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“A BELEZA DA MULHER É O CABELO”: UM ESTUDO SOBRE

IDENTIDADE DA MULHERE NEGRA NO MUNICÍPIO DE LAJE

Discente: Leylane Souza Da Conceição


Orientadora: Profª. Dra. Miranice Moreira
Departamento de Ciências Humanas – Colegiado de História
OBJETIVO

 Analisar os impactos causados pelo racismo na construção da identidade da mulher


negra, no que diz respeito ao cabelo crespo.
JUSTIFICATIVA

Vivencias pessoais • A escuta de apelidos pejorativos, estereotipados e racistas.

Importância de se • Trabalhando a interseccionalidade a partir de um grupo que há


séculos vem vivenciando o quão perverso é o racismo e como
trabalhar gênero e ele afeta de forma direta na vida das pessoas (HOOKS, 2015) e
raça (BAIRROS, 1995).

Importância de se • As fontes orais reverberam nas intenções dos feitos, nas


trabalhar com fonte crenças, nas mentalidades, nos pensamentos relacionados às
experiências vividas e no imaginário. (PORTELLI, 2006).
oral
PROBLEMÁTICA

• Analisar a relação do cabelo crespo com a identidade das mulheres negras mais velhas
da cidade de Laje a partir da reflexão de suas narrativas;

• Investigar a experiência dessas mulheres negras na sua relação com o próprio cabelo
crespo, tendo com referencial a ideia de mulher bonita.
FONTES E METODOLOGIA
 Toda a pesquisa foi baseada em fonte oral e
consequentemente a história das
mentalidades;

 O trabalho se ancorou na metodologia


proposta pela história oral (ALBERTI, 2004) e
no diálogo com o conceito de memória Fonte: https://www.tudocelular.com/android/noticias/n87197/Gravador-de-voz-

coletiva (POLLAK, 1992) e identidade (HALL, Android.html

2016);

 Mulheres da terceira idade com a faixa etária


variando de 62 a 67 anos de idade.
CAPÍTULO 1

O RACISMO E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DAS MULHERES


NEGRAS

Objetivo específico
 Refletir sobre os impactos causados pelo racismo no processo de construção da

identidade dessas mulheres negras.


A formação da identidade negra no Brasil.

(GOMES, 2006) (HALL, 2016)

Cabelo – como ícone identitário, ganha destaque no


processo de tensão.
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/426786502165100949 /
A naturalização de estereótipos negativos e o conceito de memória

Branco e liso – “superior, bonito e


ideal”.

Negro e crespo – “inferior e feio”.

A memória é um fenômeno construído social e individualmente. Quando se fala em memória herdada, pode-se dizer
que há uma ligação fenomenológica muito estreita entre memória e o sentimento de identidade (POLLAK, 1992).
O conceito de racismo e o mito da democracia racial
 O racismo pode aparecer de distintas maneiras e em diferentes intensidades. Ele pode
vir de forma disfarçada através de um suposto elogio, observações e até mesmo
críticas.

(MUNANGA, 2004); (SANTOS, 1981).

 O conceito de “democracia racial”: A ideia de que no Brasil os negros escravizados


eram tratados de uma forma mais tranquila do que nos outros lugares.

Análise das discussões de (FREYRE, 1999);


Conceito de colorismo . (SILVA, 2017) e (SANTANA , 2021).
CAPÍTULO 2
NARRATIVAS SOBRE O IDEAL DE BELEZA FEMININA E O
CABELO CRESPO

Objetivo específico

 Analisar a forma como as mulheres negras mais velhas viam/veem os seus cabelos,
levando em consideração o ideal de beleza.
“A beleza da mulher é o cabelo”: como a mulher negra se vê e é visto
pelo outro

“Alisar porque a gente vai sair pra um lugar e a gente quer sair mais bonita, com o
cabelo bonito, quer sair embelezado e não com o cabelo bruto, brabo, assanhado,
rebelde. Iai, quer fazer uma coisa melhor pra ficar mais bonitinha. O cabelo desce, bota
um bobezinho e arruma, né? Iai dar mais um visual no rosto da pessoa. Eu nunca usei
black, só o cabelo do bob mesmo. O cabelo crespo assim crespo, eu mesma não gosto
não.”
(SECI, 62 anos. Entrevista realizada dia: 08/01/2020).

