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Editorial

A Escola de Veterinária e o Conselho Regional


de Medicina Veterinária, com satisfação, novamen-
te disponibilizam para a comunidade de leitores o
segundo número do Cadernos Técnicos, de 2012.
Com este número, tanto a Escola quanto o Con-
selho mantêm consolidada a parceria e seu com-
promisso com a comunidade veterinária de Minas
Gerais.
O número 2, tratando do tema leishmaniose,
mostra a inserção da Escola e do Conselho na aná-
lise crítica, discussão aprofundada e busca de solu-
ções contemporâneas, validadas pela pesquisa, para
equacionar problemas trazidos por essa zoonose,
que atinge Minas Gerais e outras regiões do país.
Portanto, parabéns à comunidade de leitores
que utilizam o Cadernos Técnicos para sua educa-
ção continuada, uma experiência que transcende os
anos de graduação e pós-graduação.
Universidade Federal Ainda, a Escola de Veterinária tem a satisfação
de Minas Gerais
de divulgar a celebração dos seus 80 anos, incluindo
Escola de Veterinária
Fundação de Estudo e Pesquisa em uma página com sua história de consistência e com-
Medicina Veterinária e Zootecnia
- FEPMVZ Editora
promisso com o ensino, com o profissional e com a
sociedade.
Conselho Regional de
Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais Prof. Antonio de Pinho Marques Junior
- CRMV-MG Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)

Correspondência:
Prof. José Aurélio Garcia Bergmann
FEPMVZ Editora
Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
Caixa postal 5671 Prof. Marcos Bryan Heinemann
30123-970- Belo Horizonte - MG Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
Telefone: (31) 3409-2042
E-mail: journal@vet.ufmg.br Prof. Nivaldo da Silva
CRMV-MG nº 0747 – Presidente do CRMV-MG

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Conselho Regional de Medicina
Veterinária do Estado de Minas
Gerais - CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva

E-mail:
crmvmg@crmvmg.org.br

CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ

Editor da FEPMVZ Editora:


Prof. Antônio de Pinho Marques Junior

Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:


Prof. Marcos Bryan Heinemann

Editora convidada para edição 65:


Danielle Ferreira de Magalhães Soares

Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno Moreira

Tiragem desta edição:


9.100 exemplares

Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.

Fotos da capa:
Fabiana Lara, Luiz Felipe e www.bigstockphoto.com

Impressão:
Imprensa Universitária

Permite-se a reprodução total ou parcial,


sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG)

N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.

N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP
MVZ Editora, 1998-1999

v. ilustr. 23cm

N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP MVZ
Editora, 1999¬Periodicidade irregular.

1.Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem Animal, Tecnologia
e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.

I. FEP MVZ Editora, ed.

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Prefácio
Danielle Ferreira de Magalhães Soares

Médica Veterinária, Professora de Epidemiologia da Escola de Veterinária da


Universidade Federal de Minas Gerais

A leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose


grave de transmissão vetorial e de grande impor-
tância em saúde pública. Atualmente, encontra-
-se presente nas cinco regiões brasileiras, e os
casos em humanos e caninos têm aumentado de
forma significativa em áreas urbanas brasileiras.
Em Belo Horizonte, nos últimos anos, ocorre-
ram aproximadamente 100 casos anuais com
alta letalidade, em média 13,5%, variando de
6,3% no ano de 1996 a 23,6% em 2009.
O Programa de Controle da Leishmaniose
Visceral tem como objetivo a redução das ta-
xas de letalidade e do grau de morbidade, assim
como a diminuição dos níveis de transmissão da
doença. As estratégias propostas são: diagnós-
tico e tratamento precoces dos casos humanos,
identificação e eliminação de reservatórios do-
mésticos, sendo o cão o principal em área urba-
na, controle vetorial e educação em saúde. As
medidas de controle usualmente empregadas
não têm apresentado, em muitas regiões do país,
efetividade suficiente para redução da incidên-
cia e da letalidade da doença, sendo esta consi-
derada atualmente o principal problema da LV.
Um maior conhecimento científico sobre o
papel específico de cada elemento da cadeia de
transmissão (agente etiológico, inseto transmis-
sor, homem e reservatórios silvestres e domésti-
cos) representa um dos maiores desafios para o
aprimoramento das estratégias de controle.
O papel do cão no cenário atual, a descober-
ta de novos reservatórios e vetores, as dificulda-

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des nos diagnósticos canino e humano, a recu-
sa dos proprietários de animais em atender às
solicitações do serviço público, a proibição do
tratamento canino, as comorbidades em huma-
nos, responsáveis pela alta letalidade da doença,
as perspectivas das vacinas anti-leishmaniose
visceral, o difícil controle vetorial, entre outros
fatores, tornam o combate à LV um grande de-
safio para o setor público e o privado.
Nesse cenário, a educação permanente dos
médicos veterinários é imprescindível, uma vez
que é papel desse profissional zelar pela saúde
e pelo bem-estar tanto da população humana
quanto da animal, promovendo o repasse de sa-
beres voltados à guarda responsável de animais,
ao cuidado com seus ambientes domésticos, ao
uso racional de medicamentos e produtos vol-
tados à prevenção dos cães, ao comércio de ani-
mais, às questões relativas ao bem-estar animal
e ao controle de vetores e outros reservatórios
da LV.
Esta edição do Caderno Técnico visa en-
globar, de forma multidisciplinar, aspectos epi-
demiológicos, entomológicos, clínicos e edu-
cacionais, gerando um campo para a discussão,
o aprendizado e a problematização da situação
da LV, com ênfase na discussão de novas estra-
tégias, mais viáveis e efetivas, para serem empre-
gadas no Programa de Vigilância e Controle.
Espera-se, dessa forma, alcançar maior in-
serção da comunidade no controle da LV com
melhor reestruturação do programa de controle
da doença, o que pode refletir na redução dos
casos de LV entre os homens e os animais.

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Sumário
Leishmanioses do Novo Mundo.........................................................................9
Revisão dos aspectos sobre a urbanização das leishmanioses e a importância
da identificação de reservatórios de Leishmania sp. para o estabelecimento de
medidas eficientes de controle.
Aspectos entomológicos das leishmanioses....................................................28
Revisão sobre a biologia e ecologia dos flebotomíneos, principais espécies
vetoras das leishmanioses.
Vetores mecânicos da leishmaniose visceral canina..........................................36
O artigo aborda outros mecanismos de transmissão envolvidos na
epidemiologia da leishmaniose visceral canina, além da transmissão natural
pela picada de fêmeas de flebotomíneos da espécie Lutzomyia longipalpis.
Vigilância e controle da leishmaniose visceral no contexto urbano................44
Revisão sobre a situação da leishmaniose no mundo e no Brasil e sobre
medidas propostas para seu controle.
Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC.......................................................74
Revisão sobre os avanços, limitações e perspectivas relacionados aos aspectos
clínicos, de diagnóstico e do tratamento da LVC.
Leishmaniose visceral felina..........................................................................104
Revisão sobre os principais aspectos epidemiológicos, sinais clínicos,
diagnóstico e tratamento da infecção de gatos domésticos por L. Infantum.
Uma revisão sobre a vacinação canina e a vacina de FML.............................115
Revisão sobre características imunológicas, de registro e comercialização das
vacinas contra leishmaniose visceral canina.
Desenvolvimento de vacinas contra a LVC ...................................................119
O artigo aborda as formulações vacinais contendo o antígeno A2
Imunogenicidade e eficácia de proteção em camundongos e cães e , Testes pré-
clínicos em primatas não humanos
Educação em saúde e guarda responsável......................................................126
Revisão sobre a Aquisição de conhecimento, Avaliação de material informativo
disponível, Medidas de intervenção para leishmaniose visceral e A guarda
responsável de animais como auxílio ao programa de controle da doença

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Leishmanioses do

bigstockphoto.com
Novo Mundo
Estudo de hospedeiros não humanos e
sua importância para a compreensão da
ecoepidemiologia da doença
Eduardo de Castro Ferreira1,2, Lutiana Amaral de Melo1,3 , Célia Maria Ferreira Gontijo1

1
Fundação Oswaldo Cruz - Belo Horizonte, MG
2
Universidade Federal de Ouro Preto - Ouro Preto, MG
3
Fundação Ezequiel Dias - Belo Horizonte, MG
E-mail: ecferreira9@yahoo.com.br

1. Introdução das. O gênero Leishmania apresenta em


seu ciclo biológico formas amastigotas,
Os parasitos do gênero Leishmania com flagelo interno e cinetoplasto visí-
são organismos unicelulares, digené- vel em forma de bastão. Essas vivem e
ticos, pertencentes ao sub-reino Pro- multiplicam-se no interior de células do
tozoa, ordem Kinetoplastida, família sistema monocítico fagocitário (SMF)
Trypanosomatidae1. Esse gênero cons- dos hospedeiros vertebrados2, que são
titui um grupo de espécies morfologica- mamíferos de diferentes ordens, entre
mente muito similares, biologicamente elas roedores, marsupiais, edentados,
distintas, com características genéticas, carnívoros e primatas.3,4,5
bioquímicas e imunológicas diferencia- A transmissão do parasito entre os
Leishmanioses do Novo Mundo 9

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hospedeiros vertebrados tores e reservatórios,
A transmissão do
ocorre pela picada de fê- maior o número de tá-
parasito ocorre pela
meas de insetos perten- xons que pode ser en-
picada de fêmeas de
centes à ordem Díptera, contrado no mesmo
insetos pertencentes à
família Psychodidae, foco. A epidemiologia
ordem Díptera.
subfamília Phleboto- das leishmanioses so-
minae.6 Ao picarem um mente pode ser com-
animal parasitado, esses insetos po- preendida mediante conhecimento de
dem, juntamente com o sangue, sugar todos os elos que compõem seu ciclo
formas amastigotas, que, no interior de de transmissão, como reservatórios e
seu tubo digestório, transformam-se em vetores envolvidos e suas relações eco-
promastigotas e multiplicam.2 No trato lógicas.11,12
alimentar do inseto vetor, são encontra- Diante da necessidade crescente de
das as formas promastigotas e paramas- elucidar as fontes de infecção em dife-
tigotas com flagelos longos.2,7 As formas rentes áreas endêmicas para as leishma-
primeiras também são cultivadas em nioses, o presente trabalho tem como
meios axênicos8, como o LIT (Liver In- objetivo levantar algumas questões re-
fusion Tryptose) e o NNN (Novy Mc lacionadas ao estudo de hospedeiros de
Nel e Nicolle). Leishmania spp., bem como a importân-
Atualmente são conhecidas cerca de cia desses hospedeiros e das diferentes
trinta espécies de Leishmania que infec- técnicas de diagnóstico empregadas no
tam mamíferos, agrupadas e classifica- seu estudo para a elucidação da ecoepi-
das em dois subgêneros: Leishmania e demiologia da doença.
Viannia.9
As leishmanioses compreendem 2. Revisão de literatura
um grupo de doenças parasitárias, am-
plamente distribuídas em países tropi-
2.1. Urbanização das
leishmanioses e
cais e subtropicais,
dificuldades de
em ciclos zoonóticos controle
A epidemiologia das
e antroponóticos, va-
leishmanioses somente
riando em gravidade, As leishmanioses
pode ser compreendida
desde formas cutâne- vêm ocorrendo de forma
mediante conhecimento de
as com autocura, le- endêmico-epidêmica,
todos os elos que compõem
sões únicas na pele a apresentando diferentes
seu ciclo de transmissão.
severas mutilações na padrões de transmissão,
mucosa, ou infecções relacionados não somen-
nas vísceras.9,10
te à penetração do homem em focos
Quanto maior a diversidade de ve- silvestres, mas frequentemente em áre-
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as de expansão de fronteiras agrícolas. mente, em centros urbanos, como Rio
Tem-se evidenciado a presença da do- de Janeiro (RJ), Corumbá (MS), Belo
ença em áreas de colonização antiga, Horizonte (MG), Araçatuba (SP), Pal-
demonstrando uma possível adaptação mas (TO), Três Lagoas (MS), Campo
dos vetores e reservatórios a ambientes Grande (MS), entre outros. Atualmen-
modificados. Trata-se te, no Brasil, a LV está
de um importante pro- Trata-se de um registrada em 21 das 27
blema de saúde públi- importante problema Unidades da Federação,
ca pela sua magnitude, de saúde pública com aproximadamente
transcendência e pouca pela sua magnitude, 1.600 municípios apre-
vulnerabilidade às medi- transcendência e pouca sentando transmissão au-
das de controle.13 vulnerabilidade às tóctone.15 Nesse contexto,
É amplamente acei- medidas de controle. os cães são considerados
to que as leishmanioses As circunstâncias importantes reservató-
são doenças dinâmicas, da transmissão rios e talvez os responsá-
sendo as circunstâncias continuamente veis por essa mudança no
da transmissão conti- alteradas em relação perfil epidemiológico da
nuamente alteradas em aos fatores ambientais LV16, uma vez que os ca-
relação aos fatores am- e do comportamento sos caninos precedem os
bientais e do comporta- humano. humanos, e também devi-
mento humano. Modi- A transmissão da do à grande discrepância
ficações no habitat dos leishmaniose visceral entre o número de cães
hospedeiros naturais e (LV) vem sendo infectados e o de casos
dos vetores, migrações descrita em vários humanos notificados.17,18
humanas decorrentes de municípios, de todas as Belo Horizonte é uma
conflitos, ou condições regiões do Brasil, sendo região que vem apresen-
socio-econômicas pre- os cães considerados tando casos humanos
cárias têm contribuído importantes tanto de LV quanto de
para a mudança no pa- reservatórios. leishmaniose tegumentar
norama epidemiológico (LT) há mais de 10 anos,
das leishmanioses.14 A bem como a presença de flebotomíneos
transmissão da leishmaniose visceral vetores, o que demonstra a ocorrência
(LV) vem sendo descrita em vários mu- de transmissão ativa da infecção.19,20
nicípios, de todas as regiões do Brasil. Assim como em Belo Horizonte, o ci-
A doença tem apresentado mudanças clo peri - urbano de transmissão de LT
relevantes no padrão de transmissão, tem sido observado em outros centros
inicialmente predominante em ambien- urbanos, como na periferia da cidade de
tes rurais e periurbanos e, mais recente- Manaus, no Amazonas.21
Leishmanioses do Novo Mundo 11

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Com o desapare- missão, são necessários
A complexidade na
cimento das florestas
luta contra as infecções estudos epidemiológi-
primárias, roedores in- cos para investigar a(s)
leishmanióticas
fectados e com hábitos
explica-se pela grande espécie(s) de Leishmania
sinantrópicos, os quais
diversidade de agentes circulante(s), bem como
invadem com maior fre-
etiológicos, pelo grande os vetores e reservatórios
quência as casas, podem presentes, a fim de que se
número de espécies
servir como fonte de de flebotomíneos que possam propor medidas
infecção para fleboto- podem ser vetores, de controle mais especí-
míneos bem adaptados e por mais de uma ficas e eficientes.
ao ambiente modificado centena de espécies de A escassez de recur-
como Lu. whitmani e Lu. animais que podem ser sos e a atual falta de in-
intermedia.22 A ação an- reservatórios. fraestrutura dos serviços
trópica ao meio ambiente de saúde, especialmente
apresenta-se como fator no que concerne ao diag-
importante para a aquisição da infecção, nóstico da infecção por L. (L.) infantum
sendo identificada como um dos fato- tanto na população canina quanto na
res de risco para o estabelecimento da humana, tornam as atuais medidas de
transmissão.23 controle pouco eficientes. Este quadro
Em focos ativos de LT, foi observa- favorece a perpetuação do ciclo vicioso
da a ocorrência da doença em ambos os entre pobreza e doença em muitos esta-
sexos, com vários indivíduos da mesma dos brasileiros, nos quais a LV permane-
família, incluindo mulheres e crianças.22 ce como mais uma doença negligencia-
Essas observações, associadas à coleta da.26
de um grande número de flebotomíne-
2.2. Hospedeiro /
os vetores antropofílicos no peri domi-
reservatório - definição
cílio ou mesmo no intradomicílio, são de conceitos
indicativas de que a transmissão possa
ter ocorrido no ambiente peri domici- Para entender a relação entre o para-
liar.20,24 sito e seus hospedeiros é preciso ter em
A complexidade na luta contra mente que estes coadaptam-se de ma-
as infecções leishmanióticas explica- neira a conviverem em certa harmonia.
-se pela grande diversidade de agentes Quanto menor for a morbidade causada
etiológicos, pelo grande número de pelo parasito ao hospedeiro, e quanto
espécies de flebotomíneos que podem mais constante for a incidência da in-
ser vetores, e por mais de uma centena fecção em dada população, mais antiga
de espécies de animais que podem ser e equilibrada deve ser a relação entre
reservatórios.25 Para cada área de trans- eles.27,28
12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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Existem várias dis- reservatório em deter-
Para entender a
cussões sobre os concei-
relação entre o parasito minadas condições.
32

tos acerca de hospedeiros São reconhecidos


e seus hospedeiros é
e reservatórios.11,27, 29,30 O dois principais tipos
preciso ter em mente
termo hospedeiro é bem de hospedeiros verte-
que estes coadaptam-
generalista, diz respeito brados para o caso da
se de maneira a
a uma espécie que abriga leishmaniose zoonótica
conviverem em certa
ocasionalmente um para- harmonia. americana: 1. hospedei-
sito oportunista que pode ro primário (reserva-
ou não comprometer sua tório), que se refere ao
sobrevivência.28 Já o termo reservatório, vertebrado que alberga o parasito no
para ser corretamente empregado em ambiente silvestre, e que seria respon-
relação às zoonoses que acometem hu- sável pela manutenção da infecção sem
manos, necessita que o hospedeiro pre- a necessidade da coexistência de um
encha os seguintes critérios: (a) apre- outro hospedeiro; 2. hospedeiro secun-
sente superposição espaço/tempo com dário, que, diferentemente do primário,
os vetores; (b) sobreviva o suficiente é um animal infectado, porém, incapaz
para garantir a transmissão; (c) apresen- de manter um ciclo enzoótico indefini-
te uma prevalência de infecção de pelo damente.11
menos 20%; (d) mantenha o parasito na
2.3. O cão e as leishmanioses
pele ou no sangue em quantidade sufi- em ambiente urbano
ciente para infectar facilmente o vetor; e
(e) apresente a mesma espécie de para- Os cães têm sido implicados como
sito encontrada no homem. 31 importantes reservatórios da LV desde
Também deve se considerar que as a descoberta da leishmaniose visceral
circunstâncias da transmissão das leish- canina (LVC) em um inquérito canino
manioses são continuamente alteradas realizado na Tunísia. De 145 cães exa-
em relação aos fatores ambientais e do minados pelo método parasitológico
comportamento humano.14 O ambien- utilizando material coletado por meio
te em que hospedeiros e parasitos in- de punção na medula óssea, três animais
teragem pode afetar substancialmente mostraram-se positivos, ficando assim
a força e a especificidade da seleção, o registrado o primeiro foco de calazar ca-
que possibilitaria a uma dada espécie nino no mundo.33
ter maior ou menor importância como As primeiras observações feitas no
mantenedora do ciclo de transmissão, Brasil sobre a LVC foram realizadas em
dependendo do ambiente em que esteja 1937, por Chagas, na região Norte34. No
presente, não havendo espécies reser- entanto, a doença só foi caracterizada
vatório, mas, espécies servindo como em 1956 quando estudada por Deane,
Leishmanioses do Novo Mundo 13

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em área endêmica do Ce- do chegar a mais de um
A infecção canina
ará. A LVC, assim como
35
ano. O animal torna-se
é considerada
a doença humana, está
importante por várias apático, com pouca mo-
bastante disseminada no
razões, dentre as quais bilidade, o que provoca
país, e algumas localida-
se destacam: o convívio um aumento acentuado
des endêmicas revelam das unhas. Uma carac-
39
do cão em estreita
altas taxas de prevalência terística importante é a
aproximação com o
de LVC com presença
homem; o fato de servir permanência da doença
abundante do vetor. 15,36
clinicamente inaparente
de fonte de repasto
A infecção canina é
para o vetor, atraindo-o por longos períodos.
considerada importante Em diferentes estu-
para perto do homem;
por várias razões, dentre sua alta densidade dos realizados em Belo
as quais se destacam: o populacional aliada Horizonte, foi observa-
convívio do cão em es- à susceptibilidade que do que áreas com maior
treita aproximação com o apresenta à L. (L.) incidência do calazar
homem; o fato de servir infantum; além do humano sobrepuseram-
de fonte de repasto para grande número de cães -se àquelas que apresen-
o vetor, atraindo-o para assintomáticos com taram a doença canina.17,
perto do homem; sua alta intenso parasitismo
18,41

densidade populacional cutâneo. Embora os cães


aliada à susceptibilidade assintomáticos sejam
que apresenta à L. (L.) in- considerados por al-
fantum; além do grande número de cães guns autores com pouca ou nenhuma
assintomáticos com intenso parasitismo importância epidemiológica, há estu-
cutâneo.37 O calazar canino é de início in- dos que demonstraram que as taxas de
sidioso38, com acentuado emagrecimen- infecção dos vetores não estão corre-
to. O sinal mais frequente é geralmente lacionadas com a condição clínica dos
apresentado na superfície cutânea, com animais42,43,44, o que ainda deve ser mais
grandes áreas de alopecia, eritema e des- investigado, pois em estudo da infecção
camação.39 Entretanto, algumas vezes, em Lu. longipalpis alimentadas em cães
os cães infectados apresentam aspecto infectados com L.(L.) infantum, foi ob-
aparentemente normal, servada diferença entre as
mas com alto grau de Áreas com maior taxas de infecção quan-
parasitismo de pele sã incidência do calazar do o xenodiagnóstico foi
e das vísceras. O pe-
40 humano sobrepuseram- realizado em animais as-
ríodo de evolução da se àquelas que sintomáticos (5,4%) em
doença no cão pode ser apresentaram a doença relação aos sintomáticos
bastante longo, poden- canina. (28,35%).45
14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 14 08/05/2012 16:28:14


Apesar de ser uma zo- sideram o cão apenas um
O papel do cão na
onose originalmente sil-
epidemiologia da LT hospedeiro acidental.
53,54

vestre, a LT causada pela


é ainda uma questão Outros avaliam o papel
L. (V.) braziliensis tem do cão como um elo en-
controversa.
sido descrita por diversos tre a doença dos animais
autores como ocorrendo silvestres e o homem.48,55
em ambientes domésticos, tendo sido Em estudo epidemiológico da LT na re-
aventada a possibilidade de que animais gião do Vale do Ribeira, Paraná, não fo-
domésticos e peridomésticos, e em es- ram observados fatores que associassem
pecial o cão, seriam importantes fontes o cão à transmissão para humanos.13
de infecção locais.46,47,48 A LT em cães Vários questionamentos ainda per-
pode apresentar-se como uma doença manecem quanto ao papel do cão como
crônica com manifestações semelhan- reservatório do parasito causador da LT,
tes às da doença humana. Esses animais uma vez que as evidências que existem
geralmente apresentam lesões únicas, para suportar tal hipótese são somente
localizadas principalmente nas orelhas e circunstanciais.56
nas patas, com parasitismo escasso.48
Entretanto, o papel do cão na epi-
2.4. Roedores e marsupiais,
demiologia da LT é ainda uma questão hospedeiros não
controversa. Em algumas áreas endêmi- humanos, possíveis
cas de ocorrência da L.(V.) braziliensis, reservatórios das
existem evidências de transmissão do- leishmanioses
miciliar e de que cães infectados estariam
associados a casos humanos, sugerindo Os ciclos de transmissão das leish-
o papel do cão como reservatório. Em manioses dependem dos movimentos
49

certas áreas do Vale do Rio Doce, Mi- de seus reservatórios, e a identificação


nas Gerais, e em área rural do Espírito desses hospedeiros é de fundamental
Santo, a LT é considerada uma zoono- importância para o controle efetivo da
se mantida por cães domésticos.46,50,51 transmissão.11 Vários animais domés-
Falqueto e colaboradores sugerem que ticos já foram encontrados infectados
o cão é um importante mantenedor do por Leishmania, tais como eqüinos57,
ciclo no peri-domicílio, suínos58 e felinos.59,60 A
com base no fato de que Vários animais busca pelos reservatórios
a infecção humana foi domésticos já foram silvestres naturais das
mais frequente na pre- encontrados infectados leishmanioses tegumen-
sença de cães infectados por Leishmania, tais tar e visceral vem sendo
com L.(V.) braziliensis.52 como equinos, suínos e um dos mais atraentes
Alguns autores con- felinos. objetivos de pesquisado-
Leishmanioses do Novo Mundo 15

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res em todo o mundo desde as primeiras Parasitos do gênero Leishmania fo-
décadas do século XX, com ênfase nos ram isolados a partir de roedores das es-
roedores, a partir do momento em que pécies Akodon arviculoides e Oryzomys
algumas espécies deles foram incrimina- nigripes de área endêmica para LT em
das como reservatórios de Leishmania.61 São Paulo, em 197265, sendo aventada
No Brasil, a participação de roedores a possibilidade de, o gênero Oryzomys,
na epidemiologia das leishmanioses já ser importante reservatório do parasi-
foi descrita por vários autores. Em 1970, to neste estado, à semelhança do que
em Mato Grosso, foi detectada pela pri- foi observado para O. concolor no Mato
meira vez a infecção por L. braziliensis Grosso.53 Um ano mais tarde e na mes-
nos roedores do gênero Oryzomys.53 ma região, os autores isolaram o mesmo
Anos mais tarde, os mes- parasito, L. (V.) brazilien-
mos autores trabalha- A importância sis, a partir de O. capito
ram na região de Monte dos roedores como laticeps.
Dourado, norte do Pará, prováveis reservatórios Na Venezuela, este
procurando determi- da LT. parasito também foi iso-
nar o(s) reservatório(s) lado de Rattus rattus (rato
silvestre(s) para os agentes etiológicos preto) e Sigmodon hispidus (rato do al-
da leishmaniose tegumentar, e encon- godão), o que enfatiza a importância
traram o roedor Proechimys guyannen- dos roedores como prováveis reservató-
sis frequentemente parasitado 15/57 rios da LT.66
(26%) por L. (L.) amazonenis62. Outros Em Amaraji, em Pernambuco, L.
hospedeiros de L. (L.) amazonensis são (V.) braziliensis foi isolada de Bolomys
pequenos roedores silvestres, como lasiurus (atualmente Necromys lasiurus)
Oryzomys sp.63 e Akodon spp.64 e Rattus rattus.67 O DNA de L. (L.) cha-
O alto índice de infecção do gêne- gasi (syn L. L. infantum) foi detectado
ro Oryzomys (18/36 ou 50%) no Mato por PCR em amostra coletada do roe-
Grosso, bem como nas florestas de Utin- dor silvestre Nectomys squamipes (rato
ga, também levava a crer tratar-se de um da água), capturado em São Vicente
importante hospedeiro do(s) agente(s) Ferrer, Zona da Mata norte de Pernam-
causal(ais) da leishmaniose tegumentar, buco.68
em virtude da distância de milhares de Em levantamento da fauna de roe-
quilômetros entre os dois locais. Além dores sinantrópicos e silvestres no mu-
53

disso, o aspecto das lesões, geralmen- nicípio de Araçuaí, Minas Gerais, 18


te do meio para a base da cauda e por espécimes de um total de 62 roedores
vezes abarrotada de parasitos, faz desse capturados estavam infectados por es-
roedor uma excelente fonte de infecção pécies dos complexos L. mexicana, L.
para o vetor.53,61,63 braziliensis e L. donovani. Parasitos des-
16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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ses três complexos de te habitações em que há
Os marsupiais, que são
Leishmania foram iden-
animais sinantrópicos, condições mais precárias
tificados em espécimes de higiene e maior desor-
podem também ser
de Thrichomys apereoides, ganização ambiental.71
apontados como
Cerradomys subflavus e Em estudo realiza-
reservatórios de
Rattus rattus, o que indi- do na reserva indígena
Leishmania.
ca que a última espécie Xakriabá, localizada no
possa participar do ciclo município de São João
zoonótico doméstico das LV e LT em das Missões, norte de Minas Gerais, 97
área urbana, devido aos seus hábitos si- pequenos mamíferos foram capturados,
nantrópicos.69 dos quais 24 apresentaram resultados
Em Belo Horizonte, de um total positivos na PCR. Após a identificação
de 60 roedores capturados, 30% foram dos parasitos envolvidos na infecção,
considerados infectados por espécie pela RFLP PCR, foi observado o en-
pertencente ao complexo L. brazilien- contro de roedores e marsupiais infec-
sis, sendo utilizanda a PCR dirigida tados por L. braziliensis, roedores infec-
ao kDNA, seguida de tados por L. infantum,
hibridização. 70
Nes- Os animais que além da infecção por
se mesmo município, apresentaram infecção L. guyanensis tanto em
de 62 roedores, foram mista (Mus musculus e roedores como em mar-
identificados 24 Mus R. rattus) são comumente supiais, indicando a co-
musculus, 19 Rattus rat- encontrados em áreas existência dos ciclos de
tus, nove R. norvegicus, urbanas, em estreita transmissão destas três
cinco Necromys lasiu- relação com o domicílio; espécies de Leishmania
rus e cinco Cerradomys na região.72
subflavus. Quarenta e dois animais Em algumas áreas, os marsupiais,
(67,7%) apresentaram resultados posi- que são animais sinantrópicos, podem
tivos para Leishmania nested PCR em também ser apontados como reserva-
pelo menos um tecido: destes 42, havia tórios de Leishmania. Espécies de mar-
quatro animais (9,5%) infectados por L. supiais já foram encontradas infectadas
infantum, 24 (57,1%) por L. braziliensis por diferentes espécies de Leishmania,
e três (7,2%) com infecção mista por L. como o Didelphis pela L. (L.) infantum
infantum e L. braziliensis. O autor chama e L. (V.) braziliensis31,73,74 e espécies de
a atenção para o fato de que os animais gambás infectadas por L. (L.) amazo-
que apresentaram infecção mista (Mus nensis.75
musculus e R. rattus) são comumente en- Em Belo Horizonte/MG, de um to-
contrados em áreas urbanas, em estreita tal de 34 marsupiais do gênero Didelphis
relação com o domicílio, principalmen- capturados, a taxa de infecção detectada
Leishmanioses do Novo Mundo 17

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por PCR foi de 23,5%, e o mento dos vetores e pa-
Vários pesquisadores
agente etiológico envolvi- rasitos com o homem e
apontam o gambá
do foi caracterizado como o cão77, vários pesquisa-
como um forte
pertencente ao complexo dores apontam o gambá
candidato a
L. (V.) braziliensis.70 como um forte candi-
reservatório, pela sua
Estes animais cos-
proximidade com cães dato a reservatório
79,80

tumam ser encontrados Servindo de fonte para


e moradias humanas.
com facilidade em flo- o repasto sanguíneo de
restas alteradas pela ação diferentes espécies de
antrópica. São vistos com frequência flebotomíneos, ele seria o elo perfeito
nos quintais das residências situadas nas entre os ciclos silvestre e periurbano.81
bordas das matas, visitando galinhei- As espécies de Didelphis infectadas po-
ros e latas de lixo em busca de alimen- dem desempenhar um importante pa-
to. Apresentam hábitos crepusculares pel na epidemiologia das leishmanioses
e noturnos. Escondem-se em ocos de nos centros urbanos, além da manuten-
árvores onde passam o dia dormindo. ção do parasito na enzootia silvestre, o
Apesar de nômades, seu território fica que faz com que sejam as espécies mais
em torno de 2,5 km76. Estudos colocam pesquisadas.71
estes animais na lista de preferências ali- Apenas quando for obtido um me-
mentares tanto pela Lu. longipalpis, no
lhor entendixmento da diversidade ge-
Brasil73, quanto pela Lu. evansi na Co-
nética das espécies de Leishmania e dos
lômbia.77
reservatórios envolvidos no ciclo enzo-
Gambás infectados, assim como os
ótico de cada uma delas, será possível
cães, podem apresentar duas formas da
avaliar qual o método(ou métodos) de
doença: uma subclínica, com apenas
controle mais eficaz.12
discretas alterações inflamatórias no
fígado, baço e linfonodos, perceptíveis
somente pela histopatologia, e outra 2.5. Técnicas de diagnóstico
forma grave, em que são encontrados
aplicadas em estudos
macrófagos repletos de parasitos na pele
de hospedeiros não
humanos, possíveis
e nos órgãos linfoides, necrose esplêni-
reservatórios de
ca bem como esteatose
O diagnóstico Leishmania spp.
hepática.78 Portanto, em
virtude de sua íntima parasitológico é o O diagnóstico para-
associação com mora- método de certeza, sitológico é o método de
dias humanas e o redu- sendo o padrão ouro certeza, por meio da de-
zido território, tornando no diagnóstico das monstração direta do pa-
possível o compartilha- leishmanioses rasito, e continua sendo o
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padrão ouro no diagnós- Métodos sorológicos
Métodos sorológicos
tico das leishmanioses podem ser úteis, porém
podem ser úteis,
devido à sua alta especi- apresentam problemas,
porém apresentam
ficidade. Isso é normal- como as reações cruzadas
problemas, como as
mente realizado pelo e a diferenciação entre
reações cruzadas
exame microscópico infecção atual e passada,
e a diferenciação
de esfregaços ou cortes não sendo acurados em
entre infecção atual e
histológicos de biópsia casos de imunodeficiên-
passada.
da lesão (LT), dos linfo- cia.88,89, 90, 91,92
nodos, da medula óssea Diante das limitações
e do aspirado de baço (LV) em lâminas apresentadas pelos métodos de diagnós-
coradas pelo Giemsa; pelo isolamento tico convencionais, existe a necessidade
em meios de cultura; ou pela inoculação de se desenvolver uma ferramenta que
em hamsters.40,82,83,84,85 seja capaz de promover um diagnóstico
O isolamento do parasito em cultu- acurado. Assim, há cerca de 10 anos, os
ra em combinação com a eletroforese de métodos moleculares vêm sendo apri-
enzimas multilocus permite a identifica- morados para identificação de grupos
ção da espécie do parasito. No entanto, e espécies de Leishmania em variadas
tal procedimento exige uma riqueza de amostras clínicas, isolados de cultura,
conhecimentos técnicos e é demorado, bem como pool de flebotomíneos.93,94
devido à necessidade de se obter uma Apesar da sucessiva avaliação de
massa grande de parasitos. A sensibi-
86 diferentes métodos moleculares para o
lidade do exame direto em lâmina e do diagnóstico da leishmaniose, técnicas
isolamento em meio de cultura tende a baseadas na PCR atualmente consti-
ser baixa e pode ser altamente variável, tuem a principal abordagem de diag-
dependendo do número e da dispersão nóstico molecular de pesquisadores e
de parasitos em amostras de biópsia, do profissionais de saúde. Vários formatos
processo de amostragem e, acima de diferentes de PCR estão disponíveis,
tudo, da capacidade técnica do pesso- como, por exemplo, a PCR convencio-
al.83,87 nal ou a nested PCR, em que fragmentos
Diversas abordagens sorológicas amplificados pela PCR são resolvidos
são comumente usadas no diagnóstico por eletroforese em gel e, eventualmente
da LV, em particular os testes de aglu- após clivagem com enzimas de restrição
tinação direta com base em antígenos ou PCR-RFLP, visualizados após colo-
liofilizados e comercialmente disponí- ração com brometo de etídio 94,95,96,97,
veis (DAT), o ensaio imunoenzimático 98,99; ou ainda, abordagens de alta tec-
(ELISA) e a reação de imunofluores- nologia, como métodos em que os pro-
cência indireta (IFI).88 dutos de PCR são analisados durante a
Leishmanioses do Novo Mundo 19

