pelo exame histopatológico, corado pelo método WS. Os dois métodos apresentaram
resultado positivo em 100% das amostras. Concluiu-se que estes métodos têm alta
sensibilidade na identificação do gênero Helicobacter em mucosa gástrica de felinos
domésticos.
Palavras-chave: endoscopia; estômago; fucsina fenicada; gatos; Warthin-Starry
ABSTRACT. Research involving the genus Helicobacter has been growing and the
infection has been identified in several animal species. The present study aimed to
analyze the diagnostic methods of phenicated fuchsin staining in cytological samples,
and Warthin-Starry technique in histopathology samples collected from gastric mucosa
of domestic cats by endoscopy. Thirteen animals underwent endoscopy to obtain
gastric samples. The detection of Helicobacter spp was performed through direct
bacterioscopic examination in samples stained with phenicated fuchsin and by
histopathology, stained by WS method. The two methods were positive in 100% of
samples. It was concluded that these methods have high sensitivity in identifying the
genus Helicobacter in gastric mucosa of domestic cats
Key words: cats; endoscopy; phenicated fuchsin; stomach; Warthin-Starry
INTRODUÇÃO
Bactérias espiraladas do gênero Helicobacter infectam o estômago de mamíferos
incluindo os gatos (DeNovo, 2003). A infecção em felinos domésticos é de distribuição
mundial, com uma frequência de 90 a 100%. Porém sua patogenicidade não é bem
elucidada, havendo relatos de associação do gênero com inflamação da mucosa
gástrica, hiperplasia de folículos linfoides, degeneração glandular e fibrose da lâmina
própria (Takemura et al, 2009). O objetivo deste trabalho foi analisar os métodos
diagnósticos de coloração por fucsina fenicada em amostras citológicas, e o método
Warthin-Starry (WS) para amostras de histopatologia coletadas da mucosa gástrica de
gatos domésticos por endoscopia, para pesquisa de organismos semelhantes à
Helicobacter.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostras de corpo, fundo e antro do estômago de 13 gatos adultos foram coletadas
separadamente através de endoscopia. Uma escova citológica de endoscopia foi usada
para a coleta de material da mucosa gástrica, por meio de fricção. O esfregaço
confeccionado foi fixado ao ar e corado pela fucsina fenicada. No exame
histopatológico, as amostras coletadas foram fixadas em formol tamponado a 10% e

286
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 103, 2013

posteriormente submetidas à técnica de inclusão em parafina, para obtenção de


secções histológicas que foram coradas pelo método de Warthin-Starry.
RESULTADOS
Todas as amostras das diferentes regiões gástricas, de todos os animais,
apresentaram resultados positivos tanto no exame citológico quanto no histopatológico,
conferindo um resultado de 100% de positividade e 100% de concordância entre os
dois métodos de diagnóstico. No exame citológico puderam ser observadas bactérias
delgadas e espiraladas com coloração rosada. Na coloração por WS, as bactérias
espiraladas se coraram em preto, contrastando com o tecido que adquiriu tonalidade
amarelada e acastanhada.
DISCUSSÃO
Os achados do presente estudo estão de acordo com os resultados obtidos por Araujo
(2002) e Lopes (2010), que observaram alta sensibilidade na histopatologia por WS.
Porém Mello (2005) e Hartman (2012) observaram uma menor sensibilidade desta
técnica quando comparada com imuno-histoquímica. Na avaliação das amostras de
citologia corada por fucsina fenicada, o presente estudo obteve 100% de positividade
conferindo uma alta sensibilidade ao teste. Contudo Araujo (2005), apesar de também
relatar alta sensibilidade para este teste, notou uma superioridade do método de WS
sobre a citologia. Portanto, devido à possibilidade dos testes apresentarem falso-
positivo ou falso-negativo, os resultados só devem ser considerados positivos quando
dois ou mais testes confirmarem a infecção (Mégraud, 1996).
CONCLUSÃO
Neste estudo, pode-se concluir que a coloração com fucsina fenicada para as amostras
de citologia e o método de Warthin-Starry para histopatologia são técnicas eficientes
para o diagnóstico da infecção por organismos semelhantes à Helicobacter em
estômago de felinos domésticos, devendo porém, serem usados em conjunto para um
resultado mais preciso.
Agradecimentos
Agradeço à UFF e à Capes pelo apoio financeiro para realização deste trabalho.
Notas informativas
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) sob
protocolo número 48/2011.
REFERÊNCIAS
ARAUJO I.C. Helicobacter spp em gatos domésticos (felis catus) – utilização de diferentes testes de
diagnósticos e correlação com os achados histopatológicos na mucosa gástrica. 2002 Niterói,71f
Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Programa de Pós Graduação em Veterinária – Clínica
e Reprodução, Universidade Federal Fluminense.
DENOVO, RC. Diseases of the Stomach. In: TAMS T. R. Handbook of Small Animal Gastroenterology:
E.U.A.: Elsevier Science, 2003 cap. , p. 159-194.
HARTMAN DJ. e Owens SR.; Are Routine Ancillary Stains Required to Diagnose Helicobacter Infection in
Gastric Biopsy Specimens?. American Journal of Clinical Pathology, 137, 255-260, 2012.
LOPES CAA. Identificação de Helicobacter sp e avaliação das alterações histopatológicas da mucosa
gástrica em primatas não-humanos da espécie Macaca mulatta mantidos e criados no centro de criação
de animais de laboratório da Fundação Oswaldo Cruz. 2010 Niterói,87f Dissertação (Mestrado em
Medicina Veterinária) – Programa de Pós Graduação em Veterinária – Clínica e Reprodução,
Universidade Federal Fluminense.
MELLO, MFV. Identificação de Helicobacter sp na mucosa gástrica de sagüis (Callithrix sp.), com
avaliação de alterações histopatológicas e de diferentes métodos diagnósticos. 2005 Niterói,100 f Tese
(Doutorado em Medicina Veterinária) – Programa de Pós Graduação em Veterinária – Clínica e
Reprodução, Universidade Federal Fluminense.
TAKEMURA, L.S.; CAMARGO, P.L.; BRACARENSE, A.P.; Detecção e Efeitos de Helicobacter spp. em
Gatos. Acta Scientiae Veterinariae, 35 (Supl 2), 497-499, 2007.

287
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 104, 2013

104. CITOPATOLOGIA: UMA TÉCNICA ÚTIL PARA O DIAGNÓSTICO DE


TUMORES DA CAVIDADE ORAL DE CÃES?
(Cytopathology: a useful technique for the diagnosis of canine oral cavity
tumors?)

Aline F. Perinelli¹; Silvia R. Kleeb²; Marco A. Gioso³; José G. Xavier¹

1 UNIP; 2 UMESP; 3 USP

RESUMO: A cavidade oral é o quarto sítio mais comumente atingido por neoplasmas
em cães. Porém, são escassos estudos relativos ao método de colheita citológica mais
adequado para a representação dessas lesões. Neste estudo testou-se a eficácia de
quatro métodos de colheita: decalque, escovação, escarificação e punção aspirativa
por agulha fina. Foram avaliadas 12 formações bucais e os resultados comparados
com o diagnóstico histopatológico. Todas as técnicas apresentaram elevada
especificidade, com sensibilidade inferior em amostras colhidas por decalque. A
colheita por escovação ofereceu resultados mais favoráveis, associando celularidade,
representatividade e preservação celulares, apresentando-se como uma alternativa de
eleição para o diagnóstico preliminar de tumores bucais em oncologia veterinária.
Palavras-chave: citologia; decalque; escarificação; escovação; neoplasmas
ABSTRACT:The oral cavity is the fourth most common site of neoplasia in dogs.
However, there are few studies about the most appropriate method of cytological
sampling for these lesions. This study tested the effectiveness of four sampling
methods: imprint, brushing, scraping and fine needle aspiration. We evaluated 12
proliferative oral lesions, and the results were compared with the histopathological
diagnosis. All techniques demonstrated high specificity with lower sensitivity in samples
collected by imprint. The harvest by brush offered more favorable results, associating
cellularity, cellular preservation and representativeness, presenting itself as an
alternative choice for the preliminary diagnosis of oral tumors in veterinary oncology.
key words: cytology; brushing; imprint; neoplasms; scraping
INTRODUÇÃO
Nos cães as neoplasias orais aparecem em quarto lugar em termos de incidência
(Liptak, 2007). Segundo Felizzola, 1999, os sítios de maior acometimento por
neoplasmas orais são gengiva, palato, mucosa jugal, lábios, e assoalho bucal, com
predomínio das formações gengivais. O diagnóstico histogênico dessas lesões é
viabilizado pela análise citológica e histopatológica. Estudos indicam uma baixa
sensibilidade da citologia relacionada a características anatômicas da região que
dificultam o acesso a determinados territórios bucais, assim como a natureza da lesão,
muitas vezes pobre em células, levando a resultados inconclusivos (Bernreuter, 2009).
Neste estudo, buscando-se a otimização do diagnóstico citológico de lesões bucais,
avaliou-se o uso de quatro técnicas de amostragem citológica em formações bucais
caninas, comparando-se os resultados com o diagnóstico histopatológico das lesões.
MATERIAL E MÉTODOS
Integraram o estudo cães portadores de formações orais, submetidos a anestesia
geral. Para a eleição do sítio de coleta foram priorizadas a facilidade de acesso à
região, evitando-se áreas francamente necróticas e hemorrágicas. Foram colhidas
amostras citológicas por decalque, escovação, esfoliação e punção aspirativa por
agulha fina (PAAF), nessa ordem, seguindo-se ao final a excisão de fragmento tecidual
para avaliação histopatológica. Foram confeccionadas 3 lâminas por método citológico
por caso, e coradas pelo método panótico. Nas amostras citológicas avaliou-se
celularidade, preservação celular, representatividade e debris. Para cada um dos
parâmetros foram conferidos escores, de (-) a (+++). A comparação entre os métodos
citopatológicos e histopatológicos foi procedida empregando-se tabelas de contingência

288
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 104, 2013

2x2 (Berquó, 2001), calculando-se a sensibilidade e a especificidade dos métodos. No


presente estudo, foi definido como positivo o neoplasma maligno e como negativo a
lesão benigna, utilizando-se como parâmetro para comparação o diagnóstico
histopatológico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo envolveu 12 cães portadores de formações bucais, sendo 7 lesões benignas
e 5 malignas. Todas as técnicas de colheita apresentaram-se viáveis, com variações na
qualidade da amostragem. A escovação foi o método com maior representatividade
tecidual, apresentando boa preservação celular. A colheita por decalque ocupou o
extremo oposto em termos de representatividade, por privilegiar a amostragem da
superfície mucosa, porém com baixo potencial para a representação de componentes
de estratos inferiores da boca. As amostras obtidas a partir da técnica de escarificação
apresentaram em geral boa celularidade, porém com quantidade elevada de debris.
Por fim as amostras colhidas por PAAF exibiram boa preservação celular, com
irregularidade em termos de representação. De maneira geral evidenciou-se elevada
especificidade do método, porém com sensibilidade variável, da ordem de 40% nas
amostras obtidas por decalque até 100% em amostras colhidas por escovação (tab 1).

Predominaram lesões mesenquimais fibrocíticas, caracteristicamente de difícil


esfoliação, constituindo 7 dos 12 casos avaliados, evento que certamente influenciou
na eficiência diagnóstica dos métodos estudados. Dentre as malignidades, destacou-se
o melanoma melanótico maligno, bem caracterizado citologicamente na maioria das
amostras. Uma crítica central ao cito-diagnóstico de lesões bucais envolve a elevada
freqüência de falsos-negativos, resultado da convergência de fatores como
amostragem inadequada, erro técnico e falha na interpretação das amostras (FIST,
2003). Em nosso estudo o uso do decalque foi o mais implicado em resultados falsos-
negativos, seguido da PAAF e da escarificação, caracterizando-se por sensibilidades
dos métodos, respectivamente, de 40%, 60% e 66%. Nesses casos a inadequada
representatividade da amostra parece ter sido o principal evento associado. Por outro
lado, não foram identificados casos falsos-positivos, corroborando achados de Singh et
al., 2011, que indicam uma elevada especificidade da citologia em lesões bucais.
CONCLUSÃO
A técnica de colheita que melhor representou as lesões, a partir da consideração dos
parâmetros celularidade, preservação celular, representatividade e debris, foi a colheita
por escova, superior em termos de preservação celular e representatividade,
mostrando-se útil no diagnóstico de tumores de cavidade oral de cães .
REFERÊNCIAS
BERNREUTER, D. C. A orofaringe a as tonsilas. In: COWELL, R. L.; TYLER, R. D.; MEINKOTH, J. H.;
DENICOLA, D. B. Diagnóstico citológico e hematologia de cães e gatos, 3º ed., São Paulo, Editora
MedVet, 2009, cap. 8, p. 138-148.
BERQUÓ, E.S.; SOUZA, J.M.P.; GOTLIEB, S.L.D. Bioestatística. 2º ed. São Paulo: E.P.U., 2001, 350 p.
FELIZZOLA, C.R.; STOPIGLIA. A.J.; ARAÚJO, N.S. Oral tumors in dogs. clinical aspects, exfoliative
cytology and histopathology. Ciência Rural, v.29, p. 499-506, 1999.
FIST, S. The oral brush biopsy: separating fact from fiction. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology,
Oral Radiology and Endodontics, v. 96, p. 654-655, 2003.
LIPTAK, J.M.; WITHROW, S.J. Cancer of the gastrointestinal tract: oral tumors. In: WITHROW, S.J.;VAIL,
D.M. Small animal clinical oncology. 4th ed. St Louis: W.B. Saunders. Elsevier, 2007. cap. 21, p.455-475.
SINGH, S.; GARG, N.; GUPTA, S. et al. Fine needle aspiration cytology in lesions of oral and
maxillofacial region: diagnostic pitfalls, Journal of Cytology, v. 28, p. 93- 97, 2011.

289
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 105, 2013

105. CORRELAÇÃO DA IMUNOEXPRESSÃO DE TIMP-1 EM MASTOCITOMAS


CUTÂNEOS CANINOS COM O GRAU HISTOPATOLÓGICO
(TIMP-1 immunoexpression in canine cutaneous mast cell tumors correlates with
histopathological grading)

Lidia Hildebrand Pulz¹, José Guilherme Xavier³, Silvia Regina Kleeb³, José Luiz
Catão-Dias¹, Heidge Fukumasu², Ricardo de Francisco Strefezzi²

1 Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ- USP),


2 Departamento de Med. Vet. da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, (FZEA-USP)
3 Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP

RESUMO: As Metaloproteinases de Matriz (MMPs) são endopeptidases zinco-


dependentes reguladas pelos inibidores teciduais endógenos das metaloproteinases
(TIMPs) Dentre os inibidores teciduais, refere-se que a TIMP-1 apresenta-se
superexpressa em diversos tipos de neoplasias humanas. A expressão tecidual de
TIMP-1 foi avaliada em 41 amostras de mastocitomas cutâneos caninos. A
porcentagem de células imuno-positivas para TIMP-1 foi comparada aos tipos
histopatológicos. A expressão citoplasmática de TIMP-1 nos mastócitos foi positiva em
(100%) dos tumores avaliados. Os mastocitomas classificados por Patnaik como
menos diferenciados apresentaram maior expressão de TIMP-1 (P<0,05 entre os graus
I e III). Estes resultados preliminares sugerem que a expressão de TIMP-1 pode ser um
potencial marcador de prognóstico para o mastocitoma cutâneo canino.
Palavras chave: metaloproteinases,metástase,imuno-histoquímica,prognóstico
ABSTRACT: Matrix metalloproteinases (MMPs) are zinc-dependent endopeptidases
regulated by endogenous tissue inhibitors of metalloproteinases (TIMPs). TIMP-1 is
overexpressed in several types of human neoplasms. Tissue expression of TIMP-1 was
evaluated in 41 samples of canine cutaneous mast cell tumors. The percentage of
immuno-positive cells for TIMP-1 was compared with histopathological grading. The
cytoplasmic expression of TIMP-1 in mast cells were positive (100%) of tumors
examined. The mast cell classified as less differentiated by Patnaik showed higher
expression of TIMP-1 (P <0.05 between stages I and III). These results suggest that
expression of TIMP-1 may be a potential prognostic marker for the canine cutaneous
mast cell tumors.
Key words: metalloproteinases; metastasis; immunohistochemistry; prognosis
INTRODUÇÃO
O mastocitoma cutâneo canino demonstra comportamento biológico variável, podendo
apresentar-se como massas benignas solitárias ou como processo metastático
sistêmico e potencialmente fatal (WELLE, 2008). As Metaloproteinases de Matriz
(MMPs) são endopeptidases zincodependentes necessárias para a degradação dos
componentes da matriz extracelular durante o desenvolvimento embrionário normal, a
morfogênese, o remodelamento tecidual e angiogênese (NAGASE, 1996). Suas
atividades proteolíticas são reguladas pelos inibidores teciduais endógenos das
metaloproteinases (TIMPs). Todas as TIMPs inibem a MMPs ativas com seletividade
relativamente baixa, formando complexos covalentes e qualquer alteração deste
equilíbrio pode resultar em doenças tais como artrite, aterosclerose, crescimento
tumoral e metástase (COUSSENS, 1996). A participação das TIMPs no processo de
tumorigêse, invasão e metástase em neoplasias humanas e caninas é altamente
controversa. Dentre os inibidores teciduais, refere-se que a TIMP-1 apresenta-se
superexpressa em diversos tipos de neoplasias humanas como o câncer de mama, de
próstata, de pulmão, melanoma, mieloma múltiplo e glioblastoma (KLINTMAN, 2010;
SCHIMITT, 2009; OH, 2011; KLUGGER, 2011; GUEDEZ, 2010). O presente estudo
objetivou avaliar a expressão de TIMP-1 tecidual por imunohistoquímica

290
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 105, 2013

de mastocitomas cutâneos caninos. A correlação com o grau histopatológico pode


evidenciar a proteína TIMP-1 como um biomarcador que pode predizer o
comportamento biológico dessa neoplasia.
MATERIAL E MÉTODOS
A expressão de TIMP-1 foi avaliada em 41 amostras de mastocitomas cutâneos
caninos. O processamento imuno-histoquímico foi realizado pelo Laboratório de
Histopatologia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – FZEA-USP, de
acordo com o descrito por Hsu, Raine e Fagner (1981).
Os cortes foram submetidos a incubação com um anticorpo primário monoclonal de
camundongo anti-TIMP-1, seguido pela aplicação de um anticorpo secundário
biotinilado e posteriormente com o complexo estreptavidina-peroxidase segundo
indicação do fabricante.
Cada caso foi submetido a avalição quantitativa determinada pela contagem de
mastócitos positivos em cinco campos de maior aumento (400x), selecionados a partir
de áreas com o maior percentual de células marcadas ("hot spots"). A porcentagem de
células positivas para TIMP-1 foi comparada com os tipos histopatológicos
estabelecidos por Patnaik (1984) e Kiupel (2011). A análise estatística dos dados se
deu por meio de um teste ANOVA/ Kruskal-Wallis, seguida pelo pós-teste de
comparações múltiplas de Dunn.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A expressão citoplasmática de TIMP-1 nos mastócitos foi positiva em (100%) dos
tumores avaliados. As amostras também apresentaram imunomarcação de
fibroblastos, células polimorfonucleares e endotélio vascular. Esta característica sugere
que a presença de TIMP-1 nos mastócitos neoplásicos pode sofrer influência do
microambiente tumoral devido interações entre as células que permeiam a neoplasia.
Os mastocitomas classificados por Patnaik (1984) como menos diferenciados
apresentaram maior expressão de TIMP-1 (P<0,05 entre os graus I e III). Esta
expressão diferencial sugere que a TIMP-1 apresenta relevante papel na progressão
tumoral.
Considerando que o papel proeminente da TIMP-1 é justamente de inibir as MMPs que
promovem a degradação da matriz extracelular, acreditava-se que sua presença
suprimia a ação necessária para progressão das células tumorais. Apesar desta
função, acredita-se que seu papel na invasão tumoral e metástase parece ser mais
complexo considerando diversos estudos que demonstram níveis mais elevados de
TIMP-1 em tumores mais agressivos (ZENG, 1995). Acredita-se que a TIMP-1 possa
funcionar como uma molécula de sinalização independente do seu domínio de MMP-
inibidora em uma variedade de tipos celulares, promovendo a ativação do programa de
sobrevivência celular (LIU, 2005).
CONCLUSÃO
A análise revelou uma associação positiva entre o TIMP-1 e o grau histopatológico.
Estes resultados preliminares sugerem que a expressão de TIMP-1 pode ser um
potencial marcador de prognóstico para o mastocitoma cutâneo canino. Estudos futuros
serão destinadas a validar a utilização deste biomarcador prognóstico independente ou
associado a outras moléculas.
Agradecimento
FAPESP Processo 2010/05094-5 e CAPES.

291
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 105, 2013

REFERÊNCIAS
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292
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 106, 2013

106. DIAGNÓSTICO NECROSCÓPICO DE DOENÇAS EM BOVINOS NO SUDOESTE


DO PARANÁ
(Necroscopic diagnosis of disease in cattle in southwest Paraná)

Mayane Faccin, Doglas Lunardi, Marina Gabriela Possa, Fabricio Bernardi, Adolfo
Firmino da Silva Neto, Fabiana Elias

Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, E-mail: mayanefaccin@hotmail.com

RESUMO: A necropsia é um importante método de diagnóstico das afecções de


bovinos de leite. O objetivo deste trabalho é relatar os diagnósticos obtidos por meio de
necropsias em bovinos de leite de propriedades da agricultura familiar no Sudoeste do
Paraná. Foram realizadas 34 necropsias em bovinos leiteiros na área de abrangência
da Universidade Federal da Fronteira Sul, de abril de 2012 a julho de 2013. As
principais doenças que acometeram os bovinos foram intoxicações por plantas,
Retículo Pericardite Traumática e Retículo Peritonite Traumática, Leucose Bovina,
Endocardite, Raiva e Carbúnculo Sintomático. O sucesso da agricultura familiar
depende da redução de custos. Portanto, é imprescindível conhecer as doenças que
assolam a região para direcionar as medidas profiláticas e reduzir os prejuízos dos
produtores.
Palavras-chave: agricultura familiar; doenças; necropsia
ABSTRACT: A necropsy is an important method of diagnosing diseases of dairy cattle.
The objective of this study is to report the diagnoses obtained by necropsy in dairy
cattle property the family farm in Southwest of Paraná. Necropsies were performed on
34 dairy cattle in the catchment area of Federal of South Frontier University, April 2012
to July 2013. The main diseases that affected the cattle were plant poisoning,
Traumaticum Reticulum Pericarditis and Traumaticum Reticulum Peritonitis, Bovine
Leukosis, Endocarditis, Rabies and Symptomatic Carbuncle. The success of family
farming depends on cost reduction. Therefore, it is essential to know the diseases that
plague the region to direct prophylactic measures and reduce the losses of the
producers.
Key words: family farming; diseases; necropsy
INTRODUÇÃO
A necropsia é uma prática de baixo custo, que permite confirmar, refutar, esclarecer,
modificar ou estabelecer um diagnóstico (Peixoto e Barros, 1998). Na Medicina
Veterinária, Possa et al. (2012) concluíram, a partir de diversos diagnósticos realizados
somente com a necropsia, que este exame configura-se como um importante método
de diagnóstico de afecções. No Sudoeste Paranaense, 88,9% das propriedades rurais
é vinculada à agricultura familiar (IBGE, 2006) e destas, 96,7% utilizam a renda obtida
do leite para manutenção da família na propriedade (IPARDES, 2009). Devido à grande
parcela dos produtores possuírem nível médio-baixo de tecnologia empregada
(IPARDES, 2009), muita informação não chega ao produtor. Nesse sentido, pouco se
sabe sobre as doenças que estão acontecendo na região. Então, desde abril de 2012,
a prática da necropsia vem sendo empregada como ferramenta rápida e barata de
diagnóstico nas propriedades rurais, com o intuito de levantar dados sobre as principais
causas de mortes dos bovinos.
O objetivo deste trabalho é relatar os diagnósticos obtidos através da realização da
necropsia na região de inserção da Universidade Federal da Fronteira Sul no sudoeste
do Paraná.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido na área de abrangência da Universidade Federal da
Fronteira Sul (UFFS), campus Realeza-PR, a partir de um projeto de extensão que visa
à realização de necropsias a campo para produtores de leite da agricultura familiar da

293
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 106, 2013

região, com a colaboração de Médicos Veterinários que prestam assistência às


propriedades. Em todos os casos, fragmentos de órgãos foram coletados e fixados em
formalina tamponada. Nos casos cujo diagnóstico não foi possível se estabelecer com
as alterações macroscópicas, houve o auxílio da histologia para concluir o diagnóstico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram realizadas 34 necropsias em bovinos de abril de 2012 a julho de 2013. As
principais causas de mortalidade foram intoxicação por plantas (17,6%), Retículo
Pericardite Traumática (RPT) e Retículo Peritonite Traumática (14,7%), Leucose
Bovina (11,7), Endocardite (5,88%), Raiva (2,94%) e Carbúnculo Sintomático (2,94%).
Juntas, estas afecções foram responsáveis por 55,8% das mortes.
A intoxicação por plantas constitui uma das três principais causas de morte de bovinos
adultos no país (Tokarnia et al., 2012). Na região Sudoeste, as principais plantas
responsáveis pelas intoxicações foram Solanum sp., Pteridium sp., Hovenia sp. e
Cestrum sp. As intoxicações por Solanum sp. e Pteridium sp. ocorreram após época de
seca e por Cestrum sp. após a geada, todas com escassez de forragem e situação de
fome, conforme descrito por Tokarnia et al. (2012). O mesmo autor descreve ainda que
os surtos de intoxicação por Hovenia sp. ocorrem geralmente após a derrubada de
árvores, a mesma situação encontrada no caso descrito.
A RPT e Retículo Peritonite Traumática são doenças provocadas pela ingestão de
objetos pontiagudos que provocam pericardite ou peritonite (Gelberg, 2009; Raposo,
2001). Em um dos casos, a RPT foi a porta de entrada de bactérias que levou à
Endocardite Mural esquerda, conforme explica Pacheco (2011) em relação à
bacteremia prévia que a Endocardite precisa para se estabelecer no organismo.
A Leucose Bovina pode apresentar-se de várias formas (Barros, 2007). Na região,
foram encontradas as formas Leucose Enzoótica Bovina e Leucose Esporádica Juvenil.
Conforme explica, ainda, Barros (2007), os sinais clínicos variam de acordo com a
localização dos tumores, e a partir do surgimento destes a doença apresenta-se fatal
em todos os casos.
A raiva e o carbúnculo sintomático têm sua importância justificada pelo caráter letal de
ambas as doenças (Barros et al., 2006; Farias, 2011). A raiva, ainda, é considerada por
Novais e Zappa (2008) como o maior problema econômico e de saúde pública da
América do Sul. A suspeita de raiva surgiu a partir dos sinais clínicos e foi confirmada
por imunofluorescência direta, enquanto que o diagnóstico de carbúnculo sintomático
foi estabelecido a partir do histórico e alterações macroscópicas.
CONCLUSÃO
Para haver sucesso na produção leiteira familiar, a diminuição de custos é
fundamental, uma vez que os rebanhos são pequenos e a reposição de animais é
dificultada. Evitar que os produtores sofram perdas com tratamento ou reposição de
animais é um desafio que os médicos veterinários que trabalham com esta classe de
produtores devem superar. Portanto, conhecer as doenças que acometem os bovinos
da região é fundamental para direcionar as práticas de controle e profilaxia. Destarte,
este estudo mostrou que a necropsia é uma ferramenta essencial e de custo baixo para
o diagnóstico das doenças que acometem os bovinos da região.

294
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 106, 2013

REFERÊNCIAS
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295
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 107, 2013

107. EMBLOCADO CELULAR: UMA NOVA ABORDAGEM PARA O DIAGNÓSTICO


E IMUNOFENOTIPAGEM DO LINFOMA CANINO
(Cell block: a new approach for canine lymphoma diagnosis and immunostaining)

Natália Coelho Couto de Azevedo Fernandes - nccafernandes@yahoo.com.br .Instituto Adolfo Lutz (IAL),
Rodrigo Albergaria Réssio (IAL), Juliana Mariotti Guerra (IAL), Danilo Gouveia Wasques, Emerson
Ramos Nogueira (IAL), Maria Lucia Zaidan Dagli (USP)

RESUMO: O linfoma atinge cães de diversas raças e idades. O exame citopatológico é


uma modalidade importante de diagnóstico dessa moléstia, mas exibe limitações, como
a dificuldade na imunofenotipagem. O emblocado celular (EC) consiste em concentrar
células colhidas por PAF com posterior fixação em formol e inclusão em parafina. O
presente estudo teve como objetivo padronizar a técnica de EC para PAF de
linfonodos, com posterior imuno-citoquímica, avaliando-se marcadores importantes
para caracterização dos linfomas. Testou-se duas técnicas: Bouin e gel de agarose.
Como resultado, observou-se que a melhor técnica para o diagnóstico e
imunofenotipagem do linfoma é a de Bouin, com recuperação antigênica por calor
úmido. Conclui-se que o EC é uma técnica viável para avaliação de material citológico
e pode ser empregado para imunofenotipagem das neoplasias linfóides.
Palavras-chave: imuno-citoquímica, neoplasia, veterinária
ABSTRACT:Lymphoma affects dogs of many ages and breeds. Cytopathology is an
important diagnostic modality for this disease, but it presents limitations regarding
immunocytochemistry techniques. Cell block consists in cell concentration and
subsequent formalin fixation and paraffin inclusion. The present study aimed to
standardize the cell block technique for fine needle biopsy samples of canine lymph
nodes, and immunocytochemistry with markers employed in the lymphoma diagnosis.
Two techniques were tested: Bouin solution and agar gel, both with heat antigen
retrieval (pressure cooker). The present study concluded that the cell block was a viable
technique for the cytologic specimen and may be employed for determination of
lymphoid neoplasia immunophenotype.
Key words: cancer, immunocytochemistry, veterinary
INTRODUÇÃO
Os linfomas são neoplasias de origem linfóide que afetam cães de diversas raças e
idades (Araujo et al, 2008). Devido ao predomínio de lesões difusas em cães, com
baixa prevalência de linfomas foliculares (Valli et al, 2013), a citologia por punção por
agulha fina pode ser uma maneira rápida para indicar o tipo celular (Carter et al, 1986).
Adicionalmente, a imuno-citoquímica é uma ferramenta importante no diagnóstico,
tanto pela imunofenotipagem, caracterizando os linfomas como B e T, quanto pela
avaliação de proliferação celular com Ki-67. Entretanto, essa técnica é limitada em
esfregaços (Aulbach et al, 2010).Uma alternativa seria o emprego do emblocado
celular, já utilizado na medicina humana. Esta técnica consiste na concentração das
células, fixação e inclusão em blocos de parafina, para posterior microtomia, com
coloração de H&E e imuno-citoquímica (Hernel e Suurmeijer, 2013), permitindo
imunofenotipagem e melhor avaliação do paciente quanto ao prognóstico e indicações
terapêuticas (Valli et al, 2013). O objetivo do presente trabalho é padronizar uma
técnica de emblocado celular associado a exame imuno-citoquímico, possível de ser
aplicado na prática de um laboratório de patologia veterinária.
MATERIAL E MÉTODOS
Feita punção por agulha fina (PAF) de 6 linfonodos de 3 cães com quadro clínico
suspeito para linfoma multicêntrico. Duas coletas: uma para preparo de esfregaço
citológico seco ao ar e corado por panótico, outra para preparo do emblocado celular. A
amostra para emblocado foi colocada em solução preservativa de base alcóolica, sob
refrigeração (2 - 4°C) até o processamento. O líquido com as células de cada linfonodo
foi dividido e transferido para dois tubos cônicos, um para o grupo A e outro para o
296
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 107, 2013

grupo B. O material remanescente no canhão da agulha após confecção do esfregaço


também foi preservado e dividido entre ambos os grupos. Todos os tubos foram
centrifugados a 3000 rpm, por 10 min, com descarte do sobrenadante. Nos tubos do
grupo A, acrescentaram-se quatro gotas de líquido de Bouin e mesmo volume de PBS.
Nos tubos do grupo B, acrescentou-se quatro gotas de gel de agarose quente (60°C)
preparado com base de formalina tamponada. O grupo A passou por nova
centrifugação (3000 rpm, 10 min), com formação de pellet e retirada do sobrenadante.
O grupo B foi mantido sob refrigeração por 10 min para solidificação do gel de agarose.
Os sedimentos do grupo A e os géis de agarose do grupo B passaram por
processamento histológico e corte para coloração de H&E. Após avaliação, os cortes
representativos foram selecionados e processados para exame imuno-citoquímico com
recuperação
antigênica através de panela de pressão. A atividade da peroxidase endógena foi
bloqueada com solução de H2O2 (30 min/ 37°C). As lâminas foram incubadas com os
anticorpos primários overnight a 4°C, anti-CD79a, anti-PAX5, anti-CD3 e anti-Ki67,
lavadas e depois incubadas com anticorpos secundários e sistema de amplificação do
sinal, ambos por 30 min, a 37°C. A revelação foi realizada com cromógeno (DAB) e
contra-coloração com hematoxilina.
RESULTADOS
Grupo A: Todos os blocos preparados com o remanescente do canhão da agulha
exibiram pouco sedimento, o qual se desfez no momento da inclusão em parafina. Os
blocos preparados a partir de metade do produto de uma coleta, exibiram amostra
suficiente para processamento e elaboração de cortes para H&E e imuno-histoquímica
(resultados na tabela 1). No H&E, as células apresentaram-se com tamanho reduzido
em relação ao panótico e perda de definição citoplasmática. Entretanto, as
características nucleares foram aprimoradas. Grupo B: Nenhum gel foi perdido no
processamento. Na coloração por H&E, entretanto, as células de
todos os casos mostraram-se marcadamente dispersas, impossibilitando análise e
imuno-citoquímica.

DISCUSSÃO
O preparo dos emblocados celulares revelou-se simples em ambas as técnicas,
entretanto, o gel de agarose propiciou um corte com poucas células, dispersas e de
difícil análise, por isso não mostrou-se indicado para aplicação na rotina de laboratório,
nem para estudo imuno-citoquímico. Não foi possível preparar emblocados com o
remanescente do esfregaço, sendo indicada nova coleta. A técnica com líquido de
Bouin, apesar da redução do volume celular, gerou cortes com morfologia celular
preservada, especialmente nuclear. Isso favoreceu a análise das reações de anticorpos
com marcação nuclear, no caso anti-Ki67 e anti-PAX-5.
Sabe-se que a determinação do imunofenótipo, B e T, associado ao tamanho celular e
proliferação, são indicativos de prognóstico, podendo responder diferencialmente a
tratamentos (Valli, 2013). Portanto, uma modalidade de exame que permitisse a
avaliação destes três parâmetros, por exemplo utilizando anti-CD3 para linfócitos T,
anti-PAX-5 para linfócitos B e anti-Ki67 para determinação do índice de proliferação,
permitiria a caracterização da neoplasia e uma indicação para a conduta clínica
oncológica a partir do material de PAF.
CONCLUSÃO
A técnica de emblocado celular com Líquido de Bouin pode ser aplicada para
diagnóstico e imunofenotipagem de linfomas caninos.

297
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 107, 2013

Agradecimentos
À Sandra Lorente, Daniela Etlinger e Sônia Miranda do IAL, Marguiti Soares do
Laboratório de Oncologia Experimental da FMVZ-USP, laboratórios HISTOPET e R&K
Diagnóstico.
REFERÊNCIAS
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298
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 108, 2013

108. ESTUDO DA EXPRESSÃO DE TNF-α e IL-10 A TRAVÉS DE


IMUNOHISTOQUÍMICA EM PULMÃO DE PORCOS INOCULADOS
EXPERIMENTALMENTE COM Actinobacillus pleuropneumoniae NO CHILE
(Study of expression of TNF-α and IL-10 using immunohistochemistry in lungs of
experimentally pigs inoculated with Actinobacillus pleuropneumoniae in Chile)

Rodríguez R¹, Sandoval D¹, Quezada M¹, Ruiz A¹, Muñoz, D², Gómez-Laguna J³

1 Departamento de Patología y Medicina Preventiva. Universidad de Concepción-Chile.


2 SAG. Chile.
3 CICAP–Centro Tecnológico, Pozoblanco, Córdoba, España.

RESUMO: Em porcos infectados com Actinobacillus pleuropneumoniae (App), se


desenvolve a pleuropneumonia contagiosa porcina. Esta doença é caracterizada pelo
aumento da expressão de diferentes citocinas. O estudo, evaluou os níveis de
expressão de TNF-α e IL-10, por imunohistoquímica em pulão de porcos inoculados
experimentalmente com uma cepa nacional de App. dentro das 72 horas depois da
inoculação. Nossos resultados indicam um aumento progressivo e em paralelo à
contagem de células imunorreativas totales (MAPs y MIPs) para TNF-α e IL-10, a partir
do primeiro período evaluado, um máximo às 48h e um descenso às 72h depois da
inoculação. Estes resultados demonstram que a expressão das citocinas, desenvolve
um comportamento monofásico ascendente, frente à infeccião por App., favorecendo
inicialmente a inflamação e posteriormente, regulando o processo inflamatório.
Palavras-chave: Actinobacillus pleuropneumoniae; imunohistoquímica; IL-10;
Pleuropneumonia contagiosa porcina; TNF-α
ABSTRACT: In pigs infected with Actinobacillus pleuropneumoniae (App), induce
porcine contagious pleuropneumonia. This disease is characterized by up regulation of
various cytokines. This study evaluate the expression levels of TNF-α and IL-10, by
immunohistochemistry in lungs of pigs experimentally inoculated with an isolated
national of App. Our results indicate a progressive and parallel increase of total
immunoreactive cell count (MAPs and MIPs) for TNF-α and IL-10, at 6 hpi, a maximal
level at 48 and a decrease at 72 hpi. These results demonstrate that the expression of
cytokines, develops an monophasic profile against infection with App. stimulating
inflammation initially and thereafter regulating the inflammatory process.
Keywords: Actinobacillus pleuropneumoniae; immunochemistry; IL-10; Porcine
contagious pleuropneumonia; TNF-α
INTRODUÇÃO
A pleuropneumonia contagiosa porcina, é uma doença de distribuição mundial, que
produz importantes perdas econômicas na indústria porcina (Fittipaldi et al., 2003). É
causada pelo Actinobacillus pleuropneumoniae (App), bacteria Gram (-).A infecção, se
caracteriza por focos necróticos e fibrinosos nos lóbulos pulmonares; septos
interlobulares engrossados e edematosos (Gottschalk y Taylor, 2006).Sabe-se, que
posterior à infecção, produz-se um aumento da expressão de citocinas, TNF-α y IL- 10,
como conseqüencia das propriedades antigênicas (Baarsch et al., 1995). Para
determinar o comportamento das citocinas durante o tempo de doença, realizou-se
uma infecção experimental com uma cepa nacional de App. e posteriormente detectou-
se a expressão de citocinas a través de imunohistoquímicado tecido pulmonar.
MATERIAL E MÉTODOS
Quarenta porcos de 8 semanas de edade e livres de App. foram distribuídos em 2
grupos de 20 animais: controle (inoculado con meio estéril) e grupó infectado (cepa
nacional App. 418/07). Cinco porcos por grupo foram sacrificados às 6, 24, 48 y 72h
depois da inoculação e recolectaram-se amostras de tecido pulmonar, as quais foram
fixas em solução de Bouin. Realizaram-
foram realizadas as técnicas de imunohistoquímica (peroxidasa e imunofluorescência),
299
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 108, 2013

incubando com anticorpo anti IL-10 e anti TNF-α, e logo revelados utilizando anticorpos
secundários conjugados com HRP e fluoróforos. As células imunorreativa foram
cuantificadas e expressadas como número de células positivas (grupo/hora) (n = 5).
RESULTADOS
Os porcos do grupo infectado, apresentaram dano pulmonar a partir de las 6 horas
depois da inoculação (score = 1,0) e até o final da experiência (score = 4,4),
observando-se um nível máximo à 48 horas depois da inoculação (score = 11,2). No
grupo infectado, observaram-se lesões pulmonais a partir das 48 horas depois da
inoculação, tais como acumulação de PMNs y macrófagos, dilatação de vasos linfáticos
e lesões necróticas.
Imunorreatividade positiva para ambas citocinas, no grupo controle mostraram níveis
basais ao largo do estudo. No grupo dos animais infectados, observou-se um aumento
na imunorreatividade positiva dos macrófagos pulmonares para IL-10 e TNF-α, a partir
das 6 horas depois da inoculação. Respeito aos macrófagos alveolares pulmonares
(MAPs) TNF-α positivos, apresentaram um aumento progressivo desde as 6 horas
depois da inoculação com um máximo à 48h. A contagem de macrófagos pulmonares
intersticiais (MIPs), para TNF-α demonstrou-se um aumento, desde as 6 depois da
inoculação com um máximo à 48horas depois da inoculação. No caso de IL-10 foram
alcançado níveis máximos entre as 48 e as 72 horas depois da inoculação.
DISCUSSÃO
Os porcos inoculados, apresentaram lesões histopatológicas características da
pleuropneumonia contagiosa porcina e relacionadas com a secreção de citocinas
proinflamatórias como TNF-α e antiinflamatória como IL-10 (Sharma et al., 1992;
Muñoz, 2010). A contagem celular, demonstrou imunorreatividade positiva para ambas
citocinas, concordante com um modelo de doença respiratória aguda (Sharma et al.,
1992; Muñoz, 2010). Os resultados obtidos, permitirão estabelecer as bases para um
diagnóstico apropriado e oportuno da doença.
CONCLUSÕES
As lesões observadas foram características da Pleuropneumonia Contagiosa Porcina;
sem causar a norte. Porém, foram mais intensas no fim da experiencia, isso poderia ser
influenciado pelos mediadores da inflamação. A expressão de TNF-α e IL-10, mostra
um comportamento monofásico ascendente dentro das primeras 48 horas depois da
inoculação, favorecendo inicialmente a inflamación e posteriormente, regulando o
processo inflamatório.
Agradecimentos
FONDECYT N ° 1111045, Lab. de Histopatologia, Fac C. Vet. UdeC.
Notas informativas
Projeto aprovado de acordo com as resoluções CE-7-2010 e CER-16-2013 do CBE da
Fac C. Vet. UdeC. Chile.
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MUÑOZ, D. Situación actual de la pleuroneumonía contagiosa porcina en planteles de cerdos de la zona
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300
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 109, 2013

109. ESTUDO HISTOLÓGICO E IMUNO-HISTOQUÍMICO DE SEIS CASOS DE


MENINGIOMA CANINO
(Histological and immunohistochemical study of 6 cases of canine meningioma)

Rogério A. Marcasso, Jéssica R. Moreira, Larissa G. Valentim, Mônica V. Bahr Arias,


Ana Paula F.R.L. Bracarense

Laboratório de Patologia Animal, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva– UEL.

RESUMO: O objetivo desse estudo foi avaliar as diferentes apresentações histológicas


de meningiomas bem como seu painel imuno-histoquímico, em cães atendidos entre
2010 e 2012. Foram avaliadas informações de resenha, neurolocalização, classificação
histológica e caracterização imuno-histoquímica. A média de idade foi de 10 anos.
Cinco animais eram machos e uma fêmea. Os tumores localizaram-se principalmente
na medula torácica. Os tipos histológicos mais frequentes foram meningoteliais e
transicionais. Todos os meningiomas foram positivos para vimentina.
Palavras-chave: medula espinhal, neoplasias, tricrômico de Masson
ABSTRACT: The aim of the present study was to evaluate the different in histological
presentations of meningiomas and their immunohistochemical panel in dogs evaluated
between 2010 and 2012. It were evaluated the clinical data, localization, histological
classification and immunohistochemical characterization. Their mean age was 10 years.
Five animals were male and one female. Tumors were located primarily in the thoracic
spinal cord. The most frequent histological types were meningothelial and transitional.
All meningiomas were positive for vimentin.
Keywords: Masson‘s trichrome Staining, spinal cord, tumors
INTRODUÇÃO
Meningiomas são as neoplasias primárias do sistema nervoso central de maior
ocorrência em humanos e animais (Summers et al., 1995). Seu crescimento ocorre nas
leptomeninges e pode ocorrer infiltração do tecido nervoso central (Koestner e Higgins,
2002). Em cães o crescimento é mais frequente no cérebro como massa única
(Summers et al., 1995; Koestner e Higgins, 2002) e em gatos é comum o diagnóstico
de meningiomas múltiplos (Forterre et al., 2007). O comportamento biológico dos
meningiomas é geralmente benigno, exceto o tipo anaplásico (Louis et al., 2007). As
metástases são raras e acometem principalmente o pulmão em cães (Schulman et al.,
1992).
Os meningiomas de animais domésticos são classificados histologicamente em
meningotelial, fibroblástico, transicional (misto), psamomatoso, angiomatoso, papilar,
de células granulares, mixoide e anaplásico (Koestner et al., 1999). O objetivo desse
trabalho foi caracterizar por métodos histológicos, histoquímicos e imuno-histoquimicos
meningiomas de cães.
MATERIAL E MÉTODOS
Seis casos de meningiomas diagnosticados pelo Laboratório de Patologia Animal-UEL
entre os anos de 2010 a 2012 foram selecionados. Em todos os casos foi avaliada a
raça, o sexo, a idade e a localização.
O diagnóstico foi realizado a partir da histologia do material obtido por biópsia
excisional ou necropsia. Os fragmentos foram fixados em solução de formalina a 10%,
processadas rotineiramente e os cortes de 5 μm de espessura corados pelo método de
hematoxilina-eosina (HE) e tricrômico de Masson (TM).
O método imuno-histoquímico (IHQ) foi realizado de acordo com protocolo padrão
utilizando os seguintes anticorpos primários: anti-pancitoqueratina (PCK); anti-proteína
S100 (S100); anti-proteína glial ácida fibrilar (GFAP), anti-fator VIII antígeno
relacionado (FVIII); anti-vimentina (clone V9), diluídos a 1:100.

301
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 109, 2013

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos cães avaliados, cinco animais eram machos e uma fêmea. Estudos anteriores
apresentam resultados contraditórios, com relatos de prevalência maior em machos
(Fingeroth et al., 1987) e em fêmeas (Montoliu et al., 2006). A idade dos cães variou de
8 a 13 anos, com média de 10 anos, sendo semelhante à relatada na literatura. As
raças acometidas estão descritas na Tabela 1. Boxer e poodle estão entre as raças
mais acometidas por meningiomas (Patnaik et al., 1986).
Neste trabalho, a localização espinhal foi a mais frequente (5/6), divergindo da literatura
em que o acometimento cerebral é o mais comum (Summers et al., 1995). Esse maior
número de meningiomas espinhais pode ser decorrente da maior facilidade em
localizá-los com os meios diagnósticos disponíveis nesta instituição, como a radiografia
e a mielografia. Já a ressonância magnética e a tomografia são os métodos de
diagnóstico indicados para neoplasias intracranianas.
Microscopicamente, quatro tipos de meningiomas foram diagnosticados. Os
meningoteliais (2/6) caracterizaram-se por ninhos de células poligonais com núcleo
redondo a ovalado, com moderada quantidade de material eosinofílico citoplasmático.
Os nucléolos eram predominantemente únicos e o índice mitótico baixo. Os
transicionais (2/6) caracterizaram-se por células fusiformes organizadas em pacotes e
células epitelioides espiraladas. O tipo angiomatoso (1/6) caracterizou-se por pacotes
de células epitelioides densamente celulares, cercado por espaços vasculares finos e
com numerosas hemorragias. O tipo anaplásico (1/6) apresentou células epitelioides
com atipia evidente e pleomorfismo nuclear acentuado, nucléolos únicos e múltiplos,
maior índice mitótico (9 mitoses/10 campos) e padrão infiltrativo. Todos os casos
apresentaram áreas multifocais de necrose. Observaram-se, em um caso do tipo
meningotelial, áreas de metaplasia óssea e cartilgionosa que podem estar presentes
em qualquer tipo histológico (Koestner e Higgins, 2002).
Os meningiomas apresentam forte coloração para colágeno e reticulina (Koestner e
Higgins, 2002) que podem ser visualizados pela coloração TM. Em quatro casos
observou-se no TM intensa marcação entre as células neoplásicas, principalmente
próximas às células fusiformes.
A expressão das diferentes proteínas na análise IHQ está representada na Tabela 1. A
marcação de vimentina apresentou positividade celular acima de 90% (Montoliu et al.,
2006). A marcação anti-S100 foi de intensidade variável e sempre menos intensa que a
vimentina. Os tipos transicionais foram GFAP negativo e nos demais casos (4/6), houve
marcação variável, o que difere da literatura que refere positividade apenas nos
fibroblásticos (Montoliu et al., 2006). O tipo anaplásico apresentou marcação fraca anti-
PCK (menos de 30% das células marcadas).
CONCLUSÃO
Observou-se que houve maior frequência de cães machos acometidos por
meningiomas espinhais. A positividade na IHQ anti-vimentina e anti-S100 fortalecem o
diagnóstico. A positividade no TM pode ser uma maneira mais acessível e de fácil
realização quando a IHQ não estiver disponível.

302
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 109, 2013

REFERÊNCIAS
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FORTERRE, F.; TOMEK, A.; KONAR, M.; et al. Multiple meningiomas: Clinical, radiological, surgical, and
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SCHULMAN, F.Y.; RIBAS, J.L.; CARPENTER, J.L., et al. Intracranial meningioma with pulmonary
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SUMMERS, B.A.; CUMMINGS, J.E.; de LAHUNTA, A. Tumors of the Central Nervous System. In __.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 110, 2013

110. HERPESVÍRUS BOVINO 5 NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL: ASPECTOS


MORFOLÓGICOS E IMUNO-HISTOQUÍMICOS
(bovine herpesvirus 5 in central nervous system: morphologic and
immunohistochemestry aspects)

Alfredo Hajime Tanaka Pereira¹, Rodrigo Azambuja Machado de Oliveira², Raquel


Beneton Ferioli³, Júlio Augusto Naylor Lisboa4, Giovana Wingeter Di Santis5

1Graduando do curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Brasil.


2Pós-graduando no Departamento de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina (UEL),
3Profa do setor de Patologia Veterinária (FAEF), Pós-graduanda no Dpto de Clínica Vet (UNESP),
4Professor do Departamento de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina (UEL),
5Professora do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (UEL).

RESUMO: A infecção do sistema nervoso pelo herpesvírus bovino tipo 5 (BoHV-5)


caracterizase por meningoencefalite não supurativa, associada geralmente à necrose e
acúmulo de células Gitter em bovinos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a
imunomarcação para o anticorpo anti-BoHV-5 no tecido nervoso de 14 bovinos que
morreram em decorrência de meningoencefalite não supurativa. Para isso foram
avaliadas a histopatologia e a imunomarcação, e estas foram relacionadas aos
resultados da PCR. Dos casos avaliados 37,5% foram positivos na IHQ e 57,1% na
PCR. Os resultados demonstram a eficácia da utilização da IHQ concomitantemente à
histopatologia e a necessidade da utilização de vários métodos para o diagnóstico final
da infecção por BoHV-5. Este é o primeiro trabalho do gênero com amostragem de
bovinos oriundos exclusivamente do estado do Paraná.
Palavras-chave: BoHV-5; imuno-histoquímica; meningoencefalite
ABSTRACT:The nervous system infection by bovine herpesvirus type 5 (BoHV-5) is
characterized by nonsuppurative meningoencephalitis, usually associated with necrosis
and accumulation of Gitter cells, in cattle. The aim of this study was to evaluate the
immunostaining for anti-BoHV-5 in nervous tissue from 14 cattle that died from
nonsuppurative meningoencephalitis. For that were evaluated histopathologically and
immunostaining, and these were related to the results of PCR. From the cases
evaluated 37,5% were positive in IHC and 57.1% in PCR. The results demonstrate the
effectiveness of using histology and IHC concomitantly with the need of using various
methods for the final diagnosis of infection by BoHV-5. This is the first study of its kind
with samples of cattle exclusively from the state of Paraná.
Key words: BoHV-5; immunohistochemistry; meningoencephalitis
INTRODUÇÃO
A meningoencefalite por herpesvírus bovino tipo 5 é uma doença de alta letalidade e
um diagnóstico diferencial importante para os distúrbios neurológicos em rebanhos
brasileiros. Caracteriza-se por meningoencefalite não supurativa associada à necrose e
acúmulo de células Gitter, podendo haver corpúsculos de inclusão viral intranucleares
em astrócitos e neurônios. O diagnóstico definitivo pode ser feito pela imunomarcação
de epítopos virais em amostras rotineiramente fixadas em formol e embebidas em
parafina. O diagnóstico final deve ser baseado na clínica, epidemiologia, achados
macro e microscópicos a técnicas auxiliares como a imuno-histoquímica e a PCR. O
objetivo deste trabalho foi avaliar a imunomarcação para o anticorpo anti-BoHV-5 no
tecido nervoso de bovinos que morreram em decorrência de meningoencefalite não
supurativa.
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi realizado nos Laboratórios de Anatomia Patológica Veterinária e de
Virologia Veterinária da Universidade Estadual de Londrina (UEL), PR, e no Laboratório
de imuno-histoquímica do Serviço de Patologia Veterinária da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, UNESP, Botucatu, SP. O material foi coletado do SNC de 14
304
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 110, 2013

bovinos encaminhados para necropsia com histórico clínico de encefalopatia e quadro


histopatológico de meningoencefalite não supurativa associada ou não à necrose do
sistema nervoso central. Coletaram-se amostras de córtex frontal, temporal, tálamo e
colículo caudal. O processamento histológico seguiu os procedimentos de rotina do
Laboratório de Anatomia Patológica Veterinária da UEL, e as lâminas foram
categorizadas e avaliadas quanto à localização e intensidade das lesões. A imuno-
histoquímica (IHQ) e a reação em cadeia da polimerase (PCR) foram realizadas de
acordo com Cagnini (2011).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quanto à imuno-histoquímica, dos quatorze casos avaliados cinco demonstraram
marcação positiva, ou seja, 35,7% (5/14), destes, dois apresentaram marcação em
todos os cortes, um apresentou marcação em três cortes, e os outros
dois apresentaram marcação em dois cortes. Em todos os casos em que houve
marcação, esta se apresentou no citoplasma e de aspecto granular. Quanto às células
marcadas, houve predomínio de neurônios em todos os casos, havendo marcação
esparsa de células da glia. Dos cinco casos positivos, três apresentaram necrose
cortical laminar com marcação dos neurônios seguindo este padrão. Quanto a PCR,
oito casos foram positivos, ou seja, 57,1% (8/14), e os outros seis foram negativos.
Todos os casos positivos na imunomarcação (5/14) foram também positivos na PCR.
Seis casos foram negativos tanto na IHQ quanto na PCR, destes um foi positivo na
PCR para listeriose, outro para febre catarral maligna e outro foi positivo para
herpesvírus bovino tipo 1 (BoHV-1), dos três restantes um apresentou intoxicação por
carbamato, e os outros dois não foram conclusivos.\Nos casos com imunomarcação
para BoHV-5 as amostras de córtex frontal foram todas positivas, o que sugere que
esta área do encéfalo deva ser sempre amostrada para a aplicação da técnica de IHQ,
assim como córtex temporal e tálamo, que tiveram marcação em quatro casos dos
cinco positivos, o que é compatível com a literatura (Meyer et al., 2001; Cagnini, 2011).
A principal teoria quanto à patogenia do BoHV-5 implica na sua disseminação para o
sistema nervoso via nervo olfatório (Barros et al. 2006), assim, espera-se que a região
frontal seja um alvo frequente de lesões, como observado neste estudo, entretanto
outras regiões também apresentaram lesões histopatológicas e imunomarcação, ao
mesmo tempo que em alguns casos não houve detecção da infecção viral pela IHQ,
mas sim pela PCR, sugerindo a utilização de uma maior amostragem. Como esperado,
a imunomarcação mostrouse altamente específica, já que o clone utilizado (AcM 2F9)
foi desenvolvido para a detecção de glicoproteínas exclusivas do BoHV-5 (Hübner et
al., 2005), fato este corroborado pela negatividade de imunomarcação no caso 14, que
na PCR foi positivo para BoHV-1 e negativo para BoHV-5. Com todo o apoio
multidisciplinar e multilaboratorial foi possível aumentar as chances de diagnosticar
uma infecção por BoHV-5, pois o diagnóstico histopatológico, quando comparado à
PCR, atingiu cerca de 60% de assertividade. Deve-se observar ainda que o diagnóstico
histopatológico somente confirma a infecção por BoHV-5 quando há corpúsculos de
inclusão intranuclear em astrócitos ou neurônios (Barros et al., 2006), fato não
observado em nosso estudo. A IHQ teve uma compatibilidade de 62,5% com a PCR,
entretanto, apesar de menos sensível, foi específica e pode ser utilizada em amostras
parafinizadas provenientes da rotina laboratorial, tornando esta técnica acessível
mesmo em material arquivado. Apesar de todo o apoio laboratorial com que contou
este estudo, dois casos (14,2%) continuaram inconclusivos, demonstrando a
dificuldade em se diagnosticar com precisão doenças neurológicas em bovinos. Este é
o primeiro trabalho do gênero com amostragem de bovinos oriundos exclusivamente do
estado do Paraná.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 110, 2013

CONCLUSÕES
A imuno-histoquímica mostrou-se específica para diagnosticar a infecção pelo BoHV-5,
possibilitando seu uso em amostras embebidas em parafina, entretanto sugere-se que
seja realizada em uma amostragem maior do que a apresentada neste trabalho.
Agradecimentos
À professora Renée Laufer Amorim (UNESP – Botucatu) pela disponibilidade do
laboratório de imuno-histoquímica; ao professor Rudi Weiblen (UFSM) pela cessão dos
anticorpos; a todos que colaboraram e contribuíram para a realização deste trabalho e
ao CNPq por financiá-lo.
REFERÊNCIAS
BARROS, C.S.L. et al. Coleção Vallée: Doenças do sistema nervoso de bovinos no Brasil. São
Paulo: AGNS, 2006.
CAGNINI, D.Q. et. al. Avaliação histopatológica, imuno-histoquímica e detecção molecular do DNA
viral no sistema nervoso central de bovinos inoculados experimentalmente com o herpesvirus
bovino 5. 2011. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade
Estadual Paulista, Botucatu, 2011.
HÜBNER, S.O.; PESCADOR, C.; CORBELLINI, L.G. et al. Otimização da imunohistoquímica para
detecção de herpesvírus bovino tipo 5 (BHV-5) em tecidos do sistema nervoso central fixados com
formaldeído. Arquivo Brasileiro de Mededicina Veteterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.57, p.1-6,
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MEYER, G.; LEMAIRE, M.; ROS, C. et al. Comparative pathogenesis of acute and latent infections of
calves with bovine herpesvirus types 1 and 5. Archives of Virology, Austria, v.146, p.633-652, 2001.

306
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 111, 2013

111. IMUNO-HISTOQUÍMICA DE TECIDOS FORA DO SISTEMA NERVOSO


CENTRAL NA RAIVA BOVINA
(Immunohistochemistry of tissues outside central nervous system in bovine
rabies)

Camila C. Abreu¹; Priscilla A. Nakayama²; Paula C. Borges²; Matheus O. Reis²;


Flademir Wouters³; Pedro S. Bezerra Jr4

1 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias(UFLA)


2 Aluno(a) de Graduação do Curso de Medicina Veterinária, UFLA, Lavras-MG.
3 Prof Dr. Curso de Medicina Veterinária, Setor de Patologia Veterinária, UFLA, Lavras-MG.
4 Prof Dr. Curso de Med. Vet., Universidade Federal do Pará. p.s.bezerra.junior@gmail.com

RESUMO: Foi realizado estudo imuno-histoquímico de tecidos fora do sistema nervoso


central, em 48 casos de raiva bovina. A IHQ foi positiva em 92,31% dos gânglios
espinhais lombares, 90,9% dos gânglios trigêmeos, 41,67% dos gânglios estrelados e
16,67% dos gânglios celíacos. Uma das adrenais avaliadas (1/17) apresentou
marcação IHQ positiva em feocromócitos. A IHQ da hipófise foi positiva em um caso na
neuro-hipófise (1/20) e em um caso na pars intermedia da adenohipófise (1/20). Os
dados do presente estudo indicam que em casos suspeitos de raiva, a avaliação de
outros gânglios, particularmente o espinhal lombar, pode também contribuir para o
diagnóstico e entendimento da apresentação clínica e patogênese da doença nos
bovinos.
Palavras-chave: adrenais; bovinos; gânglios; hipófise; vírus rábico
ABSTRACT: It was performed immunohistochemical of tissues outside the central
nervous system in 48 cases of bovine rabies. Immunohistochemistry was positive in
92.31% of lumbar spinal ganglia, 90.9% of trigeminal ganglia, stellate ganglia of 41.67%
and 16.67% of the celiac ganglia. One of the adrenal evaluated (1/17) showed positive
immunohistochemical markers in pheochromocytes. The pituitary IHC was positive in
one case in the neurohypophysis (1/20) and in one case in the pars intermedia of the
adenohypophysis (1/20). Data from this study indicate that in suspected cases of rabies,
the evaluation of other ganglia, particularly the lumbar spinal, may also contribute to the
diagnosis and understanding of the pathogenesis and clinical presentation of the
disease in cattle.
Key words: adrenals; cattle; ganglia; pituitary; rabies virus
INTRODUÇÃO
A raiva é uma zoonose de distribuição mundial, causada por um vírus do gênero
Lyssavirus, de caráter neurotrópico, que afeta os mamíferos em geral (Jackson, 2008).
Em animais estudos sobre a distribuição do antígeno rábico em tecidos periféricos são
escassos, sendo realizados principalmente nos principais vetores, como Vulpes vulpes
(raposas) e Mephitis mephitis (cangambás) (Balachandram and Charlton, 1994) e cães
(Ajayi et al., 2006). Antígenos do vírus são encontrados frequentemente nos gânglios
trigêmeos de bovinos por imuno-histoquímica (IHQ) (Pedroso et al., 2009). No entanto,
estudos de IHQ mais amplos relativos à dispersão periférica do vírus rábico em bovinos
não foram encontrados. Tais estudos em outras espécies têm contribuído para o
entendimento da patogenia e para o diagnóstico da raiva, o que ressalta a importância
do presente estudo nos bovinos.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado em tecidos de 48 casos de raiva bovina recebidos pelo Setor de
Patologia Veterinária (SPV) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), no período de
2000 a 2011, confirmados pela imunofluorescência direta (IFD) e/ou IHQ do SNC,
realizada pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e pelo referido setor,
respectivamente.

307
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 111, 2013

No total foram avaliados fragmentos do encéfalo de 48 bovinos, hipófise de 20, gânglio


trigêmeo de 33, gânglio espinhal lombar de 14, espinhal cervical de quatro, espinhal
torácico de dois, celíaco de 12 e estrelado de 12, adrenal de 17. Os tecidos foram
fixados em formalina a 10% tamponada com fosfatos e processados
convencionalmente para histopatologia. A IHQ foi realizada segundo protocolo
preestabelecido (Pedroso et al., 2008), com anticorpo primário na diluição de 1:100.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O gânglio trigêmeo foi coletado em 33 (68,75%) dos bovinos com raiva. Nos gânglios
trigêmeos a IHQ foi positiva em 90,9% dos casos. Os resultados nos gânglios
trigêmeos são semelhantes aos descritos na literatura que encontrou marcação IHQ
em 100% (Pedroso et al., 2009). A coleta do gânglio trigêmeo tem sido recomendada
em casos suspeitos de raiva bovina (Pedroso et al., 2009) e os dados dos casos aqui
apresentados corroboram esta indicação.
A IHQ foi realizada em 13 gânglios espinhais lombares, com marcação em 92,31%.
Apenas em um bovino que foi submetido à eutanásia, tendo desta forma o curso clínico
abreviado, não houve marcação na IHQ. Nos gânglios espinhais cervicais houve
marcação IHQ moderada em um caso (25%). Nos gânglios espinhais torácicos a IHQ
foi positiva em apenas um caso (50%) avaliado, sendo a marcação leve. Os gânglios
espinhais tiveram resultados semelhantes aos encontrados nos gânglios trigêmeos,
particularmente os da região lombar. Estes dados demonstram que a coleta dos
gânglios espinhais lombares pode contribuir para o diagnóstico da raiva bovina, da
mesma forma que se recomenda a coleta do gânglio trigêmeo para bovinos (Pedroso et
al., 2009).
A evolução clínica mais curta da doença nos bovinos (Pedroso et al. 2009) em relação
aos humanos (Jogai et al., 2002), talvez possa ser um fator que justifique a menor
quantidade de antígenos em tecidos fora do SNC. No presente estudo, em um bovino
submetido à eutanásia, a IHQ foi negativa mesmo em locais de marcação frequente
(gânglios trigêmeo e espinhal lombar), indicando que a evolução tenha sido um fator
importante. Porém, alguns estudos em humanos não encontraram correlação entre o
período de incubação e de evolução clínica com a migração centrífuga do vírus (Jogai
et al., 2002). Os gânglios estrelados e celíacos foram coletados de 12 bovinos (25% do
total). A IHQ foi positiva em 41,67% dos gânglios estrelados analisados. Nos
gânglios celíacos a IHQ foi positiva em dois gânglios (16,67%). A via de acesso do
vírus a estes gânglios necessita de maiores estudos.
Foram coletadas as adrenais de 17 (35,42%) dos bovinos avaliados com raiva. Uma
das adrenais avaliadas (5,88%) apresentou marcação IHQ fortemente positiva no
citoplasma de feocromócitos. Trabalhos com IHQ em humanos também descrevem o
antígeno rábico principalmente na medular da adrenal, com marcação adicional em
plexos nervosos da cápsula (Jogai et al., 2002; Tobiume et al., 2009).
O antígeno também tem sido detectado em feocromócitos e fibras nervosas da medular
da adrenal em Vulpes vulpes (raposas) e Mephitis mephitis (cangambás),
experimentalmente infectados pelo vírus rábico (Balachandram and Charlton, 1994).
Foi coletada a hipófise em 20 (41,67%) dos bovinos avaliados com raiva. Na neuro-
hipófise e na pars intermedia da adeno-hipófise a IHQ foi positiva em dois casos
diferentes, cada uma em um (5%). Em casos de raiva em humanos foi também descrita
marcação IHQ nos lobos anterior (pars distalis) e posterior (pars intermedia e pars
nervosa) na hipófise (Tobiume et al., 2009). Os dados da literatura associados ao do
presente estudo indicam a importância da observação também da hipófise em casos
suspeitos de raiva.
CONCLUSÃO
Os dados do presente estudo indicam que em bovinos com sinais neurológicos, além
da observação do complexo hipófise, rete mirabile e gânglio trigêmeo, a análise de
outros gânglios, particularmente os espinhais lombares, e da medular da adrenal pode
308
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 111, 2013

contribuir para o diagnóstico de raiva e entendimento dos sinais clínicos e da


patogênese da doença.
Agradecimento
FAPEMIG, CAPES e CNPq.
REFERÊNCIAS
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309
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 112, 2013

112. IMUNO-HISTOQUÍMICA PARA O DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE CANINA


(Immunohistochemistry for diagnosis of canine leishmaniasis)

Juliana Mariotti Guerra - jumariotti.vet@gmail.com (IAL), Lidia Midori Kimura (IAL), Hélid Raquel
Lautneschlaeger Rodrigues(IAL), Helena Hilomi Taniguchi (IAL), Roberto Mitsuyoshi Hiramoto (IAL),
José Eduardo Tolezano (IAL)

RESUMO: O aumento significativo no número de casos notificados da Leishmaniose


Visceral e a expansão geográfica da endemia têm motivado o desenvolvimento de
novas tecnologias disponíveis nos serviços de saúde para auxiliar no diagnóstico das
leishmanioses. O presente trabalhou comparou a histologia com coloração de
hematoxilina e eosina (HE) e a reação de imuno-histoquímica (IHQ) para detecção de
amastigotas de Leishmania spp. em fragmentos de pele, fígado, baço, linfonodo e rim
fixados em formalina e incluídos em parafina de 25 cães sorologicamente positivos
para enfermidade. A positividade foi de 76% para o HE e 84% para a IHQ, sendo essa
última uma técnica mais sensível para identificação do parasita. Os resultados
indicaram linfonodo e o fígado como os órgãos de escolha para o estudo IHQ e o baço
para o HE. As metodologias desenvolvidas nesse trabalho podem oferecer uma
contribuição adicional a outras metodologias disponíveis para o diagnóstico das
leishmanioses, sendo de fácil aplicação e uso no sistema público de saúde.
Palavras-chave: Leishmania, diagnóstico, saúde pública
ABSTRACT: The significant increase in the number of reported cases of visceral
leishmaniasisand geographic expansion of the disease have motivated the development
of newtechnologies in the health services available to assist in the diagnosis
ofleishmaniasis. This current study compared histology with hematoxylin and eosin(HE)
and the immunohistochemistry (IHC) method for detection of amastigotes ofLeishmania
spp. in skin, liver, spleen, lymph node and kidney fragments fixed informalin and
embedded in paraffin for 25 dogs serologically positive for disease. Thepositivity was
76% for HE and 84% for IHC, the latter being a more sensitivetechnique for the
identification of the parasite. The lymph node and liver were theorgans of choice for IHC
and spleen for HE. The methodologies developed in thisstudy provide an additional
contribution to other available methods for the diagnosisof leishmaniasis, practical use
for the public health system.Key words: Leishmania, diagnosis, public health.
INTRODUÇÃO
A leishmaniose visceral americana (LVA) é uma antropozoonose de grandeimportância
para a saúde pública mundial. Atualmente, no Brasil, essa enfermidade apresenta
caráter endêmico-epidêmico, com média anual de 3 mil a 4 mil casos novos,
distribuídos desde Roraima até o Paraná (Laurenti, 2009). Considerada uma doença
predominantemente rural, nas últimas décadas a LVA vem sofrendo um processo de
urbanização, sendo o cão doméstico considerado o principal reservatório da infecção
para o homem nesse cenário (Vieira e Coelho, 1988; Costardi, 2009). Com o intuito de
aprimorar o entendimento sobre as técnicas de diagnóstico para a leishmaniose canina
devido ao crescente aumento do número de casos no Estado de São Paulo, esse
trabalho objetiva comparar a detecção direta do parasita através do exame
histopatológico convencional corado por hematoxilina e eosina com a técnica de imuno-
histoquímica.
MATERIAL E MÉTODOS
Vinte e cinco cães oriundos de duas regiões distintas do Estado de São
Paulo, sendo treze advindos do município de Bauru e doze do município de Espírito
Santo do Pinhal, sorologicamente positivos para leishmaniose visceral através do teste
rápido DPP® - BioManguinhos e do ELISA (Enzyme Linked Immunossorbent Assay),
com e sem sinais clínicos, foram eutanasiados de acordo com as recomendações do
Programa de Monitoramento e Controle da Leishmaniose Visceral Americana no
período de janeiro de 2012 a outubro de 2012. Fragmentos de pele, baço, fígado,
310
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 112, 2013

linfonodo e rim foram coletados em formalina a 10% tamponada com sais de fosfato e
submetidos a processamento histológico e inclusão em parafina. Após a microtomia, as
amostras foram coradas pela técnica de hematoxilina e eosina. Os mesmos fragmentos
foram submetidos a reação de imuno-histoquímica com recuperação antigênica por
calor úmido sob pressão em tampão citrato pH 6,0 por 3 minutos. A atividade da
peroxidase endógena foi bloqueada com solução de H2O2 (20 min/temperatura
ambiente). As lâminas foram incubadas com anticorpo policlonal anti-Leishmania
produzido em hamster no laboratório de investigações médicas (LIM-50 / FMUSP)
overnight a 4°C, lavadas com PBS pH 7,6 e depois incubadas com polímero de terceira
geração marcada com anticorpos secundários e enzima peroxidase (Life Technology®)
por 30 min, a
37°C. A revelação foi realizada com cromógeno (DAB) e contra-coloração com
hematoxilina.
RESULTADOS
Os resultados expressos em porcentagem de casos são expostos na tabela 1.
Dos 25 casos, 76% (19/25) e 84% (21/25) evidenciaram a presença do parasita em
pelo menos um órgão pelo exame histopatológico e pela reação de
imunohistoquímica,respectivamente. Dos órgãos analisados, o baço revelou a maior
positividade de identificação do parasita, 52% (13/25) dos casos, através da coloração
de hematoxilina e eosina, enquanto o fígado e o linfonodo apresentam ambos 83,33%
de positividade pela reação de imuno-histoquímica. O rim foi o órgão que apresentou
menor detecção do parasita para ambas as técnicas. Já na pele, obteve-se a maior
diferença de detecção entre os dois exames.

DISCUSSÃO
Tanto o exame histopatológico convencional com coloração de hematoxilina e
eosina quanto a imuno-histoquímica revelaram a presença de estruturas compatíveis
com amastigotas do gênero Leishmania spp. nos mais diferentes tecidos fixados em
formalina e incluídos em parafina, em cães sorologicamente positivos. A identificação
de amastigotas em seções coradas com HE apresenta baixa sensibilidade,
especialmente nos rins, pulmões, sistema nervoso central e testículos (Ferrari et al.,
2010). Em nosso estudo, dos cinco órgãos analisados, o rim foi o que revelou menor
porcentagem de casos positivos.
Segundo Costardi 2009, 85% dos animais sorologicamente positivos, com esem
sintomatologia clínica, analisados pelo exame de IHQ apresentaram positividade para o
parasita. Resultados muito semelhantes aos nossos. Nesse mesmo trabalho, o
linfonodo foi escolhido como o órgão de eleição para realização do exame. O linfonodo
e o fígado exibiram a mesma positividade de casos para IHQ, enquanto o baço foi o
órgão com melhores resultados pelo HE.
CONCLUSÃO
A técnica de imuno-histoquímica é mais sensível para a detecção de amastigotas do
gênero Leishmania spp. em tecidos fixados em formalina e incluídos em parafina. Os
resultados indicaram linfonodo e o fígado como órgãos de eleição para o diagnóstico
de leishmaniose visceral canina por esse método.
311
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 112, 2013

Agradecimentos
À Profa. Vânia L. R. da Matta (Depto. Patologia – FMUSP); aos participantes da Sub
Rede Estadual de Laboratórios para Diagnóstico e Pesquisa das Leishmanioses no
Estado de São Paulo do Instituto Adolfo Lutz; equipe dos Centros de Controle de
Zoonoses de Bauru e Espírito Santo do Pinhal.
REFERÊNCIAS
LAURENTI M.D. Correlação entre o diagnóstico parasitológico e sorológico na leishmaniose
visceral americana canina. Boletim Epidemiológico Paulista 2009; 6(67).
VIEIRA J.B.F., COELHO G.E. Leishmaniose visceral ou calazar: aspectos epidemiológicos e
de controle. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 1988;31(II):85-92.
COSTARDI M.L. Imunohistoquímica para cães positivos para leishmaniose visceral.
Dissertação apresentada para obtenção do título de mestrado em Ciência Animal.
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 2009.
FERRARI H.F, CARREIRA V.S., MOREIRA M.A.B., et al. Morphological,immunohistochemical and
molecular study of renal lesions in canine visceral leishmaniasis (CVL). Veterinária e Zootecnia. 2010
mar.; 17(1):123-131.

312
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 113, 2013

113. IMUNOMARACAÇÃO DE p53 NA PRÓSTATA CANINA COM LESÕES


PROLIFERATIVAS
(Immunostaining of p53 in canine prostate with proliferative lesions)

Faleiro, Mariana Batista Rodrigues¹, Silva, Danilo Rezende¹, Rocha, Rafael


Malagoli², Toledo, Denise Caroline¹, Matos, Moema Pacheco Chediak³,
Moura, Veridiana Maria Brianezi Dignani³

1 Pós-graduando em Ciência Animal, setor de patologia da Escola de Veterinária e Zootecnia,


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, marianafavet@hotmail.com
2 Prof, Dr do Depto de oncologia, anatomia patológica, Hospital A.C. Camargo, São Paulo, SP
3 Prof Adjunto III, Setor de Patologia Animal, Depto de Med Vet, Escola de Veterinária e Zootecnia,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás

RESUMO: A expressão da proteína p53 é associada a diversos processos neoplásicos.


Este estudo teve por objetivo avaliar a expressão da p53 na próstata canina com
lesões proliferativas, displasias e neoplasias. Foram analisadas em um microarranjo de
tecido 133 próstatas, sendo 18 (13,53%) próstatas normais, 18 (13,53%) com HPB, 37
(27,82%) com PIA, 21 (15,79%) com PIN e 39 (29,32%) com carcinoma. Houve
diferença na imunomarcação de p53 entre próstatas com carcinoma e aquelas normais
e com PIA e HPB, e entre as com PIA e normais e com HPB e PIN. Maior expressão foi
constatada em próstatas caninas com PIA, PIN e carcinoma.
Palavras-chave: cão; microarranjo tecidual; PIA; PIN; carcinoma prostático
ABSTRACT: The expression of p53 protein is associated with several neoplastic
processes. Thus, this study aimed to evaluate the expression of p53 in canine prostate
with proliferative lesions, dysplasic and neoplasic. Were analyzed in a tissue microarray
133 dog`s prostate, 18 (13.53%) normal, 18 (13.53%) HPB, 37 (27.82%) PIA, 21
(15.79%) PIN and 39 (29.32%) carcinoma. Was difference in immunohistochemical
staining of p53 between prostate with carcinoma and normal, PIA and HPB, and
between PIA and normal, HPB and PIN. Higher expression was observed in canine
prostates with PIA, PIN and carcinoma.
Keywords: dog; PIA; PIN; prostatic carcinoma; tissue microarray
INTRODUÇÃO
A proteína p53 é considerada a ―guardiã‖ do genoma, já que o ciclo celular prossegue
sob a vigilância passiva desta proteína em níveis baixos. Quando ocorre falha na
transcrição do DNA, a p53 atua de forma a interromper o ciclo na fase S para que
ocorra o reparo e a continuidade do ciclo ou a destruição da célula danificada, por
acionamento dos eventos apoptóticos (Fett-Conte e Salles, 2002).
Em células normais, a p53, chamada tipo selvagem, possui meia vida curta e não é
detectada nos tecidos. Mutações ou deleções no gene TP53 podem levar à produção
alterada da proteína, que, ao deixar de desempenhar sua função, acumula no núcleo e
pode ser detectada por imunoistoquímica (Schmitt, 1999). A frequência de mutações do
gene p53 em humanos varia entre 1% e 79% (Chi et al., 1994), sendo que a detecção
imunoistoquímica da proteína ocorre tanto no epitélio prostático normal quanto
neoplásico (Fernandez e Thomson, 2005). Em cães, a expressão positiva da p53 foi
relatada apenas por Croce et al. (2011). Assim, este estudo teve por objetivo avaliar a
expressão da p53 na próstata canina com lesões proliferativas, incluindo as
hiperplasias, displasias e neoplasias.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram estudadas 133 próstatas de cães adultos, não castrados, com ou sem histórico
de doença prostática, submetidos a exame necroscópico na Escola de Veterinária e
Zootecnia da UFG, Goiânia, GO. As glândulas foram fixadas, e processadas segundo
protocolo do referido laboratório, avaliadas e separadas em próstatas normais, com
hiperplasia prostática benigna cística e papilífera (HPB), neoplasia intraepitelial
313
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 113, 2013

prostática (PIN), atrofia inflamatória proliferativa (PIA) e carcinoma prostático (CP). A


partir destas lesões confeccionou-se um bloco de microarranjo tecidual (TMA) e
lâminas silanizadas com cortes de 3μm.
A reação de imunoistoquímica foi realizada em uma lâmina de TMA com o anticorpo
monoclonal mouse anti-human p53, clone DO-7 (Dako M 7001), na diluição de 1:300 e
recuperação antigênica com tampão citrato 10 mM pH 6.0, em panela de pressão, por
três minutos. Como controles positivo e negativo das reações foram utilizados
carcinoma de mama humana e tampão PBS 10mM pH7,4, respectivamente. Para as
análises estatísticas foram utilizados dados descritivos e o teste de Tukey-Kramer para
a comparação da imunomarcação do anticorpo p53 entre os diagnósticos, sendo
considerado efeito significativo quando p<0,05.
RESULTADOS
Dos 133 próstatas, 18 (13,53%) eram normais, 18 (13,53%) tinham HPB, 37 (27,82%)
PIA, 21 (15,79%) PIN e 39 (29,32%) carcinoma. Das glândulas com PIA, 17 (45,95%)
eram de intensidade discreta (PIA-D), 15 (40,54%) moderada (PIA-M) e cinco (13,51%)
acentuada (PIA-A). Já daquelas com HPB, seis (33,33%) eram do tipo cística e 12
(66,67%) papilífera. À imunoistoquímica houve imunomarcação nuclear para o
anticorpo anti-p53 e o percentual de marcação variou de acordo com o diagnóstico.
Houve diferença no percentual de marcação de p53 entre próstatas caninas com
carcinoma e aquelas normais e com PIA e HPB, e entre as com PIA e normais e com
HPB e PIN (p<0,05) (Figura 1).

DISCUSSÃO
Na próstata canina a expressão da p53 foi relatada por Croce et al. (2011) tanto no
tecido prostático normal quanto no carcinoma, bem como nas lesões proliferativas e
atípicas da próstata canina. Já neste estudo a expressão da p53 foi verificada em
próstatas caninas com carcinoma, PIN e PIA, não sendo observadas naquelas normais
e com HPB. Segundo Stricker et al. (1996), e Tsujimoto et al. (2002), em humanos com
CP e PIN, quanto maior a expressão da p53 maior probabilidade de progressão da
doença devido a índices proliferativos mais elevados e a um fenótipo mais agressivo.
Da mesma forma, é possível que os casos de CP e PIN deste estudo em que houve
acentuada marcação para p53 pudessem apresentar comportamento mais agressivo
em relação àqueles em que não houve marcação, já que também apresentaram
acentuada atipia morfológica. Entretanto, a maioria dos CP não apresentou marcação
expressiva da p53, o que pode representar fator favorável no desenvolvimento do
câncer prostático em cães e explicar os poucos casos de CP que evoluem de forma
mais agressiva no cão. Ainda, de acordo com Stricker et al. (1996), nos casos de CP
humano em que a expressão da p53 foi pouco expressiva, o câncer não progredia.
Quando comparada a expressão da p53 nos casos de CP e PIN não houve diferença,
com expressão acentuada em ambas as alterações, o que estreita a relação entre as
lesões e reforça o potencial maligno da PIN e corrobora os descritos de Tsujimoto et
al., (2002). Wang et al. (2009) afirmaram que a p53 mutante é frequentemente
encontrada em tecidos com inflamação crônica, como gastrites e colites. Tsujimoto et
al. (2002) também detectaram p53 na atrofia inflamatória pós-atrófica da próstata em
humanos, semelhante ao que ocorreu com a PIA neste estudo. Destaque-se que neste
estudo os focos de PIA apresentaram maior expressão de p53 em relação aos de PIN
314
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 113, 2013

e CP, semelhante ao descrito por Croce et al. (2011), provavelmente em decorrência


do microambiente inflamatório, que se comporta como fator importante na promoção da
alteração da p53.
CONCLUSÃO
Há maior expressão de p53 em próstatas caninas com PIA, PIN e carcinoma.
REFERÊNCIAS
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Immunologica Scandinavica, v.117, n.3, p.185- 195, 2009.

315
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 114, 2013

114. IMUNORREATIVIDADE E RELAÇÃO ENTRE AS PROTEÍNAS C-MYC E P53


NOS DIFERENTES PADRÕES CITOMORFOLÓGICOS DO TUMOR VENÉREO
TRANSMISSÍVEL CANINO
(Immunoreactivity and relationship of C-MYC and p53 proteins in different
cytomorphological patterns of canine transmissible venereal tumor)

Caroline Rocha de Oliveira Lima¹, Mariana Batista Rodrigues Faleiro², Panmera


Almeida Helrigel³, Kyanne Santos Silva³, Thiago Henrique Pereira Rabelo³, Veridiana
Maria Brianezi Dignani de Moura4

1. Médica Veterinária, Doutora em Ciência Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia (UFG), Goiânia,
GO, Fiscal Estadual Agropecuário, Jataí, GO. carolrochavet@hotmail.com
2. Médica Veterinária, Doutoranda em Ciência Animal, EVZ, UFG, Goiânia, GO,
3. Acadêmicas do curso de Medicina Veterinária, UFG, Campus Jataí, Jataí, GO, Brasil,
4. Professor Adjunto III, Setor de Patologia Animal, Depto de Med Vet, EVZ, UFG,Goiânia, GO

RESUMO: Neste estudo objetivou-se avaliar a expressão imunoistoquímica e a relação


entre as proteínas C-MYC e p53 em amostras de tumor venéreo transmissível canino
(TVT). Verificou-se superexpressão dessas proteínas no tecido tumoral e correlação
positiva as mesmas em todas as amostras de TVT, independente do padrão
morfológico predominante. Concluiu-se que a superexpressão tecidual e a correlação
entre as proteínas C-MYC e p53 indicam redução e/ou perda de funcionalidade das
mesmas no microambiente do TVT, independente do padrão citomorfológico, com
consequente supressão apoptótica e provável manutenção do crescimento celular e
progressão da neoplasia.
Palavras-chave: apoptose; cães; ciclo celular; imunistoquímica; TVT
ABSTRACT: This study aimed to evaluate the immunohistochemical expression and
relationship of C-MYC and p53 proteins in samples of canine transmissible venereal
tumour (TVT). There were overexpression of those proteins on neoplastic tissue and
positive correlation between both of them in all the TVT samples, regardless of the
morphology predominates. In conclusion, those overexpression tissue and correlation
between C-MYC and p53 proteins in all cytomorphological patterns indicate reduction
and/or loss of functionality regarding those proteins in the TVT microenvironment with
consequent apoptotic suppression and probable maintenance of the cell growth and
tumour progression.
Key words: apoptosis; dogs; cell cycle; immunohistochemistry; TVT
INTRODUÇÃO
O tumor venéreo transmissível (TVT) é classificado como neoplasia de células
redondas (Amaral et al., 2012) e, apesar das características peculiares, diferenças
morfológicas permitem classificar a neoplasia quanto ao padrão celular em linfocitoide,
plasmocitoide ou misto (Floréz et al., 2012). Os conjuntos gene/proteína C-MYC e p53
atuam em diferentes vias moleculares, promovendo a regulação do ciclo celular e o
controle da proliferação desordenada. Em termos funcionais, o gene C-MYC ativa
indiretamente o gene supressor tumoral P53, que é responsável por desencadear o
processo de apoptose (Pelengaris et al., 2002). Dessa forma, polimorfismos e
mutações nos conjuntos gene/proteína C-MYC e p53 culminam com perda de
homozigose, instabilidade genômica e condução à malignidade (Sánchez-Servín et al.,
2009). Diante dessas observações, este estudo teve por objetivo avaliar a expressão
tecidual e a relação entre as proteínas C-MYC e p53 nos diferentes tipos
citomorfológicos do TVT.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram obtidos por meio de biopsia dois fragmentos de TVT de 20 cães portadores da
neoplasia em sua forma genital e não submetidos a tratamento quimioterápico prévio.
O primeiro fragmento destinou-se a confirmação do diagnóstico e a classificação
316
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 114, 2013

citomorfológica do TVT por meio de exame citopatológico, segundo critérios


estabelecidos por Floréz et al. (2012). O segundo fragmento foi utilizado para a
avaliação histopatológica, incluindo a determinação do índice apoptótico, bem como
para a verificação da expressão imunoistoquímica das proteínas C-MYC e p53, que foi
realizada em lâminas de microarranjo tecidual (TMA) (Bubendorf et al., 2001). Os
fragmentos foram processados, incluídos em parafina e avaliados à coloração de HE,
sendo determinado o índice apoptótico segundo os escores discreto, moderado ou
acentuado (Gonzalez et al., 2000). Ainda à avaliação histopatológica procedeu-se a
escolha da área tumoral de cada amostra de TVT destinada a confecção do bloco de
TMA, de onde foram obtidas as lâminas para o estudo imunoistoquímico. Para isso, as
lâminas de TMA foram incubadas com os anticorpos primários monoclonais mouse
anti-human C-MYC Ab-2, clone 9E10.3, na diluição de 1:50, e mouse anti-human p53,
clone DO-7, na diluição 1:500, respectivamente. DAB foi utilizado como cromógeno e
hematoxilina de Mayer para a contracoloração. A expressão tecidual das proteínas C-
MYC e p53 foi analisada considerando o percentual de imunomarcação em escores:
(C0) ausente, (C1) 1- 25%, (C2) 26-50%, (C3) 51-75% e (C4) 76-100%. Os dados
relativos à classificação citomorfológica e imunoexpressão de C-MYC e p53 foram
analisados descritivamente. Para a análise de correlação do percentual de
imunomarcação entre as proteínas C-MYC e p53 foi utilizado o teste não paramétrico
de Spearmann, considerando-se o nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Em relação à classificação citomorfológica do TVT houve predomínio do padrão
plasmocitoide em 45% das amostras do estudo, seguido dos padrões linfocitoide (30%)
e misto (25%). Considerando o índice apoptótico, todas as amostras de TVT avaliadas
apresentaram escore discreto para o referido parâmetro. À análise imunoistoquímica foi
constatada imunomarcação em escore quatro (C4) para as proteínas C-MYC e p53 nos
tipos linfocitoide, plasmocitoide e misto. Ainda, foi observada correlação positiva
(r>0,61) em relação à imunomarcação das proteínas C-MYC e p53 nas amostras de
TVT canino, independente do padrão citomorfológico.
DISCUSSÃO
A superexpressão das proteínas C-MYC e p53 em todos os tipos citomorfológicos do
TVT pode ser atribuída à síntese de proteína alterada, com consequente redução ou
perda das atividades funcionais das mesmas, já que em células diferenciadas as
proteínas C-MYC e p53 não se expressam ou a fazem em baixos níveis em virtude de
sua meia vida curta (Faria & Rabenhorts, 2006). Nesse contexto, infere-se que tal
mutação proteica auxiliaria a manutenção do crescimento celular e a progressão
tumoral, visto que a C-MYC, quando funcional, atua na integridade tecidual por indução
da apoptose celular a partir de diferentes vias, incluindo a ativação indireta das
proteínas BAX e p53 (Pelengaris et al., 2002). Ressalte-se que o baixo índice
apoptótico observado nas amostras de TVT deste estudo corrobora e subsidia esse
raciocínio, bem como comprova o envolvimento
das proteínas C-MYC e p53 no microambiente tumoral do TVT.
CONCLUSÕES
A superexpressão tecidual e a correlação entre as proteínas C-MYC e p53 no
microambiente do TVT, independente do padrão citomorfológico, indicam redução e/ou
perda funcional dessas proteínas, com consequente supressão apoptótica e provável
manutenção do crescimento celular e viabilização da progressão neoplásica.

317
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 114, 2013

REFERÊNCIAS
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p.353-355, 2009.

318
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 115, 2013

115. INSERÇÃO DO ELEMENTO LINE-1 NO GENE C-MYC E EXPRESSÃO


IMUNOISTOQUÍMICA DA PROTEÍNA C-MYC NOS DIFERENTES PADRÕES
CITOMORFOLÓGICOS DO TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL CANINO
(Insertion of element LINE-1 in C-MYC gene and immunohistochemical
expression of C-MYC protein in different cytomorphological patterns of canine
transmissible venereal tumor)

Caroline Rocha de Oliveira Lima¹, Mariana Batista Rodrigues Faleiro², Panmera


Almeida Helrigel³, Helena Tavares Dutra³, Fabiano José Ferreira de Sant´Ana4,
Veridiana Maria Brianezi Dignani de Moura5

1. Médica Veterinária, Doutora em Ciência Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia (UFG), Goiânia,
GO, Fiscal Estadual Agropecuário, Jataí, GO. carolrochavet@hotmail.com
2. Médica Veterinária, Doutoranda em Ciência Animal, EVZ, UFG, Goiânia, GO,
3. Acadêmicas do curso de Medicina Veterinária, UFG, Campus Jataí, Jataí, GO, Brasil,
4. Prof Adjunto II, Setor de Patologia Animal, Deto de Med Vet da Universidade Federal de Brasília,
5. Prof Adjunto III, Setor de Patologia Animal, Departamento de Medicina Veterinária, EVZ, UFG.

RESUMO: Neste estudo objetivou-se identificar a inserção do elemento LINE-1 no


gene C-MYC, por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR) e verificar a
presença da proteína C-MYC à imunoistoquímica, em 20 amostras de TVT genital. A
totalidade das amostras de TVT, independente do padrão citomorfológico, amplificaram
um fragmento de 340pb, que caracteriza a alteração molecular referente à inserção do
elemento LINE-1 no gene C-MYC. Ainda, verificou-se superexpressão da proteína C-
MYC em todas as amostras de TVT estudadas. Concluiu-se que o rearranjo molecular
LINE-1/C-MYC é uma alteração específica no TVT e que a superexpressão tecidual de
C-MYC indica redução e/ou perda funcional dessa proteína no microambiente tumoral
do TVT.
Palavras-chave: cães; neoplasia; reação em cadeia da polimerase; TVT
ABSTRACT: This study aimed to identify the insertion of LINE-1 element in C-MYC
gene by polymerase chain reaction (PCR) and verify the presence of the C-MYC
immunohistochemistry in 20 samples of genital TVT. The total samples of TVT
independent of morphology amplified a fragment of 340pb, which characterizes the
molecular alteration referring to insertion of LINE-1 element in C-MYC gene.
Furthermore, it was found overexpression of C-MYC protein in all samples of TVT. It
was concluded that the molecular rearrangement LINE-1/C-MYC is a specific change in
TVT and that the overexpression of C-MYC protein tissue indicates reduction and/or
loss of function of this protein in the tumor microenvironment of TVT.
Key words: dogs; neoplasia; polymerase chain reaction; TVT
INTRODUÇÃO
O gene C-MYC é um proto-oncogene, responsável pela codificação de fosfoproteínas
nucleares que atuam em múltiplos canais celulares regulatórios, contribuindo de forma
ímpar para a manutenção da integridade genômica. Alterações moleculares no
conjunto gene/proteína C-MYC, como a inserção do elemento LINE-1 no referido gene,
podem conduzir à instabilidade genômica e à transformação maligna (Faria &
Rabenhorst, 2006). A inserção do elemento LINE-1 no gene C-MYC refere-se a um
rearranjo molecular constante no TVT (Fonseca et al., 2012) e, no tecido neoplásico,
essa alteração talvez represente a perda de funcionalidade da proteína C-MYC,
representada pela superexpressão tecidual da mesma. Diante dessas considerações,
este estudo teve por objetivo identificar a inserção do elemento LINE-1 no gene C-
MYC, por meio da técnica de PCR, e verificar a expressão imunoistoquímica da
proteína C-MYC nos diferentes tipos citomorfológicos do TVT.

319
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 115, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Foram obtidos três fragmentos de TVT de 20 cães portadores da neoplasia em sua
forma genital e não submetidos a tratamento quimioterápico prévio. O primeiro
fragmento destinou-se a confirmação do diagnóstico e classificação citomorfológica do
TVT por meio de exame citopatológico, segundo critérios estabelecidos por Floréz et al.
(2012). O segundo fragmento foi utilizado para a avaliação da expressão
imunoistoquímica da proteína C-MYC, realizada em uma lâmina de microarranjo
tecidual (TMA) (Bubendorf et al., 2001). Para isso, os fragmentos foram processados,
incluídos em parafina e avaliados à coloração de HE, seguindo-se a escolha da área
tumoral a ser utilizada na confecção do bloco de TMA, bem como a realização do
estudo imunoistoquímico. As lâminas de TMA com as amostras de TVT foram
incubadas com anticorpo primário monoclonal mouse anti-human C-MYC Ab-2, clone
9E10.3, na diluição de 1:50. DAB foi utilizado como cromógeno e hematoxilina de
Mayer para a contracoloração. A expressão tecidual da proteína C3 MYC foi analisada
considerando o percentual de imunomarcação em escores: (C0) ausente, (C1) 1-25%,
(C2) 26-50%, (C3) 51-75% e (C4) 76-100%.
O terceiro fragmento serviu ao diagnóstico molecular do TVT, pela identificação do
rearranjo molecular LINE-1/C-MYC, representada pela ampliação de um fragmento de
340pb (Fonseca et al., 2012). O controle negativo dos testes moleculares consistiu de
uma amostra de mastocitoma canino e duas amostras de sangue periférico de cães
hígidos. Como controle positivo utilizou-se o gene da hemoglobina humana, que
apresenta amplificação de uma banda de 480pb. Os dados foram analisados
descritivamente.
RESULTADOS
Na classificação citomorfológica do TVT o tipo plasmocitoide predominou em 45% das
amostras, seguido dos tipos linfocitoide (30%) e misto (25%). À análise da PCR
verificou-se a presença do rearranjo molecular do elemento LINE-1 no gene CMYC,
pela amplificação de um fragmento de aproximadamente 340pb, em todas as amostras
do TVT. Nas amostras de mastocitoma canino e sangue de cão normal, utilizadas
como controle negativo, não houve ampliação do referido fragmento. O gene da
hemoglobina humana, utilizado como controle positivo, amplificou um fragmento de
aproximadamente 480pb e esteve presente tanto nas amostras de TVT quanto
naquelas do grupo controle negativo. À análise imunoistoquímica observou-se
imunomarcação da proteína C-MYC em expressão máxima (C4) em todas as amostras,
independente do padrão citomorfológico do TVT.
DISCUSSÃO
À avaliação citomorfológica o TVT tipo plasmocitoide ocorreu com maior frequência à
semelhança do descrito por Amaral et al. (2007), que observaram maior ocorrência do
tipo plasmocitoide em amostras de TVT genital e extragenital primário ou metastático.
Os resultados da PCR comprovam a sensibilidade à detecção do rearranjo LINE-1/C-
MYC no TVT canino, visto que somente as amostras da neoplasia amplificaram a
banda de 340pb, o que também está de acordo com o descrito por Murgia et al. (2006).
A superexpressão tecidual da proteína C-MYC em todos os tipos citomorfológicos do
TVT pode ser atribuída à ocorrência de mutação no gene CMYC, em princípio, pela
ocorrência do rearranjo molecular comprovado. De acordo com Faria & Rabenhorts
(2006), células diferenciadas expressam baixos níveis de C-MYC, em virtude de sua
meia vida curta. Assim, sugere-se que a alteração no gene C-MYC implique na síntese
de proteína alterada, com redução ou ausência de função da mesma e acúmulo no
tecido neoplásico. Ainda, infere-se que tal falha funcional compreenda um dos fatores
da manutenção tumoral, bem como possivelmente implique em proliferação celular
continuada e progressão tumoral (Pelengaris et al., 2002), considerando que nessa
condição a proteína C-MYC não executa suas atividades relacionadas ao controle do
ciclo celular, especialmente aquelas desencadeadoras de vias apoptóticas.
320
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 115, 2013

CONCLUSÕES
A inserção do elemento LINE-1 no gene C-MYC caracteriza alteração molecular
específica para o TVT canino, independente do padrão citomorfológico. A
superexpressão tecidual da proteína C-MYC ocorre nos diferentes padrões
citomorfológicos do TVT e indica redução e/ou perda de funcionalidade da mesma no
microambiente tumoral, o que possivelmente representa um dos fatores de
manutenção do crescimento celular e progressão da neoplasia.
REFERÊNCIAS
AMARAL, S.A.; BASSANI-SILVA, S.; FERREIRA, I.; FONSECA, S.L.; ANDRADE, E.H.F.; GASPAR,
J.F.L.; ROCHA, S.N. Caracterização citomorfológica do tumor venéreo transmissível canino. Revista
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miniaturized pathology archives for high-throughput in situ studies. Journal of Pathology, Sussex, v.195,
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FARIA, M.H.G.; RABENHORST, S.H.B. Impacto do oncogene C-MYC no câncer. Revista Brasileira de
Cancerologia, v.52, n.2, p.165-171, 2006. FLORÉZ, M.M.; PEDRAZA, F.; GRANDI, F.; ROCHA, N. S.
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canine transmissible venereal tumor. Veterinary Clinical Pathology, Madison, v.41, n.1, p.3-5, 2012.
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de Ciencias Pecuarias, v.25, n.3, p.402-408, jul/set. 2012.
MURGIA, C; PRITCHARD, K. J; KIM, I. S. et al. Clonal Origin and Evolution of a Transmissible
Cancer.Cell, v.10, n.1016, p.477-487, 2006.
PELENGARIS, S.; KAN, M. The many faces of C-MYC. Archives of Biochemistry and Biophysics, v.416,
n.2, p.129-136, 2002.

321
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 116, 2013

116. LAVADO VESICAL DE BOVINOS COM HEB: PADRONIZAÇÃO DE TÉCNICA


DE COLHEITA, OBTENÇÃO DE AMOSTRAS E AVALIAÇÃO CITOPATOLÓGICA
(Bovine washing urinary bladder with BEH: standardization of harvesting
technique, obtaining samples and cytopathologic evaluate)

Azevedo, M.A.S.; Oliveira, E.V.; Trivilin, L.O.; Nunes, L.C.

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

RESUMO: Hematúria enzoótica bovina é uma doença crônica e a citologia poderia


auxiliar no diagnóstico precoce. Objetivou-se padronizar a técnica de colheita, obtenção
de amostras e avaliação citológica do lavado vesical de bovinos com HEB. Utilizaram-
se 10 bovinos, fêmeas, adultas, divididos em dois grupos: A- foi recuperado todo o
líquido vesical infundido e B- recuperado apenas o último aspirado. O volume final de
líquido vesical foi maior no grupo A, entretanto, em relação ao número de células, não
houve diferença significativa (P>0,05) entre os grupos. Nos dois grupos observou-se
maior número de células inflamatórias do que epiteliais, porém, não houve diferença
entre o tipo de colheita realizada. Células epiteliais foram encontradas em 60% dos
casos e nenhuma amostra revelou hiperplasia ou neoplasia. A citologia do lavado
vesical de bovinos pode auxiliar no diagnóstico da HEB e os dois métodos de colheita
empregados mostraram-se adequados para obtenção de amostras viáveis, entretanto,
houve predomínio de lesões não neoplásicas inflamatórias.
Palavras-chave: citopatologia; coleta; líquido vesical
ABSTRACT Bovine enzootic hematuria is a chronic disease and the cytologic test could
assist in the early diagnosis. Aimed to standardize the technique of harvesting,
obtaining samples and cytophatologic evaluate of bovine washing urinary bladder with
BEH. Were used10 bovines, adult females and divided into two groups: A- was
recovered all the liquid infused in the bladder and, B: was recovered only the latter
liquid. The final volume of liquid bladder was higher in group A, however, in relation to
the number of cells, no significant difference (P>0.05) between groups. In two groups
were observed more inflammatory cells than epithelial cells, however, there was no
difference between the type of washing taken. The epithelial cells were found in 60% of
cases and cannot any sample with hyperplasia and neoplasm. The cytological
examination of bovine washing urinary bladder may aid in the diagnosis of BEH and the
two harvesting methods employed were adequate for obtaining viable samples,
however, there was a predominance of inflammatory non-neoplastic lesions.
Key words: cytopathology; collection; liquid bladder
INTRODUÇÃO
O exame citopatológico da urina em humanos é usualmente empregado no diagnóstico
de pacientes com suspeita de câncer de bexiga e no acompanhamento destes após
terapêutica. Possui baixa sensibilidade (35%), especialmente para tumores de baixo
grau, entretanto, a especificidade é elevada (94%), indicando que a existência de
câncer urotelial pode ser alta, mesmo com cistoscopia normal (Pompeo et al., 2008).
Atualmente o exame citopatológico tem sido empregado na bovinocultura
principalmente na avaliação dos lavados traqueobrônquico e broncoalveolar de
bezerros (Benesi et al., 2012).
Na região sul do Espírito Santo a hematúria enzoótica bovina é uma doença de elevada
prevalência (Silva et al., 2009) e tem sido responsável por grandes perdas econômicas
devido a morte de animais ou redução da produção leiteira sendo o diagnóstico
precoce difícil por ser uma doença crônica (Nunes, 2009).
Diante do exposto nota-se que, em animais de grande porte, especialmente bovinos,
técnicas de exame direto como a citologia de bexiga não são utilizadas. Objetivou-se

322
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 116, 2013

com esta pesquisa padronizar a técnica de colheita, obtenção de amostras e avaliação


citopatológica do lavado vesical de bovinos com HEB.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 10 bovinos, fêmeas, adultas, provenientes de propriedades
localizadas em municípios endêmicos para Pteridium aquilinum e de HEB da
microrregião do Caparaó, Espírito Santo.
Em cada animal realizou-se o lavado vesical com auxílio de sonda de Folley nº 24. Um
volume total de 300 mL de solução fisiológica (NaCl 0,9%) foi infundido no interior da
bexiga. Foi feito o turbilhonamento do líquido por dez vezes consecutivas e foram
testadas duas formas de recuperação do lavado vesical. No grupo A (n=5) foi
recuperado todo o líquido vesical infundido. No grupo B (n=5) foi recuperado apenas o
último aspirado.
Todo material foi submetido à centrifugação a 1.500 rpm durante seis minutos em
centrífuga refrigerada a 25 ºC até o volume final de 10 mL seguido da centrifugação de

avaliação citopatológica conforme Raskin e Meyer (2011). Foi realizada a quantificação


celular, utilizando-se a objetiva de 40x em cinco campos distintos. Em cada campo
foram contadas todas as células epiteliais e inflamatórias encontradas e obtido o valor
médio. A avaliação da média do número total de células obtidas foi feita por análise de
variância (ANOVA) seguida do teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para avaliação
entre o tipo de coleta e a quantidade de células obtidas utilizou-se o teste não
paramétrico de Kolmogorov-Smirnov a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação à quantidade de material obtido observou-se que o volume final de liquido
vesical nos animais do grupo A variou de 300 mL a dois litros, enquanto que os do
grupo B, variou de 15 a 60 mL. A qualidade dos esfregaços foi dependente da
existência de macro ou microhematúria nos animais avaliados.
Raskin e Meyer (2011) afirmaram que existem amostras que geram interpretações não
diagnósticas que resultam de material com celularidade insuficiente ou com excessiva
contaminação sanguínea. Neste estudo, as amostras com menor celularidade foram
obtidas exatamente dos animais com quadros de hematúria mais graves, porém o
diagnóstico não foi impossibilitado. No entanto, foi difícil minimizar os artefatos
ocorridos pela contaminação sanguínea por se tratar de animais com hematúria.
A média do número de células por amostra foi de 1,8 a 52 no grupo A e de 5,8 a 25,8
no grupo B. A média do número de células obtidas por grupo foi de 19,8 (DP= 20,0) e
16,8 (DP= 9,2) nos grupos A e B, respectivamente, não revelando diferença
significativa (P>0,05). A quantidade de células inflamatórias e células epiteliais obtidas
por amostra revelou que nos dois grupos, todos os animais apresentavam mais células
inflamatórias do que epiteliais, entretanto, o tipo celular encontrado foi independente do
tipo de colheita, não havendo diferença significativa (P>0,05).
Os dados revelaram que 70% das amostras apresentavam processo inflamatório
conforme a classificação de Raskin e Meyer (2011). Segundo esses autores quando a
quantidade de células inflamatórias é igual ou ultrapassa 85% da contagem total é
classificado como processo inflamatório. Em quatro casos (40%) observou-se que
100% das células encontradas eram inflamatórias. Um experimento realizado por Silva
et al. (2012) na mesma região em que o presente estudo foi desenvolvido, revelou
cistite cística em 17,39% dos animais. Embora as alterações inflamatórias tenham sido
mais frequentes neste estudo, McGavin e Zachary (2009) citaram que condições ou
processos inflamatórios crônicos aumentam o risco de câncer nos órgãos afetados.
Acredita-se que as lesões não neoplásicas funcionam como lesões pré-neoplásicas,
causando desta forma, a progressão tumoral.
As células epiteliais foram encontradas em 60% dos casos e as alterações
morfológicas foram muito discretas não sendo possível classificar nenhuma amostra
323
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 116, 2013

como hiperplásica ou neoplásica. A ausência de processos neoplásicos observados


nos animais com HEB por meio da citopatologia, pode estar relacionada à baixa
celularidade obtida nas amostras. Desta maneira, o emprego de técnicas moleculares
seria importante para detectar precocemente estas lesões.
CONCLUSÕES
O exame citopatológico do lavado vesical de bovinos pode auxiliar no diagnóstico da
HEB e os dois métodos de colheita empregados mostraram-se adequados para
obtenção de amostras viáveis. A avaliação citopatológica permitiu a identificação de
lesões não neoplásicas predominantemente inflamatórias.
Agradecimento à Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo pelo apoio
financeiro.
REFERÊNCIAS
BENESI, F.J.; WACHHOLZ, L.; BERTAGNON, H.G. et al. Citologia dos lavados traqueobrônquico (LTB)
e broncoalveolar (LBA) de bezerros holandeses sadios durante o primeiro mês de vida. Pesquisa
Veterinária Brasileira. v. 32(3), p:267-270, 2012.
MCGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia em Veterinária. 4 ed. Elsevier, Rio de Janeiro,
1476p. 2009.
NUNES, L.C. Aspectos clínico-epidemiológicos da hematúria enzoótica bovina na região sul do Espírito
Santo. Jornal de Olho no Amanhã, Vitória, p.4-5, 2009.
POMPEO, A.C.L.; CARRERETTE, F.B.; GLINA, S. et al. Câncer de bexiga: diagnóstico. Revista da
Associação Brasileira de Medicina, São Paulo, v. 54, n. 2, Abril 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/>. Acesso em: 04/12/2012.
RASKIN, E.R.; MEYER, D.J. Atlas de Citologia de Cães e Gatos. São Paulo: Elsevier Medicina Brasil –
Grupo Elsevier. 2 ed, 2011.
SILVA, M.A.; SCÁRDUA, C.M.; DÓREA, M.D. et al. Prevalência de hematúria enzoótica bovina em
rebanhos leiteiros na microrregião do Caparaó, Sul do Espírito Santo, entre 2007 e 2008. Ciência Rural,
v.39, n.6, p.1847-1850, 2009.
SILVA, M.A.; SOUSA, D.R.D.; MADUREIRA, A.P. et al. Caracterização histopatológica de bexigas
associadas à hematúria enzoótica bovina. Revista Brasileira de Medicina Veterinária. v. 34(4), p:319-
326, 2012.

324
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 117, 2013

117. PERFIL DOS EXAMES CITOLÓGICOS REALIZADOS NO SETOR


DE PATOLOGIA ANIMAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
(Outline of cytological exam made in Sector of Animal Pathology in
Federal University of Piauí)

Werner R. Albuquerque, Luciano S. Fonseca, Mayara C. T Lopes,


Francisco A. L. Sousa, Francisco H. S. Ribeiro, Silvana M. M. S. Silva

Setor de Patologia Animal, DCCV, CCA, Universidade Federal do Piauí

RESUMO: Realizou-se um levantamento dos exames citológicos encaminhados para o


Setor de Patologia Animal, Universidade Federal do Piauí, entre janeiro de 2008 e
março de 2013. Dos 1612 exames realizados 823 (51,05%) foram lesões neoplásicas,
251 (15,57%) foram lesões inflamatórias e 92 (5,7%) de lesões não neoplásicas além
de 86 (5,33%) serem resultados inconclusivos e 360 (22,33%) serem de amostras com
material insuficiente. O exame citológico consiste de um método fácil, barato, pouco
invasivo e muito eficiente para o diagnóstico de lesões neoplásicas e outros tipos de
lesão como as inflamatórias, sendo uma ferramenta de apoio diagnostico para o clinico
veterinário.
Palavras chave: citopatologia; diagnostico; inflamação; neoplasia
ABSTRACT: A research of cytological exams forwarded to the Department of Animal
Pathology, Federal University of Piauí, between January 2008 and March 2013. Was
performed 1612 samples in 823 (51.05%) were neoplastic lesions, 251 (15.57%) were
inflammatory lesions and 92 (5.70%) of non-neoplastic lesions as well as 86 (5.33%)
were inconclusive and 360 (22.33%) are samples with insufficient material. The
cytological examination consists of an easy, inexpensive, minimally invasive and very
effective for the diagnosis of neoplastic lesions and other lesions such as inflammatory,
as a support tool for clinical diagnosis veterinarian.
Key words: cytopathology, diagnosis, inflammation, neoplasia
INTRODUÇÃO
O exame citológico é um método diagnostico rápido, barato e pouco invasivo em
relação ao exame histopatológico mas o não substitui porque o histopatológico permite
visualizar maior quantidade de tecido e preserva a arquitetura, porém citologia é
particularmente útil para avaliar fluidos corporais, linfonodos, vias aéreas, massas
acessíveis e medula óssea no animal vivo (Jackson, 2007). É um exame que também
tem a vantagem de poder ser realizado facilmente no pré-operatório ou no consultório
sem o uso de anestesia ou sedação ocasionando menos efeitos adversos, além de ter
menos processamento e fornecer resultados em menor tempo (Moore e Frinberger,
2010). Existem vários métodos de coleta para analise citológica como: a)Punção com
Agulha Fina (PAF), onde se utiliza uma agulha para recolher as células, tem a
vantagem de recolher células mais profundas, método mais utilizado em citologia,
b)Impressão ou imprint: Indicados em lesões ulceradas ou exsudativas superficiais
pode ser utilizado também para amostras de tecidos coletados em cirurgia ou
necropsia c)Raspado ou escarificação, técnica valiosa para uso em lesões cutâneas
planas, secas ou pouco esfoliativas em que a PAF ou imprint não obtiveram boas
amostras d)Swab preferencialmente usado em úlceras com bordas elevadas, no trato
vaginal, ouvido externo, fistulas ou locais de difícil acesso (Cowell et al., 2008). O
emprego desta técnica mostra-se eficiente para diagnóstico de desordens neoplásicas,
hiperplásicas, inflamatórias e degenerativas além de auxiliar na identificação de
agentes infecciosos (Mendelsohn et al., 2006; Rossetto et al., 2009).
Dentre as neoplasias diagnosticadas por esse método destacam-se as de células
arredondadas, epiteliais e mesenquimais (Cowell et.al, 2008). A avaliação citológica
tem importante papel em oncologia veterinária, ajudando na decisão clinica por meio de
325
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 117, 2013

um diagnóstico preliminar ou definitivo e por meio desta se definindo o tratamento e


prognostico (Withrow et al., 2013). O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o
perfil dos exames citológicos no Setor de Patologia Animal da Universidade Federal do
Piauí, enfatizando o aumento do uso desta técnica, os tipos de lesões, raça, idade e
sexo das espécies acometidas.
MATERIAL E METODOS
Foram avaliados 1612 registros de exames citológicos provenientes do Setor de
Patologia Animal/UFPI, durante o período de Janeiro de 2008 até Março de 2013,
oriundos de animais atendidos no Hospital Veterinário Universitário da Universidade
Federal do Piauí ou encaminhados de clinicas particulares no estado do Piauí. As
fichas foram catalogadas, por espécie, raça, sexo, idade e diagnóstico citológico foi
realizado a frequência dessas variáveis. Neste estudo os resultados foram classificados
em inflamatórios, neoplásicos e não inflamatórios, os processos não inflamatórios
foram sub classificados em neoplásicos e não neoplásicos. Além destes também foram
catalogados exames citológicos classificados como inconclusivos e material insuficiente
para diagnóstico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante os anos de 2008 a março de 2013 foram realizados 1612 exames citológicos
no Setor de Patologia Animal da UFPI houve aumento da utilização dessa técnica no
referido setor. O exame citológico vem sendo preconizado a alguns anos como
diagnóstico de eleição pela rapidez, praticidade e seu baixo custo (Ventura et al.,
2012), além de ter pouca invasibilidade na coleta (Rossetto et al., 2009). Quanto ao tipo
de lesão o maior número de casos foi referente a lesões neoplásicas (51,05%) seguido
pelos casos de lesões inflamatórias (15,57%), lesões não neoplásicas (5,7%) e os
resultados inconclusivos (5,33%) e os insuficientes (22,33%). Os resultados de lesões
neoplásicas serem em maior número (51,05%) assemelham-se aos achados de
Ventura et al.(2012). O exame citológico continua demonstrando sua importância no
diagnóstico de neoplasias e processos inflamatórios em animais de companhia nas
mais diversas situações clínicas (Ortiz et al., 2011). Em relação as espécies, 1500
(93,05 %) eram cães, 100 gatos (6,20%), 3 bovinos (0,18%), 3 roedores (0,18%), 2
equinos (0,12%), 2 primatas (0,12%), 1 ovino (0,06%) e 1 ave (0,06%). Em estudos
realizados por Bracarense e Reis (1997) das 600 amostras citológicas analisadas, 570
(95%) eram caninos, 18 (3,00%) felinos, 8 (1,33%) bovinos e 4 (0,66%) equinos.
Quanto a baixa casuística apresentada pela espécie bovina e demais espécies
demonstradas no estudo, isso possivelmente deva-se ao fato de serem animais de
produção, com consequentemente o tempo de vida é menor. Dos 1612 exames, 1065
(66%) eram de animais fêmeas e 547 (34%) machos, esse resultado pode ser devido
ao grande número de cadelas e gatas com tumor de mama. Resultado semelhante foi
constatado por Bracarense e Reis (1997) quando analisaram 600 amostras observaram
que percentual de 59,91% de fêmeas e 40,09% de machos. Segundo Queiroga e
Lopes (2002) 52% das neoplasias em cães são de mama.
CONCLUSÃO
O exame citológico consiste de um método fácil, barato, pouco invasivo e muito
eficiente para o diagnóstico de lesões neoplásicas e outros tipos de lesão como as
inflamatórias, sendo uma ferramenta de apoio diagnostico para o clinico veterinário.

326
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 117, 2013

REFERENCIAS
BRACARENSE, A.P.F.R.L.; REIS, A.C.F. [1997]. Citologia aspirativa em animais domésticos: estudo
retrospectivo. Semina: Ciências. Agrárias, v.18, n.1, 1997. Disponivel em
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/semagrarias/article/view/4254> Acesso em: 28/07/13
COWELL, R. L.; TYLER. R. D. MEINKOTH. J. H. DENICOLA. D. B. Sample Collection and Preparation.
In: __. Diagnostic Cytologic and Hematology of Dog and Cat. 3.ed. New York. Mosby Elselvier, 2008.
Cap.1.,p.1-20.
JACKSON, L.M. Cytology. In:__. Veterinary Clinical Pathology: An Introduction. 1.ed. Iowa.
Blackwell-Publishing, 2007. Cap.5., p.137-171
MOORE, A.S; FRIMBERGER, A. E. Diagnosis of Cancer. In: __. Oncology for Veterinary Technicians
and Nurses. 1.ed. Iowa. Blackwell Publishing, 2010. Cap.3., p.15-25
MENDELSOHN, C.; ROSENKRANTZ, W.; GRIFFIN, C. E. [2006]. Practical Cytology For Inflammatory
Skin Diseases. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v.21, n.3, 2006. Disponível em: <
http://dx.doi.org/10.1053/j.ctsap.2006.05.004> .Acesso em: 28/07/2013.
ORTIZ, L. C; GARZÓN, A. O; RODRIGUÉZ, B. J. [2011]. Cytodiagnosis trends at the animal pathology
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n.2, 2006. Disponivel em: <http://rccp.udea.edu.co/index.php/ojs/article/view/668/661> Acesso em:
28/07/13.
ROSSETTO, V. J. V.; MORENO, K.; GROTTI, C. B. et al. Frequência de neoplasmas em cães
diagnosticados por exame citológico: estudo retrospectivo em um hospital-escola. Semina: Ciências
Agrárias, v. 30, n. 1, p. 189-200, 2009.
WITHROW, S.J.; VAIL, D.M.;PAGE, R.L. Small Animal Clinical Oncology. St. Louis, Missouri :
Elsevier, 2013. 756 p.

327
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 118, 2013

118. RESPOSTA DE FASE AGUDA DEPOIS DA INFECÇÃO POR Actinobacillus


pleuropneumoniae EM PORCOS: VALORAÇÃO DA SUA UTILIZAÇÃO PARA
DIAGNÓSTICO TEMPRANO DA INFECÇÃO
(Acute phase response against Actinobacillus pleuropneumoniae infection in
pigs: evaluation of its usefulness for an early diagnosis of the infection)

Gómez-Laguna J.¹, Islas A., 2Rodríguez R.², Ruiz A.², Carrasco L.³, Quezada M.²

1 CICAP – Centro Tecnológico, Pozoblanco, Córdoba, España.


2 Facultad de Veterinaria, Universidad de Concepción, Chillán, Chile.
3 Dpto. Anatomía y Anatomía Patológica Comparadas, Facultad de Veterinaria, Universidad de Córdoba,
Campus de Excelencia Internacional Agroalimentario

RESUMO: A pleuropneumonia contagiosa porcina (PCP), é uma das principais


doenças de impacto econômico na produção porcina moderna. Neste trabalho nós
evaluamos a qualidade (idoneidade) das proteínas de fase aguda (PFA) e a expressão
de citocinas (IL-1, IL-6, TNF-α, IL-10) para realizar um diagnóstico temprano da
infecção por Actinobacillus pleuropneumoniae (App). Vinte porcos foram inoculados
intranasalmente com App e outros 20 porcos foram utilizados como grupo controle,
sendo monitorizados desde 0 até as 72 horas post-infecção (hpi). Os animais
infectados mostraram lesões típicas de PCP desde as 6 hpi em adiante. Não foi
detectada a presença de anticorpos específicos frente App durante o estudo, a
concentração sérica de IL-6 aumentou de maneira significativa a partir das 6 hpi,
coincidindo com o aumento posterior na concentração das PFAs a partir das 24 hpi. Os
resultados evidencian o valor diagnóstico de IL-6 junto às PFAs para detectar as fases
tempranas da PCP.
Palavras-chave: Actinobacillus pleuropneumoniae; anticorpos; diagnóstico;
interleucinas; proteínas de fase aguda
ABSTRACT: Porcine contagious pleuropneumonia (PCP) is one of the major diseases
of economic impact on the modern pig production. In this paper we evaluate the
aptitude of acute phase proteins (APP) and the expression of cytokines (IL-1, IL-6, TNF-
α, IL-10) to make an early diagnosis of infection with Actinobacillus pleuropneumoniae
(App). Twenty pigs were intranasally inoculated with App. and other 20 pigs were used
as control, being monitored from 0 to 72 hours post-infection (hpi). Infected animals
showed typical lesions of PCP from 6 hpi onwards. Whereas we did not detect the
presence of specific antibodies against App. along the study, the serum concentration of
IL-6 increased significantly from 6 hpi, coinciding with the further increase in the
concentration of APPs from the 24 hpi. The results demonstrate the diagnostic value of
IL-6 together with the APPs to detect the early stages of the PCP.
Keywords: Actinobacillus pleuropneumoniae; acute phase proteins; antibodies;
interleukins
INTRODUÇÃO
A pleuropneumonia contagiosa porcina (PCP), é uma doença de importancia mundial,
devido a que ocasiona grandes perdas econômicas na indústria, é causada pelo
Actinobacillus pleuroneumoniae (App). No Chile, a doença é endêmica e tem causado
brotes com alta mortalidade (Olivares y Morgado, 1988). Os serotipos mais
freqüentemente identificados são: 4, 6 e 7, sendo o último encontrado em 60% dos
casos (Neira-Ramírez et al, 2012).
Os fatores de virulência produzem a ativação de macrófagos alveolares (MAPs) e
macrófagos intravasculares pulmonares (MIPs) promovendo a liberação de citocinas
proinflamatórias IL-6, IL-1α, IL-8 e TNF-α, provocando microtrombosis, vasculitis,
edemas e hemorragias entre outras lesões (Dubreuil et al., 2000).
As proteínas de fase aguda (PFAs) são produzidas frente a um trauma, infecção,
inflamação ou situação de estrés. De este modo, estas PFAs são utilizadas como
328
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 118, 2013

biomarcadores potenciais na monitorização de doenças e detecção de enfermedades


subclínicas. Neste estudo se evaluou o valor diagnóstico das PFAs e das citocinas
proinflamatórias no diagnóstico temprano de PCP.
MATERIAL E MÉTODOS
Quarenta porcos de 8 semanas de edade e livres de App foram distribuídos em dois
grupos de 20 animais. O grupo controle foi inoculado intranasalmente com um meio
estéril e o grupo inoculado, com 9,3 x 109 CFU/ml de App. Cinco porcos de cada
grupo, foram sacrificados às 6, 24, 48 e 72 hpi. Durante a necropsia, evaluou-se o daño
pulmonar (score pulmonar) e foram tomadas amostras de sangue às 0, 3, 6, 24, 48 e
72 hpi. Posteriormente, utilizaram-se kits comerciais para detectar em amostras de
soro, anticorpos específicos frente a App. e determinar a concentração de PFAs (Hp,
CRP y SAA) e de citocinas proinflamatórias (IL-10, y TNF-α) e a 1 y 6.
RESULTADOS
Os animais du grupo controle não apresentaram signos clínicos nem lesões durante o
estudo. Os animais infectados mostraram aumento da temperatura rectal, depressão e
distrés respiratório desde as 24 hpi e no examen post-mortem, constataram-se lesões
típicas de PCP desde as 6 hpi em adiante. Não se detectou a presença de anticorpos
específicos frente a App. nem cambios significativos na concentração de IL-10 e/ou
TNF-α, ao comparar ambos grupos durante o estudo. A concentração sérica de IL-1
aumentou às 3hpi e a concentração de IL-6 aumentou de maneira significativa a partir
das 6hpi, coincidindo com o aumento posterior na concentração das PFAs (Hp, CRP y
SAA) a partir das 24 hpi.
DISCUSSÃO
Os porcos inoculados inoculados desenvolveram um quadro clínico, com lesões
características de PCP, sem causar mortalidade. O curso da doença esteve
correlacionado com os cambios serológicos ocurridos para a PFA e com os valores de
IL-1 e IL-6, que mostraram aumentos significativos nos porcos inoculados. Por outra
parte, as determinações de IL-10 e TNF-α, não apresentaram cambios significativos
entre grupos. A maior expressão de IL-10 foi observada às 6hpi para o grupo controle e
às 24hpi para o grupo inoculado; ao respeito, Cho et al. (2005), obtuve una expressão
de IL-10 às 36hpi, similar a este estudo, onde o pick foi observado às 24 horas, com
descenso para ambos grupos às 48hpi. De acordo às observações nesse trabalho, os
autores sugerem que é possível obter informação de valor diagnóstico para a doença
nas fases tempranas utilizando determinações de PFAs e IL-6.
CONCLUSÃO
Os resultados evidencian o valor diagnóstico de IL-6 junto com as PFAs para detectar
as fases tempranas de PCP em infecções com cepas isoladas de moderada virulência.
Agradecimentos
Esta investigação foi financiada pelo Projeto FONDECYT 1111045, CONICYT, Chile.
REFERENCIAS
CHO, W.-S.; JUNG, K.; KIM, J. et al. Expression of mRNA encoding interleukin (IL)-10, IL- 12p35 and IL-
12p40 in lungs from pigs experimentally infected with Actinobacillus pleuropneumoniae. Veterinary
research communications. v.29, n.2, p. 111-122, 2005.
DUBREUIL, D.; JACQUES, M.; MITTAL, K.R. et al. Actinobacillus pleuropneumoniae surface
polysaccharides: their role in diagnosis and immunogenicity. Animal health Research Reviews.v.1, n.2,
p.73-93, 2000.
NEIRA-RAMÍREZ, V.; QUEZADA, M.; CUBILLOS, R. et al. Diversidad genética de cepas de
Actinobacillus pleuropneumoniae (App.,) aisladas desde planteles de producción intensiva de cerdos en
Chile. Archivos medicina veterinaria v.44, n.2, p.129-135, 2012.
OLIVARES, P. and MORGADO, A. Isolation and serotyping of Haemophilus pleuropneumoniae in three
porcine pleuropneumonia outbreaks in central Chile. Archivos medicina veterinaria v.20, p.147 – 152,
1988.

329
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 119, 2013

OUTROS

119. ADENOCARCINOMA PULMONAR EM BOVINO: RELATO DE CASO


(Bovine pulmonary adenocarcinoma: Case report)

Diogo S. Zanoni¹, Ana C. Gorino¹, Didier Q. Cagnini¹, Germana A. da Silva², Simone B.


Chiacchio³, Renee L. Amorim³

1 Pós- graduando do Depto de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu.


2 M.V., Mestranda em Cirurgia Veterinária, Depto de Clínica e Cirurgia Vet,FCAV/UNESPJaboticabal.
3 Prof. Ass. Dr do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu.

RESUMO: Tumores primários de pulmão são raros em bovinos, sendo um achado


incidental em abatedouros. A maioria dos tumores pulmonares encontrados nos
bovinos são adenocarcinomas. Esses tumores podem ser subdivididos em quatro
padrões histológicos distintos: papilar, acinar, sólido e misto, sendo o padrão papilar e
acinar os mais frequentes nos animais domésticos. O objetivo deste trabalho é relatar e
descrever os aspectos macroscópicos, histológicos e imuno-histoquímico de um
adenocarcinoma pulmonar com metástase abdominal em um bovino. Um bovino da
raça Nelore, fêmea, com 9 anos de idade, foi encaminhado ao Serviço de Patologia
Veterinária do Hospital Veterinário – UNESP para análise necroscópica. Baseados nos
achados morfológicos, anatômicos, histopatológico, adicionalmente, a imunoreatividade
positiva para citoqueratina, o tumor foi caracterizado como adenocarcinomar acinar
pulmonar.
Palavra chave: Animal de produção, pulmão, neoplasia
ABSTRACT:Primary lung tumors are rare in cattle, being an incidental finding in
abattoirs. The majority of lung tumors are adenocarcinomas found in cattle. These
tumors can be subdivided into four distinct histological patterns: papillary, acinar, solid
and mixed, and the acinar and papillary patterns are the most common in domestic
animals. The aim of this study was to describe the macroscopic, histological and
immunohistochemical study of lung adenocarcinoma with abdominal metastasis in one
cow. A Nelore, female, 9 years old, was referred to the Department of Veterinary
Pathology, Veterinary Hospital - UNESP for autopsy. Based on morphology, anatomical,
histological, additionally, the immunoreactivity for cytokeratin, the tumor was
characterized as acinar lung adenocarcinoma.
Key words: Production animal, lung, neoplasia
INTRODUÇÃO
Tumores primários de pulmão são raros em bovinos, sendo um achado incidental em
abatedouros (ANDERSON, 1967, MEUTEN et al. 2002). Um estudo realizado por
ANDERSON e SANDISON (1967) em um abatedouro na Grã- Bretanha, foram
encontrados 25 tumores primários de pulmão no exame de 1 milhão e 300 mil bovinos.
Os tumores malignos de origem epitelial relatado no pulmão bovino podem surgir a
partir do epitélio, glândulas mucosas dos brônquios (células caliciformes) e
revestimento alveolar. Esses tumores podem ser subdivididos em quatro padrões
histológicos distintos: papilar, acinar, sólido e misto, sendo os padrões papilar e acinar
os mais frequentes nos animais domésticos (MEUTEN et al. 2002; BARLEY, 2013).
Metástases de carcinomas pulmonares, quando presentes, ocorrem por invasão local e
por via linfática ou hematógena (MEUTEN, 2002). Em razão da raridade de carcinomas
pulmonares em bovinos, pouco é conhecido sobre o comportamento dessas neoplasias
nesses animais. No Brasil, VIOTT et al (2010) relataram o 1° caso de adenocarcinoma
pulmonar primário em um bovino.

330
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 119, 2013

O objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência e descrever os aspectos


macroscópicos, histológicos e imuno-histoquímico de um adenocarcinoma pulmonar
com metástase abdominal em um bovino.
MATERIAL E MÉTODO
Um bovino da raça Nelore, fêmea, com 9 anos de idade, foi encaminhado ao Serviço
de Patologia Veterinária do Hospital Veterinário – UNESP para análise necroscópica,
sendo que há 15 dias o animal apresentou hiporexia, hipotonia ruminal, taquicardia
persistente, além de realizada laparotomia exploratória onde drenou liquido abdominal
(50 litros) e observou-se massa, sugestiva de mesotelioma. Ao exame de necropsia, o
animal revelou estado corpóreo bom, mucosas aparentes oculopalpebral, oral e
genitália externa normocoradas. A análise "in situ", em cavidade abdominal,
apresentou, principalmente em serosa parietal e serosa visceral, nódulos de variadas
dimensões, medindo de 0,2 a 2,0 cm e um nódulo medindo 10,0 x 8,0 cm em região
sacral. Os nódulos apresentaram coloração variando de amarelada a esbranquiçada,
consistência firme e áreas de aspecto calcificado.
O pulmão revelava áreas de atelectasia associado a fibrose multifocal, além de
apresentar também nódulos de variadas dimensões e consistência firme. Ao corte
houve resistência e a coloração variou de esbranquiçada a amarelada. O útero revelou-
se espessado, consistência mais firme e, ao corte, notou-se conteúdo de coloração
translúcida e aspecto viscoso. Foram colhidos fragmentos dos nódulos pulmonar e da
cavidade abdominal, além de pulmão, baço, intestino, fígado, coração, encéfalo, rim e
útero/ovário, que foram fixados em formol a 10%, processados rotineiramente e
corados pelo método de hematoxilina-eosina, além de exame de imuno-histoquímica
para Pancitoaqueratina (AE1/AE3) e Vimentina utilizando o método de peroxidase e
DAB.
RESULTADO e DISCUSSÃO
O exame histopatológico revelou lesão com características neoplásicas referentes a
neoplasia epitelial formando ácinos e por vezes em arranjos desorganizados. As
células exibem citoplasma moderado, distinto, de núcleo arredondado, central, disposto
na porção basal das células. A cromatina é esparsa com um ou mais nucléolos
evidentes por célula além de anisiocariose, anisiocitose e pleomorfismo acentuado e
alta relação nucleo:citoplasma. Há em média 1 à 2 figuras de mitose por campo de
grande aumento (400x). Nota-se ainda áreas de necrose multifocal a coalescente,
infiltrado inflamatório mononucleado predominando linfócitos, plasmócitos e discretos
macrófagos reativos (coloração de Ziehl Nielsen negativa) e áreas de fibrose e
mineralização em quantidade moderada com distribuição multifocal a coalescente. O
baço, o linfonodo esternal e os nódulos abdominais, apresentaram infiltrados de célula
neoplásica já descrita previamente. A coloração imuno-histoquímica revelou
imunoreatividade positiva para citoqueratina, sendo esta citoplasmática, moderada e
difusa. Baseados nos achados morfológicos, anatômicos, histopatológico,
adicionalmente, a imunoreatividade positiva para citoqueratina, o tumor foi
caracterizado como Adenocarcinomar acinar pulmonar. Dentre as neoplasias
pulmonares que já foram relatados nos bovinos, estão os blastomas pulmonares
(KELLEY et al., 1994), o carcinoma de células pequenas e anaplásicas do pulmão
(PIERCY et al., 1993) e os carcinomas bronquioloalveolares (OKADA et al., 1998).
Entretanto, a maioria dos tumores pulmonares encontrados nos bovinos são
adenocarcinomas (MEUTEN, 2002). A neoplasia pode ser diferenciada do mesotelioma
devido a presença de núcleos basais e uniformes das células que formavam os ácinos,
característica ausente nos mesoteliomas, os quais possuem células granulares com
núcleos irregulares e ácinos (VIOTT et al, 2010).
Além disso, a imuno-histoquímica é também útil na diferenciação desses tumores, uma
vez que as células neoplásicas do mesotelioma expressam citoqueratinas epiteliais e
marcadores mesenquimais, tais como a vimentina (MERLO et al, 2007).
331
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 119, 2013

Adenocarcinomas pulmonares com característica esquirrosa, em bovinos, devem ser


diferenciados de outras neoplasias epiteliais, principalmente neoplasmas primários de
útero e pâncreas (MEUTEN, 2002). Contudo, a ausência de qualquer alteração nesses
órgãos descartou essa possibilidade. À necropsia, o aspecto caseo-calcário dos
nódulos sugeriu tuberculose. Entretanto, secções histológicas foram submetidas à
coloração pelo Ziehl-Nielsen com resultado negativo. Em humanos, há relatos de
infecção por Mycobacterium sp. associado com adenocarcinoma pulmonar (KOBASHI
et al. 2004).
CONCLUSÃO
Frente aos achados morfológicos, anatômicos, microscópicos e os achados na
literatura foi possível classificar o tumor como adenocarcinoma acinar pulmonar, sendo
que tumores pulmonares primários com metástase para cavidade abdominal são raros
em bovinos. Adicionalmente, a imunoreatividade positiva para AE1AE3, foi
determinante para fechar o caso.
REFERÊNCIAS
ANDERSON, L.J.; SANDISON, A.T. Pulmonary tumours in a British abattoir survey: Primary carcinomas
in cattle and secondary neoplasms in cattle, sheep and pigs. British Journal of Cancer, v. 22, p. 47 –
57, 1967.
BARLEY, J. P. Pulmonary Papillary Adenocarcinoma in an adult cow. Veterinary Ireland Journal, v. 1,
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KELLEY, L.C.; PUETTE, M.; LANGHEINRICH, K.A. et al. Bovine pulmonary blastomas: histomorphologic
description and immunohistochemistry. Veterinary Pathology, v.31, p.658-662, 1994.
KOBASHI, Y.; Yoshida K, Miyashita N et al. Pulmonary Mycobacterium avium disease with a solitary
pulmonary nodule requiring differentiation from recurrence of pulmonary adenocarcinoma. Internal
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MEUTEN, D.J. Tumors in domestic animals. Iowa: Iowa State, 2002. Cap.7, p.365- 399.
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OKADA, Y.; OCHIAI, K.; OSAKI, K. et al. Bronchiolar-alveolar carcinoma in a cow. Journal Comparative
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PIERCY, D.W.T.; CRANWELL, M.P.; WONNACOTT, B.J. et al. Anaplastic small cell carcinoma of the
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VIOTT, A.M.; LANGOHRII, I.M.; VANNUCCI, F.A. et al. Adenocarcinoma pulmonar em um bovino.
Ciência Rural, v.40, n.2, p.484-487, 2010.

332
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 120, 2013

120. AVALIAÇÃO HISTOQUÍMICA DE FIBRAS COLÁGENAS E ELÁSTICAS EM


FERIDAS EXPERIMENTAIS DE COELHOS TRATADOS ORALMENTE COM
ÁGUA-DE-COCO E ÁGUA MAGNETIZADA
(Histochemistry evaluation of collagen and elastic fibers in experimental wounds
of rabbits treated orally with coconut water and magnetized water)

Gabriel D. Carvalho¹, Fabrício L. Valente², Claudia Momo³, Marlene I. Vargas Vilória²

1 Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, IFNMG – Campus Salinas (IFNMG),


gabriel.carvalho@ifnmg.edu.br
2. Departamento de Veterinária, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa-MG, Brasil.
3. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), Jaboticabal-SP, Brasil.

RESUMO: Este trabalho teve por objetivo avaliar histologicamente o processo de


reparação tecidual de feridas experimentais de coelhos tratados oralmente com água
magnetizada e com água-de-coco. Utilizaram-se 30 coelhos da raça Nova Zelândia
Branca, divididos em seis grupos com diferentes tratamentos por via oral (água mineral,
água magnetizada e água-de-coco). Três desses grupos receberam pomada antibiótica
na ferida experimental. Feridas cirúrgicas foram realizadas no dorso dos animais.
Biopsias foram realizadas nas bordas das feridas para avaliação histopatológica das
fibras colágenas e elásticas. Os animais que ingeriram água magnetizada
apresentaram os maiores valores de fibras elásticas. O colágeno tipo I foi predominante
em todos os grupos, em todas as coletas. A ingestão de água magnetizada e de água-
de-coco influenciou o processo reparação tecidual. Porém, mais estudos são
necessários para se elucidar o mecanismo de ação deste processo terapêutico.
Palavras-chave: cicatrização; colágeno; epitelização; fibras elásticas; pele
ABSTRACT: This study aimed to evaluate histologically the process of tissue repair in
experimental wounds of rabbits treated orally with magnetic water and coconut water.
Were used 30 rabbits New Zealand White divided into six groups with different oral
treatments (mineral water, magnetized water and coconut water), and these, three
groups received antibiotic ointment on the experimental wound. Surgical wounds were
made on the backs of the animals. Tissue biopsies from the edges of the wounds were
taken for histological evaluation of collagen and elastic fibers. The animals that ingested
magnetized water showed the highest values of elastic fibers. Collagen type I was
predominant in all groups, in all collections. The ingestion of the magnetized water and
coconut water influenced the tissue repair process, but more studies are needed to
elucidate the mechanism of action of this therapeutic process.
Key words: collagen; elastic fibers; epithelialization; healing wound; skin
INTRODUÇÃO
A cicatrização é o processo pelo qual o tecido lesado é substituído por um tecido
conjuntivo vascularizado. Este processo envolve componentes da matriz extracelular
(colágeno, elastina e fibronectinas) e células (fibroblastos, células endoteliais, células
nervosas e leucócitos), bem como mediadores químicos (prostaglandinas, leucotrienos,
fator de agregação plaquetária, citocinas e fatores de crescimento) (Hatanaka e Curi,
2007). No processo de reparação tecidual de feridas, ocorre a remodelação da matriz
extracelular com a deposição de fibras colágenas e de fibras elásticas (Gahary et al.,
1995). No intuito de verificar a hipótese de que a ingestão de água-de-coco e de água
magnetizada pode influenciar em determinados processos biológicos no organismo
animal, este trabalho teve por objetivo avaliar histologicamente o processo de
reparação tecidual de feridas experimentais de coelhos tratados oralmente com água
magnetizada e com água-de-coco.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 30 coelhos da raça Nova Zelândia Branca, divididos em seis grupos
com diferentes tratamentos por via oral, sendo que três desses grupos receberam
333
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 120, 2013

pomada antibiótica na ferida experimental (G1: água mineral + pomada; G2: água
magnetizada + pomada; G3: água-de-coco + pomada; G4: água mineral;
G5: água magnetizada; G6: água-de-coco). Após o preparo cirúrgico dos animais
(tricotomia, assepsia e anestesia), com auxilio de um bisturi circular de 6 mm foram
realizados quatro pontos de feridas cirúrgicas, na região torácica dorsal, com dois
centímetros de distância entre elas. Foram realizadas biopsias nas bordas de cada
ferida distinta aos 7, 14, 21 e 30 dias após a indução das mesmas. Foi admitida como
amostra controle amostras de pele dos animais. Os tecidos foram fixados em solução
formalina (10%) e encaminhados para o processamento histológico para confecção das
secções para posterior avaliação. Para observação de fibras colágeno (tipos I e III)
utilizou-se a coloração de picrosirius (Junqueira et al., 1979) e para observação das
fibras elásticas utilizou-se a coloração de Verhoeff (Prophet et al., 1992).
Os cortes histológicos submetidos à coloração de picrosirius foram observados em
microscópio de luz polarizada e fotografados no aumento de 200x. Para o cálculo do
percentual de colágeno pelo método de planimetria por contagem de pontos, colocou-
se, sobre cada imagem, uma grade, onde os pontos de interseção coincidentes com as
fibras de colágeno (tipos I e III) foram contados e os percentuais de colágeno foram
calculados pela fórmula a seguir: Colágeno tipo I ou tipo III (%) = (nº de pontos (tipo I
ou tipo III) x 100)/ nº total de pontos contados
Os cortes histológicos submetidos à coloração de Verhoeff foram observadas em
microscópio de luz e fotografados e analisados como descrito anteriormente.
Contaram-se todas as fibras elásticas presente nos campos observados e calculouse a
área de observação, descartando-se as regiões de anexos cutâneos, superfície
epidérmica e vasos sanguíneos. Posteriormente, foi calculada a relação de fibra
elásticas por μm2, para cada grupo, de acordo com a fórmula a seguir: Relação de
fibras elásticas (FE/μm2 = (nº de fibras elásticas contadas)/ área analisada (μm2)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores percentuais das fibras de colágeno tipo I ou tipo III e os valores da relação
de fibras elásticas com a área de tecido analisado (FE/μm2), obtidos pela análise das
fotomicrografias dos cortes histológicos estão apresentados na tabela 1. A análise
estatística, que considerou como variáveis independentes os tipos de
tratamento e o momento da biopsia, revelou que houve diferença significativa
(P<0,001) entre todos os grupos e a pele normal, o que indica que a presença da ferida
interferiu na expressão das fibras de colágeno. Com relação ao momento da biopsia,
os valores de fibras de colágeno não apresentaram diferença significativa.
No caso das fibras elásticas, o Grupo 3 se diferenciou de todos os demais grupos e o
Grupo 4 apresentou os maiores valores de FE/μm2. O tempo da coleta não interferiu
na relação do percentual de fibras tipo I ou III, que não se alterou ao longo do tempo,
dentro dos grupos. O tipo de colágeno predominante, em todas as coletas, em todos os
grupos foi o colágeno tipo I, o mesmo que é citado por Montes (1996) como sendo o
tipo de colágeno padrão predominante na pele sem alteração.

334
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 120, 2013

CONCLUSÕES
O tipo de tratamento recebido interferiu na expressão das fibras elásticas porém, o
tempo da coleta não interferiu na expressão de fibras elásticas, sendo que a relação
FE/μm2 não se alterou ao longo do tempo, dentro dos grupos.
Notas informativas: Protocolo de aprovação pela Comissão de Ética no Uso de Animais
da UFV: Processo Nº 65/2010.
REFERÊNCIAS
GAHARY, A.; SHEN, Y.J.; NEDELEC, B.; SCOTT, P.G.; TREDGET, E.E. Enhanced expression of RNAm
for insulin like growth factor-1 in post-burn hipertrophic scar tissue and its fibrogenic role by dermal
fibroblasts. Molecular and Cellular Biochemistry, v.148, p.25-32, 1995.
HATANAKA, E.; CURI, R. Fatty acids and wound healing: a review. Brazilian Journal of Pharmacy, v.88,
n.2, p.53-58, 2007.
JUNQUEIRA, L.C.U.; BIGNOLAS, G.; BRENTANI, B.B. Picrosirius staining plus polarization microscopy,
a specific method for collagen detection in tissue sections. Histochemical Journal, v.11, p.447-455, 1979.
MONTES, G.S. Structural biology of the fibers of the collagenous and elastic systems. Cell Biology
International, v.20, p.15-27, 1996.
PROPHET, E.B.; MILLS, B.; ARRINGTON, J.B.; SOBIM, L.H. Laboratory Methodos in Histotecnology.
Washigton: Armed Forces Institute of Pathology. 1992. 264p.

335
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 121, 2013

121. A EFICÁCIA DO MÉTODO DE EUTANÁSIA POR ARMA DE FOGO EM


EQUÍDEOS COM BASE NAS LESÕES EM TECIDO ÓSSEO E ENCEFÁLICO
(The effectiveness of the firearm euthanasia method in equidae based on analysis
of the lesions on bone and brain tissue)

Adriano Tony Ramos¹, Rosane Maria Guimarães Silva¹, Marcello Machado¹, Marco
Augusto Giannoccaro Silva², Paulo César Maiorka³, Fabiano Mendes de Cordova²

1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Campus Curitibanos, Curitibanos – SC


2 Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Escola de Med. Veterinária e Zootecnia, Araguaína – TO
3 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ-USP) - Depto de Patologia

RESUMO: A eutanásia por arma de fogo é amplamente usada no Brasil em eqüídeos


positivos para Anemia Infecciosa Equina. O óbito se dá por destruição massiva do
encéfalo e o grau do dano depende da arma, projétil e precisão do disparo. Foram
avaliadas lesões ósseas cranianas de oito equídeos eutanasiados e lesões encefálicas
de dois dos animais. Objetivou-se verificar a aplicabilidade dos procedimentos para a
eficiência do método e características das lesões, com ênfase nas fatais, observadas
nos ossos frontal, esfenoide e occipital e em hemisfério cerebral, tálamo, hipotálamo e
tronco do encéfalo. Foram identificadas dificuldades na aplicação do método para
animais em grupo e verificou-se que lesões que causaram insensibilização imediata
foram ocasionadas por apenas um disparo e que a arma e a munição foram eficazes.
Palavras-chave: encéfalo; ossos do crânio; medicina veterinária forense; balística
ABSTRACT: Firearm euthanasia is widely used method on positive horses for Equine
Infectious Anemia in Brazil. Death occurs by massive destruction of brain tissue and the
damage degree depends on the gun, projectile, and shooting precision. Were evaluated
cranial bone lesions of eight horses euthanized and brain lesions on two of those
animals. This study aimed to verify the applicability of procedures for the efficiency of
the method and the lesions features, with emphasis on fatal ones, found especially in
the frontal, sphenoid and occipital bones, and on cerebral hemisphere, thalamus,
hypothalamus, and brain stem. Difficulties in applying the method for animals in group
were identified. Injuries that caused immediate stunning needs only one shooting and
the gun and ammunition used were effective for the purpose.
Key words: brain, skull bones; forensic veterinary medicine; ballistics
INTRODUÇÃO
Em equídeos, a eutanásia por tiro de arma de fogo é um método aceito sob restrições,
empregado na indisponibilidade ou inviabilidade de outros métodos, requerido em
algumas situações de campo ou quando o sofrimento do animal justifique a morte
imediata. A técnica deve ser realizada por indivíduo treinado e habilitado, sob a
supervisão de um médico veterinário e a presença de espectadores deve ser evitada
(Brasil, 2013, CFMV, 2012; AVMA, 2013; CCAC, 2010). A contenção adequada do
animal é essencial e a arma deve ser posicionada de modo a assegurar que o tiro faça
danos significativos no encéfalo, promovendo a perda instantânea da consciência.
Dentre as desvantagens do método estão a dificuldade de contenção em situações a
campo; destruição do tecido cerebral, o que inviabiliza determinados exames post
morten; característica de ser visualmente desagradável e existência de riscos ao
operador e observadores (Brasil, 2013; Wright et al., 2009). O procedimento deve ser
realizado em ambiente aberto e o calibre compatível com o porte do animal (Brasil,
2013). No Brasil é comum o uso de arma de fogo como método de eutanásia para
equídeos positivos para Anemia Infecciosa Equina (AIE), doença de notificação
obrigatória e com indicação de eutanásia (Brasil, 2009; ADAPEC-TO, 2003). A escolha
do método se dá pela dificuldade de aquisição de drogas anestésicas e pela
recomendação da realização na propriedade de origem dos animais (Brasil, 2013).

336
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 121, 2013

Poucos dados estão disponíveis na literatura a respeito das lesões por arma de fogo
em procedimentos de eutanásia, assim como sua contribuição para o sucesso do
método. Desta forma, e com base na ampla utilização do método no país, este trabalho
teve como objetivos identificar e caracterizar as lesões por arma fogo em equídeos e a
sua relação com a eficácia do procedimento.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram considerados dados de 4 equinos e 4 muares, positivos para AIE, eutanasiados
por tiro de arma de fogo na cabeça, na cidade de Araguaína-TO. Foi utilizada
espingarda carabina calibre .22, com projéteis tipo ogiva. Os disparos foram efetuados
por policial militar designado pela Agência de Defesa Agropecuária do Tocantins, a
uma distância aproximada de 1,5 m. Foram alvejados um a um em uma cova de 6x3x3
m, onde foram enterrados. O ponto para a entrada do projétil seguiu o estabelecido por
órgãos oficiais (Brasil, 2013; NFACC, 2013). A angulação da arma deve estar alinhada
com a linha do pescoço para que o projétil se aloje no pescoço (NFACC, 2013;
COONEY et al., 2012). A análise das lesões foi feita por observação macroscópica dos
danos teciduais encefálicos (2 animais) e ósseos (8 animais).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Três animais receberam um único tiro fatal. Dois animais receberam dois tiros, dois
receberam três tiros e um recebeu quatro tiros. O insucesso do primeiro tiro foi devido
especialmente a: dificuldade de contenção adequada no interior da cova, presença de
outros animais e inexperiência do executor para a tarefa. Os ferimentos de entrada
foram observados nos ossos frontal e nasal. As lesões foram caracterizadas por
pequenos orifícios de entrada na pele (0,3 a 0,6 mm) e halos de hematoma (1 a 2,5
cm) no tecido subcutâneo. No periósteo ao redor dos orifícios havia hematomas (2 a 3
cm) com sinais de tecido carbonizado. No plano ósseo os orifícios de entrada (0,5 a 1
cm) eram de contorno redondo a oval. Havia sinais de funil de Bonnet, e Sinais de
Benassi, caracterizados por coloração enegrecida por pólvora ou chumbo do projétil ao
redor dos orifícios. Os pontos de saída (3 a 6 cm) foram observados especialmente na
base do crânio por extensa fratura dos ossos basisfenoide e basoccipital, com
esquírolas e fragmentos ósseos no tecido circunjacente. Tiros abaixo do local
recomendado penetraram caudalmente nos ossos nasais ou na parte rostral dos ossos
frontais, atingindo o seio paranasal frontal rostralmente à cavidade craniana, não
ocasionando morte imediata. Tais tiros saíram rostralmente à base do crânio, na região
das coanas, atingindo os ossos etmoide, vômer, pterigoide e palatino e as conchas
nasais etmoidais; um animal apresentou dano nas conchas nasais dorsal e ventral. Em
um dos casos o projétil saiu pela parede medial da órbita direita, entre a parte orbital do
frontal e asa do esfenoide. Nos animais que receberam mais de um tiro, o tiro fatal foi o
último e o único a penetrar na cavidade craniana; os outros disparos atingiram o fundo
da cavidade nasal. Devido às dificuldades de contenção, nenhum disparo foi
exatamente no plano mediano. Em um dos casos foram atingidos os lobos frontal e
temporal, tálamo e hipotálamo. No outro caso houve lesão no sentido rostrocaudal do
lobo piriforme, tronco do encéfalo e cerebelo, o que indica correta angulação da arma
com a linha do pescoço, como preconizado no método por órgãos estrangeiros
(NFACC, 2013).
CONCLUSÕES
As lesões ósseas e encefálicas indicaram danos importantes, capazes de ocasionar a
insensibilização e o óbito imediatos. A aplicação correta do método é eficaz na
minimização de sofrimento com apenas um único disparo e a arma e a munição
utilizadas são adequadas para o procedimento.
Agradecimentos
À Agência de Defesa Agropecuária do Tocantins (ADAPEC-TO).

337
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 121, 2013

REFERÊNCIAS
AMERICAN VETERINARY MEDICAL ASSOCIATION – AVMA. Guidelines for the Euthanasia of
Animals: 2013 Edition. 102p.
CANADIAN COUNCIL ON ANIMAL CARE – CCAC. Guidelines on: euthanasia of animals used in
science. Ottawa, ON, Canadá. 2010. 36p.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA – CFMV. Resolução Nº 1000, de 11 de maio de
2012. 2012. 9p.
CONSELHO NACIONAL DE CONTROLE DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL – CONCEA. Diretrizes da
prática de eutanásia. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Brasília, DF. 2013. 54p.
COONEY, K.A.; CHAPPELL, J.R.; CALLAN, R.J.; CONNALLY, B.A. Veterinary euthanasia techniques:
a practical guide. Ames, Iowa. Wiley-Blackwell, 2012. 197p.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Manual de Legislação.
Programas Nacionais de Saúde Animal no Brasil. Brasília, DF, 2009, 441p.
NATIONAL FARM ANIMAL CARE CONCIL – NFACC – Code of practice for the care and handling of
equines. Equine Canada, Otawwa, 2013.
SECRETARIA DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. AGÊNCIA DE
DEFESA AGROPECUÁRIA – ADAPEC-TO. Anemia infecciosa equina. Tocantins, Brasil, 2003.
Disponível em http://www.adapec.to.gov.br/conteudo.php?id=188. Acesso em 30/07/2013.
WRIGHT, B.; RIETVELD, G.; KENNEY, D. Euthanasia of horses. Ontario Ministry of Agriculture and
Food INFO Sheet, 2009.

338
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 122, 2013

122. "CAFÉ CORONARY" SÍNDROME (ENGASGO FATAL) EM UM BULLDOG


(Café Coronary Syndrome -Fatal choking- in a Bulldog)

Gisele Fabrino Machado - giselem@fmva.unesp.br (UNESP), (FMVA), Hugo Enrique Orsini (UNESP),
(FMVZ), Janete Madalena da Silva (UNESP), (FMVA)

RESUMO: Um cão, filhote da raça Bulldog foi encontrado morto após ser alimentado
com ração comercial seca. No exame necroscópico foi revelada obstrução total do
lúmen traqueal superior por grãos não digeridos de ração. A traquéia e brônquios
continham líquido espumoso e os pulmões mostraram congestão moderada e
petéquias multifocais. O estômago estava preenchido por conteúdo alimentar seco,
pouco mastigado, sugerindo ingestão rápida. Os intestinos estavam vazios, compatível
com um longo intervalo de tempo entre a ingestão de alimentos. Não há outras
doenças subjacentes significativas. Foi observada lesão relacionada com a síndrome
obstrutiva das vias aéreas braquicefálicas (BAOS). A causa da morte foi asfixia por
sufocação (devido ao bloqueio das vias aéreas). Este é um relato da clássica síndrome
―Café Coronary‖, raramente vista na literatura veterinária.
Palavras-chave: asfixia acidental; asfixia por alimento; cães braquicefálicos
ABSTRACT: A Bulldog puppy was found death by the owners some time after had
been fed with dry commercial food. Necropsy examination revealed a complete lumen
obstruction of the upper tracheal tract with a non digested piece of dog food. The
trachea and bronchi contained foamy liquid and the lungs were moderated congested
with some petechiaes on surface. The stomach was full of dry dog food poor chewed,
suggesting fast ingestion. The empty small intestines was in accordance with a long gap
on time between food ingestion. No other significant underlying diseases were present.
Any lesion related with brachycephalic airway obstructive syndrome (BAOS) was
observed. The cause of death asphyxia was related with suffocation by choking (due to
blockage of the internal airways). This is a classical description of café coronary
syndrome a situation that has not been widely reported in veterinary literature.
Key words: accidental asphyxia; brachycephalic dogs; food asphyxia
INTRODUÇÃO
"Café coronary" é um termo cunhado por Haugen (1963) para descrever a morte súbita
e inesperada que ocorre durante a alimentação devido à oclusão acidental das vias
aéreas por alimento. Em humanos adultos, a maioria das mortes ocorre em frente a
testemunhas que geralmente relatam a ocorrência de um "ataque cardíaco" durante a
ingestão de alimento, frequentemente por pessoas alcoolizadas (Kumar et al., 2008).
Apenas durante a realização da necropsia é possível verificar a obstrução da glote por
um bolo de alimento pouco mastigado (Byard et al., 2003). Esta condição é raramente
descrita em animais (Will et al., 1979; Byard et al., 2003) e, embora a obstrução da
traqueia seja reconhecida como uma condição que oferece perigo à vida, os relatos
geralmente são de obstrução parcial (Freitas et al., 2010; Mattoon et al., 1997; Mair e
Lane, 1990; Dimski, 1991) onde a identificação precoce dos sinais de obstrução e a
intervenção terapêutica são primordiais para a sobrevivência do paciente (Roach e
Krahwinkel, 2009). As causas mais comuns de obstrução traqueal reportadas na
literatura veterinária incluem corpos estranhos e tumores traqueais (Roach e
Krahwinkel, 2009). Um caso de morte resultante asfixia por sufocamento é descrito em
um cão jovem da raça Bulldog Inglês.
MATERIAL E MÉTODOS
Um cão da raça Bulldog, fêmea com 40 dias foi encaminhado ao Serviço de Patologia
da UNESP-FMV-Araçatuba para determinação da causa mortis. Segundo o proprietário
não foi observada nenhuma alteração no comportamento do cão. O animal foi
alimentado pela primeira vez no período da manhã e foi encontrado morto após duas
horas.

339
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 122, 2013

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O animal apresentava bom estado corporal e mucosas aparentes congestas. No lúmen
traqueal verificou-se presença de corpo estranho, identificado como pellet de ração que
ocluía completamente a luz da traqueia na altura da glote, além de edema intenso,
caracterizado pela presença de líquido sero-sanguinolento aerado. Os pulmões se
apresentavam moderadamente congestos com petéquias superficiais. Ao corte deixava
fluir sangue espumoso. O coração apresentava dilatação da câmera ventricular direita.
Fígado e baço estavam difusamente congestos. Os rins aparentavam congestão difusa,
mais evidente na junção cortico-medular. O estômago exibia-se repleto de alimento
(ração). Os intestinos estavam completamente vazios, apenas no reto havia presença
de material fecal. No encéfalo foi verificada congestão dos vasos superficiais. A
avaliação histopatológica evidenciou, nos pulmões, congestão vascular difusa a
moderada associada à hemorragia e edema alveolar difuso. Também havia múltiplos
focos com enfisema a atelectasia, mais evidentes em lobos apicais. Brônquios e
bronquíolos apresentavam a luz livre de material estranho. Fígado com congestão
sinusoidal e degeneração vacuolar com distribuição difusa. Demais órgãos sem
alterações significativas, exceto congestão.
Asfixia pode ser definida como uma injúria causada por deficiência de oxigênio
(hipóxia) que envolve todas as condições e sequelas causadas pela interrupção ou
impedimento do suprimento e utilização de oxigênio nos tecidos. Por outro lado, o
termo sufocamento, na medicina forense, é usado de forma restrita, por motivos
práticos, para casos onde ocorre concentração inadequada de O2 no ambiente
(sufocamento ambiental); obstrução mecânica do nariz e da boca, bloqueio das vias
respiratórias internas (choking) e compressão da cavidade torácica (asfixia mecânica).
O diagnóstico de asfixia pode ser problemático se não houver indícios de injúria interna
ou externa, ou obstrução do trato respiratório, e as condições da morte não forem
conhecidas em detalhe (Delmonte e Capelozzi, 2001).
Cães braquicefálicos apresentam frequentemente uma combinação de más formações
nas vias aéreas superiores (ex. estenose das narinas, palato mole mais longo, sacos
da laringe invertidos, colapso da laringe), o que resulta em intolerância ao exercício,
aumento do esforço inspiratório e cianose, em alguns casos resultando em perda
temporária de consciência e inabilidade para respirar adequadamente (Pichetto et al.,
2011). Alterações como estas poderiam servir como fator predisponente à aspiração do
alimento, mas não foram evidenciadas no exame macroscópico. Problemas associados
a café coronary syndrome em humanos adultos incluem desordens neurológicas,
psiquiátricas, consumo de drogas e afecções da cavidade oral (Wick et al., 2006). Em
crianças, pode estar relacionada a falta de entendimento na quantidade de comida
apropriada a ser ingerida, mastigação inadequada devido a dentição incompleta, ou o
fato de brincar e falar enquanto se alimenta (Byard, 1994). No presente caso, o
estômago dilatado com ração não mastigada e o intestino delgado sem conteúdo
sugerem que o cão ficou um longo período sem ser alimentado. Podemos inferir que
houve um entusiasmo excessivo do mesmo ao ingerir o alimento. Neste caso, o fator
predisponente foi um erro no manejo alimentar do cão. Com até 10 semanas de idade
o filhote deve ser alimentado 4-5 vezes ao dia em pequenas porções, e é recomendado
manter o horário constante (Lazzarotto, 2001), em média uma refeição a cada 5 horas.
Segundo as informações do proprietário, era um domingo e ele dormiu até mais tarde,
tendo alimentado o animal apenas às 11 horas da manhã. As lesões histopatológicas
dos pulmões estão de acordo com as descritas em humanos que sofreram asfixia
aguda por sufocamento. Delmonte e Capelozzi (2001) destacam a presença de
enfisema. Edema também pode ser observado, mas segundo os autores este último é
atribuído ao aumento da permeabilidade capilar em decorrência da hipóxia.

340
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 122, 2013

CONCLUSÕES
Casos de engasgo são relativamente comuns sem serem fatais. Casos de café
conorary syndrome raramente são descritos em animais. As alterações macroscópicas
e histopatológicas foram compatíveis com asfixia por sufocamento, e o histórico sugere
que o engasgo resultou da impulsividade do animal ao ingerir a ração. Embora
nenhuma alteração compatível com a síndrome do trato respiratório dos cães
braquicefálicos tenha sido observada, as particularidades anatômicas da região da
cabeça podem ter contribuído para a dificuldade de expulsão do bolo alimentar e a
consequente asfixia. A manutenção de manejo nutricional adequado para filhotes é
essencial, em especial para estes as raças braquicefálicas.
REFERÊNCIAS
BYARD, R.W. Unexpected death due to acute airway obstruction in daycare centers. Pediatrics, v. 94, p.
113–114, 1994.
BYARD, R.W.; GILBERT, J.D.; GIBBS, S.E.; KEMPER, C.M. Cetacean café coronary. Journal of Clinical
Forensic Medicine, v. 10, p. 85-88, 2003.
DELMONTE, C.; CAPELOZZI, V.L. Morphologic determinants of asphyxia in lugs – A semiquantitative
study in forensic autopsies. American Journal of Forensic Medicine and Pathology, v. 22, n. 2, p. 139-
149, 2001.
DIMSKI, D.S. Tracheal obstruction caused by tree needles in a cat. Journal of the American Veterinary
Medical Association, v. 199, p. 477–478, 1991.

341
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 123, 2013

123. CIRROSE HEPÁTICA EM JABUTI (Geochelone carbonaria): SEGUNDO CASO


DESCRITO NO BRASIL
(Cirrhosis in Tortoise (Geochelone carbonaria): second case described in Brazil)

Dayane Francisca Higino Miranda¹, Micherlene da Silva Carneiro¹, Angela P. Campos²,


Lucilene dos Santos Silva² , Marcelo Campos Rodrigues³ ,Francisco Assis Lima Costa³

1 Mestranda, Ciência Animal, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina-Piauí, Brasil.


2 Doutoranda, Ciência Animal, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina-Piauí, Brasil .
3 Prof, Depto de clínica e Cirúrgica Veterinária, Universidade Federal do Piauí(UFPI), Teresina-Piauí.

RESUMO: Cirrose é a etapa final da hepatite crônica ocorrendo de forma difusa no


fígado, caracterizada por destruição das células do parênquima hepático,
acompanhado por aumento de tecido fibroso. Uma fêmea da espécie Geochelone
carbonaria, de aproximadamente 16 anos de idade, com histórico de anorexia, apatia,
micção constante e fezes líquidas por um período de 4 dias de evolução e após o óbito.
À necropsia foi observado, fígado de consistência firme, superfície irregular, presença
de nodulações difusas à coalescente de aproximadamente 0,5cm a 4cm, de coloração
variando do amarelo ao vermelho claro, ocupando todos lobos hepáticos. O exame
histopatológico dos fragmentos de fígado, revelaram tecido hepático com arquitetura
desorganizada, intensa proliferação de tecido conjuntivo delimitando ―ilhas‖ de
hepatócitos com o citoplasma intensamente vacuolizado e deslocamento do núcleo
para a periferia (degeneração e necrose). Os achados histopatológicos, permitiram
concluir pelo diagnóstico de cirrose hepática em Geochelone carbonaria.
Palavras-chave: fígado; histopatológico; quelônio
ABSTRACT: Cirrhosis is the final stage of chronic hepatitis occurring diffusely in the
liver, characterized by destruction of hepatic parenchymal cells, accompanied by
increased fibrous tissue. A female of the species Geochelone carbonaria, approximately
16 years old, with a history of anorexia, lethargy, constant urination and watery stools
for a period of 4 days of evolution and after death. At necropsy was observed, liver, firm
irregular surface, the presence of diffuse nodules coalescing to about 0.5 cm to 4 cm,
varying in color from yellow to light red, occupying all liver lobes. Histopathological
examination of liver fragments revealed liver tissue architecture disorganized, intense
proliferation of connective tissue enclosing "islands" of hepatocytes with vacuolated
cytoplasm intensely and offset from the nucleus to the periphery (degeneration and
necrosis). Histopathological findings and revealed the diagnosis of cirrhosis in
Geochelone carbonaria.
Key words: chelonian; histopathological; liver
INTRODUÇÃO
Cirrose é a etapa final de hepatite crônica, caracterizada por destruição das células do
parênquima hepático, por aumento de tecido fibroso, desorganização da arquitetura
lobular e vascular e formação de nódulos parenquimatosos distribuídos difusamente
por todo o órgão (Conn e Attenburry,1993).
Em cães várias causas infecciosas e não infecciosas têm sido sugeridas, como o
adenovírus canino tipo 1 (cav-1) , leptospira interrogans sorovar grippotyphosa,
acúmulo de cobre, administração de fármacos, deficiência da alfa-1-anti-tripsina
(defeito genético) e doença auto-imunes (Crawford et al., 1985).
Os jabutis são quelônios de hábitos terrestres, pertencentes à família Testudinidae, a
segunda maior família da ordem Testudines em número de espécies (Ernst e Barbour,
1989). A espécie Geochelone carbonaria é encontrada em zonas tropicais da América
do Sul: nas Guianas, Venezuela, Equador, Paraguai, Brasil e algumas ilhas do Caribe
(Pritchard, 1979; Levine e Schafer, 1992).

342
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 123, 2013

Desse modo, o objetivo deste trabalho foi descrever a ocorrência de cirrose hepática
em Geochelone carbonaria criado em cativeiro, como um valioso registro sobre o
segundo caso desta doença no Brasil.
CASO CLÍNICO
Uma fêmea da espécie Chelonoidis carbonaria, de aproximadamente 16 anos de idade
pesando 9kg, foi encaminhada ao Hospital Veterinário Universitário (HVU) da
Universidade Federal do Piauí (UFPI), com histórico de anorexia, apatia, micção
constante e fezes líquidas por um período de 4 dias, o animal alimentava-se de ração,
flores e frutos. À anamnese a temperatura aferida foi de 38,7ºC e a suspeita clínica foi
de corpo estranho. O animal permaneceu internado recebendo terapia de suporte vindo
a óbito no 10º dia de internação. O animal foi encaminhado ao Setor de Patologia
Animal da UFPI para exame anatomopatológico.
Fragmentos de fígado coletados durante a necropsia foram fixados em formalina
tamponada a 10%, processados, incluídos em parafina, cortados a 5μm de espessura
e corados com Hematoxilina-Eosina (HE).
RESULTADOS
À necropsia a cavidade celomática apresentava grande quantidade de líquido aquoso
de coloração levemente amarelada. O exame das vísceras revelou fígado de
consistência firme, superfície irregular com presença de nódulos de regeneração de
distribuição difusa por todos os lobos, de diâmetro de 0,5cm a 4cm, de coloração
variando do amarelo ao vermelho claro.
O exame histopatológico dos fragmentos de fígado revelou tecido hepático com
arquitetura completamente desorganizada, intensa proliferação de tecido conjuntivo
delimitando ―ilhas‖ de hepatócitos com o citoplasma vacuolizado, deslocando o núcleo
para a periferia (degeneração e necrose) e células hepáticas em necrose. Havia
infiltrado de eosinófilos no parênquima hepático, retenção de grande quantidade de
pigmento biliar nos canalículos biliares e nos hepatócitos (colestase), e proliferação de
ductos biliares.
DISCUSSÃO
Nos últimos anos, dado os recentes avanços da medicina veterinária, os animais têm
sobrevivido mais tempo e com melhor qualidade de vida do que em décadas passadas.
Com isso, as doenças crônicas têm constituído uma importante fração dos distúrbios
que acometem essas espécies. Dentre essas doenças, a cirrose é considerada uma
das mais prevalentes em animais idosos (Dimski 1999).
Em humanos a cirrose é caracterizada pela presença de três características: 1) septos
fibrosos em ponte que substituem múltiplos lóbulos adjacentes, 2) nódulos
parenquimatosos criados por regeneração de hepatócitos e 3) perda da arquitetura de
todo o fígado. A patologia está associada principalmente ao alcoolismo (60%-70% dos
casos) e à hepatite viral (10% dos casos) (Crawford, 2000).
Os achados histopatológicos estão compatíveis com outro estudo realizados sobre o
assunto que descreve na espécie Geochelone carbonaria, fígado com superfície
irregular, coloração pálida, microscopicamente foi observado presença de tecido
conjuntivo, macrófagos com pigmento marrom escuro no citoplasma, hepatócitos
dilatados com grandes vacúolos, que se assemelhavam a gotículas lipídicas e núcleos
marginais (Guedes e Lavalle, 2004).
Os sinais clínicos mais prevalentes em cães com cirrose incluem perda de peso,
apatia, inapetência ou anorexia, diarréia, icterícia, distúrbios neurológicos, ascite,
polidipsia, poliúria (Johnson, 2004), intolerância ao exercício, vômito, hemorragias
mucocutâneas e anestro (Twedt, 1985). Sinais clínicos encontrados neste caso.
Em veados a provável causa de cirrose é ingestão de plantas tóxicas ( Blankenship et.
al., 1976) em ovinos está relacionada a deficiência nutricional e assemelham-se a
cirrose de roedores induzida experimental usando uma dieta com baixos níveis de

343
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 123, 2013

ácido fólico, metionina e / ou vitamina B12 (Ghoshal e Farber, 1993). Lipidose


hepatocelular é uma lesão relativamente comum em répteis de cativeiro (Frye, 1991).
As micotoxinas podem ser encontradas em diferentes ingredientes de rações animais
como farelo de amendoim, algodão e milho. Os efeitos agudos da intoxicação por
micotoxina incluem danos estruturais e funcionais no fígado incluindo necrose celular,
hemorragia, fibrose e cirrose (Maia e Siqueira, 2007). Dentre a alimentação da
Geochelone carbonaria do presente relato incluía-se ração do qual a origem e
armazenamento são desconhecida e a possível causa da cirrose neste animal pode ser
em decorrência da ração contaminada com micotoxina.
CONCLUSÃO
Os resultados histopatológicos permitiram concluir pelo diagnóstico de Cirrose Hepática
em Geochelone carbonaria.
REFERÊNCIA
BLANKENSHIP, L.H.; ADAMS, L.G.; ROBINSON, R.M. et al. Hepatic fatty cirrhosis in Texas white-tailed
deer. Journal of Wildlife Diseases, v.12, n.3, p.396-401,1976.
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344
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 124, 2013

124. DETECÇÃO DE CITOCINA POR PCR EM TEMPO REAL NO TECIDO RENAL


DE CAMUNDONGO INFECTADO COM LEISHMANIA (L) CHAGASI
(cytokine detection in real-time PCR in renal tissue of infected with mouse
Leishmania (L) Chagasi)

Elaine Gonçalves de Oliveira¹, Aline Pereira Martins¹, Georgia Brenda², Hiro Goto5,
Francisco Assis Lima Costa³, Maria das Graças Prianti4

1. Alunos de Graduação em Med Vet, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Piauí,
2. Doutoranda em Ciência Animal, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Piauí,
3. Profdo Curso de MV, Centro de Ciências Agrárias/Dep de Clínica e Cirurgia Vet, Univer Fed do Piauí,
4. Pesquisadora/Bolsista DCR, Centro de Ciências Agrárias/Departamento de Clínica e Cirurgia
Veterinária, Universidade Federal do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil. mgprianti@gmail.com
5. Profa e Pesquisadora, Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo.