Desvalorização da estética negra - (COUTINHO, 2010)


Utilização de “recursos que camuflem as origens” – (RAMOS, 1995)
Ao ser questionada sobre a relação com próprio cabelo;

“[...] uma labuta! Sempre foi! Tudo começa quando a gente era criança. [...] Tinha vez
que a minha mãe fazia as tranças tão apertadas que aparecia umas bolhinhas brancas
no couro da cabeça e quando elas pocavam feriam e ficavam doendo. [...] era melhor
assim mesmo, porque se chegasse uma visita, pelo menos os cabelos não estava uma
“bruxa”.”
(BERNADETE, 65 anos. Entrevista realizada dia: 14/02/2020).

“Lida” com o cabelo – (GOMES, 2006)


“Feiura” na aparência do negro – (FRENETTE, 1999)
“Alisar porque a gente que se sentir bonita”: a insatisfação da mulher
negra com o cabelo crespo
“[...] passava ferro e ele ficava solto, a gente saía e eu achava bonito. [...] eu não
gostava do natural, porque eu queria ter um cabelo igual aos das modelos nas revistas.
eu olhava essas revistas e não vou mentir não, queria ter um cabelo igualzinho ao
delas. Se era aquilo que era bonito, que as pessoas admiravam. Ninguém ia ligar pra
uma menina de cabelo duro, mas já as de cabelo liso, fazia grande sucesso. Eu queria
fazer sucesso também.”
ÂNGELA, 66 anos. Entrevista realizada dia: 25/01/2020).

Cabelisador ou ferro quente. – (BRAGA, 2015);


Manipulação no corpo da mulher negra. – (LOPES, 2002);
Eclosão de movimentos no Brasil em 1970, objetivando a valorização da estética negra.
– (SANTOS, 2020).
CAPÍTULO 3
IMPACTOS CAUSADOS PELO CABELO CRESPO NAS
RELAÇÕES SOCIAIS E AFETIVAS

Objetivo específico
 Compreender de que forma o cabelo pode influenciar nas relações sociais e afetivas.
“Eu me sentia muito mal ao me olhar no espelho, o cabelo grosso, seco, duro e ruim de
desembaraçar que chega doer o braço. Mas agora não, depois desse processo de alisar
que a gente faz, ele adomou mais e não está mais aquele negócio ríspido. Sempre que
eu lavo ele está macio, porque faz tempo que eu venho usando produtos, alisando e
cuidando.”
(SECI, 62 anos. Entrevista realizada dia: 08/01/2020)

A dor e o sofrimento como objetos de estudo – (FARGE, 2015).


O cabelo crespo e a solidão da mulher negra
“[...] eu tive uma cliente da roça
que não arrumava ninguém que  Exclusão das mulheres negras do
quisesse nada sério. Quase que “mercado afetivo”.
ficava sem casar. Ela mesmo me
disse que só conseguiu arrumar um
casamento depois que eu comecei a (PACHECO, 2008) (FANON, 2008).
passar o ferro quente no cabelo
dela.”
(NICE, 68 anos. Entrevista
realizada dia 29/02/2020).
Interseccionalidade (BAIRROS, 1995);

O cabelo crespo como um problema (HOOKS, 2015);

Embranquecimento (AMARAL, 2011).


Como as pessoas se sentem desconfortáveis ao falar de cabelo crespo

Porque sem alisar ele era feio, todo duro. Todo paraguai e quando eu alisava ficava
bonito e eu me sentia bem com ele liso. E na verdade ficava bonito mesmo, eu me
achava, achava linda! Mas hoje em dia não tenho cabelo mais não, só tenho bombril.
(RITA, 63 anos. Entrevista realizada dia: 07/01/2020).