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sua amplificação (o cha- po real (qPCR) mostrou-
Métodos moleculares
mado real-time PCR), -se mais sensível que a
são rápidas e de alto
após coloração com flu- imunoistoquímica na
rendimento, mas
orogênicos. Neste caso, o equipamento é quantificação do para-
os ensaios são realizados relativamente caro, e sitismo tecidual, permi-
dentro de um sistema fe- os custos permanecem tindo a diferenciação da
chado, diminuindo o ris- elevados. intensidade do mesmo
co de contaminação por entre cães apresentando
fragmentos presentes no formas polares da leish-
ambiente do laboratório. As aplicações maniose visceral canina, embora estas
são rápidas e de alto rendimento, mas o duas técnicas tenham apresentado cor-
equipamento é relativamente caro, e os relação positiva em todos os órgãos,
custos permanecem elevados.100 com exceção do fígado.106
Em termos de aplicações práticas, Além da alta sensibilidade da téc-
destacam-se três princípios básicos e/ nica de q-PCR, diferentes autores rela-
ou questões biológicas, que podem ser
tam a possibilidade de identificação da
respondidos por métodos baseados nos
espécie de Leishmania , tanto no Velho
ácidos nucleicos: (a) detecção do para-
como no Novo Mundo.71,107,108,109,110 Isto
sito, altamente sensível e específica, ne-
faz da q-PCR uma ferramenta ideal para
cessária em diagnóstico diferencial; (b)
identificação da espécie de Leishmania ser usada em estudos de epidemiologia
por uma série de ensaios baseados na molecular de Leishmania, uma vez que,
PCR; e (c) quantificação da carga pa- com uma única técnica seria possível
rasitária presente nos tecidos do hospe- detectar, identificar e quantificar a carga
deiro.101 de parasitos presente na infecção, em di-
Em estudos recentes, o sequencia- ferentes tecidos, de diferentes hospedei-
mento de fragmentos de DNA obtidos ros, com alta sensibilidade, especificida-
pela amplificação de diferentes genes- de e menor risco de contaminação.71
-alvo tem sido realizado e utilizado junto
ao alinhamento das 3. Considerações finais
sequências obtidas,
como uma forma de
A detecção de DNA de A detecção de
identificar a espécie
Leishmania em uma espécie DNA de Leishma-
de Leishmania en-
animal em particular é uma nia em uma espécie
volvida na infecção
forte evidência, mas não é o animal em parti-
no Velho e no Novo
suficiente para definir tal espécie cular é uma forte
Mundo.71,102,103,104,105
de hospedeiro como reservatório evidência, mas não
A PCR em tem-
da infecção. é o suficiente para
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definir tal espécie de hospedeiro como de ensaios experimentais para avaliar
reservatório da infecção. A confirma- a infecciosidade de espécies encontra-
ção do papel de determinadas espécies das naturalmente infectadas, para espé-
como reservatórios de Leishmania sp. cies de flebotomíneos que são vetores
depende de outros aspectos, entre eles: comprovados de Leishmania spp. Tais
o encontro da espécie de flebotomíneo investigações visam comprovar o papel
vetor naturalmente infectado na mesma desses hospedeiros como prováveis re-
região em que foi coletado o suposto servatórios. Então, uma vez comprova-
reservatório; a sobrevivência do hospe- da a capacidade de o animal servir como
deiro por tempo suficiente para garantir fonte de infecção, é preciso estudar o
a transmissão da infecção; a prevalência comportamento ecológico do mesmo
da infecção elevada entre os hospedei- em relação à população de flebotomí-
ros (acima de 20%); a manutenção do neos e à população humana na área de
parasitismo no sangue periférico ou em estudo. Elucidados esses pontos, faz-se
lesões na pele em quantidade suficien- necessário definir o papel desse animal
te para infectar o vetor; e a presença da no ciclo de transmissão do parasito na
área estudada.111
mesma espécie de Leishmania no reser-
vatório e em humanos.31 4. Referências
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partir de diferentes amostras biológicas ogy and Medicine: Biology and Epidemiology
(Peters, W. and Killick-Kendrick, R., eds): Aca-
coletadas.71, 94,96,102,104,105,107,108,109,110 demic Press 1987, pp. 291–351.
Mais estudos longitudinais sobre
5. Shaw JJ. New World leishmaniasis: the ecology of
a ecologia de pequenos mamíferos são leishmaniasis and the diversity of leishmanial
necessários, assim como a realização species in Central and South America. In World
Leishmanioses do Novo Mundo 21

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Leishmanioses do Novo Mundo 27

maio2012.indb 27 08/05/2012 16:28:15


Aspectos
entomológicos das
leishmanioses
Fabiana de Oliveira Lara e Silva
Fundação Oswaldo Cruz - Belo Horizonte, MG
E-mail: flara@cpqrr.fiocruz.br

Transmissão das LT. Inicialmente considerada uma zoo-


leishmanioses nose de animais silvestres, só acometia
o homem que ocasionalmente adentra-
As leishmanioses são um comple-
xo de doenças infecciosas causadas por va as florestas. Hoje, a doença já ocorre
protozoários flagelados pertencentes à em zonas rurais, matas remanescentes
ordem Kinetoplastida, família Trypa- modificadas e regiões periurbanas, onde
nosomatidae e gênero Leishmania Ross, a adaptação dos reservatórios silvestres
1903. Este é dividido em dois subgêne- e dos flebotomíneos é evidente, propi-
ros de acordo com o desenvolvimen- ciando a formação do ciclo do parasito
to no intestino do vetor: Leishmania e nesses ambientes. 3
Viannia. 1 O ciclo de vida do parasito é A LV tem aumentado significativa-
digenético (heteroxênico), alternando- mente sua importância no contexto de
-se entre hospedeiros vertebrados e saúde pública, sobretudo devido às mo-
invertebrados, os flebotomíneos. A do- dificações no ambiente e à emergência
ença pode apresentar diversas formas de focos da doença em áreas urbanas.4,5
clínicas, dependendo da espécie de A crescente urbanização, associada à al-
Leishmania envolvida e da susceptibi- teração no ambiente natural e à presen-
lidade do hospedeiro.2 As duas formas ça do vetor competente, tem favorecido
clínicas básicas em que as leishmanio- o aumento da incidência de LV humana
ses humanas podem se apresentar são: no Brasil.6,7
leishmaniose tegumentar (LT) e leish- A transmissão da doença se dá
maniose visceral (LV). quando as fêmeas dos flebotomíneos se
Nas últimas décadas, têm ocorrido alimentam em um hospedeiro infecta-
mudanças no padrão de transmissão da do, ingerindo macrófagos contendo as
28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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formas amastigotas, que sofrem divisão Lutzomyia (França, 1924) responsáveis
binária no seu intestino, transforman- pela transmissão das leishmanioses no
do-se em promastigotas. Estas formas Velho Mundo e no Novo Mundo, res-
se dividem por divisão binária longitu- pectivamente. O gênero Lutzomyia é
dinal, passando por mudanças morfo- subdividido em 15 subgêneros, 15 gru-
lógicas e fisiológicas, e se pos e apresenta mais de
diferenciam, por fim, em A transmissão 400 espécies.11 É conhe-
formas longas, que apre- da doença se dá cido popularmente por
sentam longo flagelo e alta quando as fêmeas mosquito-palha, biri-
motilidade, e não mais se dos flebotomíneos se gui, cangalhinha, asinha
dividem, promastigotas alimentam em um branca, tatuquira, entre
metacíclicas, as formas hospedeiro infectado. outros.12 A importância
infectantes para o hospe- dos flebotomíneos para
deiro vertebrado. 8,9,10
Durante o repasto o homem e para os animais deve-se a
sanguíneo, os flebotomíneos injetam na seu papel como vetores naturais de al-
pele do hospedeiro, juntamente com a guns agentes etiológicos, como proto-
saliva, as formas promastigotas do para- zoários do gênero Leishmania e outros
sito. As células do sistema mononuclear tripanossomatídeos, bactérias do gêne-
fagocitário (SMF) do hospedeiro endo- ro Bartonella e vários arbovírus.13
citam estas formas, que se transformam São insetos de pequeno porte (2 a
em amastigotas e começam a se multi- 3mm), possuindo como característica
plicar no interior do fagolisossomo, in- o corpo com intensa pilosidade, hábi-
fectando novas células do SMF quando tos de voo crepusculares e abrigam-se
a célula hospedeira original se rompe, em locais úmidos e sombrios. Durante
ocorrendo à liberação destas formas. Es- o pouso, mantêm suas asas em posição
tas serão fagocitadas por novos macrófa- vertical característica. Os olhos são
gos num processo contínuo, ocorrendo, proeminentes, arredondados e bem
então, a disseminação hematogênica separados, e as antenas são longas, for-
para outros tecidos ricos em células do madas por 16 segmentos. Tanto os ma-
sistema mononuclear fagocitário, como chos quanto as fêmeas necessitam de
linfonodos, fígado, baço e medula óssea. carboidratos para garantir suas funções
vitais, como voo, acasalamento e postu-
Biologia e ecologia dos ra. Apenas as fêmeas são hematófagas e,
flebotomíneos portanto, possuem importância epide-
Os flebotomíneos são dípteros per- miológica. 14
tencentes à família Psychodidae e subfa- São holometábolos, com ciclo vi-
mília Phlebotominae, sendo os gêneros tal composto de fase de ovo, fase larval
Phlebotomus (Rondani & Berté, 1840) e (compreende 4 estádios), fase de pupa
Aspectos entomológicos das Leishmanioses 29

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e adulto. Após a cópula, as fêmeas colo- uma grande diversidade de locais, como
cam seus ovos sobre um substrato úmi- espaços existentes entre folhas caídas e
do no solo e com presença de matéria o solo, tocas de animais, gretas nos tron-
orgânica, para garantir a alimentação cos das árvores.14
das larvas. Os ovos eclodem geralmen- A proximidade do homem às áreas
te de sete a 10 dias após a postura. As de florestas e a criação de animais do-
larvas dos flebotomíneos são bastante mésticos são atrativos para uma grande
ativas, alimentam-se vorazmente e se quantidade de espécies de flebotomí-
deslocam com rapidez para buscar ali- neos, que se deslocam para o perido-
mento, provável causa de dispersão na micílio. Ao serem atraídos, eles se esta-
natureza.13 Seu desen- belecem nessas áreas, e
volvimento dura, em a presença desses pode
As fêmeas colocam seus
média, de 20 a 30 dias. contribuir para a manu-
ovos sobre um substrato
Após esse período, as tenção do ciclo de trans-
úmido no solo e com
larvas de quarto está- missão e torná-los o elo
presença de matéria
dio transformam-se em
orgânica, para garantir entre animais16 domésticos
pupas, que são mais re- e o homem. Ao final da
a alimentação das
sistentes às variações de década de 80, verificou-se
larvas.
umidade do que os ovos a adaptação deste vetor
e as larvas, normalmente aos ambientes urbanos,
permanecem imóveis e fixas ao substra- em periferias de grandes centros, prin-
to e não se alimentam. O período pupal, cipalmente na região Sudeste, podendo
em condições favoráveis, tem duração, ser encontrados no peridomicílio, em
em média, de uma a duas semanas. O galinheiro, chiqueiro, canil, paiol, entre
desenvolvimento do ovo ao inseto adul- outros ambientes, e também no intrado-
to compreende um período de aproxi- micílio.
madamente 30 a 40 dias, de acordo com
a temperatura. Espécies vetoras das
Embora se conheçam os hábitos ali- leishmanioses
mentares das formas imaturas, pouco se Muitas espécies têm sido incrimina-
sabe sobre os criadouros naturais das das na transmissão da LT, em associação
larvas de flebotomíneos no Novo Mun- com leishmanias dos subgêneros Viannia
do. O conhecimento e Leishmania, porém so-
específico desses sítios O desenvolvimento do mente algumas têm sido
de criação pode facilitar ovo ao inseto adulto consideradas importan-
o controle destes veto- compreende um tes vetores, com base nos
res. Os flebotomíneos
15 período de 30 a 40 seguintes critérios: grau
utilizam como abrigos dias. de antropofilia, infecção
30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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natural por Leishmania e distribuição do Sul, aponta para a possibilidade de
espacial coincidente com a da doença.17 essa espécie ser a transmissora da doen-
A transmissão do agente etiológico ça nessa área.19 Outras espécies podem
da leishmaniose tegumentar americana abrigar, mesmo que experimentalmen-
(LTA) envolve diferentes espécies de te, a L. chagasi, mas sem efeito sobre a
flebotomíneos em associações estreitas transmissão da doença, pois acredita-se
com parasitos e reservatórios, compon- na existência de certa especificidade do
do os elos de diversos ciclos de trans- vetor para as leishmanias.20,21
missão que ocorrem em todo o Brasil. Alguns autores levantam a hipótese
Os principais flebotomíneos transmis- da transmissão entre a população canina
sores da LTA no Brasil são Lutzomyia por meio de ectoparasitos, sugerindo a
(Nyssomyia) intermedia Lutz & Neiva, capacidade vetorial de pulgas e carrapa-
1912; L. migonei França, 1920; L. (N.) tos.22,23,24 Outros autores sugerem que a
whitmani Antunes & Coutinho, 1939; L. transmissão possa ocorrer por meio de
(Pintomyia) fischeri Pinto, 1926; L. (Pin- mordeduras, cópula ou transmissão ver-
tomyia) pessoai Coutinho & Barreto, tical entre os cães, porém não existem
1940; L. (N.) umbratilis Ward & Fraiha, evidências sobre a importância epide-
1977; L. (Psychodopygus) wellcomei miológica desses mecanismos de trans-
Fraiha, Shaw & Lainson, 1971; L. (Tri- missão.25,26
chophoromyia) ubiquitalis Mangabei-
ra, 1942; L. (Psychodopygus) complexa Lutzomyia longipalpis (Lutz
Mangabeira 1941; L. (Psychodopygus) & Neiva, 1912)
ayrozai Barreto & Coutinho, 1940; L. Nas Américas, a espécie Lutzomyia
(Psychodopygus) paraensis Costa Lima, longipalpis é considerada a principal
1941; L. (N.) flaviscutellata Mangabeira, transmissora do agente etiológico cau-
1942. sador da LV e cumpre todos os critérios
No ciclo de transmissão da Leishma- estabelecidos para ser considerada um
nia infantum ( sin = L. chagasi), agente vetor competente, chamando a atenção
etiológico da LV no Novo Mundo, a para os essenciais, como antropofilia,
transmissão ocorre, principalmente, por distribuição espacial coincidente com
meio da picada de fêmeas de flebotomí- os casos humanos da doença e encontro
neos da espécie Lutzomyia longipalpis de exemplares naturalmente infectados
Lutz & Neiva, 1912. Trabalhos têm de- por L. chagasi. 27 No Brasil, esta espécie
monstrado a possibilidade de Lutzomyia ocorre nas regiões Norte, Nordeste, Su-
evansi18 agir como vetor na Colômbia, e deste e Centro-Oeste.14
o encontro de fêmeas de L. cruzi Manga- Observações realizadas na região
beira, 1938, infectadas em área endêmi- amazônica do Brasil28 apontaram que a
ca para LV em Corumbá, Mato Grosso espécie L. longipalpis é essencialmente
Aspectos entomológicos das Leishmanioses 31

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silvestre e pode ser capturada em flo- palpis é a mais abundante onde algumas
restas remotas, distante das habitações características, como a baixa condição
humanas. No entanto, a maior parte dos socioeconômica, o ambiente propício
estudos iniciais sobre a LV no Brasil foi para a reprodução do flebotomíneo,
realizada nos estados pouco arborizados com acúmulo de matéria orgânica e
do país, como consequência do desma- presença de animais domésticos, foram
tamento, e com isso houve a tendência fatores determinantes para o encontro
de se pensar na LV como sendo uma do- de alta densidade desta espécie. A maior
ença que circulava somente entre o cão parte destes exemplares foi encontrada
e esta espécie de flebotomíneo, em um no peridomicílio, mas é importante sa-
ambiente essencialmente doméstico. lientar a presença de considerável densi-
A L. longipalpis gradualmente foi dade no interior das casas, o que ilustra
colonizando o ambiente rural e, no final o caráter endofílico desta espécie, po-
da década de 80, começou a invadir o dendo a transmissão da LV ocorrer no
ambiente urbano, instalando-se princi- ambiente intradomiciliar.31,32,33,34
palmente na periferia das cidades, onde A detecção de fêmeas de L. longi-
passou a ser capturada no intradomicí- palpis naturalmente infectadas em áreas
lio e no peridomicílio. Alguns aspectos endêmicas de LV tem grande impor-
comportamentais desta espécie têm pa- tância no papel desempenhado por esta
pel fundamental no contexto da urbani- espécie na transmissão da doença nes-
zação da LV, sobretudo devido aos seus sas áreas. 35 A soma dos fatores acima
hábitos ecléticos de alimentação e fácil mencionados com os diversos estudos
adaptação ao ambiente doméstico.27 demonstrando a infecção desta espécie
As fêmeas de L. longipalpis invadem por L. chagasi aumenta as evidências da
com rapidez as habitações, no domi- participação desta no ciclo epidemioló-
cílio e no peridomicílio, alimentam-se gico da LV.
de sangue do homem, de cão, de gali-
nha, de equídeos, suínos e caprinos.29,30 Considerações finais
Observa-se que as fêmeas de L. longi- Sendo considerada uma doença
palpis se concentram principalmente multifatorial, as leishmanioses sofrem
em galinheiros, o que tem considerável influência de um grande número de va-
importância epidemiológica, já que esse riáveis que determinam as formas clíni-
ambiente não é borrifado comumente, cas observadas, como características do
e esta continua sendo uma importante parasito, resposta individual, distribui-
medida de controle da LV.28 ção geográfica, hábitos socioculturais,
Estudos realizados em áreas endê- ocupacionais e de moradia da popula-
micas para LV no estado de Minas Ge- ção, hospedeiros e reservatórios envol-
rais mostraram que a espécie L. longi- vidos, entre outros. Nesse contexto, é
32 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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primordial para a compreensão da epi-

Fabiana Lara
demiologia das leishmanioses o estudo
da ecologia dos flebotomíneos, sendo
este baseado na identificação minuciosa
da fauna flebotomínica nas áreas onde a
doença ocorre. Além disso, o conheci-
mento da fauna de flebotomíneos pre-
sente em uma região é importante para
se determinar as principais espécies
vetoras e até mesmo esclarecer questio-
namentos sobre espécies secundárias
que possam participar na transmissão
das leishmanioses. Estudos envolvendo
a fauna flebotomínica e outros aspec-
Figura 1 – Fêmea de flebotomíneo
adulto, ingurgitada

Figura 2 – Distribuição das prin-


cipais espécies de flebotomíneos
vetores da leishmaniose tegu-
mentar americana no Brasil, 2005.
Fonte: Brasil, MS 2007.
Aspectos entomológicos das Leishmanioses 33

maio2012.indb 33 08/05/2012 16:28:17


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Aspectos entomológicos das Leishmanioses 35

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Vetores mecânicos
da leishmaniose
visceral canina

Gustavo Fontes Paz

Rhipicephalus sanguineus e Ctenocephalides


felis felis
Gustavo Fontes Paz
Fundação Oswaldo Cruz - Belo Horizonte, MG
E-mail: gustavopaz@cpqrr.fiocruz.br

1. Introdução mos de transmissão provavelmente es-


Embora a transmissão natural de tejam envolvidos na epidemiologia da
Leishmania infantum (sin = L. chagasi) leishmaniose visceral canina (LVC).
ocorra principalmente pela picada de Esse fato se justifica devido à baixa taxa
fêmeas de flebotomíneos da espécie de infecção natural por L. chagasi no
Lutzomyia longipalpis, outros mecanis- vetor biológico, não excedendo, em sua
36 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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maioria, 0,5%1, assim como em razão da chagasi para a população canina, fazen-
alta prevalência de cães infectados, en- do com que a incidência dessa infecção
contrados principalmente no Brasil.2,3,4 se mantenha alta e crescente nas áreas
Além disso, em algumas áreas endêmi- endêmicas, independentemente da pre-
cas, L. longipalpis não é encontrada.5 sença e da densidade de L. longipalpis.
Outra espécie de flebotomíneo
que vem sendo incriminada como ve- 2. Outros vetores na
tor em Corumbá, Mato Grosso do Sul, transmissão da LVC
é Lutzomyia cruzi. 6 Porém, devido a
uma enorme semelhança morfológica, 2.1 Rhipicephalus sanguineus
L. longipalpis e L. cruzi estão agrupadas (latreille, 1806)
no complexo longipalpis, sendo as fê-
meas indistinguíveis nas duas espécies, São conhecidas mais de 825 es-
cuja identificação ta- pécies de carrapatos no
xonômica específica se Participação mundo, divididas em
torna possível por meio do carrapato três famílias: Ixodidae
de pequenas diferenças Rhipicephalus (625 espécies), Argasi-
morfológicas entre os sanguineus e da pulga dae (195 espécies) e Nut-
machos. 7 Ctenocephalides tallielidae (uma espécie).
Fêmeas de outras es- felis felis como vetores O carrapato vermelho
pécies de flebotomíneos mecânicos de L. do cão, R. sanguineus, é
também foram encon- chagasi. provavelmente a espécie
tradas infectadas por L. mais distribuída em todo
chagasi (com taxas de infecção não ex- o mundo, sendo adapta-
cedendo, em sua maioria, 1%), como da nas Américas do Norte, Central e do
Lutzomyia almerioi, na Serra da Bodo- Sul, nas regiões Leste e Oeste da Índia,
quena, Mato Grosso do Sul8, Lutzomyia China, Austrália, Micronésia, Sudeste
neivai e Lutzomyia sallesi, em Lassance, da Europa, Madagascar e África.10
Minas Gerais.9 Até o momento, essas Originária do continente africano,
espécies ainda não são consideradas ve- onde existem aproximadamente 20
toras de Leishmania spp. espécies do gênero Rhipicephalus, a es-
Uma das hipóteses pécie R. sanguineus está
a ser considerada seria a R. sanguineus é um distribuída em todo ter-
participação do carrapa-
carrapato trioxeno, ritório nacional e acre-
to Rhipicephalus sangui-
necessitando de três dita-se que tenha sido
neus e da pulga Ctenoce-
hospedeiros para introduzida no Brasil por
phalides felis felis como
completar o ciclo volta do século XVI, com
vetores mecânicos de L.
biológico a entrada dos coloniza-
Vetores mecânicos da Leishmaniose visceral canina 37

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dores europeus e seus saúde pública, sendo, ain-
R. sanguineus é
animais. R. sanguineus
11
da, motivo de constante
vetor da bactéria
é um carrapato trioxe- preocupação entre os
Ehrlichia canis e dos
no, necessitando de três profissionais veterinários
protozoários Babesia
hospedeiros para com- em seus locais de atendi-
canis.
pletar o ciclo biológico, mento. O parasitismo hu-
que envolve os seguin- mano por R. sanguineus,
tes estádios: ovo, larva, ninfa e adultos embora não seja muito comum, tem
macho e fêmea. Dentro do ciclo de vida sido relatado em vários países do mun-
dos carrapatos, o estádio de fêmea in- do, inclusive no Brasil e na América do
gurgitada é o de maior importância no Norte.14,15,16
crescimento da população, pois é o úni- R. sanguineus é considerado um dos
co que poderá dar origem a mais de um carrapatos de maior importância mé-
indivíduo; ou seja, enquanto uma fêmea dico-veterinária do mundo. Além dos
poderá dar origem a milhares de larvas, danos diretos que ele causa pelo parasi-
uma larva ou uma ninfa poderá dar ori- tismo em si, o qual não muito raramente
gem a apenas uma ninfa ou um adulto, pode levar cães à condição de exangue, é
respectivamente. Assim, pode-se infe- também vetor da bactéria Ehrlichia canis
rir que, no ambiente onde ocorre um e dos protozoários Babesia canis (=B. vo-
maior desprendimento de fêmeas ingur- geli), B. gibsoni e Hepatozoon canis. Além
gitadas do hospedeiro, será encontrada disso, está envolvido na transmissão de
a maior parte das formas de vida livre riquétsias para humanos no Velho Mun-
do carrapato, especialmente as fases de do (especialmente Rickettsia conorii).
fêmeas em postura, ovos e larvas não Em um trabalho francês, foi de-
alimentadas. Desse modo, as medidas monstrada a capacidade de R. sangui-
12

de controle devem ser direcionadas para neus ser infectado experimentalmente,


o ambiente onde o cão vive, principal- e manter Leishmania sp. na transmissão
mente onde ele dorme, tendo em vista transestadial, assim como transmitir a
que 95% da população de carrapatos infecção por inóculo de macerado para
está na fase não parasitária e a maioria o roedor Citellus citellus. Contudo, o au-
se desprende dos cães durante a noite.13 tor não descreveu de forma detalhada a
Esse carrapato é um dos principais metodologia utilizada, para uma melhor
parasitos de cães, sendo encontrado interpretação de seus resultados. 17
em alta prevalência em animais dessa Alguns pesquisadores do Mediter-
espécie, que vivem em ambiente ur- râneo apresentaram argumentos a favor
bano. Com frequência, torna-se uma da transmissão de Leishmania sp. por
importante praga urbana, que começa R. sanguineus.18 O mesmo autor salien-
a requerer atenção dos organismos de tou que flagelados de gênero próximo
38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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a Leishmania poderiam apenas kDNA de Leish-
A infestação por R.
não apenas ser mantidos, mania sp. em diferentes
sanguineus em cães
como também se desen- estádios de R. sanguineus
de área urbana é um
volverem no tubo diges- alimentados em cães
fator de risco para a
tivo de ixodídeos. com leishmaniose visce-
leishmaniose visceral
No Brasil, apesar do ral, incluindo os estádios
canina.
pequeno número de R. de pós-muda, sugerindo
sanguineus coletado (6 a manutenção e a trans-
fêmeas, 11 machos e 22 ninfas), foi de- missão transestadial de Leishmania sp.
monstrada uma taxa de infecção natu- em R. sanguineus. No entanto, nenhuma
ral de 15,4%, detectada pela técnica da forma do parasito foi encontrada nos es-
PCR (reação em cadeia da polimerase), tádios pesquisados.21
em cães soropositivos para Leishmania A infestação por R. sanguineus em
sp. A infectividade de Leishmania sp. en- cães de área urbana é um fator de risco
contrada nos carrapatos foi comprovada para a leishmaniose visceral canina. Os
por meio de inoculação experimental cães infestados têm 53% mais chance de
de macerados de carrapatos positivos adquirirem a infecção em comparação
em hamsters (Mesocricetus auratus) pela aos cães sem infestação.22
via oral e peritoneal, atingindo taxas de
infectividade da ordem dos 58,8% pela 2.2. Ctenocephalides felis
técnica de esfregaço em fígado e baço.19 felis (bouché, 1835)
Esse trabalho demonstrou, pela primei-
ra vez, a transmissão mecânica experi- As pulgas, independentemente de
mental de Leishmania sp. pela ingestão sua espécie, são insetos com metamor-
de carrapatos infectados. fose completa, sendo seu ciclo biológico
A técnica da PCR tem sido muito dividido em quatro fases diferenciadas:
utilizada em pesquisa e diagnóstico na ovo, larva, casulo pupal e adulto. O ci-
parasitologia veterinária, porém muitas clo biológico dos pulicídeos tem início
vezes os resultados obtidos são inter- quando os ovos são depositados entre
pretados equivocadamente. Devido à os pelos dos hospedeiros. Após a ovi-
sua alta sensibilidade, pode-se detectar, posição, estes caem ao solo, tendendo
aproximadamente, 1ng de DNA-alvo a acumular-se em grandes quantidades
na amostra examinada ou até menos. nos locais habitualmente mais frequen-
Assim, essa pequena quantidade pode tados pelos hospedeiros. As larvas eclo-
representar poucos parasitas, um único dem no intervalo entre um e 10 dias, de
parasita e/ou até mesmo fragmentos acordo com as condições ambientais de
deste agente.20 temperatura e umidade relativa, sendo
Até o momento, foi encontrado o tempo médio de desenvolvimento
Vetores mecânicos da Leishmaniose visceral canina 39

maio2012.indb 39 08/05/2012 16:28:18


larval de cinco a 11 dias, passando por pação na epidemiologia da LVC.25,26
três estádios, separados entre si por duas Em um estudo, foram coletados
mudas de cutícula. No final do seu de- 207 exemplares de pulgas (todos iden-
senvolvimento, o terceiro estádio larval tificados como da espécie C. felis felis),
deixa de se alimentar e esvazia seu tra- provenientes de 59 cães soropositivos
to digestivo, iniciando a produção de para Leishmania sp. Após dissecação
tênues fios de seda viscosos, para a for- de todo o material, em quatro pulgas
mação do casulo pupal, que irá aderir-se (1,9%) foram identificadas formas pro-
a qualquer sujidade ambiental, como mastigotas de tripanossomatídeos. Em
grãos de areia ou outro tipo de resíduo. 144 exemplares foi realizada a PCR,
A emergência das pulgas adultas ocorre sendo 43 amostras (29,9%) positivas
cerca de cinco a nove dias após o início para Leishmania sp. Em outra amostra
da pupação, podendo de 409 pulgas, coletada
chegar a um tempo longo É incontestável que de nove cães soroposi-
como 140 dias. As pulgas a espécie C. felis tivos, realizou-se mace-
emergentes apresentam felis está muito mais rado desses exemplares,
fototropismo positivo e disseminada entre os sendo, posteriormente,
geotropismo negativo, cães de área urbana inoculado pelas vias oral
além de serem atraídas do que sua congênere, e peritoneal em 36 ha-
por vibrações, correntes Ctenocephalides msters. Destes animais,
de ar, gás carbônico, ru- canis. seis morreram antes do
ídos, odores e outros es- término do experimento
tímulos químicos. Logo (seis meses pós-inócuo),
após a emergência, as pulgas iniciam o 16 animais (53,3%) tiveram sorologia
repasto sanguíneo, e a oviposição ocorre e PCR positivas para Leishmania sp.,
num tempo máximo de 36 a 48 horas do porém em nenhum foram encontradas
primeiro repasto. 23 formas amastigotas do parasito.25
É incontestável que a espécie C. felis Em outro estudo mais recente,
felis está muito mais disseminada entre realizado em Araçatuba, São Pau-
os cães de área urbana do que sua congê- lo, 22 exemplares de C. felis felis,
nere, Ctenocephalides canis.23. Em Minas coletados de 22 cães soropositivos
Gerais, foi verificado que de 4.499 pul- para LVC (sendo um exemplar por
gas capturadas de 282 cães provenientes cão), foram submetidos ao exame
de 11 municípios, a C. canis foi identi- da PCR e inoculados no peritô-
ficada em somente 0,76% das pulgas e nio de 22 hamsters. Os resultados
estava presente em 3,19% dos cães. 24 demonstraram que 59% das pulgas
C. felis felis também tem sido alvo de apresentaram PCR positiva e 18% dos
pesquisas devido à sua provável partici- roedores foram positivos nos testes de
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 40 08/05/2012 16:28:18


ensaio imunoenzimático (ELISA) e quanto a pulga dificilmente possam ser
PCR. 26 incriminados como vetores biológicos
Outro dado importante é que as da leishmaniose visceral canina. Contu-
pulgas apresentam alta taxa de infecção do, de acordo com os estudos realizados
natural por outros tripanossomatídeos, até o momento, R. sanguineus e C. felis
como Leptomonas, Herptomonas e Cri- felis podem estar atuando como vetores
thidia. 23 Desse modo, a mecânicos dessa doença.
infecção por Leishmania A infecção por Para que a transmis-
nessa espécie parece ser Leishmania nessa são mecânica de Leish-
provável, mantendo a hi- espécie parece ser mania sp. pelo carrapato
pótese de sua capacidade provável, mantendo tenha importância epi-
vetorial na transmissão a hipótese de sua demiológica, seriam ne-
mecânica da LVC. capacidade vetorial na cessários vários estádios
A infestação por C. transmissão mecânica infectados de R. sangui-
felis felis em cães de área da LVC. neus, presentes no am-
urbana também é um fa- A infestação por C. biente, para que os cães
tor de risco para a leish- felis felis em cães de pudessem ingeri-los e se
maniose visceral canina. área urbana também é contaminarem. Para isso,
Os cães infestados têm um fator de risco para o protozoário teria que
300% mais chance de ad-
a leishmaniose visceral sobreviver ao processo
quirirem a infecção, em
canina. de digestão do carrapa-
comparação aos cães sem to, multiplicar-se nessas
infestação.22 condições e ser transmi-
tido para os outros estádios dentro do
3. Considerações finais ciclo biológico.
A hipótese defendida neste artigo
É importante salientar que, para seria a possibilidade de os cães se infec-
ser considerado um vetor biológico da tarem por Leishmania sp. ao ingerirem
leishmaniose visceral canina, o artró- carrapatos ingurgitados, principalmente
pode deve: (1) alimentar-se no reserva- teleóginas recém- desprendidas de ani-
tório animal; (2) suportar o desenvol- mais infectados, ou então pela ingestão
vimento do parasito depois que o bolo de machos na lambedura, devido a um
sanguíneo infectado tiver sido digerido maior trânsito desse estádio entre os
e expulso; (3) possuir parasitos indistin- animais. A importância epidemiológica
guíveis daqueles isolados de pacientes; dessa hipótese estaria restrita às áreas
e (4) ser capaz de transmitir o parasito endêmicas para LVC com alta densi-
por meio da picada.27 A última carac- dade e trânsito animal, como em vilas,
terística faz com que tanto o carrapato favelas e canis, em associação às altas ta-
Vetores mecânicos da Leishmaniose visceral canina 41