RESUMO: A leishmaniose visceral (LV) é uma doença crônica grave que afeta seres
humanos e animais. Alterações renais são caracterizadas por glomerulonefrite (GN) e
nefrite intersticial. Há evidências de que as citocinas inflamatórias tais como IL-1 B, IL-
4, podem estar envolvidas na patogênese da GN (MAIN et ai. 1992). Neste estudo
foram utilizados camundongos BALB / c infectados com amastigotas de L. chagasi,
para avaliar a presença de citocinas (IL-1 B e IL-4) nas lesões renais. Os resultados
sugerem que as citocinas IL-4 e IL-1 B participam na modulação da resposta imune da
glomerulonefrite experimental na LV em modelo murino.
Palavras-chave: glomerulonefrites; interleucina-1B; interleucina 4; leishmaniose
visceral
ABSTRACT
Visceral leishmaniasis (VL) is a serious chronic disease that affects humans and
animals. Kidney changes is characterized by interstitial nephritis and glomerulonephritis
(GN). There is evidence that inflammatory cytokines such as IL-1B, IL-4, may be
involved in the pathogenesis of GN (MAIN et al. 1992). This study used BALB/c mice
infected with amastigotes of L. chagasi in order to evaluate cytokines (IL-1B and IL-4) in
the renal lesions . The results suggest that the cytokines IL-4 and IL-1B participate in
the modulation of the immune response of the LV experimental glomerulonephritis in a
murine model.
Keywords: glomerulonephritis; interleukin-1B; interleukin 4; leishmaniasis visceral
INTRODUÇÃO
A leishmaniose visceral (LV) é uma doença crônica causada por um parasito
intracelular obrigatório que atinge órgãos do sistema fagocítico mononuclear (SFM)
como linfonodos, baço, fígado e medula óssea (DUARTE, 2000). Nos rins, as
alterações se caracterizam por nefrite intersticial e glomerulonefrite (GN) proliferativa,
ocasionada por aumento das células intrínsecas do glomérulo, ou por infiltrado
glomerular de células inflamatórias extrínsecas (TISHER & BRENNER, 1994).
Existem evidências de que citocinas inflamatórias como IL-1B, IL-4, IL-10 etc., podem
estar envolvidas na patogenia da GN (MAIN et al., 1992). Em trabalhos anteriores do
nosso grupo foi constatada a presença de hipercelularidade e de citocinas em
glomérulos de cães com LV (COSTA et al, 2010) Neste estudo foram utilizados
camundongos da linhagem BALB/c infectados com amastigotas de L. chagasi com o
objetivo de avaliar citocinas (IL-1B e IL-4) nas lesões renais em camundongos.
MATERIAL E MÉTODOS
24 Camundongos BALB/c foram infectados com amastigotas de L.chagasi e 18 foram
inoculados com RPMI 1640 (grupo controle). Após 7, 15 e 30 dias de infecção, os
grupos de camundongos foram sacrificados, para coleta do rim que foi preservado para
realização de técnica de biologia molecular. Foi realizada a extração de RNA total e as
concentrações finais foram ajustadas para 200 ng/μL; em seguida obteve-se o cDNA. A
345
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 124, 2013

quantificação da expressão de mRNA de IL-4 em tecido renal foi realizada por PCR em
Tempo Real. β-actina foi utilizada como gene de referência das reações. A expressão
de IL1-B foi verificada por reação de imunoistoquímica utilizando-se a coloração de
imunoperoxidase. Para a analise estatística foi utilizado o programa GraphPad Prisma
V.3 statistical software (Califórnia, Estados Unidos). Foram consideradas diferenças
significantes quando p< 0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os experimentos demonstraram que a expressão de mRNA da citocina IL-4 em relação
à B-actina é maior no grupo de camundongos com 7 dias pós infecção, sendo que a
expressão de IL-4 nos animais controles e com 15 dias pós infecção, se mantiveram
iguais (Fig.1). Esses resultados demonstraram que na fase inicial da doença, há
predomínio de inibição da resposta imune, levando ao aumento do número de células
glomerulares, como observado previamente (Prianti, 2005).
A análise semi-quantitativa da expressão de IL-1B mostrou que não havia diferença
entre os animais dos grupos controle não infectados e aos 7 dias pós-infecção; porém
quando comparamos os grupos de 15 e 30 com os dois primeiros grupos (controle e 7
dias pós-infecção) observou-se uma diferença significativa ( Fig.2). Esse resultado
sugere que IL-1B, também, é importante na modulação da glomerulonefrite na
leishmaniose visceral experimental em camundongo.

CONCLUSÃO
Os resultados obtidos sugerem que as citocinas IL-4 e IL-1B participam da modulação
da resposta imunológica da glomérulonefrite na LV experimental em modelo murino.
Agradecimentos
CNPq, FAPEPI, etc.
REFERÊNCIAS
COSTA, FRANCISCO AL ; PRIANTI, MARIA G ; SILVA, TERESA C et al. T cells, adhesion molecules
and modulation of apoptosis in the pathogenesis of glomerulonephitis in visceral leishmaniasis. BMC
Infectious Diseases (Oline). 2010.
DUARTE, M. Patologia das principais doenças tropicais no Brasil. Leishmaniose visceral (Calazar). In:
Brasileiro Filho G (Editor), Bogliolo Patologia. 6th ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 2000. p
1215-1227.
LAINSON R, SHAW JJ. Evolution, classification and geographical distribution. In: Peters W,
KillickKendrick R. The Leishmaniasis in Biology and Medicine. Vol. 1. London: Academic Press; 1987. p.
1-120.
MAIN, I. W.; NIKOLIC-PATERSON, D. J.; ATKINS, R. C. T cells and macrophages and their role in renal
injury. Seminars in Nephrology, v. 12, n. 5, p. 395-407, 1992.
PRIANTI M.G. Desenvolvimento e patogenia da glomerulonefrite na leishmaniose visceral em
camundongo. (Tese.). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo., Universidade de São
Paulo., São Paulo, Brasil,, 2005.
TISHER, C. C.; B, BRENNER. Renal Pathology with clinical and funcional correlations. Philadelphia,
Lippincott. 1994.

346
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 125, 2013

125. EFEITO DO ACETATO DE CARVACROL NA IMUNOPATOGENIA DA


NEFROPATIA NA LEISHMANIOSE VISCERAL EXPERIMENTAL
(Effect of acetate carvacrol in the immunopathogenesis of experimental
nephropathy in visceral leishmaniasis)

Aline Pereira Martins (bolsista do PIBIC/UFPI), Maria das Graças Prianti (bolsista DCR), Elaine
Gonçalves de Oliveira (Graduanda Vet-UFPI), Rivelilson Mendes de Freitas (CCS/UFPI), José Arnaldo
Sá Júnior (Graduando em Biomedicina CET) Francisco Assis Lima Costa (Orientador,DCCV-UFPI)

RESUMO: A Leishmaniose Visceral (LV) é causada pelo protozoário Leishmania


(Leishmania) chagasi. As alterações renais são frequentes caracterizadas por nefrite
intersticial e glomerulonefrites. O tratamento da LV humana é feito com fármacos que
apresentam forte nefrotoxicidade ou mesmo levam ao desenvolvimento de resistência
(CROFT et al., 2003). Essa limitação tem levado a busca de tratamento com extratos
de plantas (Tempone et al., 2005). O carvacrol é um óleo presente em vários vegetais
que tem sido explorado como agente inibidor do crescimento de vários patógenos (Du
et al.,2008). Nossos resultados sugerem que acetato de carvacrol na concentração de
0,05mg% seja nefrotóxico, pois os animais não infectados, tratados, apresentaram
aumento no número de células no glomérulo e espessamento da parede dos vasos em
relação aos animais não infectados e não tratados.
Palavra chave: Lesão renal; nefrotoxidade; tratamento
ABSTRACT:Visceral Leishmaniasis (VL) is caused by Leishmania (Leishmania)
chagasi. Renal changes are frequently characterized by interstitial nephritis and
glomerulonephritis. The treatment of the human VL is done with drugs that has a strong
nephrotoxicity or even lead to the development of resistance (Croft et al. 2003). This
limitation has led to the search of treatment with plant extracts (Tempone et al., 2005).
The carvacrol is present in many vegetable oil that and has been exploited as an
inhibitor of the growth of various pathogens (Du et al. 2008). Our results suggest that
carvacrol acetate in concentration of 0.05 mg% is nephrotoxic, because uninfected
animals treated showed an increase in the number of glomerular cells and thickening of
the vessel wall relative to uninfected and untreated animals.
Key words: kidney injury, nephrotoxicity, treatment
INTRODUÇÂO
A Leishmaniose Visceral (LV) é causada pelo protozoário Leishmania (Leishmania)
chagase.Vários órgãos são afetados pela doença, especialmente linfonodo, baço,
fígado e a medula óssea, porém os rins frequentemente sofrem alterações (DUARTE,
2000). As alterações renais se caracterizam por nefrite intersticial e glomerulonefrites..
O tratamento da LV humana é feito com fármacos que apresentam forte toxicidade ou
mesmo levam ao desenvolvimento de resistência (CROFT et al., 2003). Essa limitação
tem levado a busca de tratamento com extratos de plantas ou derivados semi sintético
(TEMPONE et al., 2005). O carvacrol é um óleo essencial presente em vários vegetais
e a sua propriedade tóxica tem sido explorado como agente inibidor do crescimento de
vários patógenos (DU et al.,2008), contudo sua ação sobre leishmânias é pouco
conhecida, mas tem sido observado seu efeito Leshmanicida (MORALES et al.,2009).
É eficaz como um composto analgésico, tem forte efeito antioxidante observado in vitro
(GUIMARÃES et al. , 2012 ). Desse modo, este trabalho teve como objetivo estudar o
efeito do acetato de carvacrol na imunopatogenia da nefropatia na leishmaniose
visceral em camundongos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram utilizados 16 camundongos BALB/c, machos. Distribuídos em 3 grupos: 7
animais infectados tratados com 0,05% de acetato de carvacrol; 6 animais não
infectado tratados com 0,05% de acetato de carvacrol; 3 animais sadios sem
tratamento. Após 7 dias de infecção, foi iniciado tratamento com acetato de carvacrol.
Após 7 dias de tratamento foi realizada eutanásia para coleta de órgãos de todos os
347
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 125, 2013

animais. Os rins foram fixados em formol para análise histopatológica em Lâminas


coradas com HE. A análise morfométrica foi feita em 25 glomérulos por secção e
utilizada a média para obtenção do número de células por glomérulo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nos animais infectados que receberam tratamento observou-se um aumento das
células glomerulares em relação aos grupos controle com tratamento e controle sem
tratamento, porém o grupo controle com tratamento também teve aumento do número
de células glomerulares (Fig. 1). Os vasos sanguíneos do interstício renal dos animais
infectados que receberam acetato de carvacrol e dos animais não infectados que
receberam acetato de carvacrol revelaram aumento na espessura da parede (fig.2). Os
resultados da hipercelularidade glomerular são confirmados na Fig. 3 que mostra uma
diferença significativa entre os grupos experimentais, havendo um hipercelularidade
nos glomérulos dos animais que receberam tratamento, mostrando que esse produto
provocou alterações glomerulares nos animais.

CONCLUSÕES
Os resultados sugerem que acetato de carvacrol é nefrotóxico na concentração 0,05%,
tanto em animais não infectados como nos infectados.
Agradecimentos
CNPq, FAPEPI, etc.
REFERÊNCIAS
CROFT, S.L., COOMBS, G.H., 2003. Leishmaniasis – current chemotherapy and recent advances in the
search for novel drugs. Trends Parasitol. 19, 502-508
DUARTE, M. Patologia das principais doenças tropicais no Brasil. Leishmaniose visceral (Calazar). . In:
In: Brasileiro Filho G (Editor) (Ed.). Bogliolo Patologia. . Rio de Janeiro: Editora
DU WX, OLSEN CE, AVENA-BUSTILLOS RJ, et al (2008). "Storage Stability and Antibacterial Activity
against Escherichia coli O157:H7 of Carvacrol in Edible Apple Films Made by Two Different Casting
Methods". J. Agric. Food Chem. 56(9): 30828. doi:10.1021/jf703629s. PMID 18366181
GUIMARÃES AG, XAVIER MA, DE SANTANA MT, ET al. Antiprotozoal activity of Brazilian plant extracts
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MANUEL MORALES, MARÍA CONCEPCIÓN, JOAQUINA MARTÍN,et al. Activity of diferente
monoterpenic derivatives of natural origen against Leishmania infantum promastigotes.Re. Ibero-
latinoam. Parasitol.2009; 1:65-72
TEMPONE, A.G; BORBOREMA, S.E.T; ANDRADE Jr, H.F.de;et al. Antiprotozoal activity of Brazilian
plant extracts from isoquinoline alkaloidsproducing families. Phytomedicine, v.12, p. 382-390, 2005.
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348
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 126, 2013

126. ESTUDO DA FAUNA CADAVÉRICA NO MUNICÍPIO DE PALOTINA, PARANÁ –


DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DA DECOMPOSIÇÃO CADAVÉRICA
(Study of the cadaveric fauna in Palotina municipality, Paraná – Description of
cadaveric decomposition characteristics)

Raimundo Alberto Tostes¹, Edilson Caron¹, Filipe Krasinski Cestari², Marília Melo
Favalesso³, Natália de Lima da Silva²

1. Professor Adjunto Doutor. Universidade Federal do Paraná.


2. Aluno de Graduação em Medicina Veterinária. Universidade Federal do Paraná.
3. Aluna de Graduação em Ciências Biológicas. Universidade Federal do Paraná.

RESUMO: As alterações estruturais sofridas por material biológico em decomposição,


assim como a sucessão de artrópodes neste material, são previsíveis e, portanto,
passíveis de uso na estimativa do tempo de morte de um animal. Com base nisto o
presente trabalho objetivou a determinação da cronologia de alterações cadavéricas e
da entomofauna associada a um modelo animal. Foram utilizados quatro suínos como
modelos experimentais, um para cada estação do ano. Os animais foram submetidos à
eutanásia por um protocolo farmacológico e as carcaças depositadas ao solo em área
de mata nativa. Espécimes de insetos foram coletados por meio de armadilhas.
Temperatura do ar e pluviometria foram aferidas. As alterações cadavéricas foram
observadas segundo a classificação de OLIVEIRA-COSTA (2011). O presente estudo
justificou-se pela importância da caracterização da fauna cadavérica no município de
Palotina como uma ferramenta da cronotanatognose, importante prática no meio
forense e que carece de estudos voltados específicamente para a região oeste do
Paraná.
Palavras-chave: post mortem, alterações cadavéricas, entomologia forense
ABSTRACT: The structural alterations undergone by decomposing biological material,
as well as the arthropod succession in this material, are predictable, therefore, useful on
estimating an animal's time of death. Based on that, the present study had as objective
determining an chronology of cadaveric and entomologic alterations associated to an
animal model. Four pigs were used as experimental models, one for each season. The
animals were euthanized with an anesthesic protocol and the carcasses deposited on
the soil in an area of native forest. Specimens of insects were collected using traps. Air
temperature and rainfall were measured. Cadaveric alterations were observed and
classified according to OLIVEIRA-COSTA (2011). The present study is justified by the
importance of characterization of cadaveric fauna in Palotina municipality as an
important resource for chronotanatognosis, important practice in forensics, that needs
more studies in western Paraná.
Keywords: post mortem, cadaveric alterations, forensic entomology
INTRODUÇÃO
A sucessão de artrópodes em corpos em decomposição, o tempo que cada espécie faz
uso do cadáver e as alterações morfológicas sofridas por ele, são previsíveis em
muitos aspectos (BANDARRA e SEQUEIRA, 1999) e, portanto, podem ser usadas na
estimativa do tempo de morte. A entomologia forense é a ciência que utiliza as
informações relativas aos insetos para a investigação de crimes envolvendo a morte
(PUJOL et al, 2008). Os artrópodes encontrados nos restos em decomposição são
geralmente onívoros, incluindo representantes de diversas órdens, contudo esta fauna
varia com a região estudada (MISE et al, 2007). As variáveis biogeoclimáticas
(insolação, velocidade do vento, temperatura, pluviosidade, umidade, etc.) são
determinantes das características de colonização e decomposição de uma carcaça.
Goff (1991) estabaleceu cinco estágios de decomposição e Oliveira-Costa (2011)
também classifica os fenômenos cadavéricos dentro de cinco fases: fresca, de
coloração, gasosa, coliquativa e de esqueletização.
349
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 126, 2013

A cronologia precisa das alterações post mortem não é consenso entre os


pesquisadores. Dentre estes períodos são observados diversos fenômenos que
conferem aspectos distintos ao cadáver (BANDARRA e SEQUEIRA, 1999). Este
trabalho objetivou estabelecer uma cronologia de alterações cadavéricas
acompanhadas da colonização do cadáver por artrópodes para fornecer dados
regionais de decomposição.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram utilizadas quatro carcaças de suino (Sus scrofa), com peso médio de 12Kg, sem
distinção de gênero ou raça, sendo uma para cada estação do ano. Todos os
experimentos iniciaram-se nos primeiros dias das estações. Para a eutanásia utilizou-
se um protocolo anestésico associado à cloreto de potássio. Cada carcaça foi
posicionada em uma área de mata nativa sobre uma grade metálica, e esta colocada
ao chão. A carcaça foi protegida por uma gaiola de metal. Sobre a gaiola foi instalada
uma armadilha Shannon para captura de insetos voadores. Ao redor da gaiola, foram
instaladas armadilhas tipo pitfall para captura de insetos que acessam o cadáver por
terra; também foram realizadas coletas manuais sobre e abaixo da carcaça. No local foi
instalado também um pluviômetro. O cadáver foi inspecionado diariamente, sendo
aferidas as temperaturas do corpo e do ar. Foram também coletados os dados de
pluviometria e realizados registros fotográficos da carcaça. Os dados meteorológicos
do município de Palotina foram obtidos da estação meteorológica Santo Antônio do
Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As fases de decomposição descritas por Oliveira-Costa (2011) e Goff (2009)
mostraram-se mais duradouras do que foi observado ao longo do experimento,
reforçando o caráter evidentemente didático destas classificações (OLIVEIRACOSTA,
2011), entretanto o comportamento discordante é previsto por alguns autores, como
Souza et al. (2008) que citam fatores inerentes ao cadáver, ambiente e circunstâncias
da morte como passíveis de influência sobre a decomposição. Notou-se em todos os
experimentos o início da visitação por dípteros apenas alguns minutos após a morte,
portanto ainda na fase fresca. Durante a fase de coloração pôde-se observar também o
início de alterações características de outras fases e ocorre o início da atividade de
larvas sobre o corpo. O período gasoso tem seu final marcado pelo rompimento da
parede abdominal (OLIVEIRA-COSTA, 2011; GOFF, 2009). Observou-se que a ruptura
geralmente ocorreu em região inguinal, entre os membros pélvicos, devido a acentuada
pressão interna gerada pelos gases, diferentemente dos dados de literatura que
descrevem a ação das larvas como responsável pela ruptura do abdômen. As órdens
as ordens Díptera (51%), Coleóptera (24,8%) e Hymenoptera (9,9%) foram as mais
abundantes durante os experimentos. Para as estações de Inverno e Verão verificou-se
que há associação de algumas ordens com as fases de decomposição. Hymenoptera,
diptera e coleoptera, no inverno, foram associadas a fase de coloração, que obteve,
respectivamente, 57,9%, 48,9% e 40,6% do total de coletas nesta fase. No verão as
mesmas ordens foram associadas as fases gasosa (coleoptera e hymenoptera) e
coliquativa (diptera), com 34,3%, 62,5% e 63,4%, respectivamente.
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos são específicos para as características biogeoclimáticas do
município de Palotina, Paraná. É possível perceber que os fenômenos post mortem
obedecem a um padrão morfológico e sequencial que deve ser melhor detalhado.
Podemos dizer também que existe sucessão entomológica em nível de ordem, porém
este tipo de estudo é fraco, e o mesmo deve se dar, no mínimo, a nível de família, para
se ter dados mais concretos.

350
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 126, 2013

REFERÊNCIAS
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351
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 127, 2013

127. ESTUDO RETROSPECTIVO DE NEOPLASIAS EM GLOBO OCULAR DE CÃES


(Retrospective study of neoplasms in ocular globe)

Diogo S. Zanoni¹, Germana A. da Silva², Leonardo F. Pavan³, Juliano Nobrega³,


José L Laus4, Renee L. Amorim5

1 Pós- graduando do Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu.


2 M.V., Mestranda em Cirurgia Vet, Depto de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV,UNESP/ Jaboticabal.
3 Residente no setor de Patologia Vet do Depto de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu.
4 Prof. Titular, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV, UNESP / Jaboticabal
5 Prof. Ass. Dr do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu

RESUMO: Neoplasias oculares primárias são as mais comuns em globo oculares de


cães com predileção à úvea. Outrossim, neoplasias secundárias são descritas.
Tumores melanocíticos uveais benignos e malignos são os mais frequentes em cães.
Realizou-se um estudo retrospectivo dos casos de neoplasias acometendo o globo
ocular de cães, diagnosticadas pelo serviço de Patologia Animal da FMVZ, UNESP-
Botucatu no período de janeiro de 1999 a junho de 2013. Observou-se a ocorrência de
sete casos, com maioria dos casos em animais adultos, fêmeas, SRD, com melanoma
primário intraocular difuso. O diagnóstico por meio da histopatologia e imuno-
histoquímica é imprescindível para caracterização da lesão e prognóstico.
Palavras-chave: histologia; imuno-histoquímica; melanoma; olho
ABSTRACT: Primary ocular tumors are the most common specially in the uvea.
Furthermore, secondary malignancies are described. Uveal benign and malignant
melanocytic tumors benign and malignant tumors are the most common in dogs. We
conducted a retrospective study of cases of cancer involving the eye in dogs, diagnosed
by the service of Animal Pathology, UNESP-Botucatu from January 1999 to June 2013.
We observed the occurrence of the seven cases, with the majority of cases in adult,
female, mongrel dogs with primary diffuse intraocular melanoma. The diagnosis by
histopathology and immunohistochemistry is essential for lesion characterization and
prognosis.
Key words: eye; histology; immunohistochemistry; melanoma
INTRODUÇÃO
O bulbo do olho, conhecido como globo ocular, é composto pelas túnicas fibrosa
(córnea e esclera), vascular (íris, corpo ciliar e coróide) e nervosa (retina e nervo
óptico). As três túnicas envolvem o conteúdo intraocular (humor aquoso, lente e humor
vítreo) (Slatter, 2005). Neoplasias oculares primárias são mais comuns em cães e
dificilmente estão correlacionadas aos achados em outros órgãos (Dubielzig, 1990),
outrossim, as secundárias acometem, principalmente, estruturas intraoculares. A
condição suscita a perda ou diminuição da visão, desconforto, destruição do tecido com
perda da estrutura e metástase (Conceição, 2010). Neoplasias primárias da córnea e
escleras são raras (Labelle e Labelle, 2013).
Em bovinos relata-se o carcinoma de células escamosas e melanomas (Slatter, 2005).
Tumores melanocíticos uveais benignos e malignos são as neoplasias primárias intra-
oculares mais comuns em cães idosos (Galán et al., 2009). Linfoma é a segunda
neoplasia intra-ocular mais descrita em cães e é, geralmente, considerada como
metastática ou secundária (Pate et al., 2011). Outras neoplasias secundárias descritas
são: condrossarcoma, tumor venéreo transmissível, hemangiossarcoma e melanomas
de origens oral e cutânea (Conceição et al., 2010).
A ocorrência neoplásica retiniana e em nervo óptico em cães é rara e inclui o
meningioma, glioma e astrocitoma (Slatter, 2005). O diagnóstico clínico das neoplasias
oculares deve ser confirmado pelo exame histopatológico, composto pela morfologia
celular, pelas colorações histológicas e pela imuno histoquímica (Grahn et al., 2006).

352
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 127, 2013

Com o presente estudo objetiva-se realizar um levantamento análise da ocorrência de


neoplasias em globo ocular de cães, encaminhadas por clínicos ao Serviço de
Patologia Animal da Universidade Estadual Paulista (UNESP-Botucatu), demonstrando
as principais neoplasias e suas características.
MATERIAL E MÉTODOS
Sete amostras foram obtidas do Serviço de Patologia Animal da FMVZ, UNESP-
Botucatu, no período de Janeiro de 1999 até Junho de 2013, todos os casos foram
avaliados e diagnosticados. Foram coletados idade, raça, sexo, localização da lesão no
globo ocular. As descrições histológicas foram feitas por meio de cortes histológicos
corados por Hematoxilina e Eosina (HE), sendo que frente à dúvida realizou-se imuno-
histoquímica para caracterização da neoplasia, empregando-se o método peroxidase-
DAB, conforme descrito na tabela a seguir.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A relação dos casos de tumor em globo ocular está descrita na tabela a seguir.

Dum total de 3150 casos recebidos pelo serviço referentes à histopatologia de todos os
órgãos e tecidos, 168 casos, representando 5,33%, eram casos oftálmicos (olho e
anexos) e destes, sete (4,16%) eram tumores em globo ocular de cães. Os animais
acometidos eram adultos (média de 9 anos), sendo prevalentes quanto ao sexo as
fêmeas e quanto à raça os SRD. Os tumores apresentaram-se com distribuição difusa,
principalmente estendendo-se da íris e corpo ciliar até preencher todo segmento
posterior. A maioria das neoplasias caracterizou-se como melanoma primário. Todos os
achados corroboram com dados da literatura (Pereira et al., 2000; Galán et al., 2009;
Conceição et al., 2010). Houve dois casos (4 e 7) em que se fez necessária a imuno-
histoquímica para caracterizar a etiologia do processo e confirmar o diagnóstico. São
casos de neoplasias menos comuns em bulbo ocular e caracterizaram-se como
metastático, com maior probabilidade de serem secundários, visto que TVTs caninos
353
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 127, 2013

extragenitais têm sido relatados, porém a maioria dos casos extragenitais são resultado
de heteroimplantação ou auto implante. Metástase hematogênica ou por via linfática
são muito incomuns (Rodrigues et al., 2001), portanto, no caso 4, a auto implantação é
provável, pela presença neoplásica em bulbo peniano, e o caso 7, trata-se de
hemangiossarcoma multicentrico, não havendo parâmetros claros que determinem a
origem do tumor (Cullen e Popp, 2002). A imuno-histoquímica é um método sensível e
específico de estabelecer um diagnóstico em um subconjunto de tumores oculares. O
uso da técnica aumenta a utilidade do diagnóstico e pode mudar o manejo clínico do
animal.
No caso 6 de melanocitoma não houve dificuldade diagnóstica uma vez que
apresentou achando característico com boa delimitação o que corrobora com o descrito
por Labelle e Labelle (2013).
Agradecimentos
Processos nº2011/51269-4 e nº2013/01926-4, Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP).
CONCLUSÕES
As neoplasias em globo ocular são raras quando comparadas ao acometimento em
outros tecidos, porém são de suma importância uma vez que preponderam-se tumores
malignos que culminam perda da visão e até mesmo do bulbo ocular.
REFERÊNCIAS
da CONCEIÇÃO, L. F.; RIBEIRO, A.P.; PISO, D.Y.T. et al. Considerations about ocular neoplasia of dogs
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GRAHN, B.H.; PEIFFER, R.L.; CULLEN, C.L. et al. Classification of feline intraocular neoplasms based
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v.9, n.6, p.395-405, 2006.
LABELLE, A.L. e LABELLE, P. Canine Ocular Neoplasi: a review. Veterinary Opphthalmology, v.16,
n.1,p.3-14, 2013.
PATE, D.O.; GILGER, B.C.; SUTER, S.E. et al. Diagnosis of intraocular lymphosarcoma in a dog by use
of a polymerase chain reaction assay for antigen receptor rearrangement. Journal of the American
Veterinary Medical Association, v.238,n.5,p.625-630, 2011.
RODRIGUES, G.N.; ALESSI, A.C.; LAUS, J.L. Intraocular Transmissible Veneral Tumor in a dog. Ciência
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SLATTER, D. Fundamentos de Oftalmologia Veterinária. Guanabara: ROCA, 2005. 712 p.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 128, 2013

128. HIPERINFECÇÃO POR DOENÇA EPITELIOCISTICA EM MATRIZES DE


MATRINCHÃ
(Epitheliocystis hyperinfection in Matrinchã Matrices)

Marina Pacheco Miguel¹, Juliano Pereira Terra²,Mizael machado da Costa³, Mateus


HenriqueSilva Lobo³,Caroline Porn Martins4,Igo Gomes Guimarães5

1 Docente de Patologia Veterinária, Universidade Federal de Goiás (UFG) -Medicina Veterinária/CAJ,


mapa_mi@hotmail.com
2 Residente em Patologia Veterinária, Universidade Federal de Goiás (UFG) -Medicina Veterinária/CAJ,
3 Graduando,Universidade Federal de Goiás (UFG) -Medicina Veterinária/CAJ,
4 Graduanda, Universidade Federal de Goiás (UFG) -Biomedicina/CAJ,
5 Docente de Piscicultura, Universidade Federal de Goiás (UFG) -Zootecnia/CAJ.

RESUMO:O objetivo deste trabalho é relatar a mortalidade dematrizes de Matrin-chã


provocada pela doença epiteliocística. Foi realizada a necropsia de quatro ma-trizes de
Matrinchã que apresentavam nódulos esbranquiçados de 3mm nas brân-quias. À
microscopia verificou-se hipertrofia de células epiteliais e formação decis-tos basofílicos
e granulares intracitoplasmáticos. O diagnóstico é condizente com doença
epiteliocística.
Palavras-chave: Brycon cephalus, Chlamydiales, histopatológico, piscicultura
ABSTRACT: The aim of this study is to report the death of matricesMatrinchã caused
by Epitheliocystis. Four matrices Matrinchã was necropsied and presenting 3mm whitish
nodules in the gills. Microscopically there was hypertrophy of epithelial cells and
formation of cysts and granular basophilic intracytoplasmic. The diagnosis is consistent
with Epitheliocystis.
Keywords: Brycon cephalus, Chlamydiales, hystopathological, pisciculture
INTRODUÇÃO
A Matrinchã (Brycon cephalus) é um peixe de água doce da Bacia Amazônica que vem
ganhando espaço nos criadouros da região Sudoeste de Goiás, por possuir um grande
potencial para a piscicultura, tais como crescimento rápido, apreciável sabor e grande
atratividade para a pesca esportiva (Ribeiro & Tobinaga, 2002). A doença epiteliocística
é um termo empregado a uma doença caracterizada por inclusões granulares
basofílicas citoplasmáticas (cistos) provocadas por bacté-rias intracelulares gram-
negativas da ordem Chlamydiales. As lesões são encontra-das principalmente nas
brânquias e em menor frequência na pele e podem causar mortalidade (Lewis et al.,
1992; Nowak & Lapatra, 2006;). Esta enfermidade infecci-osa é relatada em mais de 50
espécies de peixes marinhos e de água doce em todo mundo (Paperna et al., 1977;
Crespo et al. 1990; Lewis et al., 1992; Frances et al., 1997; Crespo et al., 2001; Nowak
& Lapatra, 2006; Schmidt-Posthaus et al., 2012; Kumar et al., 2013; Lai et al., 2013).
Assim, o objetivo deste trabalho é relatar a mortalidade de matrizes de Matrin-chã
provocada pela doença epiteliocística.
MATERIAL E MÉTODOS
No mês de maio, foram encaminhadas quatro matrizes de Matrinchã com peso médio
de 1,2 kg a 1,6 kg e aproximadamente 12 meses para o Serviço de Patologia
Veterinária. O proprietário da piscicultura relatou que as matrizes eram criadas em
tanques de 600m², onde estavam 180 peixes. Neste tanque ocorreu mortalidade de 80
(44,4%) matrizes após introdução de matrizes capturadas em rios da região. Após a
mortalidade, foi realizada adubação do tanque, o que reduziu o número de mortes.
Após a adubação, o pH da água era de 6,9(ideal acima de 7), temperatura 23ºC e a
oxigenação e níveis de amônia estavam dentro dos valores ideais.
Foi realizada a necropsia dos peixes e a coleta das brânquias, fígado, rim, coração,
baço e fixação em formol tamponado a 10% para posterior análise histológica.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 128, 2013

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os sinais clínicos relatados foram que os animais apresentavam queda no consumo de
alimento, dificuldade respiratória, buscavam locais de maior oxigenação como o local
de entrada de água do tanque, nadavam na superfíciee com comportamento anormal,
boiavam e evoluíam para a morte. À necropsia, a lesão principal em todos os peixes foi
encontrada bilateralmente nas brânquias na forma de manchas brancas multifocais
alongadas nas lamelas branquiais de aproximadamente 3mm, principalmente
localizados na base e no topo da lamela. Em alguns locais dos nódulos brancos, as
lamelas estavam fusionadas. Em alguns peixes havia grande quantidade de muco na
superfície. Alguns animais apresentavam opacidade de córnea e petéquias na no
ventre e na superfície do opérculo. Os sinais clínicos e os achados macroscópicos são
semelhantes ao relatado por Crespo et al. (1990). De acordo com estudo de Schmidt-
Posthaus et al. (2012) em peixes de vida livre, os agentes da doença epiteliocística
foram encontrados em períodos de verão, o que coincide com a época de mortalidade
do peixes do presente estudo ter ocorrido em um período quente no estado de Goiás
neste ano.
À microscopia das brânquias verificou-se hiperplasia e fusão multifocal e acentuada de
lamelas secundárias e infiltrado inflamatório linfocitário moderado. Nestas áreas, foram
encontrados vários cistos esféricos basofílicos granulares intracitoplasmáticos
circundados por uma membrana eosinofílica. Além disso, havia necrose multifocal e
discreta de extremidade de lamelas secundárias. Nenhuma lesão foi encontrada nos
demais órgãos. Os achados microscópicos são semelhantes aos relatados por Crespo
et al. (1990), Lewis et al. (1992), Crespo et al. (2001), Nowak & Lapatra (2006) e Lai et
al. (2013). Para Nowak & Lapatra (2006); Lai et al. (2013) o exame microscópico é o
meio para identificar a doença, pois de acordo com Nowak & Lapatra (2006) o agente
não pode ser cultivado por meios microbiológicos. Além disso, os autores afirmam que
os epiteliocistos podem ser vistos macroscopicamente, mas o histopatológico é o
método usado para o diagnóstico definitivo.
De acordo Nowak & Lapatra (2006), a presença dos epiteliocistos nem sempre causam
mortalidade. No entanto, neste caso a mortalidade ocorreu por lesões graves nas
branquiais e na histologia pode-se observar uma grande quantidade de epiteliocistos,
além de ausência de achados em outros sistemas.
Neste caso, a densidade populacional e as condições ambientais estavam favoráveis
aos peixes, no entanto, o início da mortalidade ocorreu após a introdução de peixes
selvagens nos tanques. Pode-se sugerir que os peixes de vida livre introduziram o
agente infeccioso, o que provocou um quadro de hiperinfecção observado na
microscopia. De acordo com Frances et al. (1997), peixes de vida livre e de criadouro
podem apresentar epiteliocistos, mas esses são mais sensíveis. De acordo com
Schmidt-Posthaus et al. (2012) a introdução de espécies de vida livre em criadouros
provoca impactos na saúde dos animais e no ambiente por poderem gerar casos novos
ou (re)emergentesde doenças, incluindo os agentes da doença epiteliocística.
CONCLUSÃO
Os achados macroscópicos e, principalmente, os microscópicos permitiram concluir o
diagnóstico de branquiite linfocitária multifocal e acentuada associada a cistos
basofílicos e granulares condizentes com doença epiteliocística em matrizes de
Matrinchã (Brycon cephalus). O possível motivo da hiperinfecção deveu-se a
introdução de peixes de livre em tanques de matrizes de criadouro. Esteé o primeiro
relato de hiperinfeccção e mortalidade de epiteliocistos em peixes no Estado de Goiás.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 128, 2013

REFERÊNCIAS
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SCHMIDT-POSTHAUS, H.; POLKINGHORNE, A.; NUFER, L. et al. A natural fresh-water origin for two
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2057, 2012.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 129, 2013

129. INTOXICAÇÃO POR Cestrum axillare (SOLANACEAE) EM CAPRINOS NO


AGRESTE DE PERNAMBUCO
(Cestrum axillare (SOLANACEAE) intoxication in goats in the Semi Arid of
Pernambuco)

Samuel S. C. Albuquerque¹, Luiz B. Brito¹, Raquel F. Albuquerque¹, Rafaela M.


Tavares², Brena P. Rocha², Fábio S. Mendonça³

1 Programa de Pós-Graduação em Ciência Vet, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),


2 Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE, Recife, PE, Brasil.
3 Laboratório de Diagnóstico Animal, Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade
Federal Rural de Pernambuco, lda@dmfa.ufrpe.br

RESUMO: Este trabalho descreve um surto de intoxicação por Cestrum axillare em


caprinos que ocorreu no município de Jurema, Agreste de Pernambuco. C. axillare é
uma planta da família Solanaceae, popularmente conhecida como ―coerana‖ e é uma
das plantas tóxicas de maior importância no Brasil. Dois caprinos adoeceram e
morreram após apresentarem sinais clínicos característicos da intoxicação,
aproximadamente 14 dias após a observação dos primeiros sinais . Os níveis séricos
de AST, GGT e bilirrubinas estavam elevados nos dois caprinos. O diagnóstico da
intoxicação por C. axillare foi realizado tendo como base os dados epidemiológicos,
clínicos, patológicos e principalmente devido ao histórico de consumo da planta
associada à lesão hepática sugestiva. C. axillare é uma importante planta tóxica para
ruminantes no Agreste de Pernambuco. O quadro clínico patológico da intoxicação por
essa planta em caprinos é similar ao observado em bovinos.
Palavras-chave: Caprinos; Cestrum axillare; plantas tóxicas;
ABSTRACT: This paper reports an outbreak of poisoning by Cestrum axillare in goats
that occurred in the municipality of Jurema on Semi Arid region of Pernambuco. C.
axillare is a plant of the family Solanaceae, popularly known as "coerana" and it is one
of the most important toxic plants in Brazil. Two goats became ill and died after showing
characteristic clinical signs of intoxication, about 14 days after the observation of the
first signs. Serum levels of AST, GGT and bilirubin were elevated in two goats. The
diagnosis of the poisoning by C. axillare was done based on the epidemiological, clinical
and pathological data, and mainly due to consumption history of the plant associated
with suggestive liver injury. C. axillare is an important toxic plant for ruminants in the
Arid zone of Pernambuco. The clinical pathology of poisoning by this plant in goats is
similar to that observed in cattle.
Key words: Cestrum axillare; Goats; Toxic plants;
INTRODUÇÃO
Cestrum axillare (= Cestrum laevigatum) (Solanaceae), conhecida popularmente por
coerana, é uma das principais plantas tóxicas encontradas no Agreste de Pernambuco.
Além da região Nordeste, sua distribuição também abrange as regiões sudeste e parte
do Centro-Oeste (TOKARNIA et al. 2012).
Os principais fatores que determinam surtos de intoxicações são a ocorrência de
brotação do arbusto associada à fome dos animais (TOKARNIA et al. 2012). Sob
condições naturais só ocorre a intoxicação aguda, que foi reproduzida em bovinos com
doses únicas de 10- 50g/kg da planta fresca. Os sinais da intoxicação são observadas
15-24h após a ingestão da planta e a morte ocorre entre 6 e 48h após o aparecimento
dos sinais clínicos (Döbereiner et al. 1969).
O quadro clínico da intoxicação caracteriza-se por anorexia, apatia, tremores
musculares, excitação, agressividade, andar cambaleante, constipação, fezes
ressecadas contendo muco e sangue, gemidos, sialorreia, sonolência e decúbito
esternal prolongado, decúbito lateral, movimentos de pedalagem e morte. À necropsia,
a lesão mais importante é encontrada no fígado, cuja superfície de corte apresenta
358
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 129, 2013

aspecto de noz moscada (THORBURN 1934; DÖBEREINER et al, 1969; LUGT et al,
1991, 1992). A alteração histopatológica mais característica é a necrose hepática
centro lobular.
O Objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência de intoxicação por Cestrum axillare em
caprinos no Agreste de Pernambuco.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados epidemiológicos e clínicos foram obtidos junto aos proprietários e veterinários
responsáveis pelos rebanhos, durante visitas a propriedades nos Municípios de
Jurema, Agreste do Estado de Pernambuco. Dois caprinos intoxicados por C. axillare
foram necropsiados. Destes caprinos se coletaram fragmentos de tecidos das
cavidades torácica e abdominal, além do sistema nervoso central. Esses fragmentos
foram fixados em solução de formol a 10% e posteriormente enviados para o
Laboratório de Diagnóstico Animal do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal
da UFRPE (LDA/DMFA/UFRPE), onde foram processados rotineiramente, corados por
hematoxilina e eosina (HE) e analisados em microscopia de luz. Com o objetivo de
estudar a epidemiologia da doença foram visitadas outras propriedades nos dois
Municípios mencionados. Amostras de sangue foram coletadas para análise das
atividades séricas de GGT, AST e bilirrubinas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A doença ocorreu em abril de 2013, no Município de Jurema, Agreste de Pernambuco.
A propriedade onde a doença foi observada era pequena, com menos de 10 ha, onde
são criados bovinos de corte. Havia na propriedade oito caprinos que eram criados
para consumo na propriedade. Segundo o histórico obtido na fazenda, os caprinos
ingeriram as folhas de C. axillare por causa da escassez de forragens que ocorreu em
todo o semiárido de Pernambuco devido à estiagem que durou mais de 12 meses.
Dois caprinos adoeceram e morreram após apresentarem um quadro clínico
característico da intoxicação aproximadamente 14 dias após a observação dos
primeiros sinais clínicos. Os níveis séricos de AST, GGT e bilirrubinas estavam
elevados nos dois caprinos.
Os principais sinais cínicos consistiram em anorexia, apatia, sonolência, gemidos,
andar cambaleante, hipotonia ruminal, constipação, fezes ressecadas contendo muco e
sangue e decúbito esternal prolongado seguido de morte. Os achados de necropsia
consistiram em fígado com acentuada congestão, aumentado de volume e com a
superfície de corte com aumento do padrão lobular. Hemorragias focalmente difusas
também foram observadas. A vesícula biliar estava distendida pela presença de
conteúdo e com a mucosa edemaciada. No coração havia hidropericárdio e
hemorragias petequiais no epicárdio. Na cavidade abdominal havia líquido ascítico; o
conteúdo dos divertículos pré-gástricos estavam ressecados e no conteúdo do cólon e
reto havia muco e sangue. À histopatologia havia acentuada necrose de coagulação
centro lobular associada à congestão. À inspeção das áreas onde os caprinos
pastavam verificou-se grande quantidade de arbustos de C. axillare, com sinais de
herbivoria.
Em outras propriedades da região não foram identificados históricos de intoxicação por
C. axillare em caprinos. Porém em bovinos foram identificados vários históricos.
O diagnóstico da intoxicação por C. axillare foi realizado tendo como base os dados
epidemiológicos, clínicos, patológicos e principalmente devido ao histórico de
consumido da planta associada à lesão hepática sugestiva.
O quadro clínico nos caprinos foi similar aos relatados na literatura científica em
bovinos. Geralmente, os sinais da intoxicação são observadas 15-24h após a ingestão
da planta e a morte ocorre entre 6 e 48h após o aparecimento dos sinais clínicos
(Döbereiner et al. 1969). Porém, a evolução da doença nos caprinos desse estudo foi
subaguda, com a morte ocorrendo 14 dias após a observação dos primeiros sinais
clínicos.
359
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 129, 2013

Os achados de aumento do padrão lobular do fígado e hemorragias difusas no fígado e


em outras vísceras são também descritos nas intoxicações por outras espécies de
Cestrum em ruminantes no Brasil (Tokarnia et al. 2012), como na intoxicação por C.
corymbosum , C. laevigatum e C. parqui . Nas intoxicações por Dodonaea viscosa ,
Myoporum laetum , Sessea brasiliensis , Vernonia mollissima , Vernonia rubricaulis e
Xanthium cavanillesii ,alterações similares também podem ser observas, devendo por
isso serem levadas em consideração no diagnóstico diferencial.
CONCLUSÃO
C. axillare é uma importante planta tóxica para ruminantes no Agreste de Pernambuco.
O quadro clínico patológico da intoxicação por essa planta em caprinos é similar ao
observado em bovinos.
REFERÊNCIAS
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Tóxicas do Brasil. Editora Helianthus, Rio de Janeiro, RJ, 586p.

360
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 130, 2013

130. LESÕES NÃO-ACIDENTAIS EM GATOS: ESTUDO DE 90 NECROPSIAS


RELATIVAS A TRAUMAS PRODUZIDOS POR ENERGIA DE ORDEM MECÂNICA
(Non-accidental injuries in cats: study of 90 necropsies related to injuries caused
by mechanical energy)

Adriana de Siqueira¹, Fernanda Auciello Salvagni¹, Anna Carolina Barbosa Esteves


Maria¹, Leonardo Pereira Mesquita¹, Paulo César Maiorka²

1 Doutoranda(o) – Progr de Patologia Experimental e Comparada – Faculdade de MV e Zootecnia – USP


2 Professor Associado – Departamento de Patologia - Faculdade de Med Veterinária e Zootecnia – USP

RESUMO: O gato doméstico é alvo de maus tratos desde tempos remotos. Estudos
demonstram que eles sofrem com dois tipos principais de atos maliciosos, que são a
intoxicação exógena intencional por praguicidas e traumas, sendo que este último pode
ter natureza acidental ou não acidental. Deste modo, deve ser realizado um exame
necroscópico minucioso, para verificar a extensão do trauma e os órgãos afetados,
porque podem ocorrer lesões internas resultantes. Na casuística do Serviço de
Patologia Animal da FMVZ-USP entre 1998 e 2012, foram localizados 90 casos de
lesões traumáticas em gatos, sendo destes 41,1% fêmeas, 27,8% machos e 31,1% não
informado, com 67,8% animais com até 2 anos de idade. Em 54,4% dos casos as
lesões foram contundentes, em 36,7% dos casos, perfurocontundentes, em 3,3%,
perfurocortantes e em 5,6 % foram outros tipos. Nos últimos anos, vem aumentando a
demanda por necropsias com fins periciais, e o exame acurado dos traumas é
fundamental à elucidação de casos suspeitos de maus tratos.
Palavras-chave: medicina veterinária legal; gato doméstico; lesão não acidental.
ABSTRACT: The domestic cat is a target of cruel acts since ancient times. Studies
have shown that they suffer from two main types of malicious acts, as intentional
poisoning by pesticides and blunt force trauma, and the latter may have accidental or
non-accidental nature. Therefore, it has to be performed a thorough necroscopic
examination, to verify the length of the injuries and the affected organs, because there
may present internal resulting damages. There have been identified 90 cases regarding
blunt force trauma in cats in the casuistic of the Veterinary Pathology Service of FMVZ-
USP between 1998 and 2012. Among them, 41.1% were female, 27.8% male and for
31.1% data were not informed; 67.8% of them were up to 2 years-old. In 54.4% of
cases the injuries were blunt force trauma, in 36.7% of cases, stab wounds, at 3.3%,
incised-stab wounds and 5.6% were other types. In recent years, the demand for
necropsies with forensic purpose has been increasing, and a careful examination of the
trauma is key to the elucidation of cases concerning suspicious animal abuse.
Key words: forensic veterinary medicine; domestic cat; non-accidental injuries.
INTRODUÇÃO
Os gatos domésticos são o alvo de maus tratos, quando comparados aos cães (Marlet
e Maiorka, 2010). Ao analisar a casuística de necropsia de gatos domésticos do
Serviço de Patologia Animal da FMVZ-USP, verificou-se que em 29,66% havia lesões
altamente sugestivas de maus tratos, sendo que destas, 24,6% eram relacionadas a
traumas (de Siqueira et al, 2012). Na Medicina Veterinária, os traumas mais
observados são aqueles provenientes de energias vulnerantes de ordem mecânica,
química e física (Merck, 2007). Com relação as energia de ordem mecânica, na qual há
modificação do estado de repouso ou de movimento de um corpo, há lesões
produzidas em uma parte ou em todo o corpo, dependendo do objeto e da quantidade
de força empregados. Os meios utilizados na propagação deste tipo de energia variam
desde armas como punhais, instrumentos de socos, facas, punhais, máquinas, até
punhos, pés e dentes (França, 2012). Embora seja considerado o relato dos
proprietários, no qual eles descrevem como ocorreu aquele trauma, cabe ao médico
veterinário patologista dissecar, descrever e documentar detalhadamente todas as
361
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 130, 2013

lesões, avaliando a extensão, a profundidade e quais estruturas anatômicas foram


afetadas (Merck, 2007). O objetivo deste trabalho foi descrever as características
morfológicas dos traumas, bem como da população de gatos domésticos afetada.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram resgatados 90 relatórios de necropsias de gatos domésticos, relativas a lesões
altamente sugestivas de ter natureza não-acidental no Serviço de Patologia Animal da
FMVZ USP dentre os anos de 1998 e 2012. Os dados elencados para análise foram
raça, sexo, idade, causa mortis e diagnóstico morfológico principal, no qual constava a
lesão resultante de energia de ordem mecânica e seu local, que foram utilizados para a
elaboração de uma base de dados no software Microsoft Excel®.
RESULTADOS
Das 90 necropsias de gatos domésticos relacionadas a traumas, 54,4% (49/90)
apresentaram lesões contundentes, 36,7% (33/90), perfuro-contundentes, em 3,3%
(3/90), perfuro-cortantes e em 5,6 % (5/90) foram outros tipos, que englobam 2 casos
de hemorragia interna, 1 caso de bestialismo, no qual houve também fratura de pelve,
1 evisceração abdominal sem histórico de procedimento cirúrgico e 1 hematoma em
região cervical. Com relação ao sexo, 41,1% (37/90) eram fêmeas, 27,8% (25/90)
machos e para 31,1% (28/90) não havia esta informação. Com relação à idade, 67,8%
(61/90) animais tinham até 2 anos, 20,0% (18/90) de 3 a 6 anos, 5,6% (5/90) de 7 a 10
anos e para 6,7% (6/90) o dado não foi informado. Os casos em que o sexo não foi
informado são de uma matança de gatos e de cães, em que 33 gatos foram
submetidos a exame necroscópico neste Serviço. Com relação aos 49 casos de lesões
contundentes, 5 apresentaram também lesões perfuro-contusas, de gatos provenientes
de uma matança em um cemitério em São Paulo; o que causou os óbitos foram as
lesões contundentes.
Na tabela 1, estão elencadas as causa mortis por tipo de trauma produzido por energia
mecânica. Na tabela 2 verifica-se o tipo de trauma por região anatômica.

DISCUSSÃO
Conforme estudos anteriores, os animais afetados têm até dois anos de idade, pelo
fato de os animais nesta fase apresentarem maior propensão a explorar o ambiente
(Munro e Thrusfield, 2001; Marlet e Maiorka, 2010). Os traumas encontrados neste
estudo apresentam características de lesões não-acidentais; características de animais
atropelados, tais como sujidades em pelos e garras fraturadas não foram encontradas
362
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 130, 2013

(Merck, 2007). A maioria dos traumas ocorreu em tórax, com a maioria das lesões
contundentes gerando fratura da caixa torácica e lacerações pulmonares em alguns
casos, diferentemente da literatura (Munro e Thrusfield, 2001, 2001). Entretanto,
conforme relatos anteriores, em traumas abdominais com ruptura visceral, o fígado é o
mais afetado (Munro e Thrusfield, 2001). Salienta-se a importância de o animal ser
radiografado, para verificar a localização e a extensão das lesões.
CONCLUSÕES
Os achados deste estudo sugerem que os traumas produzidos por energia de ordem
mecânica, oriundos possivelmente de golpes produzidos por instrumentos rígidos,
frequentemente causam lesões graves nos gatos, como fraturas ósseas e rupturas de
vísceras. O estudo destas lesões e de sua natureza é crucial na investigação de casos
suspeitos de maus tratos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES e ao CNPq pelo auxílio financeiro em forma de bolsas
de doutorado.
REFERÊNCIAS
DE SIQUEIRA, A.; CASSIANO, F.C.; LANDI, M.F.A.et al. Non-accidental injuries found in necropsies of
domestic cats: a review of 191 cases. J Feline Med Surg, v.14, n.10, p.723-728, 2012.
FRANÇA, G.V. Medicina Legal. 9ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 694 p.
MARLET, E.F.; MAIORKA, P.C. Análise retrospectiva de casos de maus tratos contra cães e gatos na
cidade de São Paulo. Braz J Vet Res Anim. Sci. v. 47, n. 5, p. 385-94, 2010.
MERCK, M.D. Veterinary forensics: animal cruelty investigations. Iowa: Blackwell Publishing, 2007.327 p.
MUNRO, H.M.; THRUSFIELD, M.V. 'Battered pets': non-accidental physical injuries found in dogs and
cats. J Small Anim Pract. v. 42, n. 6, p. 279-90, 2001.

363
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 131, 2013

131. MORTES SÚBITAS EM CAPRINOS ASSOCIADAS À INTOXICAÇÃO POR


Palicourea aeneofusca (RUBIACEA) NO AGRESTE DE PERNAMBUCO
(Sudden deaths of goats associated with Palicourea aeneofusca (Rubiaceae)
poisoning on the Semi Arid region of Pernambuco)

Samuel S. C. Albuquerque¹, Luiz B. Brito¹, Rafaela M. Tavares², Brena P. Rocha²,


Maíra L. R. Andrade², Fábio S. Mendonça³

1 Programa de Pós-Graduação em Ciência Vet, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)


2 Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE, Recife, PE, Brasil.
3 Laboratório de Diagnóstico Animal, Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade
Federal Rural de Pernambuco. lda@dmfa.ufrpe.br

RESUMO: Este trabalho descreve um surto de intoxicação por Palicourea aeneofusca


em caprinos nos municípios de Jurema e Angelim, Agreste de Pernambuco. Os surtos
ocorreram numa microrregião, onde não havia, anteriormente, informação sobre
intoxicação por plantas que causam mortes súbitas associadas ao exercício. Palicourea
aeneofusca contem monofluoracetato de sódio (MFA) e quando administrada na dose
de aproximadamente 0,6 g\kg de peso corporal (g/kg) produz morte súbita associada
ao exercício. A intoxicação por P. aeneofusca tem sido diagnosticada na Zona da Mata
e Agreste Pernambucano e leste da Bahia. Há também numerosos históricos da
ocorrência desta intoxicação na Zona da Mata Alagoana, o que sugere sua ocorrência
no litoral do nordeste, desde a Bahia até Paraíba.
Palavras-chave: Ácido fluoroacético; caprinos; Palicourea aeneofusca; plantas tóxicas;
ABSTRACT: This paper reports an outbreak of poisoning by Palicourea aeneofusca in
goats, in the municipality of Jurema. The outbreak occurred in the Agreste of
Pernambuco, where there are no previous reports of poisoning by toxic plants ausing
sudden death associated to exercise. Palicourea aeneofusca contains sodium
monofluoracetate (MFA) and when administrated at doses of approximately 0.6 g\kg
body weight (g/kg) causes sudden death precipitated by exercise in goats and cattle.
The poisoning by P. aeneofusca in cattle had been previously reported in the Zona da
Mata and Agreste of Pernambuco and east of Bahia. There are also numerous farmers'
reports about the occurrence of the poisoning in the Zona da Mata of Alagoas,
suggesting that it occurs in the whole coastal region, from Bahia to Paraíba
Key words: Fluoroacetic acid; goats; Palicourea aeneofusca; Toxic plants;
INTRODUÇÃO
Palicourea aeneofusca (Rubiaceae) causa mortes súbitas associadas ao exercício na
Zona da Mata pernambucana, leste da Bahia (TOKARNIA et al. 2000) e Alagoas. É
comumente conhecida pelos nomes de erva-de-rato (TOKARNIA et al. 2012) e
papaconha (RIET-CORREA 2007, dados não publicados).
A dose letal de folhas frescas de P. aeneofusca para caprinos (PASSOS 1983) e
bovinos (TOKARNIA & DOBEREINER 1982) foi de 0,6 e 0,75 g/kg de peso vivo,
respectivamente. Os sinais clínicos apresentados por animais que consomem a planta
experimentalmente caracterizaram-se por taquicardia, jugular ingurgitada com pulso
venoso positivo, taquipneia com respiração irregular ou abdominal, andar cambaleante,
quedas e decúbito esternal evoluindo para decúbito lateral, seguidos de morte. Os
sinais clínicos são observados de 50 minutos a 12 horas após a administração e o
curso clínico é de poucos minutos. (TOKARNIA & DOBEREINER 1982, PASSOS
1983).
Na necropsia não se observam alterações. Na microscopia observa-se, em bovinos,
degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos e vacuolização discreta dos
hepatócitos no fígado. Na histologia, a principal lesão é a degeneração hidrópico
vacuolar acentuada e picnose das células epiteliais dos túbulos uriníferos contornados
distais (TOKARNIA & DOBEREINER 1982, PASOS 1983). O objetivo desse trabalho é
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 131, 2013

relatar surtos de intoxicação por P. aeneofusca em caprinos na Microrregião de


Garanhuns, Agreste de Pernambuco.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados epidemiológicos e clínicos foram obtidos junto aos proprietários e veterinários
responsáveis pelos rebanhos, durante visitas a propriedades nos Municípios de Jurema
e Angelim, Agreste do Estado de Pernambuco. Três caprinos intoxicados por P.
aeneofusca foram necropsiados. Destes caprinos se coletaram fragmentos de tecidos
das cavidades torácica e abdominal, além do sistema nervoso central. Esses
fragmentos foram fixados em solução de formol a 10% e posteriormente enviados para
o Laboratório de Diagnóstico Animal do Departamento de Morfologia e Fisiologia
Animal da UFRPE (LDA/DMFA/UFRPE), onde foram processados rotineiramente,
corados por hematoxilina e eosina (HE) e analisados em microscopia de luz. Com o
objetivo de estudar a epidemiologia da doença foram visitadas outras propriedades nos
dois Municípios mencionados. Amostras da planta também foram enviadas ao
Poisonous Plant Research Laboratory, em Logan, Estados Unidos, para determinação
da concentração de monofluoracetato de sódio (MFA).
RESULTADOS
Nas propriedades visitadas em ambos os Municípios, havia históricos de mortes
súbitas associadas ao exercício em bovinos e menos frequentemente em equinos e
caprinos. Nessas propriedades, havia áreas com vegetação típica de mata atlântica e
vários espécimes de Palicourea aeneofusca foram encontrados. A concentração de
MFA nas amostras de folhas secas da planta foi 0,09±0,05%.
No Município de Jurema, em uma propriedade pequena com menos de 5 ha, as mortes
de caprinos ocorreram entre os meses de março a maio de 2013. De um total sob risco
de doze animais, dois caprinos morreram após apresentarem quadro clínico de letargia,
veias jugulares ingurgitadas e relutância em se levantar após terem sidos retirados de
uma área de mata de brejo de altitude. Um caprino apresentou discreto edema
submandibular. No Município de Angelim, apenas um caprino morreu, de um rebanho
de 34 animais. Nesse caso não foram relatados sinais clínicos. As condições de
manejo eram semelhantes nessas fazendas. Nos caprinos necropsiados não foram
observadas alterações macroscópicas. Ao exame histopatológico a única lesão
observada consistia em degeneração hidrópica vacuolar de células epiteliais dos
túbulos renais.
DISCUSSÃO
O diagnóstico da intoxicação por P. aeneofusca foi realizado tendo como base os
dados epidemiológicos, clínicos, patológicos e principalmente devido aos históricos de
contato dos animais com áreas onde havia a presença da planta.
Espécies de plantas que contém MFA estão entre as que mais causam prejuízo
econômico no Brasil. No Agreste de Pernambuco, surtos de intoxicação por P.
aeneofusca não tem sido relatados. Porém, as intoxicações ocorrem com frequência
em toda Microrregião de Garanhuns, Agreste de Pernambuco. Em condições naturais
se intoxicam mais frequentemente bovinos. Os resultados deste trabalho demonstram
que as intoxicações também são importantes para caprinos e existem indícios que
equinos também se intoxicam com relativa frequência por causa da boa palatabilidade
da planta e pelo simples fato desses animais terem acesso às matas e capoeiras
(Tokarnia et al. 2012).
CONCLUSÕES
Estudos adicionais sobre plantas que contém MFA nos Municípios que compreendem a
Microrregião de Garanhuns devem ser realizados para que se possam propor métodos
de profilaxia para as intoxicações.

365
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 131, 2013

REFERÊNCIAS
PASSOS D.A. 1983. Intoxicação Experimental em Caprinos (Capra hircus) por Palicourea aeneofusca
(M. Arg.) Standl. (Rubiaceae). Tese de Mestrado, Univ. Fed. Rural de Pernambuco, Recife, PE, 40 p.
TOKARNIA C.H.; DOBEREINER J.; COUCEIRO J.E.M. & CORDEIRO SILVA A.C. 1982. Intoxicação por
Palicourea aeneofusca (Rubiaceae), A causa de mortes súbitas em bovinos na Zona da Mata
Pernambucana. Pesq. Vet. Bras. 3(3):75–79.
TOKARNIA C.H.; DÖBEREINER J. & PEIXOTO P.V. 2000. Plantas Tóxicas do Brasil. Editora Helianthus,
Rio de Janeiro, RJ, p.26-27.
TOKARNIA C.H.; BRITO M.F.; BARBOSA J.D.; PEIXOTO P.V. & DOBEREINER J. 2012. Plantas
Tóxicas do Brasil. Editora Helianthus, Rio de Janeiro, RJ, 586p.

366
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 132, 2013

132. NECROPSIAS DOCUMENTADAS COM FINS PERICIAIS EM ANIMAIS:


ESTUDO DE 207 CASOS ENTRE 2009 E 2013
(Animal forensic necropsies: study of 207 cases between 2009 and 2013)

Fernanda Auciello Salvagni, Adriana de Siqueira, Anna Carolina Barbosa Esteves


Maria, Leonardo Pereira Mesquita, Paulo César Maiorka

Departamento de Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e


Zootecnia da Universidade de São Paulo

RESUMO: A necropsia documentada com fins periciais é essencial em casos de óbito


de animais com potencial judicial. Foram resgatados 207 resultados de necropsias
documentadas realizadas entre janeiro de 2009 e maio de 2013 no Serviço de
Patologia Animal da FMVZ USP. A maioria destes animais eram caninos (43,5%) e
felinos domésticos (42,5%), sem raça definida (51,2%), com menos de um ano de
idade (45,4%). As principais lesões encontradas foram decorrentes de traumas (27,1%)
ou intoxicações exógenas (21,7%). A necropsia documentada apresenta crescente
demanda nos últimos quatro anos, ressaltando a importância da medicina veterinária
legal em uma sociedade cada vez mais consciente do potencial judicial de casos de
maus-tratos, abuso, negligência, imperícias e erros médicos contra animais.
Palavras-chave: medicina veterinária legal; necropsia documentada; patologia forense
ABSTRACT: The forensic necropsy is essential in animal deaths with legal potential.
Between January 2009 and May 2013, 207 forensic necropsies were rescued from the
archives of the Animal Pathology Service of FMVZ USP. Most of these animals were
domestic dogs (43,5%) and cats (42,5%), of mixed breed (51,2%) and less than a year
old (45,4%). The main lesions found were due from traumas (27,1%) or poisoning
(21,7%). The forensic necropsy presents growing demand in the recent four years,
stressing the importance of forensic veterinary medicine in a society increasingly aware
of the legal potential of cases of mistreatment, abuse, negligence and medical errors
against animals.
Key words: forensic necropsy; forensic pathology; veterinary forensics
INTRODUÇÃO
A necropsia é o principal instrumento da Patologia Forense na determinação da causa
de morte (Payne-James et al, 2005). A necropsia documentada enriquece o exame
necroscópico tradicional ao registrar fotograficamente toda e qualquer alteração
morfológica macroscópica encontrada no cadáver, possibilitando a apreciação posterior
dos envolvidos no caso, como peritos, juízes e assistentes técnicos. A realização da
necropsia documentada em animais é altamente recomendada em qualquer caso de
óbito em que haja a possibilidade de processo judicial, como suspeitas de maus-tratos,
intoxicações, traumas, erros médicos, imperícias e negligências, óbito de animais
recém-adquiridos, óbitos em massa, dentre outros. Este trabalho tem como objetivo
apresentar e discutir a casuística dos exames necroscópicos documentados realizados
entre janeiro de 2009 e maio de 2013 no Serviço de Patologia Animal da Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, além de caracterizar a
demanda deste tipo de exame e a importância da necropsia documentada com fins
periciais em casos com potencial judicial.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram resgatados 207 resultados de necropsias documentadas de diferentes espécies
animais realizadas no Serviço de Patologia Animal da FMVZ USP dentre os anos de
2009 e o primeiro semestre de 2013, sendo anotados os dados pertinentes relativos a
cada caso, como espécie, raça, sexo, idade, moléstia principal e causa de morte, além
da entidade responsável pela solicitação do exame (centros de controle de zoonoses,
delegacias de polícia, hospital veterinário e proprietários). Tais dados foram utilizados
para a elaboração de uma base de dados no software Microsoft Excel®.
367
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 132, 2013

RESULTADOS
Dos 207 animais submetidos a necropsias documentadas, 90 eram caninos domésticos
(43,5%), 88 felinos domésticos (42,5%), 12 aves (incluindo 8 pombas, 2 papagaios, 2
mandarins e 1 canário) (5,8%), 8 equinos (3,9%), 4 bovinos (1,9%), 3 ovinos (1,4%), 1
suíno (0,5%) e 1 felino selvagem (leão) (0,5%). Quanto ao sexo, observaram-se 84
machos (40,6%) e 79 fêmeas (38,2%), com 44 animais sem sexo informado nos
registros (21,3%). Animais sem raça definida (n=106, 51,2%) predominaram contra
aqueles com raça definida (n=81, 39,1%) e não informada ou não aplicável (n=20,
9,7%). Referente à idade, 94 animais possuíam menos de 1 ano (45,4%), seguido por
41 animais entre 3 a 9 anos (19,8%), 28 entre 1 a 3 anos (13,5%) e 11 acima de 9 anos
(5,3%); não foram encontrados registros sobre a idade de 33 animais (15,9%). Desses
207 animais, 47 foram encaminhados por centros de controle de zoonoses (22,7%) e
43 por delegacias de polícia (20,8%) por meio de boletins de ocorrência (B.O.); os
demais (n=117, 56,5%) foram encaminhados pelo hospital veterinário da USP ou pelos
proprietários dos animais.
A tabela 1 mostra a frequencia das causas de morte nos 207 animais e, a tabela 2, a
ocorrência das diferentes moléstias principais observadas nos animais. O Gráfico 1
mostra a distribuição do número de necropsias documentadas por ano.

DISCUSSÃO
O aumento da demanda por necropsias documentadas com fins periciais é evidente
quando se compara o número total desse tipo de exame realizado no ano de 2009
(n=3, 1,4%) em relação ao primeiro semestre de 2013 (n=20, 9,7%, até o mês de
maio). Este aumento reflete a evolução da medicina veterinária legal nos últimos anos,
sendo decorrente, principalmente, da maior conscientização de proprietários e
profissionais da área em relação aos processos judiciais referentes a danos contra
animais (Cooper e Cooper, 2008). Nota-se também o grande número de necropsias
documentadas realizadas em felinos domésticos (n=88, 42,5%), refletindo a tendência
destes animais em serem vítimas de maus-tratos e abuso (de Siqueira et al., 2012).
Quanto à idade, os animais com até um ano de idade são a maioria (n=94, 45,4%), o
que pode ser explicado pela maior suscetibilidade dos animais muito jovens a doenças
infecciosas e morte por condições congênitas, além do comportamento exploratório,
que pode facilitar o contato com agentes tóxicos exógenos (Beaver, 2003). Os choques
tóxicos exógenos foram a principal causa de morte dos animais submetidos à
necropsia documentada (n=45, 21,7%), tendo como principal agente tóxico identificado
o carbamato. Dentre as moléstias principais, encontraram-se em maior número os
traumas (n=56, 27,1%) por decorrência de um caso de óbito em massa de 35 cães e
368
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 132, 2013

gatos em 2012 por meio de perfurações múltiplas em cavidade torácica, pulmões e


coração. É importante ressaltar também a alta ocorrência de doenças infecciosas ou
decorrentes de toxemia (n=59, 28,5%); não é incomum, na rotina de um serviço de
necropsia animal, encontrar casos de suspeita de maus-tratos quando, na verdade, o
animal sofria de uma moléstia infecciosa desconhecida ou ignorada pelo proprietário,
reforçando a importância do exame necroscópico.
CONCLUSÕES
O exame necroscópico documentado com fins periciais apresenta crescente demanda
nos últimos quatro anos, ressaltando a importância da medicina veterinária legal em
uma sociedade cada vez mais consciente do potencial judicial de casos de maus-
tratos, abuso, negligência, imperícias e erros médicos contra animais.
Agradecimentos
Os autores agradecem à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior) e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) pelo auxílio financeiro.
REFERÊNCIAS
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Missouri: Saunders Publishing, 2003, pp.127-163.
COOPER, J.E.; Cooper, M.E. Forensic veterinary medicine: a rapidly evolving discipline. Forensic
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DE SIQUEIRA, A.; Cassiano, F.C.; Landi, M.F.A.; Marlet, E.F.; Maiorka, P.C. Non-accidental injuries
found in necropsies of domestic cats: a review of 191 cases. Journal of Feline Medicine and Surgery,
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PAYNE-JAMES, J.; Byard, R.W.; Corey, T.S.; Henderson, C.. Encyclopedia of forensic and legal
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369
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 133, 2013

133. O PAPEL DE IMUNOGLOBULINAS NA NEFROPATIA DA LEPTOSPIROSE EM


SUÍNOS
(The role of immunoglobulins in nephropathy of leptospirosis in swine)

Francisco Lima Costa (UFPI); Larissa Feitosa Gonçalves (UFPI); Ângela Paulino
Campos (UFPI); Micherlene da Silva Carneiro (UFPI); Elis Freitas Silva (UFPI);
Vanessa Castro (IB)

RESUMO:Neste estudo identificamos depósitos de antígeno de leptospiras e de


imunoglobulinas em tecido renal, para avaliar o seu papel na patogênese da nefropatia
da leptospirose em suínos. 139 amostras de sangue e fragmentos de rim de suínos
foram avaliadas pela técnica de SAM e imunoistoquímica, respectivamente. A
imunoistoquímica detectou antígeno de leptospira em 60 suínos. Depósitos de IgG, IgM
e IgA foram observados no endotélio de capilares glomerulares, dos capilares
intertubulares e na cápsula de Bowman. Depósitos de IgM e IgA foram
significantemente maiores nos suínos infectados. Estranhamente depósitos de IgG foi
significantemente maior nos suínos não infectados, onde não havia presença de
antígeno de leptospiras e nem lesão túbulo-intersticial. Concluímos que antígeno de
leptospiras no rim de suínos está relacionado a depósitos de IgM e IgA, mas não a
depósitos de IgG.
Palavras-chave: leptospiroses; imunoglobulinas; suíno
ABSTRACT: In this study we have identified deposits of immunoglobulins and
leptospire antigen in kidney tissue, to assess the role of immunoglobulins in the
pathogenesis of the nephropathy in leptospirosis in pigs. 139 blood samples and renal
tissue of pigs were evaluated by SAM and immunohistochemistry, respectively.
Leptospire antigen was detected in 60 pigs. Deposits of IgG, IgM and IgA were
observed in the endothelium of glomerular capillaries, in the capillaries intertubulares
and in the Bowman's capsule. The deposition of IgM and IgA was significantly higher in
infected pigs. Strangely deposits of IgG was significantly higher in non-infected pigs,
where there was no presence of leptospire antigen nor tubulointerstitial injury. We
conclude that leptospire antigen in the kidney of pigs is related to deposits of IgM and
IgA but not IgG deposits.
Keywords: leptospirosis; immunoglobulins; pig
INTRODUÇÃO
A resposta imune humoral sistêmica é o principal mecanismo de defesa contra a
leptospirose. No início da infecção são produzidas imunoglobulinas do tipo IgM para o
controle da infecção. Após alguns dias, imunoglobulinas do tipo IgG são produzidas e
provocam lise das leptospiras circulantes. No entanto, a bactéria permanece nos rins,
sendo excretada na urina por vários meses após a infecção (Monteiro et al., 2003).
Nesse tipo de resposta imune, há uma maior participação de IgG e IgM, mas no
homem observa-se uma maior produção de imunoglobulinas da classe IgM (Petchclai,
Hiranda e Potha, 1992). O presente estudo teve como objetivo relacionar a presença
de antígeno de leptospiras com depósitos de imunoglobulinas no tecido renal, para
avaliar o papel de anticorpos na patogênese da nefropatia na leptospirose em suínos.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram colhidas amostras de sangue e fragmentos de rim de 139 suínos adultos para a
realização da Soroaglutinação Microscópica (SAM) e imunoistoquímica,
respectivamente.
Para detecção de antígeno de leptospira, foi utilizado anticorpo policlonal de coelho
anti-leptospira (produzido no Setor de Patologia Animal da Universidade Federal do
Piauí - UFPI). Para detecção de imunoglobulinas, as amostras foram incubadas com
anticorpo monoclonal anti-IgM (NB716), anti-IgG (NB738) e anti-IgA (NB725) de suíno
(NOVUS BIOLOGICALS, LLC). A amplificação da reação foi feita com o sistema
370
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 133, 2013

―EnVision+‖, peroxidase (Dako Corporation, Carpinteria, CA, USA, K4003), para


detecção de antígeno de leptospira e com o sistema com o sistema Estreptavidina-
peroxidase (Dako Corporation, Carpinteria, CA, USA, Código P0397), para detecção
das imunoglobulinas. A análise dos dados foi realizada pelo teste de Mann-Whitney,
para comparação entre dois grupos. Adotou-se o nível de significância de P <0,05.

RESULTADOS
A prova de soroaglutinação microscópica (SAM) detectou oito amostras reagentes das
139 analisadas. Foram utilizados os oito animais soropositivos na SAM e seis
soronegativos para a análise dos dados.
A técnica de imunoperoxidase demonstrou antígeno de leptospira em 60 suínos dos
139 analisados. A avaliação semi-quantitativa realizada em 23 suínos, revelou que o
antígeno estava presente em maior quantidade nas células epiteliais tubulares, seguido
pelas células glomerulares, células intersticiais, células epiteliais parietais da cápsula
de Bowman e células inflamatórias (P < 0,05; Teste de Kruscal-Wallis).
Depósitos de IgG, em um padrão granular, foi observado no endotélio de capilares
glomerulares, como marcação focal, global e segmentar, na cápsula de Bowman, no
endotélio dos capilares intertubulares, e em células epiteliais tubulares. IgM foi
observada no endotélio de capilares glomerulares, em um padrão granular,
apresentando uma marcação difusa e global, e no endotélio dos capilares
intertubulares. A imunocoloração para IgA foi observada no endotélio de capilares
glomerulares, em um padrão granular, com marcação focal, global e segmentar; na
cápsula de Bowman, e no endotélio dos capilares intertubulares. IgM e IgA em
glomérulo estavam presentes em intensidade maior nos suínos infectados em
comparação aos não infectados. A presença de IgM era significantemente maior,
também, nos capilares intertubulares. A imunomarcação para IgG no glomérulo era
maior nos suínos não infectados do que nos infectados.
DISCUSSÃO
Depósitos de imunoglobulinas em glomérulos, pode ser decorrente da formação de
complexo imune circulante (Noronha et al., 1995), ou de uma reação cruzada com
proteínas da membrana basal glomerular em casos de glomerulonefrite anti-membrana
basal glomerular, como tem sido observado no homem (Craig et al., 2009).
Neste trabalho, o primeiro caso parece improvável, pois, apesar de alguns estudos
apontarem para esse mecanismo (Noronha et al., 1995), sabe-se que a sobrevivência
de leptospiras nos rins decorre da falta de ativação do sistema complemento (Meri et
al., 2003) e essa ausência do complemento não favorece a formação de complexo
imune. No segundo caso, mais provável, ainda não
conhecemos a ação de anticorpos anti-membrana basal glomerular nos animais, à
exceção do cão em casos de nefropatia hereditária (Thorner et al., 1989), de modo que
esse aspecto não pode ser esclarecido neste trabalho. Por outro lado, depóstios de
IgM, IgA, IgG e C3 tem sido observado no alvéolo pulmonar do homem e em coabaias
infectadas experimentalmente com leptospiras, como parte da síndrome de
Goodpasture (Craig et al., 2009), sugerindo que esse mesmo processo possa ocorrer
também nos rins (Croda et al., 2010).
CONCLUSÃO
Concluímos que antígeno de leptospiras no rim de suínos está relacionado a depósitos
de IgM e IgA mas não a depósitos de IgG.

371
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 133, 2013

REFERÊNCIAS
CRAIG SB, GRAHAM GC, BURNS MA, DOHNT MF, WILSON RJ, SMYTHE LD, JANSEN CC, MCKAY
DB. Leptospirosis and Goodpasture‘s syndrome: testing the aetiological hypothesis. Annals of Tropical
Medicine & Parasitology, v. 103, p. 647-651, 2009.
CRODA J, NETO AD, BRASIL RA, PAGLIARI C, NICODEMO AC, DUARTE MIS. Leptospirosis
pulmonary haemorrhage syndrome is associated with linear deposition of immunoglobulin and
complement on the alveolar surface. Clinical Microbiology and Infection., v. 16, n. 6, 2010.
MERI T, MURGIA R, STEFANEL P, MERI S, CINCO M. Regulation of complement activation at the C3-
level by serum resistant leptospires. Microb Pathog. 2005; 39:139-47.
MONTEIRO GRG. Efetividade da doxiciclina na profilaxia contra leptospirose. Dissertação (Mestrado),
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, 68p. 2003
NORONHA IL, WALDHERR R, RAMBAUSEK M, RITZ E. Nefropatia mesangial primária da IgA:
aspectos clínicos e imunopatológicos. J Bras Nefrol., v. 17, p. 21-29, 1995.
PETCHCLAI B, HIRANDA SS, POTHA U. Gold immunoblot analysis of IgM-specific antibody in the
diagnosis of human leptospirosis. Am J Trop Med Hyg., v. 45, p. 672-675, 1991.
THORNER P, BAUMAL R, VALLI VE, MAHURAN D, MCINNES R, MARRANO P. Abnormalities in the
NC 1 domain of collagen type IV in GBM in canine hereditary nephritis. Kidney International., v. 35, p.
843-850, 1989.

372
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 134, 2013

134. PARAGANGLIOMA EM CÃO ASSOCIADO A FALÊNCIA CARDÍACA: RELATO


DE CASO
(Canine paraganglioma associate with bankruptcy cardiac: Case report)

Leonardo F. Pavan¹, Priscila E. Kobayashi¹, Diogo S. Zanoni ², Raquel Beneton Ferioli²,


Jose Guilherme Xavier ³, Renée L. Amorin4

1 Residente no setor de Patologia Vet do Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu,


2 Pós- graduando do Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu,
3 Programa de Pós-graduação em Patologia Ambiental e Experimental, Universidade Paulista (UNIP),
4 Prof. Adj. Dr do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu

RESUMO: Neoplasias primárias do coração são raras em todas as espécies


domésticas, no entanto, tumores envolvendo o coração são relativamente infrequentes,
contudo os paragangliomas ocorrem primariamente em cães, sendo também
reportados em humanos, gatos, cavalos, bovinos e patos, comprometendo
principalmente corpo aórtico e carotídeo. Este trabalho tem por objetivo relatar um caso
de paraganglioma associado a falência cardíaca em um canino Golden Retreiver.
Palavras-chave: Canino; tumor cardíaco; neoplasia.
ABSTRACT: Primary neoplasms of the heart are rare in all domestic species, however,
tumors involving the heart are relatively uncommon, however paragangliomas occur
primarily in dogs, and also reported in humans, cats, horses, cattle and ducks, affecting
especially aortic, and carotid body. The aim of this study is to report a Paraganglioma
associated with collapsed heart in a Golden Retriever.
Keywords: Canine; heart Tumors; neoplasia.
INTRODUÇÃO
Os receptores sensoriais do sistema circulatório incluem o corpo aórtico, o corpo
carotídeo e o seio carotídeo que têm por função monitorar os níveis sanguíneos de
oxigênio e dióxido de carbono, pH e temperatura sanguínea e, ainda, participam da
regulação da frequência cardiorrespiratória (Capen., 2002; Deim et al., 2007). A
neoplasia relacionada a esses receptores localiza-se comumente na base do coração,
dentro do saco pericárdico, envolvendo o corpo aórtico ou situado entre a aorta e a
artéria pulmonar, o corpo carotídeo e, menos frequentemente, o glomus pulmonar
podendo ocorrer, ainda, nas adrenais ou em sítios ectópicos (Jubb et al., 2007;
Noszczyk-Nowak et al., 2010). Considerada a segunda neoplasia cardíaca primária
mais comum em cães, superada apenas pelos o hemangiossarcoma, e representa 7%
de todos os tumores cardíacos primários em cães (Noszczyk-Nowak et al., 2010). Este
trabalho tem por objetivo relatar um caso de paraganglioma associado a falência
cardíaca em um canino Golden Retreiver.
MATERIAL E MÉTODO
Um cão da raça Golden Retriever, macho, não castrado, pesando 35Kg, com oito anos
de idade, foi encaminhado ao Serviço de Patologia Veterinária da Universidade
Estadual Paulista – UNESP - Botucatu para análise necroscópica. O animal
apresentava histórico de morte súbita durante atendimento clínico. Ao exame de
necropsia, observou-se hemopericárdio moderado, assim como nódulo adjacente a
veia cava caudal medindo 4,0 x 3,2 cm, superfície irregular, coloração avermelhada,
consistência macia, além de aderência em pericárdio e discreta invasão do miocárdio.
Após abertura das câmaras cardíacas evidenciou-se, em aurícula direita, continuidade
do nódulo adjacente a veia cava caudal medindo 4,5 x 3,0 cm de diâmetro aderida a
parede auricular e presença moderada de coágulo ao redor do mesmo (trombo). Foram
observados nódulos medindo de 0,3 a 0,5 cm de diâmetro no pulmão. O animal
apresentava criptorquidismo unilateral e atrofia moderada do testículo esquerdo que se
encontrava na bolsa escrotal.

373
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 134, 2013

Foram colhidos fragmentos do nódulo adjacente a veia cava caudal, do nódulo em


aurícula direita, dos nódulos pulmonares e de outros órgãos como baço, intestino,
pulmão, fígado, coração, encéfalo, rim e testículo, que foram fixados em formalina a
10%, processados rotineiramente e corados pelo método de hematoxilina-eosina.
RESULTADO e DISCUSSÃO
O exame histopatológico revelou lesão com características neoplásicas, de alta
celularidade, células de formas cúbicas a poliédricas com citoplasma levemente
eosinofílico e granular. O núcleo é centralizado, variando a sua forma de esférica a
ligeiramente ovalada, contendo cromatina pontilhada, e um único e proeminente
nucléolo. As figuras de mitose eram pouco frequentes. Os nódulos pulmonares
mostravam as mesmas características neoplásicas descritas anteriormente. A partir
destes achados foi levantada a hipótese diagnóstica de paraganglioma. Para a
confirmação do diagnóstico utilizou-se um painel de anticorpos que são apresentados
na tabela 1. Frente aos achados morfológicos, anatômicos, microscópicos,
adicionalmente a imunoreatividade positiva para NSE, foram conclusivo para
paraganglioma grau 2 de malignidade.
Os receptores sensoriais do sistema circulatório são compostos por células não
cromafins, originárias da crista neural. Esse grupo de células está associado ao
sistema nervoso autônomo, de onde também são derivados o gânglio simpático e a
medula adrenal (Capen., 2002, Deim et al., 2007, Jones et al., 2000). Baseados nessa
função, esses tumores foram chamados de quimiodectoma, mas esta denominação
parece não ser a mais adequada, pois são tumores do sistema paraganglionar e não
de células quimiorreceptoras. Do ponto de vista embriológico a nomenclatura mais
apropriada é paraganglioma (Jones et al., 2000).
Embora a origem dos paragangliomas seja desconhecida, sugere-se que uma
predisposição genética agravada por hipóxia crônica, poderia explicar a alta incidência
em certas raças de cães braquiocefálicos (Brown et al., 2010, Zimmerman et al., 2000).
Em consonância ao nosso relato, Zimmerman et al (2000). relataram um
paraganglioma na base do coração de um Golden Retriever.
Os paragangliomas são mais frequentes em cães machos que fêmeas e, a idade média
dos cães com tumores do corpo aórtico e carotídeo é de nove a treze anos. Em cães,
os paragangliomas estão frequentemente associados com outras neoplasias
endócrinas, especialmente tumores testiculares e carcinomas de tireoide concomitante
(Brown et al., 2010). Apesar de ser observado testículo ectópico, não foram vistas
alterações na avaliação histopatológica, além disso, o sexo e a idade do animal aqui
relatado são compatíveis com os dados presentes na literatura.
Os tumores do corpo aórtico e carotídeo em animais não são funcionais (não secretam
excesso de hormônio na circulação), mas o tumor age como uma lesão que ocupa
espaço, podendo afetar a função cardíaca, resultando em uma variedade de sinais
clínicos (Capen., 2002). O quadro clínico pode ser pobre, principalmente quando o
tumor não alcançou tamanho suficiente para afetar estruturas vasculares e/ou
nervosas, sendo muitas vezes achados acidentais de necropsia (Jubb et al., 2007).
Segundo Brown et al (2010), baseado nos fatores histológicos é possível categorizar os
tumores em três grupos de acordo com as características como taxa mitótica, o
crescimento invasivo, pleomorfismo celular e metástase a distância. Deste modo,
quanto ao aspecto microscópico, todas as características descritas por Jones et al
(2000). Capen et al (2002) foram observadas no presente relato.
As características imuno-histoquímica de paraganglioma humano foram descritos por
vários autores (Brown et al., 2010, Kliewer et al., 1989), onde NSE, sinaptofisina e
cromogranina A são detectados na maioria dos tumores. No que diz respeito ao nosso
caso, a imunoreatividade positiva para NSE foi similar a outros casos reportados de
paraganglioma em cães (Brown et al., 2010). Portanto, de acordo com Brown et al
(2010) o presente relato foi conclusivo para paraganglioma grau 2 de malignidade.
374
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 134, 2013

CONCLUSÃO
A baixa incidência do processo, a localização da neoplasia, assim como as
características epidemiológicas e clínicas sustentam a importância do presente relato,
que visa contribuir adicionando dados à literatura desta neoplasia.

REFERÊNCIAS
CAPEN, C. C. Tumors of the endocrine glands. In: MEUTEN, D. J. Tumors in domestic animals, 4th
ed. Iowa State University Press, Ames, p. 691–695, 2002. DEIM, Z., et al. Carotid body tumor in dog: A
case report. Can Vet J, v. 48, p.865–867, 2007.
JUBB, K. V. F., et al. Pathology of domestic animals, 5ª ed. London: Academic Press. p. 740-743,
2007.
NOSZCZYK-NOWAK, A., et al. Case study Cases with manifestation of chemodectoma diagnosed in
dogs in Department of Internal Diseases with Horses, Dogs and Cats Clinic, Veterinary Medicine Faculty,
University of Environmental and Life Sciences, Wroclaw, Poland. Acta Veterinaria Scandinavica, v.52,
p. 1-7, 2010.
BROWN, P. J., et al. Immunohistochemical Characteristics of Canine Aortic and Carotid Body Tumours,
J. Vet. Med., v. 50, p. 140–144, 2003.
JONES, T. C; et al. Patologia veterinária. 6. ed, São Paulo: Manole, p. 1005-1006, 2000.
ZIMMERMAN, K. L., et al. Mediastinal mass in a dog with syncope and abdominal distension. Veterinary
Clinical Pathology, v. 29, p. 19-21, 2000.
KLIEWER, K. E., et al. Paraganglioma: assessment of prognosis by histologic, immunohistochemical, and
ultrastructural techniques. Hum. Pathol., v. 20, p. 29–39, 1989.

375
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 135, 2013

135. REPARAÇÃO DE FERIDAS EXPERIMENTAIS EM COELHOS TRATADOS


ORALMENTE COM ÁGUA-DE-COCO E ÁGUA MAGNETIZADA
(Repair of experimental wounds in rabbits treated orally with coconut water and
magnetized water)

Gabriel D. Carvalho¹, Marlene I. Vargas Vilória², Fabrício L. Valente²

1. Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, IFNMG – Campus Salinas (IFNMG), Fazenda Varginha,
gabriel.carvalho@ifnmg.edu.br
2. Departamento de Veterinária, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa-MG, Brasil.

RESUMO: Este trabalho teve por objetivo avaliar o processo de reparação cicatricial
em feridas experimentais de coelhos tratados oralmente com água magnetizada e com
água-de-coco, visando entender se esse processo terapêutico influencia a reparação
de feridas. Utilizaram-se 30 coelhos da raça Nova Zelândia Branca, divididos em seis
grupos com diferentes tratamentos por via oral (água mineral, água magnetizada e
água-de-coco). Três desses grupos receberam pomada antibiótica na ferida
experimental. Feridas cirúrgicas foram realizadas no dorso dos animais e foram
avaliadas clinicamente quanto: edema, halo eritematoso, tempo de cicatrização e
tempo de epitelização. Os animais que ingeriram água magnetizada e água-de-coco
apresentaram o menor tempo de cicatrização e de epitelização. A ingestão de água
magnetizada e de água-de-coco influenciou o processo reparação tecidual. Porém,
mais estudos são necessários para se elucidar o mecanismo de ação deste processo
terapêutico.
Palavras-chave: cicatrização; epitelização; pele
ABSTRACT: This study aimed to evaluate the repair process in experimental wounds
of rabbits treated orally with magnetic water and coconut water, in order to understand
whether this therapeutic process influences the skin wounds repairing. Were used 30
rabbits New Zealand White divided into six groups with different oral treatments (mineral
water, magnetized water and coconut water), and these, three groups received
antibiotic ointment on the experimental wound . Surgical wounds were made on the
backs of the animals and were clinically evaluated from the characteristics of the
wounds: edema, erythematous halo, healing time and time of epithelialization. The
animals that ingested magnetized water and coconut water showed the lowest time of
healing and epithelialization. The ingestion of the magnetized water and coconut water
influenced the tissue repair process, but more studies are needed to elucidate the
mechanism of action of this therapeutic process.
Key words: epithelialization; healing wound; skin
INTRODUÇÃO
A aplicação do magnetismo como ferramenta terapêutica, tanto em medicina humana
como veterinária, apresenta resultados diferentes, sendo em alguns casos positivos,
inclusive na terapêutica cirúrgica. A variedade de aplicações descritas na literatura para
água que recebe tratamento magnético é vasta, entretanto, os mecanismos de
tratamento magnético devem ser estudados mais profundamente (Duan et al., 2012).
A água-de-coco possui diversas propriedades funcionais, como solução de hidratação
oral, suplemento protéico, capacidade diurética, poder antioxidante (Campbell-Falck et
al., 2000). Há estudos que demonstram que o uso da água-decoco liofilizada no
tratamento tópico de feridas demonstrou influência positiva no processo cicatricial
(Magalhães, 2007).
No intuito de verificar a hipótese de que a ingestão de água-de-coco e de água
magnetizada pode influenciar em determinados processos biológicos no organismo
animal, este trabalho teve por objetivo avaliar a reparação de feridas em animais
tratados oralmente com esses tipos de água.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 135, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 30 coelhos da raça Nova Zelândia Branca, divididos em seis grupos
com diferentes tratamentos por via oral, sendo que três desses grupos receberam
pomada antibiótica na ferida experimental (G1: água mineral + pomada; G2: água
magnetizada + pomada; G3: água-de-coco + pomada; G4: água mineral; G5: água
magnetizada; G6: água-de-coco). Após o preparo dos animais cirúrgico dos animais
(tricotomia, assepsia e
anestesia), com auxilio de um bisturi circular de 6 mm foram realizados quatro pontos
de feridas cirúrgicas, na região torácica dorsal. Foram feitas medições das feridas até o
dia que ocorresse o evento da cicatrização. Sendo assim, foram registrados os valores
das medidas para os dias 0 (0h, 6h e 12h), 1 (24h), 2 (48h), 3 (72h), 4 (96h), 5 (120h),
6 (144h) e 7 (168h) após a realização das feridas.
Para a análise de redução da ferida, utilizou-se paquímetro digital e adotou-se
metodologia adaptada de Almeida (2006) e Castro et al. (2009), usando-se duas
medidas perpendiculares (a) (b) da lesão para posterior cálculo da área, em mm2, a
qual foi calculada pela seguinte fórmula A = _ ab, onde _ = 3,1415.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em todos os grupos experimentais, as feridas não apresentaram edema, halo
eritematoso ou sinal de clínico de infecção, possuindo as condições adequadas para o
desenvolvimento do processo de cicatrização (Moura, 2004). Na tabela 1 encontram-se
os valores médios do tempo de cicatrização e epitelização das feridas. Os valores das
médias das áreas (mm2) das feridas dos animais, ao longo do período experimental,
nas horas 0, 6, 12, 24, 48, 72, 96, 120, 144, 168 após a realização das feridas foram
convertidas em um modelo de regressão e estão representados na figura 1. A
regressão das feridas nos grupos tratados com pomada diferenciou (P<0,001) dos
grupos que não receberam pomada topicamente.

Os animais que ingeriram água magnetizada apresentaram o menor tempo de


cicatrização e de epitelização, o que demonstra a influência positiva desse tipo de água
no processo de reparação tecidual.
CONCLUSÕES
O tipo de água ingerida influencia na velocidade de regressão das feridas. O efeito do
tipo de água com relação à velocidade de regressão da ferida é influenciada pelo uso

377
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 135, 2013

de pomada. O tipo de água, individualmente, tem efeito sobre a regressão da ferida. O


uso de pomada tem efeito independente do tipo de água.
Notas informativas: Protocolo de aprovação pela Comissão de Ética no Uso de Animais
da UFV: Processo Nº 65/2010.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA R.M. Avaliação do processo de cicatrização de lesões, tratadas com laser de baixa
intensidade, através de sistema de aquisição e tratamento de imagem. 2006. Belo Horizonte, 111f.
Dissertação, Universidade Federal de Minas Gerais.
CAMPBELL-FALCK, D.T.;THOMAS, T.; FALCK,T.M. The intravenous use of coconut water. American
Journal of Emergency Medicine, v.18, n.1, p.108-111, 2000.
CASTRO, A.U.; ARGOLO NETO, N.M.; VIANA, J.A. Uso tópico do mel de abelha, oxitetraciclina e
hidrocortisona, na reparação de feridas cutâneas, por segunda intenção, em coelhos. Revista Ceres,
v.56, n.1, p.38-44, 2009.
DUAN, L.; GUO, S.; YANG, J. Study on the Effect of a Magnetic Field on Pb(II) Removal Using Modified
Chitosan. Advances in Chemical Engineering and Science, v.2, p.101-107, 2012.
MAGALHÃES, M.S.F. Avaliação do efeito do Dersani® e da água-de-coco liofilizada no modelo cutâneo
de cicatrização por segunda intenção em ratos Wistar. 2007. Fortaleza, 178f. Tese (Doutorado),
Universidade Federal do Ceará.
MOURA, S.A.L. Desenvolvimento de modelo experimental para estudo do processo de cicatrização por
segunda intenção de feridas cutâneas em coelhos, utilizando extratos da própolis verde de Minas Gerais-
Brasil. 2004. Viçosa, 62f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Viçosa.

378
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 136, 2013

136. TÉCNICAS HISTOLÓGICAS EM BULBO OCULAR DE SUÍNO


(Histological techniques in pig’s eyeball)

Hassan Jerdy Leandro; Rachel Bittencourt Ribeiro; Raphael Mansur Medina; Maria
Aparecida da Silva; Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho

Setor de Anatomia Patológica Veterinária do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias,


Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – CCTA UENF

RESUMO: Na rotina de técnicas histológicas do bulbo ocular comumente ocorre dano


tecidual. A partir dessa debilidade idealizou-se uma forma de fixação e clivagem. Para
comparação, foram utilizados dois métodos de fixação do bulbo ocular. Em um, usou-
se injeção de formol intraocular, em outro utilizou-se apenas sua imersão na solução
fixadora. Em relação ao método de clivagem, fez-se um corte longitudinal tangencial a
córnea. Em seguida outro corte a partir do nervo óptico para obtenção de uma amostra
com todas estruturas oculares. Em todos bulbos oculares foi observado algum grau de
descolamento da retina que é citado apenas como consequência de uma má fixação,
mas a clivagem também é capaz desse dano. O processamento na fase de
desidratação causa retração retiniana sendo também capaz de descolar a retina. Os
dois métodos de fixação junto ao método de clivagem geraram boas imagens
microscópicas.
Palavras-chave: clivagem; fixação; globo ocular; nervo óptico; retina
ABSTRACT: In routine, histological techniques of ocular tissue damage commonly
occur. From this weakness is devised a form of fixation and cleavage. For comparison,
we used two methods in eyeball fixation. In one, we used intraocular injection of
formalin, in another was used only his immersion in the fixative solution. Regarding the
method of cleavage became a longitudinal tangential to the cornea. Then another cut
from the optic nerve to obtain a sample with all ocular structures. In all eyeballs was
observed some degree of retinal detachment which is mentioned only as a
consequence of insufficient fixation, but the cleavage is also capable of such damage.
The dehydration phase of processing causes retinal shrinkage also being able to detach
the retina. The two methods of fixation on the cleavage method generate good
microscopic images.
Key works: cut; fixation; eyeball; optic nerve; retina
INTRODUÇÃO
O olho é o principal meio pelo qual a maioria dos animais toma consciência do
ambiente externo (Samuelson, 2007).
A fixação do globo ocular é feita comumente ―in totum‖, ou seja, através da sua imersão
em uma solução aquosa de formalina neutra tamponada à 10% durante, no mínimo, 48
horas, observando-se uma proporção da solução de 15 a 20 vezes o volume do
material a ser fixado (Bancroft; Gamble, 2002).
Na histotécnica na fase de clivagem é frequente notar-se a fixação insuficiente de
constituintes do globo ocular, representada pela desorganização dos constituintes do
olho, como o descolamento da retina que é descrito como uma alteração post mortem,
logo, resultado de uma má fixação (Jubb et al., 1993).
A amostra também pode ser danificada na etapa de clivagem onde a manipulação e o
uso de lâminas de corte podem causar perda da arquitetura macro e microscópica,
fazendo com que a amostra deixe de ser representativa.
A partir das limitações apresentadas, foi proposta uma técnica que aprimorasse a
fixação do globo ocular com aspiração dos humores (das três câmaras) e a injeção
intraocular da solução fixadora de formol, além disso, o desenvolvimento de um método
mais adequado para a clivagem do bulbo ocular.

379
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 136, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
No estudo foram usados 16 suínos mestiços com idade aproximada de 65 a 70 dias (2
meses e 1 semana) de vida, pesando em média 30 kg para aquisição dos bulbos
oculares. Após a eutanásia as cabeças foram separadas do restante do corpo para
melhor manuseio. Com um bisturi e uma lâmina tamanho 24 e uma pinça dente de rato
foi possível remover o bulbo ocular de sua órbita.
Após a enucleação os olhos foram identificados e separados individualmente direito e
esquerdo. Dos olhos esquerdos foi retirado o humor aquoso das câmaras posterior e
anterior e humor vítreo do corpo vítreo. A retirada dos humores foi realizada com
seringa de 5 ml e agulha tamanho 25 x 0,8 mm, o humor aquoso foi retirado por
punção, através da córnea e o humor vítreo através do nervo óptico. A quantidade dos
humores retirados das câmaras era mensurada na seringa. Após a retirada dos
humores a agulha foi mantida no orifício e foi realizada a injeção de formol 10% neutro
e tamponado na quantidade respectiva de humor retirado. Ao término das injeções do
fixador os olhos preenchidos foram imersos em formol 10% neutro e tamponado na
quantidade de 15x do fixador.
Os olhos direitos, depois de serem retirados de suas órbitas foram identificados,
separados e imersos individualmente em um recipiente contendo formol 10% neutro e
tamponado no volume de 15x do fixador. Os olhos foram mantidos nessas condições
por 48 horas no mínimo para se obter uma boa fixação do tecido ocular.
Na clivagem foi utilizada uma técnica que consistiu em um primeiro corte longitudinal
tangente à córnea, sem comprometer o cristalino, entretanto, expondo todo interior do
bulbo ocular permitindo a visualização de todos seus elementos. Em seguida foi feito
outro corte longitudinal a partir do nervo óptico passando desta vez por todos
constituintes do órgão visual obtendo-se uma amostra representativa de todas
estruturas oculares ao término da clivagem.
Posteriormente a clivagem, as amostras foram submetidas ao processamento
histológico de rotina para inclusão em parafina, cortados em micrótomo rotativo a 5
micrômetros e corados pela Hematoxilina-Eosina (HE) para avaliação da preservação
das estruturas histológicas do globo ocular.
RESULTADOS
Algum grau de descolamento da retina foi observado, macro e microscopicamente,
após a fixação por imersão e por injeção da solução fixadora de formalina em todos os
globos oculares.
Em sete olhos fixados através do método de imersão houve descolamento da coróide
da esclera. Apenas em um globo ocular com injeção de formol ocorreu descolamento
da coróide da esclera.
Foi possível executar a clivagem mantendo-se todas as estruturas oculares com
mínimos danos. Os 16 bulbos oculares que receberam injeção de formol tiveram o
cristalino danificado o que não ocorreu nos que foram fixados apenas com imersão no
formol. Foi possível perceber uma retração na retina após a etapa de desidratação do
processamento histológico.
DISCUSSÃO
A formalina tem a vantagem de rápida eficácia, pequeno dano durante a fixação,
adequada preservação da coloração e detalhes microscópicos para fotografar.
Entretanto a formalina penetra lentamente na esclera tendo-se assim mudanças post-
mortem, como descolamento da retina, igualmente em globos fixados imediatamente
após a morte ou cirurgia (Jubb et al., 1993).
Em oposição ao que Jubb et al. (1993) disseram mesmo nos globos oculares que
tiveram injeção de formol, ou seja, iniciaram o processo de fixação imediatamente após
a morte do organismo ocorreu descolamento da retina. Provando assim, que o
descolamento da retina não ocorre apenas por uma fixação ruim mas também na
clivagem e desidratação do processamento. Os olhos que foram apenas imersos no
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 136, 2013

formol podem até ter tido algum prejuízo tecidual durante a fixação, entretanto não foi
capaz de prejudicar a análise histológica nem a arquitetura ocular.
CONCLUSÃO
Conclui-se com este trabalho que o método proposto por injeção de formol seguida por
imersão no mesmo foi capaz de apresentar amostras teciduais suficientemente boas
para estudo histológico, à exceção do cristalino que apresentou danos em todas as
amostras.O método de imersão apesar da demora da penetração do formol foi capaz
de manter em bom estado o tecido do bulbo ocular, revelando imagens histológicas
preservadas. A técnica usada na clivagem feita por cortes longitudinais mostrou-se
eficaz em ambos os métodos de fixação, preservando as estruturas do bulbo ocular a
nível macroscópico e microscópico.
REFERÊNCIAS
BANCROFT, J.D.; GAMBLE, M. Theory and Practice of Histological Techiniques. In: HOPWOOD, D.
Fixation and Fixatives. 5.ed. New York: Churchill Livingstone, 2002, Cap. V, p. 79-80.
JUBB, K.V.F.; KENNEDY, P.C.; PALMER, N. Pathology of Domestic Animals. In: WILCOCK, B.P. The
Eye and Ear. 4.ed. San Diego: Academic Press, 1993, Cap. IV v.1. p.441-442.
SAMUELSON, D.A., Tratado de Histologia Veterinária. In___. Olho e orelha 1.ed. Rio de Janeiro,
Elsevier, 2007, Cap.20., p.471.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 137, 2013

137. ESTUDO OBSERVACIONAL MICROSCÓPICO DO EFEITO DO FIPRONIL


SOBRE O COLÁGENO DA PELE DE GALINÁCEOS: ESTUDOS PRELIMINARES
(Observational microscopic study of fipronil effect under collagen on skin
poultry: preliminary studies)

Daniel Pombo de Sousa, Leonardo De Bruym Denadai, Anderson Barros


Archanjo, Jankerle Neves Boeloni, Louisiane de Carvalho Nunes, Leonardo
Oliveira Trivilin

Departamento de Medicina Veterinária, Centro de Ciências Agrárias, UFES.

RESUMO: Objetivou-se avaliar pela microscopia e técnica do picro-sirius red sob luz
polarizada os possíveis efeitos e danos pelo fipronil na pele de frangos. Utilizou-se sete
aves fêmeas, adultas, separadas em G1 (n = 03) - sete dias após aplicação de fipronil;
G2 (n = 03) 14 dias após aplicação de fipronil e um grupo controle não exposto ao
fipronil. Fragmentos de pele medindo 1,5 cm foram coletados e submetidos à
processamento histológico de rotina e corados pela hematoxilina e eosina e picro-sirius
rede avaliados as fibras nas seguintes proporções e peso: 1 (até 70%); 2 (70-90%); 3
(> 90%). Houve redução não significativa de colágeno tipo I nos animais observados
por sete dias (p = 0,5216), e para os observados por 14 dias não foi observada
diferença significativa (p =0,7511). O colágeno tipo III não variou entre os grupos de
observação. Não houve alterações microscópicas e no colágeno tipo I e tipo III na pele
de galináceos após utilização de fipronil e observação por 14 dias.
Palavras-chave: dermotoxicidade, fenilpirazole, galinha
ABSTRACT: The objective was evaluate the possible effects and damage by fipronil in
skin of poultry by picro-sirius red under polarized light. Were used seven poultry adult
females, separated in G1 (n = 03) seven days after application of fipronil, G2 (n = 03) 14
days after application of fipronil and a control group not exposed to fipronil. Fragments
of skin measuring 5 cm were collected and submitted to histological processing and
stained with hematoxylin and eosin and picro-sirius red and evaluated fibers in the
following proportions and weight: 1 (> 70%), 2 (70-90 %) 3 (> 90%). There was no
significant reduction of type I collagen in animals observed for seven days (p = 0.5216),
and those observed for 14 days was not significantly different (p = 0.7511). Type III
collagen was not different between the groups of observation. There were no
microscopic changes and collagen type I and III in the skin of poultry after use of fipronil
and observation for 14 days.
Key words: dermal toxicity, phenylpyrazole, chicken
INTRODUÇÃO
Fipronil é um inseticida fenilpirazol de segunda geração comumente utilizado
na agricultura e na medicina veterinária (Tingle etal., 2003). As pesquisas sobre a
toxicidade do fipronil apresentam resultados contraditórios. Pesquisas realizadas por
Tillman e Mulrooney (1997) concluíram que o fipronil é pouco tóxico para organismos
não alvo. O Fipronil é classificado pela OMS como um pesticida na Classe II,
moderadamente perigoso. É menos tóxico para os mamí
feros que para algumas aves, peixes e maioria dos invertebrados. Apresentatoxicidade
aguda moderada por via oral ou por inalação, em ratos. Absorção dérmica em ratos é
inferior a 1% após 24 horas e à sua toxicidade é considerada baixa. Por outro lado tem
uma toxicidade dérmica moderada em coelhos. É altamente tóxico para certos grupos
de aves galináceos, enquanto é relativamente seguro para passeiriformes e aves de
caça (Hamom et al., 1996).
Como o fipronil mostra-se potencialmente tóxico para aves do grupo dos galináceos
(Hamom et al., 1996) é importante conhecer os possíveis efeitos tóxicos que a
molécula de fipronil e seus metabólitos poderiam exercer sobre a pele das aves. Assim,
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 137, 2013

um estudo utilizando galináceos foi conduzido bjetivando avaliar pela microscopia e


técnica do picro-sirius red sob luz polarizada os possíveis danos à pele destes animais.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas sete aves fêmeas oriundas de criação extensiva, adultas, com
peso médio 1400 g e observados por até 14 dias em ensaio toxicológico agudo em
curto prazo (FDA, 2003). Os animais foram separadosem três grupos: G1 (n = 03) -
observados por sete dias após aplicação de fipronil; G2 (n = 03) observados por 14
dias após aplicação de fipronil e um grupo controle composto por um animal que não
recebeu aplicação de fipronil e observado por 14 dias. A aplicação do medicamento
ocorreu na região médio lateral do peito dos animais, na dose 138 mg/kg. As aves
foram eutanasiadas aos sete e 14 dias. Fragmentos de pele medindo 1,5 cm do local
da aplicação foram coletados e submetidos à processamento histológico de rotina e
corados pela hematoxilina e eosina e avaliados sob microscopia de luz, bem como pela
técnica de picro-sirius rede avaliados sob microscopia de luz polarizada. A avaliação
subjetiva da quantidade de colágeno do tipo I e tipo III foi realizada por três
observadores que consideraram as fibras independentemente, nas seguintes
proporções e atribuindo peso: 1 (até 70%); 2 (70-90%); 3 (> 90%). Os valores de
escores foram submetidas à avaliação estatística pelo Teste t. RESULTADOS
A avaliação microscópica das peles de todos os animais do experimento não revelou
alterações dignas de nota. Pela técnica do picro-sirus red sob luz polarizada observou-
se uma redução da quantidade de colágeno tipo I nos animais observados por sete
dias (1,7733 ± 0,51), porém esse resultado não foi significativo estatisticamente quando
comparado ao animal controle (2,0 ±0,0) (p = 0,5216). Para os animais observados por
14 dias (2,1 ±0,5085) não foi observada diferença significativa quando comparada ao
animal controle para o colágeno tipo I (p = 0,7511). O colágeno tipo III não variou entre
os grupos de observação, sendo G1 e G2 com média 1,1982 (±0,1905) e o animal
controle obteve média 1,00.
DISCUSSÃO
Neste estudo a utilização de técnica de picro-sirius red buscou evidenciar o tipo
de colágeno presente na derme de galináceos e após a avaliação constatou-se a
predominância de fibra colágena tipo I, seguida pelo tipo III, o que corrobora os
achados de Abedin e Riemschneider (1984) que evidenciou em pele de frangos, a
predominância de colágeno tipo I (75%) e do tipo III (15%). Segundo Roberts et al.
(2002), o fipronil causa lesão do estrato córneo da epiderme. O exame histopatológico
da pele de galináceos neste experimento não revelou alterações em epiderme ou
derme que fossem importantes ou características de intoxicação dérmica. No
entanto,um experimento conduzido utilizando fipronil diluído em óleo de milho e fipronil
diluído em água, aplicados em coelhos brancos, revelou irritação dérmica leve quando
usado fipronil em óleo de milho. Os autores sugeriram, a partir desse ponto, que o
adjuvante no qual o fipronil está diluído pode ser responsável pelas lesões dérmicas
verificadas (Myers e Christopher, 1993Pelo fato do fipronil possuir certo grau de
toxicidade e também poder atingir organismos não alvos, incluindo as aves (Mize et. al.
2008), o contato direto com o produto pode provocar reações cutâneas nesses animais,
porém, as análises realizadas neste experimento com a aplicação diretado produto a
base de fipronil sobre a pele dos galináceos, não provocaram lesões dignas de nota
sobre o colágeno da pele, mantendo sua integridade e proteção natural.
CONCLUSÃO
Não houve alterações microscópicas e no colágeno tipo I e tipo III na pele de
galináceos após utilização de fipronil e observaçãopor 14 dias.

383
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 137, 2013

REFERÊNCIAS
ABEDIN, M. Z. e RIEMSCHNEIDER, R. Chicken skin collagen-molecular diversity and susceptibility to
neutral proteinases. Pharmaceutical Industries v.
46, p. 532–535, 1984.
FDA.I V.C.3.a. Short-Therm Toxicity Sutidies with Rodents. In:Toxicological Principles for the Safety
Assessment of Food Ingredients. Redbook 2000. November, 2003.
HAMON, N.; SHAW, R. e YANG, H. Desenvolvimento Mundial de inseticidas fipronil, In: Herzog, G.A.;
Hardee, D. A.; Ottens, R. J.; Ireland, C. S. e Nelms, J.
V. Proceedings Beltwide Cotton Conferences US, vol. 2, Jan 9-12, 1996
MIZE, S. V.; PORTER, S. D.; DEMCHECK, D. K. Influence of fipronil compounds and rice-cultivation
land-use intensity on macroinvertebrate communities in streams of southwestern Louisiana, USA.
Environmental Pollution, v.152: 491- 503. 2008.
MYERS, R.C. E CHRISTOPHER, S.M. MB 46030 (technical): Cutaneous irritancy study in the rabbit. In
Unpublished reportNº. 93N1217A from Union Carbide Bushy Run Research Center (Research Triangle
Park, NC, USA, Submitted to WHO by Rhone-Poulenc, Inc.). 1993.
ROBERTS, M.S.; CROSS, S.E.; PELLETT, M.A. Skin Transport, In: Walters,K.A. (Ed.) Dermatological
and Transdermal Formulations. Marcel Dekker: New York, p. 89-196, 2002.
TILLMAN, P.G. e MULROONEY, J.E. Tolerance of natural enemies to selected
insecticides applied at ultra low volumes. In: HERZOG, G.A.; HARDEE (chairs),
D.A.; OTTENS, R.J.; IRELAND, C.S.; NELMS, J.V.; OTTEA, J.A. (Eds.). Proceedings Beltwide Cotton
Conferences USA. New Orleans: Memphis,
p.1312-1313, 1997.
TINGLE, C. C.; ROTHER, J. A.; DEWHUST, C. F. et al.Fipronil: environmental
fate ecotoxicology, and human health concerns. Reviews of Environmental Contamination and
Toxocology. v. 176, p. 1-66, 2003.

384
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 138, 2013

ANIMAIS SELVAGENS E EXÓTICOS

138. ACHADOS DE NECROPSIA EM PINGUINS-DE-MAGALHÃES NO LITORAL DO


ESPÍRITO SANTO
(Necropsy findings in Magellanic penguins on the coast of Espírito Santo)

Tamiasso, N.V.; Zocatelli, T.F.; Martins, M.S.S.; Avelar, B.R.; Martins, I.V.F.; Nunes,
L.C.
Universidade Federal do Espírito Santo

RESUMO: O pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) é a espécie de


pinguim mais comumente encontrada no litoral brasileiro e as causas de óbito são
indefinidas. Objetivou-se descrever os achados de necropsia em pinguins-de-
magalhães que vieram a óbito no litoral do Espírito Santo. Dezesseis animais foram
necropsiados e todos apresentavam abaixo do peso. Contracaecum pelagicum foram
encontrados em 15 animais, sendo que dois destes apresentavam Cardiocephaloides
physalis. Cinco animais apresentavam ectoparasitos Austrogoniodes bifasciatus. Três
indivíduos revelaram lesões por ingestão de corpo estranho em esôfago e estômago.
As lesões respiratórias encontradas foram congestão pulmonar, fibrina nos sacos
aéreos, conteúdo caseoso na traquéia e edema pulmonar. Pneumonia foi observada
em três animais. Os demais órgãos revelaram congestão e alterações indicativas de
autólise. Os principais achados de necropsia em pinguins-de-magalhães foram
parasitoses gastrointestinais, lesões gastroesofágicas por corpo estranho e pneumonia.
Palavras-chave: achados post mortem; diagnóstico; pinguim
ABSTRACT: Magellanic penguin (Spheniscus magellanicus) is the penguin specie
most commonly found in Brazilian coast and its causes of dead are indefinite. The
objective was to describe necropsy findings in Magellanic penguins that died on the
coast of Espírito Santo. Sixteen animals were necropsied and all of them were
underweight. Contracaecum pelagicum were found in 15 animals, two of them
presented Cardiocephaloides physalis. Five animals presented Austrogoniodes
bifasciatus ectoparasites. Three individuals revealed foreign body ingestion lesions in
esophagus and stomach. The respiratory lesions found were pulmonary congestion,
fibrina in air sacs, caseous content in trachea and pulmonary edema. Pneumonia was
observed in three animals. The other organs revealed congestion and alterations
indicating autolysis. The main necropsy findings in Magellanic penguins were
gastrointestinal parasitosis, gastroesophageal lesions caused by foreign body and
pneumonia.
Key words: post mortem findings; diagnostic; penguin
INTRODUÇÃO
Os pinguins não são aves naturais do Brasil e são encontradas apenas quando estão
em seu período migratório. A espécie mais comumente avistada na costa brasileira é o
pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) (Sander, 2011). Vários pinguins são
encontrados mortos ao longo da costa todos os anos, e os óbitos ocorrem devido a
fatores tanto relacionados à influência do ser humano no meio ambiente quanto a
doenças específicas (Duignan, 2001; Mäder et al., 2010).
Considerando-se a importância do diagnóstico das causas de mortalidade nestes
animais, o objetivo deste trabalho foi descrever os achados de necropsia de pinguins-
de-magalhães que vieram a óbito naturalmente no litoral do Espírito Santo.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram enviados ao Hospital Veterinário (HOVET) da Universidade Federal do Espírito
Santo, Setor de Patologia Animal, dezesseis pinguins-de-magalhães que vieram a óbito
no Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos (IPRAM), Cariacica,
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 138, 2013

Espírito Santo. Os cadáveres foram transportados congelados do IPRAM ao HOVET


(IBAMA nº 045/12-NUFAU/DIPRAM/IBAMA/ES, IBAMA 5176002, processo nº
02009.001225/10-17) e foi realizada a necropsia dos animais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os animais necropsiados apresentavam escore de condição corporal 2 (magro).
O baixo escore corporal é um importante fator debilitante nestes animais, pois, em
alguns casos, os pinguins morrem por falta de alimento. Fatores climáticos e de
sanidade animal podem vir a agravar o quadro de caquexia e inanição (Duignan, 2001;
Carvalho et al., 2012; Campos et al., 2013). Questiona-se se estes animais apresentam
esta condição por falta de alimento ou por doença concomitante. Considerando-se que
os pinguins não encontrem alimento no litoral brasileiro, a influência humana no meio
ambiente, seja por meio da pesca predatória ou por meio da poluição dos mares e
oceanos, deve ser ressaltada.
Quinze animais apresentaram endoparasitos classificados como ascarídeos da espécie
Contracaecum pelagicum, localizados desde a orofaringe até o intestino e, destes, dois
também apresentavam cestóideos da espécie Cardiocephaloides physalis no intestino
e um animal não apresentou nenhum endoparasito. Os endoparasitos são comumente
encontrados na necropsia de pinguins (Duignan, 2001; Yáñez et al., 2012; Campos et
al., 2013). Duignan (2001) afirmou que parasitos podem comprometer a sobrevivência
do indivíduo, contribuindo para a diminuição da população. Além da morte por
parasitismo propriamente dita, esta condição ainda gera um quadro de debilidade que
deixa o animal fraco e mais susceptível a ataques de predadores e doenças
concomitantes (Yánez et al., 2012; Campos et al., 2013).
Além disto, cinco animais apresentavam ao exame externo ectoparasitos
Austrogoniodes bifasciatus, sendo este um achado comum entre pinguins de diversas
espécies (Duignan, 2001). Estes dados sugerem que as parasitoses estão amplamente
distribuídas entre as populações de pinguins e levantam a suspeita de que os
cardumes de peixes dos quais estes animais se alimentam possam estar infectados,
uma vez que os peixes são hospedeiros intermediários de vários parasitos.
Dois indivíduos apresentavam ruptura de esôfago por corpo estranho (anzol) e um
indivíduo apresentava corpo estranho (anzol) no estômago. Em um dos casos verificou-
se a presença de úlceras em toda a extensão do esôfago. Corpos estranhos em trato
gastrointestinal são relatados na literatura e conferem uma importante interferência
humana na sobrevivência de espécies marinhas (Carvalho et al., 2012). As lesões
encontradas em estômago foram hiperplasia de tecido linfoide, úlceras, hiperplasia,
hiperqueratose e nódulos na mucosa. Foi verificada enterite hemorrágica em dois
cadáveres.
De acordo com Yáñez et al. (2012) as úlceras no trato gastrointestinal estão
relacionadas com o parasitismo intenso. Da mesma forma, Campos et al. (2013) e
Duignan (2001) relacionaram estes parasitos com ulceração gástrica que leva à
hemorragia o que pode contribuir para a debilidade destes animais.
Nos fígados foram verificadas congestão e pseudomelanose e manchas
esbranquiçadas, classificadas como autólise. O baço apresentou congestão,
pseudomelanose e rarefação de tecido linfoide. Nos rins foram encontrados
pseudomelanose, áreas de fibrose, congestão, palidez (degeneração), cápsula aderida
e secreção amarelada na pelve. O coração apresentou impregnação por hemoglobina,
fibrina no saco pericárdico e congestão. A congestão cardíaca foi encontrada por
Carvalho et al. (2012) em alguns exemplares de pinguins-de-magalhães necropsiados.
A pseudomelanose pode ser explicada devido ao elevado tempo post mortem dos
animais submetidos à necropsia, sendo esta uma alteração comum em cadáveres em
processo de putrefação.
No aparelho respiratório as lesões encontradas foram congestão pulmonar, fibrina nos
sacos aéreos, conteúdo caseoso dentro da traquéia e edema pulmonar. Pneumonia foi
386
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 138, 2013

detectada em três animais. Lesões em trato respiratório são frequentes, tendo em vista
que aspergilose é uma enfermidade comum nestes animais e gera um quadro
pulmonar marcante (Duignan, 2001; Osório et al., 2006). Sacos aéreos espessados,
edema pulmonar e pulmões congestos também são achados compatíveis com
aspergilose. Por outro lado, presença de secreção mucopurulenta e exsudato caseoso
em sacos aéreos é um indicativo de doença bacteriana (Osório et al., 2006). Verifica-se
então que a existência de alterações em órgãos do sistema respiratório é comum,
entretanto as causas podem ser variadas, exigindo assim, avaliações mais específicas
para o diagnóstico definitivo.
CONCLUSÕES
Os principais achados de necropsia em pinguins-de-magalhães foram parasitoses
intestinais, lesões gastroesofágicas por corpo estranho e pneumonia.
Agradecimento ao Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos do Espírito
Santo por ceder os animais para o estudo.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, S.D.E.; PEREIRA, B.B.N.; SICILIANO, S. et al. Contracaecum pelagicum and C. plagiaticium
(Nematoda: Anisakidae) infection in Magellanic penguins (Sphenisciformes: Spheniscidae) on the coast
of Rio de Janeiro State. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.33, n.1, p.89-93, 2013.
CARVALHO, C.O.; CUENCA, S.C.; KLEEB, S.R. et al. Gross and histopathological findings in magellanic
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Zootecnia, v.64, n.3, p.769-772, 2012.
DUIGNAN, P.J. Diseases of penguins. Surveillance, v.28, n.4, p.5-11, 2001.
MÄDER, A.; SANDER, M.; CASA JR., G. Ciclo sazonal de mortalidade do pinguim-de-magalhães,
Spheniscus magellanicus influenciado por fatores antrópicos e climáticos na costa do Rio Grande do Sul,
Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia, v.18, n.3, p.228-233, 2010.
OSÓRIO, L.G.; XAVIER, M.O.; CABANA, A.L. et al. [2006]. Causas de mortalidade de pinguins em
centro de recuperação de animais marinhos entre janeiro de 2004 e setembro de 2006. Disponível
em: <http://www.ufpel.edu.br/cic/2006/arquivos/conteudo_CB.html>. Acesso em: 26/07/2013.
SANDER, M. [2011]. Um pouco de história sobre o pinguim-de-magalhães... Disponível em:
<http://www.ceo.org.br/Novidades/Bol%20Pinguins%20no%20Brasil%201-2011.pdf>. Acesso em:
27/07/2013.
YÁÑEZ, F.; FERNÁNDEZ, I.; CAMPOS V., V. et al. First pathological report of parasitic gastric ulceration
in Humboldt penguin (Spheniscus humboldti) along the coast of south-central Chile. Latin American
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387
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 139, 2013

139. ACHADOS HISTOPATOLÓGICOS EM PULMÕES DE TARTARUGAS


MARINHAS
(Histopathological findings in lungs of sea turtles)

Raphael Mansur Medina; Maria Aparecida da Silva; Rachel Bittencourt Ribeiro; Hassan
Jerdy Leandro1; Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho
Setor de Anatomia Patológica Veterinária do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias,
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – CCTA UENF

RESUMO: Nas últimas décadas houve aumento no número de doenças em tartarugas


marinhas. Objetivou-se com este trabalho descrever os achados histopatológicos em
pulmões destes animais. Para realização do estudo foi obtido amostras de 150
tartarugas necropsiadas nas regiões litorâneas capixaba e fluminense. Amostras de
pulmões colhidas foram fixadas em formalina neutra tamponada à 10%, encaminhadas
para histopatologia, no Setor de Anatomia Patológica da UENF, processadas segundo
técnicas histológicas de rotina e coradas com hematoxilina-eosina (HE). Dos 150
animais recolhidos, observou-se que 144 eram da espécie Chelonia mydas, dois
Caretta caretta, dois Eretmochelys imbricata e dois Lepidochelys olivacea. As lesões
encontradas foram pneumonia granulomatosa devido a ovos de parasitas em 32
animais, pneumonia granulomatosa micótica em 6 e pneumonia heterofílica em 2 dos
animais. Concluiu-se com este trabalho que a principal alteração encontrada no
sistema respiratório de C. mydas foi pneumonia granulomatosa devido a ovos de
parasitas.
Palavras-chave: Chelonia mydas; granuloma micótico; parasita; pneumonia
ABSTRACT: In recent decades there has been an increase in the number of diseases
in sea turtles. The objective of this report was to describe the histopathological findings
in the lungs of these animals. To perform the study was obtained samples of 150 turtles
necropsied in the coastal regions of Espírito Santo and Rio de Janeiro. Samples
harvested lungs were fixed in formalin for 10%, sent for histopathology, to the Setor de
Patologia Animal - UENF, processed according to routine histological techniques and
stained with hematoxylin-eosin (HE). Of the 150 animals collected, it was observed that
144 were the species Chelonia mydas, two Caretta caretta, two Eretmochelys imbricata
and two Lepidochelys olivacea. Findings were granulomatous pneumonia due to
parasite eggs in 32 animals, granulomatous mycotic pneumonia in 6 and heterophilic
pneumonia in 2 animals. The conclusion of this work that the main alteration found in
the respiratory system of C. mydas was granulomatous pneumonia due to parasite
eggs.
Key words: Chelonia mydas; granuloma mycotic, parasitic, pneumonia
INTRODUÇÃO
Tartarugas marinhas são répteis da ordem Testudines e a origem desses animais não
é bem conhecida, embora se saiba que tenham surgido há cerca de 220 milhões de
anos. Existem atualmente 13 famílias de quelônios, com 75 gêneros e 260 espécies.
Destes, há apenas seis gêneros com sete espécies marinhas e dessas sete, somente
cinco são encontradas no Brasil (Projeto Tamar, 2011).
Nas últimas décadas houve um aumento no número de relatos de doenças em
tartarugas marinhas, e nos últimos anos, novas doenças emergiram nessa espécie,
porém a etiologia e/ou patogênese permanecem desconhecidas. O conhecimento das
doenças e alterações anatomopatológicas junto com uma boa colheita de amostras
facilitaria o entendimento das interações agente/hospedeiro na saúde das tartarugas
marinhas (Flint et al., 2009). O exame post-mortem é essencial na tentativa de
determinar a causa da morte em animais individuais, quando as doenças são fatores
suspeitos. Quando tais exames são efetuados rotineiramente, as informações também
contribuem significativamente para determinar o estado de saúde da população,

388
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 139, 2013

particularmente quando combinada com a avaliação da saúde dos animais vivos (Flint
et al., 2009).
Objetivou-se com este trabalho descrever os achados histopatológicos em pulmões de
tartarugas marinhas vítimas de encalhe que foram encontradas mortas ou que vieram a
óbito durante o tratamento e necropsiadas nos litorais capixaba e fluminense.
MATERIAL E MÉTODOS
Para realização deste estudo foi obtido amostras de necropsias em tartarugas
marinhas encalhadas mortas ou que vieram a óbito durante tratamento, no período de
2011, nas regiões litorâneas capixaba e fluminense, totalizando 150 animais. Amostras
de pulmões colhidas nas necropsias foram fixadas em formalina neutra tamponada à
10% e encaminhadas para a histopatologia, no Setor de Anatomia Patológica do
Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(UENF). Posteriormente processadas segundo técnicas histológicas de rotina e
coradas com hematoxilina-eosina (HE).
As lâminas foram analisadas sob microscopia óptica de luz, onde avaliou-se as
alterações pulmonares.
RESULTADOS
Dos 150 animais recolhidos, observou-se que 144 (96%) eram da espécie Chelonia
mydas, dois Caretta caretta (1,33%), dois Eretmochelys imbricata (1,33%) e dois
Lepidochelys olivacea (1,33%).
Ao avaliar os pulmões observou-se que dos 150 animais avaliados apenas 40 (20,41%)
apresentaram lesões, sendo todos os quelônios da espécie Chelonia mydas. As lesões
encontradas foram pneumonia granulomatosa devido a ovos de parasitas em 32 (80%)
animais, pneumonia granulomatosa micótica em 6 (15%) e pneumonia heterofílica em 2
(5%) dos animais.
DISCUSSÃO
O fato da maioria de exemplares examinados neste estudo serem da espécie C.
mydas, provavelmente se justifica pelo fato desta espécie existir em maior quantidade
no território brasileiro (Projeto Tamar, 2011).
No presente trabalho a maioria das lesões observadas no sistema respiratório, estavam
associadas a ovos de parasitas helmintos da Família Spirorchiidae e segundo Gordon
et al. (1998), o diagnóstico definitivo da parasitose nos tecidos se dá por meio de
análise histopatológica.
Segundo Glazebrook et al. (1989), as lesões se desenvolvem devido a presença de
ovos na circulação sanguínea de diversos órgãos gerando acentuada resposta
inflamatória, na maioria das vezes, granulomatosa com células gigantes
multinucleadas, semelhante ao observado neste trabalho.
De acordo com Pough et al. (2003), as principais doenças que acometem os pulmões
das tartarugas marinhas estão direta ou indiretamente relacionadas com a poluição,
porém neste estudo a única lesão observada foi inflamação devido a ovos de parasitas.
CONCLUSÃO
Concluiu-se com este trabalho que a principal alteração encontrada no sistema
respiratório de C. mydas foi pneumonia granulomatosa devido a ovos de parasitas
seguida de pneumonia granulomatosa micótica e de pneumonia heterofílica.
REFERÊNCIAS
FLINT, M.; PATTERSON-KANE, J.C.; LIMPUS, C.J.; WORK, T.M.; BLAIR, D.; MILLS P. C. Postmortem
diagnostic investigation of disease in free-ranging marine turtle populations: a review of common
pathologic findings and protocols. Journal Veterinary Diagnostic Investigation, v. 21, p.733-759, 2009.
GLAZEBROOK, J.S.; CAMPBELL, R.S.; BLAIR, D. Studies on cardiovascular fluke (Digenea:
Spirorchiidae) infections in sea turtles from the Great Barrier Reef, Queensland, Australia. Journal
Comparative Pathology, v.101, p.231–250, 1989.
GORDON, A.N.; KELLY, W.R.; CRIBB, T.H. Lesions caused by cardiovascular flukes (Digenea:
Spirorchidae) in stranded green turtles (Chelonia mydas). Veterinary Pathology, v.35, p.21–30, 1998.
POUGH, F. H.; JANIS, C.M; HEISER, J.B. Vida dos Vertebrados. 3 ed. São Paulo : Atheneu. 2003.699 p.
PROJETO TAMAR – ICMBio. Tartarugas Marinhas. Disponível : www.tamar.com.br/. Acesso 2/8/2013.
389
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 140, 2013

140. DENOMA PANCREÁTICO EM Pseudalopex vetulus – RELATO DE CASO


(Pancreatic adenoma in Pseudalopex vetulus - case report)

Lorena Ferreira Silva¹, Anahí Souza Silva¹, Mariana Portugal Mattioli², Maria do
Livramento de Barros Oliveira², Betânia Pereira Borges³, Janildo Ludolf Reis Júnior¹

1. Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Brasília (UnB);


2. Clínica e Cirurgia de Animais Silvestres da Universidade de Brasília (UnB);
3. Fundação Jardim Zoológico de Brasília.

RESUMO: Tumores de pâncreas são neoplasias raramente relatadas em animais,


sobretudo animais silvestres. Os adenomas pancreáticos geralmente não causam
sintomatologia clínica, são lesões incidentais observadas durante a necropsia ou a
celiotomia exploratória. Este trabalho relata as alterações anatomopatológicas
compatíveis com adenoma do pâncreas exócrino encontradas no pâncreas de uma
raposa do campo (Pseudalopex vetulus).
Palavras-chave: exócrino; pâncreas; raposa; tumor
ABSTRACT: Pancreatic tumors are neoplasia rarely reported in animals, especially wild
animals. Pancreatic adenomas usually don‘t cause clinical symptoms, are incidental
lesions observed during necropsy or exploratory laparotomy. This work reports
pathological changes consistent with exocrine pancreatic adenoma found in the
pancreas of a hoary fox (Pseudalopex vetulus).
Key words: exocrine; pancreas; fox; tumor
INTRODUÇÃO
Tumores de pâncreas são extremamente raros, porém já foram descritos em algumas
espécies, inclusive raposas (Fox, 1923; McGavin e Zachary, 2012). Geralmente não
causam sinais clínicos ou bioquímicos, são lesões incidentais observadas na necropsia
ou durante a celiotomia exploratória (Head, Else e Dubielzig, 2002).
Há certa dificuldade em diferenciar adenomas pancreáticos exócrinos de lesões
hiperplásicas. O adenoma é identificado por seu padrão celular ductal ou acinar, seu
crescimento expansivo e sua encapsulação bastante completa (Head, Else e Dubielzig,
2002). Os adenomas de células acinares apresentam as mesmas características dos
nódulos hiperplásicos, porém são únicos e maiores que os lóbulos pancreáticos
normais (McGavin e Zachary, 2012). Já o padrão tubular é, comumente, associado a
espaços císticos pequenos ou grandes, contornados por células cúbicas ou colunares,
que muitas vezes contêm mucina. Um estroma colagenoso e fino rodeia o epitélio.
Projeções papilares para o interior do lúmen podem estar presentes (Kircher e Nielsen,
1976).
No presente trabalho são relatadas as alterações anatomopatológicas compatíveis com
adenoma pancreático em uma raposa (Pseudalopex vetulus) adulta, fêmea oriunda do
zoológico de Brasília, Distrito Federal (Brasil).
MATERIAL E MÉTODOS
Em abril de 2013 foi encaminhado ao Laboratório de Patologia da Universidade de
Brasília (LPV-UnB) um recipiente contendo fragmentos de órgãos (pele, fígado,
pulmão, coração, adrenal, ceco, rim, intestino, baço, pâncreas, glândula salivar,
estômago e musculatura esquelética) conservados em formol tamponado 10%
provenientes de uma raposa do campo (Pseudalopex vetulus), adulta. Os fragmentos
foram seccionados, processados rotineiramente e corados com Hematoxina e Eosina
(H&E).
RESULTADOS
A carcaça apresentava moderado estado de autólise. A pele da região abdominal
desprendia-se facilmente do subcutâneo evidenciando musculatura abdominal
esverdeada. À necropsia observou-se fígado friável, com bordos irregulares, áreas
escurecidas entremeadas com áreas claras (aspecto de noz-moscada) e pontos
390
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 140, 2013

esbranquiçados difusos (fibrose). Havia equimose no rim e petéquias ao longo do


intestino; petéquias e equimoses também foram visualizadas no epicárdico de átrios e
ventrículos, ao corte, evidenciou-se espessamento acentuado do ventrículo esquerdo
(hipertrofia). O pulmão estava congesto e hipocrepitante.
Não foram encaminhadas ou relatadas alterações macroscópicas de pâncreas, no
entanto na microscopia foi observado um nódulo acometendo cerca de 70% do
fragmento pancreático, expandido por proliferação moderadamente celular, bem
demarcada e encapsulada. As células estão agrupadas em padrão acinar entremeadas
por discreto estroma fibrovascular, são colunares, com limites indistintos, citoplasma
moderado, finamente granular, por vezes contendo moderada quantidade de grânulos
basofílicos. O núcleo é ovalado, central, basofílico, hipercromático, sem nucléolo
evidente. Há moderada anisocariose e raras mitoses.
Também foram observados miosite necrotizante e fibrino-hemorrágica neutrófilica
difusa acentuada com trombo e miríades de bactérias cocóides gram positivas
intralesionais, glomerulonefrite membranoproliferativa linfoplasmocítica multifocal
moderada, congestão e hemorragia pulmonar difusa acentuada com hematopoiese
extra-medular, hiperplasia de córtex da adrenal, congestão e hematopoiese extra-
medular no baço e hemorragia multifocal discreta no coração.
DISCUSSÃO
Apesar de não haver descrição macroscópica do pâncreas as alterações microscópicas
encontradas são compatíveis com adenoma do pâncreas exócrino, neoplasia benigna
raramente relatada em animais, sobretudo em animais silvestres.
Neste caso, o adenoma apresentou padrão celular do tipo acinar, sendo este mais
frequentemente observado em nódulos hiperplásicos. No padrão acinar, as células
assemelham as células acinares normais, porém apresentam citoplasma hipocorado,
vermelho pálido, granular, núcleo redondo com cromatina vesicular, nucléolo
proeminente e com raras figuras de mitose (Head, Else e Dubielzig, 2002).
Este animal apresentava uma miosite severa. Não há informações precisas a cerca da
localização exata do músculo em questão, mas de acordo com a descrição
macroscópica, sugere-se tratar da parede abdominal. Dessa forma, acredita-se que a
peritonite bacteriana esteja diretamente relacionada com a causa mortis e os demais
achados, incluindo o adenoma do pâncreas, sejam lesões secundárias.
CONCLUSÃO
Há escassos relatos de adenoma pancreático em animais silvestres, havendo apenas
uma descrição em raposa. Não há conhecimento de relato semelhante em raposa do
campo (Pseudalopex vetulus). Excluindo a baixa incidência da lesão, a escassez de
relatos pode estar relacionada com o número reduzido de biópsia/necropsia realizadas
em espécies selvagens.
Agradecimento
À Fundação Jardim Zoológico de Brasília pela parceria e colaboração no caso.
REFERÊNCIAS
FOX, H. Disease in captive wild mammals and birds. Philadelphia, London and Chicago (Lippincott),
1923, pp. 227 – 259.
KIRCHER C.H.; NIELSEN S.W. Tumours of the pancreas. Bull World Health Organ. 1976, 53(2-3), p.
195–202.
McGAVIN, M. D.; ZACHARY, J. F. Pathologic Basis of Veterinary disease. 5ed. Rio de Janeiro :
Elsevier, 2012, Cap. 8, p.456.
HEAD K.W., ELSE R.W., DUBIELZIG R.R. Tumors of the alimentary tract. In: MEUTEN D.J. Tumors in
domestic animals. 4ed. Iowa State University Press : Ames, 2002, cap. 8. p. 478-479.
STACE N.H.; PALMER T.J.; VAJA S.; DOWLING R.H. Long term pancreaticobiliary diversion stimulates
hyperplastic and adenomatous nodules in the rat pancreas: a new model for spontaneous tumour
formation. Gut, 28 (Suppl 1), p. 265-268, 1987.

391
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 141, 2013

141. AGENESIA RENAL UNILATERAL EM Saimiri sciureus: RELATO DE CASO


(Unilateral renal agenesis in Saimiri sciureus: Case report)

Natália Freitas de Souza¹; Caio César Rocha Mendes¹; Luanna Dienyfer Prata
Vasconcelos¹; Fabíola Monteiro Carvalho¹; Aline Andrade Farias¹; Adriana Maciel de
Castro Cardoso²

1 Universidade Federal Rural da Amazônia


2 Instituto da Saúde e Produção Animal, Universidade Federal Rural da Amazônia

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de agenesia renal
unilateral, anomalia congênita onde um dos rins não se desenvolve. O caso refere-se a
um macaco de cheiro (Saimiri sciureus), adulto, procedente do Bosque Zoobotânico
Rodrigues Alves de Belém – PA encaminhado ao Setor de Patologia Animal da
Universidade Federal Rural da Amazônia. No exame anatomopatológico notou-se a
ausência do rim direito e hipertofria do rim esquerdo. O achado dessa alteração é
acidental, e apresenta poucos relatos na literatura.
Palavras – chave: patologia; primatas; rim
ABSTRACT: This study reports a case of unilateral renal agenesis, congenital
abnormality where one kidney fails to develop. The study refers to a monkey (Saimiri
sciureus), adult, from Bosque Rodrigues Alves Zoo Botanic of Belém-PA, that was
referred to the sector do Veterinary Pathology of the Federal Rural University of
Amazônia. During the anathomopathologically exam, we noted the absence of the right
kidney. The finding of this change is accidental, and presents few reports in the
literature.
Keywords: pathology; primate; kidney
INTRODUÇÃO
O Saimiri sciureus, conhecido popularmente como Macaco-de-cheiro ou Boca-Preta, é
um primata do novo mundo e pertence à família Cebidae e gênero Saimiri. Trata-se de
um animal essencialmente arborícola e de comportamentos diurnos segundo Verona e
Pissinati (2007).
O rim é um órgão parenquimatoso de coloração castanho-avermelhada, o qual se
apresenta envolto por uma cápsula. Sua anatomia varia de espécie para espécie (Dyce
et al.,2004). Este órgão pode ser acometido por diversas alterações, dentre estas
temos a agenesia renal, que é a ausência de um ou ambos os rins. Quando bilateral, é
incompatível com a vida, se unilateral o paciente pode ser assintomático. (Bernstain et
al.,2009). O rim oposto pode apresentar-se normal ou ligeiramente aumentado de
tamanho, caracterizando uma hipertrofia compensatória.
O presente trabalho tem como objetivos caracterizar agenesia renal unilateral em um
primata não humano, com finalidade de enriquecimento científico da área de pesquisa
dessa natureza e subsidiar pesquisas posteriores acerca da enfermidade em questão.
MATERIAL E MÉTODOS
O caso refere-se a um primata não humano da espécie Saimiri sciureus, popularmente
conhecido como ―macaco de cheiro‖. O espécime era adulto, macho, pertencente à
fauna de vida livre do Bosque Zoobotânico Rodrigues Alves, localizado em Belém –
PA. O animal recebeu atendimento veterinário após receber uma descarga elétrica
acidental, e veio a óbito dias depois, devido a consequências deste incidente. Foi
encaminhado ao Setor de Patologia Animal da Universidade Federal Rural da
Amazônia para fins de estudo durante uma aula prática de necropsia.
O exame necroscópico foi realizado segundo o modelo tradicional para animais de
tamanho pequeno. Realizou-se a coleta de materiais, o rim esquerdo íntegro e a
estrutura localizada no lado oposto, cujos fragmentos dos mesmos foram analisados
em exame histopatológico. Foram fixados em formol tamponado a 10%, processados
pela técnica de inclusão em parafina, e corados por Hematoxilina e Eosina (HE).
392
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 141, 2013

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Macroscopicamente, durante o exame da cavidade abdominal, notou-se ausência do
rim direito e a presença de uma estrutura ovalada, de superfície lisa, apresentando
somente uma ―cápsula‖, sem conteúdo parenquimal, localizada na posição referente ao
mesmo; o rim esquerdo apresentava-se notoriamente aumentado de tamanho, ou seja,
havia uma hipertrofia compensatória.
Na análise dos órgãos ex situ, os quais também foram fixados com formol tamponado a
10%, observou-se a hipertrofia por mecanismos compensatórios do rim esquerdo.
Histopatologicamente, a estrutura que se localizava no espaço referente ao rim direito
foi identificada como um linfonodo.
Quando feita a análise do parênquima do rim esquerdo, notou-se evidente distinção
entre regiões cortical (escura) e medular (clara). Observou-se também, a nítida redução
da área correspondente aos cálices renais e bacinete.
Agenesia renal unilateral é uma enfermidade congênita, muito rara, e os animais que
são acometidos, podem ser assintomáticos por toda a vida. Geralmente esses casos
vêm acompanhados de hiperplasia compensatória do rim remanescente (Fedalto,
2012).
No caso em questão, o espécime era um animal aparentemente saudável, sem
anomalias, sendo que a má formação só foi observada no momento da necropsia.
Em humanos essa anomalia acomete principalmente recém-nascidos, e crianças até
14 anos, alguns natimortos possuem outras anomalias associadas com a agenesia
renal bilateral, geralmente crianças com agenesia renal unilateral sobrevivem sem
nenhuma sintomatologia, e se possuem, podem ser tratados com medicamentos, ou
cirurgias (Noronha et al.,2003).
CONCLUSÃO
Conclui-se que uma consequência marcante na agenesia renal unilateral é a hipertrofia
compensatória do rim contralateral e essa alteração não apresenta nenhuma
sintomatologia clínica. Resultados semelhantes são escassos na literatura, visto que
esse é um achado de rara ocorrência nesses animais. Os exames necroscópicos e
complementares foram fundamentais para obtenção do diagnóstico de Agenesia Renal
Unilateral.
REFERÊNCIAS
Bernstain, M. et al . Agenesia renal unilateral em um cão– relato de caso. Medvep - Revista Científica de
Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação; v. 7, n. 21; 2009. p. 140-142.
Dyce, K. M., Sack, W. O., Wensing, C. J. G. Tratado de Anatomia Veterinária. 3. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
Fedalto, V.; Agenesia Renal em Cão: Relato de caso, 2007, Curitiba, 28f. Monografia - Curso de
Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica em Pequenos Animais, Universidade Federal do Paraná.
Noronha, L.; Reichert, A.; Martins, V. D. M.; Sampaio, G. A.; Cat , I.;Serapião, M. J.; Jornal Brasileiro de
Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro; vol.39, no.3, July/Sept. 2003.
Verona, C.E.S.; Pissinati, A. Primates – Primatas do Novo Mundo (sagüi, macaco-prego, macaco aranha,
bugio). In: Cubas, Z.S.; Silva, J.C.R.; Catão-Dias, J.L. Tratado de Animais Selvagens. São Paulo: Roca,
2007. p. 358 – 377

393
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 142, 2013

142. AMILOIDOSE SISTÊMICA EM AVES AQUÁTICAS CRIADAS EM CATIVEIRO


(Systemic amyloidosis in captive waterfowls)

Juliana Fortes Vilarinho Braga¹, Isabela de Oliveira Avelar¹, Herlandes Penha


Tinoco², Marcelo Cordeiro Malta², Roselene Ecco¹

1 Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, Escola de Veterinária da UFMG;


2 Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, Minas Gerais

RESUMO: Relata-se a ocorrência de amiloidose em uma tadorna tricolor (Tadorna


tadorna) e em um cisne branco (Cygnus olor). Histologicamente, material eosinofílico
sugestivo de amilóide foi observado nos glomérulos, membrana basal de túbulos renais
e no fígado. A coloração pelo Vermelho Congo com e sem tratamento por
permanganato de potássio confirmou a positividade para amiloide do tipo AA.
Palavras-chave: amilóide; Cygnus olor; histopatologia; proteína SAA; Tadorna sp.
ABSTRACT: Amiloidosis is reported in a common shelduck (Tadorna tadorna) and in a
white swan (Cygnus olor). Histologically, eosinophilic material suggestive of amyloid
was predominantly observed in the basal membrane of the renal glomeruli, tubules and
in the liver. The Congo red special stain with and without treatment by potassium
permanganate confirmed the positivity for amyloid AA.
Key words: amyloid; Cygnus olor; histopathology; SAA protein; Tadorna sp.
INTRODUÇÃO
A amiloidose é uma doença que acomete vários tecidos e órgãos, sendo caracterizada
por deposição extracelular de material proteico insolúvel (Landman et al., 1998; Nouri
et al., 2011) constituído por proteína amilóide (90%) e glicoproteína do componente P
(10%) (Pereira, 2009). A amiloidose é classificada em primária (tipo AL) e secundária
(tipo AA). Enquanto a proteína amilóide do tipo AL é derivada de cadeias leve de
imunoglobulinas produzidas por discrasias plasmocíticas, aquela do tipo AA origina-se
da proteína sérica associada ao amilóide (SAA) sintetizada no fígado (Pereira, 2009)
em processos inflamatórios crônicos (King e Alroy, 2000). Amiloidose aviária pode
afetar uma ampla variedade de aves, ocorrendo principalmente em aves aquáticas
associadas com infecções crônicas (Landman et al., 1998). Este relato tem como
objetivo descrever a ocorrência e as alterações histopatológicas da amiloidose
sistêmica em aves aquáticas, um cisne branco (Cygnus olor) e uma tadorna tricolor
(Tadorna tadorna), provenientes da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma tadorna tricolor (Tadorna tadorna) e um cisne branco (Cygnus olor), ambos
machos e adultos, foram encontrados mortos em seus recintos na Fundação
Zoobotânica de Belo Horizonte, MG. As aves foram necropsias e fragmentos de vários
órgãos foram colhidos para análise histopatológica. Para isso, os tecidos foram fixados
em formaldeído tamponado a 10% por 48 horas e desidratados em séries crescentes
de etanol, diafanizados em xilol e incluídos em parafina para obtenção de cortes
seriados de quatro micrômetros de espessura. Posteriormente, os cortes foram corados
pelas técnicas de Hematoxilina-Eosina, Tricrômico de Masson e Vermelho Congo
(Luna et al., 1968) e analisados ao microscópio de luz clara e luz polarizada. Além
dessas técnicas, os cortes histológicos foram tratados por permanganato de potássio
para diferenciação entre amilóide primário e secundário (Looi e Lim, 1981) e
visualizados sob luz polarizada.
RESULTADOS
A necropsia das aves revelou alterações no fígado e rins, os quais se apresentavam
friáveis e branco-amarelados. Além disso, ambos apresentaram congestão pulmonar.
O exame histopatológico revelou diferenças quanto à distribuição das lesões nas aves,
embora em ambas, estas tenham se concentrado nos rins e consistiram de amiloidose
moderada a intensa, associada ou não a nefrite linfoplasmocitária multifocal leve e
394
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 142, 2013

degeneração tubular, estas observadas apenas no cisne branco. A amiloidose


predominante nos glomérulos renais caracterizou-se por deposição de material
eosinofílico amorfo com perda da arquitetura glomerular devido à compressão de
capilares e atrofia do tufo glomerular. Este material foi observado ainda na parede de
arteríolas e na membrana basal de alguns túbulos renais, nos quais foram observados
cilindros hialinos intraluminais. No fígado, o padrão de lesão foi distinto nas aves
estudadas. Na tadorna tricolor observou-se amiloidose intensa associada à perda de
hepatócitos, caracterizada por intensa deposição de material eosinofílico na parede das
vênulas e arteríolas do espaço porta, e multifocalmente no espaço de Disse. Nas áreas
de deposição intensa, observou-se atrofia e perda de hepatócitos de todo o lóbulo. No
cisne branco, a principal alteração consistiu de degeneração gordurosa difusa
moderada e, em um grande vaso, observou-se depósito eosinofílico homogêneo leve a
moderado associado à trombose. Nos testículos da tadorna tricolor, observou-se
amiloidose intensa caracteriza por deposição difusa de material eosinofílico amorfo
entre os túbulos seminíferos. Além disso, na lâmina própria do intestino delgado
observou-se deposição acentuada de material semelhante, ocasionalmente circundado
por macrófagos e células gigantes multinucleadas. À coloração pelo Vermelho Congo,
o material eosinofílico homogêneo observado nos diversos órgãos de ambas as aves
corou-se em vermelho à microscopia de luz clara e tornou-se verde-maçã birrefringente
quando visualizado sob luz polarizada, demonstrando positividade para amilóide. A
avaliação microscópica de outras secções dos mesmos cortes histológicos relevou que,
após o tratamento com permanganato de potássio, o material depositado perdeu
afinidade por Vermelho Congo, confirmando tratar-se de amilóide do tipo AA. O
Tricrômico de Masson confirmou que tal material não se tratava de tecido conjuntivo
fibroso.
DISCUSSÃO
A amiloidose é bem reconhecida em aves, especialmente nas aquáticas, e tem maior
ocorrência em Anseriformes, sugerindo uma influência genética ainda não esclarecida
(Landman et al., 1998). Acredita-se que fatores estressantes poderiam favorecer a
amiloidose, uma vez que espécies pobremente adaptadas às condições de zoológicos
apresentam maior ocorrência da doença (Cowan, 1968). Nos casos relatados neste
trabalho, os rins e fígado foram os órgãos mais afetados, corroborando com Landman
et al. (1998) e apenas no cisne branco foram observadas alterações inflamatórias
(nefrite) que pudessem estar associadas à amiloidose. Entretanto, o limitado número
de órgãos enviados para avaliação microscópica não permitiu maiores conclusões
sobre a associação a possíveis processos inflamatórios. É importante ressaltar que,
embora nas aves a amiloidose sistêmica ocorra geralmente devido a infecções crônicas
(Cowan, 1968), um estudo de amiloidose em Anseriformes, revelou que 40% dos casos
foram idiopáticos (Zschiesche e Linke, 1986). Nos casos aqui relatados, as aves
morreram sem sinais clínicos evidentes e o diagnóstico de amiloidose sistêmica foi
possível devido ao exame histopatológico. Este, por meio de colorações histológicas
rotineiras e especiais, permitiu a confirmação dos depósitos de amilóide nos diferentes
órgãos das aves e, ainda, sua identificação como amiloide do tipo AA. Segundo
Landman et al. (1998), a amiloidose é raramente diagnosticada ante mortem, uma vez
que os sinais clínicos da doença não são específicos e dependem do órgão afetado e
de seu grau de acometimento, o que torna a histopatologia essencial após a necropsia.
CONCLUSÃO
A amiloidose sistêmica pode levar a morte de aves aquáticas e a avaliação
histopatológica é uma importante ferramenta para diagnóstico da doença,
possibilitando a identificação do tipo de amiloide e sua associação ou não a processos
infecciosos.
Agradecimento(s)
À CAPES, CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 142, 2013

REFERÊNCIAS
COWAN, D.F. Avian Amyloidosis: Incidence and Contributing Factore in the Family Anatidae. Pathology
Veterinary, v.5, p.59-66, 1968.
KING, N.W.; ALROY, J. Deposições intracelulares e extracelulares: degenerações. In: JONES, T.C.;
HUNT, R.D.; KING, N.W. Patologia veterinária. 6.ed. São Paulo: Manole, 2000, Cap. 2, p.27-61.
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396
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 143, 2013

143. ASPERGILOSE SISTÊMICA EM GAVIÃO-POMBO-PEQUENO (Leucopternis


lacernulatus)
(Aspergillosis systemic in white-necked hawk (Leucopternis lacernulatus)

Kathleen Ramos Deegan¹,Alessandra Estrela Lima², Vinicius Dantas Oliveira³, Tiago da


Cunha Peixoto², Nara Araujo Nascimento4
1Bióloga, Hospmev, UFBA.
2Prof. Adjunto, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFBA.
3Médico Veterinário, Parque Zoobotânico de Salvador Bahia.
4Residente Pat Veterinária, Hospmev, UFBA. kathdeegan@msn.com
RESUMO: Descrevem-se os achados micológicos e histopatológicos da aspergilose
sistêmica disseminada em um gavião-pombo-pequeno (Leucopternis acernulatus) cujo
agente etiológico isolado pertence à espécie Aspergillus fumigatus.
Palavras-chave: aerossaculite; microcultivo fúngico; Aspergillus fumigatus
ABSTRACT: We describe the microscopic and mycological findings of a case of
systemic aspergillosis disseminated in white-necked hawk (Leucopternis acernulatus)
whose etiologic agent belongs to the species Aspergillus fumigatus.
Keywords: air sacculitis; microcultive fungic; Aspergillus fumigatus
INTRODUÇÃO
A aspergilose é uma micose sistêmica causada por fungos filamentosos do gênero
Aspergillus, associados a fatores predisponentes como imunossupressão, estresse, má
nutrição e corticoterapia ou antibióticoterapia prolongada. O A. fumigatus, responsável
por cerca de 95% dos casos, é encontrado principalmente em material vegetal em
decomposição, produzindo conídios diminutos e numerosos, veiculados pelo ar, o que
propicia a infecção por via a respiratória (Marietto-Gonçalves et al., 2008; Paixão et al.,
2004). A inalação de grande concentração de conídios por aves jovens induz a
enfermidade aguda, com rápida progressão e morte súbita em até 48 horas. A
aspergilose crônica, forma clássica, cuja evolução é de semanas a meses acomete
aves imunossuprimidas. A forma disseminada é mais prevalente, se inicia nos pulmões
e sacos aéreos e dissemina-se para ossos, fígado, baço e rim (Xavier et al., 2007).
Este trabalho tem o objetivo relatar e descrever os achados patológicos da micose
sistêmica, bem como as características morfológicas do fungo isolado a partir de lesões
disseminadas em um gavião-pombo-pequeno (Leucopternis acernulatus) mantido em
cativeiro no zoológico de Salvador.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizada a necropsia no Parque Zoobotânico Getúlio Vargas (PZGV) localizado em
Salvador - BA, de um gavião-pombo-pequeno (Leucopternis acernulatus), fêmea, com
cerca de 25 anos de idade, mantido em conservação ex situ na instituição. Durante a
necropsia, suspeitou-se de infecção fúngica. Fragmentos das paredes dos sacos
aéreos, fixados em formol tamponado a 10% foram encaminhados ao Laboratório de
Patologia Veterinária da UFBA para avaliação histológica. Esse material foi processado
pelas técnicas rotineiras de inclusão em parafina e colorado por HE, PAS e Grocott.
Fragmentos de saco aéreo, pulmão, músculo esquelético, fígado e rim foram colhidos,
acondicionados em soro fisiológico e encaminhados ao Laboratório de Micoses do
Hospital Veterinário da Universidade Federal da Bahia (UFBA), visando o isolamento e
a identificação do agente etiológico. Os fragmentos foram semeados em triplicata em
placa de Petri, cultivados em ágar infusão cérebro-coração (BHI) acrescido de
gentamicina, e encubadas a 37°C em estufa bacteriológica por sete dias, com
observação diária do crescimento do cultivo. Posteriormente, foi realizado o método do
microcultivo fúngico em lâmina-lamínula, utilizando ágar Sabouraud dextrose (Sidrim e
Rocha, 2004).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A aspergilose é responsável por 30% dos óbitos das aves de cativeiro. O diagnóstico é
difícil e, portanto, geralmente tardio devido à ausência de sinais clínicos (Fran e Cook,
397
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 143, 2013

2001) como no presente caso, cujo diagnóstico foi post- mortem. O exame
necroscópico revelou pequenos granulomas múltiplos e disseminados de coloração
branco-amarelada em saco aéreo, parênquima pulmonar, músculo estriado
esquelético, fígado e rim. Nas secções coradas em HE, foram observados múltiplos
focos de infiltração histiocitária, associados à área central de necrose contendo
imagens negativas de hifas, circundadas por intenso infiltrado inflamatório constituído
predominantemente por macrófagos. As hifas, evidenciadas por colorações especiais
(PAS e Grocott), eram numerosas, mediam entre 6 a 10 mm de comprimento, com
paredes paralelas, septadas e regularmente ramificadas em ângulo agudo compatível
morfologicamente com hifas de Aspergillus sp. Com base nos achados histopatológicos
foi firmado o diagnóstico de aerossaculite granulomatosa micótica. Xavier et al. (2007)
e Paixão et al. (2004) relataram achados semelhantes em sacos aéreos de pingüins-
de-Magalhães e avestruz respectivamente, com aspergilose.
A partir do segundo dia de encubação, observou-se desenvolvimento inicial do cultivo
nas placas de Petri e após a observação da lâmina produzida em microcultivo
secundário confirmou-se o diagnóstico. A. fumigatus foi isolada e identificada de todas
as amostras. As colônias apresentaram textura granular e coloração verde-acinzentada
e ocupavam praticamente toda a placa de Petri. As espécies são classificadas de
acordo com a morfologia das fiálides, tais como forma, cor, parede celular de vesículas,
conidióforos e conídios. Microscopicamente, foram observadas hifas vegetativas
hialinas septadas, uniformes e com paredes paralelas. As estruturas de frutificação
caracterizavam-se por conidióforos que termina em vesícula intumescida em forma de
baqueta, cuja metade superior brota uma carreira única de fiálides, na qual são
produzidas cadeias longas de conídios esféricos e de parede lisa. No caso em questão,
as observações macro e microscópicas do isolado fúngico foram compatíveis com as
descrições de A. fumigatus relatadas por Lacaz et at. (2002) e Winn et al. (2010).
Recentemente em um estudo retrospectivo (2005-2007) da casuística de enfermidades
respiratórias em aves domésticas e silvestres, observou-se que quadros de
aspergilose, corresponderam a 26% dos casos (Marietto-Gonçalves et al. 2008). No
Brasil, os relatos da doença são escassos, principalmente em espécies nativas. A
aspergilose é causa significativa de óbitos de aves nativas mantidas em cativeiro,
portanto é importante a adoção de medidas preventivas com o intuito de reduzir a
dispersão de conídios no ambiente (Spanamberg et al., 2012), uma vez que a doença
pode interferir no processo de reabilitação e manutenção de animais em cativeiro.
CONCLUSÃO
Os achados do exame histopatológico e micológico foram compatíveis com o
diagnóstico de aspergilose sistêmica disseminada, causada por Aspergillus fumigatus.
Com base nas informações disponíveis na literatura, esse é o primeiro relato de
aspergilose nesta espécie de falconiforme documentado no Brasil.
AGRADECIMENTOS
Aos veterinários do Parque Zoobotânico Getúlio Vargas, Salvador - BA.
REFERÊNCIAS
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398
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 144, 2013

144. ATIVIDADE PROLIFERATIVA E DIAGNÓSTICO EM TUMORES


ADRENOCORTICAIS DE FURÕES
(Proliferative activity and diagnosis in ferret adrenocortical tumors)

José Guilherme Xavier¹; José Manuel Pedreira Mouriño²


1.Universidade Paulista – UNIP; 2. Médico-veterinário autônomo
RESUMO: As capacidades adquiridas que definem os neoplasmas incorporam
ferramentas úteis em seu diagnóstico e prognóstico. Em humanos, a proliferação é o
principal critério isolado de malignidade em neoplasmas adrenocorticais. Neste estudo
comparou-se características histomorfológicas e atividade proliferativa em 28
formações adrenocorticais. A atividade proliferativa foi mensurada imuno
histoquimicamente (antígeno nuclear de proliferação celular [PCNA]; Ki-67 ou pela
coloração das regiões argirofílicas nucleolares [AgNORs]. Os três parâmetros
evidenciaram diferença significante entre lesões benignas (hiperplasias nodulares e
adenomas) e malignas (carcinomas), sugerindo uma relação com neoplasmas
adrenocorticais em outras espécies, como humanos e cães.
palavras-chave: adrenais; AgNOR; Ki-67, neoplasmas; PCNA
ABSTRACT: The acquired capabilities defining neoplasms comprise useful tools to
improve diagnosis and prognosis. In humans, proliferation is the single most important
malignancy criterion in the adrenocortical tumors. In this study we compared
histomorphological features and the proliferative activity in 28 ferret adrenocortical
nodular lesions. The proliferative activity was assessed immunohistochemically
(proliferating cell nuclear antigen [PCNA]; Ki-67) or stained for argyrophilic nucleolar
organizer regions [AgNORs]). All the three parameters indicate a significant difference
between benign (adrenocortical nodular hyperplasias and adenomas), and malignant
lesions (carcinomas), suggesting a correlation with adrenal malignancies in other
species, like humans and dogs.
key-words: adrenals, AgNOR, Ki-67; neoplasms; PCNA
INTRODUÇÃO
Tumores derivados do córtex adrenal apresentam elevada incidência em furões,
relacionando-se à castração precoce, determinando sinais clínicos como alopecia,
ginecomastia, poliúria e polidipsia (Li & Fox, 1998). Predominam os processos
benignos, envolvendo hiperplasias e adenomas, de difícil distinção de condições
malignas (Weiss & Scott, 1997). Em especial a proliferação celular tem merecido maior
atenção em termos de diagnóstico diferencial, particularmente nas espécies humana e
canina, encontrando-se uma relação direta entre a atividade proliferativa no tecido
neoplásico e a evolução clínica do paciente (Labelle et al, 2004; Weiss, 1984). Neste
estudo relacionou-se a caracterização morfológica de lesões nodulares adrenocorticais
de furões (Mustela putorius furo) com a atividade proliferativa nas células tumorais.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliadas formações nodulares provenientes de adrenalectomias realizadas em
furões gonadectomizados (Mustella putorius furo), fixadas em formol a 10% e
submetidas aos métodos de hematoxilina/eosina (28 casos), AgNOR (18 casos),
proposto por Ploton et al., 1986 e imuno-histoquímico, seguindo Hsu et al, 1981,
pesquisando-se a expressão de PCNA(20 casos) e Ki-67(16 casos). Realizou-se a
contagem, respectivamente, de 100 e 1000 células na lesão tumoral nos
procedimentos histoquímico e imuno-histoquímico. Os resultados foram submetidos à
avaliação estatística, utilizando-se a ANOVA-Tukey-Kramer.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletadas 28 formações adrenocorticais de furões, incluindo 9 hiperplasias, 8
adenomas e 11 carcinomas. Foram incluídas para avaliação histoquímica da atividade
proliferativa 18 formações, sendo 5 hiperplasias, 6 adenomas e 7 carcinomas. Foram
submetidos a procedimento imuno-histoquímico para a pesquisa de PCNA e Ki-67,
399
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 144, 2013

respectivamente, 7 e 5 hiperplasias, 5 e 5 adenomas e 8 e 6 carcinomas. Evidenciou-


se uma positividade crescente para os marcadores de proliferação com o agravamento
do quadro histológico, sendo as maiores contagens obtidas em carcinomas (tabela 1).

Pich et al., 2000, referem uma relação direta entre expressão de NORs e agressividade
tumoral em diversas neoplasias, correlacionando-se com outros marcadores de
proliferação, como escores de PCNA. Destaca-se o fato das duas marcações, embora
informarem sobre a proliferação celular, terem significados distintos. Assim, o PCNA
mostra a fração de crescimento de um determinado tumor, ou seja, a proporção de
células dentro da população tumoral que se encontra no compartimento proliferativo. Já
o AgNOR relaciona-se à síntese de DNA e a atividade metabólica, funcionando como
um indicador da atividade nuclear e indiretamente da velocidade de crescimento do
tumor (Madewell, 2001). A expressão do antígeno Ki-67 também evidenciou uma
marcante diferença entre lesões benignas e malignas, com magnitude superior a
observada na avaliação histoquímica, porém inferior à obtida com o PCNA. Refere-se
maior especificidade da proteína Ki-67 para o evento proliferativo, relacionada à sua
meia-vida restrita, reforçando a tendência presente na literatura de privilegiar sua
utilização, considerando-o como o principal marcador de proliferação celular disponível
(Morimoto et al., 2008).
CONCLUSÃO
A quantificação da proliferação celular mostrou-se adequada para a avaliação do
comportamento biológico tumoral, apresentando utilidade como método complementar
no diagnóstico dessas condições. Tais achados indicam a existência de uma analogia
entre as lesões proliferativas adrenocorticais em diferentes espécies, reforçando a
utilidade dos furões como modelo biológico.
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400
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 145, 2013

145. AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DE FIBROPAPILOMAS EM TARTARUGAS


MARINHAS NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ
(Histopathological evaluation of sea turtles fibropapillomatosis on the coast of
Paraná State)

Isabela G. Domiciano¹ ², Camila Domit², Liana Rosa², Rogério A. Marcasso¹, Ana Paula
F.R.L. Bracarense¹

1Laboratório de Patologia Animal. Depto de Med Vet Prevent. Universidade Estadual de Londrina -UEL.
2Laboratório de Ecologia e Conservação. Centro de Estudos do Mar - UFPR.

RESUMO: A fibropapilomatose é uma doença caracterizada por aumento dos tecidos


cutâneos e fibromas viscerais que acometem tartarugas marinhas de todo o mundo e,
de acordo com o tamanho, distribuição e local afetado, pode impedir funções vitais e
levar o animal à morte. Esse trabalho teve por objetivo avaliar as alterações
histológicas de fibropapilomas colhidos de tartarugas marinhas encontradas no litoral
do Paraná. Foram analisadas 45 lesões, pertencentes a 16 animais (15 Chelonia
mydas e uma Caretta caretta). As principais alterações foram hiperplasia da derme,
hiperqueratose, acantose, degeneração das células da epiderme, infiltrado linfocitário e
ruptura derme-epiderme. Inclusão intranuclear eosinofílica foi observada em duas
amostras. Exames histológicos de fibropapilomas colaboram com a avaliação do
estado de saúde e conservação das tartarugas marinhas no litoral do Paraná.
Palavras-chave: Brasil; Caretta caretta; Chelonia mydas; tumores cutâneos
ABSTRACT: Fibropapillomatosis is a disease characterized by cutaneous fibroepithelial
growths and fibromas at the viscera that affect sea turtles worldwide, and according to
size, distribution and local; it hampers vital functions and lead to animal death. The aim
of this study was evaluate histological alterations of fibropapillomas sampled of sea
turtles found in the coast of Paraná State. Samples of 45 tumors from 16 animals (15
Chelonia mydas and one Caretta caretta) were evaluated. Common histologic features
included fibroblast proliferation in dermis, hyperkeratosis, epidermal acanthosis,
epidermal cell degeneration, lymphocytic infiltration and dermal-epidermal cleft.
Eosinophilic intranuclear inclusion was found in only two samples. Histological
examinations of fibropapillomas collaborate with the evaluation of health status and
conservation of sea turtles on the coast of Paraná.
Key-words: Brazil; Caretta caretta; Chelonia mydas; cutaneous tumors
INTRODUÇÃO
No Brasil, ocorrem cinco das sete espécies de tartarugas marinhas, sendo a tartaruga-
verde (Chelonia mydas) e tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) as mais frequentes no
estado do Paraná (Domit et al., 2009). Esses animais são considerados indicadores da
saúde dos ambientes costeiros e oceânicos, e refletem alterações naturais ou
decorrentes de atividades humanas (Aguirre e Lutz, 2004).
A fibropapilomatose é uma doença que afeta diferentes espécies de tartarugas
marinhas, principalmente as tartarugas-verdes em zonas costeiras tropicais de todo o
mundo (Aguirre e Lutz 2004; Ene et al., 2005). Caracteriza-se por tumores cutâneos e
eventualmente viscerais, os quais podem comprometer atividades vitais como
locomoção, visão e alimentação, ou alterar a função dos órgãos, debilitando os animais
e predispondo os mesmos à morte (Work et al., 2004).
Esse estudo teve como objetivo avaliar alterações histológicas de fibropapilomas
colhidos em tartarugas marinhas encontradas no estado do Paraná.
MATERIAL E MÉTODOS
Os espécimes avaliados foram encontrados durante monitoramentos costeiros
semanais de Pontal do Sul a Matinhos (~40Km), durante saídas a campo no Complexo
Estuarino de Paranaguá ou conforme informações da comunidade e órgãos gestores,
de 2007 a 2012.
401
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 145, 2013

O exame macroscópico foi realizado no Laboratório de Ecologia e Conservação


(UFPR), o estágio de desenvolvimento dos animais foi estimado de acordo com Rosa
(2009) e Baptistotte et al (2003). As lesões identificadas como fibropapilomas foram
fixadas em formalina tamponada 10% e encaminhadas ao Laboratório de Patologia
Animal (UEL) onde foram processadas rotineiramente e os cortes de 5μm corados com
hematoxilina e eosina, e posterior análise em microscópio óptico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados 45 tumores, coletados de diferentes regiões anatômicas de 16
tartarugas-verdes juvenis, com 33 a 59 cm de comprimento curvilíneo de carapaça
(CCC) (46,3±6,7 cm) e uma tartaruga-cabeçuda juvenil com 73 cm de CCC. O número
de fibropapilomas analisados de cada animal variou de um a 12 (mediana=2).
No exame microscópico, os tumores foram classificados como fibropapilomas (n=44) e
fibroma (n=1). A proliferação de fibroblastos esteve presente em todas as amostras e,
frequentemente, havia diferenciação entre camada superficial (densa) e profunda da
derme (reticular). Foi observado, também, hiperqueratose ortoqueratótica (90,2%),
acantose (87,8%), degeneração vacuolar nas diferentes camadas da epiderme
(63,4%), infiltrado predominantemente linfocitário perivascular (48,9%), ruptura derme-
epiderme (41,5%), infiltrado liquenóide (35,5%), pérolas córneas na epiderme (24,4%),
proliferação de vasos (24,4%), úlceras (12,2%), infiltrado misto na epiderme (9,7%) e
hemorragia na derme (4,4%). Além das alterações, foram observados ovos de
trematódeos (48,9%), bactérias (26,7%) e inclusão intranuclear eosinofílica (4,9%).
As frequências relativas dos achados histológicos foram menores ao observado em
fibropapilomas induzidos por inoculação de filtrado de tumores em tartarugas marinhas
no Havaí e Flórida (Herbst et al., 1999), porém, a ordem das frequências dos achados
foi semelhante. As lesões apresentam proliferação gradativa das camadas mais
externas da pele, e são acompanhadas por infiltrado inflamatório e degeneração das
células epidérmicas que, muitas vezes, formam vesículas e rompem a derme da
epiderme, formando úlceras (Herbst et al., 1999).
A etiologia da doença vem sendo associada ao herpesvírus, com possível associação à
poluição costeira (Ene et al., 2005). A detecção de corpúsculos na histologia, porém,
varia com o estágio do tumor (Herbst et al., 1999). Ovos de trematódeos são
comumente encontrados em tartaruga marinha e provocam reações inflamatórias
leves, porém, casos de bacteremias debilitantes são reportados em tartarugas com
fibropapilomatose, as quais são, possivelmente, decorrentes da imunossupressão
provocada pela infecção viral (Work et al., 2003).
CONCLUSÃO
O exame histopatológico pode servir como uma importante ferramenta para
compreender as características e evolução da fibropapilomatose em tartarugas
marinhas. Aliada a esforços em longo prazo, essas informações colaboram com a
avaliação do estado de conservação das tartarugas marinhas no litoral do Paraná.

