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UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Departamento de Comunicação e Arte

Hanon: Vantagens e Desvantagens


Investigação à prática de Le Pianiste virtuose de
Hanon através de alunos do curso de licenciatura
em música na Universidade de Aveiro

Ana Sofia Pereira e Cunha Disciplina: Domínios de Estudo da


nº 79736 Música

Licenciatura de Música (2ºano) Docente: Jorge Castro Ribeiro

Ano letivo 2016/2017


Índice de Conteúdos

1. Introdução ............................................................................................................ 3
2. Charles-Louis Hanon – Biografia ........................................................................ 4
3. Le Pianiste Virtuose ............................................................................................. 6
3.1. Contextualização ........................................................................................... 6
3.2. Análise ao prefácio da Edition Peters ........................................................... 7
3.3. A prática do livro de exercícios no curso de licenciatura em música na
Universidade de Aveiro ................................................................................. 10
4. Conclusão .............................................................................................................. 12

Referências Bibliográficas

Anexos

Anexo I: Prefácio de The Virtuoso Pianist por Charles-Louis Hanon

Anexo II: Transcrição das Entrevistas a alunos de licenciatura em piano da


Universidade de Aveiro

Anexo III: Gravação em áudio das Entrevistas


1. Introdução

Este trabalho de investigação foca-se na prática do livro Le Pianiste Virtuose de


Charles-Louis Hanon.
O livro de exercícios Le Pianiste Virtuose de Charles-Louis Hanon foi publicado pela
primeira vez em 1874 e consiste num livro de 60 exercícios técnicos para pianistas. É
frequentemente utilizado em conservatórios e escolas superiores como método de estudo
de técnica pianística.
Sendo estudante de piano, sou conhecedora de que frequentemente professores têm
como refrão “Pratica, pratica, pratica”, receitando aos seus alunos escalas, arpejos e
exercícios como solução a problemas técnicos. Como o repertório de piano a apresentar
em exame na licenciatura em música requer bastante tempo de estudo, é imperativo saber
como rentabilizá-lo. Tenho como hábito diário a prática desta técnica. Esta prática
consome uma hora do meu estudo, hora que poderia ser utilizada no estudo do meu
repertório.
Sendo o livro de exercícios de Hanon um dos livros mais receitados por professores,
este é o meu propósito, investigar as vantagens e desvantagens da sua prática, ajudando
numa escolha mais assertiva na utilização desta ferramenta. Pretendo alertar e apresentar
várias soluções e métodos de estudo técnico aos leitores pianistas, de forma a que estes
os possam utilizar de uma maneira mais ergonómica tendo em conta as dificuldades de
cada um.
Os procedimentos para a construção deste trabalho envolveram: uma pesquisa de
contextualização biográfica do autor, uma pesquisa de contextualização do livro, uma
análise ao prefácio do livro escrita pelo autor e entrevistas a alunos de licenciatura em
música na Universidade de Aveiro.

Será com respeito e gratidão pela sua obra de interajuda que faço esta reflexão.
2. Charles-Louis Hanon – Biografia

Charles-Louis Hanon nasceu a 2 de Julho de 1819 em Renescure, França, e faleceu


em Bolougne-sur-Mer a 19 de Março de 1900. Foi um compositor e escritor de obras
pedagógicas. Nascido numa família católica devotada, começou os seus estudos de
música com um professor de órgão local.
Em 1846, com 27 anos, deslocou-se de Renescure para Boulogne-sur-Mer onde
viveu com o seu irmão, que também era músico. Em Boulogne, Hanon prestou serviços
como maestro de coro e organista, sendo demitido em 1853. Após a sua demissão, o
compositor, em conjunto com o seu irmão, começou a dar aulas privadas de canto e piano,
tendo, também, a iniciativa de publicar as suas primeiras composições.
Contudo, a música não tinha um foco exclusivo na sua vida. Hanon era
Franciscano da Ordem Terceira e membro da Sociedade de São Vicente de Paulo. Foi um
compositor de natureza ultraconservadora que dedicou a sua vida à religião e caridade.
Dado a sua espiritualidade, Boulogne-sur-Mer, cidade com inúmeras igrejas, escolas
religiosas e organizações de caridade, evidenciou ser o local ideal para fazer de sua casa.
Hanon esteve, também, envolvido numa ordem conventual chamada “Les Freres
Ignorantins”, também conhecida por “Irmãos das Escolas Cristãs”. No séc XVII, o santo
João Batista de La Salle, membro desta ordem, fundou várias escolas ondem fornecia
aulas gratuitas a crianças carenciadas. Uma destas escolas foi criada em Boulogne,
aproximadamente no ano de 1815, por Leon de Chanlaire e pelo Padre Benoit Agathon
Haffreingue, onde, em 1830, começaram a ser proporcionadas gratuitamente aulas de
música. Pensa-se que foi para esta escola e para os respetivos alunos que Hanon escreveu
o seu Systeme Nouveau.
Todos os trabalhos de Hanon eram compostos com um intento didático, popular
ou religioso. Este compôs métodos para piano, órgão, acompanhamento, hinos de muita
simplicidade e cânticos de igreja. No entanto, Hanon é apenas relembrado pelo seu livro
de exercícios técnicos, Le piano virtuose. Embora reconhecido pelo Papa em duas edições
de World Exhibitions, nas centenas de recortes de jornais que acompanhavam a atividade
musical em Boulogne-sur-Mer, nenhum destes incluía ou referenciava Hanon, tanto como
compositor ou performer. Pensa-se que este foi ofuscado por músicos locais, pelo facto
de não ter sido um pianista virtuoso, por não ter frequentado o Conservatório de Paris e
pela receção crítica negativa ao seu método de estudo para órgão.
A primeira grande publicação Systeme Nouveau foi, talvez, a sua publicação mais
bem-sucedida na altura e consistia num método de acompanhamento de canto para órgão.
Em 1857, esta publicação foi reconhecida pelo Papa Pius IX, que o nomeou como
membro honorário da Academia de Santa Cecilia. Passado 10 anos, esta recebe, também,
uma menção honrosa na World Exhibition em Paris.
Em 1869, Hanon publica aproximadamente 30 peças para piano. Todas as suas
peças a solo tinham títulos programáticos e apesar de conterem bastantes elementos
técnicos que incluíam passagens com oitavas e escalas, o teor musical destas era fraco.
Outros trabalhos para piano incluem Le etude complete du piano, uma coleção de 25
peças progressivas em dificuldade, com alguns exercícios reaproveitados do seu livro
escrito anteriormente, Le delices des jeunes pianistes. Para além disto, Hanon fez vários
arranjos de diversas árias de ópera italiana e após a derrota de França na guerra franco-
prussiana, também fez arranjos de obras de origem alemã, transformando-as em peças de
salão de pouca dificuldade.
Após a terceira edição do seu livro Le piano virtuose, em 1878, não se encontram
registos de novos trabalhos ou composições deste.
Embora as obras de Hanon tenham sido importantes para a história da pedagogia
pianística, o compositor foi negligenciado na literatura académica até à data, sendo que
se encontram poucos registos relativos ao seu trabalho e vida.
No entanto, os trabalhos de Hanon tocaram gerações e gerações de pianistas.
3. Le Pianiste Virtuose

3.1. Contextualização

Le Pianiste Virtuose, foi publicado pela primeira vez em 1874 e consiste num
livro de 60 exercícios técnicos para pianistas.