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xas de infestação pelo carrapato. visceral leishmaniasis in the endemic area of
Porteirinha Municipality, Minas Gerais, Brazil.
Com relação à pulga, a hipótese
Vet. Parasitol., v.10, p.213-220, 2005.
também defendida aqui estaria relacio-
nada à ingestão pelos cães de pulgas, 3. MICHALSKY, E.M.; ROCHA, M.F.; DA
ROCHA-LIMA, A.C. et al. Infectivity of sero-
ou fezes de pulgas, contaminadas com
positive dogs, showing different clinical forms
Leishmania sp. As pulgas infectadas po- of leishmaniasis, to Lutzomyia longipalpis phle-
deriam ser ingeridas pelos cães ao passa- botomine sand flies. Vet. Parasitol., v.147, p.67-
rem de um cão infectado para um sadio, 76, 2007.
durante lambedura ou amamentação de 4. NUNES, C.M.; LIMA, V.M.; PAULA, H.B. et
filhotes. al. Dog culling and replacement in an area en-
Um dado também importante, do demic for visceral leishmaniasis in Brazil. Vet.
Parasitol., v.23, p.6:19, 2008 .
ponto de vista prático, são os frequentes
relatos dos agentes de controle de ende- 5. ROMERO, G.A.; BOELAERT, M. Control of
visceral leishmaniasis in latin america-a system-
mias e da população de áreas endêmicas
atic review. PLoS Negl. Trop. Dis., v.4, p.e584,
da intensa infestação por pulgas e carra- 2010
patos nos cães, principalmente nos que
6. SANTOS, S.O.; ARIAS, J.; RIBEIRO, A.A. et al.
são submetidos à eutanásia nos Centros Incrimination of Lutzomyia cruzi as a vector of
de Controle de Zoonoses (CCZs), devi- American Visceral Leishmaniasis. Med. Vet. En-
do à detecção de anticorpos anti-Leish- tomol., v.12, p.315-317, 1998.
mania spp. nesses animais. 7. MARTINS, A.V.; FALCÃO, A.L.; DA-SILVA,
Estes estudos indicam que R. san- J.E. et al. Nota sobre Lutzomyia (Lutzomyia)
guineus e C. felis felis (Bouché, 1835) cruzi (Mangabeira, 1938), com a descrição da
podem estar atuando na natureza como fêmea (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae).
Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v.79, p.439-442, 1984.
vetores mecânicos de Leishmania sp.,
contribuindo para a manutenção da do- 8. SAVANI, E.S.M.; NUNES, V.L.B.; GALATI,
E.A.B. et al. The finding of Lutzomyia almerioi
ença na população canina. Entretanto,
and Lutzomyia longipalpis naturally infected by
são necessárias mais pesquisas para re- Leishmania spp. in a cutaneous and canine vis-
jeitar ou não essa hipótese. ceral leishmaniases focus in Serra da Bodoque-
na, Brazil. Vet. Parasitol., v.24, p.160-18, 2009.
4. Referências 9. SARAIVA, L.; CARVALHO, G.M.L.; GONTI-
1. MONTOYA-LERMA, J.; CADENA, H.; JO, C.M.F. et al. Natural infection of Lutzomyia
OVIEDO, M. et al. Comparative vectorial effi- neivai and Lutzomyia sallesi (Diptera: Psychodi-
ciency of Lutzomyia evansi and Lu. Longipalpis dae) by Leishmania infantum chagasi in Brazil. J.
Med. Entomol., v.46, p.1159-1163, 2009.
for transmitting Leishmania chagasi. Acta Trop.,
v.85, p.19-29, 2003. 10. SOULSBY, E.J.L. Biology of Parasites. Empha-
sis on Veterinary Parasitis. Academic Press. New
2. FRANÇA-SILVA, J.C.; BARATA, R.A.; COS-
York an London,. p. 72-77, 1966.
TA, R.T. et al. Importance of Lutzomyia longi-
palpis in the dynamics of transmission of canine 11. LABRUNA, M.B.; PEREIRA, M.C. Carrapato
42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 42 08/05/2012 16:28:19


em Cães no Brasil. Clin. Vet., v.30, p.24-32, 2001. of canine visceral leishmaniasis. Vet. Parasitol.,
v.128, p.149-55, 2005.
12. PAZ, G.F.; LABRUNA, M.B.; LEITE, R.C.
Drop off rhythm of Rhipicephalus sanguineus 20. PRICHARD, R. Application of molecular bio-
(Acari: Ixodidae) of artificially infested dogs. logy in veterinary parasitology. Vet. Parasitol.,
Rev. Bras. Parasitol. Vet., v.17, p.139-44, 2008. v.31, p.155-175, 1997.

13. PAZ, G.F.; LEITE, R.C. OLIVEIRA, P.R. 21. PAZ, G.F.; RIBEIRO, M.F.; MICHALSKY,
Control of Rhipicephalus sanguineus (Latreille, E.M. et al. Evaluation of the vectorial capacity
1806) (Acari: Ixodidae) in the kennel of the of Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidae)
UFMG Veterinary School, Belo Horizonte, Mi- in the transmission of canine visceral leishmani-
nas Gerais, Brazil. Rev. Bras. Parasitol. Vet., v.17, asis. Parasitol. Res., v.106, p.523-8, 2010.
p 41-44, 2008.
22. PAZ, G.F.; RIBEIRO, M.F.; MAGALHÃES,
14. GOTHE, R.; WEGEROT, S.; WALDEN, R. et D.F. et al. Association between the prevalence
al. Epidemiology of Babesia canis and Babesia of infestation by Rhipicephalus sanguineus and
gibsoni infections in dogs in Germany. Kieinti- Ctenocephalides felis felis and the presence of
erpraxis; v.34, p.309- 320, 1989. anti-Leishmania antibodies: A case-control
study in dogs from a Brazilian endemic area.
15. DANTAS-TORRES, F.; DE BRITO, M.E.;
Prev. Vet. Med., v.97, p.131-3, 2010.
BRANDÃO-FILHO, S.P. Seroepidemiologi-
cal survey on canine leishmaniasis among dogs 23. LINARDI, P.M.; GUIMARÃES, L.R. Sipho-
from an urban area of Brazil. Vet. Parasitol., v.31, nápteros do Brasil. Museu de Zoologia da Uni-
p.54-60, 2006. versidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

16. GUGLIELMONE, A.A,; BEATI, L.; BARROS- 24. LINARDI, P.M.; NAGEM, R. L. Pulicídeos e
BATTESTI, D.M. et al. Ticks (Ixodidae) on hu- outros ectoparasitos de cães de Belo Horizonte
mans in South América. Exp. Appl. Acarol., v.40, e municípios vizinhos. Rev. Bras. Biologia, v.33
p.83-100, 2006. ,p.529 - 38, 1973.

17. BLANC, G.; Caminopetros, J. La trasmission 25. COUTINHO, M.T.Z.;, LINARDI, P.M. Can
du Kala – Azar méditerraneén par une tique: fleas from dogs infected with canine visceral
Rhipicephalus sanguineus. C. R. Acad. Sci., v.191, leishmaniasis transfer the infection to other
p.1162 – 4, 1930. mammals? Vet. Parasitol., v.147: p.320-5, 2007.

18. SHERLOCK, I.A.; MIRANDA, J.C.; SADI- 26. FERREIRA, M.G.P.A.; FATTORI, K.R.; SOU-
GURSKY, M. et al. Natural infection of the ZA, F. et al. Potential role for dog fleas in the
opossum Didelphis albiventris (Marsupialia, Di- cycle of Leishmania spp. Vet. Parasitol., v.165:
delphidae) with Leishmania donovani, in Brazil. p.150-154, 2009.
Mem. Inst. Oswaldo Cruz., v.79: p.5-11, 1984.
27. KILLICK-KENDRICK, R. Phlebotomine vec-
19. COUTINHO, M.T.Z.; BUENO, L.L.; STER- tors of the leishmaniases: a review. Med. Vet. En-
ZIK, A. et al. Participation of Rhipicephalus san- tomol., v.4, p.1-24, 1990.
guineus (Acari: Ixodidae) in the epidemiology

Vetores mecânicos da Leishmaniose visceral canina 43

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Vigilância e controle da
leishmaniose visceral
no contexto urbano

bigstockphoto.com

Maria Helena Franco Morais1,2,*, Vanessa Oliveira Pires Fiúza1, Valdelaine Etelvina Miranda de Araújo1,2, Mariânge-
la Carneiro2

Secretaria Municipal de Saúde, Prefeitura de Belo Horizonte, MG


1

Instituto de Ciências Biológicas - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, MG


2

E-mail: mhfmorais@yahoo.com.br

Introdução tracelulares obrigatórios e transmitidos


As leishmanioses são caracterizadas aos hospedeiros e reservatórios, entre
por sua diversidade e complexidade. eles o homem, por aproximadamente
Doenças metaxênicas, são causadas por 30 espécies de flebotomíneos. Ocor-
mais de vinte espécies de protozoários re de forma endêmica em grande área
do gênero Leishmania spp., parasitas in- dos trópicos, regiões subtropicais e na
44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 44 08/05/2012 16:28:19


bacia do Mediterrâneo, implantação de progra-
Leishmaniose
e é composta por quatro
visceral: pode ser fatal ma para reduzir a inci-
principais síndromes clí- dência anual da doença
quando não tratada;
nicas: leishmaniose vis-
leishmaniose mucosa: para um caso por 10.000
ceral (LV), geralmente
mutilação de mucosas habitantes e, com isto,
fatal quando não tratada; eliminar sua ocorrência
nasais e bucais;
leishmaniose mucosa até o ano de 2015.3
leishmaniose cutânea
(LM), uma forma que Na Europa, a situ-
difusa e leishmaniose
pode levar à mutilação de
cutânea: incapacitantes ação da LV tem-se tor-
mucosas nasais e bucais; nado uma séria questão,
quando as lesões são
leishmaniose cutânea di- com aumento do nú-
múltiplas.
fusa (LCD), doença de mero de casos clínicos,
longa duração, que pode assim como de infecção
ocorrer devido a sistemas imunitários assintomática em humanos. Estima-se
deficientes; e a leishmaniose cutânea que, para cada caso de leishmaniose
(LC), que pode ser incapacitante quan- visceral humana (LVH), possa haver de
do as lesões são múltiplas1. três a 10 infecções subclínicas. Bancos
O gênero Leishmania, subgênero de sangue em regiões endêmicas no sul
Leishmania, engloba várias espécies, en- da França, na Grécia e na Espanha de-
tre as quais duas que levam à ocorrência tectaram 3,4%, 15% e 22,1% de sororre-
da forma visceral da doença: Leishma- atividade, respectivamente. Em regiões
nia (Leishmania) infantum, zoonose que endêmicas da Espanha são encontrados
ocorre na Europa, no norte da África e até 34% de positividade canina.4
na América Latina, e Leishmania (Leish- No Brasil, a LV é causada pela Leish-
mania) donovani, antroponose endêmi- mania (Leishmania) chagasi (=L. infan-
ca no leste da África e na Índia. 1 tum), uma zoonose transmitida princi-
O número total de novos casos hu- palmente por Lutzomyia (Lutzomyia)
manos de LV, no mundo, é estimado em longipalpis. O cão é considerado o prin-
cerca de 500.000, com 50.000 óbitos cipal reservatório urbano do parasita,
a cada ano. Bangladesh, Brasil, Índia, desempenhando um papel importante
Nepal, Sudão e Etiópia representam na transmissão e na epi-
aproximadamente 90% demiologia da doença. 5
dos casos estimados da No Brasil, a LV A complexidade epi-
doença.2 Governos da é causada pela demiológica, somada ao
Índia, do Nepal e de Ban- Leishmania processo de urbaniza-
gladesh, onde ocorrem chagasi transmitida ção da LV no Brasil, que
67% do número de casos por Lutzomyia ocorre desde a década de
mundiais, propuseram a longipalpis. 1980, tornou a vigilância
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 45

maio2012.indb 45 08/05/2012 16:28:20


e o controle um desafio. Diante disso, urbanização da doença, as regiões Norte
evidências científicas podem ajudar no e Sudeste apresentaram 37% dos casos,
planejamento, no monitoramento, na e a região Centro-Oeste 7%. No ano de
avaliação e na atualização necessária ao 2009, foi confirmado o primeiro caso
programa de controle. A presente revi- autóctone na região Sul, no estado do
são apresenta estudos úteis nesse con- Rio Grande do Sul.10
texto. Grandes cidades brasileiras, como
São Luís (MA), Teresina (PI), Natal
Situação epidemiológica (RN), Aracaju (SE), Fortaleza (CE),
da leishmaniose visceral Rio de Janeiro (RJ), Corumbá (MS),
e medidas de controle Montes Claros e Sabará (MG), apresen-
desenvolvidas taram casos autóctones já na década de
A incidência anual média da LVH 1980. No início dos anos 90, municí-
no Brasil, no período de 1990 a 2009, pios como Belo Horizonte (MG), Feira
foi de aproximadamente 1,8/100.000 de Santana (BA), Várzea Grande (MT),
habitantes.6 Entre 1994 e 2005, a le- Araçatuba (SP), Aquidauana (MS) tor-
talidade média anual foi de 5,5%, com naram-se focos de leishmaniose visceral
incremento de 117% no ano de 2005 em áreas urbanas e, desde 2000, novas
(6,9%) em relação a 1994 (3,2%).7 A epidemias urbanas foram notificadas
alta letalidade é o principal problema nos municípios de Palmas (TO), Três
da LV, e atualmente sua ocorrência tem Lagoas e Campo Grande (MS), Caxias,
sido vinculada à presença de comorbi- Timon, Codó e Imperatriz (MA), Bau-
dades.8; 9 ru (SP), Paracatu (MG), Cametá (PA)
Inicialmente, a LV foi caracterizada e outros.
7

como endêmica em áre- Ambientes com


as rurais, principalmente De 1980 a 2009, o baixo nível socioeconô-
nos estados do Nordes- Brasil registrou 71.119 mico e estrutura básica
te do Brasil. De 1980 a casos novos da doença, precária, muito comum
2009, o Brasil registrou com uma média anual em áreas rurais, são pro-
71.119 casos novos da de 2.452 casos pícios para a ocorrência
doença, com uma média de LV. Os processos mi-
anual de 2.452 casos. Desde a década gratórios facilitaram a
de 1980, um número crescente de LVH expansão da doença. Atualmente esse
tem sido relatado em grandes metrópo- processo é continuado devido ao esva-
les brasileiras, com 94% dos casos regis- ziamento rural, à contínua movimenta-
trados na região Nordeste, sendo esse ção populacional aliada ao crescimento
percentual reduzido para 89% nos anos desordenado das cidades, às intensas
90. Na década de 2000, com o avanço da transformações ambientais e às altas
46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 46 08/05/2012 16:28:20


densidades demográficas. 5 saúde, principalmente para delineamen-
Essas questões remetem à heteroge- tos ecológicos e transversais. 13 No caso
neidade da transmissão no meio urba- de doenças com longa cadeia causal e de
no. Os vários cenários de transmissão grande relação com o ambiente, como
oriundos das diferenças intraurbanas a LV, a proposição de medidas de inter-
apresentam maior ou menor semelhan- venção deve levar em consideração as
ça com o padrão rural, formando um diferenças intraurbanas existentes.
verdadeiro mosaico de realidades so- Estudos que avaliam as ações de
ciocultural-ambientais, que incidem na controle da LV têm sido realizados, no
dinâmica da doença. Tais fatores favo- entanto os resultados são conflitantes.
recem o contato entre seres humanos, O início das atividades de controle no
vetores e outros animais, porém não Brasil remonta ao ano de 1953, no es-
parecem ser suficientes para afirmar que tado do Ceará. 14 Naquele momento foi
exista um padrão epidemiológico urba- proposto o controle sobre a tríade: tra-
no de transmissão, em oposição ao que tamento de casos humanos; controle do
ocorre no meio rural. 11 reservatório canino e do vetor.15
No Brasil, zona urbana é definida Na década de 60, Magalhães et al.16
por lei municipal, e existe grande varia- conduziram estudo de intervenção na
bilidade de critérios utilizados para tais região do Vale do Rio Doce, em Minas
classificações entre os municípios. 12 Re- Gerais. Os resultados mostraram impac-
lacionadas a essas definições, o termo to prolongado na redução de LVH e da
urbano refere-se às cidades e seu entor- infecção canina. Esse estudo foi realiza-
no, urbanicidade ao estudo de condições do sobre as mesmas bases de controle,
de saúde relevantes para as áreas urba- porém em contexto diferente do atual.
nas em dado momento, e Estudos avaliaram
urbanização ao complexo O início das atividades o papel do reservatório
processo pelo qual as ci- de controle no Brasil canino na epidemiolo-
dades crescem (ou dimi- remonta ao ano de gia da doença. Dietze et
nuem), modificam-se e 1953, no estado do al.17, em ensaio controla-
influenciam a saúde de Ceará. do, investigaram o papel
sua população. 13
de cães soropositivos na
Nesse contexto, es- infecção humana por LV. Não encontra-
tudos comparativos intraurbanos, que ram diferenças significativas entre a in-
focalizam a distribuição espacial de cidência de soroconversão de humanos
grupos de indivíduos vivendo em uma nas áreas de intervenção comparadas à
mesma vizinhança, permitem avaliar as- área-controle ao final de 12 meses de
sociações entre características da unida- estudo, apesar da retirada dos cães soro-
de espacial em estudo, com eventos em positivos.
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 47

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Ashford et al.18 avaliaram o efeito da pode ter interferido na efetividade des-
remoção de cães infectados por Leish- sa estratégia, devido à permanência de
mania sp. sobre a soroconversão canina cães infectados no ambiente. 19
e a incidência de leishmaniose visceral O estudo da movimentação de cães
em crianças. Observou-se redução sig- em Jequié, Bahia, mostrou a importân-
nificativa da incidência de sororreativi- cia desse reservatório no surgimento de
dade canina, assim como da incidência novos focos da doença, bem como a di-
de doença em crianças com menos de ficuldade das ações de controle. Os au-
15 anos de idade. Entretanto, os autores tores também chamam a atenção para a
questionam se os resultados obtidos re- ocorrência de áreas com concentrações
lacionaram-se à efetividade do controle de cães positivos, porém sem casos hu-
em cães. manos. Novas áreas com casos de LVH
Várias questões têm sido descritas podem surgir, se medidas não forem im-
como limitantes na obtenção de me- plementadas. 20
lhores resultados no controle do reser- Avaliando as estratégias propostas
vatório. O intervalo de tempo entre a pelo Programa de Vigilância e Controle
realização da coleta e a eutanásia do cão da Leishmaniose Visceral (PCLV), Ca-
reagente é apontado como um dos fa- margo-Neves21 identificou o controle de
tores que interferem na efetividade do reservatórios como sendo a de melhor
programa. A retirada otimizada de cães, custo-benefício.
sete dias após a coleta, em grupo de cães A migração de cães para áreas sob
examinados com a téc- intervenção, funcionan-
nica de Enzyme Linked A retirada otimizada do como reposição de
Immunosorbent Assay de cães, sete dias após animais recolhidos, che-
(ELISA), reduziu em a coleta reduziu em gou a 50% da população
27% a sororreatividade 27% a sororreatividade canina em estudo, sendo
canina após seis meses. canina após seis meses. que, destes, 15% já se en-
No grupo-controle, os contravam infectados ao
cães foram examinados pela reação de serem introduzidos na população.22 Es-
imunofluorescência indireta (RIFI) e tudo realizado em Araçatuba, São Paulo,
recolhidos com intervalo médio de 80 identificou reposição canina de 39% dos
dias. Esse grupo apresentou redução cães recolhidos, no período de agosto
de 7% na soroprevalência. Os autores de 2002 a julho de 2004.23
salientam que, além do menor prazo de Oliveira e Araújo24 avaliaram as
recolhimento, a maior sensibilidade do ações de controle de LV desenvolvidas
ELISA também contribuiu para obten- rotineiramente em Feira de Santana,
ção desses resultados, e a utilização da Bahia, no período de 1995 a 2000. En-
RIFI nos inquéritos sorológicos caninos contraram relação significativa inversa
48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 48 08/05/2012 16:28:20


entre número de ciclos de borrifação de o resultado desse estudo indicar redu-
imóveis para controle vetorial e incidên- ção em torno de 30% na incidência de
cia de casos humanos. infecção nas áreas sob intervenção, essa
Nos anos de 1995 e 1996, foi reali- diminuição não foi significativa.
zado um estudo comunitário randomi- Ao descreverem a epidemia de
zado de intervenção em Teresina, Piauí leishmaniose visceral no estado do
com o objetivo de avaliar a efetividade Piauí, cuja capital, Teresina, foi o pri-
das intervenções conjuntas sobre o con- meiro grande município com ocorrên-
trole vetorial e de reservatórios. Foram cia de epidemia no Brasil, Costa et al.27
realizados quatro tipos de intervenções identificaram entre os municípios com
em áreas distintas. Os resultados mos- menores coeficientes de incidência de
traram que a eliminação do reservatório LVH daquele estado aqueles em que os
canino, associada à borrifação intrado- imóveis receberam tratamento focal ou
miciliar, reduziu a incidência de infec- preventivo com DDT.
ção em humanos, em Dye28 modelou o
comparação com área Para maior efetividade efeito de diferentes estra-
onde somente ocorreu do controle vetorial, tégias na transmissão da
borrifação intradomici- é necessária a leishmaniose e mostrou
liar. Por outro lado, a bor- realização de que o controle vetorial
rifação intradomiciliar, alterações ambientais químico foi mais efetivo
associada à borrifação que dificultem o do que o controle dos
de anexos, com ou sem estabelecimento do reservatórios na redução
eliminação de cães infec- vetor na área. da incidência e da preva-
tados, não esteve signifi- lência tanto da LV huma-
cantemente associada à na quanto da canina.
redução da infecção humana. 25
No entanto, merecem destaque as
Souza et al.26 realizaram ensaio co- condições e os produtos químicos utili-
munitário para avaliação da efetividade zados nesses estudos, que são comple-
das estratégias de prevenção e controle tamente diferentes do contexto mais re-
da LVH no município de Feira de Santa- cente da leishmaniose visceral. Segundo
na (BA). Duas áreas receberam ações de o PCLV, para maior efetividade do con-
controle diferenciadas: uma com con- trole vetorial, é necessária a realização
trole vetorial químico e outra com con- de alterações ambientais que dificultem
trole vetorial e do reservatório. A tercei- o estabelecimento do vetor na área, o
ra foi selecionada como área-controle. A que depende não só da intervenção do
densidade de incidência da infecção foi poder público como também de mu-
de 2,5, 1,9 e 2,7 casos/100 crianças, res- danças de comportamento da popula-
pectivamente, nas três áreas. Apesar de ção. Esta última é uma medida da qual
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 49

maio2012.indb 49 08/05/2012 16:28:20


se esperam resultados a médio e longo o uso da coleira, em período no qual a
prazo. 5 transmissão da doença se mostrou mais
Alternativas para o controle quími- intensa.
co tradicional têm sido estudadas. No Alternativa de controle individu-
nível do controle individual, com reper- al para os cães seria o uso de produtos
cussões no coletivo, existem as coleiras spot-on, à base de permetrina (65%).
impregnadas com produtos químicos Resultados de estudo em área endêmica
de ação repelente e inseticida. Estudo de LV mostraram redução da incidência
realizado no Ceará confirmou o efeito de infecção no grupo-tratado.33
repelente e sobre a densidade de veto- Courtenay et al.34 testaram no Brasil
res do uso de coleiras impregnadas com o uso de cortinados impregnados com
deltametrina em cães. 29 Gavgani et al.30 deltametrina como uma barreira física,
obtiveram resultados satisfatórios com em comparação com cortinados não
uso de coleiras impregnadas com del- tratados. Os resultados iniciais apontam
tametrina em cães, reduzindo em 46% melhor efetividade do efeito de barreira
a taxa de infecção canina no primeiro e de mortalidade de flebotomíneos. Essa
ano, quando comparada com os cães estratégia tem sido utilizada em outros
sem uso da coleira, além de reduzir em países, com resultados promissores.35; 36
43% o risco de infecção em crianças.
Estudo recente realizado no Brasil 2.1. Diagnóstico canino
mostrou que o impacto do uso de colei- Os testes diagnósticos utilizados
ras impregnadas pode ser maior do que em inquéritos sorológicos também
o obtido pela estratégia de eutanásia, são descritos como fator que interfe-
dependendo da cobertura obtida com re no controle da transmissão da LV.
o uso da coleira, bem como das perdas Nos inquéritos caninos, as técnicas de
ocorridas na manutenção delas. Em áre- ELISA (ensaio imunoenzimático) e
as com baixos percentuais de sororrea- RIFI (imunofluorescência indireta)
tividade canina, porém, o impacto de são utilizadas, respectivamente, para
ambas as intervenções foi similar. Com triagem e confirmação dos resultados,
o aumento da taxa de transmissão, espe- segundo orientação do PCLV.5 Vários
ra-se melhor resultado do uso da coleira estudos têm buscado avaliar a acurácia
sobre a estratégia da eutanásia. 31 Esses dos testes utilizados.
resultados coincidem Dye et al.37 avaliaram
com o obtido por Maro- Técnicas de ELISA e o desempenho da RIFI
li et al. no sul da Itália,
32 RIFI são utilizadas na detecção de infecção
onde até 86,0% de prote- para triagem e por L. infantum em cães
ção contra a infecção ca- confirmação dos naturalmente infectados,
nina foi observada com resultados. propondo contrapor os
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resultados de sensibilidade e especifici- (DAT), em animais suspeitos de LV,
dade aos encontrados em testes realiza- demonstrou sensibilidade de 100% para
dos com soros caracterizados. No acom- os dois testes. A especificidade do DAT
panhamento da coorte, observaram foi maior (91,0%), se comparada à en-
variação nos valores de sensibilidade e contrada para RIFI, de 74,0%. 40
especificidade da técnica, dependendo Coura-Vital41et al. compar a pre-
do momento da infecção. A sensibilida- valência de sororreatividade em cães a
de máxima, porém, foi sempre inferior partir de resultados obtidos por meio
a 80%. Salientam que a utilização desse da técnica de ELISA, utilizada na rotina
teste em inquéritos sorológicos caninos do serviço para triagem de cães nega-
pode subestimar a prevalência de cães tivos, com reação em cadeia pela poli-
infectados assim como a dimensão do merase associada à restrição enzimática
problema existente e dos desafios para (PCR-RFLP). O estudo, desenvolvi-
o controle. do na Regional Noroeste de Belo Ho-
Rosário et al.38 não encontraram di- rizonte entre os anos de 2008 e 2010,
ferenças significativas no desempenho demonstrou diferença de 15,9% na de-
das técnicas RIFI e ELISA ao avaliarem tecção da infecção, ao comparar os resul-
o uso dos dois testes em cães. Da mesma tados obtidos na PCR-PFLP com resul-
forma, os resultados obtidos na compa- tados do ELISA. Ao final desse estudo,
ração entre testes de ELISA com antíge- aos 30 meses, somente 16% dos cães
nos brutos de L. chagasi e L. amazonen- pertencentes à coorte não se infectaram,
sis e recombinantes rK39 e rK26 foram segundo resultados da PCR-RFLP.
semelhantes, tanto em testes realizados Apesar dos vários estudos realizados
com soro quanto em eluatos obtidos de para avaliação das técnicas diagnósticas,
coleta em papel-filtro. mantêm-se as questões acerca de quais
Lira et al.39 também avaliaram as téc- técnicas podem representar melhores
nicas diagnósticas utilizadas em inqué- estratégias de uso e custo-efetividade
ritos caninos, com o uso dos antígenos para aplicação em inquéritos caninos. 42;
fornecidos por Bio-Manguinhos5 (Fio- 43

cruz, Brasil). O desempenho da RIFI foi Considerando a baixa sensibilidade,


similar ao do ELISA. Entretanto, com a especificidade e reprodutibilidade dos
utilização dos testes em série, a sensibi- testes atualmente utilizados, principal-
lidade encontrada foi de 48%, e a especi- mente com o kit de RIFI e as frequentes
ficidade de 100%. Os autores indicam a interrupções no fornecimento deles, o
utilização desses testes em paralelo para Ministério da Saúde orientou realização
obtenção de maior sensibilidade. de estudo transversal, multicêntrico,
A comparação da técnica de RIFI randomizado e duplo-cego com o ob-
com o teste de aglutinação direta jetivo de validar os testes diagnósticos
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 51

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sorológicos da LVC produzidos pelo la- 2.2. Infecção humana
boratório de Bio-Manguinhos (Fiocruz,
Brasil), gerando resultados que possam Como somente parte das pessoas
infectadas desenvolve a doença45;46;47, o
assegurar tomadas de decisão em saúde
conhecimento da situa-
pública. Foram testados
ção de infecções subclí-
aproximadamente 1.400 Os resultados obtidos
mostraram maior nicas também é impor-
soros de cães de área
sensibilidade e tante para avaliação da
urbana com transmis-
transmissão e dos fatores
são intensa e percentual especificidade do DPP e
de risco ligados a ela.
de positividade canina ELISA ao se comparar
com ELISA e RIFI. Além disso, a infecção
maior que 10%. Foram
humana é um quesito a
comparados os resulta-
ser considerado na pro-
dos dos testes com ELISA major like,
posição e avaliação de medidas de con-
RIFI major like (1:40) e teste rápido
trole. Porém, a dificuldade de se diag-
imunocromatográfico (DPP), tendo
nosticar esse tipo de infecção ocorre em
exames parasitológicos como padrão função das técnicas disponíveis e dos
ouro. Os resultados obtidos mostra- baixos níveis de anticorpos no sangue.
ram maior sensibilidade (87,88 IC95% 48; 49
79,78-93,58) e especificidade (88,03 Badaró et al.45 identificaram, em
IC95% 86,68-90,21) do DPP e ELISA área endêmica para LV no Brasil, maior
ao se comparar com ELISA e RIFI (sen- chance de se infectar por LV relaciona-
sibilidade de 86,00 IC95% 77,63-92,13 da ao aumento da idade de crianças até
e especificidade de 85,71 IC95% 83,67- 15 anos. O adoecimento, por sua vez,
87,59) também utilizados em série. Foi foi mais prevalente em crianças desnu-
igualmente melhor a reprodutibilidade tridas e menores de cinco anos de idade
apresentada pelo DPP (0,778 IC95% (68%).
0,745-0,812) e pelo ELISA (0,819 Inquérito sorológico realizado no
IC95% 0,851-0,884) em comparação Ceará, não encontrou risco diferencia-
à RIFI (0,459 IC95% 0,418-0,499). A do de infecção segundo a idade entre
partir dos resultados acima, foi orienta- crianças de até 12 anos, mas o desen-
da a substituição do método atual por volvimento da doença foi mais inciden-
utilização de DPP como teste de tria- te em crianças de até quatro anos, com
gem usando sangue total, plasma ou hematócrito abaixo de 33%, e que resi-
soro sanguíneo, bem como a realização dem nas regiões de maior altitude, onde
do ELISA como confirmatória, utilizan- também ocorreu maior taxa de infecção.
do soro sanguíneo para os exames reali- Das 710 crianças examinadas na avalia-
zados em cães.44 ção da linha de base, 6,8% apresentaram
52 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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resultados reativos. A incidência anual de flebótomos, cães e/ou galinhas na
acumulada foi de 4,6%, e a ocorrência residência ou na vizinhança significa-
de casos de LVH em familiares aumen- ram proteção ou risco, conforme o teste
tou em três vezes o risco de infecção por diagnóstico considerado. A prevalência
LV. 46 inicial foi de 13,5%, e a final, após um
Em localidade próxima a Salvador, ano de acompanhamento, de 34,4%. A
capital da Bahia, inquérito sorológico incidência da infecção foi de 28%. 52
humano não identificou diferença sig- Em inquéritos sorológicos realiza-
nificativa na frequência de infecção por dos no Irã, 22% dos cães examinados
L. chagasi entre familiares (45%) e vizi- foram sororreativos, média de infecção
nhos (27%) dos casos. 50 maior do que a encontrada em crianças
Inquérito sorológico realizado entre assintomáticas (7%). A sororreativi-
1987 e 1989, em área rural endêmica dade em crianças foi significativamen-
no interior do estado do te maior nas vilas com
Ceará, identificou inci- maior número de cães,
Há maior chance
dência anual de 5% em assim como naquelas
de se infectar por
crianças de até 11 anos. com maior relação de
LV relacionada ao
Crianças oriundas de re- cães/habitante. Ser pro-
aumento da idade de
sidências com ocorrência prietário de cães tam-
crianças até 15 anos.
anterior de casos de LVH bém foi considerado fa-
apresentaram maior risco tor de risco para infecção
de infecção (três vezes). A LVH ocorreu infantil. 53

em 12% das crianças sororreativas, nos Na cidade de Natal (RN), foi con-
primeiros quatro anos do experimen- duzido estudo com 216 famílias e 1106
to. No estudo de seguimento, realizado indivíduos, identificados a partir de ca-
em 1994, foram obtidas informações a sos de LVH. Os resultados mostraram
respeito das crianças sororreativas, não diferentes padrões de infecção, que va-
havendo posterior desenvolvimento de riaram desde casos clínicos da doença
leishmaniose clínica nessas crianças. 51 (12%) a ocorrência de infecção assinto-
No Maranhão, estudo sobre fatores mática com autorresolução (35%) e de
de risco para infecção identificou os se- infecção assintomática recente (1,9%).
guintes elementos: ocorrência de LVH A ocorrência da doença nesse municí-
em familiares, idade das crianças entre pio tem sido relacionada ao crescimen-
dois e cinco anos e local de moradia. to de bairros da periferia da cidade, com
Nesse estudo, porém, alguns resultados tendência de diminuição em áreas onde
variaram conforme o teste utilizado (in- ocorrem melhorias advindas do desen-
tradermorreação de Montenegro-IDR volvimento urbano. 54
ou ELISA). Variáveis como presença Os fatores de risco para infecção hu-
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 53