402
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 145, 2013

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403
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 146, 2013

146. BALANTIDÍASE FATAL COM ENVOLVIMENTO OCULAR, PULMONAR E


CEREBRAL EM RATÃO DO BANHADO (MYOCASTOR COYPUS)
(Fatal balantidiasis with cerebral, ocular and pulmonary involvement in Nutria -
Myocastor coypus)

Adriana Oliveira Costa¹, Alcides Branco da Silva Junior², Leonardo Gruchouskei³,


Rafael Ce Viott4, Anderson Luiz de Carvalho5, Aline de Marco Viott6

1. Depto de Análises Clínicas e Toxicológicas, Faculdade de Farmácia, UFMG, Campus Pampulha, Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil;
2. Lab de Patologia Veterinária, UFPR, Setor Palotina, Palotina, Paraná, Brasil;
3. Lab de Pat e Anat Animal, Universidade Federal da Fronteira Sul, Setor Realeza, Realeza, PR, BR;
4. Discente UFPR, Setor Palotina, Palotina, Paraná,
5. Docente Hosp Vet Clinica e conservação de Animais Silvestres, UFPR, Setor Palotina, PR;
6. Docente Lab de Pat Vet, UFPR, Setor Palotina, Palotina, Paraná, Brasil

RESUMO: Balantidium coli é protozoário intestinal ciliado que tem no suíno seu
hospedeiro natural. Condições de invasão extraintestinal por este ciliado são
extremamente raras. Este é um relato de uma infecção disseminada por B. coli em um
ratão do banhado (Myocastor coypus) adulto, fêmea capturado na reserva ecológica
São Camilo. O animal apresentava sintomatologia neurológica antes de sua morte. Na
necropsia notou-se lesões em pulmão e cérebro. O exame histopatológico realizado
revelou trofozoítos típicos de B. coli em infiltrado inflamatório misto em cerebro,
pulmão, na câmara anterior do olho e vasos sanguíneos. Este é o primeiro caso
reportado de infecção extraintestinal por B. coli em ratão do banhado
Palavras –chave: Balantidium coli, infecção, encéfalo
ABSTRACT: Balantidium coli is a ciliated intestinal protozoan that has the swine as the
natural host. Extraintestinal invasion by the ciliate is another condition rarely reported.
We described here a disseminated infection by B. coli in an adult female nutria
(Myocastor coypus) captured in an ecological reserve. The nutria presented
neurological symptoms before dying and showed pulmonary and cerebral lesions at
autopsy. Histopathology revealed typical trophozoites of B. coli in a cerebral mixed
inflammatory cell infiltrated, in the lung, anterior chamber of the eye and blood vessels.
This is the first report of extra-intestinal infection by B. coli in a coypus in Brazil and
elsewhere.
Key words: Balantidium coli, infection, balantidiasis
INTRODUÇÃO
A balantidíase causada pelo Balantidium coli é considerada uma zoonose. reconhecida
por causar disenteria em humanos embora menos frequentemente quando comparada
com outros protozoários (Esteban et al., 1998). A transmissão para humanos é
associada a contaminação de água potável ou atividade ocupacionais que envolvem
contato com suínos (Ferry et al., 2004). Suínos domésticos e selvagens são os
hospedeiros naturais, porém não demonstram sinais clínicos, pois este microorganismo
é considerado não patogênico e não invasivo (Schuster and Ramirez-Avila, 2008). Este
ciliado também está presente em primatas não humanos, equinos, roedores e ovinos
causando infecções gastrointestinais com ou sem sintomas (Cho et al, 2006; Headley
et al., 2008). Este é o primeiro relato de caso de infecção por B. coli em ratão do
banhado (Myocastor coypus) com envolvimento extraintestinal no encéfalo, olho e
pulmão, atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Setor Palotina.
MATERIAIS E MÉTODOS
Um Ratão do Banhado (Myocastor coypus) foi encontrado nas margens de um lago da
reserva ecológica de São Camilo localizada no município de Palotina, Paraná, Brasil.
Os principais sinais clínicos observados foram a quadriplegia e a caquexia severa. O

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 146, 2013

animal foi levado para o Hospital Veterinário da UFPR, onde passou por exames
radiográficos os quais não acusaram qualquer alteração. Posteriormente o animal
faleceu, vindo a ser realizada então a necropsia, onde fragmentos de órgãos foram
acondicionados em formol 10% e processados rotineiramente para a coloração de
hematoxilina e eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na necropsia, o exame externo revelou grande quantidade de carrapatos aderidos na
face interna do ouvido e opacidade do globo ocular esquerdo. Havia um moderado
aumento do linfonodo inguinal e um aumento acentuado dos linfonodos mesentéricos.
Os pulmões demonstraram hiperemia acentuada difusa associada com áres multifocais
moderadas de hepatização. No lúmen cecal havia moderada quantidade de helmintos
compatíveis com Trichuris sp entremeados a coágulos sanguíneos. O cérebro estava
difusamente hiperêmico.
Microscopicamente, havia marcado infiltrado inflamatório em meninges e neurópilo,
composto por neutrófilos, macrófagos, linfócitos e plasmócitos. Havia uma área
multifocal de malácea em substância branca infiltrada por células Gitter e severa
hiperemia vascular. No pulmão foi observado pneumonia intersticial subaguda
multifocal e intensa congestão vascular. O coroide e a córnea demonstraram infiltrado
inflamatório composto por linfócitos, plasmócitos e raros macrófagos e neutrófilos.
Associado as lesões histológicas observaram-se estruturas ciliadas típicas com núcleo
basofílico em forma de rim compatível com B. coli. O mesmo parasita foi observado no
lúmen de grande parte de vasos sanguíneos dos tecidos afetados.
Este relato descreve um caso de infecção por B. coli em um ratão do banhado com
inicial suspeita de infecção oportunista por amebas de vida livre devido a
sintomatologia neurológica, uma vez que estes agentes são associados em infecções
encefálicas em animais (Visvesvara et al., 1990). Entretanto os achados
histopatológicos indicaram a presença de B. coli em vários órgãos e vasos sanguíneos
sugerindo uma disseminação hematógena. Infelizmente, devido aos sinais clínicos
neurológicos, não houve o exame microscópico intestinal para tentar avaliar o local
primário de disseminação. Uma infeção intestinal anterior parece ser a porta de entrada
mais provável para o protozoário, tendo em vista que grupos de ratões do banhado
habitantes da área ecológica dividem o mesmo ambiente que os javalis (Sus scrofa),
que é considerada uma espécie assintomática para infecções por B. coli (Mundin et al.,
2004). Entretanto, outras vias de infecção, como a aspiração do protozoário presente
na água ou poeira.não podem ser descartadas e é sugerida em casos extraintestinais
onde os protozoários não foram detectados no intestino (Sharma and Harding, 2004). A
infecção por B. coli em ratões do banhado foi reportada em um único caso que
descreve a presença do parasito em dois animais assintomáticos (Silva et al., 2007).
Outros roedores como Paca (Agouti paca) e Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris)
também foram identificados como hospedeiros, ou como portadores assintomáticos ou
com sintomatologia associada a alterações patológicas restritas ao trato
gastrointestinal. (Corriale et al, 2011). Envolvimento gastrointestinal com desfecho fatal
foi relatado em outros grupos de mamíferos como cavalos (Headley et al., 2008) e
primatas não humanos (Lankester et al., 2008).
CONCLUSÃO
O caso relatado é uma apresentação clínica sem precedentes de balantidiase com
características que sugerem a infecção disseminada. Este é o primeiro caso
documentado de envolvimento ocular e cerebral por B. coli em hospedeiros não
humanos.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 146, 2013

REFERÊNCIAS
CHO, H.S., SHIN, S.S., PARK, N.Y. Balantidiasis in the gastric lymph nodes of Barbary sheep
(Ammotragus lervia): an incidental finding. Journal of Veterinary Science, v.7, p.207-209, 2006.
CORRIALE, M.J.; MILANO, A.M.F.; GÓMEZ-MUÑOZ, M.A.,et al. Prevalence of gastrointestinal
parasites in a natural population of capybaras, Hydrochoerus hydrochaeris, in Esteros del Iberá
(Argentina) Revista Ibero-Latinoamericana de Parasitologia, v.70, n.2, p.189-196, 2011.
ESTEBAN, J.G.; AGUIRRE, C.; ANGLES, R. et al. 1998. Balantidiasis in Aymara children from the
northern Bolivian Altiplano, American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 59, n.6, p.922-927,
1998.
FERRY, T.; BOUHOUR, D.; DE MONBRISON, F. et al. Severe peritonitis due to Balantidium coli
acquired in France, European Journal of Clinical Microbiology & infectious diseases, v.23, p.393-395,
2004.
HEADLEY, S.A.; KUMMALA, E.; SUKURA, A. Balantidium coli-infection in a Finnish horse.
Veterinary Parasitology, v.158, p.129-132, 2008.
LANKESTER, F.; MÄTZ-RENSING, K.; KIYANG, J. et al. Fatal ulcerative colitis in a western lowland
gorilla (Gorilla gorilla gorilla), Journal of Medical Primatology, v.37, p.297 – 302, 2008.
MUNDIM, M.J.S., MUNDIM, A.V., SANTOS, A.L.Q. et al. Helmintos e protozoários em fezes de javalis
(Sus scrofa scrofa) criados em cativeiro. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.56,
n.6, p.792-795, 2004.
SCHUSTER, F. L.; RAMIREZ-AVILA, L. Current World Status of Balantidium coli. Clinical
Microbiology Review, v.21, p.626–638, 2008.
SCHUSTER, F. L.; VISVESVARA, G. S. Amebae and ciliated protozoa as causal agents of
waterborne zoonotic disease, Veterinary Parasitology, v.126, p.91-120, 2004.
SHARMA, S.; HARDING, G. Necrotizing lung infection caused by the protozoan Balantidium coli.
Canadian Journal of Infectious. Disease, v.14, p.163–166, 2003.
SILVA, A. S.; ZANETTE, R. A.;, MONTEIRO, S. G. Parasitism by Balantidium coli in nutria
(Myocastor coypus) in Santa Maria City, Rio Grande do Sul State, Brazil, revista de Estudos em
biologia, v.29, p.341-343, 2007.
VISVESVARA, G. S.; MARTINEZ, A.J.; SCHUSTER, F. L. et al. Leptomyxid Ameba, a New Agent of
Amebic Meningoencephalitis in Humans and Animals Journal of Clinical Microbiology, v.28, p.2750-
2756, 1990.

406
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 147, 2013

147. CARCINÓIDE HEPÁTICO EM FURÃO (Galictis cuja)


Hepatic carcinoid in a grison (Galictis cuja)

Edismair Carvalho Garcia¹, Zalmir Silvino Cubas², Wanderlei de Moraes², Leonardo


Gruchouskei³, Fernando França Giraldes4, Aline de Marco Viott5
1. Mestrando em Ciência Animal, UFPR – Setor Palotina, Palotina - PR;
2. Médico Veterinário, Itaipu Binacional, Divisão de Áreas Protegidas, Foz do Iguaçu – PR;
3. Técnico de Laboratório, Médico Veterinário, UFFS, Realeza – PR;
4. Técnico de Laboratório, Biólogo, UFPR – Setor Palotina, Palotina – PR;
5. Docente, UFPR – Setor Palotina, Palotina – PR
RESUMO: Um carcinóide hepático (CH) foi descrito e caracterizado macro e
microscopicamente em um furão (Galictis cuja). O animal foi encaminhado para
necropsia devido ao mau prognóstico estabelecido na avaliação clínica-cirúrgica.
Macroscopicamente, no fígado notavam-se vários nódulos difusos, firmes, com
coloração branca a amarelada e algumas estruturas císticas difusas. Na histologia, a
neoplasia era constituída por células ovais que se arranjavam em pequenos agregados
celulares separados por um fino estroma fibrovascular. A coloração de Grimelius
revelou grânulos intracitoplasmáticos argirofílicos em algumas células e a coloração
com o ácido periódico de Schiff (PAS) resultou negativo. De acordo com os achados
morfológicos e histoquímicos, esta neoplasia foi definida como CH.
Palavras-chave: Galictis cuja, neoplasia, fígado
ABSTRACT: A hepatic carcinoid (HC) was described and characterized
macroscopically and microscopically in a grison (Galictis cuja). The animal was
submitted for necropsy due the bad prognosis established during a clinical-surgical
proceeding. Grossly, the liver showed several and diffuse firm white to yellowish
nodules with some diffuse cystic structures. Histologically, the tumor was composed of
oval cells arranged into small cell aggregates and separated by a thin fibrovascular
stroma. Grimelius staining revealed argentaffin intracytoplasmic granules in some cells,
and staining with periodic acid-Schiff (PAS) was negative. According to the
morphological and histochemical findings, this tumor was defined as HC.
Key words: Galictis cuja, tumours, liver
INTRODUÇÃO
Carcinóides hepáticos (CH) são neoplasias que supostamente se originam de células
neuroendócrinas presentes nas vias biliares, ductos ou vesícula biliar. Embora já
relatada em cães, gatos e um bovino, são tumores raros em animais domésticos, fato
tal que justifica a escassez de maiores informações a respeito deste distúrbio
patológico (Cullen e Poop, 2002; Stalker e Hayes, 2007).
O furão-pequeno, Galictis cuja (Molina, 1782), pertence à família Mustelidae e é
encontrado em grande extensão da América do Sul, em regiões de países como Peru,
Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil (Yensen & Tarifa 2003). O
presente trabalho tem por objetivo descrever um caso de carcinóide hepático em um
furão-pequeno (Galictis cuja).
MATERIAL E MÉTODOS
Um furão-pequeno (Galictis cuja), fêmea, adulta foi encaminhado para necropsia após
procedimento cirúrgico realizado com finalidade diagnóstica e terapêutica, porém,
diante do mau prognóstico, optou-se pela eutanásia com posterior realização da
necropsia.
Fragmentos dos órgãos foram acondicionados e fixados em solução de formol a 10%
para o processamento de rotina. Embebidos em parafina, os moldes teciduais foram
cortados com 5 μm de espessura e corados com hematoxilina e eosina, corante
Grimelius para grânulos de neurosecreção e, ácido periódico de Schiff (PAS).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Clinicamente, o animal apresentava aumento lento e progressivo do volume abdominal,
suspeitando-se inicialmente de prenhês, porém o quadro permaneceu em evolução
407
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 147, 2013

além do período gestacional. Ao exame físico, notou-se hepatomegalia e


irregularidades no contorno do órgão. O exame radiográfico não revelou alterações
dignas de nota, não permitindo qualquer presunção diagnóstica.
À necropsia, o cadáver apresentava bom estado nutricional. Na avaliação
macroscópica dos órgãos, o fígado apresentava múltiplos nódulos difusos, firmes, com
coloração branca a amarelada, variando de 1 a 4 cm de diâmetro. Ademais, notavam-
se algumas estruturas císticas difusas que fluíam líquido de coloração amarelada ao
corte. As lesões distribuíam-se pela cápsula e parênquima hepáticos. Nos linfonodos
da região cervical próximos à traquéia e ao esôfago observavam-se múltiplas massas
firmes, com diâmetros variando de 0,5 a 2,5 cm. As características macroscópicas
observadas nesse estudo são relatadas em casos de CH em cães (Patnaik et al.,
1981).
Microscopicamente, o fígado apresentava proliferação neoplásica multinodular que
invadia agressivamente o parênquima. A neoplasia era composta por células ovais
uniformes com núcleo basofílico redondo a oval e se arranjavam em pequenos
agregados ou ninhos celulares separados por um estroma fino de tecido fibrovascular.
Os achados histopatológicos do presente estudo são semelhantes aos descritos na
literatura. Em alguns casos relata-se que as células neoplásicas tendem a se orientar
através da membrana basal formando um padrão pseudo lobular ou pseudo
epiteliomatoso. (Patnaik et al., 1981; Cullen e Poop, 2002).
Em meio à neoplasia observam-se áreas de fibrose acentuada, por vezes com
deposição de colágeno. As figuras de mitose eram frequentes. A coloração de
Grimelius para grânulos de neurosecreção evidenciou miríades de grânulos
intracitoplasmáticos argirofílicos no citoplasma de algumas células. A coloração com o
PAS resultou negativo. Notaram-se ainda áreas de necrose multifocal leve. No
linfonodo cervical observou metástase da neoplasia hepática. Os CH possuem um
padrão de crescimento invasivo e agressivo, tornando frequente o acometimento difuso
do tecido hepático e desenvolvimento de metástases, que comumente ocorrem para
linfonodos regionais e peritônio (Cullen e Poop, 2002). No presente estudo, observou-
se metástase apenas para os linfonodos cervicais.
Colangiocarcinoma (CCA) é a principal neoplasia a ser considerada no diagnóstico
diferencial do CH. Ambas possuem características macro e microscópicas comuns, a
exemplo do padrão macroscópico de crescimento multinodular encontrado nessas duas
neoplasias em cães (Patnaik et al., 1981). Em alguns casos são necessárias
colorações especiais para identificar produtos de secreção neuroendócrina ou
derivados da glicose, respectivamente encontrados nos CH e CCA (Cullen e Poop,
2002). Neste estudo, o resultado negativo na coloração de PAS associado tanto ao
padrão histológico neuroendócrino celular quanto à presença de neuropeptídios
evidenciados pela coloração de Grimelius foram indicativos de CH.
CONCLUSÕES
Os achados macro e microscópicos, juntamente com as colorações especiais
realizadas consolidaram o diagnóstico de CH em um furão-pequeno (Galictis cuja). O
relato deste caso, embora não apresente novos conhecimentos na caracterização
macro e microscópica da neoplasia, acrescenta informações a respeito da incidência
do CH em diferentes espécies animais.
REFERÊNCIAS
CULLEN, J.M., POOP, J.A. Tumor of the liver and gallbladder. In: MEUTEN, D.J. Tumors in Domestic
Animals, 4 ed. Iowa: Iowa State Press, 2002, Cap. 9, p. 495-499.
PATNAIK, A.K., LIEBERMAN, P.H., HURVITZ, A.I. et al. Canine hepatic carcinoids. Veterinary
Pathology, v. 18, n. 4, p. 445-453, 1981.
STALKER, M.J., HAYES, M.A. Liver and biliary system. In: MAXIE, M.G., Jubb, Kennedy and Palmer‘s
Pathology of Domestic Animals, 5 ed. Saunders Elsevier, 2007, Cap. 2, p. 297-388.
YENSEN, E.,TARIFA, T Mammalian species, Galictis cuja. Ame Soc of Mammalogists, n728, p1-8, 2003.

408
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 148, 2013

148. CARCINOMA DE CÉLULAS DE TRANSIÇÃO DA BEXIGA COM METÁSTASE


LOMBAR EM UMA JAGUATIRICA (Leopardus pardalis)
[Transitional cell carcinoma of the bladder with metastasis lumbar in a ocelot
(Leopardus pardalis)]

Pâmela Lima¹, Karen Nakagaki², Marco Aurélio Pires³, Fabiana Boabaid4, Kiyoko
Utiumi², Djeison Raymundo5

1. Aluno de Graduação do Curso de Medicina Veterinária, UFLA, Lavras, MG.


2. Aluno do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, UFLA, Lavras, MG.
3. Professor da Faculdade de Medicina Veterinária, Setor de Cirurgia, UNIC, Cuiabá, MT
4. Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, UFRGS, Porto Alegre, RS.
5. Prof do Curso de Med Vet, Setor de Patologia Vet, UFLA, Lavras, MG. djeison.raymundo@dmv.ufla.br

RESUMO: Neoplasias do trato urinário são pouco frequentes em todas as espécies


domésticas e pouco descritas em animais silvestres. Tumores epiteliais malignos da
bexiga são considerados o tipo neoplásico mais comumente relatado, e os sinais
clínicos apresentados são de afecção do trato urinário inferior. Este relato descreve o
primeiro caso de carcinoma de células de transição (CCT) da bexiga em jaguatirica
(Leopardus pardalis) no Brasil, a partir dos achados histológicos e da imuno-
histoquímica.
Palavras-Chave: Animais silvestres; citoqueratina; imuno-histoquímica; neoplasia
urinária; vimentina
ABSTRACT: Neoplasms of the urinary tract are rare in all domestic species and rarely
described in wild animals. Malignant epithelial tumors of the bladder are considered the
most commonly reported type neoplastic, and clinical signs of disease are presented in
the lower urinary tract. This report describes the first case of transitional cell carcinoma
of the bladder in ocelot (Leopardus pardalis) in Brazil, From the histological and
immunohistochemical examination.
Keywords: Cytokeratin; immunohistochemistry; urinary neoplasm; vimentin; Wild
animals
INTRODUÇÃO
A jaguatirica é um felino de tamanho médio encontrado em todos os estados brasileiros
em florestas e zonas de mato alto (Leme et al., 2003) e fazem parte da lista oficial de
espécies ameaçadas de extinção, sendo alocados em áreas de reserva e em cativeiros
(IBAMA, 2013).
As neoplasias do trato urinário são consideradas incomuns em todas as espécies
domésticas, no entanto, as neoplasias em bexiga são as mais relatadas principalmente
em cães. A maioria dos tumores de bexiga são malignos e de origem epitelial, o CCT é
o tipo neoplásico mais frequente (Norris et al., 1992), metástase ocorrem para
linfonodos regionais, pulmões e fígado (Serakides et al., 2000).
Os sinais clínicos apresentados pelos animais são sugestivos de afecção do trato
urinário inferior, incluindo hematúria, estrangúria, polaciúria, tenesmo, dor abdominal e
incontinência urinária (Serakides et al., 2000). Em virtude da baixa incidência dos
tumores vesicais na rotina clínica veterinária, o presente trabalho tem como objetivo
descrever o primeiro caso de CCT da bexiga com metástase lombar em uma
jaguatirica.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma jaguatirica fêmea, adulta proveniente de criatório particular no estado de Mato
Grosso, foi encaminhada para atendimento clínico no Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Cuiabá. Chegando com
histórico de dificuldade de locomoção com evolução para paralisia de membros
pélvicos e formação de escaras de decúbito na região posterior. Após a eutanásia o
animal foi encaminhado para o Laboratório de Patologia Veterinária da UNIC para a
409
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 148, 2013

realização da necropsia. Fragmentos de tecidos diversos foram coletados, fixados em


formol a 10% tamponado, e processados de forma rotineira para análise histológica.
Cortes histológicos da bexiga, das vértebras lombares e da medula espinhal foram
encaminhados para realização de exames imuno-histoquímicos (IHQ) para
citoqueratina (pancitoqueratina e citoqueratinas de alto e baixo peso molecular) e
vimentina.
RESULTADOS
Durante o exame macroscópico pode-se observar úlceras e edema na região perianal,
em membros pélvicos e no esterno. Na mucosa da bexiga havia um nódulo lobulado e
irregular, medindo aproximadamente 5 cm de diâmetro, de coloração amarelada e
consistência macia. Nódulos de aspecto semelhantes foram observados nos ureteres e
infiltrando o músculo psoas e as vértebras lombares.Na análise microscópica da
bexiga, observou-se na mucosa área de proliferação neoplásica de aspecto invasivo
composto por células epiteliais de formato globoso, com acentuado pleomorfismo
celular e abundantes figuras de mitoses bizarras. Nas vértebras lombares na altura
entre L6 e L7, próximo ao disco intervertebral, foram evidenciadas células epiteliais
neoplásicas formando ácinos, com substituição de matriz óssea por tecido conjuntivo e
trabéculas ósseas delgadas com proliferação de osteoblastos. Externamente nas
meninges da porção lombar da medula espinhal, havia infiltração metastática de
células epiteliais neoplásicas da bexiga e áreas multifocais de necrose de neurônios e
esferóides axonais.
Obteve-se marcação IHQ positiva para pancitoqueratina e citoqueratina de baixo peso
molecular, marcação fraca para citoqueratina de alto peso molecular, e marcação
negativa para vimentina nos cortes histológicos encaminhados para análise pela
técnica de IHQ.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de CCT da bexiga na jaguatirica foi baseado nos achados histológicos
em associação com a marcação IHQ positiva para pancitoqueratina e citoqueratina de
baixo peso molecular na imuno-histoquímica. Este padrão de marcação permitiu a
diferenciação entre o CCT e o carcinoma de células escamosas, visto que o último não
apresenta marcação para citoqueratinas de baixo peso molecular (Barra, 2006). Como
ocorreu neste estudo, a utilização de marcadores celulares, como a citoqueratina e a
vimentina, vem sendo amplamente empregados como ferramenta auxiliar na
diferenciação do diagnóstico de neoplasias de origem epitelial e mesenquimal (Zuccari
et al., 2004).
Tumores primários do trato urinário, apesar de raros, têm sido relatados principalmente
em animais domésticos. Em animais silvestres processos neoplásicos são menos
descritos e muitas vezes relacionados a baixa sobrevivência destes animais em
cativeiro (Leme et al., 2003). Em jaguatirica, são descritos apenas casos de carcinoma
epidermóide auricular (Leme et al., 2003) e leiomioma intrauterino (Gonçalves et al.,
2000). No entanto, carcinomas metastáticos de bexiga ainda não foram descritos nesta
espécie.
Os CCT geralmente se originam na região do trígono vesical, e invadem estruturas
adjacentes, como ureteres e a uretra (Serakides et al., 2000). Apesar de pouco
frequente, a metástase do CCT para as vértebras lombares cursou com compressão
medular, levando ao desenvolvimento do quadro clínico de paralisia da jaguatirica
deste estudo.
CONCLUSÃO
Baseado nos achados anátomo-patológicos, associados a técnica de IHQ, foi possível
a confirmação do diagnóstico de CCT da bexiga em uma jaguatirica (Leopardus
pardalis) de criatório. Assim, é importante estar alerta para ocorrência de tumores
vesicais metastáticos que cursem com compressão medular e sinais neurológicos em
animais domésticos e silvestres.
410
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 148, 2013

Agradecimentos:
À Universidade Federal de Lavras e ao apoio financeiro da FAPEMIG.
REFERÊNCIAS
BARRA, M. B. O uso da imunoistoquímica no diagnóstico: indicações e limitações The use of
immunohistochemistry: indications and limitations. Revista da AMRIGS, v.50, n.2, p. 173-184, 2006.
GONÇALVES, G.F.; OLIVEIRA, S.T. Leiomioma uterino em jaguatirica (Leopardus pardalis) – Relato de
caso. Arquivo de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR, v.3, p.185-188, 2000.
IBAMA [2013]. Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira ameaçada de Extinção. Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Brasil. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/rbf/fauna/index.cfm>. Acesso em: 29/07/13.
LEME, M.C.M.; MARTINS, A.M.C.R.P.F.; BODINI, M.E.S. et al. Carcinoma de células escamosas em
uma jaguatirica (Leopardus pardalis). Arquivos do Instituto Biológico, v.70, p.217-219, 2003.
NORRIS, A.M.; LAING, E.J.; VALLI, V.E.O. et al. Canine bladder and urethral tumors: a retrospective
study of 115cases (1980-1985). Journal of Veterinary Internal Medicine, v.6, p. 145-153, 1992.
SERAKIDES, R.; RACHID, M.A.; VEADO, J.C et al. Carcinoma de células de transição da uretra com
metástases cardíaca e pulmonar em cão. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 52,
p. 430-432, 2000.
ZUCCARI, D.A.P.C; PAVAM, M.V;CORDEIRO, J.A. et al. A imuno-expressão das citoqueratinas como
marcadores diagnósticos e prognósticos nas neoplasias mamárias caninas. Revista Portuguesa de
Ciências Veterinárias, v.99, p. 173-178, 2004.

411
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 149, 2013

149. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS METASTÁTICO EM LEÃO


(PANTHERA LEO)
(metastatic squamous cell carcinoma in lion (Panthera leo)

Eric Saymom Andrade Brito, Regiani Nascimento Gagno Pôrto, Ana Paula Iglesias
Santin, Danilo Rezende e Silva, Moema Pacheco Chediak Matos, Luiz Augusto Batista
Brito
Setor de Patologia Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás

RESUMO: O carcinoma de células escamosas (CCE) é uma neoplasia cutânea


maligna que se desenvolve de maneira gradual, invadem o tecido local e podem
metastatizar. A partir de fragmentos encaminhados para exame histopatológico no
SPA-EVZ/UFG, provenientes da pálpebra, de material obtido de uma enucleação, de
tumor mandibular e do linfonodo pré-escapular do membro direito de um leão do
Parque Zoológico de Goiânia, sendo este último obtido a partir da necropsia realizada
por Médicos Veterinários da Instituição responsável. Foi diagnosticado carcinoma de
células escamosas acompanhado por metástase nas regiões do corpo do animal a
partir dos fragmentos coletados.
Palavras-Chave: carnívoro; felino; mamífero; metástase; neoplasia
ABSTRACT: Squamous cell carcinoma (SCC) is a malignant cutaneous neoplasm that
develops gradually, invade local tissue and can metastasize. From fragments sent for
histopathological examination in SPA-EVZ/UFG, from eyelid, material obtained from an
enucleation, a mandibular tumor and pre-scapular lymph node of the right limb of a Lion
from the Park Goiania Zoo, the latter being obtained from the necropsy conducted by
the Veterinarians from the institution responsible. He was diagnosed squamous cell
carcinoma accompanied by metastasis in the animal body parts from the captured
fragments.
Keywords: carnivore; feline; mammal; metastasis; neoplasia
INTRODUÇÃO
O carcinoma de células escamosas (CCE) é uma neoplasia cutânea maligna que se
desenvolve de maneira gradual e progridem por vários estágios. São localmente
invasivos e frequentemente metastatizam (Hargis e Ginn, 2009). Acometendo tanto
animais domésticos como mamíferos silvestres, sendo um tumor bastante comum nas
espécies domésticas, porém com poucas citações nos mamíferos silvestres (Bose, et
al. , 2002;Rodaski e Werner, 2008). O CCE acomete 25% do felinos e é responsável
por 15% dos tumores cutâneos que acometem esta espécie (Nascimento et al., 2005).
As metástases ocorrem quando colônias de células tumorais deslocam-se e instalam-
se a distancia do tumor primário. A metástase é uma característica única, e a mais
confiável, de malignidade. O câncer pode gerar metástases por semeadura das
cavidades corporais e superfícies (disseminação transcelômica), por disseminação
linfática ou hematógena (Kusewitt e Rush, 2009). O objetivo deste trabalho é relatar um
caso de metástase de CCE primário da pálpebra do olho direito em um leão (Panthera
leo).
METERIAS E MÉTODOS
Em 14 de setembro de 2012, foi encaminhado ao Setor de Patologia Animal da Escola
de Veterinária e Zootecnia da Universidade de Goiás (SPA-EVZ/UFG), fragmentos de
material obtido a partir de um tumor palpebral e da enucleação de um Leão do Parque
Zoológico de Goiânia, para exame histopatológico.
O laudo microscópico indicou CCE. Posteriormente observou-se aumento mandibular,
sendo constatado por meio de biopsia CCE presente, em exame realizado pelo SPA-
EVZ/UFG.
O animal, de quinze anos de idade, foi perdendo peso e ficando debilitado. Sem
resposta à quimioterapia e de terapia de suporte, veio a óbito em outubro de 2012.

412
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 149, 2013

Sendo então encaminhado novamente ao SPA-EVZ/UFG, fragmento do linfonodo pré-


escapular direito coletado na necropsia feita no Parque Zoológico, pois o órgão estava
aumentado de volume, apresentando cerca de quinze centímetros e após estudo
histopatológico verificou-se tratar também de CCE. No laudo da necropsia fornecido
pelo Parque Zoológico de Goiânia não fora mencionado o acometimento de outros
órgãos.
Todas as amostras histológicas foram recortadas após 24 horas de fixação, tratadas
em banhos de álcool e xilol, inseridas em parafina, seccionadas à espessura de 5
micrômetros e coradas pelo método de hematoxilina e eosina (HE), realizando-se a
leitura em microscópio ótico (LUNA, 1968).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O leão do presente relato trata-se de um grande felino, de 15 anos de idade e que tinha
livre acesso à área descoberta para exposição ao sol. De acordo com Scurrell et al.
(2013) o carcinoma ocorre com frequência em felinos de idade avançada, devido à
exposição crônica à radiação UV, com predileção pelas áreas nasal e a margem
palpebral em felinos de cor branca ou de pele não pigmentada de felinos de pelagem
escura, sendo portanto uma neoplasia comum da cabeça dos felinos, devido ser uma
região com alta exposição à radiação ultravioleta (UV) do ambiente. Segundo Jarrett et
al. (2013) a exposição solar pode levar ao surgimento de uma série de lesões
classificadas pela histopatologia, desde displasia actínica/ queratose (displasia leve),
carcinoma in situ (displasia epidérmica atingindo toda sua espessura) até o CCE.
Ao exame microscópico verificou-se acentuada proliferação e invasão de células na
cortical e medular do linfonodo. As células neoplásicas possuíam o formato ovalado e
por vezes poligonal e núcleo grande assemelhando-se com as células escamosas,
possuindo cromatina frouxa, nucléolo evidente e presença anisocariose. Verificou-se
cerca de cinco figuras de mitose por campo de grande aumento (400x), com mitoses
atípicas. As células neoplásicas estavam arranjadas em ilhas que eram separados por
um estroma fibrovascular, onde há também invasão das células neoplásicas em
presença de formação de pérolas de queratina. Essas ilhas se coalesciam formando
áreas difusas de invasão e ainda foi possível identificar tecido linfoide remanescente,
associado a áreas multifocais de necrose. Esses achados estão de acordo com os
descritos por Hargis e Ginn (2009) e só vêm confirmar a malignidade e o grau de
disseminação do CCE no leão.
O CCE apresentou-se localmente invasivo, possuindo caráter maligno, envolvendo a
conjuntiva e os anexos da pele, sendo a córnea um sítio secundário. O sítio primário da
neoplasia havia sido a pálpebra do olho direito que se disseminou por via linfática até o
linfonodo pré-escapular direito. Segundo Kusewitt e Rush (2009) a maioria dos
carcinomas geram metástases via sistema linfático, sendo uma rota comum de
disseminação. O padrão de envolvimento do linfonodo é geralmente ditado pelas rotas
preexistentes da drenagem linfática regional. Ainda existe a possibilidade de que a
disseminação linfática não ocorra de maneira ordenada e que a metástase aos
linfonodos regionais indique que a doença neoplásica tornou-se amplamente sistêmica.
CONCLUSÃO
Pela associação dos aspectos patológicos e do exame de histopatologia do fragmento,
firmou-se o diagnóstico de metástase de Carcinoma de células escamosas na região
mandibular direita da face e no linfonodo pré-escapular do membro anterior direito do
Leão (Panthera leo), originário do CCE primário da pálpebra do olho direito.

413
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 149, 2013

REFERÊNCIAS
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tigris). Zoo´s Print Journal, v. 17, n. 12, p. 965-966, 2002.
HARGIS, A. M.; GINN, P. E. O Tegumento. In: MCGAVIN, M. D.; ZACHARY, J. F. Bases da patologia
em Veterinária. 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 1241-1252.
JARRETT, R. H.; NORMAN, E. J.; GIBSON, I. R. Curettage and diathermy: a treatment for feline nasal
planum actinic dysplasia and superficial squamous cell carcinoma. Journal of Small Animal Practice, n.
54, p.92-98, 2013.
LUNA, L.G. Manual of histologic staining methods of Armed Forces Institute of Pathology. 3. ed.
New York: Mc Graw-Will, 1968. 258p
NASCIMENTO, M. V., PARDO, F.J.D. SOUZA Jr, S. Carcinoma De Células Escamosas Em Gato: Relato
De Caso. Revista Científica Eletrônica De Medicina Veterinária, n. 4, 2005. Disponível em:
<http://www.resvista.inf.br/veterinária04/realatos/relato04.pdf> Acesso em : 31/07/2013.
RODASKI, S; WERNER. J. Neoplasias de pele. In: DALECK, C.R; NARDI,A.B;RODASKI, S. Oncologia
em Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2008. p. 258-261.
SCURRELL, E. J.;LEWIN, G.; SOLOMONS, M.; et al. Corneolimbal squamous cell carcinoma with
intraocular invasion in two cats. Veterinary Ophthalmology, n.1, p. 151-154, 2013.
KUSEWITT, D. F.; RUSH L.J. Neoplasia e Biologia Tumoral. In: MCGAVIN, M. D.; ZACHARY, J. F.
Bases da patologia em Veterinária. 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 267-268.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 150, 2013

150. CARCINOMA HEPATOCELULAR EM UM MICO-LEÃO-DE-CARA-DOURADA


(LEONTOPITHECUS CHRYSOMELAS)
(Hepatocellular carcinoma in a golden-headed lion tamarin (Leontopithecus
chrysomelas)

Everton L. Romão¹, Andréia P. Turchetti¹, Ângela T. Pessanha², Semíramis A. Soave²,


Tatiane A. Paixão³, Renato L. Santos¹

1 Escola de Veterinária Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.


2 Depto de Jardim Zoológico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, Belo Horizonte, MG.
3 Instituto de Ciências Biológicas UFMG, Belo Horizonte, MG. E-mail: rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: O mico-leão-de cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) é um primata


habitante natural da Mata Atlântica. Uma fêmea cativa da Fundação Zoo-Botânica de
Belo Horizonte-MG morreu após procedimento anestésico e cirúrgico de caudectomia.
Necropsia foi realizada e amostras de vários órgãos foram coletados e avaliados
histologicamente. No fígado foi diagnosticado carcinoma hepatocelular associado a
fibrose portal, hiperplasia de ductos biliares e megalocitose. Todas as alterações
hepáticas são sugestivas de uma quadro de aflatoxicose crônica. O carcinoma
hepatocelular é uma neoplasia pouco relatada em primatas não humanos, sendo que o
efeito carcinogênico da aflatoxina nestes animais já foi comprovado.
Palavras chave: aflatoxicose; hepatopatia crônica; neoplasia; primata não humano
ABSTRACT: The golden-headed lion tamarin is a primate from the Brazilian Atlantic
Forest. A female captive of the Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte-MG, died
after anesthesia and caudectomy. Necropsy was performed and tissue samples were
collected for histopathology. In the liver, there was a hepatocellular carcinoma,
associated with portal fibrosis, biliary duct proliferation, and megalocytosis. These
changes are suggestive of chronic aflatoxicosis. Hepatocellular carcinoma is a rare
neoplasia in non human primates, and the carcinogenic effect of aflatoxin on these
animals has already been demonstrated.
Key words: aflatoxicosis; chronic hepatopatia; neoplasia; non- human primate
INTRODUÇÃO
O mico-leão-de-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) é um primata da família
Callitrichinae que habita regiões de Mata Atlântica próximas ao litoral brasileiro, vive em
grupos pequenos e se alimenta de frutas e insetos. Devido à destruição de seu habitat,
a população se restringe a reservas ecológicas ou a animais de cativeiro (Dietz et al.,
1997).
O carcinoma hepatocelular é uma neoplasia resultante da transformação maligna de
hepatócitos. Cirrose, hepatites virais, parasitos hepáticos e intoxicação crônica por
aflatoxina são considerados fatores predisponentes. Sua ocorrência em primatas não
humanos é rara, sendo descritos casos em chimpanzés (Abe et al., 1993), em macacos
Rhesus (Adamson et al., 1973) e em um macaco-de-cheiro (Samiris boliviensis) de
cativeiro (Borda et al., 1996).
O objetivo deste trabalho é relatar um caso de carcinoma hepatocelular em um
mico-leão-de-cara-dourada, associado a hepatopatia crônica.
MATERIAL E MÉTODOS
Um mico-leão-de-cara-dourada fêmea, cativo da Fundação Zoo-botânica de Belo
Horizonte, veio a óbito após procedimento anestésico cirúrgico de caudectomia parcial.
O animal não apresentou complicações durante a cirurgia e retorno anestésico
imediato, mas foi encontrado morto no recinto três horas após soltura. Fragmentos de
intestinos, estômago, pâncreas, baço, linfonodo, rins, fígado, útero, coração, pulmão e
bexiga foram colhidos durante a necropsia para histopatologia. As amostras foram
fixadas em formalina tamponada a 10%, incluídas em parafina, cortadas a 4 Um e
coradas por hematoxilina e eosina.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 150, 2013

RESULTADOS
Macroscopicamente, foram observados múltiplos nódulos branco-amarelados, entre 0,5
e 2,0 cm de diâmetro, firmes com superfície e limites irregulares. Histologicamente,
verificou-se proliferação neoplásica de hepatócitos, não encapsulada, pobremente
delimitada, infiltrativa, com padrão sólido, sustentada por um escasso estroma
fibrovascular. As células neoplásicas apresentavam citoplasma abundante fracamente
eosinofílico com limites imprecisos, o núcleo tinha a cromatina frouxa e um ou múltiplos
nucléolos proeminentes. Havia elevado pleomorfismo celular, com alto grau de
anisocitose e anisocariose, com índice mitótico baixo e figuras de mitose atípicas.
Baseado nestas características foi firmado o diagnóstico de carcinoma hepatocelular.
No parênquima hepático também foram observadas degeneração micro e
macrovacuolar multifocal a coalescente intensa, infiltrado inflamatório linfo
histioplasmocitário multifocal aleatório moderado, fibrose portal em ponte multifocal
moderado, proliferação de ductos biliares multifocal discreta, megalocitose, colestase
multifocal moderada.
Adicionalmente, observou-se à necropsia, mucosas oculares e oral pálidas e antracose
pulmonar. Microscopicamente, foram observados nos rins cilindros hialinos
intratubulares, infiltrado inflamatório linfo-histio-plasmocitário intersticial multifocal
moderado associado a acúmulo multifocal e discreto de hemossiderina em macrófagos.
Acúmulo intracitoplasmático de hemossiderina em macrófagos também foi observado
em outros órgãos, como útero, fígado, linfonodo e baço, indicando quadro de
hemossiderose.
DISCUSSÃO
Com base na literatura disponível, este é o primeiro relato de um carcinoma
hepatocelular em um mico-leão-de-cara-dourada. Abe et al. (1993) relataram este tipo
de neoplasia em um chimpanzé, associada a infecção crônica por Schistosoma
mansoni. Borda et al. (1996) relataram esta neoplasia em um macaco-de-cheiro
(Samiris boliviensis) sem identificação de fatores predisponentes. No presente relato,
as lesões encontradas no parênquima hepático, como megalocitose, fibrose portal e
proliferação de ductos biliares, bem como o carcinoma hepatocelular, são compatíveis
com hepatopatia tóxica crônica, sugerindo aflatoxicose crônica. Ratos, trutas, ovinos,
perus, patos, suínos e primatas não humanos podem desenvolver carcinoma
hepatocelular após administração oral crônica de aflatoxina. (Adamson et al., 1973;
Bammler et al., 2001). As aflatoxinas são um grupo de compostos produzidos por
fungos do gênero Aspergillus e contaminantes de milho, arroz, amendoim ou mesmo
frutas secas, armazenadas em condições de alta umidade e temperatura (Bammler et
al., 2001). Embora não tenha sido possível detectar aflatoxinas nos alimentos ou nos
tecidos do animal deste estudo, os achados são sugestivos de aflatoxicose crônica.
CONCLUSÃO
Foi diagnosticado um caso de carcinoma hepatocelular em um mico-leão-de
caradourada, achado pouco frequente em primatas não humanos. As lesões hepáticas
sugerem quadro de aflatoxicose crônica.
Agradecimentos
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio
financeiro.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 150, 2013

REFERÊNCIAS
ABE, K.; KAGEI, N.; TERSMURA, Y. et al. Hepatocellular carcinoma associated with chronic
Schistosoma mansoni infection in a chimpanzee. Journal of Medical Primatology, v. 22, p. 237-239, 1993.
ADAMSON, R.H.; CORREA, P.; DALGARD, D.N. Ocurrence of primary liver carcinoma in a Rhesus
Monkey fed aflatoxin B1. Journal of the National Cancer Institute, v. 50, p. 549, 1973.
BAMMLER, T.K.; SLONE, D.H.; EATON, D.L. Effects of Dietary Oltipraz and Ethoxyquin on Aflatoxin B1
Biotransformation in Non-Human Primates. Toxicological Sciences, v. 54, p. 30–41, 2000.
DIETZ, J.M.; PERES, A.C.; PINDER, L. Foraging Ecology and Use of Space in Wild Golden Lion
Tamarins (Leontopithecus rosalia). American Journal of Primatology, v. 41, p. 289–305, 1997.
HAMID, A.S.; TESFAMARIAM, I. G.; ZHANG, Y. et al. Aflatoxin B1-induced hepatocellular carcinoma in
developing countries: Geographical distribution, mechanism of action and prevention (Review). Oncology
Letters, v. 5, p. 1087-1092, 2013.
BORDA, J.T.; RUIZ, J.C.; SÁNCHEZ-NEGRETTE, M. Spontaneous Hepatocellular Carcinoma in Saimiri
boliviensis. Veterinary Pathology, v. 33, p. 724, 1996.

417
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 151, 2013

151. CISTOADENOMA DE DUCTO BILIAR EM UMA EMA (Rhea americana alba)


(Biliary cystadema of the biliary duct in an emu (Rhea americana alba)

Paulo Ricardo Dell'Armelina Rocha¹, Letícya Lerner Lopes², Nadia Aline Bobbi
Antoniassi³, Samara Rosolem Lima4, Leilane Aparecida da Silva4, Edson Moleta
Colodel³
1- Veterinário autônomo, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
2- Mestrando, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
3- Professor, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
4- Residente, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil

RESUMO: O cistoadenoma de ducto biliar (CB) é uma neoplasia benigna cística do


fígado. O presente trabalho descreve um caso de CB em uma ema macho mantida em
cativeiro no zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso (Zoo-UFMT). Esta ema
foi encontrada morta no recinto e na necropsia, foi possível observar uma massa
esbranquiçada, irregular no lobo diagramático do fígado, medindo aproximadamente
3x4x3cm, com cistos multifocais de diferentes dimensões. Histologicamente, a
neoplasia era encapsulada, com múltiplos cistos de varias dimensões, compostos por
epitélio simples cúbico e circundados por tecido conjuntivo e vasos neoformados. Por
vezes, os cistos formavam estruturas de aspecto glandular, composta por epitélio
simples cilíndrico vacuolizado, que comprimia o parênquima hepático adjacente. Este
relato de caso constitui a primeira descrição do CB em uma ema.
Palavras-chave: fígado; neoplasia; zoológico
ABSTRACT: Biliary cystadenoma (BC) is a benign cystic neoplasm of the liver. This
work describes a case of BC in a male emu kept in captivity in a Zoo. At necropsy, a
whitish, irregular mass was observed in the diagrammatic lobe of the liver, measuring
approximately 3x4x3cm, with multifocal cysts of different dimensions. Histologically, the
neoplasm was encapsulated with cysts of various sizes, composed of simple cubic
epithelium and surrounded by connective tissue and neovascularization. Sometimes,
the cysts formed structures with a glandular aspect, composed mainly of a simple
cylindric vacuolized epithelium that compressed the adjacent hepatic parenchyma. This
case report is the first description of BC in an emu.
Key-words: liver; neoplasm; zoo
INTRODUÇÃO
O cistoadenoma de ducto biliar (CB) ou colangioma cístico é uma neoplasia benigna
cística do fígado (Levy et al, 2002; Stalker & Hayes, 2007). O CB já foi relatado em
cães (Moon et al, 2011), gatos (Adler & Wilson, 1995; Stalker & Hayes, 2007; Kristick et
al, 2010), salmões (Lumsden & Marshall, 2003), gambás, suínos, ovelhas, ratos e seres
humanos (Pang et al, 1998; Levy et al, 2002). A neoplasia pode ser classificada como
unilocular ou multilocular e raramente pode ser encontrada na arvore biliar extra-
hepática e na vesícula biliar. Histologicamente, CB é composta de múltiplos cistos
delimitados por epitélio cúbico ou cilíndrico que lembra o epitélio normal dos ductos
biliares (Cullen & Popp, 2002; Levy et al, 2002). O presente trabalho descreve um caso
de CB em uma ema mantida em cativeiro.
MATERIAIS E MÉTODOS
Uma ema macho, adulta, mantida em cativeiro no zoológico da Universidade Federal
de Mato Grosso (Zoo-UFMT), Cuiabá, MT, foi encontrada morta e encaminhada para
necropsia no Laboratório de Patologia Veterinária (LPV) da UFMT. Amostras do fígado,
pulmões, rins, intestinos e coração foram coletadas, fixadas em formol 10%,
processadas rotineiramente e embebidas em parafina para a realização de cortes
seriados de 4μm. Os cortes seriados foram submetidos a coloração hematoxilina
Eosina (HE). Além disso, cortes seriados da neoplasia hepática foram submetidas à
coloração imuno-histoquimica com os anticorpos citoqueratina e ki-67 (Dako,
Carpinteria, USA). Todas as laminas foram analisadas sob microscópio ótico.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 151, 2013

RESULTADOS
Na necropsia não foram observadas alterações significativas nos órgãos da cavidade
celomática, com exceção do fígado, onde foi possível observar uma massa
esbranquiçada no lobo diagramático, irregular, medindo aproximadamente 3x4x3cm,
com cistos multifocais de diferentes dimensões. Ao corte, o lúmen dos cistos era
composto por material liquido viscoso transparente. Histologicamente, a neoplasia do
fígado era encapsulada, com cistos de varias dimensões, compostos por epitélio
simples cúbico e circundados por tecido conjuntivo e vasos neoformados. O lúmen dos
cistos estava vazio, e às vezes era composto por material proteináceo e algumas
hemácias. Por vezes, os cistos formavam estruturas de aspecto glandular, composta
por epitélio simples cilíndrico vacuolizado, que comprimia o parênquima hepático
adjacente. Além disso, degeneração multifocal aleatória dos hepatócitos também foi
observada. Não foram encontradas alterações significativas nos outros órgãos. A
imuno-histoquimica foi negativa para ambos citoqueratina e ki-67.
DISCUSSÃO
Com base nos achados macro e microscópicos e de acordo com a literatura (Adler &
Wilson, 1995; Cullen & Popp, 2002; Levy et al, 2002), foi estabelecido o diagnóstico de
cistoadenoma de ducto biliar. Apesar de o CB ser considerado uma neoplasia benigna
de fácil remoção cirúrgica, relatos de recorrência após remoção cirúrgica e evolução
para cistoadenocarcinomas biliares já foram descritos em seres humanos (Adler &
Wilson, 1995; Levy et al, 2002). CB ocorre predominantemente em seres humanos de
meia idade e é mais comum em mulheres (Levy et al, 2002). O diagnóstico diferencial
do CB inclui o cistoadenocarcinoma, hematoma ou cisto hepático simples (Moon et al,
2011). Presença de epitélio de revestimento estratificado com várias projeções
papilares, atipia celular, invasão estromal, desmoplasia e metástase são características
histológicas importantes na diferenciação do CB do cistoadenocarcinoma em humanos
(Adler & Wilson, 1995). A imuno-histoquimica negativa para a citoqueratina
provavelmente pode ser creditada a incompatibilidade do anticorpo com a espécie
silvestre (ema); já o resultado negativo da imuno-histoquimica para ki-67 confirma o
crescimento lento do CB do presente caso. Não possível estabelecer uma causa para a
ocorrência do CB.
CONCLUSÕES
Este relato de caso constitui uma descrição do CB em uma ema. Não foi possível
estabelecer se esta neoplasia tenha contribuído com o quadro clínico ou ainda que
tenha sido a causa da morte desta ema, pois não há histórico clínico compatível e não
foram previamente relatados sinais clínicos de doença hepática nesta ave.
REFERÊNCIAS
ADLER, R.; WILSON, D.W. Biliary cystadenoma of cats. Veterinary Pathology, v. 32, n.4, p.415-8,1995.
CULLEN, J.M.; POPP, J.A. Tumors of the liver and gall bladder. In: MEUTEN, D.J. Tumors in Domestic
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KRISTICK, K. L.; RANCK, R. S.; FINK, M. What is your diagnosis? Biliary cystadenoma of the liver
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p.1065–1066, 2010.
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Forces Institute of Pathology. Radiographics, v.22, n.2, p.387-413, 2002.
LUMSDEN, J.S.; MARSHALL, S. Sporadic neoplasms of farmed chinook salmon, Oncorhynchus
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Pathology of Domestic Animals. 5. ed. Saunders Ltd, V.2, Cap. 2, p.385,2007.

419
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 152, 2013

152. CISTOMATOSE DE GLÂNDULA APÓCRINA EM ONÇA PINTADA (PHANTERA


ONCA) – RELATO DE CASO
(Apocrine cistomatosis in jaguar Phatera onca – Case report)

Janaina Souza Paula Oberst¹; Leonardo Gruchouskei²; Luís Eduardo da Silveira


Delgado¹; Anderson Luiz de Carvalho¹; Aline de Marco Viott¹

1 Universidade Federal do Paraná (UFPR), Brasil


2 Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Brasil

RESUMO: A cistomatose de glândula apócrina é uma condição rara e não neoplásica,


caracterizada por diversos grupos de glândulas sudoríparas dilatadas com formação de
cistos. Uma fêmea de onça pintada melânica (Phantera onca), com idade estimada de
16 anos, ao exame físico apresentava vários nódulos de consistência macia e flutuante,
não aderidos na região ventral do abdômen, as quais foram removidas em
procedimento cirúrgico. Dentro destes cistos havia conteúdo líquido, inodoro e
translúcido. Na microscopia observou-se entre a derme média e a profunda, formação
de múltiplos cistos de tamanho variável, revestidas por uma única camada de células
predominantemente cuboides e em alguns focos observava-se raras projeções
papiliformes de epitélio glandular. O diagnóstico de cistomatose de glândula apócrina
foi realizado através de achados macroscópicos e microscópicos.
Palavras chave: dermatopatias; dilatação cística; felino slvestre
ABSTRACT:The cistomatose apocrine gland is a rare condition and not neoplastic
characterized by diverse groups of glands with dilated cyst formation. A female jaguar
melanin (Phantera ounce), with an estimated age of 16, the physical examination
revealed several nodules of soft consistency and floating, not stuck in the ventral
abdomen, which were removed in a surgical procedure. Within these cysts had a net
content, odorless and translucent. Microscopy was noted between the mid and deep
dermis formation of multiple cysts of varying size, coated with a single layer of cuboidal
cells and predominantly focuses looked up some rare projections papiliformes glandular
epithelium. The diagnosis of an apocrine gland cistomatosis was accomplished through
macroscopic and microscopic.
Key words: dermatopathies; cystic dilatation; wild feline
INTRODUÇÃO
A cistomatose de glândula apócrina ou hiperplasia de glândula apócrina é uma
condição rara e não neoplásica caracterizada por uma dilatação de diversos grupos de
glândulas sudoríparas, com formação de cistos. Em cães as lesões aparecem como
numerosos nódulos, solitários ou agrupados, geralmente inferior a 5 mm de diâmetro,
distribuídos ao longo da cabeça e pescoço, sendo raramente observada de forma
generalizada (GROSS et al. 2005).
No interior desses cistos, formados por uma única camada de células apócrinas, há
uma secreção fluida e translúcida e em alguns casos a formação de projeções
papilares. A etiologia é indeterminada, e em alguns cães é mais comum em indivíduos
a partir da meia idade (GINN et al 2007).
O presente relato descreve um caso de generalizado de cistomatose de glândula
apócrina em uma onça pintada melânica (Phantera onca) com suas características
macroscópicas e microscópica.
MATERIAIS E METODOS
Uma onça pintada melânica (Phantera onca), fêmea, com idade estimada de 16 anos,
mantida em cativeiro no Parque zoológico Municipal Danilo Galafasi (PZMDG), na
cidade de Cascavel, no estado do Paraná, apresentava aumento de volume com
ulceração, em virtude de lesão abrasiva com o recinto. Suspeitando-se de um tumor de

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 152, 2013

mama, optou-se por uma execução de exames diagnósticos e abordagem terapêutica


no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná – setor Palotina.
Para o transporte do animal à Palotina, em jaula de contenção, foi utilizada dose única
de tilectamina-zolazepan e xilazina intramuscular com o uso de dardo e zarabatana.
Após a chegada o paciente foi submetido à cirurgia para exérese dos nódulos
cutâneos. As amostras teciduais foram conservadas em formol a 10% para analise em
Hematoxilina e Eosina.
RESULTADOS
Foram observadas múltiplas massas nodulares de consistência macia, flutuante e não
aderidas de tamanho entre 2 a 15 centímetros de diâmetro, localizada na região ventral
do abdômen. Ndulos de menor dímetro e características semelhantes eram observadas
na região dorsal e do pescoço.
A exérese dos nódulos ocorreu com facilidade do tecido durante o procedimento
cirúrgico, na qual em seu interior observou-se conteúdo fluido, cristalino e inodoro. Na
microscopia, foi visualizada entre a derme média e a profunda a formação de vários
cistos de tamanho variável, revestidas por uma camada de células predominantemente
cuboide. As células de revestimento desses cistos possuía núcleo redondo e oval, com
cromatina condensada e nucléolo pequeno e central.
DISCUSSÃO
Não foram encontradas descrições de cistomatose de glândula apócrina em onças
pintadas melânicas (Phantera onca), entretanto o conteúdo do cisto era uma matéria
fluida e transparente, característica dessa secreção, pois os cistos de glândula écrina
possuem secreção de coloração marrom escura, espessa e oleosa, de acordo com
GROSS et al. 2005. Em gatos e cães as glândulas sudoríparas apócrinas são maiores
e mais numerosas próximas às junções mucocutâneas, nos espaços interdigitais e na
superfície dorsal do pescoço. Possivelmente está distribuição seja semelhante em
onças (Panthera onca), mas até o momento não existem trabalhos que elucidem a
distribuição destas estruturas nestes animais. Essas glândulas consistem de uma única
fileira de células epiteliais cilíndricas circundadas por uma camada de células
mioepiteliais fusiformes (SOUZA et al. 2009).
Esta dermatopatia é caracterizada por um conjunto de glândulas apócrinas dilatadas
que são agrupadas entre folículo piloso na derme média e profunda. Segundo GROSS
et al. 2005, os cistos da determinada lesão são geralmente de tamanho semelhante,
menores que 0,5 cm de diâmetro, diferente da formação cística observadas neste
animal na qual o tamanho se apresentou maior, com 2 a 15 cm de diâmetro. O
tamanho das formações císticas observadas neste animal foram maiores que os
relatados na literatura e isto pode estar relacionado ao longo tempo de evolução deste
caso, devido à dificuldade de contenção do animal.
O principal diagnóstico diferencial para cistomatose é o cistoadenoma apócrino, que é
uma neoplasia dérmica circunscrita composta de uma ou mais estruturas císticas de
tamanho variável, que são geralmente revestidas por uma camada única de células
epiteliais colunares à cubóides. Várias camadas de células de revestimento estão
presentes em algumas lesões. Pequenas estruturas glandulares podem estar
presentes entre os cistos ou salientes para dentro das paredes deste. Alguns cistos
contêm agregados papilares simples ou ramificações de células epiteliais colunares. O
estroma colágeno é escasso e a derme circundante frequentemente é infiltrada por
macrófagos contendo pigmento castanho-claro. As células epiteliais têm pouco a
moderado citoplasma, que é fracamente eosinofílico, a decapitação apical é variável.
Os núcleos são geralmente pequenos e podem ser moderadamente ovais e conter
nucléolos pequenos. Pequenas células com núcleos, escuro basalóides podem
predominar em algumas lesões de felinos (GROSS et al. 2005).

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 152, 2013

CONCLUSÃO
O diagnóstico foi realizado através dos achados macroscópicos e microscópicos, sendo
compatíveis com a descrição de cistomatose de glândula apócrina, patologia rara dos
animais domésticos e que até o momento não foi diagnosticado em Phantera onca.
REFERÊNCIAS
GINN, P. E., MANSELL, J. E. K. L., RACKICH, P. M. 2007. Skin and appendanges. In: Juub, K. V. F.,
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SOUZA T. M. et al. Aspectos histológicos da pele de cães e gatos como ferramenta para dermatologia.
Pesquisa Veterinária Brasileira, v.29, n.2, p.177-190, 2009.
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Apple Valley, U.S.A.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 153, 2013

153. COLITE NECRO-HEMORRÁGICA CAUSADA POR ENTAMOEBA SP. EM


PRIMATAS NÃO HUMANOS
(Necrotizing and hemorrhagic colitis in non-human primates caused by
Entamoeba sp.)

Ana Patrícia C. Silva¹, Auricélio A. Macêdo¹, Semíramis A. Soave², Ângela T.


Pessanha², Tatiane A. Paixão³, Renato L. Santos¹
1. Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.
2. Departamento de Jardim Zoológico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, MG, Brasil.
3. Instituto de Ciências Biológicas, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: A Entamoeba histolytica é um protozoário capaz de invadir a mucosa


intestinal, causando a amebíase, uma das doenças mais importantes e freqüentes em
humanos e que também acomete primatas não humanos. O objetivo deste trabalho foi
descrever alterações anatomo-histopatológicas de dois casos de colite necro-
hemorrágica causada por Entamoeba sp. em dois primatas não-humanos. As
alterações microscópicas observadas foram compatíveis com colite necrohemorrágica
associada à miríade de trofozoítos de Entamoeba sp. intralesionais.
Palavras-chave: amebíase; bugio; enterite; guigó
ABSTRACT: Entamoeba histolytica is a protozoan parasite capable of invading the
intestinal mucosa, causing amebiasis, one of the most important and common human
diseases that also affects non human primates. The aim of this study was describe
gross and microscopic changes of two non-human primates with necrotizing and
hemorrhagic colitis caused by Entamoeba sp. Microscopic changes were compatible
with necro-hemorrhagic colitis associated with myriad of intralesional Entamoeba sp.
trophozoites.
Key words: amebiasis; bugio; coimbra's titi; enteritis
INTRODUÇÃO
Os guigós são primatas do gênero Callicebus. Estes são primatas do novo mundo e, no
Brasil, habitam desde as florestas tropicais da Amazônia até a Mata Atlântica do
sudeste e nordeste brasileiro (Herhkovitz, 1990; van Roosmalen et al., 2002). Os
Bugios fazem parte do gênero Alouatta, que habita desde as Américas desde México a
Argentina (Gregorin, 2006). Assim como os humanos, os primatas não-humanos
também podem ser acometidos por parasitas do gênero Entamoeba. A Entamoeba
histolytica é um protozoário capaz de invadir a mucosa intestinal, causando a
amebíase, uma das doenças mais importantes e mais frequentes em humanos
(Martínez-Palomo e Espinosa-Cantellano, 1997). A E. hystolitica causa lesões
intestinais como colite e tiflite necro-hemorrágicas, podendo também comprometer
outros órgãos como o fígado (Espinosa-Cantellano e Martínez-Palomo, 2000). A
Entamoeba díspar (Riveraet al., 2010, Feng et al., 2011), e outras espécies do gênero
Entamoeba, como Entamoeba coli, Entamoeba nuttalli e Entamoeba chattoni tem sido
detectadas em primatas não humanos (Feng et al., 2013). Entamoeba díspar também
coloniza o intestino, entretanto não possui potencial invasivo (Feng et al., 2011).
Este trabalho tem como objetivo relatar e caracterizar macro e microscopicamente dois
casos de colite necro-hemorrágica causada por Entamoeba sp. em primatas não-
humanos.
MATERIAL E MÉTODOS
Dois primatas, um guigó (Callicebus coimbrai) e um bugio (Alouatta guariba), machos,
adultos, foram encontrados prostrados e hipotérmicos no chão do recinto na Fundação
Zoo-Botânica de Belo Horizonte. O bugio apresentava sinais de diarréia. Os animais
foram hospitalizados, receberam terapia de emergência com fluidos, corticóide, glicose
e aquecimento, entretanto morreram logo após o primeiro atendimento. Os animais
foram submetidos à necropsia e fragmentos de vários órgãos foram colhidos, fixados

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 153, 2013

em formalina a 10% e incluídos em parafina. Secções de 5 μm foram coradas por HE e


Periodic Acid Schiff (PAS).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Á necrospsia, os linfonodos mesentéricos do guigó estavam hemorrágicos, o cólon
estava moderadamente dilatado com hemorragia multifocal e moderada na serosa. O
conteúdo do cólon estava intensamente hemorrágico, com coágulos cruóricos e grande
quantidade de exudato fibrinoso. As adrenais e os rins estavam moderadamente
congestos. Não há informações macroscópicas do Bugio. Microscopicamente, a
mucosa do cólon do guigó apresentou necrose multifocal a coalescente, intensa,
associada à hemorragia multifocal moderada. Miríades de trofozoítos, arredondados,
variando de 30-50 μm de diâmetro, eosinofílicos, PASpositivos, distribuídos
difusamente na mucosa necrótica, criptas e lâmina própria no cólon. Havia também
infiltrado inflamatório linfo-histiocitário e neutrofílico na mucosa e submucosa. Em
algumas células epiteliais das criptas do cólon havia numerosas estruturas circulares,
intensamente basofílicas, intracitoplasmáticas interpretadas como corpos apoptóticos.
A mucosa do cólon do bugio apresentou infiltrado inflamatório neutrofílico e linfo-
histiocitário multifocal, discreto associado à necrose multifocal, discreta, hemorragia,
focal, discreta e raros trofozoítos, arredondados, variando de 30-50 μm de diâmetro,
eosinofílicos na superfície do epitélio e em algumas criptas.
A amebíase causada por E. histolytica é considerada pela Organização Mundial da
Saúde uma das mais importantes protozooses do mundo, além de ser uma zoonose,
afetando ampla gama de macacos do novo e do velho mundo (Ulrich et al., 2010). A
morfologia das estruturas observadas nos cortes histológicos corados em HE e PAS de
cólon dos dois animais avaliados nesse estudo é compatível com protozoário do
gênero Entamoeba, caracterizando um quadro de amebíase intestinal (Espinosa-
Cantellano e Martínez-Palomo, 2000). Os sinais clínicos observados na amebíase em
macacos do novo e velho mundo são apatia, desidratação, perda de peso, anorexia,
vômito e diarréia catarral ou hemorrágica. À necropsia observa-se aumento de
tamanho de linfonodos hepáticos, renais e mesentéricos com gastrite, enterite catarral
ou hemorrágica e abscessos hepáticos (Ulrich et al., 2010). É provável que E histolytica
seja a espécie envolvida nos dois casos, por se ter observado colite necro-hemorrágica
nos dois animais. Macacos mantidos em cativeiro com E. histolytica é uma
preocupação não somente por risco à saúde animal, mas também devido ao seu
potencial zoonótico (Feng et al., 2013).
CONCLUSÃO
O Guigó e o Bugio deste relato apresentaram colite necro-hemorrágica aguda
associada à trofozoítos intralesionais compatíveis com Entamoeba sp.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico de
Minas Gerais (FAPEMIG), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pelo apoio financeiro.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 153, 2013

REFERÊNCIAS
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and Callicebus stephennashi, from Brazilian Amazonia. Neotropical Primates, v.10, p.1-52, 2002.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 154, 2013

154. Cryptococcus sp. INTESTINAL EM UM EXEMPLAR DE Chinchilla lanigera


(CHINCHILA)
(Intestinal Cryptococcus sp. in a Chinchilla lanigera (CHINCHILA))

Kamila Alcalá Gonçalves¹, Yara de Oliveira Brandão¹, Aline Luiza Konell², Renato Silva
de Sousa¹
1. Laboratório de Patologia Animal, Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná - Curitiba.
2. Clínica Médica e cirúrgica de Animais Silvestres, Hospital Veterinário da UFPR

RESUMO: A criptococose é uma micose profunda subaguda a crônica, potencialmente


fatal, que acomete mamíferos domésticos, animais silvestres e seres humanos
(Queiroz et al., 2008). É causada pela levedura do gênero Cryptococcus, um patógeno
oportunista, que se apresenta de forma cosmopolita e que possui tropismo pelo
sistema nervoso central (SNC), globo ocular, linfonodos e pele (Marcasso et al., 2005).
Neste trabalho, relata-se a infecção natural pelo fungo Cryptococcus sp. em um
exemplar de Chinchilla lanigera, atendido no Hospital Veterinário da Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, com histórico de inapetência e diminuição da motilidade
intestinal. O diagnóstico foi realizado pela histopatologia dos fragmentos de ceco
encaminhados, evidenciando um quadro de tiflite piogranulomatosa, acentuada,
causada pela presença deste agente, justificando os sinais clínicos do paciente. A
infecção por este fungo, nunca foi relatada em chinchilas, até onde sabemos e a
infecção gastrointestinal é incomum de ocorrer em animais e humanos (Juan-Salk et
al., 2003).
Palavras chave: tiflite granulomatosa; fungo; animais silvestres
ABSTRACT: Cryptococcosis is a systemic, subacute to chronic mycosis, potentially
fatal, affecting domestic and wild mammals, and humans (Queiroz et al., 2008).It is
caused by the yeast belonging to the genus Cryptococcus, an opportunistic and
ubiquitous pathogen that has tropism for the central nervous system (CNS), eye, lymph
nodes and skin (Marcasso et al., 2005). In this study, we report a Cryptococcus sp.
natural infection in the Chinchilla lanigera. The animal was attended at the Veterinary
Hospital, Federal University of Paraná, Curitiba with a history of poor appetite and
decreased bowel motility. The diagnosis was made by histopathologic evaluation of
cecum sections which had pyogranulomatous, typhilitis with intralesional yeasts.
Infection by this fungus has never been reported in chinchillas, as long as we know and
the gastrointestinal infection is an uncommon site of lesion in animals and humans
(Juan-Salk et al., 2003).
Key word: granulomatous typhlitis; fungi; wild animals
INTRODUÇÃO
A criptococose é uma micose profunda subaguda a crônica, sem predisposição racial
ou por sexo, potencialmente fatal, que acomete mamíferos domésticos, animais
silvestres e seres humanos (Queiroz et al., 2008). É causada pela levedura do gênero
Cryptococcus neoformans, um patógeno oportunista, que se apresenta de forma
cosmopolita, sendo isolado de frutas, da mucosa oronasal, da pele de animais e
pessoas saudáveis e do solo, principalmente dos ricos em excretas de aves,
particularmente de pombos, onde pode permanecer viável por mais 2 anos (Marcasso
et al., 2005).
Pode ser subdividido em três variedades e cinco subtipos: C. neoformans var. grubii
(sorotipo A), C. neoformans var. neoformans (sorotipos D e AD) e C. neoformans var.
gattii (sorotipos B e C), sendo que apenas diferem quanto ao habitat, apresentação
clínica e características epidemiológicas (Juliano et al., 2006).
A forma da infecção ainda não está bem determinada, porém acredita-se que ocorra
pela inalação de esporos presente em poeiras contaminadas, levando à infecção do
sistema respiratório e disseminando via hematógena e linfática para os demais órgãos.
De acordo com (Marcasso et al., 2005) a transmissão transcutânea é relatada em cães.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 154, 2013

O fungo possui um acentuado tropismo pelo sistema nervoso central (SNC), globo
ocular, linfonodos e pele (Marcasso et al., 2005).
O quadro clínico e a disseminação da doença estão diretamente relacionados com a
imunidade do hospedeiro (Juliano et al., 2006).
O diagnóstico pode ser realizado através da cultura de líquido cefalorraquidiano) e pela
avaliação histopatológica dos tecidos (Martins et al., 2008).
O objetivo deste trabalho é relatar um caso de infecção natural por Cryptococcus sp.
em um exemplar de Chinchilla lanígera.
RELATO DE CASO
Um exemplar de Chinchilla lanigera (chinchila), adulto, macho foi atendido no Hospital
Veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba. O animal tinha
histórico de inapetência e diminuição da motilidade intestinal. Verificou-se que o
abdômen estava moderadamente distendido e que havia dor à palpação. Após o
tratamento sem êxito, optou-se por cirurgia de emergência, com diagnóstico
ultrassonográfico de enterite, com espessamento de alça e ruptura.
Durante o procedimento cirúrgico foram coletados fragmentos do ceco para avaliação
histopatológica, todavia, no pós-cirúrgico o paciente morreu e a realização da necropsia
não foi autorizada pelo proprietário.
Dois fragmentos do ceco, medindo 3 x 1cm e 4 x 1cm foram recebidos para avaliação
histopatológica no Laboratório de Patologia Veterinária da UFPR. Macroscopicamente
estes fragmentos eram brancos, evidenciando focos de coloração vermelha. À
avaliação histopatológica observou-se moderado a acentuado infiltrado inflamatório
linfoplasmocitário, acompanhado por moderado número de neutrófilos e menor número
de células epitelióides, infiltrando e expandindo a mucosa, muscular, serosa e tecido
adiposo adjacente à serosa. Em meio à inflamação havia um acentuado número de
estruturas arredondadas levemente eosinofílicas (3 a 7μm de diâmetro) circundadas
por um halo levemente basofílico e amorfo ou opticamente vazio, compatíveis com
Cryptococcus sp. (tiflite piogranulomatosa transmural, moderada a acentuada,
associada a inúmeros organismos fúngicos intralesionais).
MATERIAIS E MÉTODOS
Os fragmentos de intestino recebidos foram fixados em formol 10% tamponado por 24-
48 horas, sendo processados rotineiramente, embebidos em parafina histológica,
seccionados a 5μm e corados com H&E (hematoxilina e eosina), ácido periódico de
Schiff (PAS) e metanamina Gomori de prata (GMS).
DISCUSSÃO E RESULTADOS
Chinchilas (Chinchilla lanigera) são mamíferos histricomorfos pertencentes à ordem
Rodentia e família Chinchillidae, nativas dos Andes. Poucos estudos sobre as suas
enfermidades são encontrados na literatura (Lucena et al.,2012).
Embora a criptococose afete a maioria das espécies de animais (domésticos e
selvagens), os cães e os gatos são mais suscetíveis e demonstram sinais clínicos mais
característicos (Juliano et al., 2006).
Neste estudo, o Cryptococcus sp. foi o agente etiológico responsável pelas alterações
observadas no intestino, justificando os sinais clínicos apresentados pelo animal,
apesar de relatos evidenciando seu tropismo pelo sistema nervoso central (SNC), globo
ocular, linfonodos e pele (Marcasso et al., 2005). Todavia, a infecção natural deste
fungo em chinchilas nunca foi relatada, até onde sabemos. A confirmação deste fungo
nos demais órgãos só poderia ocorrer através da realização da necropsia, que não foi
autorizada. Desta forma não foi possível estabelecer o foco primário da infecção,
porém, em função dos sinais clínicos apresentados, acredita-se que a doença pode ter
começado no trato gastrointestinal, sendo considerado, em alguns relatos, como a
porta de entrada principal para este organismo (Van Der Gaag, 1991). Apesar disto, a
infecção gastrointestinal é incomum de ocorrer em animais e seres humanos (Juan-
Salk et al., 2003).
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 154, 2013

Segundo Lucena et al. (2012), as doenças que mais acometem chinchilas são as de
origem inflamatória destacando–se, dentre elas, as de origem infecciosa,
principalmente as causadas por bactéria. Em um estudo realizado, Lucena et al. (2012)
observou gastrite moderada a acentuada como principal lesão em um grande número
de chinchilas com sinais clínicos semelhantes aos observados na infecção intestinal
por Cryptococcus sp., neste caso. Portanto, em casos de envolvimento gastrintestinal
em chinchilas, a infecção por este fungo deve ser considerada no diagnóstico
diferencial.
CONCLUSÃO
Este é o primeiro relato de criptococose intestinal em chinchilas e estudos adicionais
sobre sua patogênese são necessários.
REFERÊNCIAS
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neoformans e cryptococcus gattii por análise de diferença representacional e microscopia eletrônica de
varredura. 2008. Porto Alegre, 181f. Tese (Mestrado em Biologia Celular e Molecular) - Programa de
pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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LUCENA, B. R.; GIARETTA, R. P.; TESSELE, B. et al. Doenças de chinchilas (Chinchilla lanigera).
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428
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 155, 2013

155. DIAGNÓSTICO IMUNO-HISTOQUÍMICO DA RAIVA EM MORCEGOS DA


REGIÃO SUL DE MINAS GERAIS
(Immunohistochemistry diagnosis of rabies in bats of the southern region of
Minas Gerais)

Priscilla A. Nakayama¹; Camila C. Abreu²; Tamires G. W. Teodoro¹; Lízia R. Freire¹;


Penélope P. V. Moura¹; Pedro S. Bezerra Jr.³

1 Aluna de Graduação do Curso de Medicina Veterinária, (UFLA), Lavras-MG, 37200-000, Brasil.


2 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, UFLA, Lavras-MG.
3 Professor Doutor do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Pará, Castanhal-PA.
p.s.bezerra.junior@gmail.com

RESUMO: Foi realizado diagnóstico da raiva por imuno-histoquímica de 24 morcegos


provenientes da região sul de Minas Gerais. Destes, 14 eram hematófagos (Desmodus
rotundus rotundus) e 10 insetívoros. Não foram observadas alterações histopatológicas
no sistema nervoso central de nenhum morcego. A imuno-histoquímica para raiva foi
positiva em dois casos. O presente trabalho demonstra a viabilidade do uso da imuno-
histoquímica para detecção de antígenos do vírus rábico em morcegos. A ocorrência
de morcegos positivos para raiva, tanto hematófago quanto insetívoro, exige medidas
de controle da raiva e uma pesquisa epidemiológica mais ampla da raiva em
quirópteros da região.
Palavras-chave: imunodetecção; Lyssavirus; quirópteros; vírus rábico
ABSTRACT: Rabies diagnosis was performed by immunohistochemistry of 24 bats
from the southern region of Minas Gerais. Of these, 14 were hematophagous
(Desmodus rotundus rotundus) and 10 insectivores. At the histopathological changes
were seen in the central nervous system of any bat. Immunohistochemistry was positive
for rabies in two cases. This work demonstrates the availability of using
immunohistochemistry to detect antigens of rabies virus in bats. The occurrence of bats
positive for rabies, both hematophagous as insectivore, requires measures to control
rabies and broader epidemiological research of rabies in bats in the region.
Key words: Chiroptera; immunodetection; Lyssavirus; rabies virus
INTRODUÇÃO
A raiva é uma zoonose causada por um vírus do gênero Lyssavirus, que acomete
mamíferos incluindo os quirópteros, sendo os hematófagos um dos principais vetores
da doença (Silva et al., 2007), considerados como a segunda espécie responsável pela
transmissão da raiva humana no Brasil (Silva et al., 1996).
Os morcegos são os responsáveis pelo ciclo aéreo da doença e algumas espécies
estão presentes nos grandes centros urbanos, desta forma, estes apresentam grande
importância epidemiológica para a raiva (Carneiro et al., 2009). Espécies de morcegos
não hematófagas têm grande importância na manutenção do vírus na população de
morcegos, visto que, é comum indivíduos de hábitos frutívoros e insetívoros
compartilharem do mesmo abrigo que hematófagos.
Os morcegos têm apresentado grande importância epidemiológica, pois alguns
exemplares têm sido encontrados em grandes centros urbanos (Passos et al., 1999).
Em vista da importância do papel destes animais no ciclo da raiva e da carência de
informações relacionadas à população de morcegos na região do sul de Minas Gerais,
este trabalho foi realizado. Os objetivos principais foram avaliar possíveis lesões
microscópicas e a distribuição dos antígenos do vírus rábico no sistema nervoso central
(SNC) de morcegos encaminhados para necropsia.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram recebidos pelo Setor de Patologia Veterinária da Universidade Federal de
Lavras (SPV/UFLA), 24 morcegos para necropsia, no período de setembro de 2012 a

429
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 155, 2013

abril de 2013. Estes animais eram provenientes de Lavras - MG e outras cidades


próximas. Destes, 14 eram hematófagos (Desmodus rotundus rutundus) e
10 insetívoros. Na necropsia foram coletados fragmentos de SNC em formalina a 10%
tamponada com fosfatos. Os tecidos foram processados rotineiramente para
histopatologia, cortados a 5μm e corados pela hematoxilina e eosina. Fragmentos do
SNC foram submetidos a imuno-histoquímica (IHQ) para raiva segundo protocolo pré-
estabelecido (Pedroso et al., 2008). Um fragmento de SNC de um bovino com raiva
confirmada pela imunofluorescência direta (IFD) e IHQ foi utilizado como controle
positivo. Como controle negativo foi utilizado fragmento de SNC de um bovino
eutanasiado por trauma e negativo para raiva na IFD, IHQ e inoculação em
camundongo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 24 morcegos analisados, não foram observadas alterações histopatológicas no
SNC. O exame de IHQ foi positivo em dois casos, em um morcego insetívoro e em um
da espécie Desmodus rotundus rotundus. As marcações da IHQ nos dois morcegos
foram observadas em neurônios do tronco encefálico. No morcego hematófago a
marcação foi observada em raros neurônios. A marcação no morcego insetívoro foi
acentuada e observada em vários neurônios de núcleos da base.
As alterações histopatológicas da raiva nas diversas espécies animais são
caracterizadas principalmente por inflamação linfoplasmocitária ao redor de vasos do
SNC, principalmente em região de tronco encefálico e cerebelo, além da observação
de corpúsculos de Negri (Abreu et al., 2012; Barros et al., 2006; Summers et al., 1994).
A inflamação observada na raiva varia em intensidade e nos
bovinos, por exemplo, podem ser mínimas ou mesmo ausentes (Summers et al.,
1994). Fato semelhante foi observado nos morcegos do presente estudo. Mesmo no
morcego que houve acentuada marcação IHQ, não foram observadas alterações
histopatológicas como inflamação e corpúsculos de Negri.
O presente trabalho demonstra a viabilidade do uso da IHQ para detecção de
antígenos do vírus rábico em morcegos, particularmente em casos, como o do presente
estudo, em que não havia a suspeita da raiva no momento da necropsia, coleta do
material e histopatologia. O morcego insetívoro positivo foi encontrado em uma
residência urbana na cidade de Lavras. O hematófago foi proveniente da zona rural da
cidade de São Gonçalo do Sapucaí-MG, em gruta próxima a fazendas com casos de
raiva em bovinos. O presente trabalho demonstra a necessidade de estudos mais
amplos para o conhecimento da circulação do vírus da raiva nos quirópteros nas áreas
urbana e rural da região estudada.
CONCLUSÃO
A ocorrência de morcegos positivos para raiva, tanto hematófago quanto insetívoro,
exige medidas de controle da raiva e uma pesquisa epidemiológica mais ampla da
raiva em quirópteros da região.
Agradecimento
FAPEMIG, CAPES e CNPq.

430
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 155, 2013

REFERÊNCIAS
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431
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 156, 2013

156. DOENÇA RENAL POLICÍSTICA EM CUTIA (Dasyprocta azarae) –


RELATO DE CASO
(Polycystic kidney disease in agouti (dasyprocta azarae) – case report)

Karina Barbosa de Souza¹, Tatiane Caleffo², Zalmir Silvino Cubas³, Wanderlei de


Moraes³, Aline de Marco Viott4, Isalina Ansilieiro Nascimento5

1. Estagiária, Itaipu Binacional, Foz do Iguaçu – PR;


2. Médica veterinária residente, Hospital Veterinário UFPR Setor Palotina, Palotina - PR;
3. Médico veterinário, Itaipu Binacional, Divisão de Áreas Protegidas, Foz do Iguaçu – PR;
4. Professora, médica veterinária, UFPR, Medicina Veterinária, Setor Palotina - PR;
5. Bioquímica, Itaipu Binacional, Divisão de Ação Ambiental, Foz do Iguaçu – PR.

RESUMO: A doença renal policística (DRP) caracteriza-se pelo crescimento


progressivo de cistos no parênquima renal, levando à compressão, ao aumento e ao
comprometimento do órgão, que provocam insuficiência renal crônica. A doença é
comum em gatos persas, cães, ferrets, ovelhas, porcos e equinos. Este artigo relata um
caso de doença renal policística em cutia da espécie Dasyprocta azarae, cujo
diagnóstico foi feito pelo exame necroscópico e histopatológico e pela azotemia. A
causa mortis foi insuficiência renal crônica por DRP.
Palavras-chave: doença renal policística, patologia, cutia, Dasyprocta azarae
ABSTRACT: Polycystic kidney disease (PKD) is characterized by progressive growth of
cysts in renal parenchyma leading to organ compression, enlargement and impairment,
which results in chronic renal failure. The disease is common in Persian kittens, dogs,
ferrets, sheep, pigs and horses. This is a case report of polycystic kidney disease in
agouti, Dasyprocta azarae, which diagnosis was made by necropsy and
histophatological findings and by azotemia. The cause of death was chronic kidney
failure caused by PKD
Keywords: polycystic kidney disease, patology, agouti, Dasyprocta azarae
INTRODUÇÃO
A doença renal policística (DRP) caracteriza-se pelo crescimento progressivo de cistos
no parênquima renal, levando à compressão, aumento e comprometimento do órgão,
com consequente quadro de insuficiência renal crônica (BILLER, 1990). Acredita-se
que a doença ocorra por dilatação de néfrons devido a processos obstrutivos intra ou
extra-luminais, tanto na região cortical quanto na medular (EATON et al, 1997). Os
cistos possuem formato esférico, de parede clara, contendo líquido claro e seroso ou
serosanguinolento rico em fibrina em seu interior (McGAVIN, 2007; GONZALES e
FROEST, 2003; EATON et al, 1997). Os rins afetados podem apresentar aumento de
tamanho ou formato irregular (EATON et al, 1997). O diagnóstico da DRP é feito a
partir dos sinais clínicos, achados laboratoriais, radiografia, ultrassonografia, tomografia
computadorizada, urografia excretora, provas genéticas (PCR, RFLP) e biópsia renal
(BILLER et al, 1990). Na necropsia, múltiplos cistos de tamanhos variados são
observados no córtex e medula renal de ambos os rins. Microscopicamente, infiltrado
inflamatório linfoplasmocitário e fibrose intersticial podem estar presentes (BILLER at
al, 1996).
O trabalho em questão tem por objetivo relatar um caso de doença renal policística em
cutia (Dasyprocta azarae) mantida em cativeiro.
MATERIAL E MÉTODOS
Um espécime de cutia, Dasyprocta azarae, macho, adulto, com 11 anos de idade,
pesando 1,98kg proveniente do Zoológico Roberto Ribas Lange, Foz do Iguaçu –
Paraná, foi atendido no hospital veterinário da Itaipu Binacional, com histórico de apatia
e emagrecimento progressivo. O paciente esteve em tratamento por 59 dias antes da
morte, tendo apresentado sinais de apatia, hipoatividade, emagrecimento e lesões

432
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 156, 2013

podais em membros pélvicos. Foi tratado com enrofloxacino, cetoprofeno, suplemento


de vitamina A, vitamina E, vitaminas hidrossolúveis, aminoácidos, ferro dextrano.
RESULTADOS
Os resultados laboratoriais 25 dias antes da morte indicaram anemia normocítica/
normocrômica (Hemácias 4,34 x 106, hematócrito 37%, hemoglobina 12,9g/dL),
albuminemia (2,1g/dL), discreta hipoproteinemia (5,7g/dL) e azotemia (uréia 133mg/dL,
creatinina 3,54mg/dL)
O cadáver foi submetido à necropsia e o exame macroscópico revelou que ambos os
rins apresentavam-se aumentados de volume (aproximadamente 3 x 8cm de eixos
transverso e longitudinal) com contorno e superfície irregulares. Ao corte notava-se
perda da relação córtex medular e a pelve apresentava-se mal definida. Por todo o
parênquima renal observavam-se inúmeros cistos de paredes delgadas, variando de 1
a 10mm de diâmetro, com conteúdo claro e aquoso. Os cistos projetavam-se na
superfície dos rins tornando seu contorno irregular. O estômago estava repleto de
conteúdo alimentar com petéquias e equimoses difusas na mucosa.
As alterações microscópicas foram mais acentuadas nos rins, que apresentavam
formações císticas multifocais acentuadas dispostas desde a córtex até a medular
renal. Estas formações exibiam camada única de células epiteliais, às vezes cuboides,
às vezes achatadas. Os glomérulos renais apresentavam espessamento da membrana
basal (glomerulonefrite membranosa) e fibrose da cápsula de Bowman. Havia
glomeruloesclerose multifocal leve e grande quantidade de cilindros hialinos densos
preenchendo o lúmen tubular renal. No interstício renal observou-se infiltrado
inflamatório linfohistioplasmocitário multifocal à coalescente moderado.
As lesões renais, macro e microscópicas foram compatíveis com doença dos rins
policísticos. A causa mortis foi insuficiência renal crônica decorrente de DRP.
DISCUSSÃO
O animal apresentava peso menor (2,06 kg) ao considerado normal para a espécie,
entre 3kg a 6kg (LANGE E SCHIMIDT, 2006). O animal do presente relato
apresentava-se em meia idade (11 anos) sendo a longevidade da cutia estimada em
até 18 anos (LANGE E SCHIMIDT). Isso é compatível com DRP em gatos, que
apresentam sinais clínicos tardios, geralmente entre 3 e 10 anos de idade (BILLER,
CHEW, DiBARTOLA, 1990). Anemia, hipoproteinemia, hipoalbuminemia e azotemia
são alterações que podem ser vistas em quadros de nefropatia crônica (KERR, 2003).
As características dos rins policísticos de cutia foram semelhantes às descritas por
MacGavin (2007), Polzin et al (1999) para doença renal policística em cães e gatos, e
as encontradas por Muller, Szentikis e Wibbelt (2009) em cutias da espécie Dasyprocta
leporina.
A causa mortis foi atribuída à insuficiência renal crônica decorrente de doença renal
policística. Uremia pode provocar hipercalemia e sinais de cardiotoxicidade; acidose
metabólica, hipocalcemia e edema pulmonar (CONFER & PANCIERA, 1995 apud
DANTAS e KOMMERS, 1997).
CONCLUSÃO
Há poucos relatos de doença renal policística em animais selvagens, sendo
necessários mais estudos sobre sua ocorrência e potenciais causas etiológicas.
Necropsias devem, portanto, ser procedimentos de rotina em criações de cutias
mantidas em cativeiro.
Recomendam-se avaliações clínicas, hematológicas e ultrassonográficas periódicas
nesses animais visando o diagnóstico precoce da doença renal policística. O
diagnóstico precoce da DRP pode favorecer o tratamento nas fases iniciais da doença
e a adoção de medidas que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. Outro
aspecto a ser levado em conta é que o diagnóstico precoce de DRP pode ser critério
para a seleção de animais para reprodução, e pode ser utilizado como um indicador de
cruzamentos e manejo genético populacional.
433
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 156, 2013

REFERÊNCIAS:
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BILLER, D. S.; EATON, S. P.; PFLUEGER, S.; WELLMAN, M. L. e RADIN, M. J. Inheritance Of
Polycystic Kidney Disease in Persian Cat Journal Of Heredity,p.1-5. 1996.
DANTAS, A. F. M.; KOMMERS, G. D.. .Lesões extra-renais em uremia em 72 cães. Ciência Rural, Santa
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KERR, M G. Exames laboratoriais em medicina veterinária: Bioquímica clínica e hematologia. 2. ed. São
Paulo: Roca, 2003. 436 p. 4
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POLZIN, D. J.. . Insuficiência renal cronica. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, A.. Tratado de Medicina
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434
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 157, 2013

157. ENDOMETRITE PURULENTA EM TAMANDUÁ-MIRIM (TAMANDUA


TETRADACTYLA) E TAMANDUÁ-BANDEIRA (MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA)
(Purulent endometritis in lesser anteater (Tamandua tetradactyla) and giant
anteater (Myrmecophaga tridactyla))

Auricélio A. Macêdo¹, Ana Patrícia C. Silva¹, Ângela T. Pessanha², Semíramis A.


Soave², Tatiane A. Paixão³, Renato L. Santos¹

1. Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.


2. Departamento de Jardim Zoológico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, MG.
3. Depto de Patologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas UFMG. rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: Os tamanduás pertencem à ordem Xenarthra. O estudo de doenças em


populações ameaçadas de extinção constitui um eixo importante das estratégias para
conservação. Este trabalho teve como objetivo descrever um caso de endometrite
purulenta em tamanduá-mirim e tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)
atendidos no hospital veterinário da Fundação Zoo-botânica de Belo Horizonte-
MG/Brasil. Endometrite neutrofílica e histiocitária multifocal moderada associada à
hiperplasia endometrial cística multifocal moderada e endometrite neutrofílica e linfo-
histiocitária fibrinonecrótica multifocal intensa foram as principais lesões observadas no
tamanduá-bandeira e no tamanduá-mirim, respectivamente.
Palavras-chave: tamanduá, útero, inflamação
ABSTRACT: The anteaters belong to the order Xenarthra. The study of diseases in
endangered populations constitutes an important action for conservation strategies.
This study aimed to describe a case of purulent endometritis in lesser anteater and
giant anteater admitted at the Veterinary Hospital of the Fundação Zoo-botânica de
Belo Horizonte-MG/Brazil. Moderate multifocal neutrophilic and histiocytic endometritis
associated with endometrial cystic hyperplasia, and severe multifocal fibrinonecrotic
neutrophilic and lymphohistiocytic endometritis were the main lesions observed in the
lesser anteater and giant anteater, respectively.
Key words: Anteater, uterus, endometritis
INTRODUÇÃO
Os tamanduás pertencem à ordem Xenarthra, que inclui quatro famílias, 13 gêneros e
29 espécies. São animais característicos do continente americano, ocorrendo desde o
México até o sul da América do Sul. A família Myrmecophagidae é representada por
quatro espécies, o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o tamanduá mirim
(Tamandua tetradactyla e T. mexicana) e o tamanduaí (Cyclopes didactylus) (Wetzel,
1985). Tamanduás em cativeiro são mais acometidos por deficiências nutricionais e
doenças infecciosas como enterites e pneumonias (Diniz et al., 1995), contudo
infecções uterinas não tem sido relatadas nestas espécies. Infecção uterina é uma
causa importante de infertilidade podendo, em alguns casos, levar a morte. A
endometrite é a inflamação restrita ao endométrio e glândulas endometriais. A via de
infecção geralmente é por via ascendente, embora
a via hematógena também possa ocorrer. A endometrite pode ser causada por
bactérias, vírus, protozoários ou fungos, sendo, na maioria dos casos, provocadas
por agentes bacterianos (Santos et al., 2011).
O estudo de doenças em populações ameaçadas de extinção constitui um eixo
importante das estratégias para conservação (Aguirre et al., 2002). Assim, este
trabalho teve como objetivo descrever dois casos de endometrite purulenta em dois
tamanduás, uma tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e uma tamanduámirim
(Tamandua tetradactyla).
MATERIAL E MÉTODOS
O útero de duas fêmeas, uma tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) e uma
tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) da Fundação Zoo-botânica de Belo
435
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 157, 2013

Horizonte-MG/Brasil foram analisadas por histopatologia com suspeita clínica de


piometrite. Fragmentos de tecidos foram coletados e fixados por imersão em formalina
tamponada a 10% e processados para inclusão em parafina. Cortes de tecidos obtidos
por microtomia foram corados com hematoxilina e eosina.
RESULTADOS
Macroscopicamente, o útero da tamanduá-mirim apresentava cornos uterinos
intensamente distendidos, serosa lisa, brilhante e intensamente hiperêmicas e ao corte
fluía grande quantidade de material viscoso e amarelado (exsudato purulento),
compatíveis com uma piometrite difusa intensa. O útero da tamanduá-bandeira não
apresentava alteração macroscópica. Microscopicamente, no útero da tamanduá-mirim,
observou-se um infiltrado inflamatório neutrofílico e linfo-histiocitário difuso e intenso,
com neutrófilos degenerados, associado a áreas multifocais de necrose moderada,
hiperemia multifocal a coalescente do endométrio, hemorragia multifocal intensa
(metrorragia) e deposição multifocal moderada de material eosinofílico fibrilar (fibrina).
No útero da tamanduá-bandeira havia infiltrado inflamatório neutrofílico e histiocitário
periglandular e perivascular multifocal e moderado no endométrio associado a dilatação
cística moderada e multifocal de glândulas endometriais, edema subepitelial moderado
e multifocal e acúmulo de pigmento amarronzado no citoplasma de histiócitos multifocal
e moderada (hemossiderose).
DISCUSSÃO
Este relato descreve dois casos de endometrite purulenta sendo um em tamanduá-
bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e outro em tamanduá-mirim (Tamandua
tetradactyla). Não há relatos na literatura da ocorrência dessa doença nessas espécies,
no entanto ela tem sido bem estudada e caracterizada nas espécies de animais
domésticos, sobretudo animais de produção, acarretando subfertilidade e infertilidade
(Nicolakopoulos et al., 2000; Santos et al., 2011).
De um modo geral, a susceptibilidade uterina a infecções está intimamente relacionada
com a fase do ciclo estral. O útero é mais resistente contra as infecções durante a fase
estrogênica, sobretudo por haver maior atividade leucocitária, maior motilidade e tônus
uterino, e, consequentemente, maior eficiência na eliminação e controle de
microrganismos (Smith, 2006).
Todas as espécies domésticas são susceptíveis a infecções uterinas, sendo mais
comuns em cadelas e vacas. Em cadela, geralmente é precedida de hiperplasia
endometrial cística, sendo o processo não primariamente infeccioso, mas sim um
distúrbio hormonal que inicialmente promove alterações endometriais, sucedidas por
infecção ascendente oportunista. Em vacas, é mais comum no período pós-parto como
consequência de retenção placentária. Nestes dois casos,
vale ressaltar, que os tamanduás não recebiam hormônio exógeno nem estavam no
período pós-parto, que são fatores predisponentes à infecção uterina (Santos et al.,
2011). Infecções uterinas em espécies selvagens como canídeos e felídeos também
tem sido reportadas, inclusive, em alguns, casos, associadas hiperplasia endometrial
(McCain et al., 2009; Jankowski et al., 2012).
CONCLUSÃO
Foram diagnosticados dois casos de endometrite purulenta em tamanduás. Estes
achados são importantes para clínicos de animais selvagens que devem incluir a
avaliação do trato reprodutor na rotina clínica dessas espécies.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico de
Minas Gerais (FAPEMIG). Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).

436
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 157, 2013

REFERÊNCIAS
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437
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 158, 2013

158. FECALOMA EM SPILOTES PULLATUS, EPICRATES CENCHRIA CENCHRIA E


ANILUS SCYLATE - DIAGNÓSTICO RADIOGRÁFICO: RELATO TRÊS DE CASOS
(Fecaloma in Spilotes pullatus, Epicrates cenchria cenchria and Anilus scylate -
radiographic diagnosis: case report)

Renata Mina Watanabe Morimoto Muto; Camila Fernanda dos Santos Santana; Maria
Rogéria Menezes da Silva; Fernanda Luiza de Miranda Lins e Lins; Adriana Maciel de
Castro Cardoso; Andréa Maria Góes Negrão

RESUMO: A constipação intestinal é caracterizada por uma dificuldade na defecação,


sendo o fecaloma uma variedade extrema de impactação fecal causado pela
coprostase. Em serpentes, pode ser causado devido à ingestão de presas grandes,
alimentações freqüentes ou distocia. Este trabalho teve por objetivo relatar três casos
de fecaloma em serpentes das espécies Spilotes pullatus, Epicrates cenchria cenchria
e Anilus scylate com diagnóstico realizado através do exame radiográfico. Foram
realizadas as projeções latero-lateral e dorsoventral do terço final da cavidade
celomática e as vértebras foram marcadas de 10 em 10 com auxílio de lápis sobre a
radiografia para facilitar a contagem das mesmas. O exame radiográfico, apesar de ser
uma ferramenta subutilizada na medicina de serpente, é uma ferramenta eficiente para
o diagnóstico dessa afecção em répteis.
Palavras-chave: Exame radiográfico; fecaloma; serpentes
ABSTRACT: Constipation is characterized by a difficulty in defecation, being the
fecaloma a extreme variety of fecal impaction caused by coprostase. In serpents, can
be caused due to ingestion of large prey, frequent feedings or dystocia. This study
aimed to report three cases of fecaloma in serpents species Spilotes pullatus, Epicrates
cenchria cenchria and Anilus scylate with diagnosis made by radiographic examination.
Projections were made lateral-lateral and dorsoventral of the final third of the celomatic
cavity and the vertebrae were marked from 10 to 10 with the aid of pencils on the
radiographs to facilitate the counting of them. The radiographic examination, despite
being underused tool in medicine serpent, is an efficient tool for the diagnosis of this
condition in reptiles.
KEY WORDS: Fecaloma; Radiographic examination; serpents
INTRODUÇÃO
Fecaloma é caracterizado por uma grande massa endurecida de fezes frequentes
localizada no cólon sigmóide e no reto (SOYDER e ÖZGÜN, 2012).
Apesar de ser uma ferramenta subutilizada na medicina de serpente, o exame
radiográfico é uma ferramenta eficiente para a avaliação morfológica e funcional dos
órgãos internos e para diagnóstico de diversas afecções em répteis (SCHUMACHER,
2001).
Este trabalho teve por objetivo relatar três casos de fecaloma em três espécies distintas
de serpentes: Spilotes pullatus, Epicrates cenchria cenchria e Anilus scylate com
diagnóstico realizado através dos exames radiográfico.
MATERIAL E MÉTODOS
Três espécimes de serpentes das espécies Spilotes pullatus, Epicrates cenchria
cenchria e Anilus scylate, provenientes de uma empresa de mineração de
Paragominas, foram cedidas ao laboratório de Patologia do Instituto de Saúde e
Produção Animal da Universidade Federal Rural da Amazônia, em Belém, PA.
A empresa obteve as serpentes durante supressão vegetal ou fauna atropelada. Estas
morreram naturalmente ou acidentalmente, sendo acondicionadas no congelador do
laboratório.
A autorização foi obtida através das licenças SEMA nº630/10, nº 962/09, 974/10,
993/10, 1008/10, 1016/10, 964/10 e 962/10.

438
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 158, 2013

Foram realizadas as projeções latero-lateral e dorsoventral do terço final da cavidade


celomática pelas técnicas convencionais.
Para se estabelecer a relação do fecaloma com o número de vértebras, procedeu-se à
contagem das mesmas a qual se torna o ponto de referência para a avaliação da
radiopacidade óssea. As vértebras foram marcadas de 10 em 10 com auxílio de lápis
sobre a radiografia para facilitar a contagem.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Nesses três espécimes de serpentes foram observadas imagens sugestivas de
fecaloma mostrando-se estruturas de fezes ressecadas, com intestino grosso
distendido e com acúmulo de grande quantidade de material fecal radiopaco.
Na Spilotes pullatus encontrava-se à altura da 181ª a 187ª vértebras, na Epicrates
cenchria cenchria foi à altura da 196ª a 244ª vértebras e na Anilus scylate evidenciou-
se em correspondência às 79ª a 86ª vértebras.
O fecaloma é uma variedade extrema de impactação fecal e que apresenta como
causas uma infinidade de fatores (RAJAGOPAL e MARTIN, 2002). Em serpentes, pode
ser causada devido à ingestão de presas grandes, alimentações freqüentes ou distocia
(FUNK, 2006).
Segundo Matayoshi et al. (2011), a distocia é um das possíveis causas de fecaloma.
Eles observaram que a retenção dos ovos atrésicos e a aderência dos mesmos em
região de cloaca pode ter ocasionado a estase fecal e conseqüente fecaloma no animal
de seu estudo. O diagnóstico por imagem foi essencial na identificação do fecaloma,
porém a identificação dos ovos atrésicos foi possível somente através da
ultrassonografia.
É uma patologia muito comum em humanos (RAJAGOPAL e MARTIN, 2002), sendo
também relatada em animais domésticos como equinos (McCLURE et al., 1992; RYU
et al., 2001; TORKELSON, 2002), cães (WELLS et al., 1995; WHITE, 1997) e gatos
(SILVA, 1998), bem como em animais selvagens, incluindo os carnívoros (HAMIR,
1998).
No estudo de Silva, Simões-Mattos e Mattos (2003) realizado em quati, foi observado
que alterações fisiológicas, cardiovasculares, endócrinas e metabólicas podem estar
relacionadas aos problemas digestivos. Ainda mencionou que a excessiva exposição
ao sol e a privação de água podem desencadear um quadro de desidratação, levando
ao ressecamento e endurecimento das fezes.
CONCLUSÃO
O diagnóstico por imagem foi essencial na identificação do fecaloma nesses três
espécimes de serpentes das espécies Spilotes pullatus, Epicrates cenchria cenchria e
Anilus scylate.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 158, 2013

REFERÊNCIAS
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Disease of the Colon e Rectum. Vol. 22, No.4. 2012. Email: asoyder@yahoo.com
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440
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 159, 2013

159. FIBROSSARCOMA COM DIFERENCIAÇÃO MIOFIBROBLÁSTICA EM LEOA


(PANTHERA LEO) - RELATO DE CASO
(Case Report - Myofibroblastic differentiation in a fibrosarcoma in a lioness
(Panthera leo))

Maria Claudia Lopes da Silva¹, Marcelo Pires Nogueira de Carvalho², Ana Paula Batista
Masseno¹, Julio Lopes Sequeira¹, Alessandre Hataka¹, Carlos Roberto Teixeira³

1 Depto de Clínica Vet, Faculdade de Med Vet e Zootecnia, USP, Botucatu, São Paulo.
2 Depto de Patologia Experimental e Comparada, Faculdade de Med Vet e Zootecnia, USP, São Paulo.
3 Depto de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, Faculdade de Med Vet e Zootecnia USP, Botucatu.

RESUMO: Relata-se um caso de fibrossarcoma com diferenciação miofibroblástica em


leoa (Panthera leo). O animal pertencia a um criatório particular, tinha 12 anos de idade
e apresentava massa recoberta por pele íntegra em região interescapular. O exame
citopatológico da lesão evidenciou neoplasia de origem mesenquimal. Após excisão
cirúrgica, a avaliação macroscópica da lesão revelou tumor medindo 22,0 x 17,5 x 9,0
cm de superfície irregular, consistência firme, coloração heterogênea esbranquiçada
com áreas avermelhadas. Na região central da peça observou-se extensa área de
necrose tecidual. A análise histopatológica confirmou o diagnóstico de fibrossarcoma.
O perfil imuno-histoquímico revelou marcação positiva para vimentina e α – SMA e
negativa para AE1/AE3 e desmina. Desta forma, caracterizou-se a origem
mesenquimal da neoplasia e sua natureza miofibroblástica.
Palavras-chave: fibrossarcoma; imuno-histoquímica; leoa; neoplasia; Panthera leo
ABSTRACT: We report a case of fibrosarcoma with myofibroblastic differentiation in
lion (Panthera leo). The animal belonged to a private nursery, was 12 years old and had
a mass covered by intact skin in the interscapular region. The cytological examination of
the lesion showed tumor of mesenchymal origin. The macroscopic evaluation of the
lesion after surgical excision, revealed tumor measuring 22.0 x 17.5 x 9.0 cm with an
irregular cut surface, firm consistency, whitish coloration heterogeneous with reddened
areas. In the central part there is a large area of tissue necrosis. Histopathology
confirmed the diagnosis of fibrosarcoma. The immunohistochemical profile revealed
positive staining for vimentin and α - SMA and negative for desmin and AE1/AE3.
These findings characterized a mesenchymal neoplasm with myofibroblastic
differentiation.
Key words: fibrosarcoma; immunohistochemistry; lioness; neoplasia; Panthera leo
INTRODUÇÃO
Os processos neoplásicos em felídeos silvestres de cativeiro são raros e na literatura
científica há poucos relatos desse tipo de enfermidade em leões (Dorso et al, 2008). A
revisão bibliográfica sobre cânceres em leões revela trabalhos de carcinoma mamário
ductal, linfoma, oligodendroglioma, carcinoma bronquíolo alveolar, mesotelioma e
apenas um artigo sobre fibrossarcoma subcutâneo (Harisson et al, 2007, Poli et al,
1995; Odendaal et al, 1985; Tucker et al, 2008; Lucena et al, 2010; Bollo et al, 2011).
Em felinos domésticos a causa da neoplasia pode ser viral, associada à aplicação de
vacinas e fármacos ou ainda de origem espontânea. A doença tende a ser agressiva
localmente com baixo potencial de metástase, com recorrência em 30 a 60% dos casos
após a excisão cirúrgica (Smith et al, 2009). A maioria dos sarcomas associados à
vacina são fibrossarcomas, no entanto outros tipos histológicos como
rabdomiossarcoma, mixossarcoma, condrossarcoma, sarcoma indiferenciado e
histiocitoma fibroso maligno podem ocorrer (Couto et al, 2002).
O objetivo do presente relato é descrever um caso de fibrossarcoma em um animal de
cativeiro.

441
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 159, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Foi encaminhada ao Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho, Campus de Botucatu - SP,
proveniente de um criador particular, uma leoa de 12 anos de idade. No momento do
atendimento, a paciente não apresentava sinais clínicos. Ao exame físico observou-se
massa de consistência macia na região interescapular recoberta por pele íntegra com
evolução de 20 dias. A ultrassonografia da lesão interescapular revelou centro cavitário
e guiou a colheita de material para exame citopatológico pelo método de punção
aspirativa por agulha fina. Posteriormente foi realizada excisão cirúrgica. Amostras do
tecido foram processadas pelas técnicas usuais em histopatologia. As lâminas obtidas
foram coradas pelo HE e pelo tricrômico de Masson. Foi realizado painel imuno-
histoquímico utilizando os anticorpos anti vimentina (Dako, diluição 1:1250), anti-
AE1/AE3 (Invitrogen, diluição 1:50), anti desmina (Invitrogen, diluição 1:50) e anti-α –
SMA (Dako, diluição 1:1250). O Sistema de visualização utilizado foi NovolinkTM Max
Polymer Detection Systems contra corado com hematoxilina de Harris.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O exame citopatológico mostrou baixa celularidade composta por células fusiformes
individualizadas imersas em fundo discretamente acidofílico, caracterizadas por
citoplasma acidofílico fibrilar, núcleo alongado de cromatina uniforme e nucléolo por
vezes distinto. O fundo da lâmina apresentava grande quantidade de eritrócitos, poucos
neutrófilos degenerados e células inflamatórias mononucleares. A avaliação do líquido
contido no centro da neoplasia revelou muitos eritrócitos e neutrófilos degenerados,
além de pequena quantidade de células inflamatórias mononucleares e células
degeneradas. Os achados citológicos foram compatíveis com neoplasia maligna de
origem mesenquimal, sendo sugerido o exame histopatológico para confirmação do
diagnóstico.
A avaliação macroscópica da lesão revelou tumor medindo 22,0 x 17,5 x 9,0 cm de
superfície irregular, consistência firme, coloração heterogênea esbranquiçada com
áreas avermelhadas. Na região central da peça observou-se extensa área de necrose
tecidual.
A análise histopatológica revelou neoplasia altamente celular, constituída por células
fusiformes arranjadas em feixes multidirecionais. Os limites celulares eram mal
definidos, o citoplasma abundante e eosinófilo. O núcleo destas células era alongado,
central e vesiculoso, mostrando nucléolo predominantemente único e distinto, sendo a
anisocariose intensa. A região central da neoplasia mostrava extensa necrose e
pequenos focos de hemorragia. A massa neoplásica infiltrava-se no tecido muscular
estriado esquelético da região. Pelo método tricrômico as células neoplásicas estavam
inseridas em meio a densas fibras colágenas.
A avaliação imuno-histoquímica revelou marcação positiva para vimentina; marcador
de tecido mesenquimal e α – SMA, que reage com os filamentos do citoesqueleto das
células miofibroblásticas e de musculatura lisa e negativa para AE1/AE3, marcador
para células epiteliais e desmina, que reage com musculatura lisa e estriada. A
positividade de reação com anti-α – SMA combinada com a negatividade para desmina
indica que as células neoplásicas seriam de origem miofibroblástica e não de uma
origem muscular. Desta forma, caracterizou-se a origem mesenquimal da neoplasia e
sua natureza miofibroblástica. Assim foi estabelecido o diagnóstico de fibrossarcoma
com diferenciação miofibroblástica.
CONCLUSÃO
Os achados macroscópicos, microscópicos e imuno-histoquímicos dão suporte à
origem mesenquimal e à linhagem miofibroblástica da neoplasia em foco.

442
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 159, 2013

REFERÊNCIAS
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DORSO, L.; RISI, E.; TRIAU, S. et al. High-Grade mucoepidermoid carcinoma of the mandibular salivary
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LUCENA, R.B.; FIGHERA, R.A.; CARREGARO, A.B. et al. Carcinoma bronquíolo-alveolar em leão-
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ODENDAAL, J.S.; VAN DER MERWE, S.J.; COETZEE, F.P. et al. Subcutaneous fibrosarcoma in a lion
(Panthera leo). Journal of the South African Veterinary Association, v.56, p.143–144, 1985.
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TUCKER, A.R.; RAMSAY, E.C.; DONNELL, R.L. Oligodendroglioma in an african lion (Panthera leo).
Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v.39, p.650-654, 2008.

443
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 160, 2013

160. GLOMERULOPATIA EM FELÍNOS SELVAGENS EM CATIVEIRO


(Glomerulopathy in wild captive felines)

Teane M. A. Silva¹, Luciana F. Costa1, Marcelo C. C. Malta², Marcela M. Luppi²,


Tatiane A. Paixão³, Renato L. Santos¹

1. Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.


2. Departamento de Jardim Zoológico da Fundação Zoo-Botânica, Belo Horizonte, MG.
3. Instituto de Ciências Biológicas, UFMG, Belo Horizonte, MG. rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: As glomerulopatias podem levar a um quadro terminal de insuficiência renal,


tendo grande impacto nos felídeos silvestres e de cativeiro. Este relato descreve
glomerulopatia em quatro felinos (onça-pintada, jaguatirica e duas onçasparda)
mantidos em cativeiro na Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte. Fragmentos de
tecidos foram avaliados histologicamente, sendo rim e pâncreas submetidos à
coloração especial por vermelho congo, picrossírius e ácido periódico- Schiff. Todos os
felinos apresentaram glomerulopatia membranosa moderada a intensa, além de dois
animais apresentarem moderada glomeruloesclerose. Três felinos apresentaram
amiloidose acentuada nas ilhotas pancreáticas, confirmada por vermelho congo. O
diagnóstico das glomerulopatias é de suma importância para minimizar a ocorência
desta patologia nos felinos mantidos em cativeiro.
Palavras-chave: doença glomerular; Leopardus pardali; Panthera onca; Puma
concolor
ABSTRACT: Glomerulopathies have a major impact in wild and captive felines, since
they may lead to the terminal stage of renal failure. This report describes
glomerulopathy in four felines (a jaguar, an ocelot, and two pumas) kept in captivity at
the Zoo-Botânica Foundation, Belo Horizonte. Tissue fragments were histologically
analyzed. Kidney and pancreas sections were stained with Congo Red, Sirius Red and
Periodic-Schiff acid stains. All four felines had moderate to severe membranous
glomerulopathy, whereas two animals also had diffuse moderate glomerulosclerosis.
Additionally, three felines had pancreatic islet amyloidosis, which was confirmed by
Congo Red stain. The diagnosis of glomerulopathies is crucial to reduce the occurrence
of these lesions in captive felines.
Key words: glomerular disease; Leopardus pardali; Panthera onca; Puma concolor
INTRODUÇÃO
Alta prevalência de alterações glomerulares, principalmente a glomerulonefrite
membranosa, tem sido observada em felinos. A etiologia está frequentemente
associada à deposição de imunocomplexos solúveis nos glomérulos ou à produção de
anticorpos contra antígenos presentes na membrana basal glomerular (Newman,
2007).
A principal causa de glomerulopatias em felídeos está associada às infecções crônicas
e persistentes, predominando as infecções virais, como coronavírus felino, vírus da
leucemia felina (FeLV) e vírus da imunodeficiência felina (FIV). Outras possíveis
causas que devem ser consideradas são os processos neoplásicos, doenças auto-
imune e diabetes melitus, além da predisposição por fatores genéticos e dietas
hiperproteicas (Bolton e Munson, 1999; Jiménez et al., 2011). Na maioria dos casos, a
glomerulopatia é progressiva, comprometendo a função renal e levando ao quadro
terminal de insuficiência renal (Newman, 2007). Isto tem grande impacto para os felinos
selvagens (Jiménez et al., 2011), sendo de suma importância avaliar a ocorrência desta
patologia em animais de cativeiro.
Este relato descreve quatro casos de glomerulopatias em três espécies de felídeos
mantidos em cativeiro na Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 160, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Duas onças-parda (Panthera concolor) machos, uma onça-pintada (Panthera onca)
macho e uma jaguatirica (Leopardus pardali) fêmea adultas morreram e foram
submetidas à necropsia na Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte. A onçapintada
apresentava histórico de insufiência renal crônica, com perda progressiva de peso e
elevação de uréia (302 mg/dL) e creatinina (9,2 mg/dL) séricas. Apenas uma onça-
parda tinha histórico de hiperglicemia (293 ng/dL). Fragmentos de órgãos foram fixados
em formol, processados, cortados e corados por Hematoxinia-Eosina para avaliação
histopatológica. Fragmentos de rim e pâncreas de todos os felinos foram submetidos à
coloração especial por vermelho congo e picrossírius para a confirmação de deposição
de amilóide ou de fibras de colágeno, respectivamente. Fragmentos de rim também
foram corados por ácido periódico-Schiff (PAS), para avaliar o espessamento de
membrana basal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Microscopicamente, todos os animais apresentaram espessamento moderado a
acentuado da membrana basal dos glomérulos. Em dois animais (onça-pintada e uma
onça-parda), esta lesão estava associada à proliferação mesangial difusa e intensa,
caracterizando glomerulopatia membranoproliferativa. Em uma onça-parda e na onça-
pintada foi observada diminuição acentuada dos glomérulos, com substituição de tufos
glomerulares por tecido conjuntivo fibroso, sendo compatível com glomeruloesclerose.
Somente uma onça-parda apresentou moderada glomerulonefrite multifocal,
caracterizada por moderado infiltrado linfo-histioplasmocitário periglomerular e
intersticial no córtex renal. Em três felinos (duas de um material amorfo, eosinofílico e
proteináceo nas ilhotas pancreáticas, sendo sugestivo de amiloidose, cujo diagnóstico
foi confirmado por birrefringência verde da amilóide nas ilhotas pancreáticas coradas
por vermelho congo sob luz polarizada. A coloração por PAS evidenciou o
espessamento acentuado e difuso da membrana basal glomerular em todos os felinos.
Todos os fragmentos de rim foram negativos para vermelho congo. Três animais
apresentaram discreta birrefringência vermelha nos glomérulos na coloração por
picrossírius, evidenciando a deposição de colágeno do tipo III como causa do
espessamento da cápsula glomerular.
Outra alteração histopatológica observada em dois felinos (onça-parda e onça-pintada)
foi uma broncopneumonia fibrinosupurada acentuada difusa com miríade de cocos
intralesionais. Glomerulopatia membranosa e glomeruloesclerose foram descritas em
felinos silvestres e de cativeiro. Alguns trabalhos demonstram que os vírus FIV e FeLV
são capazes de infectar diversos felídeos silvestres, incluindo leão, onça-parda, chita e
lince (Bolton e Munson, 1999; Jiménez et al., 2008; Jiménez et al., 2011), e que
possivelmete resultam em alterações glomerulares semelhantes às observadas neste
relato. Contudo, não há resultado sorológico para FIV e FeLV destes felideos, o que
dificulta não permite a identificação da etiologia. Interessantemente, três felinos
apresentaram deposição de amiloidose nas ilhotas pancreáticas, o que pode
comprometer a produção de insulina pelas células β (Hoenig et al., 2000).
A alteração histológica do pâncreas é compatível com a hiperglicemia observada em
uma das onças-parda. Portanto, um quadro de diabetes melitus tipo 2 deve também ser
considerado como uma possível causa de glomerulopatia nestes casos.
CONCLUSÃO
Os achados histopatológicos e as colorações especiais histoquímicas favoreceram o
diagnóstico de glomerulopatia membranosa acentuada em felinos de cativeiro,
associado à amiloidose pancreática.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico de
Minas Gerais (FAPEMIG), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES).
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 160, 2013

REFERÊNCIAS
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Pathology, v.36, p.14–22, 1999.
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446
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 161, 2013

161. GOTA ÚRICA VISCERAL EM PERIQUITO ESPLÊNDIDO (Neophema


splendida) – RELATO DE CASO
(Visceral gout uric in parakeet splendid (Neophema splendida) – case report)

Bruna Domeneghetti Smaniotto¹;Adriano Sakai Okamoto²; Tarcísio Macedo Silva¹;


Raphael Lucio Andreatti Filho²; Leonardo Fabrício Pavan¹

1 Pós- graduandos do Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu.


2 Docentes do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu. sakai@fmvz.unesp.br

RESUMO: O ácido úrico, metabólito nitrogenado resultante do metabolismo das


purinas é eliminado na forma de uratos semissólidos pelas aves, já que estas são
consideradas uricotélicas. Porém, quando há elevação deste metabólito no plasma
sanguíneo, por motivos renais ou não renais, ocorre a deposição de cristais de urato
nos tecidos dando origem a doença metabólica chamada de gota úrica. Esta patologia
nas aves pode se manifestar de duas formas distintas: articular e visceral. Este trabalho
tem como objetivo relatar um caso de gota úrica visceral em um periquito esplêndido
(Neophema splendida), macho, atendido no Laboratório de Ornitopatologia da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista
(FMVZ – UNESP) Botucatu – SP.
Palavras-chave: ácido úrico; aves; doença metabólica
ABSTRACT: The uric acid, a nitrogened metabolite resulting from purine metabolism, is
eliminated in the form of semisolid urate by birds, which are considered uricotelic
organisms. However, when an elevation of this metabolite in plasma ocurred, for renal
and non-renal reasons, a deposition of urate crystals in tissues appears, leading to a
metabolic disorder called gout. Gout in birds can manifest itself in two ways: visceral
and articular. This paper aims to report a case of visceral gout in a male splendid
parakeet (Neophema splendida), attended by the Avian Pathology Laboratory of
Veterinary Medicine and Animal Science of the São Paulo State University (FMVZ -
UNESP), Botucatu - SP, Brazil.
Key words: birds; metabolic disease; uric acid
INTRODUÇÃO
As aves são consideradas animais uricotélicos por excretarem o ácido úrico na forma
de uratos semissólidos (Myers e Mcgavin, 2009). Quando os níveis de ácido úrico
ultrapassam a capacidade de excreção renal, ocorre a elevação deste metabólito no
plasma sanguíneo (hiperuricemia), havendo a deposição de cristais de urato nos
tecidos, resultando em doença metabólica denominada gota úrica. Esta circunstância
está intimamente associada a fatores que restringem a eliminação ou elevam a
produção do ácido úrico no organismo (Lumeij, 1997; Speer, 1997; Coppola et al,
2013). Nas aves, há duas formas de gota úrica: a articular e a visceral (Lumeij, 1997;
Riddell, 1997; Speer, 1997; Myers e Mcgavin, 2009). A primeira é considerada uma
doença crônica, a qual é caracterizada pelo acúmulo de uratos ao redor das
articulações causando deformações, claudicação, relutância para caminhar, diminuição
da atividade e dor. Na forma visceral, ou seja, na doença aguda os sinais são
considerados inespecíficos, havendo acometimento característico das serosas,
principalmente do pericárdio parietal e rins, além do fígado, sacos aéreos e peritônio,
onde pode ser observado acúmulo de material esbranquiçado semelhante a ―pó de giz‖
(Riddell, 1997; Speer, 1997; Myers e Mcgavin, 2009; Costa et al, 2012). A morte súbita
nesta forma é em decorrência da falência cardíaca (Costa et al, 2012).
As causas de gota úrica são numerosas e podem ser multifatoriais. Entre as causas
não renais podemos citar a deficiência de fósforo e magnésio, dietas ricas em proteína
e cálcio, diminuição da circulação sanguínea, uso excessivo de aminoglicosídeos e
diclofenaco, desidratação, hereditariedade e deficiência de vitamina A (Lumeij, 1997;
Riddell, 1997; Speer, 1997; Coppola et al, 2013). As causas renais incluem obstrução
447
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 161, 2013

dos ureteres, doença tubular renal, infecções renais causadas por vírus e bactérias,
insuficiência renal e neoplasias (Speer, 1997; Coppola et al, 2013).
A gota úrica na forma visceral raramente é diagnosticada no exame ante – mortem,
sendo o exame necroscópico e histopatológico dos rins os mais indicados para o
diagnostico desta forma clínica (Speer, 1997).
O presente artigo objetivou relatar um caso de gota úrica visceral em um periquito
esplêndido.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi encaminhado ao laboratório de Ornitopatologia do Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista
(FMVZ/UNESP), Campus Botucatu-SP, um periquito esplêndido (Neophema
splendida), macho, jovem, com histórico de prostração seguida de morte. A ave foi
submetida ao exame necroscópico e foram coletados fragmentos dos rins para
realização do exame histopatológico.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
No exame necroscópico observou-se grande quantidade de pontos esbranquiçados
semelhantes a ―pó de giz‖ nas bordas dos sacos aéreos e na porção medial do esterno.
Intensa presença de material esbranquiçado em pericárdio, rins pálidos mostrou pontos
de coloração branca na superfície do órgão, extensa área esbranquiçada em região de
zona intermediária entre pró-ventrículo e moela, material esbranquiçado em cavidade
oral, na porção medial da órbita esquerda e lateralmente à porção medial da traqueia.
Ao exame histopatológico dos rins pôde-se observar proliferação de cristais levemente
basofílicos, formando um arranjo em roseta, focos de hemossiderose em meio às
formações tubulares destaca-se ainda proliferação de fibroblastos e infiltrado
inflamatório ao redor. Presença de discreto a moderado infiltrado inflamatório intersticial
com predomínio de linfócitos, discretos plasmócitos e raros macrófagos. As células
tubulares apresentam vacualizações citoplasmáticas indicativas de um processo
degenerativo com extensa área de congestão e focos hemorrágicos, além da presença
de moderada glomérulo esclerose.
Os achados de necropsia e do histopatológico dos rins foram semelhantes aos
descritos por Myers e McGavin (2009), Speer (1997) e Riddell (1997).
As lesões macroscópicas e a visualização dos cristais de uratos e lesões no
parênquima renal através do exame histopatológico foram conclusivos para o
diagnóstico da gota úrica visceral.
CONCLUSÃO
Por se tratar de uma doença aguda e raramente diagnosticada no exame ante-
mortem, a gota úrica visceral muitas vezes leva a ave à morte sem que haja sinais
clínicos que antecedam o óbito. Além disso, o prognóstico para esta enfermidade é
considerado de regular a ruim, não havendo tratamento realmente eficaz na resolução
completa do quadro. Devido a isso, preconizam-se medidas profiláticas como, por
exemplo, a correção de manejo alimentar e reprodutivo.
REFERÊNCIAS
COPPOLA , M.P.; ZAMAE, J.C.R.; BAPTISTA, A.A.S. et al. Gota úrica visceral em tucano toco
(Ramphastos toco). Veterinária e Zootecnia, v.20, n.2, p.260 – 263, 2013.
COSTA, A.M.; IMBELONI, A.A.; FERREIRA, V.L. et al. Gota úrica visceral em Harpia (Harpia harpyja).
Nosso Clínico, v.15, n.86, p.60-62, 2012.
LUMEIJ, J.T. Avian Clinical biochemistry. In: KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. Clinical
Biochemistry of Domestic Animals. 5ed. United States: Academic Press, 1997, Cap.28., p. 860 – 861.
MYERS, R.K., MCGAVIN, M.D. Respostas celulares e teciduais à lesão. In: MCGAVIN, M.D., ZACHARY,
J.F. Bases da Patologia em Veterinária. 4ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, Cap.1., p. 47.
RIDDELL, C. Developmental, metabolic and other noninfectious disorders. In: Calnek BW. Disease of
poultry. 10ed. Iowa: Iowa University Press, 1997, Cap.35., p. 936 – 937.
SPEER, B.L. Diseases of the urogenital system. In: ALTMAN, R.B, CLUBB, S.L., DORRESTEIN, G.M.;
QUESENBERRY, K.E. Avian Medicine and Surgery. 1ed. United States: Saunders, 1997, Cap.36., p.
627.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 162, 2013

162. HEMANGIOSSARCOMA EM SABIÁ-LARANJEIRA [TURDUS RUFIVENTRIS] -


RELATO DE CASO
(Hemangiossarcoma em Sabiá-Laranjeira [Turdus Rufiventris] – Case report)

Samara Rosolem Lima¹, Pedro Guilherme Magalhães Sanches², Thais Oliveira


Morgado¹, Mateus de Assis Bianchini², Sandra Helena Ramiro Correa³, Nadia Aline
Bobbi Antoniassi³

1- Residente, HOVET, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuibá. E-mail: samarabubu@hotmail.com


2- Aluno de graduação, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
3- Professoras, Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
RESUMO: Hemangiossarcoma é uma neoplasia maligna originada do endotélio
vascular encontrada em várias espécies, principalmente em animais adultos e idosos,
acometendo qualquer estrutura. Relata-se em um sabiá-laranjeira de vida livre, a
ocorrência de nódulos vermelho enegrecida, superfície irregular, situadas no
subcutâneo da região cervical, metatársica, e periocular. Baseado nos achados clinico-
patológicos a neoplasia foi classificada como hemangiossarcoma com características
metastáticas e compressivas. Esse é o primeiro relato dessa neoplasia em Sabiá-
laranjeira (Turdus rufiventris).
Palavras-chave: ave; neoplasia; animal silvestre
ABSTRACT: Hemangiosarcoma is a malignant neoplasm arising from the vascular
endothelium found in several species, mainly in adults and elderly animals, affecting
any structure. It is reported in a Sabiá-laranjeira free life-time several red blackened
nodules with irregular surface, located in the subcutaneous tissue of the cervical region,
metatarsal, and periocular. The clinico-pathological findings the neoplasm was
classified as hemangiosarcoma with metastatic and compressive characteristics. This is
the first report of this neoplasm in Sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris).
Key-words: bird, neoplasm, wild animal.
INTRODUÇÃO
Hemangiossarcoma é uma neoplasia maligna originada do endotélio vascular (Bodley
et al., 2000) caracterizada por proliferação de células endoteliais com marcada atipia e
formação de múltiplos novos vasos preenchidos por hemácias (Yamamoto et al., 2013;
Fugate e Lane, 2009; Sinhorini, 2008; Meji et al., 2008). É observado em animais
adultos a idosos (Casagrande et al., 2009; Fugate e Lane, 2009; Bodley et al., 2000) e
sem predisposição por sexo, podendo apresentar metástase em 75% dos casos
(Yamamoto et al., 2013). Relata-se que acomete primariamente a região paralombar,
linfonodo poplíteo (Bodley et al., 2000), cervical, ventral da asa e peitoral (Shinhorini,
2008) em aves, tórax (Casagrande et al., 2009) e fígado (Meji et al., 2008) em macacos
e coração (Yamamoto et al., 2013) e aorta (Guinan et al., 2012) em cães.
Macroscopicamente apresenta crescimento invasivo (Yamamoto et al., 2013) ou
expansivo (Fugate e Lane, 2009), múltiplas cavitações (Casagrande et al., 2009; Meji et
al., 2008), consistência macia, geralmente arredondado (Yamamoto et al., 2013; Meji et
al., 2008), podendo ou não estar associado a quadros hemorrágicos (Godoy et al.,
2009). Em aves, apresenta de 1 a 15 cm, nódulo único ou múltiplo (Godoy et al., 2009),
com crescimento rápido e representa 2,94% (Shinhorini, 2008) a 14,29% (Godoy et al.,
2009) do total de neoplasias relatadas. O objetivo deste trabalho é relatar os aspectos
anatomo-patológicos de hemangiossarcoma em um Sabiá-laranjeira (Turdus
rufiventris).
MATERIAIS E MÉTODOS
O histórico e os sinais clínicos apresentados pelo animal foram obtidos junto ao
veterinário responsável pelo atendimento clínico. Durante a necropsia, fragmentos de
diversos órgãos foram coletados, fixados em formalina a 10%, processados
rotineiramente para exame histológico e corados pela hematoxilina e eosina (HE)
(Behmer et al., 1976).
449
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 162, 2013

RESULTADO e DISCUSSÃO
Um Sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), fêmea, adulto, de vida livre, foi encontrado
debilitado e levado ao Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá, onde foi atendido. Ao exame físico, apresentava leve dificuldade respiratória e
três nódulos, situados na região metatársica esquerda, pescoço e região periorbital
esquerda. Após tentativa de remoção cirúrgica e morte a ave foi submetida a
necropsia. Os três nódulos apresentavam características semelhantes com superfície
irregular, conteúdo líquido sanguinolento, vermelho enegrecido, aderido ao subcutâneo
e o tamanho variou em 3,5 cm de diâmetro no metatarso, 1,5 cm no pescoço e 1,0 cm
na região periorbital. O nódulo cervical causava moderada compressão da traqueia
adjacente. Microscopicamente, os nódulos apresentavam a mesma composição e
padrão celular, caracterizados por proliferação acentuada de células endoteliais,
moderadamente pleomórficas formando fendas vasculares repletas por hemácias e por
vezes com formação de trombos, além de áreas menores apresentando um padrão
sólido. Mitoses foram observadas frequentemente, além de múltiplas áreas de
hemorragia, necrose e infiltração acentuada de heterófilos e macrófagos contendo
hemossiderina. Externamente às áreas neoplásicas, observa-se proliferação de tecido
conjuntivo fibroso com tendência a formar uma pseudocápsula.
Os achados macroscópicos e histopatológicos observados caracterizam a neoplasia
como hemangiossarcoma (Casagrande et al., 2009; Fugate e Lane, 2009; Godoy et al.,
2009; Sinhorini, 2008; Meji et al., 2008; Bodley et al., 2000). Apesar de
hemangiossarcomas serem neoplasias relatadas com relativa frequência em aves
(Godoy et al., 2009), este é o primeiro relato em Sabia-Laranjeira. Metástases são
achados frequentes em hemangiossarcoma (Guian et al., 2012; Godoy et al., 2009;
Bodley et al., 2000), por se tratar de um tumor de células endoteliais (Fugate e Lane,
2009; Sinhorini, 2008). Neste caso, três focos neoplásicos estavam presentes, porém
como a ave era de vida livre, a progressão e o foco inicial não puderam ser
determinados. Intenso extravasamento de sangue decorrente do rompimento de vasos
neoplásicos (Meji et al., 2008) além de compressão de órgãos e/ou estruturas (Fugate
e Lane, 2009) devido ao tipo de crescimento, podem ocorrer e contribuir para o
agravamento do quadro clínico. Compressão moderada da traqueia estava presente
nessa ave e foi responsabilizada pela dificuldade respiratória observada.
CONCLUSÃO
De acordo com as alterações clínicas, macroscópicas e histopatológicas observadas
neste caso, conclui-se que este trata-se de um caso de hemangiossarcoma com
características metastáticas e compressivas acometendo um Sabiá-laranjeira de vida
livre.
REFERÊNCIAS
BODLEY, K.B.; BOOTH, R.J.; SAMUEL, J. et al. Dissemiated haemandiosarcoma in na Easten barred
bandicoot (Perameles gunnii). Australian Veterinary Journal. v. 78, n. 9, p. 605-607. 2000.
CASAGRANDE, R.A.; TORRES, L.N.; GOMES, M.S et al. Hemangiossarcoma primário intrauterino em
um macaco aranha de cara vermelha (Ateles paniscus). Acta Scientiae Vet. v.37, n.1, p.59-63. 2009.
GODOY, S.N.; ALVES, V.A.F.; KANAMURA, C.T. et al. Principais processos neoplásicos encontrados
em psitacídeos mantidos em cativeiro. Pesquisa veterinária Brasileira. v.6, n.29, p.445-451, 2009.
GUINAN, J.; FISCHETTI, A.; GARATE, A.P. et al. Primary peri-aortic hemangiosarcoma in a dog. Canine
Veterinary Journal. v. 53, p. 1214-1218. 2012.
MEJI, A.F.; GIERBOLINI, L.; JACOB, B. et al. Pedriatric hepatic hemangiosarcoma in a rhesus macaque
(Macaca mulata). Journal Medicine Primatology. v. 38, p. 121-124. 2008.
NEWELL-FUGATE, A.; LANE, E. Periaortic haemangiosarcoma in na African wild doa (Lycaon pictus).
South African Veterinary. v. 80, n. 2, p. 108-110. 2009.
SINHORINI, J.A. Neoplasias em aves domesticas e silvestres mantidas em domicílio: avaliação
anatomopatológica e imunoistoquímica. 2008, São Paulo, 131f. Dissertação (Mestrado em Ciências) –
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo.
YAMAMOTO, S.; HOSHI, K.; HIRAKAWA, A. et al. Epidemiological, Clinical and Pathological Features of
Primary Cardiac Hemangiosarcoma in Dogs: A Review of 51 Cases. The Jr of Vet Medical Science. 2013

450
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 163, 2013

163. HIPERESPLENISMO IDIOPÁTICO EM FERRET


(Idiopathic hypersplenism in ferret)

1 -Kátia de Oliveira Pimenta Guimarães. Universidade de Santo Amaro (UNISA) – Residente em


Patologia Animal; 2- Rayssa de Moura Barbosa (UNISA) – Aluno de Graduação; 3- Caio Rodrigues dos
Santos (UNISA) – Prof Dr em Patologia Animal; 4 - Mauricio Oliveira da Silva (UNISA) - Aluno de
Graduação; 5 - Guilherme Durante Cruz (UNISA) – Professor de Patologia Animal – Orientador

RESUMO: Sabe-se que casos de esplenomegalia em ferrets são comuns, porém


poucos casos de hiperesplenismo idiopático em ferrets são diagnosticados e relatados.
Nesse caso, um animal da espécie Mustela putorius furo foi encaminhado para exame
necroscópico, revelando esplenomegalia, com presença de sequestro de células
sanguíneas e exacerbada destruição, caracterizando o caso como hiperesplenismo
idiopático. Também observou-se a presença de um trauma dorsal, que atuou como
fator agravante no quadro clínico do animal.
Palavras-chave: baço; mustela; esplenomegalia, idiopatico
ABSTRACT: It is known that cases of splenomegaly in ferrets are common, but few
cases of idiopathic hypersplenism in ferrets are diagnosed and reported. In this case, an
animal of the species Mustela putorius furo was sent for autopsy, revealing that it
suffered from splenomegaly, with sequestration of blood cells and exacerbated
destruction of characterizing the case as idiopathic hypersplenism. The presence of a
dorsal trauma was also noted, which served as an aggravating factor in the clinical
picture of the animal.
Key words
mustela; spleen; splenomegaly, idiopatic
INTRODUÇÃO
Entre as causas de esplenomegalia em ferrets, a mais rara é o hiperesplenismo
idiopático ou primário. Trata-se de uma doença que tem origem no próprio baço, e
devido à alterações não elucidadas, ocasiona a hiperatividade esplênica. Há um
acúmulo de eritrócitos, plaquetas e leucócitos no baço, e exacerbada degradação
dessas células.
MATERIAL E MÉTODOS
No dia 19/06/2012 um ferret, fêmea de 1 ano, foi submetido ao exame necroscópico
após o histórico de morte súbita no interior de um veículo durante um passeio. O
animal estava dentro da caixa de transportes e o proprietário relata que em um
determinado momento houve um brusca freada onde a caixa de transportes teria se
chocado com estruturas do interior do carro, mas nada muito grave, onde ninguém se
feriu. O passeio continuou mas após alguns minutos constatou-se que o animal teria
vindo a óbito.
RESULTADOS
Externamente o animal encontrava-se ligeiramente hipotrófico, com tricotomia em
região cervical ventral e certo hematoma local. Ao rebater pele e tecido subcutâneo,
notou-se severa lesão contusa, não perfurante, de aproximadamente 7cm de diâmetro
em região toraco-lombar dorsal estendendo-se em tecido subcutâneo e musculatura
epiaxial e intercostal. Ausência de fratura de costelas. Em cavidades verifica-se
integridade de diafragma e peritônio. Notou-se severa esplenomegalia, difusa, com
polpa vermelha projetando-se intensamente. O baço não estava rompido. Fígado
pálido/amarelado com padrão centrolobular e ―noz moscada‖. Estomago com conteúdo
alimentar moderado, digerido, sem corpos estranhos ou parasitas. Rins bilateralmente
congestos. Em cavidade torácica verifica-se pulmão com grandes áreas congestas e
hemorrágicas, além de discreto edema intratraqueal.
No exame necroscópico concluiu-se trauma contuso dorsal somado a esplenomegalia
idiopática, com óbito por choque hipovolêmico.

451
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 163, 2013

DISCUSSÃO
Durante exames físicos em ferrets é comum encontrar casos de esplenomegalia,
todavia, é raro diagnosticar um ferret com hiperesplenismo idiopático. A presença de
citopenia combinada com a atividade normal da medula óssea, na ausência de
infecções, neoplasias, ou outra causa de citopenia, é sugestiva de hiperesplenismo.
O termo ―hiperesplenismo‖ foi aplicado a esse fenômeno, levando em consideração
uma doença que ocorre em seres humanos e tem determinadas similaridades. Os
sinais clínicos relacionados com a doença são: distensão abdominal, fraqueza,
mucosas pálidas, taquicardia, petéquias, anorexia, prostração, e possíveis infecções
secundárias.
Nos casos de hiperesplenismo idiopático em ferrets o órgão encontra-se aumentado,
com bordas arredondadas, e quando palpado, apresenta superfície lisa e consistência
esponjosa. Os indivíduos acometidos pela doença podem apresentar anemia,
trombocitopenia e leucopenia, sendo que, outro critério para diagnosticá-la é através da
punção da medula óssea, que deve estar normal ou hipercelular para caracterizar o
hiperesplenismo.
Observam-se grandes áreas de necrose coagulativa, geralmente circundadas por uma
combinação de neutrófilos ativos e degenerados, também há grandes quantidades de
tecido de granulação em baços altamente ampliados. São comumente observados
muitos sinais de trauma esplênico, já que baços aumentados são inclinados a sofrer
ruptura, dentre esses sinais encontram-se: hematomas, placas sideróticas, e grandes
áreas de fibrose do parênquima. A maior parte dos casos de esplenomegalia em ferrets
é causada pela hematopoiese extramedular, que é marcada pelo acúmulo de células
sanguíneas em desenvolvimento dentro do baço. As outras causas de esplenomegalia
são: linfossarcoma, insulinoma, cardiomiopatia, neoplasia da adrenal, doença de
Aleutian, gastroenterite eosinofílica, neoplasia sistemica de mastócitos,
hemangiossarcoma e esplenite.
CONCLUSÃO
Nesse caso o trauma dorsal foi fundamental para aumentar ainda mais as condições
hipovolêmicas e neurogênicas. Esses dois fatores juntos culminam em um quadro de
choque (hipovolêmico), vasodilatação central (congestão e hemorragia pulmonar como
consequências) e déficit geral circulatório.
REFERÊNCIAS
FERGUSON, DC. "Idiopathic hypersplenism in a ferret," JAVMA, vol.186, n7, 1985. p.693-695.
HILLYER, EV. : "Working up the ferret with a large spleen". In: Proceedings of the North American
Veterinary Conference, Orlando, 1994. p.819-821.
OGLESBEE, BL. "Blackwell's Five-Minute Veterinary Consult: Small Mammal," 2ed, Chichester, West
Sussex : Wiley-Blackwell, 2011. p.125 e 207-208.
QUESENBERRY, KE.; CARPENTER, JW. ―Ferrets, Rabbits, and Rodents: Clinical Medicine and
Surgery,‖ 3rd ed. St. Louis: Elsevier Saunders; 2012.
SCHOEMAKER, NJ. "Managing the ferret with the enormous spleen". In: NAVC Conference 2008.
Disponível em: http://www.cabi.org Acesso em: 25/06/13.

452
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 164, 2013

164. INSUFICIÊNCIARENAL CRÔNICA EM PORQUINHO-DA-ÍNDIA


(Cavia porcellus)
(Chronic kidney failure in a guinea pig (Cavia porcellus))

Gisele Silva Boos¹, Luiz Gustavo Schneider de Oliveira¹, Gabriela Fredo¹, Miuriel
Goulart², Gabriel Laizola Frainer Correa¹, Luciana Sonne¹

1 Setor de Patologia Veterinária –Universidade Federal do Rio Grande do Sul. lusonne@gmail.com


2 Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres –UFRGS

RESUMO: Realizou-se a necropsia de um porquinho-da-Índia, fêmea, de 3 anos e 8


meses. Fragmentos de órgãos foram coletados e processados por técnicas histológicas
de rotina e os rins foram submetidos à coloração de Tricrômio de Masson(TM).Na
necropsia os rinsapresentavam-sepálidos, de superfície irregular e com cistos.
Observou-se calcificação multifocal daaorta, serosa do intestino delgadoeestômago.
Microscopicamente, os rins apresentavamintensa dilatação tubular, mineralização e
infiltrado inflamatóriomultifocais comproliferação difusa de tecido conjuntivo,
evidenciada pela coloração de TM. Adicionalmente havia mineralização cardíaca e
pulmonar. O diagnóstico foi baseado nos achados patológicose as lesões sistêmicas
associadas à extensa lesão renal. O objetivo deste trabalho é relatar os achados
patológicos em um casode insuficiência renal crônica em uma cobaia.
Palavras-chave: Cavia porcellus; calcificação; rins; uremia
ABSTRACT: We conducted a necropsy of a female guinea pig, 3 yearsand 8
monthsold. Organ fragments were collected and processed by routine histological
techniques and kidneys slides were stained with Masson's Trichrome (MT). At necropsy
the kidneys showed up pale, irregular surface and cysts. It was observed multifocal
calcification of the aorta, intestineand stomach. Microscopically, the kidneys showed
severe tubular dilatation, multifocal mineralization and inflammatory infiltrate with diffuse
proliferation of connective tissue, as evidenced by TM staining. Additionally,there was
heart and lungmineralization. The diagnosis was based on pathological findings and
systemic lesions associated with extensive renal injury. The aimof this workis to report
the pathologic findings in a case of chronic renal failure in a guinea pig.
Key words: Cavia porcellus; calcification; renal; uremia
INTRODUÇÃO
Doenças renais são frequentesem mamíferos exóticos e compreendem
processosdegenerativos, infecciosos, metabólicos, nutricionais, neoplásicos,
anatômicos e tóxicos(Fisher, 2006). Cobaias, sobretudoidosas, são acometidas com
maior frequência pornefroesclerose e amiloidose(Harkness,Wagner, 1993).
A doença renal crônica é geralmente uma condição subclínica,detectada apenas na
necropsia,comumente encontrada em animais com mais de 3 anos de idade (Pessoa,
2006). Nos casos graves, os animais apresentamproteinúria acentuada,perdem peso,
tornam-se inativos e morrem em decorrência da uremia(Harkness,Wagner, 1993;
Newman, Confer,Panciera,2007).
O objetivo deste trabalho é descreveros achados patológicosconstatadas em um
porquinho-da-índiacom histórico de insuficiência renal noSetor de Patologia Veterinária
da Universidade do Rio Grande do Sul (SPV-UFRGS).
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada no SPV-UFRGS,a necropsiade um um porquinho-da-Ïndia pelocurto
inglês(Cavia porcellus), fêmea, de 3 anos e 8 meses de idade,.remetido após óbito
peloNúcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres da UFRGS
(PRESERVAS-UFRGS).Fragmentos dos órgãos foram coletados, fixados em formol
10% e processados em técnicas histológicasde rotina e cortados com 3μm de
espessura. As lâminas obtidas foram coradas porhematoxilina-eosina e os cortes de
rimforam corados adicionalmente porTricrômio de Masson(TM).
453
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 164, 2013

RESULTADOS
O animal apresentava no exame clínicoparalisia progressiva dos membros e respiração
ofeganteem um curso de aproximadamente cinco dias.Foi relatado ainda, que o animal
apresentava-se ofegante e que não era realizada suplementação vitamínicaou
mineral.Após tratamento comanti-inflamatórios, antimicrobianos, analgésicose
hidratação, apresentou melhora, porém veio a óbitopouco após. À necropsia,oestado
corporal era regular. Os rinsestavam pálidos, de superfície irregular, firmese com
inúmeros pequenos cistos. Havia na aorta, na serosa do intestino delgado, e do
estômago placas e pontos brancacentos de consistência firme. O fígado apresentava
evidenciação do padrão lobularepontosesbranquiçados multifocais. Os pulmões
apresentavam-se vermelhos e fluindo espuma ao corte.
Microscopicamente osrinsapresentavam dilatação tubularintensa, mineralização
multifocal,infiltrado linfo-histiocitário intersticial multifocal, e proliferação difusa
moderada de tecido conjuntivofibroso,evidenciada pela coloração de TM. Observou-se
também mineralização acentuada na túnica média da aorta, ena camada muscular dos
intestinose moderada nacamadamuscular enosvasos sanguíneos da serosado
estômago, do coração edosseptos alveolares e paredesde brônquios e bronquíolos. Os
pulmõesapresentaramtambém edemae congestão difusos moderados,discreta
deposição de fibrina, macrófagos alveolares e trombose.No fígado observou-se
degeneração gordurosa, além de infiltradodiscretode células mononucleares. No
cérebrohaviavacuolização da substância branca e no baçohemosiderose moderada.
DISCUSSÃO
A etiologia das doenças renais crônicas em roedores não é completamente
determinada, porém sugere-se a ação de fitotoxinas (Holowaychuk, 2006),
dietahiperproteica, desequilíbrio de minerais, infecções virais, reações contra a
microbiota intestinal normal e enfermidades auto-imunes (HarknesseWagner, 1993).
A doença renal caracteriza-se por nefrose bilateral (HarknesseWagner, 1993; Pessoa,
2006), na qual, os cistos aparecem como resultado da obstrução tubular pela fibrose
intersticial (Newmanet al.2007). O aumento sérico de excretas nitrogenadas ocorre
devido à falha renal e dá origem ao quadro clínico de uremia (Newmanet. al.2007).
A uremia é reconhecível à necropsiapor lesões multissistêmicas (Newman et al.2007).
Trombose e infartos resultam da degeneração endotelial disseminada, que se combina
à excreção elevadade amônia na saliva e no suco gástrico na gênese das lesões de
mucosa (Newmanet. al. 2007). Com o rim lesado, a filtração glomerular é inadequada e
assim, o fósforo se acumula no sangue e se liga ao cálcio ionizado na circulação,
reduzindo sua disponibilidade. A redução do cálcio livre desencadeia um quadro de
hiperparatireoidismo e,consequentemente, de mineralização metastática e
osteodistrofia fibrosa. O hiperparatireoidismo perpetua e aumenta a doença renal
através do aumento de cálcio intracelular no epitélio renal (Newman et al. 2007).
A mineralização metastática pode se manifestarcomorigidez muscularquando ocorrea
deposição mineral nos tecidos moles dos membros (PercyeBartold, 2007). A
mineralização é vista em animais com mais de 1 ano de idade e pode acometeros rins,
coração, vasos sanguíneos, estômago e cólon (O‘Rourke, 1997; PercyeBartold,
2007).A calcificação de tecidos moles associada com a uremia, como demonstrada
nesse caso, ocorre em diversos locais e representa tanto a calcificação distrófica como
metastática (Newman et al. 2007).
Calcificação metastática em porquinhos-da-Índia tem sido associada com usoderação
comercial paracoelhos,outros fatores dietéticose nutricionais(PercyeBartold, 2007),
desidratação, suplementação exagerada de vitamina D (Fisher, 2006)ou pela ingestão
de plantas com altos teores de oxalatos (Holowaychuk, 2006).Nesse caso a
calcificação deve ter ocorrido em consequência à lesão renal crônica, uma vez que não
havia histórico de suplementação vitamínica ou mineral.A morte dos animais ocorre

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 164, 2013

geralmente, em consequência da cardiotoxicidade por elevados níveisdo potássio no


soro, da acidose metabólicae do edema pulmonar (Newman et al. 2007).
CONCLUSÕES
O diagnóstico dadoença renal crônica em um porquinho-da-Índiafoibaseadonos
resultados obtidos na necropsia, histopatologia e coloração especial de Tricrômio de
Masson.Relacionou-se o declínio da saúde do animal à extensa lesão
renal,aocorrência de lesões multissistêmicas e aprogressão desta condição até a
morte.
REFERÊNCIAS
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North America: Exotic Animal Practice, v.9, n.1, p.33-67, 2006.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 165, 2013

165. INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM TAMANDUÁ-MIRIM (TAMANDUA


TETRADACTYLA)
(Renal chronic failure in lesser anteater (Tamandua tetradactyla))

Jade R. D. Farias¹, Luciana F. Costa², Herlandes P. Tinoco³, Ângela T.


Pessanha³, Tatiane A. Paixão², Renato L. Santos³

1. Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.


2. Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.
3. Depto de Jardim Zoológico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, MG. rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: A insuficiência renal crônica é uma afecção frequente nos animais


domésticos, entretanto esta enfermidade tem sido pouco estudada em animais
selvagens. Este relato descreve um caso de insuficiência renal crônica em um
tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla). Nefropatia crônica foi diagnosticada
inicialmente por ultrassonografia. Macroscopicamente, observou-se edema pulmonar,
congestão hepática, nefropatia crônica. Histologicamente, observou-se glomerulonefrite
membranosa intensa com nefroesclerose moderada, gastropatia urêmica grave,
pneumopatia urêmica moderada e lipidose hepática moderada. Os achados anatomo-
histopatológicos são compatíveis com quadro de insuficiência renal crônica.
Palavras-chave: glomerulonefrite; uremia; Xenarthra
ABSTRACT: Chronic renal failure is a common disease in domestic animals. However,
reports of this condition in wild animals are scarce. This report describes a case of renal
chronic failure in lesser anteater (Tamandua tetradactyla). A chronic nephropathy had
been previously diagnosed by ultrasound. Grossly, pulmonary edema, hepatic
congestion, chronic nephropathy were observed. Microscopically, there were severe
membranous glomerulonephritis with marked nephroesclerosis, severe uremic
gastropathy, moderate uremic pneumopathy, and moderate hepatic lipidosis. The gross
and microscopic changes in this case are compatible with chronic failure renal.
Key words: glomerulonephritis; uremia; xenarthra
INTRODUÇÃO
Os tamanduás são mamíferos da família Myrmecophagidae pertencentes à
superordem Xenarthra. Tamanduás-mirins estão presentes ao leste dos Andes e do sul
da Venezuela ao norte da Argentina e Uruguai (Miranda e Costa, 2007).
A insuficiência renal crônica é uma afecção resultante de danos ao tecido renal com
perda irreversível da função do órgão usualmente acompanhada por lesões
extrarrenais multissistêmicas (Serakides, 2011). Trata-se de uma afecção freqüente em
animais domésticos, principalmente cães e gatos.
Em um estudo retrospectivo com 103 tamanduás em cativeiro em São Paulo, Brasil, 88
tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e 15 tamanduás-mirin (T. tetradactyla),
os principais problemas clínicos encontrados foram doenças digestivas e desordens
nutricionais, sendo distúrbios urinários diagnosticados em apenas dois animais (Diniz et
al., 1995). Há um relato de doença renal crônica em tatu-galinha (Dasypus
novemcinctus), também membro da superordem Xenarthras (Stuart et. al., 1977).
Considerando a literatura disponível, não foram identificados casos de
insuficiência renal crônica em tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla).
MATERIAL E MÉTODOS
Amostras do fígado, rins, estômago, pulmões, coração, baço, bexiga, intestino delgado
e testículo foram coletados durante a necrópsia. Os fragmentos dos órgãos foram
fixados em formalina tamponada a 10%, processados para inclusão em parafina,
seccionados a 5μm e corados pela Hematoxilina e Eosina (HE).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um tamanduá-mirim, macho, de aproximadamente 7 kg, mantido na Fundação Zoo-
Botânica de Belo Horizonte, Minas Gerais, desde 3 meses de idade. Aos 9 anos, foi
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 165, 2013

submetido a exame ultrassonográfico no qual se detectou rins com topografia habitual,


dimensões simétricas, margens levemente irregulares, relação córtico-medular
ausente, ecogenicidade aumentada e evidenciação de pelve, sugerindo nefropatia
crônica. Aos 10 anos, foi submetido a biópsia de uma lesão no membro pélvico direito,
recorrente desde os 6 anos, inflamada, profunda, com material necrótico, descamação
e espessamento generalizado e simétrico da pele, e crescimento excessivo das unhas
(Hiperqueratose ortoqueratótica irregular difusa intensa com comedos e intensa
colagenólise). O óbito ocorreu aos 11 anos.
Á necropsia observou-se edema pulmonar intenso e congestão hepática moderada. Os
rins apresentavam superfície irregular, consistência firme, múltiplos cistos pequenos no
parênquima e pouca distinção do limite córtico-medular. Microscopicamente foi
observada fibrose intersticial difusa e intensa nos rins, com espessamento da
membrana basal dos glomérulos e túbulos, dilatação tubular, atrofia e esclerose
glomerular multifocal intensa, moderada mineralização multifocal caracterizando
glomerulopatia membranosa e nefroesclerose intensa. Mineralizações multifocais foram
observadas acentuadas na mucosa e em vasos da submucosa gástrica e, em menor
intensidade, nos pulmões, principalmente em paredes vasculares e pleura visceral,
associada a edema multifocal moderado. Estes achados são compatíveis com
gastropatia urêmica e pneumopatia urêmica, respectivamente. No miocárdio havia
mineralização focal moderada. No fígado, vacúolos citoplasmáticos nos hepatócitos,
com localização predominantemtne centrolobular. Baço, bexiga, testículo e intestino
delgado não apresentaram alterações histológicas. Estas alterações macroscópicas e
histopatológicas são compatíveis com o quadro de insuficiência renal crônica.
Em animais domésticos, as alterações macroscópicas mais comumente encontradas
em casos de insuficiência renal crônica incluem glossite ulcerativa; gastrite ulcerativa e
hemorrágica, pneumopatia urêmica, mineralizações de tecidos moles, como mucosas
gástrica e intestinal, e de pleura parietal nos espaços intercostais, frequente em
pequenos animais; e colite ulcerativa e hemorrágica, esta última mais comuns em
grandes animais Endocardite atrial ulcerativa e osteodistrofia fibrosa também podem
ser observadas (Serakides, 2011). Microscopicamente, o rim pode apresentar
inflamação e fibrose intersticial, nefrocalcinose associada à glomeruloesclerose e
alterações tubulares como hiperplasia e hipertrofia. A mineralização pode atingir a
membrana basal glomerular, tubular e a junção cortico-medular. (Maxie e Newman,
2007).
Neste relato, o tamanduá-mirim apresentou uma nefropatia crônica, que evoluiu em
cerca de dois anos levando a insuficiência renal crônica. A uremia acompanha esse
quadro, podendo ser de origem pré-renal, renal ou pós-renal. Assim, possivelmente a
origem neste caso é renal, devido à glomeruloesclerose, na qual há redução na taxa de
filtração glomerular e substâncias que deveriam ser excretadas por ele, como ureia,
creatinina e fósforo não são eliminadas do organismo permanecendo circulante no
sangue (Rufato et. al., 2011). Essas toxinas urêmicas estão relacionadas com lesões
nos sistemas digestório, respiratório, cardiovascular, endócrino e esquelético (Dantas e
Kommers 1997). Esse quadro pode resultar em hiperfosfatemia, com consequente
hipocalcemia. Assim, como mecanismo compensatório, o organismo aumenta a
secreção de paratormônio e a reabsorção óssea, caracterizando hiperparatireoidismo
secundário renal. Desse modo, mineralização distrófica de tecidos moles pode ocorrer
como observado neste relato.
CONCLUSÃO
Os achados anátomo e histopatológicos deste caso são compatíveis com insuficiência
renal crônica como causa mortis de um tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) de 11
anos de idade mantido em cativeiro.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 165, 2013

Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico de
Minas Gerais (FAPEMIG). Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
REFERÊNCIAS
MIRANDA, F.; COSTA, A.M. Xenartha (Tamanduá, Tatu, Preguiça), In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J.C.R.;
CATÃO-DIAS, J.L. Tratado de animais selvagens. 1.ed. São Paulo : Roca, 2007. Cap.26, p. 405.
DANTAS, A.F.; KOMMERS, G.D. Lesões extra-renais de uremia em 72 cães. Ciência Rural, v.27, n.2,
p.301-306, 1997.
DINIZ, L.S.; COSTA, E.O.; OLIVEIRA, P.M. Clinical disorders observed in anteaters (Myrmecophagidae,
Edentata) in captivity. Veterinary Research Communications, v.19, n.5, p.409-415, 1995.
SERAKIDES, R. Sistema Urinário. In: SANTOS, R.L.; ALESSI, A.C. Patologia Veterinária. In: 2.ed. São
Paulo: Roca, 2011, Cap.5, p.391-336.
MAXIE M.G., NEWMAN, S.J. Urinary system. In: MAXIE M.G. Jubb; Kennedy & Palmer‘s. pathology of
domestic animals. In: MAXIE M.G. & NEWMAN S.J. Urinary system. 5.ed. Philadelphia: Elsevier, 2007.
Cap.4, p. 425-522.
STUART, B.P.; CROWELL, W.A.; CARLISLE, J.C. Spontaneous renal disease in Louisiana Armadillos
(Dasypus novemcinctus). Journal of Wildlife Diseases, v.13, , p.240-244, 1977.
RUFATO, F.H.F.; REZENDE-LAGO, N.C.M.; MARCHI, P.G.F. Insuficiência renal em cães e gatos.
Revista eletrônica da Univar, n.6, p.167-173, 2011.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 166, 2013

166. INTOXICAÇÃO CRIMINAL POR CARBAMATO EM AVES DA FAUNA


SILVESTRE
(Criminal poisoning for carbamate in birds of wild life)

Calais Júnior, A.¹; Morais, G.C.²; Nunes,L.C.³

1 Mestrando em Ciências Vet – UFES – Centro de Ciências (vetcalais@gmail.com)


2 Médico Veterinário autônomo, Espera Feliz-MG,
3 Docente da área de Patologia Animal da Universidade Federal do Espírito Santo

RESUMO: Objetivou se relatar um caso de intoxicação criminosa em trinta e uma aves


passeriformes provenientes do município de São Roque do Canaã no Estado do
Espírito Santo encontradas mortas em uma escola local. Devidamente acondicionadas,
foram encaminhadas ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Espírito Santo
para exame necroscópico. Os animais foram necropsiados e amostras de tecido foram
fixadas em formol a 10% para posterior avaliação histopatológica. Amostras de
conteúdo gástrico, fígado e rins foram coletadas e encaminhadas para análise químico-
toxicológica no Centro de Assistência Toxicológica da Universidade Estadual Paulista.
À necropsia os animais revelaram congestão acentuada de todos os órgãos que foi
confirmada pela avaliação histopatológica. O exame toxicológico revelou carbamato.
Dados epidemiológicos referentes a casos de intoxicação criminal em animais
silvestres são essenciais na busca de soluções para a promoção de alternativas
sustentáveis para minimizar desequilíbrios ambientais.
Palavras-chave: necropsia; passeriforme; selvagem; veneno
ABSTRACT: The objective of this study was to report a case of criminal poisoning in
thirty-one birds passerines from the municipality of São Roque do Canaan in the state
of Espírito Santo. The birds were found dead in the courtyard of a local school. Properly
packed, were sent to the Hospital Veterinário of the Universidade Federal do Espírito
Santo for necropsy. The animals were necropsied and tissue samples were fixed in
10% formalin for subsequent histopathological evaluation. Samples of gastric contents,
liver and kidneys were collected and sent for analysis in chemical-toxicological in the
Centro de Assistência Toxicológica of the Universidade Estadual Paulista. At necropsy,
the animals showed marked congestion of all organs was confirmed by
histopathological evaluation. The toxicological examination revealed carbamate.
Epidemiological data related to cases of criminal intoxication in wild animals are
essential in finding solutions to promote sustainable alternatives to minimize
environmental imbalances.
Key words: necropsy; passerine; poison; wild bird
INTRODUÇÃO
O uso de veneno consiste em um método não seletivo que é utilizado para eliminação
de espécies não desejadas em um ambiente. Entre as espécies envenenadas se
encontram espécies protegidas ou em risco de extinção que podem sofrer graves
declives populacionais por esta causa (Martínez-Haro, 2006). As aves são os animais
selvagens mais sensíveis aos efeitos tóxicos agudos dos orgafosforados e carbamatos
e, por isso, os mais atingidos. Essa sensibilidade das aves é grande e independe da
ordem ou família, fatores ligados tanto à capacidade de biotransformação quanto ao
mecanismo de ação tóxico dos anticolinesterásicos explicam essa sensibilidade
elevada das aves (Cubas, 2006). A ausência de registros dos casos de
envenenamento, assim como de uma atividade de vigilância toxicológica coordenada,
tem conduzido a um desconhecimento das intoxicações não intencionadas na fauna
silvestre (Martínez-Haro, 2006) e, por isso, objetivou-se relatar um caso de intoxicação
em aves da fauna silvestre em uma escola na região de São Roque do Canaã no
estado do Espírito Santo.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 166, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Foram encaminhadas ao Hospital Veterinário do Centro Ciências Agrárias da
Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES) 31 aves de vida livre dentre as
quais, um Sabiá do Campo (Mimus saturninus), um Galo da Campina (Paroaria
dominicana), três Joões de barro (Furnarius rufus) e vinte e seis Pardais (Passer
domesticus) encontradas mortas em uma escola do município de São Roque do
Canaã, Espírito Santo. Os animais foram necropsiados e amostras de tecido foram
fixadas em formol a 10% para posterior avaliação histopatológica. Amostras de
conteúdo gástrico, fígado e rins foram encaminhadas para análise químico-toxicológica
no Centro de Assistência Toxicológica (CEATOX) do Instituto de Biociências da
Universidade Estadual Paulista.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
À necropsia os animais revelaram congestão acentuada de todos os órgãos que foi
confirmada pela avaliação histopatológica. O exame toxicológico revelou carbamato.
Atribuindo a maior incidência no uso de carbamatos, aos costumes das regiões
analisadas, em utilizar tais praguicidas na agricultura, Martínez-Haro et al. (2008)
observaram que as intoxicações mais frequentes no caso das aves são por carbamatos
como aldicarb (27.6%), carbofurano (27.6%) e metomilo (8.6%) respectivamente.
Rodríguez et al. (2006) em um estudo realizado com 109 animais reforçaram a
prevalência das intoxicações por praguicidas da família dos carbamatos detectando 52
(83.8%) casos. Sánchez-Barbudo et. al. (2008) em estudo realizado com 184 animais
no período de 2006 a 2007, detectaram que 32,1 % das espécies analisadas morreram
intoxicados. Desses, 51,1% foram intoxicados por organofosforados seguidos de 21,3%
intoxicados por carbamatos, contrastando com a alta freqüência de intoxicações por
carbamatos em outros realizados na Espanha. Fato que foi relacionado à exclusão do
produto da lista de praguicidas autorizados na união União Européia (91/414/CEE)
(Martínez-Haro et al., 2008).
Os envenenamentos da fauna silvestre conduzem a graves desequilíbrios ecológicos,
assumindo um risco de saúde pública (Jerez, 2007) devido ao risco potencial da
contaminação do solo e meios aquosos assim como a contaminação da cadeia
alimentar, bem como o risco direto para seres humanos, em especial, as crianças que
vivem nesses ambientes (Motas et al., 2003). No Brasil os carbamatos tem seu uso
restrito, aprovado somente como inseticida, não sendo permitido seu uso como raticida,
por apresentar alta toxicidade e necessitar de cuidados especiais para sua
manipulação (Larine, 1996). Entretanto, o comércio ilegal facilita a obtenção do produto
que além do uso ilegal como raticida, por vezes, é também utilizado em atividades
criminosas como a descrita no presente relato.
CONCLUSÃO
O conhecimento e análise dos dados epidemiológicos referentes a casos de
intoxicação criminal em animais da fauna silvestre são essenciais na busca de
soluções eficazes para a promoção de alternativas sustentáveis para a adequação da
legislação sobre a venda deste tipo de praguicida visando um maior controle sobre o
seu comércio e uso, a fim de evitar envenenamentos de animais selvagens tanto do
ponto de vista preventivo quanto corretivo, que geram desequilíbrios ambientais.

460
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 166, 2013

REFERÊNCIAS
CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; CATÃO-DIAS, J.L. ,Tratado de Animais Selvagens Medicina Veterinária.
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MARTÍNEZ-HARO, M.; MATEO, R.; CARDIEL, I. et al. Intoxicaciones por plaguicidas anticolinesterásicos
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Envenenamientos em Fauna Silvestre y Doméstica.; Asociación Española de Toxicología, Pamplona,
Espanha, Revista de Toxicología v.23, p.39-43, 2006.
MARTÍNEZ-HARO, M.; MATEO, R.; GUITART, R. et al. Relationship of the toxicity of pesticide
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RODRÍGUEZ F. S.; JIMÉNEZ, A. L. O.; LÓPEZ, M. P. Análisis de los envenenamientos em fauna
silvetsre. Situación em Extremadura Jornada Técnica Sobre Intoxicaciones y Envenenamientos em
Fauna Silvestre y Doméstica.; Asociación Española de Toxicología, Pamplona, Espanha, Revista de
Toxicologia, v.23, p.35-38, 2006.
SÁNCHEZ-BARBUDO, I. S.; CAMARERO; P. R.; MONSALVE, L. et al. Casos de envenenamiento de
fauna silvestre en Aragón (2006-2007): tóxicos detectados em el área de distribución del
quebrantahuesos (Gypaetus barbatus) Actas del Seminario Mortalidad por intoxicación en aves
necrófagas. Problemática y soluciones. Aínsa, Huesca, p.49-65, 2008.

461
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 167, 2013

167. LEIOMIOSSARCOMA INTESTINAL EM UMA TIGRESA (PANTHERA TIGRIS)


(Intestinal leiomyosarcoma in a tigress (Panthera tigris))

Andréia P. Turchetti¹, Teane M. A. Silva¹, Herlandes P. Tinoco², Marcelo C. C.


Malta², Semíramis A. Soave², Renato L. Santos¹

1Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.


2Depto de Jardim Zoológico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte. rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: Uma tigresa (Panthera tigris) da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte,


que apresentava sangue nas fezes, teve um pólipo intestinal diagnosticado por
colonoscopia. A exérese foi realizada, a amostra fixada em formol e processada para
inclusão em parafina. À histopatologia foi diagnosticado leiomiossarcoma intestinal,
confirmado por imuno-histoquímica. Este é o primeiro relato de um leiomiossarcoma
intestinal em um tigre.
Palavras-chave: animal selvagem; felídeo; tumor
ABSTRACT: A tigress (Panthera tigris) from the Zoo-Botanical Foundation of Belo
Horizonte presenting blood in stools was diagnosed with an intestinal polyp by
colonoscopy. The polyp was surgically removed. A tissue sample was fixed in formalin
and processed for paraffin embedding. Histopathologically, the mass was diagnosed as
an intestinal leiomyosarcoma and confirmed by immunohistochemistry. This is the first
report of an intestinal leiomyosarcoma in this species.
Key words: felid; tumor; wild animal
INTRODUÇÃO
Tumores de músculo liso, leiomiomas e leiomiossarcomas, são as principais neoplasias
do trato gastrointestinal de animais domésticos, ocorrendo mais frequentemente no
estômago e no intestino delgado. Clinicamente estão associados com vômito, diarréia,
hematoquesia, intussuscepção e peritonite em caso de perfuração intestinal. Em
carnívoros domésticos, o leiomiossarcoma não possui predisposição sexual, ocorre
geralmente em animais de meia idade e idosos e pode levar a metástases em até 50%
dos casos (Meuten, 2002).
O tigre (Panthera tigris) é o maior membro da família Felidae, e o terceiro maior
exemplar terrestre da ordem Carnivora. É uma espécie nativa da Ásia e, portanto,
exótica no Brasil. A literatura sobre patologias nesta espécie está principalmente
restrita a relatos de casos. Portanto, qualquer nova informação sobre esta espécie é de
extrema importância. Este trabalho objetiva relatar um caso de leiomiossarcoma
intestinal em uma tigresa.
MATERIAL E MÉTODOS
Seis meses após sua chegada na Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, uma
tigresa (Panthera tigris) adulta, sem histórico prévio, começou a apresentar sangue vivo
nas fezes. Como não houve melhora após dois meses de tratamento clínico, o animal
foi submetido a uma colonoscopia. Um pólipo não oclusivo foi observado à 14 cm do
esfíncter anal na mucosa do cólon. Após três meses, foi realizada a ressecção cirúrgica
com bisturi elétrico por colonoscopia. Para avaliação histopatológica, o pólipo foi fixado
em formol tamponado a 10% e processado pela técnica rotineira de inclusão em
parafina. Cortes de 4 μm foram corados por hematoxilina e eosina e pelo método da
streptoavidina-peroxidase para a imunohistoquímica. Anticorpos anti CD34, desmina,
actina de músculo liso e citoqueratina foram utilizados. DAB foi utilizado como
cromógeno.
RESULTADOS
Macroscopicamente, o pólipo tinha aproximadamente 2 cm de comprimento por 1,5 cm
de diâmetro, sólido, de consistência firme e superfície esbranquiçada ao corte.
Microscopicamente, havia extensa ulceração da mucosa intestinal, com proliferação
neoplásica mesenquimal, pobremente delimitada, não encapsulada e invasiva. A
462
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 167, 2013

neoplasia era composta de células fusiformes que se dispunham em feixes em


múltiplas direções, sustentados por tecido conjuntivo frouxo pobremente vascularizado.
As células neoplásicas tinham citoplasma eosinofílico, escasso, alongado, de limites
imprecisos e núcleo fusiforme, com extremidades rombas e cromatina frouxa, sendo a
morfologia compatível com leiomiócitos. Havia moderado pleomorfismo e raras figuras
de mitose. Havia moderado infiltrado inflamatório histiocítico multifocal com raras
células multinucleadas. Adjacente às áreas de ulceração da mucosa intestinal, havia
infiltrado inflamatório neutrofílico multifocal moderado a intenso associado a tecido de
granulação com intensa angioplasia, moderada fibroplasia e deposição de fibrina e
hemorragia multifocal discreta. A neoplasia ultrapassava os limites dos fragmentos
avaliados. O painel de imunohistoquímica confirmou a origem mesenquimal de
musculatura lisa, visto que as células neoplásicas foram positivas para actina de
músculo liso. Com base nos achados histopatológicos e imuno-histoquímicos foi feito o
diagnóstico de leiomiossarcoma intestinal.
DISCUSSÃO
Este é o primeiro relato de leiomiossarcoma intestinal em um tigre. Saunders (1984)
descreveu um caso de leiomiossarcoma metastático primário do membro
pélvico em um tigre de cativeiro, porém sem acometimento intestinal. No presente
caso, as características morfológicas são sugestivas de baixo grau de malignidade.
Contudo, como a exérese não foi completa, há possibilidade de recorrência
póscirúrgica. Dois meses após a cirurgia, o animal apresentava um quadro geral bom e
estável e havia deixado de apresentar sangue nas fezes. Neoplasias previamente
relatadas em tigres incluem tumor de células de Sertoli (Scudamore e Meredith, 2001),
tumor odontogênico epitelial calcificante (Kang et al., 2006), tumor neuroendócrino
pancreático (Nyska et al., 1996), tumor maligno de nervo periférico (Steinmetz et al.,
2010), carcinoma sebáceo (Edelmann et al., 2013), carcinoma mamário (Ponomar'kov
e Korneeva, 1982, Finotello et al., 2011), mixoma vaginal (Kollias et al., 1985),
mixosarcoma nasofaringeal (Shilton et al., 2002), mesotelioma (Shin et al., 1998),
mastocitoma (Graille et al., 2013) e hepatoma (Smith et al., 1971). Portanto, o
leiomiossarcoma intestinal deve entrar como diagnóstico diferencial de animais
domésticos e selvagens apresentando distúrbios do trato gastrointestinal.
CONCLUSÃO
Este trabalho descreve um leiomiossarcoma intestinal de aspecto polipóide em uma
tigresa da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte.
Agradecimento
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao TECSA pelo apoio
Técnico.