Em 1878, Le Pianiste Virtuose recebeu uma medalha de prata na Universal


Exposition em Paris. No mesmo ano, este livro foi adotado para uso no Conservatório de
Paris e no Conservatório de Bruxelas. Em cartas reimpressas na edição de 1878 deste
livro, Antonin Marmontel, Felix Le Couppey e George Mathias (aluno de Chopin), três
dos mais famosos professores do Conservatório de Paris, aconselharam a utilização dos
exercícios de Hanon.
Em 1917, Sergei Rachmaninoff escreveu sobre o lugar fundamental que estes
exercícios ocuparam na Rússia por volta de 1891, o ano em que Rachmaninoff se formou
no Conservatório de Moscovo:

The course is nine years in duration. During the first five years the student gets
most of his technical instruction from a book of studies by Hanon, which is used
very extensively in the conservatories. In fact, this is practically the only book of
strictly technical studies employed.... at the end of the fifth year an examination
takes place... if the pupil fails to pass the technical examination, he is not permitted
to go ahead. He knows the exercises in the book of studies by Hanon so well, that
he knows each study by number, and the examiner may ask him, for instance, to
play study 17, or 28, or 32, etc. The student at once sits at the keyboard and plays. 1

Poucos anos após a sua primeira publicação, Le Pianiste Virtuose era usado não só
em grandes conservatórios de Paris e Moscovo, como também em escolas de música
noutras cidades europeias. Em 1900, a célebre Schimer Edition foi publicada em Nova
Iorque, tornando o livro de exercícios disponível a pianistas dos Estados Unidos da
América. Desde aí, inúmeras reedições e transcrições dos exercícios foram publicadas em
dezenas de linguagens.
Le Pianiste Virtuose tornou-se o conjunto de exercícios técnicos pianísticos mais
utilizado do mundo. Ainda hoje, este é usado por estudantes e performers profissionais.
Os seus exercícios já foram transcritos para vários instrumentos e são muitas vezes
tocados em guitarra, clarinete e acordeão. O padrão repetitivo simples que o carateriza
foi também já adaptado a exercícios técnicos contemporâneos de piano como o Jazz
Hanon e o Salsa Hanon.

1
(Cooke J. f., 1917)
3.2- Análise ao Prefácio da Edition Peters

O prefácio em apreciação neste capítulo da autoria de Charles-Louis Hanon, foi


publicado pela Edition Peters em The Virtuoso Pianist.
O compositor começa por abordar no seu texto o aumento do número de bons
pianistas, que, por sua consequência, faz com que os estudantes de piano tenham que
estudar o instrumento durante mais tempo, de modo a serem capazes de tocar repertório
de qualquer dificuldade. No entanto, acontece que a prática de longa duração é desigual
e incorreta, não dando tanto atenção à mão esquerda e ao quarto e quinto dedo, que são
consequentemente os dedos mais fracos de um pianista. Para além destes aspetos, o
estudo de passagens com oitavas, tremolos ou trilos é normalmente executado por esforço
e fadiga, tornando a performance de uma peça incorreta e sem expressão.
Durante 7 anos, Hanon elaborou um livro que uniu diversos exercícios com o
intuito de proporcionar um curso completo de estudo pianístico que se possa ser estudado
em pouco tempo, com o objetivo de ultrapassar estes problemas:

If all five fingers of the hand were absolutely equally well trained, they would
be ready to execute anything written for the instrument, and the only question
remaining would be that of fingering, which could be readily solved. 2

Neste livro, os focos principiais dos exercícios são a agilidade, independência, força
e igualdade dos dedos.
O autor descreve os seus exercícios como exercícios interessantes que não levam os
seus executantes à exaustão, ao contrário de outros exercícios técnicos, que são maçudos
ao ponto de ser necessária muita perseverança para os estudar. São exercícios fáceis de
aprender e rápidos de executar, de modo aos estudantes de piano não “perderem” muito
tempo de estudo com a sua prática. Estes estão organizados de maneira a que em cada
número, os dedos trabalhados num exercício possam descansar durante o exercício que
sucede.
O livro foi dirigido a todos os estudantes de piano. No caso de alunos mais avançados,
estes seriam capazes de os praticar muito rapidamente, sem experienciar a rigidez nos
dedos e pulsos que poderão já ter sentido nos seus primeiros anos de estudo, mas os
exercícios continuariam a proporcionar-lhes a capacidade de superar as principais
dificuldades técnicas.
Para o compositor, este livro podia ser tocado no espaço de uma hora e deveria ser
repetido diariamente sem qualquer tipo de esforço. Hanon acreditava que este livro era a
chave para todas as dificuldades mecânicas.
Após uma leitura do artigo On Teaching Piano Technique de Hao Huang, torna-se
óbvia a relação entre o método de estudo de Hanon descrito no prefácio e os primeiros
métodos criados no séc. XIX:

Piano pedagogy until the mid-nineteenth century appears to have been built
on three concepts:
1. Only fingers should be used - consequently, the forearm and upper arm should
be in fixed position.