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mana por L. infantum, encontrados em de ELISA, sendo de 19,4% para rk39 e
estudo transversal de base populacional de 19,7% para antígeno bruto.57
no município de Sabará, Minas Gerais, Inquéritos realizados no Irã de-
variaram de acordo com os marcadores monstraram a presença de infecção sub-
de infecção utilizados. As taxas de pre- clínica por meio de sorologia e também
valência da infecção variaram entre 2,4 PCR. Entre os que se apresentaram
e 5,6%, dependendo do teste diagnós- infectados, 18% residiam junto com
tico utilizado.55 Na avaliação de fatores pessoas que apresentaram LV clínica
de risco, um modelo incluiu todos os em momento anterior ao inquérito. O
participantes reativos na hibridização acompanhamento, durante 18 meses,
com sonda para o complexo L. donova- de participantes que apresentaram PCR
ni, enquanto outro incluiu, além destes, positiva não identificou desenvolvimen-
aqueles reativos em pelo menos um tes- to clínico de doença.58
te sorológico. A avaliação Estudo conduzido
conjunta dos dois mode- fator de risco: presença na Região Metropoli-
los identificou como fator de lixo não removido tana de Belo Horizonte
de risco: presença de lixo pela coleta pública, avaliou 138 parentes e
não removido pela coleta lixo não enterrado vizinhos de casos clíni-
pública, lixo não enter- ou depositado fora de cos diagnosticados. As
rado ou depositado fora casa, relato familiar de positividades na primei-
de casa, relato familiar de conhecimento sobre o ra avaliação, nas técnicas
conhecimento sobre o ve- vetor, presença de áreas ELISA-L. chagasi, ELI-
tor, presença de áreas de de erosão no bairro, SA-rK39 e PCR, foram
erosão no bairro, tempo tempo de permanência 9,4%, 5,1%, 18,1%, res-
de permanência fora de fora de casa entre pectivamente. Após 12
casa entre 18 e 22 horas 18 e 22 horas e ser meses de seguimento,
e ser proprietário de aves. proprietário de aves. somente 2,9% daqueles
56
Os resultados desse es- previamente positivos
tudo se assemelham aos na PCR permaneceram
achados de Caldas et al. 52
infectados, e 14,2% entre os negativos
Avaliação da prevalência de infecção se tornaram infectados. Durante o se-
assintomática, por meio das técnicas de guimento, nenhum participante apre-
ELISA, com antígeno bruto e rk39, além sentou manifestação clinica de LV. 59
da intradermorreação de Montenegro, Ausência de adoecimento foi também
foi realizada em 1520 crianças menores observada em uma coorte de indivídu-
de 15 anos, no Maranhão. Os resultados os infectados por L. infantum avaliados
mostraram prevalências similares para em três momentos, durante sete anos de
os dois antígenos utilizados na técnica acompanhamento. 60
54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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Com o objetivo de avaliar téc- Nesse estudo, após um ano do inquérito
nicas utilizadas para diagnóstico da inicial, 68,0% das crianças com resulta-
infecção assintomática por L. infan- dos sorológicos reativos foram reexa-
tum, Romero et al. 61 avaliaram os se- minadas. A positividade entre elas caiu
guintes testes: ELISA com antígeno para 8,7%, e nenhuma apresentou sin-
de promastigotas (ELISAp); ELISA tomas compatíveis com leishmaniose.63
com antígeno rk39 recombinante A avaliação da infecção humana
(ELISA rK39); ELISA com antígeno tem sido frequentemente estudada.
rk26 (ELISArk26); teste de imuno- Como pode ser observado nos estudos
fluorescência indireta com antígeno acima, ela é importante na avaliação
de formas promastigotas de Leishma- da real transmissão da LV. Entretanto,
nia (L.) amazonensis (RIFI) e teste a baixa acurácia dos testes sorológicos
imunocromatográfico com antígeno e as dificuldades de implementação de
rK39 (TRALd). O melhor desempe- técnicas moleculares para realização
nho para diagnóstico de casos clíni- de inquéritos epidemiológicos podem
cos foi obtido pelas técnicas de RIFI e comprometer resultados de estudos de
TRALd. Maior sensibilidade (69%) e avaliação, ao se subestimar a prevalência
especificidade (100%) foram obtidas de infecção subclínica.64
com ELISA utilizando-se antígenos Por outro lado, investigações condu-
recombinantes. Os autores concluem zidas em Bangladesh, Nepal e Sudão su-
que, devido às diferenças na positivi- geriram que a sorologia é adequada para
dade dos testes utilizados, juntamen- identificar infecção por L. donovani em
te com a baixa concordância entre os estudos de campo, por apresentar alta
resultados, não é possível selecionar sensibilidade e especificidade, e mode-
o melhor teste para o diagnóstico de rada concordância.65; 66; 67
infecção por L. infantum. Além disso, considerando-se os
Recente estudo realizado no mu- elevados percentuais de infecção assin-
nicípio de Raposa (Maranhão) iden- tomática identificados entre seres hu-
tificou infecção por L. infantum em manos, é questionada a possibilidade
18,9% dos indivíduos examinados, de casos de LVH, pessoas com infecção
47,8% dos cães e 1,56% da espécie subclínica ou, ainda, com infecção as-
vetora L. longipalpis capturada, o que sintomática, funcionarem como fonte
ocorreu com maior frequência no de infecção para o vetor.58;68 Experimen-
peridomicílio (74,5%). 62 Esse resul- talmente, a infectividade para vetores, a
tado é similar ao encontrado em área partir de pessoas doentes, demonstrou
urbana de Belo Horizonte, onde in- infecção de 0,7% dos flebótomos utili-
quérito sorológico identificou 17,1% zados, os quais se infectaram a partir de
de infecção em crianças de até sete anos. 11 dos 44 casos de LVH. Os indivíduos
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 55

maio2012.indb 55 08/05/2012 16:28:21


assintomáticos não funcionaram como que cada município recebe uma pontu-
fonte de infecção.69 ação de acordo com a média de ocor-
rência da LVH, nos últimos três anos.
2.3. Programa de controle Os municípios com média de casos
da leishmaniose visceral menor que 2,4 estão classificados como
(PCLV) proposto pelo municípios de transmissão esporádica;
ministério da saúde aqueles com a média de casos entre 2,4
e 4,4 estão classificados como de trans-
O PCLV foi revisto em 2003 e tem
missão moderada; e com média de ca-
como objetivo a redução das taxas de sos > 4,4 estão classificados como de
letalidade e do grau de morbidade, as- transmissão intensa. O último estrato é
sim como a diminuição dos níveis de dividido entre municípios de transmis-
transmissão da doença. As estratégias são intensa baixa (≥4,4 e <17), intensa
propostas são: diagnóstico e tratamen- média (≥17 e <55,7) e intensa alta (≥
to precoces dos casos humanos, iden- 55,7).5
tificação e eliminação de reservatórios A estratificação epidemiológica das
domésticos, controle vetorial, educa- áreas serve de orientação para as dife-
ção em saúde e manejo ambiental.5 rentes medidas a serem implantadas.
Entre os componentes do PCLV, a As ações voltadas para o diagnóstico
vigilância epidemiológica tem por ob- precoce e o tratamento da LVH, assim
jetivo a redução das taxas de letalida- como medidas educativas e de manejo
de e do grau de morbidade, por meio ambiental, devem ser priorizadas em
do diagnóstico rápido e do tratamen- todas as situações.
to precoce dos casos, assim como a O PCLV prevê ainda ações de vigi-
redução dos riscos de lância, monitoramento e
transmissão da doença É questionado o fato de controle do reservatório
mediante o controle do pessoas com infecção canino. O monitoramen-
reservatório, do vetor e subclínica ou com to consiste em inquéritos
das situações de risco. infecção assintomática sorológicos censitários
Desta forma, busca me- funcionarem como (ISCC) e inquéritos
lhor definição das áreas fonte de infecção para amostrais. O ISCC está
silenciosas, de transmis- o vetor. indicado para zonas ur-
são ou de risco e propõe banas de municípios si-
ações de vigilância e/ou lenciosos ou receptivos,
controle distintas para cada situação, com população canina menor que 500
além de medidas preventivas. As áreas cães; em setores urbanos de municí-
com transmissão são estratificadas se- pios classificados como de transmissão
gundo critérios epidemiológicos, em moderada ou intensa; ou ainda em se-
56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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tores com prevalência canina maior ou parasitos às poucas medicações disponí-
igual a 2%. Segundo o PCLV, setores são veis para o tratamento da leishmaniose
conjuntos de quadras estratificadas para visceral humana; 4) dificultar a imple-
a implantação do Programa Nacional mentação das medidas de saúde pública
de Controle da Dengue (PCND), com reforçando a resistência da população à
aproximadamente 1.000 imóveis cada. eutanásia de animais que continuarão
Esse tipo de inquérito objetiva realizar como fonte de infecção para o vetor. A
o controle do reservatório e também recomendação do fórum foi manter a
avaliar a prevalência de infecção cani- proibição do tratamento da LVC pelos
na. Os inquéritos devem ser realizados Ministérios da Saúde e da Agricultura,
anualmente, por no mínimo três anos, Pecuária e Abastecimento, conforme
independentemente da confirmação de a Portaria IM nº 1.426 (2008) que re-
novos casos de LVH, a gulamenta o Decreto nº
fim de se reduzir a trans- O tratamento canino 51.838 (1963). 70
missão na área. Além dos passou, a partir de Outro componente
inquéritos, a eutanásia e 2008, a ser proibido do programa de controle
o destino dos cadáveres no Brasil, por é a vigilância entomoló-
também são previstos.5 meio da Portaria gica, que tem por objeti-
O tratamento canino Interministerial (IM)
vo levantar informações
passou, a partir de 2008, a nº 1.426.
quantitativas e qualitati-
ser proibido no Brasil, por vas sobre os flebotomí-
meio da Portaria Intermi-
neos transmissores da LV. São preco-
nisterial (IM) nº 1.426. Em 2009, o II
nizados levantamentos e investigações
Fórum de discussão sobre o tratamento
entomológicas e monitoramento das
da leishmaniose visceral canina realizado
diferentes situações existentes. O con-
em Brasília, Distrito Federal, concluiu
trole vetorial químico dependerá das
que o tratamento canino representa risco
características epidemiológicas e ento-
para a saúde pública com quatro conse-
mológicas de cada localidade. Ele é re-
quências previstas: 1) contribuir para a
comendado em áreas com ocorrência
disseminação de uma enfermidade que
do primeiro caso autóctone de LVH,
resulta na morte de, em média, 6,7% dos
após a investigação entomológica, e
seres humanos acometidos no Brasil,
podendo chegar a 17%, índice que pode em áreas com transmissão moderada e
aumentar ainda mais em indivíduos imu- intensa, de acordo com a curva de sa-
nodeprimidos; 2) manter cães como zonalidade do vetor. O primeiro ciclo
reservatórios do parasito, o que repre- de borrifação dever ser feito ao final
senta risco para as populações humana do período chuvoso, e o segundo três a
e canina; 3) desenvolver a resistência de quatro meses após o primeiro.
5

Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 57

maio2012.indb 57 08/05/2012 16:28:21


Estrutura do programa a incidência acumulada de casos hu-
de controle da LV no manos e não a média dos últimos três
município de belo anos, conforme orientação do progra-
ma. Os estratos foram constituídos a
horizonte
partir dos seguintes percentis de inci-
Em 1992, os primeiros casos de dência acumulada de LVH nas áreas de
leishmaniose canina foram diagnosti- abrangência: ≤0,1; 0,1 a 0,6; 0,7 a 0,9;
cados no município de Sabará, situado e >0,9, classificados, respectivamente,
na Região Metropolitana de Belo Hori- como de baixa transmissão, média, alta
zonte (RMBH). A maioria dos cães era e muito alta transmissão. As áreas sem
proveniente do bairro Alvorada, vizinho casos no período foram denominadas
da capital mineira.71 Em dezembro da- sem transmissão. Orientam-se ações
quele mesmo ano, os primeiros cães de controle para as áreas com média a
infectados, oriundos dos Distritos Sa- muito alta transmissão, associando-se
nitários Nordeste e Leste, foram notifi- o conhecimento sobre a sororreativi-
cados ao Serviço de Controle de Zoo- dade canina e a situação socioambien-
noses de Belo Horizonte. Em 1993, foi tal, para priorização das áreas a serem
firmada uma parceria entre a Secretaria trabalhadas.75
Municipal de Saúde (SMSA) e a Fun- A estrutura laboratorial do municí-
dação Nacional de Saúde (FUNASA), pio também foi ampliada para atender
para realização de pesquisa de reserva- à necessidade do programa. Em 2001,
tórios positivos.72 A partir de 1994, ano o Laboratório de Zoonoses da SMSA
em que foi confirmado o caso índice (LZOON) tinha capacidade insta-
de LVH em Belo Horizonte, a SMSA lada para processamento de 96.000
assumiu as atividades de vigilância e amostras/ano, a qual foi ampliada para
controle da doença. Durante a série 156.000 amostras no ano seguinte. Em
cronológica de ocorrência da LV em 2006, o LZOON teve tanto sua estru-
Belo Horizonte, foram realizados in- tura física quanto operacional reforma-
vestimentos na estruturação do progra- das, chegando à capacidade de produ-
ma de controle.73 ção de 216.000 amostras/ano.73
Em 2004, foi publicado o Manual No mesmo ano, foi implantado no
do PCLV pelo Ministério da Saúde.74 Sistema de Informação de Controle de
O município de Belo Horizonte, com Zoonoses (SCZOO) o componente
a finalidade de adequar-se às orienta- leishmaniose, subcomponente Inqué-
ções do PCLV, realizou a estratificação rito Canino, possibilitando melhorias
epidemiológica referenciando as áre- no acompanhamento e na avaliação
as de abrangência (AA) dos Centros das atividades de controle desenvol-
de Saúde. Contudo, foi considerada vidas.76
58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 58 08/05/2012 16:28:21


Leishmaniose visceral 2000, o aumento do número de casos
humana (LVH) coincidiu com a dispersão da doença
A distribuição temporal de casos, para distritos sanitários até então pouco
óbitos e letalidade por LVH em Belo acometidos. A partir de 2008, observa-
Horizonte, no período 1994-2011, é -se uma inversão na curva, com redução
apresentada na FIG. 1.77 A partir dos de casos seguidamente nos anos 2009 a
primeiros casos autóctones da doença 2011 (FIG. 2).
relatados no Distrito Leste da cidade, A incidência média de LVH no mu-
na fronteira com o município de Sabará, nicípio foi superior à média nacional
iniciou-se o processo de urbanização e (1,9%), entre 1994 e 2010. No Brasil,
expansão da LV no município. No mes- também houve inversão da tendência
mo ano, 29 casos foram diagnosticados da curva a partir de 2008 (FIG. 3). Nos
nos Distritos Leste e Nordeste da cida- dois locais, observaram-se redução de
de.72 Após esse período, a doença se es- casos em áreas priorizadas para o con-
palhou para áreas vizinhas, com aumen- trole e surgimento de casos em áreas de
to do número de casos notificados. transmissão esporádica ou sem trans-
Entre 1994 e 2010, a incidência missão. Isso pode ter sido um reflexo das
média em BH foi de 3,8/100.000habi- medidas de controle implementadas a
tantes. Variou de 1,2/100.000 em 1998 partir de 2004, segundo orientações do
a 7,2/100.000 em 2008. Na década de novo PCLV (Brasil 2003).

Figura 1 - Série temporal de casos, óbitos e letalidade de LVH no município de Belo Horizon-
te, 1994 a 2011.
Fonte: PBH/SMSA/GVSI/GEEPI/SINAN
*dados parciais atualizados em 13/03/12
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 59

maio2012.indb 59 08/05/2012 16:28:21


Figura 2 - Incidência de LVH (100.000 hab.) no município de Belo Horizonte, 1994 a 2011.
Fonte: PBH/SMSA/GVSI/GEEPI/SINAN
*dados parciais atualizados em 13/03/12

Figura 3 - Incidência de LVH (100.000 hab.) no Brasil, Minas Gerais e Belo Horizonte, 1994-
2010.
Fonte: MS/SVS/SINAN - atualizado em 15/03/12, PBH/SMSA/GVSI/GEEPI/ SINAN

60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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De 1994 a 1999, houve expansão da mente, de 2008 a 2011.9
ocorrência da doença na região metro- A avaliação do perfil clínico-epi-
politana de BH. O número de municí- demiológico dos casos autóctones de
pios que relataram casos de LVH no pe- LVH, ocorridos no período de 2002 a
ríodo aumentou de seis para 15, entre os 2009, identificou a faixa etária de meno-
36 então existentes.78 res de cinco anos como a mais atingida,
A letalidade média por LVH em BH e o sexo masculino como o mais acome-
foi de 13,5%, variando de 6,3% (1996) a tido a partir dos 10 anos de idade. Febre
23,6% (2009). Em 2004, foi superior à e esplenomegalia foram observadas em
registrada em 1994 (20,7%), uma déca- 87,3% dos indivíduos no momento da
da antes, quando ocorreram os primei- notificação. A maior chance de óbito
ros casos de LVH no município (FIG. ocorreu em pessoas que apresentaram
1). pelo menos uma das se-
A análise de casos A avaliação de casos guintes características: 60
de LV ocorridos na ca- autóctones de LVH anos ou mais, fraqueza,
pital, de 2008 a agosto identificou a faixa presença de outro quadro
de 2011, mostrou que etária de menores de infeccioso, fenômenos
71,0% ocorreram no cinco anos como a hemorrágicos, icterícia e
sexo masculino. A inci- mais atingida, e o sexo coinfecção Leishmania-
dência foi mais elevada masculino como o mais -HIV.8
(37,5 casos por 100.000 acometido a partir dos Foram publicados es-
hab.) entre crianças 10 anos de idade. tudos sobre análise espa-
e adolescentes até 19 cial da leishmaniose vis-
anos, e em maiores de ceral em Belo Horizonte.
60 anos (35,4 por 100.000 hab.). Nesta Um deles analisou a associação entre os
faixa etária, ocorreu a maior letalidade casos incidentes de leishmaniose vis-
(35,4%), sendo a menor (3,4%) entre ceral humana e cães sororreativos nos
os menores de 20 anos. Foram identi- nove Distritos Sanitários, entre 1994 e
ficados 19 óbitos (22,6%) por LV com 1997. Os resultados mostraram corre-
co-infecção por HIV, sendo 15 do sexo lação entre casos humanos e caninos.79
masculino. Entre os nove óbitos da fai- Esse estudo refere-se ao período ini-
xa etária de 20 a 39 anos, cinco (55,5%) cial de ocorrência da doença em Belo
apresentaram coinfecção com HIV, três Horizonte, após o qual a leishmaniose
(33,3%) eram etilistas, e sete (77,8%) visceral espalhou-se rapidamente pelo
apresentaram uma e/ou outra dessas município.
comorbidades. Tais associações estive- Souza80et al. estudaram a distribui-
ram presentes em 31,0%, 36,0%, 52,0% ção de flebotomíneos relacionada à
e 67% do total de óbitos, respectiva- ocorrência de LVH (64 casos), cães so-
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 61

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rorreativos (4.673) e informações sobre terno e a presença de animais no peri-
a biogeografia dos Distritos Sanitários, domicílio foram significativamente as-
entre abril de 2001 e março de 2003. sociados à maior chance de infecção por
Encontraram áreas de concentração de leishmaniose visceral.82
sororreatividade canina nos seguintes Outro estudo de caso-controle reali-
Distritos: Leste, Nordeste, Noroeste, zado na capital analisou 82 casos de LVH
Oeste e Venda Nova, sendo 84,2% dos ocorridos em 2004. Os 164 controles
casos de leishmaniose humana relacio- eram vizinhos dos casos. Observou-se,
nados à presença de cães sororreativos. pela análise univariada, que os proprie-
Quanto às variáveis biogeográficas, so- tários de cães apresentaram maior risco
mente a altitude mostrou associação de contrair LV. Também foi verificada
com LV, estando 67,5% dos casos hu- associação positiva entre a manutenção
manos e 71,9% dos cães do cão no intradomicílio
sororreativos localizados Altos índices de e a ocorrência de LV em
entre 780 e 880m acima doenças vetoriais em humanos.83
do nível do mar, locais regiões desfavorecidas Análise espaço-tem-
onde também foram en- socioeconomicamente poral, do período de
contrados flebotomíneos. e baixos índices em 2002 a 2009, descreveu
A distribuição de regiões mais favorecidas estimativas de incidên-
agravos à saúde no am- cia de LVH mais eleva-
biente urbano de Belo Horizonte, entre das nos Distritos Sanitá-
estes dengue e leishmaniose visceral, foi rios Norte, Nordeste e Venda Nova, nos
avaliada por Caiaffa et al.81 Descreveram dois primeiros anos. A partir de 2004,
altos índices de doenças vetoriais em re- observou-se intensa expansão da do-
giões desfavorecidas socioeconomica- ença em todos os Distritos Sanitários,
mente e baixos índices em regiões mais mantendo, porém, diferença de incidên-
favorecidas, sendo que os dois eventos cia entre eles.84
raramente coexistem em uma mesma
região. 3.2. Reservatório canino
Estudo de caso-controle investigou
fatores de risco para LV em áreas urba- Ao assumir as atividades de con-
nas e suburbanas da RMBH. Os casos trole da leishmaniose em Belo Ho-
(109 indivíduos com diagnóstico de rizonte, no ano de 1993, a SMSA/
LV) foram notificados de julho de 1999 PBH realizou inquéritos sorológicos
a dezembro de 2000, em municípios caninos a partir de dois casos huma-
da região metropolitana. Dois tipos de nos notificados nos Distritos Leste e
controle, vizinhança (106) e hospitalar Nordeste. A autoctonia deles não foi
(60), foram utilizados. O ambiente ex- confirmada. Foram examinados 2.436
62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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cães; destes, 5,5% foram positivos.72 pelo estudo de Araújo84 (2011).
Com a confirmação do primeiro Novo inquérito amostral foi reali-
caso autóctone, no ano de 1994, foram zado no ano de 2005, identificando 4%
iniciadas as atividades de controle, se- de sororreatividade geral. Ao longo do
gundo orientações do programa vigen- período analisado, o percentual de so-
te. As medidas foram priorizadas nas rorreatividade em cães foi variável (FIG.
áreas de confirmação dos casos huma- 4). Essa análise incluiu diferentes cate-
nos, com objetivo de controlar a doen- gorias de coleta, como inquéritos censi-
ça. Para avaliar a situação no restante tários, amostrais e solicitações recebidas
do município, foi realizado inquérito dos proprietários dos animais. Tal fato
amostral nos nove Distritos, com posi- faz com que o dado não reflita a real so-
tividade geral de 0,7%. As atividades de roprevalência dos cães do município.
controle foram mantidas ao longo dos No período de 2006 a 2011 (FIG.
anos, com expansão das áreas de inter- 5), pode-se observar tendência de re-
venção.79; 85 dução da soroprevalência canina. Esta é
Em 2004, já ocorriam atividades um indicador tanto da redução de trans-
de controle em todos os Distritos, com missão da LV nos Distritos Sanitários
incremento de pessoal e da capacidade (DS) como de dispersão dela no muni-
laboratorial. A metodologia de contro- cípio, uma vez que, em 2011, a soropre-
le foi adequada às orientações do novo valência foi inferior a 4,0% em todos os
manual do PCLV. Foram estratificadas DS, com exceção do DS Nordeste, onde
as áreas de abrangência dos Centros de foi de 4,2%.
Saúde com base na incidência acumu- Resultados “indeterminados e mo-
lada de LVH, priorizando aquelas com nitorar” obtidos a partir dos exames
média, alta e muito alta transmissão. caninos são questões que merecem ser
Nelas, foi realizado inquérito canino discutidas para o controle do reserva-
censitário anual, seguido de controle tório urbano. Esses resultados, em BH,
vetorial químico.73 A partir de 2007, representaram, em média, 2,5% e 6%,
alguns Distritos passaram a utilizar respectivamente, das coletas realizadas
o Índice de Vulnerabilidade à Saúde a cada ano, no período de 2008 a 2011.
(IVS)86, que é uma avaliação preexis- Observou-se que, em média, 80,7% dos
tente de risco à saúde, como mais um exames com resultados iniciais “inde-
indicador na definição terminados” tornaram-se
de áreas para inquérito Inquérito amostral foi reativos na segunda co-
censitário canino e con- realizado no ano de leta, após 45 dias de in-
trole vetorial químico. 87 2005, identificando tervalo da primeira.76 Os
Essa estratégia foi va- 4% de sororreatividade resultados “monitorar”,
lidada posteriormente geral. referentes aos resultados
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 63

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discordantes entre ELISA e RIFI, so- desses resultados é mais elevado do que
mente são contabilizados em Belo Ho- o de resultados indeterminados. Em
rizonte, município que realiza tal regis- uma amostra de 30 cães “monitorar”
tro desde 2008. O percentual observado submetidos à nova coleta de sangue,

Figura 4 - Percentual geral de cães sororreativos, Belo Horizonte, 1994 a 2011.


Fonte: PBH/SMSA/GVSI/GECOZ/SCZOO

Figura 5 - Soroprevalência canina no município de Belo Horizonte, 2006 a 2011.


Fonte: PBH/SMSA/GVSI/GECOZ/SCZOO
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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cerca de 75 dias após o exame inicial, condições de vida, na transmissão da in-
50,0% deles apresentaram sorologia re- fecção em cães.
ativa, e 33,0% resultados “indetermina-
dos”. Esse fato repercute na mensuração 3.3. Controle vetorial
dos efeitos do programa de controle,
uma vez que a identificação de so- Estudos entomológicos realizados
mente “parte” dos cães sororreativos no município em diferentes períodos e
ou infectados é apontada como uma áreas demonstram a dispersão do vetor.
das causas da falta de efetividade des- Levantamento entomológico realizado
sa ação.37; 41; 88 em três áreas distintas do município, en-
O acesso aos animais sororreati- tre outubro de 1997 e setembro de 1999,
vos para recolhimento e eutanásia é capturou 397 flebotomíneos. Destes,
outra questão relevante. Em média, 69%, 30% e 1% dos exemplares eram
87% dos cães sororreativos identifi- dos Distritos Leste, Nordeste e Barrei-
cados pela SMSA, em Belo Horizon- ro, respectivamente.89 Já no intervalo de
te, foram eutanasiados no período de abril de 2001 a março de 2003, um novo
2006 a 2011. Foi adicionado a esse levantamento foi realizado em BH, com
dado o número de cães “mortos” (mé- captura de 3.971 exemplares de fleboto-
dia de 7%), segundo informação dos míneos. A presença desses dípteros foi
proprietários. A população canina predominante nos Distritos Sanitários
coberta com exames sorológicos tem Leste, Nordeste, Noroeste, Oeste, Pam-
variado ao longo dos anos, e a maior pulha e Venda Nova. L. longipalpis foi
cobertura ocorreu em 2010, quando encontrado com maior frequência no
60,0% dos cães foram submetidos a peridomicílio, enquanto nas áreas ver-
inquéritos censitários. des L. whitmani foi a espécie mais cap-
Como fatores associados à infec- turada. O estudo demonstrou associa-
ção canina precoce por L. infantum ção entre áreas com altitude entre 780 e
(PCR-RFLP positiva), identificada 880m e a presença de flebótomos, casos
em Belo Horizonte, estão as condi- humanos e cães sororreativos.80
ções socioeconômicas do proprietá- Mais recentemente, no período de
rio, o conhecimento dele sobre o ve- julho de 2006 a junho de 2007, foi reali-
tor, o comportamento do cão quanto zado inquérito entomológico na Regio-
ao acesso à rua, bem como os cuida- nal Nordeste de Belo Horizonte. Foram
dos dispensados ao animal.41 Esses capturados 245 espécimes, 21 destes
resultados são válidos por permitirem foram identificados como L. longipalpis,
melhor compreensão da transmissão da espécie que apresentou a maior taxa de
LV urbana e refletirem a importância infecção por L. infantum (19%) entre as
de questões, como posse responsável e demais capturadas.90
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 65

maio2012.indb 65 08/05/2012 16:28:22


Com vistas ao controle vetorial, a 3.4. Educação e manejo
aspersão de inseticida tem sido realiza- ambiental
da no município ao longo dos anos. Até
A educação sanitária e o manejo
2003, realizavam-se anualmente um in-
ambiental são fundamentais para a mu-
quérito canino e um ciclo de borrifação
dança do padrão de ocorrência de LV,
censitários nas áreas mais acometidas.
principalmente no contexto atual da
As áreas de vigilância eram trabalhadas
urbanização da doença.5 No entanto, é
com raios em torno de casos humanos. A
uma atividade que necessita de inter-
partir de 2004, o controle vetorial passou a
venções diferenciadas, visando a mu-
ser direcionado com base no planejamento
danças de comportamentos, das quais,
das atividades, de acordo com a priorização
se efetivamente implantadas, esperam-
de áreas.73 Há, entretanto, dificuldades na
-se resultados tanto a médio quanto a
implementação dessa atividade. No perío-
longo prazo.
do de 2008 a 2011, a média de pendência O controle ambiental, quando bem
(imóveis fechados e recusas) dessa atividade estabelecido, poderia levar a mudanças
foi de 28,9%. Além disso, o percentual de que impactariam na morbimortalida-
imóveis com borrifação total (intra e perido- de da doença de forma mais efetiva, ao
micílio) foi de, no máximo, 45,0% dos imó- transformar ambientes propícios para
veis trabalhados no período de 2008 a 2010. manutenção e proliferação do vetor
Maior cobertura domiciliar com borrifação em ambientes inóspitos para ele, além
total é desejável, a fim de se evitar o contato de mais saudáveis para a população.21
do vetor com indivíduos, que permanecem, A disseminação da informação sobre
em sua maioria, no interior das residências, a leishmaniose visceral por escolares
no período de maior atividade dos fleboto- pode contribuir para as ações de preven-
míneos. ção da doença, segundo estudo realiza-
Santana Filho91 encontrou diferença do em Caeté, MG, levando, inclusive, a
significativa em 26% dos casos de LVH, melhorias no manejo ambiental dos pe-
em quatro áreas de abrangência da Re- ridomicílios.92
gional Noroeste de BH. Ele comparou o Borges et al.93 avaliaram o nível de
perfil de recusas de borrifação nos quar- conhecimento e de atitudes preventi-
teirões contidos em uma área de 200 vas em relação à leishmaniose visceral
metros ao redor de um caso de LVH, em Belo Horizonte, no ano de 2006.
com o perfil dos quarteirões fora dessa Cinquenta por cento dos humanos aco-
área. O maior número de casos coinci- metidos desconheciam a enfermidade
diu com áreas onde ocorreu maior recu- quando adoeceram, e apenas 1,2% co-
sa da população em receber o serviço de nhecia o vetor. Saber algo sobre leish-
controle químico. maniose visceral minimizou o risco de
66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 66 08/05/2012 16:28:22


adoecer em 2,24 vezes. Quanto às ati- alunos importantes multiplicadores de
tudes de proteção, o risco de se contrair informação sobre leishmaniose e outras
leishmaniose visceral diminuiu em 1,94 zoonoses.95
vez dentre as pessoas que mantinham
limpos os domicílios ou que levavam o Considerações finais
cão ao veterinário, resultado que coinci- Os resultados atuais demonstram
de com o de Coura-Vital et al. 41
redução de casos humanos de LV nas
O trabalho diário dos agentes de áreas trabalhadas com maior intensida-
combate a endemias (ACE) em BH visa de. Apesar do curto período de obser-
a orientação dos proprietários sobre a vação e da necessidade de estudos sobre
doença e formas de prevenção. O mane- a efetividade da intervenção, a situação
jo dos cães e a coleta sanguínea, assim atual pode ser um reflexo da mudança
como a atividade educa- de estratégia, que direcio-
tiva exercida pelo ACE, A educação sanitária na ações de controle para
foram avaliados em uma e o manejo ambiental áreas de maior risco, mas
área de abrangência do são fundamentais para também uma demons-
Distrito Sanitário Noro- a mudança do padrão tração da necessidade de
este de Belo Horizonte. de ocorrência de LV se implementar e manter
A técnica de conten- ações de vigilância, nas
ção foi considerada boa áreas de menor risco. A
por 98% dos proprietários. O repasse vigilância também se faz importante
de informações sobre posse responsá- para o trabalho em áreas onde houve
vel e sobre a leishmaniose necessita ser redução de casos humanos e da soro-
implementado durante a rotina de tra- prevalência canina, a fim de se evitar o
balho dos agentes, visando melhorar a recrudescimento da doença.
conscientização da população quanto à A atual proposta de mudança dos
importância de sua participação no con- testes diagnósticos utilizados é uma
trole da leishmaniose visceral.94 medida importante, uma vez que a uti-
Outro estudo avaliou o conheci- lização de exames mais sensíveis e espe-
mento de professoras dos três primei- cíficos possibilitará melhoria na identi-
ros anos do ensino fundamental sobre ficação de cães sororreativos, inclusive
leishmaniose, também na Regional No- em áreas com prevalência reduzida.
roeste de BH. Observou-se que gran- A inclusão no PCLV de variáveis
de parte do conhecimento existente é que possibilitem a identificação de áre-
referente às vivências pessoais e que as as com características para desenvolvi-
mestras creditam muito da responsabi- mento dos vetores é uma necessidade
lidade do controle da doença ao serviço premente. Um exemplo seria o traba-
público. Também avaliam serem seus lho desenvolvido em BH, que utilizou
Vigilância e controle da Leishmaniose visceral no contexto urbano 67

maio2012.indb 67 08/05/2012 16:28:22


indicadores de vulnerabilidade à saúde Referências
humana na priorização de áreas para 1 CHAPPUIS, F. et al. Field validity, reproducibi-
controle vetorial, visto que essa estraté- lity and feasibility of diagnostic tests for visceral
gia, nos moldes em que é realizada atu- leishmaniasis in rural Nepal. Trop. Med. Int. He-
alth, v.11, p.31-40, 2006.
almente, tem como principal resultado
esperado a redução da transmissão da 2 WHO. First WHO report on neglected tropi-
LV para o homem. A inclusão de dados cal diseases: working to overcome the global
impact of neglected tropical diseases. Geneva:
sobre prevalência de infecção canina e World Health Organization:  172 p. 2010.
de densidade de cães positivos por habi-
tantes também demonstrou ser de utili- 3 CHAPPUIS, F. et al. Visceral leishmaniasis:
what are the needs for diagnosis, treatment and
dade no planejamento de intervenções control? Nat. Rev. Microbiol., v.5, p.873-882,
de controle. 2007.
A educação ambiental e o manejo de 4 DUJARDIN, J.C. et al. Spread of vector-borne
ambientes urbanos densamente povoa- diseases and neglect of Leishmaniasis, Europe.
dos constituem um grande desafio para Emerg. Infect. Dis., v.14, 2008.