463
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 167, 2013

REFERÊNCIAS
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464
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 168, 2013

168. LESÕES TEGUMENTARES EM TARTARUGAS MARINHAS


(Integument lesions in sea turtles)

Raphael Mansur Medina; Maria Aparecida da Silva; Rachel Bittencourt Ribeiro; Hassan
Jerdy Leandro; Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho

Setor de Anatomia Patológica Veterinária do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias,


Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – CCTA UENF

RESUMO: A fibropapilomatose é uma doença caracterizada pela formação de


múltiplos tumores cutâneos que afeta primariamente tartarugas verdes (Chelonia
mydas). Objetivou-se com este trabalho relatar os achados histopatológicos das lesões
tegumentares encontradas em tartarugas marinhas. No período de 2011 foram
necropsiadas 150 tartarugas e coletadas amostras de lesões em tecido tegumentar.
Estas, foram fixadas em formalina neutra tamponada à 10% e encaminhadas para a
histopatologia, no Setor de Anatomia Patológica da Universidade Estadual do Norte
Fluminense, onde foram processadas segundo técnicas histológicas de rotina e
coradas com hematoxilina-eosina (HE). 144 animais eram da espécie Chelonia mydas,
dois Caretta caretta, dois Eretmochelys imbricata e dois Lepidochelys olivacea. A única
lesão tegumentar observada foi a fibropapilomatose, em dois quelônios da espécie
Chelonia mydas. Concluiu-se com este trabalho que lesões tegumentares em
tartarugas marinhas são raras, sendo a fibropapilomatose em C. mydas a única
encontrada.
Palavras-chave: Chelonis mydas; fibropapilomatose; histopatologia; tegumento
ABSTRACT: The fibropapillomatosis is a disease characterized by the formation of
multiple cutaneous tumors that primarily affects green turtles (Chelonia mydas). The
objective of this report was to report the histopathological findings of integument lesions
found in sea turtles. During 2011, 150 sea turtles were necropsied and samples from
lesions in cutaneous tissue. These were fixed in neutral buffered formalin for 10% and
sent for histopathology, the Department of Pathology, State University of North
Fluminense, where they were processed according to routine histological techniques
and stained with hematoxylin-eosin (HE). 144 animals were the species Chelonia
mydas, two Caretta caretta, two Eretmochelys imbricate and two Lepidochelys olivacea.
The only cutaneous lesions was observed fibropapillomatosis in two species of turtle
Chelonia mydas. The conclusion of this report that integument lesions in sea turtles are
rare, and the fibropapillomatosis C. mydas found the one.
Key words: Chelonis mydas; fibropapillomatosis; histopathology; integument
INTRODUÇÃO
A fibropapilomatose é uma doença caracterizada pela formação de múltiplos tumores
cutâneos, variando de 0,1 a mais de 30 cm de diâmetro, afetando primariamente
tartarugas verdes (Chelonia mydas), mas também outras espécies de tartarugas
marinhas (Baptistotte, 2007). É uma doença aparentemente infecciosa que possui
distribuição mundial e acomete todas as espécies de tartarugas marinhas, exceto a
tartaruga de couro (Flint et. al., 2009). A doença é caracterizada por múltiplos tumores
cutâneos, externos de tamanhos variados, em vários pontos do corpo, principalmente
na base das nadadeiras, cauda, pescoço, cabeça e olhos. Os tumores também podem
atingir órgãos internos como fígado, pulmões e rins (Santos et. al., 2008).
A etiologia e a patogênese da fibropapailomatose ainda é parcialmente desconhecida.
O DNA de Alphaerpesvirus tem sido detectado em tumores de ocorrência natural,
porém material genético viral também já foi encontrado em tartarugas sem nenhum
tumor externo (Flint et. al., 2009).
Objetivou-se com este trabalho relatar os achados histopatológicos das lesões
tegumentares encontradas em tartarugas marinhas necropsiadas nos litorais capixaba
e fluminense.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 168, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
No período de 2011 foram necropsiadas 150 tartarugas marinhas encalhadas mortas
ou que vieram a óbito durante tratamento nas regiões litorâneas capixaba e fluminense.
Amostras de lesões em tecido tegumentar colhidas nas necropsias foram fixadas em
formalina neutra tamponada à 10% e encaminhadas para a histopatologia, no Setor de
Anatomia Patológica do Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). Processadas segundo técnicas histológicas de
rotina e coradas com hematoxilina-eosina (HE).
As lâminas foram analisadas sob microscopia óptica, onde avaliou-se as alterações em
tegumento.
RESULTADOS
Observou-se que dos 150 animais necropsiados, 144 (96%) eram da espécie Chelonia
mydas, dois Caretta caretta (1,33%), dois Eretmochelys imbricata (1,33%) e dois
Lepidochelys olivacea (1,33%).
A única lesão tegumentar observada foi a fibropapilomatose, doença de etiologia viral e
que acomete principalmente as Chelonia mydas. Esta lesão foi observada em 2
(1,33%) quelônios da espécie Chelonia mydas. Porém deve-se enfatizar que o
presente trabalho se ocupou apenas em descrever as lesões microscópicas, mas
devido ao fato de se ter acesso ao histórico da necroscopia desses animais, pode-se
dizer que grande parte do óbito desses quelonídeos se deve à interação com rede de
pesca, pelo menos esse é o diagnóstico macroscópico sugestivo.
DISCUSSÃO
A espécie que existe em maior quantidade no territótio brasileiro é a C. mydas (Projeto
Tamar, 2011), o que pode explicar o fato da maioria de exemplares examinados neste
estudo serem desta espécie.
Tartarugas verdes (Chelonia mydas) juvenis são as mais frequentemente afetadas com
poucos casos sendo relatados em animais adultos. Os fibropapilomas podem ser lisos
ou papilares, planos ou nodulares podendo medir de 1 a 30 cm de diâmetro podendo
possuir coloração cinza, branca ou negra, dependendo da localização e sua coloração
pode corresponder a locais de pigmentação da pele e a severidade da doença em
termos de número de tartarugas afetadas e dimensão e número de massas tumorais,
varia com a localização geográfica do tumor. São neoplasias benignas e usualmente
não causam a morte diretamente, porém podem causar várias debilitações devido as
suas interferências funcionais (Baptistotte, 2007).
CONCLUSÃO
Concluiu-se com este trabalho que lesões tegumentares em tartarugas marinhas são
raras, sendo a fibropapilomatose em C. mydas a única encontrada.
REFERÊNCIAS
BAPTISTOTTE, C. Caracterização espacial e temporal da fibropapilomatose em tartarugas marinhas da
costa brasileira. 2007. 66 f. Tese (Doutorado em ecologia aplicada) – Universidade de São Paulo, SP.
2007.
FLINT, M.; PATTERSON-KANE, J.C.; LIMPUS, C.J.; WORK, T.M.; BLAIR, D.; MILLS P. C. Postmortem
diagnostic investigation of disease in free-ranging marine turtle populations: a review of common
pathologic findings and protocols. Journal Veterinary Diagnostic Investigation, v. 21, p.733-759, 2009.
PROJETO TAMAR – ICMBio. Tartarugas Marinhas. Disponível em: http://www.tamar.com.br/. Acessado
em 02/08/2013.
SANTOS, G.J.; HERRERA, M.S.; PEREIRA, R.E.P. Fibropapilomatose em tartarugas marinhas
(Chelonia mydas) – Revisão de Literatura. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária – ISSN
1679-7353. Ano IV-Número 11, 2008.

466
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 169, 2013

169. LINFOMA MULTICÊNTRICO EM COELHO - RELATO DE CASO


(Multicentric lymphoma in rabbit -case report)

Cláudio Henrique Gonçalves Barbosa ¹, Guilherme Reis Blume¹, Saulo Pereira


Cardoso¹, Juliana dos Santos Batista², Ayisa Rodrigues de Oliveira², Ana Luiza Sarkis
Vieira¹

1. Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Brasília (UnB);


2. Setor de Clínica e Cirurgia de Animais Silvestres do Hospital Veterinário da UnB

RESUMO: O linfoma é a neoplasia mais comum em animais e tem sido relatado em


todas as espécies, sendo a segunda neoplasia de maior frequência em coelhos
(Oryctolagus cuniculus) independente de raça, idade ou sexo. Dentre as causas do
linfoma em animais domésticos estão relacionados os DNA vírus e retrovírus, mas
essas neoplasias podem surgir de forma espontânea. O presente estudo objetiva
relatar um caso de linfoma multicêntrico em coelho. Um coelho submetido a necropsia
no LPV-UnB apresentou nódulos brancacentos, irregulares, pouco delimitados, macios,
nos rins, fígado, estômago, linfonodo mediastínico e encéfalo; o exame microscópico
revelou células redondas dispostas em mantos com citoplasma escasso, eosinofílico,
homogêneo e núcleo único grande, arredondado confirmando o diagnóstico
morfológico de linfoma.
Palavras-chave: células redondas; coelhos; encéfalo; neoplasia
ABSTRACT: Lymphoma is the most common malignant neoplasia in animals and has
been reported in all species, being the second most frequent neoplasia in rabbits
(Oryctolagus cuniculus) regardless of breed, age or sex. DNA viruses and retroviruses
are causes of lymphoma, but this neoplasia may arise spontaneously. This study aims
to report a case of multicentric lymphoma in rabbits. A rabbit was submitted for
necropsy at LPV-UNB and showed whitish, irregular and soft nodules in kidney, liver,
stomach, brain and mediastinal lymph nodes. Microscopic examination revealed round
cells arranged in sheets, with scant cytoplasm, eosinophilic, homogeneous, single large,
rounded confirming the morphological diagnosis of lymphoma.
Key words: brain; neoplasia; rabbits; round cells
INTRODUÇÃO
O linfoma é a neoplasia maligna originada de linfócitos e sua classificação baseia-se na
localização anatômica, imunofenótipo, características e padrão histológicos (Fry e
McGavin, 2009). Segundo Ishikawa et al. (2007) é a neoplasia mais comum nos
animais e a segunda neoplasia de maior frequência em coelhos. Segundo Shibuya et
al. (1999), vários casos dessa neoplasia tem sido relatados em coelhos de várias raças
e, embora esses animais tenham sido amplamente utilizados em testes de toxicidade e
estudos farmacológicos, informações sobre ocorrência de neoplasias espontâneas são
insuficientes. Assim o presente relato de linfoma acrescenta informações sobre a
ocorrência dessa neoplasia em coelhos, bem como sua localização e distribuição nos
órgãos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi encaminhado ao Hvet-UnB um coelho, macho, de 9 meses, SRD com queixa de
hiporexia e dificuldade respiratória e com fratura completa de mandíbula com nódulo
cervical ventral de crescimento lento. Foi realizada biópsia excisional do nódulo e
alguns dias após o procedimento cirúrgico o animal morreu.
Foi realizada a necropsia no Laboratório de Patologia Veterinária (LPV) HVet-UnB.
Fragmentos de vários órgãos foram fixados em formalina 10%, processados pela a
técnica de inclusão em parafina, seccionados em cortes histológicos com 5 μm de
espessura e corados em hematoxilina e eosina.

467
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 169, 2013

RESULTADOS
A necropsia revelou mucosas orais e oculares intensamente pálidas, linfonodos
submandibulares e retrofaringeanos intensamente aumentados de volume e fratura
completa de mandíbula. Os rins, fígado, mucosa gástrica e encéfalo apresentaram
nódulos multifocais a coalescentes de 0,5 a 1,0 cm, brancacentos, irregulares, pouco
delimitados, macios, arredondados que se aprofundavam ao corte.
O exame histopatológico dos órgãos supracitados revelou proliferação neoplásica
infiltrativa de células redondas dispostas em mantos sustentados por escasso estroma
fibrovascular. As células mediam entre 7 a 10 μm de diâmetro, com bordos bem
definidos, citoplasma escasso, eosinofílico, homogêneo e com limites distintos; núcleo
grande, único, arredondado, com cromatina frouxa e 1 a 3 nucléolos evidentes,
moderada anisocitose e anisocariose e relação núcleo:citoplasma de 3:1. Figuras de
mitose típicas e atípicas eram frequentes (17 figuras de mitose por 10 campos de
400X). Com base nos achados morfológicos foi confirmado o diagnóstico de linfoma
multicêntrico.
DISCUSSÃO
Em algumas espécies, o desenvolvimento do linfoma está associado a infecção viral,
como por exemplo, os retrovírus da leucemia bovina (LBV) e da leucemia felina (FeLV)
(MacLachlan e Dubovi, 2011). DNA vírus como o vírus de Epstein-Barr (EBV) e o
herpesvírus humano tipo 8 (HHV-8) e, o retrovírus da leucemia-linfoma de células T
humanas tipo I (HTLV-I), são normalmente ligados ao linfoma em humanos e, embora o
EBV humano não seja oncogênico para coelhos, o HVMA e o cyno-EBV, isolados a
partir de linfoma cutâneo de Macaca arctoides e macacos Cynomolgos,
respectivamente, induzem o linfoma de células B em coelhos (Ferrari et al., 2001).
O linfoma é uma neoplasia amplamente reportada em lagomorfos e no presente caso a
idade de ocorrência da neoplasia está de acordo com Bomhard et al. (2007) os quais
afirmam que animais de 5 a 13 meses de idade são os mais acometidos. No entanto,
White et al. (2000) relatam um caso em um macho de 9,5 anos de idade, Ishikawa et al.
(2007), relatam um caso em um macho de 6 anos e, Volopich et al. (2005), em uma
fêmea de 22 meses. Estes dados indicam que não há predisposição etária ou sexual
dos linfomas.
Esta neoplasia é comumente relatada em pele, linfonodos, fígado, baço e rins (White et
al., 2000; e Panakova et al., 2009) e há um caso relatado em ceco (Ishikawa et al.,
2007). Gruber et al. (2009) relatam seis casos de linfoma cerebral em coelhos, sendo
quatro deles na forma multicêntrica e envolviam ainda olhos, intestino, coração e
pulmão. Esses achados estão de acordo com o presente relato que, adicionalmente,
descreve a neoplasia no estômago.
CONCLUSÕES
O linfoma é uma neoplasia comum em coelhos jovens, principalmente na forma
cutânea e com focos em fígado, rins e linfonodos. Não há relatos na literatura sobre
desenvolvimento de linfoma em encéfalo e estômago de coelhos no país, o que sugere
ser este o primeiro relato.

468
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 169, 2013

REFERÊNCIAS
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469
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 170, 2013

170. LIPIDOSE CORNEAL EM Leptodactylus vastus (LUTZ, 1930 AMPHIBIA –


ANURA: LEPTODACTYLIDAE)
(Corneal lipidosis in Leptodactylus vastus (Lutz, 1930 Amphibia – Anura:
Leptodactylidae)

Roberta da Rocha Braga¹, Castiele Holanda Bezerra¹ ², Maria Juliana Borges


Leite¹ ², João Fabrício Mota Rodrigues¹ ², Diva Maria Borges-Nojosa¹

1 Núcleo Regional de Ofiologia da Universidade Federal do Ceará (NUROF - UFC)


2 Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais (PPGERN – UFC)

RESUMO: Apenas poucos relatos de doenças oculares de interesse clínico em anfíbios


são encontrados na literatura, em especial as ceratopatias lipídicas. O objetivo deste
trabalho foi relatar a ocorrência de lipidose corneal em Leptodactylus vastus, conhecido
popularmente como rã-pimenta. O animal foi trazido ao Núcleo Regional de Ofiologia
da Universidade Federal do Ceará, após ser coletado no município de São Gonçalo do
Amarante, Ceará. Durante o cativeiro, o anuro desenvolveu opacidades brancacentas
nas córneas, as quais tiveram diagnóstico clínico e laboratorial de lipidose corneal.
Provavelmente, a patologia está associada à dieta hipercalórica oferecida aos anuros
em cativeiro.
Palavras-Chave: cativeiro, ceratopatias, dislipidemias, anuros, histopatologia
ABSTRACT: There are few publications about amphibians‘ ocular diseases of clinical
interest, in which lipid keratopathies are emphasized. Our objective was reporting the
occurrence of corneal lipidosis in Leptodactylus vastus, big sized frog of family
Leptodactylidae, commonly known as ―northeastern pepper frog‖. This frog was brought
to Núcleo Regional de Ofiologia of Universidade Federal do Ceará, after it has been
collected in São Gonçalo do Amarante, Ceará. During its permanence in captivity
conditions, this frog had its eyes covered by whitish opacities, which was diagnosed as
corneal lipidosis. This disease is associated most likely with high calories diet that is
offered to these amphibians in captivity.
Keywords Captivity, corneal diseases, dyslipidemias, frogs, histopathology
INTRODUÇÃO
Alguns anuros desenvolvem opacidades brancas nas córneas, as quais são
classificadas como síndromes de etiologia incerta (Wright, 2006). Apenas poucos
relatos de doenças oculares de interesse clínico em anfíbios são encontrados na
literatura, em especial as ceratopatias lipídicas (Keller e Shilton, 2002).
O anuro Leptodactylus vastus, conhecido popularmente como ―rã-pimenta‖, pertence à
família Leptodactylidae e encontra-se distribuído na Amazônia boliviana e no nordeste
brasileiro (Frost, 2013). Trata-se de um anuro de grande porte, com comprimento
rostro-cloacal médio de 150 mm (Heyer, 2005). Essa espécie apresenta dieta
generalista e alimenta-se de outros anuros, mamíferos e invertebrados (Gouveia et al.,
2009; Santana et al., 2012).
A conservação das populações de anfíbios, tendência mundial, justifica pesquisas e
relatos de doenças e condições nessa classe de animais. O objetivo deste trabalho foi
relatar a ocorrência de lipidose corneal em Leptodactylus vastus.
MATERIAIS E MÉTODOS
Em dezembro/2007, o anuro foi coletado nas proximidades da Lagoa do Gereraú, no
município São Gonçalo do Amarante, Ceará (S 03º35‘49,1‖/W 38º53‘09,7‖, 43 m de
altitude) e trazido ao Núcleo Regional de Ofiologia da Universidade Federal do Ceará
(NUROF-UFC), um criadouro científico de serpentes e laboratório de pesquisa em
herpetologia. Segundo o exame visual inicial, o anuro mostrava baixo escore corporal,
desidratação, e córneas levemente enevoadas (Figura 1). O animal foi mantido em
terrário de vidro medindo 20 x 15 x 15 cm, com substrato de areia, em temperatura
média de 30°C, sendo diariamente molhado. Foi submetido à dieta intensiva,
470
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 170, 2013

alimentando-se de camundongos neonatos diariamente no primeiro mês, e depois de


três a quatro vezes por semana. Durante o período de cativeiro, as córneas
desenvolveram lesões "em teia", como linhas cruzadas, brancacentas, gordurosas, em
relevo, sobre as superfícies corneais (Figura 2). Com a opacificação das córneas, o
animal teve reduzida a capacidade visual, mostrando dificuldades para capturar o
alimento. Em janeiro/2010, o animal demonstrava inapetência e apatia, tornando-se
progressivamente emaciado e fraco, Após 34 meses em cativeiro, o animal veio a
óbito. O animal foi encaminhado para necrópsia, sendo em seguida fixado e depositado
na Coleção Herpetológica da UFC (CHUFC A6365).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Devido às altas temperaturas médias ambientais do período e da emaciação corpórea,
houve rápido estabelecimento da autólise, impossibilitando um exame pós-morte
confiável. A análise histopatológica da córnea (Figuras 3-4) mostrou grave denudação
do epitélio anterior e deposição lipídica nos fibrócitos e no estroma corneal. Foram
observadas células gigantes multinucleadas e ceratócitos com vacúolos lipídicos
intracitoplasmáticos. Desenvolveu-se neovascularização, apesar de a córnea ser um
tecido avascular. Foram observadas fendas de colesterol extracelulares difusas no
estroma, especialmente próximas aos novos vasos, confirmando o diagnóstico de
lipidose corneal ou ceratopatia lipídica, com grave ulceração, de acordo com a
descrição da literatura (Carpenter et al., 1986; Keller e Shilton, 2002; Santana et al.,
2012).
A lipidose corneal é uma desordem relatada em sete espécies de anfíbios (Keller e
Shilton, 2002), dentre as quais as da família Leptodactylidae (Dziezye e Millichamp,
1989). A condição está associada à dieta rica em colesterol, sobretudo camundongos
neonatos, oferecida em condições de confinamento (Shilton et al., 2001). Adicional à
dieta, há redução do gasto energético em cativeiro, por ausência de condições ideais
de espaço, temperatura e umidade, causando desequilíbrio no metabolismo lipídico e
acúmulo de gordura em diversos sítios orgânicos e no plasma sanguíneo (Wright,
2006). Não existe tratamento curativo, a prevenção é mais eficaz, uma vez que a
manifestação da lipidose corneal está associada a patologias sistêmicas, envolvendo
hipercolesterolemia (Wright, 2003). Ainda segundo o autor, a dor pode ter sido
agravante do estado clínico geral, promovendo a apatia das últimas semanas de vida.
CONCLUSÕES
As descrições macro e microscópica da lesão, juntamente com o histórico,
levaram ao diagnóstico de lipidose corneal. A provável etiologia foi a restrição da
dieta, que em seu habitat natural compreendia ampla variedade de vertebrados e
invertebrados silvestres, juntamente com as limitações do cativeiro.
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Daniel de Araújo Viana, patologista veterinário e amigo, pelo diagnóstico
histopatológico preliminar; ao Prof. Roberto Feitosa, coordenador do Laboratório de
Histologia Animal da UFC e ao técnico Robson Mendes pelas extraordinárias
fotomicrografias.

471
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 170, 2013

REFERÊNCIAS
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472
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 171, 2013

171. MORTES DE VERTEBRADOS SILVESTRES POR ATROPELAMENTO NA


MESORREGIÃO SUDOESTE RIO-GRANDENSE
(Deaths of wild vertebrates due the Running Over in Meso-Region Southeastern
Rio Grande do Sul, Brazil)

Pedro Araujo Damboriarena¹; Lucas Souza Quevedo¹; Tatiane Uchôa²; Bruno Leite dos
Anjos
1 Fundação Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Brasil
2 Secretaria do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (SEMA), Brasil

RESUMO: Atropelamento é uma importante causa de morte de animais silvestres no


Brasil. Esse estudo teve como objetivo realizar o levantamento das mortes de animais
silvestres causadas por atropelamento registrados no Laboratório de Patologia
Veterinária da Unipampa, entre junho de 2012 e junho de 2013. Foram coletados e
necropsiados 39 animais silvestres. As coletas foram realizadas em duas rodovias
federais, a BR 472 e a BR 290. Os mamíferos corresponderam a 94,9% e as aves a
5,1%. Esse estudo permitiu estabelecer informações mais precisas sobre o impacto
causado pelos atropelamentos e sobre agentes etiológicos que acometem essas
espécies.
Palavras-chave: atropelamentos; animais silvestres; Bioma Pampa
ABSTRACT:The road death is an important cause of death for wildlife in Brazil. This
study aimed to survey the deaths of wild animals caused by running over registered in
the Veterinary Pathology Laboratory Unipampa between June 2012 and June 2013.
Were collected and necropsied 39 wild animals. Samples were collected in two federal
roads, BR 472 and BR 290. Mammals corresponded to 94.9% and 5.1% to the birds.
This study allowed establishing more precise information about the impact caused by
road death in this region and etiologic agents that affect these species.
Key words: running over; wildlife; Pampa Biome
INTRODUÇÃO
Diversas ameaças comprometem a biodiversidade de muitas espécies de animais
silvestres no Brasil (Jorge et al., 2009; Silva et al., 2010; Lima et al., 2012). Dentre elas
destaca-se o atropelamento em rodovias (Hengemühle e Cademartori, 2008; Melo e
Santos-filho, 2007). O Bioma Pampa representa uma área de aproximadamente 63%
da área total do estado do Rio Grande do Sul, possui fauna e flora próprias e encontra-
se entre os campos naturais preservados de maior proporção no Brasil e é considerado
um dos ecossistemas mais importantes do mundo. Grande parte dos animais mortos
em estradas nessa região é deixada no local do acidente e todo o material biológico, do
qual muitas áreas da ciência poderiam se beneficiar (Oliveira, 2003), acaba sendo
perdido. O resgate desse material é fundamental para o estudo dessas espécies no
que se refere diretamente ao impacto exercido pelos atropelamentos nos vários grupos
de animais, como no que tange o estudo de patógenos como forma de identificação,
monitoramento e controle das doenças que acometem animais silvestres, domésticos e
o homem.
O objetivo do trabalho foi identificar as principais espécies de animais silvestres do
Bioma Pampa mortos por atropelamento em estradas da Mesorregião Sudoeste Rio-
Grandense, com o intuito de levantar as áreas de maior frequência de acidentes e
resgatar o material para estudos posteriores de patógenos.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram realizadas coletas de animais silvestres mortos por atropelamento em rodovias
da região. Os animais coletados foram enviados ao Laboratório de Patologia
Veterinária da Unipampa e necropsiados. As amostras de órgãos foram coletadas para
avaliação histopatológica, e, quando cabível, encaminhados para avaliação
microbiológica e parasitológica. Após a necropsia foram conservados em formol 10% e
473
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 171, 2013

encaminhados para estudos anatômicos. As coletas foram autorizadas pelo IBAMA e o


projeto está cadastrado no Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade –
SISBIO do Ministério do Meio Ambiente sob no 33667-1.
RESULTADOS
No período entre junho de 2012 e junho de 2013, foram coletados e processados 39
animais silvestres. As coletas foram realizadas em duas rodovias federais, a BR 472,
onde se encontra o Parque do Espinilho no município de Barra do Quaraí e a BR 290.
Dos animais recebidos contatou-se 94,9% mamíferos e 5,1% aves, não foram
recebidas outras espécies. Dessas, 79,5% (31) foram provenientes da BR 472 e 20,5%
(8) da BR 290. Dentre os mamíferos, as espécies identificadas foram o Cachorro-do-
mato (Cerdocyon thous) 28,2% (11), Gambá (Didelphis albiventris) 15,4% (6), Furão
(Galictis cuja) 10,2% (4), Preá (Cavia aperea) 10,2% (4), Graxaim-do-campo
(Lycalopex gymnocercus) 10,2% (4), Lebre (Lepus europaeus) 5,1% (2), Mão-pelada
(Procyon cancrivorus) 5,1% (2), Veado catingueiro (Mazama gouazoubira) 2,5% (1),
Tatu-peludo (Euphractus villosus) 2,5% (1). Dentre as aves, Perdiz (Nothura maculosa)
2,5% (1) e Saracura-do-mato (Aramides saracura) 2,5% (1). O local onde foi coletado o
maior número de animais correspondeu ao Parque do Espinilho encontrado entre as
coordenadas UTM 6654600 (N) 446.500 (E) e 6666400 (N) 463.800 (E). Na necropsia,
as principais alterações foram fraturas de membros e crânio, e laceração de vísceras.
Foi detectado com maior incidência endoparasitas, da Classe Cestoda e Nematoda, e
com menor incidência ectoparasitas, como carrapatos.
DISCUSSÃO
A grande maioria dos animais foi proveniente da BR 472, especialmente na região do
Parque do Espinilho, que abrange uma área de 1.617,14 ha e encontra-se no extremo
oeste da região da campanha. O alto número de animais coletados nessa região, se da
pelo fato de o parque ser uma unidade de conservação possuindo um alto e
diversificado número de animais silvestres.
Levantamentos de mortes por atropelamentos de animais silvestres apontam a classe
dos mamíferos como a mais vitimada (Melo e Santos-Filho 2007; Tumeleiro et. al.
2006), porém esses dados podem variar conforme os ambientes próximos às rodovias
(Hengemühle e Cademartori, 2008). O Cerdocyon thous, animal mais acometido,
obteve elevada incidência possivelmente pelo fato de esta espécie possuir ampla
distribuição geográfica e ter uma dieta muito variada podendo utilizar as rodovias para
procura de alimento e também como pontos de referencia para locomoção (Trovati et
al., 2007; Tumeleiro et al., 2006). O grande número de lavouras de arroz e o fluxo de
caminhões carregados com grãos tornam as rodovias fonte de alimento, especialmente
para aves, e muitas são atropeladas (Hengemühle e Cademartori, 2008), porém,
muitos carnívoros as consomem, não sendo visualizadas com frequência. Esse fato
pode ser uma das causas de um alto índice de atropelamentos especialmente de
canídeos.
Possivelmente, os dados obtidos referentes ao número de atropelamentos e espécies
acometidas no período em estudo são subestimados, e isso pode ser explicado pela
dificuldade de coleta e alto número de carcaças com acentuado grau de autólise que
impede sua melhor avaliação.
CONCLUSÃO
Esse estudo permitiu estabelecer informações mais precisas sobre o impacto causado
pelos atropelamentos e sobre agentes etiológicos que acometem essas espécies na
região.

474
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 171, 2013

REFERÊNCIAS
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475
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 172, 2013

172. MYCOBACTERIUM GENAVENSE EM AMAZONA AESTIVA –


RELATO DE CASO
(Mycobacterium genavense in Amazona aestiva – case report)

Guilherme Reis Blume¹, Mikael Arrais Hodon², Iassudara Garcia de Almeida², Michele
Eduardo Freitas², Antônio Augusto Fonseca Júnior², Anahí Souza Silva¹

1. Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF.


2. Laboratório Nacional Agropecuário (LANAGRO), Pedro Leopoldo, MG.

RESUMO: Micobacteriose em aves é uma doença infecto-contagiosa, debilitante e


zoonótica, causada pelo complexo Mycobacterium avium e pelo Mycobacterium
genavense. Acomete principalmente aves domésticas e silvestres podendo ser fatal em
casos de imunodepressão. Lesões granulomatosas com bacilos álcool-ácido-
resistentes intrahistiocíticos podem ocorrer em diversos tecidos. O presente relato
descreve um caso de micobacteriose em um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva)
apresentando apatia, emagrecimento e morte. À necropsia foi observada na cavidade
celomática massa amarelada de aproximadamente 4,0 cm que à microscopia
caracterizou-se por mantos de macrófagos epitelióides contendo miríades de bacilos
álcool-ácido-resistentes. PCR e sequenciamento genético estabeleceram
Mycobacterium genavense como agente etiológico do granuloma celomático deste
papagaio.
Palavras-chave: aves; micobacteriose; psitacídeo; zoonose
ABSTRACT: Avian mycobacteriosis (AM) is an infectious, debilitating and zoonotic
disease, caused by Mycobacterium avium complex and Mycobacterium genavense. AM
affects mainly domestic and wild birds. It can be fatal in immunosuppred animals.
Granulomatous lesions with intrahistiocitic acid fast positive rods may be present in
multiple tissues. This report describes the gross and histopathological findings from a
parrot (Amazona aestiva) with history of apathy, emaciation and death. Grossly there
was a 4,0 cm diameter yellowish mass in the coelomic cavity. Microscopically, the mass
was composed of dense sheets epithelioid macrophages containing myriads of acid-fast
bacilli. Mycobacterium genavense was diagnosed by PCR and gene sequencing.
Key words: birds; mycobacteriosis; psittacid; zoonosis
INTRODUÇÃO
A micobacteriose é uma enfermidade debilitante, comumente fatal, predominantemente
crônica, zoonótica e cosmopolita, causada por bactérias álcool-ácido-resistentes,
pertencentes ao gênero Mycobacterium (Palmieri et al., 2013; Tell et al., 2001).
Infecções causadas pelo complexo Mycobacterium tuberculosis são chamadas de
tuberculose, enquanto doenças causadas por micobactérias atípicas não tuberculosas,
como o M. avium, M. intracellulare e M. genavense são denominadas micobacterioses,
embora qualquer uma possa causar lesão granulomatosa (Tell et al., 2001). O M.
genavense afeta diversas aves silvestres e domésticas, sendo a principal causa de
micobacteriose em psitacídeos (Palmieri et al., 2013). Essa micobactéria é
geneticamente distinta das outras micobactérias, embora os sinais clínicos e lesões
histopatológicas sejam indistinguíveis (Tell et al. 2001). Não há predileção por sexo,
idade ou espécie e o contágio ocorre principalmente por ingestão, inalação ou através
de vetores mecânicos – artrópodes (Palmieri et al., 2013; Godoy et al., 2009; Tell et al.,
2001). Após o contato, a bactéria coloniza intestino e pulmões e se dissemina para
fígado, saco aéreo, baço, pele, gônodas, rins e pâncreas (Lennox, 2007). Os sinais
clínicos variam de acordo com o grau e o órgão acometido, geralmente são
inespecíficos e inclui apatia, perda de preso, depressão, dispneia e diarreia (Godoy et
al., 2009; Tell et al., 2001). Os achados post mortem também são variáveis, os mais
comumente encontrados são nódulos, frequentemente granulomatosos, disseminados
em vários tecidos, principalmente fígado, baço e intestino (Tell et al., 2001).
476
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 172, 2013

Microscopicamente, a lesão encontrada é caracterizada por reação granulomatosa,


com bactérias intrahistiocíticas álcool-ácido-resistentes (Palmieri et al., 2013; Witte et
al., 2008). Exames moleculares como reação de polimerização em cadeia (PCR) e
imuno-histoquímica, além de cultura e sorologia, são necessários para o diagnóstico
definitivo (Tell et al., 2001). O tratamento não é recomendado devido à alta resistência
dessas bactérias, sendo sugeridas medidas de controle e prevenção como quarentena
e eutanásia de animais positivos (Witte et al., 2008; Lennox, 2007; Tell et al., 2001).
O objetivo deste trabalho é descrever os achados anatomopatológicos e moleculares
de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) com granuloma celomático causado por
Mycobacterium genavense.
MATERIAL E MÉTODOS
Um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), adulto, fêmea foi encaminhado ao
Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Brasília para necropsia. O
animal apresentava histórico de apatia e hiporexia dois dias precedentes ao óbito.
Amostras foram coletadas em formol tamponado 10% para histopatologia (hematoxilina
e eosina e Ziehl Neelsen. Além disso, amostras não fixadas (congeladas) foram
encaminhadas ao LANAGRO, Pedro Leopoldo, para PCR e sequenciamento (Talenti et
al. 1993).
RESULTADOS
À necropsia, a carcaça apresentava escore corporal 2 (escala de 1 a 5) e duas massas
amareladas, pouco delimitadas, levemente firmes de aproximadamente 4,0 cm de
diâmetro na cavidade celomática próximo ao fígado e rins.
Na microscopia, havia mantos de macrófagos com citoplasma amplo e levemente
eosinofílico (macrófagos epitelióides) com raros linfócitos e plasmócitos. Na coloração
de Ziehl Neelsen evidenciou inúmeros bacilos preenchendo e expandindo o citoplasma
de macrófagos. Em meio à inflamação, havia áreas multifocais a coalescente de
necrose misturado a fibrina e hemorragia. O sequenciamento genético revelou
Mycobacterium genavense.
DISCUSSÃO
A micobacteriose é uma zoonose oportunista, comumente fatal, que afeta animais
imunossuprimidos principalmente aves domésticas e silvestres (Witte et al., 2008;
Lennox, 2007).
O presente trabalho relata um caso de micobacteriose por M. genavense em um
papagaio-verdadeiro de cativeiro, sendo essa a causa mais comum de micobacteriose
nessa espécie (Palmieri et al., 2013; Lennox, 2007; Tell et al., 2001).
Os sinais clínicos, bem como os achados macroscópicos e a as lesões microscópicas,
corroboram com o encontrado por Palmieri et al. (2013), Lennox (2007), Witte et al.
(2008) e Godoy et al. (2009). Todavia não houve evidências da doença em outros
órgãos, fato que é menos comumente descrito (Palmieri et al., 2013 e Godoy et al.,
2009). O diagnóstico definitivo, nesse caso, foi obtido através do histórico, achados
anatomopatológicos e moleculares. O sequenciamento genético é fundamental para o
diagnóstico e diferenciação de outras micobacterioses, principalmente do M. avium,
visto que as lesões normalmente não diferem entre as micobacterioses em aves (Tell et
al., 2001; Palmieri et al., 2013).
CONCLUSÃO
Com base nos achados clínicos, patológicos e moleculares, firmou-se o diagnóstico de
micobacteriose por M. genavense. Mais recentemente esta micobactéria tem sido
incriminada como causa mais importante de micobacteriose em pscitacídeos.

477
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 172, 2013

REFERÊNCIAS
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478
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 173, 2013

173. NEMATODO PULMONAR EM GAMBÁ DE ORELHA BRANCA (DIDELPHIS


ALBIVENTRIS)
(Lungworm in white-eared opossum Didelphis albiventris)

Cláudia E. Rocha, Teane M. A. Silva, Marcelo C. C. Malta, Herlandes P. Tinoco,


Tatiane A. Paixão, Renato L. Santos

1. Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,MG.


2. Departamento de Jardim Zoológico da Fundação Zoo-Botânica, Belo Horizonte, MG.
3. Instituto de Ciências Biológicas, UFMG, Belo Horizonte, MG. E-mail: rsantos@vet.ufmg.br

RESUMO: Gambás são frequentemente infectados por vermes pulmonares, o que


muitas vezes, levam esses animais ao óbito. O presente estudo relata a pneumonia
verminótica com nematódeos pulmonares adultos e larvas livres no parênquima
pulmonar em um gambá de orelha branca (Didelphis albiventris) de vida livre.
Microscopicamente, foi observado intenso infiltrado histiocitário intersticial difuso com
parasita intralesional, além de hiperplasia discreta musculatura bronquiolar e
hiperplasia acentuada e difusa da musculatura arterial. Características morfológicas do
parasita como fina camada muscular, cavidade celomática, tubo digestivo e trato
genital repleto de ovos e larvas são compatíveis com a família Metastrongylidea. Ao
acometer as vias aéreas de mamíferos, os nematódeos pulmonares podem causar
pneumonia, fibrose da parede alveolar e hiperplasia de musculatura lisa de artérias e
brônquios resultando em um quadro de insuficiência respiratória.
Palavras-chave: gambá; metastrongylidea; pneumonia
ABSTRACT: White-eared opossums are often infected with lungworms, which usually
lead to death. This study reports the presence of larvae and adult stages of lungworm
within the alveoli and lung parenchyma. Microscopically, there was severe diffuse
interstitial histiocytic pneumonia with mild hyperplasia of bronquiolar muscle and
marked and diffuse hyperplasia of arterial muscle. Parasitic morphology, including thin
muscle layer, celomic cavity, digestive tract, and genital tract full of eggs and larvae are
compatible with the Metastrongylidea family. In the respiratory tract, lungworms cause
diffuse pneumonia with smooth muscle hyperplasia and alveolar fibrosis, leading to
respiratory failure.
Key words: opossum; metastrongylidea; pneumonia
INTRODUÇÃO
O gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) é um marsupial de hábitos
crepusculares e noturnos que se alimentam de pequenos animais, sendo encontrado
em regiões sub-tropicais e temperadas da América do Sul. Esses animais são
frequentemente acometidos por verminoses e incluindo dos vermes pulmonares
(Antunes, 2005). Os vermes pulmonares migram através dos vasos linfáticos e pelos
vasos sanguíneos até o pulmão e, quando adultos, depositam larvas nos brônquios e
alvéolos pulmonares. Sinais clínicos como caquexia, febre, dispnéia e bradicardia
podem ser observados nos animais infestados (Duncan JR. et al., 1989).
O objetivo desse estudo foi descrever um caso de pneumonia verminótica em um
gambá-de-orelha-branca de vida livre, caracterizada por pneumonia intersticial
histiocitária associada a nematódeos adultos e larvas.
MATERIAL E MÉTODOS
Um gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), macho, de vida livre foi encontrado
vivo no Zoológico da Fundação Zoo-botânica de Belo Horizonte. O animal apresentava
baixo peso corporal, duas feridas profundas com exposição musculatura esquelética,
contaminadas e com miíase no membro torácico direito. Considerando a gravidade das
lesões e estado debilitado do animal, optou-se pela eutanásia. Fragmentos de tecidos
fixados em formalina a 10% foram processados para inclusão em parafina, cortados a

479
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 173, 2013

RESULTADOS
À necropsia, foram observados esplenomegalia, hepatomegalia, estômago e
ntestino delgado repletos de nematódeos. Microscopicamente, intenso infiltrado
histiocitário intersticial difuso, inúmeros nematódeos adultos e larvas intralveolares e
larvas associadas à inflamação. Os parasitas adultos apresentavam uma fina camada
muscular, cavidade celomática, tubo digestivo, e trato genital repletos de ovos e larvas.
Estas características são compatíveis com nematódeo da família Metastrongylidea,
uma vez que possuem larvas bem desenvolvidas intrauterina (Gardiner e Poynton,
2006). Adicionalmente, hiperplasia discreta da musculatura lisa da parede bronquiolar e
hiperplasia acentuada e difusa da musculatura lisa das artérias pulmonares foram
observadas. Enterite eosinofílica difusa moderada, com parasitas intralesionais na
mucosa intestinal medindo 50 a 60 μm de diâmetro em corte transversal foi observado
no intestino delgado Estes parasitas apresentavam parede muscular fina, cavidade
celomática e estrutura tubular sugestiva de trato digestivo. Contudo, os raros cortes
transversais dificultaram a classificação do nematodéo, sendo as características
microscópicas sugestivas de Trichuris sp. Degeneração macrovacuolar moderada
multifocal aleatória de hepatócitos, compatível com lipidose hepática foi observada no
fígado.
DISCUSSÃO
Os achados histopatológicos observados são compatíveis com pneumonia intersticial
histiocítica difusa, hiperplasia da musculatura arterial e bronquiolar associados a
vermes pulmonares nematódeos da família Metastrongylidea. Duas espécies de
parasitas pulmonares foram descritos em gambás: Didelphostrongylus hayesi e
Heterostrongylus heterostrongylus, nematódeos pertencentes a família Metastronylidea
(Anderson et al., 1980). Adicionalmente, Capillaria sp. tem sido observada em pulmões
de gambás (Nettles et al., 1975, Antunes, 2005). Aparentemente, H. heterostrongylus
que ocorre dentro de brônquios e enquanto D. hayesi são recuperados de alvéolos
expandidos, sítios subpleurais ou bronquíolos respiratórios (Duncan JR., et al.,1989).
D. hayesi é frequente em marsupiais da Argentina e nos Estados Unidos e foi
encontrado em gambás no Brasil (Antunes, 2005). D. hayesi possui um ciclo de vida
indireto, sendo os caracóis terrestres do gênero Triodopsis e Mesodon considerados os
hospedeiros intermediários, porém, as vias de transmissão são desconhecidas
(Duncan JR., et al., 1989). Sinais clínicos graves como dispneia, bradicardia e febre
foram descritos em um gambá infestados D. Hayesi. A dispneia está associada à
presença de nematódeos adultos e larvas nas vias aéreas podendo levar animal ao
óbito. (Duncan JR., et al.,1989, Lamberski et al., 2002).
A pneumonia intersticial difusa e a hiperplasia da musculatura arterial observadas neste
caso são possíveis consequência da infecção parasitária. Parasitas adultos e
principalmente as larvas de D. hayesi nos bronquíolos e parênquima pulmonar
geralmente provocam broncopneumonia granulomatosa e hiperplasia do epitélio
bronquiolar e arteriolar (Duncan JR., et al., 1989, Lamberski et al., 2002).
Interessantemente, outros vermes pulmonares pertencente a família Metastrongylidae,
como Aelurostrongylus abstrusus, que acomete a vias respiratórias de gatos, podem
também causar hiperplasia acentuada dos músculos bronquiolares (Ferreira da Silva, J.
M.; et al, 2005).
CONCLUSÃO
Foi diagnosticada pneumonia intersticial difusa histiocitária e hiperplasia arterial
associado a larvas e parasitos adultos da família Metastrongylidea.
Agradecimentos
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais. (Fapemig) pelo apoio financeiro.

480
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 173, 2013

REFERÊNCIAS
ANDERSON, R. C.; LITTLE, M.D.; STRELIVE, U.R. The unique lungworms (Nematoda:
Metastrongyloidea) of the opossum (Didelphis marsupialis Linnaeus). Systematic Parasitology, v.2, p.1-8,
1980.
ANTUNES, G. M. Diversidade e potencial zoonótico de parasitos de Didelphis albiventris Lund, 1841
(Marsupialia: Didelphidae), 2005. Porto Alegre. Tese (Doutor em Ciências Veterinárias) – Curso de Pós-
graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
DUNCAN JR., R.B.; RENEMEYER, C.R.; FUNK, R.S. Fatal lungworm. infection in an opossum. Journal
of Wildlife Diseases. v.25, n.2, p.266-269, 1989.
FERREIDA DA SILVA, J.M.; PEREIRA DA FONSECA, I.M.; MADEIRA DE
CARVALHO, L.M. et al. Pneumonia em gato por Aelurostrongylus abstrusus – necessidade de um
diagnóstico precoce. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. v.100, p.103-106, 2005.
GARDINER, C.H., POYNTON, S.L. An atlas of metazoan parasites in animals tissues. Washington:
Armed Forces Institute of pathology, 2006. 64p.
LAMBERSKI, N. READER R., COOK, L.F., et al. A retrospective study of 11 cases of lungworm
(Didelphostrongylus hayesi) infection in opossums (Didelphis virginiana). Journal of Zoo and Wildlife
Medicine, v.33, n.2, p.151-156, 2002.
NETTLES, V.F.; PRESTWOOD, A.K., DAVIDSON, W.R. et al. Severe parasitism in an opossum. Journal
of Wildlife Diseases, v.11 p.419-420, 1975.

481
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 174, 2013

174. OCORRÊNCIA DE DIPETALONEMA GRACILE EM BUGIOS RUIVOS


(ALOUATTA GUARIBA) NO ESTADO DE SANTA CATARINA
(Occurrence of Dipetalonema gracile in Howler Monkey (Alouatta guariba) in the
State of Santa Catarina)

Tiffany Emmerich¹, Camila Evangelista¹, Claudia Galindo¹, Bruno Lunardeli¹, Luiz


Gonzaga C. Jr¹ e Sandra D. Traverso²

1 Alunos do Programa de graduação e Pós graduação em Ciência Animal, LAPA - CAV/UDESC


2 Professora da disciplina de Patologia Animal, LAPA - CAV/UDESC.

RESUMO: Dipetalonema gracile são nematódeos filarídeos que parasitam primatas


neotropicais, transmitidos por insetos culicóides sp. Os vermes adultos são geralmente
encontrados nas serosas da cavidade abdominal, enquanto as microfilárias invadem a
corrente sanguinea e se dissipam pelo resto do corpo. Na Universidade do Estado de
Santa Catarina foram realizadas necropsias de cinco bugios ruivos com esta filária e a
morte de um deles foi diretamente relacionada com a grande infecção parasitária.Na
necropsia se observou aderencias e serosites em vários órgãos.São poucos os relatos
sobre esta filariose, registrada principalmente em outras espécies de primatas. Este é o
primeiro relato de sua ocorrencia no Sul do país.
Palavras Chave: Primatas neotropicais; Filariose; Santa Catarina
ABSTRACT: Dipetalonema gracile are filarial nematodes which parasites primates,
transmitted by culicoides sp. insects. The adult worms are usually found in the serosa of
the abdominal cavity, while the microfilariae invades the bloodstream and dissipate in
through the rest of the body. In University of the State of Santa Catarina were
performed necropsies five howler monkey with this filaria and the death of one of them
was directly connected with the large parasitic infection. At the necropsy were observed
adhesions and serositis in several organs. There few reports of this filariosis, recorded
mostly in other primate species. This is the first report of its occurrence in the south of
the country.
Keywords: New world primates; filariosis; Santa Catarina
INTRODUÇÃO
Dipetalonema gracile são nematódeos filarídeos que parasitam primatas neotropicais.
Os adultos são geralmente encontrados parasitando as serosas das visceras da
cavidade abdominal, enquanto as microfilárias invadem a corrente sanguinea. São
transmitidos por vetores culicóides muito pequenos, conhecidos popularmente como
mosquitos-pólvora. (Notarnicola et al., 2008). A patogenicidade da infecção está
relacionada com a reação local provocada pela aderência dos parasitas nos tecidos.
Em termos gerais, as espécies de dipetalonema são bastante adaptadas aos
hospedeiros e provocam pouca reação tecidual (Dodd e Murphy, 1970).
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram realizadas necropsias de cinco primatas da espécie Alouatta guariba (bugio
ruivo) encaminhados ao Setor de Animais Silvestres do Hospital Veterinário atraves da
Polícia Ambiental para atendimento clínico. No Setor de Patologia, amostras de sangue
foram coletadas para a confecção de esfregaços sanguineos, corados por panótico.
Fragmentos de visceras foram coletadas e fixadas em formalina tamponada a 10%.
Após a fixação, os fragmentos foram processados rotineiramente, corados por
hematoxilina e eosina (H&E) segundo descrito por Prophet et al. (1992) e observados
em microscopia de luz. Amostras dos parasitas encontrados nas cavidades dos
animais foram enviadas para identificação pela Universidade do Texas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na necropsia, observou-se hemorragias, lacerações musculares e anemia compatíveis
com morte causada por trauma. Além disso, estruturas parasitárias, de até 5cm de
comprimento, filiformes, foram observadas livres ou aderidas as serosas de quase
482
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 174, 2013

todos os órgãos, principalmente pleura visceral, saco pericárdico e capsula de glisson


de todos os animais. O grau de infecção parasitária variou de moderado (01/05) a
acentuado (04/05). Aderências entre a pleura visceral e parietal foram obsevadas
(03/05), entre os lobos pulmonares e o pericárdio (02/05) e entre as alças instestinais
(01/05). O quinto bugio apresentou anemia, apatia e desnutrição e morreu antes de
chegar ao hospital. Na necropsia foi observado além das aderencias, deposição de
fibrina sobre o pulmão, fígado e pericardio. Além disso, haviam inúmeros exemplares
de enterobium sp na luz do intestino grosso. Microscopicamente, nas amostras de
pulmão e em esfregaços sanguineos, pode-se observar a presença de microfilárias,
que atraves de identificação, confirmou se tratar da espécie Dipetalonema gracile.
O gênero Dipetalonema compreende seis espécies, e destas, cinco já foram descritas
parasitando primatas (Notarnicola, Pinto e Navone , 2008). Apesar da espécie ter sido
descrita pela primeira vez no século XIX, por Rudolphi (1819), e estar bastante
disseminada pela America Latina, não existem registros de sua ocorrencia no Sul do
Brasil. Freitas (1943) encontrou D.causdipina em seis espécies de primatas no norte e
no centro-oeste brasileiro, e ainda a espécie D.graciliformis em um sagui-de-mãos-
douradas, tambem no norte do país. Entretanto, a ocorrencia de Dipetalonema gracile
no estado de Santa Catarina está de acordo com os achados de Notarnicola et al.,
(2008) que analisou a distribuição geográfica do parasita e demonstrou que esta
espécie habita regiões entre os eixos 20ºN e 24ºS, de latitude e longitude, ao contrario
da espécie D. Causpidina, situada mais ao norte.
Segundo Plesker, 2002, filariose é geralmente relatada como achado incidental de
necropsia ou exames de rotina. Contudo, o ultimo animal, apresentou sinais clinicos e
lesões macroscópicas compatíveis com morte provocada por intensa infecção
parasitária. Neste caso, as lesões pulmonares não permitiam uma adequada troca
gasosa, e as aderencias provocadas pelo parasita impediam a expansão completa dos
pulmões. O aparecimento desta enfermidade em bugios pode estar associada a
mudanças nas condições climáticas, que proporcionaram um aumento da população de
vetores hematófagos.
CONCLUSÃO
Dipetalonema gracile é uma parasitose frequente em bugios (alouatta guariba) que
habitam as matas da região Sul do Brasil e pode resultar na morte de animais
imunológicamente deprimidos.
AGRADECIMENTO
Gentilmente agradecemos à Thomas M. Craig, do Departamento de Patobiologia
Veterinária da Universidade do Texas pela identificação dos parasitas.
REFERÊNCIAS
DODD, K.; MURPHY, E. Dipetalonema in a capuchin monkey (cebus capucinus). Veterinary Record.
v.87, p. 538-539. 1970.
FREITAS, J. F. T. Achegas Helminthologicas. Revista de Ciencias Biologicas, Belèm v.3, p. 3-40. 1964.
PLESKER, R. A dipetalonema gracile infection in squirrel monkey (saimiri sciureus).Primate Report. v.63,
p. 03-05, 2002.
PROPHET, E. B.; MILLS, B.; ARRINGTON, J. B. et al. Laboratory methods in histotechnology. Armed
Forced Institute of Pathology. American Registry of Pathology, Washington, 279p, 1992.
NOTARNICOLA, J.; PINTO, M. C.; NAVONE, G. T. Host Occurrence and Geographical Distribution of
Dipetalonema spp. (Nematoda: Onchocercidae) in Neotropical Monkeys and the First Record of
Dipetalonema gracile in Ecuador. Comparative Parasitology. v.7, n.1, p.61-68. 2008.

483
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 175, 2013

175. PROTOTECOSE CUTÂNEA DISSEMINADA EM UM TAMANDUÁ-MIRIM


(Tamandua tetradactyla)
(Cutaneous disseminated protothecosis in a collared Anteater (Tamandua
tetradactyla)

Isabela de Oliveira Avelar¹, Marcela Miranda Luppi², Gilson Moreira Rios Neto²,
Marcelo de Campos Cordeiro Malta³, Roselene Ecco4

1 Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal - Escola de Veterinária, UFMG.


2 Médico (a) Veterinário (a) Autônomo (a) -Santo Antônio Energia - UHE
3 Médico Veterinário, Fundação Zoobotânica, Belo Horizonte, MG, Brasil
4 Profa Adjunta. Setor de Patologia. Depto de Clínica e Cirurgia Vet. Escola de Veterinária da UFMG.

RESUMO: Prototecose é uma doença rara, causada por uma alga aclorofilada do
gênero Prototheca. Relata-se um caso de prototecose cutânea em um tamanduámirim
(Tamandua tetradactyla), na região de Porto Velho/Rondônia, apresentando lesões
eritematosas e ulcerativas na pele. O exame histopatológico revelou necrose da
epiderme e infiltrado inflamatório histiocitário na derme, associado a numerosos
organismos com características morfológicas e histoquímicas compatíveis com
Prototheca sp.
Palavras-chave: animais selvagens; alga aclorofilada; histopatologia
ABSTRACT: Protothecosis is a rare disease caused by an achlorophyllic alga of the
genus Prototheca. It is reported a case of cutaneous protothecosis in an anteater
(Tamandua tetradactyla) from Porto Velho area, Rondônia State with erythematous and
ulcerative skin lesions. Histopathological examination revealed epidermis necrosis and
histiocytic inflammatory infiltrate in the dermis, associated with numerous organisms
with morphological and histochemical characteristics consistent with Prototheca sp.
Key words: wild animals; achlorophyllic algae; histopathology
INTRODUÇÃO
Tamandua tetradactyla, mamífero nativo da América do Sul, conhecido popularmente
como tamanduá-mirim ou tamanduá-de-colete, pertence à Ordem Pilosa, família
Myrmecophagidae e gênero Tamandua (Miranda e Costa, 2007). Os
microrganismos unicelulares do gênero Prototheca são algas aclorofiladas, imóveis e
possuem afinidade filogenética com a Chlorella spp. É considerada uma zoonose
emergente em animais e humanos, possuindo distribuição mundial. Por serem
organismos saprófitos do solo, são encontrados na matéria orgânica e na água (Pore et
al., 1983). As cinco espécies reconhecidas são P. moriformis, P. stanora, P. ulemera,
P. wickerhammi, P. zopfii (Tsuji et al., 2006). O presente trabalho tem como objetivo
descrever o primeiro relato com achados clínicos e patológicos da infecção pela
Prototheca spp. em um tamanduá-mirim.
RELATO DO CASO
Uma fêmea adulta de tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) oriunda do resgate de
fauna das áreas de influência da Usina Hidrelétrica Santo Antônio em Porto
Velho/Rondônia, apresentava lesões de pele eritematosas e ulcerativas disseminadas,
mais intensas nas regiões do focinho, orelhas, cauda, membros pélvicos, torácicos e
dígitos. Posteriormente ao exame físico realizado pelo veterinário responsável, foi
instituído um tratamento com aplicação tópica de antinflamatório e antibiótico
doxiciclina (5 mg/Kg/24hs) IM por 10 dias. Durante esse período foram oferecidos
cupins, iogurte e papa própria para tamanduás sempre com suplementação de vitamina
K e taurina. Não havendo remissão dos sinais, foi realizada a biopsia com a coleta de
dois fragmentos de pele com lesão fixados em formalina 10% para análise
histopatológica. O material foi enviado para o Laboratório de Histopatologia da Escola
de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. As amostras teciduais foram
clivadas, processadas rotineiramente, incluídas em parafina, seccionadas em quatro
484
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 175, 2013

micrômetros e coradas pela Hematoxilina e Eosina (HE). Posteriormente, seções foram


também submetidas à coloração especial pelo ácido periódico Schiff (PAS). Nas
secções histológicas da pele foram encontradas áreas de ulceração na epiderme
associada a restos celulares, hemorragia moderada e infiltrado inflamatório composto
por macrófagos e neutrófilos. Na derme profunda foram observados numerosos
macrófagos e neutrófilos associados a estruturas redondas de 15 a 20 micrômetros de
diâmetro. Tais estruturas apresentavam uma parede celular fracamente basofílica e
homogênea com núcleo denso, basofílico e abundante. Algumas estruturas
apresentavam divisões, com organismos apresentando dois a três núcleos. A
morfologia das estruturas observadas no HE foi sugestiva de algas, por isto, realizou-se
a coloração especial pelo PAS que marcou fortemente as estruturas, possibilitando
observar numerosos esporângios, contendo internamente esporangiosporos. Concluiu-
se que as estruturas acentuadamente coradas, apresentavam morfologia compativel
com Prototheca spp. A ausência de grânulos intracitoplasmáticos permitiu diferenciar
histologicamente da Chlorella sp. Após o diagnóstico de prototecose, o animal iniciou
um tratamento com intraconazol por via oral na dose de 8 mg/Kg a cada 24 horas.
Houve uma discreta resposta positiva ao tratamento com o início da remissão dos
sinais, porém o animal morreu após 50 dias do início da medicação.
DISCUSSÃO
As alterações clinico-patológicas associadas à morfologia do microrganismo permitiram
o diagnóstico de prototecose cutânea disseminada. Este é o primeiro relato de
prototecose diagnosticada em Tamanduá-mirim. No Brasil, os dados epidemiológicos
sobre a distribuição de algas patogênicas são escassos. A infecção e patogênese da
prototecose ainda não foram esclarecidas. Na forma cutânea, a porta de entrada pode
ser a pele traumatizada em contato com ambientes contaminados (Hollingsworth,
2000). A disseminação sistêmica da alga por via linfática e hematogênica para
múltiplos orgãos também pode ocorrer (Siqueira et al., 2008). O diagnóstico de
prototecose pode ser realizado pela cultura do organismo, imunofluorescência, PCR ou
histopatologia associada à colorações especiais como GMS, PAS e Giemsa
(Hollingsworth, 2000; Stenner et al., 2007; Tsuji et al., 2006). Neste relato, a coloração
de PAS contribuiu para um diagnóstico diferencial de Chlorella, pela ausência de
grânulos intracitoplasmáticos PAS-positivos. A maioria dos casos de prototecose
sistêmica em cães e de mastite em bovinos tem sido atribuída a P. zopffi (Stenner et
al., 2007). Enquanto, P. wickerhamii é o principal agente que causa a prototecose
cutânea em humanos, gatos e cães (Coloe e Allison, 1982; Hollingsworth, 2000;
Stenner et al., 2007). Em animais selvagens, somente um relato em castor foi
encontrado, no entanto a espécie não foi confirmada (Sileo e Palmer, 1973). Em
relação ao tratamento, não foram descritos resultados eficazes em animais (Bexiga et
al., 2003). Possivelmente, o diagnóstico tardio em animais pode contribuir para este
fato. No caso de lesões cutâneas, o diagnóstico precoce poderia auxiliar nas medidas
curativas. No animal do presente estudo, o atendimento do animal já com lesões
avançadas até a obtenção do diagnóstico dificultou a obtenção de um resultado
terapêutico eficaz.
CONCLUSÃO
Relatos da ocorrência de prototecose em animais selvagens são raros. O diagnóstico
de prototecose no Tamandua tetradactyla, deste relato alerta sobre a ocorrência da
doença neste e, possivelmente em outros mamíferos selvagens. Lesões eritematosas e
ulcerativas na pele devem fazer parte do diagnóstico diferencial das patologias
cutâneas nessas espécies.
Agradecimentos
À CAPES, CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro

485
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 175, 2013

REFERÊNCIAS
BEXIGA, R.; CAVACO, L.; VILELA, C.L. Isolamento de Prototheca zopfii a partir de leite bovino. Revista
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COLOE, P.J.; ALLISON, J.F. Protothecosis in a cat. Journal of the American Veterinary Medical
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HOLLINGSWORTH, S.R. Canine Protothecosis. Veterinary Clinics of North America: Small Animal
Practice, v.30, n.5, p.1091-1101, 2000.
MIRANDA, F.; COSTA, A.M. Xenartha (Tamanduá, Tatu, Preguiça). In: CUBAS,
Z.S.; SILVA, J.C.R.; CATÃO-DIAS, J.L. Tratado de Animais Selvagens. 1.ed. São paulo: Roca, 2007,
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PORE, R.S.; BARNETT, E.A.; BARNES, W.C. Prototheca ecology. Mycopathologia, v.81, p.49-62, 1983.
SILEO, L.; PALMER, N.C. Probable cutaneous protothecosis in a beaver. Journal of Wildlife Diseases,
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SIQUEIRA, A.K.; RIBEIRO, M.G.; SALERNO, T. Prototecose em animais de companhia e aspectos da
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STENNER, V.J.; MACKAY, B.; KING, T. et al. Protothecosis in 17 Australian dogs and review of the
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TSUJI, H.; KANO, R.; HIRAI, A. et al. An isolate of Prototheca wickerhamii from systemic canine
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 176, 2013

176. RELATO DE CASO:


DISGERMINOMA EM LOBO-GUARÁ (Chrysocyon brachyurus)
(Case report: dysgerminoma in a maned wolf (Chrysocyon brachyurus))

Juliano Nobrega¹, Diogo P. Rossetti², Renee L. Amorim³, Noeme S. Rocha³, Alessandre


Hataka4, Carlos R. Teixeira5

1 Residente no setor de Patologia Veterinária do Departamento de Clínica Vet, FMVZ/UNESP-Botucatu.


2 Residente no setor do Centro de Med e Pesquisa de Animais Silvestres do Depto de Cirurgia e
Anestesiologia Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu.
3 Prof. Adj. Dr. do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ /UNESP – Botucatu
4 Prof. Ass. Dr. do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ /UNESP – Botucatu,
5 Prof. Ass. Dr. do Depto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária – FMVZ/ UNESP – Botucatu.

RESUMO: Caso de disgerminoma bilateral em um lobo-guará fêmea (Chrysocyon


brachyurus) de 10 anos de idade com sinais de prostração e hiporexia há sete dias. O
animal foi submetido à cirurgia de ovariosalpingohisterectomia (OSH) e as amostras
teciduais foram encaminhadas ao Serviço de Patologia Veterinária. Microscopicamente
foi diagnosticado tumor de células germinativas.
Palavras-chave: neoplasia; silvestres; tumor de células germinativas
ABSTRACT:Case of bilateral dysgerminoma in a 10-year-old captive maned wolf
(Chrysocyon brachyurus) with signs of prostration and hyporexia for seven days. The
animal was spayed and tissue samples were sent to the Veterinary Pathology Service.
Microscopically the diagnosis was germ cell tumor.
Key words: germ cell tumor; neoplasia; wild animals
INTRODUÇÃO
Disgerminoma é o tumor das células germinativas do ovário, análogo ao seminoma
testicular nos machos (Andrews et al., 1974). Apesar de raro, é um distúrbio que ocorre
em fêmeas de espécies domésticas e é relatado também nas espécies silvestres
(MacLachlan e Kennedy, 2002). Este relato descreve um caso de disgerminoma
bilateral em lobo-guará fêmea (Chrysocyon brachyurus).
MATERIAL E MÉTODOS
Um lobo-guará fêmea (Chrysocyon brachyurus) com 10 anos de idade, proveniente do
Zoológico Municipal de Bauru (SP), foi encaminhado ao Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista
―Júlio de Mesquita Filho‖ (FMVZ-UNESP) Câmpus de Botucatu (SP). O animal
apresentava quadro de prostração e hiporexia há sete dias, além de manter-se em
decúbito lateral. Realizaram-se hemograma, bioquímico, urinálise e
coproparasitológico, além de raio-X, ultrassom e exame citopatológico. Foi realizada
OSH com coleta de material para exame histopatológico. Após o procedimento
cirúrgico o animal não apresentou recuperação favorável, foi eutanasiado e enviado
para exame necroscópico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao exame radiográfico foram observadas estruturas esféricas radiopacas em abdômen,
duas caudais aos rins, medindo aproximadamente 8,24 x 7,4 cm e 10,99 x 8,27 cm, e a
terceira dorsal ao cólon, na topografia de linfonodo ilíaco. Durante o exame
ultrassonográfico visibilizou-se formação cística ovariana bilateral, além de aumento de
volume na topografia de linfonodo ilíaco.
Citologicamente colheu-se da referida estrutura cística 0,5 mL de líquido acastanhado
discretamente opaco que foi submetido à citocentrifugação. Microscopicamente
observou-se celularidade discreta composta por células arredondadas a poligonais
agrupadas, por vezes individualizadas. Apresentavam quantidade moderada de
citoplasma basofílico pouco distinto, núcleo arredondado excêntrico exibindo alta
relação núcleo:citoplasma, cromatina grosseiramente pontilhada e raros nucléolos
487
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 176, 2013

evidentes. Anisocitose e anisocariose marcadas. O fundo de lâmina era composto por


quantidade discreta de neutrófilos e linfócitos, além de quantidade acentuada de
hemácias.
O fragmento do ovário enviado para exame microscópico mediu 1,1 x 0,9 x 0,3 cm, era
esbranquiçado com áreas avermelhados e com múltiplas formações císticas. Além
deste, um fragmento enegrecido que mediu 1,5 x 1,0 x 0,5 cm envolto por estrutura
capsular lisa. A avaliação histopatológica revelou celularidade acentuada composta por
células redondas a poliédricas de citoplasma basofílico escasso, núcleo vesiculoso
central, cromatina grosseira e nucléolos múltiplos evidentes. Anisocitose e anisocariose
marcadas. Presença de cinco mitoses por campo de grande aumento (40x), áreas de
hemorragia e congestão vascular.
O exame de necropsia revelou pneumonia hipostática, enterite, além de estenose em
duodeno, rins com múltiplas áreas de infarto, cistite e esteatose hepática.
Existem poucos relatos de neoplasias e não há prevalência de disgerminoma nesta
espécie. Tumores ovarianos são incomuns na maioria dos mamíferos, respondendo por
cerca de 1 a 6% dos tumores (Munson e Montali, 1991, Schlafer e Miller, 2007).
Greenle e Patnaik (1985) em uma revisão de casos da literatura observaram que os
disgerminomas responderam por 7,5% das neoplasias ovarianas. Relataram ainda que
a forma mais comum de disgerminoma é unilateral, o que contrasta com o observado
no presente relato.
CONCLUSÃO
Neoplasias em lobo-guará são pouco descritas. O relato de novos casos agrega dados
epidemiológicos os quais auxiliam no diagnóstico e podem contribuir para seleção de
indivíduos aptos a reprodução e assim preservar a espécie que corre risco de extinção.
REFERÊNCIAS
ANDREWS, E. J.; STOOKEY, J. L.; HELLAND, D. R. et al. A Histophatological Study of Canine and
Feline Ovarian Dysgerminomas. Canadian Journal of Comparative Medicine, v.38, p.85-89, 1974.
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488
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 177, 2013

177. SPIRURIDEOS ASSOCIADOS A PROVENTRICULITE E VENTRICULITE EM


GALINHA DE SUBSISTÊNCIA
(Spirurides associated with proventriculitis and ventriculitis in backyard
chickens)
Camila Costa Silva, Isabela de Oliveira Avelar, Juliana Fortes Vilarinho Braga,
Aparecida Tatiane Lino Fiúza, Roselene Ecco

Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, Escola de Veterinária da UFMG

RESUMO: Relata-se um caso de endoparasitose por spirurídeos no aparelho digestório


de uma galinha de subsistência. O proventrículo apresentava parede espessada com
áreas circulares vermelho-escuras nas glândulas da submucosa. No ventrículo foram
observados nódulos branco-amarelados e firmes sob a membrana coilina com vários
nematódeos cilíndricos intralesionais. Na histopatologia do proventrículo observou-se
ectasia glandular associada a fêmeas de spirurídeos consistentes com Tetrameres spp.
intraluminais, além de infiltrado linfocitário e eosinofílico. No ventrículo observaram-se
áreas de necrose e infiltrado celular misto associados a secções de spirurídeos,
possivelmente Cheilospirura hamulosa (C. hamulosa). A proventriculite e ventriculite
causada por spirurídeos pode levar a importantes alterações patológicas e transtornos
gastrointestinais em aves.
Palavras-chave: aparelho digestório; aves de subsistência; Cheilospirura hamulosa;
Tetrameres sp.
ABSTRACT: Endoparasitosis by spirurides in the digestive system of backyard chicken
is reported. The proventricle wall was thickened with dark red circular areas in the
submucosa glands. The gizzard showed firm and yellowish-white nodules under koilin
membrane containing intralesional cylindrical nematodes. Histopathology of the
proventriculus showed glandular dilatation and intraluminal female spirurides consistent
with Tetrameres spp. beneath lymphocytes and eosinophils infiltrate. The gizzard
presented areas of necrosis and inflammatory cells surrounding spirurides transversal
sections, compatible with C. hamulosa. The proventriculitis and ventriculitis caused by
spirurides can lead to significant pathological changes and gastrointestinal disorders in
chickens.
Key words: Backyard chicken; Cheilospirura hamulosa; digestive system; Tetrameres
sp.
INTRODUÇÃO
A ocorrência de endoparasitoses em galinhas de subsistência variam de intensidade de
acordo com o tipo e quantidade de parasita, órgãos envolvidos no seu ciclo de vida,
além do estado imune das aves, condições de nutrição, sanidade e higiene do plantel
(Reunó et al., 2008). Os nematódeos constituem o grupo mais importante de helmintos
das aves domésticas em número de espécies, número de animais infectados e de
danos causados. Esses parasitas possuem extremidades afiladas, são longos,
revestidos por uma cutícula e tubo digestivo completo (Yazwinski e Tucker, 2008).
Além disso, apresentam dimorfismo sexual, são brancos a branco-amarelados, salvo
nos casos em que, devido a ingestão de sangue, apresentam-se avermelhados (Silva e
Zocche, 2009). Os trematódeos, cestódeos e acantocéfalos são relativamente de
menor importância na criação de aves domésticas comerciais, mas são importantes em
outros passáros (Yazwinski e Tucker, 2008). Dentre os nematódeos que parasitam o
proventrículo e ventrículo das aves domésticas estão Tetrameres americana,
Tetrameres fissispina, Cyrnea colini, Dispharynx spiralis, Echinuria uncinata,
Microtetrameres helix e C. hamulosa (Yazwinski e Tucker, 2008). Este relato de caso
tem como objetivo descrever as alterações patológicas e características histológicas de
dois endoparasitas da família Spiruridae encontrados no proventrículo e ventrículo de
uma galinha de criação de subsistência.

489
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 177, 2013

RELATO DO CASO
Órgãos do aparelho digestório de uma galinha de subsistência proveniente da região
de Abaeté fixados em formol neutro a 10% foram examinados e encaminhados
rotineiramente para exame histopatológico. As alterações foram observadas
especialmente no proventrículo e ventrículo. Macroscopicamente, o proventrículo
estava com a parede acentuadamente espessada e, ao corte apresentou áreas
circulares multifocais vermelho-escuras de aproximadamente 2 mm de diâmetro, que
se localizavam nas glândulas da submucosa. Pontos vermelho-escuros eram
visualizados através da serosa. No ventrículo foram observados nódulos branco-
amarelados, firmes, com aproximadamente 7 x 4 mm de diâmetro, localizados sob a
membrana coilina e envolvendo toda a parede até a serosa. A superfície de corte
destes nódulos revelou áreas necróticas amareladas friáveis e vários nematódeos
cilíndricos com extremidades afiladas medindo aproximadamente 24 mm de
comprimento e 300 mm de diâmetro. Na histopatologia do proventriculo foram
observadas áreas multifocais de ectasia glandular, revestidas por epitélio achatado e
com lúmen contendo moderada quantidade de secções transversais de fêmeas de
nematódeos spirurídeos consistentes com Tetrameres spp. Os parasitos apresentavam
uma cutícula delgada, musculatura indistinta, pseudoceloma contendo material
eosinofílico abundante e útero largo contendo miríades de ovos embrionados com
parede espessa. Em alguns destes ovos foi possível observar o filamento polar. Na
lâmina própria observou-se infiltrado discreto linfocitário e eosinofílico, além de
agregados multifocais de linfócitos. No ventrículo observaram-se áreas multifocais de
necrose associadas a infiltrado por heterófilos, linfócitos, plasmócitos, macrófagos e
fibroplasia extensa. Várias secções transversais de nematódeos spirurídeos foram
observadas em meio ao infiltrado presente na submucosa e envolvendo a parede
muscular. Os parasitos apresentavam a cutícula com cordões basofílicos, musculatura
celomariana, cavidade corporal e intestino composto por células uninucleadas
colunares com microvilosidades formando borda em escova. As fêmeas continham
útero com ovos embrionados pequenos com a parede espessa. De acordo com a
localização, tamanho e as características patológicas encontradas acredita-se tratar do
spirurídeo C. hamulosa.
DISCUSSÃO
A avaliação histopatológica associando a morfologia e localização dos parasitas
possibilitou a identificação e relação mais precisa do parasita com a patogenicidade e
consequência para a ave. Assim como afirma Machado et al. (2006), a infestação por
Tetrameres sp. pode levar à proventriculite devido à localização das fêmeas dos
parasitas profundamente nas glândulas do proventrículo, e os machos na superfície da
mucosa. A localização intraglandular dos parasitas como observado leva ao
achatamento do epitélio glandular, assim como foi relatado por Coelho et al. (2011).
Segundo Yazwinski e Tucker (2008), os spirurídeos possuem pequenos ovos
embrionados de parede delgada, e o Tetrameres sp. possui como particularidade um
filamento polar na extremidade, o que possibilitou classificar o gênero. De acordo com
Alicata (1947) e Menezes et al (2003), o spirurídeo C. hamulosa causa anemia,
emagrecimento e morte das aves como consequência de infestações severas. No
entanto, mesmo em menor número, este parasita pode causar lesão na parede do
ventrículo interferindo com a atividade muscular afetando a digestão mecânica e
absorção dos alimentos pelo hospedeiro. Brener et al. (2006) descreveram lesões
semelhantes às relatadas na ave desse estudo, caracterizadas por intenso infiltrado de
granulócitos e células mononucleares estendendo-se até as camadas musculares.
Menezes et al. (2003) também relatam a presença de ovos em diferentes estágios no
lúmen do ventrículo. Os spirurídeos possuem como hospedeiros intermediários os
gafanhotos, besouros e outros insetos que se alimentam de plantas ou grãos. As aves
490
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 177, 2013

se infectam quando ingerem o hospedeiro intermediário. Sendo assim, as aves de


subsistência são mais acometidas devido ao sistema de criação (Yazwinski e Tucker,
2008).
CONCLUSÃO
A ocorrência de spirurídeos em criações de aves de subsistência leva a uma má
nutrição e baixo desenvolvimento em decorrência dos transtornos gastrointestinais
como a proventriculite e a ventriculite gerados por esses.
Agradecimento(s)
À CAPES, CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro.
REFERÊNCIAS
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491
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 178, 2013

178. SURTO DE MENINGOENCEFALITE NÃO SUPURATIVA PROVAVELMENTE


CAUSADA POR HERPESVÍRUS, EM PRIMATAS DO GÊNERO CALLITHRIX
(Outbreak of non-suppurative meningoencephalitis, probably caused by
herpesvirus in common marmosets)

Alexandre A. Arenales Torres¹; Ana Carolina Ortegal Almeida¹; Maria Emília Bodini
Santiago²; Lauro Leite Soares Neto²; Maria Cecília Rui Luvizotto¹
1. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - FMVA, Brasil.
2. Parque Zoológico Municipal de Bauru (PZMB), Brasil.
RESUMO: Os calitriquídeos são susceptíveis a infecção por Herpesvirus Humano tipo
1 (HHV-1), podendo causar dermatite e glossite ulcerativa, além de necrose em
múltiplos órgãos. O diagnóstico presuntivo de HHV-1 em primatas pode ser feito
baseado no histórico clínico e anatomopatológico. Este trabalho tem o objetivo de
relatar um surto de encefalite por herpesvírus em três Callithrix jacchus e dois Callithrix
penicillata de vida livre ao redor do Parque Zoológico Municipal de Bauru, ocorrido no
em 2013. Na necropsia evidenciou-se encefalite nos cinco animais e úlceras na língua
de três deles. A análise histopatológica revelou meningoencefalite linfoplasmocitária
discreta a moderada, e nos neurônios, inclusões eosinofílicas intranucleares, Cowdry
tipo A em três amostras. As lesões microscópicas direcionaram para o diagnóstico
presuntivo de HHV-1.
Palavras-chave: calitriquídeos; meningoencefalite; HHV-1
ABSTRACT: Common marmosets are susceptible to infection by Human Herpesvirus
type 1 (HHV-1), and it may cause dermatitis and ulcerative glossitis, and necrosis in
multiple organs. A presumptive diagnosis of HHV-1 in primates can be made based on
clinical history and pathology. This study aims to report an outbreak of encephalitis
herpesvirus in three Callithrix jacchus, and two Callithrix penicillata from wildlife around
the Parque Zoológico Municipal de Bauru, occurred in 2013. Necropsy avaliation
showed encephalitis in five animals and ulcers on the tongue three of them.
Histopathology showed mild to moderate lymphoplasmacytic meningoencephalitis, and
in the neurons, eosinophilic intranuclear inclusions, Cowdry type A in three samples.
Microscopic lesions directed to the presumptive diagnosis of HHV-1.
Key words: Commum marmosets; meningoencephalitis; HHV-1.
INTRODUÇÃO
Os vírus da família Herpesviridae de uma forma geral causam lesões leves nos
hospedeiros considerados naturais, entretanto quando acometem outras espécies,
podem causar lesões graves e até fatais (Costa et al, 2011; Lefaux et al, 2004; Matz-
Rensing et al, 2003). Os surtos de herpesvirus humano tipo 1 (HHV-1) em
calitriquídeos já descritos na literatura mostram que os primatas, especialmente do
Novo Mundo, apresentam alta susceptibilidade ao vírus (Casagrande, 2007; Costa et
al, 2011; Matz-Rensing et al, 2003). A infecção por HHV-1 nos primatas ocorre por
contanto com humanos infectados, por meio de fômites, como alimentos contaminados
com saliva, e também de animal para animal (Costa et al, 2011; Schrenzel et al, 2003).
Em seres humanos, a infecção por HHV-1 é considerada benigna, e causa
gengivoestomatite e ceratite leves, raramente encefalite e doença sistêmica (Lefaoux et
al, 2004; Schrenzel et al, 2003). Entretanto, calitriquídeos infectados por HHV-1 podem
manifestar a doença de forma grave, apresentando úlceras na face, região nasal,
junção muco cutânea e língua, além de conjuntivite e áreas de necrose focal em
múltiplos órgãos (Costa et al, 2011; Matz-Rensing et al, 2003). Segundo King et al
(1998) o diagnóstico de herpesvirus simplex pode ser feito de forma presuntiva se
baseado nas alterações clínicas e achados anatomopatológicos, porém, em algumas
espécies não é possível diferenciar a infecção por Herpesvirus Simplex do Herpesvirus
Tamarinus, sendo necessário o uso de técnicas de diagnóstico avançadas.

492
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 178, 2013

Este trabalho tem o objetivo de relatar um surto de encefalite por herpesvírus em cinco
primatas do gênero Callithrix ocorrido em 2013.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram encaminhados ao Serviço de Patologia Veterinária da Faculdade de Medicina
Veterinária de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖
(FMVA – UNESP) pelo Parque Zoológico Municipal de Bauru amostras de cinco
necropsias referentes a três Callithrix jacchus e dois Callithrix penicillata, de vida livre
que viviam próximos a área do zoológico, sendo dois destes encontrados mortos e três
submetidos a eutanásia devido a ataxia grave e convulsões. Segundo histórico, na
necropsia havia alterações macroscópicas compatíveis com encefalite em todos os
animais e úlceras na língua de três deles. Os tecidos foram processados rotineiramente
e corados com hematoxilina e eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na análise histopatológica do sistema nervoso central dos cinco animais havia reação
inflamatória de intensidade variável caracterizada como meningite linfoplasmocitaria
discreta a moderada de distribuição difusa. No neurópilo, presença de maguitos
perivasculares multifocais compostos por infiltrado linfocitário acentuado, associado a
reação endotelial. No parênquima adjacente, necrose neuronal caracterizada por
redução do tamanho celular e aumento da eosinofilia citoplasmática e infiltrado
neutrofílico, além de gliose discreta, caracterizando meningoencefalite
linfoplasmocitária. Em três dos cinco casos foram observadas, nos neurônios, inclusões
intranucleares eosinofílicas de aproximadamente 7,0 μm de diâmetro aliado a
marginalização da cromatina, aspecto este, compatível com inclusões Cowdry tipo A,
identicas às inclusões de herpesvirus. Na língua foram observadas formações de
úlceras por necrose do epitélio, associado a colônias bacterianas e consequente
infiltrado neutrofílico. Não foram encontradas inclusões virais nas úlceras da língua,
entretanto, Costa et al (2011) descreve a visualização de inclusões de herpesvírus na
língua de apenas um dos 14 animais avaliados, sendo este provavelmente um achado
incomum. As alterações descritas no presente trabalho são semelhantes aos surtos em
calitriquídeos descritos por Casagrande (2007), Costa et al (2011), Laufaux et al (2004)
e Matz-Rensing et al (2003), entretanto estes autores, após a suspeita de herpesvirus,
confirmaram a presença do HHV-1 por meio de técnicas de diagnóstico avançado. O
diagnóstico estabelecido no presente relato foi de encefalite por herpesvirus, sendo
esta, provavelmente causada pelo Herpesvirus Humano tipo 1, uma vez que se tratam
de animais sinantrópicos.
CONCLUSÃO
Os animais do presente relato apresentaram lesões compatíveis com herpesvirose,
evidenciando a maior susceptibilidade dos primatas do gênero Callithrix e a
possibilidade de ocorrência desta em forma de surto. Os achados anatomopatológicos
direcionaram para o diagnóstico presuntivo de HHV-1.
REFERÊNCIAS
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Caracterização anatomopatólogica e molecular. 2007, Sao Paulo 110f. Dissertação (Mestrado em
Patologia Experimental e Comparada) – Curso de Pós-graduação da Faculdade de Medicina Veterinaria
e zootecnia da Universidade de Sao Paulo.
COSTA, E.A.; LUPPI, M.M.; MALTA, M.C.C. et al. Outbreak of Human Herpesvirus Type 1 Infection in
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493
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 179, 2013

179. TERATOMA EM UM VEADO CAMPEIRO (Ozotoceros bezoarticus)


(Teratoma in a Deer (Ozotoceros bezoarticus))

Thaís Corrêa Costa¹; Renata Madureira¹; Rogério Anderson Marcasso¹; Carmen


Lucia Scortecci Hilst²; Giovana Wingeter Di Santis¹

¹ Laboratório de Patologia Animal; Departamento de Medicina Veterinária Preventiva – UEL


² Departamento de Clínicas Veterinárias; Universidade Estadual de Londrina – UEL

RESUMO:Teratomas são neoplasias raras cujas células são originadas de dois ou dos
três folhetos embrionários. Descreve-se um caso de teratoma supraselar em um filhote
de veado campeiro encaminhado para necropsia após apresentar cegueira central,
incoordenação motora e incapacidade de mamar, seguindo-se o óbito. Apresenta
massa em região supraselar, branca-acinzentada, com áreas sólidas e císticas
alternando-se e conteúdo viscoso nas áreas císticas. Microscopicamente caracteriza-se
pela presença de tecidos epiteliais e mesenquimais dispostos aleatoriamente,
destacando-se a presença de cistos repletos de queratina e recobertos por epitélio
escamoso ou ciliado, focos de cartilagem e de osso. Este é o primeiro relato de um
teratoma no sistema nervoso central de um cervídeo.
Palavras-chave: cérebro; neoplasia; supraselar
ABSTRACT:Teratomas are rare neoplasms which cells are derived from two or three
germ layers. We describe a case of teratoma supraselar in a deer submitted for
necropsy after presenting central blindness, incoordination and inability to suckle,
followed by death. Shows mass in supraselar region, with grayish-white coloration,
cystic and solid areas alternating and viscous content in cystic areas. Microscopically
characterized by the presence of epithelial and mesenchymal tissues arranged
randomly, emphasizing the presence of cysts filled with keratin and covered by
squamous epithelium or ciliated, and foci of cartilage and bone. This is the first report of
a teratoma in the central nervous system of a deer.
Key words: brain; neoplasm; suprasellar
INTRODUÇÃO
Os teratomas são neoplasias raras geralmente encontradas nas gônadas, mas já foram
observadas em localização extragonadal como placenta e glândula pituitária (Gurfield e
Benirschke, 2003; Maekawa et al., 1989). Há relatos desse tumor em diferentes locais
no cão (Gulçubuk et al., 2012), gato (Gruys et al., 1976), equino (Catone et al., 2004),
furão (Williams et al., 2001) e no rato (Maekawa et al., 1989).
Histologicamente caracteriza-se pela presença de diferentes tecidos originários de pelo
menos dois, e usualmente dos três, folhetos embrionários (Maclachlan e Kennedy,
2002).
Este relato tem o objetivo de descrever as características histopatológicas de um
teratoma localizado no sistema nervoso central de um filhote de veado campeiro e de
relatar o primeiro caso desse tumor em um cervídeo.
MATERIAIS E MÉTODOS
Um filhote de cervo, fêmea, foi encontrado preso a um lamaçal, em uma área de
reserva ambiental apresentando cegueira central e em 10 dias o quadro evoluiu para
incoordenação motora e incapacidade de mamar, vindo a óbito. Foi então encaminhado
ao Laboratório de Patologia Animal da Universidade Estadual de Londrina (UEL) para
realização de exame necroscópico.
Os fragmentos teciduais coletados durante a necropsia foram fixados em formalina
tamponada a 10% e processados pelos métodos de rotina para inclusão em parafina,
clivagem em micrótomo com 5μm de espessura e coloração pelo método de
hematoxilina e eosina - H&E.

494
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 179, 2013

RESULTADO E DISCUSSÃO
Durante o exame necroscópico contatou-se que o cérebro estava moderadamente
aumentado de volume e com achatamento dos giros. Após seccionado sagitalmente
entre os dois hemisférios evidenciou-se um nódulo na região supraselar, medindo
1,5cm de diâmetro, com superfície irregular, coloração variando de esbranquiçado à
acinzentado, parcialmente firme e com áreas contendo cisto de vários tamanhos. Ao
corte da neoplasia, observou-se que este continha áreas sólidas e císticas e que o
conteúdo do cisto era seroso e gelatinoso. Histologicamente o tumor apresenta
diferentes tipos teciduais dispostos de forma aleatória, destacando-se cistos repletos
de conteúdo queratinizado revestidos por camadas de células escamosas, células
epiteliais ciliadas e caliciformes, eventualmente projetando-se em padrão papilar. As
áreas sólidas são compostas por diversos tecidos, como glândulas sebáceas e
mucóide, folículos pilosos, folículos em padrão de rosetas, tecido ósseo e tecido
cartilaginoso, além de um estroma fibrovascular moderado. Gulçubuk et al.(2012),
Williams et al.(2001) e Catone et al.(2004) também observaram a presença de folículos
pilosos no teratoma, diferentemente de Maekawa et al.(1989) e Gurfield e Benirschke
(2003). As células ciliadas e as glândulas mucóides foram observadas por Gulçubuket
al.(2012), Maekawa et al.(1989) e Catone et al.(2004) e os tecidos ósseo e
cartilaginoso foram vistos por Gulçubuk et al.(2012), Maekawa et al.(1989), Catone et
al.(2004), Gurfield e Benirschke (2003) e Williams et al.(2001).
A localização da neoplasia, assim como a presença de tecidos epiteliais escamosos,
células ciliadas e pequenos folículos, aliados à faixa etária do animal, apontam para o
diagnóstico diferencial com o craniofaringioma, originário de remanescentes
embrionários envolvidos na formação da pituitária, mais especificamente da bolsa de
Rathke, contudo esta não apresenta tecidos originários dos três folhetos embrionários,
como observado no presente caso, de forma que o diagnóstico de teratoma é
histologicamente distintivo (Capen, 2002).
CONCLUSÃO
Com a localização e a histopatologia conclui-se tratar de um teratoma supraselar,
entretanto, é importante ressaltar que clinicamente os sinais poderiam confundir-se
com os de doenças infecciosas do sistema nervoso central, inclusive as de caráter
zoonótico como raiva, criptococose e tuberculose, ressaltando a necessidade do
diagnóstico desta lesão em animais da fauna silvestre.
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495
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 180, 2013

180. TOXOCARA CATI EM JAGUATIRICA (LEOPARDUS TIGRINUS) –


RELATO DE CASO
(Toxocara cati in an ocelot (Leopardus tigrinus) – Case Report)

Márcia de Figueiredo Pereira¹; Jaqueline Bianque de Oliveira²; Fernando Leandro


Santos¹; Amanda Silva Dantas¹, Rafael Bruno Marques de Oliveira¹, Robson Nóbrega
do Nascimento¹

1 Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco;


2 Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal Tropical da UFRPE

RESUMO: Relata-se o achado de Toxocara cati em intestino delgado de uma


jaguatirica (Leopardus tigrinus), encontrada morta às margens de uma estrada da Zona
da Mata Pernambucana. Foi realizado exame necroscópico e os parasitos
encaminhados para identificação. Outros achados de necropsia incluíram hemorragias
pulmonares e enterite catarral, além de alterações cadavéricas. Destaca-se a
importância de identificação de parasitas gastrointestinais em felinos selvagens de vida
livre e sua possível associação com a presença de gatos domésticos errantes na
região.
Palavras-chave: vermes redondos, parasita gastrintestinal, felídeos selvagens.
ABSTRACT: We report the finding of Toxocara cati in the small intestine of an ocelot
(Leopardus tigrinus), found dead on the banks of a road in the forest zone of
Pernambuco. Necroscopic examination was accomplished and parasites were sent for
identification. Other necropsy findings included pulmonary hemorrhages and catarrhal
enteritis, and post mortem changes. It is highlighted the importance of identifying
gastrointestinal parasites in free-living wild cats and their possible association with
presence of domestic cats wandering in the region.
Key words: roundworms, gastrointestinal parasites, wild felids
INTRODUÇÃO
O Toxocara cati é um helminto gastrintestinal, pertencente à superfamília Ascaridoidea,
mais comum em gatos no mundo (Epe, 2009). É um organismo zoonótico e seu
reconhecimento em indivíduos infectados é particularmente importante (Cook et al,
2008). Sua prevalência em gatos domésticos no Brasil é variável dependendo das
condições de vida do animal e da região, tendo sido relatada prevalência de 28,26%
em gatos dos Centros de Controle de Zoonoses (CCZ) em São Paulo (Ragozo et al,
2002), de 25,2% em gatos de abrigos e do CCZ no Rio de Janeiro, (Labarthe, 2004), e
de 4,11% em gatos do CCZ no Mato Grosso (Ramos et al, 2013).A principal fonte de
infecção para Toxocara cati são os ovos eliminados no ambiente por gatos infectados.
Os ovos são resistentes à degradação e por isso o ambiente constitui um reservatório
da infecção. O desenvolvimento larvar ocorre dentro do ovo e pode levar 3 a 4
semanas em temperatura ambiente. Uma vez que a larva tenha se desenvolvido, o ovo
é infectante e a larva permanece dentro do ovo para contínua proteção (Fisher, 2003).
Foi sugerido que pequenos mamíferos também poderiam atuar como fonte de infecção
para gatos de rua. A importância de gatos domiciliados, gatos de rua, gatos ferais e
felídeos selvagens como fonte de infecção ainda não foi estabelecida (Fisher, 2003).
Após a ingestão oral dos ovos contendo L3, as larvas seguem por migração traqueal
via fígado e pulmão, até chegar ao intestino delgado. Durante e após a migração, a
larva desenvolve-se até o estágio adulto, iniciando a patência oito semanas após a
infecção. Algumas larvas chegam ao tecido muscular e se encistam, retendo a
infectividade. Embora o ciclo de vida seja semelhante ao T. canis, pode-se observar
uma adaptação diferente da relação hospedeiro-parasita: a transmissão lactogênica da
larva só ocorre após a infecção aguda da gata no final da gestação, mas não durante
infecção crônica natural. Após infecção pelo leite, a maioria das larvas sofre

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 180, 2013

desenvolvimento direto no intestino sem migração traqueal. Apenas um pequeno


número de larvas é encontrado em outros órgãos (Epe, 2009).
Os sinais clínicos da toxocariose são de enterite catarral com diarreia, vômitos,
desidratação, anemia e anorexia, após intensa infestação (Epe, 2009).
Este trabalho tem por objetivo relatar o achado de Toxocara cati em intestino delgado
de uma jaguatirica.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi encaminhado para exame necroscópico na Área de Patologia do Departamento de
Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, o cadáver de uma
Jaguatirica (Leopardus tigrinus), encontrada às margens de uma estrada da região da
Zona da Mata Pernambucana, com suspeita de atropelamento. A doação do cadáver
foi feita para fins de estudo. A necropsia foi realizada e parasitos encontrados no
intestino foram encaminhados para o Laboratório de Parasitologia do Departamento de
Biologia da UFRPE, para identificação de acordo com a descrição de Vicente et al.
(1997) e Anderson et al. (2009).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O animal foi identificado como uma jaguatirica, da espécie Leopardus tigrinus (Figura
1). Tratava-se de um animal adulto jovem, medindo pouco mais de 30 cm da cabeça à
base da cauda. Ao exame externo, observaram-se mucosas pálidas e fratura de
dentes. Na cavidade torácica, havia equimoses e sufusões pulmonares. As lesões
pulmonares, assim como a fratura de dentes, foram associadas a possível
atropelamento.
Na cavidade abdominal, à abertura do trato digestivo, observou-se ausência de
conteúdo gástrico e havia restos de material vegetal semelhante a capim no lúmen do
duodeno e enterite catarral. Também foram encontrados, na luz do duodeno, vermes
nematoides esbranquiçados, medindo entre 2,3 e 4,0 cm de comprimento (Figura 2). O
parasito, Toxocara cati (Ascaridoidea, Ascarididae), foi identificado macroscopicamente
pela presença de asas cervicais bem desenvolvidas (em forma de ponta de flecha).
O cadáver apresentava ainda embebição hemolítica avançada, o que dificultava a
visualização de outras alterações.

O Toxocara cati é um parasita zoonótico comum em gatos domésticos e tem sido


encontrado em várias espécies de felídeos selvagens (Ramsey, 2011). Em exames de
amostras fecais de felídeos recém-introduzidos em centros de reabilitação em Jundiaí –
SP e Campo Grande – MS, foram encontrados ovos de Ancylostoma sp e Toxocara
cati em 46% das amostras. O Toxocara cati foi encontrado em quatro amostras de
Leopardus pardalis , uma Panthera onca e um Puma concolor (Holsback et al, 2013).
Na Argentina, ovos de helmintos, incluindo Toxocara cati, foram identificados em sete
felídeos selvagens. A infecção destas espécies de animais pode indicar que há
proximidade e interação com gatos domésticos. Infelizmente, no entanto, as
informações sobre a fauna helmíntica em felídeos Neotropicais é rara e escassa
(Beldomenico et al, 2006).

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 180, 2013

Segundo Jenkins et al (2011), a presença de populações de animais domésticos, como


cães e gatos errantes, circulando entre pessoas e animais selvagens pode constituir
um fator de risco para parasitas zoonóticos, como o Toxocara sp.
A infecção pelo T. cati raramente causa sinais clínicos em felinos selvagens, mas pode
ser persistente mesmo com um tratamento anti-helmíntico agressivo (Ramsey, 2011).
REFERÊNCIAS
ANDERSON, R.C., CHABAUD, A.G., WILLMOTT, S. Keys to the nematode parasites of vertebrates.
Archival volume. CABI International, Wallingford. 2009.
BELDOMENICO, P.M., KINSELLA, J.M., UHART, M.M. et al. Helminths of Geoffroy´s cat, Oncifelis
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266, 2006
COOK, A.K. Feline Infectious Diarrhea.Topics in Companion Animal Medicine, v.23, n.4, p.169-176,
2008.
EPE, C. Intestinal Nematodes: Biology and Control. Veterinary Clinics of North America: Small Animal
Practice,v.39, n.6, p. 1091-1107, 2009
FISHER, M. Toxocara cati: an underestimated zoonotic agent. Trends in Parasitology, v.19, n.4, p.167-
170, 2003.
JENKINS, E.J.; SCHURER, J.M. ; Gesy, K.M. Old problems on a new playing field: Helminth zoonoses
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LABARTHE, N.; SERRÃO, M.L.; FERREIRA, A.M.R. et al. A survey of gastrointestinal helminths in cats
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RAGOZO, A.M.A.; MURADIAN, V., RAMOS E SILVA, J.C. Ocorrência de parasitos gastrintestinais em
fezes de gatos das cidades de São Paulo e Guarulhos. Brazilian Journal Veterinary Research and Animal
Science, São Paulo, v.39, n.5, p.244-246, 2002.
RAMOS, D.G.S.; SCHEREMETA, R.G.A.C.; OLIVEIRA, A.C.S.; et al. Survey of helminth parasites of cats
from the metropolitan area of Cuiabá, Mato Grosso, Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia
Veterinária, v.22, n.2, p.201-206, 2013.
RAMSEY, E.C. Zoonoses of procyonids and Nondomestic felids. Veterinary Clinic of Exotic Animals,
v.14, p.551-556, 2011.
VICENTE, J.J., RODRIGUES, H.O., GOMES, D.C. et al. Nematóides do Brasil. Parte V: Nematóides de
Mamíferos. Revista Brasileira de Zoologia, v.14(Supl.1), p.1-452.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 181, 2013

181. TOXOPLASMOSE E SALMONELOSE CEREBRAL EM UM Cervus elaphus


JOVEM
(Cerebral toxoplasmosis and salmonellosis in a young Cervus elaphus)

Saulo Pereira Cardoso¹, Lorena Ferreira Silva¹, Fernanda Mara Aragão Macedo
Pereira², Luísa Helena Rocha da Silva³, Tatiana Guerreiro Marçola¹ e Janildo Ludolf
Reis Jr¹

1. Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Brasília (UnB);


2. Setor de Clínica e Cirurgia de Animais Silvestres do Hospital Veterinário da UnB;
3. Fundação Jardim Zoológico de Brasília;

RESUMO: Este relato descreve um caso de toxoplasmose e salmonelose em um cervo


nobre (Cervus elaphus), fêmea, com 30 dias de vida, da Fundação Jardim Zoológico de
Brasília. O histórico era de rejeição materna com ausência de ingestão do colostro,
seguido de onfaloflebite, septicemia, sinais nervosos e morte. Macroscopicamente, a
carcaça apresentou onfaloflebite e à abertura do crânio havia pus sobre as
leptomeninges, conificação do cerebelo e malácia no tálamo e sulcos de várias regiões
do córtex encefálico. Microscopicamente, havia meningoencefalite e meningomielite
fibrinosupurativa, malácia, status spongiosus, vasculite, gliose e cistos de protozoário.
Salmonella spp. foi isolada de amostras de encéfalo e Toxoplasma gondii detectado via
PCR.
Palavras-chave: cervídeos, onfaloflebite, septicemia, imunossuprimidos, neonatos
ABSTRACT: This report describes a case of toxoplasmosis and salmonellosis in a 30-
day-old, female, red deer (Cervus elaphus) from the Brasilia Zoo. There was history
mother rejection and lack of colostrum ingestion followed by omphalophlebitis,
septicemia, nervous signs and death. Grossly, there was omphalophlebitis, pus
covering the leptomeninges, cerebellar conning and areas of malacia in the thalamus
and sulci of multiple cerebral cortex regions. Microscopically, there was
fibrinosuppurative meningoencephalitis and meningomyelitis, malacia, status
spongiosus, vasculitis, gliosis and protozoal cysts. Salmonella spp. was isolated on
culture and Toxoplasma gondii was detected on PCR.
Key words: deer, omphalophlebitis, septicemia, immunosuppressed, neonates
INTRODUÇÃO
Salmonelose e toxoplasmose são doenças de distribuição mundial que afetam todas as
espécies animais. Cervídeos que não ingerem colostro são susceptíveis a agentes
infecciosos oportunistas, tais como Salmonella spp. e Toxoplasma gondii. Desta forma,
esses se desenvolvem com facilidade devido à ausência de imunidade passiva
adquirida (Fecteau et al., 2009). Em cervídeos jovens, tal como ocorre em ruminantes
domésticos, a principal porta de entrada bacteriana ocorre pela infecção dos vasos
umbilicais associada à elevada contaminação do ambiente (Smith, 1993) e a infecção
por T. gondii ocorre por ingestão cistos ou pode ocorrer por via transplacentária (Dubey
e Beattie, 1988). Cervídeos são reservatórios de cistos viáveis de T. gondii que podem
ser encontrados no encéfalo e no músculo esquelético (Williamson e Williams, 1980).
Infecções umbilicais por Salmonella spp. são de baixa frequência em ruminantes
(Hathaway et al., 1993). Há relatos de meningoencefalite fibrinosupurativa secundária a
septicemia por Salmonella em camelos (Nour-Mohammadzadeh et al., 2010) e potros
(Patterson-Kane et al., 2011) e encefalite não-supurativa e necrose por T. gondii,
Neospora caninum e Sarcocystis spp. em fetos bovinos (Barr et al., 1990). Este
trabalho tem por objetivo descrever os aspectos anatomopatológicos de um caso de
toxoplasmose e salmonelose cerebral em um Cervus elaphus nascido em cativeiro.
MATERIAL E MÉTODO
Um cervo nobre (Cervus elaphus), com 30 dias de vida, da Fundação Jardim Zoológico
de Brasília, com histórico de rejeição pela mãe e de não ter ingerido o colostro,
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 181, 2013

apresentou onfaloflebite, apatia, andar enrijecido, sinais de cegueira, com progressão


para septicemia, anorexia, quadro comatoso, decúbito lateral, opistótono, pedalagem e
nistagmo. Apesar de ter recebido tratamento adequado, o animal veio a óbito e foi
encaminhado ao Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Brasília
(LPV-UnB) para necropsia. Amostras de órgãos foram coletadas e fixadas em formalina
tamponada 10% para processamento histopatológico rotineiro. Foi feito swab de
abscesso intracranial e encaminhado para isolamento microbiológico. Amostra
congelada de encéfalo foi encaminhada para exame de reação de polimerase em
cadeia (PCR) para diagnóstico diferencial de T. gondii, N. caninum e Sarcocystis spp..
RESULTADOS
Macroscopicamente a carcaça apresentava escore corporal 2 (escala de 1 a 5) e
onfaloflebite necrótica acentuada. O encéfalo apresentava edema acentuado
(conificação do cerebelo) e pús em quantidade moderada recobrindo as leptomeninges.
Havia ainda áreas extensas de malácia no tálamo e em áreas multifocais do córtex
encefálico. Microscopicamente, cortes de telencéfalo, tronco encefálico, cerebelo e
medula espinhal apresentaram meningoencefalite e meningomielite fibrinosupurativa
com áreas extensas de malácia, status spongiosus, vasculite, perivasculite, trombose,
gliose, esferóides axonais, glanglioneurite supurativa e coroidite supurativa. Cistos de
protozoário contendo inúmeros bradizoítos em seu interior ou livres no tecido foram
observados em meio às áreas de malácia. Os vasos umbilicais apresentam-se
acentuadamente distorcidos por necrose e inflamação supurativa transmural com
larvas de dípteros e discreta quantidade de bactérias intralesionais. A cultura
microbiana do fragmento de encéfalo isolou Salmonella spp. e a PCR detectou
Toxoplasma gondii.
DISCUSSÃO
Este trabalho descreve o caso de um cervídeo jovem com falha aquisição da imunidade
passiva (não ingestão do colostro), desenvolveu quadro de onfaloflebite e septicemia,
além de severa lesão cerebral causada por toxoplasmose e salmonelose,
concomitantemente. De acordo com Ajithdoss e colaboradores (2013), salmonelose
septicêmica causa meningoencefalite em ruminantes neonatos imunodeficientes.
Cervídeos são reservatórios de T. gondii, deste modo, a imunossupressão
provavelmente favoreceu ao desenvolvimento do protozoário, o que agravou a lesão
encefálica (Williamson e Williams, 1980). A vasculite encontrada no encéfalo é
compatível com salmonelose, devido a ação de toxinas produzidas por esta (Patterson-
Kane et al., 2011). A lesão observada no sistema nervoso por T. gondii é compatível
com descrito por Barr et al. (1990), bem como por Salmonella descrita por Patterson-
Kane et al. (2011).
CONCLUSÕES
Cervídeos neonatos de cativeiro imunossuprimidos, tal como ruminantes domésticos,
são susceptívies a diversos agentes infecciosos e à infecção umbilical com progressão
para septicemia. Salmonelose septicêmica com meningoencefalite fibrinosupurativa é
pouco frequente em cervídeos. Apesar de cervídeos serem reservatórios de T. gondii, a
doença clínica só ocorre em animais imunossuprimidos, tal como ocorre em ruminantes
domésticos. Animais de cativeiro ao nascer devem receber cuidados veterinários
intensivos e adquirir imunidade passiva a fim de evitar infecções oportunistas e garantir
a imunidade do animal.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 181, 2013

REFERÊNCIAS
AJITHDOSS, D. K.; PORTER, B. F.; CALISE, D. V. et al. Septicemia in a Neonatal Calf Associated with
Chromobacterium violaceum. Veterinary Pathology, v. 46, p.71-74, 2009.
BARR, B.C.; ANDERSON, M.L.; BLANCHARD, P.C. et al. Bovine Fetal Encephalitis and Myocarditis
Associated with Protozoal Infections. Veterinary Pathology, v.27, p.354-361, 1990.
DUBEY, J.P.; BEATTIE, C.P. Toxoplasmosis of animals and man. Chemical Rubber Company Press,
p.220, 1988.
FECTEAU, G.; SMITH, B. P.; GEORGE, L. W. Septicemia and meningitis in the newborn calf. Veterinary
Clinics of North America: Food Animal Practice, v. 25, p.195–208, 2009.
HATHAWAY, S.C.; BULLIANS, J.A.; JOHNSTONE, A.C. et al. A pathological and microbiological
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NOUR-MOHAMMADZADEH, F.; Z.B. SEYED; HESARAKI S. et al. Septicemic salmonellosis in a two-
humped camel calf (Camelus bactrianus). Tropical Animal Health and Production, v.42, p.1601–1604,
2010.
PATTERSON-KANE, J.C.; BAIN, F.T.; DONAHUE, J.M. et al. Meningoencephalomyelitis in a foal due to
Salmonella agona infection. New Zealand Veterinary Journal, v.49, is.4, p.159-161, 2011.
RENTER, D.G.; GNAD, D.P.; SARGEANT, J.M. et al. Prevalence and Serovars of Salmonella in the
Feces of Free-Ranging White-Tailed Deer (Odocoileus virginianus) in Nebraska. Journal of Wildlife
Diseases, v.42, n.3, p.699–703, 2006.
SMITH, D.P. Tratado de medicina interna de grandes animais. São Paulo: ed. Manole, 1993. 953p.
WILLIAMSON J.M.W.; WILLIAMS, H. Toxoplasmosis in farmed red deer (Cervus elaphus) in Scotland.
Research in Veterinary Science, v.29, p.36–40, 1980.

501
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 182, 2013

182. TOXOPLASMOSE EM CUXIÚ-DE-NARIZ-BRANCO (Chiropotes albinasus):


RELATO DE CASO
(Toxoplasmosis in white-nosed Saki (Chiropotes albinasus): Case Report)

Thays Couto Barbosa¹, Alexandre Nascimento Faria², Everson dos Santos


Damasceno¹, Leticya Lerner Lopes¹, Daphine de Paula¹, Fernando Henrique Furlan
Gouvêa³
1 Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Sinop.
2 Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Sinop.
3 Laboratório de Patologia Animal – UFMT. Sinop/MT. fhfurlan@gmail.com
RESUMO: Descreve-se os achados clínicos, patológicos, imunoistoquímicos e
moleculares de um caso de toxoplasmose em Chiropotes albinasus. A principal lesão
histológica caracterizou-se por infiltrado de intensidade variável constituído
principalmente por macrófagos contendo taquizoítos e cistos contendo bradizoítos
acompanhados de pouca ou nenhuma reação inflamatória e/ou necrose. As lesões
tiveram intensidade acentuada no pulmão, moderada no fígado e leve em Medula
óssea, coração, pâncreas, testículos, SNC, Adrenal e linfonodos. Este é o primeiro
relato de toxoplasmose em C. albinasus.
Palavras-chave: hepatite; pneumonia; Toxoplasma gondii
ABSTRACT: This paper describes clinical, pathological, immunohistochemical and
molecular findings of a case of toxoplasmosis in Chiropotes albinasus. The main
histological lesion was characterized by an infiltrate of variable intensity constituted
mainly of macrophages containing tachyzoites and cysts containing bradyzoites
accompanied by little or no inflammatory reaction and / or necrosis. Injuries had
accentuated intensity in the lung, moderate in the liver and mild in bone marrow, heart,
pancreas, testicles, CNS, adrenal and lymph nodes. This is the first report of
toxoplasmosis in C. albinasus.
Key words: hepatitis; pneumonia; Toxoplasma gondii
INTRODUÇÃO
A toxoplasmose é causada pelo Toxoplasma gondii, um coccídio que tem como
hospedeiro definitivo o gato doméstico e felídeos selvagens e como hospedeiros
intermediários a maioria dos vertebrados terrestres (Zachary, 2009). O Toxaplasma
gondii pode infectar uma grande variedade de animais, estando os primatas do Novo
Mundo entre os mais susceptíveis (Zachary, 2009).
Este estudo teve como objetivo descrever os sinais clínicos, achados macroscópicos e
microscópicos do primeiro relato de toxoplasmose em Chiropotes albinasus confirmado
pelas técnicas de imunoistoquímica e PCR.
MATERIAL E MÉTODOS
A doença ocorreu em uma área com vários recintos para primatas no município de
Guarantã do Norte, MT. Nesta área, 8 primatas eram mantidos em recintos separados
de acordo com a espécie, porém todos tinham contato frequente com gados
domésticos que tinham acesso à área dos recintos. Um macho, jovem de
aproximadamente quatro anos da espécie C. albinasus adoeceu e morreu. Esse animal
foi encaminhado para o Laboratório de Patologia Animal da UFMT Sinop para
realização de necropsia. Para exame histológico as amostras foram fixadas em
formalina 10% por 48 horas e processadas rotineiramente para confecção de lâminas
histológicas. Cortes de 5 micrômetros foram corados por hematoxilina e eosina e
observadas em microscópio óptico. Para a imunoistoquímica amostras de pulmão e
fígado processadas segundo Casagrande et al. (2013). Para a realização de PCR
amostras de fígado e pulmão foram coletadas em frasco estéril, congeladas a -20ºC e
submetidas à amplificação com primers específicos para T. gondii (Burg et al., 1989).
RESULTADOS
Repentinamente um primata C. albinasus apresentou apatia que em 24 horas evoluiu
para a morte do animal. Na necropsia observou-se pulmão hiperêmico com áreas
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 182, 2013

multifocais medindo entre 2 e 3 cm com coloração vermelho escuro. A consistência do


parênquima era firme e havia grande quantidade de líquido espumoso em traqueia e
brônquios. No fígado havia pontos brancacentos medindo entre 1 e 2 mm com
distribuição multifocal.
Histologicamente a lesão foi semelhante em todos os tecidos e consistiu em infiltrado
de intensidade variável constituído principalmente por macrófagos que muitas vezes
possuíam citoplasma vacuolizado e continha formas compatíveis com taquizoítos.
Observaram-se ainda cistos contendo formas compatíveis com bradizoítos
acompanhados de pouca ou nenhuma reação inflamatória e/ou necrose. As lesões
tiveram intensidade acentuada no pulmão, moderada no fígado e leve em medula
óssea, coração, pâncreas, testículos, SNC, adrenal e linfonodos.
Através da imunoistoquímica e PCR houve marcação e amplificação, respectivamente,
positiva para T. gondii em fígado e pulmão.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de toxoplasmose em C. albinasus baseou-se nos achados
macroscópicos, microscópicos, imunoistoquímicos e moleculares. A toxoplasmose é
uma das doenças mais importantes para primatas neotropicais e é responsável por
grande parte da morte desses animais em cativeiro (Cunningham et al., 1992; Andrade
et al., 2007; Casagrande et al. 2013).
Os sinais clínicos inespecíficos, como observado neste estudo, são frequentes na
toxoplasmose em primatas neotropicais (Casagrande et al. 2013). Assim como
observado neste estudo, a pneumonia e hepatite são achados frequentes na
toxoplasmose em primatas e, geralmente, são a causa da morte do animal, embora
muitos outros órgão sejam frequentemente afetados. (Cunningham et al., 1992;
Andrade et al., 2007; Casagrande et al. 2013).
Os mamíferos ou aves, podem se infectar de duas maneiras: ingerindo oocistos,
presente na água ou alimento contaminado ou a ingestão de outro hospedeiro
intermediário infectado (Urquhart et al., 1998). No caso estudado, descarta-se a
infecção de C. albinasus pelo consumo de tecidos de hospedeiros intermediários
contaminados, devido aos hábitos alimentares desta espécie (Pinto, 2008). Assim
sendo, a provável fonte de contaminação foram alimentos ou água contendo oocistos
esporulados de fezes de gatos presentes nas proximidades ou no interior da área em
que se encontrava o recinto em que o animal era mantido. Desse modo, medidas
preventivas e de controle devem ser tomadas para se evitar a contaminação e morte de
primatas em cativeiro.
CONCLUSÃO
Esse é o primeiro relato de toxoplasmose em Chiropotes albinasus. Os achados para
esta doença, nesta espécie, são semelhantes ás descritas para outros primatas
neotropicais.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. C. R.; COELHO, J. M. C. DE O.; AMENDOEIRA, M. R. R. et al. Toxoplasmosis in squirrel
monkeys: histological and immunohistochemical analysis. Ciência Rural, v.37, p. 1724-1727, 2007.
BURG, J.L.; GROVER, C.M.; POULETTY, P. et al. Direct and sensitive detection of a pathogenic
protozoan, Toxoplasma gondii by polymerase chain reaction. Journal of Clinical Microbiology. v. 27. n. 8,
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CASAGRANDE, R. A.; SILVA, T. C. E. DA; PESCADOR, C. A. et al. Toxoplasmose em primatas
neotropicais: estudo retrospectivo de sete casos. Pesquisa Veterinária Brasileira. v. 33, n. 1, 2013.
CUNNINGHAM, A. A.; BUXTON, D.; THOMSON, K.M. An epidemic of toxoplasmosis in a captive colony
of squirrel monkeys (Saimiri sciureus). Journal of Comparative Pathology. v.107, p. 207-219, 1992.
PINTO, L. P. Ecologia alimentar do cuxiú-de-nariz-vermelho Chiropotes albinasus (Primates: Pitheciidae)
na Floresta Nacional do Tapajós, Pará. Campinas, SP: [s.n.], 2008. Tese (doutorado) – Universidade
Estadual de Campinas, Instituto de Biologia.
URQUHART, G. M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J. L. et al. In:____ Parasitologia Veterinária. 2° ed. Rio de
Janeiro: Ed. Guanabara, 1998. p. 204-207.
ZACHARY, J. F. Sistema Nervoso. In: McGavin, M. D.; Zachary, J. F. Bases da Patologia em Veterinária.
4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, Cap. 14. p. 895-896.
503
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 183, 2013

183. TOXOPLASMOSE EM CUXIÚS (CHIROPOTES SATANAS): RELATO DE CASO


(Toxoplasmosis in cuxius (Chiropotes satanas): case report)

Luciana F. Costa¹, Andréia P. Turchetti², Herlandes P. Tinoco³, Ângela T. Pessanha³,


Tatiane A. Paixão¹, Renato L. Santos²
1. Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.
2. Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.
3. Depto de Jardim Zoológico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte. rsantos@vet.ufmg.br
RESUMO: Toxoplasmose aguda e fatal tem sido amplamente descrita em primatas do
Novo Mundo. Este relato descreve o primeiro caso de toxoplasmose em Cuxiú
(Chiropotes satanas). Uma fêmea e sua prole foram encontrados mortos em seu
recinto na Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte. Macroscopicamente, foram
observados congestão e edema pulmonar. Histologicamente, os dois animais
apresentaram necrose hepática e inflamação em diversos órgãos associada a múltiplos
cistos com bradizoítos e taquizoítos intralesionais caracterizando toxoplasmose
sistêmica. A infecção por Toxoplasma gondii foi confirmada na fêmea de Cuxiú por
marcação específica por imunoistoquímica.
Palavras-chave: infecção sistêmica; primatas não humanos; Toxoplasma gondii
ABSTRACT: Acute and fatal toxoplasmosis has been widely reported in New World
primates. This report describes the first reported case of toxoplasmosis in a black
bearded saki (Chiropotes satanas). A female and its offspring were found death in its
enclosure at the Fundação Zoo-Botânica, in Belo Horizonte. Grossly, there were
pulmonary congestion and edema. Microscopically, both animals had hepatic necrosis
and inflammation in several organs associated to intralesional bradyzoites cysts and
tachyzoites, characterizing systemic toxoplasmosis. Toxoplasma gondii infection was
confirmed in the female by immunohistochemistry.
Key words: non human primates; systemic infection; Toxoplasma gondii
INTRODUÇÃO
A toxoplasmose é uma moléstia infecciosa cosmopolita causada pelo protozoário
coccídeo Toxoplasma gondii. Os felídeos, hospedeiros definitivos do parasita, elimina
de oocistos nas fezes e inúmeros animais domésticos e selvagens, incluindo primatas
não humanos se infectam e taquizoítos podem proliferar em diversos tecidos (Dubey e
Beattie, 1988). No Brasil, há diversos relatos da infecção por T. gondii em primatas não
humanoscriados em cativeiro e de vida livre (Ephiphanio et al., 2003; Pires et al., 2012;
Casagrande et al., 2013). Toxoplasmose tem sido considerada uma das enfermidades
mais comum em primatas do Novo Mundo (Casagrande et al., 2013) e que
aparentemente são mais susceptíveis a forma aguda e fatal da doença que primatas do
Velho Mundo (Ephiphanio et al., 2003).
Este trabalho tem por objetivo descrever o primeiro relato de infecção por T. gondii em
Cuxiú (Chiropotes satanas), caracterizado por quadro toxoplasmose sistêmica em uma
fêmea e sua prole, criados em cativeiro no Estado de Minas Gerais, Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS.
Uma fêmea de Cuxiú, de oito anos de idade, foi encontrada morta dentro da área de
manobra da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte com um filhote, macho, de 2
meses de idade, agarrado as suas costas. O filhote foi resgatado e não apresentava
sinais clínicos, entretanto o mesmo veio a óbito 15 dias após a morte da fêmea. Os
animais foram necropsiados e fragmentos de diversos órgãos foram fixados em
formlina tamponada a 10%, processados para inclusão em parafina e corados pela
técnica de hematoxilina e eosina. Adicionalmente, alguns tecidos da fêmea foram
submetidos à imunoistoquímica pela técnica de estreptavidina-biotinaperoxidase
utilizando anticorpo policlonal anti-T. gondii em diluição 1:2400.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante necropsia, alterações inespecíficas foram observadas na fêmea. Foi
observada hidrotórax moderado, esplenomegalia moderada, congestão moderada dos
504
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 183, 2013

pulmões, fígado e pâncreas e áreas de infarto no parênquima renal. No filhote,


observou-se congestão e edema pulmonar associados a hepatização pulmonar difusa.
Microscopicamente, observou-se, na fêmea, hepatite necrótica neutrofílica histiocítica
multifocal acentuada e depleção linfóide moderada e difusa no baço associada a
discreto infiltrado inflamatório neutrofílico multifocal. Foram observados no fígado e
baço, inúmeros cistos variando de 10 a 60 μm de diâmetro contendo bradizoítos
arredondados de 2 μm de diâmetro e, livres no interstício, zoítos alongados de 2 a 3
μm. Glomerulonefrite membrano-proliferativa multifocal discreta também foi observada.
O útero apresentou mineralização intravascular multifocal e hemossiderose difusa no
endométrio. No pulmão havia hemorragia e hiperemia difusas, edema multifocal
moderado e antracose. No coração e cerebelo somente a forma cística protozooal foi
observada, sem inflamação associada. Imunomarcação positiva para zoítos e cistos de
T. gondii foi observada no fígado, baço, rim e útero. Ao exame histológico o filhote de
Cuxiú apresentou moderada necrose hepática multifocal predominantemente periportal
associada a infiltrado inflamatório neutrofílico linfo-histiocítico moderado, pneumonia
intersticial linfo-histiocitária multifocal moderada, nefrite intersticial linfo-histiocitária
multifocal moderada com necrose focal discreta e hemorragia multifocal discreta,
miocardite linfo-histiocitária multifocal discreta, colite neutrofílica difusa discreta,
encefalite neutrofílica necrotizante multifocal moderada. Em fragmentos de fígado,
pulmão, coração, cérebro, adrenal, linfonodo e timo foram visualizadas múltiplos cistos
de 10 a 60 μm de diâmetro contendo bradizoítos arredondados de 2 μm de diâmetro e
zoítos alongados de 2 a 3 μm livres no interstício. Os achados histopatológicos
observados nos Cuxiús são semelhantes aos relatos anteriores de infecção por T.
gondii em primatas não humanos. Em um estudo retrospectivo, 43,7% (14/32) primatas
com toxoplasmose aguda apresentaram morte súbita, com ausência de sinais clínicos
prévios. Hepatite e esplenite necrótica, linfadenite, pneumonia intersticial, enterite e
miocardite são alterações mais freqüentes de toxoplasmose sistêmica (Epiphanio et al.
2003, Casagrande et al., 2013). A infecção transplacentária é uma possível via de
infecção por T. gondii em hospedeiros intermediários, sendo sugerida em casos de
infecção fetal de primatas não humanos (Juan-Sallés et al., 2011). Embora o presente
relato demonstre a infecção do parasita em fêmea adulta de Cuxiú e seu filhote, não é
possível confirmar que via de infecção foi transplacentária. O filhote pode ter adquirido
a infecção diretamente do ambiente.
CONCLUSÃO
Baseado nos achados histopatológicos e imunoistoquímicos foi diagnosticado
toxoplasmose sistêmica uma fêmea e um filhote Cuxiú (Chiropotes satanas) sendo a
infecção a provável causa da morte dos dois animais.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico de
Minas Gerais (FAPEMIG). Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes) pelo apoio financeiro. Laboratório TECSA pelo suporte técnico.
REFERÊNCIAS
CASAGRANDE, R.A.; SILVA, T.C.E.; PESCADOR, C.A. et al. Toxoplasmose em primatas neotropicais:
estudo retrospectivo de sete casos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33, n. 1, p. 94-98, 2013.
CUNNINGHAM, A.A.; BUXTON, D.; THOMSON, K.M. An epidemic of toxoplasmosis in captive colony of
squirrel monkeys (Saimiri sciureus). Journal of Comparative Pathology, v.107, p. 207-209, 1992.
DUBEY, J.P.; BEATTIE, C. Toxoplasmosis of animals and man. Boca Raton, Fla:CRC Press,1988, 220p.
EPIPHANIO, S.; SINHORINI, I.L.; & CATÃO-DIAS, J.L. Pathology of toxoplasmosis in captive New World
primates. Journal of Comparative Pathology, v. 129, p.196-204, 2003.
JUAN-SALLÉS, C.; MAINEZ, M.; MARCO, A. et al. Localized toxoplasmosis in a ringtailed lemur (Lemur
catta) causing placentitis, stillbirths, and disseminated fetal infection. Journal of Veterinary Diagnostic
Investigation, v.23, n.5, p. 1041–1045, 2011.
PIRES, J.S.; RIBEIRO, C.T.; CARVALHO FILHO, P.R. et al. Infection by Toxoplasma gondii in
Neotropical non-human primates. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.32, n.10, p.1041-1044, 2012.
505
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 184, 2013

184. TUMOR MALIGNO DE BAINHA DE NERVO PERIFÉRICO RECORRENTE EM


OURIÇO PIGMEU AFRICANO (Atelerix albiventris)
(Recurrent malignant peripheral nerves heath tumor in the African hedgehog
(Atelerix albiventris))

Fernando Brun dos Santos¹; Alexandre M. Castelo Branco²; Bianca Fiuza


Monteiro¹;Patricia Moura Cunha Souza¹; Aline Finco Perinelli¹; José Guilherme Xavier¹ ²

1.Universidade Metodista de São Paulo - UMESP; 2. Universidade Paulista – UNIP

RESUMO: Um ouriço pigmeu africano apresentou uma formação recorrente em vagina.


Amostra tecidual foi coletada, fixada em formalina a 10%, processada rotineiramente,
corada com hematoxilina-eosina e submetida aos marcadores imuno-histoquímicos
vimentina, alfa actina de músculo liso, proteína fibrilar glial ácida, enolase neurônio
específica (NSE), CD10 e proteína S100. Os achados histopatológicos foram elevada
celularidade, com população variavelmente pleomórfica de células fusiformes roliças
dispostas em feixes entrelaçados, com figuras de mitose bizarras. Eventuais áreas de
paliçamento e espirais foram observadas. As células neoplásicas apresentaram
positividade para a vimentina, NSE, proteína S100 e CD10. A associação das
características foi consistente com o diagnóstico de tumor maligno de bainha de nervos
periféricos (TMBNP). Este é o segundo relato de um TMBNP na vagina de um ouriço
pigmeu africano.
palavras-chave: CD10;imuno-histoquímica; neoplasia; proteína S100; vagina
ABSTRACT: A three years female african hedgehog developed a recurrent mass on
vagina. Tissue sample were collected, fixed in 10% formalin, routinely processed,
stained with hematoxylin and eosin and submitted to immunohistochemical markers
vimentin, alpha-smooth muscle actin, glial fibrillary acid protein, neuron-specific
enolase, CD10, and S100 protein. The histopathologic findings were high cellularity,
with a variable pleomorphic, plump spindle cells arranged mostly in interlacing bundles,
with bizarre mitotic figures. Eventual areas of palisading and whorls were observed. The
tumor cells were positive for vimentin, enolase, S100 and CD10. The association of
morphologic and immunohistochemical characteristics were consistent with the
diagnosis of malignant peripheral nerve sheath tumor (MPNST).This is the second
report of a vaginal MPNST tumor in an African hedgehog.
key words: CD10; immunohistochemistry; neoplasm; S100 protein; vagina
INTRODUÇÃO
Neoplasias espontâneas são relativamente freqüentes no ouriço pigmeu africano
(Atelerix albiventris), correspondendo entre 29% a 53% dos diagnósticos
histopatológicos na espécie (Raymond & White, 1999; Raymond & Gamer, 2001). A
maior parte desses processos é maligno, com o predomínio de lesões tegumentares,
incluindo a glândula mamária, linfo-hematopoéticas e endócrinas (Raymond & Gamer,
2001).Na literatura são escassos os relatos de formações no trato genital desses
animais, destacando-se referências a lesões uterinas (Phillips et al., 2005). Ramos-
Vara, 2001, relatou um caso de massa vaginal, caracterizado microscopicamente como
um sarcoma, com características imuno-histoquímicas sugestivas de tumor maligno de
bainha de nervo periférico (TMBNP). No sentido de ampliar a casuística dessas
condições, e contribuindo para a sua compreensão, o presente relato refere-se às
características histopatológicas e imuno-histoquímicas de formação vaginal recidivante
em fêmea de ouriço pigmeu africano.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi atendida junto ao Serviço de Cirurgia do Hospital Veterinário da Universidade
Metodista de São Paulo, uma fêmea de ouriço pigmeu africano (Atelerix albiventris), de
3 anos, apresentando formação vaginal recorrente, após 4 meses da excisão da lesão

506
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 184, 2013

primária. Realizou-se nova excisão cirúrgica, coleta e fixação da peça cirúrgica em


formalina a 10% e processamento histológico de rotina, com cortes corados em
hematoxilina-eosina. Procedeu-se imunomarcação com sistema de amplificação
streptavidina-biotina-peroxidase, pesquisando-se a expressão de vimentina, proteína
fibrilar glial ácida, alfa-actina de músculo liso, enolase neurônio específica (NSE),
proteína S100 e CD10.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Histopatologicamente evidenciou-se elevada celularidade, com o predomínio de feixes
descontínuos ou entrelaçados, dispostos em sentidos variados, e eventuais áreas de
paliçamento ou espiral. As células tumorais mostraram-se moderadamente
pleomórficas, com aspecto predominantemente fusocelular e roliças. Ocasional
vacuolização citoplasmática. Frequentes figuras de mitose com atipias. Estroma 3
colagênico delicado. Eventuais áreas de necrose. Crescimento infiltrativo. Para a
caracterização histogênica foi realizado painel imuno-histoquímico (tabela 1), que
revelou características consistentes com diferenciação neurogênica, favorecendo o
diagnóstico de um tumor maligno de bainha de nervo periférico. Esse tumor representa
um grupo controverso em termos diagnósticos, sendo também conhecido como
neurofibrossarcoma, sarcoma neurogênico ou schwanoma maligno, derivando de
células de Schwann ou de células pluripotentes da crista neural (Guoet al., 2012;
Hirose et al., 1992).

A diversidade arquitetural e citológica associada ao tecido neoplásico frequentemente


impõe o emprego de técnicas complementares para a confirmação histogênica, sendo
a imuno-histoquímica o método mais utilizado. Classicamente, além da expressão de
vimentina, é frequente a positividade para a proteína S100 e para NSE nesses
processos (Koester&Higgins, 2002; Hiroseet al., 1992). A literatura apresenta 2 relatos
de TMBNP em ouriços pigmeus, sendo realizada imunomarcação em apenas um deles,
com ausência de expressão de proteína S100 (Ramos-Vara, 2001). Nesse caso, à
semelhança de nosso relato, evidenciou-se ainda expressão de vimentina, NSE e
CD10. A expressão de CD10 é de particular interesse, pois a positividade aparece em
cerca de 45% dos schwanomas, sendo maior em processos pleomórficos, e rara em
leiomiossarcomas, corroborando a negatividade para actina de músculo liso neste caso
(Chu & Arber, 2000).
CONCLUSÃO
A associação da histopatologia e da imuno-histoquímica viabilizou a caracterização
histogênica de sarcoma vaginal recidivante em ouriço pigmeu africano (Atelerix
albiventris), permitindo o diagnóstico de tumor maligno da bainha de nervo periférico.

507
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 184, 2013

REFERÊNCIAS
CHU, P.; ARBER, D.A. Paraffin-sections detection of CD10 in 505 non hematopoietic neoplasmas.
American Journal of Clinical Pathology, v. 113, p. 374-382, 2000.
GUO, A.; LIU, A.; WEI, L. et al. Malignant perpheral neerve sheath tumors: differentiation paterns and
immunohistochemical features – A mini-review and our new findings. Journal of Cancer, v. 3, p. 303-309,
2012.
HIROSE, T.; HASEGAWA, T.; KUDO, E. et al. Malignant peripheral nerve sheath tumors: an
immunohistochemical study in relation to ultrastructural features. Human Pathology, v. 23, p. 865-870,
1992.
KOESTER, A.; HIGGINS, R.J. Tumors of the nervous system. In: MEUTEN, D.J. Tumors of Domestic
Animals, 4th ed., Ames, Blackwell Publishing, 2002, p. 731-735.
PHILLIPS, I.D.; TAYLOR, J.J.; ALLEN, A.L. Endometrial polyps in 2 African pygmy hedgehogs.Canadian
Veterinary Journal, v. 46, p. 524-527, 2005.
RAMOS-VARA, J.A. Soft tissue sarcomas in the African hedgehog (Atelerix albiventris): microscopic and
immunohistologic study of three cases. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v. 13, p. 442-445,
2001.
RAYMOND, J.T.; GAMER, M.M. Spontaneous tumours in captive African hedgehogs (Atelerix
albiventris): a retrospective study. Journal of Comparative Pathology, v. 124, p. 128-133, 2001.
RAYMOND, J.T.; WHITE, M.R. Necropsy and histopathologic findings in 14 African hedgehogs (Atelerix
albiventris): a retrospective study. Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v. 30, p. 273-277, 1999.
RODRIGUEZ, F.J.; FOLPE, A.L.; GIANNINI, C. et al. Pathology of peripheral nerve sheath tumors:
diagnostic overview and update on selected diagnostic problems. Acta Neuropathologica, v. 123, p. 295-
319, 2012.

508
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 185, 2013

185. VÔLVULO INTESTINAL EM AVESTRUZ (Struthio camelus):


RELATO DE CASO
Intestinal volvulus in a ostrich (Struthio camelus): Case Report

Danilo L. Ravena¹, Denise Haibara², Camila D. Porto³, Marcilio Felix³, Julio L.


Sequeira4, Alessandre Hataka4
1. Médico Veterinário Patologista da Páfaro Medicina Veterinária Diagnóstica - Americana - SP
2. Médica Veterinária Patologista - Consultoria em Patologia Veterinária - Marília - SP.
3. Docentes do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Marília - Unimar - Marília – SP
4. Docentes da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UNESP - Botucatu - SP.
RESUMO: O avestruz (Struthio camelus) é uma ave da ordem Struthioniforme, família
Strutionidae e pertence ao grupo das Ratitas. Vôlvulo intestinal é uma torção patológica
de um segmento do intestino sobre seu eixo mesentérico resultando em obstrução
vascular, injúria isquêmica e obstrução da luz. O presente trabalho relata a ocorrência
de vôlvulo intestinal em um avestruz, fêmea, dois anos e meio de idade. Os achados de
necropsia foram: presença de 1800 mL de líquido sero-hemorrágico na cavidade
celomática, torção de 360o no eixo mesentérico do segmento denominado de cólon-
reto e presença de grande quantidade de fibrina e aderência entre as alças, que tinham
coloração avermelhada e estavam distendidas por ingesta, líquido e gás. O intestino
apresentava necrose gangrenosa e trombose. Essas alterações levaram o animal a um
quadro de endotoxemia e óbito.
Palavras-chave: Necropsia, obstrução intestinal, endotoxemia, ratita.
ABSTRACT:The ostrich (Struthio camelus) is a bird that belongs to the Struthioniforme
ordem, Strutionidae family to the groups of Ratites. Intestinal volvulus is a pathological
torsion of a intestinal segment over its mesenteric axis resulting in vascular obstruction,
ischemic injury and luminal obstruction. The present paper reports the occurrence of a
intestinal volvulus in a ostrich, female, two year old. The findings in the necropsy were
1800 mL of sero-hemohrrage liquid in the celomatic cavity. 360o torsion over its
mesenteric axis of a intestinal segment knewed by reto-colon and presence of large
quantities of fibrin and adherence in the bowel, that were red and distented by ingested,
liquid and gas. The bowel presented gangrenous necrosis and trombosis. These
alterations lead the animal to a endotoxemia and death.
Key words: Necropsy, intestinal obstruction, endotoxemia, ratites.
INTRODUÇÃO
O avestruz (Struthio camelus) é uma ave da ordem Struthioniforme, família Strutionidae
e pertence ao grupo das Ratitas. Quanto ao sistema digestório, apresenta diferenças
morfológicas e funcionais em relação a outras aves e semelhança com ruminantes
como bovinos, ovinos e caprinos. Tem origem no continente Africano e seu habitat
natural são as savanas e os desertos. É considerada uma ave monogástrica e sua
alimentação é baseada em fibras e vegetais como raízes, folhas, flores, sementes e
pastagem (Monteiro et al, 2009; Almeida, 2007).
A torção intestinal em avestruzes ocorre devido ao grande acúmulo de fezes no
intestino grosso, que é muito grande, medindo aproximadamente 14 metros no animal
adulto. Outros fatores que favorecem a afecção incluem alimentação a base de
concentrados e alterações bruscas de alimentação, que levam a produção de gás pelo
intestino ocorrendo aumento da alça como balões instalando-se a rotação (Carrer et al,
2008).
Devido a baixa freqüência das doenças intestinais obstrutivas em aves, e conseqüente
escassez de relatos sobre a patogênese destas doenças (Haridy et al, 2010). O
objetivo do presente trabalho é relatar o caso de vôlvulo intestinal em um avestruz
(Struthio camelus).
RELATO DE CASO
Foi encaminhado ao setor de Patologia Animal da Universidade de Marília – UNIMAR
para necropsia um avestruz (Struthio camelus), fêmea, de 2,5 anos, proveniente do
509
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 185, 2013

Bosque Municipal da cidade de Marília. A ave foi encontrada morta por tratadores. Os
contactantes não apresentavam alteração evidente. O animal vivia em cercado e a
alimentação consistia de ração, pastagem e eventualmente milho. Durante a necropsia
após a abertura da cavidade celomática, foram aspirados 1800 mL de líquido
inflamatório sero-hemorrágico do seu interior, e observou-se a deposição de fibrina
sobre a serosa das alças intestinais, que encontravam-se aderidas entre si, e
mostravam distensão devido ao acúmulo de ingesta, líquido hemorrágico e gás, além
de estarem congestas. O segmento denominado de cólon-reto apresentava rotação de
360º no eixo mesentérico, necrose gangrenosa caracterizada por coloração enegrecida
da parede da alça intestinal, acompanhada por congestão e trombose de vasos
mesentéricos. À abertura das alças observou-se mucosa de coloração avermelhada
por toda a extensão e conteúdo líquido de coloração vermelho escuro. Havia presença
de alimento no estômago do animal, composto por forragem e ração. Notaram-se ainda
focos hemorrágicos cerebrais e cerebelares, além da presença de petéquias e
sufusões sobre o epicárdio. O exame microscópico foi impossibilitado devido ao
avançado estado de putrefação das alças intestinais. Os achados permitiram concluir
que a causa mortis foi choque endotóxico.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
O sistema digestório do avestruz apresenta a mesma estrutura geral de outras aves e
mamíferos domésticos, com algumas diferenças que podem ser decorrentes da idade,
inerentes à espécie ou hábito alimentar (Monteiro et al, 2009).
Os sinais clínicos do vôlvulo não são patognomônicos, mas podem incluir marcada
distensão e dor abdominal, anorexia, letargia e desidratação (Spevakow et al, 2010;
Anderson et al, 1993).
Os achados necroscópicos do vólvulo intestinal foram compatíveis com os dados da
literatura, constatando-se obstrução vascular, injúria isquêmica, obstrução da luz,
edema, peritonite com presença de líquido inflamatório e necrose gangrenosa
(Gelberg, 2007; Hedlund, 2002).
Como fatores predisponentes de vôlvulo em avestruzes, considera-se o grande
acúmulo de fezes no intestino grosso, alimentação a base de concentrados e
alterações bruscas de alimentação, que levam a produção de gás pela microbiota do
intestino, com aumento de volume que possibilita a rotação (Carrer et al, 2008).
Pode-se concluir que o vôlvulo intestinal atinge todas as espécies, porém poucas
informações são encontradas sobre essa enfermidade em avestruzes, não sendo
encontrado nenhum relato de caso nessa espécie. Assim, este trabalho teve como
escopo contribuir com a descrição anatomopatológica do vólvulo intestinal em avestruz
bem como sua etiopatogenia, possibilitando o diagnóstico precoce e tratamento
adequado, evitando maiores perdas econômicas aos criadores.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. A. Struthioniformes (Emas, Avestruz) In: ___. CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃO
DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens. São Paulo:Roca, 2007. p. 136-137.
ANDERSON, D. E. ; CONSTABLE, P. D. ; ST JEAN, G. ; HULL, B. L. Small-intestinal volvulus in cattle:
35 cases (1967-1992). Journal of the Ame Vet Medical Association. v. 15, n. 08, 1993. p. 1178-1183.
CARRER, C. C. ; KORNFELD, M. E . ; ELMÔR, R. A. ; CARVALHO, M. C. A criação do avestruz: guia
completo de A à Z. ND-OSTRICH, 2008. p. 68-69.
GELBERG, H. B. Alimentary system In: ___. MCGAVIN, M. D. ; ZACHARY, J. F. Pathologic Basis of
Veterinary Disease. Missouri: Mosby Elsevier, 2007. p. 352-353.
HEDLUND, C. S. Cirurgia do sistema digestório In: ___. FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos
animais. São Paulo: Roca, 2002. p. 350-351.
HARIDY, M. ; GORYO, M. ; SASAKY, J. ; OKADA, K. Intestinal volvulus with coagulative hepatic necrosis
in a chicken. Journal of Veterinary Medical Science. v. 04, n. 7, 2010. p. 489-492.
MONTEIRO, C. M. R. ; DE SOUZA, N. T. M. ; DE CARVALHO, R. G. et al. Avaliação histológica do trato
gastrointestinal de avestruzes (Struthio camelus Linnaeus, 1758). Biotemas, v.22, n.03,2009. p149-155.

510
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 186, 2013

ANIMAIS DE PEQUENO PORTE

186. A RELAÇÃO ENTRE OS LINFÓCITOS T, OS MASTÓCITOS E AS CÉLULAS


DENDRÍTICAS NO TUMOR DE MAMA EM CADELAS
(The relationship between the T cells, mast cells and dendritic cells in the canine
mammary tumor)

Mayara Caroline Rosolem¹, Eduardo Garrido², Thaís Larissa Lourenço Castanheira²,


Rosemeri de Oliveira Vasconcelos³

1 Mestranda do Programa de Pós-grad. em Medicina Veterinária, FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP.


mayara_rosolem@yahoo.com.br
2) Doutorandos Programa de Pós-grad. em Medicina Veterinária, FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP.
3 Docente, Departamento de Patologia Veterinária, FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP.

RESUMO: Existem poucos estudos relacionando a presença e ação das células


dendríticas e dos mastócitos no microambiente tumoral. O objetivo desse estudo foi
demonstrar a relação entre essas células, juntamente com os linfócitos T na formação
da resposta imune contra os tumores de mama em cadelas. Foram utilizados 26
carcinomas simples e 18 amostras de tecido mamário sem alterações para a detecção
de mastócitos, de células dendríticas imaturas e maduras e de linfócitos T. Não foi
observada correlação direta entre a presença de mastócitos com a presença das
células dendríticas no tumor, mas foi observado que houve correlação entre a presença
de mastócitos e linfócitos T. Possivelmente, existe um envolvimento entre as células
dendríticas, os mastócitos e os linfócitos T, que, beneficia o desenvolvimento do tumor
de mama em cadelas.
Palavras-chave: neoplasia mamária; escape imune; células inflamatórias
ABSTRACT: There are a few studies regarding the relationship between dendritic cells
and mast cells inside the tumor microenvironment. The objective of this study was to
demonstrate this relationship, along with the T lymphocytes in the formation of immune
response against mammary cancer in female dogs. Were used 26 simply carcinomas
and 18 samples of normal mammary gland tissue to detection mast cells, immature
mature dendritic cell and T cells. There was no direct correlation between the presence
of mast cells and the presence of dendritic cells in the tumor, but it was observed that
there is a correlation between the presence of mast cells and T lymphocytes. Possibly,
there is an engagement between dendritic cells, mast cells, and T lymphocytes, which
increases the growth of the mammary tumor in dogs.
Key-words: mammary gland tumor; immune escape; inflammatory cells
INTRODUÇÃO
O sistema imunológico reage de diferentes formas frente aos diversos tipos de
antígenos que penetram no organismo, e não é diferente com as neoplasias. Na
presença de um tumor em crescimento, o sistema imune pode ser induzido pela
neoplasia a produzir uma resposta ineficiente no controle do crescimento desta.
Acredita-se que a falha funcional das células dendríticas (DCs) seja um dos principais
fatores que levam ao escape tumoral (Kah-Wai; Jacek; Jacek, 2006). Um dos possíveis
coadjuvantes do desenvolvimento tumoral são os mastócitos (MCs), que podem se
acumular ao redor dos sítios de crescimento neoplásico, em resposta a vários
quimioatrativos derivados dos tumores (Theoharides et al., 2004). Desta forma, os
tumores controlam as atividades mastocitárias, que inclui a atração de DCs imaturas
para o foco neoplásico (Bacci et al., 2010). Enquanto na literatura médica vem se
acumulando fortes evidências sobre o papel dos MCs na oncogênese humana, até o
momento há poucos relatos veterinários focalizando o assunto (Sfacteria et al., 2011).

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 186, 2013

Portanto, o objetivo desse estudo foi mostrar o papel das DCs dos MCs e dos linfócitos
T na imunidade contra os tumores de mama em cadelas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas 26 amostras de carcinomas de mama do tipo simples, provenientes de
cadelas mastectomizadas no Hospital Veterinário ―Governador Laudo Natel‖ e 18
glândulas mamárias hígidas oriundas de cadelas necropsiadas no Departamento de
Patologia Veterinária, FCAV – UNESP, Jaboticabal, SP. Os mastócitos foram
identificados por meio da coloração de Azul de Toluidina (AT). A marcação das DCs
imaturas foi realizada com anticorpo anti-CD11c, das DCs maduras com o anticorpo
anti-CD83, e dos linfócitos T com o anticorpo anti-CD3, por meio da técnica de imuno-
histoquímica. A média de MCs, DCs imaturas e maduras e de linfócitos T foi obtida
através da contagem total de marcações, em cinco campos de grande aumento, em
microscopia óptica, nos tumores e nas mamas controles. A análise de Variância
(ANOVA) e a comparação entre os grupos (teste Student Newman Keuls e Mann-
Whitney U test), bem como a correlação de Spearman foram feitas no programa
estatístico SAS (9.0).
RESULTADOS
A infiltração de mastócitos foi moderada e predominante no estroma tumoral e
raramente observada em meio ao tumor. Nas mamas controles, o número de
mastócitos foi bem menor do que o encontrado nos tumores. Não houve diferença
estatística significativa (teste de Student-Newman-Keuls, p<0,1319) para a marcação
dos mastócitos em relação aos grupos controle e tumores. Não houve correlação
significativa entre os mastócitos e as DCs imaturas ou as maduras (Correlação de
Sperman), mas houve correlação entre a presença de mastócitos e linfócitos. A média
e o erro padrão do grupo tumor para o CD11c foi de 53,10±8,61 e para o grupo controle
foi de 6,93±2,10, demonstrando que houve mais DCs imaturas nos tumores do que nas
mamas controles. Já para o CD83, obteve-se 3,36±0,59 para o grupo tumores e
0,53±0,28 para o grupo controle, também predominando nos tumores. Os mastócitos
do grupo tumores (8,68±1,57) e controle (3,31±0,73) tiveram valores muito próximos
nos dois grupos, mas predominaram no grupo tumores. Para os linfócitos T, obteve-se
31,92±7,15 no grupo tumores e 10,17±1,62 no grupo controle.
DISCUSSÃO
O retardo sobre a maturação das DCs impede-as de amadurecer corretamente e
apresentar o antígeno tumoral aos linfócitos T. A diminuição de linfócitos T virgens
sensibilizados pelas DCs leva a diminuição do número de linfócitos T efetores
presentes no tumor. A depleção de linfócitos T no tumor pode influenciar na
degranulação mastocitária, já que são eles quem auxiliam na regulação desta ação
mastocitária (Gri et al., 2004). O acúmulo de mastócitos ao redor do sítio neoplásico,
provocado pela ação tumoral e a maior presença de histamina pode beneficiar o
desenvolvimento da neoplasia, como descrito por Dabiri et al. (2004). Em humanos, já
foi relatado que quando os MCs são sensibilizados pelas células tumorais liberam
mediadores que podem alterar a maturação das DCs, mantendo-as imaturas e
ocasionando uma reação de tolerância imunológica aos linfócitos T (Dudeck, et al.,
2011), assim como foi encontrado nesse breve estudo.
CONCLUSÃO
Conclui-se que há uma relação direta entre a presença das DCs, dos linfócitos T e os
mastócitos no tumor de mama em cadelas e que as células tumorais conseguem
interferir nas funções de todas as células citadas, formando um círculo vicioso, o que
compromete o correto desenvolvimento da resposta imune e beneficia o escape
tumoral.
Nota: Este estudo foi aprovado pela Comissão de ética no uso de animais (CEUA),
protocolo nº014526/12 e está de acordo com os princípios éticos na experimentação
animal.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 186, 2013

Agradecimento: A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo


(FAPESP - 2011/03510-4 e 2012/09385-0), pelo suporte financeiro.
REFERÊNCIAS
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DUDECK, A.; SUENDER, C. A.; KOSTKA, S. L.; VON STEBUT, E.; MAURER, M. Mast cells promote
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KAH-WAI, L.; JACEK, T.; JACEK, R. Dendritic cells heterogeneity and its role in cancer immunity.
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Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1016/j.it.2004.02.013 >

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 187, 2013

187. ACHADOS PATOLÓGICOS E MOLECULARES DA ERLIQUIOSE EM CÃES


NATURALMENTE INFECTADOS
(Pathological and molecular findings of ehrlichiosis in dogs naturally infected)

Rodrigo M. Couto, Pâmela C.L.G. Valente, Paulo R.O.Paes, Roselene Ecco

Setor de patologia. Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, Escola de


Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais.

RESUMO: A erliquiose canina monocítica é uma doença infecciosa causada pela


Ehrlichia canis (E. canis). No presente estudo, dois cães com suspeita de erliquiose
foram avaliados quanto ao caráter das lesões e a positividade pela PCR para E. canis
em diferentes tecidos. Os achados patológicos foram caracterizados por múltiplas
hemorragias, intensa diferenciação linfoplasmocitária nos órgãos linfóides e infiltrado
plasmocitário perivascular na maioria dos órgãos. A associação das lesões com o
resultado da PCR permitiu o diagnóstico definitivo da infecção por E. canis.
Palavras-chave: cão; Erlichia canis; histopatologia; PCR
ABSTRACT: The canine monocytic ehrlichiosis is an infectious disease caused by E.
canis. Two dogs with ehrlichiosis suspicion were evaluated considering the character of
lesions and PCR positivity for E. canis in different tissues. The pathological findings
were characterized by multiple hemorrhages, intense lymphoplasmacytic differentiation
in the lymphoid organs and perivascular plasma cell infiltration in the most of organs.
The association of the lesions with PCR results allowed the definitive diagnosis of E.
canis infection.
Key-words: Dog; Erlichia canis; histopathology; PCR
INTRODUÇÃO
A erliquiose canina monocítica é uma doença infecciosa causada pela Ehrlichia canis
que afeta principalmente os cães domésticos e frequentemente é observada em
leucócitos. O gênero Ehrlichia, baseado na sequência do gene 16S rRNA, inclui as
espécies: Ehrlichia canis, Ehrlichia chaffeensis e Ehrlichia ewingii (Harrus e Waner,
2011). Trombocitopenia, leucopenia e anemia normocítica e normocrômica estão entre
os achados laboratoriais de maior importância. Os achados patológicos geralmente
incluem petéquias no subcutâneo e serosas, linfadenopatia generalizada,
hepatomegalia e esplenomegalia (Hildebrandt et al., 1973). Achados histopatológicos
incluem infiltrado plasmocitário em muitos órgãos e tecidos incluindo sistema nervoso,
rins, pulmões, fígado e tecidos linfoides (Castro et al., 2004). A presença do DNA de E.
canis em cães infectados tem sido demonstrada por PCR no sangue, medula óssea,
baço, fígado, rim e linfonodos (Gal et al., 2004). O objetivo do presente estudo foi
relacionar os achados patológicos e moleculares em cães com suspeita de erliquiose
monocítica, nos quais a infecção pode ser demonstrada por PCR a partir de tecidos
fixados em formol e incluídos em parafina.
MATERIAIS E MÉTODOS
Dois cães fêmeas, um da raça Dogo argentino de 2 anos de idade, e outro da raça
Sharpei, de 3 anos de idade foram necropsiados. Após a avaliação macroscópica,
foram coletadas amostras de linfonodo, coração, fígado, intestinos, rim, baço, pulmão,
músculo esquelético, tecido subcutâneo, pele, encéfalo e medula óssea, as quais foram
fixadas em formol tamponado a 10%. As amostras foram processadas pela técnica
rotineira para histopatologia. A extração de DNA foi realizada dos tecidos parafinizados,
utilizando um kit de acordo com as especificações do fabricante. A quantificação do
DNA foi realizada imediatamente após a extração e as amostras foram congeladas a -
20ºC. Para amplificação do DNA de E. canis, foram utilizados amostras de medula
óssea, baço e linfonodo. As reações foram realizadas de acordo com os protocolos
descritos por Birkenheuer et al. (2003) para E. canis e por Lachaud et al. (2002) para
Leishmania spp.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 187, 2013

RESULTADOS
Macroscopicamente os cães apresentavam mucosas, musculatura e vísceras pálidas
sugerindo anemia intensa. Os linfonodos cervicais, poplíteos, submandibulares,
mesentéricos e inguinais estavam moderadamente aumentados e ao corte estavam
vermelho-escuros e/ou amarronzados e entremeados por áreas brancas. O baço
encontrava-se com maior evidenciação da polpa branca. Foram observadas
hemorragias (equimoses, petéquias e sufusões) em diversos locais: tecido subcutâneo,
pleura, coração, estômago, intestinos, bexiga e rins. Estes também se encontravam
intensamente branco-amarelados. Na histopatologia, uma lesão evidente e comum a
vários órgãos caracterizou-se por infiltrado plasmocitário perivascular leve a moderado.
O infiltrado foi observado nos pulmões, coração, fígado, rins, intestino, bexiga,
musculatura, pele e meninges. Em todos os órgãos, havia também hemorragia
multifocal moderada e, em órgãos como os pulmões, linfonodos e baço havia intensa
eritrofagocitose e hemossiderose. Outra alteração marcante caracterizou-se pela
intensa diferenciação linfoplasmocitária nos linfonodos, baço e tecido linfoide associado
às mucosas. Nestes tecidos observouse o predomínio de plasmócitos e depleção
linfocitária. Nos rins havia ainda glomerulopatia membranosa, glomeruloesclerose e
cilindros hialinos intratubulares.
Em ambos os animais todos os tecidso analisados foram positivos para E. canis, com
exceção do baço de um dos cães, que foi negativo. As amostras identificadas como
positivas para E. canis produziram bandas conforme tamanho esperado do produto
amplificado. As amostras para Leishmania spp. foram negativas.
DISCUSSÃO
Os achados patológicos caracterizados por múltiplas hemorragias, intensa
diferenciação linfoplasmocitária nos órgãos linfoides e o infiltrado plasmocitário
perivascular em vários órgãos foram altamente sugestivos de erliquiose. A associação
das lesões com o resultado da PCR permitiu o diagnóstico definitivo da infecção por E.
canis. A patogênese (e as lesões) da erliquiose canina aparenta ter relação com
mecanismos imunomediados (Harrus et al., 1999). A intensa diferenciação
linfoplasmocitária nos linfonodos e baço e a glomerulonefrite membranosa observada
nos cães do presente caso podem ser relacionadas a hiperglobulinemia detectada nos
casos de infecção por E. canis (Castro et al, 2004).
A trombocitopenia é considerada a anormalidade laboratorial mais consistente e
comum, podendo ser relacionada com o quadro hemorragia por drenagem observadas
nos linfonodos relacionados aos vários tecidos, como no presente relato. Os
mecanismos de trombocitopenia podem envolver a destruição imuno-mediada por
anticorpos antiplaquetários (principalmente na fase aguda), diminuição da produção
(fase crônica), aumento do consumo das plaquetas e sequestro esplênico (Harrus et
al., 1999). A medula óssea nos casos agudos apresenta hiperplasia (como nos cães do
presente estudo), no entanto, nos casos crônicos, torna-se hipoplásica (Castro et al.,
2004). O principal diagnóstico diferencial da doença é a leishmaniose. Alguns cães com
leishmaniose visceral podem apresentar anemia e hemorragia e o diagnóstico
diferencial deve ser feito com o auxilio da histopatologia. Entretanto, quando as formas
amastigotas não são facilmente observadas, a PCR pode auxiliar no diagnóstico
definitivo.
CONCLUSÃO
O diagnóstico macroscópico e histopatológico da erliquiose canina pode ser desafiador
nas regiões com alta ocorrência de leishmaniose. Sendo assim, testes auxiliares, como
a PCR, podem ser úteis para a obtenção do diagnóstico definitivo pós-morte (utilizando
amostras fixadas em formol e parafinizadas), além de permitir classificar a espécie de
Erlichia.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 187, 2013

Agradecimentos
À CAPES, CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro.
REFERÊNCIAS
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Seminested PCR for Detection and Differentiation of Babesia gibsoni (Asian Genotype) and B.canis DNA
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CASTRO M. B.; MACHADOB, R.Z., AQUINO L.P.C.T. et al. Experimental acute canine monocytic
ehrlichiosis: clinicopathological and immunopathological findings. Veterinary Parasitology, v.119, p.73–
86, 2004.
GAL A.; LOEB E.; YISASCHAR-MEKUZAS Y. et al. Detection of Ehrlichia canis by PCR in different
tissues obtained during necropsy from dogs surveyed for naturally occurring canine monocytic
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HARRUS, S.; WANER, T.; BARK, H. et al. Recent advances in determining the pathogenesis of canine
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LACHAUD L.; MARCHERGUI-HAMMAMI S.; CHABBERT E. et al. Comparison of Six PCR Methods
Using Peripheral Blood for Detection of Canine Visceral Leishmaniasis. Journal of Clinical Microbiology.
v.40, n.1, p.210-215, 2002.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 188, 2013

188. ADENOCARCINOMA ACINAR PULMONAR EM UM CÃO - RELATO DE CASO


(Pulmonary acinar adenocarcinoma in a dog - case report)

Alessandra Aparecida Medeiros¹, Nicolle Pereira Soares¹, Márcio Botelho de Castro²,


Matias Pablo Juan Szabó¹, Lígia Fernandes Gundim¹, Jéssica Rodrigues de Oliveira¹

1. Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, MG, Faculdade de Medicina Veterinária


(FAMEV) – Laboratório de Patologia Animal. medeirosaavet@yahoo.com.br
2. Universidade de Brasília (UNB), Brasília, DF – Laboratório de Patologia Animal.

RESUMO: Tumores pulmonares primários em cães são raros e ocasionalmente


apresentam metástases. Relata-se caso de adenocarcinoma pulmonar acinar em
cadela, mestiça, 13 anos, que apresentava dificuldade respiratória. À necropsia o
pulmão direito apresentou coloração vermelho vinhoso com múltiplos nódulos
brancacentos miliares difusos e coalescentes, que aprofundavam ao corte. O pulmão
esquerdo estava pálido, consistência firme com nódulos variando de 0,5 a 4,0 cm de
diâmetro, distribuídos difusamente. Microscopicamente observou-se células epiteliais
organizadas em cordões tubulares formando ácinos, citoplasma levemente basofílico
com vacúolos, núcleo central, oval, cromatina densa e nucléolo evidente. Foi
diagnosticado adenocarcinoma pulmonar, porém sem metástases aparentes
macroscopicamente.
Palavras-chave: cadela; neoplasia; pulmão
ABSTRACT: Primary lung tumors are uncommon in dogs and occasionally
metastasize. We report a case of lung acinar adenocarcinoma in a 13 years-old female
mongrel bitch with presenting signs of dyspnea and weight loss. Grossly the right lung
presented reddish color and multiple whitish miliary and diffuse coalescing nodules. The
left lung was pale, firm with nodules ranging from 0.5 to 4.0 cm in diameter, diffusely
distributed. Histologically, these nodules consisted of neoplastic epithelial cells arranged
in tubular strands forming acini, lightly basophilic cytoplasm with vacuoles, oval nucleus
with dense chromatin and prominent nucleoli. We diagnose pulmonary adenocarcinoma
without apparent macroscopic metastases.
Key words: bitch; lung; neoplasms
INTRODUÇÃO
Tumores pulmonares primários em animais, ao contrário do que ocorre em humanos,
são incomuns, sendo mais comum o pulmão ser órgão alvo de metástases (Silva et al.,
2012). Nos cães, as neoplasias pulmonares representam apenas 1% de todos os
tumores. A média de idade dos animais afetados é de 10,8 anos, sendo raro em idade
inferior a seis anos. As raças mais acometidas são Labrador, Golden retriever, Cocker
Spaniel Inglês, Boxer, Doberman Pinscher, Pastor Australiano, Setter Irlandês e
Bernese Mountain Dog (Ogilvie et al., 1989; Mcniel et al., 1997).
Tumores pulmonares podem ser classificados em epiteliais ou mesenquimais. As
neoplasias pulmonares de origem epitelial ainda devem ser diferenciadas quanto à
malignidade e tipo histológico (Wilson e Dungworth, 2002).
O adenocarcinoma pulmonar do tipo acinar apresenta diversos padrões histológicos
(Burgess e Kerr, 2009). Geralmente localiza-se no tecido pulmonar periférico e
dissemina-se em vários outros nódulos (Wilson e Dungworth, 2002) ou ocorre na forma
de massas sólidas, brancacentas e multifocais (Silva et al., 2012). Histologicamente
apresenta organização túbulo-acinar com predominância de formação glandular,
composto por células epiteliais, anaplásicas e pseudosecretoras com moderado tecido
conjuntivo de sustentação. Podem sintetizar muco e a presença de células ciliadas é
incomum. As metástases ocasionalmente ocorrem em órgãos distantes como dígitos,
em gatos (Withrow, 2007), linfonodo mediastínico, olhos e adrenais em cães (Ogilvie et
al., 1989; Mcniel et al., 1997; Wilson e Dungworth, 2002; Withrow, 2007).

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 188, 2013

Objetivou-se relatar caso de tumor primário de pulmão em cadela classificado


histologicamente como adenocarcinoma pulmonar do tipo acinar.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi encaminhada ao Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia uma
cadela, 13 anos, mestiça, com dificuldade respiratória, tosse, prostração, anorexia e
tenesmo. Vivia em meio urbano, próximo à rodovia e o proprietário não era fumante.
Ao exame clínico, o animal apresentou mucosas hipocoradas e respiração
predominantemente abdominal. Na auscultação foi observada crepitação pulmonar e o
animal morreu durante a avaliação clínica. O cadáver foi encaminhado ao laboratório
de Patologia Animal para realização de necropsia.
RESULTADOS
À necropsia, o pulmão direito apresentou coloração vermelho vinhoso com múltiplos
nódulos brancacentos miliares difusos e coalescentes na superfície pulmonar, que
aprofundavam ao corte. O pulmão esquerdo estava pálido, consistência firme com
nódulos variando de 0,5 a 4,0 cm de diâmetro, distribuídos difusamente na superfície,
aprofundavam ao corte e apresentavam substância cremosa com flocos de coloração
amarelada no interior.
Fragmentos dos pulmões foram coletados e acondicionados em frascos com formol
tamponado a 10%. Lâminas de microscopia foram confeccionadas para análise
histológica conforme Tolosa et al. (2003) e coradas com hematoxilina e eosina e Alcian
Blue.
À microscopia foram observadas células epiteliais organizadas em cordões tubulares
formando ácinos, sustentadas por moderado tecido conjuntivo. O citoplasma era
levemente basofílico com vacúolos, núcleo central, oval, cromatina densa e nucléolo
evidente. Presença de figuras de mitose ocasionais. Macrófagos difusos pelo tecido
pulmonar contendo grânulos enegrecidos no citoplasma foram visualizados. Células
neoplásicas no interior de vasos linfáticos foram visualizadas. Na coloração de Alcian
Blue o citoplasma das células epiteliais apresentou no interior, substância de coloração
azul, indicando a presença de muco.
Diagnosticou-se adenocarcinoma pulmonar do tipo acinar e antracose.
DISCUSSÃO
O adenocarcinoma do tipo acinar, por originar-se do tecido epitelial geralmente localiza-
se na periferia do órgão e pode disseminar-se via vasos sanguíneos e linfáticos,
formando outros nódulos tumorais (Wilson e Dungworth, 2002) ou massas multifocais
(Silva et al., 2012).
O padrão histológico túbulo-acinar composto por células epiteliais anaplásicas,
pseudosecretoras formando ácinos, sustentadas por tecido conjuntivo e produtoras de
muco, conforme é descrito por Ogilvie et al. (1989), Mcniel et al. (1997) e Wilson e
Dungworth (2002) foi diagnosticado na cadela em questão, porém não evidenciou-se
macroscopicamente metástases em outros órgãos. A antracose pulmonar
diagnosticada no animal do relato era esperada, pois é comumente observada no
pulmão de cães velhos que vivem em ambiente urbano e é considerado como um
achado incidental (Caswell e Williams, 2007).
Estudos realizados em cães têm sugerido que carcinógenos ambientais, incluindo a
poluição atmosférica podem aumentar o risco de tumores de pulmão, mas uma
associação definitiva ainda não foi demonstrada (Ogilvie et al, 1989; Reif et al, 1992;
Wilson e Dungworth, 2002; Vollmer et al., 2010; Silva et al., 2012).
CONCLUSÕES
Considerando o padrão histológico a neoplasia foi classificada como adenocarcinoma
pulmonar do tipo acinar. Apesar da dificuldade de associação da antracose com a
ocorrência desta neoplasia em cães este fato deve ser investigado.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 188, 2013

REFERÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 189, 2013

189. ADENOCARCINOMA DE GLÂNDULA SUDORÍPARA APÓCRINA EM UMA


GATA (FELIS CATUS)
(Apocrine sweat gland adenocarcinoma in a female cat (felis catus))

Kamila Alcalá Gonçalves¹, Yara de Oliveira Brandão¹, Daniella Matos da Silva², Simone
Domit Guério², Renato Silva de Sousa¹

1. Laboratório de Patologia Animal, Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná - Curitiba.


2. Setor de Oncologia Veterinária, Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná – Curitiba.

RESUMO: As neoplasias de glândula sudorípara são raramente relatadas em animais


(Morandi et al., 2005). Os tumores originários das estruturas anexas à pele são comuns
em cães e são relativamente raros em gatos e em seres humanos (Khodakaram-Tafti e
Shirian, 2012). O objetivo deste trabalho é relatar um caso de adenocarcinoma de
glândula sudorípara apócrina em uma gata, SRD, de 15,5 anos de idade, que foi
atendida no Hospital Veterinário da UFPR. A paciente tinha histórico de nódulo no
pescoço que foi removido por completo e diagnosticado como adenocarcinoma de
glândula sudorípara apócrina. Após dois meses do diagnóstico, houve recidiva com
células neoplásicas nos vasos linfáticos da derme e posterior metástase para pulmão,
coração e encéfalo, confirmado através de necropsia.
Palavra chave: neoplasia; animais domésticos; pele
ABSTRACT: Sweat gland neoplasms are rarely reported in animals (Morandi et al.,
2005). Tumors originating from skin adnexal structures are common in dogs and are
relatively rare in cats and humans (Khodakaram-Tafti and Shirian, 2012). The aim of
this study is to report a case of adenocarcinoma of apocrine sweat gland in a 15.5 years
old strayed cat that was attended at the Veterinary Hospital of UFPR. The patient had a
history of a lump in the neck that was completely surgical resected and diagnosed as
adenocarcinoma of apocrine sweat gland. Two months after the first diagnosis
recurrence was observed and histologically neoplastic cells were seen in the lymphatic
vessels of the dermis. Metastasis to the lung, heart and brain was confirmed during
necropsy.
Key words: neoplasm; pets; skin neoplasm
INTRODUÇÃO
A pele está frequentemente exposta a uma gama de substâncias cancerígenas, sendo
um sítio frequente de neoplasias (Khodakaram-Tafti e Shirian, 2012). As neoplasias de
glândula sudorípara são raramente relatadas em animais (Morandi et al., 2005), sendo
mais comuns em cães e relativamente raras em gatos e em humanos (Khodakaram-
Tafti e Shirian, 2012). Nestes animais ocorrem na pele da região da cabeça, pavilhão
auricular, pescoço, axila, membros e cauda (Morandi et al., 2005), sendo a região
próxima à cavidade oral a mais frequentemente relatada (Baharak et al., 2012).
Macroscopicamente este tipo de tumor é sólido, pobremente circunscrito, com
localização no subcutâneo e, algumas vezes, ulcerado (Baharak et al., 2012).
Microscopicamente, a diferenciação entre adenoma e carcinoma nos casos de tumores
apócrinos não é fácil de ser realizada, porém a observação de alguns critérios, como o
pleomorfismo celular, o número de mitoses típicas e atípicas observadas e a invasão
de células neoplásicas no estroma e nos vasos sanguíneos e/ou linfáticos, permite
realizar o diagnóstico (Morandi et al., 2005).
As glândulas apócrinas são o principal tipo de glândula sudorípara nos cães (Nibe et
al., 2005). Cerca de 70% dos tumores apresentam comportamento benigno, sendo que
os malignos tendem a recidivar, disseminando por via linfática e sanguínea para
linfonodos regionais, pulmões, fígado e ossos (Khodakaram-Tafti e Shirian, 2012). Em
humanos, um em cada trinta pacientes são diagnosticados com metástase para
linfonodos regionais, porém este número aumenta quanto maior o grau de malignidade

520
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 189, 2013

apresentado pela neoplasia (Baharak et al., 2012). O objetivo deste estudo é relatar um
caso de carcinoma de glândula sudorípara apócrina em uma gata.
RELATO DE CASO
Uma gata, SRD, com 15,5 anos de idade foi atendida no Hospital Veterinário da
Universidade Federal do Paraná (HV/UFPR) com um nódulo subcutâneo (0,7x 0,9cm)
bem delimitado, firme, localizado no pescoço. Após a avalição clínica e citologia
inconclusiva foi realizada a biópsia excisional, com margens adequadas do nódulo e
encaminhado para a avaliação histopatológica.
Ao corte, macroscopicamente, a formação nodular era irregular e difusamente amarela.
Histologicamente, expandindo a derme, era observada uma proliferação de células
neoplásicas, bem delimitada, porém não encapsulada, organizada em lóbulos
entremeados por feixes de estroma fibrovascular. Nos lóbulos, as células neoplásicas
arranjavam-se em múltiplas estruturas acinares e trabeculares, evidenciando células
poligonais a arredondadas com acentuada anisocitose e anisocariose; o citoplasma era
eosinofílico, bem delimitado e com vacúolos predominantemente apicais; o núcleo era
arredondado a oval e contorcido, com 1 a 2 nucléolos evidentes. Alguns grupos de
células neoplásicas foram observadas infiltrando o estroma. As margens laterais e
profunda estavam livres de células neoplásicas.
Após dois meses, o animal retornou com o histórico de recidiva. O novo nódulo foi
removido e teve o mesmo diagnóstico, porém pequenos grupos de células neoplásicas
foram observadas em vasos linfáticos da derme, conferindo a este processo neoplásico
um prognóstico reservado a desfavorável. O animal recebeu tratamento quimioterápico.
Dois meses depois apresentou severa dificuldade respiratória e múltiplos nódulos
distribuídos difusamente no parênquima pulmonar, sugerindo metástase pelo exame de
ultrassom e o animal foi submetido à eutanásia.
A necropsia confirmou os nódulos pulmonares, bem como focos metastáticos da
neoplasia previamente diagnosticada na pele.
MATERIAIS E MÉTODOS
A biópsia de pele e os fragmentos de tecidos colhidos durante a necropsia foram
fixados em formol 10% tamponado e processados rotineiramente no Laboratório de
Patologia Veterinária da Universidade Federal do Paraná, Curitiba. As secções
histológicas foram coradas com H&E (hematoxilina e eosina) e avaliadas ao
microscópio óptico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O carcinoma de glândula sudorípara apócrina é raramente descrito em gatos sendo
que, a incidência desta neoplasia, é maior em animais com idade entre 5 e 15 anos
(Abedi et al.). Neste caso, a neoplasia acometeu um animal de 15,5 anos de idade e
estava localizada no pescoço. Em um estudo retrospectivo de 44 casos de
adenocarcinoma de glândula sudorípara apócrina em cães, 22,5% deste tipo de
neoplasia apresentava invasão de células neoplásicas nos vasos linfáticos da derme,
sem metástase em sítios distantes (Simko et al., 2003).
Apesar do tamanho do nódulo apresentado por este gato ser relativamente pequeno,
após sua remoção cirúrgica, houve recidiva com células neoplásicas em vasos
linfáticos da derme. Apenas 2% dos cães com histórico de carcinoma de glândula
sudorípara apócrina apresentam metástase, associada à invasão vascular (Simko et
al., 2003).
CONCLUSÃO
Relatos de carcinoma de glândula sudorípara apócrina são escassos e, portanto pouco
estudados quanto à ocorrência de recidivas e metástases regionais ou distantes. Este
trabalho descreve o desenvolvimento deste tipo de neoplasia em seu sitio primário e
focos metastáticos.

521
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 189, 2013

REFERÊNCIA
ABEDI, G.; HESARAKI, S.; HOSSEINI, S.; NOUROUZI, S. H. Forelimb sweat gland adenocarcinoma in a
cat. Disponível em: <http://www.vrfuuir.com/usersFiles/papers/p_11_33_120408102428.pdf> Acesso em:
15/07/2013.
BAHARAK, A.; REZA, K.; SHAHRIAR, D. et al. Metastatic apocrine sweat gland adenocarcinoma in a
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KHODAKARAM-TAFTI, A.; SHIRIAN, S. Pathological and immunohistochemical characteristics of
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MORANDI, F.; BENAZZI, C.; SIMONI, P. Adenocarcinoma of apocrine sweat glands in a mouflon (Ovis
musimon). Journal of Veterinary Diagnostic Ivestigation, v.17, 2005.
NIBE, K.; UCHIDA, K.; ITOH, T. et al. A case of canine apocrine sweat gland adenoma, clear cell variant.
Veterinary Pathology, v.42, 2005.
SIMKO, E.; WILCOCK, P.B.; YAGER, A. J. A retrospective study of 44 canine apocrine sweat gland
adenocarcinomas. The Canadian Veterinary Journal, v. 44, 2003.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 190, 2013

190. ADENOMA IRIDOCILIAR EM CÃO - RELATO DE CASO


(Adenoma iridocialiary of dog – case report)

Liliane Cunha Campos; Cecília Bonolo de Campos; Karine Araújo Damasceno; Cristina
Maria de Souza; Enio Ferreira; Geovanni Dantas Cassali

Laboratório de Patologia Comparada, Depto. de Patologia Geral - Instituto de Ciências Biológicas,


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. cassalig@icb.ufmg.br

RESUMO: Os tumores iridocialiares correspondem ao segundo tipo mais comum de


neoplasias intra-oculares na espécie canina. Estes podem variar de adenomas bem
diferenciados à carcinomas sólidos. O presente relato objetiva descrever os achados
histopatológicos e imunofenotípicos de um adenoma iridociliar em cão. A análise
histológica caracterizou-se pela proliferação de células poliédricas bem diferenciadas,
arranjadas em ninhos, com delicado estroma fibrovascular peri e intra-tumoral e
formação de lúmen. As células caracterizavam-se por abundante citoplasma granular
eosinofílico, com núcleos redondos, centrais e, por vezes, excêntricos, com cromatina
densa e hipercromática. Foi observada positividade para PAS. A análise imuno-
histoquímica mostrou positividade para vimentina, S100 e E-caderina; negatividade
para citoqueratinas AE1/AE3 e 34βE12. O índice proliferativo foi menor que 1%. Com
base nos resultados histomorfológicos e imuno-histoquímicos o diagnóstico de
adenoma iridociliar foi estabelecido.
Palavras-chave: canino; imuno-histoquímica; neoplasia; ocular
ABSTRACT:Iridociliary epithelial tumors are relatively common intraocular tumors in
dogs, directly following melanomas, the most frequent in incidence. This report
describes histopathological and immunophenotipical characteristics of a canine
iridociliary adenoma. Histopathological analysis of the neoplasm demonstrated a well
differentiated proliferation of polyhedral cells with a delicate peri-and intra-tumoral
fibrovascular stroma and lumen formation. Cells were characterized by an abundant
granular eosinophilic cytoplasm with round, central, and occasionally eccentric nuclei
with a dense and hiperchrmatic chromatin. Positivity for PAS was observed.
Immunohistochemical analysis demonstrated positivity for vimentin, S100 and E-
cadherin; and negativity for cytokeratin AE1/AE3 and 34βE12.Proliferative index was
1%. Based on histomorfological and immunohistochemical findings, the diagnosis of
iridociliary adenoma was established.
Keywords: canine; eye; immunohistochemistry; neoplasia
INTRODUÇÃO
Neoplasias oculares são relativamente raras em cães, no entanto podem acarretar
grande impacto em sua vida devido a alterações na visão, conforto e na própria
sobrevida do animal. Entre os tumores primários intra-oculares, os processos
neoplásicos do corpo ciliar compõem o segundo grupo mais prevalente (Brown, 2005).
Os adenomas e os adenocarcinomas têm origem principalmente a partir de células do
epitélio não pigmentado (Gilger, 2001; Gelatt, 2003; Brown, 2005). A incidência de
adenomas é similar à de adenocarcinomas (Motta et al., 2008). Clinicamente, as
neoplasias do corpo ciliar podem apresentar-se em diferentes padrões de
pigmentações. Uma pequena parte dos adenomas fortemente pigmentados pode
sobressair à pupila e deslocar a face anterior da íris, apresentando massa sólida ou
peduncular (Klosterman et al., 2006; Conceição et al., 2013).
A diferenciação entre adenoma e adenocarcinoma iridociliar é feita através de biópsia,
com análise das características histopatológicas e auxílio da técnica de imuno-
histoquímica para confirmação (Sandmeyer et al., 2007). Histopatologicamente as
neoplasias iridocialiares podem ser encontradas em padrão sólido, cordões e ninhos
tubulares e, menos freqüente em padrão cístico (Labele e Labelle, 2013).