2 (Hanon, s.d.)
2. Technical training is a purely mechanical procedure, requiring many hours of
daily practice.
3. The teacher is the absolute authority. 3
Nesta altura, acreditava-se que os dedos só poderiam ser bem treinados se a sua ação
fosse isolada e que a influencia da mão e do braço era desvantajosa. Os pianistas deveriam
levantar os dedos o mais alto possível, dobrando-os e atingindo as teclas com a sua ponta.
Muzio Clementi, autor do primeiro método de piano, afirma em Introduction to the
Art of Playing on the Pianoforte que todos os dedos devem ser igualmente fortes e
igualmente treinados e que a mão do pianista deve estar imóvel enquanto os dedos
levantam alto e caiem nas teclas com força. Carl Czerny dava tanta importância a esta
técnica que escreveu vários exercícios que fazem agora parte do programa de pequenos
aspirantes a pianistas. Os seus exercícios focavam a agilidade e precisão dos dedos a partir
da ginástica mecânica, que deveria ser estudada e adquirida inicialmente em separado da
musicalidade e sonoridade.
Com mudanças de funcionamento do pianoforte e novos requerimentos de performers
e compositores de piano, novas abordagens de técnica pianística foram exploradas. Ao
contrário de Hanon, Clementi e Czerny, estas novas abordagens consideravam
insuficiente a ação vinda exclusivamente dos dedos. Franz Liszt sugeria que cada
movimento dos dedos estava conectado a um processo de movimento do braço e que cada
mudança de ritmo ou dinâmica estava ligada ao movimento do pulso. Para ele a técnica
não dependia do exercício, mas sim da forma de como o exercício era praticado. Frédéric
Chopin também mencionava a integração da mão, pulso e braço como uma maneira mais
apropriada de tocar o instrumento.
A partir daí foram criadas diversas opiniões entre pianistas sobre a ação apropriada
dos dedos. Foram introduzidos os termos “peso”, “relaxamento” e “pressure action”, que
consistiam na libertação dos braços e na evitação de rigidez nos músculos.
No séc. XX, estes termos ganharam mais ênfase e geraram outros termos: rotação,
moldagem, peso de braços e peso de ombros. Pianistas como Claudio Arrau e Seymor
Bernstein seguiam esta filosofia de relaxamento. Para estes, cada vez era mais certo de
que a ação gerada unicamente pelos dedos era escassa. Nesta altura, é introduzido por
Bernstein o conceito de “keyboard coreography”, um conceito que dá relevância ao
movimento do corpo, à flexibilidade e liberdade dos ombros e à ativação dos músculos
do torso, costas, ombros e antebraços.
Em On Piano Playing: Motion, Sound, Expression, Gyorgy Sandor afirma que
durante as horas intermináveis de estudo de um pianista, este tende a dar demasiada
importância ao desenvolvimento dos músculos que ajudam a adquirir independência nos
dedos. Para Sandor, os exercícios técnicos não são interessantes, como descreve Hanon
no prefácio, mas sim cansativos e tediosos. A sua prática funciona de maneira
insatisfatória, porque os dedos são posicionados de forma a que os músculos não
consigam trabalhar em condições. Dessa maneira, os músculos mais fortes do corpo não
são ativados. Embora se ganhe uma certa independência nos dedos, Sandor acredita que
os exercícios técnicos levam o executante a falhar na utilização do mecanismo humano
como auxílio no adquirir de independência. O autor escreve que embora os dedos fiquem
fortificados, estes ficam isolados do resto do mecanismo do corpo, que poderia passar
força aos dedos se estes estivessem prontos a colaborar. Na sua opinião, os exercícios
técnicos podem levar à rigidez dos músculos e articulações, um dos maiores e mais

3 (Huang, 1996)
comuns problemas na prática de técnica, que são vistos por Hanon como sintomas
positivos.
Dorothy Taubman, professora de piano e autora de Taubman Approach vai ao acordo
de Gyorgy Sandor. Taubman abomina a repetição e acredita que as horas de treino de
exercícios diários trazem mais desvantagens do que vantagens. Esta defende que o
objetivo principal da técnica pianística é proporcionar aos pianistas as habilidades
essenciais para que estes toquem o instrumento com o mínimo de esforço sem causarem
lesões.
Em Piano Playing With Piano Questions Answered, Josef Hofmann comenta,
também, que não se deve estudar sistematicamente.
Segundo Hofmann, não se deve fazer exercícios técnicos muito frequentemente ou
durante muito tempo, no máximo 30 minutos. Os exercícios técnicos devem ser usados
apenas como aquecimento preliminar ao estudo, pois a técnica é algo que se vai
adquirindo com o próprio repertório. Os pianistas devem criar os seus próprios exercícios
adequados às passagens mais problemáticas de cada peça.

Esta ideia é partilhada por Walter Gieseking e Karl Leimer em Piano Technique. Os
autores acreditam que a prática de exercícios técnicos é sobrevalorizada. Normalmente a
prática destes é feita sem concentração, isto graças aos seus padrões repetitivos, o que
acaba por não trazer qualquer tipo de resultados com o risco, ainda, de poder originar
lesões graves. Adquirir técnica deve ser um trabalho mental e não puramente mecânico.
Esta não se adquire meramente a fazer escalas ou arpejos, o seu trabalho é mental e
pessoal e, por isso mesmo, o papel de um professor de piano deve ser auxiliar a procura
do que será o melhor método de estudo para cada aluno. Cada pianista deve encontrar o
seu próprio método, de encontro ao seu conforto.
Hao Huang, referido anteriormente, sugere que devemos escapar à técnica de dedos
tradicional criada no séc. XIX e modificá-la. Assim, iremos chegar a uma abordagem
pedagógica baseada em princípios psicológicos que possibilita aos pianistas evitar os
extremos de fatiga, dores e tensão.

Será, realmente, a prática dos exercícios de Hanon um método de estudo técnico assim
tão descabido?
3.3. A prática do livro de exercícios no curso de licenciatura em música na
Universidade de Aveiro

Este capítulo é uma tentativa de resposta à questão colocada no capítulo anterior


através da análise de entrevistas, feitas por minha autoria, a alunos de licenciatura em
música na Universidade de Aveiro.
Após entrevistar 7 alunos deste curso, concluí que estes se podem dividir em duas
escolas: uma que pratica exercícios técnicos separadamente do repertório, que vai de
encontro ao método criado no início do séc. XIX e outra que pratica técnica através do
estudo do repertório, que vai de encontro à abordagem de métodos mais recentes.
Destes 7 alunos, apenas 2, ambos do 2º ano de licenciatura, fazem parte da escola que
estuda técnica durante e a partir do estudo do seu repertório. Estes alunos veem que
aspetos técnicos poderão ser melhorados em cada obra e criam os seus próprios exercícios
de encontro aos seus problemas, para assim ultrapassarem as suas dificuldades. Os 2
alunos acreditam que os exercícios de Hanon podem ter as suas vantagens, no que toca à
independência, controlo e igualdade entre os dedos. No entanto, afirmam que estes
exercícios só proporcionam essas vantagens a iniciantes de piano. Para alunos
universitários, estes exercícios não contemplam todas as dificuldades técnicas existentes.
São exercícios que não trabalham nem a qualidade do som, nem todo o tipo de articulação
exigida por peças diferentes. A prática regular destes exercícios pode agravar problemas
técnicos, o que acaba por ser um desperdício de tempo para aqueles que os praticam.
Destes 2 alunos, apenas 1 tocava os exercícios quando era mais novo no conservatório.
Já o outro, nunca teve curiosidade em praticá-los porque sempre sentiu que o seu
repertório era o suficiente para conseguir ultrapassar obstáculos técnicos. Estes exercícios
nunca foram impingidos ao aluno pelo professor, talvez por ter estudado numa academia
e não num conservatório.
Os 5 alunos incluídos na escola que pratica exercícios técnicos separadamente do
repertório, afirmam que fazem este trabalho diariamente em média durante 30 minutos
ou 1 hora. Sendo que, os alunos de 1º ano costumam abdicar de menos tempo de estudo
do que os alunos de 2º e 3º ano para trabalhar técnica. Destes alunos, apenas 2, ambos do
1º ano de licenciatura, praticam técnica unicamente através de exercícios de Hanon e
Pischna, porque assim foram impostos pelo professor. O facto de estes praticarem apenas
o que é imposto pode estar aliado ao ano de licenciatura em que se encontram. Os dois,
sendo do 1º ano, se calhar ainda não tiveram a interesse ou oportunidade para explorar e
inventar novos exercícios. Desta forma, podem ser mais facilmente moldados pelo
professor. Estes alunos tentam praticar os exercícios sem parar e com muita força, ou seja,
sem descanso ou relaxamento, o que parece ser o modo incorreto de os praticar, pois pode
causar lesões. O resto dos alunos, para além de praticarem esses dois autores, criam os
seus próprios exercícios consoante as dificuldades técnicas do repertório ou adaptam os
exercícios de Hanon, transpondo-os para outras tonalidades e alternando-os com ritmos
e diferentes articulações.
Destes alunos, 6 praticavam Hanon antes de vir para a Universidade de Aveiro.
Podemos reparar que, os alunos que praticavam os exercícios antes de terem
ingressado na universidade, estudaram piano num conservatório. Dos 2 alunos que
estudaram noutras instituições, apenas 1 foi apresentado a estes exercícios quando iniciou
os seus estudos, sendo que, estes foram apresentados por um colega e não por um
professor.
Os que praticam os exercícios de Hanon pensam que as suas vantagens passam por
adquirir resistência, independência e habilidade em todos os dedos. O facto de estes
exercícios terem cinco notas, fazem com que todos os dedos possam ser trabalhados.
Como estes exercícios se encontram na tonalidade de Dó maior, são fáceis de transpor e
podem-se aplicar a diversas tonalidades. São bons exercícios para aquecer e começar o
dia de estudo, pois aumentam a circulação nas mãos, o que traz mais velocidade e
agilidade. No entanto, os seus resultados apenas se manifestam a longo prazo. As suas
desvantagens passam pela criação de lesões quando mal praticados, pelo tempo que se
demora a fazê-los e pela perda de interesse na sua prática quando feitos com regularidade.
Ao perderem o interesse, os executantes deixam de trabalhar com cabeça e perdem
também consciência do que estão a fazer, tornando este trabalho um desperdício.
4. Conclusão