o programa de controle. Sua inclusão na 5 BRASIL. Manual de vigilância e controle da


estratégia de saúde da família, modelo leishmaniose visceral/Ministério da Saúde, Se-
cretaria de Vigilância em Saúde, Departamento
de atenção básica atualmente adotado de Vigilância Epidemiológica. SAÚDE. Brasília:
no Brasil, pode ser uma saída para esta e Editora do Ministério da Saúde: 120 p. 2006.
demais endemias e agravos que tendem
6 ______. Leishmaniose Visceral – Situação epi-
a se tornar cada vez mais urbanos. demiológica. Ministério da Saúde, Secretaria de
Pelo exposto, o controle da LV pre- Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilân-
cisa ser tratado como prioridade, seja cia Epidemiológica. 2010

pela sua complexidade, seja pelo pa- 7 MAIA-ELKHOURY, A.N.S. et al. Visceral leish-
drão de resultados apresentado até o maniasis in Brazil: trends and challenges. Cad.
Saude Publica, v. 24, p.2941-2947, 2008.
presente momento. Faz-se imprescin-
dível, nos dias atuais, a integração entre 8 DE ARAÚJO, V.E.M. et al. Early Clinical Mani-
a sociedade civil, no que diz respeito à festations Associated with Death from Visceral
Leishmaniasis. PLoS Negl. Trop. Dis., v.6, p.1-9,
posse responsável de animais e dos seus 2012.
ambientes domésticos; entre diferentes
categorias profissionais, como veteri- 9 MORAIS, M.H.F. et al. Casos e óbitos por LV
em Belo Horizonte, MG, 2008 a 2011. In: In:
nários que comercializam cães e tratam XV REUNIÃO DE PESQUISA APLICADA
deles; entre organizações não governa- EM DOENÇA DE CHAGAS E LEISHMA-
NIOSES, 2011, Anais... Uberaba, MG, 2011.
mentais que trabalham questões relati-
vas ao bem-estar animal; além de outros 10 BRASIL. Nota técnica conjunta da Secretaria de
possíveis parceiros e do poder público, Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e
da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Gran-
para a efetivação da prevenção e do con- de do Sul sobre a situação da Leishmaniose Vis-
trole da LV. ceral na fronteira do Estado do Rio Grande do
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 68 08/05/2012 16:28:22


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maio2012.indb 73 08/05/2012 16:28:23


Clínica,
diagnóstico e

Eliane Gonçalves Paiva Lopes


tratamento
da LVC
Avanços, limitações e
perspectivas
Adriane Pimenta da Costa-Val1, Maria Norma Melo2

1
Escola de Veterinária - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, MG
Instituto de Ciências Biológicas - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, MG
2

E-mail: adriane@vet.ufmg.br

Apresentações clínicas míneos, na pele dos cães susceptíveis,


da leishmaniose visceral a maioria dos parasitas é eliminada pe-
los fatores do complemento, enquanto
canina
outros sobrevivem usando diferentes
Na leishmaniose visceral (LV) ca- estratégias.2,3,4 No segundo caso, em al-
nina, assim como em todas as doenças guns animais há o desenvolvimento de
parasitárias, fatores específicos depen- resposta imune adequada e controle da
dentes do hospedeiro e do parasita de- infecção, enquanto em outros há disse-
terminam o desenvolvimento dos me- minação dos parasitas da pele para os
canismos patogênicos da doença, das linfonodos, o baço e a medula óssea e
lesões e, em última análise, dos sinais no desses órgãos para todo o organismo.5
animal doente. Tais processos patogêni- Entre esses dois extremos existem di-
cos têm como fator comum a presença ferentes graus de gravidade da doença,
do parasita e como fator de distinção as sendo que a evolução da infecção está
reações orgânicas, sejam elas de respos- relacionada com o equilíbrio da respos-
ta imune ou não, de efetividade e inten- ta imune celular e humoral do cão in-
sidade distintas.1 fectado.6, 7, 8 Portanto, na LV, a infecção
Após a inoculação pelos fleboto- não é igual à sintomatologia clínica9, e o
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 74 08/05/2012 16:28:23


período de incubação da contínua multiplicação
Existem diferentes
doença é extremamente dentro dessas células.
graus de gravidade da
variável, podendo ser de No entanto, o efeito
doença, sendo que a
alguns meses a anos.10, 11, deletério resultante da
evolução da infecção
12
hiperglobulinemia é a
está relacionada
Classicamente, a LV formação de imuno-
com o equilíbrio da
canina é uma doença complexos circulantes
resposta imune celular
crônica13, 14, mas cursos (CIC) que se deposi-
e humoral do cão
agudos são descritos na infectado. tam em vários órgãos e
literatura. Há três fases
7,15
tecidos.17 Autoanticor-
distintas para a evolução pos também podem ser
da infecção de cães por L. infantum : a causadores de alterações autoimunes.13
16

primeira fase seria a pré-patente longa, Em linhas gerais, as alterações causadas


na qual os cães seriam assintomáticos, na LV canina se devem tanto pela ação
com pequena expressão de citocinas. direta do parasita nos tecidos, o que leva
Na segunda fase, dita pré-patente cur- à formação de lesões inflamatórias não
ta, os cães ainda seriam assintomáticos, supurativas, quanto pela deposição dos
porém haveria aumento significativo da CIC em vários órgãos e tecidos.18
expressão das citocinas INF-g e IL-2. Nieto et al.19 atribuem aos níveis
Por fim, na terceira fase ou fase patente, mais elevados de IgG1 a presença de
os animais apresentariam sintomas da mais sinais em cães, pois, como a imu-
doença e diminuição da expressão de noglobulina é fator de ativação do com-
citocinas. Os autores ressaltam que, em plemento, consequentemente maiores
qualquer das fases, há resposta humoral seriam o grau inflamatório e o número
específica. de alterações patológicas
A apresentação clí- O efeito deletério observadas.
nica da LV canina é con- resultante da Assim sendo, os cães
sequência de interações hiperglobulinemia apresentam sintoma-
complexas entre o parasi- é a formação de tologia clínica variada,
ta e a resposta imune do imunocomplexos que vai desde aparente
hospedeiro. O aumento
16 circulantes que se estado sadio até grave es-
na produção das imuno- depositam em vários tado terminal.9,14 Diante
globulinas, além de não órgãos e tecidos. dessa grande gama de
protetor, é potencialmen- apresentações clínicas,
te danoso. Anticorpos
11,13
foi proposto que os cães
específicos opsonizam algumas amas- portadores da infecção fossem classifi-
tigotas, levando à sua fagocitose pelos cados20 em: assintomáticos, aqueles que
macrófagos, permitindo ao parasita não apresentassem sinais clínicos; oli-
Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 75

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gossintomáticos, aqueles doença canina: alguns
Cães com leishmaniose
nos quais se observariam autores dizem não haver
clínica aqueles com
perda de peso moderada, qualquer correlação en-
alterações clínicas,
lesões de pele discretas tre os parâmetros22,23,24,
de patologia clínica
e linfoadenomegalia; e, outros afirmam que
e com infecção
finalmente, os sintomáti-
confirmada, e cães com quanto maiores os títulos
cos, aqueles que também
leishmaniose subclínica de anticorpos de um cão,
apresentassem vários ou clinicamente sadios mais sintomas este apre-
sinais graves da doen- sentará. 6,9,25,26,27,28,29,30
aqueles que não
ça, como dermatopatias apresentam sinais
(perda de pelos, derma- clínicos ou alterações de Alterações
tite furfurácea e úlceras) patologia clínica, mas
dermatológicas
e onicogrifose (cerato- que tenham infecção Dentre os sinais da
conjuntivite e rigidez dos confirmada. LV canina, as alterações
membros posteriores). dermatológicas são as
Somente 50-60% de uma mais comuns.5, 14, 23, 24, 27, 31,
população canina infectada apresentam 32 Diante do pleomorfismo da resposta
sinais evidentes20, sendo os restantes, cutânea dos cães frente à infecção por
em sua maioria, casos pré-patentes, cuja L. infantum, há quatro padrões derma-
infecção pode, ou não, evoluir para a fase tológicos distintos33, após estudo macro
patente. Embora a classificação propos- e microscópico da pele de 43 cães por-
ta tenha sido de extrema valia por mui- tadores de LV, sendo o primeiro deles
tos anos, ela possui valor limitado, pois alopecia e descamação. Os animais com
não considera as alterações de patologia esse quadro dermatológico apresenta-
clínica, bem como cães com graves alte- ram alopecia simétrica bilateral, espe-
rações sistêmicas porém aparentemen- cialmente na cabeça, e graus variáveis
te sadios.21 Desta forma, atualmente, de seborreia seca. Tal alopecia iniciou-
consideram-se cães com leishmaniose -se na cabeça, progredindo posterior-
clínica aqueles com alterações clínicas, mente para o tronco e os membros. Dez
de patologia clínica e com infecção con- animais apresentaram alopecia perior-
firmada, e cães com leishmaniose sub- bital. Microscopicamente, há presença
clínica ou clinicamente sadios aqueles de infiltrado inflamatório difuso, não
que não apresentam sinais clínicos ou supurativo, composto de macrófagos,
alterações de patologia clínica, mas que linfócitos e plasmócitos. Muitas formas
tenham infecção confirmada.9 amastigotas foram observadas dentro
A literatura é contraditória no que dos macrófagos em quase toda a exten-
diz respeito ao teor total de imuno- são da lesão. Hiperqueratose ortoque-
globulinas e à apresentação clínica da ratótica foi observada na epiderme dos
76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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animais, e em oito deles houve progres- Os autores sugerem que cães da raça Bo-
são do processo inflamatório para a hi- xer sejam mais propensos a apresentar
poderme e o tecido adiposo subjacente. esse tipo de lesão. Por fim, descrevem a
Tanto os aspectos macroscópicos dermatite pustular em um número pe-
quanto os microscópicos são atribuídos queno de animais. Esses animais apre-
à presença das formas amastigotas, que, sentavam pústulas generalizadas por
por sua vez, alcançaram a pele por via todo o tronco, abdome, axilas e virilhas,
hematógena. O segundo quadro descri- das quais nenhuma bactéria pôde ser
to foi a dermatose ulcerativa, no qual os isolada. Ao estudo microscópico obser-
cães examinados apresentavam ulcera- varam-se pústulas subcorneais compos-
ções evidentes nos membros, principal- tas de neutrófilos, porém sem acantóli-
mente sobre as articulações. Os achados se. Exocitose e dermatite discreta não
histológicos consistiam em ulcerações supurativa, especialmente abaixo das
francas, cercadas por hiperplasia epidér- pústulas, foram também observadas.
mica, apresentando ainda Poucos parasitas foram
exocitose e dermatite di- Há quatro padrões encontrados, sempre
fusa e mista, composta de dermatológicos. fora das pústulas.
neutrófilos, eosinófilos, Primeiro: alopecia e A patogênese da
macrófagos e linfócitos, descamação. Segundo: dermatose ulcerativa34 é
associada a uma carga pa- dermatose ulcerativa. atribuída à deposição de
rasitária pequena. A rea- Terceiro: dermatite CIC nos vasos, o que de-
ção inflamatória intensa nodular. Quarto: terminaria vasculite ne-
seria causada pelas formas dermatite pustular. crótica, enquanto para
amastigotas liberadas dos Feitosa et al.15 o estado
macrófagos e de sua rápida destruição, o de emaciação do animal determinaria a
que explicaria a baixa carga parasitária. patogênese de tais úlceras cutâneas. A
A dermatite nodular foi o terceiro migração de macrófagos portadores de
padrão encontrado em número menor formas amastigotas por via hematógena
de cães e foi descrita como nódulos para pontos específicos da pele, levando
na pele, de tamanhos variados, desde à hiperatividade da resposta imune, se-
poucos milímetros até 10 centímetros. ria também responsável pela formação
Ao exame histológico, verificou-se que de úlceras nos pontos de pressão das ar-
cada nódulo correspondia a um acú- ticulações.35
mulo focal de macrófagos, células mul- A função das células apresentadoras
tinucleadas gigantes, alguns linfócitos e de antígenos da epiderme em cães com
plasmócitos e que a carga parasitária era diferentes manifestações dermatológi-
muito elevada. A resposta imune defi- cas de LV foi estudada por Fondevila
citária seria responsável pelos achados. et al.36 O grau de imunocompetência
Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 77

maio2012.indb 77 08/05/2012 16:28:23


epidérmica foi avaliado pela presença descritos por Ferrer et al. , em 1998.33
de células de Langerhans (LC) e que- Em alguns cães, uma lesão específica
ratinócitos, que expressam complexos pode surgir no local da inoculação das
de histocompatibilidade da classe II formas promastigotas. Tal lesão é dita
(MHC II), bem como pela presença de cancro de inoculação e apresenta três fa-
macrófagos, plasmócitos e formas amas- ses distintas, sendo a primeira a fase pre-
tigotas na derme. Os autores demons- coce, na qual a lesão apresenta-se como
tram que cães com quadro de alopecia pápula eritematosa, de 10-15mm de di-
possuem quantidades adequadas de LC âmetro, e é rodeada por um anel erite-
e de queratinócitos MHC II positivos, matoso. Na fase intermediária, o cancro
além de quantidades discretas de célu- de inoculação tem o aspecto de nódulo
las T e números insignificantes de para- ulcerado e mede 2-3 cm de diâmetro.
sitas. Por outro lado, quando a epider- Por fim, vem a fase pré-cicatricial, que
me apresentava-se imunoincompetente, antecede o desaparecimento da lesão.
lesões nodulares, formadas por intensa O cancro é normalmente observado no
presença de macrófagos parasitados, focinho, nos lábios e na face interna das
foram observadas. Nos animais com orelhas, surge de um a seis meses após
dermatose ulcerativa, foram observados a picada do flebotomíneo e persiste de
padrões inflamatórios intermediários, três a nove meses.37
além da ausência de LC. Os querati-
nócitos apresentavam níveis elevados Linfadenopatias
de moléculas MHC II. Embora não te- Após as alterações cutâneas, o sin-
nham avaliado parâmetros de resposta toma clínico mais comumente descrito
imune Th, os autores sugerem que há na LV canina é a linfadenomegalia, seja
correlação positiva entre alopecia e res- localizada ou generalizada.5,24,27,31,32 Al-
posta imune celular efetiva, o que não guns autores descrevem esta como a al-
aconteceria nas lesões nodulares. teração clínica mais comum nos animais
Estudando 150 cães naturalmente afetados.14,15
infectados por L.infantum, Ciaramella É conhecida a importância clínica
et al. (1997) observam os padrões der- e fisiopatológica dos linfonodos na LV
matológicos descritos por Ferrer et al.33, canina, entretanto poucos trabalhos
corroborando os estudos destes, embo- relatam de forma sistemática seu en-
ra descrevam a forma nodular da doença volvimento na doença. Tafuri38 encon-
em outras raças de cães e não apenas no trou maior reatividade dos linfonodos
Boxer. Em estudo feito em cães porta- cervicais quando comparados com os
dores de LV na região metropolitana de mesentéricos ou poplíteos de cães ex-
Belo Horizonte, Xavier23 também rela- perimental e naturalmente infectados
tou os mesmos padrões dermatológicos com L. chagasi, diferentemente das ob-
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servações de Alvar et al.39 , Ciaramella duas causas primárias, ou seja, podem
et al.14, Feitosa et al.15 e Zaragoza et al.40, tanto ser causadas pela presença das
que relataram maior reatividade dos lin- formas amastigotas e do infiltrado leu-
fonodos poplíteos nos cães portadores cocitário quanto pela consequência de
de LV. depósitos de CIC nos vasos oculares.44
Estudos de Martinez-Moreno et al.41
relatam predominância de plasmócitos Sinais inespecíficos
sobre linfócitos em linfonodos de cães A perda de peso e a atrofia da mus-
natural e experimentalmente infectados culatura das fossas temporais estão pre-
com L. infantum, sugerindo depleção sentes em boa parte dos casos de LV
das células T e proliferação das células canina, porém em graus variáveis.8, 14,
B, com consequente hiperglobulinemia. 15
Segundo Marzochi et al.10, o emagre-
cimento seria resultante de grave dese-
Alterações nas unhas quilíbrio proteico, que desencadearia a
A onicogrifose é um sinal marcante hipoalbuminemia. Genaro42 observou
da doença canina, observada em cerca desde discreto até acentuado emagreci-
de 25% dos animais com LV.14 Além mento em animais experimentalmente
do crescimento exces- infectados com L.chagasi,
sivo, outras alterações sempre em consonância
Após as alterações
na morfologia ungue- com a forma clínica apre-
cutâneas, o sintoma
al, como a onicorrexia,
clínico mais comumente sentada pelo animal. Para
também são relatadas .
descrito na LV canina o autor, o emagrecimen-
31

Alguns autores atribuem to não se deve apenas a


é a linfadenomegalia,
a onicogrifose à ação um fator mas a vários,
seja localizada ou
do parasita na matriz embora não explique
generalizada.
ungueal (Lestoquard e quais fatores sejam esses.
Donatiem, 1938, citados Martinez-Moreno45 et al.
por Genaro, 199342), e outros à ausência demonstram ainda que, associada com
do desgaste natural das unhas devido à a ausência da resposta linfoprolifera-
apatia do cão nos estágios mais avança- tiva frente ao antígeno de Leishmania,
dos da doença.10 haveria diminuição de resposta imune
aos mitógenos ConA e PHA, sugerin-
Alterações oculares do que uma imunodeficiência celular
As alterações oculares descritas na não específica poderia fazer parte dos
LV canina são variadas, sendo que a processos de caquexia e de enfraqueci-
blefarite, conjuntivite, ceratoconjunti- mento orgânico progressivos da doen-
vite seca e uveíte são as mais comuns.22, ça. A literatura não registra hipóteses ou
43
Provavelmente, tais lesões possuam discussões sobre a origem da atrofia da
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musculatura das fossas temporais. varam a presença de granulomas, forma-
Cerca de 5-10% dos cães portadores dos por linfócitos e neutrófilos em todas
de LV apresentam episódios de sangra- as peças estudadas. Foram descritos gru-
mento nasal8. Embora as causas da epis- pos de macrófagos nas áreas subcapsula-
taxe não estejam totalmente esclareci- res, bem como hiperplasia dos folículos
das, é provável que ela seja resultante de linfoides. Genaro42 também descreve hi-
inflamação, deposição de CIC nos vasos perplasia intensa da polpa branca, com
e ulcerações na mucosa nasal e não de confluência dos folículos linfoides, além
alterações no perfil de coagulação.46, 47 de pronunciado parasitismo das células
A presença das formas amastigotas macrofágicas. O autor registra intensa
nos órgãos provoca resposta inflama- congestão da polpa vermelha, com dila-
tória, inicialmente com predominância tação dos vasos e dos seios venosos.
de neutrófilos e eosinófilos, que são se- Tafuri48, em estudo detalhado so-
guidos por um grande número de ma- bre o baço e o fígado de cães natural e
crófagos. Os linfócitos são observados experimentalmente infectados com L.
posteriormente, e com a progressão da chagasi, encontrou aspectos micros-
doença a inflamação se torna tipicamen- cópicos semelhantes nos dois grupos.
te granulomatosa.5 Os folículos linfoides apresentavam-se
hiperplásicos e, muitas vezes, confluen-
Espleno e hepatopatias tes, compostos de células dispostas em
A frequência dos cães portadores diferentes camadas, sendo que aquelas
de LV que apresentam esplenomegalia centrais tinham núcleo vesiculoso, ci-
é bastante variável segundo a literatura. toplasma acidófilo, com ou sem parasi-
Em estudo recente sobre aspectos clíni- tas. Pequenos linfócitos foram também
cos da doença no interior do estado de observados. Mais externamente, o au-
São Paulo, Feitosa et al.15 não descrevem tor descreve a presença de pequenos
tal achado. Por outro lado, em estudo linfócitos dispostos em camadas mais
semelhante realizado por Ciaramella et finas e, por fim, células com as mesmas
al.14 na Itália, a esplenomegalia foi ob- características daquelas centrais, porém
servada em 53,3% dos cães estudados. intensamente parasitadas. Grande pro-
Já para Slappendel e Greene13, essa alte- liferação celular de macrófagos margi-
ração está presente em apenas 9,3% dos nais, bem como daqueles dos cordões
animais acometidos. Estudando cães sinusoides, e neoformação de tecido
experimentalmente infectados com L. conectivo foram as alterações descritas
chagasi, Oliveira, Santoro e Sadigursky49 na polpa vermelha. Em toda a espessura
descrevem a esplenomegalia como o da cápsula, nas regiões subcapsulares e
achado necroscópico mais importante. perifoliculares, foi descrito intenso pa-
Ao exame histológico, os autores obser- rasitismo.. Achados semelhantes, mas
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com organização de macrófagos inten- lulas de Kupffer, que, por sua vez, apre-
samente parasitados em granulomas, fo- sentavam muitas formas amastigotas em
ram descritos por Tafuri et al.50 e Ferrer.5 seu interior.
Esplenomegalia com hiperplasia de pol- Achados semelhantes aos de Olivei-
pa branca foi descrita por Ikeda et al.51 ra, Santoro e Sadigursky49 foram descri-
em cães portadores de LV, no município tos por Tafuri48, Ferrer8 e Tafuri et al.50
de Araçatuba, em São Paulo. , que observaram ainda infiltrado infla-
As hepatopatias associadas à LV, matório mononuclear por todo o órgão,
bem como a hepatomegalia, são raras parasitismo nos hepatócitos, atrofia por
em pacientes caninos13, 14, 15, 52 , embora compressão dessas células quando em
os estudos cito-histológicos de fígado torno dos granulomas e intensa conges-
de cães doentes apontem sempre envol- tão dos sinusoides.
vimento do órgão.49, 48, 53
Os granulomas descritos no baço Nefropatias
de cães experimentalmente infectados, De forma diferente do fígado, os
estudados por Oliveira, Santoro e Sadi- rins são extremamente afetados no cur-
gursky49, foram também encontrados no so da LV canina.8, 14, 43 Estudando os rins
fígado desses animais. Tais lesões foram de cães natural e experimentalmente
vistas no parênquima, bem como nos infectados com L. chagasi, tanto pela
espaços portais, e apresentavam arquite- microscopia óptica quanto pela ele-
tura celular variável, indo desde peque- trônica, Tafuri et al.38 descrevem como
nos e irregulares grupos de macrófagos principais alterações: glomerulonefrite
e linfócitos, sem organização evidente, mesangioproliferativa, focal ou difusa,
até granulomas ovais ou redondos, de com pronunciada hipertrofia e hiperpla-
limites precisos, com disposição celular sia das células e alargamento da matriz
concêntrica e contendo macrófagos, pa- mesangial; espessamento da membrana
rasitados ou não, linfócitos e, também, basal glomerular com depósitos eletro-
plasmócitos em sua periferia. Os autores densos subendoteliais e em sua espessu-
descrevem ainda um granuloma conten- ra; nefrite intersticial intertubular crô-
do um canal de eritrócitos, mas sem célu- nica com exsudação de plasmócitos e
las endoteliais em seu limite e hipertro- macrófagos e degeneração tubular. Os
fia hiperplasia das células de Kupffer. autores sugerem que os encontros pa-
Genaro42 observou a presença de tológicos são prováveis consequências
infiltrado mononuclear e de neutrófi- da deposição de complexos antígenos/
los nos espaços portais, assim como de anticorpos nas estruturas renais e atri-
pequenos nódulos macrofágicos com buem tais encontros ao intenso infiltra-
intenso parasitismo, neoformação cola- do inflamatório plasmocitário, sempre
gênica intralobular e hiperplasia das cé- presente nas peças estudadas.
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Corroborando a suspeita da gêne- sendo a degeneração vacuolar e hialina a
se imunomediada das nefropatias em mais frequente delas. Por fim, infiltrado
cães portadores de LV, Mancianti, Poli inflamatório, predominantemente cor-
e Bionda54 identificaram frações de IgG tical, caracterizando nefrite intersticial,
anti-Leishmania em depósitos glome- estava presente em 43 cães, organiza-
rulares de 13 animais doentes. As des- do em focos e composto por linfócitos
crições anatomopatológicas das lesões e plasmócitos, com raros histiócitos e
renais, semelhantes àquelas reladas por neutrófilos.
Tafuri et al.38, foram feitas por Genaro42
e Tafuri48. Alterações na medula óssea
A correlação entre a função renal e A literatura é bastante escassa no
os CIC de cães naturalmente infecta- que tange às alterações patológicas da
dos por L. infantum foi elucidada por medula óssea de cães portadores de LV.
Lopez et al.17 Os autores demonstraram Estudando os achados de necropsia de
que cerca de 50% dos animais doentes um cão portador de LV proveniente da
possuíam taxas elevadas de CIC quando Grécia, Anosa e Idowu56 relataram in-
comparados com cães-controle sadios tensa substituição da medula amarela
e, ainda, quando os níveis séricos de por medula vermelha na tíbia, no úme-
creatinina foram usados nos primeiros ro e no fêmur, com predominância de
como indicadores da função renal, hou- precursores de granulócitos. Os autores
ve associação com o aumento de CIC ainda descrevem infiltrado inflamatório
em 90% dos casos. intenso, constituído de linfócitos, plas-
Recentemente, Costa et al. 55 des- mócitos e macrófagos parasitados, nas
creveram predomínio das alterações áreas medulares estudadas.
glomerulares sobre aquelas intersticiais Tafuri48 relatou nítido aumento do
e tubulares em 55 cães naturalmente número das células em estudo histológi-
infectados por L.chagasi, provenientes co de cães natural e experimentalmente
da região Norte do Brasil. Os autores infectados com L. chagasi. Esse aumen-
classificaram as modificações glomeru- to deveu-se às séries linfocítica e mono-
lares, presentes nos 55 animais estuda- cítica, com concomitante escassez de
dos, como: anormalidades glomerula- granulócitos. Em outro estudo, Tafuri
res menores, glomeruloesclerose focal et al.50 descrevem hipoplasia de todas
segmentar, glomerulonefrite mesangial as células medulares, principalmente da
proliferativa difusa, glomerulonefrite série branca. Tal hipoplasia foi descrita
membranoproliferativa difusa, glome- também por Amusategui et al.24, que ob-
rulonefrite crescente e glomerulonefrite servaram correlação entre o agravamen-
crônica. As alterações tubulares estavam to das alterações medulares e o aumento
presentes em 53 dos animais estudados, da sintomatologia clínica do animal.
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Achados de patologia canismo de citoaderência. Tais fatos
clínica favoreceriam o sequestro esplênico das
células, sua retirada da circulação, deter-
Embora os encontros de hematolo-
minando, consequentemente, a anemia.
gia, bioquímica sérica e urinálise possu-
am limitado valor para o diagnóstico da Alterações do leucograma
LV canina, estes valores fornecem im-
As contagens total e diferencial de
portante subsídio para avaliação do es-
leucócitos não obedecem a qualquer
tado clínico do animal e entendimento
padrão em cães portadores de LV: al-
da patogênese da doença.27, 51
guns animais apresentam leucocitose
Alterações do eritrograma e com desvio à esquerda regenerativo,
enquanto outros possuem leucopenia,
dos eritrócitos geralmente por neutropenia ou mesmo
A anemia é um achado frequente perfil leucocitário normal. 22, 23, 24, 46, 47,
na doença canina, sendo encontrada 51, 56 Porém, alguns autores procuraram
em cerca de 50 a 70% dos pacientes, estabelecer qual o papel de algumas
tendo como características marcantes a células brancas no curso da LV canina.
normocitose, a normocromia e a arrege- Brandonisio et al.60 demonstraram que
neração. 14, 22, 23, 27, 42, 51, 57 Por outro lado, granulócitos oriundos de cães doentes
alguns autores consideram a anemia um possuíam maior capacidade fagocitária
achado pouco frequente.24, 46 Segundo a quando comparados com aqueles de
literatura, anemia pode ser atribuída a: cães-controle sadios. Por outro lado, a
perda sanguínea pela epistaxe e ulcera- capacidade de produção de radicais de
ções da pele13, 22; eritrólise13, 56; inflama- oxigênio dos granulócitos e monócitos
ção generalizada e insuficiência renal dos cães infectados mostrou-se reduzi-
crônica22 e, ainda, hipoplasia ou aplasia da, mas foi restabelecida após terapia
medulares. 13, 22 Para alguns autores, a com antimoniato de meglumina.
anemia está relacionada à severidade Bourdoiseau et al.61, estudando as
do quadro clínico do animal: os animais populações de linfócitos periféricos de
sintomáticos seriam aqueles com menor cães portadores de LV, demonstraram
número de hemácias, menor valor do diminuição dos linfócitos B. Quando
hematócrito e menores teores de hemo- comparados com cães sadios ou assin-
globina.23, 24, 27, 30, 58 tomáticos, cães sintomáticos apresen-
De Luna et al.59, estudando cães na- tavam, além de diminuição de linfóci-
turalmente infectados por L. infantum, tos B, redução intensa na população de
observaram diminuição da fluidez da linfócitos T. Linfocitopenia grave foi
membrana dos eritrócitos, o que au- observada por Reis27 em cães sintomá-
mentaria sua rigidez e alteraria o me- ticos. Já Ikeda et al.51 e Amusategui et
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al.24 não correlacionaram o número de com frequência nos cães portadores de
linfócitos circulantes com a severidade LV24, 51, sendo observados em apenas
do quadro clínico do animal, no entanto 16% dos casos.14 Insuficiência hepática,
os últimos autores observaram eosino- com aumento de atividade das enzimas
filia nos cães em que as lesões cutâneas hepáticas alanina amino transferase
predominavam sobre as viscerais. (ALT) e aspartato amino transferase
(AST), assim como aumento sérico das
Alterações nas plaquetas bilirrubinas, foi descrita por Valladares
Segundo a literatura, a trombocito- et al.52, em um cão experimentalmente
penia ocorre em 29,014 a 50%13, 23, 39 dos infectado por L. infantum. Koutinas et
cães portadores de LV. Embora algumas al. 22 descreveram aumento de AST e
alterações hemostáticas sejam atribu- ALT em dois cães portadores de LV, que
ídas por alguns autores ao decréscimo apresentavam também ascite.
no número de plaquetas, Koutinas et al.
22
, Juttner et al.47, Costa-Val 30 e Freitas et Disproteinemia
al. 58 observaram a presença de epistaxe Uma característica marcante da LV
em animais sem alterações no perfil he- canina é a disproteinemia27, 42, carac-
mostático ou no número de plaquetas. terizada por hiperproteinenia e ocor-
A mesma constatação foi feita por Mo- rendo na maioria dos cães infectados
reno, Lucena e Ginel46 , que atribuem por Leishmania em índices que variam
o aumento no tempo de coagulação de 6814 a 100%.47 Todavia, os autores
nos animais estudados, além das altera- são unânimes quanto à composição
ções citadas anteriormente, a prováveis do perfil eletroforético das proteínas
trombocitopatias, por sua vez associa- plasmáticas dos cães doentes: a ativa-
das à uremia, comum em cães com insu- ção policlonal das frações b e g seria
ficiência renal crônica secundária à LV. responsável pelo aumento geral das ga-
Frente ao estado de hipercreatininemia, maglobulinas; enquanto a diminuição
as plaquetas teriam sua capacidade de da albumina seria devido a perdas por
agregação reduzida, disfunção na libe- nefropatia, doença hepática, subnutri-
ração do fator plaquetário três, ligação ção crônica ou até mesmo a combinação
anormal ao fibrinogênio, adesividade desses fatores.13, 14, 22, 24, 27, 30, 46, 51, 58 Assim
anormal e diminuição no tempo de re- sendo, a relação albumina/globulinas
tração do coágulo. (A/G) estaria invertida na maioria dos
animais doentes14, 22, 27, sendo tanto
Função hepática menor quanto mais sintomas o animal
Aumentos na atividade das enzi- apresentasse. Por outro lado, em alguns
mas hepáticas, bem como aumento animais, principalmente aqueles com
nos teores de bilirrubinas, não ocorrem sintomatologia grave, a disproteinemia
84 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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seria caracterizada por hipoproteine- observaram azotemia por hipercreatini-
mia.51 nemia e aumento dos níveis de ureia em
Segundo Koutinas et al.22, em alguns 38% dos cães por eles estudados, sendo
animais, a hipoalbuminemia poderia que todos eles apresentavam histórico
agir como um mecanismo de equilíbrio ou sinais clínicos de insuficiência renal
à hipergamaglobulinemia, o que resulta- crônica. Amusategui et al.24 descreve-
ria em valores de proteínas plasmáticas ram aumento nos níveis de ureia em 40
totais normais, ressaltando a importân- de 61 cães com LV enquanto a creatini-
cia da determinação do perfil eletroforé- na estava elevada em apenas três dos 44
tico. cães avaliados. Xavier23 observou que
Amusategui et al.24 encontram rigo- cães sintomáticos apresentavam maio-
rosa correlação entre os sintomas e o os res índices de ureia sérica que aqueles
valores de proteínas totais, albumina, oligossintomáticos ou assintomáticos.
relação A/G e as frações b e g do protei- Costa et al.55 demonstraram que
nograma, bem como dessas frações com cães com alterações histopatológicas re-
os valores de hemácias, hemoglobina e nais glomerulares discretas não apresen-
hematócrito. De acordo com os autores, tavam elevação nos níveis de creatinina,
em todos os animais examinados, a fra- sugerindo importante participação des-
ção a encontrava-se dentro dos valores sas alterações na hipercreatininemia,
normais, portanto pouco contribuiria que geralmente é atribuída apenas às
para o aumento do valor das proteínas disfunções tubulares.62
totais, entretanto cães portadores de Tendo em vista a urinálise, a protei-
sintomas viscerais teriam maiores valo- núria é a alteração mais frequentemente
res dessa fração. descrita, sendo encontrada em 7122 a
85%13, 14 ou até mesmo 100%19 dos ani-
Função renal mais portadores de .
Azotemia ocorre em cerca de 45% LV, seja em graus discretos ou até
dos cães portadores de LV , sendo que mesmo graves. Em alguns animais, a
13