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 190, 2013

No presente trabalho objetiva-se descrever as características histopatológicas e


imunofenotípicas de um adenoma iridociliar em cão.
MATERIAL E MÉTODOS
Um cão, raça Maltês, com 10 anos de idade, foi encaminhado ao Hospital Veterinário
da UFMG apresentando alterações oculares. Após avaliação clínica, o tratamento de
eleição foi a exérese cirúrgica. Foi retirada massa do espaço retrolubular e as amostras
encaminhadas ao Laboratório de Patologia Comparada (ICB/ UFMG), processadas,
incluídas em parafina com posterior obtenção de cortes de 4μm corados em PAS e
hematoxilina e eosina (HE) para análise histomorfológica. Para o procedimento imuno-
histoquímico foi utilizado o sistema de revelação biotina-peroxidase com identificação a
partir de anticorpo secundário e revelação polimérica. A análise imuno-histoquímica foi
realizada com utilização dos anticorpos E-caderina (diluição 1:100, invitrogen, 4A2C7),
citoqueratina (CK) 34βE12 (diluição 1:40; 34βE12, Dako), CKAE1/A3 (diluição 1:100;
AE1/AE, Dako), Ki-67 (diluição 1:25, Dako, clone Mib-1), Vimentina (diluição 1:100,
invitrogen, 4A2C7) e S100 (diluição 1:100, Dako, policlonal). A expressão de E-
caderina, Vimentina e S100 foi avaliada de forma qualitativa. Para os anticorpos CK
AE1/A3 e CK34βE12 utilizou-se avaliação semi-quantitativa classificando a neoplasia
em negativa (-), positiva focal (+) e positiva difusa. O índice de proliferação celular foi
obtido pela contagem de núcleos positivos para Ki-67 em um total de 1000 células em
aumento de 40x (Dutra et al., 2008).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Macroscopicamente observou-se fragmento pardacento, medindo 4,5 x 3,0 x 1,5
centímetros, com superfície lobular e irregular envolto por cápsula fina e consistência
macia. Histologicamente, a massa neoplásica caracterizou-se pela proliferação de
células poliédricas bem diferenciadas, arranjadas em ninhos, com delicado estroma
fibrovascular peri e intra-tumoral com formação de lúmen. As células caracterizavam-se
por abundante citoplasma granular eosinofílico, com núcleos redondos, centrais e por
vezes excêntricos, com cromatina densa e hipercromática.
As células neoplásicas exibiram uma fina membrana basal PAS positiva, que
corresponde a uma característica de tumor epitelial (Zarfoss e Dubielzig, 2007). Na
análise imuno-histoquimica foi observado expressão negativa para CK AE1/AE3 e para
CK34βE12. Este resultado concorda com estudos anteriores que descrevem baixa
expressão de citoqueratinas em adenomas iridociliares e alta expressão em
adenocarcinomas (Klosterman et al., 2006; Zarfoss e Dubielzig, 2007).
As células neoplásicas apresentaram-se imunopositivas para Vimentina e S100. Estes
resultados corroboram com estudos que apontam os adenomas iridociliares
usualmente como positivos para vimentina (Zarfoss e Dubielzig, 2007). A positividade
para S100 também aponta a origem do tumor, uma vez que as células nativas do
epitélio do corpo ciliar são imunopositivas para S100 e a maioria das células epiteliais
são negativas para este marcador (Dubielzig et al., 1998).
Os adenomas iridociliares em geral, apresentam crescimento lento, pleomorfismo
moderado e poucas figuras de mitose (Klosterman et al., 2006). Neste relato observou-
se baixo índice de proliferação celular, com menos de 1% de marcação para Ki-67, e
imunopositividade para E-caderina, indicando caráter pouco agressivo da neoplasia.
CONCLUSÃO
Em conclusão observamos que a avaliação histomorfológica associada à análise
imuno-histoquímica foi fundamental para caracterizar o comportamento biológico do
tumor auxiliando assim no diagnóstico final.
Agradecimentos: CAPES e ao apoio financeiro da FAPEMIG.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 190, 2013

REFERENCIAS
BROWN, MH. Ophthalmic Neoplasia. North American Veterinary Conference
(NAVC), Proceeding. Orlando, Florida, 2005, p. 679-680.
CONCEIÇÃO, L.F.; RIBEIRO, A.P.; PISO, A.Y.T. et al. Considerações sobre neoplasias oculares em
cães e em gatos. Ciência Rural, Santa Maria, v.40, n.10, p. 2235-42, 2010.
DUBIELZIG, R.R.; STEINBERG, H.; GARVIN H.; et al. Iridociliary epithelial tumors in 100 dogs and 17
cats: morphological study. Veterinary Ophthalmology, v. 1, n. 4, p. 223–31,1998.
GELATT, KN. Manual de Oftalmologia Veterinária. Barueri: Manole, 2003. p. 223-25.
GILGER, B. C. Clinical syndromes in canine and feline uveitis. In Proc Waltham/OSU Symposion Small
Animal Ophthalmology. v. 25, p. 84-89, 2001.
KLOSTERMAN, E.; COLITZ, C. M. H. ; CHANDLER, H. L. et al. Immunohistochemical properties of
ocular adenomas, adenocarcinomas and medulloepitheliomas. Veterinary Ophthalmology, v. 9, n.6, p.
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LABELLE, A. L. ; LABELLE, P. Canine ocular neoplasia: a review. Veterinary Ophthalmology, v. 16, n. s1,
p. 1–12, 2013.
MOTTA, M.A.A.; FIGHERA, R.A.; CHAPON CORDEIRO, J.M. Adenocarcinoma iridociliar primário em
cão – relato de caso. In: Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (CONBRAVET), XXXV, 2008,
Gramado.
SANDMEYER, LS; BREAUX, CB; GRAHN, BH. Diagnostic Ophthalmology.
The Canadian Veterinary Journal, v. 48, n. 11, p. 1193- 94, 2007.
ZARFOSS, M. K.; DUBIELZIG, R.R. Metastatic Iridociliary Adenocarcinoma in a Labrador Retriever.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 191, 2013

191. ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS ESPLÊNICAS ASSOCIADAS A INFECÇÃO


POR Leishmania infantum
(Histological changes of the spleen associated with Leishmania infantum
infection)

Glauco Jonas Lemos Santos¹; Adam Leal Lima¹; Marcio Gomes Alencar-Araripe¹;
Francisco Glauco de Araújo Santos²; José Claudio Carneiro de Freitas¹; Diana Célia
Sousa Nunes-Pinheiro¹

1 Programa de Pós-Graduação em Ciências Vet (PPGCV) - Universidade Estadual do Ceará (UECE).


2 Universidade Federal do Acre (UFAC).

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar as alterações imuno-inflamatórias e


estruturais do baço de cães naturalmente infectados por Leishmania infantum. Dez
cães adultos e sintomático foram utilizados, selecionados pelo teste rápido
imunocromatográfico (DPP) e ensaio imunoenzimático (ELISA). Após o procedimento
de eutanásia os baços foram coletados para determinar o peso relativo, submetidos a
procedimentos histológicos (H & E), coloração por vermelho Congo e visualizados em
microscopia de luz polarizada. Os resultados foram expressos em porcentagem.
Observou-se aumento do peso relativo do baço de todos os animais (100%) e
hiperplasia nodular esplênica em oito animais (80%). Infiltrado inflamatório moderado,
hiperplasia e hipertrofia das polpas vermelhas e brancas e espessamento da cápsula e
congestão foram observadas em todos os animais (100%). Amiloidose foi confirmada.
Conclui-se que o baço de cães naturalmente infectados por L. infantum possui
alterações histológicas consistentes com uma resposta imuno-inflamatória.
Palavras-chave: cães; histopatologia; leishmaniose
ABSTRACT: The objective of this work was to evaluate the splenic immune-
inflammatory and structural changes of naturally infected dogs by Leishmania infantum.
Ten adult and symptomatic dogs were used, selected by immunochromatographic
dipstick test (DPP) and enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA). After the
euthanasia procedure the spleens were accessed to determine the relative weight,
subjected to histology procedures (H&E), Congo red stained and visualized in polarized
light microscopy. The findings were expressed as percentage. It was observed
increased relative weight of spleen in all animals (100%) and splenic nodular
hyperplasia in eight animals (80%). Moderate inflammatory infiltrate, hyperplasia and
hypertrophy of red and white pulps, thickening of the capsule and congestion were
observed in all animals (100%). Amyloidosis was confirmed. It follows that the spleen of
naturally infected dogs by L. infantum has histological changes consistent with immune-
inflammatory response.
Key words: dogs; histopathology; leishmaniasis
INTRODUÇÃO
As leishmanioses representam um complexo zoonótico que afeta o homem quando ele
está envolvido no ciclo de transmissão do parasita (Brasil, 2006). Trata-se de doença
infecciosa crônica, caracterizada pelo comprometimento do sistema imunológico que
impede o retorno à homeostase. Os mecanismos que envolvem tanto a imunidade
inata como a imunidade adquirida são comprometidos pela resposta exacerbada ao
protozoário (Engwerda et al., 2004, Sanchez et al., 2004, Miranda et al., 2007). Estas
alterações têm sido associadas ao processo inflamatório, incluindo o aumento da
liberação de quimiocinas e citocinas pró-inflamatórias, podendo causar danos
estruturais e funcionais nos órgãos linfóides e desencadear o aparecimento de sinais
clínicos característicos da doença. Embora a leishmaniose visceral canina (LVC) possa
ser caracterizada como uma doença sistêmica grave, poucos estudos foram realizados
descrevendo as principais alterações histopatológicas encontradas em vários órgãos
do hospedeiro afetado pelo parasita (Giunchetti et al., 2008a, b). Dessa forma, neste
526
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 191, 2013

trabalho, objetivou-se avaliar as alterações imuno-inflamatórias e estruturais do baço


de cães naturalmente infectados por Leishmania infantum.
MATERIAL E MÉTODOS
Dez cães adultos e sintomáticos foram utilizados, variando em idade e peso,
selecionadas pelo teste rápido imunocromatográfico (DPP) e ensaio imunoenzimático
(ELISA). Foram considerados positivos os cães que apresentaram titulação para ELISA
≥ 1:40. Todos os animais foram clinicamente avaliados e, após o procedimento de
eutanásia, os baços foram dissecados e pesados para determinar o peso relativo.
Fragmentos do baço foram coletados e submetidos a procedimentos de histologia
padrão (H & E) e visualizadas por microscopia óptica (40X). As mesmas amostras
foram sujeitas a coloração vermelho Congo e visualizados sob microscopia de luz
polarizada. Os resultados foram expressos em porcentagem.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Observou-se aumento no peso relativo do baço de todos os animais (100%) e
hiperplasia nodular esplênica em oito animais (80%). Infiltrado inflamatório moderado,
hiperplasia e hipertrofia das polpas vermelhas e brancas, espessamento da cápsula e
congestão foram observadas em todos os animais (100%). Além disso, foram
observados megacariócitos e plasmócitos (80%). A amiloidose foi confirmada nos
mesmos animais que apresentaram hiperplasia nodular no baço por meio da análise de
amostras coradas com vermelho Congo em microscopia de luz polarizada (40x). Sabe-
se que a despeito das lesões macroscópicas significativas observadas em órgãos e
tecidos em resposta à infecção por L. infantum, poucos estudos têm sido realizados
sobre as alterações histopatológicas em LVC (Keenan et al., 1984; Tafuri et al., 2001;
Giunchetti et al., 2008a, b). As principais alterações macroscópicas observadas em
cães infectados com Leishmania infantum são semelhantes aos que são geralmente
descritos na infecção humana, incluindo hepatoesplenomegalia e linfadenopatia
(Keenan et al., 1984), confirmando os resultados observados no presente trabalho .
CONCLUSÃO
Conclui-se que o baço de cães naturalmente infectados por L. infantum possui
alterações histológicas consistentes com a resposta imune inflamatória, demonstrando
a deficiência funcional do mesmo.
Nota: Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Uso de Animais da
Universidade Estadual do Ceará, Protocolo n º 08622833-1.
REFERÊNCIAS
BRASIL, M. S. In: Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, 1st Edit, MS, Eds., Brasília,
p. 11–18, 2006.
ENGWERDA, C. R.; ATO, M.; KAYE, P. M. Macrophages, pathology and parasite persistence in
experimental visceral leishmaniosis. Trends in Parasitology, v. 20, p. 524–530, 2004.
GIUNCHETTI, R. C.; MARTINS-FILHO, O. A.; CARNEIRO, C. M. et al. Histopathology, parasite density
and cell phenotypes of the popliteal lymph node in canine visceral leishmaniosis. Veterinary Immunology
and Immunopathology, v. 121, p. 23–33, 2008a.
GIUNCHETTI, R. C.; MAYRINK, W.; CARNEIRO, C. M.; et al. Histopathological and
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TAFURI, W. L.; OLIVEIRA, M. R.; MELO, M. N. (Canine visceral leishmaniosis: a remarkable
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527
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 192, 2013

192. ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS OCULARES ASSOCIADAS A LEISHMANIOSE


VISCERAL CANINA
(Histological changes of the eye associated with canine visceral leishmaniasis)

Glauco Jonas Lemos Santos¹; Adam Leal Lima¹; Marcio Gomes Alencar-Araripe¹;
Francisco Glauco De Araújo Santos²; José Claudio Carneiro De Freitas¹; Diana Célia
Sousa Nunes-Pinheiro¹.
1 Programa de Pós-Graduação em Ciências Vet (PPGCV) - Universidade Estadual do Ceará (UECE).
2 Universidade Federal do Acre (UFAC).

RESUMO: Objetivou-se avaliar as alterações imuno-inflamatórias e estruturais oculares


de cães naturalmente infectados por Leishmania infantum. Dez cães adultos de ambos
os sexos, variando em idade e peso e sem raça definida raça foram utilizados. Os
animais foram selecionados pela Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI), ensaio
imunoenzimático (ELISA), sendo considerados sororreagentes títulos ≥ 1:40, e pela
presença de lesões oculares. Os animais foram submetidos à eutanásia e amostras do
globo ocular direito foram coletadas via procedimento cirúrgico, armazenadas em
formol e submetidas à histologia clássica (H&E). Os dados foram expressos em
porcentagem. As principais alterações observadas na região foram ceratoconjuntivite
(90%), ulceração periocular com perda de pelos (80%), uveíte (60%), blefarite (50%) e
edema em (30%). Conclui-se que as manifestações oculares podem ser consideradas
achados importantes na leishmaniose visceral canina, sendo esta avaliação muito
importante para auxiliar no diagnóstico diferencial.
Palavras-chave: cães; histopatologia; leishmaniose; oftalmologia
ABSTRACT: This study aimed to evaluate the immuno-inflammatory changes and
structural in the eye of dogs naturally infected by Leishmania infantum. Ten mongrel
adult dogs of both sexes, varied age and weight were used. The animals were selected
by Immunofluorescence Assay (IFA), enzyme linked immunosorbent assay (ELISA) with
titers ≥ 1:40 considered seropositive, and the presence of ocular lesions. Animals were
euthanized and samples of the right eye were collected by surgical procedure, stored in
formalin and submitted to classical histology procedure (H & E). Data were expressed
as a percentage. The major changes observed were keratoconjunctivitis (90%),
periocular ulceration (80%), uveitis (60%), blepharitis (50%) and swelling (30%). We
conclude that ophthalmic alterations can be considered characteristic findings in canine
visceral leishmaniasis, which is very an important assessment to assist in differential
diagnosis.
Key words: dogs; histopathology; leishmaniasis; ophthalmology
INTRODUÇÃO
As leishmanioses representam um complexo zoonótico que afeta o homem quando ele
está envolvido no ciclo de transmissão do parasita (Brasil, 2006). Trata-se de doença
infecciosa crônica, caracterizada pelo comprometimento do sistema imunológico que
impede o retorno à homeostase. Embora a leishmaniose visceral canina (LVC) possa
ser caracterizada como uma doença sistêmica grave, poucos estudos foram realizados
descrevendo as principais alterações histopatológicas encontradas em vários órgãos
do hospedeiro afetado pelo parasita (Giunchetti et al., 2008a, b). As leishmanioses
caninas são clinicamente caracterizadas por uma gama de sinais clínicos, sendo, em
sua maioria, associados ao infiltrado inflamatório e ao acúmulo de imunoglobulinas
(Barbieri, 2006; Reis et al., 2006). As alterações oculares e perioculares também têm
sido relatadas na leishmaniose visceral canina, entretanto, uma avaliação oftalmológica
detalhada e a descrição de cada manifestação clínica nos cães foram raramente
descritas sobretudo no âmbito histológico. Dessa forma, neste trabalho, objetivou-se
avaliar as alterações histológicas, imuno-inflamatórias e estruturais oculares de cães
naturalmente infectados por Leishmania infantum.

528
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 192, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Cães adultos (n = 10) de ambos os sexos, variando em idade e peso e sem raça
definida raça, foram utilizados. Os animais foram selecionados pela Reação de
Imunofluorescência Indireta (RIFI), pelo ensaio imunoenzimático (ELISA), sendo
considerados sororreagentes títulos ≥ 1:40, e pela presença de lesões oculares. Os
animais selecionados para o estudo foram submetidos ao exame clinico corporal e da
região ocular e periocular. Logo após, os mesmos foram classificados em escores de
acordo com o aparecimento de sinais clínicos característicos da leishmaniose visceral.
Após a avaliação clínica, os animais foram submetidos ao procedimento de eutanásia e
amostras do globo ocular direito e suas estruturas anexas foram coletadas via
procedimento cirúrgico. O globo ocular e fragmentos de pálpebra e músculo reto-orbital
superior foram coletados e armazenados em formol tamponado (10%), pH, 7,0, e
mantidos a temperatura ambiente para a realização dos procedimentos de histologia
clássica. Os cortes foram fixados em hematoxilina e eosina (H&E), e examinados por
microscopia óptica para avaliação dos parâmetros histológicos.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Após a análise semiquantitativa dos achados, os mesmos foram expressos em
porcentagem. 50% dos cães apresentaram escore corporal 2, 30% escore 3 e 20%
escore 1,5. Na avaliação das alterações oculares, todos os animais tiveram
manifestações clínicas, em ambos os olhos, sendo que 20% dos cães apresentaram
escore 2 e 80% escore 1. As principais alterações observadas na região foram
ceratoconjuntivite (90% dos animais), ulceração periocular com perda de pelos (80%
dos animais), uveíte (60% dos animais), blefarite (50% dos animais) e edema em 30%
dos animais. Os achados encontrados corroboram com resultados obtidos em estudos
prévios, somando-se ainda infiltrado intra-ocular, ocular e múscular liso e estriado
adjacente (Peña et al., 2000; Naranjo et al., 2010).
CONCLUSÃO
Então, a partir do exposto, podemos concluir que, as manifestações oculares podem
ser consideradas achados característicos na leishmaniose visceral canina, sendo esta
avaliação muito importante para auxiliar no diagnóstico diferencial.
Nota: Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Uso de Animais da
Universidade Estadual do Ceará, Protocolo n º 08622833-1.
REFERÊNCIAS
BARBIÉRI, C. L. Immunology of canine leishmaniosis. Parasite immunology, v. 28, p. 329–337, 2006.
BRASIL, M. S. In: Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, 1st Edit, MS, Eds., Brasília,
p. 11–18, 2006.
GIUNCHETTI, R. C.; MARTINS-FILHO, O. A.; CARNEIRO, C. M. et al. Histopathology, parasite density
and cell phenotypes of the popliteal lymph node in canine visceral leishmaniosis. Veterinary immunology
and immunopathology, v. 121, p. 23–33, 2008a.
GIUNCHETTI, R. C.; MAYRINK, W.; CARNEIRO, C. M.; et al. Histopathological and
immunohistochemical investigations of the hepatic compartment associated with parasitism and serum
biochemical changes in canine visceral leishmaniosis. Research in veterinary science, v. 84, p. 269–277,
2008b.
NARANJO, C.; FONDEVILA, D.; LEIVA, M.; et al. Detection of Leishmania spp. and associated
inflammation in ocular-associated smooth and striated muscles in dogs with patent leishmaniasis.
Veterinary Ophthalmology, v. 13, n. 3, p. 139–143, 2010.
PEÑA, M. T.; ROURA, X.; DAVIDSON, M. G. Ocular and periocular manifestations of leishmaniasis in
dogs: 105 cases (1993 – 1998). Veterinary ophtalmology, v. 3, p. 35-41, 2000.
REIS, A. B.; TEIXEIRA-CARVALHO, A.; VALE, A. M.; et al. Isotype patterns of immunoglobulins:
hallmarks for clinical status and tissue parasite density in Brazilian dogs naturally infected by Leishmania
(Leishmania) chagasi. Veterinary Immunology and Immunopathology, v. 112, p. 102–116, 2006.

529
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 193, 2013

193. ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS OCULARES EM CÃES COM LEPTOSPIROSE


(Ocular histological changes of dogs with leptospirosis)

Ademir Zacarias Junior¹, Francielle Gibson da Silva Zacarias¹, Mauro José Lham
Cardoso¹, Jéssica Regina Moreira², Ana Paula Frederico Loureiro Rodrigues
Bracarense²

1- Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP – CLM


2- Universidade Estadual de Londrina – UEL

RESUMO: A Leptospirose é uma doença infecciosa que pode causar diversos sinais
clínicos e oculares. No entanto, não há descrição das lesões histológicas oculares em
cães infectados. O objetivo foi demonstrar os achados histológicos oculares em cães
sorologicamente positivos para leptospirose e com glaucoma secundário à uveíte.
Foram atendidos 6 cães com glaucoma com indicação de enucleação. Todos tiveram
uma amostra de sangue coletada para a realização do teste de aglutinação
microscópica e fragmentos dos bulbos oculares avaliados para a caracterização das
lesões histológicas. Na córnea as alterações observadas foram edema, desarranjo
estromal e infiltrado inflamatório misto. Na úvea foi observado infiltrado inflamatório
misto com aumento do calibre vascular. O entendimento das alterações histológicas
oculares é fundamental para a compreensão da doença e condutas para prevenção.
Palavras-chave: Leptospira; glaucoma; uveíte
ABSTRACT: Leptospirosis is an infectious disease that cause many clinical and ocular
signs. However, there are no description of ocular histological changes in infected dogs.
The aim was to demonstrate the ocular histological changes in dogs serologically
positive for leptospirosis with secondary glaucoma. Six glaucomatous dogs were
studied in this research. Blood sample were collected to perform the microscopic
agglutination test (MAT) and fragments of the eye evaluated for the characterization of
microscopic lesions. Corneal changes observed were edema, stromal disorder and
mixed inflammatory infiltrate. The uvea proved mixed inflammatory infiltrate and
increased vascular diameter. The research of ocular histological changes is essential
for understanding the disease and for prevention.
Key words: Leptospira; glaucoma; uveitis
INTRODUÇÃO
A Leptospirose é uma doença que acomete humanos e animais devido à infecção por
Leptospira interrogans. Os cães podem atuar como reservatórios, principalmente dos
sorovares Canicola e Icterohaemorrhagiae, perpetuando a bactéria no ambiente e
causando a infecção de outros animais e humanos. Após a infecção, a leptospiremia
ocorre muito rapidamente e pode perdurar por até 10 dias após os sinais clínicos. A
presença da bactéria estimula a intensa vasculite e dano endotelial, lesão renal,
necrose hepática, hipóxia tecidual, redução da albumina plasmática, elevação de
globulinas, morte celular, edema, entre outros.
Diversos sinais clínicos inespecíficos podem ser descritos em cães acometidos como
letargia, desidratação, diarreia, vômito, poliúria, polidpsia, dor abdominal, febre,
tremores, dores musculares, petéquias e equimoses. Os sinais oculares da
leptospirose canina não são bem documentados, porém a vasculite na fase aguda
pode ocasionar uveíte associada à conjuntivite intensa e congestão escleral.
Em equinos, a uveíte recorrente equina causada pela Leptospira é a principal causa de
cegueira e por significantes perdas econômicas. A doença é aguda e apresenta
intensidade variável, e os equinos podem desenvolver uveíte até 2 anos após a
infecção. O diagnóstico de uveíte recorrente equina pode ser realizado com a
identificação da bactéria em amostras oculares pela cultura, testes moleculares e
histopatologia. Nos cães o método diagnóstico mais utilizado é o teste de aglutinação
microscópica (MAT) sérico, no entanto não foram encontrados estudos que
530
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 193, 2013

demonstrassem as lesões histológicas oculares relacionadas a animais


comprovadamente infectados com o agente etiológico.
O objetivo deste trabalho foi demonstrar os achados histológicos oculares em cães
sorologicamente positivos para leptospirose e com glaucoma secundário à uveíte,
favorecendo a compreensão dos sinais oftalmológicos causados por Leptospira
interrogans.
MATERIAL E MÉTODOS
No ano de 2012, foram atendidos no Hospital Veterinário da UENP, 6 cães com
glaucoma secundário à uveíte com indicação de enucleação. Os animais foram
submetidos a prévio exame clínico e oftalmológico. Todos os cães tiveram uma
amostra de sangue coletada para a realização do teste de aglutinação microscópica
(MAT) para pesquisa de leptospirose. A prova foi realizada com antígenos vivos,
utilizando os sorovares de referência: Australis, Bratislava, Autumnalis, Butembo,
Castellonis, Bataviae, Canicola, Whitcomb, Cynopteri, Fortbragg, Grippothyphosa,
Hebdomadis, Copenhageni, Icterohaemorrhagiae, Panama, Pomona, Pyrogenes,
Hardjo, Wolfii, Shermani, Sentot e Tarassovi. A diluição de 1:100 foi utilizada como
ponto de corte. Os fragmentos dos bulbos oculares enucleados foram fixados em
solução de formol 10% e processados conforme a rotina laboratorial. As lâminas foram
coradas pela técnica de hematoxilina-eosina (HE) e avaliadas para a identificação e
caracterização das lesões histológicas.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Dos cães estudados, 3 apresentaram sorologia positiva para leptospirose e 3
apresentaram resultado negativo, evidenciando prevalência de 50% nos casos
estudados. Considerando que os animais apresentavam sinais exclusivamente
oculares, o glaucoma deve ser considerado uma importante evidência de infecção por
bactérias do gênero Leptospira, além dos quadros de uveíte e conjuntivite. Os
sorovares encontrados foram Panama, Copenhageni e Grippotyphosa, diferindo de
relatos anteriores que relatam os sorovares Canicola e Icterohaemorrhagiae como os
mais prevalentes nesta espécie. Os sorovares mais adaptados podem ocasionar sinais
clínicos mais brandos e manter o cão como reservatório, contaminando outros animais
e pessoas.
No exame histológico as alterações corneanas mais observadas foram edema e
desarranjo estromal, assim como infiltrado inflamatório misto. Pela falta de evidências
do comprometimento corneano direto pela bactéria, provavelmente estes achados se
devem ao glaucoma, com lesão direta da camada endotelial, além de exposição direta
pelo aumento de volume do globo ocular. Na análise uveal, foi observado intenso
infiltrado inflamatório misto com aumento do calibre vascular da íris e do corpo ciliar.
Um paciente apresentou hemorragia no ângulo de drenagem e outro focos de necrose
do corpo ciliar e íris Os sinais observados se devem à intensa resposta da úvea para a
apresentação do antígeno resultando em vasculite, e resposta inflamatória ativa,
podendo ser deletéria para as estruturas do bulbo ocular e comprometendo a
drenagem do humor aquoso, resultando no glaucoma.
CONCLUSÃO
A leptospirose canina pode apresentar diversos quadros oftalmológicos acompanhados
de sinais sistêmicos ou não, e o entendimento das alterações histopatológicas do bulbo
ocular é fundamental para a compreensão da doença, auxiliando no diagnóstico
correto, determinação da perfeita terapia e condutas para prevenção.

531
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 193, 2013

REFERÊNCIAS
ADLER, B; DE LA PEÑA-MOCTEZUMA, A. Leptospira. In: GILES, C.L; PRESCOTT, J.F.; SONGER,
J.G.; THOEN, C.O. Pathogenesis of bacterial infections in animals. 3.ed. Ames : Blackwell Publishing,
2004. p.385-396.
BURR, P.; LUNN, K.; YAM, P. Current perspectives on canine leptospirosis. Companion Animal Practice.
v.31, p.98-102, 2009.
DZIEZYK, J. Canine systemic bacterial infections. Veterinary Clinics of North America. v.30, p.1117-2000,
2000.
GILGER, B.C.; MICHAU, T.M. Equine recurrent uveitis: new methods of management. Veterinary Clinics
of North America: Equine Practice. v.20, p.417-427, 2004.
GOLDSTEIN, R.E Canine leptospirosis. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. v.40,
p.1091-1101, 2010.
PEARCE, J.W. et al. Detection of Leptospira interrogans DNA and antigrn in fixed equine eyes affected
with end-stage equine recurrent uveitis. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation. v.19, p.686-690,
2007.
SPOHR, K. A. H. Leptospirose em ratos urbanos em Londrina, Paraná. 2009. Londrina. Dissertação
(Mestrado em Ciência Animal) - Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual de
Londrina.
TOWNSEND, W.M.; STILES, J.; KROHNE, S.G. Leptospirosis and panuveitis in a dog. Veterinary
Ophthalmology. v.9, n.3, p.169-173, 2006.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 194, 2013

194. ANEXINA A1: PERSPECTIVAS DE UM NOVO BIOMARCADOR EM


NEOPLASIA MAMÁRIA DE CADELA
(Annexin A1: Perspectives for a new biomarker in canine mammary tumor)

Mayara de Cássia Luzzi¹, Andrigo Barboza de Nardi¹, Ana Paula Girol², Talita Mariana
Morata Raposo³, Renée Laufner Amorim³, Mirela Tinucci Costa¹

1 Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ – FCAV – UNESP Campus Jaboticabal,
2 Faculdades Integradas Padre Albino – FIPA, Catanduva, São Paulo/SP, Brasil
3 Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ – FMVZ – UNESP Campus Botucatu.

RESUMO: Vários esforços têm sido direcionados para o melhor entendimento das
neoplasias mamárias, visando o sucesso terapêutico e aumento da sobrevida das
pacientes, o que inclui a determinação de biomarcadores. Investigações indicam que a
proteína anti-inflamatória anexina A1 (ANXA1) atua em diversas vias de sinalização no
câncer, relacionando-se com a regulação da apoptose, migração e invasão de células
neoplásicas. Assim, é importante a realização de estudos para a compreensão do
papel da ANXA1 na neoplasia mamária canina. Para tal, amostras de mama de 37
cadelas foram coletadas, classificadas histopatologicamente e submetidas à técnica de
imuno-histoquímica com o anticorpo anti-ANXA1. Os resultados mostram diminuição na
expressão da ANXA1 conforme piora o prognóstico do tumor, corroborando os dados
de literarura para neoplasia mamária humana. Este estudo sugere que a ANXA1 está
funcionalmente envolvida na progressão de tumores de mama de cadela, sendo um
possível biomarcador adicional na determinação do prognóstico destes tumores.
Palavras-chave: anexinas; cão; glândula mamária; tumor.
ABSTRACT: Several efforts have been directed towards a better understanding of
breast tumors, aiming to obtain a therapeutic success and an increased survival of
patients, which includes the determination of biomarkers. Previous studies indicate that
the anti-inflammatory protein annexin A1 (ANXA1) acts in different signaling pathways
in cancer, associated to the regulation of apoptosis, migration and invasion of cancer
cells. Thus, it is important to perform studies to understand the role of ANXA1 in canine
mammary neoplasia. For this purpose, 37 dog mammary tissue samples were collected,
histopathologically classified and submmited to immunohistochemistry with anti-ANXA1.
The results showed a decrease in the expression of ANXA1 associated to a worse
prognosis of the tumor, corroborating to previous findings in human breast cancer. This
study suggests that ANXA1 is functionally involved in the progression of canine
mammary tumors, and may play a role as an additional biomarker in determining the
prognosis of these tumors.
Keywords: annexins; dog; mammary gland; tumor.
INTRODUÇÃO
A anexina A1 (ANXA1) é um membro da superfamília das anexinas, proteínas cálcio-
dependentes, e participa na regulação do trânsito na membrana plasmática das
células, sendo também relacionada com metástase e infiltração de células tumorais em
diversos tipos de neoplasias humanas (Deng et al., 2012). A ANXA1 tem se
expressado em níveis muito reduzidos em diversos tipos de tumores humanos com pior
prognóstico e metastáticos, como nas neoplasias mamária, prostática. esofagianas e
tumores de cabeça e pescoço (Lim e Pervaiz, 2007).
Além disso, o conhecido papel anti-inflamatório da ANXA1 por mediar a função de
glicocorticoides (Perretti e D‘Acquisto, 2009), promove a modulação da troca fenotípica
de células do tipo epitelial-para-mesenquimal (EMT) pela via de sinalização do fator de
transformação e crescimento celular beta (TGF-β) (Maschler et al., 2010). Ainda, uma
resposta de dano ao DNA é observada quando há depleção de ANXA1 em células
normais de mama (Swa et al., 2012). Deste modo, a não-expressão da ANXA1 em

533
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 194, 2013

tumores de mama humano tem sido relacionada com um prognóstico desfavorável,


pois a proteína parece atuar na supressão tumoral (Yom et al., 2011).
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi investigar a expressão da ANXA1 em
neoplasias mamárias de cadelas, avaliando sua importância como biomarcador, por
meio do estudo imuno-histoquímico.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostras de mama de 37 cadelas foram coletadas, classificadas histopatologicamente,
e divididas em 4 grupos gerais [(grupo um (G1): mamas normais, sem histórico de
neoplasia (n=8); grupo dois (G2): neoplasia mamária benigna (n=9); grupo três (G3):
neoplasias mamárias malignas sem evidência de metástase (n=10); grupo quatro (G4):
neoplasias mamárias malignas com a presença de lesões metastáticas (n=10)] e
processados pela técnica de imuno-histoquímica para o anticorpo anti-ANXA1 (1:2000).
A proteína foi quantificada por meio de densitometria, sendo analisados vinte pontos de
diferentes regiões das biópsias para a obtenção de uma média relacionada com a
intensidade de imunorreatividade. Os valores foram obtidos como unidades arbitrárias
(u.a.) e a densidade óptica média mostrou a intensidade de imunomarcação (Girol,
2013). As análises estatísticas das quantificações foram feitas pela ANOVA, seguida do
pós-teste de Bonferroni. Valores de P menores que 0,05 foram considerados
estatisticamente significantes.
RESULTADOS E DISCUSSÂO
As células epiteliais das glândulas mamárias normais (G1) mostraram intensa
expressão da ANXA1, confirmada pela análise densitométrica (228,5 u.a. ± 2,56).
Quanto ao grupo de neoplasias benignas (G2), a expressão da ANXA1 permaneceu
forte (209,9 u.a. ± 9,10) e não foram observadas diferenças no padrão de expressão da
proteína no estroma. Nas amostras de tumores malignos as análises imuno-
histoquímicas revelaram diminuição na expressão da ANXA1 nas células epitelias,
tanto no grupo G3, sem evidência de metástase (185,4 u.a. ± 11,55), quanto no grupo
G4, com tumores metastáticos (193,1 u.a. ± 8,48).
Na análise estatística, a quantificação de imunomarcação da ANXA1 em todos os
grupos diferiu estatisticamente do grupo G1 (em G1 vs G2, P<0,05; em G1 vs G3 e G1
vs G4, P<0,001). Os resultados também apontaram diferença estatística significante
entre os grupos 2, 3 e 4 (em G2 vs G3, P<0,001; em G2 vs G4, P<0,01).
Parece que a ANXA1 pode exercer alguma função supressora de tumor, pois níveis
ausentes ou reduzidos dessa proteína têm sido observados em vários tipos de
cânceres, incluindo linfomas de células B, carcinomas de esôfago, além de câncer de
mama humano (Lim e Pervaiz, 2007). Além desse fato, Maschler et al. (2010)
mostraram que em culturas de células de mama, que haviam sido mudadas
fenotipicamente do tipo epitelial para mesenquimal (EMT), a reexpressão da ANXA1
reverteu completamente mudança, suprimindo a metástase.
Uma investigação recente mostrou expressão elevada da ANXA1 no subtipo de câncer
de mama humano basal-like (BLBC), caracterizado por aumentada capacidade de
invasão, formação de metástases à distância e pior prognóstico. A depleção da ANXA1
nas células BLBC resultou na inversão da sua capacidade migratória, o que foi
associado com a reorganização de actina e redução no número de metástases
pulmonares espontâneas in vivo. Esses pesquisadores também mostraram que a
ANXA1 discrimina claramente pacientes BLBC daquelas acometidas por outros tipos
de câncer de mama como o carcinona luminal (de Graauw et al, 2010).
CONCLUSÕES
Este estudo é pioneiro na investigação da expressão da ANXA1 na Medicina
Veterinária e indica a redução na expressão da proteína nas células tumorais malignas
comparadas a tumores benignos e mamas normais, sugerindo que esta proteína possa
estar funcionalmente envolvida na progressão de tumores de mama de cadela para
graus mais altos de malignidade.
534
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 194, 2013

Os resultados apontam que a ANXA1 é um componente essencial na manutenção do


fenótipo normal das células epiteliais nas glândulas mamárias, o que nos permite
sugerir a ANXA1 como potencial biomarcador prognóstico para determinar tumores
metastáticos, embora novos estudos devam ser realizados para determinar melhor
estes parâmetros.
NOTAS INFORMATIVAS
Aprovação no Comitê de Ética no Uso de Animais protocolo 8130, de 16/04/12.
Financiamento: CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico e FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
REFERÊNCIAS
DE GRAUUW, M.; VAN MILTENBURG, M.H.; SCHMIDT, M.K. ET AL. Annexin A1 regulates TGF-beta
signaling and promotes metastasis formation of basal-like breast cancer cells. Proceedings of the
National Academy of Sciences of the United States of America, v.14, n.107, p. 6340-6345, 2010.
DENG, S.; WANG, J.; HOU, L. et al. Annexin A1, A2, A4 and A5 play important roles in breast cancer,
pancreatic cancer and laryngeal carcinoma, alone and/or synergistically. Oncoloy Letters, v.5, p.107-112,
2013.
GIROL, A.P.; MIMURA, K.K.; DREWES, C.C. et al. Ac2-26 in models of ocular inflammation in Annexin
A1 protein and its mimetic peptide anti-inflammatory mechanisms of the vivo and in vitro. The Journal of
Immunology, v.190, p.5689-5701, 2013.
LIM, L.H.; PERVAIZ, S. Annexin 1: the new face of an old molecule. The FASEB Journal, v. 21, p. 968-
975.
MASCHLER, S.; GEBESHUBER, C.A.; WIEDEMANN, E. et al. Annexin A1 attenuates EMT and
metastatic potential in breast câncer. The EMBO Molecular Medicine Journal, v. 2, p.401-414, 2010.
PERRETTI, M.; D'ACQUISTO, F. Annexin A1 and glucocorticoids as effectors of the resolution of
inflammation. Nature Reviews of Immunology, v.9, p.62-70, 2009.
SWA, H. L.; BLACKSTOCK, W. P.; LIM, L.H. et al. Quantitative Proteomics Profiling of Murine Mammary
Gland Cells Unravels Impact of Annexin-1 on DNA-Damage Response, Cell Adhesion and Migration.
Molecular and Cellular Proteomics, v.8, p.381-393, 2012.
YOM, C.K; HAM, W.; KIM, S. et al. Clinical Significance of Annexin A1 Expression in Breast Cancer.
Journal of Breast Cancer, v.4, n.14, p.262-268, 2011.

535
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 195, 2013

195. ASPECTOS MORFOLÓGICOS E EPIDEMIOLÓGICOS DE ALTERAÇÕES


TESTICULARES EM CÃES
(Morphological and Epidemiological Aspects of Testicular Diseases in Dogs)

Raimundo Alberto Tostes¹; Filipe Krasinski Cestari²

1. Prof. Adj. Dr. de Patologia, curso de Medicina Veterinária UFPR – Setor Palotina.
2. Aluno de graduação UFPR – Setor Palotina.

RESUMO: No âmbito da clínica médica e reprodução de pequenos animais, as


alterações testiculares são um grupo muito importante. Conhecer a prevalência destas
alterações é capital para desenvolver estratégias de abordagem de diagnóstico em
cães com desordens testiculares e para estabelecer um perfil epidemiológico delas.
Neste estudo foram analisadas as alterações testiculares de 100 cães. Os testículos
foram colhidos a partir de amostras encaminhadas ao Laboratório de Anatomia
Patológica da Universidade Federal do Paraná. Em ordem de prevalência, foram
encontradas: atrofia e degeneração (56%), inflamatórias (23%), neoplásicas (16%),
fibrose (2%), agenesia e hipoplasia (2%) e vasculares (0,5%). Os resultados indicam
alta prevalência de alterações testiculares em cães, afetando mormente cães adultos a
idosos (1 a 7 anos ou mais, respectivamente), em muitos casos sem evidência clínica
e/ou morfológica de disfunção reprodutiva.
Palavras-chave: degeneração; morfologia; neoplasia; testículo
ABSTRACT: In scope of clinics and small animal reproduction, testis alterations are
among the most important group. The knowledge of the prevalence of these alterations
is essential to develop diagnosis approach strategies in dogs with testis disorders and
also remark an epidemiological profile of these alterations. The present study evaluated
100 dogs with testis alterations. The testis were collected from samples sent to the
Laboratory of Pathological Anatomy of the Universidade Federal do Paraná. In order of
prevalence, were found: atrophy and degeneration (56%), inflammation (23%),
neoplastics (16%), fibrosis (2%), agenesis and hypoplasia (2%) and vascular (0,5%).
Results indicate high prevalence of testicular alterations in dogs, affecting mostly adults
and elderly (1 to 7 years old or more, respectively), in many cases without clinical
evidences and/or morphological of reproductive dysfunction.
Keywords: degeneration; morphology; neoplastic; testis
INTRODUÇÃO
As alterações testiculares em cães constituem um amplo grupo de desordens com
impacto sobre a fertilidade e o comportamento sexual dos animais acometidos
(KAWAKAMI et al., 1991). Diversos tipos de alterações acometem os testículos dos
cães, variando em relação à intensidade das lesões e às repercussões clínicas. Além
das alterações congênitas e inflamatórias, é comum observar também a presença de
alterações degenerativas, causa importante de infertilidade e subfertilidade em cães de
qualquer idade; outros fatores como trauma, infecções e nutrição também são
associados à degeneração testicular (NASCIMENTO E SANTOS, 1997) e seus efeitos
na fertilidade dependem da severidade e da localização das lesões (FOLEY et al,
1995). A idade é estreitamente associada ao surgimento de neoplasias testiculares em
cães (SANTOS et al., 2000). A Organização Mundial de Saúde classifica os tumores
testiculares caninos como: tumores das células germinativas (seminoma, carcinoma
embrionário e teratoma), tumores do cordão sexual estromal (sertolioma e
leydigocitoma), tumores primários múltiplos, mesotelioma e tumores vasculares e
estromais (SANTOS et al., 2000).
MATERIAL E MÉTODOS
Foram colhidos testículos de cães submetidos à castração no Hospital Veterinário (HV)
da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e também de cadáveres de cães
encaminhados para necropsia no Serviço de Anatomia Patológica do Hospital
536
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 195, 2013

Veterinário da UFPR. Nesta situação os testículos foram colhidos apenas quando o


óbito não excedeu o intervalo de duas horas. Não houve preferência por raça ou idade.
Os testículos foram fixados em solução de bouin por oito horas, em seguida
transferidos para solução alcoólica a 70% até a fixação e então seccionados
longitudinalmente na região medial, momento em que foram anotadas as alterações
presentes na superfície de corte. Foram colhidos fragmentos dos testículos esquerdo e
direito para análise histológica. As lâminas foram coradas por Hematoxilina e Eosina,
Ácido Periódico de Schiff e pelo Azul de Toluidina. As alterações microscópicas foram
classificadas nas categorias: agenesia e hipoplasia, atrofia e degeneração, fibrose,
vasculares, inflamação e neoplasia. Para a análise
epidemiológica foram consideradas a raça e a faixa etária dos animais. Esta contém
três intervalos: 0 a 1 ano (A), de 1 a 7 anos (B) e acima de 7 anos (C). Os dados foram
submetidos a tratamento estatístico de qui-quadrado para avaliar a relação entre as
alterações observadas e a faixa etária dos cães.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliados cem (100) cães de variadas raças e idades, totalizando cento e
noventa e nove (199) testículos, já que, um animal era monorquída. Destes testículos,
dezoito (18), ou seja, 9% não apresentavam nenhuma alteração morfológica e
posteriormente na avaliação histológica também não mostraram alteração, sendo
considerados normais. Assim os demais, 181 (91%) dos testículos apresentaram
alguma alteração, podendo ocorrer mais de uma alteração num mesmo testículo, o que
observou-se na maioria dos casos, sendo classificadas como descrito anteriormente.
Dentre 210 alterações encontradas, as congênitas (agenesia e hipoplasia)
representaram 3% (6 ocorrências) e as adquiridas 97% (204). As alterações congênitas
observadas foram o monorquidismo, a agenesia e a hipoplasia. Deste grupo, um caso
era de monorquidismo, três de agenesia e dois de hipoplasia. Dentre as alterações
adquiridas, as degenerativas tiveram prevalência de 56% (117/210), seguidas pelas
alterações inflamatórias, com 23% (49/210), as neoplásicas com 16% (34/210), fibrose
(2% - 4/210) e vasculares com 0.5% (01/210). Foi realizado o teste de qui-quadrado
para avaliar se houve associação entre a faixa etária e o tipo de alteração. Constatou-
se que para alterações inflamatórias e degenerativas, inflamatórias e vasculares,
degenerativas e vasculares e para neoplásicas e vasculares, não houve associação,
(P>0,05), ou seja, não há influência da faixa etária sobre o tipo de alteração. Já nas
alterações inflamatórias e neoplásicas e nas degenerativas e neoplásicas, houve
associação entre a faixa etária dos animais e o tipo de alteração (P<0,05), com maior
incidência de alterações inflamatórias e degenerativas em cães jovens (A) e adultos (B)
e maior incidência de neoplasias em animais adultos e idosos (A e C,
respectivamente).
A média de idade dos animais com alterações testiculares foi de 6 anos; as
raças mais acometidas, bem como as alterações de maior ocorrência em cada uma
constam na tabela a seguir:

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 195, 2013

CONCLUSÃO
A análise dos resultados indica uma alta prevalência de alterações testiculares em
cães, sobretudo as alterações degenerativas que exibiram a maior prevalência,
seguidas das alterações inflamatórias e as neoplásicas, afetando, mormente cães
adultos a idosos, e em muitos casos, sem evidência clínica e/ou morfológica de
disfunção reprodutiva.
REFERÊNCIAS
FOLEY, G.L; BASSILY, N; HESS, R.A. Intratubular spermatic granulomas of the canine efferent ductules.
Toxicologic. Pathology. v.23, n.6, p.731-734, 1995.
KAWAKAMI, E; TSUTSUI, T; OGASA, A. Histological observations of the reproductive organs of the male
dog from birth to sexual maturity. Journal of Veterinary Medical Science. v.53, p. 241-248, 1991.
NASCIMENTO, E.F.; SANTOS, R.L. Patologia da Reprodução dos Animais Domésticos. Rio de Janeiro:
Guanabara-Koogan, 1997.p.108
SANTOS, RL; SILVA, CM; RIBEIRO, AFC; SERAKIDES, R. Testicular tumors in dogs: frequency and
age distribution. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.52, n.1 p.1-4, 2000.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 196, 2013

196. ASPERGILOSE SISTÊMICA EM UM GATO


(Sistemic aspergillosis in a cat)

Laís Bitencourt Guimarães; Matheus Vilardo Lóes Moreira; Vítor César Martins; Ana
Patrícia de Carvalho da Silva; Juneo Freitas Silva; Roselene Ecco
.
Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, MG, Brasil.

RESUMO: Relata-se um caso de aspergilose sistêmica em um gato persa, macho, de


dois meses de idade. Macroscopicamente, foram observados granulomas multifocais a
coalescentes nos pulmões, fígado, baço, rins, linfonodos mesentéricos e intestino.
Microscopicamente observou-se um processo inflamatório piogranulomatoso nestes
órgãos associado a hifas fúngicas intralesionais compatíveis com infecção por
Aspergillus spp.
Palavras-chave: Aspergillus; felino; piogranuloma
ABSTRACT:A systemic aspergillosis in a two months old male Persian cat is report.
Grossly, the cat showed multifocal to coalescent granulomas in lungs, liver, spleen,
kidney, intestine and mesenteric lymph nodes. On the histopathology,
pyogranulomatous inflammations were observed in these organs associated with
intralesional fungal hyphae consistent with Aspergillus spp infection.
Key words: Aspergillus; cat; pyogranuloma
INTRODUÇÃO
A aspergilose é uma doença pouco comum em mamíferos, podendo afetar a espécie
humana, e frequentemente aves (LACAZ, 1967; BROWN et al, 2007; PERLIN, 2007;
LÓPEZ, 2009). Existem duas formas de infecção por Aspergillus em cães e gatos, a
forma localizada nasal e a forma disseminada ou invasiva (Whitney et al., 2005). Em
cães e gatos, ao contrário de humanos, a forma invasiva é mais comumente relatada
que a forma disseminada (BARRS et al., 2013). Nas aves a doença é grave e tem
caráter contagioso, mas em mamíferos comporta-se como doença individual, não-
contagiosa (CORRÊA & CORRÊA, 1992). Nestas espécies está associada
principalmente à imunossupressão ou a indivíduos submetidos à antibioticoterapia
prolongada (LÓPEZ, 2009; PERLIN, 2007). O Aspergillus spp. é um fungo dimórfico
comum no ambiente e a infecção pode se dar através da inalação ou ingestão de
esporos (LACAZ, 1967; BROWN et al, 2007), causando um processo inflamatório
granulomatoso do trato respiratório superior e inferior (LÓPEZ, 2009) e digestivo
(BROWN et al, 2007) em várias espécies, e ocasionalmente pode causar infecção
sistêmica (GARCÍA & BLANCO, 2000). Micose sistêmica é uma doença crônica, que
acomete principalmente animais com idade média entre 2 e 5 anos. O prognóstico é
geralmente desfavorável. Por ser difícil o diagnóstico e pela suspeita da etiologia
micótica ocorrer muito tardiamente pelo clínico, em uma fase em que a doença já está
disseminada, o tratamento pode não ser bem sucedido (GARCÍA & BLANCO, 2000).
Este relato tem o objetivo de descrever um caso de aspergilose sistêmica em um gato
persa de dois meses de idade.
MATERIAL E MÉTODOS
Um gato persa, macho, de dois meses de idade, foi encaminhado ao Setor de
Patologia do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
para realização de necropsia, sem histórico clínico. Fragmentos dos pulmões, baço,
fígado, linfonodos mesentéricos e intestino delgado foram coletados e fixados em
formol neutro 10%, processados pela técnica rotineira de inclusão em parafina e
corados pela hematoxilina-eosina e pelo acido periodico de Schiff para avaliação
morfológica.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 196, 2013

RESULTADOS
À necropsia foi observado que o animal estava intensamente magro. Os pulmões
estavam com superfície irregular contendo múltiplas áreas nodulares, branco-
amareladas, variando de 0,2 a 2 cm de diâmetro e firmes. A corte fluía material viscoso
amarelado. No lobo caudal esquerdo havia uma área de 2 cm de diâmetro de
aderência fibrinosa do pulmão à pleura parietal. No baço e no fígado também foram
observados nódulos, variando de 0,1 a 0,5 cm de diâmetro, multifocais, com
características semelhantes aos observados nos lobos pulmonares. Os linfonodos
mesentéricos estavam intensamente aumentados de tamanho, branco-amarelados,
firmes e com perda da distinção córtico-medular. No íleo havia áreas elevadas,
brancacentas, entremeadas por áreas vermelho-escuras, multifocais a coalescentes,
transmural e obstruindo o lúmen intestinal em algumas porções. A parede intestinal
nestas regiões estava intensamente espessada. Microscopicamente, no pulmão havia
infiltrado inflamatório neutrofílico e linfo-histiocitário intenso, multifocal, em brônquios,
bronquíolos e alvéolos, necrose multifocal intensa com numerosos macrófagos
alveolares e células gigantes multinucleadas associadas a hifas fúngicas delgadas,
septadas, ramificadas, de 3-6 μm de largura, diâmetro uniforme e comprimento
variável, formando ângulos agudos, morfologicamente compatíveis com Aspergillus
spp. Havia também vasculite e trombose multifocal moderada com algumas hifas no
lúmen dos vasos. No baço, fígado, linfonodos mesentéricos e intestino delgado
também havia infiltrado inflamatório neutrofílico e linfo-histiocitário multifocal, intenso
associado à necrose e hifas fúngicas compatíveis com Aspergillus spp.
DISCUSSÃO
Os achados macroscópicos e histopatológicos foram característicos de infecção
fúngica com disseminação sistêmica e a morfologia das hifas foi compatível com o
fungo filamentoso Aspergillus spp. A aspergilose sistêmica acomete principalmente
animais adultos, com sistema imunológico competente (GARCÍA & BLANCO, 2000),
entretanto no caso relatado o animal era muito jovem com idade inferior à idade média
dos animais geralmente acometidos. Possivelmente o animal era mantido em um
ambiente com alto número de esporos e seu sistema imune ainda não completamente
desenvolvido pode ter facilitado a infecção e disseminação do agente pelos diferentes
tecidos. Esporos de Aspergillus sp. quando inalados podem provocar quadros de rinite
e sinusite micótica esporádicas em cães e gatos, e pneumonia piogranulomatosa ou
granulomatosa em várias espécies (LÓPEZ, 2009). Quando ingeridos, podem causar
principalmente lesões hemorrágias ou necróticas na parede do trato grastrointestinal e
granulomatosa nos linfonodos regionais (BROWN et al, 2007).A invasão da parede do
trato gastrointestinal ocorre como sequela de lesões que afetam a mucosa, podendo
ser precursora de infecções sistêmicas (BROWN et al, 2007). É aceito que para se
estabelecer uma infecção fúngica no trato gastrointestinal é necessária a ingestão de
grande quantidade do microorganismo, uma alteração da normalidade da microbiota ou
imunossupressão do hospedeiro (BROWN et al, 2007). Em gatos, ileíte e colite
fúngicas podem ocasionalmente ser sequela de panleucopenia felina, e em alguns
casos levar a trombo-embolismo micótico para os pulmões (BROWN et al, 2007). O
animal deste relato apresentou lesões intensas em diferentes órgãos, e por isso, não
foi possível a definição do local de infecção primária, podendo ser tanto o trato
respiratório como o trato gastrointestinal. Recentemente foi descrita uma síndrome
invasiva crônica em gatos aparentemente imunocompetentes, com formações iniciais
de granulomas retrobulbares com invasão para cavidade oral, tecido subcutâneo
paranasal e sistema nervoso central (Barss et al., 2013). O diagnóstico da infecção é
feito pela visualização macroscópica de lesões granulomatosas e confirmado pelo
exame histopatológico com visualização das hifas fúngicas e/ou esporos (Lorenzi et al.,
2006). Nos tecidos, o agente aparece principalmente sob a forma de hifas septadas

540
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 196, 2013

com 3 a 6 μm de largura (BROWN et al, 2007). As alteraçõs macroscópicas e


microscópicas são compatíveis com um quadro de aspergilose sistêmica.
Agradecimentos
Ao MEC pelo apoio financeiro.
REFERÊNCIAS
BARRS, V.P.; DORRN, T.M., HOUBRAKEN, J.; et al. Aspergillus felis sp. nov., an emerging agent of
invasive aspergillosis in humans, cats and dog. Plos one, v.8, e64871.
BROWM, C.C.; BAKER, D.C.; BARKER, I.K. Alimentary System. In: JUBB, K.V.F.; KENNEDY, P.C;
PALMER, N.C. Pathology of domestic animals. v.2. 5 ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2007. Cap 1.
p.229-230
CORRÊA, W.M.; CORRÊA, C.N.M. Outras micoses, prototecoses e micotoxicoses. In: enfermidades
infecciosas dos mamíferos domésticos. 2 ed. São Paulo: Medsi, 1992. Cap. 46. p.459-461.
GARCÍA, M.E.; BLANCO, J.L. Principales enfermedades fúngicas que afectan a los animales
domésticos. Revista Iberoamericana de Micología, v.17, p. 2-7, 2000.
LACAZ, C.S. Micoses de interesse veterinário. In: Compêndio de Micologia Médica. 1 ed. São Paulo:
Sarvier, 1967. Cap. 8. p. 289-290 e 314-315.
LÓPEZ, A. Sistema Respiratório. In: MCGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da patologia
em veterinária. 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Cap. 9. p.463-558.
PERLIN, D.S. Emerging fungal infections. In: Emerging infectious diseases. Trends and issues. 2 ed.
New York: Springer Publishing Company, 2007. p.171-176.
Whitney, B.L.; Broussard, J.; Stefanacci, J.D. Four cats with fungal rhinitis. Journal of Feline Medicine
and Surgery, v. 7, p. 53-58, 2005.

541
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 197, 2013

197. ASTROCITOMA EM CÃO: Relato de caso


(Astrocytoma in a dog: case report)

Daniela Corradi Seroghete¹; Priscila Emiko Kobayashi², Camila Pereira Alves de


Campos³, Maria Lucia Zaidan Dagli4, Julio Lopes Sequeira5, Alessandre Hataka5

1 Médica Veterinária Autônoma.


2 Pós-Graduanda em Medicina Veterinária Unesp – Botucatu – SP.
3 Pós-Graduanda do Programa de Residência em Medicina Veterinária da Unimar - Marília - SP
4 Docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP – São Paulo – SP.
5 Docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Unesp – Botucatu – SP.

RESUMO: As neoplasias primárias do sistema nervoso central são raras na maioria


das espécies animais. Dentre elas, estão presentes os tumores gliais que são divididos
em astrocitomas, oligodendrogliomas e gliomas mistos. O presente trabalho tem por
objetivo relatar um caso de astrocitoma anaplásico diagnosticado em um cão macho,
da raça Boxer de 15 anos de idade, através das características histopatológicas e do
resultado imuno-histoquímico.
Palavras- Chave: canino; imuno-histoquímica; neoplasia
ABSTRACT: Primary neoplasms of the central nervous system are rare in most
domestic animals species. Among them are present glial tumors that are divided in
astrocytomas, oligodendroglioma and mixed gliomas. The aim of the present work is to
report a anaplastic astrocytoma in a male dog, Boxer, 15 year old, that was made on
the basis of the histopathological findings and immunohistochemistry results.
Key Words: canine; immunohistochemistry; neoplasia
INTRODUÇÃO
Os astrocitomas são neoplasias infiltrativas primárias do sistema nervoso central
relatadas mais comumente em cães, mas também relatados em outras espécies (Jubb
et al., 2007). Podem se localizar em quase todo sistema nervoso central, mas
geralmente, acometem os hemisférios cerebrais predominantemente na região
temporal piriforme e diencéfalo (Siso´ et al., 2003). Os astrocitomas caninos são mais
comuns em raças braquicefálicas, com maior incidência em animais acima de seis
anos, porém há relatos em animais acometidos com menos de cinco anos, sem
predileção quanto ao sexo (Stoica et al., 2004).
Histologicamente são classificados em astrocitoma de baixo grau (bem diferenciado),
médio grau (anaplásico) e alto grau (glioblastoma) (Jubb et al., 2007).
A localização e o tamanho do tumor determinam as manifestações clínicas. Os
sintomas podem permanecer estáticos ou podem progredir lentamente durante vários
anos (Morris et al., 1991).
RELATO DO CASO
Foi atendido no Hospital Veterinário (HV) da Unimar um cão macho da raça Boxer de
15 anos de idade. O animal era vacinado e vermifugado, sem histórico anterior de
neoplasias. Segundo a proprietária, há cerca de cinco dias, o animal apresentava
quedas repentinas e desmaios que pareciam sono profundo e duravam cerca de 10
minutos e intercalavam com estado próximo do normal apresentando apenas ataxia.
Após os episódios, o paciente levantava- se, alimentava-se e bebia água.
Durante o atendimento no HV o paciente apresentou nistagmo horizontal bilateral,
quedas, desorientação e evoluiu para coma profundo. Diante do prognóstico ruim o
proprietário optou pela eutanásia. Os exames complementares de hemograma, perfil
renal e hepático não mostraram alterações.
RESULTADO E DISCUSSÃO
No exame necroscópico, observou-se endocardiose de válvula mitral, além de baço
retraído e hipocorado, enterite discreta e os rins evidenciavam congestão difusa. Havia
no encéfalo achatamento dos giros cerebrais. Na superfície interna, havia neoformação
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 197, 2013

infiltrativa nas cavidades do telencefalo e diencefalo. No telencefalo o


comprometimento atinge o ventrículo lateral esquerdo e no diencefalo atinge
praticamente a totalidade do terceiro ventrículo. Outras estruturas importantes do
diencéfalo estão atingidas: no epitálamo – os núcleos habenolarios bilaterais e a parte
lateral do epitálamo esquerdo; no tálamo – todo tálamo esquerdo e a parte ventro
medial do tálamo direito; no hipotálamo – comprometimento da parte dorsal (superior)
do hipotálamo. O aspecto era da lesão era homogêneo e gelatinoso, medindo 3,0x
x2,0cm de coloração branco acinzentada, com áreas multifocais a coalescentes
avermelhadas. O exame histopatológico revelou neoplasia infiltrativa composta por
população celular pleomórfica de células redondas, fusiformes a poligonais. O
citoplasma das células era eosinofílico e pouco distinto. Os núcleos exibiam
anisocariose intensa, com cromatina grosseira e nucléolos múltiplos evidentes. Havia
cariomegalia acentuada, além de células multinucleadas e oito a 12 mitoses típicas e
atípicas por campo de maior aumento (40x).
O resultado das reações imuno-histoquímicas foram as seguintes: reação positiva para
o anticorpo anti-GFAP e vimentina; e negativo para CD-79. Sendo o anti-GFAP uma
proteína que corresponde a um filamento intermediário da subclasse III presente em
astrócitos, e a vimentina, que é outra subclasse de filamento intermediário e co-
localiza-se com o GFAP nas células da glia. A positividade para esses dois marcadores
reforça o diagnóstico de astrocitoma. O resultado negativo para CD-79 refuta a
hipótese de uma possível metástase de neoplasia linfóide para o sistema nervoso
central.
CONCLUSÃO
Desse modo, a associação dos achados clínicos, histopatológicos e
imunohistoquímicos permitem concluir o diagnóstico de astrocitoma anaplásico.
REFERÊNCIAS
G. STOICA, H.-T. KIM, D. G. HALL. et al. Morphology, immunohistochemistry,and Genetic Alterations in
Dog Astrocytomas. Veterinary Pathology, v.41, p. 10- 19, 2004.
JUBB, K. V. F., et al. Pathology of domestic animals, 5ª ed. London: Academic Press. p. 281-457,
2007.
MORRIS, J.H.; PHIL, D. Sistema nervoso. In: ROBBINS, Patologia estrutural e funcional. 4 ed.,
Guanabara Koogan: São Paulo, 1991, cap. 29, p.1147-1170.
S. SISO´, V. LORENZO, I. FERRER. et al. An Anaplastic Astrocytoma (Optic Chiasmatic-Hypothalamic
Glioma) in a Dog. Veterinary Pathology, v.40, p. 567-
569, 2003.

543
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 198, 2013

198. ATIVIDADE DE LINFÓCITOS INFILTRANTES EM TUMORES DE MAMA EM


CADELAS
(Activity of tumor-infiltrating lymphocytes in mammary tumors in female dogs)

Andresa Matsui¹, Pamela Rodrigues Reina Moreira², Eduardo Garrido³, Thaís Larissa
Lourenço Castanheira³, Geórgia Modé Magalhães4, Rosemeri de Oliveira Vasconcelos5

1. Graduanda em Medicina Veterinária, FCAV/UNESP, Jaboticabal. drematsui@gmail.com


2. Pós-Doutoranda, FCAV/UNESP, Jaboticabal, São Paulo, Brasil.
3. Doutorandos do Programa de Medicina Veterinária, FCAV/UNESP, Jaboticabal, São Paulo, Brasil.
4. Docente do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos Animais da Unifran.
5. Docente do Departamento de Patologia Animal, FCAV/UNESP, Jaboticabal, São Paulo, Brasil.

RESUMO: O objetivo deste estudo foi investigar a presença de linfócitos T nos tumores
de mama em cadelas. A imunodetecção dos linfócitos T (células CD3 positivas) foi
realizada por imuno-histoquímica e a densidade de células imunomarcadas foi
comparada com o grau de malignidade do tumor. A imunodetecção do anticorpo anti-
CD3 foi intracitoplasmática e também foi observada na membrana celular dos linfócitos.
A mesma ocorreu na periferia e na região intersticial do tumor. As maiores médias de
TILs (linfócitos infiltrantes no tumor) foram observadas no grupo de tumores de grau II,
seguido do grupo de grau III.
Palavras-chave: CD3; imuno-histoquímica; glândula mamária; linfócitos T
ABSTRACT :The aim of this study was to investigate the presence of lymphocytes T in
mammary tumors in female dogs. The immunodetection of lymphocytes T (cells CD3
positive) was done by immunohistochemistry and the density of the immunostained
cells were compared to the grade of tumor malignancy. The antibody anti-CD3‘s
immunodetection was intracytoplasmic and also have been observed on cell‘s
membrane. The immunostained of lymphocytes T appeared in both the periphery and
the interstitial area of the tumor. The highest mean of TILs (tumor-infiltrating
lymphocytes) were observed in the group with mammary tumors grade II, followed by
the group of mammary tumors grade III.
Key words - CD3; immunohistochemistry; mammary gland; lymphocytes T
INTRODUÇÃO
O receptor de célula T (TCR) é distribuído de forma que os clones de linfócitos que
apresentam diferentes especificidades expressam TCRs distintos. Os sinais
bioquímicos, que são acionados nas células T pelo reconhecimento do antígeno, não
são traduzidos pelo TCR, mas sim por proteínas não variáveis como CD3, que formam
o complexo TCR (Alkim et al., 2007, Abbas e Lichtman, 2005). Trata-se de uma
molécula que atua na sinalização ou não do reconhecimento do antígeno (Alkim et al.
2007; Tizard, 2002). No homem, a maioria dos TILs é constituída por células T, o que
sugere a ativação do mecanismo de defesa do hospedeiro (Underwood, 1974). Os TILs
participam no controle do crescimento tumoral por meio da citotoxicidade das células T
e ao produzir mediadores capazes de estimular o crescimento ou de inibir citocinas
(Takagi et al., 1989). No entanto, as próprias células tumorais podem produzir esses
mediadores (Graves et al., 1989). Portanto, o objetivo deste estudo foi investigar a
presença de TILs nas neoplasias mamárias em cadelas, nos diferentes graus de
malignidade (I, II e III).
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas 39 amostras de glândulas mamárias de cadelas com tumor mamário
(13 de cada grau histológico) e 5 amostras de mama sem alterações (grupo controle),
oriundas do Departamento de Patologia Veterinária, FCAV-UNESP, Jaboticabal, SP. A
classificação histológica foi feita conforme a Organização Mundial da Saúde (Misdorp
et al., 1999) e o grau histológico dos tumores foi estabelecido conforme Rezaie (2009).
A técnica de imuno-histoquímica foi realizada em cortes incluídos em parafina, para a
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 198, 2013

detecção de linfócitos T pelo anticorpo anti-CD3. A densidade de células CD3 foi


avaliada pelo teste não paramétrico de Kruskal-Wallis, analisando a comparação entre
grupos pelo Teste de Comparação Múltipla de Dunn (GraphpadPrism, versão 4.0,
2003), considerando P<0,05.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
A imunomarcação do anticorpo anti-CD3 foi intracitoplasmática e na membrana das
células e foi específica no infiltrado inflamatório linfocitário associado ao tumor,
localizado entremeado ao tumor, assim como, na periferia do mesmo. As maiores
médias de TILs foram observadas no grupo de tumores de grau II, seguido do grupo de
grau III, cujas médias e desvios-padrão foram Grau I: 1,83± 2,2; Grau II: 19,37± 28,8;
Grau III:6,7 ± 5,7; Controle:0,8 ± 1,1).
Os linfócitos são células importantes na defesa contra patógenos e células tumorais.
No presente trabalho, as maiores médias de TILs foram observadas nos tumores com
maior grau de malignidade. A determinação do imunofenótipo predominante destes
linfócitos T (CD4, CD8) nos tumores mais agressivos, permitiria avaliar se estaria
ocorrendo uma resposta imune adaptativa ou evasão imune do tumor. Os resultados
obtidos no presente estudo contrariam os resultados apresentados por Eeorla et al.
(2000), que observaram que quanto menor o tamanho do tumor e seu grau de
malignidade, maior ocorrência de células T infiltradas ao tumor, células CD8
citotóxicas, e macrófagos. Vale ressaltar também que existe uma população de
linfócitos reguladores, denominados linfócitos Treg, que já foram descritos em tumores
mamários caninos com alto grau de malignidade e com invasão de vasos. Esta células
suprimem a resposta imune anti-tumoral e favorecem o crescimento do tumor (Kim et
al., 2012).
CONCLUSÃO
Concluiu-se que o infiltrado linfocitário associado ao tumor está presente nos grupos de
tumores com maior grau de malignidade, possivelmente contribuindo para o
crescimento tumoral.
Agradecimento
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp 2010/02194- e
2012/09385-0) pelo suporte financeiro.
REFERÊNCIAS
ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Imunologia Celular e Molecular. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 580,
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EEROLA, A.; S, Y.; PÄÄKKÖ, P. A High Number of Tumor-infiltrating Lymphocytes Are Associated with a
Small Tumor Size, Low Tumor Stage, and a Favorable Prognosis in Operated Small Cell Lung
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545
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 199, 2013

199. AVALIAÇÃO CITOLÓGICA DA MEDULA ÓSSEA DE CÃES COM


LEISHMANIOSE VISCERAL
(Cytological evaluation of bone marrow of dogs with visceral leishmaniasis)

Claudia Momo¹; Eduardo Garrido¹; Ana Paula Prudente Jacinho²; Rosemeri Oliveira
Vasconcelos³
1. Alunos de doutorado no programa de Patologia Animal da Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias da UNESP – Campus de Jaboticabal/SP. claumomo@yahoo.com.br
2. Médica Veterinária autônoma
3. Prof Dr do Depto de Patologia Vet da UNESP, Jaboticabal/SP

RESUMO: Na infecção pela Leishmania chagasi em cães, ocorrem


alteraçõessignificativas na medula óssea. Para determinar as células afetadas, fez-se
punção biopsia aspirativa do fêmur de 30 cães com leishmaniose. Ao microscópio
óptico, foram contadas 500 células, diferenciando-se seu tipo.Mielócitos, promielócitos,
linfócitos e macrófagos apresentaram relação positiva com o parasito. Pode-se concluir
que a presença do parasito está relacionada ao aumento do número destas células.
Palavras-chave: relação mieloide:eritroide; mielograma; Leishmaniachagasi
ABSTRACT: In the infection by Leishmaniachagasiin dogs occurssignificant alterations
in bone marrow. To determine the affected cells, became puncture aspiration biopsy of
the femur of 30 dogs with leishmaniasis. The optical microscope, 500 cells were
counted, differentiating its kind. Myelocytes, promyelocytes, lymphocytes and
macrophages showed positive relationship with the parasite. It can be concluded that
the presence of the parasite is associated with increased number of these cells.
Key words: myeloid:erythroid ratio; myelogram; Leishmaniachagasi.
INTRODUÇÃO
A medula óssea (MO) foi descrita por Manzillo (2006) como um dos principais sítios de
localização da Leishmaniachagasi.Este protozoário é responsável pela leishmaniose
visceral (LV) no homem e em animais domésticos (MARTIN-SANCHEZ et al,
2007).Uma mudança no perfil de citocinas presentes na MO durante a infecção pode
interferir com a produção celular local (MANZILLO et al, 2006).
A contagem diferencial de células presentes na MOpode determinar qual linhagem
celular está alterada, e o melhor indicador de seu estado é a alteração na população de
linfócitos(ELMORE, 2006).
De acordo comMischke e Busse (2002), a relação mieloide:eritroide (relação M:E) é
uma importante medida semi-quantitativa do desenvolvimento de células vermelhas e
brancas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada punção biopsia aspirativa (PBA) da medula óssea do fêmur de 30
cãesprovenientes de Araçatuba/SP. Destes, 23eram sintomáticos e sete
assintomáticos. Para tanto, utilizou-se agulha e seringa contendo heparina. Após a
colheita, o material foi espalhado em uma lâmina de vidro e, com o auxílio de outra
lâmina, fez-se o squash.
As laminas foram coradas pelo método de Leishman e então foi realizada a contagem
diferencial de células em microscópio óptico, em aumento de 1000 vezes, de acordo
com critérios estabelecidos por Jain (1993). Foram contadas 500 células,
diferenciando-se o seu tipo, além de observada a presença ou não do parasito.
Para se obter a relação M:E, a quantidade de células da série mieloide foi dividida pela
quantidade de células nucleadas da linhagem eritroide (JAIN, 1993).
Para a análise estatística, foi realizado o Teste Exato de Fisher, para determinar a
ocorrência de relação entre a presença de L. chagasi no esfregaço de MO dos cães e a
quantidade de células de cada tipo. Foi realizado o Teste de Kruskal-Wallis para
comparar as medidas da relação M:E entre os animais dos grupos estudados, com α=
5%.
546
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 199, 2013

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As célulasda MOque apresentaram aumento significativo foram os mieloblastos (p=
0,0187), promielócitos (p= 0,0494), linfócitos (p= 0,0071) e macrófagos (p= 0,0019),
demonstrando que há relação entre a quantidade dessas células a presença do
parasito na MO.
Cotterell, Engwerda, Kaye(2000) descrevem hiperplasiamieloide, principalmente em
mieloblastos e promielócitos de cães com LV, achados que concordam com os deste
trabalho. Esta alteração pode estar relacionada à grande concentração de citocinas
produzidas pela infiltração de macrófagos, de acordo com Manzilloet al (2006) e Trópia
de Abreu et al. (2011). Informação confirmada pela relação significativa entre a
presença de macrófagos e parasito, observada neste trabalho.
Os achados também concordam parcialmente com os de Manzilloet al (2006), que
referem como alterações na MO, um aumento da porcentagem de linfócitos e
plasmócitos.
Como resultado de sua persistência, os parasitos estimulam uma inflamação crônica,
caracterizada inicialmente pela presença de granulócitos, seguida pela proliferação de
macrófagos, linfócitos e plasmócitos (VIRELLA, BIERER, 2001).
Não houve diferença significativa entre a relação M:E, quando realizada a comparação
entre os grupos.
CONCLUSÕES
Pode-se concluir que o aumento significativo na quantidade de mieloblastos e
promielócitos está relacionado à alteração no perfil de citocinas produzidas pela grande
quantidade de linfócitos e macrófagos presentes na MO.
Aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais, sob protocolo n° 027299/12.
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547
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 200, 2013

200. AVALIAÇÃO RETROSPECTIVA DE TUMORES MAMÁRIOS CANINOS


ENCAMINHADOS AO SETOR DE PATOLOGIA ANIMAL /EVZ-UFG NO PERÍODO
DE JANEIRO DE 2007 ATÉ ABRIL DE 2013
(Retrospective evaluation of canine breast tumors submitted to the department of
animal pathology/ EVZ-UFG between january 2007 and april 2013)

Eric Saymom Andrade Brito¹, Adriana da Silva Santos², Ana Paula Iglesias Santin¹, Léa
Resende Moura¹, Regiani Nascimento Gagno Pôrto¹, Veridiana Maria Brianezi Dignani
de Moura¹

1 Setor de Patologia Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás.


2 Departamento de Medicina Veterinária, Instituto Federal Goiano, Campus Urutaí.

RESUMO: A considerar que a incidência de tumores mamários em animais tem


aumentado, o estudo de sua ocorrência se torna importante. Realizou-se levantamento
retrospectivo de casos de tumores mamários diagnosticados no Setor de Patologia
Animal da Universidade Federal de Goiás entre janeiro de 2007 e abril de 2013.
Verificou-se maior prevalência de tumores malignos (81,5%) dentre os quais se
destacou o carcinossarcoma (22,54%) seguido do carcinoma complexo (20,23%).
Todas as amostras encaminhadas foram oriundas de fêmeas, com idade média de oito
anos.
Palavras-Chave: carcinossarcoma; glândula mamária; neoplasia; prevalência
ABSTRACT: To consider that the incidence of mammary tumors in animals has been
increasing, the study of its occurrence becomes very important. We conducted a
retrospective study of cases of breast tumors diagnosed in the Department of Animal
Pathology, Federal University of Goiás between January 2007 and April 2013. There
was a higher prevalence of malignant tumors (81.5%) of which the highlights were
carcinosarcoma (22.54%) followed by complex carcinoma (20.23%).
Key Words: carcinossarcoma; mammary gland; neoplasia; prevalence
INTRODUÇÃO
Os tumores mamários possuem grande relevância na rotina veterinária, devido a sua
ocorrência comum em cães e gatos (Misdorp, 2002). A etiologia do câncer de mama é
multifatorial, sendo o fator hormonal considerado o mais importante (Silva et al., 2004).
Assim, muitos estudos epidemiológicos vêm sendo conduzidos a fim de entender os
aspectos associados às neoplasias mamárias.
Os principais objetivos deste estudo retrospectivo foram classificar e determinar a
prevalência dos tumores de glândula mamária recebidos no Laboratório do Setor de
Patologia Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de
Goiás (SPA/EVZ-UFG).
MATERIAL E MÉTODOS
A partir do levantamento dos materiais recebidos, presentes nos dados registrados no
SPA/EVZ-UFG no intervalo de janeiro de 2007 a abril de 2013 foi feita a revisão. Os
dados coletados, idade e raça, encontravam-se disponíveis nas requisições de exame
histopatológico encaminhadas pelos clínicos, juntamente com os tumores a serem
analisados. A morfologia histológica foi diagnosticada após processamento das
amostras por técnicas convencionais de histologia.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Foram diagnosticadas 169 cadelas acometidas com tumores mamários totalizando 185
diagnósticos morfológicos, sendo que em 157 (90,75%) animais observou-se um tipo
histológico de tumor e em 16 (9,25%) verificaram-se dois tipos histológicos. Segundo
Benjamin et al. (1999), 60% das cadelas têm tumores em mais de uma mama. No
presente ensaio não houve acometimento de cães machos, condizendo com a
incidência descrita neste sexo, como menor ou igual a 1% (Oliveira Filho et al., 2010).

548
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 200, 2013

Dos 185 tumores, 173 (93,5%) eram neoplásicos e 12 (6,5%)não-neoplásicos. Este


resultado assemelha-se a outro estudo realizado no Brasil, no qual lesões não-
neoplásicas acometeram 1% dos 578 casos de tumores de mama em cães (Martins et
al., 2002).
Quanto ao comportamento biológico das neoplasias, verificou-se que 18,5% (32 casos)
eram benignas e 81,5% (141 casos) malignas, estabelecendo-se uma relação
benigno:maligno de 1:4,4%. A frequência de casos de neoplasias benignos e malignos
varia consideravelmente nos dados disponíveis na literatura, devido possivelmente, à
existência de diferentes métodos de classificação dos tumores e ausência de critérios
uniformes para diferenciar os tipos tumorais (Cassali, 2003). Dados semelhantes ao
deste estudo, sobre a maior frequência de neoplasias mamárias malignas em relação
ao total, também foram observados por outros autores (Green et al., 2009, Oliveira
Filho et al., 2010). Contudo é presuntivo que estudos baseados em biopsias remetidas
a laboratórios tenham prevalência maior de casos malignos, devido a suspeita de
comportamento biológico(Morris et al., 1998).
Entre os tumores benignos, houve maior prevalência dos adenomas, o que se
assemelha ao verificado por Green et al. (2009). Dos tumores malignos o tipo
histológico mais prevalente foi o carcinossarcoma (22,54%) seguido do carcinoma
complexo (20,23%). Dados semelhantes aos encontrados por Oliveira Filho et al.
(2010).
A variedade de idade das fêmeas, no momento do diagnóstico, foi consideravelmente
amplo, entre três anos (1,77%, 3 casos) e 16 anos (1,18%, 2 casos), sendo que a
média foi de oito anos para as cadelas (17,83%,33 casos). No estudo de Cavalcanti E
Cassali (2006), verificou-se que a idade média no momento diagnóstico está entre nove
e 11 anos para cadelas, indicando que animais jovens são dificilmente acometidos.
Diversas raças caninas estão presentes no estudo sendo que as mais frequentes são
os sem raça definida (25,94%), seguidos dos Poodles (21,08%) e Pitt Bulls (9,72%).
Porém estes dados não representam uma predisposição genética visto que se
avaliaram somente as raças mais predominantes na região. Quanto à raça, a
predominância de cães sem raça definida e cães poodles também foi observada por
outros autores (Green et al., 2009; Oliveira Filho et al., 2010), porém raças como
Pinscher e Cocker Spaniel também são citadas entre as mais afetadas. A idade média
no momento do diagnóstico foi muito semelhante àquela verificada por estes autores.
CONCLUSÕES
Dos tumores mamários submetidos ao Setor de Patologia Animal da Universidade
Federal de Goiás observou-se maior predomínio de neoplasias malignas. Dentre estas,
o carcinossarcoma e o carcinoma complexo se destacaram. Verificou-se somente o
acometimento de fêmeas, com idade média de oito anos.

549
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 200, 2013

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550
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 201, 2013

201. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E HISTOLÓGICAS DE RINS DE CÃES


INTOXICADOS EXPERIMENTALMENTE COM FOLHAS VERDES DE Nerium
oleander
(Clinical and histological characteristics kidney of dogs experimentally
intoxicated with green leaves of nerium oleander)

Carolina Bellodi¹, José Javier Mesa Socha², Mario Roberto Hatayde³

1. Doutoranda Programa de Medicina Veterinária, FCAV-UNESP, SP, Brasil. carolbellodi@hotmail.com


2. Médico Veterinário autônomo, Bogotá,Colombia.
3. Professor Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV-UNESP, Jaboticabal, SP, Brasil.

RESUMO: N. oleander é uma planta com ampla distribuição mundial, principalmente


em regiões tropicais e subtropicais. Esses arbustos são frequentemente usados como
plantas ornamentais e possuem mais de 30 glicosídeos cardíacos causadores do
quadro clínico de intoxicação em caninos. Sabendo-se disso, nosso estudo objetivou-
se a avaliar as alterações clínicas, eletrocardiográficas, bioquímicas, hematológicas e
histopatológicas do rim. Os cães apresentaram sinais clínicos de intoxicação como
vômito, sialorréia, náuseas, apatia, conjuntiva ocular congesta, desidratação, dor
abdominal, tremores, diarreia, inapetência e tenesmo. Pela análise do
eletrocardiograma encontraram-se arritmias como: bradicardia sinusal, bloqueios
atrioventriculares de segundo grau, taquicardia ventricular paroxístico e complexo
ventricular prematuro. Na histopatologia renal as alterações encontradas não foram
dignas de nota.
Palavras chave: arritmia, biópsia, glicosídeos, histopatologia, intoxicação
ABSTRACT: N. oleander is a plant with worldwide distribution, especially in tropical and
subtropical regions. These shrubs are often used as ornamental plants and have more
than 30 cardiac glycosides cause the clinical picture of poisoning in canines. Knowing
this, our study aimed to evaluate the clinical, electrocardiographic, biochemical,
hematological and histopathological kidney. Dogs showed clinical signs of poisoning
such as vomiting, salivation, nausea, listlessness, ocular conjunctiva congested,
dehydration, abdominal pain, tremors, diarrhea, loss of appetite and tenesmus. By
analyzing the electrocardiogram met arrhythmias as sinus bradycardia, second degree
atrioventricular blocks, ventricular tachycardia and paroxysmal ventricular premature
complex. In renal histopathology changes were not found worthy of note.
Keywords: arrhythmia, biopsy, glycosides, histopathology, intoxication
INTRODUÇÃO
O N. oleander é amplamente usada como uma planta ornamental e ela provocam
desordens cardiovasculares por seu conteúdo de glicosídeos. As plantas tóxicas
geralmente desencadeiam quadros clínicos inespecíficos que podem ser confundidos
com diversos tipos de intoxicações ou com outras doenças, o que poderia dificultar seu
diagnóstico, somado ao desconhecimento que existe, nos mecanismos de ação,
fisiopatologia, princípios ativos e terapêuticos existentes nestes tipos de intoxicações.
Essas desordens cardiovasculares causam uma diminuição da taxa de filtração dos
glomérulos levando à insuficiência renal aguda. A IRA pode ter causas pré-renais,
intrínsecas do rim ou pós-renais (STOKES e FORRESTER, 2004), neste tipo de
intoxicações prevaleceriam às causas intrínsecas do rim. Na IRA há uma abrupta
diminuição da taxa de filtração glomerular (GFR), resultando no acúmulo de toxinas
urêmicas, dejetos metabólicos, disfunções metabólicas e desequilíbrio de fluídos ou
eletrólitos com distúrbios ácido-básico. Os rins são particularmente susceptíveis á
isquemia e dano tóxico, pois recebem 20% do fluxo cardíaco. Achados referentes à
histopatologia renal, mostraram que as células dos túbulos renais apresentaram
degeneração e necrose nos túbulos contornados proximais e distais, com ruptura das
membranas celulares e coloração basofílica dos núcleos. Alterações similares também
551
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 201, 2013

foram observadas nos ductos coletores e elas sugerem dano ou doença renal de causa
aguda (ASLANI et al., 2007). O tratamento da intoxicação por N. oleander consiste em
dar suporte com fluidoterapia via oral ou intravenosa para diminuir os efeitos
cardiovasculares (HUGHES et al., 2002). Os fluidos que contém cálcio devem ser
evitados, pois podem aumentar o efeito dos glicosídeos cardíacos no miocárdio
(KNIGHT, 1988).
Também doses repetidas de carvão ativado são empregadas para prevenir a
reciclagem de toxinas entero-hepáticas (LYNN et al., 2006). Também outra opção na
terapêutica, é a utilização de fragmentos de anticorpos de digoxina bem sucedida no
tratamento experimental de intoxicação com N. oleander em cães (CLARCK et al.,
1991). Embora existam os efeitos tóxicos do N. oleander, ela tem alguns compostos
pesquisados atualmente, principalmente em medicina humana, no tratamento do
câncer (PHATAK et al., 2000) e como protetores de células do cérebro em modelos de
isquemia (THOMAS, 2006). O objetivo deste trabalho foi avaliar as alterações clínicas e
histológicas do rim de cães intoxicados com 0,25g/Kg de folhas frescas trituradas de N.
oleander, adicionadas na ração em dose única.
MATERIAL E MÉTODOS
Para o experimento foram utilizados 10 cães adultos, hígidos, provenientes do CPPAR,
UNESP – Jaboticabal, alojados individualmente em canis, equipados com comedouros
e bebedouros individuais, no HVGLN, UNESP – Jaboticabal. Foram divididos em dois
grupos que receberam uma única dose de 0,25g/kg de folhas frescas de N. oleander.
Para a histopatologia renal tomou-se como controle sete dias antes da intoxicação.
Para a realização da biópsia renal, considerou-se o tempo zero sete dias anteriores á
intoxicação (T-7) e os tempos experimentais foram T24h e T76h,realizadas pela técnica
de biópsia percutânea com agulha cortante tipo Trucut ® calibre 18G, guiada por
ultrassonografia. Os espécimes de rim foram fixados em uma solução de formalina
10% e encaminhados ao Setor de Patologia, onde foram processadas. Foram
realizados testes não paramétricos de Fischer, os comparando a média pelo teste de
Tukey, cujos níveis de significância foram (P< 0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na analise das biópsias não houve diferença significativa entre os grupos G24 e G76,
quando é comparado com o tempo T-7, as alterações encontradas foram: mínima
fibrose túbulo intersticial focal, vacuolização tubular difusa, degeneração hidrópica
difusa, as quais já estavam presentes no inicio do experimento. Foram realizadas duas
biópsias por animal, para um total de 20 colheitas onde se observou as seguintes
complicações: micro hematúria (n=20), macro hematúria (n=4), coágulos na bexiga
(n=3) e hemorragia perirenal (n=1). Em nosso trabalho foram usadas dosagens de
folhas 0,25g/Kg do peso do animal, sem levar ao óbito. Neste estudo buscamos
mimetizar a intoxicação natural, nós nos propusemos reproduzir a intoxicação de uma
forma mais natural possível, com a justificativa de que a planta tem o principio ativo a
oleandrina e que na natureza ela esta composta por mais de 30 sustâncias
potencialmente toxicas e esta disponível em jardins já que trata-se de uma planta
ornamental (JOUBERT, 1989).Apesar de ter encontrado algumas lesões nas biópsias
em T24h e T76h como: vacuolização focal dos túbulos, degeneração hidrópica dos
túbulos e fibroses intersticial, estas não foram provocadas durante a intoxicação, já que
estas alterações foram observadas nas amostras basais em T-7, este resultado difere
aos achados microscópicos de animais que morreram pela intoxicação com N.
oleander, possível causa para esta alteração deve-se ao fato que o modelo de
intoxicação utilizado não ocasionou um quadro grave de intoxicação, como também,
para induzir lesão renal grave.
CONCLUSÃO
Com o presente estudo pode-se concluir que animais intoxicados com 0,25g/Kg de
folhas verdes de Nerium oleander em dose única, causaram sinais clínicos relevantes.
552
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 201, 2013

Nesse tempo de 76 horas pós-intoxicação não houve alteração histológica renal


significativa.
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553
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 202, 2013

202. CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS DA DOENÇA PERIODONTAL INDUZIDA


EM CÃES
(Histological features of periodontal disease induced in dogs)

Emily Correna Carlo Reis (UFV), Rodrigo Viana Sepúlveda (UFV), Fabrício Luciani
Valente (UFV), Lívia Marina Alvarenga Martins (UFV), Raul Felipe Dornas (UFV),
Andréa Pacheco Batista Borges (UFV)

RESUMO: O objetivo do trabalho foi relacionar as características histológicas da


doença periodontal induzida com a progressão da doença em sua ocorrência natural.
Seis cadelas foram submetidas ao protocolo de indução da doença que incluiu a
realização e cronificação de defeito de furca classe II. Após 60 dias, as amostras foram
coletadas para análise histológica. Foram observados infiltração inflamatória e
preenchimento do defeito por tecido conjuntivo fibroso, exceto nas áreas próximas ao
osso alveolar remanescente, onde foi observada matriz conjuntiva provisória, com
focos de deposição osteoide e osteoblastos ativos; e limitada regeneração de
ligamento periodontal e cemento. Estas características são semelhantes ao que é
descrito na evolução da doença em sua ocorrência natural.
Palavras-chave: furca classe II; modelo experimental; odontologia veterinária
ABSTRACT: The aim of this study was to compare histological features of induced
periodontal disease to the progression of the disease in its natural occurrence. Six
bitches were subjected to the induction protocol that includes class II furcation defect
production and chronicity. After 60 days, samples were harvested for histological
analysis. Defect was filled with fibrous connective tissue with inflammatory infiltrate,
except for areas near remaining bone, where there was provisory matrix with foci of
osteoid deposition and active osteoblasts, but there was limited regeneration of the
periodontal ligament and cementum. Histological features observed in this model are
similar to what is described for the disease evolution in its natural occurrence.
Key words: experimental model; furcation class II; veterinary odontology
INTRODUÇÃO
A doença periodontal (DP) evolui para a destruição dos tecidos de sustentação do
dente (Harvey, 2005) e pode também estar relacionada a importantes afecções
sistêmicas (Harvey & Emily, 1993; Legendre, 2003). A DP canina e a humana
assemelham-se em vários aspectos (Giannobile et al., 1994; Christgau et al., 2007). O
tratamento convencional tem a limitação de permitir que células epiteliais e conjuntivas
da gengiva invadam o defeito, impedindo a regeneração dos tecidos originais
(Deliberador et al., 2006; Christgau et al., 2007). O método de cronificação de um
defeito periodontal é uma das formas de induzir experimentalmente a doença (Oz &
Puleo, 2011, Reis et al., 2011; Chantarawaratit et al., 2013). O objetivo deste trabalho é
relacionar as características histológicas da doença periodontal produzida por este
método com a progressão que se espera em sua ocorrência natural.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas seis cadelas adultas, com peso entre 10 e 15 kg, sem sinais clínicos
de DP. Procedimentos pré-cirúrgicos e anestésicos seguiram os protocolos de rotina da
instituição. O osso alveolar da região do 3.º e 4.º pré-molares esquerdos foi exposto e,
com uma broca, foi criado o defeito, expondo a furca e parte das raízes dentárias, com
2 mm no sentido vestíbulo-lingual e 5 mm nos sentidos corono-apical e mesio-distal.
Cemento e ligamento periodontal foram curetados das raízes expostas e o defeito,
preenchido com poliéster de moldagem para prevenir a regeneração inicial do defeito e
promover contaminação. O retalho mucoperiosteal foi reposicionado por sutura. O
poliéster foi removido em novo procedimento cirúrgico após 21 dias. Duas semanas
depois, foi instituído o tratamento padrão para doença periodontal, com raspagem e
polimento profissional, escovação dos dentes a cada dois dias e aplicação de solução
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 202, 2013

de clorexidine duas vezes ao dia. Sessenta dias após o segundo procedimento


cirúrgico, as peças dentárias foram coletadas e processadas segundo técnicas
histológicas de rotina. Foram analisados o tipo de tecido no defeito, o infiltrado
inflamatório e a regeneração dos tecidos de sustentação do dente. Os dados foram
analisados de forma descritiva, comparando com as características da forma natural da
doença descrita na literatura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
À análise histológica, pôde-se observar que o defeito foi preenchido por tecido
conjuntivo denso, com exceção da área mais próxima à raiz, onde a matriz extracelular
era mais espaçada e sem organização. Nesta área, houve proliferação de matriz
conjuntiva indiferenciada com osteoblastos ativos e osteoide. Cemento e ligamento
periodontal puderam ser observados apenas em pequenas áreas da porção mais apical
do defeito. Já na porção mais coronal, epitélio juncional pôde ser observado na
interface com as raízes e invadindo o tecido conjuntivo presente entre elas. Essas
observações condizem com a evolução da doença periodontal da forma como ocorre
naturalmente e como responde ao tratamento (Christgau et al., 2007; Carlo Reis et al.,
2011). A resposta inflamatória crônica à presença de bactérias presentes na forma de
placa ou cálculo é a principal fonte dos fatores mediadores da progressão da doença,
resultando na destruição dos tecidos que formam o periodonto (Giannobile et al., 1994;
Christgau et aI, 2007; Oz & Puleo, 2011). Neste modelo, o uso do poliéster de
moldagem associa a manutenção do defeito com a exposição ao ambiente
naturalmente contaminado da boca, o que pode mimetizar a evolução natural da
doença. De fato, infiltrado inflamatório abundante e difuso pôde ser observado,
constituído tanto de neutrófilos quanto de mononucleados, o que indica que não
apenas a resposta, mas também o próprio estímulo pode ter caráter crônico. Diversas
citocinas produzidas nas respostas inflamatórias agudas e crônicas são capazes de
alterar o equilíbrio do metabolismo ósseo em favor da atividade osteoclástica (Mori et
al., 2013), dentre elas, destaca-se o sistema RANKL/RANK/OPG, que está envolvido
tanto nas interações entre as células ósseas quanto no sistema imunológico,
promovendo uma ativação cruzada da reabsorção óssea no caso da doença
periodontal (Kajiya et. al., 2010).
CONCLUSÕES
As alterações histológicas observadas no método descrito são compatíveis com
aquelas descritas para a ocorrência natural, mostrando que este modelo é indicado
para o estudo da doença periodontal.
Agradecimento
Os autores agradecem as agências FAPEMIG, CAPES e CNPq pela concessão de
financiamento e bolsas de pesquisas.
Estes resultados são parte do projeto aprovado pelo protocolo número 06/2009 da
Comissão de Ética da UFV.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 202, 2013

REFERÊNCIAS
CHANTARAWARATIT, P.; SANGVANICH, P.; BANLUNARA, W. et al. Acemannan sponges stimulate
alveolar bone, cementum and periodontal ligament regeneration in a class II furcation defect model.
Journal of Periodontal Research, Ahead of Print, 2013. Disponível em:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jre.12090/pdf. Acessado em: 08/06/2013.
CHRISTGAU, M.; ASLANIDIS, C.; FELDEN, A. et al. Influence of interleukin-1 gene polymorphism on
periodontal regeneration in intrabony defects. Journal of Periodontal Resolution, v.33, p.20-27, 2007.
DELIBERADOR, T.M.; NAGATA, M.J.H.; FURLANELO, F.A.C. et al. Autogenous bone graft with or
without a calcium sulfate barrier in the treatment of class II furcation defects: a histologic and histometric
study in dogs. Journal of Periodontology, v.77, p.780-789, 2006.
GIANNOBILE, W.V.; FINKELMAN R.D.; LYNCH, S.E. Comparison of canine and non-human primate
animal models for periodontal regenerative therapy: results following a single administration of
PDGF/IGF-I. Journal of Periodontology, v.65, p.1169-1173, 1994.
HARVEY, C.E. Management of periodontal disease: understating the options. Veterinary Clinics Small
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HARVEY C,E.; EMILY, P.P. Small animal dentistry. St. Louis: Mosby, 1993. 413p.
KAJIYA, M.; GIRO, G.; TAUBMAN, M.A.; HAN, X. et al. Role of periodontal pathogenic bacteria in
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LEGENDRE, L. Intraoral acrylic splints for maxillofacial fracture repair. Journal of Veterinary Dentistry,
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MORI, G.; D‘AMELIO, P.; FACCIO, R.; BRUNETTI, G. The interplay between the bone and the immune
system. Clinical and Development Immunology, v.13, p.1-16, 2013.
OZ, H.S.; PULEO, D.A. Animal models for periodontal disease. Journal of Biomedicine and
Biotechnology, v.2011, p.1-8, 2011.
REIS, E.C.C.; BORGES, A.P.B.; DEL CARLO, R.J.D. Regeneração periodontal em cães. Ciência Rural,
v.41, n.12, p.2128-2136, 2011.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 203, 2013

203. CARACTERIZAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA DO CARCINOMA APÓCRINO DE


GLÂNDULA SUDORÍPARA CANINO COM METAPLASIA ESCAMOSA
(Immunohistochemical characterization of canine apocrine sweat gland
adenocarcinoma with squamous metaplasia)

Rafael Vitor Santos de Abreu¹, Conrado Oliveira Gamba²; Mary Suzan Varaschin¹,
Geovanni Dantas Cassali², Enio Ferreira²
1 Departamento de Medicina Veterinária - Universidade Federal de Lavras.
2 Lab de Patologia Comparada Instituto de Ciências Biológica - Universidade Federal de Minas Gerais.
RESUMO: Os carcinomas apócrinos (CA) são neoplasias de glândulas sudoríparas
raras em cães e que possuem diversos subtipos histológicos que podem confundi-lo
com outros tumores cutâneos. O presente trabalho tem como objetivo descrever as
características histopatológicas do carcinoma apócrino com metaplasia escamosa em
cão e sua confirmação diagnóstica a partir da imunohistoquímica. Foi realizado exame
imunohistoquímico com as citoqueratinas (AE1/AE3, CK7, CK5/6, CK34βe/12); Ki67
(MIB), vimentina, para determinação fenotípica e prognóstica do tumor. A marcação
positiva para a CK 34βe/12 nos ductos e nas áreas de metaplasia revelaram a origem
apócrina e a marcação da CK 5/6 somente na porção escamosa evidenciou a
transformação para esse tipo celular. De acordo com os achados histopatológicos e
imunohistoquimicos foi possível determinar o diagnóstico de carcinoma apócrino com
metaplasia escamosa.
Palavras-chave: cancer; pele; imunohistoquímica; cão
ABSTRACT:The apocrine carcinomas (CA) are tumors of sweat glands that rarely
affects dogs, have different histological subtypes that can confuse it with other skin
tumors. The aim of the present work was to study the histomorphologic features of
canine cutaneous apocrine carcinoma with squamous metaplasia and to find a
diagnostic confirmation by immunohistochemical stains. Was performed
immunohistochemistry with cytokeratin (AE1/AE3, CK7, CK5 / 6, CK34βe/12), Ki67
(MIB), vimentin, to determine phenotypic and prognostic tumor. The positive staining for
CK 34βe/12 the ducts revealed a neoplastic origin marking apocrine and CK 5/6 only in
the squamous portion showed the transformation to this cell type. Based on
histopatological and immunophenotypical findings, the diagnosis of apocrine carcinoma
with squamous metaplasia was established.
Key-words: cancer ; skin; immunohistochemistry; dog
INTRODUÇÃO
Os carcinomas apócrinos (CA) são neoplasias de glândulas sudoríparas que raramente
acometem os cães, estudos apontam uma frequência entre 0,6 e 2,2% de todas as
neoplasias cutâneas. Microscopicamente esses carcinomas apresentam túbulos
geralmente revestidos por uma dupla camada de células epiteliais cuboidais. Apresenta
uma relação núcleo-citoplasma aumentada e grande variação nos padrões de
cromatina e características de nucléolo. Possui elevada atividade mitótica e mitoses
atípicas podem ser observadas. Alguns desses tumores podem apresentar múltiplos
focos de epitélio escamoso com queratinização completa através de uma camada
granular, se assemelhando ao carcinoma de células escamosas (Gross, et al., 2005).
A grande variedade de apresentações dos tumores cutâneos e as diversas variações
celulares dentro de um mesmo tumor podem comprometer a determinação diagnóstica
e prognóstica em tumores cutâneos. Assim, o objetivo deste trabalho é o de relatar um
caso raro de carcinoma apócrino com metaplasia escamosa em um cão, bem como a
utilização de marcadores imuno-histoquímicos para confirmação diagnóstica dessa
neoplasia.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi recebido no Laboratório de Patologia Comparada da UFMG sete nódulos, retirados
cirurgicamente, que estavam localizados na região abdominal de um cão, do sexo

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 203, 2013

feminino, da raça pitbull com coloração branca e idade de 11 anos. Todos os nódulos
estavam ulcerados e, de acordo com a indicação clínica, suspeitava-se de carcinoma
de células escamosas. Os materiais foram processados rotineiramente (inclusão em
parafina) para avaliação histopatológica e posteriormente foi realizada avaliação imuno-
histoquímica com a utilização das citoqueratinas CK AE1/AE3 (1:100), CK 7 (1:25), CK
5/6 (1:50), CK 34β/12 (1:40); além do marcador de proliferação celular, MIB (1:25), e do
marcador estromal, Vimentina (1:100).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na análise macroscópica das lesões foi evidenciado um aspecto semelhante em todos
os sete nódulos, sendo diagnosticados como carcinomas apócrinos. Apresentavam
tamanhos que variaram de 3 à 6,5 cm de diâmetro, possuíam ulcerações de bordas
irregulares, por vezes contendo conteúdo semifluido, branco e escasso.
Microscopicamente foram observados fragmentos de pele pilosa contendo proliferação
de células epiteliais de elevado pleomorfismo e alta contagem mitótica. As células
estavam dispostas em formação acinar em múltiplas camadas, caracterizando o
adenocarcinoma apócrino de glândulas sudoríparas. Por vezes observou-se a
transformação em epitélio escamoso das células neoplásicas, com formação de
filamentos de queratina, caracterizando o processo de metaplasia escamosa.
O carcinoma apócrino é relativamente incomum em cães, representando cerca de 2%
dos tumores cutâneos e raros relatos destacam seu potencial invasivo e metastático
(Baharak et al. ,2012; Morita et al., 2010). A variação histológica desse tipo tumoral
pode, em alguns casos, comprometer o diagnóstico e consequentemente a sua
determinação prognóstica. No exame imuno-histoquímico foi possível notar a
expressão tumoral positiva para CK34β/12 e CK AE1/AE3 em toda a população
neoplásica (formações ducto-acinares e áreas de metaplasia); para CK5/6 somente em
áreas de metaplasia escamosa; e ausência de expressão vimentina e CK7 pelas
células neoplásicas. Tais achados confirmaram a origem epitelial neoplásica apócrina
do tumor. Além disso, houve marcação positiva fraca para MIB (<1%), mostrando um
baixo índice de proliferação celular do tumor.
A utilização de citoqueratinas na caracterização fenotípica de carcinomas cutâneos
pode ser definida a partir da expressão de citoqueratinas de alto e baixo peso
molecular (Park et al., 2008; Tafti et al., 2012). De acordo com nossos resultados, a
expressão de citoqueratinas basais pode fornecer informações adequadas para a
caracterização fenotípica do carcinoma apócrino em cão, permitindo a exclusão do
diagnóstico de carcinoma de células escamosas quando da presença de metaplasia
escamosa nesses tumores.
CONCLUSÃO
A combinação dos achados histopatológicos associados expressão positiva de
CK34β/12 e negativa para CK5/6 demonstraram ser úteis para a confirmação
diagnóstica do carcinoma apócrino canino com metaplasia escamosa.
Agradecimentos:
Ao CNPq, CAPES e ao apoio financeiro da FAPEMIG.
REFERÊNCIAS
GROSS, T. L.; IHRKE, P. J.; WALDER. et al. Skin Diseases of the Dog and Cat: Clinical and
histopathologic diagnosis. 2nd ed. Blackwell, Oxford, p. 561-865. 2005.
PARK, J. S.; JUNG, J. Y.; JO, S. H. et al. Concurrent occurrence of apocrine sweat gland
adenocarcinoma and mammary gland complex adenoma in a dog. Korean Journal of Veterinary
Research. v. 48(3) p. 311-316. 2008.
MORITA, R.; JIN, M.; MITSUMORI, K. A mixed apocrine gland tumor with metástases to the bone and
bone marrow in a miniature poodle. J Toxicol Pathol; 23(2): 95-98. 2010.
BAHARAK, A.; REZA, K.; SHAHRIAR, D. et al. Metastatic apocrine sweat gland adenocarcinoma in a
terrier dog. Asian Pacific Journal of Tropical Biomedicine; 670-672. 2012.
TAFTI, K. A.; KHUD, A.; SHIRIAN, S. Pathological and immunohistochemical characteristics of apocrine
sweat gland adenocarcinoma in a dog. Comp Clin Pathol; 21:237–239. 2012

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 204, 2013

204. CARCINOMA BRONQUÍOLO-ALVEOLAR EM FELINO – RELATO DE CASO


(Bronchioloalveolar carcinoma in a cat – case report)

Francis Brito¹, Arianne Oriá², Carlos Humberto da Costa Vieira Filho³, Eduardo Luiz
Trindade Moreira², Danielle Nascimento Silva4 , Ludmila de Lima Trindade5

1 Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais - Programa de Especialização (UFBA).


2 Prof. Adj do Depto de Anatomia, Patologias e Clínicas Vet, UFBA. francis1982@uol.com.br
3 Mestrando do Programa de Pós graduação em Ciência Animal nos Trópicos UFBA.
4 Residente em Patologia Vet - Programa de Residência Multiprofissional em Área de Saúde, UFBA.
5 Graduanda em Medicina Veterinária, UFBA.

RESUMO: Um felino, racialmente indefinido, 12 anos de idade, foi atendido com sinais
de dispnéia. Os achados do exame clínico, resultados laboratoriais e avaliação
radiográfica levaram à suspeita de neoplasia pulmonar. A necropsia e o histopatológico
de tumorações observadas diagnosticaram carcinoma bronquíolo-alveolar, com
metástase em linfonodo traqueobrônquico, músculos intercostais, diafragma e
pericárdio.
Palavras-chave: metástase; neoplasia; pulmão
ABSTRACT: A racially undefined, 12 years old cat was presented with signs of
dyspnea. The clinical examination findings, laboratory results and radiographic
evaluation led to suspicion of lung cancer. Necropsy and histopathology of tumors
diagnosed bronchioloalveolar carcinoma with metastasis to tracheobronchial lymph
node, intercostal muscles, diaphragm and pericardium.
Keywords: lungs; metastasis; neoplasia
INTRODUÇÃO
Neoplasias pulmonares primárias são pouco comuns em pequenos animais, sendo as
prevalências relatadas em gatos estão entre 0.5 a 0.75% (Wilson e Dungworth, 2002).
Geralmente, acomete gatos com a idade média entre 12 e 13 anos e, aparentemente,
não há predisposição sexual (Wilson e Dungworth, 2002; Clements et al., 2004). Em
felinos, a maioria dos tumores pulmonares é maligna e, muitas vezes, cursa com
metástases para linfonodos traqueobrônquicos, musculatura esquelética, pericárdio,
pleura, coração, ossos e rins (Ferian et al., 2006; Kerins e Breathnach, 2006; D´Costa
et al., 2012).
Os carcinomas bronquíolo-alveolares tendem a ser periféricos nos pulmões, mais
próximos à pleura. Caracterizam-se pela proliferação de células neoplásicas ao longo
dos alvéolos pulmonares e junções bronquíolo-alveolares pré-existentes e podem
ocorrer tanto como nódulos isolados ou na forma de massas pulmonares múltiplas
(Lucena et al., 2011).
Este trabalho relata os achados clínicos e patológicos de um caso de carcinoma
bronquíolo-alveolar em felino.
MATERIAL E MÉTODOS
Felino, sem raça definida, macho, 12 anos de idade foi atendido com histórico de
dispnéia há uma semana e perda progressiva de peso há aproximadamente um mês.
Outro veterinário na semana anterior havia realizado hemograma, dosagens séricas de
uréia, creatinina, glicose, fosfatase alcalina, ALT e GGT, todos com resultados dentro
dos parâmetros de normalidade. Além destes, foi realizada radiografia do tórax, a qual
evidenciou presença de efusão pleural. Frente esses achados foi consignado a
toracocentese e nova radiografia torácica foi realizada, sendo possível evidenciar
processo expansivo em lobo pulmonar médio direito. O líquido drenado foi
encaminhado para análise que sugeriu tratar-se de neoplasia maligna.
O guardião relatou piora do quadro clínico-respiratório, bem como hiporexia e apatia,
dois dias após a toracocentese. Ao exame físico o animal apresentava dispnéia,
mucosas normocoradas e evidente abafamento de sons respiratórios, especialmente
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 204, 2013

em região torácica ventral, bilateralmente, sendo realizada nova toracocentese. Frente


ao prognóstico desfavorável, o animal foi submetido à eutanásia e encaminhado para o
Laboratório de Patologia Veterinária (LPV/HOSPMEV-UFBA) para realização de exame
necroscópico.
RESULTADOS
Durante a necropsia, observaram-se aleatoriamente, nos lobos pulmonares, pequenas
nodulações de consistência macia, de tonalidade branco-amarelada, com dimensões
variando de milímetros a 1,0 x 1,0 x 0,3 centímetros localizados no lobo médio (direito)
com crescimento translobar e depressão central. O linfonodo traqueobrônquico estava
aumentado de volume (4,5 x 1,5 x 0,7 cm), de consistência macia e de tonalidade
branco-amarelada. Foram observadas ainda, discreto edema e congestão pulmonar,
pleurite serofibrinosa aguda (170 mililitros) e a pleura parietal, o diafragma e a
superfície epicárdica apresentavam formações planas difusas, elevadas, espessas e de
tonalidade levemente branco-amarelada.
No exame histopatológico as secções do pulmão revelaram crescimento neoplásico
epitelial maligno, com desenvolvimento ao longo das paredes alveolares e interior de
estruturas bronquiolares com pequenas áreas de invasividade, formado por células
altamente pleomórficas, com citoplasma eosinofílico escasso a abundante, núcleos
grandes, redondos ou ovóides, com cromatina vesiculosa ou marginal com nucléolo
grande e único evidente; essas células se organizavam com tendência de formar
estrutura glandular ou cordões, com áreas de arranjo irregular de tecido epitelial
estratificado e a formação de pequenas projeções papilares irregulares. Índice mitótico
elevado sendo a maioria atípica. Associadas à neoplasia, havia extensas áreas de
necrose, congestão, hemorragia e êmbolos neoplásicos em capilares linfáticos. Foram
observadas infiltrações metastáticas da neoplasia em linfonodo traqueobrônquico,
músculos intercostais, diafragma e pericárdio. Os achados morfológicos levaram ao
diagnóstico de carcinoma bronquíolo-alveolar.
DISCUSSÃO
Neoplasias pulmonares atingem mais frequentemente felinos idosos, com idade média
de 12,5 anos, o que condiz com o caso do presente trabalho. No entanto, existem
relatos de sua ocorrência em animais jovens (Lucena et al., 2011).
A anamnese comprova a natureza silenciosa da doença, uma vez que o animal
apresentou, inicialmente, apenas sinais inespecíficos e dispneia somente no momento
do diagnóstico. Gatos acometidos podem apresentar histórico de apatia,
emagrecimento progressivo, inapetência, letargia, pirexia, tosse, dispnéia e taquipnéia
(Lucena et al., 2010; Volpato et al., 2011).
A radiografia é o exame complementar mais empregado no diagnóstico de alterações
respiratórias, seja unicamente ou associada a outros métodos (Wilson e Dungworth,
2002; Ferian et al., 2006; Xue et al., 2012). Em um estudo com nove casos de felinos
afetados por carcinoma bronquíolo-alveolar notou-se padrão pulmonar primário,
associado a outras alterações bronquiais, como o padrão intersticial difuso, consoante
com o presente relato (Ballegeer et al., 2002). Estes autores observaram, ainda,
presença de efusão pleural em quatro destes casos.
Em acordo com o descrito na literatura os tumores pulmonares primários têm altos
índices de metástases, principalmente em órgãos intratorácicos (Wilson e Dungworth,
2002; Kerins e Breathnach, 2006), como foi observado no presente relato, fato este que
representa um pior prognóstico para o animal.
CONCLUSÃO
Neoplasias pulmonares primárias devem sempre constar na lista de diagnósticos
diferenciais em casos de alterações respiratórias de felinos, especialmente nos idosos.
Não obstante, o seu diagnóstico e, principalmente, a terapêutica representam um
desafio para o clínico.

560
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 204, 2013

REFERÊNCIAS
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FERIAN, P.E.; SILVA, E.F.; GUEDES, R.C. et al. Diagnóstico citológico de neoplasia pulmonar por meio
de lavado bronco-alveolar em uma cadela: relato de caso. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária
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KERINS, A.M.; BREATHNACH, R. Sistema respiratório. In.: CHANDLER, E.A.; GASKELL, C.J.;
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XUE, X.; WANG, P.; XUE, Q. et al. Comparative study of solitary thin-Walled cavity lung cancer with
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561
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 205, 2013

205. CARCINOMA DE CÉLULAS β PANCREÁTICAS EM CÃES:


QUATRO CASOS (2005-2013)
(Carcinoma pancreatic β-cells in dogs: four cases (2005-2013)

Renata Madureira¹, Thaís Correa Costa¹, Giovana Wingeter Di Santis¹, Antonio Carlos
Faria dos Reis¹, Marcelo de Souza Zanutto², Lucas Gomes Alécio²

¹ Laboratório de Patologia Animal; Departamento de Medicina Veterinária Preventiva– UEL


² Departamento de Clínicas Veterinárias. Universidade Estadual de Londrina – UEL

RESUMO: O presente estudo tem como objetivo relatar casos de neoplasia maligna
das células β pancreáticas, seus aspectos histopatológicos e lesões decorrentes da
hipoglicemia persistente. No Laboratório de Patologia Animal da Universidade Estadual
de Londrina foi realizado o diagnóstico de carcinoma de células β em quatro animais,
da espécie canina. Três desses animais foram encaminhados para exame
necroscópico e foram observadas lesões características de hipoglicemia. Com
diagnóstico histopatológico correto, poderá definir a malignidade dessa neoplasia,
compreender os efeitos sistêmicos da hipoglicemia persistente. Além disso, indicam-se
dosagens glicêmicas periódicas para o diagnostico precoce.
Palavras-chaves: canino; hipoglicemia; maligno; neoplasia; pâncreas
ABSTRACT: This study aims to report cases of malignant neoplasm of the pancreatic β
cells, and its histopathological lesions due to persistent hypoglycemia. Laboratory of
Animal Pathology, State University of Londrina was performed the diagnosis of
squamous cell β in four animals of the canine species. Three of these animals were
sent for autopsy and lesions were observed features of hypoglycemia. Histopathological
diagnosis correct, you can set the malignancy of this neoplasm, understanding the
systemic effects of persistent hypoglycemia. Furthermore, we indicate periodic glucose
measurements for early diagnosis.
Key-words: canine; hypoglycaemia; malignant; neoplasm; pancreas
INTRODUÇÃO
Insulinoma é um tumor funcional de células beta das ilhotas pancreáticas, o qual
secreta insulina em quantidade excessiva, tendo como sinal clínico a hipoglicemia
(Kintzer, 2009) fraqueza e colapso transitório em cães (Polton et al. 2007). O objetivo
desse trabalho é relatar quatro casos de carcinomas de células β pancreáticas em cães
e as demais lesões encontradas nesses animais.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi encaminhado para o Laboratório de Patologia Animal da Universidade Estadual de
Londrina (LAPA-UEL), para exame necroscópico, em maio de 2005, um cadáver
(animal 1) da espécie canina, da raça Boxer com histórico de morte súbita.
Em 2013, foram atendidos no Hospital Veterinário da UEL, três cães, das raças, Border
Collie (animal 2), Mestiço Boxer (animal 3) e um animal sem raça definida (animal 4),
com episódios convulsivos, hipoglicemia persistente, e posteriormente todos vieram a
óbito. Do animal 2 foi enviado um fragmento do pâncreas e os demais animais foram
encaminhados ao LAPA-UEL para realização de exame necroscópico.
Todos os órgãos coletados durante as necropsias e o fragmento de pâncreas foram
fixados em formalina a 10% tamponada, processados, emblocados em parafina,
cortados em 5 μm e realizada coloração de hematoxilina e eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na tabela 1 observa-se que um dos cães é da raça Boxer e o outro mestiço Boxer,
embora não pura, são representadas em casos de insulinoma canino, juntamente com
Fox Terrie, Poodle Standard e Pastor Alemão. A faixa etária avançada também
constitui fator predisponente sendo de nove anos em média na literatura e de 11 anos
no presente trabalho. Devido ao baixo número de animais, não possível

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 205, 2013

correlacionarem o gênero com a literatura (Capen 2002), a qual cita ocorrência de


insulinoma igualmente em ambos os sexos.

Todos os animais possuíam um único nódulo, sendo firmes, de coloração


esbranquiçada e com 1,5 a 2 cm de diâmetro. A maioria dos insulinomas em cães são
únicos (82%), porém lesões múltiplas podem ocorrer. Em 51% dos casos, são
encontradas metástases em fígado (43%), dos linfonodos regionais (29%) ou no baço
no momento do diagnóstico (Steiner e Bruyette, 1996). Entretanto em nosso estudo
não foram observadas nos animais necropsiados. No exame microscópico dos nódulos
pancreáticos, os achados foram condizentes com a literatura (Capen, 2002) e
caracterizam pela presença de neoformação parcialmente encapsuladas com áreas
focalmente invasivas, com uma população de células circundadas por feixes de tecido
colagenoso formando lóbulos irregulares, com pleomorfismo discreto a moderado, com
células ora cuboides ora colunares e com citoplasma granular eosinofílico. Geralmente,
nos carcinomas os agregados celulares são consistentemente maiores que nos
adenomas, multilobulares e invadem o parênquima pancreático adjacente (Capen,
2002).
A insulina diminui a atividade das enzimas hepáticas utilizadas na gliconeogênese e
glicogenólise o que explica a frequência com que observa-se degeneração glicogênica.
Com a diminuição da glicose sanguínea, a produção de ATP fica prejudicada e iniciam-
se os processos degenerativos e posteriormente necrose, observados em diversos
tecidos nos casos aqui descritos (tabela 1). No animal 4, observou-se necrose neuronal
aguda telencefálica moderada, sendo esta uma provável expressão morfológica da
hipoglicemia. No sistema nervoso as reservas de glicose são limitadas e a função
destas células depende de um fornecimento contínuo a partir de fontes extrínsecas
(Ettinger e Feldman, 2005). Uma hipoglicemia severa e prolongada pode resultar em
lesão cerebral irreversível (Lage, 2008).
CONCLUSÕES
Acredita-se que as neoplasias secretoras de origem benigna possuem um
comportamento mais ativo que as formas malignas. Entretanto, os carcinomas de
células β não seguem a essa regra e poderiam ser diagnosticados precocemente. Em
nossos estudos observamos que mesmo tratando-se de uma neoplasia ativa, o
diagnóstico foi realizado quando os animais apresentaram estágio avançado da doença
e não sobreviveram aos possíveis tratamentos. Dessa forma, é aconselhável um
acompanhamento anual, com dosagens glicêmicas dos cães com idade média de 9
anos, principalmente aqueles com as raças mais acometidas, para um diagnóstico
precoce e aumentar a sobrevida desses animais.

563
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 205, 2013

REFERÊNCIAS
CAPEN, C. C. Tumours of the endocrine glands. In: MEUTEN, D. J. Tumors in Domestic Animals. 4.
ed. Iowa State Press, 2002, Cap.13, p 684-688.
ETTINGER, S.J.; FELDMAN E.C. Textbook of Veterinary Internal Medicine. Philadelphia: WB Saunders,
2005.1980 p.
KINTZER, P.P. Diagnóstico e tratamento do insulinoma. In: MOONEY, C.T.; PETERSON, M.E. Manual
de endocrinologia canina e felina. 3.ed. Roca, 2009, Cap. 7, p. 243-247.
LAGE, A. M. M. G. A importância do diagnóstico e do tratamento no insulinoma canino: estudo
retrospectivo de 2 casos clínicos. 2008. Lisboa, 134f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) –
Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária.
POLTON, G.A.; WHITE, R.N.; BREARLEY, M.J.; EASTWOOD, J.M. [2007]. Improved survival in a
retrospective cohort of 28 dogs with insulinoma. Journal of Small Animal Practice, v. 48, p. 151–156,
2007. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1748-5827.2006.00187.x/pdf Acesso
em: 21/07/2013.
STEINER, J. M.; BRUYETTE, D.S. [1996]. Canine insulinoma. Compendium on Continuing Education
for the Practising Veterinarian, v. 18, 13-16, 1996.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 206, 2013

206. CARCINOMA DE CÉLULAS DE TRANSIÇÃO DA BEXIGA EM FÊMEA CANINA


(Transition cell carcinoma of bladder in female dog)

Tanise Policarpo Machado¹, Veridiane da Rosa Gomes², Ezequiel Davi dos Santos³,
Thaís Oliveira Corrêa4, Ricardo Pimentel de Oliveira4, Adriana Costa da Motta5

1.Médica Veterinária Residente em Patologia Animal, Universidade de Passo Fundo (UPF),


2.Médica Vet Res em Clínica Médica de Pequenos Animais da Universidade de Passo Fundo (UPF),
3.Acadêmico de Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo (UPF),
4.Médico(a) Veterinário(a) do Hospital Veterinário, Universidade de Passo Fundo (UPF),
5.Professora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF). acmotta@upf.br

RESUMO: Os neoplasmas do sistema urinário de cães correspondem a menos de 1%


dos tumores diagnosticados nessa espécie. Dentre estes, o carcinoma de células de
transição é o mais comumente diagnosticado na bexiga de caninos. O presente
trabalho tem como objetivo relatar um caso de carcinoma de células de transição em
uma fêmea canina caracterizando seus aspectos clínicos e anatomopatológicos. O
animal foi atendido na clínica médica do Hospital Veterinário da Universidade de Passo
Fundo com quadro de incontinência urinária e hematúria. Após dois dias de tratamento,
o animal apresentava disúria e prostração. Foi realizada ultrassonografia abdominal
onde foi constatada massa irregular na parede da bexiga. O animal foi submetido a
procedimento cirúrgico para ser realizada a remoção da massa. A biópsia foi
encaminhada ao Laboratório de Patologia Animal para análise histopatológica, que
permitiu obter o diagnóstico definitivo de carcinoma de células de transição não papilar
infiltrativo.
Palavras-chave: neoplasma; sistema urinário; biópsia; diagnóstico
ABSTRACT: Neoplasms of the urinary tract of dogs are less than 1% of the tumors
diagnosed in this species. Among these, in contrast, transitional cell carcinoma, the
most commonly diagnosed cancer in the bladder. This paper aims to report a case of
transitional cell carcinoma in a female canine characterizing its clinical and pathological
findings. The animal was seen in the medical clinic of the Veterinary Hospital of the
University of Passo Fundo frame with urinary incontinence and hematuria. After two
days of treatment, the animal showed dysuria and prostration. Abdominal ultrasound
was performed which was detected irregular mass in the bladder wall. The animal
underwent a surgical procedure to be performed to remove the mass. The biopsy was
sent to the Laboratory of Animal Pathology for histopathological analysis, which led to
the definitive diagnosis of transitional cell carcinoma not infiltrating papillary.
Key words: neoplasm; urinary system; biopsy; diagnosis
INTRODUÇÃO
As doenças do trato urinário que acometem cães, como patologias renais, vesicais e
prostatopatias, são relativamente comuns, principalmente, em cães adultos e/ou senis
(Moura et al., 2007). Os neoplasmas do sistema urinário de cães correspondem a
menos de 1% dos tumores diagnosticados nessa espécie. Dentre estes, o carcinoma
de células de transição (CCT) é o neoplasma mais comumente diagnosticado na
bexiga, principalmente, em fêmeas e em animais com idade entre nove e 11 anos
(Meuten, 2002; Froes et al., 2007; Moura et al., 2007; Inkelmann et al., 2011). O CCT
se apresenta, normalmente, solitário, invasivo, de forma protuberante a irregular e
localizado na região do trígono da bexiga, afetando mucosa e submucosa. A sua
definição histológica é baseada nos padrões de crescimento, arranjo (papilares ou não
papilares) e distribuição (invasivos ou não invasivos). A sintomatologia clínica equipara-
se à observada em doenças do trato urinário inferior podendo incluir disúria, hematúria,
polaquiúria, estrangúria e tenesmo, bem como sensibilidade e/ou dor à palpação
abdominal. Os animais que apresentam esse quadro clínico, frequentemente, são
tratados com base em um diagnóstico presuntivo de doença do trato urinário inferior
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 206, 2013

como cistite, o que acarreta em uma recidiva da sintomatologia clínica (Serakides et al.,
2000; Meuten, 2002; Froes et al., 2007; Moura et al., 2007). O presente trabalho tem
como objetivo descrever um caso de CCT em uma fêmea canina, com incontinência
urinária e hematúria, diagnosticado no Laboratório de Patologia Animal (LPA) da
Universidade de Passo Fundo (UPF), RS.
MATERIAL E MÉTODOS
O animal foi atendido no Hospital Veterinário (HV) da UPF, onde foi realizado exame
clínico, hemograma, ultrassonografia e biópsia da bexiga. A biópsia foi encaminhada
para diagnóstico anatomopatológico no LPA. A amostra foi analisada e fixada em
formalina tamponada 10% e processada por métodos histoquímicos convencionais e
corados com hematoxilina e eosina (HE).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um canino, fêmea, de 10 anos de idade, da raça Maltês, foi atendido no HV com
suspeita de cistite. Constatou-se normalidade dos parâmetros clínicos avaliados e,
inicialmente, foram realizados exames hematológicos e bioquímicos de rotina, os quais
não apresentaram alterações. Foi instituído tratamento com amoxicilina, ácido
clavulânico, ranitidina, tramadol, enrofloxacina e meloxicam. Após dois dias de
tratamento, o animal não apresentou melhora do quadro e iniciou com disúria e
prostração, havendo suspeita de cálculo urinário. Assim, optou-se pela realização de
ultrassonografia, que permitiu visualizar uma massa anormal de tecido na parede da
bexiga. Após a ultrassonografia, o animal foi encaminhado para realização de
procedimento cirúrgico com intuito de efetuar uma biópsia excisional. A massa tecidual
removida foi encaminhada ao LPA-UPF para realização de exame anatomopatológico.
Ao exame macroscópico, observou-se segmento irregular de tecido medindo
2,8x1,2x1,5cm, com consistência macia a firme e de coloração pardo-acastanhada.
Aos cortes, era de aspecto fibroso e de coloração pardacenta. Segundo a literatura, o
CCT pode apresentar-se como uma massa esbranquiçada, firme, ulcerada e de limites
imprecisos e com intensa hemorragia, com mucosa irregular, além de espessamento
da parede vesical (Serakides et al., 2000; Moura et al., 2007). Estes achados
corroboram com os descritos no presente relato quanto à descrição do aspecto e
coloração, uma vez que, a coloração pardo-acastanhada descrita refere-se,
possivelmente, a algum grau de hemorragia. Não foi possível evidenciar a real
localização do tumor, uma vez que a amostra enviada não representava uma porção
significativa do órgão e não foi descrita a localização no histórico clínico.
Microscopicamente, havia proliferação celular atípica oriunda do epitélio, que invadia a
lâmina própria da mucosa e muscular da bexiga distribuindo-se, principalmente, em
arranjo sólido, com eventual arranjo trabecular ou em ―ninhos‖. Apresentava marcada
vascularização, células com intenso pleomorfismo, citoplasma vacuolizado, núcleos
vesiculosos e nucléolos proeminentes, por vezes exibindo mitoses bizarras e estroma
escasso. Havia, também, infiltrado inflamatório mononuclear, por vezes supurativo,
sugerindo ulceração da mucosa, corroborando com os achados citados na literatura
(Moura et al., 2007). A caracterização celular permitiu diagnosticar CCT não papilar
infiltrativo. É possível classificar o CCT em não papilar infiltrativo, quando a massa é
sólida, com surgimento na mucosa e com expansão à lâmina própria e muscular
(Meuten, 2002, Moura et al., 2007). O fato de a paciente ser uma fêmea, de 10 anos de
idade, com histórico de incontinência urinária, hematúria, com posterior disúria,
também, contribuiu para o diagnóstico, uma vez que, muitos estudos apontam estas
evidências para os casos de CCT da bexiga (Serakides et al., 2000; Meuten., 2002;
Froes et al., 2007; Moura et al., 2007). Salienta-se que no caso do CCT e,
principalmente, no não papilar infiltrativo, a probabilidade de recidiva e o potencial
metastático são altos, assim, o diagnóstico precoce, com a realização de exames
complementares como ultrassonografia e histopatologia são imprescindíveis para o

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 206, 2013

diagnóstico definitivo, prognóstico e bem estar do animal. Cabe destacar que este foi o
primeiro caso de neoplasma da bexiga de canino diagnosticado no LPA da UPF.
CONCLUSÃO
Os achados clínicos e anatomopatológicos permitiram o diagnóstico definitivo de CCT
não papilar infiltrativo. Destaca-se, ainda, a importância do exame clínico acurado e da
realização de exames complementares no diagnóstico das patologias do sistema
urinário, bem como do acompanhamento do paciente com intuito de proporcionar uma
maior qualidade e expectativa de vida para o paciente.
REFERÊNCIAS
FROES, T. R.; IWASAKI, M.; CAMPOS, A. G.; et al. Avalição ultra-sonográfica e pelo Doppler colorido do
carcinoma de células transicionais da bexiga em cães. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e
Zootecnia, v. 59, n. 6, p. 1400-1407, 2007.
INKELMANN, M. A.; KOMMERS, G. D.; FIGHERA, R. A.; et al. Neoplasmas do sistema urinário em 113
cães. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 31, n. 11, p. 1102-1107, 2001.
MEUTEN, J. D. Tumors of the Urinary System. In____. Tumors in Domestic Animals. 4th ed. Iowa State
Press. Donald J. Meuten, 2002. Cap. 10.,p. 509-546.
MOURA, V. M. B. D. de; FERREIRA, F. P. P.; RODRIGUES, M. M. P.; Carcinoma de células
transicionais vesical em uma cadela São Bernardo. Veterinária Notícias. <Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/> Acesso em 22/07/2013. 5
SERAKIDES, R.; RACHID, M. A; VEADO, J. C. et al. Carcinoma de células de transição da uretra com
metástases cardíaca e pulmonar em cão. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia., Belo
Horizonte, v. 52, n.5, Oct. 2000. <Disponível em http://www.scielo.br/> Acesso em: 22/07/2013.

567
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 207, 2013

207. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM ESÔFAGO DISTAL DE UM


FELINO DOMÉSTICO (Felis catus)
[Squamous cell carcinoma in the distal esophagus in a domestic feline (Felis
catus)]

Suzana Heidrich Duarte¹, Juliana Bernardo da Rocha², Joelma Lucioli³

1 Universidade Regional de Blumenau, Blumenau/SC;


2 Clínica Veterinária Arca de Noé, Timbó/SC;
3 Universidade Regional de Blumenau, Blumenau/SC. jlucioli@furb.br

RESUMO: Neoplasias primárias esofagianas são raramente relatadas em felinos,


sendo mais comuns na porção distal do esôfago e em animais idosos, cujo principal
sinal clínico é a regurgitação, seguida de emagrecimento progressivo. O diagnóstico
geralmente decorre de radiografias simples, radiografias contrastadas (esofagograma)
e esofagoscopias com biopsias. Sendo que em lesões iniciais e pequenas a ressecção
cirúrgica é indicada, o que não ocorre em lesões maiores. Descreve-se o caso de um
felino, de 11 anos de idade, com sintomatologia compatível à patologia, que foi
submetido à esofagoscopia, por meio da qual foi visualizada lesão vegetante, infiltrativa
e ulcerada na porção distal do esôfago. Por meio de necropsia foram coletados
fragmentos da lesão. O exame histopatológico da lesão esofágica revelou um
carcinoma de células escamosas.
Palavras-chave: esofagoscopia; histopatologia; neoplasia primária esofagiana;
regurgitação
ABSTRACT: Primaries esophageal neoplasms are rarely reported in cats, being most
common in the distal esophagus and in older animals, whose main clinical sign is
regurgitation, followed by progressive weight loss. The diagnosis usually stems from
radiographs, radiographs contrasted (esophagram) and esophagoscopy with biopsy.
Being that in early lesions and small surgical resection is indicated, which does not
happen in larger lesions. We describe the case of a cat, 11 years old, with symptoms
compatible with disease, which was submitted to esophagoscopy, through which was
viewed vegetating lesion, infiltrating and ulcerated in the distal esophagus. Through
necropsy were collected fragments of lesion. Histological examination of the
esophageal lesion revealed a squamous cell carcinoma.
Key words esophagoscopy; histopathology; primary neoplasm esophageal
regurgitation
INTRODUÇÃO
Neoplasias primárias esofagianas são raramente relatadas em felinos, apresentando
cerca de 0,5% dos casos de neoplasias na espécie, sendo sua causa geralmente
desconhecida (RUAUX et al., 2006; WILLARD, 2012; SHINOZUKA et al., 2001). Dentre
os diferentes tipos de neoplasia, o carcinoma de células escamosas é o mais
observado em esôfago de felinos senis, principalmente na porção distal ou terço médio
(RUAUX et al., 2006; JOHNSON e SHERDING, 2008). Os animais acometidos têm
sinais clínicos relacionados à obstrução mecânica causada pela neoformação
(WILLARD, 2012), sendo a regurgitação seguida de disfagia, anorexia progressiva,
odinofagia, sialorreia e letargia, os mais comuns (RUAUX et al., 2006; WILLARD, 2012;
JOHNSON e SHERDING, 2008). Além disto, alguns animais podem realizar falsa via
em razão da regurgitação (WILLARD, 2012). O diagnóstico geralmente decorre de
radiografias simples, radiografias contrastadas (esofagograma) e esofagoscopias com
biopsias (JOHNSON e SHERDING, 2008; WILLARD, 2012). O tratamento varia
conforme a extensão da lesão. Em lesões iniciais e pequenas a ressecção cirúrgica é
indicada, o que não ocorre em lesões maiores (JOHNSON e SHERDING, 2008). Logo,
quanto antes realizado o diagnóstico, melhor o prognóstico do animal e menor a
chance de metástase ou total envolvimento do esôfago (JOHNSON e SHERDING,
568
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 207, 2013

2008). O presente estudo tem o objetivo de relatar um caso de neoplasia primária


esofagiana, caracterizado como carcinoma de células escamosas em um felino
doméstico.
MATERIAL E MÉTODOS
Um felino, macho, de pelo curto e tigrado com 11 anos de idade apresentando a um
mês episódios de regurgitação, emagrecimento severo e desidratação foi submetido a
esofagoscopia com endoscópio flexível OLYMPUS OGF 9mm. Após o procedimento,
em razão do estado debilitante do animal e da dificuldade respiratória observada,
optou-se pela eutanásia do animal. Na necropsia, fragmentos de órgãos foram
coletados e fixados em solução formalina a 10% por 24 horas, e processados
rotineiramente. Cortes histológicos com espessura de 3 μm de espessura foram
corados pelo método de hematoxilina e eosina (HE) e visualizados em microscópio
óptico.
RESULTADOS
Por meio da esofagoscopia, foi possível observar, a 16 cm dos incisivos superiores,
uma lesão vegetante, infiltrativa, ulcerada e de consistência dura localizada na porção
distal do esôfago. Em consequência da obstrução que a lesão causava, não foi
possível transpor o lúmen e analisar estômago e duodeno. Por meio da necropsia foi
possível constatar, na região torácica do esôfago, uma massa intramural, ulcerativa e
infiltrativa, medindo aproximadamente de 7,5 x 3,0 cm ao longo do lúmen esofágico,
próximo a base cardíaca. A superfície de corte observouse tecido sólido branco
acinzentado e a parede esofágica sob a massa estava espessa. Por meio do exame
histopatológico observou-se que o processo neoplásico era constituído por intensa
proliferação de células cubóides a poliédricas, irregulares em tamanho, possuindo um
núcleo vesicular ovóide, com um ou mais nucléolos distintos, apresentando
queratinização discreta a moderada e com atividade mitótica moderada, caracterizando
um carcinoma de células escamosas.
Associado ao processo neoplásico, observou-se infiltrado inflamatório polimorfonuclear
multifocal moderado.
DISCUSSÃO
Várias são as hipóteses a respeito da histogênese dos tumores esofágicos em
humanos, principalmente os envolvendo carcinógenos ambientais (HAGGITT, 1994), já
em relação aos observados em felinos ainda não foi determinada uma causa. Tem sido
sugerido que a localização do tumor, perto da entrada torácica pode ser devido a um
atraso de ingesta e irritantes nas porções mais estreitas do esôfago, como a entrada
torácica e as extremidades proximais e distais (VERNON e ROUDEBUSH 1980). Assim
como relatado por Gualtieri et al (1999) e Frowde et al. (2011), o felino no presente
estudo era idoso e seu principal sinal clinico era regurgitação e anorexia. O que nos
leva a crer, que mesmo incomuns, tumores do esôfago devem ser considerados
quando felinos idosos apresentam sinais de obstrução esofágica, especialmente se
lento e insidioso no seu início.
CONCLUSÕES
Os achados clínicos, endoscópicos e histopatológicos do presente relato são
semelhantes aos casos descritos na literatura e indispensáveis para o diagnóstico
diferencial, para o prognóstico e a possibilidade de tratamento. O carcinoma escamoso
na porção distal de felinos senis deve ser considerado como diagnóstico diferencial de
outras patologias que levem a regurgitação e ao emagrecimento severo.

569
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 207, 2013

REFERÊNCIAS
FROWDE, P. E.; BATTERSBY, I. A.; WHITLEY, N. T.; ELWOOD, C. M. Oesophageal disease in 33 cats.
Journal of Feline Medicine and Surgery, v.13, p. 564-569, 2011.
JOHNSON, S. E.; SHERDING, R. G. Doenças do Esôfago e Anormalidades de Deglutição. In:
BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Clínica de pequenos animais: Manual Saunders. 3. ed. São Paulo :
Roca, 2008. p. 669 – 670.
GUALTIERI, M.; MONZEGLIO, M. G.; DI GIANCAMILLO, M. Oesophageal squamous cell carcinoma in
two cats. Journal of Small Animal Practice, v. 40, p. 79- 83, 1999.
HAGGITT, R.C. Human Pathology, v.25, p. 982-993, 1994.
RUAUX, C. G.; STEINER, J. M.; WILLIAMS, D. A. Trato Gastrointestinal. In: CHANDLER, E. A.;
GASKELL, C. J.; GASKELL, R. M. Clínica e terapêutica em felinos. 3. ed. São Paulo : Roca, 2006 p. 329.
SHINOZUKA J., NAKAYAMA, H., SUZUKI, M., EJIRI, N., UETSUKA, K., MOCHIZUKI, M., NISHIMURA,
R., SASAKI, N., DOI, K. Esophageal Adenosquamous Carcinoma in a Cat. Journal of Veterinary
Medicine Science, v.63, n.1, p. 91-93, 2001.
VERNONF, F.; e ROUDEBUSH, P. Primary oesophageal carcinoma in a cat. Journal of the American
Animal Hospital Association, v.16, p. 547-550, 1980.
WILLARD, M. D. Esophagus. In: WASHABAU, R. J.; DAY, M. J. Canine & feline gastroentenrology. [s.l.] :
Elsevier, 2012. p. 595 – 598.

570
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 208, 2013

208. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS PRIMÁRIO DE MAMA EM


CADELA: RELATO DE CASO
(Primary squamous cell carcinoma of the mammary gland in female dog: case
report)

Soraya Santos Farias¹, Lorena Gabriela Rocha Ribeiro², Alessandra Estrela Lima³,
Mário Jorge Melhor Heine D'Assis4, Laís Pereira Silva5, Karine Araujo Damasceno6

1 Médica Veterinária autônoma, Salvador/BA.


2 Doutoranda em Ciência Animal, Escola de Veterinária, UFMG.
3 Prof. Adjunto, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFBA.
4 Médico Veterinário autônomo, Salvador/BA.
5 Graduanda em Medicina Veterinária, UFBA.
6 Doutoranda em Patologia Investigativa, Faculdade de Medicina,ICB/UFMG. alestrela@gmail.com

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo relatar o caso de uma cadela de nove anos
portadora de carcinoma de células escamosas primário de mama com ausência de
metástase regional e à distância e recidiva um mês após a mastectomia radical. À
histopatologia, observou-se proliferação neoplásica maligna de células epiteliais com
diferenciação escamosa, sendo evidenciadas junções intercelulares, plugues de
queratina e ausência de envolvimento da epiderme adjacente. A imunohistoquímica foi
negativa para RE e positiva para RP, E-caderina e Cox-2. Baseado nos achados
clínicos e histopatológicos foi estabelecido o diagnóstico de carcinoma de células
escamosas primário de mama.
palavras-chave: cão; carcinoma escamoso; glândula mamária; imuno-histoquímica
ABSTRACT:This work reports the case of a nine year old female dog with a primary
squamous cell carcinoma of the mammary gland without regional and distant
metastasis and recurrence one month after radical mastectomy. Histopathology
analysis revealed a neoplastic proliferation of malignant epithelial cells with squamous
differentiation with intercellular junctions, keratin plugs and no involvement of the
adjacent skin. Immunohistochemistry was negative for ER and showed positivity for PR,
E-cadherin and Cox-2. Based on clinical and histopathological findings, the diagnosis of
primary squamous cell carcinoma of the mammary gland was established.
key words: breast; dog; immunohistochemistry; squamous carcinoma
INTRODUÇÃO
O carcinoma de células escamosas (CCE) primário de mama é caracterizado pela
transformação maligna de células epiteliais com diferenciação escamosa (Misdorp et
al., 2001). Apresenta baixa frequência na glândula mamária, tanto em mulheres quanto
em cadelas (Sassi et al., 2008; Pruthi et al., 2010) e seu diagnóstico obedece a critérios
histológicos e clínicos, com o objetivo de excluir outros subtipos de carcinomas com
áreas de metaplasia, invasão direta de carcinoma escamoso da pele suprajacente ou
mesmo metástases. Esta neoplasia apresenta comportamento clínico extremamente
agressivo (Grenier et al., 2007), com rápida evolução, sendo o tratamento pouco eficaz
e o prognóstico reservado (Bahtt e Fernando, 2009).
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência do carcinoma de
células escamosas primário de mama em uma cadela, bem como descrever as
características anatomo-histopatológicas e imuno-histoquímicos, comparando com a
espécie humana.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma cadela poodle, de nove anos foi atendida no Hospital de Medicina Veterinária da
UFBA, apresentando tumor de mama com evolução de dois meses. O animal foi
submetido à mastectomia, havendo recidiva aproximadamente um mês após o
procedimento cirúrgico. A cadeia mamária e linfonodos regionais foram encaminhados
para os Laboratórios de Anatomia Patológica (UFBA) e Patologia Comparada (UFMG).
571
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 208, 2013

As amostras foram fixadas em formol tamponado a 10% e processadas pela técnica de


inclusão em parafina e corados em HE. Para a análise imuno-histoquímica da
neoplasia, os anticorpos primários foram: receptor de estrógeno (RE) (Clone 1D5,
Dako, 1:20), receptor de progesterona (RP) (HPRA2, Neomarkers, 1:20) e citoqueratina
AE1AE3 (Clone AE1/AE3, Dako, 1:10) . A reação foi amplificada pelo método biotina-
peroxidase com identificação a partir de anticorpo secundário. O animal veio a óbito,
entretanto o proprietário não autorizou a realização da necropsia.
RESULTADOS
À macroscopia, o tumor envolvia as mamas torácica caudal e abdominal cranial
esquerdas e media 13x8x9 cm. Era irregular, firme, ulcerado, com secreção purulenta e
aderido à pele e musculatura. Ao corte, era multilobulado, brancoamarelado com
material caseopurulento. Microscopicamente, observou-se proliferação neoplásica
maligna de células epiteliais com diferenciação escamosa e células basalóides em
arranjo sólido invadindo o estroma. As células eram grandes, pleomórficas com
citoplasma eosinofílico abundante, com junções intercelulares, núcleos grandes
variando de ovóides a poligonais e nucléolos múltipos e proeminentes. Foi observado
presença de células fantasmas e plugues de queratina, extensa necrose, infiltrado
inflamatório neutrofílico multifocal intenso e ausência de envolvimento da epiderme
adjacente. Diante destas características, foi firmado o diagnóstico de CCE primário de
mama. A análise imuno-histoquímica revelou reatividade negativa das células
neoplásicas para receptor de estrógeno e positiva com fraca intensidade para receptor
de progesterona.
DISCUSSÃO
O CCE primário da mama é extremamente agressivo, com grande capacidade de
invasão local e alta taxa proliferativa, bem como se constatou neste relato. No entanto,
não foi observada metástase linfática ou em outros sítios, apesar da recidiva com
crescimento rápido e progressivo, assim como observado em mulheres (Bahtt e
Fernando, 2009; Honda et al., 2011). De acordo com a literatura, as recidivas precoces
podem ocorrer pela extensão do tumor e consequente dificuldade em obter margens
cirúrgicas livres (Aparicio et al., 2008; Bahtt e Fernando, 2009). Além disso, dados
epidemiológicos, prognóstico e sobrevida de cadelas com CCE primário de mama
ainda não estão bem estabelecido, devido ao pequeno número de casos relatados
(Sassi et al., 2008; Pruthi et al., 2010).
O diagnóstico de CCE primário de mama deste relato foi baseado de acordo com os
critérios estabelecidos pela literatura (Nakayama et al., 1993; Rosen, 2009).
Inicialmente foi excluído presença de CCE primário da pele que recobre a mama ou
mesmo possíveis metástases para a glândula mamária, a partir da anamnese e
avaliação clínica criteriosa do animal. Além disso, à histopatologia, observou-se
proliferação neoplásica maligna de células escamosas em mais de 90% do tumor e
ausência de envolvimento neoplásico na epiderme. A imunomarcação de citoqueratina
foi fortemente positiva, confirmando a origem epitelial das células neoplásicas. A
expressão discreta ou ausente para receptores hormonais nestes tumores já é descrita,
sugerindo a perda da dependência hormonal com a agressividade tumoral (Silva et al.,
2004).
CONCLUSÃO
O CCE primário de mama é uma neoplasia pouco frequente, sendo escassos os relatos
em cadelas. Apesar da similaridade deste caso com os trabalhos em mulheres, são
necessários mais estudos na medicina veterinária para melhor delinear as
características deste tipo tumoral e estabelecer dados sobre comportamento clínico e
histopatológico, fatores predisponentes, epidemiologia, prognóstico e tratamento.

572
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 208, 2013

REFERÊNCIAS
APARICIO, I.; MARTI´NEZ, A.; HERNA´NDEZ, G. et al. Squamous cell carcinoma of the breast.
European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, v. 137, n. 2, p. 222-226, 2008.
BHATT L.; FERNANDO I. Primary Squamous Cell Carcinoma of the Breast: Achieving Long-Term
Control With Cisplatin-Based Chemotherapy. Clinical Breast Cancer, v. 9, n. 3, p. 187-188, 2009.
GRENIER J.; SORIA J.; MATHIEU M. et al. Differential Immunohistochemical and Biological Profile of
Squamous Cell Carcinoma of the Breast. Anticancer Research, v. 27, n. 1B, p. 547-556, 2007.
HONDA, M.; SAJI, S.; HORIGUCHI, S. et al. Clinicopathological Analysis of Ten Patients with Metaplastic
Squamous Cell Carcinoma of the Breast. Surgery Today, v. 41, n.3, p. 328-332, 2011.
MISDORP W., ELSE R.W., HELLMÉN E. et al. Histological classification of mammary tumors of the dog
and cat. Washington: Armed Forces Institute of Pathology. Veterinary Pathology, v. 38, n. 6, 2001.
NAKAYAMA, K.; ABE, R.; TSUCHIYA, A. et al. Squamous cell carcinoma of the breast. Acta Cytol, v. 37,
n. 6, p. 961–5, 1993.
PRUTHI, A.K.; LATHER, D.; GUPTA, R.P. et al. Mammary squamous cell carcinoma of a dog. Haryana
Veterinarian, v. 49, p. 70-71, 2010.
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ROSEN, P.P. Squamous carcinoma. In: Rosen‘s Breast Pathology, 3 edition.Philadelphia, PA: Lippincott
Williams & Wilkins; 2009. p. 506–524. SASSI, F.; SARLI, G.; BRUNETTI, B. et al . Immunohistochemical
characterization of mammary squamous cell carcinoma of the dog. Journal of Veterinary Diagnostic
Investigation, v. 20, n. 6, p. 766-773, 2008.
SILVA, A.E.; SERAKIDES, R.; CASSALI, G.D. Carcinogênese Hormonal e neoplasias hormônio-
dependentes. Revista Ciência Rural, v. 34, n. 2, p. 625-633, 2004.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 209, 2013

209. CARCINOMA DUCTAL IN SITU ASSOCIADO À LESÕES PRÉ-NEOPLÁSICAS


EM UM FELINO DE 5 MESES: RELATO DE CASO
(Ductal Carcinoma in situ associated with pre-neoplastic lesions in a 5 months-
old feline: case report)

Ana Maciel Ribeiro, Conrado de Oliveira Gamba, Mirna Maciel D‘auriol Souza,
Geovanni Dantas Cassali; Enio Ferreira

Labo de Pat Comparada, Depto. de Patologia Geral - Instituto de Ciências Biológicas, UFMG

RESUMO: Carcinomas ductais in situ (CDIS) são comumente associados à lesões


mamárias pré-neoplásicas, entretanto são raramente encontrados em animais jovens.
O objetivo deste estudo é descrever os achados macroscópicos, histopatológicos e
imuno-histoquímicos de um caso de CDIS e hiperplasia ductal sem atipia (HDSA) em
um felino de 5 meses. Os CDIS diferenciaram-se das HDSA por apresentarem maior
índice de proliferação celular, figuras de mitose, anisocariose moderada, além de
formação de pontes e pseudo-lúmens. A expressão de CK34βE12A permitiu a
confirmação da origem ductal de ambas lesões. A expressão de p63 e ASMA em
células mioepiteliais auxiliaram na confirmação das lesões in situ. Diante dos achados
podemos sugerir a existência de uma progressão de lesões préneoplásicas para lesões
neoplásicas na mama felina e a ocorrência precoce desse evento, nessa espécie, deve
ser investigada.
Palavras-chave: gato; imuno-histoquímica; hiperplasia ductal, neoplasia
ABSTRACT: Ductal carcinoma in situ (DCIS) are commonly associated with pre-
neoplastic mammary lesions, but they are rarely found in young animals. The aim of this
study is to describe the macroscopic, histopathological and immunohistochemical
findings of a case of DCIS and ductal hyperplasia without atypia (DHWA) in a 5 months-
old feline. The DCIS differed from DHWA because they presented greater proliferation
index, mitotic figures, moderated anisokaryosis and bridges and pseudo-lumens
formation.The CK34βE12A expression allowed the confirmation of the ductal origin of
both lesions. The expression of p63 and ASMA in myoepithelial cells helped to
confirmation of in situ lesions. Given the findings we may suggest the existence of a
progression of precancerous lesions to neoplastic lesions in feline mammary gland and
it's early occurrence of this event, in this specie, should be investigated.
key-words: cat; immunohistochemistry; ductal hyperplasia, neoplasm
INTRODUÇÃO
Neoplasias mamárias estão entre os tumores mais frequentemente observados em
felinos, com maior ocorrência entre 10 e 12 anos de idade sendo raramente
observados em gatas jovens com <1 ano de idade. Cerca de 80% das lesões
mamárias diagnosticadas em felinos são malignas, sendo os carcinomas as mais
frequentemente (Misdopr et al., 2002).
Em humanos e caninos os carcinomas ductais in situ (CDIS) estas lesões tem sido
comumente associadas com lesões hiperplásicas, consideradas préneoplásicas, e
podem ser classificadas em hiperplasia ductal sem atipia (HDSA) e hiperplasia ductal
atípica (HDA) (Page et al., 2000; Cassali et al., 2011). Essas alterações surgem em
cães mais tardiamente (Ferreira et al., 2012). Entretanto, em felinos as hiperplasias
ductais, sua condição pré-neoplásica e o tempo de seu surgimento não são muito bem
descritas.
Desta forma, o objetivo deste estudo é descrever os achados macroscópicos,
histopatológicos e imuno-histoquímicos de um caso de CDIS associado a lesões
hiperplásicas ductais em um felino de 5 meses.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 209, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Uma gata, de cinco meses de idade, sem raça definida, apresentou nódulos firmes
adjacentes às mamas inguinal esquerda e torácica caudal direita. Exérese cirúrgica foi
realizada e os materiais obtidos foram encaminhados ao Laboratório de Patologia
Comparada para avaliação histopatológica (hematoxilina e eosina - HE).
Para a análise imuno-histoquímica utilizou-se os marcadores citoqueratina (CK) (clone
34βE12, Dako, 1:50), Ki-67 (clone Mib-1, Dako, 1:25), P63 (Clone 4a4, Neomarkers,
1:80), alfa actina de músculo liso (SMA) (clone 1A4, Dako, 1/100), receptor de
estrógeno (RE) (Clone 1D5, Dako, 1:50) e receptor de progesterona (RP) (Clone
hPRa2, Dako, 1:20). Para os anticorpos CK, P63 e SMA utilizou-se avaliação
qualitativa avaliando apenas presença ou ausência de imuno-marcação. Para RE e RP
foram consideradas positivas as áreas com imuno-marcação em ≥1% das células
neoplásicas (Hammond et al., 2010).
RESULTADOS
A análise macroscópica revelou nódulos medindo 0,5 e 0,6 cm de diâmetro de
superfície discretamente lobulada. Ao corte os nódulos apresentaram-se macios e
revelaram massas sólidas e homogêneas de coloração esbranquiçada. O nódulo
menor revelou pequenas áreas nodulares acastanhadas. Na análise microscópica da
lesão mamária observou-se em alguns ductos intra e extra-lobulares áreas de HDSA
caracterizadas por formação de múltiplas camadas de células epiteliais intralumenais,
de nucléolos proeminentes, com raras figuras de mitose e por vezes com emissão de
projeções de aspecto micropapilar. Áreas de CDIS também foram observadas nas
estruturas ductais e caracterizaram-se por formação de múltiplas camadas de células
de moderado pleomorfismo, com formação de pontes e pseudolúmens.
A análise imuno-histoquímica revelou positividade nuclear para p63 e citoplasmática
para SMA em células mioepiteliais que envolviam áreas de HDSA e de CDIS. Na
avaliação da expressão de CK 34βE12 as áreas de HDSA e CDIS revelaram
positividade citoplasmática de intensidade forte em células epiteliais luminais e
negatividade em células epiteliais da camada basal. As HDSA e CDIS apresentaram-se
positivas para receptores hormonais (RE e RP) e revelaram índice de proliferação
celular, a partir da expressão de Ki-67 de 3% e 46,5%, respectivamente.
DISCUSSÃO
Neste estudo descreveu-se lesões hiperplásicas ductais sem atipia e carcinomas in situ
na glândula mamária de um felino de 5 meses de idade. De acordo com a literatura,
neoplasias mamárias são raramente observadas nesta faixa etária, visto que na
espécie felina o risco do desenvolvimento de ocorrência desta entidade aumenta partir
de 6 anos de idade (Giménez et al., 2010). Os CDIS diferenciaram-se das HDSA por
apresentarem maior índice de proliferação celular, figuras de mitose, anisocariose
moderada, além de outras características morfológicas como formação de pontes e
pseudo-lúmens. Estes achados histopatológicos corroboram com o que tem sido
descrito para CDIS em humanos e caninos (Ferreira et al., 2012). As imuno-marcações
para p63 e ASMA auxiliaram na evidenciação de células mioepiteliais e,
consequentemente, na definição de ausência de invasão estromal adjacente aos CDIS.
A progressão de lesões hiperplásicas para lesões carcinomatosas tem sido investigada
tanto em humanos quanto em caninos (Ferreira et al., 2012; Cassali et al., 2011; Page
et al., 1985; Page et al., 2000; Tavassoli et al., 1990). Na espécie canina as HDA foram
associadas à ocorrência de carcinomas in situ (Ferreira et al., 2012).
CONCLUSÃO
Neste estudo, baseado nos achados histo-patológicos, diagnosticou-se hiperplasias
ductais sem atipia e carcinomas ductais in situ em um felino de 5 meses. Os
marcadores imuno-histoquímicos podem auxiliar no diagnóstico definitivo destas
lesões. Diante dos resultados podemos sugerir uma possível relação entre o

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 209, 2013

surgimento de hiperplasias ductais e carcinomas mamários felinos. Esse evento pode


ser precoce na vida do animal e sua a ocorrência felina deve ser investigada.
Agradecimentos
CAPES e ao apoio financeiro da FAPEMIG.
REFERÊNCIAS
Cassali, G. D.; Lavalle, G. E.; Nardi, A. B. et al., Consensus for the Diagnosis, Prognosis and Treatment
of Canine Mammary Tumors. Braz J Vet Pathol, v.4, n.2, p.153-180, 2011.
Ferreira, E.; Gobbi, H.; Saraiva, B.S. et al. Histological and immunohistochemical identification of atypical
ductal mammary hyperplasia as a preneoplastic marker in dogs. Veterinary Pathology, v.49 n.2, p.322-9,
2012.
Giménez, F.; Hecht, S.; Craig, L. E. et al.. Early detection, aggressive therapy: optimizing the
management of feline mammary masses. J. Feline Med. Surg., v. 12, n. 3, p. 214-224, 2010.
Hammond, M. E.; Hayes, D.F.; Wolff, A.C. et al. American society of clinical oncology/college of american
pathologists guideline recommendations for immunohistochemical testing of estrogen and progesterone
receptors in breast cancer. J Oncol Pract , v.6, n.4, p.195-7, 2010.
Misdorp, W. Tumors of the mammary gland. In: MEUTEN, D. J. 4ª Ed. Domestic Animals. Ames: Iowa
State press, 2002. p. 575-606.
Page, D.L.; Dupont, W.D.; Rogers, L. W. et al.. Atypical hyperplastic lçesions of the female breast: long-
term follow-up study. Cancer, v. 55, p- 2698-2708, 1985.
Page, D.L.; Jensen, R.A.; Simpson, J.F. et al.. Historical and epidemiologic
background of human premalignant breast disease. J Mammary Gland Biol Neoplasia, v.5, n.4, p.341-9,
2000.
Tavassoli, F. A.; Norris, H. J. A comparison of the results of long-term follow-up for atypical intraductal
hyperplasia and intraductal hyperplasia of the breast. Cancer, v.65, n.3, p.518-29, 1990.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 210, 2013

210. CARCINOMA FOLICULAR-COMPACTO DE TIREOIDE COM METÁSTASE


EPIDURAL ESPINHAL EM UM CÃO
(Follicular-compact thyroid carcinoma with epidural spinal metastasis in a dog)

Fabio Brum Rosa¹, Camila Tochetto¹, Isadora Silveira¹, Rafael Fighera¹, Alexandre
Mazzanti², Glaucia Kommers¹

1 Laboratório de Patologia Veterinária (LPV),


2 Departamento de Clínica de Pequenos Animais, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
glaukommers@yahoo.com

RESUMO: Este relato descreve um caso incomum de carcinoma de tireoide com


metástase epidural espinhal em um cão. O cão apresentava uma massa cervical
unilateral com metástase epidural entre as vértebras cervicais C1 e C3, causando
compressão da medula espinhal e com sinais clínicos de síndrome neurológica
cervical. Histologicamente, o diagnóstico de carcinoma folicular-compacto de tireoide
com metástase epidural espinhal foi estabelecido.
Palavras-chave: carcinoma tireoidiano; doenças de cães; oncologia
ABSTRACT: This report describes an uncommon case of thyroid carcinoma with
epidural spinal metastasis in a dog. The dog had a unilateral cervical mass with epidural
metastasis located between the vertebrae C1 and C3, causing spinal cord compression
and clinical signs of cervical neurologic syndrome. Histologically the neoplasms were
diagnosed as follicular-compact thyroid carcinoma with epidural spinal metastasis.
Key words: diseases of dogs; oncology; thyroid carcinoma
INTRODUÇÃO
Em animais, os tumores de células foliculares da tireoide ocorrem com mais frequência
em cães, gatos e cavalos (Capen, 2002). Carcinomas de tireoide são os tumores
endócrinos mais comuns em cães (Barber, 2007) e são considerados altamente
malignos, com 16 a 60% dos cães com evidência de metástase pulmonar ou em
linfonodos regionais no momento do diagnóstico. Em casos não tratados, 60% a 80%
têm evidência de metástases distantes na necropsia (Barber, 2007). O presente relato
descreve os achados de necropsia e histopatológicos em um cão com carcinoma de
tireoide com metástase epidural espinhal.
MATERIAL E MÉTODOS
Um cão, Boxer, macho, 11 anos, apresentou aumento de volume na região cervical
lateral direita, tetraparesia e hiperestesia. A mielografia revelou uma área de
compressão da medula espinhal cervical na altura de C2. O cão morreu após o exame
e foi submetido à necropsia e avaliação histológica.
RESULTADOS
Na necropsia, entre os músculos cervicais no lado direito, havia uma massa não-
infiltrativa, com 10,0 x 6,0 x 5,0 cm. Na superfície de corte era macia e branca. No
canal vertebral, entre C1-C2, havia uma massa epidural marrom-clara, multilobulada,
com 4,0 x 0,6 x 0,8 cm, comprimindo a medula espinhal. Na avaliação histológica da
massa cervical observou-se o parênquima da tireoide obliterado por uma proliferação
de células poligonais arranjadas em folículos ou em áreas sólidas. Os folículos
neoplásicos eram, ocasionalmente, preenchidos por material semelhante à coloide. As
células neoplásicas tinham citoplasma moderado e eosinofílico. Os núcleos eram
redondos, com cromatina finamente granular e 1-3 nucléolos. Havia moderada
anisocariose e anisocitose. Vasos linfáticos foram invadidos por células tumorais. O
diagnóstico de carcinoma folicular-compacto de tireoide foi estabelecido. A massa
localizada no canal vertebral foi diagnosticada como metástase de carcinoma de
tireoide. Na medula espinhal (C1-C2) observou-se degeneração Walleriana e
esferoides axonais.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 210, 2013

DISCUSSÃO
Com base no padrão histológico predominante, carcinomas de células foliculares da
tireoide são subdivididos em bem diferenciados (folicular, compacto, folicular-compacto
e papilífero) ou carcinomas indiferenciados (células fusiformes, células pequenas ou de
células gigantes) (Kiupel et al., 2008). Carcinoma folicular-compacto é o tipo mais
comum de tumor maligno da tireoide em cães (Capen, 2002). O pulmão e os linfonodos
regionais são os locais mais comuns das metástases de carcinomas de tireoide
(Capen, 2002). Invasão nos ramos das veias cranial e caudal da tireoide, com a
formação de trombos tumorais, leva a múltiplas metástases pulmonares, muitas vezes
antes do envolvimento dos linfonodos cervicais retrofaríngeo e caudal (Capen, 2002).
Metástases para o pulmão e linfonodos regionais não foram observadas. Em humanos,
metástases espinhais em geral afetam tipicamente a região torácica (60-80%), lombar
(15-30%) e cervical (<10%) (Sciubba et al., 2010). O cão deste relato tinha metástase
epidural espinhais entre C1-C3. Em humanos, o corpo vertebral (85%) é o local mais
comum de envolvimento inicial, seguido do espaço paravertebral (10-15%) e no espaço
epidural (<5%) (Harel e Angelov, 2010). Neste caso observou-se metástases no
espaço epidural, o que é raramente observado, comprimindo a medula e causando
sinais clínicos associados à síndrome neurológica cervical. Outros sítios metastáticos
de carcinoma de tireoide em animais incluem adrenais, cérebro, rins, coração, fígado e
ossos (Mooney, 2005).
CONCLUSÕES
Este relato descreve os achados macro e microscópicos de um cão incomum de
carcinoma de tireoide com metástase epidural espinhal.
REFERÊNCIAS
BARBER, L.G. Thyroid Tumors in dogs and cats. Veterinary Clinics Small Animal Practice, v.37,
p.755-773, 2007.
CAPEN, C.C. Tumors of the endocrine glands. In: MEUTEN, D.J (ed). Tumors in Domestic Animals.
4.ed. Ames: Iowa State, 2002, p.607-696.
HAREL, R.; ANGELOV, L. Spine metastases: current treatments and future directions. European
Journal of Cancer, v.46, p.2696-2707, 2010.
KIUPEL, M.; CAPEN, C.; MILLER, M. et al. Histological Classification of Tumors of the Endocrine
System of Domestic Animals. Washington: Armed Forces Institute of Pathology, 2008. 192p.
MOONEY, C.T. Hyperthyroidism. In: Textbook of Veterinary Internal Medicine: Diseases of the Dog
and Cat. 6.ed. Saint Louis: Elsevier Saunders, 2005, p.1544-1560.
SCIUBBA, D.M.; PETTEYS, R.J.; DEKUTOSKI, M.B. et al. Diagnosis and management of metastatic
spine disease: A review. Journal of Neurosurgery: Spine, v.13, p.94-108, 2010.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 211, 2013

211. CARCINOMA PROSTÁTICO EM CÃO – RELATO DE CASO


(Prostate carcinoma in a dog - case report)

Lorena Ferreira Silva, Letícia Batelli de Oliveira, Saulo Pereira Cardoso, Cláudio
Henrique Gonçalves Barbosa, Susy Karoline Hermes Sousa, Ana Luiza Sarkis Vieira

Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Brasília (UnB);

RESUMO: O carcinoma prostático é uma neoplasia maligna do epitélio glandular da


próstata, incomum em cães. Os animais acometidos frequentemente desenvolvem
metástase para pulmões, linfonodos regionais e ossos. Um cão, macho, castrado,
Daschund de 11 anos, com histórico de hiporexia, tenesmo, melena e disúria, foi
submetido à necropsia no Laboratório de Patologia Veterinária (LPV) HVet-UnB. O
exame anatomopatológico revelou massa multinodular mal delimitada envolvendo a
próstata, bexiga e uretra, compatível com carcinoma prostático. Metástases em
pulmões, uretra, bexiga e linfonodo regional e omento foram observadas. Apesar de
incomum, os carcinomas prostáticos em cães possuem prognóstico reservado devido
ao elevado potencial para promover metástases.
Palavras-chave: canídeo; metástase; neoplasia; próstata
ABSTRACT: Prostatic carcinoma is an uncommon malignant neoplasia in dogs.
Affected animals often develop metastasis to lungs, regional lymph nodes and bones.
An 11 years old, male and neutered dog with history of appetite loss, tenesmus, dysuria
and melena, was submitted to necropsy at the Laboratory of Veterinary Pathology (LPV)
HVet-UNB. Anatomopathological examination revealed multinodular masses involving
the prostate, bladder and urethra, consistent with prostatic carcinoma. Metastases in
the lungs, urethra, bladder, regional lymphnode and omentum were observed. Although
uncommon, prostatic carcinomas in dogs have poor prognosis due high potential for
metastasis.
Key words: canid; metastasis; cancer; prostate
INTRODUÇÃO
O carcinoma prostático é uma neoplasia maligna do epitélio glandular da próstata,
sendo incomum em cães e extremamente raros em outros animais (Maclachlan e
Kennedy, 2002). Essa neoplasia geralmente acomete cães com mais de 8 anos e não
há predisposição racial (Cornell et al., 2000; Maclachlan e Kennedy, 2002).
O carcinoma prostático canino possui similaridades morfológicas e de comportamento
biológico com a doença do homem e, apesar de raro, é um modelo experimental para a
doença em humanos. Além disso, em cães geralmente está associado a metástases e
mortalidade dos animais acometidos.
Este trabalho tem o objetivo de relatar as alterações anatomopatológicas de um caso
de carcinoma prostático com metástase em cães com o intuito de contribuir para a
casuística desta neoplasia incomum.
MATERIAL E MÉTODOS
Um cão, macho, castrado, Daschund de 11 anos foi atendido no Hospital Veterinário da
Universidade de Brasília (HVET-UnB) com histórico de apatia, hiporexia, tenesmo,
melena e disúria. Foi realizada laparotomia exploratória e durante o procedimento foi
observada uma massa na próstata invadindo o ureter e a bexiga. O proprietário optou
pela eutanásia devido ao prognóstico desfavorável.
O cão foi submetido à necropsia no Laboratório de Patologia Veterinária (LPV) HVet-
UnB. Amostras diversos órgãos foram fixadas em formalina 10%, processadas pela
técnica em inclusão de parafina, seccionados em cortes histológicos com 5 μm de
espessura e corados em hematoxilina e eosina.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 211, 2013

RESULTADOS
À necropsia, o animal apresentou massa multinodular pouco delimitada, acastanhada
com áreas avermelhadas de aproximadamente 7,0 X 3,0 cm, envolvendo a próstata,
bexiga e uretra. Aos cortes, a massa apresentou superfície irregular, macia, cística.
Nódulos milimétricos, multifocais esbranquiçados e macios foram observados nos
pulmões e omento. Além das lesões nodulares, o cão apresentou intensa dilatação da
pelve renal dos rins direito e esquerdo e de ureteres (hidronefrose e hidroureter).
O exame histopatológico revelou que o tecido prostático estava substituído por
proliferação neoplásica infiltrativa de células epiteliais intensamente dispostas em
túbulos e ninhos, sustentados por grande quantidade de tecido conjuntivo fibroso. No
tecido prostático adjacente a neoplasia observou-se hiperplasia cística moderada e
multifocal. No omento, pulmões, uretra, bexiga e linfonodo ilíaco observou-se múltiplos
focos de proliferação neoplásica epitelial infiltrativa com as mesmas características
observadas na neoplasia da próstata.
DISCUSSÃO
Os carcinomas de próstata em cães são incomuns, ao contrário da hiperplasia
prostática benigna, a qual se desenvolve em grande parte dos cães castrados (Foster e
Ladds, 2007).
O tenesmo observados neste animal é relatado por Jonhston et al. (2000), que também
relata gotejamento de sangue independente da micção, hematúria e infecções
recorrentes do trato urinário. Neste caso, a hidronefrose e hidroureter ocorreram devido
a compressão da neoplasia a uretra, relacionados à proximidade da próstata. Segundo
Davidson e Baker (2009) bexiga, ureteres, uretra e linfonodos regionais podem estar
afetados e também pode ocorrer hidronefrose em cães com neoplasia prostática,
resultante da compressão dos ureteres.
No presente relato, observou-se infiltração e/ou metástase para uretra, bexiga, pulmão,
linfonodo e omento. De acordo com Cornell et al. (2000), as metástases do carcinoma
prostático ocorrem principalmente em linfonodos, pulmões e ossos. Outros locais de
metástases incluem fígado, cólon, rins, coração, adrenal, cérebro e baço (Cornell et al.,
2000; Johnston et al., 2000; Krawiec e Heflin, 1992; LeRoy e Northrup, 2009). Contudo,
não há relatos de metástase para omento, sendo este o primeiro caso na literatura.
CONCLUSÃO
As lesões nas próstatas e os locais de metástase observadas nestes casos são
similares as reportadas por outros autores. Entretanto, no presente relato há
hidronefrose e hidroureter e metástase para o omento. O carcinoma prostático em
cães, apesar de raro, apresenta prognóstico reservado devido ao grande potencial para
metástases e elevado índice de malignidade.
REFERÊNCIAS
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580
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 212, 2013

212. CASO DE INTOXICAÇÃO POR ACETURATO DE DIMINAZENO EM CÃO


(Case of diminazene aceturate poisoning in dog)

Yara de Oliveira Brandão¹, Kamila Alcalá Goncalves¹, Elio Alves Moreira Junior²,
Vanessa Nadine Gris³, Simone Tostes de Oliveira Stedile², Renato Silva de Sousa¹

1.Laboratório de Patologia Veterinária-HV-UFPR-Curitiba


2.Clínica Médica Veterinária-HV-UFPR-Cuitiba
3.Anestesiologia Veterinária-HV-UFPR-Curitiba

RESUMO: Aceturato de diminazeno é a droga parasiticida mais usada no mundo para


o tratamento de babesiose, entretanto este fármaco provoca diversos efeitos colaterais
como edema e dor no local da injeção, distúrbios gastrintestinais e alterações
neurológicas. Este trabalho tem por objetivo relatar o caso de um cão, atendido no
Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná, que se apresentava em
estado comatoso, com queixa de episódios de convulsão há dois dias e histórico de
superdosagem de aceturado de diminazeno.
Palavras-chave: babesiose; manifestação neurológica; superdosagem
ABSTRACT: Diminazene aceturate is the most commonly drug used for babesiosis
treatment, however side effects as swelling and pain at the site of the injection,
gastrintestinal disturbances and neurological signs can be seen. The present study
aims reporting a case of a dog attended at the Veterinary Hospital of Universidade
Federal do Paraná, which was comatosewith seizures for two days and had a history of
diminazene aceturate overdosis.
Key words: babesiosis; neurological signs; overdose
INTRODUÇÃO
Aceturato de diminazeno é a droga parasiticida mais usada no mundo para o
tratamento de babesiose e sua dose recomendada é de 3,5 a 5mg/kg por via
intramuscular, em aplicação única (Taboada, 1998). Alguns efeitos colaterais como
edema, dor no local da injeção e distúrbios gastrintestinais podem ocorrer (Taboada,
1998). Manifestações neurológicas foram relatadasem cães tratados comrepetidas
doses de 3,5 e 10,5 mg/kg deste fármaco (Naudè et al., 1970).
A babesiose canina é uma enfermidade de ocorrência mundial cujo principal agente
causador no Brasil é o hematozoário Babesia canis vogeli (Schoeman, 2009). Os sinais
clínicos mais comumente observados na babesiose são febre, anorexia, hematúria,
mucosas pálidas ou icterícia e são secundários à hemólise aguda. (Taboada, 1998).
Máthé et al. (2006) observaram hepatopatia, pancreatite, insuficiência renal aguda e
coagulação intravascular disseminada como as principais complicações da babesiose
e, mais raramente, a anemia hemolítica imunomediada, síndrome respiratória aguda e
babesiose cerebral. Achados laboratoriais presentes em quadros de babesiose canina
são anemia regenerativa (casos agudos) ou arregenerativa (casos crônicos),
trombocitopenia e leucositose com desvio à esquerda (Schoeman, 2009).O diagnóstico
definitivo é realizado por observação direta do parasita em esfregaço sanguíneo, PCR
ou ELISA (Schoeman, 2009). Principais achados denecropsia são impregnação dos
tecidos com hemoglobina e bilirrubina, bile espessa, esplenomegalia e rins marrons
escuros (Valli, 2007). O tratamento é realizado com drogas parasiticidas, tratamento de
suporte e transfusão sanguínea quando necessário (Henri e Gorenflot, 2006).
Este estudo tem por objetivo relatar um caso de intoxicação por superdosagem do
fármaco Babesin® (diaceturato de diazoaminodibenzamina) em cão.
MATERIAIS E MÉTODOS
Um cão, macho, sem raça definida, com 1 ano e 6 meses de idade e 17,8kg foi
atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, em
estado comatoso e episódio de convulsão há dois dias. Ao exame físico apresentava
caquexia, taquipnéia com respiração costoabdominal e aumento da amplitude
581
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 212, 2013

respiratória, desidratação de 8%, tempo de preenchimento capilar aumentado,


hipertensão (PAS 204 mmHg, PAM 166 mmHg e PAD 144 mmHg) e tetraplegia
espástica.
O animal possuía histórico de aplicação de Babesin® (diaceturato de
diazoaminodibenzamina + pirazolona), 6 mg/kg, via intramuscular por quatro dias, 8,5
mg/kg de flunixinmeglumine intramuscular por um dia, dipirona na dose de140,5 mg/kg,
intramuscular por dois dias e vitamina K há aproximadamente cinco dias antes do início
dos sinais neurológicos.
Exames laboratoriais mostraram leucocitose com desvio regenerativo à esquerda, 26%
de neutrófilos tóxicos, hipoalbuminemia, proteinúria de 300 mg/dL, RPC (relação
proteína/creatinina urinária) de 3,4 e acidose. Anemia e trombocitopenia não foram
observadas.
O animal morreu dois dias após o atendimento inicial e foi submetido à necropsia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
À necropsia observou-se broncopneumonia, linfadenomegalia generalizada,
conificação cerebelar, maláciahemorrágica multifocal a focalmente extensa
nocérebroecerebelo. O exame histopatológico do encéfaloe medula espinhal
evidenciou múltiplas áreas focalmente extensas de malácia, associadas à moderada
quantidade de macrófagos e de neutrófilos degenerados, acompanhados por
hemorragia acentuada. Não foram observados eritrócitos parasitados.
Os sinais clínicos e as lesões macro e microscópicas encontradas no sistema nervoso
central são compatíveis com as alterações observadas no estudo conduzido por Naudé
et al. (1970), no qual dois grupos, de seis animais cada, foram tratados com aceturato
de diminazeno nas doses de 3,5 mg/kg e 10,5 mg/kg, intramuscular, por repetidos dias.
Alterações encefálicas são também descritas nos casos de babesiose cerebral
(Jacobson, 2006; Basson e Pineaar, 1965 apud Naudéet al., 1970). As alterações
neurológicas causadas pelo parasitismo diferem das secundárias à superdosagem de
diminazeno quanto à sua localização; enquanto a primeira normalmente limita-se ao
córtex cerebral e núcleo caudado, sendo o cerebelo raramente afetado, (Jacobson,
1994; Basson e Pineaar, 1965 apud Naudé et al., 1970), a segunda acomete
principalmente o cerebelo (Naudé et al., 1970).
As alterações neurológicas encontradas nos casos de intoxicação por diminazeno têm
sua causa desconhecida, porém já foram atribuídas a um possível efeito cumulativo
desta droga (Bauer, 1967 apud Miller et al., 2005). Miller et al. (2005) reportaram que
seis dias parecem ser suficientes para que este fármaco seja eliminadodo organismo
de cães saudáveis quando administrado por via intravenosa e que, por via
intramuscular, este período pode ser ainda menor. Apesar destas diferenças, a
recomendação de tempo de espera antes de uma nova administração do medicamento
é de 21 dias (Miller et al., 2005).
Neste caso não houve a comprovação laboratorial do parasitismo por Babesia sp.,
entretanto o animal possuía histórico de recente administração da droga Babesin® na
dose e frequência acima da recomendada. Desta forma, as lesões encontradas
nosistema nervoso central são, provavelmente, decorrentes de intoxicação por
diminazeno.
CONCLUSÃO
As alterações macro e microscópicas observadas neste animal suportam o diagnóstico
de intoxicação por diminazeno. Embora casos similares já tenham sido relatados são
escassos os estudos a respeito dos efeitos colaterais desta droga.