A verdade é que não há nenhuma prova experimental ou explicação racional que nos
esclareça o porquê de estes exercícios poderem funcionar como anunciado no prefácio
escrito por Hanon.
Charles-Louis Hanon sugere que a habilidade para tocar estes exercícios garante ao
pianista a possibilidade de tocar qualquer obra de qualquer dificuldade, o que não é
totalmente falso, mas pode revelar falta de entendimento no que toca ao conceito de
técnica. A técnica “absoluta” apenas pode ser adquirida aprendendo várias obras de vários
compositores.
Não há dúvida que existem bastantes pianistas que usam os exercícios de Hanon, isto
porque estes se espalharam pelos conservatórios de toda a Europa. No entanto, pianistas
mais avançados concordam que estes exercícios não servem para adquirir técnica, mas
podem ser úteis para aquecer ou manter as mãos em boa condição para tocar. As
habilidades precisas para tocar qualquer peça são incrivelmente numerosas e pensar que
a técnica possa ser reduzida a um livro de 60 exercícios talvez seja uma atitude um pouco
ingénua da parte de um pianista.
Além disso, a técnica é algo que se adquire sobretudo ao tocar relaxado. No prefácio
de Hanon o conceito de relaxamento não é mencionado, apenas é mencionada a rigidez
dos músculos. Somos recomendados pelo autor a levantar bem os dedos. Esta ação, além
de poder gerar grande tensão nos pulsos e braços, é uma das formas menos musicais e
tecnicamente incorretas de tocar. Alunos dedicados, como os que entrevistei,
frequentemente praticam Hanon intensamente, tendo como objetivo tocar os exercícios
com dinâmica forte do início ao fim, sem descansar entre eles. Muitas vezes é partilhada
a crença equívoca de que tocar piano é como levantar pesos, não há ganho sem haver dor.
Este pensamento pode levar lesões muito graves a pianistas.
A estrutura simples e esquemática destes exercícios pode tirar por completo a
musicalidade do executante. Josef Hofmann afirma:
Do not practise systematically, or “methodically” as it is sometimes called.
Systematism is the death of spontaneousness, and spontaneousness is the very soul of
art.4

Com os seus exercícios, Hanon passou a mensagem errada, talvez


despropositadamente, de que a técnica e a musicalidade podem ser adquiridas em
separado. Pelo contrário, a musicalidade é um dos vários aspetos técnicos que devem ser
trabalhados.
Outra desvantagem da sua prática pode ser o tempo que se dedica a fazer estes
exercícios. Quando mal praticados, tornam-se um desperdício de tempo que poderia ser
utilizado para o estudo do repertório. Hanon recomenda a prática diária dos seus
exercícios, independentemente das dificuldades já ultrapassadas ou do nível do
executante. A verdade é que, se o pianista já ultrapassou certos aspetos técnicos, não
necessita de os continuar a praticar diariamente, necessita apenas de trabalhar os aspetos
que ainda não domina. Claro que, quando estes exercícios são praticados de forma correta
e com objetivos, o tempo dedicado a essa prática pode ser vantajoso para o executante.

4 (Hofmann, 1976)
Podemos concluir que a prática de exercícios de Hanon tem as suas vantagens,
especialmente a alunos iniciantes de piano. Estes poderão adquirir agilidade, igualdade,
força e independência se os praticarem. Quanto a alunos de níveis superiores, os
exercícios de Hanon podem ser muito bons para quem tenha uma técnica menos avançada
ou mesmo só para aquecer as mãos antes de iniciar o estudo. No entanto, nenhum pianista,
indiferentemente do nível em que se encontra, deve fazer exclusivamente estes exercícios.
Os exercícios de Hanon devem aliar-se a escalas, arpejos e outros exercícios de diferentes
autores ou mesmo adaptados ritmicamente e tonalmente pelo executante, que se adequem
ao repertório do pianista. Podem ser exercícios muito vantajosos, mas apenas quando
tocados cuidadosamente e de forma relaxada, pois podem causar lesões graves.
Por fim, concluo que pianistas perpetuamente enfrentam o dilema de como estudar
técnica. Estes são apresentados a uma quantidade inumerável de diferentes métodos de
tocar piano e até especialistas desta área, tanto professores como performers,
frequentemente discordam no que são os princípios essenciais de um estudo saudável e
rentável. Cada pianista deve encontrar o seu próprio método de estudo adequado ao seu
conforto e os professores de piano deveriam de ir ao encontro do que será o melhor
método para cada aluno.
Referências Bibliográficas