Racismo recreativo (FIGUEREDO e CRUZ, 2020)

Adilson José Moreira (2019)


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Interferências do imaginário social;

As depoentes não apresentavam uma boa


relação com o próprio cabelo e não o aceitava;

Implicações nas relações


sociais e afetivas.
REFERÊNCIAS
• AMARAL, Sharyse Piroupo do. História do negro no Brasil. Secretária de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade; Salvador: Centro de Estudos Afro Orientais, 2011.

• BAIRROS, Luiza. Nossos feminismos revisitados. Estudos feministas, v.3, n.2, Florianópolis,
Universidade de Santa Catarina, 1995.

• BRAGA, Amanda. História da beleza negra no Brasil: discursos, corpos e práticas. São
Carlos: EdUFSCar, 2015.

• COUTINHO, Cassi Ladi Reis. A estética dos cabelos crespos em Salvador. Salvador, UNEB,
2010.

• FRENETTE, M. A cor da Infância. Revista Raça. São Paulo, Editora Símbolo, nº38, Ano 4, p.88
– 92, 1999.
REFERÊNCIAS
• FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. São Paulo: EDUC, 1999.

• FARGE, Arlette. Lugares para a história. Coleção história e historiografia. Autêntica


editora, Belo Horizonte, 2015.

• GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolo de identidade
negra. Belo Horizonte. Autêntica 2006.

• HALL, STUART. Cultura e representação. Organização e revisão técnica: Arthur Ituassu;


Tradução: Daniel Miranda e William Oliveira. Rio de Janeiro: PUC-Rio; Apicuri, 2016.
REFERÊNCIAS
• HOOKS, Bell. Alisando nossos cabelos. Revista Gazeta de Cuba – Unión de escritores y Artista de
Cuba, janeiro-fevereiro de 2005. Tradução do espanhol: Lia Maria dos Santos. Retirado do blog
coletivomarias. blogspot.com/.../alisando-o-nossocabelo.htm.

• LOPES, Maria A. Beleza e ascensão social na Imprensa Negra Paulista (1920-1940). Dissertação
(Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2002.

• MUNANGA, Kabenguele. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e
etnia. Cadernos PENESB (Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira). UFF, Rio de
janeiro, n.5, p. 15-34, 2004.

• PACHECO, Ana Claudia Lemos. “Branca para casar, mulata para f... e negra para trabalhar”;
escolhas afetivas e significados de solidão entre mulheres negras em Salvador, Bahia. Campinas,
2008.
REFERÊNCIAS
• POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol.
5, n. 10, p. 200-212, 1992.

• RAMOS, Guerreiro. Patologia social do “branco” brasileiro. In Introdução crítica à


sociologia brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995. p.163-211

• SANTANA, Tiago Evangelista. Políticas étnico raciais e discriminação: reflexões sobre o


colorismo no Brasil. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2021.

• SANTOS, Joel Rufino dos. O que é racismo. Editora brasiliense, 4° edição, 1981.

• SANTOS, Steffane Pereira. Brasil: Rompendo com os silenciamentos e protagonizando


vozes. Revista Ciências do Estado, 2020.
REFERÊNCIAS
• SILVA, Tairan silva e. O colorismo e suas bases históricas discriminatórias. Revista
Direito UNIFACS, 2017.

• FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador. Editora EDUFBA, 2008.

• FARGE, Arlette. Lugares para a história. Coleção história e historiografia.


Autêntica editora, Belo Horizonte, 2015.

• FIGUEREDO, Angela. Beleza pura: símbolos e economia ao redor do cabelo do


negro. In: CRUZ, Cíntia. Beleza negra: representações sobre o cabelo, o corpo e a
identidade das mulheres negras. EDUFRB, Belo Horizonte: fino traço, 2016.
OBRIGADA!

“Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se


apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com
você por onde você andar".
Josué 1:19

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