582
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 212, 2013

REFERÊNCIAS
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BAUER, F. Treatment of babesiasis with Berenil. Die Blauen Hefte fur die Tierartz Hoechst Helft, v.13
HENRI, J. V.; GORENFLOT, A. Chemotherapy against babesiosis. Veterinary Parasitology, v.138, p.147-
160, 2006
JACOBSON, L.S. The South African form of severe and complicated canine babesiosis: Clinical
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JACOBSON, L.S.; CLARK, I.A. The pathophysiology of canine babesiosis: new approaches to an old
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TABOADA,J. Babesiosis. In: GREENE,C. Infectious disease of the dog and cat.Philadelphia:W.B.
Saunders, 1998, p.473-481

583
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 213, 2013

213. CISTO EPIDERMÓIDE INTRAÓSSEO EM DEDO DE CÃO: RELATO DE CASO


(Intraosseous epidermoid cysts in finger dog: Case Report)

Rachel Bittencourt Ribeiro; Raphael Mansur Medina; Maria Aparecida da Silva; Hassan
Jerdy Leandro; Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho

Setor de Anatomia Patológica Veterinária do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias,


Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – CCTA UENF

RESUMO: Os cistos epidermóides intraósseos são raramente relatados em cães. Sua


patogênese ainda não é bem esclarecida, mas podem ter origem congênita, traumática
ou iatrogênica. Os cistos podem ser diagnosticados radiograficamente e confirmados
pelo exame histopatológico. O material de estudo foi o dedo de um canino recebido
pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e fixado em
formalina neutra tamponada à 10%. Foi processado segundo técnicas histológicas de
rotina e observadas em microscopia óptica. À microscopia revelou formação cística
revestida por epitélio escamoso estratificado bem diferenciado que originava
numerosos folhetos de queratina que preenchiam o cisto, diagnosticando ―Cisto
Epidermóide Intraósseo‖. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é relatar o caso, visto
a importância de se obter maior conhecimento a respeito desta patologia.
Palavras-chave: canino; osso; patologia
ABSTRACT: The intraosseous epidermoid cysts are rarely reported in dogs. Its
pathogenesis is not well understood, but may be congenital, traumatic or iatrogenic. The
cysts can be diagnosed radiographically and histologically confirmed. The material was
the finger of a canine, received in UENF and fixed in formalin 10%. The material was
processed routine histological techniques and observed in microscopy optical.
Microscopically observed cystic formation lined by well differentiated stratified
squamous epithelium that originated numerous brochures that keratin filled cyst
diagnosed, "Intraosseous Epidermoid Cyst." Thus, the aim of this study is to report the
case, since the importance of obtaining more knowledge about this disease.
Key words: canine; boné; patology
INTRODUÇÃO
Os cistos epidermóides intraósseos são raramente relatados em cães, principalmente
como causa de lesão lítica da falange distal, precisando ser diferenciado de carcinoma
ungueal, melanoma maligno e osteomielite (Meuten, 2002). Em humanos envolvem
principalmente o crânio e falanges distais (Wang et al., 2003).
Os cistos juntamente ao progressivo alargamento dos tecidos moles podem ou não
pode ser acompanhados por dor ou sensibilidade. Os mesmos podem ser de origem
congênita ou iatrogênica (Wang et al., 2003). No entanto, a patogênese do cisto
epidermóide intraósseo não é bem elucidada, mas acredita-se que as lesões digitais
podem ser secundárias a um ferimento penetrante. Já os cistos envolvendo o crânio de
seres humanos e o corpo vertebral de cão pode representar ninhos de ectoderma
heterotrópico sequestrados ao longo das linhas de fechamento durante o
desenvolvimento embrionário (Meuten, 2002).
Os cistos epidermóides do osso pode ser clínica e radiologicamente desafiador (Wang
et al., 2003). Radiograficamente, pode haver uma reação esclerótica em torno de um
ou mais focos e lise do periósteo. A superfície de corte um osso afetado revela cisto
multilocular contendo conteúdo pálido, material friável (Meuten, 2002).
Histologicamente, os cistos são bem diferenciados, circundados por um epitélio
escamoso estratificado queratinizado e preenchido com escamas de queratina. O
epitélio escamoso pode revelar hiperplasia pseudoepiteliomatosa marcante, podendo
ser confundido com carcinoma de células escamosas devido a inadequada colheita de
amostra para biópsia. Os cistos geralmente apresentam um estroma fibroso cercado
por trabéculas ósseas engrossadas (Meuten, 2002).
584
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 213, 2013

Um diagnóstico correto raramente é feito antes da operação por radiologistas e


cirurgiões principalmente por causa da falha em reconhecer esta entidade. Por isso, é
importante considerar essa lesão no diagnóstico diferencial para evitar amputações
digitais desnecessárias.
MATERIAL E MÉTODOS
O material de estudo foi de um canino, da raça rottweiler, com 7 anos de idade, sendo
recebido no Setor de Patologia Animal (SPA) do Laboratório de Morfologia e Patologia
Animal (LMPA) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).
Um simples histórico acompanhava o material e relatava apenas que era o ―dedo‖ do
animal e que a mãe já teve osteossarcoma.
O material colhido foi fixado em formalina neutra tamponada à 10%, por, no mínimo
48h e, posteriormente processado segundo técnicas histológicas de rotina. A amostra
foi clivada e acondicionada em cassete histológico devidamente identificado, submetido
ao processamento automático para as etapas de desidratação em banhos de alcoóis,
clarificação ou diafanização em banhos de xilol, embebição em parafina, inclusão em
parafina, seguido da microtomia, coloração usada na rotina, que foi a Hematoxilina e
Eosina (H/E) e montagem das lâminas.
As lâminas foram analisadas sob microscopia óptica, onde avaliaram-se as
características morfológicas celulares e padrão tecidual da lesão para fins de
diagnóstico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A histopatologia no H.E., em secções de tumoração em dedo, revelou formação cística
revestida por epitélio escamoso estratificado bem diferenciado que originava
numerosos folhetos de queratina que preenchiam o cisto. Ao redor do cisto foi
observado um denso estroma fibroso e tecido ósseo regularmente diferenciado. Não foi
observado malignidade na amostra. Os achados histopatológicos nos permitiram o
diagnóstico de ―cisto epidermóide intraósseo‖.
A lesão supracitada é raramente relatada em cães, acomete a falange distal e os
achados radiográficos são reação esclerótica ao redor de focos de lise óssea e
proliferação periosteal. A descrição histológica está de acordo com a descrita por
Meuten (2002).
CONCLUSÃO
O relato descrito acima tem sua importância visto que esta é uma patologia rara, com
possibilidade de diagnósticos diferenciais. No entanto, os achados microscópicos foram
característicos de cisto epidermóide intraósseo.
REFERÊNCIAS
MEUTEN, D. J. Tumors in Domestic Animals. Iowa: Blackwell, 2002. 788p.
WANG, B. Y; EISLER, J. SPRINGFIELD D.; et al. Intraosseous epidermoid inclusion cyst in a great
toe: a case report ande review of the literature. Arch Pathol Lab Med, v.127, p.298-300, 2003.

585
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 214, 2013

214. CITOLOGIA E HISTOPATOLOGIA NA PESQUISA DE HELICOBACTER SPP


EM MUCOSA GÁSTRICA DE FELINOS DOMÉSTICOS
(Cytology and histopathology in search of Helicobacter spp in gastric mucosa of
domestic cats)

Daniela Araujo de Sousa¹; Livia Yumi Suzuki²; Kássia Valéria Gomes Coelho da Silva³;
Juliana da Silva Leite4; Marcela Freire Vallim de Mello4; Ana Maria Reis Ferreira4

1. Doutoranda do Prog de Pós-Graduação em Med Vet (Clínica e Reprodução Animal), UFF, Niterói/RJ.
2. Aluna de Graduação em Med Veterinária, Bolsista PIBIC, Faculdade de Veterinária, UFF, Niterói/RJ.
3. Pós-doutoranda do Progr de Pós-Graduação em Med Vet (Clínica e Reprodução Animal), UFF.
4. Docentes do Depto de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, UFF, Niterói/RJ.

RESUMO: Pesquisas envolvendo bactérias do gênero Helicobacter vêm crescendo e a


infecção já foi identificada em diversas espécies animais. O presente estudo teve como
objetivo analisar os métodos diagnósticos de coloração por fucsina fenicada em
amostras citológicas, e o método Warthin-Starry (WS) para amostras de histopatologia
coletadas da mucosa gástrica de gatos domésticos por endoscopia. Treze animais
foram submetidos à endoscopia para obtenção das amostras gástricas. A pesquisa de
Helicobacter spp foi feita em amostras coradas por fucsina fenicada e pelo exame
histopatológico, corado pelo método WS. Os dois métodos apresentaram resultado
positivo em 100% das amostras. Concluiu-se que estes métodos têm alta sensibilidade
na identificação do gênero Helicobacter em mucosa gástrica de felinos domésticos.
Palavras-chave: endoscopia; estômago; fucsina fenicada; gatos; Warthin-Starry
ABSTRACT: Research involving the genus Helicobacter has been growing and the
infection has been identified in several animal species. The present study aimed to
analyze the diagnostic methods of phenicated fuchsin staining in cytological samples,
and Warthin-Starry technique in histopathology samples collected from gastric mucosa
of domestic cats by endoscopy. Thirteen animals underwent endoscopy to obtain
gastric samples. The detection of Helicobacter spp was performed through direct
bacterioscopic examination in samples stained with phenicated fuchsin and by
histopathology, stained by WS method. The two methods were positive in 100% of
samples. It was concluded that these methods have high sensitivity in identifying the
genus Helicobacter in gastric mucosa of domestic cats
Key words: cats; endoscopy; phenicated fuchsin; stomach; Warthin-Starry
INTRODUÇÃO
Bactérias espiraladas do gênero Helicobacter infectam o estômago de mamíferos
incluindo os gatos (DeNovo, 2003). A infecção em felinos domésticos é de distribuição
mundial, com uma frequência de 90 a 100%. Porém sua patogenicidade não é bem
elucidada, havendo relatos de associação do gênero com inflamação da mucosa
gástrica, hiperplasia de folículos linfoides, degeneração glandular e fibrose da lâmina
própria (Takemura et al, 2009). O objetivo deste trabalho foi analisar os métodos
diagnósticos de coloração por fucsina fenicada em amostras citológicas, e o método
Warthin-Starry (WS) para amostras de histopatologia coletadas da mucosa gástrica de
gatos domésticos por endoscopia, para pesquisa de organismos semelhantes à
Helicobacter.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostras de corpo, fundo e antro do estômago de 13 gatos adultos foram coletadas
separadamente através de endoscopia. Uma escova citológica de endoscopia foi usada
para a coleta de material da mucosa gástrica, por meio de fricção. O esfregaço
confeccionado foi fixado ao ar e corado pela fucsina fenicada. No exame
histopatológico, as amostras coletadas foram fixadas em formol tamponado a 10% e
posteriormente submetidas à técnica de inclusão em parafina, para obtenção de
secções histológicas que foram coradas pelo método de Warthin-Starry.
586
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 214, 2013

RESULTADOS
Todas as amostras das diferentes regiões gástricas, de todos os animais,
apresentaram resultados positivos tanto no exame citológico quanto no histopatológico,
conferindo um resultado de 100% de positividade e 100% de concordância entre os
dois métodos de diagnóstico. No exame citológico puderam ser observadas bactérias
delgadas e espiraladas com coloração rosada. Na coloração por WS, as bactérias
espiraladas se coraram em preto, contrastando com o tecido que adquiriu tonalidade
amarelada e acastanhada.
DISCUSSÃO
Os achados do presente estudo estão de acordo com os resultados obtidos por Araujo
(2002) e Lopes (2010), que observaram alta sensibilidade na histopatologia por WS.
Porém Mello (2005) e Hartman (2012) observaram uma menor sensibilidade desta
técnica quando comparada com imuno-histoquímica. Na avaliação das amostras de
citologia corada por fucsina fenicada, o presente estudo obteve 100% de positividade
conferindo uma alta sensibilidade ao teste. Contudo Araujo (2005), apesar de também
relatar alta sensibilidade para este teste, notou uma superioridade do método de WS
sobre a citologia. Portanto, devido à possibilidade dos testes apresentarem falso-
positivo ou falso-negativo, os resultados só devem ser considerados positivos quando
dois ou mais testes confirmarem a infecção (Mégraud, 1996).
CONCLUSÃO
Neste estudo, pode-se concluir que a coloração com fucsina fenicada para as amostras
de citologia e o método de Warthin-Starry para histopatologia são técnicas eficientes
para o diagnóstico da infecção por organismos semelhantes à Helicobacter em
estômago de felinos domésticos, devendo porém, serem usados em conjunto para um
resultado mais preciso.
Agradecimentos
Agradeço à UFF e à Capes pelo apoio financeiro para realização deste trabalho.
Notas informativas
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) sob
protocolo número 48/2011.
REFERÊNCIAS
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diagnósticos e correlação com os achados histopatológicos na mucosa gástrica. 2002 Niterói,71f
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Medicina Veterinária) – Programa de Pós Graduação em Veterinária – Clínica e Reprodução,
Universidade Federal Fluminense.
MELLO, MFV. Identificação de Helicobacter sp na mucosa gástrica de sagüis (Callithrix sp.), com
avaliação de alterações histopatológicas e de diferentes métodos diagnósticos. 2005 Niterói,100 f Tese
(Doutorado em Medicina Veterinária) – Programa de Pós Graduação em Veterinária – Clínica e
Reprodução, Universidade Federal Fluminense.
TAKEMURA, L.S.; CAMARGO, P.L.; BRACARENSE, A.P.; Detecção e Efeitos de Helicobacter spp. em
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587
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 215, 2013

215. CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DE TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL


NA REGIÃO DE UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS
(Morphological classification of transmissible canine venereal tumor in the
Uberlândia region, Minas Gerais)

Alessandra Aparecida Medeiros, Thaís de Almeida Moreira, Ana Letícia Daher Aprígio,
Marcelo Carrijo da Costa, Nicolle Pereira Soares, Rodrigo Pereira de Queiroz

Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, MG, Faculdade de Medicina Veterinária


(FAMEV) – Laboratório de Patologia Animal. medeirosaavet@yahoo.com.br

RESUMO: Objetivou-se estabelecer a freqüência do tumor venéreo transmissível com


relação à localização corporal e tamanho, além de caracterizá-lo morfologicamente em
plasmocitóide, linfocitóide e misto, analisando a população canina atendida no Hospital
Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia. Exames citológicos de 63 animais
diagnosticados como portadores de TVT foram classificados citomorfologicamente e
avaliados quanto a localização (genital e extragenital) e tamanho (pequeno, médio e
grande) da massa tumoral. O tipo plasmocitóide foi o mais comum (46%), 88,9% dos
cães apresentaram localização genital e 6,3% extragenital. Dos animais com
localização genital, nos machos 80,0% estavam localizados no pênis e nas fêmeas
60,52% na vagina. Quanto ao tamanho, a maioria dos cães apresentou massa tumoral
de tamanho médio e do tipo plasmocitóide. O tipo citomorfológico mais frequente de
TVT foi o plasmocitóide, com localização predominantemente genital e todos os
tumores agrupados como grandes eram do tipo plasmocitóide.
Palavras-chave: cães; citomorfologia; genital; TVT
ABSTRACT: This study aimed to establish the frequency of transmissible canine
venereal tumor in relation to size and location, and classification in lymphocyte-like,
plasma cell-like and lympho-plasmacytoid forms by analyzing canine population
attended at the Veterinary Hospital of the Federal University of Uberlândia. In its
development, slides of 63 dogs diagnosed with TVT were classified based on cell
morphology and evaluated location (genital and extragenital) and size (small, medium
and large) of the tumor mass. The plasma cell-like form was the most common (46%),
88.9% of dogs had genital location and 6.3% extragenital. Approximately 80.0% of
tumors in males had genital localization and were located in penis and in females
60.52% in vagina. As for size, most dogs showed tumor mass with average size and
plasma cell-like form. The most frequent type based on cell morphology was the plasma
cell-like form, with localization predominantly genital and all tumors were grouped as
large were plasma cell-like form.
KEY WORDS: cytomorphology; dogs, genital; TVT
INTRODUÇÃO
O tumor venéreo transmissível (TVT) é designado como tumor proliferativo, com
disseminação usualmente por contato sexual, por meio de transplante direto de células
neoplásicas, principalmente na genitália externa de cães.
A enfermidade é cosmopolita, descrita principalmente em países tropicais e
subtropicais. No Brasil a frequência do TVT é bastante elevada, entretanto existem
poucos trabalhos que mostram estatisticamente sua incidência (Lima et al., 2011).
Embora com menor incidência, são descritos casos de metástase (Batista et al., 2007)
e entre os órgãos estão o baço, fígado (Florentino et al.,2006), linfonodos, rins, pele,
mesentério, esqueleto, cérebro, globo ocular e fossas nasais (Pereira et al.,2000).
Localização extra cutânea é rara, afetando cerca de 1% dos animais (Amaral et al.,
2012). O TVT é classificado conforme sua morfologia celular em plasmocitóide,
linfocitóide e misto, sendo associada maior agressividade aos tumores classificados
como plasmocitóides (Amaral et al.,2004). Com o intuito de estabelecer a freqüência do

588
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 215, 2013

TVT com relação à localização corporal, tamanho e caracterização citomorfológica foi


realizado um estudo de casos analisando a população canina atendida no Hospital
Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram selecionados exames citológicos de 63 animais diagnosticados como portadores
de TVT, no período de janeiro de 2002 a junho de 2013. Foram obtidas informações
referentes à localização, tamanho dos tumores e realizada a tipificação citológica da
neoplasia em plasmocitóide, linfocitóide ou misto conforme Amaral et al. (2007).
Para avaliação do tamanho da massa tumoral, classificou-se os tumores em pequeno
(até 5,0 mm de diâmetro), médio (entre 5,0 mm e 10,0 cm), e grande (maior que 10,0
cm), conforme Fraser (1996). Quanto à localização, esta foi classificada em genital e
extragenital, conforme Amaral et al. (2007).
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Das 63 lâminas de citopatologia de cães com diagnóstico final de TVT, observou-se
que o tipo plasmocitóide foi o mais comum (46%), seguido dos padrões linfocitóide
(42,9%) e misto (11,1%).
Dabus et al. (2008) notaram que entre trinta exames citopatológicos somente 10% das
amostras demonstraram o padrão linfocitóide e 26 exames apresentaram o padrão
plasmocitóide, sendo que um dos exames apresentou 50% de células linfocitóides e
50% plasmocitóides. Já Amaral et al. (2007) verificaram que o padrão plasmocitóide foi
o mais frequente (52.53%), assim como no presente estudo, seguido do misto (29.11%)
e linfocitóide (18.36%).
Quanto à localização, 88,9% apresentaram localização genital, 6,3% apresentaram
localização extragenital, e 4,8% demonstraram ambas as localizações. Dos animais
com localização genital, nos machos 80,0% estavam localizados no pênis e 20,0% no
prepúcio, sendo que nas fêmeas 60,52% tinham massa tumoral limitada à vagina e
39,47% na vulva. Duas fêmeas demonstraram ambas as localizações, sendo uma
delas na vagina e mama, e a outra na vulva e pele. Quando a localização era somente
extragenital foram observadas as localizações anal, ocular e oral.
Amaral et al. (2007) ao avaliarem 132 cães com diagnóstico de TVT notaram maior
incidência deste tumor com localização genital (63,8% dos casos), assim como no
presente estudo.
Quanto ao tamanho, foi observado que 14,3% dos cães apresentaram massa tumoral
de tamanho pequeno, 80,9% de tamanho médio e 4,8% de tamanho grande. Na
avaliação da relação entre o padrão morfológico e o tamanho da neoplasia, verificou-se
que nos tumores pequenos predominou o tipo linfocitóide (77,7%), nos tumores médios
predominou o tipo plasmocitóide (47,0%), seguido do tipo linfocitóide (39,0%), sendo
que os 3 tumores agrupados como grandes (> 10cm) apresentaram padrão
plasmocitóide (100,0%). Na literatura relacionada não há referência à correlação do
tamanho da massa tumoral e tipo citomorfológico do TVT.
CONCLUSÕES
Na região de Uberlândia o tipo citomorfológico mais frequente de TVT foi o
plasmocitóide, que é considerado o tipo mais agressivo, com localização
predominantemente genital. Todos os tumores agrupados como grandes eram do tipo
plasmocitóide e, no nosso conhecimento, não há estudos correlacionando tamanho da
massa tumoral e tipo citomorfológico de TVT, sendo este o primeiro relato desta
associação.

589
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 215, 2013

REFERÊNCIAS
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590
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 216, 2013

216. CLINICAL AND ANATOMO HISTOPATHOLOGIC FINDINGS OF FEMALE


DOGS WITH INFLAMMATORY MAMMARY CARCINOMA
(Achados clínicos e anatomo histopatológicos de cadelas com carcinoma
inflamatório de mama)

Lorena Gabriela Rocha Ribeiro¹; Alessandra Estrela-Lima ²; João Moreira da Costa


Neto² ; Arianne Pontes Oria²; Mário Jorge Melhor Heine D'Assis³; Geovanni Dantas
Cassali4

1. Doutoranda em Patologia, Escola de Veterinária/UFMG;


2. Prof. Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia/UFBA;
3. Médico Veterinário Autônomo, Salvador, Bahia;
4. Prof. Laboratório de Patologia Comparada, ICB/UFMG. alestrela@gmail.com

ABSTRACT: The aim of this study was to provide a detailed clinical, anatomic and
histopathologic description and the possible causes of death of thirty-seven female dogs
with inflammatory mammary carcinoma (IMC). The appearance of IMC had an acute
course with a very low survival and the high-grade anaplastic was the most common
subtypes. The necropsy also revealed that this tumor might be associated with
hemostatic abnormalities. Thus, investigations are necessary to study the possible
factors that determine this type of tumor and associated with hemostatic abnormalities.
Keywords: hemostatic abnormalitie; dog; inflammation; mammary tumor
RESUMO: O objetivo deste estudo foi fornecer uma descrição clínica, anatômica e
histopatológica e as possíveis causas da morte de 37 cadelas com carcinoma mamário
inflamatório (CIM). O aparecimento de CIM foi agudo, com baixa sobrevida e o
carcinoma anaplásico de alto grau foi o subtipo histológico mais frequente. A necropsia
revelou associação do tumor com alterações hemodinâmicas intensas, resultando em
diferentes causas de óbito.
Palavras-chave: anormalidade hemostática; cão; inflamação; tumor mamário
BACKGROUND
IMC in female dogs is the most aggressive and lethal manifestation of primary epithelial
mammary cancer (Susaneck et al., 1983). It is characterized by rapid growing tumor
with diffuse erythema, edema, increase of skin temperature and pain (Peña et al., 2003)
and several histological types of high-grade with extensive tumor cell emboli in the
dermal lymphatics (Pérez-alenza et al., 2001). Paraneoplastic syndromes that progress
with hemostatic abnormalities, such as the disseminated intravascular coagulation (DIC)
have been described in dogs with IMC (Susaneck et al., 1983). In veterinary, there are
few studies that report the post mortem changes in patients with IMC, but all is
restricted to only determine the presence or absence of metastasis and the organs
affected (Peña et al., 2003, Clemente et al., 2009). In this context, the aim of the
present study was to provide a detailed clinical, anatomic and histopathologic
description and probable causes of death in dogs with IMC.
MATERIAL AND METHODS
Thirty-seven female dogs clinically diagnosed with IMC were retrospectively selected
over a period of 5 years (2006 - 2011). Only in 26 animals have information about
microscopic features and necropsy was conducted in 14 cases. All histopathologic
samples (mammary tumors that included skin and subcutaneous tissues; regional
lymph nodes and internal organs) were reevaluated. Clinical pathological parameters,
including tumor size, histological grade, inflammation distribution and intensity were
used. The histological grade was established according to Elston and Ellis (1991).
RESULTS AND DISCUSSION
IMC is an unusual tumor, despite the increase of cases in the last decade (Clemente et
al 2009). In the Veterinary Hospital (UFBA), were diagnosed eight female dogs with
IMC. All animals had diffuse involvement of multiple glands with mammary tumors
591
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 216, 2013

firmness, warmth, thickening and pain. In the female dogs reported here, history and
clinical findings of IMC were similar to those in previous reports (Susaneck et al., 1983;
Pérez-alenza et al., 2001). It is well known that IMC is not constituted by a specific
histologic subtype (Cassali et al., 2011). Apparently, anaplastic carcinoma and ductal
carcinoma have been associated with inflammatory breast cancer (IBC) in woman
(Rosen, 2008). In this histological data review included anaplastic (n=16), solid (n=6),
tubular-papillary (n=2) and papillary (n=2), and high histological malignant grade (HMG
III) was observed in 22 tumors. Dermal lymphatic invasion had been confirmed in all 26
dogs. Compared with non-inflammatory carcinomas, in IMC the proliferation of
lymphatic endothelial cells are higher. Furthermore, the molecular interactions of
activated lymphatic endothelial cells with tumor cells facilitate entry of IMC into the
lymphatic vessel increased metastasis to lymph nodes (Van Der Auwera et al.,
2005).The intense inflammation was high in 17 tumors and varied from multifocal to
diffuse. Lymphocytes were the predominant cell type followed by plasma cells and
macrophage. According to Peña and colleagues (2003), the inflammatory reaction
associated with IMC, except the ulcerated areas, is not relevant. However, Estrela Lima
and others (2010) comparing non inflammatory mammary carcinomas noted that
intense lymphocytic infiltrate was the only prognostic factor with independent
association with lower survival rates. Undoubtedly, IMC has a high potential of
metastasis and several studies describes the organs most often affected (Peña et al.,
2003; Pérez-alenza et al., 2001; Clemente et al., 2009). In this study we observed that
necropsied patients have metastasis for lymph nodes (14/14), lung (9/14) and skin
(6/14) and other organs. It is important to emphasize that at the time of diagnosis not all
the animals had visible lung metastasis at radiography, however, after the microscopic
evaluation of the lungs, metastasis was observed in all of them. Thus, it is believed that
micrometastasis are already present in all animals during clinical evaluation.
Hemorrhage, congestion and edema were also observed, especially in the four animals
that presented hemostatic abnormalities, confirmed by coagulation tests (prothrombin
and activated partial thromboplastin times were prolonged, thrombocytopenia and
hypofibrinogenemia). Furthermore, fibrin thrombi and emboli in the microcirculation
were present in various organs. It is believed that due to the high metastatic potential of
CIM, during the migratory route, the neoplastic cells can cause endothelial injury and
induce release of tissue factors which together with thromboplastin, secreted by the
tumor mass, promote the activation of the coagulation cascade, with consequent
formation of fibrin tromb in the microcirculation, secondary vascular stasis, as well as
activation of the fibrinolytic system, consumptive coagulopathy and bleeding diathesis
(Stockhaus et al., 1999). Furthermore, lesions in endothelial cells may occur, directly or
indirectly by the interaction of tumor cells with monocytes which express tissue factor in
its membrane or polymorphonuclear leukocytes which release proteases and oxygen
free radicals, promoting hypercoagulability. Some authors believe that there is a fibrin
feedback system where the formed thrombi may serve as a transporter of tumor cells,
enabling metastasis and new thrombus formation (Marinho et al., 2008).
CONCLUSION
Thus, we conclude that also several anatomical and pathological findings can be seen
at necropsy of these patients, which is a result of different causes of death. However
further investigations are necessary to determine the possible factors that leads to the
development of each injury pattern.

592
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 216, 2013

REFERENCES
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7642, 2005.

593
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 217, 2013

217. Cryptococcus sp. INTESTINAL EM UM EXEMPLAR DE Chinchilla lanigera


(CHINCHILA)
(Intestinal Cryptococcus sp. in a Chinchilla lanigera (chinchila))

Kamila Alcalá Gonçalves¹, Yara de Oliveira Brandão¹, Aline Luiza Konell², Renato Silva
de Sousa¹

1. Laboratório de Patologia Animal, Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná - Curitiba.


2. Clínica Médica e cirúrgica de Animais Silvestres, Hospital Veterinário UFPR

RESUMO: A criptococose é uma micose profunda subaguda a crônica, potencialmente


fatal, que acomete mamíferos domésticos, animais silvestres e seres humanos
(Queiroz et al., 2008). É causada pela levedura do gênero Cryptococcus, um patógeno
oportunista, que se apresenta de forma cosmopolita e que possui tropismo pelo
sistema nervoso central (SNC), globo ocular, linfonodos e pele (Marcasso et al., 2005).
Neste trabalho, relata-se a infecção natural pelo fungo Cryptococcus sp. em um
exemplar de Chinchilla lanigera, atendido no Hospital Veterinário da Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, com histórico de inapetência e diminuição da motilidade
intestinal. O diagnóstico foi realizado pela histopatologia dos fragmentos de ceco
encaminhados, evidenciando um quadro de tiflite piogranulomatosa, acentuada,
causada pela presença deste agente, justificando os sinais clínicos do paciente. A
infecção por este fungo, nunca foi relatada em chinchilas, até onde sabemos e a
infecção gastrointestinal é incomum de ocorrer em animais e humanos (Juan-Salk et
al., 2003).
Palavras chave: tiflite granulomatosa; fungo; animais silvestres
ABSTRACT: Cryptococcosis is a systemic, subacute to chronic mycosis, potentially
fatal, affecting domestic and wild mammals, and humans (Queiroz et al., 2008).It is
caused by the yeast belonging to the genus Cryptococcus, an opportunistic and
ubiquitous pathogen that has tropism for the central nervous system (CNS), eye, lymph
nodes and skin (Marcasso et al., 2005). In this study, we report a Cryptococcus sp.
natural infection in the Chinchilla lanigera. The animal was attended at the Veterinary
Hospital, Federal University of Paraná, Curitiba with a history of poor appetite and
decreased bowel motility. The diagnosis was made by histopathologic evaluation of
cecum sections which had pyogranulomatous, typhilitis with intralesional yeasts.
Infection by this fungus has never been reported in chinchillas, as long as we know and
the gastrointestinal infection is an uncommon site of lesion in animals and humans
(Juan-Salk et al., 2003).
Key word: granulomatous typhlitis; fungi; wild animals
INTRODUÇÃO
A criptococose é uma micose profunda subaguda a crônica, sem predisposição racial
ou por sexo, potencialmente fatal, que acomete mamíferos domésticos, animais
silvestres e seres humanos (Queiroz et al., 2008). É causada pela levedura do gênero
Cryptococcus neoformans, um patógeno oportunista, que se apresenta de forma
cosmopolita, sendo isolado de frutas, da mucosa oronasal, da pele de animais e
pessoas saudáveis e do solo, principalmente dos ricos em excretas de aves,
particularmente de pombos, onde pode permanecer viável por mais 2 anos (Marcasso
et al., 2005).
Pode ser subdividido em três variedades e cinco subtipos: C. neoformans var. grubii
(sorotipo A), C. neoformans var. neoformans (sorotipos D e AD) e C. neoformans var.
gattii (sorotipos B e C), sendo que apenas diferem quanto ao habitat, apresentação
clínica e características epidemiológicas (Juliano et al., 2006).
A forma da infecção ainda não está bem determinada, porém acredita-se que ocorra
pela inalação de esporos presente em poeiras contaminadas, levando à infecção do

594
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 217, 2013

sistema respiratório e disseminando via hematógena e linfática para os demais órgãos.


De acordo com (Marcasso et al., 2005) a transmissão transcutânea é relatada em cães.
O fungo possui um acentuado tropismo pelo sistema nervoso central (SNC), globo
ocular, linfonodos e pele (Marcasso et al., 2005).
O quadro clínico e a disseminação da doença estão diretamente relacionados com a
imunidade do hospedeiro (Juliano et al., 2006).
O diagnóstico pode ser realizado através da cultura de líquido cefalorraquidiano) e pela
avaliação histopatológica dos tecidos (Martins et al., 2008).
O objetivo deste trabalho é relatar um caso de infecção natural por Cryptococcus sp.
em um exemplar de Chinchilla lanígera.
RELATO DE CASO
Um exemplar de Chinchilla lanigera (chinchila), adulto, macho foi atendido no Hospital
Veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba. O animal tinha
histórico de inapetência e diminuição da motilidade intestinal. Verificou-se que o
abdômen estava moderadamente distendido e que havia dor à palpação. Após o
tratamento sem êxito, optou-se por cirurgia de emergência, com diagnóstico
ultrassonográfico de enterite, com espessamento de alça e ruptura.
Durante o procedimento cirúrgico foram coletados fragmentos do ceco para avaliação
histopatológica, todavia, no pós-cirúrgico o paciente morreu e a realização da necropsia
não foi autorizada pelo proprietário.
Dois fragmentos do ceco, medindo 3 x 1cm e 4 x 1cm foram recebidos para avaliação
histopatológica no Laboratório de Patologia Veterinária da UFPR. Macroscopicamente
estes fragmentos eram brancos, evidenciando focos de coloração vermelha. À
avaliação histopatológica observou-se moderado a acentuado infiltrado inflamatório
linfoplasmocitário, acompanhado por moderado número de neutrófilos e menor número
de células epitelióides, infiltrando e expandindo a mucosa, muscular, serosa e tecido
adiposo adjacente à serosa. Em meio à inflamação havia um acentuado número de
estruturas arredondadas levemente eosinofílicas (3 a 7μm de diâmetro) circundadas
por um halo levemente basofílico e amorfo ou opticamente vazio, compatíveis com
Cryptococcus sp. (tiflite piogranulomatosa transmural, moderada a acentuada,
associada a inúmeros organismos fúngicos intralesionais).
MATERIAIS E MÉTODOS
Os fragmentos de intestino recebidos foram fixados em formol 10% tamponado por 24-
48 horas, sendo processados rotineiramente, embebidos em parafina histológica,
seccionados a 5μm e corados com H&E (hematoxilina e eosina), ácido periódico de
Schiff (PAS) e metanamina Gomori de prata (GMS).
DISCUSSÃO E RESULTADOS
Chinchilas (Chinchilla lanigera) são mamíferos histricomorfos pertencentes à ordem
Rodentia e família Chinchillidae, nativas dos Andes. Poucos estudos sobre as suas
enfermidades são encontrados na literatura (Lucena et al.,2012).
Embora a criptococose afete a maioria das espécies de animais (domésticos e
selvagens), os cães e os gatos são mais suscetíveis e demonstram sinais clínicos mais
característicos (Juliano et al., 2006).
Neste estudo, o Cryptococcus sp. foi o agente etiológico responsável pelas alterações
observadas no intestino, justificando os sinais clínicos apresentados pelo animal,
apesar de relatos evidenciando seu tropismo pelo sistema nervoso central (SNC), globo
ocular, linfonodos e pele (Marcasso et al., 2005). Todavia, a infecção natural deste
fungo em chinchilas nunca foi relatada, até onde sabemos. A confirmação deste fungo
nos demais órgãos só poderia ocorrer através da realização da necropsia, que não foi
autorizada. Desta forma não foi possível estabelecer o foco primário da infecção,
porém, em função dos sinais clínicos apresentados, acredita-se que a doença pode ter
começado no trato gastrointestinal, sendo considerado, em alguns relatos, como a
porta de entrada principal para este organismo (Van Der Gaag, 1991). Apesar disto, a
595
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 217, 2013

infecção gastrointestinal é incomum de ocorrer em animais e seres humanos (Juan-


Salk et al., 2003).
Segundo Lucena et al. (2012), as doenças que mais acometem chinchilas são as de
origem inflamatória destacando–se, dentre elas, as de origem infecciosa,
principalmente as causadas por bactéria. Em um estudo realizado, Lucena et al. (2012)
observou gastrite moderada a acentuada como principal lesão em um grande número
de chinchilas com sinais clínicos semelhantes aos observados na infecção intestinal
por Cryptococcus sp., neste caso. Portanto, em casos de envolvimento gastrintestinal
em chinchilas, a infecção por este fungo deve ser considerada no diagnóstico
diferencial.
CONCLUSÃO
Este é o primeiro relato de criptococose intestinal em chinchilas e estudos adicionais
sobre sua patogênese são necessários.
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4, 1991.

596
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 218, 2013

218. CYTOKINE PROFILE IN SERUM OF FEMALE DOGS WITH MAMMARY


CARCINOMA AND ITS ASSOCIATION WITH CLINICAL AND PATHOLOGICAL
FEATURES
(Avaliação do perfil sérico de citocinas e sua associação com achados clínicos e
patológicos em cadelas com carcinoma mamário)

Alessandra Estrela-Lima¹ ³ Márcio Sobreira Araujo² ;Rodrigo Pedro Pinto Soares²;


Andréa Teixeira-Carvalho²; Olindo Assis Martins- Filho²; Geovanni Dantas Cassali³

1. Profa. Escola de Medicina Veterinária/UFBA;


2.Laboratório de Biomarcadores de Diagnóstico e Monitoração - Rene Rachou/FIOCRUZ-MG;
3. Laboratório de Patologia Comparada, ICB/UFMG. alestrela@gmail.com

ABSTRACT: The chemokine/cytokine profile was evaluated as putative biomarkers to


monitor canine mammary carcinomas. Forty female dogs were categorized in two
histologic groups. The cytokine levels varied according to the group and the presence of
metastasis.
Key words: immune system; survival; prognostic factor
RESUMO: Foi avaliado o perfil de quimiocinas/citocina, como possível biomarcador na
monitoração de carcinomas mamários caninos. Quarenta fêmeas foram subdivididas
em dois grupos de acordo com o tipo histológico do tumor. Os níveis de citocinas
variaram de acordo com o grupo e a presença de metástases.
Palavras-chave: sistema imune; sobrevida; marcador prognóstico
INTRODUCTION
In tumor development, cytokines functions are complex. Some (IL-1, IL-6, IL-11, TGF-P)
stimulate while others (IL-12, IL-18, IFNs) inhibit breast cancer proliferation and/or
invasion. Similarly, high circulating levels of some cytokines seem to be favorable
(soluble IL-2R) while others are unfavorable (IL-1P, IL-6, IL-8, IL-10, IL-18, gp130)
prognostic indicators (Nicoline et al, 2006). High cytokine levels in primary breast
cancers and in the circulation of affected patients have been associated with poor
outcome (Gilbert and Slingerland 2013). In dogs, mammary cancer is among the most
prevalent of tumors frequently resulting in death due to metastatic disease. Recently,
Gelaleti and colleagues 2012 show that IL-8 can be employed as a non-invasive
prognostic marker during follow-up in female dogs bearing mammary gland cancer,
being useful in predicting disease progression and tumor recurrence. Thus, the aim of
this study was to investigate the links between cancer and serum levels of cytokines in
female dogs with mammary carcinoma, and to verify their correlation with clinic-
pathological parameters and clinical evolution, aiming at determining its prognostic
value.
MATERIAL AND METHODS
Fifty purebreds or mixed-breed female dogs with age ranging from of 8-18 years were
selected for this study, including 40 dogs with mammary carcinomas and 10 healthy
controls, admitted at the Veterinarian Hospital of the Universidade Federal da Bahia
(UFBA). The animals with mammary tumor > 3cm in size were selected and submitted
to mastectomy. Following histopathological analysis the animals were subdivided into
two groups referred as: i) carcinoma in benign mixed tumors (MC-BMT, n = 29) and ii)
mammary carcinoma (MC, n = 20). Further histological analyses of inguinal and
axillaries lymph node were used to categorize MC-BMT and MC into two subgroups
referred as: i) (-) without lymph node metastasis, including clinical stage II-III [MC-BMT
(-), n = 17; MC (-), n = 10] and ii) (+) with lymph node metastasis, including clinical
stage IV-V [MC-BMT (+), n = 12; MC (+), n = 10]. These animals were submitted to
quarterly follow-ups during twelve months, including systematic clinical evaluation,
radiological examinations along with biochemical and hematological analysis. Blood
samples constituted of 5mL of peripheral blood using EDTA as the anticoagulant (final
597
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 218, 2013

concentration of 1 mg/mL). The blood samples were centrifuged at 800 rpm for 30 min
at 4°C, followed by 10 min at 3000 rpm. The sera was collected and stored at) -80°C
until analysis. A Milliplex MAP Canine specific kit was purchased. The following
chemokine/cytokines were assayed (IP-10, IL-2, IL-4, IL-6, IL-8, IL-10, IL-15, IL-18, IFN-
y and TNF-a). Plates were read on a FACScan Luminex 100 (Luminex Corporation,
Austin, TX). The cytokine profile was first assessed to identify low and high cytokine
producers, as previously suggested (Luiza-Silva et al, 2011). Briefly, after the
establishment of the global median of cytokine levels/control index, each cytokine from
all animals was tagged as they display low (white) or high proinflammatory (black)
indexes. The percentage of animals showing high cytokine indexes was calculated for
each chemokine/cytokine type. The ascendant frequency of high cytokine indexes was
then used as the reference cytokine curves to identify changes in the overall cytokine
patterns from all other groups. Statistical analysis was performed using the GraphPad
Prism 5.0 software package (San Diego, CA, USA).
RESULTS AND DISCUSSION
In order to improve our understanding of the immunological heterogeneity of canine
mammary carcinoma, it was determined the cut-off scores among the clinically different
groups. In our study, we have observed a distinct chemokine/cytokine profile depending
on the group, where higher levels of IL-10 and IL-18 were observed in more than 50%
of the control dogs. In the MC-BMT group, a higher frequency of animals producing IL-
6, IL-8 and IP-10 was observed, whereas for the MC group IL-2 and were detected. It
was observed a higher frequency of IL-8 producers in both MC-BMT and MC groups.
This data is consistent with our previous results showing a high lymphocytic infiltrate
observed in the canine mammary carcinomas. Our data also indicated an increase in IL-
6 in the MC-BMT and this may result in a better prognosis compared to the MC group.
On the other hand, IL-2, considered an antitumor agent, (Nicoline et al, 2006) its levels
were higher in the MC group, thus representing a worse prognosis. In order to observe
if the type of cytokine could be associated with metastasis in either MC-BMT or MC
dogs, the levels of seric cytokines were compared. A distinct profile was observed in the
dogs with metastasis in both groups. It is interesting to notice that IL-10 levels were
increased in both groups with metastasis. However, the effects of IL-10 are dramatically
opposed to those of IL-6, as IL-10 is immunosuppressive and anti-inflammatory (Pestka
et al, 2004). IL-10 inhibits NF-kB activation through ill- defined mechanisms (Schottelius
et al, 1999; Hoentjen et al, 2005) and consequently inhibits the production of
proinflammatory cytokines, including TNF-a, IL-6, and IL-12 (Moore et al, 2001). One
mechanism by which IL-10 inhibits tumor growth was suggested to depend on down-
regulation of MHC class I expression, leading to enhanced NK cell-mediated tumor cell
lysis (Kundu and Fulton 1997). We have also observed a higher percentage of MC dogs
expressing higher levels of IL-10, suggesting a possible non-protective anti-tumoral role
for this cytokine. Previous studies have demonstrated that a higher percentage of NK-
cells in MC-BMT were correlated to a better prognosis. However, the lower expression
of MCHI and MCHII was observed in the MC group with worse prognosis (Estrela-Lima
et al, 2011). The evaluation of performance indexes for IL-10 seric levels and survival
showed co-positivity (sensitivity) of 73%, co-negativity (specificity) of 89%. The data
analysis showed that IL-10 expression (>15 MFI) is a parameter highly specific,
indicating its ability to detect in female dogs with mammary tumors histologically
classified as MC whose disease will progress to the death of an animal.
CONCLUSION
This work defines a potential prognostic marker for routine use in the clinic. Our data
showed a different cytokine profile depending on the type of canine mammary
carcinoma (MC-BMT or MC) and also a possible involvement of IL-10 in a worse
prognosis for this disease.

598
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 218, 2013

REFERÊNCIAS
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GELALETI, G.B.; JARDIM, B.V.; LEONEL, C. et al., ―Interleukin-8 as a prognostic sérum marker in canine
mammary gland neoplasias,‖ Veterinary Immunology and Immunopathology, vol. 146, no. 2, p. 106-112,
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GILBERT, C.A. AND SLINGERLAND, J.M. ―Cytokines, Obesity, and Cancer: New Insights on
Mechanisms Linking Obesity to Cancer Risk and Progression,‖ Annual Review of Medicine, vol. 64, 2013.
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LUIZA-SILVA, M.; CAMPI-AZEVEDO, A.C.; BATISTA, M.A. et al., ―Cytokine signatures of innate and
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MOORE, K.W.; WAAL MALEFYT, R.; COFFMAN, R.L. et al. ―Interleukin-10 and the interleukin-10
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NICOLINI, A.; CARPI, A. AND ROSSI, G. ―Cytokines in breast cancer,‖ Cytokine & Growth Factor
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PESTKA, S.; KRAUSE, C.D.; SARKAR, D. et al. ―Interleukin-10 and related cytokines and receptors,‖
Annual Review of Immunology, vol. 22, p. 929-979, 2004.
SCHOTTELIUS, A.J.; MAYO, M.W.; SARTOR, R.B. et al. ―Interleukin-10 signaling blocks inhibitor of
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no. 45, p. 31868-31874, 1999.

599
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 219, 2013

219. DERMATITE GRANULOMATOSA XANTOMATOSA EM UM CANINO:


RELATO DE CASO
(Xanthomatous granulomatous dermatitis in a canine: case report)

Fernanda C. Nunes; Conrado de O. Gamba; Cecília B. de Campos; Lidiane N.


Monteiro; Enio Ferreira; Geovanni D. Cassali

Laboratório de Patologia Comparada, Depto. de Patologia Geral, ICB/UFMG - Belo Horizonte, MG,
cassalig@icb.ufmg.br

RESUMO: Dermatite granulomatosa xantomatosa é um processo inflamatório


caracterizado por formações únicas ou multinodulares contendo macrófagos
carregados de lipoproteína. O objetivo deste estudo é descrever os achados
histopatológicos de uma lesão cutânea localizada na região lateral do abdômen de um
canino cujo diagnóstico histopatológico foi de dermatite granulomatosa xantomatosa
(DGX). Cortes histológicos foram corados pela Hematoxilina- Eosina e avaliados por
microscopia de luz. Histologicamente observaram-se formações nodulares multifocais
na derme superficial e profunda apresentando glóbulos de gordura associados a
macrófagos com vários vacúolos intracitoplasmáticos. As lesões apresentavam na
periferia células gigantes multinucleadas com citoplasma periférico espumoso,
linfócitos, plasmócitos e vasos sanguíneos. Com base nos achados histopatológicos foi
estabelecido o diagnóstico de DGX.
Palavras-chave: macrófagos; pele; processo inflamatório
ABSTRAT: Xanthomatous granulomatous dermatitis is an inflammatory process
characterized by single or multinodular formations containing macrophages laden
lipoproteins. The aim of this study is to describe the histopathological findings of a skin
lesion located in the lateral region of the abdomen of a canine histopathological
diagnosis of granulomatous dermatitis xanthomatous (DGX). Histological sections were
stained with hematoxylin-eosin and evaluated by light microscopy. Histologically was
observed multifocal nodular formations located in the superficial and deep dermis
presenting fat globules associated macrophages with multiple intracytoplasmic
vacuoles. The lesions in the periphery giant cells with foamy cytoplasm peripheral
lymphocytes, plasma cells and blood vessels. Based on the histopathological findings
was established the diagnosis of the DGX.
Key-words: macrophages; skin; inflammatory process
INTRODUÇÃO
Os xantomas são lesões, raramente observadas em caninos, que se originam da
infiltração e da deposição de lipoproteínas nos tecidos, em um processo que pode ser
secundário a níveis elevados de lipídios no plasma (Gross, 2005). Dermatite
granulomatosa xantomatosa é um processo inflamatório caracterizado por lesões
amareladas na pele ou na derme, acompanhadas ou não de doença sistêmica (Kantor,
2002). Caracterizam-se por formações únicas ou multinodulares contendo macrófagos
carregados de lipoproteína. Clinicamente essas lesões são assintomáticas e podem
formar placas ou pápulas dérmicas (Jubb, 2007).
Na análise anatomopatológica as lesões xantomatosas geralmente apresentam-se
como nódulos ou placas amarelas na pele. Macrófagos contendo lipídios são
observados de forma difusa ao longo da derme, formando granulomas, muitas vezes
associados com fendas de colesterol. Dentre os diagnósticos diferenciais desta lesão
pode-se incluir outros granulomas não infecciosos e infecciosos, além de neoplasias.
Desta forma, o objetivo do presente estudo é descrever os achados histopatológicos de
um caso de dermatite granulomatosa xantomatosa em um canino.
MATERIAL E MÉTODOS
Um canino, fêmea, raça poodle com 10 anos de idade, foi atendido em uma clínica
veterinária particular na cidade de Belo Horizonte com uma lesão cutânea localizada
600
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 219, 2013

região lateral do abdômen. A massa foi removida cirurgicamente e fixada em solução


de formol tamponado a 10% e encaminhada ao Laboratório de Patologia Comparada
da Universidade Federal de Minas Gerais para realização de exame histopatológico.
Os cortes histológicos foram corados pela Hematoxilina-Eosina e avaliados por
microscopia de luz.
RESULTADOS
Macroscopicamente visualizou-se fragmento de pele pilosa medindo 6,0 x 5,0 cm
apresentando nódulo de aproximadamente 2,0 cm de diâmetro localizado no
subcutâneo, de consistência firme, superfície lisa e ulcerado. Ao corte, foi observado
massa sólida não delimitada, de coloração brancoamarelada, apresentando cavidade
cística contendo material gelatinoso translúcido. Histopatologicamente observaram-se
múltiplas formações nodulares multifocais localizadas na derme superficial e profunda.
Estas formações apresentavam na região central glóbulos de gordura associados a
macrófagos com múltiplos vacúolos intracitoplasmáticos. As lesões nodulares
geralmente apresentavam-se associadas a vasos sanguíneos e revelavam em sua
periferia células gigantes multinucleadas com citoplasma periférico espumoso (célula
gigante de Touton), linfócitos e plasmócitos. Na derme profunda, áreas de necrose
foram observadas. Com base nesses achados histopatológicos foi estabelecido o
diagnóstico de dermatite granulomatosa xantomatosa.
DISCUSSÃO
Lesões xantomatosas granulomatosas ocorrem mais frequentemente em gatos e
raramente em cães (Jubb, 2007). Na espécie canina estas lesões têm sido descritas no
intestino delgado, tecido cutâneo e na mucosa do trato digestivo (Romanucci et al.,
2008; Balme et al., 2009; Banajee et al., 2011). No presente estudo descreveu-se uma
lesão xantomatosa granulomatosa localizada na pele da região abdominal de um
canino.
Neste relato os achados histopatológicos foram semelhantes ao que é observado para
lesões xantomatosas em caninos na literatura (Romanucci et al., 2008; Balme et al.,
2009; Banajee et al., 2011). Histopatologicamente foram observados inúmeros
agregados de macrófagos associados à glóbulos de gordura e vasos sanguíneos.
Também foram evidenciadas células gigantes de Touton que consistem em um subtipo
de células gigantes multinucleadas que estão diretamente relacionados com
inflamações granulomatosas envolvendo grande quantidade de lipídeos (Jones, 2000).
Lesões xantomatosas podem estar relacionadas com anormalidades do metabolismo
de triglicerídeos ou colesterol. Xantomas cutâneos têm sido relatados em cães com
diabetes mellitus, com hipertrigliceridemia e dieta rica em colesterol (Chastain &
Graham, 1978). Desta forma, especula-se que no presente caso o surgimento da
dermatite granulomatosa xantomatosa poderia estar associado a desordens
metabólicas.
CONCLUSÃO
Com base nos achados histopatológicos foi possível estabelecer o diagnóstico de
dermatite granulomatosa xantomatosa. Exames complementares para avaliar a
presença de desordens metabólicas podem auxiliar no estabelecimento da sua
etiopatogenia.

601
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 219, 2013

REFERÊNCIAS
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human verruciform xanthoma. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v.21, p.124–128,2009.
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CHASTAIN, C.B.; GRAHAM, C.L. Xanthomatosis secondary to diabetes mellitus in a dog. Journal
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GROSS, T.L.; LHRKE, P.J.; WALDER, E. J.; AFFOLTER, V.K. Noninfectious nodular and diffuse
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Mansell, J.E.K.L.; Rakich, P. M; Pathology of
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ROMANUCCI, M.; MALATESTA, D.P.; GUARDIANI, P.F.; DELLA, L.S. Xanthogranulomatous
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602
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 220, 2013

220. DERMATITE NECROLÍTICA SUPERFICIAL EM CÃES, RELATO DE 20 CASOS


(2009-2013)
(Superficial Necrolytic Dermatitis in Dogs, Description of 20 Cases (2009-2013))

Alexandre A. Arenales Torres¹; Joanne Mansell²; Aline Rodrigues Hoffmann²

1. Universidade Estadual Paulista; Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba.


2. Dermatopathology Specialty Service, Department of Veterinary Pathobiology, College of Veterinary
Medicine, Texas A&M University, College Station, TX, USA.

RESUMO: Dermatite necrolítica superficial (SND), é uma doença incomum em cães e


está associada distúrbios metabólicos sistêmicos e administração prolongada de
fenobarbital. Este relato descreve alterações clínicas e microscópicas de 20 casos de
SND em cães. Houve predisposição nas raças: West Highland White Terrier, Shetland
Sheepdog e Cocker Spaniel, principalmente machos e média de idade de 9,6 anos. Os
locais mais afetados foram: coxins, junção muco cutânea e plano nasal. Os sinais mais
comuns foram espessamento e crostas nos coxins. Histologicamente, todos os casos
apresentaram hiperqueratose paraqueratótica, edema intra/extracelular de
queratinócitos no estrato espinhoso, hiperplasia das células basais e dermatite
superficial. Os casos do presente relato estão compatíveis com os descritos na
literatura.
Palvras-chave: coxins; dermatite necrolítica superficial; paraqueratose; síndrome
hepatocutânea
ABSTRACT: Superficial necrolytic dermatitis (SND), is an uncommon disease in dogs,
associated with systemic metabolic disorders and prolonged administration of
phenobarbital. This study describes clinical and microscopic alterations of 20 cases of
SND in dogs. Were predisposed breeds: West Highland White Terrier, Shetland
Sheepdog and Cocker Spaniel, mainly male dogs and mean age for was 9.6 years. The
main affected areas were the pawpads, mucocutaneous junctions, and nasal planum.
The most commum clinical signs were thickening and crusting of pawpads.
Histologically, all cases had a parakeratotic hyperkeratosis, extra/intracellular edema of
keratinocytes in the stratum spinosum, basal cell hyperplasia and superficial dermatitis.
The cases described in this report are similar to those previously described in the
literature.
Key words: footpads; hepatocutaneous syndrome; parakeratosis; superficial necrolytic
dermatitis
INTRODUÇÃO
Dermatite necrolítica superficial (SND), ou síndrome hepatocutânea, é uma doença
cutânea erosiva multifocal incomum em cães que ocorre devido a distúrbios
metabólicos sistêmicos, frequentemente devido a hepatopatia vacuolar difusa, de
origem desconhecida, administração prolongada de fenobarbital, e ocasionalmente,
neoplasias pancreáticas produtoras de glucagon (MARCH et al, 2004; OUTERBRIDGE
et al, 2002; OUTERBRIDGE, 2013). As raças West Highland White Terrier, Shetland
Sheepdog e Cocker Spaniel, com idade média de 10 anos, e machos são predispostos
a desenvolver lesões de SND (GROSS et al, 1993; OUTERBRIDGE et al, 2002;
OUTERBRIDGE, 2013). As lesões se iniciam como áreas eritematosas, evoluem para
pápulas, erosões exsudativas, hiperqueratose e formação de crostas em áreas de
pressão, como os coxins, cotovelos e bolsa escrotal, além de junções muco cutâneas,
perioculares, perioral e genital (MARCH et al, 2004; OUTERBRIDGE, 2013). Outras
alterações são: claudicação, inapetência, perda de peso, hipoaminocidemia, diabetes e
infecções secundárias (GROSS et al, 1993; MARCH et al, 2004; OUTERBRIDGE,
2013). O diagnóstico da SND é feito por biópsia das áreas afetadas, no qual evidencia-
se microscopicamente um padrão característico vermelho, branco e azul (semelhante a

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 220, 2013

bandeira da França) formado por hiperqueratose paraqueratótica, edema intracelular


da epiderme e hiperplasia de células basais (GROSS et al, 1993). O prognóstico é
reservado, dependendo da lesão inicial responsável pelo desenvolvimento das lesões
de SND, com sobrevida de 6 meses, podendo estender-se a 1 ano com suporte
nutricional de proteínas e aminoácidos (MARCH et al, 2004; OUTERBRIDGE, 2013).
Este trabalho tem o objetivo descrever uma série de 20 casos de SND.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram utilizados 20 casos de cães com dermatite necrolítica superficial, diagnosticados
pelo serviço especializado de dermatopatologia da Texas A&M University, entre os
anos de 2009 e 2013, levando em consideração as lesões clínicas e principais achados
histopatológicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os 20 casos avaliados, as raças afetadas foram: Shetland Sheepdog (n=3),
West Highland White Terrier (n=2) Cocker Spaniel (n=2), Rat Terrier (n=1), Heeler
(n=1), Brittany Spaniel (n=1), Pappilon (n=1), Yorkshire Terrier (n=1) e cães de raças
mistas (n=8). Semelhante a outros estudos, (OUTERBRIDGE et al, 2002)
predisposição para as raças Shetland Sheepdog, West Highland White Terrier e Cocker
Spaniel, também foram encontradas no presente relato, embora cães sem raça definida
tenham sido os mais afetados neste estudo.
Dos 20 cães avaliados, 12 eram machos (9 castrados) e 8 fêmeas (7 castradas), numa
proporção macho:femea de 1,5. As idades variavam de 4 a 14 anos, sendo a média de
9,6 anos. Dados semelhantes são descritos na literatura onde há maior representação
de machos e média de idade próxima de 10 anos (GROSS et al, 1993; OUTERBRIDGE
et al, 2002). De acordo com a descrição encaminhada pelos clínicos, as regiões mais
afetadas foram: todos os coxins (n=18), juncão mucocutânea oral (n=7), plano nasal
(n=5), região periocular (n=2) prepúcio (n=3), região perivulvar/vulva (n=3) e região
perianal (n=3). Outras regiões infrequentemente afetadas incluíam o abdômen, região
periauricular, língua e pontos de pressão como a região do cotovelo. Os sinais clínicos
observados incluíram inflamação da pele (n=18), caracterizado por eritema e
exsudação, seguido por formação de crostas (n=12) e úlceras (n=7), espessamento
(n=12) e rachaduras (n=2) dos coxins, além de dor ao caminhar (n=3),
hiperpigmentação (n=4) principalmente afetando a região genital, alopecia (n=2),
prurido (n=1), e pústulas (n=1).
A marioria dos cães haviam sido previamente tratados com antibióticos, sem resposta
ao tratamento. Em 6 casos foram observadas aumento de enzimas hepáticas, 3 com
alterações no pradrão hepático ultrassonográfico e em apenas um caso foi relatada
administração prolongada de fenobarbital.
Histologicamente, todos os casos (n=20) apresentaram hiperqueratose paraqueratótica
acentuada formando uma faixa eosinofílica, frequentemente associada a crostas
serocelulares (n=12), com áreas multifocais de erosão (n=2) e em apenas um caso
com pústulas intracorneais. Todos os casos apresentaram hiperplasia das células da
camada basal formando uma faixa de coloração basofílica e, ocasionalmente, com
formação de ―rete pegs” (n=3). No estrato espinhoso da epiderme, todos os casos
apresentaram uma lâmina esbranquiçada, composta por queratinócitos apresentando
edema intracelular, associado a edema extracelular, ocasionalmente com distribuição
multifocal (n=6), e também associado a queratinócitos necróticos (n=6) ou em apoptose
(n=3). Embora não inclusos neste trabalho, foram encontrados três casos sem a
visualização da lâmina esbranquiçada no estrato espinho. Em casos como estes
embora não seja possível confirmar o diagnóstico, o quadro clínico e as lesões devem
ser considerados e a SND deve ser incluída no diagnóstico diferencial e dependendo
da distribuição das lesões, outros diagnósticos diferenciais caracterizados por
hiperqueratose paraqueratótica e hiperplasia da epiderme, como deficiência de zinco.
Infecções secundárias foram observadas em 9 casos, caracterizados por bactérias
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 220, 2013

cocóides (n=7) e leveduras compatíveis com Malassezia sp. (n=2). Na derme


superficial de todos os casos obsevou-se dermatite difusa de intensidade moderada,
composto por linfócitos, plasmócitos, macrófagos, mastócitos e neutrófilos. Outros
achados incluíam exocitose de neutrófilos na epiderme (n=4), inflamação nos folículos
pilosos (n=3), incontinência pigmentar (n=3) e hiperplasia de glândulas sebáceas (n=1).
CONCLUSÃO
As alterações clínicas e microscópicas dos 20 casos apresentados neste estudo estão
de acordo com as lesões previamente descritas na literatura (GROSS et al, 1993;
MARCH et al, 2004; OUTERBRIDGE et al, 2002).
REFERÊNCIAS
GROSS, T.R.; SONG, M.D.; HAVEL, P.J.; IHRKE, P.J. Superficial Necrolytic Dermatitis (Necrolytic
Migratory Erythema) in Dogs. Veterinary Pathology, v.30 n.1, p.75-80, 1993.
MARCH, P.A.; HILLIER, A.; WEISBRODE, S.E. et al. Superficial Necrolytic Dermatitis in 11 Dogs with
History of Phenobarbital Administration (1995-2002). Journal of Veterinary internal Medicine, v.18,
p.65-74, 2004.
OUTERBRIDGE, C.A.; MARKS, S.L.; ROGERS, Q.R. Plasma Amino Concentrations in 36 Dogs with
Histologically Confirmed Superficial Necrolytic Dermatitis. Veterinary Dermatology, v.13, p. 177-186,
2002.
OUTERBRIDGE, C.A. Cutaneous Manifestations of Internal Diseases. Veterinary Clinics of North
America: Small Animal Pratice, v.43, p.135-152, 2013.

605
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 221, 2013

221. DISPLASIA FOLICULAR DO PÊLO PRETO EM CANINO


(Hair follicular dysplasia of the black in canine)

Thiago Vaz Lopez¹; Sandro de Vargas Schons²; Márcia Nobre¹; Nayche Tortato Vieira²;
Poliana Souza² e Gisele da Silva Glomba²

1 Universidade Federal de Pelotas/UFPel


2 Universidade Federal de Rondônia/UNIR

RESUMO: Displasia folicular é uma dermatopatia de origem genética que afetam cães
jovens de diversas raças. O diagnostico desta enfermidade é realizado através do
histórico clínico, lesões histopatológicas da pele e exame microscópico dos pêlos. A
displasia folicular é uma alteração patológica rara na clínica medica veterinária de
pequenos animais. Por este motivo este trabalho tem por objetivo relatar um caso de
displasia folicular do pêlo preto em cão da raça Yorkshire. O diagnóstico foi realizado
através dos achados microscópicos da pele associado à ausência de alterações
hormonais, bioquímicos e parasitológicos.
Palavras chaves: alopecia; canino; displasia; folicular; genética
ABSTRACT: Follicular dysplasia is a genetic skin disease affecting young dogs of
various breeds. The diagnosis of this disease is accomplished through the clinical
history, histopathological lesions of the skin and microscopic examination of hair. The
follicular dysplasia is a rare pathological change in clinical small animal veterinary
doctors. Therefore this paper aims to report a case of follicular dysplasia in black fur
dog breed Yorkshire. The diagnosis was made by microscopic findings of the skin
associated with the absence of hormonal, biochemical and parasitological.
Key words: canine, follicular; dysplasia, genetics, melanin
INTRODUÇÃO
Displasia folicular canina é uma dermatopatia rara, hereditária, causada pela desordem
de genes autossômicos recessivos, caracterizada clinicamente por pêlos quebradiços,
mudança da cor dos pêlos e áreas de alopecia. As displasias foliculares podem ser
classificadas em dois tipos; a displasia folicular com diluição da cor (DFDC) e a
displasia folicular do pêlo preto (DFP), também chamada de displasia tardia, entretanto,
as duas formas da displasia são consideradas semelhantes, com variações de
pigmentação e a idade do aparecimento das lesões. Clinicamente, os sinais da DFDC
aparecem a partir da terceira e quarta semana após o nascimento, enquanto, a DFP é
mais tardia, entre três meses a três anos (Carlotti., 1990). A displasia folicular com
diluição da cor tem sido relatado em cães da raça Doberman, Yorkshire Terrier,
Pinscher, Galgo italiano, Great Dane (Carlotti.,1990) Whippet, Saluki, Chow-chow,
Dachshund (Miller.,1990) e a displasia folicular do pêlo preto ocorreu em animais
jovens bicolores ou tricolor das raças Dachshund, Papillon, Saluki, Bearded Collie,
Border Collie, Basset Hound (Dunn et al.,1995) Cocker Spaniel, Pointer, Gordon setter
(Carlotti .,1990).
A causa da alteração folicular ainda não foi totalmente esclarecida, porém são
consideradas duas condições para o aparecimento das lesões, um defeito ectodérmico,
provavelmente causado por uma ou mais mutações no gene MLPH (melanophilin gene)
que codifica a melanofilina, ou, o déficit de MSH (hormônio estimulante da melatonina),
deixando as células da matriz pilosa expostas à toxicidade dos precursores da
melanina. A base genética da DFDC e DEP, bem como, o modo de transmissão
autossômico recessivo foi demonstrada em uma família de Dachshunds e Inheritance
(Dunn et al.,1995). O fato que os dois tipos de displasia folicular tem o mesmo modo de
herança reforça a teórica que ambas tem a mesma etiologia (Carlotti., 1990).
O diagnóstico da distrofia folicular e realizado através da observação dos sinais
clínicos, exame microscópico do pêlo e dos achados histopatológicas da pele. Os
sinais clínicos observados nos cães afetados são pelagem quebradiça, sem brilho,
606
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 221, 2013

seca, com áreas de alopecia ou hipotricose, podendo em casos crônicos ocorrer


seborreia e piodermatite. No exame histopatológico da pele as lesões são
caracterizadas por hiperqueratose ortoqueratótica, dermatose atrofia com presença de
grumos de melanina no bulbo piloso, com atrofia do folículo e hiperqueratose folicular
(Cardoso et al.,2003). Este trabalho tem por objetivo relatar um caso de displasia
folicular do pêlo preto em um cão da raça Yorkshire.
MATERIAL E MÉTODOS
Um cão da raça Yorkshire, com três meses de idade foi encaminhado ao Hospital
Veterinário com queixa de alopecia progressiva nas áreas de pelagem negra, sem
prurido. Durante o atendimento clínico o animal foi submetido a exames parasitológicos
do raspado de pele, cultura fúngica dos pêlos e colheita de sangue para dosagem
hormonal: hormônio estimulante da tireoide (TSH) e Tiroxina (T4). O material colhido na
biopsia foi fixado em formalina tamponado a 10% por 48 horas e posteriormente
desidratado, parafinizado, microtomizado em 4 micrômetros de espessura e
posteriormente corado com hematoxilina e eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um filhote de pelagem azulada, do sexo feminino, pertencente a uma ninhada de
quatro filhotes de pelagem preta, apresentou após três meses de idade, queda dos
pêlos nas áreas de pelagem preta. De acordo com o proprietário, os sinais progrediram
para pêlos sem brilho, quebradiços e secos, com grandes áreas de hipotricose e
alopesia no dorso, na parte superior da cauda, peito e parte dorsal dos membros
anteriores e posteriores. Exames hematológicos e bioquímicos não apresentaram
alterações significativas, bem como resultados negativos na cultura fungica e
parasitológica. No exame microscópico da pele, a epiderme apresentava áreas de
hiperqueratose ortoquerotótica, como presença de melanócitos entre os ceratinócítos
do extrato basal e espinhoso. Na matriz germinativa, de diversos folículos pilosos eram
observados agrupamentos de melanina de tamanho e formatos variados, distribuídos
entre a camada de Henle, Huxley e no interior das papilas dérmicas. Os aglomerados
de melanina intra papilar provocavam a dissociação das camadas queratinizadas da
cutícula, com formação de placas queratinizadas obstruído o cilindro do pêlo.
Pigmentos de melanina também foram observados no interir de macrófagos ao redor
dos folículos pilosos e no tecido adiposo da derme. As lesões microscópicas
observadas nas lâminas da pele são semelhantes às descritas na displasia folicular
(SCOTT et al., 1996; CARDOSO et al., 2003). Tais displasias foliculares devem ser
diferenciadas das endocrinopatias (displasia folicular secundária), que também podem
cursar com lesões de alopecia, com predominância de pêlos em fase telogênica. A
diferenciação da displasia folicular primária (DFDC e DFP) da displasia folicular
secundária é realizada através dos achados histológicos e dos níveis normais dos
hormônios TSH e T4 (Cardoso et al.,2003). Com base nos achados histopatológicos,
sinais clínicos de alopecia nas áreas de pelagem preta após três meses de idade,
associado ausência de alterações hormonais, bioquímicas e parasitológicas foi
diagnosticado displasia folicular do pêlo preto.
CONCLUSÃO
Atualmente a Displasia folicular não tem cura e por ser uma doença de origem
genética, esta pode ser transmitida a outras gerações. Por este motivo os cães com
alteração folicular devem ser retirados dos programas de reprodução e medidas
paliativas, como, o uso de medicamentos para o tratamento da seborreia, piodermatite
e infecções secundárias, devem ser observadas pelo proprietário.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 221, 2013

REFERÊNCIAS
CARDOSO, L.J.; FRANCO, S.R.S.; FABRIS, V. Displasia folicular em cão. Ciência Rural, v.33, n.5,
p.949-951, 2003.
CARLOTTI, D.N. Canine hereditary black hair follicular dysplasia and colour mutant alopecia Clinical and
histopathological aspects. In: Von Tscharner, C., Halliwell, R.E.W. Advances in Veterinary Dermatology,
Vol 1. Philadelphia: Baillière Tindall, 1990: 43–6.
DUNN, K.A.; RUSSEL, M.; BONESS, J.M. Black hair follicular dysplasia. Veterinary Record, v.1, n.137, p.
412, 1995.
MILLER, W.J. Colour dilution alopecia in Doberman Pinschers with blue or fawn coat colour: a study on
the incidence and histopathology of this disorder. Veterinary Dermatology, v. 1, n. 22, p. 113, 1990.
SCOTT, D.W.; MILLER, W.H.; GRIFFIN, C.G. Defeitos congênitos e hereditários. In: Dermatologia de
pequenos animais. 5.ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. Cap.11, p.687-752.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 222, 2013

222. DOENÇA DO RIM POLICISTICO EM CÃO: RELATO DE CASO


(polycystic kidney disease in a dog: a case report)

Samara Rosolem Lima¹, Leilane Aparecida da Silva¹, Pedro Guilherme Mahalhães


Sanches², Camila Gonçalves de Campos², Edson Moleta Colodel³, Caroline Argenta
Pescador³
1- Residente, HOVET, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá. E-mail: samarabubu@hotmail.com
2- Alunos da graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
3- Professor, Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
RESUMO: Doença do rim policístico (DRP) frequentemente é hereditária, lentamente
progressiva, caracterizada por múltiplos cistos no parênquima renal e pode resultar em
insuficiência renal. Um canino, Beagle, de dois anos morreu após apresentar quadro
clínico de azotemia. Macroscopicamente notaram-se as principais alterações no rim, as
quais foram caracterizadas por múltiplos cistos de diferentes tamanhos na superfície
subcapsular e de corte adicionalmente havia pneumopatia e gastropatia urêmica.
Microscopicamente, os numerosos cistos ocorriam principalmente na região cortical e
havia também no interstício infiltrado linfoplasmocitário e fibrose além de atrofia e
desaparecimento glomerular com intensa deposição de minerais. Acredita-se que os
cistos foram à causa do quadro de uremia. O diagnóstico foi baseado nos achados
clínicos e patológicos.
Palavras-chave: cães; cistos; diagnóstico; rim
ABSTRACT-Polycystic kidneys contain multiple cysts affecting numerous nephrons
giving the organ an aspect of Swiss cheese. Canine Beagle 2 years old showed a
clinical picture of chronic renal failure. Grossly, the main change was observed in the
kidney which is characterized by multiple cysts of various sizes on subcapsular and
cutting surface. Microscopically, the lesion showed numerous cysts, mainly distributed
in the cortical region associated with lymphocytic inflammatory infiltrate, areas of
interstitial fibrosis and glomerular atrophy with deposition of calcium salts. The results
indicated that the presence of cysts compressed the parenchyma leading to impaired
renal function generating a chronic renal failure reported here. The clinical and
histopathological findings were essential to confirm the diagnosis.
Key-words: cysts; diagnosis; dogs; kidney
INTRODUÇÃO
Doença policística renal em cães abrange um grupo de patologias caracterizadas
macroscopicamente por um ou vários cistos visíveis no parênquima renal (Liapis e
Winyard, 2007). Embora a causa não esteja completamente elucidada, os cistos podem
se desenvolver por causas adquiridas ou durante a organogênese do espaço
glomerular e do sistema coletor (Maxie e Newman, 2007). Várias raças apresentam
predisposição genética sendo a raças boxer, bull terriers, shih tzu, schiba (Basile et al.,
2011, Akihara et al., 2006, Takahashi et al., 2005), os mais acometidos. Animais
jovens, com menos de um mês de idade (Lavoue et al., 2010) e adultos, acima de 4
anos (Basile et al., 2011; Takahashi et al., 2005) são os que mais manifestam quadro
clínico de insuficiência renal. Os achados são incidentais durante a necropsia ou
podem estar relacionado a quadro clínico dependendo do número de cistos presentes e
do grau de comprometimento do rim. Entretanto, geralmente são caracterizadas por
perda de peso, poliúria, polidipsia, diminuição do apetite, fraqueza, desidratação e
letargia (Basile et al., 2011; Lavoue et al., 2010). O objetivo deste trabalho é relatar os
aspectos clínicos e patológicos de doença renal policística em um cão.
MATERIAL E MÉTODOS
O histórico e os sinais clínicos da doença foram obtidos com o veterinário responsável
pelo caso. Fragmentos de diversos órgãos e o encéfalo foram coletados durante a
necropsia, fixados em formol a 10% e processados rotineiramente para exame
histológico e corados pela hematoxilina e eosina (HE) (Behmer et al., 1976).

609
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 222, 2013

Adicionalmente, fragmentos de rim foram submetidos às técnicas de coloração com


ácido periódico de schiff (PAS) e tricrômico de Masson (Behmer et al., 1976).
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Um canino Beagle, fêmea, de 2 anos de idade foi encaminhado ao Hospital Veterinário
da UFMT (HOVET) com anorexia, apatia, ascite, azotemia, vômito, poliúria, polidipsia e
anemia não regenerativa. Não houve resposta terapêutica, sendo solicitada a eutanásia
e posteriormente encaminhada ao Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade
Federal de Mato Grosso (LPV-UFMT) para necropsia. As alterações macroscópicas
observadas foram caracterizadas por rins pálidos contendo múltiplos cistos, de poucos
milímetros até 0,5cm de diâmetro, observados na superfície subcapsular e de corte.
Adicionalmente no coração havia áreas brancacentas e irregulares no miocárdio e
calcificação na válvula semilunar aórtica, no estômago notou-se múltiplas úlceras de
mucosa, e o pulmão estava aumentado em volume, e com áreas de mineralização
principalmente nos bordos do lobo diafragmático. As alterações microscópicas vistas
no rim consistiam de numerosos cistos de tamanhos variados distribuídos
principalmente na região cortical preenchido por substância rósea e homogênea.
Outros achados incluíam nefrite intersticial linfoplasmocitária, fibrose multifocal,
dilatação tubular, atrofia glomerular e áreas de mineralização em túbulos e glomérulos.
A coloração de PAS em seções do rim evidenciou material hialino, finamente granular
no interior de túbulos e glomérulos bem como acentuada hiperplasia de células
mesangiais com núcleos hipocromáticos no interior do tufo glomerular. Na técnica com
tricrômico de masson notou-se fibrose com intensa deposição de colágeno na região
medular e leve na cortical.
Os sinais clínicos observados associados às alterações macroscópicas e
histopatológicas caracterizam a doença renal policística (Basile et al., 2011; Lavoue et
al., 2010; Takahashi et al., 2005; O‘Leary et al., 2002). Devido ao grande número de
cistos de diferentes tamanhos nos rins do presente caso, acredita-se que o parênquima
normal remanescente foi progressivamente comprimido causando assim o quadro
clínico de insuficiência renal crônica (Basile et al., 2011; Lavoue et al., 2010),
evidenciado pelos achados clínicos de azotemia (Maxie e Newman, 2007), e alterações
extra-renais frequentes na insuficiência renal crônica (Lavoue et al., 2010; Akihara et
al., 2006). Embora alguns mecanismos para o desenvolvimento dos cistos renais
tenham sido já previamente sugeridos, no presente caso, não foi possível esclarecer a
patogenia levando a acreditar que esta enfermidade seja de caráter hereditário (Lavoue
et al., 2010).
CONCLUSÃO
Em função dos aspectos dos cistos renais, associado ao quadro clínico e laboratorial e
alterações morfológicas macro e microscópicas conclui-se que o presente caso trata-se
de doença policística renal em cão.
REFERÊNCIAS
AKIHARA, Y.; SHIMOYAMA, K.; OHYA, A. et al. Medullary sponge kidney in a 10-year-old shih tzu dog
Veterinary Pathology. v. 43, p. 1010-1013. 2006.
BASILE, A.; ONETTI-MUDA, A.; GIANNAKAKIS, K.; et al. Juvenile Nephropathy in a Boxer Dog
Resembling the Human Nephrophthisis Medullary Cystic Kidney Disease Complex. Journal of Veterinary
Medicine Science. v. 73, n. 12, p. 1669-1675. 2011.
BEHMER, O.A.; TOLOSA, E.M.C.; FREITAS NETO, A.G. Manual de Técnicas para Histologia Normal e
Patológica. São Paulo: EDART, 1976, 239p.
LAVOUE, R.; VAN DER LUGT, M.J.; DAY, M.J. et al. Progressive juvenile glomerulonephropathy in 16
related French Mastiff (Bordeaux) dogs. Journal of Vet International Medicine. v.24, p.314-322. 2010.
LIAPIS, H.; WINYARD, P. Cystic diseases and developmental kidney defects. In: JENNETTE, J.C.;
OLSON, J.L.; SCWHARTZ, M.M. et al. Heptinstall‘s Pathology of the Kidney. 6. Ed. Philadelphia:
Lippincott Williams e Wilkins, 2007, p. 1237-1278.
MAXIE, M.G.; NEWMAN, S. Urinary system: Anomalies of development. In: JUBB, K.V.F.; KENNEDY,
P.C.; PALMER, N. Pathology if Domestic Animals. 5 ed. New York: Elsevier, 2007, Cap. 4, p. 438-442.
TAKAHASHI, M.; MORITA, T.; SAWADA, M. et al. Glomerulocystic kidney in a domestic dog. Journal of
Comparative Pathology. v. 133, p. 205-208. 2005.
610
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 223, 2013

223. ENTERITE PIOGRANULOMATOSA CAUSADA POR PYTHIUM INSIDIOSUM


EM CÃO
(Pyogranulomatous enteritis caused by Pythium insidiosum in a dog)

Daniela Farias da Nóbrega¹, Alcides Branco da Silva Junior², Tatiane Caleffo², Cecília
dos Santos Teruya², Olicies da Cunha³, Aline de Marco Viott³

1.Graduação em Medicina Veterinária, UNESP - Araçatuba, Araçatuba-SP;


2.Residente de Medicina Veterinária, UFPR, Palotina-PR;
3. Docente, UFPR, Palotina-PR.

RESUMO: A pitiose é uma doença granulomatosa que afeta equinos, cães, gatos e
humanos, causada pelo Pythium insidiosum. Nos cães a forma gastrointestinal é mais
comum, cujos principais sinais clínicos são emagrecimento progressivo, dor abdominal,
diarreia, vômito e massa abdominal palpável. O presente trabalho tem por objetivo
relatar um caso de pitiose intestinal em um cão. O animal apresentava diarreia crônica,
vômito, dor e massa abdominal palpável. Macroscopicamente havia severo
espessamento do jejuno com linfoadenomegalia mesentérica. A descrição
histopatológica das lesões intestinais foi caracterizada como reação piogranulomatosa,
semelhante às descritas na literatura. De acordo com os dados epidemiológicos, sinais
clínicos, achados macroscópicos e microscópicos do presente caso, o diagnóstico é
compatível com enterite por Pythium insidiosum.
Palavras-chave: canina; intestinal; pitiose
ABSTRACT: Pythiosis is a granulomatous disease affecting horses, dogs, cats and
humans, caused by Pythium insidiosum. In dogs the gastrointestinal form is more
common, the main clinical signs are weight loss, abdominal pain, diarrhea, vomiting and
abdominal mass. This paper aims to report a case of intestinal pythiosis in a dog. The
animal had chronic diarrhea, vomiting, pain and palpable abdominal mass.
Macroscopically had severe thickening of the jejunum with mesenteric enlarged lymph
nodes. The histopathologic description of intestinal lesions was characterized as a
pyogranulomatous reaction, like those described in the literature. According to
epidemiological data, clinical signs, macroscopic and microscopic findings of the
present case, the diagnosis is compatible with enteritis caused by Pythium insidiosum.
Key words: canine; intestinal; pythiosis
INTRODUÇÃO
A pitiose é causada pelo Pythium insidiosum, pertencente ao reino Stramenopila e
Classe Oomycetos (Grooters, 2003). É uma doença granulomatosa que ocorre em
equinos, cães, gatos e humanos, apresentando diferentes formas clínicas, sendo que
nos cães as principais são a gastrintestinal e cutânea (Santurio et al., 2006). O ciclo
biológico deste agente baseia-se na colonização de plantas aquáticas até a formação
de zoósporos livres, que constituem a forma infectante, por sua vez apresentam
quimiotaxia por pelos, pele e mucosas (Santurio et al., 2006). Portanto a infecção nos
animais está relacionada ao acesso a áreas alagadiças.
Nos cães a forma gastrointestinal é mais comum, cujos principais sinais clínicos são
emagrecimento progressivo, dor abdominal, inapetência, diarréia, vômito e massa
abdominal palpável (Helmann e Oliver, 1999; Mendoza et al. 2003). A doença afeta
mais frequentemente cães com menos de três anos de idade, machos e raças de
grande porte (Grooters, 2003; Miller, 1985). As lesões macroscópicas observadas nos
casos de pitiose intestinal em cães consistem principalmente em espessamento
transmural do intestino delgado, caracterizadas por massas firmes, fibrosas e com
múltiplos pontos amarelados de necrose e ocasionalmente úlceras multifocais na
mucosa (Trost et al., 2009). Na histopatologia o intestino apresenta uma reação
granulomatosa transmural e podem ser observadas estruturas semelhantes a hifas,
septadas e/ou ramificadas, coradas negativamente pela hematoxilina-eosina que são
611
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 223, 2013

evidenciadas pela prata metenamina de Grocott (GMS) (Rodrigues, et al. 2006;


Stragliotto et al., 2011).
O presente trabalho tem por objetivo relatar um caso de pitiose intestinal em um cão
diagnosticado pelo Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal do
Paraná, setor Palotina.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná, campus
Palotina, um cão, macho, sem raça definida, adulto, apresentando quadro crônico de
diarreia e moderado grau de desidratação. O animal ficou sob tratamento hospitalar por
cinco dias, com antibioticoterapia (Metronidazol, Sulfametoxazol e Trimetoprim) e
suplementação alimentar, durante a internação foi observado fezes com sangue. O
animal apresentou melhora transitória, e após 48 dias retornou com quadro de vômito e
diarreia, à palpação abdominal apresentou reação dolorosa e presença de uma massa.
Foi realizada ultrassonografia, e observou-se massa em região epigástrica, e os
exames laboratoriais indicaram anemia (hematócrito = 27,8%), trombocitopenia leve
(2,06x105/mm3) e aumento moderado de eosinófilos circulantes (2.703 cel./mm3). O
animal foi encaminhado ao centro cirúrgico para a realização de laparotomia
exploratória, onde observou-se nódulos no mesentério e aumento de volume intestinal.
Devido ao quadro geral foi realizada a eutanásia.
À necropsia fragmentos do intestino e demais órgãos foram coletados e fixados em
formol a 10%, processados rotineiramente para a coloração de hematoxilina e eosina
(HE) e prata metenamina de Grocott (GMS).
RESULTADOS
Na necropsia foi observado 30 mL de líquido serosanguinolento na cavidade
abdominal, esplenomegalia moderada, mucosas estomacal (piloro) e duodenal
espessadas e úlcera de 1 cm de diâmetro no duodeno. O terço inicial do jejuno
(aproximadamente 15 cm) apresentava severo espessamento da parede e conteúdo
sanguinolento moderado. O epíplon se encontrava hiperêmico e aderido nas alças
intestinais. Havia linfoadenomegalia acentuada dos linfonodos mesentéricos.
Microscopicamente, a lâmina própria do jejuno apresentava infiltrado inflamatório difuso
moderado a acentuado com linfócitos, histiócitos, macrófagos e neutrófilos, e ulceração
focalmente extensa acentuada. Na camada muscular foi observado espessamento
severo devido a infiltrado inflamatório piogranulomatoso intenso, formado por grande
quantidade de eosinófilos, células de Mott e células gigantes multinucleadas, que
envolviam áreas moderadas de necrose tecidual. Havia fibroplasia intensa,
angiogênese moderada e hiperplasia difusa acentuada das placas de Peyer. No HE foi
observado imagens negativas esféricas de aproximadamente 8 μm de diâmetro no
citoplasma de células gigantes e entremeadas as material necrótico. A coloração de
Grocott revelou grande quantidade de pseudo-hifas fúngicas com tendência de
brotamento em ângulos retos, características de Pythium insidiosum. Os linfonodos
mesentéricos se apresentavam reativos, com áreas de necrose multifocais, onde
também foi possível observar hifas. O diagnóstico histopatológico foi enterite
piogranulomatosa difusa severa com foco ulcerativo extenso e pseudo-hifas
intralesionais compatíveis com Pythium insidiosum.
DISCUSSÃO
O perfil epidemiológico, histórico clínico e alterações macroscópicas do caso descrito
são consistentes com a literatura. A forma de infecção não foi esclarecida, porém o
animal frequentava ambiente externo em área urbana e periurbana, fato que predispõe
o contato com água contaminada, que representa a forma de infecção mais frequente
(Santurio et al., 2006). A descrição histopatológica da lesão intestinal, caracterizada por
reação piogranulomatosa se assemelham as descritas por Trost et al. (2009), Hunning
et al. (2010) e Pereira et al. (2010), Stragliotto et al. (2011), Schmiedth et al. (2012).

612
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 223, 2013

A ultrassonografia, na qual revelou massa abdominal, gerou a suspeita clínica de corpo


estranho ou neoplasia. Porém o diagnóstico de pitiose intestinal foi concluído através
das características histopatológicas dos tecidos corados em HE e GMS. Outros
métodos diagnósticos para confirmar a enfermidade também podem ser utilizados
como cultura e identificação do agente, reação em cadeia de polimerase (PCR),
sorologia e imunoistoquímica (Racich et al., 2005).
A pitiose possui tratamento, mas é complicado em todas as espécies, devido às
características singulares do Pythium, no qual possui uma membrana plasmática que
não contém esteróides, como o ergosterol, que é o componente alvo de ação da
maioria das drogas antifúngicas (Foil, 1996). Na pitiose canina, muitas terapias
antifúngicas já foram testadas, sem resultados satisfatórios, portanto a ressecção
cirúrgica das lesões ainda é a forma mais efetiva de tratamento (Santurio et al., 2006).
Porém no presente caso o animal apresentava lesões teciduais extensas, o que
contraindicou uma conduta terapêutica.
CONCLUSÃO
De acordo com os dados epidemiológicos, sinais clínicos, achados macroscópicos e
microscópicos do presente caso, o diagnóstico é compatível com enterite
piogranulomatosa causada pelo Pythium insidiosum. Esta enfermidade deve ser
incluída no diagnóstico diferencial de cães com quadros crônicos que apresentam
emagrecimento progressivo, vômito, diarreia e presença de massa abdominal.
REFERÊNCIAS
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63, 1996.
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North America: Small Animal Practice, v.33, n.4, p.695-720, 2003.
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American Animal Hospital Association, p.35, n.2, p.111-114, 1999.
HUNNING, P.S.; RIGON, G.; FARACO, C.S. et al. Obstrução intestinal por Pythium insidiosum em um
cão: relato de caso. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.63, n.4, p.801-805,
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MENDOZA, L.; MANDY, W.; GLASS, R. An improved Pythium insidiosum-vaccine formulation with
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2009.

613
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 224, 2013

224. ESTUDO RETROSPECTIVO ANATOMOPATOLÓGICO DOS CASOS DE


LINFOMA CANINO ATENDIDOS PELO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNESP,
CAMPUS BOTUCATU
(Anatomopathological retrospective study of canine lymphoma on animals
attended by the Veterinary Hospital of UNESP, Botucatu)

Maria Claudia Lopes da Silva, Sarah Paschoal Scarelli, Thaís Rosalen Fernandes,
Noeme Sousa Rocha, Renée Laufer Amorim, Julio Lopes Sequeira

Departamento de Clínica Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade


Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu, São Paulo.

RESUMO: Foi realizado o levantamento dos casos de linfoma canino diagnosticados


pelo Serviço de Patologia Veterinária da UNESP de 2000 a junho de 2013. Ao total
foram obtidos 562 casos. O acometimento foi predominante em animais sem raça
definida com 40,46% dos casos (227 cães). Foram observadas 35 raças diferentes,
sendo as mais frequentes Boxer com 13,54% dos animais e Rottweiler com 10,51%.
Em relação ao sexo 50,71% eram fêmeas e 49,28% machos. A idade variou de 1 a 17
anos de idade. A forma anatômica mais frequente foi a multicêntrica (50,76%), seguida
da cutânea (38,5%), mediastinal (7,44%), isolada (2,67 %) e digestiva (0,57%).
Palavras-chave: cão; estudo retrospectivo; neoplasia hematopoiética
ABSTRACT: A survey regarding canine lymphoma cases diagnosed by UNESP,
Botucatu Veterinary Pathology Service was conducted from 2000 to June 2013. The
total number of canine lymphoma cases obtained was 566. The mixed breed dogs were
predominant with 227 animals (40.46%). There were 35 different breeds observed and
the most frequent ones were Boxer with 13.54% of the animals and Rottweiler with
10.51%. In relation to sex 50.71% were females and 49.28% males. The age ranged
from 1 to 17 years of age, with average of 7.5 years. The most frequent anatomical type
was multicentric (50.76%), followed by cutaneous (38.5%), mediastinal (7.44%) and
gastrointestinal (0.57%).
Key words: dog; retrospective study; hematopoietic cancer
INTRODUÇÃO
Os linfomas não-Hodgkin são as neoplasias hematopoiéticas mais comuns nos cães,
com incidência variando de 13 a 33 casos por 100.000 cães (Sözmen et al., 2005). A
estreita convivência entre o homem e cão os sujeita as mesmas influências ambientais
e por isso a doença na espécie canina tem sido proposta como modelo para o estudo
da etiologia e de protocolos de tratamento dos LNHs humanos (Ponce et al., 2010). O
conhecimento do perfil anatomopatológico dos linfomas caninos pode auxiliar não só
no entendimento da doença nesta espécie, mas também facilitar os estudos
comparativos.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado o levantamento dos casos de linfomas caninos diagnosticados pelo
Serviço de Patologia Veterinária da UNESP, campus Botucatu no período de janeiro de
2000 a junho de 2013. O diagnóstico foi obtido utilizando-se métodos citopatológicos e
histopatológicos e a partir dos prontuários dos animais foram levantados os dados
como raça, sexo, idade e classificação anatômica.
RESULTADOS
Foram diagnosticados 562 casos de linfoma canino no período. Predominaram os cães
sem raça definida com 40,46% dos casos (227 animais), seguidos dos cães da raça
Boxer com 13,54% (76 animais); Rottweiler 10,51% (59 animais); Pastor Alemão 4,81%
(27 animais); Cocker Spaniel 3,74% (21 animais); Pit Bull 3,56% (20 animais); Labrador
3,20% (18 animais); Poodle 3,20% (18 animais); Pinscher 2,67% (15 animais);
Dachshund 2,13% (12 animais); Fila Brasileiro 1,60% (9 animais); Fox Paulistinha
1,60% (9 animais); Dogue Alemão 1,24% (7 animais); Dobermann 1,06% (6 animais) e
614
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 224, 2013

ainda outras 22 raças que contribuíram com 6,59% (37 animais). As fêmeas
responderam por 50,71% (284 animais) dos casos, enquanto que os machos por
49,28% (276 animais). Para dois animais essa informação não estava disponível. A
idade variou entre 1 e 17 anos, com média de 7,5 anos. A forma anatômica mais
frequente foi a multicêntrica, diagnosticada em 50,76 % dos casos (263 animais),
seguida das formas cutânea 38,5% (200 animais), tímica com 7,44% (39 animais),
solitária 2,67% (14 animais) e digestiva 0,57% (3 animais).
DISCUSSÃO
A predisposição racial para o desenvolvimento do linfoma na espécie canina tem sido
descrita (Ponce et al., 2010), porém no nosso país a maior freqüência tem sido
atribuída para as raças de grande porte como Pastor Alemão, Boxer, Dobbermann e
Rottweiler (Sequeira et al., 1999; Moreno e Bracarense, 2007). Deve-se destacar que a
presença de animais sem raça definida é sempre expressiva na nossa população
canina e, portanto, isto se reflete nos resultados das casuísticas que tem sido
publicadas. No presente trabalho, os dados são muito semelhantes aos levantamentos
anteriores na nossa (Sequeira et al., 1999) e em outras regiões (Moreno e Bracarense,
2007). Assim, a proporção das raças na composição da nossa população canina deve
ser considerada quando examinamos estes dados, não sendo possível ainda
estabelecer uma suscetibilidade maior daquelas raças representadas em maior número
na casuística aqui apresentada. Considerando-se a média de idade dos animais,
nossos resultados são superiores aqueles encontrados em trabalhos anteriores. Assim
a idade média de 7,5 anos contrasta com a média obtida anteriormente na nossa
região de 6,2 anos (Sequeira et al., 1999). Isto pode estar relacionado com a maior
longevidade dos animais. O sexo dos animais não influencia na suscetibilidade ao
linfomas (Ponce et al., 2010) e nossos resultados corroboram este fato. No presente
trabalho, a forma multicêntrica apareceu em destaque, com 50,76%, seguida da forma
cutânea com 38,55%. Sequeira et al em 1999 em seu levantamento de 1981 a 1995 e
Moreno e Bracarense, 2007 também encontraram o predomínio destas formas.
CONCLUSÃO
Os nossos resultados são muito próximos aos encontrados na literatura, porém deve-
se ressaltar que é necessário o estudo do perfil dos animais acometidos pelos linfomas
na nossa população canina. Este tipo de estudo ainda é pouco frequente na literatura
nacional. A obtenção destes dados poderá contribuir para o avanço do conhecimento
da doença no nosso meio e assim abrir melhores perspectivas para o diagnóstico e
tratamento da doença na nossa população canina.
Agradecimento
Agradecemos o apoio da FAPESP, processos: 2012/14600-7 e 2011/15745-6.
REFERÊNCIAS
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doméstico): estudo retrospectivo de 60 casos, entre agosto de 2009 e dezembro de 2010 no Município
de São Paulo-SP. Journal of the Health Sciences Institute, v.29, n.4, p.209-301, 2011.
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diagnosis, classification, and immunophenotyping of canine lymphomas. Journal of Veterinary
Diagnostic Investigation, v.17, p.323–329, 2005.

615
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 225, 2013

225. FASCEÍTE NECROSANTE SEVERA FATAL EM FELINO DOMÉSTICO


(Severe fatal necrotizing fasciitis in a domestic feline)

Fernanda Auciello Salvagni¹; Wagner Alexey Back Fiorio¹; Carla Cristina Maistro²;
Maria Christina Christóvão Ramos¹; Luciana Langrafe¹; Rosana Maria de Oliveira¹

1. LAB&VET Diagnóstico e Consultoria Veterinária LTDA.


2. Clínica Veterinária ―A Toca‖.

RESUMO: A fasceíte necrosante é uma infecção bacteriana rápida e progressiva que


afeta a fáscia muscular e o tecido subcutâneo, gerando lesão gangrenosa com
aparente preservação da pele suprajacente e da musculatura sob a lesão. É causada
por inoculação profunda de bactérias, podendo levar a óbito por choque tóxico
endógeno ou choque hipovolêmico por perda de líquidos. Um felino de 7 anos de
idade, SRD, macho, apresentou quadro inicial de abscesso em região axilar direita, o
qual progrediu para lesões necróticas disseminadas e culminou com o óbito do animal
pouco mais de um mês após identificação do abscesso. A gravidade desta doença, sua
evolução rápida e o prognóstico desfavorável confirmam a importância da inclusão da
fasceíte necrosante em diagnósticos diferenciais de lesões cutâneas necróticas
extensas e progressivas.
Palavras-chave: diagnóstico laboratorial; fasceíte necrosante; felinos
ABSTRACT: Necrotizing fasciitis is a rapidly progressive bacterial infection that affects
the fascia and subcutaneous tissue, causing gangrenous lesion with apparent
preservation of overlying skin and musculature under the lesion. This condition is due to
deep inoculation of bacteria, and may lead to death due to endogenous toxic shock or
hypovolemic shock due to fluid loss. A 7 years old feline, of mixed breed, male, initially
presented an abscess in the right axillar region, which progressed to disseminated
necrotizing lesions and culminated with the animal death after little more than a month
of identification of the abscess. The severity, rapid evolution and poor prognosis of this
disease confirm the importance of including necrotizing fasciitis in differential diagnosis
of progressive and extensive necrotic skin lesions.
Key words: felines; laboratorial diagnosis; necrotizing fasciitis
INTRODUÇÃO
A fasceíte necrosante é uma infecção bacteriana rápida e progressiva que afeta a
fáscia muscular e o tecido subcutâneo, gerando lesão gangrenosa com aparente
preservação da pele suprajacente e da musculatura sob a lesão (Swartz et al. 2005;
Salcido et al. 2007). É causada por inoculação profunda de agente bacteriano em
lesões traumáticas, entre elas destacando-se a presença de corpos estranhos e
incisões cirúrgicas1. Dentre os microrganismos responsáveis estão Streptococcus
pyogenes, Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens, Enterococcus sp,
Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa (Salcido et al. 2007). Esta afecção é
comum em humanos, principalmente como complicação de feridas cirúrgicas
infectadas, sendo raramente descrita em animais (Sura et al. 2008; Naidoo et al. 2005;
Csiszer et al. 2010), porém sua ocorrência nestes pode estar subdiagnosticada. A
mortalidade está associada à liberação de grandes quantidades de toxinas bacterianas
na corrente sanguínea, levando ao choque endotoxêmico. Além disso, a perda de
grandes extensões de tegumento propicia a proliferação dos microrganismos
oportunistas e relevante perda de líquido, agravando o quadro.
O presente trabalho visa relatar o caso de um felino que apresentou fasceíte
necrosante severa fatal com evolução de 38 dias, desencadeada a partir do surgimento
de abscesso em região axilar, no intuito de apresentar os achados
clínicodermatológicos, microbiológicos e anatomopatológicos desta afecção.

616
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 225, 2013

MATERIAIS E MÉTODOS
Um gato Siamês macho, sete anos de idade, semidomiciliado, foi submetido a exame
físico por queixa de diminuição de apetite e leve prostração; descobriu-se um abscesso
em região axilar direita. Com a evolução da lesão, foram realizados exames
complementares, a saber: hemograma completo, bioquímica (função renal e hepática),
glicemia, ELISA para FIV/FeLV, ultrassonografia, citologia, exame histopatológico e
cultivo microbiológico das lesões cutâneas. Após o óbito, o animal foi submetido à
necropsia.
RESULTADOS

DISCUSSÃO
Na fasceíte necrosante, a infecção de tecidos profundos decorrentes da inoculação de
microrganismos envolve a fáscia e a musculatura, podendo apresentar um abscesso
como ponto inicial de lesão (Swartz et al. 2005). Os microrganismos podem ser
componentes normais da microbiota do paciente (Salcido et al. 2007). No caso
relatado, onde o animal era semidomiciliado, o surgimento do abscesso pode estar
relacionado à lesão traumática profunda com inoculação das bactérias. Estas
proliferam rapidamente por contiguidade pela fáscia muscular, produzindo toxinas e
invocando severa resposta inflamatória, necrose tecidual e trombose capilar, resultando
na lesão gangrenosa séptica que culmina no desprendimento do tecido suprajacente e
exposição da musculatura (Swartz et al. 2005; Salcido et al. 2007). A pele retirada pode
mostrar-se aparentemente saudável, sem alopecia ou ulceração, porém o tecido
subcutâneo do fragmento desprendido e a musculatura remanescente no animal
apresentam sinais de necrose, assim como as bordas das lesões exibem demarcação
617
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 225, 2013

linear enegrecida, caracterizando o aspecto gangrenoso desta afecção. O caso


relatado passou por diversos colegas no decorrer da evolução da doença, porém o
diagnóstico de fasceíte necrosante nunca esteve entre os diferenciais, até a avaliação
por patologistas no dia 30, quando as lesões já estavam disseminadas. O cultivo
bacteriano e a coloração por Ziehl-Neelsen no histopatológico foram negativos para
micobactérias. As lesões não foram compatíveis com quadros de micose sistêmica e
não foram visualizadas estruturas fúngicas sob coloração por PAS, enquanto a cultura
microbiológica revelou apenas raras UFC de Candida sp., recuperada somente na
cultura realizada aos 14 dias de evolução do quadro, caracterizando microrganismo
oportunista em início de instalação. A síndrome da fragilidade cutânea, um dos
possíveis diagnósticos diferenciais, envolve adelgaçamento da pele e ruptura do tecido
por trauma, constituindo tecido vivo que se destaca por tração; assim, a pele rompida
apresenta-se semelhante a papel molhado, fina e úmida, com o tecido adiposo
remanescente no animal mostrando-se vascularizado e úmido, vivo, contrastando com
o aspecto necrótico gangrenoso da fasceíte necrosante. Todos esses casos são
passíveis de diferenciação pelo exame histopatológico (Gross et al. 2005), exprimindo
a importância deste para o diagnóstico diferencial.
CONCLUSÕES
A união do histórico clínico com os resultados dos exames laboratoriais in vivo e post
mortem permitem a caracterização de fasceíte necrosante severa fatal, sendo o exame
histopatológico essencial para o diagnóstico preciso e precoce desta afecção. A
gravidade desta doença, sua evolução rápida e o prognóstico desfavorável confirmam
a importância da inclusão da fasceíte necrosante em diagnósticos diferenciais de
lesões cutâneas necróticas extensas e progressivas em animais.
REFERÊNCIAS
CSISZER et al. Successful treatment of necrotizing fasciitis in the limb of a Great Dane. Journal of the
american animal hospital association, v. 46, p. 433-438, 2010.
GROSS, T.L. et al. Skin diseases of the dog and cat -Clinical and Histopathologic Diagnosis. 2nd ed.
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618
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 226, 2013

226. FEOHIFOMICOSE NO CÉREBRO E NEFRITE EM CÃO INFECTADO PELO


VÍRUS DA CINOMOSE CANINA
(Cerebral and nephritis phaeohyphomycosis and in a dog with infection by canine
distemper virus)

Caio Resende Docal¹, Leticya Lerner Lopes², Camila Gonçalves de Campos¹, Marcelo
Marques da Silveira³, Daphine Ariadne Jesus de Paula4, Caroline Argenta Pescador5

1 Graduando em Medicina Veterinária, (UFMT), Cuiabá, Mato Grosso, Brasil; resendedocal@gmail.com;


2 Mestranda no Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias - UFMT –Cuiabá, Mato Grosso,
3 Médico Veterinário Residente, UFMT – Cuiabá, Mato Grosso, Brasil;
4 Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde - UFMT –Cuiabá, Mato Grosso,
5 Professora Adjunto, UFMT –Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.

RESUMO: A Cladophialophora bantiana é um fungo dematiáceo, encontrado


amplamente no ambiente. A feo-hifomicose é causada por fungos oportunistas que
infectam tanto animais imunossuprimidos quanto humanos. Esse relato descreve o
caso de um animal infectado com vírus da cinomose canina (VCC) e encefalite e nefrite
granulomatosa devido à infecção oportunista por C. bantiana. O histórico clínico
associado aos achados macroscópicos foi compatível com infecção pelo VCC, que foi
confirmado pela análise histopatológica. Na reação de cadeia da polimerase (PCR),
sequenciamento e análise filogenética identificaram o agente Cladophyalophora
bantiana na lesão cerebral, indicando o envolvimento da doença com o vírus da
cinomose canina.
Palavras chaves: Cladophialophora bantiana, encefalite, sinal neurológico
ABSTRACT:The dematiaceous fungus Cladophialophora bantiana is a widely
saphrophyte most often identified in animals and humans. The phaeohyphomycosis is
caused by opportunistic fungi that infect both animals and humans immunosuppressed.
The report describes a crossbreed with canine distemper virus and granulomatous
encephalitis and nephritis due a C. bantiana infection. The clinical and gross features
resembled those of the more common infection by canine distemper, thus warranting
confirmation by histological analyses. Polymerase chain reaction and sequence
analysis identified Cladophialophora bantiana from the brain lesion, indicating its
involvement in the disease and association with canine distemper virus.
Key words: Cladophialophora bantiana, encephalitis, neurologic signs
INTRODUÇÃO
A feohifomicose é uma infecção causada por fungos pigmentados (dematiáceo) que
acomete tanto humanos quanto animais, sendo inicialmente descrita em 1974 (Ajello
et. al., 1974). A presença de pigmento amarronzado da parede do fungo além de
conferir o diagnóstico prévio desta enfermidade, oferece também, proteção contra a
ação dos radicais livres sendo considerado um dos seus fatores de virulência
(Revankar et. al., 2002). O cultivo e a análise molecular são necessários para
determinar a espécie do fungo com precisão (Balajee et. al., 2007). Esta infecção
fúngica é comumente relatada em animais e humanos imunossuprimidos, sendo neste
último associado com o vírus da imunodeficiência humana (Revankar et. al., 2002). O
objetivo do presente trabalho é relatar um caso de encefalite e nefrite granulomatosa
em um cão causado por Claudophialophora bantiana, anteriormente infectado pelo
vírus da cinomose canina (VCC).
MATERIAL E MÉTODOS
Um cão, macho, sem raça definida, 4 meses de idade, foi encaminhado ao Hospital
Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso (HOVET-UFMT). Clinicamente, o
animal apresentava febre, tosse e sinais neurológicos, caracterizados por vocalização,
opistotono, ataxia e aumento do tônus muscular há 15 dias. Após um dia de
hospitalização, a animal foi a óbito. O cão foi encaminhado para a necropsia no
619
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 226, 2013

Laboratório de Patologia Veterinária (LPV-UFMT). Fragmentos de todos os órgãos


foram coletados, fixados em formol tamponado a 10% e processados de acordo com
métodos histológicos convencionais sendo corados pela hematoxilina e eosina e
impregnação pela prata (Grocott‘s Methanamine) (Behmer et al.,1976). Amostras de
cérebro e estômago foram submetidas ao teste de imunohistoquímica utilizando um
anticorpo monoclonal para cinomose canina. Adicionalmente, amostras frescas de
cérebro foram encaminhadas para cultivo em Ágar Saboraud Dextrose. A extração de
DNA da amostra obtida em cultura foi realizada após maceração do micélio com
nitrogênio líquido, utilizando tampão CTAB, seguido de fenol-clorofórmio. Foi
desenvolvida PCR utilizando primers ITS4 (50-TCC TCC GCT TAT TGA TAT GC-30) e
ITS5 (50-GGA AGT AAA AGT CGT AAC AAG G-30) da amostra obtida na cultura. O
amplicom gerado de foi purificado utilizando kit comercial, e posteriormente preparada
a reação para sequenciamento utilizando o kit BigDye Terminator Clycle Sequencing
em seqüenciador ABI 3500.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As lesões macroscópicas observadas se restringiam ao cérebro e rins. No encéfalo foi
observado um achatamento dos sulcos e giros cerebrais associado à presença de um
granuloma, branco-acinzentado, medindo de 3,0 cm diâmetro presente no córtex frontal
do hemisfério esquerdo. Ao corte, o granuloma infiltrava-se para o interior do córtex
frontal ocupando a substância branca e cinzenta. Nos rins, as lesões foram
caracterizadas por múltiplos pontos brancacentos medindo 1 mm de diâmetro e
distribuídos difusamente pela superfície subcapsular. Microscopicamente, o cérebro
apresentava uma reação inflamatória granulomatosa focal extensa composta por
macrófagos, linfócitos, plasmócitos e inúmeras células gigantes, nas quais em seu
interior era possível visualizar hifas septadas e pigmentadas. Infiltrado inflamatório
linfocítico perivascular e áreas de desmielinização também foram observados no
cerebelo. A coloração de Grocott observou numerosas hifas fúngicas septadas com 3-6
mm de dimensões no interior da reação inflamatória granulomatosa do cérebro. Nos
rins formam observados granulomas focais similares ao do cérebro, com hifas septadas
e pigmentadas intralesionais na região do córtex renal. No estômago foi observado
corpúsculo de inclusão (CI) eosinofílico intracitoplasmático em inúmeras células
parietais. A imunohistoquímica foi positiva para VCC em amostras de estômago. A
cultura fúngica revelou crescimento de numerosas colônias aveludadas e com
pigmento escuro após duas semanas. Com base nas características da colônia e na
morfologia microscópica o isolado foi identificado como Cladosporium spp. A técnica de
PCR resultou em um amplicom de aproximadamente 480 pb. Após a análise no Blast
(NCBI) o isolado demonstrou 99% de similaridade com o fungo do gênero
Cladophialophora bantiana (AF131079). A feohifomicose cerebral causada pela C.
bantiana é a forma mais comum e fatal de encefalite fúngica em cães. Ela tem sido
relatada como um agente causador de infecção cerebral (Bentley et al., 2011) e
sistêmica (Leisewitz et. al., 2002) nesta espécie causando abscessos cerebrais (Jang
et. al., 1977), meningoencefalite (Bouljihad et. al., 2002), infecção cerebelar (Simmons
et. al., 2010) e lesão cutânea (Abramo et. al., 2002). A origem da infecção neurotrópica
desse fungo pode ter sido causada pela imunossupressão do VCC, uma vez que a
doença está associada a animais imunossuprimidos. O DNA isolado do cérebro teve
homologia de 99% para C. bantiana sendo este considerado um patógeno emergente
em animais imunocomprometidos.

620
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 226, 2013

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 227, 2013

227. GASTROPATIA PILÓRICA HIPERTRÓFICA CRÔNICA EM CÃO –


RELATO DE CASO
(Chronic hypertrophic pyloric gastropathy in dog – case report)

Mayra Cunha Flecher¹, Fernanda de Toledo Vieira¹, Maylla Garschagen Gava²; Alice
Rassele²; Séfora Vieira S Barros¹, Andrea Alves²

1 Docente da Universidade Vila Velha;


2 Residentes da Universidade Vila Velha

RESUMO: A gastropatia pilórica hipertrófica crônica é a síndrome de obstrução pilórica


em cães associada a hipertrofia da mucosa, hipertrofia da túnica muscular ou ambas. É
mais comum em cães de raças pequenas, meia idade a idosos. Os sinais clínicos são
perda de peso, diarreia e emese intermitente crônico. Um cão labrador, adulto jovem foi
atendido apresentando histórico de emese, náusea, desidratação e caquexia há vários
meses. O diagnóstico de estenose pilórica foi feito através da radiografia contrastada
do trato gastrointestinal e endoscopia. Posteriormente realizou-se uma piloroplastia
com envio de fragmento da região pilórica para exame histopatológico onde feito o
diagnóstico da gastropatia pilórica hipertrófica.
Palavra-chave: emese; estenose gástrica; hipertrofia; túnica muscular
ABSTRACT: Chronic hypertrophic pyloric gastropathy is pyloric obstruction syndrome
in dogs associated with mucosal hypertrophy, hypertrophy of the muscular layer or both.
It is more common in small breed dogs, middle aged and older. The clinical signs are
weight loss, diarrhea and chronic intermittent vomiting. Labrador dog, young adult was
seen with a history of emesis, nausea, dehydration and cachexia several months ago.
The diagnosis of pyloric stenosis was done by contrast radiography and endoscopy of
the gastrointestinal tract. Later there was a pyloroplasty with sending fragment of the
pyloric region for histopathology where the diagnosis of hypertrophic pyloric
gastropathy.
Keys-words: emesis; gastric stenosis, hypertrophy; muscle layer
INTRODUÇÃO
A estenose pilórica é um problema funcional e algumas vezes anatômico (Brown et al.,
2007). Vômito recorrente e baixo ganho de peso em animais recentemente
desmamados pode sugerir o diagnóstico de lesão congênita (Brown, Baker, Barker,
2007). Em crianças pode ocorrer secundária a outras condições cirúrgicas primárias
(Murthi e Nour, 2004). Está associada a uso de eritromicina nas primeiras semanas de
vida (Maheshwai, 2007), e também apresenta uma predisposição genética multifatorial
(Murthi e Nour, 2004). A gastropatia pilórica hipertrófica crônica é a síndrome de
obstrução pilórica em cães associada com hipertrofia da mucosa, hipertrofia da túnica
muscular ou a combinação das duas (Brown et al., 2007). Afeta cães de raças
pequenas, de meia idade a idosos, e os machos são mais acometidos (Brown et al.,
2007). As raças mais acometidas são Basenji, Beagle, Boxer, Bull Terrier (Gelberg,
2007). A patogênese não está elucidada, não está clara se a hipertrofia da muscular
pode ser primária ou ocorre em resposta a obstrução (Brown et al., 2007; Gelberg,
2007). Os sinais clínicos incluem perda de peso, diarréia, vômito intermitente crônico
(Brown, Baker, Barker, 2007) e laboratorialmente hipoproteinemia (Gelberg, 2007). No
exame radiográfico as pregas gástricas são muito evidentes e a passagem do contraste
para o duodeno é lenta (Van der Gaag et al, 1976). As pregas da mucosa gástrica não
achatam com a distensão do órgão e se tornam espessadas devido a hiperplasia das
glândulas. Ao contrário, se torna espessada devido a hiperplasia das glândulas (Brown
et al., 2007; Gelberg, 2007; Van der Gaag et al., 1976). Ao corte, pode-se observar um
espessamento da musculatura no piloro (Brown et al., 2007). Microscopicamente a
mucosa é hipertrófica e hiperplásica (Gelberg, 2007). Normalmente ocorre infiltrado
inflamatório crônico na mucosa e, eventualmente na submucosa (Brown et al., 2007).
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MATERIAL E MÉTODOS
Um cão da raça labrador com 1 ano e 8 meses de idade foi atendido no setor de clínica
de pequenos animais do Hospital Veterinário (HV) da Universidade Vila Velha com
histórico de episódios eméticos, náusea, desidratação e caquexia. Ele já havia sido
consultado em outras clínicas e tratado sintomaticamente. Ao chegar ao hospital foi
tratado com protetores da mucosa gástrica, medicamento anti-emético, e mantido em
nutrição parenteral. Quando o animal mostrava-se sem emese durante o tratamento de
controle, era oferecida alimentação oral, mas esse voltava a ter episódios de emese.
Um mês após a primeira consulta realizou-se radiografia contrastada do trato digestório
e endoscopia. Baseado nos resultados desses exames foi indicada uma cirurgia
gástrica e material da região pilórica foi coletado para exame histopatológico. O
fragmento foi acondicionado em formol a 10%, posteriormente processado pelos
métodos histológicos de rotina e corados por Hematoxilina e Eosina.
RESULTADO
Durante o período de internação o animal continuava com emese, principalmente após
ser dada alimentação oral, sem ganho de peso, com anemia normocítica normocômica,
hipoproteinemia e hipoalbuminemia. Na radiografia contrastada foi observado retardo
no esvaziamento gástrico e um possível espessamento da parede na região pilórica.
Na endoscopia evidenciou-se redução acentuada (90%) da luz na região pilórica. O
animal foi encaminhado para a cirurgia onde foi realizada coleta de fragmentos da
região espessada e uma piloroplastia Y-V. Na microscopia observou-se hipertrofia
moderada de túnica mucosa, hiperplasia e ectasia glandular, moderado infiltrado
inflamatório linfoplasmocitário difuso em lâmina própria associada à moderada
hiperplasia da subcamada muscular circular interna. Em um dos fragmentos foi visto
proliferação da túnica muscular com desorganização de feixes e degeneração. Após a
cirurgia o animal não apresentou episódios eméticos, começou a ganhar peso e a
defecar normalmente. Até o presente momento o animal não teve mais complicações
clínicas.
DISCUSSÃO
O cão apresentava um histórico de vômito intermitente e emagrecimento que é
condizente com a descrição da literatura. Esses vômitos e as náuseas continuavam
durante todo o período de internação e só teve melhora após a realização da cirurgia
para remoção da área estenosada. Tratava-se de um cão macho concordando com o
descrito por Brown et al. (2007), entretanto não está entre as raças mais predispostas,
visto que as raças pequenas são mais afetadas. Os animais idosos e de meia idade
são mais acometidos (Brown et al., 2007), sendo diferente desse caso que o animal era
adulto jovem. A hipoproteinemia encontrada no cão do relato também é relatada por
Gelberg (2007). Essa alteração e a anemia são explicadas pela anorexia e vômitos
constantes. A radiografia contrastada foi importante para mostrar o retardo de
esvaziamento do conteúdo gástrico, como é relatado por Van der Gaag et al (1976)
indicando a presença de uma área estenosada que foi confirmado pela endoscopia. Na
microscopia da região estenosada foram observadas as mesmas lesões descritas por
Brown et al. (2007) em que ocorreu hipertrofia da túnica mucosa e da túnica muscular;
além de terem sido observado ectasia das glândulas da mucosa e infiltrado inflamatório
que também é descrito na literatura.
CONCLUSAO
A estenose pilórica possui bom prognóstico quando diagnóstico e tratamento cirúrgico
são realizados de forma correta. O diagnóstico da estenose é realizado através de
exames de imagem, mas a histopatologia é necessária para caracterizar a gastropatia
pilórica hipertrófica.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 227, 2013

REFRÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 228, 2013

228. GRANULOMA POR CORPO ESTRANHO CAUSANDO ESTENOSE


INTESTINAL MULTIFOCAL EM UM CÃO – RELATO DE CASO
(Foreign Body Granuloma Causing Intestinal Multifocal Stenosis in a Dog – Case
Report)

Ana Carolina Ortegal Almeida; Alexandre A. Arenales Torres; Aline Cardoso Pereira;
Flávia de Rezende Eugênio; Daniela Bernadete Rozza
Universidade Estadual ―Júlio de Mesquita Filho‖ (UNESP) – FMVA, Brasil.
RESUMO: A inflamação granulomatosa é um tipo de inflamação crônica na qual
predominam células do sistema mononuclear fagocitário que adotam a forma de
macrófagos, macrófagos epitelióides e células gigantes multinucleadas, formando o
granuloma. Este relato tem por objetivo descrever o caso de um canino, sem raça
definida (SRD), fêmea, de quatro anos de idade apresentando êmese, anorexia,
caquexia e dispneia. Na necropsia, foi observada uma massa abdominal causando
aderência e estenose intestinal multifocal. Ao corte da massa notou-se presença de
tecido em trama reticular semelhante a uma gaze. No estômago, esôfago, traqueia e
pulmão havia conteúdo fétido e amarronzado semelhante a fezes. Após avaliação
histopatológica o diagnóstico foi de processo inflamatório piogranulomatoso associado
a corpo estranho (gaze) e broncopneumonia.
Palavras-chave: gaze; processo inflamatório piogranulomatoso; broncopneumonia
ABSTRACT: Granulomatous inflammation is a form of chronic inflammation in which
predominate cells of the mononuclear phagocyte system that adopt the form of
macrophages, epithelioid macrophages and multinucleate giant cells, forming a
granuloma. This report aims to describe the case of a four-year-old dog, mongrel
presenting emesis, anorexia, cachexy and dyspnoea. In necropsy, was observed an
abdominal mass causing adherence and multifocal intestinal stenosis. It was noted, by
cutting the mass, presence of reticular fabric resembling gauze. In the stomach,
esophagus, trachea and lungs it was observed brownish fetid content resembling fezes.
After histopathological evaluation, the diagnosis was pyogranulomatous inflammatory
process associated with a foreign body (gauze) and bronchopneumonia.
Key Words: gauze; pyogranulomatous inflammatory process; bronchopneumonia
INTRODUÇÃO
A inflamação granulomatosa é um tipo de inflamação crônica na qual predominam
células do sistema mononuclear fagocitário que adotam a forma de macrófagos,
macrófagos epitelióides e células gigantes multinucleadas, formando o granuloma
(Mcgavin e Zachary, 2009). Além destas células, os granulomas podem conter
eosinófilos, linfócitos e polimorfonucleares. Outras células, como os fibroblastos,
existem em quantidade variável, desempenhando papel importante na fibrose dessas
estruturas (Filho, 2006). Granulomas por corpos estranhos são provocados por
estruturas relativamente inertes que se formam quando materiais como o talco, suturas
ou outras fibras são grandes o suficiente para impedir a fagocitose por um único
macrófago. As células epitelióides e as células gigantes se formam e aderem à
superfície do corpo estranho, envolvendo-o. O material estranho geralmente pode ser
identificado no centro do granuloma (Kummar et al., 2005). Este trabalho tem como
objetivo relatar o caso de um cão, apresentando na cavidade abdominal, um granuloma
por corpo estranho (gaze) que levou a estenose intestinal multifocal.
MATERIAIS E MÉTODOS
Um canino, SRD, fêmea, de quatro anos de idade, chegou ao Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista
―Júlio de Mesquita Filho‖ apresentando caquexia, anorexia e episódios de êmese. Ao
exame clínico constatou-se desidratação, dispneia e presença de massa abdominal
palpável. Durante o procedimento clínico o animal vomitou aproximadamente meio litro
de conteúdo fétido e amarronzado semelhante a fezes e acabou vindo a óbito. O
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 228, 2013

mesmo foi encaminhado para o Serviço de Patologia para realização de exame


necroscópico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao exame externo do animal observou-se caquexia, desidratação, mucosa oral e ocular
de coloração pálida e presença de sutura de nylon na fáscia abdominal da linha alba.
No exame interno da cavidade torácica notou-se esôfago com dilatação difusa e
acentuada, contendo na luz, material fétido e amarronzado semelhante a fezes. Na
traqueia, presença de conteúdo espumoso e esbranquiçado associado ao mesmo
material encontrado no esôfago. O pulmão apresentou congestão e edema difuso e
acentuado, e, ao corte, presença de material fétido e amarronzado semelhante a fezes.
Na cavidade abdominal, presença de aproximadamente 150 mL de líquido
avermelhado associado à fibrina. Adjacente ao estômago foi observada massa de
aproximadamente 7,0 cm X 4,5 cm, com áreas avermelhadas entremeadas por áreas
amareladas, firme e de superfície irregular envolvendo segmentos do intestino delgado
e grosso. Ao corte da massa, notou-se na região central, presença de uma estrutura
macia e nodular, que, quando retirada e analisada viu-se que era composta por vários
fragmentos de tecido leve e reticulado, definidos então como resquícios de gaze. Na
transição duodeno-jejuno e no ceco, notou-se estenose por compressão externa pela
massa, levando a obstrução parcial da luz destes segmentos. O estômago apresentou
aproximadamente 100 mL de conteúdo fétido e amarronzado semelhante a fezes. Foi
constatada a ausência do útero e ovários e restos de sutura junto à massa abdominal.
A histopatologia da massa abdominal revelou tecido conjuntivo fibroso associado a
infiltrado inflamatório misto composto por neutrófilos e macrófagos epitelióides e
espumosos em quantidade acentuada e células gigantes do tipo corpo estranho em
quantidade discreta a moderada, sendo classificado como processo inflamatório
piogranulomatoso. Nos segmentos intestinais aderidos à massa, a serosa apresentou
fibrose e processo inflamatório piogranulomatoso. O pulmão apresentou
broncopneumonia caracterizada por congestão e edema difuso e acentuado, associado
a áreas multifocais de hemorragia e necrose discreta a moderada além de infiltrado
inflamatório misto intersticial, alveolar e bronquiolar acentuado com macrófagos
espumosos em quantidade acentuada. Notou-se presença de material amorfo,
basofílico e multifocal em quantidade moderada. A presença de sutura na fáscia
abdominal da linha alba associada a ausência de útero e ovários do animal indica que
o mesmo passou pelo procedimento de ováriossalpingohisterectomia (OSH). O
resquício de gaze provavelmente foi esquecido na cavidade abdominal durante este
procedimento cirúrgico, o que desencadeou um processo inflamatório
piogranulomatoso acentuado. A inflamação granulomatosa criou aderências nos
segmentos intestinais adjacentes, o que levou a estenose com obstrução parcial dos
mesmos. Isto impedia o fluxo normal do conteúdo alimentar no trato gastrointestinal do
animal, gerando estase fecal e desencadeando os episódios de vômito e dilatação do
esôfago. Durante êmese, o animal aspirou parte do conteúdo estomacal, o que resultou
em broncopneumonia.
CONCLUSÃO :A presença de material estranho na cavidade abdominal (gaze) originou
a formação do granuloma que levou a estenose intestinal multifocal desencadeando os
sinais clínicos e levando o animal a óbito. Portanto, é de extrema importância à
contagem dos materiais utilizados durante procedimentos cirúrgicos, evitando assim
formação de granulomas no interior da cavidade abdominal ou torácica.
REFERÊNCIAS
KUMMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N. Inflamação aguda e crônica. In__. Robbins & Cotran:
Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 7. ed. Rio de Janeiro : Elsevier, 2005, Cap. 2, p. 85-86.
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PEREIRA, F. E. L. Inflamações. In: FILHO, G. B. Bogliolo Patologia. 7. ed. Rio de Janeiro : Guanabara
Koogan, 2006, Cap. 7, p. 163.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 229, 2013

229. HEMANGIOMA PRIMÁRIO EM CÉREBRO DE CÃO


(Primary hemangioma in brain of a dog)

Claudia Momo¹; Juliana Evangelista Bezerril²; João Paulo Machado³; Gabriel Domingos
Carvalho4
1. Aluna de doutorado no prog de Patologia Animal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária da
UNESP – Campus de Jaboticabal/SP. E-mail: claumomo@yahoo.com.br
2. Docente da Faculdade Ingá – Maringá/PR.
3. Docente da Universidade de Viçosa – Viçosa/MG.
4. Professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais

RESUMO: Tumores primários do sistema nervoso central são raros nos cães e gatos e
podem ter efeitos locais devastadores, devido à limitação pela calota craniana. Os
hemangiomas primários do tecido nervoso também são raros, sendo mais comum a
sua forma maligna metastática. Descreve-se o caso de um cão da raça Perdigueiro,
que foi encaminhado ao Setor de Diagnóstico Anatomopatológico da Universidade de
Franca, onde foi necropsiado. Ao exame macroscópico do cérebro, após corte sagital
nos hemisférios, foi observada uma massa cilíndrica, bem delimitada, de coloração
vermelha, localizada no córtex do lobo frontal direito, medindo aproximadamente
4,0x3,5 cm. Ao corte, pode-se observar que a massa possuía cavitações preenchidas
por sangue. O exame histopatológico revelou tratar-se de um hemangioma bem
delimitado.
Palavras-chave: hemangioma, tumor primário do sistema nervoso
ABSTRACT: Primary tumors of the central nervous system are rare in dogs and cats
and can have devastating local effects, due to the limitation by the skullcap.
Hemangiomas primary nervous tissue are also rare, the most common being malignant
metastatic form. We describe the case of a dog of breed Perdigueiro, which was
referred to the Department of Pathological Diagnosis of the University of France, which
was necropsied. Gross examination of the brain after sagittal hemispheres, we
observed a cylindrical mass, well defined, red-colored, located in the cortex of the right
frontal lobe, measuring approximately 4,0 x3, 5 cm. When cutting, it can be seen that
the mass had cavities filled with blood. Histopathological examination revealed that it
was a hemangioma well delimited
Key words: hemangioma, primary tumor of the nervous system
INTRODUÇÃO
As neoplasias primárias do sistema nervoso central são incomuns no cão e no gato e
raramente geram metástases em tecidos extra-neurais (ZACHARY, 2007). De acordo
com Vandevelde (1984), a incidência de tumores intracranianos em cães é de 14,5
casos para 100.000 animais.
Em se tratando de neoplasias cerebrais, os termos benigno e maligno devem ser
empregados com cautela, pois a característica de malignidade de um tumor cerebral
difere no diagnóstico histopatológico e no comportamento biológico (KOESTNER,
HIGGINS, 2002).
Tumores intracranianos resultam em disfunção cerebral, causada por efeitos primários,
como infiltração no tecido nervoso ou compressão de estruturas adjacentes, além de
interrupção da circulação cerebral, ocasionando necrose, distúrbios na fluidez do líquor,
elevação da pressão intracraniana e edema cerebral. Os efeitos secundários, que
incluem a hidrocefalia, geralmente são mais difusos ou generalizados em sua
manifestação clínica, podendo mascarar a localização exata do tumor (KORNEGAY,
1983).
Tumores primários costumam ter um crescimento lento, no entanto, devido às
características anatômicas do crânio, tem efeitos devastadores. Os tumores de
crescimento lento permitem uma adaptação das estruturas adjacentes ao aumento de
pressão, podendo ocasionar sinais clínicos vagos, como a mudança de
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comportamento. Já os tumores de crescimento rápido, não permitem o mesmo grau de


compensação, podendo ter efeitos catastróficos na função cerebral, com ausência de
sinais clínicos (LECOUTEUR, WITHROW, 2007).
Virtualmente, qualquer célula presente no SNC pode gerar um tumor. Os hemangiomas
primários de SNC são raros, e formam massas únicas, de coloração vermelha ou
negra. São mais comuns nos cães, mas podem ocorrer em qualquer espécie
doméstica. Os hemangiossarcomas metastáticos são mais comuns no SNC do que os
hemangiomas primários (ZACHARY, 2007).
MATERIAL E MÉTODOS
Descreve-se o caso de um cão da raça Perdigueiro, de 9 anos de idade, que vivia na
zona rural de Franca-SP. De acordo com o histórico relatado pelo proprietário, o animal
ficou desaparecido durante três dias e, quando foi encontrado, estava em estado
agônico, vindo a óbito em seguida. O animal foi encaminhado ao Setor de Diagnóstico
Anatomopatológico da Universidade de Franca, onde foi necropsiado. Ao exame
macroscópico do cérebro, após corte sagital nos hemisférios, foi observada uma massa
cilíndrica, bem delimitada, de coloração vermelha, localizada no córtex do lobo frontal
direito, medindo aproximadamente 4,0x3,5 cm. Ao corte, pode-se observar que a
massa possuía cavitações preenchidas por sangue.
RESULTADOS
O exame histopatológico revelou uma massa bem delimitada, composta por
proliferação neoplásica de células endoteliais, dispostas, em sua maioria, em grandes
cavernas contendo células sanguíneas. As células endoteliais possuíam grau
moderado de pleomorfismo e escassas mitoses.
DISCUSSÃO
A rara condição do caso em questão pode ser confirmada pela ausência de casos de
hemangioma primário no sistema nervoso central, confirmada por vários estudos
retrospectivos, como seguem:
Gamlem et al. (2008) analisaram 439 tumores de origem vascular em cães e
identificaram somente um caso de hemangiossarcoma cerebral, representando apenas
0,23% dos casos. Ainda descreveram o baço como o principal sítio de localização da
neoplasia, seguido da pele e fígado.
Snyder et al (2006) relataram 173 casos de tumores intracranianos primários, mas não
houve nenhum caso de hemangioma.
Os hemangiossarcomas metastáticos são mais comuns do que os hemangiomas
primários em SNC de cães, segundo relatos de Filgueira et al., (2012), Shor et al.
(2009) e Dennler et al. (2007). Snyder et al. (2008) realizou levantamento de 177 casos
de tumores metastáticos em cães, sendo que 29% dos animais apresentaram
hemangiossarcomas metastáticos.
Özoy (2009), em levantamento realizado com 12 casos de tumores intracranianos
primários em cães, encontrou cinco meningiomas, três papilomas de plexo coroide e
quatro tumores de origem glial.
CONCLUSÕES
Com base na descrição deste caso e de acordo com as referencias pesquisadas, pode-
se concluir que os hemangiomas primários são tumores que raramente ocorrem no
cérebro de cães.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 229, 2013

REFERÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 230, 2013

230. HETEROTOPIA PANCREÁTICA EM CÃO: RELATO DE CASO


(Heterotopic pancreas in dog: a case report)

Alcides Branco da Silva Junior¹; Angélica de Paula Teixeira²; Marcia Paula


Enning³; Fernando França Giraldes4; Aline de Marco Viott5; Raimundo Alberto
Tostes5
1 Residente Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina;
2 Graduanda Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina;
3 Residente Hospital Veterinário, Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais UFPR, Setor Palotina;
4 Técnico Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina;
5 Docente do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina.

RESUMO: Heteroropia pancreática é um distúrbio de rara ocorrência em animais, sem


associações como parênquima normal do pâncreas. Uma anomalia congênita comum
nas porções iniciais de trato gastrointestinal, sem sintomas na grande maioria
dificultando diagnóstico. Considerado um distúrbio pouco compreendido, este artigo
traz um relato de caso atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do
Paraná, Setor Palotina.
Palavras-chave: anomalia congênita; cães; ectopia; pâncreas
ABSTRACT: Pancreatic Heteroropia is a rare disorder in humans and animals without
association with normal pancreas parenchyma. It is a common congenital anomaly in
the initial portions of gastrointestinal tract without symptoms, which complicates the
diagnosis. Considered a poorly understood disturbance, this article report a case study
presented to veterinary Hospital at the Federal University of Paraná, Sector Palotina
Key words: congenital anomaly, dogs, ectopia, pancreas
INTRODUÇÃO
Heteroropia pancreática é um distúrbio de rara ocorrência em animais que consiste de
tecido pancreático inserido em locais não usuais. Tal atipia manifesta-se comumente
nas porções iniciais de trato gastrointestinal, não havendo sintomatologia clínica na
maioria dos casos, o que torna o diagnóstico difícil (Ratan et al., 2012). Entretanto,
dores abdominais, hemorragia gastrointestinal e sintomas relacionados a obstrução e
surgimento de massa abdominal manifestam-se quando o tecido acessório impede a
funcionalidade do órgão onde está inserido (Pearson, 1951). Embora muito estudado
na medicina humana é pouco compreendido na medicina veterinária (Barron, 1959;
Briziarellie e Tornaben, 1972). Este artigo traz um relato de caso da ocorrência de tal
distúrbio em uma cadela, da raça Poodle fêmea, atendida no Hospital veterinário da
Universidade Federal do Paraná setor Palotina.
MATERIAIS E MÉTODOS
Animal da raça Poodle, fêmea, de aproximadamente 2 meses, adquirida em pet shop
deu entrada no hospital veterinário da Universidade Federal do Paraná com
gastroenterite hemorrágica. Os principais sinais clínicos observados foram dor
abdominal, apatia e mucosas pálidas. Optou-se pelo internamento, porém no décimo
sexto dia entrou em estado comatoso com posterior parada cardiorrespiratória.
Mediante a autorização do proprietário e o consentimento do médico veterinário
responsável, a necropsia foi realizada e fragmentos de órgãos foram acondicionados
em formol 10% e processados rotineiramente para a coloração de hematoxilina e
eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No exame necroscópico a análise externa revelou escore corporal grau 1. A mucosa
oral estava acentuadamente pálida e havia secreção amarelada viscosa entre as
pálpebras do olho direito. O lúmen traqueal estava levemente repleto com líquido
espumoso translúcido difuso e pulmão hipocrepitante com congestão difusa moderada.
Na cavidade abdominal, o fígado apresenta aumento da friabilidade de coloração
amarelada difusa moderada a acentuada. Rins com cápsulas moderadamente aderidas
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 230, 2013

com parênquima brancacento difuso moderado. Ao corte notou-se palidez acentuada


de cortical e medular. A serosa intestinal demonstrava coloração ictérica difusa
moderada com espessamento difuso leve da musculatura. Em porção medial de
duodeno, havia pequeno aumento de volume de aproximadamente 0,3 centímetros de
diâmetro, esbranquiçado.
Muitos casos de heterotopia pancreática são relatados em diferentes espécies. Casos
de ocorrência em submucosa do duodeno e vesícula biliar de cães (Barron, 1959;
Mann, 1922; Pang, 1988), fígado de ratos (Briziarelli e Tornaben, 1972), cavalos,
coelhos e porcos (Burkl, 1950). A maioria destes casos possuem em comum a falta de
sintomatologia clínica, sendo o distúrbio um achado histopatológico, caracterizado por
ácinos exócrinos funcionais associado a ausência de células da parte endócrina.
Em virtude da inexpressiva sintomatologia, o diagnóstico preciso é comprometido. O
exame radiográfico pode ser útil e até mesmo o contraste radiográfico auxilia em muito
em casos que culminam com ulcerações ou intussuscepção, assim como a endoscopia
(Ratan et al., 2012; Terada, 2010). Tal anormalidade também se confirma por análise
imunohistoquímica. Macroscopicamente não se pode afirmar com certeza a gênese do
processo, pois há semelhanças com outros distúrbios como carcinoma, divertículos ou
leiomioma (Derbyshire, 1940 apud Pearson, 1951). A sintomatologia está longe de ser
patognomônica e os sinais clínicos são oriundos das alterações subsequentes.
No presente caso as suspeitas foram de giardíase, ingestão de corpo estranho ou
gastroenterite de etiologia viral. A imunocromatografia foi positiva para Parvovirus. No
exame necroscópico, em primeira instância não se detectou alterações relevantes.
Somente após análise sistemática da mucosa intestinal, um pequeno aumento de
volume de aproximadamente 0,3 centímetros de diâmetro de coloração brancacenta
em porção medial de duodeno, foi notado. No exame histopatológico detectou-se
alteração heterotópica, caracterizada pela presença de ácinos da porção exócrina e
ductos em meio a submucosa e camada muscular duodenal estando ausente as
células do pâncreas endócrino.
CONCLUSÃO
Apesar da heterotopia pancreática ser um raro distúrbio, isto não deve ser impeditivo
de um diagnóstico conclusivo acerca desta enfermidade. De fato, como as lesões são
muito discretas, é difícil caracterizá-las. No exame anatomopatológico do caso em
questão, o achado necroscópico indicava um pólipo ou até mesmo área focal de
fibrose. Porém a análise histopatológica demonstrou-se suficiente para a determinação
morfológica da lesão.
REFERÊNCIAS
BARRON, C. N. Ectopic pancreas in the dog. Acta Anatomica, v.36, 344-352, 1959.
BRIZIARELLI G., TORNABEN J. A. Ectopic pâncreas in the liver of a rat. Veterinary Pathology, v.9,
p.263-265, 1972.
BURKL, W. Überortsfremde Pancreaszellen in den Pylorusdrüsenbeim Menschen, Virchows.
Virchows Archives, 318, p.268-288, 1950.
MANN, F. C. An accessory pancreas in the wall of the gallbladder of the dog. Anatomic records, 23,
p.351-353, 1922.
PANG, L. C. Pancreatic heterotopia: a reappraisal and clinicopathologic analysis of 32 cases.
Southern Medical Journal, 81, 1264-1275, 1988.
PEARSON, S. Aberrant pancreas. Arch surg, 63, 168-184, 1951.
RATAN, K. N.; SINGH, M.; RANI, B.; TINA. Heterotopic pancreas leading to ileo-ileal
intussusceptions The association of paediatrics surgeons of Pakistan Journal of case reports, v.3, p.12,
2012.
TERADA, T. Heterotopic pancreatic tissue of the stomach: reportof three cases and consideration
of its histogenesis. Case Reports in Gastroenterology, 4, 386-392, 2012.

631
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 231, 2013

231. IMUNOMARCAÇÃO DE CÉLULAS-TRONCO TUMORAIS EM CÉLULAS


METASTÁTICAS DE NEOPLASIAS MAMÁRIAS CANINAS
[immunostaining of cancer stem cell in metastatic cell in canine mammary
neoplasms]

Geórgia Modé Magalhães¹, Erika Maria Terra², Rosemeri Oliveira Vasconcelos³,


Márcio de Barros Bandarra³, Pâmela R. R. Moreira³, Antonio Carlos Alessi³

1- Docente do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária de Peq Animais – UNIFRAN, SP


2- Departamento de Clínica e Cirurgia, FCAV Unesp Jaboticabal, SP, Brasil.
3- Departamento de Patologia Veterinária, FCAV Unesp Jaboticabal, SP, Brasil.

RESUMO: Neoplasias mamárias caninas são muito frequentes em cadelas e há uma


alta incidência de tumores malignos. Estudos recentes sobre carcinogênese propõem a
detecção de células-tronco tumorais (CTTs) em neoplasias mamárias. A CTT é uma
célula capaz de se auto-renovar e se diferenciar em células maduras no tecido a qual
está inserida. Nesse estudo objetiva-se detectar as CTTs por meio de reações imuno-
histoquímicas em células metastáticas de neoplasias mamárias caninas. Com isso uma
amostra de 8 tecidos de metástase de neoplasias mamárias caninas foram
selecionadas para o estudo utilizando os anticorpos CD44, CD24, Oct-4 e ALDH-1. As
marcações foram mínimas para os anticorpos CD24, Oct-4 e ALDH-1 e
significativamente maior para o CD44. Conclui-se que o fenótipo CD44+/CD24- está
presente nas metástases.
Palavras chave: célula-tronco tumoral; CD44; CD24; neoplasia canina
ABSTRACT: Canine mammary neoplasms in dogs are very common and there is a
high incidence of malignant tumors. Recent studies of carcinogenesis propose detecting
cancer stem cells (CSCs) in breast tumors. CSC is a cell able to self-renew and to
differentiate into mature cells in the tissue to which it is inserted. In this study we aim at
detecting CSCs by immunohistochemical reactions in metastatic cells of canine
mammary neoplasms. A sample of 8 tissues of metastatic canine mammary neoplasms
were selected for the study using the antibodies CD44, CD24, Oct-4 and ALDH-1. The
markings were minimal for antibodies to CD24, Oct-4 and ALDH-1 significantly higher
for the CD44. We conclude that the phenotype CD44 + / CD24-is present in metastasis.
Key words: Cancer stem cell; CD44; CD24; canine neoplasm
INTRODUÇÃO
Tumores de mama são os mais frequentes em cadelas e estima-se que o índice de
malignidade seja maior que 50%. Estudos recentes sobre carcinogênese propõem a
detecção de células-tronco tumorais (CTT) em neoplasias mamárias (MICHISHITA et
al., 2011; PANG & ARGYLE, 2010). Uma CTT é uma célula capaz de se auto-renovar,
ter habilidades para formar metástase e está associada com a resistência a
quimioterápicos. Em neoplasias mamárias caninas essas CTTs já foram isoladas por
citometria de fluxo através dos marcadores de superfície CD44+/CD24- (COCOLA et
al., 2009).
A ocorrência de metástase é a causa da morte dos pacientes com neoplasias
mamárias. Acredita-se que a migração de CTTs contribuam para expansão da massa
tumoral, invasão a curta distância e metástases distantes. As CTTs mamárias
aumentam a motilidade celular e aumentam a expressão de genes que promovem a
metástase (LIU et al., 2010; VELASCO-VELÁZQUEZ et al., 2012). Estudos acreditam
que raras subpopulações de células do tumor primário consigam completar os passos
da metástase, sendo essas podendo ser as CTTs (CHU & ALLAN, 2011). Neste
estudo, procurou-se detectar a presença de CTT por meio da técnica de imuno-
histoquímica em células metastáticas de neoplasias mamárias caninas.

632
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 231, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Um total de 8 amostras de metástases tanto em linfonodo quanto em vasos linfáticos
foram selecionadas do arquivo do Departamento de Patologia Veterinária (FCAV-
UNESP Jaboticabal), incluídas em blocos de parafina e as lâminas coradas com
Hematoxilina e Eosina. Para a análise imuno-histoquímica foram utilizados cortes de
tecidos neoplásicos mamários incluídos em parafina, para todos os anticorpos (CD44,
CD24, Oct-4 e ALDH-1), de acordo com a Tabela 1.

A análise estatística foi conduzida utilizando o programa computacional Graphpad


Prisma (versão 4.0, 2003) com o teste de Kruskal-Wallis, seguido do teste de
comparações múltipla de Dunn´s, considerando significativo quando P<0,05.
RESULTADOS
As médias percentuais de imunomarcações e erro-padrão das médias estão
representados na tabela 2 para os anticorpos CD44, CD24, Oct-4 e ALDH-1.

Em relação aos anticorpos CD24, Oct-4 e ALDH-1 não foram observadas


imunomarcações nas células metastáticas. Os resultados demonstram diminuições
significativas (p=0,0001) do CD44 para os anticorpos CD24, Oct-4 e ALDH-1 (Figura1).

DISCUSSÃO
No nosso estudo apenas o CD44 foi altamente expressado nas células metastáticas,
indicando um fenótipo CD44+/CD24-. Estudos encontraram resultados semelhantes,
mas não idênticos, pois a comparação foi entre as células neoplásicas na metástase
em linfonodo com o tumor primário, sendo as células da metástase mais expressivas
para o CD44+/CD24- (KAI et al., 2011). Em êmbolos linfovasculares de carcinomas
inflamatórios em mulheres, autores também detectaram a expressão dos fenótipos
para CTTs (XIAO et al., 2008). Na literatura relata-se que a porcentagem de marcação
na metástase em linfonodo do fenótipo CD44+/CD24-, por citometria de fluxo foi de
6,1%, e esses autores afirmam que a disseminação metastática está associada com
aumento desse fenótipo nas neoplasias mamárias humanas (TIEZZI et al., 2011). O
exato mecanismo ainda não se sabe, mas autores acreditam que essas células que
conseguem chegar ao local de metástase sejam as CTTs (CHU & ALLAN, 2011).
633
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 231, 2013

Sabe-se que o Oct-4 é altamente expresso em células tumorais CD44+/CD24- e pode


ser um potencial biomarcador para início, progressão e diferenciação de neoplasias
mamárias (LIU et al., 2011). Nesse trabalho os resultados da imunomarcação foi
significativamente baixa em relação às observadas para CD44. Possivelmente seja um
número pequeno de CTTs que chegam até o local da metástase (BEN-PORATH et al.,
2008; HU et al., 2008).
Embora autores isolaram isoformas de ALDH-1 e relacionaram com a metástase em
tecidos mamários humanos (MARCATO et al., 2011), no nosso trabalho esse marcador
não foi imunomarcado nas metástases.
CONCLUSÃO
As células metastáticas apresentaram o fenótipo CD44+/CD24- sugerindo que as CTTs
participam do processo de metástase.
REFERÊNCIAS
BEN-PORATH, I.; THOMSON, M. W.; CAREY, V. J.; GE, R., BELL, G. W.; REGEV, A.; WEINBERG, R.
A. An embryonic stem cell-like gene expression signature in poorly differentiated aggressive human
tumors. Nat Genet, v, 40, n.5, p. 499-507, 2008.
CHU, J. E.; ALLAN, A.L. The role of cancer stem cells in the organ tropism of breast cancer metastasis: a
mechanistic balance between the seed and the soil. International Journal of Breast Cancer, 2012 in
press.
COCOLA, C.; ANASTASI, P.; ASTIGIANO, S.; PISCITELLI, E.; VILARDO, L.; BERTOLI, G.;
BECCAGLIA, M.; VERONESI, M.C.; SANZONE, S.; BARBIERI, O.; REINBOLD, R.A.; LUVONI, G.C.;
ZUCCHI, I. Isolation of canine mammary cells with stem cell properties and tumor-initiating potential.
Reproduction in domestic animals, v. 44 (suppl. 2), p. 214-217, 2009.
HU, T.; LIU, S.; BREITER, D.R.; WANG, F.; TANG, Y.; SUN, S. Octamer 4 Small Interfering RNA results
in cancer stem cell– like cell apoptosis. Cancer Research, v. 68, n. 16, p. 6533-6540, 2008.
KAI, K.; ARIMA, Y.; KAMIYA, T.; SAYA, H. Breast Cancer Stem Cells. Breast Cancer, v.17, n.2, p. 80
85, 2010.
LIU, H.; PATEL, M. R.; PRESCHER, J. A.; PATSIALOU, A.; QIAN, D.; LIN, J.; WEN, S.; CHANG, Y. F.;
BACHMANN, M. H.; SHIMONO, Y.; DALERBA, P.; ADORNO, M.; LOBO, N.; BUENO, J.; DIRBAS, F.M.;
GOSWAMI, S.; SOMLO, G.; CONDEELIS, J.; CONTAG, C. H.; GAMBHIR, S. S.; CLARKE, M. F.Cancer
stem cells from human breast tumors are Involved in spontaneous metastases in Orthotopic mouse
models. PNAS, v.107, n. 42, p. 18115-18120, 2010.
MARCATO, P.; DEAN, C.A.; PAN, D.; ARASLANOVA, R.; GILLIS, M.; JOSHI, M.; HELYER, L.; PAN, L.;
LEIDAL, A.; GUJAR, S.; GIACOMANTONIO, C. A.; LEE, P. W. Aldehyde dehydrogenase activity of
breast cancer stem cells is primarily due to isoform ALDH1A3 and its expression is predictive of
metastasis. Stem Cells, v. 29, n.1, p. 32-45, 2011.
MICHISHITA, M., AKIYOSHI, R., YOSHIMURA, H., KATSUMOTO, T., ICHIKAWA, H.,OHKUSU
TSUKADA, K., NAKAGAWA, T., SASAKI, N.,TAKAHASHI, K. Characterization of spheres derived from
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2011.
PANG, L. Y.; ARGYLE, D. J. Using naturally occurring tumours in dogs and cats to study telomerase and
cancer stem cell biology. Biochimica et Biophysica Acta, v. 1792, p. 380-391, 2009.
TIEZZI, D.G., VALEJO, F.A.M., MARANA, H.R.C., CARRARA, H.H.A., BENEVIDES, A., ANTONIO,
H.M.R., SICCHIERI, R.D., MILANEZI, C.M., SILVA, J.S., ANDRADE, J.M. CD44+/CD24- cells and lymph
node metastasis in stage I and II invasive ductal carcinoma of the breast. Medical Oncology, 2011
VELASCO-VELASQUEZ, M.A., HOMSI,N., DE LA FUENTE, M., PESTELL, R.G. Breast câncer stem
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XIAO, Y., YE, Y., YEARSLEY, K., JONES, S., BARSKY, S.H. The Lymphovascular Embolus of
Inflammatory Breast Cancer Expresses a Stem Cell-Like Phenotype. The American Journal of
Pathology, v. 173, n. 2, 2008.

634
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 232, 2013

232. INFECÇÃO POR ACINETOBACTER EM UM CÃO: relato de um caso


(Acinetobacter infeccion in a dog: case report)

Kátia de Oliveira Pimenta Guimarães (UNISA) – Res em Pat Animal; Rayssa de Moura Barbosa (UNISA)
- Aluna de Grad; Caio Rodrigues dos Santos (UNISA) – Prof Dr em Pat Animal; Jessica Yumi Asano
Reimberg (UNISA) – Res em Cirurgia de Peq Animais; Simone Gonçalves (UNISA) – Prof em Clínica de
Peq Animais; Guilherme Durante Cruz (UNISA) – Prof em Pat Animal – Orientador
RESUMO: Nos últimos 15 anos a preocupação dos médicos e microbiologistas vem
crescendo em relação as bactérias do gênero Acinetobacter, devido à sua notável
capacidade de causar infecções em indivíduos imunocomprometidos, e de adquirir
rapidamente resistência às drogas. Seu papel em infecções nasocomiais em humanos
é amplamente analisado e reportado. Embora também ocorram casos de infecção por
Acinetobacter sp. em animais, estes ainda são pouco relatados e estudados. Através
desse relato salienta-se a importância do conhecimento dos veterinários sobre a ação
dessa bactéria, a fim de que apliquem o tratamento mais eficaz de acordo com a cepa
encontrada, com base em seus mecanismos de resistência.
Palavras-chave: cão; gram-negativo; imunocomprometido; multirresistente; oportunista
ABSTRACT: Over the past 15 years the concern of the doctors and microbiologists has
been growing regarding the bacteria of the genus Acinetobacter, due to its remarkable
ability to cause infections in immunocompromised individuals, and rapidly acquire drug
resistance. Its role in nasocomiais infections in humans is widely analyzed and reported.
Although infections by Acinetobacter sp. also occur in animals, they are seldom
reported and studied. Through this report we attempted to emphasize the importance of
knowledge of veterinarians about the action of this bacteria in order to implement the
most effective treatment according to the strain found on the basis of their resistance
mechanisms.
Key words: dog; gram-negative; immunocompromised; multiresistant; opportunistic
INTRODUÇÃO
Acinetobacter sp. é um bacilo gram-negativo, encontrado na água e no solo, que
acomete indivíduos imunocomprometidos. Trata-se de um patógeno oportunista, que é
atribuído, sobretudo, a casos de infecções nasocomiais. Em medicina veterinária, foi
detectada em cães, gatos, cavalos e pássaros selvagens. Acomete principalmente o
sistema respiratório, trato urinário, e tecido cutâneo. Promove adesão em células
epiteliais, causando apoptose destas. Além disso, possui mecanismos de resistência
intrínsecos e adquiridos que a torna multirresistente as drogas, o que dificulta o
tratamento da doença, que tem curso fulminante. As bactérias do gênero Acinetobacter
ganharam visibilidade nos últimos anos, especialmente em função do número de surtos
em humanos causados por cepas multirresistentes as drogas, que, em boa parte
culminam em óbito dos pacientes, devido à rápida progressão de infecções sistêmicas.
A partir de uma miríade de fatores de virulência esse patógeno oportunista consegue
contornar a ação dos antibióticos. Em meio a esses fatores estão o acúmulo de
múltiplas mutações e a obtenção de genes de resistência por meio da transferência de
plasmídeos, transposons e integrons. Outros mecanismos que causam danos ao
hospedeiro são a produção e secreção de enzimas e produtos tóxicos, e a apoptose de
células epiteliais decorrente da adesão dessas bactérias, sendo que, quando ocorrem
no endotélio, causam hemorragia. Dentre os fatores que predispõe o indivíduo a ser
infectado por essa bactéria estão: o uso de corticosteróides, cateteres, ventilação
mecânica, o constante uso de antibióticos e a longa estadia em hospitais.
Acomete principalmente o sistema respiratório, em pneumonias associadas a
ventilação mecânica; trato urinário, a partir de cateteres urinários; e tecido cutâneo,
através de lesões na pele. Porém, também há casos de meningite em indivíduos que
sofreram cirurgias no sistema nervoso.
MATERIAL E MÉTODOS: No dia 12/03/2013 um canino, macho, SRD, 8 anos, deu
entrada no HOVET-UNISA com histórico de arranhadura por felino há 2 dias. O animal
635
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 232, 2013

apresentou prostração, hiporexia, claudicação e edema de membro torácico direito


algumas horas após o incidente. Durante o exame físico observou-se aumento de
linfonodo cervical superficial direito. No membro afetado notou-se acentuada
sensibilidade, edema, discreta secreção serosanguinolenta à punção e uma pequena
área de necrose. O quadro do animal agravou-se rapidamente nas 48 horas seguintes,
com progressão intensa da necrose por toda região subcutânea/muscular de membro,
tórax e pescoço, hipotensão severa não responsiva à drogas vasoativas, hipotermia,
hiperalgesia e quadro séptico. O proprietário optou pela não internação do animal,
apesar de ter sido recomendada. No segundo dia de atendimento foi coletado
fragmento de pele do membro afetado para exame microbiológico. No terceiro dia
optou-se pela eutanásia do animal.
RESULTADOS
No segundo dia de atendimento foi coletado material para exame microbiológico, que
culminou no crescimento da Acinetobacter sp.
Quanto ao exame necroscópico, foi observada severa hemorragia e edema em tecido
subcutâneo, difuso, acometendo desde região cervical ventral até região inicial de
abdômen ventral, além de membros torácicos. Internamente, baço, pulmão, rins e
bexiga apresentaram também graves alterações macroscópicas condizentes com
processo hemorrágico difuso, com áreas extensas de sufusões e equimoses. Regiões
de mionecrose também eram observadas irregularmente. No exame histopatológico
observou-se congestão e difusa hemorragia pulmonar. Em fígado, severa congestão
hepática e degeneração microvacuolar foram notadas. Também foram observadas
acentuadas lesões hemorrágicas difusas em região subepitelial de bexiga, com
dilatação de capilares e processo inflamatório discreto. Hiperplasia linfóide em
estômago (gastrite folicular) e intestino, hiperplasia reativa neutrofílica esplênica,
hemorragia perivascular renal; e ainda paniculite foram detectadas. Em pele/tecido
subcutâneo chamava atenção a marcante hemorragia principalmente em região de
panículo e entre fibras musculares esqueléticas.
DISCUSSÃO
De acordo com os fatores de virulência e patogenia da Acinetobacter sp. nota-se que
os sinais clínicos do animal atendido correspondem com as características citadas. A
arranhadura feita pelo felino foi o provável meio de entrada do patógeno, que causou a
infecção porque o animal estava imunocomprometido, o que é sabido, já que esta
bactéria só consegue causar lesões em animais nessa situação. As lesões endoteliais
causadas pelo agente são compatíveis com os achados clínicos e histopatológicos do
caso citado. Essas lesões causaram uma severa hemorragia tipicamente perivascular
devido a lesão endotelial e subsequente necrose justificando a hipotensão arresponsiva
as drogas. O quadro agudo e a piora progressiva são similares a relatos de infecções
hospitalares em humanos no qual a bactéria é pouco responsiva a terapia
antimicrobiana e tende a desencadear um processo séptico grave, na maior parte das
vezes fatal.
CONCLUSÃO: A partir desse caso, nota-se que as infecções causadas pela
Acinetobacter sp. são uma crescente preocupação em animais imunocomprometidos,
porém, a falta de conhecimento de muitos veterinários sobre este patógeno é um fator
agravante. A escassez de relatos de casos mantém os veterinários alheios à doença, o
que favorece a disseminação da bactéria e inviabiliza um diagnóstico rápido, sendo
esse fundamental para um melhor prognóstico.
REFERÊNCIAS
BOERLIN, P. et al. "Transmission of opportunistic pathogens in a veterinary teaching hospital," Veterinary
Microbiology, 2001, vol 82, pp 347-359. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/ Acesso em:
25/06/13. FRANCEY, T.; GASCHEN, F.; NICOLET, J.; BURNENS, AP. ―The role of Acinetobacter
baumannii as a nosocomial pathogen for dogs and cats in an intensive care unit,‖ Journal of Veterinary
Internal Medicine, 2000, vol. 14, no. 2, pp. 177–183. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com Acesso
em: 25/06/13
636
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 233, 2013

233. INFECÇÃO POR Rangelia vitalii EM UM CÃO EM MINAS GERAIS


(Rangelia vitalli infection in a dog in Minas Gerais)

Matheus Vilardo Lóes Moreira, Laís Bitencourt Guimarães, Juneo Freitas Silva,
Natália de Melo Ocarino, Rogéria Serakides, Roselene Ecco

Setor de Patologia.Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, Escola de Veterinária da UFMG.

RESUMO: Relata-se um caso de hemoparasitose em um cão, macho, adulto, sem raça


definida, que residia em Caeté, Minas Gerais. As alterações macroscópicas foram
consistentes com anemia hemolitica extravascular. O exame histopatológico revelou
numerosos protozoários com cerca de 2,5 μm no citoplasma de células endoteliais em
vários órgãos. As lesões associadas à morfologia e localização dos parasitas permitiu
um diagnóstico compativel com infecção por Rangelia vitalii.
Palavras-chave: hemólise extravascular; hemoparasita; histopatologia; rangeliose
ABSTRACT: A case of hemoparasitosis in an adult, male, mixed-breed dog from Caeté
city, Minas Gerais, is report. Gross findings were consistent with extravascular
hemolytic anemia. Histopathological examination revealed numerous protozoa with
around 2.5 μm in the cytoplasm of endothelial cells in various organs. Lesions,
morphology and location of the parasites allowed a diagnosis compatible with infection
by Rangelia vitalii.
Key-words: Extravascular hemolysis; histopathology; hemoparasite; rangeliose
INTRODUÇÃO
Rangeliose, também conhecida como ―nambiuvú‖ ou ―peste do sangue‖, é uma doença
hemolítica extravascular e hemorrágica, de origem imunomediada (Fighera et al.,
2010), que afeta cães principalmente de áreas rurais e suburbanas da região sul do
Brasil (Loretti e Barros, 2005). Seu agente é o protozoário Rangelia vitalii (Fighera,
2007), pertencente ao filo Apicomplexa e ordem Piroplasmorida (Loretti e Barros, 2005;
Soares et al.,2011), sendo que o presente caso é o primeiro a ser relatado em Minas
Gerais. Os sinais clínicos da rangeliose são de icterícia precedida de anemia
regenerativa, esplenomegalia, hapatomegalia e hemorragias (Loretti e Barros, 2005;
Fighera et al., 2010; Silva et al., 2011). Sendo assim, babesiose (Fighera et al., 2010;
Costa et al., 2012) e erlichiose monocítica (Fighera et al., 2010) devem ser
consideradas no diagnóstico diferencial. O objetivo deste relato é apresentar um caso
de Rangelia vitalii em um cão no estado de Minas Gerais, visando maior atenção dos
clínicos e patologistas para esta doença ascendente no Brasil.
RELADO DO CASO
Um cão macho, adulto, sem raça definida, proveniente da cidade de Caeté, Minas
Gerais, foi encaminhado ao Setor de Patologia Animal do Hospital Veterinário da
Escola de Veterinária da UFMG para a realização de necropsia. Macroscopicamente,
as mucosas oculares e oral estavam moderadamente ictéricas e pálidas. O subcutâneo
e superfícies articulares estavam moderadamente ictéricos e a musculatura esquelética
estava moderadamente pálida, fluindo sangue com a viscosidade diminuida e em
menor quantidade. O animal apresentava ainda hemorragias multifocais no subcutâneo
e musculatura esquelética além de esplenomegalia moderada e linfonodos
moderadamente aumentados de volume e difusamente vermelho-escuros. Fragmentos
da maioria dos órgãos foram coletados, fixados em formol neutro 10%, processados
rotineiramente para histologia e corados pela hematoxilina-eosina. O exame
histopatológico revelou numerosas estruturas arredondadas, com aproximadamente
2,5 μm de diâmetro, no interior do citoplasma de células endoteliais de capilares e
vênulas em vários orgãos. Os órgãos mais intensamente parasitados foram os
linfonodos, coração e plexo coróide do terceiro ventriculo. Baço e parede intestinal
apresentaram poucos parasitas. Além da parasitose, havia numerosas hemácias nos

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 233, 2013

seios linfáticos dos linfonodos e intensa diferenciação linfoplasmocitária, presente


também no baço. A morfologia e localização foram compatíveis com zoítos de Rangelia
vitalii.
DISCUSSÃO
Rangeliose ainda não havia sido relatada no estado de Minas Gerais e segundo Loretti
e Barros (2005) os animais mais acometidos pela rangeliose são de áreas rurais e
suburbanas da região sul do Brasil. Recentemente, um estudo molecular detectou o
protozário no sangue em cães do Rio de Janeiro (Lemos et al., 2012). Acredita-se que
o transmissor da R. vitalii são os carrapatos Rhipicephalus sanguineus e Amblyomma
aureolatum, e que o parasita necessita dos carrapatos para realizar parte do ciclo e se
tornar virulento (Fighera, 2007). No cão deste relato não foram encontrados carrapatos,
no entanto isto não impossibilita infecção prévia, pois os sinais da doença e morte
podem ocorrer entre 10 e 21 dias após a infecção (Silva et al., 2011). Além das lesões
macroscópicas características de hemólise extravascular (Loretti e Barros, 2005;
Fighera et al., 2010), o animal também pode apresentar petéquias e sufusões nas
mucosas, serosas e tecido subcutâneo (Fighera et al., 2010; Silva et al., 2011), como
observado no animal do presente relato. Alguns cães também podem desenvolver
doença hemorrágica com sangramento na ponta das orelhas (Loretti e Barros, 2005;
Fighera et al., 2010). No hemograma dos animais infectados por R. vitalli observa-se
anemia macrocítica e hipocrômica regenerativa e trombocitopenia com macroplaquetas
(Fighera et al., 2010; França et al., 2010; Paim et al., 2012). O esfregaço de sangue
periférico é uma importante ferramenta de diagnóstico, visto que a R. vitalii pode ser
encontrada no interior de eritrócitos (França et al., 2010) na fase aguda da doença
(Silva et al., 2011), e em neutrófilos, macrófagos (França et al., 2010; Silva et al., 2011)
e citoplasma de células endoteliais após o pico da parasitemia (Silva et al., 2011). Os
zoítos de R. vitalii observados especialmente no interior do citoplasma de células
endoteliais de capilares e vênulas do linfonodo, coração e plexo coróide no animal do
presente relato,sendo compatíveis aos observados por Loretti e Barros (2005) e
Fighera et al. (2010). Os zoítos apresentam 2,0 a 2,5 μm de diâmetro, citoplasma claro
e núcleo excêntrico e basofílico (Loretti e Barros, 2005). Com base nisso, acredita-se
que o animal do presente caso já havia passado pelo pico de parasitemia. Loretti e
Barros (2005) e Fighera et al. (2010) relatam que histologicamente ainda pode-se
observar infiltrado mononuclear, predominantemente plasmocitário, em diversos
órgãos, podendo ocorrer lesões granulomatosas. No presente caso não foram
observadas alterações inflamatórias nos orgãos possivelmente devido a apresentação
aguda da doença. Entre os diagnósticos diferenciais a babesiose causa hemólise
intravascular, consequentemente hemoglobinemia e hemoglobinúria (Fighera et al.,
2010), alterações que não foram observadas no animal do presente relato. A erlichiose
monocitica aguda causa lesões macroscópicas semelhantes ao do presente animal,
entretanto, Erlichia canis infecta monócitos circulantes (Fighera et al., 2010).
CONCLUSÕES
A rangeliose deve ser incluída no diagnóstico diferencial nos casos em que os cães
apresentarem sinais clínicos e alterações macroscópicas de anemia hemolítica
extravascular. Ressalta-se a necessidade de mais estudos sobre a ocorrência e
distribuição da rangeliose em Minas Gerais.
Agradecimentos
À CAPES, CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro.

638
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 233, 2013

REFERÊNCIAS
COSTA, M. M.; FRANÇA, R. T.; da SILVA, A. S. Rangelia vitalii: changes in the enzymes ALT, CK and
AST during the acute phase of experimental infection in dogs. Revista Brasileira de Parasitologia
Veterinária, v.21, n.3, p.243-248, 2012.
FIGHERA, R. A. Rangeliose. Acta Scientiae Veterinariae, v.35, n.2, p.261-263, 2007.
FIGHERA, R. A.; SOUZA, T. M.; KOMMERS, G. G. et al. Patogênese e achados clínicos, hematológicos
e anatomopatológicos da infecção por Rangelia vitalii em 35 cães (1985-2009). Pesquisa Veterinária
Brasileira, v. 30, n.11, p.974-987, 2010.
FRANÇA, R. T.; da SILVA, A. S.; PAIM, F. C. et al. Rangelia vitalli in dogs in southern Brazil.
Comparative Clinical Pathology, v.19, p.383-387, 2010.
LEMOS, T. D.; CERQUEIRA, A. M. F.; TOMA, H. K. et al. Detection and molecular characterization of
piroplasms species from naturally infected dogs in southeast Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia
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LORETTI, A. P.; BARROS, S. S. Hemorrhagic disease in dogs infected with an unclassified
intraendothelial piroplasm in southern Brazil. Veterinary Parasitology, v.134, p.193-213, 2005.
PAIM, C. B.; PAIM, F. C.; as SILVA, A. S. et al. Thrombocytopenia and platelet activity in dogs
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Acute phase, parasitemia, biological cycle, clinicalpathological aspects and treatment. Experimental
Parasitology, v.128, p.347-352, 2011.
SOARES, J. F.; GIROTTO, A.; BRANDÃO, P. E. et al. Detection and molecular characterization of a
canine piroplasm from Brazil. Veterinary Parasitology, v.180, p.203-208, 2011.