Adams, A., & Martin, B. (3 de 3 de 9). The Man Behind The Virtuoso Pianist: Charles-
Louis Hanon's Life and Wroks. Obtido em 10 de 06 de 2017, de Hanon-
online.com: https://www.hanon-online.com/the-man-behind-the-virtuoso-
pianist-charles-louis-hanon-s-life-and-works-p4/
Cooke, J. F. (1917). Great Pianists on Piano Playing. Filadelfia: Theodore Presser.
Gieseking, W., & Leimer, K. (1972). Piano Technique. Nova Iorque: Dover Publications.
Hanon, C. L. (s.d.). The Virtuoso Pianist. Leipzig: Edition Peters.
Hofmann, J. (1976). Piano Playing With Piano Questions Answered. Nova Iorque: Dover
Publications.
Huang, H. (1996, 29 de Agosto). On teaching Piano Technique. Obtido em 24 de Maio
de 2017, de The Piano Education Page:
http://pianoeducation.org/pnotecha.html#Technique.
Prentner, M. (2005). Leschetizky's Fundamental Principals of Piano Technique. Nova
Iorque: Dover Publications.
Rougier, P. (1879). Hanon, Charles-Louis (Vol. 10). Oxford: Oxford University Press.
Rougier, P. (1879). Hanon, Charles-Louis. Em G. Grove, The New Grove Dictionary
(Vol. 10, p. 822). Oxford: Oxford University Press.
Sandor, G. (1981). On Piano Playing: Motion, Sound, Expression. Nova Iorque: Schimer
Books.
Anexos

Anexo I: Prefácio de The Virtuoso Pianist por Charles-Louis Hanon


Anexo II: Transcrição das Entrevistas a alunos de licenciatura da Universidade de
Aveiro

Guião de Entrevista:

Entrevista
A prática de exercícios de Hanon no curso de licenciatura em Música na
Universidade de Aveiro.

Esta entrevista está incluída num trabalho de pesquisa da disciplina de Domínios de


estudos da Música. Este trabalho visa a investigação da prática de exercícios de Hanon
no curso de licenciatura em Música na Universidade de Aveiro. Dá-me autorização para
gravar?

1- Para começar pedia que me fizesse uma pequena apresentação em que inclua o
seu nome, ano de nascimento e o ano de escolaridade em que se encontra.
2- Com que idade começou a estudar música e qual foi o seu percurso musical?
3- Qual é o seu método de estudo para trabalhar técnica? Quantas horas do seu estudo
diário dedica a esse trabalho?
4- Qual é a sua opinião sobre a prática dos exercícios técnicos de Hanon? Quais são
as suas vantagens e desvantagens?
5- Pratica ou já praticou estes exercícios? Porquê? Se sim, com que regularidade e
como pratica?

Muito obrigada.

Raquel Fonseca, 1ºano.

Boa tarde. São 16h24 e estamos no bar, no Departamento de comunicação e arte. Esta
entrevista está incluída no trabalho num trabalho de pesquisa da disciplina de Domínios
de estudos da Música. Este trabalho visa a investigação da prática de exercícios de Hanon
no curso de licenciatura em Música na Universidade de Aveiro. Dá-me autorização para
gravar?

Sim.

Para começar pedia que me fizesse uma pequena apresentação em que inclua o seu nome,
ano de nascimento e o ano de escolaridade em que se encontra.

Sou a Raquel Fonseca, nasci em 1998 e estou no 1º ano de licenciatura.

Com que idade começou a estudar música e qual foi o seu percurso musical?

Comecei a estudar música com 5 anos numa escola pequena privada e depois, fui
para o conservatório de música da Maia aos 6 anos. Fiz lá o preparatório e os graus até
ao 6º. No 7º grau fui para o conservatório de musica do Porto, onde fiz o 7º e 8º grau.
Depois, na licenciatura, vim para a Universidade de Aveiro.
Qual é o seu método de estudo para trabalhar técnica? Quantas horas do seu estudo diário
dedica a esse trabalho?

Neste momento, para trabalhar técnica, eu faço os vinte primeiros exercícios do


Hanon seguidos. E, acho que são seis exercícios específicos do Pischna. E dura mais ou
menos 30/40 minutos todos os dias.

Qual é a sua opinião sobre a prática dos exercícios técnicos de Hanon? Quais são as suas
vantagens e desvantagens?

Eu acho que os exercícios de Hanon dão-nos muita resistência, além de grande


habilidade em todos os dedos, visto que os exercícios, cada um deles, é feito especifico
para um dedo diferente, entre aspas. E penso que as vantagens são mesmo essas. Dão-nos
mais independência em cada dedo. Mas, desvantagens são que, se calhar, demora
demasiado tempo para o que faz. E acho que tem lá certos exercícios que não são tão bons
comparados com outros. Podiam, se calhar, ser cortados.

Começou a praticar na universidade ou já praticava estes exercícios?

Eu praticava a versão juvenil destes exercícios para aí no meu 2º grau. Depois


nunca mais peguei neles e só voltei a fazê-los na universidade.

E porque é que os praticava?

Antes? Não sei. A professora mandou-me. Mas era uma coisa assim mesmo
exercício pequeno. Não era assim nada de especial.

E porque é que os pratica agora?

Agora também foi porque o meu professor me sugeriu, mas, entretanto, continuei
a praticá-los sem ser com o professor a continuar a exigir-me isso. Porque acho que faz
mesmo diferença eu começar a tocar as peças sem tocar os Hanon’s ou começar com já
ter feito meia hora de Hanon’s antes.

Com que regularidade e como é que pratica?

Faço todos os dias antes de estudar. Só uma vez por dia, antes de estudar. Se
estudar de manhã e à tarde não faço duas vezes, só de manhã. Como pratico... Eu tento
conseguir sempre fazer os exercícios sem parar, sem fazer o acorde final e continuar
sempre para o a seguir. Por isso, agora só há pouco tempo é que consegui fazer os 20
seguidos. Por isso, antes praticava sempre com o objetivo de conseguir mais um sem ter
de parar e descansar. Por isso, agora faço todos do 1 ao 20 e paro. E, depois, continuo
com o trabalho.

Muito obrigada.

Obrigada.

Legenda da Entrevista
Entrevistadora: Ana Sofia Cunha, cor azul.
Entrevistado: Raquel Fonseca, cor preta.

Bernardo Mendes, 1º ano.

Boa tarde. São 17h59 e estamos no Departamento de comunicação e arte. Esta entrevista
está incluída no trabalho num trabalho de pesquisa da disciplina de Domínios de estudos
da Música. Este trabalho visa a investigação da prática de exercícios de Hanon no curso
de licenciatura em Música na Universidade de Aveiro. Dá-me autorização para gravar?

Sim.

Para começar pedia que me fizesse uma pequena apresentação em que inclua o seu nome,
ano de nascimento e o ano de escolaridade em que se encontra.

Então... Bernardo Pinto Mendes, nasci a 29 de Junho de 1998. Estou no 1º ano de


licenciatura.

Com que idade começou a estudar música e qual foi o seu percurso musical?

Eu comecei aos 7 numa pequena escola de musica. Aos 10, fui para uma academia
de Alcobaça, Academia de música de Alcobaça e estive lá até o ano passado. Agora estou
na Universidade de Aveiro.
Qual é o seu método de estudo para trabalhar técnica? Quantas horas do seu estudo diário
dedica a esse trabalho?