em 38% apenas a creatinina está eleva- proteinúria pode ser tão grave que che-
da. Também para Nieto et al.19, aumento garia a determinar valores de proteínas
nos níveis de ureia são mais comuns que séricas normais.19
nos níveis de creatinina. Segundo Lo- Conforme Costa et al.55, a protei-
pez et al.17, a hipercreatininemia correla- núria é mais severa nos cães em que o
ciona-se de forma positiva com os CIC estudo histológico dos rins demonstrou
determinantes das nefropatias na LV ca- nefrite intersticial e/ou glomerulonefri-
nina, sugerindo que os níveis de creati- te, sendo tanto mais grave quanto mais
nina possam ser usados como indicado- severas fossem as alterações patológicas.
res da presença de CIC. Koutinas et al.22 Cilindros hialinos e/ou cilindros granu-
Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 85

maio2012.indb 85 08/05/2012 16:28:24


lares finos podem ser observa-

Eliane Gonçalves Paiva Lopes


dos em até 100% dos casos de
LV canina.13
Estudando a correlação en-
tre as lesões renais e a proteinú-
ria, Zateli et al.63 demonstraram
que a maioria dos cães portado-
res de LV estudados apresenta-
va proteinúria glomerular não
seletiva, pois tanto albumina
quanto proteínas de peso mo-
lecular semelhantes à albumi-
na, transferrina e IgG foram
evidenciadas quando a urina Detalhe da pata de um cão positivo para LVC no teste
sorológico com onicogrifose
desses animais foi submetida à
eletroforese. Em estudo seme- boratorial para o diagnóstico da LV é a
lhante, Zaragoza et al. demonstraram demonstração do parasita, tanto em es-
64

a presença de 11 diferentes bandas pro- fregaços de material obtido por aspira-


teicas de pesos moleculares variando ção quanto em esfregaços por aposição
entre 10 e 150kDa. Quando submetidas de fragmentos de tecidos.65 A identifi-
ao immunoblotting, as amostras de urina cação das formas amastigotas depende
indicavam a perda de IgG e IgA. de treino, experiência e habilidade do
examinador.31
Diagnóstico laboratorial Os aspirados de medula óssea e lin-
da leishmaniose visceral fonodos são os mais usados pelos clíni-
canina cos veterinários. A principal desvanta-
Tal diversidade de sintomas clínicos gem desse método é a sensibilidade de
e de aspectos laboratoriais torna o diag- apenas 50% nos aspirados de medula
nóstico clínico da LV canina uma tare- óssea e menos de 30% naqueles de lin-
fa difícil, o que faz com que os exames fonodos.66 Segundo Genaro42 ,a grande
complementares sejam de fundamental variabilidade do parasitismo medular,
importância.11, 14, 22, 43 que altera entre positivo e negativo in-
discriminadamente, seria responsável
Métodos parasitológicos pela pequena sensibilidade do método.
Devido a sua grande especificidade, Para Ciaramella et al.14 , a sensibili-
pois o encontro de uma só amastigota dade do exame parasitológico de aspi-
é suficiente para determinar a positivi- rados de linfonodos e medula óssea é
dade do exame, o melhor método la- de cerca de 60%, devido ao grande nú-
86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 86 08/05/2012 16:28:24


cães experimentalmente
Eliane Gonçalves Paiva Lopes

infectados com L. chagasi,


mas em taxas que variavam
de oito a 14 até 30 formas
amastigotas/100 células
nucleadas. Ainda que não
haja detalhamento, o au-
tor descreveu o encontro
das amastigotas tanto em
áreas hígidas quanto em
áreas com lesões na pele
dos animais. Ele observou
que animais com intenso
Necropsia de cão positivo para LVC no teste sorológico com parasitismo cutâneo apre-
esplenomegalia
sentavam também intenso
mero de amostras com baixa densidade parasitismo medular.
parasitária, ou seja, de 1-10 parasitas/ A cultura do material aspirado au-
campo. Para Aisa et al.67, quanto mais menta a probabilidade de encontro do
sintomas o animal apresenta, maior será parasito42, 68, porém o método é demo-
a sensibilidade do exame parasitológico rado e não é muito sensível, não sendo
do aspirado de linfonodo. adequado para diagnóstico clínico roti-
Koutinas et al.22 apresentaram taxas neiro.66 Para Gradoni69, a sensibilidade
de positividade do exame parasitológico da cultura depende de vários fatores,
do aspirado de linfonodos de 84,9%, su- a saber: uso de meios de cultura ade-
gerindo que a punção de medula óssea quados, pois meios bifásicos são mais
apenas deve ser feita nos casos em que eficientes que meios líquidos; forma de
o exame citológico do aspirado de lin- plantio do material, uma vez que algu-
fonodos for negativo. Em estudo sobre mas gotas do material aspirado distribu-
a prevalência de LV canina na região de ído em vários tubos contendo o meio de
Manisa, oeste da Turquia, Ozbel et al.68 cultura fornecem melhores resultados
observaram 65% de positividade em as- que grandes quantidades distribuídas
pirados de linfonodos poplíteos. em poucos frascos; por fim, o número
Embora pouco utilizado como mé- de amostras obtidas do mesmo cão, já
todo de diagnóstico, o esfregaço por que vários aspirados de linfonodos dife-
aposição de fragmento de pele pode rentes aumentam em 10% quando com-
demonstrar a presença de formas amas- parados com um único aspirado.
tigotas66. Genaro42 demonstrou a pre- Xavier23 , estudando a pele de re-
sença do parasita na pele de 70% dos giões anatômicas diferentes, ou seja,
Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 87

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da orelha, do abdome e do focinho de mo pela IHQ. Resultados semelhantes
cães naturalmente infectados, observou no que tange ao grau de parasitismo e ao
maior grau de parasitismo nos fragmen- infiltrado inflamatório foram descritos
tos de pele de orelha, seguida pela pele por Solano-Gallego et al.32, que usaram
do focinho e, por fim, do abdome, bem apenas a IHQ para determinação da in-
como maior grau de parasitismo quan- tensidade do parasitismo.
to mais sintomas o animal apresentas-
se, atribuindo tais diferenças ao tipo de Métodos sorológicos
resposta imune do cão frente à infecção Visando evitar os problemas rela-
por Leishmania. Por outro lado, o autor cionados à demonstração do parasita,
ressalta dificuldade na demonstração foram desenvolvidos métodos de diag-
das formas amastigotas nos casos de pa- nóstico não invasivos, sendo os que de-
rasitismo discreto. tectam anticorpos no soro do paciente
As técnicas de imuno-histoquímica os mais utilizados, já que os portadores
(IHQ) podem resolver os problemas de LV apresentam hipergamaglobuline-
relacionados à evidenciação do parasita, mia.65
pois anticorpos específicos marcados A RIFI é amplamente utilizada no
detectam com grande sensibilidade as diagnóstico da LV canina11, 70, apresen-
formas amastigotas nos cortes de teci- tando elevadas taxas de sensibilidade
dos.61, 66 mesmo quando se utilizam como antí-
Xavier , comparando o grau de pa- geno outras espécies de Leishmania, tais
23

rasitismo do mesmo fragmento de pele como L. mexicana e L. braziliensis.71 Por


quando corado pela HE e pela IHQ, outro lado, segundo Solano-Gallego
demonstrou maior sensibilidade da et al.32, a especificidade da técnica fica
segunda técnica, já que esta propiciou comprometida quando é utilizada em
a visualização dos parasitas em cortes áreas em que o cão sofre também de
considerados negativos ou duvidosos leishmaniose tegumentar ou doença de
pela primeira. O autor não correlaciona Chagas.
o grau de parasitismo dos fragmentos Quando comparada com o diagnós-
de pele, independentemente da sua lo- tico parasitológico pela citologia de ma-
calização anatômica, com o grau da in- terial obtido de aspirado de linfonodo,
flamação plasmo-histiolinfocitária. De a RIFI mostrou-se mais sensível, sendo
fato, em algumas amostras foram obser- as taxas encontradas de 84,9% para o
vados macrófagos intensamente parasi- primeiro método e de 96,9% para o se-
tados em fragmentos sem infiltrado in- gundo.22
flamatório, bem como fragmentos com Para Gradoni69 , a RIFI é considera-
infiltrado inflamatório intenso sem evi- da o padrão ouro para o diagnóstico so-
denciação de formas amastigotas, mes- rológico da LV canina, pois, além de ser
88 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 88 08/05/2012 16:28:25


o teste mais utilizado por pesquisadores promastigotas cultivadas in vitro, geral-
europeus em um período de 12 anos, mente rompidas por ultrassom, expon-
é também a técnica recomendada pelo do cerca de 30 antígenos somáticos e
“Office International dês Epizooties”.72 inúmeros componentes de superfície.
O autor ressalta que a especificidade da Esse método também tem seus níveis de
técnica não é ameaçada, nos países da especificidade comprometidos por rea-
bacia do Mediterrâneo, pelas reações ções cruzadas com outras espécies de
cruzadas com outras doenças parasitá- tripanossomatídeos ou até mesmo por
rias que acometem o cão em países da espécies filogeneticamente distantes.65
América Latina. Para aumentar a especificidade do
A RIFI utiliza como antígeno pro- método, tem-se buscado a caracteriza-
mastigotas de Leishmania, portanto sua ção molecular dos componentes do an-
preparação exige pessoal qualificado.65 tígeno de Leishmania para ELISA tem
Embora existam kits comerciais, as lâ- sido feita.69
minas feitas nos laboratórios de diag- O antígeno ligante fucose manose
nóstico produzem resultados melhores (FML) é uma glicoproteína de superfí-
e mais repetitivos.66 Além disso, o méto- cie, isolada de promastigotas de L. do-
do é demorado, caro, demanda pessoal novani, necessária para interações com
treinado.65 macrófagos in vitro. Quando esse antí-
O ELISA é também amplamente geno foi utilizado no diagnóstico soro-
utilizado no diagnóstico da LV canina, lógico de cães de área endêmica do Rio
sendo a segunda técnica mais utilizada Grande do Norte, Cabrera et al.75 de-
pelos pesquisadores europeus.69, 73 É monstraram taxas de sensibilidade e de
atualmente indicada como triagem para especificidade de 100% para o ELISA,
posterior confirmação pela RIFI nos enquanto a sensibilidade da RIFI foi de
inquéritos epidemiológicos no Brasil apenas 2,9%. O FML também demons-
(Ministério da Saúde, 2003), embora trou valor preditivo de 100%, pois dos
apresente índices de sensibilidade supe- 27 animais assintomáticos que foram
riores aos daquele método.69, 73, 74, 75 Por positivos ao FML ELISA, 21 morreram
esta razão, é a técnica de eleição para o de leishmaniose em um período de seis
diagnóstico de LV humana65 e de leish- meses.
maniose tegumentar americana cani-
na.76 Métodos de biologia
Os erros de leitura subjetivos, obser- molecular
vados nas reações fracamente positivas A sensibilidade das técnicas soro-
na RIFI, são suprimidos no ELISA, cuja lógicas e de demonstração do parasita,
leitura é automatizada.69, 73, 77 No ELISA, comumente empregadas no diagnóstico
os antígenos utilizados são derivados de da LV canina em áreas endêmicas, é ge-
Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 89

maio2012.indb 89 08/05/2012 16:28:25


ralmente insuficiente.78 As técnicas so- resultados positivos para a PCR, o que
rológicas necessitam de níveis elevados não ocorreu em nenhum dos 41 cães-
de anticorpos e não fazem distinção en- -controle sadios.
tre as fases da doença quando os níveis Quinnell et al.26 realizaram estudo
de anticorpos estão próximo ou no pon- comparativo do desempenho do ELI-
to de corte.67 Desta forma, os testes que SA, do exame microscópico, da cultura
identifiquem o antígeno por métodos e da PCR em biópsias de medula óssea
que empregam a biologia molecular as- para estudo longitudinal de cães expos-
sumem grande importância.65 Dentre as tos à infecção natural por L. chagasi na
técnicas existentes, a reação em cadeia Ilha de Marajó. Foram utilizados ini-
da polimerase (PCR) tem se mostrado ciadores do minicírculo e ribossomais
muito útil, tanto no diagnóstico quanto nas amostras também para comparação.
no acompanhamento de cães com LV66, Nas amostras positivas para demonstra-
pelo aumento da sensibilidade associa- ção do parasita, a PCR demonstrou sen-
do à grande especificidade.78 sibilidade de 98%, mostrando variações
Mathis e Deplazes79 descreveram durante o curso da infecção, sendo mais
um ensaio de diagnóstico de LV canina alta (78-88%) no início da infecção, ou
com iniciadores selecionados da sequ- seja, até 135 dias, para depois cair em
ência da pequena subunidade do gen de cerca de 50% até 300 dias pós-infecção.
rRNA, que é repetido mais de 100 vezes A PCR realizada nas amostras obtidas
no genoma de Leishmania. As amostras de cães clinicamente doentes forneceu
utilizadas foram aspiradas de linfonodo maior sensibilidade que aquelas obti-
e sangue total, onde as hemácias foram das de animais sem sintomas. A soro-
lisadas, e os resultados demonstram logia por ELISA também apresentou
sensibilidade de 100 e 38,4%,
respectivamente.
Em estudo sobre a aplicabili-
Fotos: Eliane Gonçalves Paiva Lopes

dade clínica da PCR, Roura, San-


chez e Ferrer80 desenvolveram e
otimizaram um ensaio com am-
plificação de um fragmento de
120 pares de base (bp) perten-
cente ao DNA do cinetoplasto e
comum a todas espécies de Leish-
mania. Foram utilizados aspira-
dos de medula óssea da região
costocodral. Quarenta e cinco
dos 46 cães com LV mostraram Cão soropositivo para LVC
90 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 90 08/05/2012 16:28:25


resultados que variavam de acordo com nando os achados, 90% dos cães posi-
o curso da infecção: 41% no início da tivos ao immunoblotting foram também
infecção e 93-100% depois. Os autores positivos à PCR, enquanto 71% dos
concluem que a PCR teve mais utilida- cães PCR positivos foram também im-
de na detecção da doença ativa e que a munoblotting positivos. Os autores con-
sorologia é mais sensível para a detecção cluem que a maioria dos cães residentes
da infecção em todos os cães. em áreas endêmicas foi exposta à infec-
A técnica da PCR é também útil ção e que a PCR e o immunoblotting são
nas investigações epidemiológicas da suficientemente sensíveis para detectar
doença canina.66 Estudando 30 cães as- infecção assintomática. Reale et al.82 e
sintomáticos, porém residentes em áre- Solano-Gallego et al.28 chegaram a con-
as endêmicas, Berrahal et al. 81 (1996) clusões semelhantes quanto à prevalên-
demonstraram que, enquanto as técni- cia de cães assintomáticos infectados
cas sorológicas clássicas (RIFI e ELI- em áreas endêmicas. Os últimos autores
SA) não foram capazes de identificar utilizaram a PCR para o diagnóstico de
anticorpos no soro, a PCR identificou LV em amostras de aspirado de medula
DNA do parasita em 80% das amostras óssea, pele de focinho e conjuntiva de
de pele e conjuntiva desses animais, e o cães que seriam submetidos à eutaná-
immunoblotting, por sua vez, identificou sia por razões sanitárias. Somados aos
anticorpos específicos em 56% dos so- resultados da sorologia por ELISA, a
ros desse grupo. O immunoblotting foi prevalência da infecção por Leishmania
considerado positivo quando ao menos chegou a 67%. Os autores utilizaram
uma das bandas de peso molecular 14 amostras frescas e congeladas até a uti-
ou 16kDa foi identificada. Correlacio- lização, bem como iniciadores para am-
plificação de fragmento
de 120 pares de base no
Fotos: Eliane Gonçalves Paiva Lopes

minicírculo do DNA do
cinetoplasto do parasita.
As altas taxas de infecção
por Leishmania encontra-
das em amostras de pele e
conjuntiva nos dois estu-
dos supra- citados levaram
Gradoni69 a um questiona-
mento interessante: qual
DNA é detectado pelo tes-
te nestas amostras: o DNA
Cão soropositivo para LVC com ceratoconjuntivite de infecções estabelecidas
Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 91

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ou de qualquer Leishmania depositada de pele de cães naturalmente infectados
pelo vetor? por L. infantum, mas estes autores usa-
Ainda usando PCR, Lachaud et al. 83
ram amostras frescas e congeladas a -20
encontraram taxa de infecção de 79,8% ºC até o momento da extração do DNA.
em 263 cães avaliados em um foco em
Cévenne, França, contra 29,6% apon- Xenodiagnóstico
tados pela sorologia por RIFI e contrai- O xenodiagnóstico é uma técnica
munoeletroforese. Os autores chegam utilizada para detecção e isolamento do
à conclusão de que 89,4% dos cães sin- patógeno usando seu vetor artrópode.
tomáticos e 65,2% dos assintomáticos Embora não possa ser utilizado como
albergam parasitas no sangue periférico, técnica diagnóstica de rotina, é um ins-
confirmando a alta prevalência de por- trumento para resolução de questões
tadores assintomáticos. epidemiológicas sobre o estado clínico
Visando ao uso da PCR como ferra- do animal e relativas ao tratamento do
menta auxiliar no diagnóstico histológi- cão infectado.39, 69
co rotineiro, Muller et al. 84 adequaram A habilidade de se estabelecer co-
a técnica de PCR para o diagnóstico de lônias fechadas de L. longipalpis, desde
LV em amostras de pele de cães fixadas que Killick-Kendrick et al.85 descreve-
em formalina e embebidas em parafina. ram métodos de criá-las em laboratório,
Como tal preparação causa destruição tem permitido diversos estudos sobre o
parcial do DNA, os autores utilizaram desenvolvimento, o ciclo e a morfologia
iniciadores específicos para a sequên- de Leishmania nesse inseto vetor a partir
cia genética a-actina, comum a várias da manutenção de colônias de diferen-
espécies de mamíferos, para o pré- diag- tes procedências em vários institutos de
nóstico de 18 amostras. Destas, nove pesquisa86, 87 , bem como o xenodiagnós-
apresentaram resultado positivo para a tico direto, visando à monitoração da in-
presença de DNA de Leishmania. Tais fectividade de cães portadores de LV.88
amostras haviam apresentado resultado Em estudos com o xenodiagnóstico,
anterior positivo para Leishmania pelo Gradoni et al.89 demonstraram diferen-
IHQ. Os autores concluem que a técni- ças significativas entre as taxas de infec-
ca desenvolvida poderá ser utilizada em ção de fêmeas de Phlebotomus pernicio-
vários tipos de estudo, particularmente sus alimentadas em cães com diferentes
naqueles retrospectivos em que apenas sintomas clínicos, sendo que aqueles
as coleções histológicas estão disponí- animais com mais sintomas infectavam
veis. maior número de fêmeas. Já Molina et
Resultados concordantes entrem a al.88 não encontraram diferenças entre
IHQ e a PCR foram também obtidos as taxas de infectividade de fêmeas dos
por Solano-Gallego et al.32 em amostras flebotomíneos P.s perniciosus entre cães
92 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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assintomáticos, oligossintomáticos e por Travi et al.92 quando estudaram a
sintomáticos, embora a porcentagem possibilidade de L. youngi e L. shanoni
de fêmeas infectadas tenha apresentado serem transmissoras de LV, contribuin-
grande variação. Os mesmos resultados do, assim, para a disseminação da doen-
foram encontrados por Guarga et al.90, ça em novas áreas.
tanto no xenodiagnóstico direto quanto Tratamento da leishmaniose visce-
naquele indireto, em que as fêmeas de P. ral canina
perniciosus foram alimentadas com san- Talvez em nenhuma outra doença
gue dos cães colocado em um recipiente dos cães o termo “tratamento efetivo”
de vidro e através de um fragmento de tenha tantos significados93, pois, ape-
pele de pinto de três dias. Os cães usa- sar de este tratamento recuperar clini-
dos nesses trabalhos eram soropositivos camente o animal, com concomitante
e/ou tiveram exame parasitológico tam- diminuição da carga parasitária e dos
bém positivo. Courtenay, Quinnell e títulos de anticorpos circulantes39 , por
Dye91, citados por Gradoni69 , demons- meio dele ocorre apenas diminuição de
traram que cães só são infectantes para sua capacidade infectante para o inseto
as fêmeas de L. longipalpis depois de transmissor89, e, ainda, as recidivas são
apresentarem sorologia positiva e que, frequentes13, atingindo 75% dos casos
portanto, os títulos de anticorpos po- no período de dois anos após o trata-
dem ser usados como fator preditivo de mento.52
infectividade. As principais drogas usadas na te-
Utilizando xenodiagnósticos seria- rapia da doença canina são o antimo-
dos para acessar a infectividade de cães niato de meglumina, anfotericina B e
naturalmente infectados por L. chagasi, alopurinol. Muitos outros compostos,
Travi et al.92 e Costa-Val30 demonstraram tais como estibogluconato de sódio,
que os cães assintomáticos não infecta- pentamidina, aminosidina, miltefosi-
ram as fêmeas de L. longipalpis e que os na, metronidazol e cetoconazol, foram
oligossintomáticos infectaram os inse- também testados.94 Protocolos atuais de
tos em taxas discretas. Os animais sinto- tratamento da LV podem ser vistos no
máticos não só infectavam maior núme- Quadro 1.
ro de fêmeas como o faziam em maior Embora apenas os animais clinica-
intensidade, pois as fêmeas alimentadas mente doentes sejam submetidos ao tra-
nesses indivíduos possuíam maior nú- tamento, aqueles assintomáticos apre-
mero de promastigotas nos intestinos sentam maiores chances de recuperação
médio e anterior. Os autores também que aqueles com sintomas viscerocutâ-
demonstram que a pele da orelha é mais neos.20 O estádio clínico da doença, o
infectante que a pele do abdome. Resul- grau de anticorpos apresentados pelo
tados semelhantes foram encontrados animal e os achados de patologia clínica
Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 93

maio2012.indb 93 08/05/2012 16:28:25


to pela sua habilidade de prolongar
a presença da droga no organismo
quanto pelo fato de liberá-la especifi-
camente dentro dos macrófagos.99, 100
Os estudos iniciais sobre o uso do
antimoniato de meglumina encapsu-
lado em lipossomas no tratamento de
cães são atribuídos a Alving et al.101
Nesse trabalho, os autores infectam
experimentalmente cães com L. do-
novani, e, após 12 dias da infecção, os
Luiz Felipe Nunes Menezes Borges

animais são tratados tanto com a dro-


ga encapsulada quanto com a droga
livre, por via endovenosa (EV), por
um, quatro ou 10 dias consecutivos.
Ao final dos tratamentos, os cães fo-
ram sacrificados, e a carga parasitária
avaliada por esfregaços por aposição
Cão soropositivo para LVC com de fragmento de baço. Os autores
lesões de pele observaram que a supressão de 50% da
permitem decidir a terapia e ser utiliza- carga parasitária foi conseguida com
da e o prognóstico do caso (Quadro 2). 24mg/Sb/kg, quando a droga livre foi
O tratamento da LV canina, espe- usada, e com apenas 0,029 mg/Sb/kg
cialmente com a combinação antimo- encapsulado em lipossomas, quando o
niato/alopurinol, frequentemente leva composto foi utilizado, concluindo que
à cura clínica, mas as recidivas podem a droga, quando encapsulada, é 700 ve-
acontecer, indicando a não eliminação zes mais eficiente que em sua forma li-
completa da infecção.9 Os animais po- vre para o tratamento da LV canina.
dem ainda albergar parasitas na pele e Comparando a farmacocinética do
serem infectantes para os flebotomíne- antimoniato de meglumina encapsula-
os, mesmo que em menor grau.95, 96, 97, 98 do em lipossomas, administrado tanto
por via intramuscular (IM) quanto por
Uso de lipossomas via subcutânea (SC) em dose única,
O uso de lipossomas convencionais Valladares et al.52 observaram que, em
representa uma estratégia promissora qualquer uma das duas rotas de aplica-
para o tratamento da LV canina, pois ção, o composto apresentava comporta-
aumenta a eficácia dos antimoniais, tan- mento semelhante quando os valores de
94 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 94 08/05/2012 16:28:27


níveis plasmáticos em diversos tempos capsulado em lipossomas é comparada
após a aplicação e os demais parâmetros em cães experimentalmente infectados
farmacocinéticos foram estudados. Os por L. infantum. A droga encapsulada
autores concluem ser a via SC a mais produzia níveis plasmáticos mais altos
indicada para o uso do composto, par- de Sb que em estado livre, além de ser
tindo da premissa de que, para o trata- eliminada mais lentamente. Tais ní-
mento da LV canina atingir picos plas- veis, que teriam como média 9,8mg/
máticos maiores, que é conseguido pela Sb/kg, portanto inferiores àqueles de
administração por via SC, é preferível a 20,4mg/kg preconizados pelo mesmo
manutenção da dose inibitória mínima grupo em 1996, seriam efetivos contra
da droga, que, por sua vez, é consegui- a doença canina, pois, após um ano de
da pela aplicação por via IM. Advertem acompanhamento, os cães tratados com
ainda para o possível risco de indução o composto não apresentaram recidivas
de trombocitopenia, esplenomegalia e ou elevações nos níveis de proteínas
hemorragias, atribuídas ao uso de lipos- plasmáticas ou gamaglobulinas, o que
somas que contenham fosfatidilcolina, foi observado em três meses após o uso
colesterol e dicetil fosfato. da droga livre. Os autores atribuem o
Valladares et al102 realizaram estu- sucesso da dose baixa ao fato de que os
do em que a eficiência terapêutica do lipossomas possuem melhor acesso aos
antimoniato de meglumina livre e en- tecidos e aos macrófagos, eliminando os

Quadro 1: Protocolos de tratamento da LV canina.

Protocolo Drogas e dosagens Principais efeitos


colaterais
Primeira linha Antimoniato de glucamina (75- Potencial nefrotoxicidade
100mg/kg/IV/SID/4-8 semanas e abscessos cutâneos nos
+alopurinol (10mg/kg/PO/BID/6-12 locais de aplicação
meses)
Segunda linha Miltefosina (2mg/kg/4 semanas/ Vômitos e diarreia
PO/SID) +alopurinol (10mg/kg/PO/
BID/6-12 meses)
Alopurinol (10mg/kg/PO/BID/6-12
meses)

Terceira linha Anfotericina B (0,5—0,8mg/kg/ Potencial nefrotoxicidade


IV/2 vezes por semana/2 meses)

Adaptado de Solano-Gallego et al. 9


Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 95

maio2012.indb 95 08/05/2012 16:28:27


parasitas mais facilmente e permitindo Usando a formulação supracitada,
que quantidades menores da droga se- em quatro aplicações por via endoveno-
jam necessárias para manter os níveis sa a cada 96 horas, Costa-Val30 concluiu
terapêuticos, diminuindo, assim, os efei- que composto antimonial pentavalen-
tos colaterais do Sb. te encapsulado em lipossomas não foi
Schettini et al. estudaram a far- capaz de curar parasitologicamente os
103

macocinética de antimoniato de me- cães, embora contribuísse de forma sig-


glumina sintetizado no Departamento nificante para a melhora do estado clí-
de Química do Instituto de Ciências nico dos animais, entretanto foi capaz
Biológicas da UFMG104 ,de fórmula de reduzir a intensidade da infecção de
C7H2ONO9Sb.3H20, e encapsulado em Lutzomyia longipalpis.
lipossomas convencionais, com méto- Recentemente, da Silva et al.105 utili-
dos mais eficientes, em cães sadios, po- zaram outra formulação, composta por
rém visando ao tratamento de cães aco- 6,8mg/ Sb/kg encapsulado em liposso-
metidos pela LV. Quatro cães machos mas, em seis aplicações endovenosas in-
receberam o composto em uma dose tervaladas de quatro dias, em associação
única de 3,8mg/Sb/kg por via EV e fo- com alopurinol (20mg/kg/24h/oral)
ram sacrificados três, 48, 96 horas e sete durante o tratamento com o composto.
dias após a administração. Amostras de Os animais permaneceram por 140 a
fígado, baço, medula óssea, sangue e 200 dias sem tratamento. A associação
urina foram recuperadas e submetidas promoveu significativa melhora clínica
à digestão com ácido nítrico para deter- dos animais, bem como redução da car-
minação do teor de antimônio. A maior ga parasitária na medula óssea e no baço
concentração de antimônio na medula dos cães tratados e redução de 100%
óssea foi de 2,8mg/Sb/g, sendo obser- do parasitismo hepático, avaliados por
vada no tempo de três horas. Às 48 ho- PCR quantitativa. Tanto o xenodiag-
ras, os autores constataram as maiores nóstico quanto a PCR quantitativa da
concentrações no fígado, de 43,6mg/ pele da orelha demonstraram que a as-
Sb/g, e no baço, de 102,4 8mg/Sb/g. No sociação das drogas foi efetiva em não
sangue, níveis de 120ng/Sb/mL foram permitir a transmissão dos parasitas da
observados, sendo considerados baixos pele para os flebotomíneos. Os autores
pelos autores, os quais concluíram que chegaram à conclusão de que 50% dos
a aplicação da dose única do composto animais tratados foram curados da in-
produz concentrações elevadas de Sb fecção por L. infantum.
no fígado e no baço por longo tempo,
sugerindo um intervalo de quatro dias
Referências
J.P.A. Las leishmaniasis: de la
entre as doses para o tratamento da do- 1. EZQUERRA, biologia al control. 2 ed.Madri: [s.ed.], 2001.
ença canina com o composto. p. 157-159.
96 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 96 08/05/2012 16:28:28


Quadro 2: Estadiamento clínico da LV canina baseado no teor de anticorpos, nos sinais
clínicos, nos achados laboratoriais, na terapia e no prognóstico para cada estádio.
Estadia- Sorologia Sinais clínicos Achados de Terapia Prog-
mento patologia nósti-
clínico clínica co
Estádio Negativa ou Cães com sinais Sem alteraçãoes, Acompanha- Bom
I-Doença discretos clínicos discretos perfil renal normal: mento ou
discreta níveis de como linfadeno- creatinina <1,4 alopurinol
anticorpos patia discreta ou mg/dL e relação apenas ou
(infecção dermatite papular de proteína creati- alopurinol
confirmada nina urinária < 0,5 associado
por imunois- ao antimo-
toquímica ou niato de
PCR) meglumina
ou miltefo-
sina
Estádio II Níveis de Além dos sintomas Anemia não rege- Alopurinol Bom a
Doença mode- anticorpos listados no estádio nerativa, hiperga- associado reser-
rada discretos ou I: dermatite maglobulinemia, ao antimo- vado
elevados esfoliativa difusa, hipoalbuminemia, niato de
onicogrifose, ulce- creatinina <1,4mg/ meglumina
rações, anorexia, dL e relação de ou miltefo-
perda de peso e proteína creatinina sina
epistaxe urinária 0,5-1
Estádio III Do- Níveis de Além dos sinais Alterações lista- Alopurinol Reser-
ença grave anticorpos listados anterior- das no estádio associado vado a
elevados mente, os cães II, doença renal ao antimo- desfa-
podem apresentar crônica (IRIS I) niato de vorável
lesões advindas relação de pro- meglumina
da deposição de teína creatinina ou miltefo-
imunocomplexos: urinária>1 ou IRIS sina.
vasculites, artrites, II, creatinina 1,4- Seguir o
uveíte e gromeru- 2mg/dL protocolo
lonefrite IRIS para
doença renal
crônica
Estádio IV Níveis de an- Além das lesões Alterações Apenas Desfa-
Doença muito ticorpos muito citadas anterior- listadas no es- alopurinol. vorável
grave elevados mente, os cães tádio III, doença Seguir o
podem apresentar renal crônica protocolo
troboembolis- IRIS III(creatinina IRIS para
mo pulmonar, 2-5mg/dL) ou doença renal
síndrome nefrótica IRIS IV (creatini- crônica
e estádio final de na>5 mg/dL) ou
doença renal síndrome nefrótica
, com proteinúria
acentuada e re-
lação de proteína
creatinina urinária
>5
Adaptado de Solano-Gallego.9 IRIS staging of chronic renal disease (International Renal Interest Society. http://www.iris-
-kidney.com/guidelines/en/staging_ckd.shtml).

Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 97

maio2012.indb 97 08/05/2012 16:28:28


2. MOSSER, D.M. e ROSENTHAL, L.A. Leish- leishmaniasis in Rio de Janeiro, Brazil. Clini-
mania macrophage interactions: multiple re- cal, parasitological, therapeutical and epide-
ceptors, multiple ligands and diverse cellular miological findings (1977-1983). Memórias
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In press

Clínica, diagnóstico e tratamento da LVC 103

maio2012.indb 103 08/05/2012 16:28:28


Leishmaniose

bigstockphoto.com
visceral felina
Aspectos clínicos e epidemiológicos
Sydnei Magno da Silva

Instituto de Ciências Biológicas - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, MG


E-mail: sydmagno@yahoo.com

Introdução os gatos receberam tratamento oposto,


O homem desenvolveu contato sendo perseguidos por associação às
com os gatos há cerca de 9.000 anos, bruxas e considerados a incorporação
principalmente pela habilidade desses do mal. Nos dias de hoje, além de im-
animais para caçar e, consequentemen- portantes no controle de roedores, são
te, controlar populações de roedores. considerados animais de companhia ou
No Egito Antigo, onde foram efetiva- estimação.1
mente domesticados, há cerca de 5.000 Com o passar do tempo, os gatos
anos, os gatos passaram a habitar casas, assumiram a segunda posição no con-
foram deificados e adorados em tem- texto da afetividade humana, visto que
plos. Na Europa, durante a Idade Média, a população felina está atrás apenas da
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canina em número absoluto de animais determinam grave problema de saúde
de estimação. Somente no Brasil, a po- pública, cuja incidência anual global é
pulação felina foi estimada em mais de de 1,5 a 2,0 milhões de casos, e destes,
16 milhões de indivíduos, e 44% dos 1,0 a 1,5 milhão de pessoas são acome-
lares do país possuem cães e/ou gatos.2 tidas pelas formas tegumentares, leish-
A mudança de conduta em relação maniose tegumentar (LT) e cerca de
aos felinos, agora considerados animais 500.000 pela forma visceral, leishma-
de estimação, aumentou a expectativa niose visceral (LV), das quais aproxima-
de vida desses animais, dado o acesso a damente 59.000 evoluem para o óbito,
melhores condutas de manejo, diagnós- quando a doença não é diagnosticada e
ticas e terapêuticas. Esse fato cria uma tratada em tempo.4,5
espécie de viés, porque quanto mais A LV está distribuída por todos os
longevos, mais os gatos continentes, com exceção
estariam expostos e sus- da Oceania e da Antár-
Os gatos podem
ceptíveis ao desenvolvi- tida, sendo que mais de
assumir importante
mento daquelas doenças 90% dos 500 mil casos de
papel como
de curso crônico, como LV estão concentrados na
reservatórios de
no caso das leishmanio- Índia, no Nepal, no Sudão,
diversos agentes
ses. Por representarem em Bangladesh e no Bra-
infecciosos e
grande número de in- sil.4,5 No Brasil, a doença
parasitários, inclusive
divíduos susceptíveis a possui caráter zoonótico,
aqueles relacionados
contrair doenças e per- cujo agente etiológico é
a zoonoses, como
manecerem maior perí- Leishmania infantum (sin
toxoplasmose e
odo de tempo expostos = L. chagasi), e a trans-
leishmanioses.
a patógenos, além de missão do parasito é feita
manterem convivência por fêmeas infectadas de
próxima ao homem, os gatos podem flebotomíneos (Diptera: Psychodidae;
assumir importante papel como reser- Phlebotominae), sendo Lutzomyia lon-
vatórios de diversos agentes infecciosos gipalpis considerada a principal espécie
e parasitários, inclusive aqueles relacio- transmissora do parasito para o homem
nados a zoonoses, como toxoplasmose e reservatórios mamíferos.5,6 O cão do-
e leishmanioses.1,3 méstico é o mais importante reservató-
Após a descrição de casos de gatos rio do parasito da LV zoonótica, devido
infectados por Leishmania, estudos que à alta prevalência da doença nestes ani-
ajudem a elucidar a participação dos ga- mais, intenso parasitismo na pele e con-
tos na epidemiologia das leishmanioses vívio próximo ao homem.7
tornam-se necessários, uma vez que se Além do cão, a infecção por L. infan-
trata de um complexo de doenças que tum já foi descrita também em outros
Leishmaniose visceral felina 105

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animais, como marsu- teração mais comumente
piais (Didelphis albiven-
A infecção por L. relatada na LVF, embo-
infantum já foi descrita ra de variável extensão e
tris, D. marsupialis) , 8
no gato doméstico.
roedores (Rattus rattus; caracterização. As lesões
Foi demonstrada a
Nectomys squamipes; cutâneas podem ou não
capacidade de gatos em
Proechimys canicollis) e9 estar associadas a ou-
transmitir o parasito
o gato doméstico (Felis tros sinais clínicos e/ou
para os hospedeiros
catus). 10
Recentemen- anormalidades clínico-
invertebrados.
te foi demonstrada, por -patológicas. Dentre as
meio de xenodiagnósti- manifestações cutâneas
co, a capacidade de gatos, naturalmente citadas na literatura, destacam-se os
infectados, em transmitir o parasito para mais variados tipos de dermatite: não
os hospedeiros invertebrados, na Itália11 pruriginosa, pruriginosa, furfurácea, ul-
e no Brasil.10 Entretanto, o papel destes cerativa, papular; lesões nodulares; le-
animais e de outros mamíferos sinantró- sões ulceradas; alopecias localizadas ou
picos na epidemiologia da LV ainda ne- generalizadas; descamações; eritemas;
cessita de mais estudos, principalmente crostas hemorrágicas e onicogrifose.
10, 12

aqueles que determinem sua relevância Em um estudo envolvendo 27 gatos


no contexto da transmissão para o ho- naturalmente infectados, os autores re-
mem.8,10 latam que 55,5% dos animais apresenta-
ram alterações dermatológicas na região
Leishmaniose visceral felina cefálica, sendo as áreas mais afetadas o
pavilhão auditivo e o focinho; 22,2%
Sinais clínicos apresentaram lesões nos membros;
22,2% na região dorsal; 11,1% na cauda
Na leishmaniose visceral felina e 11,1% no abdômen.12
(LVF), à semelhança da leishmaniose Além das dermatopatias, outros
visceral canina (LVC), os sinais clínicos, sinais têm sido relatados na literatura,
quando presentes, são caracterizados em variados graus de acometimento e
por um amplo e inespecífico espectro de intensidade, como as linfadenopatias
alterações. O período de incubação da (principalmente nos linfonodos sub-
doença é de difícil determinação e, pos- mandibulares e poplíteos), perda de
sivelmente, outros fatores influenciam peso, anorexia, êmese, caquexia, atrofia
esse período, como o estado nutricional muscular, desidratação, diarreia, secre-
do animal e as condições imunossupres- ção ocular mucopurulenta, ulcerações
soras.1 na cavidade oral, dispneia, secreção na-
Dentre as manifestações clínicas, o sal purulenta, uveíte, opacidade e úlcera
acometimento do tecido cutâneo é a al- de córnea.10, 12, 13, 14
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As alterações clínico-patológicas re- Os exames laboratoriais, em espe-
lacionadas à LVF, assim como os sinais cial os de hematologia, bioquímica sé-
clínicos, não apresentam um padrão rica e urinálise, embora possuam limi-
clássico que as associe à carga parasitária tado valor para o diagnóstico, fornecem
e/ou à evolução da doença. A casuística importantes subsídios para a avaliação
dessas alterações clínico-patológicas na do estado clínico do animal infectado e
LVF ainda é reduzida na literatura, en- para o prognóstico da evolução da do-
tretanto estão descritos casos de discre- ença.16
ta a moderada anemia, de leucocitose, Os testes sorológicos, como a RIFI
neutrofilia, monocitose, além de azo- (reação de imunofluorescência indire-
temia e hipergamaglobulinemia.10, 13,14 ta) e ELISA (ensaios enzimáticos), ba-
Recentemente, foi relatado um caso de seados na detecção sérica de IgG anti-
pancitopenia em um gato com LVF.14 -Leishmania, possuem sensibilidade e
especificidade variadas, dependentes
Diagnóstico do antígeno e da metodologia de exe-
cução empregada.1 A sorologia é a ferra-
O diagnóstico de LVF baseado ex- menta mais utilizada para o diagnóstico
clusivamente no exame físico do animal da LVF porque, assim como ocorre na
torna-se impossível, em decorrência da LVC, é um teste menos invasivo e de
ausência de um padrão de alterações pa- sensibilidade elevada.1, 16 Atualmente no
tognomônicas e pelo fato de os sinais, Brasil, os testes sorológicos para LVF es-
quando presentes, poderem mimetizar tão padronizados e disponíveis comer-
outras doenças. Além cialmente.
disso, grande percentu- O diagnóstico O diagnóstico mole-
al dos gatos infectados de LVF baseado cular realizado, sobretu-
poderia não apresentar exclusivamente no do, pela reação em cadeia
sinais da doença por lon- exame físico do animal da polimerase (PCR) é
go período da vida de- torna-se impossível. baseado na amplificação
les.1,10,15,16 de uma sequência co-
Um diagnóstico nhecida de oligonucleo-
acurado de LVF geralmente é extrema- tídeos específicos do parasito. É um tes-
mente difícil, e só é possível de ser esta- te altamente sensível e específico para
belecido após se proceder a cuidadoso Leishmania. A grande vantagem de sua
exame físico, seguido de testes soroló- utilização no diagnóstico da LVF, assim
gicos, exames parasitológicos, além dos como ocorre na LVC, é a possibilidade
laboratoriais de rotina, como hemogra- do uso de uma variedade de materiais
ma completo, provas bioquímicas e uri- clínicos, como sangue, aspirados de
nálise.10, 16,17 medula ou linfonodos, biópsias de pele,
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dentre outros.10, 16 dentre outros.13,14,18 Todavia, pelo fato
Os exames diretos são fundamen- de a casuística de tratamento da LVF
tados na demonstração de formas ser incipiente na literatura, os resulta-
amastigotas de Leishmania em mate- dos relacionados à terapêutica da LVF
rial biológico obtido por ainda são controversos.
esfregaços de aspirados Os resultados Mais estudos são neces-
de medula óssea, e linfo- relacionados à sários para determinar
nodos, por aposição de terapêutica da LVF a eficácia de protocolos
fragmentos de pele ou de ainda são controversos. terapêuticos convencio-
outros tecidos, e, indire- nalmente utilizados na
tamente, pelo isolamento LVC, como a associação
do parasito presente nestes materiais, de antimoniato de meglumina ou milte-
em meio de cultura.5 fosina com o alopurinol, ou mesmo de
Na rotina clínica, a abordagem diag- protocolos alternativos, como o uso de
nóstica do paciente com suspeita de LVF derivados imidazólicos (cetoconazol,
deve ser individualizada e, para cada fluconazol, dentre outros) e seus efeitos
caso, devem ser considerados os moti- adversos associados, na terapia da LVF.
vos que levaram à suspeita, bem como a
possibilidade de coinfecções (Toxoplas- Aspectos epidemiológicos
mose, FIV e FeLV) ou co-morbidades,
ou, ainda, outras condições que dificul- No início do século passado, mais
tam um diagnóstico preciso. Após esta precisamente em 1912, o Dr. Edmond
avaliação inicial, o clínico deve traçar Sergent, então chefe do Instituto Pas-
um roteiro que envolva as técnicas diag- teur da Argélia (1910-1963), relatou
nósticas especificas que se apliquem a pela primeira vez um gato naturalmente
cada caso, os exames complementares infectado por parasitos do gênero Leish-
para a condução de diagnósticos dife- mania. No relato, Sergent e seus colabo-
renciais e outros, quando necessário. radores descrevem uma residência em
que foram encontrados uma criança,
um cão e um gato infectados por Leish-
Tratamento
mania sp.19 A partir deste relato pionei-
Poucos são os relatos na literatura ro, casos esporádicos de leishmaniose
sobre protocolos terapêuticos aplicados em gatos (LF) têm sido descritos, a
na LVF. Na maioria dos casos, a dro- maioria envolvendo espécies causado-
ga de escolha é o alopurinol (10mg/ ras das formas tegumentares da doença,
kg/12h) associado à terapia de suporte, como L. (L.) mexicana 20, L. (L.) ama-
como antibioticoterapia, suplementa- zonensis21, L. (L.) venezuelensis22, L. (V.)
ção, renoproteção, imunoestimulação, braziliensis.23
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Luiz Felipe Nunes Menezes Borges

Em 1984, foi relatada pela primeira ra descrição de LF e o ano de 2002,


vez a infecção experimental de gatos do- poucos estudos envolvendo a LVF são
mésticos com L. donovani e com L. cha- encontrados na literatura científica,
gasi. Nesse estudo, os autores observa- sendo a grande maioria relatos de leish-
ram a presença de títulos de anticorpos maniose tegumentar felina (LTF). Em
anti-Leishmania, de formas evolutivas contrapartida, nos 10 últimos anos tem
do parasito em esfregaços por aposição ocorrido inversão nesta relação, com
e no cultivo de células mononucleares aumento expressivo no número de estu-
de tecidos dos gatos poucas semanas dos relacionados à LVF. Em parte, este
após a inoculação, descrevendo os pri- fenômeno pode ser explicado pelo fato
meiros casos de leishmaniose visceral de que há, atualmente, uma corrente de
felina (LVF).24 pensamento que acredita que, além do
Desde então, casos de gatos natural- cão, os gatos, bem como outros mamí-
mente infectados por L. infantum foram feros sinantrópicos, possam estar envol-
descritos em diversos países, principal- vidos no ciclo da LV em áreas endêmi-
mente do continente europeu, como cas, atuando como fonte alternativa de
França25, Espanha26, Itália17 e Portugal27. infecção para os flebotomíneos.15, 29 Na
No ano de 2004, foi relatado no estado tentativa de entender tal dinâmica, tem
de São Paulo o primeiro caso de LVF au- ocorrido este aumento no número de
tóctone do continente americano.28 trabalhos envolvendo a LVF, principal-
Nos 90 anos que separam a primei- mente aqueles que objetivam determi-
Leishmaniose visceral felina 109

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nar a presença e a prevalência da doença seriam capazes de transmitir o parasito
nas áreas endêmicas para LV e LVC. para os vetores naturais? Se afirmativo,
Os inquéritos sorológicos para LVF eles poderiam ser considerados reserva-
realizados nos países europeus onde a tórios do parasito? ii) Qual a influência
LV é endêmica mostram prevalência va- disto na epidemiologia da leishmaniose
riando de 1,63% em cer- visceral?
tas regiões de Portugal30 No Brasil, autores têm Parte destes questio-
a 70,6% na Espanha. 26
sugerido prevalência namentos começou a ser
No Brasil, autores elevada de LVF em respondida quando, em
têm sugerido preva- áreas endêmicas. 2007, autores relataram a
lência elevada de LVF infecção de Phlebotomus
em áreas endêmicas. perniciosus com L. infan-
Recentemente, em um estudo condu- tum após o repasto sanguíneo destes in-
zido em Araçatuba (SP), a prevalência setos em um gato naturalmente infecta-
de anticorpos anti-Leishmania deter- do na Itália.11 Este foi o primeiro relato
minada por ELISA, utilizando-se an- da transmissão de parasitos de um gato
tígenos brutos do parasito, foi de 23% com LVF para o seu hospedeiro inver-
(n=113).31 Em outro estudo na mesma tebrado natural, que também é incri-
cidade, autores relataram prevalência de minado na transmissão de L. infantum
21,85% (n=302) de LVF e associação para os cães e o homem naquela região.
da infecção com FIV.32 Em estudo no Associando este achado com resultados
estado do Rio de Janeiro, autores iden- de inquéritos soroepidemiológicos que
tificaram a infecção por L. infantum em apontam a presença da LVF em áreas
25% das amostras testadas.33 No ano de endêmicas, os autores sugerem que os
2009, um inquérito sorológico realizado gatos poderiam ser considerados reser-
em amostras de 120 gatos provenientes vatórios alternativos do parasito nestas
de Belo Horizonte (MG) identificou áreas.11
anticorpos anti-Leishmania em 42,5% Três anos após o primeiro relato, a
dos soros testados.1 capacidade de flebotomíneos alimen-
A partir da confirmação de que gatos tados em gatos com LVF de se infecta-
domésticos poderiam rem com L. infantum foi
desenvolver LVF e de A capacidade de novamente demonstrada,
que a doença está pre- flebotomíneos agora em Belo Horizon-
sente nas áreas em que alimentados em te, Brasil.10 Nesse estudo,
ocorrem a LV e a LVC, gatos com LVF de um gato macho, sem raça
alguns questionamen- se infectarem com definida, oito anos de ida-
tos surgiram: i) Além de L. infantum foi de, apresentando aumen-
se infectarem, os gatos demonstrada no Brasil. to de linfonodos poplíte-
110 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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os, dermatite furfurácea, onicogrifose, urbanos e periurbanos, porque, em li-
caquexia, anorexia e ferida na orelha es- nhas gerais, até onde se sabe, a infecção
querda, foi submetido à sorologia (RIFI na população canina é mais frequente
e ELISA) e PCR específica para L. in- do que em outros mamíferos sinantró-
fantum em aspirado de medula óssea, picos; a infecção nos cães, em geral, é de
para confirmar a suspeita de LVF. Os evolução crônica independentemente
resultados foram positivos em ambos do fato de o animal apresentar ou não
os testes e negativos para FIV e FeLV. sinais clínicos da LVC; nos cães é alto o
Confirmada a infecção, o animal foi sub- parasitismo cutâneo, associado ao fato
metido a xenodiagnóstico, por meio do de que esses animais são fonte regular
qual fêmeas de Lutzomyia longipalpis re- de alimento e capazes de infectar com
alizaram o repasto sanguíneo na região eficiência os hospedeiros invertebrados
das orelhas e abdômen do animal pre- naturais do parasito; em meios urbanos,
viamente anestesiado. Cinco dias após são os animais de convivência mais es-
o repasto, os insetos foram dissecados, treita com seres humanos; e os parasitos
e formas promastigotas de L. infantum isolados de cães com LVC são indistin-
visualizadas no interior do trato diges- guíveis daqueles isolados de seres hu-
tório de 13,1% dos insetos dissecados. manos.5,7, 15
Além de corroborar o caso reportado na No caso dos gatos, ainda é contro-
Itália, este é o primeiro relato de trans- verso o papel que esses animais exerce-
missão de L. infantum de um gato com riam, se é que de fato exercem, na epi-
LVF para L. longipalpis das Américas e demiologia da LV zoonótica. Autores
do Brasil, um dos cinco países respon- têm sugerido que gatos poderiam ser in-
sáveis por cerca dos 90% casos de LV no criminados como potenciais reservató-
mundo.10 rios domésticos de L. infantum, porque
Estes resultados reforçam a hipótese estes animais são comprovadamente
de que gatos com LVF poderiam atuar susceptíveis à infecção pelo parasito, e
como reservatórios alternativos do pa- a doença, assim como nos cães, parece
rasito em áreas endêmicas. Entretanto, ser de curso crônico, com a maioria dos
os dados de prevalência de LVF e a com- infectados não desenvolvendo sinais clí-
provada capacidade destes animais em nicos; também são fonte de alimento,
infectarem os flebotomíneos em condi- e foi demonstrada sua capacidade de
ções laboratoriais seriam, por si só, capa- infectar os hospedeiros invertebrados
zes de sustentar a hipótese de que gatos naturais do parasito; além disso, são a
são reservatórios de L. infantum? segunda espécie de animal de estimação
No ciclo zoonótico da LV, os cães mais popular em todo o mundo, e estão
são reconhecidamente os reservatórios presentes em domicílios e áreas perido-
mais importantes do parasito nos meios miciliares onde a LV é endêmica.15,29
Leishmaniose visceral felina 111

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Baseados nestas evidências, autores animais por L. infantum e a transmissão
consideram que os gatos poderiam ser do parasito dos gatos para o hospedeiro
considerados reservatórios alternativos vertebrado natural?
de L. infantum, uma vez que são capazes Mesmo antes de elucidar a impor-
de transmitir o parasito para os vetores, tância dos gatos no contexto da LV, faz-
entretanto não poderiam manter o ciclo -se necessária a discussão sobre o con-
de transmissão do parasito em determi- trole da LVF. Uma questão a ser avaliada
nada região, na ausência do hospedeiro é o fato de que, dentre as medidas pro-
primário ou reservatório, no caso da LV, filáticas recomendadas para a prevenção
o cão doméstico.15, 29 da infecção, aquela tida como a mais
Outra hipótese é que os gatos se- eficaz contra picadas dos flebotomíne-
riam hospedeiros acidentais do parasito os é o uso de soluções tópicas e colares
e que, em áreas onde ocorre a doença, inseticidas que utilizam piretroides em
mesmo infectados, não desempenham sua composição.5 É sabida e notória a
papel relevante na manutenção do ciclo contra-indicação do uso dessa classe
zoonótico da LV.15, 26 de produtos químicos
Assim, para posicionar Gatos domésticos em felinos.34 Até o mo-
corretamente os gatos na podem ser infectados mento, não há nenhum
epidemiologia da LV zo- por L. infantum em relato na literatura sobre
onótica, é fundamental a áreas endêmicas para produtos profiláticos
condução de estudos que LV e LVC. para LVF, como solu-
avaliem: (a) se a transmis- ções repelentes de fle-
são do parasito entre gato botomíneos ou vacinas.
e flebotomíneos ocorre naturalmente e Importante ressaltar que é imperati-
em qual proporção; (b) qual a real pre- va e urgente a busca de novas estratégias
valência de LVF em áreas endêmicas, e profiláticas para auxiliar no controle da
se há transmissão de L. infantum do cão dispersão da doença nos gatos. Essas es-
para os flebotomíneos e destes para os tratégias devem ser adotadas, do ponto
gatos e vice-versa; (c) se em áreas endê- de vista de saúde pública, se comprova-
micas os gatos são capazes de manter e da a participação desses animais como
difundir a LV na ausência de cães; (d) reservatórios alternativos do parasito no
se os parasitos que infectam os homens ciclo de transmissão da LV; do ponto de
são os mesmos que infectam os gatos. vista individual, elas serão fundamen-
Outra questão importante a ser esta- tais para evitar que os gatos, agora sob
belecida é que, independentemente do a ótica de animais de estimação, muitas
papel exercido pelos gatos na epidemio- vezes tido como membro da família,
logia da LV, qual a conduta a ser tomada sejam picados pelos flebotomíneos e in-
no sentido de prevenir a infecção destes fectados com o parasito.
112 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 112 08/05/2012 16:28:33


Conclusões port of a meeting of the WHO Expert Commit-
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114 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 114 08/05/2012 16:28:33


Vacinação canina e a
vacina de FML
Uma revisão
Stefanne Aparecida Gonçalves*, Ana Cláudia Parreiras de Freitas, Esperança Lourenço
Alberto Mabandane Guimarães

Escola de Veterinária - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, MG


*E-mail: stefannegoncalves@hotmail.com

1. Introdução como vacinas e substâncias repelentes.


O controle da leishmaniose visceral Para que uma vacina contra leish-
(LV) constitui um desafio para a saúde maniose seja eficiente, é necessário que
pública brasileira1. O cão (Canis fami- ela induza uma resposta imune celular
liaris) tem sido apontado, por diversas do tipo Th1 estável e duradoura . Desse
3

investigações científicas, como o prin- modo, é fundamental que os antígenos


cipal reservatório da doença em meio e adjuvantes selecionados sejam bons
urbano, atuando como um importante estimuladores da produção in vivo de
mediador na transmissão zoonótica da citocinas .
4

infecção2. Além disso, para que um imunobio-


Fatores como a mudança do pa- lógico tenha o registro aprovado pelos
pel do cão na sociedade contempo- órgãos que regem sua comercialização, é
rânea, antes visto como objeto ou requisitado inicialmente o atendimento
guarda, hoje tratado como membro a três das quatro fases de testes .
5

da família; o crescimento do merca- Durante a fase I, são conduzidos


do pet; a neces- estudos laboratoriais
sidade premente de segurança para ve-
de se controlar a rificar a ausência de
doença e a pou- efeitos adversos re-
bigstockphoto.com

ca aceitabilidade levantes em animais


da eutanásia têm sadios, bem como
estimulado a pes- a toxicidade local e
quisa de métodos sistêmica para doses
preventivos, tais únicas e repetidas5.
Uma revisão sobre a vacinação canina e a vacina de FML 115

maio2012.indb 115 08/05/2012 16:28:33


Na etapa II, além de confirmar a ino- do ou recombinantes, conhecidas
cuidade, é avaliada a imunogenicidade, como vacinas de segunda geração 7,8.
determinada a via de administração, a
dose e o esquema terapêutico. Identifi- 2. Vacina de FML
cam-se os métodos para diferenciar cães O desenvolvimento de vacinas efe-
vacinados de cães naturalmente infec- tivas para o combate à leishmaniose vis-
tados e demonstra-se o efeito protetor ceral canina (LVC) é um fator de grande
contra infecção e doença. Também é importância como medida de preven-
realizada uma estimativa preliminar da ção e controle da doença9.
eficácia em animais sensíveis da espécie- Em 2003, foi lançada em Belo Ho-
-alvo5. rizonte-MG a primeira vacina comer-
A fase III tem por objetivo avaliar, cial brasileira, por meio de um projeto
mediante ensaios controlados, rando- de cooperação entre uma universidade
mizados e mascarados, a eficácia vacinal. pública e um laboratório particular10:
O imunógeno precisa demonstrar efeito Leishmune®, do laboratório FortDogde .
na redução da incidência de infecção, O produto é composto pelo antíge-
da doença e de transmissão do parasito no complexo glicoproteico Ligante de
para o vetor. É necessário que o desenho Fucose e Manose (FML) de Leishmania
amostral considere a prevalência de LV donovani e do adjuvante saponina. Ao
em cães e os resultados obtidos na fase complexo glicoproteico é atribuída a
anterior. O desafio deve ser realizado ação de inibir a penetração de promas-
a campo, preferencialmente em muni- tigotas e amastigotas em macrófagos
cípios endêmicos, com comprovada murinos in vitro de forma espécie-espe-
transmissão canina, sendo requeridos cífica11.
monitoramento das reações adversas e O FML está presente na superfície
descrição das interações clínicas rele- do parasita, sendo um bom imunógeno
vantes, assim como as restrições de uso para camundongos e coelhos e um antí-
do produto5. geno sensível, específico e preditivo no
Finalmente, a fase IV compreende sorodiagnóstico de LV humana e cani-
estudos realizados em larga escala, após na12,13. A saponina é considerada um po-
o registro da vacina, com indivíduos va- tente adjuvante por estimular a resposta
cinados e expostos ao desafio natural, imune ao antígeno, levando à síntese
sendo dispensado o emprego de grupo- de citocinas como IFN-γ, IL2, IL-12 e
-controle6. TNF14.
Atualmente, são licenciadas O potencial protetor do FML em
pelo Ministério da Agricultura, Pe- associação com o adjuvante saponina
cuária e Abastecimento (MAPA) foi testado em ensaios das fases I e II em
duas vacinas de antígeno purifica- camundongos Balb/C, Swiss Albino e
116 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 116 08/05/2012 16:28:33


hamsters CB, sendo observados aumen- nicípios paulistas de Andradina, Bauru e
to no título de anticorpos anti-FML e Dracena, 39 cães sadios, soronegativos,
redução de carga parasitária hepática ou com protocolo de vacinação FML com-
esplênica superiores a 80%. Nos estudos pleto, foram testados sorologicamente
em camundongos, os vacinados mostra- para diagnóstico da LVC. Os exames
ram níveis significativamente diferentes foram realizados com os kits ELISA Bio-
de anticorpos anti-FML, proliferação de gene, ELISA e RIFI, ambos produzidos
esplenócitos in vitro e parasitas no fíga- por Bio-Manguinhos, sendo obtidos,
do, em relação ao grupo-controle11. respectivamente, 100%, 87,2% e 97,4%
Os testes da fase III foram realizados de soronegatividade. Uma vez que ne-
em São Gonçalo do Amaranto (RN). Os nhum animal foi soropositivo em mais
cães amostrados foram examinados por de um teste, o percentual de cães soror-
meio de ELISA-FML e intradermorrea- reagentes foi atribuído à ocorrência de
ção ao lisado de Leishmania (IDR), aos resultados falso-positivos8.
dois, sete, 13 e 24 meses após a conclu-
são do esquema vacinal15. 3. Considerações finais
Os valores de absorbâncias deter- As vacinas registradas no MAPA,
minados pelo ensaio de FML-ELISA respectivamente em 2003 e 2006, cum-
nos soros e o tamanho das IDRs foram priram os requisitos técnicos de eficácia
maiores no grupo vacinado com FML até então vigentes7.
que nos controles15. No entanto, o Ministério da Saúde
Após dois anos, 33% dos animais- ainda não recomenda a utilização des-
-controle desenvolveram sinais clínicos sas vacinas como medida de prevenção
de LV ou doença fatal, enquanto 8% dos e controle de LV em âmbito de saúde
cães vacinados apresentaram sinais mo- pública7 até que se comprovem a alta
derados da enfermidade, sem nenhum efetividade associada a baixo custo, a
registro de óbito nesse grupo. Os auto- viabilidade operacional, a segurança,
res relataram 92% de proteção contra a eficácia, a indução de proteção dura-
LV no grupo vacinado, correspondendo doura e também a contribuição para
a 76% de eficácia vacinal15. a redução expressiva da incidência de
Segundo o fabricante, a vacina de leishmaniose visceral16.
FML é indicada para cães não sororrea- No caso de vacinas direcionadas ao
gentes, acima de quatro meses de idade. cão, é necessário ainda que haja adesão
É recomendada inicialmente a aplicação dos profissionais de saúde, dos proprie-
de três doses, com intervalo de 21 dias e tários de cães, das entidades de proteção
reforço anual para a manutenção da res- animal e da população em geral para que
posta imune10. possa ser alcançada uma cobertura vaci-
Em um estudo conduzido nos mu- nal satisfatória (>80%)16.
Uma revisão sobre a vacinação canina e a vacina de FML 117

maio2012.indb 117 08/05/2012 16:28:33


Assim, dada a importância e com- (leishmune®) e cães naturalmente infectados com
leishmaniose visceral canina por meio de dois mé-
plexidade do tema, é fundamental que todos sorológicos: ELISA e RIFI. 2011. 126p. .
novos estudos sejam realizados, para Dissertação (Mestrado em Parasitologia) – Ins-
que, em um futuro próximo, a vacinação tituto de Biologia, Universidade de Campinas,
Campinas.
canina, e quiçá humana, possa compor
a relação de ferramentas classificadas 9- COURTENAY, O.; QUINELL, R. J.; GARCEZ, L.
M. et al. Low infectiousness of a wildlife host of
como eficazes, eficientes e efetivas para Leishmania infantum: the crab-eating fox is not
o até então difícil controle da leishma- important for transmission. Parasitology, v.125,
niose visceral. p.407-414, 2002.
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p.87-103, 2001.
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cães vacinados com leishmune® e de cães natural-
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mente infectados procedentes de área endêmica
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review of their modes of action. Vaccine, v.15,
5- INSTRUÇÃO NORMATIVA INTERMINISTE-
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RIAL MAPA/MS Nº 31, DE 9 DE JULHO DE
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TES, N.N.C. et al. A phase III trial of efficacy of
6- WHO, 1997. Guidelines for the evaluation of Plas-
the FML – vaccine against canine kalazar in an
modium falciparum vaccines in populations
endemic area of Brazil (São Gonçalo do Ama-
exposed to natural infection TDR/MAL/VAC.
ranto, RN). Vaccine, v.19, p.1082-1092, 2001.
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03 de maio de 2009.
em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arqui-
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118 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 118 08/05/2012 16:28:33


Desenvolvimento de
vacinas contra a LVC
Formulações com
antígeno A2
Ana Paula Fernandes1, Miriam Conceição Sousa1, Mariana Silva dos Santos1, Eduardo Antonio Ferraz Coelho2,
George Luiz Lins Machado-Coelho3 Ricardo Tostes Gazzinelli4, 5

* Conflito de interesses: Os autores participaram do desenvolvimento da vacina junto ao laboratório Hertape


Calier.
1
Faculdade de Farmácia - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, MG
2
Colégio Técnico - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, MG
3
Universidade Federal de Ouro Preto - Ouro Preto, MG
4
Instituto de Ciências Biológicas - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, MG
5
Fundação Oswaldo Cruz - Belo Horizonte, MG