639
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 234, 2013

234. INTOXICAÇÃO CRIMINOSA DE CÃES POR DICUMARÍNICO –


RELATO DE CASO
(Criminal poisoning of dogs by dicumarinics- case report)

Laura Fernanda Condota Borba de Souza¹; Daniel França Horta¹; Ludmila Rodrigues
Moroz²; Kaic Dela Coleta¹; Thais Correa Costa³; Daisy Pontes Netto¹

1 Laboratório de Toxicologia Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, UEL;


2 Médica Veterinária Autônoma;
3 Laboratório de Patologia Animal, Departamento de Medicina Veterinária Preventina, UEL.

RESUMO: Muitos praguicidas são utilizados de forma ilegal, para o extermínio de cães
e gatos, como os dicumarínicos, carbamatos e organofosforados. Os dicumarínicos são
muito utilizados para o envenenamento de animais devido à sua fácil aquisição. Atuam
como anticoagulantes, com ação direta sobre fatores protrombinicos, levando a sinais
como sangramentos espontâneos e que podem evoluir até a morte do animal. Para um
diagnóstico confirmatório, faz-se necessário a realização de necropsia e análise
anatomopatológica, associado a exames toxicológicos para a confirmação dos casos
suspeitos. Este trabalho tem por objetivo o relato de caso de dois cães de uma mesma
propriedade que foram envenenados, que foram confirmados por necropsia e exame
toxicológico.
Palavras-chave: envenenamento; hemorragia; raticidas
ABSTRACT: Many pesticides are used in an illegal manner, for the extermination of
cats and dogs, such as the dicumarinics, carbamates and organophosphorus
compounds. Dicumarinics are mainly used for animal poisoning due to its easy
acquisition. These act as anticoagulants, with direct action over protrombin factors,
leading to symptoms such as spontaneous bleeding and which can evolve to the
animal's death. For a precise diagnosis, it is necessary to perform the necropsy and the
anatomopathological analysis, also associated to toxicological tests for the confirmation
of suspect cases. This work has the objective of describing the case of two dogs from
the same property which were poisoned, with confirmation through necropsy and
toxicological testing.
Key –words: poisoning; hemorrhage; rodenticides
INTRODUÇÃO
As intoxicações por praguicidas em animais domésticos estão presentes na rotina da
clinica, sendo acidentais ou intencionais (XAVIER, 2007). De acordo com dados do
Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), em 2010 as
intoxicações por agrotóxicos, foram a principal causa de intoxicação animal (FIOCRUZ,
2010). Diversos princípios e ou associações tóxicas são utilizadas com o intuito de
promover um controle de pragas ou eliminar um animal. Os princípios mais
encontrados nas suspeitas de intoxicações são em ordem crescente os carbamatos,
dicumarínicos e os organofosforados. Os raticidas dicumarínicos competem com a
vitamina K pelas enzimas epoxiredutase e vitamina K redutase, impedindo a conversão
da vitamina K e consequentemente alterando os fatores protrombóticos (Fator de
coagulação II, VII, IX, X). (GÓRNIAK; MEDEIROS 2008; OSWEILER, 1998). O objetivo
deste trabalho é relatar o caso de intoxicação de dois cães, com o diagnóstico
confirmatório.
RELATO DE CASO
Dois cães, um da raça Golden Retrivier e outro da raça Daschund, de uma mesma
propriedade vieram à óbito. Um dos cães (Daschund) foi encontrado morto pelos
proprietários e o outro, apresentava prostração, taquipnéia e hipertermia, foi
encaminhado à uma clínica veterinária, vindo posteriormente à óbito. Foi encontrado
uma bandeja contendo restos de carne na propriedade. Ambos os animais foram
encaminhados para a necropsia. Ao exame externo do cão da raça Golden Retrivier,
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 234, 2013

observou-se conteúdo sanguinolento em cavidade oral e nasal, grande quantidade de


fezes sanguinolentas ao redor do ânus. Na avaliação dos órgãos, grande quantidade
de líquido serosanguinolento espumoso em traquéia e ao realizar espremedura de
pulmões, drenou-se moderada quantidade de líquido serosanguinolento. O baço
apresentava-se moderadamente aumentado e o omento com impregnação de
hemoglobina, sem alterações anatômicas. Os intestinos estavam com aspecto
intensamente congesto em toda sua extensão, com aspecto necrótico. O material
contido em alças era sanguinolento, com mucosa soltando-se facilmente. Estômago
com dilatação moderada e vasos de curvatura maior congestos. Os rins apresentavam
coloração intensamente congesta, cápsula com leve aderência. Observou-se cérebro
com moderada congestão de vasos encefálicos. A necropsia do outro cão evidenciou
mucosa oral intensamente cianótica e vasos esclerais congestos e cianóticos. Os
condutos auditivos apresentavam-se congestos e cianóticos. Avaliando o tecido
subcutâneo apresentava duas pequenas áreas de hemorragia, de aproximadamente
1cm cada) localizadas em flanco esquerdo. A musculatura apresentava-se com
coloração congesta e cianótica de forma generalizada. Em cavidade abdominal havia
pequena quantidade de líquido serosanguinolento (5 ml). Na avaliação orgânica
individual, foi observado o baço com aspecto contraído e omento maior com leve
congestão. Os intestinos apresentavam discreto aspecto inflamado de serosa e
discreta congestão dos vasos mesentéricos. Havia pequenas áreas hemorrágicas na
inserção dos vasos em intestinos. Durante a abertura de intestinos, foi possível
observar a presença de hemorragias superficiais em mucosas, com pouco
extravasamento para o lúmen. Rins com coloração intensamente congesta, cápsula
com vasos evidentes e congestos, com leve aderência. Observou-se o cérebro com
intensa congestão de vasos encefálicos, apresentando pequenas áreas hemorrágicas.
A principal suspeita para ambos os animais era a intoxicação por dicumarínicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encaminhadas amostras de fígado dos dois animais para o Laboratório de
Toxicologia Veterinária da Universidade Estadual de Londrina (TOXIVET – UEL), para
a realização de exames toxicológicos para carbamatos, organofosforados, fluoracetato
e dicumarínicos. A análise foi realizada através da técnica qualitativa de Cromatografia
em Camada Delgada, de metodologia descrita de acordo com AOAC (1995). Ambas as
amostras foram negativas para carbamatos, organofosforados, porém foram positivas
para dicumarínicos, confirmando a suspeita de intoxicação.
CONCLUSÕES
O uso de raticidas anticoagulantes, de maneira criminosa é comum em cães e gatos,
sendo uma das principais suspeitas em casos de animais apresentando sinais de
hemorragia que podem ou não evoluir à óbito. É importante que se conheça os sinais
clínicos, para evitar o óbito dos animais intoxicados. Em casos em que se consegue
realizar o tratamento, feito com a administração de vitamina K, possuem um
prognóstico favorável.
REFERÊNCIAS
AOAC. Official Methods of Analysis of AOAC International. 16 ed, v.1. AOAC International,
Gaithersburg, 1995.
FIOCRUZ. Sistema Nacional de Informações Tóxicofarmacológicas (SINITOX). Casos Registrados de
Intoxicação Humana, de Intoxicação Animal e de Solicitação de Informação por Agente Tóxico.
Brasil, 2010. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/media/b4.pdf>. Acesso em 28 jul. 2013.
GÓRNIAK, S. L; MEDEIROS, R.M.T. Toxicologia dos raticidas. In: SPINOSA, H.S; GÓRNIAK, S.L.;
NETO, J.P. Toxicologia aplicada à Medicina Veterinária. 1 ed. Barueri: Manole, 2008. p. 345-353.
OSWEILER, G. D. Rodenticidas. In:__. Toxicologia Veterinária. 1 ed. Porto Alegre: Artes Médicas,
1998. P. 300-305.
XAVIER, F. G. Toxicologia do praguicida aldicarb (―chumbinho‖): aspectos gerais, clínicos e terapêuticos
em cães e gatos. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.4, jul-ago. 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/cr/v37n4/a51v37n4.pdf. Acesso em: 26 jul. 2013.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 235, 2013

235. LEIOMIOSSARCOMA MAMÁRIO EM CÃO – RELATO DE CASO


(Breast leyomiossarcoma in dog - Case Report)

Aline Andrade Farias¹;Caio Vitor Cavalcante de Carvalho¹; Natália Freitas De Souza¹;


Thaiana do Xingu Toledo Bozza¹; Adriana Maciel de Castro Cardoso²

1 Universidade Federal Rural da Amazônia


2 Instituto da Saúde e Produção Animal, Universidade Federal Rural da Amazônia

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de leiomiossarcoma


mamário, uma alteração proliferativa, maligna da camada muscular. O caso refere-se a
cão, fêmea, adulta, procedente de criação doméstica encaminhada ao Setor de
Patologia Animal da Universidade Federal Rural da Amazônia. No exame
anatomopatológico foi encontrada massa tumoral de formato arredondado, bordos
irregulares, com ulceração e de consistência firme a palpação. No exame
histopatológico, observou-se atipia celular, células fusiformes de aspecto bizarro, alto
índice mitótico, células multinucleadas e intenso pleomorfismo celular.
Palavras – chave: patologia; neoplasia
ABSTRACT: This study reports a case of breast leyomiossarcoma, a change
proliferative malignant muscle layer. The study refers to a female dog, adult, coming
from domestic breeding that was referred to the sector do Veterinary Pathology of the
Federal Rural University of Amazônia. During the anathomopathologically exam, has
been found tumoral mass, irregularly shaped, with ulceration and firm consistency on
palpation. Histopathologically, was observed the presence of cellular atypical, bizarre
aspect of spindle cells, high mitotic index, multinucleated cells and intense cellular
pleomorphism.
Keywords: pathology; neoplasia
INTRODUÇÂO
As neoplasias são agregados celulares que se diferenciam dos seus tipos originais, as
quais não necessitam de estímulos fisiológicos do organismo animal para se diferenciar
e proliferar. Elas podem ser classificadas como benignas e malignas de acordo com
seu comportamento, sendo a primeira menos agressiva que a segunda. Neoplasias
mamárias em cadelas atualmente tem uma grande importância no cotidiano veterinário,
pois representam a neoplasia mais frequente (Sorenmo, 2003).
O leiomiossarcoma mamário é uma neoplasia maligna de fibras musculares lisas
(Santos; Alessi, 2010), sendo extremamente rara em tecido glandular. Este tipo de
tumor tem uma forte tendência para recorrência após sua remoção, assim como, por
ser maligno sofre metástase pela corrente sanguínea, espalhando-se por outros órgãos
do organismo animal.
O presente trabalho tem como finalidade relatar um caso de leiomiossarcoma mamário
na espécie canina.
MATERIAL E MÉTODOS
O caso refere-se a uma cadela da raça American Pit Bull, adulta, fêmea, oito anos, de
criação doméstica, que fazia uso constante de contraceptivos. O animal foi eutanasiado
devido a dificuldade respiratória e anorexia causadas pelo tumor mamário maligno.
Posteriormente, foi encaminhado ao Setor de Patologia Animal da Universidade
Federal Rural da Amazônia.
Realizou-se coleta de fragmentos do tumor mamário, linfonodos e pulmão para a
realização do exame histopatológico. Os materiais foram fixados em formol tamponado
a 10%, processados pela técnica de inclusão em parafina, e corados por Hematoxilina
e Eosina (HE).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Macroscopicamente, durante o exame externo do animal, observou-se uma massa
medindo 1,5 x 2,0 de aspecto característico tumoral de formato arredondado
642
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 235, 2013

e multilobular com bordos irregulares com presença de ulceração, notou-se ainda


nódulos não aderidos de consistência elástica na região torácica, um deles lesionado
apresentando secreção purulenta.
Notou-se a presença de edema na região próxima ao processo tumoral, cadeia linfática
apresentando aumento de tamanho, no interior da cavidade torácica notou-se
estruturas de aspecto nodular de consistência firme em todos os lobos pulmonares,
caracterizando metástase, presença de líquido no saco pericárdico de coloração
avermelhada, presença de coágulos cruóricos nas câmaras direita e esquerda do
coração, rim esquerdo aumentado de tamanho.
Microscopicamente observou-se no exame do tumor grande atipia celular, células
fusiformes de aspecto bizarro, alto índice mitótico e intenso pleomorfismo celular.
Sendo encontrado ainda, no exame histopatológico do pulmão edema e metástase.
Leiomiossarcoma mamário é um dos tumores mais raros que acometem a cadeia
mamária das cadelas,tendo vários fatores predisponentes como a raça, idade e uso de
contraceptivos(Santos; Alessi, 2010). Esta neoplasia por ser maligna gerou muitas
consequências ao animal, como caquexia e dificuldades respiratórias, assim como as
metástases para o pulmão.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o caso é de uma alteração maligna, de rara ocorrência e que predispõe
o animal a diversas alterações se não tratada logo no início, podendo levar a óbito. Os
exames complementares foram imprescindíveis para a obtenção do diagnóstico de
leiomiossarcoma mamário.
REFERÊNCIAS
Assis J O; Pimentel A C A; Cintra A C F L C; Scardini R -Leiomiossarcoma de Mama: Relato de caso,
vol.23 ,no.4 ,Rio de Janeiro May 2001
Bambo O; Cardoso J M M ; Santos I F. C; Monteiro G M; Lampeão Â- Leiomiossarcoma Ceco - Cólico
em Cão Jovem– Relato de caso. 33º. Congresso Brasileiro da ANCLIVEPA 2012
MEUTEN D.J. Tumors in domestic animals. 4th ed. Iowa: Iowa State Press, 2002, p.786.
Neto, L Z-Tumores mamários malignos na cadela. São Paulo: Arte e ciência: Marília,SP; UNIMAR
Universidade de Marília, 1997
Santos, L S; Alessi, A C-Patologia veterinária. São Paulo: Roca,2010. p 326-327
Takada M., D‘Angelino R.H.R., Nishiya A.T., Ferrarias T.M., Sanchez M.P., Braconaro P., Guerra J.L. &
Schaeffter C.D.. Leiomiossarcoma vesical em cão. Relato de caso. 2007.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 236, 2013

236. LEISHMANIOSE CANINA NO SUL DE MINAS GERAIS


(Canine leishmaniasis in South of Minas Gerais)

Penélope P. V. Moura¹, Lízia R. Freire¹, Luiz Eduardo D. Oliveira², Juliana A.


Cerqueira², Flademir Wouters³, Josilene N. Seixas³

1-Aluno de graduação do curso de Medicina Veterinária (UFLA), Lavras-MG


2-Aluno do programa de residência em Medicina Veterinária (UFLA), Lavras-MG
3- Prof do curso de Med Veterinária do Setor de Patologia Veterinária (UFLA). josiseixas@dmv.ufla.br

RESUMO: A leishmaniose é uma antropozoonose importante descrita em diversas


cidades brasileiras, tanto no meio urbano como rural. Em Belo Horizonte, capital do
Estado, a doença assumiu grandes proporções endêmicas. Recentemente muitas
mortes estão sendo atribuídas a esta enfermidade em todo o país. Esse trabalho
descreve cinco casos de leishmaniose em cães, recém-diagnosticados na Universidade
Federal de Lavras (Lavras, MG). É necessária a implantação de medidas que impeçam
a disseminação da doença, já que é de grande importância para a saúde pública.
Palavras-chave: cães; endemia; Leishmania spp.; Minas Gerais
ABSTRACT: Leishmaniasis is a major anthropozoonosis described in several Brazilian
cities, both in urban and rural areas. In Belo Horizonte, the state capital, the disease
has assumed large endemic proportions and recently there are many deaths attributed
to this disease all over the country. This paper describes five cases of leishmaniasis in
dogs, newly diagnosed at the Federal University of Lavras (Lavras, MG). It is necessary
to implement measures to prevent the spread of the disease, since it‘s of a great
importance for public health.
Key words: dogs; endemic; Leishmania spp.; Minas Gerais
INTRODUÇÃO
A leishmaniose é uma antropozoonose de grande importância para a Saúde Pública,
transmitida por vetores artrópodes dos gêneros Lutzomyia e Phlebotomum (Gardiner et
al., 1988). É causada pelo protozoário Leishmania spp., um parasita intracelular
obrigatório do sistema mononuclear fagocitário. A doença pode acometer mamíferos
domésticos e selvagens, que uma vez infectados se tornam reservatórios do agente
etiológico, refletindo em risco à saúde humana. Devido à proximidade entre os cães e
os humanos, esta espécie é considerada o principal reservatório da doença (Pocai et
al, 1998). A adaptação do vetor às áreas periurbanas, bem como a presença de
indivíduos infectados são fatores primordiais para a ocorrência da doença.
O presente trabalho tem por objetivo relatar o aparecimento de diversos casos de
leishmaniose no Sul de Minas Gerais, especialmente na região de Lavras,
diagnosticados em um curto período de tempo.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram encaminhados para o Setor de Patologia Veterinária (SPV) da Universidade
Federal de Lavra (UFLA), em Julho de 2013, três cães para a necropsia, uma biópsia
de pele e um aspirado de linfonodo. À necropsia, foram feitos esfregaços de pele,
linfonodos, baço e medula óssea para análise citológica e coletado fragmentos
teciduais, que foram conservados em formol tamponado 10% e processados pelas
técnicas de rotina para a histopatologia em H&E. A citologia foi corada com Panótico
rápido.
RESULTADOS
Dos cinco cães, quatro eram de Lavras e um proveniente de Campo Belo, MG. Neste,
foi realizado um biópsia de pele.
Durante o exame físico dos mesmos foram observados lesões cutâneas na região da
cabeça e orelhas, alopecia periocular, caquexia, prostração, linfadenomegalia
generalizada e escarificações de decúbito. Nos animais necropsiados foram

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 236, 2013

observados esplenomegalia e linfadenomegalia generalizada. Em dois dos animais


foram observados ainda, onicogrifose.
O exame histopatológico da pele apresentou infiltrado inflamatório composto
principalmente por macrófagos e no citoplasma de alguns foi visualizado estruturas
compatíveis com formas amastigotas de Leishmania spp No material da necropsia
evidenciou-se a presença de infiltrado inflamatório linfo-histiocitário, contendo
numerosos macrófagos espumosos com estruturas parasitárias morfologicamente
compatíveis com Leishmania spp. em baço e em linfonodos de todos os animais; em
dois deles em pele, medula óssea e fígado, sendo que em um destes observou-se
ainda a presença do parasita em coração, intestino e testículo.
Tanto na citologia aspirativa do linfonodo como nos esfregaços realizados durante a
necropsia, pode-se observar a presença de estruturas parasitárias compatíveis com
Leishmania spp.
DISCUSSÃO
Apesar de não ser considerada endêmica é importante atentar-se para cães que
apresentem sintomatologia sugestiva de leishmaniose, especialmente quando há
manifestação de linfadenomegalia localizada ou generalizada, lesões pele,
onicogrifose, esplenomegalia, diáteses hemorrágicas, hepatite e hepatomegalia,
alterações oculares e neurológicas, insuficiência renal e emagrecimento progressivo.
Na região Sul de Minas Gerais há poucos relatos da doença (Silva e Santa Rosa,
2005).
Exames citológicos e histopatológicos permitem a visualização do parasita, e a citologia
aspirativa de linfonodos, por exemplo, mostra-se um método pouco invasivo, de baixo
custo e de rápida execução, quando comparado aos métodos sorológicos, ainda com a
vantagem de fácil visualização do parasita. No entanto, oficialmente a confirmação da
doença por meio de testes sorológicos é essencial para se tomar as devidas
providências (Alves e Bevilacqua, 2004).
Por se tratar de uma antropozoonose, é de extrema importância a prevenção da
doença através do manejo adequado do animal, do ambiente e do vetor e do animal.
Desta forma, é primordial que após a confirmação do diagnóstico, seja realizada a
notificação nos órgãos competentes e a eutanásia dos animais. Apesar de ser um
assunto polêmico, o tratamento dos animais doentes não deve ser realizada, de acordo
com a Normativa Mapa, Portaria n° 1.426/2008, sendo inviável, especialmente pela
possibilidade dos animais se tornarem portadores assintomáticos permanentes e
também pelo fato de que a medicação utilizada para tratar os animais é a mesma para
uso humano, aumentando assim o risco de resistência do protozoário ao medicamento
(Mapa, Portaria n° 1.426/2008).
CONCLUSÃO
A detecção desta doença em qualquer que seja a localidade deve ser devidamente
abordada a fim de confirmação do diagnóstico e adoção das medidas adequadas para
que não ocorra a sua disseminação.
Agradecimentos: À FAPEMIG pelo apoio financeiro.
REFERÊNCIAS
ALVES, W.A.; BEVILACQUA, P.D. Reflexões sobre a qualidade do diagnóstico da leishmaniose visceral
canina em inquéritos epidemiológicos: o caso da epidemia de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 1993-
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 237, 2013

237. LINFANGIECTASIA INTESTINAL EM UM CÃO - RELATO DE CASO


(Intestinal lymphangiectasia in a dog - case report)

Letícia Batelli de Oliveira¹, Guilherme Reis Blume¹, Anahí Souza Silva¹, Felipe Borges
Soares², Alexandre Cirne De Paula², Janildo Ludolf Reis Jr¹

1. Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF.


2. Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, Exército Brasileiro, Brasília, DF.

RESUMO: Este trabalho descreve um caso de linfangiectasia intestinal (LI) em um cão


Pastor Alemão. O animal foi submetido à necropsia com histórico clínico de vômito e
diarreia esverdeada e fétida. Macroscopicamente havia icterícia, ascite, hidroureter
bilateral e a mucosa do jejuno e, principalmente do íleo, estava avermelhada com áreas
multifocais esbranquiçadas de aspecto aveludado. Microscopicamente, os vasos
linfáticos do intestino delgado e grosso estavam severamente ectásicos com infiltrado
de células mononucleares. Os vasos linfáticos do estômago e da pelve renal estão
levemente dilatados, assim como os dos ureteres. A linfangiectasia intestinal pode ser
hereditária, adquirida ou idiopática. A presença da linfangiectasia em outros órgãos e
da ocorrência dos mesmos sinais clínicos em outros filhotes, sugere que a
linfangiectasia intestinal deste cão seja de origem hereditária.
Palavras-chave: diarreia; hereditária; intestino; vasos linfáticos
ABSTRACT: This report describes a case of intestinal lymphangiectasia (IL) in a
German Shepherd dog. The animal was submitted to necropsy with clinical history of
vomiting and fetid green diarrhea. Macroscopically, it had jaundice, ascites, bilateral
hydroureter and jejunum, and ileum mainly, were diffusely reddish with multifocal thick
white areas. Microscopically, the lymphatic vessels of the small and large intestine were
severely ecstatic with infiltration of mononuclear cells, predominantely macrophages.
The lymphatic vessels in the stomach, renal pelvis are ureters were slightly dilated.
Intestinal lymphangiectasia can be hereditary, acquired, or idiopathic. The
lymphangiectasia in multiple tissues and littermates with similar clinical signs suggest
that intestinal lymphangiectasia in this dog is hereditary.
Keywords: diarrhea; hereditary; intestine; lymphatic vessels
INTRODUÇÃO
Linfangiectasia intestinal (LI) é a severa dilatação dos vasos linfáticos da mucosa
intestinal, que pode englobar os vasos da submucosa, muscular, serosa e mesentério
(Brown et al., 2007; Gelberg, 2013; Miller et al., 2013). A LI acomete mais cães e é a
causa mais comum de enteropatia com perda proteica, visto que os vasos linfáticos
alterados acabam perdendo a linfa para a luz intestinal (Hall e Simpson, 2004; Gelberg,
2013). Não há predisposição racial, mas há mais relatos em algumas raças, sugerindo
uma predisposição genética (Brown et al., 2007).
A LI pode ser um distúrbio congênito, limitado ou não ao intestino, ou adquirido,
secundário à obstrução linfática por neoplasias ou inflamações, ou idiopático (Gelberg,
2013; Hall e Simpson, 2004). Sinais clínicos desse distúrbio incluem diarreia,
esteatorreia, linfopenia, hipocalcemia, hipocolesterolemia, ascite, devido a
hipoproteinemia, e, em menor proporção, vômito, letargia e anorexia (Hall e Simpson,
2004; Brown et al., 2007; Gelberg, 2013).
A macroscopia inclui espessamento da mucosa intestinal com vasos linfáticos dilatados
e repletos de quilo resultando na sua coloração esbranquiçada (Brown et al., 2007;
Gelberg, 2013). Microscopicamente, os vasos linfáticos estão marcadamente ectásicos
com variado infiltrado de linfócitos e plasmócitos na lâmina própria (Hall e Simpson,
2004; Gelberg, 2013).
O presente relato tem como objetivo descrever os achados anatomopatológicos da LI
em cão com histórico de vômito e diarreia.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 237, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Um cão, Pastor Alemão, macho, de 2 meses de idade foi necropsiado no Laboratório
de Patologia Veterinária (LPV) da Universidade de Brasília (UnB). O animal era
proveniente do canil da polícia do exército e nasceu de uma ninhada de 8 filhotes, onde
somente um animal sobreviveu. Além dessa ninhada, o animal convivia com outras
ninhadas, todos de faixa etária semelhante e vacinados com a polivalente a partir dos
45 dias de vida. Os sinais clínicos desses filhotes eram vômito e diarreia esverdeada e
fétida. Eles apresentavam leve melhora mediante tratamento com antiemético,
antibiótico e protetor gástrico, cessando o vômito, porém a diarreia continuava e
posteriormente vinham a óbito. Apenas um animal da ninhada foi encaminhado para
necropsia. Dez dias antes do óbito do referido animal, foi realizada transfusão
sanguínea, sendo o mesmo mantido por meio de dieta parenteral (base de leite/soja),
sempre apresentando os níveis de potássio baixo e icterícia. Amostras de intestino,
assim como de outros órgãos deste filhote, foram coletadas, fixadas em formalina
tamponada a 10%, processadas rotineiramente para inclusão em parafina e coradas
com hematoxilina e eosina (HE) para exame histopatológico.
RESULTADOS
Macroscopicamente, as mucosas conjuntivais e oral estavam ictéricas. A cavidade
abdominal continha 10 mL de líquido amarelado e turvo. Na mucosa do jejuno havia
múltiplas áreas avermelhadas de 0,5 cm de diâmetro e estriações avermelhadas. A
mucosa do íleo e do reto estavam difusamente avermelhadas, e a do íleo continha
áreas multifocais de 0,2 cm de diâmetro, elevadas e irregulares de coloração
esbranquiçada. A superfície do estômago continha áreas multifocais levemente
avermelhadas. Na parede da região pilórica havia extensa área de hemorragia e na
mucosa áreas irregulares, avermelhadas com cerca de 1 cm de diâmetro. Os ureteres
estavam severamente dilatados (hidroureter) e a pelve renal moderadamente dilatada.
A transição corticomedular dos rins estava avermelhada e a medular com estriações
brancas a alaranjadas. Na histologia, a mucosa dos intestinos delgado e grosso
apresentavam ectasia difusa e severa de vasos linfáticos e a lâmina própria estava
expandida por moderado infiltrado histiocítico. Havia também fusão, atrofia e perda de
vilosidades com severo edema de mucosa, submucosa e serosa. Ectasia difusa
moderada de vasos linfáticos e edema de mucosa e submucosa estavam presentes na
região fúndica e pilórica do estômago. Os vasos linfáticos da pelve e dos ureteres
estavam levemente dilatados.
DISCUSSÂO
O diagnóstico de linfangiectasia intestinal deste cão foi baseado nos achados macro e
microscópicos. A dilatação de vasos linfáticos era mais proeminente no intestino,
apesar de lesões semelhantes terem sido observadas em outros tecidos, como
estômago e ureter. Os achados anatomopatológicos, assim como o quadro clínico de
diarreia crônica, são semelhantes aos relatados por Suter et al. (1985), Kull et al.
(2001), Ilha et al. (2004) e Branquinho et al. (2011). A linfangiectasia pode ser de
origem hereditária, adquirida ou idiopática. As formas adquiridas estão normalmente
associadas a processos inflamatórios ou neoplásicos do intestino ou de linfonodos
mesentéricos (Brown et al., 2007). A forma genética é descrita em algumas raças de
cães e a dilatação de linfáticos não está limitada aos intestinos (Hall e Simpson, 2004).
Como dilatação de linfático foi também observado em outros tecidos, é muito provável
que o animal do presente relato tenha sido acometido pela forma hereditária. Além
disso, os outros filhotes da mesma ninhada apresentaram os mesmos sinais clínicos, o
que reforça esta hipótese.
CONCLUSÃO
Com base nos achados clínicos e anatomopatológicos foi estabelecido o diagnóstico de
linfangiectasia hereditária em um cão Pastor Alemão. Portanto, linfangiectasia intestinal
deve ser incluída no diagnóstico diferencial de cães com diarreia crônica.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 237, 2013

REFERÊNCIAS
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characteristics of intestinal lymphangiectasia in dogs: 17 cases (1996-1998). Journal of the American
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MILLER, L.M.; VAN VLEET, J.F.; GAL, A. Sistema Cardiovascular e Vasos Linfáticos. In: MCGAVIN,
M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia em Veterinária. 5.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013, Cap.10,
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SUTER, M.M.; PALMER, D.G.; SCHENK, H. Primary intestinal lymphangiectasia in three dogs: a
morphological and immunopathological investigation. Veterinary Pathology, v.22, n.2, p.123–130, 1985.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 238, 2013

238. LINFOMA DE CÉLULAS-T PRIMÁRIO CARDÍACO EM CÃO COM


LEISHMANIOSE VISCERAL
(Primary cardiac T-cell lymphoma in a dog with leishmaniasis)

Tiago da Cunha Peixoto¹, Julia Liger de Freitas², Daniela Farias Laranjeira¹, Vivian de
Assunção Nogueira³, Alessandra Estrela Lima¹, Stella Maria Barrouin Melo¹

1 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, Brasil.tiagocpeixoto@yahoo.com.br


2 Médica Veterinária, Salvador, BA.
3Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ, Brasil.

RESUMO: Descreve-se um caso de linfoma de células T primário cardíaco, em um cão


com leishmaniose visceral. O diagnóstico foi estabelecido baseado em exames
sorológico, cultivo de aspirado esplênico, bem como nos achados clinicopatológicos,
histopatológico e imunoistoquímico.
Palavras-chave: linfossarcoma; neoplasias; Leishmania; imunoistoquímica
ABSTRACT: In this report, we describe a primary cardiac t-cell lymphoma in a dog with
leishmaniasis. Concurrent leishmaniasis and neoplasia has been reported in dogs. The
diagnosis was based on serologic test, detection of amastigotes in the splenic aspirate,
histological characteristics and immunophenotyping of the tumors cells.
Keywords: lymphosarcoma; neoplasms; Leishmania; immunohistochemical
INTRODUÇÃO
Neoplasias primárias cardíacas são raras nos cães, e o hemangiossarcoma é o mais
frequentemente descrito (Ware; Hopper, 1999). Na literatura internacional, são
escassos os relatos de linfoma primário cardíaco em cães (Ware; Hopper, 1999; Sims
et al., 2003) e, aparentemente, não há nenhuma descrição no Brasil. Foram
encontrados 11 relatos de leishmaniose canina (LC) associada a tumores de diferentes
origens histogenéticas, tais como linfomas (4), tumor venéreo transmissível,
hemangiossarcomas (3), carcinoma epidermóide e adenoma adrenocortical (1)
(Manzillo et al., 2008; Ferro et al., 2013), contudo, não foram encontradas quaisquer
referências de neoplasias cardíacas associadas à LC. O objetivo deste estudo foi
relatar e descrever os aspectos clinicopatológicos e imunoistoquímicos de um linfoma
de células T primário cardíaco, em um cão com leishmaniose visceral (LVC).
MATERIAL E MÉTODOS
Em maio de 2012, uma cadela da raça Pitbull, com 2 anos de idade, procedente de
Salvador, BA, foi atendida no HOSPMEV-UFBA, com histórico de dermatopatia crônica.
Segundo o proprietário, o animal apresentava hiporexia, oligúria, emagrecimento e
dispneia. Ao exame físico, verificaram-se apatia e linfadenopatia generalizada, lesões
ulceradas e alopécicas disseminadas na pele e nas pinas auriculares, seborreia,
hiperqueratose de coxins plantares e onicogrifose.
O hemograma revelou anemia, linfopenia, desvio à esquerda, hipoalbuminemia e
hiperglobulinemia. Solicitou-se exame sorológico para LVC. Houve resposta satisfatória
ao tratamento com antibiótico e antinflamatórios. Quando reavaliado, um mês depois,
verificaram-se apatia, dispneia, taquicardia e arritmia severas. A sorologia para LVC
resultou positiva (DO=1,389) e o cultivo de aspirado esplênico evidenciou amastigotas
de Leishmania sp. Minutos após o atendimento, o animal morreu por parada
cardiorrespiratória e foi necropsiado no Laboratório de Patologia Veterinária da UFBA.
Durante o exame macroscópico, fragmentos de diversos órgãos foram coletados,
fixados em formol a 10%, processados pela técnica rotineira para histopatologia. Foram
realizados adicionalmente exames imunoistoquímicos.
RESULTADOS
À necropsia, observaram-se mucosas pálidas, linfadenomegalia generalizada,
esplenomegalia, hepatomegalia, acentuado edema pulmonar, intensa congestão
hepática e renal. No coração, verificou-se epicárdio com superfície irregular, devido
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 238, 2013

à presença de múltiplas massas de coloração esbranquiçada homogênea e salientes,


localizadas em todos os compartimentos cardíacos. A neoplasia afetava mais
notavelmente a região atrioventricular e o ventrículo esquerdo. Externamente, as
massas mediam entre 9,8x4,6 a 1,3x0,6 cm (faixas) e 0,4 a 1,0cm de diâmetro
(nódulos). Ao corte, exibia consistência macia e crescimento infiltrativo para o
miocárdio e endocárdio (infiltração transmural); observou-se ainda, proliferação
neoplásica envolvendo a valva mitral. Na superfície convexa do diafragma havia três
nódulos (_1,3cm de diâmetro) que, ao corte, exibiam características macroscópicas
semelhantes às do tumor cardíaco primário. O exame histopatológico evidenciou, no
coração e diafragma, proliferação atípica de células linfóides grandes ou médias, com
núcleos arredondados ou ovóides, hipercromáticos, algo vesiculares, com nucléolos
evidentes e escasso citoplasma anfofílico, por vezes volumoso. Havia moderada
quantidade de corpúsculos linfogranulares, intenso pleomorfismo e frequentes figuras
de mitose. Observaram-se ainda, atrofia e necrose hialina de cardiomiócitos e nos
órgãos linfóides, grande quantidade de amastigotas de Leishmania sp. Na análise
imunoistoquímica, as células tumorais apresentaram imunorreatividade forte e difusa
para CD3 e foram negativas para CD79a e CD18, o que confirma o imunofenótipo T
das células neoplásicas.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de linfoma de células T primário cardíaco associado à LVC foi baseado
em exames sorológico, cultivo de aspirado esplênico e nos achados clinicopatológicos,
histopatológico e imunoistoquímico. O linfoma é o tumor hematopoiético mais frequente
em cães, entretanto, os extranodais primários são raros (Fighera et al., 2002). A
coexistência entre Leishmania sp. e neoplasias tem sido verificada em homens e
animais (Ferro et al., 2013) e uma série de estudos epidemiológicos, experimentais e
laboratoriais sugerem a associação entre estas duas entidades no homem (Kopterides
et al., 2007), contudo, a associação entre leishmaniose e tumores hematopoiéticos são
raramente descritos (Manzillo et al., 2008). Cabe ressaltar que, segundo Manzillo et al.
(2008) que descreveram um caso de linfoma extranodal em cão com leishmaniose, os
linfócitos T gama-delta podem estar envolvidos na resposta imune do hospedeiro
contra Leishmania sp. Além disso, a estimulação antigênica prolongada e a
imunossupressão crônica (típica da leishmaniose) desempenhariam importante papel
na etiopatogenia do linfoma de células-T. Desta forma, a participação da Leishmania
sp. na carcinogênese da neoplasia cardíaca aqui descrita, deve ser considerada.
Também corrobora com essa hipótese o fato do linfoma primário cardíaco ser
observado no homem, especialmente, em pacientes imunossuprimidos (Huang e
Huang, 2010). No homem, o linfoma cardíaco primário é extremamente raro, já o
metastático é mais freqüente (Huang e Huang, 2010), semelhante ao relatado em
veterinária (Walter e Rudolph, 1996; Kisseberth, 2001). Por outro lado, no homem, a
maioria dos linfomas possui imunofenótipo B (Huang e Huang, 2010), diferente do
observado no cão deste relato. O diagnóstico diferencial foi realizado com outros
tumores cardíacos primários e metastáticos. Essas últimas possibilidades puderam ser
descartadas, pelos exames macro e microscópico minuciosos, com ênfase nos tecidos
linfóides, que não apresentaram evidências de proliferação neoplásica, exceto pelos
nódulos diafragmáticos, que foram interpretados como focos metastáticos do tumor
cardíaco.
CONCLUSÃO
Ao que tudo indica, relata-se pela primeira vez, uma neoplasia cardíaca associada à
infecção por Leishmania sp., bem como o primeiro caso no Brasil de um linfoma
primário cardíaco em cão.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 238, 2013

REFERÊNCIAS
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HUANG, H.N.; HUANG, S.H. Primary Cardiac Lymphoma: A Case Report and Literature Review. Clinical
Molecular Medicine. v.2, n.1, p.16-19, 2010.
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KOPTERIDES, P.; MOURTZOUKOU, E.G.; SKOPELITIS, E. et al. Aspects of the association between
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Medicine, v.13, p.95-103, 1999.

651
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 239, 2013

239. LINFOMA MULTICÊNTRICO DE CÉLULAS-T EM UM CHOW CHOW – RELATO


DE CASO
(Multicentric t-cell lymphoma in chow chow – case report)

Carlos Humberto da Costa Vieira Filho¹; Eduardo Luiz Trindade Moreira²; Tiago da
Cunha Peixoto²; Alessandra Estrela da Silva Lima²; Samay Zillmann Rocha³; Suélen
Dias Silva dos Reis4

1. Mestrando do Prog de Pós-Graduação em Ciência Animal nos trópicos UFBA (chfilho@bol.com.br);


2. Prof.Dr. Departamento de Anatomia, Patologia e Clínicas Veterinárias (UFBA);
3. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ);
4. Mestranda na Universidade do Recôncavo Baiano (UFRB).

RESUMO: Descreve-se aqui um caso de linfoma multicêntrico de células T em um cão


da raça Chow-Chow.O animal apresentava anorexia,vômitos, fraqueza nos membros
posteriores, apatia, hipertermia, emaciação, dor a palpação abdominal e intensa
dispnéia. Os exames radiográfico e ultrassonográfico revelaram efusão pleural,
linfadenopatia, hepatomegalia e esplenomegalia. Após o óbito, a necropsia mostrou
linfonodos, baço e fígado aumentados de volume, nodulações pulmonar e pancreática,
efusão pleural e espessamento nodular da porção distal do esôfago.A análise
histopatológica desses órgãos revelou intensa e difusa infiltração de linfócitos
neoplásicos. A análise imunoistoquímica demonstrou imunoreatividade para CD3 e
negatividade para CD79a e CD18.
Palavras-chave: canino; linfócitos; neoplasia
ABSTRACT: We describe here a case of multicentric lymphoma of T cells in a dog's
breed Chow-Chow.O animal had anorexia, vomiting, weakness in the hind limbs,
lethargy, hyperthermia, emaciation, pain on abdominal palpation and intense dyspnea.
Radiography and ultrasonography revealed pleural effusion, lymphadenopathy,
hepatomegaly and splenomegaly. After death, the autopsy showed lymph nodes,
spleen and liver enlarged, pulmonary nodules and pancreatic pleural effusion and
nodular thickening of the distal esophagus. A histopathology of these organs revealed
intense and diffuse infiltration of neoplastic lymphocytes. Immunohistochemical analysis
demonstrated immunoreactivity for CD3 and negative for CD18 and CD79a.
Keywords: canine; lymphocyte; neoplasia
INTRODUÇÃO
O linfoma é a neoplasia mais comum do sistema hematopoiéticoeo dos animais,
Atingindo um percentual em torno de 7% a 9% de todos os neoplasmas malignos em
cães (Fry e McGavin, 2009). Acometendo principalmente aqueles de meia-idade a
idosos e os de padrão racial definido, sem, entretanto, apresentar predileção para o
sexo (Ozaki et al., 2006; Ponce et al., 2010). Em animais, o linfoma pode ser
classificado de acordo com sua localização anatômica em mediastínico, alimentar,
extranodal, cutâneo e multicêntrico. Em geral, nesta última, há envolvimento de quase
todos os linfonodos, bem como de outros órgãos, enquanto as outras formas ficam
restritas, frequentemente, ao local designado (Fry e McGavin, 2009; Nardo et al., 2008;
Mendonça et al., 2013). Clinicamente, os animais acometidos por esta neoplasia,
apresentam sinais que variam com o sistema orgânico envolvido (Mitsui et al., 2007). O
objetivo deste relato foi descrever um caso de linfoma multicêntrico de células T em um
canino da raça Chow-Chow, descrevendo seus aspectos clínicos e
anatomopatológicos.
MATERIAL E MÉTODOS
Deu entrada no setor de Clínica Médica de Pequenos Animais um canino, Chow Chow,
macho, com cinco anos de idade, apresentando anorexia, vômitos e fraqueza nos
membros posteriores. No exame físico foi constatada apatia, hipertermia, emaciação e
dor a palpação abdominal. Foram solicitadas ultrassonografia abdominal, radiografia
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 239, 2013

contrastada de esôfago e abdômen. A USG abdominal revelou presença de estruturas


arredondadas e hipoecóicas, identificadas possivelmente como linfonodos celíacos,
medindo entre 3,3 x 2,5 e 3,4 x 2,7 centímetros, além de hepatomegalia e
esplenomegalia.
O animal retornou apresentando intensa efusão pleural com piora do quadro e
acentuada dispneia. Devido ao comportamento agressivo e o mal prognóstico da
doença, o quadro clínico evoluiu rapidamente para o óbito do animal, sendo este
encaminhado para necropsia no Laboratório de Patologia Veterinária (LPV) do
HOSPMEV/UFBA.
RESULTADOS
O exame post-mortem revelou linfadenomegalia dos nodos submandibulares, cervicais
superficiais, axilares, celíacos, traqueobrônquicos e pulmonares, eram compactos e
branco-amarelados. O baço estava aumentado de volume e tomado por áreas pálidas
com pontilhado brancacento. Fígado mostrou-se aumentado de volume com focos de
esteatose e áreas brancacentas. No pâncreas havia nodulação macia e avermelhada
(2,5 x 1,7 x 1,8 cm). A cavidade torácica estava preenchida por 650 mL de líquido
serofibrinoso turvo, floculado e amarelo-avermelhado, enquanto os pulmões estavam
edemaciados e congestos revelando nodulação brancacenta milimétrica no lobo medial
direito. A porção distal do esôfago apresentava espessamento nodular circunferencial
de sua parede onde residiam com centros cavitários às quais promoviam estreitamento
luminal. Os achados macroscópicos foram sugestivos de neoplasia linfoide de origem
multicêntrica e a causa mortis do animal devido à insuficiência respiratória aguda.
A análise histopatológica dos linfonodos, do esôfago e do pâncreas, revelou intensa e
difusa infiltração de células neoplásicas em arranjo sólido, intensamente pleomórficas,
grandes ou pequenas, redondas e poligonais, com citoplasma escasso a moderado e
núcleos volumosos, predominantemente reniformes com cromatina vesiculosa e
nucléolo evidente. Inúmeras células apresentavam multinucleação, enquanto outras
mostravam atividade fagocitária. Índice mitótico elevado. Infiltrações neoplásicas
também foram observadas em diferentes intensidades em pulmão, fígado, rim, baço e
SNC. No exame imunoistoquímico, as células mostraram forte marcação citoplasmática
somente para a expressão de CD3 (linfócitos T) e negativas para CD18 e CD79a.
DISCUSSÃO
Em estudo realizado por Moreno e Bracarense (2007), os cães diagnosticados com
linfoma estavam na faixa de 5,8 anos e apresentavam como sinais clínicos apatia,
anorexia, perda de peso, fraqueza, dispneia, vômitos e diarreia e que, no momento do
diagnóstico a alteração mais evidente ao exame físico foi a linfadenomegalia
generalizada. Achados semelhantes que corroboram com os observados no caso em
questão.
Nos casos em que o pleomorfismo e atipia celular são intensos, o diagnóstico tornase
muito difícil devido a grande variedade de desordens proliferativas do sistema
hematopoiético que possuem distribuição sistêmica, tornando-se essencial o
diagnóstico diferencial principalmente entre as neoplasias histiocíticas através da
realização da imunofenotipagem (Affolter e Moore, 2002). A imunofenotipagem passou
a ter grande importância, em casos de linfoma de células T em cães, pois este tipo
tumoral apresenta prognóstico ruim o que reduz a sobrevida do animal
comparativamente como linfoma de células B (Kiupel et al., 1999; Frantz et al., 2013).
Neste caso, o quadro clínico apresentado pelo paciente, evoluiu rapidamente após os
primeiros sintomas, o que reforça os relatos da literatura em que os animais
acometidos pelo linfoma de células T apresentam sobrevida diminuída.
CONCLUSÃO
O linfoma é uma neoplasia de grande incidência na espécie canina, sua apresentação
multicêntrica progride de forma rápida, principalmente quando formado por células T,
levando ao óbito.
653
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 239, 2013

REFERÊNCIAS
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654
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 240, 2013

240. LOCALIZAÇÕES ECTÓPICAS DE DioctophymarenaleEM CÃES, GATOS E


QUATIS EM SANTA CATARINA
(Ectopic localization of Dioctophymarenale in dogs, cats and coatis in Santa
Catarina)

Maria Cecília Camargo¹,Pâmella M. Arruda², Leíse H. Parizotto¹, Cláudia M. Galindo¹,


Vanessa Mattei², Myriam C. Granemann²

1. Aluna de Pós Graduação em Ciência Animal CAV/UDESC


2. Aluna de graduação- Laboratório de Patologia Animal CAV/UDESC

RESUMO: Dioctophymarenale é um parasita de rins de várias espécies de animais,


principalmente canídeos.Os sinais clínicos, quando presentes, estão relacionados ao
local onde o parasita se encontra.O objetivo do trabalho é descrever localizações
ectópicas do parasito, através de levantamento de animais necropsiados noLaboratório
de Patologia Animal CAV/UDESC–Lages/SC, entre 1988-2012.Nesse período foram
necropsiados 8.468 animais, entre caninos, felinos e animais silvestres. D. renale foi
diagnosticado em29 cães, dois gatos e um quati (Nasuasp). Em 63,25% dos animais, o
parasito encontrava-se no rim direito. Outras localizações incluem: livre na cavidade
abdominal, bolsa escrotal, ureter, sobre e entre lobos hepáticos, rim esquerdo e
cavidade torácica.
Palavras-chave: hemorragia pulmonar; levantamento; parasita; rins
ABSTRACT: Dioctophymarenale is a kidney parasite of various species of animals,
especially canines. Clinical signs, if present, is related to the parasite location. The aim
of this study was to describe ectopic locations of the parasite, through a survey of
animals necropsied at the Laboratory of Animal Pathology CAV / UDESC-Lages / SC,
between 1988-2012. During this period 8.468 animals were necropsied among dogs,
cats and wild animals. D. renale was diagnosed in 29 dogs, two cats and a coati
(Nasuasp). In 63.25% of the animals, the parasite was in the right kidney. Other
locations include: free in the abdominal cavity, scrotum, ureter, over and among hepatic
lobes, the left kidney and thoracic cavity.
Keywords: hemorrhage; kidneys; parasite; survey
INTRODUÇÃO
Dioctophymarenaleé um nematoide com distribuição mundial. Os hospedeiros
definitivos são os cães, raposas e martas. No hospedeiro definitivo, o parasita adulto
localiza-se geralmente no rim direito, assim os ovos podem ser eliminados com a urina
(URQUART et al., 1998; KOMMERS et al., 1999; MONTEIRO et al., 2003).No meio
ambiente os ovos requerem um período de incubação em meio aquático, antes de
ingeridos pelo hospedeiro intermediário, que pode ser ingerido por um hospedeiro
paratênico (peixe, caranguejo). Os animais se infectam pela ingestão de larvas ou de
um hospedeiro paratênico (BARRIGA et al., 1982). As larvas liberadas no trato
intestinal penetram na parede do intestino, invadem a cavidade peritoneal, e
subsequentemente penetram no rim, indo residir na pelve renal (FORTES, 1997).
O rim acometido pode apresentar-se com tamanho reduzido, irregularidade na
superfície e aderência do mesmo na musculatura (URQUHART, et al, 1998; AMATO et
al. 2007; SOUZA-JUNIOR &PÀDUA 1977; DACORSO et al., 1954). O objetivo deste
trabalho é relatar a ocorrência de Diocotphymarenalee sua localização, emcães, gatos
e quatis.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados foram obtidos dos registros de necropsias efetuadas no Laboratório de
Patologia Animal CAV/UDESC- SC, no período de 1988-2012.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de 1988-2012, foram realizadas 8.468 necropsias de cães, gatos e animais
silvestres.Destes, 32 (0,38%) estavamparasitados por D. renalesendo 29 cães, 2 gatos
655
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 240, 2013

e um quati. A localização do parasito, de acordo com a espécie animal acometida,


consta na tabela 1.

O rim direito de caninos foi o local de maior localização do parasito. Em dois cães,
havia um parasito no rim e outro livre na cavidade abdominal. Seis cães apresentaram
o nematoide livre na cavidade abdominal, acompanhado de congestão e espessamento
de omento, cavitações no parênquima hepático e aderência do baço ao mesentério.
Em um deles haviamúltiplas perfurações na superfície hepática e no diafragma.O
canino com o parasito no ureter direito, tinhaconteúdo purulento na pelve e bexiga
urinária. Neves et al. (1983) descreveram ocorrência de D. renale em cães na mesma
região, entre 1976-79. De 244 cães necropsiados,13 estavam parasitados. Naquele
período foi observado tendência de parasitismo único e no rim direito, com localização
errática entre lobos hepáticos, em linfonodo mesentérico e cavidade torácica.
Em um gato o parasito foi localizado livre na cavidade torácica, que estava repleta de
líquido avermelhado. No lobo pulmonar esquerdo havia uma área circular avermelhada,
de qual fluía sangue,indicando o ponto pelo qual no nematoide se fixava.A causa da
morte desse felino foi hemorragia pulmonar induzida pela parasitose.Segundo Osborne
et al., (1969) a penetração de Dioctophymarenale nostecidos se dá pela ação de
enzimas proteolíticas e lipolíticas produzidas pela glândula esofágica do parasito,
determinando necrose de coagulação nos locais atingidos (OSBORNE et al.,1969).
CONCLUSÃO
Dioctophymarenale parasita preferencialmente o rim direito de caninos, mas foi
encontrado em localizações variadas como o pulmão, bolsa escrotal, ureter, rim
esquerdo, cavidade abdominal e cavidade torácica. Este parasito também pode ter
localização errática em gatos e quatis.
A ocorrência de Dioctophymarenale é alta no estado de Santa Catarina, com destaque
os caninos, espécie mais frequentemente acometida.
REFERENCIAS
AMATO, J.F.R.; GRISI, L.; MIRANDA DA ROSA, V.L. Reunião dos casos brasileiros de dioctofimose
canina, comOcorrência de Dioctophyma... Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.2, p. 175-180. 2007
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URQUHART, G.M.; ARMOUR, J.; DUCAN, J.L.; DUNN, A. M.; JENNINGS, F.W. Parasitologia
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656
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 241, 2013

241. MACRÓFAGOS E LINFÓCITOS T NO MICROAMBIENTE TUMORAL DE


CARCINOMAS MAMÁRIOS CANINOS
(Macrophages and T lymphocytes in the tumor microenvironment of canine
breast carcinomas)

Thaís L. L. Castanheira¹; Eduardo Garrido¹; Mayara C. Rosolem¹; Filipe S. Fernando²;


Hélio J. Montassier³; Rosemeri O. Vasconcelos³

1 Pós-graduandos do Departamento de Patologia Veterinária, FCAV-UNESP, Jaboticabal


2 Pós-graduando do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da FCAV-UNESP, Jaboticabal
3 Professores do Depto de Pat Vet da FCAV-UNESP, Jaboticabal. thaisllcastanheira@gmail.com

RESUMO: A resposta inflamatória no microambiente tumoral vem sendo relacionada


com a malignidade de vários carcinomas, incluindo os carcinomas mamários. Tendo
em vista a necessidade de compreensão dos mecanismos de evasão tumoral,
objetivou-se com este trabalho avaliar os leucócitos presentes no sítio tumoral dos
carcinomas mamários caninos como um constituinte celular importante para o
desenvolvimento e progressão tumoral. Para isto, macrófagos e linfócitos T foram
identificados por imuno-histoquímica e a densidade celular foi associada com os
carcinomas mamários caninos, sugerindo a sua participação nos mecanismos de
evasão tumoral.
Palavras-chave: evasão tumoral; infiltrado inflamatório; imuno-histoquímica
ABSTRACT: The inflammatory response in the tumor microenvironment has been
related to the malignancy of various carcinomas like the breast carcinomas. Given the
need for understanding the mechanisms of tumor evasion the aimed this work was to
evaluate the leukocytes present in the tumor site of canine mammary carcinomas as an
important constituent of cell development and tumor progression. Then, macrophages
and T lymphocytes were identified by immunohistochemistry and cell density was
associated with canine mammary carcinomas, showing the participation of these cells
as possible activities on the tumor evasion mechanisms.
Key words: inflammatory infiltrate, immunohistochemical; tumor evasion
INTRODUÇÃO
A progressão da malignidade dos tumores mamários vem sendo relacionada com a
resposta inflamatória induzida no sítio tumoral (Reome et al., 2004). Os macrófagos
associados ao tumor (TAM) e os linfócitos T infiltrantes no tumor (TILT) foram descritos
como os leucócitos mais abundantes no estroma neoplásico (DeNardo e Coussens,
2007). Em diversos carcinomas humanos, incluindo os mamários, os TAM e os TILT
são relacionados a um pobre prognóstico (Coussens e Pollard, 2011). Os TAM
estimulam a angiogênese do microambiente tumoral (MaT), contribuindo com
mecanismos de escape e evasão tumoral (Ferrara, 2004; O'sullivan et al., 1993). Além
disso, os carcinomas são dependentes de fatores regulatórios e de crescimento como
as citocinas, fatores de crescimento epitelial e vascular, por exemplo, os quais podem
ser secretados tanto pelos TAM quanto pelos TILT (Reome et al., 2004). Os TILT em
diversos carcinomas são estimulados a diferenciarem-se em linfócitos T do tipo Th2,
que apresentam um perfil de citocinas pró-tumoral (Satyam et al., 2011; Yamazaki et
al., 2002). Estudos a respeito dos constituintes celulares e imunológicos do sítio
tumoral são importantes para o melhor entendimento dos mecanismos de evasão.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi comparar o perfil de células inflamatórias
(TILT e TAM) predominantes no MaT com a malignidade dos tumores mamários em
cadelas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletadas, 30 amostras de tecido mamário de cães, fêmeas, sem predisposição
por raça ou idade. Os grupos foram divididos em grupo controle com cinco amostras
oriundas de animais encaminhados para necropsia no Departamento de Patologia
657
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 241, 2013

Veterinária, da FCAV-UNESP, Jaboticabal; e, grupo de carcinomas simples com 25


amostras, coletadas do Serviço de Obstetrícia Veterinária do Hospital Veterinário da
FCAV-UNESP, Jaboticabal. Fragmentos incluídos em parafina foram submetidos à
imunomarcação para macrófagos (anti-calprotectina) e linfócitos T (anti-CD3) por
imuno-histoquímica, nas diluições de 1:3.500 e 1:350, respectivamente, por meio do
complexo estreptavidina peroxidase para os macrófagos e o complexo de polímeros
ligados a peroxidase para os linfócitos T. A densidade das células imunomarcadas foi
determinada por um programa de análise de imagem e expressa em porcentagem de
células por campo. Para a análise estatística confrontou-se a densidade de TAM e TILT
presentes nos tecidos mamários de cadelas entre os dois grupos experimentais,
através de análise de variância, utilizando-se os contrastes ortogonais, com nível de
significância de 5%.
RESULTADOS
A presença de TAM e TILT observados nas amostras era mais frequente em região
peritumoral ou próximos a ductos e vasos. A densidade de TAM (p<0,0045) e TILT
(p<0,0001) imumarcados foi maior no grupo dos carcinomas em relação ao grupo
controle. As médias e o erro padrão das médias para TAM e TILT foram

(grupo carcinomas).
DISCUSSÃO
A maior densidade de TAM e TILT nos carcinomas mamários em relação ao grupo
controle está de acordo com os dados da literatura, que correlacionam a presença
destes leucócitos com características de malignidade e pior prognóstico (Coussens e
Pollard, 2011). TILT isolados de carcinomas mamários humanos apresentam níveis
elevados de citocinas do tipo Th2, como a IL-4. Adicionalmente, muitas das atividades
pró-tumorais dos TAM são reguladas por IL-4 derivadas dos linfócitos Th2 (Ruffell et
al., 2012). A presença de linfócitos T nos carcinomas mamários caninos possivelmente
é constituída por um predomínio de células Th2, cujo perfil de citocinas atuam na
progressão, metastatização e tamanho tumoral (Kohrt et al., 2005). Outros estudos
demonstraram que a presença de macrófagos nas fases iniciais do desenvolvimento
tumoral é associada à necessidade de uma rápida angiogênese, enquanto que nas
fases mais crônicas relaciona-se às atividades pró-invasivas e pró-metastáticas das
células epiteliais malignas (Gocheva et al., 2010).
CONCLUSÕES
O infiltrado inflamatório de TAM e TILT nos carcinomas mamários caninos são
importantes constituintes do MaT, participando dos mecanismos intrínsecos de evasão
tumoral.
Agradecimentos
À FAPESP (processo 2012/09385-0) pelo auxílio financeiro à pesquisa e pela bolsa de
estudo (processo 2010/12946-8). E aos Serviços de Oncologia Veterinária e de
Obstetrícia Veterinária da FCAV-UNESP.
Nota
Aprovado pelo COBEA e CEUA (protocolo 010752/11).

658
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 241, 2013

REFERÊNCIAS
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Crosstalk between adaptive and innate immune cells during breast cancer progression. Breast Cancer
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659
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 242, 2013

242. MALFORMAÇÃO DE LARINGE EM CÃO – RELATO DE CASO


(Laringeal malformation in a dog – Case Report)

Márcia de Figueiredo Pereira; Fernanda Lúcia Passos Fukahori; Evilda Rodrigues Lima;
Orestes Luiz de Souza Neto; Fernando Leandro Santos; Renata Serpa Cordeiro Sá
Leitão

1 Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco

RESUMO: Descreve-se os aspectos clínicos e anatomopatológicos de um caso de má


formação congênita de laringe em um cão, macho, SRD, de 4 meses de idade.
Clinicamente, o animal apresentou dispneia, trombocitopenia, e alterações na
vocalização, e desenvolveu um aspecto inflado. Ocorreu a morte do cão e foi realizado
o exame necroscópico, onde se observou petéquias, equimoses e pústulas na pele,
hiperemia da conjuntiva com exsudato mucopurulento, ausência das cartilagens
tireóide e cricóide, bolhas de gás nos folhetos pleurais, pneumonia nodular multifocal,
com áreas de atelectasia e outras de enfisema pulmonar. Concluiu-se que os esforços
respiratórios aumentados ocasionaram a ruptura da membrana cricotireidea, com
escape de ar para os tecidos subcutâneos e pleura, o que culminou com a morte do
animal por insuficiência respiratória.
Palavras-chave: anomalias congênitas, canino, dispneia, glote
ABSTRACT: We describe clinical and pathologic features of a case of congenital
malformation of the larynx in a male dog, 4 months old. Clinically, the animal had
dyspnea, thrombocytopenia, and changes in vocalization, and developed an inflated
aspect. The animal died and necropsy was performed. It was observed petechiae,
bruises and pustules on the skin, conjunctiva hyperemic with purulent exudate, absence
of thyroid and cricoid cartilages, gas bubbles in pleura, multifocal nodular pneumonia
with atelectasis and emphysema. It was concluded that increased respiratory effort
caused rupture of cricotireoidea membrane with air escape into subcutaneous tissues
and pleura, which culminated in death of the animal due to respiratory failure.
Key words: canine, congenital anomalies, dyspnea, glottis
INTRODUÇÃO
As anomalias congênitas da laringe são raras em todas as espécies e podem ser
incompatíveis com a vida pós-natal ou interferir com a qualidade de vida ou,
posteriormente, manifestar-se (López, 2007). O desenvolvimento rudimentar da
epiglote foi relatado em cavalos (Nieberle e Cohrs, 1970). As malformações da laringe
estão classificadas no CID 10 que inclui agenesia da cartilagem cricóide, da epiglote,
da glote, da laringe e da cartilagem tireóidea (OMS, 2008).
Os sinais clínicos podem incluir dispneia, estertores, tosse e engasgos, geralmente
exacerbados pelo calor, estresse ou exercício (López, 2007). O diagnóstico baseia-se
no exame clínico, sobretudo na realização de endoscopia laríngea com instrumento de
fibra óptica flexível ou rígido. O tratamento pode ser cirúrgico, dependendo da
importância dos sintomas (Teissier e Abbeele, 2005).
A laringe situa-se na interface entre as vias digestiva e respiratória e pode exercer uma
função de proteção dos pulmões. As anomalias congênitas da laringe podem ser
anatômicas e/ou funcionais, manifestando-se por associação de sintomas nas vias
aéreas e de deglutição. Na medicina humana, são descritos alguns tipos de anomalias
da laringe, entre os quais laringomalácia, cistos, atresia e dobras laríngeas e diastemas
laringotraqueais (Teissier e Abbeele, 2005).
Este trabalho tem por objetivo descrever os aspectos clínicos e anatomopatológicos de
um caso de má formação congênita de laringe em um cão.

660
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 242, 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Um cão, macho, sem raça definida, com quatro meses de idade, foi atendido em uma
clínica privada, com dispneia. Pelo hemograma, foi diagnosticado trombocitopenia e
suspeitou-se de hemoparasitose. Instituiu-se o tratamento com doxiciclina (10 mg/kg, a
cada 12 horas), mas após 5 dias de tratamento o animal não apresentou melhora e
desenvolveu subitamente enfisema subcutâneo generalizado. O cão foi encaminhado
para o Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco onde foi
realizado novo exame clínico. O animal já não vocalizava, mas o tutor informou que
anteriormente o cão apresentava um latido rouco. Não foi possível realizar os exames
complementares devido ao ―inchaço‖ do animal, que inviabilizava a coleta de sangue e
outros exames clínico-laboratoriais. Observou-se crepitação subcutânea generalizada.
O animal teve óbito antes de se estabelecer o diagnóstico definitivo. O cadáver foi
encaminhado para exame necroscópico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
À necropsia, observou-se que o cadáver estava aumentado de volume, hipercrepitante
e em posição de cavalete, sem Rigor mortis (Figura 1). Foram observadas, ainda no
exame externo, petéquias, equimoses e pústulas na pele da região abdominal inguinal
e axilar; hiperemia da conjuntiva, com exsudato mucopurulento e crostas perioculares;
e na região perianal, havia fezes pastosas esverdeadas aderidas. Ao se fazer a incisão
da pele, houve escapamento de gás inodoro, desaparecendo o aspecto de inflado.
Ao se realizar a incisão dos músculos da região submandibular e cervical, observou-se
ausência de parte da cartilagem tireóide e da cartilagem cricóide, sem reação
circulatória local ou nos tecidos adjacentes (Figura 2). À abertura da cavidade torácica,
encontraram-se bolhas de gás nos folhetos pleurais e pneumonia nodular multifocal e
áreas de colapso pulmonar, principalmente próximo às margens dos lobos craniais e
diafragmáticos, com enfisema na região dorsal do lobo diafragmático direito. Na
cavidade abdominal, observou-se congestão hepática.

Atribui-se o enfisema subcutâneo e pleural às anomalias encontradas na cartilagem


tireóidea e na cricóide. Estas alterações consistiam em defeitos congênitos por falha no
fechamento do arco ventral da cartilagem cricóide e ausência da incisura tireóidea
caudal. Acredita-se que inicialmente a solução de continuidade era recoberta pela
membrana cricotireoidea, o que possibilitou a sobrevivência do animal durante algum
tempo. A ruptura da membrana, provavelmente associada a intercorrências, como,
esforço físico ou estresse, que desencadearam o quadro de enfisema subcutâneo,
agravando a dispneia, culminando com óbito do animal por insuficiência respiratória.
Acredita-se que doenças intercorrentes, cuja suspeita foi levantada pelo achado de
trombocitopenia, pode ter contribuído para o do quadro. Os achados de hemorragias
cutâneas podem estar associados à infecção por Erlichia canis (Searcy, 1998).
Frequentemente, crianças recém-nascidas com anomalias de laringe, associadas a
defeitos na traqueia e esôfago, comumente sofrem complicações clínicas decorrentes
de refluxo ou pneumonias recorrentes (Teissier e Abbeele, 2005; Lucas et al, 2007). No
cão objeto deste relato, não havia fendas ou comunicações traqueo-esofágicas.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 242, 2013

Em relação aos outros achados, como as pústulas, petéquias e equimoses poderiam


estar associadas a um quadro infeccioso de causas diversas, inclusive a Erliquiose.
Alternativamente, doenças, como Cinomose, poderiam cursar com pneumonia
intersticial, imunossupressão associada à infecção pelo vírus pode levar a infecções
sistêmicas como toxoplasmose e sarcocistose, justificando a pneumonia multifocal
(Swango, 1997; López, 2007).
CONCLUSÕES
Em casos de defeitos congênitos que envolvam a laringe ou traquéia, estes podem
cursar com soluções de continuidade causando grave enfisema subcutâneo cujo
desfecho clínico seja o óbito.
REFERÊNCIAS
FRY, M.M.; MCGAVIN, M.D. Medula óssea, células sanguíneas e sistema linfático. In: MCGAVIN, M.D.,
ZACHARY, J.F. Bases da Patologia em Veterinária. 4ª ed., Rio de Janeiro, Mosby Elsevier, 2009, p.743-
832
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Veterinária. 4ª ed., Editora Mosby Elsevier, 2009, p.463-458.
LUCAS, M. R.; SERRA, B.B.; ORGADO, J.A.M. et al. Agenesia traqueal associada a malformaciones
laríngeas como causa inusual de fracaso de la vía aérea. Annales Pediatrica, v.67, n.3, p.236-239, 2007.
NIEBERLE, K.; COHRS, P. Anatomia Patológica Especial dos Animais Domésticos, I Volume. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1970. 723 p.
OMS – Organização Mundial de Saúde. CID-10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde, Décima Revisão, Versão 2008, Volume I. Disponível em:
<http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/q30_q34.htm> Acesso em: 25/07/2013.
SWANGO, L.J. Moléstias Virais Caninas. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina
Interna Veterinária. São Paulo: Editora Manole, 1997, p.573-588.
TEISSIER, N.C.; ABBEELE T.V.D. Malformations congénitales du larynx. EMC-Oto-rhino-laryngologie,
v.2, p.218–229, 2005.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 243, 2013

243. MENINGIOMA RETROBULBAR EM UM CÃO: RELATO DE CASO


(Retrobulbar meningioma in a dog: a case report)

Leonardo Dourado da Costa¹; Aline Cardoso Pereira²; Daniela Bernadete Rozza³;


Alexandre Lima de Andrade³

1 Méd Vet Mestrando, Setor de Patologia do Depto de Clínica Vet, (FMVZ), UNESP, Botucatu, SP.
2 Méd Vet Residente, Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário ―Luiz Quintiliano de
Oliveira‖ da Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba (FMVA), UNESP, Araçatuba, SP.
3 Prof Dr do Depto de Clínica, Cirurgia e Reprodução Animal (DCCRA)- FMVA, UNESP, Araçatuba, SP.

RESUMO: Meningiomas são tumores primários comuns no sistema nervoso central de


cães e originam-se das células meningoteliais da aracnoide, ocasionalmente podem
ser encontrados no espaço retrobulbar. Um meningioma orbital é descrito em um
canino, adulto, fêmea, sem raça definida, que apresentava aumento de volume
retrobulbar direito há um ano. A massa neoplásica envolvia o nervo óptico e o globo
ocular, sendo então realizada a enucleação. Macroscopicamente, observou-se uma
massa sólida, castanha, macia e lobulada. Microscopicamente, presença de células
epitelioides formando cordões, com citoplasma abundante, redondo a poliédrico, núcleo
arredondado e excêntrico, e áreas de metaplasia cartilaginosa, representando um
achado microscópico típico desta neoplasia. Sete meses após a enucleação o animal
apresentou-se clinicamente saudável, sem recorrência local do tumor.
Palavras-chave: canino; neoplasia; orbital
ABSTRACT: Meningiomas are common primary tumors of the central nervous system
of dogs and arise from the arachnoid meningothelial cells. Occasionally, occurs in the
retrobulbar space. An orbital meningioma is described in an adult dog, female, mixed
breed, presenting right retrobulbar swelling a year ago. The neoplastic mass
surrounded the optic nerve and the eye, proceeding, then, to enucleation. Grossly,
consisted of a solid soft mass, tan and lobulated. Histologically, the tumor displays
epithelioid cells forming cords, with abundant, round to polygonal cytoplasm, rounded
and eccentric nuclei, and areas of cartilaginous metaplasia, representing a typical
microscopic finding of this neoplasm. Seven months after enucleation, the animal was
clinically healthy without local recurrence of the tumor.
Keywords: canine; neoplasm; orbital
INTRODUÇÃO
Meningiomas são tumores primários comuns no sistema nervoso central de cães e
originam-se das células meningoteliais da aracnoide (McGAVIN & ZACHARY, 2009).
Esses tumores são massas cônicas, sólidas, esbranquiçadas, aderidas à face posterior
do globo ocular, afilando circunferencialmente à medida que se aproximam do cérebro
(MEUTEN, 2002). Geralmente possuem um comportamento benigno, de crescimento
lento; entretanto, invasão intraocular e variantes malignas com metástases
extracraniais já foram descritas (MAULDIN et al, 2000). Os cães dolicocefálicos são os
mais comumente acometidos, entre 7 a 14 anos de idade, e os sinais clínicos
observados são exoftalmia, cegueira, diminuição da retropulsão do globo ocular,
fechamento palpebral incompleto, estrabismo, dor ao abrir a boca ou anormalidades no
reflexo pupilar à luz (McGAVIN & ZACHARY, 2009; REGAN et al, 2012).
O presente trabalho visa relatar um caso de meningioma retrobulbar em um cão
atendido pela Hospital Veterinário ―Luiz Quintiliano de Oliveira‖ HCV da Faculdade de
Medicina Veterinária de Araçatuba/SP.– FMVA – UNESP.
MATERIAL E MÉTODOS
Um canino, fêmea, sem raça definida, adulto, foi atendido pela HCV– FMVA/UNESP –
Campus de Araçatuba, com a queixa de aumento de volume retrobulbar direito há um
ano. Na inspeção, foi observada uma massa acastanhada que envolvia o olho,
impossibilitando a visualização da córnea ou qualquer estrutura ocular, e o animal era
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 243, 2013

incapaz de fechar as pálpebras. Na radiografia do crânio, não foram observados sinais


radiográficos sugestivos de envolvimento ósseo na órbita. Então, foi indicado a
enucleação/excisão da neoformação, sendo a peça cirúrgica encaminhada ao Setor de
Patologia Veterinária da FMVA/UNESP para exame histopatológico.
RESULTADOS
Envolvendo o globo ocular, observou-se uma massa sólida de 4,5cm x 3,5cm x 3,0cm,
castanha, firme e lobulada, a superfície de corte revelou as mesmas características. O
esfregaço citológico exibiu células individualizadas e agrupadas, com citoplasma
fusiforme a poliédrico, amplo, azurofílico e levemente granular, com núcleo redondo a
oval, excêntrico, cromatina grosseiramente pontilhada e nucléolo central evidente.
Células binucleadas/multinucleadas foram observados. Histologicamente, havia células
epitelioides formando cordões, com citoplasma abundante, eosinofílico, redondo a
poliédrico. O núcleo variou de redondo a oval, predominantemente excêntrico, com
cromatina finamente pontilhada e nucléolo proeminente. Notaram-se áreas de
metaplasia cartilaginosa, representando um achado microscópico importante para o
diagnóstico de meningioma retrobulbar.
DISCUSSÃO
Alguns fatores devem ser considerados para o diagnóstico definitivo de meningioma
retrobulbar, pois a sua apresentação citológica e histopatológica se assemelha com um
tumor epitelial invasivo, podendo levar a um diagnóstico incorreto. As células
neoplásicas tendem a ser agregadas em cordões, ninhos e lóbulos, e são grandes,
pleomórficas e epitelioides, com citoplasma eosinofílico abundante (DUBIELZIG, 2002).
Tais características podem assemelhar-se com um tumor epitelial invasivo, como o
carcinoma de células escamosas ou um carcinoma metastático. No caso relatado,
existem áreas de metaplasia cartilaginosa no estroma tumoral. Segundo Meuten
(2002), este achado microscópico é típico dos meningiomas retrobulbares,
distinguindo-o dos demais meningiomas. Metaplasia mixoide, condroide e óssea são
comumente visualizadas (MONTOLIU et al, 2006).
Apesar da inexistência de um padrão de marcação imuno-histoquímico específico para
este tipo de neoplasia, os meningiomas tipicamente apresentam imuno-marcação
positiva para a vimentina e S-100 e negativo para proteína ácida glial fibrilar (GFAP) e
citoqueratina (RAMOS-VARA et al, 2010; McGAVIN & ZACHARY, 2009).
O tratamento para o meningioma retrobulbar consiste na exérese da massa associado
à enucleação do globo ocular afetado, seguido de radioterapia. A recidiva local é
frequente, enquanto que a ocorrência de metástase extracranial é rara, apesar de
existirem relatos (PEREZ et al, 2005, DUGAN et al, 1993).
No caso em questão, sete meses após a enucleação o animal apresentou-se
clinicamente saudável, sem recorrência local do tumor.
CONCLUSÃO
Para o diagnóstico definitivo de meningioma orbital, deve-se levar em consideração a
localização, os sinais clínicos, e o aspecto macro e microscópico da neoplasia. No caso
apresentado, o exame histopatológico com coloração de rotina (hematoxilina e eosina)
foi suficiente para o diagnóstico, embora o exame imuno-histoquímico seja mais
confiável e acurado. A ausência de metástases e a não recidiva do tumor, mesmo sem
radioterapia pós-cirúrgica, ratifica o descrito pela literatura no que diz respeito ao
comportamento benigno da neoplasia.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 243, 2013

REFERÊNCIAS
DUBIELIZIG, R.R. Tumors of the eye. In: Tumors in domestic animals, ed. Meuten D.J., Iowa State
Press, Ames, IA, p. 753, 2002.
DUGAN, S.J.; SCHWARZ, P.D.; ROBERTS, S.M.; CHING, S.V. Primary optic nerve meningioma and
pulmonary metastasis in a dog. Journal of the American Animal Hospital Association, 29:11–16, 1993
GWIN, R.M.; GELATT, K. N; WILLIAMS, L.W. Ophthalmic neoplasms in the dog. Journal of the American
Animal Hospital Association, v.18, p.853–866, 1982.
MAULDIN, E.A.; DEEHR, A.J.; HERTZKE, D.; DUBIELZIG, R.R. Canine orbital meningiomas: a review of
22 cases. Veterinary Ophthalmology, n.3, p.11–16, 2000.
McGAVIN, M.D; ZACHARY, J. F. Bases da Patologia em Veterinária. 4ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2009. p. 951-952.
MEUTEN, D.J. Tumors in Domestic Animals, 4th Edition. Iowa State Press, Ames, Iowa, USA, p. 753,
2002.
MONTOLIU, P.; ANOR, S.; VIDAL, E.; PUMAROLA, M. Histological and immunohistochemical study of
30 cases of canine meningioma. Journal of Comparative Pathology, v.135, p. 200–207, 2006.
PEREZ V, VIDAL E, GONZALEZ N, et al. Orbital meningioma with a granular cell component in a dog,
with extracranial metastasis. Journal of Comparative Pathology,v.133, p.212–217, 2005.
RAMOS-VARA, J.A.; MILLER, M.A.; GILBREATH, E.; PATTERSON, J.S. Immunohistochemical detection
of CD34, E-cadherin, claudin-1, glucose transporter 1, laminin, and protein gene product 9.5 in 28 canine
and 8 feline meningiomas. Veterinary Pathology, v.47, p.725–737, 2010.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 244, 2013

244. MESOTELIOMA EM TÚNICA VAGINAL TESTICULAR EM CÃO:


RELATO DE CASO
(Mesothelioma of the tunica vaginalis testis in dog: Case report )

Priscila Emiko Kobayashi¹; Raquel Beneton Ferioli²; Diogo Sousa Zanoni²; José
Guilherme Xavier³; Renée Laufer Amorim4; Julio Lopes Sequeira5

1 M.V. Res no setor de Pat Veterinária do Depto de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu,


2 Pós- graduando do Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu
3 Prog de Pós-graduação em Pat Ambiental e Exp, Universidade Paulista (UNIP), São Paulo, SP,
4 Prof. Adj. Dr. do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu,
5 Prof. Ass. Dr. do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu.

RESUMO: Os mesoteliomas são neoplasias raras nos animais domésticos, inclusive


nos cães, principalmente com localização na túnica vaginal. O presente estudo
descreve um mesotelioma de túnica vaginal testicular através das características
histológicas e imuno-histoquímicas em um cão, macho, oito anos de idade, da raça
West Highlander Terrier com aumento de volume testicular esquerdo e massa firme em
região parapeniana.
Palavras- chave: Imuno-histoquímica; neoplasia; testículo
ABSTRACT: The mesotheliomas of the tunica vaginalis are rare neoplasms in domestic
animals, including dogs. The present study describes a Mesothelioma of the tunica
vaginalis testis in a 8 – year –old West Highlander Terrier breed male dog. The dog had
a large left scrotal swelling and a firm paratesticular mass.
Key words: Immunohistochemistry; neoplasia; testicle
INTRODUÇÃO
Os mesoteliomas são neoplasias primárias raras oriundas das células mesodérmicas
localizadas na pleura, pericárdio, peritôneo e túnica vaginal (Brown et al., 2007).
Existem descritos na medicina veterinária três tipos histológicos principais: epitelióide,
sarcomatóide e bifásico ou misto (TERIM KAPAKIN et al., 2012). Geralmente os
mesoteliomas em cães ocorrem em animais mais velhos, porém há relatos da
ocorrência em animais mais jovens.Neste caso, há relatos em cães com idades entre
sete semanas e 11 meses de idade , o que pode sugerir o envolvimento de um fator
genético no seu surgimento (KIM et al., 2007). A baixa incidência da neoplasia
principalmente na Medicina Veterinária também reflete os poucos estudos relacionados
ao mesotelioma. Desse modo, o objetivo deste trabalho é relatar um caso de
mesotelioma de túnica vaginal testicular em cão.
RELATO DE CASO
Um canino, da raça West White Highland Terrier, 8 anos de idade, macho,foi atendido
no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UNESP,
com histórico clínico de aumento de volume testicular esquerdo e massa em região
parapeniana há dois meses, com discreta diminuição de volume testicular há três anos.
No exame ultrassonográfico, constatou-se a presença de líquido no lado esquerdo da
bolsa escrotal, além de massa hipoecogênica heterogênea aderida à parede do escroto
que se estendia linearmente para região abdominal caudal esquerda através do canal
inguinal. Após orquiectomia e remoção da massa abdominal as peças cirúrgicas foram
enviadas para realização do exame histopatológico. O testículo esquerdo media
6,0x3,0x1,5cm, acastanhado, superfície lisa e, ao corte, fluía líquido acastanhado,
continha microcavitações com aspecto de ―favo de mel‖. A massa era firme a dura,
regiões amareladas ora acastanhadas, superfície irregular, medindo aproximadamente
8cm. Após procedimentos de rotina em histopatologia as lâminas obtidas foram
coradas pela hematoxilina-eosina (H.E.). Painel imuno-histoquímico também foi
realizado com os seguintes anticorpos: vimentina, pancitoqueratina, calretinina e
mesotelina.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 244, 2013

RESULTADO E DISCUSSÃO
No exame histopatológico do testículo observa-se plexo vascular circunscrito por
massa neoplásica que forma ora tecido sólido ora projeções papilíferas recobertas por
células epiteliais, infiltrando o parênquima testicular. O estroma é abundante, com
numerosos vasos sanguíneos e infiltração de células inflamatórias com predominância
de polimorfonucleares. As células neoplásicas apresentam núcleo volumoso, com um
ou mais nucléolos aparentes, mostram relação núcleo-citoplasma alterada, citoplasma
eosinofílico e com bordos distintos; sendo raras as figuras de mitose. Na neoformação
abdominal havia lençol de células ricamente vascularizado com estroma conjuntivo
abundante e o componente neoplásico com as mesmas características da massa
testicular. Em virtude da localização das massas tumorais e das características
celulares por elas apresentadas fez-se a suspeita de mesotelioma epitelióide. Assim
sendo, utilizou-se a técnica de imuno-histoquímica para estabelecer um diagnóstico
mais preciso da neoplasia. O uso dos anticorpos primários pancitoqueratina clone
AE1/AE3 e vimentina clone V9 nas diluições 1: 50 e 1:500, respectivamente, foram
realizadas pelo método peroxidase e DAB. Os anticorpos primários calretinina e
mesotelina, ambos na diluição 1:50 também foram usados. A avaliação revelou
marcação positiva para pancitoqueratina, vimentina, calretinina e mesotelina. A co-
expressão da citoqueratina e vimentina são relatadas em mesoteliomas humanos e em
cães (KIM et al., 2002), e a calretinina em humanos é a mais comumente utilizada
como um dos primeiros marcadores dos painéis imuno-histoquímicos para diagnóstico
de mesotelioma. O uso da mesotelina ainda é limitada em humanos, porém a
negatividade é interpretada como um achado contrário ao diagnóstico de mesotelioma
(ORDÓÑEZ, 2013). Após quatro meses pós cirúrgico, o animal apresentava
abaulamento da região abdominal, sendo realizado abdominocentese e enviado o
líquido para exame citológico. A amostra era de aspecto sanguinolento, e foi
previamente citocentrifugada. As lâminas foram fixadas com metanol e coradas pelo
método de Giemsa. Nas lâminas observa-se celularidade alta, composta por células
agrupadas, ora discretamente isoladas, exibindo citoplasma moderado, basofílico e
distinto. O núcleo das células é redondo, apresentando cromatina grosseiramente
agregada e nucléolo evidente. Nota-se anisocitose e anisocariose, células
multinucleadas moderada. Há mitoses e emperipolese discretas. Sete meses após o
ato cirúrgico o animal veio a óbito devido à parada cardiorrespiratória. Ao exame
necroscópico revelou 1.750 mL de líquido sanguinolento na cavidade abdominal, além
de neoformações em serosas dos órgãos da cavidade abdominal e torácica, peritôneo,
pleura e diafragma. As massas continham superfície externa irregular, amarelada,
firme, e as características se mantinham ao corte. No exame histopatológico o aspecto
histológico das neoformações eram semelhantes a neoplasia primária diagnosticada
anteriormente, sem infiltração neoplásica transmural dos órgãos.
CONCLUSÃO:Frente aos achados macroscópicos, microscópicos e imunoistoquímicos
conclui-se de que se tratava de um mesotelioma do tipo epitelióide, advindo da túnica
vaginal que posteriormente metastatizou para as serosas das cavidades torácica e
abdominal. A baixa incidência da neoplasia principalmente na Medicina Veterinária
também reflete os poucos estudos relacionados ao mesotelioma. O diagnóstico
definitivo pré operatório faz-se necessário para estabelecimento de uma terapia
adequada, e consequentemente um melhor prognóstico do paciente, sendo assim, o
presente relato corrobora para fornecer dados e maiores estudos da referida neoplasia
REFERÊNCIAS
BROWN, C.C; BAKER, D.C.; BARKER, I. K. In: JUBB, K.V.F., et al.. Pathology of domestic animals. 5ª
ed., London: Academic Press.,v. 2, p. 1- 296, 2007.
ORDÓÑEZ, N. G. Application of immunohistochemistry in the diagnosis of epithelioid mesothelioma: a
review and update. Article in press. Human Pathology, vol 44, p. 1 - 19, 2013.
TERIM KAPAKIN, K.A.; HAZIROĞLU, R.; GÜRSAN, N.; et al. Mesothelioma in a dog. Short
Communication. Ankara Üniversitesi Veteriner Fakültesi Dergisi, v.59, p.151 - 153, 2012.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 245, 2013

245. METAPLASIA ESCAMOSA DO ENDOMÉTRIO EM CADELA


(Squamous metaplasia of endometrium in bitch)

Valquíria Bull¹, Taismara S. Oliveira², Anderson R. Silva², Auricélio A. Macêdo¹,


Tatiane A. Paixão³, Renato L. Santos¹

1. Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.


2. Médico Veterinário Autônomo, Belo Horizonte, MG, Brasil.
3. Instituto de Ciências Biológicas, UFMG, Belo Horizonte, MG. rsantos@vet.ufmg.

RESUMO: A alteração do epitélio colunar simples da superfície da mucosa uterina em


estratificado caracteriza a metaplasia escamosa do endométrio. O objetivo deste relato
foi descrever um caso de metaplasia escamosa endometrial em uma cadela.
Microscopicamente observa-se a transição de uma única camada de células cuboidais
do endométrio para um epitélio escamoso estratificado não queratinizado. Metaplasia
escamosa do endométrio, embora seja uma a condição rara, deve ser considerada na
avaliação diagnóstica de alterações que acometem o útero de cadelas.
Palavras-chave: canino; distúrbio de diferenciação; útero
ABSTRACT: Replacement of the simple columnar epithelium of the endometrial
surface with stratified squamous characterizes metaplasia of the endometrium. The
objective of this report was to describe a case of endometrial squamous metaplasia in a
bitch. Microscopically there was an abrupt transition from a single layer of cuboidal cells
into a non-keratinized stratified squamous epithelium. Although rarely reported,
aquamous metaplasia of the endometrium should be considered in the diagnostic
evaluation of the canine uterus.
Key words: canine; disturbance of differentiation; uterus
INTRODUÇÃO
Metaplasia é uma alteração adaptativa reversível, na qual um tecido já diferenciado
seja epitelial ou mesenquimal é substituído por outro diferente, mas de mesma origem
embrionária. Representa uma forma de crescimento celular anormal e controlada a
partir de células-tronco indiferenciadas originando um tecido mais resistente ao
ambiente adverso (Brasileiro Filho, 2006)
Alterações endócrinas, deficiência nutricional e processos inflamatórios crônicos têm
sido as causas mais implicadas no desenvolvimento do tecido metaplásico (Thomson,
1983). Este trabalho teve como objetivo relatar um caso de metaplasia escamosa de
endométrio em uma cadela.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma cadela com dois anos de idade, sem raça definida, clinicamente hígida, foi
submetida à ovariohisterectomia eletiva. Durante o processo cirúrgico observou-se um
nódulo em um dos cornos uterinos com 6,0 x 3,5 cm de diâmetro, coloração
brancacenta e consistência firme. Ao corte percebeu-se que a massa tinha extensão
transmural e obstruía parcialmente o lúmen uterino. Fragmentos dos cornos uterinos
foram coletados e fixados em formol tamponado a 10 % por 24 horas, desidratados,
diafanizados e incluídos em parafina. Secções de 5 μm do tecido foram feitas e
coradas pela hematoxilina e eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Histologicamente, observou-se em um dos fragmentos do útero uma clara transição do
epitélio simples de células cuboidais do endométrio para um epitélio escamoso
estratificado pavimentoso não queratinizado. Outros segmentos analisados
apresentavam completa substituição do epitélio simples cuboidal por epitélio escamoso
não queratinizado. Estes achados são compatíveis com metaplasia escamosa de
endométrio. O estímulo para a alteração metaplásica, em muitos casos, é
desconhecido. Alterações endócrinas, deficiência nutricional como deficiência de
vitaminas A, processos inflamatórios crônicos, ingestão de plantas com alto teor de
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 245, 2013

estrógenos e intoxicação por hidrocarbonetos clorados têm sido as causas mais


implicadas no desenvolvimento do tecido metaplásico em animais (Thomson, 1983).
A metaplasia escamosa do útero em cadelas foi descrita como resultado de estímulo
estrogênico crônico experimental, pela utilização de moduladores seletivos do receptor
de estrógeno e outros compostos hormonais como estradiol e progesterona (Rehm et
al., 2007). Adicionalmente, em um estudo experimental com tamoxifeno, inibidor
seletivo dos receptores de estrógeno, que em baixas doses exerce estimulação
estrogênica, foi observado metaplasia escamosa endometrial em cadelas não
castradas (Tavares et al., 2010). Este parece ser primeiro relato de manifestação não
experimental de metaplasia escamosa uterina em cadela. No presente caso, não foi
possível identificar a causa que promoveu o desenvolvimento da metaplasia uterina.
Existem alguns relatos metaplasia escamosa do endométrio de ratas (Rattus
norvegicus albinus) associado a exposição a altas doses de substâncias
fitoestrogênicas como isoflavonas (Carbonel et al., 2011); e tibolona, um esteróide
sintético (Pantaleão et al, 2009). Em mulheres, esta alteração é relacionada à
estimulação estrogênica, deficiência de vitamina A e processos irritativos crônicos,
como a endometrite crônica e utilização do dispositivo intra-uterino (Nicolae et al,
2011). A metaplasia escamosa endometrial em animais na maioria dos casos é um
achado acidental, no entanto, em humanos ela tem sido relacionada à uma mudança
pré-neoplásica do endométrio, portanto caracteriza um achado importante (Nicolae et
al., 2011)
Especial atenção deve ser dada ao diagnóstico diferencial e a realização de exames
complementares para obter o diagnóstico definitivo. Macroscopicamente a massa
brancacenta do útero da paciente deste relato assemelha-se a uma neoplasia, mas as
características histológicas da lesão revelaram uma alteração metaplásica.
CONCLUSÃO
Diagnosticou-se um caso de metaplasia escamosa do endométrio de uma cadela, que,
apesar de ser uma condição rara, deve ser considerada na avaliação diagnóstica de
alterações que acometem o útero de cadelas.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio
financeiro.
REFERÊNCIAS
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A., 2006. 1472 p.
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NICOLAE, A.; PREDA, O.; NOGALIS, F. F. Endometrial metaplasias and reactive changes: a spectrum of
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PANTALEÃO, J. A. S.; HENRIQUES, H. N.; CARVALHO, A. C. B. et al. Efeito da tibolona sobre o
endométrio de ratas castradas. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v.31, n.3, p.124-130,
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 246, 2013

246. METAPLASIA ÓSSEA ENDOMETRIAL EM UMA CADELA: RELATO DE CASO


(Endometrial osseous metaplasia in a bitch: case report)

Juneo Freitas Silva, Natália de Melo Ocarino, Sílvia de Araújo França,


Ernane Fagundes Nascimento, Rogéria Serakides

Escola de Veterinária da UFMG, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, Setor de Patologia,


serakidesufmg@gmail.com

RESUMO: Um caso raro de metaplasia óssea endometrial é relatada em uma cadela


Poodle, com seis anos de idade. O útero apresentava o endométrio irregular, rugoso,
duro e rangente ao corte. Microscopicamente observou-se redução difusa e intensa das
glândulas endometriais e áreas multifocais de matriz óssea mineralizada e não
mineralizada (osteóide) acometendo toda a extensão do endométrio. Baseado nos
achados macro e microscópicos do útero o diagnóstico de metaplasia óssea
endometrial foi confirmado.
Palavras-chave: cão; osso; útero
ABSTRACT: A rare case of endometrial osseous metaplasia is reported in a 6-year-old
female, Poodle dog. The uterus presented the endometrium irregular, rough, hard and
creaky to cutting. Microscopically there was diffuse and intense reduction of endometrial
glands and multifocal areas of mineralized bone matrix and not mineralized (osteoid)
affecting the entire length of the endometrium. Based on the gross and microscopic
findings of uterus the diagnosis of the endometrial osseous metaplasia was confirmed.
Keywords: dog; bone; uterus
INTRODUÇÃO
Metaplasia óssea é a formação de osso maduro a partir de um tecido conjuntivo não
ósseo (Cayuela et al., 2009). Acredita-se que esta doença no endométrio esteja
relacionada com a formação de tecido ósseo em resposta a processos inflamatórios
crônicos ou de reparação endometrial induzida por aborto (Polat et al., 2011).
A metaplasia óssea do endométrio é uma causa rara de infertilidade em mulheres com
prevalência de 0,3 em 1.000 pacientes examinadas (Bahçeci e Demirel, 1996; Polat et
al., 2011). As mulheres com metaplasia óssea endometrial podem ser assintomáticas
ou apresentar, além de infertilidade, irregularidades menstruais, dor ou dismenorréia
(Cayuela et al., 2009). Esta alteração não tem sido relatada na medicina veterinária.
Os principais diagnósticos diferenciais incluem retenção de osso fetal, tumor mülleriano
misto maligno e teratoma (Shimizu e Nakayama, 1996).
O objetivo deste relato é apresentar os achados clínicos e as lesões macro e
microscópicas de um caso de metaplasia óssea endometrial em uma cadela.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma cadela Poodle com seis anos de idade foi encaminhada ao Hospital Veterinário da
Escola de Veterinária da UFMG com dificuldade respiratória aguda, cianose de
mucosas e apatia. O proprietário relatou que o animal nunca havia cruzado e que
sempre recebeu anticoncepcional. O animal foi submetido à oxigenioterapia, mas veio
a óbito logo depois. A necropsia do animal foi realizada e fragmentos de todos os
órgãos foram colhidos em solução tamponada de formaldeído a 10%, processados pela
técnica rotineira de inclusão em parafina e coradas pela hematoxilina-eosina para
avaliação histopatológica.
RESULTADOS
À necropsia, o útero apresentava-se moderadamente diminuído de volume, com
parede delgada e todo o endométrio apresentava-se irregular, rugoso e com
consistência dura e rangente ao corte. Os ovários estavam com a superfície rugosa
sem folículos e corpos lúteos. As alterações uterinas foram achados ocasionais, uma
vez que o animal veio à óbito por outras lesões. As mucosas ocular e oral estavam

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 246, 2013

cianóticas e todo o subcutâneo da região torácica ventral apresentava edema


moderado. Os pulmões estavam congestos e com múltiplos nódulos avermelhados de
aproximadamente 4 mm de diâmetro, que ao corte eram cavitários e preenchidos por
sangue. O saco pericárdico estava distendido e preenchido por intensa quantidade de
sangue que comprimia o coração. A parede do átrio direito possuía uma massa
vermelho-escura, friável, com área de ruptura medindo 0,4 cm. O fígado, baço e rins
estavam moderadamente congestos.
Microscopicamente, o útero apresentava redução difusa e intensa das glândulas
endometriais e áreas multifocais de matriz óssea mineralizada e não mineralizada
(osteóide) acometendo toda a extensão do endométrio. A matriz óssea apresentava
pequenas lacunas vazias ou lacunas com osteócitos picnóticos e estava envolta por
células mesenquimais, semelhantes às células do estroma. No átrio direito e pulmões,
as alterações histológicas eram compatíveis com hemangiossarcoma.
DISCUSSÃO
A metaplasia óssea do endométrio ainda não foi relatada na medicina veterinária e há
algumas hipóteses na medicina humana para a ocorrência desta patologia no útero.
Acredita-se que a observação de tecido ósseo no endométrio possa ser resultado de
uma transformação metaplásica do estroma endometrial após um processo inflamatório
crônico, processo de reparação após aborto ou estímulo estrogênico prolongado
(Bahçeci e Demirel, 1996; Cayuela et al., 2009; Polat et al., 2011). Sob a influência de
alterações inflamatórias ou hormonais no endométrio, células mesenquimais
multipotentes do estroma endometrial desenvolvem a capacidade de se transformar em
osteoblastos (Cayuela et al., 2009).
O animal do presente caso nunca cruzou o que descarta a possibilidade de ter sofrido
aborto. Além disso, a ausência de infiltrado inflamatório ao redor dos fragmentos
ósseos descarta a possibilidade de implantação de osso fetal (Bahçeci e Demirel,
1996). No entanto, não se descarta a possibilidade de o animal ter apresentado algum
processo inflamatório uterino em algum período da vida, embora não se tenha
observado infiltrado inflamatório no endométrio. Em casos de metaplasia óssea em
mulheres descritos por Hsu (1975) e Dunt (1978), o endométrio não apresentou
nenhuma reação celular ao elemento ósseo, reafirmando a formação endógena do
osso. O uso de anticoncepcionais pelo animal durante toda a vida, principalmente à
base de estrógeno, pode estar relacionado com a metaplasia óssea, mas essa é uma
hipótese que necessita ser comprovada (Shimizu e Nakayama, 1996; Polat et al.,
2011).
Ao contrário, dos casos relatados na medicina humana (Polat et al., 2011), onde se
observou somente áreas focais discretas com fragmentos ósseos no útero das
mulheres, o animal deste relato apresentou áreas multifocais de metaplasia óssea por
todo o endométrio, o que torna o caso ainda mais raro. Entre os diagnósticos
diferenciais, além de fragmentos ósseos de origem fetal, deve-se levar em
consideração tumor mülleriano misto maligno (carcinossarcoma) e teratoma. A
possibilidade de ser alguma destas duas neoplasias foi afastada uma vez que elas
apresentam células neoplásicas com característica epitelial e mesenquimal. Além
disso, essas lesões não atingem todo o útero, apresentam crescimento expansivo,
podendo ser invasivo, alterando o formato do órgão (Newsom-Davis et al., 2009; Ogata
et al., 2012).
Na medicina humana, o diagnóstico clínico é realizado pela ultrassonografia e
histeroscopia. O tratamento se baseia no uso de dilatação e curetagem com excisão
histeroscópica ou ressectoscópica, sendo que o prognóstico pode ser favorável,
quando a lesão é focal, com retorno à fertilidade (Bahçeci e Demirel, 1996).
CONCLUSÃO
Baseado nos achados macro e microscópicos do útero foi firmado o diagnóstico de
metaplasia óssea endometrial.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 246, 2013

Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
REFERÊNCIAS
BAHGECI, M.; DEMIREL, L.C.. Osseous metaplasia of the endometrium: a rare cause of infertility and its
hysteroscopic management. Human Reproduction, v.11, n.11, p.2537-2539,1996.
CAYUELA, E.; PEREZ-MEDINA, T.; VILANOVA, J. et al. True osseous metaplasia of the endometrium:
the bone is not from a fetus. Fertility and Sterility, v. 91, n. 4, p. e1-4, 2009.
NEWSOM-DAVIS, T.; POULTER, D.; GRAY, R. et al. Case report: Malignant teratoma of the uterine
corpus. BMC Cancer, v.9, p.195, 2009.
OGATA, D.C.; BUSATO, W.S.F.; ALMEIDA, G.L. et al. Carcinosarcoma of the Uterus: Report of a Case
with Invasion of the Urinary Bladder, Resembling Mullerianosis with Malignant Transformation. Revista
Brasileira de Cancerologia, v.58, n.1, p.79-83, 2012.
POLAT, I.; SAHIN, O.; YILDIRIM, G. et al. Osseous metaplasia of the cervix and endometrium: a case of
secondary infertility. Fertility and Sterility, v.95, n.7, p. e1-4, 2011.
SHIMIZU, M.; NAKAYAMA, M. Endometrial ossification in a postmenopausal Woman. Journal of Clinical
Pathology, v.50, p.171-172, 1997.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 247, 2013

247. METÁSTASE DE MELANOMA EM CÃO


(melanoma’s metastasis in dog)

Silva, Estela Vieira de Souza; Faleiro, Mariana Batista Rodrigues; Silva, Danilo
Rezende; Magalhães, P. L.; Santin, A. P. I.; Pôrto, R.N.G.

Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás.

RESUMO: Neoplasias associadas às células responsáveis pela pigmentação da pele,


como os melanomas, revelam-se uma das principais causadoras de metástase
prematuras em cães. Este relato refere-se ao caso de uma cadela encaminhada para
exame anatomopatológico, constatando-se melanoma metastático.
Palavras-chave: exame necroscópico, melanócito, neoplasia, pele pigmentada, tumor
melanocítico
ABSTRACT: Neoplasms associated with the cells responsible for skin pigmentation, as
the melanomas, revels to be one of the main causes of premature metastasis in dogs.
This work relates to the case of a dog sent to a post mortem examination, evidencing
the melanoma´s metastasis.
Key words: melanocyte neoplasm, melanocytic tumors, pigmented skin, postmortem
examination
INTRODUÇÃO
Melanomas são neoplasias melanocíticas originárias de melanoblastos e melanócitos
podendo originar-se em qualquer localização que contenha grande população dessas
células, estando, portanto, associada ao grau de pigmentação da pele (Zamboni et al.,
2011). É uma neoplasia que acomete a espécie canina com alta frequência e possui
grande capacidade metastática (Downing, 2011).
Originários, principalmente, na cavidade oral, junções muco-cutâneas, pele pilosa,
dígitos e olhos, os melanomas possuem sua origem ainda desconhecida e apresentam
graus variados de malignidade, sendo estes determinados por sua localização, pelo
número de mitoses celulares, conformidade celular e preservação ou não das
características básicas das células que a originaram (Conceição e Santos, 2011). O
grau de malignidade, assim como a ocorrência ou não de metástase é que irão
determinar o prognóstico e a conduta médica a ser adotada (Conceição e Santos,
2011).
Esse trabalho tem por objetivo relatar o caso de uma cadela recebida no Setor de
Patologia Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de
Goiás (SPA-EVZ-UFG) cujo diagnóstico anatomopatológico foi melanoma cutâneo,
sendo seu óbito consequente de metástase.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi recebida no SPA-EVZ-UFG, para exame necroscópico, uma cadela de 13 anos,
sem raça definida, pelagem clara e com histórico de apatia e vômito.
Durante o exame necroscópico externo foi evidenciado presença de nódulo de
coloração escura, consistência firme a macia e com 1,0 cm de diâmetro localizado na
região submandibular direita. À abertura da cavidade abdominal, observou-se três
massa distintas de coloração enegrecida, uma de 9,0 cm de diâmetro aderida aos rins,
pâncreas e glândulas adrenais, a segunda de 4,0 cm de diâmetro aderida ao músculo
psoas maior na lombar esquerda na cavidade abdominal e uma terceira massa de 3 cm
foi observada na veia cava próxima ao átrio direito. No encéfalo, foi encontrada outra
massa enegrecida, de 1,5 cm de diâmetro aderida à meninge na porção caudal do
hemisfério cerebral direito, de forma que esta se encontrava pressionando a massa
encefálica da região que começava a apresentar sinais de infiltração neoplásica. Ao
corte do encéfalo, notou-se uma massa enegrecida de 3,0 cm de diâmetro, infiltrada na
porção do corpo caloso próximo aos ventrículos laterais. Ainda foram observados
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 247, 2013

pequenos pontos enegrecidos no parênquima pulmonar e linfonodos aumentados de


volume e de coloração enegrecida.
Ainda foi observada dilatação do átrio direito, cisto ovariano, enterite, congestão
hepática, esplênica e renal, bem como aderência de cápsula renal e dilatação da pelve
renal.
Assim, foram coletados fragmentos de pele, baço, pulmão, bexiga, rim, ovário, fígado,
cérebro e das massas para análise histopatológica.
RESULTADOS
A análise microscópica do fragmento de pele revelou presença de células epitlióides
com moderada anisocitose, anisocariose, pleomorfismo, múltiplos nucléolos evidentes,
cromatina frouxa e, por vezes, repleta de pigmentos negros e formando ninho o que é
indicativo de melanoma. Os mesmos tipos celulares foram observados nas massas
abdominais, encefálicas, pulmão, linfonodo e ovário o que caracteriza metástase de
melanoma. Ainda no ovário foi observado adenoma. No fígado êmbolos neoplásicos e
extensa área de infarto caracterizada por uma faixa delimitada de necrose de
coagulação. No rim espessamento e hialinização da membrana basal glomerular e de
cápsula de Bowman, focos de infiltrado inflamatório mononuclear plasmocitário
intersticial, congestão e fibrose medular (glomerulonefrite membranosa).
DISCUSSÃO
Para Conceição e Santos,( 2011) e Bergman et al., (2003) a espécie canina é relatada
como a mais acometida pelas neoplasias melanocíticas, sendo que os melanomas
representam 4% das neoplasias caninas. Os locais de maior ocorrência são cavidade
oral, dígitos, membros, junções muco-cutâneas como lábios e pálpebras, podendo
ainda ser observados no tronco e dorso e em animais hiper-pigmentados. Neste
presente caso o nódulo encontrado era pequeno e localizado na pele da região
submandibular de um cão pouco pigmentado.
Para Kim et al. (2009) e Meuten, (2002) o melanoma possui elevada capacidade de
infiltração e invasão do tecido acometido, podendo vir a desencadear metástases para
locais diversos do organismo, sendo os linfonodos responsáveis pela drenagem da
região onde se encontra a neoplasia, pulmões, baço e coração as estruturas mais
associadas ao processo. Apenas 3% dos tumores que geram metástase para o sistema
nervoso de cães são melanomas (Kim et al. 2009). O que é condizente com as
resultados observados na análise macroscópica e microscópica do relato em questão.
Em um estudo retrospectivo com 63 cães diagnosticados com melanoma durante o
período de 2002 a 2011 Zamboni et al. (2011) relataram que houve maior incidência da
neoplasia em machos (66,7%) do que em fêmeas (31,7%) e que os animais com maior
grau de acometimento por melanoma tinham entre três e quinze anos, com maior
prevalência para aqueles acima de 10 anos (Meuten, 2002; Zamboni et al., 2011).
Melanomas malignos comumente apresentam elevada atividade mitótica, alto grau de
pleomorfismo celular e são pouco diferenciados, podendo ainda ser fracamente
pigmentados ou completamente despigmentados (Meuten, 2002). Essas neoplasias
possuem elevado potencial de invasão e disseminação tecidual e, quase sempre
resultam em metástase e morte do animal acometido (Meuten, 2002).
CONCLUSÃO
As alterações macroscópicas e histopatológicas observadas nos tecidos avaliados
foram suficientes para definir um caso de melanoma metastático em um cão.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 247, 2013

REFERÊNCIAS
BERGMAN, P.J.; MCKNIGHT, J.; NOVOSAD, A.; et al. [2003]. Long-Term Survival of Dogs with
Advanced Malignant Melanoma after DNA Vaccination with Xenogeneic HumanTyrosinase. Clinical
Cancer Research, v.9,n.4, 2003. Disponível em
<http://clincancerres.aacrjournals.org/content/9/4/1284.full.pdf> Acesso em: 07/07/20013.
CONCEIÇÃO, L.G.; SANTOS, R.L. Sistema Tegumentar. In: SANTOS, Renato de Lima; ALESSI,
Antônio Carlos. Patologia Veterinária. 1.ed. São Paulo: ROCA, 2011, Cap.7, p.462-466.
DOWNING, E.; WAITE, A.; BALKMAN, C. [2011].CanineCutaneous Melanoma. Disponível em:
<http://dspace.library.cornell.edu/bitstream/1813/28235/4/Downing-Elizabeth-paper2011.pdf> Acesso em:
07/07/13.
KIM, D.Y.; ROYAL, A.B.; VILLAMIL, J.A. [2009].Disseminated Melanoma in a Dog with Involvement of
Leptomeninges and Bone Marrow. Veterinary Pathology, v.46, n.1, 2009. Disponível em:
<http://vet.sagepub.com/content/46/1/80.full.pdf+html> Acesso em: 07/07/2013.
MEUTEN, D.J. Tumors in Domestic Animals. Iowa: Iowa State Press, 2002, 4.ed., 792p.
RAMOS-VARA, J.A.; BEISSENHERZ, M.E.; MILLER, M.A.; et al. [2000]. Retrospective Study of 338
Canine Oral Melanomas with Clinical, Histologic, and Immunohistochemical Review of 129 Cases.
Veterinary Pathology, v.37, n.6, 2000. Disponível em: <http://vet.sagepub.com/content/37/6/597.full.pdf>
Acesso em: 07/07/2013.
SANTOS, P.C.G.; COSTA, J.L.O.; MIYAZAWA, C.R., et al.[2005]. Melanoma Canino. Revista científica
eletrônica de medicina veterinária, ed.5., 2005. Disponível
em:<http://www.revista.inf.br/veterinaria05/relatos/relato08.pdf> Acesso em: 05/07/2013.
ZAMBONI, R.; WEIBERG, A.; NUNES, C.S.;et al. Estudo retrospectivo de melanoma canino durante o
período de 2002 a 2011. In: Congresso de Iniciação Científica III Mostra Científica UFPEL, XX., 2011,
Pelotas.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 248, 2013

248. MIELOMA MÚLTIPLO EM CÃO


(Multiple myeloma in a dog)

Lívian Otávio Lecca, Rafael Carneiro, Josilene Nascimento Seixas, Claudine Botelho
de Abreu, Flávia Dada Paiva, Antonio C. C. Lacreta Jr.
Universidade Federal de Lavras, Depto de Med Vet, Setor de Pat Veterinária rafaelccosta3@gmail.com
RESUMO: Mieloma múltiplo é uma neoplasia maligna rara de plasmócitos, que afeta
animais domésticos e seres humanos. Este estudo descreve achados clínicos,
laboratoriais, radiológicos e patológicos em um cão sem raça definida, 11 anos de
idade. Com claudicação e dor generalizada, observou-se extensa osteólise associada à
pancitopenia, hipercalcemia e à proteinúria de Bence-Jones. As lesões anátomo-
histopatológicas confirmaram o diagnóstico, evidenciando a presença de plasmócitos
neoplásicos bem diferenciados na medula óssea e em outros órgãos.
Palavras-chave: canino; medula óssea; osteólise; patologia; plasmócitos
ABSTRACT: Multiple myeloma is an uncommon malignancy of plasma cells that affects
domestic animals and humans. This study describes clinical, laboratory, radiological
and pathological findings in a mixed breed dog, 11 years old. With widespread pain and
lameness was observed osteolysis associated with extensive pancytopenia,
hypercalcemia and Bence-Jones proteinuria. The anatomical and histopathological
lesions confirmed the diagnosis revealed the presence of welldifferentiated neoplastic
plasma cells in the bone marrow and other organs.
Key words: bone marrow; canine; osteolysis; plasma cells; pathology
INTRODUÇÃO
O mieloma múltiplo é uma neoplasia rara com origem na medula óssea, derivada de
linfócitos B (plasmócitos) (Silva et al., 2008). Há relatos em diversas espécies animais,
incluindo caninos, felinos, bovinos, equinos e suínos, além de seres humanos (Ramos-
Vara et al., 2007). Representa 1% dos tumores malignos em cães, sendo esta a
espécie mais afetada dentre os animais domésticos (Silva et al., 2008).
Sua etiologia ainda não foi totalmente esclarecida. Acredita-se que a ocorrência do
mieloma múltiplo esteja relacionada com infecções virais, imunoestimulação crônica,
predisposição genética e exposição a agentes cancerígenos (Silva et al., 2008). Este
tumor envolve primariamente a medula óssea, embora possa originar-se em tecidos
extramedulares (Pusterla, 2004). Os cães afetados possuem, em média, entre oito e
nove anos de idade e não há indícios de predileção sexual (Geigy, 2013).
Radiograficamente, o mieloma múltiplo, é caracterizado por áreas osteolíticas bem
definidas sem reação periosteal adjacente (Kealy,2012). As lesões ósseas podem ser
isoladas e discretas (incluindo fraturas patológicas), difusas (multifocais), ou
generalizadas (osteopênicas). Os ossos envolvidos na hematopoiese ativa são mais
comumente acometidos (Vail, 2004) como vértebras, costelas, pelve, crânio e
extremidade proximal de ossos longos (Croucher, 1998).
O presente trabalho tem por objetivo relatar um caso de mieloma múltiplo em um cão,
abordando aspectos clínicos, laboratoriais, radiográficos e anátomohistopatológicos.
MATERIAL E MÉTODOS
Um cão SRD, macho, de 11 anos de idade deu entrada no Hospital Veterinário, do
Departamento de Medicina Veterinária (DMV) da Universidade Federal de Lavras
(UFLA), Minas Gerais, apresentando histórico de claudicação do membro torácico
direito. Após exame físico, foram realizados exames laboratoriais, radiografia da coluna
e ecocardiograma. O animal estava em tratamento para erliquiose com doxiciclina
associada à morfina, devido à dor intensa. Sem apresentar melhora clínica, foi indicada
a eutanásia. O animal, então, foi encaminhado ao Setor de Patologia Veterinária, DMV,
UFLA. Após a necropsia, os fragmentos de tecidos coletados foram fixados em
formalina tamponada a 10% e processados rotineiramente para análise histopatológica.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 248, 2013

RESULTADOS
Ao exame físico, o animal apresentou hiperestesia, dor e sopro cardíaco grau III/VI. Os
exames laboratoriais revelaram pancitopenia, hipercalcemia e proteinúria de Bence-
Jones. Radiograficamente, constatou-se osteólise puntiforme poliostótica em ossatura
pélvica, fêmures e vértebras lombares L2 a L7, além de adelgaçamento
do córtex dos ossos femorais. O exame ecocardiográfico não revelou anormalidade. À
necropsia, foram observadas mucosas orais e oculares discretamente pálidas. Calos
ósseos entre 5ª e 7ª costelas do lado direito e na 10ª costela do lado esquerdo do
animal. Os ossos apresentavam-se frágeis. À abertura da medula óssea do fêmur,
úmero e canal vertebral, notou-se discreta irregularidade do endósteo, com focos
esbranquiçados. Também constataram-se moderada esplenomegalia e discreta
endocardiose da valva mitral. O exame histopatológico da medula óssea revelou
ocupação difusa por plasmócitos bem diferenciados, em algumas áreas representando
cerca de 100% da população celular; em outras, com pelo menos 50% de plasmócitos
entremeados às demais células hematopoiéticas. Associadas à proliferação tumoral,
observaram-se áreas de destruição acentuada do osso cortical, bem como de
trabéculas, com evidente atrofia trabecular e/ou desaparecimento das mesmas.
Metástases do tumor primário foram observadas no baço (infiltração difusa), rins e
fígado (ambos com aglomerados neoplásicos multifocais). Adicionalmente, os rins
apresentavam nefrose tubular crônica associada à infiltrado intersticial de células
tumorais, fibrose e calcificação da região medular.
DISCUSSÃO
A dor e as lesões de degeneração waleriana observadas na medula espinhal são
provavelmente decorrentes de compressão medular pela neoplasia.
Radiografias para a análise esquelética são recomendadas para determinar a extensão
das lesões osteolíticas, as quais possuem implicações no diagnóstico, prognóstico e
tratamento da enfermidade (Vail, 2004). As lesões radiográficas de osteólise em ossos
longos e esqueleto axial deste paciente são compatíveis com a literatura (Kealy, 2012).
O diagnóstico foi confirmado com base nos achados histopatológicos de plasmócitos
proliferados atípicos na medula óssea, além de baço, fígado e rins. A ocupação da
medula pelas células neoplásicas resulta em pancitopenia (Geigy et al., 2013).
CONCLUSÃO
O mieloma múltiplo, por ser uma doença rara, muitas vezes pode ser erroneamente
diagnosticado, levando a complicações decorrentes do tratamento incorreto. Sendo
assim, é importante a realização de exames auxiliares e descrição dos resultados dos
mesmos.
Agradecimento
À FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), que
incentiva e apoia as pesquisas científicas e tecnológicas em Minas Gerais.
REFERÊNCIAS
CROUCHER , P.I.; APPERLEY, J.F. Bone Disease in Multiple Myeloma. British Journal of Haematology,
v.103, n.4, p.902-910, 1998.
GEIGY, C.; RIOND, B.; BLEY, C.R. et al. Multiple myeloma in a dog with multiple concurrent infectious
diseases and persistent polyclonal gammopathy. Veterinary Clinical Pathology, v.42, n.1, p.47-54, 2013.
KEALY,J.K.; MCALLISSTER,H.; GRAHAM,J.P. Radiografia e Ultrassonografia do Cão & do Gato. 5.e.d.
São Paulo: Elsevier, 2012. 580p.
PUSTERLA, N.; STACY, B.A.; VERNAU, W. et al. Immunoglobulin A monoclonal gammopathy in two
horses with multiple myeloma. The Veterinary Record, v.155, p.19-23, 2004.
RAMOS-VARA, J.A.; MILLER, M.A.; VALLI, V.E.O. [2007]. Immunohistochemical Detection of Multiple
Myeloma 1/Interferon Regulatory Factor 4 (MUM1/IRF-4) in Canine Plasmacytoma: Comparison with
CD79a and CD20. Veterinary Pathology, v.44, n.6, p.875-884, 2007. Disponível em:
<http://vet.sagepub.com/content/44/6/875> Acesso em: 30/07/2013
SILVA, P.F.N.; BRACARENSE, A.P.F.R.L.; GALEN, L.G. et al. Multiple myeloma in a dog. Brazilian
Journal of Veterinary Pathology, v.1, n.1, p.21-24, 2008.
VAIL, D.M. Tumores hematopoéticos, p.538-555. In: Ettinger S.J. & Feldman E.C. (Eds) Tratado de
medicina interna veterinária: doenças do cão e do gato. 5. ed. Guanabara Koogan, RJ, 2004. 2156p.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 249, 2013

249. O PAPEL DA INTERLEUCINA-10 NOS CARCINOMAS MAMÁRIOS CANINOS


(The role of interleukin-10 in breast carcinomas canine)

Eduardo Garrido¹; Thaís L. L. Castanheira¹; Mayara C. Rosolem¹; Andresa Matsui²;


Rosemeri O. Vasconcelos³

1 Pós-graduandos do Departamento de Patologia Veterinária, FCAV-UNESP, Jaboticabal


2 Graduanda do curso de Medicina Veterinária, FCAV-UNESP, Jaboticabal
3 Professora do Depto de Patologia Vet da FCAV-UNESP, Jaboticabal. garridovet@gmail.com
RESUMO: A interleucina-10 (IL-10) pode estar relacionada aos mecanismos de evasão
tumoral, promovendo a progressão do tumor. O objetivo deste trabalho foi determinar a
relação entre IL-10, a malignidade do tumor e a intensidade da reação inflamatória no
sítio tumoral, comparando a imunomarcação de IL-10, por imuno-histoquímica, entre os
grupos carcinomas mamários e tecido hígido. Houve aumento significativo no número
de células imunomarcadas no grupo carcinoma e, também, relação direta com a
intensidade da inflamação. Nossos dados demonstram a associação entre o aumento
de IL-10 e malignidade tumoral e sugerem que um ambiente imunossupressor é um
dos mecanismos de evasão no sítio tumoral. Concluindo-se que o aumento na
secreção de IL-10 no tecido mamário neoplásico favorece a progressão tumoral.
Palavras-chave: câncer; reação inflamatória; evasão tumoral, citocinas
ABSTRACT: The interleukin-10 may be related to tumor evasion mechanisms,
promoting tumor progression. The aim of this study was to determine the relationship
between the secretion of IL-10, tumor malignancy and inflammatory reaction in the
tumor site, comparing immunostaining of IL-10 by immunohistochemistry, between
healthy tissue and breast carcinomas. It had a significant increase in the number of
immunostained cells in the carcinoma group and, also, a direct relationship with the
intensity of inflammation. Our data demonstrate an association between increased IL-10
and tumor malignancy and suggest that an immunosuppressive environment is one of
evasion mechanisms in tumor site. It was concluded that the increased secretion of IL-
10 in mammary tissue promotes the neoplastic tumor progression.
Key words: cancer; inflammatory reaction; tumor evasion, cytokines
INTRODUÇÃO
Na imunologia tumoral existem dois mecanismos importantes: os mecanismos de
imunovigilância e os mecanismos de evasão do sistema imune. Este último permite às
células neoplásicas criarem um ambiente de tolerância, levando ao crescimento e à
malignidade tumoral (Satyam et al., 2011; Dunn; Old; Schreiber, 2004). A malignidade
dos tumores mamários pode estar relacionada com a resposta inflamatória induzida por
linfócitos e outras células inflamatórias infiltradas no sítio de crescimento tumoral
(Reome et al., 2004). Já a resistência envolve mecanismos de destruição das células
tumorais, tanto pela ação da imunidade intata (macrófagos e células NK), quanto pela
adquirida, por meio de linfócitos T, que desencadeiam uma resposta imune celular
(Abbas; Litchtman; Pillai, 2012). Linfócitos T diferenciam-se em células CD4+ (Horiuchi
et al., 2007), que se subdividem em Th1 e Th2, com um perfil de citocinas específicas,
que levam a uma resposta imune celular (Th1) ou humoral (Th2) (Reed 1995;
Yamazaki et al., 2002; Horiuchi, et al., 2007). O desequilíbrio para um perfil Th2 está
relacionado com o desenvolvimento de diversos tumores, pela supressão da resposta
antitumoral das células Th1 (Satyam et al., 2011). A IL-10 está envolvida na inibição da
ativação dos macrófagos, limitando a produção de IL-1, IL-6, TNF-α, bem como, a
ativação antígeno-específica das células T, pela regulação negativa das células
apresentadoras de antígenos e inibição da expansão de células T pela inibição da
produção de IL-2. A sua produção aumenta a expressão de MHC em células B, inibe
efeitos Th1, principalmente pela inibição da produção IFN-γ, inibe a liberação de
citocinas a partir de macrófagos, e estimula a multiplicação de mastócitos. Um dos
mecanismos pelo qual as células tumorais escapam do reconhecimento pelo sistema
678
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 249, 2013

imunológico pode incluir a IL-10 (Hodi e Soiffer, 2002). O objetivo deste trabalho foi
determinar a relação entre a secreção de IL-10, a malignidade do tumor e a intensidade
da reação inflamatória no sítio tumoral.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram colhidas 30 amostras de tecido mamário de cadelas, sem predisposição de raça
ou idade. Instituiram-se dois grupos: controle, com cinco amostras e, carcinomas
simples, com 25 amostras, colhidas, respectivamente, no Departamento de Patologia
Veterinária e no Serviço de Obstetrícia Veterinária da FCAV-UNESP, Jaboticabal. Os
fragmentos, incluídos em parafina, foram submetidos à imunomarcação pelo anticorpo
anti-IL10 (diluição: 1:400), por imuno-histoquímica, por meio do complexo de polímeros
ligados a peroxidase. A densidade das células imunomarcadas foi determinada pela
contagem de células em cinco campos de grande aumento (área igual a 0,19625 mm2
por campo). Para a análise estatística confrontou-se a densidade de IL-10 entre os
grupos, através de análise de variância (α=5%). Foi realizado o teste exato de Fisher
para averiguar a relação entre níveis categóricos de IL-10 (0-5) e os níveis categóricos
de inflamação (0-5).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As células imunomarcadas para IL-10 apresentaram-se distribuídas difusamente nos
tumores, principalmente nos carcinomas papilares e tubulares. A distribuição foi focal
nos carcinomas sólidos. Macrófagos, linfócitos, plasmócitos, mastócitos e células
epiteliais malignas apresentaram secreção de IL-10. A densidade de células
imunomarcadas para IL-10 foi maior no grupo dos carcinomas em relação ao grupo

respectivamente. O teste exato de Fisher mostrou haver relação direta entre os níveis
de IL-10 e a intensidade da inflamação (p<0,0002). Nossos dados demonstram que o
aumento da expressão de IL-10 está associado à malignidade tumoral, corroborando
com os estudos de Reome et al. (2004) e Satyam et al. (2011). A relação entre a
inflamação e a IL-10 sugere que um ambiente imunossupressor é um dos mecanismos
de evasão no sítio tumoral. Tal fato parece ocorrer mediante a presença de citocinas
imunossupressoras (Mizoguchi et al., 1997), onde pode-se incluir a IL-10, e, a provável
presença das células T regulatórias, as quais, sob influência da IL-10 suprimem a
resposta imune do hospedeiro ao inibir a atividade de outras células.
CONCLUSÕES
Concluímos que o aumento na secreção de IL-10 no tecido mamário neoplásico
favorece a progressão tumoral.
Agradecimentos - À FAPESP (processo 2012/09385-0) pelo auxílio financeiro à
pesquisa e pela bolsa de estudo (processo 2011/13896-7). Ao Serviço de Obstetrícia
Veterinária e ao Serviço de Oncologia Veterinária da FCAV-UNESP, Jaboticabal.
Aprovado pelo COBEA e CEUA (protocolo 005925/13).
REFERÊNCIAS
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DUNN, G.P.; OLD, L.J.;SCHREIBER, R.D. The three Es of cancer immunoediting. Annual Review
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HODI, F.S.; SOIFFER, R.J. Interleukin.In:BERTINO,J.Encycl of cancer. Academic Press,2002.p. 530-31.
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REED, M.J. The discriminant-function test: a marker of Th1/Th2 cell cytokine secretion and breast tumour
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REOME, J.B.; HYLIND, J.C.; DUTTON, R.W.; et al. Type 1 and type 2 tumor infiltrating effector cell
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SATYAM, A.; SINGH, P.; BADJATIA, N.; et al. A disproportion of TH1/TH2 cytokines with predominance
of TH2 in urothelial carcinoma of bladder. Urologic Oncology, v.29, n., p.58-65, 2011.
YAMAZAKI, K.; YANO, T.; KAMEYAMA, T.; et al. Clinical significance of serum TH1/TH2 cytokines in
patinas with pulmonary adenocarcinoma. Surgery, v.131, p.S236-41, 2002.
679
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 250, 2013

250. O SIGNIFICADO DOS ACHADOS HISTOPATOLÓGICOS CUTÂNEOS NO


DIAGNÓSTICO DO HIPOTIREOIDISMO EM CÃES, COM ÊNFASE NAS
ALTERAÇÕES DOS MÚSCULOS PILOERETORES
(Significance of histopathologic findings for the diagnosis of hypothyroidism in
dogs, with emphasis on changes in piloerector muscles)

Alexander A.P. González¹, Paulo Vargas Peixoto², Vivian A. Nogueira³, Mariana B.


Mascarenhas¹, Ileana C. Miranda4 ,Ticiana N. França³

1 Prog de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Instituto de Veterinária, UFRRJ, Seropédica, RJ.


2 Departamento de Nutrição Animal e Pastagens, Instituto de Zootecnia, UFRRJ, Seropédica, RJ.
3 Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública, IV, UFRRJ, Seropédica, RJ.
4 Bolsista de Iniciação Científica do CNPq, docente do curso de Med Vet, UFRRJ, Seropédica, RJ.

RESUMO: O objetivo deste estudo foi determinar a correlação entre a hipertrofia dos
músculos piloeretores e o hipotireoidismo nos cães. Entre novembro de 2001 e outubro
de 2002, foram avaliados 200 cães com dermatopatia suspeita de estar associada ao
hipotireoidismo. Cães entre 2 e 4 anos foram os mais acometidos e a enfermidade
afetou mais fêmeas do que machos. O exame histopatológico revelou acantose,
hiperqueratose, folículos em fase telogênica, hipertrofia (70,5%) e tumefação de
músculos piloeretores. A hipertrofia e vacuolização dos músculos piloeretores têm
importância no diagnóstico do hipotireoidismo, contudo, a associação dessas
alterações com outros achados histológicos torna a histopatologia ainda mais útil no
diagnóstico do hipotireoidismo.
Palavras-chave: canino; hipertrofia; patologia; pele
ABSTRACT: This study aimed at determining the correlation between the hypertrophy
of piloerector muscles and hypothyroidism in dogs. Two hundred dogs from both sexes
aged with skin disease suspected to be related to hypothyroidism were evaluated
between November 2001 and October 2002. Dogs between 2 and 4 years of age were
the most affected. The histopathological exam revealed the presence of acanthosis,
hyperkeratosis, follicular alterations, mainly follicles in the telogen phase, hypertrophy
and tumefaction of piloerector muscles. Our data indicate that hypertrophy and
vacuolation of the piloerector muscles are important for the diagnosis of hypothyroidism;
however, the association of these alterations with other histological findings more
helpful for the diagnosis of hypothyroidism.
Key words: canine; hypertrophy; pathology; skin
INTRODUÇÃO
O hipotireoidismo é a desordem hormonal mais frequente em cães. O diagnóstico deste
distúrbio, porém, é considerado complexo (Scott et al. 2001). Os achados
histopatológicos cutâneos têm sido considerados parte importante deste conjunto. Scott
(1996), no entanto, entende que a hipertrofia dos músculos piloeretores é um achado
altamente sugestivo de hipotireoidismo em cães. Outros autores, entre eles Dunstan
(1997), são da opinião que este achado não guarda qualquer correlação com o
hipotireoidismo. Outro aspecto microscópico significativo seria a vacuolização do
músculo piloeretor, que segundo Scott (1982), é uma alteração peculiar do
hipotireoidismo canino. Já Yager & Wilcock (1994) acreditam que, os vacúolos devem
conter material eosinofílico; vacuolização pálida (clara) de fibras musculares seria um
achado comum e sem significado patológico.
O objetivo deste estudo foi determinar a correlação entre a hipertrofia do músculo
piloeretor e o hipotireoidismo em cães.
MATERIAL E MÉTODOS
Entre novembro de 2001 e outubro de 2002 foram avaliados 200 cães com suspeita
clínica de hipotireoidismo no Setor de Dermatologia do Hospital Veterinário da UFRRJ.
Dosagens hormonais foram realizadas em 70 animais e biópsias cutâneas em 180.
680
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 250, 2013

Seis animais, clinicamente sadios foram utilizados como controle. Foram feitas
avaliações da pele, pelagem, condição clínica geral e exames complementares para
descartar possíveis processos concomitantes, raspado cutâneo, tricograma, citologia,
dosagens hormonais e biopsias cutâneas nas regiões cervical e lombar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observamos uma maior predisposição das fêmeas (61%) em desenvolverem o
hipotireoidismo que dos machos (38,9%). Esses resultados foram parecidos com os
obtidos por autores como Panciera (1994) e Chastain & Panciera (1997). Em nosso
estudo, verificou-se uma maior incidência de hipotireoidismo nos animais com idade de
2 a 4 anos. Chastain & Panciera (1997) também relatam que animais nessa faixa etária
seriam mais acometidos, pelo menos aqueles de raças de médio e grande porte.
Foram feitas avaliações hormonais de 70 animais utilizados neste estudo. No que diz
respeito à dosagem de T4 total, 9 animais apresentavam valores baixos, compatíveis
com hipotireoidismo, e, em 7 animais, os valores estavam normais, ou seja, a avaliação
dos níveis séricos desse hormônio foi capaz de indicar hipotireoidismo em 56,2% dos
casos. Chastain & Panciera (1997) mencionam que a avaliação de T4 total é eficaz no
diagnóstico do hipotireoidismo e Birchard & Sherding (1998) relatam que a dosagem de
T4 total é essencial, mas que para a confirmação do diagnóstico seria necessária a
associação de dados clínicos e laboratoriais compatíveis.
No presente estudo, a histopatologia revelou hipertrofia (95,5% - independente do grau
e da localização lombar ou cervical) e tumefação (cervical - 58,9% e lombar - 85,9%)
de músculos piloeretores em um grande número de animais. Já hipertrofia de músculos
piloeretores em graus significativos (moderado, acentuado e extremo), foi verificada em
70,5% dos animais, diferentemente do observado nos animais-controle. Achado
semelhante foi verificado por Scott (1982) que descreve que esta alteração ocorreria
em 74% de cães com hipotireoidismo. Já para Yager & Wilcock (1994), a hipertrofia
desses músculos, por si só, não seria importante para o diagnóstico do hipotireoidismo,
e sim quando acompanhada de alterações foliculares (folículos telogênicos e atróficos).
De nossa experiência, ao longo dos últimos 15 anos no diagnóstico de rotina, a
hipertrofia dos músculos piloeretores, quando marcada, é sugestiva ou indicativa de
dermatopatia associada ao hipotireoidismo. Segundo Scott (1982), a vacuolização do
músculo piloeretor seria uma lesão específica de hipotireoidismo canino e ocorreria em
74% de cães com esse distúrbio hormonal. Já Yager & Wilcock (1994) acreditam que,
para ser levado em consideração esse parâmetro, os vacúolos devem conter material
eosinofílico; vacuolização pálida (clara) de fibras musculares seria um achado comum e
sem significado patológico.
CONCLUSÃO
Nossos dados corroboram com os de Scott (1982), que considera a hipertrofia dos
músculos piloeretores um achado altamente sugestivo de hipotireoidismo.
REFERÊNCIAS
BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Manual Saunders:Clín. de peq animais. SP: Roca,1998,p.247-259.
CHASTAIN, C.B. & PANCIERA, D.L. Afecções hipotiróideas. In: Ettinger S.J. & Feldman E.C. (Eds),
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DIXON, R.M.; REID, S.W.J. & MOONEY C.T. Epidemiological, clinical, hematological and biochemical
characteristics of canine hypothyroidism. Veterinary Record. 1999, 145:481-487.
DUNSTAN, R.W. Comunicação pessoal (Professor na Texas A&M University), 1997.
PANCIERA, D.L. Hypothyroidism in dog: 66 cases. Journal of the American Veterinary Medical
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SCOTT, D.W. Histopathologic findings in endocrine skin disorders of the dog. Journal of the American
Animal Hospital Association. 1982, 18:173-183.
SCOTT, D.W.; MILLER, D.H. & Griffin, C.E. Dermatologia de Pequenos Animais. 6ª ed. Interlivros, Rio de
Janeiro. 1996, 1130p.
SCOTT, D.W.; MILLER, D.H. & Griffin, C.E. Endocrine and metabolic diseases. In: Ibid. (Eds), Muller &
Kirk‘s Small Animal Dermatology. 6th ed. W.B. Saunders, Philadelphia. 2001, p.63-69.
YAGER, J.A. & WILCOCK, B.P. Atrophic dermatoses. In: Ibid. (Eds), Color Atlas and Text of Surgical
Path of the Dog and Cat: dermat and skin tumors. Mosby Year Book Europe, London. 1994, p.224-226.
681
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 251, 2013

251. OCORRÊNCIA DE INSULINOMA EM UM CÃO – RELATO DE CASO


(Occurrence of insulinoma in a dog - case report)

Cláudio Henrique Gonçalves Barbosa¹, Rafaela Lima Miqueletti², Camila Vieira Alves²,
Isadora Martins Fernandes², Tatiane Furtado de Carvalho³, Humberto Eustáquio
Coelho4

1. Médico veterinário e Mestrando em Patologia Animal na UnB.


2. Graduandas de Medicina Veterinária da UNIUBE.
3. Médica veterinária e Mestranda em Patologia Geral na UFMG.
4. Professor de Patologia Animal e Ornitopatologia para Medicina Veterinária da UNIUBE.

RESUMO: Insulinoma é a proliferação neoplásica das células beta do pâncreas. São


capazes de produzir e secretar insulina em quantidades aumentadas, provocando
hipoglicemia e os sintomas característicos da síndrome de hipoglicemia. O presente
estudo objetiva relatar um caso de insulinoma canino, por se tratar de uma neoplasia
rara em cães. O animal do presente relato apresentou emagrecimento progressivo,
inapetência e prostração. O diagnóstico foi realizado com base nos achados de
necropsia e exame histopatológico do pâncreas, observando neste órgão, células de
forma cuboide e poliédricas com citoplasma abundante e núcleo discretamente corado.
Palavras-chave: cães; neoplasias; pâncreas.
ABSTRACT: Insulinoma is a neoplastic proliferation of pancreatic beta cells. They are
able to produce and secrete insulin in increased amounts, leading to the characteristic
symptoms of hypoglycemia, and Syndrome hypoglycemia. This study aims to report a
case of canine insulinoma, because it is a rare neoplasm in dogs. The animal of this
report showed progressive weight loss, anorexia and prostration. The diagnosis was
based on necropsy and histopathology of the pancreas, watching this body, cells and
polyhedral cuboid shape with abundant cytoplasm and nucleus slightly flushed.
Key words: dogs; neoplasms; pancreas
INTRODUÇÃO
Os tumores pancreáticos produtores de hormônios com repercussão clínica são raros.
O pâncreas combina funções endócrina e exócrina. O pâncreas endócrino é formado
pelas ilhotas de Langherans, que são aglomerados celulares espalhados entre os
ácinos exócrinos (Dyce, Sack e Wesing, 1990; Junqueira e Carneiro, 1995), compondo
cerca de 2% do tecido pancreático (Lurye et al., 2001). Existem pelo menos quatro
tipos celulares compondo as ilhotas. As células Alpha, secretam glucagon e
correspondem a 20% do pâncreas endócrino. As células beta secretam insulina e
correspondem a 60% a 75% das células das ilhotas. Células Delta, que secretam
somatostatina (inibe a liberação do hormônio hipofisário do crescimento e a secreção
de glucagon e insulina) e células F (ou P) que secretam polipeptídeos pancreáticos e
são encontradas em menor número (Junqueira, Carneiro, 1995; Lurye et al., 2001). A
proliferação neoplásica das células beta denomina-se insulinoma, é um tumor secretor
de insulina pouco ou nada responsivo ao feedback negativo causado pela hipoglicemia
(Lurye et al., 2001). Em cães exibe em 80 a 97% dos casos, comportamento maligno. A
neuroglicopenia promove aumento da permeabilidade vascular, vasoespasmo, dilação
vascular e edema, quando persistente, anóxia e morte neuronal. O córtex cerebral, por
ter altas taxas metabólicas, é uma das primeiras regiões a apresentar sintomas
clínicos, são eles: convulsões, debilidade, colapso, ataxia, comportamento anormal e
cegueira (Fingeroth, 1996). Na tentativa de manter o equilíbrio orgânico, devido a
hiperinsulinemia, são liberados hormônios contrarregulatórios que modificam os efeitos
da insulina, contra atacam a hipoglicemia e agem para maximizar o aporte de glicose
para o SNC (Ham et al., 1997). Catecolaminas e glucagon são liberados precocemente
em resposta a hipoglicemia, cortisol e o hormônio do crescimento são liberados em
seguida. Os sintomas relacionados a liberação precoce de catecolaminas são
682
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 251, 2013

fasciculações, inquietação e fome, e podem preceder os sinais da neuroglicopenia


(Lurye et al., 2001).O presente estudo objetiva relatar um caso de insulinoma canino,
por se tratar de uma neoplasia rara em cães.
MATERIAL E MÉTODO
Foi atendido no Hospital Veterinário de Uberaba-HVU, um cão macho sem raça
definida (SRD), dez anos de idade. Na anamnese o mesmo estava apático; o
proprietário relatou que há dez dias o animal começou a emagrecer e não queria
comer, ficando mais quieto, apático e com histórico de crises convulsivas. No exame
clínico observou-se mucosas hipocoradas, desidratação e o animal apresentava-se em
decúbito lateral. Sendo que o mesmo morreu no mesmo dia do atendimento e foi então
necropsiado, apresentando hidrotórax, coração tigrado e dilatado, rins pálidos, fígado
de noz moscada, gastroenterite hemorrágica aguda e pâncreas com áreas aumentadas
de volume e coloração parda escura. No exame histopatológico do pâncreas foram
observadas células de forma cuboide e poliédricas com citoplasma abundante e núcleo
discretamente corado que confirmam o diagnóstico de insulinoma (Moulton, 1990).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Insulinomas ocorrem tipicamente em cães de grande porte de média idade a idosos
(Feldman e Nelson, 2004). Segundo Moulton (1990), sua maior frequência nos cães
esta correlacionada à idade de 5 a 12 anos, informação esta que coincide com a do
caso apresentado. De acordo com Klausner e Hard (1998), os sinais clínicos são
variáveis, mas todos se relacionam com a hipoglicemia induzida pela excessiva
produção de insulina pelo tumor ou pela liberação de catecolaminas secundária a
hipoglicemia. Quando lento, os sintomas se correlacionam a liberação das
catecolaminas, gerando manifestações neurológicas, que também foi verificado neste
caso. Conforme Bailey e Page (2007) apesar de uma aparência histológica tipicamente
benigna, metastiza em cerca de 50% dos animais, preferencialmente nos linfonodos
regionais e fígado, porém não foi observada metástase no presente relato. De acordo
com McGavin e Zachary (2013), os adenomas apresentam-se como nódulos únicos ou,
mais raramente, múltiplos num ou nos dois lobos e/ou no corpo do pâncreas. Pequenos
ninhos de células epiteliais acinares são por vezes encontrados dentro do neoplasma,
mas são mais comuns na sua periferia. As células neoplásicas bem diferenciadas são
redondas ou poliédricas, com bordas celulares nítidas e um citoplasma finamente
granular, eosinofílico pálido. Os carcinomas de células das ilhotas são quase sempre
maiores do que os adenomas, são multilobulares e invadem e ultrapassam a cápsula
fibrosa do pâncreas. São redondas ou poliédricas e possuem um citoplasma granular
eosinofílico, compatível com o caso relatado.
CONCLUSÕES
Insulinoma é uma neoplasia rara em cães, com isso é pouco frequente na rotina clínica,
mas deve ser considerado como diagnóstico diferencial em cães adultos, acima de 5
anos, que apresentem hipoglicemia e crises convulsivas. Com base nos achados
clínicos e anatomopatológicos macro e microscópicos o foi confirmado o diagnóstico de
insulinoma.

683
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 251, 2013

REFERÊNCIAS
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Guanabara Koogan, 1990. p. 282-293.
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MOULTON, J.E.; Tumors in Domestic Animals 3 ed. London, University of California Press Ltd.672p.
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684
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 252, 2013

252. OSTEOSSARCOMA OSTEOBLÁSTICO NA COSTELA DE UM CÃO DA RAÇA


BOXER
(Osteoblastic osteosarcoma in rib of a dog of breed boxer)

Brisa Souza1, Tamires Teodoro¹, Karen Nakagaki², Camila Abreu², Pamela Lima¹,
Mary Varaschin³

1. Aluno de Graduação do Curso de Medicina Veterinária, (UFLA), Lavras, MG, 37200-000,


2. Aluno do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, UFLA, Lavras, MG.
3. Prof Dr do curso de Med Vet, Setor de Pat Veterinária, UFLA, Lavras, MG. msvaraschin@dmv.ufla.br

RESUMO: O osteossarcoma é a neoplasia óssea mais comum, e em cães representa


85% dos tumores malignos. O presente estudo descreve um caso de osteossarcoma
osteoblástico de costela em um cão da raça boxer, de dois anos de idade. O animal
apresentava uma massa tumoral de 15 cm de diâmetro aderida às costelas e que
infiltrava para a cavidade torácica e pulmões. Na microscopia observou-se a
proliferação de células neoplásicas com núcleos vacuolizados, ovalados a fusiformes,
citoplasma basofílico associado a destruição óssea. Os osteoblastos tumorais
encontravam-se incorporados e proliferando entre as ilhas de tecido osteóide. O
diagnóstico de osteossarcoma osteoblástico foi realizado pelas características
histopatológicas da neoplasia.
Palavras-chave: animais jovens; infiltrativo; neoplasia maligna; osso
ABSTRACT: Osteosarcoma is the most common bone tumor, and in dogs represents
85% of malignant tumors. The present study describes a case of rib osteoblastic
osteosarcoma in a dog of breed boxer, two years old. The dog had a tumor of 15 cm
diameter adhered to the ribs and infiltrated into the thoracic cavity and lungs. In the
microscopy it was observed proliferation of neoplastic cells with vacuolated nuclei, oval
to spindle-shaped, basophilic cytoplasm associated with bone destruction. The tumor
osteoblasts were incorporated and proliferating between the islands of osteoid tissue.
The diagnosis of osteoblastic osteosarcoma was performed by histopathological
features of the tumor.
Key words: Bone; infiltrative; malignant neoplasm; Young animals
INTRODUÇÃO
Osteossarcoma (OSA) é um tumor ósseo primário, maligno e metastático (Freitas et al.,
2008). É o tumor primário do osso mais comum em cães, representando 85% dos
tumores malignos (Dernell, 2007). Frequentemente originam-se em metáfises de ossos
longos, conhecido como osteossarcoma apendicular, porém são raramente
encontrados em ossos do esqueleto axial como ossos do crânio, vértebras, pelve e
costelas (FLORESTI, 2008). Osteossarcomas de costelas ocorrem mais
frequentemente em animais jovens, entre 4 e 5 anos, enquanto outros osteossarcomas
do esqueleto axial, ocorrem geralmente entre os 7 e 8 anos de idade (Thompson,
2002). Segundo Mauldin et al. (1988), é um tumor localmente invasivo e com alta
incidência de metástases a curto prazo. O diagnóstico de osteossarcoma se baseia no
histórico, aspecto clínico e radiográfico, no entanto a confirmação deve ser realizada
pelo exame histopatológico (Lamb et al., 1990). O presente estudo tem como objetivo
relatar um caso de osteossarcoma osteoblástico de costela em um cão jovem boxer.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi encaminhado para o Setor de Patologia Veterinária da Universidade Federal de
Lavras, um cão boxer, macho, de dois anos de idade. Foi realizada a necropsia e
fragmentos de vários tecidos foram coletados em formol 10% tamponado e
processados rotineiramente para a histopatologia.
RESULTADOS
Na necropsia foi observado uma massa circular com diâmetro de aproximadamente 15
cm, consistência firme, recoberta por pelo, localizada na parede torácica lateral do
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 252, 2013

antímero direito, associada a costela. No exame interno observou-se o aumento do


linfonodo cervical superficial direito que ao corte se encontrava edemaciado. Na
cavidade torácica visualizou-se que a massa vista externamente se estendia por uma
grande área, infiltrando o pulmão, mediastino e comprimindo o coração. A massa
apresentava inúmeras nodulações que variavam de 1 a 15 cm de diâmetro e áreas de
consistência firme. Ao corte, apresentava coloração branca com pontos avermelhados
em meio a áreas firmes, semelhante ao tecido ósseo e áreas friáveis. Não havia
neoplasia em outros ossos do animal.Na microscopia foi observado que a massa
tumoral primária e sua infiltração na musculatura intercostal e pulmão apresentavam as
mesmas características morfológicas, caracterizadas por núcleos vacuolizados,
ovalados a fusiformes; citoplasma basofílico, com o mesmo formato da célula, além de
proliferação das células tumorais com destruição óssea adjacente. Os osteoblastos
tumorais proliferavam-se entre e incorporados às ilhas de tecido osteóide. Na superfície
do linfondo haviam células fusiformes a alongadas com focos de diferenciação óssea e
infiltrado de células tumorais nos seios subcapsulares em região cortical,
caracterizando um foco de metástase.
DISCUSSÃO
O osteossarcoma é um tumor mesenquimal maligno e representa cerca de 80% a 95%
das neoplasias ósseas diagnosticadas em cães (Oliveira, 2008). O presente caso
descreve esta neoplasia em um cão da raça boxer, que segundo a literatura está
dentro do grupo de raças grandes e gigantes, que possuem maior predisposição a este
tipo de tumor (Oliveira, 2008).
Segundo Medeiros et al (2010) apenas 10% dos casos de osteossarcomas que
acometem o esqueleto axial ocorrem na costela, demonstrando assim a baixa
frequência do surgimento desse tumor nesta localização. Este tipo de Osteossarcoma
geralmente se localiza próximo as junções costocondrais e costuma ser do tipo
osteoblástico (Thompson, 2002), como no caso aqui relatado.
A classificação em osteossarcoma osteoblástico se deu pelas características
microscópicas condizentes com a literatura, que descreve uma proliferação de células
mesenquimais primitivas malignas, com diferenciação osteoblástica, que produzem
matriz osteóide ou osso imaturo, não sendo esta matriz óssea de caráter reativo ou
metaplásico (Medeiros, 2010).
CONCLUSÃO
O diagnóstico de osteossarcoma osteoblástico foi possível principalmente por sua
caracterização microscópica. Tal neoplasia chama a atenção pelo caráter infiltrativo,
por sua localização pouco comum e por acometer com frequência animais jovens.
Agradecimento: À FAPEMIG pelo apoio financeiro.
REFERÊNCIAS
DERNELL, W.S.; EHRHART, N.P.; STRAW, R.C.; et al. Tumors of the skeletal system. In: Withrow and
MacEwen's Small Animal Clinical Oncology. 4.ed. St. Louis: Saunders Elsevier, 2007, p.540-567.
FLORESTI, G. V.; BERSANO, P.R.O.; COSTA, T.C. et al. Osteossarcoma em um setter irlandês: relato
de caso. Revista Veterinária e Zootecnia, v.15, n.3, p.72-74, 2008.
FREITAS, L. C. D. Câncer ósseo (osteossarcoma). Revista Veterinária, 2008.
LAMB, R.C. Preoperative measurement of canine primary bone tumors using radiography and bone
scintigraphy. Journal of the American Veterinary Medical Association. v.196, n.9, p.1032-1037, 1990.
MARTELLI, A.; SANTOS A. R; JONES A. R. Aspecto histopatológico e histoquímico de osteossarcoma
em cães. Estudos de biologia: Ambiente e Diversidade. v. 26, n. 67, p.179-189, 2007.
MAULDIN, G. N.; MATUS, R. E.; WITHROW, S. J. et al. Canine osteosarcoma: treatment by amputation
versus amputation and adjuvant chemotherapy using doxorubicin and cisplatin. Journal American
Veterinarian Medical Association, v.2, n.4, p.177-180, 1988.
MEDEIROS, F.; ROCHA, J.R.; SANTOS, M.S.P.; et al. Osteossarcoma em cães – relato de caso.
Revista científica eletrônica de medicina veterinária, ano VIII, n.14, 2010.
OLIVEIRA, F.; SILVEIRA, P.R. Osteossarcoma em cães (revisão de literatura) Revista científica
eletônica de medicina veterinária, v. 11, p. 1-7, 2008.
THOMPSON, K.G.; POOL, R.R. Tumors of bones. In: MELTEN, D.J. Tumors in domestic animals. 4.ed.
Iowa: Iowa State, 2002, Cap.5, p.245-317.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 253, 2013

253. PANESTEATITE FELINA - RELATO DE CASO

Tatiane Caleffo¹, Alcides Branco da Silva Junior¹, Mônica Kanashiro Oyafuso²,


Raimundo Alberto Tostes², Aline de Marco Viott²

1. Médico (a) Veterinário (a) residente, Hospital Veterinário da UFPR Setor Palotina - PR;
2. Professor (a), Médico (a) Veterinário (a), UFPR, Medicina Veterinária, Setor Palotina – PR.

RESUMO: A panesteatite é uma afecção de caráter inflamatório que atinge o tecido


adiposo, principalmente de felinos que recebem alimentação rica em ácidos graxos
insaturados ou insuficiente em vitamina E. Um felino, macho, SRD, com 9 anos de
idade foi atendido com vômitos, diarreia, febre alta, edemas e histórico de
emagrecimento progressivo. Diariamente o animal era alimentado com pequenas
porções de fígado ou peixe enlatado. A necropsia evidenciaram-se miríades de
nodulações, firmes, brancacentas no tecido adiposo abdominal e subcutâneo medindo
0,5 a 1,3 cm de diâmetro. O exame histopatológico revelou severa esteatonecrose. O
histórico, os sinais clínicos, e os achados macro e microscópicos foram compatíveis
com panesteatite felina.
Palavras-chave: patologia felina, esteatonecrose, ácidos graxos insaturados
ABSTRACT: The panesteatite is a disease of inflammatory nature that reaches adipose
tissue, especially in cats that receive food rich in unsaturated fatty acids or insufficient in
vitamin E. A feline male SRD, with 9 years of age was attended with vomiting, diarrhea,
high fever, edema and history of progressive weight loss. The animals were fed daily
with small portions of liver or canned fish. Necropsy showed up myriads of nodules,
firm, whitish in adipose tissue and abdominal subcutaneous measuring 0.5 to 1.3 cm in
diameter. Histopathological examination revealed severe steatonecrosis. The history,
clinical signs, and gross and microscopic findings were consistent with feline
pansteatitis.
Keywords: feline pathology, steatonecrosis, unsaturated fatty acids
INTRODUÇÃO
A panesteatite, também conhecida por ―doença da gordura amarela‖, é uma doença
inflamatória do tecido adiposo que tem sua ocorrência mais relatada em gatos com a
alimentação baseada em peixes, principalmente o atum (Watson et al. 1973; Niza et al.
2003; Zini et al. 2003; Fabbrini et al. 2005). A panesteatite também pode ocorrer de
forma espontânea em outras espécies como suínos, ratos (Apud, Beadle, 1948),
garças azuis (Nichols et al., 1986), entre outros. Sua principal causa é a ingestão
insuficiente de vitamina E devido uma dieta baseada em peixes, principalmente o atum
vermelho, e também pelo aumento da ingestão de ácidos graxos insaturados (Watson
et al., 1973; Niza et al., 2003). Há necrose dos adipócitos, fibrose e deposição de
lipofucsina, além de inflamação no tecido adiposo (Danse et al., 1978). Em felinos, os
principais sinais clínicos relatados são febre, depressão, anorexia, hiperestesia,
necrose da gordura do tecido subcutâneo e também em gordura intra-abdominal.
(Watson et al., 1973).
O presente trabalho tem por objetivo relatar os sinais clínicos e lesões macro e
microscópica de um caso de panesteatite felina ocorrido no Hospital Veterinário UFPR
Setor Palotina.
MATERIAIS E MÉTODOS
Um felino, macho, SRD, com 9 anos de idade, foi atendido no Hospital Veterinário
UFPR Setor Palotina apresentando vômito esporádico, desidratação grave e
hipertermia, e passou a apresentar emagrecimento progressivo e edemas de
subcutâneo no decorrer do tratamento. A alimentação fornecida era de ração seca e de
lata, além de uma pequena quantidade de peixe enlatado ou fígado bovino todos os
dias, que apenas foi relatada após o óbito do animal. Durante a necropsia observou-se
acentuado edema de subcutâneo em membros anterior e posterior direito.
687
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 253, 2013

Observaram-se pequenos nódulos brancos, firmes, medindo entre 0,5 e 1,3cm de


diâmetro, que se estendiam por todo o tecido adiposo do subcutâneo. Foram
encontrados 100ml de líquido fibrinoso e amarelado na cavidade abdominal. Havia
hepatomegalia acentuada com periepatite fibrinosa associada e ao corte notava-se
acentuada evidenciação do padrão lobular. Tanto no mesentério como no omento
haviam nodulações semelhantes às descritas em tecido subcutâneo. No lúmen da
vesícula biliar haviam três exemplares de parasitas trematódeos, com
aproximadamente 0,3cm de comprimento, compatíveis com Platynosomum factosum.
As fezes eram abundantes e possuíam aspecto esbranquiçado (esteatorréia).
Microscopicamente havia marcada esteatonecrose do tecido adiposo do subcutâneo e
da região intra-abdominal. Essas áreas eram envoltas por abundante infiltrado
inflamatório granulomatoso composto por plasmócitos, linfócitos, macrófagos
espumosos, macrófagos epitelióides, células gigantes tipo corpo estranho e raros
neutrófilos. Ao centro notava-se apenas o contorno dos adipócitos com o interior total
ou parcialmente preenchido por material de aspecto granular levemente basofílico,
entremeados a extensas áreas de mineralização. O fígado apresentava degeneração
gordurosa difusa moderada e leve retenção multifocal de pigmento biliar. Aderido à
cápsula hepática havia uma área focalmente extensa acentuada de fibrina entremeada
a infiltrado inflamatório misto. A coloração de Ziehl Neelsen não evidenciou bacilos
álcool ácido resistentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
São raros os casos de panesteatite em felinos relatados na literatura. Sua ocorrência é
devida a ingestão insuficiente de vitamina E, e dietas abundantes em ácidos graxos
insaturados, causando estresse oxidativo (Zini et al., 2006). Os ácidos graxos
insaturados presentes nos lipídios da membrana celular são vulneráveis à oxidação e a
ação da vitamina E é interromper essa oxidação doando elétrons aos radicais livres
que induzem a peroxidação lipídica (apud, Case et al., 1995). Sua causa em felinos é
geralmente associada à ingestão de peixes, principalmente atum vermelho, alimentos a
base de óleo de peixes e raramente, fígado (Watson et al, 1973). Somente após a
necropsia, a proprietária revelou que o felino recebia porções diárias de peixe enlatado
(atum/sardinha) ou de fígado bovino. Essa alimentação rica em ácidos graxos
insaturados foi determinante para a ocorrência do quadro de panesteatite desse
animal, e a ocultação dessa informação na anamnese dificultou o diagnóstico clinico da
doença.
Os achados macroscópicos relevantes são pequenos nódulos firmes amarelados
medindo 0,5 a 1 cm de diâmetro em omento, mesentério, e serosa de parede
abdominal (Fabrinni et al., 2005). Microscopicamente, nota-se fibroplasia moderada do
tecido conjuntivo. Há paniculite septal piogranulomatosa, com áreas multifocais de
necrose e mineralização de gordura, por vezes nota-se granulação fina do citoplasma
dos adipócitos e perda da definição da membrana celular (Niza et al., 2003; Fabrinni et
al., 2005). Outros autores relatam a ocorrência de edema associado às lesões
descritas anteriormente (Danse & Verschuren 1978). Tanto as lesões macroscópicas
como as microscópicas relatadas na literatura foram observadas no presente caso.
O P. factosum é considerado o parasita hepático mais importante dos gatos
domésticos. Este trematóide geralmente habita os ductos biliares e a vesícula biliar dos
gatos, ocasionado inapetência, letargia, anorexia, perda de peso e alterações nas
características das fezes. Hepatopatias graves são relatadas em casos crônicos (Lima
et al., 2008). Acredita-se que o aspecto brancacento e esteatorreico das fezes foram
ocasionados pela infecção por P. factosum.
CONCLUSÕES
Os achados macro e microscópicos associados ao histórico clínico foram compatíveis
com panesteatite felina.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 253, 2013

REFERÊNCIAS
BEADLE, B.W.; WILDER, O.H.; KRAYBILL, H.R.; The deposition of trienoic fatty acids in the fats of the
pig and rat, Journal of Biological Chemistry, 175: 221, 1948.
CASE, L.P.; CAREY, D.P.; HIRAKAWA, D.A.; Vitamin deficiencies and excesses. Canine and Feline
Nutrition. A Resource for Companion Animal Professionals. St. Louis: Mosby-Year Book, pp. 303–308,
1995.
DANSE, L. H. J . C. and VERSCHUREN,P. M., ―Fish Oil-induced Yellow Fat Disease in Rats: histological
changes‖, Vetherinary Pathology Online, 15: 114-124, 1978. FABBRINI, F.; ANFRAY, P.; VIACAVA, P.;
et al ―Feline cutaneous and visceral necrotizing panniculitis and steatitis associated with a pancreatic
tumour‖. Veterinary Dermatology 16, 413 e 419, 2005.
NEVES, M. F.; LIMA, G. S.; DABUS, D. M. M.; et al; ―Platynosomum factosum‖; Revista Científica
Eletônica de Medicina Veterinária; Ano VI, número 11, Julho de 2008, Periódicos Semestral.
NIZA, M.M.R.E.; VILELA, C.L.; FERREIRA, L.M.A.; ―Feline pansteatitis revisited: hazards of unbalanced
home-made diets‖, Journal of Feline Medicine and Surgery (2003) 5, 271–277
WATSON, A. D. J.; PORGES, W. L.; HUXTABLE, C. R., et al., ―Pansteatitis in a cat‖, Australian
Veterinary Journal, Vol. 49, August, 1973
ZINI, E.; HAUSER, B.; OSSENT, P., et al., ―Pansteatitis and severe hypocalcaemia in a cat‖, Journal of
Feline Medicine and Surgery (2007) 9, 168 – 171.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 254, 2013

254. PAPILOMA DE PLEXO COROIDE EM BOXER: RELATO DE CASO


(choroid plexus papilloma in boxer: a case report)

Leilane Aparecida da Silva¹, Letícya Lerner Lopes², Samara Rosolem Lima¹,


Nadia Aline Bobbi Antoniassi³, Caroline Argenta Pescador³, Edson Moleta Colodel³

1. Residente, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso. (leilane_go@hotmail.com)


2. Mestrando, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
3. Professor, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.

RESUMO: Papilomas de plexo coroide são neoplasias do sistema nervoso central


frequentemente têm localizações ventriculares e causam compressão do tecido
nervoso com distúrbios neurológicos. Este caso ocorreu em um Boxer, de 11 anos de
idade, com quadro clínico de incoordenação, surdez, cegueira e dificuldade
respiratória. Macroscopicamente o encéfalo apresentava massa irregular com aspecto
de ―couve-flor‖, circunscrita, macia, na parte ventral do tronco cerebral da região da
decurssação piramidal até imediações do bulbo olfatório envolvendo lateralmente a
região dos colículos e lobo piriforme. Microscopicamente havia proliferação de células
colunares formando projeções arboriformes e grandes ninhos delimitados por cápsula
de tecido conjuntivo fibroso. Os achados histológicos são compatíveis com papiloma de
plexo coroide. O quadro clínico foi associado à compressão do sistema nervoso central.
Palavras-chave: cão; encéfalo; incoordenação motora; neoplasia
ABSTRACT: Choroid plexus papillomas are tumors of the central nervous system with
ventricular localizations causing compression of the nervous tissue with neurological
disorders. This case occurred in a 11 years old Boxer with clinical incoordination,
deafness, blindness and respiratory difficulty. Macroscopically, the brain showed an
irregular mass, circumscribed, soft, "cauliflower" aspect on the ventral part of the
brainstem from the middle region pyramidal extending to the vicinity of the olfactory bulb
involving the lateral region of the colliculus and cerebral cortex. Microscopically there
was proliferation of columnar cells forming projections arboriform and large nests
enclosed by a capsule of connective tissue. The histological findings are compatible
with choroid plexus papilloma. The clinical picture was associated with central nervous
system compression.
Key-words: brain; dog; incoordination; neoplasia
INTRODUÇÃO
Papilomas de plexo coroide apresentam uma incidência semelhante aos glioblastomas,
ocorrendo com frequência no quarto ventrículo. Surgem devido a uma diferenciação do
epitélio medular primitivo e estão relacionados embriologicamente a células
ependimais. Apresenta forma papilar, cor avermelhada, provocando frequentemente
hemorragia. Microscopicamente são bem definidos, crescem por expansão e têm uma
aparência papilar e granulomatosa (Lipsitz et al., 1999). Esta neoplasia é descrita em
cães boxer, golden retrivier, Doberman pinscher, scottish terrier e old english sheepdog
(Heidner et al.,1990). A história clínica pode revelar a presença de distúrbios
neurológicos e comportamentais, incluindo letargia, desorientação, estupor, falha no
reconhecimento dos proprietários, cegueira, perda de propriocepção e reações
posturais anormais. O objetivo deste trabalho é descrever os aspectos clínicos e
patológicos do papiloma de plexo coróide em um cão boxer.
MATERIAL E MÉTODOS
O histórico do animal e os sinais clínicos da neoplasia foram obtidos pelo médico
veterinário responsável pelo caso. Foram coletados fragmentos de diversos órgãos e
encéfalo durante a necropsia, fixados em formol a 10 % e processados rotineiramente
pra exame histológico e corados pela hematoxilina e eosina (HE).

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 254, 2013

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um canino Boxer, macho, de 11 anos de idade chegou ao Hospital Veterinário da
UFMT (HOVET) apresentando sinais clínicos manifestados por tremores,
incoordenação motora durante a deambulação, propriocepção diminuída, cegueira,
surdez, além de dificuldade respiratória e anorexia. Após a morte do animal, este foi
encaminhado ao Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Mato
Grosso (LPV-UFMT) para necropsia. As alterações macroscópicas observadas foram
caracterizadas por massa irregular no encéfalo circunscrita, macia, aspecto de ―couve-
flor‖ que se estendia da região ventral da medula oblonga, parte ventral do tronco
cerebral desde a decurssação da piramide se estendendo até imediações do bulbo
olfatório envolvendo lateralmente a região dos colículos e córtex do lobo temporal, com
múltiplas projeções papilares na periferia e região central de consistência mais sólida.
Ao corte notava-se coloração brancacenta, superfície regular, não encapsulada e com
crescimento expansivo com uma nítida demarcação entre o tecido neoplásico e o
tecido normal. Microscopicamente havia proliferação de células colunares com núcleo
frequentemente basal, pequeno, redondo e basofílico, e com citoplasma abundante e
eosinofílico. Estas células formam projeções arboriformes com apenas uma camada
celular assentadas, delgada membrana basal, por vezes um padrão sólido. Estruturas
em formas de pseudorosetas são ocasionalmente observadas. Havia também a
formação de grandes ninhos celulares delimitados por cápsula de tecido conjuntivo
fibroso. Nesse caso, acredita-se que a compressão do tecido nervoso contribuiu para o
aparecimento dos sinais neurológicos e comportamentais (Birchard e Sherding., 2003).
As características microscópicas observadas foram essenciais para o diagnóstico do
papiloma de plexo coroide (Zachary., 2007). A predisposição racial e idade são fatores
já relacionados à ocorrência desse neoplasma e podem ser observados nesse caso
(Heidner et al.,1990).
CONCLUSÃO
Os achados clínicos, macroscópicos e principalmente histológicos são compatíveis com
o diagnóstico de papiloma de plexo coroide.
REFERÊNCIAS
Birchard S.J.; Sherding R.G. Manual Saunders: clínica de pequenos animais. 2ª ed. São Paulo: Roca;
2003.
Heidner G.L.; Kornegay J.N.; Page R.L. et al. Analysis of survival in a retrospective study of 86 dogs with
brain tumors. Journal of Veterinay Internal Medicine, n.5, p.219-26. 1990.
Lipsitz D.; Levitski R.E.; Chauvet A.E. Magnetic resonance imaging of a choroid plexus carcinoma and
meningeal carcinomatosis is a dog. Veterinay Radiology & Ultrasound, n.40, p.246-250, 1999.
Zachary F.J. Nervous System. In: McGavin M.D., Zachary F.J. Pathologic Basis of Veterinary Disease.
4.ed. Missouri: M. Elsevier, , cap. 14, p.950-951. 2007.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 255, 2013

255. PARAGANGLIOMA EM CÃO ASSOCIADO A FALÊNCIA CARDÍACA:


RELATO DE CASO
(Canine paraganglioma associate with bankruptcy cardiac: Case report)

Leonardo F. Pavan¹, Priscila E. Kobayashi¹, Diogo S. Zanoni², Raquel Beneton Ferioli²,


Jose Guilherme Xavier³ , Renée L. Amorin4

1 Residente no setor de Patologia Veterinária do Depto de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu.


2 Pós- graduando do Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ/UNESP-Botucatu.
3 Programa de Pós-graduação em Patologia Ambiental e Experimental, Universidade Paulista (UNIP),
4 Prof. Adj. Dr do Depto. de Clínica Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu.

RESUMO: Neoplasias primárias do coração são raras em todas as espécies


domésticas, no entanto, tumores envolvendo o coração são relativamente infrequentes,
contudo os paragangliomas ocorrem primariamente em cães, sendo também
reportados em humanos, gatos, cavalos, bovinos e patos, comprometendo
principalmente corpo aórtico e carotídeo. Este trabalho tem por objetivo relatar um caso
de paraganglioma associado a falência cardíaca em um canino Golden Retreiver.
Palavras-chave: Canino; tumor cardíaco; neoplasia
ABSTRACT: Primary neoplasms of the heart are rare in all domestic species, however,
tumors involving the heart are relatively uncommon, however paragangliomas occur
primarily in dogs, and also reported in humans, cats, horses, cattle and ducks, affecting
especially aortic, and carotid body. The aim of this study is to report a Paraganglioma
associated with collapsed heart in a Golden Retriever.
Keywords: Canine; heart Tumors; neoplasia
INTRODUÇÃO
Os receptores sensoriais do sistema circulatório incluem o corpo aórtico, o corpo
carotídeo e o seio carotídeo que têm por função monitorar os níveis sanguíneos de
oxigênio e dióxido de carbono, pH e temperatura sanguínea e, ainda, participam da
regulação da frequência cardiorrespiratória (Capen., 2002; Deim et al., 2007). A
neoplasia relacionada a esses receptores localiza-se comumente na base do coração,
dentro do saco pericárdico, envolvendo o corpo aórtico ou situado entre a aorta e a
artéria pulmonar, o corpo carotídeo e, menos frequentemente, o glomus pulmonar
podendo ocorrer, ainda, nas adrenais ou em sítios ectópicos (Jubb et al., 2007;
Noszczyk-Nowak et al., 2010). Considerada a segunda neoplasia cardíaca primária
mais comum em cães, superada apenas pelos o hemangiossarcoma, e representa 7%
de todos os tumores cardíacos primários em cães (Noszczyk-Nowak et al., 2010). Este
trabalho tem por objetivo relatar um caso de paraganglioma associado a falência
cardíaca em um canino Golden Retreiver.
MATERIAL E MÉTODO
Um cão da raça Golden Retriever, macho, não castrado, pesando 35Kg, com oito anos
de idade, foi encaminhado ao Serviço de Patologia Veterinária da Universidade
Estadual Paulista – UNESP - Botucatu para análise necroscópica. O animal
apresentava histórico de morte súbita durante atendimento clínico. Ao exame de
necropsia, observou-se hemopericárdio moderado, assim como nódulo adjacente a
veia cava caudal medindo 4,0 x 3,2 cm, superfície irregular, coloração avermelhada,
consistência macia, além de aderência em pericárdio e discreta invasão do miocárdio.
Após abertura das câmaras cardíacas evidenciou-se, em aurícula direita, continuidade
do nódulo adjacente a veia cava caudal medindo 4,5 x 3,0 cm de diâmetro aderida a
parede auricular e presença moderada de coágulo ao redor do mesmo (trombo). Foram
observados nódulos medindo de 0,3 a 0,5 cm de diâmetro no pulmão. O animal
apresentava criptorquidismo unilateral e atrofia moderada do testículo esquerdo que se
encontrava na bolsa escrotal. Foram colhidos fragmentos do nódulo adjacente a veia
cava caudal, do nódulo em aurícula direita, dos nódulos pulmonares e de outros órgãos
692
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 255, 2013

como baço, intestino, pulmão, fígado, coração, encéfalo, rim e testículo, que foram
fixados em formalina a 10%, processados rotineiramente e corados pelo método de
hematoxilina-eosina.
RESULTADO e DISCUSSÃO
O exame histopatológico revelou lesão com características neoplásicas, de alta
celularidade, células de formas cúbicas a poliédricas com citoplasma levemente
eosinofílico e granular. O núcleo é centralizado, variando a sua forma de esférica a
ligeiramente ovalada, contendo cromatina pontilhada, e um único e proeminente
nucléolo. As figuras de mitose eram pouco frequentes. Os nódulos pulmonares
mostravam as mesmas características neoplásicas descritas anteriormente. A partir
destes achados foi levantada a hipótese diagnóstica de paraganglioma. Para a
confirmação do diagnóstico utilizou-se um painel de anticorpos que são apresentados
na tabela 1. Frente aos achados morfológicos, anatômicos, microscópicos,
adicionalmente a imunoreatividade positiva para NSE, foram conclusivo para
paraganglioma grau 2 de malignidade.
Os receptores sensoriais do sistema circulatório são compostos por células não
cromafins, originárias da crista neural. Esse grupo de células está associado ao
sistema nervoso autônomo, de onde também são derivados o gânglio simpático e a
medula adrenal (Capen., 2002, Deim et al., 2007, Jones et al., 2000). Baseados nessa
função, esses tumores foram chamados de quimiodectoma, mas esta denominação
parece não ser a mais adequada, pois são tumores do sistema paraganglionar e não
de células quimiorreceptoras. Do ponto de vista embriológico a nomenclatura mais
apropriada é paraganglioma (Jones et al., 2000).
Embora a origem dos paragangliomas seja desconhecida, sugere-se que uma
predisposição genética agravada por hipóxia crônica, poderia explicar a alta incidência
em certas raças de cães braquiocefálicos (Brown et al., 2010, Zimmerman et al., 2000).
Em consonância ao nosso relato, Zimmerman et al (2000). relataram um
paraganglioma na base do coração de um Golden Retriever.
Os paragangliomas são mais frequentes em cães machos que fêmeas e, a idade média
dos cães com tumores do corpo aórtico e carotídeo é de nove a treze anos. Em cães,
os paragangliomas estão frequentemente associados com outras neoplasias
endócrinas, especialmente tumores testiculares e carcinomas de tireoide concomitante
(Brown et al., 2010). Apesar de ser observado testículo ectópico, não foram vistas
alterações na avaliação histopatológica, além disso, o sexo e a idade do animal aqui
relatado são compatíveis com os dados presentes na literatura.
Os tumores do corpo aórtico e carotídeo em animais não são funcionais (não secretam
excesso de hormônio na circulação), mas o tumor age como uma lesão que ocupa
espaço, podendo afetar a função cardíaca, resultando em uma variedade de sinais
clínicos (Capen., 2002). O quadro clínico pode ser pobre, principalmente quando o
tumor não alcançou tamanho suficiente para afetar estruturas vasculares e/ou
nervosas, sendo muitas vezes achados acidentais de necropsia (Jubb et al., 2007).
Segundo Brown et al (2010), baseado nos fatores histológicos é possível categorizar os
tumores em três grupos de acordo com as características como taxa mitótica, o
crescimento invasivo, pleomorfismo celular e metástase a distância. Deste modo,
quanto ao aspecto microscópico, todas as características descritas por Jones et al
(2000). Capen et al (2002) foram observadas no presente relato. As características
imuno-histoquímica de paraganglioma humano foram descritos por vários autores
(Brown et al., 2010, Kliewer et al., 1989), onde NSE, sinaptofisina e cromogranina A
são detectados na maioria dos tumores. No que diz respeito ao nosso caso, a
imunoreatividade positiva para NSE foi similar a outros casos reportados de
paraganglioma em cães (Brown et al., 2010).
Portanto, de acordo com Brown et al (2010) o presente relato foi conclusivo para
paraganglioma grau 2 de malignidade.
693
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 255, 2013

CONCLUSÃO
A baixa incidência do processo, a localização da neoplasia, assim como as
características epidemiológicas e clínicas sustentam a importância do presente relato,
que visa contribuir adicionando dados à literatura desta neoplasia.

REFERÊNCIAS
CAPEN, C. C. Tumors of the endocrine glands. In: MEUTEN, D. J. Tumors in domestic animals, 4th
ed. Iowa State University Press, Ames, p. 691–695, 2002.
DEIM, Z., et al. Carotid body tumor in dog: A case report. Can Vet J, v. 48, p.865–867, 2007.
JUBB, K. V. F., et al. Pathology of domestic animals, 5ª ed. London: Academic Press. p. 740-743,
2007.
NOSZCZYK-NOWAK, A., et al. Case study Cases with manifestation of chemodectoma diagnosed in
dogs in Department of Internal Diseases with Horses, Dogs and Cats Clinic, Veterinary Medicine Faculty,
University of Environmental and Life Sciences, Wroclaw, Poland. Acta Veterinaria Scandinavica, v.52,
p. 1-7, 2010.
BROWN, P. J., et al. Immunohistochemical Characteristics of Canine Aortic and Carotid Body Tumours,
J. Vet. Med., v. 50, p. 140–144, 2003.
JONES, T. C; et al. Patologia veterinária. 6. ed, São Paulo: Manole, p. 1005-1006, 2000.
ZIMMERMAN, K. L., et al. Mediastinal mass in a dog with syncope and abdominal distension. Veterinary
Clinical Pathology, v. 29, p. 19-21, 2000. KLIEWER, K. E., et al. Paraganglioma: assessment of
prognosis by histologic, immunohistochemical, and ultrastructural techniques. Hum. Pathol., v. 20, p. 29–
39, 1989.