Tento dedicar meia hora por dia a fazer os Hanon’s diariamente.

Qual é a sua opinião sobre a prática dos exercícios técnicos de Hanon? E Quais são as
suas vantagens e desvantagens?

Eu acho que a longo prazo os exercícios de Hanon têm resultados bastante


positivos. Ajudam-nos a ter uma destreza bastante maior, na minha opinião. Mas isso só
funciona se o fizermos com regularidade e se fizermos de uma forma metódica. As
desvantagens ... Eu iria, se calhar, pela perda de tempo, entre aspas, que às vezes poderia
ser utilizado em estudar as obras. Acho que é por aí, acho que é por aí.

Então pratica estes exercícios?

Sim. Não com a regularidade que, se calhar, gostava. Mas, sim.

E como os pratica?

Em relação às dinâmicas, eu acho que nem sequer as aplico no estudo dos


Hanon’s. Tento tocar o mais forte possível, em que sinta que estou realmente a trabalhar
os dedos e a melhorar essencialmente alguns dedos específicos como o terceiro,
principalmente o quarto. Acho que é por aí. Tento sentir que estou realmente a fazer algo
de produtivo na forma como estou a praticar.

E praticava estes exercícios antes de vires para a universidade?


Não. Toquei, se calhar, uma vez ou outra. Mas, não. Não posso dizer que os
praticava.

Porquê?
Porquê.... Sinceramente, não sei. Não os praticava. Não por não os conhecer, mas
nunca fiz disso uma rotina nem uma prática.

E porque é que os pratica agora?

Primeiro porque sou obrigado, quase. Mas em segundo, porque reconheço as


vantagens que podemos retirar através destes exercícios.

Muito obrigada.

Legenda da Entrevista
Entrevistadora: Ana Sofia Cunha, cor azul.
Entrevistado: Bernardo Mendes, cor preta.

Mariana Poço, 2º ano.


Boa tarde. São 16h52 e estamos no Departamento de comunicação e arte. Esta entrevista
está incluída no trabalho num trabalho de pesquisa da disciplina de Domínios de estudos
da Música. Este trabalho visa a investigação da prática de exercícios de Hanon no curso
de licenciatura em Música na Universidade de Aveiro. Dá-me autorização para gravar?

Sim.

Para começar pedia que me fizesse uma pequena apresentação em que inclua o seu nome,
ano de nascimento e o ano de escolaridade em que se encontra.

Chamo-me Mariana Poço. Nasci em 97 e estou no 2º ano de licenciatura na


Universidade de Aveiro.

Com que idade começou a estudar música e qual foi o seu percurso musical?

Eu comecei a estudar música com 4/5 anos de idade, no colégio onde estudava. E
comecei a tocar piano aos 6/7 anos. 7 anos, creio. Colégio Alfa-beta em Oeiras. Queijas,
mais concretamente. A partir daí, frequentei aulas com os professores que iam aparecendo
para me dar piano até ao 4º ano. No 5º ano, ingressei na Escola de Música Nossa Senhora
do Cabo, que frequentei até vir para a Universidade.

Qual é o seu método de estudo para trabalhar técnica? Quantas horas do seu estudo diário
dedica a esse trabalho?

Bem.... Admitindo que há dias em que não o faço.... Contando só os dias em que faço,
acho que dou do meu tempo meia hora, 45 minutos no máximo. Em que, normalmente,
vejo exercícios específicos que vou usar depois nas obras que vou estudar. Por exemplo,
se tiver uma obra que inclui muitos stacattos, até posso usar para estudo uma dessas
passagens e treino o stacatto quer de pulso, quer de dedos. Muitas vezes pego nos três
primeiros exercícios de Hanon e utilizo ritmos para fazer, para os repetir com muita
variedade. E escalas, ás vezes.

Qual é a sua opinião sobre a prática dos exercícios técnicos de Hanon? E Quais são as
suas vantagens e desvantagens?

Dos que eu conheço? Os estudos têm... os exercícios têm a vantagem de ser só cinco
notas, o que abrange os dedos todos da nossa mão, nunca deixando nenhum de fora. O
facto de estarem normalmente em Dó maior, dá-nos maior facilidade para transpor.
Portanto, podemos aplicar a várias situações e tonalidades. Na prática, a única
desvantagem que vejo é se o fizermos de modo errado. Porque se fizermos de modo certo,
devagarinho e a pensar em tudo, desde a posição do nosso corpo ao pulso, ao braço e etc.,
não vejo desvantagem nenhuma.

Então pratica os exercícios. Já praticava antes de vir para a universidade?

Eu comecei a praticá-los antes de vir para a universidade, sim. E nem foi por ordem
do meu professor, foi por ordem de um colega meu, que me deu o livro para as mãos. E
sim, escolhi dois ou três e estudava. Mas, sinceramente, não estudava a saber o que é que
eles realmente queriam significar e em que modo eles podiam ser usados.

Muito obrigada.

Obrigada, eu.

Legenda da Entrevista
Entrevistadora: Ana Sofia Cunha, cor azul.
Entrevistado: Mariana Poço, cor preta.

Leonor Mendes, 2º ano.

Boa tarde. São 19h e estamos no Departamento de comunicação e arte. Esta entrevista
está incluída no trabalho num trabalho de pesquisa da disciplina de Domínios de estudos
da Música. Este trabalho visa a investigação da prática de exercícios de Hanon no curso
de licenciatura em Música na Universidade de Aveiro. Dá-me autorização para gravar?

Sim.

Para começar pedia que me fizesse uma pequena apresentação em que inclua o seu nome,
ano de nascimento e o ano de escolaridade em que se encontra.

O meu nome é Leonor Mendes. Nasci em 1997 e estou no 2º ano de licenciatura


em música, ramo performance em piano.

Com que idade começou a estudar música e qual foi o seu percurso musical?
Comecei a estudar música com 6 anos na Academia de Música do Fundão.
Comecei logo no piano e estudei nessa escola até aos 18 anos, até ao final do 12º ano, e
depois vim para aqui para a Universidade de Aveiro tirar licenciatura. É onde estou agora.

Qual é o seu método de estudo para trabalhar técnica? Quantas horas do seu estudo diário
dedica a esse trabalho?

Para eu estudar técnica utilizo as obras que estou a estudar no momento. Por isso,
não diria que utilizo “x” horas de estudo diário para técnica porque não vejo técnica todos
os dias. Ou seja, quando eu começo a estudar uma peça nova eu começo por abordá-la de
uma forma muito técnica, ou seja, eu vejo que aspetos da técnica é que poderão ser
melhorados com essa obra e estudo-a dessa forma e depois mais tarde quando sinto que
tecnicamente está segura começo a avançar para outros aspetos como a interpretação e a
solidificação da memória e por aí fora. Portanto, não digo que estudo de técnica seja uma
coisa diária para mim.

Qual é a sua opinião sobre a prática dos exercícios técnicos de Hanon? E Quais são as
suas vantagens e desvantagens?