E-mails: anav@uai.com.br; anapaula.fernandes@pq.cnpq.br

A leishmaniose visceral (LV) é uma uma doença emergente em países ao


infecção fatal se não diagnosticada e redor do Mediterrâneo, Oriente Médio
tratada rapidamente. A LV zoonóti- e América Latina.1 Canídeos selvagens
ca causada por Leishmania infantum é constituem reservatórios silvestres, e
cães domésticos são o princi-
pal hospedeiro e reservatório
urbano da infecção para vetores
flebotomíneos. Por essa razão, a
eutanásia de cães soropositivos
tem sido adotada como medi-
bigstockphoto.com

da de controle em alguns paí-


ses. Entretanto, programas de
controle falham, dentre outras
razões, devido à alta incidên-
cia de infecção canina e à baixa
sensibilidade de testes de diag-
Desenvolvimento de vacinas contra a LVC 119

maio2012.indb 119 08/05/2012 16:28:34


nóstico. Nesse contexto, vacinas para a tes haplotipos de MHC de classe I, TAP
população humana e a canina, além de e também receptores de célula B. Após
testes de diagnóstico sensíveis, são for- essa análise, peptídeos sintéticos foram
temente desejados. obtidos e avaliados. Por meio de ensaios
de ELISA, o epítopo de célula B foi
Formulações vacinais mapeado. Os peptídeos de CD4 foram
contendo o antígeno A2 associados à produção de IFN-g por
esplenócitos de camundongos BALB/c
Imunogenicidade e infectados ou vacinados com A2, e os
eficácia de proteção em peptídeos de CD8, além de produzirem
camundongos IFN-g, também apresentaram atividade
citotóxica in vivo.5 Esses achados repre-
O antígeno A2 foi inicialmen-
sentam um avanço significativo no de-
te identificado em L. donovani como
senvolvimento de vacinas contra infec-
abundantemente expresso em amasti-
ção por Leishmania, dada a relevância
gotas e está relacionado à visceraliza-
das respostas imunes no controle da
ção e virulência dos parasitas, já que
infecção por Leishmania sp.
sua inibição gerou amastigotas não in-
fectantes.2 Diferentes antígenos foram Vacina contra LV canina
avaliados comparativamente contra
baseada no antígeno A2
infecção por Leishmania em camun-
dongos, para identificar e caracterizar Em 2004, foi realizada a transfe-
antigenos para vacina rência de tecnologia em acordo entre a
contra LV. Dentre estes UFMG e o Laboratório
antígenos, A2 foi capaz Dos antígenos, A2 Hertape, permitindo a
de induzir anticorpos foi capaz de induzir produção da proteína
IgG2a e altos níveis de anticorpos IgG2a e recombinante A2 em
IFN-g, levando à redu- altos níveis de IFN-g, condições GMP (Good
ção do tamanho da lesão levando à redução
Manufacture Practice).
e do número de parasitas
do tamanho da
Os estudos de fase
em animais imunizados
lesão e do número de
parasitas em animais II, feitos em colaboração
quando comparados ao com o laboratório Herta-
grupo-controle.3, 4
imunizados.
pe Calier, foram condu-
zidos para avaliar a res-
Mapeamento de epítopos do posta imune celular e humoral em cães
antígeno A2 Beagle imunizados com a vacina Leish-
A análise in silico revelou que a pro- -Tec®. Animais vacinados apresentaram
teína A2 tem alta afinidade por diferen- altos níveis de anticorpos IgG e IgG2,
120 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 120 08/05/2012 16:28:34


em resposta ao antígeno da vacina. Es- heterogênea de cães. Para isto, cento e
ses animais também produziram altos quarenta cães de diferentes raças, nega-
níveis de IFN-γ e baixos níveis de IL-10 tivos para LV, foram selecionados. Me-
em resposta à vacinação, um padrão que tade deles recebeu a vacina Leish-Tec®, e
está relacionado a respostas protetoras. a outra metade um controle mimetizan-
Após o desafio com cepas altamente do o procedimento e os demais compo-
infectivas de L. chagasi, a maioria dos nentes da vacina, exceto o antígeno A2.
animais-controle (5 entre A avaliação sorológica
7) apresentou, com menos Após o desafio para a seleção dos animais
de três meses, graves sinais a maioria dos consistiu na coleta de amos-
da LV, como diarreia san- animais-controle tras de soro em três meses
guinolenta e intensa per-
apresentou graves consecutivos, as quais fo-
sinais da LV. ram encaminhadas a dois
da de peso. Em contraste,
cinco entre sete animais laboratórios distintos para
vacinados permaneceram assinto- possível diagnóstico de leishmaniose.
Para tanto, ambos os laboratórios em-
máticos ao longo dos testes. Animais
pregaram as técnicas de imunofluores-
vacinados sintomáticos apresentaram
cência com antígenos totais de formas
sinais leves, que apareceram somente
promastigotas do parasito e ELISA. O
um ano depois da infecção. Além dis-
kit Bio-Manguinhos foi utilizado para
so, após a vacinação, os cães permane-
imunofluorescência em ambos os labo-
ceram negativos em testes sorológicos
ratórios; com relação à ELISA, um dos
(ELISA e IFI) que usaram antígenos
laboratórios utilizou um kit contendo
de promastigotas, indicando que a va-
o antígeno recombinante S7 (Biogene
cinação com A2 permite a distinção
Indústria e Comércio Ltda.), e o outro
sorológica entre cães imunizados e cães utilizou um kit contendo extrato solú-
infectados.6 vel de formas promastigotas do parasito
(Bio-Manguinhos). Ao final do proces-
Estudos clínicos de fase III so de seleção, os animais caracterizados
duplo-cega e aleatória como suspeitos, como soropositivos,
em área hiperendêmica que apresentaram intercorrências foram
para LV
excluídos do estudo.
Antes dos estudos de fase III, um Após o período de seleção, 140 cães
teste piloto foi conduzido, em colabo- foram divididos em dois grupos. O pri-
ração com o laboratório Hertape Calier, meiro grupo, composto por 70 animais,
para avaliar a reatividade e a imunogeni- recebeu a vacina Leish-Tec® de acordo
cidade da Leish-Tec® em uma população com o protocolo de imunização preco-
Desenvolvimento de vacinas contra a LVC 121

maio2012.indb 121 08/05/2012 16:28:34


nizado; o segundo grupo, controle do utilizados comumente para diagnósti-
teste, composto pelos demais 70 ani- co da leishmaniose. Isso implica que os
mais, recebeu solução salina tampona- cães vacinados com Leish-Tec ® podem
da por via subcutânea, com os mesmos ser distinguidos de cães soropositivos
intervalos entre doses propostos para a e infectados com Leishmania.
vacina. É interessante ressaltar que esse
Após a administração das três do- resultado persistiu ao longo de todo
ses da vacina, os animais foram sub- o período de observação (23 meses),
metidos periodicamente às avaliações independentemente de esses animais
clínica e sorológica para detecção de si- estarem expostos a condições em que
nais indicativos de leishmaniose visce- poderia ocorrer transmissão da infec-
ral canina, ao longo de dois anos, como ção, como evidenciado pela taxa de
descrito anteriormente. As amostras cães diagnosticados como positivos
de soro obtidas em dife- para LVC durante a sele-
rentes momentos foram Cães vacinados ção de animais para este
também submetidas a permaneceram teste, o que demonstra a
reações de ELISA para completamente taxa de incidência dessa
determinação da respos- negativos nos testes parasitose nos canis in-
ta humoral ao antígeno sorológicos rotineiros cluídos neste trabalho.
vacinal (rA2) por meio empregados para Ao final do período
da determinação de an- detecção sorológica da de acompanhamento,
ticorpos anti-A2 do iso- infecção. houve soroconversão
tipo IgG e para as sub- em apenas três animais,
classes IgG1 e IgG2. sendo um do grupo va-
Foi observado que os cães vacina- cinado e os dois outros do grupo-con-
dos permaneceram completamente trole. Apenas um animal do grupo-
negativos nos testes sorológicos ro- -controle apresentou sinais clínicos da
tineiros empregados para detecção infecção. Esses dados indicam que, em-
sorológica da infecção, confirmando bora os cães estivessem em ambientes
resultados anteriores obtidos duran- em que poderia ocorrer a transmissão,
te a condução do estudo de fase II da essa possibilidade foi sensivelmente
Leish-Tec ®. Assim, mesmo em uma po- minimizada pelas condições em que o
pulação heterogênea, os cães vacinados teste foi conduzido, que consistiram,
com a Leish-Tec ® não se tornaram rea- primeiramente, na seleção rigorosa dos
tivos nos testes convencionais empre- cães incluídos no teste, minimizando a
gando antígenos de formas promasti- possibilidade de que cães previamente
gotas ou o antígeno recombinante S7, infectados representassem um viés nos
122 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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resultados. Além disso, de anticorpos nas ava-
Seis e aos 11 meses
foram selecionados pro- liações conduzidas aos
após a vacinação,
prietários de canis que
houve uma queda nos seis e aos onze meses,
se mostram conscientes níveis de anticorpos ocorre uma manutenção
de bons tratos com os anti-A2. da porcentagem de cães
animais e que adotam positivos para resposta
continuamente medidas imune à vacina, ou seja,
sanitárias padrão. Importante salientar com níveis de anticorpos anti-rA2 do
que em nenhum dos animais, ao longo isotipo IgG total e da subclasse IgG2
do experimento, foram administrados acima do ponto de corte do teste. No
quaisquer tipos de repelente, nem sob entanto, posteriormente à dose de re-
formas líquidas nem sob a forma de co- forço administrada aos 12 meses após
leira. a vacinação, os níveis de anticorpos se
Os cães vacinados com a Leish-Tec ®
elevaram novamente. Esses dados in-
foram capazes de responder ao antíge- dicam que a dose de reforço adminis-
no rA2, como demonstrado pelos ele- trada aos 12 meses é necessária para a
vados níveis de anticorpos IgG total manutenção dos níveis elevados de res-
e IgG2 anti-rA2, logo após a terceira posta humoral.
dose da vacina, enquanto os animais Ensaios de Western blotting foram
do grupo-controle permaneceram com conduzidos a fim de avaliar a especifici-
baixos níveis de anticorpos anti-A2, em dade da resposta anti-A2 em amostras
todos os momentos avaliados. Anticor- de soro obtidas de alguns animais per-
pos da subclasse IgG2 são associados à tencentes aos grupos controle e vacina-
resposta imune celular do tipo 1, que do. Soros de cães vacinados apresenta-
se caracteriza por eleva- ram reatividade com a
da produção da citoci- A dose de reforço recombinante proteina
na IFN-α, fundamental administrada aos 12 A2 equivalente àquela
para a ativação de ma- meses é necessária revelada pelo anticor-
crófagos e a eliminação para a manutenção po monoclonal anti-A2,
dos parasitos. dos níveis elevados de enquanto nos soros dos
Observou-se que, anticorpos. animais do grupo-con-
de modo geral, aos seis trole, essa reatividade
e aos 11 meses após a nas bandas não foi ob-
vacinação, houve uma queda nos ní- servada. Assim, torna-se evidente que
veis de anticorpos anti-A2, como seria os resultados obtidos nos ensaios de
esperado, por se tratar de um antígeno ELISA devem-se realmente a anticor-
proteico. Apesar da queda nos níveis pos específicos anti-A2, e não à reativi-
Desenvolvimento de vacinas contra a LVC 123

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dade inespecífica. novírus ou plasmídeo
Os macacos vacinados
Em seguida, um es- expressando A2 ou A2
mostraram uma
tudo duplo-cego de fase
capacidade significante recombinante.
III foi realizado para tes- Os macacos foram
de controlar a
tar a eficácia da Leish- desafiados com 2 x 107
replicação do parasita.
-Tec ® em área endêmica promastigotas de L. (L.)
para LVC, localizada na infantum. Animais que
cidade de Porteirinha, Minas Gerais, receberam rA2 responderam à vacina-
Brasil. Nesse estudo, foram incluídos ção com níveis aumentados de anti-
1650 cães assintomáticos com o exame corpos IgG anti-A2. Em comparação
parasitológico e a sorologia negativos. ao grupo-controle, que manteve alto
Os cães selecionados foram distribu- número de parasitas e granuloma no
ídos em dois gupos que receberam as fígado durante o período de avaliação,
doses de Leish-Tec ® e o controle. Ava- os macacos vacinados mostraram uma
liação clínica e análises parasitológica, capacidade significante de controlar
sorológica e laboratorial, além de testes a replicação do parasita. Em alguns
para caracterizar as respostas imunes, grupos, a eliminação completa do pa-
foram realizadas durante dois anos para rasita e da resolução do granuloma foi
avaliar a resposta à vacinação e o desen- observada em biópsia hepática. Análise
volvimento da infecção. O estudo foi pela reação em cadeia pela polimerase
concluído em 2011, e um relatório dos em tempo real de biópsias do fígado
resultados foi enviado ao Ministério da confirmou uma redução expressiva do
Agricultura, Pecuária e Abastecimento parasitismo tecidual, especialmente
para avaliação. em animais vacinados com o protocolo
heterólogo rA2-AdA2. Esses resulta-
Testes pré-clínicos em dos são promissores na perspectiva do
primatas não humanos desenvolvimento de vacinas contra LV
(Macaca mulata) humana, já que macacos Rhesus cons-
Um estudo pré-clínico em maca- tituem um dos modelos de infecção
cos (Macaca mulata) foi conduzido mais próximos à LV humana.
com o objetivo de testar a segurança, Em conjunto, os dados científi-
a imunogenicidade e a capacidade de cos acumulados, ao longo dos estudos
induzir a proteção de vacinas conten- conduzidos com a vacina Leish-Tec ® e
do A2, administradas outras formulações va-
por meio de protocolos Cães vacinados cinais contendo o antí-
homólogos e heterólo- com a Leish-Tec® geno A2, confirmam a
gos, em grupos de cin- não apresentarem sua imunogenicidade,
co macacos, com ade- soroconversão segurança e capacidade
124 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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de induzir proteção em camundongos, mania) amazonensis infection. Infect. Immun.,
cães e primatas. Outro aspecto relevan- 71: 3988-94, 2003.

te refere-se ao fato de cães vacinados 4. ZANIN, F. H. C., COELHO, E. A. F.,


com a Leish-Tec® não apresentarem MARQUES-DA-SILVA, E., REZENDE, S. A.,
soroconversão, quando testes soroló- COSTA, M. M. S., TAVARES, C. A. P., GAZZI­
gicos de rotina são empregados para NELLI, R. T., FERNANDES, A. P. Evaluation
detecção da infecção. Como perspecti- of Immune Res­ponses and Protection Induced
by A2 and Nucleoside Hydro­lase (NH) DNA
vas, formulações vacinais contendo A2, vaccines Against Leishmania chagasi and Leish-
visando à condução de estudos clínicos mania amazonensis Experimental Infections.
em humanos, estão sendo desenvolvi- Microbes and Infection. , v.9, p.1070 - 1077,
das e testadas. 2007.

Referências 5. RESENDE, D. M., CAETANO, B, DUTRA,


M., BRUNA-ROMERO, O, FERNANDES, A.
1. DESJEUX P. Leishmaniasis. Nat Rev Micro­biol. P., GAZZINELLI, R. T. Epitope mapping and
2004 Sep;2(9):692. protective immunity elicited by adenovirus ex-
pressing the Leishmania amastigote specific A2
2. ZHANG, W.W., MATLASHEWSKI, G. Loss antigen: Correlation with IFN-g and cytolytic
of virulence in Leish­mania donovani deficient in activity by CD8+ T cells. Vaccine, v.26, p.4585
an amastigote-specific protein, A2. Proc. Natl. - 4593, 2008.
Acad. Sci. USA, n.94,p. 8807-8811, 1997.
6. FERNANDES, A.P; COSTA, M.M.S; COEL-
3. COELHO, E.A.F.; TAVARES, C.A.P.; CAR- HO, E.A.F; FREITAS, E; ABRANTES, C.F;
VALHO, F.A.A.; CHAVES, K.F.; TEIXEIRA, HERMONTS, V; TAFURI, W.L; MELO, M.N;
K.N.; RODRIGUES, R.C.; CHAREST, H.; MICHALICK, M.S.M; GAZZINELLI, R.T.
MATLA­SHEWSKI, G.; GAZZINELLI, R.T.; Protective immunity against challenge with
FERNANDES, A.P. Immune response induced Leishmania (Leishmania) chagasi in beagle dogs
by the Leishmania (Leishmania) donovani A2 vaccinated with recombinant A2 protein. Vac-
antigen, but not by the LACK antigen, are pro- cine, v.26, p.5888-5895, 2008.
tective against experimental Leishmania (Leish-

Desenvolvimento de vacinas contra a LVC 125

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Educação em saúde e
guarda responsável
Luiz Felipe Nunes Menezes Borges

Ferramenta no controle da LVC


Danielle Ferreira de Magalhães Soares1*, Ana Liz Ferreira Bastos2, Ana Cláudia Parreiras de Freitas2, Stefanne Apare-
cida Gonçalves, Esperança Lourenço Alberto Mabandane Guimarães
1
Escola de Veterinária - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, MG
2
Médica Veterinária Autônoma
*
Autor para correspondência: E-mail: daniellef@ufmg.br

A leishmaniose visceral (LV) é uma e programas, a adoção de medidas de


zoonose que gera graves problemas para prevenção e controle que visam reduzir
a saúde pública devido ao seu difícil a morbidade e a letalidade, assim como
controle e à sua ampla distribuição no os riscos de transmissão da doença.3
Brasil, já sendo encontrada nas cinco Dentre as ações de controle da LV pre-
regiões do país.1;2 O Ministério da Saú- conizadas pelo MS, está a educação em
de (MS) propõe, por meio de manuais saúde, que deve ser implantada em con-
126 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 126 08/05/2012 16:28:37


junto com o diagnóstico precoce e o tra- mentaridade das atividades propostas,
tamento dos casos humanos, o controle as quais não devem ser implantadas se-
vetorial e a eliminação do reservatório paradamente.6;7
canino.4 A educação em saúde consiste em
Outra importante ação que deve ser um emaranhado de saberes e práticas
adotada como prevenção e controle de voltados para a prevenção de enfermida-
doenças é o manejo e a guarda respon- des e a promoção da saúde.8 É por meio
sável de cães e gatos, orientados e am- dela que o conhecimento científico re-
parados por disposições lativo ao processo saúde-
legais, como formação A literatura relata -doença e seus determi-
dos oficiais de controle o insucesso de nantes é introduzido na
animal, programas per- intervenções centradas realidade local pelos pro-
manentes de controle de apenas em um elo da fissionais de saúde, dentre
reprodução e educação cadeia epidemiológica. eles os médicos veteriná-
para propriedade, posse rios.9 Tal iniciativa produz
ou guarda de animais. mudanças nos hábitos e
Cuidados com o meio ambiente e com nos comportamentos da população as-
o bem-estar animal podem colaborar sistida, no que tange às condutas de saú-
para a diminuição do risco da incidência de.10 Esse conceito frequentemente se
de doenças, como a leishmaniose, bem entrelaça ao de promoção da saúde, que
como de agravos tanto à saúde humana é a participação de toda a população na
quanto animal. O desenvolvimento de vida cotidiana em busca de bem-estar e
um programa educativo de longo prazo não apenas dos indivíduos sob o risco
contribui para restringir comportamen- de adoecer.11
tos que acarretam intensa renovação de A educação em saúde aplicada ao
animais domésticos. Esse é um caminho controle da LV vem sendo trabalhada
para a mudança de hábitos e posturas, a por alguns autores, os quais avaliaram a
qual pode impactar o processo de redu- aquisição de conhecimento, a qualidade
ção do abandono e do número de cães da informação disponível para a popu-
susceptíveis a doenças infectocontagio- lação e as melhorias conseguidas após
sas, assim como a ocorrência de zoono- intervenções no campo da saúde.12,13
ses na população humana.5 Nesse cenário, a guarda responsável,
A literatura relata o insucesso de caracterizada pela tutela adequada e dig-
intervenções centradas apenas em um na dos animais, apresenta papel de des-
ou mais elos da cadeia epidemiológica taque. Ela tem como objetivo diminuir
da LV, como eliminação canina e bor- o abandono e a eutanásia deles, bem
rifação de inseticida, ratificando, dessa como os danos à saúde, mediante ati-
forma, a interdependência e comple- vidades baseadas no bem- estar animal,
Educação em saúde e guarda responsável 127

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na promoção da saúde, na melhoria da incentivar a participação popular ativa e
qualidade de vida e da relação homem- permanente.17
-animal.14 Resultados promissores vêm O conhecimento relacionado à LV
sendo alcançados, já que em qualquer foi avaliado no município paulista de
programa de controle, para que se logre Birigui, por meio de entrevistas com
êxito, é primordial que ações educativas escolares de nível fundamental, antes e
e comunitárias sejam implantadas.15 após aulas expositivas e jogos sobre LV,
no ano de 2008. Na segunda entrevista,
Aquisição de conhecimento o índice de acertos foi maior, indicando
Em um estudo conduzido em três ci- que as atividades educativas agregaram
dades maranhenses, de agosto de 1996 a conhecimento aos escolares. Isso rati-
janeiro de 1997, verificou- fica a importância do
-se que a população pos- desenvolvimento contí-
suía conhecimento básico A população possuía nuo de programas edu-
dos aspectos epidemioló- pouca informação cativos permanentes
gicos da LV e pouca infor- sobre suas formas de nas escolas como forma
mação sobre suas formas prevenção. de favorecer mudanças
de prevenção. Os autores de ordem prática no
salientaram a necessidade de divulgação controle da endemia.18
da enfermidade, de qualificação profis- A escola e os professores são im-
sional e de campanhas educativas com portantes propagadores de conteúdos
o intuito de mobilizar a coletividade e de interesse sanitário. Uma pesquisa
reduzir-lhe a exposição à doença.16 realizada junto a docentes da Regional
A falta de acesso à educação parece Noroeste de Belo Horizonte, em 2009,
influenciar a ocorrência de casos huma- concluiu que havia pouca familiaridade
nos de leishmaniose. Indivíduos com com a prática escolar do tema zoonoses
baixa ou nenhuma escolaridade, no e que a maioria das informações estava
município de Belo Ho- vinculada a vivências
rizonte, em 2006, apre- Conhecer a doença foi pessoais. Parte consi-
sentaram uma chance considerado um fator derável das docentes
oito vezes maior de serem de proteção afirmou confiar em seus
acometidos por LV, quan- alunos como importan-
do comparados àqueles que haviam tes multiplicadores da informação sobre
concluído o processo de alfabetização. a LV e outras zoonoses, tomando como
Conhecer a doença foi considerado um exemplo, para apoiar essa credibilidade,
fator de proteção, evidenciando a neces- os trabalhos escolares já consolidados
sidade de associar educação em saúde às sobre dengue. Elas também indicaram
medidas de controle da LV, de modo a os médicos veterinários do serviço pri-
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vado como importante fonte de infor- Em Montes Claros, no período de
mação sobre a doença. A autora sugeriu setembro de 2008 a março de 2009, foi
a elaboração de projetos concisos para a verificado que a população não conhe-
abordagem do assunto nos anos iniciais cia suficientemente sobre a leishmanio-
do ensino fundamental, com o objetivo se, mesmo sendo elevada a incidência
de fortalecer as ações de prevenção e da doença no município. A escassez de
controle da LV e de outras doenças.19 informações, principalmente entre pro-
A atuação dos Agentes de Combate prietários de cães com sorologia reagen-
de Endemias (ACEs) como difusores te ou indeterminada, aponta a necessi-
de informação sobre LV também vem dade de ações educativas na localidade,
sendo alvo de investigações científicas. com foco nas atitudes de proteção indi-
Questionários aplicados a proprietários vidual e coletiva.20
de cães soronegativos para a doença
em Belo Horizonte, nos anos de 2009 Avaliação do material
e 2010, revelaram que os entrevistados informativo disponível
apresentaram pouca informação sobre A qualidade da informação veicu-
as medidas específicas de prevenção e lada sobre o tema LV requer padroni-
controle da LV e posse zação e monitoramento.
responsável de animais. A análise de 18 materiais
A qualidade da
Além disso, um gran-
informação veiculada brasileiros distintos sobre
de número de imóveis a doença revelou a ocor-
sobre o tema LV
visitados apresentou
requer padronização e rência de limitações que
características de risco comprometiam o conte-
monitoramento.
ambiental para a manu- údo trabalhado. Tal cons-
tenção do vetor e trans- tatação pode ser classifi-
missão da doença, o que poderia sugerir cada como preocupante, dado o valor
que a informação repassada pelos ACEs desse recurso pedagógico na construção
não foi suficiente para promover mu- de conhecimento transformador.21
danças de comportamento dos morado- Profissionais de saúde e leigos da
res em relação ao ambiente domiciliar. Região Metropolitana de BH foram ar-
Concluíram que os ACEs, apesar de boa guídos antes e depois de lerem um fo-
qualidade técnica durante a contenção lheto informativo sobre LV, criado para
e coleta de sangue dos cães, necessitam facilitar a compreensão dos leitores por
melhorar o repasse da informação ao meio de ilustrações e boa didática. O
morador, de forma que a educação e a percentual de respostas certas após a
participação dos mesmos os tornem leitura do material foi significativamen-
parceiros do serviço de saúde no com- te maior, sinalizando a adequação do
bate à doença 13 método quanto à transmissão da infor-
Educação em saúde e guarda responsável 129

maio2012.indb 129 08/05/2012 16:28:38


mação.22
A mídia,
seja qual for
sua natureza,
pode contri-
Luiz Felipe Nunes Menezes Borges
buir para o es-
clarecimento
ou o confundi-
mento do pú-
blico. Por essa
razão, foram
submetidos à
análise os con-
teúdos de 24
páginas brasileiras (governamentais, co- uma escola municipal e, posteriormen-
merciais e outras) da internet, os quais te, avaliada a atuação deles como multi-
se propunham a informar sobre LV, no plicadores do conhecimento, levando-o
período de março a outubro de 2005. aos seus familiares. Foi verificado que
De modo geral, as informações veicula- houve melhora do conhecimento dos
das eram pouco relevantes, o que desta- indivíduos que receberam a intervenção
ca o mérito da criação de mecanismos educativa, o que refletiu na diminuição
de disseminação de informação correta do número de domicílios com condi-
sobre a LV pela internet, para que tal fer- ções de risco para LV.12
ramenta seja aproveitada na prevenção e
no controle da doença no país.33
Guarda responsável
A convivência do ser humano com
Medidas de intervenção cães e gatos pode e deve ser uma relação
No município de Caeté, Minas saudável e gratificante. Alguns cuida-
Gerais, foi avaliado um modelo de re- dos devem ser dispensados sistema-
passe da informação ticamente aos animais
sobre LV, bem como a Houve melhora do de estimação por meio
mudança de risco am- conhecimento dos
da guarda responsável,
biental da doença nos indivíduos que receberam para garantir condi-
domicílios, nos anos a intervenção educativa,
o que refletiu na ções de saúde a eles,
de 2005 e 2006. Foram
aos proprietários, fa-
realizadas atividades diminuição do número de
de aquisição de conhe- domicílios com condições miliares e vizinhos,
cimento com alunos de de risco para LV. bem como à comunida-
130 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

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Luiz Felipe Nunes Menezes Borges

Luiz Felipe Nunes Menezes Borges

de em geral. 23
Guarda responsável é a condição na
qual o guardião de um animal de com-
panhia aceita uma série de deveres cen-
trados no atendimento das necessidades vezes aparentemente antagônicos, mas
físicas, psicológicas e ambientais do ani- necessariamente complementares. É
mal, assim como na prevenção dos ris- preciso atuar embasado nas prerrogati-
cos (potencial de agressão, transmissão vas da saúde pública, sem negligenciar o
de doenças ou danos a terceiros) que ele sofrimento animal, multiplicando seres
possa causar à comunidade ou ao am- humanos sensíveis à causa.5
biente, e se compromete a assumi-los.24 Com o progressivo controle da rai-
A guarda responsável está direta- va canina e de outras zoonoses, esforços
mente relacionada ao papel do médi- foram iniciados para a adoção de novas
co veterinário na sociedade, forne- políticas públicas para controle da po-
cendo subsídios para conscientização pulação animal. Exemplos disso foram
no que diz respeito às premissas de as recomendações do Comitê de Espe-
uma relação saudável homem-ani- cialistas em Raiva, reunido pela Orga-
mal, independentemente do senso nização Mundial da Saúde (OMS), em
comum, muitas vezes equivocado.25 1992, as quais contemplaram, além da
O enfoque predominante do pa- vacinação contra a raiva, o controle am-
radigma atual é o da saúde pública em biental, o fomento à educação em saúde
detrimento do bem-estar animal, porém e o controle populacional, por meio da
ambos devem caminhar juntos. São por esterilização.26
Educação em saúde e guarda responsável 131

maio2012.indb 131 08/05/2012 16:28:44


O conceito de posse responsável Estudos específicos abordando a
dos animais de estimação e o incenti- dinâmica da população canina em con-
vo às ações para o controle reprodu- junto com o controle da leishmaniose
tivo foram introduzidos no Brasil por visceral (LV) ainda são escassos. Entre-
uma organização não governamental tanto, já existem relatos da diminuição
(WSPA,World Society for the Protec- da prevalência e/ou índice de positivi-
tion of Animal) em parceria com a Orga- dade canina após introdução de ações
nização Mundial da Saúde durante a Con- de controle reprodutivo. Desse modo, o
ferência “Pet Respect” realizada em junho incentivo a iniciativas dessa natureza se
de 1995, em São Paulo. O primeiro regis- faz necessário, principalmente em áreas
tro de desenvolvimento de ações para endêmicas da doença, uma vez que den-
o controle reprodutivo tro das ações de contro-
de pequenos animais, Existem relatos da le populacional estão
associado ao registro e diminuição do índice de previstos programas de
à identificação, à educa- positividade canina após adoção e manutenção
a introdução de ações de de cães comunitários,
ção, à participação social
controle reprodutivo. os quais precisam ter
e aos cuidados com a
diretrizes e critérios es-
saúde animal no Brasil,
pecíficos nessas regiões.
ocorreu em Taboão da Serra, São Paulo,
Em áreas de foco ou risco de trans-
em 1996.27 Após mais de 10 anos sem
missão de zoonoses, principalmente LV,
diretriz nacional para o equilíbrio po-
a implantação de programas de adoção
pulacional desses animais, foi lançado,
deve ser rigorosamente avaliada e discu-
em 2007, o primeiro programa estadual
tida com a comunidade, com base em
para o controle populacional de cães e
conhecimentos científicos, dados epi-
gatos, em São Paulo.28 demiológicos e normas técnicas. Caso
Atualmente, além dos municípios seja acordada a adesão ao programa, a
paulistas, outras cidades brasileiras re- população deve ser esclarecida sobre o
alizam ações de controle populacional risco de os animais adotados estarem em
de cães e gatos, baseadas no fundamen- período de incubação de doenças infec-
to de que um dos principais problemas tocontagiosas, bem como sobre a obriga-
oriundos da superpopulação decorre toriedade de notificar ao órgão respon-
de eles estarem expostos a todo tipo de sável qualquer manifestação suspeita,
doenças, intempéries e perigos, sendo comprometendo-se a seguir as medidas
vítimas de várias zoonoses, doenças ca- indicadas. Devem-se, ainda, realizar exa-
renciais e mutilações.25 mes clínicos e laboratoriais previamente,
132 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 65 - maio de 2012

maio2012.indb 132 08/05/2012 16:28:44


minimizando o risco de adoção de ani- buindo para que o impacto da reposição
mais com infecção subclínica.5 canina fosse ainda maior após um ano.
Outra questão relevante que pre- Entre os proprietários que não adquiri-
cisa ser elucidada é a eutanásia de cães ram outro animal, o temor da leishma-
sororreagentes para LV. Muito se debate niose visceral foi a principal razão para
sobre a eficiência dessa ação no contro- a não-reposição (41%). A população ca-
le da doença, mas, para que tal prática nina reposta, na sua maioria por animais
possa ser extinta, é preciso passar por jovens, representa graves implicações
um período de transição, no qual as epidemiológicas, como maior suscetibi-
ações de controle da população cani- lidade a diferentes doenças, maior pro-
na sejam implantadas com enfoque na lificidade e baixa resposta imunológica
guarda responsável e na frente a diversas vacinas.
prevenção de doenças. A eutanásia, em vez de Os autores concluíram
É importante que tais diminuir a ocorrência que a eutanásia, em vez
procedimentos sejam de leishmaniose, pareceu de diminuir a ocorrên-
comparados ao méto- influenciar a estrutura cia de leishmaniose,
do anterior (eutanásia) da população canina, pareceu influenciar a
e analisados cientifi- o que deve ser levado
estrutura da população
camente, a fim de que em consideração nos
programas de posse canina, o que deve ser
soluções satisfatórias
responsável. levado em consideração
possam substituir a
nos programas de pos-
eliminação canina em
se responsável, além do
massa, prática discutível e malvista pela
controle populacional em áreas endêmi-
sociedade.
cas para a doença. 29
Alguns trabalhos já sinalizam pos-
Uma experiência bem-sucedida no
síveis mudanças no modo de combate
à doença. Em estudo sobre a reposição controle de zoonoses foi o caso da raiva
canina pelos proprietários de animais em Jaipur (Índia), onde 24.986 cães co-
eliminados devido à infecção por LV munitários foram capturados de forma
realizado em Araçatuba, São Paulo, foi humanitária, esterilizados, vacinados
verificada uma reposição de 44,5% dos contra a doença e devolvidos para seu
cães eutanasiados no período de um local de origem, no período de 1994 a
ano, sendo a companhia ou guarda os 2002. Constatou-se que 65% das fêmeas
principais motivos da aquisição do novo haviam sido castradas, tendo ocorrido
cão. Cerca de 20% das reposições foram queda de 28% da densidade populacio-
feitas com mais de um animal, contri- nal canina. Não houve registro de caso
Educação em saúde e guarda responsável 133

maio2012.indb 133 08/05/2012 16:28:44


de raiva humana, durante o intervalo num período transacional na saúde pú-
acompanhado, na área abrangida pelo blica veterinária, no qual os animais não
programa.30 são percebidos apenas como potenciais
É papel do poder público monitorar zoonóticos, mas sim como integrantes
a saúde, o bem-estar e o crescimento po- das famílias e comunidades, e com valor
pulacional de cães e gatos. Desse modo, intrínseco agregado.32 Nesse contexto, é
é imprescindível identificar a origem de cada vez mais urgente a difusão e a im-
qualquer antropozoonose que venha plementação de práticas que não inflijam
a surgir em uma comunidade, a fim de sofrimento aos animais e que sejam con-
que interferências possam ser realizadas dizentes com o conceito de bem-estar
com antecedência, evitando-se, assim, animal e com as premissas da educação
aumento do número de casos de doen- em saúde e guarda responsável.
ças.14 O conhecimento dos hábitos da
população com relação aos animais de Referências
estimação poderia auxiliar também na
1. RESENDE, S.M.; MOREIRA, E.F.; PINTO,
programação e na execução das ações I.M. Public and private health network integra-
direcionadas ao controle de zoonoses. tion as instrument for the organization of sero-
É de fundamental importância a realiza- logic diagnosis for american visceral leishmania
in Minas Gerais. BEPA, Bol. epidemiol. paul.(On-
ção de medidas de educação em saúde
line), São Paulo, v. 6, p.4-12, 2009 .
abordando o manejo e a convivência
com animais, com o intuito de diminuir 2. PRADO, P.F.; ROCHA, M.F.; SOUSA, J.F. et al.
Epidemiological aspects of human and canine
a exposição a doenças.31
visceral leishmaniasis in Montes Claros, State of
A atuação governamental precisa Minas Gerais, Brazil, between 2007 and 2009.
priorizar os seguintes aspectos: a) ser Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v.44, p. 561-566, 2011.
eficiente: no sentido de modificar con- 3. Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde. De-
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