694
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 256, 2013

256. PECTUS EXCAVATUM E INSUFICIÊNCIA CARDIORRESPIRATÓRIA


NEONATAL EM CANINOS DA RAÇA BULDOGUE FRANCÊS
(Pectus excavatum and neonatal cardio respiratory insufficiency
in French Bulldog puppies.)

Tayse Domingues de Souza¹ ², Juliana Stelzer Zardo¹, Isabela Hardt¹, Antonio Calais³,
Maylla Garschagen Gava¹, Mayra Cunha Flecher¹

1 Curso de Medicina Veterinária - Universidade Vila Velha.


2 Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias – Escola de Veterinária, UFMG
3 Centro de Ciências Agrárias - Universidade Federal do Espírito Santo.

RESUMO: O pectus excavatum é uma malformação rara caracterizada por


encurtamento ventro-dorsal da cavidade torácica que cursa com alterações
cardiorrespiratórias devido a compressão e mal posicionamento do coração e pulmões.
Relatamos dois casos em neonatos caninos da raça buldogue francês irmãos de
ninhada. Foram observados deformidade angular das costelas, deslocamento do
coração à esquerda, hipoplasia pulmonar, congestão e edema generalizados. As
lesões descritas foram características embora verificadas precocemente no período
neonatal. O pectus excavatum deve ser considerado dentre os diagnósticos diferenciais
nos casos de mortalidade perinatal canina.
Palavras-chave: cães; neonatos, cardiomegalia; comunicação interatrial; malformação
ABSTRACT:Pectus excavatum is a rare malformation characterized by ventro-dorsal
shortening of the chest cavity and associated to cardio-respiratory distress due to heart
and lung compression and displacement. Two cases in french bulldog canine neonates
littermates are reported. Ribs angular deformity, heart displacement to the left, lung
hypoplasia, generalized congestion and edema were observed. Lesions described were
characteristic although occurring early in the neonatal period. Pectus excavatum should
be considered among differential diagnosis in cases of canine perinatal mortality.
Key words: dogs, neonates, cardiomegaly, interatrial communication, malformation
INTRODUÇÃO
Pectus excavatum (PE) é uma deformidade da parede torácica na qual as costelas e o
esterno têm crescimento anormal, produzindo um aspecto côncavo (excavatum) na
região ventral do animal (Fossum, 1993). Considerada uma malformação rara, é
descrita em gatos, cães e humanos (Fossum et al., 1989; Ellison e Halling, 2004; Rahal
et al., 2009; Westphal et al., 2009). Em humanos, várias alterações genéticas foram
descritas associadas a casos de PE, como herança autossômica dominante,
autossômica recessiva, e também ligada ao cromossomo X em algumas famílias
(Kotzot e Schwabegger, 2009). Além da predisposição genética, sugere-se que o
encurtamento do tendão central do diafragma, anormalidades da pressão intrauterina
ou defeitos na osteogênese e na condrogênese, possam contribuir para a
malformação. Desequilíbrios nutricionais foram também relacionados a etiologia do PE
(Fossum, 1993). A deformidade torácica é responsável por compressão, desvio e
disfunção cardiopulmonar com intolerância ao exercício, taquipnéia, cianose,
murmúrios cardíacos e arritmias (Fossum, 1993; Ellison e Halling, 2004; Rahal et al.,
2009). O tratamento para a anomalia é geralmente cirúrgico, podendo ser conservador
nos casos menos graves (Ellison e Halling, 2004; Rahal et al., 2009). Objetiva-se com
este trabalho descrever a anatomia patológica do PE canino na fase neonatal.
MATERIAL E MÉTODOS
Dois neonatos caninos da raça buldogue francês foram encaminhados para necropsia
no Hospital Veterinário da Universidade Vila Velha, no Espírito Santo. Eram duas
fêmeas provenientes de uma ninhada de 6 filhotes nascida de parto cirúrgico devido a
distocia materna por inércia uterina primária, com ocorrência de 2 natimortos. Aos sete
(filhote 1) e nove (filhote 2) dias de vida, os neonatos apresentaram dispneia, anorexia
695
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 256, 2013

e prostração por três dias, quando sobreveio o óbito. Foi realizado o exame
necroscópico, com descrição macroscópica das lesões e processamento histológico de
rotina para exame de microscopia óptica.
RESULTADOS
À necropsia de ambos os filhotes verificou-se boa condição corporal e o tórax achatado
dorso-ventralmente com curvatura acentuada das costelas. O subcutâneo da região
ventral tinha aspecto gelatinoso (edema). Havia moderada quantidade de líquido na
cavidade torácica e o pericárdio encontrava-se aderido ao diafragma. O coração
ocupava todo o hemitórax esquerdo, encontrava-se aumentado de tamanho, com
dilatação de átrio e ventrículo direitos e com extensa comunicação interatrial. Os lobos
pulmonares esquerdos apresentavam-se pouco desenvolvidos difusamente, e os
direitos encontravam-se úmidos, avermelhados e fluindo espuma avermelhada ao
corte. O diafragma encontrava-se encurtado e deslocado caudalmente. Na cavidade
abdominal, verificou-se hepato-esplenomegalia intensa.
Ao exame microscópico, foi observado no pulmão edema e congestão difusa
moderada, atelectasia e hipoplasia extensiva moderada, caracterizadas,
respectivamente, por áreas de colapso da parede alveolar e áreas com alvéolos
escassos, pequenos e entremeados por tecido mesenquimatoso. No fígado, verificou-
se congestão difusa moderada, degeneração microvesicular multifocal leve a moderada
e hemossiderose difusa leve. Congestão difusa moderada também foi observada no
sistema nervoso central de ambos os filhotes e no miocárdio do filhote 2.
DISCUSSÃO
As alterações cardiorrespiratórias observadas nestes dois filhotes são características
dos casos de PE (Fossum et al., 1989; Ellison e Halling, 2004; Rahal et al., 2009;
Westphal et al., 2009). Nestes buldogues, o coração ocupava o hemisfério torácico
esquerdo, como na maioria dos casos de PE (Fossum, 1993), embora o coração possa
localizar-se no hemisfério direito (Rahal et al., 2009). O desvio do coração à esquerda
determina a comunicação interatrial devido à compressão dos vasos da base e
aumento da pressão intracardíaca (Fossum, 1993). A congestão e edema
generalizados e a hemossiderose hepática caracterizaram o quadro de insuficiência
cardíaca congestiva neonatal (Maxie e Robinson, 2007).
Cães da raça buldogue francês são condrodistróficos, portanto predispostos a
distúrbios osteogênicos e condrogênicos (Thompson, 2007), relacionados à
deformidade torácica (Fossum 1993). Deve-se considerar a contribuição de um
desequilíbrio nutricional na patogênese do PE nestes filhotes, pois a cadela era
alimentada com ração formulada para a fase de crescimento durante toda a gestação
(Fossum, 1993). Os casos documentados na literatura são geralmente em cães ou
gatos jovens (Fossum et al., 1989; Ellison e Halling, 2004; Rahal et al., 2009), porém o
PE deve também ser considerado como uma causa de morbidade e mortalidade
perinatal.
CONCLUSÃO
O pectus excavatum apresentou-se como uma deformidade torácica associada a
distúrbios cardiorrespiratórios congênitos graves, devendo ser considerado nos
diagnósticos diferenciais nos casos de mortalidade perinatal canina.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

696
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 256, 2013

REFERÊNCIAS
ELLISON, G.; HALLING, K.B. Atypical pectus excavatum in two Welsh terrier littermates. Journal of Small
Animal Practice, v.45, p.311–314, 2004.
FOSSUM TW, BOUDRIEAU RJ, HOBSON HP. Pectus excavatum in eight dogs and six cats. Journal of
the American Animal Hospital Association, v.25, p.595–605, 1989.
FOSSUM, T.W. Thoracic wall and sternum: diseases, disruptions, and deformities. In__. BOJRAB, M. J.;
SMEAK, D.D.; BLOOMBERG, M.S. Diasease Mechanisms in Small Animal Surgery. 2ªed. Philadelphia :
Lea & Febiger, 1993, Section E - Part 3, p. 411-416.
KOTZOT, D.; SCHWABEGGER, A.H. Etiology of chest wall deformities—a genetic review for the treating
physician. Journal of Pediatric Surgery, v.44, p.2004–2011, 2009.
MAXIE, M.G.; ROBINSON, W.F. Cardiovascular system. In: MAXIE, M.G. Jubb, Kennedy, and Palmer's
Pathology of domestic animals. 5ed. New York: Saunders, 2007, vol.3, cap.1, p.2-107.
RAHAL, S.C.; MORISHIN FILHO, M.M.; HATSCHBACH, E. et al.. Pectus excavatum in two littermate
dogs. Canadian Veterinary Journal, v.49, p.880–884, 2008.
THOMPSON, K. Bones and Joints. In: MAXIE, M.G. Jubb, Kennedy, and Palmer's Pathology of domestic
animals. 5ed. New York : Saunders, 2007, vol.1, cap.1, p.2-107.
WESTPHAL, F.L.; LIMA, L.C.; LIMA NETO, J.C. et al. Prevalence of pectus carinatum and pectus
excavatum in students in the city of Manaus, Brazil. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v.35, n.3, p.221-
226, 2009.

697
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 257, 2013

257. PERFIL CELULAR EM DIFERENTES ÓRGÃOS DE CÃES COM


LEISHMANIOSE VISCERAL
(Cell profile in different organs of the dogs with Visceral Leishmaniasis)

Pamela Rodrigues Reina Moreira; Márcio de Barros Bandarra; Filipe S. Fernando; Helio
José Montassier; Rosemeri de Oliveira Vasconcelos
Depto de Patologia Animal da FCAV/UNESP, Jaboticabal, SãoPaulo.pamela_rreina@yahoo.com.br
RESUMO: Muitos órgãos são acometidos pelo protozoário Leishmania, pela resposta
inflamatória ou pela deposição de imunocomplexos. O objetivo deste estudo foi analisar
diferentes regiões da pele, linfonodos, baço e fígado de cães com Leishmaniose
Visceral (LV) para determinar a carga parasitária (qPCR) e a proporção de macrófagos,
linfócitos e plasmócitos (imuno-histoquímica). Utilizou-se 16 cães sintomáticos,
naturalmente infectados de área endêmica para LV e cinco cães não infectados. O
baço apresentou a maior carga parasitária, seguido dos linfonodos, pele e fígado. No
baço e linfonodos a intensidade de inflamação granulomatosa foi mais evidente que no
fígado e pele. O infiltrado rico em macrófagos e linfócitos predominou no grupo de cães
infectados. Concluiu-se que o parasito poderia induzir uma resposta inflamatória pouco
eficiente no controle da infecção, principalmente em órgãos mais susceptíveis, em cães
com quadro clínico mais grave.
Palavras-chave: Leishmania chagasi; linfócitos; macrófagos; plasmócitos
ABSTRACT: Many organs are affected by Leishmania, the inflammatory response or
by deposition of immune complexes. The objective of this study was to analyze different
regions of the skin, lymph nodes, spleen and liver of dogs with visceral leishmaniasis
(VL) to determine the parasite load (qPCR) and the proportion of macrophages,
lymphocytes and plasma cells (immunohistochemistry). We used 16 symptomatic dogs
naturally infected from endemic area for VL and five uninfected dogs. The spleen
presented the highest parasite load, followed by of the lymph nodes, skin and liver. In
the spleen and lymph nodes the intensity of granulomatous inflammation was more
evident than in liver and skin. The infiltrate rich in macrophages and lymphocytes
predominated in infected dogs. It was concluded that the parasite could induce an
inflammatory response inefficient in controlling infection, especially in the most
susceptible organs of dogs with more severe clinical signs.
Key words: Leishmania chagasi; lymphocytes; macrophages; plasma cells
INTRODUÇÃO
Nos cães com LV, as lesões histopatológicas estão principalmente associadas a
hipertrofia e hiperplasia observadas nas células do Sistema Fagocítico Mononuclear
(SFM), sendo os macrófagos o principal ―alvo‖ dos protozoários do gênero Leishmania.
Os principais órgãos atingidos são os linfonodos, baço, fígado, pele e a medula-óssea
(Brasil, 2006; Lima et al., 2004).
O objetivo deste estudo foi analisar a imunomarcação de macrófagos, linfócitos,
plasmócitos e compará-los com a carga parasitária nos linfonodos periféricos, baço,
fígado e pele, permitindo avaliar se existe uma resposta imune diferenciada nestes
órgãos, contribuindo para a compreensão da complexa patogenia da LV.
MATERIAL e MÉTODOS
Foram avaliados 16 cães soropositivos e sintomáticos para LV, do Centro de Controle
de Zoonoses de Araçatuba (SP) e cinco cães não infectados de área não endêmica. No
perfil celular do infiltrado inflamatório, considerou-se macrófagos (MCA387/1:3500),
linfócitos (CD3/1:200) e plasmócitos (CD138/1:25) pela técnica de imuno-histoquímica,
por meio do Complexo de Polímeros ligados a peroxidase. Para a determinação da
média de células imunomarcadas por animal, considerou-se cinco campos
microscópicos de grande aumento (objetiva de 40x).
Uma parte dos fragmentos de cada órgão foi congelada em nitrogênio líquido para a
quantificação absoluta da carga parasitária. Utilizou-se diluições em série de 10x de um
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 257, 2013

plasmídeo com uma cópia única de números de polimerase do DNA de L. chagasi


foram submetidos a qPCR (Bretagne et al., 2001).
Todos os dados foram analisados pelos testes não paramétricos de Kruskal-Wallis e de
Comparação Múltipla de Dunn (P<0,05).
RESULTADOS e DISCUSSÃO
No presente estudo a reação inflamatória foi mais elevada no baço e nos linfonodos
poplíteo e pré-escapular do que no focinho, orelha e fígado. A proporção de
macrófagos e linfócitos foi mais elevada nos cães infectados. Provavelmente no baço e
nos linfonodos, a apoptose seja um dos mecanismos que favorecem a multiplicação do
parasito, assim como descrito por Moreira et al. (2013). Já a predominância de
macrófagos e linfócitos no grupo infectado pode estar relacionada com um perfil de
citocinas pró e anti-inflamatórias que estejam orquestrando a resposta imune neste
grupo. Sabe-se que algumas citocinas têm ação antimicrobicida (CORRÊA et al.,
2007), portanto, a reação granulomatosa observada nos linfonodos e baço, poderia
estar relacionada com um perfil de resposta predominantemente do tipo Th2, com
macrófagos com inibida capacidade de destruir o parasito. A presença de plasmócitos
foi um aspecto marcante nos linfonodos e baço de cães infectados. Possivelmente este
perfil celular indica uma predominância de resposta humoral, pois os plasmócitos
produzem imunoglobulinas e os cães com este tipo celular não respondam
eficientemente ao protozoário. Já foi observado que em camundongos infectados com
L. amazonensis, a predominância de linfócitos B e anticorpos favorece a progressão da
doença, devido à supressão da migração de linfócitos TCD4+ para o sítio da lesão
(WANASEN e SOONG, 2008). O baço foi o órgão com maior carga parasitária, seguido
dos linfonodos poplíteo, pré-escapular, focinho, orelha e fígado. Diferenças
significativas foram verificadas entre baço e fígado (P<0,01), baço e focinho (P<0,01),
baço e orelha (P<0,001) e linfonodo poplíteo e orelha (P<0,05). O fígado parece ser o
mais resistente, provavelmente por possuir uma barreira composta por células de
Kupffer e células natural killer, que parecem controlar a infecção hepática. A porta de
entrada de L. chagasi no hospedeiro é a pele, levando a drenagem do mesmo para os
linfonodos periféricos. Os parasitos que chegam à circulação sistêmica atingem o baço,
fígado, medula óssea entre outros. Alguns autores consideram o baço como o órgão
mais importante para o diagnóstico da LV do que o linfonodo. No presente estudo este
órgão mostrou-se mais susceptível a multiplicação do parasito.
CONCLUSÃO
O baço foi o órgão que apresentou a maior carga parasitária, seguido dos linfonodos
periféricos, indicando que seriam os órgãos mais importantes para a detecção do
protozoário. O fígado foi mais resistente à infecção pelo parasita Leishmania sp. Os
linfócitos predominaram no infiltrado inflamatório de animais infectados em todos os
órgãos, mas possivelmente não estavam responsivos a infecção por algum mecanismo
de evasão imune do parasito.
Agradecimento: À FAPESP (Processo número: 2013/00763-4)
REFERÊNCIAS:
BRASIL - Ministério da Saúde. Secretária de vigilância em saúde. Departamento de vigilância
epidemiológica Manual de vigilância e controle da Leishmaniose Visceral. Brasília: Editora do
Ministério da Saúde, 2006. 120p.
CORRÊA, A.P.F.L.; DOSSI, A.C.S.; VASCONCELOS, R.O. et al. Evaluation of transformation growth
factor-ß1, interleukin-10, and interferon- in male symptomatic and asymptomatic dogs naturally infected
by Leishmania (Leishmania) chagasi. Veterinary Parasitology, v.143, p.267-274, 2007.
LIMA, W.G.; MICHALICK, M.S.; DE MELO, M.N. et al. Canine visceral leishmaniasis: a histopathological
study of lymphnodes. Acta Tropica 92, 43–53, 2004.
MOREIRA, P.R.R.; BANDARRA, M.B.;MAGALHÃES, G.M. et al. Influence of apoptosis on the cutaneous
and peripheral lymph node inflammatory response in dogs with visceral leishmaniasis. Veterinary
Parasitology, v. 192, p. 149-157, 2013.
WANASEN, N.; XIN, L.; SOONG, L. Pathogenic role of B cells and antibodies in murine Leishmania
amazonensis infection. International Journal for Parasitology, v.38, p.417-429, 2008.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 258 , 2013

258. PERICARDITE PURULENTA EM FELINO JOVEM


(Purulent pericarditis in young feline)

Paulo Henrique Leal Bertolo¹, Maria Eduarda Bastos Andrade Moutinho da Conceição¹,
Suellen da Gama Barbosa Monger², Danielli Martinelli Martins¹, Lucien Roberta Valente
Miranda de Aguirra¹, Washington Luiz Assunção Pereira¹

1 Universidade Federal Rural da Amazônia; 2 Universidade Federal do Pará.

RESUMO: O trabalho tem por objetivo descrever as alterações anatomopatológicas e


histopatológicas de pericardite purulenta em felino jovem. Foi atendido um gato, SRD,
macho, de três meses de idade, no HOVET/UFRA. O mesmo apresentou piotórax que
foi drenado e depois medicado com antibiótico, apresentou melhora do quadro
respiratório. Após três dias o animal veio a óbito e foi encaminhado ao setor de
patologia veterinária, para realizar exame necroscópico, onde foram coletadas
amostras biológicas para exame histopatológico. Macroscopicamente o pulmão
apresentou manchas hipostáticas. Na incisão do saco pericárdico extravasou líquido
acinzentado de aspecto seroso e presenciou placa esbranquiçada aderida ao epicárdio
atrial direito. Microscopicamente diagnosticou-se no pulmão broncopneumonia
subaguda e no coração pericardite purulenta ativa difusa. Conclui-se que a pericardite
purulenta é rara em gato e pode ocorrer devido infecções preexistentes,
caracterizando-se pelos achados macro e microscopicamente relatados no estudo.
Palavras-chave: coração; gato; pericardiopatia
ABSTRACT: The objective was describe pathological and histopathological alterations
of purulent pericarditis in young feline. We treated a cat, SRD, male, three months old,
in HOVET / UFRA. It had pyothorax, watch was drained. The animal was treated with
antibiotics, respiratory status improved. After three days the animal died and was sent
to the pathology veterinary to perform necropsy, where biological samples were
collected for histopathological examination. Macroscopically, the lung showed
hypostatic stains. Incision in the pericardial sac was leakage of fluid from serous
grayish, whitish witnessed up plate attached to the right atrial epicardium.
Microscopically was diagnosed diffuse active purulent pericarditis in heart and subacute
bronchopneumonia in lung. The conclusion was purulent pericarditis is rare in cats and
can occur due preexisting infections, characterized by gross and microscopic findings
reported in the study.
Key words: cat; heart; pericardial disease
INTRODUÇÃO
O pericárdio é um saco fibrosseroso que envolve o coração, cuja função é limitar a
dilatação cardíaca e servir de barreira para infecções e inflamações, mantendo a
morfofisiologia do coração (Dyce et al., 1990).
A função cardíaca pode ser comprometida por doenças que acometem o pericárdio. As
doenças cardíacas com origem no pericárdio representam de 1% a 2,3% da totalidade
das cardiopatias que acometem os cães e gatos, sendo incomum no gato (Miller, 2002;
Davidson et al., 2008). Dentre as pericardiopatias a efusão pericárdica é o distúrbio
mais frequente nos animais de companhia (mais de 90% do total), em relação a outras
doenças pericárdicas, como as pericardites (Ware, 2006).
A pericardite consiste na inflamação das superfícies parietal e visceral da cavidade
pericárdica, classificam-se em serosa, fibrinosa, purulenta e constritiva (Carlton e Mc
Gavin, 1998). A pericardite purulenta quase sempre resulta da ação de bactérias
piogênicas que se localizam no pericárdio, consequente de doenças como pleurite
purulenta, peritonite infecciosa felina, neoplasias, traumas, pneumonia, CID
(Coagulação Intravascular Disseminada) e idiopática (Hall et al., 2007).

700
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 258 , 2013

Um exsudato purulento branco a acizentado, frequentemente mesclado à fibrina,


preenche o espaço pericárdico estando presente no interior do epicardio e pericárdio. A
cura ocorre pela organização do material resultando numa pericardite fibrosante,
aderente e constritiva (Jones et al., 2000).
Este trabalho tem por objetivo relatar um caso de pericardite purulenta em felino jovem,
atendido no Hospital Veterinário Mário Dias Teixeira na Universidade Federal Rural da
Amazônia em Belém-PA, descrevendo as alterações anatomopatológicas e
histopatológicas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi atendido um felino, SRD, macho, de três meses de idade, no Hospital Veterinário
Mário Dias Teixeira na Universidade Federal Rural da Amazônia em Belém-PA
(HOVET/UFRA). O animal apresentava apatia, dispneia, febre e anorexia. Foi realizada
radiografia torácica que demonstrou efusão pleural, então foi feito toracocentese, onde
foi retirada pequena quantidade de líquido purulento. No entanto o animal foi medicado
com antibiótico e anti-inflamatório, e apresentou melhora do quadro respiratório. Após
três dias o animal veio a óbito e foi encaminhado para o setor de patologia veterinária
da referida universidade, com a finalidade de realizar exame necroscópico, onde foram
coletadas amostras biológicas para exame histopatológico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a necropsia observou-se que o animal apresentava estado geral ruim, mucosa
conjuntival pálida, abdômen dilatado, área de depilação no segmento do tórax direito.
No exame interno o pulmão direito apresentou manchas hipostáticas. Ao incisar o saco
pericárdico houve extravasamento de líquido acinzentado de aspecto seroso em
volume moderado e presenciou-se placa esbranquiçada aderida ao epicárdio atrial,
estes achados macroscópicos corroboram com os achados por Teixeira (2009) em seu
estudo com cães e Majoy et al. (2013) em seu relato em felino.
Na análise histopatológica do coração, foi observada presença de reação celular difusa
no epicárdio e tecido adiposo associado, constituído por densa massa de piócitos,
linfócitos, plasmócito e macrófagos, além de material fibrilar acidofílico denso. O
miocárdio apresentou discreta infiltração inflamatória na margem do processo
epicárdico, em geral o músculo mostrou ausência de inflamação nos segmentos mais
internos. No endocárdio não foi observado nenhuma alteração, configurando pericardite
purulenta ativa difusa, o mesmo diagnóstico encontrado por Majoy et al. (2013),
contudo estes autores não descreveram os tipos celulares encontrados. Teixeira (2009)
descreveu em cães processo inflamatório semelhante ao encontrado em nosso estudo.
O pulmão apresentou exsudato neutrofílico e macrófagos em destaque presentes no
interstício, alvéolo e bronquíolos, configurando broncopneumonia subaguda. Ademais
se observou distensão de capilares por sangue (hiperemia) e hemácias livres nos
alvéolos (hemorragia).
A pericardite purulenta pode ocorrer devido infecções preexistentes em outros órgãos,
como pneumonia, peritonite infecciosa felina, pleurite, piometra (Hall et al., 2007; Majoy
et al., 2013). No caso do nosso trabalho, possivelmente, adveio de infecção pulmonar,
contudo não foi possível confirmar, pois não foi feito cultura microbiológica. A
pericardite purulenta é rara em felinos (Miller, 2002; Davidson et al., 2008), existindo
poucos relatos dessa doença nesses animais, desta forma justifica-se a importância do
presente relato.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a pericardite purulenta é rara em gato e que pode ocorrer devido
infecções preexistentes, caracterizando-se macroscopicamente por líquido acinzentado
de aspecto seroso e placa esbranquiçada aderida ao epicárdio e microscopicamente
por reação celular difusa no epicárdio e tecido adiposo associado, além de material
fibrilar acidofílico denso.

701
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 258 , 2013

REFERÊNCIAS
CARLTON, W.W.; MC GAVIN, M.D. Patologia Veterinária Especial de Thomson. 2.ed. Porto Alegre:
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Douro - Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias - Departamento de Ciências Veterinárias.
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interna de pequenos animais. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, cap. 11, p. 181-192.

702
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 259 , 2013

259. PERSISTÊNCIA DO QUARTO ARCO AÓRTICO DIREITO EM UM CÃO


(Persistent right fourth aortic arch in a dog)

Vitor César Martins da Silva; Ana Patricia Carvalho Silva; Jaqueline Sena; Lívia Calais
Guerra; Pollyanna Zampirolli Costa; Juneo Freitas Silva

Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, Escola de Vet da UFMG, vitorcesarm@yahoo.com.br

RESUMO: Um caso de persistência do quarto arco aórtico direito com megaesôfago é


relatado em um cão, fêmea, sem raça definida, com um mês de idade. A curvatura da
aorta descendente estava à direita do esôfago e traqueia e sobre estas estruturas havia
o ligamentum arteriosum que comprimia o esôfago contra a traqueia. Este relato
descreve os achados clínicos, radiográficos, de ecocardiograma e lesões
macroscópicas.
Palavras-chave: anomalia congênita; ligamentum arteriosum; megaesôfago
ABSTRACT: A persistent right fourth aortic arch, associated with megaesophagus case
is reported in a one-month-old, female, mongrel dog. The curvature of the descending
aorta was to the right of the esophagus and trachea and over these structures was the
ligamentum arteriosum compressing the esophagus against the trachea. This report
describes the clinical, radiographics finds and of echocardiography and gross lesions.
Key words: congenital defects; ligamentum arteriosum; megaesophagus
INTRODUÇÃO
As anomalias cardíacas congênitas em cães são pouco frequentes (0,46 a 1%) e
geralmente resultam em sérios distúrbios cardiovasculares nesta espécie (Matic, 1988;
Sisson et al., 2004; Patterson, 1989). Entre elas, a persistência do quarto arco aórtico
direito corresponde entre 7 e 12% das alterações cardíacas congênitas (Hunt et al.,
1990; Mulvihill,1973; Patterson, 1968) e o Pastor Alemão e o Setter Irlandês são as
raças mais comumente afetadas (Maxie e Robinson, 2007; Sisson et al., 2004;
Patterson, 1989; Matic, 1988).
Os arcos aórticos são estruturas embrionárias que se apresentam na forma de
estruturas pareadas e originam diversas estruturas vasculares. Em condições normais,
o quarto arco aórtico esquerdo origina a aorta descendente, e o direito origina o tronco
braquiocefálico e a artéria subclávica direita (Macdonald, 2006). A persistência do
quarto arco aórtico direito ocorre quando esta estrutura dá origem à aorta descendente,
resultando no posicionamento da mesma à direita do esôfago e da traqueia
(Macdonald, 2006; Maxie e Robinson, 2007; Matic, 1988). Como consequência, quando
ocorre o fechamento do ducto arterioso, ocorre a formação do ligamentum arteriosum,
que irá comprimir o esôfago causando disfagia, regurgitação e dilatação da sua porção
cranial (Macdonald, 2006; Maxie e Robinson, 2007; Matic, 1988).
O objetivo deste relato é apresentar os achados clínicos, radiográficos e as lesões
macroscópicas de um caso de persistência do quarto arco aórtico direito em um cão.
RELATO DE CASO
Um cão, fêmea, sem raça definida, com 1 mês de idade, foi encaminhado ao Hospital
Veterinário da Escola de Veterinária da UFMG. Durante a anamnese, o proprietário
relatou que o animal apresentava regurgitação e vômito após ingestão do alimento.
No exame clínico observou-se que o animal estava magro, com mucosas hipocoradas
e desidratado. Além disso, o animal regurgitava alimentos sólidos logo após a ingestão.
Exame radiográfico com contraste foi realizado e observou-se intensa dilatação do
esôfago cranial à base do coração. No ecocardiograma não foram observadas
alterações. O animal morreu antes de ser submetido à cirurgia.
À necropsia, o animal estava magro com atrofia da musculatura esquelética e pouco
tecido adiposo. As mucosas estavam intensamente pálidas e com sangue hidrêmico
nos grandes vasos. Edema subcutâneo moderado, hidroperitônio intenso, hidrotórax

703
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 259 , 2013

discreto e hidropericárdio moderado também foram observados. A curvatura da aorta


descendente estava localizada à direita do esôfago e traqueia e sobre estas estruturas
havia um ligamento fibroso, identificado como o ligamentum arteriosum, que comprimia
o esôfago contra a traqueia. O esôfago, cranialmente ao ligamento, estava
intensamente dilatado, com a parede flácida e repleto de alimento não digerido.
Baseado nos achados macroscópicos o diagnóstico de persistência do quarto arco
aórtico direito associado à megaesôfago acentuado foi confirmado.
DISCUSSÃO
O animal do presente relato se enquadra nos casos de alterações do anel vascular.
Nestas alterações, representadas pela persistência do quarto arco aórtico direito, duplo
arco aórtico e artéria subclávia direita anômala, o animal é geralmente recém-
desmamado e apresenta condição corporal ruim com regurgitação dos alimentos
ingeridos (Macdonald, 2006; Washabau, 2004). Persistência do quarto arco aórtico
direito, duplo arco aórtico e artéria subclávia direita anômala podem ser diferenciadas
através de angiografia, ou facilmente diferenciadas através de suas características
macroscópicas (Washabau, 2004; Matic, 1988). A causa destas alterações ainda são
desconhecidas (Matic, 1988).
No presente caso, não foram observadas alterações funcionais no sistema
cardiovascular do animal pelo ecocardiograma, o que juntamente com as alterações
radiográficas indicativas de constrição esofágica é fator determinante para o
diagnóstico dos distúrbios do anel vascular (Macdonald, 2006; Washabau, 2004). O
diagnóstico definitivo de persistência do quarto arco aórtico direito foi possível após a
visualização da aorta descendente localizada à direita do esôfago e traqueia e o
ligamento arterioso tracionado sobre o esôfago durante a necropsia.
O tratamento dessa doença é cirúrgico e deve ser feito antes que ocorra dilatação
significativa do esôfago, uma vez que megaesôfago intenso torna o prognóstico
desfavorável (Washabau, 2004). Não foram encontradas alterações no trato
respiratório do animal decorrentes da aspiração de alimento regurgitado, como ocorre
com frequência nos casos de persistência do arco aórtico direito (Washabau, 2004;
Macdonald, 2006).
CONCLUSÕES
Os achados clínicos e macroscópicos de caquexia sugerem que a constrição esofágica
apresentada pelo animal não o permitia ingerir alimentos de forma adequada, o que foi
incompatível com a vida.
Agradecimento
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico de
Minas Gerais (FAPEMIG).
REFERÊNCIAS
MAXIE, M.G.; ROBINSON, W.F.Cardiovascular System. In: JUBB, K.V.F.; KENNEDY, P.C; PALMER,
N.C. Pathology of Domestic Animals. v.3. 5 ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2007. p.11-19.
HUNT, G.B., CHURCH, D.B., MALIK, R., BELLENGER, C.R. A Retrospective Analysis of Congenital
Cardiac Anomalies (1977-1989). Australian Veterinary Practitioner, v.20, p.70-75, Jun, 1990.
MACDONALD, K.A. Congenital Heart Diseases of Puppies and Kittens. Veterinary Clinics: Small Animal
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MULVIHILL, J.J., PRIESTER, W.A. Congenital heart disease in dogs: epidemiologic similarities to man.
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PATTERSON, D.F. Hereditary congenital heart defects in dogs. Journal of Small Animal Practice, v.30,
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Research, v.23, p.171-202, 1968.
SISSON, D.D.;THOMAS, W.P.; BONAGURA, J.D. Cardiopatia Congênita. In: ETTINGER, S.J.;
FELDMAN, E.C. Tradado de Medicina Interna Veterinária. V.1. 5 ed. São Paulo: Guanabara Koogan,
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WASHABAU, R.J. Doenças do Esôfago. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tradado de Medicina
Interna Veterinária. V.2. 5 ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2004. Cap. 135. p.1205-1214.
704
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 260 , 2013

260. QUIMIOTERAPIA CONVENCIONAL E METRONÔMICA NO TRATAMENTO DE


CADELA COM CARCINOMA EM TUMOR MISTO EM ESTADIO AVANÇADO
(Conventional chemotherapy and metronomic in the treatment of female dog with
carcinoma mixed tumor in advanced stadium)

Luciano Guimarães Tanajura Requião¹, Lorena Gabriela Rocha Ribeiro², Alessandra


Estrela Lima³, Nara Araujo Nascimento4, Mário Jorge Melhor Heine D'assis5, Gleidice
Eunice Lavalle6

1Graduando em Medicina Veterinária, UFBA; 2Doutorando em Ciência Animal, Escola de Veterinária,


UFMG; 3Prof. Adjunto, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFBA; 4Residente Patologia
Veterinária, Hospmev, UFBA; 5Médico Veterinário Autônomo, Salvador/BA; 6Médica Veterinária,
Hospital Veterinário, UFMG. alestrela@gmail.com

RESUMO: Neste trabalho, relata-se o caso de uma cadela racialmente indefinida,


portadora de carcinoma em tumor misto em estadio avançado, tratada inicialmente com
quimioterapia em doses convencionais e posteriormente com doses metronômicas.
Palavras-chave: tumor de mama; graduação histopatológica; imunoistoquímica;
carboplatina
ABSTRACT: In this work, we report the case of a bitch racially indeterminate carrier
carcinoma in mixed tumor in advanced stage initially treated with conventional-dose
chemotherapy and later with metronomic dose.
Keywords: breast tumor; graduate histopathological; immunohistochemistry;
carboplatin
INTRODUÇÃO
As neoplasias mamárias em cadelas ocorrem com grande frequência na rotina médica
veterinária (Cassali et al., 2011). Esta doença geralmente acomete fêmeas idosas,
principalmente as obesas e que já fizeram uso de anticoncepcionais (Daleck et al.,
2008). O diagnóstico dos tumores mamários deve ser feito a partir do exame clínico
completo, assim como os exames de imagem no tórax, uma vez que o parênquima
pulmonar é o principal sítio de metástase à distância (Cassali et al., 2011). O exame
histopatológico é o método que apresenta maior segurança no diagnóstico e permite
uma caracterização biológica da doença (Bostock, 1986). O método mais utilizado para
o estabelecimento do prognóstico é o sistema TNM, onde é levado em consideração o
tamanho (T), os linfonodos regionais acometidos (N) e as metástases a distancia (M)
(Owen, 1980).
A cirurgia ainda é o método terapêutico mais eficiente permitindo até mesmo a cura
completa da doença, caso não existam metástases a distância. O uso de quimioterapia
adjuvante tem o intuito de controlar o crescimento e disseminação de metástases. As
drogas e os tratamentos bem sucedidos na oncologia humana muitas vezes são
adaptados no tratamento de pacientes veterinários. Desta forma, devido às
semelhanças do câncer de mama entre mulheres e cadelas, grandes avanços vêm
ocorrendo no tratamento desta doença na oncologia veterinária. (Mutsaers et al., 2009;
Estrela-Lima et al.., 2010). A quimioterapia metronômica utiliza baixas doses de
fármacos anti-neoplásicos e tem como vantagem reduzir efeitos colateral, prolonga os
efeitos anti-angiogênicos e diminui os custos do tratamento (Kerbel, 2007). Desta
forma, este trabalho objetivou relatar um caso de uma cadela portadora de carcinoma
em tumor misto em estadiamento avançado, tratada com quimioterapia convencional e
metronômica.
MATERIAIS E MÉTODOS
Uma cadela de raça não definida, de nove anos atendidos no Hospital de Medicina
Veterinária da UFBA, apresentando tumores mamários em estádio II com evolução de
aproximadamente um ano foi submetida à mastectomia radical unilateral. A cadeia
mamária e os linfonodos regionais foram encaminhados para os Laboratórios de
705
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 260 , 2013

Patologia Veterinária (LPV) da UFBA e Patologia Comparada da UFMG. As amostras


foram fixadas em formol tamponado a 10% e processadas pela técnica rotineira. Para a
análise imunoistoquímica da neoplasia, os anticorpos primários foram: receptor de
estrógeno (RE) (Clone 1D5, Dako, 1:20), receptor de progesterona (RP) (HPRA2,
Neomarkers, 1:20) e citoqueratina AE1AE3 (Clone AE1/AE3, Dako, 1:10).
Aproximadamente três anos após a cirurgia, identificou-se metástase pulmonar a partir
de radiografia torácica em três incidências. Foi instituído tratamento com quimioterapia
convencional, sendo administrada carboplatina na dose de 300mg/2, em um total de
seis sessões. Após sete meses do fim da quimioterapia convencional foi iniciada a
quimioterapia metronômica, utilizando ciclofosfamida na dose de 20mg/m2.
Aproximadamente um mês após o início deste tratamento a cadela apresentou sinais
clínicos compatíveis com metástase no SNC, vindo a óbito. Realizada a necropsia, foi
identificado choque neurogênico como causa mortis.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
À macroscopia, os nódulos estavam localizados nas mamas inguinais e abdominal
cranial esquerda, com medidas variando de 4,2x2,0x2,0cm à 8,0x5,5x6,2cm regulares,
firmes, não ulcerados e não aderidos à pele e musculatura. A partir da avaliação
microscopica, três diagnósticos foram obtidos, sendo eles carcinoma tubular,
carcinoma papilar não invasivo e carcinoma em tumor misto (CATMB) para o tumor de
maior dimensão. As características microscópicas foram respectivamente proliferação
epitelial em arranjo tubular, com áreas carcinomatosas in situ, formações papilares
discretamente pleomórficas apresentando focos de transformação carcinomatosa, não
invasivas e proliferação epitelial em arranjo túbulo-papilar moderadamente diferenciado
associado a proliferação de células mioepiteliais produtoras de matriz mixóide. O
CATMB é considerado uma neoplasia pouco agressiva, entretanto no presente caso a
neoplasia apresentava graduação histológica II o que justifica o seu potencial
metastático. A análise imunoistoquímica revelou imunomarcaçao para receptor de
progesterona e COX-2 e ausência de reatividade para os anticorpos receptor de
estrógeno e citoqueratina no linfonodo.
A quimioterapia convencional com carboplatina foi pouco efetiva no controle da
expansão da metástase pulmonar. Dessa forma, mais estudos são necessários para o
estabelecimento de um protocolo comprovadamente eficaz, corroborando com a
literatura (LAVALLE 2009). Entretanto, a quimioterapia metronômica resultou na
estabilização do crescimento da metástase pulmonar, possivelmente devido ao controle
da angiogênese, sugerida por Kerbel, (2007) e constatada, nesse caso, por áreas de
necrose das lesões metastáticas. Cabe ressaltar que a QM deveria ser instituída
imediatamente após a QC. Segundo Mutsaers et al. (2009), os intervalos entre as
sessões de quimioterapia com doses convencionais permitem que as células
neoplásicas se reestabeleçam o que determinou a progressão das metástases.
CONCLUSÃO
Os tumores mamários em cadelas são de grande importância na oncologia veterinária,
pois representam a neoplasia mais frequente em fêmeas. Estudos relacionados à
abordagem clínica, tratamento e diferentes modalidades de quimioterapia devem ser
levadas em consideração, podendo ser responsável por importante aumento na
sobrevida, bem como na qualidade de vida.

706
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 260 , 2013

REFERÊNCIAS
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OWEN LN. The TNM Classification of tumors in domestic animals. 1. ed. Geneva: World Health
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707
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 261 , 2013

261. RABDOMIOSSARCOMA CARDÍACO EM CÃO: RELATO DE CASO


(Cardiac rhabdomyosarcoma in dog: case report)

Jéssica de Torres Bandeira², Andrea Alice da Fonseca Oliveira¹, Melina Barreto Gomes
da Silva², Renato Souto Maior Muniz de Morais², Roberto Carlos Mourão Pinho³,
Fernando Leandro dos Santos¹

1-Professor da Área de Patologia do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE.


2-Discente do curso de Medicina Veterinária da UFRPE.
3-Tenente Coronel do Quadro de Oficiais Veterinários da polícia Militar de Pernambuco.

RESUMO: O rabdomiossarcoma é um tumor maligno de células mesenquimais


presente no músculo cardíaco. Seus aspectos microscópicos são variados e de difícil
confirmação. Macroscopicamente se apresentam róseos e carnosos, insinuando-se nas
câmaras cardíacas. Objetivou-se com este trabalho relatar um caso de
rabdomiossarcoma em cão encaminhado ao setor de necropsia da Área de Patologia
do Departamento de Medicina Veterinária (DMV) da UFRPE.
Palavras-chave: Canino; Histopatologia; Macroscopia;Neoplasia
ABSTRACT
Rhabdomyosarcoma is a malignant tumor of mesenchymal cells present in the cardiac
muscle. Their microscopic features are varied and difficult to confirm. Macroscopically
present pinkish and fleshy, creeping into the cardiac chambers. The objective of this
work was to report a case of rhabdomyosarcoma in a dog sent to in sector of necropsy
from Área de Patologia from Departamento de Medicina Veterinária (DMV) UFRPE.
Key words: Canine; Histopathology; Macroscopy; Neoplasia
INTRODUÇÃO
Rabdomiossarcoma é a denominação do tumor maligno de células mesenquimais que
surge nos músculos estriados esqueléticos ou cardíacos, a forma benigna dessa
neoplasia é o rabdomioma (SANDRITTER, 1974). A variedade benigna é pouco
conhecida em animais, enquanto que a maligna já teve sua ocorrência relatada em
língua, faringe, panículo, miocárdio e bexiga (JONES, 2000; SANTOS,2011). São
tumores mais frequentemente detectados em cães, cavalos e gatos, respectivamente
(MC GAVIN & ZACHARY, 2013). Tendem metastizar precocemente, pela via linfática
ou venosa, podendo assim comprometer vários outros tecidos, como nos linfonodos,
pulmões, fígado, glândulas adrenais, baço, entre outros (THOMSON, 1990; JONES,
2000; WANDSCHEER et al, 2008). Os animais acometidos podem apresentar
disfunção cardíaca ou apenas ser um achado incidental de necropsia (SANTOS,2011).
A idade desses é em torno de dois anos de idade (COOPER & VALENTINE, 2002; MC
GAVIN & ZACHARY, 2013;).
Macroscopicamente os rabdomiossarcomas apresentam-se cor de rosa e carnosos,
frequentemente insinuando-se nas câmaras cardíacas (MC GAVIN & ZACHARY,
2013). Os aspectos microscópicos do rabdomiossarcoma são variados e
frequentemente de difícil confirmação (JONES, 2000). Tumores mais diferenciados
podem apresentar características histológicas que se assemelham nitidamente às do
músculo estriado imaturo; ocorrem fibras musculares incompletas ou completamente
desenvolvidas, com miofibrilas e estriações transversais identificáveis. Outros tumores
podem ser altamente indiferenciados, contendo células pleomórficas com núcleos
gigantes, múltiplos, e frequentemente bizarros. O citoplasma pode ser abundante, mas
amorfo. Às vezes, são visíveis pequenas quantidades de citoplasma eosinofílico
(JONES, 2000). Pode haver necessidade do uso de corantes especiais, como a
hematoxilina – ácido fosfotúngstico, para que sejam demonstradas as estriações
transversais que propiciam a identificação definitiva. Alguns aspectos dos tumores
musculares são imperceptíveis à microscopia de luz, sendo necessário o uso da
microscopia eletrônica (JONES, 2000; SANTOS, 2011).
708
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 261 , 2013

MATERIAL E MÉTODO
Foi encaminhado para a Área de Patologia do Departamento de Medicina Veterinária
(DMV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), um cão da raça
Pastor Belga de Mallinois, macho, 1 ano. Foi relatado que o animal não estava febril,
apresentava diarréia leve e inapetência, constatou-se infestação por carrapatos, além
disso, foi diagnosticado com erliquiose e, por isso, procedeu-se o tratamento com
doxiciclina. O quadro clínico agravou-se e próximo a morte o animal apresentou
sangramento uretral. Realizou-se o exame necroscópico deste animal, durante o qual
verificou-se a presença de uma massa amorfa, rósea e infiltrada na parede da câmara
cardíaca ventricular esquerda. Coletou-se um fragmento da lesão, e encaminhou-se
para análise histopatológica. O fragmento passou pelo processamento de desidratação,
diafanização, inclusão em parafina e montagem da lâmina corada com hematoxilina e
eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Macroscopicamente a lesão cardíaca observada era amorfa, rósea e infiltrada na
parede do ventrículo esquerdo, se assemelhando à descrição de MC GAVIN e
ZACHARY (2013). No exame histopatológico (Figura 1A, 1B, 1C e 1D) foi possível
verificar células com elevado grau de pleomorfismo, predominantemente alongadas
cujo núcleo apresentava formato semelhante. Algumas outras de aspecto fusiforme.
Inúmeras células possuíam mais de um núcleo. Verificou-se que possuíam abundante
citoplasma acidófilo. Também foram encontradas algumas áreas com pequenos focos
de inflamação, debris celulares e tecido conjuntivo.

Figura 1: (A) Evidencia-se elevado grau pleomorfismo


celular, sendo algumas células alongadas e outras
fusiformes, apresentando citoplasma acidofílico. neoplasia,
HE,40x; (B) Massa tecidual limitada externamente por
delgada camada de tecido conjuntivo, separando-a do
tecido muscular cardíaco HE 10x; (C) Focos de necrose,
com debris celulares, dispostos aleatoriamente HE 10x;
(D) Visualiza-se na periferia do tumor células menores, de
citoplasma basofílico e núcleo arredondado, bem como
células de formato fusiforme que já são encontradas mais
perifericamente a esses nichos (40x).

CONCLUSÕES
Frente aos achados macro e microscópicos, juntamente com o histórico do animal, foi
possível o diagnóstico de rabdomiossarcoma em miocárdio de canino.
REFERÊNCIAS
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Janeiro, 2013.

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262. REAÇÃO MIOEPITELIAL PERIVASCULAR EM CARCINOSSARCOMAS NA


GLÂNDULA MAMÁRIA CANINA: RELATO DE CASOS
(Perivascular mioepithelial cells reaction in carcinosarcoma in canine mammary
gland: Cases report)

Karine Araújo Damasceno¹, Alessandra Estrela-Lima², Lidianne Narducci Monteiro¹,


Geovanni Dantas Cassali¹

1 Laboratório de Patologia Comparada, Instituto de Ciências Biológicas, UFMG, Belo Horizonte, MG,
2 Laboratório de Patologia Veterinária, Escola de Medicina Veterinária, UFB, Salvador, BA, Brasil.

RESUMO: O carcinossarcoma é um tipo histológico pouco frequente na glândula


mamária da cadela e apresenta prognóstico desfavorável. Entretanto, os aspectos
morfológicos deste tumor são extremamente variáveis. Este trabalho tem por objetivo
relatar dois casos de carcinossarcomas com reação fusiforme perivascular de origem
mioepitelial em mama de cadelas. Para isso foi realizada a análise morfológica e
imuno-histoquímica das lesões mamárias. A análise imuno-histoquímica revelou
positividade nuclear e citoplasmática, para p63 e vimentina respectivamente, nas
células fusiformes proliferando em arranjo concêntrico ao redor de vasos. Desta forma,
a origem mioepitelial deve ser considerada nos casos analisados no presente estudo.
Palavras-chave: cadela, mama, carcinossarcoma, células mioepiteliais
ABSTRACT: Carcinosarcoma is an uncommon histological type in canine in mammary
gland and has a bad outcome. However, the morphology of this tumor is extremely
variable. This paper aims to report two cases of carcinosarcomas with perivascular
spindle cells reaction of myoepithelial origin in mammary gland of female dog. Thus,
morphologic and immunohistochemical analysis were performed. The
immunohistochemical analysis revealed nuclear and cytoplasmic positive expression for
p63 and vimentin, respectively, in spindle cells concentric proliferating in around
vessels. Thus, the myoepithelial origin should be considered in cases examined in this
study.
Keywords: female dog, mammary, carcinosarcoma, myoepithelial cells
INTRODUÇÂO
O carcinossarcoma é um tipo histológico pouco frequente na glândula mamária da
cadela e apresenta prognóstico desfavorável (Cassali et al., 2011). Histologicamente, é
considerado um tumor bifásico, ou seja, caracteriza-se pela proliferação epitelial
associada ao componente mesenquimal, onde ambos os componentes são malignos.
Entretanto, os aspectos morfológicos deste tumor são extremamente variáveis
(Misdorp, 2002).
Alguns carcinossarcomas podem assumir diferentes padrões de proliferação fusiforme
simulando, por exemplo, fibrossarcomas (Misdorp, 2002). O fibrossarcoma é composto
por células fusiformes arranjadas em feixes ou desordenadamente, que por sua vez
podem apresentar arranjos concêntricos em torno de vasos, assim como no
hemangiopericitoma. Este padrão de proliferação pode gerar confusão quanto a origem
do tipo celular. Desta forma, critérios morfológicos, assim como fenotípicos devem ser
adotados no intuito de auxiliar no diagnóstico diferencial. Este trabalho tem por objetivo
descrever os achados morfológicos e imuno-histoquímicos de dois casos de
carcinossarcomas com reação fusiforme perivascular em mama de cadelas.
MATERIAL E MÉTODOS
Duas fêmeas caninas, com 9 e 10 anos de idade, foram atendidas no Hospital de
Medicina Veterinária ―Prof. Renato Medeiros Netto‖ da Universidade Federal da Bahia,
apresentando histórico de lesão mamária de rápido crescimento. As cadelas foram
submetidas à cirurgia e o material foi encaminhado para análise histopatológica.
Fragmentos das lesões foram coletados e fixados em formol neutro tamponado a 10%
e processados pela técnica rotineira de inclusão em parafina. Secções histológicas de
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 262 , 2013

4 μm foram coradas em Hematoxilina e Eosina (Luna, 1968) para análise


histomorfológica segundo os critérios de Misdorp (2002) e Cassali et al. (2011). Para a
técnica de imuno-histoquímica, foram utilizados os seguintes anticorpos primários: p63
(4A 4, 1:100, Neomarkers), pancitoqueratina (AE1AE3, 1:100, Dako), vimentina (V9,
1:100, Dako) e CD31 (JC70A, 1:40, Dako). A reação foi amplificada pelo método
polimérico, revelado com o cromógeno 3,3 – diaminobenzidina 4 HCL e contra-coradas
com hematoxilina de Mayer‘s. Estes marcadores foram avaliados qualitativamente.
RESULTADOS
A primeira cadela apresentava massa de superfície irregular, não ulcerada, aderida,
firme, medindo 12,5 x 7,5 x 7,0 cm na mama abdominal cranial, que ao corte revelava
coloração brancacenta com áreas avermelhadas. A segunda apresentava massa
tumoral que media 5,2 x 4,6 x 6,0 cm, com superfície levemente irregular, aderida a
pele, ulcerada, de consistência variando de macia a firme-elástica. Ao corte, observou-
se aspecto gelatinoso, coloração brancacenta com áreas róseas. Nos dois casos
também foram coletados os linfonodos inguinais para pesquisa de metástases.
À microscopia, nos dois casos foi observada intensa proliferação infiltrativa de células
epiteliais malignas, em arranjo predominantemente tubular. Associado havia
proliferação de células fusiformes, moderadamente pleomórficas, dispostas ora em
feixes ora em arranjos concêntricos, por vezes circunjacentes a vasos sanguíneos,
além de células estreladas produtoras de matriz mixóide. Estas células apresentavam
núcleos grandes e nucléolos proeminentes. Índice mitótico era em média 3 mitoses
atípicas por campo de 40x (BX-40). Apenas a primeira cadela apresentou metástase de
células epiteliais malignas em linfonodo inguinal esquerdo.
A análise imuno-histoquímica revelou positividade nuclear e citoplasmática, para p63 e
vimentina respectivamente, nas células fusiformes proliferando em arranjos
concêntricos. Alguns destes arranjos apresentaram, no centro, delicadas células com
expressão membranar e citoplasmática para CD31, confirmando a presença de vasos.
Não foi observada marcação de pancitoqueratina AE1AE3 nas células fusiformes em
proliferação.
DISCUSSÃO
Carcinossarcomas são tumores raros em mulheres, assim como em cadelas, e
apresentam prognóstico ruim comparado aos outros tipos de carcinoma (Tokudome et
al., 2005). As características deste tipo histológico são extremamente variáveis
(Misdorp et al., 1973). Embora a origem celular e a patogênese dos carcinossarcomas
ainda não estejam completamente esclarecidas, os autores divergem quanto ao tipo
celular que origina o tumor (Tavassoli, 1992; Rosen, 2009).
A avaliação da expressão de determinadas proteínas podem auxiliar no diagnóstico
diferencial, tais como p63, citoqueratinas, CD34 e CD31 (Bauer et., 2012). Sendo
assim, foi realizado um estudo do perfil imuno-histoquímico dessas células, afim de que
pudesse ser identificada a origem do tipo celular.
De acordo com os resultados imuno-histoquímicos, as células em proliferação
concêntrica foram positivas para p63 e vimentina, divergindo do observado em
hemangiopericitomas em glândula parótida humana (Bauer et al,. 2012). Estas células
também foram negativas para pancitoqueratina e CD31. Sendo assim, a análise imuno-
histoquímica sugere origem mioepitelial das células fusiformes em proliferação
concêntrica perivascular.
CONCLUSÃO
Os aspectos morfológicos dos casos analisados são compatíveis com o diagnóstico de
carcinossarcoma na glândula mamária canina. Além disso, no presente estudo, relatou-
se origem mioepitelial nos arranjos concêntricos circundando vasos sanguineos,
descartando a possibilidade de proliferação de pericitos ou fibroblastos.
Agradecimentos
CAPES e ao apoio financeiro da FAPEMIG.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 262 , 2013

REFERÊNCIAS
BAUER, J.L.; MIKLOS, A.Z.; THOMPSON, L.D.R. Parotid Gland Solitary Fibrous Tumor: A Case Report
and Clinicopathologic Review of 22 Cases from the Literature. Head and Neck Pathology, v.6, p.21–31,
2012.
CASSALI, G.D.; LAVALLE, G.E.; DE NARDI, A.B. Consensus for the diagnosis, prognosis and treatment
of canine mammary tumours. Brazilian Journal Veterinary Pathology, v.4, n.2, p.153-180, 2011.
LUNA, L.G. Manual of histologic staining methods of the Armed Forces Institute of Pathology. New York:
McGraw Hill, 1968.
MISDORP, W.; COTCHIN, E.; HAMPE, J. F. et al. Canine Malignant Mammary Tumors. III. Special
Types of Carcinomas, Malignant Mixed Tumors. Veterinary Pathology, v.10, p.241-256, 1973.
MISDORP, W. Tumors of the mammary gland. In: MEUTEN, D.J. Tumors in Domestic Animals. 4. ed.
Iowa State: University of California, 2002. p.575-606.
ROSEN, P. P. Carcinoma with Metaplasia In: ___. Rosen‘s Breast Pathology. 3a ed. Philadelphia:
Lippincott Williams & Wilkins, 2009. p.470-505.
TAVASSOLI, F.A. Classification of metaplastic carcinomas of the breast. Pathology Annual, v.27, p.89-
119, 1992.
TOKUDOME, N.; SAKAMOTO, G.; SAKAI, T. et al. Case of Carcinosarcoma of the Breast. Breast
Cancer, v.12, n. 2, p.149-153, 2005.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 263 , 2013

263. RELAÇÃO DAS CÉLULAS INFLAMATÓRIAS NO GRAU DE MALIGNIDADE


DO CARCINOMA ESPINOCELULAR CANINO
(Influence of inflammatory cells in the malignancy degree of canine squamous
cell carcinoma)

Clarissa Helena Santana¹, Pamela Rodrigues Reina Moreira², Márcio de Barros


Bandarra³, Rosemeri de Oliveira Vasconcelos4

1. Graduanda do Curso de Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Estadual Paulista Júlio de


Mesquita Filho (FCAV-UNESP), Jaboticabal- SP, Brasil. santana.chs@gmail.com
2. Pós-Doutoranda, FCAV-UNESP, Departamento de Patologia Veterinária, Jaboticabal- SP, Brasil.
3. Doutorando, FCAV-UNESP, Departamento de Patologia Veterinária, Jaboticabal- SP, Brasil.
4. Docente, FCAV-UNESP, Departamento de Patologia Veterinária, Jaboticabal- SP, Brasil.

RESUMO: A resposta inflamatória aos tumores pode ter efeitos positivos ou negativos,
dependendo do tipo histológico e grau de malignidade. Portanto, o presente estudo
teve por objetivo avaliar o perfil de células inflamatórias predominantes no carcinoma
espinocelular de cães, por imuno-histoquímica, comparando-o com o tumor
diferenciado (G1) ou não diferenciado (G2). Cerca de 20 amostras de carcinoma
espinocelular foram selecionadas do arquivo do Departamento de Patologia Veterinária
(FCAV-UNESP, Jaboticabal, SP) e foram classificadas histologicamente em dois
grupos (G1 = 12 / G2 = 08) e submetidas a técnica de imuno-histoquímica para
identificação de macrófagos e linfócitos. O número de linfócitos foi maior em G1. Os
macrófagos predominaram em ambos os grupos. Semelhante ao que foi descrito para
outros tumores humanos, o papel dos macrófagos pode ser pouco eficiente na
proteção contra o tumor.
Palavras-chave: cão; imuno-histoquímica; inflamação; pele; tumor
ABSTRACT: The inflammatory response to tumors may have positive or negative
effects, depending on the histological type and the degree of malignancy. This study
aimed to evaluate the predominant inflammatory cells in dog‘s squamous cell
carcinoma, by immunohistochemistry, comparing it with the differentiated tumor (G1) or
the not differentiated tumor (G2). About 20 squamous cell carcinoma samples were
selected from the archives of the Department of Veterinary Pathology (FCAV-UNESP,
Jaboticabal city, estate of São Paulo) and were histologically classified in two groups
(G1 = 12/08 = G2) and submitted to the immunohistochemistry technique, to identify
macrophages and lymphocytes. The number of lymphocytes was higher in G1. The
macrophages predominated in the both groups. Similar to what was described for other
tumors in humans, the macrophages function can be inefficient to protect against the
tumor.
Key words: dog; immunohistochemistry; inflammation; skin; tumor
INTRODUÇÃO
O carcinoma espinocelular é um tumor de células epidermais com diferentes graus de
diferenciação para queratinócitos, causado principalmente pela exposição intensa e
prolongada aos raios ultravioleta do sol. Este caracteriza-se por lesões proliferativas ou
erosivas, evoluindo para uma úlcera profunda. O padrão histológico varia de acordo
com o grau de diferenciação das células, com formação de ―pérolas córneas‖ nos
tumores bem diferenciados e queratinização individual das células ou ausência de
queratinização nos pouco diferenciados. Existem estudos divergentes quanto à atuação
das células do sistema imunológico na supressão ou no desenvolvimento das células
neoplásicas. Os linfócitos T secretam diversas citocinas que são importantes para uma
resposta longa e duradoura contra as células tumorais. Acredita-se que linfócitos,
macrófagos e monócitos, quando recrutados, podem em determinadas situações liberar
fatores autócrinos e parácrinos, os quais estimulam a proliferação das células tumorais,
inibem a apoptose e induzem a angiogênese local.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 263 , 2013

O presente estudo teve por objetivo avaliar o perfil de células inflamatórias


predominantes no carcinoma espinocelular de cães, por imuno-histoquímica,
comparando-o com o grau de diferenciação do tumor.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliadas 20 amostras de carcinoma espinocelular canino do arquivo de blocos
de parafina do Departamento de Patologia Veterinária da Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(FCAV-UNESP), Campus de Jaboticabal. Os fragmentos foram fixados em solução de
formol a 10%, tamponados com fosfato (0,15 molar), pH 7,2. Após 24 horas de fixação,
os fragmentos foram desidratados em soluções de concentração decrescente de
álcool, diafanizados em xilol e incluídos em parafina. Foram feitos cortes na espessura
de 5μm e corados com hematoxilina e eosina. As amostras foram agrupadas em dois
grupos de acordo com a classificação histológica, segundo Goldschmidt & Hendrick
(2002): G1 - tumores queratinizados, bem diferenciados, com formação de pérolas
córneas (n = 12); G2 - tumores com queratinização individual de células ou não
queratinizados, pobremente diferenciados (n = 8).
Foram avaliadas as alterações microscópicas presentes nos fragmentos de carcinoma
espinocelular, considerando: intensidade da resposta inflamatória predominante, o grau
de pleomorfismo (0-baixo; 1-discreto;2-moderado;3-acentuado), a presença de tecido
fibroso e a média de figuras de mitose na neoplasia. As figuras de mitose foram
contadas em dez campos de grande aumento (objetiva de 40X).
Os cortes incluídos em parafina foram submetidos à técnica de imuno-histoquímica,
para a imunodetecção de macrófagos (anticorpo monoclonal de camundongo anti-
macrófago, Serotec, cód. MCA874G) e linfócitos (anticorpo policlonal de coelho, anti-
CD3, DAKO, cód. A0452), por meio do Complexo Estreptotavidina Biotina Peroxidase
(Kit LSAB, DAKO, cód. K0690). A densidade de células imunomarcadas para cada
anticorpo em cada animal foi determinada pela contagem média destas no tumor (cinco
campos microscópicos, com objetiva de 40x). Para comparação da incidência de
macrófagos e linfócitos imunomarcados no tumor e, comparação do infiltrado
inflamatório de cada tipo tumoral, foi realizado o teste não paramétrico de Mann-
Whitney, considerando P<0,05.
RESULTADOS E DISCUÇÃO
Observou-se proliferação neoplásica de células epiteliais, predominantemente na
derme superficial, mas com envolvimento constante da derme profunda. No centro dos
ninhos tumorais verificou-se a formação de lamelas concêntricas de queratina,
predominante nos tumores do G1. Nos tumores do G2 foi observado queratinização
individual de células. A média de figuras de mitose para o G1 e G2 foi de,
respectivamente, 19,43 e 36,83, não havendo diferença significativa entre estas
(p=0,5425). No entanto, as maiores médias de figuras de mitose foram observadas em
G2, o que mostra a maior taxa proliferativa deste tipo tumoral. A proporção dos graus
de pleomorfismo observadas foi de 46% (grau 3) e 54% (grau 2) em G1, para 33%
(grau 3) e 67% (grau 2) em G2. Mesmo nos tumores bem diferenciados a variação no
tamanho e forma da célula foi evidente, confirmando seu caráter agressivo. O infiltrado
inflamatório tumoral variou de discreto a moderado, com macrófagos, linfócitos e
plasmócitos predominando nas porções mais profundas da derme. Nas áreas mais
diferenciadas do tumor notou-se menor infiltrado inflamatório em relação as áreas
menos diferenciadas. A proliferação de fibroblastos e fibras colágenas ao redor dos
ninhos de células neoplásicas, com intensidade moderada a acentuada, foi um aspecto
constante. Relata-se que fibroblastos ativados são capazes de produzir citocinas,
enzimas líticas e fatores de crescimento (MORAES & JOAZEIRO, 2005). Estes,
possivelmente, poderiam ser importantes para a sobrevivência do tumor. Nas
imunomarcações de macrófagos e linfócitos não foi verificada significância tanto para
macrófagos quanto para linfócitos (p = 1,0 e p = 0,335, respectivamente). No entanto,
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 263 , 2013

as médias de linfócitos imunomarcados foram maiores em G1. Seria necessário um


número maior de amostras de tumores em G2 para uma análise estatística mais
consistente. Inicialmente acreditava-se que a presença de inflamação era indicativa de
resposta protetora contra o tumor. Estudos em neoplasias humanas mostram que
linfócitos podem favorecer o desenvolvimento de tumores malignos, pois são eficientes
na inibição da atividade anti-tumor, por estimularem um perfil de citocinas anti-
inflamatórias (NZULA et al., 2003). Ao comparar estatisticamente o perfil celular
predominante dentro de cada tipo tumoral, verificou-se predominância significativa de
macrófagos, em relação a linfócitos, tanto para os tumores de G1 (p = 0,0102) quanto
G2 (p = 0,0019). Os macrófagos invadem áreas tumorais e podem promover a
neovascularização e o crescimento tumoral e muitas vezes são pouco eficientes na
apresentação de antígenos, podendo induzir tolerância às células T, facilitando o
escape das células neoplásicas ao ataque do sistema imune (LEWIS & POLLARD,
2006).
CONCLUSÃO
Conclui-se que a predominância de macrófagos em G1 e G2 pode estar relacionada ao
favorecimento de desenvolvimento desta neoplasia.
Agradecimentos
Agradecimentos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp,
processo nº 2011/14232-5) pelo apoio financeiro concedido.
REFERÊNCIAS
DALECK, C. R.; DE NARDI, A. B.; RODASKI, S. Neoplasias de Pele. Oncologia em Cães e Gatos. 1 ed.,
São Paulo: Roca, p. 258-262, 2007.
GOLDSCHMIDT, M. H.; HENDRICK, M. J. Tumors of the skin and soft tissues. In: MEUTEN, D. J.
Tumors in Domestic Animals. 4 ed., Iowa State Press p. 45-117, cap2. 2002.
LEWIS, C. E.; POLLARD, J. W. Distinct role of macrophages in different tumor microenvironment. Cancer
Research. v. 66, p. 605-612, 2006.
MORAES, S.G.; JOASEIRO, P.P. Fibroblastos. In: CARVALHO, H.F.; COLLARES-BUZATO, C.B.
Células: uma abordagem multidisciplinar. Manole: Barueri, cap.3, p.22-33, 2005.
NZULA, S.; GOING, J.J.; STOTT, D.I. The role of B lymphocytes in breast cancer: a review and current
status. Cancer Therapy. v. 1, p. 353-362, 2003.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 264 , 2013

264. SURTO DE ESPOROTRICOSE EM GATOS DOMÉSTICOS NO ESTADO DO


PARANÁ
(Sporotrichosis outbreak in cats in Paraná state)

Yara de Oliveira Brandão; Kamila Alcalá Gonçalves; Renato Silva de Sousa

Laboratório de Patologia Veterinária- HV- UFPR- Curitiba

RESUMO: Esporotricoseé uma zoonose de ocorrência mundial, sobretudo nas zonas


tropicais e subtropicais. Esta doença é causada pelo fungo Sporothrixschenckiique
invade o organismo por ferimentos na pele e, mais raramente, por inalação de
conídeos. A principal manifestação clínica inclui lesões cutâneas e menos
frequentemente sinais respiratórios. Embora o diagnóstico definitivo seja realizado por
meio de cultura fúngica, os organismos podem ser observados no exame
histopatológico. O presente estudo tem por objetivo relatar um surto de esporotricose
em gatos no estado do Paraná.
Palavras-chave:Sporothrixschenckii; zoonose; itraconazol
ABSTRACT: Sporotichosis is a worldwide zoonosis occuring mainly in tropical and
subtropical zones. This disease is caused by the fungus Sporothrixschenckii which
enter the organism through skin injuries or less frequently seldom by conidia inhalation.
The major clinical sign is characterizedby cutaneous lesions and less commonly
respiratory signs. Although the definitive diagnosis is made by fungal culture, the
organisms can be seen during histopalogical evaluation. The present study aims to
report a sporotrichosis outbreakin cats in Paraná state.
Key words:histpatology; Sporothrixschenckii; zoonosis
INTRODUÇÃO
Esporotricose é uma zoonose, causada por Sporothrixschenckii, um fungo dimórfico e
geofílico, normalmente observado nos tecidos na forma de levedura e encontrado
associado à matéria orgânica em solos, plantas, vegetais em decomposição e
madeira,sobretudo nas zonas tropicais e subtropicais (Barros et al., 2011;Lacazet
al.,2002).
A infecção ocorre pela implantação do agente em ferimentos na pele, associados ao
ambiente e à arranhadura e mordida de gatos contaminados, os quaistêm um papel
importante na epidemiologia da doença por possuírem as lesões ricas em leveduras
(Madridet al., 2012). Além da transmissão por via cutânea, pode ocorrer também a
inalação dosconídeos, acometendo o pulmão e levando à forma sistêmica da
doença(Barroset al., 2003). A manifestação clínica pode se dar nasformas cutânea,
cutânea disseminada, linfocutânea e sistêmica (Madridet al., 2012).
O diagnóstico desta enfermidade pode ser realizado pela associação dos sinais
clínicos, epidemiologia e exames laboratoriais, bem como testes moleculares,
visualização direta do agente, detecção de anticorpos, exame histopatológico e cultura,
o qual é responsável pelo diagnóstico definitivo da esporotricose(Barros et al.,
2011;Kwon-Chung e Bennet, 1992). O tratamento clássico da esporotricose em animais
é feito com iodeto de potássio ou de sódio, protocolo baseado no tratamento humano.
Entretanto outras drogas podem ser utilizadas, como o cetoconazol, fluconazol,
terbinafina e itraconazol, sendo o último a droga de escolha por apresentar maior
eficácia e menos efeitos colaterais quando comparado a outros antifúngicos (Rossiet
al., 2013).
Surtos de esporotricose já foram relatados no Brasil (Schubachet al.,2003), entretanto
na região sul os relatos são de casos isolados (Madrid et al., 2012). Este trabalho tem
por objetivo relatar um surto de esporotricose no estado do Paraná.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 264 , 2013

MATERIAIS E MÉTODOS
Onze gatos adultos, nove machos e duasfêmeas,sem raça definida, foram trazidos ao
Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV-UFPR), Curitiba, e
submetidos a exame físico e coleta de amostras de sangue por venopunçãopara
exames de rotina (hemograma completo e perfil bioquímico).
Em cinco animais foi realizada biópsia incisionale swabdas lesões cutâneas. O material
obtido das biópsias foi fixado em formol 10% tamponado e encaminhado para
processamento histológico de rotina, com a inclusão em parafina histológica e
coloraçõesde hematoxilina e eosina (H&E),ácido periódico de Schiff (PAS) e
MetenaminaGomori de prata (GMS), para avaliação histopatológica no Laboratório de
Patologia Animal do HV-UFPR. Os swabs foram enviados para cultura micológica no
Laboratório de Microbiologia (HV-UFPR). Estes animais foram tratadoscom Itraconazol
10mg/kg uma vez ao dia, por via oral, durante três meses.
Seis animais foram submetidos à eutanásia com sedação prévia com injeção
intravenosa de propofol e posteriormente cloreto de potássio intravenoso. Após a
eutanásia foi realizada a necropsia e fragmentos detodos os tecidos foram fixados em
formol 10% tamponado e encaminhados para avaliação histopatológica. Da mesma
forma, swabs das lesões de pele foram enviados para cultura micológica.
RESULTADOSE DISCUSSÃO
Dos onzeanimais clinicamente avaliados, seis apresentavam condições gerais de
saúde ruim e cinco, regular. Todos possuíam mucosas normocoradas, temperatura
retal normalelesões cutâneas ulceradas,exsudativas e crostosas, variando de 1 a 7cm
e um dos animais apresentava lesões cutâneas disseminadas. O único sinal
respiratório observado foi dispneia em um dos animais. Os resultados de hemograma e
perfil bioquímico hepático e renal não apresentaram alterações.
A avaliação histopatológica das biopsias de pele revelou uma dermatite
piogranulomatosa, caracterizada por grande número de neutrófilos e histiócitos e
moderado número de células gigantes multinucleadas e células epitelióides,
acompanhados por menor quantidade de linfócitos e plasmócitos. Embora não tenham
sido observadas estruturas compatíveis com Sporothrixscheenckii na coloração de
H&E e as colorações de PAS e GMS terem sido negativas, a cultura micológica foi
positiva para todas as amostras.
Todos os seis animais submetidos à necropsia apresentavam uma dermatite
piogranulomatosa, com as mesmas características descritas anteriormente e em quatro
deles foram visualizadasestruturas arredondadas a ovais, com formato de cigarro,
medindo de 5 a 7μm, compatíveis com S.scheenckii. Estas mesmas estruturas foram
visualizadas no pulmão, fígado e linfonodos de dois animais.
Dos cinco animais tratados com Itraconazol todos apresentaram cura clínica após três
meses de tratamento, concordando com o relatado por Rossi, et al., (2013) e
Crotherset al.,(2009).
Casos de esporotricose em felinos já foram relatados em diversos países do mundo
como no Japão, Estados Unidos e Espanha (Nakamura, et al., 1996; Rees e
Swartzberg, 2011; Cabo et al., 1989). No Brasil alguns estados como Paraíba, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul (Carneiro et al., 2011; Colodelet al.,2009;Meinerzet
al.,2007) apresentaram casos de infestações de gatos por S.scheenkii, entretanto, são
em sua maioria, casos isolados desta doença.
Além de animais, a esporotricose também pode acometer humanos. Diversos casos de
esporotricose humana transmitida por arranhadura ou mordedura de gatos já foram
relatados (Meinerzet al., 2007; Xavier et al., 2007), ressaltando a importância desta
doença tanto na medicina veterinária quanto na medicina.
CONCLUSÃO
A ocorrência do surto de esporotricose em gatos no estado do Paraná ressalta a
importância do diagnóstico desta doença nestes animais. Este estudo demonstra
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 264 , 2013

que tanto o diagnóstico histopatológico quanto o isolamento fúngico são possíveis de


serem realizados a partir de lesões de pele. Da mesma forma, o tratamento das lesões
cutâneas mostrou-se eficaz com o protocolo realizado.
REFERÊNCIAS
BARROS, M.B.L.; SCHUBACH, A.O.; GALHARDO, M.C.G.; et al.,Sporotrichosis with widespread
cutaneous lesions: report of 24 cases related to transmission by domestic cats in Rio de Janeiro, Brazil.
International Journal of Dermatology, v.42, p.677-681, 2003 with widespread cutaneous lesion
BARROS, M.B.L; PAES, R.A.; SCHUBACH, A.O.
SporothrixschenckiiandSporotrichosis.ClinicalMicrobiologyReviews, v. 24, n. 4, p. 633–654, 2011
COLODEL,M.M.; JARK,P.C.; RAMOS,C.J.R.; et al.,Esporotricose cutânea felina no Estado de Santa
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 265 , 2013

265. TERATOMA MALIGNO EXTRAGONADAL EM UM CÃO


(Extragonadal malignant teratoma in a dog)

Lidianne Narducci Monteiro, Marina Rios de Araújo, Diego Carlos dos Reis, Cecília
Bonolo de Campos, Enio Ferreira, Geovanni Dantas Cassali

Laboratório de Patologia Comparada, Instituto de Ciências Biológica – UFMG

RESUMO: Os teratomas são neoplasias originárias das células germinativas que têm
como sítio principal as gônadas; raramente ocorrem em sítios extragonodais. O
presente estudo relata um caso de uma cadela de 15 anos de idade, sem raça definida,
apresentando aumento de volume na região lombossacral que ao exame microscópico
revelou neoformação composta por tecidos de origem embrionária, com áreas
indiferenciadas exibindo atipia celular, características compatíveis com teratoma
maligno. Teratomas malignos são incomuns em animais domésticos.
Palavras-chave: canino; neoplasia; células germinativas; teratoma; tumores
extragonadais
ABSTRACT: Teratomas are neoplasms originated from germ cells which usually occur
within gonads and are rarely described at extragonadal sites. The present study reports
a case of 15 years old female mongrel dog with a lumbosacral tumor. The tumor was
microscopically composed by embrionary tissues with areas containing atypical
undifferentiated cells, leading to the diagnosis of a malignant teratoma. Malignant
teratomas are uncommon tumors in domestic animals.
Keywords: canine; neoplasia; germ cell; teratoma; extragonodal tumors
INTRODUÇÃO
Os teratomas são neoplasias de células germinativas derivadas de duas ou mais
linhagens celulares (ectoderma, mesoderma, endoderma) (Cullen et al., 2002). As
gônadas são os sítios anatômicos mais comumente acometidos por essas neoplasias
tanto nos seres humanos quanto nos animais, entretanto esses tumores também
podem se desenvolver em sítios extragonadais. Nestes casos, geralmente ocorrem ao
longo do plano sagital mediano do corpo (Cullen et al., 2002; Ma et al., (2011), sendo
documentados em diferentes locais. Raros casos de tais neoplasias foram
documentados acometendo a região de coluna/medula vertebral cervical (Wong et
al.,2007). Em razão disso, o objetivo deste trabalho é descrever um caso de teratoma
maligno na região lombar da coluna vertebral em um cão.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma cadela de 15 anos de idade, sem raça definida, apresentando aumento de volume
na região lombossacral foi submetida à excisão cirúrgica. O espécime foi enviado para
o Laboratório de Patologia Comparada no Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Minas Gerais para avaliação histopatológica (Hematoxilina e
Eosina) e imunoistoquímica para confirmar os tipos histológicos observados. Foram
utilizados os anticorpos anti-citoqueratina (DAKO, clone AE1/AE3, 1:200), anti-
vimentina (DAKO, clone v9, 1:2000) e anti-p63 (DAKO, clone 4A4, 1:100).
RESULTADOS
A amostra media 3,0 x 3,0 x 1,2 centímetros, de consistência firme e ao corte,
superfície lisa e brancacenta. Microscopicamente, foram observados diversos tecidos
contendo proliferação de células neoplásicas pleomórficas e atípicas, com anisocitose
e anisocariose acentuadas e núcleos com cromatina frouxamente agregada. As células
apresentavam arranjo em ninhos e trabéculas anastomosantes de células poliédricas
por vezes apresentando disqueratose individual. Também foram observadas células
fusiformes imersas em material róseo amorfo acentuadamente eosinofílico compatíveis
com células mesenquimais desmoplásicas, bem como áreas com células contidas em
lacunas no interior de matrizes compatíveis com osteóide e condróide. Considerando a

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 265 , 2013

presença de células neoplásicas atípicas de pelo menos duas origens embrionárias


diferentes a neoplasia foi caracterizada como um teratoma maligno.
Os tecidos epiteliais observados foram positivos para citoqueratina e os tecidos
mesenquimais positivos para vimentina. Em algumas áreas compostas por ninhos de
células epiteliais, camadas de células circundantes foram positivas para p63, sugerindo
a provável origem progenitora destas.
DISCUSSÃO
Teratomas são neoplasias raras nos cães e geralmente são compostos por tecido
histologicamente bem diferenciado e benigno (Nagashima et al., 2000). Os teratomas
podem ser classificados como malignos ou benignos dependendo do grau de
diferenciação ou presença de elementos indiferenciados que remetem aqueles de
origem embrionária (Headley et al., 2006). Os teratomas malignos contêm menos
elementos embrionários bem diferenciados além de estruturas maduras, aumento da
atipia celular e crescimento regional acentuado de um único tipo de tecido (Nielsen e
Kennedy, 1990). Neste trabalho, o teratoma foi caracterizado como maligno pela
presença de áreas indiferenciadas e focos de células epiteliais atípicas, como também
descrito por Newman e colaboradores (2003).
A imunorreatividade positiva simultânea para citoqueratina e vimentina confirma a
origem em dois folhetos embrionários – ectoderma e mesoderma, permitindo a
classificação da neoplasia como de origem mista/embrionária. Além disso, houve
imunorreatividade positiva para p63 nas áreas que apresentavam disqueratose,
reforçando o diagnóstico da neoplasia como um teratoma, uma vez que este tumor
apresenta o perfil p63 positivo (Emanuel et al., 2006).
Nos mamíferos, os teratomas são tipicamente únicos e benignos e ocorrem mais
comumente nas gônadas, havendo raros relatos de teratomas extragonodais malignos
(Nagashima et al., 2000), o que foi observado no presente estudo. Nos teratomas
extragonodais, células pré-meióticas germinativas com cromossomo diplóide que ainda
não sofreram a primeira divisão meiótica, ou células extra-embrionárias ou
embrionárias ectópicas pluripotentes são consideradas as células que dão origem à
neoplasia (Wagner et al., 1997).
CONCLUSÕES
Conclui-se que o caso relatado é um teratoma maligno extragonadal que, apesar de
raro nos animais domésticos, deve ser considerado no diagnóstico diferencial de
neoplasias pouco diferenciadas com diferentes tipos celulares. Na conclusão do
diagnóstico, a técnica de imunoistoquímica torna-se uma importante ferramenta.
Agradecimentos
CAPES e ao apoio financeiro da FAPEMIG.
REFERÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 266 , 2013

266. TERATOMA OVARIANO EM CADELAS


(Ovarian teratoma in bitches)

Maria Aparecida da Silva; Raphael Mansur Medina; Rachel Bittencourt Ribeiro; Hassan
Jerdy Leandro; Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho

Setor de Anatomia Patológica Veterinária do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias,


Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – CCTA UENF

RESUMO: O teratoma é uma neoplasia originada de células da linhagem germinativa,


sendo a segunda mais comum nos ovários. O objetivo deste trabalho é relatar a
ocorrência de dois casos de teratoma ovariano em cadelas, assim como descrever os
principais achados (tecidos) nos tumores. Foram submetidos ao Setor de Patologia
Animal da UENF dois tumores ovarianos excisados cirurgicamente para avaliação
histopatológica. Um era de um canino, fêmea, SRD com um ano de idade e o outro de
um canino, fêmea, SRD, sem idade definida. Os materiais estavam fixados em
formalina neutra tamponada a 10% e foram processados conforme técnicas
histológicas de rotina e corados pelo método de hematoxilina-eosina (HE). A
histopatologia no H.E, em secções das tumorações ovarianas revelaram folículos
pilosos, glândulas sebáceas, numerosos vasos sanguíneos, tecidos ósseo,
cartilaginoso, adiposo, nervoso e pancreático. Conclui-se que a diversidade tecidual
representada nos teratomas, os torna sui generis e de fácil diagnóstico conclusivo.
Palavras-chave: cartilagem; osso; pâncreas; pele e anexos
ABSTRACT: The teratoma is a neoplasm originating from germ cells, being the second
most common in the ovaries. The objective of this study is to report the occurrence of
two cases of ovarian teratoma in dogs, as well as describe the main findings (tissue)
tumors. Were submitted to the Department of Animal Pathology of UENF two ovarian
tumors surgically excised for histopathological evaluation. One was a canine, female,
SRD with a year old and the other a canine, female, SRD and no age given. The
materials were fixed in buffered formalin 10% and were processed according to routine
histological techniques and stained with hematoxylin-eosin (HE). Histopathology in HE
in sections of ovarian tumors showed hair follicles, sebaceous glands, numerous blood
vessels, bone, cartilage, fat, nerve and pancreatic. It was concluded that the tissue
diversity present in the teratoma makes sui generis and easy diagnosis.
Key words: cartilage, bone, pancreas, skin and appendages
INTRODUÇÃO
O teratoma é uma neoplasia originada das células da linhagem germinativa, é a
segunda neoplasia ovariana mais comum. Ocorre diferenciação das células
germinativas em diversos componentes teciduais estranhos ao ovário. Desta forma, a
neoplasia pode se originar das três camadas embrionárias (ectoderma, mesoderma ou
endoderma) (Santos et al., 2010).
O teratoma em cadelas geralmente tem comportamento benigno, com rara ocorrência
de algum grau maior de malignidade (Santos et al., 2010), entretanto Trotte et al.
(2010) em seu estudo encontraram em camundongos metástase de teratoma ovariano
em baço e fígado.
As espécies em que o teratoma ovariano pode ser observado são: cadela, gata, égua
(Santos et al., 2010), vacas (Basile et a., 1998; Santos et al., 2010), camundongos
(Trotte et al., 2010) e humanos (Fernandes et al., 2003; Primo e Primo, 2004; Camargo
et al., 2007).
Objetivou-se com este trabalho relatar a ocorrência de dois casos de teratoma ovariano
em cadelas, assim como descrever os principais tecidos encontrados nos tumores e
alertar aos veterinários a importância na diferenciação com as demais neoplasias
ovarianas e com casos de metástases.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 266 , 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Foram submetidos ao Setor de Patologia Animal do Hospital Veterinário da
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro dois tumores ovarianos
excisados cirurgicamente para avaliação histopatológica. O primeiro tumor, localizado
em ovário esquerdo era de um canino, fêmea, SRD com um ano de idade. O segundo
tumor, localizado em pedículo ovariano direito, foi excisado de um canino, fêmea, SRD,
sem idade definida. Os veterinários que submeteram as amostras não relataram os
históricos clínicos. Os materiais estavam fixados em formalina neutra tamponada a
10% e foram processados conforme técnicas histológicas de rotina. Cortes com 5 μm
de espessura foram realizados em micrótomo rotativo, depositados em lâminas de
vidro com extremidade fosca e corados pelo método de hematoxilina-eosina (HE).
RESULTADOS
A histopatologia no H.E, em secções de tumoração ovariana esquerda revelou
formação cística revestida por epitélio escamoso estratificado queratinizado, folículos
pilosos, glândulas sebáceas, numerosos vasos sanguíneos, tecido ósseo e tecido
cartilaginoso, caracterizando um teratoma ovariano.
A histopatologia no H.E., em secções de tumoração em pedículo ovariano direito,
revelou glândula tubuloacinar composta, lobulada, contendo numerosos ácinos
pancreáticos, túbulos e ilhotas de Langerhans. Havia também abundante tecido
adiposo e estruturas compatíveis com tecido nervoso glial (sistema nervoso central).
Nos diversos cortes do tecido foram observados, em alguns campos, acentuado
infiltrado inflamatório rico em polimorfonucleares associados a macrófagos
frequentemente espumosos, sugerindo o diagnóstico de teratoma e piogranuloma. As
reações piogranulomatosas eram próximas as áreas ricas em tecido adiposo e,
provavelmente, estavam associadas a ruptura deste tecido e extravasamento de
lipídeos com posterior migração de células inflamatórias.
DISCUSSÃO
Os teratomas ocorrem com maior frequência em cadela, gata, égua (Santos et al.,
2010), vacas (Basile et a., 1998; Santos et al., 2010), camundongos (Trotte et al., 2010)
e humanos (Fernandes et al., 2003; Primo e Primo, 2004; Camargo et al., 2007),
ambos os animais do relato eram cadelas. Um dos animais do relato era jovem o que
corrobora com Santos et al. (2010) que relatam ser o teratoma uma neoplasia que
costuma ocorrer em animais jovens.
Com relação à ausência de descrição do quadro clinico, isto pode ter decorrido do fato
do teratoma, na maioria das vezes, não interferir na função reprodutiva dos animais. O
que foi descrito por Basile et al. (1998) em novilhas nelore, por Santos et al. (2010) em
vacas gestantes e em mulher gestante por Camargo et al. (2007).
Nos animais deste estudo foram encontrados tecidos ósseo, cartilaginoso, adiposo,
nervoso, formações pancreáticas e pele e anexos. Os tecidos ósseo, cartilaginoso e
cutâneo e anexos também foram descritos por Santos et al. (2010) e em camundongos
por Trotte et al. (2010), e o tecido nervoso foi descrito por Santos et al. (2010). No
entanto, Vianna et al. (1987) encontraram tecido tireoidiano em teratoma ovariano, este
tecido não foi encontrado em nenhum dos casos avaliados.
Os teratomas deste estudo não tiveram associação com outra neoplasia ovariana,
diferente do encontrado por Coard e Frederick (1993) que descreveram a associação
de teratoma e leiomioma em amostra de ovário humano. Não foram observadas áreas
de necrose nos dois casos relatados, diferindo dos casos estudados por Camargo et al.
(2007) e Trotte et al. (2010), em que foram encontrados focos de necrose nas lâminas
avaliadas.
CONCLUSÃO
Conclui-se com este trabalho que devido aos diversos tipos de tecidos dos teratomas
ovarianos, originados nas três camadas embrionárias (ectoderma, mesoderma ou
endoderma), estes se mostram sui generis e de fácil diagnóstico conclusivo.
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 266 , 2013

REFERÊNCIAS
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VIANNA, R.C.; MAYMONE, W.H.; IGLESIAS, J.G.; CASSAGUERA, M.A.; OLIVEIRA, H.C.; SANCHES,
L.R. Struma ovarii: relato de dois casos. Jornal Brasileiro de Ginecologia, v.97, n.7, p.335-338, 1987.

723
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 267 , 2013

267. TRAQUEOPATIA OSTEOCONDROPLÁSTICA EM CÃES


(Tracheopathia osteochondroplastica in dogs)

Samay Z. R. Costa¹, Tiago da Cunha Peixoto², Vivian A. Nogueira³, Mariana C.


Oliveira4, Mariana B. Mascarenhas¹ e Ticiana N. França³

1 Programa de Pós-graduação em Med Veterinária, Instituto de Veterinária, UFRRJ, Seropédica, RJ.


2 Departamento de Anatomia Patologia e Clínica Veterinária, UFBA, Salvador, BA.
3 Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública, UFRRJ, Seropédica, RJ.
4 Bolsista de Iniciação Científica do CNPq, docente do curso de Med Vet, UFRRJ, Seropédica, RJ.

RESUMO: A traqueopatia osteocondroplástica (TO) é uma condição rara no homem, e


em animais foi descrita apenas na Coréia e nos EUA. Este estudo tem como objetivo
descrever dois casos de TO em cães. Macroscopicamente, foram observados
pequenos nódulos arredondados, esbranquiçados, firmes, com aproximadamente 0,2
cm de diâmetro cada na parede da traqueia. A histopatologia revelou focos de
proliferação de tecido cartilaginoso com áreas de calcificação, associados aos anéis
traqueais, que se projetavam para a luz do órgão.
Palavras-chave: cão; tecido cartilaginoso; traqueia
ABSTRACT: The tracheopathia osteochondroplastica (TO) is a rare condition in
people, and in animals has been reported only in Korea and the USA. The present
study describes this disorder in two dogs. Grossly, small, raounded, firm and whitish
nodules with approximately 0,2 cm in diameter was observed in the wall of the trachea.
Histopathology showed foci of proliferation of cartilaginous tissue in with areas of
calcification associated with tracheal rings, which protruded into the light organ.
Key words: dog; cartilaginous tissue; trachea
INTRODUÇÃO
A traqueopatia osteocondroplástica (TO) é uma condição rara no homem (Leske et al.,
2001; Mboti et al., 2005) e nos animais (Sellon et al., 2004) caracterizada pela
formação de numerosos nódulos, constituídos de tecido cartilaginoso, ósseo e
osteocartilaginoso na submucosa da traqueia, que se projetam para o lúmen (Faig-
Leite; Defaveri, 2008). Em geral, essa enfermidade é um achado incidental observado
durante o exame necroscópico. De fato, em humanos, o diagnóstico dessa anomalia,
em muitos casos, é realizado através de broncoscopia e tomografia computadorizada
realizadas com o intuito de esclarecer a etiologia de outras doenças (Leske et al.,
2001).
Esta lesão é encontrada, principalmente na porção anterior e lateral da parede da
traqueia e tem sido observada em três de cada 1000 necropsias e em uma de cada
3720 broncoscopias (Park et al., 1995).
No homem, a doença é frequentemente assintomática (Swamy; Hasan, 2010), porém
tosse, expectoração, hemoptise, febre e episódios de pneumonia, que podem variar de
acordo com a extensão da lesão, têm sido relatados (Polk; Cubiles, 1958).
Dados referentes à TO em cães são escassos. Na literatura consultada, não foram
encontrados relatos da doença no Brasil.
O objetivo deste trabalho é relatar e descrever os achados anatomopatológicos de dois
casos de TO em cães no Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram encaminhados para necropsia, logo após a morte, dois cães (um Chow-Chow,
macho com aproximadamente 2 anos de idade e, outro, S.R.D. fêmea com cerca de 7
anos de idade) sem histórico ao Setor de Anatomia Patológica da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Fragmentos da traqueia dos dois animais foram
coletados, fixados em formol a 10%, processados rotineiramente, incluídos em
parafina, cortados a 5 μ e corados pela hematoxilina-eosina.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 267 , 2013

RESULTADOS
Macroscopicamente, foram observados no primeiro cão (Chow-Chow) pequenos
nódulos arredondados, esbranquiçados, firmes, com aproximadamente 0,2 cm de
diâmetros localizados entre o décimo e o vigésimo anéis traqueais; esses nódulos se
localizavam linearmente ao longo dos anéis traqueais. Adicionalmente verificaram-se
palato mole alongado, estenose nasal, leve hidrotórax, dilatação do coração direito,
congestão hepática e renal, esplenomegalia e raros parasitos intestinais. No segundo
cão (S.R.D.), o exame necroscópico revelou pequenos nódulos, semelhantes aos
descritos anteriormente, no terço anterior da traqueia; havia ainda massa de
consistência firme no úmero, leve dilatação do ventrículo direito, numerosos nódulos
metastáticos esbranquiçados e firmes no fígado, omento e baço, mineralização da
região medular dos rins e nas meninges, pequenas erosões e uma úlcera de 0,6 cm de
diâmetro no estômago. Microscopicamente, nos dois casos, observaram-se focos de
proliferação de tecido cartilaginoso, bem diferenciado, por vezes mineralizado,
associados ao anel traqueal, que se projetavam para a luz do órgão.
DISCUSSÃO
A etiologia e o mecanismo que levam a formação dos nódulos na TO permanece
desconhecida. O desenvolvimento deste distúrbio parece não estar relacionado com
predisposição genética. Algumas teorias sugerem econdrose e exostose da cartilagem
dos anéis traqueais ou metaplasia da submucosa e do tecido conectivo, porém não há
estudos suficientes para a comprovação destas hipóteses (Lazor; Cordier, 2004).
Tajima et al. (1997) detectaram nas lesões, pela imuno-histoquímica, a proteína
morfogênica óssea (BMP-2) e o fator transformador do crescimento (TGF-β1) e
concluíram que a proteína BMP-2 e o TGF-β1 atuariam sinergicamente na formação
dos nódulos osteocartilaginosos característicos da TO.
Em seres humanos há relatos de dificuldade na intubação e problemas respiratórios
após extubação no pós-operatório imediato devido ao estreitamento do lúmen causado
pelos nódulos (Thomas et al., 2001; Cardozo et al., 2002).
Os achados macroscópicos (pequenos nódulos firmes e esbranquiçados que se
projetavam no lúmen traqueal) dos cães deste estudo, se assemelham ao observado
por Sellon et al. (2004) e JoonKi et al. (2000). Contudo no exame histopatológico,
esses mesmos autores descreveram proliferação de tecido cartilaginoso e ósseo,
enquanto que no presente estudo havia proliferação apenas de tecido cartilaginoso
com áreas de mineralização.
Os principais diagnósticos diferenciais em cães incluem infecções por Oslerus osleri e
Besnoitia sp., neoplasias traqueais e amiloidose traqueal também podem levar a
formação de nódulos na traqueia (McGavin; Zachary, 2007; Dill et al., 1972), porém
estas enfermidades podem ser facilmente diferenciadas à histopatologia.
CONCLUSÃO
As alterações macroscópicas em adição à histopatologia são consistentes com o
diagnóstico de TO. Devido à inespecificidade ou até mesmo ausência de sinais clínicos
a real incidência de TO nos animais pode estar sendo subestimada, pois, muitas vezes,
não há possibilidade de exames como broncoscopia e tomografia na rotina clínica. A
etiologia e o mecanismo deste distúrbio permanecem desconhecidos e mais estudos
devem ser realizados a fim de melhor caracterizá-lo nos animais domésticos.

725
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 267 , 2013

REFERÊNCIAS
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726
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 268 , 2013

268. TRICOLEMOMA EM CÃO – RELATO DE CASO


(Tricholemmoma in dog – case report)

Paula Lima Magalhães¹, Danilo Rezende Silva¹, Mariana Batista Rodrigues Faleiro¹,
Regiani Nascimento Gagno Pôrto¹, Kamilla Póvoa Coelho², Eric Saymom Andrade
Brito¹
1Setor de Patologia Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
2Graduanda em Medicina Veterinária, União Pioneira de Integração Social
RESUMO: O tricolemoma é um tumor benigno de células que se diferenciam a partir da
bainha externa da raiz do folículo piloso. É raro em cães e gatos, ocorrendo em animais
de cinco a 13 anos de idade. Entre os cães, os Afghan Hounds parecem ser
predispostos. Os tumores variam de 1 a 7 cm e aparecem como nódulos firmes e
circunscritos, normalmente na cabeça e pescoço. Este trabalho teve por objetivo relatar
o caso de um animal atendido no hospital veterinário da Escola de Veterinária e
Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (HV/EVZ-UFG) com um nódulo na região
torácica ventral o qual foi encaminhado para análise histopatológica cujos achados
microscópicos foram condizentes com tricolemoma.
Palavras-Chave: bainha externa; folículo piloso; neoplasia benigna
ABSTRACT: The tricholemmoma is a benign tumor of cells that differentiate from the
outer root sheath of the hair follicle. It is rare in dogs and cats, occurring in animals
between five to 13 years old. Among dogs, Afghan Hounds seem to be predisposed.
The tumors range from 1 to 7 cm and appear as circumscribed and firm nodules,
usually in the head and neck. This study aimed to report the case of an animal treated
at the Veterinary Hospital School of Veterinary Medicine and Animal Science of the
Federal University of Goiás (HV/ EVZ-UFG) with a nodule in the ventral thoracic region
which was referred to histopathology whose microscopic findings were consistent with
tricholemmoma.
Key Words: outer sheath; hair follicle; benign neoplasm
INTRODUÇÃO
O tricolemoma constitui-se em uma proliferação rara, benigna e não recorrente com
origem nos queratinócitos da bainha externa da raiz dos folículos pilosos (Ginn, 2007;
Rodaski e Werner, 2008). Dois tipos são observados em cães, o tipo bulbo e o tipo
ístmico, ocorrendo mais comumente na região da cabeça e pescoço (Gross e Walder,
1992; Scott et al., 2001). Embora se descrevam poucos casos para se determinar a
idade, raça e sexo mais acometidos, observou-se que os cães entre 5 e 13 anos de
idade (média de 10 anos), e os Afghan Hounds podem ser os mais acometidos
(Rodaski e Werner, 2008). Os tumores aparecem como massas intradérmicas bem
encapsuladas e subcutâneas com alopecia da pele adjacente (Goldschimidt e
Hendrick, 2002). O diagnóstico é realizado pelo exame físico e avaliação
histopatológica, que fornecem subsídios para a definição dos tricolemomas. A exérese
neoplásica conferindo margens amplas, aliada à natureza e ao comportamento benigno
da lesão, permite classificar o prognostico como favorável (Rodaski e Werner, 2008).
Este trabalho teve por objetivo relatar o caso de um animal atendido no hospital
veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás
(HV/EVZ-UFG) com um nódulo na região torácica ventral que foi encaminhado para
análise histopatológica cujos achados microscópicos foram condizentes com
tricolemoma.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi atendido no hospital veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Goiás (HV/EVZ-UFG), um animal sem raça definida, fêmea de
sete anos, apresentando um nódulo na região torácica ventral de aproximadamente 15
cm de diâmetro, ulcerado, contendo áreas de consistência macia em sua periferia e
áreas firmes ao centro, com crescimento progressivo há três meses. O animal foi

727
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 268 , 2013

submetido a procedimento cirúrgico para exérese do nódulo e posterior análise


histopatológica. O fragmento coletado foi encaminhado para o Setor de Patologia da
Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG, fixado em formol 10% por 48 horas,
processado e confeccionadas as lâminas com 5 μm e coradas com Hematoxilina e
Eosina.
RESULTADOS
Na análise microscópica do fragmento colhido foram observadas proliferações de
células epiteliais formando ninhos com arranjos concêntricos separados por uma fina
camada de estroma conjuntivo. As células tumorais continham núcleos ovais a
alongados, citoplasma discretamente eosinofílico perifericamente e mais intensamente
eosinofílico em direção ao centro destes ninhos e bordas distintas. Ainda foi observada
a ausência de epiderme com acentuado infiltrado polimorfonuclear neutrofílico,
associado à hiperemia e edema. As alterações microscópicas foram suficientes para
determinar um caso de tricolemoma do tipo bulbo.
DISCUSSÃO
Os tricolemomas são neoplasias benignas da bainha externa do folículo piloso,
raramente acometendo os cães. Observou-se a incidência nesses animais entre 5 e 13
anos de idade (média de 10 anos) (Rodaski e Werner, 2008). Nesse relato a neoplasia
apresentava diâmetro de aproximadamente 15 cm e localização na região torácica
ventral, diferente das descrições que Gross e Walder (1992), em que as lesões, dessa
neoformação, aparecem como nódulos firmes, circunscritos, alopécicos, podendo ser
ulcerados em lesões extensas variando de 1 a 7 cm de diâmetro, principalmente
localizados na região da cabeça e pescoço. Ao corte exibem abrangência
dermocutânea, consistência firme e coloração esbranquiçada (Rodaski e Werner,
2008). Os tricolemomas são classificados em tipo ístmico e o tipo bulbo. O primeiro
mostra diferenciação para o segmento intermediário do folículo piloso e segundo, para
o segmento inferior (Rodaski e Werner, 2008). No tipo ístmico geralmente há uma
associação com a epiderme. O tumor consiste em cordões e trabéculas de células
epiteliais estendendo entre ilhas de células epiteliais que exibem centro queratinizado.
As células neoplásicas são pequenas e possuem uma quantidade moderada de
citoplasma levemente eosinofílico e pequenos núcleos eucromáticos, podendo haver
ainda estroma intersticial, o qual contém pequena quantidade de mucina (Goldschimidt
e Hendrick, 2002). O tricolemoma tipo bulbo as células tumorais formam ninhos
separados por um fino estroma colagenoso. As células tumorais possuem abundante
citoplasma eosinofilico que é pálido (células claras) perifericamente e mais
intensamente eosinofilico em direção ao centro destes ninhos (Ginn, 2007). O
fragmento colhido e analisado continha características semelhantes ao tipo bulbar. O
diagnóstico diferencial do tricolemoma em relação ao tricoepitelioma, acantoma
infundibular ceratinizante, tricoblastoma, carcinoma de células basais e do nevo do
folículo piloso, é feito baseado nas alterações histopatógicas desta neoplasia (Rodaski
e Werner, 2008).
CONCLUSÕES
As alterações macroscópicas e histopatológicas observadas no tecido avaliado foram
suficientes para definir um caso de tricolemoma em um cão.
REFERÊNCIAS
DALECK, C.R; WERNER, J. Neoplasias de pele. In: DALECK, C.R; NARDI, A.B.; RODASKI, S.
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GOLDSCHMIDT, M.H; HENDRIK, M.J. Tumor of the skin and soft tissues. In: MEUTEN, D.J.Tumor in
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GROSS, T.L.; IHRKE, P.J.; WALDER, E.J. Veterinary Dermatopathology: A Macroscopic and
Microscopic Evaluation of Canine and Feline Skin Disease. Missouri:Mosby,1992. Cap.22.,p364-365.
SCOTT, D.W.; MILLER, W.H.; GRIFFIN, C.E. Neoplastic and Non-Neoplastic Tumors. In: Muller &
Kirk’s Small Animal Dermatology. 6.ed. Philadelphia: Saunders. 2001, p.1361-1364.
728
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 269 , 2013

269. TROMBOEMBOLISMO PULMONAR EM UM CANINO ASSOCIADO À


DIROFILARIOSE
(Pulmonary thromboembolism in a canine with dirofilariasis)

Paulo Henrique Leal Bertolo¹, Suellen da Gama Barbosa Monger², Ana Cláudia de
Souza Neves¹, Ana Cláudia Alexandre de Albuquerque¹, Uiara Hanna Araújo Barreto³,
Washington Luiz Assunção Pereira¹

1 Universidade Federal Rural da Amazônia; 2 Universidade Federal do Pará.


3 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

RESUMO: O presente trabalho objetiva relatar um caso de dirofilariose com


tromboembolismo e determinar a causa morte de uma cadela da raça Beagle, 9 anos
com dificuldade respiratória, distensão abdominal que veio a óbito. O animal foi
submetido a necropsia. No exame anatomopatológico foi observado numerosos
exemplares de Dirofilaria sp. no ventrículo e átrio direito e artérias pulmonares, assim
como a presença de trombos em vasos pulmonares, além de hipertrofia e dilatação
cardíaca direita. Concluiu-se que o animal veio a óbito em decorrência de uma
insuficiência cardíaca.
Palavras-chaves: coração; dirofilária; pulmão; trombo
ABSTRACT: The present paper reports the case of dirofilariasis with associated
thromboembolism and determine the cause of death in a Beagle dog, 9 years, with
difficulty breathing, abdominal distension and died. The animal was subjected to
necropsy. Pathology noted numerous examples of Dirofilaria sp. the right atrium and
ventricle and the pulmonary arteries, and thrombosis of pulmonary vessels, and right
heart hypertrophy and dilatation. On the basis of these findings it was concluded that
the animal came to death due to heart failure.
key-words: Dirofilaria; Heart; Lung; Thrombo
INTRODUÇÃO
Entre diversas enfermidades consideradas como zoonoses, está a dirofilariose,
causada por um filarídeo, parasita do ventrículo direito e artéria pulmonar de cães e
gatos. Apesar de estudos relatados com frequência em áreas litorâneas, a enfermidade
já foi registrada no município de Belém, Pará por Souza et al. (1997). De acordo com
Freitas (1977), as microfilárias (L3) instalam-se no aparelho bucal do mosquito e
infectam o cão no repasto sanguíneo. As L3 então migram para o tecido subcutâneo,
mudando para L4 e L5, através da corrente sanguínea e chegam ao coração,
transformando-se em adulta.
Na dirofilariose, pode haver ativação de células do endotélio vascular por antígenos da
Dirofilaria immitis e promover tromboembolismos graves (Morchon et al., 2008).
O presente trabalho objetiva relatar caso de dirofilariose com tromboembolismo
associado em uma cadela e determinar a causa da morte do animal.
MATERIAL E MÉTODOS
Um animal da espécie canina, fêmea, 9 anos da raça Beagle foi encaminhado á um
Hospital Veterinário na cidade de Belém, PA. Foi realizado exame clínico e radiográfico
e apesar de medicado o paciente veio a óbito pouco tempo depois.
Deste modo, foi encaminhado ao Setor de Patologia Animal para ser submetido a
necropsia. Realizou-se registro fotográfico e descrição anatomopatológica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No exame clínico, observou-se cianose, tosse e aumento de volume abdominal. O
diagnóstico do exame radiográfico foi de edema pulmonar e cardiomegalia. Para Rocha
et al. (2010) os sinais clínicos da dirofilariose podem se manifestar após vários meses
do animal ter sido picado. Numa fase precoce da doença, o cão demonstra poucos
sinais clínicos, mas evoluem com o tempo apresentando intolerância ao exercício,
tosse crônica e perda de peso. Logo, pode-se manifestar dispnéia, febre, ascite e levar
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 269 , 2013

a formação de trombose devido a efeitos secundários decorrente da morte dos


parasitas adultos que gera uma circulação sanguínea turbulenta.
Em caninos, nas infecções severas pelo Dirofilaria immitis, pode ocorrer à obstrução do
ventrículo direito e da artéria pulmonar pelos parasitas, assim como a formação de
trombose (MONTEIRO, 2007). Esses resultados estão em concordância com os do
presente relato, onde se verificou no exame anatomopatológico dos pulmões a
presença de numerosos trombos de cor branca, alguns com áreas de mineralização e,
em dois desses, observou espécimes de Dirofilaria. Adicionalmente, em decorrência do
tromboembolismo, o lobo diafragmático esquerdo apresentava área vermelha, sendo
resistente a palpação, característica compatível com infarto vermelho.
O coração direito contendo espécimes de Dirofilaria, mostrou-se dilatado e com
hipertrofia. Segundo Wagner et al. (2005), essas alterações na fisionomia cardíaca
ocorrem para compensar uma diminuição do volume sanguíneo circulante e aumento
da pressão ventricular, levando, respectivamente, a hipertrofia e a dilatação cardíaca.
Em relação a lesões cardiovasculares na dirofilariose, Venco (2005) descreveu
migrações aberrantes da Dirofilaria sp. para a bifurcação da aorta que levou a
formação de trombos com presença de larvas L5 associadas.
Foi verificado grande quantidade de líquido espumoso no parênquima pulmonar
compatível com edema pulmonar que promoveu insuficiência respiratória e a morte do
animal. Ressalta-se que esse processo resultou de hipertensão vascular causado pelo
tromboembolismo.
Um estudo em animais com infecção por Dirofilaria immitis mostrou ocorrer a
cardiopatia com Insuficiência cardíaca e o edema pulmonar em 3,3% e 16,7% dos
casos, respectivamente (Rocha, 2010).
Dentre outros achados necroscópicos a válvula mitral apresentava bordos levemente
espessados (endocardiose), no entanto, não foi observado alterações de insuficiência.
CONCLUSÃO
Pelos achados clínicos e anatomopatológicos a morte do animal deu-se devido à
insuficiência cardíaca e pulmonar que ocorreram pela presença de tromboembolismo,
conseqüência ao parasitismo pela Dirofilaria sp.
O aprofundamento da anamnese, histórico do animal e investigação através de exames
específicos são fundamentais ao tratamento, ao combate a dirofilariose e ao vetor da
doença, evitando assim consequências severas e fatais ao animal.
REFERÊNCIAS
FREITAS, M.G. Helmintologia Veterinária. 3 ed. Belo Horizonte: Copiadora e Editora Rabelo & Brasil
Ltda, 1977. 396 p.
MONTEIRO, S.G. Parasitologia Veterinária. 2.ed. Santa Maria: UFSM, 2007. 211p.
MORCHON, R.; RODRIGUEZ-BARBERO, A.; VELASCO, S. et al. Vascular endothelial cell activation by
adult Dirofilaria immitis antigens. Parasitology International., v. 57, n. 4, p. 441-446, 2008.
ROCHA, C.A.R. Dirofilaria immitis e Dirofilariose canina: um estudo retrospectivo. 2010. Vila Real,
61f. Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina Veterinária - Ciências Veterinárias). Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro.
SOUZA, N.F.; BENÍGNO, R.N.M.; FIGUEIREDO, M. et al. Prevalência de Dirofilaria immitis em cães no
município de Belém/PA, com base na microfilaremia. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária,
v. 6, n.1, p.83-6, 1997.
VENCO, L.; KRAMER, L.; GENCHI, C. Heartworm disease in dogs: unusual clinical cases. Veterinary
Parasitology, v. 133, n. 2-3, p. 207-218, 2005.

730
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 270 , 2013

270. TUMOR DE BAINHA DE NERVO PERIFÉRICO MALIGNO DO PLANO NASAL


EM UM FELINO: RELATO DE CASO
(Malignant peripheral nerve sheath tumour of the nasal planum in a feline: case
report)

Conrado de O.Gamba; Lidiane N. Monteiro; Fernanda C.Nunes; Marina R. Araújo, Enio


Ferreira; Geovanni D.Cassali

Laboratório de Patologia Comparada, Depto. de Patologia Geral - Instituto de Ciências Biológicas,


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

RESUMO: Os tumores de bainha de nervo periférico (TBNP) são raramente


observados na espécie felina. Este estudo tem como objetivo descrever os achados
macroscópicos, histopatológicos e imuno-histoquímicos de um TBNP maligno cutâneo
localizado no plano nasal de um felino. A análise histopatológica revelou células
neoplásicas fusiformes que apresentaram formação de feixes entrelaçados (padrão
Antoni A). Áreas mixomatosas contendo células tanto fusiformes quanto ovais
sustentadas por estroma frouxo foram observadas (Padrão Antoni B). Áreas de
ulceração, infiltrado inflamatório linfocítico intratumoral e índice mitótico de 4
mitoses/campo de grande aumento (40x) foram observados. As células neoplásicas
apresentaram positividade para vimentina e S-100 e negatividade para citoqueratina.
Com base nos achados descritos, o diagnóstico de TBNP maligno foi estabelecido.
Palavras-chave: gato; imuno-histoquímica; s-100; tumor de bainha de nervo periférico
ABSTRACT: The peripheral nerve sheath tumours (PNST) are rarely observed in feline
species. The aim of this study was to describe macroscopical, histopathological and
immunohistochemical findings of a cutaneous malignant PNST located in nasal planum
of a feline. Histopathological analysis revealed spindle neoplastic cells that showed
interlacing fascicles (Antoni A pattern). Myxomatous areas containing spindle and oval
cells embedded in loose matrix were observed (Antoni B pattern).
Ulceration areas, intratumoral lymphocytic inflammatory infiltrate and mitotic index of 4
mitosis/10 high power fields (40x) were observed. Neoplastic cells revealed positivity for
vimentin and S-100 and negativity for cytokeratin. Based on the findings, the diagnostic
of malignant PNST was established.
Key words: cat; immunohistochemistry, s-100, peripheral nerve sheath tumor
INTRODUÇÃO
Tumores cutâneos e subcutâneos representam 1/4 de todas as neoplasias que,
acometem felinos. Aproximadamente 50-65% destas neoplasias são malignas sendo
as mais incidentes os carcinomas de células basais e mastocitomas. Outras
neoplasias, apesar de menos frequentes, também tem sido descritas na pele, dentre
elas os tumores de bainha de nervo periférico (TBNP) (Vail e Withrow, 2007). Os TBNP
são neoplasias mesenquimais, oriundos de células de Schwann, células perineurais e
de fibroblastos intraneurais (Schulman et al., 2009). Em felinos essa neoplasia
geralmente localiza-se nas regiões da cabeça e do pescoço (Gross et al., 2006). Os
TBNP podem assumir comportamento biológico benigno ou maligno, sendo a
diferenciação entre as duas variantes dada principalmente por características
morfológicas como hipercelularidade, pleomorfismo celular, índice mitótico e caráter
infiltrativo (Gross et al., 2006).
O diagnóstico definitivo do TBNP é dado com base principalmente na análise
histopatológica em coloração de hematoxilina e eosina (HE). Em algumas situações,
diante da semelhança morfológica com outras neoplasias, a utilização da técnica de
imuno-histoquímica pode ser necessária. Dentre os marcadores mais comumente
utilizados pode-se destacar o S-100 e a vimentina que identificam células oriundas da
crista neural e células mesenquimais, respectivamente (Hoffman et al., 2005).

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 270 , 2013

O objetivo deste estudo foi descrever os aspectos macroscópicos, histopatológicos e


imuno-histoquímicos de um caso de TBNP maligno cutâneo localizado no plano nasal
de um felino.
MATERIAL E MÉTODOS
Um felino sem raça definida, 8 anos de idade apresentou massa cutânea ulcerada de
aproximadamente 10 cm de diâmetro, localizada na porção anterior do plano nasal, que
se estendia até a região gengival anterior da maxila superior. Biópsia incisional foi
imediatamente realizada com encaminhamento do material para o Laboratório de
Patologia Comparada da UFMG para avaliação histopatológica (HE e Tricrômico de
Gomori). Utilizou-se a técnica de imunohistoquímica para avaliação da expressão de
citoqueratina (CK) (clone AE1AE3, Dako, 1:100), vimentina (clone V9, Dako, 1/100) e
S-100 (policlonal, Dako, 1/100).
RESULTADOS
Na análise macroscópica evidenciou-se fragmento irregular de tecido medindo
aproximadamente 2,5 cm de diâmetro. Ao corte revelou-se pobremente delimitado,
macio, com superfície brancacenta. Microscopicamente observou-se massa neoplásica
hipercelularizada composta por células fusiformes que formavam feixes entrelaçados
dispostos em diferentes direções, por vezes assumindo padrão circular parcial (Padrão
Antoni A). Áreas com aspecto mixóide contendo células tanto fusiformes quanto ovais
sustentadas por estroma frouxo e pouco celularizado foram evidenciadas (Padrão
Antoni B). Grupamentos de células grandes, ovaladas a poligonais com citoplasma
claro e vacuolar delimitados por tecido conjuntivo fino e delicado também foram
evidenciados. Observou-se pleomorfismo celular e nuclear acentuados e índice mitótico
de aproximadamente 4 mitoses por campo de maior aumento (40x). Além disso, havia
infiltrado inflamatório linfocítico multifocal discreto intratumoral e extensa área de
ulceração. A coloração de TG permitiu a evidenciação de fibras musculares isoladas e
de pequena quantidade de fibras colagenosas (estroma intratumoral).
Na análise imuno-histoquímica as células neoplásicas foram positivas para vimentina
(marcação citoplasmática difusa de intensidade forte) e negativas para CK. Além disso,
foi observada imunomarcação nuclear e citoplasmática para S-100. Diante dos
achados macroscópicos, histopatológicos e imuno-histoquímicos concluiu-se que o
animal apresentava um TBNP maligno.
DISCUSSÃO
Os TBNP são neoplasias raramente observadas em felinos que apresentam como
localização mais frequente as regiões da cabeça e do pescoço (Gross et al., 2006).
Esta neoplasia também tem sido descrita em outras regiões como bexiga urinária,
canal vertebral e membros (Okada et al., 2007; Schulman et al., 2009; Pavia et al.,
2012). O presente trabalho relata um caso de TBNP maligno cutâneo localizado no
plano nasal de um felino.
O diagnóstico definitivo de TBNP em felinos dá-se principalmente pela visualização de
características histopatológicas típicas, dentre elas a apresentação dos padrões Antoni
A e/ou Antoni B (Schulman et al., 2009); ambos padrões foram observados no presente
estudo. O diagnóstico de TBNP maligno foi possível devido à evidenciação de
pleomorfismo acentuado e índice mitótico elevado. Diante da semelhança morfológica
entre os TBNP e fibrossarcomas utilizou-se a coloração de TG que descartou a
possibilidade de um fibrossarcoma. Neste estudo o TBNP maligno revelou positividade
para os marcadores vimentina e S-100 demonstrando sua histogênese mesenquimal e
origem na crista neural, respectivamente. Ausência de histogênese epitelial foi
observada pela negatividade para citoqueratina. Em felinos TBNP positivos para S-100
e vimentina tem sido frequentemente relatados (Watrous et al., 1999; Hofmann et al.,
2005; Schulman et al., 2009).

732
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 270 , 2013

CONCLUSÃO
Diante destes achados determinou-se diagnóstico de tumor de bainha de nervo
periférico maligno. Os marcadores imuno-histoquímicos S-100, vimentina e CK, quando
associados às características histopatológicas, podem ser úteis na determinação no
diagnóstico definitivo desta neoplasia.
Agradecimentos
CAPES e ao apoio financeiro da FAPEMIG.
REFERÊNCIAS
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Company, 2007, Cap.18, p. 619-636.
WATROUDS, B.J.; LIPSCOMB, T.P.; HEIDEL, J.R. et al. Malignant peripheral nerve sheath tumor in a
cat. Veterinary radiology & ultrasound, v.40, n.6, p.638-640, 1999.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 271 , 2013

271. TUMOR FILODES DA GLÂNDULA MAMÁRIA CANINA:


RELATO DE CINCO CASOS
(Phyllodes tumor of the canine mammary gland: report of five cases)

Marina Rios de Araújo, Karine Araújo Damasceno, Conrado de Oliveira Gamba,


Diego Carlos dos Reis, Enio Ferreira, Geovanni Dantas Cassali

Laboratório de Patologia Comparada, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade UFMG


cassalig@icb.ufmg.br

RESUMO: Em cadelas, as neoplasias mamárias representam 52% de todas as


neoplasias. O tumor filodes (TF) consiste em uma neoplasia mamária fibro-epitelial rara
em humanos caracterizada por proliferação de células epiteliais e mesenquimais
(componente estromal) que em conjunto, formam estruturas semelhantes a folhas
(foliáceas). Este trabalho descreve pela primeira vez os aspectos histopatológicos e
imuno-histoquímicos do tumor filodes em caninos. Foram diagnosticados quatro
tumores filodes benignos (TFB) e um tumor filodes maligno (TFM). As células epiteliais
e estromais de todos os TF foram positivas para citoqueratina AE1AE3 e vimentina,
respectivamente. Todos os TF foram positivos para receptor de estrógeno e
progesterona. Os TFB foram negativos para p63 e o TFM apresentou positividade para
esse marcador. O índice de proliferação celular foi menor que 1% nos TFB e de 69,5%
no TFM. Este trabalho demonstra a importância do reconhecimento dessa neoplasia no
diagnóstico diferencial de outros tumores mamários com componentes epiteliais e
mesenquimais associados.
Palavras chave: cão; filodes; imuno-histoquímica; neoplasia mamária
ABSTRACT: In bitches, the mammary tumors represent 52% of all neoplasms.
Phyllodes tumor (PT) is a fibro-epithelial neoplasm rare in humans characterized by
proliferation of epithelial cells and mesenchymal (stromal component) which in
combination elaborate leaf-like structures. This paper describe the first time the
histopathological and immunohistochemical characteristics phyllodes tumor in canines.
They were diagnosed four benign phyllodes tumors (TPB) and one malignant phyllodes
tumor (TPM). The epithelial and stromal cells of all PT were positive for cytokeratin
AE1AE3 and vimentin, respectively. All PT were positive for estrogen and progesterone
receptors. The TPB were negative for p63 and TPM were positive for this marker. The
cell proliferation index was less than 1% in TFB and of 69.5% in TFM. This work show
the importance of the recognition of this neoplasm in the differential diagnosis of other
mammary tumors with epithelial and mesenchymal components associated.
Key words: dog; phyllodes; immunohistochemistry; mammary neoplasia
INTRODUÇÃO
Em cadelas, as neoplasias mamárias representam 52% de todas as neoplasias sendo
que 50% são diagnosticadas como malignas (Cassali et al., 2003). Algumas neoplasias
mamárias podem apresentar componentes epiteliais, mioepiteliais e mesenquimais,
dentre elas os tumores mistos, frequentemente diagnosticados em caninos (Cassali et
al., 2003). Em humanos outros subtipos de neoplasias com associação de
componentes epiteliais e mesenquimais (fibro-epiteliais), apesar de raros, tem sido
descritos. Dentre eles pode-se destacar o tumor filodes (TF) que consiste em uma
neoplasia mamária fibro-epitelial caracterizada por proliferação de células epiteliais e
semelhantes a folhas (foliáceas) (Tan et al. 2012). Em caninos esta neoplasia ainda
não foi descrita.
O objetivo desse trabalho foi descrever os aspectos histopatológicos e
imunohistoquímicos de cinco tumores filodes na glândula mamária canina.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 271 , 2013

MATERIAL E MÉTODOS
Cinco cadelas (cão 1, 2, 3, 4 e 5), de diferentes raças apresentando aumento de
volume nas glândulas mamárias (abdominais e inguinais) foram submetidas à cirurgia e
o material foi encaminhado ao Laboratório de Patologia Comparada da UFMG para
avaliação histopatológica (hematoxilina e eosina – HE). Utilizou-se a técnica de imuno-
histoquímica para avaliação da expressão de receptor de estrógeno (RE) (clone 1D5,
Dako, 1:20), receptor de progesterona (RP) (clone HPRA2, Neomarkers, 1:20), p63
(clone 4A4, Neomarkers, 1:80), marcador de proliferação celular Ki67 (clone MIB-1,
Dako, 1:25), citoqueratina (CK) (clone AE1AE3, Dako, 1:100) e vimentina (clone V9,
Dako, 1:100). A avaliação da expressão de CK, vimentina e p63 foi qualitativa. A
imunomarcação para RE e RP foi realizada segundo as orientações da ASCO/CAP
(HAMMOND et al., 2010). O índice de proliferação celular foi avaliado segundo DUTRA
et al., 2008.
RESULTADOS
Os tumores variaram entre 6 e 8 cm de diâmetro. Foram diagnosticados quatro tumores
filodes benigno (TFB) (cão 1, 3, 4 e 5) e um tumor filodes maligno (TFM) (cão 2).
Microscopicamente os TFB foram caracterizados por proliferação epitelial benigna em
camada dupla associadas à proliferação de células estromais/mesenquimais formando
projeções em forma de folha (foliáceas). Graus variados de hiperplasia epitelial
(aumento do número de camadas) foram observados em todos os TFB. O componente
estromal caracterizou-se por proliferação discreta de células fusiformes com aspecto
colagenoso e/ou mixóide com pleomorfismo discreto e índice mitótico baixo. Metaplasia
condróide foi encontrada nos cães 1 e 5.
O TFM caracterizou-se por proliferação estromal exuberante pobremente delimitada
caracterizada por proliferação de células fusiformes formando feixes entrelaçados
algumas vezes com aspecto mixóide. Pleomorfismo celular acentuado e índice mitótico
alto foram observados no componente estromal. O componente epitelial era discreto e
caracterizado pela proliferação de células epiteliais benignas em camada dupla.
Na análise imuno-histoquímica todos os TF foram positivos para RE e RP. O
componente epitelial de todos os TF foi positivo para CK. As células estromais de todos
os TF foram positivos para vimentina. As células estromais do TFM foram positivas
para p63 enquanto que nos TFB foram negativas. Os TFB e TFM apresentaram índice
de proliferação celular de menos de 1% e de 69,5%, respectivamente.
DISCUSSÃO
Os TF são neoplasias mamárias fibroepiteliais raras em mulheres (Tan et al. 2012).
Esse tumor é caracterizado pela proliferação epitelial e estromal formando estruturas
em forma de folha (foliáceas). Pelo nosso conhecimento esse é primeiro trabalho que
descreve as características histopatológicas e imuno-histoquímicas de TF em cadelas.
Em mulheres, o diagnóstico definitivo dos TF é feito pela histopatologia e três variantes
podem ser observadas: filodes benigno, filodes maligno de baixo grau e alto grau
(Rosen, 2009; Tan et al., 2012). A diferenciação entre os três subtipos deve ser
baseado na celularidade e exuberância estromal, pleomorfismo celular, índice mitótico
e delimitação do tumor (Tan et al., 2012). No presente estudo foram diagnosticados
quatro TFB e um TFM. Diante dos achados histomorfológicos e do alto índice de
proliferação celular o TFM poderia ser considerado de alto grau. A positividade do
componente epitelial para CK e do componente estromal para vimentina em todos os
casos confirma a dupla origem (epitelial e mesenquimal) do tumor, semelhante ao que
é observado em mulheres (Rosen, 2009). No presente trabalho, os casos de TFB foram
negativos para p63 e o TFM foi positivo indicando que, em caninos, o componente
estromal também pode ser composto por células mioepiteliais. TFM com componentes
estromais positivos para p63 também tem sido descritos em humanos (Auger et al.,
1989).

735
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 271 , 2013

CONCLUSÕES
Esse é o primeiro trabalho que descreve os TF em cães. As características
histomorfológicas são essenciais para o diagnóstico definitivo, sendo a
imunohistoquímica uma ferramenta complementar. Deve-se estar atento ao
reconhecimento dessa neoplasia no diagnóstico diferencial de outros tumores
mamários que apresentem componentes epiteliais e mesenquimais associados.
AGRADECIMENTOS
CAPES e ao apoio financeiro da FAPEMIG.
REFERÊNCIAS
AUGER, M; HANNA, W; KAHN, H.J. Cystosarcoma phylloides of the breast and its mimics. An
immunohistochemical and ultrastructural study. Arch Pathol Lab Med, v. 113, n. 11, p. 1231-1235, 1989.
CASSALI, G.D. Patologias da glândula mamária. In: NASCIMENTO, E.F; SANTOS, R.L. Patologia da
Reprodução dos animais domésticos. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabora Koogan, 2003. p. 119-133.
DUTRA, A.P.; AZEVEDO JÚNIOR, G.M.; SCHMITT, F.C et al. Assessment of cell proliferation and
prognostic factors in canine mammary gland tumors. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec, v. 60, n. 6, p.1403-
1412, 2008.
HAMMOND, M.E.H.; HAYES, D.F.; DOWSETT, M et al. American Society of Clinical Oncology/College of
American Pathologists Guideline Recommendations for Immunohistochemical Testing of Estrogen and
Progesterone Receptors in Breast Cancer. J. Clin. Oncol, v. 28, n. 16, p. 2784-2795, 2010.
ROSEN P. P. Fibroepithelial neoplasms. In: ___. Rosen‘s Breast Pathology. 3.ed. Philadelphia: Lippincott
Willians & Wilkins, 2009. Cap.8., p.187-229.
TAN, P.H; TSE, G. LEE, A et al. Fibroepithelial tumours. In: Lakhani, S.R; Ellis, I.O, Schnitt, S.J. WHO
Classification of tumours of the breast. 4.ed. Lyon: International Agency for Research on Cancer, 2012.
Cap.11., p. 142-147.

736
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 272 , 2013

272. TUMOR TESTICULAR DE CÉLULAS INTERSTICIAIS COM METÁSTASE


CUTÂNEA DISSEMINADA EM UM CÃO
(Testicular interstitial cell tumor with disseminated cutaneous metastasis in a
dog)

Isadora Pereira da Silveira, Camila Tochetto, Rafaela Albuquerque Caprioli, Taiara


Müller da Silva, Glaucia Kommers
Laboratório de Patologia Veterinária (LPV), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
glaukommers@yahoo.com
RESUMO: Este relato descreve um caso incomum de tumor testicular de células
intersticiais (TTCI) maligno com metástases multifocais em um cão. O cão apresentou
aumento de volume no testículo esquerdo (criptorquida inguinal) e múltiplos nódulos
cutâneos inguinais que foram removidos cirurgicamente e remetidos para avaliação
histopatológica. O diagnóstico foi de TTCI maligno com metástase cutânea. Após um
mês do diagnóstico, o cão foi submetido à eutanásia e necropsia. Havia metástases
cutâneas disseminadas, para os linfonodos ilíacos internos e músculo esquelético
abdominal. As células neoplásicas foram positivas pela imuno-histoquímica para
vimentina.
Palavras-chave: doenças de cães; neoplasmas testiculares; oncologia; tumor de
células de Leydig maligno
ABSTRACT: An uncommon case of malignant testicular interstitial cell tumor (TICT)
with multifocal metastases in a dog is described. The dog had the left testis enlarged,
with inguinal cryptorchidism and multifocal cutaneous nodules that were surgically
removed and submitted for histopathological examination. The diagnosis was of
malignant TICT with cutaneous metastasis. A month later the dog was submitted to
euthanasia and necropsy. Disseminated cutaneous metastases and metastases to the
internal iliac lymph nodes and abdominal skeletal muscles were observed. Neoplastic
cells were positive for vimentin by immunohistochemistry.
Key-words: diseases of dogs; malignant Leydig cell tumor; neoplasms of the testis;
oncology
INTRODUÇÃO
Tumores de pele são os tumores mais comuns em cães machos, seguidos pelos
tumores testiculares. A prevalência de tumores testiculares em cães machos adultos
varia de 1% a 27% (Hanh et al., 1992; Liao et al., 2009). Os principais neoplasmas
testiculares são o seminoma, o sertolioma e o tumor de células intersticiais, os quais
ocorrem com frequência semelhante em cães idosos (Kennedy et al., 1998, Nødtvedt et
al., 2010). A vasta maioria dos TTCIs são benignos, embora raros casos malignos
tenham sido descritos em cães (MacLachlan e Kennedy, 2002; Laufer e Sulman, 1956).
MATERIAIS E MÉTODOS
Um cão, Beagle, macho de 6 anos, foi atendido clinicamente, pois há cerca de um mês
havia sido observado aumento de volume do testículo esquerdo, que era criptorquida
inguinal e nódulos na pele da região inguinal esquerda. O testículo direito (tamanho
normal e intra-escrotal), o testículo esquerdo e fragmentos de pele inguinal esquerda
foram removidos cirurgicamente e remetidos para o Laboratório de Patologia
Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (LPV-UFSM). Macroscopicamente,
o parênquima do testículo esquerdo estava completamente substituído por uma massa
neoplásica branco-acinzentada. A pele inguinal continha nódulos de 1 a 2 cm de
diâmetro ou placas espessas. O testículo direito estava macroscopicamente normal. O
material foi processado rotineiramente para análise histopatológica.
Microscopicamente, o parênquima testicular esquerdo estava completamente
obliterado por uma massa neoplásica constituída de células redondas a ovais. Algumas
delas tinham citoplasma eosinofílico moderado, finamente granular ou vacuolizado. Os
núcleos eram pequenos, redondos e hipercromáticos ou redondos a ovais e com

737
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 272 , 2013

cromatina dispersa. Muitas células apresentavam um elevado grau de atipia e


pleomorfismo celular e nuclear. Foram observadas até 11 mitoses por campo de
grande aumento (400x). Na pele inguinal havia células neoplásicas semelhantes às
observadas no testículo, infiltrando a derme superficial e profunda. O diagnóstico foi de
TTCI maligno com metástase cutânea. Um mês depois, o cão foi submetido à
eutanásia devido à presença de metástases cutâneas disseminadas e foi encaminhado
para necropsia no LPV-UFSM.
RESULTADOS
Na necropsia, o cão apresentava múltiplos nódulos cutâneos distribuídos por todo o
corpo, mas principalmente no prepúcio, cabeça e membros. Na superfície de corte eles
eram homogeneamente brancos. Os músculos da parede abdominal (região inguinal
esquerda) foram invadidos transmuralmente por uma massa neoplásica branca. O
linfonodo ilíaco interno esquerdo foi substituído por uma massa branca e o linfonodo
ilíaco interno direito estava firme e aumentado. A avaliação histológica dos nódulos da
pele, linfonodos ilíacos internos e músculo esquelético abdominal revelou metástases
do TTCI previamente diagnosticado. Foi realizada imuno-histoquímica do neoplasma
utilizando-se os seguintes anticorpos primários: calretinina, fosfatase alcalina
placentária (PLAP), octamer-binding transcription factor (OCT-3/4), vimentina, Melan-A
e citoqueratina. As células neoplásicas imunomarcaram positivamente somente para
vimentina.
DISCUSSÃO
Tumores testiculares em cães são na grande maioria benignos (Foster e Ladds, 2007).
Este é um relato de um caso incomum de TTCI maligno com metástase disseminada
para a pele, para os linfonodos ilíacos internos e músculos abdominais em um cão.
Metástases para os linfonodos ilíacos internos e envolvimento da musculatura
esquelética próxima à região do tumor primário podem ser explicadas pela
disseminação linfática e extensão direta do tumor, respectivamente. Metástases
cutâneas distantes sugerem disseminação sanguínea (Gates, 1937). Neste caso, não
foi possível determinar a via de disseminação cutânea. Os TTCIs geralmente ocorrem
em animais idosos (MacLachlan e Kennedy, 2002). No entanto, o cão deste relato era
adulto. É sugerido o uso de alguns marcadores imuno-histoquímicos para TTCI, vários
dos quais foram utilizados neste caso. Entretanto, não há um marcador específico para
TTCI (Owston e Ramos-Vara, 2007), sendo este caso positivo somente para vimentina
no painel testado.
CONCLUSÕES:
O presente trabalho relata os achados macroscópicos, histopatológicos e imuno-
histoquímicos de um caso incomum de TTCI metastático em um cão.
REFERÊNCIAS
FOSTER, R.A., LADDS, W.P. Male genital system, In: MAXIE, M.G. (Ed) Jubb, Kennedy and Palmer’s,
Pathology of Domestic Animals. v.3, 5.ed. Philadelphia: Saunders Elsevier, 2007, Cap 5, p.594-600.
GATES, O. Cutaneous Metastases of Malignant Disease. Ame Journal of Cancer, v.30, n.718, 1937.
HANH, K.A.; VONDERHAAR, M.A.; TECLAW, R.F. An epidemiological evaluation of 1202 dogs with
testicular neoplasia. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.6, n.121, 1992.
KENNEDY, P. C.; CULLEN, J. M.; EDWARDS, J. F. et al. Histological Classification of Tumors o the
Genital System of Domestic Animals. Washington: Armed Forces Institute of Pathology, 1998.
LAUFER, A.; SULMAN, FG. Estrogenic Leydig-cell tumor with multiple metastases in a dog; the problem
of bisexual hormone production by gonadal cells. The Journal of Clinical Endocrinology and
Metabolism, v.16, n.9, p.1151-62, 1956.
LIAO, A.T.; CHU, P-Y; YEH, L-S. et al. A 12-year retrospective study of canine testicular tumors. Journal
of Veterinary Medical Science, v.71, n.7, p.919–923, 2009.
MACLANCHLAN, N.J.; KENNEDY, P.C. Tumors of the Genital Systems. In: MEUTEN, D.J. (ed). Tumors
in domestic animals. 4.ed. Ames: Iowa State Press. 2002, Cap 11, p.547-574.
NØDTVEDT, H.; GAMLEM, G.; GUNNES, T.; et al. Breed differences in the proportional morbidity of
testicular tumors and distribution of histopathologic types in a population-based canine cancer registry.
Veterinary and Comparative Oncology, v. 9, n.1, p.45-54, 2010.

738
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 273 , 2013

273. TUMOR VENÉREO TRANSMISSIVEL CUTÂNEO E MUCOCUTÂNEO EM


CANINO – RELATO DE CASO
(Cutaneos and Mucocutaneos Transmissible Venereal Tumor In Canine - Case
Report)

Ana Carolina Ortegal Almeida¹; Fabianna de Simone Souza²; Ismael Lira Borges³;
Rafael Silva Cipriano4; Saulo Vinícius Avanço4; Daniela Bernadete Rozza¹

1- Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ (UNESP) – FMVA, Brasil.


2- Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium (UNISALESIANO), Brasil.
3- Universidade Estadual do Ceará (UECE), Brasil.
4- Centro de Controle de Zoonoses de Araçatuba (CCZ – ATA), Brasil.

RESUMO: O Tumor Venéreo Transmissível é uma neoplasia de células redondas que


acomete cães jovens e adultos de ambos os sexos. Afeta primariamente a genitália
externa, porém pode se metastatizar para outros órgãos principalmente em animais
jovens ou imunossuprimidos. A evolução geralmente é rápida, mas em animais adultos
saudáveis pode regredir espontaneamente. A transmissão se dá pelo coito, podendo
ser transplantado para outros locais por meio de lambeduras, mordeduras e arranhões.
Este relato descreve um caso de tumor venéreo transmissível em canino, macho,
adulto sem raça definida (SRD), portador de leishmaniose visceral que foi encaminhado
para exame necroscópico por apresentar formações nodulares cutâneas e
mucocutâneas. As lesões macroscópicas associadas à citologia e microscopia foram
conclusivas para o diagnóstico de tumor venéreo transmissível.
Palavras chave: citologia; leishmaniose; TVT
ABSTRACT: The Transmissible Venereal Tumor (TVT) is a round cell neoplasm that
can affect young and adult animals of both sexes. Primarily affects the genitals and can
metastasize to other organs especially in young or immunosuppressed animals.
Grossly, ranging from small nodules to large masses, presents friable and ulcerated.
Macroscopic often is characteristic, but the diagnosis is obtained from the cytology and
histopathology. This report aims to describe a case of cutaneous and mucocutaneous
transmissible venereal tumor in canine male, adult, mongrel, bearer of visceral
leishmaniasis that was referred to autopsy by presenting nodular formations cutaneous
and mucocutaneous. Gross lesions associated with cytology and microscopy were
conclusive for the diagnosis of transmissible venereal tumor.
Keywords: cytology; leishmaniasis; TVT
INTRODUÇÃO
O tumor venéreo transmissível (TVT), também conhecido como sarcoma de Sticker
(Stockmann et al, 2011; Withrow. & Macewen, 2013), é uma neoplasia maligna de
células redondas que acomete principalmente, cães, sem predileção por raça, sexo ou
idade. Entretanto, animais jovens sexualmente ativos, errantes ou imunossuprimidos
possuem maior predisposição a adquirir a doença (Gross et al, 2005; Raskin e Meyer,
2011; Santos et al, 2005).
A gênese dessa enfermidade ainda permanece desconhecida, porém suspeita-se de
possível origem histiocítica (McGavin e Zachary, 2009). A transmissão ocorre por
contato direto, através da implantação de células neoplásicas viáveis, principalmente
por via sexual. No entanto, pode ocorrer transplantação celular por lambeduras,
mordeduras ou arranhões (Withrow. & Macewen, 2013; Santos et al, 2005). As lesões
primárias, na maioria dos casos, ocorrem na mucosa genital (McGavin e Zachary,
2009). Outros sítios primários, porém de ocorrência esporádica, são a pele e as
mucosas oral e nasal. Apesar de maligno, o TVT possui baixo índice metastático
(Stockmann et al, 2011). Tumores secundários já foram relatados em diferentes órgãos
como pele, globo ocular, linfonodos, baço e fígado (Cruz apud Batista, 2007).

739
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 273 , 2013

O diagnóstico presuntivo dessa enfermidade é realizado a partir do histórico, sinais


clínicos e exame físico do animal. A macroscopia, muitas vezes é característica, porém
o diagnóstico é obtido a partir da análise citológica ou histopatológica das lesões
(Withrow. & Macewen, 2013). Macroscopicamente, os tumores podem ser únicos ou
múltiplos e variam de pequenos nódulos a extensas massas. Além disso, os tumores
podem ter aspecto nodular, papilar, pedunculado e multilobulado e geralmente,
apresentam-se friáveis e ulcerados (Gross et al, 2005; Meuten, 2002). Citologicamente,
as células do TVT são caracterizadas por núcleos redondos com cromatina grosseira e
um a dois nucléolos evidentes. Citoplasma amplo, pálido a azul claro exibindo
microvacúolos, muitas vezes, dispostos em fileiras. Pleomorfismo e figuras de mitose
são freqüentemente observados (Cowell et al, 2009; Raskin e Meyer, 2011). A
avaliação histopatológica revela neoformação composta por células grandes redondas
ou poliédricas sustentada por estroma conjuntivo delicado. O núcleo varia de vesicular
a granular com nucléolo único e proeminente, e citoplasma em quantidade moderada
variando de pálido a eosinofílico. Além da presença de altas taxas de figuras de mitose
(Gross et al, 2005; Meuten, 2002).
Este trabalho tem como objetivo relatar em um canino, macho, adulto, SRD, portador
de leishmaniose visceral, um caso de tumor venéreo transmissível cutâneo e
mucocutâneo.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi encaminhado ao Serviço de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária de
Araçatuba da Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, FMVA –
UNESP, um canino, macho, adulto, SRD, proveniente do Centro de Controle de
Zoonoses (CCZ) de Araçatuba – SP. Na análise citológica do linfonodo poplíteo foram
observadas formas amastigotas típicas de Leishmania spp.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na necropsia, notou-se aumento de volume na região inguinal de aproximadamente 7,0
cm x 6,0 cm x 5,0 cm, ao corte, presença de área brancacenta e macia focalmente
extensa associada a uma área menor, amarronzada e macia compatível com linfonodo.
A pele da região inguinal, prepúcio, escroto e face medial dos membros posteriores
apresentavam áreas ulcerativas e erosivas difusas e acentuadas e lesões nodulares,
com centro deprimido e avermelhado. A mucosa oral e anal possuíam lesões
multifocais nodulares, com centro deprimido e avermelhado. Na mucosa prepucial e
peniana havia massa vegetativa, macia e com áreas avermelhas entremeadas por
áreas bracancentas.
Exame citológico e histopatológico foi realizado do aumento de volume inguinal, das
lesões cutâneas da região inguinal, prepúcio, escroto, face medial dos membros
posteriores e da mucosa prepucial, peniana, oral e anal. Na análise citológica,
presença de células com quantidade moderada de citoplasma azul-claro e bem
delimitado, tendo a maioria, vários vacúolos claros tanto intracitoplasmáticos como
extracelulares, núcleos redondos com cromatina grosseira e por vezes um ou dois
nucléolos proeminentes. Esses achados microscópicos são característicos de TVT. No
exame histopatológico, presença de células redondas a ovais dispostas em cordões ou
grupos entremeados por finos septos de tecido conjuntivo, com citoplasma pouco
definido, levemente corado e com núcleos grandes e por vezes bizarros. Associado a
esses achados, na análise histopatológica do aumento de volume da região inguinal
observou-se estruturas linfoides características de linfonodo.
Os achados macroscópicos e principalmente citológicos foram conclusivos para o
diagnóstico de tumor venéreo transmissível cutâneo e mucocutâneo associado à
metástase no linfonodo inguinal.
Existem alguns relatos sobre a apresentação cutânea do TVT, mas a observação de
lesões nas mucosas oral e anal como as descritas neste caso não são comumente
relatadas. O diagnóstico clínico baseado no aspecto macroscópico das lesões
740
Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 273 , 2013

cutâneas e mucocutâneas, sugere possíveis diagnósticos diferenciais como doenças


imunomediadas e linfoma epiteliotrópico. Portanto, a realização do exame citológico
para o diagnóstico do TVT cutâneo e mucocutâeno é de extrema importância, sendo
um método rápido, prático e mais acurado que a análise histopatológica. Neste caso, a
ocorrência de TVT na pele, mucosa oral e anal e linfonodo inguinal provavelmente foi
potencializada pelo fato do animal ser positivo para leishmaniose, já que animais
imunossuprimidos são muito mais susceptíveis a metastização.
CONCLUSÃO
O tumor venéreo transmissível deve ser considerado diagnóstico diferencial em casos
de lesões cutâneas e mucocutâneas ulcerativas e erosivas em cães, e o uso da
citologia nesses casos fornece um diagnóstico preciso e rápido.
REFERÊNCIAS
BATISTA, J.S.; SOARES, H.S.; PEREIRA, R.H.M.A. et al. Tumor Venéreo Transmissível com localização
Intraocular e Metástase no Baço. Acta Veterinária Brasilica, v.1, n.1, p.45-48, 2007.
COWELL, R.L.; TYLER, R.D.; MEINKOTH, J.H. et al. Diagnóstico citológico e hematologia de cães e
gatos. 3.ed. São Paulo: MedVet, 2009. p.68-69.
GROSS, T.L.; IHRKE, P.J.; WALDER, E.J. et al. Skin disease of the dog and cat clinical and
histopathologic diagnosis. 2.ed. Blackwell Science, 2005. p.800-802.
MEUTEN, D.J. Tumors of domestic animals. In: MACLACHLAN, N.J; KENNEDY, P.C. Tumors of the
genital systems 4.ed. Iowa State Press, 2002. Cap.11. p.572.
MCGAVIN, M.D; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia em Veterinária. In: FOSTER, R.A. Sistema
Reprodutivo da Fêmea. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Cap.18. p.306.
RASKIN, R.; MEYER, D.J. Citologia clínica de cães e gatos: atlas colorido e guia de interpretação. Rio de
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 274 , 2013

274. TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL EXTRAGENITAL E METASTÁTICO


EM CANINO PRÉ-PÚBERE
(Transmissible venereal tumor extragenital and metastatic in canine prepuberal)

Larissa Guimarães Tanajura Requião¹, Julia Liger de Freitas², Laís Pereira Silva¹,
Alessandra Estrela Lima³, Daniela Farias Laranjeira³, George Willanne Mota dos
Santos Merces4

1 Graduanda em Medicina Veterinária, UFBA.


2 Médica Veterinária autônoma, Salvador/BA.
3 Prof. Adjunto, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFBA.
4 Residente Clínica Cirúrgica de Carnívoros Domésticos, UFBA. alestrela@gmail.com

RESUMO: Objetiva-se relatar e discutir um caso de TVT extragenital metastático em


fêmea canina, pré-púbere, sem raça definida. Para o diagnóstico primário do tumor foi
realizada análise citológica. O tratamento preconizado foi a quimioterapia a base de
sulfato de vincristina associada à ivermectina oral. Para determinação dos sítios de
metástase e diagnóstico diferencial, foram realizadas análise histopatológica e
imunoistoquimica.
palavras-chave: tomografia; tumor de células redondas; vimentina
ABSTRACT: This paper aims to report and discuss a case of metastatic extragenital
TVT female canine, prepubescent mongrel. For the diagnosis of the primary tumor was
performed cytological analysis. and determination of sites of metastasis and differential
diagnosis was performed histopathological examination followed by
immunohistochemistry. The patient was treated with chemotherapy the basis of
vincristine sulfate associated with oral ivermectin. The cytological analysis established
the diagnosis of TVT and microscopic evaluation of the lung, pleura, eyes, liver and
kidney, confirmed the infiltration of these organs by TVT.
key word: tomography; round cell tumor; vimentin
INTRODUÇÃO
O tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia de células redondas,
transplantável, sexualmente transmissível, que desenvolve no cão (Harmelin et al.,
2001). O paciente portador de TVT é, na maioria das vezes, um cão adulto jovem.
Contudo, é possível que animais que ainda não atingiram a maturidade sexual,
contraiam a doença a partir do contato direto com a mãe ou com outros animais
doentes (Rocha et al., 2008). Depois do aparelho reprodutor a pele é o principal sítio de
acometimento do TVT (Ribeiro e Zappa, 2008), porém metástases extracutâneas são
pouco frequentes, (Costa, 2009). Entretanto, pode ocorrer o desenvolvimento do tumor
primário em outras regiões corpóreas sem acometimento prévio da genitália (Rogers,
1997). Desta forma, objetivou-se a partir deste relato, apresentar e discutir um caso de
TVT extragenital metastático em fêmea canina, pré-púbere, sem raça definida, atendida
no Hospital de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
MATERIAIS E MÉTODOS
Uma cadela sem raça definida, de sete meses foi atendida no Hospital Veterinário da
UFBA. Ao exame clínico, a paciente apresentou intensa dificuldade respiratória. O
exame radiográfico e tomográfico de tórax revelou imagem sugestiva de neoplasias
disseminadas pelo parênquima pulmonar. Após 5 dias, notou-se o aparecimento de
variadas formações nodulares na pele, mucosa gengival e comissura palpebral medial
do olho direito. Com a análise citológica firmou-se o diagnóstico de TVT de padrão
misto e deu-se inicio a terapia com sulfato de vincristina associado à ivermectina (0.6
mg/kg). Apesar da redução de aproximadamente 90% das lesões, o protocolo
terapêutico foi insuficiente para remissão completa das nodulações torácicas ainda
perceptíveis na última radiografia. O óbito do animal ocorreu 30 dias após interrupção
do tratamento. O cadáver foi encaminhado ao Setor de Patologia Veterinária (LPV) do
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 274 , 2013

HOSPMEV para realização de necropsia. Os fragmentos dos órgãos que apresentaram


lesões foram colhidos, fixados em formol a 10% e processados pela técnica rotineira de
inclusão em parafina e corados pela hematoxilina-eosina. Fragmentos da neoplasia
também foram submetidos à análise imunoistoquímica com os marcadores C-kit, anti-
citoqueratinas AE1 e AE3, anti-CD3 e anti-vimentina, para exclusão de outros tipos de
tumores de células redondas.
RESULTADOS
Na cavidade torácica foi verificada presença de nódulos, branco-amarelados,
milimétricos, firmes localizados na pleura parietal e diafragma. Os pulmões estavam
com nódulos que mediam entre 0,3x0,4x0,5cm e 2,5x2,5x3,0cm, bem delimitados,
amarelados e firmes. A superfície de corte variava de compacta a cavitária. O fígado
apresentava pontos milimétricos branco-amarelados que se aprofundavam no
parênquima ao corte. O baço apresentou um dos polos aumentado de volume e
coloração intensamente avermelhada. Os rins bilateralmente apresentaram pontos
brancacentos multifocais que se aprofundavam ao corte. À avaliação microscópica, do
pulmão, pleura, olhos, fígado e rim, ratificou a infiltração neoplásica destes órgãos
pelas células neoplásicas. Em sua maioria estavam vacuolizadas e morfologicamente
alteradas. Foram observadas células grandes, redondas, moderadamente
pleomórficas, com aspecto plasmocitóide e linfocitoide, caracterizando o padrão misto.
A imunoistoquímica revelou forte marcação para vimentina e ausência de marcação
para os demais anticorpos avaliados (C-kit,anticitoqueratinas AE1 e AE3 e anti-CD3) .
DISCUSSÃO
O animal foi resgatado da rua com poucos dias de vida, aparentemente saudável.
Contudo, a mãe do animal era portadora de TVT genital. Diante desta importante
informação, algumas possibilidades foram aventadas no que se refere à transmissão
do TVT, a exemplo da ativação espontânea de oncogenes, transmissão por contato
direto entre filhote e mãe e transmissão via sanguínea pelo cordão umbilical, sendo
essa ultima a opção mais provável. Possivelmente a cadela adquiriu o TVT a partir do
contato do cordão umbilical com o sangue materno. Em estudos cães via artéria
pulmonar, originaram lesões com características morfológicas e de distribuição das
metástases para fígado e linfonodos semelhantes às observadas no animal em questão
(Ahrar et al., 2002; Rivera et al., 2005).Vale ressaltar que o tratamento quimioterápico
administrado induz modificações na morfologia clássica das células do TVT, a exemplo
do que foi observado no caso em questão. Neste contexto, o painel imunoistoquimico
realizado se mostrou muito eficaz na exclusão de outras neoplasias, bem como na
reafirmação do diagnóstico de TVT a partir da imunorreação com a vimentina (Marchal
et al., 1997). Apesar do sulfato de vincristina ser considerado o protocolo mais eficiente
no tratamento do TVT (Rodrigues et al., 2001), no caso em questão não foi observada
remissão completa das lesões mesmo com a associação da ivermectina que,
comprovadamente, possui ação inibitória a resistência a múltiplas drogas, potencializa
o efeito da vincristina e, portanto, apresenta melhores resultados que o citostático
isolado (Korystov et al., 2004).
CONCLUSAO
Uma cadela acometida é uma importante fonte de transmissão para os seus filhotes
que podem contrair a doença por meio do contato direto, lambedura, aspiração e via
sanguínea, pelo cordão umbilical. E, apesar de pouco frequente, o envolvimento
pulmonar por TVT sem acometimento prévio do órgão reprodutor pode ocorrer e deve
ser considerado como possibilidade diagnóstica nos casos de alterações do sistema
respiratório, inclusive em cães pré-púberes.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 274 , 2013

REFERÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 275 , 2013

275. ÚLCERA PERFURADA EM GATO ASSOCIADA AO USO DE NIMESULIDA


(Perforated ulcer in a cat by using nimesulide)

Juliano Menegoto, Mayane Faccin, Joice Rychcik da Silva, Altamir Corso, Juliana
Geraldi, Fabiana Elias
Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Realeza, PR, Brasil. fabiana.elias@uffs.edu.br

RESUMO: A úlcera cursa com a destruição da mucosa e submucosa do estômago.


Uma das causas desta afecção é o uso descontrolado de anti-inflamatórios não
esteroides não seletivos para COX-2. O objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência
de peritonite por perfuração de úlcera gástrica causada por uso indiscriminado de
nimesulida. Foi submetido à necropsia um gato macho com histórico de dor na mão
esquerda, tratada com nimesulida pelo proprietário. Na cavidade abdominal observou-
se peritonite fibrino-hemorrágica e uma úlcera perfurada na região de piloro, além de
alterações renais e hepáticas. O uso indiscriminado do fármaco com doses
inadequadas por um período relativamente longo levou à degradação gradual da
mucosa com formação de úlcera seguida de perfuração. É necessário conscientizar a
população quanto os riscos da medicação por conta própria.
Palavras Chave: anti-inflamatório; choque hipovolêmico; peritonite
ABSTRACT: Gastric ulcer progresses with the destruction of the mucosa and
submucosa of the stomach. One cause of this condition is the uncontrolled use of anti-
inflammatory drugs for non-selective COX-2. The objective of this study is to report the
occurrence of peritonitis caused by perforation of gastric ulcer caused by indiscriminate
use of nimesulide. He was submitted to necropsy a male cat with a history of pain in his
left hand, treated with nimesulide by the owner. Abdominal cavity was observed fibrin-
hemorrhagic peritonitis and a perforated ulcer in the region of the pylorus, as well as
renal and hepatic alterations. The indiscriminate use of the drug with inadequate doses
for a relatively long period led to gradual degradation of the mucosa with ulcer formation
followed by perforation. It is necessary to educate the public about the risks of the
medication on their own.
Key Words: anti-inflammatory; hypovolemic shock; peritonitis
INTRODUÇÃO
A úlcera gástrica corresponde a um defeito na mucosa, onde se observa a destruição
do revestimento epitelial ou até mesmo da membrana basal (GELBERG, 2007).
Inúmeras etiologias levam à formação de úlceras, principalmente alterações sistêmicas,
lesão direta por ingestão de corpos estranhos ou ação de fármacos principalmente da
classe de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) (DENOVO, 2005). Independente
da causa, este distúrbio cursa com um desequilíbrio da secreção gástrica e do muco
protetor (BRZOZOWSKI, 2003). Os AINEs têm potencial ulcerativo, pois estão
associado à redução da síntese de prostaglandinas protetoras através da inibição da
cicloxigenase (COX), com consequente aumento na produção de leucotrienos (CHAN
et al., 2002). A nimesulida é um anti-inflamatório classificado AINEs, porém, não está
no grupo dos principais anti-inflamatórios ulcerogênicos (ASTERIA, et al., 2005). Na
literatura consultada há pouca informação sobre os efeitos ulcerativos da nimesulida
em pequenos animais e, assim, o objetivo do presente relato é descrever a morte de
um felino provocada pelo rompimento de uma úlcera gástrica, associada à
administração de nimesulida, em dosagens superiores às recomendadas.
MATERIAIS E MÉTODOS
Realizou-se a necropsia de um felino, macho, não castrado, com 1,3 anos de idade,
sem raça definida, com aproximadamente 3 Kg, sem histórico de doenças prévias. O
proprietário notou que o animal apresentava claudicação do membro torácico esquerdo
e forneceu ¼ de comprimido de nimesulida 100mg, com intervalos de três dias. Três

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 275 , 2013

dias após a suspensão do tratamento o animal foi encontrado morto. Durante a


necropsia, fragmentos de tecidos foram coletados e fixados em formalina 10%
tamponada com posterior processamento para histopatologia, seguindo as técnicas de
rotina e corados com o método de Hematoxilina e Eosina.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Ao exame macroscópico, constatou-se que as mucosas visíveis apresentavam-se
acentuadamente pálidas, e o abdômen com aumento de volume flutuante. À incisão da
cavidade abdominal, observou-se aproximadamente 200 mL de líquido vermelho
escuro e presença de filamentos friáveis amarelados. As serosas encontravam-se
hiperêmicas e os vasos do mesentério estavam acentuadamente ingurgitados,
caracterizando um quadro de peritonite fibrinosa (ZIMMERMANN et al., 2006). No
estômago, na região pilórica, observou-se uma perfuração de um centímetro de
diâmetro com bordos arredondados e avermelhados com extravasamento de conteúdo
gástrico. Infere-se que a úlcera no presente relato tenha sido ocasionada pela
administração de doses elevadas de nimesulida, conforme o relato do proprietário. O
mecanismo de toxicidade da nimesulida ainda não está bem elucidado. Sugere-se que
seu mecanismo de ação esteja ligado a produção de metabólitos reativos, que levam
ao stress oxidativo com destruição mitocondrial (BORKU et al., 2008). Entretanto, há
contradição em relação à toxicidade da nimesulida. Alguns autores afirmam que este
fármaco é seguro para animais domésticos com efeitos adversos irrelevantes quando
comparado ao efeito anti-inflamatório (COSTA et al., 2007 ). Por outro lado, RAMESH
et al. (2001) caracterizam como extremamente tóxica na administração de 2mg/kg BID,
podendo ser responsável pela formação de ulcerações gástricas. O animal do presente
relato ingeriu uma dose aproximadamente quatro vezes maior o que levou a
degradação gradual da mucosa e à formação da úlcera seguida de perfuração
(CORRUZI et al., 2004), o que justifica as alterações encontradas na necropsia,
juntamente com o grave quadro de peritonite e choque hipovolêmico pela mobilização
de líquido e hemorragia associados (ZIMMERMANN et al., 2006), decorrente da
descarga direta do conteúdo estomacal na cavidade abdominal. O fígado estava menos
friável, com leve acentuação do padrão lobular. A avaliação histológica revelou
infiltrado inflamatório em decorrência da sepse. As alterações encontradas permitiram
realizar o diagnóstico diferencial de Peritonite Infecciosa Felina (PIF) que tem como
lesão característica uma inflamação piogranulomatosa em torno dos vasos,
principalmente de vênulas (OLIVEIRA et al., 2003).
CONCLUSÃO
O uso indiscriminado de fármacos sem indicação ou receituário é um grande problema
tanto na Medicina Humana quanto na Medicina Veterinária. É imprescindível reduzir
esta prática para evitar a ocorrência de novos casos. Para tanto, campanhas de
conscientização à população são boas ferramentas para repassar os riscos da
medicação por conta própria e diminuir os problemas graves que podem advir desta
prática.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 275 , 2013

REFERÊNCIAS
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 276 , 2013

276. UTILIZAÇÃO DE UMA MEMBRANA DE HIDROXIAPATITA E


POLICAPROLACTONA NO TRATAMENTO DA DOENÇA PERIODONTAL INDUZIDA
EM CÃES: ASPECTOS HISTOLÓGICOS
(Use of a hydroxyapatite and polycaprolactone membrane in the treatment of
experimental periodontal disease in dogs: histological features)

Fabrício Luciani Valente (UFV), Lívia Marina Alvarenga Martins (UFV), Emily Correna
Carlo Reis (UFV), Rodrigo Viana Sepúlveda (UFV), Ana Paula Lima Perdigão (UFV),
Andréa Pacheco Batista Borges (UFV)

RESUMO: O trabalho avaliou a utilização de hidroxiapatita e policaprolactona


associadas no tratamento da doença periodontal pela técnica da regeneração tecidual
guiada. Doze cadelas foram submetidas à indução da doença, com defeito de furca
classe II nos 3.° e 4.° pré-molares e, após tratamento convencional, seis delas
receberam o implante. Após 60 dias, dentes e periodonto foram coletados e avaliados
por histologia, que revelou infiltrado inflamatório e tecido conjuntivo organizado
preenchendo o defeito nos dois grupos, sendo que osso novo foi observado apenas na
borda apical. Invasão epitelial foi mais intensa no grupo controle. A membrana pode ter
limitado a proliferação de tecido no defeito, mas não preveniu a invasão epitelial. O
efeito do tratamento na regeneração do periodonto de sustentação não pôde ser
verificado, provavelmente por necessitar de um período maior de observação.
Palavras chave: biomaterial, odontologia veterinária; regeneração tecidual guiada
ABSTRACT: The study evaluated the use of hydroxyapatite and polycaprolactone
associated in the treatment of periodontal disease by the technique of guided tissue
regeneration. In 12 bitches, the disease were inducted by a class II furcation defect on
the 3rd and 4th premolars and after conventional treatment, six of them received the
implants. After 60 days, teeth and periodontal tissues were harvested and evaluated by
histology that revealed inflammatory infiltrate and organized connective tissue filling of
the defect in the two groups, and new bone was observed only in the apical border.
Epithelial invasion was more intense in the control group. The membrane may have
limited the proliferation of tissue in the defect but did not prevent epithelial invasion.
The effect of treatment on periodontal regeneration support could not be verified;
probably a longer observation period is necessary.
Keywords: biomaterial; guided tissue regeneration; veterinary odontology
INTRODUÇÃO
A doença periodontal (DP) tem grande importância tanto em humanos quanto em cães
por sua alta prevalência (Harvey e Emily, 1993; Fernandes et al., 2012), suas
consequências locais (Legendre, 2003) e sua relação com afecções sistêmicas ou em
outros órgãos (Accarini e Godoy, 2006). O tratamento convencional da doença não é
capaz de promover uma regeneração adequada do periodonto de sustentação (Cirelli
et al., 1997; Roriz et al., 2006) e, por isso, a aplicação de biomateriais em técnica de
regeneração tecidual guiada tem se tornado um importante foco de estudo (Reis et al.,
2011a). O presente trabalho utiliza uma matriz composta por 60% de hidroxiapatita e
40% de policaprolactona. Essa formulação permite associar as propriedades bioativas
da hidroxiapatita (Borges et al, 2000) com as propriedades mecânicas do polímero
(Cho et al., 2009), para o desenvolvimento de uma membrana maleável que se integre
aos tecidos.
MATERIAL E MÉTODOS
Doze cadelas foram submetidas ao protocolo de indução da DP pela produção de
defeito crônico de furca classe II nos 3.º e 4.º pré-molares, conforme descrito por Reis
et al. (2011b). Os animais foram divididos nos grupos: (1) Controle, que recebeu
apenas profilaxia convencional para DP, com escovação diária dos dentes e aplicação
de solução de clorexidine duas vezes ao dia por duas semanas; e (2) Tratado, no qual,
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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 276 , 2013

além do emprego do programa profilático, foi implantada a membrana entre o retalho


gengival e o osso alveolar, no qual foi fixada com o auxílio de um parafuso de titânio.
Aos 60 dias após a cirurgia, os animais foram submetidos a eutanásia e as peças
dentárias foram coletadas, fixadas em formol e processadas segundo técnicas
rotineiras de histologia. Para o 3.º pré-molar, foram obtidos cortes transversais a partir
da linha cemento-esmalte na direção apical, e para o 4.º pré-molar, cortes longitudinais
no sentido vestibular. Foram avaliados o tipo de tecido presente no defeito, o infiltrado
inflamatório e a regeneração do tecido periodontal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O corte longitudinal possibilitou a visualização de toda a extensão do defeito, inclusive
de parte do osso remanescente na extremidade apical. Em ambos os grupos, o defeito
foi preenchido por tecido conjuntivo organizado, com focos difusos de infiltração
inflamatória. Christgau et al. (2007), em estudo semelhante, também observaram a
proliferação desse tipo de tecido após quatro semanas do implante e, após 120 dias, a
formação de trabéculas ósseas. No presente trabalho, a formação óssea ficou restrita a
borda apical do defeito, onde puderam ser observados tecido conjuntivo indiferenciado,
osteoblastos ativos, e matriz óssea recém-formada. Além disso, em alguns pontos,
houve formação de uma matriz laminar homogênea ao longo da raiz do dente, onde
previamente encontrava-se o cemento, que foi raspado no protocolo de indução. Como
mostra Araújo e Lindhe (1998), a regeneração do cemento ocorre pela proliferação de
sua porção celular, localizada no terço apical da raiz. Assim, os cementoblastos
produzem uma matriz, cujas fibras intrínsecas são substituídas pelas fibras de Sharpey,
regenerando o ligamento periodontal. Entretanto, a ocorrência natural da regeneração
do periodonto é limitada (Wikesjo et al., 2003) e, no presente estudo, não se pode
afirmar que a membrana tenha favorecido esses eventos, visto que as características
observadas foram semelhantes em ambos os grupos. A principal diferença relacionada
ao tratamento pôde ser verificada no corte transversal do 3.º pré-molar. No controle,
houve maior proliferação de tecido conjuntivo e epitelial gengival; no tratado, a
membrana pode ter limitado a proliferação tecidual, mas não impediu a invasão
epitelial, o que não é desejável na regeneração tecidual guiada (Bosshardt et al. 2009).
CONCLUSÕES
A utilização da técnica de regeneração tecidual guiada diminuiu a proliferação epitelial
para dentro do defeito, entretanto, não promoveu uma melhor regeneração do
periodonto que no grupo controle, no período de observação do presente estudo.
Agradecimento
Os autores agradecem as agências FAPEMIG, CAPES e CNPq pela concessão de
financiamento e bolsas de pesquisas.
Estes resultados são parte do projeto aprovado pelo protocolo número 014/2012 da
Comissão de Ética da UFV.

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Archives of Veterinary Science, v. 18, (supl.2) RESUMO 276 , 2013

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277. VÍRUS DA CINOMOSE CANINA NA REGIÃO CENTRO OESTE DO BRASIL


(Canine distemper viruses in Midwestern Brazil)

Camila Gonçalves de Campos¹, Leticya Lerner Lopes², Samara Rosolem Lima³, Caio
Resende Docal¹, Raquel Aparecida Sales da Cruz4, Caroline Argenta Pescador5

1 Graduando em Medicina Veterinária(UFMT) Cuiabá, Mato Grosso, Brasil; cgcamposvet@hotmail.com;


2 Mestranda no Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias – UFMT,
3 Médico Veterinário Residente, UFMT,
4 Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias –UFRGS, Rio Grande do Sul,
5 Professora Adjunto, UFMT – Cuiabá, Mato Grosso, Brasil

RESUMO: Vírus da cinomose canina (CDV) é um vírus RNA de fita negativa


pertencente ao gênero Morbillivirus da família Paramyxoviridae. O objetivo do estudo
foi classificar as alterações microscópicas no sistema nervoso central (SNC) de cães
com diagnóstico de CDV por histopatologia e imuno-histoquímica (IHQ). Um total de 90
cães foram necropsiados no Laboratório de Patologia Veterinária da UFMT entre
fevereiro de 2012 e fevereiro de 2013. Durante o período de um ano, 80% (64/80) dos
cães necropsiados apresentaram lesões microscópicas no SNC sugestivas de CDV,
dos quais 73,4% (47/64) foram confirmados pela IHQ. Microscopicamente, as lesões do
SNC foram classificadas como agudas em 17,2% (8/47), subagudas em 72,4% (34/47)
e crônicas em 10,6% (5/46) dos casos. CDV deve ser considerado um importante
agente viral em cães com sinais clínicos neurológicos em Cuiabá, sendo a imuno-
histoquímica uma ferramenta útil no diagnóstico post-mortem.
Palavras-chave: desmielinização; imunohistoquímica; sinais neurológicos; sistema
nervoso central.
ABSTRACT: Canine distemper virus (CDV) is an enveloped negative-strand RNA virus
classified under the genus Morbillivirus within the family of Paramxyoviridae. The aim of
the study is to classify the microscopic changes in the central nervous system (CNS)
from dogs with previous diagnosis of CDV by histopatology and immunohistochemistry
(IHC). A total of 90 dogs were necropsied at the Veterinary Pathology Laboratory UFMT
between February 2012 and January 2013. During one year, 80% (64/80) of the dogs
necropsied had microscopic lesions in CNS suggestive of CDV of which 73.4% (47/64)
were confirmed by IHC. Microscopically, the CNS lesions were classified in acute 17.2%
(8/47), in subacute 72.4% (34/47) and chronic 10.6% (5/46) of the cases. The CDV
should be considered an important viral agent in dogs showing neurological clinical
signs in Cuiabá and immunohistochemistry test is a useful tool in the post-mortem
diagnosis.
Key word: central nervous system; demyelinating; immunohistochemistry; neurologic
signs
INTRODUÇÃO
Cinomose canina é uma doença infecciosa causada pelo CDV, membro do gênero
Morbillivirus e da família Paramyxoviridae (Koutinas et al. 2002). CDV é o principal
responsável pela encefalite em cães de diferentes idades (Martella et al., 2008) e é o
segundo principal agente infeccioso responsável pela morte de filhotes no Brasil
(Fighera et al., 2008). A lesão histológica mais comum observada no CDV é a
desmielinização da substância branca, infiltrados perivasculares de linfócitos e
corpúsculos de inclusão em astrócitos e em células epiteliais do estômago e bexiga
(Schobesberger et al. 2002). Apesar do vírus da cinomose ser uma das principais
causas de mortalidade em cães do Brasil, pouca informação está disponível sobre a
característica da cinomose canina na região de Cuiabá, Mato Grosso. Assim, o objetivo
deste estudo foi classificar as alterações microscópicas no encéfalo de cães positivos
na imunohistoquímica para cinomose.

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MATERIAL E MÉTODOS
Para esse estudo 90 cães foram selecionados. Estes foram necropsiados no
Laboratório de Patologia Veterinária da UFMT entre fevereiro de 2012 e janeiro de
2013. Fragmentos de todos os órgãos incluindo o SNC foram coletados, fixados em
formol tamponado a 10% e processados rotineiramente para estudos histológicos
(Behmer et al.,1976). Dados gerais como idade, raça sexo, e achados macroscópicos
foram registrados. As lesões microscópicas do SNC foram classificadas em aguda
quando havia astrogliose leve a moderada e ausência de lesões inflamatórias,
subaguda as quais foram caracterizadas por desmielinização leve a moderada da
substância branca, com infiltrado perivascular leve a moderado composto por linfócitos
e corpúsculos de inclusão em astrócitos e crônica, caracterizada por acentuada
desmielinização, com infiltrado perivascular acentuado composto por linfócitos e
corpúsculos de inclusão em astrócitos (Schobesberger et al. 2002,). IHQ foi realizada
através do protocolo estabelecido por Sonne et al., 2009. Seções histológicas de SNC
de um cão com CDV foram utilizadas como controle. Nos casos em que o SNC não foi
positivo, mas as lesões sugestivas de infecção pelo CDV foram observadas,
fragmentos de pulmão, estômago e bexiga foram submetidos à IHQ para confirmar o
diagnóstico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desses 90 casos, 80 (88,8%) apresentaram sinais clínicos neurológicos caracterizados
principalmente por mioclonia 43,7% (35/80), convulsão 40,0% (32/80), dificuldade de
locomoção 38,7% (31/80) e vocalização 10% (8/80). Um total de 80% (64/80) dos cães
apresentaram lesões microscópicas no SNC, dos quais 73,4% (47/64) marcaram
positivamente na IHQ. Destes, 29 (62%) eram fêmeas e 18 (38%) eram machos.
Dentre as raças, os cães sem raça definida (SRD) foram os mais acometidos com
65,9% (31/80) dos casos sendo, 51% (24/80) dos animais com menos de um ano de
idade. Macroscopicamente, foram observados em 40,4% (19/47) dos casos, pulmões
não colabados, 38,2% (18/47) atrofia do timo, 12,7% (6/47) hiperqueratose do coxim
plantar e 8,5% (4/47) secreção nasal e ocular. Microscopicamente a alteração mais
observada foi a desmielinização em 85,1% (40/47) dos casos. As lesões no SNC foram
classificadas como aguda em 17,2% (8/47), como subagudas 72,4% (34/47) e como
crônicas 10,6% (5/46). Em (44/47) dos casos, o cerebelo (93,6%) foi a parte do
encéfalo mais positivo na IHQ. O resultado dos exames macroscópicos,
histopatológicos e imunohistoquímicos realizados foram consistentes com a doença
clínica causada pelo vírus da cinomose canina (Koutinas et al. 2002) A desmielinização
é vista principalmente nos processos subagudos e crônicos, provavelmente, associada
com a entrada do vírus pelo líquido cefalorraquidiano que por sua vez, cruza a barreira
hematoencefálica replicando-se em neurônios e células gliais. (Koutinas et al. 2002).
Dentre as partes do encéfalo submetidas à IHQ, o cerebelo foi o local de maior
positividade, devido, provavelmente possivelmente a um maior tropismo de replicação
do vírus nesta região (Silva et. al 2009).
CONCLUSÕES
Na população de cães em Cuiabá, o CDV tem constituído uma doença de importância
como causa de quadro clínico neurológico em cães. Microscopicamente, predominou
nesse estudo as alterações que caracterizam a doença de evolução que foram
observadas em 72,5% dos casos. A combinação da histopatologia e imuno-
histoquímica é útil para obter um diagnóstico definitivo da doença.

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