O Hanon... Eu não utilizo esses exercícios. Porque, lá está, porque acabei de dizer
que para eu solidificar a minha técnica utilizo as obras que estou a estudar neste momento.
Acho que o Hanon é bom para um pianista ganhar independência dos dedos das mãos
para conseguir controlar bem cada dedo da mão, independentemente dos outros. No
entanto, Hanon são exercícios que estão muito padronizados e não contemplam todas as
dificuldades técnicas de todas as obras que existem. Portanto, acho que ajudam talvez
numa fase inicial. Penso que a certo ponto deixam tanto de ajudar porque as obras
começam a ter uma dificuldade que já não é contemplada nos exercícios de Hanon. Para
além disso, acho que os exercícios de Hanon para técnica, embora sejam bons para
independência de cada dedo, acabam por deixar também outras coisas de fora como o
som. A qualidade do som não é muito trabalhada com esse tipo de exercícios e a
articulação utilizada para fazer esse tipo de exercícios não é a mesma articulação utilizada
em todas as peças para piano. Portanto, existe uma articulação barroca, existe uma
articulação utilizada em peças clássicas, em peças românticas, e o Hanon não permite
todas essas possibilidades. Acaba por até, na minha opinião, estragar um bocado nesse
aspecto.

Então, não pratica Hanon?

Não.

Mas já praticou?

Não. Eu conheço, tenho muitos colegas que praticam, mas nunca tive curiosidade
porque sinto que, no meu caso, as peças que eu estudo sempre foram o suficiente para eu
conseguir ultrapassar os obstáculos que tenho na minha técnica.

Muito obrigada.

Legenda da Entrevista
Entrevistadora: Ana Sofia Cunha, cor azul.
Entrevistado: Leonor Mendes, cor preta.

Gustavo Afonso, 2º ano.

Boa tarde. São 16h08 e estamos no Departamento de comunicação e arte. Esta entrevista
está incluída num trabalho de pesquisa da disciplina de Domínios de estudos da Música.
Este trabalho visa a investigação da prática de exercícios de Hanon no curso de
licenciatura em Música na Universidade de Aveiro. Dá-me autorização para gravar?

Dou, com certeza.

Para começar pedia que me fizesse uma pequena apresentação em que inclua o seu nome,
ano de nascimento e o ano de escolaridade em que se encontra.

Portanto, olá. Eu sou o Gustavo, Gustavo Afonso. Nasci em 1997 e estou a fazer
o 2º ano de licenciatura em música aqui na Universidade de Aveiro.

Com que idade começou a estudar música e qual foi o seu percurso musical?

Portanto, eu entrei para o conservatório com 7/8 anos. Efetivamente já tinha tido antes
algumas aulas que não foram direcionadas especificamente para o piano. Foram,
basicamente, aulas em que aprendi com um maestro a cantar, a ler ritmo, a ler notas... Em
Coimbra. Depois, então, entrei para o conservatório para o curso de piano e fiz, no
conservatório, o curso todo até ao 8º grau. E vim, então, estudar para a Universidade de
Aveiro, no final. Fiz os pré-requisitos e concorri. E estou cá, em Aveiro, a frequentar o 2º
ano de licenciatura.

Qual é o seu método de estudo para trabalhar técnica? Quantas horas do seu estudo diário
dedica a esse trabalho?

Portanto... O meu método de estudo para trabalhar técnica... Eu acho que, assim de
forma generalizada, há alguns métodos de alguns autores que são realmente
recomendados para resolver determinados tipos de problemas. Mas, de forma
generalizada, aconselho os Hanon’s, Pischna’s e claro, fazer escalas e arpejos. E por aí
fora. O que eu tento fazer, eu vou fazendo exercícios de Hanon, claro, que eu acho que
têm algumas vantagens quando são bem feitos efetivamente. Porque, acho que o facto de
se insistir num determinado tipo de exercício com problemas técnicos pode agravar ainda
mais esses próprios problemas técnicos. E claro, que tem sempre aquele problema da
questão da musicalidade, não é? E, por isso, aquilo que eu tento fazer é aplicar, portanto,
trabalhar determinadas dificuldades técnicas dentro das minhas próprias obras. E,
portanto, tentar, assim, conciliar um bocadinho a questão técnica com a questão musical.
Acho que é isso que eu costumo fazer. Portanto, não sei dizer de cor quantas horas do
meu estudo diário é que eu dedico a esse trabalho, porque, porque lá está, é uma coisa
que eu vou fazendo a par. Tanto trabalhar a parte técnica como trabalhar a sonoridade.
Mas, de facto, há momentos em que faço um estudo puramente técnico e estou ali, se for
preciso, uma serie de horas só a trabalhar a parte técnica. Isso acontece. Agora, quantas
horas assim diariamente não sei dizer de cor, sinceramente.
Qual é a sua opinião sobre a prática dos exercícios técnicos de Hanon? Na sua opinião,
quais são as suas vantagens e desvantagens?

Pronto, foi aquilo que eu disse. Acho que são bons exercícios. Têm algumas vantagens
como seja conseguir ver uma serie de problemas de articulação, de igualdade, de
independência das mãos. Agora... E, pronto. Essas serão as principais vantagens e
permite-nos perceber exatamente como é que nós nos conseguimos adaptar e ajuda a
trabalhar essa adaptação às diferentes posições consoante o exercício que está a ser
praticado e consoante o local onde está a ser praticado. Mas claro que também acho que
tem algumas desvantagens, que foi aquelas questões que eu levantei à bocado da
musicalidade. Por isso, eu acho que resulta bastante bem. A par disso, a par dos exercícios
de Hanon, nós tentarmos procurar os problemas técnicos dentro do nosso repertorio e
trabalhar nesse sentido.

Então, não pratica Hanon. Mas já praticou antes?

Já pratiquei. E vou praticando., também. Assim como as escalas e etc. Agora, lá está,
talvez ao dar primazia a esse trabalho que eu disse, se calhar não pratico com tanta
frequência. Mas, é assim, claro que, agora voltando até um bocadinho à outra pergunta
anterior, acho que para resolver uma generalidade de problemas funciona muito bem. Mas
não significa que nós consigamos resolver todo o tipo de problemas para aquilo que
estamos a tocar, não é? Portanto, acho que é sempre fundamental nós sermos capazes de
ir ao nosso repertorio e localizar as nossas dificuldades e resolver essas dificuldades.
Portanto, acho que é um bocadinho essa conjugação das duas coisas. E, claro, sim, já
pratiquei. Já fiz bastantes Hanon’s e, claro, que até provavelmente quando comecei eram
assim os exercícios de eleição. Agora consoante vamos avançando no repertorio vamos
sendo confrontados com outros tipos de dificuldades. Por isso, acho que para esses casos
específicos vale aquilo que eu disse de trabalho com incidência no próprio repertorio.
Acho que sim, acho que funciona.

Muito obrigada.

Legenda da Entrevista
Entrevistadora: Ana Sofia Cunha, cor azul.
Entrevistado: Gustavo Afonso, cor preta.

Sandra Vieira, 3º ano.

Boa tarde. São 19h40 e estamos no Departamento de comunicação e arte. Esta entrevista
está incluída num trabalho de pesquisa da disciplina de Domínios de estudos da Música.
Este trabalho visa a investigação da prática de exercícios de Hanon no curso de
licenciatura em Música na Universidade de Aveiro. Posso gravar?

Sim.
Para começar pedia que me fizesse uma pequena apresentação em que inclua o seu nome,
ano de nascimento e o ano de escolaridade em que se encontra.

O meu nome é Sandra Vieira, nasci em 1991 e estou neste momento no terceiro
ano do curso de música.

Com que idade começou a estudar música e qual foi o seu percurso musical?

Comecei a estudar aos 15 anos no Orfeão de Leiria. E também um dos anos foi na
SAMP, na Sociedade Artística e Musical dos Poços, regressando depois também ao
orfeão e no 6º grau concorri, então, à Universidade de Aveiro.

Qual é o seu método de estudo para trabalhar técnica? Quantas horas do seu estudo diário
dedica a esse trabalho?

Todos os dias por volta de 40 a 45 minutos eu faço técnica. E é esse tempo que eu
dedico apenas. Faço escalas, faço Hanon e faço outros exercícios por mim inventados que
trabalhem essencialmente o quarto e o quinto dedos.

Qual é a sua opinião sobre a prática dos exercícios técnicos de Hanon? Na sua opinião,
quais são as suas vantagens e desvantagens?

Creio que os exercícios técnicos de Hanon podem ajudar. Podem ser um bom
começo do dia de estudo. As vantagens é que efetivamente os nossos dedos ficam mais
soltos, há maior circulação nas mãos e, portanto, maior sensibilidade e melhor velocidade.
E as desvantagens é que quando feito com regularidade perde um pouco de interesse, ou
seja, nós começamos a fazer o, os exercícios e não damos a devida atenção, já estamos a
fazer só por fazer, já não estamos a fazer corretamente então perde o interesse para o qual
foi feito.

Então já pratica estes exercícios. Porquê?

Eu pratico precisamente por esse motivo, porque é um bom começo de trabalho


diário em que os meus dedos ficam aptos ou mais aptos para fazer o restante trabalho com
as restantes obras.

E como os pratica?

Normalmente começo com metrónomo para manter sempre a regularidade e para


me obrigar naquelas distrações que eu já referi, a manter pelo menos o andamento apesar
das distrações e para além do metrónomo depois tecnicamente procuro que seja bem
articulado. Para além de bem articulado também procuro fazer sempre forte para ganhar
mais resistência e não faço noutras tonalidades apesar de saber que pode ser um bom
exercício, mantenho-me sempre na tonalidade de Dó Maior.

Muito obrigada.

De nada.
Legenda da Entrevista
Entrevistadora: Ana Sofia Cunha, cor azul.
Entrevistado: Sandra Vieira, cor preta.

Diogo Santos, 3º ano.

Boa noite. São 22h22 e estamos no Departamento de comunicação e arte. Esta entrevista
está incluída no trabalho num trabalho de pesquisa da disciplina de Domínios de estudos
da Música. Este trabalho visa a investigação da prática de exercícios de Hanon no curso
de licenciatura em Música na Universidade de Aveiro. Dá-me autorização para gravar?

Sim.

Para começar pedia que me fizesse uma pequena apresentação em que inclua o seu nome,
ano de nascimento e o ano de escolaridade em que se encontra/habilitações de
escolaridade.

Então, eu sou o Diogo Filipe, Diogo Filipe Veloso dos Santos e nasci a 11 de
Março de 1996 e o meu ano de escolaridade é o 3º ano de licenciatura em música.

Com que idade começou a estudar música e qual foi o seu percurso musical?

Comecei a estudar música com 11 anos. Estudei no conservatório durante 7 anos


e depois vim para a universidade e estou no 3º ano. Conservatório de Leiria, Orfeão,
Conservatório de Artes.

Qual é o seu método de estudo para trabalhar técnica? Quantas horas do seu estudo diário
dedica a esse trabalho?

À volta de 40 minutos, uma hora, consiste em fazer escalas, nem sempre, mas o
que predomina sempre são exercícios de extensão, para começar, para não ser logo muito
bruto. Nunca começo com Pischna nem Hanon. Começo com exercícios de extensão em
polirritmias, depois faço escalas, como já disse nem sempre. Faço exercícios criados na
hora para trabalhar problemas que tenha em algumas peças e depois faço Hanon e
Pischna.

Qual é a sua opinião sobre a prática dos exercícios técnicos de Hanon? E Quais são as
suas vantagens e desvantagens?

Se fizermos os 20 exercícios de Hanon, eles aumentam de facto a nossa resistência


com bastante eficácia, mas, no entanto, quando o Hanon é tocado sempre em Dó maior
não resolve grandes problemas técnicos. Resolve, sim, em tonalidades de dó maior, só na
tonalidade de dó maior. E claro que cria também alguma agilidade de, entre vários dedos
por exemplo trabalha muito bem a questão do 3º e 4º, 4º e 5º. Isso, se fizermos sempre,
mesmo que seja em dó maior, a agilidade entre eles aumenta. Mas, se fizermos noutras
tonalidades, por exemplo em do# maior ou ré maior, se fizermos o Hanon pode ser um
grande exercício se for feito em todas as tonalidades, principalmente se fizermos em dó
maior e dó # maior. Só o facto de fazer em dó# maior é muito melhor porque é uma
tonalidade difícil e resolve muitos problemas.
Isso que dizer que pratica Hanon todos os dias?

Sim.

Mas praticava antes de vir para a universidade?

Praticava, mas não fazia tudo. Mesmo agora não faço tudo. Faço os primeiros 6
ou 7 ou 8. Depende. E antes de vir para a universidade fazia apenas o exercício 5 e 6.

E como é que pratica estes exercícios?

Em dó maior todos os dias e por vezes em do# maior. O primeiro, desde o primeiro
até ao sétimo basicamente. E todos os dias com andamento 70 a semínima e bem
articulado e fortíssimo sempre.

Muito obrigada

De nada.

Legenda da Entrevista
Entrevistadora: Ana Sofia Cunha, cor azul.
Entrevistado: Diogo Santos, cor preta.

Anexo III: Gravação em áudio das entrevistas

Estes documentos encontram-se em ficheiro áudio e foram enviados via We-transfer.

Nome dos ficheiros: Bernardo Mendes. 1º ano. (formato wav); Diogo Santos. 3ºano.
(formato wav); Gustavo Afonso. 2º ano. (formato m4a); Leonor Mendes. 2º ano. (m4a);
Mariana Poço. 2º ano. (formato m4a); Raquel Fonseca. 1º ano. (formato m4a); Sandra
Vieira. 3º ano. (formato m4a).

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